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AGROECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: estratégia de comunicação utilizada pela rede bragantina na formação do capital humano e social dos (as) agricultores (as) da Comunidade de São Raimundo, Bragança, Pará 1 Ronaldo Ferreira da Silva 2 Instituo Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Pará/IFPA/Castanhal [email protected] Resumo Este estudo teve como objetivo analisar as estratégias de comunicações utilizadas pela Rede Bragantina na formação do capital humano e social no viés da concepção da Agroecologia para o desenvolvimento sustentável local na Comunidade de São Raimundo, Município de Bragança com a prática da Agricultura Familiar. Tendo como objetivos específicos, i) identificar as ações de comunicação com as quais orienta os comunitários/associados para a formação do Capital Humano e Social numa perspectiva agroecológica; ii) verificar quais e de que forma as estratégias de comunicação são utilizadas pela Rede Bragantina para a formação de Capital Humano e Social dos comunitários / associados na comunidade de São Raimundo criam possibilidades para o Desenvolvimento Sustentável Local. Para este estudo a metodologia utilizada foi exploratória, descritiva e analítica, privilegiando a abordagem e procedimento de pesquisa qualitativa e para as coletas de dados foram utilizadas a técnica da observação com aplicação de questionário semi-estruturado. Os resultados da pesquisa nos revelaram que as estratégias de comunicações foram essenciais na construção do Capital Humano e Social, sendo essencial para que o agricultor familiar possa utilizar o meio ambiente a partir da concepção da Agroecologia, possibilitando construir a partir da sua formação sua cadeia produtiva de maneira sustentável. Palavras Chave: Agricultura Familiar. Agroecologia. Capital Humano e Social. Introdução Nas relações com o meio ambiente, instituições, associações entre outros, os órgãos responsáveis pela discussão e mobilização social, sejam eles institucionais, políticos, 1 Artigo elaborado no curso de Pós-Graduação - Especialização em Educação do Campo, Programa ProJovem Campo Saberes da Terra, pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Pará IFPA, Castanhal. 2 Aluno da Pós-Graduando em Educação do Campo, Coordenador do Pedagógico do Programa ProJovem Campo em Bragança, Pará.

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AGROECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: estratégia de

comunicação utilizada pela rede bragantina na formação do capital humano e social dos

(as) agricultores (as) da Comunidade de São Raimundo, Bragança, Pará1

Ronaldo Ferreira da Silva

2

Instituo Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Pará/IFPA/Castanhal

[email protected]

Resumo

Este estudo teve como objetivo analisar as estratégias de comunicações utilizadas pela Rede

Bragantina na formação do capital humano e social no viés da concepção da Agroecologia

para o desenvolvimento sustentável local na Comunidade de São Raimundo, Município de

Bragança com a prática da Agricultura Familiar. Tendo como objetivos específicos, i)

identificar as ações de comunicação com as quais orienta os comunitários/associados para a

formação do Capital Humano e Social numa perspectiva agroecológica; ii) verificar quais e de

que forma as estratégias de comunicação são utilizadas pela Rede Bragantina para a formação

de Capital Humano e Social dos comunitários / associados na comunidade de São Raimundo

criam possibilidades para o Desenvolvimento Sustentável Local. Para este estudo a

metodologia utilizada foi exploratória, descritiva e analítica, privilegiando a abordagem e

procedimento de pesquisa qualitativa e para as coletas de dados foram utilizadas a técnica da

observação com aplicação de questionário semi-estruturado. Os resultados da pesquisa nos

revelaram que as estratégias de comunicações foram essenciais na construção do Capital

Humano e Social, sendo essencial para que o agricultor familiar possa utilizar o meio

ambiente a partir da concepção da Agroecologia, possibilitando construir a partir da sua

formação sua cadeia produtiva de maneira sustentável.

Palavras Chave: Agricultura Familiar. Agroecologia. Capital Humano e Social.

Introdução

Nas relações com o meio ambiente, instituições, associações entre outros, os órgãos

responsáveis pela discussão e mobilização social, sejam eles institucionais, políticos,

1 Artigo elaborado no curso de Pós-Graduação - Especialização em Educação do Campo, Programa ProJovem

Campo – Saberes da Terra, pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Pará – IFPA,

Castanhal. 2 Aluno da Pós-Graduando em Educação do Campo, Coordenador do Pedagógico do Programa ProJovem

Campo em Bragança, Pará.

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religiosos ou filantrópicos, preservam ainda uma forma bastante distanciada de tratar o

assunto ou problema.

Bernardo Toro (1996 apud RABELO, 2003 p. 210) fornece uma explanação acerca da

mobilização e dos responsáveis por ela. O mesmo ressalta que o ato de mobilizar propõe um

ato comunicativo em tanto os atores e os elementos que utilizam como os receptores (não-

passivos) exercem reciprocidade, e assim proliferam-se mais e mais um circulo que só tende a

aumentar o seu campo de alcance.

