biossorcao de metais pesados pelo fungo penicillium corylophilium

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  BIOSSORÇÃO DE METAIS PESADOS PELO FUNGO P e ni ci lli um co r y lo p hi lum  Yaci Maria Marcond es Farias Rio de Janeiro 2014

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  • BIOSSORO DE METAIS PESADOS PELO

    FUNGO Penicillium corylophilum

    Yaci Maria Marcondes Farias

    Rio de Janeiro

    2014

  • BIOSSORO DE METAIS PESADOS PELO

    FUNGO Penicillium corylophilum

    Yaci Maria Marcondes Farias

    Dissertao de Mestrado apresentada Escola de

    Qumica da Universidade Federal do Rio de

    Janeiro, como requisito para a obteno do ttulo

    de Mestre em Tecnologia de Processos Qumicos

    e Bioqumicos.

    Orientadoras:

    Prof. D. Sc. Eliana Flvia Camporese Srvulo

    D. Sc. Judith Liliana Solrzano Lemos

    Rio de Janeiro

    2014

  • Ficha catalogrfica

    Farias, Yaci Maria Marcondes.

    Biossoro de metais pesados pelo fungo Penicillium corylophilum/ Yaci

    Maria Marcondes Farias. 2014. 96 f.

    Dissertao (mestrado) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Qumica, Programa de Ps-Graduao em Tecnologia de Processos

    Qumicos e Bioqumicos, Rio de Janeiro, 2014.

    Orientadores: Prof Eliana Flvia Camporese Srvulo

    Prof Judith Liliana Solrzano Lemos

    1. Biossoro. 2. Metais pesados. 3. P. corylophilum. I. Srvulo, Eliana

    Flvia Camporese (Orient.). II. Lemos, Judith Liliana Solrzano (Co-

    Orient.). III. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Qumica.

    IV. Ttulo.

  • BIOSSORO DE METAIS PESADOS PELO FUNGO

    Penicillium corylophilum

    YACI MARIA MARCONDES FARIAS

    Dissertao submetida ao Corpo Docente do Curso de Ps-Graduao em Tecnologia

    de Processos Qumicos e Bioqumicos da Escola de Qumica da Universidade Federal do

    Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessrios obteno do grau de

    Mestre.

    Aprovada em 09 de Janeiro de 2014.

    _______________________________________________________

    Eliana Flvia Camporese Srvulo, D. Sc. EQ/ UFRJ

    (Orientadora Presidente da banca)

    _______________________________________________________

    Judith Liliana Solrzano Lemos, D. Sc. UEZO

    (Orientadora)

    _______________________________________________________

    Luis Gonzaga Santos Sobral, D. Sc. CETEM/MCTI

    _______________________________________________________

    Selma Gomes Ferreira Leite, D. Sc. EQ/ UFRJ

    _______________________________________________________

    Roberta Gaidzinski, D. Sc. UEZO

    Rio de Janeiro

    2014

  • Tantas vezes pensamos ter chegado...

    Tantas vezes preciso ir alm.

    (Fernando Pessoa)

  • Para Eric, claro.

    And in the end, the love you take

    is equal to the love you make.

    (Beatles)

  • AGRADECIMENTOS

    com imensa alegria que chego ao fim de mais uma etapa que contribuiu de maneira

    definitiva para minha formao tanto pessoal quanto profissional. E como no poderia ser

    diferente, este desafio contou com a participao direta e indireta de pessoas que

    contriburam sobremaneira para minha conquista. Sendo assim, quero agradecer

    profundamente:

    Ao meu amor, marido, companheiro, amigo, a pessoa que me fez ser quem sou hoje.

    Eric, o seu amor me faz ser uma pessoa melhor a cada dia. Agradeo por todo incentivo e

    apoio, sempre.

    A minha famlia, meus pais Maria e Srgio e meus irmos Andes, Hosana, Znite e

    Raize, por ser essa pequena/grande famlia feliz, engraada e acima de tudo unida.

    Aproveito para agradecer a outra parte da minha famlia, aos meus sogros Ren e

    Rosiclia, por serem sempre gentis e amveis.

    A Liliana, por sua orientao hoje e ontem. Minha primeira orientadora quando dava

    os primeiros passos na pesquisa. No poderia ter comeado melhor. Agradeo sempre por

    toda ajuda, pacincia, confiana e por boa parte do que sei hoje.

    A Prof. Eliana agradeo hoje e vou agradecer sempre por ter aceitado me orientar

    nos 45 do segundo tempo, sem me conhecer. Obrigada pela confiana, obrigada por ser

    esta pessoa maravilhosa que abraa e acarinha a quem se aproxima. Obrigada pela

    pacincia e pelos ensinamentos valiosos.

    Aos amigos de luta no mestrado: Lvia Galdino, Suzana Pimentel, Mariana Bittar e

    Flvia Gabel pelas risadas que certamente tornaram o fardo mais leve. Aproveito para

    agradecer aos amigos do 107: Diogo, Lindomar, Juliana Cruz (minha salvadora nos

    momentos tensos de Excel), Dani e Paulinho, pela pacincia e ajuda em todos os

    momentos.

    Aos amigos da vida, que de maneira indireta foram essenciais para tornar mais leve e

    descontrada esta caminhada: Luara, Alexandre, Mnica, Gisele, Eric Maia, Renan,

    Leilane, Aline e Sabrina.

    A preciosa ajuda da Luana e da Leze, estudantes da UEZO, que dividiram comigo

    alguns momentos de tenso e tambm de felicidade, assim como a Mariana Barbalho, por

    toda ajuda prestada.

    Aos amigos do CETEM, por serem sempre muito solcitos: Diego Cara, Dani e a

    minha amiga Claudete (Cludia Affonso) por ser esta pessoa maravilhosa que .

  • Dedico um agradecimento especial a Dbora Monteiro, amiga do CETEM, que

    desempenhou um papel importantssimo para a realizao deste trabalho, sempre com

    muita pacincia e solicitude. Obrigada!

    Agradeo imensamente ao Dr. Luiz Gonzaga Sobral, por permitir a realizao das

    anlises nas dependncias do CETEM. Agradeo por esta oportunidade e por toda ajuda

    dispensada na realizao deste trabalho.

    Aos professores da banca: Dr. Selma Ferreira, Dr. Roberta Gaidzinski e ao Dr. Luiz

    Sobral, pela participao na banca e de antemo, pelas preciosas contribuies.

    A COAM/CETEM Coordenao de Anlises Minerais do Centro de Tecnologia

    Mineral pela realizao das anlises minerais imprescindveis para a concluso deste

    trabalho.

    A CCFF/Fiocruz Coleo de Cultura de Fungos Filamentos do Instituto Oswaldo

    Cruz e a Dr. Maria Inz Sarquis, curadora da coleo, por ter cedido gentilmente a cepa

    utilizada neste trabalho e pela ajuda e orientao prestadas.

    A ps-graduao da Escola de Qumica TPQB/UFRJ e seu corpo docente, que

    contriburam de maneira fundamental para minha formao.

    A Capes, pela bolsa de estudos para a realizao deste trabalho.

  • RESUMO

    FARIAS, Yaci Maria Marcondes. Biossoro de metais pesados pelo fungo Penicillium

    corylophilum. Rio de janeiro, 2013. Dissertao de Mestrado Escola de Qumica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

    Atualmente, grande a preocupao com o crescente aumento dos nveis de poluentes

    descartados no meio ambiente. Dentre esses poluentes, os metais pesados ocupam uma

    posio de destaque, uma vez que esto presentes na composio de inmeros rejeitos

    industriais. Sendo assim, faz-se importante o desenvolvimento de tcnicas que tenham

    como intuito o tratamento desses efluentes. Muitos so os processos utilizados para o

    tratamento de efluentes, entre eles se encontra o processo de biossoro, tcnica que utiliza

    diferentes biomassas (fungos, bactrias, algas etc.) na remoo, reteno ou recuperao de

    metais pesados. Sendo assim, este trabalho teve como principal objetivo avaliar o potencial

    de remoo do nquel, pelo fungo filamentoso Penicillium corylophilum em soluo

    aquosa a fim de obter dados que permitam o seu emprego na recuperao de ambientes

    contaminados por metais pesados. Para isso, os ensaios de biossoro foram divididos em

    trs etapas. O primeiro ensaio consistiu em verificarmos a capacidade de biossoro do

    nquel pela biomassa estudada. Sendo assim, foi montado um planejamento de

    experimentos Plackett & Burman onde foram testadas sete variveis totalizando doze

    ensaios e trs pontos centrais. Foi observado que o fungo apresentava grande potencial de

    biossoro, alcanando ndices de remoo do metal de at 58%. Na segunda etapa de

    anlises, a biomassa foi avaliada frente a solues multimetais. Nesse caso, a inteno era

    simular o que ocorre em um efluente real, onde no existe somente um metal isoladamente

    e, assim, verificarmos se a interao entre os metais influenciaria no comportamento do

    fungo em relao biossoro. Observamos, nesta etapa, que em sistemas binrios (Ni +

    Cu, Ni + Cr e Ni + Zn) e em sistemas com todos os metais (Ni + Cu + Cr + Zn) o nquel

    foi preterido em relao aos outros metais. O cromo foi o metal que apresentou maior

    afinidade com a biomassa, mostrando para este metal uma remoo de at 9,7 mg/g. Na

    terceira etapa, avaliamos a remoo dos metais individualmente, com a finalidade de traar

    um comparativo com o sistema multimetais. Constatamos que no sistema individual a

    remoo de todos os metais foi menor quando comparada com o sistema multimetais.

    Dessa maneira, pudemos traar uma sequncia de afinidade dos metais pelo fungo nos dois

    sistemas avaliados, sendo no sistema multimetais o Cr > Ni > Cu > Zn e no sistema

    individual o Cr > Zn > Cu > Ni.

    Palavras chave: Biossoro, P. corylophilum, metais pesados.

