agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. o trabalho pioneiro de...

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Agricultura urbana e Segurança Alimentar: estudo no município de Santa Maria - RS Autores: Ilaine Schuch Professora Assistente do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Endereço para correspondência: Rua Venâncio Aires, 523/504 Santa Maria, RS - CEP: 97010.000 e-mail: [email protected] Marcelino de Souza- Professor Adjunto do Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Endereço para correspondência: Rua Venâncio Aires, 523/504 Santa Maria, RS - CEP: 97010.000 e-mail: [email protected] Cristiane Cardoso Pessoa Extensionista Empresarial da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) Endereço Para Correspondência: Rua Santa Cruz, 1948 A, Apartamento 204 centro Pelotas, RS CEP: 96015-710 e-mail: [email protected] Área Temática: Estudos Urbanos

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Page 1: agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no Brasil é o de Frère et al. (1999), o

Agricultura urbana e Seguranccedila Alimentar estudo no municiacutepio de Santa Maria - RS

Autores

Ilaine Schuch

Professora Assistente do Departamento de Medicina Social da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Endereccedilo para correspondecircncia

Rua Venacircncio Aires 523504 Santa Maria RS - CEP 97010000

e-mail ischuchuolcombr

Marcelino de Souza- Professor Adjunto do Departamento de Educaccedilatildeo Agriacutecola e

Extensatildeo Rural da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Endereccedilo para correspondecircncia

Rua Venacircncio Aires 523504 Santa Maria RS - CEP 97010000

e-mail marcelinosouzauolcombr

Cristiane Cardoso Pessoa

Extensionista Empresarial da Universidade Catoacutelica de

Pelotas (UCPel)

Endereccedilo Para Correspondecircncia Rua Santa Cruz 1948 A Apartamento 204

centro

Pelotas RS CEP 96015-710

e-mail cricapmailufsmbr

Aacuterea Temaacutetica Estudos Urbanos

1

Agricultura urbana e Seguranccedila Alimentar estudo no municiacutepio de Santa Maria - RS

Resumo No contexto da nova relaccedilatildeo do rural e urbano a agricultura urbana ganha importacircncia em funccedilatildeo de aspectos como a crescente urbanizaccedilatildeo a pobreza os problemas de abastecimento e valores de natildeo-mercado Todavia os estudos existentes no Brasil ainda satildeo escassos O objetivo principal deste trabalho eacute apresentar os resultados de uma investigaccedilatildeo sobre a contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na melhoria da renda e da alimentaccedilatildeo de um gripo de famiacutelias pobres do municiacutepio de Santa Maria-RS Os resultados revelam que a atividade natildeo cumpre necessariamente o papel de provedora de renda adicional mas conduz a uma economia expressiva pois certos alimentos deixam de ser comprados A atividade pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora de mercado ou uma economia de subsistecircncia e cumpre papel relevante na seguranccedila alimentar das famiacutelias

Palavras-chave agricultura urbana pobreza e seguranccedila alimentar

1 Introduccedilatildeo

No Brasil nos uacuteltimos cinquumlenta anos e principalmente a partir de 1980 houve

uma crescente urbanizaccedilatildeo seguindo a tendecircncia mundial Este fenocircmeno provocou uma

forte reduccedilatildeo da populaccedilatildeo rural em todas as regiotildees Mesmo nas deacutecadas posteriores agrave de

80 a desruralizaccedilatildeo continuou sendo uma realidade o que conduziu o paiacutes a taxas

crescentes de populaccedilatildeo urbana mesmo que distintamente nas diversas regiotildees do paiacutes

(CAMARANO amp ABRAMOVAY 1999)

Esse crescimento resulta em um impacto conduzindo a uma importante mudanccedila

nos vetores de expansatildeo fiacutesica das cidades fazendo com que atividades consideradas como

essencialmente agriacutecolas no passado passem a ter expressatildeo econocircmica nos espaccedilos

urbanos (PEREIRA 20002)

Neste sentido a agricultura cruzou as fronteiras entre a dimensatildeo econocircmica

ecoloacutegica poliacutetica e cultural adquirindo um caraacuteter multifuncional1 Neste contexto surge

a agricultura no meio urbano e esta quando praticada de modo apropriado poderaacute segundo

o Comitecirc de Agricultura (COAG 1999) aumentar a quantidade de alimentos disponiacuteveis

melhorar a seguranccedila alimentar em eacutepocas de crise ou grave escassez de alimentos

1A multifuncionalidade define-se como um conjunto das contribuiccedilotildees da agricultura a um desenvolvimento econocircmico e social considerado em sua unidade o reconhecimento oficial da multifuncionalidade exprime a vontade que essas diferentes contribuiccedilotildees podem ser associadas duravelmente de modo coerente segundo as modalidades julgadas satisfatoacuterias pelos cidadatildeos (BLANCHEMANCHE et al 2000 p42)

2

melhorar o grau de frescor de alimentos pereciacuteveis e ainda oferecer oportunidades de

empregos produtivos em um setor onde os obstaacuteculos ao ingresso satildeo de pouca

importacircncia

Em vista destes acontecimentos em todo o mundo notadamente nos paiacuteses menos

desenvolvidos tem sido detectado um fenocircmeno em que um crescente nuacutemero de

residentes urbanos se dedica agraves atividades agriacutecolas2 Essas atividades agriacutecolas tecircm sido

comumente chamadas de agricultura urbana Fleury amp Donadieu (1997) sugerem empregar

esse termo para designar os sistemas agriacutecolas das periferias urbanas orientados para as

novas necessidades urbanas mesmo ressaltando que a expressatildeo possui mais de um

significado podendo ser empregada em diferentes situaccedilotildees ou para distintos grupos de

profissionais Seja qual for a interpretaccedilatildeo dada para o termo agricultura urbana

dependendo do autor e do paiacutes no qual se insere o mesmo indiscutivelmente estaacute

relacionado com a auto-suficiecircncia alimentar das cidades

Outro aspecto importante eacute mencionado por Zeeuw et al (2000) ao destacarem que

as anaacutelises das tendecircncias atuais dos sistemas de alimentaccedilatildeo dos pobres urbanos mostram

que para garantir sua seguranccedila alimentar eacute necessaacuteria a combinaccedilatildeo da produccedilatildeo de

alimentos nas zonas rurais e urbanas

A Food and Agriculture Organization - FAO (1996) tambeacutem ressalta que a

agricultura urbana pode se constituir em uma importante contribuiccedilatildeo na questatildeo alimentar

e ateacute para o aumento da renda da populaccedilatildeo em muitas cidades do mundo em

desenvolvimento No entanto a organizaccedilatildeo salienta que ela fornece natildeo somente

benefiacutecios de ordem econocircmica mas tambeacutem de recreaccedilatildeo lazer e ecoloacutegicos aos

citadinos

Em relaccedilatildeo aos tipos dos agricultores urbanos a maioria segundo registros da

United Nations Development Programme - UNDP (1996) tem origem nos grupos de baixa

renda em muitos paiacuteses em desenvolvimento

Aleacutem disso frequumlentemente eles cultivam terra que natildeo possuem Entretanto em

alguns paiacuteses (incluindo Argentina e Estados Unidos) agricultores de renda meacutedia que satildeo

a maioria praticam primariamente cultivo de quintal A diferenccedila entre as praacuteticas

agriacutecolas dos agricultores de baixa renda e elevada natildeo estaacute apenas no tamanho mas nos

3

sistemas de produccedilatildeo e produtos Enquanto o monocultivo eacute comum entre agricultores

abastados os agricultores de baixa renda tendem a escolher sistemas de produccedilatildeo agriacutecola

diversificados que requerem baixo capital e minimizam riscos (UNDP 1996)

Zeeuw et al (2000) salientam tambeacutem que a agricultura urbana eacute uma atividade que

exige poliacuteticas puacuteblicas para sua implementaccedilatildeo principalmente no que diz respeito agraves

poliacuteticas de uso de solos sauacutede ambientais e de desenvolvimento social Por isso eacute

essencial o conhecimento das caracteriacutesticas especiacuteficas dos locais e as diferentes

finalidades da agricultura urbana para que sejam formuladas poliacuteticas adequadas de

intervenccedilatildeo

Em quase todo o mundo encontram-se pesquisas explorando a temaacutetica da

agricultura urbana O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no

Brasil eacute o de Fregravere et al (1999) o qual apresenta os resultados de uma investigaccedilatildeo

realizada em Beleacutem-PA com o objetivo de conhecer os tipos e dimensionar a agricultura

naquele municiacutepio

Da mesma maneira que em vaacuterias localidades alvos da pesquisa em Santa Maria -

RS a agricultura urbana eacute uma realidade entre os moradores de vaacuterias localidades Este

artigo tem como objetivo apresentar os resultados de uma investigaccedilatildeo sobre a contribuiccedilatildeo

da agricultura urbana na melhoria da renda e da alimentaccedilatildeo de famiacutelias pobres3

2 Metodologia Utilizada

Essa pesquisa desenvolveu-se na cidade de Santa Maria Estado do Rio Grande do

Sul O municiacutepio situa-se na regiatildeo central do Estado Segundo o Censo IBGE (2000) a

populaccedilatildeo urbana eacute de 230468 habitantes e a rural eacute de 12928 habitantes respectivamente

947 e 53 da populaccedilatildeo total Esses dados permitem concluir que Santa Maria eacute um

municiacutepio nitidamente urbano segundo os criteacuterios do IBGE No periacutemetro urbano foram

2 Esse crescimento tem sido relatado principalmente nas pesquisas realizadas nos paiacuteses africanos A tiacutetulo de exemplo ver Drakakis-Smith D et al (1995) entre outros estudos 3Zaluar (199433) define os pobres de um ponto de vista meramente descritivo como todos aqueles que estatildeo incluiacutedos nas faixas de renda mais baixas (ateacute 3 a 5 salaacuterios miacutenimos) ou os que exercem as atividades pior remuneradas na economia nacional Entre eles estatildeo obviamente os operaacuterios e assalariados do terciaacuterio semi ou natildeo-qualificados e que recebem baixos salaacuterios em virtude da poliacutetica salarial vigente bem como os trabalhadores por conta-proacutepria pouco ou natildeo especializados quer sejam estabelecidos ou natildeo

4

identificadas as comunidades que integram os bolsotildees de miseacuteria4 da cidade A intenccedilatildeo era

estudar a agricultura urbana no contexto da pobreza As comunidades foram escolhidas

intencionalmente em localidades situadas em distintas zonas do municiacutepio sendo elas Vila

Arco Iacuteris Vila Liacutedia Urlacircndia Renascenccedila Vila Lorenzi Nossa Senhora do Trabalho

Apariacutecio de Moraes e Montanha Russa A coleta dos dados ocorreu durante o mecircs de

fevereiro e marccedilo de 2004 pela proacutepria pesquisadora sendo coletados dados de 38

famiacutelias Para a definiccedilatildeo do nuacutemero de famiacutelias a serem pesquisadas nas comunidades

utilizou-se uma amostragem natildeo-probabiliacutestica autogerada O instrumento utilizado para o

levantamento dos foi o questionaacuterio contendo 32 questotildees fechadas e 1 questatildeo aberta

Apoacutes a coleta os dados foram digitados em planilhas do programa Excel

constituindo um banco de dados Posteriormente esses dados foram importados pelo

programa estatiacutestico SPSS (Statistical Product and Service Solutions) sendo este utilizado

para o cruzamento das variaacuteveis selecionadas e de interesse do estudo

Numa segunda fase do trabalho foi realizada uma nova pesquisa de campo em uma

sub-amostra de 20 famiacutelias com o objetivo de levantar dados acerca do consumo alimentar

familiar Para tal utilizou-se a metodologia desenvolvida por Galeazzi et al (1996) para

inqueacuterito de consumo familiar

Foram elaborados caacutelculos relativos ao consumo meacutedio per capita de energia e

nutrientes selecionados Por meio de adoccedilatildeo do software Virtual Nutri (PHILIPPI ST

1996) foram elaborados os caacutelculos relativos agrave composiccedilatildeo energeacutetica e nutricional da

alimentaccedilatildeo das famiacutelias Nessa pesquisa foram adotados paracircmetros da FAOOMSONU

(1985) para estabelecer as recomendaccedilotildees meacutedias preconizadas de energia e de proteiacutena

3 Resultados e Discussatildeo

31 Breve caracterizaccedilatildeo da populaccedilatildeo pesquisada

As tabelas apresentadas a seguir mostram alguns dos principais resultados obtidos

atraveacutes da aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios junto agraves famiacutelias visando obter informaccedilotildees

pertinentes a este trabalho Na Tabela 1 pode-se verificar a distribuiccedilatildeo das famiacutelias de

acordo com o nuacutemero de pessoas nas localidades pesquisadas

4 Estes bolsotildees foram identificados pela Rede de Solidariedade e divulgados atraveacutes de documento intitulado Projeto Institucional de Extensatildeo Nuacutecleo da UFSM em apoio agrave Rede de Solidariedade (abril de 2003)

5

TABELA 1

Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias segundo as localidades pesquisadas Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias

Localidades 1 2 3 4 5 7

TOTAL

Urlacircndia 4 9 4 1 1 19 Renascenccedila 1 2 1 4 Vila Lorenzi 2 2 3 1 8 Apariacutecio de Moraes 1 2 1 4 Montanha Russa 1 2 3 TOTAL 2 8 14 9 3 2 38

O total representa o nuacutemero de famiacutelias que foram entrevistadas em cada local e o

nuacutemero de pessoas diz respeito ao tamanho das famiacutelias A maior parte das famiacutelias eacute

formada por duas e quatro pessoas sendo que apenas duas famiacutelias uma na Vila Urlacircndia e

outra na Renascenccedila apresentaram sete pessoas na famiacutelia residindo no domiciacutelio visitado

No geral pode-se verificar que natildeo satildeo famiacutelias numerosas De acordo com o IBGE

(Censo 2000) esse fato se explica pela queda acelerada da fecundidade ocorrida no paiacutes

nas uacuteltimas duas deacutecadas conduzindo a uma reduccedilatildeo no tamanho das famiacutelias O nuacutemero

meacutedio de membros das famiacutelias caiu de 39 pessoas em 1991 para 35 em 2000 As

famiacutelias com um a quatro componentes estatildeo mais presentes nas aacutereas urbanas enquanto

que as famiacutelias com cinco a onze pessoas satildeo mais frequumlentes nas aacutereas rurais

Na Tabela 2 tecircm-se os resultados relativos ao sexo das pessoas ocupadas na

agricultura urbana

TABELA 2 Sexo das pessoas ocupadas na agricultura urbana

Sexo Agricultores Urbanos Masculino Feminino

Total

Nuacutemero de pessoas 30 (526) 27 (473) 57 (100) Verifica-se que haacute pouca diferenccedila entre homens e mulheres que trabalham nas

produccedilotildees agriacutecolas urbanas sendo que do total de 57 pessoas nas famiacutelias 30 satildeo do sexo

masculino e 27 do sexo feminino No trabalho de Nugent (2000) os resultados mostram

6

que as mulheres estatildeo muito mais envolvidas nesta atividade e os homens tecircm mais chance

de se envolver na produccedilatildeo para o mercado nos casos em que as mulheres estatildeo muito

ocupadas com outras tarefas Nestas comunidades natildeo se pode afirmar que existe

predominacircncia de um dos sexos no trabalho da agricultura urbana ao contraacuterio do que se

pode encontrar na literatura5 onde se ressalta que a maior parte dos agricultores urbanos

satildeo mulheres

A Tabela 3 apresenta os estratos de idade das pessoas envolvidas com o trabalho na

agricultura urbana

TABELA 3 Estratos de idade das pessoas envolvidas na agricultura urbana

Estratos de idade Agricultores Urbanos Ateacute 14

anos 15 ateacute 22

anos 23 ateacute 40

anos 41 ateacute 59

anos 60 anos e

mais

Total

Nordm de pessoas 1 (175)

1 (175)

12 (21 )

31 (543)

12 (21) 57

Entre as 57 pessoas que praticam a atividade a maioria encontra-se na faixa etaacuteria

de 41 ateacute 59 anos e somadas agraves pessoas que possuem mais de 60 anos pode-se concluir

que quem pratica a agricultura urbana nestas comunidades natildeo satildeo exatamente pessoas

mais jovens mas sim aquelas com idade superior a 40 anos

Na Tabela 4 pode-se verificar o local de origem dos agricultores urbanos

pesquisados Deste total constata-se que cerca de 37 satildeo oriundos da zona rural de outras

cidades e 263 da zona rural de Santa Maria ou seja 63 do total das pessoas que

praticam agricultura urbana satildeo de origem rural Isto remete agrave questatildeo do ecircxodo rural que

conduz essas pessoas para a cidade com o objetivo de melhorar as condiccedilotildees de vida e

ainda a tradiccedilatildeo na agricultura que elas trazem como eacute detalhado no trabalho de COSTA

BEBER (1998)

TABELA 4 Local de origem das pessoas que trabalham na agricultura urbana

Local de Origem

Agricultores Urbanos

Santa Maria

(urbana)

Santa Maria (rural)

Outras cidades

(urbana)

Outras cidades (rural)

Total

5 No livro Urban Agriculture Food Jobs and Sustainable Cities (UNDP 1996) existe a informaccedilatildeo de que em muitos locais do mundo as mulheres tecircm maior participaccedilatildeo na agricultura urbana do que os homens

7

Nordm de pessoas 15 (263)

15 (263)

6 (105)

21 (368)

57 (100)

Existem aproximadamente 37 que eacute de origem urbana e pode ter outras razotildees

para a praacutetica da agricultura como a proacutepria subsistecircncia jaacute que eacute integrante de

comunidades pobres Outras razotildees dizem respeito ao lazer que a atividade pode lhes

proporcionar A esse respeito Altieri et al (1999) salientam que a agricultura urbana para

as pessoas nascidas na cidade eacute oportunidade para aprender e apreciar o processo de

cultivo Para os receacutem-migrantes da zona rural a atividade representa uma forma de utilizar

suas especialidades agriacutecolas e para alguns um refuacutegio onde eles podem trabalhar

novamente mas de forma diferente com a terra e religados agrave natureza

Na Tabela 5 estatildeo contabilizadas as ocupaccedilotildees das pessoas que trabalham na

agricultura urbana Destaca-se que do total de 57 pessoas que declararam a praacutetica da

agricultura urbana nem todas podem ser consideradas pessoas ativas pois aiacute estatildeo

incluiacutedos aposentados pensionistas e mulheres com atividades domeacutesticas6 Descontando

estas pessoas chega-se ao nuacutemero de 25 pessoas ativas que se dedicam tambeacutem agrave

agricultura urbana Estas se encontram ocupadas nos serviccedilos de construccedilatildeo civil outras em

serviccedilos domeacutesticos e ainda haacute aquelas classificadas como vendedores informais e

prestadores de serviccedilo por conta-proacutepria

TABELA 5 Grupos de ocupaccedilotildees das pessoas ativas que trabalham na agricultura urbana

Grupos de ocupaccedilatildeo Nuacutemero de pessoas Acumulada

Administraccedilatildeo puacuteblica 1

4

4

Professores e outros da educaccedilatildeo 1

4

8

Agricultor conta-proacutepria 1

4

12

Serviccedilos da construccedilatildeo civil 8

32

44

Ocupaccedilotildees agroindustriais 2

8

52

Induacutestria de transformaccedilatildeo 1

4

56

Comeacutercio natildeo-especificado 3

12

68

Motoristas 1

4

72

Serviccedilos domeacutesticos remunerados 4

16

88

6 Segundo a classificaccedilatildeo das Pesquisas Nacionais de Amostras de Domiciacutelios - PNADs anteriores a 1992 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) somente satildeo consideradas pessoas ativas ou ocupadas

aquelas com 10 anos e mais que trabalhavam 15 horas ou mais na semana de referecircncia da pesquisa Adotou-se este conceito como criteacuterio de separaccedilatildeo das pessoas ativas neste artigo Com a aplicaccedilatildeo deste conceito restaram somente 47 pessoas em relaccedilatildeo agraves 57 inicialmente apresentadas nas Tabelas 2 3 e 4 Se se levar em conta somente as que declararam praticar agricultura urbana restaratildeo apenas 25 pessoas ativas que satildeo apresentadas na Tabela 5

8

Serviccedilos pessoais natildeo-domeacutesticos 2

8

96

Outros serv Pessoais natildeo-domeacutesticos

1

4

100

TOTAL 25

100

-

Na Tabela 6 eacute apresentada a distribuiccedilatildeo das famiacutelias pesquisadas segundo os

estratos de renda per capita Se for adotada a linha da pobreza como sendo igual a R$

12000 observa-se na Tabela 6 que 211 das famiacutelias possuem rendimentos que as

classificam abaixo da linha de pobreza7 A renda meacutedia per capita eacute somente de R$ 25277

e a renda mediana per capita atinge apenas R$ 21800 Se observarmos atentamente estas

informaccedilotildees apresentadas na Tabela 6 pode-se verificar que menos de frac14 das famiacutelias

pesquisadas possuem renda que as situa abaixo da chamada linha de pobreza

TABELA 6 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias segundo os estratos de renda per capita

Estratos de Renda (em Reais)

Nuacutemero

acumulada

60 ateacute 120 8

211

211

125 ateacute 240 15

395

605

250 ateacute 370 9

237

842

39333 ateacute 45666 4

105

947

700 e mais 2

53

1000

TOTAL 38

100

-

Este curioso resultado permite levantar a hipoacutetese de que embora a pesquisa tenha

sido realizada no contexto da pobreza os praticantes da agricultura urbana natildeo apresentam

rendimentos que os classifiquem entre as famiacutelias relativamente mais pobres Uma outra

razatildeo que pode ser aventada eacute a existecircncia de aposentados e pensionistas entre os membros

das famiacutelias o que permite uma elevaccedilatildeo e estabilizaccedilatildeo das rendas

32 A praacutetica da agricultura urbana

7 O valor do salaacuterio miacutenimo nacional no periacuteodo da pesquisa era de R$ 24000 Segundo Rocha (19963) eacute consensualmente aceito que a variaacutevel de renda mais adequada para confronto com a linha de pobreza eacute a renda familiar per capita que leva em consideraccedilatildeo todos os rendimentos das pessoas do nuacutecleo familiar o nuacutemero de pessoas e o papel da famiacutelia como unidade solidaacuteria de consumo e rendimento A metodologia oficial usa como referecircncia o salaacuterio miacutenimo isto eacute frac12 do salaacuterio miacutenimo familiar per capita limite abaixo do qual se define uma famiacutelia pobre Definiccedilatildeo encontrada no site do IBGE (httpwwwibgegovbribgeteenglossariopobreza htmlgt Acesso em 01092005)

9

Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da

agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura

urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias

pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos

TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas

Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos

4

4

7

23

105

105

184

605

TOTAL 38

1000

Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas

211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que

a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria

apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e

mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a

continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica

A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela

pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos

quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores

urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a

produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados

TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana

Local Nuacutemero

Quintal de casa 30

789

Terrenos privados 8

211

TOTAL 38

1000

Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-

se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e

temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em

variedade

10

TABELA 9

Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto

Couve 842

Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131

Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que

100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total

158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam

parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou

trocam com estes o excedente da produccedilatildeo

TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

Destino Nuacutemero 38 Consumo

Comeacutercio Trocas doaccedilotildees

6 9

11

Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas

populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que

plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro

Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos

de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada

como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de

autoconsumo

A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a

agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida

TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana

Razotildees Nuacutemero

28

737

17

447

10

263

Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2

53

TOTAL 57

-

Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura

urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que

17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram

a cultivar

O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura

urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a

geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o

grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside

basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas

famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana

12

TABELA 12

Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades

Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades

3061

2858

2041

816

816

204

204

TOTAL 1000

Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos

agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio

investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos

existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser

minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8

Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres

eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda

poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos

economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada

como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este

aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos

agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia

teacutecnica diferenciada

43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar

Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana

representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13

apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o

autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado

8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo

13

declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante

economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda

familiar)

TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda

total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias

Ateacute 10 da renda total 5

1316

Mais de 10 ateacute 20 14

3684

Mais de 20 ateacute 30 9

2368

Mais de 30 10

2632

TOTAL 38

10000

Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a

20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das

famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura

urbana

Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior

a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades

baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas

satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das

exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente

nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente

A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as

principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as

despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia

aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$

40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos

destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura

internacional

14

TABELA 14

Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais

Aacutegua 111600

727

Luz 172200

1121

Transporte 102500

667

Gaacutes 116100

755

Remeacutedios 127500

83

Alimentaccedilatildeo 906000

590

TOTAL 1535900

1000

Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os

gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute

relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma

oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente

para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com

alimentaccedilatildeo

34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional

A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias

revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite

frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que

dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte

presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria

de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca

da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas

A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento

importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et

al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana

em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas

elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de

5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um

15

melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade

(MAXWELL et al 1998)

TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena

Calorias Proteiacutenas

Consumo meacutedio per capita de

calorias (kcaldia) Nuacutemero

Consumo meacutedio per capita (gdia)

Nuacutemero

Menos de 80 149701 5 31 1

De 80 ateacute menos de 110

202139 7 59 1

De110 a mais 367100 8 100 18

TOTAL 239646 20 633 20

A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas

entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta

um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas

5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das

famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado

essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente

atendida em termos quantitativos

Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana

pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas

famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a

um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado

Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo

maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser

desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a

seguranccedila alimentar

4 Resumo e Conclusotildees

A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees

acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da

populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo

16

numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de

forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da

agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso

os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas

existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas

pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa

qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de

frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees

serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos

recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere

um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a

agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo

entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute

predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a

agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma

economia de subsistecircncia

As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo

com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As

informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta

de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui

existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas

Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo

cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas

caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por

meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a

alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada

nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de

17

hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e

de nutrientes para os membros das famiacutelias

Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana

eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos

que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o

aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de

renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos

O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no

entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de

creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito

poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um

amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado

por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares

sustentaacuteveis

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Page 2: agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no Brasil é o de Frère et al. (1999), o

1

Agricultura urbana e Seguranccedila Alimentar estudo no municiacutepio de Santa Maria - RS

Resumo No contexto da nova relaccedilatildeo do rural e urbano a agricultura urbana ganha importacircncia em funccedilatildeo de aspectos como a crescente urbanizaccedilatildeo a pobreza os problemas de abastecimento e valores de natildeo-mercado Todavia os estudos existentes no Brasil ainda satildeo escassos O objetivo principal deste trabalho eacute apresentar os resultados de uma investigaccedilatildeo sobre a contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na melhoria da renda e da alimentaccedilatildeo de um gripo de famiacutelias pobres do municiacutepio de Santa Maria-RS Os resultados revelam que a atividade natildeo cumpre necessariamente o papel de provedora de renda adicional mas conduz a uma economia expressiva pois certos alimentos deixam de ser comprados A atividade pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora de mercado ou uma economia de subsistecircncia e cumpre papel relevante na seguranccedila alimentar das famiacutelias

