alarcÓn, pietro_patrimônio genético humano

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PatrimnioGenticoHumanoe sua proteona Constituio Federal cie 1988PIETRO DE JESUS LORA ALARCON

"0 Autor cuida do confronto entre o avano cientfico e o respeitoaos valores mnimos de dignidade, liberdade e igualdade queinspiram o sistema normativo da ordem constitucional de 1988.0 trabalho coloca o conceito de vida sob diversos enfoques.No deixa de focalizar problemas que, normalmente, so tratadosgenericamente pela doutrina. Vida humana, a dignidade da pessoae sua evoluo so questes enfrentadas pelo Autor. Avanaquando cuida do patrimnio gentico, e discorre, antes de tudo; deuma gentica voltada ao cumprimento do mandato tico. (...)Em resumo, a obra um excelente instrumento de discusso,revelando pontos importantes e polmicos sobre as conquistas dagentica e seus progressos, tendo como base o texto constitucional.Pensar em questes genticas pensar na dignidade do serhumano. O trabalho faz essa ligao e se aprofunda nos problemas,oferecendo alternativas e solues".Luiz Alberto David ArajoPatrimnioGenticoHumanoe sua proteona Constituio Federal de 1988

PrefcioLuiz Alberto David Arajo9798586456823

P1ETR0 DE JESUS LORA ALARCONPATRIMNIOGENTICOHUMANOe sua proteoConstituio Federal de 1988

WmEDITORAMTODO

SAO PAULO

Desta edio, EDITORA MTODORua Conselheiro Ramalho, 685Te!.; (11) 289-1366 - Fax: (11) 289-067901325-001 Bela Vista So Paulo - SPmtodo editorametodo.com,breditorametodo.comVisite nosso site: wwW.editorametodo.com.brwwW.editorametodo.com.brDados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)Lera Alarcn, Piero de JesusPatrimnio gentico humane e sua proteo na Constituio Federai de19S8 / Pietrc de Jesus Lora Alarcn. - So Paulo : Editora Mtodo 2004.

Bibliografia."I. Brasil - Direto constitucional 2. Gentica humana 3. Genticahumana - Aspectos morais e ticos 4. Vida l. Ttulo.

04-1547C0'J-342.7(61)

ndices para catlogo sistemtico:1. Brasil : Viria humane. : Pr^te^ : Aspectos genticas : Direitoconstitucional 342.7(81)

ISBN 85-86456-82-9

Todos os direitos reservacos. Nos termos da Lei que resguarda iodoscs direitos autorais proibida a reproduo tota! ou parcial dequalquer forma ou por qua.quer meio, eletrnico mecnico,inclusive atravs de processos xerogrficos, fotocpia e gravao,sem permisso por escic do autor e do eoiior.Para Andrs e Rodrigo,com ardente f na Vida.Para o povo colombiano,por sua resposta vivificante dianteagresso e sua firmeza na procuraurgente da paz democrtica.

Impresso no BrasilPrinied in Brazii2004

PREFCIO

AGRADECIMENTOA culminao desta obra o reflexo de um acmulode vivncias., incentivos, discusses acadmicas, expe-rincias e esforos pedaggicos. No percurso peloscaminhos da pesquisa relacionada Gentica, o DireitoConstitucional e a vida humana, vrias pessoas ilumi-naram trechos de perplexidades e incertezas. A elas. meussinceros agradecimentos.A Luiz Alberto David Arajo pela acolhida, pacincia,agudeza e esprito crtico, especialmente no incentivo dapesquisa a respeito da grandeza c intensidade da vidahumana.A Pedro Bohomoletz de Abreu Dallari pela fraternalconvivncia, fora e presena constante durante os longosperodos de trabalho.A Manoel de Queiroz Pereira Calas e .SamuelRodrigues Barbosa pelo valioso apoio, pelas reflexesjurdicas, nos campos do direito privado e da filosofiado direito e. especialmente, pela amizade.Olivro Patrimnio Gentico Humano e sua Proteo na ConstituioFederal de 19S8 no daquelas obras que so lidas e esquecidas.Os problemas trazidos pelo jovem publicista, doutor em Direito, professorde Direito Constitucional na PUC de So Paulo e na Instituio Toledode Ensino de Bauru, so atualssimos. O Autor cuida do confronto entreo avano cientfico e o respeito aos valores mnimos de dignidade,liberdadee igualdade que inspiram o sistema normativo da ordemconstitucional de 1988.O trabalho coloca o conceito de vida sob diversos enfoques,revelando o interesse do Autor por vrios ramos do saber. J nessa etapainicial so apresentados confrontos jurdicos de relevncia. Contudo,ainda no toma decises, e sim constri, passo a passo, um discursolgico. Trata do tema, moda seu ponto de vista, tece um raciocnio parachegar s suas concluses.No deixa de focalizar problemas que. normalmente, so tratadosgenericamente pela doutrina. Vida humana, a dignidade da pessoa e suaevoluo so questes enfrentadas pelo .Autor. Avana quando cuida dopatrimnio gentico, e discorre, antes de tudo. de uma gentica voltadaao cumprimento do mandato tico.Caminhando por essa trilha, inicia o tratamento positivo o uma,comeando por descortinar os pressupostos da biotica e da Constituio,evpondo os fundamentos aus confirmam a ntima relao entre elas.Versando sobre os princpios, traz substancioso trabalho de demonstrao,revelando sistematicamente os vnculos da biotica com a ConstituioFederal e dando a conhecer os reflexos dessa relao no princpio daigualdade, nos direitos sociais e econmicos, enfim, em uma gama deinteresses protegidos. O trabalho faz esse enlace de forma agradvel esensvei. procurando afinar o conceito e trazer a sua aplicao ao textoposto.ror rim. aGiaruainJ-ic corno -^e s" ^ litaihc- do y~i:~-'s.. rferccfuma proposta de emenda constitucional. Arrisca-se na discusso, expe-

236

8patrimnio genitico rlumanc e sja pro-eo na cf.'8s

se, mas debate. No foge do tema por meio de desvios que generalizemo problema da proteo constitucional do patrimnio gentico e suasnuances.O trabalho talvez encontre nessa apresentao direta, cuidadosa eminuciosa, sua maior qualidade. O desafio de propor uma emendaconstitucional, como ponto de partida para uma discusso sobre a questoda proteo biotica no contexto constitucional toma evidente o espritopolmico do Autor. E o debate , sempre, bem delimitado, O jovempublicista, que em seu trabalho de mestrado tratou da efetividade dasgarantias das pessoas no processo, avana na crtica e, na tese dedoutorado, cresce, propondo a discusso a partir da proposta legislativa.Em resumo, a obra um excelente instrumento de discusso,revelando pontos importantes e polmicos sobre as conquistas da genticae seus progressos, tendo como base o texto constitucional. Pensar emquestes genticas pensar na dignidade do ser humane O trabalho fazessa ligao e se aprofunda nos problemas, oferecendo alternativas esolues.O leitor poder discordar das idias apresentadas, mas, certamente,no poder dizer que o tema no foi debatido. E no poder afirmarque as explicaes e tomadas de posio no foram fundamentadas.Portanto, uma obra de debate, debate de idias, de propostas, em queo Autor dialoga e explica suas razes cientficas e jurdicas. Compro-metido, o Autor, ainda, culmina com a proposta de emenda constitucional. preciso continuar as pesquisas, os questionamentos. Somenteassim, esclarecendo temas to caros ao ser humano, surgiro as escolhasadequadas da sociedade brasileira diante dos novos desafios.

Luiz Alberto David ArajoSUMRIONOTA DO airrorpINTRODUO151.O CONCEITO DE VIDA HUMANA231.1As dificuldades para a compreenso do conceito vida23

1.2O sentido biolgico da vida,?9

1.2.1As caractersticas dos oigansmcs vivos 29

1.2.2a classificao dos organismos vivos35

1.3Conceito de vida humana351.3.1Conceito biolgico3s

1.3.2A concepo filosofia39

1.3.3O conceito de homen social s., 44

1.3.4Do indivduo pessoa: a tica, a dignidade e a tutela jurdica....47

2.A PROTEO DA. VDA humana PELO DIREI NO MARCO DEVOLUO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS2.1Premissas necessrias57

2.2a proteo da vida Humana ca sociedade primitiva Idade Media -.62

2.3Da Carta Magna primeira dimenso do? direitos fundamentais 69

2.4A segunda dimenso dos direitos fundamentais77

2.5Os direitos fundamentais em terceira dimensoso

2.6Concluses parciais necessrias para reconhecer o trnsito de uma aoutra dimenso protetora da vida humana3

2.' a quarta dimenso dos direito? fundamentais e os progressos da gen-tica _572,7.1 O contexto histrico atuai e a quarta dimenso aos direitos funda-mentaish,l

10PATRIMNIO GENTICO HUVANO e su prateo ne CF/S3SUMR O11

2-7.3 A mudana de direo no sentido moral da sociedade932.7.4 Da interpretao do sujeito coletivo ao retorno individuali-dade 95

3.A CINCIA GENTICA H A CINCIA DO DIREITO1013.1A cincia gentica1013.1.1Breve histria da cincia gentica101

3.1.2Conceito de gentica106

3.2A interao contempornea entre a cincia gentica e a cincia jur-dica .T10S

4.O CONCEITO DE VIDA HUMANA SEGUNDO A PTICA GEN-TICA1154.1Os seres humanos e as mutaes genticas115

4.2O genoma humano118

4.2.1O incio da vida humana118

4.2.2O ADN, a sntese de protenas e a importncia do genoma na varia-bilidade hereditria122

4.3Os distrbios genticos e os mtodos da gentica molecular1284.3.1Gentipo e fentipo 12S

4.3.2Os distrbios genticos130

4.33 Os desafios da Engenharia Gentica1314.4As doenas genticas136

4.5A seqncia do genoma e as terapias genticasl-!2

5.A BIOTICA E O DIREITO CONSTITUCIONAL1515.1O que biotica?151

5.2A confluncia entre a Biotica e o Direito Constitucional155

5.2.1Quanto s fontes da Biotica e do Direito Constitucionali56

5.2.2A proteo comum da vida humana157

5.2.3A efetividade das normas da 3iotica e do Direito Constitucio-nal158

5.2.4Os princpios que sustentam o relacionamento da Biotica e oDireito Constitucional159

5.2.5O bern comum como \alor da Biotica e como finalidade do

i.iiiju k^UIiJIii*^ j^.iii- -

\alor6.A PROTEO CONSTITUCIONAL DA VIDA HUMANA NO DIREITO

CONSTITUCIONAL BRASILEIRO 1676.1Breves comentrios sobre a proteo da vida humana nas Constitui-es precedentes Constituio de 19SR-. 167

6.2A proteo da vida humana na Constituio Federa] de 1988 171

6.2.1 Pressupostos bsicos para a interpretao da Constituio Fede-ral 1716.2.1.1O sentido da interpretao constitucional 171

6.2.1.2A teoria geral do Direito Constitucional e a ConsutuioFederal de 1988 175

6.3A proteo da vida humana na Constituio Federai de 1988 1816.3.1O direito vida como direito fundamental 181

6.3.2A mutao da interpretao constitucional com relao ao conceito

de vida humana 1876.3.3O carter multifacetrio da tutela constitucional 1-9- 6.3.3.1 C direito a existir z a proteo da integridade fsica 1926.3.3.2A proteo constitucional da vida humana a partir da con-cepo 203

6.3.3.3A proteo das liberdades humanas 210

6.3.3.4A proteo dos direitos econmicos e sociais 213

6.3.3.5A proteo dos direitos transndividuais 216

7.A PROTEO CONSTITUCIONAL DA VIDA HUMANA A PARTIR DAPTICA GENTICA 2197.1Noes metodolgicas219

