algarve informativo #paulo cunha

56
ALGARVE INFORMATIVO 1 As crónicas de Paulo Cunha ALGARVE INFORMATIVO WWW.ALGARVEINFORMATIVO.BLOGSPOT.PT

Upload: daniel-pina

Post on 29-Jul-2016

234 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

50 crónicas de Paulo Cunha na Revista Algarve Informativo

TRANSCRIPT

Page 1: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO1

As crónicas de

Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVOWWW.ALGARVEINFORMATIVO.BLOGSPOT.PT

Page 2: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 2

Page 3: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO3

Page 4: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 4

O Algarve é (sempre) notícia!

O telemóvel tocou… Nooutro lado, depois de seapresentar, o interlocutor

de imediato perguntou se merecordava da última vez que metinha entrevistado. De apelido Pina eDaniel de seu nome próprio, logodele me recordei pela suaamabilidade no trato e saber nafunção. Prontamente se encarregoude me explicar o seu novo sonhoque, em forma de projetoinformativo, começou há poucotempo a dar os primeiros passos.Acompanhando numa rede socialalguns dos meus «desabafosopinativos», desafiou-me a embarcarna sua «carruagem informativa»que, já em marcha, pretende chegarlonge e a muitos destinos.

Efetivamente, há quem chateie oparceiro do lado, há quem falesozinho, há quem assobie para olado e até há quem queime caloriase gaste energias para, de tãocansado, chegar a casa e não teração para pensar no quer que seja.Pois… cá por estes lados tentocomungar e partilhar ideias epensamentos em forma daexorcização de alguns engulhosdiários. Ora, o que é um facto é que,de desabafos em desabafos econstatações em constatações,algumas ideias que expressomerecem a atenção e oreconhecimento de pessoas que,como eu, exercem no seu dia-a-diauma forma de estar ativa einterventiva. Gente que fazacontecer… Gente que, tal como oDaniel, quer mostrar que o Algarveestá vivo, recomenda-se, e isso énotícia!

Poder colaborar num projeto quese quer ganhador é sempre umdesafio, pois obriga a atrair e aconquistar através do conteúdo daescrita, da imagem, da fotografia, dareportagem, da pesquisa, dografismo, do lettering… enfim, dumamultiplicidade de fatores que, comdiminutos e parcos orçamentos,constitui um desafio constante.Mostrar e partilhar a opinião dequem vive nesta «ilha» criada pelaexistência de um Alentejo depermeio não é um dever, é umimperativo, pois só juntos nas ideiase nos ideais poderemos fazer valeras nossas reivindicações e anseiosenquanto região diferente naidentidade, mas igual nascaracterísticas que nos tornamdevedores de um tratamentoigualitário face aos nossos pátriosconcidadãos.

Depois de folhear digitalmente eler a segunda edição da newsletterdo «Algarve Informativo» fiquei coma nítida sensação que este poderá vira ser um projeto com «pernas paraandar» nos vários formatos deedição possíveis. Assim seja, pois éna adversidade e contrariedade dasmuitas «crises» que se reconhece oespírito lutador, empreendedor eganhador. Felizmente tenhoconstatado que muitos algarvios, aocontrário do que alguns pensam, nãoadormeceram à sombra dabananeira a maldizer a sua sorte. Écom estes que o Algarve se faz nodia-a-dia. Portanto: que o vosso sejatambém o nosso êxito!

(…) Efetivamente, háquem chateie o parceirodo lado, há quem falesozinho, há quemassobie para o lado e atéhá quem queime caloriase gaste energias para, detão cansado, chegar acasa e não ter ação parapensar no quer que seja.Pois… cá por estes ladostento comungar epartilhar ideias epensamentos em formada exorcização de algunsengulhos diários (…)

Page 5: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO5

(in)Formação de Públicos?

Reza a história que, na altura emque decorreu a segunda guerramundial, houve quem quisesse

forçar Winston Churchill a cortar nadespesa a orçamentar, reduzindo oapoio às artes para que, assim, houvessemais dinheiro para o esforço de guerra.Ao qual Churchill respondeu: “Sefizermos isso, então estamos em guerrapara defender o quê?”. Não estando emguerra aberta, nem declarada contranenhum inimigo visível ou aparente,lutamos diariamente contra a mãe detodas as pequenas crises quotidianas, aCrise que, por estarmos reféns de umpassado demasiado pesado, doloroso epenoso, nos impede de projetar umfuturo condigno e duradouro. Umpassado que tolda e inibe a capacidadecriativa e mobilizadora de todos aquelesque, por omissão, demissão eignorância, continuam a depositar o seudestino em quem não tem capacidadepara o gerir. Esses mesmos que nãohesitam em cortar a eito em tudo o que,a espaços temporais, já foi feito. E asvelhas desculpas demagógicas são,invariavelmente, sempre as mesmas:“Estamos reféns da atual conjunturaeconómico-financeira”; “Primeiroalimenta-se o estômago, depois oespírito!”; “Custa-nos muito, mas temosque fazer opções políticas”. Depois,tapando o sol com a peneira, vão-secriando comissões de estudo e deanálise para que se afira o impacto dasreferidas medidas, como se não fossepossível, antecipadamente, adivinhar asconsequências nefastas da política deterra queimada no investimento culturaldeste país.

Atente-se naquilo que osprogramadores culturais tanto gostamde falar como sendo prioritário nodesempenho dos seus mandatos: aformação de públicos. Será que na suaformação enquanto tal aprenderam queos públicos se formam em paralelo com

a sua formação enquanto seres cívicos,humanistas e consciencializados?… Deberço, como em tudo na vida?! Sei doque falo, e falo com propriedade, poiscomo pai sei que, seja onde for, as artestêm público nos meus filhos. Seitambém que o investimento realizadodurante os dez anos em que,conjuntamente com companheirosmúsicos e professores, levei váriosinstrumentos e géneros musicais agrande parte das crianças algarvias, estáagora a dar os seus frutos nas escolas demúsica, academias, bandas filarmónicas,agremiações culturais e auditóriosalgarvios. Uma pessoa fidelizada àcultura é-o em qualquer parte domundo. Isso sim, é formação de púbicos.Experimentem observar os estrangeirosresidentes e os turistas que enchem osnossos espaços culturais mesmo, porvezes, não sabendo ao que vão. Vãoporque precisam e querem cultura!Está-lhes no sangue porque cresceramcom ela. Por favor, não confundamosprogramação a gosto, divulgação einformação de eventos culturais comformação de públicos. Nada maiserrado!

(...) “Estamos reféns daatual conjunturaeconómico-financeira”;“Primeiro alimenta-se oestômago, depois oespírito!”; “Custa-nosmuito, mas temos quefazer opções políticas”.Depois, tapando o solcom a peneira, vão-secriando comissões deestudo e de análise paraque se afira o impactodas referidas medidas,como se não fossepossível,antecipadamente,adivinhar asconsequências nefastasda política de terraqueimada noinvestimento culturaldeste país (…)

Page 6: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 6

Comer dentro da gaveta

Antes que me «cruxifiquem»depois de ler as lembranças,constatações e considerações

que aqui vou partilhar, deixo bempresente que sou algarvio, filho de umaalgarvia e de um beirão que para cámigrou. Lembro-me da primeira vez queouvi comentar que os “Algarvios comemdentro da gaveta”, termo que um alunode Vila Real de Santo António, há cercade trinta anos no ConservatórioRegional do Algarve, me explicou serusado no sotavento algarvio paracaracterizar depreciativamente osalgarvios na forma de partilhar o que éseu. Na altura acreditei, mas hoje seique, em termos históricos, tal nãocorresponde à verdade, pois o termoderiva do tempo em que o comércio nãofechava à hora do almoço, e assim ocomerciante comia dentro da gavetapara que, quando chegasse um cliente,o pudesse, de imediato, atender.Bastava fechá-la…

Mas o termo ficou por cá a «bater»,pois fruto do contacto e sociabilizaçãocom tantos amigos que escolheram oAlgarve para residir, por experiênciaprópria e observando os usos ecostumes de algumas populaçõescitadinas com que privei ao longo destemeio século de vida, constatei algumafalta de reciprocidade no que à partilhae ao dar do que é seu diz respeito.Convivendo com amigos de outrasetnias e proveniências geográficas eregionais, constatei que o seu chão é onosso chão, mas - dito por eles - o nossochão não é o seu chão. É verdade!...Quantas vezes abri e escancarei asminhas portas e janelas aos meuscolegas, a companheiros de lides váriase até a alguns amigos e o contrárioraramente aconteceu?! Gente que secontacta no dia-a-dia mas não partilha oseu lar, a sua família, o seu ser paraalém do seu trabalho, de uma rua dasua cidade ou de um Café de bairro.

Sempre questionei a razão pela qualcertas cidades algarvias têm tantoscafés, bares e restaurantes, alguns namesma rua… Com o tempo percebi arazão: são a sala de estar de grandeparte das famílias algarvias.Obviamente, receber em casa é abrir onosso espaço aos outros, é expor anossa vida real, é gastar para oferecer, écontinuar a trabalhar depois dosconvidados saírem, enfim… é dar!Infelizmente, esta é uma região em queo turismo caracteriza o preço da oferta;os convites são efetuados em grupopara depois serem cobradosindividualmente; o parecer é maisimportante que o ser. E assim, atravésda reciprocidade (ou falta dela), se aferemuito das características de um povo!

Dizia-me um amigo que, regressadode África, para cá veio viver depois do25 de abril:

- Os meus pais levaram anos aconvidar e a receber colegas detrabalho, vizinhos e novos amigos e,volvido esse tempo, nunca chegaram aconhecer as casas dos seus convidados econvivas. Um dia cansaram-se…Conheceram, finalmente, uma dascaracterísticas de alguns algarvios.

Confesso, também a mim issosempre me fez «espécie». Talvez porisso, no ano passado, depois de umaconvocatória para uma AssembleiaGeral de Condomínio marcada para oexíguo hall de entrada do meu prédio,eu, à revelia da minha família, coloqueia nossa casa à disposição das trintafrações representadas para que areunião tivesse a dignidade erepresentatividade exigidas. Apareceuapenas um quarto dos condóminosconvocados e assim, felizmente, menostive que ouvir cá em casa pela minhaforma de estar na vida… Coisas de umalgarvio que gosta de partilhar! .

(…) Sempre questioneia razão pela qual certascidades algarvias têmtantos cafés, bares erestaurantes, alguns namesma rua… Com otempo percebi a razão:são a sala de estar degrande parte dasfamílias algarvias.Obviamente, receber emcasa é abrir o nossoespaço aos outros, éexpor a nossa vida real, égastar para oferecer, écontinuar a trabalhardepois dos convidadossaírem, enfim… é dar!Infelizmente, esta é umaregião em que o turismocaracteriza o preço daoferta; os convites sãoefetuados em grupo paradepois serem cobradosindividualmente; oparecer é maisimportante que o ser (…)

Page 7: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO7

Os primeiros 15 anos

Sinto algum pudor e até o «seuquê» de relutância em escrevereste «público desabafo», pois

sinto estar a advogar em causa própria,mas… muito provavelmente, se não foreu a fazê-lo, ninguém o fará! Poderá nãoser informação ou notícia que mereçadestaque ou partilha mas, para mim epara outros tantos como eu, ver o sonhotornado realidade e, volvidos quinzeanos, merecer reconhecimento dospares e das instituições parceiras deixa-me, sem qualquer margem paradúvidas, orgulhoso e reconhecido.

Quando, ainda nos últimos meses doséculo passado, no escritório do meuamigo Mário Silva em S. Brás deAlportel, com ele congeminava a criaçãode uma nova associação cultural,suficientemente abrangente e ecléticarelativamente às várias vertentesartísticas, aos múltiplos gostos einfluências culturais, às diversas faixasetárias, às muitas proveniênciasregionais e às variadas parceriasinstitucionais, jamais imaginaria que a«Associação Cultural Música XXI» nos«tocasse», algarvios, como tocou. Agrande maioria não a conhece pelonome, nem dela alguma vez ouviu falarmas, por certo, já assistiu ou participounalguma iniciativa por ela produzida ourealizada. A título de exemplo refiro aedição de múltiplas edições literárias ediscográficas, a realização da «Músicade Pais para Filhos» em várias cidadesalgarvias, a produção da exposiçãofotográfica «World Press Photo» emPortimão, a realização do «Festival deÓrgão» em Faro, entre muitas outrasque seria fastidioso e descabido aquienumerar.

Estive dez anos à frente da direção dadita e, chegada a altura, saí pelo meupróprio pé deixando-a, aparentemente,

com saúde financeira suficiente ebastante para continuar na senda doinvestimento cultural a que de início sepropôs. Mas… refém dos muitoscréditos por receber de váriasautarquias parceiras em produções einiciativas conjuntas, tem vido a sentirnos últimos anos a crise que atacou,também, o livre associativismo emPortugal. Como muitas outrasassociações por este Algarve fora, estecoletivo existe fruto da dedicação deuma mão cheia de carolas que,apaixonada e abnegadamente, dá doseu tempo, da sua família e da suarealização pessoal para fazer e veracontecer aquilo que acredita ser omelhor para o enriquecimento culturalda região em que vive: o «seu» Algarve.

Aquilo que nela me dá mais motivosde orgulho são - e continuarão a ser - osassociados que dela fazem umaverdadeira associação. Não são tantoscomo eu gostaria e desejaria, poisacredito nas associações feitas porpessoas e não por profissionais doassociativismo, mas são os suficientespara que quando com eles reúno naqualidade de presidente da suaAssembleia Geral, perceba o ânimo, oempenho, o agrado e a alegria com que,usando a «Música XXI», tentam dar oênfase, a preponderância, a relevância ea dignidade de que a arte é credora emerecedora, especialmente, a sul.

Saber que o legado nasceu e foiconstruído assente em princípios dehonestidade, integridade,respeitabilidade, perseverança,dedicação e trabalho dá a todos quefizeram a sua história, de muitasestórias feita, um lugar na história. Paraquem tem e preserva a memória! .

Paulo Cunha

(…) Como muitasoutras associações poreste Algarve fora, estecoletivo existe fruto dadedicação de uma mãocheia de carolas que,apaixonada eabnegadamente, dá doseu tempo, da suafamília e da suarealização pessoal parafazer e ver aconteceraquilo que acredita ser omelhor para oenriquecimento culturalda região em que vive: o«seu» Algarve (…)

Page 8: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 8

Qual o custo/preço de umMúsico?

Circula nas redes sociais um«post» onde um Músicoresponde a um empresário que

procurava animação musical gratuitapara o seu restaurante a troco depromoção e possibilidade de vender osCD de quem lá fosse tocar, respostadada com tal requinte, inteligência eclarividência que mereceu a minhamelhor atenção, agrado e concordância.Consta que relata uma situaçãorealmente ocorrida. Como tal, vouaproveitar este espaço para o partilharconvosco:

- "Somos um restaurante pequeno ecausal no centro da cidade e estamos àprocura de músicos para cá tocarem degraça, podendo assim promover a suamúsica e vender os seus CD. Este nãoserá um emprego diário. Será paraeventos especiais que, eventualmente,poder-se-ão tornar diários logo que aresposta do público se torne positiva.Preferimos que toquem Jazz, Rock eoutros ritmos mais leves, de todo omundo e de várias culturas. Estáinteressado em promover o seutrabalho? Então comunique connosco omais rápido possível" – ao qual o Músicorespondeu: "Feliz Ano Novo! Eu sou ummúsico com uma casa grande à procurade um dono de restaurante que venha àminha casa promover o seu restaurante,fazendo comida de graça para mim epara os meus amigos. Isto nãoacontecerá diariamente mas, emprincípio, em eventos especiais, os quaispoderão eventualmente aumentar etornarem-se algo grande e diário se aresposta for positiva. Preferimos carnede primeira e refeições exóticas eculturais. Está interessado em promoverseu restaurante? Então comuniqueconnosco urgentemente !!!".

É um facto, grande parte dosportugueses olha para um Músico como

alguém que serve unicamente paraentreter (entertainer), seja qual for asituação, o lugar ou a ocasião. Se nãovejamos: vai um Músico lá a casa ou aum encontro público e, invariavelmente,pedem-lhe para animar o «pessoal»,pois já que é músico… obviamente não ofazem com os outros profissionais, sejaqual for o ramo; há uma angariação defundos, um concerto de solidariedade,um movimento humanitário, um eventocomemorativo, e lá estão os Músicos a«alinhar»… gratuitamente, obviamente;vão tocar a um bar, a um «pub» ou a umrestaurante e, muito naturalmente,grande parte das pessoas prestam-lhesa mesma atenção que à música que saidas colunas ligadas a um leitor de CD…nenhuma! É este o preço de um Músicoem Portugal, o preço da indiferença, doabandono, do descrédito e dasubestimação.

E qual foi o custo de formação desteMúsico, hoje votado à públicaostracização? Independentemente dogénero ou estilo musical, todos eles, àsexpensas das suas famílias e de sipróprios, custearam mais de umadezena de anos no ensino privado,desde tenra idade, paralelamente aoensino genérico, longe de casa e dafamília e com grande força de vontade,determinação e abnegação. Houvessealguém que se atravesse a contabilizar oinvestimento na formação de umMúsico e ficaria, por certo, de “boca -mais do que - aberta” perante aenorme, disparatada e violentadisparidade entre a relação no custo daformação de um Músico e o preço comque o mesmo se «vende» para ganhar avida. Não, nada que um Músico venha aganhar será de mais… Apenas aignorância que sobre eles recai!

Paulo Cunha

(…) há uma angariaçãode fundos, um concertode solidariedade, ummovimento humanitário,um eventocomemorativo, e lá estãoos Músicos a «alinhar»…gratuitamente,obviamente; vão tocar aum bar, a um «pub» ou aum restaurante e, muitonaturalmente, grandeparte das pessoasprestam-lhes a mesmaatenção que à músicaque sai das colunasligadas a um leitor deCD… nenhuma! É este opreço de um Músico emPortugal, o preço daindiferença, doabandono, do descréditoe da subestimação (…)

Page 9: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO9

Tal pai, tal filho…ou será o contrário?

Já alguma vez vos aconteceusentirem-se envergonhados porcausa de comportamentos

alheios? É uma reação básica eestranha, uma vez que não somos nósos responsáveis pelo ato que a causoumas, pelo inesperado, estranheza econsequência do mesmo, instala-se ummau estar em quem o assiste. Foi o queme aconteceu na minha últimadeslocação ao Teatro Lethes (Faro) paraassistir à última produção teatral da«ACTA».

Numa tarde já um pouco encalorada ecom meia casa composta,maioritariamente, por um públicosénior, tive a receber-me à entrada oencenador/ator Luís Vicente, o querevela a relação de proximidadedesejada por esta Companhia de Teatrosediada no Algarve. Pequenos gestosque tornam grande a relação entre opúblico e os artistas! Começando porendereçar uma comunicação/solicitaçãoao público presente, o diretor daCompanhia terminou a sua alocuçãopedindo, eloquentemente, que omesmo desligasse ou colocasse os seustelemóveis em silêncio, por forma a nãoincomodar o desenrolar daapresentação da peça.

Sendo «À espera de Godot» uma dasobras icónicas de Samuel Beckett e,neste caso, cuidadosa emeticulosamente recriada, encenada einterpretada por atores «de mão cheia»,toda a atenção a lhe ser dispensadaseria bem-vinda e desejável. Mas tal nãoaconteceu… Ainda a primeira parteestava a decorrer e já –recorrentemente – diálogos ecomentários de dois espetadores sesobrepunham à representação, como senum desafio de futebol seencontrassem. O meu mal-estar, adesconcentração, a desconcertação e oincómodo aumentavam à medida que o

tempo passava… Eis senão quando umoutro espetador sénior, atrás de mim,resolveu ligar o seu telemóvel/tablet,iluminando aquele setor da plateia.Assim se manteve mais de dez minutos,até que a aplicação em que navegava(google maps) resolveu começar adebitar em «alta-voz» o caminhopesquisado tão insistentemente paranão sei onde… A sala gelou!...Imediatamente, o encenador, tambémem palco na qualidade de ator, resolveuinterromper a representação pedindopara ligarem as luzes. O que depois sepassou coíbo-me de aqui relatar, poisaté ameaças por parte do espetadorinfrator, desavergonhado e despeitado,houve. Foi indigno, vexatório eatentatório contra a dignidade,integridade e profissionalismo dosatores, e de uma falta de respeito paracom todos os que, como eu, pagaram oseu bilhete para sermos transportados aoutra realidade que não aquela que nosacompanhou até ao fim da digna ebrilhante representação.