Palavras-chave agricultura urbana pobreza e seguranccedila alimentar

1 Introduccedilatildeo

No Brasil nos uacuteltimos cinquumlenta anos e principalmente a partir de 1980 houve

uma crescente urbanizaccedilatildeo seguindo a tendecircncia mundial Este fenocircmeno provocou uma

forte reduccedilatildeo da populaccedilatildeo rural em todas as regiotildees Mesmo nas deacutecadas posteriores agrave de

80 a desruralizaccedilatildeo continuou sendo uma realidade o que conduziu o paiacutes a taxas

crescentes de populaccedilatildeo urbana mesmo que distintamente nas diversas regiotildees do paiacutes

(CAMARANO amp ABRAMOVAY 1999)

Esse crescimento resulta em um impacto conduzindo a uma importante mudanccedila

nos vetores de expansatildeo fiacutesica das cidades fazendo com que atividades consideradas como

essencialmente agriacutecolas no passado passem a ter expressatildeo econocircmica nos espaccedilos

urbanos (PEREIRA 20002)

Neste sentido a agricultura cruzou as fronteiras entre a dimensatildeo econocircmica

ecoloacutegica poliacutetica e cultural adquirindo um caraacuteter multifuncional1 Neste contexto surge

a agricultura no meio urbano e esta quando praticada de modo apropriado poderaacute segundo

o Comitecirc de Agricultura (COAG 1999) aumentar a quantidade de alimentos disponiacuteveis

melhorar a seguranccedila alimentar em eacutepocas de crise ou grave escassez de alimentos

1A multifuncionalidade define-se como um conjunto das contribuiccedilotildees da agricultura a um desenvolvimento econocircmico e social considerado em sua unidade o reconhecimento oficial da multifuncionalidade exprime a vontade que essas diferentes contribuiccedilotildees podem ser associadas duravelmente de modo coerente segundo as modalidades julgadas satisfatoacuterias pelos cidadatildeos (BLANCHEMANCHE et al 2000 p42)

2

melhorar o grau de frescor de alimentos pereciacuteveis e ainda oferecer oportunidades de

empregos produtivos em um setor onde os obstaacuteculos ao ingresso satildeo de pouca

importacircncia

Em vista destes acontecimentos em todo o mundo notadamente nos paiacuteses menos

desenvolvidos tem sido detectado um fenocircmeno em que um crescente nuacutemero de

residentes urbanos se dedica agraves atividades agriacutecolas2 Essas atividades agriacutecolas tecircm sido

comumente chamadas de agricultura urbana Fleury amp Donadieu (1997) sugerem empregar

esse termo para designar os sistemas agriacutecolas das periferias urbanas orientados para as

novas necessidades urbanas mesmo ressaltando que a expressatildeo possui mais de um

significado podendo ser empregada em diferentes situaccedilotildees ou para distintos grupos de

profissionais Seja qual for a interpretaccedilatildeo dada para o termo agricultura urbana

dependendo do autor e do paiacutes no qual se insere o mesmo indiscutivelmente estaacute

relacionado com a auto-suficiecircncia alimentar das cidades

Outro aspecto importante eacute mencionado por Zeeuw et al (2000) ao destacarem que

as anaacutelises das tendecircncias atuais dos sistemas de alimentaccedilatildeo dos pobres urbanos mostram

que para garantir sua seguranccedila alimentar eacute necessaacuteria a combinaccedilatildeo da produccedilatildeo de

alimentos nas zonas rurais e urbanas

A Food and Agriculture Organization - FAO (1996) tambeacutem ressalta que a

agricultura urbana pode se constituir em uma importante contribuiccedilatildeo na questatildeo alimentar

e ateacute para o aumento da renda da populaccedilatildeo em muitas cidades do mundo em

desenvolvimento No entanto a organizaccedilatildeo salienta que ela fornece natildeo somente

benefiacutecios de ordem econocircmica mas tambeacutem de recreaccedilatildeo lazer e ecoloacutegicos aos

citadinos

Em relaccedilatildeo aos tipos dos agricultores urbanos a maioria segundo registros da

United Nations Development Programme - UNDP (1996) tem origem nos grupos de baixa

renda em muitos paiacuteses em desenvolvimento

Aleacutem disso frequumlentemente eles cultivam terra que natildeo possuem Entretanto em

alguns paiacuteses (incluindo Argentina e Estados Unidos) agricultores de renda meacutedia que satildeo

a maioria praticam primariamente cultivo de quintal A diferenccedila entre as praacuteticas

agriacutecolas dos agricultores de baixa renda e elevada natildeo estaacute apenas no tamanho mas nos

3

sistemas de produccedilatildeo e produtos Enquanto o monocultivo eacute comum entre agricultores

abastados os agricultores de baixa renda tendem a escolher sistemas de produccedilatildeo agriacutecola

diversificados que requerem baixo capital e minimizam riscos (UNDP 1996)

Zeeuw et al (2000) salientam tambeacutem que a agricultura urbana eacute uma atividade que

exige poliacuteticas puacuteblicas para sua implementaccedilatildeo principalmente no que diz respeito agraves

poliacuteticas de uso de solos sauacutede ambientais e de desenvolvimento social Por isso eacute

essencial o conhecimento das caracteriacutesticas especiacuteficas dos locais e as diferentes

finalidades da agricultura urbana para que sejam formuladas poliacuteticas adequadas de

intervenccedilatildeo

Em quase todo o mundo encontram-se pesquisas explorando a temaacutetica da

agricultura urbana O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no

Brasil eacute o de Fregravere et al (1999) o qual apresenta os resultados de uma investigaccedilatildeo

realizada em Beleacutem-PA com o objetivo de conhecer os tipos e dimensionar a agricultura

naquele municiacutepio

Da mesma maneira que em vaacuterias localidades alvos da pesquisa em Santa Maria -

RS a agricultura urbana eacute uma realidade entre os moradores de vaacuterias localidades Este

artigo tem como objetivo apresentar os resultados de uma investigaccedilatildeo sobre a contribuiccedilatildeo

da agricultura urbana na melhoria da renda e da alimentaccedilatildeo de famiacutelias pobres3

2 Metodologia Utilizada

Essa pesquisa desenvolveu-se na cidade de Santa Maria Estado do Rio Grande do

Sul O municiacutepio situa-se na regiatildeo central do Estado Segundo o Censo IBGE (2000) a

populaccedilatildeo urbana eacute de 230468 habitantes e a rural eacute de 12928 habitantes respectivamente

947 e 53 da populaccedilatildeo total Esses dados permitem concluir que Santa Maria eacute um

municiacutepio nitidamente urbano segundo os criteacuterios do IBGE No periacutemetro urbano foram

2 Esse crescimento tem sido relatado principalmente nas pesquisas realizadas nos paiacuteses africanos A tiacutetulo de exemplo ver Drakakis-Smith D et al (1995) entre outros estudos 3Zaluar (199433) define os pobres de um ponto de vista meramente descritivo como todos aqueles que estatildeo incluiacutedos nas faixas de renda mais baixas (ateacute 3 a 5 salaacuterios miacutenimos) ou os que exercem as atividades pior remuneradas na economia nacional Entre eles estatildeo obviamente os operaacuterios e assalariados do terciaacuterio semi ou natildeo-qualificados e que recebem baixos salaacuterios em virtude da poliacutetica salarial vigente bem como os trabalhadores por conta-proacutepria pouco ou natildeo especializados quer sejam estabelecidos ou natildeo

4

identificadas as comunidades que integram os bolsotildees de miseacuteria4 da cidade A intenccedilatildeo era

estudar a agricultura urbana no contexto da pobreza As comunidades foram escolhidas

intencionalmente em localidades situadas em distintas zonas do municiacutepio sendo elas Vila

Arco Iacuteris Vila Liacutedia Urlacircndia Renascenccedila Vila Lorenzi Nossa Senhora do Trabalho

Apariacutecio de Moraes e Montanha Russa A coleta dos dados ocorreu durante o mecircs de

fevereiro e marccedilo de 2004 pela proacutepria pesquisadora sendo coletados dados de 38

famiacutelias Para a definiccedilatildeo do nuacutemero de famiacutelias a serem pesquisadas nas comunidades

utilizou-se uma amostragem natildeo-probabiliacutestica autogerada O instrumento utilizado para o

levantamento dos foi o questionaacuterio contendo 32 questotildees fechadas e 1 questatildeo aberta

Apoacutes a coleta os dados foram digitados em planilhas do programa Excel

constituindo um banco de dados Posteriormente esses dados foram importados pelo

programa estatiacutestico SPSS (Statistical Product and Service Solutions) sendo este utilizado

para o cruzamento das variaacuteveis selecionadas e de interesse do estudo

Numa segunda fase do trabalho foi realizada uma nova pesquisa de campo em uma

sub-amostra de 20 famiacutelias com o objetivo de levantar dados acerca do consumo alimentar

familiar Para tal utilizou-se a metodologia desenvolvida por Galeazzi et al (1996) para

inqueacuterito de consumo familiar

Foram elaborados caacutelculos relativos ao consumo meacutedio per capita de energia e

nutrientes selecionados Por meio de adoccedilatildeo do software Virtual Nutri (PHILIPPI ST

1996) foram elaborados os caacutelculos relativos agrave composiccedilatildeo energeacutetica e nutricional da

alimentaccedilatildeo das famiacutelias Nessa pesquisa foram adotados paracircmetros da FAOOMSONU

(1985) para estabelecer as recomendaccedilotildees meacutedias preconizadas de energia e de proteiacutena

3 Resultados e Discussatildeo

31 Breve caracterizaccedilatildeo da populaccedilatildeo pesquisada

As tabelas apresentadas a seguir mostram alguns dos principais resultados obtidos

atraveacutes da aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios junto agraves famiacutelias visando obter informaccedilotildees

pertinentes a este trabalho Na Tabela 1 pode-se verificar a distribuiccedilatildeo das famiacutelias de

acordo com o nuacutemero de pessoas nas localidades pesquisadas

4 Estes bolsotildees foram identificados pela Rede de Solidariedade e divulgados atraveacutes de documento intitulado Projeto Institucional de Extensatildeo Nuacutecleo da UFSM em apoio agrave Rede de Solidariedade (abril de 2003)

5

TABELA 1

Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias segundo as localidades pesquisadas Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias

Localidades 1 2 3 4 5 7

TOTAL

Urlacircndia 4 9 4 1 1 19 Renascenccedila 1 2 1 4 Vila Lorenzi 2 2 3 1 8 Apariacutecio de Moraes 1 2 1 4 Montanha Russa 1 2 3 TOTAL 2 8 14 9 3 2 38

O total representa o nuacutemero de famiacutelias que foram entrevistadas em cada local e o

nuacutemero de pessoas diz respeito ao tamanho das famiacutelias A maior parte das famiacutelias eacute

formada por duas e quatro pessoas sendo que apenas duas famiacutelias uma na Vila Urlacircndia e

outra na Renascenccedila apresentaram sete pessoas na famiacutelia residindo no domiciacutelio visitado

No geral pode-se verificar que natildeo satildeo famiacutelias numerosas De acordo com o IBGE

(Censo 2000) esse fato se explica pela queda acelerada da fecundidade ocorrida no paiacutes

nas uacuteltimas duas deacutecadas conduzindo a uma reduccedilatildeo no tamanho das famiacutelias O nuacutemero

meacutedio de membros das famiacutelias caiu de 39 pessoas em 1991 para 35 em 2000 As

famiacutelias com um a quatro componentes estatildeo mais presentes nas aacutereas urbanas enquanto

que as famiacutelias com cinco a onze pessoas satildeo mais frequumlentes nas aacutereas rurais

Na Tabela 2 tecircm-se os resultados relativos ao sexo das pessoas ocupadas na

agricultura urbana

TABELA 2 Sexo das pessoas ocupadas na agricultura urbana

Sexo Agricultores Urbanos Masculino Feminino

Total

Nuacutemero de pessoas 30 (526) 27 (473) 57 (100) Verifica-se que haacute pouca diferenccedila entre homens e mulheres que trabalham nas

produccedilotildees agriacutecolas urbanas sendo que do total de 57 pessoas nas famiacutelias 30 satildeo do sexo

masculino e 27 do sexo feminino No trabalho de Nugent (2000) os resultados mostram

6

que as mulheres estatildeo muito mais envolvidas nesta atividade e os homens tecircm mais chance

de se envolver na produccedilatildeo para o mercado nos casos em que as mulheres estatildeo muito

ocupadas com outras tarefas Nestas comunidades natildeo se pode afirmar que existe

predominacircncia de um dos sexos no trabalho da agricultura urbana ao contraacuterio do que se

pode encontrar na literatura5 onde se ressalta que a maior parte dos agricultores urbanos

satildeo mulheres

A Tabela 3 apresenta os estratos de idade das pessoas envolvidas com o trabalho na

agricultura urbana

TABELA 3 Estratos de idade das pessoas envolvidas na agricultura urbana

Estratos de idade Agricultores Urbanos Ateacute 14

anos 15 ateacute 22

anos 23 ateacute 40

anos 41 ateacute 59

anos 60 anos e

mais

Total

Nordm de pessoas 1 (175)

1 (175)

12 (21 )

31 (543)

12 (21) 57

Entre as 57 pessoas que praticam a atividade a maioria encontra-se na faixa etaacuteria

de 41 ateacute 59 anos e somadas agraves pessoas que possuem mais de 60 anos pode-se concluir

que quem pratica a agricultura urbana nestas comunidades natildeo satildeo exatamente pessoas

mais jovens mas sim aquelas com idade superior a 40 anos

Na Tabela 4 pode-se verificar o local de origem dos agricultores urbanos

pesquisados Deste total constata-se que cerca de 37 satildeo oriundos da zona rural de outras

cidades e 263 da zona rural de Santa Maria ou seja 63 do total das pessoas que

praticam agricultura urbana satildeo de origem rural Isto remete agrave questatildeo do ecircxodo rural que

conduz essas pessoas para a cidade com o objetivo de melhorar as condiccedilotildees de vida e

ainda a tradiccedilatildeo na agricultura que elas trazem como eacute detalhado no trabalho de COSTA

BEBER (1998)

TABELA 4 Local de origem das pessoas que trabalham na agricultura urbana

Local de Origem

Agricultores Urbanos

Santa Maria

(urbana)

Santa Maria (rural)

Outras cidades

(urbana)

Outras cidades (rural)

Total

5 No livro Urban Agriculture Food Jobs and Sustainable Cities (UNDP 1996) existe a informaccedilatildeo de que em muitos locais do mundo as mulheres tecircm maior participaccedilatildeo na agricultura urbana do que os homens

7

Nordm de pessoas 15 (263)

15 (263)

6 (105)

21 (368)

57 (100)

Existem aproximadamente 37 que eacute de origem urbana e pode ter outras razotildees

para a praacutetica da agricultura como a proacutepria subsistecircncia jaacute que eacute integrante de

comunidades pobres Outras razotildees dizem respeito ao lazer que a atividade pode lhes

proporcionar A esse respeito Altieri et al (1999) salientam que a agricultura urbana para

as pessoas nascidas na cidade eacute oportunidade para aprender e apreciar o processo de

cultivo Para os receacutem-migrantes da zona rural a atividade representa uma forma de utilizar

suas especialidades agriacutecolas e para alguns um refuacutegio onde eles podem trabalhar

novamente mas de forma diferente com a terra e religados agrave natureza

Na Tabela 5 estatildeo contabilizadas as ocupaccedilotildees das pessoas que trabalham na

agricultura urbana Destaca-se que do total de 57 pessoas que declararam a praacutetica da

agricultura urbana nem todas podem ser consideradas pessoas ativas pois aiacute estatildeo

incluiacutedos aposentados pensionistas e mulheres com atividades domeacutesticas6 Descontando

estas pessoas chega-se ao nuacutemero de 25 pessoas ativas que se dedicam tambeacutem agrave

agricultura urbana Estas se encontram ocupadas nos serviccedilos de construccedilatildeo civil outras em

serviccedilos domeacutesticos e ainda haacute aquelas classificadas como vendedores informais e

prestadores de serviccedilo por conta-proacutepria

TABELA 5 Grupos de ocupaccedilotildees das pessoas ativas que trabalham na agricultura urbana

Grupos de ocupaccedilatildeo Nuacutemero de pessoas Acumulada

Administraccedilatildeo puacuteblica 1

4

4

Professores e outros da educaccedilatildeo 1

4

8

Agricultor conta-proacutepria 1

4

12

Serviccedilos da construccedilatildeo civil 8

32

44

Ocupaccedilotildees agroindustriais 2

8

52

Induacutestria de transformaccedilatildeo 1

4

56

Comeacutercio natildeo-especificado 3

12

68

Motoristas 1

4

72

Serviccedilos domeacutesticos remunerados 4

16

88

6 Segundo a classificaccedilatildeo das Pesquisas Nacionais de Amostras de Domiciacutelios - PNADs anteriores a 1992 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) somente satildeo consideradas pessoas ativas ou ocupadas

aquelas com 10 anos e mais que trabalhavam 15 horas ou mais na semana de referecircncia da pesquisa Adotou-se este conceito como criteacuterio de separaccedilatildeo das pessoas ativas neste artigo Com a aplicaccedilatildeo deste conceito restaram somente 47 pessoas em relaccedilatildeo agraves 57 inicialmente apresentadas nas Tabelas 2 3 e 4 Se se levar em conta somente as que declararam praticar agricultura urbana restaratildeo apenas 25 pessoas ativas que satildeo apresentadas na Tabela 5

8

Serviccedilos pessoais natildeo-domeacutesticos 2

8

96

Outros serv Pessoais natildeo-domeacutesticos

1

4

100

TOTAL 25

100

-

Na Tabela 6 eacute apresentada a distribuiccedilatildeo das famiacutelias pesquisadas segundo os

estratos de renda per capita Se for adotada a linha da pobreza como sendo igual a R$

12000 observa-se na Tabela 6 que 211 das famiacutelias possuem rendimentos que as

classificam abaixo da linha de pobreza7 A renda meacutedia per capita eacute somente de R$ 25277

e a renda mediana per capita atinge apenas R$ 21800 Se observarmos atentamente estas

informaccedilotildees apresentadas na Tabela 6 pode-se verificar que menos de frac14 das famiacutelias

pesquisadas possuem renda que as situa abaixo da chamada linha de pobreza

TABELA 6 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias segundo os estratos de renda per capita

Estratos de Renda (em Reais)

Nuacutemero

acumulada

60 ateacute 120 8

211

211

125 ateacute 240 15

395

605

250 ateacute 370 9

237

842

39333 ateacute 45666 4

105

947

700 e mais 2

53

1000

TOTAL 38

100

-

Este curioso resultado permite levantar a hipoacutetese de que embora a pesquisa tenha

sido realizada no contexto da pobreza os praticantes da agricultura urbana natildeo apresentam

rendimentos que os classifiquem entre as famiacutelias relativamente mais pobres Uma outra

razatildeo que pode ser aventada eacute a existecircncia de aposentados e pensionistas entre os membros

das famiacutelias o que permite uma elevaccedilatildeo e estabilizaccedilatildeo das rendas

32 A praacutetica da agricultura urbana

7 O valor do salaacuterio miacutenimo nacional no periacuteodo da pesquisa era de R$ 24000 Segundo Rocha (19963) eacute consensualmente aceito que a variaacutevel de renda mais adequada para confronto com a linha de pobreza eacute a renda familiar per capita que leva em consideraccedilatildeo todos os rendimentos das pessoas do nuacutecleo familiar o nuacutemero de pessoas e o papel da famiacutelia como unidade solidaacuteria de consumo e rendimento A metodologia oficial usa como referecircncia o salaacuterio miacutenimo isto eacute frac12 do salaacuterio miacutenimo familiar per capita limite abaixo do qual se define uma famiacutelia pobre Definiccedilatildeo encontrada no site do IBGE (httpwwwibgegovbribgeteenglossariopobreza htmlgt Acesso em 01092005)

9

Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da

agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura

urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias

pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos

TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas

Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos

4

4

7

23

105

105

184

605

TOTAL 38

1000

Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas

211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que

a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria

apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e

mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a

continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica

A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela

pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos

quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores

urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a

produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados

TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana

Local Nuacutemero

Quintal de casa 30

789

Terrenos privados 8

211

TOTAL 38

1000

Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-

se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e

temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em

variedade

10

TABELA 9

Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto

Couve 842

Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131

Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que

100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total

158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam

parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou

trocam com estes o excedente da produccedilatildeo

TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

Destino Nuacutemero 38 Consumo

Comeacutercio Trocas doaccedilotildees

6 9

11

Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas

populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que

plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro

Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos

de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada

como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de

autoconsumo

A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a

agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida

TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana

Razotildees Nuacutemero

28

737

17

447

10

263

Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2

53

TOTAL 57

-

Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura

urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que

17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram

a cultivar

O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura

urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a

geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o

grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside

basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas

famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana

12

TABELA 12

Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades

Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades

3061

2858

2041

816

816

204

204

TOTAL 1000

Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos

agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio

investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos

existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser

minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8

Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres

eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda

poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos

economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada

como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este

aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos

agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia

teacutecnica diferenciada

43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar

Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana

representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13

apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o

autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado

8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo

13

declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante

economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda

familiar)

TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda

total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias

Ateacute 10 da renda total 5

1316

Mais de 10 ateacute 20 14

3684

Mais de 20 ateacute 30 9

2368

Mais de 30 10

2632

TOTAL 38

10000

Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a

20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das

famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura

urbana

Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior

a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades

baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas

satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das

exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente

nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente

A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as

principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as

despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia

aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$

40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos

destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura

internacional

14

TABELA 14

Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais

Aacutegua 111600

727

Luz 172200

1121

Transporte 102500

667

Gaacutes 116100

755

Remeacutedios 127500

83

Alimentaccedilatildeo 906000

590

TOTAL 1535900

1000

Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os

gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute

relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma

oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente

para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com

alimentaccedilatildeo

34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional

A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias

revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite

frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que

dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte

presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria

de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca

da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas

A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento

importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et

al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana

em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas

elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de

5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um

15

melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade

(MAXWELL et al 1998)

TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena

Calorias Proteiacutenas

Consumo meacutedio per capita de

calorias (kcaldia) Nuacutemero

Consumo meacutedio per capita (gdia)

Nuacutemero

Menos de 80 149701 5 31 1

De 80 ateacute menos de 110

202139 7 59 1

De110 a mais 367100 8 100 18

TOTAL 239646 20 633 20

A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas

entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta

um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas

5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das

famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado

essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente

atendida em termos quantitativos

Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana

pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas

famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a

um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado

Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo

maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser

desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a

seguranccedila alimentar

4 Resumo e Conclusotildees

A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees

acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da

populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo

16

numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de

forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da

agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso

os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas

existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas

pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa

qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de

frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees

serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos

recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere

um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a

agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo

entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute

predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a

agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma

economia de subsistecircncia

As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo

com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As

informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta

de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui

existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas

Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo

cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas

caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por

meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a

alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada

nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de

17

hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e

de nutrientes para os membros das famiacutelias

Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana

eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos

que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o

aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de

renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos

O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no

entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de

creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito

poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um

amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado

por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares

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Page 3: agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no Brasil é o de Frère et al. (1999), o

2

melhorar o grau de frescor de alimentos pereciacuteveis e ainda oferecer oportunidades de

empregos produtivos em um setor onde os obstaacuteculos ao ingresso satildeo de pouca

importacircncia

Em vista destes acontecimentos em todo o mundo notadamente nos paiacuteses menos

desenvolvidos tem sido detectado um fenocircmeno em que um crescente nuacutemero de

residentes urbanos se dedica agraves atividades agriacutecolas2 Essas atividades agriacutecolas tecircm sido

comumente chamadas de agricultura urbana Fleury amp Donadieu (1997) sugerem empregar

esse termo para designar os sistemas agriacutecolas das periferias urbanas orientados para as

novas necessidades urbanas mesmo ressaltando que a expressatildeo possui mais de um

significado podendo ser empregada em diferentes situaccedilotildees ou para distintos grupos de

profissionais Seja qual for a interpretaccedilatildeo dada para o termo agricultura urbana

dependendo do autor e do paiacutes no qual se insere o mesmo indiscutivelmente estaacute

relacionado com a auto-suficiecircncia alimentar das cidades

Outro aspecto importante eacute mencionado por Zeeuw et al (2000) ao destacarem que

as anaacutelises das tendecircncias atuais dos sistemas de alimentaccedilatildeo dos pobres urbanos mostram

que para garantir sua seguranccedila alimentar eacute necessaacuteria a combinaccedilatildeo da produccedilatildeo de

alimentos nas zonas rurais e urbanas

A Food and Agriculture Organization - FAO (1996) tambeacutem ressalta que a

agricultura urbana pode se constituir em uma importante contribuiccedilatildeo na questatildeo alimentar

e ateacute para o aumento da renda da populaccedilatildeo em muitas cidades do mundo em

desenvolvimento No entanto a organizaccedilatildeo salienta que ela fornece natildeo somente

benefiacutecios de ordem econocircmica mas tambeacutem de recreaccedilatildeo lazer e ecoloacutegicos aos

citadinos

Em relaccedilatildeo aos tipos dos agricultores urbanos a maioria segundo registros da

United Nations Development Programme - UNDP (1996) tem origem nos grupos de baixa

renda em muitos paiacuteses em desenvolvimento

Aleacutem disso frequumlentemente eles cultivam terra que natildeo possuem Entretanto em

alguns paiacuteses (incluindo Argentina e Estados Unidos) agricultores de renda meacutedia que satildeo

a maioria praticam primariamente cultivo de quintal A diferenccedila entre as praacuteticas

agriacutecolas dos agricultores de baixa renda e elevada natildeo estaacute apenas no tamanho mas nos

3

sistemas de produccedilatildeo e produtos Enquanto o monocultivo eacute comum entre agricultores

abastados os agricultores de baixa renda tendem a escolher sistemas de produccedilatildeo agriacutecola

diversificados que requerem baixo capital e minimizam riscos (UNDP 1996)