No que diz respeito a tais responsáveis, Bernardo Toro (1996 apud RABELO, 2003)

os classifica em três categorias: o produtor social, o reeditor social e o editor. O primeiro seria

o individuo ou órgão responsável por possibilitar o processo de mobilização, seja

institucionalmente, seja financeiramente. O segundo é aquele que possui a capacidade de

manter vivas as mensagens de mobilização, e que propõe, antes de tudo, uma nova forma de

abordagem das questões levantadas; e o terceiro, seria o ser capacitado a formular as

mensagens, de modo que o produtor possa valer-se delas definidas para a tarefa de

mobilização.

Portanto, a mobilização depende e muito do advento comunicacional. O modo como

deve ser atingido o público, tanto pelas informações mais básicas quanto por uma gama

complexa e aprofundada, deve-se começar e manter-se por um ponto de ação correspondente,

ou seja, um que ambos os pólos (comunicadores e receptores) possam interagir sem que haja a

esterelidade acarretada pelo distanciamento.

Dessa forma, analisar as estratégias de comunicação utilizadas pela Rede Bragantina

Artes e Saberes que facilitam os (as) agricultores (as) a formação o Capital Humano e Social

foi relevante para compreender como se apropriam do conhecimento do conceito da

agroecologia no seu fazer cotidiano da agricultura familiar partir dos recursos naturais.

O município de Bragança e nele a comunidade de São Raimundo, lócus da pesquisa,

faz parte de um ecossistema que é uma das regiões importantes para a economia do município

e estado, fato este revelado no desenvolvimento das atividades agrícolas, entre outras. O

crescimento econômico da região, configurada nos novos arranjos produtivos, na

comercialização de produtos da matéria prima local, dentre outros, destacando a produção da

farinha de mandioca, no qual a concepção agroecologica passou a ser um indicador dessa

produção.

Nesse contexto, agroecologia é vista enquanto fator para o desenvolvimento

sustentável sem agredir o meio ambiente, no qual as estratégias de comunicações são

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importantes na consolidação da formação do Capital Humano e Social. A concepção

agroecológica aplicada a Agricultura Familiar é um projeto de grande complexidade, que não

podendo se restringir a uma questão ou outra isoladamente, principalmente, estudar que tipo

de comunicação é essencial para o emponderamento social do agricultor familiar. Tal

concepção é à base do processo ensino-aprendizagem integrada do Programa Projovem

Campo – Saberes da Terra que faz parte do cinco módulos desenvolvida com os estudantes,

filhos dos agricultores familiares das diversas comunidades no município de Bragança.

Portanto a questão central que norteou este estudo é: De que forma as estratégias de

comunicação são suficiente e ampliam a possibilidade de aplicação da concepção

agroecológica entre os Associados da Rede Bragantina Artes e Saberes e promovem a

formação do Capital Humano e Social numa perspectiva do desenvolvimento sustentável local

na comunidade de São Raimundo? O objetivo desse estudo foi analisar as estratégias de

comunicação utilizada pela Rede Bragantina Artes e Saberes junto aos comunitários /

associados para a formação do Capital Humano e Social numa perspectiva da ciência

agroecológica para o desenvolvimento sustentável local.

A Vereda Metodológica

O aporte metodológico se caracterizou como Estudo de Caso, que para Yin (2005, p.

19) define como, “os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam

questões do tipo “como” e “porque”, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os

acontecimentos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em

algum contexto da vida real”.

A pesquisa foi realizada no nordeste paraense, na Comunidade São Raimundo

município de Bragança, distante 45 km. O universo estudado foi os comunitários / associados

[homem e/ou mulher] cadastrados na Rede Bragantina Artes e Sabores. A amostra foi do tipo

causal estratificada Barros e Lehfeld (2002), sendo o universo populacional constituido dos

comunitários / associados que representa 56 associados, sendo 48 homens e 8 mulheres, tendo

com atributo aqueles que fazem parte da Associação Rede Bragantina. Foram realizadas as

entrevistas do tipo não estruturadas que para Yin (2005), assume a forma de entrevista focada,

onde o respondente é entrevistado por um curto período de tempo e pode assumir um caráter

aberto-fechado ou se tornar conversacional, mas o investigador deve preferencialmente seguir

as perguntas estabelecidas no protocolo da pesquisa.

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Agricultura Familiar e Noções de Desenvolvimento Sustentável Local numa perspectiva

Agroecológica

O processo agrícola é uma relação muito “íntima” entre o homem e a natureza, surgiu

da necessidade das populações intervirem no meio ambiente para manter sua alimentação. A

intervenção na natureza pelo homem iniciou por meio da caça simples, seguida da caça

planejada e depois pela domesticação dos animais e a manipulação de plantas para obtenção

de alimentos, e “[...] foi com o surgimento da agricultura que ocorreu a primeira grande

modificação no grau de interferência humana no meio ambiente” (ROSA, 1998, p.10).

