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Agricultura urbana e Seguranccedila Alimentar estudo no municiacutepio de Santa Maria - RS
Autores
Ilaine Schuch
Professora Assistente do Departamento de Medicina Social da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Endereccedilo para correspondecircncia
Rua Venacircncio Aires 523504 Santa Maria RS - CEP 97010000
e-mail ischuchuolcombr
Marcelino de Souza- Professor Adjunto do Departamento de Educaccedilatildeo Agriacutecola e
Extensatildeo Rural da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Endereccedilo para correspondecircncia
Rua Venacircncio Aires 523504 Santa Maria RS - CEP 97010000
e-mail marcelinosouzauolcombr
Cristiane Cardoso Pessoa
Extensionista Empresarial da Universidade Catoacutelica de
Pelotas (UCPel)
Endereccedilo Para Correspondecircncia Rua Santa Cruz 1948 A Apartamento 204
centro
Pelotas RS CEP 96015-710
e-mail cricapmailufsmbr
Aacuterea Temaacutetica Estudos Urbanos
1
Agricultura urbana e Seguranccedila Alimentar estudo no municiacutepio de Santa Maria - RS
Resumo No contexto da nova relaccedilatildeo do rural e urbano a agricultura urbana ganha importacircncia em funccedilatildeo de aspectos como a crescente urbanizaccedilatildeo a pobreza os problemas de abastecimento e valores de natildeo-mercado Todavia os estudos existentes no Brasil ainda satildeo escassos O objetivo principal deste trabalho eacute apresentar os resultados de uma investigaccedilatildeo sobre a contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na melhoria da renda e da alimentaccedilatildeo de um gripo de famiacutelias pobres do municiacutepio de Santa Maria-RS Os resultados revelam que a atividade natildeo cumpre necessariamente o papel de provedora de renda adicional mas conduz a uma economia expressiva pois certos alimentos deixam de ser comprados A atividade pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora de mercado ou uma economia de subsistecircncia e cumpre papel relevante na seguranccedila alimentar das famiacutelias
Palavras-chave agricultura urbana pobreza e seguranccedila alimentar
1 Introduccedilatildeo
No Brasil nos uacuteltimos cinquumlenta anos e principalmente a partir de 1980 houve
uma crescente urbanizaccedilatildeo seguindo a tendecircncia mundial Este fenocircmeno provocou uma
forte reduccedilatildeo da populaccedilatildeo rural em todas as regiotildees Mesmo nas deacutecadas posteriores agrave de
80 a desruralizaccedilatildeo continuou sendo uma realidade o que conduziu o paiacutes a taxas
crescentes de populaccedilatildeo urbana mesmo que distintamente nas diversas regiotildees do paiacutes
(CAMARANO amp ABRAMOVAY 1999)
Esse crescimento resulta em um impacto conduzindo a uma importante mudanccedila
nos vetores de expansatildeo fiacutesica das cidades fazendo com que atividades consideradas como
essencialmente agriacutecolas no passado passem a ter expressatildeo econocircmica nos espaccedilos
urbanos (PEREIRA 20002)
Neste sentido a agricultura cruzou as fronteiras entre a dimensatildeo econocircmica
ecoloacutegica poliacutetica e cultural adquirindo um caraacuteter multifuncional1 Neste contexto surge
a agricultura no meio urbano e esta quando praticada de modo apropriado poderaacute segundo
o Comitecirc de Agricultura (COAG 1999) aumentar a quantidade de alimentos disponiacuteveis
melhorar a seguranccedila alimentar em eacutepocas de crise ou grave escassez de alimentos
1A multifuncionalidade define-se como um conjunto das contribuiccedilotildees da agricultura a um desenvolvimento econocircmico e social considerado em sua unidade o reconhecimento oficial da multifuncionalidade exprime a vontade que essas diferentes contribuiccedilotildees podem ser associadas duravelmente de modo coerente segundo as modalidades julgadas satisfatoacuterias pelos cidadatildeos (BLANCHEMANCHE et al 2000 p42)
2
melhorar o grau de frescor de alimentos pereciacuteveis e ainda oferecer oportunidades de
empregos produtivos em um setor onde os obstaacuteculos ao ingresso satildeo de pouca
importacircncia
Em vista destes acontecimentos em todo o mundo notadamente nos paiacuteses menos
desenvolvidos tem sido detectado um fenocircmeno em que um crescente nuacutemero de
residentes urbanos se dedica agraves atividades agriacutecolas2 Essas atividades agriacutecolas tecircm sido
comumente chamadas de agricultura urbana Fleury amp Donadieu (1997) sugerem empregar
esse termo para designar os sistemas agriacutecolas das periferias urbanas orientados para as
novas necessidades urbanas mesmo ressaltando que a expressatildeo possui mais de um
significado podendo ser empregada em diferentes situaccedilotildees ou para distintos grupos de
profissionais Seja qual for a interpretaccedilatildeo dada para o termo agricultura urbana
dependendo do autor e do paiacutes no qual se insere o mesmo indiscutivelmente estaacute
relacionado com a auto-suficiecircncia alimentar das cidades
Outro aspecto importante eacute mencionado por Zeeuw et al (2000) ao destacarem que
as anaacutelises das tendecircncias atuais dos sistemas de alimentaccedilatildeo dos pobres urbanos mostram
que para garantir sua seguranccedila alimentar eacute necessaacuteria a combinaccedilatildeo da produccedilatildeo de
alimentos nas zonas rurais e urbanas
A Food and Agriculture Organization - FAO (1996) tambeacutem ressalta que a
agricultura urbana pode se constituir em uma importante contribuiccedilatildeo na questatildeo alimentar
e ateacute para o aumento da renda da populaccedilatildeo em muitas cidades do mundo em
desenvolvimento No entanto a organizaccedilatildeo salienta que ela fornece natildeo somente
benefiacutecios de ordem econocircmica mas tambeacutem de recreaccedilatildeo lazer e ecoloacutegicos aos
citadinos
Em relaccedilatildeo aos tipos dos agricultores urbanos a maioria segundo registros da
United Nations Development Programme - UNDP (1996) tem origem nos grupos de baixa
renda em muitos paiacuteses em desenvolvimento
Aleacutem disso frequumlentemente eles cultivam terra que natildeo possuem Entretanto em
alguns paiacuteses (incluindo Argentina e Estados Unidos) agricultores de renda meacutedia que satildeo
a maioria praticam primariamente cultivo de quintal A diferenccedila entre as praacuteticas
agriacutecolas dos agricultores de baixa renda e elevada natildeo estaacute apenas no tamanho mas nos
3
sistemas de produccedilatildeo e produtos Enquanto o monocultivo eacute comum entre agricultores
abastados os agricultores de baixa renda tendem a escolher sistemas de produccedilatildeo agriacutecola
diversificados que requerem baixo capital e minimizam riscos (UNDP 1996)
Zeeuw et al (2000) salientam tambeacutem que a agricultura urbana eacute uma atividade que
exige poliacuteticas puacuteblicas para sua implementaccedilatildeo principalmente no que diz respeito agraves
poliacuteticas de uso de solos sauacutede ambientais e de desenvolvimento social Por isso eacute
essencial o conhecimento das caracteriacutesticas especiacuteficas dos locais e as diferentes
finalidades da agricultura urbana para que sejam formuladas poliacuteticas adequadas de
intervenccedilatildeo
Em quase todo o mundo encontram-se pesquisas explorando a temaacutetica da
agricultura urbana O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no
Brasil eacute o de Fregravere et al (1999) o qual apresenta os resultados de uma investigaccedilatildeo
realizada em Beleacutem-PA com o objetivo de conhecer os tipos e dimensionar a agricultura
naquele municiacutepio
Da mesma maneira que em vaacuterias localidades alvos da pesquisa em Santa Maria -
RS a agricultura urbana eacute uma realidade entre os moradores de vaacuterias localidades Este
artigo tem como objetivo apresentar os resultados de uma investigaccedilatildeo sobre a contribuiccedilatildeo
da agricultura urbana na melhoria da renda e da alimentaccedilatildeo de famiacutelias pobres3
2 Metodologia Utilizada
Essa pesquisa desenvolveu-se na cidade de Santa Maria Estado do Rio Grande do
Sul O municiacutepio situa-se na regiatildeo central do Estado Segundo o Censo IBGE (2000) a
populaccedilatildeo urbana eacute de 230468 habitantes e a rural eacute de 12928 habitantes respectivamente
947 e 53 da populaccedilatildeo total Esses dados permitem concluir que Santa Maria eacute um
municiacutepio nitidamente urbano segundo os criteacuterios do IBGE No periacutemetro urbano foram
2 Esse crescimento tem sido relatado principalmente nas pesquisas realizadas nos paiacuteses africanos A tiacutetulo de exemplo ver Drakakis-Smith D et al (1995) entre outros estudos 3Zaluar (199433) define os pobres de um ponto de vista meramente descritivo como todos aqueles que estatildeo incluiacutedos nas faixas de renda mais baixas (ateacute 3 a 5 salaacuterios miacutenimos) ou os que exercem as atividades pior remuneradas na economia nacional Entre eles estatildeo obviamente os operaacuterios e assalariados do terciaacuterio semi ou natildeo-qualificados e que recebem baixos salaacuterios em virtude da poliacutetica salarial vigente bem como os trabalhadores por conta-proacutepria pouco ou natildeo especializados quer sejam estabelecidos ou natildeo
4
identificadas as comunidades que integram os bolsotildees de miseacuteria4 da cidade A intenccedilatildeo era
estudar a agricultura urbana no contexto da pobreza As comunidades foram escolhidas
intencionalmente em localidades situadas em distintas zonas do municiacutepio sendo elas Vila
Arco Iacuteris Vila Liacutedia Urlacircndia Renascenccedila Vila Lorenzi Nossa Senhora do Trabalho
Apariacutecio de Moraes e Montanha Russa A coleta dos dados ocorreu durante o mecircs de
fevereiro e marccedilo de 2004 pela proacutepria pesquisadora sendo coletados dados de 38
famiacutelias Para a definiccedilatildeo do nuacutemero de famiacutelias a serem pesquisadas nas comunidades
utilizou-se uma amostragem natildeo-probabiliacutestica autogerada O instrumento utilizado para o
levantamento dos foi o questionaacuterio contendo 32 questotildees fechadas e 1 questatildeo aberta
Apoacutes a coleta os dados foram digitados em planilhas do programa Excel
constituindo um banco de dados Posteriormente esses dados foram importados pelo
programa estatiacutestico SPSS (Statistical Product and Service Solutions) sendo este utilizado
para o cruzamento das variaacuteveis selecionadas e de interesse do estudo
Numa segunda fase do trabalho foi realizada uma nova pesquisa de campo em uma
sub-amostra de 20 famiacutelias com o objetivo de levantar dados acerca do consumo alimentar
familiar Para tal utilizou-se a metodologia desenvolvida por Galeazzi et al (1996) para
inqueacuterito de consumo familiar
Foram elaborados caacutelculos relativos ao consumo meacutedio per capita de energia e
nutrientes selecionados Por meio de adoccedilatildeo do software Virtual Nutri (PHILIPPI ST
1996) foram elaborados os caacutelculos relativos agrave composiccedilatildeo energeacutetica e nutricional da
alimentaccedilatildeo das famiacutelias Nessa pesquisa foram adotados paracircmetros da FAOOMSONU
(1985) para estabelecer as recomendaccedilotildees meacutedias preconizadas de energia e de proteiacutena
3 Resultados e Discussatildeo
31 Breve caracterizaccedilatildeo da populaccedilatildeo pesquisada
As tabelas apresentadas a seguir mostram alguns dos principais resultados obtidos
atraveacutes da aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios junto agraves famiacutelias visando obter informaccedilotildees
pertinentes a este trabalho Na Tabela 1 pode-se verificar a distribuiccedilatildeo das famiacutelias de
acordo com o nuacutemero de pessoas nas localidades pesquisadas
4 Estes bolsotildees foram identificados pela Rede de Solidariedade e divulgados atraveacutes de documento intitulado Projeto Institucional de Extensatildeo Nuacutecleo da UFSM em apoio agrave Rede de Solidariedade (abril de 2003)
5
TABELA 1
Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias segundo as localidades pesquisadas Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias
Localidades 1 2 3 4 5 7
TOTAL
Urlacircndia 4 9 4 1 1 19 Renascenccedila 1 2 1 4 Vila Lorenzi 2 2 3 1 8 Apariacutecio de Moraes 1 2 1 4 Montanha Russa 1 2 3 TOTAL 2 8 14 9 3 2 38
O total representa o nuacutemero de famiacutelias que foram entrevistadas em cada local e o
nuacutemero de pessoas diz respeito ao tamanho das famiacutelias A maior parte das famiacutelias eacute
formada por duas e quatro pessoas sendo que apenas duas famiacutelias uma na Vila Urlacircndia e
outra na Renascenccedila apresentaram sete pessoas na famiacutelia residindo no domiciacutelio visitado
No geral pode-se verificar que natildeo satildeo famiacutelias numerosas De acordo com o IBGE
(Censo 2000) esse fato se explica pela queda acelerada da fecundidade ocorrida no paiacutes
nas uacuteltimas duas deacutecadas conduzindo a uma reduccedilatildeo no tamanho das famiacutelias O nuacutemero
meacutedio de membros das famiacutelias caiu de 39 pessoas em 1991 para 35 em 2000 As
famiacutelias com um a quatro componentes estatildeo mais presentes nas aacutereas urbanas enquanto
que as famiacutelias com cinco a onze pessoas satildeo mais frequumlentes nas aacutereas rurais
Na Tabela 2 tecircm-se os resultados relativos ao sexo das pessoas ocupadas na
agricultura urbana
TABELA 2 Sexo das pessoas ocupadas na agricultura urbana
Sexo Agricultores Urbanos Masculino Feminino
Total
Nuacutemero de pessoas 30 (526) 27 (473) 57 (100) Verifica-se que haacute pouca diferenccedila entre homens e mulheres que trabalham nas
produccedilotildees agriacutecolas urbanas sendo que do total de 57 pessoas nas famiacutelias 30 satildeo do sexo
masculino e 27 do sexo feminino No trabalho de Nugent (2000) os resultados mostram
6
que as mulheres estatildeo muito mais envolvidas nesta atividade e os homens tecircm mais chance
de se envolver na produccedilatildeo para o mercado nos casos em que as mulheres estatildeo muito
ocupadas com outras tarefas Nestas comunidades natildeo se pode afirmar que existe
predominacircncia de um dos sexos no trabalho da agricultura urbana ao contraacuterio do que se
pode encontrar na literatura5 onde se ressalta que a maior parte dos agricultores urbanos
satildeo mulheres
A Tabela 3 apresenta os estratos de idade das pessoas envolvidas com o trabalho na
agricultura urbana
TABELA 3 Estratos de idade das pessoas envolvidas na agricultura urbana
Estratos de idade Agricultores Urbanos Ateacute 14
anos 15 ateacute 22
anos 23 ateacute 40
anos 41 ateacute 59
anos 60 anos e
mais
Total
Nordm de pessoas 1 (175)
1 (175)
12 (21 )
31 (543)
12 (21) 57
Entre as 57 pessoas que praticam a atividade a maioria encontra-se na faixa etaacuteria
de 41 ateacute 59 anos e somadas agraves pessoas que possuem mais de 60 anos pode-se concluir
que quem pratica a agricultura urbana nestas comunidades natildeo satildeo exatamente pessoas
mais jovens mas sim aquelas com idade superior a 40 anos
Na Tabela 4 pode-se verificar o local de origem dos agricultores urbanos
pesquisados Deste total constata-se que cerca de 37 satildeo oriundos da zona rural de outras
cidades e 263 da zona rural de Santa Maria ou seja 63 do total das pessoas que
praticam agricultura urbana satildeo de origem rural Isto remete agrave questatildeo do ecircxodo rural que
conduz essas pessoas para a cidade com o objetivo de melhorar as condiccedilotildees de vida e
ainda a tradiccedilatildeo na agricultura que elas trazem como eacute detalhado no trabalho de COSTA
BEBER (1998)
TABELA 4 Local de origem das pessoas que trabalham na agricultura urbana
Local de Origem
Agricultores Urbanos
Santa Maria
(urbana)
Santa Maria (rural)
Outras cidades
(urbana)
Outras cidades (rural)
Total
5 No livro Urban Agriculture Food Jobs and Sustainable Cities (UNDP 1996) existe a informaccedilatildeo de que em muitos locais do mundo as mulheres tecircm maior participaccedilatildeo na agricultura urbana do que os homens
7
Nordm de pessoas 15 (263)
15 (263)
6 (105)
21 (368)
57 (100)
Existem aproximadamente 37 que eacute de origem urbana e pode ter outras razotildees
para a praacutetica da agricultura como a proacutepria subsistecircncia jaacute que eacute integrante de
comunidades pobres Outras razotildees dizem respeito ao lazer que a atividade pode lhes
proporcionar A esse respeito Altieri et al (1999) salientam que a agricultura urbana para
as pessoas nascidas na cidade eacute oportunidade para aprender e apreciar o processo de
cultivo Para os receacutem-migrantes da zona rural a atividade representa uma forma de utilizar
suas especialidades agriacutecolas e para alguns um refuacutegio onde eles podem trabalhar
novamente mas de forma diferente com a terra e religados agrave natureza
Na Tabela 5 estatildeo contabilizadas as ocupaccedilotildees das pessoas que trabalham na
agricultura urbana Destaca-se que do total de 57 pessoas que declararam a praacutetica da
agricultura urbana nem todas podem ser consideradas pessoas ativas pois aiacute estatildeo
incluiacutedos aposentados pensionistas e mulheres com atividades domeacutesticas6 Descontando
estas pessoas chega-se ao nuacutemero de 25 pessoas ativas que se dedicam tambeacutem agrave
agricultura urbana Estas se encontram ocupadas nos serviccedilos de construccedilatildeo civil outras em
serviccedilos domeacutesticos e ainda haacute aquelas classificadas como vendedores informais e
prestadores de serviccedilo por conta-proacutepria
TABELA 5 Grupos de ocupaccedilotildees das pessoas ativas que trabalham na agricultura urbana
Grupos de ocupaccedilatildeo Nuacutemero de pessoas Acumulada
Administraccedilatildeo puacuteblica 1
4
4
Professores e outros da educaccedilatildeo 1
4
8
Agricultor conta-proacutepria 1
4
12
Serviccedilos da construccedilatildeo civil 8
32
44
Ocupaccedilotildees agroindustriais 2
8
52
Induacutestria de transformaccedilatildeo 1
4
56
Comeacutercio natildeo-especificado 3
12
68
Motoristas 1
4
72
Serviccedilos domeacutesticos remunerados 4
16
88
6 Segundo a classificaccedilatildeo das Pesquisas Nacionais de Amostras de Domiciacutelios - PNADs anteriores a 1992 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) somente satildeo consideradas pessoas ativas ou ocupadas
aquelas com 10 anos e mais que trabalhavam 15 horas ou mais na semana de referecircncia da pesquisa Adotou-se este conceito como criteacuterio de separaccedilatildeo das pessoas ativas neste artigo Com a aplicaccedilatildeo deste conceito restaram somente 47 pessoas em relaccedilatildeo agraves 57 inicialmente apresentadas nas Tabelas 2 3 e 4 Se se levar em conta somente as que declararam praticar agricultura urbana restaratildeo apenas 25 pessoas ativas que satildeo apresentadas na Tabela 5
8
Serviccedilos pessoais natildeo-domeacutesticos 2
8
96
Outros serv Pessoais natildeo-domeacutesticos
1
4
100
TOTAL 25
100
-
Na Tabela 6 eacute apresentada a distribuiccedilatildeo das famiacutelias pesquisadas segundo os
estratos de renda per capita Se for adotada a linha da pobreza como sendo igual a R$
12000 observa-se na Tabela 6 que 211 das famiacutelias possuem rendimentos que as
classificam abaixo da linha de pobreza7 A renda meacutedia per capita eacute somente de R$ 25277
e a renda mediana per capita atinge apenas R$ 21800 Se observarmos atentamente estas
informaccedilotildees apresentadas na Tabela 6 pode-se verificar que menos de frac14 das famiacutelias
pesquisadas possuem renda que as situa abaixo da chamada linha de pobreza
TABELA 6 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias segundo os estratos de renda per capita
Estratos de Renda (em Reais)
Nuacutemero
acumulada
60 ateacute 120 8
211
211
125 ateacute 240 15
395
605
250 ateacute 370 9
237
842
39333 ateacute 45666 4
105
947
700 e mais 2
53
1000
TOTAL 38
100
-
Este curioso resultado permite levantar a hipoacutetese de que embora a pesquisa tenha
sido realizada no contexto da pobreza os praticantes da agricultura urbana natildeo apresentam
rendimentos que os classifiquem entre as famiacutelias relativamente mais pobres Uma outra
razatildeo que pode ser aventada eacute a existecircncia de aposentados e pensionistas entre os membros
das famiacutelias o que permite uma elevaccedilatildeo e estabilizaccedilatildeo das rendas
32 A praacutetica da agricultura urbana
7 O valor do salaacuterio miacutenimo nacional no periacuteodo da pesquisa era de R$ 24000 Segundo Rocha (19963) eacute consensualmente aceito que a variaacutevel de renda mais adequada para confronto com a linha de pobreza eacute a renda familiar per capita que leva em consideraccedilatildeo todos os rendimentos das pessoas do nuacutecleo familiar o nuacutemero de pessoas e o papel da famiacutelia como unidade solidaacuteria de consumo e rendimento A metodologia oficial usa como referecircncia o salaacuterio miacutenimo isto eacute frac12 do salaacuterio miacutenimo familiar per capita limite abaixo do qual se define uma famiacutelia pobre Definiccedilatildeo encontrada no site do IBGE (httpwwwibgegovbribgeteenglossariopobreza htmlgt Acesso em 01092005)
9
Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da
agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura
urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias
pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos
TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas
Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos
4
4
7
23
105
105
184
605
TOTAL 38
1000
Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas
211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que
a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria
apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e
mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a
continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica
A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela
pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos
quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores
urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a
produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados
TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana
Local Nuacutemero
Quintal de casa 30
789
Terrenos privados 8
211
TOTAL 38
1000
Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-
se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e
temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em
variedade
10
TABELA 9
Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto
Couve 842
Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131
Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que
100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total
158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam
parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou
trocam com estes o excedente da produccedilatildeo
TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
Destino Nuacutemero 38 Consumo
Comeacutercio Trocas doaccedilotildees
6 9
11
Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas
populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que
plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro
Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos
de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada
como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de
autoconsumo
A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a
agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida
TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana
Razotildees Nuacutemero
28
737
17
447
10
263
Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2
53
TOTAL 57
-
Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura
urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que
17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram
a cultivar
O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura
urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a
geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o
grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside
basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas
famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana
12
TABELA 12
Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades
Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades
3061
2858
2041
816
816
204
204
TOTAL 1000
Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos
agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio
investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos
existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser
minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8
Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres
eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda
poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos
economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada
como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este
aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos
agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia
teacutecnica diferenciada
43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar
Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana
representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13
apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o
autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado
8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo
13
declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante
economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda
familiar)
TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda
total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias
Ateacute 10 da renda total 5
1316
Mais de 10 ateacute 20 14
3684
Mais de 20 ateacute 30 9
2368
Mais de 30 10
2632
TOTAL 38
10000
Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a
20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das
famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura
urbana
Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior
a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades
baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas
satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das
exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente
nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente
A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as
principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as
despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia
aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$
40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos
destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura
internacional
14
TABELA 14
Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais
Aacutegua 111600
727
Luz 172200
1121
Transporte 102500
667
Gaacutes 116100
755
Remeacutedios 127500
83
Alimentaccedilatildeo 906000
590
TOTAL 1535900
1000
Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os
gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute
relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma
oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente
para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com
alimentaccedilatildeo
34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional
A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias
revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite
frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que
dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte
presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria
de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca
da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas
A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento
importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et
al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana
em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas
elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de
5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um
15
melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade
(MAXWELL et al 1998)
TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena
Calorias Proteiacutenas
Consumo meacutedio per capita de
calorias (kcaldia) Nuacutemero
Consumo meacutedio per capita (gdia)
Nuacutemero
Menos de 80 149701 5 31 1
De 80 ateacute menos de 110
202139 7 59 1
De110 a mais 367100 8 100 18
TOTAL 239646 20 633 20
A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas
entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta
um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas
5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das
famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado
essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente
atendida em termos quantitativos
Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana
pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas
famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a
um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado
Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo
maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser
desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a
seguranccedila alimentar
4 Resumo e Conclusotildees
A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees
acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da
populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo
16
numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de
forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da
agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso
os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas
existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas
pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa
qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de
frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza
Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees
serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos
recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere
um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a
agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo
entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute
predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a
agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma
economia de subsistecircncia
As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo
com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As
informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta
de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui
existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas
Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo
cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas
caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por
meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a
alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada
nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de
17
hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e
de nutrientes para os membros das famiacutelias
Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana
eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos
que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o
aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de
renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos
O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no
entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de
creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito
poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um
amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado
por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares
sustentaacuteveis
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1
Agricultura urbana e Seguranccedila Alimentar estudo no municiacutepio de Santa Maria - RS
Resumo No contexto da nova relaccedilatildeo do rural e urbano a agricultura urbana ganha importacircncia em funccedilatildeo de aspectos como a crescente urbanizaccedilatildeo a pobreza os problemas de abastecimento e valores de natildeo-mercado Todavia os estudos existentes no Brasil ainda satildeo escassos O objetivo principal deste trabalho eacute apresentar os resultados de uma investigaccedilatildeo sobre a contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na melhoria da renda e da alimentaccedilatildeo de um gripo de famiacutelias pobres do municiacutepio de Santa Maria-RS Os resultados revelam que a atividade natildeo cumpre necessariamente o papel de provedora de renda adicional mas conduz a uma economia expressiva pois certos alimentos deixam de ser comprados A atividade pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora de mercado ou uma economia de subsistecircncia e cumpre papel relevante na seguranccedila alimentar das famiacutelias
Palavras-chave agricultura urbana pobreza e seguranccedila alimentar
1 Introduccedilatildeo
No Brasil nos uacuteltimos cinquumlenta anos e principalmente a partir de 1980 houve
uma crescente urbanizaccedilatildeo seguindo a tendecircncia mundial Este fenocircmeno provocou uma
forte reduccedilatildeo da populaccedilatildeo rural em todas as regiotildees Mesmo nas deacutecadas posteriores agrave de
80 a desruralizaccedilatildeo continuou sendo uma realidade o que conduziu o paiacutes a taxas
crescentes de populaccedilatildeo urbana mesmo que distintamente nas diversas regiotildees do paiacutes
(CAMARANO amp ABRAMOVAY 1999)
Esse crescimento resulta em um impacto conduzindo a uma importante mudanccedila
nos vetores de expansatildeo fiacutesica das cidades fazendo com que atividades consideradas como
essencialmente agriacutecolas no passado passem a ter expressatildeo econocircmica nos espaccedilos
urbanos (PEREIRA 20002)
Neste sentido a agricultura cruzou as fronteiras entre a dimensatildeo econocircmica
ecoloacutegica poliacutetica e cultural adquirindo um caraacuteter multifuncional1 Neste contexto surge
a agricultura no meio urbano e esta quando praticada de modo apropriado poderaacute segundo
o Comitecirc de Agricultura (COAG 1999) aumentar a quantidade de alimentos disponiacuteveis
melhorar a seguranccedila alimentar em eacutepocas de crise ou grave escassez de alimentos
1A multifuncionalidade define-se como um conjunto das contribuiccedilotildees da agricultura a um desenvolvimento econocircmico e social considerado em sua unidade o reconhecimento oficial da multifuncionalidade exprime a vontade que essas diferentes contribuiccedilotildees podem ser associadas duravelmente de modo coerente segundo as modalidades julgadas satisfatoacuterias pelos cidadatildeos (BLANCHEMANCHE et al 2000 p42)
2
melhorar o grau de frescor de alimentos pereciacuteveis e ainda oferecer oportunidades de
empregos produtivos em um setor onde os obstaacuteculos ao ingresso satildeo de pouca
importacircncia
Em vista destes acontecimentos em todo o mundo notadamente nos paiacuteses menos
desenvolvidos tem sido detectado um fenocircmeno em que um crescente nuacutemero de
residentes urbanos se dedica agraves atividades agriacutecolas2 Essas atividades agriacutecolas tecircm sido
comumente chamadas de agricultura urbana Fleury amp Donadieu (1997) sugerem empregar
esse termo para designar os sistemas agriacutecolas das periferias urbanas orientados para as
novas necessidades urbanas mesmo ressaltando que a expressatildeo possui mais de um
significado podendo ser empregada em diferentes situaccedilotildees ou para distintos grupos de
profissionais Seja qual for a interpretaccedilatildeo dada para o termo agricultura urbana
dependendo do autor e do paiacutes no qual se insere o mesmo indiscutivelmente estaacute
relacionado com a auto-suficiecircncia alimentar das cidades
Outro aspecto importante eacute mencionado por Zeeuw et al (2000) ao destacarem que
as anaacutelises das tendecircncias atuais dos sistemas de alimentaccedilatildeo dos pobres urbanos mostram
