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TPICO 9 OS MODELOS DE REFORMA AGRRIA NOS ESTADOS UNIDOS

Material didtico

Direito Agrrio 9. Os Modelos de Reforma Agrria nos Estado Unidos da Amrica.

9.1. INTRODUO (Pinto Ferreira, 2002)

O problema agrrio tem sido entendido de maneira ampla e compreensiva pela sociologia norte-americana, onde a reforma agrria denominada com o nome de land reform. Em 1952, o governo americano respondeu a um questionrio das Naes Unidas, sobre o assunto em tela, mencionando que: A Reforma Agrria significa o melhoramento das instituies econmicas agrrias, por exemplo: da propriedade da terra e do arrendamento; dos pagamentos por arrendamento; da proteo do solo e da renda, do crdito e do mercado agrrio. A tcnica agrria formada pelos problemas fsicos do arrendamento da terra, da conservao do solo, do aumento da produtividade e os problemas das indstrias rurais, sendo importantes para as questes institucionais.

O problema agrrio exige um entendimento mais amplo, onde a simples diviso de terras no o resolve, pois existem outras questes importantes envolvidas.

Inicialmente, coube a Thomas Jefferson, no sculo XVIII, compreender a relevncia da questo agrria, quando era governador do Estado da Virgnia. Na poca colonial, muitos indivduos conseguiram muitas extenses de terras dadas pela Coroa. As grandes famlias para perpetuar o latifndio baseavam-se no princpio ingls de preeminncia do filho mais velho. Ento, a reforma das instituies agrrias americanas iniciou com ruptura deste princpio, mediante projeto ou Bill, depois lei.

O Presidente Abraham Lincoln, em 1862, promulgou a Homestead Law, sendo de fato, a reforma agrria processada nos EUA. Esta, assegurava a cada cidado ou na iminncia de s-lo, o direito de requerer uma propriedade de at 160 acres de terra do Estado, com o pagamento de uma taxa de 1 dlar e 25 centavos, com reconhecimento do domnio pleno, aps cinco anos de posse efetiva da terra. Mais tarde, esse direito foi modificado para aquisio de rea de at 640 acres. (acre = medida agrria equivalente a 4.046,84m2)

Lincoln garantiu a impenhorabilidade da pequena propriedade agrcola, para desta maneira, consolidar a reforma agrria realizada, alm de possibilitar a estabilidade da famlia rural.

A populao rural americana continua sempre decrescente. Todavia a mecanizao da agricultura e o uso de fertilizantes permitiram o aumento da produtividade, bem como a exportao de alimentos.

Em 1974, o percentual da populao rural americana sobre a populao total do pas era de 8%. Nos dias de hoje, esse percentual ainda menor (3%), todavia, apresenta elevado grau de produtividade, com cerca de 1.161 milhes de hectares de rea cultivvel, sendo, efetivamente, uma grande potncia agrcola mundial.

9.2. OS TIROS PODEM SAIR PELA CULATRA

Em meio aos muitos desafios que compem os cenrios da nossa atualidade, local e global, restam-nos alguns consolos. Um deles, que preocupaes com o futuro no so privilgios de ningum, mas a ocupao principal de todos aqueles que tm qualquer forma de atividade, em qualquer economia, em qualquer parte do mundo. Nem mesmo os que vivem ainda em estgio tribal esto livres dos desencontros dos nossos tempos. O que difere uns dos outros est no carter local, que marca agonias, esperanas e eventuais aes de cada comunidade diante dos seus prprios desafios.

Uns, esto comprimidos pelo que j fizeram. Outros sofrem pelo que deixaram de fazer. No meio campo, esto aqueles que podem olhar para trs e para frente, avaliar erros e acertos, prprios e dos outros. A ordem evitar erros, porque eles custam cada vez mais caro e, alm disso, aproveitar as experincias bem sucedidas com possibilidades de serem adaptadas ou at mesmo melhoradas. Estamos entre estes ltimos. A urgncia eliminar o risco de receber tiros pela culatra, estabelecer bons alvos e buscar o mximo de acerto.

Lendo artigo publicado no "The New York Times" (reproduzido no jornal "O Estado de So Paulo", de 27.12.2004) , sob o ttulo "Pense global, alimente-se local!", assinado por Jennifer Wilkins, tivemos a apresentao da ponta do iceberg que comea a emergir nos cenrios da produo agropecuria dos Estados Unidos, que nos oferece um amplo exemplo que merece ateno.

Wilkins, que membro do grupo de estudos sobre "Poltica de Alimentos, da diviso de Cincias Nutricionais (Cornell ), nos mostra uma viso crtica inovadora, quando analisa causas e efeitos da alta concentrao na produo e processamento de alimentos naquele pas. Ela destaca fatores de vulnerabilidade para a segurana alimentar dos norte-americanos que cada vez mais tm mesa alimentos produzidos por fornecedores externos, apontando o perigo e a facilidade com que estes alimentos poderiam ser contaminados para atingir consumidores nos Estados Unidos. E analisa causas e efeitos, juntamente com um elenco de providncias que aconselha sejam tomadas com presteza.

