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01 FOLHA DIOCESANA DE GUARULHOS - setembro 2018 ORIENTAÇÃO POLÍTICA “Alegres por causa da esperança.” Rm 12, 12 Os Cristãos e as Eleições 2018

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01FOLHA DIOCESANA DE GUARULHOS - setembro 2018

ORIENTAÇÃOPOLÍTICA

“Alegres por causa da esperança.”

Rm 12, 12

Os Cristãos e as Eleições 2018

Nós, bispos católicos do Brasil, conscientes de que a Igreja “não pode nem deve fi car à margem na luta pela justiça” (Papa Bento XVI – Deus Cari-tas Est, 28), olhamos para a realidade brasileira com o coração de pastores, preocupados com a defesa integral da vida e da dignidade da pessoa humana, especialmente dos pobres e excluídos. Do Evangelho nos vem a consciência de que “todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a preocupar--se com a construção de um mundo melhor” (Papa Francisco – Evangelii Gaudium, 183), sinal do Reino de Deus.Neste ano eleitoral, o Brasil vive um momento complexo, alimentado por uma aguda crise que abala fortemente suas estruturas democráticas e com-promete a construção do bem comum, razão da verdadeira política. A atual situação do País exige discernimento e compromisso de todos os cidadãos e das instituições e organizações res-ponsáveis pela justiça e pela constru-ção do bem comum. Ao abdicarem da ética e da bus-ca do bem comum, muitos agentes públicos e privados tornaram-se prota-gonistas de um cenário desolador, no qual a corrupção ganha destaque, ao revelar raízes cada vez mais alastradas e profundas. Nem mesmo os avanços em seu combate conseguem conven-cer a todos de que a corrupção será defi nitivamente erradicada.

Cresce, por isso, na população, um pe-rigoso descrédito com a política. A esse respeito, adverte-nos o Papa Francisco que, “muitas vezes, a própria política é responsável pelo seu descrédito, devi-do à corrupção e à falta de boas políti-cas públicas” (Laudato Sì, 197). De fato, a carência de políticas públicas consis-tentes, no país, está na raiz de graves questões sociais, como o aumento do desemprego e da violência que, no campo e na cidade, vitima milhares de pessoas, sobretudo, mulheres, pobres, jovens, negros e indígenas.

Além disso, a perda de direitos e de conquistas sociais, resultado de uma economia que submete a política aos interesses do mercado, tem aumen-tado o número dos pobres e dos que vivem em situação de vulnerabilidade. Inúmeras situações exigem soluções urgentes, como a dos presidiários, que clama aos céus e é causa, em grande parte, das rebeliões que ceifam mui-tas vidas. Os discursos e atos de into-lerância, de ódio e de violência, tanto nas redes sociais como em manifesta-ções públicas, revelam uma polariza-

ção e uma radicalização que produzem posturas antidemocráticas, fechadas a toda possibilidade de diálogo e conci-liação. Nesse contexto, as eleições de 2018 têm sentido particularmente im-portante e promissor. Elas devem ga-rantir o fortalecimento da democracia e o exercício da cidadania da popula-ção brasileira.

Constituem-se, na atual conjun-tura, num passo importante para que o Brasil reafi rme a normalidade de-mocrática, supere a crise institucional vigente, garanta a independência e a autonomia dos três poderes constitu-ídos – Executivo, Legislativo e Judiciá-rio – e evite o risco de judicialização da política e de politização da Justiça. É imperativo assegurar que as eleições sejam realizadas dentro dos princípios democráticos e éticos para que se res-tabeleçam a confi ança e a esperança tão abaladas do povo brasileiro. O bem maior do País, para além de ideologias e interesses particulares, deve condu-zir a consciência e o coração tanto de candidatos, quanto de eleitores. Nas eleições, não se deve abrir mão de princípios éticos e de disposi-tivos legais, como o valor e a importân-cia do voto, embora este não esgote o exercício da cidadania; o compromis-so de acompanhar os eleitos e partici-par efetivamente da construção de um país justo, ético e igualitário; a lisura do processo eleitoral, fazendo valer as leis que o regem, particularmente,

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ELEIÇÕES 2018: COMPROMISSO E ESPERANÇA

MENSAGEM DA 56ª ASSEMBLEIA GERAL DA CNBB AO POVO BRASILEIRO

“Continuemos a afi rmar a nossa esperança, sem esmorecer.” (Hb 10,23)

A atual situação do País exige discernimento e compromisso de

todos os cidadãos e das instituições organizações

responsáveis pela justiça e pela construção do bem comum.