que para garantir sua seguranccedila alimentar eacute necessaacuteria a combinaccedilatildeo da produccedilatildeo de
alimentos nas zonas rurais e urbanas
A Food and Agriculture Organization - FAO (1996) tambeacutem ressalta que a
agricultura urbana pode se constituir em uma importante contribuiccedilatildeo na questatildeo alimentar
e ateacute para o aumento da renda da populaccedilatildeo em muitas cidades do mundo em
desenvolvimento No entanto a organizaccedilatildeo salienta que ela fornece natildeo somente
benefiacutecios de ordem econocircmica mas tambeacutem de recreaccedilatildeo lazer e ecoloacutegicos aos
citadinos
Em relaccedilatildeo aos tipos dos agricultores urbanos a maioria segundo registros da
United Nations Development Programme - UNDP (1996) tem origem nos grupos de baixa
renda em muitos paiacuteses em desenvolvimento
Aleacutem disso frequumlentemente eles cultivam terra que natildeo possuem Entretanto em
alguns paiacuteses (incluindo Argentina e Estados Unidos) agricultores de renda meacutedia que satildeo
a maioria praticam primariamente cultivo de quintal A diferenccedila entre as praacuteticas
agriacutecolas dos agricultores de baixa renda e elevada natildeo estaacute apenas no tamanho mas nos
3
sistemas de produccedilatildeo e produtos Enquanto o monocultivo eacute comum entre agricultores
abastados os agricultores de baixa renda tendem a escolher sistemas de produccedilatildeo agriacutecola
diversificados que requerem baixo capital e minimizam riscos (UNDP 1996)
Zeeuw et al (2000) salientam tambeacutem que a agricultura urbana eacute uma atividade que
exige poliacuteticas puacuteblicas para sua implementaccedilatildeo principalmente no que diz respeito agraves
poliacuteticas de uso de solos sauacutede ambientais e de desenvolvimento social Por isso eacute
essencial o conhecimento das caracteriacutesticas especiacuteficas dos locais e as diferentes
finalidades da agricultura urbana para que sejam formuladas poliacuteticas adequadas de
intervenccedilatildeo
Em quase todo o mundo encontram-se pesquisas explorando a temaacutetica da
agricultura urbana O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no
Brasil eacute o de Fregravere et al (1999) o qual apresenta os resultados de uma investigaccedilatildeo
realizada em Beleacutem-PA com o objetivo de conhecer os tipos e dimensionar a agricultura
naquele municiacutepio
Da mesma maneira que em vaacuterias localidades alvos da pesquisa em Santa Maria -
RS a agricultura urbana eacute uma realidade entre os moradores de vaacuterias localidades Este
artigo tem como objetivo apresentar os resultados de uma investigaccedilatildeo sobre a contribuiccedilatildeo
da agricultura urbana na melhoria da renda e da alimentaccedilatildeo de famiacutelias pobres3
2 Metodologia Utilizada
Essa pesquisa desenvolveu-se na cidade de Santa Maria Estado do Rio Grande do
Sul O municiacutepio situa-se na regiatildeo central do Estado Segundo o Censo IBGE (2000) a
populaccedilatildeo urbana eacute de 230468 habitantes e a rural eacute de 12928 habitantes respectivamente
947 e 53 da populaccedilatildeo total Esses dados permitem concluir que Santa Maria eacute um
municiacutepio nitidamente urbano segundo os criteacuterios do IBGE No periacutemetro urbano foram
2 Esse crescimento tem sido relatado principalmente nas pesquisas realizadas nos paiacuteses africanos A tiacutetulo de exemplo ver Drakakis-Smith D et al (1995) entre outros estudos 3Zaluar (199433) define os pobres de um ponto de vista meramente descritivo como todos aqueles que estatildeo incluiacutedos nas faixas de renda mais baixas (ateacute 3 a 5 salaacuterios miacutenimos) ou os que exercem as atividades pior remuneradas na economia nacional Entre eles estatildeo obviamente os operaacuterios e assalariados do terciaacuterio semi ou natildeo-qualificados e que recebem baixos salaacuterios em virtude da poliacutetica salarial vigente bem como os trabalhadores por conta-proacutepria pouco ou natildeo especializados quer sejam estabelecidos ou natildeo
4
identificadas as comunidades que integram os bolsotildees de miseacuteria4 da cidade A intenccedilatildeo era
estudar a agricultura urbana no contexto da pobreza As comunidades foram escolhidas
intencionalmente em localidades situadas em distintas zonas do municiacutepio sendo elas Vila
Arco Iacuteris Vila Liacutedia Urlacircndia Renascenccedila Vila Lorenzi Nossa Senhora do Trabalho
Apariacutecio de Moraes e Montanha Russa A coleta dos dados ocorreu durante o mecircs de
fevereiro e marccedilo de 2004 pela proacutepria pesquisadora sendo coletados dados de 38
famiacutelias Para a definiccedilatildeo do nuacutemero de famiacutelias a serem pesquisadas nas comunidades
utilizou-se uma amostragem natildeo-probabiliacutestica autogerada O instrumento utilizado para o
levantamento dos foi o questionaacuterio contendo 32 questotildees fechadas e 1 questatildeo aberta
Apoacutes a coleta os dados foram digitados em planilhas do programa Excel
constituindo um banco de dados Posteriormente esses dados foram importados pelo
programa estatiacutestico SPSS (Statistical Product and Service Solutions) sendo este utilizado
para o cruzamento das variaacuteveis selecionadas e de interesse do estudo
Numa segunda fase do trabalho foi realizada uma nova pesquisa de campo em uma
sub-amostra de 20 famiacutelias com o objetivo de levantar dados acerca do consumo alimentar
familiar Para tal utilizou-se a metodologia desenvolvida por Galeazzi et al (1996) para
inqueacuterito de consumo familiar
Foram elaborados caacutelculos relativos ao consumo meacutedio per capita de energia e
nutrientes selecionados Por meio de adoccedilatildeo do software Virtual Nutri (PHILIPPI ST
1996) foram elaborados os caacutelculos relativos agrave composiccedilatildeo energeacutetica e nutricional da
alimentaccedilatildeo das famiacutelias Nessa pesquisa foram adotados paracircmetros da FAOOMSONU
(1985) para estabelecer as recomendaccedilotildees meacutedias preconizadas de energia e de proteiacutena
3 Resultados e Discussatildeo
31 Breve caracterizaccedilatildeo da populaccedilatildeo pesquisada
As tabelas apresentadas a seguir mostram alguns dos principais resultados obtidos
atraveacutes da aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios junto agraves famiacutelias visando obter informaccedilotildees
pertinentes a este trabalho Na Tabela 1 pode-se verificar a distribuiccedilatildeo das famiacutelias de
acordo com o nuacutemero de pessoas nas localidades pesquisadas
4 Estes bolsotildees foram identificados pela Rede de Solidariedade e divulgados atraveacutes de documento intitulado Projeto Institucional de Extensatildeo Nuacutecleo da UFSM em apoio agrave Rede de Solidariedade (abril de 2003)
5
TABELA 1
Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias segundo as localidades pesquisadas Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias
Localidades 1 2 3 4 5 7
TOTAL
Urlacircndia 4 9 4 1 1 19 Renascenccedila 1 2 1 4 Vila Lorenzi 2 2 3 1 8 Apariacutecio de Moraes 1 2 1 4 Montanha Russa 1 2 3 TOTAL 2 8 14 9 3 2 38
O total representa o nuacutemero de famiacutelias que foram entrevistadas em cada local e o
nuacutemero de pessoas diz respeito ao tamanho das famiacutelias A maior parte das famiacutelias eacute
formada por duas e quatro pessoas sendo que apenas duas famiacutelias uma na Vila Urlacircndia e
outra na Renascenccedila apresentaram sete pessoas na famiacutelia residindo no domiciacutelio visitado
No geral pode-se verificar que natildeo satildeo famiacutelias numerosas De acordo com o IBGE
(Censo 2000) esse fato se explica pela queda acelerada da fecundidade ocorrida no paiacutes
nas uacuteltimas duas deacutecadas conduzindo a uma reduccedilatildeo no tamanho das famiacutelias O nuacutemero
meacutedio de membros das famiacutelias caiu de 39 pessoas em 1991 para 35 em 2000 As
famiacutelias com um a quatro componentes estatildeo mais presentes nas aacutereas urbanas enquanto
que as famiacutelias com cinco a onze pessoas satildeo mais frequumlentes nas aacutereas rurais
Na Tabela 2 tecircm-se os resultados relativos ao sexo das pessoas ocupadas na
agricultura urbana
TABELA 2 Sexo das pessoas ocupadas na agricultura urbana
Sexo Agricultores Urbanos Masculino Feminino
Total
Nuacutemero de pessoas 30 (526) 27 (473) 57 (100) Verifica-se que haacute pouca diferenccedila entre homens e mulheres que trabalham nas
produccedilotildees agriacutecolas urbanas sendo que do total de 57 pessoas nas famiacutelias 30 satildeo do sexo
masculino e 27 do sexo feminino No trabalho de Nugent (2000) os resultados mostram
6
que as mulheres estatildeo muito mais envolvidas nesta atividade e os homens tecircm mais chance
de se envolver na produccedilatildeo para o mercado nos casos em que as mulheres estatildeo muito
ocupadas com outras tarefas Nestas comunidades natildeo se pode afirmar que existe
predominacircncia de um dos sexos no trabalho da agricultura urbana ao contraacuterio do que se
pode encontrar na literatura5 onde se ressalta que a maior parte dos agricultores urbanos
satildeo mulheres
A Tabela 3 apresenta os estratos de idade das pessoas envolvidas com o trabalho na
agricultura urbana
TABELA 3 Estratos de idade das pessoas envolvidas na agricultura urbana
Estratos de idade Agricultores Urbanos Ateacute 14
anos 15 ateacute 22
anos 23 ateacute 40
anos 41 ateacute 59
anos 60 anos e
mais
Total
Nordm de pessoas 1 (175)
1 (175)
12 (21 )
31 (543)
12 (21) 57
Entre as 57 pessoas que praticam a atividade a maioria encontra-se na faixa etaacuteria
de 41 ateacute 59 anos e somadas agraves pessoas que possuem mais de 60 anos pode-se concluir
que quem pratica a agricultura urbana nestas comunidades natildeo satildeo exatamente pessoas
mais jovens mas sim aquelas com idade superior a 40 anos
Na Tabela 4 pode-se verificar o local de origem dos agricultores urbanos
pesquisados Deste total constata-se que cerca de 37 satildeo oriundos da zona rural de outras
cidades e 263 da zona rural de Santa Maria ou seja 63 do total das pessoas que
praticam agricultura urbana satildeo de origem rural Isto remete agrave questatildeo do ecircxodo rural que
conduz essas pessoas para a cidade com o objetivo de melhorar as condiccedilotildees de vida e
ainda a tradiccedilatildeo na agricultura que elas trazem como eacute detalhado no trabalho de COSTA
BEBER (1998)
TABELA 4 Local de origem das pessoas que trabalham na agricultura urbana
Local de Origem
Agricultores Urbanos
Santa Maria
(urbana)
Santa Maria (rural)
Outras cidades
(urbana)
Outras cidades (rural)
Total
5 No livro Urban Agriculture Food Jobs and Sustainable Cities (UNDP 1996) existe a informaccedilatildeo de que em muitos locais do mundo as mulheres tecircm maior participaccedilatildeo na agricultura urbana do que os homens
7
Nordm de pessoas 15 (263)
15 (263)
6 (105)
21 (368)
57 (100)
Existem aproximadamente 37 que eacute de origem urbana e pode ter outras razotildees
para a praacutetica da agricultura como a proacutepria subsistecircncia jaacute que eacute integrante de
comunidades pobres Outras razotildees dizem respeito ao lazer que a atividade pode lhes
proporcionar A esse respeito Altieri et al (1999) salientam que a agricultura urbana para
as pessoas nascidas na cidade eacute oportunidade para aprender e apreciar o processo de
cultivo Para os receacutem-migrantes da zona rural a atividade representa uma forma de utilizar
suas especialidades agriacutecolas e para alguns um refuacutegio onde eles podem trabalhar
novamente mas de forma diferente com a terra e religados agrave natureza
Na Tabela 5 estatildeo contabilizadas as ocupaccedilotildees das pessoas que trabalham na
agricultura urbana Destaca-se que do total de 57 pessoas que declararam a praacutetica da
agricultura urbana nem todas podem ser consideradas pessoas ativas pois aiacute estatildeo
incluiacutedos aposentados pensionistas e mulheres com atividades domeacutesticas6 Descontando
estas pessoas chega-se ao nuacutemero de 25 pessoas ativas que se dedicam tambeacutem agrave
agricultura urbana Estas se encontram ocupadas nos serviccedilos de construccedilatildeo civil outras em
serviccedilos domeacutesticos e ainda haacute aquelas classificadas como vendedores informais e
prestadores de serviccedilo por conta-proacutepria
TABELA 5 Grupos de ocupaccedilotildees das pessoas ativas que trabalham na agricultura urbana
Grupos de ocupaccedilatildeo Nuacutemero de pessoas Acumulada
Administraccedilatildeo puacuteblica 1
4
4
Professores e outros da educaccedilatildeo 1
4
8
Agricultor conta-proacutepria 1
4
12
Serviccedilos da construccedilatildeo civil 8
32
44
Ocupaccedilotildees agroindustriais 2
8
52
Induacutestria de transformaccedilatildeo 1
4
56
Comeacutercio natildeo-especificado 3
12
68
Motoristas 1
4
72
Serviccedilos domeacutesticos remunerados 4
16
88
6 Segundo a classificaccedilatildeo das Pesquisas Nacionais de Amostras de Domiciacutelios - PNADs anteriores a 1992 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) somente satildeo consideradas pessoas ativas ou ocupadas
aquelas com 10 anos e mais que trabalhavam 15 horas ou mais na semana de referecircncia da pesquisa Adotou-se este conceito como criteacuterio de separaccedilatildeo das pessoas ativas neste artigo Com a aplicaccedilatildeo deste conceito restaram somente 47 pessoas em relaccedilatildeo agraves 57 inicialmente apresentadas nas Tabelas 2 3 e 4 Se se levar em conta somente as que declararam praticar agricultura urbana restaratildeo apenas 25 pessoas ativas que satildeo apresentadas na Tabela 5
8
Serviccedilos pessoais natildeo-domeacutesticos 2
8
96
Outros serv Pessoais natildeo-domeacutesticos
1
4
100
TOTAL 25
100
-
Na Tabela 6 eacute apresentada a distribuiccedilatildeo das famiacutelias pesquisadas segundo os
estratos de renda per capita Se for adotada a linha da pobreza como sendo igual a R$
12000 observa-se na Tabela 6 que 211 das famiacutelias possuem rendimentos que as
classificam abaixo da linha de pobreza7 A renda meacutedia per capita eacute somente de R$ 25277
e a renda mediana per capita atinge apenas R$ 21800 Se observarmos atentamente estas
informaccedilotildees apresentadas na Tabela 6 pode-se verificar que menos de frac14 das famiacutelias
pesquisadas possuem renda que as situa abaixo da chamada linha de pobreza
TABELA 6 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias segundo os estratos de renda per capita
Estratos de Renda (em Reais)
Nuacutemero
acumulada
60 ateacute 120 8
211
211
125 ateacute 240 15
395
605
250 ateacute 370 9
237
842
39333 ateacute 45666 4
105
947
700 e mais 2
53
1000
TOTAL 38
100
-
Este curioso resultado permite levantar a hipoacutetese de que embora a pesquisa tenha
sido realizada no contexto da pobreza os praticantes da agricultura urbana natildeo apresentam
rendimentos que os classifiquem entre as famiacutelias relativamente mais pobres Uma outra
razatildeo que pode ser aventada eacute a existecircncia de aposentados e pensionistas entre os membros
das famiacutelias o que permite uma elevaccedilatildeo e estabilizaccedilatildeo das rendas
32 A praacutetica da agricultura urbana
7 O valor do salaacuterio miacutenimo nacional no periacuteodo da pesquisa era de R$ 24000 Segundo Rocha (19963) eacute consensualmente aceito que a variaacutevel de renda mais adequada para confronto com a linha de pobreza eacute a renda familiar per capita que leva em consideraccedilatildeo todos os rendimentos das pessoas do nuacutecleo familiar o nuacutemero de pessoas e o papel da famiacutelia como unidade solidaacuteria de consumo e rendimento A metodologia oficial usa como referecircncia o salaacuterio miacutenimo isto eacute frac12 do salaacuterio miacutenimo familiar per capita limite abaixo do qual se define uma famiacutelia pobre Definiccedilatildeo encontrada no site do IBGE (httpwwwibgegovbribgeteenglossariopobreza htmlgt Acesso em 01092005)
9
Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da
agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura
urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias
pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos
TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas
Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos
4
4
7
23
105
105
184
605
TOTAL 38
1000
Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas
211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que
a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria
apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e
mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a
continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica
A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela
pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos
quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores
urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a
produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados
TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana
Local Nuacutemero
Quintal de casa 30
789
Terrenos privados 8
211
TOTAL 38
1000
Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-
se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e
temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em
variedade
10
TABELA 9
Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto
Couve 842
Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131
Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que
100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total
158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam
parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou
trocam com estes o excedente da produccedilatildeo
TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
Destino Nuacutemero 38 Consumo
Comeacutercio Trocas doaccedilotildees
6 9
11
Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas
populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que
plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro
Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos
de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada
como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de
autoconsumo
A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a
agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida
TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana
Razotildees Nuacutemero
28
737
17
447
10
263
Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2
53
TOTAL 57
-
Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura
urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que
17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram
a cultivar
O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura
urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a
geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o
grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside
basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas
famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana
12
TABELA 12
Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades
Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades
3061
2858
2041
816
816
204
204
TOTAL 1000
Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos
agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio
investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos
existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser
minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8
Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres
eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda
poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos
economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada
como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este
aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos
agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia
teacutecnica diferenciada
43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar
Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana
representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13
apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o
autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado
8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo
13
declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante
economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda
familiar)
TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda
total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias
Ateacute 10 da renda total 5
1316
Mais de 10 ateacute 20 14
3684
Mais de 20 ateacute 30 9
2368
Mais de 30 10
2632
TOTAL 38
10000
Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a
20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das
famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura
urbana
Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior
a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades
baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas
satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das
exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente
nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente
A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as
principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as
despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia
aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$
40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos
destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura
internacional
14
TABELA 14
Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais
Aacutegua 111600
727
Luz 172200
1121
Transporte 102500
667
Gaacutes 116100
755
Remeacutedios 127500
83
Alimentaccedilatildeo 906000
590
TOTAL 1535900
1000
Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os
gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute
relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma
oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente
para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com
alimentaccedilatildeo
34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional
A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias
revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite
frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que
dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte
presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria
de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca
da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas
A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento
importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et
al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana
em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas
elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de
5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um
15
melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade
(MAXWELL et al 1998)
TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena
Calorias Proteiacutenas
Consumo meacutedio per capita de
calorias (kcaldia) Nuacutemero
Consumo meacutedio per capita (gdia)
Nuacutemero
Menos de 80 149701 5 31 1
De 80 ateacute menos de 110
202139 7 59 1
De110 a mais 367100 8 100 18
TOTAL 239646 20 633 20
A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas
entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta
um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas
5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das
famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado
essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente
atendida em termos quantitativos
Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana
pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas
famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a
um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado
Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo
maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser
desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a
seguranccedila alimentar
4 Resumo e Conclusotildees
A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees
acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da
populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo
16
numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de
forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da
agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso
os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas
existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas
pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa
qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de
frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza
Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees
serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos
recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere
um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a
agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo
entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute
predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a
agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma
economia de subsistecircncia
As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo
com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As
informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta
de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui
existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas
Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo
cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas
caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por
meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a
alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada
nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de
17
hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e
de nutrientes para os membros das famiacutelias
Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana
eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos
que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o
aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de
renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos
O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no
entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de
creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito
poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um
amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado
por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares
sustentaacuteveis
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2
melhorar o grau de frescor de alimentos pereciacuteveis e ainda oferecer oportunidades de
empregos produtivos em um setor onde os obstaacuteculos ao ingresso satildeo de pouca
importacircncia
Em vista destes acontecimentos em todo o mundo notadamente nos paiacuteses menos
desenvolvidos tem sido detectado um fenocircmeno em que um crescente nuacutemero de
residentes urbanos se dedica agraves atividades agriacutecolas2 Essas atividades agriacutecolas tecircm sido
comumente chamadas de agricultura urbana Fleury amp Donadieu (1997) sugerem empregar
esse termo para designar os sistemas agriacutecolas das periferias urbanas orientados para as
novas necessidades urbanas mesmo ressaltando que a expressatildeo possui mais de um
significado podendo ser empregada em diferentes situaccedilotildees ou para distintos grupos de
profissionais Seja qual for a interpretaccedilatildeo dada para o termo agricultura urbana
dependendo do autor e do paiacutes no qual se insere o mesmo indiscutivelmente estaacute
relacionado com a auto-suficiecircncia alimentar das cidades
Outro aspecto importante eacute mencionado por Zeeuw et al (2000) ao destacarem que
as anaacutelises das tendecircncias atuais dos sistemas de alimentaccedilatildeo dos pobres urbanos mostram
que para garantir sua seguranccedila alimentar eacute necessaacuteria a combinaccedilatildeo da produccedilatildeo de
alimentos nas zonas rurais e urbanas
A Food and Agriculture Organization - FAO (1996) tambeacutem ressalta que a
agricultura urbana pode se constituir em uma importante contribuiccedilatildeo na questatildeo alimentar
e ateacute para o aumento da renda da populaccedilatildeo em muitas cidades do mundo em
desenvolvimento No entanto a organizaccedilatildeo salienta que ela fornece natildeo somente
benefiacutecios de ordem econocircmica mas tambeacutem de recreaccedilatildeo lazer e ecoloacutegicos aos
citadinos
Em relaccedilatildeo aos tipos dos agricultores urbanos a maioria segundo registros da
United Nations Development Programme - UNDP (1996) tem origem nos grupos de baixa
renda em muitos paiacuteses em desenvolvimento
Aleacutem disso frequumlentemente eles cultivam terra que natildeo possuem Entretanto em
alguns paiacuteses (incluindo Argentina e Estados Unidos) agricultores de renda meacutedia que satildeo
a maioria praticam primariamente cultivo de quintal A diferenccedila entre as praacuteticas
agriacutecolas dos agricultores de baixa renda e elevada natildeo estaacute apenas no tamanho mas nos
3
sistemas de produccedilatildeo e produtos Enquanto o monocultivo eacute comum entre agricultores
abastados os agricultores de baixa renda tendem a escolher sistemas de produccedilatildeo agriacutecola
diversificados que requerem baixo capital e minimizam riscos (UNDP 1996)
Zeeuw et al (2000) salientam tambeacutem que a agricultura urbana eacute uma atividade que
exige poliacuteticas puacuteblicas para sua implementaccedilatildeo principalmente no que diz respeito agraves
poliacuteticas de uso de solos sauacutede ambientais e de desenvolvimento social Por isso eacute
essencial o conhecimento das caracteriacutesticas especiacuteficas dos locais e as diferentes
finalidades da agricultura urbana para que sejam formuladas poliacuteticas adequadas de
intervenccedilatildeo
Em quase todo o mundo encontram-se pesquisas explorando a temaacutetica da
agricultura urbana O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no
Brasil eacute o de Fregravere et al (1999) o qual apresenta os resultados de uma investigaccedilatildeo
realizada em Beleacutem-PA com o objetivo de conhecer os tipos e dimensionar a agricultura
naquele municiacutepio
Da mesma maneira que em vaacuterias localidades alvos da pesquisa em Santa Maria -
RS a agricultura urbana eacute uma realidade entre os moradores de vaacuterias localidades Este
artigo tem como objetivo apresentar os resultados de uma investigaccedilatildeo sobre a contribuiccedilatildeo
da agricultura urbana na melhoria da renda e da alimentaccedilatildeo de famiacutelias pobres3
2 Metodologia Utilizada
Essa pesquisa desenvolveu-se na cidade de Santa Maria Estado do Rio Grande do
Sul O municiacutepio situa-se na regiatildeo central do Estado Segundo o Censo IBGE (2000) a
populaccedilatildeo urbana eacute de 230468 habitantes e a rural eacute de 12928 habitantes respectivamente
947 e 53 da populaccedilatildeo total Esses dados permitem concluir que Santa Maria eacute um
municiacutepio nitidamente urbano segundo os criteacuterios do IBGE No periacutemetro urbano foram
2 Esse crescimento tem sido relatado principalmente nas pesquisas realizadas nos paiacuteses africanos A tiacutetulo de exemplo ver Drakakis-Smith D et al (1995) entre outros estudos 3Zaluar (199433) define os pobres de um ponto de vista meramente descritivo como todos aqueles que estatildeo incluiacutedos nas faixas de renda mais baixas (ateacute 3 a 5 salaacuterios miacutenimos) ou os que exercem as atividades pior remuneradas na economia nacional Entre eles estatildeo obviamente os operaacuterios e assalariados do terciaacuterio semi ou natildeo-qualificados e que recebem baixos salaacuterios em virtude da poliacutetica salarial vigente bem como os trabalhadores por conta-proacutepria pouco ou natildeo especializados quer sejam estabelecidos ou natildeo
4
identificadas as comunidades que integram os bolsotildees de miseacuteria4 da cidade A intenccedilatildeo era
estudar a agricultura urbana no contexto da pobreza As comunidades foram escolhidas
intencionalmente em localidades situadas em distintas zonas do municiacutepio sendo elas Vila
Arco Iacuteris Vila Liacutedia Urlacircndia Renascenccedila Vila Lorenzi Nossa Senhora do Trabalho
Apariacutecio de Moraes e Montanha Russa A coleta dos dados ocorreu durante o mecircs de
fevereiro e marccedilo de 2004 pela proacutepria pesquisadora sendo coletados dados de 38
famiacutelias Para a definiccedilatildeo do nuacutemero de famiacutelias a serem pesquisadas nas comunidades
utilizou-se uma amostragem natildeo-probabiliacutestica autogerada O instrumento utilizado para o
levantamento dos foi o questionaacuterio contendo 32 questotildees fechadas e 1 questatildeo aberta
Apoacutes a coleta os dados foram digitados em planilhas do programa Excel
constituindo um banco de dados Posteriormente esses dados foram importados pelo
programa estatiacutestico SPSS (Statistical Product and Service Solutions) sendo este utilizado
para o cruzamento das variaacuteveis selecionadas e de interesse do estudo
Numa segunda fase do trabalho foi realizada uma nova pesquisa de campo em uma
sub-amostra de 20 famiacutelias com o objetivo de levantar dados acerca do consumo alimentar
familiar Para tal utilizou-se a metodologia desenvolvida por Galeazzi et al (1996) para
inqueacuterito de consumo familiar
Foram elaborados caacutelculos relativos ao consumo meacutedio per capita de energia e
nutrientes selecionados Por meio de adoccedilatildeo do software Virtual Nutri (PHILIPPI ST
1996) foram elaborados os caacutelculos relativos agrave composiccedilatildeo energeacutetica e nutricional da
alimentaccedilatildeo das famiacutelias Nessa pesquisa foram adotados paracircmetros da FAOOMSONU
(1985) para estabelecer as recomendaccedilotildees meacutedias preconizadas de energia e de proteiacutena
3 Resultados e Discussatildeo
31 Breve caracterizaccedilatildeo da populaccedilatildeo pesquisada
As tabelas apresentadas a seguir mostram alguns dos principais resultados obtidos
atraveacutes da aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios junto agraves famiacutelias visando obter informaccedilotildees
pertinentes a este trabalho Na Tabela 1 pode-se verificar a distribuiccedilatildeo das famiacutelias de
acordo com o nuacutemero de pessoas nas localidades pesquisadas
4 Estes bolsotildees foram identificados pela Rede de Solidariedade e divulgados atraveacutes de documento intitulado Projeto Institucional de Extensatildeo Nuacutecleo da UFSM em apoio agrave Rede de Solidariedade (abril de 2003)
5
TABELA 1
Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias segundo as localidades pesquisadas Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias
Localidades 1 2 3 4 5 7
TOTAL
Urlacircndia 4 9 4 1 1 19 Renascenccedila 1 2 1 4 Vila Lorenzi 2 2 3 1 8 Apariacutecio de Moraes 1 2 1 4 Montanha Russa 1 2 3 TOTAL 2 8 14 9 3 2 38
O total representa o nuacutemero de famiacutelias que foram entrevistadas em cada local e o
nuacutemero de pessoas diz respeito ao tamanho das famiacutelias A maior parte das famiacutelias eacute
formada por duas e quatro pessoas sendo que apenas duas famiacutelias uma na Vila Urlacircndia e
outra na Renascenccedila apresentaram sete pessoas na famiacutelia residindo no domiciacutelio visitado
No geral pode-se verificar que natildeo satildeo famiacutelias numerosas De acordo com o IBGE
(Censo 2000) esse fato se explica pela queda acelerada da fecundidade ocorrida no paiacutes
nas uacuteltimas duas deacutecadas conduzindo a uma reduccedilatildeo no tamanho das famiacutelias O nuacutemero
meacutedio de membros das famiacutelias caiu de 39 pessoas em 1991 para 35 em 2000 As
famiacutelias com um a quatro componentes estatildeo mais presentes nas aacutereas urbanas enquanto
que as famiacutelias com cinco a onze pessoas satildeo mais frequumlentes nas aacutereas rurais