Já fora do Teatro fiz a analogia do quese passou com aquilo que conheço econstato no dia-a-dia das escolasportuguesas: interrupções constantes efalta de atenção e respeito pelo que osprofessores dizem; uso de aparelhoscom multifunções enquanto decorremas aulas; afronta ao papel, dignidade eautoridade do professor. Tal e qual oque assisti, impávido e nada sereno,numa sala de espetáculos da capital doAlgarve, onde seniores me/nosmostraram o porquê e a razão dosmesmos comportamentos por parte dosseus juniores. Nada acontece poracaso… Isto de acusar os jovens decomportamentos indevidos e incorretostem mais e muito que se lhe diga,porque neste e noutros casos a culpanão morre, definitivamente, solteira!

Paulo Cunha

(...) interrupçõesconstantes e falta deatenção e respeito peloque os professoresdizem; uso de aparelhoscom multifunçõesenquanto decorrem asaulas; afronta ao papel,dignidade e autoridadedo professor.Tal e qual oque assisti, impávido enada sereno, numa salade espetáculos dacapital do Algarve, ondeseniores me/nosmostraram o porquê e arazão dos mesmoscomportamentos porparte dos seus juniores(…)

Page 10: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 10

Privatize-se Portugal!

“A troika assim o exigiu e sónos resta cumprir!”,“Estava no programa

eleitoral!”, “Se não o fizermos, teremosque restruturar as empresas eprovavelmente seremos obrigados aproceder a «cortes» e despedimentos!”,são as frases feitas de gente que, comfrases feitas, convenceu uns quantos,suficientes, que deram a maioria a umgoverno que - legitimamente - podefazer o que quiser… à custa de quemnão votou, e assim legitimou umaconfortável aliança maioritária naAssembleia da Republica.

Sou daqueles que não aliena o que éseu apenas por «dá cá aquela palha» oupor um caso de necessidade, masresolúvel, pois sabe que no futuropoderá ser uma mais-valia. Primeirotento esgotar todas as possibilidades,hipóteses e soluções possíveis. Sendoum «muito pequenino» administrador,sei que, quando o comando é débil eimpreparado, mudando-o, oscomandados, naturalmente, trabalharãobem melhor. Sei que a «Máquina doEstado» é atreita a vícios e manhas, mastambém sei que tudo tem soluçãoquando quem tutela os váriostentáculos estatais assim o quer (esabe). Sei que há sempre soluçãoquando a inevitabilidade não é a morte,mas o que atualmente registo é a mortedeclarada de símbolos e fontes dereceita para o erário público português.

Portugal não é apenas território,Portugal é essencialmente quem nelevive e o faz viver. Não se pode ver o

património público português como umfardo ou um empecilho, mas sim comouma fonte de receita através dosportugueses que dele tratam, cuidam,protegem, garantem, trabalham efinanciam. Coloquem nasadministrações das empresas públicaspessoas meritocraticamente preparadase ideologicamente isentas e verão seserá necessário, mais uma vez, vender aretalho parte das verdadeiras fontesgeradoras de riqueza do país. Comtantas reservas em ouro, ninguém nelasousa tocar ou falar, mas poucosquestionam a venda ao desbarato das«galinhas dos ovos de ouro» que algunsse preparam para, muito brevemente,alimentar no seu «quintal».

Recuso-me a acreditar que os mesmosgestores que operam milagres no setorprivado não tenham capacidade de ofazer no setor público. Muito menos queo motivo seja unicamente a diferençano salário que auferem. Parece que, àmedida que o tempo passa, tudo o queé «nosso» está inevitavelmentecondenado a ser um fracasso, a darprejuízo, a ser um «peso morto» e umafonte de problemas.

Começo a estar farto dasinevitabilidades com que certosiluminados que usam os partidospolíticos para se «orientarem» metentam impingir para justificar o quepara mim é injustificável. Sei que algunspensam como eu e isso acalenta-me aesperança de continuar a viver em soloportuguês (em Portugal). Vamos ver atéquando?… .

Paulo Cunha

(…) Recuso-me aacreditar que os mesmosgestores que operammilagres no setor privadonão tenham capacidadede o fazer no setorpúblico. Muito menosque o motivo sejaunicamente a diferençano salário que auferem.Parece que, à medidaque o tempo passa, tudoo que é «nosso» estáinevitavelmentecondenado a ser umfracasso, a dar prejuízo,a ser um «peso morto» euma fonte de problemas(…)

Page 11: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO11

A marca «Algarve Musical»

Em 2013, fruto de um ciclo deconferências promovido pelaUniversidade do Algarve e pela

Direção Regional de Cultura do Algarve,denominado «Quintas de Cultura»,foram editados em livro uma série detextos que daí resultaram. Não tendonestes dois anos alterado uma vírgula aoque então pensava, aqui transcrevo oúltimo parágrafo da minha participaçãona referida publicação. Vindo de quemvem vale o que vale, mas é esse o meudesejo para um Algarve mais cultural noqua à Música diz respeito:

- “É altura de parar para pensar econfirmar a importância que asassociações e coletividades algarviasnão profissionais nemprofissionalizantes ligadas à Músicasempre tiveram e que, na atualconjuntura, está ser notória e fulcral. Noatual panorama musical, são elas ogarante na produção e realizaçãomusical efetiva no nosso dia-a-dia. Masserá preciso chegar a estes extremospara os responsáveis institucionais edecisores políticos entenderem que elassempre existiram e que, apesar de todaa sua intrínseca e voluntariosa riquezamusical, raras vezes foram merecedorasda devida e merecida atenção? São elasque, hoje, no Algarve real, através dosseus associados, colaboradores ediretores, idealizam, promovem,produzem, realizam, gravam,

concretizam… Música! Chegámos aomomento em que é preciso dar o salto,pois, fruto das circunstâncias, nada serácomo dantes. Será um erro crasso, comconsequências irreparáveis para asgerações que nos sucederão, serconivente e deixar - outra vez - osagentes musicais algarvios seremmarginalizados, subalternizados,vilipendiados, preteridos e esquecidos.Para que isso não aconteça, é precisoque todos os que estãoprofissionalmente ligados à Música seconsciencializem que a Música feita noAlgarve só será devidamente respeitadae creditada quando todos eles aassumirem e considerarem como una,sem compartimentaçõespreconceituosas. É necessário afirmar aatividade musical através da criação deestruturas profissionais onde todos osque pela sua exigência, dedicação,profissionalismo, qualidade e méritopossam constituir-se como um núcleogerador de oportunidades criativas,interpretativas e performativas. Sóassim poderemos, de uma vez portodas, tentar que a marca «AlgarveMusical» se constitua como mais umafonte de divulgação e rentabilização danossa região. A bem da Música e doAlgarve, criemos sons com outros tons”.

Paulo Cunha

(…) É altura de pararpara pensar e confirmara importância que asassociações ecoletividades algarviasnão profissionais nemprofissionalizantesligadas à Música sempretiveram e que, na atualconjuntura, está sernotória e fulcral. Noatual panorama musical,são elas o garante naprodução e realizaçãomusical efetiva no nossodia-a-dia (…)

Page 12: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 12

Deficientes?...

Adjetiva-se alguém queapresenta deformação física ouinsuficiência de uma função

física ou mental como deficiente. Pois…entendo, mas cada vez mais concordomenos com esta definição. É que aolongo dos meus trinta e três anos dedocência tenho vindo a aprender com osditos «deficientes» o que éefetivamente a deficiência. Passo a explicar: com cerca de vinte epoucos anos de idade aceitei lecionar asdisciplinas de «Piano» e «FormaçãoMusical» a uma aluna cega. Obviamentea formação e preparação de base paratal foi «zero». Valendo-me de algumaltruísmo, do desejo de arriscar, davontade de partilhar, do anseio deaprender e de querer ser solidário,avancei com tal desiderato… Trabalheicom a dita aluna para que prosseguisseestudos e hoje, com satisfação inauditae enorme orgulho, vejo-a na qualidadede professora habilitada para lecionarvárias «cadeiras» ligadas ao ensino daMúsica, além de ser uma ótima cantorae pianista de jazz. O tempo entretanto passou e eis que,há quinze anos, me «bateu à porta»outro convite improvável, o de acolheruma turma de alunos surdos no seio daaprendizagem musical. Se no início dacarreira letiva o desafio me pareceuinegável, volvidos alguns anos, eestando intelectualmente mais maduro,resolvi pedir uns dias para refletir,informar-me e aconselhar-me, pois,mais uma vez, repetia-se a «cena» -formação e preparação de base para tal,«zero». E a história voltou a repetir-se…mais uma vez aceitei. E em boa hora o

fiz! Quinze anos volvidos em contactocom o mundo do silêncio e o resultado éencontrar-me hoje muito mais ricomusical, intelecto e afetivamente.Foram várias turmas de gente que meensinou muito mais do que eu mepropus e lhes consegui ensinar.Inquestionavelmente!

Daí a dificuldade em conceber eaceitar estes alunos como sendodeficientes, pois à declarada e assumidainsuficiência e incapacidade de ouvircontrapõe-se a notória capacidade paraigualar, e até superar, os ouvintes noque lhes é solicitado musicalmente. Aforma como sentem as vibrações e nelasouvem o que a natureza lhes roubou écomparável ao que os dedos da alunacega viam ao tocar nas teclas do piano.Fui bafejado por esta graça que metocou em vida, a de poder conhecer (ereconhecer) na falta de um ou maissentidos, a superioridade de muitos naluta e superação constante contra aindiferença e o estigma de quem, nãosabendo, não conhecendo e nãoquerendo, tantas vezes os ostraciza. Sãoconcidadãos que merecem todo o nossoapoio, atenção e estima e não ascostumeiras «caridadezinhas» paraeleitor ver e logo a seguir esquecer.

Por isso, muitas vezes - em tombrincalhão e com alguma provocação àmistura - digo que prefiro lecionar aos«deficientes declarados» do que aos«deficientes não declarados». Sim,porque considero mais deficiente aqueleque pode e não faz do que aquele quenão pode e faz! Para bonsentendedores… .

Paulo Cunha

(…) Fui bafejado poresta graça que me tocouem vida, a de poderconhecer (e reconhecer)na falta de um ou maissentidos, a superioridadede muitos na luta esuperação constantecontra a indiferença e oestigma de quem, nãosabendo, nãoconhecendo e nãoquerendo, tantas vezesos ostraciza. Sãoconcidadãos quemerecem todo o nossoapoio, atenção e estimae não as costumeiras«caridadezinhas» paraeleitor ver e logo a seguiresquecer (…)

Page 13: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO13

Os nossos «pontos de restauro»

É vulgar escutar o chavão/bordão«No meu tempo é que era bom!»proferido por gente que já viveu

bastante tempo… mas nãonecessariamente bastante. Referem-se,por certo, ao tempo da sua juventude.Altura da vida em que os sonhos seencontram à mão de semear, os desejosa um passo de se concretizar, aesperança voa na constância dos dias ea amizade não tem prazo, objetivo, nemdestino. Um tempo em que há tempopara desfrutar todo o tempo que a vidanos concede. Um tempo onde osmomentos nos marcam de tal formaque nos criam uma âncora temporal eum azimute vivencial.

Entretanto, o tempo passa e com elese perde, inapelavelmente, adisponibilidade para aproveitar o que onovo tempo nos oferece: a possibilidadede todos os dias criar memórias que nospossibilitem não perder tempo a falarde um tempo já passado. A voracidadedos dias torna fugazes e voláteismomentos carregados de substância,criando-nos a ilusão, à medida que osanos passam, que foi ainda ontem quevivemos o ano passado, tal a rapidezcom que dias iguais se atropelam uns aseguir aos outros.

Quantas vezes damos conta quemomentos e situações verdadeiramenteimportantes nos batem à porta e nós,

não sabendo e/ou não querendo, não osdeixamos entrar? Daí aquela sensaçãode perda e de saudade constante de umtempo em que fomos, efetivamente,felizes… Um tempo que já não voltaráatrás, porque para trás ficou adisponibilidade da juventude que omarcou!

Na maioria dos casos fomos erguendomuros profissionais, sociais e familiaresque nos acomodaram à modorra dosdias, aprisionando-nos e espartilhando apossibilidade de ir criando um novotempo: o tempo do agora! Um tempoem que as recordações sejam de talforma constantes e em númerosuficiente que, tal como com umcomputador, a elas possamos recorrersempre que os «vírus» diários nosentrem na nossa «memória operativa» enos mandem «a baixo».

Hoje já é possível atrasar oenvelhecimento corporal e mental, masnão o é impedi-lo. Irremediavelmente aisso estamos condenados! Permitir quea mente flua e nos faça transcenderpara lá das amarras ao passado poderáser, indubitavelmente, uma forma deenvelhecer jovialmente. Basta para issodar tempo ao tempo que ainda nosresta para continuar a criar «pontos derestauro». Os nossos «utilizadores»agradecerão! .

Paulo Cunha

(…) Na maioria doscasos fomos erguendomuros profissionais,sociais e familiares quenos acomodaram àmodorra dos dias,aprisionando-nos eespartilhando apossibilidade de ircriando um novo tempo:o tempo do agora! Umtempo em que asrecordações sejam de talforma constantes e emnúmero suficiente que,tal como com umcomputador, a elaspossamos recorrersempre que os «vírus»diários nos entrem nanossa «memóriaoperativa» e nosmandem «a baixo» (…)

Page 14: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 14

“Lá em casa quem mandaé ela!”

Não consigo deixar de sorrir e«pensar com os meus botões»quando oiço algumas

expressões (com o seu quê deidiossincrasia, na ótica de quem asprofere) tão queridas de certos génerose faixas etárias para justificar uma formade estar e agir em família e emsociedade. É comum, numa roda deamigos mais velhos, ouvir algunshomens dizer, orgulhosa e altivamente,que “Lá em casa quem manda é ela!”,parecendo que, com esta afirmação,manifestam publicamente a sua partilhade poderes face ao contexto familiar emque estão inseridos. Querendo parecerser detentores de grandecondescendência e bonomia, anuem emsubentender uma curiosa partilha depoderes: “Tu mandas lá em casa, eumando no resto!”. Espremendo estaafirmação, facilmente damos conta queo sumo obtido não corresponde à frutaque nos querem vender.

No fundo, a mensagem que passa cápara fora, e que qualquer pessoa comdois dedos de testa percebe à primeira,é a desresponsabilização e não assunçãodas incumbências ligadas às tarefasdomésticas, à educação e apoio aosfilhos e à gestão do orçamento caseiro efamiliar por parte de quem profere taisdislates...

São tarefas domésticas que foramherdadas, em parte por obrigação, pormulheres que saíram de casa para casarcom «filhos de certas mamãs»,formatados numa educação assente einspirada nos exemplos vivenciados einculcados em ambiente familiar.Educação de tal modo enraizada emdeterminados extratos sociais eculturais portugueses, que faz com quesejam as próprias mulheres a defender anão participação e ajuda dos seusmaridos e filhos nas lidas da casa.

Dir-me-ão que hoje já não é assim,que isso é coisa dos tempos da «outrasenhora». Em parte, acredito que sim…que seja um fenómeno que se tenhavindo a desvanecer e diluir na falta detempo doméstico, efetivo e útil,provocada pelos deveres profissionaisdo casal. Mas, em verdade também vosdigo que cada casa é um mundo, e há«mundos» de gente jovem que mesurpreende pela cabotinice dos seusatos entre as quatro paredes.

Perante afirmações do género: “Issosão assuntos de mulher… Não se falamais disso! Querem lá ver… Eu que atédespejo o lixo todos os dias!?...” – só meocorre dizer a esses homens: “Libertem-se, o lixo está na vossa cabeça!” .

Paulo Cunha

(…) No fundo, amensagem que passa cápara fora, e que qualquerpessoa com dois dedosde testa percebe àprimeira, é adesresponsabilização enão assunção dasincumbências ligadas àstarefas domésticas, àeducação e apoio aosfilhos e à gestão doorçamento caseiro efamiliar por parte dequem profere taisdislates (…)

Page 15: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO15

Finda a estrutura de Missão «FaroCapital Nacional da Cultura2005», a minha amiga Ana

Oliveira fez-me, em jeito de balanço,três perguntas, às quais respondisucintamente na qualidade de ex-conselheiro cultural da referidaestrutura e, na altura, presidente dadireção da Associação Cultural MúsicaXXI. Não sei se as respostas forampublicadas ou não na imprensa. Poucoimporta, já é história…! Assim sendo,faça-se história com as mesmasperguntas e as mesmas respostas dadashá nove anos:

1 – Considera que FCNC cumpriu osseus objetivos, na medida em que sepropunha ser um evento estruturantepara a região, em termos de mudançasde hábitos culturais?

Conseguiu, com alguns eventos maismediáticos que realizou, mostrar aosautarcas da região que eventos culturaistambém servem para «vender» as suaslocalidades. Tenho vindo a constatarque o modelo de programação que foientão levado à prática (principalmentena vertente musical) é aquele que nestemomento mais é aplicado pelas váriasautarquias da região: programar emfunção do gosto vigente, baseado naescolha «à la carte» das propostasexistentes nos múltiplos catálogosculturais que por cá proliferam. A faltade estruturação atempada daprogramação e o favorecimento de umaprogramação centralizada emdetrimento das propostas dos agentesculturais da região foram as principaiscausas para que a FCNC tenha deixadopoucas raízes no tecido cultural algarvio.Teriam sido as forças culturais da região,atuantes, conhecedoras da realidadelocal e independentes do poder que,através dos seus projetos, poderiam teralargado a oferta com iniciativasestruturantes na contínua formação depúblicos. Pensadas, estruturadas e

realizadas por gente do sul,provavelmente, essas iniciativas seriamhoje uma marca cultural da região…

2 – De que forma a Música XXIparticipou em FCNC?

Participou na elaboração duma sériede projetos que foram entregues, emdevido tempo, aos seus programadores,não tendo nenhum deles merecidoqualquer atenção e apoio. Participoutambém «cedendo» o seu presidentepara integrar o Conselho Consultivo daFCNC, facto que não surtiu qualquerefeito prático na programação da FCNC.A única colaboração foi a colagem daFCNC a uma produção nossa, jáimplementada e com assinalável êxito: aexposição «World Press Photo»,realizada em Portimão.

3 – Qual seria o formato ideal de umacapital da cultura?

O formato ideal seria a realização deuma capital da cultura completamenteindependente de interesses políticos(partidários), sem condicionalismosestruturais e conjunturais e onde osprogramadores olhassem para a culturacomo um fim e não um meio.

Uma década depois, gostaria depoder, numa roda de amigos,confraternizar, debater e «tertuliar»com o homem que ainda tentou fazeralgo para que as minhas queixas nãotivessem, ontem e hoje, razão deexistir… mas, vítima de contingênciasvárias, então tal não conseguiu. Foiatravés desta iniciativa que AntónioRosa Mendes entrou - pela porta grande- na minha vida. Figura central,comissariou como soube e lhe deixaramuma Estrutura de Missão tardiamenteestruturada por quem a decretou efinanciou. Quis o destino, cruel, levá-lodo mundo dos vivos. Para ele, onde querque esteja, vai o meu reconhecimentopor, mal ou bem, ter tentado dar ànossa capital de distrito, capitalimportância! .

Paulo Cunha

(…) A falta deestruturação atempadada programação e ofavorecimento de umaprogramaçãocentralizada emdetrimento daspropostas dos agentesculturais da região foramas principais causaspara que a FCNC tenhadeixado poucas raízes notecido cultural algarvio.Teriam sido as forçasculturais da região,atuantes, conhecedorasda realidade local eindependentes do poderque, através dos seusprojetos, poderiam teralargado a oferta cominiciativas estruturantesna contínua formação depúblicos (…)

FARO CAPITAL NACIONAL DA CULTURA 2005– 10 ANOS DEPOIS…

Page 16: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 16

Nunca vos aconteceu olhar parao visor do vosso telemóvel e,identificando quem vos está a

telefonar, questionarem-se: “o que seráque ele/ela me vai pedir?”… É um factoindesmentível, à medida que os anosvão passando, diminuem os contatoscom os outros «apenas» com o intuitode dar, partilhar e conviver. A juventudeficou para trás e com ela a formadesprendida e ingénua de contactar econvidar pelo simples prazer de estarcom... Eis senão quando, com a velhice,ressurge a vontade de rever, deprocurar, de estar, de partilhar e demostrar. Já sem a pressão dos diascheios e ávidos de tarefas e prossecuçãode objetivos, onde os sorrisos e risosfrancos andam arredios e o simplesprazer de desfrutar da companhia dealguém é quase proibitivo.

Outro sintoma desta forma de«consumir» a vida, em vez de vivê-lacom e para os outros, é a facilidade comque se chama «amigo» a simplesconhecidos, retirando à palavra a suacarga efetiva e afetiva, vulgarizando-a esubstituindo emoções porracionalizações.