7.2O objeto de tutela: o patrimnio gentico humano220

7.3Temas relacionados orotecao dc patrimnio genrico humano222

7.4O ponto de partida224

7.4.1O art. 225, 1., inciso II. da CF/88 224

7.4.2As declaraes internacionais que visam proteo do patrimniogentico humano 230

7.4.2.1A Declarao Universal do Genoma Humano e dos Di-reitos Humanos

7.4.2.2A Declarao Ibero-Lati no- America na sobre tica e Ge-ntica

7.4.3A proteo dc patrimnio gentico humano nas Constituiestfirr-n^ri^

12PATRIMNIO GENT.CO HUMANO e sua piolec na C-/8b

8. OS ELEMENTOS PARA A PROTEO DO PATRIMNIO GENTICO

HUMANO NA CONSTITUIO FEDERAL DE 19SS2418.1O pano cie fundo prncipiolgico241

8.2O princpio da dignidade da pessoa humana244

8.2.1A consagrao do princpio no constitucionalismo de hoje244

8.2.2O princpio da dignidade da pessoa humana como fundamen-

to-valor precedente da Constituio de 1988 2468.2.3A essncia jurdica do princpio da dignidade da pessoa hu-mana 250

8.2.4A dignidade da pessoa humana e os progressos da Gentica....256

8.3O princpio da igualdade259

8.4A liberdade de expresso e criao cientfica265

8.4.1A investigao cientfica e os direitos fundamentais265

8.4.2A liberdade de expresso e criao cientfica na ConstituioFederal de 1988 e a investigao no campo da Gentica270

8.5O direito sade2758.5J O contedo do direito sade e o problema da efetividade nor-mativa2755.5.2O direito sade na Constituio Federal de 19S8278

5.5.3O direito constitucional sade e as doenas genticas286

.5.4 A consitucionalidadc das terapias genticas clnicas2928.5.5A inconstitucional idade das manipulaes genticas de mera expe-rimentao 29S

8.5.6A inconstiaictonalidade da prtica de clonagem humana304

9. A CONSTITUIO NA DEFESA DA VIDA HUMANA LUZ DOSAVANOS DA GENTICA - UMA PROPOSTA DE EMENDACONSTITUCIONAL3139.1Carter e justificao da emenda313

9.2Do projeto de emenda constitucional315

CONCLUSES317

BIBLIOGRAFIA329

NOTA DO AUTOROpresente estudo trata da proteo vida humana em seu significadotradicional, mas tambm na sua mais recente acepo. Oferecemos,assim, uma anlise sistemtica sobre as diversas formas de proteo davida humana na Constituio Federal de 1988.Desde os primrdios da histria da civilizao, a razo de ser doDireito a proteo da vida do ser humano, sendo a vida humana oobjeto prprio da reflexo jurdica. Em outras palavras, o centro deateno da normatividade o homem na sua existncia concreta, sempredefinida nos termos de uma situao e um contexto determinado.O que poderamos definir como um amparo permanente vida doser humano atravessou vrias fases. Desde tempos imemoriais, em queo fundamental era a proteo do corpo, passando pela fase de resguardodo conjunto de manifestaes vitais - as chamadas liberdades pblicasna doutrina-francesa - at chegar etapa de apario dos direitos sociais,e, mais recentemente, a dos chamados direitos da fraternidade e dasolidariedade.Esla a conhecida evoluo dos direitos e garantias fundamentais,que a melhor doutrina na nossa poca explica como sucessivos passosgeracionais e progressivos, cuja meta final sempre a proteo maisintegral possvel do ente humano.No decurso da franca evoluo desse tipo de direitos, as Consti-tuies tm ido o? diplomas iurdicos oue nor excelncia hospedam asnormas garantidoras desses direitos fundamentais. Pode-se afirmar queo prprio aperfeioamento da estrutura normativa das Constituies temacompanhado a teieologia da proteo do homem. Assim, inegvel quequalquer reflexo de natureza constitucional tem como comeo, meio fim, a vida humana, em detrimento de uma hermenutica realizada apartir do Estado.Entretanto, esses avanos no resguardo constitucional da vida doser humane nao tem sido paciicos ou sem tropeos. v_crn c^.uj, u p^ido progresso jurdico em torno do abrigo desse bem jurdico, apareceu

14PATRIMNIO GENT.CQ HUMANO e sua proteo na cf/83

uma multiplicidade de questes de incalculvel valor, dentre elas, osproblemas referentes integridade fsica dos seres humanos, polmicassobre aborto, eutansia, fecundao assistida: em outro mbito, questesdecorrentes de reais ou aparentes conflitos entre direitos ou liberdadesconsagradas nos Estatutos Fundamentais, o que gerou a relativizao dosmesmos; e ainda, debates em tomo do alcance dos direitos sociais e dosinteresses difusos e coletivos. Enfim, no foi sem esforos que ahumanidade ganhou terreno do Estado e hoje o abrigo constitucional dadignidade da pessoa humana consagrado como princpio fundamentalpara qualquer Estado Democrtico e Social de Direito do mundo.Pois bem, se h algo que fica claro desde o comeo, tendo emvista este conjunto de mudanas na proteo jurdico-constitucional davida humana, que esse conceito vida humana - vasto, abrangente,sendo praticamente o conceito do que poderamos chamar de o todoconstitucional Talvez este fato impea que seja realizado um estudopormenorizado de cada um dos aspectos da proteo desse bem jurdico.Por isso, no modesto esforo plasmado no trabalho que hojeapresentamos, procuraremos demonstrar a necessidade imperiosa deamparar a vida humana, tendo como referncias os ltimos progressosda engenharia gentica e da biotecnologia. Trataremos da vida humanasob o olhar gentico e, ento, tentaremos justificar porque a ConstituioFederal de 1988 deveria acolher uma proteo at hoje indita: a da vidahumana a partir da evoluo e conquistas mais recentes dessas reas doconhecimento. a proteo da vida humana e da dignidade, neste novo milnio,cheio de incertezas, mas tambm de esperanas, ainda a razo de se-do Direito e muito especialmente do Direito Constitucional. Em nossotrabalho, esses temas sero abordados em sintonia com as descobertasmais recentes da Gentica.INTRODUOApesar dos avanos constantes da ordem social e do esforo contnuopara melhorar suas condies de vida, o ser humano ainda noconseguiu dar as respostas- adequadas a velhas perguntas: de onde emanasua vida? Qual o princpio reitor da vida biolgica? Como fazer vida"Como modificar sua existncia a ponto de inibir as circunstncias queo conduzem irremediavelmente morte?O acompanhamento da soluo desses problemas no est fora domarco da Cincia Jurdica. No entanto, para verificar os laos quecondicionam a relao do Direito, o mundo das normas, e a soluo destesquestionamentos, to caros ao ser humano, mister contar com umabagagem importante de conhecimento;- e raciocnios adquiridos emseqncia lgica.Com efeito, a partir das trs ltimas dcadas do sculo XX, os estudossobre a origem e desenvolvimento da vida humana iniciaram uma novatravessia, que estabelece como ponto de referencia os avanos da Gentica.Acompanhando os caminhos da cincia, a Humanidade assiste, cadavez com maior freqncia, a episdios de desenvolvimento da Biologiaque superam paares tradicionais. Aos poucos, us seres iiumano-,acostumamo-nos a escutar expresses como genes, manipulao gentica,clonagem, enfim, vocbulos que. ate relativamente pouco tempo, s^encontravam fora de nosso cuniexiu imediato.Um dos avanos mais significativos e de maior impacto neste ramodeu-se em 26 de junho de 2000, quando foi anunciado o processo deconcluso dc mapeamento do genoma humano, com o que o mistrioda crese e das porsibi!idader F' ^m^n3'" o decorrer d:?, exisincu: aia morte pareceu mais perto de ser decifrado.

1gfatrimn'0 GENTICO BUVANO 5 sua pfotepo na CF/SSMuiro antes dessa descoberta, a inveno do chamado processo deADN recombinante, em 1971. nos primrdios da Engenharia Gentica,j tinha fornecido as peas iniciais para o atual estgio da cincia. Omtodo, na opinio de autorizadas personalidades do mundo da Gentica,divide a histria da humanidade em pr e ps-engenharia gentica, tantase tamanhas foram as modificaes sociais, cientficas, polticas e ticasdecorrentes.Naturalmente que o progresso da cincia um elemento queocasiona uma expectativa generalizada em todos os homens e mulheresdo planeta. As formulaes mais importantes com relao s vantagensdestas descobertas guardam relao com a possibilidade de diagnsticosmais precisos sobre doenas genticas, para, com esses subsdios, poderaplicar benefcios de medicina preventiva.Ao mesmo tempo, de uma outra perspectiva, muito negativa porsinal, surge a inquietude de que pelo menos um setor da humanidade,contando com seus recursos econmicos, polticos e at militares, seaventure na senda de intentos eugenistas, o que. poderia conduzir modificao futura da espcie humana, catalogao de seres humanoscomo superiores e inferiores, ausncia de privacidade gentica, dizer, condenao gentica.Entretanto, independentemente dessas hipteses, que criam dosessadias de confiana, ainda que tambm grandes temores, a verdade que os frutos das observaes cientficas ocasionaram um fenmenointeressante no relacionamento entre as cincias do ser e a cincia dodever ser.Assim, as concluses emanadas do mundo biolgico se estenderamj em um primeiro momento, inevitavelmente, ao mundo da antropologia,da religio, da sociologia, e em geral a tudo quanto tratado com rigorcientfico, ao ponto que, na opinio de muitos geneistas e pesquisadores,no contexto contemporneo, as cincias biolgicas so tambm cinciassociais. Destarte, a pesquisa biolgica outrora considerada, aparentemen-te, neutral e sem compromissos, atualmente enfrenta o envolvimento dasociedade com a cincia. No raro, ento, que estejamos falando dantima relao entre Gentica c Direito.Sem que constitua uma novidade, pode-se afirmar que neste comeodo sculo XX no existem mais barreiras intransponveis entre o mundodo ser e o mundo do dever ser. Pelo contrrio, faz-se cada vez maisevidente a relao entre os domnios da Biologia e da Gentica, cinciasda vida: com os do Direito, a cincia das noimas que p;o:egem a v;da.>INTRODUO17! '~" ~ ~ ~ "Dentro de um sistema jurdico individualmente focalizado, coletorde valores realizados atravs de normas, o resguardo da vida humana,como bem tutelado, comea na sua Lei Fundamental - as Constituies.So as normas constitucionais, supremas dentro do sistema, as primeirasa atingir a vida no intuito da sua maior e mais ampla proteo.No Brasil, a aproximao entre Gentica e Direito foi percebidapelo constituinte de 1988, refletindo-se no singular significado que a CartaMagna outorgou vida humana. Com efeito, o constituinte primrio renovou o conceito tradicionalde vida humana mantido at esse momento pela histria jurdicabrasileira, utilizando vrios recursos, trazendo, por exemplo, a idia dedignidade da pessoa humana, no Ttulo L art 1.. inciso 111 da CF,erigindo este conceito em Princpio Fundamental e pressuposto deexistncia do Estado Democrtico de Direito, consignando a inviolabi-lidade do direito vida, no caput do art. 5.c. e estipulando em nadamenos que em setenta e seis incisos e dois pargrafos do mesmo artigoque inaugura o Ttulo -II denominado Dos Direitos e Garantias Funda-mentais, um leque fecundo de orientaes de abrigo e salvaguarda davida humana, estabelecendo captulos concretos para a defesa dos direitossociais, da nacionalidade c dos partidos polticos (Captulos III IV eV do Ttulo II da Constituio Federal, respectivamente).Por ltimo o constituinte introduziu o conceito de diversidade devidas., ou biodiversidade, no art. 225 da Carta Fundamental, e audaci-osamente tratou,, no Io, inciso II do mesmo artigo, de algo maisdelicado, o patrimnio gentico brasileiro. Parece-nos que neste ponto,o constituinte comeou a estabelecer um nexo enue Gentica e DireitoConstitucional.Apesar da previso do Estatuto Maior, importante manifestar que,qui por constituir o arr. 225 a premissa jurdica bsica para a proteodo meio ambiente, uma grande parte dos estudos jurdicos enveredoupor esse caminho, a proteo da biodiversidade brasileira, a flora c aaiit. DcSicAe, importante s cn!;5er_ obrir. texto., tm ;ido desenvol-vidos nesse campo.Entretanto, com preocupao, observamos a maneira como noterreno jurdico constitucional tem-se abordado a discusso sobre aGentica e seus avanos com relao vida humana. Embora contemoscom a referncia dc art. 225, que se liga, sem dvida, proteo davida do ser humano, como constatam alguns estudos sobre o tema. noh amplos dcsev-.Oivinicutos constitucionais sobre ele. O que, em

