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ALFABETIZAO

CND Mdulo IV

SUMARIOAPRESENTAO .................................................................................................. ......02 1. 2. PANORAMA DA ALFABETIZAO..................................................................... ..08 ALFABETIZAO COMO ENSINO E COMO APRENDIZAGEM....................... .13

2.1 Mtodo de ensino ....................................................................................... .163. 4. 5. 6. 7. 8. 9. AS CARTILHAS .............................................................................................. .....25 AS CAPACIDADES NECESSRIAS PARA A ALFABETIZAO ...................... .35 ALFABETIZAR SEM O B-B, BI, B, BU ........................................................ .48 HISTRIA DA ESCRITA........................................................................................55 A EVOLUO DA ESCRITA NA CRIANA .........................................................62 OS PRIMEIROS REFERENCIAIS DE LEITURA E ESCRITA ..............................71 O TEXTO ................................................................................................................76

10. LEITURA E INTERPRETAO .................................., ..........................................98 11. O SISTEMA GRFICO ..........................................................................................101 12. AVALIAO............................................................................................................104 REFERNCIAS BIBLIOGRFICA.................................................................................110

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APRESENTAOCAROS(as) AMIGOS(as) Desde o momento que o homem primitivo fez os primeiros rabiscos nas paredes de uma caverna e outro leu, o homem inaugurava uma nova e decisiva fase na sua histria: a escrita. Ela lhe trouxe a oportunidade de expressar as suas ideias, sua viso de mundo e possibilitou a comunicao.

Quem inventou a escrita tambm criou a forma de decifr-la. Estava inaugurada a primeira aula de Alfabetizao. Desse momento em diante, o homem assumiu o compromisso de ensinar s geraes futuras a arte de ler o que escrevia.

Voc encontrar neste texto algumas ideias sobre a Alfabetizao: o panorama atual, sua histria, propostas e outras como, a evoluo da escrita na criana, o texto e a avaliao. O importante que voc tenha em mente que esta uma viso de Alfabetizao. Existem outras. preciso ler e estudar todas para que a sua prtica de sala de aula possibilite criana a apropriao da leitura e da escrita, de modo consciente e eficaz.

Joo Antnio Viesser2

IntroduoIniciando nosso estudo sobre a Alfabetizao vamos refletir sobre dois textos que mostram duas posturas diferentes e at antagnicas de se realizar o processo da leitura e da escrita em sala de aula. Estes textos sero o referencial que marcar nosso estudo.RECEITA DE ALFABETIZAO

Pegue uma criana de seis anos e lave-a bem. Enxugue-a com cuidado e enrole-a num uniforme e coloque-a sentadinha na sala de aula. Nas oito primeiras semanas, alimente-a com exerccios de prontido. Na 9 semana, ponha uma cartilha nas mos da criana. Tome cuidado para que a criana no se contamine no contato com livros, jornais, revistas e outros perigosos materiais impressos. Abra a boca da criana e faa com que ela engula as vogais. Quando tiver digerido as vogais, mande-a mastigar, uma a uma, as palavras da cartilha. Cada palavra deve ser mastigada no mnimo 60 vezes, como na alimentao macrobitica. Se houver dificuldade para engolir, separe as palavras em pedacinhos. Mantenha a criana em banho-maria durante quatro meses, fazendo exerccios de cpia. Em seguida, faa com que a criana engula algumas frases inteiras. Mexa com cuidado para no embolar. Ao final do 8g ms espete a criana com um palito, ou melhor, aplique uma prova de leitura e verifique se ela devolve pelo menos 70% das palavras e frases engolidas. Se isso acontecer considere a criana alfabetizada. Enrole-a num bonito papel de presente e despache-a para a srie seguinte. Se a criana no devolver o que foi dado para engolir recomece a receita desde o incio e volte aos exerccios de prontido. Repita a receita quantas vezes forem necessrias. Ao fim de trs anos, embrulhe-a em papel pardo e coloque um rtulo: "aluno renitente".Prof3 Marfene Carvalho - UFRJ.

Atividades01. Que concepo de Alfabetizao reflete esse texto? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 02. O que esse texto tem a ver com a realidade das salas de Alfabetizao que voc conhece ou atua? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________3

03. Reescreva as prticas enumeradas no texto que caracterizam esse modelo de ensino. ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 04. Quais os papis desempenhados pelo professor e pelo aluno nesse ambiente? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________

Leia, agora, com mais ateno o segundo texto da mesma autora:

ALFABETIZAO SEM RECEITA

Peque uma criana de seis anos, ou mais, no estado que estiver, suja ou limpa e coloque-a numa sala de aula onde existem muitas coisas escritas para olhar e examinar. Servem jornais velhos, revistas, embalagens, propaganda eleitoral, latas de leo vazias, caixas de sabo, sacolas de supermercado, enfim, tudo o que estiver entulhado nos armrios da escola e da sua casa. Convide a criana para brincar de ler, adivinhando o que est escrito: voc vai descobrir que ela j sabe muitas coisas. Converse com a criana, troque ideias sobre quem so vocs e as coisas de que gostam e no gostam. Escreva no quadro algumas das coisas que foram ditas e leia para ela. Pea criana que olhe as coisas escritas que existem por a, nas lojas, no nibus, nas ruas, na televiso. Escreva algumas destas coisas no quadro e leia para elas. Deixe as crianas cortarem letras, palavras e frases dos jornais velhos e no esquea de mandar limpar o cho depois, para no criar problemas na escola. Todos os dias leia em voz alta para a criana alguma coisa interessante: historinha, poesia, notcia de jornal, anedota, letra de msica, adivinhaes. Mostre para a criana alguns tipos de coisas escritas que talvez ela no conhea: um catlogo de telefone, um dicionrio, um telegrama, uma carta, um bilhete, um livro de receitas de cozinha. Desafie a criana a pensar sobre a escrita e pense voc tambm. Quando a criana estiver tentando escrever deixe-a perguntar ou ajudar os colegas. No se apavore se a criana estiver comendo letras: at hoje, no houve caso de indigesto alfabtica. Acalme a diretora e a supervisora, se elas ficarem alarmadas. Invente sua prpria cartilha. Use a sua imaginao e sua capacidade de observao para ensinar a ler. Leia e estude, voc tambm. RS. Se no gostar desse processo, aplique a Receita de Alfabetizao.Prof Marlene Carvalho - UFRJ.

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05. Que diferenas voc observa em relao ao texto anterior? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 06. Que funes exercem o professor e o aluno nesse ambiente? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________

07. Que prticas a autora enumera no texto que caracterizam uma prtica diferente em sala de aula? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ A Alfabetizao no Brasil, apesar de toda a bibliografia recente e das pesquisas realizadas pelas modernas teorias da aprendizagem, ainda se caracteriza por prticas muito comuns presentes nas salas de aula que o uso das cartilhas tradicionais. Nesse ambiente, os alunos, centro do interesse da aprendizagem, da leitura e da escrita, se tornam presas fceis do autoritarismo da escola. J entre os professores h os que continuam depositando toda a sua confiana e esperana nas promessas miraculosas das cartilhas que prometem uma aprendizagem rpida, eficiente e segura. H os que apregoam o abandono definitivo dos velhos manuais de Alfabetizao, porm sua postura na sala de aula continua a mesma. H tambm os mais audazes que se aventuram na criao de suas prprias cartilhas, porm apesar de toda essa criatividade os alunos continuam seguindo um modelo, o do professor. E enfim, h os que, equilibrando o ensino com a aprendizagem, decidem apostar na capacidade crtica e criativa de seus alunos e colocam a linguagem como o centro do estudo da leitura e da escrita. A criana, embora hoje seja bem mais independente dos pais do que no passado, ainda encontra formas de poder repressor. Na escola, ele se manifesta de modo mais visvel e nas salas de Alfabetizao torna-se ainda mais eficiente. No entanto, algumas antigas prticas, presentes diariamente nas salas de Alfabetizao, comeam a serem deixadas de lado como os cansativos exerccios de prontido, longas sesses de cpia, ditados para se "tirar uma nota", exerccios gramaticais e outras prticas.5

No lugar disso tudo outras atvidades comeam a receber maior importncia, como ensinar as letras do alfabeto, contar a sua histria, as relaes existentes entre letras e sons, pesquisa sobre os diferentes sistemas de escrita que existem no mundo e uma reflexo sobre a ortografia. A aprendizagem d seus primeiros passos na compreenso de que o verdadeiro estudo da leitura e da escrita parte sempre da anlise da linguagem. A escola, nos ltimos anos, tem trazido para dentro de suas salas uma crescente discusso em torno da Alfabetizao e passou a introduzir novos modelos de trabalho. Porm, o grande avano ser na viso da Alfabetizao sem o olhar severo e repressor da reprovao. A avaliao que tem como objetivo a busca de nota ser substituda pela formao da busca de um sujeito livre, responsvel e consciente. A criana, nessa fase, tem uma marca muito forte que a sua individualidade. O mundo todo deve girar sua volta e a obedincia aos adultos ainda algo que est apenas comeando a aprender. Quando a criana entra para a escola confronta-se com o autoritarismo exacerbado das normas escolares. A Alfabetizao dentro da escola sofre uma atitude autoritria peculiar. Esse poder autoritrio funciona mais e melhor quando o aluno j est vivendo as primeiras experincias escolares. Como a criana, ento, ainda no est acostumada a obedecer a tudo e a todos difcil para ela aceitar os procedimentos didticos das cartilhas, as ordens do professor, as provas, os mtodos e quando tem de realizar alguma atividade deve sempre seguir um modelo proposto. A escola perde a, grande oportunidade de dar asas imaginao e criatividade de seus alunos. Com o passar do tempo vieram as propostas que valorizavam mais as capacidades da criana em aprender e isso criou um clima mais calmo nas salas de aula, provocando uma melhor interao entre professor e aluno e um ambiente mais saudvel para que a aprendizagem se efetive. Um a um os professores foram experimentando todos os mtodos que surgiam: sintticos, analticos, fnicos... e como todos eles apresentavam sucessos parciais, foram aos poucos desacreditando-se de todos eles, ou pior ainda, tendo averso a tudo o que surgia de novo.6

O que faltava escola entender era que a aprendizagem da leitura e da escrita passava necessariamente pela competncia qualificada do professor, do entendimento que possua sobre a linguagem, sobre os diferentes sistemas de escrita e do modo como o aluno aprendia.