Na Tabela 2 tecircm-se os resultados relativos ao sexo das pessoas ocupadas na
agricultura urbana
TABELA 2 Sexo das pessoas ocupadas na agricultura urbana
Sexo Agricultores Urbanos Masculino Feminino
Total
Nuacutemero de pessoas 30 (526) 27 (473) 57 (100) Verifica-se que haacute pouca diferenccedila entre homens e mulheres que trabalham nas
produccedilotildees agriacutecolas urbanas sendo que do total de 57 pessoas nas famiacutelias 30 satildeo do sexo
masculino e 27 do sexo feminino No trabalho de Nugent (2000) os resultados mostram
6
que as mulheres estatildeo muito mais envolvidas nesta atividade e os homens tecircm mais chance
de se envolver na produccedilatildeo para o mercado nos casos em que as mulheres estatildeo muito
ocupadas com outras tarefas Nestas comunidades natildeo se pode afirmar que existe
predominacircncia de um dos sexos no trabalho da agricultura urbana ao contraacuterio do que se
pode encontrar na literatura5 onde se ressalta que a maior parte dos agricultores urbanos
satildeo mulheres
A Tabela 3 apresenta os estratos de idade das pessoas envolvidas com o trabalho na
agricultura urbana
TABELA 3 Estratos de idade das pessoas envolvidas na agricultura urbana
Estratos de idade Agricultores Urbanos Ateacute 14
anos 15 ateacute 22
anos 23 ateacute 40
anos 41 ateacute 59
anos 60 anos e
mais
Total
Nordm de pessoas 1 (175)
1 (175)
12 (21 )
31 (543)
12 (21) 57
Entre as 57 pessoas que praticam a atividade a maioria encontra-se na faixa etaacuteria
de 41 ateacute 59 anos e somadas agraves pessoas que possuem mais de 60 anos pode-se concluir
que quem pratica a agricultura urbana nestas comunidades natildeo satildeo exatamente pessoas
mais jovens mas sim aquelas com idade superior a 40 anos
Na Tabela 4 pode-se verificar o local de origem dos agricultores urbanos
pesquisados Deste total constata-se que cerca de 37 satildeo oriundos da zona rural de outras
cidades e 263 da zona rural de Santa Maria ou seja 63 do total das pessoas que
praticam agricultura urbana satildeo de origem rural Isto remete agrave questatildeo do ecircxodo rural que
conduz essas pessoas para a cidade com o objetivo de melhorar as condiccedilotildees de vida e
ainda a tradiccedilatildeo na agricultura que elas trazem como eacute detalhado no trabalho de COSTA
BEBER (1998)
TABELA 4 Local de origem das pessoas que trabalham na agricultura urbana
Local de Origem
Agricultores Urbanos
Santa Maria
(urbana)
Santa Maria (rural)
Outras cidades
(urbana)
Outras cidades (rural)
Total
5 No livro Urban Agriculture Food Jobs and Sustainable Cities (UNDP 1996) existe a informaccedilatildeo de que em muitos locais do mundo as mulheres tecircm maior participaccedilatildeo na agricultura urbana do que os homens
7
Nordm de pessoas 15 (263)
15 (263)
6 (105)
21 (368)
57 (100)
Existem aproximadamente 37 que eacute de origem urbana e pode ter outras razotildees
para a praacutetica da agricultura como a proacutepria subsistecircncia jaacute que eacute integrante de
comunidades pobres Outras razotildees dizem respeito ao lazer que a atividade pode lhes
proporcionar A esse respeito Altieri et al (1999) salientam que a agricultura urbana para
as pessoas nascidas na cidade eacute oportunidade para aprender e apreciar o processo de
cultivo Para os receacutem-migrantes da zona rural a atividade representa uma forma de utilizar
suas especialidades agriacutecolas e para alguns um refuacutegio onde eles podem trabalhar
novamente mas de forma diferente com a terra e religados agrave natureza
Na Tabela 5 estatildeo contabilizadas as ocupaccedilotildees das pessoas que trabalham na
agricultura urbana Destaca-se que do total de 57 pessoas que declararam a praacutetica da
agricultura urbana nem todas podem ser consideradas pessoas ativas pois aiacute estatildeo
incluiacutedos aposentados pensionistas e mulheres com atividades domeacutesticas6 Descontando
estas pessoas chega-se ao nuacutemero de 25 pessoas ativas que se dedicam tambeacutem agrave
agricultura urbana Estas se encontram ocupadas nos serviccedilos de construccedilatildeo civil outras em
serviccedilos domeacutesticos e ainda haacute aquelas classificadas como vendedores informais e
prestadores de serviccedilo por conta-proacutepria
TABELA 5 Grupos de ocupaccedilotildees das pessoas ativas que trabalham na agricultura urbana
Grupos de ocupaccedilatildeo Nuacutemero de pessoas Acumulada
Administraccedilatildeo puacuteblica 1
4
4
Professores e outros da educaccedilatildeo 1
4
8
Agricultor conta-proacutepria 1
4
12
Serviccedilos da construccedilatildeo civil 8
32
44
Ocupaccedilotildees agroindustriais 2
8
52
Induacutestria de transformaccedilatildeo 1
4
56
Comeacutercio natildeo-especificado 3
12
68
Motoristas 1
4
72
Serviccedilos domeacutesticos remunerados 4
16
88
6 Segundo a classificaccedilatildeo das Pesquisas Nacionais de Amostras de Domiciacutelios - PNADs anteriores a 1992 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) somente satildeo consideradas pessoas ativas ou ocupadas
aquelas com 10 anos e mais que trabalhavam 15 horas ou mais na semana de referecircncia da pesquisa Adotou-se este conceito como criteacuterio de separaccedilatildeo das pessoas ativas neste artigo Com a aplicaccedilatildeo deste conceito restaram somente 47 pessoas em relaccedilatildeo agraves 57 inicialmente apresentadas nas Tabelas 2 3 e 4 Se se levar em conta somente as que declararam praticar agricultura urbana restaratildeo apenas 25 pessoas ativas que satildeo apresentadas na Tabela 5
8
Serviccedilos pessoais natildeo-domeacutesticos 2
8
96
Outros serv Pessoais natildeo-domeacutesticos
1
4
100
TOTAL 25
100
-
Na Tabela 6 eacute apresentada a distribuiccedilatildeo das famiacutelias pesquisadas segundo os
estratos de renda per capita Se for adotada a linha da pobreza como sendo igual a R$
12000 observa-se na Tabela 6 que 211 das famiacutelias possuem rendimentos que as
classificam abaixo da linha de pobreza7 A renda meacutedia per capita eacute somente de R$ 25277
e a renda mediana per capita atinge apenas R$ 21800 Se observarmos atentamente estas
informaccedilotildees apresentadas na Tabela 6 pode-se verificar que menos de frac14 das famiacutelias
pesquisadas possuem renda que as situa abaixo da chamada linha de pobreza
TABELA 6 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias segundo os estratos de renda per capita
Estratos de Renda (em Reais)
Nuacutemero
acumulada
60 ateacute 120 8
211
211
125 ateacute 240 15
395
605
250 ateacute 370 9
237
842
39333 ateacute 45666 4
105
947
700 e mais 2
53
1000
TOTAL 38
100
-
Este curioso resultado permite levantar a hipoacutetese de que embora a pesquisa tenha
sido realizada no contexto da pobreza os praticantes da agricultura urbana natildeo apresentam
rendimentos que os classifiquem entre as famiacutelias relativamente mais pobres Uma outra
razatildeo que pode ser aventada eacute a existecircncia de aposentados e pensionistas entre os membros
das famiacutelias o que permite uma elevaccedilatildeo e estabilizaccedilatildeo das rendas
32 A praacutetica da agricultura urbana
7 O valor do salaacuterio miacutenimo nacional no periacuteodo da pesquisa era de R$ 24000 Segundo Rocha (19963) eacute consensualmente aceito que a variaacutevel de renda mais adequada para confronto com a linha de pobreza eacute a renda familiar per capita que leva em consideraccedilatildeo todos os rendimentos das pessoas do nuacutecleo familiar o nuacutemero de pessoas e o papel da famiacutelia como unidade solidaacuteria de consumo e rendimento A metodologia oficial usa como referecircncia o salaacuterio miacutenimo isto eacute frac12 do salaacuterio miacutenimo familiar per capita limite abaixo do qual se define uma famiacutelia pobre Definiccedilatildeo encontrada no site do IBGE (httpwwwibgegovbribgeteenglossariopobreza htmlgt Acesso em 01092005)
9
Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da
agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura
urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias
pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos
TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas
Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos
4
4
7
23
105
105
184
605
TOTAL 38
1000
Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas
211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que
a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria
apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e
mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a
continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica
A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela
pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos
quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores
urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a
produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados
TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana
Local Nuacutemero
Quintal de casa 30
789
Terrenos privados 8
211
TOTAL 38
1000
Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-
se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e
temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em
variedade
10
TABELA 9
Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto
Couve 842
Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131
Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que
100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total
158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam
parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou
trocam com estes o excedente da produccedilatildeo
TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
Destino Nuacutemero 38 Consumo
Comeacutercio Trocas doaccedilotildees
6 9
11
Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas
populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que
plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro
Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos
de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada
como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de
autoconsumo
A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a
agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida
TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana
Razotildees Nuacutemero
28
737
17
447
10
263
Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2
53
TOTAL 57
-
Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura
urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que
17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram
a cultivar
O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura
urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a
geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o
grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside
basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas
famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana
12
TABELA 12
Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades
Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades
3061
2858
2041
816
816
204
204
TOTAL 1000
Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos
agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio
investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos
existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser
minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8
Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres
eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda
poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos
economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada
como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este
aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos
agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia
teacutecnica diferenciada
43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar
Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana
representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13
apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o
autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado
8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo
13
declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante
economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda
familiar)
TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda
total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias
Ateacute 10 da renda total 5
1316
Mais de 10 ateacute 20 14
3684
Mais de 20 ateacute 30 9
2368
Mais de 30 10
2632
TOTAL 38
10000
Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a
20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das
famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura
urbana
Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior
a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades
baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas
satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das
exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente
nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente
A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as
principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as
despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia
aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$
40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos
destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura
internacional
14
TABELA 14
Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais
Aacutegua 111600
727
Luz 172200
1121
Transporte 102500
667
Gaacutes 116100
755
Remeacutedios 127500
83
Alimentaccedilatildeo 906000
590
TOTAL 1535900
1000
Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os
gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute
relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma
oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente
para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com
alimentaccedilatildeo
34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional
A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias
revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite
frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que
dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte
presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria
de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca
da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas
A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento
importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et
al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana
em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas
elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de
5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um
15
melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade
(MAXWELL et al 1998)
TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena
Calorias Proteiacutenas
Consumo meacutedio per capita de
calorias (kcaldia) Nuacutemero
Consumo meacutedio per capita (gdia)
Nuacutemero
Menos de 80 149701 5 31 1
De 80 ateacute menos de 110
202139 7 59 1
De110 a mais 367100 8 100 18
TOTAL 239646 20 633 20
A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas
entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta
um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas
5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das
famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado
essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente
atendida em termos quantitativos
Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana
pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas
famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a
um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado
Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo
maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser
desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a
seguranccedila alimentar
4 Resumo e Conclusotildees
A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees
acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da
populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo
16
numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de
forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da
agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso
os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas
existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas
pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa
qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de
frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza
Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees
serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos
recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere
um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a
agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo
entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute
predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a
agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma
economia de subsistecircncia
As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo
com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As
informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta
de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui
existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas
Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo
cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas
caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por
meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a
alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada
nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de
17
hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e
de nutrientes para os membros das famiacutelias
Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana
eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos
que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o
aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de
renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos
O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no
entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de
creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito
poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um
amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado
por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares
sustentaacuteveis
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3
sistemas de produccedilatildeo e produtos Enquanto o monocultivo eacute comum entre agricultores
abastados os agricultores de baixa renda tendem a escolher sistemas de produccedilatildeo agriacutecola
diversificados que requerem baixo capital e minimizam riscos (UNDP 1996)
Zeeuw et al (2000) salientam tambeacutem que a agricultura urbana eacute uma atividade que
exige poliacuteticas puacuteblicas para sua implementaccedilatildeo principalmente no que diz respeito agraves
poliacuteticas de uso de solos sauacutede ambientais e de desenvolvimento social Por isso eacute
essencial o conhecimento das caracteriacutesticas especiacuteficas dos locais e as diferentes
finalidades da agricultura urbana para que sejam formuladas poliacuteticas adequadas de
intervenccedilatildeo
Em quase todo o mundo encontram-se pesquisas explorando a temaacutetica da
agricultura urbana O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no
Brasil eacute o de Fregravere et al (1999) o qual apresenta os resultados de uma investigaccedilatildeo
realizada em Beleacutem-PA com o objetivo de conhecer os tipos e dimensionar a agricultura
naquele municiacutepio
Da mesma maneira que em vaacuterias localidades alvos da pesquisa em Santa Maria -
RS a agricultura urbana eacute uma realidade entre os moradores de vaacuterias localidades Este
artigo tem como objetivo apresentar os resultados de uma investigaccedilatildeo sobre a contribuiccedilatildeo
da agricultura urbana na melhoria da renda e da alimentaccedilatildeo de famiacutelias pobres3
2 Metodologia Utilizada
Essa pesquisa desenvolveu-se na cidade de Santa Maria Estado do Rio Grande do
Sul O municiacutepio situa-se na regiatildeo central do Estado Segundo o Censo IBGE (2000) a
populaccedilatildeo urbana eacute de 230468 habitantes e a rural eacute de 12928 habitantes respectivamente
947 e 53 da populaccedilatildeo total Esses dados permitem concluir que Santa Maria eacute um
municiacutepio nitidamente urbano segundo os criteacuterios do IBGE No periacutemetro urbano foram
2 Esse crescimento tem sido relatado principalmente nas pesquisas realizadas nos paiacuteses africanos A tiacutetulo de exemplo ver Drakakis-Smith D et al (1995) entre outros estudos 3Zaluar (199433) define os pobres de um ponto de vista meramente descritivo como todos aqueles que estatildeo incluiacutedos nas faixas de renda mais baixas (ateacute 3 a 5 salaacuterios miacutenimos) ou os que exercem as atividades pior remuneradas na economia nacional Entre eles estatildeo obviamente os operaacuterios e assalariados do terciaacuterio semi ou natildeo-qualificados e que recebem baixos salaacuterios em virtude da poliacutetica salarial vigente bem como os trabalhadores por conta-proacutepria pouco ou natildeo especializados quer sejam estabelecidos ou natildeo
4
identificadas as comunidades que integram os bolsotildees de miseacuteria4 da cidade A intenccedilatildeo era
estudar a agricultura urbana no contexto da pobreza As comunidades foram escolhidas
intencionalmente em localidades situadas em distintas zonas do municiacutepio sendo elas Vila
Arco Iacuteris Vila Liacutedia Urlacircndia Renascenccedila Vila Lorenzi Nossa Senhora do Trabalho
Apariacutecio de Moraes e Montanha Russa A coleta dos dados ocorreu durante o mecircs de
fevereiro e marccedilo de 2004 pela proacutepria pesquisadora sendo coletados dados de 38
famiacutelias Para a definiccedilatildeo do nuacutemero de famiacutelias a serem pesquisadas nas comunidades
utilizou-se uma amostragem natildeo-probabiliacutestica autogerada O instrumento utilizado para o
levantamento dos foi o questionaacuterio contendo 32 questotildees fechadas e 1 questatildeo aberta
Apoacutes a coleta os dados foram digitados em planilhas do programa Excel
constituindo um banco de dados Posteriormente esses dados foram importados pelo
programa estatiacutestico SPSS (Statistical Product and Service Solutions) sendo este utilizado
para o cruzamento das variaacuteveis selecionadas e de interesse do estudo
Numa segunda fase do trabalho foi realizada uma nova pesquisa de campo em uma
sub-amostra de 20 famiacutelias com o objetivo de levantar dados acerca do consumo alimentar
familiar Para tal utilizou-se a metodologia desenvolvida por Galeazzi et al (1996) para
inqueacuterito de consumo familiar
Foram elaborados caacutelculos relativos ao consumo meacutedio per capita de energia e
nutrientes selecionados Por meio de adoccedilatildeo do software Virtual Nutri (PHILIPPI ST
1996) foram elaborados os caacutelculos relativos agrave composiccedilatildeo energeacutetica e nutricional da
alimentaccedilatildeo das famiacutelias Nessa pesquisa foram adotados paracircmetros da FAOOMSONU
(1985) para estabelecer as recomendaccedilotildees meacutedias preconizadas de energia e de proteiacutena
3 Resultados e Discussatildeo
31 Breve caracterizaccedilatildeo da populaccedilatildeo pesquisada
As tabelas apresentadas a seguir mostram alguns dos principais resultados obtidos
atraveacutes da aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios junto agraves famiacutelias visando obter informaccedilotildees
pertinentes a este trabalho Na Tabela 1 pode-se verificar a distribuiccedilatildeo das famiacutelias de
acordo com o nuacutemero de pessoas nas localidades pesquisadas
4 Estes bolsotildees foram identificados pela Rede de Solidariedade e divulgados atraveacutes de documento intitulado Projeto Institucional de Extensatildeo Nuacutecleo da UFSM em apoio agrave Rede de Solidariedade (abril de 2003)
5
TABELA 1
Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias segundo as localidades pesquisadas Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias
Localidades 1 2 3 4 5 7
TOTAL
Urlacircndia 4 9 4 1 1 19 Renascenccedila 1 2 1 4 Vila Lorenzi 2 2 3 1 8 Apariacutecio de Moraes 1 2 1 4 Montanha Russa 1 2 3 TOTAL 2 8 14 9 3 2 38
O total representa o nuacutemero de famiacutelias que foram entrevistadas em cada local e o
nuacutemero de pessoas diz respeito ao tamanho das famiacutelias A maior parte das famiacutelias eacute
formada por duas e quatro pessoas sendo que apenas duas famiacutelias uma na Vila Urlacircndia e
outra na Renascenccedila apresentaram sete pessoas na famiacutelia residindo no domiciacutelio visitado
No geral pode-se verificar que natildeo satildeo famiacutelias numerosas De acordo com o IBGE
(Censo 2000) esse fato se explica pela queda acelerada da fecundidade ocorrida no paiacutes
nas uacuteltimas duas deacutecadas conduzindo a uma reduccedilatildeo no tamanho das famiacutelias O nuacutemero
meacutedio de membros das famiacutelias caiu de 39 pessoas em 1991 para 35 em 2000 As
famiacutelias com um a quatro componentes estatildeo mais presentes nas aacutereas urbanas enquanto
que as famiacutelias com cinco a onze pessoas satildeo mais frequumlentes nas aacutereas rurais
Na Tabela 2 tecircm-se os resultados relativos ao sexo das pessoas ocupadas na
agricultura urbana
TABELA 2 Sexo das pessoas ocupadas na agricultura urbana
Sexo Agricultores Urbanos Masculino Feminino
Total
Nuacutemero de pessoas 30 (526) 27 (473) 57 (100) Verifica-se que haacute pouca diferenccedila entre homens e mulheres que trabalham nas
produccedilotildees agriacutecolas urbanas sendo que do total de 57 pessoas nas famiacutelias 30 satildeo do sexo
masculino e 27 do sexo feminino No trabalho de Nugent (2000) os resultados mostram
6
que as mulheres estatildeo muito mais envolvidas nesta atividade e os homens tecircm mais chance
de se envolver na produccedilatildeo para o mercado nos casos em que as mulheres estatildeo muito
ocupadas com outras tarefas Nestas comunidades natildeo se pode afirmar que existe
predominacircncia de um dos sexos no trabalho da agricultura urbana ao contraacuterio do que se
pode encontrar na literatura5 onde se ressalta que a maior parte dos agricultores urbanos
satildeo mulheres
A Tabela 3 apresenta os estratos de idade das pessoas envolvidas com o trabalho na
agricultura urbana
TABELA 3 Estratos de idade das pessoas envolvidas na agricultura urbana
Estratos de idade Agricultores Urbanos Ateacute 14
anos 15 ateacute 22
anos 23 ateacute 40
anos 41 ateacute 59
anos 60 anos e
mais
Total
Nordm de pessoas 1 (175)
1 (175)
12 (21 )
31 (543)
12 (21) 57
Entre as 57 pessoas que praticam a atividade a maioria encontra-se na faixa etaacuteria
de 41 ateacute 59 anos e somadas agraves pessoas que possuem mais de 60 anos pode-se concluir
que quem pratica a agricultura urbana nestas comunidades natildeo satildeo exatamente pessoas
mais jovens mas sim aquelas com idade superior a 40 anos
Na Tabela 4 pode-se verificar o local de origem dos agricultores urbanos
pesquisados Deste total constata-se que cerca de 37 satildeo oriundos da zona rural de outras
cidades e 263 da zona rural de Santa Maria ou seja 63 do total das pessoas que
praticam agricultura urbana satildeo de origem rural Isto remete agrave questatildeo do ecircxodo rural que
conduz essas pessoas para a cidade com o objetivo de melhorar as condiccedilotildees de vida e
ainda a tradiccedilatildeo na agricultura que elas trazem como eacute detalhado no trabalho de COSTA
BEBER (1998)
TABELA 4 Local de origem das pessoas que trabalham na agricultura urbana
Local de Origem
Agricultores Urbanos
Santa Maria
(urbana)
Santa Maria (rural)
Outras cidades
(urbana)
Outras cidades (rural)
Total
5 No livro Urban Agriculture Food Jobs and Sustainable Cities (UNDP 1996) existe a informaccedilatildeo de que em muitos locais do mundo as mulheres tecircm maior participaccedilatildeo na agricultura urbana do que os homens
7
Nordm de pessoas 15 (263)
15 (263)
6 (105)
21 (368)
57 (100)
Existem aproximadamente 37 que eacute de origem urbana e pode ter outras razotildees
para a praacutetica da agricultura como a proacutepria subsistecircncia jaacute que eacute integrante de
comunidades pobres Outras razotildees dizem respeito ao lazer que a atividade pode lhes
proporcionar A esse respeito Altieri et al (1999) salientam que a agricultura urbana para
as pessoas nascidas na cidade eacute oportunidade para aprender e apreciar o processo de
cultivo Para os receacutem-migrantes da zona rural a atividade representa uma forma de utilizar
suas especialidades agriacutecolas e para alguns um refuacutegio onde eles podem trabalhar
novamente mas de forma diferente com a terra e religados agrave natureza
Na Tabela 5 estatildeo contabilizadas as ocupaccedilotildees das pessoas que trabalham na
agricultura urbana Destaca-se que do total de 57 pessoas que declararam a praacutetica da
agricultura urbana nem todas podem ser consideradas pessoas ativas pois aiacute estatildeo
incluiacutedos aposentados pensionistas e mulheres com atividades domeacutesticas6 Descontando
estas pessoas chega-se ao nuacutemero de 25 pessoas ativas que se dedicam tambeacutem agrave
agricultura urbana Estas se encontram ocupadas nos serviccedilos de construccedilatildeo civil outras em
serviccedilos domeacutesticos e ainda haacute aquelas classificadas como vendedores informais e
prestadores de serviccedilo por conta-proacutepria
TABELA 5 Grupos de ocupaccedilotildees das pessoas ativas que trabalham na agricultura urbana
Grupos de ocupaccedilatildeo Nuacutemero de pessoas Acumulada
Administraccedilatildeo puacuteblica 1
4
4
Professores e outros da educaccedilatildeo 1
4
8
Agricultor conta-proacutepria 1
4
12
Serviccedilos da construccedilatildeo civil 8
32
44
Ocupaccedilotildees agroindustriais 2
8
52
Induacutestria de transformaccedilatildeo 1
4
56
Comeacutercio natildeo-especificado 3
12
68
Motoristas 1
4
72
Serviccedilos domeacutesticos remunerados 4
16
88
6 Segundo a classificaccedilatildeo das Pesquisas Nacionais de Amostras de Domiciacutelios - PNADs anteriores a 1992 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) somente satildeo consideradas pessoas ativas ou ocupadas
aquelas com 10 anos e mais que trabalhavam 15 horas ou mais na semana de referecircncia da pesquisa Adotou-se este conceito como criteacuterio de separaccedilatildeo das pessoas ativas neste artigo Com a aplicaccedilatildeo deste conceito restaram somente 47 pessoas em relaccedilatildeo agraves 57 inicialmente apresentadas nas Tabelas 2 3 e 4 Se se levar em conta somente as que declararam praticar agricultura urbana restaratildeo apenas 25 pessoas ativas que satildeo apresentadas na Tabela 5
8
Serviccedilos pessoais natildeo-domeacutesticos 2
8
96
Outros serv Pessoais natildeo-domeacutesticos
1
4
100
TOTAL 25
100
-
Na Tabela 6 eacute apresentada a distribuiccedilatildeo das famiacutelias pesquisadas segundo os
estratos de renda per capita Se for adotada a linha da pobreza como sendo igual a R$
12000 observa-se na Tabela 6 que 211 das famiacutelias possuem rendimentos que as
classificam abaixo da linha de pobreza7 A renda meacutedia per capita eacute somente de R$ 25277
e a renda mediana per capita atinge apenas R$ 21800 Se observarmos atentamente estas
informaccedilotildees apresentadas na Tabela 6 pode-se verificar que menos de frac14 das famiacutelias
pesquisadas possuem renda que as situa abaixo da chamada linha de pobreza
TABELA 6 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias segundo os estratos de renda per capita
Estratos de Renda (em Reais)
Nuacutemero
acumulada
60 ateacute 120 8
211
211
125 ateacute 240 15
395
605
250 ateacute 370 9
237
842
39333 ateacute 45666 4
105
947
700 e mais 2
53
1000
TOTAL 38
100
-
Este curioso resultado permite levantar a hipoacutetese de que embora a pesquisa tenha
sido realizada no contexto da pobreza os praticantes da agricultura urbana natildeo apresentam
rendimentos que os classifiquem entre as famiacutelias relativamente mais pobres Uma outra
razatildeo que pode ser aventada eacute a existecircncia de aposentados e pensionistas entre os membros
das famiacutelias o que permite uma elevaccedilatildeo e estabilizaccedilatildeo das rendas
32 A praacutetica da agricultura urbana
7 O valor do salaacuterio miacutenimo nacional no periacuteodo da pesquisa era de R$ 24000 Segundo Rocha (19963) eacute consensualmente aceito que a variaacutevel de renda mais adequada para confronto com a linha de pobreza eacute a renda familiar per capita que leva em consideraccedilatildeo todos os rendimentos das pessoas do nuacutecleo familiar o nuacutemero de pessoas e o papel da famiacutelia como unidade solidaacuteria de consumo e rendimento A metodologia oficial usa como referecircncia o salaacuterio miacutenimo isto eacute frac12 do salaacuterio miacutenimo familiar per capita limite abaixo do qual se define uma famiacutelia pobre Definiccedilatildeo encontrada no site do IBGE (httpwwwibgegovbribgeteenglossariopobreza htmlgt Acesso em 01092005)
9
Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da
agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura
urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias
pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos
TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas
Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos
4
4
7
23
105
105
184
605
TOTAL 38
1000
Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas
211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que
a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria
apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e
mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a
continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica
A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela
pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos
quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores
urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a
produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados
TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana
Local Nuacutemero
Quintal de casa 30
789
Terrenos privados 8
211
TOTAL 38
1000
Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-
se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e
temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em
variedade
10
TABELA 9
Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto
Couve 842
Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131
Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que
100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total
158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam
parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou
trocam com estes o excedente da produccedilatildeo
TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
Destino Nuacutemero 38 Consumo
Comeacutercio Trocas doaccedilotildees
6 9
11
Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas
populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que
plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro
Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos
de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada
como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de
autoconsumo
A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a
agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida
TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana
Razotildees Nuacutemero
28
737
17
447
10
263
Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2
53
TOTAL 57
-
Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura
urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que
