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Radar AIN - um boletim trimestral sobre AIN e parceiros no Brasil n#1/2014 (ago-dez 2013) Nova coalizão direita-ultradireita na Noruega promete mudanças na cooperação No último dia 9 de setembro houve eleições parlamentares na Noruega, e uma virada política já anunciada há alguns anos finalmente aconteceu: a mudança de governo da coalizão social- democrata para uma coalizão direita-ultradireita. Os partidos conservadores alcançaram ampla maioria no Parlamento. Desde então, os quatro partidos que formam o bloco conservador, liderados pelo Høyre de Erna Solberg, ficaram um bom tempo internados em uma rodada de negociação fechada, para medirem divergências e sondarem a possibilidade de formar um governo com os quatro, incluindo tanto o ultradireita FrP (Fremskrittspartiet, em port. Partido Progressista) como os de centro KrF (cristão) e Venstre. Muito se especulou sobre quais as constelações mais prováveis e sobre as chances de os partidos menores de centro (que são os fieis da balança para conseguir a maioria conservadora no parlamento) se arriscarem a entrar num governo onde o extrema direita FrP, com bancada maior, terá influência demais. No começo de outubro, os jornais anunciaram o desfecho das conversas: os partidos de centro KrF e Venstre decidiram ficar fora do governo, mas fecharam um acordo de apoio ao novo governo no parlamento, incluindo pontos de pauta que conseguiram ganhar na negociação. Com isso, formou-se pela primeira vez na história norueguesa um governo de coalizão direita-ultradireita. A política de cooperação não é um tema prioritário nessas rodadas de negociação. O único partido que tinha esse tema como prioritário era o cristão KrF, de centro, que decidiu ficar fora do governo. A primeira medida que anunciava más notícias foi a dissolução do ministério do desenvolvimento, responsável pela cooperação internacional, submetendo o tema ao mandato do ministério das relações exteriores. Os dois partidos do Representação da divisão de cadeiras no parlamento norueguês: a coalizão social-democrata conta com 72 cadeiras, enquanto os conservadores somam 96. Fonte: NRK AIN é alvo de espionagem da Vale A gigante mineradora Vale está no centro de uma recente polêmica envolvendo o uso de métodos de espionagem sobre movimentos e lideranças sociais, ambientalistas ou que de alguma forma criticam a empresa. Reportagem da agência de jornalismo investigativo Apública* , publicada em outubro de 2013, revelou o esquema utilizado pela multinacional envolvendo infiltração de agentes em movimentos sociais, pagamento de propinas a funcionários públicos para obter informações privilegiadas p.ex. na polícia federal, grampos telefônicos ilegais e “dossiês de políticos”, com informações públicas e “outras conseguidas por meios não públicos” sobre políticos e representantes de movimentos sociais. Os métodos utilizados são herança da época da ditadura, quando a empresa (ainda estatal) mantinha laços estreitos com o regime militar e contratava milícias privadas em locais especialmente problemáticos, como na Amazônia, devido à presença intensa de garimpeiros, madeireiros, grileiros e pistoleiros e a violência permanente. Hoje, a versão moderna dessas milícias é a terceirização do serviço de vigilância por empresas de segurança privadas. Entre os vários documentos apresentados na reportagem, o nome da AIN é mencionado com relação à sua participação em uma oficina no Forum Social Mundial em 2009, quando a ideia de trabalhar na relação bilateral Brasil-Noruega na cadeia de alumínio em Barcarena tomou corpo. Hoje, o parceiro IEB desenvolve o projeto de construção de um forum multilateral com a participação da norueguesa Hydro, a maior empresa do complexo industrial de Barcarena, que comprou toda a operação de alumínio da Vale em 2009. O relatório do agente de segurança infiltrado menciona a AIN dessa forma: “Os coordenadores conseguiram, durante o FSM, um grande aliado na luta contra a Vale. Os noruegueses descobriram que uma boa parte da Vale pertence a pessoas da Noruega e ficaram de discutir sobre os impactos ambientais que a Vale vem causando em Barcarena, e ainda querem implantar uma termelétrica, e chamam as famílias tradicionais, que moram anos e anos no município, de invasores. Os noruegueses citados são Per Bondevik e Arne Dale (Ajuda da Igreja Norueguesa), que fizeram parte da Oficina “Controle Social sobre a Indústria Extrativa - os impactos sociais e ambientais da cadeia produtiva do alumínio: o caso Alunorte e a sociedade civil no Pará”, no FSM.” Outro documento da empresa de vigilância privada Network, que presta serviços para a Vale, indica a existência de uma “Rede ABC – Barcarena”, sob responsabilidade da empresa, com um orçamento de mais de 4 mil reais, em outubro de 2010, que seria, segundo a reportagem, pagamento a informantes infiltrados em movimentos sociais. A Hydro anunciou a aquisição da operação de alumínio da Vale em 2010 como a maior aquisição da história norueguesa. A AIN repudia o uso desses métodos e espera da Hydro que tome as providências necessárias para eliminar essas práticas definitivamente, com transparência. A AIN ainda pede que a Hydro denuncie as atividades de espionagem em dialogo com a Vale. * http://www.apublica.org/2013/09/abrindo-caixa-preta-da-seguranca- da-vale/ governo devem gradualmente restringir a cooperação na América Latina e focar mais na África. Pequenos cortes foram anunciados na cooperação com América Latina já em 2014. Quanto ao Fundo Amazônia, apesar do tom positivo dos primeiros discursos governamentais, a política de Clima&Florestas ameaçou sofrer um corte de 400 milhões de coroas (US$ 65 milhões) na proposta de orçamento 2014 apresentada pelo novo governo ao parlamento. Após pressão da sociedade civil norueguesa, a medida foi parcialmente revertida no Parlamento, reduzindo-se em 2/3 o corte inicialmente proposto. Com isso, devem ser alocados no total 2,8 bilhões de coroas norueguesas (cerca de US$ 450 milhões) para a política de Clima&Florestas anualmente, algo próximo do valor atual. Ou seja, fundos foram reduzidos, porém menos do que inicialmente planejado pelo novo governo. Isso mostra que o parlamento norueguês terá um papel importante a desempenhar nesse mandato, já que o novo governo Høyre-FrP depende do apoio de outros partidos para obter maioria parlamentar. Temas que o novo governo declarou estar interessado em apoiar no campo da cooperação internacional são transparência, combate a corrupção, boa governança e respeito a direitos humanos. A dupla ultraconservadora Erna Solberg e Siv Jensen está “na fissura” para assumir o poder pela primeira vez. Fotos: Fredrik Varfjell e Paul Weaver Foto: Henrique Fornazin