Atualmente, no contexto da procura por uma sustentabilidade tanto social como

econômica e ecológica, a agricultura situa-se como uma área crucial para o desenvolvimento

humano. Portanto, tudo isso consistiu em uma série de transformações econômicas e

tecnológicas nos setores agrícolas, representando mudanças de nível tecnológico com a

adoção de novos métodos de produção além de mudanças na estrutura de propriedade.

Nesse campo de mudanças, a agricultura passa por várias transformações para a sua

adequação no mercado de produção agrícola. As discussões sobre agricultura familiar tiveram

seu maior auge no decorrer década de 90, destacando entre vários fatores os problemas

relacionados à grande concentração fundiária, à diversidade de situações apresentadas nas

regiões brasileiras, ao modelo de organização sociopolítico e econômico, e no fortalecimento

dos trabalhadores na luta pela reconquista da terra.

Segundo Schneider (2003) a agricultura familiar na literatura brasileira teve sua

expressão em duas esferas distintas, sendo no campo político e por vários trabalhadores

acadêmicos que buscaram novos referenciais teóricos e analíticos. Assim, a expressão

agricultura familiar passou a compreender a vários campos de estudos, como a Sociologia, a

Economia, Antropologia e da Geografia ressaltando a importância econômica, cultural e

política da agricultura familiar no Brasil e no mundo.

Dentre os vários estudiosos podemos destacar Abramovay (1992), Lamarche (1993),

Caume (1997), Tedesco (1999, 2001), Wanderley (2001), Blum (2001), Schneider (2003),

Mendes (2005) entre outros. Nesse estudo, nos apropriamos dos estudos de Abramovay

(1992) que ressalta três indicadores básicos da agricultura familiar, como sendo: i) os

membros estão relacionados por parentesco ou casamento; ii) a propriedade dos negócios é

usualmente combinada com controle gerencial; e iii) o controle é transmitido de uma geração

para outra dentro da mesma família.

Assim, pode-se destacar que a Agricultura Familiar em sua formação, acumula

conhecimentos de várias gerações mesmo não sendo uma classe homogênea, além que, as

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atividades são desenvolvidas nesse sistema de produção dependem exclusivamente das

necessidades e das condições do local, bem como dos incentivos que obtém, buscando o

desenvolvimento sustentável.

Nos vários enfoques do termo Desenvolvimento Sustentável, se apropria do que

destaca Camargo (2003) que tece comentários consideráveis a esse respeito, no qual “[...] o

desenvolvimento sustentável é uma estratégia através da qual, comunidades buscam um

desenvolvimento econômico que também beneficie o meio ambiente local e a qualidade de

vida” (CAMARGO, 2003, p. 73)

Contudo, salienta Moreira (2000, p. 91) quando a distinção básica de desenvolvimento

sustentável aplicado em que faz distinção entre o “[...] uso tradicional sustentável de recursos

naturais e exploração de recursos naturais em um cenário de desenvolvimento sustentável”.

Para o autor, explorar recursos naturais ou ecossistemas que permitam a manutenção das

atividades de exploração sem causar a degradação do estoque de capital natural, é possível

numa visão da sustentabilidade ecológica, mas não se aplica na exploração desses recursos

num cenário de desenvolvimento sustentável.

Agroecologia: Ciência da Agricultura Familiar

A discussão sobre agroecologia está vinculada às discussões de modelo de

desenvolvimento, onde se pensa um desenvolvimento sustentável e para isso uma mudança

radical de paradigma, no qual ocupa papel preponderante na construção do desenvolvimento

Sustentável, sendo, portanto, parte integrante deste ao constituir-se num referencial na relação

do homem com a natureza na preservação e recuperação dos recursos naturais, na mudança da

relação homem-natureza, na transformação das relações sociais, na distribuição de renda, no

reverso da artificialização dos espaços e urbanização territorial.

Para que se estabeleça um novo paradigma ou ciência de sistema de produção

sustentável, há que se ter um ponto de partida. Esse ponto de partida é o conhecimento já

acumulado, as experiências de décadas de trabalho no seu incessante processo de

transformação. É como esse enfoque que se apresenta um novo paradigma ou ciência – o

Agroecológico.

Caporal e Costabeber (2004) nos fazem algumas conceituações e princípios que

fundamentam a agroecologia como novo paradigma ou ciência, possibilitando apoiar

processos de desenvolvimento sustentável.

Assim, enfatiza que:

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[...] as estratégias de desenvolvimento sustentável e de construção de estilos

de agricultura sustentáveis possam lançar mão de todo o potencial técnico-

científico que tem a Agroecologia para impulsionar uma mudança substancial no meio rural e na agricultura e para reorientar ações de

Assistência Técnica e Extensão Rural, numa perspectiva que assegure a

sustentabilidade sócio-ambiental e econômica dos territórios rurais

(CAPORAL e COSTABEBER, 2004, p. 5).

