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Compilação de Paulo Victorino
Auguste Renoir 1841-1919
Renoir foi o pintor mais popular do impressionismo, movimento que exprimia não apenas as aparências externas e objetivas, mas também as impressões interiores e subjetivas do artista.
As luzes e as cores vivas de Renoir exprimem alegria e sensualidade. “Um quadro precisa ser algo amável, alegre e feliz, não entediante como a vida cotidiana repetitiva”, dizia Renoir.
La Grenouillère - Pierre-Auguste Renoir, 1869
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Pierre-Auguste Renoir nasceu no dia 25 de fevereiro de 1841 em Limoges, na França. Seu pai, um alfaiate com sete filhos, levou a família para Paris, em 1845. Aos 13 anos, Renoir começou a decorar pratos com buquês de flores, em uma fábrica de porcelanas.
Em 1862, ao completar 21 anos, Renoir foi estudar desenho e anatomia na Escola de Belas-Artes, assim como pintura no estúdio de Charles Gleyre, onde fez amizade com os pintores emergentes Claude Monet, Alfred Sisley e Jean-Frédéric Bazille.
Os quatro sonhavam com uma arte mais próxima da vida, livre do passado e da tradição. E passaram a pintar paisagens não mais nos estúdios, mas ao ar livre, junto à natureza, na floresta de Fontainebleau, desenvolvendo as novas formas impressionistas, sem dar atenção aos detalhes exteriores e sem usar a cor negra.
A esse grupo, que mais tarde seria conhecido como impressionista, uniram-se os pintores Paul Cézanne, Camille Pissarro e Édouard Manet.
Os críticos não gostaram da primeira exposição, realizada em 1874, com pinturas que mostravam os efeitos passageiros das luzes e seus reflexos na água, criando novas formas artísticas. Diga-se de passagem, os críticos, fiéis ao status, geralmente não assimilam de pronto as inovações à arte.
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Em sua obra-prima ”O Moinho de la Galette” (1876), sobre a alegria e a dança em uma tarde de domingo em Montmartre, Renoir já se diferenciou do grupo impressionista, ao sublinhar, com a cor negra, a vivacidade das luzes e das cores e ao concentrar-se não mais nas paisagens, mas nas figuras humanas, que se tornaram, pela vida afora, o elemento principal de sua arte.
“ Le Bal du Moulin de la Galette” é uma pintura realizada a óleo sobre tela em 1876, consagrada como um marco da pintura impressionista.
Em viagem à Itália, no ano de 1881, já aos 40 anos e com uma carreira estabelecida, Renoir maravilhou-se com Rafael e com os clássicos. Os detalhes objetivos retornaram a seus quadros, precisos e minuciosos, e sua pintura chegou a uma nova fase, chamada de “fase seca”, a partir de 1883, buscando também a objetividade e não mais a impressão pura e simples.
Em breve, ele retomaria o impressionismo, para alcançar outra nova fase, unindo a modernidade da impressão ao classicismo formal.
Em 1892, uma exposição de Renoir fez grande sucesso. Em 1894, nasceu seu filho Jean Renoir, que, na vida adulta, se tornou cineasta. No mesmo ano, um ataque de reumatismo levou o pintor ao sul da França, em busca de um clima melhor para a sua saúde.
O artista consagrou-se com a realização da Retrospectiva Renoir, no Salão de Outono de 1904. Em 1907, o reumatismo progressivo o fez mudar-se para a cidade de Cagnes-sur-Mer, onde morreu em 3 de dezembro de 1919. (Britannica Escola Online, com apoio de outras fontes)
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Jean Renoir, menino ou menina? Jean Renoir (Paris, 15 de setembro de 1894 — Beverly Hills, 12 de
fevereiro de 1979), foi cineasta, escritor, argumentista, encenador e ator
francês. Era o segundo filho do pintor impressionista Pierre-Auguste
Renoir e de Aline Victorine Charigot. Criado entre as artes, Renoir cresceu
envolvido pela sensibilidade artística, em um apartamento cujas paredes
eram abarrotadas de quadros do seu pai (Fonte: Wikipedia)
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Por razões simplesmente estéticas, Renoir retratou a infância
de seu filho Jean quase sempre vestido em roupas de menina.