17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram
a cultivar
O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura
urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a
geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o
grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside
basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas
famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana
12
TABELA 12
Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades
Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades
3061
2858
2041
816
816
204
204
TOTAL 1000
Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos
agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio
investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos
existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser
minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8
Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres
eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda
poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos
economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada
como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este
aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos
agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia
teacutecnica diferenciada
43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar
Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana
representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13
apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o
autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado
8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo
13
declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante
economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda
familiar)
TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda
total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias
Ateacute 10 da renda total 5
1316
Mais de 10 ateacute 20 14
3684
Mais de 20 ateacute 30 9
2368
Mais de 30 10
2632
TOTAL 38
10000
Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a
20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das
famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura
urbana
Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior
a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades
baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas
satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das
exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente
nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente
A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as
principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as
despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia
aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$
40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos
destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura
internacional
14
TABELA 14
Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais
Aacutegua 111600
727
Luz 172200
1121
Transporte 102500
667
Gaacutes 116100
755
Remeacutedios 127500
83
Alimentaccedilatildeo 906000
590
TOTAL 1535900
1000
Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os
gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute
relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma
oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente
para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com
alimentaccedilatildeo
34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional
A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias
revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite
frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que
dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte
presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria
de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca
da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas
A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento
importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et
al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana
em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas
elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de
5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um
15
melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade
(MAXWELL et al 1998)
TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena
Calorias Proteiacutenas
Consumo meacutedio per capita de
calorias (kcaldia) Nuacutemero
Consumo meacutedio per capita (gdia)
Nuacutemero
Menos de 80 149701 5 31 1
De 80 ateacute menos de 110
202139 7 59 1
De110 a mais 367100 8 100 18
TOTAL 239646 20 633 20
A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas
entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta
um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas
5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das
famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado
essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente
atendida em termos quantitativos
Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana
pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas
famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a
um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado
Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo
maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser
desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a
seguranccedila alimentar
4 Resumo e Conclusotildees
A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees
acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da
populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo
16
numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de
forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da
agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso
os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas
existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas
pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa
qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de
frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza
Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees
serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos
recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere
um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a
agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo
entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute
predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a
agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma
economia de subsistecircncia
As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo
com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As
informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta
de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui
existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas
Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo
cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas
caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por
meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a
alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada
nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de
17
hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e
de nutrientes para os membros das famiacutelias
Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana
eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos
que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o
aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de
renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos
O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no
entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de
creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito
poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um
amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado
por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares
sustentaacuteveis
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4
identificadas as comunidades que integram os bolsotildees de miseacuteria4 da cidade A intenccedilatildeo era
estudar a agricultura urbana no contexto da pobreza As comunidades foram escolhidas
intencionalmente em localidades situadas em distintas zonas do municiacutepio sendo elas Vila
Arco Iacuteris Vila Liacutedia Urlacircndia Renascenccedila Vila Lorenzi Nossa Senhora do Trabalho
Apariacutecio de Moraes e Montanha Russa A coleta dos dados ocorreu durante o mecircs de
fevereiro e marccedilo de 2004 pela proacutepria pesquisadora sendo coletados dados de 38
famiacutelias Para a definiccedilatildeo do nuacutemero de famiacutelias a serem pesquisadas nas comunidades
utilizou-se uma amostragem natildeo-probabiliacutestica autogerada O instrumento utilizado para o
levantamento dos foi o questionaacuterio contendo 32 questotildees fechadas e 1 questatildeo aberta
Apoacutes a coleta os dados foram digitados em planilhas do programa Excel
constituindo um banco de dados Posteriormente esses dados foram importados pelo
programa estatiacutestico SPSS (Statistical Product and Service Solutions) sendo este utilizado
para o cruzamento das variaacuteveis selecionadas e de interesse do estudo
Numa segunda fase do trabalho foi realizada uma nova pesquisa de campo em uma
sub-amostra de 20 famiacutelias com o objetivo de levantar dados acerca do consumo alimentar
familiar Para tal utilizou-se a metodologia desenvolvida por Galeazzi et al (1996) para
inqueacuterito de consumo familiar
Foram elaborados caacutelculos relativos ao consumo meacutedio per capita de energia e
nutrientes selecionados Por meio de adoccedilatildeo do software Virtual Nutri (PHILIPPI ST
1996) foram elaborados os caacutelculos relativos agrave composiccedilatildeo energeacutetica e nutricional da
alimentaccedilatildeo das famiacutelias Nessa pesquisa foram adotados paracircmetros da FAOOMSONU
(1985) para estabelecer as recomendaccedilotildees meacutedias preconizadas de energia e de proteiacutena
3 Resultados e Discussatildeo
31 Breve caracterizaccedilatildeo da populaccedilatildeo pesquisada
As tabelas apresentadas a seguir mostram alguns dos principais resultados obtidos
atraveacutes da aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios junto agraves famiacutelias visando obter informaccedilotildees
pertinentes a este trabalho Na Tabela 1 pode-se verificar a distribuiccedilatildeo das famiacutelias de
acordo com o nuacutemero de pessoas nas localidades pesquisadas
4 Estes bolsotildees foram identificados pela Rede de Solidariedade e divulgados atraveacutes de documento intitulado Projeto Institucional de Extensatildeo Nuacutecleo da UFSM em apoio agrave Rede de Solidariedade (abril de 2003)
5
TABELA 1
Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias segundo as localidades pesquisadas Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias
Localidades 1 2 3 4 5 7
TOTAL
Urlacircndia 4 9 4 1 1 19 Renascenccedila 1 2 1 4 Vila Lorenzi 2 2 3 1 8 Apariacutecio de Moraes 1 2 1 4 Montanha Russa 1 2 3 TOTAL 2 8 14 9 3 2 38
O total representa o nuacutemero de famiacutelias que foram entrevistadas em cada local e o
nuacutemero de pessoas diz respeito ao tamanho das famiacutelias A maior parte das famiacutelias eacute
formada por duas e quatro pessoas sendo que apenas duas famiacutelias uma na Vila Urlacircndia e
outra na Renascenccedila apresentaram sete pessoas na famiacutelia residindo no domiciacutelio visitado
No geral pode-se verificar que natildeo satildeo famiacutelias numerosas De acordo com o IBGE
(Censo 2000) esse fato se explica pela queda acelerada da fecundidade ocorrida no paiacutes
nas uacuteltimas duas deacutecadas conduzindo a uma reduccedilatildeo no tamanho das famiacutelias O nuacutemero
meacutedio de membros das famiacutelias caiu de 39 pessoas em 1991 para 35 em 2000 As
famiacutelias com um a quatro componentes estatildeo mais presentes nas aacutereas urbanas enquanto
que as famiacutelias com cinco a onze pessoas satildeo mais frequumlentes nas aacutereas rurais
Na Tabela 2 tecircm-se os resultados relativos ao sexo das pessoas ocupadas na
agricultura urbana
TABELA 2 Sexo das pessoas ocupadas na agricultura urbana
Sexo Agricultores Urbanos Masculino Feminino
Total
Nuacutemero de pessoas 30 (526) 27 (473) 57 (100) Verifica-se que haacute pouca diferenccedila entre homens e mulheres que trabalham nas
produccedilotildees agriacutecolas urbanas sendo que do total de 57 pessoas nas famiacutelias 30 satildeo do sexo
masculino e 27 do sexo feminino No trabalho de Nugent (2000) os resultados mostram
6
que as mulheres estatildeo muito mais envolvidas nesta atividade e os homens tecircm mais chance
de se envolver na produccedilatildeo para o mercado nos casos em que as mulheres estatildeo muito
ocupadas com outras tarefas Nestas comunidades natildeo se pode afirmar que existe
predominacircncia de um dos sexos no trabalho da agricultura urbana ao contraacuterio do que se
pode encontrar na literatura5 onde se ressalta que a maior parte dos agricultores urbanos
satildeo mulheres
A Tabela 3 apresenta os estratos de idade das pessoas envolvidas com o trabalho na
agricultura urbana
TABELA 3 Estratos de idade das pessoas envolvidas na agricultura urbana
Estratos de idade Agricultores Urbanos Ateacute 14
anos 15 ateacute 22
anos 23 ateacute 40
anos 41 ateacute 59
anos 60 anos e
mais
Total
Nordm de pessoas 1 (175)
1 (175)
12 (21 )
31 (543)
12 (21) 57
Entre as 57 pessoas que praticam a atividade a maioria encontra-se na faixa etaacuteria
de 41 ateacute 59 anos e somadas agraves pessoas que possuem mais de 60 anos pode-se concluir
que quem pratica a agricultura urbana nestas comunidades natildeo satildeo exatamente pessoas
mais jovens mas sim aquelas com idade superior a 40 anos
Na Tabela 4 pode-se verificar o local de origem dos agricultores urbanos
pesquisados Deste total constata-se que cerca de 37 satildeo oriundos da zona rural de outras
cidades e 263 da zona rural de Santa Maria ou seja 63 do total das pessoas que
praticam agricultura urbana satildeo de origem rural Isto remete agrave questatildeo do ecircxodo rural que
conduz essas pessoas para a cidade com o objetivo de melhorar as condiccedilotildees de vida e
ainda a tradiccedilatildeo na agricultura que elas trazem como eacute detalhado no trabalho de COSTA
BEBER (1998)
TABELA 4 Local de origem das pessoas que trabalham na agricultura urbana
Local de Origem
Agricultores Urbanos
Santa Maria
(urbana)
Santa Maria (rural)
Outras cidades
(urbana)
Outras cidades (rural)
Total
5 No livro Urban Agriculture Food Jobs and Sustainable Cities (UNDP 1996) existe a informaccedilatildeo de que em muitos locais do mundo as mulheres tecircm maior participaccedilatildeo na agricultura urbana do que os homens
7
Nordm de pessoas 15 (263)
15 (263)
6 (105)
21 (368)
57 (100)
Existem aproximadamente 37 que eacute de origem urbana e pode ter outras razotildees
para a praacutetica da agricultura como a proacutepria subsistecircncia jaacute que eacute integrante de
comunidades pobres Outras razotildees dizem respeito ao lazer que a atividade pode lhes
proporcionar A esse respeito Altieri et al (1999) salientam que a agricultura urbana para
as pessoas nascidas na cidade eacute oportunidade para aprender e apreciar o processo de
cultivo Para os receacutem-migrantes da zona rural a atividade representa uma forma de utilizar
suas especialidades agriacutecolas e para alguns um refuacutegio onde eles podem trabalhar
novamente mas de forma diferente com a terra e religados agrave natureza
Na Tabela 5 estatildeo contabilizadas as ocupaccedilotildees das pessoas que trabalham na
agricultura urbana Destaca-se que do total de 57 pessoas que declararam a praacutetica da
agricultura urbana nem todas podem ser consideradas pessoas ativas pois aiacute estatildeo
incluiacutedos aposentados pensionistas e mulheres com atividades domeacutesticas6 Descontando
estas pessoas chega-se ao nuacutemero de 25 pessoas ativas que se dedicam tambeacutem agrave
agricultura urbana Estas se encontram ocupadas nos serviccedilos de construccedilatildeo civil outras em
serviccedilos domeacutesticos e ainda haacute aquelas classificadas como vendedores informais e
prestadores de serviccedilo por conta-proacutepria
TABELA 5 Grupos de ocupaccedilotildees das pessoas ativas que trabalham na agricultura urbana
Grupos de ocupaccedilatildeo Nuacutemero de pessoas Acumulada
Administraccedilatildeo puacuteblica 1
4
4
Professores e outros da educaccedilatildeo 1
4
8
Agricultor conta-proacutepria 1
4
12
Serviccedilos da construccedilatildeo civil 8
32
44
Ocupaccedilotildees agroindustriais 2
8
52
Induacutestria de transformaccedilatildeo 1
4
56
Comeacutercio natildeo-especificado 3
12
68
Motoristas 1
4
72
Serviccedilos domeacutesticos remunerados 4
16
88
6 Segundo a classificaccedilatildeo das Pesquisas Nacionais de Amostras de Domiciacutelios - PNADs anteriores a 1992 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) somente satildeo consideradas pessoas ativas ou ocupadas
aquelas com 10 anos e mais que trabalhavam 15 horas ou mais na semana de referecircncia da pesquisa Adotou-se este conceito como criteacuterio de separaccedilatildeo das pessoas ativas neste artigo Com a aplicaccedilatildeo deste conceito restaram somente 47 pessoas em relaccedilatildeo agraves 57 inicialmente apresentadas nas Tabelas 2 3 e 4 Se se levar em conta somente as que declararam praticar agricultura urbana restaratildeo apenas 25 pessoas ativas que satildeo apresentadas na Tabela 5
8
Serviccedilos pessoais natildeo-domeacutesticos 2
8
96
Outros serv Pessoais natildeo-domeacutesticos
1
4
100
TOTAL 25
100
-
Na Tabela 6 eacute apresentada a distribuiccedilatildeo das famiacutelias pesquisadas segundo os
estratos de renda per capita Se for adotada a linha da pobreza como sendo igual a R$
12000 observa-se na Tabela 6 que 211 das famiacutelias possuem rendimentos que as
classificam abaixo da linha de pobreza7 A renda meacutedia per capita eacute somente de R$ 25277
e a renda mediana per capita atinge apenas R$ 21800 Se observarmos atentamente estas
informaccedilotildees apresentadas na Tabela 6 pode-se verificar que menos de frac14 das famiacutelias
pesquisadas possuem renda que as situa abaixo da chamada linha de pobreza
TABELA 6 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias segundo os estratos de renda per capita
Estratos de Renda (em Reais)
Nuacutemero
acumulada
60 ateacute 120 8
211
211
125 ateacute 240 15
395
605
250 ateacute 370 9
237
842
39333 ateacute 45666 4
105
947
700 e mais 2
53
1000
TOTAL 38
100
-
Este curioso resultado permite levantar a hipoacutetese de que embora a pesquisa tenha
sido realizada no contexto da pobreza os praticantes da agricultura urbana natildeo apresentam
rendimentos que os classifiquem entre as famiacutelias relativamente mais pobres Uma outra
razatildeo que pode ser aventada eacute a existecircncia de aposentados e pensionistas entre os membros
das famiacutelias o que permite uma elevaccedilatildeo e estabilizaccedilatildeo das rendas
32 A praacutetica da agricultura urbana
7 O valor do salaacuterio miacutenimo nacional no periacuteodo da pesquisa era de R$ 24000 Segundo Rocha (19963) eacute consensualmente aceito que a variaacutevel de renda mais adequada para confronto com a linha de pobreza eacute a renda familiar per capita que leva em consideraccedilatildeo todos os rendimentos das pessoas do nuacutecleo familiar o nuacutemero de pessoas e o papel da famiacutelia como unidade solidaacuteria de consumo e rendimento A metodologia oficial usa como referecircncia o salaacuterio miacutenimo isto eacute frac12 do salaacuterio miacutenimo familiar per capita limite abaixo do qual se define uma famiacutelia pobre Definiccedilatildeo encontrada no site do IBGE (httpwwwibgegovbribgeteenglossariopobreza htmlgt Acesso em 01092005)
9
Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da
agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura
urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias
pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos
TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas
Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos
4
4
7
23
105
105
184
605
TOTAL 38
1000
Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas
211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que
a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria
apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e
mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a
continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica
A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela
pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos
quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores
urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a
produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados
TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana
Local Nuacutemero
Quintal de casa 30
789
Terrenos privados 8
211
TOTAL 38
1000
Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-
se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e
temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em
variedade
10
TABELA 9
Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto
Couve 842
Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131
Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que
100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total
158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam
parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou
trocam com estes o excedente da produccedilatildeo
TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
Destino Nuacutemero 38 Consumo
Comeacutercio Trocas doaccedilotildees
6 9
11
Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas
populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que
plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro
Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos
de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada
como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de
autoconsumo
A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a
agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida
TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana
Razotildees Nuacutemero
28
737
17
447
10
263
Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2
53
TOTAL 57
-
Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura
urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que
17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram
a cultivar
O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura
urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a
geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o
grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside
basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas
famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana
12
TABELA 12
Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades
Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades
3061
2858
2041
816
816
204
204
TOTAL 1000
Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos
agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio
investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos
existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser
minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8
Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres
eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda
poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos
economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada
como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este
aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos
agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia
teacutecnica diferenciada
43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar
Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana
representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13
apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o
autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado
8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo
13
declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante
economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda
familiar)
TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda
total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias
Ateacute 10 da renda total 5
1316
Mais de 10 ateacute 20 14
3684
Mais de 20 ateacute 30 9
2368
Mais de 30 10
2632
TOTAL 38
10000
Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a
20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das
famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura
urbana
Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior
a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades
baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas
satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das
exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente
nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente
A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as
principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as
despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia
aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$
40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos
destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura
internacional
14
TABELA 14
Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais
Aacutegua 111600
727
Luz 172200
1121
Transporte 102500
667
Gaacutes 116100
755
Remeacutedios 127500
83
Alimentaccedilatildeo 906000
590
TOTAL 1535900
1000
Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os
gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute
relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma
oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente
para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com
alimentaccedilatildeo
34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional
A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias
revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite
frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que
dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte
presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria
de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca
da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas
A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento
importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et
al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana
em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas
elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de
5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um
15
melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade
(MAXWELL et al 1998)
TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena
Calorias Proteiacutenas
Consumo meacutedio per capita de
calorias (kcaldia) Nuacutemero
Consumo meacutedio per capita (gdia)
Nuacutemero
Menos de 80 149701 5 31 1
De 80 ateacute menos de 110
202139 7 59 1
De110 a mais 367100 8 100 18
TOTAL 239646 20 633 20
A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas
entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta
um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas
5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das
famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado
essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente
atendida em termos quantitativos
Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana
pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas
famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a
um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado
Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo
maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser
desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a
seguranccedila alimentar
4 Resumo e Conclusotildees
A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees
acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da
populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo
16
numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de
forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da
agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso
os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas
existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas
pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa
qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de
frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza
Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees
serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos
recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere
um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a
agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo
entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute
predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a
agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma
economia de subsistecircncia
As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo
com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As
informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta
de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui
existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas
Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo
cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas
caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por
meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a
alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada
nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de
17
hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e
de nutrientes para os membros das famiacutelias
Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana
eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos
que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o
aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de
renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos
O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no
entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de
creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito
poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um
amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado
por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares
sustentaacuteveis
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5
TABELA 1
Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias segundo as localidades pesquisadas Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias
Localidades 1 2 3 4 5 7
TOTAL
Urlacircndia 4 9 4 1 1 19 Renascenccedila 1 2 1 4 Vila Lorenzi 2 2 3 1 8 Apariacutecio de Moraes 1 2 1 4 Montanha Russa 1 2 3 TOTAL 2 8 14 9 3 2 38
O total representa o nuacutemero de famiacutelias que foram entrevistadas em cada local e o
nuacutemero de pessoas diz respeito ao tamanho das famiacutelias A maior parte das famiacutelias eacute
formada por duas e quatro pessoas sendo que apenas duas famiacutelias uma na Vila Urlacircndia e
outra na Renascenccedila apresentaram sete pessoas na famiacutelia residindo no domiciacutelio visitado
No geral pode-se verificar que natildeo satildeo famiacutelias numerosas De acordo com o IBGE
(Censo 2000) esse fato se explica pela queda acelerada da fecundidade ocorrida no paiacutes
nas uacuteltimas duas deacutecadas conduzindo a uma reduccedilatildeo no tamanho das famiacutelias O nuacutemero
meacutedio de membros das famiacutelias caiu de 39 pessoas em 1991 para 35 em 2000 As
famiacutelias com um a quatro componentes estatildeo mais presentes nas aacutereas urbanas enquanto
que as famiacutelias com cinco a onze pessoas satildeo mais frequumlentes nas aacutereas rurais
Na Tabela 2 tecircm-se os resultados relativos ao sexo das pessoas ocupadas na
agricultura urbana
TABELA 2 Sexo das pessoas ocupadas na agricultura urbana
Sexo Agricultores Urbanos Masculino Feminino
Total
Nuacutemero de pessoas 30 (526) 27 (473) 57 (100) Verifica-se que haacute pouca diferenccedila entre homens e mulheres que trabalham nas
produccedilotildees agriacutecolas urbanas sendo que do total de 57 pessoas nas famiacutelias 30 satildeo do sexo
masculino e 27 do sexo feminino No trabalho de Nugent (2000) os resultados mostram
6
que as mulheres estatildeo muito mais envolvidas nesta atividade e os homens tecircm mais chance
de se envolver na produccedilatildeo para o mercado nos casos em que as mulheres estatildeo muito
ocupadas com outras tarefas Nestas comunidades natildeo se pode afirmar que existe
predominacircncia de um dos sexos no trabalho da agricultura urbana ao contraacuterio do que se
pode encontrar na literatura5 onde se ressalta que a maior parte dos agricultores urbanos
satildeo mulheres
A Tabela 3 apresenta os estratos de idade das pessoas envolvidas com o trabalho na
agricultura urbana
TABELA 3 Estratos de idade das pessoas envolvidas na agricultura urbana
Estratos de idade Agricultores Urbanos Ateacute 14
anos 15 ateacute 22
anos 23 ateacute 40
anos 41 ateacute 59
anos 60 anos e
mais
Total
Nordm de pessoas 1 (175)
1 (175)
12 (21 )
31 (543)
12 (21) 57
Entre as 57 pessoas que praticam a atividade a maioria encontra-se na faixa etaacuteria
de 41 ateacute 59 anos e somadas agraves pessoas que possuem mais de 60 anos pode-se concluir
que quem pratica a agricultura urbana nestas comunidades natildeo satildeo exatamente pessoas
mais jovens mas sim aquelas com idade superior a 40 anos
Na Tabela 4 pode-se verificar o local de origem dos agricultores urbanos
pesquisados Deste total constata-se que cerca de 37 satildeo oriundos da zona rural de outras
cidades e 263 da zona rural de Santa Maria ou seja 63 do total das pessoas que
praticam agricultura urbana satildeo de origem rural Isto remete agrave questatildeo do ecircxodo rural que
conduz essas pessoas para a cidade com o objetivo de melhorar as condiccedilotildees de vida e
ainda a tradiccedilatildeo na agricultura que elas trazem como eacute detalhado no trabalho de COSTA
BEBER (1998)
TABELA 4 Local de origem das pessoas que trabalham na agricultura urbana
Local de Origem
Agricultores Urbanos
Santa Maria
(urbana)
Santa Maria (rural)
Outras cidades
(urbana)
Outras cidades (rural)
Total
5 No livro Urban Agriculture Food Jobs and Sustainable Cities (UNDP 1996) existe a informaccedilatildeo de que em muitos locais do mundo as mulheres tecircm maior participaccedilatildeo na agricultura urbana do que os homens
7
Nordm de pessoas 15 (263)
15 (263)
6 (105)
21 (368)
57 (100)
Existem aproximadamente 37 que eacute de origem urbana e pode ter outras razotildees
para a praacutetica da agricultura como a proacutepria subsistecircncia jaacute que eacute integrante de
comunidades pobres Outras razotildees dizem respeito ao lazer que a atividade pode lhes
proporcionar A esse respeito Altieri et al (1999) salientam que a agricultura urbana para
as pessoas nascidas na cidade eacute oportunidade para aprender e apreciar o processo de
cultivo Para os receacutem-migrantes da zona rural a atividade representa uma forma de utilizar
suas especialidades agriacutecolas e para alguns um refuacutegio onde eles podem trabalhar
novamente mas de forma diferente com a terra e religados agrave natureza
Na Tabela 5 estatildeo contabilizadas as ocupaccedilotildees das pessoas que trabalham na
agricultura urbana Destaca-se que do total de 57 pessoas que declararam a praacutetica da
agricultura urbana nem todas podem ser consideradas pessoas ativas pois aiacute estatildeo
