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1 Agradecimentos Quero agradecer a várias pessoas que de forma directa ou indirectamente me ajudaram no percurso, muitas vezes complicado, deste trabalho experimental e da conclusão desta tese. Em primeiro lugar gostaria de agradecer à minha orientadora, a Sra. Dra. Professora Maria José Pinto da Costa, pelo encaminhamento todo feito ao longo deste trabalho. Os alunos de Mestrado que me acompanharam ao longo deste percurso deixo- lhes um grande abraço e os desejos de toda a sorte do mundo, com muito carinho, pois foi também através do apoio deles que atingi as minhas metas, entre os quais gostaria de destacar em especial a Dirce e a Júlia. Agradeço à Vanessa e à Elva que me ajudaram no laboratório, especialmente no princípio deste trabalho. Tenho também de agradecer à minha família, em especial aos meus pais que foram as pessoas que me persuadiram a completar este Mestrado e por fim, agradeço ao Helder, que acabou por ser a pessoa que na recta final me deu a força que já me começava a faltar para não desistir e para levar esta tese a bom porto. A todos um muito obrigado

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Page 1: Agradecimentos - repositorio-aberto.up.pt · A EVOLUÇÃO DOS CONHECIMENTOS, AS PUBLICAÇÕES E O PAI DA MEDICINA LEGAL ... a influência dos metais pesados na saúde humana é

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Agradecimentos

Quero agradecer a várias pessoas que de forma directa ou indirectamente me

ajudaram no percurso, muitas vezes complicado, deste trabalho experimental e da

conclusão desta tese.

Em primeiro lugar gostaria de agradecer à minha orientadora, a Sra. Dra.

Professora Maria José Pinto da Costa, pelo encaminhamento todo feito ao longo deste

trabalho.

Os alunos de Mestrado que me acompanharam ao longo deste percurso deixo-

lhes um grande abraço e os desejos de toda a sorte do mundo, com muito carinho,

pois foi também através do apoio deles que atingi as minhas metas, entre os quais

gostaria de destacar em especial a Dirce e a Júlia.

Agradeço à Vanessa e à Elva que me ajudaram no laboratório, especialmente

no princípio deste trabalho. Tenho também de agradecer à minha família, em especial

aos meus pais que foram as pessoas que me persuadiram a completar este Mestrado

e por fim, agradeço ao Helder, que acabou por ser a pessoa que na recta final me deu

a força que já me começava a faltar para não desistir e para levar esta tese a bom

porto.

A todos um muito obrigado

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AGRADECIMENTOS .......................................................................................................................... 1

OBJECTIVOS ...................................................................................................................................... 2

ABSTRACT.......................................................................................................................................... 5

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 7

A MEDICINA LEGAL ............................................................................................................................ 7

A EVOLUÇÃO DOS CONHECIMENTOS, AS PUBLICAÇÕES E O PAI DA MEDICINA LEGAL .......................... 8

MEDICINA LEGAL NO MUNDO E A SUA EVOLUÇÃO ............................................................................... 8

ORGANIZAÇÃO MÉDICO-LEGAL EM PORTUGAL .................................................................................... 9

TOXICOLOGIA: ENQUADRAMENTO HISTÓRICO E IMPORTÂNCIA MÉDICO-LEGAL .................................. 10

TABELA NACIONAL DE INCAPACIDADES (TNI) ................................................................................... 15

DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS ................................................................................................... 16

PATOFISIOLOGIA DA DOENÇA DE ALZHEIMER ................................................................................... 18

BARREIRA HEMATOENCEFÁLICA (BHE) ............................................................................................ 27

STRESS OXIDATIVO .......................................................................................................................... 29

MERCÚRIO ....................................................................................................................................... 30

MERCÚRIO E A DOENÇA DE ALZHEIMER ............................................................................................ 33

METAIS PESADOS E INFLAMAÇÃO ..................................................................................................... 33

METAIS, INFLAMAÇÃO E CANCRO ...................................................................................................... 35

ENZIMAS ANTIOXIDANTES / SELÉNIO................................................................................................. 38

SELÉNIO........................................................................................................................................... 40

2. MÉTODOS ................................................................................................................................. 44

MATERIAIS ....................................................................................................................................... 44

CULTURA DA LINHA CELULAR ............................................................................................................ 44

3. RESULTADOS .............................................................................................................................. 48

3.1.A ............................................................................................................................................... 48

3.2 ................................................................................................................................................... 51

3.3 ................................................................................................................................................... 52

3.C ENSAIOS COM MICROGLIA DE RATO .......................................................................................... 60

4. DISCUSSÃO .................................................................................................................................. 61

5. PERSPECTIVAS FUTURAS ........................................................................................................ 66

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................. 67

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Resumo

Este trabalho teve como objectivo relacionar a demência, ou a doença de

Alzheimer, com a exposição a metais pesados, nomeadamente ao mercúrio e a

capacidade destoxificadora do selénio. Tem vindo a ser sugerido desde há vários anos

o possível papel que este género de metais terá no desenrolar desta demência. Esta é

uma hipótese largamente aceite na comunidade científica, embora não tenha sido

comprovada para lá de qualquer dúvida, principalmente devido à grande dificuldade de

aplicar um modelo de estudo e também à grande multitude de características e

factores que rodeiam esta doença. Para além destes efeitos, os metais pesados têm

também sido relacionados com diversos tipos de cancros e estão a ser alvo de vários

estudos nesse campo. Assim sendo, é notória a influência deste tipo de metais na

saúde humana e o conhecimento dos seus efeitos é de elevado interesse.

Como existe uma forte relação entre a exposição dos metais pesados à

indução de processos inflamatórios e produção de espécies reactivas de oxigénio nas

doenças cancerígenas, isso leva a crer que existam também processos semelhantes

no que diz respeito às demências.

Foram realizados ensaios experimentais cada um com a duração de três dias

para detectar os efeitos do cloreto de mercúrio na linha celular “Human Brain

Microvascular Endothelial Cell” (HBMEC), em diferentes concentrações, através de

microscopia óptica e pela aplicação do corante Neutral Red. Após vários ensaios

determinou-se que havia uma variedade demasiado grande de resultados

discrepantes para poderem ser tomados em conta. Devido a esta situação procedeu-

se a ensaios de viabilidade de células da microglia de ratos, tendo em consideração

que este tipo celular está directamente ligado à doença de Alzheimer. O interesse

nestas células seria de cultivar células adultas que se assemelham mais ao estado

natural da microglia nos doentes. O protocolo aplicado mostrou-se ineficiente para

manter estas células durante tempo suficiente para atingirem o estado de maturidade

pretendido.

Assim sendo, o que se pôde determinar foi que possivelmente o mercúrio

provoca efeitos diferentes dependendo do estado celular das HBMECs e que seriam

precisos estudos mais aprofundados para determinar exactamente qual o estado

fisiológico mais apropriado para efectuar estes testes de forma coerente.

De qualquer das formas, a influência dos metais pesados na saúde humana é

evidente. A nível da formação de cancros, os metais pesados já demonstraram ter um

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peso considerável, sendo então um campo de estudo em aberto e com várias

perspectivas de investigação.

Mesmo sem apresentar resultados específicos, este trabalho expõe o

conhecimento existente acerca do mercúrio e os seus efeitos na saúde humana, com

especial atenção para o cancro e a doença de Alzheimer. São apresentadas várias

perspectivas de trabalho futuro, com ênfase em possíveis estudos com a HBMEC e

um novo protocolo que permitirá o cultivo de células da microglia envelhecidas de

modo a imitar o seu estado nesta doença neurodegenerativa.

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Abstract

This work aimed to establish a relation between dementia, more specific,

Alzheimer’s disease, and the exposition to heavy metals, namely mercury and the

detoxifying action of selenium. It has been suggested for some time the possible role

that these metals have on this disease. This is a hypothesis well accepted in the

scientific community, though it has not yet been completely demonstrated beyond any

doubt, due to the difficulty of stabilizing a working model and also due to the various

characteristics of the disease. Also, these metals have been associated to several

types of cancer and are being extensively studied in that field. The effect of these

metals in human health is very important.

Heavy metals induce inflammation and the generation of ROS in cancer, it’s

also thought to have a similar effect on neurodegenerative diseases.

In this work we studied the effects of HgCl2 during three days on the HBMEC

cell line using different concentrations. After several tests we concluded that the results

obtained were too strange to be taken on account. We tried then to apply the same

studies to a different type of cells, using rat’s microglia. The most important aspect in

using these cells was to try to cultivate aged cells to mimic the environment found in

Alzheimer’s disease. The applied protocol was not efficient to maintain these cells time

enough to achieve the expected maturity.

The only thing that we were able to determine was that mercury has probably

different effects depending on the physiological state of HBMEC cell line and that

would be necessary more profound tests to determine exactly which physiological state

would be more appropriate.

Anyway, the influence of heavy metals in human health is beyond doubt. In the

cancer development, heavy metals have demonstrated to have a key role, being under

study with several ramifications.

Even without specific results, this work explains the existing knowledge

concerning mercury and its effects in human health, especially in cancer and

Alzheimer’s disease. There are several possibilities for future work to determine line of

study in the use of HBMEC cell line and a new protocol that will make possible the

culture of aged microglia to perform more accurate studies about the

neurodegenerative disease.

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Objectivos

Este trabalho teve como objectivo relacionar o desenvolvimento da doença de

Alzheimer com a intoxicação por mercúrio. Para tal dividiu-se o trabalho em duas

partes: expôs-se a linha celular HBMEC a várias concentrações de mercúrio e ao

mesmo tempo efectuou-se ensaios com mercúrio e selénio para verificar os seus

efeitos protectores. Os efeitos destes dois metais foram avaliados em termos de

concentrações e de evolução ao longo do tempo. As células foram observadas por

microscopia de contraste e a sua viabilidade determinada pela utilização do corante

Neutral Red.

Outro objectivo foi tentar cultivar células da microglia para um estado fisiológico

mais avançado de modo a se poder testar os efeitos do mercúrio na doença de

Alzheimer.

E por fim fazer uma exposição bibliográfica dos conhecimentos actuais acerca

da doença e da relação do mercúrio com o seu desenvolvimento e no

desenvolvimento de cancros.

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1. Introdução

A Medicina Legal

A Medicina Legal é uma ciência de largas abrangências e de extrema

importância para os processos jurídicos.

É uma especialidade médica que reúne e aplica conhecimentos de diversas

áreas ao serviço da Justiça.

É uma disciplina de grandes abrangências e por isso muito requisitada. Além

do conhecimento da Medicina e do Direito, é necessário o conhecimento de outras

áreas como a biologia, química, toxicologia, entre várias outras. Hélio Gomes

asseverava que “não basta um médico ser simplesmente médico para que se julgue

apto a realizar perícias ” para poder exercer esta disciplina. São necessários estudos

mais acurados, treino adequado, não sendo só a aplicação da medicina pura. Nenhum

médico está capacitado para exercer as funções de perito só pela formação médica.

É-lhe indispensável o conhecimento a nível jurídico a que ele tem de obedecer. As

inúmeras relações com várias outras áreas tornam a sua definição algo complexa.

Existem várias definições dadas ao longo do tempo por diferentes

personalidades, o que demonstra em parte, a dificuldade de estabelecer uma definição

para uma área tão abrangente como esta:

“A arte de pôr os conceitos médicos ao serviço da administração da Justiça” –

Lacassagne.

“É o ramo da medicina que reúne todos os conhecimentos médicos que podem

ajudar a administração da Justiça” – Vargas Alvarado.

“É a Medicina considerada em suas relações com o Direito Civil, Criminal e

Administrativo” – Briand e Chaudé.

“É a disciplina que efectua o estudo teórico e prático dos conhecimentos

médicos e biológicos necessários para a resolução dos problemas jurídicos,

administrativos, canónicos ou militares, com utilitária aplicação propedêutica a estas

questões” – Basile e Warisman.

“Medicina Legal é todo um conjunto de conhecimentos médico-psico-biológicos

aplicados ao direito nas mais diversas expressões deste, direito civil, direito penal,

direito de trabalho, direito administrativo e muitos outros” – Pinto da Costa.

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Desde os tempos antigos que o conhecimento médico-legal, ainda que de uma

forma rudimentar, era usado e aplicado para determinar a causa de certos eventos

traumáticos.

Numa Pompilio, em Roma (753 A.C. – 673 A.C.) ordenou o exame às grávidas

que morriam e Antistio examinou o cadáver de Júlio César verificando a existência de

23 golpes de adaga, sendo apenas um o golpe fatal. [1]

A evolução dos conhecimentos, as publicações e o Pai da Medicina Legal

Em 1209 deu-se início a perícias médicas, embora rudimentares, através da

instituição da legislação canónica por Inocêncio III. Gregório IX, em 1234, na

publicação Peritorum indicio medicarum, exigia a opinião médica na determinação de

lesões mortais e em De probatione, consentia a nulidade do casamento na prova da

não consumação carnal do mesmo. O corpo do papa Leão X foi necropsiado para

determinar a causa de morte em 1521. Lazaretti afirma que o início da Medicina Legal

ocorreu em 1525 com a publicação Edito della Gran Carta della Vicaria di Napoli.

Em 1532 foi instituído o Constitutio Criminalis Carolino e mais tarde em 1575,

Ambroise de Paré publicou Des Rapports et des Mayens d’Embaumer les Corps

Morts, onde discutia as técnicas de embalsamamento, feridas, asfixias, diagnóstico da

virgindade; tendo sido considerado o pai de Medicina Legal.

Fortunatus Fidelis, em 1602, publicou De Relatoribus LIbri Quater in Qubis ea

Omnia in Forensibus de Publicis Causis Medici Preferre Salent Plenissime Traduntur.

Mais de um século depois, surgiu a publicação Institutiones Medicinae Legalis Vel

Forensis, por Herman Teichmeyer. [1]

Medicina Legal no Mundo e a sua evolução

Em 1836 deu-se a reforma do ensino em Portugal e o ensino da Medicina

Legal foi incluído.

A Rússia, a partir de 1858, começa a desenvolver a Medicina Legal com

Sergei Gromov, entre outros. Em 1945, Guillermo Uribe Cuallo fundou a Escola

Superior de Ciências Médico-Forenses na Colômbia.

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No Peru, Mariano Arosamena Quesada foi o primeiro professor desta

disciplina em 1855. No Paraguai, a disciplina iniciou-se em 1903.

Nos EUA a contribuição desta disciplina é na verdade irrisória, baseando-se em

testes sofisticados laboratoriais. As faculdades não possuem esta disciplina. É

utilizado o cargo “coroner” sendo uma posição política e não cientifica, ou então o

médico-examinador cuja única função é determinar a causa de morte.

No Brasil, a Medicina Legal foi influenciada pelos franceses. Na actualidade a

Medicina Legal Portuguesa teve também grande influência, especialmente nomes

como José António Lourenço Lesseps e José Eduardo Lima Pinto da Costa, entre

outros. [1]

Organização médico-legal em Portugal

Embora qualquer médico possa ser requisitado para efectuar uma perícia

médico-legal, os tribunais preferem recorrer a profissionais especializados na área da

Medicina Legal. Para além da particularidade de a profissão médica se encontrar

subdividida em múltiplas especializações, o exercer da função de perito implica um

certo conhecimento jurídico. Estes conhecimentos são adquiridos no Curso Superior

de Medicina Legal.

Na evolução legislativa sobre este género de serviços médico-legais, a Carta

de Lei de 17 de Agosto de 1899 foi o primeiro diploma médico-legal. O Decreto nº

4808 de 11 de Setembro serviu para fundar o Instituto de Medicina Legal de Lisboa. [2]

O Decreto-Lei nº 5023 de 29 de Novembro de 1918 surgiu da necessidade de

introduzir alterações e regras na forma como estes serviços são administrados criando

os Institutos do Porto e Coimbra e integrando os três Institutos de Medicina Legal, nas

Faculdades de Medicina de Lisboa, Porto e Coimbra. Além disso, criou os lugares de

peritos das Comarcas e os Conselhos Médico-Legais. [3]

Mais tarde, o Decreto-Lei 373/75 retirou os Institutos de Medicina Legal da

tutela das Universidades e passou-os para o Ministério da Justiça. O Decreto-Lei nº

42216, de 15 de Abril de 1959 veio completar e aperfeiçoar o regime de contratação

de peritos. [4]

Em 1987, o Decreto-Lei 387-C de 29 de Dezembro teve como objectivo

reorganizar os Institutos, criando o Conselho Superior de Medicina Legal, o Serviço de

disponibilidade permanente e os gabinetes. [5]

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O Decreto-Lei nº 431/91, de 2 de Novembro criou a igualdade entre a profissão

de médico-legista e os outros médicos. [6] O Decreto-Lei nº 11/98 de 24 de Janeiro,

reformulou os serviços, fundindo os gabinetes médico-legais das comarcas para os

círculos judiciais. [7] O Decreto-Lei nº 96/2001, de 26 de Março, teve como intuito

centralizar todos os serviços no Instituto Nacional de Medicina Legal e criou as

delegações de Porto, Coimbra e Lisboa. [8]

O Instituto Nacional de Medicina Legal tem como organização interna, nos seus

serviços centrais, as seguintes unidades orgânicas: departamento de Administração

Geral, departamento de Investigação, Formação e Documentação, serviço de

Genética e Biologia Forense, serviço de Química e Toxicologia Forense, serviço de

Tecnologias e Criminalística. Esta organização veio na sequência do DL nº 166/ 2012

de 31 de Julho e pela portaria nº19/2013 de 21 de Janeiro.