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a Lei 9840/1999de combate à corrupção eleitoral mediante a comprade votos e o uso da máquina administrativa, e a Lei 135/2010, conhecida como “Lei da Fi-cha Limpa”, que torna inelegível quem tenha sido condenado em decisão proferida por órgão judicial colegiado. Neste Ano Nacional do Laica-to, com o Papa Francisco, afi rmamos que “há necessidade de dirigentes políticos que vivam com paixão o seu serviço aos povos, (…) solidários com os seus sofrimentos e esperanças; po-líticos que anteponham o bem comum aos seus interesses privados; que não se deixem intimidar pelos grandes poderes fi nanceiros e midiáticos; que sejam competentes e pacientes face a problemas complexos; que sejam abertos a ouvir e a aprender no diálogo democrático; que conjuguem a busca da justiça com a misericórdia e a re-conciliação” (Mensagem aos partici-pantes no encontro de políticos cató-licos – Bogotá, Dezembro-2017). É fundamental, portanto, co-nhecer e avaliar as propostas e a vida

dos candidatos, procurando identifi car com clareza os interesses subjacen-tes a cada candidatura. A campanha

eleitoral torna-se, assim, oportuni-dade para os candidatos revelarem seu pensamento sobre o Brasil que

queremos construir. Não merecem ser eleitos ou reeleitos candidatos que se

rendem a uma economia que coloca

o lucro acima de tudo e não assumem o bem comum como sua

meta, nem os que propõem e defen-dem reformas que atentam contra a

vida dos pobres e sua dignidade.São igualmente reprováveis candida-

turas motivadas pela busca do foro privilegiado e outras vantagens.

Reafi rmamos que “dos agentes políti-cos, em cargos executivos, se exige a conduta ética, nas ações públicas, nos contratos assinados, nas relações com os demais agentes políticos e com os poderes econômicos” (CNBB – Doc. 91, n. 40 – 2010). Dos que forem elei-tos para o Parlamento espera-se uma ação de fi scalização e legislação que não se limite à simples presença na bancada de sustentação ou de oposi-ção ao Executivo (cf. CNBB – Doc. 91, n. 40– 2010). As eleições são ocasião para os eleitores avaliarem os candi-datos, sobretudo, os que já exercem mandatos, aprovando os que honra-ram o exercício da política e reprovan-do os que se deixaram corromper pelo poder político e econômico. Exortamos a população brasi-leira a fazer desse momento difícil uma oportunidade de crescimento, abando-nando os caminhos da intolerância, do desânimo e do desencanto. Incentiva-mos as comunidades eclesiais a assu-mirem, à luz do Evangelho, a dimensão

política da fé, a serviço do Reino de Deus. Sem tirar os pés do duro chão da realidade, somos movidos pela es-perança, que nos compromete com a superação de tudo o que afl ige o povo. Alertamos para o cuidado com fake news, já presentes nesse período pré--eleitoral, com tendência a se prolifera-rem, em ocasião das eleições, causan-do graves prejuízos à democracia. O Senhor “nos conceda mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres” (Papa Francisco – Evangelii Gaudium, 205). Nossa Senhora Apa-recida, Padroeira do Brasil, seja nossa fi el intercessora.

Aparecida – SP, 17 de abril de 2018.

Cardeal Sergio da RochaArcebispo de Brasília – DF

Presidente da CNBB

Dom Leonardo SteinerBispo auxiliar de Brasília-DF

Secretário-geral da CNBB

Dom Murilo Sebastião Ramos KriegerArcebispo São Salvador da Bahia

Vice-Presidente da CNBB

há necessidade de dirigentes políticos que vivam com paixão o seu serviço aos povos, solidários

com os seus sofrimentos e esperanças; políticos que

anteponham o bem comum aos seus interesses privados.

a Lei 9840/1999a Lei 9840/1999de combate à de combate à corrupção eleitoral corrupção eleitoral mediante a compramediante a comprade votos e o uso da de votos e o uso da

o lucro acima de tudo e não o lucro acima de tudo e não assumem o bem comum como sua assumem o bem comum como sua

meta, nem os que propõem e defen-meta, nem os que propõem e defen-dem reformas que atentam contra a dem reformas que atentam contra a

São igualmente reprováveis candida-São igualmente reprováveis candida-turas motivadas pela busca do foro turas motivadas pela busca do foro

