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Tendências e motores de mudança principais nas tecnologias da informação e da comunicação e na localização do trabalho Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho Análise prospetiva sobre riscos novos e emergentes em matéria de segurança e saúde no trabalho associados à digitalização até 2025 Observatório Europeu dos Riscos Síntese

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Tendências e motores de mudança principais nas tecnologias da informação e da comunicação e na localização do trabalho

Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho

Análise prospetiva sobre riscos novos e emergentes em matéria de segurança e saúde no trabalho associados à digitalização até 2025 Observatório Europeu dos Riscos

Síntese

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Análise prospetiva sobre riscos novos e emergentes em matéria de segurança e saúde no trabalho associados à digitalização até 2025

Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho — EU-OSHA 2

Autores: Nicola Stacey, Peter Ellwood e Sam Bradbrook (Laboratório de Saúde e Segurança - HSL), John Reynolds, Joe Ravetz, Huw Williams e David Lye (SAMI Consulting Limited).

Gestão do projeto: Emmanuelle Brun, Kate Palmer, Katalin Sas, Annick Starren (EU-OSHA).

O presente relatório foi encomendado pela Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA). O seu conteúdo, incluindo as opiniões e/ou conclusões eventualmente expressas, é da responsabilidade exclusiva do(s) seu(s) autor(es) e não reflete necessariamente os pontos de vista da EU-OSHA.

O Europe Direct é um serviço que o ajuda a obter respostas para as suas perguntas relacionadas com a União Europeia

Linha telefónica gratuita (*):

00 800 6 7 8 9 10 11

(*) Alguns operadores de telecomunicações móveis não autorizam o acesso a números 00 800 ou poderão cobrar uma tarifa por estas chamadas.

Mais informações sobre a União Europeia encontram-se disponíveis na Internet

(http://europa.eu). Figura no fim desta publicação uma ficha catalográfica.

Luxemburgo: Serviço das Publicações da União Europeia, 2018

© Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, 2018 Reprodução autorizada mediante indicação da fonte.

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Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho — EU-OSHA 3

Índice 1 Introdução .................................................................................................................................... 5

2 Metodologia: elaboração de cenários .......................................................................................... 5

2.1 Identificação de tendências e motores de mudança ................................................................... 5

2.2 Elaboração de cenários ............................................................................................................... 6

3 Implicações em matéria de SST .................................................................................................. 8 3.1 Equipamento, ferramentas e sistemas de trabalho ..................................................................... 8

3.2 Organização e gestão do trabalho............................................................................................. 12

3.3 Estruturas, hierarquias e relações empresariais ....................................................................... 14

3.4 Características da mão de obra................................................................................................. 15

3.5 Responsabilidades pela SST ..................................................................................................... 16 3.6 Competências, conhecimentos e informação ............................................................................ 17

4 Conclusões ................................................................................................................................ 18

5 Referências ................................................................................................................................ 21

Anexo: Descrições de cenários ............................................................................................................ 22

Glossário ............................................................................................................................................... 42

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1 Introdução A criação de um Mercado Único Digital (MUD) conectado foi definida como uma das principais prioridades da Comissão Europeia (CE, 2015). A digitalização, incluindo as tecnologias baseadas nas TIC, como a robótica e a inteligência artificial (IA), vai certamente ter um grande impacto na natureza e localização do trabalho nos próximos dez anos. As tecnologias estão a difundir-se muito mais rapidamente do que no passado e muitas pessoas falam de uma «quarta revolução industrial». Prevê-se que mudem profundamente aspetos como: onde e como trabalhamos, quem irá trabalhar e a nossa perceção do trabalho.