Cada delegação dispõe de vários serviços técnicos: o serviço de Tanatologia

Forense, Clínica Médico-Legal, Toxicologia Forense, Genética e Biologia Forense,

Psiquiatria Forense e Anatomia Patológica Forense.

O Serviço de Tanatologia Forense tem como função a realização das

autópsias, identificação de cadáveres, embalsamamento e estudo de peças

anatómicas. Ao Serviço de Clínica compete a realização de perícias no vivo. Na

Toxicologia Forense realizam-se as perícias laboratoriais químicas e toxicológicas. Ao

Serviço de Genética e Biologia Forense competem exames de hematologia e vestígios

orgânicos, nomeadamente os exames de investigação biológica de filiação e de

criminalística biológica. Ao Serviço de Psiquiatria Forense competem os exames

psiquiátricos e psicológicos. Por último, no Serviço de Anatomia efectuam-se os

exames patológicos forenses.

Toxicologia: enquadramento histórico e importância médico -legal

Definição

A Toxicologia Forense é um dos ramos pertencentes à Medicina Legal. É a

ciência que se ocupa dos tóxicos. Investiga as suas propriedades, métodos de acção e

processos de combate à sua nocividade. A toxicologia apoia-se por isso em três

aspectos mutuamente relacionados: o agente tóxico, o sistema biológico e o efeito.

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Importa fazer a distinção entre tóxico e veneno. Tóxico pode ser qualquer

substância, que em doses adequadas é útil para o organismo e que em doses

excessivas ou efeito cumulativo se pode tornar prejudicial. No que concerne à

definição de veneno é toda a substância que mesmo em doses mínimas provoca

reacções adversas no organismo.

O papel das Substâncias Tóxicas

As substâncias tóxicas têm sido largamente utilizadas como arma pelo Homem.

A utilização de venenos é antiga e uma das causas de morte mais difíceis de

detectar. Existem evidências da sua utilização por homens primitivos que revestiam as

pontas das suas armas com essas substâncias.

Este tipo de substâncias foram muitas vezes utilizadas como tratamento para

doenças tanto físicas como psicológicas. A contaminação de solos por certos tóxicos

afectou a agricultura e a poluição das águas, a pesca. Já os venenos eram utilizados

desde há muitos séculos como arma de assassinatos políticos.

Casos da História e a evolução do conhecimento

Os primeiros relatos associados a tóxicos já vêm da Antiguidade o que por si

só já mostra a importância que estas substâncias têm vindo a ter na história humana.

Em 2696 AC, Shen Nung terá provado 365 ervas e consequentemente morrido de

uma overdose tóxica. É considerado o pai da Medicina Chinesa. Já os Ebers Payprus

são os primeiros registos escritos de anatomia, fisiologia, toxicologia e tratamentos e

provêm da antiguidade egípcia.

Os tóxicos sempre tiveram uma larga utilização nos assassinatos, como se

suspeita que tenha sido o caso de Alexandre, o Grande, em 356 AC, utilizando

helebora ou estricnina. Em 131 AC, Mitridates VI, rei de Pontus na Asia Menor testou

vários antídotos nele próprio e em prisioneiros.

O primeiro Tratado acerca de venenos e antídotos foi escrito por Moses

Maimonides em 1135. Por sua vez, Leonardo Da Vinci estudou a bioacumulação de

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venenos em animais. Em 1493, Paracelso estabelece: “Todas as substâncias são

venenosas; não existe nenhuma que não o seja. A dose certa distingue o veneno do

remédio.” Catherine de Medici, em 1519, testou venenos nos pobres e doentes.

Bernardino Ramazzi foi o primeiro a estabelecer uma relação entre ocupações

de trabalho e doenças no livro “De Morbis Artificum Diatriba”, em 1633, estabelecendo

dessa forma o início da consciência das chamadas doenças profissionais. Em 1702,

Richard Meade escreveu “A Mechanical Account of Poisons”, dedicados a animais e

plantas venenosas.

O pai da toxicologia moderna, Orfila, publicou em 1813 o “Traite des Poisons”.

Análises a cabelos de Beethoven demonstraram quantidades elevadas de chumbo

(Pb), dando as suspeitas de que o compositor terá morrido devido a saturnismo. Em

1830, Claude Bernard estudou os efeitos do monóxido de carbono e curare. James

Marsh desenvolveu o teste para a detecção de arsénico e foi usado pela primeira vez

no julgamento de Marie LaFarge em 1840. Em 1855 Friedrich Gaedcke isolou a

cocaína a partir da planta Erythroxylon coca.

O estudo e a aplicação de conhecimentos a nível toxicológicos chegaram à

questão da saúde pública e em 1906, foi aprovado o “Pure Foods and Drugs Act”, em

que era impedida a produção ou o tráfico de comidas mal etiquetadas ou venenosas e

remédios. Outra lei importante foi a “Harrison Narcotics Tax Acts”, de 1914, que

regulava a utilização de opiáceos. Em 1915, o químico alemão Fritz Haber

desenvolveu os gases cianido e clorino.

Em 1938, Albert Hofsman sintetizou pela primeira vez LSD e testou-o em si

próprio. Em relação a químicos utilizados a nível de controlo de pragas, o DDT foi

reconhecido como insecticida em 1939 e banido em 1972 e a relação entre o fumo de

tabaco e o cancro do pulmão foi estabelecida em 1950 por Austin Hill. Estes registos

são alguns dos muitos contributos que foram dados ao longo dos séculos por

investigadores, médicos e curiosos. Foi o acumular de todos os conhecimentos

obtidos com as diversas substâncias e as suas muitas aplicações que levaram ao

estabelecimento das relações entre causa e efeitos de muitos tóxicos e à sua

subsequente regulação a nível legal. [1]

Existem muitas situações associadas a envenenamentos acidentais, como o

caso da contaminação de água com arsénico no Bangladesh em 1970; casos de

terrorismo, como o ataque com gás Sarin no Metro de Tóquio em 1995 ou

assassinatos, como o ataque a Litvinenko em 2006 com polónio 210.

As substâncias venenosas e tóxicas têm sido largamente utilizadas e têm

havido muitas tentativas para legislar e impedir/prevenir situações que ponham em

perigo a saúde e a vida das pessoas.

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Um dos grandes problemas associados a este tipo de intoxicações,

especialmente até inicio do século XIX, era a dificuldade em determinar a causa da

doença e/ou morte. Até esta altura não haviam métodos científicos para detectar estas

substâncias. Só a partir do momento em que surgiram os conhecimentos em química

e fisiologia é que isso se tornou possível.

A Toxicologia na Actualidade

O objectivo desta área de investigação da Toxicologia Forense é a detecção e

possível quantificação de substâncias tóxicas. Contudo, a actividade do toxicologista

forense aplica-se a situações judiciais subjacentes a questões postas a identificar e

quantificar o risco para a saúde humana.

Como tal põe em prática todos os conhecimentos científicos à disposição na

actualidade. Até ao século XX, esta ciência sujeitava-se simplesmente à identificação

da origem tóxica de um determinado crime, geralmente sempre resultando em morte.

Actualmente, o campo de acção desta área abrange a perícia no vivo e post-

mortem e questões de saúde pública e laboral. Neste último caso normalmente é

através da avaliação dos parâmetros que são abrangidos pela TNI. Vários trabalhos

têm sido feitos nesta área, como o estudo da importância dos metais pesados no

desenvolvimento infantil [10], interacção entre mercúrio e os sistemas biológicas [11] e

a pesquisa de mercúrio em amálgamas dentárias [12].

No caso das perícias em pessoas vivas estas são mais requeridos para a

determinação de abuso de drogas em casos de toxicodependência e de uso de

substâncias psicoactivas nos utilizadores da via pública. Neste último, entendem-se a

quantificação dos níveis de alcoolémia e de substâncias legais e ilegais. Um outro

aspecto é a análise de intoxicação por metais pesados, especialmente no caso de

doenças de trabalho previstas na Tabela Nacional de Incapacidades (TNI). Os exames

têm como objectivo a avaliação da intoxicação como circunstância qualificadora de

delito, perigosidade ou inimputabilidade.

A definição do conceito de tóxico pode ser muito difícil, uma vez que qualquer

substância pode actuar como tóxico. Nesta medida, todas as substâncias seriam

tóxicas, incluindo alimentos ou medicamentos. São vários os critérios pelos quais os

tóxicos podem ser classificados. Para melhor sistematização, em toxicologia analítica

classificam-se os tóxicos de acordo com as formas de extracção destes. Os grupos

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são: substâncias voláteis, substâncias orgânicas termolábeis, metais ou metalóides,

pesticidas, aniões.

Formas de penetração dos Tóxicos

A penetração dos tóxicos no organismo pode dar-se pela via digestiva, cutânea

ou respiratória; e pode dar-se por mais de uma via ao mesmo tempo. Em termos de

exposição laboral, a forma de exposição mais vulgar é a respiratória.

Estas podem ocorrer na forma de: poeiras, como é caso da sílica que provoca

silicose, doença que afecta em grande maioria os mineiros; fibras, como o amianto,

como a asbestose, onde os afectados se encontram principalmente na construção

civil; fumo, por exemplo o chumbo, que provoca o saturnismo, que pode ocorrer nas

ocupações de fundição; aerossóis, entre os quais os insecticidas, muito utilizados na

agricultura; neblinas, como os açucares que provoca a bagaçose, doença que afecta

trabalhadores que lidam com resíduos de cana-de-açúcar; gases como o cloro,

utilizado na indústria; e vapores, entre os quais o mercúrio, que causa o hidrargirismo,

e pode ser encontrado numa variedade enorme de ocupações, como extracção e

fabricação do metal, tintas e lâmpadas, entre outros.

Estas situações são acompanhadas e tratadas pela Medicina do Trabalho. Este

tipo de medicina visa a prevenção da saúde dos trabalhadores, melhorando as

condições da sua actividade, o seguimento dos trabalhadores e análises periódicas

consoante as características específicas de cada local de trabalho. O artigo 29º do

Código de Trabalho, nas alíneas 1, 2, 3 refere as competências do perito nesta área

do Direito. É sempre necessário aplicar o nexo de causalidade entre o tóxico, o tempo

de exposição e a patologia. É por exemplo o caso da exposição prolongada ao

mercúrio que pode ser detectado no cabelo por SEM-XRM em certas profissões. [11]

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Tabela Nacional de Incapacidades (TNI)

A TNI foi legislada pela primeira vez em Portugal pelo Decreto-Lei nº 341/93,

com o objectivo de criar normas para a avaliação das incapacidades por acidentes ou

doenças de trabalho, com a finalidade de determinar compensações adequadas para

cada caso.

O Decreto-lei nº 352/2007 revogou o DL anterior, ajustando percentagens de

incapacidades de certas patologias. Neste decreto existem duas tabelas, uma

destinada aos casos de acidentes e doenças de trabalho e outra para a reparação de

dano em direito civil.

Todas as substâncias consideradas prejudiciais e que se encontram nos locais

de trabalho são mencionadas, assim como os valores de exposição considerados

aceitáveis. Isto permitiu a criação de um instrumento adequado de avaliação neste

domínio específico do direito, destinado à avaliação e pontuação das incapacidades

resultantes das alterações psíquicas e físicas.

O Decreto-Lei nº76/2007 de 17 Junho, define doença profissional que resulta

directamente das condições de trabalho e pertence à lista de doenças de trabalho e

que provoca incapacidade para exercer o mesmo. [13]

Já o Decreto-Lei nº99/2003 de 27 de Agosto, define acidente de trabalho como

acontecimento acidental no local e horário de trabalho (incluindo trajecto de ida e vinda

para o mesmo); este no entanto, não precisa de ter uma causa directamente

associada ao tipo de trabalho (isto é, não é obrigatório ser algo que depende das

funções, podendo ser simplesmente uma queda). [14]

Relativamente aos metais pesados, na legislação portuguesa o Decreto-Lei

nº274/89 de 21 de Agosto define quais os limites máximos para o chumbo. Estabelece

que o Valor Limite de concentração de chumbo no ar do local de trabalho é de

150µg/m3 e para o sangue o valor é de 70 µg por 100ml. [15] O Decreto-Lei nº

351/2007 de 23 de Outubro transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva

nº2004/107/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 15 de Dezembro, os

valores para as concentrações de arsénio e mercúrio. No caso do arsénio o valor é de

6µg/m3 e para o mercúrio 0.2mg/N m3. Estabelece métodos e critérios comuns para a

avaliação das concentrações destes metais no ar. A presença destes metais nos

locais de trabalho, no ambiente e mesmo em produtos alimentícios exige uma forte

regulamentação de modo a proteger as pessoas. [16]

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16

A poluição ambiental dos países industrializados por metais pesados como os

mencionados na TNI é um grave problema de saúde pública. Ao estabelecer limites

tanto a nível ocupacional, como a nível ambiental e industrial, pretende-se minimizar

ao máximo o impacto destes na vida humana. O mercúrio é um desses exemplos.

Está demasiado disperso, encontrando-se presente em vários locais de trabalho

diferentes, em vários materiais e no ambiente. A poluição das águas com este metal

tem levantado muitos problemas desde há muitos anos e tem sido um problema de

saúde pública, exigindo uma monitorização apertada e legislação apropriada.

Existe também legislação a nível europeu, especialmente no que diz respeito

aos teores máximos de vários contaminantes nos géneros alimentícios. O regulamento

nº 1881/2006 da Comissão, de 19 de Dezembro de 2006, fixa os valores de ingestão

semanal de chumbo em 25 µg/Kg de peso corporal e de mercúrio em 1.6µg/Kg de

peso corporal. [17]

Doenças neurodegenerativas

A doença neurológica trata-se de uma degeneração generalizada das células

nervosas que transmitem os impulsos eléctricos necessários para o bom

funcionamento do organismo. Doenças neurodegenerativas são doenças em que

ocorre a destruição progressiva e irreversível de neurónios causando graves défices a

nível funcional, e dependendo do tipo de doença, a perda das capacidades a nível

motor, fisiológico e/ou cognitivo. O tratamento é feito com remédios que inibem ou pelo

menos retardam essa destruição. [18]

Demência, derivada da palavra latina, [de-=fora de + mens= da mente] significa

perda ou incapacidade a nível mental atribuída a uma doença. É geralmente entendida

hoje como a “perda de habilidades intelectuais” de tal forma que afecta o normal

funcionamento pessoal. Esta definição da Associação Americana de Psiquiatria existe

desde 1994.

Mas muito antes desta altura, já havia o conhecimento de um progressivo

deterioramento associado à idade. Tantos os Gregos como os Egípcios nos períodos

AC já haviam associado a idade ao desequilíbrio mental, assim como os Romanos nos

primeiros séculos DC e os médicos indianos. Existiam muitos termos e formas de

aludirem a este problema, mas em todas estas civilizações havia a noção da perda

das capacidades superiores intelectuais com o avançar da idade.

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17

Esta problemática não é nova, simplesmente encontra-se magnificada no

nosso tempo devido ao aumento do envelhecimento na população mundial. [19]

Uma dessas doenças é a doença de Alzheimer, considerada como a principal

causa de demência na actualidade (50-60%, em pessoas com idades superiores a 65

anos), sendo presumido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que cerca de 18

milhões de pessoas em todo o mundo estejam afectadas e cujas estimativas são de

34 milhões para 2025. Esta doença costuma afectar pessoas a partir dos 60 anos

embora também existam casos de Alzheimer precoce, iniciando-se por volta dos 40.

[18]

A doença de Alzheimer é uma desordem neurodegenerativa lenta e

progressiva que afecta o cérebro e se encontra associada à idade e é caracterizada

pela toxicidade induzida pela deposição de formas anormais de proteínas. É

caracterizada clinicamente pela progressiva perda de memória, mas acabando por

evoluir para confusão, irritabilidade, e afastamento da realidade. O curso médio da DA

é de cerca de 10 anos, mas esta característica é variável de situação para situação.

Esta doença é considerada um problema de saúde pública, pois afecta cada

vez mais membros da população mundial. Os pacientes vão perdendo o contacto com

a realidade, tornando-se incapazes de se responsabilizar pelos seus próprios actos.