  • ABSTRACT

    FARIAS, Yaci Maria Marcondes. Heavy metals biosorption by Penicillium

    corylophilum. Rio de janeiro, 2013. Master's Dissertation Escola de Qumica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

    Currently, there are serious concerns with the increasing levels of pollutants discharged

    into the environment. Among these pollutants, heavy metals occupy a prominent position,

    since they are present in the composition of many industrial wastes. Therefore, it is

    important to develop techniques so as to treat these effluents. Many processes are used for

    the treatment of effluents; among them is the biosorption process, a technique that uses

    different biomass (fungi, bacteria, algae etc.) to remove, to retain or to recover heavy

    metals. Therefore, this study aimed at assessing the potential for nickel removal by the

    filamentous fungus Penicillium corylophilum in aqueous solution in order to obtain data

    that allow its use in the remediation of contaminated environments by heavy metals. For

    this, the biosorption assays were divided into three stages. The first test was to verify the

    ability of nickel biosorption by the studied biomass. Therefore, a Plackett & Burman

    design was set up with seven variables experiments, which were tested in twelve trials and

    three central points. It was observed that the fungus has shown a great potential for

    biosorption, increasing nickel removal rates up to 58%. In the second stage of the analysis,

    the biomass was evaluated against multi-metals solutions. In that case, the idea was to

    simulate what happens in a real effluent, where there isnt only one metal alone and thus

    check whether the interaction between metals influence the behavior of the fungus in

    biosorption. We observed in this step that in binary systems (Ni + Cu; Ni + Cr and Ni +

    Zn) and in systems with all metals (Ni + Cr + Cu + Zn) nickel was less absorbed before

    other metals. Chromium has shown higher affinity to the biomass, being highly removed

    showing extractions up to 9,7 mg/g. In the third step, the metals removals in individual

    system were evaluated so as to compare with multi-metal system. We noted that in the

    individual system all metals removal was lower when compared with multi-metal system.

    Thus, we could draw a sequence of metals affinities by the fungus in the two evaluated

    systems. In the multi-metal system the affinities were Cr> Ni> Cu> Zn and in individual

    system were Cr> Zn> Cu> Ni.

    Keywords: Biosorption, P. corylophilum, heavy metals.

  • Sumrio

    AGRADECIMENTOS ....................................................................................................................... 6

    RESUMO ........................................................................................................................................... 8

    ABSTRACT ....................................................................................................................................... 9

    Sumrio ............................................................................................................................................ 10

    LISTA DE TABELAS ............................................................................................................................. 12

    LISTA DE FIGURAS............................................................................................................................. 12

    Captulo 1: Introduo, Justificativa e Objetivos .............................................................................. 14

    1. INTRODUO ................................................................................................................... 14

    2. JUSTIFICATIVA ................................................................................................................. 17

    3. OBJETIVOS ........................................................................................................................ 18

    3.1 Objetivo Geral .............................................................................................................. 18

    3.2 Objetivos Especficos ................................................................................................... 18

    Captulo 2: Reviso Bibliogrfica ...................................................................................................... 19

    2.1 METAIS PESADOS .............................................................................................................. 19

    2.1.1 Cobre ................................................................................................................................... 21

    2.1.2 Cromo .................................................................................................................................. 21

    2.1.3 Zinco ................................................................................................................................... 22

    2.1.4 Nquel .................................................................................................................................. 23

    2.2 VALORES ORIENTADORES .............................................................................................. 28

    2.3 BIORREMEDIAO ............................................................................................................ 33

    2.4 BIOSSORO ...................................................................................................................... 35

    2.4.1 Acumulao de metais por micro-organismos ................................................................ 35

    2.4.2 Acumulao extracelular ................................................................................................. 37

    2.4.3 Acumulao intracelular ................................................................................................. 39

    2.5 FUNGOS E A BIOSSORO DE METAIS ........................................................................ 41

    Captulo 3: Materiais e Mtodos ...................................................................................................... 45

    3.1 MICRO-ORGANISMO ......................................................................................................... 45

    3.2 MANUTENO DA CULTURA ......................................................................................... 45

    3.3 PREPARO DO INCULO .................................................................................................... 46

    3.4 MEIOS DE CULTURA E SOLUES ................................................................................ 46

    3.4.1 Meios de cultura .............................................................................................................. 46

  • 3.4.2 Solues de metais .......................................................................................................... 47

    3.5 ETAPAS EXPERIMENTAIS ................................................................................................ 48

    3.5.1 Avaliao dos parmetros de relevncia para biossoro de nquel por condios de P.

    corylophilum ............................................................................................................................ 48

    3.5.1.1 Delineamento experimental ......................................................................................... 50

    3.5.2 Anlise comparativa da remoo de Ni por formas esporulada e vegetativa ..................... 52

    3.5.2.1 Formao de pellets ...................................................................................................... 52

    3.5.2.2 Ensaios de biossoro com pellets e condios .............................................................. 52

    3.5.3 Avaliao da biossoro de diferentes metais pesados por condios ................................. 53

    3.5.3.1 Teste em sistemas competitivos ................................................................................... 53

    3.5.3.2 Teste em sistemas no competitivos ........................................................................... 55

    3.6 DETERMINAES ANALTICAS ..................................................................................... 55

    3.6.1 Contagem de esporos ...................................................................................................... 55

    3.6.2 Concentrao de acar ................................................................................................... 55

    3.6.3 pH .................................................................................................................................... 56

    3.6.4 Espectrometria de Absoro Atmica (EAA) ................................................................. 56

    Captulo 4. Resultados e Discusso .................................................................................................. 57

    4.1 Influncia dos parmetros de cultivo na remoo de Ni por condios de Penicillium

    corylophillum CCFIOC 4297 ....................................................................................................... 57

    4.2 Anlise comparativa da remoo de nquel por P. corylophilum em forma esporulada e

    vegetativa ..................................................................................................................................... 66

    4.3.1 Avaliao da biossoro de metais pesados por condios de P. corylophilum .................... 69

    4.3.1.1 Testes em sistemas competitivos .................................................................................. 69

    4.3.1.2 Teste em sistemas no competitivos ............................................................................ 73

    4.4 Sequncia de afinidade de metais pelo P. corylophilum ........................................................ 76

    Captulo 5. Concluses ..................................................................................................................... 78

    Captulo 6. Sugestes ....................................................................................................................... 79

    Captulo 7. Referncias Bibliogrficas .............................................................................................. 80

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Reserva e produo mundial de nquel ............................................................................. 25

    Tabela 2. Valores orientadores para o nquel ................................................................................... 32

    Tabela 3. Lista de fungos utilizados para biossoro de metais ....................................................... 37

    Tabela 4. Matriz de experimentos do planejamento Plackett & Burman ......................................... 51

    Tabela 5. Nveis das variveis ensaiadas no planejamento Plackett & Burman .............................. 51

    Tabela 6. Composio mdia de efluentes de indstrias de Galvanoplastia .................................... 54

    Tabela 7. Matriz do planejamento Plackett & Burman para avaliao de 7 fatores na remoo de

    nquel ................................................................................................................................................ 58

    Tabela 8. Comparao da remoo de metais em sistemas competitivos (SC) e no competitivos

    (SNC) para solues metais sem adio de sais. .............................................................................. 75

    Tabela 9. Comparao da remoo de metais em sistemas competitivos (SC) e no competitivos

    (SNC) para solues metais com adio de sais .............................................................................. 75

    Tabela 10. Sequencia de afinidade dos metais no sistema competitivo (SC) .................................. 76

    Tabela 11. Sequencia de afinidade dos metais no sistema no competitivo (SNC) ......................... 76

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Indstria desativada. ......................................................................................................... 29

    Figura 2. Representao de interaes entre metais e micro-organismos. ....................................... 40

    Figura 3. Principais benefcios proporcionados pelos fungos. ......................................................... 42

    Figura 4. Linhagem liofilizada do fungo Penicilllium corylophilum. .............................................. 45

    Figura 5. Solues de metais utilizadas nos experimentos .............................................................. 47

    Figura 6. Imagens dos frascos Erlenmeyers contendo as solues de nquel e condios dispostos em

    agitador rotatrio para avaliao da biossoro. .............................................................................. 49

    Figura 7. Esquema simplificado do procedimento adotado para avaliao da biossoro de nquel

    por P. corylophilum segundo planejamento experimental Plackett & Burman. Fonte: Adaptado de

    PALLU (2006). ................................................................................................................................ 50

    Figura 8. Diagrama de quadros com a descrio do ensaio realizado para avaliao do emprego de

    condios e pellets na biossoro de nquel........................................................................................ 53

    Figura 9. Remoo percentual de nquel pelo fungo P. corylophilum CCFIOC 4297, segundo dados

    gerados pelo planejamento experimental P&B. ............................................................................... 59

    Figura 10. Comportamento da biomassa na remoo de nquel (Valor de q: mg do metal por g de

    biomassa).......................................................................................................................................... 60

    Figura 11. Relao entre a remoo de nquel e o consumo de sacarose nos ensaios realizados

    conforme planejamento P&B12. ...................................................................................................... 61

    Figura 12. Variao do pH nos ensaios realizados segundo planejamento P&B12. ........................ 63

  • Figura 13. Grfico de Pareto mostrando a contribuio das variveis estudadas para a remoo de

    nquel por P. corylophilum CCFIOC 4297. ..................................................................................... 65

    Figura 14. Imagens dos ensaios 4 (A) e 7 (B) do P&B12 onde se visualiza a germinao de grande

    parte dos condios com formao de pequenos pellets. .................................................................... 66

    Figura 15. Pellets formados no segundo dia da semeadura de condios de P. corylophilum em meio

    mnimo contendo 30 mg de Ni/L. .................................................................................................... 67

    Figura 16. Remoo de nquel em soluo aquosa por P. corylophilum, ........................................ 68

    Figura 17. Valor de "q" referente s interaes Nquel Cobre (A), Nquel Cromo (B), Nquel

    Zinco (C) e Nquel Cobre Cromo Zinco (D). .......................................................................... 70

    Figura 18. Valores de "q" referentes anlise dos metais em sistemas no competitivos ............... 74

  • 14

    Cap tulo 1: Introdua o, Justificativa e Objetivos

    1. INTRODUO

    O acelerado crescimento da populao mundial nas ltimas dcadas refletiu no

    aumento dos nveis de poluio que, em consequncia, resultou em destruio de vrios

    ecossistemas, incluindo solos, guas e ar. Segundo Pearson (1995), a degradao de reas

    ambientais vem acontecendo desde 2000 a.C., tendo sido, primeiramente, observada na

    ndia e em pases do Oriente Mdio. De acordo com este autor, a desertificao de solos

    teve como principal causa a sua irrigao com gua salobra contendo altos ndices de sal.

    Nos ltimos anos, a atividade industrial tem sido uma das principais responsveis

    pela deteriorao do ambiente, particularmente pelo lanamento indiscriminado de

    elevadas quantidades de metais pesados (PINTO et al., 2003). De acordo com a

    Organizao dos Estados Americanos, OEA, destacam-se os setores mineiro e metalrgico,

    pela gerao diria de grandes quantidades de rejeitos, incluindo gases, slidos e lquidos,

    contendo elementos de variadas toxicidades, principalmente Cd, Cr, Cu, Ni, Pb e Zn

    (LIMA, 2013; RUBIO & TESSELE, 2002). Entretanto, outras indstrias tambm so

    apontadas como poluidoras por metais pesados, tais como as de galvanoplastia, curtume,

    de polpa e de papel e de manufatura de produtos eletrnicos (BORBA et al., 2006; LIMA;

    MERON, 2011).

