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A experiência de quem sofre pode continuar a ser a mesma, os critérios de diagnóstico conti- nuam a evoluir. (Davidson, 2004) 1. INTRODUÇÃO A finalidade deste artigo é reflectir sobre a compreensão do fenómeno psicopatológico agora- fobia e sobre o que é a experiência agorafóbica, a partir das perspectivas fenomenológica e exis- tencial. Mais do que uma categoria nosológica, interessa-nos a compreensão fenomenológica da experiência agorafóbica e o seu significado existencial. Phobos era um deus grego que costumava ser evocado para assustar os inimigos. A palavra fobia apareceu há mais de 2000 anos atrás, na termino- logia romana, aquando da descrição de hidrofobia como um sintoma da raiva, mas só começou a ser usada no jargão psiquiátrico no século XIX, embora as descrições de medos fóbicos tenham existido muito antes (Goodwin, 1983). Segundo a CID-10, estados fóbicos definem-se como sendo estados neuróticos com medo anormal- mente intenso perante certos objectos ou situações específicas que normalmente não causariam esse efeito. Se a ansiedade tende a ampliar-se de uma situação ou objecto específico para uma variedade de circunstâncias, então aproxima-se ou torna-se idêntica ao estado de ansiedade e deve classificar-se como tal (Vallejo, 2006). Uma fobia é um medo persistente, irracional e involuntário que surge perante uma situação ou um objecto específico. O medo é reconhecido pelo indivíduo como excessivo e o comportamento de evitamento pode ser inca- pacitante. Existem quatro factores invariantes que caracterizam as fobias: a persistência do medo, o evitamento da situação temida, a irracionalidade percebida e o grau de incapacidade associado. Actual- mente, consideram-se três grupos de perturbações fóbicas: fobias simples, fobia social e agorafobia. Agorafobia significa medo fóbico de espaços abertos, mas designa actualmente uma perturbação fóbica constituída por fobias múltiplas e difusas, associadas a ansiedade generalizada e redução progressiva da possibilidade de afastamento dos locais onde o sujeito se sente seguro. Para além do medo fóbico dos espaços abertos, a perturbação agorafóbica inclui outros medos fóbicos associados aos transportes públicos (comboios, autocarros, metropolitano, intoleráveis quando cheios de gente), aos espaços fechados (túneis e elevadores, por exemplo), ao estar sozinho em casa, e a estar longe de casa, O DSM IV-R estabelece a distinção entre per- 675 Agorafobia Perspectivas fenomenológica e existencial GONÇALO REIS (*) JOSÉ A. CARVALHO TEIXEIRA (**) (*) Mestrando em Relação de Ajuda – Perspectivas da Psicoterapia Existencial, Instituto Superior de Psico- logia Aplicada, Lisboa, Portugal. (**) Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa, Portugal. Sociedade Portuguesa de Psicoterapia Exis- tencial, Lisboa.

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A experiência de quem sofre pode continuar aser a mesma, os critérios de diagnóstico conti-nuam a evoluir.

(Davidson, 2004)

1. INTRODUÇÃO

A finalidade deste artigo é reflectir sobre acompreensão do fenómeno psicopatológico agora-fobia e sobre o que é a experiência agorafóbica,a partir das perspectivas fenomenológica e exis-tencial. Mais do que uma categoria nosológica,interessa-nos a compreensão fenomenológica daexperiência agorafóbica e o seu significado existencial.

Phobos era um deus grego que costumava serevocado para assustar os inimigos. A palavra fobiaapareceu há mais de 2000 anos atrás, na termino-logia romana, aquando da descrição de hidrofobiacomo um sintoma da raiva, mas só começou a serusada no jargão psiquiátrico no século XIX, emboraas descrições de medos fóbicos tenham existidomuito antes (Goodwin, 1983).

Segundo a CID-10, estados fóbicos definem-se

como sendo estados neuróticos com medo anormal-mente intenso perante certos objectos ou situaçõesespecíficas que normalmente não causariam esseefeito. Se a ansiedade tende a ampliar-se de umasituação ou objecto específico para uma variedadede circunstâncias, então aproxima-se ou torna-seidêntica ao estado de ansiedade e deve classificar-secomo tal (Vallejo, 2006). Uma fobia é um medopersistente, irracional e involuntário que surgeperante uma situação ou um objecto específico. Omedo é reconhecido pelo indivíduo como excessivoe o comportamento de evitamento pode ser inca-pacitante. Existem quatro factores invariantes quecaracterizam as fobias: a persistência do medo, oevitamento da situação temida, a irracionalidadepercebida e o grau de incapacidade associado. Actual-mente, consideram-se três grupos de perturbaçõesfóbicas: fobias simples, fobia social e agorafobia.