Genuínas e simples ações, como oconvidar para um evento, para umjantar em grupo ou para uma festa,trazem, por vezes, uma segundaintenção implícita. Já não falando nodespudor, insensatez e falta devergonha com que se usa a palavra«Convite» para levar os convidados afinanciar a atividade para a qual foramconvidados. Sou do tempo em quequem convidava, convidava porquepodia e queria. Sem mais…

Hoje, os «Convites» têm (quase) todosum preço. O preço para quem os pede,o preço para quem os dá e o preço paraquem os aceita. Atente-se nos eventospúblicos que são apoiados e financiadoscom dinheiros de todos nós e para osquais estão sempre reservados lugarespara convidados que, de uma forma oude outra, pagaram ou pagarão o convitea quem os convidou. Num tempo cadavez mais mercantilista e consumista, astrocas de favores têm outro nome efazem-se de variadíssimas formas. É otempo que temos, o tempo onde afinança e a política ditam as regrassociais!

Observo, nada impávido nem sereno,os comportamentos de gente quetransmite às gerações vindouras,procedimentos em que a deturpação ebanalização de condutas que garantiamidoneidade, competência, honestidade eamizade, são agora uma constante. Nãoestou aqui a tentar arvorar-me emmoralista, nem defensor acérrimo dosbons costumes. Não é essa a minhaintenção, nem o meu estar na vida… demodo algum! Não posso é passar pelavida sem questionar, nem refletir sobrequais foram as razões que levaram osvalores que me foram incutidos no seiofamiliar a ser adulterados pela minhageração. Continuo a achar que não valetudo para lá chegar… Até porque o «lá»afasta-nos dos de cá, e nada poderá serpior para quem cá está do que perder a«ligação à terra». Esta Terra de gentefeita! .

Paulo Cunha

(…) Genuínas e simplesações, como o convidarpara um evento, para umjantar em grupo ou parauma festa, trazem, porvezes, uma segundaintenção implícita. Jánão falando no despudor,insensatez e falta devergonha com que se usaa palavra «Convite» paralevar os convidados afinanciar a atividadepara a qual foramconvidados. Sou dotempo em que quemconvidava, convidavaporque podia e queria.Sem mais… (…)

“… E JÁ AGORA: QUERIA PEDIR-TEUM FAVOR!”

Page 17: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO17

O verão chegou e com ele, emproporção direta, um turistapor algarvio. Será que o vosso

já chegou? Se ainda não, habituem-se àideia: ele vem aí! É claro que não sedistribuem de forma uniforme eequitativa pelos belos recantos do«nosso» Algarve, e ainda bem, poisfelizmente vem «ao de cima» o espíritogregário e de «rebanho» tãocaracterístico do comportamentohumano… E como dizia o outro: “Deixai-os vir, que eu sei para onde ir!”.

Felizmente esta «ilha» com o Alentejode premeio é suficientemente grandepara fugirmos e nos defendermos detoda a pressão, tensões e stressacumulados que quase todos que nosvisitam nesta época querem afogar nascálidas e transparentes águas da costaalgarvia. A questão é que por maisatrativa e apelativa que seja esta região,não é a mesma, por si só, que opera omilagre terapêutico de fazer «recarregaras baterias», a frase preferida proferidapor tantos turistas que cá chegam comas «baterias» repletas de energiasnegativas e, sem darem conta,continuam a carregá-las apenas atravésdo polo negativo, ao mesmo tempo queas distribuem - negativamente - portodos à sua volta. Basta estar atento aoscomportamentos dos muitos visitantesque, trazendo consigo o peso de onzemeses de trabalho árduo e mal pago, demágoas, de angústias, de desilusões ede depressões encapotadas, nãoconseguem, em menos de um mês,despir este fato que lhes cai tão malnum sítio onde: “Quanto menos roupa,melhor”!

Quem cá vive (Algarve) sabe que,querendo e sabendo aproveitar, oAlgarve tem outro encanto quando,

noutro tempo e noutra altura, o solcontinuando a brilhar, o marcontinuando calmo e o campocontinuando florido nos proporcionam apaz e a serenidade suficientes paravivermos bem connosco e com os quenos rodeiam. Sem concentrações, semmassificações e sem pressões. O outroAlgarve que só quem já não estádependente e obrigado pelascontingências laborais e escolaresconhece. Esse sim: o verdadeiro Algarve.

Entretanto… nestes meses de verãoque venham muitos e que venham porbem! O Algarve, enquanto região, temno turismo a sua «galinha dos ovos deouro». Para um país que se habituou aver sair em vez de entrar, este é umcapital precioso. Um capital de todosnós, portugueses. Mas atentai, senhoresdecisores, diretores, administradores egovernantes: quem trata desta joiapreciosa é quem cá vive, e se quem cávive se sente abandonado,subalternizado, enganado e esquecidodurante todas as outras estações do anopara que nos meses de verão seja entãocanalizada grande parte dos respetivosorçamentos com o único intuito deagradar e fidelizar quem vem de fora, énatural que não goste. Até porquealgarvio que se preze é filho de boagente!

Assim sendo: “Bem-vindos carosturistas. Férias à vossa medida e nãodeixem de aproveitar uma das melhorascaracterísticas desta região: osalgarvios!”. Encontramo-nos entãonesta enorme esplanada chamadaAlgarve! .

Paulo Cunha

(…) Mas atentai,senhores decisores,diretores,administradores egovernantes: quem tratadesta joia preciosa équem cá vive, e se quemcá vive se senteabandonado,subalternizado,enganado e esquecidodurante todas as outrasestações do ano paraque nos meses de verãoseja então canalizadagrande parte dosrespetivos orçamentoscom o único intuito deagradar e fidelizar quemvem de fora, é naturalque não goste (…)

ALGARVE TODO O ANO?...OBVIAMENTE!

Page 18: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 18

Derivando, naturalmente, dapalavra e do significado defesta, festival é tudo aquilo

que se pretende num mesmo tempo,espaço e contexto: a celebração efruição conjunta de algo que, afagandoe estimulando os sentidos, nos propiciamomentos de fruição, deleite eenriquecimento intelectual. Foi, é, eserá uma fórmula que,independentemente das condiçõeseconómicas e financeiras do país emque os mesmos se realizem, terão,indubitavelmente, êxito, pois as pessoassabendo ao que vão e, ao mesmotempo, reconhecendo a elevadaquantidade e qualidade dasmanifestações integradas nesseseventos, sentem-se compelidas adesfrutá-los. É o caso de Portugal que,atravessando uma das piores crisessocioeconómicas de sempre, não deixoude ter nos Festivais de todo o géneroum motivo de escape, alento, conforto ealheamento de todos os problemas devária índole que nos têm vindo a afligir.

Sabendo disso, muitas empresasaltamente profissionalizadas têmexplorado este filão que constitui aorganização de Festivais, apostando nacontratação de «estrelas» musicais queconstituem êxito assegurado, juntando-lhe «comes e bebes» e outros motivosde entretenimento. Convém referir quetodas elas, inteligentemente, «vão àluta» secundadas e fortementepatrocinadas por multinacionais queveem nestes eventos uma forma rápida,direta e eficaz de se publicitarem. Doponto de vista empresarial é este, semdúvida, o caminho!

Tomando como exemplo o enormeêxito que tem constituído a realizaçãode grandes festivais de música de verão,seria de esperar que, dos mais de cem -estritamente musicais - que jádecorreram e ainda virão a decorrernesta altura, muitos deles fossemrealizados no Algarve… por todos e maisalguns motivos que, por serem tão

óbvios, nem aqui os menciono. Agora oque é facto é que esses e outrosempresários continuam a não apostarna realização desses festivais noAlgarve. Eles lá saberão e eu nem meatrevo a imaginar, nem tentaradivinhar as verdadeiras razões paraque tal aconteça.

Assim sendo, fica o Algarve, no queconcerne a esta programação «à lacarte» e de recriação e entretenimentopré-garantidos, com a organização namão de autarquias que se substituemàs entidades privadas. Nalguns casos,por sua (nossa) conta e risco, comprogramações interesseiras e dequalidade duvidosa. Obviamente, nadatenho a obstar quando todos ficam aganhar (artistas, operacionais doespetáculo, público, autarquias epatrocinadores). Aliás, esta é tambémuma forma inteligente e eficaz desalvaguardar e até melhorar asfinanças das autarquias algarvias.Agora o problema é quando tal nãoacontece e, num ápice, vemos, nosmeses de verão, as parcas finanças dasautarquias a serem prejudicadas edelapidadas em organizações que, vá-se lá saber porquê, tinham tudo paradar certo, mas… não deram! E depois éouvir os responsáveis a colocar acostumeira culpa nos outros, alegandodepois já não terem condições parafinanciar a programação cultural paraos restantes dez meses do ano. Sãochamados então os do costume: osartistas algarvios, aqueles que todo oano fazem mais do que simplesmenteentreter os de cá e os lá. Agentesculturais e músicos algarvios quedeviam ser o porta-estandarte culturalde uma região em todos estes festivaisrealizados a sul, mas, inevitavelmente,por representarem a cultura, o estar eo ser algarvio não são merecedores daatenção de determinadosprogramadores já previamenteprogramados. Festa?... Sim, para os docostume! .

Paulo Cunha

(…) fica o Algarve, noque concerne a estaprogramação «à lacarte» e de recriação eentretenimento pré-garantidos, com aorganização na mão deautarquias que sesubstituem às entidadesprivadas. Nalguns casos,por sua (nossa) conta erisco, com programaçõesinteresseiras e dequalidade duvidosa.Obviamente, nada tenhoa obstar quando todosficam a ganhar (artistas,operacionais doespetáculo, público,autarquias epatrocinadores). Aliás,esta é também umaforma inteligente e eficazde salvaguardar e atémelhorar as finanças dasautarquias algarvias (...)

FESTAS E VAIS…

Page 19: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO19

NUTRO PROFUNDA ADMIRAÇÃO POR POVOS quetêm na sua matriz identitária e código genético, orespeito, a defesa e a valorização da sua identidadecultural. Gente que aprendeu, desde o berço, o valordo imaterial em tudo aquilo que de material viria aconstituir a sua vida. Deixo aqui o exemplo de doispovos referenciais na opinião que aqui partilho: aEspanha e a Irlanda. Duas nações que, tal comoPortugal, têm atrás de si uma longa história deseparações, junções, anexações, colonizações eaculturações. O que hoje são deve-se à soma detodos estes e outros fatores, mas, sobretudo, aoimenso orgulho naquilo que as distingue enquantonações: a sua cultura. Nas visitas que lhes fiz marcou-me profundamente a forma ativa e interventivacomo afirmam, através de várias expressõesartísticas, as características diferenciadoras das suasvárias regiões. Assumem a sua grandiosidade pelapolivalência cultural, destacando-a e levando-a atodos os que as visitam. Usam-na como forma devalorizar as suas províncias e as suas gentes, e isso,diferenciando-as, dá-lhes a respeitabilidade eadmiração que só as grandes nações merecem.

Por cá, com uma herança cultural enorme(quantitativa e qualitativa), custa-me constatar aforma como se vilipendia, de berço, a transmissão deuma riqueza identitária que nos torna únicos entrepares. Com uma educação e instrução assentes emvalores e premissas anglo-saxónicas, habituámo-nosa ver os principais ideólogos, intervenientes eagentes no processo de aculturação a, deliberada ouignorantemente, a negligenciar, banalizar e atéostracizar o que é nosso. E quando falo do que énosso, refiro-me às tradições de uma região.

Tomemos como exemplo o Algarve… Não seria deesperar que sendo esta uma região que recebe todo

o ano gente de várias partes do globo, tivesse nosseus agentes culturais um dos ex-líbris da suamatriz regional? Sendo eles os principaisprodutores e realizadores de cultura feita na região,seria natural que estivessem na linha da frente paraserem um dos nossos cartões de visita, mas seatentarmos e refletirmos com atenção, reparamosque não é isso que acontece. Cada vez mais osprogramadores ligados às instituições públicas eprivadas que organizam todo o tipo de animaçãoturística, apostam quase exclusivamente numaprogramação artística assente numa centralidade«impingida» pelos vários meios de comunicação epublicidade. Sempre a gosto e de consumo rápido egarantido, mas de consequências nefastas eirreparáveis para as várias gerações que povoam oAlgarve. O lema é «Vem de fora, é bom!».

Ainda um destes dias, pesquisando para umtrabalho específico, dei-me conta da reduzidaquantidade de grupos musicais ligados à músicaétnica portuguesa em atividade no Algarve,constatando também, com alguma consternação eapreensão, o términus de alguns que foramreferências na divulgação do nosso património noque à música tradicional diz respeito. As razões sãomais do que evidentes, basta observar aquantidade de eventos por cá realizados onde amúsica regional algarvia (não) está presente. “Tocarpara aquecer? Não!... Deixar de tocar paraesquecer!”. E assim muitos de lá vão «cantando erindo» com tanta pobreza de espírito de alguns decá. E de quem é a culpa? De alguns políticos depacotilha que ainda se atrevem a defender aregionalização. A «sua» regionalização… .

PAULO CUNHA

(…) Ainda um destes dias, pesquisando para um trabalho específico,dei-me conta da reduzida quantidade de grupos musicais ligados àmúsica étnica portuguesa em atividade no Algarve, constatandotambém, com alguma consternação e apreensão, o términus de algunsque foram referências na divulgação do nosso património no que àmúsica tradicional diz respeito. As razões são mais do que evidentes,basta observar a quantidade de eventos por cá realizados onde a músicaregional algarvia (não) está presente. “Tocar para aquecer? Não!...Deixar de tocar para esquecer!” (…)

VEM DE FORA? É BOM! 

Page 20: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 20

Ainda vazias de alunos, a sua única razão de sere existir, as escolas de Portugal preparam-separa, mais uma vez, se verem conquistadas e

povoadas pelo nosso maior tesouro nacional: osnossos filhos. É inquestionável que os nossosdescendentes são a nossa principal riqueza! Riquezaque, grande parte do dia, é colocada à guarda, gestãoe investimento da instituição «Escola». É lá, para obem e para o mal, que vão passar as várias fases doseu crescimento enquanto indivíduos e seres sociais.Não havendo preço para um filho, não há nenhumainstituição bancária em nenhuma parte de mundo quevalha tanto quanto uma escola cheia de alunos. Talcomo num depósito à ordem, esperamos que volvidoum ano letivo o nosso maior investimento renda, emconhecimento e saber, os juros devidos por lá os tercolocado. E é na soma destes investimentos individuaisque obteremos o PIEC (Produto Interno Educacional eCultural) que nos colocará - ou não - nos países maisdesenvolvidos. Desenvolvimento que, natural econsequentemente, trará riqueza, seja ela de queíndole for.

Parecendo esta ilação irrefutável, estranho constatarque, a reboque, instigada e obrigada por váriasentidades bancárias comunitárias e internacionais,vemos a Educação de um país (que tem tudo para darcerto!) ser vilipendiada e sonegada em nome dasFinanças e da Economia. Embora os políticospartidários não o queiram assumir publicamente,temos hoje um sistema educativo doente, onde asprincipais maleitas são sentidas por todos os seusintervenientes. Senão vejamos:

- O desemprego e o emprego mal remuneradogeram encarregados de educação sem tempo,paciência nem vontade para educar, ajudar e

acompanhar os seus educandos; geram encarregadosde educação revoltados contra tudo e contra todos;geram alunos agressivos, desinteressados e ausentes;geram alunos com necessidades educativas especiaistotalmente entregues à boa vontade do reduzidonúmero de técnicos especializados ao dispor; geramfalta de condições e insegurança no espaço escolar porfalta de assistentes operacionais; geram professorescansados, depressivos e desmotivados por terem detrabalhar por si e por todos os que se viram obrigadosa se afastar do sistema de ensino; geram professoressem expetativa de um futuro melhor nem arecompensa devida pelo trabalho de uma vida; geramprofessores revoltados contra a obrigação de ter quecumprir programas inadequados, de ter que realizarexames de recuperação a alunos que não queremaprender, e de ter que executar um excessivo volumede trabalho burocrático, tudo para minorar os custosda reprovação dos alunos; gera grandes níveis deansiedade, exaustão emocional e stress ocupacional, ofacto de grande parte dos professores não poderemplanificar a sua vida familiar para além da duração doscontratos e das diferentes zonas do país onde ficamcolocados; geram cargas horárias excessivas e turmassobrelotadas; enfim geram o que está vista de todos osque sabem e querem ver…

Portanto, por muito que se queira remediar pelabase, é no topo que está o segredo para que aEducação possa vir a ter o investimento que o betão eo alcatrão tiveram nas últimas décadas em Portugal.Investimentos esses que serão pagos por todosaqueles que hoje padecem do atual estado daEducação. Incongruências da vida que escolhemospara este país… .

MAIS UM ANO… LETIVO(…) Não havendo preço para um filho, não há nenhuma

instituição bancária em nenhuma parte de mundo que valhatanto quanto uma escola cheia de alunos. Tal como numdepósito à ordem, esperamos que volvido um ano letivo o nossomaior investimento renda, em conhecimento e saber, os jurosdevidos por lá os ter colocado. E é na soma destes investimentosindividuais que obteremos o PIEC (Produto Interno Educacional eCultural) que nos colocará - ou não - nos países maisdesenvolvidos (…)PAULO CUNHA

Page 21: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO21

Sou do tempo em que estudar Música no Algarveera um privilégio de poucos pois, para além dehaver apenas um Conservatório de Música na

região (Faro), não havia qualquer tipo definanciamento para além do «bolso» dos encarregadosde educação. Fui um privilegiado, pois sendo filho deum (simples) funcionário público e duma «doméstica»,tive em quem nunca teve, o desejo que eu e o meuirmão tivéssemos.

O tempo passou e com o tempo vieram as alteraçõesestruturais e estruturantes que colocaram Portugalmais perto da Europa da Cultura e da Educação,posicionando assim também o Algarve mais perto dacentralidade de que se via arredado dez a onze mesespor ano. Foram anos em que, para felicidade eprogresso de todos, a oferta vocacional da Músicaestendeu-se por uma região que até então apenasacolhia a produção musical dos outros. Do barlaventoao sotavento, o Ensino Particular e Cooperativocomeçou a gerar Conservatórios, Academias e polos deMúsica em Lagos, Portimão, Lagoa, Albufeira, Loulé,Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António. Associaçõesde pessoas que, de forma abnegada e altruísta,construíram autênticas fontes potenciadoras de arte ecultura numa região até então ávida de oferta musical.Com o acesso aos fundos europeus foi possível,através do ensino articulado, criar uma forma digna,prática e democrática de financiar os alunos que,desde cedo, mostravam aptidão, vocação e desejo pelaMúsica. Para que tal acontecesse o Estado financiavana totalidade a mensalidade dos alunos que tivessemescolhido este tipo de ensino articulado com o ensinooficial.

Entretanto os fundos europeus têm-se vindo atransformar em financiamentos apenas afetos ao

Orçamento de Estado, e perante tal cenário eis que, adias de começarem as suas atividades letivas, as cercade 97 instituições privadas que asseguram a maiorparte da oferta de ensino artístico especializado emtodo o país se vêm na contingência de ter cortes nofinanciamento através de contrato de patrocínio acelebrar com o Estado, na ordem de 97 por cento nasiniciações, 79 por cento no ensino básico supletivo ede 16 por cento no ensino básico articulado. E assim secolocam em causa cerca de 8400 lugares financiadosem Portugal (dados da Associação deEstabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo)…

É caso para colocar em causa esta social-democracia(tão pouco cristã) que me obriga mais uma vez aretroceder à memória dos meus tempos de aluno deConservatório, onde só os meninos «bem»provenientes de famílias abastadas tinham apossibilidade de aprender Música fora do ensinoregular oficial.

Perante tal estado de coisas não é difícil ver o que iráacontecer, tanto por cá, a sul, como no resto do país:mensalidades a aumentar, alunos a desistir e ainterromper o seu percurso musical, mais professoresno desemprego e Conservatórios a fechar. Será quenascemos todos a saber música e não sabíamos?Talvez por isso, para quê «Conservatórios»?...

Bem… como estamos tão perto das eleições para aAssembleia da República, pode ser que quando estemeu «desabafo» for publicado, já estas medidastenham sido revogadas e tudo tenha voltado ao queera. Até porque ver «dar o dito pelo não dito» não écoisa que me surpreenda no que à política dizrespeito! .

