ainda novidade: uma revisão das transformações do partido dos trabalhadores no brasil

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BRAZILIAN STUDIES PROGRAMME UNIVERSITY OF OXFORD LATIN AMERICAN CENTRE Ainda novidade: uma revisão das transformações do Partido dos Trabalhadores no Brasil Rachel Meneguello Oswaldo E. do Amaral Occasional Paper Number BSP-02-08 Brazilian Studies Programme Latin American Centre St Antony‟s College Oxford OX2 6JF

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Este artigo faz uma revisão das inovações introduzidas pelo Partido dos Trabalhadores (PT)no sistema partidário brasileiro. O PT elegeu o presidente da República em 2002 e 2006 econsolidou-se, no início desta década, como um dos principais atores da política brasileira.Na esteira do sucesso das eleições presidenciais de 2006, uma série de trabalhos buscouanalisar as recentes mudanças no partido, considerado desde a sua formação umanovidade na política brasileira. Este artigo avalia as transformações da proposta política eda organização interna petistas e analisa, pela primeira vez, os dados de duas pesquisasempíricas realizadas junto aos delegados do partido em 2006. Os autores argumentam queas pressões internas e externas sofridas pelo PT ao longo de sua trajetória alteraram a suaconformação original, mas não lhe retiraram a inovação e a diferença.

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  • BRAZILIAN STUDIES

    PROGRAMME

    UNIVERSITY OF OXFORD LATIN AMERICAN CENTRE

    Ainda novidade: uma reviso das transformaes do

    Partido dos Trabalhadores no Brasil

    Rachel Meneguello

    Oswaldo E. do Amaral

    Occasional Paper Number

    BSP-02-08

    Brazilian Studies Programme

    Latin American Centre St Antonys College

    Oxford OX2 6JF

  • Brazilian Studies Programme, University of Oxford, Occasional Paper 02-08

    1

    Ainda novidade: uma reviso das transformaes do

    Partido dos Trabalhadores no Brasil1

    Rachel Meneguello Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

    Oswaldo E. do Amaral

    Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

    Occasional Paper Number

    BSP-02-08

    Abstract This article reviews some of the innovations brought by the Workers Party (PT) to the Brazilian party system. The PT won the presidential elections in 2002 and 2006 and became a major player in Brazilian politics. Following the partys success in the last two presidential elections, various scholarly articles sought to explain the transformations within the party over the last 15 years, highlighting its path through moderation and the expansion of its electoral base. This article analyzes the transformations of PTs political proposal and internal organization and also conducts, for the first time, an evaluation of two surveys conducted with PTs delegates in 2006. The authors argue that the PT remains different from the other major Brazilian political parties despite all the changes caused by internal and external pressures during the last years. Resumo Este artigo faz uma reviso das inovaes introduzidas pelo Partido dos Trabalhadores (PT) no sistema partidrio brasileiro. O PT elegeu o presidente da Repblica em 2002 e 2006 e consolidou-se, no incio desta dcada, como um dos principais atores da poltica brasileira. Na esteira do sucesso das eleies presidenciais de 2006, uma srie de trabalhos buscou analisar as recentes mudanas no partido, considerado desde a sua formao uma novidade na poltica brasileira. Este artigo avalia as transformaes da proposta poltica e da organizao interna petistas e analisa, pela primeira vez, os dados de duas pesquisas empricas realizadas junto aos delegados do partido em 2006. Os autores argumentam que as presses internas e externas sofridas pelo PT ao longo de sua trajetria alteraram a sua conformao original, mas no lhe retiraram a inovao e a diferena.

    1 Este working paper tambm resultado das atividades de pesquisa desenvolvidas por Oswaldo E. do Amaral junto ao Brazilian Studies Programme (BSP) e ao Latin American Centre (LAC) da University of Oxford, durante o ano de 2008, com auxlio financeiro da Capes.

  • Brazilian Studies Programme, University of Oxford, Occasional Paper 02-08

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    Introduo

    Este artigo resulta da preocupao com as transformaes do Partido dos

    Trabalhadores (PT) nos ltimos anos. O PT elegeu e reelegeu o presidente da Repblica

    em 2002 e 2006, tornou-se uma das maiores bancadas na Cmara Federal, quadriplicou o

    nmero de prefeituras conquistadas entre 1996 e 2004, chegando a governar 35% das

    capitais de estados. Este notvel crescimento deu-se atrelado a mudanas no perfil e

    funcionamento do partido, tal como mostra a discusso recente da literatura em Samuels

    (2004; 2008), Hunter (2007; 2008) e Palermo (2005).

    Decidimos, ento, verificar se as transformaes do partido lhe retiraram a inovao

    e a diferena trazidas ao sistema partidrio brasileiro em sua origem: a proposta poltica e a

    organizao interna partidria. Os marcos destas inovaes esto analisados luz da

    trajetria da esquerda brasileira e da discusso sobre a crise de representao que marcou

    as ltimas dcadas. Foi neste terreno que o Partido dos Trabalhadores conseguiu, ao longo

    dos anos 90, metabolizar no campo da esquerda a relao de congruncia entre cidados e

    Estado no nvel das estruturas formais do funcionamento democrtico, levando para a

    arena eleitoral o terreno da expresso de demandas e insatisfaes de setores da

    sociedade civil com os processos polticos e sociais. Formado em um cenrio de

    emergncia da 'esquerda social' e a partir da confluncia de matrizes polticas distintas, o

    PT organizou uma ampla proposta poltica de esquerda, que aglutinou diversos atores

    polticos e sociais e garantiu a participao das bases no seu processo decisrio interno.

    Fazemos ento uma breve reviso de sua proposta poltica e de organizao

    partidria, e avanamos em uma anlise das lideranas mdias do partido. Mostramos que

    as presses internas e externas sofridas pelo partido ao longo de sua trajetria alteraram

    sua conformao original, mas no lhe retiraram a inovao e a diferena.

    O artigo est organizado em trs partes. Na primeira, recuperamos as inovaes da

    proposta poltica petista, abordando sua gnese e transformaes a partir do ingresso da

    agremiao na dinmica do sistema partidrio brasileiro. Na segunda, apresentamos a

    construo e o funcionamento de mecanismos deliberativos internos e as formas de

    distribuio de poder entre os vrios grupos e tendncias que integram o partido. Na

    terceira, analisamos o perfil dos delegados petistas e suas percepes sobre o PT,

    sobretudo os efeitos do exerccio do governo federal sobre a organizao partidria. Os

    dados que utilizamos nesta parte foram obtidos a partir de pesquisas realizadas pela

    Fundao Perseu Abramo no 11 Encontro Nacional (1997), no 2 Congresso (1999) e no

    13 Encontro Nacional (2006) e de pesquisa feita pelos autores tambm no 13 Encontro do

    partido. A deciso de utilizar os dados de opinio dos delegados do partido reunidos em

    Encontros e Congressos Nacionais est baseada em aspectos empricos e tericos. Os

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    delegados constituem uma boa mostra daqueles que participam mais intensamente da vida

    partidria (os ativistas) e os Encontros e Congressos, segundo o estatuto petista, so

    instncias por meio das quais os filiados, representados por delegados eleitos, deliberam

    sobre o programa, a estratgia, a ttica, a poltica de alianas e as linhas de construo

    partidria (PT, 2001, p.30). Embora no seja muito comum encontrarmos estudos com

    lideranas mdias na literatura sobre partidos polticos institucionalizados, trabalhos como

    os de Reif, Cayrol e Niedermayer (1980), Rohrschneider (1994) e Mair (2001) ressaltam a

    importncia de pesquisas deste tipo para anlise do posicionamento ideolgico e para a

    compreenso da organizao e funcionamento interno dos partidos polticos.