Agorafobia significa medo fóbico de espaçosabertos, mas designa actualmente uma perturbaçãofóbica constituída por fobias múltiplas e difusas,associadas a ansiedade generalizada e reduçãoprogressiva da possibilidade de afastamento doslocais onde o sujeito se sente seguro. Para além domedo fóbico dos espaços abertos, a perturbaçãoagorafóbica inclui outros medos fóbicos associadosaos transportes públicos (comboios, autocarros,metropolitano, intoleráveis quando cheios de gente),aos espaços fechados (túneis e elevadores, por exemplo),ao estar sozinho em casa, e a estar longe de casa,

O DSM IV-R estabelece a distinção entre per-

675

AgorafobiaPerspectivas fenomenológica e existencial

GONÇALO REIS (*)JOSÉ A. CARVALHO TEIXEIRA (**)

(*) Mestrando em Relação de Ajuda – Perspectivasda Psicoterapia Existencial, Instituto Superior de Psico-logia Aplicada, Lisboa, Portugal.

(**) Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa,Portugal. Sociedade Portuguesa de Psicoterapia Exis-tencial, Lisboa.

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turbação agorafóbica com e sem ataques de pânico.Embora o fenómeno psicopatológico seja comum,a história natural de cada uma é diferente. De facto,muitas vezes a limitação agorafóbica surge apósa experiência de um ataque de pânico, o que conduza ansiedade antecipatória e que leva ao evitamentodas situações temidas. Contudo, existem casos nosquais o quadro agorafóbico não é precedido de ataquede pânico, aparecendo em indivíduos com históriade experiência psicopatológica de temática ansiosae, nestes casos, a agorafobia está mais circunscritaa determinadas situações, tais como autocarros,metropolitano, elevadores, entre outras.

A perturbação agorafóbica tende a complicar-sepor depressão, relacionada com os sentimentos deinferioridade e/ou de incapacidade que emergemperante as limitações condicionadas por evitamentosmúltiplos, mas também por comportamento depen-dente, que significa geralmente uma forma de lidarcom a ansiedade agorafóbica, uma modalidade deobtenção de tranquilização.

Karl Jaspers descreveu a experiência agora-fóbica da seguinte maneira: “Quando o pacientedeve atravessar uma praça ou se encontra numa ruadeserta diante de fachadas altas e largas, apossa-sedele um enorme sentimento de medo de morrer,ligado a um tremor generalizado, pressão no peito,palpitações, sensações de calafrio ou de calor quesobe para a cabeça, transpiração, sensação de estarpreso ao solo ou de fraqueza das extermidades, commedo de cair” (Jaspers, 1959). Na consciência agora-fóbica mostra-se uma afectação vincada da espa-cialidade.

Segundo Guimarães Lopes (2006), “A raiz sâns-crita spray, donde derivou o termo espaço, tem osignificado original de ‘desenhar´. Desenhar é espa-cializar uma ideia. (...) o design das nossas relaçõesintencionais a partir do que as torna tangíveis epeculiares. Já não estamos a falar de espaço masde uma qualidade, a ‘espacialidade’. Isso acontecequando a finitude (necessidade) é interceptada pelainfinitude (possibilidade).” Heidegger (cit. por Santos,1996) referia-se à espacialidade como: “... umaabertura luminosa, que dá luz e significação aoespaço dos objectos e ao espaço compartilhado comoutros seres humanos...” A partir desta definição,para além de uma vivência global e ligada inten-cionalmente ao objecto que se apresenta perante osujeito, há um conceito que surge como central naabordagem clínica da espacialidade: a significação.De facto, sendo o Homem capaz de construir signi-

ficados, é na atitude para com o espaço que habita eque o rodeia que podemos compreender a espaciali-dade. O facto da referência principal no espaço orien-tado ser o próprio corpo sobreposto num eixo vertical,que nos é revelado pela experiência da gravidade,mas também horizontal que nos possibilita direccio-narmo-nos no espaço, mostra a importância quea consciência do corpo adquire para a compreensãoda agorafobia.

