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8 MARCOS DETERMINANTES DAPESQUISAAGROPEl:{J1\RIA BRASILEIRA NiI ton de Bri to Caval canti * RESUM) A evolução das insti tuições de pesquisas agro- pecuária no Brasil está caracterizada por maroos determi nantes, que direcionaram todo o processo de geração de tecnologia agrícola no país. Da criação do Jardim Botâni co à da EMBRAPA, o proce~so monodisciplinar predominou e os problemas de abastecimento e o crescimento da popu l e- ção limitaram a exportação de produtos agrícolas, que os investimentos na agricultura não foram suficientes pa ra elevar a produção. Isso levou a mudanças no rumo da po Lf ti ca agrícola, com inves timentos na geração de tecno logias. Assim, a pesquisa agIopecuária brasileira passoü a ter uma nova orientação, em que a abordagem teórica é a interdis ciplinariedade. *t-Estrando em Extensão Rural - Departamento de Economia Rural.

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    MARCOSDETERMINANTESDAPESQUISAAGROPEl:{J1\RIABRASILEIRA

    NiI ton de Bri to Caval canti *

    RESUM)A evolução das insti tuições de pesquisas agro-

    pecuária no Brasil está caracterizada por maroos determinantes, que direcionaram todo o processo de geração detecnologia agrícola no país. Da criação do Jardim Botânico à da EMBRAPA,o proce~so monodisciplinar predominou eos problemas de abastecimento e o crescimento da popu l e-ção limitaram a exportação de produtos agrícolas, já queos investimentos na agricultura não foram suficientes para elevar a produção. Isso levou a mudanças no rumo dapoLf ti ca agrícola, com inves timentos na geração de tecnologias. Assim, a pesquisa agIopecuária brasileira passoüa ter uma nova orientação, em que a abordagem teórica éa interdis ciplinariedade.

    *t-Estrando em Extensão Rural - Departamento de EconomiaRural.

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    MARCOS DETERMINANTES DA PESQUI5!\.AGROPEX:UARIA BRASn.EIRASegundo RODRIGUES (1987), o primeiro marco ins-

    tituciooal de pes

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    dos de fora. E, embora algumas resistissem, o controle orçamentário, decor:ente da crise fiscal e da centralizaçãõde recursos nas maos do Governo Federal, acabou impondo,via convênio,uma nova divisão de trabalho para o setor depesquisa agrícola do País, através dos produtos em que oscentros terminavam por especializar-se, através de maiorintegração com os centros internacionais, via programasde aperfeiçoamen to de seus técni cos .

    Segundo SILVA (1985), esta periodização da his-tória das instituições de pesquisa agrícola reflete umponto fundamental de inflexão na dinâmica da geração detecnologia agropecuária no Brasil, que é o segundo pós-guerra, Nas duas primeiras e t.aoas , a pesquis a agrí cola noBrasil refletia fundamentalmente os interesses dos gruposnacionais hegemôni cos - primeiro os grandes fazendei rosde café e, depois da crise de 29, os setores agroindus-triais ligados ao protessamen to de matéri as-primas de origem agrícola. A tarefa básica do EStado nesses períodos,-no que se refere à pesquisa agrícola, era o desenvolvimento de inovações agronômi cas (práticas e métodos de manejõadequados às condições tropicais) e biológicas (adaptaçãode novas plantas e variedades às necessidades dos proces-sos de transformação industrial).

    A pesquisa agropecuária que se desenvolveu atéo final da Segunda Guerra estava diretamente orientada para a resolução dos problemas concretos e especificos dosgrandes proprietários fundiários e das indústrias proces-s adoras de matérias-primas agrícolas. Sua caracteristicaera basi camente exoe.r í.men t al, e, por isso, quase não se podia dissociar a etapa de "geração" da "difusão", tal a u':-nidade que lhe conferia o caráter de "instituição públicade ·prestação de serviços" aos agricultores, ou se; a, nãohavia clara divisão de trabalho entre as instituições ge-radoras e as que difundiam a tecnologia (SILVA, 1985).