incluiacutedos aposentados pensionistas e mulheres com atividades domeacutesticas6 Descontando
estas pessoas chega-se ao nuacutemero de 25 pessoas ativas que se dedicam tambeacutem agrave
agricultura urbana Estas se encontram ocupadas nos serviccedilos de construccedilatildeo civil outras em
serviccedilos domeacutesticos e ainda haacute aquelas classificadas como vendedores informais e
prestadores de serviccedilo por conta-proacutepria
TABELA 5 Grupos de ocupaccedilotildees das pessoas ativas que trabalham na agricultura urbana
Grupos de ocupaccedilatildeo Nuacutemero de pessoas Acumulada
Administraccedilatildeo puacuteblica 1
4
4
Professores e outros da educaccedilatildeo 1
4
8
Agricultor conta-proacutepria 1
4
12
Serviccedilos da construccedilatildeo civil 8
32
44
Ocupaccedilotildees agroindustriais 2
8
52
Induacutestria de transformaccedilatildeo 1
4
56
Comeacutercio natildeo-especificado 3
12
68
Motoristas 1
4
72
Serviccedilos domeacutesticos remunerados 4
16
88
6 Segundo a classificaccedilatildeo das Pesquisas Nacionais de Amostras de Domiciacutelios - PNADs anteriores a 1992 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) somente satildeo consideradas pessoas ativas ou ocupadas
aquelas com 10 anos e mais que trabalhavam 15 horas ou mais na semana de referecircncia da pesquisa Adotou-se este conceito como criteacuterio de separaccedilatildeo das pessoas ativas neste artigo Com a aplicaccedilatildeo deste conceito restaram somente 47 pessoas em relaccedilatildeo agraves 57 inicialmente apresentadas nas Tabelas 2 3 e 4 Se se levar em conta somente as que declararam praticar agricultura urbana restaratildeo apenas 25 pessoas ativas que satildeo apresentadas na Tabela 5
8
Serviccedilos pessoais natildeo-domeacutesticos 2
8
96
Outros serv Pessoais natildeo-domeacutesticos
1
4
100
TOTAL 25
100
-
Na Tabela 6 eacute apresentada a distribuiccedilatildeo das famiacutelias pesquisadas segundo os
estratos de renda per capita Se for adotada a linha da pobreza como sendo igual a R$
12000 observa-se na Tabela 6 que 211 das famiacutelias possuem rendimentos que as
classificam abaixo da linha de pobreza7 A renda meacutedia per capita eacute somente de R$ 25277
e a renda mediana per capita atinge apenas R$ 21800 Se observarmos atentamente estas
informaccedilotildees apresentadas na Tabela 6 pode-se verificar que menos de frac14 das famiacutelias
pesquisadas possuem renda que as situa abaixo da chamada linha de pobreza
TABELA 6 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias segundo os estratos de renda per capita
Estratos de Renda (em Reais)
Nuacutemero
acumulada
60 ateacute 120 8
211
211
125 ateacute 240 15
395
605
250 ateacute 370 9
237
842
39333 ateacute 45666 4
105
947
700 e mais 2
53
1000
TOTAL 38
100
-
Este curioso resultado permite levantar a hipoacutetese de que embora a pesquisa tenha
sido realizada no contexto da pobreza os praticantes da agricultura urbana natildeo apresentam
rendimentos que os classifiquem entre as famiacutelias relativamente mais pobres Uma outra
razatildeo que pode ser aventada eacute a existecircncia de aposentados e pensionistas entre os membros
das famiacutelias o que permite uma elevaccedilatildeo e estabilizaccedilatildeo das rendas
32 A praacutetica da agricultura urbana
7 O valor do salaacuterio miacutenimo nacional no periacuteodo da pesquisa era de R$ 24000 Segundo Rocha (19963) eacute consensualmente aceito que a variaacutevel de renda mais adequada para confronto com a linha de pobreza eacute a renda familiar per capita que leva em consideraccedilatildeo todos os rendimentos das pessoas do nuacutecleo familiar o nuacutemero de pessoas e o papel da famiacutelia como unidade solidaacuteria de consumo e rendimento A metodologia oficial usa como referecircncia o salaacuterio miacutenimo isto eacute frac12 do salaacuterio miacutenimo familiar per capita limite abaixo do qual se define uma famiacutelia pobre Definiccedilatildeo encontrada no site do IBGE (httpwwwibgegovbribgeteenglossariopobreza htmlgt Acesso em 01092005)
9
Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da
agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura
urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias
pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos
TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas
Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos
4
4
7
23
105
105
184
605
TOTAL 38
1000
Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas
211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que
a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria
apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e
mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a
continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica
A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela
pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos
quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores
urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a
produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados
TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana
Local Nuacutemero
Quintal de casa 30
789
Terrenos privados 8
211
TOTAL 38
1000
Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-
se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e
temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em
variedade
10
TABELA 9
Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto
Couve 842
Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131
Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que
100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total
158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam
parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou
trocam com estes o excedente da produccedilatildeo
TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
Destino Nuacutemero 38 Consumo
Comeacutercio Trocas doaccedilotildees
6 9
11
Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas
populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que
plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro
Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos
de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada
como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de
autoconsumo
A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a
agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida
TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana
Razotildees Nuacutemero
28
737
17
447
10
263
Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2
53
TOTAL 57
-
Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura
urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que
17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram
a cultivar
O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura
urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a
geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o
grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside
basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas
famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana
12
TABELA 12
Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades
Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades
3061
2858
2041
816
816
204
204
TOTAL 1000
Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos
agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio
investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos
existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser
minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8
Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres
eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda
poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos
economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada
como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este
aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos
agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia
teacutecnica diferenciada
43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar
Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana
representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13
apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o
autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado
8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo
13
declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante
economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda
familiar)
TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda
total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias
Ateacute 10 da renda total 5
1316
Mais de 10 ateacute 20 14
3684
Mais de 20 ateacute 30 9
2368
Mais de 30 10
2632
TOTAL 38
10000
Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a
20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das
famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura
urbana
Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior
a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades
baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas
satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das
exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente
nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente
A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as
principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as
despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia
aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$
40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos
destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura
internacional
14
TABELA 14
Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais
Aacutegua 111600
727
Luz 172200
1121
Transporte 102500
667
Gaacutes 116100
755
Remeacutedios 127500
83
Alimentaccedilatildeo 906000
590
TOTAL 1535900
1000
Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os
gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute
relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma
oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente
para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com
alimentaccedilatildeo
34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional
A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias
revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite
frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que
dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte
presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria
de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca
da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas
A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento
importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et
al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana
em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas
elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de
5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um
15
melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade
(MAXWELL et al 1998)
TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena
Calorias Proteiacutenas
Consumo meacutedio per capita de
calorias (kcaldia) Nuacutemero
Consumo meacutedio per capita (gdia)
Nuacutemero
Menos de 80 149701 5 31 1
De 80 ateacute menos de 110
202139 7 59 1
De110 a mais 367100 8 100 18
TOTAL 239646 20 633 20
A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas
entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta
um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas
5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das
famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado
essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente
atendida em termos quantitativos
Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana
pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas
famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a
um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado
Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo
maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser
desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a
seguranccedila alimentar
4 Resumo e Conclusotildees
A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees
acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da
populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo
16
numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de
forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da
agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso
os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas
existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas
pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa
qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de
frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza
Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees
serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos
recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere
um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a
agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo
entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute
predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a
agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma
economia de subsistecircncia
As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo
com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As
informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta
de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui
existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas
Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo
cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas
caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por
meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a
alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada
nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de
17
hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e
de nutrientes para os membros das famiacutelias
Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana
eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos
que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o
aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de
renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos
O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no
entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de
creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito
poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um
amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado
por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares
sustentaacuteveis
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6
que as mulheres estatildeo muito mais envolvidas nesta atividade e os homens tecircm mais chance
de se envolver na produccedilatildeo para o mercado nos casos em que as mulheres estatildeo muito
ocupadas com outras tarefas Nestas comunidades natildeo se pode afirmar que existe
predominacircncia de um dos sexos no trabalho da agricultura urbana ao contraacuterio do que se
pode encontrar na literatura5 onde se ressalta que a maior parte dos agricultores urbanos
satildeo mulheres
A Tabela 3 apresenta os estratos de idade das pessoas envolvidas com o trabalho na
agricultura urbana
TABELA 3 Estratos de idade das pessoas envolvidas na agricultura urbana
Estratos de idade Agricultores Urbanos Ateacute 14
anos 15 ateacute 22
anos 23 ateacute 40
anos 41 ateacute 59
anos 60 anos e
mais
Total
Nordm de pessoas 1 (175)
1 (175)
12 (21 )
31 (543)
12 (21) 57
Entre as 57 pessoas que praticam a atividade a maioria encontra-se na faixa etaacuteria
de 41 ateacute 59 anos e somadas agraves pessoas que possuem mais de 60 anos pode-se concluir
que quem pratica a agricultura urbana nestas comunidades natildeo satildeo exatamente pessoas
mais jovens mas sim aquelas com idade superior a 40 anos
Na Tabela 4 pode-se verificar o local de origem dos agricultores urbanos
pesquisados Deste total constata-se que cerca de 37 satildeo oriundos da zona rural de outras
cidades e 263 da zona rural de Santa Maria ou seja 63 do total das pessoas que
praticam agricultura urbana satildeo de origem rural Isto remete agrave questatildeo do ecircxodo rural que
conduz essas pessoas para a cidade com o objetivo de melhorar as condiccedilotildees de vida e
ainda a tradiccedilatildeo na agricultura que elas trazem como eacute detalhado no trabalho de COSTA
BEBER (1998)
TABELA 4 Local de origem das pessoas que trabalham na agricultura urbana
Local de Origem
Agricultores Urbanos
Santa Maria
(urbana)
Santa Maria (rural)
Outras cidades
(urbana)
Outras cidades (rural)
Total
5 No livro Urban Agriculture Food Jobs and Sustainable Cities (UNDP 1996) existe a informaccedilatildeo de que em muitos locais do mundo as mulheres tecircm maior participaccedilatildeo na agricultura urbana do que os homens
7
Nordm de pessoas 15 (263)
15 (263)
6 (105)
21 (368)
57 (100)
Existem aproximadamente 37 que eacute de origem urbana e pode ter outras razotildees
para a praacutetica da agricultura como a proacutepria subsistecircncia jaacute que eacute integrante de
comunidades pobres Outras razotildees dizem respeito ao lazer que a atividade pode lhes
proporcionar A esse respeito Altieri et al (1999) salientam que a agricultura urbana para
as pessoas nascidas na cidade eacute oportunidade para aprender e apreciar o processo de
cultivo Para os receacutem-migrantes da zona rural a atividade representa uma forma de utilizar
suas especialidades agriacutecolas e para alguns um refuacutegio onde eles podem trabalhar
novamente mas de forma diferente com a terra e religados agrave natureza
Na Tabela 5 estatildeo contabilizadas as ocupaccedilotildees das pessoas que trabalham na
agricultura urbana Destaca-se que do total de 57 pessoas que declararam a praacutetica da
agricultura urbana nem todas podem ser consideradas pessoas ativas pois aiacute estatildeo
incluiacutedos aposentados pensionistas e mulheres com atividades domeacutesticas6 Descontando
estas pessoas chega-se ao nuacutemero de 25 pessoas ativas que se dedicam tambeacutem agrave
agricultura urbana Estas se encontram ocupadas nos serviccedilos de construccedilatildeo civil outras em
serviccedilos domeacutesticos e ainda haacute aquelas classificadas como vendedores informais e
prestadores de serviccedilo por conta-proacutepria
TABELA 5 Grupos de ocupaccedilotildees das pessoas ativas que trabalham na agricultura urbana
Grupos de ocupaccedilatildeo Nuacutemero de pessoas Acumulada
Administraccedilatildeo puacuteblica 1
4
4
Professores e outros da educaccedilatildeo 1
4
8
Agricultor conta-proacutepria 1
4
12
Serviccedilos da construccedilatildeo civil 8
32
44
Ocupaccedilotildees agroindustriais 2
8
52
Induacutestria de transformaccedilatildeo 1
4
56
Comeacutercio natildeo-especificado 3
12
68
Motoristas 1
4
72
Serviccedilos domeacutesticos remunerados 4
16
88
6 Segundo a classificaccedilatildeo das Pesquisas Nacionais de Amostras de Domiciacutelios - PNADs anteriores a 1992 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) somente satildeo consideradas pessoas ativas ou ocupadas
aquelas com 10 anos e mais que trabalhavam 15 horas ou mais na semana de referecircncia da pesquisa Adotou-se este conceito como criteacuterio de separaccedilatildeo das pessoas ativas neste artigo Com a aplicaccedilatildeo deste conceito restaram somente 47 pessoas em relaccedilatildeo agraves 57 inicialmente apresentadas nas Tabelas 2 3 e 4 Se se levar em conta somente as que declararam praticar agricultura urbana restaratildeo apenas 25 pessoas ativas que satildeo apresentadas na Tabela 5
8
Serviccedilos pessoais natildeo-domeacutesticos 2
8
96
Outros serv Pessoais natildeo-domeacutesticos
1
4
100
TOTAL 25
100
-
Na Tabela 6 eacute apresentada a distribuiccedilatildeo das famiacutelias pesquisadas segundo os
estratos de renda per capita Se for adotada a linha da pobreza como sendo igual a R$
12000 observa-se na Tabela 6 que 211 das famiacutelias possuem rendimentos que as
classificam abaixo da linha de pobreza7 A renda meacutedia per capita eacute somente de R$ 25277
e a renda mediana per capita atinge apenas R$ 21800 Se observarmos atentamente estas
informaccedilotildees apresentadas na Tabela 6 pode-se verificar que menos de frac14 das famiacutelias
pesquisadas possuem renda que as situa abaixo da chamada linha de pobreza
TABELA 6 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias segundo os estratos de renda per capita
Estratos de Renda (em Reais)
Nuacutemero
acumulada
60 ateacute 120 8
211
211
125 ateacute 240 15
395
605
250 ateacute 370 9
237
842
39333 ateacute 45666 4
105
947
700 e mais 2
53
1000
TOTAL 38
100
-
Este curioso resultado permite levantar a hipoacutetese de que embora a pesquisa tenha
sido realizada no contexto da pobreza os praticantes da agricultura urbana natildeo apresentam
rendimentos que os classifiquem entre as famiacutelias relativamente mais pobres Uma outra
razatildeo que pode ser aventada eacute a existecircncia de aposentados e pensionistas entre os membros
das famiacutelias o que permite uma elevaccedilatildeo e estabilizaccedilatildeo das rendas
32 A praacutetica da agricultura urbana
7 O valor do salaacuterio miacutenimo nacional no periacuteodo da pesquisa era de R$ 24000 Segundo Rocha (19963) eacute consensualmente aceito que a variaacutevel de renda mais adequada para confronto com a linha de pobreza eacute a renda familiar per capita que leva em consideraccedilatildeo todos os rendimentos das pessoas do nuacutecleo familiar o nuacutemero de pessoas e o papel da famiacutelia como unidade solidaacuteria de consumo e rendimento A metodologia oficial usa como referecircncia o salaacuterio miacutenimo isto eacute frac12 do salaacuterio miacutenimo familiar per capita limite abaixo do qual se define uma famiacutelia pobre Definiccedilatildeo encontrada no site do IBGE (httpwwwibgegovbribgeteenglossariopobreza htmlgt Acesso em 01092005)
9
Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da
agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura
urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias
pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos
TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas
Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos
4
4
7
23
105
105
184
605
TOTAL 38
1000
Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas
211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que
a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria
apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e
mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a
continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica
A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela
pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos
quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores
urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a
produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados
TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana
Local Nuacutemero
Quintal de casa 30
789
Terrenos privados 8
211
TOTAL 38
1000
Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-
se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e
temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em
variedade
10
TABELA 9
Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto
Couve 842
Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131
Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que
100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total
158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam
parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou
trocam com estes o excedente da produccedilatildeo
TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
Destino Nuacutemero 38 Consumo
Comeacutercio Trocas doaccedilotildees
6 9
11
Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas
populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que
plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro
Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos
de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada
como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de
autoconsumo
A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a
agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida
TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana
Razotildees Nuacutemero
28
737
17
447
10
263
Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2
53
TOTAL 57
-
Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura
urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que
17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram
a cultivar
O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura
urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a
geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o
grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside
basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas
famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana
12
TABELA 12
Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades
Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades
3061
2858
2041
816
816
204
204
TOTAL 1000
Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos
agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio
investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos
existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser
minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8
Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres
eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda
poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos
economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada
como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este
aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos
agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia
teacutecnica diferenciada
43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar
Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana
representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13
apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o
autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado
8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo
13
declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante
economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda
familiar)
TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda
total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias
Ateacute 10 da renda total 5
1316
Mais de 10 ateacute 20 14
3684
Mais de 20 ateacute 30 9
2368
Mais de 30 10
2632
TOTAL 38
10000
Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a
20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das
famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura
urbana
Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior
a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades
baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas
satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das
exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente
nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente
A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as
principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as
despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia
aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$
40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos
destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura
internacional
14
TABELA 14
Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais
Aacutegua 111600
727
Luz 172200
1121
Transporte 102500
667
Gaacutes 116100
755
Remeacutedios 127500
83
Alimentaccedilatildeo 906000
590
TOTAL 1535900
1000
Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os
gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute
relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma
oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente
para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com
alimentaccedilatildeo
34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional
A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias
revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite
frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que
dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte
presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria
de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca
da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas
A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento
importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et
al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana
em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas
elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de
5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um
15
melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade
(MAXWELL et al 1998)
TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena
Calorias Proteiacutenas
Consumo meacutedio per capita de
calorias (kcaldia) Nuacutemero
Consumo meacutedio per capita (gdia)
Nuacutemero
Menos de 80 149701 5 31 1
De 80 ateacute menos de 110
202139 7 59 1
De110 a mais 367100 8 100 18
TOTAL 239646 20 633 20
A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas
entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta
um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas
5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das
famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado
essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente
atendida em termos quantitativos
Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana
pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas
famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a
um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado
Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo
maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser
desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a
seguranccedila alimentar
4 Resumo e Conclusotildees
A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees
acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da
populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo
16
numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de
forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da
agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso
os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas
existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas
pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa
qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de
frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza
Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees
serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos
recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere
um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a
agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo
entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute
predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a
agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma
economia de subsistecircncia
As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo
com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As
informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta
de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui
existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas
Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo
cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas
caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por
meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a
alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada
nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de
17
hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e
de nutrientes para os membros das famiacutelias
Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana
eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos
que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o
aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de
renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos
O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no
entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de
creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito
poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um
amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado
por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares
sustentaacuteveis
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7
Nordm de pessoas 15 (263)
15 (263)
6 (105)
21 (368)
57 (100)
Existem aproximadamente 37 que eacute de origem urbana e pode ter outras razotildees
para a praacutetica da agricultura como a proacutepria subsistecircncia jaacute que eacute integrante de
comunidades pobres Outras razotildees dizem respeito ao lazer que a atividade pode lhes
proporcionar A esse respeito Altieri et al (1999) salientam que a agricultura urbana para
as pessoas nascidas na cidade eacute oportunidade para aprender e apreciar o processo de
cultivo Para os receacutem-migrantes da zona rural a atividade representa uma forma de utilizar
suas especialidades agriacutecolas e para alguns um refuacutegio onde eles podem trabalhar
novamente mas de forma diferente com a terra e religados agrave natureza
Na Tabela 5 estatildeo contabilizadas as ocupaccedilotildees das pessoas que trabalham na
agricultura urbana Destaca-se que do total de 57 pessoas que declararam a praacutetica da
agricultura urbana nem todas podem ser consideradas pessoas ativas pois aiacute estatildeo
incluiacutedos aposentados pensionistas e mulheres com atividades domeacutesticas6 Descontando
estas pessoas chega-se ao nuacutemero de 25 pessoas ativas que se dedicam tambeacutem agrave
agricultura urbana Estas se encontram ocupadas nos serviccedilos de construccedilatildeo civil outras em
serviccedilos domeacutesticos e ainda haacute aquelas classificadas como vendedores informais e
prestadores de serviccedilo por conta-proacutepria
TABELA 5 Grupos de ocupaccedilotildees das pessoas ativas que trabalham na agricultura urbana
Grupos de ocupaccedilatildeo Nuacutemero de pessoas Acumulada
Administraccedilatildeo puacuteblica 1
4
4
Professores e outros da educaccedilatildeo 1
4
8
Agricultor conta-proacutepria 1
4
12
Serviccedilos da construccedilatildeo civil 8
32
44
Ocupaccedilotildees agroindustriais 2
8
52
Induacutestria de transformaccedilatildeo 1
4
56
Comeacutercio natildeo-especificado 3
12
68
Motoristas 1
4
72
Serviccedilos domeacutesticos remunerados 4
16
88
6 Segundo a classificaccedilatildeo das Pesquisas Nacionais de Amostras de Domiciacutelios - PNADs anteriores a 1992 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) somente satildeo consideradas pessoas ativas ou ocupadas
aquelas com 10 anos e mais que trabalhavam 15 horas ou mais na semana de referecircncia da pesquisa Adotou-se este conceito como criteacuterio de separaccedilatildeo das pessoas ativas neste artigo Com a aplicaccedilatildeo deste conceito restaram somente 47 pessoas em relaccedilatildeo agraves 57 inicialmente apresentadas nas Tabelas 2 3 e 4 Se se levar em conta somente as que declararam praticar agricultura urbana restaratildeo apenas 25 pessoas ativas que satildeo apresentadas na Tabela 5
8
Serviccedilos pessoais natildeo-domeacutesticos 2
8
96
Outros serv Pessoais natildeo-domeacutesticos
1
4
100
TOTAL 25
100
-
Na Tabela 6 eacute apresentada a distribuiccedilatildeo das famiacutelias pesquisadas segundo os