    A proposta poltica e a transio democrtica

    O Brasil, como vrios pases da Amrica Latina, teve na experincia da ditadura dos

    anos 1970 e 1980 um marco determinante na trajetria das organizaes de esquerda. No

    o caso aqui de explicitar os caminhos de cada grupo ou organizao durante este

    perodo, ou ainda, detalhar as formas de interveno desenvolvidas at seu total

    desmantelamento pela represso no perodo mais fechado do regime militar brasileiro, entre

    1969 e 1974. importante, no entanto, apontar que a gerao revolucionria, inspirada

    sobretudo na Revoluo Cubana e na revalorizao da tradio marxista-leninista, no

    encontrou terreno de expanso e enfrentou como obstculos a fora da represso dos

    aparatos do regime militar e, especialmente, a prpria incapacidade de pensar o fim da

    ditadura fora dos parmetros vanguardistas. Este o cenrio que, ainda durante o regime

    militar, acolheu a superao das tradicionais formas de ao e organizao de esquerda

    por novos paradigmas de interveno poltica apresentados pelos movimentos sociais e

    pela onda associativista dos anos 80, produzindo o terreno para o surgimento da esquerda

    social (GARCIA, 1986; 1994). Seus vnculos de origem com os movimentos sociais, em

    especial com o sindicalismo urbano que emergia no final dos anos 70, e o aprendizado de

    participao e associao levaram esses novos setores a uma viso crtica das esquerdas

    tradicionais, do instrumentalismo e vanguardismo, marcando uma matriz de distines

    importantes: a heterogeneidade ideolgica e a priorizao da democracia.

    O cenrio da transio democrtica tambm precisa ser destacado. J foi apontada

    em trabalho anterior a singularidade do processo de transio brasileira frente a alguns

    pases da Amrica Latina que, durante os anos 80, tambm estabeleceram uma agenda de

    transformao poltica (MENEGUELLO, 1998b). O paradoxo do regime autoritrio brasileiro,

    dado pela combinao entre a reintegrao de procedimentos democrticos e a

    longevidade do processo de liberalizao, foi o vetor que conduziu as mudanas

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    institucionais e constituiu o espao possvel de dilogo com as foras de oposio (CRUZ &

    MARTINS, 1983). A convivncia entre lgicas polticas conflitantes, como a definio de

    regras de competio e organizao partidria e a violncia contra segmentos especficos,

    delimitou as feies da transio. Assim, a arena institucional eleitoral e a reorganizao

    das foras polticas, resultantes da Reforma Partidria de 19792, constituram o cenrio no

    qual um nmero significativo dos setores da esquerda social encontrou a alternativa

    partidria como abrigo e caminho de organizao. Foi neste contexto que surgiu o Partido

    dos Trabalhadores, fundado em 1980, no rumo das possibilidades legais que o regime

    militar abria com a Reforma Partidria de 1979. No entanto, as mobilizaes para a sua

    formao ocorreram desde 1978, fortemente associadas aos avanos polticos do novo

    sindicalismo, vertente moderna do movimento sindical, vinculado aos setores de ponta

    mais avanados da indstria nacional, estabelecidos sobretudo na regio do ABCD paulista.

    Parte da sua inovao esteve aqui, no processo de fundao do partido, luz da

    experincia partidria brasileira. O PT foi produto da transformao da estratgia sindical,

    deslocando seu mbito de ao para o sistema poltico sob a forma de partido, dando

    formato a duas dinmicas convergentes: a ampliao do projeto do novo sindicalismo com

    novos contedos reivindicativos, ligados ao universo do trabalho e ao terreno social mais

    amplo; e a ampliao do quadro partidrio como vrtice da estruturao da vida

    democrtica no Pas ainda sob o regime autoritrio (MENEGUELLO, 1989). O processo de

    organizao do partido definiu-se pela confluncia de sujeitos polticos mobilizados em

    torno da nova proposta de representao: os sindicalistas, j ento liderados por Luis Incio

    da Silva (Lula) desde as mobilizaes anteriores do movimento sindical; parlamentares

    ligados tendncia popular, ala esquerda do partido de oposio ao regime, o MDB;

    organizaes de esquerda, especialmente grupos de orientao trotskista, que enxergaram

    no partido a possibilidade de participao no processo poltico institucional; e, finalmente,

    vrios segmentos dos movimentos populares urbanos, sobretudo os setores articulados em

    torno da ala progressista da Igreja Catlica, vinculados Teologia da Libertao

    (MENEGUELLO, 1989; KECK, 1991).

    Outra parte da inovao residiu na proposta poltica e no modelo de organizao

    interna do partido. A proposta apresentada cena pblica pelo PT no reivindicou filiao a

    qualquer matriz ideolgica especfica, inclusive marxista. Produzido pela matriz da

    esquerda social, o PT recusou a vinculao com as vertentes doutrinrias tradicionais,

    definindo uma proposta socialista imprecisa, que traduzia os mltiplos nexos sociais que

    havia contrado na sua formao. A presena do movimento operrio sindical como

    2 A partir da Reforma surgiram os seguintes partidos: PDS, PMDB, PT, PDT e PTB.

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    principal componente social do partido teve clara influncia nesta concepo autnoma com

    relao s orientaes da esquerda tradicional.

    Em um cenrio ideolgico mais amplo, a impreciso socialista do PT traduzia

    tambm a crise do socialismo que se colocava no horizonte dos experimentos

    internacionais. A associao do projeto socialista petista s perspectivas democrticas pode

    ser explicada, em parte, pela contemporaneidade das experincias do PT e do Sindicato

    Solidariedade, na Polnia, que emolduraram a reflexo da construo democrtica e das

    estratgias de organizao poltica sob o regime militar (GARCIA, 1990).

    A feio classista acompanhou o partido at o fim do regime militar, em 1985. O

    primeiro experimento eleitoral do partido, em 1982, quando foram escolhidos

    governadores, senadores, deputados federais e estaduais, prefeitos e vereadores, foi o

    momento da mais clara definio da proposta partidria, atravs da Plataforma Eleitoral

    Nacional: reforma agrria radical, desconcentrao da propriedade privada e governo de

    trabalhadores (MENEGUELLO, 1989). Um ano mais tarde, o PT buscaria aprofundar sua

    relao orgnica com os setores do sindicalismo, por meio do seu envolvimento na

    formao da Central nica dos Trabalhadores (CUT).