Nos seus documentos estratégicos em vigor (CE, 2014; CE, 2017) a Comissão Europeia identifica a necessidade de uma abordagem proativa para identificar os riscos futuros para a segurança e saúde dos trabalhadores num mundo de trabalho em constante mudança. A Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA) está atenta aos desafios para a segurança e saúde no trabalho (SST) que resultam de mudanças no local de trabalho, a fim de melhor os antecipar e de criar locais de trabalho mais saudáveis e seguros no futuro. O presente relatório resume o projeto da EU-OSHA «Análise prospetiva sobre riscos novos e emergentes em matéria de segurança e saúde no trabalho associados às tecnologias da informação e da comunicação até 2025» (EU-OSHA, 2018).

A análise prospetiva assenta no entendimento de que o futuro pode evoluir em direções diferentes, que podem ser determinadas pelas ações de várias partes interessadas e pelas decisões que forem tomadas hoje. Por conseguinte, a criação de cenários foi utilizada como um instrumento de construção de perspetivas de futuro possíveis relevantes para a política em matéria de SST.

Este projeto visou fornecer aos decisores políticos da UE, aos governos dos Estados-Membros, aos sindicatos e aos empregadores as informações de que necessitam sobre a evolução resultante da digitalização e das tecnologias baseadas nas TIC, o seu impacto no trabalho e os desafios emergentes em matéria de SST que podem trazer. Deverá ajudá-los a:

compreender melhor os desenvolvimentos a longo prazo suscetíveis de afetar os trabalhadores e em que medida esses desenvolvimentos podem resultar das atuais decisões políticas;

definir as prioridades da investigação e das ações em matéria de SST que possam prevenir os possíveis riscos novos e emergentes identificados ou que minimizem o seu possível impacto negativo no futuro.

2 Metodologia: elaboração de cenários Este projeto prospetivo foi realizado em dois pacotes de trabalho distintos, seguidos de um terceiro pacote de trabalho para divulgar os resultados. O Pacote de Trabalho 1 teve por objetivo identificar as principais tendências e motores de mudança contextuais em relação às tecnologias baseadas nas TIC suscetíveis de contribuir para a criação de riscos novos e emergentes em matéria de SST associados à digitalização (EU-OSHA, 2017a). O objetivo do Pacote de Trabalho 2 foi criar os cenários do mundo do trabalho em 2025 e dos riscos novos e emergentes em matéria de SST associados à digitalização e testá-los (EU-OSHA, 2018).

2.1 Identificação de tendências e motores de mudança Exploração do horizonte

O primeiro passo foi a exploração do horizonte, a fim de identificar um vasto leque de informações relevantes para as tendências e os motores de mudança em relação às tecnologias baseadas nas TIC e ao seu impacto no trabalho. Este trabalho foi baseado na análise de uma vasta gama de publicações e relatórios de investigação, incluindo a chamada «literatura cinzenta», e permitiu constatar 92 tendências e motores de mudança, que foram classificados em cinco categorias «STEEP»: societal (29 motores de mudança), tecnológica (29), económica (19), ambiental (5) e política (10).

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Consolidação

Foram realizadas entrevistas para consolidar a lista de tendências e motores de mudança resultante da exploração do horizonte e para obter um panorama inicial das que terão maior impacto nas tecnologias baseadas nas TIC e no trabalho. Os 19 peritos de uma amostra dirigida, que incluiu membros do Grupo Consultivo de Prevenção e Investigação da EU-OSHA, foram entrevistados individualmente, por telefone. Foi adotada uma abordagem semiestruturada às entrevistas, com base na técnica das «Sete Perguntas» (Ringland, 2006).

Foi igualmente realizado um inquérito Web em duas rondas, baseado na metodologia Delphi, para abrir a consulta a um público mais vasto. Na primeira ronda, os inquiridos (114 de 22 países) foram convidados a selecionar até três tendências e motores de mudança (de cada categoria STEEP) que consideravam serem os mais importantes.

Foi realizada uma segunda ronda para partilhar os resultados com os 30 inquiridos da primeira ronda que tinham concordado em ser contactados novamente e para lhes dar a oportunidade de apresentarem observações sobre a classificação das tendências e motores de mudança. Apenas 11 responderam às perguntas.

