alfabetizaÇÃo e seus mÉtodos

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ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS Resumo: O processo de alfabetização é mais complexo do que se imagina, pois é a partir dele que milhares de pessoas aprendem a ler e escrever. O mais preocupante é que para se alfabetizar usa-se métodos como o tradicional que engloba o analítico e sintético, e construtivista. A dúvida é, qual deles seria mais indicado para alfabetizar, criar alunos capazes de construir seu próprio conhecimento, ser participante e crítico na sociedade. A alfabetização teria que partir do pressuposto de que alfabetizar não é apenas ensinar a ler e escrever através de um método que a cartilha propõe, e sim formar alunos críticos e capazes de interagir na sociedade, propiciar aos alunos caminhos para que eles aprendam, de forma consciente e consistente, os mecanismos de apropriação de conhecimentos. Assim como a de possibilitar que os alunos atuem, criticamente em seu espaço social. Palavras Chave: Alfabetização, métodos, cartilha. 1. Introdução: O objetivo principal deste artigo é discutir e refletir sobre o espaço ocupado pela cartilha nas salas de aula de primeira série. Mostrando a importância atribuída à cartilha pelo professor de alfabetização e o uso que se faz desse material em sala de aula. Geralmente o método de ensino das cartilhas são feitas por etapas exigindo que os alunos a sigam, de acordo com sua ordem, usando palavras chaves, e sílabas geradoras, ou seja, o famoso método do “bá- bé-bi-bó-bu”. Cada capítulo da cartilha apresenta uma unidade silábica, as lições são organizadas do mais fácil para o mais difícil e finaliza com um texto que resume tudo o que ela tentou ensinar. São quatro os métodos de alfabetização tratados neste artigo, que são os métodos tradicional que abrangem o sintético e analítico e o método construtivista. Porém será feita a análise de apenas dois dos mais importantes métodos o tradicional e o construtivista.

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Page 1: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

Resumo:

O processo de alfabetização é mais complexo do que se imagina, pois é a partir

dele que milhares de pessoas aprendem a ler e escrever. O mais preocupante é que

para se alfabetizar usa-se métodos como o tradicional que engloba o analítico e

sintético, e construtivista. A dúvida é, qual deles seria mais indicado para

alfabetizar, criar alunos capazes de construir seu próprio conhecimento, ser

participante e crítico na sociedade.

A alfabetização teria que partir do pressuposto de que alfabetizar não é apenas

ensinar a ler e escrever através de um método que a cartilha propõe, e sim formar

alunos críticos e capazes de interagir na sociedade, propiciar aos alunos caminhos

para que eles aprendam, de forma consciente e consistente, os mecanismos de

apropriação de conhecimentos. Assim como a de possibilitar que os alunos atuem,

criticamente em seu espaço social.

Palavras Chave: Alfabetização, métodos, cartilha.

1. Introdução:

O objetivo principal deste artigo é discutir e refletir sobre o espaço ocupado pela

cartilha nas salas de aula de primeira série. Mostrando a importância atribuída à

cartilha pelo professor de alfabetização e o uso que se faz desse material em sala

de aula.

Geralmente o método de ensino das cartilhas são feitas por etapas exigindo que os

alunos a sigam, de acordo com sua ordem, usando palavras chaves, e sílabas

geradoras, ou seja, o famoso método do “bá-bé-bi-bó-bu”. Cada capítulo da cartilha

apresenta uma unidade silábica, as lições são organizadas do mais fácil para o mais

difícil e finaliza com um texto que resume tudo o que ela tentou ensinar.

São quatro os métodos de alfabetização tratados neste artigo, que são os métodos

tradicional que abrangem o sintético e analítico e o método construtivista. Porém

será feita a análise de apenas dois dos mais importantes métodos o tradicional e o

construtivista.

As cartilhas chamadas de métodos construtivistas tendem a conter o ensino mais

claro e objetivo, pois trata o aluno como um ser pensante. Ou seja, levando-o a

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pensar e agir por si próprio, esta cartilha não se preocupa com a perfeição da

ortografia, não se prende a escrita, e sim, com a interação no seu aprendizado,

sendo um aluno participativo e critico.

Já a cartilha do método tradicional, tem seu ensino baseado na ortografia perfeita,

ensinada através de regras gramaticais, confundindo ainda mais a aprendizagem

do aluno, e deixando às vezes seus textos escritos de forma ortograficamente

correta, porém sem sentido. A cartilha de método tradicional cria seus próprios

ideais, que o aluno tem por obrigação segui-lo, aprendendo uma lição após a outra.

Pode-se perceber o quanto é confuso e difícil à aprendizagem através da cartilha,

pois por mais que a cartilha seja considerada do método construtivista ela sempre

terá alguma atividade do método tradicional desestabilizando o processo de

aprendizagem da criança. Não existe uma cartilha cem por cento tradicional e ou

construtivista, ela sempre será mista.

Esse recurso didático tende a absorver e centralizar o trabalho de alfabetização, na

medida em que essa prática se encontra pautada e direcionada pela cartilha,

tornando duradoura a concepção de ensino de língua escrita que cristaliza e

neutraliza a linguagem, deslocando sua dimensão de interação, e construtivista do

conhecimento. Espera-se que os resultados deste estudo possam somar-se a outros

na área da alfabetização e venham a contribuir para uma reflexão dos professores

de alfabetização, sobre a necessidade de um redimensionamento do uso das

cartilhas.