Abaixo, “Jean Renoir Costurando”, 1899
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“Retrato de Jean”, 1901, óleo sobre tela,
pintado por Pierre-Auguste Renoir
Jean era o segundo de seus três filhos, que teve com a modelo Aline
Victorine Charigot. Na ocasião desta pintura, o artista já sofria com o
problema de artrite, que lhe imobilizou os dedos
Aline, a segunda modelo de Renoir (substituindo Lise Trehot), manteve
um romance com o pintor e, após o nascimento do primeiro filho, os dois
se casaram. Em 1894, ao nascer Jean, a prima de Aline, a bela Gabrielle, foi
contratada como babá e, durante muitos anos, também posou de modelo.
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Aline Victorine Charigot Renoir
Nascimento: 23 de maio de 1854
Champagne-Ardenne, France
Falecimento: 15 de junho de 1915
(Quatro anos antes de Renoir)
Provence-Alpes-Côte d'Azur,
France
Aline Victorine Charigot, que viria a ser
a esposa de Pierre Auguste Renoir, nasceu na
vila de Essoyes no dia 23 de maio de 1854. Ela
encontrou Renoir, pela primeira vez, em 1880,
amor à primeira vista, mas que só resultou no
casamento em 14 de abril de 1890. Do
casamento, resultaram três filhos: Pierre, Jean
(modelo preferido do pintor) e Claude. Aline
era estilista de profissão, mas frequentemente
serviu de modelo para Auguste, nos dez anos
de namoro e mesmo depois de casada. Amor
de sua vida, Renoir imortalizou-a em um sem
número de pinturas, como em "The
Luncheon of the Boating Party" and
"Dance in the Country". Embora fosse 23
anos mais nova que Renoir, quis o destino que
morresse quatro anos antes que ele, em 27 de
junho de 1915. Ela está sepultada no campo
da Igreja em Essoyes, onde a família passava
temporadas, quando não estava em Paris ou
em Cagnes-Sur-Mer. No mesmo “campo
santo”, Renoir se juntaria a ela, ao morrer. em
1919. Para uma biografia mais detalhada,
visite
http://www.chez.com/renoir/aline.htm
Burial:
Essoyes Cimetière
Essoyes
Departement de l'Aube
Champagne-Ardenne, France
Fonte: “Find A Grave”
Criada por Paul A. Laguerre
Record added: Aug 15, 2002
“Find A Grave Memorial# 6688242)
Added by: Wolfgang Kozlowski
Added by: Michel SCHREIBER
Added by: Michel SCHREIBER
Pierre-Auguste Renoir e sua esposa
Aline Victorine Charigot (1910-circa)
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Antes e depois do casamento, para todo sempre, Renoir
considerou Aline como um “ideal de beleza”
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Renoir conheceu Aline Victorine Charigot nos últimos anos de 1870,
iniciando-se um romance que culminou com o nascimento de seu primeiro filho,
Pierre, em 23 de março de 1885. Cinco anos depois, os dois se casaram e viveram
juntos até a morte de Aline, em 1915, fato que deixou desolado o pintor. Após o
nascimento de Pierre, a família mudou-se para Essoyes, terra natal de Aline, onde
o pintor se interessou especialmente pelas banhistas e, entre elas, a própria Aline,
destacando-se por seu rosto deslumbrante e sua vasta cabeleira ruiva.
A obra abaixo vem do chamado “período seco”, em que Renoir mesclava o
impressionismo ao clássico de Rafael e ao neo-clássico de Ingres. Aqui, se
emprega tonalidades frias e suaves, aplicadas com uma rápida e fluída pincelada,
como se observa ao fundo, acrescentada a um excelente desenho e modelado,
com Aline cubrindo o corpo desnudo com um lençol branco.
