“ajuda-me senhor a ser justo e firme, honesto e puro ... · ção de um iluminado texto do...

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Ano 9 . nº 23 . Janeiro / Fevereiro / Março / 2014 René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio Brotto Patrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter Gustavo Scandelari . Rafael de Melo . Vanessa Cani Cícero Luvizotto . Mariana Guimarães Luis Otávio Sales . Guilherme Alonso . Thais Guimarães Alisson Nichel . Laís Bergstein . André Meerholz Renata Steiner . Diana Geara . Emilly Crepaldi . Bruno Correia Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti Áreas de Atuação: Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Criminal, Desportivo, Eleitoral, Família e Sucessões. Preservação do melhor interesse da criança nos casos de adoção à brasileira Thais Guimarães A acumulação de cargos públicos independe da carga horária máxima desempenhada em cada um dos cargos Alisson Nichel Novas regras para pagamento de meia-entrada Laís Bergstein A conversão em pecúnia de licença especial não usufruída por servidor público André Meerholz A prática dos contratos imobiliários Renata Steiner “Ajuda-me Senhor a ser justo e firme, honesto e puro, comedido e magnânimo, sereno e humilde” (Trecho do texto Prece de um Juiz – João Alfredo Medeiros Viana, transcrito no Editorial do Prof. René Ariel Dotti).

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Page 1: “Ajuda-me Senhor a ser justo e firme, honesto e puro ... · ção de um iluminado texto do magistrado catarinense JOÃO ALFREDO MEDEI-ROS VIANA. É a antológica Prece de um Juiz

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Ano 9 . nº 23 . Janeiro / Fevereiro / Março / 2014

René Ariel Dotti . Rogéria Dotti . Julio BrottoPatrícia Nymberg . Alexandre Knopfholz

Fernanda Pederneiras . Francisco Zardo . Vanessa Scheremeta José Roberto Trautwein . Fernando Welter

Gustavo Scandelari . Rafael de Melo . Vanessa CaniCícero Luvizotto . Mariana Guimarães

Luis Otávio Sales . Guilherme Alonso . Thais GuimarãesAlisson Nichel . Laís Bergstein . André Meerholz

Renata Steiner . Diana Geara . Emilly Crepaldi . Bruno Correia

Boletim Trimestral do Escritório Professor René DottiÁreas de Atuação: Direito Administrativo, Ambiental, Civil, Constitucional, Criminal, Desportivo, Eleitoral, Família e Sucessões.

Preservação do melhor interesse da criança nos casos de adoção à brasileira

Thais Guimarães

A acumulação de cargos públicos independe da carga

horária máxima desempenhada em cada um dos cargos

Alisson Nichel

Novas regras para pagamento de meia-entrada

Laís Bergstein

A conversão em pecúnia de licença

especial não usufruída por servidor público

André Meerholz

A prática dos contratos

imobiliários

Renata Steiner

“Ajuda-me Senhor a ser justo e firme, honesto e puro, comedido e

magnânimo, sereno e humilde”

(Trecho do texto Prece de um Juiz – João Alfredo Medeiros Viana, transcrito no

Editorial do Prof. René Ariel Dotti).

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EDITORIAL

Prece de um juiz (René Ariel Dotti) ................................................................................................................................................................................... 3

SEÇÃO INFORMATIVA

Iniciativa pioneira da OAB/PR tem repercussão nacional ............................................................................................................................... 4Participação em eventos ............................................................................................................................................................................................ 4Lançamentos de livros ................................................................................................................................................................................................ 4Análise Advocacia 500 ................................................................................................................................................................................................ 5

LEGISLAÇÃO

Mudanças relevantes................................................................................................................................................................................................... 5

DIREITO ADMINISTRATIVO

Liminar do STF suspende o teto remuneratório de cartorários interinos (Francisco Zardo) ......................................................................... 6Licitações: a vida pregressa de empresas não pode interferir na sua habilitação (Mariana Guimarães) .................................................... 6A acumulação de cargos públicos independe da carga horária máxima desempenhada em cada um dos cargos (Alisson Nichel) ................................................................................................................................................................................................. 7A conversão em pecúnia de licença especial não usufruída por servidor público (André Meerholz) ....................................................... 7

DIREITO CRIMINAL

O excesso de acusações por crime de desobediência (Alexandre Knopfholz) .................................................................................................... 8STF: é possível processar criminalmente a empresa mesmo sem o envolvimento de pessoa física (Gustavo Scandelari) .................. 8A desnecessidade do uso de algemas: falta de regulamentação ou de vontade política? (Rafael de Melo) .......................................... 9A perda da função pública e o confisco de aposentadoria (Luis Otávio Sales) ................................................................................................. 9O poder investigatório nos crimes eleitorais (Guilherme Alonso) ........................................................................................................................ 10Habeas Corpus substitutivo de recurso ordinário – novo entendimento (Bruno Correia) ......................................................................... 10

DIREITO CIVIL

Monstro indomável (Patrícia Nymberg) ........................................................................................................................................................................ 11O levantamento do saldo do FGTS para o pagamento de verba alimentar (José Roberto Trautwein) ........................................................ 11A execução e a expectativa por maior efetividade (Fernando Welter) ............................................................................................................... 12O dever de informação das instituições de saúde (Vanessa Cani) ..................................................................................................................... 12O airbag não acionou? (Cícero Luvizotto) ..................................................................................................................................................................... 13Novas regras para pagamento de meia-entrada (Laís Bergstein) ...................................................................................................................... 13A prática dos contratos imobiliários (Renata Steiner) ............................................................................................................................................. 14Construção irregular: condômino vs. condomínio (Emilly Crepaldi) ................................................................................................................. 14Usucapião de bens imóveis entre familiares: atos de mera tolerância (Daniela Beltrami) .......................................................................... 15

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

O direito de continuar a residir no imóvel após a morte do companheiro (Rogéria Dotti) ..................................................................... 15Companheiro-herdeiro: a discussão constitucional (Julio Brotto) ................................................................................................................... 16Registro de dupla maternidade (Fernanda Pederneiras) ........................................................................................................................................... 16A desconsideração inversa da pessoa jurídica no direito de família (Vanessa Scheremeta) ......................................................................... 17Preservação do melhor interesse da criança nos casos de adoção à brasileira (Thais Guimarães) .......................................................... 17Indignidade x alimentos (Diana Geara) ...................................................................................................................................................................... 17

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

Prisão: justiça social? (Hevelin Quintão) ........................................................................................................................................................................ 18A tipificação do delito de terrorismo no Brasil (Vinícius Cim) .............................................................................................................................. 18É abusiva a cláusula que estabelece perda integral de valor pago após a desistência de pacote turístico (Willyam Guilherme Sandri Junior) .......................................................................................................................................................... 18O Ministério Público e a apuração de ato de improbidade administrativa (Willian Felipe Brandão) .......................................................... 19Projeto de lei autoriza pessoa em união estável a incorporar sobrenome do companheiro (Camila Grubert) ................................... 19Movimentos juvenis (Karen Laís Tavares) ...................................................................................................................................................................... 19

ÍNDICE

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No portal do extinto TRIBUNAL DE ALÇADA DO PARANÁ, constava a reprodu-ção de um iluminado texto do magistrado catarinense JOÃO ALFREDO MEDEI-ROS VIANA. É a antológica Prece de um Juiz. O espaço reservado ao Editorial não permite a transcrição integral desse autêntico depoimento pessoal. Seguem, então, alguns trechos:

“Senhor! Eu sou o único ser na terra a quem Tu deste uma parcela de Tua onipotência: o poder de condenar ou absolver meus semelhantes. Diante de mim as pessoas se inclinam, à minha voz acorrem, à minha palavra obede-cem, ao meu comando se entregam, ao meu gesto se unem ou se separam, ou se despojam. Ao meu aceno as portas das prisões se fecham às costas do condenado ou se lhe abrem, um dia, para a liberdade. O meu veredicto pode transformar a pobreza em abastança e a riqueza em miséria. Da minha de-cisão depende o destino de muitas vidas. Sábios e ignorantes, ricos e pobres, homens e mulheres, os nascituros, as crianças, os jovens, os loucos e os mo-ribundos, todos estão sujeitos, desde o nascimento até a morte, à Lei que eu represento e à Justiça que eu simbolizo. (...)”

“Ajuda-me, Senhor! Que não me seduza a vaidade do cargo, não me inva-da o orgulho, não me atraia a tentação do mal, não me fascinem as honrarias. Fazei de minha toga um manto incorruptível. E da minha pena não o estilete que fere, mas a seta que assinala a trajetória da Lei no caminho da Justiça.

Ajuda-me Senhor a ser justo e firme, honesto e puro, comedido e magnâ-nimo, sereno e humilde. Que eu seja implacável com o erro mas compreensivo com os que erram. Que o meu veredicto seja a mensagem que regenera, a voz que conforta, a luz que clareia, a água que purifica, a semente que germina. Que a minha sentença possa enxugar as lágrimas da viúva e o pranto dos ór-fãos. E quando diante da cátedra em que me assento desfilarem os andrajosos, os miseráveis, os párias sem fé e sem esperança nos homens, espezinhados, escorraçados, pisoteados e cujas bocas salivam sem ter pão e cujos rostos são lavados nas lágrimas da dor, da humilhação e do desprezo, ajuda-me Senhor, a saciar sua fome e sede de Justiça”.