    O termo metal pesado vem sendo, ao longo das ltimas dcadas, bastante discutido,

    no havendo, ainda, consenso quanto sua definio (LIMA; MERON, 2011). Em geral,

    o termo se aplica aos elementos metlicos com massa atmica maior que 55,8 u, valor

    correspondente ao do ferro, ou com elevada massa especfica, variando de 3,5 e 7,0 g.cm-3

    .

    Alguns elementos, no entanto, so referidos como metais pesados como, por exemplo, o

    Cr, embora sua massa atmica seja aproximadamente 52 u, ou no so metais, como o

    caso do arsnio e do selnio (PIERZYNSKI; SIMS; VANCE, 2000).

    Os metais pesados so, quimicamente, altamente reativos e bioacumulveis nos

    organismos, o que os torna potencialmente txicos para os seres vivos. Porm, alguns so

    necessrios desde que em quantidades mnimas para que os seres vivos, inclusive micro-

    organismos, possam realizar suas funes vitais. De acordo com Emsley (2001), cobalto,

    cromo, molibdnio, vandio, nquel e zinco so exemplos de metais essenciais para os

    seres humanos. Contudo, em nveis elevados, estes mesmos elementos se tornam

  • 15

    extremamente txicos. Outros metais pesados como mercrio, chumbo e cdmio no

    possuem nenhuma funo para os organismos, sendo o seu acumulo, sobretudo nos seres

    humanos, causa de graves doenas, podendo at mesmo levar morte (LIMA; MERON,

    2011; SALES, 2013).

    Em geral, os metais pesados podem se apresentar em mais de um estado de oxidao,

    o que lhes confere distintas caractersticas de mobilidade, biodisponibilidade e toxicidade,

    o que por conta da sua no biodegradabilidade pode levar ao acumulo nos seres vivos,

    tendo seu efeito aumentado ao longo da cadeia alimentar. Segundo Bridges (1991), o

    tempo de residncia em solos de cdmio e mercrio se situa nas faixas de 75 a 380 anos e

    de 500 a 1000 anos, respectivamente; j o tempo de residncia para arsnio, chumbo,

    selnio e zinco, exemplos de metais cuja adsoro maior, varia de 1000 a 3000 anos.

    A toxicidade do metal est diretamente relacionada sua biodisponibilidade, o que

    por sua vez est associado com sua especiao fsica e qumica (GUIMARES; SIGOLO,

    2008). Por exemplo, a toxicidade de um metal em gua varia em funo do pH e do teor de

    matria orgnica, uma vez que os metais reagem com carbono, formando complexos ou

    sendo absorvidos (BAIRD, 2002).

    Em vista do exposto, a contaminao por metais pesados um problema mundial e,

    por isso, causa de preocupao de rgos ambientais e da comunidade cientfica. No

    Brasil, estudos tanto locais quanto regionais demonstram ser a contaminao por metais

    pesados motivo de grande preocupao. So exemplos, o esturio de Santos/So Vicente

    em So Paulo e as baas de Guanabara e de Sepetiba no Rio de Janeiro, que se encontram

    impactadas em decorrncia de neles serem diariamente lanados efluentes altamente

    contaminados com cobre, nquel, zinco, cdmio e mercrio, que so oriundos de refinaria,

    indstrias siderrgicas, entre outras atividades industriais, existentes nestes locais

    (CARVALHO; LACERDA; GOMES, 1991).

    Neste contexto, torna-se fundamental adotar medidas visando descontaminao das

    reas afetadas, bem como para evitar que outras reas venham a ser impactadas.

    Entretanto, embora existam vrios trabalhos publicados sobre o tema, cada local

    contaminado apresenta suas peculiaridades, o que requer um estudo mais detalhado caso a

    caso.

    A estratgia de tratamento cada vez mais em evidencia a que faz uso de micro-

    organismos como agentes de remoo de metais, denominado biossoro. Esta tcnica se

    destaca pelo baixo custo quando comparada com outras formas de tratamento por

  • 16

    processos fsico-qumicos, tais como floculao e eletrlise (PINTO et al., 2003). Alm

    disso, estas tcnicas possuem um alcance limitado, por serem, a maioria, processos

    complexos e de baixa eficincia (KAPOOR; VIRARAGHAVAN, 1995).

    A biossoro pode ser definida como a tecnologia que faz uso, por exemplo, de

    biomassa microbiana, viva ou morta, para a remoo, reteno e recuperao de metais

    pesados em ambientes lquidos. A biossoro, assim como outras tcnicas de

    biorremediao, considerada eficiente na remoo de poluentes do meio ambiente e j foi

    aprovada pela Agncia de Proteo Ambiental Americana (US EPA) como tecnologia de

    limpeza de locais contaminados com resduos perigosos. Dentre as vantagens que tornam

    os micro-organismos importantes no tratamento de resduos esto o seu crescimento

    acelerado, a tolerncia a condies ambientais extremas, como variao do pH e

    temperatura, e o fato de possurem, em geral, baixo custo de cultivo, uma vez que podem

    ser cultivados em matrias-primas de baixo custo, ou at mesmo por reaproveitamento de

    rejeitos industriais (SIMES; TAUK-TORNISIELO, 2005).

    Diversos so os micro-organismos que apresentam a capacidade de biossorver metais

    pesados. Dentre eles, os fungos e as bactrias tm se mostrado bastante eficientes. Para

    Gadd (2000), a biossoro utilizando fungos filamentosos torna-se muito promissora na

    recuperao de reas degradadas com metal pesado, pois estes apresentam grande

    capacidade de adaptao aos metais presentes no solo e ambientes aquticos.

    Particularmente, alguns fungos filamentosos, como os dos gneros Aspergillus e

    Penicillium e, ainda, leveduras como Saccharomyces cerevisiae, exibem maior capacidade

    de remover metais pesados do ambiente, por serem mais resistentes aos metais txicos,

    permitindo o seu desenvolvimento em ambientes com altas concentraes destes

    elementos. Por este motivo, so mais indicados nos processos de biossoro (BLUMER,

    2002).

    O presente trabalho pretende contribuir com dados cientficos que possibilitem o

    tratamento de reas contaminadas por metais pesados, ampliando os estudos relacionados

    com biossoro mediante o emprego de fungos filamentosos.

  • 17

    2. JUSTIFICATIVA

    Atualmente observa-se uma preocupao crescente com a poluio do meio

    ambiente, principalmente decorrentes das operaes de grandes indstrias e o descarte

    incorreto de seus efluentes. Sendo assim, o interesse por tecnologias que auxiliem nesta

    questo so extremamente bem vindas.

    Em pesquisas realizadas ao longo de dois anos nos laboratrios do Centro de

    Tecnologia Mineral (CETEM/MCTI), sob a orientao da Dra. Judith Liliana Solrzano

    Lemos, foi constatado que diferentes espcies de fungos filamentosos apresentavam grande

    potencial de remoo para diversos metais. Dentre os fungos estudados, a linhagem

    Penicillium corylophilum apresentou melhor capacidade em remover diferentes metais em

    soluo aquosa. Por este motivo, este estudo d continuidade remoo de metais pesados

    de alta toxicidade, utilizando como agente o fungo filamentoso Penicilium corylophilum,

    isolado nos trabalhos anteriores. Cabe enfatizar que no levantamento bibliogrfico

    realizado para os ltimos cinco anos, existem vrios estudos que fazem uso de fungos

    filamentosos, mas nenhum concernente participao da espcie Penicillium corylophilum

    na remoo de metais.

  • 18

    3. OBJETIVOS

    3.1 Objetivo Geral

    Este estudo tem como principal objetivo avaliar a capacidade de remoo de nquel

    de solues aquosas sintticas por biossoro pelo emprego do fungo filamentoso

    Penicillium corylophilum.

    3.2 Objetivos Especficos

    Identificar os parmetros significativos na biossoro realizando uma triagem pela

    tcnica de planejamento experimental de Plackett & Burman;

    Comparar a soro do metal pelo fungo na forma esporulada e vegetativa;

    Avaliar a influencia da interao entre metais na biossoro do nquel pelo fungo.

  • 19

    Cap tulo 2: Revisa o Bibliogra fica

    2.1 METAIS PESADOS

    Diversos so os resduos gerados pelas indstrias, e cujo descarte se d, na maioria

    das vezes, de forma inadequada. Tal fato preocupante visto que muitos desses resduos

    contm nveis alarmantes de substncias orgnicas recalcitrantes e/ou metais pesados, uma

    ameaa sade dos seres vivos pelo alto grau de toxicidade, e sua bioacumulao na

    cadeia alimentar ao contaminar ambientes aquticos e terrestres.

    Existem diferentes definies para o termo metal pesado, tambm referendado

    como metal txico, metal trao, elemento trao e constituinte trao. O relatrio

    tcnico apresentado por Duffus (2002), da Unio Internacional de Qumica Pura e

    Aplicada (IUPAC), apresenta uma extensa reviso bibliogrfica que trata das definies de

    metal pesado. De acordo com este levantamento, metal pesado qualquer elemento

    inorgnico que apresente massa atmica superior a 55 u e massa especfica maior do que 5

    g.cm-3

    . Entretanto, dependendo do autor, na definio podem ser considerados outros

    parmetros tais como propriedades qumicas e, inclusive, grau de toxicidade. As

    divergncias entre as definies so ainda nos dias atuais um impeditivo adoo de um

    conceito nico.

    Alguns metais pesados, em quantidades mnimas, so essenciais vida dos seres

    vivos, incluindo os humanos e micro-organismos, pelo seu papel em funes metablicas

    especficas (HUGHES; POOLE, 1989). Dentre os metais pesados, tem-se, por exemplo,

    cobalto (Co), nquel (Ni), zinco (Zn) e molibdnio (Mo), que so requeridos em

    quantidades mnimas, por isso, chamados micronutrientes, embora em maiores

    concentraes sejam txicos (VIRGA; GERALDO; SANTOS, 2007).

    A biodisponibilidade, mobilidade e toxicidade dos metais, de um modo geral, esto

    relacionadas espcie do metal, ou seja, a forma qumica na qual ele se apresenta. Por isso,

    ao se avaliar os riscos que envolvem a presena de um metal em determinado ambiente

    prioritrio conhecer a sua forma e percentual disponvel para absoro pelos seres vivos,

    que por sua vez depende diretamente da sua espcie (BARRA et al., 2000; LEMOS et al.,

    2008). Dependendo da espcie metlica, a disponibilidade de absoro do elemento e sua

  • 20

    acumulao pela biota iro variar prejudicando, assim, o ecossistema. Alm disso, a

    absoro de metal, a toxicidade e a bioacumulao variam dependendo do organismo, e

    podem ser alteradas pelas condies ambientais como temperatura, pH, do oxignio

    dissolvido e a presena de outros metais, qualitativamente e quantitativamente

    (MORTIMER, 2000).

