agricultura e meio ambiente: um estudo comparativo … · agricultura moderna e sua subordinação...

111
LUCIANO TIAGO BERNARDO AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE: um estudo comparativo entre os sistemas de produção patronal e familiar em Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito à obtenção do título de Mestre em Geografia. Área de Concentração: Análise e Planejamento Sócio-Ambiental Orientadora: Prof.ª Dr.ª Vera Lúcia Salazar Pessôa. Uberlândia (MG) Instituto de Geografia 2001

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Page 1: AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE: um estudo comparativo … · Agricultura moderna e sua subordinação à indústria Nesse período de discussões acerca dos rumos a serem seguidos pela

LUCIANO TIAGO BERNARDO

AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE: um estudo

comparativo entre os sistemas de produção patronal e

familiar em Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG)

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa

de Pós- Graduação em Geografia da Universidade

Federal de Uberlândia, como requisito à obtenção do

título de Mestre em Geografia.

Área de Concentração: Análise e Planejamento

Sócio-Ambiental

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Vera Lúcia Salazar Pessôa.

Uberlândia (MG)

Instituto de Geografia

2001

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BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Vera Lúcia Salazar Pessôa (orientadora)

______________________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Ruth Youko Tsukamoto

______________________________________________________________

Prof.º PhD. David George Francis

Data: _____/ ______________ de 2001.

Resultado:____________________

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“Não somos contra a modernização, a especialização

de áreas agrícolas de acordo com a vocação que

apresentam, muito menos contra o aumento da

produtividade, com a introdução e desenvolvimento

do uso de adubos e inseticidas. Achamos porém, que

as programações para o desenvolvimento agrícola

deveriam levar em conta o impacto ecológico e o

impacto social.”

(Manuel Corrêa de Andrade)

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Dedico este trabalho à minha família; meus pais,

José Bernardo e Maria Aparecida e minhas irmãs,

Flávia e Ariane; pessoas fundamentais em minha

vida e principais responsáveis por mais esta

conquista.

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AGRADECIMENTOS

O trabalho elaborado foi realizado a partir da junção de pessoas que sempre

estiveram presentes, direta ou indiretamente, ao nosso lado, nos passando força,

serenidade e sabedoria. Por isso, nossa eterna gratidão.

Ao CNPq, pelo financiamento da bolsa de estudos fornecida, imprescindível

para a realização desta dissertação.

À Prof.ª Dr.ª Vera Lúcia Salazar Pessôa, pela confiança dada em nosso

trabalho e pela orientação realizada, com sabedoria, eficiência e didática transmitida ao

longo deste trabalho.

Ao Prof.º PhD. David George Francis, professor, mestre e, principalmente,

amigo, por estar constantemente transmitindo conhecimento aos seus alunos e grande

responsável pela formação deste mestre, considero minha eterna gratidão.

Ao Prof.º Dr.º João Cleps Júnior, pelas contribuições dadas nas defesas do

pré-projeto, do exame de qualificação, nas aulas e nos momentos de dúvida.

À Coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Geografia, Prof.ª Dr.ª

Marlene Teresinha de Muno Colesanti, por apostar no caminho da multidisciplinaridade

como alternativa de enriquecimento acadêmico.

Aos produtores que, com toda atenção, participaram de nossas entrevistas e

que, sem eles, este trabalho não se concretizaria.

À EMATER de Monte Carmelo e ao Sebastião, pela ajuda prestada e pelos

dados fornecidos, que foram de grande ajuda em nossa análise.

À EMATER e à COOPLIN de Iraí de Minas e ao Flávio, que juntamente

conosco, participou da coleta dos dados.

Aos amigos pesquisadores, Carlos Mundim, Gregório, e Lidson, pela ajuda

prestada na coleta dos dados.

Ao amigo Alberto, que sempre esteve presente nos momentos mais difíceis

na elaboração deste trabalho.

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À Maria Nazareth pelo carinho, dedicação e compreensão demonstrados

durante esta etapa.

À Prof.ª Flávia, pela dedicação demonstrada na análise ortográfica realizada

neste trabalho.

Aos amigos Ricardo, Eli, Fernando, Tião, Fabrício, José Antônio, Maria

Clarice e demais pessoas com a qual tenho a felicidade de ter como amigas.

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SUMÁRIO

DEDICATÓRIA…………………………………………………………………….. 4 AGRADECIMENTOS……………………………………………………………… 5 LISTA DE FIGURAS………………………………………………………………. 9 LISTA DE TABELAS……………………………………………………………… 10 LISTA DE QUADROS……………………………………………………………... 13 RESUMO…………………………………………………………………………..... 14 ABSTRACT………………………………………………………………………… 15

INTRODUÇÃO……………………………………………………………………... 16 1 - A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA: do final da

escravidão à atualidade…………………………………………………………

21

1.1. As transformações da agricultura brasileira……………………………….. 21 1.1.1. O Complexo Cafeeiro………………………………………………... 21 1.1.2. O fim do Complexo Cafeeiro e a efetivação da indústria……………. 23 1.1.3. O debate estruturalista x neoclássicos………………………………... 25

1.2. Agricultura moderna e sua subordinação à indústria……………………… 27 − Modernização conservadora, Revolução Verde e a questão agrária e agrícola…………………………………………………………………........

28

1.3. A participação do governo ditatorial no setor agrícola……………………. 29 1.3.1. A inserção dos cerrados nas mudanças agrícolas e os programas de

desenvolvimento……………………………………………………… 32

1.3.2. As consequências do Regime Militar………………………………… 37 1.3.3. O Sistema Nacional de Crédito Rural………………………………... 38

1.4. O setor agrícola após o Regime Militar…………………………………… 41 1.5. As consequências da aplicação das políticas públicas para a modernização

do campo no pós-1950……………………………………………………… 44

2 - DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, AGRICULTURA FAMILIAR E PATRONAL: uma abordagem conceitual…………………………………………..

51

2.1. A origem e o conceito da sustentabilidade…………………………………. 51 2.2. Agricultura familiar e patronal……………………………………………... 57 2.3. Agricultura familiar e sustentabilidade…………………………………….. 60

3 - OS PRODUTORES PATRONAIS E FAMILIARES DOS MUNICÍPIOS DE MONTE CARMELO E IRAÍ DE MINAS (MG): uma análise comparativa…….

66

3.1. As características dos municípios………………………………...……….. 66 3.2. Caracterização dos produtores analisados………………………………… 69 3.3. O acesso dos produtores ao financiamento agrícola e à assistência técnica. 76 3.4. Os produtores patronais e familiares e as relações com o meio ambiente… 79 3.5. A utilização da mão-de-obra nas propriedades patronais e familiares……. 90 3.6. A renda adquirida nas propriedades……………………………………….. 91

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CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................93

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................97

ANEXO.........................................................................................................................103

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LISTA DE FIGURAS

FIG. 1 - Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba: localização da área de estudo…………………………………………………………………………….

18

FIG. 2 - Fazenda N.ª S.ª Aparecida, Monte Carmelo (MG) - Terreiro de café e plantação ao fundo…………………………………………………………………..

72 FIG. 3 - Fazenda Pastinha, Iraí de Minas (MG) - Trabalho familiar na pecuária leiteira……………………………………………………………………………….

75 FIG. 4 - Fazenda Grole, Iraí de Minas (MG) - Área com plantio direto…………….

83

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Área média e pessoal ocupado nos estabelecimentos agrícolas brasileiros segundo categoria (1994 - estimativas)………………………………….

61

Tabela 2 - Distribuição do destino da mão-de-obra do produtor rural e da família nos municípios de Iraí de Minas, Monte Carmelo e Romaria – 1996………………

62

Tabela 3 - Renda líquida familiar das propriedades rurais familiares dos municípios de Iraí de Minas, Monte Carmelo e Romaria – 1996…………………...

63

Tabela 4 - Práticas ecológicas utilizadas nas propriedades rurais familiares dos municípios de Iraí de Minas, Monte Carmelo e Romaria - 1996 - (em %)…………

64

Tabela 5 - Estrutura fundiária do município de Monte Carmelo – 1999……………

66

Tabela 6 - Estrutura fundiária do município de Iraí de Minas – 1996………………

68

Tabela 7 - Estratificação das propriedades rurais patronais e familiares nos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000……………………….

70

Tabela 8 - Escolaridade dos produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000………………………………………

71

Tabela 9 - Principais atividades realizadas nas propriedades patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000………………......

72

Tabela 10 - Principais culturas difundidas nas propriedades patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000…………………..

73

Tabela 11 - Tipo de pecuária adotada pelos produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000……………………….

73

Tabela 12 - Grau de mecanização nas propriedades patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000……………………….

75

Tabela 13 - Assistência técnica aos produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000……………………….

76

Tabela 14 - Origem da assistência técnica dada aos produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000……….

77

Tabela 15 - Produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) que fazem financiamento da produção – 2000………………...

78

Tabela 16 – Utilização dos recursos do PRONAF pelos produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000……….

78

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Tabela 17 - Finalidade do financiamento recebido pelos produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000……….

79

Tabela 18 - Conhecimento de leis de proteção ao meio ambiente pelos produtores dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000…………………..

80

Tabela 19 -Produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) que apresentaram um conceito de agricultura orgânica – 2000..

80

Tabela 20 - Situação das propriedades patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) quanto à erosão do solo – 2000…………….

81

Tabela 21 - Produtores patronais e familiares que realizam atividades de contenção de erosão dos solos nos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000………………………………………………………………………………....

82

Tabela 22 - Principais práticas adotadas pelos produtores patronais e familiares para contenção da erosão nos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000…………………………………………………………………………….....

82

Tabela 23 - Difusão da prática do plantio direto nas propriedades patronais e familiares nos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000……….

84

Tabela 24 - Propriedades patronais e familiares que utilizam alguma prática de conservação do solo nos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000…………………………………………………………………………………

84

Tabela 25 - Utilização das práticas de conservação do solo pelos produtores patronais e familiares nos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000……………………………………………………………………………….

85

Tabela 26 - Utilização de calcário, fertilizantes químicos e orgânicos entre os produtores patronais e familiares nos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000…………………………………………………………………

87

Tabela 27 - Produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) que usam o sistema de irrigação – 2000……………………….

89

Tabela 28 - Principais práticas de irrigação adotados pelos produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000……….

89

Tabela 29 - Número total de pessoas que trabalham permanentemente nas propriedades patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000…………………………………………………………………

90

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Tabela 30 - Grau de satisfação dos produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas em relação à renda gerada nas propriedades – 2000…………………………………………………………………

91

Tabela 31 – Expectativa dos produtores patronais e familiares sobre a atividade agropecuária para os filhos nos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) – 2000………………………………………………………………………...

92

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Distribuição do número de produtores entrevistados por categoria nos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas – 2000……………………………...

19

Quadro 2 - Principais diferenças entre o modelo patronal e familiar de produção…. 58

Quadro 3 - Distribuição da população no município de Monte Carmelo – 1996…... 66

Quadro 4 - Índice pluviométrico do Município de Monte Carmelo (mm/mês) - Média dos últimos 10 anos - 1990/1999…………………………………………….

67

Quadro 5 - Distribuição da população no município de Iraí de Minas – 1996……... 68

Quadro 6 - Índice pluviométrico do Município de Monte Carmelo (mm/mês) - Média dos últimos 10 anos - 1990/1999…………………………………………….

69

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RESUMO

O setor rural brasileiro, em sua história, é marcado pela exploração predatória dos

recursos naturais e por políticas públicas que, na maioria das vezes, prescindiram da

valorização do meio ambiente e incentivaram a aplicação de pacotes tecnológicos que

visavam solucionar problemas brasileiros a partir de soluções externas. Diante da

necessidade de encontrarmos alternativas de um desenvolvimento rural que vise a

eficácia produtiva mas que leve em consideração os limites do meio ambiente, este

trabalho vem discutir as possibilidades de atingirmos este desenvolvimento, no qual

denominamos sustentabilidade de produção. Para tanto, primeiramente fizemos um

levantamento histórico da agropecuária brasileira desde meados do século XIX até os

dias atuais. Ao discutirmos a sustentabilidade, tornou-se imprescindível fazermos uma

busca dos conceitos sobre este tema assim como também dos sistemas de produção

considerados, ou seja, o sistema de produção patronal e o familiar. A região de estudo

considerada foram os municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas, estado de Minas

Gerais. Os dois sistemas de produção foram analisados e comparados para que

pudéssemos avaliar qual representaria ser mais viável na busca do desenvolvimento

sustentável.

Palavras-chave: 1) desenvolvimento sustentável 2) agricultura patronal

3) agricultura familiar 4) modernização agrícola 5) meio ambiente

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ABSTRACT

The rural sector in Brazil has been historically marked by the predatory exploitation of

natural resources and the existence of public policy which, in general, is prejudicial to

the environment and encourages the use of technological “packages” which promise to

resolve Brazilian problems through the use of imported solutions. Due to the need for

viable alternatives for a rural development that can produce efficiently, considering the

limits of the environment, the present study examines possibilities for the

implementation of such development using what has come to be called sustainable

production. Beginning with a review of the literature that included the history of

Brazilian agriculture since the middle of the 19th century, the modern concepts of

sustainability are elaborated together with examination of the systems of production

(family and absentee landlord) in which they are applied. The municipal regions of

Monte Carmelo and Iraí de Minas, of the State of Minas Gerais, formed the area for the

collection of data and analysis. Emphasis is given to the contrasts between family and

absentee production as viable alternatives for the implementation of sustainable

production and development.

Key Words: 1) sustainable development 2) absentee production

3) family agriculture 4) agricultural modernization 5) environment

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INTRODUÇÃO

Atualmente, muito se tem discutido sobre a necessidade de desenvolvermos

uma agricultura que seja ecologicamente correta, economicamente viável e socialmente

desejável. Essas discussões se dão pelo fato de estarmos passando por mais uma fase do

desenvolvimento agrícola brasileiro.

COELHO (1998), em seu trabalho “O princípio do desenvolvimento

sustentado na agricultura brasileira” realiza um estudo sobre estas fases, separando-as

em três fases distintas.

Na primeira fase da evolução da agricultura (que vai até meados dos anos

sessenta) o conceito de desenvolvimento econômico, que dominou o processo de

formulação das políticas econômicas, enfatizava a necessidade premente de se promover

a industrialização do país dentro da estratégia de substituir as importações. O segmento

mais dinâmico do setor agrícola, representado pelo café e pelo açúcar, era penalizado de

várias formas, principalmente por confisco cambial, câmbio sobrevalorizado e outros

impostos indiretos. Seu papel consistia em fornecer capital e divisas para a expansão do

setor industrial. O restante, representado pelas culturas de consumo doméstico, era

essencialmente negligenciado e tinha o papel de fornecer alimentos baratos para a

crescente população urbana. Todavia, operando dentro de baixos padrões de

produtividade, à beira da estagnação, sem tecnologia e sem investimentos, logo ficou

evidente, no início dos anos sessenta, a sua incapacidade de gerar os excedentes

necessários.

A segunda fase foi consequência da crise de abastecimento do início da

década de sessenta, da necessidade de aumentar e diversificar as exportações e da

introdução e expansão da revolução verde, em nível mundial. Muitos problemas foram

solucionados nesta segunda fase, como o aumento da produtividade, a diversificação na

pauta de exportações e a geração de divisas (necessária no financiamento da balança de

pagamentos deficitária que se agravava ano após ano). Porém, muitas falácias foram

agravadas, entre as quais, o êxodo rural intenso, a concentração fundiária, a

marginalização de pequenos produtores e o agravamento da exploração irracional dos

recursos naturais.

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Atualmente, estaríamos passando desta segunda fase evolutiva da

agricultura brasileira para uma terceira, podendo também ser chamada de fase da

agricultura sustentável, sendo esta uma consequência do novo modelo de atuação do

Estado na economia e na agricultura, da crescente preocupação da sociedade com as

práticas conservacionistas e da própria abertura comercial, que certamente está exigindo

maior atenção ao controle de qualidade dos produtos em termos de poluição, ou seja, do

uso de agrotóxicos.

Além das discussões acerca dessa nova agricultura, muitos outros temas,

paralelamente, ganham espaço, complementando o chamado desenvolvimento

sustentável, entre eles, que forma de produção agropecuária condiz com tais objetivos

propostos.

Assim perguntamos: Que forma de produção agropecuária pode ser

considerada como a alternativa mais viável na busca do desenvolvimento agrícola

sustentável? Qual atualmente pode ser considerada como ecologicamente correta,

economicamente viável e socialmente desejável?

Nesse contexto, o trabalho tem por objetivo conhecer a viabilidade

ecológica dos sistemas de produção patronal e familiar no que tange às práticas

agrícolas utilizadas, estabelecendo uma comparação para que possam, através desta,

serem levantados alguns indicadores que nos levem a seguir um caminho alternativo na

busca do desenvolvimento sustentável no campo.

De forma específica, o trabalho se propõe a realizar um levantamento das

práticas agrícolas utilizadas pelos agricultores patronais e familiares; verificar o nível de

conscientização ecológica dos produtores; identificar a racionalidade do uso do meio

ambiente pelos produtores; analisar as condições que os produtores possuem para o

desenvolvimento sustentável de suas propriedades, com destaque para o crédito rural e a

assistência técnica e, destacar a importância que cada sistema de produção, patronal ou

familiar, tem na busca do desenvolvimento sustentável no campo.

Para cumprir os objetivos propostos, realizou-se uma pesquisa de campo nos

municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (FIG. 1), com destaque para os

produtores patronais e familiares.

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Para a realização da pesquisa de campo, primeiramente foi elaborado um

roteiro de entrevista que continha uma série de variáveis consideradas indicadoras dos

aspectos a serem estudados, como a conscientização dos produtores em relação ao meio

ambiente, as práticas utilizadas nas propriedades que visavam a conservação dos

recursos naturais e demais variáveis tangíveis ao estudo proposto.

Elaborado o roteiro de entrevista, realizou-se um treinamento entre os

pesquisadores para que as entrevistas seguissem um mesmo padrão ao serem aplicadas,

como por exemplo a maneira que uma pergunta fosse realizada junto a um produtor

rural.

Após este treinamento, seguiu-se a aplicação do roteiro de entrevista nas

propriedades dos municípios. Esta etapa foi realizada entre os dias 31 de julho a 4 de

agosto e 12 e 13 do mesmo mês do ano 2000. Foram entrevistados 91 produtores nos

dois municípios considerados. Desse total, foram selecionadas 84 entrevistas pelo fato

das demais apresentarem conteúdo de informações insuficientes.

De posse dos roteiros de entrevista, estes passaram por uma padronização e

seleção das variáveis. O objetivo desta etapa era o de escolher os roteiros mais

confiáveis do ponto de vista das informações obtidas e selecionar as variáveis a serem

analisadas.

Após esta organização dos roteiros, a distribuição do número de produtores

entrevistados foi a seguinte nos dois municípios:

Quadro 1 - Distribuição do número de produtores entrevistados por categoria nos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas - 2000

Produtores Monte Carmelo Iraí de Minas Total produtores/categoria Patronais 29 13 42 Familiares 29 13 42 Total de produtores/município

58 26 84

Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

A amostra coletada foi de 58 de um total 1.067 produtores em Monte

Carmelo, ou seja, 5,34% dos produtores rurais do município e 26 produtores de um total

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de 347 em Iraí de Minas, 7,49% do universo de produtores do município.

Padronizados e organizados os dados, estes foram inseridos na planilha

eletrônica Excel de acordo com as variáveis a serem analisadas. A partir do Excel, os

dados foram organizados em tabelas para que fosse realizada a última etapa da

metodologia, ou seja, a análise dos dados coletados.

Não devemos desconsiderar a importância, fundamental, além dos dados

primários, dos dados secundários advindos principalmente das EMATERs dos

municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas.

O trabalho foi dividido em três partes, além da introdução e das

considerações finais.

Primeiramente, realizamos um levantamento histórico do desenvolvimento

rural brasileiro a partir do século XIX, enfocando, principalmente, o início da

modernização do campo ocorrido na década de 60, no qual foram abordados temas

como a introdução da Revolução Verde, a modernização conservadora, os planos de

desenvolvimento agrícola (particularmente localizados nos Cerrados), além de outros

assuntos pertinentes ao estudo.

Realizado o levantamento histórico, no segundo capítulo são demonstradas e

discutidas algumas conceituações imprescindíveis para o entendimento do estudo como

o desenvolvimento sustentável, a agricultura patronal e a familiar .

O terceiro capítulo demonstra os dados da pesquisa de campo realizada,

procurando ao mesmo tempo estabelecer comparações entre agricultura familiar e

patronal no que tange ao desenvolvimento sustentável, particularmente no aspecto

ecológico.

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1 - A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA: do final da escravidão

à atualidade

1.1. As transformações da agricultura brasileira

Durante quatro séculos o setor agrícola brasileiro foi marcado por um longo

período de escravidão, predominância de latifúndios, culturas voltadas principalmente

para o mercado externo e propriedades “auto-suficientes”, ou seja, não inseridas no

modo de produção capitalista.

É difícil dizermos com exatidão a partir de quando se iniciou a

modernização da economia brasileira, mas um fato que incentivou a ruptura de um

sistema agrícola arcaico e incompatível com uma agricultura moderna foi a proibição do

tráfico negreiro em 1850.

O período 1850/1890 se caracteriza pela gradativa redução do trabalho escravo e a introdução do trabalho livre nas fazendas de café do Oeste paulista. O resultado final é a constituição de um novo complexo – o cafeeiro – que mantém ainda internalizada (em bases artesanais) a produção de meios de produção para as fazendas de café (casas, equipamentos, animais e trabalho, etc.) e de parte da força de trabalho (a roça de subsistência do colono).(KAGEYAMA et al., 1990 :117).