“E quanto um dia, finalmente, eu sucumbir e comparecer a Tua augusta presença para o último Juízo, olhai compassivo para mim. Ditai, Senhor, a Tua sentença! Julgai-me como Deus. Eu julguei como homem”.

RENÉ ARIEL DOTTI

Prece de um juiz

EDITORIAL

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SEÇÃO INFORMATIVA

Por iniciativa do Presidente JULIANO BREDA, a OAB Paraná lançou, em dezembro de 2013, uma obra eletrônica inédita no Brasil, que ofe-rece aos advogados e acadêmicos de Direito um mecanismo ágil e con-fiável para a consulta de informações relevantes para a prática forense.

Trata-se do Código de Processo Civil Anotado, elaborado com a participação de 45 juristas paranaenses sob a coordenação dos advo-gados SANDRO GILBERT MARTINS e ROGÉRIA DOTTI. O texto da lei é comentado pelos doutrinadores e ilustrado por precedentes atuais dos Tribunais Superiores (STF e STJ), do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) e do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4).

A iniciativa pioneira foi destacada em notícias veiculadas pelo Con-selho Federal da OAB e por diversas Seccionais. Até janeiro de 2014 já foram realizados mais de 90 mil downloads da obra disponibilizada gratuitamente para qualquer interessado no site www.oabpr.org.br.

Iniciativa pioneira da OAB/PR tem repercussão nacional

Participação em eventos

Lançamentos de livros

No dia 08/11/2013 o Professor RENÉ DOTTI participou de Palestra para a Es-cola da Magistratura do Paraná (EMAP), realizada no Núcleo de Curitiba. No dia 13, em Foz do Iguaçu, o Professor parti-cipou do Ciclo Permanente de Debates Jurídicos 25 anos da Constituição Fede-ral, onde proferiu a palestra de abertura cujo tema foi: “Proteção da Vida Privada e Liberdade de Informação”.

Ainda em novembro, no dia 20, o Congresso Paranaense de Direitos Cultu-rais: o acesso à cultura e o protagonista da arte, contou com a participação do Professor com a palestra “Proteção do pa-trimônio histórico-cultural”.

Em dezembro de 2013, foram publicados livros jurídicos de autoria dos advogados GUSTAVO SCANDELARI, do Núcleo de Direito Criminal, e RENATA STEINER, do Núcleo de Direito Civil – Contratos e Arbitragem. GUSTAVO SCANDELARI publi-cou as obras “Direito e Justiça – Decisões em destaque” (Editora Iglu) e “O crime tributário de descaminho” (Editora Lex Magis-ter), este último fruto do seu Mestrado, realizado na UFPR. Já RENATA STEINER publicou a obra “Descumprimento Contratual – boa-fé e violação positiva do contrato” (Editora Quartier Latin), também resultado de seu Mestrado, defendido na UFPR, com período de pesquisas na Universidade de Augsburg, Alemanha.

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Em 2013 o ESCRITÓRIO PROFESSOR RENÉ DOTTI fi-gurou novamente entre as bancas de advocacia mais admiradas do Brasil, segundo o anuário Análise Advocacia 500.

O Escritório foi lembrado na área penal, e o Professor RENÉ DOTTI também foi

apontado como um dos mais admirados do direito na categoria penal.

Na área cível, por sua vez, a advogada RENATA STEI-NER foi indicada na lista dos mais admirados por setor, na qual são consultadas empresas de diversos ramos da economia. Seu nome foi lembrado por empresas atuan-tes no setor de educação.

Análise advocacia 500

LEGISLAÇÃO

* O presente espaço foi criado por sugestão do Advogado João Carlos de AlmeidaMudanças relevantes

» ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA Lei nº 12.850, de 02/08/2013 (Publicada no DOU de 05/08/2013)

Revoga a Lei nº 9.034/1995 e define o conceito de organiza-ção criminosa, além de dispor sobre a investigação criminal, os meios de obtenção de prova, os crimes relacionados e o procedimento a ser aplicado. Com a nova Lei, a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas, mancomunadas para a prática de infrações penais, cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos ou de caráter transnacional, poderá ser con-siderada associação criminosa, sujeitando os integrantes às penas de 3 (três) a 8 (oito) anos de reclusão, e multa.

» SEPARAÇÃO E DIVÓRCIO CONSENSUAIS DE BRASILEIROS NO EXTERIORLei nº 12.874, de 29/10/2013 (Publicada no DOU de 30/10/2013)

Possibilitou às autoridades consulares brasileiras celebrarem a separação e divórcio consensuais de brasileiros no exterior, não havendo filhos menores ou incapazes, com a assistência de advogado. Na escritura pública deverá constar a partilha dos bens comuns, definições acerca da pensão alimentícia e retomada/manutenção do nome do cônjuge.

» MATERIAL ESCOLARLei nº 12.886, de 26/11/2013 (Publicada no DOU de 27/11/2013)

Em novembro de 2013 entrou em vigor uma alteração da Lei nº 9.870/1999 (que trata das anuidades escolares), proibin-do as disposições nos contratos de ensino que obriguem o contratante ao pagamento adicional ou ao fornecimento de qualquer material escolar de uso coletivo dos estudantes ou da instituição. É o caso, por exemplo, de materiais de limpeza e higiene ou de quantidade superior a uma resma de papel por aluno. Os custos correspondentes devem ser considera-dos nos cálculos do valor das mensalidades cobradas pelas escolas.

» FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO E ADULTERAÇÃO DE MEDI-CAMENTOS (ART. 273 DO CÓDIGO PENAL) – COMPETÊN-CIA PARA INVESTIGARLei nº 12.894, de 17/12/2013 (Publicada no DOU de 18/12/2013)

Acrescenta o inciso V ao art. 1º da Lei nº 10.446/2002, para que a investigação referente ao crime previsto no art. 273 do Código Penal (falsificação, corrupção e adulteração de me-dicamentos, assim como sua venda, inclusive pela internet) seja atribuída à Polícia Federal, desde que a prática do delito gere repercussão interestadual ou internacional.

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Liminar do STF suspende o teto remuneratório de cartorários interinos

Licitações: a vida pregressa de empresas não pode interferir na sua habilitação

Em julho de 2010, em suposto cum-primento à Resolução nº 80/2009 do CNJ, o Corregedor Nacional de Justiça, Ministro GILSON DIPP, decidiu que os responsáveis interinamente pelos ser-viços notariais e de registro, por serem prepostos do Estado, deveriam subme-ter-se ao teto remuneratório do serviço público, que corresponde a 90,25% do subsídio de Ministro do SUPREMO TRI-BUNAL FEDERAL.

Ocorre que o art. 236 da Constituição Federal é expresso ao dispor que “os ser-viços notariais e de registro são exercidos em caráter privado”. Ou seja, ao serventu-ário incumbem as receitas, mas também as despesas e os riscos inerentes ao exer-cício de sua atividade. Assim, não se jus-tifica a devolução do excedente mensal

ao Estado se nos demais meses o Esta-do não suprirá eventuais insuficiências, nem garantirá ao interino a “irredutibili-dade de vencimentos” gozada pelos ser-vidores públicos.

Com base neste entendimento, em novembro de 2013 o Ministro TEORI ZAVASCKI deferiu liminar na Ação Cau-telar nº 2.717, assentando que: “Ora, in-dependentemente de ter ingressado – ou não – por meio de concurso público, ou mesmo da legitimidade ou não do exer-cício do cargo (tema que aqui não está em questão) o autor é titular de serventia extrajudicial por ter sido designado pela Corregedoria de Justiça do Estado e recebe emolumentos pelos serviços específicos e divisíveis que presta, sobre os quais inci-de taxa estadual, independentemente de

exercer a delegação de modo definitivo ou interino. Em consequência, e por não ser um servidor público, mas um delegatário de serviço público que recebe emolumen-tos correspondentes aos serviços presta-dos, esse regime de retribuição, por sua própria natureza, não é suscetível de qual-quer equiparação com a dos servidores públicos, notadamente no que diz respeito a limitações de teto”.

No mês seguinte essa liminar foi re-vogada, porque o autor desistiu da ação. Não obstante, em janeiro de 2014 nova ação com o mesmo objeto foi propos-ta por outra parte perante o STF. Trata--se da Ação Cível Originária nº 2312, que também está sob a relatoria do Ministro TEORI ZAVASCKI, aguardando a aprecia-ção do pedido de liminar.

Em decorrência do comando cons-titucional contido no art. 37, inciso XXI, que limita os requisitos de participação em licitações àqueles realmente indis-pensáveis para a garantia do cumpri-mento das futuras obrigações, a Admi-nistração só pode exigir dos licitantes a comprovação do cumprimento das exi-gências constantes dos arts. 28 a 31 da Lei nº 8.666/1993, “não sendo lícito exigir outro documento ali não elencado” (TCU, Plenário, Decisão nº 523/1997).

O TRIBUNAL DE CONTAS DO PARANÁ reconhece que “os requisitos de qualifica-ção técnica, assim como todos os demais

requisitos de habilitação são previstos em rol taxativo pela Lei 8.666/93” (Acór-dão nº 988/10, Pleno). Portanto, toda exigência a ser feita ao particular deve encontrar respaldo nesta lei.