    A contaminao de sistemas aquticos e terrestres por metais txicos um grave

    problema ambiental contemporneo (DAS et al, 2012). Certos metais podem provocar

    graves problemas por, entre outras caractersticas, apresentarem alto tempo de meia vida, o

    que faz com que permaneam ativos no meio ambiente por um longo perodo, e por

    possurem alta capacidade de acumulao no corpo humano (JIMENEZ; DAL BOSCO;

    CARVALHO, 2004; KORF et al., 2008). Entretanto, segundo Freitas e Melnikov (2004),

    nem sempre possvel prever os efeitos da bioacumulao em longo prazo. Por exemplo,

    elementos como o cromo, que no se decompem, ou que apresentam baixa

    degradabilidade, se acumulam no meio ambiente, sendo transferidos atravs da cadeia

    alimentar (MERLINO et al., 2010).

    A preocupao mundial com os efeitos nocivos do uso indiscriminado de produtos

    qumicos txicos e com o seu indevido descarte no ambiente vem crescendo, resultaram na

    criao de diversas normas, estabelecidas em Leis e Decretos, que visam controlar a

    emisso de resduos na natureza. Especificamente para metais pesados, as principais fontes

    de emisso so, dentre outros, as atividades metalrgicas (CHAOUI et al., 1997), gases

    liberados pela queima de combustveis fsseis (GIMENO-GARCIA; ANDREU;

    BOLUDA, 1996), fabricao e descarte de baterias (PRASAD; ANDERSON; STEWART,

    1995), aplicao de fertilizantes que contenham impurezas, e uso de pesticidas (GALLI;

    SCHUEPP; BRUNOLD, 1996).

    De acordo com Volesky (2001), os metais que mais representam um risco ambiental

    so, em ordem decrescente de toxicidade: cdmio, chumbo, mercrio, cromo, cobalto,

    cobre, nquel, zinco e alumnio. Os trs primeiros so os mais prejudiciais tanto ao homem

    quanto ao meio ambiente; enquanto cobre, cromo, zinco e nquel afetam os humanos por

    contato direto posto que so muito utilizados na fabricao de diversos acessrios.

  • 21

    2.1.1 Cobre

    O cobre usado intensamente na indstria petrolfera (catalisador e branqueador),

    tinturaria (mordente) na fabricao de corantes (agente oxidante). O cobre metlico

    utilizado na cunhagem de moedas, fabricao de tubos de canalizao e fios, peas

    decorativas etc. Tambm tem aplicao como fungicida, na pintura de cascos de navios, de

    madeira ou ao; e, como inseticida e aditivo dos solos, para evitar que as deficincias de

    cobre afetem as colheitas.

    Este elemento desempenha, igualmente, um papel importante no metabolismo dos

    seres vivos. Um homem adulto necessita de 2 mg de cobre por dia, estando presente no

    corpo humano na quantidade de 100 a 150 mg. A carncia de cobre na dieta pode provocar

    anemia, diarreia e distrbios nervosos. Por outro lado, a ingesto excessiva de compostos

    como o sulfato de cobre pode causar vmitos, cibras, convulses, e at mesmo a morte

    (COBRE-NAUTILUS, 2014).

    A produo nacional de cobre se distribui nos estados do Par (52,3%), Gois

    (35,9%) e Bahia (11,8%), de acordo com o Departamento Nacional de Produo Mineral

    (DNPM/Sumrio Mineral, 2012).

    2.1.2 Cromo

    Este elemento tem sido amplamente usado em vrios segmentos industriais, como no

    processamento do couro pelas indstrias de curtumes, no recobrimento de madeira para

    preservao (indstrias de recobrimentos), bem como pelas indstrias produtoras de

    amlgamas e pelas de cromagem. Por isso, a poluio associada ao cromo um problema

    crescente (RYAN et al., 2002).

    O cromo, em quantidades mnimas, um metal essencial para os organismos vivos

    (ANDERSON, 1997; CEFALU; HU, 2004), embora possua toxicidade elevada, sendo

    perigoso, mesmo em concentraes baixas (20 mg/L) (USEPA, 1998; CHEUNG; GU,

    2003).

    Na natureza (i.e, na gua e subcamadas do solo), o cromo ocorre em dois estados de

    oxidao principais, hexavalente [Cr (VI)] e trivalente [Cr (III)], por serem mais estveis,

    na forma de xidos, sulfatos, cromatos, dicromatos e sais bsicos. No estado hexavalente, o

  • 22

    cromo hexavalente mil vezes mais citotxico e mutagnico em comparao ao estado

    trivalente (BIEDERMAN; LANDOLPH, 1990). Isto porque o Cr (VI) altamente solvel

    e mvel, enquanto o Cr (III) apresenta baixa solubilidade, sendo facilmente adsorvido na

    superfcie de minerais.

    Em nosso organismo, o cromo encontrado naturalmente na forma de cromo

    trivalente (III), que o mais estvel. Portanto, a reduo de Cr (VI) para Cr (III) resulta em

    diminuio da toxicidade do elemento (BAGCHI et al., 2002). As diferenas no sistema de

    transporte de membranas, na presena do metal, podem explicar a capacidade dessas duas

    espcies de cromo de induzir a formao de espcies de oxignio reativo, que causam a

    oxidao das clulas epiteliais, lesionando-as. Distintamente do Cr (III), o Cr (VI) induz a

    uma toxicidade crnica variada denominada de acordo com a doena causada:

    neurotoxicidade, dermatotoxicidade, genotoxicidade, carcinotoxicidade, imunotoxicidade

    (BAGCHI et al., 2002).

    No Brasil, a produo de cromo ocorre em dois estados: 69% na Bahia e o restante

    no Amap (DNPM/Sumrio Mineral, 2012).

    2.1.3 Zinco

    O zinco considerado um elemento essencial para a sade do ser humano, tendo sido

    a sua participao bem documentada em diversos processos metablicos. Contudo, um

    constante acmulo deste metal no corpo humano poder ocasionar uma intensa toxicidade

    gastrointestinal (WALSH et al., 1994).

    O zinco um dos metais mais encontrados nos efluentes das indstrias de

    galvanizao, eletrodeposio, chapeamento (por meio de eletrlise), fbricas de baterias e

    outras indstrias metalrgicas. Na sua forma metlica, sua biodisponibilidade limitada e

    no apresenta nenhum risco ecolgico. Entretanto, o zinco pode reagir com outras

    substncias qumicas, como cidos e oxignio, resultando na formao de compostos

    potencialmente txicos (RADHIKA; SUBRAMANIAN; NATARAJAN, 2006).

    Adicionalmente, o zinco pode se tornar um srio risco sade humana, se ingerido

    alm da quantidade diria recomendada pela Recommended Dietary Allowances (RDA)

    que de 100 a 300 mg Zn/dia, de acordo com a Food and Nutrition Board (FDB), comit

    fundado em 1940, para estudar as questes de importncia nacional e global sobre a

  • 23

    segurana e adequao da oferta de alimentos nos Estados Unidos. Segundo Fosmire

    (1990), maiores concentraes de zinco podem ocasionar nusea, vmito, problemas

    gastrointestinais, letargia, fadiga e alteraes na resposta imune.

    O Brasil dispe de apenas cerca de 1% das reservas mundiais, correspondentes a 2,2

    Mt, localizadas no Estado de Minas Gerais (NEVES, 2012). E, apesar de ser bastante

    utilizado pelas indstrias automobilstica, de eletroeletrnicos da linha branca, de

    fabricao de pilhas, de confeco de zperes, de utenslios de fogo, alm da aplicao nos

    setores da agricultura, pecuria, ferrovirio, construo civil, a produo nacional de zinco

    vem caindo, sendo menor do que a de outros metais. Segundo dados do DNPM/Sumrio

    Mineral (2012), a produo de concentrado de zinco decresceu 6,3%, enquanto o

    decrscimo do metal primrio foi de 1,2%, frente mesma base de comparao. A perda

    de dinamismo da indstria de zinco pode ser devida moderao da atividade econmica

    nacional.

    2.1.4 Nquel

    O nome nquel deriva da palavra de origem alem kupfernickel, que significa

    cupronquel. O nquel foi nomeado pelos alemes no sculo XVII pelo descobrimento do

    elemento nicolita. Porm, segundo Silva (2001), antes da era crist, este metal j era

    utilizado, pois, foi reportada a existncia de objetos que o possuam em sua composio,

    tais como moedas japonesas de 800 a.C. e gregas de 300 a.C., bem como armas.

    Estima-se que, na crosta terrestre, o nquel no exceda a proporo de 0,01%, sendo

    o vigsimo quarto elemento mais abundante na Terra. Os seus principais minrios so

    aqueles que contm sulfetos e silicatos.

    De acordo com a sua composio, o minrio de nquel pode ser classificado em dois

    tipos principais: sulfetado e latertico (oxidado). Alm do nquel, os minrios sulfetados

    possuem em sua composio sulfetos de cobre, cobalto e ferro e ainda, platina, prata e

    ouro. Os minrios laterticos possuem teores mdios de nquel em torno de 1,95% e teores

    de xido de ferro acima de 24%, alm da presena de cobalto e magnsio (MINERAO

    e METALURGIA, 2000; SILVA, 2001).

    Dados da Gerncia Setorial de Minerao e Metalurgia de 2000 demonstram que o

    nquel utilizado tanto puro como em ligas em quase 300 mil produtos para consumo

  • 24

    (MINERAO e METALURGIA, 2000). Por conta da grande resistncia mecnica

    oxidao, nos pases industrializados, cerca de 70% do nquel utilizada na indstria

    siderrgica, a maior parte na fabricao de ao inoxidvel; enquanto o restante voltado

    para a produo de ligas no ferrosas e galvanoplastia entre outros. As ligas ferrosas com

    nquel tem aplicao em material blico, em moedas, na rea de transporte (aeronaves), na

    rea de construo civil (SILVA, 2001). Na galvanoplastia, a niquelagem das peas

    metlicas com sulfato de nquel garante um acabamento refinado e protetor do metal.

    As reservas mundiais de nquel esto distribudas por aproximadamente 20 pases

    espalhados por todos os continentes. Em 2009, Cuba era o pas que detinha o primeiro

    lugar no ranking das reservas mundiais de nquel, com 17,6% do total, seguida por Nova

    Calednia1, com 12%; Canad em terceiro lugar com 11%, enquanto o Brasil aparecia em

    10 lugar com 4,5% das reservas (MINERAO e METALURGIA, 2000). Contudo, em

    2011, houve um aumento das reservas mundiais de nquel em 15,80% em face de novas

    descobertas, tendo a Nova Calednia contribudo na expanso com 60%.