Para a lista consolidada de tendências e motores de mudança, consulte o relatório do Pacote de Trabalho 1 (EU-OSHA, 2017a).

Seleção das principais tendências e motores de mudança

A seleção das principais tendências e motores de mudança foi efetuada num workshop (EU-OSHA, 2017a) e incluíram os que tinham:

1. um impacto elevado e níveis elevados de incerteza — estas são as «incertezas críticas» que criam as principais diferenças entre os cenários;

2. um impacto considerável, mas resultados mais previsíveis — era importante que estes fossem tidos em conta em todos os cenários.

2.2 Elaboração de cenários Criação dos cenários de base

Este trabalho foi feito num segundo workshop em que foram definidos os eixos do cenário (os quais delimitam os cenários potenciais). Os eixos eram formados pelas principais tendências e motores de mudança com «impacto elevado e níveis elevados de incerteza» (incertezas críticas). Como algumas das incertezas críticas estavam relacionadas em termos do seu impacto, foram agrupadas em torno de dois eixos:

1. Governação e atitudes do público/dos trabalhadores, o que abrange o ambiente em que as tecnologias baseadas nas TIC serão exploradas, a aceitação e a procura de avanços nas tecnologias baseadas nas TIC, e a forma como a inovação e a implementação das tecnologias baseadas nas TIC são governadas. Essas atitudes poderão ser de apoio, com níveis elevados de aceitação, ou de resistência, com níveis baixos de aceitação.

2. Crescimento económico e aplicação da tecnologia, o que inclui o nível de crescimento económico e os investimentos em tecnologia e competências, o nível de aplicação dos avanços das tecnologias baseadas nas TIC e o nível de impacto na natureza e na localização do trabalho, bem como as alterações às estruturas empresariais daí resultantes. Todos estes níveis podem ser altos ou baixos.

A combinação desses dois eixos deu origem a quatro cenários de base de como o futuro poderá ser em 2025, como ilustra a figura 1. Foi efetuada uma análise de impacto de todos os cenários para descrever a situação relativamente a cada uma das principais tendências e cada um dos motores de mudança em cada cenário. Esta análise definiu as principais características dos cenários de base.

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Figura 1: Quadrantes dos cenários

High/Supportive Elevado/Favorável

Scenario 1 Cenário 1 Evolution Evolução

Scenario 2 Cenário 2 Transformation Transformação

Scenario 4 Cenário 4 Fragmentation Fragmentação

Scenario 3 Cenário 3 Exploitation Exploração

Low/resistive Baixo/Desfavorável Low Baixo High Elevado

Economoic growth and technology application Crescimento económico e aplicação da

tecnologia

Elaboração de cenários de SST

Partindo dos cenários de base, foram criados cenários de SST num terceiro workshop de peritos e decisores políticos, no qual foi analisada a possível evolução das tecnologias baseadas nas TIC e do ambiente geral de SST em cada cenário de base, e o que isso poderá significar em termos de desafios e oportunidades novos e emergentes em matéria de SST.

Os cenários de SST resultantes foram analisados por quatro peritos em SST e, por último, testados num quarto workshop com decisores políticos. Os participantes analisaram os desafios e as oportunidades para a SST em cada cenário e estudaram potenciais estratégias e respostas políticas aos desafios novos e emergentes em matéria de SST. Essas respostas foram em seguida discutidas e analisadas, a fim de testar sua validade nos outros cenários. Este processo, frequentemente designado por «wind-tunnelling» (teste em túnel de vento), ajuda a explorar formas de otimizar o êxito futuro, a identificar os riscos futuros da realização dos objetivos, a questionar eventuais «pontos de vista oficiais» do futuro e a criar um ambiente propício a um debate aberto sobre as opções políticas.

Os cenários finais produzidos estão disponíveis no anexo.