2. Referencias teóricas

2.1 Alfabetização

Jaqueline Moll em seu livro “Alfabetização Possível”, diz que a alfabetização é um

processo mecânico, na qual ” ‘alfabetizar-se’ está vinculado a habilidades de

codificação (ou representação escrita de fonemas em grafemas) e decodificação (ou

representação oral de grafemas em fonemas)”. Ou seja, a representação da fala

oral em escrita, e o inverso, a representação da fala escrita em oral. Tanto a leitura

quanto a escrita são vistas como decifração de códigos.

As alfabetizações nos dias atuais persistem na repetição excessiva de exercícios

visando à memorização de letras, silabas para formação de palavras, frases e

Page 3: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

textos, e a assimilação da criança, de que há uma ligação correspondente entre fala

e a escrita.

Alfabetização é muito mais que decodificação e codificação de códigos, a

alfabetização é a relação entre aluno e seu conhecimento de mundo.

O processo de alfabetização se inicia muito antes da criança entrar na escola, pois

antes disso ela já possui contato com seu meio social, que lhe permite adquirir

conhecimentos como a própria linguagem verbal, entre outros.

Enfim, alfabetização é aprender ler e escrever, para fazer parte do meio social.

2.2 Método de alfabetização.

Com a necessidade de saber como se da o processo de aprendizagem de leitura e

escrita, surgiram os métodos de alfabetização, que impões regras que devem ser

seguidas pela criança a ser alfabetizada.

Os métodos de alfabetização evoluem fazendo o avanço do conhecimento de

acordo com as necessidades sociais, pois com a evolução da sociedade, cada vez

mais vai se exigindo um tipo de letrado diferente.

E com todas as evoluções surgiram vários métodos de alfabetização como:

o método tradicional que incorpora o método sintético e analítico e por fim o

método construtivista.

Alguns desses métodos colocam em risco o processo e capacidade de

aprendizagem do aluno por passar insegurança tanto para o aluno quanto para os

professores, por isso se percebe, que apesar de ser muito usado e de uma certa

forma ter alfabetizado milhões de pessoas, esses métodos de alfabetização

consistem na memorização do que é ensinado, colocando em dúvida a qualidade do

aprendizado do aluno.

2.3 Método tradicional

O método tradicional de alfabetização é centrado no professor, que tem a função de

“vigiar o aluno”. Ou seja, observar se o aluno está seguindo a risca o que lhe foi

pedido.

Esta metodologia tem a concepção de que a aula deve acontecer apenas dentro da

sala, em que o professor ensina a matéria, passa os exercícios, e depois a corrige,

Page 4: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

seguindo com a matéria à frente, fazendo sempre a mesma coisa, tornando a aula

mecanizada, dando a entender que o aluno só irá aprender através do

conhecimento do professor.

Este tipo de aula faz com que o aluno aprenda através de repetições de exercícios

com exigência do uso da memória, levando o aluno a decorar e não aprender, e

como conseqüência a escola forma alunos desinteressados, desmotivado pelos

estudos.

O método tradicional tem seu aprendizado de forma dividida, ou melhor, por partes,

primeiro aprende as vogais, depois as sílabas até chegar às palavras e as frases,

para daí por diante construir textos. Como o que importa é a montagem silábica, e

não o conteúdo surge frases com poucos sentidos do tipo “O rato roeu a roupa do

rei de Roma” ou “A menina gosta de rosa e boneca”.

O aluno só consegue produzir textos depois de dominar boa parte da família silábica

e o processo de formação das palavras, criando assim textos sem sentidos, pois o

aluno nesse momento está preocupado com a escrita ortográfica e não com o

sentido lógico do seu texto.

Há uma valorização maior no uso das cartilhas e uma preocupação com a

quantidade, esquecendo assim da qualidade. O professor fala o aluno ouve e

aprende. Não deixa o aluno ser participativo na construção de sua própria

aprendizagem. Muitas vezes não leva em consideração o que a criança aprende

fora da escola, seus esforços espontâneos, a construção coletiva, e o que é pior,

muitas vezes, ignora o meio social o conhecimento de mundo que o aluno trás de

fora para dentro da escola.

Neste método tradicional a cartilha muitas vezes é o único material de trabalho, os

textos para leitura são curtos com frases simples desvinculados da linguagem oral,

buscam o uso das sílabas já estudadas. Raramente usam materiais extras, como

revistas, jornais, livros de história e músicas.

Este método sobrecarrega o aluno com informações, que muitas vezes não

conseguem entendê-los tornando o processo de aquisição do conhecimento, muitas

vezes burocrático, e sem significação. Mantendo uma postura conservadora.

Page 5: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

O seu processo de alfabetização, apóia-se nas técnicas de codificar e decodificar da

escrita. A escrita da criança em fase de alfabetização não é levada em conta, sendo

a cartilha seqüencialmente seguida, formando assim a base do processo de

alfabetização.

O método tradicional de alfabetização procura desenvolver as habilidades básicas

que a criança deve ter para tornar-se um leitor habilidoso. Porém, somente a

presença dessas habilidades não garantem sua utilização em tarefas mais

complexas, como a leitura de um livro, a escrita de um poema, ou mesmo a

execução correta de receitas culinárias. O contexto social que incentiva o interesse

em aprender, independentemente da educação formal é a chave para a utilização

dessas habilidades em qualquer atividade humana, especialmente as que envolvem

a leitura e a escrita.

2.4 Método sintético

O método sintético estrutura-se dentro da teoria do behaviorismo, e é considerado

um dos mais rápidos, simples e antigo método de alfabetização, podendo ser

aplicado a qualquer tipo de criança.