    Na produo mundial de nquel de 2011, segundo o Mineral Commodity Summaries

    de 2012, a Rssia se destaca (DNPM/Sumrio Mineral, 2012), conforme pode ser

    observado na tabela 1. O mesmo cenrio pode ser constatado para os anos anteriores, 2009

    e 2010, sendo a Rssia, Indonsia, Filipinas, Canad, Austrlia e Nova Calednia os pases

    responsveis por 68,8% da oferta mundial de nquel. Neste perodo, o Brasil vem ocupando

    a 7 posio no ranking internacional de produo (Tabela 1).

    No Brasil, as reservas de nquel se distribuem pelos Estados de Gois (45,0%), Bahia

    (36,3%), Par (11,3%) e Minas Gerais (7,4%) (DNPM/Sumrio Mineral, 2012).

    1 Arquiplago da Oceania anexado ao territrio Francs.

  • 25

    Tabela 1. Reserva e produo mundial de nquel

    Pases Reservas (10

    3t)

    1 Produo (10

    3t)

    2

    2011 2009 (r)

    2010(r)

    2011 %

    Rssia 6.000 262.000 269.000 280.000 15,4

    Indonsia 3.900 203.000 232.000 230.000 12,6

    Filipinas 1.100 137.000 173.000 230.000 12,6

    Canad 3.300 137.000 158.000 200.000 11,0

    Austrlia 24.000 165.000 170.000 180.000 9,9

    Nova Calednia 12.000 92.800 130.000 140.000 7,7

    Brasil 8.353 41.059 108.983 124.983 6,9

    China 3.000 79.400 79.000 80.000 4,4

    Cuba 5.500 67.300 70.000 74.000 4,1

    Colmbia 720 72.000 72.000 72.000 3,9

    frica do Sul 3.700 34.600 40.000 42.000 2,3

    Botsuana 490 28.600 28.000 32.000 1,8

    Madagascar 1.600 15.000 25.000 1,4

    Repblica Dominicana 1.000 14.000 0,8

    Outros pases 4.600 51.700 99.000 100.000 5,5

    TOTAL 79.263 1.371.459 1.643.983 1.823.983 100

    Fonte: DNPM/Sumrio Mineral -2012. 1Inclui reservas lavrveis em metal contido;

    2Dados de produo de Ni contido no minrio;

    (r)Dados

    revisados.

    O nquel uma das principais causas de processos alrgicos, por dermatite,

    provocando leses nos locais do contato com os produtos que o contenham em sua

    constituio. Por isso, comum haver, por exemplo, vermelhido volta do pescoo

    daqueles que usam acessrios feitos com nquel ou alergia no lbulo da orelha provocada

    por bijuterias que o contenham em sua composio (SANTOS, 2011).

    A sensibilidade ao nquel bastante comum, j que vrios produtos contm esse

    metal na sua composio, muitas vezes em quantidade excessiva. Alm dos produtos j

    citados, o nquel tambm usado na fabricao de bijuterias, joias, tesouras, pregos,

    canetas, pinas, enfim, em uma infinidade de produtos regularmente usados no dia a dia.

    Por isso, estima-se que 15% das mulheres e entre 2 a 5% dos homens no mundo so

    alrgicos ao nquel, visto ser maior o nmero de mulheres que fazem uso de adornos. Por

    sua vez, 30 a 40% das pessoas alrgicas podem desenvolver uma grave inflamao da pele

    (MARTINS, 2003).

  • 26

    O nquel metlico e suas ligas, segundo a classificao da Agncia Internacional de

    Pesquisa em Cncer (IARC, 2012), so considerados possveis agentes cancergenos para

    os seres humanos, Grupo 2B e Grupo 1, respectivamente.

    Segundo a CETESB (2012), o nquel lanado no meio ambiente, por fontes naturais

    ou por atividades antropognicas, circula pelos ecossistemas aquticos e terrestres, alm de

    ser passvel de ser transportado biologicamente, via os organismos vivos. O transporte e

    distribuio do nquel particulado entre os diferentes ecossistemas ambientais so

    influenciados pelo tamanho da partcula e pelas condies meteorolgicas.

    O tamanho da partcula vai depender principalmente da fonte emissora. As partculas

    mais finas permanecem por longos perodos na atmosfera; por conseguinte, podem

    acarretar problemas sade dos seres humanos e animais. Por outro lado, as partculas

    maiores costumam se depositar prximas a sua fonte de emisso e, deste modo, causam

    menos danos sade (CETESB, 2012).

    A produo de produtos de nquel a principal fonte da contaminao ambiental por

    esse elemento. A concentrao de nquel na atmosfera das reas industrializadas por volta

    de 120-170 ng.m-3

    e de 6-17 ng.m-3

    em reas suburbanas (centros urbanos secundrios), se

    apresentando na forma de xido, sulfetos, silicatos, compostos solveis e, em menor grau,

    na forma metlica. Em vista disso, estudos vm sendo realizados com o intuito de

    encontrar procedimentos para uma reabilitao eficiente das reas degradadas (ANDRADE

    et al., 2009).

    Uma vez que o nquel pode ser encontrado no solo, na gua e no ar, a exposio a

    este metal pode ocorrer por qualquer uma destas vias. Alm disso, dependendo da forma

    em que o indivduo entrou em contato com o metal, os danos sade sero diferenciados,

    desde alergias at cncer de pulmo e seios paranasais.

    A principal via de contaminao pelo nquel a respiratria, sendo o metal inalado

    principalmente na forma de poeiras de compostos insolveis, de aerossis formados a

    partir das solues dos compostos solveis e de vapores de carbonila de nquel. As

    atividades mais comuns que acarretam exposio ocupacional ao nquel so a minerao, a

    moagem e a fundio dos minrios (CETESB, 2012).

  • 27

    No Reino Unido e Canad, foi relatado um aumento do risco de cncer nos pulmes

    e nas vias nasais de trabalhadores que foram constantemente expostos a formas insolveis

    de nquel (xido e sulfeto) durante processos de sinterizao, torrefao e calcinao em

    refinarias. De forma mais eventual, o risco do aparecimento de carcinomas atribudo

    exposio de sais solveis do metal tais como o sulfato de nquel (HEALTH

    PROTECTION AGENCY, 2009).

    Outro risco est relacionado entrada de contaminantes contendo metais pesados na

    cadeia alimentar. Esta questo deve ser analisada e aes preventivas devem ser tomadas,

    uma vez que a porta de entrada de metais na cadeia alimentar principalmente atravs do

    uso de fertilizantes utilizados nas plantaes, da gua e do solo contaminados

    principalmente pela ao do homem. Ateno tambm deve ser dada aos alimentos

    consumidos pelos animais de corte, principalmente bovinos. Balsalobre et al. (2011)

    afirmam que os alimentos para animais e forragens podem ter quantidades significativas de

    contaminantes, dentre eles, os metais pesados txicos que podem causar prejuzos tanto

    para o animal quanto para os indivduos que consomem sua carne. O tomate um exemplo

    de vegetal que possui uma capacidade muito grande de acumular metais pesados em suas

    folhas e frutos, caso sejam cultivados em solos por eles contaminados. Faz parte, portanto,

    do grupo de vegetais conhecidos como hiperacumuladores, queles que so capazes de

    acumular, em seus tecidos, quantidades muito maiores de contaminantes quando

    comparadas com outros vegetais. Esses vegetais possuem genes especficos que fazem com

    que eles apresentem maior capacidade de absoro de metais pesados, sem, portanto,

    causar nenhum mal visvel para a planta (SILVA, 2010). Dessa maneira, quando um

    animal ou um ser humano se alimenta de vegetais deste grupo ou de animais que ingeriram

    estes vegetais, h entrada dos metais txicos na cadeia alimentar e em consequncia, todos

    os problemas relacionados a esta questo.

    Pelos motivos expostos, a presena destes metais no meio ambiente e uma possvel

    exposio humana no podem ser desprezadas. Deve-se atentar sempre para os valores

    crticos orientadores para cada substncia de modo que esteja enquadrada e evitar que

    ultrapasse os limites mximos permitidos em cada ecossistema, e que assim no venha

    causar problemas futuros sade da populao.

  • 28

    2.2 VALORES ORIENTADORES

    A Constituio Federal Brasileira de 1988, que estabelece diretrizes e princpios da

    poltica nacional do meio ambiente, apresenta no captulo VI (Do Meio Ambiente),

    artigo 225, a seguir transcrito:

    Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao

    Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as

    presentes e futuras geraes.

    Portanto, a preservao do meio ambiente um dever e um direito de todo cidado.

    Deste modo, impulsionado pela crescente degradao do ecossistema, os estados

    brasileiros, sobretudo o Estado de So Paulo, estabeleceram diretrizes onde os chamados

    valores orientadores norteiam os nveis crticos e aqueles que seriam aceitveis de cada

    contaminante tanto no solo quanto nas guas subterrneas.

    Em relao ao ecossistema terrestre, a preocupao com a qualidade do solo vem

    aumentando a cada ano, uma vez que a sua caracterstica est diretamente relacionada

    sade pblica (SNCHES, 2001; SPNOLA, 2011). Para Casarini, Dias e Lemos (2002), o

    tema poluio do solo extremamente importante e deve ter especial ateno por parte de

    toda a populao. Alm do solo ser um recurso limitado, ele cada vez mais considerado

    parte importante do ambiente e, portanto, os problemas em torno da sua crescente poluio,

    bem como das guas superficiais e subterrneas, no devem ser negligenciados. As reas

    contaminadas (AC) representam grandes riscos, pois, alm de possurem substncias

    txicas que podem prejudicar os indivduos se entrarem em contato com a pele ou serem

    ingeridas acidentalmente, ainda possuem odores e gases nocivos que podem ser liberados

    das reas contaminadas. Tem-se ainda que as substncias txicas podem migrar vindo a

    contaminar guas subterrneas e, at mesmo, os lenis freticos ou mesmo se infiltrar em

    redes de abastecimento de gua potvel entre outros problemas (SNCHES, 2001;

    SPNOLA, 2011).

    Na Figura 1 vemos um cenrio tpico de fontes de contaminao do meio ambiente,

    tendo como base uma indstria desativada, onde podemos visualizar, de forma mais

    evidente, os efeitos da contaminao do solo, das guas superficiais e subterrneas e,

    ainda, as vias de propagao desses contaminantes.

  • 29

    Figura 1. Indstria desativada.

    Legenda: Fontes de perigo [1. Vazamento de tanques enterrados e sistemas de tubulao; 2. Valas com

    barris enferrujados com resduos txicos;3. Percolao no subsolo de antigos vazamentos;4. Resduos

    abandonados lanados sobre o solo]; Cenrios [5. Poluio do solo; 6. Poluio de gua subterrnea; 7.