    Contudo, o novo ambiente democrtico refletiu-se internamente no partido, definindo

    formas distintas de concepo de ao poltica. Surgia aqui a idia do PT-light, formado

    pelos segmentos menos radicais do partido, com menor teor ideolgico, claros adeptos da

    dinmica democrtica representativa que se estabelecia com a realizao das eleies e

    com a elaborao da nova Constituio. O lado inverso dessa feio partidria estava com

    os setores radicais, os xiitas, assim denominados em uma clara aluso aos

    fundamentalistas que ocupavam a cena da revoluo islmica do Ir desde 1979. Essa

    convivncia entre setores conflitantes quanto a estratgias e formas de interveno poltica

    passou a marcar a dinmica interna partidria desde o incio do perodo democrtico.

    O confronto entre o isolamento poltico e as imposies da prtica parlamentar

    traduziu essa lgica, observada, por exemplo, na recusa do partido em participar do Colgio

    Eleitoral que elegeria o presidente Tancredo Neves, em 1985, bem como em subscrever a

    nova Constituio do Pas, promulgada em 1988.

    O impacto dessa dinmica pde ser observado tambm nas eleies realizadas em

    1985, 1986 e 1988. Durante a segunda metade da dcada de 80, estabeleceram-se as

    primeiras transformaes das bases polticas e programticas do partido. Em 1986, no 4

    Encontro Nacional, a agremiao afirmou a relao indissolvel entre socialismo e

    democracia. Um ano mais tarde, no 5 Encontro, o partido rejeitaria os moldes leninistas de

    partido - nico e burocrtico. Em 1989, ano da primeira eleio presidencial direta ps-

    ditadura, consolidando os novos caminhos desenhados a partir de 1986, o partido afirmaria

    o seguinte, no 6 Encontro Nacional:

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    No debate poltico-ideolgico ao longo da campanha eleitoral deixaremos clara nossa opo

    pelo socialismo, um socialismo com democracia, com liberdade de expresso, com liberdade

    de organizao dos trabalhadores, que rejeita a concepo burocrtica e a viso do partido

    nico (PT, 1998, pp. 400-401).

    A participao no 2 turno daquela eleio presidencial levou o partido a definir sua

    primeira concesso poltica: como vetor das foras de esquerda, contra Fernando Collor e

    os partidos conservadores, o PT aglutinou a diversidade partidria e ideolgica que a

    democratizao havia produzido no campo da centro-esquerda, compartilhando o palanque

    eleitoral com setores antes criticados pelo partido. Este foi o caso exemplar de Leonel

    Brizola, lder do PDT e do antigo trabalhismo da Era Vargas, perodo em que se havia

    produzido um modelo sindical atrelado ao Estado, contra o qual o novo sindicalismo, base

    de formao do PT, lutara.

    As regras do jogo democrtico, conquanto universais e s vezes justas, so

    implacveis (PRZEWORSKI, 1989, p.38). No parece excessivo lembrar o dilema que as

    imposies da dinmica eleitoral apresentaram social-democracia na primeira metade do

    sculo 20, levando diluio de seu carter de classe, para apontar os impasses

    enfrentados pelo PT diante do ingresso no jogo poltico. Embora a eleio de 1989 tenha

    produzido um divisor claro do mapa ideolgico de foras expressivas no cenrio nacional,

    dando a Lula e ao PT um espao privilegiado de articulao e representao da esquerda,

    o ingresso do PT na dinmica eleitoral como partido de apelo poltico amplo imps a

    definio da poltica de alianas e de ampliao do leque de setores polticos.

    Essa nova direo consolidou-se j no 1 Congresso Nacional do partido, realizado

    em 1991, que discutiu um renovado projeto de socialismo democrtico. As teses

    majoritrias afirmavam a rejeio da ditadura do proletariado, o colapso do socialismo real e

    as distines com a social-democracia, alm de definirem uma poltica de acmulo de

    foras de longa durao baseada na articulao das foras democrticas e socialistas (PT,

    1998, pp. 481-516).

    Durante a dcada de 90, o partido adotaria uma posio cada vez mais flexvel com

    relao construo de alianas eleitorais e a formao de frentes para a disputa de pleitos

    presidenciais. No 9 Encontro Nacional, realizado alguns meses antes das eleies de

    1994, o partido definiria como estratgia agregar todas as foras polticas contrrias ao

    'projeto neoliberal', estendendo o arco, inclusive, para setores dissidentes das agremiaes

    de centro e centro-esquerda:

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    A construo do mais amplo leque de aliana partidria que seja possvel em torno do

    programa de governo transformador constitui tambm eixo central de nossa estratgia.

    (...) Unificando desde j, em escala nacional, os partidos que integram o campo democrtico-

    popular no Brasil PSB, PPS, PC do B, PC, PSTU e rea do PV- temos condies, em

    muitos estados, de ampliar pragmaticamente tal leque, incorporando Frente setores do

    PSDB, PDT e PMDB descontentes com as alianas formadas pelas cpulas de seus

    partidos, ou os que acompanharo a dinmica de crescimento da candidatura Lula,

    respeitando sempre os critrios ticos e polticos, que vedam alianas com os

    conservadores, com os exploradores e os corruptos (Ibid., pp. 590-591).

    Na prtica, esta estratgia foi confirmada pela construo da Frente Brasil Popular,

    composta, alm do PT, por PSB, PPS, PC do B, PSTU, PCB e PV, e com Lula como seu

    candidato s eleies presidenciais.

    Quatro anos mais tarde, a estratgia se repetiria e o PT definiria, como mnimo

    denominador comum para a construo de alianas, a oposio ao governo FHC, ao

    'projeto neoliberal' e aos partidos de direita. A determinao petista em ampliar o leque de

    alianas resultou na construo da Frente Unio do Povo-Muda Brasil, integrada por PT,

    PSB, PC do B e, principalmente, PDT, que indicou Leonel Brizola como candidato a vice de

    Lula. A construo da Frente, no entanto, no ocorreu sem tenses dentro do PT, pois a

    atrao do PDT dependia de um acordo entre os dois partidos em torno da candidatura de

    Anthony Garotinho (PDT) ao governo do Rio de Janeiro. A lgica da ampliao da coalizo

    para a disputa nacional prevaleceu e o partido no lanou candidato prprio ao Palcio

    Guanabara.

    Os programas de governo elaborados para as eleies presidenciais de 1989, 1994

    e 1998 tambm refletem os efeitos da maior insero petista na dinmica eleitoral. Em

    1998, pela primeira vez, houve participao sistemtica de todos os partidos aliados na

    elaborao do programa. J a anlise das propostas indica uma preocupao cada vez

    maior da agremiao em ampliar a sua base eleitoral. Entre 1989 e 1998, houve uma

    acentuada desideologizao do programa petista, acompanhada da exaltao da

    capacidade do partido para resolver problemas concretos da populao e governar de

    forma responsvel e com a colaborao de outras foras polticas (AMARAL, 2003).