Atividades01. Muitas coisas da vida precisam ser ensinadas: normas, valores e regras de conduta entre outras. Como a escola deveria trabalhar a questo do poder? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 02. Como as atividades de Alfabetizao podem inibir a criatividade dos alunos? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________

QUINO. Toda a Mafalda. So Paulo : M. Fontes, 1993.7

1. Panorama da AlfabetizaoPara uma prtica pedaggica competente e socialmente comprometida particularmente num pas de contrastes como o nosso, onde convivem grandes desigualdades econmicas, sociais e culturais - importante ter uma viso clara da escola e principalmente do homem que se quer formar. No tarefa somente da escola formar o cidado, mas do conjunto da sociedade. No entanto, como local privilegiado de estudo e pesquisa e trabalho com o conhecimento tem grande responsabilidade nessa formao, pois recebe crianas, jovens e adultos por um certo nmero de horas, todos os dias, durante anos de suas vidas possibilitando-lhes construir saberes indispensveis para a sua insero social.

A escola, durante muito tempo, preocupou-se com o resultado, da o grande valor dado s provas, testes e exames e raramente ao processo de aprendizagem. E depois de colhido o resultado, duas vises amplamente diferentes entre si, se dividem quanto maneira de avaliar tais resultados. Duas perguntas caracterizam esses procedimentos:

Para responder pergunta POR QUE UMA CRIANA NO APRENDE? a escola tradicional foi buscar as causas e constatou, analisando os resultados, que a grande maioria dos alunos que reprovavam era de crianas carentes. Carncia de tudo: emocional, psicolgica, financeira, social... e qualquer outra mais... e os motivos apontados eram:

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...e muitas outras razes, como: problemas emocionais; falta de material escolar; baixa qualidade da merenda escolar; contedos; baixos salrios dos professores. O que essas causas apontavam, na verdade, era uma viso distorcida da escola sobre o mundo e, principalmente, sobre o "mundo da criana pobre". Essa viso demonstra um claro preconceito contra a pobreza.

Atividade- Analise novamente as causas apontadas acima e na pgina anterior e compare-as: "somente as crianas pobres apresentam esses problemas"? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________

J a perspectiva scio-construtivista se pergunta:COMO UMA CRIANA APRENDE?

e para responder a essa pergunta, so interessantes os estudos de Piaget e Vygotsky. Para PIAGET, a aprendizagem que um indivduo realiza depende do nvel de desenvolvimento j alcanado por ele, isto , o seu desenvolvimento que cria as condies para que a aprendizagem se efetive. Desse modo, o desenvolvimento ser sempre anterior aprendizagem. O processo educativo, portanto, deve seguir o desenvolvimento, pois somente ocorre aprendizagem quando h um amadurecimento das funes cognitivas compatvel com o nvel de aprendizagem. Assim, a construo do conhecimento o resultado de contnuas adaptaes da criana ao meio, envolvendo dois mecanismos reguladores: ASSIMILAO: por meio dela se exercitam os esquemas j construdos, entra em contato, recebe, interage com os dados novos. ACOMODAO: pela qual se apropria desses dados, incorpora-os e tambm transforma seus esquemas iniciais de assimilao.

A construo do conhecimento apia-se num sistema de ao que visa as equilibraes sucessivas: o sujeito assimila, acomoda e alcana um novo equilbrio que sempre provisrio, fica pronto para ser novamente desafiado, entra em desequilbrio, assimila o novo e continua o processo.9

Atravs da ao sobre o meio fsico e da interao com o ambiente social, no qual a linguagem exerce papel central, processa-se o desenvolvimento e a aprendizagem do ser humano.CONCEPO ESPONTNEA ASSIMILAO (IDA) ,

concpeoSOCIAL

ACOMODAO (VOLTA)

Pelo DESENVOLVIMENTO o beb humano vai se construindo em indivduo diferenciado, dono de si mesmo e de sua vontade. um processo complexo, em que a combinao de fatores biolgicos, psicolgicos e sociais produzem nele transformaes qualitativas. O desenvolvimento envolve aprendizagens de vrios tipos expandindo e aprofundando a experincia individual.Para VYGOTSKY, o desenvolvimento cognitivo est mais prximo da aprendizagem do que para Piaget. Para ele, o desenvolvimento das funes psquicas da criana est a todo momento ligado com a aprendizagem, isto , com a apropriao do conhecimento produzido pela humanidade e as relaes que estabelece com o meio social. Essa apropriao do saber produzido ocorre pela interao social com adultos ou companheiros. Na viso de Vygotsky desenvolvimento e aprendizagemesto unidos, constituem uma unidade, sendo inseparavel dodesenvolvimento a aprendizgem.Quando uma significativa,estimula e desencadeia o avano do desenvolvimento para um nvel mais complexo que, por sua vez, serve de base para novas aprendizagens. E qual a importncia desses pensadores para a Alfabetizao? Na perspectiva sociointeracionista da linguagem, o trabalho de Alfabetizao no se reduz h uma tarefa mecnica de simples reconhecimento de letras e muito menos na tarefa de codificao e decodificao. Ao longo da histria da educao, a tarefa da Alfabetizao se reduziu ao trabalho de levar a criana ao "domnio do sistema grfico", isto , a linguagem era vista como um cdigo ou como uma habilidade que pudesse ser treinada. A Alfabetizao um processo educativo e por esse motivo a apropriao da lngua escrita, que envolve a linguagem, est inserida dentro de sua dimenso histrica e social. Pensando dessa maneira, a lngua o resultado de um trabalho coletivo e historicamente localizado. Sendo uma aquisio social, ela brota da relao entre os homens, da sua interao e por isso est sujeita a mudanas. A linguagem, portanto, no se presta somente troca de informaes ou um mero instrumento de comunicao. Ela muito mais do que isso, pois nela que o pensamento e a conscincia se revelam e se organizam. Por ser a linguagem uma ao, complexa propicia operaes mentais e abstraes, pois possui dentro de si uma realidade simblica. O domnio da linguagem, tanto a falada como a escrita, se constitui em uma forma de poder. A entra o papel importante da escola, como entidade que pode garantir o exerccio desse poder a todas as pessoas, pois todas tm direito de acesso a esse poder. funo da escola garanti-lo atravs da compreenso da funo social da escrita e do funcionamento do sistema de escrita, para que os que nela ingressarem possam interagir com os outros a fim de transformarem o mundo, e transformando o mundo, transformarem a si mesmos. A escola estar garantindo o gradativo domnio da linguagem, desde os primeiros simbolismos at as elaboraes mais complexas.10

A escola deve veicular em seu interior uma linguagem significativa utilizando textos significativos, desde os orais, que cada aluno produz quando chega na escola, e que revela as suas histrias de vida, usando inclusive a sua variedade lingustica, at os textos escritos e bem elaborados. Listas de palavras sem sentido levam somente decodificao e no colaboram para que o aluno produza textos com sentido. O professor, desse modo, no pode ser um mero treinador, nem um transmissor, nem um tcnico, mas deve assumir o papel de mediador e interlocutor que respeita a voz do aluno, para que ele possa contribuir como sujeito e assim se apropriar do conhecimento. Do aluno espera-se que, j alfabetizado, domine a linguagem falada e escrita, produza textos significativos, compreenda textos orais e escritos: notcia de jornal, o relato organizado por um outro aluno, compare diferentes pontos de vista e se posicione criticamente diante dos fatos. A Alfabetizao, do ponto de vista da sua dimenso social e histrica da linguagem, resultar na formao de um homem consciente, crtico e atuante. "Alfabetizar no um luxo, um direito. E preciso garantir esse direito das crianas deste continente. Mas isso no o mesmo que pretender que essas crianas saibam desenhar letras, ou que saibam pronunciar palavras que no entendem. Isso no estar alfabetizado. Queremos dar-lhes o direito de se apropriarem da lngua escrita em toda a sua complexidade. Dar-lhes o direito de saber ler criticamente a palavra escrita pelo outros e o direito de, escrevendo seus prprios textos, colocarem suas prprias palavras. Se a Alfabetizao no concebida dessa maneira, no vale a pena lutar pela Alfabetizao".Entrevista de Emiia Ferreiro (Nova Escola, v. 4, n. 34, out. 1989).

Atividades01. De que maneira possvel garantir que todas as crianas brasileiras tenham o direito de acesso lngua escrita? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 02. O que "estar alfabetizado"? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________11

03. De acordo com a concepo de educao acontece o processo de Alfabetizao. Analise o quadro abaixo:Concepo de Educao Linguagem Alfabetizao Reprodutora Estruturalista Gramtica Habilidades mecnicas cdigo Transformadora Sociointeracionista texto-relao Processo significativo

Leitura Escrita Avaliao

Produo de sentido Linear (plurissignificado) Mecnica de signos linguisticos Habilidades-treino Classificatria Significado Emancipatria Diagnostica

Elabore um texto usando os elementos do quadro acima e analisando as duas concepes de educao. _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________

QUINO. Toda a Mafalda. So Paulo : M. Fontes, 1993.

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2. Alfabetizao como ensino e como aprendizagemNa escola, todos os profissionais: professores, pedagogos, orientadores esto envolvidos com duas questes importantes: Como a escola ensina os alunos? Como acontece a aprendizagem dos alunos?

A confuso estabelecida na escola muito grande entre os mtodos que se propem a ensinar os alunos e a maneira como se processa a aprendizagem dos alunos. O que acontece, no entanto, que os professores encontram muito mais literatura sobre mtodos de ensino do que sobre aprendizagem. Eles se oferecem aos professores com as melhores propostas para ensinar os seus alunos garantindo que de fato aprendero. No entanto, a questo metodolgica, isto , que caminho seguir, no o mais importante no ato educativo, apenas uma "ferramenta" para auxiliar tanto o professor como o aluno. A verdade que se leva em conta muito mais o ensino do que a aprendizagem, como se esta ocorresse automaticamente, como resultado inevitvel do ensino. Porm, nem sempre o que se ensina o que se aprende, e nem sempre o que se aprende algo que foi ensinado na escola.