    Percolao de poluentes na gua subterrnea em direo ao rio; 8. Fluxo de poluentes superficial e

    subterrneo em direo ao rio; 9. Eroso de resduos slidos txicos em direo ao rio; 10. Deposio de

    metais pesados no fundo do rio; 12. Evaporao de solventes txicos; 13. Efeito do ar poludo na vegetao;

    Medidas de Identificao de problemas [31. Investigao confirmatria]. Fonte: AHU, Consultoria em

    Hidrogeologia e Meio Ambiente, Alemanha (1987) apud SPNOLA (2011).

    Pode-se definir, portanto, os valores orientadores como sendo os que fornecem a

    informao da qualidade do solo e das guas subterrneas no que diz respeito

    concentrao de substncias qumicas presentes nestes ambientes. Por isso, devem ser

    utilizados como ferramenta de preveno e controle da contaminao e, ainda, de

    orientao para o gerenciamento de reas j contaminadas em investigao (CETESB,

    2013).

    A Companhia Ambiental do Estado de So Paulo (CETESB) publicou em 2001 a

    primeira lista com os valores orientadores para o estado de So Paulo, que englobava, na

    ocasio, 37 diferentes substncias. Em 2005, a CETESB publicou uma nova lista, desta vez

    contemplando 84 diferentes substncias e definindo como diretrizes trs valores

    orientadores para solo e gua subterrnea (CETESB, 2005).

    Os valores orientadores definidos pela CETESB so o Valor de Referncia de

    Qualidade (VRQ), o Valor de Preveno (VP) e o Valor de Interveno (VI), a saber:

  • 30

    Valor de Preveno (VP) a concentrao aumentada de determinada substncia

    no ambiente, podendo acarretar alteraes prejudiciais qualidade do solo e da

    gua subterrnea;

    Valor de Interveno (VI) a concentrao elevada de determinada substncia no

    meio ambiente onde h risco potencial direto ou indireto sade humana. Para o

    solo, foi calculado utilizando-se procedimento de avaliao de risco sade

    humana para cenrios de exposio Agrcola- rea de Proteo Mxima APMax,

    Residencial e Industrial.;

    O Valor de Referncia de Qualidade (VRQ) determinado com base em

    interpretao estatstica de anlises fsico-qumicas de diversas amostragens no

    local a ser analisado ou em suspeio.

    Com base nestes indicadores, pode-se estabelecer uma rea considerada limpa, de

    uma rea suspeita de contaminao e, ainda, de uma rea considerada contaminada. Um

    ambiente pode ser considerado limpo quando a concentrao de determinadas

    substncias for menor ou igual ao valor de ocorrncia natural, sendo esta concentrao

    denominada de VRQ (CASARINI, DIAS; LEMOS, 2002). Ainda segundo esse autor, se

    aps uma avaliao preliminar, for constatada em uma determinada rea uma suspeita de

    que algum contaminante estaria acima do nvel normal recomendado, essa seria

    classificada como uma rea suspeita de contaminao. E para que uma rea seja

    considerada contaminada, deve apresentar nveis bastante elevados das substncias

    contaminantes, o que alm dos riscos intrnsecos poder ser prejudicial sade humana,

    havendo a necessidade de uma interveno rpida e eficaz na rea contaminada (AC).

    O Quadro 1 apresenta os valores orientadores definidos e publicados pela CETESB

    para substncias inorgnicas presentes em solos e em guas subterrneas. Podem-se

    observar as concentraes limites nas quais as substncias devem ser encontradas nestes

    ambientes especficos.

  • 31

    Quadro 1. Valores Orientadores para solo e gua subterrnea do Estado de So Paulo

    Legenda: (3) - Procedimentos analticos devem seguir SW-846, com metodologias de extrao de

    inorgnicos 3050b ou 3051 ou procedimento equivalente. Fonte: Adaptado de CETESB (2005).

    Especificamente para o nquel, alvo deste estudo, os valores orientadores que regem

    os nveis de concentrao deste elemento para os diferentes ecossistemas, bem como

    comentrios e referncias, so apresentados na tabela 2.

  • 32

    Tabela 2. Valores orientadores para o nquel

    Meio Concentrao1 Comentrio Referncia

    Efluente 2,0 mg/L VM (Padro de lanamento) CONAMA

    430/2011

    Solo

    30mg/L*

    70 mg/L*

    100 mg/L*

    130 mg/L*

    Valor de Preveno

    VI cenrio agrcola-APMax

    VI cenrio residencial

    VI cenrio industrial

    CONAMA

    420/2009

    gua Potvel 0,07 mg/L Padro de potabilidade PORTARIA

    2914/2011

    gua subterrnea

    20 g/L

    1000 g/L

    200 g/L

    100 g/L

    VMP (consumo humano)

    VMP (dessedentao de animais)

    VMP (irrigao)

    VMP (recreao)

    CONAMA

    396/2008

    guas doces 0,025 mg/L VM (classes 1, 2 e3) CONAMA

    357/2005

    guas salinas 0,025 mg/L

    74 g/L

    VM (classes 1)

    VM (classe 2)

    CONAMA

    357/2005

    guas salobras 0,025 mg/L

    74 g/L

    VM (classes 1)

    VM (classe 2)

    CONAMA

    357/2005

    Legenda: 1Nquel total; *Massa seca; APMax = rea de Proteo Mxima; VI = Valor de Investigao; VMP

    = Valor Mximo Permitido; VM = Valor Mximo. Fonte: FIT Nquel Ficha de Informao Toxicolgica do Nquel. Fonte: CETESB (2012).

    Dessa maneira, o estabelecimento dos valores orientadores para as diferentes

    substncias que seriam contaminantes em potencial do meio ambiente se mostra

    extremamente necessria, uma vez que permite as agncias ambientais avaliar e monitorar

    as possveis contaminaes que possam ocorrer no meio ambiente, fazendo com que aes

    preventivas e/ou corretivas possam ser tomadas a tempo de evitar algum prejuzo maior.

    Tem-se que salientar que essa medida ainda pouco perto dos problemas que o

    Brasil e o mundo vm enfrentando em relao poluio ambiental, sobretudo de solos e

    guas, e que leis mais rgidas seriam bem-vindas no intuito de minimizar danos ao meio

    ambiente e sade da populao. Assim como uma maior fiscalizao por parte dos rgos

    governamentais em controlar se as diretrizes estabelecidas, isto , se os valores

    orientadores esto sendo cumpridos a risca.

  • 33

    2.3 BIORREMEDIAO

    A Revoluo Industrial aliada ao acelerado crescimento da populao humana

    fizeram surgir diferentes fontes de contaminao, elevando os nveis de poluio dos

    ecossistemas aquticos, terrestres e atmosfricos. Soma-se a isso, o crescimento

    desenfreado e desordenado das grandes cidades, que vem agravando, cada vez mais, os

    problemas ecolgicos e de sade pblica, que em alguns lugares j crtica.

    Se por um lado a industrializao gerou vrios benefcios para a humanidade, em

    contrapartida tem contribudo maciamente na deteriorao quer dos ambientes quer da

    sade do homem e demais seres vivos, pela gerao de rejeitos e emisso de gases com

    diversos tipos de contaminantes. Dentre as indstrias potencialmente poluentes, se

    destacam a metalrgica e a mineradora que introduzem metais pesados, contaminantes de

    elevada toxicidade para um grande nmero de organismos, mesmo em baixas

    concentraes (GUELFI, 2001).

    A conscientizao das sociedades em todo o mundo, aliada a polticas ambientais

    cada vez mais restritivas, tm incentivado a comunidade cientfica na busca por estratgias

    eficientes e de baixo custo para emprego na descontaminao das reas j degradadas. A

    inteno melhorar a qualidade de vida em curto prazo e, ao mesmo tempo, contribuir

    para o bem estar das geraes futuras.

    Existem inmeras maneiras de eliminar ou reduzir contaminantes no meio ambiente,

    dentre elas, o processo de biorremediao, interessante do ponto de vista econmico

    quando comparado com outras formas de tratamento que utilizam processos fsico-

    qumicos como o de floculao e eletrlise (PINTO et al., 2003). O principal propsito da

    biorremediao estimular a ocorrncia dos processos biolgicos de reciclagem de

    compostos de interesse, quer orgnico quer inorgnico (DIAS, 2000).

    Os micro-organismos, tanto fungos quanto bactrias, se mostram bem eficientes no

    tratamento de reas impactadas por rejeitos com elevado nvel de contaminantes txicos,

    sendo necessrio apenas estabelecer as condies nutricionais e ambientais favorveis ao

    seu metabolismo, e aproveitando da sua capacidade inerente de resistncia aos metais.

    Dentre as vantagens que tornam os micro-organismos importantes para o tratamento de

    resduos podem ser citados: crescimento acelerado, tolerncia a condies ambientais

    extremas e, em geral, com baixo custo de cultivo (SIMES; TAUK-TORNISIELO, 2005).

  • 34

    A biorremediao engloba diversas tecnologias de tratamento que podem variar de

    acordo com o local, o tipo de contaminante, a constituio do solo, entre outros. A tcnica

    a ser utilizada deve ser escolhida primariamente com base em informaes sobre a rea

    impactada, a fim de minimizar quaisquer problemas que possam vir a acontecer durante a

    interveno. De acordo com o tipo de tratamento a ser empregado, as tcnicas de

    biorremediao, em um primeiro momento, podem ser classificadas em in situ e ex situ.

    Tais tcnicas so assim classificadas levando em conta o tipo de poluente, os custos de

    todo o processo e, sobretudo, a concentrao final do contaminante ao trmino do

    tratamento (OLIVEIRA, 2008).

    Na biorremediao in situ, o processo de descontaminao ocorre no local a ser

    tratado. As tcnicas in situ geralmente envolvem o aumento da atividade microbiana local

    pelo condicionamento da rea degradada, que pode ser feito, dependendo do caso, por

    adio de nutrientes, ajuste de pH, controle da umidade e da disponibilidade de oxignio,

    de modo a propiciar as condies favorveis para degradao biolgica dos componentes

    txicos. Como principais tecnologias relacionadas biorremediao tm-se: bioaumento,

    bioestmulo, bioventilao e fitorremediao (FERRARI, 1996; BOOPATHY, 2000;

    MARTINS et al., 2003).

