ain sof aur

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Page 1: Ain Sof Aur

Ain Sof Aur está bem além de somente uma banda de Black Metal e além das ideias cotidianas daqueles que pararam no tempo, um conceito que está ligado ao uno individual porém evolutivo que essa maligna banda vem passar. Para compreender todas emanações é materializações até hoje manifestadas, convidamos Harad Serapel a nos falar dessa banda ortodoxa do conceito comum adotado por muitos em nossos dias do que seria o Black Metal.

I - É com um grande prazer que contamos com vossa horda aqui nas páginas desse nosso primeiro pergaminho maldito. Eu já acompanho a arte criada pelo Ain Sof Aur já alguns anos e percebi toda a evolução desde suas demos até o full lenght álbum. Nos conte como se deu toda essa evolução e como se originou essa horda?

do Evangelho da Criação — conceito explicado e destrinchado no Atra Serpens, como forma de simbolizar esta visão existencial —, sendo que posteriormente adveio da maturidade musical, ideológica e individual de cada membro. O perpassar dos anos consolida ideologias, sentimentos, visões e, no caso do Ain Sof Aur, práticas mágicas que complementam as atividades realizadas na Fraternidade, fazendo com que nossa arte integre o caminho iniciático de cada um, e até complemente a do ouvinte e apreciador dos materiais.II - Ain Sof Aur digamos que é um nome estranho, do qual não sei o seu significado ao certo, poderia nos esclarecer o verdadeiro significado para esse nome?

M.H.S - Para delimitar o conceito de Ain Sof Aur seria necessário um livro, ou até mesmo um trabalho acadêmico — ou ensaio —, inviabilizando um aprofundamento neste espaço. Não é este o objetivo deste diálogo, bastando linhas gerais sobre o assunto.Ain Sof Aur, Ain Soph Aur ou simplesmente Ohr Ein Sof significa literalmente “luz infinita”. A Qabalah o doutrina como “essência divina”. Há a disciplina dos 10 Sephiroth, emanações que revelam a figura divina central, a Cabeça Divina das Criações que canaliza esta força criadora para todos os níveis de Existência. Entenda que estes 10 atributos, emanações, não representam a essência divina, vez que os cabalistas delimitaram este conceito dualístico de manifestações divinas e origem da essência divina em formas de luz e iluminador. Com isso, surge o conceito da luz que antecede as criações e demais formas de luz — veja que aqui não falamos do Caos Primordial —, isto é, aquela que brilha ou emana de Ein Sof (infinito) como catalisador das criações como um todo após o chamado Tzimtzum ou Sod HaTzimtzum; a contração divina ou segredo da contração divina que transforma o Infinito em Finito (criação do mundo em que vivemos), ou seja, a auto remoção desta luz ilimitada como fenômeno que possibilita a existência de um universo físico e o livre arbítrio, o desembaraço do trabalho de criação da Cabeça Divina. Neste mito, o primeiro ato na Criação foi a auto retirada divina, o exato oposto da revelação da Criação, conceito que deságua no já citado Caos Primordial que explicarei a seguir, sendo este o ponto chave para se compreender a utilização do nome para nossa arte.Podemos dizer que se assemelha a Prakrti, nos mitos do Hinduísmo, a inteligência em que o Universo opera, a base de toda a criação e existência. Nossa corrente filosófica e ideológica, em apertada síntese, visa o alcance da divindade do homem por intermédio do Caos Primordial — a parte de Ein Sof que não quis se manifestar e se criar, permanecendo inerte — , edificando esta santidade individual e autônoma (apotheosis), que rompe com o cordão umbilical da Cabeça Divina, tida como suprema e única.

O conceito utilizado no nome de nossa Fraternidade simboliza esta luz ilimitada, que antecede as criações, atuando e se manifestando como uma força INICIATÓRIA que guia o adepto até alcançar a divindade por intermédio de seu próprio Ma’aseh Berashith, como prometido pela Serpente.

