alegacoes_finais-pronuncia

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  • 8/3/2019 Alegacoes_Finais-pronuncia

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    Alegaes Finais - Pronncia

    Processo n.Autora: Justia Pblica

    Ru (s):

    ALEGAES FINAIS (ART.406, CPP)

    Meritssimo Juiz:

    (Nomes dos rus), j qualificados nos autos, foram denunciadosnas sanes do art. 121, 2, I (motivo torpe) e IV (recurso quedificultou ou tornou impossvel a defesa do ofendido), do Cdigo PenalBrasileiro, porque, aos 07 dias de novembro de 1999, por volta das14h55min, na rua Domingos Pinto Brochado, n. 324, municpio de __MG, os denunciados, previamente acordados, agindo com animusnecandi e unidade de desgnios, mataram a vtima __, ocasionando-lhe

    os ferimentos descritos no laudo mdico constante s f.122,causadores de sua morte. Na ocasio, o acusado ___ pagou ao ru ___,a fim de que este matasse a vtima, o que de fato ocorreu.

    Recebida a denncia (f.02), foi o ru ___ citado e interrogado(f.75), tendo apresentado defesa prvia (f.84/85).

    Suspenso o processo e o prazo prescricional quanto ao ru __,que foi citado por edital, sendo decretada sua priso preventiva(f.114).

    Em instruo criminal, foram ouvidas quatorze testemunhas(f.139/146, 152/167, 170/172, e 234/235).

    a sntese do necessrio.

    I- PRELIMINARMENTE

    Manuseando o processado, verifica-se que no existe nos autosqualquer vcio processual hbil a obstar o regular prosseguimento dofeito.

    Passo, pois, anlise do conjunto probatrio.

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    II- DO MRITO

    Para a concreo da sentena de pronncia, consoante dispostono art. 408 do Cdigo de Processo Penal, basta que o magistrado seconvena da existncia do crime e de indcios suficientes de autoria.

    Trata-se do propalado princpio in dubio pro societate, regulador dessafase processual intitulada judicio accusationes.

    A narrativa da inicial acusatria e as provas carreadas aos autos

    tornam indene de dvidas a materialidade delitiva e fornecemsubsdios necessrios comprovao da autoria, binmio que atendeaos requisitos para que se profira o decreto de pronncia.

    II.1) Materialidade

    O Ministrio Pblico, analisando o conjunto probatrio, observaque a prova produzida sustenta a materialidade e a autoria do delitoperpetrado, no nos mostrando a configurao de qualquer causaexcludente da ilicitude, de forma que patente a existncia do crime ea necessidade da pronncia do denunciado.

    De fato, a materialidade delitiva restou cabalmente comprovada,mxime caracterizada pelos Laudos Mdico (f.122) e Cadavrico(f.41), e ainda, pela Certido de bito (f.90).

    II.2) Autoria

    De outro lado, tambm restou demonstrada a autoria de ___,

    vulgo "GRANDE", no empreendimento criminoso, visto ter a vtimadivida atinente a emprstimo contrado com o citado acusado, fatoeste que, corroborado por indubitvel prova testemunhal, nos leva acrer que o mesmo contratou o ru __, vulgo "Lcio" para ceifar a vidado ofendido.

    Na fase judicial, o acusado afirma o fato de a vtima ter contradodvida com o mesmo (f.75), apresentando, porm, verso diversa daapontada pelas testemunhas, seno vejamos: "Que vendeu umaaparelho de televiso vtima pelo valor de R$90,00; no conhecia avtima, mas como moravam prximos, a vtima ficou sabendo que oru queria vender uma televiso; o aparelho foi entregue mas opagamento no foi efetuado".