Desmistificando o modelo histricoO programa "New Deal" de Roosevelt promoveu a ocupao rural por grandes mananciais de desempregados da crise econmica que assolou o mundo a partir dos anos 29/30 do sculo passado, resultando em solues positivas e desenvolvimento. Nos anos 50, a poltica agrcola daquele pas concentrou-se na receita que privilegiava o mximo de produo pelo mnimo de custo, gerando o modelo concentrador que est sendo questionado. Agora a questo lucro versus segurana.

Em outras partes do mundo esta questo tambm vir tona. Parece que a economia do sculo XXI ter de fazer esta e mais outras opes, tais como lucro versus paz, lucro versus qualidade de vida, lucro versus incluso social e por a a fora. Ento, no apenas o modelo de produo/distribuio/ comercializao que est no foco dos questionamentos sobre a viabilidade de bons resultados. Mais que isso, o que est sendo questionado o prprio capitalismo histrico, que acabou gerando concentrao sob todas as formas

na sua base exclusiva de conceitos de lucros.

O desafio agora criar um modelo novo, sem cair para os extremos, lembrando sempre que a Histria no d saltos. Por isso, precisamos encontrar um bom caminho para o desenvolvimento, onde grandes, mdios e pequenos, possam interagir de forma inteligente, produzindo bons resultados para todos.

Embora esta proposta possa parecer uma utopia, nunca tivemos momento em nossa histria global que privilegiasse solues humanizadas, como ocorre nestes novos tempos que configuram o esgotamento dos modelos, nas experincias tidas e havidas atravs das dcadas do sculo passado.

Equvocos Perigosos

A estatstica apontando a aumento na concentrao de posse de terras, nos Estados Unidos, vem mantendo ndices crescentes h dcadas. Pequenos produtores tm vendido suas terras a produtores maiores ou destinado suas reas a outros negcios, como loteamentos. Com a concentrao das terras tambm veio acontecendo a concentrao dos recursos destinados a subsidiar a produo ( 3,3% do total usam 20,3% da terra cultivvel nos EUA e respondem por 61,9% de todas as vendas), enquanto as dez maiores processadoras de alimentos so responsveis por mais de metade de todos os produtos presentes nas prateleiras dos supermercados. Estes so alguns dos pontos da vulnerabilidade interna, que Wilkins considera to graves quanto aqueles que identifica entre os fornecedores externos.

Os tiros esto escapando pela culatra, questionando o modelo de produo e comercializao implantadas com sucesso histrico naquele pas. Vale, tambm, para nossas reflexes, tanto pelas correes que podemos promover para situaes ou tendncias semelhantes, quanto pelas providncias que precisamos tomar em relao a eventuais mudanas de maior significado nas relaes comerciais.

Bons diagnsticos servem para prevenir problemas, garantir nossos produtos como fator de desenvolvimento interno e, por outro lado, garantir sucesso futuro na linha de produtos exportveis para este importante mercado, onde devero surgir as j proclamadas barreiras tcnicas.

H, ainda, outros fatores que merecem constar da nossa pauta de reflexes. Wilkins destaca, nas suas sugestes, que os EUA deveriam se voltar para a diversificao e desconcentrao no universo dos alimentos, e com mxima incluso de pequenos produtores, pois esto potencializados para suprir as necessidades do pas em praticamente todos os itens de alimentao, exceto nos itens caf e cacau.

A anlise feita por Jennifer Wilkins comea no discurso de renncia de Tommy Thompson, secretrio da Sade e Servios Humanos, quando fez um comentrio "to inesperado, quanto correto, conforme ela mesma qualifica, ao dizer: "Por mais que me esforce, no consigo entender por que os terroristas no atacaram nosso suprimento de comida, j que muito fcil fazer isso.

parte alguma desinformao sobre as reais condies quanto produo e ao processamento de alimentos nos pases fornecedores, ela busca falhas nos sistemas internos, montando um importante diagnstico e apontando alguns remdios necessrios.

Argumentos em nmeros

Em 2005, pela primeira vez em 50 anos, no acontecer recorde de supervit agrcola nos Estados Unidos, fato que ela v como uma demonstrao "da nossa crescente dependncia da produo agrcola estrangeira e de sistemas de distribuio que podem no ser seguros".

Alm disso, ela argumenta que poucas dessas importaes so analisadas para comprovar que atendem os padres de sade e segurana americanos". Em 2004, a Food and Drug Administration ter inspecionado cerca de 100 mil, das quase 5 milhes de remessas de alimentos que cruzaram as fronteiras dos EUA. Justifica: A distribuio to rpida, que comida estragada pode chegar aos consumidores em todo o pas antes que as autoridades se dem conta de que existe um problema. O aumento do controle sobre o suprimento global de alimentos, concentrado em poucas corporaes, torna a adulterao mais tentadora para um terrorista que queira provocar impacto". Algumas sugestes

A pesquisadora Jennifer Wilkins sugere, como soluo para as inseguranas detectadas, o estabelecimento de sistemas de produo de alimentos que incluam muitos produtores pequenos e diversidade de produtos. Segundo ela, isso vai evitar contaminao em larga escala. Ela justifica: "Um sistema de produo de alimentos no qual o controle de elementos cruciais est concentrado em poucas mos, pode ser e ser vtima do terrorismo ou de acidentes".