Insiste fundamentalmente numa correspondência entre o oral e o escrito, entre o

som e a grafia.

O seu ensino, inicia-se de um grau de dificuldade mais simples percorrendo até

chegar a um mais complexo, ou seja, o sistema de ensino parte das partes para um

todo.

A criança para iniciar nesse método de alfabetização, primeiro domina o alfabeto

(letra por letra), depois as sílabas, as palavras, frases e finalmente os textos. E este

método não permite que a criança prossiga para uma nova fase se não dominar a

que está.

O método sintético, foca seu ensino em lê letra por letra, ou sílaba por sílaba, e

palavra por palavra, acarretando em pausas durante a leitura, motivando o cansaço

e prejudicando o ritmo e a compreensão da leitura.

Baseando-se no ponto de vista mental, o indivíduo é capaz de perceber os símbolos

gráficos de uma forma geral, ou melhor, como um todo, dando-lhes significados,

para posteriormente ser capaz de analisar suas partes. O método sintético leva o

Page 6: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

aluno a perceber partes isoladas, sem significação, impedindo sua compreensão e

percepção da leitura.

A aprendizagem pelo método sintético, é feita através da memorização e repetição,

de uma certa forma acaba prejudicando o aluno, pois impede que ele consiga

pensar e agir por si próprio, ou melhor, de produzir seus textos e seus

conhecimentos através de sua imaginação, pois ele é alfabetizado por regras que

devem ser seguidas passo-a-passo, traz um conhecimento pronto faltando apenas

por em prática. Com isso, o aluno tem dificuldades de compreender e criar textos, o

prazer pela leitura dura pouco, porque logo o aluno consegue dominar a leitura e a

escrita deixando de ser algo novo em sua vida, oferece um vocabulário pobre e

restrito, o método sintético considera a língua escrita um objeto de conhecimento

externo ao aprendiz.

Ainda nesse método, podemos encontrar alguns conceitos positivos, como os de

alunos adquirem a ortografia perfeita por ser um ensino de regras e repetições, ele

consegue com o tempo fazer sua tarefa sozinho, e por fim, permitir a compreensão

da língua.

2.5 Método analítico

O método analítico se desenvolve a partir da teoria do “sincretismo infantil” que foi

fundamentado pela teoria da gestalt, e acredita que a aprendizagem se dá pelo

insight.

O método analítico tem por objetivo, fazer com que as crianças compreendam o

sentido de um texto, não ensina a leitura através da silabação, incentiva os alunos

a produção de textos prestando atenção ao uso da pontuação, estimula a leitura e

deixa o aluno à vontade para expor suas idéias. Este método ajuda a criança no

desenvolvimento e organização de seus pensamentos.

Do ponto de vista lingüístico, neste método o ensino deve começar por um nível

menos complexo, para aos poucos ir dando continuidade para um nível mais

avançado, pois a língua falada é bem diferente da língua escrita, e a criança no

inicio de sua aprendizagem se baseia na língua falada para desenvolver a língua

escrita e isso só confunde a cabeça da criança por elas serem bem diferentes.

Partindo do ponto de vista mental, o método analítico é um método constituído por

palavração (leitura de palavra por palavra), e que assim como os métodos

Page 7: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

tradicionais e sintéticos trabalham com elementos isolados, o que não favorece

para a compreensão de um texto, tornando-se cansativo e desestimulante, por

impedir que a criança possa entender o texto como um todo.

2.6 Método construtivista

Este método construtivista é um dos mais indicados e usados para alfabetização,

por permite que a própria crianças construam seus conhecimentos de acordo com

seu desenvolvimento cognitivo, pode ser aplicado de forma individual ou coletiva,

trabalha com o conhecimento que a criança traz para escola, faz a união da língua

falada, escrita e a leitura em um único processo, e pode ser aplicado a qualquer

criança. E a partir deste método a criança se sentirá mais segura e será capaz de

criar seu próprio conhecimento tornando-se um aluno consciente e responsável.

O método construtivista baseia-se nas pesquisas de Jean Piaget, sobre a construção

do conhecimento, afirmando que este é o resultado da construção do próprio

indivíduo. Essas conclusões são derivadas das suas pesquisas sobre “a origem e

evolução da inteligência” que também se constrói na interação do sujeito com o

mundo, considerando os fatores biológicos, experiências físicas, a troca social, e os

processos de equilíbrio e desequilíbrio.

A aprendizagem da criança começa muito antes da aprendizagem escolar, a criança

antes de entrar na escola já possui alguns conhecimentos como, por exemplo, a

linguagem verbal. Toda aprendizagem na escola tem uma pré-história, a atividade

de criar é uma manifestação exclusiva do ser humano que tem a capacidade de

criar algo novo a partir de um conhecimento já existente. Através da memória o ser

humano pode imaginar situações futuras e formar outras imagens a partir dela.

Com isso, ação de criar deixa clara que o indivíduo pode e deve sempre estar

criando algo novo a partir de seus conhecimentos pré-existentes, buscando através

do imaginário e da fantasia, um equilíbrio, bem como a construção de algo novo. E

é nisso que o método construtivista consiste em o aluno construir seu próprio

conhecimento.

Do ponto de vista lingüístico o construtivismo deixa claro que para se aprender algo

tem que praticar. Ou seja, para aprender a ler tem que ler e a escrever tem que

escrever, para isso não são necessários métodos, por exemplo, para aprendemos a

falar não tivemos que seguir um método, para ler e escrever não deve ser

diferente.