    Quando a biorremediao conduzida ex situ, o solo a ser tratado dever ser retirado

    do local e transportado, adequadamente, para no causar a contaminao de outras reas,

    at a unidade onde ocorrer o tratamento. Assim, haver a necessidade de remoo do

    material contaminado, geralmente por escavao para solo ou com bombeamento no caso

    de gua. Este tipo de tratamento, em geral, envolve o uso de biorreatores e de mecanismos

    que possibilitem o controle dos parmetros mais importantes do processo de remediao

    (FERRARI, 1996; BOOPATHY, 2000; MARTINS et al., 2003).

    As tecnologias in situ e ex situ podem ser praticadas para o tratamento de reas

    impactadas com os mais diversos tipos de contaminantes, como petrleo e derivados e

    efluentes domsticos e industriais, no contexto do presente trabalho, qualquer material que

    contenha metais pesados.

    Quando a remoo de metais o foco do tratamento, mais apropriado o termo

    biossoro j que os elementos inorgnicos no sofrem degradao como ocorre para as

    substncias orgnicas, tais como hidrocarbonetos e pesticidas (SPROCATI et al., 2006).

  • 35

    No caso de ons metlicos, a biossoro possibilita a sua imobilizao por intermdio

    de micro-organismos, plantas ou produtos biolgicos (como enzimas), de modo a eliminar

    ou, pelo menos, reduzir a sua concentrao conforme estabelecido pela legislao vigente

    para estes poluentes (SPROCATI et al., 2006).

    2.4 BIOSSORO

    2.4.1 Acumulao de metais por micro-organismos

    Em artigo publicado em 1993 por Geoffrey M. Gadd, importante especialista no

    tema, foi proposta a seguinte definio para biossoro:

    O termo biossoro usado para abranger a captao/absoro de metais por toda a biomassa, tanto viva quanto morta, atravs de mecanismos fsico-

    qumicos tais como adsoro ou troca inica.

    A definio atualmente usada mais abrangente, porm, tem como base os mesmos

    princpios. Segundo Volesky (2001), biossoro o processo que emprega biomassa

    vegetal ou microbiana, para reteno, recuperao ou remoo de metais pesados de um

    ambiente lquido.

    Segundo a Resoluo do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) n 314

    de 2002:

    ... podemos entender como remediador todo produto, constitudo ou no por micro-organismos, que destinado recuperao de ambientes e

    ecossistemas contaminados, tratamento de efluentes e resduos,

    desobstruo e limpeza de dutos e equipamentos atuando como agente do

    processo fsico, qumico e biolgico ou combinados entre si.

    A biossoro tem por caracterstica a capacidade dos metais de se ligarem a diversos

    materiais biolgicos, tais como algas, leveduras, bactrias e fungos filamentosos

    (VEGLIO; BEOLCHINI, 1997). Clulas vivas ou mortas so capazes de acumular metais,

    apresentando, porm, diferenas nos mecanismos envolvidos em cada caso, dependendo

    fortemente do seu metabolismo (GADD; WHITE, 1990).

  • 36

    Segundo Pino e Torem (2011), os materiais de origem biolgica (biomassas) para

    serem empregados como biossorventes devem apresentar, dentre outras, as seguintes

    caractersticas: capacidade de adsorver ons metlicos dissolvidos; seletividade frente a

    diferentes espcies metlicas; ser passvel de regenerao e ter baixo custo. Diferentes

    materiais so citados pelos autores: micro-organismos (bactrias, microalgas e fungos),

    vegetais macroscpicos (algas, gramneas e plantas aquticas) e partes ou tecidos

    especficos de vegetais, subprodutos agrcolas ou industriais (cascas, bagao, sementes).

    Cada caso um caso, isto , para indicar um biossorvente como efetivo, h que se

    considerar a espcie metlica bem como a composio do efluente a ser tratado, o pH do

    ambiente (soluo), e o sistema operacional que se pretende usar.

    A soro do metal pelo micro-organismo pode ocorrer naturalmente pelos seguintes

    mecanismos, de forma isolada ou combinada: complexao (coordenao ou quelatao

    dos metais); troca inica; adsoro ou microprecipitao inorgnica. Qualquer que seja o

    mecanismo de ao microbiana, a imobilizao de uma ou mais espcies metlicas pode

    ser rpida e eficiente (BARROS et al., 2005).

    O processo de biossoro envolve duas fases: uma denominada fase slida

    (biossorvente) e outra denominada fase liquida (solvente, normalmente gua) que contm

    uma espcie dissolvida que o adsorvato (i.e., ons metlicos). Deve existir uma afinidade

    eletrosttica entre o biossorvente e o adsorvato, de modo a haver uma atrao. Este

    processo continuo, at que ocorra o equilbrio entre a concentrao do adsorvato

    dissolvido em soluo e a concentrao do adsorvato presente no biossorvente

    (concentrao de equilbrio) promovida pela saturao do adsorvato sobre o biossorvente.

    A relao entre o biossorvente e o adsorvato determina a distribuio do metal entre a fase

    slida e a liquida. A qualidade do material biossorvente classificada pela capacidade de

    atrao e reteno do adsorvato (KRATOCHVIL; VOLESKY, 1998).

    A biossoro ainda pode ocorrer de duas maneiras: (i) adsoro, que independe de

    energia e que, portanto, ocorre de forma passiva, sem que haja atividade metablica,

    (KAPOOR; VIRARAGHAVAN, 1999); e (2) denominada absoro ou bioacumulao,

    quando dependente de gasto energtico e da atividade metablica (STRANDBERG;

    SHUMATE; PARROT, 1981). Na tabela 3 so mostrados alguns exemplos citados na

    literatura cientfica sobre a biossoro de metais por diferentes espcies fngicas.

  • 37

    Tabela 3. Lista de fungos utilizados para biossoro de metais

    Fungo Metais Referncia

    Aspergillus flavus Pb, Cu, Zn Akar; Tunali (2006); Faryal et al. (2006)

    A. foetidus Cr Prasenjit; Sumathi (2005)

    A. fumigatus Zn Faryal et al. (2006)

    Aspergillus sp. Cd e Cr Ahmad et al. (2005); Fukuda et al. (2008)

    Penicillium chrysogenum

    Cd, Cu, Pb,

    Th, U Zn

    e Cr

    Holan; Volsky (1995); Niu et al. (1993);

    Pazouki et al. (2007); Skowronski et al.

    (2001); Su et al. (2003); Tan; Cheng

    (2003); Tsezos; Volesky (1981)

    P. cyclopium Cu Ianis et al. (2006)

    P.janthinellum Cr Kumar et al. (2008)

    Penicillium sp. Co e Cr Fukuda et al. (2008); Pal et al. (2006)

    Rhizopus arrhizus

    ou R. oryzae

    Cu, Th, U,

    Zn, Cr

    Bhainsa; DSouza (2008); Subudhi; Kar (2008)

    Aspergillus nger, A. sydoni,

    P. janthinellum e

    Trichoderma viride

    Ni, Zn, Cr e Cd Kumar et al., (2012); Pallu (2006)

    Inonotus hispidus As Tsezos; Volesky (1981)

    Fonte: Adaptado de Martins (2009).

    2.4.2 Acumulao extracelular

    Na acumulao extracelular, tambm conhecida como adsoro, os ons metlicos se

    ligam parede celular dos micro-organismos. Neste caso, como dito anteriormente, no h

    gasto energtico e o processo realizado independente dos micro-organismos estarem ou

    no realizando suas funes vitais. A independncia do metabolismo ocorre pelo fato de

    no ser necessrio um gasto energtico por parte da clula microbiana, para que haja

    captao dos ons metlicos. Portanto, neste caso, a remoo pode ocorrer usando tanto

    clulas vivas quanto clulas mortas (GADD, 1992).

  • 38

    Praticamente todo material biolgico possui afinidade por metais, inclusive txicos, e

    radionucldeos. Em geral, a parede celular dos micro-organismos possui diversos

    componentes que se ligam aos metais, contribuindo, assim, para o processo de adsoro.

    Alguns mecanismos pelos quais os metais interagem com a parede celular j foram

    estabelecidos. Por exemplo, diversas biomolculas presentes na parede celular funcionam,

    especificamente, como ligantes de metais e, portanto, a adsoro induzida pela sua

    presena (GADD, 1993). Segundo este autor, estas molculas intermediam a ligao dos

    micro-organismos aos metais como, por exemplo, a melanina fngica, que pode ter sua

    produo aumentada quando a cultura exposta a concentraes subletais de metais

    txicos, aumentando as taxas de adsoro.

    Muitos fungos possuem uma quantidade elevada de quitina em sua parede celular, e

    esse polmero de N-acetilglicosamina um efetivo biossorvente de metais e

    radionucldeos. Do mesmo modo, alm dos polissacardeos e mucopolissacardeos

    constituintes da parede celular, substncias polimricas extracelulares (EPS, do ingls

    extracellular polymeric polyssacharides), e algumas protenas produzidas por alguns

    micro-organismos apresentam grande potencial de ligao com metais txicos (GADD,

    1993).

    As ligaes caractersticas do fenmeno de adsoro ocorrem, principalmente,

    segundo Bandeira (2007), por influncia das foras de Van der Waals e so, portanto, de

    natureza essencialmente fsica. Porm, por no serem ligaes fortes, a adsoro pode ser

    facilmente revertida. Em alguns sistemas, foras adicionais ligam as molculas adsorvidas

    superfcie do slido. Nestes casos, as foras so de natureza qumica e envolvem a troca

    ou o compartilhamento de eltrons, ou possivelmente molculas formando tomos ou

    radicais. Em tais casos, o termo quimiossoro usado para descrever o fenmeno e

    restrito somente a uma camada de molculas na superfcie, embora possa ser seguida por

    camadas adicionais de molculas fisicamente adsorvidas.

    Dependendo do tipo de ligao, a adsoro pode ser definida como especfica e no

    especfica. De forma geral, os ons adsorvidos por meio de ligaes covalentes ou inicas

    so mais fortemente retidos, e o fenmeno chamado de adsoro especfica. Quando a

    interao entre os ons e as partculas ocorre por foras fsicas, como a de Van der Waals,

    tem-se a adsoro no especfica.

  • 39

    2.4.3 Acumulao intracelular

    Os metais, de uma maneira geral, so importantes para a realizao dos processos

    vitais dos micro-organismos. Alguns deles como o cobre e o zinco so considerados

    nutrientes essenciais e so usados como catalisadores de reaes bioqumicas,

    estabilizadores de protenas e mantenedores do equilbrio osmtico da clula (JI; SILVER,

    1995). O cobre, por exemplo, um elemento essencial para a sobrevivncia das bactrias e

    fungos do solo, mas pode se tornar txico quando a concentrao excede 750 mg/g

    (BATH, 1989). Em consequncia, a clula deve ter meios de carrear para dentro os

    elementos de interesse para suas funes metablicas.