A norma não prevê, dentre as hipó-teses de inabilitação para participar em disputas licitatórias, a demonstração de que o licitante não sofreu sanções an-teriores (advertências e multas) em seu relacionamento com a Administração Pública. Se o rol de exigências legais não a contempla, consequentemente, não poderá o Poder Público avaliar tal circunstância para decidir sobre a parti-

cipação na disputa.

A vida pregressa do concorrente em nada interfere no preenchimento das condições de habilitação, salvo na hipóte-se de existência de penalidades em vigor que lhe retire condição de participar de certames, quais sejam, a suspensão tem-porária/impedimento de contratar com o órgão ou declaração de inidoneidade.

O TCU recentemente decidiu que “o gestor agiu em desconformidade com as normas e princípios da administração públi-ca” ao “inabilitar uma empresa cujos maus antecedentes eram por ele conhecidos” (Acórdão 8636/2013, Primeira Câmara).

FRANCISCO ZARDO

MARIANA GUIMARÃES

DIREITO ADMINISTRATIVO

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A acumulação de cargos públicos independe da carga horária máxima desempenhada em cada um dos cargos

A conversão em pecúnia de licença especial não usufruída por servidor público

A regra constitucional acerca da acu-mulação de cargos públicos é clara: “é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horário, (...) a) a de dois cargos de professor; b) a de um car-go de professor com outro técnico ou científico; c) a de dois cargos ou empre-gos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas”. Ou seja, o único requisito previsto na Cons-tituição Federal para que a acumulação seja reputada lícita é que exista compa-tibilidade de horários entre os cargos. Nada mais.

A despeito da clareza da previsão

constitucional, não são raros os casos em que servidores públicos foram obri-gados a abrir mão de um dos cargos ou até mesmo a responder a ação de impro-bidade administrativa ao argumento de que as cargas horárias somadas dos dois cargos extrapolaria 60 horas semanais. Inclusive, o próprio TRIBUNAL DE CON-TAS DA UNIÃO tem decidido desta ma-neira (Acórdãos 2133/2005 e 556/2009).

Entretanto, o Poder Judiciário tem reconhecido a inconstitucionalidade do referido entendimento, pois tal limitação não possui amparo constitucional. Em re-cente decisão, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA consignou que “havendo compa-

tibilidade de horários, é possível a acumu-lação de dois cargos públicos privativos de profissionais de saúde, ainda que a soma da carga horária referente àqueles cargos ultrapasse o limite máximo de sessenta horas semanais considerado pelo TCU na apreciação de caso análogo. De fato, o art. 37, XVI, da CF e o art. 118, § 2º, da Lei 8.112/1990 somente condicionam a acumulação lícita de cargos à compati-bilidade de horários, não havendo qual-quer dispositivo que estabeleça limite máximo, diário ou semanal, à carga ho-rária a ser cumprida” (1ª Turma, AREsp nº 291919, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, DJ. 06/05/2013).

A licença especial é um direito con-ferido aos servidores públicos por lei ou estatuto, pelo qual se autoriza o afasta-mento por determinado período depois de cumprido o exercício regular de suas atividades por tempo previsto em lei, mantendo-se o regular percebimento da remuneração.

Os estatutos dos servidores públicos têm vedado a conversão em pecúnia de licença especial àqueles que se en-contrem na ativa. Contudo, em posição distinta se encontram servidores que não poderão usufruir de licença espe-cial incorporada a sua esfera de direitos

por não mais estarem na ativa, como nas hipóteses de aposentadoria, pedido de exoneração e até mesmo falecimento. Nestas circunstâncias, os Tribunais têm se posicionado pela legalidade da con-versão de licença especial não usufruída em indenização, mesmo que haja pre-visão estatutária expressa em sentido contrário. O fundamento para conversão é constitucional, escorado na responsa-bilidade objetiva do Estado (art. 37, §6ª) e na vedação ao enriquecimento sem causa da Administração.

Em decisão paradigmática, o SUPE-RIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA consolidou

o entendimento de que “a conversão em pecúnia das licenças-prêmios não go-zadas em face do interesse público, tam-pouco contadas em dobro para fins de contagem de tempo de serviço para efeito de aposentadoria, avanços ou adicionais, independe de previsão legal expressa, sendo certo que tal entendimento está fundado na Responsabilidade Objetiva do Estado, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição Federal, e no Princípio que veda o enriquecimento ilícito da Adminis-tração” (STJ, 5ª Turma. Recurso Especial nº 693.728/PR, Rel. Ministra LAURITA VAZ. DJ. 11/04/2005).

ALISSON NICHEL

ANDRÉ MEERHOLZ

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STF: é possível processar criminalmente a empresa mesmo sem o envolvimento de pessoa física

O excesso de acusações por crime de desobediência

A Petrobras foi denunciada por su-posto crime ambiental, praticado em 2000, no Paraná. Originalmente, o presi-dente e o superintendente da refinaria tinham sido também acusados, porém, obtiveram ordens favoráveis de habeas corpus para excluí-los da ação, uma vez que não existia qualquer vínculo concre-to entre o alegado crime e suas condutas.

Contra essas decisões, o Ministério Público interpôs Recurso Extraordinário ao STF, distribuído à Ministra ROSA WE-BER, objetivando a declaração de pos-sibilidade de seguimento do processo ainda que exclusivamente contra a pes-soa jurídica. Segundo o voto da relatora,

está errado o entendimento – até então dominante –, de que “a persecução penal de pessoas jurídicas só é possível se estiver caracterizada ação humana individual. [...] Nem sempre é o caso de se imputar de-terminado ato a uma única pessoa física, pois muitas vezes os atos de uma pessoa jurídica podem ser atribuídos a um con-junto de indivíduos. A dificuldade de se identificar o responsável leva à impossibi-lidade de imposição de sanção por delitos ambientais”. De acordo com a Ministra, a exigência da presença concomitante da pessoa física e da pessoa jurídica na ação penal esvaziaria o comando cons-titucional de que “a lei, sem prejuízo da

responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a respon-sabilidade desta (...)” (art. 173, §5º).

Defendeu, ainda, ser mais adequado, do ponto de vista da norma constitucio-nal, que a doutrina e a jurisprudência desenvolvam os critérios próprios para que se atribua a empresas a respon-sabilidade criminal e que se lhe impo-nham penas. Ao votar pelo provimento do recurso (em 06/08/2013), a relatora foi acompanhada pelos Ministros LUÍS ROBERTO BARROSO e DIAS TOFFOLI. Fi-caram vencidos os Ministros MARCO AU-RÉLIO e LUIZ FUX.

Dispõe o art. 330 do Código Penal que é crime, punido com detenção de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, “desobede-cer a ordem legal de funcionário público”. Nos últimos tempos, são cada vez mais comuns procedimentos criminais para apurar o crime de desobediência pelo não cumprimento de ordens emanadas de autoridades judiciárias. Tal incremen-to deve-se ao grande número de requisi-ções e ofícios determinando que empre-sas ou instituições financeiras forneçam informações ou documentos para de-mandas judiciais, muitas das quais sem qualquer relação direta com aquele que deve atender à solicitação. É o caso, por exemplo, da determinação para que a empresa forneça dados de ex-empre-gado, em ação movida por este em face

do INSS. Ocorre que, não raro, tais do-cumentos e informações são entregues a destempo em razão da complexa es-trutura hierárquica e organizacional das grandes sociedades empresariais. Vale dizer: o ofício a ser cumprido perde-se no emaranhado de setores e funcioná-rios da pessoa jurídica.

Porém, com frequência, as perse-cuções penais são deflagradas apenas e tão-somente pelo não cumprimento tempestivo da determinação judicial, sem se analisar outros elementos neces-sários para a caracterização do delito, como, por exemplo, a intenção de des-cumprimento. O procedimento criminal passa a ser uma consequência automá-tica do descumprimento temporário da ordem, sem que se atente para as cir-

cunstâncias elementares do crime pre-visto no art. 330 do Código.

Para a configuração do delito é ne-cessário o dolo, ou seja, a vontade deli-berada e consciente de desobedecer à ordem emanada da autoridade. É, ainda, indispensável que a ordem judicial tenha sido dirigida direta e expressamente ao agente, não bastando que seja a ele en-caminhada por meio de outrem (como secretários, por exemplo). Finalmente, deve-se observar que o cumprimento da determinação fora do prazo igualmente não caracteriza a desobediência, eis que “a simples demora, que em nada se iden-tifica com a oposição à ordem legal, não caracteriza o crime tipificado no art. 330 do Código Penal” (STJ, HC 27.064/PR, 6ª T., Rel. HAMILTON CARVALHIDO).

GUSTAVO SCANDELARI

ALEXANDRE KNOPFHOLZ

DIREITO CRIMINAL

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Encontra-se em tramitação no Se-nado Federal o Projeto de Lei n° 185 de 2004, que visa regulamentar o uso de algemas em situações de transporte de presos. O projeto completará, este ano, seu décimo aniversário, e, como precisa passar pela Câmara dos Deputados, está longe de se transformar em lei.

Mas a carência legislativa sobre esse assunto é muito anterior. Desde a Lei nº 7.210, de 11 de junho de 1984 (Lei de Execuções Penais), instituiu-se, em seu art. 199, que “o emprego de algemas será disciplinado por decreto federal”. Essa re-gulamentação nunca ocorreu.