Zeeuw et al (2000) salientam tambeacutem que a agricultura urbana eacute uma atividade que

exige poliacuteticas puacuteblicas para sua implementaccedilatildeo principalmente no que diz respeito agraves

poliacuteticas de uso de solos sauacutede ambientais e de desenvolvimento social Por isso eacute

essencial o conhecimento das caracteriacutesticas especiacuteficas dos locais e as diferentes

finalidades da agricultura urbana para que sejam formuladas poliacuteticas adequadas de

intervenccedilatildeo

Em quase todo o mundo encontram-se pesquisas explorando a temaacutetica da

agricultura urbana O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no

Brasil eacute o de Fregravere et al (1999) o qual apresenta os resultados de uma investigaccedilatildeo

realizada em Beleacutem-PA com o objetivo de conhecer os tipos e dimensionar a agricultura

naquele municiacutepio

Da mesma maneira que em vaacuterias localidades alvos da pesquisa em Santa Maria -

RS a agricultura urbana eacute uma realidade entre os moradores de vaacuterias localidades Este

artigo tem como objetivo apresentar os resultados de uma investigaccedilatildeo sobre a contribuiccedilatildeo

da agricultura urbana na melhoria da renda e da alimentaccedilatildeo de famiacutelias pobres3

2 Metodologia Utilizada

Essa pesquisa desenvolveu-se na cidade de Santa Maria Estado do Rio Grande do

Sul O municiacutepio situa-se na regiatildeo central do Estado Segundo o Censo IBGE (2000) a

populaccedilatildeo urbana eacute de 230468 habitantes e a rural eacute de 12928 habitantes respectivamente

947 e 53 da populaccedilatildeo total Esses dados permitem concluir que Santa Maria eacute um

municiacutepio nitidamente urbano segundo os criteacuterios do IBGE No periacutemetro urbano foram

2 Esse crescimento tem sido relatado principalmente nas pesquisas realizadas nos paiacuteses africanos A tiacutetulo de exemplo ver Drakakis-Smith D et al (1995) entre outros estudos 3Zaluar (199433) define os pobres de um ponto de vista meramente descritivo como todos aqueles que estatildeo incluiacutedos nas faixas de renda mais baixas (ateacute 3 a 5 salaacuterios miacutenimos) ou os que exercem as atividades pior remuneradas na economia nacional Entre eles estatildeo obviamente os operaacuterios e assalariados do terciaacuterio semi ou natildeo-qualificados e que recebem baixos salaacuterios em virtude da poliacutetica salarial vigente bem como os trabalhadores por conta-proacutepria pouco ou natildeo especializados quer sejam estabelecidos ou natildeo

4

identificadas as comunidades que integram os bolsotildees de miseacuteria4 da cidade A intenccedilatildeo era

estudar a agricultura urbana no contexto da pobreza As comunidades foram escolhidas

intencionalmente em localidades situadas em distintas zonas do municiacutepio sendo elas Vila

Arco Iacuteris Vila Liacutedia Urlacircndia Renascenccedila Vila Lorenzi Nossa Senhora do Trabalho

Apariacutecio de Moraes e Montanha Russa A coleta dos dados ocorreu durante o mecircs de

fevereiro e marccedilo de 2004 pela proacutepria pesquisadora sendo coletados dados de 38

famiacutelias Para a definiccedilatildeo do nuacutemero de famiacutelias a serem pesquisadas nas comunidades

utilizou-se uma amostragem natildeo-probabiliacutestica autogerada O instrumento utilizado para o

levantamento dos foi o questionaacuterio contendo 32 questotildees fechadas e 1 questatildeo aberta

Apoacutes a coleta os dados foram digitados em planilhas do programa Excel

constituindo um banco de dados Posteriormente esses dados foram importados pelo

programa estatiacutestico SPSS (Statistical Product and Service Solutions) sendo este utilizado

para o cruzamento das variaacuteveis selecionadas e de interesse do estudo

Numa segunda fase do trabalho foi realizada uma nova pesquisa de campo em uma

sub-amostra de 20 famiacutelias com o objetivo de levantar dados acerca do consumo alimentar

familiar Para tal utilizou-se a metodologia desenvolvida por Galeazzi et al (1996) para

inqueacuterito de consumo familiar

Foram elaborados caacutelculos relativos ao consumo meacutedio per capita de energia e

nutrientes selecionados Por meio de adoccedilatildeo do software Virtual Nutri (PHILIPPI ST

1996) foram elaborados os caacutelculos relativos agrave composiccedilatildeo energeacutetica e nutricional da

alimentaccedilatildeo das famiacutelias Nessa pesquisa foram adotados paracircmetros da FAOOMSONU

(1985) para estabelecer as recomendaccedilotildees meacutedias preconizadas de energia e de proteiacutena

3 Resultados e Discussatildeo

31 Breve caracterizaccedilatildeo da populaccedilatildeo pesquisada

As tabelas apresentadas a seguir mostram alguns dos principais resultados obtidos

atraveacutes da aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios junto agraves famiacutelias visando obter informaccedilotildees

pertinentes a este trabalho Na Tabela 1 pode-se verificar a distribuiccedilatildeo das famiacutelias de

acordo com o nuacutemero de pessoas nas localidades pesquisadas

4 Estes bolsotildees foram identificados pela Rede de Solidariedade e divulgados atraveacutes de documento intitulado Projeto Institucional de Extensatildeo Nuacutecleo da UFSM em apoio agrave Rede de Solidariedade (abril de 2003)

5

TABELA 1

Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias segundo as localidades pesquisadas Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias

Localidades 1 2 3 4 5 7

TOTAL

Urlacircndia 4 9 4 1 1 19 Renascenccedila 1 2 1 4 Vila Lorenzi 2 2 3 1 8 Apariacutecio de Moraes 1 2 1 4 Montanha Russa 1 2 3 TOTAL 2 8 14 9 3 2 38

O total representa o nuacutemero de famiacutelias que foram entrevistadas em cada local e o

nuacutemero de pessoas diz respeito ao tamanho das famiacutelias A maior parte das famiacutelias eacute

formada por duas e quatro pessoas sendo que apenas duas famiacutelias uma na Vila Urlacircndia e

outra na Renascenccedila apresentaram sete pessoas na famiacutelia residindo no domiciacutelio visitado

No geral pode-se verificar que natildeo satildeo famiacutelias numerosas De acordo com o IBGE

(Censo 2000) esse fato se explica pela queda acelerada da fecundidade ocorrida no paiacutes

nas uacuteltimas duas deacutecadas conduzindo a uma reduccedilatildeo no tamanho das famiacutelias O nuacutemero

meacutedio de membros das famiacutelias caiu de 39 pessoas em 1991 para 35 em 2000 As

famiacutelias com um a quatro componentes estatildeo mais presentes nas aacutereas urbanas enquanto

que as famiacutelias com cinco a onze pessoas satildeo mais frequumlentes nas aacutereas rurais

Na Tabela 2 tecircm-se os resultados relativos ao sexo das pessoas ocupadas na

agricultura urbana

TABELA 2 Sexo das pessoas ocupadas na agricultura urbana

Sexo Agricultores Urbanos Masculino Feminino

Total

Nuacutemero de pessoas 30 (526) 27 (473) 57 (100) Verifica-se que haacute pouca diferenccedila entre homens e mulheres que trabalham nas

produccedilotildees agriacutecolas urbanas sendo que do total de 57 pessoas nas famiacutelias 30 satildeo do sexo

masculino e 27 do sexo feminino No trabalho de Nugent (2000) os resultados mostram

6

que as mulheres estatildeo muito mais envolvidas nesta atividade e os homens tecircm mais chance

de se envolver na produccedilatildeo para o mercado nos casos em que as mulheres estatildeo muito

ocupadas com outras tarefas Nestas comunidades natildeo se pode afirmar que existe

predominacircncia de um dos sexos no trabalho da agricultura urbana ao contraacuterio do que se

pode encontrar na literatura5 onde se ressalta que a maior parte dos agricultores urbanos

satildeo mulheres

A Tabela 3 apresenta os estratos de idade das pessoas envolvidas com o trabalho na

agricultura urbana

TABELA 3 Estratos de idade das pessoas envolvidas na agricultura urbana

Estratos de idade Agricultores Urbanos Ateacute 14

anos 15 ateacute 22

anos 23 ateacute 40

anos 41 ateacute 59

anos 60 anos e

mais

Total

Nordm de pessoas 1 (175)

1 (175)

12 (21 )

31 (543)

12 (21) 57

Entre as 57 pessoas que praticam a atividade a maioria encontra-se na faixa etaacuteria

de 41 ateacute 59 anos e somadas agraves pessoas que possuem mais de 60 anos pode-se concluir

que quem pratica a agricultura urbana nestas comunidades natildeo satildeo exatamente pessoas

mais jovens mas sim aquelas com idade superior a 40 anos

Na Tabela 4 pode-se verificar o local de origem dos agricultores urbanos

pesquisados Deste total constata-se que cerca de 37 satildeo oriundos da zona rural de outras

cidades e 263 da zona rural de Santa Maria ou seja 63 do total das pessoas que

praticam agricultura urbana satildeo de origem rural Isto remete agrave questatildeo do ecircxodo rural que

conduz essas pessoas para a cidade com o objetivo de melhorar as condiccedilotildees de vida e

ainda a tradiccedilatildeo na agricultura que elas trazem como eacute detalhado no trabalho de COSTA

BEBER (1998)

TABELA 4 Local de origem das pessoas que trabalham na agricultura urbana

Local de Origem

Agricultores Urbanos

Santa Maria

(urbana)

Santa Maria (rural)

Outras cidades

(urbana)

Outras cidades (rural)

Total

5 No livro Urban Agriculture Food Jobs and Sustainable Cities (UNDP 1996) existe a informaccedilatildeo de que em muitos locais do mundo as mulheres tecircm maior participaccedilatildeo na agricultura urbana do que os homens

7

Nordm de pessoas 15 (263)

15 (263)

6 (105)

21 (368)

57 (100)

Existem aproximadamente 37 que eacute de origem urbana e pode ter outras razotildees

para a praacutetica da agricultura como a proacutepria subsistecircncia jaacute que eacute integrante de

comunidades pobres Outras razotildees dizem respeito ao lazer que a atividade pode lhes

proporcionar A esse respeito Altieri et al (1999) salientam que a agricultura urbana para

as pessoas nascidas na cidade eacute oportunidade para aprender e apreciar o processo de

cultivo Para os receacutem-migrantes da zona rural a atividade representa uma forma de utilizar

suas especialidades agriacutecolas e para alguns um refuacutegio onde eles podem trabalhar

novamente mas de forma diferente com a terra e religados agrave natureza

Na Tabela 5 estatildeo contabilizadas as ocupaccedilotildees das pessoas que trabalham na

agricultura urbana Destaca-se que do total de 57 pessoas que declararam a praacutetica da

agricultura urbana nem todas podem ser consideradas pessoas ativas pois aiacute estatildeo

incluiacutedos aposentados pensionistas e mulheres com atividades domeacutesticas6 Descontando

estas pessoas chega-se ao nuacutemero de 25 pessoas ativas que se dedicam tambeacutem agrave

agricultura urbana Estas se encontram ocupadas nos serviccedilos de construccedilatildeo civil outras em

serviccedilos domeacutesticos e ainda haacute aquelas classificadas como vendedores informais e

prestadores de serviccedilo por conta-proacutepria

TABELA 5 Grupos de ocupaccedilotildees das pessoas ativas que trabalham na agricultura urbana

Grupos de ocupaccedilatildeo Nuacutemero de pessoas Acumulada

Administraccedilatildeo puacuteblica 1

4

4

Professores e outros da educaccedilatildeo 1

4

8

Agricultor conta-proacutepria 1

4

12

Serviccedilos da construccedilatildeo civil 8

32

44

Ocupaccedilotildees agroindustriais 2

8

52

Induacutestria de transformaccedilatildeo 1

4

56

Comeacutercio natildeo-especificado 3

12

68

Motoristas 1

4

72

Serviccedilos domeacutesticos remunerados 4

16

88

6 Segundo a classificaccedilatildeo das Pesquisas Nacionais de Amostras de Domiciacutelios - PNADs anteriores a 1992 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) somente satildeo consideradas pessoas ativas ou ocupadas

aquelas com 10 anos e mais que trabalhavam 15 horas ou mais na semana de referecircncia da pesquisa Adotou-se este conceito como criteacuterio de separaccedilatildeo das pessoas ativas neste artigo Com a aplicaccedilatildeo deste conceito restaram somente 47 pessoas em relaccedilatildeo agraves 57 inicialmente apresentadas nas Tabelas 2 3 e 4 Se se levar em conta somente as que declararam praticar agricultura urbana restaratildeo apenas 25 pessoas ativas que satildeo apresentadas na Tabela 5

8

Serviccedilos pessoais natildeo-domeacutesticos 2

8

96

Outros serv Pessoais natildeo-domeacutesticos

1

4

100

TOTAL 25

100

-

Na Tabela 6 eacute apresentada a distribuiccedilatildeo das famiacutelias pesquisadas segundo os

estratos de renda per capita Se for adotada a linha da pobreza como sendo igual a R$

12000 observa-se na Tabela 6 que 211 das famiacutelias possuem rendimentos que as

classificam abaixo da linha de pobreza7 A renda meacutedia per capita eacute somente de R$ 25277

e a renda mediana per capita atinge apenas R$ 21800 Se observarmos atentamente estas

informaccedilotildees apresentadas na Tabela 6 pode-se verificar que menos de frac14 das famiacutelias

pesquisadas possuem renda que as situa abaixo da chamada linha de pobreza

TABELA 6 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias segundo os estratos de renda per capita

Estratos de Renda (em Reais)

Nuacutemero

acumulada

60 ateacute 120 8

211

211

125 ateacute 240 15

395

605

250 ateacute 370 9

237

842

39333 ateacute 45666 4

105

947

700 e mais 2

53

1000

TOTAL 38

100

-

Este curioso resultado permite levantar a hipoacutetese de que embora a pesquisa tenha

sido realizada no contexto da pobreza os praticantes da agricultura urbana natildeo apresentam

rendimentos que os classifiquem entre as famiacutelias relativamente mais pobres Uma outra

razatildeo que pode ser aventada eacute a existecircncia de aposentados e pensionistas entre os membros

das famiacutelias o que permite uma elevaccedilatildeo e estabilizaccedilatildeo das rendas

32 A praacutetica da agricultura urbana

7 O valor do salaacuterio miacutenimo nacional no periacuteodo da pesquisa era de R$ 24000 Segundo Rocha (19963) eacute consensualmente aceito que a variaacutevel de renda mais adequada para confronto com a linha de pobreza eacute a renda familiar per capita que leva em consideraccedilatildeo todos os rendimentos das pessoas do nuacutecleo familiar o nuacutemero de pessoas e o papel da famiacutelia como unidade solidaacuteria de consumo e rendimento A metodologia oficial usa como referecircncia o salaacuterio miacutenimo isto eacute frac12 do salaacuterio miacutenimo familiar per capita limite abaixo do qual se define uma famiacutelia pobre Definiccedilatildeo encontrada no site do IBGE (httpwwwibgegovbribgeteenglossariopobreza htmlgt Acesso em 01092005)

9

Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da

agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura

urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias

pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos

TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas

Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos

4

4

7

23

105

105

184

605

TOTAL 38

1000

Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas

211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que

a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria

apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e

mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a

continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica

A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela

pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos

quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores

urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a

produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados

TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana

Local Nuacutemero

Quintal de casa 30

789

Terrenos privados 8

211

TOTAL 38

1000

Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-

se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e

temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em

variedade

10

TABELA 9

Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto

Couve 842

Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131

Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que

100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total

158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam

parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou

trocam com estes o excedente da produccedilatildeo

TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

Destino Nuacutemero 38 Consumo

Comeacutercio Trocas doaccedilotildees

6 9

11

Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas

populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que

plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro

Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos

de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada

como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de

autoconsumo

A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a

agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida

TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana

Razotildees Nuacutemero

28

737

17

447

10

263

Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2

53

TOTAL 57

-

Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura

urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que

17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram

a cultivar

O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura

urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a

geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o

grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside

basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas

famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana

12

TABELA 12

Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades

Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades

3061

2858

2041

816

816

204

204

TOTAL 1000

Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos

agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio

investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos

existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser

minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8

Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres

eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda

poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos

economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada

como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este

aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos

agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia

teacutecnica diferenciada

43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar

Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana

representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13

apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o

autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado

8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo

13

declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante

economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda

familiar)

TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda

total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias

Ateacute 10 da renda total 5

1316

Mais de 10 ateacute 20 14

3684

Mais de 20 ateacute 30 9

2368

Mais de 30 10

2632

TOTAL 38

10000

Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a

20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das

famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura

urbana

Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior

a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades

baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas

satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das

exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente

nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente

A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as

principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as

despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia

aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$

40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos

destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura

internacional

14

TABELA 14

Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais

Aacutegua 111600

727

Luz 172200

1121

Transporte 102500

667

Gaacutes 116100

755

Remeacutedios 127500

83

Alimentaccedilatildeo 906000

590

TOTAL 1535900

1000

Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os

gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute

relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma

oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente

para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com

alimentaccedilatildeo

34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional

A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias

revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite

frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que

dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte

presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria

de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca

da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas

A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento

importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et

al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana

em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas

elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de

5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um

15

melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade

(MAXWELL et al 1998)

TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena

Calorias Proteiacutenas

Consumo meacutedio per capita de

calorias (kcaldia) Nuacutemero

Consumo meacutedio per capita (gdia)

Nuacutemero

Menos de 80 149701 5 31 1

De 80 ateacute menos de 110

202139 7 59 1

De110 a mais 367100 8 100 18

TOTAL 239646 20 633 20

A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas

entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta

um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas

5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das

famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado

essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente

atendida em termos quantitativos

Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana

pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas

famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a

um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado

Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo

maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser

desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a

seguranccedila alimentar

4 Resumo e Conclusotildees

A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees

acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da

populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo

16

numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de

forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da

agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso

os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas

existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas

pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa

qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de

frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees

serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos

recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere

um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a

agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo

entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute

predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a

agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma

economia de subsistecircncia

As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo

com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As

informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta

de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui

existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas

Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo

cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas

caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por

meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a

alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada

nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de

17

hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e

de nutrientes para os membros das famiacutelias

Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana

eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos

que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o

aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de

renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos

O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no

entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de

creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito

poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um

amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado

por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares

sustentaacuteveis

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Page 4: agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no Brasil é o de Frère et al. (1999), o

3

sistemas de produccedilatildeo e produtos Enquanto o monocultivo eacute comum entre agricultores

abastados os agricultores de baixa renda tendem a escolher sistemas de produccedilatildeo agriacutecola

diversificados que requerem baixo capital e minimizam riscos (UNDP 1996)

Zeeuw et al (2000) salientam tambeacutem que a agricultura urbana eacute uma atividade que

exige poliacuteticas puacuteblicas para sua implementaccedilatildeo principalmente no que diz respeito agraves

poliacuteticas de uso de solos sauacutede ambientais e de desenvolvimento social Por isso eacute

essencial o conhecimento das caracteriacutesticas especiacuteficas dos locais e as diferentes

finalidades da agricultura urbana para que sejam formuladas poliacuteticas adequadas de

intervenccedilatildeo

Em quase todo o mundo encontram-se pesquisas explorando a temaacutetica da

agricultura urbana O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no

Brasil eacute o de Fregravere et al (1999) o qual apresenta os resultados de uma investigaccedilatildeo

realizada em Beleacutem-PA com o objetivo de conhecer os tipos e dimensionar a agricultura

naquele municiacutepio

Da mesma maneira que em vaacuterias localidades alvos da pesquisa em Santa Maria -

RS a agricultura urbana eacute uma realidade entre os moradores de vaacuterias localidades Este

artigo tem como objetivo apresentar os resultados de uma investigaccedilatildeo sobre a contribuiccedilatildeo

da agricultura urbana na melhoria da renda e da alimentaccedilatildeo de famiacutelias pobres3

2 Metodologia Utilizada

Essa pesquisa desenvolveu-se na cidade de Santa Maria Estado do Rio Grande do

Sul O municiacutepio situa-se na regiatildeo central do Estado Segundo o Censo IBGE (2000) a

populaccedilatildeo urbana eacute de 230468 habitantes e a rural eacute de 12928 habitantes respectivamente

947 e 53 da populaccedilatildeo total Esses dados permitem concluir que Santa Maria eacute um

municiacutepio nitidamente urbano segundo os criteacuterios do IBGE No periacutemetro urbano foram

2 Esse crescimento tem sido relatado principalmente nas pesquisas realizadas nos paiacuteses africanos A tiacutetulo de exemplo ver Drakakis-Smith D et al (1995) entre outros estudos 3Zaluar (199433) define os pobres de um ponto de vista meramente descritivo como todos aqueles que estatildeo incluiacutedos nas faixas de renda mais baixas (ateacute 3 a 5 salaacuterios miacutenimos) ou os que exercem as atividades pior remuneradas na economia nacional Entre eles estatildeo obviamente os operaacuterios e assalariados do terciaacuterio semi ou natildeo-qualificados e que recebem baixos salaacuterios em virtude da poliacutetica salarial vigente bem como os trabalhadores por conta-proacutepria pouco ou natildeo especializados quer sejam estabelecidos ou natildeo

4

identificadas as comunidades que integram os bolsotildees de miseacuteria4 da cidade A intenccedilatildeo era

estudar a agricultura urbana no contexto da pobreza As comunidades foram escolhidas

intencionalmente em localidades situadas em distintas zonas do municiacutepio sendo elas Vila

Arco Iacuteris Vila Liacutedia Urlacircndia Renascenccedila Vila Lorenzi Nossa Senhora do Trabalho

Apariacutecio de Moraes e Montanha Russa A coleta dos dados ocorreu durante o mecircs de

fevereiro e marccedilo de 2004 pela proacutepria pesquisadora sendo coletados dados de 38

famiacutelias Para a definiccedilatildeo do nuacutemero de famiacutelias a serem pesquisadas nas comunidades

utilizou-se uma amostragem natildeo-probabiliacutestica autogerada O instrumento utilizado para o

levantamento dos foi o questionaacuterio contendo 32 questotildees fechadas e 1 questatildeo aberta

Apoacutes a coleta os dados foram digitados em planilhas do programa Excel

constituindo um banco de dados Posteriormente esses dados foram importados pelo

programa estatiacutestico SPSS (Statistical Product and Service Solutions) sendo este utilizado

para o cruzamento das variaacuteveis selecionadas e de interesse do estudo

Numa segunda fase do trabalho foi realizada uma nova pesquisa de campo em uma

sub-amostra de 20 famiacutelias com o objetivo de levantar dados acerca do consumo alimentar

familiar Para tal utilizou-se a metodologia desenvolvida por Galeazzi et al (1996) para

inqueacuterito de consumo familiar

Foram elaborados caacutelculos relativos ao consumo meacutedio per capita de energia e

nutrientes selecionados Por meio de adoccedilatildeo do software Virtual Nutri (PHILIPPI ST

1996) foram elaborados os caacutelculos relativos agrave composiccedilatildeo energeacutetica e nutricional da

alimentaccedilatildeo das famiacutelias Nessa pesquisa foram adotados paracircmetros da FAOOMSONU

(1985) para estabelecer as recomendaccedilotildees meacutedias preconizadas de energia e de proteiacutena

3 Resultados e Discussatildeo

31 Breve caracterizaccedilatildeo da populaccedilatildeo pesquisada

As tabelas apresentadas a seguir mostram alguns dos principais resultados obtidos

atraveacutes da aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios junto agraves famiacutelias visando obter informaccedilotildees

pertinentes a este trabalho Na Tabela 1 pode-se verificar a distribuiccedilatildeo das famiacutelias de

acordo com o nuacutemero de pessoas nas localidades pesquisadas

4 Estes bolsotildees foram identificados pela Rede de Solidariedade e divulgados atraveacutes de documento intitulado Projeto Institucional de Extensatildeo Nuacutecleo da UFSM em apoio agrave Rede de Solidariedade (abril de 2003)

5

TABELA 1

Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias segundo as localidades pesquisadas Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias

Localidades 1 2 3 4 5 7

TOTAL

Urlacircndia 4 9 4 1 1 19 Renascenccedila 1 2 1 4 Vila Lorenzi 2 2 3 1 8 Apariacutecio de Moraes 1 2 1 4 Montanha Russa 1 2 3 TOTAL 2 8 14 9 3 2 38

O total representa o nuacutemero de famiacutelias que foram entrevistadas em cada local e o

nuacutemero de pessoas diz respeito ao tamanho das famiacutelias A maior parte das famiacutelias eacute

formada por duas e quatro pessoas sendo que apenas duas famiacutelias uma na Vila Urlacircndia e

outra na Renascenccedila apresentaram sete pessoas na famiacutelia residindo no domiciacutelio visitado

No geral pode-se verificar que natildeo satildeo famiacutelias numerosas De acordo com o IBGE

(Censo 2000) esse fato se explica pela queda acelerada da fecundidade ocorrida no paiacutes

nas uacuteltimas duas deacutecadas conduzindo a uma reduccedilatildeo no tamanho das famiacutelias O nuacutemero

meacutedio de membros das famiacutelias caiu de 39 pessoas em 1991 para 35 em 2000 As

famiacutelias com um a quatro componentes estatildeo mais presentes nas aacutereas urbanas enquanto

que as famiacutelias com cinco a onze pessoas satildeo mais frequumlentes nas aacutereas rurais

Na Tabela 2 tecircm-se os resultados relativos ao sexo das pessoas ocupadas na

agricultura urbana

TABELA 2 Sexo das pessoas ocupadas na agricultura urbana

Sexo Agricultores Urbanos Masculino Feminino

Total

Nuacutemero de pessoas 30 (526) 27 (473) 57 (100) Verifica-se que haacute pouca diferenccedila entre homens e mulheres que trabalham nas

produccedilotildees agriacutecolas urbanas sendo que do total de 57 pessoas nas famiacutelias 30 satildeo do sexo

masculino e 27 do sexo feminino No trabalho de Nugent (2000) os resultados mostram

6

que as mulheres estatildeo muito mais envolvidas nesta atividade e os homens tecircm mais chance

de se envolver na produccedilatildeo para o mercado nos casos em que as mulheres estatildeo muito

ocupadas com outras tarefas Nestas comunidades natildeo se pode afirmar que existe

predominacircncia de um dos sexos no trabalho da agricultura urbana ao contraacuterio do que se

pode encontrar na literatura5 onde se ressalta que a maior parte dos agricultores urbanos

satildeo mulheres

A Tabela 3 apresenta os estratos de idade das pessoas envolvidas com o trabalho na

agricultura urbana

TABELA 3 Estratos de idade das pessoas envolvidas na agricultura urbana

Estratos de idade Agricultores Urbanos Ateacute 14

anos 15 ateacute 22

anos 23 ateacute 40

anos 41 ateacute 59

anos 60 anos e

mais

Total

Nordm de pessoas 1 (175)

