algarve que vai formoso
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A revista "Fugas" leva-nos até às ilhas do Algarve num percurso pela Ria Formosa, um espaço - tempo natural onde há sempre uma praia deserta à nossa espreita.TRANSCRIPT
Tiragem: 45640
País: Portugal
Period.: Semanal
Âmbito: Informação Geral
Pág: 4
Cores: Cor
Área: 26,60 x 30,27 cm²
Corte: 1 de 9ID: 49072069 03-08-2013 | Fugas
Não se pode dizer que seja a antítese do resto do litoral algarvio, mas é verdade que a ria Formosa é um espaço (e tempo) especial. À zona protegida, servida de sapais e oceano, rodeada de ilhas-dunas que são mutantes, o turismo chega sem excessos. Por isso, uma praia deserta está sempre à espreita de algumas caminhadas.
Capa
Algarve que vai formoso
Andreia Marques Pereira (texto) e Bruno Simões Castanheira ( fotos)
Fugas em Portugal V: Algarve
Tiragem: 45640
País: Portugal
Period.: Semanal
Âmbito: Informação Geral
Pág: 5
Cores: Cor
Área: 26,96 x 30,27 cm²
Corte: 2 de 9ID: 49072069 03-08-2013 | Fugas
H á
uma espécie de deslumbramento em
quem o diz — e ouvimo-lo de várias
pessoas: na ria Formosa, “tudo o que
fi ca na água ganha vida”. Uma cor-
da, por exemplo, deixa de ser uma
corda, revestindo-se de anémonas e
outros cnidários para tornar-se em
algo que tem tanto de atraente como
repelente; barcos encalhados ou des-
mantelados rapidamente são toma-
dos de assalto, tornando-se híbridos
de matéria inerte e surtos de vida. A
ria Formosa é um fenómeno — pri-
meiro porque nem sequer é uma ria,
é um sistema lagunar a encerrar sa-
pais protegidos em cordões dunares
que são ilhas, estreitas e compridas,
sujeitas a caprichos impetuosos (cli-
matéricos) e insidiosos (geológicos).
Ainda é do tempo de muitos, uma
ilha da Culatra muito mais pequena,
sem a língua de areia que quase toca
a ilha de Armona – que também inclui
a Fuseta que há poucos anos o mar
decidiu reclamar; outras histórias são
mais antigas, como a do tsunami de
1755, que engoliu a ilha de Cabanas,
devolvida anos depois.
É um ecossistema distinto e não só
do ponto de vista natural: também
entre o litoral-algarvio-sedento-de-
turismo. Na ria Formosa, as ilhas são
as praias de Faro, Olhão, Tavira… E
exigem mais ou menos devoção para
desfrutar do sol, dos areais longos
(quase sempre) e do mar transparen-
te, verde e azul-turquesa. Antes de
mais porque a viagem começa num
barco — excepto em Faro, cuja “ilha”
está ligada por estreita ponte — e pode
continuar por passadiços que atra-
vessam dunas e lagoas, às vezes por
largas centenas de metros. Por isso,
claro, as praias mais “longínquas”
são as mais reservadas; de qualquer
forma, em cada ilha, muitas vezes
basta caminhar pelo areal para en-
contrar sítios desertos. Em qualquer
uma delas, parece omnipresente o
barco à vela que passa no horizonte.
Repetem-nos que o Farol é uma
ilha. E a Fuseta também. A Barreta,
poucos conhecem. Instalam-nos a
confusão, desfeita, de vez, na água:
a primeira é na Culatra, a segunda
na Armona e a terceira é a Deserta.
A geografi a não é tão pródiga quanto
a tradição de chamar “ilha” a diver-
sas povoações insulares. A família
Penguilly pode não ter tantas ilhas
na cabeça, mas percorre metodica-
mente todas as praias da ria Formo-
sa. “Todos os verões descobrimos no-
vas praias”, explicam. Fuseta, Manta
Rota, Pedras d’El Rey, Ancão… Foi
em Moncarapacho que decidiram
construir a “casa de família”, onde
todos se reúnem durante o Verão.