A fim de minorar os problemas des-sa lacuna legislativa, o STF editou, em 2008, a Súmula Vinculante n° 11, que

estabelece que “só é lícito o uso de alge-mas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou perigo à integridade fí-sica própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionali-dade por escrito, sob pena de responsabi-lidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Es-tado”. Entretanto, essa determinação

teve sua aplicabilidade dificultada por setores que veem nela uma afronta à divisão de poderes.

E, mais uma vez, a questão ficou à mercê de um sistema vulnerável a agen-tes públicos que descumprem seu papel de garantidores de uma ordem constitu-cional, permitindo que, a cada dia, este tão debatido tema continue a ser um problema grave.

A perda da função pública e o confisco de aposentadoria

A desnecessidade do uso de algemas: falta de regulamentação ou de vontade política?

RAFAEL DE MELO

LUIS OTÁVIO SALES

A perda da função pública (CP, art. 92, I), como efeito da condenação cri-minal, não autoriza a cassação da apo-sentadoria do servidor inativo e so-mente se aplica ao servidor ativo. Esse é o atual entendimento da 6ª Turma do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (RMS 31980 – Rel. Ministro OG FERNANDES – DJe 30/10/2012): “1. A Sexta Turma desta Corte não tem admitido a cassação da aposentadoria como consectário lógico da condenação criminal, em razão de au-sência de previsão legal. Precedente. 2. Re-

curso em mandado de segurança a que se dá provimento.”. Portanto, se o servidor público civil se aposentou (ou entrou em reserva remunerada, no caso dos militares) antes da sentença, esse efeito da condenação não lhe afeta, ainda que tenha praticado o delito na ativa, pois: a) perda de função pública não se confun-de com confisco de proventos de apo-sentadoria, sob pena de enriquecimento ilícito do Estado (Código Civil, art. 884); b) não cabe ao Juízo criminal fazê-lo, por ausência de previsão na legislação

penal. Por outro lado, mesmo se houver previsão legal de confisco de proventos no âmbito administrativo, isso não pode ocorrer automaticamente. Nesse caso, é indispensável a instauração de um pro-cesso autônomo no qual se garanta ao servidor inativo o contraditório e a am-pla defesa.

Trata-se de decisão acertada na me-dida em que prestigia o princípio da le-galidade, segundo o qual não há pena sem prévia cominação legal (CP, art. 1º e CF, art. 5º, XXXIX).

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O poder investigatório nos crimes eleitorais

Há mais de 3 (três) anos, tramita no SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL o Recurso Extraordinário nº 593727/MG, no qual se debate a legitimidade do Ministério Pú-blico para conduzir investigações crimi-nais. O tema é controverso e ainda não há prognóstico para o posicionamento definitivo e vinculante da Suprema Corte.

No âmbito dos crimes eleitorais, po-rém, houve recente e relevante alteração da dinâmica das investigações e da atu-ação do parquet especializado e da Polí-cia Federal. Em 17/12/2013, o TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL expediu a Resolu-ção nº 23.396 para instruir a atuação da Polícia Judiciária Eleitoral e do Ministério Público Eleitoral nas próximas eleições, regulamentando o oferecimento de Notícia-crime Eleitoral e a instauração de

Inquérito Policial Eleitoral.

A grande alteração instituída no texto normativo, relatado pelo Ministro DIAS TOFFOLI, é a submissão de toda e qualquer iniciativa criminal dessa na-tureza ao Juízo Eleitoral, exceto prisões em flagrante. Ou seja, ao contrário do que ocorre com os crimes comuns (cuja investigação é regida pelo Código de Processo Penal e pode ser iniciada pela polícia, em crimes de ação penal pública, de ofício ou mediante requisição do Mi-nistério Público e de autoridade judicial),

para a instauração de Inquérito Policial Eleitoral será indispensável o aval do Po-der Judiciário.

Embora o Presidente do TSE, Minis-tro MARCO AURÉLIO, tenha divergido do relator da Resolução, afirmando que a competência para instauração de inves-tigações não é estabelecida no Código Eleitoral, mas no Código de Processo Penal, o plenário – que é composto de Ministros do STF, do STJ e de juristas (al-guns anteriormente ligados a partidos políticos) – aprovou a resolução.

GUILHERME ALONSO

Habeas Corpus substitutivo de recurso ordinário – novo entendimento

Sob o pretexto de homenagear a racionalidade do ordenamento jurídico e a funcionalidade do sistema recursal, os Tribunais Superiores entendiam pelo cabimento do habeas corpus apenas quando a impetração não substituísse o recurso legalmente previsto. Ou seja, o acórdão do tribunal local teria de ser impugnado pelo Recurso Ordinário Cons-titucional (RHC).

No entanto, as duas Turmas do SU-PREMO TRIBUNAL FEDERAL têm deci-dido pelo cabimento de habeas corpus substitutivo quando há risco direto à liberdade do paciente: “sendo objeto do

habeas corpus a preservação da liberdade de ir e vir atingida diretamente, porque ex-pedido mandado de prisão ou porquanto, com maior razão, esta já ocorreu, mostra--se adequada a impetração, dando-se al-cance maior à garantia versada no artigo 5º, inciso LXVIII, da Carta de 1988” – HC 114751, Ministro MARCO AURÉLIO, 1ª T., DJe 27/11/2013; “o eventual cabimento de recurso não constitui óbice à impetra-ção de habeas corpus, desde que o objeto esteja direta e imediatamente ligado à liberdade de locomoção física do Pa-ciente” – HC 112836, Ministra CÁRMEN LÚCIA, 2ª T., DJe 15/08/2013.

A nova orientação ainda não é se-guida pelo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, que continua decidindo pelo não cabimento do HC substitutivo, con-cedendo a ordem, de ofício, nos casos em que a ilegalidade é flagrante (HC 275.567, Ministro SEBASTIÃO REIS JÚ-NIOR, 6ª T., DJe 16/12/2013). Em vista das recentes decisões do STF, a tendência é de que a jurisprudência em defesa do cabimento do habeas corpus nos casos de prisão seja pacificada, possibilitando o combate a prisões ilegais pelo meio mais célere.

BRUNO CORREIA

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O CENTRO DE ESTUDOS DO CON-SELHO DA JUSTIÇA FEDERAL editou o enunciado 572, com a seguinte redação: “mediante ordem judicial, é admissível, para a satisfação do crédito alimentar atual, o levantamento do saldo de conta vinculada ao FGTS”.

A justificativa foi a de que “... embora admitida a coerção pessoal, muitas vezes os alimentandos encontram dificuldades em receber o que lhes é de direito. Em al-gumas oportunidades, o próprio devedor resiste de boa-fé, por não possuir os recur-sos suficientes para adimplir a pensão. Em tal contexto, uma alternativa viável seria a retirada dos valores depositados na conta

vinculada ao FGTS para a satisfação do crédito. Muitos princípios poderiam ser invocados em prol desta solução. Inicial-mente, ambas as partes terão a sua digni-dade reconhecida, pois o credor receberá a pensão, enquanto o devedor se livrará do risco de prisão”.

O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTI-ÇA, no julgamento do Recurso Especial nº 34.708/SP, concluiu: “1. Este Tribunal Superior entende ser possível a penhora de conta vinculada do FGTS (e do PIS) no caso de execução de alimentos, havendo, nesses casos, a mitigação do rol taxativo previsto no art. 20 da Lei 8.036/90, dada a incidência dos princípios constitucionais

da proporcionalidade e da dignidade da pessoa humana. (AgRg no AG 1.034.295/SP, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (Desembargador Convocado TJ/RS, Tercei-ra Turma, DJ 09/10/2009). 2. Possibilidade de o Magistrado, ante as circunstâncias do caso concreto, bloquear a conta relativa ao FGTS, para garantir o pagamento de débitos alimentares”.

Trata-se, em síntese, de orientação tendente a assegurar o efetivo cumpri-mento do princípio da dignidade hu-mana, tanto do alimentando como do alimentante.

É notória a resistência da empresa Google em cumprir decisões judiciais que determinam a retirada de páginas ofensivas da internet, sob a justificativa de impossibilidade técnica e de controle prévio. E, novamente, sua tese foi venci-da no SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, no julgamento do Recurso Especial nº 1306157, em caso que se discutiu a re-tirada do YouTube de filmes adulterados de uma campanha publicitária.

Para o Ministro LUIS FELIPE SALO-MÃO, relator do voto, a ausência de ferramentas técnicas para solução de problemas em um produto novo no mercado não isentaria a fabricante de providenciar solução do defeito, afinal,

“se a Google criou um ‘monstro indomá-vel, é apenas a ela que devem ser imputa-das eventuais consequências desastrosas geradas pela ausência de controle dos usuários de seus sites”.

O voto reafirma o entendimento do julgador de que os vídeos têm que ser retirados da internet independentemen-te da indicação precisa, pelo ofendido, das páginas (URLs) em que foram veicu-ladas as ofensas. Em julgado anterior, o Ministro defendeu que “não é crível que uma sociedade empresária do porte da sociedade da recorrente não possua capa-cidade técnica para identificar as páginas que contenham as mencionadas men-sagens” (Recurso Especial nº 1175675).

Nesse aspecto, houve divergência no julgado, restando vencida a Ministra ISA-BEL GALLOTTI, que compartilha o enten-dimento da Terceira Turma, que conclui que a remoção do ilícito fica condicio-nada à indicação, pelo denunciante, do URL da página em que estiver o respec-tivo post (Recurso Especial nº 1406448).