Ela tambm pede reforo para o sistema de mercados que vendem diretamente do produtor para o consumidor. Pensa que operaes neste modelo podem atender demanda com variedade de produtos, lembrando o sucesso que a comercializao direta vem obtendo nos anos recentes, com o nmero destes estabelecimentos aumentando de 1.700 em l994 para 3.100, em 2002. Tambm sugere solues polticas, para incentivar propriedades agrcolas menores e produo mais diversificada.

Seria algo que poderamos tomar a liberdade de considerar uma reforma agrria modelo sculo XXI, sem esquecer a reforma agrria feita na aplicao pioneira do New Deal de Roosevelt, que conduziu os Estados Unidos a serem os maiores produtores de alimentos do mundo nas dcadas seguintes?

O poder concentrado das processadoras de alimentos, nos Estados Unidos, tirou do agricultor primrio o controle sobre a qualidade do sistema alimentar: cerca de 85% dos legumes destinados a congelamento e enlatados so produzidos mediante contratos, com as processadoras ditando variedade, quantidade, data de entrega e preo. Se os produtores locais no conseguirem atender s exigncias, as processadoras buscam fornecedores no exterior, onde, segundo Wilkins, "existe grande potencial de contaminao, por causa de procedimentos de inspeo menos rigorosos ou mesmo por causa de menor proteo contra o bioterrorismo.

Prevenir ou Remediar?

- Eis a questo.

Enquanto observamos no Brasil a implantao de um programa de reforma agrria de custo altssimo e resultados questionveis, baseado em princpios que j envelheceram h muito tempo, com o MST avanando em direes cada vez mais preocupantes conforme lemos na imprensa, mesmo sem ter at hoje identidade jurdica e gozando da mais plena impunidade, temos uma experincia agrcola de ciclo completo, no tempo e no espao, com muitos pontos identificados e destacados no artigo de Jennifer Wilkins.

Certamente, mudanas que possam ocorrer nos Estados Unidos repercutiriam diretamente nas suas relaes com fornecedores externos. Surgiro regras e barreiras tcnicas, em nome de suas defesas contra ataques bioterroristas que "podero contaminar alimentos em pases fornecedores" A grande chamada que exige resposta por parte dos fornecedores de alimentos, a segurana alimentar, que j ganha destaque na pauta brasileira, exigncia do mercado europeu e tendncia a se espalhar pelos mercados mais sofisticados em todo o mundo.

Ento, nos resta destacar alguns pontos:

1. Concentrao / processamento / distribuio, conseqentes da implantao de conceitos firmados na economia de escala;

2. Falta de diversificao de produtos, criando dependncia de fornecedores externos;

3. Foco de abastecimento para o mercado interno;

4. Sugesto de comunidade de produo que incluam muitos pequenos produtores e diversidade de produtos, como medida de segurana;

5. Reforo ao programa de mercados para a venda direta de produtos, do produtor para o consumidor;

6. Polticas que encurtam a distncia entre produtores e consumidores, diminuem pontos vulnerveis no sistema produo/abastecimento, ampliando as margens de controle e segurana, conforme concluses de Wilkins.

Do lado de c: precisamos desenvolver o mercado interno, promover incluso social e estabelecer os benefcios do agronegcio em toda extenso das cadeias produtivas, lembrando bem que este o nosso principal mercado. Nas linhas de exportao, atravs da aplicao dos princpios de qualidade e segurana, buscar a valorizao dos nossos produtos, conquistar novos mercados, ganhar espao nos melhores mercados (aqueles que pagam mais pela qualidade). Promover a integrao de pequenos produtores, que so a maioria, aos sistemas produtivos, gerando melhores padres e quantificando a qualidade, com vistas ao mercado interno (incluindo estratgia dos armazns de comrcio direto) e exportao. Estratgias para desenvolvimento scio-poltico-econmico sem esquecer os cuidados ambientais. E, sempre, evitando levar tiros que podem estar vindo da culatra.

So muitos os pontos que podem ser relacionados. Em 2020 o Brasil estar entre os pases mais desenvolvidos do mundo, conforme projeo de agncias internacionais. Para tanto, temos ainda muito que fazer, principalmente, muitas providncias a tomar, buscando os melhores caminhos e sem cair em experincias que no deram certo. Ainda que prevalea nossa gerao de solues tropicais, adequadas nossa potencialidade, alguns exemplos tm valor universal, como observamos no interessante artigo de Jennifer Wilkins.