Ele, reformado, passa “quatro, cinco
meses” aqui; ela trabalha na Breta-
nha “para manter a casa”, brinca; os
netos estão seis semanas de férias; os
fi lhos vêm metade do tempo. “Ado-
ro”, afi rma Christian Penguilly, “tem
praia, campo, montanha”. Com os
netos, Noa e Chiara, é na praia que
mais passam tempo: hoje constroem
o que parece um forte mas é na ver-
dade a casa da família — o enorme
pátio, a piscina, está tudo lá, aponta.
Mas vêm só à semana, avisam. “Ao
fi m-de-semana, deixamos para os
portugueses.”
Ilha que não o éQuando veio para a ilha de Faro (N
37° 0’ 29.4546” , W 7° 59’ 41.265”),
vivia numa cabana de junco. Foi há
52 anos e “tudo era diferente”. Isa-
bel Libório recorda: “Chorei muito,
estranhei tudo, não tinha nada a ver
com a Quarteira. Ia ao café, à mis-
sa uma vez por semana”, recorda.
Veio por amor, que mais? “O meu
marido nasceu aqui.” A esta hora,
ele está a dar o seu passeio diário de
bicicleta pela ilha, já não pesca mas
ainda vai às “amêijoas todos os dias”
e ela varre o caminho em frente à
sua casa — um passadiço de cimento,
colocado para passarem os veículos
do INEM e do lixo, entre o dédalo de
casinhas, que lhe roubou o pequeno
jardim que tinha. Agora, gosta deste
sossego, “longe da barafunda no lar-
go [da estalagem]”.
Estamos no bairro dos pescado-
res: quando o alcatrão acaba, há um
caminho de cimento que entra nas
dunas. Até ao casario, bancos de
madeira com vista para o mar, ves-
tígios de casas. “Três foram abaixo,
há alguns anos. O mar passou por
um lado e outro”, confi rma Vasco
Silva, a acabar de pintar a sua casa,
amarelo-torrado, depois de um
Esta série tem o patrocínio
Tiragem: 45640
País: Portugal
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Âmbito: Informação Geral
Pág: 6
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Área: 26,75 x 30,41 cm²
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CapaFugas em Portugal V: Algarve
dia que começou às cinco da manhã,
com o lançar das redes. É uma vida
difícil, queixa-se. “A barra está longe,
quase a dez quilómetros, e para pas-
sar a ponte às vezes precisamos de
três horas até apanhar a água.” Estes
tempos não têm sido muito pródigos,
“linguado, chocos, polvo”. “Antes
havia cavala. Já não. Não sabemos
porquê.”
Também não sabe por que razão
vive na “ilha” de Faro, já que na rea-
lidade esta não é uma ilha, é o extre-
mo oriental da Península do Ancão e
também é simplesmente conhecida
por praia de Faro. É o hábito. Na ver-
dade, depois do bairro piscatório,
só areia e dunas seguem até “terra
fi rme”; a entrada faz-se por ligação
terrestre — uma ponte de uma fai-
xa, regulada por semáforos, que já
viu melhores dias (está projectada a
construção de uma nova). Mas aqui
poucos se parecem dar conta da exis-
tência de um istmo: falam-nos da ilha
de baixo e da ilha de cima; em baixo,
residencial e comercial, em cima a
aldeia piscatória, “quando acaba a
estrada”. Nós atrevemo-nos a falar da
“ilha central”, aquela onde desembo-
ca a ponte, onde está a sua única es-
talagem, onde se concentram bares e
restaurantes, onde o areal está mais
congestionado. E onde os carros ocu-
pam todos os espaços livres — ainda
que, sejamos honestos, o estaciona-
mento seja um bem escasso em toda
a ilha, por estes dias.
Não é sempre assim. “Entre Outu-
bro e Maio não se vê ninguém”, con-
tam Maria José e Valdemar Brás, há
31 anos por detrás do balcão do seu
café, na “ilha de baixo”, entre viven-
das com nome (como a Vivenda Peli-
cano com o seu golfi nho), casas “tra-
dicionais” com terraços e chaminés
rebuscadas. Eles próprios não vivem
aqui, vêm diariamente de Montene-
gro, do outro lado da faixa estreita
da ria. “Esta é a praia mais pobre
do Algarve”, opina Maria José, “só
há portugueses tesos. E os que têm
casa”. No Inverno, dizem, há sobre-
tudo estrangeiros e ao fi m-de-semana
enche-se de portugueses dominguei-
ros. “Como há estrada, o pessoal vem
dar a volta e muitas vezes nem pára.