Enfim, o cumprimento da ordem de retirada prévia de conteúdo ofensivo da internet visa, primeiramente, fazer cessar o dano, visto que a rapidez com que as informações são replicadas e dis-ponibilizadas na rede pode tornar inútil a prestação jurisdicional futura. Além disso, visa também preservar a própria efetividade da jurisdição.

O levantamento do saldo do FGTS para o pagamento de verba alimentar

Monstro indomável

JOSÉ ROBERTO TRAUTWEIN

PATRÍCIA NYMBERG

DIREITO CIVIL

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Costumamos dizer que a pessoa que não cumpre voluntariamente suas obri-gações financeiras, resultantes de pro-cesso judicial, deve ser retirada da “zona de conforto”. É só assim, com o compro-metimento das suas relações cotidianas, que o devedor se vê compelido ao paga-mento da dívida.

Essa realidade é fruto da crise de efe-tividade do processo de execução brasi-leiro. Com poucos meios para constran-ger o devedor ao pagamento e com um roteiro mais que previsível de diligências para invadir o seu patrimônio, a cobran-ça judicial de dívidas ganhou a fama de ser um bom negócio justamente para aquele que deveria ser ver importunado por ela: o devedor. Bastava ele seguir à risca a cartilha dos maus pagadores - não

mantendo em seu nome imóveis, veícu-los ou empresas -, e dificilmente seria incomodado.

A consagração legal da penhora ele-trônica de ativos financeiros em bancos, em fins de 2006, representou um impor-tante divisor de águas na busca de maior efetividade na execução judicial. Trata-se, sem dúvida, de instrumento capaz de sur-preender o devedor, mas ainda insuficien-te. É necessário que a execução disponha de medidas de apoio, isto é, providências que, mesmo sem atingir diretamente o patrimônio do devedor, logrem enfim retirá-lo da “zona de conforto”.

Nesse sentido, o projeto do novo Código de Processo Civil, em trâmite no Congresso Nacional, traz duas impor-tantes medidas: o protesto da sentença

e o registro da execução em cadastros de proteção ao crédito. Embora não seja exatamente uma novidade no foro, o protesto da sentença judicial perante o tabelionato de protesto, tal como ocor-re com qualquer título de crédito, será expressamente permitido e regulamen-tado. Inovação mesmo que o projeto traz diz respeito à inclusão do nome do devedor em cadastros de inadimplentes (Serasa, SPC, etc.), que será ordenada pelo juiz da execução mediante requeri-mento do credor.

Como essas medidas provocam forte impacto no meio comercial e bancário, po-dem representar um forte instrumento de indução do devedor ao pagamento da dí-vida, trazendo a esperança de que a execu-ção alcance maior efetividade e eficiência.

A execução e a expectativa por maior efetividade

O dever de informação das instituições de saúde

As instituições hospitalares, ao pres-tarem seus serviços aos pacientes, agem na condição de fornecedoras, ao passo que os usuários, enquanto destinatários finais, são considerados consumidores. Não remanesce dúvida, portanto, de que a relação jurídica entre hospital e pacien-te se submete às regras e princípios in-sertos no Código de Defesa do Consumidor.

Em sendo assim, sob pena de incorrerem em violação aos comandos normativos da Lei nº 8.078/1990, em especial ao artigo 6º, inciso III, incum-be aos nosocômios o dever de informar o usuário e/ou o responsável pelo pagamento das despesas médico-hospita-lares, de forma clara e precisa,

a respeito de todos os procedimentos realizados, medicamentos ministrados e serviços não cobertos pelo plano de saúde do usuário, bem como os valores respectivos, mediante a apresentação de orçamento prévio e detalhado, especial-mente quando o tratamento for eletivo e não caracterizado como de urgência ou

emergência. O objetivo é colher o con-sentimento expresso e inequívoco do consumidor a respeito dos gastos.

O descumprimento do dever de in-formação, intrínseco ao negócio jurídi-co, nos termos do art. 46 da Lei referida, pode culminar na ausência de obriga-ção do paciente e/ou responsável pelo

pagamento das despesas que não foram previamente auto-rizadas, pois, “os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportu-nidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance”.

FERNANDO WELTER

VANESSA CANI

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Em dezembro de 2013 foi sanciona-da a Lei nº 12.933, que estabelece novas regras sobre pagamento de meia-entra-da por estudantes, idosos, pessoas com deficiência e jovens de 15 a 29 anos com-provadamente carentes em espetáculos artístico-culturais e esportivos.

Estabeleceu-se que, a partir da edição da norma regulamentadora, a meia-en-trada será assegurada em 40% (quarenta por cento) do total dos ingressos dispo-níveis para cada evento. As produtoras dos eventos deverão disponibilizar instru-mentos de controle que faculte ao públi-co, em todos os pontos de venda, o acesso

às informações atualizadas referentes ao quantitativo de ingressos de meia-entra-da disponíveis para cada sessão.

Nas salas de cinema, cineclubes, te-atros, locais de espetáculos musicais, circenses e de eventos educativos, es-portivos, de lazer e entretenimento, em todo o território nacional, deverão ser afixados cartazes, em local visível da bi-lheteria e da portaria em que constem as condições estabelecidas para o gozo da meia-entrada, com os telefones dos ór-gãos de fiscalização.

O benefício não será cumulativo com quaisquer outras promoções e convênios

e, também, não se aplica ao valor dos serviços adicionais eventualmente ofere-cidos em camarotes, áreas e cadeiras es-peciais. Além disso, no caso das pessoas com deficiência, a possibilidade de paga-mento de meia-entrada será estendida ao seu acompanhante, quando necessário.

As regras para aquisição de ingressos durante a Copa do Mundo FIFA 2014, todavia, são dispostas em lei específi-ca, nº 12.663/2012, razão pela qual não há necessidade de atendimento a estes mesmos requisitos. Estas novas normas também não serão aplicáveis às Olimpí-adas do Rio de Janeiro de 2016.

Novas regras para pagamento de meia-entrada

O airbag não acionou?

O 1º dia do ano trouxe novidades. A partir da referida data, entrou em vigor a resolução do CONTRAN que torna obriga-tória a existência do airbag e do abs como itens de série nos automóveis novos.

Tal medida é uma vitória para os con-sumidores que passam a ter maior se-gurança em seus deslocamentos já que, sabidamente, tais dispositivos são extre-mamente eficazes para evitar – ou mino-rar – os danos originados por uma colisão.

Com a obrigatoriedade destes equi-pamentos, novas discussões passarão a povoar o Poder Judiciário, especialmen-te no que tange ao funcionamento do airbag após um acidente, pois o equi-

pamento é acionado apenas mediante condições específicas (intensidade do choque, desaceleração, etc).

Exemplo disso é o recente julgado do STJ (Recurso Especial nº 1306167/RS) no qual uma consumidora, que alegou ter sofrido danos pelo não funcionamen-to do airbag após uma colisão, teve seu pleito analisado.

O pedido indenizatório, que havia sido julgado improcedente pelo Juízo de 1º grau e mantido pelo Tribunal local ao argumento de que não havia restado demonstrada a existência de falha no sis-tema, foi provido pela Corte.

Segundo o Relator, “não poderia o

acórdão ter repassado os encargos da prova para a consumidora com o fito de isentar a fornecedora pela responsabilida-de de seu produto”. O Ministro prosseguiu afirmando que “levando-se em conta o fato de a causa de pedir apontar para hi-pótese de responsabilidade objetiva do fornecedor pelo fato do produto, não ha-vendo este se desincumbido do ônus que lhe cabia – inversão ope legis –, é de se concluir pela procedência do pedido au-toral com o reconhecimento do defeito do produto.” E, com base nisso, julgou pro-cedente o pedido condenando a monta-dora ao pagamento de R$ 20.000,00 a tí-tulo de indenização pelos danos morais suportados.

CÍCERO LUVIZOTTO

LAÍS BERGSTEIN

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O Código de Processo Civil prevê, em seu art. 934, a figura da Ação de Nuncia-ção de Obra Nova, a qual, conforme en-sina LUIZ GUILHERME MARINONI, “serve para impedir a prática de um ilícito con-sistente na violação da legislação sobre o direito de vizinhança (...), na violação de normas municipais (...) e na violação de li-mitações administrativas sobre a proprie-dade particular (...)” (Código de processo civil: comentado artigo por artigo, 5ª ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 870).

Trata-se, portanto, de Ação que tem como finalidade coibir construções erigi-

das irregularmente. Uma das hipóteses legais autoriza o condômino a propor Ação que vise “impedir que o co-proprie-tário execute alguma obra com prejuízo ou alteração da coisa comum” (inciso II).

Foi então que, deparado com situa-ção peculiar e em interpretação teleoló-gica do referido dispositivo, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA estendeu tam-bém ao próprio condomínio a legitimi-dade para o ajuizamento de demanda com esta finalidade.

No caso concreto, o proprietário de um apartamento localizado no último andar do edifício, com o intuito de transformá-

-lo em uma cobertura, construiu irregular-mente no terraço – área comum – “uma suíte, hal, cozinha, área de serviço, área de lazer, banheiro, sendo registrado pelo Sr. Perito, a presença de uma caixa d’água de 1000 litros, uma banheira de 150 litros” (Recurso Especial nº 1374456/MG).