Entre o final de 2017 e 2019, realizaram-se outros workshops de divulgação com recurso ao mesmo processo, com vista a promover as conclusões dos projetos, incluindo a utilização dos cenários como um instrumento para fazer face aos desafios futuros em matéria de SST.

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3 Implicações em matéria de SST As tendências e os motores de mudança indicam que, até 2025, as tecnologias baseadas nas TIC terão alterado o equipamento, as ferramentas e os sistemas que podem ser utilizados para organizar, gerir e fornecer produtos e/ou serviços na maioria dos setores profissionais. Entre esses desenvolvimentos figuram avanços contínuos na automatização de processos de trabalho que se tornam cada vez mais complexos, interligados e autónomos, na medida em que são autossuficientes em termos de organização, aprendizagem e manutenção. A impressão 3D e 4D e a bioimpressão, os veículos autónomos (incluindo veículos não tripulados), a robótica (incluindo a robótica colaborativa), os algoritmos, a inteligência artificial (IA), a realidade virtual (RV) e a realidade aumentada (RA) serão cada vez mais usados para fins de trabalho, e a inovação nessas tecnologias continuará. Os robôs tornar-se-ão livres, móveis, ágeis, próximos dos trabalhadores, colaborantes e cada vez mais inteligentes, trazendo automatização a tarefas que até então lhes eram inacessíveis. Mesmo os empregos que não sejam substituídos por robôs mudarão consideravelmente, uma vez que os trabalhadores irão utilizar e interagir com uma vasta gama de tecnologias digitais. Verifica-se igualmente uma tendência clara para a miniaturização das tecnologias baseadas nas TIC, que são cada vez mais «inteligentes» e estão cada vez mais ligadas à Internet (a chamada «Internet das Coisas» — IoT). Juntamente com a biónica ou os exoesqueletos, essas tecnologias serão utilizadas para melhorar ou monitorizar o desempenho humano, gerando quantidades consideráveis de dados. A contínua evolução das interfaces homem-máquina permitirá aos seres humanos interagir com máquinas e uns com os outros à distância através de tecnologias baseadas nas TIC, de formas muito mais semelhantes à forma como os seres humanos interagem face a face. As tendências indicam que, até 2025, a interface direta cérebro-máquina poderá ser já uma realidade, mas não será ainda generalizada.

O nível de inovação e de adoção das tecnologias baseadas nas TIC acima descrito e o seu impacto na SST dependerão das tendências e dos motores de mudança de caráter social, económico, ambiental e político existentes entre o presente momento e 2025. A exploração do horizonte realizada durante este projeto prospetivo, juntamente com os quatro cenários alternativos do futuro que foram criados (no documento anexo), permitiu identificar uma série de desafios e oportunidades em matéria de SST que poderão surgir à medida que as tecnologias baseadas nas TIC mudam. Estes desafios e oportunidades estão relacionados com:

o equipamento, as ferramentas e os sistemas de trabalho utilizados; a forma como o trabalho é organizado e gerido; o estatuto, as hierarquias e as relações profissionais; as características da mão de obra; as responsabilidades pela gestão da SST; os requisitos em matéria de competências, conhecimentos e informação.

3.1 Equipamento, ferramentas e sistemas de trabalho Exposição a substâncias perigosas: a automatização, a robótica, as interfaces remotas e a RV para fins de formação podem ajudar a reduzir a exposição dos trabalhadores a substâncias perigosas. A monitorização da exposição dos trabalhadores a substâncias tóxicas poderá ser facilitada pela utilização de sensores inteligentes incorporados em dispositivos vestíveis. O acesso a computadores cada vez mais potentes a preços acessíveis, bem como a disponibilidade de grandes conjuntos de dados, poderão também permitir a utilização da sequenciação de perfis de ADN para excluir os trabalhadores mais suscetíveis a substâncias perigosas específicas, embora tal possa suscitar questões éticas. Inversamente, algumas tecnologias baseadas nas TIC, como a impressão 3D e 4D e a bioimpressão, poderão aumentar a exposição a uma série de novas substâncias cujos perigos ainda não são totalmente compreendidos. Além disso, é provável que estas tecnologias estejam ao alcance de e sejam utilizadas por microempresas e (pseudo) trabalhadores por conta própria, que poderão não dispor dos recursos e competências necessários para manusear com toda a segurança as substâncias associadas.