    A acumulao intracelular de metais, processo tambm denominado absoro, resulta

    da interiorizao dos elementos mediada por ATP; portanto, a clula deve estar

    metabolicamente ativa. No entanto, a atividade metablica celular pode resultar na gerao

    de metablitos que por sua vez podem causar a alterao de alguns fatores tais como pH,

    potencial redox (Eh), e concentrao de substncias orgnicas e inorgnicas, intra e

    extracelularmente, e que, por conseguinte, poder interferir no processo de biossoro

    (TING; LOWSON; PRINCE, 1989; GADD, 1990). Os mecanismos de transporte

    envolvidos na acumulao intracelular de metais pesados so pouco conhecidos. Uma das

    possibilidades relacionadas ao acmulo de metais seria a de que os metais pesados podem

    ser captados via sistemas de transporte de membrana, que so essenciais para o

    desenvolvimento microbiano. Uma vez dentro das clulas, e dependendo do elemento

    metlico e do micro-organismo, as espcies metlicas podem se ligar a protenas, que leva

    a sua precipitao, ou se inserir em estruturas ou organelas celulares (GADD, 1992;

    ECCLES, 1995; GADD, 2004). A figura 2 mostra um esquema sobre os mecanismos de

    interao entre metais e clulas microbianas.

  • 40

    Figura 2. Representao de interaes entre metais e micro-organismos.

    Fonte: Birch; Bachofen (1990).

    As interaes relacionadas complexao so aquelas em que um agente, chamado

    complexante, se liga ao on metlico no meio ambiente, com formao de um complexo,

    que atravs do transporte via membrana poder realizar diferentes rotas. Para Bezerra,

    Takiyama e Bezerra (2009), as reaes de complexao so as que tm maior significncia,

    pois esto diretamente relacionadas com a geoqumica dos ons metlicos, podendo

    modificar a sua solubilidade, carga e potencial redox. Essas mudanas podem, ainda,

    influenciar a biodisponibilidade, transporte e migrao dos metais nos ecossistemas

    aquticos, por exemplo. A grande importncia qumica dos agentes complexantes em

    sistemas biolgicos se baseia na sua capacidade potencial de alterar o estado fsico dos

    metais em soluo (BIRCH; BACHOFEN, 1990).

    Nem todas as espcies catinicas podem ser acumuladas dentro das clulas, e quando

    possvel, o fenmeno vai depender da sua afinidade e especificidade. Alm disso,

    comparativamente ao mecanismo de adsoro fsico-qumico, a remoo de ons metlicos

    pela acumulao intracelular usualmente mais lenta que. Mas, em contrapartida, maiores

    quantidades de metal podem ser acumuladas (GADD, 2001).

  • 41

    2.5 FUNGOS E A BIOSSORO DE METAIS

    Mundialmente, j foram descritas mais de 99.000 espcies de fungos (KIRK et al.,

    2008), das quais cerca de 13.800 foram tambm isoladas no Brasil, o que corresponde a

    aproximadamente 14% da biodiversidade global at recentemente descoberta

    (LEWINSOHN; PRADO, 2006)

    Os fungos so ubquos, o que permite que sejam isolados dos mais variados habitat

    em todo o planeta, na forma esporulada ou vegetativa, de vida livre ou em associao com

    algas (MAIA; JUNIOR, 2010). Na biosfera, a maior diversidade de fungos encontrada no

    solo. Isto se deve ao fato de serem organismos heterotrficos e o solo, em geral, conter

    grande quantidade de matria orgnica, tanto de origem animal quanto vegetal, tornando-se

    uma fonte inesgotvel de nutrientes, prpria para o desenvolvimento dos micro-organismos

    em geral, e em especial para os fungos (ROITMAN; TRAVASSOS; AZEVEDO, 1991;

    SILVEIRA, 1995).

    No solo, os fungos se encontram desde a superfcie at uma profundidade que varia

    de 15 a 20 cm. De fato, os fungos e as bactrias constituem a maioria da microbiota deste

    habitat; e, em se tratando de solos cidos e ricos em matria orgnica, o nmero de fungos

    pode ser bem maior do que o das bactrias (SILVEIRA, 1995).

    Em 1957 foram catalogadas 690 espcies pertencentes a 170 gneros de fungos

    oriundos do solo (GILMAN, 1957 apud ROITMAN; TRAVASSOS; AZEVEDO, 1991).

    Desde ento, muitas novas espcies fngicas foram isoladas do solo, sendo os gneros

    mais frequentemente encontrados: Mucor, Penicillium, Trichoderma e Aspergillus,

    seguidos por Rhizopus, Zygorhynchus, Fusarium, Cephalosporium e Verticillium

    (ROITMAN; TRAVASSOS; AZEVEDO, 1990; SILVEIRA, 1995).

    Os fungos apresentam diversas caractersticas biolgicas que os transformam em

    organismos de atividade indispensvel no ambiente. A ateno dispensada a estes micro-

    organismos vem aumentando a cada ano, uma vez que so descobertos novos usos para sua

    biomassa ou produtos por eles gerados. A figura 3 mostra algumas das aplicaes dos

    fungos nos mais variados setores.

  • 42

    Figura 3. Principais benefcios proporcionados pelos fungos.

    Fonte: PUTZKE; PUTZKE (2002).

    De acordo com a vasta literatura sobre o tema, fungos filamentosos e leveduras tm

    mostrado, ao longo dos anos, excelentes caractersticas biossortivas. Estes micro-

    organismos possuem, entre outras vantagens, alta velocidade de reproduo, e sntese de

    elevada quantidade de material celular (biomassa), bem como podem ser manipulados

    geneticamente, o que pode intensificar o seu poder de biossoro. Adicionalmente,

    considerando o intensivo emprego de fungos em bioprocessos industriais, poder-se-ia usar

    as biomassas fungicas por eles geradas como agentes biossorventes, contribuindo para a

    sustentabilidade do planeta. Por exemplo, estes micro-organismos so utilizados na

    produo de cidos orgnicos, como glico, ctrico e kojik, como tambm de enzimas

    como amilases e lipases (KAPOOR; VIRARAGHAVAN, 1995). Segundo Waihung

    (1999), a utilizao de biomassa residual na biossoro de metais pode gerar um ganho nos

    rendimentos para a indstria, uma vez que reduz os custos relacionados com a disposio

    dos rejeitos slidos.

  • 43

    Arajo e Lemos (2002) isolaram oitenta linhagens de fungos filamentosos de solo

    contaminado com 5% (m/m) de petrleo, das quais 75% apresentavam capacidade de

    degradar hidrocarbonetos. Os quatro gneros preponderantes foram: Aspergillus,

    Penicillium, Paecilomyces e Fusarium.

    Outro estudo mostrou a capacidade de cinco espcies fngicas - Aspergillus niger, A.

    versicolor, Penicillium corylophilum, P. chrysogenum e Saccharomyces cerevisiae em

    sorver metais pesados (FARIAS; LEMOS, 2008). Todas as linhagens foram

    potencialmente efetivas na biossoro dos metais testados (cobre, zinco e mangans),

    destacando-se A. versicolor. Volesky e Holan (1995) e Kapoor e Viraraghavan (1995),

    tambm comprovaram a eficcia de algumas espcies fngicas como Rhizopus arrhizus,

    Absidia orchidis, Aspergillus niger, Penicillium nonatum, P. chrysogenum e

    Saccharomyces cerevisiae na remoo de metais como urnio, trio, chumbo, ouro, cobre e

    cdmio, entre outros, de efluentes contaminados.

    Price, Classem e Payne (2001), trabalhando com rejeito lquido da suinocultura,

    contendo elevados teores de cobre e zinco, observaram que os metais podiam ser

    acumulados em nveis fitotxicos em solos utilizados na agricultura. No estudo,

    Aspergillus niger foi apontado como o de maior potencial de biossoro.

    No estudo de Lpez e Vzquez (2003), uma linhagem de Trichoderma atroviride,

    obtida de uma usina de tratamento de gua, localizada em Madrid (Espanha), foi usada

    pela sua capacidade de captao de metais pesados e pela sua potencial tolerncia a cobre,

    zinco e cdmio. Foi mostrado que esse fungo capaz de sobreviver em altas concentraes

    de metais, aparentemente, como resultado da seleo natural de clulas resistentes. O

    crescimento do fungo e o potencial de captao foram avaliados para um nico ction, bem

    como para combinaes de dois ou trs elementos, de modo a estabelecer as interaes

    sinrgicas e antagnicas.

    A remediao de metais pesados de solos, guas de superfcie e subterrneas pode

    ser mais efetiva pelo emprego de biossurfatantes de origem microbiana (CHRISTOFI;

    IVSHINA, 2002). Prata, Lemos e Barros (2008) determinaram a capacidade produtiva de

    linhagem de P. corylophilum na sntese de substncia com propriedade tensoativa. Em

    funo do baixo ndice de emulsificao, de apenas 5,5%, e da reduo da tenso

  • 44

    superficial da gua de 72 mN/m para 31,4 mN/m, foi sugerido ser o biossurfatante um

    glicolipdeo ou um lipopeptdeo.

    O cenrio apresentado permite indicar o uso de micro-organismos, especialmente de

    fungos filamentosos, como alternativa no tratamento de reas impactadas com metais

    pesados. Como tambm possvel indicar, dentre as inmeras espcies de fungos

    existentes, o emprego das espcies do gnero Penicillium, em particular P. corylophilum,

    como agente biorremediador. Fungos do gnero Penicillium, pertencentes famlia

    Trichocomaceae e ao filo Ascomicota, esto amplamente distribudas no ambiente. No

    caso especfico de P. corylophilum, foi relatado seu isolamento de material em

    decomposio, solo, gros de cereais e ambientes com baixa umidade (SILVA et al., 2006)

    O levantamento bibliogrfico realizado deixa patente a importncia da busca por

    estratgias que possibilitem a regenerao de reas contaminadas com metais pesados. A

    adoo de medidas do interesse da sociedade civil, do governo, e de vrias indstrias que

    esto engajadas a propostas mais sustentveis.

  • 45

    Cap tulo 3: Materiais e Me todos

    3.1 MICRO-ORGANISMO

    Foi utilizada a linhagem do fungo Penicillium corylophilum CCFIOC 4297, isolada

    de solo contaminado pela Dra Liliana Solrzano Lemos e que atualmente pertence

    Coleo de Culturas de Fungos Filamentosos (CCFF) do Instituto Oswaldo Cruz / Fiocruz,

    RJ, sob a coordenao da Dr Maria Inez de Moura Sarquis, onde est sendo mantida na

    forma liofilizada (Figura 4).

    Estudos prvios realizados sob a orientao da Dra Liliana Lemos no CETEM

    revelaram a capacidade desta cultura fngica como biossorvente de metais.

    Figura 4. Linhagem liofilizada do fungo Penicilll