1 (175)

12 (21 )

31 (543)

12 (21) 57

Entre as 57 pessoas que praticam a atividade a maioria encontra-se na faixa etaacuteria

de 41 ateacute 59 anos e somadas agraves pessoas que possuem mais de 60 anos pode-se concluir

que quem pratica a agricultura urbana nestas comunidades natildeo satildeo exatamente pessoas

mais jovens mas sim aquelas com idade superior a 40 anos

Na Tabela 4 pode-se verificar o local de origem dos agricultores urbanos

pesquisados Deste total constata-se que cerca de 37 satildeo oriundos da zona rural de outras

cidades e 263 da zona rural de Santa Maria ou seja 63 do total das pessoas que

praticam agricultura urbana satildeo de origem rural Isto remete agrave questatildeo do ecircxodo rural que

conduz essas pessoas para a cidade com o objetivo de melhorar as condiccedilotildees de vida e

ainda a tradiccedilatildeo na agricultura que elas trazem como eacute detalhado no trabalho de COSTA

BEBER (1998)

TABELA 4 Local de origem das pessoas que trabalham na agricultura urbana

Local de Origem

Agricultores Urbanos

Santa Maria

(urbana)

Santa Maria (rural)

Outras cidades

(urbana)

Outras cidades (rural)

Total

5 No livro Urban Agriculture Food Jobs and Sustainable Cities (UNDP 1996) existe a informaccedilatildeo de que em muitos locais do mundo as mulheres tecircm maior participaccedilatildeo na agricultura urbana do que os homens

7

Nordm de pessoas 15 (263)

15 (263)

6 (105)

21 (368)

57 (100)

Existem aproximadamente 37 que eacute de origem urbana e pode ter outras razotildees

para a praacutetica da agricultura como a proacutepria subsistecircncia jaacute que eacute integrante de

comunidades pobres Outras razotildees dizem respeito ao lazer que a atividade pode lhes

proporcionar A esse respeito Altieri et al (1999) salientam que a agricultura urbana para

as pessoas nascidas na cidade eacute oportunidade para aprender e apreciar o processo de

cultivo Para os receacutem-migrantes da zona rural a atividade representa uma forma de utilizar

suas especialidades agriacutecolas e para alguns um refuacutegio onde eles podem trabalhar

novamente mas de forma diferente com a terra e religados agrave natureza

Na Tabela 5 estatildeo contabilizadas as ocupaccedilotildees das pessoas que trabalham na

agricultura urbana Destaca-se que do total de 57 pessoas que declararam a praacutetica da

agricultura urbana nem todas podem ser consideradas pessoas ativas pois aiacute estatildeo

incluiacutedos aposentados pensionistas e mulheres com atividades domeacutesticas6 Descontando

estas pessoas chega-se ao nuacutemero de 25 pessoas ativas que se dedicam tambeacutem agrave

agricultura urbana Estas se encontram ocupadas nos serviccedilos de construccedilatildeo civil outras em

serviccedilos domeacutesticos e ainda haacute aquelas classificadas como vendedores informais e

prestadores de serviccedilo por conta-proacutepria

TABELA 5 Grupos de ocupaccedilotildees das pessoas ativas que trabalham na agricultura urbana

Grupos de ocupaccedilatildeo Nuacutemero de pessoas Acumulada

Administraccedilatildeo puacuteblica 1

4

4

Professores e outros da educaccedilatildeo 1

4

8

Agricultor conta-proacutepria 1

4

12

Serviccedilos da construccedilatildeo civil 8

32

44

Ocupaccedilotildees agroindustriais 2

8

52

Induacutestria de transformaccedilatildeo 1

4

56

Comeacutercio natildeo-especificado 3

12

68

Motoristas 1

4

72

Serviccedilos domeacutesticos remunerados 4

16

88

6 Segundo a classificaccedilatildeo das Pesquisas Nacionais de Amostras de Domiciacutelios - PNADs anteriores a 1992 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) somente satildeo consideradas pessoas ativas ou ocupadas

aquelas com 10 anos e mais que trabalhavam 15 horas ou mais na semana de referecircncia da pesquisa Adotou-se este conceito como criteacuterio de separaccedilatildeo das pessoas ativas neste artigo Com a aplicaccedilatildeo deste conceito restaram somente 47 pessoas em relaccedilatildeo agraves 57 inicialmente apresentadas nas Tabelas 2 3 e 4 Se se levar em conta somente as que declararam praticar agricultura urbana restaratildeo apenas 25 pessoas ativas que satildeo apresentadas na Tabela 5

8

Serviccedilos pessoais natildeo-domeacutesticos 2

8

96

Outros serv Pessoais natildeo-domeacutesticos

1

4

100

TOTAL 25

100

-

Na Tabela 6 eacute apresentada a distribuiccedilatildeo das famiacutelias pesquisadas segundo os

estratos de renda per capita Se for adotada a linha da pobreza como sendo igual a R$

12000 observa-se na Tabela 6 que 211 das famiacutelias possuem rendimentos que as

classificam abaixo da linha de pobreza7 A renda meacutedia per capita eacute somente de R$ 25277

e a renda mediana per capita atinge apenas R$ 21800 Se observarmos atentamente estas

informaccedilotildees apresentadas na Tabela 6 pode-se verificar que menos de frac14 das famiacutelias

pesquisadas possuem renda que as situa abaixo da chamada linha de pobreza

TABELA 6 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias segundo os estratos de renda per capita

Estratos de Renda (em Reais)

Nuacutemero

acumulada

60 ateacute 120 8

211

211

125 ateacute 240 15

395

605

250 ateacute 370 9

237

842

39333 ateacute 45666 4

105

947

700 e mais 2

53

1000

TOTAL 38

100

-

Este curioso resultado permite levantar a hipoacutetese de que embora a pesquisa tenha

sido realizada no contexto da pobreza os praticantes da agricultura urbana natildeo apresentam

rendimentos que os classifiquem entre as famiacutelias relativamente mais pobres Uma outra

razatildeo que pode ser aventada eacute a existecircncia de aposentados e pensionistas entre os membros

das famiacutelias o que permite uma elevaccedilatildeo e estabilizaccedilatildeo das rendas

32 A praacutetica da agricultura urbana

7 O valor do salaacuterio miacutenimo nacional no periacuteodo da pesquisa era de R$ 24000 Segundo Rocha (19963) eacute consensualmente aceito que a variaacutevel de renda mais adequada para confronto com a linha de pobreza eacute a renda familiar per capita que leva em consideraccedilatildeo todos os rendimentos das pessoas do nuacutecleo familiar o nuacutemero de pessoas e o papel da famiacutelia como unidade solidaacuteria de consumo e rendimento A metodologia oficial usa como referecircncia o salaacuterio miacutenimo isto eacute frac12 do salaacuterio miacutenimo familiar per capita limite abaixo do qual se define uma famiacutelia pobre Definiccedilatildeo encontrada no site do IBGE (httpwwwibgegovbribgeteenglossariopobreza htmlgt Acesso em 01092005)

9

Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da

agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura

urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias

pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos

TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas

Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos

4

4

7

23

105

105

184

605

TOTAL 38

1000

Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas

211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que

a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria

apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e

mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a

continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica

A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela

pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos

quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores

urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a

produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados

TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana

Local Nuacutemero

Quintal de casa 30

789

Terrenos privados 8

211

TOTAL 38

1000

Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-

se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e

temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em

variedade

10

TABELA 9

Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto

Couve 842

Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131

Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que

100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total

158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam

parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou

trocam com estes o excedente da produccedilatildeo

TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

Destino Nuacutemero 38 Consumo

Comeacutercio Trocas doaccedilotildees

6 9

11

Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas

populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que

plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro

Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos

de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada

como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de

autoconsumo

A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a

agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida

TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana

Razotildees Nuacutemero

28

737

17

447

10

263

Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2

53

TOTAL 57

-

Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura

urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que

17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram

a cultivar

O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura

urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a

geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o

grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside

basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas

famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana

12

TABELA 12

Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades

Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades

3061

2858

2041

816

816

204

204

TOTAL 1000

Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos

agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio

investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos

existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser

minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8

Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres

eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda

poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos

economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada

como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este

aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos

agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia

teacutecnica diferenciada

43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar

Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana

representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13

apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o

autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado

8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo

13

declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante

economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda

familiar)

TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda

total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias

Ateacute 10 da renda total 5

1316

Mais de 10 ateacute 20 14

3684

Mais de 20 ateacute 30 9

2368

Mais de 30 10

2632

TOTAL 38

10000

Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a

20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das

famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura

urbana

Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior

a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades

baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas

satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das

exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente

nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente

A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as

principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as

despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia

aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$

40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos

destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura

internacional

14

TABELA 14

Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais

Aacutegua 111600

727

Luz 172200

1121

Transporte 102500

667

Gaacutes 116100

755

Remeacutedios 127500

83

Alimentaccedilatildeo 906000

590

TOTAL 1535900

1000

Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os

gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute

relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma

oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente

para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com

alimentaccedilatildeo

34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional

A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias

revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite

frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que

dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte

presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria

de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca

da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas

A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento

importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et

al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana

em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas

elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de

5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um

15

melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade

(MAXWELL et al 1998)

TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena

Calorias Proteiacutenas

Consumo meacutedio per capita de

calorias (kcaldia) Nuacutemero

Consumo meacutedio per capita (gdia)

Nuacutemero

Menos de 80 149701 5 31 1

De 80 ateacute menos de 110

202139 7 59 1

De110 a mais 367100 8 100 18

TOTAL 239646 20 633 20

A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas

entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta

um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas

5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das

famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado

essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente

atendida em termos quantitativos

Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana

pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas

famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a

um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado

Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo

maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser

desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a

seguranccedila alimentar

4 Resumo e Conclusotildees

A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees

acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da

populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo

16

numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de

forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da

agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso

os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas

existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas

pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa

qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de

frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees

serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos

recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere

um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a

agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo

entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute

predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a

agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma

economia de subsistecircncia

As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo

com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As

informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta

de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui

existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas

Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo

cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas

caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por

meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a

alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada

nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de

17

hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e

de nutrientes para os membros das famiacutelias

Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana

eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos

que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o

aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de

renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos

O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no

entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de

creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito

poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um

amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado

por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares

sustentaacuteveis

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Page 5: agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no Brasil é o de Frère et al. (1999), o

4

identificadas as comunidades que integram os bolsotildees de miseacuteria4 da cidade A intenccedilatildeo era

estudar a agricultura urbana no contexto da pobreza As comunidades foram escolhidas

intencionalmente em localidades situadas em distintas zonas do municiacutepio sendo elas Vila

Arco Iacuteris Vila Liacutedia Urlacircndia Renascenccedila Vila Lorenzi Nossa Senhora do Trabalho

Apariacutecio de Moraes e Montanha Russa A coleta dos dados ocorreu durante o mecircs de

fevereiro e marccedilo de 2004 pela proacutepria pesquisadora sendo coletados dados de 38

famiacutelias Para a definiccedilatildeo do nuacutemero de famiacutelias a serem pesquisadas nas comunidades

utilizou-se uma amostragem natildeo-probabiliacutestica autogerada O instrumento utilizado para o

levantamento dos foi o questionaacuterio contendo 32 questotildees fechadas e 1 questatildeo aberta

Apoacutes a coleta os dados foram digitados em planilhas do programa Excel

constituindo um banco de dados Posteriormente esses dados foram importados pelo

programa estatiacutestico SPSS (Statistical Product and Service Solutions) sendo este utilizado

para o cruzamento das variaacuteveis selecionadas e de interesse do estudo

Numa segunda fase do trabalho foi realizada uma nova pesquisa de campo em uma

sub-amostra de 20 famiacutelias com o objetivo de levantar dados acerca do consumo alimentar

familiar Para tal utilizou-se a metodologia desenvolvida por Galeazzi et al (1996) para

inqueacuterito de consumo familiar

Foram elaborados caacutelculos relativos ao consumo meacutedio per capita de energia e

nutrientes selecionados Por meio de adoccedilatildeo do software Virtual Nutri (PHILIPPI ST

1996) foram elaborados os caacutelculos relativos agrave composiccedilatildeo energeacutetica e nutricional da

alimentaccedilatildeo das famiacutelias Nessa pesquisa foram adotados paracircmetros da FAOOMSONU

(1985) para estabelecer as recomendaccedilotildees meacutedias preconizadas de energia e de proteiacutena

3 Resultados e Discussatildeo

31 Breve caracterizaccedilatildeo da populaccedilatildeo pesquisada

As tabelas apresentadas a seguir mostram alguns dos principais resultados obtidos

atraveacutes da aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios junto agraves famiacutelias visando obter informaccedilotildees

pertinentes a este trabalho Na Tabela 1 pode-se verificar a distribuiccedilatildeo das famiacutelias de

acordo com o nuacutemero de pessoas nas localidades pesquisadas

4 Estes bolsotildees foram identificados pela Rede de Solidariedade e divulgados atraveacutes de documento intitulado Projeto Institucional de Extensatildeo Nuacutecleo da UFSM em apoio agrave Rede de Solidariedade (abril de 2003)

5

TABELA 1

Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias segundo as localidades pesquisadas Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias

Localidades 1 2 3 4 5 7

TOTAL

Urlacircndia 4 9 4 1 1 19 Renascenccedila 1 2 1 4 Vila Lorenzi 2 2 3 1 8 Apariacutecio de Moraes 1 2 1 4 Montanha Russa 1 2 3 TOTAL 2 8 14 9 3 2 38

O total representa o nuacutemero de famiacutelias que foram entrevistadas em cada local e o

nuacutemero de pessoas diz respeito ao tamanho das famiacutelias A maior parte das famiacutelias eacute

formada por duas e quatro pessoas sendo que apenas duas famiacutelias uma na Vila Urlacircndia e

outra na Renascenccedila apresentaram sete pessoas na famiacutelia residindo no domiciacutelio visitado

No geral pode-se verificar que natildeo satildeo famiacutelias numerosas De acordo com o IBGE

(Censo 2000) esse fato se explica pela queda acelerada da fecundidade ocorrida no paiacutes

nas uacuteltimas duas deacutecadas conduzindo a uma reduccedilatildeo no tamanho das famiacutelias O nuacutemero

meacutedio de membros das famiacutelias caiu de 39 pessoas em 1991 para 35 em 2000 As

famiacutelias com um a quatro componentes estatildeo mais presentes nas aacutereas urbanas enquanto

que as famiacutelias com cinco a onze pessoas satildeo mais frequumlentes nas aacutereas rurais

Na Tabela 2 tecircm-se os resultados relativos ao sexo das pessoas ocupadas na

agricultura urbana

TABELA 2 Sexo das pessoas ocupadas na agricultura urbana

Sexo Agricultores Urbanos Masculino Feminino

Total

Nuacutemero de pessoas 30 (526) 27 (473) 57 (100) Verifica-se que haacute pouca diferenccedila entre homens e mulheres que trabalham nas

produccedilotildees agriacutecolas urbanas sendo que do total de 57 pessoas nas famiacutelias 30 satildeo do sexo

masculino e 27 do sexo feminino No trabalho de Nugent (2000) os resultados mostram

6

que as mulheres estatildeo muito mais envolvidas nesta atividade e os homens tecircm mais chance

de se envolver na produccedilatildeo para o mercado nos casos em que as mulheres estatildeo muito

ocupadas com outras tarefas Nestas comunidades natildeo se pode afirmar que existe

predominacircncia de um dos sexos no trabalho da agricultura urbana ao contraacuterio do que se

pode encontrar na literatura5 onde se ressalta que a maior parte dos agricultores urbanos

satildeo mulheres

A Tabela 3 apresenta os estratos de idade das pessoas envolvidas com o trabalho na

agricultura urbana

TABELA 3 Estratos de idade das pessoas envolvidas na agricultura urbana

Estratos de idade Agricultores Urbanos Ateacute 14

anos 15 ateacute 22

anos 23 ateacute 40

anos 41 ateacute 59

anos 60 anos e

mais

Total

Nordm de pessoas 1 (175)

1 (175)

12 (21 )

31 (543)

12 (21) 57

Entre as 57 pessoas que praticam a atividade a maioria encontra-se na faixa etaacuteria

de 41 ateacute 59 anos e somadas agraves pessoas que possuem mais de 60 anos pode-se concluir

que quem pratica a agricultura urbana nestas comunidades natildeo satildeo exatamente pessoas

mais jovens mas sim aquelas com idade superior a 40 anos

Na Tabela 4 pode-se verificar o local de origem dos agricultores urbanos

pesquisados Deste total constata-se que cerca de 37 satildeo oriundos da zona rural de outras

cidades e 263 da zona rural de Santa Maria ou seja 63 do total das pessoas que

praticam agricultura urbana satildeo de origem rural Isto remete agrave questatildeo do ecircxodo rural que

conduz essas pessoas para a cidade com o objetivo de melhorar as condiccedilotildees de vida e

ainda a tradiccedilatildeo na agricultura que elas trazem como eacute detalhado no trabalho de COSTA

BEBER (1998)

TABELA 4 Local de origem das pessoas que trabalham na agricultura urbana

Local de Origem

Agricultores Urbanos

Santa Maria

(urbana)

Santa Maria (rural)

Outras cidades

(urbana)

Outras cidades (rural)

Total

5 No livro Urban Agriculture Food Jobs and Sustainable Cities (UNDP 1996) existe a informaccedilatildeo de que em muitos locais do mundo as mulheres tecircm maior participaccedilatildeo na agricultura urbana do que os homens

7

Nordm de pessoas 15 (263)

15 (263)

6 (105)

21 (368)

57 (100)

Existem aproximadamente 37 que eacute de origem urbana e pode ter outras razotildees

para a praacutetica da agricultura como a proacutepria subsistecircncia jaacute que eacute integrante de

comunidades pobres Outras razotildees dizem respeito ao lazer que a atividade pode lhes

proporcionar A esse respeito Altieri et al (1999) salientam que a agricultura urbana para

as pessoas nascidas na cidade eacute oportunidade para aprender e apreciar o processo de

cultivo Para os receacutem-migrantes da zona rural a atividade representa uma forma de utilizar

suas especialidades agriacutecolas e para alguns um refuacutegio onde eles podem trabalhar

novamente mas de forma diferente com a terra e religados agrave natureza

Na Tabela 5 estatildeo contabilizadas as ocupaccedilotildees das pessoas que trabalham na

agricultura urbana Destaca-se que do total de 57 pessoas que declararam a praacutetica da

agricultura urbana nem todas podem ser consideradas pessoas ativas pois aiacute estatildeo

incluiacutedos aposentados pensionistas e mulheres com atividades domeacutesticas6 Descontando

estas pessoas chega-se ao nuacutemero de 25 pessoas ativas que se dedicam tambeacutem agrave

agricultura urbana Estas se encontram ocupadas nos serviccedilos de construccedilatildeo civil outras em

serviccedilos domeacutesticos e ainda haacute aquelas classificadas como vendedores informais e

prestadores de serviccedilo por conta-proacutepria

TABELA 5 Grupos de ocupaccedilotildees das pessoas ativas que trabalham na agricultura urbana

Grupos de ocupaccedilatildeo Nuacutemero de pessoas Acumulada

Administraccedilatildeo puacuteblica 1

4

4

Professores e outros da educaccedilatildeo 1

4

8

Agricultor conta-proacutepria 1

4

12

Serviccedilos da construccedilatildeo civil 8

32

44

Ocupaccedilotildees agroindustriais 2

8

52

Induacutestria de transformaccedilatildeo 1

4

56

Comeacutercio natildeo-especificado 3

12

68

Motoristas 1

4

72

Serviccedilos domeacutesticos remunerados 4

16

88

6 Segundo a classificaccedilatildeo das Pesquisas Nacionais de Amostras de Domiciacutelios - PNADs anteriores a 1992 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) somente satildeo consideradas pessoas ativas ou ocupadas

aquelas com 10 anos e mais que trabalhavam 15 horas ou mais na semana de referecircncia da pesquisa Adotou-se este conceito como criteacuterio de separaccedilatildeo das pessoas ativas neste artigo Com a aplicaccedilatildeo deste conceito restaram somente 47 pessoas em relaccedilatildeo agraves 57 inicialmente apresentadas nas Tabelas 2 3 e 4 Se se levar em conta somente as que declararam praticar agricultura urbana restaratildeo apenas 25 pessoas ativas que satildeo apresentadas na Tabela 5

8

Serviccedilos pessoais natildeo-domeacutesticos 2

8

96

Outros serv Pessoais natildeo-domeacutesticos

1

4

100

TOTAL 25

100

-

Na Tabela 6 eacute apresentada a distribuiccedilatildeo das famiacutelias pesquisadas segundo os

estratos de renda per capita Se for adotada a linha da pobreza como sendo igual a R$

12000 observa-se na Tabela 6 que 211 das famiacutelias possuem rendimentos que as

classificam abaixo da linha de pobreza7 A renda meacutedia per capita eacute somente de R$ 25277

e a renda mediana per capita atinge apenas R$ 21800 Se observarmos atentamente estas

informaccedilotildees apresentadas na Tabela 6 pode-se verificar que menos de frac14 das famiacutelias

pesquisadas possuem renda que as situa abaixo da chamada linha de pobreza

TABELA 6 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias segundo os estratos de renda per capita

Estratos de Renda (em Reais)

Nuacutemero

acumulada

60 ateacute 120 8

211

211

125 ateacute 240 15

395

605

250 ateacute 370 9

237

842

39333 ateacute 45666 4

105

947

700 e mais 2

53

1000

TOTAL 38

100

-

Este curioso resultado permite levantar a hipoacutetese de que embora a pesquisa tenha

sido realizada no contexto da pobreza os praticantes da agricultura urbana natildeo apresentam

rendimentos que os classifiquem entre as famiacutelias relativamente mais pobres Uma outra

razatildeo que pode ser aventada eacute a existecircncia de aposentados e pensionistas entre os membros

das famiacutelias o que permite uma elevaccedilatildeo e estabilizaccedilatildeo das rendas

32 A praacutetica da agricultura urbana

7 O valor do salaacuterio miacutenimo nacional no periacuteodo da pesquisa era de R$ 24000 Segundo Rocha (19963) eacute consensualmente aceito que a variaacutevel de renda mais adequada para confronto com a linha de pobreza eacute a renda familiar per capita que leva em consideraccedilatildeo todos os rendimentos das pessoas do nuacutecleo familiar o nuacutemero de pessoas e o papel da famiacutelia como unidade solidaacuteria de consumo e rendimento A metodologia oficial usa como referecircncia o salaacuterio miacutenimo isto eacute frac12 do salaacuterio miacutenimo familiar per capita limite abaixo do qual se define uma famiacutelia pobre Definiccedilatildeo encontrada no site do IBGE (httpwwwibgegovbribgeteenglossariopobreza htmlgt Acesso em 01092005)

9

Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da

agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura

urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias

pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos

TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas

Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos

4

4

7

23

105

105

184

605

TOTAL 38

1000

Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas

211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que

a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria

apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e

mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a

continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica

A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela

pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos

quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores

urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a

produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados

TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana

Local Nuacutemero

Quintal de casa 30

789

Terrenos privados 8

211

TOTAL 38

1000

Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-

se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e

temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em

variedade

10

TABELA 9

Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto

Couve 842

Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131

Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que

100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total

158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam

parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou

trocam com estes o excedente da produccedilatildeo

TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

Destino Nuacutemero 38 Consumo

Comeacutercio Trocas doaccedilotildees

6 9

11

Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas

populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que

plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro

Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos

de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada

como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de

autoconsumo

A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a

agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida

TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana

Razotildees Nuacutemero

28

737

17

447

10

263

Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2

53

TOTAL 57

-

Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura

urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que

17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram

a cultivar

O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura

urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a

geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o

grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside

basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas

famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana

12

TABELA 12

Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades

Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades

3061

2858

2041

816

816

204

204

TOTAL 1000

Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos

agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio

investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos

existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser

minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8

Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres

eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda

poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos

economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada

como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este

aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos

agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia

teacutecnica diferenciada

43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar

Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana

representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13

apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o

autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado

8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo

13

declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante

economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda

familiar)

TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda

total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias

Ateacute 10 da renda total 5

1316

Mais de 10 ateacute 20 14

3684

Mais de 20 ateacute 30 9

2368

Mais de 30 10

2632

TOTAL 38

10000

Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a

20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das

famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura

urbana

Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior

a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades

baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas

satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das

exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente

nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente

A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as

principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as

despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia

aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$

40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos

destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura

internacional

14

TABELA 14

Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais

Aacutegua 111600

727

Luz 172200

1121

Transporte 102500

667

Gaacutes 116100

755

Remeacutedios 127500

83

Alimentaccedilatildeo 906000

590

TOTAL 1535900

1000

Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os

gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute

relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma

oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente

para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com

alimentaccedilatildeo

34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional

A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias

revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite

frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que

dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte

presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria

de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca

da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas

A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento

importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et

al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana

em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas

elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de

5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um

15

melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade

(MAXWELL et al 1998)

TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena

Calorias Proteiacutenas

Consumo meacutedio per capita de

calorias (kcaldia) Nuacutemero

Consumo meacutedio per capita (gdia)

Nuacutemero

Menos de 80 149701 5 31 1

De 80 ateacute menos de 110

202139 7 59 1

De110 a mais 367100 8 100 18

TOTAL 239646 20 633 20

A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas

entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta

um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas

5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das

famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado

essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente

atendida em termos quantitativos

Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana

pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas

famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a

um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado

Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo

maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser

desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a

seguranccedila alimentar

4 Resumo e Conclusotildees

A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees

acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da

populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo

16

numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de

forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da

agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso

os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas

existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas

pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa

qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de

frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees

serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos

recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere

um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a

agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo

entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute

predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a

agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma

economia de subsistecircncia

As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo

com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As

informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta

de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui

existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas

Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo

cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas

caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por

meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a

alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada

nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de

17

hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e

de nutrientes para os membros das famiacutelias

Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana

eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos

que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o

aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de

renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos

O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no

entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de

creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito

poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um

amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado

por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares

sustentaacuteveis

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Page 6: agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no Brasil é o de Frère et al. (1999), o

5

TABELA 1

Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias segundo as localidades pesquisadas Nuacutemero de pessoas nas famiacutelias