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Radar AIN - um boletim trimestral sobre AIN e parceiros no Brasil

n#1/2014 (ago-dez 2013)

Nova coalizão direita-ultradireita na Noruega promete mudanças na cooperaçãoNo último dia 9 de setembro houve eleições parlamentares na Noruega, e uma virada política já anunciada há alguns anos finalmente aconteceu: a mudança de governo da coalizão social-democrata para uma coalizão direita-ultradireita. Os partidos conservadores alcançaram ampla maioria no Parlamento.

Desde então, os quatro partidos que formam o bloco conservador, liderados pelo Høyre de Erna Solberg, ficaram um bom tempo internados em uma rodada de negociação fechada, para medirem divergências e sondarem a possibilidade de formar um governo com os quatro, incluindo tanto o ultradireita FrP (Fremskrittspartiet, em port. Partido Progressista) como os de centro KrF (cristão) e Venstre. Muito se especulou sobre quais as constelações mais prováveis e sobre as chances de os partidos menores de centro (que são os fieis da balança para conseguir a maioria conservadora no parlamento) se arriscarem a entrar

num governo onde o extrema direita FrP, com bancada maior, terá influência demais.

No começo de outubro, os jornais anunciaram o desfecho das conversas: os partidos de centro KrF e Venstre decidiram ficar fora do governo, mas fecharam um acordo de apoio ao novo governo no parlamento, incluindo pontos de pauta que conseguiram ganhar na negociação. Com isso, formou-se pela primeira vez na história norueguesa um governo de coalizão direita-ultradireita.