A doença de Alzheimer foi descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra

alemão Alois Alzheimer. Foi no seu emprego no “Städtische Anstalt für Irre und

Epileptische” que tomou contacto com esta doença neurodegenerativa. Em 1901,

Alzheimer observou uma paciente no asilo de Frankfurt chamada Auguste Deter que

apresentava alguns sintomas típicos desta doença. Esta paciente tornou-se a grande

obsessão até à sua morte. Em Abril de 1906, a paciente morreu e Alzheimer fez com

que o cérebro dela chegasse até ele para observação. Juntamente com dois médicos

italianos empregou uma coloração com prata para determinar as lesões cerebrais

onde detectou as placas amilóides e os emaranhados neurofibrilares. Um discurso

dado a 3 de Novembro foi a primeira vez que esta doença foi apresentada com

aqueles dados.

Ao longo do tempo tem sido cada vez mais visível a importância de certos

metais no desenrolar deste tipo de doenças. Existem, por exemplo, certas doenças

neurodegenerativas em crianças que estão associadas a biometais, como o cobre,

ferro e zinco. [20] O cobre e o ferro também têm sido associados à doença de

Alzheimer. [21] [22] [23] [24]Outro tipo de metais também suspeitos de terem influência

nestas doenças são os metais pesados, como é o exemplo do mercúrio (Hg), sendo

este o objecto de estudo deste trabalho experimental e cujos motivos para estas

suposições serão tratadas mais profundamente num capítulo mais à frente desta tese.

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Os doentes que sofrem desta desordem não são considerados responsáveis

pelos seus actos, devido ao permanente afastamento da realidade e incapacidade de

perceber as situações à sua volta. Pelo Código Penal Português são considerados

inimputáveis.

Patofisiologia da Doença de Alzheimer

Descobertas epidemiológicas sugerem que o baixo nível educacional, história

de trauma craniano e o consumo de elevadas calorias pode ser um factor activador da

doença que se caracteriza pela alteração global do funcionamento cognitivo,

suficientemente grave para ter efeitos a todos os níveis da vida de uma pessoa. [25]

[26]

Existem tanto factores genéticos como ambientais que contribuem para o

activar e desenrolar da doença de Alzheimer. Estudos genéticos indicam pontos de

mutação no gene da APP que pode levar ao desenrolar desta doença. As mutações

em genes relacionados só contabilizam cerca de 30% dos casos de Alzheimer. Vários

factores incluindo patologias concomitantes dificultaram a análise genética associada

ao Alzheimer tardio. Contudo, estudos de associação identificaram vários genes

possíveis. A exposição ou ingestão de substâncias tóxicas, entre as quais, os metais

pesados, traumas a nível craniano, radiação, infecções, doenças imunológicas,

cancro, altos níveis de colesterol e de hemocisteína, a obesidade, diabetes, são vários

dos factores que têm sido associados à doença de Alzheimer e que têm sido

estudados ao longo dos anos.

Os genes passados pelos pais podem ou não ter um importante papel na

determinação se uma dada pessoa vai desenvolver a doença. As várias descobertas

no campo das mutações genéticas associadas à doença de Alzheimer levaram ao

conhecimento das alterações celulares e moleculares que levam à neurodegeneração.

[27]

Duas grandes lesões são características da Doença de Alzheimer (DA): a

presença de emaranhados da proteína tau e a presença de placas senis. Existe um

terceiro factor que é tido também em conta que é a existência de processos

inflamatórios relevantes.

Na doença de Alzheimer ocorre um elevado grau de atrofia no cérebro; sendo

esta perda dispersa. Em 1985, Rogers e Morrison, estudaram a distribuição das placas

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senis, verificando a associação com o hipocampo e neocórtex. Esta situação acaba

por terminar em perda e morte dos neurónios. [28]

As placas senis são constituídas por proteína β-amilóide, associadas a

terminais nervosos degenerados. Outra característica é a presença de células da

microglia num estado activado e astrócitos.

Os emaranhados neurofibrilares são deposições de filamentos helicoidais da

proteína Tau que se encontra numa configuração anormal.

A inflamação é a outra característica presente nesta doença neurodegenerativa

com grande significância. Este processo está intimamente ligado à activação das

células da microglia.[29] [30] [31] [32]

O excesso de colesterol, hipercolesteromia, é um dos factores que se pondera

estar associado ao possível desenvolvimento da doença. Uma dieta enriquecida em

colesterol está associada com o aumento da deposição regional da proteína β-

amilóide e acumulação de Fe à volta destes depósitos. Co-localização do ferro e da

proteína foi associado a processos apoptóticos e dano da barreira hemato-encefálica

(BHE). Foi demonstrado também que estes processos estavam associados à via de

stress do reticulo endoplasmático e que estes danos podem tornar o córtex cerebral

mais vulnerável aos danos causados pelo colesterol. [33]

O elevado stress oxidativo e o metabolismo de energia celular danificado é

outra característica desta doença neurodegenerativa. Em especial junto às placas

senis e aos emaranhados existe grande quantidade de proteínas, lípidos e DNA

modificados oxidativamente. Isto é atribuído tanto à proteína β-amilóide como à

presença de metais como o Fe2+ e Cu2+. [34] [35] Uma nova aproximação para a

protecção contra a excitoxicidade e o stress oxidativo tem sido através do estudo de

compostos com capacidades antioxidantes, com o intuito de proteger e combater estes

efeitos na doença de Alzheimer. [36] O stress oxidativo, que será discutido mais em

relevo à frente, tem um papel bastante significativo nesta doença e existem já várias

tentativas de terapia através do combate aos seus efeitos.

Vários estudos também demonstraram a existência de uma espiral mitocondrial

em queda, envolvendo anormalidades no metabolismo energético, do cálcio e dos

radicais livres (espécies reactivas de oxigénio e nitrogénio). [37] Existem outras

desordens neurológicas que também estão associadas com a diminuição destes

metabolismos. [38] O enfraquecimento dos metabolismos referidos acima leva por sua

vez a um aumento da expressão da APP. [39] Isto, por conseguinte, leva à perda de

neurónios, aumento da APP e a anormalidades no citoesqueleto. [40]

A α-sinucleina possui um papel de relevância nos processos de metabolismo

de lípidos e transporte mediado por vesiculas em diversas doenças

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neurodegenerativas. [41] A presença da dopamina citosólica em neurónios leva à

acumulação de α-sinucleina causando vulnerabilidade a estas doenças. [42] A

proteína Tau aumenta a toxicidade e agregação da α-sinucleina e interrompe a

formação de inclusões. Este efeito sinergístico patológico entre a Tau e α-sinucleina

pode assim amplificar o processo neurodegenerativo. [43]

Placas senis

A produção de APP, precursor da proteína amilóide, é influenciada pelo estado

fisiológico e desenvolvimento celular. É uma proteína integral da membrana com um

amplo terminal N glicosilado e um pequeno terminal C (Figura 1). A alteração dos

seus processos proteolíticos leva ao aumento da produção de formas neurotóxicas da

Aβ. É-lhe atribuído um papel importante na sobrevivência dos neurónios, crescimento

de neurites, plasticidade sináptica e adesão celular. É transportada pelos axónios aos

terminais pré-sinápticos onde se acumula em níveis altos. É esta acumulação que

forma as chamadas placas senis. [44]

Figura 1 – Representação dos produtos de clivagem da APP pelas secretases α, β, γ e ε, de onde resulta a produção da Aβ. ( Retirado de Ashe e Zahns, 2010)

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A proteína β-amilóide é o produto de clivagens sequenciais da APP pela β-

secretase no terminal N e pela γ-secretase no terminal C. As sinapses são

susceptíveis aos efeitos adversos das formas segregadas da proteína β-amilóide. Esta

impede os transportadores iónicos e de glucose e compromete a plasticidade

sináptica. Outra forma de acção é a indução de stress oxidativo que acaba por

danificar os neurónios e a disrupção da homeostasia do cálcio. A capacidade de certas

terapias de removerem a proteína do cérebro de ratos com mutações na APP melhora

as suas funções sinápticas, o que reforça a ideia da sua influência na decadência das

capacidades neuronais. [45]

Processos proteolíticos podem ser uma das causas da alteração dos

mecanismos de energia celular. Metabolismo de energia perturbado tem efeitos na

acção patogénica do processamento alterado do precursor da β-amilóide, isto porque

o stress oxidativo e o metabolismo de energia danificado pode conduzir a processos

amiloidogénicos.

A existência das chamadas placas senis deve-se ao dobramento anormal de

proteínas que se vão acumulando em formas instáveis e por isso, muitas vezes,

difíceis de serem eliminadas pelo organismo. No caso particular da doença de

Alzheimer, a deposição é da proteína β-amilóide, que vai formando placas nos

espaços entre os neurónios, constituídas pela proteína concentrada em aglomerados

com microglia activada no centro, rodeada por astrócitos reactivos que demarcam os

locais de inflamação.

Um outro estudo em que se avaliou a utilização da 2-deoxiglucose (2-DG)

revelou que a sobreexpressão dos genes da APP leva a um hipometabolismo da

glucose no cérebro, que se pensa estar associado ou aos níveis elevados a Aβ ou à

função anormal da APP. [46][47] Esta possível associação com os níveis da proteína

amilóide foi demonstrada em células da glia assim como em culturas neuronais. [48]

[49]

O efeito da Aβ também foi observado em preparações de sinaptomas de rato e

levaram a deduzir que os problemas no transporte de glucose podem estar associados

à peroxidação da membrana lipídica pela proteína amilóide. [50]

A maior parte dos péptidos que são encontrados nas placas são Aβ1-12 e Aβ1-40,

péptidos que são produto da clivagem da APP. [51] Esta deposição é considerada

como o primeiro evento da doença e existem teorias que afirmam que a deposição da

β-amilóide é uma resposta aos processos inflamatórios. [52] Fragmentos desta

proteína parecem mediar alguns mecanismos de inflamação pela activação da via do

complemento; e as placas senis são em muitas formas semelhantes a locais de

inflamação persistente. [52] [53] [54] A via do complemento é iniciada pela união das

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proteínas C1q às imunoglobulinas, o problema é que a proteína amilóide também

possui uma afinidade elevada com esta proteína e os complexos agregados contendo

este segmento ligam-se fortemente com o receptor na microglia. Pondera-se que este

seja um dos factores que provoca a activação da microglia [52]

Também foi estudada a influência dos metais no Alzheimer, em especial, dos

chamados biometais, metais necessários para efectuar certas funções biológicas.

Assim, foram medidas concentrações de cobre (Cu), ferro (Fe), e zinco (Zn) nas

bordas e núcleos das placas senis e encontraram-se valores mais elevados

associados à doença, colocando-se a hipótese de estes acelerarem a agregação do

péptido beta amilóide. [55]

Os derivados da proteína beta amilóide têm sido muito estudadas. A AβpE3

constitui grande parte das proteínas amilóides nas placas senis, enquanto a AβpE11

tem recebido menos atenção. Através da criação de anticorpos policlonais para

ambas, foi demonstrado que constituem grande parte das placas senis no córtex

cerebral. Os dados obtidos também sugerem que AβpE11 pode servir como local de

criação para a formação das placas senis. [56]

Também é conhecido que inibidores da acetilcolina protegem contra os danos

causados pela proteína amilóide, pois inibem a libertação de citoquinas da microglia e

monócitos, tal como a relação de anormalidades do sistema colinérgico com as

deficiências intelectuais e as placas senis na doença de Alzheimer. [57] [58] [59]

Emaranhados neurofibrilares

As doenças de Alzheimer, paralisia progressiva supranuclear, demência

frontotemporal, entre outras, são conhecidas como tautopatias, isto porque existem

emararanhados de uma forma anormal hiperfosforilada da proteína Tau. [51] Nos

neurónios saudáveis, esta proteína liga-se e estabiliza os microtúbulos. Muitas vezes

estes agregados proteicos são encontrados conjugados com ubiquitina. [60] São

abundantes no hipocampo, amígdala, lóbulo frontal, parietal e temporal. [51]

Exposição a longo termo a Aβ micromolar induz toxicidade celular colinérgica,

possivelmente através desta hiperfosforilação. Reciprocamente, activação de

receptores colinérgicos alteram a fosforilação desta proteína. [51]

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Fosforilação da Tau é um evento inicial da degeneração neurofibrilar na DA,

que é relacionada com a evolução da característica demência desta doença. [61]

Meng et al demonstraram que motivos de formação de fibrilas podem levar a

diferentes composições da proteína e diferentes parâmetros cinéticos. Os seus

resultados sugeriam que os motivos de formação possuem um papel muito relevante

na fosforilação e possível má formação que leva ao início e desenvolvimento das

doenças neurodegenerativas. [62]

Alonso e o seu grupo estudaram os mecanismos de degeneração neurofibrilar

e a sua relação com as proteínas associadas aos microtúbulos. A afinidade da

associação da proteína é mais elevada que a da proteína dos microtúbulos, porque a

Tau impede a ligação tardia. A associação entre a Tau e as proteínas associadas aos

microtúbulos ocorrem in situ, e ambas se agregam no cérebro. É sugerido que a Tau

anormal pode sequestrar a proteína normal e prejudicar os microtúbulos. [63] Com a

formação destes filamentos, há uma interrupção do transporte e morte neuronal. [60]

[64] O nível da patologia neurofibrilar e o número de emaranhados parecem estar

relacionados com a gravidade da demência. [51]

Outro trabalho sugeriu que o metilglioxanal (MG) induz a hiperfosforilação da

tau do tipo habitual que se encontra na doença de Alzheimer pela formação de

produtos de glicação. [64]

Figura 2 – Representação esquemática da presença dos emaranhados neurofibrilares em doentes de Alzheimer. Imagem adaptada de American Health Assistance Foundation.

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O papel da inflamação

A influência de processos inflamatórios em doenças neurodegenerativas como

a doença de Alzheimer (DA), esclerose múltipla (EM), doença de Parkinson (DP),

entre outras é um facto. [65]

A relação entre processos inflamatórios, depressão e a doença de Alzheimer,

assim como a atrofia do hipocampo é também considerada. Essa teoria é apoiada pelo

facto de serem visíveis sinais de depressão nas fases iniciais da doença. [66]

As placas senis, uma das imagens de marca desta doença, são comparáveis

em muitos aspectos com um local de inflamação persistente (embora a resposta

inflamatória clássica com infiltração de leucócitos e imunoglobulinas seja ausente).

Há uma concentração de células da microglia nos depósitos de amilóide que

interagem com astrócitos demarcando estes locais inflamatórios. Tanto as cascadas

do complemento como coagulação tornam-se activadas. Também se sabe que as

protéases possuem um papel na função da microglia, que são sintetizadas e

secretadas por macrófagos activados, tendo também sido demonstrado in vitro que

podem ser produzidas pela microglia activada e neurónios. A presença dos elementos

relacionados com o processo inflamatório, suportam a sua importância nos processos

desta doença. [67]

Cada vez mais se acredita num papel de grande relevância dos receptores do

tipo Toll (TLRs) no desenrolar da doença de Alzheimer. As células da microglia são

centrais na resposta inflamatória. São activadas por sinais de perigo das células

vizinhas. Esta activação dá início à resposta imune inata que leva à libertação de

citocinas pró-inflamatórias e fagocitose. Apesar do objectivo ser combater os efeitos

de compostos patogénicos, muitas vezes esta activação provoca a libertação de

factores tóxicos como o oxido nítrico (NO) e espécies reactivas de oxigénio (ROS) que

acabam por aumentar ainda mais os danos celulares. A microglia em estado activo

que atinge um nível tóxico é normalmente activada por receptores de reconhecimento

de padrões (PRRs), que pertencem à imunidade inata. [68]

Os receptores de tipo Toll (TLRs) são uma subfamília de PRRs que são

abundantemente expressos em várias células do SNC e com especial enfâse na

microglia e em vários tipos celulares relacionados com o sistema imune, como as

células B. [69] Os TLRs são receptores transmembranares que respondem a padrões

ligados a patogéneos. [70] TLRs amplificam a libertação de citocinas e quemocinas.

Possuem um papel importante na inflamação através da alteração da função neuronal

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e morte. Compostos não-patogeneos endógenos activam a microglia pelos TLRs que

leva por sua vez à inflamação. [68]

As células de Kupffer são células que recobrem, junto com as células

endoteliais típicas, as placas hepatocelulares. São capazes de fagocitar sustâncias

estranhas presentes no sangue dos seios hepáticos, sangue esse que chega até aos

sinusóides pela veia porta. Possui muitos lisossomas para cumprir a sua função

fagocitica e um núcleo grande e oval. É envolto por fibras reticulares. Estudos recentes

mostraram que o uptake do HCV pelas células dendríticas plasmócitóides hepáticas e

pelas células de Kupffer podem induzir a sua produção de citocinas inflamatórias que

vão levar a um estado de inflamação. Por outro lado a infecção por HCV é tratada com

terapia baseada em interferões para combater a inflamação. Estas células estão assim

envolvidas em vários processos inflamatórios que ocorrem a nível do fígado. [71]

Estudos com metais pesados demonstraram o papel destas células no

processo de destoxificação do mercúrio. Uma possível explicação para a acumulação

destes metais nestas células foi proposta num estudo acerca da interacção do

mercúrio e do selénio em golfinhos, em que sugeriram que o Hg e o Se se difundem

através dos sinusóides, onde são absorvidos e formam complexos nestas células.