Atividade- Analise e comente esta afirmao: "Nem sempre o que um professor ensina o que o aluno aprende e nem sempre o que um aluno aprende algo que foi ensinado pelo professor". ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Vamos agora comparar estes dois processos para entend-los melhor: Ensino Aprendizagem

um ato coletivo, isto , um um ato individual, isto , ela profissional do ensino pode dar uma aula acontece num indivduo especfico a um nmero muito grande de alunos, por segundo as suas caractersticas pessoais ex:, numa conferncia, num curso a e sua histria prpria, distncia, ou numa teleconferncia. . A aprendizagem no acontece no mesmo momento que acontece o ensino, pois o que um professor considera como importante ao ensinar pode no ser to importante para o aluno. Na verdade, quem determina o momento da aprendizagem o aluno, de acordo com a sua histria pessoal, e isso pode acontecer num momento diferente daquele em que o professor est ensinando.

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Todo enfoque est centrado naquilo que se fala.

Todo o enfoque est centrado naquilo que se interioriza, que se cria por deciso prpria.

Aprender o contrrio de copiar, de repetir aquilo que foi ensinado, A cpia no faz ningum aprender, pois aprendizagem uma deciso prpria, num momento especfico, no-determinado pelo ensino de um professor, mas por uma ao prpria. As salas de aula so homogneas, isto , os alunos seguem o mesmo caminho da aprendizagem, todos ao mesmo tempo, j que o professor ensina para todos da mesma maneira. No constri nada, pois nenhum professor pode aprender por seus alunos. As salas de aula so heterogneas e isto no bem aceito numa escola por se considerar que nela a aprendizagem seja mais lenta.

A aprendizagem um processo construtivo, pessoal, no qual cada aluno aprende por si, seguindo seu prprio caminho.

Quando um professor ensina no significa que um aluno automaticamente aprenda, pois aprender depende de cada um, num momento histrico especfico. A maneira de como cada um aprende o que ensinado, depende dele, A aprendizagem parte sempre de uma deciso pessoal. E por outro lado no porque um professor no ensina que um aluno no aprende. H muitas maneiras de se aprender, e a escola apenas uma delas: se aprende com os pais, com os amigos, nos livros, com os meios de comunicao, etc. As atividades que o professor realiza em sala de aula, mesmo as mais criativas, so sempre determinadas por ele, deixando pouco espao para as crianas pensarem por si prprias. O que se imagina que a aprendizagem dependa muito mais do professor do que do aluno, daquilo que ele organiza e coloca numa sala de aula como atividade. Os alunos podem, quando esto aprendendo, buscarem as explicaes para as suas indagaes, analisar, fazer e refazer, refletir, pensar, junto com o professor, com seus amigos de sala e com os materiais que esto sua disposio. No entanto, nas escolas, o espao se reduziu s salas de aulas e ao processo de ensino dirigido pelo professor. "Ensinagem uma relao pedaggica onde, do ato de ensinar, realizado pelo professor, resulte necessariamente a aprendizagem do aluno. um processo de parceria deliberada e consciente, de uma ao de adio de esforos e de competncia efetivada por parte do professor, fundamentada por um compromisso conjunto no processo de construo do conhecimento".Prof Lea das Graas Camargo Anastasiou.

Atividade- Comente a afirmao acima. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________14

Estes dois procedimentos - ensino e aprendizagem, na Alfabetizao - dependem muito da viso que as pessoas tm sobre a linguagem. Na Alfabetizao, a linguagem exerce um papel fundamental, pois tudo vai girar em torno dela. A maneira como uma pessoa interpreta a linguagem, o seu funcionamento, seu uso, ser assim o seu comportamento pedaggico e uma maneira diferente de aplicar a pedagogia em sala de aula. Observando qual o mtodo que o professor aplica em sala de aula se saber com facilidade qual a sua concepo de linguagem. O uso de uma cartilha, pelo aluno e pelo professor, mostra claramente que concepo de linguagem est se privilegiando. Tanto o aluno como o professor iro sempre proceder de acordo com o que determina a cartilha e de como deve ser "passada a lio". Usando uma cartilha o aluno dever seguir o procedimento de um modelo j pronto tendo sempre que decidir entre o certo e o errado.

Na linguagem oral, na vida, essas mesmas pessoas no se encontram nessa situao de impasse, pois simplesmente falam e pensam do modo como consideram melhor, pensam do seu jeito. Nenhum aluno, na sua linguagem oral, se considera como algum que est falando ou pensando errado, isso acontece somente quando entra na escola. A sim, ele vai ficar sabendo que fala errado, pensa errado e tem de mudar a sua forma de se expressar.i

Observe o modelo e faa o mesmo: honesto honestidade a) b) c) d) humilde humano santo leal humildade humanidade santidade lealdade

Outro exemplo que mostra a concepo de linguagem se refere ao mtodo fontico de Alfabetizao, no qual uma criana aprende analisando os sons da fala. Uma criana no fala melhor porque analisa os sons da fala, mas simplesmente fala. Quando falamos estamos mais preocupados em transmitir nossos pensamentos do que os sons da fala que iro revelar nossas ideias. Quem aprende a ortografia correta de uma determinada palavra, mesmo que em sua fala ela seja diferente, no escrever errado. Outra maneira de identificar uma outra forma de concepo de linguagem entend-la como sendo apenas uma forma de comunicao. Na fala e num texto existem muitos outros elementos mais importantes do que a forma como as ideias so comunicadas. Numa ideia sempre h uma 'Viso de mundo", pela qual so repassados valores, ideologias, crenas, etc.15

2.1 Mtodo de ensinoa) Ponto de partidaO professor que privilegia o mtodo do ensino entende o aluno como aquele que est numa condio de incio, isto , no princpio de uma caminhada, sendo que o ponto de partida a marca zero. O professor, no incio do ano, programa as suas aulas tendo em mente que seu aluno no sabe nada sobre os temas que pretende trabalhar porque ele ainda no ensinou. O ponto de partida o marco zero independente do ser e do saber de cada aluno. O professor, ao comear do incio absoluto, ensinando de maneira igual para todos, justifica-se dizendo que assim estar dando chances iguais para todos... ningum poder reclamar dele.

b) A tcnica empregadaA tcnica empregada no ensino o procedimento de montar e desmontar a linguagem em todos os nveis e em todas as formas. Com isso, a ideia que se procura impor que a partir de pedaos iro surgir sempre coisas novas. Parte-se de um modelo exemplar, atravs de uma palavra-chave. Essa desmontada em pedaos (slabas) e essas em letras (ou sons). Depois disso, a palavra remontada novamente. Alguns alunos, at porque tm uma boa memria, conseguem captar o esquema do professor e aprendem. Outros, por sua vez, pensam que pegaram o esprito da coisa e comeam a inventar estranhas escritas de palavras.

Separe as slabas das palavras:

madame pomada dama

Edu Ded Didi

Esse esquema criado pela escola no acontece na linguagem oral e nem na linguagem escrita, mas usado como uma estratgia da escola.

c) Fundamento: o j dominadoPartindo do zero absoluto vo se acrescentando as informaes que o aluno deve aprender. Transmitido o contedo, aprendido ou no, passa-se para a lio seguinte. Aprender aqui, nesse caso, devolver ao professor as informaes que ele passou. Se o aluno devolver mais que 50% ou 60% do que foi transmitido estar apto a prosseguir, caso contrrio, dever repetir toda a lio desde o incio. Para esse fim decorar o mtodo mais comum, sendo que a repetio a prtica mais importante. Repetir a lio at decor-la. O professor pensa que repetir sempre a mesma coisa ir fazer com que seu aluno aprenda, no entanto, nem sempre a reproduo garante a aprendizagem. O que aparece na Alfabetizao que alguns alunos so bons repetidores de lies, tm boa memria e conseguem dominar os contedos sem saber, muitas vezes, o que significam.16

Quando esses alunos, no entanto, so convidados a produzirem textos espontneos surgem escritas muito estranhas ou escrevem somente com palavras j dominadas. O professor fica at satisfeito com o procedimento de seus alunos, principalmente porque escrevendo palavras j dominadas, o texto aparece com poucos erros de ortografia. No entanto, quando os alunos se aventuram a escrever sozinhos, ele decepciona-se com o resultado.

Texto extrado de: Alfabetizao: um processo em construo. MariaF Russo e Maria Ins Vian, p. 156.

d) MemriaEm todas as atividades da vida o uso da memria muito importante e na Alfabetizao no diferente, no entanto, no deve ser confundida como promotora do ensino, pois dessa maneira o modelo que foi dominado apenas fruto de repetio. Isso leva alguns professores a tomarem posies extremadas: ou privilegiam-na demasiadamente ou resolvem elimin-la por completo da escola e acabam ocorrendo num erro extremo de que aprender refletir e no decorar.

e) Do fcil para o difcilNo procedimento didtico do ensino todas as atividades so planejadas visando a uma hierarquizao disposta numa determinada ordem para que tudo seja entendido pelo aluno de modo mais fcil. A ordem estabelecida do mais fcil para o mais difcil. Essa a viso que o adulto tem e no da criana que est aprendendo. Para um adulto, por exemplo: escrever palavras que contenham a seguinte sequncia de letras: consoante + vogal (TELEFONE - c+v+c+v+c+v) mais fcil do que escrever: consoante + consoante + vogal (TRENS - c+c+v+c+c). Porm, para uma criana que est aprendendo, tanto faz escrever uma ou outra, as duas so difceis.17

Alguns professores, por exemplo, consideram que o ensino da letra X seja mais difcil do que o ensino da letra A e at deixam isso para mais tarde. Fazem isso porque entendem que escrever palavras com X seja mais difcil do que escrever palavras com a letra A. Para uma criana que no sabe ler nem escrever, qualquer palavra difcil. A letra X s difcil para quem j sabe escrever. Em todos os ramos do saber praticamente impossvel dizer o que mais fcil e o que mais difcil: fcil o que se torna conhecido e .difcil aquilo que no se sabe. Os mtodos apresentam uma determinada ordem nas letras, pensando em facilitar a vida do aluno. Essa ordem no alfabtica. No entanto, os fichrios, catlogos de telefones, dicionrios, formulrios, lista de palavras e nomes, e outros, respeitam a ordem alfabtica, menos a escola.