    Outrossim, vale ainda trazer baila os depoimentos prestadosem Juzo pelas testemunhas ___ e ___, respectivamente, in verbis:

    "(...) no dia do crime o ru Grande esteve de novo na casa davtima e disse que se at ao meio-dia no tivesse dinheiro para pagarpoderia dar por encerrada a dvida; a nora da declarante contou queviu volume debaixo da camisa do ru Grande, demonstrando estar ele

    armado; (...) que na ltima ameaa sua nora presenciou o re dizerque se ele no pagasse pagaria com a prpria vida; (...) depois docrime o ru no foi mais visto no local; (...) algum contou para a

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    declarante que depois que ___ desferiu os tiros na vtima teriatelefonado para o ru Grande dando notcia de que teria feito o"servio"; (...) ". [f.143]

    "(...) que no havia nada de drogas envolvendo vtima e acusado;para a declarante o homicdio foi motivado pela dvida de R$ 50,00entre a vtima e Grande; fato notrio a amizade entre os dois rus;

    as pessoas falam que __ foi pago para matar a vtima a mando do ruGrande; Que o marido da declarante nem conhecia ___; o ru Grandefoi quatro vezes na casa da declarante fazer ameaas; o ru Grandefoi quatro vezes tentar receber a dvida mas s por duas vezes fezameaas de morte contra a vtima; na ltima ameaa a vtima viu queo ru estava armado e contou para a declarante; para a declarante oru nunca deu telefonemas mas para a as sogra disse que por vriasvezes recebeu telefonema do ru Grande com ameaas; ouviucomentrios de que foi pago R$ 500,00 a __ para matar a dvida; (...) ocomentrio de que ___ teria sido pago pelo ru Grande para matar avtima foi ouvido aps a morte desta; (...)". [f.145]

    No mesmo sentido, verifica-se o depoimento prestado por ___:"(...) o ru estava ali porque causa do assassinato cometido contraPaulo Srgio (...)" [f. 166].

    Ora, certa a existncia, no arcabouo probatrio, de elementosque indicam ser o ru ___ co-autor do crime em tela.

    Superadas as questes acerca da materialidade e autoria, h quese ressaltar que as qualificadoras descritas no art. 121, 2, incisos I e

    IV, do Cdigo Penal Brasileiro, encontram respaldo probatrio.II.3) Qualificadora: motivo torpe

    Quanto qualificadora relativa ao motivo do crime, certo quedever ela subsistir, eis que outro no foi o motivo do fato criminososeno o torpe, tendo em vista a clara repugnncia entre o mvel dainfrao cometida e o resultado alcanado.

    Neste particular, o motivo torpe deflagrador da conduta do ru,consubstanciou-se de forma clara, uma vez que o acusado ___, vulgo"Grande", alm de haver contratado o co-ru ___ para que matasse avtima, pelo fato desta no lhe ter pago uma dvida, agiu imbudo pelosentimento ignbil de vingana.

    Eis o entendimento dos Tribunais Ptrios, litteris:

    "O chamado homicdio mercenrio (mediante paga ou promessade recompensa) caracteriza a qualificadora do motivo torpe, devendoser responsabilizado por atitude to baixa e repugnante o seu

    executor, bem como o mandante do crime". (TJSC AR Rel. ErnaniRibeiro RTJE 49/253).

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    "O motivo torpe se caracteriza pela singela ocorrncia de paga e,no obstante seja circunstncia de carter pessoal, comunica-se aomandante, por ser elementar do crime (art. 26 do CP) (atual art. 30)".(TJSP Rec. Rel. Dalmo Nogueira RT 538/348).

    "HOMICDIO TENTADO VINGANA MOTIVO TORPE CARACTERIZAO PORTE ILEGAL DE ARMAS CONFIGURAO

    DVIDA MANUTENO DA SENTENA DE PRONNCIA RECURSODESPROVIDO A qualificadora do motivo torpe deve ser mantida nasentena de pronncia a fim de que os jurados decidam se avingana. mvel do crime. a caracteriza ou no, segundo os valores epadres ticos e morais da sociedade local. Se o prprio ru forneceduas verses dos fatos que poderiam caracterizar o crime do art. 10da Lei 9.437/97, deve a pronncia ser mantida a fim de que oConselho de Sentena opte pela que julgar retratar com maiorfidelidade a realidade dos fatos". (TJMG RSE 000.186.702-7/00 3C.Crim. Rel. Des. Roney Oliveira J. 19.09.2000). [Grifo nosso]