    Na fase inicial do desenvolvimento da pesquisaagrícola nacional, seu processo monodisciplinar foi, se-gundo SCHAUN(1984), o divisor histórico da pesquisa agrícola no Brasil. -

    Os fatores que levaram a pesquis a agrícola na-cional a adotar uma postura monodisciplinar em sua fase inicial podem ser entendidos, segundo PASTORE(1977) ,pelaSóticas econômica, psicológica e sociológica, como conpo-nentes fundamentais da criatividade desenvolvida pelospesquisadores.

    leste contexto, ALVESe PASTORE(1977},analisando a pesquisa agrícola no Brasil, perceberam que o trab~lho de HAYAMIe RUTTAN(1971) estimulou a literatura so-bre os aspectos econômicos e insti tucionais de pesquisa.A

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    base desse trabalho foi pesquisa agrícola como uma atividade induzida por forças -e conômicas e s oci ais, em parti=cular pelo preço relativo dos fatores de produção e porumprocesso dialético de pressão dos agricultores sobreos pesquis adores.

    HAYAMIe RUTTAN(1971) destacam,neste trabalho,as forças econômicas, como as grandes determinantes dodesenvolvimento do sistema de pesquisa, e a importânciada interação íntima e contínua entre agricultores e pes-quisadores, levando a pesquisa a tomar uma forma pró-oria, que pode ser entendida como reflexo de um complexosistema de forças econômicas e sociais.

    No Brasi 1, a inovação induzida parecia não reaLí zar+s e apesar de o País ter em abundância terra e mãa=de-obra. A pesquisa que vinha se desenvolvendo já apre-sen tava a atuação dos f atores de produção como f-orças capazes de induzir a atividade da pesquisa, pr í.n c.í.p a Írn entepelos resultados alcançados no EStado de Sao Paulo, ondeo crescimento da produção agrícola veio através da utilização de tecnologias biológicas e químicas. t€sse EStado";"'a escassez relativa de terra e trabalho já exercia asfunções de indutores da pesqui sa (ALVESe PASTaRE,1985).

    No restante do País, não havia tendência de investimentos na pesquisa que pudesse gerar tecnologia pa=ra parcela maior dos produtores, principalmente os pequenos produtores, até então marginalizados.Os fatores deprodução, por excelênci a abundantes, não demonstr avamqualquer indução para uma demanda por tecnologia e asinstituições de pesquisa não tinham sua oferta pressionada. -

    ESsas características da pesquisa,do modelodis ciplinar,n es ta fase do desenvolvimento, levaram a umdesenvolvimento len to e gradual da pesquisa agropecuári abrasileira,principalmente com grandes reflexos na forma-ção do quadro de noss os pesquis adores.

    ESta fase de dese nvolvimen to da pesquisa agrí-cola foi conseqúén cã a da política de industrialização,eujo objetivo era substituir importaÇões da indústria debens de consumo e bens de consumo duráveis e,em seguida,bens de capital por grandes inves timen tos (ALVESe PASTO-RE,1985).ESses investimentos para a industrialização fo-ram combase na poupança interna, em recursos externos ena expansão da dívida púb li ca,

    A ops:ão pela industrialização e a urbanizaçãoque ocorreu ate os anos 70 começaram a apresen tar prob lemas de abas tecimen to, e o crescimento da população limi=tou a capacidade de exportar produtos agrícolas, já queos inves timentos na agricultura não foram sufdcden tes p~

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    ra elevar a produção, surgindo, assim, uma perspectivade mudança de rumo na política de desenvolvimento dopais e a idéi a clara de que seriam necessários maioresinves timentos na geração de tecnologias.

    Iniciava-se, assim, um novo momento na histó-ria da pesquisa agrícola brasileira, urna nova abordagemteórica, em que a interdisciplinaridade começava a indi-car novos rumos para a atividade científica nacional.

    Neste novo contexto, o Governo interveio de moch decisivo na coordenação e na promoção da pesquisa a=-9r~e~ã.ria_nacional, até então realizada por várias instituiçoes pUblicas e privadas, e criou a Empresa Brasi--le1ra de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPAem dezembro de1972.

    A criação da EMBRAPAfoi resultado da necessi-dade de urna mudança, em que o modelo de pesquisa agríco-la pudesse oferecer perspectivas mais amplas para aten-der uma demanda por tecnologia agrícola emergente. Entreos fatores que contribuíram para essa mudança estava acompreensão de que a fronteira agrícola que nos restavanão poderia ser conquistada sem a ajuda da ciência e deque uma das alternativas para dar continuidade à modernização do Pais, principalmente na agricultura, seria o investimento maciço em geração de tecnologia.

    Este novo momento na história da pesquisa agrícola nacional teve grande importância,principalmente porque um novo modelo de pesquisa se iniciava, a pesquisãinterdisciplinar. Nesta nova fase, foi desenvolvido umesforço maior por parte das instituições de pesquisa pa-ra compreender as formas de interação entre os componen-tes do sistema de produção.