A política de cooperação não é um tema prioritário nessas rodadas de negociação. O único partido que tinha esse tema como prioritário era o cristão KrF, de centro, que decidiu ficar fora do governo. A primeira medida que anunciava más notícias foi a dissolução do ministério do desenvolvimento, responsável pela cooperação internacional, submetendo o tema ao mandato do ministério das relações exteriores. Os dois partidos do

Representação da divisão de cadeiras no parlamento norueguês: a coalizão social-democrata conta com 72 cadeiras, enquanto os conservadores somam 96. Fonte: NRK

AIN é alvo de espionagem da ValeA gigante mineradora Vale está no centro de uma recente polêmica envolvendo o uso de métodos de espionagem sobre movimentos e lideranças sociais, ambientalistas ou que de alguma forma criticam a empresa. Reportagem da agência de jornalismo investigativo Apública* , publicada em outubro de 2013, revelou o esquema utilizado pela multinacional envolvendo infiltração de agentes em movimentos sociais, pagamento de propinas a funcionários públicos para obter informações privilegiadas p.ex. na polícia federal, grampos telefônicos ilegais e “dossiês de políticos”, com informações públicas e “outras conseguidas por meios não públicos” sobre políticos e representantes de movimentos sociais. Os métodos utilizados são herança da época da ditadura, quando a empresa (ainda estatal) mantinha laços estreitos com o regime militar e contratava milícias privadas em locais especialmente problemáticos, como na Amazônia, devido à presença intensa de garimpeiros, madeireiros, grileiros e pistoleiros e a violência permanente. Hoje, a versão moderna dessas milícias é a terceirização do serviço de vigilância por empresas de segurança privadas.

Entre os vários documentos apresentados na reportagem, o nome da AIN é mencionado com relação à sua participação em uma oficina no Forum Social Mundial em 2009, quando a ideia de trabalhar na relação bilateral Brasil-Noruega na cadeia de alumínio em Barcarena tomou corpo. Hoje, o parceiro IEB desenvolve o projeto de construção de um forum multilateral com a participação da norueguesa Hydro, a maior empresa do complexo industrial de Barcarena, que comprou toda a operação de alumínio da Vale em 2009.

O relatório do agente de segurança infiltrado menciona a AIN dessa forma:

“Os coordenadores conseguiram, durante o FSM, um grande aliado na luta contra a Vale. Os noruegueses descobriram que uma boa parte da Vale pertence a pessoas da Noruega e ficaram de discutir sobre os impactos ambientais que a Vale vem causando em Barcarena, e ainda querem implantar uma termelétrica, e chamam as famílias tradicionais, que moram anos e anos no município, de invasores. Os noruegueses citados são Per Bondevik e Arne Dale (Ajuda da Igreja Norueguesa), que fizeram parte da Oficina “Controle Social sobre a Indústria Extrativa -

os impactos sociais e ambientais da cadeia produtiva do alumínio: o caso Alunorte e a sociedade civil no Pará”, no FSM.”

Outro documento da empresa de vigilância privada Network, que presta serviços para a Vale, indica a existência de uma “Rede ABC – Barcarena”, sob responsabilidade da empresa, com um orçamento de mais de 4 mil reais, em outubro de 2010, que seria, segundo a reportagem, pagamento a informantes infiltrados em movimentos sociais.

A Hydro anunciou a aquisição da operação de alumínio da Vale em 2010 como a maior aquisição da história norueguesa. A AIN repudia o uso desses métodos e espera da Hydro que tome as providências necessárias para eliminar essas práticas definitivamente, com transparência. A AIN ainda pede que a Hydro denuncie as atividades de espionagem em dialogo com a Vale.

* http://www.apublica.org/2013/09/abrindo-caixa-preta-da-seguranca-da-vale/

governo devem gradualmente restringir a cooperação na América Latina e focar mais na África. Pequenos cortes foram anunciados na cooperação com América Latina já em 2014.

Quanto ao Fundo Amazônia, apesar do tom positivo dos primeiros discursos governamentais, a política de Clima&Florestas ameaçou sofrer um corte de 400 milhões de coroas (US$ 65 milhões) na proposta de orçamento 2014 apresentada pelo novo governo ao parlamento. Após pressão da sociedade civil norueguesa, a medida foi parcialmente revertida no Parlamento, reduzindo-se em 2/3 o corte inicialmente proposto. Com isso, devem ser alocados no total 2,8 bilhões de coroas norueguesas (cerca de US$ 450 milhões) para a política de Clima&Florestas anualmente, algo próximo do valor atual. Ou seja, fundos foram reduzidos, porém menos do que inicialmente planejado pelo novo governo. Isso mostra que o parlamento norueguês terá um papel importante a desempenhar nesse mandato, já que o novo governo Høyre-FrP depende do apoio de outros partidos para obter maioria parlamentar.