    O sucesso da poltica econmica implantada por FHC foi definitivo para as duas

    derrotas do PT e das frentes de esquerda nas eleies de 1994 e 19983 (MENEGUELLO,

    2006). A avaliao equivocada do partido sobre as possibilidades de consumo e bem-estar

    que o Plano Real e a estabilidade monetria criavam para segmentos significativos da

    populao impediu que o PT adquirisse, no plano nacional, uma capacidade mais ampla de 3 Nas duas eleies, Lula foi derrotado no primeiro turno por Fernando Henrique Cardoso, candidato pelo PSDB.

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    aglutinao. J no incio de 1999, no entanto, o PT e a frente de oposies ao governo

    foram beneficiados pela crise internacional que despontava e que se adicionaria ao

    esgotamento do modelo implantado pela Era FHC.

    Este foi o cenrio que acolheu a aliana do partido com os setores do empresariado

    nacional. A perspectiva de uma ao poltica combinada entre o PT e setores mais amplos

    da sociedade estava colocada para o partido desde meados dos anos 90, e, em 2001, o

    partido reconhecia, atravs de seu presidente, o momento de apresentar um projeto de

    grande potncia para o Pas4. A aliana com os empresrios nacionais fundava-se na

    busca pela rearticulao da economia com o resgate da estabilidade, o fortalecimento do

    mercado nacional e o combate ao desemprego.

    De fato, a superampliao pragmtica do leque de foras de oposio foi

    formalizada em maro de 2002, quando o Diretrio Nacional autorizou a aproximao do PT

    a setores do PMDB oponentes ao governo federal, e ao PL, que viria a compor com Lula a

    chapa para a presidncia da Repblica na eleio de outubro daquele ano5. Em junho de

    2002, o lanamento da Carta ao Povo Brasileiro expressou, em definitivo, a nova face do

    partido, enfatizando a integrao nacional como pilar da mudana, articulando uma vasta

    coalizo que aglutinava de lideranas populares a setores do empresariado para a

    confeco de um novo contrato social.

    Aps trs disputas presidenciais, o PT chegava ao governo federal em 2003 com

    uma proposta transformada e assegurada pela aliana com setores do capital nacional e

    pelo compromisso da mudana sem ruptura, fruto de uma ampla negociao nacional.

    O desafio a Michels

    Uma das discusses que marcou a teoria da organizao partidria no sculo 20 e,

    principalmente, do funcionamento dos partidos de esquerda, concentrou-se nas formas de

    organizao interna e distribuio de poder. O clssico modelo do partido socialista de

    massas condenou a anlise dos partidos busca de elementos de organizao e de

    funes desconexos dos processos polticos de organizao e representao que se

    desenvolveram neste perodo (BALDASARRE, 1983).

    4 Entrevista de Jos Dirceu, ento presidente do PT, publicada na Revista Repblica, em agosto de 2001. 5 O XII Encontro Nacional autorizou a direo nacional a construir, com base em nossa candidatura e nas diretrizes do programa, um arco de alianas que incorpore as foras polticas de oposio a FHC, cabendo ao Diretrio Nacional a deciso final sobre o programa, o candidato a vice-presidente da Repblica e as alianas. neste sentido que o DN, informado das conversaes havidas, autoriza o prosseguimento do dilogo com o PL e setores do PMDB que se opem ao governo FHC (DN, 2002).

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    Um novo flego foi dado teoria partidria por meio da superao da

    unidimensionalidade clssica, considerando a natureza interativa - e no interdependente

    das funes governativa e representativa dos partidos polticos (KATZ & MAIR, 1994).

    Ainda assim, as anlises indicam as debilidades da dinmica do funcionamento interno

    partidrio, com a difcil seno, impossvel - convivncia entre grupos, com os deficientes

    processos deliberativos e participativos internos, indicando a permanncia das premissas

    oligrquicas michelianas na vida dos partidos.

    O aspecto organizacional continua destacando o PT de forma singular no cenrio

    partidrio brasileiro, assim como alimenta o debate sobre os desafios dos partidos frente s

    determinaes de Michels (1982). So dois os pontos apresentados aqui: a organizao

    interna de nvel local e a distribuio de poder.

    Nesse mbito, a clara novidade da formao petista residiu em sua adequao do

    formato e funcionamento ao modelo do partido de massas sistematizado por Duverger,

    erguidos em meio ao processo de crise generalizada dos partidos (MENEGUELLO, 1989).

    Sua origem externa, vinculada de forma slida a bases sociais organizadas; um modelo de

    funcionamento interno fortemente articulado e centralizado; e a primazia da funo de

    agregao de interesses sobre a funo eleitoral eram alguns dos pontos traduzidos na

    organizao estatutria do PT e estabelecidos pela teoria clssica como condicionantes do

    seu grau de representatividade (DUVERGER, 1980).

    Embora a Legislao Partidria de 1979 tivesse estabelecido um modelo formal

    comum s organizaes6, o PT introduziu uma inovao fundamental no mbito da

    organizao de base, pela qual, por meio de canais especficos os ncleos de base -

    definiu-se um mecanismo de maior ligao entre instncias partidrias, implantando a

    proposta de democracia participativa. Esse mecanismo diferenciou o PT tanto frente

    legislao partidria vigente, quanto com relao aos demais partidos do sistema.

    Esse desenho institucional interno, que traduz a premissa participativa da

    organizao poltica, seria uma das marcas centrais do partido7 e teve reflexo nas

    inovaes institucionais no mbito governamental, atravs da implantao do oramento

    participativo, uma das vitrines do modo petista de governar nos anos 90.

    6 A Lei Orgnica dos Partidos Polticos (LOPP) de 1979 estabelecia um modelo mnimo comum de organizao e funcionamento de abrangncia local (Conveno Municipal, Diretrio Municipal e Comisso Executiva Municipal), regional/estadual (Conveno Regional, Diretrio Regional e Comisso Executiva Regional) e nacional (Conveno Nacional, Diretrio Nacional e Comisso Executiva Nacional), com nmero definido de membros para cada nvel e com funes mnimas bsicas. 7 No manifesto de fundao, o PT afirmaria o seguinte: Queremos (...) um partido amplo e aberto a todos aqueles comprometidos com a causa dos trabalhadores e com o seu programa. Em conseqncia, queremos construir uma estrutura interna democrtica, apoiada em decises coletivas e cuja direo e programa sejam decididos em suas bases (PT, 1998, p.66).

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    10

    Um dos mais caros e duradouros debates da teoria partidria diz respeito

    distribuio de poder dentro dos partidos. A inevitabilidade das oligarquias preconizada por

    Michels (1982) h quase 100 anos provavelmente a mais contempornea das questes,

    porque traduz os aspectos que diretamente afetam a unidade interna, a representao de

    grupos e a capacidade de agregao dos partidos.

    A composio poltica do PT em sua origem, com uma base de grupos de esquerda

    de filiao variada, determinaria uma convivncia interna difcil, marcada, sobretudo, pela

    disputa entre distintas vises de partido e seus objetivos. Entre 1984 e 1993, o PT foi

    ininterruptamente controlado pela Articulao, grupo criado em 1983 cujo pilar era

    composto por lideranas sindicais e moderados independentes. Neste perodo, as vrias

    dissenses deram-se em torno da viso no-doutrinria que o grupo dominante impunha ao

    partido.