Porém, quando se fala em termos psicopatoló-gicos da espacialidade, e tendo em conta o constantemovimento que é o devir da existência, poderáexistir uma hiper-ordenação da espacialidade, na quala estrutura rígida e sequencial prevalece na relaçãoe, por outro lado, pode observar-se a espacialidadevivida como caos ou buraco negro onde tudo seconsome, levando à indefinição anárquica das possi-bilidades de relação.

No caso da agorafobia a espacialidade é caracte-rizada pela vivência da distanciação, onde tudoestá como muito distante para o indivíduo e ondea constante procura de referências espaciais tempapel importante na estruturação da espacialidade.

O conceito de espaço orientado refere-se aoque experimentamos no dia a dia, uma vez quesomos a referência, quer no eixo horizontal quervertical. Cada dimensão tem o seu valor específico,há objectos, limites, distâncias e direcções que podemter o mesmo comprimento, mas serem valorizadasde formas bastante diferentes, dependendo se estãoa ser experimentadas no nosso espaço próximoou remoto. É o corpo humano que condiciona aexperiência do espaço, quer pela sua mobilidadequer pelos orgãos dos sentidos, por isso o espaçoorientado não pode ser visto como um continuumvazio, “[... tem limitações e conteúdos, é mapeadopor objectos que têm um “dentro” e um “fora”...]”(May, 1967).

Binswanger descreveu o espaço afectivo comouma experiência determinada pelo humor ou tona-lidade afectiva, é a qualidade espacial existenteao mesmo tempo que experimentamos o espaçoorientado. Definiu o eixo vertical como a base daexistência humana, considera que a vida é umaconstante tentativa de movimento para cima, paranos sentirmos “leves”, claramente uma alusão aoconceito de equilíbrio emocional.

Minkowski (cit. por Santos, 1996) definiu doissubtipos no espaço afectivo: o espaço claro, quepossui uma perspectiva, um horizonte e permitea amplitude da vida e que tem como característica

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fundamental a distância vivida, o espaço livre entredois pontos que permite o salto no desconhecido, noencontro fortuito entre indivíduos. Por outro ladoexiste também o espaço escuro, no qual deixa deexistir a distância vivida e o espaço vital sofre umestreitamento que cerca e penetra a existência doindivíduo.

2. PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA DAAGORAFOBIA

2.1. Espaço vivido na agorafobia

É através do espaço que se exprime o campodo possível e a estrutura de si, estrutura essa queinclui simultaneamente a relação com o mundode possibilidades. Nesta relação dialéctica, o espaçovivido é a relação do ser conSIgo. São as direcçõesde sentido de si que podem fornecer um modeloheurístico de compreensão de configurações psico-patológicas. Tendo a experiência humana o focono ser-em, na situação, a qual: “actualiza a expe-riência do Homem, como um movimento perma-nente de retotalização e redifinição situacional, doser em relação ao seu Todo” (Charbonneau, 2004), seser-no-mundo não actualiza, está perante um bloqueio,preso numa configuração que, no caso fóbico, é oser aquém de si.

Ser-aquém representa um bloqueio no qual oHomem perdeu a possibilidade de habitar oespaço total e integral, de se estender nas suaspossibilidades. É um obstáculo existencial, iden-tificado pela direcção de sentido que demonstra umaposição, um lugar que no caso é o ser-aquém, deum ponto de vista psicopatológico. De qualquerforma, Charbonneau (2004) salientou que essa posiçãonão é necessariamente negativa, uma vez que pres-supõe uma situação na qual os sentidos podemreabrir-se e o desenlace tornar-se possível, uma vezque o espaço vivido não é um espaço empírico masum lugar de expressão da presença humana na estru-tura espacial global na qual a perturbação repre-senta um afastamento dessa estrutura. No casodo fóbico surge uma ideia fixa pelo afastamentodo próximo, quer no espaço afectivo, quer no espaçosocial.