Exposição a perigos físicos: a automatização, a robótica e os veículos autónomos ou não tripulados podem reduzir a necessidade de os trabalhadores executarem as suas tarefas em ambientes perigosos, como espaços confinados, de trabalharem em altura, de estarem expostos a ruído e a vibrações ou de

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entrarem em contacto com máquinas em movimento. Proporcionam igualmente a oportunidade de delegar tarefas rotineiras ou repetitivas a máquinas. No entanto, as mesmas tecnologias poderão ser fonte de danos devido a riscos de entalação, enredamento, impacto, ruído e vibração, por exemplo, no caso de robôs colaborativos ou de exoesqueletos biónicos. No quadro da robótica, a SST baseou-se sempre na separação entre trabalhadores e robôs. Com os robôs a trabalharem na proximidade imediata dos trabalhadores, as novas técnicas de SST consistirão, nomeadamente, na utilização de rebordos macios e arredondados, velocidades e força reduzidas, sensores e sistemas de visão. No entanto, se os sensores falharem ou sofrerem interferências elétricas ou ciberataques, os sistemas de segurança poderão falhar. O equipamento que os robôs poderão estar a utilizar (por exemplo, laser, elétrodos de soldadura, equipamento mecânico) poderá também representar um perigo para os trabalhadores. Com uma interação mais estreita e inovadora entre máquinas e trabalhadores, poderá tornar-se cada vez mais importante compreender como os trabalhadores se comportarão.

Movimentação manual: os robôs autónomos móveis ou os exoesqueletos poderão ajudar os trabalhadores na execução de tarefas de movimentação manual e de trabalho árduo. Tais inovações poderão permitir aos trabalhadores mais idosos continuarem a executar tarefas que exigem esforço físico e melhorar o acesso ao trabalho das pessoas com deficiência. Os robôs colaborativos não só podem assumir tarefas de movimentação manual anteriormente executadas pelos trabalhadores, como também podem proporcionar uma nova forma de gerir os riscos de movimentação manual a que os trabalhadores estão sujeitos, uma vez que será possível incorporar sensores de eletromiografia no vestuário das pessoas que trabalham junto de robôs colaborativos; os sensores serão então monitorizados pelos robôs para avisar os trabalhadores quando assumirem posturas potencialmente perigosas. No entanto, uma excessiva dependência de robôs ou exoesqueletos para a movimentação manual de cargas poderá ter implicações para a aptidão física dos trabalhadores, resultando, por exemplo, na perda de densidade muscular/óssea ou de flexibilidade das articulações. Os exoesqueletos poderão transmitir aos trabalhadores um sentimento de invulnerabilidade, que os poderá levar a correr maiores riscos devido à força adicional que o exoesqueleto lhes proporciona.

Trabalho sedentário: as tecnologias baseadas nas TIC podem tornar o trabalho mais sedentário. Embora estas tecnologias possam afastar os trabalhadores de situações perigosas, o facto de os processos de trabalho poderem ser controlados e também, cada vez mais, mantidos à distância elimina a atividade física associada à execução pessoal das tarefas. Um estilo de vida mais sedentário pode aumentar o risco de posturas incorretas, doenças cardiovasculares, obesidade, acidentes vasculares cerebrais e diabetes, e poderá também aumentar a ansiedade. Contudo, a tecnologia digital pode também ajudar a reduzir o comportamento sedentário, por exemplo através da utilização de dispositivos vestíveis para alertar os utilizadores para os perigos e para os influenciar no sentido de adotarem comportamentos saudáveis. As novas interfaces homem-máquina, como o reconhecimento de voz, o controlo de gestos ou o seguimento dos movimentos oculares («eye tracking»), também podem permitir que os trabalhadores utilizem tecnologias baseadas nas TIC enquanto estiverem fisicamente ativos.