    Em 1986, no 4 Encontro Nacional e s vsperas da segunda eleio geral

    legislativa de que participaria, o partido apontava a necessidade de equacionar os

    problemas de ordem ideolgica, poltica e organizativa trazidos pela disputa entre

    tendncias. Um ano mais tarde, no 5 Encontro, o partido produziria uma firme resoluo

    regulando a atuao e a existncia das tendncias internas. A intensa atuao de grupos

    trotskistas no partido foi o motivo central da resoluo. Vejamos um trecho:

    rigorosamente incompatvel com o carter do PT a existncia, velada ou ostensiva, de

    partidos em seu interior, concorrentes do prprio PT. Quer dizer, o PT no admite em seu

    interior organizaes com polticas particulares em relao poltica geral do PT; com

    direo prpria; com representao pblica prpria; com disciplina prpria, implicando

    inevitavelmente em dupla fidelidade; com estrutura paralela e fechada; com finanas

    prprias, de forma orgnica e permanente; com jornais pblicos e de periodicidade regular

    (PT, 1998, p. 357).

    O 5 Encontro seria definitivo para a excluso de grupos internos, notadamente a

    Causa Operria e a Convergncia Socialista, que seriam expulsos do partido,

    respectivamente, em 1990 e 1992. Em 1994, a segunda organizaria o PSTU.

    No apresentamos aqui, de forma detalhada, as distines ideolgicas de cada

    grupo e a composio poltica de cada disputa para a formao do Diretrio Nacional. No

    entanto, necessrio lembrar que, em 1993, consolidou-se a ciso do grupo Articulao,

    surgindo a Articulao Unidade na Luta e a Articulao de Esquerda. A nova configurao

    de foras decorrente da separao fez com que a esquerda petista controlasse o partido

    nos dois anos seguintes.

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    11

    No 10 Encontro Nacional, a Articulao Unidade na Luta, composta pelo ncleo

    dirigente da antiga Articulao, retomaria o controle do partido, aliando-se tendncia

    moderada Democracia Radical, e sendo a base do que ficaria conhecido como Campo

    Majoritrio.

    O que marcou as disputas internas no partido nos anos 90 foram as diferentes

    vises em torno das relaes entre democracia e socialismo e entre luta institucional e luta

    social. A tenso em torno destas questes foi mais perceptvel na primeira metade da

    dcada. A partir de 1995, com a construo do Campo Majoritrio, a viso moderada

    acabou predominando nas resolues partidrias, bem como nos programas de governo.

    Interessa destacar que na virada da dcada, apesar da desmobilizao natural

    conseqente das derrotas eleitorais, o PT mostraria um surpreendente flego organizativo:

    o partido realizou uma campanha de filiao e recadastramento e iniciou o sculo 21 com

    mais de 860 mil filiados e com diretrios em 4.016 municpios do Pas. Alm disso, o novo

    Estatuto do partido, aprovado em 2001, contemplaria novos mecanismos internos para

    legitimar a distribuio de poder entre grupos, como a realizao do Processo de Eleies

    Diretas (PED) para a escolha de direes e presidentes do partido em todos os nveis. Este

    um processo deliberativo de base, em que participam os filiados que contribuem em dia

    com o partido.

    Na eleio interna de 2001 ficou explcita mais uma vez a difuso de grupos e o

    predomnio dos moderados: as seis chapas apresentadas contemplaram 20 tendncias e

    227 mil filiados compareceram s urnas. Para o Diretrio Nacional, o Campo Majoritrio

    obteve 51,6% dos votos vlidos e seu candidato presidente, Jos Dirceu, foi reeleito, em

    primeiro turno, com 113.713 votos (55,5%).

    Esse processo indito na dinmica partidria nacional, embora legitimasse o

    predomnio histrico do grupo Articulao, sugeriu um flego de resistncia a Michels

    (1982), fundamental para consolidar a linha poltica do partido. Entretanto, o distanciamento

    do ncleo central de lideranas nacionais a partir da vitria nas eleies presidenciais, em

    2002, mostraria que esse flego no fora suficiente e o partido entraria na sua maior crise

    de organizao, eclodida em 2005, e agravada pelas denncias de corrupo que atingiram

    seus dirigentes8.

    J ocupando o governo federal, em 2003, a disjuntiva governo/partido definiu as

    disputas internas. Foi exemplar deste novo perodo a expulso dos parlamentares

    8 Em junho de 2005, o deputado federal pelo PTB, Roberto Jefferson, detonou uma grave crise poltica envolvendo o PT ao afirmar que importantes dirigentes do partido faziam parte de um esquema de pagamentos a deputados da base aliada para assegurar seu apoio ao governo o mensalo. A esta denncia seguiram outras, como a realizao de caixa dois pelo partido. Como resultado, importantes figuras do PT e do governo federal foram afastados de seus cargos.

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    12

    contrrios reforma da previdncia realizada pelo governo logo no incio da gesto9. O PT

    seria a matriz de mais uma organizao de esquerda: o PSOL, claramente marcado pela

    crtica ao governo federal. Esta no foi a primeira vez que o PT expulsou parlamentares

    com posicionamentos contrrios s diretrizes partidrias10. Nesta ocasio, no entanto, para

    alm de uma punio disciplinar em defesa do mandato imperativo, tratava-se de garantir a

    base do governo constitudo.

    O movimento de adaptao estrutural do partido ao poder de mbito nacional levou

    autonomizao das lideranas, isolando o executivo partidrio do controle dos corpos de

    base do PT. O PED de 2005 traduziu os constrangimentos impostos por essa relao.

    Realizadas na esteira da reorganizao imposta pela crise de corrupo que afetou a

    agremiao, as eleies internas foram marcadas pela crtica de amplos setores do PT

    excessiva independncia do ncleo dirigente que comandava o partido desde 1995. A

    tenso na relao governo/partido tambm emergiu durante o PED e, das dez chapas que

    concorreram, nove articulavam-se em torno da crtica poltica econmica do governo Lula.

    O rearranjo na distribuio interna de poder resultou na perda por parte do Campo

    Majoritrio da maioria automtica de que dispunha, bem como da capacidade de agir sem

    compor com outras foras polticas internas do PT. No primeiro turno da eleio para o

    Diretrio Nacional, a obteno de 41,9% dos votos vlidos por Ricardo Berzoini, do Campo

    Majoritrio, levou realizao de um acirrado segundo turno com Raul Pont, representante

    da tendncia de 'esquerda' Democracia Socialista. Berzoini foi eleito com 51,6% dos votos

    vlidos, um resultado que demonstrou a clara diviso do partido frente ao seu novo papel

    no sistema de poder.

    Por outro lado, o PED mostrou tambm que, mesmo depois da crise que abateu o

    PT em 2005, o partido tinha um significativo vigor de participao de base: nos 1 e 2

    turnos do processo eleitoral, respectivamente, 314.692 e 232.701 filiados votaram em 3.650

    municpios brasileiros, superando o comparecimento verificado em 2001.