Em sua decisão, a Corte Superior considerou, além do “risco a que foi ex-posta a estrutura do prédio resultante das transformações”, “o evidente interesse do condomínio de buscar as medidas possí-veis em defesa dos interesses da coletivida-de que representa”, permitindo-se, assim, que o condomínio propusesse a Ação.

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Os contratos imobiliários – nos quais se inserem diferentes tipos contratuais, como a compra e venda, o compromisso de compra e venda e a locação – são ins-trumentos aos quais o legislador confere especial atenção, regulados por regras específicas e/ou leis especiais. A opção legislativa é justificada, considerando a importância do bem negociado e a fre-quência com a qual estes contratos se fazem presentes no cotidiano.

Cautela e segurança são palavras--chave na elaboração e assinatura dos negócios imobiliários. No que toca es-pecialmente aos instrumentos de trans-missão da propriedade, a verificação da

saúde financeira e fiscal do vendedor é imprescindível para a realização do negócio. Além da análise das certidões do vendedor, deve-se atentar à situa-ção do imóvel, que é comprovada pela obtenção da matrícula atualizada, com certidão de inexistência de ônus reais. A obtenção de certidões e sua análise, lon-ge de serem exigências formais, são ma-terialmente necessárias para a realização da operação.

Em tempos em que os imóveis são ofertados à venda com tamanha rapidez e em larga escala, muitas vezes por inter-médio de imobiliárias e instrumentaliza-dos em contratos de adesão e de reda-

ção padrão, a análise específica de cada operação nunca se fez mais necessária. O mesmo se diga dos contratos de loca-ção, cujos efeitos se alastram no tempo.

Em suma, a redação do instrumen-to contratual há de refletir a segurança necessária, seja para o comprador, seja para o vendedor. Significa dizer que instrumentos pré-formatados, em des-conformidade com as peculiaridades do contrato, devem ser rejeitados. A inser-ção de cláusulas contratuais adequadas – sob o aspecto jurídico – são essenciais para a formalização dos contratos imo-biliários e para a garantia da solidez da negociação e dos resultados desejados.

A prática dos contratos imobiliários

EMILLY CREPALDI

RENATA STEINER

Construção irregular: condômino vs. condomínio

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A usucapião é modo originário de aquisição do domínio de bens móveis e imóveis, através da posse justa (mansa, pacífica e contínua), por determinado espaço de tempo fixado na lei, com ani-mus domini (agir como se dono fosse) e objeto hábil. Excepcionalmente, o pos-suidor deverá demonstrar o justo título e a boa-fé.

As condições necessárias para in-gressar no Judiciário com uma Ação de Usucapião dependem, portanto, da es-pécie do instituto que esteja sob análise. Neste ínterim, ausente ou viciado qual-quer um dos requisitos, torna-se inviável a reivindicação da propriedade do bem

reclamado pelo possuidor indireto.

Desta forma, levando-se em conta que as questões possessórias entre pa-rentes usualmente se lastreiam no abuso da relação de confiança estabelecida en-tre proprietário e possuidor, extrai-se a ideia da precariedade do direito de aqui-sição de propriedade quando as partes litigantes são familiares, o que aplaca a prova da posse justa.

Neste panorama, tem-se que a pos-se precária, injustamente adquirida, provém de atos de tolerância praticado pelos detentores do domínio do bem. Destarte, a precariedade induz apenas a

mera detenção, ou seja: uma posse des-provida de qualificação jurídica. A per-missão de posse é, portanto, uma acei-tação implícita de uso, não configurando inércia, por parte dos legítimos possui-dores, hábil a ensejar eventual perda da propriedade.

Logo, a precariedade deve ser consi-derada um vício insanável na pretensão de aquisição por usucapião, eis que ori-ginada por atos de mera tolerância dos demais parentes, configurando simples-mente a prática de turbação ou esbulho possessório, os quais devem ser pleitea-dos em ações de Manutenção e de Rein-tegração de Posse, respectivamente.

Usucapião de bens imóveis entre familiares: atos de mera tolerância

DANIELA BELTRAMI

Em recente decisão, a 4ª Turma do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA reco-nheceu que, apesar da morte do parcei-ro, a companheira tem o direito de con-tinuar a residir no imóvel que servia de moradia ao casal.

A questão é polêmica porque o Códi-go Civil de 2002 não previu expressamen-te esse direito para aqueles que convivem sob o regime da união estável. Somente o cônjuge poderia assim agir (art. 1.831 do CC). Já no que diz respeito ao companhei-ro, o art. 1.790 nada prevê a respeito. Tal si-lêncio seria, para muitos, eloquente. O Có-digo teria, assim, revogado tacitamente o direito real de moradia dos companheiros,

previsto inicialmente na Lei nº 9.278/1996.

Baseando-se nesse argumento, os herdeiros de um homem falecido em 2004 requereram, perante o Poder Judi-ciário do Rio Grande do Sul, a desocupa-ção do bem. O Tribunal local, contudo, entendeu não ser possível a distinção entre cônjuges e conviventes, esten-dendo, assim, a estes, o direito real de moradia. Agora, ao examinar o Recurso Especial, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUS-TIÇA manteve a decisão, reconhecendo o direito do companheiro sobrevivente. Em seu voto, o Ministro LUIS FELIPE SA-LOMÃO lembrou o Enunciado nº 117 da I Jornada de Direito Civil promovida pelo

Conselho da Justiça Federal: “o direito real de habitação deve ser estendido ao companheiro, seja por não ter sido revo-gada a previsão da Lei 9.278, seja em ra-zão da interpretação analógica do artigo 1.831, informado pelo artigo 6º, caput, da Constituição de 88”.

A polêmica ainda é grande, pois tal reconhecimento afasta a possibilidade de fruição por parte dos herdeiros legais. Tanto é assim que a votação entre os mi-nistros foi apertada: 3 a 2. Mas, o prece-dente é muito importante. Ele constitui um dos reflexos do reconhecimento da união estável enquanto entidade fami-liar (Constituição Federal, art. 226, § 3º).

O direito de continuar a residir no imóvel após a morte do companheiro

ROGÉRIA DOTTI

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

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Registro de dupla maternidade FERNANDA PEDERNEIRAS

São cada vez mais frequentes as de-mandas judiciais para a regularização formal das relações filiais socioafetivas oriundas de relacionamentos homoafe-tivos. Os avanços da medicina, aliados à priorização de princípios constitucionais como a dignidade da pessoa humana, a solidariedade familiar e o melhor inte-resse do menor têm permitido cada vez mais a constituição de novos formatos de famílias.

No entanto, os casais homoafetivos que optam por ter filhos, quer por meio da adoção, quer pelos métodos da re-produção assistida, ainda encontram dificuldades para promover o registro civil da criança, tendo que recorrer ao Judiciário para a inclusão dos nomes de ambas as mães ou pais na certidão de nascimento.

Em decisão inovadora, a Juíza da 1ª

Vara de Família do Rio de Janeiro/RJ aco-lheu o pedido formulado por um casal de mulheres para que a Declaração de Nascido Vivo (DN) – documento emitido quando do nascimento da criança e ne-cessário ao registro da certidão de nas-cimento – fosse emitida já com o nome das duas mães.

Juntas há sete anos, as companhei-ras realizaram fertilização in vitro com doação de esperma, e fecundação e gestação no útero de uma delas. Um pouco antes da data prevista para o nascimento do bebê, ocorrido no mês de dezembro do ano passado (2013), temendo pela demora em obter decisão permitindo o registro com a duplicidade de maternidade, elas optaram por ajui-zar a ação para que os dados das duas mães já constassem na Declaração de Nascido Vivo. Após parecer favorável do Ministério Público, a Juíza deferiu o pe-dido, possibilitando, assim, a anotação da maternidade dupla antes mesmo do registro da certidão de nascimento.

Companheiro-herdeiro: a discussão constitucional

JULIO BROTTO

O artigo 1.790 do Código Civil Brasi-leiro estabelece que “a companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onero-samente na vigência da união estável, nas condições seguintes: (...)”.

Em outras palavras, mencionado dispositivo diz que o(a) companheiro(a) da pessoa que falecer será considera-do também seu herdeiro, dividindo em igualdade de participação os bens que vierem a compor o espólio com os demais herdeiros (filhos, pais, etc., con-forme o caso, na ordem da sucessão hereditária). Isso sem falar na meação, que corresponde à metade de todo o patrimônio que vier a ser constituído na

vigência da união estável, o qual igual-mente pertence à(ao) companheira(o).

Em princípio, isso colocaria o com-panheiro em condição mais privilegiada do que a do próprio cônjuge supérstite, se ao invés de unido estavelmente com o de cujus, fossem eles casados. E embo-ra se tratem de institutos diferentes - o casamento e a união estável - nesse par-ticular, em princípio, não se justificaria o tratamento não isonômico conferido pela lei.

Essa mesma discussão foi suscitada pelo Ministério Público do Distrito Fede-ral e Territórios no Agravo de Instrumen-to em Recurso Especial n° 1.291.636, em trâmite perante o SUPERIOR TRIBUNAL

DE JUSTIÇA. Em realidade, pretendia o MPDFT que o STJ restringisse a partici-pação do companheiro na herança aos bens particulares do falecido, de modo a igualar sua situação à dos cônjuges (conforme art. 1.829, I, do Código Civil). No entanto, a 4ª Turma suscitou Arguição de Inconstitucionalidade à sua Corte Espe-cial, visando pacificar o questionamen-to quanto à constitucionalidade do art. 1.790, que é muito criticado pela doutri-na e por precedentes esparsos no país. A iniciativa é muito bem vinda, pois, como referido pelo Ministro SIDNEI BENETTI, em julgado referido no acórdão, “a de-cisão levará aos deslinde urgente de uma questão importante que paira no Direito Privado”.