O espaço vivido do agorafóbico caracteriza-sepor uma relação obsessiva com estabelecimentode um limite espacial, no qual tem de se manter

sem nunca o ultrapassar. Os sintomas são determi-nados pelo ultrapassar desse limite, cuja soluçãoé encontrada pelo regresso afectivo ao aquém. Oagorafóbico está fixo no medo de se perder nomuito distante, que é definido pelo medo de ser-além, em qualquer dimensão. A agorafobia seria,então, uma expressão desse ultrapassar o limitee o aquém a que está condicionado que, por suavez, é dinâmico e indica quer um lugar (o lugardo fóbico), quer um movimento de retirada desselugar, que o define.

A retirada é uma expressão do agorafóbicopara regressar ao aquém do “muito distante” noqual se pode perder, estando constantemente deprevenção, em permanente inquietação.

A agorafobia é, assim, considerada a manifes-tação central das patologias de ser-em-retirada--de-si ou patologias de inibição. O espaço é vividocomo um lugar de exposição, no qual o risco dese perder ao meio e muito distante da margem éconstantemente projectado. Na experiência agora-fóbica há uma divisão entre o espaço familiar, dereencontro afectivo e o espaço de perda, de ser--aquém. Contudo, dialeticamente existe entre ambosos espaços um limite elaborado pelo agorafóbicopara poder manter-se aquém. O limite é sempreelaborado para que se consiga manter aquém, semnunca o ultrapassar.

O muito distante estrutura por isso o espaço doagorafóbico. Pode assumir a forma de ser-ao-meio,a igual distância do ponto de partida como do pontode chegada, ou ao meio de um lugar, ou ao meiode um espaço público, como aqueles que ele evita,criando assim uma posição de ausência de refe-rencial que se traduz na ansiedade em situaçõeschave. O ponto de chegada torna-se sempre familiar,dá-se o regresso das referências espaciais. São estassituações de estar-longe-da-margem, estando porisso ao-meio, o que angustia o agorafóbico.

O espaço afectivo do agorafóbico é definido pelomedo do inabitado ou medo do excessivamentehabitado, um medo do vazio, longe de alguém queo implique o estar em relação. O investimento inter-subjectivo não é importante para o fóbico, emboraCharbonneau refira que ao fóbico basta-lhe o estarao lado de, caracterizado por ser um estar junto,sem implicação afectiva. Existe por isso umafunção positiva no estilo relacional e no espaçointersubjectivo do fóbico que, ao não negar a relação(estar-com), permite-se que exista alguma expansãoafectiva, apesar da inibição geral.

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2.2. Vertigem agorafóbica

Charbonneau (2004) faz uma analogia entre ocaminhar à beira duma falésia e a situação de criseagorafóbica. A crise agorafóbica caracteriza-sepor uma manifestação de pânico, que é consti-tuida pela perda de referências espaciais e pelamobilização de todas as energias na contínua procurada margem. É a perda do “fio” que liga à margem. Évivido como um ter-ido-muito-longe, mas com ocaminho de regresso perdido. À medida que a crise sedesvanece as referências espaciais voltam a aparecer.

Na margem da falésia o espaço desdobra-se nasua imensidão e dá-se uma desorganização total doespaço vivido. É o estar longe da margem. O próximoe o distante misturam-se no espaço vivido. O aquie o acolá confundem-se. Dá-se um impulso dequerer regressar ao meio, sem o desejar. É umaangústia de não poder reencontrar a margem, masao mesmo tempo uma obsessão em ficar perdidono além de si, ficando fixo no regresso ao aquémde si perante o medo de se situar perante o seupróprio tornar-se, que aqui parece uma alusão aoconceito de projecto e suas escolhas e decisões emautenticidade, próprias da compreensão existencial.

A compreensão fenomenológica da agorafobia éuma tentativa de entender a experiência vividaagorafóbica, focalizando na vivência patológica.Se quisermos utilizar as heurísticas anteriormentemencionadas, vimos que o ser-aquém-de-si é ummodo fóbico de relação com um limite estabe-lecido, o qual é, à partida, impossível de ultrapassar.Quando, por qualquer motivo, o movimento doindivíduo se aproxima dessa ultrapassagem, surgemos sintomas agorafóbicos, deixando antever porisso que para o agorafóbico seria necessário ir--além-de-si, rompendo com as normas e distânciasintersubjectivas.