    O PT por dentro: o perfil e as percepes dos delegados

    Os estudos sobre a organizao interna do PT apontam que, no final dos anos 80, o

    perfil predominantemente classista da primeira formao da Comisso Executiva Nacional,

    de 1979, havia se transformado em razo da presena de vrios outros segmentos que

    9 Em 2003, foram expulsos a senadora Helosa Helena e os deputados federais Joo Batista Arajo, Joo Fontes e Luciana Genro. 10 Em 1985, o deputado estadual paulista Marco Aurlio Ribeiro e os deputados federais Arton Soares, Bete Mendes e Jos Eudes tiveram que deixar o partido pela desobedincia deciso do PT em no participar do Colgio Eleitoral.

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    13

    aderiram proposta de criao de um partido de esquerda amplo, como profissionais

    liberais, funcionrios pblicos e professores (MENEGUELLO, 1989; NOVAES, 1993;

    RODRIGUES, 1997; SINGER, 2001). Rodrigues (1997) mostra que a composio de

    delegados participantes do 1 Congresso Nacional do partido, em 1991, era de

    trabalhadores assalariados urbanos de classe mdia (79%) e com escolaridade de nvel

    superior (71%). Esse ser o cenrio de transformaes do perfil partidrio nos anos 90 e

    2000.

    Os dados de pesquisas sobre a composio dos delegados partidrios no 11

    Encontro de 1997, no 2 Congresso Nacional, em 1999, e no 13 Encontro de 200611

    apontam que os funcionrios pblicos constituam o grupo socioocupacional mais

    numeroso, crescendo de 33% para 57,1% do total de delegados entre 1997 e 2006. Neste

    mesmo perodo, a porcentagem de assalariados caiu de 32%, em 1997, para 13,1%, em

    2006 (Tabela 1). Para um partido fundado a partir de lutas sociais, estes nmeros

    representam uma alterao importante no perfil social da liderana petista. Uma possvel

    explicao para o aumento no nmero de funcionrios pblicos reside na ampliao do

    espao institucional ocupado pelo partido a partir dos anos 90, e uma forte indicao a favor

    desta hiptese a ampliao da porcentagem de delegados que ocupavam cargos eletivos

    ou de confiana nos poderes Executivo e Legislativo de 30%, em 1997, para 39,6% em

    2006. No mesmo perodo, a porcentagem de delegados profissionalizados por movimentos

    sociais e tendncias polticas caiu de 12% para 3% (Tabela 2).

    Com relao escolaridade, o predomnio de delegados com nvel superior percorre

    todo o perodo estudado. Em 2006, 80,7% chegaram, pelo menos, a freqentar algum curso

    superior. Em 1997, este ndice era de 73% e, em 1999, de 71% (Tabela 1). Ao contrrio,

    quanto renda individual, o perfil dos delegados se altera. A queda da participao de

    delegados com renda superior a 20 salrios mnimos ntida, de 28%, em 1997, para

    13,4%, em 2006, uma distribuio acompanhada do crescimento do grupo de delegados

    com renda entre 5 e 10 salrios mnimos: de 19%, em 1997, para 33% em 2006 (Tabela 1).

    O elevado nmero de funcionrios pblicos entre os delegados e o aumento real do salrio

    mnimo no perodo analisado so hipteses que nos ajudam a compreender a queda na

    renda individual medida em salrios mnimos entre a liderana petista.

    11 Os dados sobre o perfil dos delegados provm de pesquisas realizadas pela Fundao Perseu Abramo (FPA) em 1997 (11 Encontro), 1999 (2 Congresso) e 2006 (13 Encontro), e de pesquisa realizada pelos autores tambm no 13 Encontro, ocorrido em So Paulo, em abril de 2006. Os dados sobre opinies e percepes dos delegados foram obtidos nas pesquisas feitas no 13 Encontro. A pesquisa Delegados-PT/Fundao Perseu Abramo foi feita por meio de entrevistas e atingiu 864 dos 1053 delegados (82%) participantes; a pesquisa Delegados-PT/autores foi realizada por meio de autopreenchimento de um formulrio distribudo a todos os presentes e obteve o retorno de 289 delegados (27,5%).

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    14

    Sobre os dados demogrficos, importante destacar a alterao na distribuio dos

    delegados entre as faixas mais altas de idade. As pesquisas apontam mudanas

    significativas na direo do envelhecimento da liderana petista e sugerem certa dificuldade

    na renovao dos quadros do partido. Em 1997, 18% dos delegados tinham at 30 anos.

    Esta porcentagem caiu para 14%, em 1999, e atingiu 11,2% em 2006. J o porcentual de

    delegados com mais de 40 anos subiu de 32%, em 1997, para 38% dois anos mais tarde,

    alcanando 59% em 2006 (Tabela 1). Com relao distribuio por sexo, os dados

    mostram apenas uma pequena queda no predomnio dos homens na composio da

    liderana, de 80%, em 1997, para 75,6%, em 2006 (Tabela 1).

    Dentre os delegados do 13 Encontro, 22,3% filiaram-se ao partido durante a

    primeira fase da organizao, entre 1978 e 1982, 35%, entre 1983 e 1989, e 19%, entre

    1990 e 1994 (Figura 1). Este um dado significativo, pois indica a importncia dos grupos

    de origem do partido entre as lideranas mdias. Mesmo assim, segundo a pesquisa

    Delegados-PT/FPA, parecia haver certa rotatividade na ocupao das atividades de

    liderana: em 2006, 46% dos delegados exerciam esta funo pela primeira vez e apenas

    5,6% compareciam, ao menos, pela dcima vez a um encontro ou congresso do PT.

    Alm disso, a atividade partidria estava presente de forma significativa para mais

    da metade dos delegados. Os dados da pesquisa Delegados-PT/autores mostram que

    52,1% dos delegados dedicavam mais de 40 horas por ms, em mdia, ao partido, e 62,5%

    consideravam-se mais ativos na militncia partidria do que nos cinco anos anteriores.

    A caracterizao ideolgica no traz surpresas, assim como no traz novidades a

    distribuio religiosa dos delegados. A autolocalizao no continuum esquerda-direita dos

    participantes do 13 Encontro concentrava 65,5% dos delegados esquerda, 31,7%

    centro-esquerda e 2,8% ao centro (Tabela 3). Sobre a caracterizao religiosa, os dados

    mostram a manuteno da maioria catlica em todo o perodo de 1997 a 2006 (Tabela 1). A

    estreita relao do partido com a Igreja catlica progressista, desde a sua formao, explica

    em grande medida a composio religiosa dos delegados, e parte das referncias

    ideolgicas presentes no partido deve ser vista segundo sua influncia (KECK, 1991;

    RODRIGUES, 1997). Havia, porm, um sinal de mudanas: a identidade religiosa que mais

    cresceu entre a liderana petista foi a dos evanglicos, que passou de 2%, em 1997, para

    9,7%, em 2006. Embora seja uma distino importante na composio social da liderana

    petista, ela parece refletir, em parte, o crescimento no nmero de evanglicos em todo o

    Pas nos ltimos anos.