"A lio tradicional dada elemento por elemento, supondo que a soma linear dos elementos leve totalidade. Assim se avana, letra por letra, slaba por slaba, palavra por palavra, imaginando-se que basta juntar mais letras, slabas ou palavras s precedentes. Nessa concepo, o fcil e o difcil so determinados de fora: o que ao adulto j alfabetizado parece fcil ou difcil, sem suspeitar sequer que a definio de fcil e difcil tambm pode ser dada pela criana. E nem sempre o que parece fcil ao sujeito j alfabetizado fcil para quem no est alfabetizado". (Emlia Ferreiro).Nova Escola, v. 4, n. 34, out. 1989.

f) AvaliaoA avaliao, no procedimento de ensino, necessita de um controle rgido de tudo o que feito cobrando-se rigorosamente tudo o que feito. Como o ensino hierrquico fica mais fcil avaliar os passos, e para isso preciso avaliar constantemente. Contempla-se somente o que foi ensinado, pois o que o aluno precisa dominar e repetir.18

Quando o aluno mostra que no aprendeu, o modelo manda voltar atrs. E o aluno tem de repetir tudo de novo, voltar ao ponto zero, ao ponto de partida. No caso da Alfabetizao, o que conta so os erros e no os acertos. O erro aparece muito mais do que aquilo que o aluno aprendeu. Muito se comenta que o erro um excelente expediente de aprendizagem e, no caso de uma criana que est aprendendo a ler e escrever, muitas das palavras escritas ortograficamente corretas, so escritas "de memria", sem reflexo, enquanto que outras palavras erradas exigiram dela muita reflexo.

Atlvidade- Relacione o que voc j leu e analisou at agora com o texto acima do aluno Marciel.___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________

g) Fixao da aprendizagemQuando o professor percebe que o aluno j domina o contedo, aps muitas horas de treino, segue o passo seguinte estabelecido pelo mtodo: manda que se realize a fixao da aprendizagem. Esta atividade um reforo e tem como finalidade deixar sempre consciente na mente do aluno os contedos ensinados para o momento da avaliao. A fixao da aprendizagem se faz atravs da cpia, completar palavras, numerar lacunas, caligrafia, etc.

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h) O erroA preocupao principal do professor que trabalha com o mtodo do ensino ensinar o certo e para isso ele se esfora. Quando surge o erro, a escola no sabe como resolver. Nas situaes dirias, o erro est sempre presente e fonte de anlise e de tomada de decises. De maneira geral, o erro mostra que o aluno no dominou algum conhecimento nas avaliaes. O erro entendido como fracasso e se aprende muito pouco com ele. No se discute e nem se analisa o erro.

i) Aprender pelos efeitosComo o aluno precisa reproduzir o modelo e corresponder ao que pede o professor, no precisa saber porque acertou ou porque errou. Acertando ser recompensado com uma nova lio. Errando deve recomear todo o trabalho desde o incio. Na previso do mtodo todos os alunos chegaro ao final com a aprendizagem garantida. Ele no prev os que ficaram pelo caminho nem alm do que foi ensinado. O aluno pensa muito pouco sobre o que faz, simplesmente faz as suas tentativas por ensaio-erro.

j) Um bom mtodo de adestramentoPor ser um mtodo mecanicista, o aluno recebe tudo pronto e o que se espera dele que siga o modelo proposto. Caso o aluno procure inovar e seguir por um caminho prprio, no ser entendido pelo professor e se tentar voltar ao caminho anterior j no conseguir mais.

Atividade- Que concluses voc tira sobre o mtodo que privilegia o ensino? __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________20

O mtodo 2 - voltado para a aprendizagem a) O ponto de partida: a reflexoO aluno, mesmo antes de entrar para a escola, adquire muitos conhecimentos oriundos de sua prtica social. Como um ser racional, vai juntando conhecimentos j adquiridos por toda a sua vida, desde o momento de seu nascimento. Nesse caminho usa sua capacidade de refletir sobre as coisas.

O mtodo centrado na aprendizagem valoriza todas essas conquistas que foram frutos de reflexo. No processo de Alfabetizao, o ponto de partida todo esse conhecimento j adquirido pelo aluno e concebe a linguagem como expresso do pensamento. No incio de cada ano as salas de Alfabetizao comeam sendo muito heterogneas. Alguns alunos sabem algumas coisas, outros sabem outras, alguns j aprenderam muitas coisas, outros nem passaram pela pr-escola e outros j a frequentaram e tomaram conhecimento dos rudimentos da escrita. Como ficar conhecendo a realidade de cada um? preciso que o professor oua seu aluno, conhea a sua viso de mundo. O professor pode pedir que ele faa isso atravs de seus desenhos ou tente escrever. Deve-se levar em conta que cada um diferente do outro e que o ensino no pode ser sempre coletivo, mas voltado para as suas peculiaridades. Embora uma aula seja sempre coletiva devem existir momentos de ateno para cada aluno.

b) A tcnica: reflexoA reflexo a tcnica a ser usada. Cada um tem uma maneira diferente, individual de reagir frente construo do conhecimento. Cada um tem um caminho prprio e isso requer, por parte do professor, um preparo especial para descobrir a necessidade de esclarecimentos de cada aluno e da classe como um todo.

c) O professor como mediadorSer mediador ajudar o aluno a construir o conhecimento, passando a ele uma srie de informaes adequadas, explicando o que tem de ser explicado. Essas explicaes no se referem somente s lies de casa, mas aos trabalhos que os alunos realizam por iniciativa prpria como uma atividade especfica de aprendizagem. Quando o aluno erra ou no sabe como realizar uma tarefa, precisa ouvir do professor uma anlise dessa situao.21

d) O que fazer com o erroQuando o aluno erra ou no sabe como realizar uma tarefa no pode recomear do zero como no mtodo anterior, mas deve receber as explicaes necessrias de uma outra maneira. Para dar explicaes adequadas ao aluno, o professor deve saber abordar um problema de muitas maneiras, seguindo por caminhos alternativos.

e) A concepo de aprendizagemBaseia-se nas decises que o aluno toma levando em conta as explicaes adequadas que recebeu. Nesse caso, o aluno no aprende somente, mas aprende a aprender. medida que o aluno progride e tem mais autonomia vai sentindo que a presena do professor pode ser cada vez menor. Quanto mais cedo ele chegar autonomia ser melhor. O professor deve sempre acompanhar os seus alunos at o momento que sinta que podem andar por suas prprias pernas.

f) Avaliao: tudo serveTodas as atividades que o aluno faz servem como material para a avaliao e no para a finalidade somente de dar nota, mas para realizar um estudo interpretativo daquilo que o aluno fez. A avaliao tem como objetivo analisar as decises tomadas pelo aluno, do modo como fez e o que fez. Leva em conta a aprendizagem, a sua histria. O professor vai avaliar o caminho que o aluno est seguindo e a maneira como ele chegou quela determinada tarefa.

g) Caos e caminhos tortosOs professores so muito preocupados (at porque so muito cobrados) em cumprir o programa estabelecido. Se o processo de aprendizagem foi bem trabalhado o resultado no final ser eficaz.22

No incio, esse processo parece um verdadeiro "caos". Alunos realizando as atividades por contra prpria, pesquisas, textos espontneos e o professor acompanhando e assessorando o processo todo. Essa a sala que trabalha o mtodo da aprendizagem.

h) Fixao da aprendizagemA fixao da aprendizagem aqui diferente, pois se um aluno aprendeu algo ele no precisa mais "fixar" nada. Ele j aprendeu e o professor deve saber disso. E se j sabe, porque faz prova? claro que isso no acontece o tempo todo. Existem muitas coisas que devem ser ensinadas e at decoradas, pois as esquecemos durante o passar dos anos, mas sabemos como encontr-las, e isso tambm saber.

Atividades01. Como voc analisa o mtodo da aprendizagem? _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ "Acreditamos que o professor no pode e no deve confiar em uma metodologia especial, milagrosa, mas na sua experincia, fundamentada por sua competncia pedaggica. ele quem, observando seus alunos, refietindo sobre sua prtica e aprofundando seus conhecimentos sobre leitura e aprendizagem, pode compreender e atender s necessidades, s dificuldades e ao interesse de cada criana num dado momento".BARBOSA, Jos Juvncio. Alfabetizao e leitura. So Paulo : Coriez, 1994.

02. Qual a funo do professor que segue o mtodo da aprendizagem? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________

03. O que caracteriza a "competncia pedaggica" que o autor acima afirma? _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________23

Extrado da revista NOVA ESCOLA, v. 5, n. 41, ago. 1990.

04. Quais so as semelhanas e as diferenas sobre o que alfabetizar, nos trs textos acima? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________24

3. As Cartilhas"Vov viu a uva. A fita para Fifi. A macaca comia, comia. Por esse caminho suave, a criana ia percebendo pouco a pouco que a escrita que ela via podia ser transformada na fala que ela ouvia. Herana dos silabrios do sculo XIX, as cartilhas foram se multiplicando no tempo, concretizando e difundindo o modelo de leitura idealizado pelas metodologias tradicionais. Coerentes com os seus propsitos, os textos das cartilhas no tm sentido algum, nesse caso, o aprendiz no tem outra escolha, seno identificar slabas, identificando palavras. Desse modo, as cartilhas qualificam o aprendiz como leitor de letras".BARBOSA, Jos Juvncio.

Alfabetizao e leitura. So Paulo : Cortez, 1990.

Atividades01. Voc certamente aprendeu a ler e a escrever utilizando-se de uma cartilha. Que lembranas voc tem dela?______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 03. Aps refletir sobre o que diz Jos Juvncio Barbosa a respeito das cartilhas, que concluses voc tira?