3. PERSPECTIVA EXISTENCIAL DOAGORAFÓBICO

A conceptualização da agorafobia tem em conta“o modo pessoal de conseguir viver a minha vidaprópria, nela me realizar como pessoa humanaao transformar o viver em existir, não meramenteum saber de espectador. Vivencio-a na primeirapessoa como seu autor e simultaneamente, comoactor do meu texto, no espaço e tempo compar-tilhados com o Outro, ou seja, em situação” (Guimarães

Lopes, 2006). A problemática do agorafóbico centra--se por isso na ansiedade que existe e envolve oseu modo de estar-no-mundo, especialmente atravésdas experiências de espaços sociais.

Segundo Henri Ey (cit. Villegas, 1994) “Se nãohá liberdade humana, não há loucura”, o que de-monstra que perante as possibilidades existenteso Homem pode sempre escolher e decidir, emborapor vezes o contrário também seja válido, o queconfiguraria uma situação de obstáculo existencial,ou a incapacidade para agir e tomar decisões livre-mente. A neurose seria a impossibilidade de pro-jectar-se autonomamente no mundo. Liberdade édeterminação, posição activa perante o mundo,ao contrário de indeterminação com ausência deposição.

Segundo Villegas (1995), o conceito de dilemasmorais que muitas vezes aparecem associadas apatologias depressivas e ansiosas é uma porta deentrada para compreendermos os modos comoenfrentamos as situações de conflito. Refere quea superação destes dilemas supõe uma afirmação,uma reconquista da capacidade de decidir, e quea não superação destes dilemas, que se configuracomo uma renúncia à liberdade, pode associar-se aperturbações psicológicas graves, tais como a agora-fobia.

A agorafobia é uma perturbação da ansiedadena qual existe uma restrição da liberdade de movi-mentos e uma limitação ao espaço familiar. Aoconsiderar que a agorafobia corresponde a um conflitomoral da liberdade nas relações intersubjectivas,o enfoque é posto na falência de um projecto exis-tencial no qual a dificuldade em enfrentar espaçosabertos é expressão de uma dificuldade em afastar--se de uma relação não escolhida em liberdade,ou que existe às custas da mesma. A liberdade évista como incompatível com as obrigações dadaspor um destino não escolhido. O factor determi-nante da agorafobia estaria na impossibilidade deser autónomo sem quebrar as obrigações morais,que chegam ao indivíduo como uma fatalidade,não escolhidas em liberdade. É a obrigação moralque surge quando em certo ponto do seu desen-volvimento, o sujeito necessita de uma maior auto-nomia e que, dadas as circunstâncias relacionais,geram um conflito moral e acabam por levar oindivíduo a ter que carregar essas relações quesão vividas como limitadoras da sua liberdade.

Segundo Villegas (1995), “conseguir ser autó-nomo, leva-me a não cumprir as minhas obriga-

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ções; assim devo limitar a minha necessidade deautonomia, esta limitação gera conflito interno umavez que vai contra a minha vontade de exploraçãoe assim o espaço é vivido como ameaçador, for-çando-me a evitá-lo, não quero responsabilizar-me,prefiro estar mal”. Assim, a agorafobia sinalizariaa existência de um conflito, um dilema moral quefaz o sujeito ficar preso ou bloqueado porque é oque deve fazer, em vez de evoluir autonomamente,que é o que quer ou necessita.

O paradoxo é central na dinâmica agorafóbica.Ser consciente de nós próprios como seres finitoscom possibilidades infinitas traz consigo a ansie-dade existencial de conseguir um equilíbrio emser-no-mundo. Ao reflectir e integrar a sua ansie-dade mediada essencialmente pelos espaços, aredefinição exigida à existência agorafóbica é umprocesso de ajustamento, quer aos espaços vividoscomo ameaçadores como ao próprio existir.

Escolher implica afirmar uma posição peranteum conflito. É o confronto com a nossa liberdade.Se conseguirmos superar os dilemas inerentes ànossa existência, reconquistamos a nossa capa-cidade de decidir, e a nossa autonomia cresce. Serenunciamos à nossa liberdade, estamos próximosda patologia. Segundo Villegas (1995), “a reso-lução deste conflito exige a elaboração de um sistemaepistemológico mais complexo, quer a nivel cognitivocomo moral, em que autonomia e o compromissomoral sejam compatíveis”.