III - Sabemos que o Ain Sof Aur lida com uma ideologia bem complexa, esse conceito levado e executado por vocês acabam tornando vossa horda em uma obra de arte e não mais uma banda, como vocês encara isso e porque optaram por essa forma ideológica?

M.H.S - Primeiramente, agradeço a observação e elogio ao chamar nosso trabalho de obra de arte. É realmente engrandecedor. Sobre a proposta do Ain Sof Aur — e como ela é visualizada —, novamente, diria que é um caminho natural, já que reflete nada mais do que os membros envolvidos neste ato filosófico. “Optamos” em levá-la adiante por ser parte de quem somos e no que acreditamos. Buscamos aprimorar o que

construímos, fazendo com que cada ato verbalizado e traduzido em música esteja interligado com a parte gráfica e doutrinária da arte, formando o conceito do Ain Sof Aur como é conhecido. Em resumo, o Ain Sof Aur nada mais é do que um reflexo de cada indivíduo envolvido, em vários graus e em várias facetas. IV - Após lançarem duas demos vocês lançam então seu debut álbum, intitulado de Atra Serpens. Nos fale como foi para lançar esse material e como esta sendo sua distribuição?

M.H.S - Tivemos uma certa dificuldade no início para firmar parcerias com os selos envolvidos, tendo nossas expectativas frustradas por vários envolvidos até que o material realmente fosse concretizado. Esse contato mundano, direto, é algo que não faremos nos próximos lançamentos, até para preservar nossa Fraternidade, vez que não desejamos ter este contato direto por não considerarmos necessário.Realmente tivemos demasiados dissabores ao longo da espera pelo lançamento. Fatalmente tivemos de excluir um dos selos do lançamento, muito embora o seu logo ainda conste no material. O desprestígio com nossa arte por parte deste indivíduo realmente demonstrou que o ser humano apenas busca revestir-se - paliativamente - com indumentária de vaidade para sentir-se importante. Superamos as adversidades, naturalmente, pois este é o Caminho Draconiano que seguimos.

Nossa condição e consequentes visões não são passíveis de compreensão racional e sensorial, razão pela qual dispensamos qualquer vaidade oriunda da superação de adversidades, permanecendo somente a essência da arte que nos foi consagrada pelas Forças que emanam de Sitra Ahra. Resta continuarmos com nossas buscas e atos musicais que serão concretizados com ou sem barreiras e objeções de terceiros estranhos à nossa Fraternidade.Atra Serpens foi uma grande e verdadeira Manifestação de nossa Fraternidade, com algumas músicas que executamos desde o início deste círculo e outras mais recentes, compostas pelo que chamamos de segunda fase da banda - iniciada com a entrada de S.A.Trata-se de um primeiro manifesto do Logos mencionado anteriormente, voltado ao conceito de negação do Evangelho da Criação e visualização do Caminho da Mão Esquerda e Luz Luciferiana. Atra Serpens é um Salmo da Morte consagrado nas águas estéreis do Caos. Nosso objetivo de simplesmente propagar esta mensagem foi alcançado. Não temos grandes pretensões em divulgação corrida e intensa. Aquele que tiver de ouvir e entender o que fazemos chegará até a obra, sem a necessidade de induzí-lo forçosamente ao Caminho que pregamos. Não é uma obra que é digna de ser distribuída às pressas, tampouco de ser apreciada por qualquer um. Cada detalhe do encarte, ao lado do longo texto que o acompanha, tem uma mensagem em particular, ficando a critério de quem detém o álbum compreendê-las ou ignorá-las - o que corrobora a afirmação sobre estar nas mãos da pessoa certa, vez que a mensagem jamais será explícita e óbvia.V - Ao pegarmos esse material nos deparamos com um trabalho muito elevado, o encarte tem 20 páginas e por

incrível que pareça não traz as letras das musicas mais sim um enorme texto, do que se trata aqueles escritos e por quem foi escrito? A mensagem que vocês queria passar através desse material foi bem sucedida?