“Pequeña bañista rubia”, Pierre Auguste Renoir, 1887, Museo: National Gallery
(Oslo), 60 x 54 cm, óleo sobtr tela. Fonte: http://www.artehistoria.com/
(Aline estava com 33 anos, mas Renoir a pintou como uma adolescente)
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Aline Victorine Charigot,
o “ideal da beleza” para Renoir
A predominância de retratos femininos é esmagadora na obra de Renoir.
“Eu adoro mulheres, ainda quando elas ainda não aprenderam a andar”,
disse uma vez o pintor. Ele acreditava que Deus concedeu às mulheres a
beleza e a alegria, elementos indispensáveis à arte.
“A Young Girl with Daisies” (Garota com lírios), Auguste Renoir, 1889,
óleo sobre tela, 65 x 54 cm, (http://www.metmuseum.org/)
Aline estava, então, com 30 anos e o rosto de menina
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Aline Victorine Charigot
dança com Paul Lhote,
“Dança no Campo” (francês: “Danse à la campagne”) é uma pintura a
óleo sobre tela do pintor impressionista francês Pierre-Auguste Renoir
datada de 1883.
O quadro foi encomendado em 1882 pelo negociante Paul Durand-Ruel
que queria pinturas sobre dança. Adquiriu-o em 1886, e exibiu-o pela
primeira vez em abril de 1883, mantendo-o na sua posse até à morte de
Renoir em 1919.
Uma outra pintura sobre o mesmo tema, “Dança na Cidade”, foi também
executada por Renoir no mesmo ano.
O homem retratado é o jornalista Paul Lhôte, amigo do pintor (não
confundir com o artista André Lhote). A mulher, já sabemos, é Aline
Victorine Charigot, que mais tarde se tornaria a esposa de Renoir. (Fonte,
Wikipedia / Commons) Obs.: Aline está com uns quilinhos a mais.
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Pierre-Auguste Renoir - Boating Couple (Casal no barco), detalhe
(As figuras são Aline and Renoir) – Commons/Google Art Project
Aline é um dos personagens de “Almoço no barco” (1880)
- 015 –
A “Belle Époque (pronuncia: “epóque”) foi um período de “reverie”
vivido pelas artes no final do Século XIV até o início da Primeira Guerra
Mundial.
Não era um estilo de pintura, era um estado de espírito, sugerindo que
estávamos no melhor dos mundos e que o sonho nunca iria acabar. A
eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) estourou a bolha de sabão
e trouxe de volta a cruel realidade a um mundo até então anestesiado.
O quadro abaixo, pintado em 1886, abre essa época de sonhos. Em uma
visão impressionista, mas também romântica, “Mulher Amamentando”
mostra Aline alimentando seu primeiro filho, Pierre.
- 016 –
A despeito de suas múltiplas responsabilidades, Aline acompanhou de
perto o crescimento de seus três filhos. Os dois quadros abaixo se
referem ao filho mais velho e ambos são intitulados
“Mme Renoir et son fils Pierre”
- 017 –
O pintor Pierre-Auguste Renoir nasceu em Limoges, bem no centro da
França, mas passou longas temporadas vivendo e pintando à beira do
Mediterrâneo, na Riviera Francesa – inclusive passou lá seus últimos anos
de vida.
Em 1907, ele construiu uma casa deliciosa na cidadezinha de Cagnes-
sur-Mer, entre Antibes e Nice, e morou lá com a mulher e os três filhos até
morrer, em dezembro de 1919.
Neste quadro, surge um novo personagem, Gabrielle Renard, prima de
Aline, contratada como babá, mas que foi integrada como membro da
família e também como modelo do artista. Jean, o segundo filho, como de
hábito, aparece em trajes femininos.
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Aline Victorine Charigot, já anciã, posa para Renoir, com seu cãozinho
Bob. O quadro é de 1910, quando Madame Renoir tinha já 56 anos. Nos dias
de hoje, seria ainda uma jovem, mas naquela época, em que a expectativa
de vida era baixa, poderia ser considerada uma anciã.