estratos de renda per capita Se for adotada a linha da pobreza como sendo igual a R$
12000 observa-se na Tabela 6 que 211 das famiacutelias possuem rendimentos que as
classificam abaixo da linha de pobreza7 A renda meacutedia per capita eacute somente de R$ 25277
e a renda mediana per capita atinge apenas R$ 21800 Se observarmos atentamente estas
informaccedilotildees apresentadas na Tabela 6 pode-se verificar que menos de frac14 das famiacutelias
pesquisadas possuem renda que as situa abaixo da chamada linha de pobreza
TABELA 6 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias segundo os estratos de renda per capita
Estratos de Renda (em Reais)
Nuacutemero
acumulada
60 ateacute 120 8
211
211
125 ateacute 240 15
395
605
250 ateacute 370 9
237
842
39333 ateacute 45666 4
105
947
700 e mais 2
53
1000
TOTAL 38
100
-
Este curioso resultado permite levantar a hipoacutetese de que embora a pesquisa tenha
sido realizada no contexto da pobreza os praticantes da agricultura urbana natildeo apresentam
rendimentos que os classifiquem entre as famiacutelias relativamente mais pobres Uma outra
razatildeo que pode ser aventada eacute a existecircncia de aposentados e pensionistas entre os membros
das famiacutelias o que permite uma elevaccedilatildeo e estabilizaccedilatildeo das rendas
32 A praacutetica da agricultura urbana
7 O valor do salaacuterio miacutenimo nacional no periacuteodo da pesquisa era de R$ 24000 Segundo Rocha (19963) eacute consensualmente aceito que a variaacutevel de renda mais adequada para confronto com a linha de pobreza eacute a renda familiar per capita que leva em consideraccedilatildeo todos os rendimentos das pessoas do nuacutecleo familiar o nuacutemero de pessoas e o papel da famiacutelia como unidade solidaacuteria de consumo e rendimento A metodologia oficial usa como referecircncia o salaacuterio miacutenimo isto eacute frac12 do salaacuterio miacutenimo familiar per capita limite abaixo do qual se define uma famiacutelia pobre Definiccedilatildeo encontrada no site do IBGE (httpwwwibgegovbribgeteenglossariopobreza htmlgt Acesso em 01092005)
9
Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da
agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura
urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias
pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos
TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas
Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos
4
4
7
23
105
105
184
605
TOTAL 38
1000
Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas
211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que
a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria
apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e
mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a
continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica
A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela
pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos
quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores
urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a
produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados
TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana
Local Nuacutemero
Quintal de casa 30
789
Terrenos privados 8
211
TOTAL 38
1000
Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-
se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e
temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em
variedade
10
TABELA 9
Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto
Couve 842
Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131
Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que
100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total
158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam
parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou
trocam com estes o excedente da produccedilatildeo
TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
Destino Nuacutemero 38 Consumo
Comeacutercio Trocas doaccedilotildees
6 9
11
Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas
populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que
plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro
Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos
de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada
como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de
autoconsumo
A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a
agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida
TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana
Razotildees Nuacutemero
28
737
17
447
10
263
Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2
53
TOTAL 57
-
Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura
urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que
17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram
a cultivar
O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura
urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a
geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o
grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside
basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas
famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana
12
TABELA 12
Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades
Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades
3061
2858
2041
816
816
204
204
TOTAL 1000
Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos
agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio
investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos
existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser
minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8
Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres
eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda
poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos
economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada
como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este
aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos
agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia
teacutecnica diferenciada
43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar
Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana
representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13
apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o
autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado
8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo
13
declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante
economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda
familiar)
TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda
total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias
Ateacute 10 da renda total 5
1316
Mais de 10 ateacute 20 14
3684
Mais de 20 ateacute 30 9
2368
Mais de 30 10
2632
TOTAL 38
10000
Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a
20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das
famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura
urbana
Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior
a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades
baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas
satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das
exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente
nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente
A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as
principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as
despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia
aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$
40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos
destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura
internacional
14
TABELA 14
Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais
Aacutegua 111600
727
Luz 172200
1121
Transporte 102500
667
Gaacutes 116100
755
Remeacutedios 127500
83
Alimentaccedilatildeo 906000
590
TOTAL 1535900
1000
Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os
gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute
relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma
oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente
para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com
alimentaccedilatildeo
34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional
A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias
revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite
frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que
dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte
presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria
de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca
da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas
A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento
importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et
al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana
em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas
elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de
5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um
15
melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade
(MAXWELL et al 1998)
TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena
Calorias Proteiacutenas
Consumo meacutedio per capita de
calorias (kcaldia) Nuacutemero
Consumo meacutedio per capita (gdia)
Nuacutemero
Menos de 80 149701 5 31 1
De 80 ateacute menos de 110
202139 7 59 1
De110 a mais 367100 8 100 18
TOTAL 239646 20 633 20
A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas
entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta
um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas
5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das
famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado
essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente
atendida em termos quantitativos
Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana
pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas
famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a
um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado
Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo
maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser
desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a
seguranccedila alimentar
4 Resumo e Conclusotildees
A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees
acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da
populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo
16
numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de
forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da
agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso
os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas
existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas
pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa
qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de
frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza
Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees
serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos
recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere
um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a
agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo
entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute
predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a
agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma
economia de subsistecircncia
As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo
com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As
informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta
de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui
existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas
Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo
cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas
caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por
meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a
alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada
nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de
17
hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e
de nutrientes para os membros das famiacutelias
Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana
eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos
que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o
aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de
renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos
O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no
entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de
creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito
poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um
amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado
por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares
sustentaacuteveis
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8
Serviccedilos pessoais natildeo-domeacutesticos 2
8
96
Outros serv Pessoais natildeo-domeacutesticos
1
4
100
TOTAL 25
100
-
Na Tabela 6 eacute apresentada a distribuiccedilatildeo das famiacutelias pesquisadas segundo os
estratos de renda per capita Se for adotada a linha da pobreza como sendo igual a R$
12000 observa-se na Tabela 6 que 211 das famiacutelias possuem rendimentos que as
classificam abaixo da linha de pobreza7 A renda meacutedia per capita eacute somente de R$ 25277
e a renda mediana per capita atinge apenas R$ 21800 Se observarmos atentamente estas
informaccedilotildees apresentadas na Tabela 6 pode-se verificar que menos de frac14 das famiacutelias
pesquisadas possuem renda que as situa abaixo da chamada linha de pobreza
TABELA 6 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias segundo os estratos de renda per capita
Estratos de Renda (em Reais)
Nuacutemero
acumulada
60 ateacute 120 8
211
211
125 ateacute 240 15
395
605
250 ateacute 370 9
237
842
39333 ateacute 45666 4
105
947
700 e mais 2
53
1000
TOTAL 38
100
-
Este curioso resultado permite levantar a hipoacutetese de que embora a pesquisa tenha
sido realizada no contexto da pobreza os praticantes da agricultura urbana natildeo apresentam
rendimentos que os classifiquem entre as famiacutelias relativamente mais pobres Uma outra
razatildeo que pode ser aventada eacute a existecircncia de aposentados e pensionistas entre os membros
das famiacutelias o que permite uma elevaccedilatildeo e estabilizaccedilatildeo das rendas
32 A praacutetica da agricultura urbana
7 O valor do salaacuterio miacutenimo nacional no periacuteodo da pesquisa era de R$ 24000 Segundo Rocha (19963) eacute consensualmente aceito que a variaacutevel de renda mais adequada para confronto com a linha de pobreza eacute a renda familiar per capita que leva em consideraccedilatildeo todos os rendimentos das pessoas do nuacutecleo familiar o nuacutemero de pessoas e o papel da famiacutelia como unidade solidaacuteria de consumo e rendimento A metodologia oficial usa como referecircncia o salaacuterio miacutenimo isto eacute frac12 do salaacuterio miacutenimo familiar per capita limite abaixo do qual se define uma famiacutelia pobre Definiccedilatildeo encontrada no site do IBGE (httpwwwibgegovbribgeteenglossariopobreza htmlgt Acesso em 01092005)
9
Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da
agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura
urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias
pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos
TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas
Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos
4
4
7
23
105
105
184
605
TOTAL 38
1000
Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas
211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que
a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria
apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e
mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a
continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica
A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela
pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos
quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores
urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a
produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados
TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana
Local Nuacutemero
Quintal de casa 30
789
Terrenos privados 8
211
TOTAL 38
1000
Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-
se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e
temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em
variedade
10
TABELA 9
Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto
Couve 842
Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131
Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que
100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total
158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam
parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou
trocam com estes o excedente da produccedilatildeo
TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
Destino Nuacutemero 38 Consumo
Comeacutercio Trocas doaccedilotildees
6 9
11
Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas
populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que
plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro
Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos
de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada
como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de
autoconsumo
A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a
agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida
TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana
Razotildees Nuacutemero
28
737
17
447
10
263
Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2
53
TOTAL 57
-
Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura
urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que
17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram
a cultivar
O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura
urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a
geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o
grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside
basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas
famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana
12
TABELA 12
Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades
Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades
3061
2858
2041
816
816
204
204
TOTAL 1000
Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos
agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio
investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos
existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser
minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8
Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres
eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda
poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos
economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada
como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este
aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos
agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia
teacutecnica diferenciada
43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar
Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana
representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13
apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o
autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado
8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo
13
declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante
economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda
familiar)
TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda
total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias
Ateacute 10 da renda total 5
1316
Mais de 10 ateacute 20 14
3684
Mais de 20 ateacute 30 9
2368
Mais de 30 10
2632
TOTAL 38
10000
Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a
20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das
famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura
urbana
Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior
a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades
baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas
satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das
exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente
nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente
A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as
principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as
despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia
aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$
40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos
destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura
internacional
14
TABELA 14
Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais
Aacutegua 111600
727
Luz 172200
1121
Transporte 102500
667
Gaacutes 116100
755
Remeacutedios 127500
83
Alimentaccedilatildeo 906000
590
TOTAL 1535900
1000
Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os
gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute
relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma
oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente
para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com
alimentaccedilatildeo
34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional
A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias
revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite
frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que
dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte
presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria
de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca
da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas
A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento
importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et
al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana
em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas
elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de
5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um
15
melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade
(MAXWELL et al 1998)
TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena
Calorias Proteiacutenas
Consumo meacutedio per capita de
calorias (kcaldia) Nuacutemero
Consumo meacutedio per capita (gdia)
Nuacutemero
Menos de 80 149701 5 31 1
De 80 ateacute menos de 110
202139 7 59 1
De110 a mais 367100 8 100 18
TOTAL 239646 20 633 20
A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas
entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta
um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas
5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das
famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado
essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente
atendida em termos quantitativos
Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana
pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas
famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a
um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado
Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo
maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser
desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a
seguranccedila alimentar
4 Resumo e Conclusotildees
A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees
acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da
populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo
16
numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de
forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da
agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso
os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas
existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas
pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa
qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de
frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza
Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees
serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos
recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere
um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a
agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo
entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute
predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a
agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma
economia de subsistecircncia
As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo
com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As
informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta
de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui
existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas
Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo
cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas
caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por
meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a
alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada
nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de
17
hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e
de nutrientes para os membros das famiacutelias
Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana
eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos
que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o
aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de
renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos
O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no
entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de
creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito
poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um
amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado
por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares
sustentaacuteveis
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9
Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da
agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura
urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias
pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos
TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas
Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos
4
4
7
23
105
105
184
605
TOTAL 38
1000
Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas
211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que
a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria
apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e
mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a
continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica
A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela
pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos
quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores
urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a
produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados
TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana
Local Nuacutemero
Quintal de casa 30
789
Terrenos privados 8
211
TOTAL 38
1000
Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-
se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e
temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em
variedade
10
TABELA 9
Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto
Couve 842
Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131
Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que
100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total
158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam
parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou
trocam com estes o excedente da produccedilatildeo
TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
Destino Nuacutemero 38 Consumo
Comeacutercio Trocas doaccedilotildees
6 9
11
Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas
populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que
plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro
Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos
de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada
como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de
autoconsumo
A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a
agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida
TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana
Razotildees Nuacutemero
28
737
17
447
10
263
Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2
53
TOTAL 57
-
Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura
urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que
17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram
a cultivar
O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura
urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a
geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o
grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside
basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas
famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana
12
TABELA 12
Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades
Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades
3061
2858
2041
816
816
204
204
TOTAL 1000
Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos
agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio
investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos
existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser
minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8
Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres
eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda
poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos
economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada
como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este
aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos
agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia
teacutecnica diferenciada
43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar
Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana
representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13
apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o
autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado
8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo
13
declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante
economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda
familiar)
TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda
total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias
Ateacute 10 da renda total 5
1316
Mais de 10 ateacute 20 14
3684
Mais de 20 ateacute 30 9
2368
Mais de 30 10
2632
TOTAL 38
10000
Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a
20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das
famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura
urbana
Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior
a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades
baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas
satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das
exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente
nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente
A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as
principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as
despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia
aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$
40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos
destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura
internacional
14
TABELA 14
Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais
Aacutegua 111600
727
Luz 172200
1121
Transporte 102500
667
Gaacutes 116100
755
Remeacutedios 127500
83
Alimentaccedilatildeo 906000
590
TOTAL 1535900
1000
Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os
gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute
relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma
oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente
para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com
alimentaccedilatildeo
34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional
A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias
revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite
frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que
dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte
presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria
de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca
da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas
A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento
importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et
al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana
em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas
elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de
5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um
15
melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade
(MAXWELL et al 1998)
TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena
Calorias Proteiacutenas
Consumo meacutedio per capita de
calorias (kcaldia) Nuacutemero
Consumo meacutedio per capita (gdia)
Nuacutemero
Menos de 80 149701 5 31 1
De 80 ateacute menos de 110
202139 7 59 1
De110 a mais 367100 8 100 18
TOTAL 239646 20 633 20
A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas
entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta
um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas
5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das
famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado
essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente
atendida em termos quantitativos
Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana
pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas
famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a
um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado
Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo
maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser
desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a
seguranccedila alimentar
4 Resumo e Conclusotildees
A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees
acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da
populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo
16
numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de
forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da
agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso
os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas
existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas
pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa
qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de
frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza
Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees
serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos
recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere
um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a
agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo
entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute
predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a
agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma
economia de subsistecircncia
As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo
com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As
informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta
de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui
existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas
Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo
cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas
caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por
meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a
alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada
nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de
17
hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e
de nutrientes para os membros das famiacutelias
Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana
eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos
que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o
aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de
renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos
O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no
entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de
creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito
poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um
amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado
por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares
sustentaacuteveis
Referecircncias Bibliograacuteficas
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10
TABELA 9
Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto
Couve 842
Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131
Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que
100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total
158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam
parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou
trocam com estes o excedente da produccedilatildeo
TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos
Destino Nuacutemero 38 Consumo
Comeacutercio Trocas doaccedilotildees
6 9
11
Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas
populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que
plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro
Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos
de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada
como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de
autoconsumo
A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a
agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida
TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana
Razotildees Nuacutemero
28
737
17
447
10
263
Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2
53
TOTAL 57
-
Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura
urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que
17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram
a cultivar
O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura
urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a
geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o
grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside
basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas
famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana
12
TABELA 12
Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades
Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades
3061
2858
2041
816
816
204
204
TOTAL 1000
Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos
agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio
investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos
existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser
minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8
Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres
eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda
poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos
economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada
como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este
aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos
agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia
teacutecnica diferenciada
43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar
Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana
representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13
apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o
autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado
8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo
13
declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante
economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda
familiar)
TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda
total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias
Ateacute 10 da renda total 5
1316
Mais de 10 ateacute 20 14
3684
Mais de 20 ateacute 30 9
2368
Mais de 30 10
2632
TOTAL 38
10000
Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a
20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das
famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura
urbana
Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior
a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades
baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas
satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das
exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente
nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente
A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as
principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as
despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia
aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$
40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos
destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura
internacional
14
TABELA 14
Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais
Aacutegua 111600
727
Luz 172200
1121
Transporte 102500
667
Gaacutes 116100
755
Remeacutedios 127500
83
Alimentaccedilatildeo 906000
590
TOTAL 1535900
1000
Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os
gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute
relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma
oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente
para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com
alimentaccedilatildeo
34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional
A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias
revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite
frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que
dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte
presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria
de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca
da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas
A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento
importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et
al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana
em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas
elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de
5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um
15
melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade
(MAXWELL et al 1998)
TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena
Calorias Proteiacutenas
Consumo meacutedio per capita de
calorias (kcaldia) Nuacutemero
Consumo meacutedio per capita (gdia)
Nuacutemero
Menos de 80 149701 5 31 1
De 80 ateacute menos de 110
202139 7 59 1
De110 a mais 367100 8 100 18
TOTAL 239646 20 633 20
A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas
entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta
um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas
5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das
famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado
essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente
atendida em termos quantitativos
Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana
pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas
famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a
um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado
Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo
maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser
desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a
seguranccedila alimentar
4 Resumo e Conclusotildees
A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees
acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da
populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo
16
numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de
forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da
agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso
os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas
existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas
pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa
qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de
frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza
Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees
serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos
recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere
um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a
agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo
entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute
predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a
agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma
economia de subsistecircncia
As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo
com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As
informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta
de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui
existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas
Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo
cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas
caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por
meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a
alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada
nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de
17
hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e
de nutrientes para os membros das famiacutelias
Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana
eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos
que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o
aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de
renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos
O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no
entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de
creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito
poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um
amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado
por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares
sustentaacuteveis
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Multifonctionnaliteacute de l agriculture et status d activiteacute Economie Rurale Paris-France n
260 p 41-51 novembre deacutecembre 2000
CAMARANO A A amp ABRAMOVAY R Ecircxodo rural envelhecimento e
masculinizaccedilatildeo no Brasil panorama dos uacuteltimos 50 anos Rio de Janeiro IPEA 1999
23p Texto para discussatildeo n621
COAG Comitecirc de Agricultura La Agricultura Urbana y Periurbana Organizacioacuten de las
Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentacioacuten
FAO Roma 25-29 de janeiro de
1999 60p
18
COSTA BEBER C Santa Maria 200 anos Histoacuteria da economia do municiacutepio Ediccedilatildeo
Comemorativa do Centenaacuterio da CACISM Santa Maria Cacism 1998 315p
DRAKAKIS-SMITH D BOWYER-BOWER T TEVERAD Urban poverty and urban
agriculture an overview of the linkages in Harare Habitat International Great Britain v
19 n 2 p 183-193 1995
FAO Select issues Urban Agriculture an oxymoron In The state of food and
agriculture Rome FAO199629p
FLEURY A amp DONADIEU P De l agriculture peacuteri-urbaine agrave l agriculture urbaine Le
Revue Courrier de l environnement Paris France n 31 aoucirct 1997 Disponiacutevel em lt
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FREgraveRE N LUDOVICO R M R MARTINS P F da SILVA Agricultura Urbana em
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RURAL 37 Anais Foz do Iguaccedilu PR SOBER 1999 p 1-10
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MAXWELL D LEVIN C CSETE J Does urban agriculture help prevent malnutrition
Evidence from Kampala Food Police Great Britain vol23 n5 p 411-424 1998
NUGENT R Agricultura urbana e periurbana Seguranccedila alimentar e nutriccedilatildeo
Texto inicial para discussatildeo na conferecircncia eletrocircnica promovida pela FAO ETC RUAF
21 de agosto-30 de setembro de 2000 7p
ORGANIZACIOacuteN MUNDIAL DE LA SALUD Necesidades de energiacutea y de proteiacutenas
Genebra FAOOMSONU 1985 220p (Seacuterie de Informes Teacutecnicos n 724)
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PHILIPPI S T SZARFARC S C LATTERZA A R Virtual Nutri [programa de
computador] Versatildeo 10 for windows Satildeo Paulo Departamento de Nutriccedilatildeo da
Faculdade de Sauacutede Puacuteblica da Universidade de Satildeo Paulo (USP) 1996
PROJETO INSTITUCIONAL DE EXTENSAtildeO NUacuteCLEO DA UFSM EM APOIO Agrave
REDE DE SOLIDARIEDADE Universidade Federal de Santa Maria Proacute- Reitoria de
Extensatildeo Santa Maria Abril de 2003
PEREIRA M T Agricultura urbana e periurbana Revista Qualidade de Vida Satildeo Paulo
Ano 2 n11 p01-04 Abril de 2000
ROCHA S Renda e pobreza os impactos do Plano Real Rio de Janeiro IPEA Texto
para Discussatildeo n 439 1996
SACHS I Inclusatildeo social pelo trabalho decente oportunidades obstaacuteculos poliacuteticas
puacuteblicas Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v18 n51 p23-49 2004
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Food Jobs and Sustainable Cities Publication Series for Habitat II Volume One New
York 1996 300 p
YUNUS M O Banqueiro dos Pobres Editora Aacutetica 2000 343p
ZALUAR A A maacutequina e a revolta as organizaccedilotildees populares e o significado da
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ZEEUW H de GUNDEL S WAIBEL H La integracioacuten de la Agricultura en las
poliacuteticas urbanas La Revista Agricultura Urbana Vol 1 julho de 2000 Disponiacutevel
emlt httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 21 de outubro de 2003
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Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas
populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que
plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro
Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos
de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada
como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de
autoconsumo
A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a
agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida
TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana
Razotildees Nuacutemero
28
737
17
447
10
263
Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2
53
TOTAL 57
-
Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura
urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que
17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram
a cultivar
O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura
urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a
geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o
grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside
basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas
famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana
12
TABELA 12
Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades
Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades
3061
2858
2041
816
816
204
204
TOTAL 1000
Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos
agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio
investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos
existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser
minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8
Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres
eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda
poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos
economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada
como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este
aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos
agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia
teacutecnica diferenciada
43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar
Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana
representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13
apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o
autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado
8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo
13
declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante
economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda
familiar)
TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda
total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias
Ateacute 10 da renda total 5
1316
Mais de 10 ateacute 20 14
3684
Mais de 20 ateacute 30 9
2368
Mais de 30 10
2632
TOTAL 38
10000
Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a
20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das
famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura
urbana
Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior
a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades
baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas
satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das
exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente
nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente
A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as
principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as
despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia
aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$
40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos
destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura
internacional
14
TABELA 14
Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais
Aacutegua 111600
727
Luz 172200
1121
Transporte 102500
667
Gaacutes 116100
755
Remeacutedios 127500
83
Alimentaccedilatildeo 906000
590
TOTAL 1535900
1000
Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os
gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute
relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma
oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente
para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com
alimentaccedilatildeo
34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional
A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias
revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite
frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que
dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte
presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria
de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca
da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas
A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento
importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et
al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana
em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas
elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de
5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um
15
melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade
(MAXWELL et al 1998)
TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena
Calorias Proteiacutenas
Consumo meacutedio per capita de
calorias (kcaldia) Nuacutemero
Consumo meacutedio per capita (gdia)
Nuacutemero
Menos de 80 149701 5 31 1
De 80 ateacute menos de 110
202139 7 59 1
De110 a mais 367100 8 100 18
TOTAL 239646 20 633 20
A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas
entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta
um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas
5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das
famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado
essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente
atendida em termos quantitativos
Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana
pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas
famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a
um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado
Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo
maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser
desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a
seguranccedila alimentar
4 Resumo e Conclusotildees
A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees
acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da
populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo
16
numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de
forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da
agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso
os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas
existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas
pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa
qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de
frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza
Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees
serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos
recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere
um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a
agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo
entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute
predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a
agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma
economia de subsistecircncia
As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo
com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As
informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta
de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui
existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas
Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo
cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas
caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por
meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a
alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada
nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de
17
hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e
de nutrientes para os membros das famiacutelias
Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana
eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos
que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o
aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de
renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos
O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no
entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de
creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito
poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um
amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado
por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares
sustentaacuteveis
Referecircncias Bibliograacuteficas
AVILLA C J amp VEENHUISEN R Aspectos econocircmicos da agricultura urbana
Editorial In La Revista Agricultura Urbana Vol 7 agosto de 2002 Disponiacutevel em lt
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RURAL 37 Anais Foz do Iguaccedilu PR SOBER 1999 p 1-10
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Texto inicial para discussatildeo na conferecircncia eletrocircnica promovida pela FAO ETC RUAF
21 de agosto-30 de setembro de 2000 7p
ORGANIZACIOacuteN MUNDIAL DE LA SALUD Necesidades de energiacutea y de proteiacutenas
Genebra FAOOMSONU 1985 220p (Seacuterie de Informes Teacutecnicos n 724)
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PHILIPPI S T SZARFARC S C LATTERZA A R Virtual Nutri [programa de
computador] Versatildeo 10 for windows Satildeo Paulo Departamento de Nutriccedilatildeo da
Faculdade de Sauacutede Puacuteblica da Universidade de Satildeo Paulo (USP) 1996
PROJETO INSTITUCIONAL DE EXTENSAtildeO NUacuteCLEO DA UFSM EM APOIO Agrave
REDE DE SOLIDARIEDADE Universidade Federal de Santa Maria Proacute- Reitoria de
Extensatildeo Santa Maria Abril de 2003
PEREIRA M T Agricultura urbana e periurbana Revista Qualidade de Vida Satildeo Paulo
Ano 2 n11 p01-04 Abril de 2000
ROCHA S Renda e pobreza os impactos do Plano Real Rio de Janeiro IPEA Texto
para Discussatildeo n 439 1996
SACHS I Inclusatildeo social pelo trabalho decente oportunidades obstaacuteculos poliacuteticas
puacuteblicas Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v18 n51 p23-49 2004
UNDP (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME) Urban Agriculture
Food Jobs and Sustainable Cities Publication Series for Habitat II Volume One New
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YUNUS M O Banqueiro dos Pobres Editora Aacutetica 2000 343p
ZALUAR A A maacutequina e a revolta as organizaccedilotildees populares e o significado da
pobreza Satildeo Paulo Editora Brasiliense 2 Ed 1994 265 p
ZEEUW H de GUNDEL S WAIBEL H La integracioacuten de la Agricultura en las
poliacuteticas urbanas La Revista Agricultura Urbana Vol 1 julho de 2000 Disponiacutevel
emlt httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 21 de outubro de 2003
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TABELA 12
Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades
Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades
3061
2858
2041
816
816
204
204
TOTAL 1000
Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos
agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio
investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos
existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser
minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8
Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres
eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda
poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos
economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada
como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este
aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos
agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia
teacutecnica diferenciada
43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar
Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana
representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13
apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o
autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado
8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo
13
declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante
economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda
familiar)
TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda
total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias
Ateacute 10 da renda total 5
1316
Mais de 10 ateacute 20 14
3684
Mais de 20 ateacute 30 9
2368
Mais de 30 10
2632
TOTAL 38
10000
Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a
20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das
famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura
urbana
Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior
a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades
baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas
satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das
exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente
nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente
A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as
principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as
despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia
aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$
40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos
destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura
internacional
14
TABELA 14
Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais
Aacutegua 111600
727
Luz 172200
1121
Transporte 102500
667
Gaacutes 116100
755
Remeacutedios 127500
83
Alimentaccedilatildeo 906000
590
TOTAL 1535900
1000
Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os
gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute
relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma
oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente
para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com
alimentaccedilatildeo
34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional
A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias
revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite
frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que
dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte
presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria
de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca
da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas
A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento
importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et
al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana
em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas
elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de
5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um
15
melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade
(MAXWELL et al 1998)
TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena
Calorias Proteiacutenas
Consumo meacutedio per capita de
calorias (kcaldia) Nuacutemero
Consumo meacutedio per capita (gdia)
Nuacutemero
Menos de 80 149701 5 31 1
De 80 ateacute menos de 110
202139 7 59 1
De110 a mais 367100 8 100 18
TOTAL 239646 20 633 20
A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas
entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta
um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas
5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das
famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado
essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente
atendida em termos quantitativos
Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana
pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas
famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a
um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado
Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo
maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser
desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a
seguranccedila alimentar
4 Resumo e Conclusotildees
A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees
acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da
populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo
16
numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de
forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da
agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso
os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas
existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas
pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa
qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de
frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza
Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees
serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos
recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere
um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a
agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo
entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute
predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a
agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma
economia de subsistecircncia
As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo
com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As
informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta
de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui
existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas
Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo
cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas
caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por
meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a
alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada
nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de
17
hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e
de nutrientes para os membros das famiacutelias
Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana
eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos
que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o
aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de
renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos
O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no
entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de
creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito
poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um
amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado
por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares
sustentaacuteveis
Referecircncias Bibliograacuteficas
AVILLA C J amp VEENHUISEN R Aspectos econocircmicos da agricultura urbana
Editorial In La Revista Agricultura Urbana Vol 7 agosto de 2002 Disponiacutevel em lt
httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 05 de janeiro de 2004
BLANCHEMANCHE S MARIE C L MOURIAUX F PESKINE E
Multifonctionnaliteacute de l agriculture et status d activiteacute Economie Rurale Paris-France n
260 p 41-51 novembre deacutecembre 2000
CAMARANO A A amp ABRAMOVAY R Ecircxodo rural envelhecimento e
masculinizaccedilatildeo no Brasil panorama dos uacuteltimos 50 anos Rio de Janeiro IPEA 1999
23p Texto para discussatildeo n621
COAG Comitecirc de Agricultura La Agricultura Urbana y Periurbana Organizacioacuten de las
Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentacioacuten
FAO Roma 25-29 de janeiro de
1999 60p
18
COSTA BEBER C Santa Maria 200 anos Histoacuteria da economia do municiacutepio Ediccedilatildeo
Comemorativa do Centenaacuterio da CACISM Santa Maria Cacism 1998 315p
DRAKAKIS-SMITH D BOWYER-BOWER T TEVERAD Urban poverty and urban
agriculture an overview of the linkages in Harare Habitat International Great Britain v
19 n 2 p 183-193 1995
FAO Select issues Urban Agriculture an oxymoron In The state of food and
agriculture Rome FAO199629p
FLEURY A amp DONADIEU P De l agriculture peacuteri-urbaine agrave l agriculture urbaine Le
Revue Courrier de l environnement Paris France n 31 aoucirct 1997 Disponiacutevel em lt
httpwwwinrafrdpenvfleure31htmgt Acesso em 06 de dezembro de 2003
FREgraveRE N LUDOVICO R M R MARTINS P F da SILVA Agricultura Urbana em
Beleacutem
Paraacute In CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA
RURAL 37 Anais Foz do Iguaccedilu PR SOBER 1999 p 1-10
GALEAZZI M A M BONVINO H LOURENCcedilO FAVIANNA R Inqueacuterito de
Consumo Familiar de Alimentos - Metodologia para Identificaccedilatildeo de Famiacutelias de Risco
Alimentar Cadernos de Debate Campinas vol IV p32-46 1996
IBGE Censo Demograacutefico 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwibgeorgbrgt Acesso em 4
de janeiro de 2004
MAXWELL D LEVIN C CSETE J Does urban agriculture help prevent malnutrition
Evidence from Kampala Food Police Great Britain vol23 n5 p 411-424 1998
NUGENT R Agricultura urbana e periurbana Seguranccedila alimentar e nutriccedilatildeo
Texto inicial para discussatildeo na conferecircncia eletrocircnica promovida pela FAO ETC RUAF
21 de agosto-30 de setembro de 2000 7p
ORGANIZACIOacuteN MUNDIAL DE LA SALUD Necesidades de energiacutea y de proteiacutenas
Genebra FAOOMSONU 1985 220p (Seacuterie de Informes Teacutecnicos n 724)
19
PHILIPPI S T SZARFARC S C LATTERZA A R Virtual Nutri [programa de
computador] Versatildeo 10 for windows Satildeo Paulo Departamento de Nutriccedilatildeo da
Faculdade de Sauacutede Puacuteblica da Universidade de Satildeo Paulo (USP) 1996
PROJETO INSTITUCIONAL DE EXTENSAtildeO NUacuteCLEO DA UFSM EM APOIO Agrave
REDE DE SOLIDARIEDADE Universidade Federal de Santa Maria Proacute- Reitoria de
Extensatildeo Santa Maria Abril de 2003
PEREIRA M T Agricultura urbana e periurbana Revista Qualidade de Vida Satildeo Paulo