Temas que o novo governo declarou estar interessado em apoiar no campo da cooperação internacional são transparência, combate a corrupção, boa governança e respeito a direitos humanos.

A dupla ultraconservadora Erna Solberg e Siv Jensen está “na fissura” para assumir o poder pela primeira vez. Fotos: Fredrik Varfjell e Paul Weaver

Foto: Henrique Fornazin

Encontro anual Programa ODO encontro anual de parceiros do programa “Juventudes e Direitos na Cidade” foi realizado nos dias 16 a 18 de outubro de 2013, na Ação Educativa, em São Paulo. Estiveram presentes gestores e jovens participantes dos projetos desenvolvidos pelas seis organizações envolvidas no programa: Ação Educativa, Diaconia, Fase, Ibase, Koinonia e Viva Rio. Um tema central do encontro foi o processo de avaliação de meio termo, e a definição de futuros rumos do programa.

Durante o primeiro dia e metade do segundo, jovens e técnicos de todos os projetos apresentaram os trabalhos que vêm desenvolvendo, através de dinâmicas, apresentações audiovisuais e falas. O segundo dia teve ainda a apresentação da avaliação de meio termo e debate, conduzido pelos autores Fátima Nascimento e Leandro Lamas Valarelli. No terceiro dia, foram retomadas as recomendações a partir da avaliação, seguidas de discussões em grupos de gestores e de jovens. O resultado das discussões alimentou a construção dos próximos encaminhamentos.

O encontro foi rico em debate, evidenciando a diversidade de abordagens, metodologias e contextos nos quais os trabalhos estão inseridos. Mesmo com as diferenças, foi possível chegar a alguns encaminhamentos e ambições comuns para os dois últimos anos do programa.

Os principais destes foram um maior aprofundamento nas questões climáticas/ambientais, e a necessidade de investir mais na produção de conhecimento sobre a situação de jovens com deficiências a partir dos territórios onde os projetos estão inseridos, para em seguida poder melhor elaborar estratégias para uma maior inclusão deste público, tanto nos projetos como nas comunidades/na sociedade em geral. Foram definidos duas atividades neste sentido para 2014: um encontro dos parceiros do programa com o tema Racismo Ambiental, a ser realizado no 1º semestre, e um mapeamento da situação dos jovens com deficiências nos territórios dos projetos, com a participação de todos os seis parceiros.

Ainda, como aponta a avaliação, são várias as experiências e metodologias adotadas pelas diversas organizações que merecem destaque e uma maior divulgação, tanto no âmbito do programa, como para um público maior. Para tanto será garantido um recurso extra para viabilizar a sistematização de algumas dessas experiências, um trabalho que vai ser iniciado em 2014.

Para ver o relatório da avaliação de meio termo, acesse o link: http://www.kirkensnodhjelp.no/no/Arbeidet-vart/Hvor-vi-jobber/Latin-Amerika/Brasil/Artikler-om-Brasil/external-review-of-the-od-programme-in-brazil-/

Seminário desperta discussão sobre impactos do gás de xisto no BrasilUma das prioridades da AIN em 2013 foi apoiar a mobilização da sociedade civil para discussão dos impactos socioambientais ligados à cadeia de produção de petróleo e gás e formas de monitoramento colaborativo. Ao longo de 2013, os parceiros Ibase, Fase, ISA e Diaconia organizaram e/ou participaram de três encontros de mobilização da sociedade civil (em março, maio e junho), reunindo também representações de comunidades afetadas.

Dando continuidade a essa agenda, os parceiros Ibase, ISA e Fase, mais Greenpeace e Centro de Trabalho Indigenista – CTI, organizaram o seminário “Impactos Socioambientais da Exploração de Xisto”, dia 13 de novembro. Assunto ainda desconhecido, a exploração do gás de xisto (ou tecnicamente gás de folhelho) e seus impactos socioambientais ganharam dimensão a partir da notícia da realização da primeira rodada de leilão da ANP (Agência Nacional de Petróleo ) para gas de xisto, dia 28 de novembro.