Page 8: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

O método construtivista possui muitas vantagens, pois incentiva a criança a

expressar o que sente, e a escrever e falar o que pensa, desperta a curiosidade e

leva o aluno a buscar soluções para resolução de seus problemas, tornando-o um

aluno critico e capaz de responder pelos seus atos, estimula também o ato da

leitura e escrita, trabalha com a língua escrita com todas as dificuldades que nela

existe a partir da produção de texto do próprio aluno, no processo de aprendizagem

da escrita não exige a ortografia e a sintaxe perfeita, dá valor à interação dos

alunos em grupo, enfim, o método construtivista, não tem uma regra básica a ser

seguida, pois parte da idéia de que o ensino tem que se basear na vivência de vida

que o aluno trás para escola.

3. A escrita

Escrever e diferente de falar, o aprendizado da escrita requer tempo, paciência e

maturidade.

As crianças quando vão para escola conhecem muitas coisas sobre o sistema da

comunicação verbal, e isso ajuda muito no seu aprendizado da escrita.

Uma das tarefas principais da alfabetização é ensinar o aluno a escrever, e a escrita

passa a ser algo novo na vida da criança, por isso que se deve ter uma atenção

especial a ela, não dando atenção para a forma ortográfica da escrita, e sim, ao

modo de como a criança escreve.

A leitura tem um objetivo que é a compreensão do leitor, e o objetivo da escrita é a

comunicação, que dá acesso a leitura. Escrita e Leitura estão ligados um ao outro,

ou melhor, um depende do outro, porém a sua forma de uso é que são diferentes.

João Batista A. Oliveira no livro ABC do Alfabetizador, diz que “Mesmo sendo

atividade paralela à leitura, a aprendizagem da escrita possuí características e

objetivos específicos que devem ser ensinados de forma paralela, porém separada

e autônoma do ensino da leitura” Para escrever o aluno ouve um som e tenta

codificar esse som em letra para escrever as palavras.

As formas de escrita são diversas, ela possui inúmeras grafias, o que pode acarretar

em confusão na aprendizagem da criança, pois de uma para outra há uma diferença

considerável, e para que não se tenha problema na aprendizagem do aluno é muito

importante que o alfabetizador esteja atendo.

Page 9: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

3.1 O sistema de escrita

Como Cagliari diz em seu livro “Alfabetização & Lingüística”, “A escrita tem como

objetivo a leitura. A leitura tem como objetivo a fala. A fala é a expressão lingüística

e se compõe de unidades, de tamanho variável, chamadas signo se que se

caracterizam em sua essência pela união de um significado a um significante”.

Os sistemas de escrita podem ser divididos em dois, o primeiro em escrita

ideográfica que se baseia no significado e o segundo em escrita fonográfica que é o

sistema de escrita baseado no significante.

O sistema de escrita que se baseia no significado para ser entendido depende da

formação sócio cultural do individuo, pois é através desse conhecimento que ele

conseguirá decifrar a idéia ou mensagem que o sistema estará tentando passar.

Esses sistemas são representados por sinais de transito, logotipos e logomarcas de

empresas e produtos, são também obras de artes, entre outros, e é por isso que

sua decifração depende da formação sócio cultural, pois cada um pode interpretar

de uma forma diferente.

Já ó sistema baseado no significante para ser decifrado depende exclusivamente do

elemento sonoro de uma língua, dependendo da língua padrão que se fala.

Os sistemas de escrita possuem sons de uma língua, e como já sabemos nossa

língua vive em constantes mudanças, e com isso a forma de pronuncia a forma

fônica da palavra muda, e assim como ela vai perdendo seu uso, vai ficando difícil

de entendê-la.

Os dois tipos de escrita exigem certa habilidade do leitor, a escrita ideográfica para

ser entendia exige a habilidade lexical, e a escrita fonográfica exigem a

interpretação semântica.

3.2. Desenho na alfabetização

Muitos desenhos que as crianças produzem podem representar a tentativa de

escrita. Esses desenhos são uma forma de construir, organizar, registrar, expressar

seu saber, pode representar noção de espaço, tempo, cores e até mesmo noção

sócio-cultural.

Os desenhos que as crianças produzem não podem ser considerados, como algo

sem significação, isolado, descontextualizado, pois quando ela desenha algo, ela

insere em um contexto que pode estar vivenciando, ou até que seja de sua

imaginação.

Page 10: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

Esses desenhos podem ser pequenos rabiscos que se misturam entre linhas retas e

curvas, e o significado da escrita só a criança pode decifrar, pois é uma

representação do que ela imagina o que seja escrita.

Cada criança tem uma expectativa e desempenho na aprendizagem da escrita e

leitura, é preciso conhecer a criança e o meio social em que ela vive para tentar

decifrar e entender a sua tentativa de escrita.

3.3. Processo de construção de leitura e escrita.

O processo de construção de leitura e escrita são processos que andam juntos, um

depende do outro para dar sua significação. Quando a criança inicia no processo de

aprendizagem de leitura e escrita ela consegue identificar que números

representam quantidades e as letras formam palavras, e através delas podem

expor suas idéias. E é a partir daí que elas começam a perceber a diferença que há

entre escrita e leitura.

A escrita é uma representação gráfica onde é possível registrar idéias e opiniões.

A leitura deve ser feita como um todo do texto e não por partes, quando pegamos

um texto, podemos saber do que se trata quando lemos o título, ou algumas

palavras chaves contidas no texto.

É necessário que os alunos tenham contato diário com todo tipo de material escrito

na escola para que possam cada vez mais, fazer descobertas sobre as palavras, e

ficar curioso sobre elas, sobre seus significados usos e ortografia.