Ano 2 n11 p01-04 Abril de 2000
ROCHA S Renda e pobreza os impactos do Plano Real Rio de Janeiro IPEA Texto
para Discussatildeo n 439 1996
SACHS I Inclusatildeo social pelo trabalho decente oportunidades obstaacuteculos poliacuteticas
puacuteblicas Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v18 n51 p23-49 2004
UNDP (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME) Urban Agriculture
Food Jobs and Sustainable Cities Publication Series for Habitat II Volume One New
York 1996 300 p
YUNUS M O Banqueiro dos Pobres Editora Aacutetica 2000 343p
ZALUAR A A maacutequina e a revolta as organizaccedilotildees populares e o significado da
pobreza Satildeo Paulo Editora Brasiliense 2 Ed 1994 265 p
ZEEUW H de GUNDEL S WAIBEL H La integracioacuten de la Agricultura en las
poliacuteticas urbanas La Revista Agricultura Urbana Vol 1 julho de 2000 Disponiacutevel
emlt httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 21 de outubro de 2003
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13
declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante
economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda
familiar)
TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda
total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias
Ateacute 10 da renda total 5
1316
Mais de 10 ateacute 20 14
3684
Mais de 20 ateacute 30 9
2368
Mais de 30 10
2632
TOTAL 38
10000
Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a
20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das
famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura
urbana
Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior
a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades
baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas
satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das
exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente
nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente
A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as
principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as
despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia
aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$
40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos
destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura
internacional
14
TABELA 14
Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais
Aacutegua 111600
727
Luz 172200
1121
Transporte 102500
667
Gaacutes 116100
755
Remeacutedios 127500
83
Alimentaccedilatildeo 906000
590
TOTAL 1535900
1000
Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os
gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute
relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma
oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente
para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com
alimentaccedilatildeo
34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional
A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias
revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite
frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que
dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte
presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria
de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca
da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas
A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento
importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et
al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana
em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas
elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de
5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um
15
melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade
(MAXWELL et al 1998)
TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena
Calorias Proteiacutenas
Consumo meacutedio per capita de
calorias (kcaldia) Nuacutemero
Consumo meacutedio per capita (gdia)
Nuacutemero
Menos de 80 149701 5 31 1
De 80 ateacute menos de 110
202139 7 59 1
De110 a mais 367100 8 100 18
TOTAL 239646 20 633 20
A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas
entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta
um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas
5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das
famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado
essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente
atendida em termos quantitativos
Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana
pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas
famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a
um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado
Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo
maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser
desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a
seguranccedila alimentar
4 Resumo e Conclusotildees
A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees
acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da
populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo
16
numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de
forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da
agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso
os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas
existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas
pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa
qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de
frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza
Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees
serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos
recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere
um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a
agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo
entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute
predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a
agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma
economia de subsistecircncia
As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo
com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As
informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta
de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui
existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas
Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo
cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas
caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por
meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a
alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada
nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de
17
hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e
de nutrientes para os membros das famiacutelias
Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana
eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos
que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o
aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de
renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos
O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no
entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de
creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito
poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um
amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado
por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares
sustentaacuteveis
Referecircncias Bibliograacuteficas
AVILLA C J amp VEENHUISEN R Aspectos econocircmicos da agricultura urbana
Editorial In La Revista Agricultura Urbana Vol 7 agosto de 2002 Disponiacutevel em lt
httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 05 de janeiro de 2004
BLANCHEMANCHE S MARIE C L MOURIAUX F PESKINE E
Multifonctionnaliteacute de l agriculture et status d activiteacute Economie Rurale Paris-France n
260 p 41-51 novembre deacutecembre 2000
CAMARANO A A amp ABRAMOVAY R Ecircxodo rural envelhecimento e
masculinizaccedilatildeo no Brasil panorama dos uacuteltimos 50 anos Rio de Janeiro IPEA 1999
23p Texto para discussatildeo n621
COAG Comitecirc de Agricultura La Agricultura Urbana y Periurbana Organizacioacuten de las
Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentacioacuten
FAO Roma 25-29 de janeiro de
1999 60p
18
COSTA BEBER C Santa Maria 200 anos Histoacuteria da economia do municiacutepio Ediccedilatildeo
Comemorativa do Centenaacuterio da CACISM Santa Maria Cacism 1998 315p
DRAKAKIS-SMITH D BOWYER-BOWER T TEVERAD Urban poverty and urban
agriculture an overview of the linkages in Harare Habitat International Great Britain v
19 n 2 p 183-193 1995
FAO Select issues Urban Agriculture an oxymoron In The state of food and
agriculture Rome FAO199629p
FLEURY A amp DONADIEU P De l agriculture peacuteri-urbaine agrave l agriculture urbaine Le
Revue Courrier de l environnement Paris France n 31 aoucirct 1997 Disponiacutevel em lt
httpwwwinrafrdpenvfleure31htmgt Acesso em 06 de dezembro de 2003
FREgraveRE N LUDOVICO R M R MARTINS P F da SILVA Agricultura Urbana em
Beleacutem
Paraacute In CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA
RURAL 37 Anais Foz do Iguaccedilu PR SOBER 1999 p 1-10
GALEAZZI M A M BONVINO H LOURENCcedilO FAVIANNA R Inqueacuterito de
Consumo Familiar de Alimentos - Metodologia para Identificaccedilatildeo de Famiacutelias de Risco
Alimentar Cadernos de Debate Campinas vol IV p32-46 1996
IBGE Censo Demograacutefico 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwibgeorgbrgt Acesso em 4
de janeiro de 2004
MAXWELL D LEVIN C CSETE J Does urban agriculture help prevent malnutrition
Evidence from Kampala Food Police Great Britain vol23 n5 p 411-424 1998
NUGENT R Agricultura urbana e periurbana Seguranccedila alimentar e nutriccedilatildeo
Texto inicial para discussatildeo na conferecircncia eletrocircnica promovida pela FAO ETC RUAF
21 de agosto-30 de setembro de 2000 7p
ORGANIZACIOacuteN MUNDIAL DE LA SALUD Necesidades de energiacutea y de proteiacutenas
Genebra FAOOMSONU 1985 220p (Seacuterie de Informes Teacutecnicos n 724)
19
PHILIPPI S T SZARFARC S C LATTERZA A R Virtual Nutri [programa de
computador] Versatildeo 10 for windows Satildeo Paulo Departamento de Nutriccedilatildeo da
Faculdade de Sauacutede Puacuteblica da Universidade de Satildeo Paulo (USP) 1996
PROJETO INSTITUCIONAL DE EXTENSAtildeO NUacuteCLEO DA UFSM EM APOIO Agrave
REDE DE SOLIDARIEDADE Universidade Federal de Santa Maria Proacute- Reitoria de
Extensatildeo Santa Maria Abril de 2003
PEREIRA M T Agricultura urbana e periurbana Revista Qualidade de Vida Satildeo Paulo
Ano 2 n11 p01-04 Abril de 2000
ROCHA S Renda e pobreza os impactos do Plano Real Rio de Janeiro IPEA Texto
para Discussatildeo n 439 1996
SACHS I Inclusatildeo social pelo trabalho decente oportunidades obstaacuteculos poliacuteticas
puacuteblicas Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v18 n51 p23-49 2004
UNDP (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME) Urban Agriculture
Food Jobs and Sustainable Cities Publication Series for Habitat II Volume One New
York 1996 300 p
YUNUS M O Banqueiro dos Pobres Editora Aacutetica 2000 343p
ZALUAR A A maacutequina e a revolta as organizaccedilotildees populares e o significado da
pobreza Satildeo Paulo Editora Brasiliense 2 Ed 1994 265 p
ZEEUW H de GUNDEL S WAIBEL H La integracioacuten de la Agricultura en las
poliacuteticas urbanas La Revista Agricultura Urbana Vol 1 julho de 2000 Disponiacutevel
emlt httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 21 de outubro de 2003
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TABELA 14
Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais
Aacutegua 111600
727
Luz 172200
1121
Transporte 102500
667
Gaacutes 116100
755
Remeacutedios 127500
83
Alimentaccedilatildeo 906000
590
TOTAL 1535900
1000
Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os
gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute
relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma
oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente
para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com
alimentaccedilatildeo
34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional
A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias
revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite
frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que
dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte
presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria
de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca
da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas
A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento
importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et
al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana
em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas
elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de
5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um
15
melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade
(MAXWELL et al 1998)
TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena
Calorias Proteiacutenas
Consumo meacutedio per capita de
calorias (kcaldia) Nuacutemero
Consumo meacutedio per capita (gdia)
Nuacutemero
Menos de 80 149701 5 31 1
De 80 ateacute menos de 110
202139 7 59 1
De110 a mais 367100 8 100 18
TOTAL 239646 20 633 20
A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas
entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta
um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas
5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das
famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado
essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente
atendida em termos quantitativos
Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana
pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas
famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a
um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado
Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo
maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser
desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a
seguranccedila alimentar
4 Resumo e Conclusotildees
A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees
acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da
populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo
16
numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de
forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da
agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso
os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas
existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas
pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa
qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de
frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza
Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees
serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos
recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere
um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a
agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo
entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute
predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a
agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma
economia de subsistecircncia
As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo
com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As
informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta
de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui
existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas
Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo
cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas
caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por
meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a
alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada
nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de
17
hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e
de nutrientes para os membros das famiacutelias
Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana
eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos
que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o
aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de
renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos
O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no
entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de
creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito
poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um
amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado
por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares
sustentaacuteveis
Referecircncias Bibliograacuteficas
AVILLA C J amp VEENHUISEN R Aspectos econocircmicos da agricultura urbana
Editorial In La Revista Agricultura Urbana Vol 7 agosto de 2002 Disponiacutevel em lt
httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 05 de janeiro de 2004
BLANCHEMANCHE S MARIE C L MOURIAUX F PESKINE E
Multifonctionnaliteacute de l agriculture et status d activiteacute Economie Rurale Paris-France n
260 p 41-51 novembre deacutecembre 2000
CAMARANO A A amp ABRAMOVAY R Ecircxodo rural envelhecimento e
masculinizaccedilatildeo no Brasil panorama dos uacuteltimos 50 anos Rio de Janeiro IPEA 1999
23p Texto para discussatildeo n621
COAG Comitecirc de Agricultura La Agricultura Urbana y Periurbana Organizacioacuten de las
Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentacioacuten
FAO Roma 25-29 de janeiro de
1999 60p
18
COSTA BEBER C Santa Maria 200 anos Histoacuteria da economia do municiacutepio Ediccedilatildeo
Comemorativa do Centenaacuterio da CACISM Santa Maria Cacism 1998 315p
DRAKAKIS-SMITH D BOWYER-BOWER T TEVERAD Urban poverty and urban
agriculture an overview of the linkages in Harare Habitat International Great Britain v
19 n 2 p 183-193 1995
FAO Select issues Urban Agriculture an oxymoron In The state of food and
agriculture Rome FAO199629p
FLEURY A amp DONADIEU P De l agriculture peacuteri-urbaine agrave l agriculture urbaine Le
Revue Courrier de l environnement Paris France n 31 aoucirct 1997 Disponiacutevel em lt
httpwwwinrafrdpenvfleure31htmgt Acesso em 06 de dezembro de 2003
FREgraveRE N LUDOVICO R M R MARTINS P F da SILVA Agricultura Urbana em
Beleacutem
Paraacute In CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA
RURAL 37 Anais Foz do Iguaccedilu PR SOBER 1999 p 1-10
GALEAZZI M A M BONVINO H LOURENCcedilO FAVIANNA R Inqueacuterito de
Consumo Familiar de Alimentos - Metodologia para Identificaccedilatildeo de Famiacutelias de Risco
Alimentar Cadernos de Debate Campinas vol IV p32-46 1996
IBGE Censo Demograacutefico 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwibgeorgbrgt Acesso em 4
de janeiro de 2004
MAXWELL D LEVIN C CSETE J Does urban agriculture help prevent malnutrition
Evidence from Kampala Food Police Great Britain vol23 n5 p 411-424 1998
NUGENT R Agricultura urbana e periurbana Seguranccedila alimentar e nutriccedilatildeo
Texto inicial para discussatildeo na conferecircncia eletrocircnica promovida pela FAO ETC RUAF
21 de agosto-30 de setembro de 2000 7p
ORGANIZACIOacuteN MUNDIAL DE LA SALUD Necesidades de energiacutea y de proteiacutenas
Genebra FAOOMSONU 1985 220p (Seacuterie de Informes Teacutecnicos n 724)
19
PHILIPPI S T SZARFARC S C LATTERZA A R Virtual Nutri [programa de
computador] Versatildeo 10 for windows Satildeo Paulo Departamento de Nutriccedilatildeo da
Faculdade de Sauacutede Puacuteblica da Universidade de Satildeo Paulo (USP) 1996
PROJETO INSTITUCIONAL DE EXTENSAtildeO NUacuteCLEO DA UFSM EM APOIO Agrave
REDE DE SOLIDARIEDADE Universidade Federal de Santa Maria Proacute- Reitoria de
Extensatildeo Santa Maria Abril de 2003
PEREIRA M T Agricultura urbana e periurbana Revista Qualidade de Vida Satildeo Paulo
Ano 2 n11 p01-04 Abril de 2000
ROCHA S Renda e pobreza os impactos do Plano Real Rio de Janeiro IPEA Texto
para Discussatildeo n 439 1996
SACHS I Inclusatildeo social pelo trabalho decente oportunidades obstaacuteculos poliacuteticas
puacuteblicas Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v18 n51 p23-49 2004
UNDP (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME) Urban Agriculture
Food Jobs and Sustainable Cities Publication Series for Habitat II Volume One New
York 1996 300 p
YUNUS M O Banqueiro dos Pobres Editora Aacutetica 2000 343p
ZALUAR A A maacutequina e a revolta as organizaccedilotildees populares e o significado da
pobreza Satildeo Paulo Editora Brasiliense 2 Ed 1994 265 p
ZEEUW H de GUNDEL S WAIBEL H La integracioacuten de la Agricultura en las
poliacuteticas urbanas La Revista Agricultura Urbana Vol 1 julho de 2000 Disponiacutevel
emlt httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 21 de outubro de 2003
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15
melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade
(MAXWELL et al 1998)
TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena
Calorias Proteiacutenas
Consumo meacutedio per capita de
calorias (kcaldia) Nuacutemero
Consumo meacutedio per capita (gdia)
Nuacutemero
Menos de 80 149701 5 31 1
De 80 ateacute menos de 110
202139 7 59 1
De110 a mais 367100 8 100 18
TOTAL 239646 20 633 20
A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas
entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta
um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas
5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das
famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado
essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente
atendida em termos quantitativos
Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana
pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas
famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a
um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado
Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo
maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser
desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a
seguranccedila alimentar
4 Resumo e Conclusotildees
A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees
acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da
populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo
16
numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de
forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da
agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso
os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas
existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas
pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa
qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de
frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza
Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees
serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos
recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere
um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a
agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo
entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute
predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a
agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma
economia de subsistecircncia
As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo
com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As
informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta
de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui
existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas
Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo
cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas
caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por
meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a
alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada
nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de
17
hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e
de nutrientes para os membros das famiacutelias
Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana
eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos
que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o
aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de
renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos
O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no
entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de
creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito
poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um
amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado
por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares
sustentaacuteveis
Referecircncias Bibliograacuteficas
AVILLA C J amp VEENHUISEN R Aspectos econocircmicos da agricultura urbana
Editorial In La Revista Agricultura Urbana Vol 7 agosto de 2002 Disponiacutevel em lt
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masculinizaccedilatildeo no Brasil panorama dos uacuteltimos 50 anos Rio de Janeiro IPEA 1999
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Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentacioacuten
FAO Roma 25-29 de janeiro de
1999 60p
18
COSTA BEBER C Santa Maria 200 anos Histoacuteria da economia do municiacutepio Ediccedilatildeo
Comemorativa do Centenaacuterio da CACISM Santa Maria Cacism 1998 315p
DRAKAKIS-SMITH D BOWYER-BOWER T TEVERAD Urban poverty and urban
agriculture an overview of the linkages in Harare Habitat International Great Britain v
19 n 2 p 183-193 1995
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agriculture Rome FAO199629p
FLEURY A amp DONADIEU P De l agriculture peacuteri-urbaine agrave l agriculture urbaine Le
Revue Courrier de l environnement Paris France n 31 aoucirct 1997 Disponiacutevel em lt
httpwwwinrafrdpenvfleure31htmgt Acesso em 06 de dezembro de 2003
FREgraveRE N LUDOVICO R M R MARTINS P F da SILVA Agricultura Urbana em
Beleacutem
Paraacute In CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA
RURAL 37 Anais Foz do Iguaccedilu PR SOBER 1999 p 1-10
GALEAZZI M A M BONVINO H LOURENCcedilO FAVIANNA R Inqueacuterito de
Consumo Familiar de Alimentos - Metodologia para Identificaccedilatildeo de Famiacutelias de Risco
Alimentar Cadernos de Debate Campinas vol IV p32-46 1996
IBGE Censo Demograacutefico 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwibgeorgbrgt Acesso em 4
de janeiro de 2004
MAXWELL D LEVIN C CSETE J Does urban agriculture help prevent malnutrition
Evidence from Kampala Food Police Great Britain vol23 n5 p 411-424 1998
NUGENT R Agricultura urbana e periurbana Seguranccedila alimentar e nutriccedilatildeo
Texto inicial para discussatildeo na conferecircncia eletrocircnica promovida pela FAO ETC RUAF
21 de agosto-30 de setembro de 2000 7p
ORGANIZACIOacuteN MUNDIAL DE LA SALUD Necesidades de energiacutea y de proteiacutenas
Genebra FAOOMSONU 1985 220p (Seacuterie de Informes Teacutecnicos n 724)
19
PHILIPPI S T SZARFARC S C LATTERZA A R Virtual Nutri [programa de
computador] Versatildeo 10 for windows Satildeo Paulo Departamento de Nutriccedilatildeo da
Faculdade de Sauacutede Puacuteblica da Universidade de Satildeo Paulo (USP) 1996
PROJETO INSTITUCIONAL DE EXTENSAtildeO NUacuteCLEO DA UFSM EM APOIO Agrave
REDE DE SOLIDARIEDADE Universidade Federal de Santa Maria Proacute- Reitoria de
Extensatildeo Santa Maria Abril de 2003
PEREIRA M T Agricultura urbana e periurbana Revista Qualidade de Vida Satildeo Paulo
Ano 2 n11 p01-04 Abril de 2000
ROCHA S Renda e pobreza os impactos do Plano Real Rio de Janeiro IPEA Texto
para Discussatildeo n 439 1996
SACHS I Inclusatildeo social pelo trabalho decente oportunidades obstaacuteculos poliacuteticas
puacuteblicas Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v18 n51 p23-49 2004
UNDP (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME) Urban Agriculture
Food Jobs and Sustainable Cities Publication Series for Habitat II Volume One New
York 1996 300 p
YUNUS M O Banqueiro dos Pobres Editora Aacutetica 2000 343p
ZALUAR A A maacutequina e a revolta as organizaccedilotildees populares e o significado da
pobreza Satildeo Paulo Editora Brasiliense 2 Ed 1994 265 p
ZEEUW H de GUNDEL S WAIBEL H La integracioacuten de la Agricultura en las
poliacuteticas urbanas La Revista Agricultura Urbana Vol 1 julho de 2000 Disponiacutevel
emlt httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 21 de outubro de 2003
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numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de
forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da
agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso
os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas
existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas
pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa
qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de
frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza
Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees
serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos
recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere
um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a
agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo
entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute
predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a
agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma
economia de subsistecircncia
As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo
com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As
informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia
Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta
de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui
existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas
Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo
cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas
caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por
meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a
alimentaccedilatildeo das famiacutelias
A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada
nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de
17
hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e
de nutrientes para os membros das famiacutelias
Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana
eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos
que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o
aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de
renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos
O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no
entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de
creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito
poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um
amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado
por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares
sustentaacuteveis
Referecircncias Bibliograacuteficas
AVILLA C J amp VEENHUISEN R Aspectos econocircmicos da agricultura urbana
Editorial In La Revista Agricultura Urbana Vol 7 agosto de 2002 Disponiacutevel em lt
httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 05 de janeiro de 2004
BLANCHEMANCHE S MARIE C L MOURIAUX F PESKINE E
Multifonctionnaliteacute de l agriculture et status d activiteacute Economie Rurale Paris-France n
260 p 41-51 novembre deacutecembre 2000
CAMARANO A A amp ABRAMOVAY R Ecircxodo rural envelhecimento e
masculinizaccedilatildeo no Brasil panorama dos uacuteltimos 50 anos Rio de Janeiro IPEA 1999
23p Texto para discussatildeo n621
COAG Comitecirc de Agricultura La Agricultura Urbana y Periurbana Organizacioacuten de las
Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentacioacuten
FAO Roma 25-29 de janeiro de
1999 60p
18
COSTA BEBER C Santa Maria 200 anos Histoacuteria da economia do municiacutepio Ediccedilatildeo
Comemorativa do Centenaacuterio da CACISM Santa Maria Cacism 1998 315p
DRAKAKIS-SMITH D BOWYER-BOWER T TEVERAD Urban poverty and urban
agriculture an overview of the linkages in Harare Habitat International Great Britain v
19 n 2 p 183-193 1995
FAO Select issues Urban Agriculture an oxymoron In The state of food and
agriculture Rome FAO199629p
FLEURY A amp DONADIEU P De l agriculture peacuteri-urbaine agrave l agriculture urbaine Le
Revue Courrier de l environnement Paris France n 31 aoucirct 1997 Disponiacutevel em lt
httpwwwinrafrdpenvfleure31htmgt Acesso em 06 de dezembro de 2003
FREgraveRE N LUDOVICO R M R MARTINS P F da SILVA Agricultura Urbana em
Beleacutem
Paraacute In CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA
RURAL 37 Anais Foz do Iguaccedilu PR SOBER 1999 p 1-10
GALEAZZI M A M BONVINO H LOURENCcedilO FAVIANNA R Inqueacuterito de
Consumo Familiar de Alimentos - Metodologia para Identificaccedilatildeo de Famiacutelias de Risco
Alimentar Cadernos de Debate Campinas vol IV p32-46 1996
IBGE Censo Demograacutefico 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwibgeorgbrgt Acesso em 4
de janeiro de 2004
MAXWELL D LEVIN C CSETE J Does urban agriculture help prevent malnutrition
Evidence from Kampala Food Police Great Britain vol23 n5 p 411-424 1998
NUGENT R Agricultura urbana e periurbana Seguranccedila alimentar e nutriccedilatildeo
Texto inicial para discussatildeo na conferecircncia eletrocircnica promovida pela FAO ETC RUAF
21 de agosto-30 de setembro de 2000 7p
ORGANIZACIOacuteN MUNDIAL DE LA SALUD Necesidades de energiacutea y de proteiacutenas
Genebra FAOOMSONU 1985 220p (Seacuterie de Informes Teacutecnicos n 724)
19
PHILIPPI S T SZARFARC S C LATTERZA A R Virtual Nutri [programa de
computador] Versatildeo 10 for windows Satildeo Paulo Departamento de Nutriccedilatildeo da
Faculdade de Sauacutede Puacuteblica da Universidade de Satildeo Paulo (USP) 1996
PROJETO INSTITUCIONAL DE EXTENSAtildeO NUacuteCLEO DA UFSM EM APOIO Agrave
REDE DE SOLIDARIEDADE Universidade Federal de Santa Maria Proacute- Reitoria de
Extensatildeo Santa Maria Abril de 2003
PEREIRA M T Agricultura urbana e periurbana Revista Qualidade de Vida Satildeo Paulo
Ano 2 n11 p01-04 Abril de 2000
ROCHA S Renda e pobreza os impactos do Plano Real Rio de Janeiro IPEA Texto
para Discussatildeo n 439 1996
SACHS I Inclusatildeo social pelo trabalho decente oportunidades obstaacuteculos poliacuteticas
puacuteblicas Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v18 n51 p23-49 2004
UNDP (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME) Urban Agriculture
Food Jobs and Sustainable Cities Publication Series for Habitat II Volume One New
York 1996 300 p
YUNUS M O Banqueiro dos Pobres Editora Aacutetica 2000 343p
ZALUAR A A maacutequina e a revolta as organizaccedilotildees populares e o significado da
pobreza Satildeo Paulo Editora Brasiliense 2 Ed 1994 265 p
ZEEUW H de GUNDEL S WAIBEL H La integracioacuten de la Agricultura en las
poliacuteticas urbanas La Revista Agricultura Urbana Vol 1 julho de 2000 Disponiacutevel
emlt httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 21 de outubro de 2003
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hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e
de nutrientes para os membros das famiacutelias
Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana
eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos
que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o
aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de
renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos
O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no
entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de
creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito
poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um
amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado
por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares
sustentaacuteveis
Referecircncias Bibliograacuteficas
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