Assim sendo, acharam plausível assumir que para além de serem produtos dos

processos de desmetilação, estes complexos também existem devido à acção das

células de Kupffer, já que encontram o seu caminho para a corrente sanguínea. [72]

A barreira hemato-encefálica (BHE) é uma estrutura membranar que actua

principalmente para proteger o sistema nervoso central (SNC) de substâncias

químicas presentes no sangue, permitindo ao mesmo tempo a função metabólica

normal do cérebro. É composto de células endoteliais, que são agrupadas muito

unidas. Esta é a primeira linha de defesa do cérebro contra a exposição a substâncias

nocivas. As células da glia, geralmente chamadas neuróglia, são células de suporte

dos neurónios. As principais funções das células da glia são a protecção dos

neurónios. São divididas em dois subtipos: macroglia (astrócitos, oligodendrócitos e

glioblastos) e microglia.

A sobre-activação das células da microglia está associada a vários problemas

a nível do cérebro, como é o caso dos ataques isquémicos, onde se demonstrou a

activação excessiva destas células. Esta activação resulta num desfecho pior

ressaltando ainda mais os potenciais efeitos pró-inflamatórios prejudiciais do tPA

(activador plasminogénico). [73]

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Microglia

A microglia humana expressa o TLR1-9 que produz factores pró e anti-

inflamatórios que, por sua vez, induzem a fagocitose de elementos patogénicos. Os

astrócitos humanos também expressam vários TLRs. [74] A activação da TLR2/6 das

células endoteliais aumenta a permeabilidade da BHE. [68]

A Aβ leva à activação da microglia pelos receptores TLR2, TLR4 e CD14, que

leva à remoção da Aβ. [75] O receptor TLR4 é essencial na activação por LPS. [76] A

activação da microglia por pouco tempo é benéfica, mas se esta se estende de forma

prolongada começa a ter efeitos negativos. [68] A activação da microglia facilita a

fosforilação da tau. [77]

Outro receptor conhecido pelo seu envolvimento nos processos da microglia é

o receptor de glutamato 5 (mGluR5) que pode controlar a morte de neurónios, sendo

expresso em células da microglia e que está também envolvido nos processos

inflamatórios. [78]

O entendimento da forma e interacção destes processos inflamatórios pode ser

uma das forma de arranjar um alvo terapêutico para combater a doença de Alzheimer.

[79] Existem vários estudos que têm como intuito desenvolver mecanismos

neuroprotectores contra a neuroinflamação. A utilização de substâncias como a

arctigenina que tem a capacidade de suprimir a activação da microglia e diminuir a

expressão de citocinas pró-inflamatórias como a IL-1β e TNF-α é uma das opções em

estudo. A sua capacidade de modulação do local de inflamação torna este tipo de

substâncias bastante atractivas para o combate à neuroinflamação. [80] Outra linha de

estudo é o uso de retinóides que têm a capacidade de activar efeitos antioxidantes e

inibir a formação de vários aspectos associados à doença de Alzheimer, tal como a

neuroinflamação. [81]

Tanto as cascadas do complemento como as da coagulação são activadas por

astrócitos e microglia. [52] A microglia associada às placas senis expressa de forma

substancial muitos marcadores como MHC-I, MHC-II, IL-1 e TNF-α. Em adição à β-

amilóide, placas senis contém a maior parte das proteínas do complemento.

Também se sabe que funções dos oligodendrícitos sugerem que a perda do

suporte trófico que fornecem pode levar a um aumento da vulnerabilidade dos

neurónios, aumento da inflamação e ainda mais dano celular. [82]

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Barreira Hematoencefálica (BHE)

A BHE é uma estrutura membranar que actua principalmente para proteger o

SNC de substâncias tóxicas que possam existir na circulação sanguínea. É composto

de células endoteliais agregadas de forma a impedir essa passagem. Esta densidade

aumentada restringe muito a troca de substância com o cérebro. A BHE, no entanto,

não é totalmente impermeável, havendo muitas situações em que existe transporte de

substâncias através desta barreira, mesmo de substância tóxicas. (Figura 3)

Devido ao crescente aumento de interesse na investigação dos processos de

transporte e interacção da BHE, começaram a surgir vários modelos, tanto in vivo com

in vitro.

Ao longo do tempo, várias hipóteses foram apresentadas que envolviam a BHE

na doença de Alzheimer. Algumas dessas hipóteses referiam a disrupção da barreira,

defeitos no transporte de glucose, ou mesmo libertação de substâncias tóxicas da

própria BHE. Uma das hipóteses mais recentes envolve o transporte defeituoso do

péptido Aβ para fora do cérebro, provocando a sua acumulação e consequente

toxicidade. [83] Este efluxo pensa-se ser mediado por dois transportadores: LRP-1 e

P-glicoproteina. [84] [85]

Figura 3 – Figura esquemática da BHE.

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Outra teoria envolve o transportador RAGE, que seria responsável pelo

transporte da Aβ formada no sangue para o cérebro. [83]

Todos estes processos defeituosos parecem estar relacionados com o

envelhecimento, em que o efluxo da Aβ é diminuído; e também, com processos

inflamatórios, que parecem interferir com estes transportes. [86]

Um outro estudo estabeleceu mesmo o papel da P-glicoproteína da BHE no

efluxo da Aβ para o lúmen capilar e determinou que a regulação positiva desta

glicoproteína permite uma maior remoção da Aβ nas fases inicias da doença de

Alzheimer, fazendo com que esta possa ser uma estratégica terapêutica de combate à

doença. [87]

É conhecido o papel do Al na alteração da BHE no contexto da DA. Através da

utilização de modelos experimentais de ratos para a intoxicação crónica de alumínio

(Al), sabe-se que o alumínio tem a capacidade de formar complexos com o ácido

glutaminico e passar a BHE depositando-se no cérebro, tendo sido proposto como um

mecanismo para justificar a doença de Alzheimer, baseado na alteração da

permeabilidade da BHE, tendo em consideração que este complexo pode induzir estas

alterações. [88]

Outro factor estudado foi a dislepidemia, isto é, a presença excessiva de

lípidos. Os lípidos são considerados candidatos capazes de alterar a função da BHE e

esta condição parece ser mais prevalente em doentes de Alzheimer que apresentam

danos na BHE, sendo sugerida dessa forma, uma possível relação entre as duas

condições. [89]

Uma das formas encontradas para estudos in vitro da BHE, foi o

estabelecimento de uma linha celular de células endoteliais da microvasculatura

cerebral. As HBMECs (“human brain microvasculature endotelial cells”) é uma dessas

linhas. Estas células foram já usadas para variados estudos envolvendo as funções da

BHE.

Um estudo revelou que a indução por hipóxia de certos factores associados às

células endoteliais pode provocar a produção de IL-8, permitindo a infiltração de

leucócitos. [90] Outro estudo, usando a Streptococcus pneumoniae, que é uma das

maiores causas de pneumonia e meningite, que apesar de terapia antimicrobiana

efectiva, permanece como altamente mortal, tentou determinar as proteínas deste

microrganismo que são chave para o desenvolvimento da meningite, tentando

desenvolver uma estratégia que possa ser adaptada na identificação de genes que

contribuem para esta doença e na atenuação a sua penetração na BHE. [91] Estas

células também foram usadas para estudar a forma de transporte através da BHE de

anti-retrovirais de combate ao HIV e qual a melhor forma de transporte através da

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barreira de maneira a obter um melhor efeito deste tipo de terapia no combate à

doença. [92] Por estas razões todas, esta linha celular está bem estabelecida como

um modelo in vitro de estudo da BHE e das suas características e interacções.

Stress oxidativo

O stress oxidativo é um desequilíbrio nos sistemas biológicos entre a produção

de espécies reactivas de oxigénio (ROS) e as enzimas destoxificadoras. Estas

perturbações podem provocar a produção do anião radical superóxido, peróxido de

hidrogénio, dioxigénio singuleto e o radical hidroxilo que podem causar danos em

diferentes componentes como proteínas, lípidos e mesmo DNA.

Stress oxidativo e a doença de Alzheimer

A presença de altos níveis de enzimas antioxidantes associadas as placas

senis sugerem o envolvimento deste tipo de mecanismos na DA. [93] Uma cascata de

eventos que envolve radicais de oxigénio activos e metabolismo mitocondrial parecem

estar envolvidos nesta doença. [94] A agregação da Aβ com metais redox activos já

foram implicados na DA. A metalotionina 3 é desregulada durante a doença e foi

determinado o papel dos diferentes domínios da proteína e a sua função na protecção

do cérebro contra o stress oxidativo. [95] Vias de sinalização de factores associados a

elementos de resposta antioxidantes, como o caso de Nrf2/ARE, são considerados

importantes mediadores na neuroprotecção e possíveis alvos terapêuticos para

doenças como o Alzheimer. [96]

Desta forma, o combate ao stress oxidativo é considerado também como um

possível alvo terapêutico contra a doença de Alzheimer, através da manipulação de

enzimas e substâncias com capacidades antioxidantes.

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Mercúrio

O mercúrio é um dos metais referidos na TNI. Apresenta-se no estado líquido à

temperatura ambiente e é identificado pelo elemento químico Hg, com número atómico

80 e massa atómica 200.59. É um líquido prateado e inodoro, bom condutor de

electricidade. Como estabelece liga metálica facilmente é muito usado em amálgamas

dentárias. Com o aumento da temperatura torna-se num vapor tóxico e corrosivo. É

um metal perigoso em qualquer tipo de contacto (oral, dérmico ou inalado).

Este metal vem sendo usado na indústria e na medicina há séculos. No caso

da medicina era muitas vezes utilizado, por exemplo, para tratar problemas mentais

graves, como os dois casos referidos por Chisholme em 1813; [97], para tratar casos

de inflamação, como laringite; [98], no tratamento de sífilis; [99] e como forma de

esterilização da pele [100]. Os casos de envenenamento por este metal também já

vêm de há muito tempo. [101] [102]

Devido à sua larga utilização, o mercúrio pode ser encontrado em termómetros,

medidores de pressão arterial, baterias, luzes fluorescentes, interruptores, entre

outros.

O Hg pode-se encontrar em três estados de oxidação: elemental (Hgo),

mercuroso (Hg1+) e mercúrico (Hg2+). Existem bactérias com processos de

destoxificação que reduzem os iões de mercúrio para mercúrio elemental que é volátil,

e é assim removido do sistema. [103]

Os vapores deste metal quando inalados podem facilmente atingir a circulação

sanguínea, onde é oxidado a Hg2+. Os seus efeitos biológicos vão desde citológicos a

neurológicos. A possível associação ao processos carcinogénico, bem como os efeitos

a nível genético ainda não são bem conhecidos, no entanto, existem várias evidências

do efeito do Hg ao nível do DNA.

A grande parte da exposição humana a este contaminante vem da sua forma

orgânica, normalmente metilmercurio ou etilmercurio, de onde se destaca o consumo

de peixe e alguns conservantes de vacinas. [104] Mercúrio está presente na crosta

terrestre e é metilado por bactérias, sendo introduzido na alimentação humana através

desta forma. O MeHg rapidamente atravessa a placenta e a barreira hematoencefálica

e é neurotóxico. O desenvolvimento fetal é em especial muito sensível a esta

exposição e pode causar retardação mental e paralisia cerebral. [105] Também foi

estudado a distribuição visceral deste metal em ratos através de métodos avançados

de microscopia, tendo sido determinado que a maior parte do Hg injectado

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intraperitonealmente é capturado pelas células Kupffer e que há uma grande

concentração do metal no baço. [106]

Assim sendo, o consumo de peixe contaminado é uma das maiores

preocupações relacionadas com este metal a nível alimentar e pode-se apresentar

como um problema de saúde pública. A biotransformação do mercurio inorgânico, pela

acção de alguns microrganismos, em metilmercurio, é um problema de elevada

relevância devido à sua capacidade de bioamplificação, isto é, a sua concentração vai

aumentando conforme sobe a cadeia alimentar. O SNC é o seu principal alvo e os

sintomas podem ser ataxia (perda da coordenação dos movimentos), parestesia

(perda de sensibilidade nas extremidades), disartria (articulação das palavras), visão

em túnel, perda de audição, cegueira, coma, morte.

Por esta razão, este é um dos contaminantes ambientais mais temidos e

vigiados, especialmente na actualidade, devido a vários problemas de saúde pública

ocorridos no passado. Foi o caso do que aconteceu no Japão, onde foi descrita uma

intoxicação por mercúrio orgânico, doença de Minamata, em 1956, devido ao consumo

de peixe e crustáceos contaminados por metilmercúrio, devido a descargas de uma

fábrica química. [107]

Exposição ao mercúrio

A fonte de exposição mais habitual ao mercúrio inorgânico é através da

utilização das amálgamas dentárias, tanto durante a preparação destas, como durante

o desgaste ao longo dos anos e com a sua remoção. Amalgamas dentárias emitem

vapor de mercúrio que é inalado e entra na circulação sanguínea. [104] Esta é uma

das razões porque este tipo de amalgamas caiu em desuso, tendo sido substituídos

por resinas compostas. Este uso nos trabalhos dentários tem sido alvo de muitas

discussões e controvérsias. O perigo é apresentado não só para os utilizadores, mas

também para os dentistas e assistentes que tinham de preparar as amalgamas e eram

assim de alguma forma expostos ao mercúrio. Existe uma relação já estabelecida

entre os níveis sanguíneos de Hg e respostas do tecido oral. É recomendado, por

exemplo, no caso de mulheres grávidas o adiamento da inclusão ou remoção das

amálgamas dentárias durante a gravidez para evitar os seus efeitos prejudiciais no

desenvolvimento fetal. [108]

Existem diversos estudos acerca dos efeitos deste metal. A sua gama de acção

e efeitos são variados e podem afectar diversos constituintes celulares. Estudos

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acerca dos efeitos celulares do mercúrio demostraram que linfócitos e linhagens

linfoblásticas celulares tinham menor capacidade proliferativa, de produção de

citocinas e imunoglobulinas. [109] O mercúrio tem a capacidade de se depositar nos

neurónios e células da glia. [110] Outros dos mecanismos pelos quais este metal induz

a neurotoxicidade é através do rearranjo do citoesqueleto de proteínas estruturais do

SNC. [111]

Mecanismo de acção

Também é conhecida a forte afinidade do mercúrio para os grupos sulfidrilo

encontrados nas proteínas. O mercúrio forma rapidamente ligações covalentes com o

enxofre na forma de sulfidrilo, que levam a mudanças de solubilidade, afinidade para

receptores, distribuição e excreção das enzimas e compostos que contêm esses

grupos sulfidrilo. [112] Um estudo acerca dos mecanismos de acção de diuréticos de

mercúrio reportou que estes mudam a permeabilidade da membrana basal das células

tubulares renais, assim levando a um aumento no movimento de iões e que os grupos

SH são importantes na permeabilidade celular aos iões Na+ e água. [113]

A sequência de afinidades, medidas pelas constantes de dissociação, reflectem

a reactividade do Hg com SH, podendo por exemplo, criar o aumento da

permeabilidade a catiões de Na e dessa forma modificar os canais de sódio. [114]

Como o mercúrio tem uma elevada afinidade pelos grupos sulfridrilo reduzidos

isso inclui os da cisteína e glutationa. MeHg-L-cisteína é estruturalmente semelhante

ao aminoácido metionina e é devido a essa semelhança que ele consegue ser

transportado através das membranas celulares. O Hg (maior parte de estudos

efectuados com metilmercúrio) parece ter a capacidade para se ligar à glutationa

formando um complexo MeHg-glutationa que parece ser um substrato para proteínas

que medeiam exportação celular. [115] Também se pensa que o mercúrio se combina

com proteínas depois de entrar no cérebro, o que dificulta depois a sua saída pela

BHE.

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Acção a nível enzimático

O Hg origina uma depleção dos níveis de várias enzimas antioxidantes, como a

superóxido dismutase, o que por sua vez confere um défice na protecção celular com

relação ao stress oxidativo, e pela acção deste provoca a despolarização da

membrana mitocondrial, levando ao aumento de ROS. Estudos têm sido efectuados

com o objectivo de desenvolver métodos de combate ao stress oxidativo causado pelo

mercúrio, em especial MeHg, como por exemplo, através do aumento da actividade de

enzimas antioxidantes como a glutationa. [116]

Mercúrio e a doença de Alzheimer

Existe também a associação da exposição deste metal e a DA. Alguns estudos

mostraram a existência de níveis mais elevados de Hg no cérebro e sangue de

pacientes com esta doença. Estudos in vitro e experiências em animais mostraram

que mesmos níveis baixos de Hg inorgânico eram capazes de causar detiorações nos

nervos do tipo observado na DA. [117] A sua afinidade para as selenoproteínas e

selénio sugerem que tem a capacidade de induzir a neurodegeneração através da

disrupção da regulação redox. Assim existem várias teorias e suspeitas que o Hg

possa possuir um papel como co-factor para a DA. [118]

É então fácil de entender a importância atribuída a este metal que pertence ao

dia-a-dia humano e que tem tantos potenciais alvos celulares e entender não só a

forma como actua, mas também a melhor forma de combate à sua toxicidade para

minimizar os danos causados à saúde.