Ergonomia do posto de trabalho: as tecnologias móveis baseadas nas TIC permitem que as pessoas trabalhem em qualquer lugar. Os dispositivos móveis portáteis não são ergonomicamente adequados para utilização durante longos períodos e podem causar lesões nos membros superiores, pescoço e costas. As habitações, os locais públicos ou os transportes também poderão não ser ergonomicamente adequados para fins de trabalho. Os empregadores não podem controlar esses ambientes nem a forma como as pessoas trabalham neles. As interfaces gestuais, vocais ou oculares poderão melhorar a ergonomia e tornar o trabalho mais acessível para um conjunto mais vasto de pessoas com determinadas deficiências físicas ou que não possuem as competências necessárias para utilizar os dispositivos atuais. No entanto, a utilização mais frequente de gestos, da voz ou dos olhos para este efeito poderá resultar numa sobrecarga de certas partes do corpo, o que poderá criar novos problemas de saúde ou aumentar os problemas existentes, como o cansaço ocular e vocal. Essas interfaces poderão também envolver a utilização de auscultadores, suscetível de conduzir a lesões musculoesqueléticas (LME).

Intensificação dos riscos: a automatização, embora afaste os trabalhadores de situações que envolvem exposições perigosas, poderá igualmente deixar aos trabalhadores apenas tarefas muito repetitivas, ou as mais difíceis, e reduzir a margem de manobra para a diversificação e rotação de tarefas. Por exemplo, poderá restar apenas um leque limitado de tarefas de movimentação manual que requerem elevada destreza, o que poderá agravar o risco de lesões por esforço repetitivo. Verifica-se uma tendência para a

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especialização maciça das tarefas, por exemplo nas funções de armazenamento, transporte e distribuição no setor retalhista. As tarefas mais difíceis de automatizar incluem também atividades de deteção de falhas ou de manutenção não programada, que tendem a ser mais perigosas do que as operações normais.

Perda de ordens de controlo durante a transmissão: as interfaces homem-máquina, tais como as baseadas em gestos, na voz, no acompanhamento dos movimentos oculares ou em sinais cerebrais, poderão ser mal interpretadas pelo processo ou equipamento de trabalho sob controlo. Essa situação poderá ser causada por baixa intensidade do sinal ou por interferência eletromagnética ou maliciosa com o sinal. Poderá também dever-se à utilização de dialetos ou à ambiguidade da linguagem humana. Se uma pessoa estiver sob pressão ou distraída, poderá enviar ordens incorretas. Se o equipamento e os processos de trabalho forem controlados à distância, há também a possibilidade de as ordens comandos serem enviadas acidentalmente para o equipamento ou processo errado. Uma vez que os controlos dos gestos, da voz, do seguimento dos movimentos oculares ou dos sinais cerebrais são mais imediatos do que carregar na tecla «Enter», poderá ser importante que as ordens críticas em termos de segurança exijam um meio de confirmação inequívoca antes de serem executadas. Os níveis de ruído nos ambientes de trabalho, nos locais públicos e nos transportes poderão também aumentar devido à utilização crescente de interfaces controladas por voz.