È preciso que incentivem e faça o aluno a ver o quanto é importante o ato da leitura

e da escrita, fazer com que eles se interessem a praticá-las, pois só assim eles

aprenderam e encontrarão a melhor forma de aprender ler e escrever.

É importante, que o aluno saiba o quê escreve e para que está escrevendo, ou seja,

toda produção escrita deve ter um objetivo.

Através da escrita e da leitura, o aluno tem possibilidades de expor criticamente

sua relação com o mundo e com o outro. Se a escola permitir o acesso de diferentes

leituras, estará automaticamente favorecendo a aquisição da leitura e da escrita de

seus alunos.

Page 11: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

4. Apresentação do corpus

No presente artigo, serão apresentadas e analisadas duas cartilhas, que se

distinguem nos seus métodos de alfabetização. Uma cartilha parte da idéia de que

alfabetizar é apenas ensinar ler e escrever através das tarefas que elas propõem

que são as cartilhas do método tradicional, e a outra é a cartilha dita do método

construtivista que parte do pressuposto de que para alfabetizar não é necessário

ensinar por partes e sim como um todo, e para isso deve-se haver uma interação

em grupos.

4.1 Primeira cartilha:

Coleção Novo Caminho – Livro de Alfabetização.

Autores: José de Nicola e Rosalina Acedo Chiarion

Editora: Scipione

São Paulo, 1998 – 3º edição – 5º impressão.

Livro Comercial

Segmento: Educação Infantil

Observação: Essa cartilha não possui prefácio e não é recomendada pelo PNDL.

Está cartilha se baseia no método construtivista de alfabetização.

A cartilha é constituída por dez temas. Porém sua primeira atividade é de interação

e apresentação de cada aluno.

O livro é todo colorido e trás muitas ilustrações atraindo a atenção do aluno,

despertando o interesse pelo uso da cartilha e conseqüentemente, levando-a

aprendizagem.

Cada tema trabalha com produção de texto, interpretação, gramática e ortografia.

Além de tudo o que foi citado, o livro também apresenta tarefas, fazendo com

crianças interajam em grupo. Propondo também atividades culturais como teatro,

construção de brinquedos manuais, brincadeiras que incentivam e auxiliam na

Page 12: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

aprendizagem da escrita e leitura como stop, forca e palavras cruzadas, que leva o

aluno a pensar e agir rápido.

Podemos dizer que esta cartilha é dividida em duas partes, a primeira a que usa em

suas atividades apenas a letra de forma maiúscula, quando o aluno está passando o

seu primeiro contato com a leitura e a escrita, e a Segunda parte é a apresentação

de letras cursivas tanto na forma maiúscula quanto na minúscula, quando o aluno já

tem uma familiaridade com a leitura e a escrita.

4.2 Segunda cartilha:

Portal de Papel – Língua Portuguesa I

Autores: Angolina Domanico Bragança

Isabella Pessoa de Melo Carpaneda

Regina Iara Moreira Nassur

Editora FTD

São Paulo, 1996 – Edição renovada – 4º impressão.

Livro Governamental

Observação: Está obra não possui prefácio.

Está cartilha se baseia no método tradicional de alfabetização, e dividida em vinte

unidades, cada unidade composta por: texto, gramática, ortografia e redação.

O livro é bem ilustrado e colorido, despertando assim a atenção do aluno para o

uso.

O tipo de letra que prevalece nas atividades e nos textos são letras cursivas

minúsculas.

5. Análise do corpus:

5.1 Análise da cartilha construtivista:

Page 13: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

A cartilha analisada “Livro de Alfabetização-Coleção Novo Caminho” faz parte

do método construtivista. Pretende resgatar o conhecimento de mundo que os

alunos trazem para escola, proporcionando um maior conhecimento ao professor de

seus alunos. Sendo assim, as primeiras atividades propostas são de conhecimento

geral da sala de aula, onde cada aluno faz uma apresentação de si e da sua família,

atividades de recorta e cola e até de leitura de placas e rótulos, mostrando aos

alunos que eles já sabem ler, mesmo antes de entrar na escola.

Na primeira parte da cartilha, os alunos são apresentados ao alfabeto e as vogais

em letra de fôrma maiúscula, já num segundo momento, quando o aluno tem um

contato com a escrita e a leitura e conhecem todas as letras do alfabeto, é

apresentada a ele uma nova forma de escrita que seria a cursiva na forma

maiúscula e minúscula, e a letra de forma minúscula. Depois dessa apresentação o

aluno passa a usar a letra cursiva minúscula nas atividades restantes da cartilha.

Um outro ponto que a cartilha trabalha é a coordenação motora do aluno em que

ele propõe atividade de cobrir letras pontilhadas, para que ajude o aluno na sua

aprendizagem da escrita cursiva.

Os gêneros de textos são amplos, pois ela trabalha com poesia, dicionário,

seqüência de figuras, e cantigas populares. Tratam do mundo encantado e das

brincadeiras de criança, levam o aluno a pensar também no mundo externo da

escola, usando conhecimento para melhor entendimento dos mesmos e discutindo

sobre os temas em casa. Por sua vez, as atividades de interpretação de textos, são

feitas de forma oral, com o intuito de que os alunos interajam em sala de aula

discutindo sobre o assunto tratado no texto, discutindo o que entenderam e

formulando respostas através da fala do outro. Está forma de atividade oral

contribui para que o aluno não tenha vergonha de falar em voz alta, em público,

tornando um aluno crítico e capaz de interagir e expor suas idéias. Enfim, com a

interpretação oral, a professora pode perceber qual a capacidade que cada aluno

tem de entender um texto.