A partir daí, iniciou-se a formação de um mercado consumidor com a

substituição do trabalho compulsório pelo trabalho assalariado, a instalação das

primeiras indústrias no país no final do século XIX (basicamente indústrias têxteis e

bens de consumo não duráveis) e a constituição do Complexo Cafeeiro.

1.1.1. O Complexo Cafeeiro

No período que vai do final do século XIX à crise de 1929, a cultura do café

era considerada como o centro da economia brasileira, de acordo com GRAZIANO DA

SILVA (1996: 15):

na verdade, até a década de 30 o determinante da dinâmica da agricultura do mercado interno ainda estava preso às flutuações do mercado externo para o café. Até 1929, o café

Page 21: AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE: um estudo comparativo … · Agricultura moderna e sua subordinação à indústria Nesse período de discussões acerca dos rumos a serem seguidos pela

22

ainda representava quase metade do valor da produção agrícola, caindo para cerca de 16% desse valor no período 1939/45.

No Complexo Cafeeiro, o mercado consumidor urbano foi impulsionado

pelas atividades que agora não eram mais exclusivas das propriedades de café (como

algumas oficinas de equipamentos agrícolas) e pelo sistema de colonato, onde os

imigrantes tinham suas obrigações nas propriedades cafeeiras e desfrutavam de uma

área de terra na qual o excedente da produção era comercializado nas cidades.

Nesse período, a economia brasileira continuava a depender exclusivamente

do mercado externo. Entretanto, a expansão dos ganhos com as exportações possibilitou

o aumento das importações, a busca de novos investimentos e a consequente instalação

de novas indústrias, iniciando o processo de substituição de importações.

Podemos dizer portanto, que o Complexo Cafeeiro financiou em grande

parte a instalação, consolidação e desenvolvimento das primeiras indústrias no Brasil.

Ampliam-se as atividades tipicamente urbanas e outros setores começam a emergir do seio do complexo cafeeiro: cria-se um segmento de produção artesanal de máquinas e equipamentos agrícolas fora das fazendas de café para produção de secadores, despolpadoras, enxadas, arados, etc; [...] consolida-se a indústria têxtil como a primeira grande indústria nacional; e se inicia a substituição de importações de uma ampla gama de bens de consumo “leves”. (KAGEYAMA et al., 1990: 118).

A partir daí, começa a ser visualizada uma separação entre o setor rural e o

urbano (campo e cidade) e entre a agricultura e a indústria. O que antes eram

propriedades que produziam suas necessidades e mantinham a população em seu meio,

com o desenvolvimento do Complexo Rural, forma-se o urbano e a produção de

implementos é transferida para fora das propriedades agrícolas. No final da década de

1920, o Complexo Cafeeiro começa a entrar em declínio, iniciando uma nova forma de

acumulação de capital, advinda do setor industrial.

Page 22: AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE: um estudo comparativo … · Agricultura moderna e sua subordinação à indústria Nesse período de discussões acerca dos rumos a serem seguidos pela

23

1.1.2. O fim do Complexo Cafeeiro e a efetivação da indústria

Vários fatores influenciaram para a decadência do Complexo Cafeeiro, entre

eles:

• a crise mundial de 1929, na qual a oferta excedente da produção cafeeira

não encontrava uma demanda suficiente no mercado pelo fato da crise

contrair o comércio internacional;

• golpe e instalação do Governo Vargas em 1930, que incentivou a

industrialização com políticas voltadas à transferência de recursos do

setor agrícola para a indústria, principalmente da cultura do café, o que

demonstra ainda a grande importância da agricultura no processo de

industrialização1. Esta transferência se dava pela política cambial

adotada, no caso, com elevadas sobrevalorizações cambiais2;

• o próprio dinamismo que estava se iniciando a partir do setor agrícola,

com a formação de um mercado fornecedor de matérias-primas e também

consumidor dos produtos industrializados.

Após 1930, uma nova era começa a se formar no Brasil, ou seja, o país

estava se tornando, gradativamente, um país urbano e industrial.

[...] o processo de industrialização, que a princípio ocupou uma brecha aberta pelo complexo cafeeiro, ganha dinamismo próprio dado pelas novas possibilidades que se abriram com a substituição de importações, deslocando o setor agrícola como pólo dinâmico da economia.(KAGEYAMA et al., 1990 :118).

1 Importante ressaltar que apesar da relevância deste processo de transferência citado acima encontra-se, ainda na atualidade, uma certa dificuldade de se realizar um estudo aprofundado relativo ao tema devido à escassez de informações que focalizem prioritariamente a agricultura. Tal fato pode ser confirmado em SZMRECSÁNYI e RAMOS (1994: 59): “[...]nas numerosas análises das transformações que ocorreram na economia brasileira a partir da década de 1930, tem-se dado a devida ênfase ao processo de industrialização do país, bem como às políticas governamentais que foram desenvolvidas para promovê-lo e acelerá-lo. Embora tivessem sido igualmente consideráveis, as mudanças havidas no setor agropecuário e nas relações deste com o resto da economia nacional não mereceram até agora as mesmas atenções, algo que se aplica, com maior força ainda, ao papel do Estado nestes processos.” 2 Deve-se ter conhecimento que outros produtos foram prejudicados com essa sobrevalorização, por exemplo o algodão, o cacau, a borracha e o açúcar.

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Entretanto, o setor agropecuário continuou a ter grande importância para a

economia. Essa importância se dava pelo financiamento que ainda existia, por parte da

cultura do café, da industrialização que estava em crescimento, pela diversificação da

produção agrícola (sobretudo algodão e cana-de-açúcar) e pela necessidade de

fornecimento de matérias-primas para a indústria e de mercado consumidor para os

produtos industrializados.

A agricultura de exportação, que no início do período participava com cerca de 90% do valor das exportações, foi pesadamente tributada, especialmente através de taxa de câmbio supervalorizada, para financiar o desenvolvimento da indústria de transformação. Esperava-se ainda que a agricultura de mercado interno fornecesse alimentos baratos para a força de trabalho urbana. (GOLDIN & REZENDE, 1993 :13).

Até a década de 50 ocorreu o desenvolvimento do mercado interno, o setor

urbano estava em crescimento e o governo fechava o ciclo industrial de substituição de

importações com a instalação da indústria pesada (D1), a indústria adquiria um

dinamismo próprio para se desenvolver.

Ocorrido o desenvolvimento industrial, no final da década de 50, o

crescimento econômico baseado neste setor de produção começa a perder impulso, a

matéria-prima necessária para a indústria torna-se escassa, a produção de alimentos era

insuficiente para o setor urbano que continuava em crescimento e o processo

inflacionário pressionava o Estado e o setor urbano-industrial a tomar atitudes para

alterar a situação.

ROMEIRO (1998: 103) coloca que a estrutura agrária predominante,

altamente concentrada e monocultora, foi a responsável, na época, pela situação adversa

em que se encontrava a economia brasileira.

No final dos anos 50, após um período de intenso crescimento industrial e de urbanização, marcado por desequilíbrios e pressões inflacionárias, a economia entra em declínio. Um grande debate teve lugar na época sobre as causas desses problemas. A estrutura agrária concentrada, baseada no grande latifúndio, foi vista como a causa desses desequilíbrios e pressões inflacionárias, e portanto, como um obstáculo à continuidade do processo econômico.

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Em meio às discussões da época, duas correntes ganharam destaque nos

debates acerca da estrutura agrária: a estruturalista e a neoclássica.

1.1.3. O debate estruturalista x neoclássicos

A corrente estruturalista colocava a estrutura da terra, baseada na elevada

concentração de terras nas mãos de uma minoria de grandes proprietários, como grande

empecilho para maior participação da agricultura no processo de desenvolvimento, pelo

fato da grande propriedade ainda ser “auto-suficiente” e o grande número de

minifúndios inviabilizarem a produção agrícola. A concentração de terras seria a

responsável pela dificuldade da entrada do capital no setor agrícola, ocasionando a

manutenção das relações pré-capitalistas no campo.

Outro fator apontado pelos estruturalistas foi que a estrutura agrária

concentrada resultava em um “[...] crescimento inadequado da oferta de alimentos, o

que acabaria por frustrar o desenvolvimento industrial.(GOLDIN & REZENDE, 1993

:14).

Para os estruturalistas, a reforma agrária era imprescindível para que fosse

solucionado o gargalo no desenvolvimento tanto agrícola, quanto industrial.

Já os neoclássicos não viam a estrutura agrária como empecilho ao

desenvolvimento, mas apenas a existência de fazendas pré-capitalistas, utilizadoras de

técnicas tradicionais de produção, que não utilizavam práticas tecnificadas de produção

na propriedade, ou seja, não se inter-relacionavam com o setor urbano-industrial

Essas propriedades tradicionais ofertavam uma baixa quantidade de

alimentos e matérias-primas para os centros urbanos e demandavam uma pequena

quantidade de insumos agrícolas, incompatíveis com as necessidades de

desenvolvimento do setor industrial.

Podemos perceber que, se para uma corrente a estrutura agrária concentrada

era a razão da criação de barreiras que impediam o desenvolvimento agrícola e a ligação

com o setor urbano-industrial, por outro lado, a mesma estrutura concentrada não era

um empecilho a este desenvolvimento.

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26

Para SORJ (1986: 118), a discussão sobre a questão agrária passou a ser

analisada sob dois enfoques divergentes: “[...] a questão agrária constituiria um

problema específico a ser resolvido pela reforma agrária, ou, [...] se trataria de um

problema superado, deixando de existir uma problemática agrária com soluções

próprias.”

Dentre as duas correntes, a segunda acima supracitada prevaleceu. Ocorreu a

modernização no campo, sem que houvesse alterações na estrutura do sistema agrário.

A partir de meados de década de 60 o Brasil passou a ver vigorar as idéias dos autores defensores da “teoria da modernização” na formulação das políticas dirigidas para sua agricultura. O incremento da produção deveria ser a partir de então promovido não apenas através do aumento da área agricultável mas também via aumento da produtividade.(SANTOS, 1988: 32).

A modernização – “modernização conservadora” - caracterizou-se pela

manutenção da propriedade rural de forma concentrada, além de intensificar esse

processo de concentração. A intervenção do Estado alterou as relações de produção,

transformando os proprietários em empresários capitalistas. Sendo assim, a

concentração das terras não mais constituiu um “empecilho” ao aumento da produção e

produtividade exigido pelo processo de desenvolvimento do país.

A partir desse processo de modernização as necessidades para o

desenvolvimento industrial em muito foram atendidas, com o aumento do fornecimento

de matérias-primas e alimentos para a indústria e população urbana (que já estava

consolidada e ainda se encontrava em crescimento), juntamente com o aumento da

demanda de insumos agrícolas.

Devemos ressaltar que, aliada à discussão sobre os rumos a serem seguidos

pela agricultura brasileira, ocorreu um fortalecimento dos movimentos camponeses e a

consequente melhoria da organização da classe, o que resultou na formulação de

propostas de reforma agrária.

Em meio a esse debate, o governo Goulart implantou a Lei Delegada n.º 11,

onde foi criada a SUPRA (Superintendência de Política Agrária). O objetivo final era de

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se realizar a reforma agrária. Tal processo foi interrompido em 31 de março de 1964,

com o golpe militar, onde as forças armadas tomaram o governo e instauraram a

Ditadura Militar no país.

1.2. Agricultura moderna e sua subordinação à indústria

Nesse período de discussões acerca dos rumos a serem seguidos pela

agricultura brasileira, que vai da década de 50 até meados da década de 60, de acordo

com PESSÔA (1988) foram estabelecidas tanto condições estruturais, quanto políticas

para a instalação de uma agricultura moderna no Brasil.

Em relação aos aspectos estruturais, as condições se dão pela permanência

da estrutura fundiária concentrada e o desenvolvimento da indústria de bens de capital e

insumos agrícolas. Quanto aos aspectos políticos, destacam-se o fim dos movimentos

populares (sobretudo pela força ditatorial que se instalara) e a criação do SNCR

(Sistema Nacional de Crédito Rural) em 1965, sendo que este último possibilitou o

financiamento da modernização no campo.

Elaborados os aspectos estruturais e políticos para o desenvolvimento do

setor rural brasileiro, criaram-se definitivamente condições para o desenvolvimento

agrícola brasileiro.

Em resumo, na década de 60, particularmente em seus anos finais, havia um conjunto de condições macroeconômicas e políticas internas que possibilitaram uma mudança qualitativa no padrão de desenvolvimento da agricultura e no lugar que ela passava a ocupar no padrão geral de acumulação no país. (GRAZIANO DA SILVA, 1996: 29).

Para melhor compreendermos como ocorreu a modernização do setor rural

brasileiro, é de fundamental importância que saibamos que esta se deu através da

modernização conservadora, introdução da Revolução Verde e aplicação de políticas

agrícolas.

− Modernização conservadora, Revolução Verde e a questão agrária e agrícola.

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28

Modernização conservadora é um conceito utilizado para designar um

processo no qual a subordinação da agricultura à indústria e a sua consequente

modernização ocorreu sem que houvesse uma mudança em sua estrutura fundiária.

Obteve-se a tecnificação do setor rural, com as máquinas e implementos

agrícolas introduzidos em grandes escalas, e também se atingiu o aumento da produção

e produtividade. Contudo, esses avanços ocorreram com a permanência das grandes

propriedades monocultoras.

Com relação à Revolução Verde, esta idéia foi difundida a partir do final

dos anos 50, na qual seu objetivo era acabar com a fome no mundo. Os objetivos seriam

alcançados com o aumento da produção e produtividade das culturas do setor agrícola.

Para que fosse aumentada a produtividade, pesquisas foram realizadas com

o intuito de melhorar geneticamente espécies vegetais, para que estas se tornassem mais

produtivas (com a diminuição do tempo das culturas), mais resistentes às pragas e às

adversidades naturais das regiões a serem cultivadas, respondendo positivamente `a

utilização de adubos químicos e corretivos.

Aliada às mudanças genéticas realizadas, outro aspecto de imensa

importância foi a utilização da mecanização intensiva, seja para o preparo da terra, ou

para a colheita, o que diminuiu em muito a necessidade de mão-de-obra na agricultura.

Com a introdução da Revolução Verde, valorizou-se mais intensamente o

fator capital, de que somos carentes, reduzindo-se o fator trabalho, que é mais

abundante (ANDRADE, 1979).

Um grande aspecto a ser mencionado se dá pela mudança dos costumes dos

produtores rurais, para que estes prescindissem das técnicas tradicionais de produção e

introduzissem em suas propriedades este novo pacote tecnológico.

A sociedade valoriza aqueles engendrados pela “ideologia da modernização”, considerando-os racionais, progressistas e aliados do progresso, e marginaliza aqueles preocupados em questionar as tecnologias propostas, defensores do “passado” (GRAZIANO NETO, 1986: 43).

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Os três aspectos acima relacionados (genéticos, químicos e mecânicos)

foram implantados de maneira conjunta no setor rural brasileiro. O que podemos dizer é

que houve a implantação de uma política agrícola brasileira, mas não de uma política

agrária3, ou seja, se por um lado foi alcançado o aumento da produção agrícola no

campo pela implantação da Revolução Verde, não houve uma distribuição da terra,

permanecendo esta altamente concentrada.

Com relação à subordinação da agricultura à indústria, é importante

ressaltarmos que a introdução do pacote da Revolução Verde não foi o fator que

determinou a total subordinação, mas a constituição dos Complexos Agroindustriais

(CAIs), que além de determinar as atividades agrícolas à montante (antes mesmo do

plantio como utilização de máquinas, adubos, inseticidas e sementes melhoradas),

determinavam também as atividades à jusante (após a produção, beneficiamento e

comercialização).4

1.3. A participação do governo ditatorial no setor agrícola

Com a criação de condições para a implementação de uma agricultura

moderna e industrializada, condições estas já citadas como estruturais e políticas, no ano

de 1964, a ditadura militar realiza o golpe e coloca a agricultura como ponto

fundamental para obter um desenvolvimento econômico para o Brasil, principalmente

na questão de produção de alimentos para o mercado interno (visando abaixar os preços

e conter a inflação) e exportação (para a geração de divisas).

PESSÔA (1988) faz uma cronologia das políticas implantadas durante este

período:

3 A questão agrária está relacionada às transformações nas relações de produção (como se produz, de que forma se produz); a questão agrícola está relacionada às mudanças na produção em si mesma (o que se produz, onde se produz e quanto se produz). Ambas podem ser desenvolvidas de uma maneira conjunta ou, no caso do Brasil, aplicadas contraditoriamente com o aumento da produção agrícola e aumento dos problemas em torno da questão agrária. 4 Para saber mais sobre as definições dos Complexos Agroindustriais (CAIs), assim como os fatores que constituíram sua formação, ver mais a respeito em GRAZIANO DA SILVA (1996), capítulo 1.

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• PAEG – Plano de Ação Econômica do Governo (1964/1966): instalado

no governo Castelo Branco (1964/67), seu objetivo era dinamizar a

agricultura, inserindo ainda alguns pontos de reforma agrária;

• Elaboração do Estatuto da Terra - 19645: inesperadamente, a questão da

reforma agrária foi colocada como ponto de grande importância para o

desenvolvimento da agricultura no início da ditadura. Entretanto, suas

propostas não foram levadas adiante e as questões referentes à estrutura

agrária ficaram à margem do processo de desenvolvimento econômico;

• Plano Decenal (1967): no governo Costa e Silva (1967/1969), este

programa foi instalado com o intuito de modernizar a agricultura a um

patamar ainda mais elevado, com maior incentivo ao uso de máquinas e

fertilizantes, consequentemente, maior atrelamento da agricultura à

indústria;

• I PND – Plano Nacional de Desenvolvimento (1972/1974): com o

Governo Médici (1969/1974) a modernização da agricultura continua

sendo o foco dos programas. Mas, no I PND, as ações foram aplicadas

regionalmente, através de alguns programas regionais6;

• II PND (1974/1979): este programa foi apenas a continuação do I PND,

sendo instalado no governo Geisel (1974/1979), reforçando a

necessidade de promover o desenvolvimento agrícola como meio de se

atingir o desenvolvimento econômico;

• III PND (1980): no último governo militar (Figueiredo – 1979/1985), o

setor agrícola continuou sendo foco de programas de desenvolvimento,

5 O Estatuto da Terra foi sancionado em 30 de novembro de 1964 na Lei nº. 4.504, que tratava da estruturação do processo de reforma agrária pretendida. Este documento teve o nome de Estatuto da Terra, e se dividia em quatro partes, quais sejam: Título I - Disposições Preliminares; Título II - Reforma Agrária; Título III - Política de Desenvolvimento Rural e Título IV - Disposições Gerais e Transitórias. Dentro deste esquema, foi privilegiado o Título III, referente às políticas de desenvolvimento rural, o que acabou por desviar o foco das questões relativas à reforma agrária (Título II), gerando o fortalecimento das posições defendidas pelo grupo dos que acreditavam na permanência da estrutura agrária vigente, por não considerá-la um empecilho ao desenvolvimento.

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pois este era visto como de grande importância para conter a evolução

dos preços, gerar divisas para o financiamento da Balança de

Pagamentos e estimular o desenvolvimento econômico.

Durante o Governo Militar, o que podemos analisar é que, ao longo de todo

o período, o setor agrícola foi considerado primordial para o desenvolvimento do país,

ao contrário dos anos anteriores.

Se anteriormente ao período da ditadura a agricultura chegou a ser

considerada um empecilho ao desenvolvimento econômico do país pelo fato de haver

pouca relação entre indústria e agricultura, no governo militar, esta visão mudou, sendo

ainda a agricultura primordial para o desenvolvimento econômico.

Essa importância se dava devido à necessidade de geração de divisas para

financiar o endividamento público, isto é, equilibrar a balança de pagamentos via

superávits na balança comercial; produzir alimentos para conter a inflação; ampliar as

fronteiras agrícolas a fim de “ocupar” novas regiões e estabelecer uma maior relação

entre a agricultura e a indústria, para que fosse ampliado o mercado fornecedor de

matérias-primas e também consumidor de produtos industrializados.

O governo militar conseguiu aproveitar os fatores estruturais e políticos para

inserir a agricultura no meio econômico, criando condições para a implantação do

pacote tecnológico da Revolução Verde nas grandes propriedades monocultoras, através

da modernização conservadora; estabelecendo uma relação de dependência das

propriedades agrícolas com os CAIs (Complexos Agroindustriais), tanto à montante,

quanto à jusante, acelerando o processo de industrialização da agricultura e, por último,

minimizando as pressões sociais pela mudança na estrutura agrária, seja pela repressão,

ou pela implantação de medidas paliativas como os projetos de colonização.

1.3.1. A inserção dos cerrados nas mudanças agrícolas e os programas de

desenvolvimento

6 Sobre estes programas regionais, ver mais a respeito em PESSÔA (1988), capítulo 2.

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Como exemplo da intervenção do governo militar na modernização do setor

agrícola brasileiro, temos a região dos cerrados, sendo que esta, considerada última

fronteira agrícola do Brasil, na década de 1970 passou a ser palco de implantação de

vários projetos públicos e privados que visavam o aumento da produção agrícola de

grãos.

O desejo do aumento da produção de grãos por parte do governo brasileiro

veio em conjunto com o interesse japonês em participar desse processo. O embargo

norte-americano de soja em 1973 foi o fator que alertou não só o Japão, mas também

vários outros países sobre os riscos de uma hegemonia em um determinado bem

agrícola.

Altamente dependente de produtos agrícolas e matérias-primas, o governo

japonês passou a investir em projetos agrícolas, sendo então o cerrado uma importante

opção de investimento. Esse investimento visava obter uma fonte alternativa de

alimentos e até mesmo criar uma poderosa Bolsa de Cereais em Tóquio.

A tentativa de participação japonesa no desenvolvimento agrícola no

cerrado brasileiro começou no início da década de 60, quando em 1961 o Ministério dos

Negócios Estrangeiros do Japão apresentou ao presidente João Goulart um ambicioso

projeto de colonização e aproveitamento dos Cerrados, onde o financiamento completo

de todo o projeto se daria pela JICA.