Mesmo com a idade pesando em seus ombros, a face ainda reflete a
beleza que encantou Renoir e que se perpetuou em um sem número de
quadros.
- 019 –
Para sempre Gabrielle
Na virada do século, um novo personagem é incorporado à família
Renoir, a jovem Gabrielle Renard (1878-1959), prima de Aline e contratada
como babá, transformando para sempre a rotina familiar.
Mulher inteligente e perspicaz, exerceu influência principalmente na
educação do segundo filho, Jean, e quando este mudou-se para os Estados
Unidos, onde seria conhecido como cineasta, ela mudou-se também.
Influiu ainda na pintura de Renoir, tornando-se sua modelo preferida,
depois da esposa Aline. A dedicação à família foi tanta que retardou seu
casamento até 1921 para acompanhar a carreira emergente de Jean. Ao
casar-se, passou a se chamar Gabrielle Renard-Stade. (Wikipedia-
Commons)
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“Enfant aux jouets, Gabrielle et Jean”, 1896
óleo sobre tela, 54 x 65 cm
“Gabrielle with Renoir's Children” 1894, pastel sobre papel
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“The Alphabet” (Jean And Gabrielle)
(1897), óleo sobre tela
Mais do que babá, Gabrielle se tornou, de fato, uma segunda mãe para
Jean Renoir, acompanhando-o na infância e também na vida adulta.
Quando veio para integrar a família, ela tinha apenas 16 anos e ao
completar 18, passou a posar para o pintor, seja em quadros ao lado do
pequeno Jean, seja em imagens solitárias, bem mais ousadas.
- 022 -
Mais que babá, Gabrielle se tornou um modelo de Renoir. Mais que
modelo, quando Renoir passou a ter problemas com artrite, Gabriela
tornou-se sua assistente, colocando e fixando os pincéis nas mãos do
pintor para que este pudesse continuar ativo.
“Gabrielle em roupas orientais” (Fonte: Commons)
- 024 -
Devido à ocupação da França por tropas alemães, durante a Segunda
Guerra Mundial (1939-1945), Gabriele e seu marido, americano, mudaram-
se para os Estados Unidos. Nesse mesmo tempo, Jean Renoir, de quem ela
fora babá, também se mudou para tentar a carreira como cineasta, na qual
teve excepcional sucesso.
Quando lhe morreu o marido, no ano de 1955, Gabrielle mudou-se para
Beverly Hills, apenas para cuidar de Jean Renoir. Jean já era bem
crescidinho e tinha 61 anos, mas, uma vez babá, sempre babá...
“Seated Nude In Profile (Gabrielle)”,
(Nu sentado, de perfil) óleo sobre tela, 1913
- 025 -
Gabrielle morreu em sua casa de Beverly Hills em 1959. Quando Jean
Renoir escreveu a autobiografia, sob o título “Minha vida e meus filmes”,
prestou a ela uma significativa homenagem iniciando e encerrando o livro
com menção detalhada de sua ex-babá. Mais que isso, no desenrolar do
livro, ele relembra a profunda influência de Gabrielle sobre sua vida,
dizendo:
“Ela me ensinou a ver os rostos debaixo da máscara e a fraude por
traz das dissimulações.”
E concluiu, num gesto de profunda emoção, repetindo as palavras que
usava na infância para chamar a babá: “Espere por mim, Gabrielle!”
Gabrielle et Jean (1895-circa)
- 026 –
Gabrielle e Jean Renoir em 1950
Esta foto é de 1950 e retrata Gabrielle, a eterna babá, na companhia de
Jean Pierre, a esta altura, já consagrado como cineasta, escritor,
argumentista, encenador e ator francês.
O marido de Gabrielle viria a falecer cinco anos depois, levando-a a
mudar-se para Beverly Hills, para ficar ao lado de seu tutelado. Gabrielle
morreu em 26 de fevereiro de 1959 e Jean Renoir em 12 de fevereiro de
1979.