20PATR/MNO G$N~~!CO HUMANO e sua ?rotegc. na CF/33if.TFOQLO

PATRIMNIO GENTICO HUMANO e sua p'oteo ns C"/B8INTRODUO19

princpio, nos parece apenas bvio, se levamos em conta que asdescobertas que nos ocupam so extremamente recentes.Na verdade, o que aconteceu aps a promulgao da ConstituioFederal de 1988 que o papel da Gentica expandiu-se sobremaneiraDe um lado, a produo de novos conhecimentos sobre genes humanos,inditos em sua natureza e extenso, redefiniu o alcance desse ramo doconhecimento na anlise, diagnstico, tratamento e preveno de doenasdo ser humano. Em outro plano, a Gentica foi reconhecida oficialmentecomo uma cincia clnica e laboratorial, refletindo assim na conscinciahumana, dentro do mbito da Medicina, do Direito, e da cincia socialem geral. De fato, a Gentica atual indispensvel a praticamentequalquer ramo da cincia mdica, seja bsica ou clnica, assim comotambm imprescindvel para qualquer cincia que trata, analisa ouprotege a vida do ser humano.Em suma, agora com propriedade, podemos dizer que uma justificaopara tecer estas breves reflexes sobre os avanos da Cincia Gentica eo Direito Constitucional, tendo como suporte normativo a Carta Magna de1988 a de que esta tem, precisamente, como centro dc gravitao, aproteo da vida humana. Ausente, apenas, ainda que o constituinte visasse perspectiva gentica, como demonstrar-se- no corpo do trabalho, umaproteo adequada para o patrimnio gentico humano.Islo porque a nfase dada pelo constituinte, e com ele. o modeloprotetor que se localiza na Constituio, reproduz majoritariamente aimagem do que possvel chamar de modelo tradicional de amparo davida humana, que compreende primeiro a proteo da integridade fsicae corporal do indivduo, e, em seqncia, as chamadas manifestaesvitais, expressas no conjunto de garantias para o exerccio pleno dasliberdades humanas, os direitos sociais e os interesses difusos e coletivos.Sobre esses tpicos, sem dvida, de perene atualidade, temos umdesenvolvimento razovel no campo da Cincia Jurdica.Data mxima venia, o tnue olhar gentico, a previso do art. 225, I.c, inciso II, encontra-se isolada, ao aguardo de um complementonecessrio, que lhe conceda uma superior unidade de sentido nasinuosidade da prpria Constituio Federal. Talvez uma redao emartigo novo dentro do Ttulo II, qui um captulo, inserido no prprioTtulo mencionado. O que no pode continuar a acontecer que o modelode proteo, prprio para atender os avanos da biotecnologia e aengenharia gentica, esteja ausese.O estudioso do ordenamento jurdico brasileiro ainda poder argnirque de conhecimento geral haver normas que regulam a temtica, porexemplo, a Lei 8.974, de 5 de janeiro de 1995. No entanto, parece-nosque a questo do abrigo efetivo da vida humana no fica aindasuficientemente resolvida desta forma. O certo que, infraconstitucio-nalmente, como verificaremos, se h um compndio de normas que tocamo tema. ainda que sem esgotado, e que, por serem precisamente normaslocalizadas em patamar inferior s normas da Constituio Federai,podem ser alteradas a qualquer momento, pois no gozam das vantagensda rigidez constitucional.Acreditamos que a finalizao desta nova abordagem no interiorda Constituio Federal pode ocasionar uma evoluo no entendimentodos Direitos Fundamentais, com repercusso interessante nos planosinfraconstitucionais.Todavia, o caminho a seguir no fcil. Como ser apreciado notranscurso da pesquisa, aos problemas histricos do Direito Constitucionalna seara da proteo da vida, a cincia dos genes agrega outro nmerosignificativo de incertezas e dvidas.Novos horizontes so abertos e originais descobertas que tm porbase a Gentica afloram num contexto confuso, caracterizado pelaausncia de informaes adequadas para o comum do povo soberano.Parecera que, em certas esferas da sociedade, existisse a pretenso deir de costas aos interesses populares e que, quanto menos regulado peloDireito esteja este conjunto de invenes, tanto melhor!O Direito Constitucional deve acompanhar os avanos da Biologia ea Gentica com o objetivo centrai de continuar a proteger a vida humana,compreendendo que os avanos da cincia expressam um novo sentido devida e, destarte, o conceito de vida humana cobra um novo sentido. A lentedo Direito Constitucional deve debruar-se por cima desse novo rumo,captar a riqueza dele, e criar as formas devidas de proteo.Nossas modestas reflexes iniciam-se abordando o conceito de vidahumana. o primeiro captulo, onde, advirta-se de imediato, no nossoobjetivo esgotar o conjunto de raciocnios que historicamente foram eesto atualmente sendo tecidos com relao vida humana. O captuloapenas colhe as diversas manifestaes que, sobre a vida humana, podemser focalizadas nos diversos campos do conhecimento. Trabalhamos,ento, com um conceito biolgico que , precisamente, neste momentoda analise, o mais curto, visto que, mais adiante, o trabalho adentra naseara da Biologia e a Gentica, com explicaes imprescindveis paraalimentar a demonstrao d^ nossa tese.O segundo captulo do trabalho uma tentativa de analisar comoo Direito protege a v;da h^m-na nc marce ?' 'ciuco do^ direi'.os

fundamentais. Nossa proposta consiste em enunciar, sem a pretenso deser exaustivos nesta anlise, a proteo da vida humana desde acomunidade primitiva, quer dizer, desde antes da apario da CharlaMagna Libenatum em 1215. at a chamada terceira dimenso dos direitosfundamentais. O captulo apresenta um item que destaca os elementosque permitem reconhecer o passo de uma dimenso a outra dos direitosfundamentais e que serve de prembulo ao conjunto de condies queoutorgam suporte afirmao da existncia de uma quarta dimenso dosdireitos fundamentais, inspirada nos avanos da cincia gentica.Para efeitos meramente didticos, e para tom-lo o mais claropossvel, dedicamos um captulo especial, o Captulo 3, aos principaisconceitos da Gentica como cincia, o que, aspiramos, permita ao leitoruma familiarizao com a terminologia estranha, em princpio, linguagem jurdica. Tocam-se assim assuntos que achamos imprescind-veis para entender o terreno da cincia gentica como uma resenhahistrica breve, o conceito atual de Gentica, e, ainda, uma reflexo sobrea interao contempornea entre a cincia gentica c a cincia jurdica.A continuao, no Captulo 4. trata-se do conceito de vida humanasegundo a tica da Gentica. o segmento onde exercem forte influncia,pelo auxlio necessrio a que se v forado o pesquisador constitucionalas cincias biomdicas e a prpria cincia gentica. Temas como o ADNe a sntese de protenas o genoma humano, a variabilidade hereditria,gentipo e fentipo, so relatados apenas com o objetivo de forneceros subsdios que permitam caminhar procura de uma nova maneirajurdica de analisar a vida humana. Um subcaptulo dedicado s doenasgenticas e a importncia de seu tratamento por meio das terapiasgenticas. conveniente tambm advertir que nos preocupamos muito comos princpios, em lugar de nos dedicarmos aos detalhes biolgicas,genticos ou mdicos. No podemos esquecer que o presente trabalhopretende possuir cunho jurdico, para o que se alimenta, inicialmente,na fonte da gentica mdica para posteriormente avanar no teor davalorao constitucional da vida e no direito positivo.No Captulo 5 procura-se descobrir os relacionamentos e pontos deinterseo entre a Biotica e o Direito Constitucional. O objetivo docaptulo assentar as bases para um dilogo permanente entre as duasdisciplinas.O trabalho prossegue analisando a proteo constitucional da vidahumana no Direito Constitucional brasileiro, expressando como o cons-tituinte consagrou o amparo da vida humana numa acepo quepoderamos chamar de "tradicional", ou seja, embora se dedique combastante diligncia ao resguardo da vida humana, tal proteo se dirige integridade fsica, das liberdades, dos direitos econmico-sociais etransindividuais. O constituinte veiculou como elemento central e vj?mestra do sistema protetivo a dignidade da pessoa humana, analisadano trabalho como fundamento-valor que precede a qualquer exercciohermenutico.Contudo, nossa pesquisa indica a existncia de uma mutaointerpretativa, fortemente influenciada pela perspectiva gentica, comrelao vida humana como bem jurdico. Assume-se que assim emereeo patrimnio gentico humano, que no Captulo 7 identificado. Nestesegmento, observa-se o art. 225 da CF e d-se a conhecer algunsinstrumentos internacionais destinados proteo do patrimnio genticohumano.O Captulo 8 j trata especificamente dos elementos imprescindveispara tutelar o patrimnio gentico humano na Constituio Federal de19SS. Trabalha-se, ento, com-o-princpio da igualdade, a liberdade deexpresso e criao cientfica, o direito sade, c se manifesta umaopinio pela constitucionaidade das terapias genticas aplicadas soluodas doenas genticas que foram identificadas em captulos precedentes.No captulo final, elabora-se uma proposta de emenda constitucionalque tende a ampliar a proteo da vida humana, a partir da perspectivagentica e das possibilidades e expectativas luz dos avanos edescobertas "mais recentes desta rea.As concluses da presente obra no tm a pretenso dc esgota: ctema. At porque a velocidade da cincia surpreendente e, com certeza,enquanto analisamos o problema e escrevemos esas linhas, questesinditas aparecem no vasto campo da Gentica. Entretanto, acreditamosque a viso geral que, sobre este particular, comece a ser elaborada, pode.contribuir para desenhar as bases de uma proteo mais integral da vidado ser humano, na perspectiva da assimilao constitucional de elementos

20PATR/MNO G$N~~!CO HUMANO e sua ?rotegc. na CF/33if.TFOQLO

O CONCEITO DE VIDA HUMANASUMARIO: 1.1 As dificuldades para a compreenso do conceitovida - 1.2 O sentido biolgico da vida: 1.2.1 As caractersticasdos -organismos vivos; 1.2.2 A classificao dos organismos vivos- 1.3 Conceito dc vida humana: 1.3.1 Conceito biolgico; 1.3.2A concepo filosfica; 1.3.3 O conceito de homem social; 1.3.4Do indivduo pessoa; a tica, a dignidade e a tutela jurdica.1.1 AS DIFICULDADES PARA A COMPREENSODO CONCEITO VIDA

Como anunciado na Introduo, nosso trabalho traz como desgnioo conhecimento da proteo constitucional da vida do ser humanoem toda sua dimenso e proporo. Particularmente, pretendo satisfazera exigncia da nossa poca de tutelar constitucionalmente o patrimniogenrico hum?.no. Por isso. melutve! tpcw -"osso csrmnho analisandoo significado do conceito vida.Pergunterno-nos, ento, de incio, o que a vida? Que pode serconsiderado algo vivo? Como entender a vida?As indagaes sobre o vocbulo vida apontam para sua derivaodo grego bios ou da origem latina vila. Ao que parece a locuo foidisseminada na Antigidade pelos povos da Europa Ocidental, usando-se para identificar aquilo que possua rr!n,7'ri",erito. Ho'p em dis. semdvida, o termo apresenta uma grande riqueza significativa, utilizado