ENSINO DESARTICULADODA MÚSICA

(…)É caso para colocar em causa esta social-democracia (tãopouco cristã) que me obriga mais uma vez a retroceder àmemória dos meus tempos de aluno de Conservatório, onde sóos meninos «bem» provenientes de famílias abastadas tinhama possibilidade de aprender Música fora do ensino regularoficial (…)PAULO CUNHA

Page 22: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 22

Não tendo nascido ontem (nem de geraçãoespontânea) para a Cultura… e sendo umhomem do sul que o Algarve crestou, fiquei

bastante satisfeito em saber que a autarquia daminha cidade de adoção (Faro) pretende candidatar acapital de distrito a «Capital Europeia da Cultura» em2027. A primeira capital de distrito portuguesa que,almejando dividir tal organização com uma cidade daLetónia, se prepara (dez anos depois de se terrealizado estrutura de missão «Faro - Capital Nacionalda Cultura – 2005») para colocar esta cidade nas«bocas do mundo» pelos melhores e mui nobresmotivos. Qualquer algarvio sensato e de boa índoleverá com agrado e orgulho esta aspiração. Eu sou oprimeiro entre muitos! Mas…

Tendo a candidatura que ser entregue até 2017para ser escolhida em 2019 por um júri internacionalque decidirá qual será a cidade portuguesa quehonrará Portugal através da sua produção,participação e mostra cultural, cabe à equipaescolhida para elaborar a candidatura, a hercúleatarefa de fazer valer os pergaminhosfarenses/algarvios nesta meritória disputa. Ora assimsendo, e tendo como limite temporal cerca de doisanos de trabalho para que tal desiderato chegue abom porto, manda o bom senso que se olhe para opassado e com ele se retire as devidas e necessáriasilações e ensinamentos para que esta candidaturanão seja contaminada com aquilo que nas outras nãosurtiu o efeito desejado.

Sendo uma candidatura de uma cidade, deverá,antes de mais, ter implícita na sua génese, toda aregião de que Faro é capital. Comparado com certascidades cosmopolitas internacionais, o Algarve quasese assemelha a uma grande cidade atravessada pela

estrada nacional 125 e pela via do Infante, tendocomo ponto central, Faro. Deverá ser assim o farol deuma candidatura onde as questões e divergênciashistóricas, autárquicas e político-partidárias deverãoficar para trás, privilegiando o crescimento eenriquecimento cultural da região.

Deverá privilegiar a cultura e a educação para acultura - tout court - sem se deixar amarrar aquestões de ordem económica e financeira que, logoà partida, poderão fazer inquinar a qualidade dacandidatura. Deverá privilegiar todos osequipamentos culturais da região e, ao mesmotempo, requalificar e criar outros que possam vir ater um papel estrutural e estruturante para a criação,produção e apresentação de cultura na regiãoalgarvia. Deverá ter em conta os algarvios (agentes,intervenientes e consumidores de cultura), pois serãoeles os maiores e melhores veículos de promoção daregião após a realização dos eventos inclusos nacandidatura. Deverá, finalmente, ser idealizadatambém com o intuito de projetar além-fronteiras, acultura (desconhecida) de uma região que tem tudopara se afirmar também através do turismo cultural.

E se assim for, deixaremos, inquestionavelmente,um enorme legado para as gerações vindouras. Daquia doze anos agradecerão tal candidatura. Eu desde jálouvo e enalteço tal iniciativa. As maiores felicidades!Ganharemos todos, enquanto região e enquantoalgarvios… .

O ALGARVE NA EUROPADA CULTURA

PAULO CUNHA

Page 23: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO23

Jantando um destes dias com um amigobrasileiro e assistindo de soslaio a umdebate entre os líderes de duas forças

partidárias, eis que ele me lança a seguintequestão: “Qual será a razão pela qual, servindoas eleições que se avizinham para eleger osdeputados de cada região de Portugal, a maioriada imprensa concentra apenas a sua atenção nosdebates entre os secretários gerais dos partidosrepresentados na Assembleia da República?”.Fazia-lhe confusão não ver os candidatosregionais a discutir e a dirimir as suas opiniões evisões estratégicas para a região que,pretensamente, irão representar e defender,pois é neles que o eleitor deveria fazer recair - ounão - o peso do seu voto?!...

Apelando à minha capacidadesintética/analítica, tentei explicar-lhe asidiossincrasias de um povo ainda jovem no que àdemocracia diz respeito. Efetivamente ele tinharazão, a maioria dos portugueses acabam por verestas eleições apenas como a oportunidade deescolher um primeiro-ministro que terá então aincumbência de constituir o governo do país, enão a de, em primeira instância, escolher os seusrepresentantes na «nossa» Assembleia.

É difícil explicar a um estrangeiro que muitosdos candidatos que aparecerão de carinha larocae produzida nos panfletos que encherão as caixasde correio e povoarão os «outdoor» à beiraestrada plantados, nunca foram «tidos nemachados» quanto aos problemas, questões e

assuntos da região pela qual se candidatam; quealguns nem dessa região são, passando nelaapenas o tempo necessário para que os maisincautos e crentes fiquem com a sua imagem naretina; que alguns «cabeças de lista» assumamos cargos para logo de seguida saírem para «iremà vida», dando assim lugar a figuras apagadas,impreparadas e totalmente desconhecidas dapopulação que os elegeu; que o dever deobediência à disciplina de voto do partido sesobreponha aos soberanos e inalienáveis direitosdas populações que esses deputados deveriamrepresentar na «Casa da Democracia»; quesendo um dos Parlamentos mais povoados naEuropa, os muitos assentos não correspondemproporcionalmente a parlamentares quedecidam a favor de quem os elegeu. Enfim… OPortugal do poder.

E como final de conversa ainda lhe presenteeicom outra característica muito própria do«Portuga»: exige, reclama, barafusta… massempre nas alturas despropositadas e nos sítiosinapropriados. Se não vejamos… Vós, que comigopartilhais esta minha reflexão, sabeis por acaso onome de todos os deputados da vossa região quecessaram funções e que no último mandato vosrepresentaram no hemiciclo parlamentar? Não…Bem me parecia!

Depois de eleitos os representantes, osrepresentados caem no esquecimento.Obviamente, porque só é respeitado quem se fazrespeitar! .

OS REPRESENTANTESDO POVO

PAULO CUNHA

Page 24: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 24

À medida que a idade vai avançando vão-nos batendo à porta, sem pedir licença,notícias que nos deixam completamente

chocados, desconcertados e confusos, tal adimensão das mesmas na nossa vida. É um facto,nada é mais certo que a nossa finitude. Para talbastou apenas nascer. Daí a célebre frase «A vidasão dois dias!», o dia em que nascemos e o diaem que morremos. De permeio tudo passa tãorápido que acaba por não caber num dia, tal asua fugacidade.

Sendo a morte o mais certo que temos na vida,passamos a vida a pensar que somos eternos,seres imbuídos de uma perenidade etérea quefará com que o amanhã seja sempre umacerteza… Nada mais errado! Certo, apenas o quejá passou e o que estamos agora a vivenciar. Talcomo o ato de me estar agora a ler e a pensarque tudo o que aqui escrevi não é mais do que asoma de puras evidências. Sem dúvida,evidências tais e tantas que se transformam emaparências. Parece que convivemos, parece quedesfrutamos, parece que socializamos, enfim…parece que vivemos. Até que a realidade dosfactos nos acorda desta dormência provocada econsentida.

Será necessário sentir na pele a perda de umamigo para perceber que já o tínhamos perdidohá já algum tempo? O tempo em que não houvetempo para com ele estar, o tempo em que omaterial substituiu o emocional, o tempo dailusão da falta de tempo… Tardiamente

percebemos que, afinal de contas, o dia era feitode vinte e quatro horas e que bastavam sessentaminutos para trocar todos aqueles afetosguardados no peito. Deixá-los sair ter-nos-iadado a sensação de um propósito e recompensade vida, mas… não havia tempo!

Passando por cá uma só vez, todos osmomentos contam, e na soma dos mesmos seconstrói uma história de variados momentosfeita. Estórias partilhadas que nos projetam nosoutros e nos fazem viver para lá de um «eu»egocêntrico, repetitivo e doentio.

Não nos enganemos, temos tempo!… Nãotemos é vontade nem interesse em dar oprimeiro passo. O passo para uma caminhadaque se faz através de uma palavra, de um sorriso,de um gesto, de um abraço, de um olhar. E nabrutal frontalidade da morte percebemos o queperdemos: o carinho que não foi dado, asperguntas que não foram feitas, as palavras quenão foram proferidas e, sobretudo, a amizadeque não foi alimentada.

Cada velório acaba, assim, por se transformarnuma catarse e numa profunda lamentaçãoentre os que ainda por cá andam, para no diaseguinte tudo voltar ao mesmo: o insustentávelpeso dos dias. Onde, mais uma vez, não haverátempo para o tempo dos outros! .

NÃO TIVE TEMPO!...PAULO CUNHA

Page 25: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO25

Elegemos, recorrentemente, políticos queacham muito natural os portuguesesterem que emigrar, pois “Sempre foi

assim!”, “Está-nos no sangue!”, “Somos um paísde descobridores!”, “Assim espalharemos anossa portugalidade pelo mundo!”, “Temos queajudar o país a sair da crise!”, etc. e… tal. Frasesfeitas, feitas de menosprezo, desconsideração edesrespeito por quem - sem querer - se viuobrigado a deixar para trás tudo com que sonhoue projetou. Concidadãos que, a exemplo dequem os condenou, gostariam também de serfelizes em Portugal! Tal não foi possível, pois porcá quem perdeu o emprego nunca mais oencontrou. Sonhar?... Só lá fora, num mundo emque a verdade tem um significado diferentedaquele que nos habituámos a ouvir na boca dequem nos governou e continuará a governar.

E assim, famílias outrora juntas no calor do lar,na troca e partilha de afetos e na construção deum ideal comum, veem-se obrigadas a trabalhar,trabalhar mais e… trabalhar ainda muito maispara poder esquecer, e - o mais rapidamentepossível - poderem regressar. Não há um dia quenão pense em todos eles, os que me privaram doprazer do seu contacto sem que tal tivessemdesejado. Amigos que, uma vez por ano,«quando o rei faz anos», conseguem usufruir umpouco dos «seus» e do «seu» Portugal. O mesmopaís que os estrangeiros mais endinheiradosescolhem para viver e que eles, autóctones,tiveram que abandonar. Efetivamente, que raio

de vida a nossa, tão efémera e, como se nãobastasse, ainda nos empurra para longe de tudoaquilo que mais prezamos e gostamos… Tal equal: um Portugal sequestrado!

Emigrantes que através do «milagre» operadopelo sistema global de comunicação «Internet»,conseguem através de uma câmara vídeo/áudio,de um ecrã e de umas colunas, interagirvirtualmente com todos aqueles dos quais foramobrigados a separar-se. Pais, filhos e cônjugesque deixam as câmaras ligadas por períodosilimitados para poderem observar, imaginar efruir momentos nos quais gostariam, por certo,de participar se estivessem junto dos seus entesqueridos. De tal forma, que tenho sabido decasos em que os pais, separados por milhares dequilómetros, ajudam os filhos nos TPC, quecantam para os seus bebés adormecerem, quepartilham o momento do jantar, que brincam ejogam uns com os outros, que adormecem aomesmo tempo, enfim… uma multiplicidade detarefas que os ajuda a reaproximar e a fazeresquecer esta malfadada sina que ciclicamentenos persegue.

Uma geração herdeira da crise em quemúltiplas famílias se veem obrigadas a suportar asua manutenção e o seu crescimento, enquantoestrutura nuclear, através da comunicaçãovirtual. Sentimentos reais partilhados através dedados… Porque não há distância que resista àsaudade! .

FAMÍLIAS SKYPEPAULO CUNHA

Page 26: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 26

Tentando explicar a uma criança de oitoanos o que é a «Direita» e a «Esquerda»de que tanto se fala agora nos meios de

comunicação, pedi-lhe para me trazer uma folhaem branco e com um lápis traçar um risco a meiopara que assim a dividisse em duas partes; deseguida pedi-lhe para escrever as palavras«direita» e «esquerda» nos ladoscorrespondentes. Assim fez… Logo a seguir pedi-lhe para dobrar a folha ao meio, pela linhatraçada. Mais uma vez assim fez, perguntando-me de seguida se aquilo que lhe estava a pedirera algum truque de magia. Ri-me, pelaassociação da pergunta com a realidade, e paraterminar a explicação prática pedi-lhe para medizer onde estavam agora as partes esquerda edireita da folha, ao qual ela, perspicazmente, merespondeu estarem viradas uma para a outra eassim sendo, no mesmo sítio: no meio. Nainocência da sua infância pediu-me que lheresumisse a experiência, tendo-lhe eu respondidosucintamente que, na teoria, os partidos políticosse posicionam num horizonte que vai daesquerda à direita, para assim poderemconvencer os seus simpatizantes a elegê-losconforme aquilo em que se reconhecem eapoiam. Quando são eleitos a folha dobra-se e,na prática, quase não se distinguem uns dosoutros, pois chegaram ao centro das suasaspirações: o poder. Não sei se consegui o meuintento, mas pelo menos expliquei-lhe conformeme é dado a observar o espetro político mundial,onde a prática não tem nada a ver com a teoriaque lhe serviu de base programática. Só mesmoalguém muito desatento é que não o percebe, epelos vistos é o que por aí mais há…

Faz parte da natureza humana escolhermos umlado e nesse lado nos acomodarmos por umaquestão de proteção, de associação e deidentidade, muitas vezes sem saber (nemquerendo saber) o que o distingue, na prática, dolado contrário. Quem não tem lado é consideradoalguém estranho e até perigoso, pois acaba porsubverter a arrumação de «quem manda nistotudo». E não estou a falar de qualquer tipo deanarquia militante, de modo algum… unicamentede reflexão e equidistância ideológica.

Vulgarizou-se associar as convicções políticas acores, a símbolos, a músicas, a slogans e a lados.Tudo bem pensado para que não nos percamosno caminho rumo à vitória… A vitória deles.Daqueles que, invariavelmente, arrumam asconvicções na gaveta perante os interessesinstalados. A nós fica-nos a ilusão de integraraquela «família» que ajudámos a crescer mas naqual, afinal de contas, ninguém nos conhece ereconhece.

Esquerda, direita? Basta mudar o lado em queestamos a observar o objeto e rapidamente setransforma em direita, esquerda. Vejamos algunspaíses comunistas do mundo como a China,Coreia do Norte e Cuba… terão efetivamenteuma política de esquerda na sua praxisquotidiana? E o modelo político implementadonos países nórdicos, qual será o seu lado, ou teráuma mistura dos dois? Pois é… É muito mais fácilviver num mundo dividido em duas partes. O«Sim» e o «Não» estão garantidos. Eu gostotambém do «Talvez» que o arco-íris meproporciona! .

ESQUERDA, DIREITA,EM FRENTE… MARCHE!PAULO CUNHA

Page 27: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO27

Recordo-me, embora fosse um miúdo, denos primeiros anos após o 25 de abril serlecionada a disciplina de «Introdução à

Política» no ensino oficial, tendo posteriormente,e a exemplo do «Serviço Cívico», sido abolida dosistema educativo. Era a altura de despolitizar asescolas e deixar a política para quem dela iriaviver. Foram tempos em que a Democracia davaos primeiros passos e onde muitos jovens quehoje são políticos profissionais e/ou estadistasreconheciam na teoria e na prática a políticacomo melhor forma de garantir a defesa dosdireitos dos cidadãos. Foram tempos onde otempo para subterfúgios, jogos de bastidores,maquinações e inverdades era mais escasso doque hoje. Mal ou bem a democracia acontecia ecrescia. Anos que marcaram uma geração que,como eu, cresceu e fez as suas opções políticas.Muitas delas estiveram na génese e nocrescimento regional e nacional das estruturaspartidárias que hoje assumimos como referênciasdemocráticas. Gente que com a políticapartidária nada quis embora mantenha umaconsciência cívica apurada e participativa; genteque nos partidos se apoiou e cresceu social eprofissionalmente; gente que se iludiu, desiludiue desistiu; gente que permaneceu convicto emilitante e gente que muitas «casacas» vestiu.

No seguimento da aprovação da Lei de Basesem 1986 tentou-se colocar a Educação Cívicacomo objetivo central da Educação através dacriação de disciplinas como «DesenvolvimentoPessoal e Social» e «Área-Escola». Com a quedado muro de Berlim, a partir de 1990 vigorou osistema a que os seus mentores apelidaram de

«Educação para a Cidadania Democrática»,assente cada vez mais no investimento na«Educação para os Media». Hoje é o que sesabe…

O filósofo Padre Manuel Antunes, em 1979,dizia: “Para bem e para mal, Portugal é hoje umasociedade politizada. Só assim poderemosretomar a história do nosso país, só assim serápossível a reinvenção de Portugal por Portugal, arecriação de Portugal por Portugal, através dademocracia como espaço da liberdade e dacomunidade, da subjetividade e da legalidade, daconsensualidade e da soberania popular”.Escreveria ele hoje o mesmo, em 2015? Pensoque não! Sinto nas novas gerações com quecontacto um grande desinteresse e demissãocívica e política pela condução dos destinos danação. Politizado? Não… partidarizado! Portugalestá hoje nas mãos de partidocratas que, tendofeito a sua «Introdução à Política» nas sedes euniversidades de verão dos seus partidos,constituem muletas de interesses muito pouconacionais.

Quatro décadas desperdiçadas no que àconsciencialização e sensibilização cívica epolítica dos portugueses concerne. Os resultadosestão à vista: a abstenção, o cansaço, a negação eo desinteresse aumentam a olhos vistos.Perguntam-me o que fazer e eu respondo: -“Fazer o que ainda não foi feito… Ensinar noslocais próprios que a Politica não é algo mau.Maus são todos aqueles que dela se aproveitam,dando-lhe uma fama que não merece!” .

POLITIZADOSOU PARTIDARIZADOS?PAULO CUNHA

Page 28: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 28

“Não tenho tempo!” - Uma fasebordão que, sendo demasiadasvezes usada e banalizada por

educadores para se desculparem ou escusaremde fazer o que não querem ou não têm«pachorra», está, cada vez mais, a ter um efeitonegativo, preservo e reprodutor nos seuseducandos. Tenho grande dificuldade ementender pais, que o são por opção, desejo econvicção, que não arranjam tempo para o bemmais precioso que a vida lhes concedeu: os seusfilhos. Desde que nascem até que deixam o«casulo», o tempo passa num ápice, e nessetempo, todo o tempo é insubstituível,inestimável e irrecuperável.

Perante as naturais, necessárias e inevitáveisinvestidas dos seus filhos para que com elesfaçam «coisas», grande parte desta novageração de «pais sobreviventes» escusa-se comas costumeiras desculpas: “Estou cansado,amanhã logo vemos se temos tempo…”, “Nãome maces com «criancices»!”, “Agora nãoposso, vai falar com a tua/teu mãe/pai.”, “Tenhomais que fazer, não me chateies!” e “Não tenhotempo!”. E neste jogo do empurra e domente/mente ficam todos a perder, pais quenão acompanham nem contribuem para ocrescimento emocional e intelectual dos seusfilhos, nem filhos que, com a sua presençaefetiva, não recompensam os pais por “os teremmandado vir”. Desencontros provocados poruma sociedade em que o Ter é -necessariamente - mais importante que o Ser.

Compreensivelmente (ou talvez não), muitospais dirão: “Como posso ser eu feliz se nãotenho como o ser?”. É um facto para quem achaque ter justifica deixar de dar e partilhar.Tempos em que a principal crise reside nosvalores, e que a aparência supera a essência.

A utilização do tempo de qualidade é, quanto amim, o valor mais negligenciado e vilipendiadonas relações familiares dos portugueses. Sinto-ono meu dia-a-dia profissional e custa-me ver econtactar com pequenos seres que tão poucorecebem de quem tanto deveria dar. Apercebo-me disso quando as desculpas,recorrentemente, provêm de filhos que apenascoabitam na casa dos pais, dizendo-me quemuitos deles raramente falam ou interagem comos progenitores. Não culpo a consequência,culpo a origem. Critico todos aqueles quepermitem e legitimam uma sociedade que nosrouba o usufruto do nosso bem mais precioso,bem como a nossa continuidade enquanto seresconsequentes e responsáveis: os nossosdescendentes!

Ainda hoje o referi a uma plateia de jovens que«bebiam» as minhas palavras como se algo detranscendente estivesse a proferir: “Tempo é aaquilo que distingue a vida da morte. Quem dizque não o tem para os seus, morreu em vidapara uma relação que só o tempo se encarregaráde matar!” .

NÃO TENHO TEMPO!PAULO CUNHA

Page 29: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO29

Não sei se já repararam, mas em cadaportuguês temos um comentador quefala por dois ou três… Não há

acontecimento que não mereça comentário,desde da cama da vizinha que range mais do queo habitual, até à política que, não sendo bestial,irá ficar - por certo - pior do que mal. Dêem-lhesum assento e um interlocutor e logo ali nasceráum comentador de sofá, café ou bancada.