A relação mãe-filho entre Gabrielle e Jean foi tão forte que chegou a
obliterar a figura da mãe biológica, Aline Victorine Charigot Renoir.
- 027 –
Os auto-retratos de Renoir
Costuma-se dizer que todo artista é egocêntrico, olhando para o próprio
umbigo e, por consequência, é também narcisista, retratando a si mesmo
de todas as formas, como se fora o centro do universo.
Não é o caso de Renoir, comunicativo, com uma roda seleta de amigos
e que nos deixou só alguns auto-retratos, aparecendo pouco, mesmo
quando as pinturas eram uma reunião de família. Esta obra é de 1875,
quando o artista tinha 34 anos.
- 031 –
Quem são os amigos de Renoir?
A obra “Le Déjeuner des canotiers” (O almoço dos canoeiros) tem
importância histórica, primeiro que tudo porque Renoir reuniu nele seus
amigos mais achegados e depois, principalmente, porque foi sua última
incursão no Impressionismo ortodoxo, livrando-se, a seguir, dos
parâmetros rígidos que ele não se achava mais disposto a obedecer.
Pierre-Auguste Renoir – “Luncheon of the Boating Party” -
Google Art Project, Fonte: Commons
Relembremos, uma vez mais, que o impressionismo, que tinha Claude
Monet como figura representativa, se sustentou, entretanto, como
movimento, pela presença notável do mestre Edouard Manet, que nem
impressionista era, mas que exercia notável influência sobre os demais,
constituindo-se na amálgama que mantinha todos unidos.
O impressionismo nasceu em 1860 em torno de Manet e desapareceu,
como movimento, em 1883, com a morte do mestre. Daí em diante, o grupo
se dispersou e o estilo permaneceu existindo, mas de forma livre, sem as
amarras ditadas pelas regras esdrúxulas que mantinham os artistas presos
a uma camisa-de-força.
- 032 –
Já em 1880, bem antes da morte do mestre, Renoir já se rebelava contra
as regras estabelecidas, principalmente, contra a proibição de uso da cor
preta, que era para ele indispensável na complementação da pintura.
“O almoço dos canoeiros”. pintado nesse ano de 1980, três anos antes
de o Impressionismo ser extinto como movimento, foi o “canto do cisne”
de Renoir que, a partir de então, se sentiu livre para pintar segundo seus
próprios parâmetros, individualizando a própria sensibilidade, sem medo
de contrariar os ditames do grupo.
O quadro junta, como modelos, várias personalidades da época,
amigos do pintor, almoçando no terraço da Maison Fournaise em Chatou,
e está preservado na Phillips Collection, em Washington, Estados Unidos.
Executado nos recintos da Maison, a pintura mede 130 × 173 cm, espaço
suficiente para detalhar cada uma das figuras, como se fosse um retrato de
cada um, colado ao conjunto.
Nesse momento, Renoir não estava com uma situação financeira
confortável. Como a maioria dos artistas, sobrava-lhe talento artístico,
mas, na contrapartida, faltando-lhe tino comercial, atravessava uma fase
difícil. Começou a pintura em data incerta, seguramente no ano de 1880,
com a confiança de que o resultado seria bem aceito pela crítica, mas não
estava seguro de que teria recursos para chegar até o fim. Chegou, e, como
se sabe, resultou em uma de suas grandes iniciativas daquela fase.
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Na figura da pg. 032, no primeiro plano à esquerda, está Aline Victorine
Charigot (modelo de Renoir e sua futura esposa) brincando com o pequeno
cão. Atrás dela se encontra Hippolyte Alphonse Fournaise, filho do dono
da pousada. Inclinando-se sobre o parapeito, Alphonsine Fournaise, irmã
dele, conversa com o Baron Raoul Barbier sentado de costas, um amigo
próximo de Renoir e ex-oficial da cavalaria, que tinha a fama de gostar de
barcos, de cavalos e de mulheres jovens.