Localidades 1 2 3 4 5 7

TOTAL

Urlacircndia 4 9 4 1 1 19 Renascenccedila 1 2 1 4 Vila Lorenzi 2 2 3 1 8 Apariacutecio de Moraes 1 2 1 4 Montanha Russa 1 2 3 TOTAL 2 8 14 9 3 2 38

O total representa o nuacutemero de famiacutelias que foram entrevistadas em cada local e o

nuacutemero de pessoas diz respeito ao tamanho das famiacutelias A maior parte das famiacutelias eacute

formada por duas e quatro pessoas sendo que apenas duas famiacutelias uma na Vila Urlacircndia e

outra na Renascenccedila apresentaram sete pessoas na famiacutelia residindo no domiciacutelio visitado

No geral pode-se verificar que natildeo satildeo famiacutelias numerosas De acordo com o IBGE

(Censo 2000) esse fato se explica pela queda acelerada da fecundidade ocorrida no paiacutes

nas uacuteltimas duas deacutecadas conduzindo a uma reduccedilatildeo no tamanho das famiacutelias O nuacutemero

meacutedio de membros das famiacutelias caiu de 39 pessoas em 1991 para 35 em 2000 As

famiacutelias com um a quatro componentes estatildeo mais presentes nas aacutereas urbanas enquanto

que as famiacutelias com cinco a onze pessoas satildeo mais frequumlentes nas aacutereas rurais

Na Tabela 2 tecircm-se os resultados relativos ao sexo das pessoas ocupadas na

agricultura urbana

TABELA 2 Sexo das pessoas ocupadas na agricultura urbana

Sexo Agricultores Urbanos Masculino Feminino

Total

Nuacutemero de pessoas 30 (526) 27 (473) 57 (100) Verifica-se que haacute pouca diferenccedila entre homens e mulheres que trabalham nas

produccedilotildees agriacutecolas urbanas sendo que do total de 57 pessoas nas famiacutelias 30 satildeo do sexo

masculino e 27 do sexo feminino No trabalho de Nugent (2000) os resultados mostram

6

que as mulheres estatildeo muito mais envolvidas nesta atividade e os homens tecircm mais chance

de se envolver na produccedilatildeo para o mercado nos casos em que as mulheres estatildeo muito

ocupadas com outras tarefas Nestas comunidades natildeo se pode afirmar que existe

predominacircncia de um dos sexos no trabalho da agricultura urbana ao contraacuterio do que se

pode encontrar na literatura5 onde se ressalta que a maior parte dos agricultores urbanos

satildeo mulheres

A Tabela 3 apresenta os estratos de idade das pessoas envolvidas com o trabalho na

agricultura urbana

TABELA 3 Estratos de idade das pessoas envolvidas na agricultura urbana

Estratos de idade Agricultores Urbanos Ateacute 14

anos 15 ateacute 22

anos 23 ateacute 40

anos 41 ateacute 59

anos 60 anos e

mais

Total

Nordm de pessoas 1 (175)

1 (175)

12 (21 )

31 (543)

12 (21) 57

Entre as 57 pessoas que praticam a atividade a maioria encontra-se na faixa etaacuteria

de 41 ateacute 59 anos e somadas agraves pessoas que possuem mais de 60 anos pode-se concluir

que quem pratica a agricultura urbana nestas comunidades natildeo satildeo exatamente pessoas

mais jovens mas sim aquelas com idade superior a 40 anos

Na Tabela 4 pode-se verificar o local de origem dos agricultores urbanos

pesquisados Deste total constata-se que cerca de 37 satildeo oriundos da zona rural de outras

cidades e 263 da zona rural de Santa Maria ou seja 63 do total das pessoas que

praticam agricultura urbana satildeo de origem rural Isto remete agrave questatildeo do ecircxodo rural que

conduz essas pessoas para a cidade com o objetivo de melhorar as condiccedilotildees de vida e

ainda a tradiccedilatildeo na agricultura que elas trazem como eacute detalhado no trabalho de COSTA

BEBER (1998)

TABELA 4 Local de origem das pessoas que trabalham na agricultura urbana

Local de Origem

Agricultores Urbanos

Santa Maria

(urbana)

Santa Maria (rural)

Outras cidades

(urbana)

Outras cidades (rural)

Total

5 No livro Urban Agriculture Food Jobs and Sustainable Cities (UNDP 1996) existe a informaccedilatildeo de que em muitos locais do mundo as mulheres tecircm maior participaccedilatildeo na agricultura urbana do que os homens

7

Nordm de pessoas 15 (263)

15 (263)

6 (105)

21 (368)

57 (100)

Existem aproximadamente 37 que eacute de origem urbana e pode ter outras razotildees

para a praacutetica da agricultura como a proacutepria subsistecircncia jaacute que eacute integrante de

comunidades pobres Outras razotildees dizem respeito ao lazer que a atividade pode lhes

proporcionar A esse respeito Altieri et al (1999) salientam que a agricultura urbana para

as pessoas nascidas na cidade eacute oportunidade para aprender e apreciar o processo de

cultivo Para os receacutem-migrantes da zona rural a atividade representa uma forma de utilizar

suas especialidades agriacutecolas e para alguns um refuacutegio onde eles podem trabalhar

novamente mas de forma diferente com a terra e religados agrave natureza

Na Tabela 5 estatildeo contabilizadas as ocupaccedilotildees das pessoas que trabalham na

agricultura urbana Destaca-se que do total de 57 pessoas que declararam a praacutetica da

agricultura urbana nem todas podem ser consideradas pessoas ativas pois aiacute estatildeo

incluiacutedos aposentados pensionistas e mulheres com atividades domeacutesticas6 Descontando

estas pessoas chega-se ao nuacutemero de 25 pessoas ativas que se dedicam tambeacutem agrave

agricultura urbana Estas se encontram ocupadas nos serviccedilos de construccedilatildeo civil outras em

serviccedilos domeacutesticos e ainda haacute aquelas classificadas como vendedores informais e

prestadores de serviccedilo por conta-proacutepria

TABELA 5 Grupos de ocupaccedilotildees das pessoas ativas que trabalham na agricultura urbana

Grupos de ocupaccedilatildeo Nuacutemero de pessoas Acumulada

Administraccedilatildeo puacuteblica 1

4

4

Professores e outros da educaccedilatildeo 1

4

8

Agricultor conta-proacutepria 1

4

12

Serviccedilos da construccedilatildeo civil 8

32

44

Ocupaccedilotildees agroindustriais 2

8

52

Induacutestria de transformaccedilatildeo 1

4

56

Comeacutercio natildeo-especificado 3

12

68

Motoristas 1

4

72

Serviccedilos domeacutesticos remunerados 4

16

88

6 Segundo a classificaccedilatildeo das Pesquisas Nacionais de Amostras de Domiciacutelios - PNADs anteriores a 1992 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) somente satildeo consideradas pessoas ativas ou ocupadas

aquelas com 10 anos e mais que trabalhavam 15 horas ou mais na semana de referecircncia da pesquisa Adotou-se este conceito como criteacuterio de separaccedilatildeo das pessoas ativas neste artigo Com a aplicaccedilatildeo deste conceito restaram somente 47 pessoas em relaccedilatildeo agraves 57 inicialmente apresentadas nas Tabelas 2 3 e 4 Se se levar em conta somente as que declararam praticar agricultura urbana restaratildeo apenas 25 pessoas ativas que satildeo apresentadas na Tabela 5

8

Serviccedilos pessoais natildeo-domeacutesticos 2

8

96

Outros serv Pessoais natildeo-domeacutesticos

1

4

100

TOTAL 25

100

-

Na Tabela 6 eacute apresentada a distribuiccedilatildeo das famiacutelias pesquisadas segundo os

estratos de renda per capita Se for adotada a linha da pobreza como sendo igual a R$

12000 observa-se na Tabela 6 que 211 das famiacutelias possuem rendimentos que as

classificam abaixo da linha de pobreza7 A renda meacutedia per capita eacute somente de R$ 25277

e a renda mediana per capita atinge apenas R$ 21800 Se observarmos atentamente estas

informaccedilotildees apresentadas na Tabela 6 pode-se verificar que menos de frac14 das famiacutelias

pesquisadas possuem renda que as situa abaixo da chamada linha de pobreza

TABELA 6 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias segundo os estratos de renda per capita

Estratos de Renda (em Reais)

Nuacutemero

acumulada

60 ateacute 120 8

211

211

125 ateacute 240 15

395

605

250 ateacute 370 9

237

842

39333 ateacute 45666 4

105

947

700 e mais 2

53

1000

TOTAL 38

100

-

Este curioso resultado permite levantar a hipoacutetese de que embora a pesquisa tenha

sido realizada no contexto da pobreza os praticantes da agricultura urbana natildeo apresentam

rendimentos que os classifiquem entre as famiacutelias relativamente mais pobres Uma outra

razatildeo que pode ser aventada eacute a existecircncia de aposentados e pensionistas entre os membros

das famiacutelias o que permite uma elevaccedilatildeo e estabilizaccedilatildeo das rendas

32 A praacutetica da agricultura urbana

7 O valor do salaacuterio miacutenimo nacional no periacuteodo da pesquisa era de R$ 24000 Segundo Rocha (19963) eacute consensualmente aceito que a variaacutevel de renda mais adequada para confronto com a linha de pobreza eacute a renda familiar per capita que leva em consideraccedilatildeo todos os rendimentos das pessoas do nuacutecleo familiar o nuacutemero de pessoas e o papel da famiacutelia como unidade solidaacuteria de consumo e rendimento A metodologia oficial usa como referecircncia o salaacuterio miacutenimo isto eacute frac12 do salaacuterio miacutenimo familiar per capita limite abaixo do qual se define uma famiacutelia pobre Definiccedilatildeo encontrada no site do IBGE (httpwwwibgegovbribgeteenglossariopobreza htmlgt Acesso em 01092005)

9

Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da

agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura

urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias

pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos

TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas

Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos

4

4

7

23

105

105

184

605

TOTAL 38

1000

Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas

211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que

a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria

apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e

mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a

continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica

A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela

pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos

quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores

urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a

produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados

TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana

Local Nuacutemero

Quintal de casa 30

789

Terrenos privados 8

211

TOTAL 38

1000

Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-

se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e

temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em

variedade

10

TABELA 9

Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto

Couve 842

Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131

Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que

100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total

158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam

parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou

trocam com estes o excedente da produccedilatildeo

TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

Destino Nuacutemero 38 Consumo

Comeacutercio Trocas doaccedilotildees

6 9

11

Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas

populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que

plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro

Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos

de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada

como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de

autoconsumo

A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a

agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida

TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana

Razotildees Nuacutemero

28

737

17

447

10

263

Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2

53

TOTAL 57

-

Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura

urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que

17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram

a cultivar

O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura

urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a

geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o

grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside

basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas

famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana

12

TABELA 12

Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades

Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades

3061

2858

2041

816

816

204

204

TOTAL 1000

Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos

agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio

investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos

existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser

minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8

Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres

eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda

poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos

economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada

como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este

aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos

agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia

teacutecnica diferenciada

43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar

Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana

representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13

apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o

autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado

8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo

13

declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante

economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda

familiar)

TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda

total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias

Ateacute 10 da renda total 5

1316

Mais de 10 ateacute 20 14

3684

Mais de 20 ateacute 30 9

2368

Mais de 30 10

2632

TOTAL 38

10000

Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a

20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das

famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura

urbana

Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior

a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades

baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas

satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das

exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente

nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente

A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as

principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as

despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia

aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$

40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos

destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura

internacional

14

TABELA 14

Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais

Aacutegua 111600

727

Luz 172200

1121

Transporte 102500

667

Gaacutes 116100

755

Remeacutedios 127500

83

Alimentaccedilatildeo 906000

590

TOTAL 1535900

1000

Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os

gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute

relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma

oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente

para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com

alimentaccedilatildeo

34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional

A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias

revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite

frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que

dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte

presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria

de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca

da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas

A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento

importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et

al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana

em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas

elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de

5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um

15

melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade

(MAXWELL et al 1998)

TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena

Calorias Proteiacutenas

Consumo meacutedio per capita de

calorias (kcaldia) Nuacutemero

Consumo meacutedio per capita (gdia)

Nuacutemero

Menos de 80 149701 5 31 1

De 80 ateacute menos de 110

202139 7 59 1

De110 a mais 367100 8 100 18

TOTAL 239646 20 633 20

A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas

entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta

um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas

5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das

famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado

essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente

atendida em termos quantitativos

Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana

pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas

famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a

um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado

Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo

maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser

desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a

seguranccedila alimentar

4 Resumo e Conclusotildees

A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees

acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da

populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo

16

numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de

forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da

agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso

os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas

existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas

pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa

qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de

frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees

serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos

recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere

um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a

agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo

entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute

predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a

agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma

economia de subsistecircncia

As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo

com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As

informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta

de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui

existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas

Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo

cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas

caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por

meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a

alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada

nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de

17

hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e

de nutrientes para os membros das famiacutelias

Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana

eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos

que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o

aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de

renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos

O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no

entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de

creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito

poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um

amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado

por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares

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Page 7: agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no Brasil é o de Frère et al. (1999), o

6

que as mulheres estatildeo muito mais envolvidas nesta atividade e os homens tecircm mais chance

de se envolver na produccedilatildeo para o mercado nos casos em que as mulheres estatildeo muito

ocupadas com outras tarefas Nestas comunidades natildeo se pode afirmar que existe

predominacircncia de um dos sexos no trabalho da agricultura urbana ao contraacuterio do que se

pode encontrar na literatura5 onde se ressalta que a maior parte dos agricultores urbanos

satildeo mulheres

A Tabela 3 apresenta os estratos de idade das pessoas envolvidas com o trabalho na

agricultura urbana

TABELA 3 Estratos de idade das pessoas envolvidas na agricultura urbana

Estratos de idade Agricultores Urbanos Ateacute 14

anos 15 ateacute 22

anos 23 ateacute 40

anos 41 ateacute 59

anos 60 anos e

mais

Total

Nordm de pessoas 1 (175)

1 (175)

12 (21 )

31 (543)

12 (21) 57

Entre as 57 pessoas que praticam a atividade a maioria encontra-se na faixa etaacuteria

de 41 ateacute 59 anos e somadas agraves pessoas que possuem mais de 60 anos pode-se concluir

que quem pratica a agricultura urbana nestas comunidades natildeo satildeo exatamente pessoas

mais jovens mas sim aquelas com idade superior a 40 anos

Na Tabela 4 pode-se verificar o local de origem dos agricultores urbanos

pesquisados Deste total constata-se que cerca de 37 satildeo oriundos da zona rural de outras

cidades e 263 da zona rural de Santa Maria ou seja 63 do total das pessoas que

praticam agricultura urbana satildeo de origem rural Isto remete agrave questatildeo do ecircxodo rural que

conduz essas pessoas para a cidade com o objetivo de melhorar as condiccedilotildees de vida e

ainda a tradiccedilatildeo na agricultura que elas trazem como eacute detalhado no trabalho de COSTA

BEBER (1998)

TABELA 4 Local de origem das pessoas que trabalham na agricultura urbana

Local de Origem

Agricultores Urbanos

Santa Maria

(urbana)

Santa Maria (rural)

Outras cidades

(urbana)

Outras cidades (rural)

Total

5 No livro Urban Agriculture Food Jobs and Sustainable Cities (UNDP 1996) existe a informaccedilatildeo de que em muitos locais do mundo as mulheres tecircm maior participaccedilatildeo na agricultura urbana do que os homens

7

Nordm de pessoas 15 (263)

15 (263)

6 (105)

21 (368)

57 (100)

Existem aproximadamente 37 que eacute de origem urbana e pode ter outras razotildees

para a praacutetica da agricultura como a proacutepria subsistecircncia jaacute que eacute integrante de

comunidades pobres Outras razotildees dizem respeito ao lazer que a atividade pode lhes

proporcionar A esse respeito Altieri et al (1999) salientam que a agricultura urbana para

as pessoas nascidas na cidade eacute oportunidade para aprender e apreciar o processo de

cultivo Para os receacutem-migrantes da zona rural a atividade representa uma forma de utilizar

suas especialidades agriacutecolas e para alguns um refuacutegio onde eles podem trabalhar

novamente mas de forma diferente com a terra e religados agrave natureza

Na Tabela 5 estatildeo contabilizadas as ocupaccedilotildees das pessoas que trabalham na

agricultura urbana Destaca-se que do total de 57 pessoas que declararam a praacutetica da

agricultura urbana nem todas podem ser consideradas pessoas ativas pois aiacute estatildeo

incluiacutedos aposentados pensionistas e mulheres com atividades domeacutesticas6 Descontando

estas pessoas chega-se ao nuacutemero de 25 pessoas ativas que se dedicam tambeacutem agrave

agricultura urbana Estas se encontram ocupadas nos serviccedilos de construccedilatildeo civil outras em

serviccedilos domeacutesticos e ainda haacute aquelas classificadas como vendedores informais e

prestadores de serviccedilo por conta-proacutepria

TABELA 5 Grupos de ocupaccedilotildees das pessoas ativas que trabalham na agricultura urbana

Grupos de ocupaccedilatildeo Nuacutemero de pessoas Acumulada

Administraccedilatildeo puacuteblica 1

4

4

Professores e outros da educaccedilatildeo 1

4

8

Agricultor conta-proacutepria 1

4

12

Serviccedilos da construccedilatildeo civil 8

32

44

Ocupaccedilotildees agroindustriais 2

8

52

Induacutestria de transformaccedilatildeo 1

4

56

Comeacutercio natildeo-especificado 3

12

68

Motoristas 1

4

72

Serviccedilos domeacutesticos remunerados 4

16

88

6 Segundo a classificaccedilatildeo das Pesquisas Nacionais de Amostras de Domiciacutelios - PNADs anteriores a 1992 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) somente satildeo consideradas pessoas ativas ou ocupadas

aquelas com 10 anos e mais que trabalhavam 15 horas ou mais na semana de referecircncia da pesquisa Adotou-se este conceito como criteacuterio de separaccedilatildeo das pessoas ativas neste artigo Com a aplicaccedilatildeo deste conceito restaram somente 47 pessoas em relaccedilatildeo agraves 57 inicialmente apresentadas nas Tabelas 2 3 e 4 Se se levar em conta somente as que declararam praticar agricultura urbana restaratildeo apenas 25 pessoas ativas que satildeo apresentadas na Tabela 5

8

Serviccedilos pessoais natildeo-domeacutesticos 2

8

96

Outros serv Pessoais natildeo-domeacutesticos

1

4

100

TOTAL 25

100

-

Na Tabela 6 eacute apresentada a distribuiccedilatildeo das famiacutelias pesquisadas segundo os

estratos de renda per capita Se for adotada a linha da pobreza como sendo igual a R$

12000 observa-se na Tabela 6 que 211 das famiacutelias possuem rendimentos que as

classificam abaixo da linha de pobreza7 A renda meacutedia per capita eacute somente de R$ 25277

e a renda mediana per capita atinge apenas R$ 21800 Se observarmos atentamente estas

informaccedilotildees apresentadas na Tabela 6 pode-se verificar que menos de frac14 das famiacutelias

pesquisadas possuem renda que as situa abaixo da chamada linha de pobreza

TABELA 6 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias segundo os estratos de renda per capita

Estratos de Renda (em Reais)

Nuacutemero

acumulada

60 ateacute 120 8

211

211

125 ateacute 240 15

395

605

250 ateacute 370 9

237

842

39333 ateacute 45666 4

105

947

700 e mais 2

53

1000

TOTAL 38

100

-

Este curioso resultado permite levantar a hipoacutetese de que embora a pesquisa tenha

sido realizada no contexto da pobreza os praticantes da agricultura urbana natildeo apresentam

rendimentos que os classifiquem entre as famiacutelias relativamente mais pobres Uma outra

razatildeo que pode ser aventada eacute a existecircncia de aposentados e pensionistas entre os membros

das famiacutelias o que permite uma elevaccedilatildeo e estabilizaccedilatildeo das rendas

32 A praacutetica da agricultura urbana

7 O valor do salaacuterio miacutenimo nacional no periacuteodo da pesquisa era de R$ 24000 Segundo Rocha (19963) eacute consensualmente aceito que a variaacutevel de renda mais adequada para confronto com a linha de pobreza eacute a renda familiar per capita que leva em consideraccedilatildeo todos os rendimentos das pessoas do nuacutecleo familiar o nuacutemero de pessoas e o papel da famiacutelia como unidade solidaacuteria de consumo e rendimento A metodologia oficial usa como referecircncia o salaacuterio miacutenimo isto eacute frac12 do salaacuterio miacutenimo familiar per capita limite abaixo do qual se define uma famiacutelia pobre Definiccedilatildeo encontrada no site do IBGE (httpwwwibgegovbribgeteenglossariopobreza htmlgt Acesso em 01092005)

9

Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da

agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura

urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias

pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos

TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas

Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos

4

4

7

23

105

105

184

605

TOTAL 38

1000

Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas

211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que

a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria

apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e

mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a

continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica

A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela

pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos

quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores

urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a

produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados

TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana

Local Nuacutemero

Quintal de casa 30

789

Terrenos privados 8

211

TOTAL 38

1000

Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-

se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e

temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em

variedade

10

TABELA 9

Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto

Couve 842

Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131

Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que

100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total

158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam

parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou

trocam com estes o excedente da produccedilatildeo

TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

Destino Nuacutemero 38 Consumo

Comeacutercio Trocas doaccedilotildees

6 9

11

Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas

populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que

plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro

Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos

de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada

como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de

autoconsumo

A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a

agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida

TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana

Razotildees Nuacutemero

28

737

17

447

10

263

Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2

53

TOTAL 57

-

Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura

urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que

17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram

a cultivar

O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura

urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a

geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o

grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside

basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas

famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana

12

TABELA 12

Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades

Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades

3061

2858

2041

816

816

204

204

TOTAL 1000

Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos

agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio

investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos

existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser

minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8

Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres

eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda

poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos

economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada

como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este

aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos

agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia

teacutecnica diferenciada

43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar

Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana

representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13

apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o

autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado

8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo

13

declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante

economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda

familiar)

TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda

total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias

Ateacute 10 da renda total 5

1316

Mais de 10 ateacute 20 14

3684

Mais de 20 ateacute 30 9

2368

Mais de 30 10

2632

TOTAL 38

10000

Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a

20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das

famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura

urbana

Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior

a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades

baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas

satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das

exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente

nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente

A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as

principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as

despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia

aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$

40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos

destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura

internacional

14

TABELA 14

Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais

Aacutegua 111600

727

Luz 172200

1121

Transporte 102500

667

Gaacutes 116100

755

Remeacutedios 127500

83

Alimentaccedilatildeo 906000

590

TOTAL 1535900

1000

Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os

gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute

relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma

oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente

para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com

alimentaccedilatildeo

34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional

A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias

revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite

frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que

dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte

presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria

de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca

da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas

A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento

importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et

al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana

em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas

elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de

5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um

15

melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade

(MAXWELL et al 1998)

TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena

Calorias Proteiacutenas

Consumo meacutedio per capita de

calorias (kcaldia) Nuacutemero

Consumo meacutedio per capita (gdia)

Nuacutemero

Menos de 80 149701 5 31 1

De 80 ateacute menos de 110

202139 7 59 1

De110 a mais 367100 8 100 18

TOTAL 239646 20 633 20

A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas

entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta

um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas

5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das

famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado

essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente

atendida em termos quantitativos

Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana

pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas

famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a

um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado

Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo

maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser

desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a

seguranccedila alimentar

4 Resumo e Conclusotildees

A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees

acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da

populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo

16

numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de

forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da

agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso

os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas

existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas

pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa

qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de

frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees

serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos

recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere

um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a

agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo

entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute

predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a

agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma

economia de subsistecircncia

As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo

com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As

informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta

de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui

existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas

Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo

cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas

caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por

meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a

alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada

nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de

17

hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e

de nutrientes para os membros das famiacutelias

Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana

eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos

que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o

aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de

renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos

O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no

entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de

creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito

poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um

amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado

por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares

sustentaacuteveis

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Page 8: agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no Brasil é o de Frère et al. (1999), o

7

Nordm de pessoas 15 (263)

15 (263)

6 (105)

21 (368)

57 (100)

Existem aproximadamente 37 que eacute de origem urbana e pode ter outras razotildees

para a praacutetica da agricultura como a proacutepria subsistecircncia jaacute que eacute integrante de

comunidades pobres Outras razotildees dizem respeito ao lazer que a atividade pode lhes

proporcionar A esse respeito Altieri et al (1999) salientam que a agricultura urbana para

as pessoas nascidas na cidade eacute oportunidade para aprender e apreciar o processo de

cultivo Para os receacutem-migrantes da zona rural a atividade representa uma forma de utilizar

suas especialidades agriacutecolas e para alguns um refuacutegio onde eles podem trabalhar

novamente mas de forma diferente com a terra e religados agrave natureza

Na Tabela 5 estatildeo contabilizadas as ocupaccedilotildees das pessoas que trabalham na

agricultura urbana Destaca-se que do total de 57 pessoas que declararam a praacutetica da

agricultura urbana nem todas podem ser consideradas pessoas ativas pois aiacute estatildeo

incluiacutedos aposentados pensionistas e mulheres com atividades domeacutesticas6 Descontando

estas pessoas chega-se ao nuacutemero de 25 pessoas ativas que se dedicam tambeacutem agrave

agricultura urbana Estas se encontram ocupadas nos serviccedilos de construccedilatildeo civil outras em

serviccedilos domeacutesticos e ainda haacute aquelas classificadas como vendedores informais e

prestadores de serviccedilo por conta-proacutepria

TABELA 5 Grupos de ocupaccedilotildees das pessoas ativas que trabalham na agricultura urbana

Grupos de ocupaccedilatildeo Nuacutemero de pessoas Acumulada

Administraccedilatildeo puacuteblica 1

4

4

Professores e outros da educaccedilatildeo 1

4

8

Agricultor conta-proacutepria 1

4

12

Serviccedilos da construccedilatildeo civil 8

32

44

Ocupaccedilotildees agroindustriais 2

8

52

Induacutestria de transformaccedilatildeo 1

4

56

Comeacutercio natildeo-especificado 3

12

68

Motoristas 1

4

72

Serviccedilos domeacutesticos remunerados 4

16

88

6 Segundo a classificaccedilatildeo das Pesquisas Nacionais de Amostras de Domiciacutelios - PNADs anteriores a 1992 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) somente satildeo consideradas pessoas ativas ou ocupadas

aquelas com 10 anos e mais que trabalhavam 15 horas ou mais na semana de referecircncia da pesquisa Adotou-se este conceito como criteacuterio de separaccedilatildeo das pessoas ativas neste artigo Com a aplicaccedilatildeo deste conceito restaram somente 47 pessoas em relaccedilatildeo agraves 57 inicialmente apresentadas nas Tabelas 2 3 e 4 Se se levar em conta somente as que declararam praticar agricultura urbana restaratildeo apenas 25 pessoas ativas que satildeo apresentadas na Tabela 5