Extraído de rochas sedimentares a grandes profundidades, mediante técnicas de fraturamento hidráulico, o gás de xisto vem sendo visto como a nova revolução energética nos EUA e mais recentemente em outros países. O Brasil agora parece querer entrar na nova onda. O problema é que a técnica de fraturamento hidráulico vem causando graves impactos ambientais nos EUA, principalmente contaminação de águas. As duas maiores organizações científicas do Brasil enviaram um pedido de moratória à presidente Dilma Rousseff em função dos riscos ambientais envolvidos. Não há regulamentação no Brasil sobre fraturamento hidráulico, e não há conhecimento científico suficiente hoje para evitar totalmente o risco de

contaminação de águas, tampouco para remediar situações de contaminação de lençóis freáticos. Há risco de contaminação do aquífero Guarani, um dos maiores reservatórios de água doce subterrânea do mundo.

O evento contou com organizações ambientalistas, sindicais, de servidores públicos, acadêmicas entre outras, e foi dividido em duas partes, uma sessão mais informativa e outra para discutir estratégias de mobilização da sociedade civil.

Os encaminhamentos tirados do evento deram mais corpo ao assunto. A partir da demanda de organizações da sociedade civil, o Ministério Público acionou judicialmente a ANP questionando a validade do leilão, duas audiências públicas foram feitas no Congresso, e a partir daí, o assunto passou a ter mais visibilidade. O Ministério de Meio Ambiente criticou a pressa no tema, a Petrobras, que arrematou a maioria dos blocos no leilão, se manifestou aberta até mesmo a devolvé-los se fosse o caso. Um projeto de lei de moratória para a exploração de gás de xisto foi apresentado no Congresso. Até mesmo setores ruralistas vêm se manifestando contrariamente à tecnologia, pelo potencial impacto da contaminação dos aquíferos na agricultura, seja de larga ou de pequena escala.

É difícil prever a importância do assunto ano que vem para a mídia, quando outros eventos tomarão boa parte do foco (copa e eleições); ainda assim, é importante que a sociedade civil se mantenha mobilizada e organizada para fazer frente a esse novo desafio. A AIN pretende continuar o apoio à mobilização da sociedade civil no tema de petróleo e gás em 2014.

FundingEm 9 de outubro passado, o site Funds For NGOs publicou uma matéria sobre filantropia corporativa, tendo como foco bancos internacionais como alternativa de financiamento voltado para o bem-estar de comunidades em países considerados pobres e em desenvolvimento.Deixando de lado as críticas e a reflexão sobre a difícil relação entre bancos privados e organizações da sociedade civil organizada, Funds for NGOs tenta apontar caminhos para a sustentabilidade das OSCs.Neste sentido, para as parceiras sem restrições a apoio de bancos em suas políticas de captação e mobilização de recursos, selecionamos as instituições que poderiam apoiar suas causas no Brasil. Da lista que não era muito extensa, após a primeira “peneirada”, restaram as seguintes opções para sua prospecção:

The Deutsche Bank Americas FoundationFoco: Desenvolvimento comunitário mediante apoio a líderes locais e fortalecimento institucional, educação e artes.https://www.db.com/usa/content/en/1066.html

Barclays Support for CommunitiesProgramas com foco em Jovens: Building Young Futures, Barcleys Spaces for Sports e You C Be.http://group.barclays.com/about-barclays/citizenship/supporting-our-communities

Societe Generale Corporate Foundation for SolidarityFoco: empregabilidade para jovens e combate ao analfabetismohttp://www.societegenerale.com/en/our-commitments/corporate-citizenship/the-foundation-for-solidarity/foundation-for-solidarity-works

The Royal Bank of Canada’s Community and Sustainability ProgramFoco: Educação, conservação ambiental, mudanças climáticas, saúde mental de crianças, esportes e arte cultura.Somente em regiões onde banco opera. (O RBC Brasil (RBC Brasil DTVM Ltda.) é uma subsidiária integral do Royal Bank of Canada)http://www.rbc.com/community-sustainability/apply-for-funding/index.html

Citi FoundationFoco: Empoderamento econômico e inclusão financeira de indivíduos e comunidades de baixa a moderada renda, Educação de jovens, Resposta a emergênciashttp://www.citibank.com/citi/foundation/