Metais pesados e Inflamação

Os metais pesados são compostos que possuem uma elevada relevância na

vida diária. Alguns destes metais são mencionados na TNI como possíveis

contaminantes profissionais cujos riscos devem ser controlados e monitorizados. Entre

os vários efeitos a níveis do organismo que estes provocam, encontra-se a indução de

processos inflamatórios.

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Ensaios com arsénico demonstraram que genes relacionados com citocinas ou

factores de crescimento associados a processos inflamatórios se encontravam

elevados em situações de exposição a este metal. Através do estudo de linfócitos em

circulação de indivíduos expostos a As foi possível observar o aumento de genes

associados à inflamação. Em humanos, exposição prolongada a arsénico que

acompanha stress oxidativo persistente no sistema vascular pode provocar por sua

vez inflamação. Apesar da migração direccionada de leucócitos por quemocinas, estes

também produzem citocinas pró-inflamatórias que amplificam a resposta inflamatória

na lesão. [119]

A inflamação parece ser desta forma um efeito da exposição ao As. [120]

Várias observações sugerem que a inflamação induzida pela exposição ao As tem um

papel relevante em algumas doenças. A metilação de arsénico na formação de

hemocisteina é um potente activador dos processos inflamatórios. Colectivamente,

efeitos pró-aterogénicos do arsénico podem ser atribuídos pelo menos em certa parte

à indução da inflamação. Descobertas de estudos mecanísticos indicam que isto é

verdade. Disfunção observada em células endoteliais é possivelmente uma

consequência da indução da inflamação por parte do As. [121]

Vários trabalhos indicam que também o Hg provoca processos inflamatórios.

Indivíduos que apresentam uma resposta inflamatória mais elevada encontram-se em

maior risco de contrair certas doenças devido ao aumento da inflamação pela

exposição ao Hg. Especula-se que indivíduos com certas susceptibilidades genéticas

estão mais propensos e em risco a patofisiologias pela exposição ao Hg. [122]

Também foi demonstrado que a exposição a HgCl2 induz a activação de

processos inflamatórios. Em ratos A.SW machos tratados com este metal isto foi

observado. [123]

Estudos em células de mastócitos também mostraram que a exposição a este

metal pesado induz a produção mediadores inflamatórios. [124]

Alterações histopatológicas nos rins e fígados são observadas devido à

exposição a Cd e Pb. Cd ambiental activa vários processos inflamatórios e o

tratamento com Cd produz degeneração e inflamação nos rins. [125]

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Metais, inflamação e cancro

Os metais pesados são um dos contaminantes que mais preocupam a

sociedade a nível ambiental, representando um risco considerável para a saúde

humana. Nos EUA, a FDA considerou o seguinte: “amalgámas dentárias que contém

mercúrio, que podem ter efeitos neurotóxicos” e desaconselha o seu uso, em especial

em casos de gravidezes e certas doenças. [126] [127] Vários estudos têm sido

efectuados com o intuito de relacionar a exposição a estes contaminantes a certas

doenças, em especial, a cancros. Os mecanismos de acção destes metais variam,

mas parecem existir alguns pontos em comum em relação aos seus efeitos. Doenças

neurológicas também se encontram associadas à exposição a metais pesados, em

especial ao mercúrio, mas existem outros metais que também são suspeitos da

mesma situação, como é o caso do Cd. [128]

A inflamação, é regra geral, uma reacção do organismo no intuito de combater

uma situação adversa, requerendo vários tipos celulares e mediadores. O problema é

quando esta reacção se prolonga por mais tempo que o necessário podendo vir a

causar danos sérios a nível celular. Existem vários tipos de compostos que exercem

este desfecho no organismo, entre agentes biológicos e químicos.

A presença de metais pesados activa muitas vezes factores inflamatórios e

substâncias mediadoras de processos inflamatórios. A persistência da inflamação

pode por sua vez levar a uma situação crónica. A expressão de MT é

induzida/aumentada em vários tecidos por vários mediadores. A acumulação celular

da MT depende da disponibilidade do zinco celular derivado da dieta diária do

individuo. MT modula a ligação e troca/transporte de metais pesados como o cádmio.

As metalotioninas (MT) são induzidas pelo stress da inflamação, os seus papéis na

inflamação são dessa forma óbvios. [129]

O Pb, por exemplo, encontra-se associado a doentes de hemodialise e a

processos crónicos de inflamação. [130] Estudos com As levaram à conclusão que

existe o aumento de genes associados à inflamação.[119] Também o Hg leva à

indução de processos inflamatórios. [119] O Cd também causa este mesmo tipo de

efeitos. [125] Diversos estudos efectuados com o Cd demonstrou que em

concentrações micromolares tem efeitos pró-inflamatórios, através da regulação de

vários marcadores e mediadores. [131]

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Isto quer dizer que a maior parte dos metais testados causam de uma forma ou

de outra efeitos pró-inflamatórios, seja pela activação de determinados genes, seja

pela excitação de tipos celulares envolvidos na inflamação.

Também se sabe que processos inflamatórios persistentes levam à produção

de ROS, que por sua vez, leva ao stress oxidativo. Esta situação potencialmente pode

danificar moléculas importantes, como é o caso do DNA. Daqui desenrola-se uma

cascata de eventos que vão danificar moléculas e células, podendo levar a graves

alterações do funcionamento do organismo. Em muitas situações, os factores

inflamatórios agravam ainda mais os danos causados pelo ROS. [132] Stress oxidativo

leva à abertura de junções inter-endoteliais e promove a passagem de mediadores

inflamatórios e possível lesão tecidular. [133]

É aceite o facto de a exposição persistente a certos metais ter efeitos

carcinogénicos. [134] Durante os últimos tempos tem-se dado cada vez mais atenção

aos efeitos dos poluentes na saúde humana. Assim a influência deste tipo de metais

em carcinomas tem ganho cada vez mais ênfase. Os efeitos sistémicos dos poluentes

inalados pelo ar são mutagénicos, cancerinogénicos e tóxicos e podem ocorrer vários

distúrbios do sistema imunológico. [135]

A incidência de tumores do rim nos EUA e Europa (em particular, na Europa

Central e Itália) aumentou de forma exponencial na última década levando ao

despertar do interesse dos possíveis factores envolvidos nesta situação. Factores

ambientais têm sido considerados responsáveis pela maior parte das situações

encontradas. Para lançar alguma luz neste assunto foram efectuados vários estudos

que tentaram relacionar a presença de certos metais pesados com estas doenças.

Elevadas concentrações de Cd e Pb em partes adjacentes de rins com estes tumores

sugerem uma forte ligação entre as duas situações. A detecção de metalotioninas,

associadas ao cádmio, indica uma forte relação entre a intoxicação por este metal e o

aparecimento de tumores.

Cádmio é um dos metais pesados mais tóxicos existentes como contaminantes

ambientais. Este metal parece ser responsável por doenças renais, tendo mesmo um

cancro a nível dos rins sido considerado uma doença profissional devido a este facto.

[136]

O cádmio induz nas células tubulares proximais a via de Wnt. Os Wnts são

secretadas para modular a proliferação celular. Este metal causa a carcinogénese

devido à possibilidade de permitir a sobrevivência de células neoplásicas. [137] As

metaloestrogénios são definidas como um grupo de metais pesados que mimicam as

acções do estrogénio. Algumas evidências levam a crer que o cádmio causa

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carcinogénese da glândula mamária através da via do estrogénio. Vários

investigadores tentaram mapear o domínio do cádmio com o receptor desta hormona

para melhor entender esta relação, tendo-se levantando duas hipóteses: cádmio liga-

se ao ligando do domínio de ligação (LBD); e cádmio pode substituir os iões de zinco

no DNA. Num estudo, aminoácidos específicos do LBD, incluindo alguns muito

estudados, pareciam ser zonas de interacção com este metal. Contudo, uma melhor

análise identificou vários resíduos de cisteína como possíveis alvos. Existe também a

hipótese da ligação dos metais a proteínas e não a receptores de estrogénio. [138]

O cádmio pode induzir a apoptose dependente da p53 nas células epiteliais da

próstata podendo ser um factor de resistência neste tipo de cancro. [139]

Cádmio (Cd), um metal pesado tóxico encontra-se presente nos cigarros.

SLC39A8 (ZIP8), um transportador de zinco, é um portal para a incorporação do metal

no organismo. Foi identificado recentemente que a expressão deste transportador é

controlada pela via NF-kB. Tendo isto como base, foi posta a hipótese que a

inflamação provocada por este metal leva a uma maior absorção do Cd. Foi reportado

que este transportador é um elemento fulcral neste processo de toxicidade.

Tratamento com TNF-α do epitélio primário do pulmão humano e de células A549

induziam a expressão do transportador levando a uma maior morte celular. Inibição da

via NF-kB e da expressão do transportador provocava uma menor toxicidade. Zinco

(Zn), um citoprotector conhecido, previne esta toxicidade. Consistente com

descobertas em culturas celulares, um aumento da expressão deste transportador foi

determinado nos fumadores. A partir destes estudos, foi determinado que a exposição

ao Cd provoca mais morte celular. A partir disto puseram a possibilidade que este

transportador tem um papel importante na exposição ao Cd do fumo do tabaco. [140]

Vários estudos remeteram-se para a possível relação entre certos metais

pesados e a incidência de cancro do pulmão. Exposição a Pb pode afectar o sistema

neuropático central e reprodutivo.

Um estudo sugeriu que mineiros expostos a mercúrio tinham mais propensão

para desenvolver este tipo de cancro. Outro estudo indicou que a razão de incidência

de cancro do pulmão de trabalhadores expostos ao mercúrio também era mais

elevada. Assim parece haver uma relação entre a dose e a resposta de certos metais

pesados e este tipo de cancro. [141]

O Hg parece exercer algumas mudanças especificas nos padrões de excreção

de porfirinas urinárias em animais e humanos. Num estudo, as concentrações de

porfirinas urinárias foram examinadas em crianças com amalgamas dentárias e

observaram uma relação entre a acumulação de Hg e as alterações das porfirinas

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urinárias com o fardo do corpo de Hg (pentacarboporfirina, precoporfirina, entre

outras). Isto mostra que o Hg é um factor crónico no fardo do organismo. [142] Os

efeitos do Hg em células da microglia foram analisados em termos de viabilidade

celular, formação de espécies reactivas de oxigénio (ROS) e certos factores. Este tipo

celular parece ser bastante sensível à exposição com maior produção de ROS em

comparação com astrócitos. Nrf2 e os seus genes downstream foram regulados mais

rapidamente nestas células que deve ter a ver com os seus grupos tiois. [143]

A exposição aos compostos de arsénio leva a alterações pós-translacionais

das histonas e afectam as enzimas que as modulam. [144] [145] As associações de

metais pesados a processos de inflamação e ao desenvolvimento de cancros tem

ganho cada vez mais força e é um campo de investigação em expansão a nível

cientifico.

Enzimas antioxidantes / Selénio

O metabolismo normal do organismo produz constantemente os chamados

radicais livres, que também ocorrem durante processos inflamatórios e em várias

doenças. Estes radicais têm o potencial danoso de modificar moléculas importantes

como é o caso do DNA e esta alteração pode aumentar o risco de desenvolver

doenças cancerígenas.

Os antioxidantes são moléculas capazes de inibir os processos de oxidação

que dão origem aos radicais livres. Níveis baixos destas moléculas ou mesmo a

inibição das enzimas antioxidantes dão origem a um estado de stress oxidativo que

pode danificar ou mesmo matar as células. Como o stress oxidativo parece ser um

componente fundamental de muitas doenças, entre elas, a doença de Alzheimer, o

estudo e a utilização de antioxidantes como forma de combate tem ganho elevada

importância.

No entanto, a função dos antioxidantes não é a de eliminar por completo a

presença de ROS, pois estas moléculas têm também uma função importante no

desenrolar normal dos metabolismos, como sinalizadoras. As espécies reactivas de

oxigénio produzidas nas células incluem o peróxido de hidrogénio, que é um poderoso

oxidante.

Os antioxidantes podem ser classificados em: antioxidantes enzimáticos,

solúveis, nutricionais e sequestradores de metais de transição.

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Os antioxidantes enzimáticos são considerados a primeira linha de defesa e

contam com a superóxido dismutase (SOD), catálases e glutationa peroxidase (GSH-

Px). A SOD encontra-se no citosol e na mitocôndria; as catálases nos peroxissomas; e

a GSH-Px no citosol, mitocôndria e meio extracelular. Esta última é de especial

interesse. Contém selénio e necessita de selénio proveniente da dieta. Tem como

função converter o peróxido de hidrogénio em água e hidroperóxidos em álcoois

estáveis.

Existem outros factores que parecem também ter efeitos na presença de stress

oxidativo nos tecidos, como é o caso de uma dieta rica em ácidos gordos

polinsaturados, o que indica que os mecanismos antioxidantes podem ser afectados

pela dieta. Elementos de resposta antioxidante possuem a capacidade de mediar a

expressão de genes em células tumorais. [146] Estes elementos regulam vários

antioxidantes e enzimas. Sabe-se também que a expressão da proteína cinase

activada mitogene (MAP) pode induzir respostas antioxidantes. [147]

Tal como referido anteriormente, também existe uma forte ligação entre o

stress oxidativo e várias doenças, em especial neurodegenerativas, e entre estas, a

doença de Alzheimer. A Aβ liga-se a Zn2+, Cu2+ e Fe3+; o Cu interage com estes

depósitos causando parte da neurotoxicidade, originando a redução do metal e a

geração de peróxido de hidrogénio. Por sua vez, o Zn2+ parece ter um papel de

protecção, activando a resposta antioxidante. [148] [149]

Figura 4 – Imagem ilustrativa dos vários factores que podem causar a formação de radicais livres. Luz ultravioleta, radiação ionizante, fumo de tabaco, poluição do ar, processos inflamatórios e a própria respiração. Todas estas circunstâncias levam à produção destes radicais e podem ter como consequência o dano do material genético.

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Estudos em fungos acerca da indução dos sistemas de defesa contra a

exposição de metais, como o cádmio (Cd) e o Hg foram efectuados, através da análise

de enzimas antioxidantes, como a superóxido dismutase (SOD) e catálase e a GSH.

As concentrações dos metais elevadas correspondiam a concentrações elevadas

destas enzimas. Também determinaram uma correlação negativa significativa entre a

GSH e o Cd e Hg, o que indicava um consumo desta enzima em resposta à exposição

dos metais a um nível que excedia a sua síntese. A GSH também funciona como um

forte agente complexante para Hg2+. [150]

No caso de stress induzido por metais, os compostos que se ligam a metais e

mecanismos de sequestração são a primeira linha de defesa. A segunda linha incluiu

um leque de mecanismos indirectos como o caso dos antioxidantes. Existem cada vez

mais evidências que apontam para o envolvimento de ROS nos mecanismos de

toxicidade do Hg A exposição a Hg é conhecida por estar associada com o aumento

do dano oxidativo e aumento de ROS. [151]

Selénio

O selénio é um elemento químico de símbolo Se, número atómico 34 e massa

atómica 78. Encontra-se normalmente no estado sólido, sendo um micronutriente

considerado essencial para a vida. É antioxidante e ajuda a neutralizar os radicais

livres, estimula o sistema imunológico e encontra-se no aminoácido selenocisteína.

Como referido acima é um constituinte da enzima antioxidante GSH.

Os efeitos fisiológicos deste elemento já vêm sendo estudados há muito tempo.

Um dos primeiros estudos encontrados é acerca dos seus efeitos no glicogénio e nos

níveis de açúcar dos tecidos. [152]

O nível considerado aceitável deste micronutriente é de 400 µg /dia, que

corresponde a cerca de 7.5 µg/Kg de peso corporal. O seu excesso provoca uma

doença conhecida por selenosis. Os sintomas podem ser variados, como um odor a

alho na respiração, distúrbios gastrointestinais, fadiga, e em casos mesmo graves,

cirrose do fígado, edema pulmonar e morte. No entanto, os casos de intoxicação

humana são muito raros.

Existem alguns casos reportados, em especial nos EUA, de casos de

intoxicação de gado durante os anos 40. A razão desse envenenamento estava

associado às plantas que absorviam o Se do solo e eram depois fonte de alimentação

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dos animais. [153] [154] Também se estudaram malformações causadas em embriões

de galinhas provocadas pela exposição ao Se. Existem alguns trabalhos que apontam

para a ligação entre o Se e o desenvolvimento de cáries. [155]

Mas os casos de problemas e síndromes associados a este antioxidante só se

dão em situações extremas em que ocorre exposição excessiva do mesmo. Tal como

em todas as coisas, o problema encontra-se na dose.