Somos tão exímios e prolíferos a comentar queaté temos comentadores pagos que comentampor encomenda. Comentam tudo e todos,comentam ocasiões especiais e até comentamem função das suas tendências, gostos eapetites. São comentadores que, sem qualquerprurido ou vergonha, não escondem ser dosclubes A, B ou C e dos partidos X, Y ou Z. Genteque não comenta de uma forma isenta, poissabe que lhe faltará plateia, fazendo-o apenasem função da aceitação de quem pensa deforma igual. Profissionais da retórica que atravésdos seus comentários, muitas vezes carregadosde verborreia, maledicência e interessesincógnitos, arregimentam acólitos e fiéispropagadores das suas «palavras santas».

Custa-me ver tantas pessoas a quem se pedeuma simples opinião a dizer, de uma formadesabrida e eloquente, que não sabem nemquerem saber… Em suma, dizendo não teropinião! Gente que, confrontada com questõesdo dia-a-dia que lhe diz, particular ediretamente, respeito, limita-se a reproduzir e a

partilhar o que os meios de comunicação lhe«ofereceram» através dos seus comentadoresde serviço. Pessoas que raramente contra-argumentam face a opiniões divergentes dassuas, fazendo-o apenas com as «frases feitas»costumeiras, apanhadas aqui e ali nas caixas-de-ressonância dos interesses vigentes.

Porque opinar é diferente de comentar, teropinião sobre seja o que for obriga,necessariamente, a saber do que se está a falar,correndo o risco de passar por tolo e ignorantequem o faz sem saber ao que vai. Exercer odireito de emitir uma opinião acarreta,obrigatoriamente, o dever de a saber defender.Infelizmente, não comenta quem sabe, comentaquem quer… muitas vezes com a displicência deum bocejo. Comentários despropositados queacarretam consigo, recorrentemente, aignorância de quem os profere, ferindo com aacutilância de uma lança quem não os merece.

Daí ter alguma relutância em comentar seja oque for, pois a realidade não precisa de sercomentada, encontra-se ao dispor de quem asaiba e queira interpretar. Sei que há muitagente que necessita de ter alguém que lhedescodifique a mensagem que quer ouvir, masnão seria bem mais interessante potenciar aanálise dos factos através de um pensamentoanalítico e estruturado? Tal ensina-se e aprende-se (ou não) na escola... A importância dequestionar o porquê das coisas .

SEM COMENTÁRIOS!PAULO CUNHA

Page 30: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 30

Embora há já muitos anos escreva(espaçadamente) artigos de opinião, estesque aqui convosco partilho, pela

particularidade de serem de tal forma abrangentes esem temática definida, levaram-me a aceitarprontamente o convite endereçado pelo criador,executor e editor da publicação «on line» AlgarveInformativo, Daniel Pina, para aqui desabafar ideias.

Até aqui chegar e poder partilhar a minha opinião,seja sobre o que for, preciso de ser estimulado eespicaçado. Não escrevo o que os leitores queremler, sobre assuntos mediáticos, por interessespessoais ou por encomenda. Até começar a digitarnas teclas do «pc» cá de casa, o assunto queconvosco irei partilhar pode até à última horamudar… Gosto dessa imprevisibilidade, pois acabapor ser desafiante e gratificante, dando ao «meumundo» mais um propósito de vida.

Mesmo a propósito, hoje no facebook (a rede socialmais utilizada por pessoas de todas as idades) dei decaras com uma notícia partilhada pelo meu amigo«Necas», em que o título sugestivo «Se quer ser felizo melhor é abandonar o facebook» me fez abandonara temática inicialmente programada para esta crónicade opinião. A notícia do estudo referia que: “Ainvestigação indica que 88% das pessoas quedeixaram o facebook durante sete dias admitiramsentir-se mais felizes. Do mesmo modo, 84% daspessoas envolvidas disseram que conseguiram, porisso, apreciar mais a vida. Apenas 12% das pessoasafirmaram estar insatisfeitas por não poderemutilizar a rede social”.

Frequento os meandros comunicacionais (e sóesses!) dessa rede social (e só essa!) há cerca de

cinco anos e não me considero em nada mais infelizdo que antes por ter aceitado o convite para delafazer parte, muito menos sinto sintomas de privaçãoquando dela estou ausente. Sinto-a como umcomplemento e uma forma de enriquecimentopessoal, pois só o facto de ter recuperado o contactodiário com amigos de infância e juventude; terrecuperado memórias esquecidas; ter conhecido asfamílias, as vivências e as preferências de quem estálonge e me é querido; ter mantido o contacto comantigos colegas e alunos; ter conhecido virtualmentepessoas que vim posteriormente a privarpessoalmente; ter partilhado gostos, ideias e ideais;ter conhecido e ter dado a conhecer informaçõespertinentes e úteis para a nossa vida; e ter podido«gostar» de quem merece apreço, admiração ereconhecimento, fazem manter-me ligado à rede semqualquer tipo de reserva, receio ou constrangimento.

Obviamente que conheço e reconheço todos osmalefícios e contrariedades de não saber usá-la coma parcimónia, a independência, o recato e o cuidadoexigidos. Mas não será assim com tudo o que provocaadição e dependência? Saber contrariar os impulsosde negar, refutar, contradizer e maldizer as opiniõese gostos alheios poderá ser uma boa forma de viverem paz com essa rede social que cresceu epopularizou-se mundialmente, pensada e estruturadanum sinal de aceitação (o «like»). Outra atitude paraa manter na nossa vida, de uma forma sã eenriquecedora, é fazer aquilo que sempre fizemosantes das redes sociais existirem: “Quem é meuamigo aceita-me como sou, quem não… é porquemeu amigo não é!”. Assim sendo… .

FEICEBUQUES…PAULO CUNHA

Page 31: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO31

- Oh pai, porque é que «essaspessoas» matam outras pessoas,assim sem mais nem menos? -

pergunta-me recorrentemente a minha filhaquando as notícias nos entram casa adentro devárias formas e por vários meios.

- São pessoas que deixaram de acreditar na vidatal como a projetamos e vemos… Pessoas que nãoacreditam na liberdade e têm como objetivo adestruição do mundo tal como o entendemos.

- Mas porquê? Porque é que matam e destroemfamílias inteiras que não fizeram mal a ninguém,se eles também têm famílias?

- Porque desistiram da vida… da «nossa» vida.São pessoas que cortaram radicalmente com opassado em nome de um futuro construído àmedida dos seus sentimentos, desejos e ilusões…onde a destruição legitima o terror das suas ações.

- Mas porquê?... Continuo sem entender!

Enfim, tantos «porquês» que parecendo-nos anós, adultos, tão difíceis de compreender, maisdifíceis se tornam de responder, pois tudo o quepossa ser agora dito a pequenos seres emformação condicionará, por certo, a imagem comque ficarão daqueles «outros» que nos poderãovir a fazer mal. Efetivamente vivemos tempos emque é difícil explicar a razão de atitudes e açõesque, lógica e racionalmente, não têm qualquerrazão de ser.

Preocupa-me ver todas estas crianças que fogemdo terror, que crescem no terror e, se nada forfeito para debelar e sanar tal flagelo, viverão -ainda mais - reféns do medo que o horror quepresenciaram lhes plantou no peito.

Aflige-me ver todos estes combatentes decausas insanas e perdidas, «fabricados» nummundo que nada mais lhes deu do que a vontadede morrer e levar consigo inocentes apenasculpados por terem nascido.

Culpas?... Culpados?... Todos os que permitiramque num único planeta, as assimetrias sejam hojetantas e tão diversas, que em determinadasregiões do globo se viva no século XXI e noutrasainda na idade média; todos os que, duma formasub-reptícia e encapotada, permitiram que aloucura fosse acolhida no radicalismo ideológico,político e religioso; todos os que, substituindo-se aum «Deus» menor, financiam estes acólitos paraquem os interesses incógnitos dos seus líderespouco interessam.

Como explicar a uma criança, as mortasgratuitas, a destruição de património, a perda dedireitos, a submissão, a escravidão…? Como fazê-la entender que num mundo global, o esvoaçardas asas de uma borboleta tem consequências nooutro lado do planeta? Como responder aquestões sobre «realidades» que os seus paisjamais vivenciaram, equacionaram e pensaram?

São as suas perguntas que nos devem manteratentos e «alerta!», pois serão eles, em últimainstância, os principais beneficiários (ou não) dasmedidas que ora tomarmos. Porque a «Liberdade,Fraternidade e Igualdade» não são –garantidamente – bens adquiridos, irreversíveis eimutáveis. Serão, tão somente, aquilo que delesfizermos! .

MAS PORQUÊ, PAI?...PAULO CUNHA

Page 32: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 32

Sou daqueles que sempre que há umaremodelação ministerial ainda acreditaque um dos ministérios que me é mais

querido (Cultura) terá a chefiá-lo um ministroisento, humanista, competente, conhecedor,honesto, sensato e idealista. É um processo quese tem vindo a assemelhar aos «furinhos» nacaixa de chocolates «Regina». Lembram-se?...Cada furo, cada surpresa!

Para muitos considerada a parente pobre dequalquer família governativa, seja ela de quequadrante político for, a Cultura acaba por estardestinada às sobras orçamentais. Poucosesperarão grandes projetos, empreendimentos erealizações de um ministério que parece existirpara calar e alimentar alguns «artistas» e parafinanciar alguns eventos da nomenclatura vigente.

Pretendem que seja a mulher bonita da foto degrupo. Está lá apenas para efeitos estéticos edecorativos, sem direito a abrir a boca. Não fosseesse o ministério que umas vezes passa asecretaria, voltando depois a ministério… massempre com letra pequena, tal a diminutaorçamentação que lhe tem sido destinada desdeque vivemos em democracia.

Às vezes ponho-me a imaginar que era criadauma lei que instituía uma base mínima para umministério poder existir e funcionar como tal, porexemplo 1% do Orçamento Geral do Estado.Assim, sim… Assim poderíamos ver as DireçõesRegionais de Cultura a fazer muito mais do queapenas «contar os tostões» e gerir as módicas

quantias disponibilizadas para a produção culturalna província. Imaginei também que era criadaoutra lei que garantia a itinerância ministerialpelas várias províncias de Portugal. Talvezacabassem assim muitas das disparidadesverificadas nos apoios que são concedidos àprodução cultural por este país fora. Obviamente,isto sou eu a «utopizar». «Coisas» de alguém paraquem a Cultura conta mais do que o valor que lheé dado!...

Para além das habituais razões partidárias,vulgarizou-se colocar como uma das condiçõesprimordiais para a escolha para o cargo, ser bomgestor. Relegando para segundo plano osconhecimentos técnicos, científicos, logísticos eoperacionais; esquecendo a capacidade de ouvir,dialogar e criar consensos; menosprezando avisão criativa, empreendedora e estratégica,acabámos por constatar que em vez de ministrose secretários de estado da Cultura, muitos foramapenas gestores culturais do Ministério dasFinanças. Nem os benditos e abençoadosassessores os salvaram, pois quando não há«guito», engenho e arte, acabamos todos porficar com a pior parte!

Já com o gabinete de Ministro da Culturaocupado, espero que o atual usufrutuário venha acolocar no seu mapa de prioridades uma regiãoque – pretensamente – deve conhecer bem(Algarve), pois foi eleito como seu representantepara a Assembleia da República. Para quem temboa memória, e eu julgo ter… No fim do mandatofalaremos! .

MINI(STÉRIO) DA CULTURAOU MISTÉRIO DA CULTURA?PAULO CUNHA

Page 33: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO33

Todos os anos, cada vez mais cedo, nosentra pela casa adentro uma data quepara todos os cristãos, pretensamente,

deverá ser de júbilo, agradecimento ecomemoração pelo nascimento de Jesus Cristo.Uma época que, com o passar do tempo, temvindo a vulgarizar e a banalizar as festividades aela associada, como forma de prestarhomenagem e vassalagem ao «deus consumo»personificado no «Pai Natal», figura publicitadapela «Coca-Cola» no início do século XX e queacabou por ajudar a subverter o verdadeiroespírito de Natal.

É um facto: é Natal quando alguém nasce! Daía «frase feita» que nos relembra que é Natalquando um homem e uma mulher querem. Darao mundo um novo ser e, por consequência,proporcionar-lhe tudo o que o possa ajudar acrescer saudável e feliz deverá ser, no meumodesto entender, o espírito de Natal. Foi issoque aprendi numa altura em que o Natal seconsumia menos e se vivia mais…

O atual Natal, planificado e construído noconsumo, faz-nos mergulhar numa amálgama desensações e sentimentos contraditórios. Àmedida que vamos ficando menos novos vamossentindo que o tempo entre natais parece sercada vez menor. As sensações de hipocrisia,constrangimento e angústia minam-nos aoconstatarmos que chegou a época em quedeveremos todos ser «bonzinhos» uns para osoutros e muito amigos da família. Instala-setambém a sensação de obrigatoriedade por ter

que dar, retribuir e partilhar com data e horamarcadas. Finalmente, a sensação de urgência ede stresse por ter que preparar, acompanhar,assistir e participar em todas as festas,«festazinhas», almoços, jantares, quermesses ecompra de rifas...

Dar e receber não tem hora marcada. Paz,amor, solidariedade, compreensão, fraternidadee tolerância, muito menos! Fingir e dissimular oque não está bem porque é Natal é tudo, menosNatal. Acaba por ser uma época onde oscontrastes se agudizam ainda mais, pois quemestá só, mais só acaba por se sentir…

Faço muitas vezes a analogia com a «Música deNatal», que por ter sido composta imbuída doverdadeiro espírito natalício é quase toda elabela, e assim sendo… porque não ouvi-la,interpretá-la e desfrutá-la durante todo o ano?...Da mesma forma, porque não alimentar osverdadeiros relacionamentos com sinceros esentidos afetos? Todo o ano!

Agora que o Natal se aproxima a passos largose a crise continua a controlar e a moderar osgastos em prendas e ofertas - muitas vezes -desnecessárias e supérfluas, eis que é chegada aaltura de reforçar a dádiva de carinho, ternura,afeto e apoio a todos aqueles que delesprecisam e merecem. São ofertas gratuitas querefletem o genuíno espírito de Natal e ajudam aaproximar os amigos que estão longe da vistamas perto do coração .

NATAL TODO O ANOPAULO CUNHA

Page 34: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 34

Por sugestão de um amigo que conhece asminhas ideias e ideais sobre Educação, li hápouco tempo um artigo que fazia uma

súmula de um inventário realizado pelo jornal «ElPaís» sobre o que Albert Einstein pensava sobre otema. Coligido a partir de cartas, ensaios biográficose livros, estas ideias de um homem que enquantoestudante não gostou nem se interessou pela escolaautoritária e desmotivadora do seu tempo - tendo-lhe sido, inclusive, imputada a fama de medíocreenquanto aluno - são hoje motivo de interesse ereflexão.

Não, não foi um «mau» aluno!… Foi apenas aquiloque muitos dos atuais alunos são em Portugal:vítimas das circunstâncias. E como tantos mostrou-onos bancos da escola, levando inclusive umaprofessora a vaticinar-lhe que nada seria na vida.Afinal de contas, um «dejá vu» que se repeteinsistentemente de geração em geração e que leva aestigmatizar quem não tira boas notas, sejam osmotivos quais forem. Leva tudo pela mesma bitola!

Na sua obra «A minha visão do mundo», publicadaoriginalmente em 1949, Einstein defendia que: “Aaprendizagem deve ser feita de uma maneira quepossa ser recebida como a maior dádiva, e não comouma obrigação amarga.”. Tendo escrito também:“Aprendi desde muito cedo a extrair o importante,prescindindo de uma multiplicidade de coisas que(…) desviam a mente do essencial. O problema é quepara os exames tinhas de enfiar tudo na cabeça, querqueiras ou não. (…) É um erro grave acreditar que avontade de olhar e pesquisar pode ser fomentadapela obrigação e pelo sentido de dever. Penso queaté um predador animal saudável pode ser privadoda sua voracidade se lhe for exigido continuar acomer quando não tem fome”. Afirmações que,refletindo a falta de investimento na curiosidade

natural como força motriz para a aprendizagem,continuam ainda tão atuais.

Numa carta dirigida ao seu filho, EduardEinstein, publicada postumamente em 2008 na obra«Posteridade: cartas de grandes cidadãos norte-americanos aos seus filhos», de Dorie McCulloughDawson, o cientista recomendava-lhe a seguir o seuinstinto e fazer aquilo que gostasse, já que essa é amelhor maneira de aprender: “No piano tocasobretudo o que gostares, mesmo que a professoranão te o exija. Essa é a melhor maneira de aprender,quando estás a fazer algo com tanto prazer que nemte dás conta do tempo a passar”. Seja na arte ou naárea que for, esta premissa continua a fazer toda adiferença: deixar a “vocação falar mais alto”, emdetrimento de tudo o resto que para os outros é omais importante. “Afinal de que me interessa aopinião dos outros se a vida a ser vivida é aminha?!...”.

Na obra as «As minhas crenças» (1939) escreveu:“Deveria cultivar-se nos indivíduos qualidades quepromovam o bem comum. Isto não significa que «oindivíduo» se converta num simples instrumento dacomunidade, como uma abelha (…). O objetivo deveser formar indivíduos que atuem com independênciae que trabalhem o seu principal interesse ao serviçoda comunidade”, e “Temos que ter cuidado com osque pregam aos jovens o sucesso como o objetivo(principal) da vida (…). O valor de um homem deveriaser analisado em função do que dá, e não do querecebe. A função decisiva do ensino é despertar estasforças psicológicas (vontade de contribuir para omundo) nos jovens.”. Reflexões de alguém que peloexemplo da sua vida (vivida) deverão constituir umfarol para quem ensinar é algo mais do que «apenas»

instruir. Porque a gosto aprender é um gosto!.

“A EDUCAÇÃO É O QUESOBRA QUANDO SEESQUECE TUDO O QUE SEAPRENDEU NA ESCOLA”PAULO CUNHA

Page 35: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO35

OPINIÃO

Ao longo de mais de três décadas deensino vocacional e genérico da Músicasempre encarei a «Voz» como um

instrumento primordial, fundamental e crucialpara uma saudável e enriquecedora descobertada Música. Sendo um instrumento portátil, únicopelo seu timbre, gratuito e de fácil manutenção,o aparelho fonador humano é, sem qualquermargem para dúvida, o instrumento de, e paratodas as classes sociais. Perspetivar,contextualizar, programar e direcionar deverãoser tarefas que todos os profissionais do ensinoda Música terão que implementar se quiseremque o canto sirva de fio condutor para adescoberta de «outros mundos».

Sendo a oferta de canções devidamenteestruturadas e planificadas quase semprerestrita aos manuais escolares, a criação daplataforma digital www.cantarmais.pt veiodemocratizar o livre acesso a uma quantidade evariedade de canções que constituem umapoderosa e eficaz ferramenta para quem usa acanção no seu dia-a-dia. Pensado, programado eestruturado para educadores, este sítio aberto atodo o mundo está já suscitar a curiosidade e aacolher visitas de quem gosta «apenas» decantar. À distância de uns quantos «cliques»constatamos que temos quase «a papinha todafeita»… É só assimilá-la e o proveito é nosso e dequem nos acompanha.

Sendo uma iniciativa da Associação Portuguesade Educação Musical (APEM) e contando com acolaboração da Direção Geral de Educação e da

Fundação Calouste Gulbenkian, o projeto«Cantar Mais – Mundos com voz» assenta nadisponibilização de um repertório diversificadode canções (tradicionais portuguesas, de músicaantiga, de países de língua oficial portuguesa, deautor, do mundo, fado, cante e teatromusical/ciclo de canções) com arranjos eorquestrações originais apoiadas por recursospedagógicos multimédia e tutoriais de formação.

Numa altura em que o canto volta, cada vezmais, a ser um chamariz para a socialização, paraa interação e para o crescimento e realizaçãopessoais, tenho vindo a constatar que quandoapresento este «sítio» aos meus alunos, é comgrande atenção, curiosidade e satisfação que mepedem para o pesquisar também com eles.Estruturado e construído para um acesso fácil eintuitivo, este «oásis musical» construído emPortugal tem tudo para dar certo: uma autoriacredível, sábia e competente; um grafismo ecromatismo atraentes; colaboradores habilitadose criativos; harmonizações atrativas; arranjoseficazes e atuais; textos formativos, tutoriais eglossários apelativos e acessíveis… Enfim tudoaquilo que há muito tempo aguardávamos.Agora já não há motivo para não cantar mais.Seja quando, onde, e com quem for. Quem sabe,comigo?! Ou contigo… .