Caporal e Costabeber (2004) fazem a defesa da agroecologia como alternativa viável

ao processo de transição de uma agricultura dependente de insumos externos para uma com

sustentabilidade. Para Gliessman (2000, p. 8-9), [...] a agroecologia não é uma prática, não é

uma técnica, é um conceito, uma forma de ver como funcionam os sistemas, como

determinamos se tem sustentabilidade e como conectamos o conhecimento ecológico com o

conhecimento econômico e social para que se juntem todos os elementos do que é um

agroecossistema.

Para Caporal e Costabeber (2003, p. 9), “a aplicação dos princípios agroecológicos na

agricultura e no desenvolvimento rural adquire enorme complexidade, tanto tecnológica como

organizacional, dependendo dos objetivos e das metas que se estabelecem, assim, como o

nível do processo de transição que se deseja alcançar.

A agroecologia é considerada parte de outro modelo de desenvolvimento, ou seja, o

desenvolvimento sustentável, configurando-se numa mudança ideológica, onde se valoriza o

social antes do capital, preconizando a eqüidade e o bem estar coletivo, assim como a

preservação e reconstituição de recursos naturais.

Nessa ótica, pensar o desenvolvimento sustentável local é acreditar na potencialidade

da Agricultura Familiar como base para o crescimento econômico, agrícola e o bem estar

social do povo rural. Contudo, Brose (2000, p. 72) enfatiza que, “[...] desenvolvimento local

se refere aos processos de melhoria da qualidade de vida das pessoas no enfoque do

desenvolvimento humano, levando em conta a sustentabilidade destes processos, sugerindo a

partir de iniciativas locais e, não das decisões federais ou estaduais”.

Para Silva (2007, f. 125) é:

[...] importante considerar a participação do indivíduo nas decisões locais

para o processo de desenvolvimento, enquanto elemento de decisão de

políticas públicas locais, onde a construção de capital social e humano

constitui o chamado saber social, que é um conjunto de conhecimento, práticas, valores, habilidades e tradições que possibilitam a construção da

sociedade e do desenvolvimento econômico.

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A esse respeito Jará (1999) enfatiza que a construção de sociedades sustentáveis e de

desenvolvimento local depende de sólido empreendimento em capital humano e capital social,

visto que:

O capital humano corresponde aos recursos humanos em condições de

resolver com adequação e eficácia à diversidade dos problemas colocados

pela sociedade e com capacidade de empreender processos produtivos integradores e eqüitativos... O capital social estrutura-se na capacidade de

auto-organização, com vínculos solidários, colaboração e participação que

estimulem a confiança e a reciprocidade nos relacionamentos entre grupos e atores sociais formando o tecido social. (JARA, 1999, p.100).

Silva (2007, f. 53) ressalta que:

[...] Capital social constitui o chamado saber social, sendo um conjunto de

conhecimento, práticas, valores, habilidade e tradições que possibilitam a construção da sociedade e garantem tarefas básicas da vida como cuidar da

sobrevivência, organizar as condições para conviver, ser capaz de produzir o

que necessitamos dentro de uma estrutura e criando sentido à vida.

Isso implica dizer que, o investimento em „capital humano e social‟ ou seja, em

agentes de desenvolvimento (homens e mulheres) com senso de preservação dos recursos

naturais é o caminho para se chegar ao desenvolvimento sustentável local em uma sociedade

onde “as contradições e conflitos” prevalecem sobre “o consenso e a harmonia”. Essa

consciência será de estrema relevância ao desenvolvimento das famílias que sobrevivem da

prática da agricultura familiar na região.

Estratégias de Comunicação e a Formação do Capital Humano e Social

Segundo Melo (1998) os estudos em comunicação não é recente e remonta o século III

a. C, pois Aristóteles fazia estudos de comunicação interpessoal (diálogo). Os sofistas

desenvolveram os estudos sobre a retórica onde enfatizavam a transmissão de informação

enquanto processo de persuasão que era composto por três elementos básicos: locutor,

discurso e ouvinte, que fundamentou até nos dias atuais o tricotômico fonte, mensagem e

receptor.

O diálogo como forma de comunicação faz desaparecer a noção de feedback nos

modelos tradicionais da comunicação (TAUK-SANTOS, 2000; 2002) superando a

transmissão verbal enquanto processo „unidirecional‟. Assim, para a comunicação

participativa é primordial a conscientização das populações tradicionais, pois o

desenvolvimento local via comunicação deve ser entendida como “[...] processo de

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construção de oportunidade e de melhores condições de vida para populações locais,

mobilizando capacidades e energias endógenas” (ARAUJO, 1997).

Nesse sentido, o receptor é visto como sujeito ativo, não independente e muito menos

auto-suficiente, mas capaz de interagir com o meio, onde a recepção é o lugar para pensar o

local numa visão global de comunicação em que os conhecimentos, tanto endógenos quanto

exógenos são mediatizados pela cultura.

Para tanto, a construção do desenvolvimento local para uma sociedade sustentável

depende, também, de uma concepção cultural de comunicação que estabelece vínculos de

pertencimentos entre os atores sociais e assim, “[...] temos, pois, de considerar a cultura como

um sistema que faz comunicar – dialetizando – uma experiência existencial e um saber

construído” (MORIN, 1996, p, 126).