4. PÂNICO, INTERSUBJECTIVIDADE EPSICOTERAPIA EXISTENCIAL

Como referido anteriormente, o conflito assi-nalado pela agorafobia pelo despoletar de umacrise psicológica apresenta-se como hipótese dedesenvolvimento e de retoma do projecto existencial,uma vez que leva à análise e clarificação das mun-divivências do indivíduo. O que daria à experiênciade pânico um papel de precipitador de uma possívelexperiência reflexiva. Desta forma parece-nos rele-vante considerar a experiência de pânico como central,tendo em conta a sua presença na agorafobia.

Ao propor uma via alternativa procuramos outrastrajectórias que, se possível, clarifiquem signifi-cados existenciais no agorafóbico.

Na maior parte dos casos, o desenvolvimentoda agorafobia começa com a experiência de umataque de pânico num local público, que pode ser

consequência de um acontecimento específico ousurgir abruptamente sem nenhum evento que sepossa considerar precipitante. Torna-se então pre-ferível falar num autêntico sindroma de pânicoque, do ponto de vista das manifestações obser-váveis, é constituído por vivido de perda e/ou sepa-ração (que pode preceder o início da perturbaçãode pânico), ataques de pânico propriamente ditos,limitação agorafóbica da actividade, ansiedadede antecipação e, ainda, possibilidade de evoluçãodepressiva (Carvalho Teixeira, 1997).

Desta forma, e tendo em conta a experiênciavivida de uma insegurança extrema, vital até, oevitamento do aumento da distância de locais fami-liares vai condicionar o indivíduo, aquilo que caracte-rizamos como agorafobia. É o evitamento de locaisque são associados à experiência de ataque depânico, limitando a sua liberdade de movimentose aumentando por isso sentimentos de incapaci-dade e inferioridade e podendo conduzir à depressão.

No caso do pânico, o medo está directamenterelacionado com a percepção de ameaça vividadurante o ataque de pânico, a insegurança perantea incerteza que surge durante e após o ataque depânico sobre o desconhecimento do que se está apassar e do que se irá passar, a angústia emerge dacorporalidade, sem conteúdos psicológicos numaprimeira fase, mas podendo remeter para a expe-riência reflexiva e revelando-se por isso fulcralna compreensão do pânico e, por último, a ansie-dade assume o carácter de antecipação perante aincerteza sobre o que irá acontecer no futuro, ligando-seà expectativa de vir a experimentar novos ataquesde pânico.

Através das descrições da experiência de pânicopodemos constatar que o medo patológico pareceadvir da corporalidade e existem duas formula-ções de bases distintas que nos podem ser útil parapensar sobre o pânico, o conceito de disrupção dasfronteiras protectoras corporais, de base psico-dinâmica, e o conceito de disrupção da crença emser especial, de base existencial. Ambos os con-ceitos assentam na palavra disrupção o que, na nossaopinião, se deve a algo que era assumido como garantido,é subitamente ameaçado ou retirado, como pareceser a natureza do medo patológico descrito acima.

Parece-nos assim, que este conceito é de algummodo equivalente à crença em ser especial, refe-rida por Yalom (1980), fundamentada no pressu-posto que de, alguma maneira, nós somos especiaise que vamos permanecer magicamente vencendo

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a morte, crença que foi também descrita por Piode Abreu (2001). Desta forma, o pânico assumeum papel de disruptor conseguindo rasgar as nossasfronteiras protectoras do corpo e abanar as crençasde imortalidade levando ao sindroma de pânico. Surgeentão a insegurança, tudo aquilo que sustentava oindivíduo parece ruir, descrita como sensação de“groundlessness” (Yalom, 1980), sentindo-se por issoexposto ao mundo e às suas vicissitudes, contra-ditórias às crenças que sustentavam o projectoindividual do sujeito até ao momento. A vivênciada ameaça torna-se numa constante e a angústiaexistencial presentifica-se, levando o sujeito a evitara experiência reflexiva (residindo aqui um dosobjectivos da terapia) e a conduzir-se dessa formaà limitação agorafóbica na qual o sentirem-se olhadospor outras pessoas é vivido de forma invasiva, peloque a procura de retorno ao familiar e protector éuma constante.