PARA CANTAR MAIS:WWW.CANTARMAIS.PTPAULO CUNHA

Page 36: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 36

OPINIÃO

Sempre que saio para visitar outras localidadesportuguesas, mais do que observar o que a naturezadelas fez, tento apreciar a forma como a mão do

homem as tornou ainda mais admiráveis, aprazíveis eapetecíveis. Neste constante olhar observador econtemplativo tenho vindo a constatar como certascidades e regiões se têm afirmado através da sua relaçãoprogramada, sustentada e continuada com a Cultura… asua Cultura.

Sem qualquer laivo de regionalismo demagógico oubacoco, penso que investir na produção artística de umdeterminado local define-o, caracteriza-o, individualiza-oe potencia-o. Sinto-o quando registo que as obrasartísticas que me são dadas a apreciar têm na sua génesee construção os traços identitários de quem as construiu.São essas características que, de forma indelével esubliminar, nos fazem também valorizar e querer voltaraos locais visitados.

Quando oiço - e constato in loco - que determinadoslocais do nosso país estão «na moda», facilmente perceboas razões que os levaram a ser mimoseados com talepíteto. O investimento planificado, estruturado ediversificado em determinadas áreas nucleares tem vindoa aumentar consideravelmente a qualidade de vida dassuas populações e isso reflete-se na forma como recebemquem as visita.

Com admiração, mas também com alguma inveja àmistura, registo que, a exemplo do que há muito tempo sefaz «lá fora», os artistas de determinadas regiõesintegram também o cartaz de visita que as torna tãoacarinhadas e procuradas pelos autóctones e forasteiros.Integrando o «pacote», a cultura da região é mais umgarante e potencialidade no selo de qualidade da mesma,tornando-a assim património imaterial exportável.

Sentindo na pele o desinvestimento na produçãocultural algarvia registado nos últimos anos, onde grandeparte das autarquias algarvias se socorreu da carolice deartistas amadores e da (muito) boa vontade de algunsprofissionais, concentrando os gastos com o setor culturalna habitual contratação sazonal de nomes firmados da

animação nacional/internacional, penso ser mais do que aaltura de «dar um murro na mesa» e «falar grosso» comquem tem a responsabilidade e o dever de proteger,acarinhar e incentivar o que por cá se faz. Já basta detratar os artistas algarvios de forma sobranceira,displicente e até imoral!

Como em qualquer setor da sociedade, a produçãocultural necessita também de investimento. Os agentesculturais têm os mesmos encargos diários que o comumdos mortais, e como tal precisam que quem administra odinheiro dos nossos impostos trace políticas de apoioantecipado e estruturado à produção cultural da regiãoonde se inserem, e à qual são, ao mesmo tempo,devedores e credores.

Sem apelar aos maus hábitos da subsidiodependência,penso que se pode manter vivo e pulsante o tecidoartístico da região algarvia. Como? Patrocinando aencomenda, produção, realização ou edição de obras queservirão como referência cultural atualizada da regiãopara os algarvios e para todos os que nos visitam;apoiando, eficaz e merecidamente, as associações eestruturas culturais geradoras de atividades nãolucrativas; fomentando e impulsionando a globalizaçãodas várias vertentes artísticas, conjuntamente com outrasreferências identitárias da região; programando em redepara que se torne possível permutar e partilhar atividadesculturais de relevo entre os vários municípios algarvios;criando uma bolsa/listagem de artistas residentes quegarantam uma representação fiel e condigna no resto dopaís do atual «Algarve Cultural»; planificando eestruturando uma programação anual atempada, assentena promoção e divulgação da produção cultural realizadaem todo o distrito; promovendo residências eintercâmbios artísticos; valorizando o ensino artísticocomo garante de continuidade, crescimento e afirmaçãocultural da região.

Esperando que todos os organismos oficiais e privadosque tutelam a Cultura me oiçam, desejo que seja este oano da mudança… para melhor. A arte - a sul -agradece!.

PARA QUE - DE UMA VEZ POR TODAS- A PRODUÇÃO CULTURAL ALGARVIASE TRANSFORME EM PATRIMÓNIODE TODOS NÓSPAULO CUNHA

Page 37: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO37

Quando em setembro de 1992 um grupo de jovensalunos me interpelou numa das escadarias doConservatório Regional do Algarve (Faro),

questionando a possibilidade de poder vir a coordenaruma classe de conjunto alternativa e complementar àsque então existiam, estava longe de imaginar que,volvidos mais de 23 anos, hoje dedicaria o meu tempo aum grupo que cresceu comigo e que me ajudou a crescer.Prontamente o desafio foi aceite e daí nasceu umagrupamento com caráter académico e pedagógico quese veio a denominar «Grupo de Música Tradicional doC.R.A.».

Cedo percebi que uma das formas de o fazer crescerseria convidar para o integrar, gente que «soubesse dapoda», com conhecimentos adquiridos na escola musicalda vida e, o mais depressa possível, dá-lo a conhecer aomundo. E assim foi… Quando demos por isso estávamos atocar em todo o Algarve, divulgando a «nossa» música e ainstituição à qual pertencíamos.

Um ano depois sentimos o natural desejo de batizar ogrupo com um nome que o identificasse em termos dogénero musical, do objetivo, e da região de proveniência.«Vá-de-Viró» foi decisão consensual, pois o seusignificado (frase utilizada pelos pescadores algarvios coma qual se dá ordem para fazer virar o barco quando sepretende recolher as redes de pesca) assentava que nemuma luva no seu propósito quanto ao destino da músicade cariz tradicional.

Tendo a sua música chegado aos ouvidos de umprodutor musical responsável por uma editorainternacional dedicada à edição de música étnica (PlayaSound), prontamente foi convidado para gravar um disco(Escale au Portugal) com distribuição mundial. Daí, e porconsequência, começaram as primeiras digressõesinternacionais (Canadá, Alemanha e Espanha).

Com a desvinculação da instituição onde nasceu e ainevitável saída e entrada de novos elementos comformação e percursos musicais diferenciados, emconjunto com o consequente crescimento musical eartístico dos seus membros, cada novo registodiscográfico veio a refletir mudanças constantes num som

que um crítico musical apelidou de “original e… muito Vá-de-Viró”.

Sendo um grupo que tocava, pelo menos, mais do queuma vez por mês, com o passar do tempo transformou-senum grupo hibernado, condenado como muitos outrosgrupos algarvios a deixar de existir, a ter que mudar denome ou a «travestir-se». Hoje, com um naipe de músicosde exceção que se respeitam e admiram enquantoprofissionais, e que adoram tocar juntos, continuam,abnegada e estoicamente, a encontrar-se apenas paradesfrutar do prazer que a sua música lhes proporciona.

Muitos algarvios ficam admirados e impressionados porsaber que o grupo ainda existe, pois nunca mais deleouviram falar, outros questionam as razões porque nãosão convidados a tocar na região de onde são oriundospois (tal como o vinho do Porto) cada vez estãomelhores… Não respondendo publicamente, sabem deantemão que não tocando no «seu» Algarve jamais serãoconhecidos e reconhecidos no resto do país.

Obviamente tenho refletido muito sobre as razões quefizeram com que tantos grupos musicais que fizeramparte do nosso património musical algarvio tenhamcessado a sua atividade. São por demais evidentes, esomadas tiveram efeitos nefastos e irreversíveis naprodução musical da região. Porque os velhos hábitos,estigmas e preconceitos passam de geração em geração,muitas das entidades públicas e privadas que contratammúsicos fazem-no com base nos pressupostos com que ageneralidade dos programadores e produtores usam nasua escolha: o que é novidade é que «pega»; o que vemde fora é que é bom; o que está na moda é que vende; senão passa na rádio e televisão não interessa; se é daregião tem qualidade inferior; se é da terra toca à «borla»ou com um grande «desconto» no cachet, para assim sepromover.

Efetivamente está na altura de dar um grande vá-de-viró nesta forma encapotada de desprezar o que é nosso.De que serve apregoar aos quatro ventos a nossagrandiosidade, quando os atos revelam a pequenez dequem os pratica? Não há maior afirmação de uma regiãodo que aquela que é feita com a sua cultura! E não épreciso sair do Algarve para o constatar… .

ENTÃO: «VÁ-DE-VIRÓ»PARA TODOS VÓS!PAULO CUNHA

OPINIÃO

Page 38: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 38

Nunca estranharam ouvir sempre asmesmas músicas na estação radiofónicaque elegeram como sendo aquela que

vos acompanhará no automóvel, no trabalho ouem casa? Já repararam que as ditas músicasobedecem a um padrão, a um estilo musicaldefinido e a determinadas interpretações eintérpretes? De tal forma que cada estação acabapor se definir e catalogar através da música quepassa.

Invariavelmente, no início de cada ano letivo seiatravés das respostas dos meus alunos quais sãoos cantores e grupos musicais que «estão naberra». Basta perguntar-lhes que género demúsica é que ouvem e grande parte apelida-o de«RFM», «Antena 3», «Cidade», «Comercial» ououtro parecido. Basta sintonizar o rádio numadestas estações e, recorrente e repetidamente,esbarro num dos nomes de grupos e intérpretesque através deles conheci.

Tendo crescido num tempo em que os radialistaslevavam os seus discos para o estúdio e produziame realizavam o seu programa tentando cativar eagarrar a atenção do ouvinte, e assim fidelizá-lopara aquela hora radiofónica, é com algumagastamento e até uma «pontinha de saudade»que hoje vejo estes programas de autor reduzidose confinados às poucas rádios locais existentes.

Hoje as músicas são alinhadas num «power play»que dispara automaticamente em programaçãodevidamente agendada no computador. Aoapresentador resta apenas emprestar a sua voz aprogramas que mais não servem do que modelar econdicionar a apreciação e o gosto de quem osouve.

Servindo de fonte de financiamento paraconglomerados empresariais detentores deempresas de comunicação, a «venda» dedeterminados artistas e géneros musicais é umnegócio apetecível para quem com eles querganhar dinheiro. Não é assim de estranhar que aseditoras multinacionais comprem tempo paraatravés das ondas hertzianas promoverem evenderem os seus produtos. De tal forma queacabam por «secar» tudo à volta, impedindo apromoção de qualquer edição de autor ou deeditoras independentes.

E assim acabamos a ouvir o que não queremos, oque não gostamos e até o que aparenta terqualidade duvidosa. Mas o que dizer dos maisjovens, aqueles que através dos programas derádio, de tv e até de youtube acabam por moldar oseu gosto à incumbência de quem os «massacra»com os mesmos «artistas» de sempre? Por isso, epor muito mais, não estranhei quando constateique o kizomba (música e dança de pares deorigem angolana) tinha «invadido» Portugal.Bastou saber quem foi que financiou tal operaçãonesta porta da Europa onde a mesma línguaajudou a disseminar um ritmo que é hoje um dospreferidos de muitos portugueses.

É caso para pensar no que aconteceria se quemtem o saber, a competência e os meios para ofazer, investisse na música de origem portuguesanos países onde a nossa língua também se fezpátria. O problema é o mesmo de sempre:enquanto Portugal servir apenas como porta deentrada seremos sempre um público atento,maravilhoso, carinhoso, reconhecido… em relaçãoaos outros, os de fora! .

DIZ-ME O QUE OUVES…PAULO CUNHA

OPINIÃO

Page 39: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO39

Pegando na frase “Laissez faire, laissezaller, laissez passer” (deixai fazer, deixaiir, deixai passar), usada sobretudo por

quem defende o liberalismo económico, é fácilextrapolar o seu primeiro sentido para o que hojese passa nas escolhas que metade da populaçãoportuguesa faz para a sua vida. Não o fazendo -na maioria - com tal intuito, a demissão que umem cada dois portugueses coloca nas escolhascruciais para o seu destino acaba por ter omesmo efeito, deixando a vida correr o cursoidealizado por quem já a destinou.

Começando em contexto familiar, transportadopara o universo escolar e, mais tarde,devidamente cristalizado nas relaçõessocioprofissionais e comportamentos cívicos,esta forma displicente, desprendida e amorfacomo muitos dos seres com que privamosencaram a vida, faz-me pensar que tal atitude éterreno fértil para a manietação e absolutocontrolo por parte de gente menos séria eescrupulosa.

“Porque sim!”, logo seguida de “Deixa estar!...”,são frases-bordão impensadas que muitas vezes(demasiadas) ouvimos como resposta ao porquêde determinadas atitudes e, ao mesmo tempo,justificar a incompreensão, demissão, omissão enegação perante a assunção de uma posiçãoperante assuntos e matérias nucleares efundamentais para a vida de todos nós.

Tendo tido a honra e o privilégio de privar comcidadãos portugueses que deram tanto de si edos seus para que a democracia fosse hoje umarealidade, custa-me constatar que cerca demetade da população portuguesa não exerça umdos direitos mais nobres, importantes econsequentes consagrados na ConstituiçãoPortuguesa: o direito ao voto. Não sendo

obrigatório, muitos deixaram de o encarar comoum dever cívico enquanto decisores políticos,sociais e morais, motivando assim umprogressivo alheamento e demissão em relação àcausa pública.

Escalpelizadas, esmiuçadas e debatidas porsociólogos, politólogos e comentadores, asrazões são por de mais evidentes. Todos os queabdicam de escolher, passando ao seu congénerea “procuração” de decidir por si terão, por certo,uma razão para o fazer… Mas será que aponderaram e maturaram suficientemente paraque mais tarde não venham a ser confrontadoscom as consequências de tal decisão, quandoderem conta que estão a criticar as escolhas dosoutros?

Aceito e concordo com a legitimidade daabstenção enquanto tomada de posição peranteo progressivo descrédito que a política partidáriatem vindo a merecer por parte dos cidadãos maisesclarecidos. É, sem qualquer margem paradúvida, uma atitude mais coerente do que votarno mal menor, pois “Mal por mal, o mal já estáfeito… e não é para repetir!”. Mas o que dizer detodos aqueles que, como eu, sentem que ahistória se constrói com a soma das “cruzinhas”que fazemos no boletim da história?

Não será já altura de todos os que sabem arazão pela qual não votam, de fazer algo a títulopessoal e/ou coletivo para que os verdadeirosindependentes das “tricas, trocas e baldrocas”partidárias coloquem outra vez os portugueses agostar de si? Sim! Gostar de nós passa pordepositar a nossa confiança em quem a merece…e porque o futuro não se delega, construamo-locom a participação de todos! .

DEIXA ESTAR!PAULO CUNHA

OPINIÃO

Page 40: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 40

É comum ouvir gente que saiu do Algarvedizer que tal foi necessário para, finalmente,conhecer a real dimensão, peso e

importância desta província portuguesa. Genteque, invariavelmente, saiu com vontade de ficare que, não o tendo feito, volta sempre que pode,adiando o inevitável e definitivo regresso. Afinalde contas: quem nasce ou “renasce” numa terraabençoada pela natureza, sente-se abençoadopor nela passar o resto da sua vida!

É um facto, a importância das coisas é aquelaque lhes damos! Basta imaginar o que sentirão ospeixes que vivem dentro de um pequenoaquário… para eles, aquele é o seu mundo ebasta-lhes, não imaginando sequer o quãodiminuto e restrito o é face ao oceano. Daí aimportância de sair para perceber que agrandiosidade dos recursos naturais e a formacomo os autóctones os gerem não tem sidomerecedor, por parte de quem nos governa, dodevido e merecido crédito e mérito.

Por ser a habitual “casa de férias” de muitosportugueses durante cerca de três meses porano, vulgarmente apelidados de “silly season”,para demasiados o Algarve funciona como umaespécie de estância turística que, a exemplo demuitas unidades hoteleiras, também fecha nosrestantes meses. Basta ouvir a forma como falamdesta região para além dos meses de verão, e aimportância que lhe é dada comparativamente aoutras que estão cada vez mais a ser noticiadaspela forma como gerem os seus recursos naturaisem proveito dos seus habitantes e visitantes.

Em termos de contexto contributivo, emrelação a todas outras é uma das províncias que

mais riqueza gera. Por assim ser e por ser já umdado adquirido, tem vindo a desmerecer aatenção de quem tem responsabilidade deacautelar a manutenção, crescimento evalorização de todos os outros setores deprodução desta província. Refém da ideia erradaque o Algarve existe exclusivamente de, e para oturismo, e onde nada acontece para além doperíodo de lazer e ócio, temos vindo (algarvios) asentir na pele o descrédito e abandono por partede quem olha para o Algarve apenas como umgrande e vasto areal que se espraia pela costa.

Por isso não é de estranhar ouvir tantos aqueixar-se que nada do que por cá fazem chegapara lá do Alentejo, quanto mais além-fronteiras!? Mas como poderemos nós mudareste estado de coisas, dando ao Algarve o devidoe merecido destaque, tornando-o notícia paraalém das súbitas e imprevisíveis alteraçõesmeteorológicas e suas consequências? Soudaqueles que advoga e defende que pensar e agir“em grande” ensina-se e aprende-se nos bancosda escola. De pequeno, como em tudo! Olhandopara esta região inserida num todo global e uno;com orgulho e perseverança; sem a mesquinheze a falsa modéstia dos subservientes; afirmandoideais; negociando e debatendo contrapartidas;promovendo e criando pontes inter-regionais.

Para que o Algarve, o tal destino de férias paraonde todos rumam quando querem ficar “silly”,não seja visto aos olhos de quem nos visita comouma região onde apenas se descansa e poucomais acontece, é altura de nos deixarmos de“provincianices” regionalistas e começarmos apensar e a agir como portugueses de primeira.Que o somos! .

Ó «NOSSO» ALGARVEPAULO CUNHA

OPINIÃO

Page 41: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO41

OPINIÃO

Foi sem grande surpresa que, mais uma vez,ouvi noticiado num canal televisivo que “Umestudo realizado com cerca de mil

professores de escolas portuguesas revelou que 30%dos docentes padeciam da síndrome de burnout, ouseja, estavam exaustos emocionalmente e semqualquer sentimento de realização profissional”.Este estudo levado a cabo durante três anos, entre2010 e 2013, por uma equipa de investigadores doISPA - Instituto Universitário teve como base osresultados obtidos na inquirição feita a cerca de mildocentes que davam aulas a alunos do 2.º, 3.º ciclose ensino secundário.

Tendo como objetivo perceber se existiriam maisdocentes em stress ou em burnout, no finalverificou-se que 30% dos professores estavam emburnout, uma percentagem que fica um poucoacima dos números habituais registados nos outrospaíses, que rondam entre os 15 e os 25%. Apurou-setambém que a maior parte dos docentes emburnout são mais velhos, têm vínculo à funçãopública e dão aulas no ensino secundário. O estudorevelou ainda que existem entre 20 a 25% dedocentes que sofrem de stress, ansiedade edepressão. Convém também referir que o estudo foifeito numa altura em que se registaram algumasmudanças, tais como a avaliação de professores, oaumento de alunos por sala de aula ou o aumentoda idade de reforma.

Não sendo exclusiva do sistema educativo, estamaleita afeta também todas as profissões comcontacto constante, direto e prolongado compessoas, aliado também a uma dedicaçãoexacerbada à atividade profissional. Tendo em contatodas as mudanças sociais e políticas, o burnoutcomeça já a ser um problema social de extremarelevância devido à exaustão emocional e falta derealização profissional. Afeta não só o professor,mas também o contexto educacional, uma vez que o

mal-estar sentido pode originar problemas desaúde, perda de motivação, irritabilidade, aumentodos níveis de absentismo e abandono da profissão, oque pode interferir na realização dos objetivospedagógicos propostos.

A síndrome burnout (do inglês to burn out,queimar por completo) é um processo lento que sevai instalando e acaba por ser detetado quando aexaustão ultrapassa um determinado limite, arealização profissional diminui e o cinismo aumenta,altura em que muitos já não têm força para secontrolar.

Acontecendo, por norma, a meio da carreira, entreos dez a quinze anos de atividade, é típico empessoas altruístas que se dedicam muito aoemprego e pode ser afetado por outrascaracterísticas individuais, como por exemplo oestado civil, sendo mais propensos os não casadosou sem relação afetiva estável.

Os sintomas psicológicos do burnout podem serum cansaço extremo, falta de paciência paraatender os outros, o que é grave em profissões deajuda como os bombeiros, polícias ou médicos.Atitudes depressivas, irritabilidade,autoagressividade ou heteroagressividade, sensaçãode vazio e cansaço físico e emocional extremo sãooutros sintomas.

Tendo mais de três décadas de interação,observação e análise do sistema educativo onde,profissionalmente, me insiro, tenho naapresentação e análise destes dados um motivo depreocupação acrescido, pois enquanto professor eencarregado de educação aflige-me e preocupa-meconstatar que um em cada três professoresportugueses está em burnout. De que serve, e aquem serve ter as luzes do conhecimento apagadas?É que com os “fusíveis fundidos” não há luz que seacenda na aprendizagem dos nossos alunos. Parabom entendedor… .