Reafi rmamos que “dos agentes políti-Reafi rmamos que “dos agentes políti-cos, em cargos executivos, se exige a cos, em cargos executivos, se exige a conduta ética, nas ações públicas, nos conduta ética, nas ações públicas, nos

FOLHA DIOCESANA DE GUARULHOS - setembro 201804

Desde o Papa Pio XII até hoje, os Pontífi ces que se sucederam referiram--se sempre à política como “nobre for-ma de caridade”. Poderia ser traduzi-do também como serviço inestimável de dedicação para a consecução do bem comum da sociedade. A política é antes de mais serviço; não é serva de ambições individuais, de prepotência de facções e de centros de interesses. Como serviço, nem sequer é dona, pretendendo regular todas as dimen-sões da vida das pessoas, recorrendo até a formas de autocracia e totalitaris-mo. E quando falo de autocracia e de totalitarismo não estou a falar do sécu-lo passado, mas sim de hoje, do mun-do de hoje, e talvez também de alguns países da América Latina. Poderíamos afi rmar que o serviço de Jesus — que veio para servir e não para ser servido — e o serviço que o Senhor exige dos seus apóstolos e discípulos é por ana-logia o tipo de serviço que se pede aos políticos. Trata-se de um serviço de sacrifício e de dedicação, a ponto que por vezes os políticos podem ser con-siderados “mártires” de causas pelo bem comum das suas nações. O ponto de referência funda-mental deste serviço, que requer cons-tância, engajamento e inteligência, é o bem comum, sem o qual os direitos e as mais nobres aspirações das pes-soas, das famílias e dos grupos in-termediários em geral, não poderiam realizar-se plenamente, porque viria a faltar o espaço organizado e civil no qual viver e trabalhar. É de certa forma o bem comum concebido como clima

de crescimento da pessoa, da famí-lia, dos grupos intermediários. O bem comum. O Concílio Vaticano ii defi niu o bem comum, segundo o património da Doutrina Social da Igreja, como «o conjunto das condições de vida social que permitem aos indivíduos, famílias e associações alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição» (Gau-dium et spes, 74). É claro que não se deve contra-por o serviço ao poder — ninguém quer um poder impotente! — mas o poder deve estar ordenado para o serviço a fi m de não degenerar. Isto é, qualquer poder não ordenado para o serviço degenera. Naturalmente não me estou

a referir à “boa política”, na acepção mais nobre do seu signifi cado, nem se-quer às degenerações daquela a que chamamos “politiquice”. «Para estabe-lecer uma vida política verdadeiramen-te humana — ensina ainda o Concílio — nada melhor do que fomentar sen-timentos interiores de justiça e bene-volência e serviço do bem comum e reforçar as convicções fundamentais acerca da verdadeira natureza da co-munidade política, bem como do fi m, reto exercício e limites da autoridade»

(Ibid., 73). Estai certos de que a Igreja católica «louva e aprecia o trabalho de quantos se dedicam ao bem da nação e tomam sobre si o peso de tal cargo, ao serviço dos homens» (Ibid., 75). É necessário que os leigos ca-tólicos não permaneçam indiferentes à vida pública nem fechados nos seus templos, nem sequer que esperem as diretrizes e as recomendações eclesiais para lutar a favor da justiça, de formas de vida mais humanas para todos. «Não é o pastor que deve dizer ao leigo o que fazer e dizer, ele sabe tanto e melhor que nós. Não é o pastor que deve estabele-cer o que os fi éis devem dizer nos diver-sos âmbitos. Como pastores, unidos ao nosso povo, faz-nos bem perguntar-nos como estamos a estimular e a promo-ver a caridade e a fraternidade, o desejo do bem, da verdade e da justiça. Como podemos fazer para que a corrupção não se aninhe nos nossos corações». Até nos nossos corações de Pastores. E, ao mesmo tempo, faz-nos bem ouvir com muita atenção a experiência, as re-fl exões e as preocupações que podem partilhar connosco os leigos que vivem a sua fé nos diversos âmbitos da vida social e política.

BOGOTÁ 1 - 3 DE DEZEMBRO DE 2017

Para estabelecer uma vida política verdadeiramente humana,

nada melhor do que fomentarsentimentos interiores de justiça

e benevolência e serviço do bem comum.

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO

AOS PARTICIPANTES NO ENCONTRO DE POLÍTICOS CATÓLICOS ORGANIZADO PELO CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO (CELAM)

E PELA PONTIFÍCIA COMISSÃO PARA A AMÉRICA LATINA (CAL)