8

Serviccedilos pessoais natildeo-domeacutesticos 2

8

96

Outros serv Pessoais natildeo-domeacutesticos

1

4

100

TOTAL 25

100

-

Na Tabela 6 eacute apresentada a distribuiccedilatildeo das famiacutelias pesquisadas segundo os

estratos de renda per capita Se for adotada a linha da pobreza como sendo igual a R$

12000 observa-se na Tabela 6 que 211 das famiacutelias possuem rendimentos que as

classificam abaixo da linha de pobreza7 A renda meacutedia per capita eacute somente de R$ 25277

e a renda mediana per capita atinge apenas R$ 21800 Se observarmos atentamente estas

informaccedilotildees apresentadas na Tabela 6 pode-se verificar que menos de frac14 das famiacutelias

pesquisadas possuem renda que as situa abaixo da chamada linha de pobreza

TABELA 6 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias segundo os estratos de renda per capita

Estratos de Renda (em Reais)

Nuacutemero

acumulada

60 ateacute 120 8

211

211

125 ateacute 240 15

395

605

250 ateacute 370 9

237

842

39333 ateacute 45666 4

105

947

700 e mais 2

53

1000

TOTAL 38

100

-

Este curioso resultado permite levantar a hipoacutetese de que embora a pesquisa tenha

sido realizada no contexto da pobreza os praticantes da agricultura urbana natildeo apresentam

rendimentos que os classifiquem entre as famiacutelias relativamente mais pobres Uma outra

razatildeo que pode ser aventada eacute a existecircncia de aposentados e pensionistas entre os membros

das famiacutelias o que permite uma elevaccedilatildeo e estabilizaccedilatildeo das rendas

32 A praacutetica da agricultura urbana

7 O valor do salaacuterio miacutenimo nacional no periacuteodo da pesquisa era de R$ 24000 Segundo Rocha (19963) eacute consensualmente aceito que a variaacutevel de renda mais adequada para confronto com a linha de pobreza eacute a renda familiar per capita que leva em consideraccedilatildeo todos os rendimentos das pessoas do nuacutecleo familiar o nuacutemero de pessoas e o papel da famiacutelia como unidade solidaacuteria de consumo e rendimento A metodologia oficial usa como referecircncia o salaacuterio miacutenimo isto eacute frac12 do salaacuterio miacutenimo familiar per capita limite abaixo do qual se define uma famiacutelia pobre Definiccedilatildeo encontrada no site do IBGE (httpwwwibgegovbribgeteenglossariopobreza htmlgt Acesso em 01092005)

9

Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da

agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura

urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias

pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos

TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas

Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos

4

4

7

23

105

105

184

605

TOTAL 38

1000

Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas

211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que

a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria

apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e

mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a

continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica

A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela

pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos

quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores

urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a

produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados

TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana

Local Nuacutemero

Quintal de casa 30

789

Terrenos privados 8

211

TOTAL 38

1000

Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-

se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e

temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em

variedade

10

TABELA 9

Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto

Couve 842

Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131

Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que

100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total

158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam

parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou

trocam com estes o excedente da produccedilatildeo

TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

Destino Nuacutemero 38 Consumo

Comeacutercio Trocas doaccedilotildees

6 9

11

Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas

populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que

plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro

Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos

de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada

como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de

autoconsumo

A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a

agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida

TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana

Razotildees Nuacutemero

28

737

17

447

10

263

Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2

53

TOTAL 57

-

Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura

urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que

17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram

a cultivar

O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura

urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a

geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o

grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside

basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas

famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana

12

TABELA 12

Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades

Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades

3061

2858

2041

816

816

204

204

TOTAL 1000

Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos

agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio

investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos

existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser

minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8

Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres

eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda

poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos

economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada

como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este

aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos

agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia

teacutecnica diferenciada

43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar

Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana

representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13

apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o

autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado

8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo

13

declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante

economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda

familiar)

TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda

total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias

Ateacute 10 da renda total 5

1316

Mais de 10 ateacute 20 14

3684

Mais de 20 ateacute 30 9

2368

Mais de 30 10

2632

TOTAL 38

10000

Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a

20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das

famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura

urbana

Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior

a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades

baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas

satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das

exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente

nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente

A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as

principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as

despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia

aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$

40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos

destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura

internacional

14

TABELA 14

Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais

Aacutegua 111600

727

Luz 172200

1121

Transporte 102500

667

Gaacutes 116100

755

Remeacutedios 127500

83

Alimentaccedilatildeo 906000

590

TOTAL 1535900

1000

Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os

gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute

relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma

oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente

para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com

alimentaccedilatildeo

34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional

A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias

revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite

frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que

dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte

presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria

de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca

da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas

A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento

importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et

al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana

em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas

elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de

5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um

15

melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade

(MAXWELL et al 1998)

TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena

Calorias Proteiacutenas

Consumo meacutedio per capita de

calorias (kcaldia) Nuacutemero

Consumo meacutedio per capita (gdia)

Nuacutemero

Menos de 80 149701 5 31 1

De 80 ateacute menos de 110

202139 7 59 1

De110 a mais 367100 8 100 18

TOTAL 239646 20 633 20

A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas

entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta

um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas

5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das

famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado

essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente

atendida em termos quantitativos

Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana

pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas

famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a

um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado

Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo

maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser

desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a

seguranccedila alimentar

4 Resumo e Conclusotildees

A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees

acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da

populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo

16

numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de

forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da

agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso

os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas

existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas

pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa

qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de

frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees

serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos

recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere

um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a

agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo

entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute

predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a

agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma

economia de subsistecircncia

As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo

com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As

informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta

de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui

existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas

Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo

cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas

caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por

meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a

alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada

nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de

17

hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e

de nutrientes para os membros das famiacutelias

Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana

eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos

que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o

aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de

renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos

O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no

entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de

creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito

poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um

amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado

por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares

sustentaacuteveis

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Page 9: agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no Brasil é o de Frère et al. (1999), o

8

Serviccedilos pessoais natildeo-domeacutesticos 2

8

96

Outros serv Pessoais natildeo-domeacutesticos

1

4

100

TOTAL 25

100

-

Na Tabela 6 eacute apresentada a distribuiccedilatildeo das famiacutelias pesquisadas segundo os

estratos de renda per capita Se for adotada a linha da pobreza como sendo igual a R$

12000 observa-se na Tabela 6 que 211 das famiacutelias possuem rendimentos que as

classificam abaixo da linha de pobreza7 A renda meacutedia per capita eacute somente de R$ 25277

e a renda mediana per capita atinge apenas R$ 21800 Se observarmos atentamente estas

informaccedilotildees apresentadas na Tabela 6 pode-se verificar que menos de frac14 das famiacutelias

pesquisadas possuem renda que as situa abaixo da chamada linha de pobreza

TABELA 6 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias segundo os estratos de renda per capita

Estratos de Renda (em Reais)

Nuacutemero

acumulada

60 ateacute 120 8

211

211

125 ateacute 240 15

395

605

250 ateacute 370 9

237

842

39333 ateacute 45666 4

105

947

700 e mais 2

53

1000

TOTAL 38

100

-

Este curioso resultado permite levantar a hipoacutetese de que embora a pesquisa tenha

sido realizada no contexto da pobreza os praticantes da agricultura urbana natildeo apresentam

rendimentos que os classifiquem entre as famiacutelias relativamente mais pobres Uma outra

razatildeo que pode ser aventada eacute a existecircncia de aposentados e pensionistas entre os membros

das famiacutelias o que permite uma elevaccedilatildeo e estabilizaccedilatildeo das rendas

32 A praacutetica da agricultura urbana

7 O valor do salaacuterio miacutenimo nacional no periacuteodo da pesquisa era de R$ 24000 Segundo Rocha (19963) eacute consensualmente aceito que a variaacutevel de renda mais adequada para confronto com a linha de pobreza eacute a renda familiar per capita que leva em consideraccedilatildeo todos os rendimentos das pessoas do nuacutecleo familiar o nuacutemero de pessoas e o papel da famiacutelia como unidade solidaacuteria de consumo e rendimento A metodologia oficial usa como referecircncia o salaacuterio miacutenimo isto eacute frac12 do salaacuterio miacutenimo familiar per capita limite abaixo do qual se define uma famiacutelia pobre Definiccedilatildeo encontrada no site do IBGE (httpwwwibgegovbribgeteenglossariopobreza htmlgt Acesso em 01092005)

9

Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da

agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura

urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias

pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos

TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas

Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos

4

4

7

23

105

105

184

605

TOTAL 38

1000

Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas

211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que

a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria

apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e

mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a

continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica

A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela

pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos

quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores

urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a

produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados

TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana

Local Nuacutemero

Quintal de casa 30

789

Terrenos privados 8

211

TOTAL 38

1000

Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-

se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e

temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em

variedade

10

TABELA 9

Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto

Couve 842

Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131

Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que

100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total

158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam

parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou

trocam com estes o excedente da produccedilatildeo

TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

Destino Nuacutemero 38 Consumo

Comeacutercio Trocas doaccedilotildees

6 9

11

Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas

populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que

plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro

Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos

de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada

como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de

autoconsumo

A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a

agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida

TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana

Razotildees Nuacutemero

28

737

17

447

10

263

Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2

53

TOTAL 57

-

Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura

urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que

17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram

a cultivar

O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura

urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a

geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o

grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside

basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas

famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana

12

TABELA 12

Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades

Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades

3061

2858

2041

816

816

204

204

TOTAL 1000

Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos

agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio

investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos

existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser

minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8

Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres

eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda

poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos

economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada

como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este

aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos

agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia

teacutecnica diferenciada

43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar

Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana

representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13

apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o

autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado

8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo

13

declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante

economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda

familiar)

TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda

total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias

Ateacute 10 da renda total 5

1316

Mais de 10 ateacute 20 14

3684

Mais de 20 ateacute 30 9

2368

Mais de 30 10

2632

TOTAL 38

10000

Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a

20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das

famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura

urbana

Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior

a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades

baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas

satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das

exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente

nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente

A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as

principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as

despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia

aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$

40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos

destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura

internacional

14

TABELA 14

Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais

Aacutegua 111600

727

Luz 172200

1121

Transporte 102500

667

Gaacutes 116100

755

Remeacutedios 127500

83

Alimentaccedilatildeo 906000

590

TOTAL 1535900

1000

Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os

gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute

relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma

oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente

para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com

alimentaccedilatildeo

34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional

A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias

revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite

frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que

dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte

presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria

de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca

da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas

A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento

importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et

al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana

em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas

elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de

5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um

15

melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade

(MAXWELL et al 1998)

TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena

Calorias Proteiacutenas

Consumo meacutedio per capita de

calorias (kcaldia) Nuacutemero

Consumo meacutedio per capita (gdia)

Nuacutemero

Menos de 80 149701 5 31 1

De 80 ateacute menos de 110

202139 7 59 1

De110 a mais 367100 8 100 18

TOTAL 239646 20 633 20

A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas

entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta

um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas

5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das

famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado

essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente

atendida em termos quantitativos

Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana

pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas

famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a

um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado

Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo

maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser

desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a

seguranccedila alimentar

4 Resumo e Conclusotildees

A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees

acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da

populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo

16

numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de

forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da

agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso

os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas

existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas

pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa

qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de

frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees

serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos

recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere

um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a

agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo

entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute

predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a

agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma

economia de subsistecircncia

As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo

com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As

informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta

de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui

existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas

Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo

cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas

caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por

meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a

alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada

nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de

17

hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e

de nutrientes para os membros das famiacutelias

Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana

eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos

que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o

aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de

renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos

O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no

entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de

creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito

poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um

amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado

por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares

sustentaacuteveis

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Page 10: agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no Brasil é o de Frère et al. (1999), o

9

Na Tabela 7 satildeo apresentados os resultados relativos ao tempo de praacutetica da

agricultura urbana pelas famiacutelias Por meio das informaccedilotildees verificou-se que a agricultura

urbana eacute na maioria dos casos uma atividade relativamente tradicional entre as famiacutelias

pois eacute praticada haacute mais de 5 anos em mais de 60 dos casos

TABELA 7 Tempo de praacutetica da agricultura urbana segundo as famiacutelias pesquisadas

Tempo (anos) Nuacutemero Menos de 1 ano Entre 1 e 2 anos Entre 2 e 5 anos Mais de 5 anos

4

4

7

23

105

105

184

605

TOTAL 38

1000

Considerando as produccedilotildees mais recentes entre menos de 1 ano ateacute 2 anos apenas

211 das famiacutelias aparece nesta situaccedilatildeo Com base nestes resultados pode-se inferir que

a agricultura urbana parece natildeo se constituir em uma praacutetica transitoacuteria Ela natildeo se derivaria

apenas da crise econocircmica mas se constituiria em uma praacutetica permanente das famiacutelias e

mereceria ser estimulada pelos oacutergatildeos puacuteblicos Contudo haacute necessidade de se manter a

continuidade das pesquisas para poder (ou natildeo) fazer a afirmaccedilatildeo de forma categoacuterica

A Tabela 8 apresenta os locais onde os agricultores desenvolvem a atividade Nela

pode-se verificar que a caracteriacutestica da agricultura urbana praticada eacute aquela das hortas nos

quintais das casas ou em alguns casos terrenos proacuteximos jaacute que 789 dos agricultores

urbanos utilizam seus quintais como espaccedilo para produccedilatildeo Em 211 dos casos a

produccedilatildeo ocorre em terrenos privados sendo estes dos proacuteprios entrevistados

TABELA 8 Locais de produccedilatildeo da agricultura urbana

Local Nuacutemero

Quintal de casa 30

789

Terrenos privados 8

211

TOTAL 38

1000

Os principais produtos encontrados na pesquisa estatildeo descritos na Tabela 9 Pode-

se observar que existe ampla variedade sendo incluiacutedos nos cultivos desde hortaliccedilas e

temperos legumes frutas e gratildeos As hortaliccedilas aparecem em maior quantidade e em

variedade

10

TABELA 9

Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto

Couve 842

Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131

Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que

100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total

158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam

parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou

trocam com estes o excedente da produccedilatildeo

TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

Destino Nuacutemero 38 Consumo

Comeacutercio Trocas doaccedilotildees

6 9

11

Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas

populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que

plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro

Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos

de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada

como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de

autoconsumo

A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a

agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida

TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana

Razotildees Nuacutemero

28

737

17

447

10

263

Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2

53

TOTAL 57

-

Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura

urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que

17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram

a cultivar

O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura

urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a

geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o

grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside

basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas

famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana

12

TABELA 12

Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades

Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades

3061

2858

2041

816

816

204

204

TOTAL 1000

Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos

agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio

investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos

existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser

minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8

Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres

eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda

poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos

economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada

como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este

aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos

agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia

teacutecnica diferenciada

43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar

Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana

representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13

apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o

autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado

8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo

13

declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante

economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda

familiar)

TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda

total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias

Ateacute 10 da renda total 5

1316

Mais de 10 ateacute 20 14

3684

Mais de 20 ateacute 30 9

2368

Mais de 30 10

2632

TOTAL 38

10000

Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a

20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das

famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura

urbana

Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior

a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades

baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas

satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das

exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente

nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente

A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as

principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as

despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia

aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$

40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos

destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura

internacional

14

TABELA 14

Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais

Aacutegua 111600

727

Luz 172200

1121

Transporte 102500

667

Gaacutes 116100

755

Remeacutedios 127500

83

Alimentaccedilatildeo 906000

590

TOTAL 1535900

1000

Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os

gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute

relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma

oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente

para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com

alimentaccedilatildeo

34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional

A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias

revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite

frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que

dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte

presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria

de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca

da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas

A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento

importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et

al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana

em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas

elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de

5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um

15

melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade

(MAXWELL et al 1998)

TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena

Calorias Proteiacutenas

Consumo meacutedio per capita de

calorias (kcaldia) Nuacutemero

Consumo meacutedio per capita (gdia)

Nuacutemero

Menos de 80 149701 5 31 1

De 80 ateacute menos de 110

202139 7 59 1

De110 a mais 367100 8 100 18

TOTAL 239646 20 633 20

A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas

entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta

um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas

5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das

famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado

essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente

atendida em termos quantitativos

Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana

pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas

famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a

um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado

Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo

maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser

desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a

seguranccedila alimentar

4 Resumo e Conclusotildees

A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees

acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da

populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo

16

numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de

forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da

agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso

os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas

existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas

pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa

qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de

frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees

serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos

recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere

um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a

agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo

entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute

predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a

agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma

economia de subsistecircncia

As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo

com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As

informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta

de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui

existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas

Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo

cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas

caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por

meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a

alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada

nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de

17

hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e

de nutrientes para os membros das famiacutelias

Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana

eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos

que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o

aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de

renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos

O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no

entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de

creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito

poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um

amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado

por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares

sustentaacuteveis

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Page 11: agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no Brasil é o de Frère et al. (1999), o

10

TABELA 9

Principais alimentos produzidos pelos agricultores urbanos Produto

Couve 842

Alface 658 Radiche 632 Feijatildeo 579 Salsa 526 Cebolinha 526 Ruacutecula 447 Milho 420 Beterraba 395 Tomate 368 Laranja 368 Bergamota 316 Mamatildeo 289 Aboacutebora 263 Pimentatildeo 237 Goiaba 237 Limatildeo 237 Cenoura 210 Mandioca 210 Maracujaacute 131

Os destinos dados para os produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

estatildeo apresentados na Tabela 10 Como a questatildeo admitia mais de uma resposta tem-se que

100 das famiacutelias de agricultores consomem os alimentos que produzem Deste total

158 das famiacutelias tambeacutem declararam que aleacutem de consumir tambeacutem comercializam

parte de sua produccedilatildeo e ainda 237 consomem e doam normalmente a vizinhos ou

trocam com estes o excedente da produccedilatildeo

TABELA 10 Destino dos produtos obtidos pelas famiacutelias de agricultores urbanos

Destino Nuacutemero 38 Consumo

Comeacutercio Trocas doaccedilotildees

6 9

11

Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas

populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que

plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro

Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos

de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada

como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de

autoconsumo

A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a

agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida

TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana

Razotildees Nuacutemero

28

737

17

447

10

263

Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2

53

TOTAL 57

-

Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura

urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que

17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram

a cultivar

O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura

urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a

geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o

grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside

basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas

famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana

12

TABELA 12

Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades

Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades

3061

2858

2041

816

816

204

204

TOTAL 1000

Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos

agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio

investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos

existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser

minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8

Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres

eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda

poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos

economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada

como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este

aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos

agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia

teacutecnica diferenciada

43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar

Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana

representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13

apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o

autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado

8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo

13

declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante

economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda

familiar)

TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda

total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias

Ateacute 10 da renda total 5

1316

Mais de 10 ateacute 20 14

3684

Mais de 20 ateacute 30 9

2368

Mais de 30 10

2632

TOTAL 38

10000

Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a

20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das

famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura

urbana

Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior

a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades

baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas

satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das

exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente

nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente

A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as

principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as

despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia

aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$

40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos

destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura

internacional

14

TABELA 14

Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais

Aacutegua 111600

727

Luz 172200

1121

Transporte 102500

667

Gaacutes 116100

755

Remeacutedios 127500

83

Alimentaccedilatildeo 906000

590

TOTAL 1535900

1000

Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os

gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute

relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma

oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente

para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com

alimentaccedilatildeo

34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional

A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias

revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite

frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que

dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte

presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria

de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca

da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas

A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento

importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et

al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana

em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas

elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de

5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um

15

melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade

(MAXWELL et al 1998)

TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena

Calorias Proteiacutenas

Consumo meacutedio per capita de

calorias (kcaldia) Nuacutemero

Consumo meacutedio per capita (gdia)

Nuacutemero

Menos de 80 149701 5 31 1

De 80 ateacute menos de 110

202139 7 59 1

De110 a mais 367100 8 100 18

TOTAL 239646 20 633 20

A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas

entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta

um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas

5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das

famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado

essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente

atendida em termos quantitativos

Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana

pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas

famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a

um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado

Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo

maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser

desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a

seguranccedila alimentar

4 Resumo e Conclusotildees

A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees

acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da

populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo

16

numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de

forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da

agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso

os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas

existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas

pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa

qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de

frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees

serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos

recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere

um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a

agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo

entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute

predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a

agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma

economia de subsistecircncia

As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo

com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As

informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta

de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui

existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas

Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo

cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas

caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por

meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a

alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada

nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de

17

hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e

de nutrientes para os membros das famiacutelias

Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana

eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos

que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o

aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de

renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos

O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no

entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de

creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito

poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um

amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado

por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares

sustentaacuteveis

Referecircncias Bibliograacuteficas

AVILLA C J amp VEENHUISEN R Aspectos econocircmicos da agricultura urbana

Editorial In La Revista Agricultura Urbana Vol 7 agosto de 2002 Disponiacutevel em lt

httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 05 de janeiro de 2004

BLANCHEMANCHE S MARIE C L MOURIAUX F PESKINE E

Multifonctionnaliteacute de l agriculture et status d activiteacute Economie Rurale Paris-France n

260 p 41-51 novembre deacutecembre 2000

CAMARANO A A amp ABRAMOVAY R Ecircxodo rural envelhecimento e

masculinizaccedilatildeo no Brasil panorama dos uacuteltimos 50 anos Rio de Janeiro IPEA 1999

23p Texto para discussatildeo n621

COAG Comitecirc de Agricultura La Agricultura Urbana y Periurbana Organizacioacuten de las

Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentacioacuten

FAO Roma 25-29 de janeiro de

1999 60p

18

COSTA BEBER C Santa Maria 200 anos Histoacuteria da economia do municiacutepio Ediccedilatildeo

Comemorativa do Centenaacuterio da CACISM Santa Maria Cacism 1998 315p

DRAKAKIS-SMITH D BOWYER-BOWER T TEVERAD Urban poverty and urban

agriculture an overview of the linkages in Harare Habitat International Great Britain v

19 n 2 p 183-193 1995

FAO Select issues Urban Agriculture an oxymoron In The state of food and

agriculture Rome FAO199629p

FLEURY A amp DONADIEU P De l agriculture peacuteri-urbaine agrave l agriculture urbaine Le

Revue Courrier de l environnement Paris France n 31 aoucirct 1997 Disponiacutevel em lt

httpwwwinrafrdpenvfleure31htmgt Acesso em 06 de dezembro de 2003

FREgraveRE N LUDOVICO R M R MARTINS P F da SILVA Agricultura Urbana em

Beleacutem

Paraacute In CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA

RURAL 37 Anais Foz do Iguaccedilu PR SOBER 1999 p 1-10

GALEAZZI M A M BONVINO H LOURENCcedilO FAVIANNA R Inqueacuterito de

Consumo Familiar de Alimentos - Metodologia para Identificaccedilatildeo de Famiacutelias de Risco

Alimentar Cadernos de Debate Campinas vol IV p32-46 1996

IBGE Censo Demograacutefico 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwibgeorgbrgt Acesso em 4

de janeiro de 2004

MAXWELL D LEVIN C CSETE J Does urban agriculture help prevent malnutrition

Evidence from Kampala Food Police Great Britain vol23 n5 p 411-424 1998

NUGENT R Agricultura urbana e periurbana Seguranccedila alimentar e nutriccedilatildeo

Texto inicial para discussatildeo na conferecircncia eletrocircnica promovida pela FAO ETC RUAF

21 de agosto-30 de setembro de 2000 7p

ORGANIZACIOacuteN MUNDIAL DE LA SALUD Necesidades de energiacutea y de proteiacutenas

Genebra FAOOMSONU 1985 220p (Seacuterie de Informes Teacutecnicos n 724)

19

PHILIPPI S T SZARFARC S C LATTERZA A R Virtual Nutri [programa de

computador] Versatildeo 10 for windows Satildeo Paulo Departamento de Nutriccedilatildeo da

Faculdade de Sauacutede Puacuteblica da Universidade de Satildeo Paulo (USP) 1996

PROJETO INSTITUCIONAL DE EXTENSAtildeO NUacuteCLEO DA UFSM EM APOIO Agrave

REDE DE SOLIDARIEDADE Universidade Federal de Santa Maria Proacute- Reitoria de

Extensatildeo Santa Maria Abril de 2003

PEREIRA M T Agricultura urbana e periurbana Revista Qualidade de Vida Satildeo Paulo

Ano 2 n11 p01-04 Abril de 2000

ROCHA S Renda e pobreza os impactos do Plano Real Rio de Janeiro IPEA Texto

para Discussatildeo n 439 1996

SACHS I Inclusatildeo social pelo trabalho decente oportunidades obstaacuteculos poliacuteticas

puacuteblicas Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v18 n51 p23-49 2004

UNDP (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME) Urban Agriculture

Food Jobs and Sustainable Cities Publication Series for Habitat II Volume One New

York 1996 300 p

YUNUS M O Banqueiro dos Pobres Editora Aacutetica 2000 343p

ZALUAR A A maacutequina e a revolta as organizaccedilotildees populares e o significado da

pobreza Satildeo Paulo Editora Brasiliense 2 Ed 1994 265 p

ZEEUW H de GUNDEL S WAIBEL H La integracioacuten de la Agricultura en las

poliacuteticas urbanas La Revista Agricultura Urbana Vol 1 julho de 2000 Disponiacutevel

emlt httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 21 de outubro de 2003

This document was created with Win2PDF available at httpwwwdaneprairiecomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only