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As cartilhas tiveram incio quando a imprensa veio facilitar a vida do homem moderno. Com o esprito renovador do Renascimento e a facilidade de se criarem cpias dos livros, um maior nmero de pessoas teve acesso ao conhecimento elaborado. A leitura dos grandes pensadores deixou de ser uma atividade coletiva para se tornar uma atividade individual. O livro atingiu um pblico cada vez maior. A partir do momento que o livro se tornou pblico nasceu a preocupao com a Alfabetizao e a primeira consequncia disso foi o aparecimento das cartilhas. Surgiram vrias mudanas no processo educativo, como as primeiras gramticas das lnguas nacionais. Era preciso estabelecer uma certa ordem, uma ortografia e ensinar o povo a ler e escrever na lngua nativa, e no mais em latim. Desejando alfabetizar todo o povo, JAN HUS (1374-1415) criou o "ABC de HUS": um conjunto de frases de cunho religioso, cada uma delas iniciando com uma letra diferente, na ordem do alfabeto. No sculo XVIII surgiram as primeiras gravuras das letras iniciais: a letra S tinha o desenho de uma cobra, a letra A a figura de uma escada e outras. Tambm JOO AMS COMENIUS (1592-1670) publicou em 1658 um livro de Alfabetizao no qual as lies vinham acompanhadas de gravuras para motivar as crianas a estudarem. SO JOO BATISTA DE .LA SALLE publicou em 1702 um regulamento para as escolas catlicas e atravs dele se pode perceber o procedimento de como se alfabetizava naquela poca: O ensino era dividido em lies: 1- lio: tbua do alfabeto". 2- lio: "tbua das slabas". 3- lio: silabrio. 4a lio: segundo livro (para aprender a soletrar). 5 lio: segundo livro (leitura para quem sabia silabar). 6- lio: terceiro livro (aprender a ler com pausas). O ensino da ortografia baseava-se na cpia de cartas-modelo e documentos comerciais. A leitura era destinada para as coisas religiosas enquanto que a escrita ao trabalho em sociedade. ROBERTO OWEL (1771-1858), um dos precursores do Socialismo, iniciou um tipo de escola especial para os filhos dos operrios que trabalhavam nas fbricas. Essas escolas se espalharam e se dedicaram ao ensino das crianas e nessa esteira FROEBEL (1782-1852) criou os "Jardins de Infncia". A Revoluo Francesa trouxe muitas novidades e uma delas foi a preocupao com o ensino das crianas e logo se introduziu a Alfabetizao no calendrio escolar. O ensino silbico passou a dominar o alfabtico e comeou a aparecer o mtodo do b-b-bi-b-bu. As crianas que frequentavam as escolas eram de uma classe privilegiada enquanto que os filhos dos pobres continuavam fora das escolas. Na Lngua Portuguesa, temos a cartilha de JOO DE BARROS (1496-1571). Este livro era usado tanto pelos adultos como pelas crianas e no precisava ser necessariamente usado na escola. Outra cartilha muito usada na poca foi a de ANTONIO FELICIANO DE CASTILHO, publicada em 1850.26

Uma cartilha muito famosa no Brasil foi a de JOO DE DEUS (1830-1896) que desenhava letras com destaque dentro das palavras, para chamar a ateno dos alunos. Depois dessas apareceram aquelas que privilegiavam o mtodo sinttico e o mtodo analtico (importncia maior na dcada de 30) quando entrou o uso da Psicologia. Um exemplo disso a Cartilha do Povo (1928) de Loureno Filho e o seu famoso Teste ABC (1934). Surgiram mais tarde os mtodos mistos que procuravam unir os dois modelos anteriores num s. Um exemplo o CAMINHO SUAVE (1948) de Branca Alves de Lima.

Nos anos 90 surgiram as cartilhas que se denominavam "construtivstas"se propondo a aplicaras pesquisas de Emlia Ferreiro e Ana Teberosky. At 1950, as cartilhas estavam baseadas na leitura. Isso era feito atravs de exerccios de decifrao e de identificao de palavras por meio das quais o aluno aprendia as relaes entre sons e letras. Havia um cuidado com a fala e a pronncia. Copiava-se muito. Quando as cartilhas passaram a ser baseadas na escrita, a escola se dedicou (depois dos anos 50) a alfabetizares alunos pobres. Agora a dificuldade estava na linguagem oral desses alunos que empregavam dialetos diferentes daqueles usados pela norma entendida como padro pela sociedade. A nfase passou a ser a produo escrita e no mais a leitura. O importante agora era escrever palavras ortograficamente corretas. Deixou de ser aprendizagem e passou a ser somente de ensino.Retirado de NOVA ESCOLA, n. 97, outubro, 1996.

No lugar do alfabeto apareceram as palavras-chave, slabas geradoras e os textos elaborados com palavras j dominadas.

As famlias de letras passaram a ser estudadas numa ordem crescente de dificuldades. A cartilha prometia sucesso, mas no foj bem assim que aconteceu. Surgiram as reprovaes. At o Ciclo Bsico, a mdia de reprovao atingia entre 30% at 50%, dependendo da regio brasileira. Reprovando vrios anos seguidos, muitos alunos abandonavam a escola e poucos chegavam ao sucesso. Isso mostrou o fracasso das cartilhas.27

Para os professores, as cartilhas eram esquemticas demais. Havia uma indicao de atividade que se tornava o modelo para todos esses exerccios. Alm do modelo proposto, os professores no tinham autonomia para criarem outras atividades. Os professores no sabiam como usar aqueles livros, era preciso orient-los. Foi assim que as cartilhas passaram a apresentar um "Manual do Professor". Para o professor so oferecidos os seguintes materiais de apoio: Livro do aluno - com leituras atraentes, desafios e conceitos para o aluno pensar e criar, ilustraes para o aluno colorir e, no final, quadro para o aluno recortar e trabalhar. Livro do Professor - inclui muitos recados para o professor, dando sugestes metodolgicas especficas e de enriquecimento das atividades, no prprio local onde se aplicam. Inclui o Manual do Professor encartado. Manual do Professor - aprofunda reflexes sobre a alfabetizao, apresenta fundamentos metodolgicos, estratgias para cada parte das lies e sugestes prticas para as aulas. Fita Cassete - com todas as canes presentes na Cartilha e no Manual, poder ser utilizada em sala de aula, enriquecendo o trabalho pedaggico.

Mas mesmo assim as reprovaes continuavam. Onde estavam as causas do fracasso? Se a cartilha era perfeita, o professor estava bem assessorado com o "Manual do Professor", ento a culpa era das crianas. Devia haver algo neles, alguma carncia, que fazia com que no aprendessem. Como nada estava dando certo foi-se buscar auxlio em outras esferas. A Psicologia comeou a fazer sucesso entre os meios acadmicos na medida em que explicou as causas das reprovaes e sugeriu aes que poderiam colaborar no processo de aprendizagem. A Psicologia, na nsia de ajudar, acabou transformando a escola num imenso laboratrio. Aplicaram-se testes, questionrios, exames, entrevistas e concluram que o problema da reprovao estava centrado nos pobres. Carentes de tudo: alimentao, sem estmulos, emoes conturbadas, sem poder aquisitivo algum e tudo o mais ... Para "ajudar" essas crianas carentes foi inventado o "perodo preparatrio" no qual as crianas seriam treinadas para certas habilidades at ficarem "prontas" para a Alfabetizao. Inventaram-se certas coisas estranhas para as crianas fazerem. Junte as partes e faa desenhos:

.

Pinte de azul o objeto que esta frente da aluna. Pinte de verde o objeto que esta direita da aluna. 28 Pinte de vermelho o objeto que esta esquerda da aluna.

1. Pinte a rvore mais baixa. Assinale com um x a rvore mais alta:e~i

2. Pine de amarelo a fruta que esta antes da peteca: Pine de vermelho a fruta que est depois da bola:

3. Pinte a fruta diferente:

Imaginar que as crianas pobres tm menos habilidades no deixa de ser um grande preconceito contra a pobreza. As crianas pobres aprendem muito fora da escola e, s vezes, at mais que as ricas e isso no falta de capacidade mental, perceptiva, motora ou emocional. A escola para no dizer que tem preconceito contra a pobreza comeou a inventar essas razes. A questo principal de linguagem, isto , a maneira de falar. Esses alunos so falantes de um dialeto que a escola no aceita ou considera errado.

Atividade- Analise estas afirmaes retiradas da Revista NOVA ESCOLA, ns 97, de outubro de 1996. "A maioria das novas cartilhas tem texto complexo e pode desmotivar as crianas que ainda no dominam a leitura e a escrita".Isabella Carpaneda, uma das autoras de "Porta de Papel".

"Embora a maioria das professoras ainda acredite que a nica maneira de alfabetizar usar a abordagem silbica, a nova forma rende muito mais e em dois ou trs meses a criana j est lendo e escrevendo".Vanda Garcia, autora de "Descobrindo a Vida".

"Elas no devem ser usadas pois tiram a liberdade de pensar e de agir do professor e do aluno".Maria Ceclia Guimares Prof PUC - So Paulo.

"No h mtodo certo ou errado... Os caminhos podem ou no ser adequados, de acordo com as habilidades do alfabetizados Para quem se prepara para o trabalho, qualquer mtodo trar bons resultados".Paulo Nunes de Almeida, autor de "Pipoca".

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Nos ltimos anos so grandes os avanos na aquisio da lngua, no entanto, na maioria das escolas ainda comum a adoo de uma cartilha como um instrumento imprescindvel para garantia da Alfabetizao, A crena de que a cartilha ou o livro didtco garantem a aprendizagem tem levado muitos professores a adot-los. Nestes livros, os seus autores guiam os professores sobre o modo como devem agir com este material. O procedimento didtico est estabelecido nas cartilhas, O contedo das cartilhas o mesmo, variando apenas na forma de apresent-lo e a concepo de linguagem que est presente, na grande maioria delas, sempre a mesma: um processo mecnico de decodificao da escrita baseado na memorizao e repetio. As atividades mais comuns apresentadas so:

Vrios exerccios mecnicos visando preparar o aluno para a escrita. So os "exerccios de prontido".