Esta é uma noção muito próxima do papel doolhar descrito por Sartre (1993) que considerouque o olhar do outro, ao objectivar, pode fazer sentirno visado uma perda de controlo sobre si próprioe sobre uma dada situação, o que precipitaria ansie-dade e representaria uma negação da percepção desi pela percepção do outro. Assim, a experiênciado pânico é o que diferencia o agorafóbico, quenão conseguiria estar indiferente ao olhar público eestranho, uma vez que o pânico abanou as suascrenças e fronteiras protectoras prévias que omantinham seguro e, sobretudo, a uma distânciasegura. Para não ser descoberto esconde-se do olhardo outro, uma tentativa de ocultação equivalenteà atitude de má fé (Garcia Arroyo, 2004).

Um facto curioso reside na apetência, facilidadee segurança que os agorafóbicos experimentamem relação à noite. A escuridão da noite revela-sesegura e facilitadora para os agorafóbicos, prote-gendo-os do olhar público. Poderíamos fazer aquiuma alusão ao conceito de abertura/fechamentodo Dasein, levando no caso do indivíduo agora-fóbico a tornar-se num ser opaco, devido ao seufechamento ao Mundo e à negação do estar-com.

A experiência de pânico, embora traumáticano seu aparecimento súbito pode ser catalisadorade um voltar-se para si próprio, e para uma atitudereflexiva, que põe o indivíduo em contacto como seu projecto existencial, ficando muitas vezesbloqueado, neste caso na limitação agorafóbicaque tem subjacente um paradoxo que deixa osujeito numa situação aparentemente sem saída,

uma vez que se decidir agir, isso representa umrisco acrescido para o próprio devido à possibili-dade de ataques de pânico e se por outro lado decidirnão agir, isso leva a um crescente sentimento defrustração e inferioridade, revelando a incapaci-dade perante a fatalidade de um destino no qualnão há nada a fazer.

Enfrentar a tensão conflitual do ser no mundo,apresenta-se perante o sujeito agorafóbico de umaforma invasiva que impregna a sua consciência eque conduz de certo modo à angústia existencial,mas não reflectida em liberdade. A angústia existencialque falamos é a mesma que que todo o ser humanoexperiencia ao estar-no-mundo e que Kierkegaard(1969) definiu como vertigem da própria liberdade,que surge quando nos questionamos sobre a liber-dade de escolha. No caso do agorafóbico, actuariacomo obstáculo à sua existência em liberdade umavez que é vivenciado como uma crise de “fronteiras”pessoais, afectando a espacialidade do indivíduo,e que a reconstrução da sua identidade como ser-no--mundo é constantemente sentida como estando emrisco, invadida pela desconstrução que, pela essênciade espaços físicos socialmente sentidos como consu-midores, como são os espaços públicos e em par-ticular os supermercados, vai adiando o confronto como seu projecto existencial (Davidson, 2003).

Para Kierkegaard (1969), “o Homem experimentaum isolamento básico que pertence à existência eque, nas camadas mais profundas do seu ser, osepara dos outros e do mundo, apesar das relaçõesafectivas gratificantes que vai estabelecendo”.Perante isto, a pessoa só conseguirá vencer a inse-gurança ontológica gerada pela angústia, quandose entregar a esse sofrimento e escolher-se a sipróprio, só a partir da angústia se poderá alcançar aliberdade.

Porém, no caso do agorafóbico a simples expo-sição à sua ansiedade de uma forma comporta-mental não é o que descrevemos aqui, mas antesuma clarificação e confronto existencial da condiçãorepresentada pela angústia na existência do ser humano.Ou seja, ao invés da banalização da ansiedade e dapromoção de renovados comportamentos de evita-mento, tenta-se explorar e reformular o modo deexistir perante as condições da existência, na qual aansiedade se insere, mas de uma forma responsávelque tem que levar em conta a escolha em liberdadedo sujeito, no encontro consigo mesmo e o seu projecto.

Um outro aspecto que é necessário ter em conta,diz respeito ao espaço subjectivo do agorafóbico,

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que funciona quase como uma segunda-pele (Davidson,2003) e permite a integração da identidade pessoal,pela segurança que lhe transmite (muitas vezes,esse local é a própria casa, e noutros casos, o próprioquarto). O problema surge quando, ao deixar esseslocais, o espaço deixa de ser sujectivo e passa a serinevitavelmente intersubjectivo. O desconfortoagorafóbico pode ser expresso pela angústia denão-estar-em-casa.