Suspeitando-se que tal projeto fosse ameaçador à soberania nacional, esse

foi integralmente vetado, no mesmo ano, sem deixar a menor possibilidade de novas

tentativas a curto prazo.

Entretanto, passado alguns anos, no dia 15 de julho de 1971, foi firmado o

Acordo Básico de Cooperação Técnica Brasil-Japão, onde técnicos japoneses

estudariam a economia brasileira, incluindo um estudo sobre o Cerrado. Recomeçava a

tentativa japonesa de "ocupação nos Cerrados" (MARTIN & PELEGRINI, 1984).

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Entre os programas implantados na tentativa de tornar o cerrado uma grande

área agrícola, podemos considerar o PCI (Programa de Crédito Integrado e Incorporação

dos Cerrados) como o programa pioneiro.

Criado em 1972, foi resultado de uma iniciativa do BDMG (Banco de

Desenvolvimento de Minas Gerais) e serviu para alterar a visão da época de que o

cerrado era impróprio para a produção agrícola, sendo portanto o objetivo do programa

de levar ao cerrado o desenvolvimento tecnológico já inserido em outras regiões como

São Paulo e Paraná.

Para CLEPS JÚNIOR (1998: 126) “esse programa, de caráter pioneiro,

constituiu um marco para os programas federais subsequentes, em escala federal, para

incrementar a utilização de grãos exportáveis das áreas do cerrado mineiro.”

Talvez pelo fato de ser um programa pioneiro, o PCI não conseguiu atingir

seus objetivos em sua plenitude, como destaca PESSÔA (1988: 101):

entretanto, o PCI não conseguiu a transformação tecnológica na sua totalidade, porém contribuiu para desenvolver uma linha para modernizar a agricultura nos cerrados de Minas Gerais, nos moldes da grande e média propriedade, onde o setor industrial foi o grande beneficiado.

Contudo, esse programa pioneiro despertou o interesse para que outros

programas viessem a ser implantados no cerrado, interesse que levou dirigentes e

técnicos da CAC (Cooperativa Agrícola de Cotia) visitarem a região do Triângulo

Mineiro/Alto Paranaíba, para a formulação de assentamentos de colonos escolhidos pela

própria cooperativa (colonos estes vindos do sul de São Paulo e norte do Paraná).

Assim, criou-se o PADAP (Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba).

O PADAP foi implantado no ano de 1973 e até aquele momento era o maior

projeto agropecuário estabelecido no Brasil. De início, ocupou uma área de 61 mil

hectares e consumiu uma imensa quantia de investimentos.

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A CAC assumiu a frente da organização do PADAP, incluindo a

participação de vários órgãos públicos e privados e o acompanhamento de técnicos

japoneses da JICA.

Esse acompanhamento de técnicos estrangeiros foi facilitado pela CAC pois,

embora formado por capital brasileiro, essa cooperativa era explicitamente ligada ao

Japão, sendo essa ligação (CAC-Japão) resultado da fundação da CAC por imigrantes

japoneses objetivados a manter unidos os interesses desses imigrantes na nova terra.

Quanto às possibilidades de implantação do pacote tecnológico da

Revolução Verde, as condições foram facilitadas pela existência de grandes extensões

de terras mecanizáveis e a necessidade de corretivos e adubos químicos para a

viabilização do solo para o cultivo de culturas como a soja e o milho7.

Para PESSÔA (1988), apesar das incertezas quanto aos resultados a serem

obtidos, o PADAP foi um sucesso. Através deste programa, os objetivos pretendidos

pelo PCI foram de fato alcançados em grande escala, pois o PADAP representou a

primeira experiência positiva de exploração agrícola no cerrado, expandindo a

agricultura capitalista na região.

O sucesso do PADAP pode ser medido em números: a safra 81/82 atingiu o

maior índice de produtividade média de trigo da agricultura brasileira, colhendo 33,7

sacas por hectare.(MARTIN & PELEGRINI, 1984: 50).

O sucesso obtido pelo PADAP serviu de porta de entrada para a implantação

de um projeto ainda mais ambicioso, o POLOCENTRO (Programa de Desenvolvimento

dos Cerrados).

A experiência do PADAP representa o ponto de partida para o POLOCENTRO, o impulso fundamental para o grande desenvolvimento da agricultura empresarial no cerrado, na última década de 1970, além de preparar as bases para a consolidação do Projeto Cerrado (PRODECER).(PESSÔA, 1988: 106).

7 Sendo estas cultivadas com sementes melhoradas geneticamente para se adaptarem às adversidades da região.

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Criado em 1975, o POLOCENTRO dispunha inicialmente, de uma maciça

quantia de investimento de capitais e créditos para grandes e médios produtores.

As áreas escolhidas para a implantação do projeto foram: Triângulo Mineiro

(MG), Alto e Médio São Francisco (MG), Vão de Paracatu (MG), Campo Grande (MS),

Três Lagoas (MS), Bodoquena (MS), Xavantina (MT), Parecis (MT), Gurupi (TO),

Paraná (GO), Pirineus (GO), Piranhas (GO) e Rio Verde (GO).

O programa do POLOCENTRO era objetivo e claro: criar áreas de penetração na periferia dos cerrados, para permitir a formação de cidades, escoadouros de produção, concentração de mão de obra e, enfim, toda a infra-estrutura necessária para um avanço rumo ao interior do cerrado.(MARTIN & PELEGRINI, 1984: 52).

Todo um complexo de infra-estrutura foi implantado na região, como

rodovias, armazéns, minas de calcário e fosfato, silos, apoio à pesquisa e assistência,

rede de energia elétrica, etc. “No período entre os anos de 1975 a junho de 1984, foram

destinados ao POLOCENTRO recursos da ordem de US$ 868 milhões distribuídos no

setor de transporte, pesquisa e agropecuária, armazenamento, energia, assistência e

crédito rural.” (PESSÔA, 1988: 106).

Durante a implantação do POLOCENTRO, no ano de 1976, o presidente

Ernesto Geisel, em viagem ao Japão, criou mais um programa visando o

desenvolvimento agrícola nos cerrados, o PRODECER (Programa Nipo-Brasileiro de

Desenvolvimento Agrícola da Região dos Cerrados). Nesse projeto, o que mais lhe

particularizou foi a intensa participação japonesa no financiamento de recursos.

Para que fossem executados os objetivos de colonização do PRODECER,

foi criada em 1978, a CAMPO8 (Companhia de Promoção Agrícola). Quando

estabelecida, a CAMPO já excluía o POLOCENTRO, pois este agonizava com a falta

de recursos sendo prescindido para a implantação do PRODECER.

O Polocentro foi o último lance de articulação para a entrada em cena dos poderosos capitais japoneses e brasileiros, que iniciaram o terceiro e, certamente, definitivo ciclo de

8 Para saber mais a respeito da formação da CAMPO ver CLEPS JÚNIOR (1998), capítulo 4.

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ocupação dos Cerrados brasileiros, sob a égide do Projeto JICA.(MARTIN & PELEGRINI, 1984: 52).

O interesse japonês em financiar o PRODECER advinha de uma estratégia

agrícola de suprimento de commodities agrícolas.

Trata-se de um programa de colonização em áreas dos cerrados para a produção de grãos e executado pela CAMPO, uma empresa mista de capital público e privado, brasileiro e japonês. A participação japonesa no PRODECER epitoma os interesses de outros países nos cerrados, como uma área estratégica de suprimento de commodities agrícolas, na divisão internacional do trabalho, o que acaba por concretizar-se com a cultura da soja.(SHIKI, 1995:19).

Para por em prática o PRODECER, a CAMPO instalou, no período de

1979/1981, três projetos pilotos com características próprias nas cidades mineiras de

Coromandel, Iraí de Minas e Paracatu (PESSÔA, 1988). A implantação desses projetos

foi facilitada pela possibilidade de tratorização em grande escala, melhoramento

genético da cultura da soja, reservas minerais na região (calcário e fosfato) e terras

menos valorizadas em relação às terras da Região Sul.

A partir da implantação do PRODECER na região dessas três cidades,

ampliou-se a área de atuação desse projeto para outras regiões como os estados de

Goiás, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul (PRODECER II) e por último Piauí,

Pará e Rondônia (PRODECER III) (CUSTÓDIO, 2000).

1.3.2. As consequências do Regime Militar

No período do Regime Militar, o sistema político oprimiu as questões

sociais como a questão agrária, ficando então esta à margem das discussões que

envolviam o setor rural, pois a produção agrícola havia aumentado, possibilitando a

ampliação do volume de exportação, favorecendo a obtenção de divisas para o país,

necessária num período de importação de bens de capital e de pagamento dos encargos

da dívida externa.

Nesse período, que ficou conhecido como o do “milagre brasileiro”, pouco se falou da questão agrária. Em parte porque a repressão política não deixava falar de quase nada.

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Mas em parte também porque muitos achavam que a questão agrária tinha sido resolvida com o aumento da produção agrícola ocorrida no período do milagre.(GRAZIANO DA SILVA,1985: 8).

Assim, passada a euforia, percebeu-se a falácia agrária criada pelo projeto de

desenvolvimento aplicado no campo, com o beneficiamento de uma minoria de

“empresários capitalistas” e a penalização dos pequenos produtores rurais.

O sistema utilizado pelo governo militar para resolver a questão agrícola,

via “modernização” no campo, manteve o padrão de concentração de terras aliado à

expansão da fronteira agrícola.

Com a expansão da grande empresa capitalista no campo, aliada ao aumento

da produtividade e à industrialização da agricultura, o êxodo rural se intensificou. Isto

porque houve a dissolução do complexo rural existente, “expulsando” do meio rural

pequenos produtores familiares, posseiros, parceiros, meeiros e arrendatários, tendo

estes então que mudar para as cidades, acelerando o processo de urbanização.

Com a industrialização da agricultura - especialmente na fase da consolidação dos CAIs (Complexos Agro-industriais) a partir de meados dos anos 70 - impõe-se uma crescente urbanização do meio rural. Dois processos são aí fundamentais: primeiro, a conhecida “perda de atividades do setor agrícola” que caracteriza a ruptura do velho complexo rural [...]. Segundo, o que poderíamos chamar de “urbanização do trabalho rural” que se traduz nas transformações sociais de produção[...].(GRAZIANO DA SILVA, 1995b: 135).

De todos os avanços adquiridos no período da ditadura militar em relação à

modernização da agricultura, implantação da Revolução Verde, constituição e

desenvolvimento dos CAIs, aumento da produção e produtividade e implantação dos

projetos de colonização, um aspecto foi de fundamental importância para a efetivação

destas ações, que foi a implantação do SNCR (Sistema Nacional de Crédito Rural).

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1.3.3. O Sistema Nacional de Crédito Rural.

Criado em 1965, o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR)9 ampliou a

aplicação do crédito rural subsidiado instituído no país em 1937 pelo governo Vargas.

Este crédito, em sua nova forma, passou a ser destinado ao estímulo da produção

agrícola e à promoção da modernização na agricultura.

A política oficial relativa ao crédito agrícola tem sido um fator-chave para explicar o desempenho da agricultura brasileira. Embora o crédito rural no Brasil tenha suas origens no sistema instituído pelo Banco do Brasil em 1937, ele só passou a ser importante na política agrícola governamental em meados da década de 60, quando o sistema foi ampliado e deu origem ao Sistema Nacional de Crédito Rural. (GOLDIN & REZENDE, 1993: 21).

Tal processo se transformou na principal política agrícola no pós-65. Isto

pode ser observado tanto em PINTO (1996: 306) "[...] el financiamiento a la actividad

agropecuaria se tornó el principal instrumento de la política agrícola”, como em

SZMRECSÁNYI e RAMOS (1994: 68):

quanto às políticas agrícolas postas em ação pós-1965, há uma unanimidade que faz convergir a autores das mais diferentes matizes: o crédito rural subsidiado foi o mais importante instrumento de que lançou mão o Estado brasileiro para promover a chamada modernização de suas atividades agropecuárias. [...] constituindo-se uma das faces mais visíveis da estratégia de modernização conservadora.

Os objetivos do SNCR seriam alcançados através dos créditos de

investimento, custeio e comercialização da produção. Contudo, a política de crédito

rural demonstrou a presença de uma tríplice aliança entre indústria, bancos e latifúndios.

O crédito rural concentrou-se em mãos de um pequeno grupo de grandes proprietários

rurais mais influentes junto às autoridades e também a determinados produtos agrícolas,

sendo então aplicado de maneira parcial em relação aos produtores, às regiões e aos

produtos.

9 Importante ressaltar que à época de institucionalização do SNCR, existia uma elevada disponibilidade de recursos no sistema financeiro internacional, havia também o fácil acesso aos mesmos, por parte do governo brasileiro.

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Como se vê, a política creditícia do governo tem atendido antes ao interesse da grande indústria produtora de máquinas e insumos agrícolas, dos agentes financiadores e dos grandes proprietários rurais. Com isso, se verifica uma aceleração no processo de concentração de renda e da riqueza e conseqüente crescimento da pobreza do trabalhador rural.(GRAÇA, 1981: 108).

Houve também outros condicionantes que implicaram no distanciamento

dos pequenos produtores rurais para com o crédito agrícola, como destaca MUNHOZ

(1982: 50):

A forma de organização dos pequenos produtores, em moldes de tamanho familiar, inibições de ordem cultural, e mesmo a distância física das agências bancárias, além de outros fatores, talvez sejam complementos à explicação para as razões pelas quais o crédito se achava concentrado a despeito da inexistência de restrições quanto às aplicações em financiamentos de custeio.

Os pequenos agricultores que não se enquadraram no processo de

agroindustrialização, por utilizarem técnicas tradicionais e não serem beneficiários dos

créditos oferecidos, foram amplamente marginalizados e conduzidos ao fracasso. Vale

destacar que tal fato ocorreu apesar de que "[...] a institucionalização do Sistema

Nacional de Crédito Rural em 1965 tinha como um de seus objetivos a preocupação

explícita de possibilitar o fortalecimento econômico dos produtores rurais,

notadamente pequenos e médios.” (SZMRECSÁNYI e RAMOS, 1994: 69).

Entre os resultados das distorções ocorridas nesta política creditícia, e que

provocaram uma queda na eficácia do programa, temos o aumento do empobrecimento

dos pequenos produtores, em contraste com o enriquecimento dos grandes proprietários,

além do conseqüente agravamento das questões relativas à concentração de renda.

Em resumo, a política de crédito rural subsidiado não apenas permitiu reunificar os interesses das classes dominantes em torno da estratégia de modernização conservadora da agropecuária brasileira, como também possibilitou ao Estado restabelecer seu poder regulador macroeconômico mediante uma política monetário-financeira expansionista. Não é sem outra razão que a política de crédito rural é considerada o carro-chefe da política de modernização conservadora até o final dos anos 70. (GRAZIANO DA SILVA, 1996: 51).

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Contudo, a trajetória do volume de crédito ofertado pelo governo ao setor

agrícola apresentou algumas oscilações. Segundo DELGADO (1985: 79):

esta política revela uma trajetória expansionista desde o início de sua formulação efetiva - a partir de 1967 - até 1976 [...]. Já em 1977 começam a se esboçar, a nível de governo, as influências contencionistas da política monetária, que nesse ano se reflete numa primeira inflexão para baixo do volume de crédito concebido. A orientação expansionista é retomada com menor vigor em 1978 e 1979, à luz do discurso oficial de governo de prioridade ao setor agrícola, para ser revertida novamente a partir de 1980.

Com a diminuição de recursos externos iniciada a partir de meados da

década de 70 e posterior corte desses recursos em 1983, o Estado, impossibilitado de

manter o programa de crédito, elevou as taxas de juros e reduziu os montantes

disponíveis para o financiamento. “Essa nova reversão [...] ocorre agora sob condições

mais adversas, quer do próprio contesto da economia brasileira, quer das suas relações

críticas com a economia internacional.” (DELGADO, 1985: 79).

Diante da diminuição dos incentivos creditícios, os principais instrumentos

de intervenção passaram a se basear em instrumentos de estabilização de preços como o

PGPM (Programa de Garantia de Preços Mínimos), implementado através do AGF

(Aquisições do Governo Federal) e do EGF (Empréstimos do Governo Federal).

Os objetivos dessa política eram o de cobrir as falhas existentes no mercado

agrícola com relação aos preços praticados nos produtos destinados ao mercado interno.

O governo, reconhecendo a incapacidade do mercado em regular estes preços, através

do PGPM garantia uma remuneração mínima aos produtores, o que deveria gerar a

estabilização da renda dos mesmos.

Apesar de seus objetivos, essa política atendeu a um reduzido número de

produtos, excluindo aqueles enquadrados entre os de origem animal e as frutas, além de

privilegiar as transações de grande valor.

Mais uma vez, a grande propriedade foi beneficiada em detrimento do

produtor familiar. Um dos fatores diretamente relacionados a esta situação foi a forma

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com que o Banco do Brasil, o maior responsável pela implantação da política citada,

priorizou os empréstimos de maior valor (SZMRECSÁNYI e RAMOS, 1994).

1.4. O setor agrícola após o Regime Militar.

Terminado o período da ditadura militar, a principal característica do regime

democrático foi o progressivo abandono das políticas agrícolas em função da

necessidade mais urgente de se estabilizar a economia interna. Porém, o PGPM, que

vinha se tornando um instrumento desmoralizado até meados da década de 80, sofre um

novo impulso, pois "em 1985, no governo Sarney, inicia-se a recuperação dos gastos

governamentais como o crescimento das contas relativas aos estoques reguladores e às

aquisições do governo federal para dar sustentação à política de preços mínimos.”

(GRAZIANO DA SILVA, 1996: 109).

Em 1986, com a implantação do Plano Cruzado, ocorre uma certa

estabilização da economia por alguns meses. Aliado a esta estabilização, ocorre também

uma farta disponibilidade de crédito, que fez com que novos investimentos fossem

realizados no setor agrícola. Mas, com o fracasso do Plano Cruzado alguns meses

depois, associado à volta do processo inflacionário, os empréstimos realizados pelos

agricultores se tornaram demasiadamente onerosos, chegando a ser impraticáveis.10

O resultado foi um crescimento acentuado do grau de endividamento do setor, especialmente dos pequenos produtores, muitos dos quais acabaram por perder seus bens, inclusive as terras que possuíam, obrigando o governo a um perdão generalizado das dívidas financeiras contraídas para plantar a grande safra de 1986/87. (GRAZIANO DA SILVA, 1996: 115).

Portanto, passada a euforia do Plano Cruzado, a crise econômica enfrentada

pelo país atingiu diretamente a agricultura, com a queda do volume de empréstimos,

altas dos juros e o fim dos subsídios.

10 Outro fator agravante do processo citado acima foi a grande colheita obtida no período, sendo esta fruto dos investimentos realizados desde o início do Plano Cruzado. Tal fato gerou uma queda nos preços, diminuindo a rentabilidade do setor.

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Com a posse do novo governo - Fernando Collor - no início dos anos 90,

ocorreu uma mudança no modelo de desenvolvimento do país. Este novo modelo,

baseado no pensamento neoliberal e que se transformava em exemplo para os países

periféricos, concentrava-se numa menor intervenção do Estado na economia,

acarretando na liberalização do mercado.

Dentro desse contexto, a agricultura sofre com a implantação de mais um

plano de estabilização em 1990 - o Plano Collor - que fez com que a correção dos

financiamentos rurais fosse realizada pelo IPC (Índice de Preços ao Consumidor) de

março - 84% - que representava o dobro da variação do BTN (Bônus do Tesouro

Nacional) de março - 42% - índice utilizado para os preços mínimos.

Aliado a esse fato, estava também a inexistência da realização de políticas

agrícolas por parte do governo. As únicas ações efetivas direcionadas ao setor agrícola

foram as alterações das regras do crédito rural e dos preços mínimos (GRAZIANO DA

SILVA, 1996).

Por outro lado, várias medidas foram tomadas no sentido de retirar os

organismos estatais que atuavam diretamente ligados à agricultura e que tinham grande

importância para a mesma. Entre eles o IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool), o IBC

(Instituto Brasileiro do Café), a EMBRATER (Empresa Brasileira de Extensão Rural) e

o MIRAD (Ministério de Reforma e Desenvolvimento Agrário).

Devido ao fracasso dessas ações, o governo foi obrigado a rever as medidas

adotadas, alterando-as com a intenção de reorganizar o setor, que se encontrava em

grandes dificuldades.

Em relação ao produtor familiar, assim como no passado rural brasileiro,

este continuou aquém de qualquer programa que viesse a fomentar exclusivamente sua

classe.

Até 1993, não se tem notícias de recursos específicos para o financiamento da agricultura familiar no Brasil. Na realidade, não existia o próprio conceito de agricultura familiar no Brasil. O agricultor familiar era considerado mini-produtor para efeito de enquadramento no Manual de Crédito Rural.

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Com isto, além do produtor familiar disputar o crédito com os demais produtores, era obrigado a seguir a mesma rotina bancária para obter um empréstimo que tinha o perfil voltado para o grande produtor. (BELIK, 2000: 93).

Já o governo Itamar (1992/94), apesar de todas as dificuldades herdadas do

governo anterior, procurou realizar algumas ações voltadas para a resolução dos

problemas relativos à questão agrária. Criou-se o Programa de Emergência que atendeu

a 23.000 famílias de um total de 80.000 propostas inicialmente.

Também foi criado, em 1994, o PROVAP (Programa de Valorização da

Pequena Produção Rural), objetivando fomentar o pequeno produtor familiar. O referido

programa, “[...] trabalhava, basicamente, com créditos concedidos pelo BNDES. Dois

anos depois este programa passou a se denominar PRONAF - Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar, assumindo maior envergadura e uma

concepção diferente.” (BELIK, 2000: 93).