O que as cartilhas mais enfatizam com esses exerccios o treino, a repetio mecnica e a identificao de letras, slabas e palavras em exerccios enfadonhos e padronizados. A ideia que se tem que quanto mais repetir mais a criana ir aprender. Aquelas que conseguem aprender o fazem atravs do exerccio repetitivo por meio de cpias e treinos ortogrficos. Dessa maneira, a criana est sendo levada a dominar o sistema grfico e no a compreender a funo da escrita como expresso das ideias, da comunicao de ideias e de identificar a escrita dentro de sua funo social.30

As cartilhas usam de muitos expedientes comuns entre elas: Por exemplo: 1. As letras so apresentadas de diferentes maneiras:

2. As ilustraes que aparecem nas cartilhas carregam consigo muitos valores ideolgicos:Esta a famlia de Luciana.

Seu pai chama-se Leonardo. O nome de sua me jiia.

PROFISSESTodas as profisses so importantes. Cada um faz a sua parte, Todos so necessrios na construo de um mundo melhor. Mundo maravilhoso e cheio de harmonia

O irmo de Luciana Vtor. Eles formam uma famlia feliz, porque vivem sempre agradecendo a Deus por todas as coisas. A famlia de Luciana e Vtor vai crescer. Dona Jiilia est esperando um beb. Luciana e Vtor esto felizes porque vo ganhar um irmozinho.

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Alm disso, o pas apresentado como uma unidade nacional, sem diferenas lingusticas, sem dialetos... Em algumas cartilhas aparecem os valores machistas, racistas e conservadores. 3. O contedo apresentado nas cartilhas, principalmente os textos, no favorece a compreenso, pois enfatizam a mera identificao de palavras que juntas compem frases. Apresentam frases soltas, sem sentido, desarticuladas e desinteressantes. Ivo o beb. Bia cuida do beb. Bia a bab do Ivo. Leia: O cacau caiu do p. Caio deu o cacau ao Pupi. Pupi o macaco de Caio.

A moela mole? O miolo mole? Moema moa a moela. Mimi moeu o miolo.

Nesse tipo de encaminhamento o aluno levado letra por letra, slaba por slaba, tendo como objetivo apenas a fixao das slabas ou famlias silbicas.

Os textos apresentados possuem a clara inteno de levar o aluno a identificar as letras e slabas trabalhadas. So textos com o pretexto de identificar as famlias silbicas. Esses textos no foram produzidos com a inteno de dizer algo a algum e no veiculam nenhuma ideia. O que h na verdade um esvaziamento do contedo significativo da linguagem para evidenciar o trabalho com o cdigo grfico, isto , eles no esto contextualizados, no permitindo mencionar em que condies foram produzidos e com que finalidade. Sua linguagem artificial, pois no se dirige a um interlocutor determinado. Nesses textos o que se percebe claramente o aspecto material da linguagem (fonemas/grafemas) se sobrepondo ao trabalho com o sentido (significado). Essa viso de Alfabetizao se manifesta na grande maioria das propostas metodolgicas que apresentam uma excessiva preocupao na formao de habilidades para aquisio de automatismos de reconhecimento e reproduo, em detrimento do trabalho com as dimenses significativas da escrita. necessrio que o professor que prioriza o trabalho com o cdigo grfico reflita sobre essas questes.32

Os mtodosSintticos Parte das unidades menores (letras e slabas) para depois formar palavras e frases. Analticos Mistos Parte de uma viso Juno entre o sinttico global, para depois deter-se e o analtico, nos detalhes,

Das discusses sobre os mtodos de ensino da leitura e escrita surgiram vrios processos de Alfabetizao.

ProcessosFONTICO PALAVRAO SENTENCIAO/CONTOS ALFABTICO __ SILBICO

Abelhinha:basicamente fontico. Os sons das ie-trs so apresentados por meio de uma histria em captulos, e cada som corresponde letra inicial do nome do personagem ou de um elemento da histria. da palavra-chave com o pretexto da silabao. Centra a aprendizagem na visualizao desenho/letra.

Erasmo Pilotto: partede palavras-chave decompostas em sabas para estudo das famlias silbicas, composio de novas palavras e formao de sentenas.

Caminho Suave: parte Global: parte de cartazes de experincias para formar pequenas histrias. Depois do reconhecimento do perfil de algumas palavras, procede anlise fontica das slabas.

Casinha Feliz: utiliza fonao condicionada e repetida para memorizao das unidades sonoras, em histrias em captulos. Montessori: BASE FONTICA. Apresenta as vogais e suas combinaes de maneira individualizada.

Ldico: por meio de jogos e brincadeiras. Utiliza como material de apoio a cartilha "Pipoca". Parte da palavrachave, seguindo passos determinados. Natural: apresenta palavras do vocabulrio prprio do aluno. Parte da palavra procede sua decomposio em unidades sonoras e formao de novas palavras e frases.33

Nos processos sintticos pressupe-se que cada letra corresponde a um som. Alm disso, o desenvolvimento da escrita pouco explorado no perodo inicial da Alfabetizao. A criana no levada a perceber que nem sempre uma nica letra corresponde a um nico som ou vice-versa, e que as palavras so compostas de combinaes de letras. A nfase na reproduo de sons e slabas isoladas e na criao de frases estereotipadas, de acordo com os modelos apresentados. Nos processos analticos existe a preocupao com o trabalho em torno de palavras e textos de interesse dos alunos. Entretanto, esses so apenas pretextos para a explorao das famlias silbicas. Tanto os processos analticos como os sintticos entendem a linguagem escrita apenas como um conjunto de estruturas grficas a serem dominadas. Valorizam excessivamente a tcnica e a mecanizao, recaindo a nfase no ensino dos fonemas e grafemas, desconsiderando a atividade real de ler e escrever. Isso significa que a lngua s trabalhada enquanto cdigo. A aquisio da leitura e da escrita um processo bem mais complexo do que o simples exerccio de reconhecer e juntar letras, slabas, palavras e frases. necessrio entender a Alfabetizao como o processo pelo qual se vai dominar a linguagem escrita. "Mulheres e homens, somos os nicos seres que, social e historicamente, nos tornamos capazes de aprender. Por isso, somos os nicos para quem aprender uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lio dada. Aprender para ns construir, reconstruir, constatar para mudar, o que no se faz sem abertura ao risco e aventura do esprito".FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1997.

Atividades01. Repetir a "lio dada" e aprender, segundo Paulo Freire, so processos diferentes, Voc concorda?_______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________ _______________________________________________________________________A MA CA CA EST NO MATO.

SIM, A MACACA DO MATO M

QUINO. Toda a Mafalda. So Paulo : M. Fontes, 1993.

02. A que "nvel literrio" a personagem Mafalda se refere?

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4. As capacidades necessrias para a AlfabetizaoPara que uma pessoa possa aprender a ler e escrever, dominar a linguagem como veculo de ideias, existem alguns conhecimentos que ela precisa aprender. So saberes indispensveis que ajudam a dominar a lngua.

1. SmboloA primeira coisa que uma criana precisa saber o que representam aqueles traos escritos numa folha de papel, numa embalagem, num produto, num outdoor, ou em qualquer outro lugar. Para atingir tais conhecimentos no to simples quanto se parece para como quem j os incorporou h muitos anos ao seu saber. Observe que para entender que esses traos desenhados numa folha de papel so smbolos que representam sons da fala necessrio compreender o que um smbolo.

Para satisfazer as suas necessidades o homem produz instrumentos fsicos (ferramentas, mquinas, etc.) e simblicos (ideias, crenas, valores). por meio deles que o homem torna-se capaz de conhecer e de transformar o mundo que o cerca, expressar as suas ideias e estabelecer relaes com as pessoas com as quais convive. Pela necessidade de se comunicar de uma forma diferente do animal e que caracterize a sua espcie, o homem produziu a LINGUAGEM. Foi a linguagem que possibilitou ao homem ter a capacidade de fazer generalizaes e abstraes do mundo exterior, isto , ter a capacidade de operar na ausncia dos objetos. A abstrao uma fuga mental da realidade, sendo uma caracterstica plenamente humana. Portanto, tanto a conscincia como a linguagem humana so processos histricos, no so inatos no homem, no foi dado pela natureza, mas construdos ao longo de sua histria. Simbolizar significa que o homem capaz de representar na sua mente, por meio de imagens ou smbolos, objetos e fatos da realidade, e de operar com essas imagens ou smbolos, na ausncia .dos objetos ou fatos concretos. O smbolo a representao de um dado da realidade. E o homem capaz de distinguir o dado da realidade da sua representao simblica. O smbolo torna-se o elemento fundamental de operao do crebro humano, diferente do que ocorre com o animal, cujo crebro opera somente a partir de estmulos sensveis. Se observarmos o crebro, do ponto de vista biolgico, veremos que ele s capaz de uma conscincia sensorial, e portanto, embora ele seja necessrio, isso no suficiente para a produo do pensamento, ou seja, para pensar no basta ter crebro. preciso tambm que se tenham smbolos com os quais se vai operar.35

A criana para poder entender o mundo, comunicar-se com ele, interferir e deixarse entender, utiliza-se de diferentes linguagens, como o gesto, a fala, o desenho e tambm a escrita. Todas essas formas, juntamente com o jogo, constituem as suas formas de representao. O desenho, segundo Vygotsky, um simbolismo de primeira ordem, pois mantm caractersticas formais do objeto. O desenho a primeira representao grfica que uma criana usa. Portanto, o professor deve ter muita ateno para o desenho de uma criana, pois ela coloca a, toda a sua forma de interpretar o mundo e fazer-se entender. O desenho, mais do que traados livres, expressa conhecimento. Na Alfabetizao, a criana precisa fazer uma descoberta importante: a de que pode desenhar, alm de coisas, tambm a fala. J a escrita um simbolismo de segunda ordem. Representa a lngua oral Desenho da aluna Jssica. que, por sua vez, representa o pensamento. Para a criana que d seus primeiros passos para entender o processo da escrita, a ideia de smbolo no fcil de ser entendida, pois uma coisa smbolo de outra sem que nenhuma caracterstica sua seja semelhante a qualquer caracterstica da coisa que ela esteja simbolizando. Por exemplo:

Esses exemplos de smbolos e muitos outros, de uso em nossa vida, servem para ilustrar a ideia de que a relao entre o smbolo e a coisa que ele simboliza inteiramente arbitrria, ou seja, a razo da forma de um smbolo no est nas caractersticas da coisa simbolizada. Uma criana que ainda no consiga compreender o que seja uma relao simblica entre dois objetos no conseguir aprender a ler. "Smbolos assemelham-se a horizontes. Horizontes: onde se encontram eles? Quanto mais deles nos aproximamos, mais fogem de ns. E, no entanto, cercam-nos atrs, pelos lados, frente. So o referencial do nosso caminho. H sempre os horizontes da noite e os horizontes da madrugada... As esperanas do ato pelo qual os homens criaram a cultura quando nos detemos na contemplao dos seus triunfos tcnicos/prticos. Porque justamente no ponto que ele fracassou que brota o smbolo, testemunha das coisas ainda ausentes, saudade de coisas que no nasceram..."Rubem Alves. O que religio. So Paulo: Abril Cultural, 1984.