Vai tudo embora às cinco da tarde.”
Um pouco mais de conversa e o ca-
sal concede a presença assídua de
pescadores, surfi stas, kitesurfers…
Algumas pranchas de windsurf
deslizam na ria, onde há casas que
desembocam em cima da água e
meia dúzia de pessoas apanha sol
mesmo à beira do pontão onde che-
gam os barcos de Faro. Na praia, não
conseguimos descortinar um paraíso
de surfi stas, mas acreditamos que é
pela maré baixa — o mar é uma pisci-
na infi nita, com ondulação mínima.
Há quem se entretenha aí ou com
brincadeiras mais ou menos ortodo-
xas: um grupo de rapazes salta na
pequena arriba em cambalhotas no
ar; outro grupo, de franceses, apro-
veita o último dia para enterrar um
deles na areia, debaixo das formas
de uma “sereia-macho”; cinco ami-
gos que vêm de Faro jogam o “bam-
bi”, uma espécie de “futvolei para
totós”, explica Andrés Conceição. É
um ritual nestes dias de Verão: todos
trabalham por turnos — entre estes,
umas horas na praia. Já Ivo Sermião
passa o dia na praia, com umas horas
de intervalo, quando o sol aperta. É
o primeiro ano em que vende as fa-
mosas bolas de Berlim e garante que
a sua “receita é diferente”.
Natureza à fl or da águaMaria Paola Porru não pensava fi car
a viver na Armona (N 37º 0’ 54.59’’
,W 7º 47’ 51.94’’). Durante várias
décadas a Fuseta foi seu destino de
férias, mas um dia “a Fuseta foi-se”.
“Vim visitar uma amiga.” E acabou a
fazer da parte sul da ilha a sua casa,
quase em cima de uma lagoa que
existe ao sabor das marés — hoje,
praticamente desapareceu, joga-se
futebol no seu vale; à sua volta, casas
de férias (alugam-se aos 300, 400 eu-
ros por semana, dizem-nos). É daqui
que dirige os seus restaurantes, entre
eles o Casanostra (Lisboa) e o Casa
d’Ouro (Porto) — viaja muito, mas
raramente vai “à parte de baixo da
ilha”, confessa, “é confuso”.
Para norte, na “parte baixa”, um
aglomerado de casas coloridas com
restaurantes, lojas, bares, o cais onde
os barcos deixam os visitantes que
formam uma multidão. Daí parte a
longa “avenida” que corta a ilha até
ao restaurante Santo António, que já
foi à beira-mar e agora está “longe”
da baía azul, acompanhada por longo
areal, que rapidamente se encontra
deserto — é a regra habitual nestas
praias da ria Formosa.
Do Ancão à Manta Rota são 60
quilómetros de ria enquadrada em
parque natural desde 1978. A linha
costeira, baixa, atravessa Loulé,
Tiragem: 45640
País: Portugal
Period.: Semanal
Âmbito: Informação Geral
Pág: 7
Cores: Cor
Área: 26,60 x 30,41 cm²
Corte: 4 de 9ID: 49072069 03-08-2013 | Fugas
Faro, Olhão, Tavira até Vila Real de
Santo António — ao largo, o sapal
enquadrado pelas ilhas-barreira que
fazem uma meia-lua e protegem o
ecossistema. Estão em constante
mutação, estas ilhas-dunas, que ora
estão a poucas centenas de metros
da costa, como Tavira, ora a 13 qui-
lómetros entre canais, como a Cula-
tra — todas separadas por barras na-
turais onde o Atlântico visita a ria;
todas com duas frentes: a da ria e a
de mar. As praias mais procuradas
estão a sul, viradas ao Atlântico, o
que não impede que por exemplo o
norte da ilha da Armona surja bem
mais “caótico”, como uma pequena
vila — que é o que encontramos na
Culatra, sem o “caos” (mas pode ter
sido sorte, admitimos).