Em 1995, com a posse do presidente Fernando Henrique Cardoso, o debate

em relação à agricultura é mantido, com propostas de reforma agrária e

desenvolvimento rural baseado na valorização da propriedade familiar, haja vista que

estes objetivos foram um dos cinco propostos na campanha presidencial.

Com o aspecto seletivo do programa de desenvolvimento rural, ao apontar como novo paradigma de desenvolvimento rural o apoio à agricultura familiar, o governo pretende promover uma ruptura no modelo que vem sendo adotado historicamente no país, centrado no estímulo e consolidação dos negócios da empresa capitalista no campo. Não resta dúvida que a agricultura familiar como protagonista da produção desse ‘novo mundo rural’ não deixa de ser um indicativo de mudanças na orientação (ao menos no discurso) do atual governo.(CARNEIRO, 2000: 121)

Esta colocação de CARNEIRO vem de encontro com SALAMONI (2000:

159-160), quando a autora demonstra a mudança da visão por parte do governo, do que

seja a busca do desenvolvimento no campo.

Os novos parâmetros, portanto, são de caráter social-ecológico e não basicamente econômico, como se observa no decorrer do desenvolvimento capitalista. A busca de novos modelos de desenvolvimento, voltados para a economia de

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recursos não renováveis e para a redução do desperdício ocupará um espaço significativo nas economias dos países latino-americanos nas próximas décadas. Essas mudanças na mentalidade coletiva dos povos e de seus governantes passarão pela incorporação de novas utopias sociais.

Entre as ações relevantes adotadas pelo governo, destacam-se a criação de

medidas voltadas para o financiamento de créditos para o produtor rural familiar via

PRONAF e também a efetivação de propostas de reforma agrária11. Entre estas ações

encontra-se o ITR (Imposto Territorial Rural) que, em sua forma atual, é visto como um

instrumento de pulverização da grande propriedade improdutiva.

1.5. As consequências da aplicação das políticas públicas para a modernização do

campo no pós 1950.

O paradigma de desenvolvimento agrícola denominado “modernização

conservadora”, adotado a partir do final dos anos 60, beneficiando o sistema de

produção patronal, como foi citado anteriormente, foi capaz de solucionar em grande

parte vários obstáculos que impediam o desenvolvimento agrícola e industrial do Brasil,

mas, contribuiu em muito para o agravamento da crise agrária com a qual nos

defrontamos atualmente.

Para LAGES (1997: 12-13) “a ‘modernização conservadora’ ocorrida no

país desde a década de 1960, deixou inalterada a estrutura agrária fortemente

concentrada, tendo servido em muitos casos para concentrar ainda mais terra e renda

nas mãos de poucos.”

A falácia deixada pela “modernização conservadora” não se resumiu apenas

à crise agrária. Influenciada pela Revolução Verde, com a combinação das tecnologias

químicas, mecânicas e biológicas, houve uma intensa deterioração dos recursos naturais,

criando um sistema de produção insustentável do ponto de vista ecológico, conforme

analisa SHIKI (1995:17):

11 Importante frisar a influência que os movimentos envolvidos com a luta pela terra tiveram sobre este processo. Entre estes movimentos destaca-se o MST.

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segundo o argumento da tese ainda dominante, o moderno sistema agroalimentar é sustentável do ponto de vista econômico, reconhecendo-se contudo, a necessidade de adotar ações corretivas para mitigar o processo de degradação dos recursos naturais (sustentabilidade ecológica).

Além dos problemas ecológicos apontados por SHIKI (1995), inserem-se

também os problemas sociais ocorridos no campo brasileiro.

Todavia, apesar dos resultados obtidos com termos de produção de alimentos e matérias -primas, há, na atualidade, um reconhecimento de que a Revolução Verde trouxe também vários problemas de equidade social e sustentabilidade da produção agrícola a longo prazo. (SALAMONI, 2000: 137).

A relação existente entre a degradação do meio ambiente e a modernização

agrícola via utilização maciça e intensiva de insumos agroquímicos é demonstrada por

ANDRADE (1994:43), onde, para o autor:

[...] o grande problema moderno, porém, é provocada pelo uso desenfreado de inseticidas que aniquilam a fauna existente, fauna que tem uma forte ação na formação do próprio solo; pelo uso de agrotóxicos que provocam não só transformações prejudiciais nos solos como, também, ao serem levados aos rios pelas águas pluviais, contaminam e destroem a fauna fluvial e lacustre.

Essa utilização intensiva dos inseticidas para controle de pragas acarretou

numa dependência e num uso cada vez maior pelo fato do aumento da resistência

adquirida pelas pragas a serem combatidas.

É amplamente conhecido que, além da contaminação dos solos, das águas e dos produtos alimentares, a utilização sistemática de pesticidas provoca reações de defesa nos organismos destinados a serem controlados por eles, que os torna resistentes aos tratamentos. É preciso então aumentar as dosagens e/ou introduzir novos produtos, numa corrida sem fim contra as reações da natureza.(ROMEIRO, 1998: 203).

Ainda sobre a utilização intensiva dos insumos agroquímicos, GRAZIANO

NETO (1996: 41) discute a relação das empresas fornecedoras com os produtores rurais

como agravante, sendo estes influenciados pelas próprias empresas produtoras:

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os vendedores das empresas, principalmente o do ramo de agrotóxicos, literalmente “empurram” produtos aos produtores, recomendando dosagens, quantidades de produtos, regulagens de bicos pulverizadores, sempre muito acima do que seria conveniente e adequado.

Aliado à utilização intensiva dos agroquímicos, a mecanização intensiva foi

outro fator que propagou efeitos danosos ao meio ambiente pelo fato de que “[...]

muitas vezes o uso de máquinas agrícolas é desaconselhável por provocar uma

intensificação da erosão dos solos, principalmente nas áreas de maior inclinação e em

que dominam solos silicosos ou sílicos-argilosos”. (ANDRADE, 1979: 62-63).

Um outro agente que pode ter incentivado a exploração predatória dos

recursos naturais foi a inserção, em maior grau, da economia brasileira no mercado

internacional no início dessa década (inserção esta que se deu pelo ritmo cada vez maior

de globalização). Com isto, exigiu-se a necessidade de aumentos de produtividade e dos

produtos agrícolas de modo que estes produtos se tornassem mais competitivos em

relação a outros países.

As políticas de produção agrícola voltadas à exportação discriminaram a

produção agrícola tradicional, ocorrendo então uma baixa de preços dos produtos

agrícolas e a desestimulação de práticas conservacionistas, fazendo da superexploração

dos recursos naturais a opção econômica mais rentável.

Também foram incentivadas culturas voltadas principalmente à exportação

como a soja e o café, substituindo culturas que viessem a abastecer o mercado interno.

Um exemplo desta substituição é demonstrado por ANDRADE (1979: 76-

77), em relação à soja e ao feijão. Para o autor, “essa expansão da soja, porém, vem

sendo feita em áreas anteriormente ocupadas por culturas de feijão, produto essencial

ao abastecimento interno, em detrimento do mesmo”

Sobre as políticas públicas, ao analisá-las, podemos notar que em relação ao

meio ambiente, de acordo com ANDRADE (1994: 44):

[...] vários governos que se sucederam no poder não tiveram maior preocupação com o meio ambiente; preocupados com o

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crescimento econômico, confundiram crescimento com industrialização e desenvolveram uma política neste sentido, sem maiores preocupações com os danos causados ao meio ambiente pelas indústrias aqui estabelecidas.

TRIGO et al. (1994:48), também chega à constatação da ineficiência do

Estado em relação ao meio ambiente ao colocar que as políticas públicas:

na maioria dos casos, não provou ser uma alternativa eficaz para a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais, tanto no que se refere à correção das imperfeições nos mecanismos do mercado quanto à execução de ações diretas. A prática demonstrou que muitas vezes a intervenção do estado não passou de um instrumento custoso e ineficiente, que pode chegar mesmo a atuar negativamente na caminhada para o desenvolvimento agropecuário sustentável.

Um outro agravante das políticas governamentais foi a marginalização dos

produtores familiares em relação à agricultura patronal, ou seja, no que tange à

intervenção estatal no campo, esta se deu nos aspectos de fomento à propriedade

patronal e exclusão junto ao produtor familiar.

Por sua vez, a política de desenvolvimento agrícola, feita em moldes economicistas, despreocupada com a problemática social, vem contribuindo para aumentar o desemprego no meio rural, e, consequentemente, para acelerar o processo migratório rural-urbano. Procura-se montar todo um sistema que visa proteger e subvenciar a grande agricultura, estimulando-se o processo de mecanização agrícola, facilitando-se o crédito para formação de plantios e para implantação e modernização de instalações, a assistência agronômica, etc, em favor da agricultura de exportação.(ANDRADE, 1979:62).

A modernização ocorrida no campo, impulsionada pelas políticas

governamentais de desenvolvimento agrícola gerou uma contradição, pois ao mesmo

tempo que uma parcela de produtores se consolidava (os patronais), uma outra, ficava à

margem deste processo de crescimento econômico (os produtores familiares).

De fato, a realidade social demonstra que o tipo de industrialização do campo no Brasil não funcionou de maneira igualitária para todos os produtores rurais, uma vez que não só excluiu grande parte deles do processo de modernização, como aumentou sua pobreza. (SALAMONI, 2000: 121).

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Assim como SALAMONI, com o aumento da pobreza no campo, SORJ

(1986: 119) conclui que:

portanto, apesar de existir uma penetração crescente do capitalismo na agricultura, essa penetração, em lugar de determinar a extinção das formas de produção não capitalistas, gera conjuntamente com as empresas capitalistas um campesinato pauperizado. Este assume características de exército de reserva dada a sua importância decrescente como abastecedor de alimentos. Por sua vez, o setor capitalista inclui tanto empresas onde reinam relações de produção capitalista, quanto unidades de produção altamente capitalizadas que praticamente não se utilizam do trabalho assalariado.

Diante de tais fatos negativos observados, formulou-se por parte da

sociedade um pensamento de que “melhor seria” se o Estado deixasse por conta do

mercado as funções de agente regulador econômico, e ecológico no campo.

O papel do Estado na economia vem sendo, ultimamente, objeto de um debate até certo ponto passional em nosso país. A retórica liberal - menor intervenção, retorno à soberania do mercado, redução dos impostos - vem sensibilizando setores “à esquerda” e “à direita”, desiludidos com o recente desempenho do Estado, seja indiretamente como gestor das políticas econômicas, seja diretamente como empresário. (GRAZIANO DA SILVA, 1996: 41).

As tentativas do Estado, de amenizar as conseqüências de desenvolvimento

acelerado da agricultura patronal via “modernização conservadora” e introdução da

“Revolução Verde”, em detrimento do meio ambiente e da agricultura familiar, pouco

surtiram efeitos.

As políticas de compensação podem ter falhado pelo fato de terem se

caracterizado como imediatistas, não levarem em consideração a realidade dos

produtores familiares e pela falta de continuidade nos objetivos e instrumentos, nas

medidas e prioridades, causando portanto, mais problemas do que soluções.

Outras características fundamentais das referidas políticas tem sido o predomínio de uma ótica de curto prazo e, dentro desta, uma nítida preferência pelas intervenções governamentais via mecanismos de mercado. Essas intervenções se têm baseado, via de regra, em modelos parciais e esquemáticos da realidade, sem muitas (e, às vezes,

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sem quaisquer) preocupações com os custos sociais envolvidos - os quais, como se verá, tendem a ser bastante consideráveis. (SZMRECSÁNYI, 1983: 223).

Apesar dos efeitos negativos das políticas públicas, ao ser colocada em

questão a presença do Estado no setor agropecuário, avaliamos sua presença como fator

fundamental e inexorável para se adquirir o desenvolvimento sustentável. Não da

maneira como estas políticas vêm sendo aplicadas, mas através de políticas

multidimensionais possíveis de serem aplicadas por um Estado mais forte e eficiente. “É

necessário referir que a crescente e perversa exclusão social no Brasil, mormente no

caso dos agricultores familiares e dos trabalhadores sem-terra, exige uma nova

estratégia de intervenção do Estado [...].” (FLORES & MACÊDO, 2000: 56).

De acordo com GRAZIANO DA SILVA (1996: 147), “[...] é difícil

imaginar que a modernização da agropecuária brasileira, que tanto dependeu do

Estado para seus passos iniciais, possa continuar nos anos 90 sem seu apoio.”

Entretanto, as políticas a serem implantadas por este Estado, encontram

algumas barreiras, conforme assinalou GRAZIANO DA SILVA (1996: 146): “[...] a

consolidação de um novo padrão de crescimento intensivo da agropecuária nacional

esbarra na capacidade de financiamento do Estado.”

Um outro fator de extrema importância para o fortalecimento da agricultura

familiar é a conscientização, por parte da sociedade, da importância do agricultor

familiar na produção de alimentos, formação de empregos e conservação do meio

ambiente.

O Estado e a sociedade devem estar engajados nos mesmos princípios e objetivos; o patrimônio ecológico é de ambos e ambos devem se conscientizar da necessidade de defendê-lo quando grupos econômicos e políticos, visando o atendimento de interesses imediatos, se propuserem a fazer uma exploração irracional e uma degradação criminosa. (ANDRADE, 1994: 47).

Aliada à importância do Estado no setor agropecuário, seria de grande

utilidade uma ação conjunta entre proprietários familiares, órgãos de assistência técnica,

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empresas privadas e universidades, a fim de levantar os principais problemas

diretamente relacionados às propriedades, sendo estes estudados, resolvidos e aplicados

nas propriedades de uma maneira consistente com as necessidades de cada situação.

Sendo assim, as possibilidades de chegarmos a um desenvolvimento

agrícola sustentável em muito seriam aumentadas, mas, para chegarmos a esta

discussão, é imprescindível que tenhamos conhecimento do que seja o desenvolvimento

sustentável e, que tipo de produtores são considerados fundamentais nesta nova

abordagem, temas estes que serão discutidos no capítulo a seguir.

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2 - DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, AGRICULTURA FAMILIAR E

PATRONAL: uma abordagem conceitual

2.1. A origem e o conceito da sustentabilidade

Na década de 60, devido às preocupações em relação à capacidade do meio

ambiente em absorver os efeitos depreciativos do desenvolvimento econômico,

começam a surgir, em todo o mundo, discussões sobre o rumo a ser seguido pelo

homem na busca de um desenvolvimento alternativo ao predominante, sendo este

irracional em termos ecológicos, altamente dependente de energia fóssil, degradante e

sem preocupações com os limites da natureza.

No final da década de sessenta, notadamente, crescem as preocupações em todo o mundo acerca dos efeitos indesejáveis do desenvolvimento econômico, especialmente sobre a qualidade do meio ambiente. Entre esses efeitos citavam-se: a deteriorização da qualidade do ar e da água, o acúmulo de resíduos sólidos, os ruídos nas áreas urbanas e mau uso da terra. (KITAMURA, 1994: 11).

Várias conferências e reuniões foram realizadas na busca de alternativas que

minimizassem a degradação do meio ambiente sem que fosse diminuído o ritmo do

crescimento econômico tanto nos países desenvolvidos, quanto nos países em

desenvolvimento e também, em termos agrícolas, não acarretasse numa quebra da

produtividade (questão considerada fundamental pelas teorias neomalthusianas do

período).

Entre as principiais conferências podemos destacar:

• Reunião Preparatória de Founex (Suíça, 1971): reunião que precedeu a

Conferência de Estocolmo e serviu para atenuar o debate entre

desenvolvimentistas e conservacionistas;

• Conferência de Estocolmo (Suécia, 1972): destacou o papel da atividade

humana sobre o meio ambiente;

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• Clube de Roma (Itália, 1972): enfatizou a interdependência global e a

não sustentabilidade do crescimento sem limites.

Na década de 80, as discussões sobre a destruição do meio ambiente

ganharam intensidade. Tornava-se cada vez mais visível os limites da natureza em

relação à sua exploração.

Em meados da década de 80, os impactos da agricultura moderna, dilapidação das florestas tropicais, as chuvas ácidas, a destruição da camada atmosférica de ozônio, o aquecimento global e o “efeito estufa” tornavam-se temas familiares para grande parte da opinião pública, principalmente nos países ricos. Questionava-se até que ponto os recursos naturais suportariam o ritmo de crescimento econômico imprimido pelo industrialismo ou mesmo se a própria humanidade resistiria às sequelas do “desenvolvimento”.(EHLERS, 1999: 87).

Surge então como opositor ao tão questionado crescimento econômico,

baseado na exploração desenfreada dos recursos naturais, uma nova alternativa de

exploração. Esta alternativa denominou-se “sustentabilidade”, oriunda da Comissão

Mundial sobre Meio Ambiente, publicado no Relatório Brundtland em 1987.

De acordo com EHLERS (1999) esta alternativa foi reafirmada em 1992 na

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92).

A partir de então, o conceito de sustentabilidade, particularmente do ponto

de vista do setor agropecuário, passou a ser discutido e desenvolvido sob muitas partes

(ambiental, social, econômico, institucional e organizacional) perdendo, por vezes, seu

sentido prático e coerente.

A noção de sustentabilidade, muitas vezes, é tomada como um “guarda-chuva” que abriga todos os conceitos relacionados com uma outra agricultura, entendida como alternativa ao padrão convencional. Na realidade mais parece indicar o fim de uma batalha de correntes opositoras que acaba por conciliar elementos de ambas as posições: a agricultura de processos e manejo de recursos naturais e a agricultura industrial.(BRANDENBURG, 1999: 76).

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ALTIERI considera que, muitas vezes, seu conceito torna-se até mesmo

controverso e mal definido, mas mesmo assim, para o autor “... apesar disso, é útil, pois

reconhece que a agricultura é afetada pela evolução dos sistemas socioeconômicos e

naturais, isto é, o desenvolvimento agrícola resulta da complexa interação de muitos

fatores.” (ALTIERI, 1998: 16).

Podemos verificar, a seguir, os conceitos de sustentabilidade na visão de

alguns autores envolvidos nesta questão.

Para RYFF (1995: 8), o desenvolvimento agrícola sustentável está

relacionado com a capacidade do setor agrícola atingir os seguintes objetivos:

- alimentar uma população mundial crescente; - sustentar o nível de renda das famílias que deverão permanecer na atividade agropecuária; - preservar a capacidade da terra de produzir alimentos e matérias-primas agrícolas em benefício das futuras gerações; - garantir que a atividade agropecuária reduzirá seus efeitos “externos” negativos no que diz respeito à preservação e à recuperação do meio ambiente.

Na visão de FLORES & NASCIMENTO (1998: 11), “a busca do

desenvolvimento sustentável está diretamente ligada ao grau de satisfação da sociedade

em relação às suas expectativas. Estas expectativas se referem ao estágio de

desenvolvimento sob quatro aspectos: social, econômico, ecológico e político”.

Um outro autor que nos traz uma definição sobre o assunto é LAGES (1997:

13), no qual para ele, “[...] quando o conceito de sustentabilidade é aplicado à

agricultura, seu desenvolvimento deve ser avaliado não apenas em termos de

produtividade de certos produtos agrícolas e animais, mas também em termos de

adequação social, econômica e ecológica do processo de produção adotado.”

FRANCISCO (1996: 246), em seu trabalho, utiliza-se da mesma divisão de

conceitos colocada por LAGES, na definição do desenvolvimento sustentável:

assim, por sustentabilidade ambiental pode-se entender como o conjunto de práticas ecológicas, econômicas, socais e culturais desenvolvidas nas atividades agrícolas que visam possibilitar a manutenção da propriedade ao longo do tempo

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e, simultaneamente da base de recursos agrícolas (água, terra e floresta) pela geração atual possibilitando a sua renovabilidade no tempo e no espaço para as gerações futuras. Envolve a sustentabilidade ecológica entendida aqui como a capacidade do sistema agrícola produzir mantendo-se em equilíbrio no tempo, sem entrar em decadência ambiental. A sustentabilidade econômica traduzida pela manutenção de uma máxima produção por um longo período de tempo sem a destruição da base de recursos agrícolas. Uma sustentabilidade social envolvendo a satisfação das necessidades básicas dos agricultores e uma sustentabilidade cultural relacionada à manutenção do conhecimento tradicional do sistema agrícola.

Para ROMEIRO (1998: 248), seguindo a mesma linha dos autores

supracitados, sustentabilidade “[...] reflete a idéia básica de que o desenvolvimento

para ser sustentável, deve ser não apenas economicamente eficiente, mas também

ecologicamente prudente e socialmente desejável”.

Podemos encontrar também a abordagem do tema sustentabilidade de uma

forma mais abrangente em SALAMONI (2000: 156):

de forma geral, pode-se observar que os conceitos que trazem a idéia de sustentabilidade incluem, dependendo do seu alcance, de forma explícita ou implícita, os seguintes aspectos: a) uma visão antropocêntrica do uso e manejo dos recursos naturais e do meio ambiente; b) o planeta Terra como suporte da vida humana; c) a manutenção, a longo prazo, do estoque de recursos biofísicos e da produtividade dos ecossistemas; d) a estabilidade das populações humanas; e) um crescimento relativamente limitado das economias; f) a manutenção permanente da qualidade dos ecossistemas e do meio ambiente; g) a ênfase à pequena escala para a autodeterminação das comunidades em relação ao uso e manejo dos recursos naturais; h) a equidade inter e intrageracional no acesso e uso dos recursos naturais.

Partindo de uma visão mais econômica, BENBROOK (1994:115) destaca a

necessidade da formação do lucro para o produtor (mesmo que através do

desenvolvimento sustentável), como podemos ver a seguir:

define-se por agricultura sustentável a produção de alimentos e fibras por um sistema que aumenta a capacidade produtiva inerente dos recursos naturais e biológicos em sintonia com a demanda, enquanto proporciona lucros adequados aos agricultores, fornece alimentos saudáveis aos consumidores e

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minimiza os impactos adversos sobre o meio ambiente e a saúde dos trabalhadores agrícolas e animais.