24PATRIMNIO GENTICO HUMANO e sua proteo na C-/83CONCEITO DE VIDA HUMANA

em diversos sentidos, todos eles de imensa validcz e utilidade, emdependncia do mbito dc trabalho do pesquisador ou do intrprete.O conhecimento sobre o processo semntico, isto , do conjuntode translaes de significado sofridas no tempo e no espao pelovocbulo vida, at chegar a ostentar sua atual abrangncia, tema devrios estudos. Assim, por exemplo, uma explicao da extensodesmedida da expresso oferecida por R. Benhelot, que comentandoo significado da mesma no Dicionrio de A. Lalande, explica ageneralizao da palavra alem Leben - vida - que incorpora a filosofiaromntica alem e atribui ao conceito no s a atividade espiritual senotambm a atividade social vida de uni organismo.'No raro, encontra-se um uso do termo ligado moral como a"vida da alma" ou a '"vida devota7', e tambm h uma comum referncia "vida digna", ou "vida regrada" ou "desregrada"; no campo doDireito com freqncia mencionam-se os conceitos de vida pblica evida privada. Enfim, a expresso utilizada em diferentes reas esituaes, pelo que mister tentar descobrir os sentidos mais teis eimportantes para o raciocnio jurdico que procuramos fazer.Reconhece-se, destarte, que realmente difcil atentar para umsignificado unvoco e universal da expresso. E, salvo melhor juzo,um termo inacabado, adaptado e ajustado de modo a atender a diversassituaes no decurso da histria. Parece-nos, ento, felizmente conde-nado a uma permanente modificao de seu significado, que vaiganhando em abrangncia sem, contudo, perder um fio condutor: o daexistncia de algo que, indiscutivelmente, se anima, que promove ummpeto, um movimento, a concretizao de uma potncia - potenci-alidade vital - que lhe inerente.Em seu louvvel esforo por descobrir as razes que dificultama sistematizao do uma narrao metdica e relativamente completados significados da vida ao longo do tempo, Jos Ferraer Moramanifesta que h. pelo menos, duas causas dc relevo: em primeiro lugar,porque, se trabalhamos o termo como existncia biolgica, este no temo mesmo sentido que hoje, j que tem evoludo; em segundo lugar,porque a explicao da vida no se reduz a um reino das cincias cmparticular, a uma ontologia regional a uma cincia especial, seno aaleo que, de alguma maneira, penetra iodas as realidades.2 Sendo assim.: Consulte-se o Vocabulrio tcnico e crico da filosofia, de Andr Lalandt. SoPaulc Martins Fcntes. p- i.210." jos Ferraer Mo:;. Dicchnna de filosofia. Buenos Aires: Sudaroencai;2. i9~i.t. 1. p. 902.conclui-se que todas as cincias se referem, de alguma forma, vida,e que da decorre, precisamente, a complexidade do seu tratamento.De toda forma, a realizao de um processo discuisivo de cunhojurdico sobre a vida do ser humano obriga a tomar uma posio dafanasobre aquilo que a humanidade tem conveniado chamar simplesmentede vida, assumindo a necessidade de destacar as caractersticas geraisdesta representao elaborando um conceito. Este desafio implicadesenvolver uma pesquisa singular sobre o tema.Constata-se, para comear, que na procura de um sentido expresso vida, possvel deparar-se com vrias formulaes tericas,provenientes de diversos terrenos do conhecimento. O intuito deconcentrar os diversos aspectos analisados pelas cincias humanas sobrea vida, conduz ao destaque pedaggico de vrias reas, que podemser enunciadas da maneira seguinte:a)A vida pode ser estudada como entidade biolgica, tratada,ento, pela Biologia

b)A vida pode ser observada pela tica da prtica, ou comoexistncia moral, tema da tica.

c)A vida susceptvel de ser abordada como valor supremo,objeto da concepo do mundo, no plano filosfico.

d; A vida passvel de ser auscultada como resultado da interaodo ser vivo reunido em coletividade, em um plano sociolgico.

O esforo por apresentar pedagogicamente as ticas de anlise davida guiado por uma compreenso do mundo que leva em conta anatureza, a sociedade e o pensamento como esferas de construo ereproduo do universo. No pretende, ento, ser uma tese definitiva.E apenas um ponto de partida para acobertar as inquietudes que sedesprendem, com relao ao tema, desde os diversos campos cientficos.Convm, sim, anotar que, como ser desenvolvido posteriormente,assistimos a uma poca em que o raciocnio da Biologia e da ticaaparece em um estgio de aproximao, como fruto dos avanosbiotecnolgicos e suas inegveis repercusses neste ltimo mbito.Como comprovaremos adiante, tais campos de anlise se conjugam,distanciam-se e sc unem em diversas etapas da histria do seudesenvolvimento disciplinar. Aigura-sc-nos recomendvel partir, pelomenos, da identificaro das diversas pc:-:urz: corr. relar ?. "idsdecorrentes das reas cientficas mencionadas.

26PATRIMNIO GENTICO HUMANO s sua proteo na QF;S8CONCEITO DE VIDA HUMANA27

Assim, o Dicionrio de filosofia de Nicola Abbagnano define avida como "La caracterstica que ciertos fenmenos tienen para pro-ducirse o regularse por si mismos o Ia totalidad de tales fenmenos""/Aponte-se que, neste sentido, a vida uma caracterstica prpriade algo que se autodetermina em suas funes de produo e regulao.Este entendimento parece, at certo ponto, pacfico. A vida umaqualidade de ago. Ou se tem ou no se tem vida. A partir disso, agrande discusso sobre a essncia da vida repousa, em um primeiromomento, na detectao da sua origem.No nossa inteno, nem consideramos ser esta a oportunidade,ingressar no terreno da interessante e caudalosa polmica entre ovitalismo e o mecanicismo, correntes filosficas que explicam osurgimento da vida partindo j do reconhecimento de um princpio ouj de uma causa qumica ou fsica imprescindvel para que emerjame aconteam os fenmenos da vida.R.essa!te-se. simplesmente, que para os vitalistas, entre os quaisse contam o histrico embriologista Driesch ou o filsofo Bergson. avida um impulso radicalmente transcendente matria, enquanto quepara os mecanicisras, todo o processo de formao e sucesso da vidapode ser explicado por teorias cientficas, resultando o ser vivo umsistema fsico-qumico.4Nosso trabalho assenta-se, como posteriormente ser percebido, emvrios postulados biolgicos, o que poderia chamar a ateno para umaorientao filosfica mecanicista. Contudo, no podemos esquecer que.como tambm apontaremos mais adiante, a Biologia ainda no explicadeterminados assuntos. Por isso, com relao ao tema sobre o qualtrataremos, bom advertir que h que correr o risco da incertezacientfica sobre muitos fenmenos; do contrrio, o que aconteceria seriacomear a dar voltas em torno da vida, especialmente a do ser humano,sem possibilidade dc encontrar o elemento, o fio condutor de umraciocnio lgico e apropriado para, futuramente, realizar uma anliseconstitucional da proteo da vida humana na contemporaneidade.Em suma, partiremos da Biologia, sem esquecer que a discussosobre o chamado "impulso vital" - particularmente assinalado pelafilosofia dos vitalistas - ainda no questo inteiramente resolvida.Contudo, vale a pena anotar como a conjugao e o distanciamentodisciplinar ao qual nos referimos em pargrafo anterior se faz presentenesta relao entre Biologia e Filosofia, cadenciada pela discusso entrevitalistas e mecatiicistas.Pois bem, prosseguindo neste extenso campo da Filosofia, RecasensSiches, em grandiosa obra, indaga-se sobre a essncia das coisas e dosseres e resume a opinio do pensador mexicano Antnio Caso. Comentao mestre espanhol que para A. Caso, h trs graus do ser: a coisa,o indivduo e a pessoa. A clareza da sinopse merece transcrio:"Coisa o ser sem unidade. Se se quebra uma coisa nada morrenela. Se se passa deste grau inferior do ser, ao imediato superior, aparecedesde logo a diferena fundamenta] que medeia entre o mundo fsicoe a esfera da natureza orgnica. O quebrar coisas nos d coisas; mas,enquanto se toma contato com o biolgico, a vida se mostra dotadade propriedades profundamente diferentes. O ser dotado de vida sechama indivduo, o que no pode dividir-se. Entre os indivduos htambm graus de elevao da potncia vital: nos confins dos mundosvegetal e animai, a individualidade nos mostra o enrgico relevo quecobra nas formas superiores das plantas e dos animais. O homem um organismo animal e, portanto, um indivduo; mas algo mais queisto: uma pessoa".5A reflexo do filsofo ibrico coloca de presente a diferena entreo mundo das coisas e o mundo dos seres. mas. tambm, singularmente,a realidade de vidas que possvel descobrir no universo, onde. bomdizer com preciso, convivem vrios tipos de seres, c onde o homem, sem dvida, o ser manifestamente superior. To superior quetransforma sua realidade natural e evolui a patamares inusitados dedesenvolvimento, construindo um relacionamento no circuito de ummodelo produtivo cujo fim a gerao de bens que garantem umaqualidade de vida cada vez maior.' Ll.: R^sens Sichcs. '7Jt. /,,,-.v. x-ciedzd v d^r.-ch-. 3 ed. M^-z-- Porrj:1952. p. 60.5 Nicola Abbagnano. Dicionrio de fazofia. Santaf de Bogot, Colmbia: Fondode Cukum Econmica. 199". p. J.I8S.* A questo levantada sobre a discusso entre vitalistas e mecanicisras no de poucaimportncia. No Dicionrio das grandes filosofias, organizado por Lucien Jer-phagnon. verbete Vitalismo, l-se: ''o vitalismo perdeu hoje completamente seucrdito? Existem razes definitivas para se recusar esta teoria defendida vigorosa-mente no princpio deste sculo (...). Segundo Monod, o vitalismo uma episte-mologia puramente negativa, que 'no se justifica com conhecimentos precisos,com observaes definidas, mas somente pela nossa ignorncia". Mas, inversamen-te, no convir dizer que a epistemologia rn.ee ame ista (porque ainda no conseguiuexplicar tudo) supe um ato de f halinenleA diferenciaodas clulas um processo contnuo 1 que no se completa com o desenvol-vimento embrionrio. Assim, rgos e tecidos poder se modificar, tai com..,ocorre na puberdade e n? cnvelherirrsente. Erthora existam fatores externosatuando sobre a diferenciao, o comando co processo resioe OaSJ-amc.nc noagenes" (Gentica humana. So Paulo: Harbra. 1956. P-

34PATRIMNIO GENE~ICO HUMANO e sua prote-c na CF/36conceito Dl VIDA humana3i

perdem toda sua especializao, quer dizer, sua capacidade derealizar sua funo.207) Por ltimo, trao marcante dos seres vivos sua adaptao, ou seja,sua capacidade de explorao do meio ambiente. Assim, o estudoda organizao destes no se limita anlise de aes e reaesqumicas, seno que se estende interdependncia do ser com omeio, a sua integrao com o conjunto de elementos do planeta.E o terreno da Ecologia, uma vertente da Cincia Biolgica que tratadas relaes entre os diversos seres de uma comunidade deindivduos e da sua interao com o meio ambiente.27

No o momento de continuar a desenvolver um raciocniopautado pela Ecologia, Registre-se, to-s, a crescente preocupao daCincia Biolgica com as dificuldades ocasionadas pela dicotomia entreo desenvolvimento tecnolgico e a manuteno de condies adequadasde vida dos organismos vivos.28Todavia, apesar de poder caracterizar singelamente os seres vivos,a sucesso de estados e mudanas que do lugar vida requer uma anlisemuito mais acurada. Citemos, exemplificativamente, que o exame de todaa rede de organizao celular destinada conformao de tecidos, rgose sistemas, definido por uma srie de reaes qumicas que se verificamno interior das clulas. Uma compreenso muito mais minuciosa neces-sitaria de uma anlise de envergadura maior, que no pretendemosrealizar, pois demandaria uma consistncia de conhecimentos das Cinciasda Biologia que no se coaduna com nosso objeto de estudo.Com este modesto reconhecimento chamamos a ateno para oponto de apenas exibir caractersticas que consideramos imprescindveispara um raciocnio jurdico futuro, No se trata de esgotar os conhe-cimentos da Biologia, o que seria um: exerccio interessante, que, noentanto, demandaria esforos particulares - alis, a grande paixo quedesperta a Biologia a de estar, quase que permanentemente, expondoalguma novidade, o que nestes tempos tem se incentivado especialmenteno campo da Gentica -. seno de apresentar as bases para um prximotratamento jurdico da questo, que o campo em que se devedesenvolver o cerne do nosso trabalho.