Os benefícios do Se foram também largamente estudados desde há vários

anos. Foi verificado que vários compostos de Se têm uma função de protecção contra

várias doenças e que previnem a necrose do fígado, degeneração necrótica crónica

em ratos e a peroxidação dos rins. Em casos de malnutrição proteica, por exemplo no

porco, quando associados à deficiência de Se e vitamina E, observa-se uma

cicatrização severa pós-necrótica no fígado. [156] Outra característica é a prevenção

de distrofia em animais com dietas baixas em metionina e vitamina E, e prevenção de

lesões neste tecido em animais deficientes em Se e ou vitamina E. [157] [158] Testes

em leitões acerca dos efeitos da deficiência de Se e vitamina E mostraram lesões nos

componentes não musculares e tecido conjuntivo do tecido cardíaco. Alterações nos

fibroblastos, dano vascular progressivo e alterações neuronais. [159] Também em

cordeiros e galinhas se detectou o mesmo tipo de lesões nos tecidos musculares. Em

estudos com ratos provou-se o papel importante do Se na reprodução, pelugem e

desenvolvimento dos olhos. Também parecem haver síndromes associadas ao Se

observadas na presença de vitamina E. Estas deficiências também provocam

problemas a nível da função testicular, com a presença de poucos espermatozóides,

pouca mobilidade e nem mesmo com suplementação de vitamina E ou antioxidantes

existiu uma melhoria, dando força à hipótese de que o Se tem um papel importante na

espermatogénese. [160]

Estudos relativos à função da selenite provaram que este composto é

catalisador da oxidação de compostos sulfidrilo, o que significava que na sua presença

a enzima antioxidante glutationa estava dependente da concentração da selenite e

que quando existem baixos níveis de Se isso corresponde a baixos níveis de GSHPx.

[161] [162] Determinou-se que a forma activa no fígado de rato do Se é o selenido que

se encontra ligado a proteínas na mitocôndria e reticulo endoplasmático liso e que a

presença de elevadas quantidades deste composto estão intimamente associadas à

vitamina E. O selenido faz parte do centro activo de uma proteina microssomal não-

heme contendo ferro e que a vitamina E protege da oxidação. [163] Os antioxidantes

aumentam a utilização de Se da dieta sem afectar as funções antioxidantes da

vitamina E. [164] Também se sabe que o Se é importante para a protecção e

estabilização das membranas biológicas. [165] A importância do Se é reconhecida

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desde há muito tempo. Pensa-se que tenha um possível papel de protecção contra o

cancro. Também parece existir uma associação entre a deficiência de Se e certas

doenças cardiovasculares. Em porcos com deficiência em vitamina E e Se existe dano

vascular que pode levar à morte. Ratos alimentados com rações deficientes em Se

desenvolvem electrocardiogramas anormais. Se também pode proteger contra a

hipertensão. [162]

Existem também várias teorias em relação à sua função na

prevenção/tratamento de certos cancros. Alguns estudos apontam para as suas

capacidades protectoras, enquanto outros parecem dizer o contrário. O sulfito de

selénio foi testado e determinou-se ser carcinogénico para os ratos F344 e fêmeas

B6C3F1, originando vários tipos de carcinomas. No entanto não foi carcinogénico no

caso dos machos. [166] Mais recentemente, em 2011, um ensaio clinico relativo ao

cancro da próstata foi cancelado devido aos resultados apontarem para um maior risco

de desenvolvimento com a suplementação de Se. [167]

No entanto estudos indicam que os baixos níveis de Se no plasma cria um

risco elevado para o cancro do pulmão e próstata. [168] E que o ácido metilselenico

(MAS) causa a inibição do crescimento de células do cancro da próstata e invasão

celular e ajuda na reparação de DNA. [169]

Claro que um dos aspectos mais relevantes para o presente trabalho é a

capacidade protectora que o Se revela em relação a intoxicações por metais pesados.

Existem estudos utilizando o arsénio (As), em que se verificou que a

administração de amoniato de selénio em dose diária de 0.2mg/kg em ratos expostos

a este metal permitia o aumento da aceleração da eliminação do As do organismo.

[170] Foi também efectuado um estudo para estudar os efeitos do selénio (Se) no

uptake e translocação do Cd na Oryza sativa L. Selénio podia aliviar/agravar a

toxicidade do Cd no arroz dependendo da dose de ambos. Quando o nível de

tratamento de Cd tão baixo quanto 35.6µM inibia o uptake do Cd, mas a níveis mais

elevados, o Se tinha o efeito contrário. [171]

Utilizando o sódio selenite, em situações de intoxicação por mercúrio, foi

determinado que este composto permitia o crescimento, alteravam os níveis de Hg e a

sua distribuição e ainda protegiam contra a mortalidade e a neurotoxicidade de

intoxicações tanto por mercurio orgânico como inorgânico. [172] O Se parece proteger

o fígado e rins de ratos contra a exposição de HgCl2. [173] A razão molar de 1:1 de

mercúrio e selénio incrementada em várias espécies sugere uma relação próxima

entre os dois metais. Esta co-acumulação pode ser uma forma de compensar a

diminuição do Se, aquando a exposição ao Hg em que este se acumula e se liga ao

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selénio já presente – uma regulação homeostática. A abilidade do Se diminuir a

toxicidade do Hg é conhecida. [174]

A dinâmica da relação in vivo entre Hg e Se é a da formação de complexo

estável entre os dois metais. Estudos efectuados in vivo no fígado de ratos

demonstraram que maior formação destes complexos dá-se se o Se for administrado

anteriormente ao Hg, embora também se vejam no caso da administração conjunta.

Estes complexos ligam-se à superfície dos eritrócitos e dessa forma o Se actua de

forma a contrariar a toxicidade do Hg. [175]

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2. Materiais e Métodos

Materiais

A linha celular HBMEC foi cedida pelo Dr Kim do Johns Hopkins Children’s

Center. Os metais utilizados HgCl2 (429725) e Na2SeO3 (214485) foram obtidos da

Sigma-Aldrich. Ratos BALB/C foram obtidos da Charles River, Barcelona.

Esta parte do protocolo experimental foi realizada no laboratório de Imunologia

do Instituto de Ciências Biomédicas Dr. Abel Salazar, Porto.

Cultura da linha celular

Descongelamento da linha celular

O criotubo contendo as células manteve-se guardado a uma temperatura de -

80ºC. Para se proceder à sua utilização, estas mesmas células foram diluídas em 10

ml de meio próprio para HBMECs sendo depois centrifugadas a 500g durante 5 min. O

sobrenadante foi rejeitado. Adicionou-se ao precipitado 1ml de meio para a

ressuspensão das células e de seguida mais 8 ml de meio e 1 ml de soro fetal bovino

(perfaz 20% de soro). Colocou-se os 10 ml de suspensão celular num frasco

colagenizado e fez-se a mudança de meio de três em três dias.

Subcultura da linha de células HBMEC

Removeu-se o meio de cultura do frasco a tripsinizar e lavou-se a superfície

revestida de HBMECs, adicionou-se tripsina-EDTA (0.25%) durante 5 min a 37ºC.

Adicionou-se ao frasco o equivalente a 3x o volume de RPMI com 10% SFB.

Ressuspendeu-se as células destacadas e centrifugou-se durante 10min a 500g.

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Rejeitou-se o sobrenadante e recuperou-se o precipitado em meio de cultura. Contou-

se as células com azul de tripano numa diluição de 1:10 e colocou-se a suspensão à

densidade de 1,0x105 células/ml, em frascos de cultura T75 cm2. As culturas foram

colocadas na estufa a 37ºC com 5%CO2 e o meio foi mudado a cada 2/3 dias.

Estimulação com HgCl2

Após o descongelamento da linha celular, esta tem de ser submetida a uma

passagem, antes de poder ser utilizada para a estimulação. Depois da segunda

passagem, as células HBMECs são recolhidas pelo método descrito acima e passadas

para uma placa de 24 poços a uma densidade de 1,5x105 células/poço, cada poço

com 0,5ml. As células atingem o estado de confluência ao fim de 24horas. O meio é

removido, os poços são lavados com RPMI e adicionado novo meio RPMI completo

com as respectivas concentrações de HgCl2. A Cb é a concentração padrão

correspondente ao valor estipulado pela EU: 7.73x10-11M. O primeiro ensaio foi

desenhado para se estabelecer o efeito baliza do composto, HgCl2. Os poços são

observados no microscópio de contraste de fase para determinar a alteração do

estado morfológico das células devido à estimulação.

Ensaio de viabilidade

Este teste baseia-se na capacidade das células incorporarem e de se ligar ao

corante nos lisossomas.

Das placas de 24 poços retirou-se o meio e lavou-se com RPMI. Adicionou-se

0,5ml do corante Neutral Red e deixou-se a incubar a 37ºC durante 3horas. Retirou-se

o corante e lavou-se duas vezes com PBS aquecido. Adicionou-se 0,5ml de 50%

etanol, 49% de água desionizada e 1% ácido acético glacial durante 10min à

temperatura ambiente. Retirou-se 200µl para ler a absorvância a 540nm.

Esta parte do protocolo experimental foi realizada no laboratório de

Farmacologia do Instituto de Ciências Biomédicas Dr. Abel Salazar.

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Cultura de células da microglia

Culturas primárias de células astrogliais foram preparadas a partir dos

descendentes de ratos Winstar. Os cérebros foram colocados num tampão DPBS frio

contendo 0,2% de glucose. Os hemisférios foram libertados das meninges e vasos

sanguíneos, e lavadas duas vezes com DPBS frio, cortados em pedaços pequenos em

meio de cultura (méio Dulbecco modificado Eagle contendo 3,7g/L NaHCO3, 1,0g/L D-

glucose e glutamina estável, suplementado com 50U/ml de penincilina e 50µg/ml de

streptomicina. Tecido dos dois hemisférios foi dissociado pela trituração em 10ml de

meio de cultura. A suspensão celular obtida foi passada por uma rede nylon de poros

40µm e centrifugada a 200xg durante 5 minutos e o sobrenadante foi descartado.

Centrifugação seguida pela suspensão celular foi repetida duas vezes, e o pellet foi

suspendido em meio de cultura suplementado com 10% FBS e cultivadas a uma

densidade de 2x105células/ml. Culturas foram incubadas a 37ºC numa atmosfera

humificada de 95%ar, 5% CO2 e o meio foi substituído um dias após a preparação e

subsequentemente duas vezes por semana.

As culturas altamente enriquecidas em astroglia foram obtidas pelo tratamento

de culturas confluentes, depois de 20 dias in vitro (DIV), com 8µM Ara-C durante 4

dias, seguida pelo tratamento com 50mM de L-LME durante 90min. A DIV28, dois

tipos de culturas foram obtidas: co-culturas de astrócitos e microglia, quando nenhum

tratamento foi aplicado e culturas altamente ricas de astroglias, quando as culturas

foram tratadas com Ara-C mais LME. Em ambos os tipos de culturas, astrócitos foram

o principal tipo celular, mas o número de células da microglia presentes diferiam entre

os dois tipos de cultura. Culturas foram sincronizadas para uma fase quiescente do

ciclo celular, pela mudança da concentração do soro para 0,1%FBS durante 48h,

sendo usadas em experiências a DIV30.

As culturas da microglia foram obtidas de co-culturas confluentes que foram

agitadas durante a noite a 200rpm. Os sobrenadantes continham células descoladas

foram centrifugados a 290xg durante 10min. O pellet foi suspendido em meio de

cultura contendo 10%FBS a uma densidade de 3x104células/ml. As células foram

plaqueadas em placas de 24poços, e o meio foi mudado uma hora depois, permitindo

uma ligação selectiva da microglia. Depois da sincronização celular durante 48h, as

culturas da microglia e co-culturas foram tratadas com solvente ou ADPβS (0,1mM)

durante 8h. Depois deste período de incubação, o meio foi descartado e substituído

por meio fresco, que foi recolhido 24h depois para ser testado em culturas

enriquecidas de astroglia. Este meio foi chamado de MCM ou CCCM. O meio

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condicionado obtido das células tratadas com solvente (MCM-S ou CCCM-S) ou MCM-

ADPβS foram testados em ensaios de proliferação de culturas altamente enriquecidas

de astroglias. [176]

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3. Resultados

Partindo do valor referenciado pela União Europeia, 1.6µg/Kg de peso corporal,

determinou-se o valor em concentração molar correspondente. A partir desse valor,

testaram-se diferentes concentrações de mercúrio inorgânico, HgCl2.

Após as células atingirem o estado de confluência nas placas de 24 poços, o

meio de cultura foi substituído por meio com HgCl2 com as respectivas concentrações,

em triplicado. As culturas foram a incubar a 37ºC.

As observações das alterações morfológicas celulares foram feitas através de

microscopia de contraste ao fim de 30 min, 1h, 2h, 3h, 24h, 48 e 72h. As comparações

entre as alterações foram feitas tendo como padrão os poços controlo.

3.1.A

Na primeira experiência, as concentrações testadas foram um leque mais

abrangente: -10X, Cb, 10X, 100X e 500X. Ao fim de 30 min os poços com as

concentrações 100X e 500X apresentavam morte celular. Todas as outras

concentrações aparentavam manter a morfologia. Ao fim de 72 horas efectuou-se o

teste de viabilidade através de Neutral Red. As percentagens de viabilidade obtidas

para as três concentrações restantes foram de 97,2% para -10X, 86,57% para C0 e

95.8% para 10X. (Tabela 1)

Tabela 1- Tabela elucidativa do ensaio 3.1, com os testes de toxicidade de HgCl2

nas concentrações -10X, Cb, 10X e 100X.

Concentrações Estado celular

30min

Viabilidade (%)

72h

-10x Viáveis 97,2

Cb Viáveis 86,57

10X Viáveis 95,8

100X Morte celular

500X Morte celular

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Imagem 1 – 1. Foto das células HBMECs na concentração base no tempo 0; 2. Foto das células controlo, sem adição de Hg no tempo 0; 3. Células com concentração base após T 1.45h; 4. Células controlo após T1.45h; 5. Células expostas a 10X Hg a T4h; 6. Células controlo após T4h; 7. Células expostas a 10x após T24h; 8. Células controlo após T27.5h; 9. Células a 10X após T48h; 10. Células com concentração base a T48h; 11. Células controlo T48h; 12. Concentração base a T72h

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3.2

Na segunda experiência testaram-se as concentrações: Cb, 20X, 50X e 70X.

Ao fim de 72h todas as células aparentavam estar viáveis e os testes deram

viabilidades de 82.1% para C0, 112.4% para 20X, 123.58% para 50X e 104.19% para

70X. (Tabela 2)

Tabela 2- Tabela elucidativa do ensaio 3.2 com os testes de toxicidade de HgCl2

nas concentrações Cb, 20X, 50X e 70X.

Concentrações Estado celular

72h

Viabilidade (%)

72h

Cb Viáveis 82.1

20X Viáveis 112.4

50X Viáveis 123.58

70X Viáveis 104.19

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3.3

Na terceira experiência testaram-se as concentrações 25X, 50X, 75X e 100X,

em que contrariando os resultados obtidos anteriormente, em relação à concentração

100X, nenhum dos poços mostrou quaisquer sinais de morte celular. Depois destas

três experiências, procedeu-se ao descongelamento de uma nova ampola da linha

celular. (Tabela 3)

Imagem 2 – 1. Células controlo no T0; 2. Células expostas a concentração base no T0; 3. Células controlo a T1.30h; 4. Células a 70X no T2.30h; 5. Células a 50X no T3.30h; 6. Células expostas a concentração base no T3.30h; 7 e 8. Células controlo a T3.30h.

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Tabela 3 - Tabela elucidativa do ensaio 3.3, com os testes de toxicidade de HgCl2

nas concentrações 25X, 50X, 75X e 100X

Concentrações Estado celular

30min

25X Viáveis

50X Viáveis

75X Viáveis

100X Viáveis

3.4.B

Estes novos ensaios foram elaborados com uma nova ampola da linha celular

HBMEC.

Testaram-se as concentrações 25X, 50X, 75X, 100X e 500X, e neste caso dois

poços da concentração 500X apresentavam morte celular, e todos os restantes

permaneciam viáveis. (Tabela 4)

Tabela 4- Tabela elucidativa do ensaio 3.4 com os testes de toxicidade de HgCl2

nas concentrações 25X, 50X, 75X, 100X e 500X.

Concentrações Estado celular

30min

25X Viáveis

50X Viáveis

75X Viáveis

100X Viáveis

500X Morte celular em dois poços

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3.5

Noutra experiência utilizaram-se as concentrações: Cb, 10X, 25X, 50X, 75X,

100X e 500X. Ao fim de 1h as células sujeitas à concentração mais elevada

apresentavam morte celular. Ao fim de 48h, o meio foi refrescado e após esta

mudança, todas as células a partir da concentração 25X apareceram mortas. (Tabela

5)

Tabela 5 - Tabela elucidativa do ensaio 3.5, com os testes de toxicidade de HgCl2

nas concentrações Cb, 10X, 25X e 75X.