ALTIERI (1998), um dos maiores estudiosos sobre o tema sustentabilidade,

considera que é de fundamental importância relacionarmos os aspectos econômicos de

produtividade e lucratividade com o aspecto ambiental de utilização racional do meio

ambiente como forma de minimizar os impactos ambientais. Contudo, o autor nos

adverte que muito se tem discutido com base em pesquisas que levantaram os aspectos

qualitativos de desenvolvimento sustentável, ficando esta área carente de maiores

estudos sobre os aspectos quantitativos da sustentabilidade.

Como podemos observar, são várias as definições existentes sobre

desenvolvimento sustentável. Porém, VEIGA (1994: 07) nos dá uma visão resumindo

várias definições, pois para o autor todas envolvem os seguintes aspectos:

- a manutenção a longo prazo dos recursos naturais e da produtividade agrícola; - o mínimo de impactos adversos ao ambiente; - retornos adequados aos produtores; - otimização da produção com um mínimo de insumos externos; - satisfação das necessidades humanas de alimentos e renda; - atendimento das necessidades sociais das famílias e das comunidades rurais.

Este último item integra a agricultura sustentável não do ponto de vista de

sistema de produção, mas sim, como uma necessidade social imprescindível no campo.

Os itens relacionados pelo autor determinam um sistema produtivo

sustentável por objetivarem, de uma maneira direta, previsível e persistente, os seguintes

resultados:

• aumento da produtividade satisfazendo as necessidades familiares;

• criação de emprego local;

• diminuição do endividamento das famílias e independência junto

ao financiamento da produção;

• maior segurança na produção com minimização de riscos

(variações climáticas, pragas e doenças e flutuações dos preços);

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• valorização dos recursos produtivos (naturais): uso eficiente da

água, aumento da diversidade genética e reciclagem de nutrientes;

• respeitabilidade da identidade sócio-cultural, com o

reconhecimento de tecnologias tradicionais e a valorização do papel da

mulher camponesa;

• desenvolvimento das estruturas sociais para melhor

aproveitamento dos recursos naturais e consequente adaptação dos

sistemas de produção em relação às condições de mudança.

Levando-se em consideração todas as propostas citadas anteriormente, além

dos aspectos ambientais e econômicos, podemos notar que existe também, a

preocupação com o aspecto social na discussão da sustentabilidade.

Dessa forma, podemos encontrar três aspectos principais na definição de

sustentabilidade, ou seja, os aspectos econômicos, sociais e ecológicos.

Com relação à questão econômica, destaca-se a necessidade de formação de

uma renda que permita, no mínimo, a fixação do homem no meio rural, além de

possibilitar investimentos voltados para a melhoria da produção, criando um caráter pró-

cíclico em sua propriedade.

Quanto ao aspecto social, este se dá pela absorção/fixação do homem no

campo, estando estas ações estreitamente relacionadas à melhoria da qualidade de vida

do homem do campo, via aumento da renda agrícola.

Finalmente, considerando o desenvolvimento sustentável, esta formação de

renda na propriedade deverá se dar de uma maneira que leve em consideração o uso

racional dos recursos naturais. Enquadra-se aqui a questão ecológica, com a busca de

conservação destes recursos naturais, na qual a atividade agrícola venha a produzir o

mínimo de impactos adversos ao meio ambiente (BERNARDO, 1999).

Em nosso trabalho, para efeito de definição, sustentabilidade vem a ser o

uso de recursos naturais e humanos de forma que haja um reconhecimento da

necessidade de explorar estes recursos, mas ao mesmo tempo, o conserve para que as

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gerações futuras o possam também utilizá-los. Basicamente, sustentabilidade é o

equilíbrio entre as variáveis econômicas e ambientais e, num conceito mais amplo, são

também incluídas as variáveis sociais. Desta forma, a sustentabilidade pressupõe a

obtenção do desenvolvimento econômico sem degradação dos recursos naturais e a

inclusão da preservação ambiental no cálculo econômico, como propôs ALTIERI.

Deste modo, demonstramos os aspectos econômico-social-ecológicos na

definição de uma agricultura sustentável. Vale ressaltar que, para se obter êxito na

implantação desse tipo de desenvolvimento, o reconhecimento das inter-relações entre

os três aspectos são fundamentais, mesmo que em algum momento, um aspecto

sobressaia mais que o outro.

2.2. Agricultura patronal e familiar

Assim como sustentabilidade, as definições sobre os sistemas de produção

patronal e familiar abrangem uma série de possibilidades levantadas por diversos

autores da área agrária.

FERNANDES FILHO & FRANCIS (1997:230) também consideram a

dificuldade demonstrada por pesquisadores para a formação de um conceito sobre os

produtores familiares.

Ao longo dos anos, pesquisadores na área de agricultura familiar não chegaram a um acordo sobre várias questões. Uma primeira se refere às tentativas de descrever exatamente qual é o tópico em discussão. Alguns estabelecem limites estatísticos que determinam agricultura familiar como unidades de “tamanho médio”, versus pequenas e grandes fazendas. Outros analistas examinam níveis de renda baseados nas quantidades vendidas ao mercado. Ainda outros pesquisadores observam níveis de mecanização. Unidades mecanizadas, usuárias de inovações, estão contrastadas com a agricultura familiar tradicional.

Levando-se em consideração alguns autores, para GRAZIANO DA SILVA

(1995a), no Brasil a distinção entre os produtores rurais se dá entre produtores

familiares e patronais, sendo os primeiros divididos em duas classes (empresas

familiares e produtores camponeses).

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Assim como GRAZIANO DA SILVA, EHLERS (1999: 135) também vê

essa distinção entre os produtores e, para o autor, o sistema de produção familiar é

“[...]um contraponto à chamada agricultura patronal, caracterizada pelas grandes

propriedades e pelo emprego de mão-de-obra assalariada ou volante.”

Para a CONTAG (Conselho Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), a

definição de produtores familiares passa pelos seguintes critérios:

1) conceituação precisa do pequeno produtor, a ser objeto de lei específica, considerando, simultaneamente, os seguintes critérios: a) utilização direta do trabalho familiar, sem concurso de emprego assalariado permanente, sendo permitido apenas o recurso eventual à ajuda de terceiros, em face das exigências sazonais da atividade agrícola; b) área total do(s) imóvel(s) detido a qualquer título, não ultrapasse 4 módulos fiscais; c) que 80% da renda familiar do produtor seja proveniente da atividade rural; d) que resida no imóvel rural ou em aglomerado rural ou urbano próximo.(DELGADO, 1995: 207).

Uma outra definição que mostra uma diferenciação entre produtores

familiares e patronais é dada pela FAO/INCRA (1994), conforme pode-se observar no

Quadro 2:

Quadro 2 - Principais diferenças entre o modelo patronal e familiar de produção

MODELO PATRONAL MODELO FAMILIAR - Completa separação entre gestão e trabalho - Trabalho e gestão intimamente relacionados - Organização centralizada - Direção do processo produtivo assegurada

diretamente pelos proprietários - Ênfase na especialização - Ênfase na diversificação - Ênfase em práticas agrícolas padronizáveis - Ênfase na durabilidade dos recursos e na

qualidade de vida - Trabalho assalariado predominante - Trabalho assalariado complementar - Tecnologia dirigida à eliminação das decisões “de terreno” e “de momento”

- Decisões imediatas, adequadas ao alto grau de imprevisibilidade do processo produtivo

Fonte: FAO/INCRA, 1994

Ainda pela FAO/INCRA, com relação ao conceito de agricultura familiar,

podemos criar uma divisão de três partes designadoras de determinados conjuntos de

agricultura familiar.

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agricultura familiar consolidada: correspondem a cerca de 1.150.000 produtores, sendo possuidores de uma determinada parcela de recursos humanos, políticas públicas, autofinanciamento, etc., capazes de gerar uma renda média monetária por ano de 57,1 salários mínimos por ano; agricultura familiar de transição: Com aproximadamente 1.020.000 de estabelecimentos, funcionam como local de resistência ao desemprego tão crescente nos dias atuais, sendo este grupo o principal alvo de fomento ao setor rural, com a possibilidade de elevar-se a um grupo consolidado, evitando assim, sua transformação para o grupo periférico do qual falaremos agora; agricultura familiar periférica: Desprovidos da capacidade de autofinanciamento, prescindidos de políticas públicas e situados em áreas marginais, formam um total de 2.168.000 unidades, possuidoras de uma renda mínima na propriedade e condenados à marginalização no setor agrário.(FAO/INCRA, 1996:23).

Por último, WANDERLEY (1997: 25) sugere uma definição de agricultura

familiar, onde esta é “[...] entendida como aquela em que a família , ao mesmo tempo

em que é proprietária dos meios de produção, assume o trabalho no estabelecimento

produtivo.”12

Em nosso estudo, consideramos agricultura familiar um sistema de produção

na qual, quem toma as decisões é o próprio proprietário, assim como quem as executa é

ele e sua família. Cabe aqui então a seguinte pergunta: qual a razão da maneira distinta

de trabalho e gerenciamento que a agricultura familiar tem em relação à agricultura

patronal? Ora, vivendo em sua propriedade ou em contato direto com ela, o proprietário

familiar estará consciente de tudo o que esteja ocorrendo com sua propriedade. Suas

decisões são tomadas imediatamente, ligadas à elevada imprevisibilidade do sistema

agrícola.

Ocorrendo uma adversidade inesperada, o proprietário estará imediatamente

junto à plantação para tentar solucioná-la, assim como outros imprevistos a serem

enfrentados e decisões a serem tomadas. O proprietário familiar se sente como parte da

propriedade.

12 No trabalho citado, WANDERLEY retrata ainda as diferenciações que existem na categoria da agricultura familiar, assim como também uma estudo histórico deste seguimento de produção.

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Em uma propriedade patronal, como exemplo teremos a utilização de uma

máquina colheitadora. Esta máquina (como característica da agricultura patronal) será

manuseada por um trabalhador assalariado. Para o trabalhador assalariado pouco

importa se esta máquina está trabalhando em excesso, se desgastando, ou até mesmo se

ela vai quebrar. O que importa para ele é apenas o cumprimento do seu horário de

trabalho. Para um produtor familiar, a máquina colheitadora faz parte de sua

propriedade, faz parte dele, do seu esforço, sendo então o trabalho a ser realizado da

maneira mais otimizada possível.

Pelo fato de existirem diversos trabalhos definindo estas categorias, levando

em consideração vários aspectos para o levantamento destas definições, focalizaremos o

nosso estudo em um ponto fundamental para realizar uma diferenciação, sendo este a

gestão de trabalho (o que não leva à desconsideração de outros aspectos também

importantes).

Como levantado anteriormente, inúmeras podem ser as definições acerca da

produção patronal e familiar, e, considerando como aspecto fundamental a gestão de

produção, analisaremos agora as diferenças da produção familiar nos aspectos

sustentáveis de produção em relação à patronal.

2.3. Agricultura familiar e sustentabilidade.

Analisando os aspectos sustentáveis da agricultura familiar, de acordo com

VEIGA (1996: 395), ao compararmos este sistema de produção com a agricultura

patronal, podemos considerar que:

a agricultura patronal, com suas levas de bóias-frias e alguns poucos trabalhadores residentes vigiados por fiscais e dirigidos por gerentes, engendra forte concentração de renda e exclusão social, enquanto a agricultura familiar, ao contrário, apresenta um perfil essencialmente distributivo, além de ser incomparavelmente melhor em termos sócio-culturais. Sob o prisma da sustentabilidade (estabilidade, resiliência e equidade), são muitas as vantagens apresentadas pela organização familiar na produção agropecuária, devido a sua ênfase na diversificação e na maleabilidade de seu processo decisório. A versatilidade da agricultura familiar se opõe à especialização cada vez mais fragmentada da agricultura patronal.

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Quanto à utilização da área produtiva, a agricultura familiar, apesar de

possuir uma área de apenas 58 milhões de hectares, ou seja, bem menor do que o

segmento patronal, que é de 150 milhões de hectares, tem-se mostrado extremamente

importante por ocupar uma área de lavoura temporária três vezes maior

proporcionalmente, e em relação às lavouras permanentes, cinco vezes (FAO/INCRA,

1994).

Em termos ecológicos, o segmento familiar apresenta algumas

possibilidades de uso racional dos fatores ambientais e da utilização da pecuária em

conjunto com a policultura, diminuindo riscos e proporcionando uma maior

possibilidade de segurança alimentar na propriedade.

Em termos sociais e políticos, a importância da agricultura familiar se

destaca como um agente de contenção da migração interna, pela construção da

democracia política e social e melhor distribuição de renda.

Em relação à mão-de-obra, além de manter um considerável nível de

emprego permanente (a própria família que trabalha na propriedade), em épocas de pico

na produção, pode haver a contratação de mão-de-obra complementar remunerada. Não

se descarta a possibilidade da contratação de mão-de-obra assalariada permanente,

sendo que esta não deve ultrapassar a quantidade de mão-de-obra familiar da

propriedade (BERNARDO, 1997).

Sua maior capacidade de absorção de mão-de-obra, é mostrado nos dados da

TAB. 1.

Tabela 1 - Área média e pessoal ocupado nos estabelecimentos agrícolas brasileiros segundo categoria (1994 - estimativas∗)

Categoria Área média (há)

% da área total

Pessoal ocupado (estab)

Pessoal ocupado (milhões)

% do total ocupado

Patronal 600 75 10 5 20 Familiar consolidada 50 19 4 6 24 De transição 8 5 3 7,5 30 Periférica 2 1 (2,5) (6,5) (26) Totais 57 100 (4) (25) (100) Fonte: FAO/INCRA, 1994 ∗∗∗∗Estimativas entre parênteses

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Para demonstrarmos a importância citada anteriormente da agricultura

familiar para com a busca do desenvolvimento sustentável no campo, demonstraremos o

resultado de uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal de Uberlândia,

concluída em 1997, onde foram levantados alguns indicadores de sustentabilidade

apresentados por produtores familiares dos municípios de Iraí de Minas, Monte Carmelo

e Romaria (MG)13.

Em relação aos aspectos sociais, os dados a seguir demonstram que, nos

municípios estudados, a mão-de-obra familiar, em sua maioria (86,76%) está envolvida

diretamente com a propriedade (TAB. 2). Apenas uma pequena parte (4,42%) está

ligada a atividades realizadas exclusivamente fora da propriedade. Existe ainda o

trabalho "part-time" (8,82%) em que a mão-de-obra está envolvida não somente na

propriedade de origem, mas também prestando serviços fora da mesma.14

Tabela 2 - Distribuição do destino da mão-de-obra do produtor rural e da família nos municípios de Iraí de Minas, Monte Carmelo e Romaria – 1996.

LOCALIZAÇÃO % Na Propriedade 86,76 Fora da Propriedade 4,42 Dentro e Fora da Propriedade 8,82 Total 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo. - Ago/set/1996 Org.: L. T. Bernardo

Se compararmos estes dados com os presentes no Boletim do DESER nº

7215, verificaremos que a realidade estudada é similar à nacional, na qual a agricultura

familiar é responsável por absorver em torno de 80% da mão-de-obra existente no

campo. Os dados da pesquisa nos indicam que, se somarmos o item dos trabalhadores

com atividades situadas somente na propriedade, com o item do trabalho dentro e fora

da propriedade, chegaremos a um índice percentual de 95,58%, superior ao valor citado

13 Este estudo faz parte de um projeto multidisciplinar financiado pelo CNPq, envolvendo os Cursos de Economia, Geografia e Medicina Veterinária. O projeto “A sustentabilidade do sistema agroalimentar no domínio dos Cerrados” (projeto CNPq no 521.865/95-7) tinha sob coordenação o Prof.º Dr.º Shigeo Shiki. 14 Sobre “part-time” , entende-se o produtor que realiza o trabalho em sua propriedade e em demais lugares, seja em outras propriedades, ou até mesmo nas cidades próximas. Ver mais a respeito em GRAZIANO DA SILVA (1995). 15 Esta publicação afirma que os estabelecimentos familiares no país são responsáveis por ocupar 80% das pessoas que trabalham na agricultura, apesar de ocupar apenas 25% da área agricultável.

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acima. Isso apóia a afirmação anterior de ser esta forma de produção uma possibilidade

de resolução do problema de desemprego existente no país.

Em seu livro, EHLERS (1999: 135) também destaca a importância da

agricultura familiar na geração de emprego. Para o autor:

no Brasil, existem hoje cerca de 6,5 milhões de estabelecimentos familiares contra quinhentos mil estabelecimentos patronais. O potencial de manter postos de trabalho já existentes ou mesmo de gerar novos empregos é, portanto, muito maior na agricultura familiar.

Quanto aos aspectos econômicos, a TAB. 3 nos mostra dados relativos à

distribuição da renda líquida entre as famílias entrevistadas.

Tabela 3 - Renda líquida familiar das propriedades rurais familiares dos municípios de Irai de Minas, Monte Carmelo e Romaria - 1996

Renda (em salário mínimo/mês**) N.º de propriedades % Negativa 2 3,45 Até 3 19 32,76 3,1 – 6 15 25,86 6,1 – 9 7 12,07 9,1 – 12 2 3,45 12,1 – 15 5 8,62 Acima de 15 8 13,79 Total 58 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo. - Ago/set/1996 Org.: L. T. Bernardo **Salário mínimo da época: R$ 112,00.

O que podemos verificar é que as propriedades pesquisadas apresentam

rendas suficientes para a manutenção das famílias no meio rural, demonstrando a grande

importância da agricultura familiar no aspecto sócio-econômico.

Podemos verificar também que a existência de formação de renda negativa

(3,45%) indica que na região pesquisada, algumas propriedades estão se

descapitalizando. Tal aspecto caracteriza a existência (mesmo que em uma pequena

porcentagem) de agricultores sem a formação de uma renda mínima necessária para a

subsistência.

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Por último, quanto aos aspectos ecológicos, podemos observar, analisando-se a

TAB. 4, que existe um alto índice de utilização de algumas práticas ecológicas.

Tabela 4 - Práticas ecológicas utilizadas nas propriedades rurais familiares dos municípios de Iraí de Minas, Monte Carmelo e Romaria - 1996 - (em %)

Práticas % Curva de nível 55,17 Rotação de culturas 36,21 Pousio 24,14 Subsolagem 5,17 Quebra-vento 3,45 Mais de uma prática ecológica 36,21 Não utiliza prática ecológica 24,14 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo. - Ago/set/1996 Org.: L. T. Bernardo - A somatória das porcentagens ultrapassará 100,00% pelo fato de algumas propriedades utilizarem mais de uma prática.

O que podemos observar nesta tabela é que a prática mais difundida é a

curva de nível, presente em 55,17% das propriedades entrevistadas, seguida da rotação

de culturas com 36,21% e do pousio, com 24,14%. Vale ressaltar que 36,21% dos

produtores utilizam, ao mesmo tempo, mais de uma prática ecológica.

Os dados apresentados procuraram apenas demonstrar alguns indicadores sobre

os aspectos sustentáveis da agricultura familiar envolvendo os aspectos sociais,

econômicos e ecológicos, na qual estes dados nos revelam a importância do sistema

familiar de produção para a efetivação do desenvolvimento sustentável baseado nos

parâmetros considerados neste capítulo.

Na transição para sistemas sustentáveis, a produção familiar apresenta uma série de vantagens, seja pela sua escala - geralmente menor - pela maior capacidade gerencial, pela mão-de-obra mais qualificada, por sua flexibilidade e, sobretudo, por sua maior aptidão à diversificação de culturas e à preservação dos recursos naturais. Assim como o desenvolvimento dos países industrializados esteve fortemente atrelado ao fortalecimento da agricultura familiar, é difícil pensar em um padrão sustentável cuja a (sic) base não seja a empresa familiar.(EHLERS, 1999: 136).

Portanto, reconhecida a importância do produtor familiar tanto em termos

econômicos, quanto sociais e ecológicos, criar-se-iam assim, condições para a

construção de uma cidadania no campo (diminuindo a miséria, a pobreza e a violência

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tanto no campo quanto nas cidades); aumentaria a qualidade de vida no campo e por

último, garantiria um aumento da segurança alimentar da sociedade brasileira.

“Infelizmente, as vantagens de uma estratégia de desenvolvimento rural que

priorize a promoção da agricultura familiar ainda não foram percebidas pela

sociedade brasileira ...” (FAO/INCRA,1994: 3), o que vem causando uma intensa

marginalização desse setor de produção.

Com relação aos produtores, poderemos verificar no capítulo a seguir,

algumas variáveis que nos indiquem o nível de conscientização destes em relação aos

aspectos ecológicos. Também analisaremos algumas práticas agropecuárias envolvendo

a utilização dos recursos naturais e as técnicas utilizadas tanto pelos produtores

patronais, quanto familiares, na busca de medidas alternativas que possam minimizar os

efeitos da utilização dos recursos do meio ambiente em suas propriedades.

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3 - OS PRODUTORES PATRONAIS E FAMILIARES DOS MUNICÍPIOS DE

MONTE CARMELO E IRAÍ DE MINAS (MG): uma análise comparativa

3.1. As características dos municípios

A região estudada consiste em dois municípios, Monte Carmelo e Iraí de

Minas, ambos situados na mesorregião do Alto Paranaíba, estado de Minas Gerais.

Monte Carmelo abrange uma área total de 1.321 Km² e possui como limite

ao Norte, os municípios de Douradoquara e Abadia dos Dourados (MG); a Leste,

Coromandel e Patrocínio (MG); a Oeste, Grupiara, Estrela do Sul e Romaria (MG) e, ao

Sul, Iraí de Minas (MG).

A população do município encontra-se, em sua maioria, no setor urbano e

está distribuída da seguinte forma.