Macquarie Group FoundationFoco: Saúde, educação, artes, bem estar e meio ambiente.Pré-requisito: algum envolvimento da organização solicitante com o staff do grupo.http://www.macquarie.com/mgl/com/foundation/about/grants-criteria

Leia a matéria na íntegra (em inglês): Which are the Banks that Give Grants to NGOs?http://www.fundsforngos.org/foundation-funds-for-ngos/banks-give-grants-ngos/

Fotos: Walter Mesquita

Foto: Transition Culver City

Pressão da sociedade civil e disputa entre governo e mineradoras adiam votação do Código de MineraçãoDurante o segundo semestre de 2013, a disputa em torno do novo Código de Mineração foi uma das agendas prioritárias da AIN. O Comitê Nacional em Defesa dos Territórios frente a Mineração, uma articulação de cerca de 140 organizações da sociedade civil e movimentos sociais apoiada pela AIN, trabalhou intensamente para dar visibilidade ao tema sob a perspectiva das populações afetadas, e com sucesso.

Desde agosto o Comitê vinha se manifestando contrariamente ao regime de urgência imposto ao projeto de lei, exigindo mais tempo para discutir as questões ligadas aos impactos socioambientais da mineração e os direitos de populações afetadas. Membros do Comitê, que inclui os parceiros ISA, Ibase, Inesc, Fase, IEB e MST, sustentam que a nova lei foi discutida a portas fechadas pelos últimos quatro anos exclusivamente com o governo e empresas mineradoras, sem a participação de trabalhadores, comunidades afetadas e ambientalistas.

Em agosto, durante a reunião da comissão especial na Câmara, cerca de 100 representantes do Comitê Nacional protestaram por mais tempo para discutir a nova lei. Um plano de trabalho com dezenas de audiências públicas foi traçado e cumprido. O Comitê participou de todas elas, e acompanhou de perto os debates.

O Comitê sustenta que o relatório do projeto de lei contemple questões tais como a definição de áreas livres de mineração, garantias financeiras para cobrir danos ambientais, e direitos de comunidades afetadas, incluindo o direito a consulta prévia à instalação das minas.

Depois de muita negociação, o governo retirou enfim o regime de urgência do PL em setembro de 2013, destravando a pauta da Câmara, mas sem perder a pressa. O presidente da comissão que analisa o PL sinalizara a votação para fins de novembro; o intuito do governo era ter a nova lei aprovada antes do apagar das luzes de 2013.

Isso no entanto não aconteceu.

Proposta do Quintão deflagra crise entre mineradoras e governoEm 11 de novembro, o relator Leonardo Quintão, segundo ele próprio “porta-voz” das mineradoras, apresentou sua proposta de Código de Mineração. A proposta difere bastante da proposta original, e vem causando uma disputa entre governo e mineradoras. Com essa briga, as esperanças do governo de concluir a votação do novo Código ainda em 2013 se esfumaçaram.

O principal ponto de discórdia que deflagrou a crise entre as mineradoras e o governo foi o sistema para autorização de mineração. Enquanto as mineradoras querem manter os privilégios do sistema de prioridade baseado em quem chega primeiro, que leva a especulação e corrupção, o governo pretende estabelecer um sistema de leilão de concessões, conforme já acontece no setor elétrico e petrolífero, o que garantiria maior competição entre as mineradoras e a extinção de privilégios individuais. Outro ponto diz respeito aos royalties a serem pagos pelas mineradoras; o governo pretende aumenta-los significativamente, enquanto as mineradoras resistem. Sabendo do peso político das mineradoras no financiamento de campanhas de parlamentares (ver box), essa negociação tende a se intensificar no próximo ano eleitoral, misturando-se às negociações por apoio político.

As demandas por inclusão de direitos socioambientais e de afetados por mineração são ainda marginais na conta geral, mas a presença e proatividade do Comitê fez com que o tema tomasse uma visibilidade maior junto ao público em geral e na mídia. O adiamento da votação é positivo para que a sociedade civil ganhe tempo para se organizar e fazer frente à próxima batalha no Congresso.