Page 12: agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no Brasil é o de Frère et al. (1999), o

11

Na Tabela 10 eacute visiacutevel que a principal contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para essas

populaccedilotildees eacute a nutricional na medida em que complementam sua alimentaccedilatildeo com o que

plantam e apenas em alguns casos comercializam os produtos visando ao lucro

Tomando como referecircncia a descriccedilatildeo de Sachs (2004) o qual identifica os modos

de produccedilatildeo na economia e seus circuitos a agricultura urbana poderia ser classificada

como modo de produccedilatildeo fora do mercado pelas suas caracteriacutesticas domeacutesticas e de

autoconsumo

A Tabela 11 traz as razotildees citadas pelos agricultores urbanos para praticarem a

agricultura urbana Nesta questatildeo mais de uma alternativa podia ser escolhida

TABELA 11 Principais razotildees citadas para a praacutetica da agricultura urbana

Razotildees Nuacutemero

28

737

17

447

10

263

Para consumo e subsistecircncia Jaacute possuem tradiccedilatildeo com agricultura Praticam por lazer Para aumentar a renda da famiacutelia 2

53

TOTAL 57

-

Entre as principais razotildees declaradas 28 delas referiram-se agrave praacutetica da agricultura

urbana para consumir os produtos e auxiliar na subsistecircncia Tambeacutem pode-se verificar que

17 famiacutelias responderam que jaacute possuiacuteam tradiccedilatildeo com a agricultura e por isso continuaram

a cultivar

O trabalho de Nugent (2000) mostra que as razotildees que datildeo origem agrave agricultura

urbana satildeo variadas mas encontram-se entre estas principalmente a subsistecircncia e a

geraccedilatildeo de renda dependendo das condiccedilotildees de vida existentes nas vaacuterias cidades Para o

grupo de menor renda pesquisado fica claro que a importacircncia dos cultivos reside

basicamente no aspecto relativo agrave alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A Tabela 12 traz as informaccedilotildees acerca das principais dificuldades enfrentadas pelas

famiacutelias pesquisadas na praacutetica da agricultura urbana

12

TABELA 12

Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades

Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades

3061

2858

2041

816

816

204

204

TOTAL 1000

Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos

agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio

investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos

existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser

minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8

Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres

eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda

poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos

economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada

como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este

aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos

agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia

teacutecnica diferenciada

43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar

Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana

representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13

apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o

autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado

8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo

13

declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante

economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda

familiar)

TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda

total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias

Ateacute 10 da renda total 5

1316

Mais de 10 ateacute 20 14

3684

Mais de 20 ateacute 30 9

2368

Mais de 30 10

2632

TOTAL 38

10000

Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a

20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das

famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura

urbana

Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior

a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades

baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas

satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das

exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente

nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente

A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as

principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as

despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia

aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$

40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos

destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura

internacional

14

TABELA 14

Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais

Aacutegua 111600

727

Luz 172200

1121

Transporte 102500

667

Gaacutes 116100

755

Remeacutedios 127500

83

Alimentaccedilatildeo 906000

590

TOTAL 1535900

1000

Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os

gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute

relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma

oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente

para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com

alimentaccedilatildeo

34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional

A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias

revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite

frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que

dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte

presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria

de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca

da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas

A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento

importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et

al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana

em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas

elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de

5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um

15

melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade

(MAXWELL et al 1998)

TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena

Calorias Proteiacutenas

Consumo meacutedio per capita de

calorias (kcaldia) Nuacutemero

Consumo meacutedio per capita (gdia)

Nuacutemero

Menos de 80 149701 5 31 1

De 80 ateacute menos de 110

202139 7 59 1

De110 a mais 367100 8 100 18

TOTAL 239646 20 633 20

A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas

entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta

um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas

5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das

famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado

essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente

atendida em termos quantitativos

Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana

pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas

famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a

um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado

Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo

maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser

desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a

seguranccedila alimentar

4 Resumo e Conclusotildees

A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees

acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da

populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo

16

numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de

forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da

agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso

os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas

existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas

pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa

qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de

frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees

serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos

recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere

um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a

agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo

entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute

predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a

agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma

economia de subsistecircncia

As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo

com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As

informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta

de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui

existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas

Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo

cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas

caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por

meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a

alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada

nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de

17

hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e

de nutrientes para os membros das famiacutelias

Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana

eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos

que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o

aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de

renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos

O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no

entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de

creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito

poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um

amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado

por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares

sustentaacuteveis

Referecircncias Bibliograacuteficas

AVILLA C J amp VEENHUISEN R Aspectos econocircmicos da agricultura urbana

Editorial In La Revista Agricultura Urbana Vol 7 agosto de 2002 Disponiacutevel em lt

httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 05 de janeiro de 2004

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Multifonctionnaliteacute de l agriculture et status d activiteacute Economie Rurale Paris-France n

260 p 41-51 novembre deacutecembre 2000

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masculinizaccedilatildeo no Brasil panorama dos uacuteltimos 50 anos Rio de Janeiro IPEA 1999

23p Texto para discussatildeo n621

COAG Comitecirc de Agricultura La Agricultura Urbana y Periurbana Organizacioacuten de las

Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentacioacuten

FAO Roma 25-29 de janeiro de

1999 60p

18

COSTA BEBER C Santa Maria 200 anos Histoacuteria da economia do municiacutepio Ediccedilatildeo

Comemorativa do Centenaacuterio da CACISM Santa Maria Cacism 1998 315p

DRAKAKIS-SMITH D BOWYER-BOWER T TEVERAD Urban poverty and urban

agriculture an overview of the linkages in Harare Habitat International Great Britain v

19 n 2 p 183-193 1995

FAO Select issues Urban Agriculture an oxymoron In The state of food and

agriculture Rome FAO199629p

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Revue Courrier de l environnement Paris France n 31 aoucirct 1997 Disponiacutevel em lt

httpwwwinrafrdpenvfleure31htmgt Acesso em 06 de dezembro de 2003

FREgraveRE N LUDOVICO R M R MARTINS P F da SILVA Agricultura Urbana em

Beleacutem

Paraacute In CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA

RURAL 37 Anais Foz do Iguaccedilu PR SOBER 1999 p 1-10

GALEAZZI M A M BONVINO H LOURENCcedilO FAVIANNA R Inqueacuterito de

Consumo Familiar de Alimentos - Metodologia para Identificaccedilatildeo de Famiacutelias de Risco

Alimentar Cadernos de Debate Campinas vol IV p32-46 1996

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de janeiro de 2004

MAXWELL D LEVIN C CSETE J Does urban agriculture help prevent malnutrition

Evidence from Kampala Food Police Great Britain vol23 n5 p 411-424 1998

NUGENT R Agricultura urbana e periurbana Seguranccedila alimentar e nutriccedilatildeo

Texto inicial para discussatildeo na conferecircncia eletrocircnica promovida pela FAO ETC RUAF

21 de agosto-30 de setembro de 2000 7p

ORGANIZACIOacuteN MUNDIAL DE LA SALUD Necesidades de energiacutea y de proteiacutenas

Genebra FAOOMSONU 1985 220p (Seacuterie de Informes Teacutecnicos n 724)

19

PHILIPPI S T SZARFARC S C LATTERZA A R Virtual Nutri [programa de

computador] Versatildeo 10 for windows Satildeo Paulo Departamento de Nutriccedilatildeo da

Faculdade de Sauacutede Puacuteblica da Universidade de Satildeo Paulo (USP) 1996

PROJETO INSTITUCIONAL DE EXTENSAtildeO NUacuteCLEO DA UFSM EM APOIO Agrave

REDE DE SOLIDARIEDADE Universidade Federal de Santa Maria Proacute- Reitoria de

Extensatildeo Santa Maria Abril de 2003

PEREIRA M T Agricultura urbana e periurbana Revista Qualidade de Vida Satildeo Paulo

Ano 2 n11 p01-04 Abril de 2000

ROCHA S Renda e pobreza os impactos do Plano Real Rio de Janeiro IPEA Texto

para Discussatildeo n 439 1996

SACHS I Inclusatildeo social pelo trabalho decente oportunidades obstaacuteculos poliacuteticas

puacuteblicas Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v18 n51 p23-49 2004

UNDP (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME) Urban Agriculture

Food Jobs and Sustainable Cities Publication Series for Habitat II Volume One New

York 1996 300 p

YUNUS M O Banqueiro dos Pobres Editora Aacutetica 2000 343p

ZALUAR A A maacutequina e a revolta as organizaccedilotildees populares e o significado da

pobreza Satildeo Paulo Editora Brasiliense 2 Ed 1994 265 p

ZEEUW H de GUNDEL S WAIBEL H La integracioacuten de la Agricultura en las

poliacuteticas urbanas La Revista Agricultura Urbana Vol 1 julho de 2000 Disponiacutevel

emlt httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 21 de outubro de 2003

This document was created with Win2PDF available at httpwwwdaneprairiecomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only

Page 13: agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no Brasil é o de Frère et al. (1999), o

12

TABELA 12

Principais dificuldades citadas na praacutetica da agricultura urbana Dificuldades

Falta de dinheiro Falta de espaccedilo Falta de conhecimento teacutecnico Falta de matildeo-de-obra Falta de aacutegua Falta de tempo Natildeo tem dificuldades

3061

2858

2041

816

816

204

204

TOTAL 1000

Nela pode-se constatar que uma das principais dificuldades citadas pelos

agricultores urbanos eacute a falta de dinheiro jaacute que as famiacutelias alegam que eacute necessaacuterio

investir na atividade para aproveitar ao maacuteximo e da melhor forma possiacutevel os espaccedilos

existentes A escassez de dinheiro para investir na agricultura urbana poderia ser

minimizada com a possibilidade de acesso dessas famiacutelias ao microcreacutedito8

Para Yunus (2000) o principal entrave ao sistema cujo alvo seriam famiacutelias pobres

eacute a falta de acesso a uma poupanccedila e a um mecanismo de seguro No entanto ele ainda

poderia ser um caminho viaacutevel para a inclusatildeo social de alguns grupos menos favorecidos

economicamente Da mesma forma a falta de maiores espaccedilos para o cultivo eacute colocada

como um empecilho e finalmente a falta de conhecimento teacutecnico Em relaccedilatildeo a este

aspecto caberia aos serviccedilos de extensatildeo fornecer as orientaccedilotildees mais adequadas aos

agricultores respeitando seus espaccedilos e condiccedilotildees financeiras ou seja uma assistecircncia

teacutecnica diferenciada

43 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana na renda familiar

Na questatildeo monetaacuteria o consumo de alimentos oriundos da agricultura urbana

representa uma importante economia de rendimentos para as famiacutelias A Tabela 13

apresenta a distribuiccedilatildeo das famiacutelias em estratos de percentuais de economia obtida com o

autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda total Estas informaccedilotildees foram calculadas a partir do dado

8 Yunus (2000) conceitua o microcreacutedito como um bom instrumento de intervenccedilatildeo financeira de forma que famiacutelias pobres criam laccedilos sociais informais substituindo o banqueiro As cadeias de microcreacutedito citadas pelo autor baseiam-se em responsabilidades onde o natildeo pagamento implica consequumlecircncias morais dentro da comunidade e na agecircncia de empreacutestimo

13

declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante

economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda

familiar)

TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda

total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias

Ateacute 10 da renda total 5

1316

Mais de 10 ateacute 20 14

3684

Mais de 20 ateacute 30 9

2368

Mais de 30 10

2632

TOTAL 38

10000

Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a

20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das

famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura

urbana

Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior

a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades

baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas

satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das

exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente

nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente

A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as

principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as

despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia

aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$

40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos

destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura

internacional

14

TABELA 14

Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais

Aacutegua 111600

727

Luz 172200

1121

Transporte 102500

667

Gaacutes 116100

755

Remeacutedios 127500

83

Alimentaccedilatildeo 906000

590

TOTAL 1535900

1000

Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os

gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute

relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma

oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente

para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com

alimentaccedilatildeo

34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional

A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias

revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite

frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que

dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte

presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria

de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca

da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas

A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento

importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et

al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana

em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas

elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de

5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um

15

melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade

(MAXWELL et al 1998)

TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena

Calorias Proteiacutenas

Consumo meacutedio per capita de

calorias (kcaldia) Nuacutemero

Consumo meacutedio per capita (gdia)

Nuacutemero

Menos de 80 149701 5 31 1

De 80 ateacute menos de 110

202139 7 59 1

De110 a mais 367100 8 100 18

TOTAL 239646 20 633 20

A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas

entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta

um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas

5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das

famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado

essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente

atendida em termos quantitativos

Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana

pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas

famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a

um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado

Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo

maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser

desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a

seguranccedila alimentar

4 Resumo e Conclusotildees

A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees

acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da

populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo

16

numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de

forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da

agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso

os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas

existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas

pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa

qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de

frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees

serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos

recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere

um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a

agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo

entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute

predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a

agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma

economia de subsistecircncia

As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo

com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As

informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta

de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui

existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas

Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo

cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas

caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por

meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a

alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada

nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de

17

hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e

de nutrientes para os membros das famiacutelias

Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana

eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos

que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o

aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de

renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos

O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no

entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de

creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito

poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um

amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado

por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares

sustentaacuteveis

Referecircncias Bibliograacuteficas

AVILLA C J amp VEENHUISEN R Aspectos econocircmicos da agricultura urbana

Editorial In La Revista Agricultura Urbana Vol 7 agosto de 2002 Disponiacutevel em lt

httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 05 de janeiro de 2004

BLANCHEMANCHE S MARIE C L MOURIAUX F PESKINE E

Multifonctionnaliteacute de l agriculture et status d activiteacute Economie Rurale Paris-France n

260 p 41-51 novembre deacutecembre 2000

CAMARANO A A amp ABRAMOVAY R Ecircxodo rural envelhecimento e

masculinizaccedilatildeo no Brasil panorama dos uacuteltimos 50 anos Rio de Janeiro IPEA 1999

23p Texto para discussatildeo n621

COAG Comitecirc de Agricultura La Agricultura Urbana y Periurbana Organizacioacuten de las

Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentacioacuten

FAO Roma 25-29 de janeiro de

1999 60p

18

COSTA BEBER C Santa Maria 200 anos Histoacuteria da economia do municiacutepio Ediccedilatildeo

Comemorativa do Centenaacuterio da CACISM Santa Maria Cacism 1998 315p

DRAKAKIS-SMITH D BOWYER-BOWER T TEVERAD Urban poverty and urban

agriculture an overview of the linkages in Harare Habitat International Great Britain v

19 n 2 p 183-193 1995

FAO Select issues Urban Agriculture an oxymoron In The state of food and

agriculture Rome FAO199629p

FLEURY A amp DONADIEU P De l agriculture peacuteri-urbaine agrave l agriculture urbaine Le

Revue Courrier de l environnement Paris France n 31 aoucirct 1997 Disponiacutevel em lt

httpwwwinrafrdpenvfleure31htmgt Acesso em 06 de dezembro de 2003

FREgraveRE N LUDOVICO R M R MARTINS P F da SILVA Agricultura Urbana em

Beleacutem

Paraacute In CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA

RURAL 37 Anais Foz do Iguaccedilu PR SOBER 1999 p 1-10

GALEAZZI M A M BONVINO H LOURENCcedilO FAVIANNA R Inqueacuterito de

Consumo Familiar de Alimentos - Metodologia para Identificaccedilatildeo de Famiacutelias de Risco

Alimentar Cadernos de Debate Campinas vol IV p32-46 1996

IBGE Censo Demograacutefico 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwibgeorgbrgt Acesso em 4

de janeiro de 2004

MAXWELL D LEVIN C CSETE J Does urban agriculture help prevent malnutrition

Evidence from Kampala Food Police Great Britain vol23 n5 p 411-424 1998

NUGENT R Agricultura urbana e periurbana Seguranccedila alimentar e nutriccedilatildeo

Texto inicial para discussatildeo na conferecircncia eletrocircnica promovida pela FAO ETC RUAF

21 de agosto-30 de setembro de 2000 7p

ORGANIZACIOacuteN MUNDIAL DE LA SALUD Necesidades de energiacutea y de proteiacutenas

Genebra FAOOMSONU 1985 220p (Seacuterie de Informes Teacutecnicos n 724)

19

PHILIPPI S T SZARFARC S C LATTERZA A R Virtual Nutri [programa de

computador] Versatildeo 10 for windows Satildeo Paulo Departamento de Nutriccedilatildeo da

Faculdade de Sauacutede Puacuteblica da Universidade de Satildeo Paulo (USP) 1996

PROJETO INSTITUCIONAL DE EXTENSAtildeO NUacuteCLEO DA UFSM EM APOIO Agrave

REDE DE SOLIDARIEDADE Universidade Federal de Santa Maria Proacute- Reitoria de

Extensatildeo Santa Maria Abril de 2003

PEREIRA M T Agricultura urbana e periurbana Revista Qualidade de Vida Satildeo Paulo

Ano 2 n11 p01-04 Abril de 2000

ROCHA S Renda e pobreza os impactos do Plano Real Rio de Janeiro IPEA Texto

para Discussatildeo n 439 1996

SACHS I Inclusatildeo social pelo trabalho decente oportunidades obstaacuteculos poliacuteticas

puacuteblicas Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v18 n51 p23-49 2004

UNDP (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME) Urban Agriculture

Food Jobs and Sustainable Cities Publication Series for Habitat II Volume One New

York 1996 300 p

YUNUS M O Banqueiro dos Pobres Editora Aacutetica 2000 343p

ZALUAR A A maacutequina e a revolta as organizaccedilotildees populares e o significado da

pobreza Satildeo Paulo Editora Brasiliense 2 Ed 1994 265 p

ZEEUW H de GUNDEL S WAIBEL H La integracioacuten de la Agricultura en las

poliacuteticas urbanas La Revista Agricultura Urbana Vol 1 julho de 2000 Disponiacutevel

emlt httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 21 de outubro de 2003

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Page 14: agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no Brasil é o de Frère et al. (1999), o

13

declarado pelas famiacutelias pesquisadas em resposta agrave pergunta qual a estimativa do montante

economizado com a agricultura urbana (em termos de consumo em relaccedilatildeo a renda

familiar)

TABELA 13 Percentual de economia obtida com autoconsumo em relaccedilatildeo agrave renda

total das famiacutelias Estratos Nuacutemero de famiacutelias

Ateacute 10 da renda total 5

1316

Mais de 10 ateacute 20 14

3684

Mais de 20 ateacute 30 9

2368

Mais de 30 10

2632

TOTAL 38

10000

Como pode-se verificar na Tabela 13 mais de 13 das famiacutelias economizam de 10 a

20 da renda total com a produccedilatildeo agriacutecola urbana Tambeacutem vale destacar que 2632 das

famiacutelias chegam a economizar mais de 30 da renda familiar por meio da agricultura

urbana

Eacute importante salientar que por serem famiacutelias de baixa renda uma economia superior

a 30 em alimentaccedilatildeo pode significar uma possibilidade de suprir outras necessidades

baacutesicas para essa populaccedilatildeo o que talvez de outro modo natildeo fosse possiacutevel Todavia estas

satildeo apenas estimativas pois existe dificuldade de mensuraccedilatildeo das rendas oriundas das

exploraccedilotildees agriacutecolas urbanas dado que muito do que eacute produzido natildeo passa diretamente

nos canais normais de mercado como jaacute se mostrou anteriormente

A partir das informaccedilotildees coletadas eacute possiacutevel evidenciar na Tabela 14 as

principais despesas citadas pelas 38 famiacutelias Inicialmente eacute preciso afirmar que as

despesas variam entre R$ 11900 a R$ 83000 por mecircs incluindo prestaccedilotildees de moradia

aacutegua luz gaacutes transporte medicamentos e alimentaccedilatildeo A meacutedia das despesas eacute de R$

40800 por mecircs por famiacutelia Eacute possiacutevel constatar tambeacutem que praticamente 60 dos gastos

destas famiacutelias pobres satildeo com alimentaccedilatildeo o que se apresenta de acordo com a literatura

internacional

14

TABELA 14

Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais

Aacutegua 111600

727

Luz 172200

1121

Transporte 102500

667

Gaacutes 116100

755

Remeacutedios 127500

83

Alimentaccedilatildeo 906000

590

TOTAL 1535900

1000

Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os

gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute

relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma

oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente

para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com

alimentaccedilatildeo

34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional

A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias

revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite

frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que

dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte

presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria

de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca

da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas

A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento

importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et

al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana

em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas

elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de

5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um

15

melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade

(MAXWELL et al 1998)

TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena

Calorias Proteiacutenas

Consumo meacutedio per capita de

calorias (kcaldia) Nuacutemero

Consumo meacutedio per capita (gdia)

Nuacutemero

Menos de 80 149701 5 31 1

De 80 ateacute menos de 110

202139 7 59 1

De110 a mais 367100 8 100 18

TOTAL 239646 20 633 20

A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas

entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta

um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas

5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das

famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado

essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente

atendida em termos quantitativos

Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana

pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas

famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a

um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado

Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo

maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser

desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a

seguranccedila alimentar

4 Resumo e Conclusotildees

A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees

acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da

populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo

16

numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de

forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da

agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso

os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas

existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas

pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa

qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de

frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees

serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos

recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere

um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a

agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo

entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute

predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a

agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma

economia de subsistecircncia

As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo

com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As

informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta

de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui

existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas

Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo

cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas

caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por

meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a

alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada

nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de

17

hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e

de nutrientes para os membros das famiacutelias

Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana

eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos

que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o

aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de

renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos

O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no

entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de

creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito

poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um

amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado

por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares

sustentaacuteveis

Referecircncias Bibliograacuteficas

AVILLA C J amp VEENHUISEN R Aspectos econocircmicos da agricultura urbana

Editorial In La Revista Agricultura Urbana Vol 7 agosto de 2002 Disponiacutevel em lt

httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 05 de janeiro de 2004

BLANCHEMANCHE S MARIE C L MOURIAUX F PESKINE E

Multifonctionnaliteacute de l agriculture et status d activiteacute Economie Rurale Paris-France n

260 p 41-51 novembre deacutecembre 2000

CAMARANO A A amp ABRAMOVAY R Ecircxodo rural envelhecimento e

masculinizaccedilatildeo no Brasil panorama dos uacuteltimos 50 anos Rio de Janeiro IPEA 1999

23p Texto para discussatildeo n621

COAG Comitecirc de Agricultura La Agricultura Urbana y Periurbana Organizacioacuten de las

Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentacioacuten

FAO Roma 25-29 de janeiro de

1999 60p

18

COSTA BEBER C Santa Maria 200 anos Histoacuteria da economia do municiacutepio Ediccedilatildeo

Comemorativa do Centenaacuterio da CACISM Santa Maria Cacism 1998 315p

DRAKAKIS-SMITH D BOWYER-BOWER T TEVERAD Urban poverty and urban

agriculture an overview of the linkages in Harare Habitat International Great Britain v

19 n 2 p 183-193 1995

FAO Select issues Urban Agriculture an oxymoron In The state of food and

agriculture Rome FAO199629p

FLEURY A amp DONADIEU P De l agriculture peacuteri-urbaine agrave l agriculture urbaine Le

Revue Courrier de l environnement Paris France n 31 aoucirct 1997 Disponiacutevel em lt

httpwwwinrafrdpenvfleure31htmgt Acesso em 06 de dezembro de 2003

FREgraveRE N LUDOVICO R M R MARTINS P F da SILVA Agricultura Urbana em

Beleacutem

Paraacute In CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA

RURAL 37 Anais Foz do Iguaccedilu PR SOBER 1999 p 1-10

GALEAZZI M A M BONVINO H LOURENCcedilO FAVIANNA R Inqueacuterito de

Consumo Familiar de Alimentos - Metodologia para Identificaccedilatildeo de Famiacutelias de Risco

Alimentar Cadernos de Debate Campinas vol IV p32-46 1996

IBGE Censo Demograacutefico 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwibgeorgbrgt Acesso em 4

de janeiro de 2004

MAXWELL D LEVIN C CSETE J Does urban agriculture help prevent malnutrition

Evidence from Kampala Food Police Great Britain vol23 n5 p 411-424 1998

NUGENT R Agricultura urbana e periurbana Seguranccedila alimentar e nutriccedilatildeo

Texto inicial para discussatildeo na conferecircncia eletrocircnica promovida pela FAO ETC RUAF

21 de agosto-30 de setembro de 2000 7p

ORGANIZACIOacuteN MUNDIAL DE LA SALUD Necesidades de energiacutea y de proteiacutenas

Genebra FAOOMSONU 1985 220p (Seacuterie de Informes Teacutecnicos n 724)

19

PHILIPPI S T SZARFARC S C LATTERZA A R Virtual Nutri [programa de

computador] Versatildeo 10 for windows Satildeo Paulo Departamento de Nutriccedilatildeo da

Faculdade de Sauacutede Puacuteblica da Universidade de Satildeo Paulo (USP) 1996

PROJETO INSTITUCIONAL DE EXTENSAtildeO NUacuteCLEO DA UFSM EM APOIO Agrave

REDE DE SOLIDARIEDADE Universidade Federal de Santa Maria Proacute- Reitoria de

Extensatildeo Santa Maria Abril de 2003

PEREIRA M T Agricultura urbana e periurbana Revista Qualidade de Vida Satildeo Paulo

Ano 2 n11 p01-04 Abril de 2000

ROCHA S Renda e pobreza os impactos do Plano Real Rio de Janeiro IPEA Texto

para Discussatildeo n 439 1996

SACHS I Inclusatildeo social pelo trabalho decente oportunidades obstaacuteculos poliacuteticas

puacuteblicas Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v18 n51 p23-49 2004

UNDP (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME) Urban Agriculture

Food Jobs and Sustainable Cities Publication Series for Habitat II Volume One New

York 1996 300 p

YUNUS M O Banqueiro dos Pobres Editora Aacutetica 2000 343p

ZALUAR A A maacutequina e a revolta as organizaccedilotildees populares e o significado da

pobreza Satildeo Paulo Editora Brasiliense 2 Ed 1994 265 p

ZEEUW H de GUNDEL S WAIBEL H La integracioacuten de la Agricultura en las

poliacuteticas urbanas La Revista Agricultura Urbana Vol 1 julho de 2000 Disponiacutevel

emlt httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 21 de outubro de 2003

This document was created with Win2PDF available at httpwwwdaneprairiecomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only

Page 15: agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no Brasil é o de Frère et al. (1999), o