Quadro 3 - Distribuição da população no município de Monte Carmelo – 1996

População nº de habitantes % Urbana 33.592 84,08 Rural 6.360 15,92 Total 39.952 100,00 Fonte: EMATER, 1999 Org: L. T. Bernardo

O município possui um total de 1.067 produtores rurais distribuídos nos

seguintes estratos de tamanho da área das propriedades.

Tabela 5 - Estrutura fundiária do município de Monte Carmelo - 1999

Tamanho da propriedade nº de propriedades % Área (ha) menos de 1ha 20 1,87 5 1 a menos de 2 ha 4 0,37 5 2 a menos de 5 ha 39 3,65 143 5 a menos de 10 ha 96 9,00 758 10 a menos de 20 ha 143 13,40 2.181 20 a menos de 50 ha 286 26,80 9.499 50 a menos de 100 ha 192 17,05 13.943 100 a menos de 200 ha 140 13,12 19.321 200 a menos de 500 ha 118 11,05 35.015 500 a menos de 1.000 ha 18 1,69 11.1,9 acima de 1.000 ha 11 1,03 12.628 Total 1.067 100,00 104.607 Fonte: EMATER, 1999

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O solo predominante do município é do tipo LA (Latossolo Amarelo) de

média textura. Como característica do relevo, este possui uma área 20% plana, 60%

ondulado e 20% montanhoso.

Monte Carmelo apresenta uma altitude máxima de 1.065m (cabeceira do

Córrego Rancharia) e mínima de 724m (Foz Córrego Francos). Sua sede está a 854m de

altitude. A temperatura média é de 23,7ºC, com máxima de 32,2ºC e mínima de 15,2ºC

(junho é o mês que apresenta o maior número de geadas). O índice pluviométrico médio

anual é de 1.432,5mm (média dos últimos 10 anos) conforme mostra o Quadro 4.

Quadro 4 - Índice pluviométrico do Município de Monte Carmelo (mm/mês) - Média dos últimos 10 anos - 1990/1999

Mês mm Janeiro 179,5 Fevereiro 163,0 Março 232,5 Abril 22,0 Maio 55,0 Junho 7,0 Julho 8,0 Agosto 46,0 Setembro 98,0 Outubro 73 Novembro 279,5 Dezembro 260,0 Fonte: EMATER, 1999

Finalmente, como última informação do município de Monte Carmelo, este

pertence à bacia do Rio Paranaíba, possuindo como recursos hídricos os rios Perdizes,

Dourado e Ribeirão São Félix, sendo Rio Perdizes o principal recurso hídrico deste

município.

Iraí de Minas apresenta uma área total menor do que Monte Carmelo, com

358 Km². Os municípios limitantes são, ao Norte, Monte Carmelo (MG); a Leste,

Patrocínio (MG); a Oeste, Romaria e Nova Ponte (MG) e ao Sul, Pedrinópolis e

Perdizes (MG).

Em Iraí de Minas, a população também é menor em comparação a Monte

Carmelo e está distribuída como demonstra o quadro a seguir.

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Quadro 5 - Distribuição da população no município de Iraí de Minas – 1996

População nº de habitantes % Urbana 2.693 56,05 Rural 2.112 43,95 Total 4.805 100,00 Fonte: EMATER, 2000 Org: L. T. Bernardo

O município possui um total de 347 produtores rurais distribuídos nos

seguintes estratos conforme podemos ver na TAB. 6.

Tabela 6 - Estrutura fundiária do município de Iraí de Minas - 1996

Tamanho da propriedade nº de propriedades % Área (ha) menos de 1ha 3 0,86 1 1 a menos de 2 ha 0 0,00 0 2 a menos de 5 ha 8 2,30 32 5 a menos de 10 ha 21 6,05 159 10 a menos de 20 ha 62 17,87 934 20 a menos de 50 ha 118 34,01 4.082 50 a menos de 100 ha 63 18,16 4.461 100 a menos de 200 ha 45 12,97 6.096 200 a menos de 500 ha 23 6,63 6.616 500 a menos de 1.000 ha 3 0,86 1.810 acima de 1.000 ha 1 0,29 1.880 Total 347 100 26.071 Fonte: EMATER, 2000

Iraí de Minas possui um solo predominantemente do tipo LE (Latossolo

Vermelho Escuro) de textura argilosa. O relevo, de uma maneira geral, é mais plano do

que em Monte Carmelo, com 60% da área plana, 30% ondulada e 10% montanhosa.

A altitude máxima de Iraí de Minas é de 1.045m (próximo ao Rio Bagagem)

e mínima de 750 (Foz do Córrego Cachoeirinha). Sua sede está a 952m de altitude.

Como temperatura média, esta apresenta-se em torno de 20,70ºC, com máxima de

26,3ºC e mínima de 16,0ºC (assim como Monte Carmelo, junho é o mês que apresenta o

maior número de geadas). O índice pluviométrico médio anual é de 1.668,0mm (média

dos últimos 10 anos) conforme mostra o Quadro 6.

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Quadro 6 - Índice pluviométrico do Município de Monte Carmelo (mm/mês) - Média dos últimos 10 anos – 1990/1999

Mês mm Janeiro 256,4 Fevereiro 222,2 Março 221,6 Abril 91,5 Maio 59,4 Junho 19,1 Julho 13,6 Agosto 24,1 Setembro 60,0 Outubro 153,0 Novembro 242,7 Dezembro 304,4 Fonte: EMATER, 2000

Quanto ao aspecto hidrográfico, Iraí de Minas também pertence à bacia do

Rio Paranaíba, e tem como fontes de recursos hídricos o Reservatório da Usina

Hidrelétrica de Nova Ponte, o Ribeirão Bagagem e o Ribeirão Fortaleza, tendo o

Ribeirão Bagagem como o principal recurso hídrico deste município.

3.2. Caracterização dos produtores analisados.

Antes de iniciarmos os aspectos comparativos, convém primeiramente

realizarmos uma caracterização destes produtores, ou seja, a área média das

propriedades, o nível educacional, idade, atividades e demais aspectos que possam nos

auxiliar na compreensão de como são os produtores a serem analisados. Quanto à área

média das propriedades analisadas, os municípios apresentam dados distintos de

distribuição fundiária.

Os produtores patronais de Monte Carmelo possuem uma área média de 109,28

ha e os produtores familiares 58,84 ha. Em Iraí de Minas, a média das propriedades

patronais é de 384,49 ha, enquanto que das propriedades familiares é de 42,88 ha. Estes

dados nos demonstram que existe, em Iraí de Minas, uma maior concentração fundiária,

com as propriedades patronais maiores e propriedades familiares menores em relação a

Monte Carmelo. A estratificação das propriedades pode ser analisada a seguir.

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Tabela 7 - Estratificação das propriedades rurais patronais e familiares nos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000.

Área (em ha)

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % nº %

2 a menos de 5

---- ---- 2 6,90 ---- ---- ---- ---- ---- ---- 2 4,76

5 a menos de 10

---- ---- 3 10,34 ---- ---- 1 7,69 ---- ---- 4 9,53

10 a menos de 20

1 3,45 7 24,14 ---- ---- 4 30,77 1 2,38 11 26,19

20 a menos de 50

5 17,24 6 20,69 ---- ---- 5 38,47 5 11,90 11 26,19

50 a menos de 100

11 37,94 4 13,79 2 15,38 1 7,69 13 30,96 5 11,90

100 a menos de 200

9 31,03 5 17,24 5 38,47 2 15,38 14 33,33 7 16,67

200 a menos de 500

3 10,34 2 6,90 3 23,08 ---- ---- 6 14,29 2 4,76

500 a menos de 1.000

---- ---- ---- ---- 2 15,38 ---- ---- 2 4,76 ---- ----

Acima de 1000

---- ---- ---- ---- 1 7,69 ---- ---- 1 2,38 ---- ----

Total 29 100,00 29 100,00 13 100,00 13 100,00 42 100,00 42 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

Em relação à idade, de uma maneira geral, o produtor familiar apresenta-se

mais velho com uma média de 49 anos e o produtor patronal 44 anos de idade, mas esta

diferença se caracteriza principalmente em Monte Carmelo (51 anos os produtores

familiares e 42 anos os patronais), pelo fato de em Iraí de Minas a idade média entre os

produtores serem muito próximas (48 e 47 anos para os produtores familiares e

patronais, respectivamente).

No âmbito educacional, os produtores patronais apresentam uma escolaridade

mais elevada. Em Monte Carmelo, 13,79% dos produtores familiares nunca estudaram,

apenas 6,90% terminaram o ensino médio e nenhum possui curso superior, enquanto

que 4,34% dos produtores patronais não estudaram, 17,39% terminaram o ensino médio

e 4,35% possuem curso superior. Em Iraí de Minas, a diferença educacional entre as

categorias de produtores se acentua. Entre os produtores familiares, apenas 1 produtor

(7,69%) possui curso superior, o restante dos entrevistados (92,31%) nem ao menos

haviam terminado o ensino médio. Já entre os produtores patronais, estes apresentaram

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uma porcentagem de 15,38% com ensino médio completo e também 15,38% com curso

superior. Neste município, nenhum dos dois tipos de produtores responderam que nunca

haviam estudado.

Tabela 8 - Escolaridade dos produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000.

Escolaridade Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais* Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % nº %

Ensino fundamental incompleto

17

73,91

22

75,86

8

61,54

12

92,31

25

69,44

34

80,96

Ensino fundamental completo

----

----

1

3,45

1

7,69

---

----

1

2,78

1

2,38

Ensino médio incompleto

---- ---- ---- ---- ---- ---- --- ---- --- ---- ---- ----

Ensino médio completo

4 17,39 2 6,90 2 15,38 --- ---- 6 16,67 2 4,76

Curso superior 1 4,35 2 15,38 1 7,69 3 8,33 1 2,38 Nunca estudou 1 4,35 4 13,79 --- --- --- --- 1 2,78 4 9,52 Total 23 100,00 29 100,00 13 100,00 13 100,00 36 100,00 42 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo *Um total de 6 produtores não responderam à questão.

A principal atividade exercida nas propriedades varia de acordo com o tipo

de produtor. Neste aspecto, os dois municípios apresentam características semelhantes.

A agricultura é a principal fonte de renda para os produtores patronais dos

dois municípios, com 58,62% e 38,48% de importância para Monte Carmelo e Iraí de

Minas respectivamente, enquanto que para os produtores familiares, a agricultura em

conjunto com a pecuária é a principal fonte de renda, apresentando uma importância de

48,27% para os produtores de Monte Carmelo e 61,63% em Iraí de Minas.

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Tabela 9 - Principais atividades realizadas nas propriedades patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000

Atividades Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % nº %

Agricultura 17 58,62 5 17,24 5 38,48 3 23,07 22 52,38 8 19,04 Pecuária 6 20,68 10 34,48 4 30,76 2 15,38 10 23,80 12 28,57 Agricultura e pecuária

6

20,28

14

48,27

4

30,76

8

61,63

10

23,80

22

52,38

Total 29 100,00 29 100,00 13 100,00 13 100,00 42 100,00 42 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

Dentre as culturas mais difundidas, destacam-se o café (FIG. 2), o milho, o

feijão, a soja e o arroz. O café é encontrado principalmente entre as propriedades

patronais de Monte Carmelo (86,96%); o milho, entre os produtores familiares de

Monte Carmelo (63,16) e nas propriedades patronais e familiares de Iraí de Minas,

100,00% e 81,81%, respectivamente.

FIG. 2 – Fazenda N.ª S.ª Aparecida, Monte Carmelo (MG) - Terreiro de café e plantação ao fundo. Autor: L. T. Bernardo, ago/2000

A grande presença da cultura do milho nas propriedades patronais de Iraí de

Minas, se verifica pela possibilidade de rotação com a cultura da soja e também do

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feijão, o que pode ser demonstrado pela presença destacada destas outras culturas nas

propriedades patronais16.

Tabela 10 - Principais culturas difundidas nas propriedades patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000

Culturas difundidas entre as propriedades

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % nº %

Café 20 86,96 8 42,10 2 22,22 2 18,18 22 68,75 10 33,33 Milho 4 17,39 12 63,16 9 100,00 9 81,81 13 40,63 21 70,00 Feijão 1 4,35 5 26,32 8 88,88 2 18,18 9 28,13 7 23,33 Sorgo ---- ---- 1 5,26 ---- ---- ---- ---- ---- ---- 1 3,33 Maracujá 1 4,35 1 5,26 1 9,09 1 3,13 2 6,67 Soja 2 8,70 ---- ---- 9 100,00 3 27,27 11 34,38 3 10,00 Algodão ---- ---- ---- ---- 1 11,11 1 9,09 1 3,13 1 3,33 Arroz ---- ---- 8 42,11 ---- ---- ---- ---- ---- ---- 8 26,67 Ervilha ---- ---- ---- ---- 1 11,11 ---- ---- 1 3,13 ---- ---- Tomate ---- ---- ---- ---- 1 11,11 ---- ---- 1 3,13 ---- ---- Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo -A somatória das porcentagens ultrapassará 100,00% pelo fato de algumas propriedades utilizarem mais de uma prática.

Com relação ao tipo de pecuária adotada, a leiteira é a que aparece em maior

número de propriedades, seja patronal ou familiar, mesmo considerando os dois

municípios. Mas podemos verificar que nas propriedades familiares ela é ainda mais

difundida do que nas patronais, apresentando uma média superior a 90,00% nessas

propriedades.

Tabela 11 - Tipo de pecuária adotada pelos produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000

Tipo de pecuária

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % nº %

Leiteira 7 58,33 22 91,66 5 62,50 11 100,00 12 60,00 33 94,28 Pecuária 4 33,33 1 4,16 2 25,00 --- --- 6 30,00 1 2,85 Leiteira/pecuária 1 8,33 1 4,16 1 12,50 --- --- 2 10,00 1 2,85 Total 12 100,00 24 100,00 8 100,00 11 100,00 20 100,00 35 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

16 Convém destacar que a rotação destas culturas apresentada é viabilizada pela utilização da irrigação, principalmente o pivô central, como poderá ser verificado posteriormente.

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Vários podem ser os motivos que levam estes produtores a adotarem a

pecuária leiteira como atividade. Uma delas, e talvez a mais importante, seja sua

constância, ou seja, a possibilidade de “atravessar” o ano com uma determinada “renda

fixa” adquirida durante todo o mês. Mesmo ocorrendo queda da produção em períodos

de inverno, existe ainda formação de renda mínima constante.

O que também deve ser considerado é que essa variação ocorre de maneira

relativamente menor, se comparado a outras atividades rurais, como é o exemplo de

culturas permanentes e temporárias em épocas de geada ou seca, dando maior segurança

ao proprietário familiar.

Dentre outros motivos que levam os produtores a adotarem a pecuária

leiteira como atividade produtiva temos:

• uso de trabalho familiar, pela possibilidade da família como um

todo, participar nas atividades da produção;

• melhoria da subsistência, ou seja, maior consumo de alimentos

como leite, queijo, carne e doces;

• acumulação de capital, que se dá pelo aumento do rebanho

bovino no decorrer do tempo (BERNARDO, 1997).

Na FIG. 3 podemos ver um trabalhador familiar em atividade, e seu filho,

desde criança, inserido no trabalho da propriedade.

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FIG. 3 – Fazenda Pastinha, Iraí de Minas (MG) - Trabalho familiar na pecuária leiteira Autor: L. T. Bernardo, ago/2000

Tabela 12 – Grau de mecanização nas propriedades patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000

Uso do trator

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % nº %

Sim 22 75,86 10 34,38 10 76,92 4 30,77 32 76,19 14 33,33 Não 7 24,13 19 65,52 3 23,07 9 69,23 10 23,81 28 66,66 Total 29 100,00 29 100,00 13 100,00 13 100,00 42 100,00 42 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

Por último, um outro aspecto em que os municípios apresentam

características semelhantes diz respeito à mecanização17. Podemos verificar, de acordo

com a TAB. 12, que o nível de mecanização entre os produtores patronais dos dois

municípios é muito semelhante, com 75,86% para os produtores de Monte Carmelo e

76,92% para os produtores de Iraí de Minas. Já em relação aos produtores familiares,

17 Por mecanização, consideramos os proprietários que possuíam ou não trator.

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este nível cai para 34,48% e 30,77% para os municípios de Monte Carmelo e Iraí de

Minas, respectivamente. Podemos concluir que, de uma maneira em geral, os produtores

patronais apresentam um nível de mecanização bem superior aos produtores familiares

considerando os dois municípios.

3.3. O acesso dos produtores ao financiamento agrícola e à assistência técnica

Realizada a caracterização dos produtores da região estudada, é importante que

saibamos se estes produtores possuem o fomento necessário para que possam estar

inseridos no mercado de maneira competitiva, ou mesmo se possuem uma dinâmica de

aprendizagem que possibilitem uma melhoria das técnicas agropecuárias a serem

utilizadas nas propriedades. As duas variáveis estudadas e consideradas fundamentais na

obtenção destes objetivos citados foram, a assistência técnica e o crédito rural.

Tabela 13 - Assistência técnica aos produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000

Recebimento deassistência técnica

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % Nº %

Sim 23 79,32 7 24,13 13 100,00 12 92,31 36 85,71 19 45,24 Não 4 13,79 21 72,42 ---- ---- 1 7,69 4 9,52 22 52,38 Não respondeu 2 6,89 1 3,45 ---- ---- ---- ---- 2 4,76 1 2,38 Total 29 100,00 29 100,00 13 100,00 13 100,00 42 100,00 42 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

No aspecto assistência técnica, o município de Iraí de Minas apresenta uma

quase totalidade das propriedades atingidas, tanto patronais quanto familiares, com

100,00% e 92,31%, respectivamente. Estes números são superiores aos produtores do

município de Monte Carmelo, onde verificamos que 79,32% dos produtores patronais

possuem assistência técnica e apenas 24,13% dos familiares podem contar com este

fomento.

Na TAB. 14 é demonstrada a importância que a EMATER e as cooperativas

têm na assistência técnica dada aos produtores rurais.

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Tabela 14 - Origem da assistência técnica dada aos produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000

Origem da assistência técnica

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % nº %

Emater 1 4,35 4 57,14 1 7,69 8 66,67 2 5,56 12 63,16 Cooperativa 16 69,56 3 42,85 11 84,61 5 41,67 27 75,00 8 42,11 Empresa privada 8 34,78 1 14,29 4 30,77 4 33,33 12 33,33 5 26,32 Associação ---- ---- ---- ---- ---- ---- 1 8,33 ---- ---- 1 5,26 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo - A somatória das porcentagens ultrapassará 100,00% pelo fato de algumas propriedades serem assistidas por mais de uma fonte de assistência técnica.

A EMATER é responsável principalmente pela assistência técnica dada aos

produtores familiares dos dois municípios, com um total de 57,14% nas propriedades de

Monte Carmelo e 66,67% nas propriedades de Iraí de Minas. Para os produtores

patronais sua importância é ínfima, abrangendo 4,35% e 7,69% destes produtores em

Monte Carmelo e Iraí de Minas.

Com as cooperativas, o foco dos produtores que recebem assistência técnica

se inverte. Em Monte Carmelo, 69,56% dos produtores patronais recebem assistência

técnica oriunda das cooperativas e 41,67% dos produtores familiares são assistidos pelas

mesmas. Em Iraí de Minas, esta relação continua, com 84,62% das propriedades

patronais recebendo assistência técnica advinda das cooperativas e 66,67% das

propriedades familiares fomentadas pelas cooperativas.

Quanto ao uso do crédito rural, apenas os produtores patronais do município de

Iraí de Minas apresentaram uma porcentagem relativamente elevada em sua utilização,

com 69,24% de produtores desta categoria que o utilizavam constantemente. Os demais

produtores, em sua maioria não utilizam o crédito rural, sendo que o maior índice de

rejeição se encontra entre os produtores familiares de Monte Carmelo (58,63%). Entre

os produtores que fizeram uma vez ou às vezes ainda recorrem ao financiamento, na

análise do roteiro de entrevista, notamos que alguns produtores (principalmente os

produtores familiares) o fizeram para a aquisição do PRONAF (Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar).

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Tabela 15 - Produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) que fazem financiamento da produção - 2000

Financiamento da produção

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % nº %

Sempre utilizou 8 27,59 2 6,89 9 69,24 4 30,77 17 40,48 6 14,28 Utilizou uma vez ou às vezes

4 13,79 10 34,48 3 23,07 4 30,77 7 16,66 14 33,33

Nunca utilizou 15 51,73 17 58,63 1 7,69 5 38,46 16 38,10 22 52,39 Não sabe 2 6,89 ---- ---- ---- ---- ---- ---- 2 4,76 ---- ---- Total 29 100,00 29 100,00 13 100,00 13 100,00 42 100,00 42 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

Perguntamos aos produtores se conheciam o PRONAF, e entre as respostas

obtidas constatamos que este sistema de crédito é mais conhecido entre os produtores

familiares de Iraí de Minas (92,31%), porém a porcentagem de conhecimento não é

refletida na utilização deste crédito. Como podemos observar na TAB. 16, apenas

30,95% dos produtores familiares da região o utilizou, com destaque também para os

produtores familiares de Iraí de Minas (38,46% já o utilizaram).

Tabela 16 – Utilização dos recursos do PRONAF pelos produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000

Uso do recurso do PRONAF

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % nº %

Sim 8 27,59 3 23,07 5 38,46 3 7,14 13 30,95 Não 29 100,00 21 72,41 10 76,93 8 61,54 39 92,86 29 69,05 Total 29 100,00 29 100,00 13 100,00 13 100,00 42 100,00 42 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

A finalidade dos créditos obtidos vai variar com o tipo de produtor

entrevistado (TAB. 17). O custeio aparece como o maior destino do crédito recebido

pelos proprietários, 66,67% dos produtores patronais de Monte Carmelo e Iraí de Minas,

50,00% dos produtores familiares de Iraí de Minas e apenas 8,33% dos produtores

familiares de Monte Carmelo. O crédito destinado ao investimento, em todas as

categorias aparece de maneira tímida. Podemos destacar a utilização do crédito

destinado à energia elétrica dos produtores familiares de Monte Carmelo (58,33).