Deputados pagos pelas mineradorasA batalha para incluir salvaguardas sociais e ambientais no projeto de lei não tem sido fácil. O lobby de empresas mineradoras é um dos mais fortes no Congresso. Tanto o relator como o presidente da comissão especial, respectivamente deputados Leonardo Quintão e Gabriel Guimarães, estão entre os políticos que receberam doações em dinheiro de empresas mineradoras para suas campanhas eleitorais. O relator Quintão teve 20% de sua campanha pago por empresas como Arcelor Mittal Inox Brasil, Ecosteel Indústria de Beneficiamento Ltda, Gerdau Comercial de Aços S/A, LGA Mineração e Siderurgia Ltda. E Usiminas Mecânica S/A, chegando a um total declarado de US$ 800.000. O presidente da comissão, deputado Gabriel Guimarães, recebeu US$ 1,3 milhão para sua campanha das mineradoras Gerdau Comercial de Aços S/A, Concretos Rolim Ltda., Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração e Rima Industrial S/A., de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral. A informação vem do relatório “Quem é Quem na Mineração”, que mapeia quais políticos receberam dinheiro de empresas mineradoras, produzido e lançado pelo parceiro Ibase. Segue o link para a publicação: http://issuu.com/ibase/docs/quem_e_quem_na_mineracao4

“Comunidade de Prática” da AIN realizada no Brasil em novembro de 2013No período de 2 a 13 de novembro, foi realizada no Brasil uma

reunião anual da AIN chamada de “Comunidade de Prática - CoP”. Esse evento tem por objetivo reunir oficiais de programa da AIN de todos os países que atuam num determinado tema, para aumentar a coesão interna, expandir redes de contatos e explorar possibilidades de cooperação Sul-Sul.

O tema dessa CoP foi Justiça Econômica, um guarda-chuva temático da AIN, sob o qual se situam dois temas principais: modos de vida sustentáveis e indústrias extrativas. Visitas de campo e reuniões foram organizadas com os parceiros Diaconia, Inesc, ISA, IEB e outros como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB.

Um dos grupos foi visitar o trabalho que Diaconia realiza na região do Sertão do Pajeú, no semi-árido pernambucano. Em Afogados de Ingazeira, os representantes da AIN tiveram a oportunidade de conhecer a equipe e o trabalho de Diaconia e contar sobre o seu próprio trabalho em contextos diferentes do Brasil, como em zonas de guerra e conflito como Afeganistão e Palestina. O grupo visitou também duas famílias de agricultores que, com apoio da Diaconia, transformaram suas vidas através da agroecologia e do uso de tecnologias sociais que possibilitam a convivência com o semi-árido. Ou como ressaltado pelo agricultor Ivan, “não só sobreviver mas conviver bem no semi-árido”. Para o grupo, foi uma experiência inédita ver como as famílias enfrentaram esse processo de transformação, de uma região completamente seca, para a construção de verdadeiros oásis de produçäo agroecológica. Os participantes descreveram como inspiradora a forma como a Diaconia e os parceiros locais conseguiram estabelecer feiras locais agroecológicas, onde agricultores vendem sua produção, garantindo assim uma renda extra.

O grupo da CoP foi também a Brasília conhecer o trabalho de incidência política dos parceiros da AIN no Brasil, no tema da mineração. Na ocasião, o Comitê da Sociedade Civil contra o Código de Mineração lançava um documentário denunciando os impactos da mineração sobre populações, através de uma projeção na parede do hall de entrada da Câmara dos Deputados (ver nota sobre o tema). Além da interação com o Comitê de Mineração, em Brasília o grupo da CoP debateu estratégias de intervenção política com parceiros como ISA e Inesc.

Visita a BarcarenaO grupo da CoP teve ainda fôlego para seguir para Barcarena, Pará, com o objetivo de conhecer a colaboração entre AIN e IEB na construção de um fórum inter-setorial de diálogo entre sociedade civil, setor privado e governo. Esse trabalho também integra o objetivo da AIN de monitoramento de empresas norueguesas no Brasil, já que a mineradora Hydro é quem opera as maiores plantas de alumina e alumínio na região (Alunorte e Albras).

A conversa em Barcarena envolveu dez pessoas de países como Tanzânia, Angola, Guatemala, Zâmbia e África do Sul, onde a AIN desenvolve ações de monitoramento de mineradoras, com foco na gestão e repartição de receitas, controle social de finanças públicas e monitoramento de impactos socioambientais. A AIN apresentou sua experiência nos diferentes países em que atua. O grupo também visitou as empresas Albras e Alunorte, bem como as comunidades impactadas pela atividade industrial.