- 034 -
Na figura da pg. 033 vemos o lado direito do quadro. O personagem em
primeiro plano, à direita, é, quase certo, o pintor Gustave Caillebotte,
patrono e amigo dos impressionistas, o qual, sentando-se “montado”
sobre uma cadeira, escuta em silêncio, enquanto a atriz Ellen Andrée
inclina a cabeça para ouvi-lo. Na mesma cena, em pé, está Adrian Maggiolo,
diretor da revista “Nova França”.
Atrás deles (imagem acima), está um pequeno grupo, formado pelo
jornalista Paul Lhote, por Eugene-Pierre Lestringuez e pela atriz da
Comédie-française Jeanne Samary. No centro, Angele Legault modelo
(levando a taça à boca), sentada ao lado de, supostamente, Réalier-Maurice
Dumas, de quem se vê apenas o perfil.
O outro personagem seria o próprio Renoir. A inclusão de sua figura na
cena seria por uma superstição numerológica, para evitar um quadro com
13 figuras, que lembraria Cristo e os 12 discípulos na Última Ceia (o que
sugeriria consequentemente a presença de um traidor).
Angela está por trás da Ephrussi (banqueiro russo), usando um chapéu.
Como editora do “La Gazette des Beaux-Arts”, ela conversa com o poeta
Jules Laforgue.
No fundo, através dos salgueiros cintilantes se acha o rio Sena, por
onde passam os veleiros. A atmosfera é de felicidade e serenidade, nada
existindo de negativo que possa contaminar o ambiente.
Esta pintura é composta com um contraste entre o fundo e os
personagens, ressaltado pela toalha branca e pelas as iguarias, enquanto
os rostos irradiam luminosidade em tons de pastel, no mais puro estilo de
Renoir. (Traduzido da Wikipedia em francês, com apoio de várias outras
fontes).
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A primeira musa, a gente
nunca esquece
Já falamos de Aline, a modelo que se tornou mulher de Renoir e mãe de
seus três filhos. Contamos também de como a prima dela, ainda uma
adolescente, foi introduzida à família para cuidar do segundo filho do casal,
Jean Renoir, tornando-se mais tarde modelo para as pinturas do mestre.
Ambas foram importantes na carreira e na vida de Renoir mas, na
verdade, a primeira musa, a gente nunca esquece. E ela foi Lise Tréhot
(1849-1922), que começou a posar para Renoir assim que ela completou 18
anos e permaneceu a serviço do pintor entre 1866 e 1872, aparecendo em
quase trinta obras, quase que a única figura feminina nos trabalhos dele
nesse período.
“Lise in a Straw Hat” (Lise com chapéu de palha),
1860, o primeiro retrato da primeira musa
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Lise Tréhot nasceu em Ecquevilly, Seine-et-Oise, Norte da França, no
dia 14 de março de 1848, filha de Louis Tréhot y Amelie Elisabeth Boudin.
Seu pai era agente postal da cidade e mais tarde, a família mudou-se a
Paris, onde instalaram um quiosque para vender limonada e tabaco.
Ela era a quarta, numa família incluindo três irmãos e uma irmã e, desde
a infância, alimentava a ideia de tornar-se uma estilista. Acontece que sua
irmã, Clémence, era amante do pintor Jules Le Coeur que, em junho de
1865, apresentou Lise a Renoir, por quem foi contratada como modelo.
“Mulher sentada no campo”, óleo sobre tela, 24x14 cm. 1866
- 037 –
Lise trabalhou para Renoir entre os 18 e 25 anos. Renoir chegou a pintar
um nu que, entretanto, foi recusado pelo Salon de Paris de 1867. Teve
melhor sorte no Salon de 1868, com um retrato de corpo inteiro, com a
modelo passeando por um parque arborizado em que a luz do sol é filtrada
através das árvores.