Mesmo sendo um investimento fixo, este se diferencia da categoria investimento, pelo

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fato de não ser destinado diretamente à produção agropecuária, como na obtenção de um

trator, ou mesmo um pivô central.

Tabela 17 – Finalidade do financiamento recebido pelos produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000

Finalidade do financiamento recebido

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % Nº %

Custeio 8 66,67 1 8,33 8 66,67 4 50,00 16 66,66 5 25,00 Investimento 1 8,33 2 16,67 2 16,67 1 12,50 3 12,50 3 15,00 Energia ---- ---- 7 58,33 ---- ---- ---- ---- ---- ---- 7 35,00 Cobrir dívida ---- ---- ---- ---- 1 8,33 ---- ---- 1 41,67 ---- 10,00 Custeio/investimento

---- ---- ---- ---- 1 8,33 2 25,00 1 41,67 2 10,00

Não sabe 3 25,00 2 16,67 ---- ---- 1 12,50 3 12,50 3 15,00 Total 12 100,00 12 100,00 12 100,00 8 100,00 24 100,00 20 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

3.4. Os produtores patronais e familiares e as relações com o meio ambiente

A análise dos dados relativos à questão ecológica é importante para que

possamos discutir os aspectos que envolvem os produtores patronal e familiar e o

desenvolvimento ecológico sustentável. Em nossa pesquisa, inicialmente, analisamos o

quanto o produtor considera importante a conservação do meio ambiente em sua

propriedade.

Entre os produtores entrevistados, seja patronal ou familiar dos dois

municípios estudados, quase que a totalidade (97,62%) considera importante a

conservação do meio ambiente em suas propriedades.

No que diz respeito às leis de proteção ao meio ambiente, os produtores de

uma maneira em geral, demonstraram ter conhecimento sobre este aspecto. A exceção

ficou com os produtores familiares de Iraí de Minas pelo fato de 61,53% destes

produtores desconhecerem totalmente leis de proteção ao meio ambiente, e somente

23,08% conhecerem alguma lei. Já com os demais produtores, esta situação se inverte.

Os produtores patronais de Monte Carmelo apresentaram um nível de conhecimento de

leis de 68,97% e de não conhecimento de 17,24% e, 65,52% dos produtores familiares

disseram conhecer as leis, contra 27,59% que as desconhecem. Em Iraí de Minas, os

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produtores patronais também estão informados quanto ao conhecimento de leis de

proteção ao meio ambiente, pois 61,53% tem conhecimento de alguma lei, enquanto que

30,77 não conhecem nenhuma.

Tabela 18 - Conhecimento de leis de proteção ao meio ambiente pelos produtores dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000

Conhecimento de leis de proteção ambiental

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % nº %

Sim 20 68,97 19 65,52 8 61,53 3 23,08 28 66,66 22 52,38 Em termos 4 13,79 2 6,89 1 7,61 2 15,39 5 11,90 4 9,52 Não 5 17,24 8 27,59 4 30,77 8 61,53 9 21,44 16 38,10 Total 29 100,00 29 100,00 13 100,00 13 100,00 42 100,00 42 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

Considerando a estreita relação que existe entre o meio ambiente e a agricultura

orgânica, incluímos em nosso roteiro de entrevista duas questões que envolvem

diretamente este assunto no que diz respeito ao seu conhecimento pelos produtores

rurais entrevistados.

A maior parte dos produtores entrevistados já ouviu falar em agricultura

orgânica (70, 24% do total dos produtores entrevistados), porém, ao questionarmos se

sabiam o que significava, o nível de conhecimento sobre este tipo de agricultura caiu em

relação à pergunta inicial sobre os orgânicos. Como destaque, os produtores que menos

entendem sobre este assunto são os produtores patronais de Monte Carmelo e familiares

de Iraí de Minas, com porcentagens de 68,97% e 69,23%, respectivamente.

Tabela 19 –Produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) que apresentaram um conceito de agricultura orgânica - 2000

Conceito de agricultura orgânica

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares

nº % nº % nº % nº % nº % nº % Sim 9 31,03 15 51,72 6 46,15 4 30,77 15 35,72 19 45,24 Não sabe 20 68,97 14 48,78 7 53,85 9 69,23 27 64,28 23 57,76 Total 29 100,00 29 100,00 13 100,00 13 100,00 42 100,00 42 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

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O manuseio do solo na propriedade, isto é, que práticas de conservação e

também, qual a situação do solo em relação às erosões são também variáveis

importantes para detectar o nível de conhecimento do proprietário na tentativa de

conservar o meio ambiente na sua propriedade. Ao serem indagados se existia erosão

em suas propriedades, o que verificamos, de acordo com os produtores, é que o total de

propriedades sem erosão do solo é maior do que as que apresentaram erosão.

Tabela 20 - Situação das propriedades patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) quanto à erosão do solo - 2000

Propriedade com erosão do solo

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % nº %

Sim 6 20,69 8 27,58 2 15,38 2 15,38 8 19,05 10 23,81 Não 23 79,31 20 68,97 11 84,62 11 84,62 34 80,95 31 73,81 Não respondeu ---- ---- 1 3,45 ---- ---- ---- ---- ---- ---- 1 2,38 Total 29 100,00 29 100,00 13 100,00 13 100,00 42 100,00 42 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

Em Monte Carmelo, 20,69% dos produtores patronais afirmaram ter erosão

do solo e 79,31% não, enquanto que 27,58% dos familiares disseram ter e 68,97%

responderam que não possuíam erosão em suas propriedades.

A porcentagem de erosão do solo no município de Iraí de Minas é ainda

menor se comparado a Monte Carmelo. Em Iraí de Minas, as duas categorias de

produtores afirmaram ter níveis de erosão semelhante, com 15,38% e 84,62% das

propriedades apresentando ou não erosão do solo, respectivamente.

A razão de termos um nível de propriedades sem erosão do solo inferior às

propriedades com erosão, pode ser respondida pela TAB. 21, onde são demonstrados os

números relativos às ações de contenção à erosão.

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Tabela 21 - Produtores patronais e familiares que realizam atividades de contenção de erosão dos solos nos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000

Uso de atividade para conter a erosão

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % Nº % nº % nº %

Sim 17 58,62 14 48,28 8 61,54 8 61,54 25 59,52 22 52,38 Não 3 10,34 11 37,93 1 7,69 2 15,38 4 9,52 13 30,95 Não respondeu 9 31,04 4 13,79 4 30,77 3 23,08 13 30,96 7 16,66 Total 29 100,00 29 100,00 13 100,00 13 100,00 42 100,00 42 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

Nesta tabela, apesar de um índice elevado de proprietários que não

responderam se praticam ações de combate à erosão, podemos destacar que, à exceção

dos produtores familiares de Monte Carmelo (que apresentaram uma porcentagem de

48,28% de propriedades com práticas de combate à erosão), entre os demais produtores,

a maioria realiza alguma prática, ou seja, 58,63% dos produtores patronais de Monte

Carmelo e 61,54% dos produtores patronais e familiares de Iraí de Minas. Na TAB. 22

estão relacionadas as principais práticas realizadas de combate à erosão.

Tabela 22 - Principais práticas adotadas pelos produtores patronais e familiares para contenção da erosão nos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000

Práticas para conter a erosão

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % Nº % nº % nº %

Curva de nível 15 88,24 11 78,57 5 62,50 7 87,5 20 80,00 18 81,82 Planta cultura/pasto

3 17,65 1 7,14 ---- ---- ---- ---- 3 12,00 1 45,45

Não cultiva a terra na época da chuva

---- ---- 1 7,14 ---- ---- ---- ---- ---- ---- 1 45,45

Planta árvore ---- ---- 1 7,14 ---- ---- ---- ---- ---- ---- 1 45,45 O terreno é plano ---- ---- 2 14,28 ---- ---- ---- ---- ---- ---- 2 9,09 Preserva mato nas cabeceiras/reserva

2 11,76 1 7,14 1 12,50 ---- ---- 3 12,00 1 45,45

Faz plantio direto ---- ---- ---- ---- 3 37,50 1 12,50 3 12,00 1 45,45 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo - Para efeito de análise, foram considerados somente os proprietários que responderam à pergunta realizada. - A somatória das porcentagens ultrapassará 100,00% pelo fato de algumas propriedades possuírem mais de uma fonte de assistência técnica.

A principal ação de combate à erosão do solo, como pode ser verificado pela

TAB. 22, é a curva de nível, presente em maior número entre os produtores patronais e

familiares dos dois municípios. Como outras atividades, foram citadas o plantio de

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culturas e pastagem, o plantio de árvore, a não necessidade pela razão do terreno ser

plano, a preservação das matas ciliares e reserva e por último, o plantio direto.

Um dado a ser destacado nesta tabela é o número elevado de propriedades

que não fazem nada, ou não responderam18, atingindo porcentagens totais de 41,38% e

51,72% entre os produtores patronais e familiares de Monte Carmelo, respectivamente e

38,46 % entre os produtores patronais e familiares de Iraí de Minas.

Outro fato a ser destacado é em relação aos produtores que responderam

utilizar o plantio direto. Na TAB. 22, apenas 4 produtores disseram utilizar esta prática,

mas quando perguntamos especificamente se utilizavam este sistema de plantio, em

Monte Carmelo, 6,89% dos produtores patronais e 3,45% dos familiares afirmaram

adotar o plantio direto, enquanto que em Iraí de Minas, 61, 54% e 30,77% dos

produtores patronais e familiares respectivamente, responderam que realizam este

sistema de plantio (FIG. 4).

FIG. 4 – Fazenda Grole, Iraí de Minas (MG) - Área com plantio direto

Autor: L. T. Bernardo, ago/2000

18 Foi observado na análise dos roteiros de entrevista, que a maior parte dos produtores que afirmaram não terem erosão em suas propriedades, não responderam à questão, ou mesmo disseram apenas que não havia necessidade de adotar práticas de contenção à erosão do solo.

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Tabela 23 - Difusão da prática do plantio direto nas propriedades patronais e familiares nos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000

Plantio direto na propriedade

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % nº %

Sim 2 6,89 1 3,45 8 61,54 4 30,77 10 23,81 5 11,91 Não 27 93,11 28 96,55 5 38,46 9 96,23 32 76,19 37 88,09 Total 29 100,00 29 100,00 13 100,00 13 100,00 42 100,00 42 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

O número inferior de propriedades com plantio direto entre os produtores

patronais e familiares de Monte Carmelo e entre os produtores familiares de Iraí de

Minas, pode ocorrer pelo maior cultivo de culturas permanentes entre os produtores

patronais de Monte Carmelo (principalmente o café); pela pecuária mais difundida entre

os produtores familiares dos dois municípios ou mesmo uma menor difusão desta

prática entre os produtores.

No roteiro de entrevista, incluímos também outras variáveis que implicam

na conservação do solo além das destinadas exclusivamente à erosão. Perguntamos aos

produtores se adotavam as seguintes práticas em suas propriedades: curva de nível, terra

em descanso, rotação, subsolagem e quebra-vento. As respostas podem ser visualizadas

na TAB. 24.

Tabela 24 - Propriedades patronais e familiares que utilizam alguma prática de conservação do solo nos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000

Utilizam práticas de conservação do solo Sim

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % nº % 25 86.21 18 62.07 13 100,00 8 61,54 38 90,48 26 61,91

Não faz nada 4 13,79 11 37,93 ---- ---- 5 38,46 4 9,52 16 38,09 Total 29 100,00 29 100,00 13 100,00 13 100,00 42 100,00 42 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

Já a TAB. 25 demonstra, individualmente, o quanto cada atividade, que

consideramos como conservacionista, é aplicada nas propriedades.

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Tabela 25 - Utilização das práticas de conservação do solo pelos produtores patronais e familiares nos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000

Práticas de conservação do solo

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % nº %

Curva de nível 21 84,00 14 77,78 10 76,92 5 62,50 31 81,58 19 73,08 Terra em descanso 2 8,00 2 11,11 2 15,38 2 25,00 4 10,52 4 15,38 Rotação 3 12,00 4 22,22 8 61,54 3 37,50 11 28,95 7 26,92 Subsolagem 8 32,00 1 5,55 4 30,77 4 50,00 12 31,58 5 19,23 Quebra vento 4 16,00 2 11,11 2 15,38 2 25,00 6 15,79 4 15,38 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo - Para efeito de análise, foram consideradas somente as propriedades que adotavam alguma prática de conservação - A somatória das porcentagens ultrapassará 100,00% pelo fato de alguns proprietários adotarem mais de uma prática.

Pela TAB. 25, podemos ver que a prática mais utilizada é a curva de nível.

O que diferencia este dado relativo ao número de proprietários que citaram a curva de

nível, com a TAB. 22, é que na outra situação apenas perguntávamos o que o

proprietário fazia para conter a erosão do solo. Neste caso, perguntamos especificamente

se ele fazia em sua propriedade a curva de nível.

Uma observação a ser destacada e que necessita ser explicada, é em relação

ao número de produtores patronais e familiares que praticam ou não as atividades de

conservação do solo de forma específica.

A TAB. 24 demonstra que tanto em Monte Carmelo, quanto em Iraí de

Minas, os produtores patronais realizam mais práticas de conservação do solo em

comparação aos produtores familiares. No primeiro município, 86,21% dos produtores

patronais disseram que utilizam pelo menos uma das práticas sugeridas, enquanto que

13,79% não adotam nenhuma. Entre os produtores familiares, esta diferença diminui,

62,07% dos proprietários realiza alguma prática e 37,93% dos proprietários não realiza

nenhuma.

Em Iraí de Minas ocorre a mesma situação, 100% dos produtores patronais

praticam alguma atividade de conservação do solo. Quanto aos produtores familiares,

61,54% praticam alguma atividade e 38,46% não praticam nenhuma.

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Para entendermos o que pode ter levado aos números demonstrado na TAB.

24, é imprescindível considerarmos vários aspectos, dos quais destacamos quatro e que

podem ser verificados através das tabelas anteriormente analisadas.

O primeiro fator diz respeito ao tamanho da área. Possuindo uma área

menor, para o produtor familiar, muitas vezes é impraticável a utilização da prática

pousio19. Pode se tornar inviável para o produtor e sua família manter uma determinada

área descansando, pois esta área é imprescindível no sustento da família, seja a área

destinada à agricultura ou pecuária.

Também pode ter sido fundamental para o resultado das tabelas

demonstradas, o nível educacional e a informação. Possuindo um nível educacional

mais elevado em relação aos produtores familiares, os produtores patronais têm

possibilidade de acesso a um número maior de meios de comunicação (jornais e

revistas) e também a compreensão de assuntos ligados à questão ecológica. O maior

número de propriedades patronais com acesso à assistência técnica é outro meio de

informação a ser considerado, pois através dos técnicos e demais profissionais que

assistem aos produtores patronais, a difusão de técnicas de conservação do solo é mais

provável de acontecer.

Levando-se em consideração as práticas curva de nível e subsolagem, a

mecanização possui uma estreita relação, pois para realizar estas duas atividades de

conservação, o trator é imprescindível. Como pudemos observar, o nível de

mecanização entre os produtores familiares é inferior em relação aos produtores

patronais nos dois municípios analisados. Também, pelo fato de apresentar uma menor

mecanização, podemos concluir que existe nas propriedades familiares uma menor

compactação do solo advindo de máquinas agrícolas, levando a uma diminuição da

necessidade de subsolagem.

Por último, e talvez o aspecto de maior importância e de mais difícil análise,

é a questão da atividade na propriedade. Em propriedades com a atividade principal

19 Como já demonstrado neste capítulo, podemos verificar a média da área dos produtores patronais e familiares nos dois municípios considerados.

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voltada à agricultura (principalmente a temporária), o solo fica menos protegido se

compararmos à pastagem (o que não é uma regra), ocasionando uma maior necessidade

de adoção de práticas de conservação do solo.

Portanto, analisados os fatores supracitados, é possível compreendermos a

razão dos dados coletados demonstrarem uma realidade em que os produtores patronais

adotem mais práticas de conservação do solo em relação aos produtores familiares na

região de estudo.

Uma outra variável indicadora de práticas ecológicas adotadas pelos

produtores incluída no roteiro de entrevista, diz respeito ao preparo do solo para cultivo

ou pastagem.

Na TAB. 26, é indicado como o produtor “nutre” o solo da sua propriedade

para práticas agropecuárias.

Tabela 26 - Utilização de calcário, fertilizantes químicos e orgânicos entre os produtores patronais e familiares nos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000

Produtos utilizados

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % nº %

Calcário 19 79,17 9 42,86 11 91,67 10 83,33 30 83,33 19 57,58 Fertilizante químico 22 91,67 15 71,43 11 91,67 10 83,33 33 91,67 25 75,76 Fertilizante orgânico 15 62,50 19 90,47 5 41,67 8 66,67 20 55,56 27 75,76 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo - Para efeito de análise, foram consideradas somente as propriedades que adotavam alguma fonte de correção do solo. - A somatória das porcentagens ultrapassará 100,00% pelo fato de alguns proprietários adotarem um ou mis fontes de correção do solo.

Esta tabela nos mostra o relacionamento dos produtores no que tange a

busca do aumento da produtividade do solo via emprego de calcário, adubação química

e orgânica.

A calefação é empregada principalmente nas propriedades rurais de Iraí de

Minas. Neste município, realizam esta prática 91,67% dos produtores patronais e

83,33% dos produtores familiares. No caso de Monte Carmelo, de uma maneira geral, o

calcário é menos utilizado, principalmente nas propriedades familiares. Estas últimas

apresentaram uma porcentagem de 42,86% e os patronais 79,17%.

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A utilização dos fertilizantes químicos segue uma tendência semelhante

quanto ao uso. No município de Iraí de Minas, a proporção entre os produtores patronais

e familiares é de 91,67% e 83,33% de utilização, respectivamente. Em Monte Carmelo,

os fertilizantes químicos são utilizados por 91,67% das propriedades patronais e por

71,43% das familiares.

Para os fertilizantes orgânicos, a utilização deste adubo é alterada. A

primeira alteração é em relação aos municípios. Ao contrário do calcário e dos

fertilizantes químicos, Monte Carmelo apresentou uma porcentagem maior de adubação

orgânica. Comparando os produtores, os familiares, nos dois municípios, destacaram-se

por utilizarem mais esta prática de aumento da fertilidade do solo. Em Monte Carmelo,

90,47% dos produtores familiares utilizam adubo orgânico e 62,50% dos patronais o

utilizam. Em Iraí de Minas, esse percentual de uso é representado por 66,67% dos

produtores familiares, e por 41,67% dos patronais.

Dois dados já comentados, podem ter influenciado nos resultados

apresentados. O primeiro, é com relação ao crédito. Como demonstrado na TAB. 15, os

proprietários patronais apresentaram-se mais utilizadores do financiamento bancário,

principalmente em Iraí de Minas, daí o fato de os produtores patronais, de uma maneira

em geral, e particularmente de Iraí de Minas, realizarem mais a calefação e a aplicação

de fertilizantes químicos.20

O segundo fator é em relação à atividade na propriedade. Pelo fato das

propriedades familiares serem mais voltadas à pecuária (mesmo uma pecuária em

conjunto com a atividade agrícola), do que as propriedades patronais, é lícito

afirmarmos que existe um aproveitamento por parte do produtor familiar do esterco

advindo da pecuária localizada em sua propriedade.

Como última variável de prática ecológica incluída no roteiro de entrevista,

temos a prática da irrigação.

20 Convém ressaltar que na TAB. 17, é demonstrado que a maior parte do crédito adquirido pelos produtores é destinado ao custeio.

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Podemos ver nas TAB. 27 e 28 que o município de Monte Carmelo possui

uma maior porcentagem de propriedades que adotam esta prática. Em relação aos

produtores, nos dois municípios, os patronais utilizam em maior número o sistema de

irrigação do que os familiares. Em Monte Carmelo 58,62% dos produtores fazem

irrigação e 10,34% dos produtores familiares não fazem; 46,15% dos produtores

patronais de Iraí de Minas utilizam esta prática contra 7,69% dos produtores familiares

que não a utilizam.

Tabela 27 - Produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) que usam o sistema de irrigação - 2000

Uso da irrigação

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares Nº % nº % nº % nº % nº % nº %

Sim 17 58,62 3 10,34 6 46,15 1 7,69 23 54,76 4 9,52 Não 12 41,37 26 89,65 7 53,48 12 92,30 19 45,24 38 90,48 Total 29 100,00 29 100,00 13 100,00 13 100,00 42 100,00 42 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

Tabela 28 - Principais práticas de irrigação adotados pelos produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000

Tipo de irrigação utilizada

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % nº %

Pivô central 1 5,88 ---- ---- 6 100,00 ---- ---- 7 30,43 ---- ---- Aspersão 9 52,94 ---- ---- ---- ---- ---- ---- 9 39,14 ---- ---- Tripa 7 41,18 3 100,00 ---- ---- 1 100,00 7 30,43 4 100,00 Total 17 100,00 3 100,00 6 100,00 1 100,00 23 100,00 4 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

Quanto ao tipo de irrigação utilizada, por não apresentarem o uso do pivô

central ou aspersão (práticas de irrigação inadequadas para o cerrado21), os produtores

familiares se apresentaram mais sustentáveis do ponto de vista ecológico. Dos

proprietários familiares que realizam a irrigação, considerando os dois municípios

agrupados, todos disseram utilizar a “tripa”. Já entre os produtores patronais, esta

prática existe, porém é menos difundida. Em Monte Carmelo 41,18% das propriedades

irrigadas utilizam a tripa, 52,94% a aspersão (ou jato) e 5,88% fazem uso do pivô

21 Ver mais a respeito em SHIKI, 1995.

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central. Esta última é a prática preferida pela totalidade dos produtores patronais de Iraí

de Minas.