Assim, a comunicação na sociedade em que o conhecimento e a informação tem tido

um papel fundamental nos processos de desenvolvimentos, tanto econômico, quanto político,

social e ambiental, ela é o eixo para os processos de democratização diante das novas

tecnologias num ambiente de informação e de conhecimento múltiplos centrado em processos

educativos onde existe uma multiplicidade de saberes que circulam e interagem por vários

canais de comunicação, que para (MARTÍN-BARBERO, 2000) denomina de ecossistema

comunicativos3.

Já Ossandón, (1987), nos faz quatro convites para pensar e agir sobre o papel da

comunicação, que são: i – lembrar a importância da comunicação humana e social; ii –

distinguir os níveis da comunicação social; iii – fazer comunicação pública a partir da vida

cotidiana; e iv – trabalhar a comunicação com uma visão educativa.

Portanto, pensar as estratégias de comunicação a partir do local, nos possibilitará a

construir uma “ponte” ou “várias pontes” diante da implantação de políticas públicas, para

que assim, homens e mulheres compreendam a importância de se viver harmonicamente no

meio ambiente onde estão inseridos. Dessa forma, as estratégias de comunicação utilizadas

pelo produtor social (Rede Bragantina Artes e Sabores), para mobilizar os atores sociais na

sua participação em desenvolver estratégia para a promoção do desenvolvimento local é

importante na mobilização, consolidação e agregação de valores enquanto as potencialidades

locais nos diversos tipos de empreendimentos viáveis e sustentáveis agroecológico.

Para Duarte (2003) comunicação é o ato de tornar comum algo, uma idéia, um

pensamento a um grupo que troca informações e conhecimento, onde as teorias difusionista

3 Ver Martín-Barbero. Revista Comunicação & Educação, 2000.

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no campo da comunicação é a base para a compreensão da importância da comunicação. Esse

autor propõe um modelo de comunicação horizontal, participativa, dialógica e comunitária,

em que a comunicação é um processo de interação social democrático com base no

intercâmbio de símbolos, mediantes os quais os seres humanos compartilham voluntariamente

suas experiências sob as condições de acesso livre e igualitário, diálogo e participação.

Bernardo Toro (apud RABELO, 2003, p. 14) classifica os responsáveis pela

comunicação em três categorias: o produtor social, o reeditor social e o editor. O primeiro

seria o indivíduo ou órgão responsável por possibilitar o processo de mobilização, seja

institucionalmente, seja financeiramente. O segundo é aquele que possui a capacidade de

manter vivas as mensagens de mobilização, e que propõe, antes de tudo, uma nova forma de

abordagem das questões levantadas; e o terceiro, seria o ser capacitado a formular as

mensagens, de modo que o produtor possa valer-se delas definidas para a tarefa de

mobilização.

Portanto, a mobilização depende e muito do advento comunicacional. Contudo, todas

as estratégias de comunicação envolvem as práticas de construção do desenvolvimento local,

a níveis de redes formais e informais, sintonizados com os objetivos das mensagens

propostos, destacando a Comunicação intra-institucional e inter-institucional (CALLOU e

TAUK-SANTOS, 2002), enquanto o grande entrave no processo de desenvolvimento local.

Os projetos sempre são construídos de cima para baixo, onde se dá pouca valoração para a

comunicação, em que a ausência no planejamento de estratégia de comunicação vem facilitar

a mobilização, a participação e capacitação e estes são pontos cruciais do processo.

Nesse debate esses autores propõem como ponto central desse processo, três

dimensões da interface comunicação/informação que confirmam a autonomia de cada uma,

mas que exigem compartilhamento multidisciplinar: dependência, mediação e intervenção.

Dessa forma, podemos tanto informar quanto comunicar, mas esse processo de

comunicação tem função distinta e complementar. Informar não é suficiente para que a

participação aconteça. A informação, segundo Moran (2000) é o primeiro passo para conhecer

e chegar ao nível da sabedoria, da integração total, da percepção. Mas somente conseguimos

através do ato de comunicar-se com uma nova visão de mundo, das pessoas e com o seu

próprio eu. Portanto, a comunicação ocorre numa inter-relação dialética. Assim, é nesse

diálogo, Freire (1977) entre, emissor e receptor, que se materializa a participação. Ao

participar interagimos o conhecimento com o outro e consigo.

Beltrán (1981, p. 16-17) diz:

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Comunicação não é ato, mas processo pelo qual o indivíduo entra em

cooperação mental com outro até que ambos alcancem uma consciência

comum... Informação, pelo contrário, é qualquer transcrição unilateral da mensagem de um emissor a um receptor... A irradiação de mensagens sem

retorno de diálogo, proveniente de informantes centralizados, não pode ser

identificada como a co-atividade intra-subjetiva característica da comunicação.