As atividades escritas podemos dizer que são construtivistas, pois dão o poder ao

aluno para escrever livremente da forma que sabe, sem exigência da ortografia

perfeita, respondendo as questões propostas com suas próprias palavras, evitando

assim a cópia de partes do texto e respostas desestruturadas, sem sentido.

Uma atividade que vale a pena citar são as atividades de formação de palavras, que

os alunos podem fazer sozinhos, usando o alfabeto móvel, e através de

Page 14: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

brincadeiras, que também são uma forma de aprendizado muito atrativa para

criança, como por exemplo, a forca, stop e a cruzadinha, entre outras.

Nesta cartilha a gramática é tratada de forma suave, sem confundir o aluno com

regras gramaticais desnecessárias para o período, como separação de sílabas, que

pede para que ele a faça de forma oral, por exemplo, ao falar a palavra cavalo ele

perceberá quantas vezes ele mexe com os lábios e a língua, e assim é informado

que cada vez que isso acontece, ele estará formando uma sílaba. Também da uma

noção de masculino e feminino, como por exemplo, na atividade em que diz: “Como

se chama a fêmea do cavalo? Como fica a poesia se trocarmos a palavra cavalo

pelo seu feminino?”, e assim por diante. As atividades de gramática não vão além,

favorecendo a aprendizagem do aluno, pois o grau de gramática muito elevada na

alfabetização pode vir a confundir o aluno.

Já no final da cartilha começa a ser trabalhada a questão da coesão e coerência,

propondo que inicialmente o aluno organizem a estrutura de frases inseridas no

contexto do capítulo.

A ortografia nessa cartilha não exige tanto do aluno, ela apenas tenta mostrar para

ele que existem palavras cuja escrita são com duas consoantes juntas, trabalhando

a questão do som. Como por exemplo: nh, lh, s, ss, rr, r, al, el, il, ol, ul, ce, ci, az, iz,

uz, ã, x. Não exige que o aluno quando for escrever palavras que contenha essa

ortografia saiba e escreva certo, apenas mostra que elas podem aparecem juntas

em algumas palavras.

A produção de texto nessa cartilha é feita de forma construtivista, pois pede para

que o aluno a partir do que entendeu do texto lido e a partir do seu conhecimento

produza um texto sobre aquele assunto e alguns deles, podem ser produzido em

grupo.

Há também duas outras propostas de produção do texto, uma que pede para que o

aluno através de uma figura desenvolva uma história e outra onde a cartilha

começa uma história e o aluno tem que continuar.

E por ultimo a cartilha possui uma parte chamada “construindo”, que propõe que os

alunos se organizem em grupos e construam brinquedos manuais, como por

exemplo, a construção de um livro de folclore, em que o aluno deve buscar

Page 15: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

informações fora da escola a respeito de histórias populares, e a partir dessas

conversas desenvolvem a história do livrinho não esquecendo de ilustrar.

5.2 Analise da cartilha tradicional:

A cartilha “Portal de Papel – Língua Portuguesa I” faz parte do método

tradicional, pois o seu ensino está ligado à escrita, exclui a possibilidade de ter o

aluno como um falante nativo da língua, e criador de suas próprias idéias, não

incentiva o aluno a ir buscar informações fora da escola, como pesquisa em livros. A

intenção de ensino proposta na cartilha é de que o aluno aprenda uma lição após a

outra. Ela é restrita trabalha com palavras chaves e sílabas geradoras, se preocupa,

em avaliar e obrigar o aluno aprender apenas da forma que ela propõe.

A cartilha se preocupa com a forma escrita, tentando ensinar o aluno a escrever

através das regras gramaticais, confundindo-o e deixando o seu texto escrito

ortograficamente de maneira correta, porém, sem coesão e coerência.

Os textos são feitos de rimas, metáforas, e alguns em formas de poemas. Tratam

de situações do dia-a-dia das crianças, como por exemplo: “O ano tem doze

meses”, que apresenta os meses do ano e as principais datas festivas de cada mês,

“Que susto!” trata do medo que as crianças tem do escuro. De uma certa forma

esses textos fazem com que o aluno reflita e entenda um pouco mais cada situação

explorada no texto. Mas em seguida vem o estudo do texto que apresentam o

vocabulário das palavras chave do texto, e os exercícios que criança irá comparar

frases que tenha o mesmo sentido, não saindo da idéia que o texto impõe.

Finalizando a parte do texto, vem a interpretação, em que as atividades propostas

não se encaixam no construtivismo, pois, os exercícios são feitos de preenchimento

de partes vazias do texto, onde para completá-las o aluno só precisará copiar. Esse

tipo de exercício pode ser feito com a cópia, ou o aluno recontando com suas

palavras o que já está escrito no texto, ou seja, fazendo uma paráfrase.

A parte que designa a gramática apresenta primeiramente as vogais e as

consoantes depois o alfabeto inteiro. Nas letras de fôrmas e cursivas, ambas na

forma maiúscula e minúscula, ressaltando que são organizadas por ordem

alfabética.

O exercício proposto para que a criança aprenda a escrever, é o de completar o

alfabeto em letras cursivas maiúsculas e minúsculas, dá também exercícios de

coordenação motora, em que aluno tem que ligar as letras do alfabeto em ordem

Page 16: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

alfabética, formando assim uma figura. Essa cartilha prioriza a letra cursiva que não

deixa de ser importante sendo uma forma mais rápida de escrever. Porém a letra

cursiva para quem está começando é complexa, pois para desenvolvê-la é

necessário uma certa coordenação motora para escrevê-las, se tornado mais fácil

para quem já tem um conhecimento com a escrita e leitura. Para quem está

aprendendo, é importante usar a letra de fôrma maiúscula, por seus traços serem

mais simples de fácil entendimento do aluno.