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    15

    Tabela 1. Perfil do delegado petista (%)

    1997 1999 2006

    Condio de Trabalho12

    Funcionrios Pblicos

    Assalariados

    Profissionais Liberais

    Autnomos

    33

    32

    9

    3

    49

    23

    6

    2

    57,1

    13,1

    7,3

    9,5

    Escolaridade13

    Nuca estudou

    1 Grau

    2 Grau

    Superior

    Mestrado/Doutorado

    Sem resposta

    -

    5

    21

    62

    11

    1

    -

    5

    22

    57

    14

    1

    0,1

    2,2

    16

    68,1

    12,6

    1

    Renda individual

    Sem renda

    At 2 sm

    2 a 5 sm

    5 a 10 sm

    10 a 20 sm

    Mais de 20 sm

    Sem resposta

    2

    4

    14

    19

    27

    28

    6

    3

    3

    9

    22

    34

    26

    3

    0,5

    5,6

    19,1

    33

    26,4

    13,4

    2,1

    Idade

    At 25 anos

    26 a 30 anos

    31 a 40 anos

    41 anos ou mais

    Sem resposta

    5

    13

    46

    32

    4

    5

    9

    41

    38

    6

    4,3

    6,9

    29,5

    59,0

    0,2

    Sexo

    Homens

    Mulheres

    80

    20

    77

    23

    75,6

    24,4

    Religio

    12 Os dados relativos a 1997 e 1999 foram obtidos em pesquisas realizadas pela FPA. Os dados relativos a 2006, em pesquisa realizada pelos autores. As categorias retratadas foram as mais citadas em 2006. 13 Os dados relativos escolaridade referem-se aos delegados que chegaram ao menos a freqentar cada categoria.

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    16

    Catlica

    Esprita

    Umbanda

    Evanglica

    No tem

    Outras

    Sem resposta

    57

    5

    1

    2

    30

    4

    1

    59

    3

    -

    2

    31

    3

    2

    54,8

    4,3

    2,1

    9,7

    24,6

    4,3

    0,2

    Fonte: Delegados PT/FPA; Delegados PT/autores

    Tabela 2. Tipo de profissionalizao poltica (%)

    1997 2006

    No profissionalizado 47 52,1

    Prefeito/governador/vice - 2,3

    Assessor de vereador/deputado/senador/liderana do PT 10 17,7

    Funcionrio em cargo de confiana de governo petista 8 7

    Dirigente profissionalizado do PT 3 3

    Funcionrio/assessor do PT 1 1,7

    Militante profissionalizado por sua tendncia poltica 3 0,3

    Militante/dirigente profissionalizado de movimento social 9 2,7

    Vereador/deputado/senador 12 12,6

    Outras atividades 7 0,5

    Fonte: ROMA, 2006; Delegados PT/FPA

    F igura 1 . Distribuio dos delegados

    por perodo de filiao ao partido (%)

    35

    19

    22,3

    16,7

    6,9

    1978-1982

    1983-1989

    1990-1994

    1995-2000

    2001-2006

    Fonte: Delegados-PT/FPA

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    17

    a viso e a avaliao do partido pelos seus delegados na fase posterior vitria

    para a presidncia em 2002 que nos interessa destacar. Se os delegados se

    autolocalizaram predominantemente esquerda do espectro ideolgico, sua viso sobre o

    PT e o governo Lula deslocou-se para o centro: 38% dos delegados acreditavam que o PT

    um partido de esquerda, enquanto para 50,4%, a agremiao de centro-esquerda. J

    69,3% consideravam o governo Lula de centro-esquerda, 18,7%, de centro, e apenas 9,2%

    apontavam o governo como de esquerda (Tabela 3). Estes dados traduzem uma opinio

    geral dos delegados sobre a transformao do partido no tempo, em que 65,9% afirmaram

    que o PT, desde o seu surgimento, deixou de ser um partido de esquerda e aproximou-se

    mais do centro14. Ainda segundo a pesquisa Delegados-PT/autores, 90,3% dos delegados

    achavam que o PT mudou sua forma de fazer poltica nos ltimos anos, sendo que, para

    54,5% destes, a mudana ocorreu a partir da segunda metade da dcada de 90, perodo

    que coincide com a construo do predomnio dos moderados reunidos em torno do

    Campo Majoritrio. Perguntados sobre as razes que levaram s mudanas, 37,8%

    apontaram a poltica de alianas implantada pela direo do partido como uma das

    principais causas. J para 33,9%, as mudanas foram necessrias para o partido

    conquistar a presidncia da Repblica.

    Tabela 3. Localizao no espectro esquerda-direita (%)

    Esquerda Centro-esquerda Centro Centro-direita Direita

    Autolocalizao 65,5 31,7 2,8 - -

    Localizao do PT 38 50,4 9,2 2,1 0,4

    Localizao do

    Governo Lula

    9,2 69,3 18,7 2,5 0,4

    Fonte: Delegados-PT/autores

    Os delegados, no entanto, mostraram-se bastante divididos sobre a avaliao das

    mudanas no partido decorrentes da conquista da presidncia da Repblica. A pesquisa

    Delegados-PT/FPA indica que 45,6% dos delegados consideravam que o partido mudou

    para melhor desde 2002, e 47%, que mudou para pior. Os delegados com maior tempo de

    filiao foram os mais crticos s mudanas, e a clara diviso das opinies sugere a

    dificuldade do processo de adequao do partido sua nova posio no ambiente 14 Enunciado da pergunta: Voc concorda com a afirmao de que o Partido dos Trabalhadores, desde o seu surgimento, deixou de ser um partido de esquerda e aproximou-se mais do centro? Respostas possveis: concordo muito, concordo pouco, nem concordo/nem discordo, discordo pouco, discordo muito, no sei (pesquisa Delegados-PT/autores).

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    18

    institucional. De maneira semelhante, os delegados dividiram-se praticamente ao meio para

    avaliar os efeitos da conquista do governo federal sobre o distanciamento do partido da luta

    dos trabalhadores, a descaracterizao da estratgia e atuao partidrias, a desfigurao

    do modo de governar, o acirramento da luta interna e a formao de quadros partidrios

    (Tabela 4).

    Tabela 4. Opinies dos delegados sobre as conseqncias para o PT

    da conquista do governo federal em 2002 (%)

    Perguntas Concorda Discorda

    O distanciamento do PT da luta dos trabalhadores/ movimentos

    sociais.

    55 44,1

    Descaracterizao da estratgia poltica e atuao do PT. 47,3 49,9

    Um importante espao de formao de quadros partidrios. 51 47,8

    A desfigurao do modo petista de governar por falta de padro

    nas aes de suas administraes.

    45,8 52,1

    O acirramento da luta interna. 49,4 49

    Fonte: Delegados-PT/FPA

    As percepes sobre a crise que envolveu o partido com denncias de corrupo

    em 2005 atingiram as lideranas com intensidades variadas: 65,5% dos delegados do 13

    Encontro consideraram a crise muito grave, e, para 57,2%, as mudanas ocorridas no

    partido, embora verdadeiras, foram insuficientes. Um ncleo significativo de delegados -

    14% - considerou um exagero o partido ter perdido dirigentes por causa da crise (Tabela 5).