14

TABELA 14

Principais despesas das famiacutelias de agricultores urbanos pesquisados Despesa Valor em Reais

Aacutegua 111600

727

Luz 172200

1121

Transporte 102500

667

Gaacutes 116100

755

Remeacutedios 127500

83

Alimentaccedilatildeo 906000

590

TOTAL 1535900

1000

Neste sentido a agricultura urbana pode diminuir ou contribuir para aliviar os

gastos com alimentaccedilatildeo destas famiacutelias No trabalho de Avilla amp Veenhuisen (2002) eacute

relatado que os alimentos oriundos da produccedilatildeo para autoconsumo representam uma

oportunidade importante para a reduccedilatildeo nestes gastos com alimentaccedilatildeo principalmente

para as famiacutelias pobres urbanas que chegam a gastar ateacute 80 de sua renda com

alimentaccedilatildeo

34 A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar e nutricional

A informaccedilatildeo acerca do consumo de alimentos entre a sub-amostra de 20 famiacutelias

revela que 100 destas consumiram arroz macarratildeo feijatildeo batata-inglesa ovos e leite

frutas como a maccedilatilde a bergamota e a banana verduras como a cebola e o tomate e que

dentre as carnes as mais consumidas satildeo as de gado e a de frango Percebe-se a forte

presenccedila de alimentos industrializados na alimentaccedilatildeo destas famiacutelias A produccedilatildeo proacutepria

de alimentos como o feijatildeo a mandioca verduras em geral e frutas permite inferir acerca

da contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar das famiacutelias pesquisadas

A agricultura urbana tecircm sido apontada por estudiosos como um elemento

importante na garantia da seguranccedila alimentar e sauacutede nas famiacutelias que a praticam Fregravere et

al (1999) mostram as principais funccedilotildees nas quatro tipologias de micro-agricultura urbana

em Beleacutem do Paraacute sendo a seguranccedila alimentar e a sauacutede as principais presentes em todas

elas Um estudo antropomeacutetrico realizado em Kampala Uganda com crianccedilas menores de

5 anos indica que a agricultura urbana tem uma associaccedilatildeo positiva significativa com um

15

melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade

(MAXWELL et al 1998)

TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena

Calorias Proteiacutenas

Consumo meacutedio per capita de

calorias (kcaldia) Nuacutemero

Consumo meacutedio per capita (gdia)

Nuacutemero

Menos de 80 149701 5 31 1

De 80 ateacute menos de 110

202139 7 59 1

De110 a mais 367100 8 100 18

TOTAL 239646 20 633 20

A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas

entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta

um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas

5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das

famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado

essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente

atendida em termos quantitativos

Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana

pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas

famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a

um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado

Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo

maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser

desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a

seguranccedila alimentar

4 Resumo e Conclusotildees

A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees

acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da

populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo

16

numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de

forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da

agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso

os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas

existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas

pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa

qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de

frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees

serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos

recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere

um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a

agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo

entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute

predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a

agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma

economia de subsistecircncia

As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo

com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As

informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta

de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui

existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas

Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo

cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas

caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por

meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a

alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada

nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de

17

hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e

de nutrientes para os membros das famiacutelias

Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana

eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos

que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o

aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de

renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos

O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no

entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de

creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito

poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um

amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado

por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares

sustentaacuteveis

Referecircncias Bibliograacuteficas

AVILLA C J amp VEENHUISEN R Aspectos econocircmicos da agricultura urbana

Editorial In La Revista Agricultura Urbana Vol 7 agosto de 2002 Disponiacutevel em lt

httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 05 de janeiro de 2004

BLANCHEMANCHE S MARIE C L MOURIAUX F PESKINE E

Multifonctionnaliteacute de l agriculture et status d activiteacute Economie Rurale Paris-France n

260 p 41-51 novembre deacutecembre 2000

CAMARANO A A amp ABRAMOVAY R Ecircxodo rural envelhecimento e

masculinizaccedilatildeo no Brasil panorama dos uacuteltimos 50 anos Rio de Janeiro IPEA 1999

23p Texto para discussatildeo n621

COAG Comitecirc de Agricultura La Agricultura Urbana y Periurbana Organizacioacuten de las

Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentacioacuten

FAO Roma 25-29 de janeiro de

1999 60p

18

COSTA BEBER C Santa Maria 200 anos Histoacuteria da economia do municiacutepio Ediccedilatildeo

Comemorativa do Centenaacuterio da CACISM Santa Maria Cacism 1998 315p

DRAKAKIS-SMITH D BOWYER-BOWER T TEVERAD Urban poverty and urban

agriculture an overview of the linkages in Harare Habitat International Great Britain v

19 n 2 p 183-193 1995

FAO Select issues Urban Agriculture an oxymoron In The state of food and

agriculture Rome FAO199629p

FLEURY A amp DONADIEU P De l agriculture peacuteri-urbaine agrave l agriculture urbaine Le

Revue Courrier de l environnement Paris France n 31 aoucirct 1997 Disponiacutevel em lt

httpwwwinrafrdpenvfleure31htmgt Acesso em 06 de dezembro de 2003

FREgraveRE N LUDOVICO R M R MARTINS P F da SILVA Agricultura Urbana em

Beleacutem

Paraacute In CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA

RURAL 37 Anais Foz do Iguaccedilu PR SOBER 1999 p 1-10

GALEAZZI M A M BONVINO H LOURENCcedilO FAVIANNA R Inqueacuterito de

Consumo Familiar de Alimentos - Metodologia para Identificaccedilatildeo de Famiacutelias de Risco

Alimentar Cadernos de Debate Campinas vol IV p32-46 1996

IBGE Censo Demograacutefico 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwibgeorgbrgt Acesso em 4

de janeiro de 2004

MAXWELL D LEVIN C CSETE J Does urban agriculture help prevent malnutrition

Evidence from Kampala Food Police Great Britain vol23 n5 p 411-424 1998

NUGENT R Agricultura urbana e periurbana Seguranccedila alimentar e nutriccedilatildeo

Texto inicial para discussatildeo na conferecircncia eletrocircnica promovida pela FAO ETC RUAF

21 de agosto-30 de setembro de 2000 7p

ORGANIZACIOacuteN MUNDIAL DE LA SALUD Necesidades de energiacutea y de proteiacutenas

Genebra FAOOMSONU 1985 220p (Seacuterie de Informes Teacutecnicos n 724)

19

PHILIPPI S T SZARFARC S C LATTERZA A R Virtual Nutri [programa de

computador] Versatildeo 10 for windows Satildeo Paulo Departamento de Nutriccedilatildeo da

Faculdade de Sauacutede Puacuteblica da Universidade de Satildeo Paulo (USP) 1996

PROJETO INSTITUCIONAL DE EXTENSAtildeO NUacuteCLEO DA UFSM EM APOIO Agrave

REDE DE SOLIDARIEDADE Universidade Federal de Santa Maria Proacute- Reitoria de

Extensatildeo Santa Maria Abril de 2003

PEREIRA M T Agricultura urbana e periurbana Revista Qualidade de Vida Satildeo Paulo

Ano 2 n11 p01-04 Abril de 2000

ROCHA S Renda e pobreza os impactos do Plano Real Rio de Janeiro IPEA Texto

para Discussatildeo n 439 1996

SACHS I Inclusatildeo social pelo trabalho decente oportunidades obstaacuteculos poliacuteticas

puacuteblicas Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v18 n51 p23-49 2004

UNDP (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME) Urban Agriculture

Food Jobs and Sustainable Cities Publication Series for Habitat II Volume One New

York 1996 300 p

YUNUS M O Banqueiro dos Pobres Editora Aacutetica 2000 343p

ZALUAR A A maacutequina e a revolta as organizaccedilotildees populares e o significado da

pobreza Satildeo Paulo Editora Brasiliense 2 Ed 1994 265 p

ZEEUW H de GUNDEL S WAIBEL H La integracioacuten de la Agricultura en las

poliacuteticas urbanas La Revista Agricultura Urbana Vol 1 julho de 2000 Disponiacutevel

emlt httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 21 de outubro de 2003

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Page 16: agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no Brasil é o de Frère et al. (1999), o

15

melhor estado nutricional das crianccedilas particularmente no indicador altura para a idade

(MAXWELL et al 1998)

TABELA 15 Distribuiccedilatildeo das famiacutelias de acordo com o consumo meacutedio diaacuterio de energia e proteiacutena

Calorias Proteiacutenas

Consumo meacutedio per capita de

calorias (kcaldia) Nuacutemero

Consumo meacutedio per capita (gdia)

Nuacutemero

Menos de 80 149701 5 31 1

De 80 ateacute menos de 110

202139 7 59 1

De110 a mais 367100 8 100 18

TOTAL 239646 20 633 20

A Tabela 15 mostra as informaccedilotildees relativas ao consumo de energia e proteiacutenas

entre as famiacutelias pesquisadas Nela eacute possiacutevel verificar que a maioria das famiacutelias apresenta

um consumo meacutedio de calorias proacuteximas agrave necessidade meacutedia ou superior a mesma apenas

5 famiacutelias tecircm consumo inferior agrave meacutedia esperada Quanto agrave proteiacutena a maioria das

famiacutelias apresenta consumo (meacutedio) aparentemente excessivo Este nutriente considerado

essencial para o adequado estado de sauacutede e nutriccedilatildeo tem sua demanda mais facilmente

atendida em termos quantitativos

Com esses dados fica expliacutecita a necessidade e a importacircncia da agricultura urbana

pelo menos no que diz respeito agraves populaccedilotildees mais pobres O consumo alimentar destas

famiacutelias parece estar intimamente associado aos alimentos que produzem e a sua obtenccedilatildeo a

um custo bem mais baixo do que se fossem adquiridos no mercado

Eacute necessaacuterio entretanto assinalar que estudos de maior profundidade envolvendo

maior nuacutemero de integrantes na amostra e adoccedilatildeo de distintos meacutetodos deve ser

desenvolvida no sentido de melhor compreender o papel da agricultura urbana e a

seguranccedila alimentar

4 Resumo e Conclusotildees

A anaacutelise dos resultados apresentados neste trabalho permite algumas conclusotildees

acerca da agricultura urbana no contexto estudado Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo da

populaccedilatildeo pesquisada as evidecircncias empiacutericas permitem afirmar que as famiacutelias natildeo satildeo

16

numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de

forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da

agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso

os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas

existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas

pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa

qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de

frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees

serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos

recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere

um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a

agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo

entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute

predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a

agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma

economia de subsistecircncia

As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo

com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As

informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta

de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui

existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas

Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo

cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas

caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por

meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a

alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada

nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de

17

hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e

de nutrientes para os membros das famiacutelias

Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana

eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos

que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o

aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de

renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos

O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no

entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de

creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito

poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um

amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado

por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares

sustentaacuteveis

Referecircncias Bibliograacuteficas

AVILLA C J amp VEENHUISEN R Aspectos econocircmicos da agricultura urbana

Editorial In La Revista Agricultura Urbana Vol 7 agosto de 2002 Disponiacutevel em lt

httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 05 de janeiro de 2004

BLANCHEMANCHE S MARIE C L MOURIAUX F PESKINE E

Multifonctionnaliteacute de l agriculture et status d activiteacute Economie Rurale Paris-France n

260 p 41-51 novembre deacutecembre 2000

CAMARANO A A amp ABRAMOVAY R Ecircxodo rural envelhecimento e

masculinizaccedilatildeo no Brasil panorama dos uacuteltimos 50 anos Rio de Janeiro IPEA 1999

23p Texto para discussatildeo n621

COAG Comitecirc de Agricultura La Agricultura Urbana y Periurbana Organizacioacuten de las

Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentacioacuten

FAO Roma 25-29 de janeiro de

1999 60p

18

COSTA BEBER C Santa Maria 200 anos Histoacuteria da economia do municiacutepio Ediccedilatildeo

Comemorativa do Centenaacuterio da CACISM Santa Maria Cacism 1998 315p

DRAKAKIS-SMITH D BOWYER-BOWER T TEVERAD Urban poverty and urban

agriculture an overview of the linkages in Harare Habitat International Great Britain v

19 n 2 p 183-193 1995

FAO Select issues Urban Agriculture an oxymoron In The state of food and

agriculture Rome FAO199629p

FLEURY A amp DONADIEU P De l agriculture peacuteri-urbaine agrave l agriculture urbaine Le

Revue Courrier de l environnement Paris France n 31 aoucirct 1997 Disponiacutevel em lt

httpwwwinrafrdpenvfleure31htmgt Acesso em 06 de dezembro de 2003

FREgraveRE N LUDOVICO R M R MARTINS P F da SILVA Agricultura Urbana em

Beleacutem

Paraacute In CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA

RURAL 37 Anais Foz do Iguaccedilu PR SOBER 1999 p 1-10

GALEAZZI M A M BONVINO H LOURENCcedilO FAVIANNA R Inqueacuterito de

Consumo Familiar de Alimentos - Metodologia para Identificaccedilatildeo de Famiacutelias de Risco

Alimentar Cadernos de Debate Campinas vol IV p32-46 1996

IBGE Censo Demograacutefico 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwibgeorgbrgt Acesso em 4

de janeiro de 2004

MAXWELL D LEVIN C CSETE J Does urban agriculture help prevent malnutrition

Evidence from Kampala Food Police Great Britain vol23 n5 p 411-424 1998

NUGENT R Agricultura urbana e periurbana Seguranccedila alimentar e nutriccedilatildeo

Texto inicial para discussatildeo na conferecircncia eletrocircnica promovida pela FAO ETC RUAF

21 de agosto-30 de setembro de 2000 7p

ORGANIZACIOacuteN MUNDIAL DE LA SALUD Necesidades de energiacutea y de proteiacutenas

Genebra FAOOMSONU 1985 220p (Seacuterie de Informes Teacutecnicos n 724)

19

PHILIPPI S T SZARFARC S C LATTERZA A R Virtual Nutri [programa de

computador] Versatildeo 10 for windows Satildeo Paulo Departamento de Nutriccedilatildeo da

Faculdade de Sauacutede Puacuteblica da Universidade de Satildeo Paulo (USP) 1996

PROJETO INSTITUCIONAL DE EXTENSAtildeO NUacuteCLEO DA UFSM EM APOIO Agrave

REDE DE SOLIDARIEDADE Universidade Federal de Santa Maria Proacute- Reitoria de

Extensatildeo Santa Maria Abril de 2003

PEREIRA M T Agricultura urbana e periurbana Revista Qualidade de Vida Satildeo Paulo

Ano 2 n11 p01-04 Abril de 2000

ROCHA S Renda e pobreza os impactos do Plano Real Rio de Janeiro IPEA Texto

para Discussatildeo n 439 1996

SACHS I Inclusatildeo social pelo trabalho decente oportunidades obstaacuteculos poliacuteticas

puacuteblicas Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v18 n51 p23-49 2004

UNDP (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME) Urban Agriculture

Food Jobs and Sustainable Cities Publication Series for Habitat II Volume One New

York 1996 300 p

YUNUS M O Banqueiro dos Pobres Editora Aacutetica 2000 343p

ZALUAR A A maacutequina e a revolta as organizaccedilotildees populares e o significado da

pobreza Satildeo Paulo Editora Brasiliense 2 Ed 1994 265 p

ZEEUW H de GUNDEL S WAIBEL H La integracioacuten de la Agricultura en las

poliacuteticas urbanas La Revista Agricultura Urbana Vol 1 julho de 2000 Disponiacutevel

emlt httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 21 de outubro de 2003

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Page 17: agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no Brasil é o de Frère et al. (1999), o

16

numerosas Naquelas que praticam a agricultura urbana natildeo haacute predominacircncia de sexo de

forma distinta do que se apresenta na literatura sobre o assunto Os praticantes da

agricultura urbana satildeo predominantemente pessoas em idade adulta ou idosos Aleacutem disso

os atores envolvidos na agricultura urbana satildeo na sua maioria oriundos da zona rural mas

existe uma parcela natildeo despreziacutevel de origem urbana As ocupaccedilotildees econocircmicas exercidas

pelos membros ativos das famiacutelias de agricultores urbanos satildeo precaacuterias e de baixa

qualificaccedilatildeo propiciando-lhes rendimentos reduzidos Todavia vale destacar que menos de

frac14 das famiacutelias de agricultores urbanos estaacute abaixo da linha de pobreza

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica da agricultura urbana chama atenccedilatildeo o fato das produccedilotildees

serem obtidas praticamente sem o uso de insumos quiacutemicos e com a maacutexima utilizaccedilatildeo dos

recursos disponiacuteveis nos locais de produccedilatildeo O uso reduzido de insumos modernos confere

um caraacuteter mais saudaacutevel aos alimentos produzidos Cabe destacar tambeacutem que a

agricultura urbana eacute na maioria dos casos uma atividade que jaacute possui uma certa tradiccedilatildeo

entre as famiacutelias Ela eacute exercida nos quintais das residecircncias O destino dos produtos eacute

predominantemente o autoconsumo com muito pouco comeacutercio Neste sentido a

agricultura urbana pode ser considerada um modo de produccedilatildeo fora do mercado ou uma

economia de subsistecircncia

As razotildees da praacutetica da atividade resumem-se em consumo e subsistecircncia tradiccedilatildeo

com a agricultura e lazer no entanto a razatildeo principal eacute a alimentaccedilatildeo das famiacutelias As

informaccedilotildees apresentadas sobre os tipos de produtos agriacutecolas obtidos reforccedilam esta ideacuteia

Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas famiacutelias pesquisadas estatildeo a falta

de dinheiro para investir na atividade de espaccedilo fiacutesico e de conhecimento teacutecnico Aqui

existe uma ampla possibilidade de intervenccedilatildeo em termos de poliacuteticas puacuteblicas

Quanto agrave contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a geraccedilatildeo de renda ela natildeo

cumpre necessariamente um papel de provedora de renda adicional mas dentro de suas

caracteriacutesticas tradicionais de cultivo permite agraves famiacutelias uma economia importante por

meio do consumo dos alimentos produzidos Assim ela complementa significativamente a

alimentaccedilatildeo das famiacutelias

A contribuiccedilatildeo da agricultura urbana para a seguranccedila alimentar pode ser verificada

nas anaacutelises do consumo de alimentos das famiacutelias onde ficou evidente que a presenccedila de

17

hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e

de nutrientes para os membros das famiacutelias

Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana

eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos

que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o

aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de

renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos

O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no

entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de

creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito

poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um

amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado

por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares

sustentaacuteveis

Referecircncias Bibliograacuteficas

AVILLA C J amp VEENHUISEN R Aspectos econocircmicos da agricultura urbana

Editorial In La Revista Agricultura Urbana Vol 7 agosto de 2002 Disponiacutevel em lt

httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 05 de janeiro de 2004

BLANCHEMANCHE S MARIE C L MOURIAUX F PESKINE E

Multifonctionnaliteacute de l agriculture et status d activiteacute Economie Rurale Paris-France n

260 p 41-51 novembre deacutecembre 2000

CAMARANO A A amp ABRAMOVAY R Ecircxodo rural envelhecimento e

masculinizaccedilatildeo no Brasil panorama dos uacuteltimos 50 anos Rio de Janeiro IPEA 1999

23p Texto para discussatildeo n621

COAG Comitecirc de Agricultura La Agricultura Urbana y Periurbana Organizacioacuten de las

Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentacioacuten

FAO Roma 25-29 de janeiro de

1999 60p

18

COSTA BEBER C Santa Maria 200 anos Histoacuteria da economia do municiacutepio Ediccedilatildeo

Comemorativa do Centenaacuterio da CACISM Santa Maria Cacism 1998 315p

DRAKAKIS-SMITH D BOWYER-BOWER T TEVERAD Urban poverty and urban

agriculture an overview of the linkages in Harare Habitat International Great Britain v

19 n 2 p 183-193 1995

FAO Select issues Urban Agriculture an oxymoron In The state of food and

agriculture Rome FAO199629p

FLEURY A amp DONADIEU P De l agriculture peacuteri-urbaine agrave l agriculture urbaine Le

Revue Courrier de l environnement Paris France n 31 aoucirct 1997 Disponiacutevel em lt

httpwwwinrafrdpenvfleure31htmgt Acesso em 06 de dezembro de 2003

FREgraveRE N LUDOVICO R M R MARTINS P F da SILVA Agricultura Urbana em

Beleacutem

Paraacute In CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA

RURAL 37 Anais Foz do Iguaccedilu PR SOBER 1999 p 1-10

GALEAZZI M A M BONVINO H LOURENCcedilO FAVIANNA R Inqueacuterito de

Consumo Familiar de Alimentos - Metodologia para Identificaccedilatildeo de Famiacutelias de Risco

Alimentar Cadernos de Debate Campinas vol IV p32-46 1996

IBGE Censo Demograacutefico 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwibgeorgbrgt Acesso em 4

de janeiro de 2004

MAXWELL D LEVIN C CSETE J Does urban agriculture help prevent malnutrition

Evidence from Kampala Food Police Great Britain vol23 n5 p 411-424 1998

NUGENT R Agricultura urbana e periurbana Seguranccedila alimentar e nutriccedilatildeo

Texto inicial para discussatildeo na conferecircncia eletrocircnica promovida pela FAO ETC RUAF

21 de agosto-30 de setembro de 2000 7p

ORGANIZACIOacuteN MUNDIAL DE LA SALUD Necesidades de energiacutea y de proteiacutenas

Genebra FAOOMSONU 1985 220p (Seacuterie de Informes Teacutecnicos n 724)

19

PHILIPPI S T SZARFARC S C LATTERZA A R Virtual Nutri [programa de

computador] Versatildeo 10 for windows Satildeo Paulo Departamento de Nutriccedilatildeo da

Faculdade de Sauacutede Puacuteblica da Universidade de Satildeo Paulo (USP) 1996

PROJETO INSTITUCIONAL DE EXTENSAtildeO NUacuteCLEO DA UFSM EM APOIO Agrave

REDE DE SOLIDARIEDADE Universidade Federal de Santa Maria Proacute- Reitoria de

Extensatildeo Santa Maria Abril de 2003

PEREIRA M T Agricultura urbana e periurbana Revista Qualidade de Vida Satildeo Paulo

Ano 2 n11 p01-04 Abril de 2000

ROCHA S Renda e pobreza os impactos do Plano Real Rio de Janeiro IPEA Texto

para Discussatildeo n 439 1996

SACHS I Inclusatildeo social pelo trabalho decente oportunidades obstaacuteculos poliacuteticas

puacuteblicas Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v18 n51 p23-49 2004

UNDP (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME) Urban Agriculture

Food Jobs and Sustainable Cities Publication Series for Habitat II Volume One New

York 1996 300 p

YUNUS M O Banqueiro dos Pobres Editora Aacutetica 2000 343p

ZALUAR A A maacutequina e a revolta as organizaccedilotildees populares e o significado da

pobreza Satildeo Paulo Editora Brasiliense 2 Ed 1994 265 p

ZEEUW H de GUNDEL S WAIBEL H La integracioacuten de la Agricultura en las

poliacuteticas urbanas La Revista Agricultura Urbana Vol 1 julho de 2000 Disponiacutevel

emlt httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 21 de outubro de 2003

This document was created with Win2PDF available at httpwwwdaneprairiecomThe unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only

Page 18: agricultura urbana - ilaine schuch · 2006. 5. 4. · agricultura urbana. O trabalho pioneiro de pesquisa em agricultura urbana realizado no Brasil é o de Frère et al. (1999), o

17

hortaliccedilas legumes e frutas oriundas da produccedilatildeo proacutepria eacute importante fonte de alimentos e

de nutrientes para os membros das famiacutelias

Para as famiacutelias que integram o grupo pesquisado para as quais a agricultura urbana

eacute uma realidade satildeo interessantes poliacuteticas que promovam um acesso mais faacutecil a alimentos

que natildeo satildeo produzidos e satildeo de difiacutecil aquisiccedilatildeo Estas poliacuteticas poderiam promover o

aumento da produccedilatildeo visando agrave comercializaccedilatildeo dos excedentes e permitir a geraccedilatildeo de

renda para aquisiccedilatildeo dos alimentos natildeo produzidos

O aumento da produccedilatildeo eacute um fator desejado por muitas famiacutelias pesquisadas no

entanto ainda estatildeo ausentes as poliacuteticas puacuteblicas que promovam a disponibilidade de

creacutedito agraves famiacutelias mais pobres com o objetivo de estimular o aumento da produccedilatildeo Muito

poderia ser refletido sobre isso principalmente porque a agricultura urbana abrange um

amplo espectro de produtos e possui um caraacuteter multifuncional aspecto a ser considerado

por todos aqueles que se preocupam com a questatildeo da promoccedilatildeo de sistemas alimentares

sustentaacuteveis

Referecircncias Bibliograacuteficas

AVILLA C J amp VEENHUISEN R Aspectos econocircmicos da agricultura urbana

Editorial In La Revista Agricultura Urbana Vol 7 agosto de 2002 Disponiacutevel em lt

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Multifonctionnaliteacute de l agriculture et status d activiteacute Economie Rurale Paris-France n

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CAMARANO A A amp ABRAMOVAY R Ecircxodo rural envelhecimento e

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23p Texto para discussatildeo n621

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SACHS I Inclusatildeo social pelo trabalho decente oportunidades obstaacuteculos poliacuteticas

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Food Jobs and Sustainable Cities Publication Series for Habitat II Volume One New

York 1996 300 p

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poliacuteticas urbanas La Revista Agricultura Urbana Vol 1 julho de 2000 Disponiacutevel

emlt httpwwwipesorgaguilagt Acesso em 21 de outubro de 2003

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FLEURY A amp DONADIEU P De l agriculture peacuteri-urbaine agrave l agriculture urbaine Le

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Ano 2 n11 p01-04 Abril de 2000

ROCHA S Renda e pobreza os impactos do Plano Real Rio de Janeiro IPEA Texto

para Discussatildeo n 439 1996

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York 1996 300 p

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computador] Versatildeo 10 for windows Satildeo Paulo Departamento de Nutriccedilatildeo da

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Extensatildeo Santa Maria Abril de 2003

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Ano 2 n11 p01-04 Abril de 2000

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SACHS I Inclusatildeo social pelo trabalho decente oportunidades obstaacuteculos poliacuteticas

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Food Jobs and Sustainable Cities Publication Series for Habitat II Volume One New

York 1996 300 p

YUNUS M O Banqueiro dos Pobres Editora Aacutetica 2000 343p

ZALUAR A A maacutequina e a revolta as organizaccedilotildees populares e o significado da

pobreza Satildeo Paulo Editora Brasiliense 2 Ed 1994 265 p

ZEEUW H de GUNDEL S WAIBEL H La integracioacuten de la Agricultura en las

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