A parte da gramática nesta cartilha é constituída por: emprego do til silaba,

substantivo próprio, comum, gênero masculino e feminino, número do substantivo,

singular e plural, grau do substantivo aumentativo e diminutivo, substantivo

coletivo, frases, tipos de frases: afirmativa, negativa, exclamativa, pontuação:

virgula, dois pontos, travessão, acentuação: acento agudo, acento circunflexo,

adjetivo, sinônimo, antônimo e por fim verbo. Esse tipo de estrutura da gramática

que o aluno como um falante nativo já sabe, só que quando passa a serem

apresentados na escola, alguns alunos chegam a entrar em desespero, pois eles

não são informados que isso eles já sabem só irão ordenar e dar nome a esses

conhecimentos, e os alunos passam a ver todas essas estruturas como novo,

cometendo erros drásticos, e desaprendendo o que já sabem, cometem erros como,

por exemplo: o feminino de pai passa a ser “paioa” e não mãe, tio, “tiooa”, e como

falantes eles sabem que o oposto de pai é mãe e de tio é tia.

A cartilha preocupa-se muito com a ortografia do aluno, exigindo que ele saiba

escrever corretamente, ensinando os alunos a escrever através de palavras soltas

palavras, que contenha: (til, p,m,d,c,v,b,l,t,f,n,j,g,z,x, palavras com inicial nh, h, lh,

ch, palavras com final m antes de p e b, com consoantes n, r, l, com s inicial, s com

som de z, s antes de consoantes, ce, ci, ç, que- qui- qua- quo, quão, ge- gi- gua- gue

– gui- guo- com encontro consonantal). Não dão uma explicação para que o aluno

entenda o porque de escrever uma determinada palavra usando, por exemplo: o

nh, h, lh, ch e sim já dão de inicio exercícios do tipo: “Retire do texto palavras

somente com nh”, com esse tipo de exercício o aluno não está aprendendo e sim

copiando. Mas essa cópia é uma forma de ele entender? Não, pois a criança não

quer saber que palavra está copiando, só que saber que a palavra tem nh e pronto,

certamente ele vai acertar, pois copiar é uma tarefa fácil, com isso a professora dirá

que ele aprendeu a lição e passará para frente.

6. Comparação das cartilhas

Page 17: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

Ao comparar as cartilhas “Livro de Alfabetização da Coleção Novo

Caminho” e “Portal de Papel – Língua Portuguesa I”, percebe-se que ambas

são mistas, possuem atividades denominadas do método construtivista e

tradicional.

A Cartilha da coleção novo caminho, é constituída por atividades de fala, escrita e

leitura cada um sendo trabalhada na sua especificidade, porém sem fugir de um

contexto proposto em cada unidade da cartilha. Usa uma linguagem moderna, não

foca sua atenção para perfeição da escrita, exigindo que seus alunos escrevam

ortograficamente perfeito, e sim de como ele organiza suas idéias para produção de

texto, deixando o aluno escrever de forma espontânea no processo de leitura não

se preocupa exclusivamente em fazer com que o aluno leia apenas textos da

cartilha como também vá em busca de outros textos que abordem os mesmos

assuntos, tratando um texto como um todo.

Já cartilha da coleção Portal de Papel, discorre totalmente ao contrário, pois ela

exige que o aluno se centre apenas na cartilha, não admite erros ortográficos.

Divide a cartilha em leitura e texto, ou melhor, não as ensinam partindo de um

mesmo contexto. Nas produções de texto os alunos não se sentem livre, tendo que

seguir as regras que a cartilha impõem, tratando o texto por partes, preocupando-

se com o aprendizado dividido em partes. Primeiro deve-se aprender as letras,

sílabas, para daí fazer união de sílabas com intuito de formar palavras, união de

palavras para formar frases, e por fim união de frases para formar textos, fazendo

com que no final os textos saiam escrito sem erros ortográficos, porém sem

sentido, ou melhor, coesão e coerência.

Portanto, conclui-se que ambas as cartilhas analisadas se assemelham na forma de

ensinar a ler, pois é através do método de silabação e escrita através de palavras

geradoras, porém a cartilha Novo Caminho, não exige tanto, apresenta como

possibilidade para o aluno aprender através da sílaba geradora, ela deixa livre a

maneira dos alunos escreverem nas tarefas, como na produção de texto.

Em relação à gramática nesta cartilha Coleção Portal de Papel, trata de forma

“assustadora”, pois são ensinadas coisas que não são apropriadas para essa fase

de alfabetização, se preocupando com gênero, número e grau, quando o aluno

ainda nem sabe escrever.

Na ortografia as cartilhas só possuem um item em comum, porém exigem o seu uso

de formas diferentes que são os encontros consonantais, só que a cartilha da

coleção novo caminho apresenta os encontros consonantais para que o aluno

entenda que uma palavra pode haver o encontro de duas consoantes juntas sem

exigir isso na hora que o aluno escrever, já a da coleção Portal de Papel, exige que

Page 18: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

o aluno escreva palavras ortograficamente correta, sendo que a explicação que é

dada ao aluno sobre encontro consonantal deixa a desejar, pois se trata de sua

sonoridade.