M.H.S - A razão para a omissão das letras se dá principalmente pela densidade do conceito iniciado — que será destrinchado nos lançamentos seguintes —, como um excerto de uma doutrina advinda de nossas crenças e seguimentos filosóficos. Me parece que, em nosso caso particular, as letras dariam a sensação de ser somente MAIS uma banda de metal negro emergindo do subconsciente criativo dos membros e não se manifestaria com a seriedade e complexidade que almejamos. O significado é pura e simplesmente o que o texto reproduz. Trata-se de um manifesto sobre a percepção do Caminho da Mão Esquerda em meio à Negação do Evangelho a Criação, sob um ponto de vista teológico, valendo-nos de uma implosão da doutrina judaico-cristã e a abertura para o Oculto. O médium responsável pela escrita é M.H.S., representando todo o Círculo draconiano do Ain Sof Aur. Entretanto, impossível dizer que nossa mensagem foi bem sucedida, pois ela ainda não terminou. O que se concretizou foi um Prólogo, ou anúncio do que ainda se manifestará. VI - Sabemos que vossa banda não gosta de se aparecer, é tanto que para os zines que vocês cedem entrevistas, vocês antes questionam que não quer imagens dos integrantes publicadas, existe algum motivo especial para isso?

M.H.S - Não compartilhamos de uma visão exploradora de imagem e visual, que, a bem da verdade, tem se tornado um campo de adoração ao ego em expansão, fazendo com que a arte fique em segundo plano. No caso de uma

“Não é uma obra que é digna de

ser distribuída às pressas, tampouco de ser apreciada

por qualquer um.”

Por: Andrey Ferraz

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M. Harab Serapel - Ain Sof Aur é um manifesto - filosófico e sonoro - draconiano com proposta única de disseminar um “novo” Logos, juntamente das forças do Antigo dos Antigos, por meio de nossa arte. Executamos música em seu sentido mais amplo, não nos limitando a rótulos e técnicas específicas, almejando alcançar sempre uma característica sonora compatível com a parte visual e lírica, vez que acreditamos ser a arte una e indivisível. Como diria Dante, a arte é cruel em sua definição, o que nos leva a crer que não há espaço para enfoque em um único aspecto artístico, razão pela qual buscamos uma aproximação doutrinária, conceitual, em nossos trabalhos.A evolução, como todos os aspectos intrínsecos dos mensageiros envolvidos neste Círculo, é vista com naturalidade. Analisando-se sob um prisma filosófico direcionado ao metal negro, em determinado ponto da vida de um indivíduo é necessário a busca por algo além de um estado espiritual primitivo, dogmático e inerte. É imperioso destacar a estagnação daquele que se limita a repetir jargões e pensamentos pré concebidos por terceiros no meio do cenário — ideológico e musical — e que toma estas linhas gerais como verdade absoluta a ser seguida. O indivíduo, como apreciador e seguidor dos preceitos existentes no black metal, deveria buscar ir além deste estado inicial de existência, pois, do contrário, suas “idéias” não seriam nada mais do que rebeldia, muitas vezes infundada, ou reprodução de pensamentos de outrem.F. Nietzsche, em sua obra “Assim falou Zaratustra”, ao disciplinar sobre as três transmutações, descreve aquele que permanece inócuo, simplesmente seguindo os ideais alheios cegamente e, obviamente, incorrendo na estagnação individual supramencionada. Ao revés, ainda sob este conceito do referido filósofo, o que descrevo seria o estado “criança”, a afirmação da individualidade, da vontade de poder. A bem da verdade, o que mais é visto ao longo dos anos, principalmente nos ditos pensadores do metal negro, é um ser humano engessado e escravo de conceitos seguidos pela massa geral que permeia o atual cenário do black metal. Nossa evolução — frisa-se, constante e infinita — se deu, primeiramente, da necessidade de dar um passo além da negação