QUANDO OS NOSSOS«FUSÍVEIS» FUNDEM…PAULO CUNHA

Page 42: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 42

OPINIÃO

Pode parecer descabido e até umcontrassenso vir aqui opinar sobre aimportância de «fazer nada» (que não é

o mesmo que nada fazer), quando tantos por cáandam a tentar - desesperadamente - arranjaralguma coisa para fazer. De preferência,remunerada!... Numa altura em que asconsequências provocadas pelas desigualdadessociais tornam urgente uma real tomada deconsciência e de posição sobre o papel e acontribuição de cada um na vida dos outros, urgeconseguir arranjar tempo para pensar.Simplesmente…

O sociólogo italiano Domenico di Masi,defensor que as pessoas deveriam reservar umaparte do seu dia para fazer nada, porque sóassim seriam capazes de ter boas ideias e,consequentemente, terem tempo para criar,coloca-me em absoluta consonância econcordância com tal teoria!

Vivendo num mundo e num tempo onde aspalavras-chave para o «sucesso» são motivação,iniciativa, rendimento, e onde, cada vez mais, apressão laboral é exercida na pessoa a partir dedentro de si e na necessidade de ser produtiva,empreendedora e audaz, torna-se prementetentar arranjar mecanismos que nos ajudem alidar com o facto de tal nem sempre vir a serconcretizável. Numa sociedade onde otrabalhador modelo é o trabalhador capaz derealizar múltiplas tarefas em simultâneo e naperfeição, do «yes, we can» e do «like», torna-seurgente ensinar os jovens a aprender a lidar como fracasso, experiência fundamental numa vidahumana em construção e mutação.

A história conta-nos que foram nos longosperíodos de atenção, silêncio e concentração quesurgiram as grandes criações humanas. Domesmo modo, as nossas relações familiaressofrem quando somos incapazes de lhesconceder a nossa total atenção, algo difícil nomeio de todas as distrações e solicitações quenos atingem. O excesso de informação, decomunicação, de emoções e de objetivosprovocam no individuo dispersão, incapacidadede estar centrado e desgaste mental e físico.

Trazendo também a este texto o filósofoByung-Chul Han, aqui partilho a necessidadeurgente de reaprender o dom da atenção, daescuta, do silêncio, do deter-se, do dar espaço,do não cair nas «engrenagens» de consumo eprodução, para que o ser humano não seconverta “numa máquina de rendimento, cujoobjetivo consiste no funcionamento semalterações e no máximo de rendimento”. Trata-se de crescer na pedagogia do olhar: “Aprender aver significa acostumar o olho a observar comcalma e com paciência, a deixar que as coisas seaproximem dos nossos olhos, quer dizer, educaro olho para uma profunda e contemplativaatenção, para um olhar alargado e pausado.”

Fazer nada é, tão simplesmente, acrescentar àsnossas vidas janelas temporais onde possamosver para além da modorra dos dias pré-feitos.Transformar os pequenos «nadas» em folhas depapel onde, na sua brancura e candura,possamos redesenhar uma nova vida. Uma vidadigna de ser vivida! A nossa… .

O ÓCIO CRIATIVOPAULO CUNHA

Page 43: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO43

OPINIÃO

Muitos que no «seu tempo» ouviramda boca dos seus pais as costumeirasfrases “Tens que estudar para ser

alguém na vida!”, ”Tira um curso a sério!” ou “Vêlá se essa área tem saída!?”, dizem-no agora como mesmo paternalismo, convicção e esperançacom que os seus progenitores o disseram. Otempo passa mas os velhos tabus sociais que nosforam incutidos por todos aqueles que ajudarama construir os alicerces da atual sociedade deconsumo, mantêm-se. É uma herança culturalque, duma forma ténue e lenta, tarda em mudar.

É inquestionável a importância de adquirirconhecimentos seja em que área for, para,sobretudo, nos enriquecermos moral eintelectualmente, independentemente do rótuloe dos prémios e regalias que a sociedade nosvenha a atribuir na sua hierarquia do «quem éQuem». Toda a gente é alguém na vida! Na vidade quem prezamos e nos preza. É isso o maisimportante, pois para além do usufrutoinconsequente e ostentação mundana de bensmateriais, o bem-estar dos «nossos» acaba porser o garante da nossa verdadeira importâncianesta curta passagem terrena.

Quando alguém faz a destrinça qualitativaentre o sério e o menos sério no que àimportância profissional diz respeito, coloca-se aquestão se a mesma é dada apenas pelo índicede empregabilidade, da média salarial, dacapacidade de progressão, do status social outambém contempla a satisfação, a realização, opreenchimento e a felicidade pessoal de cadaum. Não serão também os ditos cursosinferiores, aqueles que não sendo superiores

tornam a nossa vida superior? Afinal de contastira-se um curso para ser superior a outrem oupara tornar superior a nossa aprendizagem davida, na vida e para a vida?

Observando a forma como muitos educadorestentam condicionar as escolhas vocacionais dosseus educandos, em nome de uma projetada emuito almejada «saída profissional», tenho vindoa constatar que nos seus percursos académicosmuitos desses alunos hipotecam e vilipendiam asua felicidade em nome duma aparente certeza esegurança profissional. Entendo o desejo dequalquer pai que os seus filhos encontrem umaforma de subsistência que lhes garanta apossibilidade de também constituir família. Masa que custo?...

Apeteceu-me aqui desabafar este estado deespírito após ter ouvido um comentário de umjurado dum concurso onde é avaliado o talentodos concorrentes. Artista de formação e deconvicção, aconselhava um jovem a continuar ainvestir o seu tempo e energia, dedicando-se “dealma e coração” àquilo que o fazia feliz: a arteonde mostrava vocação e competência. Tendofinalizado a dissertação com o eloquente eassertivo conselho: “Não ligues a quem te dizpara tirares um curso a sério. Um curso a sério éo que fazes!”. Apetece-me perguntar-vos o que éhoje um «curso a sério». Não podendo, deixo-vosaqui a questão para colocarem aos vossosfilhos… Talvez eles saibam! .

TIRA UM «CURSO A SÉRIO»!PAULO CUNHA

Page 44: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 44

OPINIÃO

Embora, aparentemente, as palavras«adversário» e «inimigo» possamcarregar com elas os piores sentimentos

da natureza humana, há no seu significado muitoque as distingue. Depois duma consulta atenta aqualquer dicionário de língua portuguesa,poderemos verificar que aquele que se elevacontra outro para lhe disputar a posse de umacoisa ou o triunfo de uma ideia é um adversário;sendo que alguém hostil, prejudicial e nocivo éconsiderado inimigo.

À força de tanta ser pronunciada, já se tornouum cliché a ideia que na vida partidária osinimigos estão dentro dos próprios partidos e osadversários nas outras forças partidárias. Assimsendo, e a ser verdade, causa-me algumaadmiração e até perplexidade observar como éque tanta gente se sujeita ao escrutínio e análisepessoal para a respetiva aprovação na filiaçãoem grupos onde, supostamente, irão sofrer!?...Sim, porque ninguém se sujeita a sair de casapara estar com certas pessoas que, apesar dosapertos de mão e das palmadinhas nas costas, ostratam com cinismo, hipocrisia e desrespeito… anão ser que os ganhos e as mais-valias superemtodas essas vicissitudes. Bem, mas isso é lá comos «camaradas» e «companheiros», pois se láestão é porque assim o quiseram, ninguém osobrigou!

Mas o que dizer dessa mesma situação emrealidades onde não podemos fugir nem dizerque não? Refiro-me, obviamente, à grande partedas classes profissionais existentes. Nos seuslocais de trabalho, profissionais qualificadosacabam por passar um terço do dia, sujeitos a

disputas estéreis e insanas com algumas pessoasque trazem o pior da natureza humana para asua profissão. Por despeito, por inveja, porpequenez intelectual e até por malvadez,inquinam relações laborais e consequentementetornam as respetivas classes profissionais maisfrágeis. Colocando-se assim numa posição emque serão mais fáceis de manipular porinteresses externos, menos produtivas e eficazes,e mais atreitas a críticas, sujeitam-se a algunsjulgamentos infundados por parte de certossetores da opinião pública.

Por analogia comparo este tipo decomportamentos primários ao que muitos fazemnos estádios de futebol: enquanto os adversáriosjogam, o público injuria-se e agride-se com osrequintes de malvadez próprios de verdadeirosinimigos. Não adianta pois falar dos outros,quando é no âmago de quem fala que reside oproblema. Basta parar para pensar e quantificarquantos inimigos fizemos por comportamentosnão amigos para com eles. Muitos?... Poucos?...Nenhum?... Na resposta reside a relação quetemos com a vida. E em devido tempo a vidaretribuirá! .

ADVERSÁRIOS OU INIMIGOS?PAULO CUNHA

Page 45: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO45

OPINIÃO

Agora que o dia em que simbolicamentese homenageia e celebra o génerofeminino já passou - e porque, da

mulher, todos os dias o são - sinto-me ainda maiscompelido em aqui deixar o meu modesto, massentido contributo em relação a esta datacarregada de tanto simbolismo histórico ecivilizacional. Começo, antecipadamente, porpedir as mais sinceras desculpas a todos a quemas minhas palavras possam, de algum modo,parecer sexistas. Escrevo-as assumindo uma visãodesejável de um mundo onde a únicacaracterística que nos diferencie não seja ogénero, mas unicamente o sexo com quenascemos. Humanos apenas…

Considerando-me um privilegiado por, desdesempre, ter trabalhado num mundo laboral(Educação) onde as mulheres sempre estiveramem maioria e sempre desempenharam lugares decoordenação e direção, tenho a plena noção quevivo numa «bolha» onde a realidade diária nãoespelha as desigualdades e assimetriasprofissionais que grande parte das mulheressentem no seu dia-a-dia em diversos contextosgeográficos, socioeconómicos e socioculturais.

Continua a «fazer-me espécie» consagrar umdia à mulher, pois da forma como é aproveitado eusado por algumas, sempre me pareceu redutor eaté banal, tal a importância do evento históricoque a data evoca. Mas o que mais me confrange epreocupa é constatar que muitos dos jovens comquem convivo diariamente inculcaram a ideia queeste dia é o dia em que as mulheres ficamdispensadas de fazer as «tarefas de mulher» paraassim puderem festejar o «seu dia».

Seja nas relações profissionais, sociais oufamiliares, a mulher continua a carregar e a servítima de um fardo demasiado pesado, assente

na tradição, cultura e religião, onde o preconceitoe o estigma continuam a minar e a condicionaruma plena vivência democrática e igualitáriaentre seres humanos.

Diferentes entre si, iguais nos direitos e nosdeveres! Tão simples na teoria mas tão longe deser verdade numa realidade onde a educação, oua falta dela, tem um peso central e primordial.Sejam homens ou mulheres, quanto maissensibilizados e alertados para a necessidade demudar o que não está bem, em prol dumasociedade onde a palavra «todos» abarqueefetivamente os dois géneros, mais rapidamenteteremos uma sociedade mais feliz e realizada e,consequentemente, mais produtiva.

Ao contrário do velho discurso de certas avósque, não raras vezes, desabafavam a «maldição»de terem nascido mulher, enquanto ao mesmotempo bendiziam a sina dos seus filhos homens, aatualidade tem vindo a garantir a afirmação, oorgulho e a satisfação de ser e viver afeminilidade em toda a sua plenitude.

Colocar na ordem do dia a discussão da justa edevida paridade entre sexos não tem dia. É umerro crasso eleger apenas o homem comocausador principal da desigualdade de direitos edeveres entre géneros, tendo em conta quemuitos dos comportamentos que se perpetuamde geração em geração são incutidos através daassimilação dos modelos familiares.

Lutar pelos direitos da mulher não constituiuma guerra entre sexos. É uma luta que deveráser feita a dois (mulher e homem), onde osprincipais vencedores serão os vindouros,herdeiros e transmissores de uma nova forma depensar, estruturar e viver a vida. Para que todosos dias sejam «Dia do Ser Humano»…simplesmente! .

365 DIAS MULHERPAULO CUNHA

Page 46: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 46

O primeiro registo de que háconhecimento como homenagem aopai tem já quatro mil anos e foi

encontrado por arqueólogos, escrito em argila, naantiga Babilónia. Reza a história que tudocomeçou em 1910 nos Estados Unidos daAmérica, quando uma americana deu início a umapetição sugerindo uma celebração aos pais,depois de ter ouvido um discurso de homenagemàs mães. O seu pai tinha-a criado sozinho,conjuntamente com seus cinco irmãos, pelo queinicialmente o «Dia do Pai» era festejado na datado seu aniversário, a 19 de Junho. Hoje celebra-seno dia de S. José, em Portugal e também noutrospaíses.

Sou daqueles que acha que tudo o que érealmente importante na vida deverá sercelebrado, dignificado e homenageado todos osdias. Sem dia marcado para nos lembrar quemuito do que somos o devemos aos nossos pais,«Pai e Mãe» são a maior instituição desde que o«mundo é mundo». Não há como negá-lo! Nemas exceções, que infelizmente as há, poderãocondicionar esta celebração a um mero devercom dia programado. O amor não tem diamarcado!

Para além do mercantilismo próprio dassociedades de consumo, associado a todas asdatas onde tudo tem dia e todo o dia é dia decomprar para oferecer, festejar quem nos gerou eeducou deverá constituir um referencial paratodos os dias desta nossa curta passagem. Amelhor forma de o fazer é mostrar-lhes,presencial e efetivamente, o amor que por elesnutrimos. Confinar a expressão e transmissão deafetos aos nossos pais a dias datados, marcaráirremediavelmente o momento em que com elesquisermos estar e eles já cá não estarão. Porque

para o inevitável a contagem é decrescente e hámuito começou…

Quando oiço falar em «Dia do Pai» vêm-meimediatamente à memória todos aqueles paisque, separados da mãe dos seus filhos, se veem,por decisão judicial, na contingência de sentir napele, e no coração, a terrível sensação de sópoderem estar com os seus filhos dois fins desemana (quatro dias) por mês. É neles que pensoquando oiço jovens que, com lágrimas contidas epalavras embargadas, me relatam que nãopuderam fazer com os pais tudo aquilo que lhessugeri e solicitei, pois só estão com eles de quinzeem quinze dias. Estou, obviamente, a referir-me atodos aqueles pais que o quiseram ser e todos osdias o comprovam, agindo como tal. Aqueles quese veem para além das funções de progenitores,mantedores e cuidadores. Aqueles que educam,ensinam e, sobretudo, compartilham diariamentecom os seus filhos a sua maior dádiva: o seu amorpaternal.

Aprende-se a ser pai, sendo-o! Entregando-nosa essa nobre missão e devoção, todos os diasdescobrimos nos nossos atos tudo aquilo que otempo se encarregou de apagar ou fazer esquecerda nossa memória. E como é bom redescobrir anossa história através dos nossos filhos…

Há mais de duas décadas que não lhe possoexpressar o carinho, respeito e amor quecontinuo a nutrir por ele, mas não é o facto domeu pai já cá não estar que me fará deixar defalar dele no presente, pois sei que enquanto euviver, ele viverá em mim. É essa a magia dapaternidade: podermos viver para além dopresente, projetando no futuro dos filhos tudo oque nos foi transmitido pelos nossos pais nopassado. Essa sim, a verdadeira homenagem! .

Pai, um dia é pouco!Paulo Cunha

Page 47: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO47

Falando com alguns jovens, perguntei-lheso significado de refúgio. Grande partedeles, apesar da tenra idade,

responderam-me prontamente ser um sítio ondepoderiam encontrar segurança, ajuda e conforto.Perante tais afirmações, apeteceu-me perguntar-lhes o que achariam que os seus pais fariam se, derepente, se sentissem atemorizados e atéaterrorizados se fossem perseguidos devido à suaraça, religião, nacionalidade, associação adeterminados grupos sociais ou opinião política…mas não o fiz, pois pelo seu semblante fiqueidesde logo esclarecido sobre qual seria a suaresposta.

Tendo em conta as migrações forçadas, queestão a grassar por este «mundo fora», comespecial enfoque e atenção por parte dos«media» para o êxodo registado em direção à«nossa» Europa, temo-nos vindo a confrontarcom atitudes fraturantes, discriminatórias exenófobas que, devido a estes eventos, estãofinalmente a dar a conhecer com que massa foiconstruída esta União Europeia.

Sob um terreno pejado de «minas ideológicas»,enterradas em vários períodos da história,germinam agora as diferenças que continuam afazer explodir desentendimentos no que aosdireitos humanos concerne. Muitos de nós,manietados por um preconceito alimentado pelasdiferenças socioeconómicas, diferenças étnicas,diferenças raciais, diferenças culturais, diferençasreligiosas e muitas outras que continuamos asublimar, assistimos - impávidos e serenos - a umarealidade humilhante que a qualquer «homem deboa vontade» envergonha.

Mais do que chamar à razão quem da razãopouco uso faz, urge fazer a transferência eprojetar para a nossa realidade diária, a realidadede gente que, dum momento para outro, se viuespoliada de toda uma história de vida. Gente quepara além da roupa que traz no corpo, traz na suapequena bagagem os despojos de uma luta quenão foi, e continua a não ser, a sua. Gente queguarda como maior tesouro a memória de umpassado construído a pensar num futuro melhor eapenas tem a certeza de um futuro desconhecidorepleto de incertezas, dúvidas e angústias.

Já, por um momento que seja, experimentaramcolocar-se na pele destes seres tão humanosquanto vós, e que se sujeitam às piores einimagináveis provações e agruras, colocando atodo o momento em risco a sua vida e a dos seus?Para chegar a esse ponto é preciso ter atingido o«fim da linha». Ninguém foge para odesconhecido porque quer, mas porque a isso éobrigado. Fogem para longe do fogo que lhesqueimou a alma, saltando desamparados para umfuturo incerto. Não ter medo nem preconceito deos amparar fará, por certo, a diferença. Adiferença de quem os tornou refugiados.

Da mesma forma que se aprende a discriminaratravés dos (maus) exemplos que temos porperto, também se aprende o valor dacompreensão, do respeito, da partilha, doaltruísmo e da solidariedade, quando colocamosesta forma de estar e de ser como referênciaseducativas para quem connosco priva. Nummundo em constante mutação, será essa a maiore melhor herança que poderemos deixar aosnossos descendentes: sementes de paz! .

Uma vida inteira dentro duma mochilaPaulo Cunha

Page 48: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 48

Há já alguns anos que é possível encontrarnalguns sítios alojados na Internet, umtexto sobre os avós, pretensamente

escrito por uma menina de oito anos. Reza oseguinte: “Uma avó é uma mulher que não temfilhos, por isso gosta dos filhos dos outros. As avósnão têm nada para fazer, é só estarem ali.Quando nos levam a passear, andam devagar enão pisam as flores bonitas nem as lagartas.Nunca dizem “Despacha-te!”. Normalmente sãogordas, mas mesmo assim conseguem apertar-nos os sapatos. Sabem sempre que a gente quermais uma fatia de bolo ou uma fatia maior. Asavós usam óculos e às vezes até conseguem tiraros dentes. Quando nos contam histórias, nuncasaltam bocados e nunca se importam de contar amesma história várias vezes. As avós são as únicaspessoas grandes que têm sempre tempo. Não sãotão fracas como dizem, apesar de morrerem maisvezes do que nós. Toda a gente deve fazer opossível por ter uma avó, sobretudo se não tivertelevisão.”. Texto escrito com a inocência própriade uma criança e focalizado na figura da avó,pode - e deve - ser direcionado e interpretado nouniverso dos dois avós em geral. É um facto, éimpossível lê-lo sem ser contagiado pelas palavrasternurentas, cândidas e até humoradas com queuma neta vê e presenteia a sua avó!

A ligação entre netos e avós é uma ligaçãoúnica, diferente daquela que os mais novos têmcom os pais e da que têm com outros adultos,sejam eles familiares ou não. Criam-se laçosmarcados por uma profunda ternura, pelaexperiência e também pela ausência daresponsabilidade final enquanto educadores,podendo assim desfrutar da relação de umaforma mais sã, alegre e descontraída. Numasociedade como a portuguesa, o papel dos avós é,

na maioria das vezes, central e nuclear na vida dascrianças.   Ao criarem os pais, os avóstransmitiram-lhes um conjunto de valores quemuito provavelmente serão replicados naeducação dos filhos. Ao passar tempo com osmais velhos, as crianças compreendem o queesteve na origem dos princípios da sua família, oque lhes transmitirá uma forte noção de pertençae de referenciais futuros.