    "PENAL JRI HOMICDIO QUALIFICADO MOTIVO TORPE VINGANA DECISO MANIFESTAMENTE CONTRRIA PROVA DOSAUTOS INOCORRNCIA Inadmite-se a anulao do jri se a versoacatada pelos jurados em desfavor do ru confirmada peloselementos de convico trazidos ao juzo, evidenciando-se aqualificao do crime em razo de vingana advinda de desavenasentre grupos rivais, revelada na motivao abjeta e ignbil do crime.Recurso improvido. Unnime. Negar provimento ao recurso, unanimidade". (TJDF APR 20000410005284 1 T.Crim. Rel. Des.Otvio Augusto DJU 07.02.2001 p. 57). [Grifo nosso]

    II.4) Qualificadora: recurso que impossibilitou a defesa da vtima

    Alm da qualificadora do motivo torpe, verifica-se, pelo conjuntoprobatrio, que os disparos desferidos em direo vtima se deramde inopino, atingido-a de surpresa, sendo que a esta no restounenhuma chance de defesa, o que justifica a presena daqualificadora descrita no inciso IV, 2, artigo 121, do Cdigo PenalBrasileiro.

    A propsito, a testemunha ___ (f.140), confirmando asdeclaraes prestadas perante a Autoridade Policial, disse que "(...) oautor do crime chegou com uma menininha no cano da bicicletachamou a vtima demonstrando que conhecia o autor do crime; que avtima e autor do crime trocaram algumas palavras que o depoenteno ouviu; (...); o autor dos disparos no deu tempo vtima deesboar qualquer gesto de defesa (...)". [Grifo nosso]

    Outro no o ensinamento de Mirabete, conforme se depreendeda leitura do trecho a seguir colacionado:

    "H tambm qualificadora no homicdio quando o agente utilizarecurso que dificulta ou torna impossvel a defesa da vtima, ou seja,quando se vale da boa-f ou despreveno do ofendido. (...) A

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    surpresa da vtima pode qualificar o delito quando efetivamentecomprovado que o ato homicida totalmente inesperado, impedindoou dificultando a defesa, encontrando-se essa circunstncia nacognio e vontade do agente; (...)".

    Nesse sentido a jurisprudncia.

    "A ao delituosa do ru ao alvejar a vtima de inopino, sem

    chance de defesa, constitui a qualificadora da surpresa, prevista noinciso IV, pargrafo 2, do artigo 121 do CP" (TJRO-RT 700/379).

    "Se o gesto do acusado foi to repentino que no deu vtima aoportunidade de esboar um gesto de defesa, sequer, o homicdio sequalifica em razo do recurso que impossibilitou a defesa do ofendido"(TJSP-RT 438/376).

    Noutro giro, no cabe ao nobre magistrado excluir da sentenade pronncia, retirando a competncia do Conselho de Sentena paradecidir sobre a existncia ou no das qualificadoras, haja vista que o

    Tribunal do Jri o verdadeiro juiz natural dos crimes dolosos contra avida.

    Ademais, na fase da pronncia vigora o princpio in dubio prosocietate, ou seja, existindo dvida quanto s qualificadoras, deve-sesubmet-las apreciao do tribunal popular.

    Esta a lio de Fernando Capez:

    "A fase da pronncia vigora o princpio in dubio pro societate,uma vez que h mero juzo de suspeita, no de certeza. O juiz verificaapenas se a acusao vivel, deixando o exame mais acurado paraos jurados. Somente no sero admitidas acusaes manifestamenteinfundadas, pois h juzo de mera prelibao" [Curso de ProcessoPenal, Editora Saraiva, 1997, p. 511].

    Enfim, somente quando manifestamente improcedentes, asqualificadoras devero ser subtradas ao Jri.

    III- CONCLUSO

    Ex positis, cabalmente demonstrado o binmio materialidade eindcios de que tenha sido o ru ___ autor do fato, impe-se seja omesmo pronunciado nos termos do art. 121, 2, incisos I e IV, doCdigo Penal Brasileiro, a fim de que seja oportunamente submetido a

    julgamento pelo Egrgio Tribunal do Jri.

    __ (MG), 11 de novembro de 2002

    ____Promotor de Justia

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