Sartre (1993), que descreveu o modo de existirde forma inautêntica como sendo aquele no qual oindivíduo nega a sua existência preferindo submergirna corrente de massificação e banalização da indivi-dualidade humana, desculpando-se do seu próprioexistir e evitando a ansiedade inerente à existênciae que no caso da agorafobia, ao contrário da maioriadas situações, se traduz num conflito existencial.

É na exploração da experiência e significadosque levam uma pessoa a questionar os pressu-postos que sustentam o seu sentido de si e a sentir-seameaçada pela relação com as suas referênciasespaciais, que pode residir a tarefa central da psico-terapia existencial.

Referimos ainda que a situação existencial doagorafóbico continha outra preocupação inerente, ainevitabilidade da morte e a sua negação. Após adisrupção causada pelo ataque de pânico na crençade ser especial, o sujeito é confrontado com ainevitabilidade da morte mas evita a angústiarecriando as fronteiras protectoras permanecendoem espaços familiares e desenvolvendo a crençana existência de um outro salvador evitando assimo confronto angustiante com a inevitabilidade damorte, desenvolvendo uma existência montadasobre o outro e não no desenvolvimento do seupróprio projecto.

A análise da existência do Homem com pertur-bação de pânico pode ser a análise de um projectoexistencial que fracassou na tentativa de transcendero isolamento existencial e o medo da morte (CarvalhoTeixeira, 1997). A experiência de pânico confrontao Homem com o seu projecto existencial, reve-lando-lhe as suas possibilidades e limites, condu-zindo-o à autenticidade.

Assim, parece fundamental tentar a compreensãoe a clarificação dos significados atribuídos pelossujeitos com experiência agorafóbica, situando-ossempre na sua dimensão intersubjectiva. Consi-derando a relação terapêutica como constituinte nomundo de relações intersubjectivas do paciente,e não como representante única e exclusiva do

seu mundo relacional, a psicoterapia existencialtenta, através da exploração das dimensões rela-cionais e sobretudo espaciais do agorafóbico, clarificaro seu modo de existir para que este inclua a suaexperiência vivida do mundo e dos outros queexistem nele, ao invés de evitar a sua consideraçãoou construindo e mantendo a possibilidade de ummundo que não se integra na sua experiência vivida.

A tarefa clínica é evidenciar o papel importanteque a experiência do pânico pode ter como potencialdesencadeador do contacto do sujeito com a suaexistência, e ao invés de tentarmos dar uma possívelexplicação causal para para esse fenómeno e decerta forma perpetuarmos a continuação de umaexistência que se evita a si própria. Pode ser esseo crédito (Chadwick, 1997) do pânico e da agora-fobia.

Para se tornar naquilo que é, o sujeito tem dese afirmar perante a sua existência e, antes deassumir qualquer possibilidade, necessita sentirque essas possibilidades existem e que é dele aautoria do seu projecto existencial.

REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS

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RESUMO

Os autores desenvolvem uma análise fenomenoló-gica e existencial da agorafobia, caracterizando o papelda vivência agorafóbica como ser-aquém-de-si, e refe-renciando a experiência da vertigem agorafóbica comocentral para a compreensão do fenómeno. A agorafobia éconsiderada como um dilema moral na existência querestringe as escolhas em liberdade do indivíduo e a expe-riência de pânico é analisada seguindo o movimento subjectivo--intersubjectivo demonstrando o seu possível crédito paraa psicoterapia existencial, que surge assim como relaçãoterapêutica integrada na mundivivência do indivíduo eque permite a exploração dos pressupostos que sustentamo mundo agorafóbico como possibilidade de existir.

Palavras-chave: Agorafobia, ser-aquém-de-si, vertigemagorafóbica, dilema moral, psicoterapia existencial.

ABSTRACT

The authors develop a phenomenological and exis-tential analysis of agoraphobia, characterizing the role ofthe agoraphobic experience as to-almost-being-oneself, andmake reference to agoraphobic vertigo experience as centralfor the understanding of the phenomena. The agoraphobiais considered as a moral dilemma in existence that restrictsthe individual’s freedom of choice and the panic expe-rience is analyzed following of the subjective-intersub-jective movement demonstrating its possible credit forexistential psychotherapy which, as a therapeutical relation,is part of the individual’s lived world of relations andallows the exploration of the assumptions that supportthe agoraphobic world as a possibility to existence.

Key words: Agoraphobia, to-almost-being-oneself,agoraphobic vertigo, moral dilemma, existential psycho-therapy.

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