O Fórum de Diálogo Inter-setorial de Barcarena consiste em um espaço onde empresas, governo e sociedade civil devem dialogar, a fim de construir um modelo de desenvolvimento justo, democrático e sustentável para o município. Sua implantação integra as ações dos projetos de fortalecimento da sociedade civil que o IEB desenvolve com o apoio da AIN.

Arte: Midia Ninja

Deputado Quintão tem rabo preso com mineradoras. Foto: Agência Câmara

Representantes da AIN de vários países confraternizam com o pessoal do Comitê da Sociedade Civil contra o Código de Mineração. Foto: Fernando Mathias/NCA

Mohammed do Afeganistão em busca de água no sertão de Pajeú

FinançasRelatórios Financeiros/Auditorias 2013O prazo final para o envio das auditorias das demonstrações financeiras consolidadas relativas ao ano de 2013 é 15/03/14. As orientações estão contidas no Acordo de Apoio Anual nas páginas 3 a 5. Em caso de dúvidas ou esclarecimentos adicionais, favor entrar em contato com Moisés Pangoni [email protected].

Informes:- FE-ACT No encontro de FE-ACT em agosto Arne Dale foi escolhido membro da coordenação do FEACT. - PADA Mara Luz da Christian Aid assumirá a partir de 1º de Fevereiro de 2014 o novo posto de “Deputy Head of Latin American and Caribbean Division”. Por isso ela sairá da coordenação do PAD, e Arne Dale foi escolhido como membro da coordenação do PAD, representando as agências ecuménicas, o EuroPAD.

AgendaEventos:12 e 13/2: Encontro sobre Humanitarian Accountability Partnership (HAP), em colaboração com Christian Aid (informações maiores enviadas separadamente)Local: Instituto Pio XI, São Paulo

14/2: Encontro dos Parceiros AIN (agenda enviado separadamente)Local: Instituto Pio XI, São Paulo

Viagens:Arne Dale Brasil, de 7 a 24/2Christian Schøien Brasil, de 2 a 15/2Johan Hindahl Brasil, de 6 a 15/2 (Chefe da nossa divisão geográfica na AIN)Fernando Mathias Brasil, de 22/1 a 20/2 Oslo, de 21/2 a fins de julho

Mobilização por direitos indígenas reune 13 mil no BrasilEm outubro de 2013, uma série de manifestações em diversas cidades reuniu cerca de 13 mil pessoas para protestar contra as ameaças de retrocesso aos direitos indígenas. A AIN apoiou a mobilização e trouxe duas lideranças indígenas da Guatemala para acompanhar as ações políticas e intercambiar experiências com seus parentes indígenas brasileiros.

O foco da mobilização foi assegurar os direitos indígenas reconhecidos pela Constituição Federal de 1988, que estão sob ameaça no Congresso. Tanto o governo como o Congresso vêm se mostrando reticentes em reconhecer direitos indígenas, e há muita pressão de setores como mineração e agricultura para reduzir esses direitos. Essas ameaças se referem basicamente aos direitos à terra e recursos naturais ali existentes: demarcações estão congeladas, há propostas para limitar a

demarcação de novas terras e reduzir terras já demarcadas, e propostas para abrir as terras indígenas para projetos de desenvolvimento de “interesse nacional” incluindo atividades predatórias como pecuária, mineração, agricultura de larga escala. Há também propostas para reduzir o direito a consulta prévia dos povos indígenas em caso de instalações militares e unidades de conservação.

A mobilização conseguiu resultados imediatos, como a suspensão da instalação das comissões que analisariam alguns desses projetos de lei ou de emenda constitucional, mas a vitória foi temporária. Recentemente, depois de abaixados os ânimos, os setores ruralistas voltam à carga para pressionar por mudanças na Constituição para reduzir direitos indígenas. Ao que parece, as ameaças de retrocesso continuarão em 2014.

Cacique Pirakumã Yawalapiti, do Xingu, pede calma a policiais que avançam sobre a manifestação indígena no Congresso Nacional. Foto: André D’Elia/ISA