3.5. A utilização da mão-de-obra nas propriedades patronais e familiares

Após termos realizado estas análises sobre os produtores patronais e

familiares do ponto de vista ecológico, vamos demonstrar alguns dados que envolvem a

sustentabilidade em seu aspecto social.

Na TAB. 29, temos o número de pessoas que trabalham nos dois tipos de

propriedades, sendo estas pessoas da própria família ou mesmo contratadas.

Tabela 29 - Número total de pessoas que trabalham permanentemente nas propriedades patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000

nº total de pessoas

Monte Carmelo (nº de propriedades)

Iraí de Minas (nº de propriedades)

Total

Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % nº % 1 ---- ---- 4 13,79 ---- ---- 2 15,38 ---- ---- 6 14,28 2 7 24,31 14 48,27 ---- ---- 6 46,15 7 16,66 20 47,62 3 11 37,93 3 10,34 6 46,15 3 23,08 17 40,48 6 14,28 4 5 17,24 7 24,31 4 30,77 1 7,69 9 21,42 8 19,04 5 3 10,34 ---- ---- 1 7,69 1 7,69 4 9,52 1 2,38 6 1 3,45 ---- ---- ---- ---- ---- ---- 1 2,38 ---- ---- 77 1 3,45 1 3,45 ---- ---- ---- ---- 1 2,38 1 2,38 10 1 3,45 ---- ---- ---- ---- ---- ---- 1 2,38 ---- ---- 11 ---- ---- ---- ---- 1 7,69 ---- ---- 1 2,38 ---- ---- 15 ---- ---- ---- ---- 1 7,69 ---- ---- 1 2,38 ---- ----

Total 29 100,00 29 100,00 13 100,00 13 100,00 42 100,00 42 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

Esta tabela nos mostra a quantidade de propriedades que absorvem

determinado número de trabalhadores, familiares ou não. Fazendo uma somatória,

concluímos que nas propriedades patronais de Monte Carmelo trabalham 105 pessoas

permanentemente e, nas propriedades familiares 76 pessoas. Em Iraí de Minas,

trabalham permanentemente nas propriedades patronais e familiares 65 e 32 pessoas,

respectivamente.

De acordo com os dados levantados na pesquisa de campo, a área total dos

proprietários patronais de Monte Carmelo é 3.169,24 ha e, dos produtores familiares

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1.706,36 ha. Em Iraí de Minas, a área total dos produtores patronais é 4.998,4 ha e, dos

produtores familiares 557,5 ha.

Dividindo a relação de mão-de-obra absorvida em cada tipo de propriedade

(patronal ou familiar), pela área total das mesmas, chegamos aos seguintes números: nas

propriedades patronais de Monte Carmelo, para a geração de cada emprego permanente

são necessários 30,18 ha, e nas familiares 22,45 ha. No município de Iraí de Minas, nas

propriedades patronais, são necessários 76,90 ha e nas propriedades familiares 17,42 ha.

O que estes dados demonstram é uma vantagem das propriedades familiares

em relação às patronais, partindo de uma perspectiva social de desenvolvimento

sustentável.

Esta vantagem se dá pelo fato das propriedades familiares absorverem uma

maior quantidade de mão-de-obra por área. Estes números reforçam os dados fornecidos

pela FAO e já discutidos no capítulo anterior.

3.6. A renda adquirida nas propriedades

Por último, incluímos em nosso roteiro de entrevista, duas questões para

sabermos se o produtor está satisfeito com a renda gerada em sua propriedade e quais

suas perspectivas para o futuro.

Tabela 30 – Grau de satisfação dos produtores patronais e familiares dos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas em relação à renda gerada nas propriedades - 2000

O produtor está satisfeito com a renda

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares nº % nº % nº % nº % nº % nº %

Sim 23 79,32 6 20,69 7 53,85 6 46,15 30 71,43 12 28,57 Mais ou menos

4 13,79 8 27,58 4 30,77 5 38,46 8 19,05 13 30,95

Não 2 6,89 14 48,28 2 15,38 2 15,39 4 9,52 16 38,10 Não sabe/não respondeu

---- ---- 1 3,45 ---- ---- ---- ---- ---- ---- 1 2,38

Total 29 100,00 29 100,00 13 100,00 13 100,00 42 100,00 42 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

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De uma maneira geral, o produtor patronal está mais satisfeito do que o

familiar. Em Iraí de Minas, o nível de satisfação dos produtores é maior do que em

Monte Carmelo. Entre os produtores patronais de Iraí de Minas, 53,85% estão satisfeitos

com a renda e, entre os familiares 46,15%. Em Monte Carmelo, a diferença se acentua,

79,32% de satisfação entre os produtores patronais e apenas 20,69% nos familiares.

Quanto às perspectivas para o futuro, perguntamos aos produtores o que eles

pensavam sobre o futuro dos seus filhos, ou seja, se estes continuariam na agropecuária

como profissão (TAB. 31).

Tabela 31 – Expectativa dos produtores patronais e familiares sobre a atividade agropecuária para os filhos nos municípios de Monte Carmelo e Iraí de Minas (MG) - 2000

Expectativa sobre a atividade agropecuária

Monte Carmelo Iraí de Minas Total Patronais Familiares Patronais Familiares Patronais Familiares

nº % nº % nº % nº % nº % nº %

Positiva 10 34,48 6 20,69 8 61,54 8 61,54 18 42,86 14 33,33 Mais ou menos 6 20,69 6 20,69 2 15,38 8 19,05 6 14,28 Negativa 10 34,68 14 48,28 3 23,08 5 38,46 13 30,95 19 45,25 Não sabe/não respondeu

3 10,35 3 10,34 ---- ---- ---- ---- 3 7,14 3 7,14

Total 29 100,00 29 100,00 13 100,00 13 100,00 42 100,00 42 100,00 Fonte: Dados da Pesquisa de Campo - julho/agosto/2000 Org: L. T. Bernardo

A resposta encontrada (TAB. 31) nos mostra que os produtores patronais e

familiares de Iraí de Minas têm uma expectativa positiva maior do futuro de seus filhos

na agropecuária, apresentando uma porcentagem de 61,54% de respostas positivas. Em

Monte Carmelo, este quadro se modifica, tanto para os produtores patronais, quanto

para os familiares. Entre os primeiros, as respostas positivas foram de 34,48% e para os

produtores familiares 20,69% de respostas positivas, o que demonstra a preocupação

destes produtores quanto ao futuro da família se esta continuar na agropecuária.

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93

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho realizado nos traz muitas discussões acerca das alternativas que

possam nos conduzir a um desenvolvimento sustentável no campo. Os dados analisados

na pesquisa de campo retratam uma realidade atual de produtores que podemos

considerar como reflexo de ações aplicadas no passado.

Como exemplo, temos o tamanho da área das duas categorias de produtores

considerados. Se a categoria de produtores familiares apresenta uma área inferior à dos

produtores patronais, é que o modo de produção capitalista aplicado no setor rural

brasileiro, seguiu uma trajetória voltada para o grande latifúndio e foi gerido pelas

características de uma produção patronal, onde quem toma as decisões na propriedade,

na maioria das vezes, não é o proprietário, e quem as executa são apenas os

funcionários. Quanto ao setor familiar, este ficou à margem do desenvolvimento

capitalista, preterido das políticas públicas e, conseqüentemente, impossibilitado de

ingressar no mercado de maneira competitiva e até mesmo de aumentar sua área.

Vimos que em termos ecológicos, os produtores patronais utilizam mais

práticas de conservação do solo, e demonstramos que isto é resultado de alguns fatores

analisados.

O primeiro fator apontado foi o tamanho da área. Possuindo uma área menor

do que a patronal, os produtores familiares, em muitos casos, ficam impossibilitados de

realizar práticas como o pousio, pois com uma área limitada, a otimização da

propriedade impede esta prática de conservação do solo.

O segundo fator diz respeito à informação. Com um nível educacional

superior, podemos considerar que aumentam as possibilidades de aquisição de

informação e aplicabilidades de novas técnicas que podem ser consideradas

conservacionistas por parte dos produtores patronais. Também em relação ao acesso de

informações, esta pode ser advinda da assistência técnica que, como demonstrado

anteriormente, é mais atuante nas propriedades patronais.

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94

Em relação a essa diferença no nível educacional entre as categorias de

produtores, podemos considerar como responsável, o fim das escolas rurais. Estando o

produtor morando na propriedade e “forçado” a se dedicar integralmente a ela,

juntamente com sua família, o ensino através das escolar urbanas, em muito ficou

inviável.

A mecanização foi outro fator que definiu a aplicação de práticas agrícolas,

como a curva de nível e a subsolagem. Voltamos aqui à mesma discussão envolvendo

fatores históricos para explicar a realidade. No capítulo 1, vimos como se deu a

aplicação do SNCR, ou seja, voltado principalmente para as propriedades patronais. As

propriedades familiares ficaram à margem da distribuição de créditos, ficando

impossibilitados de se mecanizarem pela falta deste.

Como último fator discutido, e considerado como principal, o motivo pela

menor difusão de práticas conservacionistas nas propriedades familiares foi a atividade

exercida. Pelo fato dessas propriedades, como pudemos ver nas tabelas anteriores,

praticarem em maior número atividades ligadas à agropecuária, exige-se uma menor

aplicação de práticas ligadas à conservação do solo se relacionarmos à agricultura (o que

não é uma regra), pois esta última atividade necessita de mais práticas

conservacionaistas pelo fato do solo ficar menos protegido se compararmos à pastagem,

ocasionando portanto uma maior necessidade de adoção de práticas de conservação do

solo.

Os motivos dos produtores familiares adotarem a atividade ligada à

pecuária, (mesmo uma pecuária consorciada com a agricultura), em maior número se

compararmos aos produtores patronais já foram discutidos anteriormente, sendo os

seguintes: a constância da atividade leiteira (possibilitando uma renda mensal constante

ao longo do ano); uso do trabalho familiar; melhoria da subsistência (aumento do

consumo pela família de derivados do gado como o leite e a carne) e a acumulação do

capital pelo aumento do rebanho ao longo do tempo.

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95

Também os mesmos fatores históricos que ocasionaram uma menor

utilização de práticas conservacionistas por parte dos produtores familiares, podem ter

levado à adoção de outras práticas.

O aspecto ligado ao crédito é um fator que levou à adoção de uma prática

sustentavelmente ecológica. Como os produtores familiares foram prescindidos dos

grandes volumes de crédito concedido ao investimento e ao custeio, a falta do

financiamento destinado à compra de insumos, levou estes produtores a adotarem a

prática da adubação orgânica, advinda do gado das próprias propriedades, em maior

número do que as propriedades patronais.

Mesmo em relação à irrigação, desprovidos de capital, estes produtores

familiares tiveram que optar pela alternativa menos exigente em termos de capital, o que

pode ser verificado na adoção da tripa, considerado um sistema mais sustentável se

compararmos ao pivô central ou à aspersão, pelo fato de exigir menos custo (seja para

implantação, ou para operação) e de racionalizar mais o uso da água.

O que devemos considerar é que não podemos excluir um sistema de

produção simplesmente pelo fato de ele não ser, num primeiro momento, viável do

ponto de vista ecológico e até mesmo social e econômico.

Em seu livro “Quincas Borba22”, Machado de Assis nos revela uma teoria, e

esta se chama Humanitas. Para os Humanitas, a guerra traria a salvação, e a paz a

destruição. Para explicá-la, Machado de Assis nos dá o exemplo de duas tribos e um

campo de batatas.

Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, neste caso, é a destruição; a guerra é a conservação.(ASSIS, 1979: 648)

22 ASSIS, J. M. M. Quincas Borba. In: COUTINO, A. (Org.) Machado de Assis: obra completa. 4. ed.

Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 1979. v. 1.

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96

Fazendo uma correlação com a história narrada, o que queremos passar é

justamente o oposto ao buscarmos o desenvolvimento sustentável.

Imaginemos que no lugar das duas tribos tenhamos dois tipos de produtores,

os patronais e os familiares. O campo de batatas é a terra a ser cultivada e a vertente,

assim como na história, é um lugar onde há alimento em abundância. Ao invés de

imaginarmos uma guerra onde um, ou outro sistema de produção sobreviva, podemos

partir de um pensamento dialético e utilizarmos a oposição no sentido de construção.

Em nossa realidade, para atingirmos o desenvolvimento sustentável no setor

rural e conseqüentemente em nossa sociedade como um todo, é imprescindível

valorizarmos os dois sistemas de produção, pois os dois sistemas têm sua importância e,

por outro lado, suas deficiências.

Portanto, devemos incentivar e difundir a utilização das técnicas

conservacionistas nos dois sistemas de produção, e não nos contentar em apenas

desprezar as práticas consideradas depreciativas do ponto de vista sustentável.

Na procura de um sistema ecologicamente correto, economicamente viável e

socialmente desejável, devemos enfocar nossos esforços na busca da otimização das

práticas utilizadoras dos recursos naturais, para que nossos filhos possam chegar ao

outro lado da montanha e seguir, futuramente, o nosso exemplo.

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97

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103

ANEXO

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ROTEIRO DE ENTREVISTA

(confidencial)

Produtor:................................................................................................................

Fazenda:..............................................................................Área:..............................

Município:.......................................................

Local de nascimento do produtor:................................................(município/estado)

Ano de chegada ao município (produtor):...................

1. Aquisição da propriedade:

1.( ) herança

2.( ) comprada

3.( ) governo

4.( ) outros:.........................

2. Quantas pessoas residem na propriedade? familiares.............................

não familiares.......................

I - COMPOSIÇÃO DA FAMÍLIA E AGREGADOS:

composição idade reside na

propriedade

escolaridade ocupação

série ainda estuda

Chefe:

Esposa:

Filhos:

1.1. Os filhos terão sucesso se continuarem na agropecuária?............................................

.............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

1.2. A renda adquirida na propriedade é suficiente para a manutenção da família?

.............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

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2

II - ATIVIDADES NA PROPRIEDADE

2.1. Atividade principal na propriedade agricultura ( )

pecuária ( )

outra ( )

2.2. Se agricultura, quais culturas?......................................................................................

.............................................................................................................................................

2.3. O terreno onde são realizadas as plantações é: plano (...) inclinado ( )

2.4. Houve quebra da produção na última safra? ( ) sim ( ) não

2.5. Produtos e área atingida:...............................................................................................

.............................................................................................................................................

Motivo da quebra de safra:.....................................................................

2.6. Se pecuária, leiteira, ou de corte?.................................................................................

.............................................................................................................................................

2.7. O terreno onde está situado o pasto é: plano (...) inclinado ( )

2.8. A propriedade possui erosão? sim ( ) não ( )

2.9. Há quanto tempo?.................................

2.10. Faz alguma ação para acabar com a erosão? sim ( ) não ( )

2.11. O quê?.........................................................................................................................

III – GESTÃO E MÃO-DE-OBRA

3.1. Quem administra a propriedade?..................................................................................

3.2. Que tipo de mão de obra utiliza?

Familiar ( )

Em que época?.........................................................................................................

Para que serviços?....................................................................................................

Nº de pessoas..........................................................................................................

Assalariada ( )

Em que época?................................................................

Para que serviços?...........................................................

Nº de pessoas..........................................................................................................

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IV - USO DA TERRA

Descrição Quantidade de área

1.área da propriedade total

2.área de meeiro

3.área arrendada de outros

4.área cedida a terceiros

5.terra de lavoura

6.pasto formado

7.terra inaproveitável

8.mata nativa

9.pomar/horta doméstica

V - PRODUÇÃO VEGETAL (ÚLTIMA SAFRA)

Cultura área tipo de

manejo*

preparo do

solo**

plantio*** capina**** colheita*****

* 1.simples

2.consorciado

3.irrigado

4.adensado

5.plantio direto

** 1. herbicida

2.roçada

3.queima

4.aração

5.grade

*** 1.mecânico

2.animal

3.manual

**** 1.mecânico

2.animal

3.manual

***** 1.mecânico

2.animal

3.manual

5.1. Se faz plantio direto, há quanto tempo?............................................

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VI – MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS

6.1. O que possui na propriedade?.......................................................................................

.............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

VII - RECURSOS NATURAIS

7.1. Recursos hídricos

Tipo de mananciais:

1. ( ) Rios/Córregos

2. ( ) Represas/Açudes

3. ( ) Minas

4. ( ) Poço/Cisterna

5. ( ) Outros:..........................................

7.2. Conservação de mananciais (tipo de conservação): .....................................

7.3. Práticas de drenagem de áreas úmidas

1. ( ) Sim 2. ( ) Não

7.4. Conservação do Solo

Possui na

propriedade

Há quanto tempo

Sim não

Curvas de nível

Terra em descanso

(pousio)

Rotação de culturas

Subsolagem

Quebra vento

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7.5. Irrigação

Cultura Área Tecnologia Empregada* Fonte de água**

*Tecnologia Empregada: 1. Pivô central 2.Aspersão 3.Gotejamento 4.Tripa

**Fonte de água: 1.Rio 2.Córrego 3.Poço artesiano 4.Represa

7.6. A cultura irrigada tem uma grande importância para o senhor e a sua

família?................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

VIII – PRÁTICAS AGRÍCOLAS

Práticas Agrícolas Cultura:

.............

Cultura:

..............

Cultura:

..............

Cultura:

..............

Cultura:

(pastagem)

5.adubação química

calcário (quant)

fertilizante (tipo)

quantidade

6.adubação orgânica

tipo

quantidade

8.1. Já ouviu falar em agricultura orgânica?........................................................................

.............................................................................................................................................

8.2. Quais as principais doenças e pragas que atacam as lavouras ou pasto?.....................

.............................................................................................................................................

8.3. Como combate estas doenças e pragas?.......................................................................

.............................................................................................................................................

8.4. Quem recomenda os produtos utilizados?....................................................................

.............................................................................................................................................

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8.5. Qual o destino das embalagens dos defensivos agrícolas? ( ) enterra

( ) queima

( ) lixo

( ) devolve à empresa

8.6. Tem conhecimento de alguma lei de proteção ao meio ambiente? Qual?

.............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

8.7. O Sr. acredita que é importante a preservação do meio ambiente na sua propriedade

(solo, água, plantas e animais)?...........................................................................................

.............................................................................................................................................

8.8. O que o senhor faz para cuidar da preservação do meio ambiente na sua

propriedade?........................................................................................................................

............................................................................................................................................

8.9. O que o senhor entende por sustentabilidade de produção?.....................................

...............................................................................................................................

...............................................................................................................................

8.10. Qual a importância do conhecimento que o senhor herdou de seus pais para a

realização da administração de sua propriedade hoje?

( ) muito importante

( ) média importância

( ) pouca importância

( ) nenhuma importância

Por quê?...........................................................................................

.........................................................................................................

8.11. Como o Sr vê a mudança da agricultura tradicional para a agricultura moderna?

( ) muito bom

( ) bom

( ) regular

( ) ruim

Por quê?.............................................................................................

.............................................................................................

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IX – ASSISTÊNCIA TÉCNICA

9.1. Já recebeu assistência técnica? ( ) sim ( )não

Por quê?................................................................

..............................................................................

9.2. Há quanto tempo?.....................

9.3. Recebe atualmente?..............................................

9.4. Se sim, de quem recebe? ( ) Emater

( ) Cooperativa

( ) Empresa privada

9.10. Qual a frequência das visitas? regulares ( ) esporádicas ( )

(se não têm assistência técnica)

9.11. O Sr. sente necessidade de assistência técnica? sim ( ) não ( )

Por quê?...................................................................................................................

.................................................................................................................................

9.12. Procura alguém quando têm algum problema, ou dúvida? sim ( ) não ( )

9.13. A quem recorre/consulta?........................................................................................

9.14. Mudou alguma coisa no seu sistema de produção nos últimos tempos? Com quem

aprendeu?

...........................................................................................................................................

X - FINANCIAMENTO DA PRODUÇÃO

10.1. Como tem feito para conseguir recursos em dinheiro para investimento na

produção?.............................................................................................................................

.............................................................................................................................................

10.2. Faz financiamento da produção

1. ( ) Com freqüência

2. ( ) Às vezes

3. ( ) Não

Por quê?.......................................................................................................

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10.3. Há endividamento? ..................................................................................................

10.4. O Sr conhece o PRONAFf?

( )sim ( )não

10.5. Utilizou financiamento do PRONAF?

( )sim ( )não Por quê?.................................................................

.................................................................

10.6. O que o Sr acha que pode melhorar no PRONAF?

.............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

XI - ORGANIZAÇÃO

11.1. É filiado a alguma organização tipo:

1.( )Sindicato rural

2.( )Cooperativa

3.( )Entidade religiosa/igreja

4.( )Associação de produtores

5.( )Partido político

6.( )outro

Por quê?.......................................................................................................

11.2. Frequência de participação:

1.( )Periódica

2.( )Eventual

3.( )Quase nunca

Por quê?.......................................................................................................

11.3. Se não tiver filiação a cooperativas, associações sindicais, etc., qual o motivo?

1.( )Falta de interesse

2.( )Receio das conseqüências

3.( )Antes achava que não compensava, mas pretende começar a participar

4.( )Pouca produção

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XII – FONTES DE INFORMAÇÕES

12.1. Quais são suas fontes de novas idéias e informações?

.............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

12.2. Já participou de:

( ) cursos

( ) visitas técnicas de pesquisa

( ) dia de campo

( ) outro:...........................................

( ) não participou de nada Porquê?...............................................................

.............................................................

.............................................................

.............................................................

rebanho

nº total rebanho

Grau de sangue

Quantidade

produção águas

Quantidade de

produção na seca

ANOTAÇÕES

.............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................

.............................................................................................................................................