Concentrações Estado celular

1h

Estado celular

48h

Cb Viáveis Viáveis

10X Viáveis Viáveis

25X Viáveis Morte celular

50X Viáveis Morte celular

75X Viáveis Morte celular

100X Viáveis Morte celular

500X Morte celular Morte celular

Nota: este resultado é apresentado devido à elevada variâncias de todos os

resultados no geral, embora o autor pondere que no caso deste ensaio especifico

possa ter havido algum erro ou problema durante o refrescamento do meio de cultura.

3.6

Numa nova experiência testaram-se as concentrações 100X, 250X e 500X, em

que nenhuma delas demonstrou sinais de alterações celulares. (Tabela 6)

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Tabela 6 - Tabela elucidativa do ensaio 3.6, com os testes de toxicidade de HgCl2

nas concentrações 100X, 250X e 500X.

Concentrações Estado celular

30min

100X Viáveis

250X Viáveis

500X Viáveis

3.7

Em nova experiência, com todas as concentrações referidas até agora, com

excepção da 250X, determinou-se a existência de morte celular a partir da

concentração 50X. Este resultado foi obtido em duplicado. Para estes resultados

efectuou-se o teste de viabilidade, em que se obtiveram os valores: 81% e 87.55%

para C0; 89.4% e 75.2% para 10X; 64% e 80.5% para 25X. (Tabela 7)

Tabela 7 - Tabela elucidativa do ensaio 3.7, com os testes de toxicidade de HgCl2

nas concentrações Cb, 10X, 25X, 50X, 75X, 100X e 500X.

Concentrações

Estado

celular

30min

Placa 1

Estado

celular

30min

Placa 1

Viabilidade

(%)

72h

Viabilidade

(%)

72h

Cb Viáveis Viáveis 81 87.55

10X Viáveis Viáveis 89.4 75.2

25X Viáveis Viáveis 64 80.5

50X Morte celular Morte celular

75X Morte celular Morte celular

100X Morte celular Morte celular

500X Morte celular Morte celular

3.8

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Decidiu-se efectuar testes de toxicidade e de protecção ao mesmo tempo.

Assim sendo aplicaram-se as concentrações 10X, 25X e 50X com Hg e com Hg e Se.

As células mantiveram-se viáveis durante as 72h. (Tabela 8)

Tabela 8 - Tabela elucidativa do ensaio 3.8, com os testes de toxicidade de HgCl2

e de protecção com Na2SeO3 nas concentrações 10X, 25X e 50X.

Concentrações

Estado celular

72h

Hg

Estado celular

72h

HgSe

10X Viáveis Viáveis

25X Viáveis Viáveis

50X Viáveis Viáveis

3.9

Testaram-se então as concentrações 25X, 50X e 100X com os mesmos

parâmetros. Ao fim de 30min todos os poços que continham só Hg estavam mortos,

assim como os poços de 100X de HgSe. Os restantes apresentavam-se viáveis.

(Tabela 9)

Tabela 9 - Tabela elucidativa do ensaio 3.9, com os testes de toxicidade de HgCl2

e de protecção com Na2SeO3 nas concentrações 25X, 50X e 100X.

Concentrações

Estado celular

30min

Hg

Estado celular

30min

HgSe

25X Morte celular Viáveis

50X Morte celular Viáveis

100X Morte celular Morte celular

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3.10

Na repetição dos parâmetros anteriores, as células mantiveram-se viáveis em

todas as circunstâncias. (Tabela 10)

Tabela 10 - Tabela elucidativa do ensaio 3.10, com os testes de toxicidade de

HgCl2 e de protecção com Na2SeO3 nas concentrações 25X, 50X e 100X.

Concentrações

Estado celular

30min

Hg

Estado celular

30min

HgSe

25X Viáveis Viáveis

50X Viáveis Viáveis

100X Viáveis Viáveis

3.11

Novas experiências utilizando as concentrações 25X, 50X e 75X com Hg e Hg

e Se resultaram em células viáveis durante as 72h. (Tabela 11)

Tabela 11 - Tabela elucidativa do ensaio 3.11, com os testes de toxicidade de

HgCl2 e de protecção com Na2SeO3 nas concentrações 25X, 50X e 75X.

Concentrações

Estado celular

30min

Hg

Estado celular

30min

HgSe

25X Viáveis Viáveis

50X Viáveis Viáveis

75X Viáveis Viáveis

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3.12

Suspeitando-se que pudesse existir algum problema com as soluções

utilizadas de HgCl2, procedeu-se a soluções novas e testou-se em concentrações de

75X, 100X e 500X, mas não houve morte em nenhuma destas. (Tabela 12)

Tabela 12 - Tabela elucidativa do ensaio 3.12, com os testes de toxicidade de

HgCl2 nas concentrações 75X, 100X e 500X.

Concentrações

Estado celular

30min

Hg

75X Viáveis

100X Viáveis

500X Viáveis

3.13

Com novas soluções testou-se unicamente a concentração 500X, na qual

deveria observar-se morte celular, mas isto não se verificou. (Tabela 13)

Tabela 13 - Tabela elucidativa do ensaio 3.13, com os testes de toxicidade de

HgCl2 na concentração 500X com diferentes soluções base.

Concentrações Estado celular

30min

500X Viáveis

3.14.C

Procedeu-se ao descongelamento de uma nova ampola de um batch diferente.

Assim com uma cultura de células fresca testaram as concentrações 25X, 50X, 75X e

100X com e sem Se, em duplicado. Ambas as placas apresentaram os mesmos

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resultados. Na concentração 100X todos os poços estavam mortos, na concentração

75X com adição de Se havia um poço morto. Ao fim das 72 horas fez-se o teste de

viabilidade celular por Neutral Red: 25X, 115% e 99% e com Se, 94% e 164%. Para a

concentração de 50X, só com a adição de Hg, 108% e 98%, e com Se, 87% e 99%;

75X, 97% e 145%, e com Se, 99.8% e 96%. (Tabela 14)

Tabela 14 - Tabela elucidativa do ensaio 3.14, com os testes de toxicidade de

HgCl2 e de protecção do Na2SeO3 nas concentrações 25X, 50X, 75X e 100X.

Concentrações

Estado

celular

30min

Hg

Placa

1

Estado

celular

30min

HgSe

Placa 1

Estado

celular

30min

Hg

Placa

2

Estado

celular

30min

HgSe

Placa 2

Viabilidade

(%)

72h

Hg

Placa 1

Viabilidade

(%)

72h

HgSe

Placa 1

Viabilidade

(%)

72h

Hg

Placa 2

Viabilidade

(%)

72h

HgSe

Placa 2

25X Viáveis Viáveis Viáveis Viáveis 115 94 99 164

50X Viáveis Viáveis Viáveis Viáveis 108 87 98 99

75X

Viáveis

Viáveis,

um

poço

com

morte

celular

Viáveis

Viáveis,

um

poço

com

morte

celular

97

99.8

145

96

100X Morte

celular

Morte

celular

3.15

Repetição de novos ensaios duplicados com as mesmas concentrações

demonstrou numa das placas morte a partir da concentração 50X, enquanto na outra

só um poço estava morto nesta concentração, os de 75X estavam viáveis e os de

100X mortos. (Tabela 15)

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Tabela 15 - Tabela elucidativa do ensaio 3.15, com os testes de toxicidade de

HgCl2 e de protecção de Na2SeO3 nas concentrações 25X, 50X, 75X e 100X.

Concentrações

Estado

celular

30min

Hg

Placa 1

Estado

celular

30min

HgSe

Placa 1

Estado celular

30min

Hg

Placa 2

Estado

celular

30min

HgSe

Placa 2

25X Viáveis Viáveis Viáveis Viáveis

50X Morte

celular

Morte

celular

Viáveis, um poço com

morte celular

Viáveis

75X Morte

celular

Morte

celular

Viáveis Viáveis

100X Morte

celular

Morte celular Morte

celular

3.C Ensaios com Microglia de rato

Foram efectuados dois ensaios com células da microglia de ratos neonates

com o intuito de cultivar estas células até a um estado mais envelhecido de modo a

ser mais representativo do estado natural nos casos da doença de Alzheimer. Como é

óbvio, os doentes de Alzheimer são pacientes com idades mais avançadas em que o

estado fisiológico celular não é igual a indivíduos mais novos. Assim para os testes

serem o mais próximos da realidade, era imperativo conseguir manter as células

viáveis por mais tempo de modo a alcançarem uma maior maturidade.

As células foram recolhidas de ratos neonates e mantidas de acordo com o

protocolo descrito acima. Das três tentativas feitas não foi possível manter as células

em cultura por mais de duas semanas. Determinou-se que com este protocolo não é

possível cultivar células propicias para realizar estudos sobre doenças associadas ao

envelhecimento. O grande interesse nestes testes seria exactamente verificar os

efeitos do mercúrio e selénio em células com características semelhantes ao que

acontece in vivo. Não sendo possível manter as células da microglia em cultura tempo

suficiente para atingirem a maturidade pretendida, foi concluído que não havia

interesse em proceder aos testes com os metais.

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4. Discussão

O objectivo deste trabalho experimental era observar os efeitos do mercúrio

inorgânico (HgCl2) em diferentes concentrações em culturas de células endoteliais do

cérebro e o possível efeito protector e terapêutico da selenite de sódio (Na2SeO3).

O mercúrio é um dos maiores contaminantes ambientais e por isso levanta

sérios problemas a nível de saúde pública e suscita interesse em termos de

investigação acerca dos seus efeitos. Muitas vezes não é sequer possível detectar

com rapidez e eficácia a existência deste poluente. Um dos casos mais documentados

é a contaminação de peixe por este metal. Foi o caso de Minamata, no Japão, onde

várias pessoas ingeriram peixe com mercurio, com graves consequências na sua

saúde. [107] Outro caso foi o da utilização do mercúrio para a extracção de ouro na

Indonésia, que levou a um estudo acerca do impacto a nível do ecossistema. [177]

A indústria é uma das maiores contribuintes para esta situação, embora cada

vez haja maior regulação acerca da eliminação de metais pesados para o ambiente.

De todos os metais pesados, o mercúrio é talvez o que se encontra mais espalhado a

nível mundial. Mas isto não quer dizer que outros metais pesados não se encontrem

também em grandes quantidades no ambiente.

Este metal está presente em muitas actividades humanas, sendo um factor de

risco em várias profissões e encontrando-se contemplado na TNI no que diz respeito a

doenças profissionais causadas pela sua exposição. A gravidade de cada exposição

tem sempre em consideração quer as concentrações do metal como o período de

exposição, e estes factores vão assim determinar os efeitos e a gravidades dos

mesmos na saúde humana.

Ironicamente, no fim do século XIX e início do século XX vários compostos à

base de mercúrio eram usados a nível medicinal para tratar maleitas do foro físico e

psíquico. Mas rapidamente se entendeu que os problemas associados à exposição

deste metal eram demasiado danosos para se ignorar. Vários casos foram reportados

devido a problemas de saúde devido a este uso.

Existem já várias evidências que parecem relacionar a possível exposição ao

mercúrio inorgânico e o desenvolvimento da doença de Alzheimer. [118] Vários

estudos, em diferentes aspectos, demonstraram que a exposição ao Hg leva a certas

reacções características desta doença. Por exemplo, certas experiências

demonstraram que a exposição in vitro a este metal promove a agregação da proteína

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Tau, uma das proteínas associadas à doença de Alzheimer. [178] Para além disso,

vários pacientes com esta doença também revelam valores mais elevados de Hg no

plasma. [179] E também se sabe que o mercúrio, mesmo em baixas concentrações,

pode causar mudanças nas células nervosas, outra característica típica desta doença.

[180]

É do conhecimento científico que este metal pesado tem a capacidade de

passar a barreira hemato-encefálica e de se acumular no cérebro com graves

consequências, tanto a nível de formação do feto durante a gravidez, como na vida

adulta. [105] Os efeitos neurológicos da exposição ao mercúrio são vastos, e vão de

lesões leves até à morte. O sistema nervoso central é o órgão mais vulnerável à sua

toxicidade, embora não seja o único. Assim a associação da acumulação de mercúrio

no cérebro a efeitos de neurodegeneração que, por sua vez, possam conduzir a

doenças como a doença de Alzheimer foi considerada como uma hipótese lógica a

ponderar e tem sido alvo de diversos estudos.

Além das doenças neurodegenerativas e dos efeitos a nível do SNC, a

exposição a metais pesados também se encontra associada ao desenvolvimento de

carcinomas. A associação de Cd e Pb a carcinomas do rim tem sido largamente

investigada e cada vez mais evidências apontam exactamente nesta direcção, em

especial, devido ao facto de este tipo particular de carcinoma se estar a tornar cada

vez mais frequente. [136] Também se associou à carcinogénese da glândula mamária

e da próstata.[138] [139] Como o Cd também se encontra presente nos cigarros, a sua

associação ao cancro do pulmão foi outro passo óbvio na investigação cientifica

acerca dos seus efeitos. Assim, é fácil de entender a importância que estes metais têm

na nossa vida.

Como a linha celular HBMEC tem a propriedade de mimetizar a barreira

hemato-encefálica, isso fez destas células um alvo indicado para estudos de

toxicidade, de modo a se tentar relacionar os possíveis efeitos do Hg a nível da BHE e

dessa forma tentar contribuir com mais um esclarecimento na direcção do seu papel

no desenrolar da DA, conciliando os conhecimentos dos danos celulares causados por

este metal e a sua capacidade de passar a barreira.

O stress oxidativo é outra característica importante tanto na doença de

Alzheimer como na exposição ao mercúrio, sendo um marcador quase constante em

ambos. [93] [116]

Uma das formas mais eficazes de combate ao stress oxidativo é através da

utilização de substâncias antioxidantes, como é o caso de compostos à base de

selénio, cujo poder antioxidante é já largamente conhecido. [161] [162]

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Experiências anteriores provaram que o Se se combina com o Hg, formando

compostos estáveis que dessa forma diminuem a toxicidade deste metal. O Se quando

adicionado previamente à exposição ao Hg tem um elevado potencial protector. Estes

estudos foram efectuados in vivo em ratos em relação aos efeitos a nível de danos no

fígado. [175] O selénio apresenta-se desta forma como uma possibilidade de combate

aos efeitos nefastos do mercúrio, pelo menos, no referente ao fígado. Assim sendo é

um forte candidato ao papel de potencial terapêutico à intoxicação por este metal

pesado.

Assim seria de elevado interesse determinar se esta formação de complexos e

consequente protecção também ocorreria a nível do cérebro, podendo dessa forma

ser uma maneira de proteger e mitigar os efeitos nefastos do Hg a nível da BHE e de

proteger o cérebro contra a estimulação da doença de Alzheimer causada pela

intoxicação do metal. Foi com esse objectivo que este trabalho experimental foi

elaborado.

Assim o primeiro objectivo deste trabalho teve como propósito expor culturas

HBMECs a diferentes concentrações de HgCl2 de modo a se determinar a partir de

que níveis estas seriam letais, estabelecendo dessa forma “o efeito baliza” da sua

acção.

Os resultados obtidos desses ensaios foram incongruentes e instáveis, como é

possível ver na secção de resultados anteriormente mostrados. O operador dos

ensaios foi sempre o mesmo, a autora. Ao fim de várias tentativas pôs-se a hipótese

de existir algum problema com a linha celular. Por isso, por duas vezes, se procedeu

ao descongelamento de nova ampola, mas esta solução provou não ser a resposta,

eliminando-se dessa forma essa dúvida e possibilidade.

Era de esperar que as células expostas ao HgCl2 levasse a uma diminuição da

viabilidade celular, quanto maior a concentração do metal assim menor seria a

viabilidade celular. Ao mesmo tempo era de esperar que o Se exercesse um efeito de

protecção. Não era de estranhar que a partir de uma certa concentração este efeito

deixasse de existir, devido a um efeito demasiado tóxico do mercúrio; no entanto, não

foi isso que se verificou.

Outra das opções consideradas foi a possibilidade das soluções de HgCl2 não

estarem em perfeitas condições. De modo a eliminar essa opção foram feitas novas

soluções de metal, que foram testadas em diferentes concentrações, mas mesmo com

essas novas soluções, os resultados continuaram a ser inconstantes. A conclusão

chegada foi de que a alternância de resultados também não se devia às soluções de

mercúrio utilizadas.

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O estabelecimento do modelo in vitro com a linha celular HBMEC deve

obedecer a certas características que são indicadoras do bom funcionamento do

modelo. Existem duas características que são mencionadas em vários artigos como

baselines para a determinação do estado celular da linha, que são a resistência

eléctrica transendotelial e a permeabilidade paracelular. [181] [182]

A impermeabilidade da BHE pode ser avaliada pela permeabilidade a certas

substâncias ou pela medição da resistência eléctrica transendotelial (TEER). A

permeabilidade paracelular é outra das características que revela o estado das

propriedades do modelo. Normalmente, a redução da TEER e o aumento da

permeabilidade paracelular são sinais da perda de propriedades da barreira. Tanto

uma característica como a outra exigem equipamentos específicos, como os Transwell

e leitores de fluorescência como FLUOstar Omega. [183]

Existem alguns autores que não utilizam esta linha celular a não ser que esta

se encontre dentro de um específico intervalo de TEER, [184] podendo esta ser uma

possível razão para se obter resultados tão díspares na presença do Hg. Se as células

não se encontrarem dentro desse intervalo, isso significa que estas perderam algumas

das propriedades características da BHE. O ideal para essa situação seria cultivar as

células num Transwell, sendo esta a única forma de medir a TEER, mas devido às

limitações financeiras do financiamento do trabalho de mestrado, isso seria impossível.