É, portanto, dialogando que educador e educando aprendem juntos, num processo

dialético de comunicação, onde esta é parte essencial desse processo. Assim, a comunicação

tem seu papel importante na implantação de políticas públicas para o desenvolvimento local.

A comunicação deve se vista enquanto elemento do processo de educação, onde o educador

(emissor) e educando (receptor) interagem através desse diálogo, e assim, refletem sobre o

agir no espaço onde está inserido. Para Freire (1977, p. 69), “[...] a educação é comunicação é

diálogo, na medida em que não é a transferência de saber, mas um encontro de sujeitos

interlocutores que buscam a significação dos significados”. Enfim, o ato de educar é:

[...] educar e educar-se, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que sabem que pouco sabem – por isto sabem que sabem algo e podem assim chegar a

saber mais – em diálogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber

que pouco sabem, possam igualmente saber mais (FREIRE, 1977, p. 21).

Considerando essas questões, podemos pensar a comunicação num processo dialógico-

dialético tendo como viés a educação para o empoderamento e a participação, onde as

estratégias de comunicação devem ser pensadas dentro de cada realidade para poder

compreender o local, o global e o local-global numa relação com os recursos naturais

sustentáveis.

Perfil da Comunidade de São Raimundo

A história do surgimento da Comunidade de São Raimundo, que segundo o agricultor

familiar José Martins, a mesma foi formada por rio grandense, cearense, espanhóis e o

caboclo, fato este ocorrido em 1969 na colonização da região de Benjamim Constante –

Rodovia do Cacoal do Piritoró e fica distante da cidade de Bragança a 42 km.

A comunidade possui 38 famílias e todas trabalham no viés da Agricultura Familiar,

porém, aproximadamente, 50% desenvolvem suas atividades na agricultura numa perspectiva

agroecologica. Este processo de transição ainda é lento por parte dos agricultores, entretanto,

já sinalizam para produção consciente sem agredir o meio natural.Tais famílias fazem parte da

Rede Bragantina Artes e Sabores.

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A Rede Bragantina Artes e Sabores

A Rede Bragantina Artes e Sabores é uma organização social não governamentais e

profissionais voluntários em apoio às associações, cooperativas e grupos organizados de

agricultores familiares, quilombolas e mulheres do Território Nordeste Paraense.

São grupos que trabalham por uma cultura de sustentabilidade a partir de novas

relações econômicas, afetivas, de gênero e etnia, no sentido da existência humana. Centra suas

orientações em cinco pontos importantes, como: i) produção de alimentos com base nos

princípios da agroecologia e valorização dos recursos dos agroecossistemas locais; ii)

construção de relações ética e solidária entre comunidades rurais e urbanas; iii) incentivo a

organização de consumidores do comércio justo e solidário; iv) formação dos trabalhadores

com vistas à autogestão dos empreendimentos sustentados com base na economia solídária, e;

v) incentivo a cultura e a valorização do saber popular

O trabalho em rede praticado pela Rede Bragantina Artes e Sabores significa: -

desenvolver canais de comunicação e informação para colocar a favor dos grupos

organizados, ferramentas, materiais e bens de consumo necessários para confeccionar um

produto; - incentivar o comércio justo e solidário organizando compras em grupos; - partilhar

conhecimentos e técnicas de produção que valorizem a mão-de-obra de jovens, homens e

mulheres na produção de bens e serviços; - denunciar e combater a violência contra a mulher

e todas as formas de discriminação; - apoiar e realizar gestos concretos contra a agressão ao

meio ambiente.

Resultado da Pesquisa: as evidências que ficaram

A cadeia produtiva e a forma de comercialização dos produtos e subprodutos que os

agricultores familiares produzem e a prática de forma agroecológica, segundo José Martins,

líder da comunidade e a questão chave desse processo, como diz: “antigamente era com o

atravessador, hoje já se dar através da Rede Bragantina de Economia Solidaria que se

acontece diretamente do produtor para o consumidor” com o tema da rede no “Preço Justo”.

Nessa fala percebemos que a comunidade cresceu quanto à formação do Capital

Humano e Social ao entendimento sobre a Cadeia Produtiva, no qual o lucro após a venda

aumenta quando se elimina o atravessador. E, que essa mudança de comportamento é fruto da

criação da “Rede Bragantina de Economia Solidária” – Artes e Sabores, que envolvem:

agroecologia, comercialização, artesanato, educação, agroindústria, cidadania, gênero e etnia.

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Quanto ao conhecimento da ciência ou do paradigma agroecológico que contribui num

repensar da agricultura familiar para o desenvolvimento sustentável local do e no meio rural

na comunidade é enfatizado:

Através da comunidade e a associação começamos a participar dos

movimentos sociais. Aí, nós fomos em busca de conhecimentos através de

palestras, fórum, seminários e conferencias. Daí não parei mais. Hoje to em busca de conhecimento técnico (to estudando informática). Tudo o que tenho

é porque fui em busca e continuo indo. (Agricultor B).