Ainda não saímos da marina em
Olhão e já estamos imersos na na-
tureza palpitante da ria — as vina-
greiras, a que os pescadores cha-
mam “xoxa de velha”, começaram
a aparecer aqui no último mês (são
comuns na Culatra) e fl utuam entre
os barcos; tocam-se como caracóis.
Temos um guia, hoje, Jaime Pinho,
e um barco quase à nossa disposição
para descobrir as ilhas — connosco
vai apenas um casal belga, Alain e
Natalie, de Bruges. Com eles desco-
brimos o nome completo da cidade
— Olhão da Restauração, nome que
eterniza a primeira revolta popular
contra os exércitos napoleónicos; e
cruzamo-nos com um dos seus teste-
munhos — o caíque Bom Sucesso, no
qual olhanenses viajaram em 1808
até ao Brasil para dar a boa nova da
restauração do Reino do Algarve ao
príncipe regente.
As águas da ria escondem muitos
segredos e não falamos só da fauna
e fl ora que aqui fl orescem. Falamos,
por exemplo, dos bancos de areia
que na maré baixa são ilhotas, das
ilhas minúsculas sem nome. Passear
por aqui é conhecer as marés e as
luas; é conhecer os canais que se em-
brenham nos canais: Jaime mostra-
nos um mapa — o azul está sempre
debaixo de água, o verde depende
das marés. Vemos bóias a fl utuar e sa-
bemos que há gaiolas no fundo para
moluscos, até peixe, vemos estacas
de madeira e sabemos que estão a
delimitar viveiros.
“Quintas do mar”, explica Jaime
em inglês, como as que vemos níti-
das entre a Culatra e os Hangares:
uma depressão no terreno que a
maré baixa torna pequenas lagoas,
aí deixa-se a “comida” para criar
ostras, amêijoas (boa, cão, branca),
mexilhões, berbigões, lingueirões
— é um processo de paciência, de
apanhar areia, colocar areia e vá-
rias marés para a conclusão. “Cada
tarefa tem um tempo.” Porém, aqui
o trabalho é ajudado por condições
naturais excepcionais — com uma
profundidade média de dois metros,
o sol penetra nas águas, mantendo
uma temperatura favorável, o que
resulta em plâncton riquíssimo que
se mantém estável no sapal graças
às ilhas que barram o mar. Assim, a
ria funciona como uma espécie de
porto de abrigo e incubadora de vá-
rias espécie de peixes (79), moluscos
(288) e crustáceos (5).
Esta série tem o patrocínio
À praia do Barril chega--se de comboio ou a pé, sempre com a ria quase como rés-do-chão; ao lado, o bairro dos pescadores da península do Ancão, em Faro; em cima, à direita, a ria Formosa como se apresenta na ilha de Tavira
Tiragem: 45640
País: Portugal
Period.: Semanal
Âmbito: Informação Geral
Pág: 8
Cores: Cor
Área: 26,26 x 30,14 cm²
Corte: 5 de 9ID: 49072069 03-08-2013 | Fugas
CapaFugas em Portugal V: Algarve
Bunkers e sunset partiesHá quem diga que a Culatra (N 37º
00’07.74, W 7º48’29.55) é a mais
completa ilha da ria. E neste mundo
é, aliás, três ilhas: Culatra, Hangares
e Farol, os núcleos populacionais.
Chegamos a ela vindos da Armona,
atravessando a barra que já foi a prin-
cipal entrada na ria, até à construção
da barra artifi cial no Cabo de Santa
Maria, no Farol (N 36º 58’ 41.57’’ ,W
7º 51’ 22.83’’). A Culatra, núcleo, é
uma excepção entre as ilhas — é a úni-
ca com uma comunidade residente
constante, cerca de mil habitantes,
que dispõem de centro de saúde, bi-
blioteca, escolas, multibanco…
A Avenida 19 de Julho (que assinala
o dia da ilha, aquele de 1987 em que
os culatrenses boicotaram as eleições
legislativas para reivindicar melhor
vida) atravessa a ilha até ao passadiço
que chega à praia, passando por lago-
as, secas nesta maré baixa, subindo
dunas — é visível a resiliência desta
vegetação: umas tanto sobrevivem
cobertas de água como sob sol in-
clemente (são halófi tas); outras estão
expostas ao vento e ao sal. A praia a
que chegamos, com espreguiçadei-
ras e guarda-sóis brancos, tem mais
estrangeiros que portugueses: é um
quilómetro de caminhada.