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VANESSA SCHEREMETA

THAIS GUIMARÃES

DIANA GEARA

A desconsideração inversa da pessoa jurídica no direito de família

O artigo 50 do Código Civil permite a desconsideração da personalidade jurí-dica da empresa quando for utilizada de forma abusiva, caracterizada pelo desvio de finalidade, e também quando hou-ver confusão patrimonial entre os bens da sociedade e de seus sócios. O objeti-vo é combater a utilização indevida da empresa para frustrar credores. Nessas hipóteses, permite-se que os bens dos sócios respondam por dívida da pessoa jurídica.

Todavia, doutrina e jurisprudência, em interpretação decorrente do referi-do dispositivo legal, também aceitam a desconsideração inversa, ou seja, o afas-tamento da autonomia da sociedade para atingir seu patrimônio no caso de o sócio transferir-lhe bens na tentativa de esconder seu patrimônio pessoal.

Tal medida vem sendo aplicada am-plamente no Direito de Família, pois há diversas situações em que o cônjuge ou

companheiro transfere bens para a pes-soa jurídica da qual é sócio para afastá--los da partilha, ou, ainda, a sua parti-cipação na empresa para terceiros ou outro sócio, também com o objetivo de frustrar a correta divisão de bens.

Nestes casos, como bem ressal-tado pela Ministra NANCY ANDRIGHI no julgamento do Recurso Especial nº 1.236.916/RS, “... a desconsideração inver-sa da personalidade jurídica poderá ocor-rer sempre que o cônjuge ou companheiro empresário valer-se de pessoa jurídica por ele controlada, ou de interposta pessoa fí-sica, a fim de subtrair do outro cônjuge ou companheiro direitos oriundos da socie-dade afetiva”.

Assim, além de reprimir eventuais fraudes, a desconsideração inversa garan-te um meio ágil de atingir os bens trans-feridos indevidamente à pessoa jurídica, na medida em que pode ser adotada no próprio processo de partilha.

Indignidade x alimentos

A dignidade da pessoa humana é um princípio fundamental de nosso ordena-mento. É considerada, também, como macroprincípio, eis que irradia outros princípios e valores essenciais. Pelo pris-ma do direito de família, a dignidade da pessoa humana é o direito garantidor da liberdade, autonomia individual, inti-midade, felicidade e afetividade, dentre outros. E é em respeito à norma constitu-cional – e à dignidade da pessoa humana – que o Código Civil trouxe punições às condutas que afrontem os valores fami-liares: a constatação de conduta indigna causa a cessação de direitos sucessórios e de percepção de alimentos (arts. 1.708, §. único e 1814 do CC).

Quanto à indignidade prevista como causa de cessação do direito à percep-

ção dos alimentos, em que pese não haver descrição legal da conduta indig-na do credor de alimentos, aplicam-se, por analogia, as hipóteses do art. 557 e art.1.814, I e II do Código Civil.

Assim, em atenção ao critério fina-lístico da norma, sempre pautado no respeito à dignidade da pessoa humana, deverão ser objeto de punição – com o consequente afastamento da obrigação alimentar – as condutas que desrespei-tem a solidariedade familiar, exempli-ficadas nos arts. 1814 e 557 do Código Civil. Portanto, por exemplo: um pai que abandona os filhos na infância não teria direito de lhes pedir alimentos quando fosse idoso; um jovem que atente contra a vida dos pais, igualmente, não poderia lhes fazer pedido de alimentos.

Preservação do melhor interesse da criança nos casos de adoção à brasileira

Em recente decisão (09/01/2014), ainda não disponibilizada na íntegra, o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA decidiu que deverá ser preservado o melhor interesse da criança em alguns casos de adoção à brasileira e observa-do o direito à proteção integral do me-nor e à convivência familiar, eis que o objeto da discussão envolve o próprio direito de filiação. No referido caso um homem, cuja esposa não tinha condi-ções de engravidar, teria “alugado a barriga” da mãe biológica e registrado a criança como seu filho, permanecen-do a maternidade biológica no regis-tro de nascimento. Hoje, a criança, que está com o pai registral desde os seus 7 meses, está com 5 anos de idade.

O Ministério Público do Paraná alegou que a gravidez foi negociada e ajuizou ação a fim de decretar a per-da do poder familiar da mãe biológi-ca e anular o registro de paternidade. A Justiça do Paraná deu provimento à ação e determinou a busca e apre-ensão da criança, que deveria ser co-locada em um abrigo e submetida ao procedimento regular de adoção.

Apesar da conduta irregular do pai na adoção, houve a comprovação de que os pagamentos foram apenas de medicamentos e alugueres. O Ministro SALOMÃO, relator do recurso, opinan-do pelo deferimento da adoção ao pai registral, salientou que, “de fato, se a criança vem sendo criada com amor e se cabe ao Estado, ao mesmo tempo, as-segurar seus direitos, o deferimento da adoção é medida que se impõe”.

No entendimento de SILVANA DO MONTE MOREIRA, Presidente da Co-missão de Adoção do IBDFAM, “em todo procedimento que envolva criança e adolescente (...) o que deve ser atendi-do é o melhor interesse da criança, o cui-dado com o seu bem estar físico, mental e moral, com sua saúde, com sua integri-dade psicológica e emocional. O melhor interesse da criança é superior, é priori-tário e deverá ser analisado criteriosa-mente” (comentário extraído de http://ibdfam.org.br/noticias/5222).

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A tipificação do delito de terrorismo no BrasilVINÍCIUS CIM

Acadêmico do 4º ano da Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Está em trâmite, no Congresso Na-cional, projeto de lei que tipifica o crime de terrorismo, cuja proposta foi aprovada recentemente pela comissão responsá-vel pela regulamentação de dispositivos constitucionais do Congresso e, em bre-ve, deve seguir para votação em plená-rio. De acordo com a redação apresenta-da, será terrorismo “provocar ou infundir terror ou pânico generalizado mediante ofensa ou tentativa de ofensa à vida, à in-tegridade física ou à saúde ou à privação da liberdade de pessoa”, cuja pena será de 15 a 20 anos, podendo chegar até 30 anos caso haja morte, trazendo, ainda, uma série de agravantes.

Também, a lei concebe delitos corre-latos, tal como o financiamento, incitação e favorecimento pessoal no terrorismo, ocupando-se, ainda, do tipo penal espe-cífico de grupo terrorista, diferenciando da associação e organização criminosa os associados com o fim de praticar aten-

tados terroristas.Na questão de cumprimento da

pena, a legislação inova no sentido de conceder progressão de regime apenas após o cumprimento de 4/5 do total da pena em regime fechado, superior aos 3/5 já exigidos no cumprimento da pena dos crimes hediondos (Lei nº 11.464/2007). Outrossim, o crime será inafiançável e insuscetível de graça, anistia ou indulto. Por fim, estabelece a competência da Justiça Federal para seu processo e julgamento, visto o delito ser praticado contra interesse da União.

Considerando os grandes eventos in-ternacionais que em breve acontecerão no Brasil, a lei finalmente trará contornos jurídicos concretos ao que é terrorismo, que até então não estava tipificado no país – em que pese a Lei de Segurança Nacional, em seu art. 20, já punir a práti-ca de “atos de terrorismo”, mas, sem defi-ni-lo, como faz a nova legislação.

Prisão: justiça social?HEVELIN QUINTÃO

Acadêmica do 4º ano da Faculdade de Direito de Curitiba

WILLYAM GUILHERME SANDRI JUNIORAcadêmico do 2º ano da Universidade Positivo

O cenário de caos vivenciado atual-mente pelo sistema prisional do Mara-nhão é o saldo de uma equação que o Estado não tem conseguido solucionar; no presídio de Pedrinhas (MA) apenas eclodiu à superfície um problema social profundo que se verifica em todo o país.

Seguramente, as atrocidades lá pra-ticadas são injustificáveis, mas passíveis de explicação objetiva e algumas cons-tatações: o Brasil é o quarto país do mundo em população carcerária, sendo que, de 1990 a 2012, teve acréscimo de 508,8%, taxa bem maior que a do au-mento populacional do país no mesmo período, que foi de 30% (Instituto Avante Brasil/InfoPen).

Os dados demonstram que a lei pe-nal não é eficiente, não só em relação às vítimas, mas aos próprios infratores que, se não são vítimas do crime, são, antes, das circunstâncias sociais. Em geral, as prisões estão repletas de indivíduos “pe-

rigosos” e que a sociedade busca neu-tralizar: pobres, negros e demais repre-sentantes de classes que padecem de desigualdade e discriminação.

Seria possível dizer que a questão social tornou-se “caso de polícia”. Não é atribuição da Justiça, porém está sob seu constante cuidado por meio de processos intermináveis resultantes da ausência es-tatal nas estruturas sociais. Entretanto, é preciso entender que os objetivos de retri-buição através da pena e de reintegração social há muito evidenciam não serem efi-cazes por meio do encarceramento.