O crítico Zacharie Astruc descreveu Lise como “a simpática menina
parisiense no bosque”. O escritor Émile Zola (pronúncia: “zolá”) também
gostou, comparando-a a outra modelo, Camille Doncieux, que serviu a
Monet e se tornou sua esposa.
Contrariando a tradição, Renoir decidiu colocar o rosto dela na
obscuridade, enfatizando a reflexão do sol em seu vestido branco, o que
foi ridicularizado por alguns críticos. Críticos, sempre eles...
“Retrato de Lise”, óleo sobre tela, 65 x 50 cm, 1867
- 039 –
No Salon de Paris de 1969, Renoir se apresentou com um trabalho
denominado “O Verão”, em que Lise aparece vestida casualmente, em uma
blusa que cai sobre seus ombros. Recebeu alguns aplausos, mas também
avaliações ácidas, como a do crítico John Collins, assinalando que a garota
aparece como uma figura “escura, pesada e inexpressiva”. Você acha?
“O Verão”, óleo sobre tela, 85 x 59 cm, 1868
- 040 –
“Diana, a caçadora”, óleo sobre tela, 197 x 132 cm, 1867
Era para ser apenas um nu, mas temendo nova rejeição pelo Salon,
Renoir acrescentou um animal morto. Como o modelo se apoia em uma
vara, para não cansar o braço durante o longo tempo de pose, acabou
surgindo a figura de Diana, não prevista no início.
- 041 –
Se “O Verão” foi, de maneira geral, bem aceito, o mesmo não se pode
dizer de outra obra, “O casal de noivos”, onde o artista se apresenta
disputando o mesmo tema com o impressionista Alfred Sisley.
“O casal de noivos”, óleo sobre tela, 105 x 75, 1868
- 042 –
“Lisa costurando”, óleo sobre tela, 56 x 46 cm, 1867-1868
A beleza da imagem na expressão mais singela
do cotidiano de uma mulher
- 043 –
É frequente acontecer que um artista se envolva em romance com sua
modelo ou assistente mais próxima. Seria o caso de Renoir e Lise?
Nada se sabe a respeito. O que se sabe é que nesse período, Lise teve
dois filhos. O primeiro recebeu o nome de Pierre, nasceu em 14 de
dezembro de 1868 e morreu ainda infante. No dia 21 de julho de 1870, nasce
uma menina, chamada Jeanne, que teve vida longa, vindo a falecer em
1934, mas foi doada a uma enfermeira, que assumiu sua adoção.
O que se conhece de real é que, mesmo quando Lise deixou de ser sua
modelo, Renoir continuou dando a ela uma pensão vitalícia que durou até
a morte do artista, após o que, o amigo comum Ambroise Vollardi
continuou oferecendo suporte a ela. Desamparada não ficou, nunca.
“Banhista”, óleo sobre tela, 184 x 115 cm, 1870
- 044 –
“Odalisca”, óleo sobre tela, 70 x 123 cm, 1870
“Ninfa à beira da fonte”, óleo sobre tela, 67 x 124, 1869-1870
- 045 –
Deixando Renoir, Lise também abandonou a profissão de modelo,
caindo na vida cotidiana de toda mulher de seu tempo. Em 1883, uma
década depois, casou-se com o arquiteto Georges Briere de l'Isle (1847–
1902), teve dois filhos e duas filhas.
Duas pinturas de Renoir, que eram de sua coleção, foram doadas às
suas filhas. Ao que se sabe, ela teria destruído cartas e documentos que
permitiriam estabelecer o grau de relacionamento entre ela e Renoir. Lise
morreu em Paris em 12 de março de 1922, vinte anos após o marido, e foi
sepultada no Père Lachaise Cemetery.
“Lise em um xale branco”, óleo sobre tela, 56 x 46 cm, 1871-1872
- 046 –
O texto foi traduzido e adaptado da Wikipedia em inglês, com apoio de
outras fontes. Imagens disponibilizadas pela Wikimidia/Commons.
“Nu reclinado”, óleo sobre tela, 30 x 25 cm, 1871-1872