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A linguagem escrita uma representao, por isso importante para a criana saber o que representar. Para que isso seja atingido, o professor deve trabalhar a questo do smbolo desde o incio do processo de Alfabetizao. importante comentar que os homens vivem mediados pelos smbolos e a necessidade de saber us-los, conforme a conveno social que foi estabelecida, de suma importncia. Trabalhar, ento, os logotipos, marcas, os smbolos de convenes universais como os sinais de trnsito, placas de banheiro, bandeiras, hinos uma excelente estratgia para o professor levar o aluno a compreender que objetos, situaes e fatos podem ser representados por meio de smbolos, que se tornaram assim porque foram combinados entre os homens. No momento que o professor procura levar o aluno a compreender o que seja a representao, deve tambm proporcionar condies para que ele reflita sobre as diferentes formas de representao: os gestos, marcas, sinais, desenhos, etc...e no somente apresent-los. Deve deixar a criana refletir, descobrir, pesquisar, sem trazer a explicao pronta. O professor pode tambm trabalhar a ideia de que o smbolo relaciona-se com a ideia daquilo que ele representa e para isso no preciso que se recupere fisicamente a coisa representada. Usamos a mente para isso. Na linguagem oral e escrita, uma palavra escrita com poucas letras pode representar um objeto bem grande, por exemplo, "trem", "navio", e o contrrio tambm acontece, quando uma palavra com muitas letras representa um objeto bem pequeno, como "formiguinha", "telefone", "rabanete". O que pode ajudar o aluno a entender melhor tudo isso o teatro, as pequenas dramatizaes, brincadeiras de adivinhaes de gestos, de pesquisa sobre os logotipos, marcas, sinais de trnsito, etc. A prpria escola um espao que proporciona interessantes atividades, para isso: o professor poder propor aos alunos a criao de certos cdigos e a respectiva combinao do valor dos seus sinais para a sala de diretoria, banheiros, cantina, ptio, biblioteca, etc. O fato da criana entender, que a funo do smbolo representar, ir ajud-la a entender que a escrita tambm uma forma de representao. Uma forma de representao muito interessante e agradvel s crianas o gesto. A mmica uma forma de linguagem porque o gesto que foi feito representa alguma coisa. Criar atividades que levem a criana a: Interpretar uma mensagem atravs de gestos. Saber que os gestos so usados por todas as pessoas do mundo e entendidos por todas elas porque todos acabaram se tornando conhecidos. Fazer alguns gestos e interpretar o que eles significam (nome de filme, personagem infantil, atitudes cotidianas, etc...). Apresentar alguns desenhos que estejam fazendo gestos e pedir o que eles representam. Escrever no quadro algumas palavras e escrever no caderno ao lado do desenho correspondente. Interpretar a fisionomia das pessoas.37

Mostrar algumas expresses e pedir que as crianas interpretem.

"Mame, papai e o filho, foram passear no parque'

J comentamos sobre a importncia do desenho e o professor deve evitar de todas as maneiras indicar o seu modo de interpretar atravs de desenhos, a sua viso de mundo. Observe o desenho abaixo:

Atividade01. Que concluses voc tira observando esse desenho? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________38

Quando o aluno estiver trabalhando com as atividades que envolvam o desenho importante: Falar que as ideias tambm podem ser representadas atravs dos desenhos. Mostrar livros de literatura que tenham imagens para as crianas interpretarem. Mostrar revistas em quadrinhos e comentar as cenas em que os desenhos falam sem dizer nada. Pensar num fato que viveu recentemente e desenhar. Apresentar desenhos diferentes, mas que signifiquem a mesma coisa. Apresentar vrios smbolos e descobrir o seu significado. Copiar a palavra ao lado do desenho.

Em muitos lugares encontramos desenhos que representam alguma coisa. Para entender essa mensagem necessrio conhecer esse cdigo, isto , saber o que estes smbolos significam: Apresentar alguns smbolos convencionais e pedir aos alunos o seu significado. Apresentar um smbolo e dizer aos alunos que este desenho se transformou em cdigo porque as pessoas sabem o que ele significa. Podemos nos comunicar usando as cores como cdigo e que a conveno um sinal. Pedir aos alunos para pintarem as cores de um semforo de trnsito.

Mostrar as placas de trnsito e solicitar para que os alunos as interpretem. Mostrar a gravura de uma bandeira e o que ela representa. Apresentar alguns logotipos. So marcas que as empresas criam para serem reconhecidas e para que as pessoas identifiquem seus produtos.39

As equipes esportivas tambm possuem as suas marcas: os emblemas. Mostrar alguns smbolos para que as crianas os identifiquem.

Todas essas atividades so muito interessantes, porm devem ser trabalhadas juntamente com a escrita para que o aluno v estabelecendo a relao entre a oralidade e a escrita e entendendo a escrita como um sistema de representao. Trabalhar essas atividades sem esse sentido roubar da criana o tempo de aprender. Tambm importante conversar com os alunos sobre a necessidade dos homens possurem smbolos para se comunicarem. O homem consegue estabelecer contato com os outros porque utiliza cdigos, como a mesma lngua e que a fala a forma de comunicao mais usada. Quando falamos emitimos sons que combinados formam as palavras. Os sons da nossa fala tambm podem ser representados e essa representao se faz por meio da linguagem escrita.

2. Forma das letrasVamos ao segundo problema: as letras para quem ainda no se alfabetizou so aqueles traos pretos numa pgina branca. O aluno necessita entender que cada um daqueles traos vale como um smbolo de um som da fala. Assim, o aluno deve poder "discriminar a forma das letras". Observe a escrita abaixo e procure ler:

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Atividade- Imagine que voc esteja aprendendo a lngua da pgina anterior. Seria fcil para voc discriminar a forma de cada um desses sinais? Pois este o mundo daquele que ainda no se alfabetizou. Como voc, alfabetizado (a) se sentiria nesse mundo? ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ As letras do nosso alfabeto tm formas bastante parecidas, e por isso a capacidade de distingui-las exige por parte do aluno uma percepo mais apurada. Vejamos alguns exemplos: A letra p e a letra b diferem apenas na direo da haste vertical, colocada abaixo da linha de apoio ou acima dela. O b e o d diferem apenas na posio da barriguinha em relao haste. O p e o q diferem entre si por esse mesmo trao, isto , posio da barriguinha. Os objetos que usamos em todos os momentos no nosso dia-a-dia no se transformam se os mudarmos de posio. Uma cadeira, podemos deit-la, vir-la de cabea para baixo, etc, e isso no vai fazer com que ela deixe de ser uma cadeira, pois sempre ser vista como cadeira. Com um vaso a mesma coisa, mesmo que o viremos de cabea para baixo, ainda assim ser um vaso. Mas um b com haste para baixo vira p, e virado para o outro lado vira q. Do mesmo modo, na escrita manuscrita um n com uma corcova a mais vira um m. Um e alongado para cima passa a valer l e um a sem o seu cabinho passa a ser o o e assim por diante. So pequenas diferenas que determinam a distino entre as letras do alfabeto. A criana que no tiver conscincia dessas percepes visuais ter muitas dificuldades para aprender a ler.

3. Percepo auditivaO terceiro problema para o aluno a conscientizao da percepo auditiva. Se as letras simbolizam sons da fala preciso saber ouvir diferenas lingisticamente relevantes entre esses sons, de modo que se possa escolher a letra certa para simbolizar cada som. A diferena sonora entre as palavras p e f est apenas na qualidade da consoante inicial: o [p] uma consoante oclusiva, enquanto o [f] fricativa. As palavras toca e doca, tia e dia, distinguem-se por uma outra caracterstica de suas consoantes iniciais, a consoante [t] anunciada com voz, enquanto que a consoante [d] anunciada sem voz. As palavras vim e vi tm como nica diferena de pronncia: o trao da nasalidade da vogal.41

claro que s ter a capacidade de escrever aquele que tiver a capacidade de perceber as unidades sucessivas de sons da fala utilizadas para enunciar as palavras e distingui-las conscientemente umas das outras.

4. A palavraO quarto problema para o alfabetizando captar o conceito "palavra". A unidade palavra muito natural e no constitui problema para aqueles que j dominam a escrita. Dificilmente algum que j sabe como funciona o sistema de escrita escreva: aa sada Tina p quena (a casa da Tina pequena). A criana que escreve assim no tem noo clara ainda do que seja uma palavra. Nos textos dos alunos surgem expresses como: "minhaamiga", "umavez", "eucaseicoela", "mimato". Essa justaposio acontece onde deveria existir uma fronteira vocabular. mais raro o procedimento contrrio, isto , segmentar indevidamente, por exemplo "e r", "a mora" Em palavras femininas que comeam com [a] - minha miga, ou com palavras masculinas que comeam com [u] - o niverso, surgem os exemplos mais comuns.

5. Organizao da pginaOutro saber que precisa ser estabelecido logo no incio do trabalho da Alfabetizao a compreenso da organizao espacial da pgina. Em nosso sistema de escrita a ideia de que a ordem significativa das letras da esquerda para a direita na linha e que a ordem significativa das linhas de cima para baixo na pgina. A organizao espacial da pgina precisa ser ensinada, pois desse conhecimento decorre a maneira muito particular de efetuar os movimentos dos olhos na leitura. A maneira de olhar uma pgina de texto escrito muito diferente da maneira de olhar uma figura ou uma fotografia. Portanto, mesmo antes de iniciar a aprendizagem da leitura e da escrita o aluno necessita ter vrios conhecimentos. O professor deve estar atento a isso, e abordar com seus alunos vrios desses saberes indispensveis.42

Algumas atividades podero ajudar os alunos a resolverem esses problemas: a) A lngua Mostrar s crianas diferentes tipos de escrita: chinesa, rabe, grega, etc. Comentar que para aprender a escrever a lngua chinesa, tem que falar chins. Caso uma pessoa fale a lngua pode-se tentar ler o que est escrito. importante para a criana saber que est escrito uma palavra e no outra. Essas atividades ajudam-na a refletir sobre a escrita.