O Farol tem praias mais acessíveis
e isso é visível na concentração de
guarda-sóis e toalhas nos areais — pri-
meiro, uma enseada, depois o areal
que se prolonga até à Culatra. Passa
os Hangares, zona militar desactiva-
da, rodeada de arames farpados onde
no mar”. Rita Sancho chegou há um
ano, ao Cais Aqui, bar que abriu com
outros sócios do lado da ria. Para trás
fi cou a carreira na banca em Lisboa.
“Passava férias na Deserta, desde
miúda. Quando as casas foram de-
molidas, passámos a vir para aqui.”
Agora, tem sunset parties todos os
dias e adora o novo “escritório” – a
ria, Faro ao fundo e o sol por trás.
E a Barreta/Deserta (N 36º 57’
51.21’’ , W 7º 52’ 42.55’’ ) ali ao lado.
Seria completamente deserta se não
houvesse um restaurante — afamado,
por sinal — e um habitante lendário,
o senhor Alves, o único resistente.
Conseguiu uma permissão especial
para continuar a viver ali, na costa
norte da ilha, numa das casinhas de
madeira junto ao restaurante. Não o
ainda se vê um velho bunker dos tem-
pos da I Guerra Mundial, quando
aqui começou a ser construído um
centro de aviação naval para a luta
anti-submarina — do lado da ria, fi ca
o núcleo piscatório, onde um enor-
me pontão recorda os tempos em
que aí ancoravam barcos da marinha.
Há poucos habitantes no Inver-
no, mas no Verão o Farol enche-se
de moradores: os que aí possuem
casa ou os que chegam de ferry.
Saem deste e atravessam zona de
bares, restaurantes, vendedores
ambulantes, embrenham-se entre
o casario, passam a Associação da
Ilha e o farol para chegarem à praia —
com dois bares-lounge. Jaime já viveu
aqui um Inverno — apenas ele e uns
poucos pescadores: “Tomava banho
Um grupo de espanhóis pergunta a hora do último comboio. “Hora de Portugal ou de Espanha?” Hora da ria Formosa, pensamos, onde o tempo muda tudo num piscar de olhos cósmico
Há quem diga que a Culatra (em cima, o farol do Cabo de Santa Maria), na foto à direita, é a mais completa ilha da ria
Tiragem: 45640
País: Portugal
Period.: Semanal
Âmbito: Informação Geral
Pág: 9
Cores: Cor
Área: 26,87 x 30,41 cm²
Corte: 6 de 9ID: 49072069 03-08-2013 | Fugas
em Espanha chamam-lhes perro
y fl auta e a verdade é que há cães,
guitarras, djambés.
O habitual passadiço de madeira
transpõe as dunas até à praia — ga-
lardoada pela Quercus pelo “melhor
concessionário” de 2013. O areal é ex-
tenso até perder de vista, mas aqui há
balizas de futebol, redes de voleibol e
chapéus-de-sol de colmo — as línguas
mais ouvidas são o inglês e o espa-
nhol e, por isso, num peditório do
IPO, somos abordados na primeira.
Mas é em português que nos falam
maravilhas da praia e da surpresa
com os preços. “Sempre pensámos
que o Algarve fosse muito caro, só
para ricos”, dizem Natália e Licínio.
Esta é a segunda vez que o casal emi-
grante em Paris aqui vem e é para
conseguimos encontrar — aqui algu-
mas lanchas fl utuam à beira da areia
e os tripulantes apanham sol em me-
tros e metros de areia livre.