1.2.2 A classificao dos organismos vivos

Definidas as caractersticas dos organismos vivos passaremos arelatar a ordenao biolgica destes segundo suas naturais diferenas.O objetivo localizar as diversas espcies e, ao mesmo tempo, atentai"para um corte metodolgico imprescindvel em nossa anlise, visto que,classificando os seres vivos, poderemos, posteriormente, dedicar-nos observncia de um ser em particular: o humano.Diga-se, ento, que a anlise classificatria dos seres vivos sedenomina taxonomia, e considerado o ramo mais antigo da Biologia.2'O atual sistema de classificao de seres vivos foi desenvolvidopelo botnico sueco Karl Von Linne, em 1753. o sistema binom?J,pelo qual se classificam os seres segundo o gnero. Este representa umconjunto de espcies similares. Por sua vez, d-se o nome de espciea um grupo de organismos que apresentam caractersticas semelhantese podem se cruzar produzindo descendentes frteis. O conjunto dosgneros institui uma famlia, e um conjunto de famlias uma ordem:um conjunto de ordens constitui uma classe, um conjunto de classesconstitui um filo e um conjunto de filos constitui um reinouHoje, so conhecidos quatro grandes reinos dentro do mundo dosseres vivos. A saber, monera, ou mundo das bactrias, o prosa, oumundo das algas, fungo- e protozorios. o meiaphyta, ou mundo dasplantas, e o metazoa, mundo dos animais e dos vrus.

Relatam os professores Benedict, Knox e. Stonc que na Antigidade, .Aristteles,incentivado por seu discpulo Alexandre Ma^ro. que lhe er.viavs amostras dediversas partes do mundo, reconheceu ccica de cuinbenlas espcies diferentesde plantas e aproximadamente o mesmo nmero de animais. Consulte-se a genialobra dos doutores norte-americanos intitulada Maravilhas da biologia. Trad.Elias Daridcvich Pd o dc Janeiro: Globo. 1956. p 5'3.Assim, para exemplificai, o eo pertence i.o \'c'va^ X^uizo. da Jo Chordctc.da classe dos Marnnafia. da ordem dos Co.mfyoroF, da famlia Camdat. dogcr.cro Caiu* e ca espcie l.ms jumairis. v cjani-.se as expuCaoes ot .-lUiaL^.Mano e Mizuguchi. Ob. rir. p. 12-14.ani-.sey- Baker z. Allen. Ob. cit. p. .r Destaque-se que uma concepo da natureza baseada na dialtica rejeita qualquertipo de separao entre o homem como indivduo, ou seja, o ser vive, a sociedadee o prprio sentido de nauueui. Neste sentido, recomendamos a obra dd GeriSchinke Ecologia poltica. Porto Alegre: Tch', 1986.Pergunta-se Juan Manuel Gonzaez Scobie: "O conflito entre desenvolvimentoe meio ambiente um dos grandes dilemas que confronta a Humanidade nofuturo; como garantir a prosperidade c a erradicao de toda privao sem levar destruio do sistema natural que suporta a vida mesmzT' Consulte-se seuartigo La naiuraieza en disputa \ ia naiuraieza ae ia disputa. Im maniuna aeIa discrdia. Santa F de Bogot: Tercer Mundo, 199S. p. XI.

36patrimno SbNTIOO humano e sja prs'.e;5c ra CF/sgCQNCE TO DE VOA HUMAVA37r

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No marco destes quatro reinos, os seres vivos assumem uma grandediversidade de formas: so conhecidas cerca de um milho e meio deespcies de organismos vivos. Ainda assim, h muitos tipos de seresvivos a serem descritos.3' Ao conjunto de seres vivos ou de diversidadede vidas tem-se chamado pragmatcamente dc biodiversidade.Jon Ericson define este conceito da maneira seguinte:"A variedade e variabilidade de todas as formas de vida na terra,tanto selvagens como domesticadas pelo homem. Engloba, portanto, asespcies dc plantas, animais e microorganismos, bem como os ecos-sistemas e processos ecolgicos dos quais so componentes (...) Ela podeser expressa em trs diferentes nveis: as diferenas genticas de cadaorganismo, a diversidade de espcies e a diversidade de ecossistemas"'.32Na verdade, desde os tempos do ps-guerra, e de maneira maisacentuada a partir da dcada dos sessentas at os nossos dias, verifica-se a tendncia mundial de discutir o relacionamento do homem como restante de seres da natureza, bem como sobre as diversas formasde proteo da biodiversidade. Tal tendncia se manifesta por duascausas singulares que, ainda que no sejam as nicas, contribuem paraexplicar este interesse. Por um lado, a compreenso da essncia do serhumano como elemento ativo e determinante para o equilbrio oudesequilbrio da biodiversidade; de outro lado, o interesse de vriosEstados, de grande poder econmico, no enorme potencial de pesquisabiotecnolgica que orientaria o desenvolvimento de novas espcies deanimais e plantas, mais produtivas, bem como ajudaria a descobrir novasfrmulas para medicamentos que aliviem ou eliminem de vez doenasgenticas, c outras como o cncer ou AIDS. Obviamente que. sobrea relao dc ser humano com os demais seres da natureza, h muitoque poderia ser tratado e, de fato, em vrios captulos do nosso estudoteremos a oportunidade de tecer comentrios a respeito rio assunto.Registre-se. por enquanto, que atualmente a biodiversidade cons-titui um dos alvos da pesquisa biotecnolgica realizada nela EngenhariaGentica. Esta forma de engenharia consiste em aplicar um conjuntodc tcnicas dirigidas a modificar o caudal hereditrio de alguma espcievisando ao uso de sistemas e organismos biolgicos para aplicaescientficas, industriais, agrcolas, medicinais e ambientais. Pela engenha-ria gentica, os seres vivos podem ser manipulados geneticamente,possibilitando-se, a criao de organismos transgnicos, com sua estruturagentica alterada:j ou organismos modificados geneticamente.^Ressalte-se que no Estado brasileiro, conforme a Lei S.974, de1995, art. 3.c, inciso IV, um organismo geneticamente modificado(OGM), aquele "cujo material gentico (ADN/ARNs tenha sidomodificado por qualquer tcnica de engenharia gentica". No inciso Vdo mesmo artigo define como engenharia gentica a "atividade demanipulao de molculas ADN/ARN recombinane .Tambm se afirme que no possvel tratar de biodiversidade semobservar que o interesse crescente pelo seu aproveitamento e proteomotivou a realizao da Cpula da Terra, no Rio de Janeiro, que deuorigem a Conveno sobre Diversidade Biolgica assinada em 5 dejunho de 1992. e que tem vigncia no plano internacional a partir de"29.12.1993. A Conveno, promulgada no Brasil atravs do Decreto2.519, de 16.03.1998, expressa no art. 2., in verbis:"Diversidade biolgica significa a variabilidade de organismosvivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossis-temas terrestres, marinhos c outros ecossistemas aquticos e os com-plexos ecolgicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diver-sidade dentro de espcies, entre espcies e de ecossistemas*1.Dever, naturalmente, ressaltar-se a inteno dos presentes na Con-veno por tecer um manto de ampla abrangncia, que abrigasse todas apr d- ^ .-o'"">.< ^.-^r i pa Ric dc Janeiro: Aurora.1947 p. 165.*' Recomenda-se a obra dt Erich Fromir.. Conceito marxu& .*- ? 11 reis. publuji po."Edies Avante de Lisboa en: 19s2.

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44PATRIMNIO GENTICO HVVANO e sus proteo ns C~/S3OONCEPO 3E VIDA HUMANA45

superioridade do homem com relao ao mundo natural do qualinevitvel e indiscutivelmente faz parte. Assim, qualquer reflexofilosfica sobre o ser humano ter a marca destas variadas posies.Por outra parte, resgate-se que a partir de A. Comte enfat2a-sca idia de homem-ser social, que convive e se relaciona produzindoestgios de desenvolvimento cada vez mais avanados. Contudo, orelacionamento humano no definido de maneira uniforme em todotempo e lugar, pois os fatos humanos so histricos, dotados de valore sentido e regulados por instituies sociais como a famlia, a religio,o Estado, o Direito e outros que, na tica de Marx, reproduzem umainfraestrutura econmica prpria de cada sociedade.Por isso, no segmento seguinte, trataremos brevemente da ticasocial e o ser humano.

1.3.3 O conceito de homem socialPois bem, auscuiando perspectivas que forneam novos elementospara a construo de um raciocnio mais integral acerca do nosso objetode anlise, nos deparamos com as formulaes que tratam do homemcomo ser voltado para o mundo, interagindo diutumamente com o outro.O homem aparecendo com um ser tridimensional, que subsiste, existee coexiste.51Como conseqncia desta tridimensionalidade, a vida humana rica em facetas e a expresso concentrada dessa riqueza sc afiguraclaramente quando da anlise do inter-reiacionamento humano. Avariabiiidade de caractersticas, culturas, expresses humanas e grausconcretos de desenvolvimento, somente se detecta quando se estabeleceo cotejo entre os homens. No o paralelo que discrimina, seno aquelenecessrio para a compreenso desta fertilidade de manifestaes. Emoutras palavras, embora seja possvel identificar biolgica e filosofica-mente uma essncia do ser humano, que poderamos sem exagerosdenominar universal, a verdade que os seres Iranianos so temporais,culturais e histricos.O que possvel identificar que o ser humano estabelece como tempo e o espao, com os outros seres humanos c a natureza, relaesque se transformam e variam: a cultura, a civilizao."Verifica-se, ento, que o homem um sujeito que se relaciona,um sujeito social, que transforma sua realidade. Este reconhecimentocria uma sria dificuldade, pois nos leva ao dever de conceituar asociedade, e. como adverte Paulo Bonavides. em referncia a Parsons.o vocbulo sociedade a palavra mais genrica que existe para referirtodo o complexo de relaes do homem com seus semelhantes."Em tudo caso, a sociedade se apresenta como o resultado de umconjunto de relaes entre os indivduos humanos. O homem naturalmente um ser social que procura por si, com sujeio a normas- como veremos em outro segmento - um estgio de desenvolvimentocada vez maior, criando condies especialmente materiais para apreservao de sua existncia. Assim, por exemplo, contemporaneamen-te aprimora a tal ponto a cincia e a tecnologia que estas passam ase incorporar sne de foras econmicas produtivas da sociedade, quevo trazer mudanas sociais de grande porte na diviso social dotrabalho, na produo e distribuio de objetos e na forma de consumi-dos.54 -A indicao de condies materiais, socialmente necessrias, pede manifesto que, quando se fala do indivduo humano, como veremosadiante, podemos passar de uma acepo biolgica ou filosfica a umaeconmico-social, ou seja, a entender o ser humano como sujeito queproduz no social e para o social, indivduo diferenciado, capaz de mudarsua realidade em funo de ideais, algo que se manifesta em relaoao mundo que cria, a partir da juno de seus esforos.Destarte, pode-se afirmar que, se bem o ser humano, indivduo, algum nico e plenamente identificvel caxonomicamente dentro doconcerto de seres do mundo real, no menos certo que igualmentedistinguve por ser o indivduo que desempenha um rol concreto nomarco de uma sociedade em progresso, a sociedade humana, concebidacomo ideal humano e imperativo natural. O homem dedica seus esforosa um ideal, suas faculdades espirituais a ideias valorizadas, desejadas,modelo de convivncia. Da o desenvolvimento social sobre a base doconcurso de todos os homens, no sendo possvel falar de homemconcebendo-o cemo um ser isolado, devendo-se conceber sempre,necessariamente, como o homem social.*5

-] Raul Livino Venlim de Azevedo. Reflexes sobre a condio humana. Revisiade Direito dc Universidade liirc.yucc. vc-' 1. n. 2. 1999.. p. ?56-55v.Marilena Chau. Ob. cit. p. 293.5i Pauto Bonavides. Cinda poltico. So Pauio: Malheiros. 1997. p. 54.* Marilena Chau. Ob. cit. p. 2S5.;.; r\v;~" ~ \v...li pj)2.1 lari ry.-:..;-.-- _:r recria ?cc.s dr cttc-"'- 21 ?c S5c> PauicSaraiva. 2000, p. 19.