    Este dado sugere que as aes tanto para a recomposio interna da organizao, quanto

    de sua imagem externa, encontravam resistncias.

    Tabela 5. Opinies dos delegados sobre as mudanas ocorridas no partido

    a partir das denncias de corrupo em 2005 (%)

    As mudanas foram verdadeiras, mas insuficientes. 57,2

    As mudanas foram adequadas s denncias. 19,6

    Foram exageradas, o PT no deveria ter perdido dirigentes. 14

    As mudanas foram s fachada. 7,2

    Outras respostas. 1,6

    No sabe. 0,2

    Fonte: Delegados-PT/FPA

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    Ainda segundo a pesquisa Delegados-PT/FPA, os dados indicam que o efeito da

    conquista do governo federal sobre o espao interno partidrio e a retomada das atividades

    de organizao de base concentravam a preocupao dos delegados. Assim, para 65% dos

    delegados, uma das conseqncias da conquista da presidncia da Repblica foi o

    enfraquecimento do espao interno e entre as atividades de organizao necessrias para

    a superao da crise do partido mais mencionadas estavam a valorizao das bases e a

    aproximao dos movimentos sociais (Figura 2).

    Figura 2 . Atividades de organizao partidria necessrias

    para superar a crise, segundo os delegados (%)

    37

    12,5

    14,8

    17,6

    Aproximao dos

    movimentos sociais

    Apurar as

    denncias/Expulsar

    os culpados

    Capacitao das

    bases

    Valorizao das

    bases

    Fonte: Delegados-PT/FPA. O grfico apresenta apenas as atividades mais citadas.

    Mesmo assim, uma proporo alta das lideranas mdias mantinham vnculos

    claros com os movimentos sociais: 72,3% dos delegados do 13 Encontro estavam

    associados a movimentos ou organizaes sociais, sendo que, dentre eles, 76,1%

    pertenciam direo e 72,7% militncia de base, o que sugere a existncia de bases

    objetivas para a recuperao dos vnculos de organizao.

    Concluses

    Os estudos partidrios mostram, via de regra, que a crise dos partidos, da

    representao e da organizao de interesses um fenmeno associado s mudanas da

    poltica, importncia declinante das formas tradicionais de mediao institucional,

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    individualizao das preferncias polticas e ao desengajamento cvico (LAWSON &

    MERKL, 1988; NORRIS, 1999; MAIR & VAN BIEZEN, 2001).

    As anlises tambm mostram que o crescente papel do Estado como regulador da

    vida e funcionamento dos partidos alterou o perfil e a priorizao das funes partidrias

    (KATZ & MAIR, 1994; LAWSON & MERKL, 2007). O cenrio que acolhe os partidos

    polticos brasileiros no diferente. Os 23 anos de experincia democrtica no foram

    capazes de redimensionar a relao dos cidados com a poltica representativa, produzindo

    uma crise de representatividade, em um quadro marcado pela ausncia de credibilidade

    nas instituies do Pas. Alm disso, a dinmica de acesso s instncias decisrias por

    meio de eleies apresentou, para os partidos, um conjunto de recursos polticos que

    remodelaram suas relaes internas e externas. A gesto das modernas campanhas

    eleitorais e a necessidade de construo de alianas polticas e coalizes governamentais

    so processos que determinaram a desideologizao dos partidos, a perda dos vnculos

    institucionais com movimentos sociais e a profissionalizao de suas estruturas.

    neste cenrio que, mais uma vez, o PT se destaca. Sua trajetria de mudanas

    em direo a uma proposta inclusiva de amplas camadas sociais colocou-o na rota de

    formao de um grande partido de massas, que adequou-se s imposies da democracia

    de massas e do sistema poltico, com mudanas que desfiguraram apenas parcialmente

    seu perfil organizacional.

    A tentao em identificar nas mudanas do PT as transformaes da social-

    democracia europia grande, mas precisa ser tratada com cuidado. A crescente

    autonomizao das lideranas, a diminuio da importncia das bases e a moderao no

    discurso em busca de maior competitividade eleitoral so algumas das semelhanas. No

    entanto, o partido, em nenhum momento, encontrou-se diante da necessidade de fazer

    concesses e rupturas com os referenciais da esquerda marxista, e sempre teve seu

    projeto socialista associado s perspectivas da democracia. Alm disso, o partido teve

    relativo xito em manter uma dinmica de funcionamento e de tomada de deciso com base

    na convivncia entre grupos distintos, sustentada por mecanismos deliberativos

    participativos. A organizao interna em nvel local, o envolvimento das lideranas de base

    na dinmica partidria e os dispositivos de distribuio de poder, sobretudo o Processo de

    Eleio Direta, destacam o partido no conjunto das organizaes partidrias brasileiras.

    Panebianco (2005) d grande nfase origem do partido poltico e ao modelo

    gentico para entender seu padro de desenvolvimento. No temos dvida que residem no

    processo de formao do PT as bases explicativas de sua mudana poltica sem a

    desfigurao de muitas das caractersticas organizativas centrais.

    As presses do ambiente poltico, no entanto, podem ter conseqncias severas

    (HUNTER, 2007; SAMUELS, 2008). A experincia do PT no governo federal mostrou que

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    as imposies da nova relao contrada com o Estado produziram srio impacto sobre a

    organizao, sobretudo a desvalorizao da base partidria frente autonomizao do

    grupo no governo. No conjunto dos partidos de esquerda europeus, este processo no

    novo e veio acompanhado de uma crescente aproximao ao modelo profissional-eleitoral,

    amplamente independente de movimentos de mobilizao. As conseqncias foram a

    reduo dos nveis de identidade partidria e a punio, nas urnas, por parte de grupos

    tradicionalmente ligados a estas agremiaes (PATERSON & SLOAM, 2007).

    No caso do PT, os dados de opinio dos delegados indicam que est na agenda das

    lideranas partidrias de base a recuperao do espao interno do partido e o resgate de

    vnculos mais fortes com os movimentos sociais. Tambm apontam que o partido

    reconhece as presses exercidas pelo novo ambiente em que est inserido e as tenses

    organizativas por ele produzidas. Como o partido vai equacionar estas tenses e reagir s

    novas presses ambientais a questo em aberto da qual depende a durao da novidade.

    Relao dos partidos citados

    SIGLAS PARTIDOS

    MDB Movimento Democrtico Brasileiro

    PC do B Partido Comunista do Brasil

    PCB Partido Comunista Brasileiro

    PDS Partido Democrtico Social

    PDT Partido Democrtico Trabalhista

    PL Partido Liberal

    PMDB Partido do Movimento Democrtico Brasileiro

    PPS Partido Popular Socialista

    PSB Partido Socialista Brasileiro

    PSDB Partido da Social Democracia Brasileira

    PSOL Partido Socialismo e Liberdade

    PSTU Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado

    PT Partido dos Trabalhadores

    PTB Partido Trabalhista Brasileiro

    PV Partido Verde

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