Avistamos mariscadores enterra-
dos no lodo, por cima passam cons-
tantemente as “aves mais comuns
aqui, os aviões”, ironiza Jaime Pinho,
mas é a garça-branca-pequena que se
impõe, elegante, ao aterrar. Zona Hú-
mida de Interesse internacional, este
é um local obrigatório de migração
de aves, da África e da Europa, que
aqui passam os invernos, tornando-a
um paraíso de birdwatching – entre
visitantes e locais, estão catalogadas
214 espécies. O que se vê menos são
os cavalos-marinhos, que aqui têm
a sua maior concentração do mun-
do, mas em decréscimo acentuado:
continuar. O fi lho, Alex, é o mais en-
tusiasmado e já não quer ouvir falar
das praias do centro, de onde a famí-
lia é originária: “Nunca é tão bom lá
em cima. Há vento e muitas ondas.”
Da Praia de Tavira para poente su-
cedem-se três praias. Terra Estreita,
Barril e Homem Nu (é tão isolada que
as práticas naturistas são frequen-
tes). É ao Barril (N37º 05’ 11.0” W7º
39’ 45.0”) que nos aconselham a ir,
visitar o cemitério de âncoras. “Mas
não podem ir a caminhar”, avisa
o empregado do restaurante, “são
seis quilómetros e está muito sol”.
A solução é conduzir até Terras d’El
Rey e daí passar para a praia, a pé
ou de comboio — antes de tudo, uma
ponte de madeira, quase rés-do-chão
com a ria, que aqui parece um canal,
apenas. O cemitério de âncoras está
escondido por uma espécie de mini-
aldeamento (lojas, cafés) em edifícios
alvos, na duna mesmo sobre a praia,
toldos e espreguiçadeiras azuis. Aqui
houve uma pequena aldeia piscató-
ria, dedicada à pesca do atum — as
âncoras vêm dessa “armação” e ago-
ra são o testemunho, enferrujado, de
gerações que deram vida à que foi du-
rante muito tempo a actividade prin-
cipal destas paragens. Agora, o turis-
mo substituiu a pesca. Na paragem
do comboio um grupo de espanhóis
pergunta a hora do último. A respos-
ta suscita nova pergunta: “Hora de
Portugal ou de Espanha?” Hora da
ria Formosa, pensamos, onde o tem-
po, por mais lento que seja, muda
tudo num piscar de olhos cósmico.
Esta série tem o patrocínio
restarão menos de 300 mil e nós não
vemos um sequer. Tão-pouco nos
cruzamos com um camaleão, outros
dos habitantes exóticos das ilhas.
A ilha aqui tão perto e nós a es-
perar o ferry. É de curta duração a
viagem até à ilha de Tavira (N 37º 5’
40.64’’ ,W 7º 39’ 12.37’’), onde en-
contramos o já habitual “corredor”
de cimento. Entra no pinhal para
logo passar entre restaurantes — os
edifícios de um lado, as esplanadas
do outro, o marisco vivo em exposi-
ção e os veraneantes em fi las para
o areal — que acabam virados para
as dunas, o mar a brilhar. Antes, o
parque de campismo, poucas casas
entre as árvores e uma série de ven-
dedores de artesanato que recordam
a fama de ilha de hippies e freaks —
Tiragem: 45640
País: Portugal
Period.: Semanal
Âmbito: Informação Geral
Pág: 10
Cores: Cor
Área: 26,39 x 30,07 cm²
Corte: 7 de 9ID: 49072069 03-08-2013 | Fugas
CapaFugas em Portugal V: Algarve
Guia prático
COMO IR
Hotel FaroPraça D. Francisco Gomes, 2 Tel.: 289 830 830 Faro Email: [email protected] www.hotelfaro.pt
Vila Galé TaviraRua 4 de Outubro TaviraTel.: 281 329 900Email: [email protected]; [email protected]
Camping Ilha de Tavira (opção de aluguer de tendas)Ilha de TaviraTavira Tel.: 281 32 17 09 Email: [email protected]
ONDE COMER
O peixe é quem mais ordena na gastronomia algarvia, destacando-se grelhado na brasa; lado a lado, o arroz e a cataplana de marisco, o arroz de lingueirão, a amêijoa, o berbigão… Não desespere quem prefere carne – na brasa (ou não) encontra-se de tudo.