    Assim a pesquisa agropecuária brasileira saíade um modelo, em que foi fundamentada a base do conheci-mento científico, para ingressar em um modelo em que atecnologia viável tornaria possível o desenvolvimento doprocesso de produção agrícola.

    Segundo ALVES (1989), a complexidade dos pro-blemas, o mosaico de fatores a serem considerados para asuperação dos desafios da pesquisa agropecuária e a natureza dos novos paradigmas tecnológicos em emergênci a (obiotecnológioo, por exemplo) exigirão estreito relacionalllento das áreas físico-biológicas com as de socí.oe cono-"mia.Bisa interdisciplinariedade da pesquisa, todavia, deveriam verificar desde a definição de prioridades e problemas de pesquisa, passar pela concepção e desenvolvi=mento dos projetos de pesquisa e pela definição das es-tratégias de difusão e transferência dos resultados al-

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    can çados , e chegar até a avaliação da; impactos da ado-ção da tecnologi a.

    ESte processo de reorganização da pesquisaagropecuária nacional foi conseqdência da modernizaçãoda agricultura que se iniciou a partir dos anos 70, pormeio do processo de desenvolvimento indus trial do País.A modernização da agricultura veio fundamentada no Pri-meiro Plano Nacional de Desenvolvimento, quando foramlançados diversa; programas para a modernização da agri-cultura, por meio de sua maior integração com o setor industrial, que atravessava uma fase de grande desenvolvi':-mento.

    Assim, foram tomadas medidas que tiveram gran-de importância para a modernização da agricultura, taiscomo a reestruturação do Conselho Nacional de Pesquisa(CNPq)'e a criação do Fundo Nacional para o Desenvolvi-

    mento Científico e Tecnológico (FNDCT).

    A EMBRAPAsurgia, neste novo cenário, como ór-gão responsável pela execução e pela coordenação da pes-quisa agropecuária em todo o País, dentro das diretrizesgerais da nova política nacional para ciência e tecnolo-gia.

    Segundo BLUMENSCHEIN(1978), a EMBRAPA foiidealizada e tem sido estruturada e implementada com aclara finalidade de buscar soluções para os problemas doagricultor brasileiro.

    REFERtNCIABIBLIOGRÂFICA1. ALBUQUERQUE,R., ORTECJ\,A.C.,

    pÚblico de pesquisa agrlcolaREYDON,B.P. O setorno ESt ado de Sao Pau-

    10. Campinas, UNlCAMP,1985.,GRO, 3).

    2. ALVES, E.R. A., PASTORE,J. Uma nova abordagem para apesquis a agrícola no Brasil. Revista de Economia Ru

    ral, v.15, p.235-56, 1977.3. ALVES, E.R.A., PASTORE,J. Papel da tecnologia na ex-

    pansão agrícola. In: ALVES, E. et alo Pesquisa agro-eecuária: perspectiva histórica edesen'ífolvtmentolnshtuciona1. Brasília: EMBRAPA.1985.

    4. ALVES, E.R.A. Subsídios para a formulaçãolítica cientIfica e tecno16 ica ara a

    l09p. (Relatorio PROA-

    6.

    ri a os anos o. ar as i, i a: EMBRAPA,5. BLUMENSCHEIN,A. PrincípiOS da pesquisa

    EMBRAPA.ar asília: EMBRAPA,1978. 48p.HAYAMI,Y., RUTTAN,V.W. Agricultural x development:an

    international perspective. Baltimore: 'íhe JohnsHq>kins Press, 1971. 378 p.

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    7. PASTORE,J. A criatividade na )es~uisa agrícola. Cam-pinas: UNICAMP,1977. Crnimeo. 3p.

    8. RODRIGUES,C.M. Gênese e evolução da pesquisa agrope-cuária no Brasil: da instalação da Corte portuguesaao inIcio da República. Cadernos de Difusão de Tec-nologia, v.4, n.!, p. 21-8,_ jan./ahr. 1~87. ~

    8. SCHAUN,N.M. Geraçao e difusao de inovaçoes tecnolo-gicas na agricultura brasi feira: O caso de mi lho pi-ranao. Piracicaba, Sao Paulo, ESALQ,1984 (Tese M.S. ) •

    9. SILVA, J.G. A relação setor pÚblico - privado na gera-ção de tecnologia agrIcola no Brasil. Caderno de Di-fusão de Tecnologia, v.2, n.2, p.185-232, maio/ago.,1985.