7. Considerações finais:

Algumas escolas adotam como material básico e indispensável para alfabetização a

cartilha, que prioriza a escrita ortográfica, com isso essas escolas passam a

preocupar-se bem mais com o ensino do quem com a aprendizagem.

Existem muitas cartilhas, mas a maioria delas apresentam o mesmo método, pois,

elas alfabetizam por etapas, que devem ser seguidas de acordo com sua ordem

usando palavra-chave, e silabas geradoras, ou seja, o famoso método do “ba-be-bi-

bo-bu”. Geralmente, cada unidade da cartilha apresenta uma unidade silábica, as

lições são organizadas do mais fácil para o mais difícil e finalizam com um texto que

resumo tudo o que ela tentou ensinar.

A concepção de linguagem que as cartilhas possuem é de que uma silaba é feita de

letras, uma palavra de silabas, uma frase de palavras, e um texto um conjunto de

frases. Isso se resume ao famoso monta e desmonta através de palavras e união

das unidades geradoras.

Em lugar do alfabeto, aparecem as palavras-chave, as silabas geradoras, e os

textos elaborados apenas com palavras já estudadas. As famílias de letras

passaram a ser estudas numa ordem crescente de dificuldade.

A concepção de linguagem que a cartilha possui é a de soma de sílabas, onde

juntando uma silaba com outra e com outra e assim sucessivamente formam-se

palavras, confundindo o aprendizado das crianças em relação a escrita e a fala.

A cartilha ignora a variação lingüística, ensinando através da língua padrão,

esquecendo da enorme variação que a língua possui. A variação lingüística

apresenta os inúmeros dialetos que a língua possui, e esses dialetos apresentam

semelhanças e diferenças. A semelhança é constituída de pronuncias diferentes,

como por exemplo: “tia” e “tchia”, as duas formas são entendida do mesmo jeito, o

que muda é a forma de pronuncia, já a diferença se dá de acordo com a classe

social, que no caso seria a classe social baixa que é vista com preconceito pela

Page 19: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

sociedade, e por isso a forma de pronuncia dessa classe são vista como forma

“errada” de falar, por exemplo: “dentro” para “drento”.

Alguns alunos conseguem aprender sem problemas a língua padrão, pois, ela faz

parte de seu convívio fora da escola, ou porque a cartilha a ensina por etapas, de

forma gradual.

Outro problema da cartilha é a silabação, pois ela passa para o aluno a idéia de que

ler é silabar, fazendo com que a pronuncia saia perfeita, de forma articulada. A

cartilha ensina o aluno a ler em forma de silabação, e ao fim dela cobra do aluno

uma leitura compassada, com fluência. Isso acaba sendo contraditório, pois cobra

algo que não ensinou.

Como já sabemos para a cartilha, a leitura é feita de forma silábica, e nessa fase de

aprendizagem da leitura a crianças se preocupa com a quantidade de letras,

usando uma letra para cada silaba, e depois a criança passa a se preocupar com a

letra a ser usada, usando consoantes e / ou vogais que fazem parte da palavra que

ela deseja escrever.

Logo que a criança entra na escola ela fica ansiosa, para aprender ler e escrever, e

para isso usa o único conhecimento que tem, que é a fala, e nesse momento

observam muito a fala das e pessoas e principalmente a sua própria fala. Porém, a

cartilha exclui essa possibilidade que o aluno tem de aprender a ler e escrever

usando o único conhecimento que possui, e aos poucos, levam as crianças a

interpretarem os fenômenos fonéticos da fala, tendo como modelo a forma escrita

da palavra e não a realidade fonética, ou seja, sua própria fala, e depois de pouco

tempo a criança passa a não dar mais atenção a forma falada. Resumindo, a

cartilha usa a fonética de uma forma tão errada confundindo a fala com a escrita,

portanto a oralidade fica quase que esquecida, pois quase tudo é feito em forma de

escrita.

Pode-se dizer que a cartilha faz com que a alfabetização se torne desastrosa.

O construtivismo trata o aluno como um ser racional, capaz de pensar, agir por

conta própria construindo a partir do seu conhecimento que trazem para a escola,

usando a capacidade de reflexão sobre o que faz. O método construtivista é

baseado na aprendizagem através da reflexão e entende que a aprendizagem

Page 20: ALFABETIZAÇÃO E SEUS MÉTODOS

inicial de cada aluno é diferente, porque cada um tem sua história de vida e de

conhecimento.

As classes de alfabetização são construídas por alunos que apresentam histórias de

vida diferentes, que vivem em comunidade e atém em sociedade diferentes, tem

alunos que antes de entrarem no processo de alfabetização, já freqüentaram a

escola, ou melhor, a pré-escola, onde aprenderam uma estrutura inicial da escrita e

leitura, e tem incentivo em casa para a aprendizagem, por outro lado, tem alunos

que não tiveram nenhuma oportunidade, nunca foram a escola, não sabem nem

escrever o seu próprio nome e não são incentivados a aprendizagem em casa. E o

construtivismo leva essa diferencia em consideração, partindo do pressuposto que

não existe uma sala de alua homogenia.

Aprender é um ato individual de cada aluno, aprender de acordo com o seu

metabolismo intelectual e ordenada pelo aluno de acordo com sua história de vida.

Aprender não é repetir algo semelhante, e sim criar algo novo, ou seja, a repetição

de um modelo já pronto não é uma aprendizagem, e sim uma cópia.

Bibliografia:

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ZORZI, Jaime Luiz. Artigo Científico. São José dos Campos: Ed. Cefac, 2003.

Autor: Márcia Lúcia Miranda Ribeiro