Vasco da Gama Rua Vasco da Gama, 47 - FaroTel.: 289 825 646 Email: [email protected] www.marisqueiravascodagama.com
Estrela do MarLargo São João Deus - OlhãoTel.: 289 706 715http://restauranteestreladomar.pt
Casa de Pasto O RuiIlha da Culatra - OlhãoTel.: 289 704 437
Ponto de EncontroPraça Doutor António Padinha, 39 TaviraTel.: 281 323 730Email: [email protected]://rest-pontoencontro.com
Zé MariaIlha de TaviraTaviraTel.: 281 326 752; 917 811 540
O QUE FAZER
Olhão surge em posição privilegiada para explorar as três ilhas mais longínquas da ria Formosa — Armona, Culatra, Barreta — ainda que barcos também saiam de Faro (para a Barreta é o único cais de partida). De Tavira saem barcos para a ilha de Tavira.
ONDE DORMIR
Real Marina Hotel & SpaAv. 5 de Outubro OlhãoTel.: 289 091 300Email: [email protected]
Parque de Campismo Orbitur (Armona)Ilha de Armona / Apartado 487OlhãoTel.: 289 714173 www.orbitur.pt/camping-orbitur-ilha-de-armona
Estói Pequena aldeia entre Faro e São Brás de Alportel, é conhecida por um inesperado palácio em estilo rococó (Pousada de Faro), com jardins exuberantes de palmeiras e laranjeiras, fontes, estátuas e pavilhões. Também em Estói, encontram-se as ruínas romanas de Milreu.
OlhãoÉ ao sábado de manhã que os dois mercados gémeos de Olhão (de peixe e hortaliças), um ao lado do outro, onde sobressaem os quatro torreões com cúpulas, mais brilham, quando é realizado um mercado ao ar livre — à noite é a zona mais animada da cidade. O centro, com as suas ruelas estreitas, largos e igrejas inesperadas, casas apalaçadas com varandas de ferros forjados e fachadas de azulejo e cantarias (sinal dos tempos em que a indústria das conservas empurrou a cidade para uma era dourada), vale bem uma caminhada.
Tavira Foi no século XVI a cidade mais populosa do Algarve e os resquícios dessa grandeza encontram-se pelas ruas, desde o rio Gilão, com casas sobre ele debruçadas a lembrar mesmo Veneza (ouvimo-lo muitas vezes pelas ilhas, mas aqui entra-nos nos olhos), até ao castelo, hoje memória plasmada numa torre mesmo ao lado da Igreja de Santa Maria do Castelo, que ocupa o local de uma antiga mesquita. As suas ruelas íngremes de casas humildes e as suas ruelas planas de casas brasonadas revelam a história rica da cidade, onde abundam igrejas.
Ria Formosa Há uma série de empresas que organizam diversas actividades, desde passeios de barco pelas ilhas, de caiaque, observação de pássaros (no mar e em terra), observação de golfinhos, passeios pelas salinas, percursos terrestres. A Fugas fez um passeio pelas ilhas Armona, Culatra e Barreta com a Natura Algarve (52€ - 6horas).
Parque Natural da Ria Formosa Proporciona um percurso pedestre de três quilómetros com passagem por uma estação romana do século IV (vestígios de antigos tanques de salga de peixe), um moinho de maré, uma barca de atum que levava o pescado às fábricas de conserva da área (em mau estado), um observatório de aves em liberdade, um aquário anexo ao Centro de Educação Ambiental, o Centro de Recuperação de Aves, onde se reabilitam aves feridas e Centro de Reprodução e Criação de Cães-de-Água do Algarve.
Faro Na capital algarvia, o centro congrega uma série de edifícios interessantes, resultantes da reconstrução da cidade depois do terramoto de 1755 — destaque para o Paço Episcopal setecentista e a catedral; o cemitério dos Judeus também do século XVIII, merece uma visita.
Até ao fim de Agosto, a Fugas publica uma série de reportagens que nos levará pelos caminhos de Portugal. Na próxima semana, andaremos por Trás-os--Montes.
Tiragem: 45640
País: Portugal
Period.: Semanal
Âmbito: Informação Geral
Pág: 1
Cores: Cor
Área: 27,57 x 33,47 cm²
Corte: 8 de 9ID: 49072069 03-08-2013 | Fugas
O Algarve formoso do nosso contentamento