O avô e a avó são um porto seguro e os maisnovos sabem-no, mesmo que de forma instintiva.Sabem também que não se relacionam com osmais velhos da mesma forma que o fazem com ospais. Por muito que a educação respeite osmesmos princípios, os cenários e os contextos sãodiferentes, acabando as crianças por se adaptarde forma imediata. Todos nós, pais, sabemos quena casa dos avós os mimos são mais do quemuitos e não acabam… E ainda bem! Os avósajudam a educar, mas também a “deseducar”.Compram inúmeros brinquedos, guloseimas,roupas, etc. Deixam passar a hora de dormir.Permitem a quebra de certas regras… E aindabem! São estas pequenas transgressões que, deforma inconsequente, permitem a estespequenos seres em formação, viver e desfrutaruma infância única e insubstituível, a sua…

Juntos integram a única e verdadeira instituiçãonão oficial de beneficência e solidariedade social(os avós de Portugal), que de forma graciosa ebenemérita ajuda a sarar as feridas provocadaspor todos aqueles que nos obrigam a colocar aprodução à frente da educação e fruição dosnossos filhos. Já pais, os nossos pais continuam adar-nos “berço” e “colo” através dos nossosfilhos. Possamos nós retribuir com a mesmaafetividade, disponibilidade, dinamismo ededicação que eles, benditos e preciosos avós! .

Querida avó, querido avô…Paulo Cunha

Page 49: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO49

Ao longo da história, apesar deperniciosos e lesivos, certoscomportamentos tornaram-se tão

comuns que, mesmo socialmente criticáveis, sãohoje reconhecidos como intrínsecos à naturezahumana. Vulgarizou-se chamar “chico-espertismo” a comportamentos assentes nabatota, na falcatrua, no suborno, na corrupção,na usurpação e no engano. Uma forma de estarque se tem vindo a consolidar através dareplicação das ditas atitudes. Desde quepermaneçam na esfera privada de quem ospratica, muitos desses comportamentos sãoinconsciente e subliminarmente tolerados,tornando-se até desculpáveis.

É curioso observar como, aos olhos de muitos,certas figuras se transformam, num ápice, debestiais em bestas. Como se o poder, de ummomento para o outro, os tivesse tornadopessoas desonestas, mentirosas e infratoras. Nãoserão os que, acérrima e veementemente,criticam, também possuidores das característicasque tanto censuram? Para um observador isento,e mais atento, é possível observar que havendopredisposição, a ocasião, inevitavelmente, fará oladrão. E a predisposição cresce à medida quecresce o acesso ao dinheiro dos outros!

Chegámos a um estado de coisas em que épossível ver adultos com responsabilidades avários níveis e de vária índole a vangloriarem-se,em círculos fechados, das “artimanhas, façanhase patranhas” ilegais e imorais que usam (eabusam) para somar mais bens patrimoniais àsua existência. E quem não o faz é tomado porpapalvo, ingénuo e até “totó”!

A culpa não “morre solteira” sobre o pouco

que nos vão deixando saber da atuaçãofraudulenta de alguns dos muitos poderosos.Sendo já um hábito escutar e ler que “eles vãopara lá para se encher e para se governar!”, seriainteressante observar, em iguais circunstâncias, aatuação de muitos que usam tais tiradas comoarma de arremesso pela inveja e despeito quesentem por lá não estar.

Sobre Portugal alguém escreveu: “O povoportuguês precisa de perceber que o problemade Portugal não é só a meia dúzia de políticos nopoder (lá em cima), pois eles são apenas oreflexo dos mais de dez milhões de oportunistas(aqui em baixo). Os políticos de hoje foram osoportunistas de ontem!”. Sendo uma visãoextremada e redutora do percurso histórico quenos levou a esta forma de estar assente num“nacional-porreirismo”, alicerçado em “jogadas eesquemas”, não deixa de haver um fundo deverdade nesta análise ao nosso Zé Povinho.

Recordo-me como se fosse ontem, quandonuma reunião mais acalorada um dosintervenientes “sacou” do seu telemóvel e nosdisse: “Poder? «Poder» são todos os contactosaqui tenho… De Presidentes da Câmara aMinistros!”. Na troca de favores, assente nasfamosas “cunhas”, vão-se construindo teias ondea ética, a moral, os valores e a competência sãosubstituídos pelas “jogadas do costume”.

Como cantaria o músico/poeta do outro ladodo Atlântico: “Começar de novo e contar comigo,vai valer a pena ter amanhecido. Ter-merebelado, ter-me debatido, ter-me machucado,ter sobrevivido. Ter virado a mesa, ter-meconhecido, ter virado o barco, ter-mesocorrido.”. Talvez assim!?… .

Diz que vais da minha parte!Paulo Cunha

Page 50: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 50

Se é impossível dissociar o 25 de abril dahistória da música contemporâneaportuguesa, também é verdade que

muito do que originou a revolução dos cravoscomeçou a ser construído com palavras e notasmusicais. Para além das estórias que ajudaram aconstruir a história de um país que iniciou umarevolução política com música, é de salientar aimportância que muitos músicos de váriosquadrantes musicais tiveram – e continuam a ter– na consciencialização cívica e política de muitosque (ainda) teimam em fazer a vida acontecer.

Se atentarmos nas grandes revoluções,registamos que sempre houve escritores,músicos, pintores e escultores na sua génese, aprovocar e estimular a consciência para aceitar amudança. Fernando Namora, no caderno«Sentados na Relva»  afirmou que "A arte era onosso veículo de protesto; impunha-se que osromances e os poemas que escrevíamos fossema voz desses homens cujo grito não era ouvido,fossem o registo de uma realidade iníqua queurgia denunciar e resgatar.".

Em Portugal as  «canções da resistência» assumiram uma função social e política desde oprincípio dos anos 60, nomeadamente com aeclosão da Guerra Colonial em Angola,Moçambique e Guiné-Bissau. Muitos foram ospoetas/músicos que encontraram a palavra e amúsica exata para esse momento. Mesmoaqueles que, aparentemente, não entraram nadenúncia do regime, escreveram letras e músicasonde a revolta estava alegórica, subliminar emetaforicamente presente.

As  «canções de resistência»  ou  «canções deprotesto», consideradas após a revolução deabril de 1974 como  «canções de intervenção»,eram constituídas por poemas e músicas de

denúncia e surgiam como forma de lutar por ummundo melhor. Possuíam uma mensagemuniversalista, livre de qualquer constrangimentosocial ou político.Na sua base estiveram, muitas vezes, poemasque exprimiam o sentimento de um povooprimido e maltratado, com esperança deliberdade e justiça social. Noutros países,constituíram, sobretudo, canção de protesto demovimentos pacifistas e antibelicistas.

Passadas as campanhas de dinamizaçãocultural, as manifestações de engajamentopartidário e o exacerbamento panfletário, eis-nos chegados a um tempo em que falamos desteperíodo da história da música portuguesa já“devidamente” enquadrado no século passado.Mas estará a «música de intervenção» jáarrumada numa das estantes da históriadestinada a ser periodicamente revisitadasempre que chega abril? Enquanto músico eprofessor tenho feito a minha quota-parte paraque tal não aconteça! Sei também que por estepaís fora, muitos pedagogos, professores,divulgadores, jornalistas e músicos de váriosgéneros musicais imprimem às suas dissertações,ações culturais, criações e apresentaçõesmusicais, toda uma carga ideológica e cívica quenão é indiferente a quem os escuta e com elesdesperta para outra realidade diferente daquelaque nos é “vendida” por muitos.

Continuo a pensar que enquanto houver ummúsico/poeta que consiga juntar as 26 letras doalfabeto português e as 7 notas musicais com ointuito de lutar pela manutenção e preservaçãoda liberdade e da justiça social, continuará ahaver «música de intervenção» em Portugal. Atéporque: “Músico de intervenção é aquele queintervém para além da Música!” .

Intervir musicalmente?... Sempre!Paulo Cunha

Page 51: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO51

Popularizada pelo grande Herman José, acharge televisiva inspirada pelos programasdo jornalista Armando Baptista-Bastos,

onde perguntava aos convidados onde estavamno «25 de abril», continua ainda na ordem do dia.Enquanto houver memória e ainda estiveremvivos todos os que, de alguma forma, foramtocados pelos eventos daquele períodorevolucionário, todas essas estórias pessoaiscontinuarão a construir a história coletiva de umPortugal renovado.

Quem como eu já ultrapassou o meio século devida, sabe que, de uma forma ou de outra, o «25de abril» teve consequências em tudo que atéagora vivemos, independentemente de quem,sub-reptícia e veladamente, ainda continua acriticar a Revolução que teve o condão de nosabrir as portas para a liberdade de o fazer.

Pela importância capital que esteacontecimento teve na nossa históriacontemporânea, não há hoje nenhum “maduro”que não se recorde onde estava e o que estava afazer nesse dia. E é dessas trocas e partilhas devivências que aferimos a forma como a«Revolução» nos revolucionou… ou talvez não!?

Sei que alguns continuam (e continuarão) amaldizer o transtorno que tal mudança deparadigma político operou nas suas vidas. Frutode várias reformas então realizadas e de umadescolonização mal planificada e pior executada,muitos ainda se queixam das perdas de bens, deregalias, de status social e de outras tantas coisas.Mas entre o deve e o haver, sabemos hoje que amaioria dos portugueses continua a apontar esteevento histórico como o maior catalisador para aluta pela “liberdade, paz, pão, saúde e habitação”.

Olhando para trás e fazendo o balanço natural edevido, é possível constatar que muitas dasexpetativas se goraram, sentindo-se hoje um

esmorecimento da chama que acalenta o sonhoque abril em nós plantou: ver uma sociedadeonde a justiça social e o respeito pelos direitos,garantias e liberdades sejam uma realidade plenae consequente. Ao invés, deparamo-nos com umacristalização de procedimentos e atuaçõesconsubstanciada na total falta de respeito pelosvalores humanos e onde os valores económico-financeiros ditam quem é quem neste país lindomas, cada vez mais, mal frequentado.

Quando há 42 anos, na manhã do dia 25 deabril, numa das salas da Escola Primária de S. Luís,em Faro, “assisti” com os meus colegas aodecorrer dos eventos que marcaram o «25 deabril», transmitidos pelo pequeno rádio que aprofessora então levou para acompanhar aRevolução em direto, estava longe de imaginar aforma e a intensidade com que taisacontecimentos iriam marcar a vida de tantos. Àtarde, tendo “fugido” de casa para “participar” naRevolução, observei de perto as ações e aspalavras de ordem que muitos proferiam paradentro das instalações da PIDE, perto da EscolaTomás Cabreira. No dia seguinte, pressentindoque se estava a fazer história, não deixei que omeu pai deitasse fora os jornais que então tinhacomprado. Agora, dobradinhos e amarelinhos, sãoa melhor aula de história que posso dar aos meusfilhos. São a testemunha viva de dias onde duasmúsicas e alguns molhes de cravos vermelhostornaram Portugal um país inigualável em todo omundo.

E vós, os mais velhos… onde estavam no «25 deabril»? A vossa história será um legado vivido esentido que deixarão aos mais novos para que, degeração em geração, se transforme empatrimónio de Liberdade. Liberdade que não secompra, não se vende… Conquista-se todos osdias! .

Onde estavas no «25 de abril»?Paulo Cunha

Page 52: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 52

Se perguntarem a qualquer estrangeiro queconheça minimamente Portugal o quecaracteriza o Algarve fora de portas, certamente

responderá: o turismo. Sem qualquer tipo develeidade ou vaidade, qualquer algarvio ou residenteno Algarve sabe que vive num dos maiores tesouroscom que a natureza bafejou este país à beira marnascido. Aliás, os dados da AICEP confirmam-no, poispreveem que “cerca de 23% do emprego nacional noprazo de 10 anos se registe no setor do turismo e quecresça a um ritmo saudável e continue a atrairinvestimento estrangeiro na criação de equipamentosde nível superior.”.

É inquestionável que este “bem” se transformounuma riqueza inestimável e insubstituível paraPortugal. Contribuindo para uma boa fatia do PIBportuguês e sendo o único paraíso acessível a muitosportugueses que só aí conseguem “carregar baterias”,nada é mais errado do que pensar que ao maltratá-losó os autóctones serão afetados. Com o anúncio porparte da Repsol e da Partex que começarão a fazer asprimeiras perfurações para prospeção dehidrocarbonetos ao largo do Algarve já em Outubro,levámos “à má fila” o primeiro “murro no estômago”.Aliás, tudo o que a coberto de uma legalidadeencoberta foi feito até aqui chegarmos, tresanda atudo a que os hidrocarbonetos estão associados.

Em boa hora muito já está a ser escrito, debatido eesclarecido pelas entidades competentes emovimentos cívicos. Ao mesmo tempo, lamentamosagora a falta prévia de apresentação e esclarecimentopor parte dos “nossos” representantes eleitos sobrequais seriam as implicações resultantes deconcessionar a exploração de hidrocarbonetos emterras e mares algarvios. Fica-nos aquela sensação de“dejá vu”, onde quem os elegeu são sempre os últimosa saber. Não quero acreditar que para este caso, avelha premissa “O que não tem remédio, remediadoestá!” faça aqui jurisprudência. Mal estaríamos seassim fosse, pois não honraríamos os antepassados

que tanto zelaram e defenderam o «Reino dosAlgarves»!

Nunca vos aconteceu estarem refastelados na praiae por vezes serem “bafejados” com aqueles odores agasolina expelidos pelas embarcações de recreio quepululam na calmaria das nossas águas, já sem falar nasmanchas de óleo à superfície que nos fazem retrair noato de mergulhar nas águas azuis do nosso mar? Amim já!... E não é o facto do gás ou do crude poder vira ser retirado de poços terrestres ou marinhossituados longe da minha casa que me deixa menospreocupado, pois colocará em perigo toda a fauna eflora que torna o Algarve um local único e formoso.

Razão tem o povo que, para estes e para outroscasos, sabiamente diz: “Quem tudo quer, tudoperde!”. Pois eu atrevo-me a dizer que quando opetróleo e/ou o gás começarem a jorrar quem se vailixar será - como sempre - o mexilhão, aqui bemrepresentado pelos algarvios que, agarrados à “sua”rocha, continuarão a aguentar o embate de muitasmarés. Nada a que já não estejam habituados!...

Não acredito nas pias, sãs e inocentes intenções dospromotores desta miraculosa e lucrativa exploração derecursos naturais, apresentada por alguns como umapossível panaceia para os “males de finanças” queenfermam as nossas contas públicas. Até porque nãonos faltam exemplos do destino a que foram votadoscertos locais depois de lhes terem sido sugadas,secadas, sacadas, extorquidas e destruídas as suas“fontes”.

Depois?... Depois haverá sempre um outro«Allgarve» noutro local, de preferência “clean”, nãoesventrado e sem qualquer tipo de poluição à esperade quem vendeu este Algarve de onde vos escrevo.Incongruências de quem só aferirá o valor do queperdeu quando o deixar de ter. Tão comum naquelesque não conseguem entender que há muitos tipos deenergias. Basta renovarem-se!

E já agora: imaginem que descobriam petróleo emLisboa, ou no Porto... Como seria?! .

Turismo e hidrocarbonetos– uma coexistência improvável

Paulo Cunha

Page 53: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO53

Ultimamente têm sido divulgados umasérie de estudos científicos queapontam para os benefícios de cantar

em grupo:- Benefícios para vários estados mentais,

comprovados pela associação da estrutura e damelodia da música à atividade cardíaca dosmembros de um coro, onde o ato de cantar emuníssono desencadeia um efeito de sincronização,fazendo com que o ritmo cardíaco dos cantoresaumente e diminua ao mesmo tempo e à mesmavelocidade, proporcionando assim um efeitosimilar aos exercícios de ioga;

- Benefícios ao nível do bem-estar de pacientescom determinadas doenças incapacitantes como adoença de Parkinson, esclerose múltipla edoenças respiratórias, e que assim, através daprática coral, aumentam a exercitação dosmúsculos associados à emissão vocal e controlammelhor os seus níveis de stresse e de ansiedade;

- Benefícios na socialização e entreajuda entrepessoas que padecem de sintomas aliados aestados de solidão, angústia e depressão.

Cada vez mais se verifica que certas empresas eorganismos oficiais adotam e incentivam o cantocoral entre os seus funcionários com o intuito deassim poderem garantir e promover uma maiorintegração, interação, proatividade edesenvolvimento cognitivo e motor entre os seusfuncionários, bem como incentivar a diminuiçãoou até mesmo o abandono do uso do tabaco e doálcool.

Jordi A. Jauset, especialista em neurociênciamusical, salienta que cantar num coro ajuda aconstruir uma relação de confiança, de coesão eaté mesmo de generosidade com os colegas. Oautor do livro «Cerebro y música: una pareja

saludable» explica que cantar é uma atividadeeficaz contra estados de stresse e depressão:"Cantar aumenta os níveis de cortisol e oxitocina,hormonas que, entre outras coisas, aumentam aautoconfiança e o nível de bem-estar pessoal".Jauset salienta também que o canto pode atuarcomo uma espécie de armadura contra doençasneuro-degenerativas: “Cantar é uma espécie deginástica neuronal”.

Cantar em grupo é uma expressão da vontadecoletiva. Basta pensar nos cânticos de apoio nosestádios de futebol, nas canções de trabalho, noshinos, nas procissões, nos festivais de música, noscoros de igreja ou nas marchas militares. Ahistória prova-nos que os rituais sincronizadossempre contribuíram para a solidariedade degrupo.

Há mais de quatro décadas a cantar em coro e acoordenar grupos corais, posso hoje afirmar,inequívoca e perentoriamente, que cantar numcoro é algo ao alcance de todos que(simplesmente) tenham a capacidade de entoar aafinação pretendida e de se ouvir, ouvindo aomesmo tempo os outros. Mas mais importanteque tudo isso, para integrar um coro é preciso ser(ou aprender a ser) humilde, respeitador,solidário, cumpridor, disponível e participativo. Étalvez o coletivo onde os vários grupos que ointegram (naipes) mais se respeitam eentreajudam, sempre com o intuito de alcançar oobjetivo de transformar um ato natural e singularnum enorme prazer coletivo.

É esse o segredo para querer cantar num coro:colocar o nosso timbre vocal à disposição doenorme arco-íris sonoro que constituirá um bemcomum: o todo que nos/vos (en)cantará! .

Quem num coro canta seus males espanta!Paulo Cunha

Page 54: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 54

A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regionalgeneralista, pluralista, independente e vocacionadapara a divulgação das boas práticas e históriaspositivas que têm lugar na região do Algarve.

A ALGARVE INFORMATIVO  é uma revistaindependente de quaisquer poderes políticos,económicos, sociais, religiosos ou culturais,defendendo esse espírito de independênciatambém em relação aos seus próprios anunciantese colaboradores.

A ALGARVE INFORMATIVO promove o acessolivre dos seus leitores à informação e defendeativamente a liberdade de expressão.

A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmenteas causas da cidadania, das liberdadesfundamentais e da democracia, de um ambientesaudável e sustentável, da língua portuguesa, doincitamento à participação da sociedade civil naresolução dos problemas da comunidade,concedendo voz a todas as correntes, nuncaperdendo nem renunciando à capacidade decrítica.

A ALGARVE INFORMATIVO  rege-se pelosprincípios da deontologia dos jornalistas e da ética

profissional, pelo que afirma que quaisquer leislimitadoras da liberdade de expressão terãosempre a firme oposição desta revista e dos seusprofissionais.

A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita porjornalistas profissionais e não um simplesrecetáculo de notas de imprensa e informaçõesoficiais, optando preferencialmente por entrevistase reportagens da sua própria responsabilidade,mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidosde produção dos seus conteúdos.

A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípioda objetividade e da independência no que dizrespeito aos seus conteúdos noticiosos em todosos suportes. As suas notícias narram, relacionam eanalisam os factos, para cujo apuramento serãoouvidas as diversas partes envolvidas.

A ALGARVE INFORMATIVO  é uma revistatolerante e aberta a todas as opiniões, embora sereserve o direito de não publicar opiniões queconsidere ofensivas. A opinião publicada serásempre assinada por quem a produz, sejamjornalistas da Algarve Informativo ou colunistasexternos.

FICHA TÉCNICADIRETOR:Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina ([email protected]) CPJ 5852

EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina

SEDE DA REDAÇÃO:Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 12P8135-157 AlmancilTelefone: 919 266 930Email: [email protected]: www.algarveinformativo.blogspot.pt

PROPRIETÁRIO:Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e PinaContribuinte N.º 211192279Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782

PERIODICIDADE: Semanal

CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina

FOTO DE CAPA: Paulo Cunha

ESTATUTO EDITORIAL

Page 55: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO55

Page 56: ALGARVE INFORMATIVO #Paulo Cunha

ALGARVE INFORMATIVO 56