Portanto, os movimentos sociais foram essenciais na busca de conhecimento através

das participações nos seminários, fóruns, seminários e palestras. Essa aprendizagem se deu

nesses momentos, onde ao se apropriar desse conhecimento, pondera os agricultores

familiares quanto o viés agroecológico na comunidade, numa perspectiva ao desenvolvimento

rural sustentável, além de ser referência para estudos, multiplicando esse conhecimento.

Essa questão é importante para compreender como a organização da comunidade é

importante para a preservação do meio ambiente e o aumento da produtividade. Nessa fala

fica claro como a organização é importante para que a comunidade possa se desenvolver e

melhorar a qualidade de vida.

É o tipo de organização que construímos, a qualidade do produto que oferecemos e o sistema de produzir sem agressão ao meio ambiente e

aumentando a produtividade e agregando valor. Isso faz a diferença, a

maneira como se trabalha. (Agricultor C).

Portanto, a organização foi uns dos pontos de partida para que os agricultores possam

melhorar sua qualidade de vida e não agredir a natureza, tendo a preocupação com a

sustentabilidade ambiental.

Quanto ao sentimento que a comunidade de São Raimundo tem ao saber que sua

experiência é foco de estudo a partir do paradigma da agroecologia que gera o sentimento de

pertencimento. Esse sentimento é manifestado nesta fala:

É uma alegria muito grande saber que o que fazemos serve de exemplo para

os outros. Hoje o que acaba com a nossa agricultura família é a monocultura. Temos que diversificar por mais que a gente tenha uma pequena área, vamos

plantar não só o feijão mais também a mandioca, o milho, e enfim. Se o

agricultor trabalhar com vários produtos ele vai ganhar muito mais e essa é a vantagem, em vez dele comprar, ele vende. (Agricultor D).

Portanto, mesmo com as dificuldades enfrentada, se sentem satisfeitos, pois estão

contribuindo para que outras pessoas busquem a ciência ou paradigma agroecológico para

serem aplicado no desenvolvimento de outras comunidades.

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As Estratégias de Comunicação da Rede Bragantina Artes e Sabores

Neste ponto, identificamos enquanto estratégias de comunicações: as reuniões,

eventos, seminário, encontros conversas e programa de rádio, identificadas nas falas dos

entrevistados. Dentre estas, a principal estratégia de comunicação utilizadas para mobilizar e

fazer cumprir por parte dos comunitários / associados na Rede Bragantina Artes e Sabores,

são as reuniões, que representam o ponto de encontro para socialização e discussões dos

problemas existentes na comunidade, o qual se dá através das informações e diálogo

estabelecido pelo presidente.

As reuniões é o processo de mobilização. O ato de mobilizar propõe um ato

comunicativo em que tanto os atores e os elementos que utilizam como os receptores (não-

passivos) exercem reciprocidade. Nesse entendimento, se compreende que Bernardo Toro

(1996 apud RABELO, 2003) enfatiza em três categorias: o produtor social, neste caso a Rede

Bragantina Artes e Sabores, o reeditor social, aqui os comunitários / associados e que exerce

também o papel de editor. O reeditor social na Comunidade de São Raimundo que são as

lideranças que fazem parte da rede e constituem a ponte de mobilização e de informações aos

associados. O produtor social precisa saber como esta mensagem chega até os receptores e

precisa ter clareza de seu papel na mobilização.

Esses níveis de comunicação se materializam e configuram na atuação da Rede

Bragantina Artes e Sabores com os associados na Comunidade de São Raimundo e está

centrada, principalmente na Comunicação Grupal que se caracteriza por: criar consciência de

grupo; personaliza socializando; forma opinião; conscientiza; favorece a expressão de pessoas

e grupos; suscita interesse de classe, família, grupo; feedback imediato e controlável; reforça a

autonomia cultural; tende para a autenticidade e promove a consciência crítica (RABELO,

2003, p. 69).

Relevância Situacional: assuntos tratados nas reuniões

Quanto à relevância situacional, as falas revelaram que os assuntos que são discutidos

e tratados na comunidade são prioritariamente aqueles que têm maior grau de importância

diante dos problemas ambientais existentes no cotidiano, principalmente pela própria

sobrevivência na obtenção de seus alimentos. Os entrevistados consideram importante o

assunto pertinente a agroecologia e desenvolvimento sustentável. Assim, os entrevistados

percebem e se preocupam com o desenvolvimento da comunidade, a organização, os recursos

naturais, principalmente as questões da sustentabilidade do agricultor familiar.

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Portanto, a participação no sentindo de mobilizar precisa ser pensando a luz de uma

comunicação dialógica - dialética em que a participação nos leve a concertação, formação,

acompanhamento a partir da ação pedagógica participativa e problematizadora que deve

ocorrer na troca de idéias, esclarecimentos de conceitos, sensibilização, conscientização e

planejamento via comunicação, onde o fazer e o aprender acontecem a partir da reflexão

social local.