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De oulro lado, como visto, a vida humana tambm o produtode uma relao entre o sujeito e o mundo. Sujeito e mundo so elementosinseparveis e imprescindveis para entender a vida. Em verdade, noexiste uma anttese entre indivduos e sociedade porque a prpriaexistncia do ser humano uma atividade social e a histria dahumanidade a histria do indivduo vivo.5" O homem sente a urgnciade viver cm sociedade e participar dela.5"Ainda pode anotar-se uma outra questo, a realizao dos atoshumanos como maneira de manifestao da vontade. Tais atos soregularmente o resultado de escolhas ou de imposies sociais. E todoato humano determinado por um conjunto de condies naturais,histricas e culturais, que conformam o complexo total da realidadesocial.58 Mesmo sendo imposies, o sujeito decide se as cumpre ouno. Em verdade, ao homem lhe oferecido um horizonte vital depossibilidades - esta sua dimenso de liberdade, que observaremosposteriormente com maior profundidade.O fazer humano consiste em que se faz o que se faz por um motivo,e para algo que se persegue, ou seja, uma finalidade determinada.59Assim, as realizaes humanas tm um porque e um para que. que asdota de sentido.w:Chegado a este ponto, digamos que, pelo que temos observado,a vida humana c de uma fecundidade incalculvel. Apresenta vriasdimenses: o ser, mas tambm o ser que vive. e convive, que serelaciona em tempo e espao com a natureza e outros homens. Estascolocaes ajudam a resolver nosso imperativo, necessrio para darcondies de prosseguimento nossa exposio.Assumamos, ento, que a vida humana a vida do ser, axonomica-mente superior, que manifesta uma condio que lhe inerente, e que seprojeta aos outros, reafirmado sua natureza de ser social, que procura comsua ao atingir fases cada vez mais avanadas de desenvolvimento. Ohomem dimenso de corpo, esprito e sociedade e caminha procura doprogresso, cada vez mais consciente de suas virtudes, fraquezas e limitaesdecorrentes de sua condio de ser vivo, de ser humano.

1.3.4 Do indivduo pessoa: a tica, a dignidade e atutela jurdica

No presente segmento da exposio tentar-se- explicar a diferenaentre o ser individual e a pestoi. Tal foco necessrio, pois misterdescobrir a formulao terica que permita aventar um raciocniopautado peto Direito Constitucional e a tica. Parece-nos impossvel queaforem os elementos de uma opinio sria e definida sobre a Biotica,tema sobre o qual trataremos futuramente, e as normas de constituiodo Estado que consagram os direitos fundamentais da pessoa, sem tecerestes comentrios iniciais.Pois bem, no comeo csclarea-se que a tica c um dos camposprprios em que se desenvolve a reflexo filosfica, e que fornece oselementos de juzo para qualificar a conduta humana, atendendo aoestuao dos valores morais ias \irtudes;. da rei ao entre vontade cpaixo, vontade e razo; finalidades e valores da ao moral: idiasde liberdade e responsabilidade, dever, obrigao, dentre outro? nomenos importantes.61Tradicionalmente diz-se que a tica c a "cincia do que o homemde\e ser em funo daquilo que ele *\ Aspira, a cincia do 'ethos\irtudes'- kecasens Sienes. d. ch. p. 6-+.M Marilena Chau. Ob. cit. p. 55.56 Vale a pena mencionar que Man assnme esa posio ao colocar as premissasdo materialismo histrico: i:La primera premisa de toda historia humana es,naturalmente. Ia existncia de indivduos humanos vivientes. El primer estadoque cabe constatar es, por tanto. Ia organizao corprea de estos indivduosy, como consecuencia de ello, su relacin con ei resto de ia naturaleza .Consulte-se a obra de Marx Feuerbach. Oposicion envc Ias concepc tonesmaterialista e idealista- Obras Escogidas, \ol. 1, Moscu: Progreso, 1973. p 15.J' Comentando a teses perspec ti vista de Onega e Gasset, Recasens 5iches: resumeo pensamento daquele outro grande filsofo: "Mi vida no soy yo, n es tampococ! mundo. La vida es la ccrrelacin entre el yo y su mundo. La vida es coneieuciadc mi mesmo, pero no solo dc mi mis mo, sino con el mundo a ia vez y es,adems, trfico constante de mi mismo con el mundo: porque el ser de mi vidatengo que haccrlo yo. tengo que irlo tejiendo en la eiaburacin constante demi comportamento, dc mi- haceres. echande mano dc al^im.; de Ia:: pciicil:-dades, que sc ofrecen en mi contorno. Mi vida es esc trato con ei mando: voestando en el mundo, pensando en . ocupndome con l: es. em suma, !aconjuncin correlatb a dei sujeo con un mundo de objetos, en la cual el vova fabricando la trama de su existncia, dentro de la holgura y variedad queel contorno le brinda" (ob. cit. p. 70-71).- Dalmo de Abreu Dallari. Ob. cit. p. 31.'r' Referindo-se finalidade como elemento caracterstico da sociedade, Dalmo deAbreu Daliari trata das diferenas entre autores de te munida- e fina^st-jsapontando como a indagao a respeito de um finansmo sociai impuca oproblema da liberdade humana (ob. cit. p. 22-24).

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rem como ongem a anlise do ser humano e como fim a realizaodo mesmo ser.67 Em conseqncia, para conhecer o sentido da vidahumana, preciso examinar o contedo do ser, e tal exame no podeser realizado observando-o de maneira esttica, mas de maneiradinmica, transformve, tendo cm vista espao e tempo concretos.De maneira geral, para a tica, todo ser descobre seu sentido devalor partindo dos elementos que o compem. a juno de elementos,que determinam sua ao, sua vida, o que constitui sua natureza. Anatureza humana se determina pelo conjunto de leis, foras e energiaque brotam do ser humano e pedem seu aperfeioamento e desenvol-vimento. Visto de outra forma, a Natureza teria feito o gnero humanouniversal e as espcies humanas particulares, de modo que certossentimentos, comportamentos, idias e valores so os mesmos para todoo gnero humano, a dizer, so naturais para todos os seres humanos,6-5constituem sua essncia. Ressalve-se, no entanto, que embora respondaa uma essncia, todo ser humano um animal social, um ser cultural,de onde se origina um condicionamento importante de toda sua conduta.A tica se ocupa de vrias esferas de comportamento, e tendoem vista princpios originados na determinao de essncia do serhumano, isto , na sua natureza, se preocupa por fornecer solues aproblemas ou dilemas ticos.^Marculino Camargo resume os campos e su> situaes problemticasda tica fornecendo um instrumento didaticamente interessante paraentender as inquietudes da disciplina.6- Vejamos:a)Para a tica, o homem, enquanto ser vivo. se obriga a respeitare conservar tudo o que vida no ser humano. Assim, a ticase ocupa de questes como aborto, eutansia, suicdio, pena demorte, homicdios.

b)Em segundo lugar, o homem um ser racional, a dizer, umapessoa, dotado de razo e liberdade para coordenar sua vida,De onde se depreende a necessidade de analisar problemas comoa coisificao e massificao da pessoa e a explorao dohomem pelo homem. O fato de a humanidade residir naracionalidade, na capacidade para viver em sociedade; do pontode vista tico, somos pessoas e no podemos ser tratados como

c Marculino Camargo. tica, vida e sade. Petroolis: Vozes. 1983. p. 11-12.a Marilena Chau. Qh. cit p 259.*- Ob. cit. p. 12.

coisas. Sendo assim, como enfatiza Marilena Chau, os valoresticos se oferecem como expresso e garantia da condio desujeitos, proibindo moralmente o que nos transforme em coisausada e manipulada por outro-c)Loeo aps, pode-se dizer que o homem membro de umaespcie, de onde surgem questes a serem discutidas, como oplanejamento familiar ou a prostituio.d)Na tica, o homem, indubitavelmente, um ser social, viveem sociedade e sujeito a normas institucionais. Da emanamdilemas ticos referentes a tipos e formas de governo, poder,autoridade e liberdade. E. Tugendhat pergunta-se, ento, se o tico, ou ento, ao contrrio, as relaes de poder, as queso determinantes na vida social? E estas no determinam, p0rsua vez, as representaes ticas de um tempo?66

e)Por ltimo, o homem um ser espiritual, que origina apreensesacerca do relacionamento entre ele e Deus e do qual decorremproblemas referentes liberdade religiosa, mitos e crenas.

A soluo destas dificuldades ticas segue determinada pelaobservao inicial bsica. Lembremos que todo ser humano tem umanatureza, um ncleo que o identifica, e sabemos que esta essncia Semantm apesar do correr dos tempos, sua essncia de animal-racional,ou "corpo-alma". O conjunto de situaes a que o homem se vimpulsionado ocasiona que os sentimentos e aes humanas exprimamum senso moral c uma conscincia moral, pois tais situaes exigemque os seres decidam o que fazer, justificando-se a si mesmo e paraos outros seTes essa escolha.''7Destarte, o homem opta, decide sobre situaes, e regularmenteseu senso, relativizado em tempo e espao sobre o como e porque decidirem um sentido particular, se dirige ao bom ou ao mau, ou seja, distingueentre bem c ma1.6S Tai: direes um :adc eu outro, referem-se a algo65 Marilena Chau. Ob. cit. p. 337." Ob. cit. p. II.