MNP N GPATCTBO MEXAY BCEMN

b) Sistemas de escrita O professor pode mostrar para as crianas diferenciarem um desenho de uma figura ou desenho abstrato e um texto escrito. Enquanto o desenho representa algo do mundo ou relativo a ele, um objeto, pessoa, paisagem, a escrita representa a linguagem oral, uma palavra. c) O alfabeto No h como iniciar o processo de aprendizagem da leitura e da escrita sem que a criana conhea o alfabeto, a histria da escrita e histria do alfabeto com o respectivo significado de cada letra. O alfabeto formado por letras e cada uma delas tem um nome, que lhe foi dado para indicar um dos possveis sons que ela pode ter. d) As letras As letras so unidades do alfabeto que representam sons que formam as palavras. importante os alunos perceberem as variedades com que uma letra pode ser escrita: grfica maiscula e minscula e cursiva, maiscula e minscula. e) Forma grfica das letras Alm das letras acima citadas, cada uma delas, por sua vez, possui muitas outras formas de ser escrita. Apesar de diferentes formas grficas uma letra permanece sempre a mesma, pois exerce a mesma funo no sistema de escrita. interessante fazer uma pesquisa em jornais, revistas, embalagens, os diferentes tipos de escrita que uma letra pode ter.43

f) Valor funcional das letras As letras podem variar graficamente, mas tm valores funcionais fixados pela histria das letras, pelo processo de adaptao de uma certa lngua e pela ortografia das palavras. No d para colocar uma letra em qualquer lugar da palavra. Cada uma delas tem a sua funo dentro da palavra. g) A ortografia Embora o trabalho do professor alfabetizador seja de alfabetizar os seus alunos, ele nunca deve deixar de lado, ou "para mais tarde", a ortografia das palavras. Os seus alunos tm o direito de conhecer a ortografia. O que ajuda muito os alunos saber como a ortografia congelou as palavras e que ela no segue as transcries fonticas. A ortografia tambm permite a leitura, isto , que a escrita de diferentes dialetos possam ser entendidos por todos aqueles que a usam. Uma maneira de alfabetizar partir da escrita ortogrfica para a decifrao da linguagem, atribuindo valores fonticos s letras do que analisar a fala e chegar forma ortogrfica da palavra. As relaes entre letras e sons so mais fceis do que entre sons e letras. mais fcil decifrar e ler do que escrever. h) O "princpio acrofnico" Desde o primeiro alfabeto existe esse princpio. O nome das letras traz, no princpio, o som mais caracterstico que a letra representa no sistema de escrita. Esse princpio um conjunto de regras que usamos para decifrar os valores sonoros. Num primeiro momento atribui-se a cada letra o som que dado pelo seu nome. Depois somamos os sons para descobrir a palavra que est escrita. O princpio acrofnico a ferramenta mais importante para realizar a tarefa de decifrao da escrita. Quem conhece e domina esse princpio se alfabetiza. i) O nome das letras Nosso alfabeto composto por 26 letras: a, b, c, d, , efe, g, ag, i, jota, c, ele, eme, ene, , p, qu, erre, esse, t, u, v, dablio, xis, ipsilon, z. j) Princpio de leitura Para conhecer o princpio da leitura o aluno deve conhecer as relaes entre letras e sons. Para saber que som uma letra tem preciso relacion-ia com seu nome e depois estudar o contexto em que ela ocorre (as letras que vm antes e depois) para saber se existe alguma regra especfica que modifique o som bsico. Exemplo: o "s" entre duas vogais tem o som de z (casa, mesa). C, antes de a, o, u tem o som de ka e no de c (cavalo, cobre, cubo, cela, cip). Mesmo com esse conhecimento, o professor deve estar atento tambm para o dialeto do leitor. Existem, portanto, regras que controlam os valores fonticos que as letras podem ter numa lngua. indispensvel conhecer essas relaes.44

k) Princpio de escrita Nas relaes entre as letras e os sons existem muitas possibilidades para se escrever uma palavra:

POTE POTI POCHI POCTH

POTE

Para escrever as palavras existem muitas possibilidades: pote, poti, pochi, poch, mas deve-se acabar escolhendo apenas uma delas, aquela que foi estabelecida pela ortografia. Aprender a escrita baseado na ortografia, para se chegar fala partindo das letras para chegar aos sons o caminho mais fcil. O aluno pode ver escrito PLACA e ler PRAA aplicando seus conhecimentos bsicos das relaes entre letras e sons e depois adaptar o resultado final pronncia do seu dialeto. Caso queira escrever xeque, dar ao x o som ch, pois o x, em incio de palavra, sempre leva o som de ch. Partindo da fala, levando-se em conta o dialeto, para a escrita, indo dos sons para as letras, o caminho diferente, pois no adianta saber que em incio de palavra o x sempre leva o som ch, pois dependendo da palavra esse som tambm pode ser escrito por ch. Ao ouvir as palavras abaixo o aluno dever escolher com que letra dever escrever:X - XEQUE CH-C HEQUE I) Ordem das letras na escrita

Para aprender a ler preciso saber em que direo a escrita vai. Em nosso sistema de escrita vai da esquerda para a direita porque as letras tambm seguem a mesma ordem. Algumas crianas confundem isso e acabam escrevendo as letras (principalmente as arredondadas) de uma forma espelhada, pois o movimento da mo da esquerda para a direita. Nesse modo de escrever, vai da direita para a esquerda quando a forma correta da esquerda para a direita.

"Papai Noel me traga um presento" (Jlia - 5 anos).

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m) Fatores da leitura e da escrita Outro dado importante para se trabalhar com os alunos o reconhecimento da linearidade da leitura e da escrita. Quando falamos existem muitos fatores como os elementos segmentais, as vogais e as consoantes e os elementos prosdicos, entonao, ritmo, volume, velocidade, durao, nasalidade, acento, qualidade de voz, etc., todos ao mesmo tempo e variando a cada momento. J na escrita existem outros fatores. Representamos as vogais e as consoantes e depois colocamos sinais de pontuao, acentos e as pausas entre as palavras. A fala e a escrita tm muitas diferenas e no h uma correspondncia direta entre o que se escreve e o que a escrita representa da fala. A escrita somente d indicaes que permitem a leitura. O leitor, como conhecedor da lngua, que deve tirar do texto as informaes. n) A palavra Quando falamos difcil definir o que uma palavra, j na escrita isso se torna mais fcil. Palavra um conjunto de letras separado por um espao em branco. A decifrao comea a fazer sentido com o entendimento do que uma palavra. O fato da escrita separar as palavras por espaos em branco ajuda muito. o) Escrita alm de letras No so somente as letras que se escreve. Alm das letras, a escrita usa sinais de pontuao, acentos e outras marcas, que preciso conhecer. Quando o leitor desconhece esses elementos, se confunde. p) A fala e a escrita No procedimento da escrita nem tudo o que aparece na fala tem uma representao grfica na escrita. O leitor reflete sobre o procedimento que deve ter para decifrar a escrita e sobre a sua fala e para isso cria expectativas sobre o que vai encontrar na escrita comparada com a fala. Nem todas as caractersticas sonoras da linguagem oral tm sua representao grfica correspondente. No sistema alfabtico, as letras representam apenas os segmentos fonticos, as unidades chamadas de vogais e consoantes, pois so as unidades constitutivas das slabas das palavras. Na prtica, as vogais so facilmente percebidas e para isso basta prolongar a prpria slaba: saaaaalaaaadaaaa (salada) e as consoantes pelos movimentos articulados da boca: sa-sa-sa-sa-la-la-lada-da-da J os elementos prosdicos no tm nenhuma representao grfica. O professor deve explicar ao aluno o que ler com entonao e ritmo. q) Escrita e a transcrio fontica O alfabeto no foi criado com a inteno de se fazer transcries fonticas. Isso acontece quando se deixa de lado a ortografia. Os valores das letras foram estabelecidos em funo da ortografia da lngua e da fala dos dialetos e no em funo das maneiras diferentes do homem falar e de todos os dialetos do mundo. MULH (mulher) PRANETA (planeta) SOU (sol) CURAIVA (com raiva) JOELIO (joelho) VAMU (vamos) MIOCA (minhoca) RAPAIZ (rapaz) EITAU (ento) Os alunos podem achar que o alfabeto serve apenas para escrever os sons da maneira da transcrio fontica e isso s atrapalha tanto na escrita como na leitura. Para que eles possam trabalhar bem indispensvel mostrar todas as possibilidades de uso do alfabeto.46

r) O professor O segredo da Alfabetizao saber decifrar a escrita e isso que o professor deve ter sempre em mente. Ele faz muitas coisas, mas a mais importante ensinar a ler. Para tanto deve ter conhecimentos necessrios para que algum saiba ler de modo slido e competente, conhecendo profundamente o funcionamento da escrita e da decifrao e como a escrita e a fala se relacionam. Ele deve saber o que fazer em cada situao, que problemas o esperam pela frente e como resolv-los. Os mtodos e tcnicas so apenas ferramentas que ajudam em poucos casos e atrapalham em outros e deve-se fugir de quem apresenta solues mgicas. Quem passou muitos anos numa sala de aula ensinando tem uma experincia muito importante. Deve-se estudar Lingustica ou outras reas, como Neurolingstica, Fonologia, etc, e estudar os sistemas de escrita. Refletir sobre os usurios da Lngua Portuguesa e dos mecanismos da fala, escrita e leitura e quais os seus usos.

Atividades"Quando uma criana escreve tal como acredita que poderia ou deveria escrever certo conjunto de palavras, est nos oferecendo um valiosssimo documento que necessita ser interpretado p