Dessa forma, uma das possíveis conclusões em relação aos resultados obtidos é a

possibilidade de as células em certos ensaios não se encontrarem em suas plenas

capacidades fisiológicas, o que levaria à obtenção de resultados contraditórios.

Outra hipótese a considerar é que a membrana das células endoteliais não se

encontre nas melhores condições fisiológicas, alterando a actividade dos receptores

SH, já que estes são um dos alvos do mecanismo de acção do Hg. [185] Se os

receptores SH não estiverem na conformação correcta, o metal não será capaz de se

ligar e assim exercer a sua toxicidade, o que explicaria porque em alguns ensaios as

concentrações mais elevadas causavam morte celular num curto espaço de tempo e

em outros, nem ao fim de 72 horas se viam os efeitos tóxicos.

Como os ensaios com as HBMECs não apresentavam resultados uteis,

decidiu-se aplicar os mesmos parâmetros com outro tipo celular, as células da

microglia. Estas células também têm um papel de extrema importância na doença da

Alzheimer, sendo as principais responsáveis pelos processos inflamatórios que

ocorrem na doença. Mas para se poder aplicar esses ensaios à doença de Alzheimer,

seria necessário cultivar células da microglia de ratos adultos e não neonates. Todos

os protocolos existentes para a cultura da microglia são referentes e aplicados a ratos

neonates. No entanto, considerando que a doença de Alzheimer é uma patologia

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associada ao envelhecimento, a utilização de células jovens é de pouco valor cientifico

para obter resultados que possam ser considerados representativos da situação em

estudo. O que se fez foi aplicar o protocolo de neonates a ratos adultos. O problema

foi que não foi possível manter a cultura de células, perdendo estas a viabilidade e

tornando impossível fazer os ensaios com o HgCl2. Desta forma não foi viável o estudo

dos efeitos deste metal em células da microglia como modelo de estudo para a doença

de Alzheimer.

Entretanto foi publicado um novo protocolo experimental com o propósito de

cultivar células da microglia de animais adultos. [186] A questão relacionada com este

novo protocolo é que exigia reagentes e materiais mais caros e ainda não estava

implementado no laboratório. Segundo os autores, este novo método permitirá a

recolha e cultura deste tipo celular especifico sem perda das suas características.

Dessa forma, a aplicação deste protocolo ficará para uma oportunidade futura.

Embora não se tenham obtido resultados viáveis, este trabalho experimental

permitiu levantar e pôr algumas hipóteses acerca dos efeitos do mercúrio em células

humanas do cérebro e abrir caminho para uma futura investigação mais aprofundada.

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5. Perspectivas Futuras

Numa investigação futura seria de elevado interesse, em primeiro lugar,

verificar se a inconsistência de resultados com a linha celular HBMEC se deve mesmo

à variação do estado fisiológico das células, através da medição dos potenciais

membranares com a utilização de Transwells como suporte.

Por outro lado, também seria interessante verificar o estado de alguns

receptores membranares cuja existência afecta a forma como o mercúrio se liga e

actua na célula.

Claro que depois da certificação dos dados acima referidos, o ideal será a

realização de novos ensaios com todos esses parâmetros controlados e determinar o

efeito do mercúrio e o possível papel protector do selénio na sua toxicidade.

Por fim, a aplicação do novo protocolo para a cultura de células da microglia

adulta é muito relevante num projecto futuro devido ao papel destas células na doença

de Alzheimer e através deste método verificar também o efeito do mercúrio na

produção, por exemplo, de citoquinas inflamatórias e também do efeito protector que o

selénio poderá ter na sua acção.

O objectivo de tentar relacionar a intoxicação por mercúrio com a indução da

doença de Alzheimer e também os possíveis efeitos protectores do selénio neste

mecanismo, mesmo assim, a importância deste metal na saúde humana é indiscutível.

Uma das áreas de maior investigação neste momento é acerca dos seus efeitos no

desenvolvimento de certos tipos de cancros. Um desses cancros é o cancro do rim já

que tem ganho bastante ênfase a nível médico e que por isso tem sido alvo de

variadas pesquisas.

O cádmio, em termos de estudos acerca de cancro renal, tem sido o metal

mais estudado. Os mecanismos por detrás ainda são alvo de muitos estudos e

actividades de investigação. Enquanto interacções directas com o DNA parecem ser

de menor importância, elevados níveis de ROS mostram ter efeitos nestes processos.

Existem outros processos para além destes envolvidos, como é o caso da resistência

aos processos apoptóticos. Dentro deste contexto, este metal parece ter efeitos por

exemplo, a nível da reparação de nucleótidos. Os mecanismos na sua totalidade ainda

não são totalmente claros, mas a ligação entre estes dois factores ganha força a cada

estudo. É de supor que outros metais que partilhem dos mesmos efeitos.

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Anexo

Protocolo de von Bernhardi R, Tichauer J, Eugenín-von Bernhardi L.

“Proliferating culture of aged microglia for the study of neurodegenerative diseases.” J

Neurosci Methods. 2011;202(1):65-9

I. Aged Microglia Proliferation Culture Protocol.

Microglial Cell Isolation (Steps 1-14)

1. Prepare digestion cocktail (10 ml per brain): HBSS (Ca/Mg free), with 0.05%

collagenase D and 2,400 U Kunnitz DNase I.

2. Prepare an isotonic percoll solution (SIP) at 70%, 37% and 30%.

3. Anesthetize mice with 120 mg/kg ketamine / 20 mg/kg xylazine and perfuse them

through the left ventricle with 30 ml of ice-cold HBSS. The brains are collected

immediately after perfusion in ice-

cold HBSS.

4. Cut brains in 1mm3 pieces and then strain them through 150 and 60 μm steel mesh

filters. Brain homogenates from 2 or 3 mice are transferred to a 50 ml conical tube,

washed with HBSS + 3% FBS, and centrifuged at 170g, at 25ºC for 10 min.

5. Remove supernatant. Resuspend pellet in 10 ml of digestion buffer.

6. Gently agitate cell suspension at 37ºC for 30 min.

7. Stop digestion by adding 40 ml of HBSS + 3% FBS. Gently resuspend the cells.

8. Centrifuge at 170g, at 25ºC for 10 min. Gently discard supernatant.

9. Resuspend pellet in 4 ml of 37% SIP (Percoll - Sigma, St. Louis, MO).

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10. Transfer the cell suspension with 4 ml of 37% SIP to 15 ml conical tubes and slowly

underlay 4 ml of 70% percoll. On top of the 37% layer slowly pipette 4 ml of 30%

percoll, followed by 2 ml of

HBSS.

11. Centrifuge gradient at 1,410 g for 20 min without braking.

- The gradient should be kept at 15–18 ºC during centrifugation.

- Centrifuge must stop without brake to avoid disturbance of the interphase.

- The 70%-37% interphase should have a defined white halo containing the microglial

cell fraction.

12. Using a transfer pipette, gently remove the layer of debris (to decreased

contamination of the cell fraction by debris) and collect 2.0–2.5 ml of the 70%–37%

interphase into a clean 50-ml conical tube.

13. Rinse the cell fraction by adding 45 ml of HBSS + 3% FBS to reduce the percoll

contained in the interphase. Mix gently by inversion (10 times). Centrifuge at 400g for

10 min. Eliminate the supernatant

14. Rinse the pellet with 10 ml of complete culture medium (DMEM supplemented with

10% FBS and 20% LADMAC conditioned medium with penicillin + streptomycin. Mix

gently by inversion (10 times). Centrifuge at 400g for 10 min. Eliminate the

supernatant.

Proliferation Culture of Microglial Cells (Steps 15-22)

15. Resuspend pellet in 1.2 ml of Dulbecco’s Modification of Eagle’s Medium (DMEM,

GIBCO) supplemented with 10% FBS and 20% LADMAC conditioned medium with 100

units/ml penicillin and 100 µg/ml streptomycin (GIBCO, Life Technologies, USA)

(preparation of conditioned medium in supplementary methods). Mix gently.

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16. Plate 200 μl of the resulting cell suspension per well in a 24-well flat bottom tissue

culture plates.

- Wells have to be previously coated with poly-l-lysine (SIGMA) overnight. After

coating, rinse several times with abundant sterile distilled water.

- Add 200 μl of complete culture medium to each well and let it equilibrate in the

incubator at least for 30 min before adding the cell suspension.

- NOTE: Cells can be also seeded on 35 mm-Petri dish. In this case, plate 600 μl of cell

suspension on a poly-l-lysine coated Petri dish containing 600 μl of previously

equilibrated complete culture media. Further treatment is similar to the protocol

described for the 24-well plate, after correcting for the corresponding volumes.

17. Incubate at 37°C, 5% CO2 in a water saturated atmosphere.

18. At day 2 after plating, remove 200 μl and add 300 μl of complete culture medium.

During the first week, change half the media every other day. After the first week media

replacement is done twice a week.

19. Check for appearance of cell foci. There are isolated extended cells by day 3. Big

cell foci with poorly attached round cells are abundant by week 3-5. Plates with big foci

rich in loose cells are adequate for cell expansion.

20. To expand the cultures, remove the culture media (save the media, it will be used

to seed the sub cultured cells). Tripsinize the cultures with trypsin-EDTA 0.25% and

0.01% DNAse for 15 min. Stop digestion with complete culture media. Centrifuge at

400g for 10min. Eliminate the supernatant.

21. Resuspend the pellet in the previously saved conditioned media + complete culture

media. Cells obtained from each well of the 24-well plate can be expanded into 6 wells

of the same size or into one 35 mm-Petri dish. It is not necessary to coat the well with

poly-l-lysine. Change half the culture media every 2 days until reaching the desired

density. Normally the cultures will be nearly confluent at around 2-3 weeks.

22. Add 500 μl of fresh media to the original cultures and replace half the culture media

twice a week. Cells can be harvest again in 2-3 weeks (Step 18).

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II. LADMAC Conditioned Medium Preparation Protocol.

1. Prepare Complete LADMAC growth medium: α Minimal Essential medium (α MEM;

GIBCO 11900-024) supplemented with 3.7 gr/L NaHCO3 (final pH 7.2), 10% heat

inactivated FBS, 2 mM L-Glutamine, 0.1 mM non-essential amino acids, 1 mM Sodium

Piruvate, 100 units/ml penicillin and 100 µg/ml streptomycin.

2. Seed LADMAC cells at a density of 1 x 106 viable cells/ ml in a T75 flask containing

15 ml of complete growth medium.

3. Culture the flask in an upright position. Check cell concentration every 2 days,

adding enough media to maintain the cell concentration at 1 x 106 viable cells/ ml.

Usually 10 ml of complete LADMAC growth medium are needed every 3 days.

4. After 7-9 days, collect all medium (including LADMAC cells, which are mostly non-

adherent) to a 50 ml conical tube.

5. Centrifuge at 200g for 10 min. Collect supernatant and reserve the cell pellet.

6. Filter the conditioned media with a 0.2 μm pore, low protein adhesion filter and keep

under sterile conditions at 4ºC.

NOTE: Pool several batches of conditioned media for more consistent results. Aliquot

in 50 ml tubes and store at –20 ºC.

7. Resuspend the cell pellet in 10 ml of complete medium. Count the cells in a

hemocytometer.

8. Adjust the cell density of the suspension to 2 x 105 viable cells/ ml and start the

preparation of conditioned medium again (step 2).

III. Functional Evaluation of Aged Microglia in Culture.

2.3 a. Microglial cell cultures obtained from neonatal animals -Neonatal microglia were

isolated as previously described (von Bernhardi et al. 2007) from the brains of 2-3-day-

old mice. Cortices were minced and incubated in trypsin-EDTA and DNAse and

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subjected to mechanical disruption. The cell suspension was plated in 75 cm2 1%

penicillin/streptomycin, GIBCO). After 14-28 days of culture, microglial cells were

isolated and purified. After 15 min of seeding, non-attached cells were removed by

extensive washing. Cell identity was confirmed by cytochemistry, using an isolectin B4

from Griffonnia simplicifolia (Sigma St. Louis, MO), which recognizes microglia and a

polyclonal anti-glial fibrillary acidic protein (GFAP; DAKO Z0334 A/S, Denmark) to

identify astrocytes.

Activation of microglia was evaluated through their response to 1 μg/ml

lipopolysaccharide (LPS) stimulation, assessing cell identity by immunocytochemistry

and expression of GFP, morphological changes, production of nitrites, respiratory burst

and induction of phagocytic activity by TGFβ (methods described in supplementary

information). Lack of labeling for GFAP indicated the absence of astrocyte

contamination.

2.3b Indirect Immunocytochemistry - Cells were plated at a density of 1.5-2 x 104

glass cover slips in 24 multiwell plates. After exposure to LPS, cells were washed in

PBS and fixed in 4% Para-formaldehyde in PBS for 30 min. Cells were permeabilized

when required with PBS-0.2% Triton X-100, blocked with 10% goat serum in PBS and

then incubated at 4ºC overnight with one of the following antibodies: rabbit anti GFAP

serum (1:400, DAKO, Denmark), mouse anti-MHC-I (1:400, Santa Cruz Biotech),

mouse anti-MHC-II (1:400, Pharmingen BD) or fluorescein isothiocyanate (FITC)-

conjugated lectin Griffonnia simplicifolia (1:200; Sigma). With the exception of the

samples labeled with lectin, cover slips were incubated with the corresponding

fluorochrome-conjugated secondary antibody (Molecular Probes, USA), in the dark at

room temperature for 2-4 cell culture flasks in complete media (DMEM/F12, 10% FBS,

and grown on h. Nuclei were stained with 0.1 μg/ml Hoechst 33258 (SIGMA B2883).

Cover slips were washed in PBS after each antibody incubation step. Before mounting

in Fluorescent Mounting Media (Dako, Carpinteria, CA) samples were rinsed with PBS

and water. As standard practice, to discard the possibility of non-specific binding,

control assays, where the primary antibody was omitted, were run in parallel. Cells

were viewed and photographed with an immunofluorescence inverted microscope

(Leica DMIL, Germany).

2.3c Determination of Nitrites - NO2

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brief, 100 μL of cell incubation media was mixed with 10 μL of H2O and 10 μl of an

EDTA solution (0.5 M, pH 8.0), followed by addition of 0.12 ml of freshly prepared

Griess reagent (20 mg N-(1-

naphtyl)-ethylendiamine and 0.2 g sulphanilamide dissolved in 20 ml of 5% (w/v)

phosphoric acid).

Absorbency was measured at 570 nm in a micro plate auto reader (BIO-TEK

Instruments, USA).

Calibration curves were established with 1 - 80 μM of NaNO2.

2.3d Respiratory burst assay - Production of O2

tetrazolium (NBT assay) into a blue precipitate (Rook et al. 1985). Cells were cultured

in fresh medium or hippocampal-Cm. Inflammatory glial cell activation was elicited by

addition of 1μg/ml LPS, for 24 h at 37°C. After this time the culture medium was

replaced with NBT, 1 mg/ml, in phenol-red-free DMEM/F-12 containing 1mg/ml BSA.

Respiratory burst was triggered with phorbol 12-myristate 13-acetate (PMA), 150 ng/ml

(Sigma) for 1 h. Next, glial cell cultures were fixed with 100% methanol at room

temperature. The crystals were dissolved with 50 µl 1:1.15 2M KOH/ DMSO (Sigma)

and absorbency was read at 645 nm in a micro plate auto reader (ANTHOS 2010,

Anthos Labtec).

2.3e Phagocytosis assays – 2 x 104 microglial cells were plated on glass cover slides

and incubated for up to 2 days at 37 ºC. For the assessment of phagocytic activity,

cells were exposed to Cy3-Aβ for 3 h. Cells were fixed with 4% Para-formaldehyde at

room temperature for 30 min, nuclei were stained with 0.1 μg/ml Hoechst 33258

(SIGMA B2883). Cells were viewed and photographed with was determined by the

Griess assay (Pfeiffer et al. 1997). In was assessed by the reduction of nitro blue an

immunofluorescence inverted microscope (Leica DMIL, Germany). Analysis of the

number of phagocytic cells as well as Aβ uptake were assessed with the ImageJ (NIH).

2.3f Statistical Analysis - The significance of the differences in nitrite and super oxide

production, and phagocytosis at the different ages was obtained by a Kruskal-Wallis

one-way ANOVA. Once determined as significant, the statistical significance of the

differences among different microglial cellage was analyzed with the Mann-Whitney U-

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test. Relevance of both age and stimuli condition was evaluated by a two-way ANOVA.

Statistical significance was established for p<0.05.