: Marilena Chau. Ob. cit. p. 335.65 Como adverte Milton Meira do Nascimento, uma investigao sobre as noesdc bem e do mal que corresponda aos distintos sistemas morais requer de umesforo maisculo, pois o campo e vastssimo e desde a tradio grega genlUuma 'discusso por pane dos filsofos. Tal anlise Tic i objete dc n^jaexposio. Simplesmente assentamos as bases nesta seo para futuramenteexplicar os benefcios e diferenas da interao entre Biotica c Direito

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50FATFfMGNIQ GENTICO HUMANO e sua prslta na CF/88 CONCEITO DEVDAHJVANA51

mais profundo e subentendido: o desejo do homem de alcanar suafelicidade.69A opo humana em algum dos dois sentidos supe a elaboraodc um juzo de valor, um julgamento avaliador de coisas, pessoas, aes,experincias, acontecimentos, intenes. So os juzos ticos normativosde valor que determinam o dever ser humano, segundo o critrio docorreto e incorreto,70 limitando e controlando a violncia sobre o serhumano.Sendo assim, a premissa fazer o bem e evitar o mal a basenecessria para resolver os problemas ticos. Acontece que as decisesnem sempre so fceis, basta observar as freqentes indecises humanassobre os problemas como aborto e eutansia. Tais discusses emergemde maneira acentuada quando aparecem dimenses morais desconcer-tantes, por exemplo, nos dias atuais, a criada pela tecnologia gentica.71Geralmente, a premissa tica - bem ou mal - deve ser decomposta emnveis que permitam compreender situaes sem perder o caminho"correto"; atendeudo-se a hipteses prximas e remotas que levam comoreferncia uma situao. Marculino Camargo apresenta o seguinteexemplo: princpio: respeitar a vida; hiptese prxima: respeitar a vidade um feto; hiptese remota, e onde a discusso mais acirrada: respeitara vida de um feto que poderia vir luz com deficincias.71A possibilidade de optar, que caracteriza to-s o ser humano, eque manifesta sua dimenso tica, s passvel de compreenso seatendida sua essncia de indivduo de natureza racional, isto , sua ndolee qualidade de pessoa"A idia de pessoa foi utilizada pela primeira vez por SeverinoBocio (480-524) para indicar o indivduo humano. Para Bocio, pessoa ioda substncia individual de natureza racionai,74Ainda que no insistamos no ponto, diga-se de passagem queenquanto a doutrina crist ontoogizou o conceito de pessoa, iniciadopor Bocio, as cincias humanas mantiveram o conceito como carac-terizao psicossociolgica. Assim, resumidamente, pessoa , para osprimeiros, criao definitiva e imediata de Deus e, para os segundos,uma elaborao social, progressiva e mutvel.7-Parece incontestvel que o vocbulo pessoa uma atribuiohumana, isto , um termo de valorizao cultural, e no um termobiolgico natural. A histria demonstra que, como valorao cultural,comeou sendo aplicado aos indivduos ideais. Assim, por exemplo, naGrcia Antiga, as crianas imperfeitas, consideradas descartveis, eramjogadas fora. Como toda avaliao do ser humano, a expressomodificou-se, evoluindo at os nossos dias, em que aplicado a todosos indivduos com certas caractersticas, longe daquela aspirao deperfeio que vigorava na Antigidade.O progresso conceituai teve como marco histrico peculiar a EraModerna, na qual Immanuel Kant (1724-1804) continua a aprofundara distino entre indivduo, qualquer que este seja, e ser humano.Conclui Kant que a diferena entre indivduo e pessoa que apesaide toda pessoa ser um indivduo, o homem, pessoa, , sobretudo,liberdade,70 pois capaz de se autodetenninar.77 precisamente esta

Constitucional. Consulte-se o artigo tica, do ilustre professor na obra Primeirafilosofia. Lies iiiaeautorias. 5. ed. So Paulo: Brasilense, 1986. p 259-2SS.bS Idern. ibidem, p. 335." Maniena Chau. Ob. cit, p. 336.Ti E. Tugendhat. Ob. cit. p. 12.7: Marculino Camargo. Ob. cit. p. 14." :"En eecto. ei hembre, que por su naturaleza es uu ser social. e>, adeiris poisu esencia, un se: personal. La palabra persona deriva cel uso seguido por losaciores de teatro gregos, quienes en la ejecucin de sus tragdias y comdiascoioeaban dei ante de su faz uma mascar?, para declamar Ias gestas de los hombreque representaban, (...), persona se convirti asi em el nombre especial de umindivduo, dentro dei gnero substancia, a saber, el indivduo de naturalezaracional. La persona es, pues, definida y defmible como substancia individualde naturaleza racional. Tres sou, por ende. Ias notas esenciales dei conceptcpersom: substancia, naturaleza e indivjduahdad."7 Veja-se a Eustquio Galn yGutienez. introduccin ai estdio dei derecr.o natural Madrd: Sucesores deRivadeneyra. 1954. p. 317-318.11 Bocio ern De duabu naiuris et una persona Christi, Cap. ttt: "Dfferentia naturaeet personae" indica este conceito como sntese de uma oposio entre o sentidoestico do pape] do homem no mundo, ao qual se ligaria um sentido juridico, e,de outro lado, o sentido dado pela teologia. Assim, para Bocio, "Persona propriediciuir naturae rationaiis individua substantia". Consulte-se Andr Laande, Ob.cit. p. 812-813. Hubert Lepargneur. Biotica. Novo conceito. A caminho do consenso. So Paulo:Loyoja. \99b. p. 43.76 Para Kant, o homem egosta, ambicioso e cruel. Justamente por isso precisade deveres para tomar-se ser moral. A razo prtica a liberdade humana comoinstaurao de fins ticos. A conscincia & evpressSo s. lei morai em cadahomem e sua manifestao de humanidade. Obedecer conscincia e obedecera si mesmo. A razo prtica impe dever a todos, incluindo a si mesmo. Porisso, cada pessoa autnoma. Consulte-se a Marilena Chau. ob. cit. p. 345."Ao considerar a pessoa corno um ser capaz dc autodetermnaiu, Kant entendia queele capaz de transcender-se continuamente. Transcender-se significa dar vazoa permanente laeucadc dc superar as limitaes tanto Tsicas quanto scias,prprias do homem enquanto indivduo/' Consulte-se a obra de Regina Fiza

54PATRIMNIO GENTiCO HUMANO 6 sus prgte-o ia CF/SECONCEiTC DE VIjA HJMANA55

52PA~RMNIO GENTICO HUMANO 6 sue proteo n5 CF/83natureza que lhe confere uma diferenciao, o indivduo humano, naverdade, constitui urn fim em si mesmo, e. por isso, tem valor absoluto,no podendo ser usado como instrumento de algo, e justamente poristo, tem dignidade, pessoa.'5Desta forma, aferimos que pessoa o indivduo consciente, dotadode corpo, razo, vontade, que se autodetermina. Contudo, isto conduza uma dificuldade tcnica que no podemos subestimar. que oembrio, o feto, o louco, aqueles indivduos em estado comatoso, nose autodeterminam, e em conseqncia, no seriam consideradospessoas. Surge uma pergunta que deve ser respondida de imediato sobpena de se chegar a um ponto insupervel. E que, se estes no sopessoas, ento em virtude de que se lhes atribuiria dignidade pessoal?A resposta se encontra em que, precisamente, o conceito de pessoa no ontolgico seno, essencialmente cultural, e acha-se no conceito anglo-saxo de ascrio.A lio de Hubert Lepargncur, com relao ao ponto, merece sertranscrita:ilA resposta da cincia atual : pela ascrio, isto , pela atribuiode certa dignidade pessoal outorgada, criteriosamente, a seres quejulgamos merecedores dela. pela proximidade que intumos desfrutarconosco, apesar deles no satisfazerem os critrios da definio clssicada pessoa, sujeito racional, livre, autnomo e responsvel. A 'ascrio*no resulta de uma deciso individual, mas de um juzo comunitrio,cultural ido ethos), que admite ou mais ou menos, porque todaparticipao admite o mais ou menos".79Observe-se como o contedo da ascrio repousa na dignidadepessoal No h pessoa sem dignidade, pois esta inerente pelo fatode ser racional, pensante.8'5Pois bem. o indivduo humano, pessoa digna, existe interpretandosua realidade e promovendo aes permanentes por transform-la. ACONCEITO DE V*DA HUMANAtransformao social qualifica sua vida a partir de uma interaopermanente de condutas, todas sujeitas a uma ordem que ele cria,1tendo em vista o imperativo existencial de satisfazer suas necessidades.A pessoa justamente aquela unidade que se mantm na essnciapara atos diversos, enquanto atos pensados e realizados. Por isso paraa tica, como expressa Max Sheler:"A pessoa unidade de ser concreta e essencial de atos da essnciamais diversa que. em si, antecede a todas as diferenas essenciais dosatos (querer, sentir, amar, odiar, etc.) exteriores e interiores. O ser dapessoa "fundamenta" todos os atos essencialmente diversos."8'Assim, a dignidade da pessoa humana surge como uma essncia doser, mas, tambm, na prtica, emana de um conjunto de condiesexternas, fruto dos atos humanos necessrios para atingir o desenvolvi-mento na seara social. Por isso, levando em conta o homem como sujeitoeconmico-social, a dignidade pressupe condies de existncia mni-mas, condizentes com a manuteno da vida em toda sua potencialidade.Da decorre o sentido da humanidade, do gnero humano comoum todo. Evidentemente que o enfoque pelo qual temos optado denatureza antropocntrica, e no poderia ser de outra forma, levando emconta que a dessemelhana entre as espcies no humanas e o homemrecai, precisamente, em que o homem, como sistema dinmico, reagepositivamente perante seu hbitat e cultura. E que, j reparamos,qualquer estudo de natureza sociolgica, jurdica ou tica, deve partirde uma perspectiva que reconhea no homem o formuiador de valores,morais ou jurdicos, que se definem a partir de exigncias concretas,psicolgicas, histricas, polticas, econmicas, culturais e sociais quecondicionam sua vida.83Neste compasse, h de observai-se que os comportamentos do serhumano se sujeitam a um controle, em outras palavras, h uma ordemque disciplina as aes humanas, determinadas por esse grupo deexigncias. A mesma substancialmente distinta ca ordem da natureza.53

Satrwen e Severo Hryniewicz Direito "ir vitro": d3 biotica ao biodireito. 2. ed.Rio de Janeiro: Lumen Jris. p. 62.7 Uma exposio bastante didtica sobre o pensamento de Kant em suas obrasCrca da razo pura e Metafsica dos costumes feita no livro de FernandoFerreira dos Santos Principio constitucional da dignidade da pessoa humana.So Paulo: Celso Bastos/TBDC, 199S. p. 20-27.Ob. cit. p. 44.K Em captulos posteriores retomaremos ao conceito de dignidade humana. Noobstante, era inevitvel, de antemo, assentar este critrio.EI Neste sentido, deve necessariamente ser analisada a contribuio dc pensamentomarxista, particularmente a idia de homem como sujeito transformador doprocesso scia! atravs da prxis. Veja-se, a respeito, o Dicionrio do pensa-mento marxista. Rio de Janeiro: Zahar, 1999. p. 374-3S0.s: Max Sheier. tica. Trad. dei alemn Hilrio Rodrigues Snz. Madrid: Revista deOccider.te. 1942. t. II, p. 175." Diccionario etc cincias sociaies. Madrio: Instituto Trpico ae .uaonci. iv/j. p.138-141.