É necessário refletir acerca da atuação do Estado no quesito segurança, que hoje não depende só do número de policiais nas ruas, mas, em especial, de condições dignas de sobrevivência e oportunidade. Apenas a realização dos direitos constitu-cionais é capaz de garantir gerações me-nos violentas e presídios como solução meramente subsidiária.

ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOSÉ abusiva a cláusula que estabelece perda integral de valor pago após a desistência de pacote turístico

O final de um ano e o início de ou-tro é um período em que muitas famí-lias viajam. Viagens ao exterior reque-rem um planejamento de longo prazo, pois há uma série de cautelas a serem seguidas.

Ao realizar um contrato com uma agência de turismo para uma viagem, a empresa contratada estipula cláusu-las e multas no caso de desistência.

Pouco se espera que imprevistos que façam a viagem ser cancelada aconteçam. Entretanto, caso ocorra uma emergência, o consumidor avisa a agência de turismo sobre tal imprevisi-bilidade e solicita a restituição do valor pago. A partir de então, a agência pode criar uma série de empecilhos que só se resolverão na esfera judiciária.

O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTI-ÇA, recentemente, julgou um caso em que um consumidor teve que cancelar a viagem de lua de mel e requereu a restituição de parte dos valores pagos. A agência, por sua vez, alegou que a cláusula penal do contrato de viagem prevê a não restituição dos valores pa-gos.

O Ministro Relator PAULO DE TAR-SO SANSEVERINO entendeu que é abu-siva a cláusula penal que prevê a perda integral dos valores pagos, pois fere os arts. 413, do CC,. e 51, II, IV, do CDC. No tocante à fixação da restituição dos va-lores pagos, o Ministro ponderou que “é cabível ao magistrado reduzir o per-centual da cláusula penal com o objeti-vo de evitar o enriquecimento sem causa por parte de qualquer uma das partes” (Recurso Especial nº 1.321.655).

O STJ deu provimento ao recurso especial do consumidor para determi-nar a redução da cláusula penal para 20%; consequentemente, a agência de turismo deverá restituir 80% do valor que se pagou antecipadamente.

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Projeto de lei autoriza pessoa em união estável a incorporar sobrenome do companheiro

CAMILA GRUBERTAcadêmica do 5º ano da Faculdade de Direito de Curitiba

Tramita perante o Congresso Na-cional o Projeto de Lei nº 5258/13, de iniciativa de Deputada Federal SANDRA ROSADO, que altera alguns dispositi-vos da Lei de Registros Públicos (Lei nº 6.015/1973) para estabelecer que pesso-as que vivam em união estável possam incorporar ao seu nome o sobrenome de seu companheiro.

De acordo com a proposta, o art. 57, § 2º, da referida Lei, passará a ter a seguinte redação: “a pessoa que vive em união estável poderá requerer ao juiz que, no seu registro de nascimento, seja aver-bado o patronímico de seu companheiro, ainda que haja impedimento legal para o casamento decorrente do estado civil de qualquer deles”.

Atualmente, a legislação permite aos solteiros, desquitados ou viúvos a possi-bilidade de adoção do patronímico do companheiro, desde que haja impedi-

mento legal para o casamento.Cumpre destacar que, embora não

haja previsão legal expressa, os Tribunais Superiores já vêm adotando um posicio-namento no sentido de permitir a incor-poração do sobrenome, aplicando-se, por analogia, o artigo 1.565, parágrafo 1º, do Código Civil, que diz: “qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro”.

Segundo a Deputada, o Projeto de Lei visa atualizar a norma, que se en-contra “ultrapassada”, uma vez que não existe mais a figura do desquite em nos-so ordenamento jurídico. Além disso, a expressão “união estável” é mais consen-tânea com a realidade e abarca todos os que estão nessa situação.

O projeto tramita em caráter conclu-sivo e aguarda parecer da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC).

Encontros marcados por jovens – em sua maioria adolescentes com ida-des de 13 a 17 anos – titulados como “rolezinho”, causaram repercussão em São Paulo, ganhando espaço nos princi-pais jornais do país. O modo exótico de diversão escolhido pelos jovens causou prejuízos aos lojistas e insegurança nos consumidores, forçando os administra-dores a tomarem medidas repressivas.

Uma liminar concedida pelo TRI-BUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO em favor de um Shopping Center – o pri-meiro alvo escolhido para o “rolezinho” – impediu a entrada e permanência de jovens organizados em grupos; já a Se-cretaria de Segurança Pública de São Paulo determinou que parte do efetivo policial fizesse a segurança no entorno dos shoppings.

Após a mídia divulgar informações de que um jovem foi vítima de agres-sões físicas praticadas por um policial militar, opiniões divergentes tomaram conta do cenário jurídico: uns defen-dem a criminalização dos atos prati-cados por jovens em situação seme-lhante à ocorrida e outros, assim como o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, acham desnecessá-rias tais atitudes.

Relatos de furtos e depredações decorrentes dos atos juvenis chegaram até a polícia de Campinas, justificando as apreensões de alguns menores sus-peitos de terem realizado as infrações. O caso está sendo analisado.

Divulgados nas redes sociais, o mo-vimento se espalhou pelo Brasil e serviu como forma de protesto a fim de reivin-dicar direitos ou disseminar uma supos-ta forma de cultura, pacificamente, res-peitando o espaço público-privado.

Em apoio aos paulistas, jovens curi-tibanos aderiram à ideia e por meio das redes sociais marcaram um “rolezinho” para o dia 26 de janeiro deste ano, em um conhecido shopping da cidade. Os organizadores afirmam que é apenas uma forma de protesto pela forma “dis-criminatória” como foram tratados os precursores do movimento.

Movimentos juvenis

KAREN LAÍS TAVARESAcadêmica do 3º ano da Faculdade de

Direito de Curitiba

O Ministério Público e a apuração de ato de improbidade administrativa

WILLIAN FELIPE BRANDÃOAcadêmico do 4º ano da Faculdade de Direito de Curitiba

A Constituição assegura ao Ministério Público o direito de promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. Não negando a competência que lhe é atribuída pela legislação, que é ampla neste aspecto – art. 129, III e VIII da CF; art. 6º, VII, da LC nº 75/93; art. 8º, § 1º da Lei nº 7.347/85 e art. 5º, II do CPP –, ao órgão ministerial não é devido instau-rar inquérito para apurar possível ato de improbidade administrativa. Tal vedação encontra-se na própria Lei de Improbi-dade (Lei nº 8.429/1992), que dispõe, em seu art. 7º, que “caberá (sic) a autoridade administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério Público”, deline-ando apenas uma autoridade responsá-vel pela investigação.

A jurisprudência já corroborou esse entendimento, consignando que “a apu-

ração dos fatos só pode ser procedida, mesmo que por requisição ou provocação do Ministério Público, pela autoridade administrativa competente a que estiver subordinado o servidor (art. 22 da LIA)” (TRF4, MS 200304010425586, Rel. Minis-tro THOMPSON FLORES, DJ 03/03/2004).

Não de outra forma, honra-se o prin-cípio da eficiência (art. 37 da CF), já que, pelos aspectos técnicos e fáticos que envolvem a investigação, o órgão admi-nistrativo detém maior propriedade para a devida e robusta produção de provas e, outrossim, dá-se espaço ao devido processo legal e ao contraditório, sendo mister aguardar-se o término do proces-so administrativo disciplinar para que o Ministério Público ingresse com a com-petente ação de improbidade adminis-trativa, sob o risco de, em caso contrário, faltar-lhe a justa causa.

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Artigo 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Artigo 2° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. Artigo 3° Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 4° Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos. Artigo 5° Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Artigo 6° Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica. Artigo 7° Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo 8° Toda a pessoa tem direito a recurso efectivo para as jurisdições nacionais competentes contra os actos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela lei. Artigo 9° Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo 10° Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida. Artigo 11° 1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas. 2. Ninguém será condenado por acções ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam acto delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o acto delituoso foi cometido. Artigo 12° Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei. Artigo 13° 1. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado. 2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país. Artigo 14° 1. Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países. 2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por actividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 15° 1. Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade. Artigo 16° 1. A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais. 2. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos. 3. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado. Artigo 17° 1. Toda a pessoa, individual ou colectivamente, tem direito à propriedade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade. Artigo 18° Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos. Artigo 19° Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão. Artigo 20° 1. Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação. Artigo 21° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direcção dos negócios, públicos do seu país, quer directamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país. 3. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto. Artigo 22° Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país. Artigo 23° 1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego. 2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. 3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social. 4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses. Artigo 24° Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas. Artigo 25° 1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bemestar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. 2. A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma protecção social. Artigo 26° 1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. 2. A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das actividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. 3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escholher o género de educação a dar aos filhos. Artigo 27° 1. Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam. 2. Todos têm direito à protecção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria. Artigo 28° Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declaração. Artigo 29° 1. O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. 2. No exercício destes direitos e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade democrática. 3. Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente aos fins e aos princípios das Nações Unidas. Artigo 30° Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.

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Janeiro / Fevereiro / Março / 2014Ano 9 | Número 23

Tiragem: 2.000 exemplares Foto da capa: Guilherme Alonso

Impressão e acabamento: Maxi Gráfica

Boletim Trimestral do Escritório Professor René Dotti

Projeto gráfico e diagramação:IEME Comunicação | www.iemecomunicacao.com.br

Jornalista Responsável: Taís Mainardes DRT-PR 6380

Publicação periódica de caráter informativo com circulação dirigida e gratuita.

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