Assim, é preciso entender que a utilização de estratégias de comunicação pensadas e

planejadas dentro de determinadas realidades é fundamental para que os resultados sejam

alcançados com eficiência na mobilização, construindo confiança e credibilidade da

instituição governamental ou não-governamental local. Convém, no entanto, ao pensar no

Desenvolvimento Sustentável de acordo com a realidade local, devido a sua complexidade.

Desse modo, não podemos pensar o Desenvolvimento Local fora do local, e sim,

pensar o local conjuntamente com os atores sociais do processo, onde pensando globalmente

se aja de forma local. Neste sentido, temos que sair de uma comunicação informativa para

uma comunicação educativa dialógica para compreendermos que o desenvolvimento local

pode ser visto também no aspecto econômico, sensibilizando para o ecológico, político, social

e cultural possibilitando o crescimento de todos os agentes envolvidos (seres humanos, fauna,

flora e biodiversidade).

Porém, é importante considerar a participação do indivíduo nas decisões locais para o

processo de desenvolvimento, enquanto elemento de decisão de políticas públicas locais, onde

a construção de capital humano e social constitui o chamado saber social, que é um conjunto

de conhecimento, práticas, valores, habilidades e tradições que possibilitam a construção da

sociedade e do desenvolvimento econômico.

Dessa maneira o Desenvolvimento Local não deve ser visto apenas como apenas o

crescimento da disponibilidade de mudanças internas para atender a demanda do capital, mas

deve ser vista sim como aquisição de um novo pensamento, em que a sociedade local se

estruture e se mobilize com base nas suas potencialidades e na sua matriz cultural.

Considerações Finais

Ao analisar as temáticas relevantes nesse processo de construção do caminho que

percorre a Agricultura Familiar, a Agroecologia e o Desenvolvimento Sustentável Local,

considerando o papel da Rede Bragantina Artes e Sabores e as estratégias de comunicação

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utilizada na comunidade de São Raimundo para a formação do Capital Humano e Social, sua

organização e desenvolvimento, foi possível se chegar e fazer as seguintes considerações:

É preciso apropriar-se de conhecimentos sobre metodologias agroecológicas para que

a agricultura familiar possa se desenvolver sem agredir os recursos naturais ainda existentes;

As ações desenvolvidas pelo ator social (Rede Bragantina Artes e Sabores) desse

processo é importante a partir da comunicação percebidas nas reuniões, conversa grupal,

discussões, debates que levaram as deliberações coletivas, face a face, de casa em casa sobre a

ciência ou paradigma agroecológico, utilizando a oralidade para deixar os agricultores

familiares informados sobre as questões agrícolas.

A estratégias de comunicações são importante quando pensada a partir da realidade

local, respeitando o valores, saberes e sua cultura através de uma educação dialógica é o ponto

chave para o emponderamento social do agricultor familiar.

Nesse sentido, podemos tecer ainda as seguintes evidencias sobre o objeto estudado

diante do problema da agricultura familiar quanto às dificuldades que são encontradas em

desenvolver dentro de um sistema de produção agrícola, um trabalho de qualidade sem

agressão ao meio ambiente e levar esta consciência não só para a realidade local, e sim, para

muitos que queiram desenvolver resultando satisfatório quanto à prática agrícola dentro de

uma perspectiva agroecológica.

Para tanto, nota-se que os problemas do setor agrícola local, ainda estão relacionados à

falta de uma comunicação dialógica e dialética através de orientação técnica e alternativa de

renda para o agricultor, uma vez que sobrevivem basicamente dessa atividade. A pouca

estrutura de produção e comercialização dos produtos agrícolas, condiciona a frágil

perspectiva de desenvolvimento para o setor da agricultura, principalmente para a agricultura

familiar.

É importante ainda, um trabalho que alcance os agricultores familiares para estimular

a sustentabilidade dos recursos naturais no sentido de mostrar a importância de conservação

dos recursos naturais numa perspectiva agroecológica. Uma possível interação entre

agrônomos, técnico em meio ambiente, produtores, agricultores e educadores ambientais

também pode ser uma grande possibilidade para levantamento de dados para a conservação

dos recursos naturais para uma melhor sistematização dos agroecossistemas no município de

Bragança.

Desse modo pode-se enfatizar que a agroecologia enquanto raiz nas ciências agrícolas,

no movimento ambiental, ecologia, nas analises dos agroecossistemas e em estudo do

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desenvolvimento rural é o vetor chave para que a agricultura familiar possa superar as

dificuldades da cadeia produtiva, com objetivos e metodologias, ainda que tomadas

juntamente, todas têm influência legitima e importante no pensamento agroecológico.

Este repensar quanto à prática da agricultura, onde o viés da agroecologia não é

simplesmente uma maneira ou forma de cultivar ou plantar, mas sim, um processo de ações

integradas dentro de um agroecossistema florestal para o desenvolvimento rural de maneira

sustentável sem agredir o meio ambiente e degradar os recursos naturais no processo de

colonização da região bragantina dentro do espaço amazonidas.

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