pois sc trata da ordem social, que regula todo o relacionamento entreos seres humanos.*" Dita ordem composta de normas morais decontedo imperativo e normas jurdicas, de contedo imperativo-atributivo. As primeiras, tendo como referncia o Estado, so unilaterais,pois o indivduo humano no pode ser compelido a proceder de outraforma, ainda que violente um preceito socialmente aceito, pois a sanode tal ato ser a censura ou desaprovao social. As normas jurdicas,ditadas pelo Estado, so normas bilaterais, o que pressupe sempre umarelao de direitos e deveres ligando a dois ou mais indivduos humanos,onde o Estado pode tornar obrigatria uma punio.85O carter de nosso trabalho impe uma dedicao no exclusiva anlise da ordem jurdica. Por isso a ordem moral prioridade nopresente. Resulta impossvel, como poder detectar-se, fugir de umapauta tica, tendo em vista as novas necessidades de regulao jurdicade aspectos inovadores da biotecnologia mais avanada.Mas. feita essa ressalva, prossigamos com a anlise, afirmando quea apario na histria das normas jurdicas, boas ou no, quer di.?er,com independncia de serem consideradas elementos de dominao,como se depreende de algumas posies marxistas, ou meras formasde regulao da vida humana, s podem ser explicadas como expressode um grau superior consciente de civilizao nas balizas de umacomunidade, onde vigora a fora do Estado e na qual o Direito pertenceao reino da vida objetivada e, dentro dela constitui uma forma normativade carter coletivo ou social}6Visto assim, tanto o Direito quanto o Estado devem ser fundamentadoscomo unidades de atuao do ser humano, porque ele quem os cria e^ Paulo Bonavides refere-se a dois mundos distintos: "(...} o da natureza e o dasociedade. No primeiro, h leis naturais, fixas, permanentes, erema.s imutveiscom toda a inviolabilidade do determinismo fsico-mecnicc; no segundoimperam as mudanas, as diferenciaes, o desenvolvimento. O primeiro omundo da homogeneidade, o segundo, o da heterogeneidade. No primeiro hconservao, certeza, uniformidade, repetio. No segundo rege a infinitadiversidade, a probabilidade, o desenvolvimento, a teleoiogia. No primeiro, bastaum fenmeno para ievar lei geral, basta um exemplar da srie para conYitcr-se roda a espcie; no secundo, ludo se passa de modo distinto e cada leimeno. em si mesmo, unia espcit, algo irreversvel que, segundo Jellnek, existiuuma s vez e nunca se reproduzir em condies idnticas, seno, no melhordos casos, em condies anlogas, da mesma forma que 'na infinita massa dosseres humanos nunca reaparecer o mesmo indivduo'" {ob. cit. p. 36)." Dalmo de Abreu Daah Ob- ct. p. 29.K Recasens Siches. Ob. cit. ?. 147.outorga-lhes uma razo de existir. No caso do Direito, se trata de uma formanormativa da vida social que aponta realizao de \alores humanos.27 Nocaso do Estado, porque o ser humano ihe fornece uma finalidade concreta,o chamado bem comum, uma finalidade que se coaduna com o entendi-mento de uma tica social, da procura da felicidade dos co-associados comofim do Estado, originada pea criao de um conjunto de condies deliberdade e igualdade entre os homens, pressupostos de vida social quedeterminam o desenvolvimento integral da personalidade humana.88 Emsuma, as finalidades do Direito e do Estado podem sintetizar-se naconsistncia da proteo integral da vida do ser humano.Nesta altura, levando em conta os ensinamentos precedentes, bemcomo o prprio decorrer da histria, pode-se afirmar que o desenvol-vimento da civilizao humana constantemente se orientou materia-lizao mais plena de valores, e, sem dvida, o primeiro valor a pessoae sua dignidade. Outros valores como a democracia, a liberdade e ajustia social, so tranqilamente explicveis no terreno jurdico epoltico se tomados em considerao pessoa, s necessidades doindivduo humano vivo, portador de princpios ativos, que influi no cursoda sua vida social, poltica, em circunstncias sociais sujeitas modificao por sua prpria ao.Destaquemos, no terreno da ordem jurdica, como uma demons-trao inequvoca do grau elevado de civilizao, determinado pelanecessidade de proteo da pessoa, a apario das Constituies, ouseja. dos Estados constitucionais. Com efeito, as Constituies conver-teram-se. desde sua apario, em verdadeiras Cartas de Liberdade doser humano diante de um Estado arbitrrio, distorcido da sua finalidade,segundo valores imperantes poca e em certo momento da suaexistncia institucional. Por isso, desde a Carta Magna, os EstatutosFundamentais adquiriram uma fora particular, por cima de leis e outrosveculos normativos, exatamente por tutelar a vida, em todas suasmanifestaes. Eis o motivo da sua legitimidade.Enb"etanto, a organizao d? sociedade poltica. onJ >eis.= a criao^de uma ordem atravs de normas estatais, no quadro de contradiesexistentes no seio de sociedades caracterizadas por dcs;gualdadesprofundas entre os seres humanos. deu lugar, em fases particulares dahistria, presso constante dos membros menos favorecidos por atingiruma ordem mais justa.\alores Idem jbiaem p. .i4.S Dalmo de Abreu Dallari. Ob. cit p 24.

56PATRIMNIO GENTICO HUMANO e sua proteo na CF/saO anterior supe uma evoluo das formas de proteo doindivduo, do homem, da pessoa, pelo Direito, o que s pode serexplicado como resultado de fortes movimentos sociais e polticos cujonorte foi o aperfeioamento da tutela jurdica da vida.Pois bem, a origem da proteo jurdico-constitucional da vidahumana, sua evoluo e atualidades, constituem os eixos do prximocaptulo da nossa exposio.A PROTEO DA VIDA HUMANA PELODIREITO NO MARCO DA EVOLUODOS DIREITOS FUNDAMENTAISSUMRIO: 2.1 Premissas necessrias - 2.2 A proteo da vidahumana da sociedade primitiva Idade Mdia - 2.3 Da CanaMagna primeira dimenso dos direitos fundamentais - 2.4 Asegunda dimenso dos direitos fundamentais - 2,5 Os direitosfundamentais em terceira dimenso - 2.6 Concluses parciaisnecessrias para reconhecer o trnsito de uma a outra dimensoprotetora da vida humana - 2,7 A quarta dimenso dos direitosfundamentais e os progressos da gentica: 2.7.1 O contextohistrico atua! e a quarta dimenso os direitos fundamentais; 2.7.2A discusso sobre os avanos da Gentica e a quarta dimensodos direitos fundamentais; 2.7.3 A mudana dc direo no sentidomora! da. sociedade; 2,7.4 Da interpretao dc sujeito coletivoao retomo individualidade.2.1 PREMISSAS NECESSRIAS

Nos primeiros tpicos do nosso trabalho observamos distintas pticascom relao vida humana, visando ao conhecimento inicial sobre otema.Convm agora ingressar na seara do Direito e detectar como estadisciplina pertence realidade que Recasens Siches chama de "vida

58PATRIMNIO GENTICO HUMANO e Sua wctezc na CP,'30PROTEO CA VIDA HUMANA E A EVOLUO fJCS CiRTOS FL'NCAWENTA!~59

58PATRIMNIO GENTICO HUMANO e Sua wctezc na CP,'63PROTEO CA VIDA HUMANA E A EVOLUO fJCS CiRTOS FL'NCAWENTA!~59

humana objetivada", na verdade, um conjunto de significaes queconstituem regras para a conduta humana. Essas regras, diz o filsofoibrico, como normas jurdicas, enquanto se cumprem, enquanto serealizam efetivamente, constituem a configurao de uma sociedade, aforma e a estrutura das existncias humanas.1Talvez o mais relevante desta explicao o fato de que o complexo designificaes normativas - as prprias normas humanas - tem uma estruturafinalista, pois se dirigem a concretizar valores que correspondem a ummomento histrico, e, por isso, a norma jurdica tem tambm um. contedohistrico, condicionado a determinadas variveis de tempo e espao.Desta maneira, deduz-se que as normas jurdicas, o direito positivo,so um produto da ao humana, do agir das pessoas. E, assim, podemosdizer, com Recasens Siches. que, sem dvida, o Direito uma formanormativa da vida sociai. que aponta realizao de valores.2Contudo, compreender o sentido do amparo jurdico da vida humanano transcurso da histria traz consigo o dever de mostrar a evoluo da?formas normativas, a teor de certas condies que tm espao e tempodefinidos, acontecimentos, lutas, movimentos, confrontos, e implica lem-brar das chamadas geraes de direitos e ir, simultaneamente., tecendoalguns comentrios sobre a proteo da vida em cada uma destas fases dahumanidade?Verificar-se-, ento, que a proteo do direito fundamental vida,da forma como se apresenta nos primrdios do sculo XXI fruto detoda uma longa evoluo histrico-axiolgica.4Obviamente que no pode ser a lei, nem nenhum ordenamentojurdico-positivo, que vai conferir ao homem a vida e todas as demaisfaculdades naturais; entretanto, ao Direito lhe compete sim dar proteo

Recasens Siches. Ob. cit. p. %-99.: Idem, ibidem, p. 148.2 A expresso humanidade, utilizada aqui em aberta oposic a todo tipo de doutrinaque tenta desconhecer a proteo do sei humano como fim moral e poltico porexcelncia do Estado e da ordem jurdica. Ou seja, referirno-nos em particular aoHumanismo como uma expresso da valorao do ser humano, que no se submetea nenhuma utilizao infra-humana, e que impca urna conceio da sua vidafundada em sua dignidade.J Outras opes so possveis. Por exemplo, o Prof. Ives Gandra da Silva Martins,desde outra perspectiva manifesta: %,.) interessa-nos apenas discutir o direitofundamental do ser humano vida, que lei no criada pelo Estado, mas peloEstado apenas reconhecida ? que pertence ao ser humano no oor evoluohistrico-axiolgica, mas pelo simples fato de ter sido concebido. -lhe inerentee no concedida"(Fundamento do direito natural vida. RT -623/27-30, set. 19S7j.e assegurar o pleno desenvolvimento destas faculdades, em condiesde equilbrio do indivduo em relao ao grupo e deste em relao aoindivduo.5Acontece que, reiteremos, a proteo da vida dc ser humanoatravessou estgios de desenvolvimento. Trata-se de uma tutela que evoluina histria, fruto dos avanos atingidos em vrios planos, desde obiolgico at o tcnico-cientfico, o que ocasionou o surgimento de novassituaes que afetam o homem, mas. tambm, e especialmente, doresultado de fortes movimentos econmico-sociais, polticos e culturais,que desembocaram na consagrao e evoluo de verdadeiros direitosque so patrimnio da humanidade. Da falar-se em geraes de direitos,ainda que a seqncia de geraes no seja mecnica, nem possa serto artificial, a tal ponto que seja capaz de quebrar a unidade da histria.Tambm por isso, cm ve2 de geraes, alguns autores falam emdimenses de direitos fundamentais, visto que na evoluo, como haverde observar-se, os direitos gestados em uma gerao, quando aparecem_em uma ordem jurdica que j traz direitos da gerao sucessiva assumemuma outra dimenso, sem a qual impossvel entend-los de maneiraadequada.0 Aceite-se, por enquanto, que a esta certa categoria de direitos,caracterizados pela passagem de geraes, a doutrina jurdica chama dedireitos fundamentais, liberdades pblicas, direitos subjetivos pblicos ou,simplesmente, direitos humanos, dentre outras denominaes.75Edson Ferreira da Sil va. Direitos da personalidade. Os direitos da personalidade suoinatos? RT -694/21-34, ago. 1955.6 crtica lavrada pelo Prof. Wilib Santiago Guerra Filho no artigo Direitosfundamentais, processo e princpio da proporcionalidade, na obra coordenada p'omesmo autor intitulada Dos direitos humanos aos direitos fundamentais. PortoAlegre: Livraria do Advogado. 1997. p. 11-29.' Sobre esta ausncia de identidade terminologia, consulte-se a obra clssica de ManoelGonalves Ferreira Filho. Ada Pellegrm Grinovc: e Anna Cndida da Cunha Pena:-:.Liberdades pblicas. Parte Gera!, So Paulo: Rume Grfica, p. 5-9. na qu os auioresexpressam: ""(...) b) (...) Direitos do homem (concepo jusnaturalista: o homem,enquanto homem, possui d:rcuoi inerentes sua natureza). Denominao restrita:abstrai papei do direito positivo no reconhecimento e proteo desses direitos: abstraiprestaes positivas do Estado direitos econc.-rdcos e seciaii - :znibr.i objete d:tadisciplina. Direitos fundamentais (noo que se aproxima da dos direitos naturais: apartir de uma certa concepo da natureza humana deduz-se certo nmero de direitosfundamentais): alm de restrita, a noo fundamental relativa, varia no tempo: noh lista imutvel dos direitos fundamentais... Liberdades pblicas: inadecua^terminolgica: pressupe contraposio a liberdades privadas; liberdade = pode; dcagir, excluindo a idia de poder de ?\itdr t\ tambm, a idis de "direitos". Todmui.preferencia pela expressa-:: liberdades phncas : razes histricas: termo que rt-suijde longa evoluo, e e" consagrado em textos constitucionais (Constituio francesa dc

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FATRIMNiO GENTICO HUMANO sua Diotfevc na CF/8S"ROTEO DA VIDA HUMANA E A EVOLUO COS PIRErOS FUNDAMENTAIS61

pois bem, ainda que observaremos posteriormente as dimenses oueeraoes de direitos, uma questo no pode escapar no presente, isto . adificuldade em determinar o aparecimento da manifestao positivada daproteo vida humana, o que