Interação homem-máquina: as interfaces homem-máquina em tempo real, interativas, diretas e imersivas poderão reduzir consideravelmente as oportunidades que os trabalhadores têm para fazer uma pausa ou relaxar. A automatização dos processos de trabalho poderá também levar a que as funções de alguns operadores assumam uma natureza de supervisão, sendo possível que estes estejam incumbidos de supervisionar vários processos de trabalho em vários locais diferentes ao mesmo tempo, o que poderá ser um trabalho mais exigente a nível cognitivo. As elevadas exigências cognitivas impostas continuamente aos trabalhadores poderão ter impactos negativos sobre a SST, em particular sobre a saúde mental. Se as expetativas das pessoas quanto ao comportamento da tecnologia forem incorretas, as interações imprevistas entre pessoas e robôs, veículos autónomos ou veículos não tripulados poderão também criar riscos para a SST.

Situações imprevistas: na conceção dos robôs, mesmo que sejam feitos todos os esforços para planear uma resposta a todos os cenários possíveis, é impossível prever todas as situações. Em última análise, tudo depende da forma como o robô é utilizado (possivelmente incorretamente), de atos imprevistos por parte das pessoas, de situações inesperadas, da interação de um programa informático com outro programa informático de forma imprevista ou da materialização de um cenário que não tinha sido considerado. Os incidentes ocorrem, em particular, fora do funcionamento normal, como durante a instalação, o teste ou a manutenção de robôs. Por conseguinte, é importante ter em conta todo o ciclo de vida dos robôs.

Falta de transparência dos algoritmos: a falta de transparência sobre o modo como a IA analisa os dados e aprende poderá levar a que se comporte de formas imprevistas e inseguras. No caso de algoritmos de aprendizagem profunda, não é possível identificar os fatores que o programa utiliza para chegar a determinada conclusão. Se os trabalhadores não compreenderem o funcionamento dos sistemas, poderão ter dificuldade em interagir corretamente com eles, reconhecer quando algo corre mal e saber como responder nesses casos. Os trabalhadores poderão também sofrer de stresse se não souberem o que está a acontecer, que dados podem ser recolhidos a seu respeito e para que fins.

Conhecimento situacional: os trabalhadores poderão tornar-se dependentes das tecnologias baseadas nas TIC para os informar sobre os perigos, sendo-lhes muito mais difícil detetá-los sozinhos caso os sistemas falhem. Os dispositivos de RV podem causar enjoos e/ou levar o utilizador a perder a consciência do seu ambiente real durante e mesmo algum tempo após a sua utilização. Os dispositivos de RA sobrepõem informações geradas por computador à realidade, o que poderá dificultar a visualização de informações situacionais críticas em termos de SST devido a distração, desorientação ou sobrecarga de informações. No entanto, a RA poderá igualmente melhorar o conhecimento situacional, fornecendo informações contextuais suplementares sobre perigos ocultos, como a presença de amianto, cabos elétricos ou condutas de gás. A RA pode incorporar instruções, o que poderá reduzir o erro humano, uma vez que os trabalhadores não precisarão de consultar orientações separadas enquanto as mãos são necessárias para atividades de manutenção. Contudo, a fiabilidade da RA depende da manutenção do acesso às fontes de informação relevantes, da qualidade das informações e da sua atualização.

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Robótica adaptativa, social e emocionalmente inteligente: alguns especialistas acreditam que os maiores benefícios industriais serão alcançados se as capacidades funcionais e analíticas da robótica e da IA complementarem as competências dos trabalhadores que interagem com elas. A automatização adaptativa utiliza programas informáticos para monitorizar pessoas que trabalham com robôs, a fim de adaptar a velocidade do processo e evitar sobrecargas. Permite que os trabalhadores retenham o controlo do processo de trabalho e do volume de trabalho, resultando igualmente numa maior aceitação da automatização no local de trabalho. Os trabalhadores devem ser consultados e envolvidos em estratégias de implementação de tecnologias baseadas nas TIC no local de trabalho, a fim de garantir uma melhor SST e de aumentar a sua aceitação.

Personalização: as tecnologias baseadas nas TIC permitem frequentemente que os utilizadores as personalizem. Isto pode torná-las mais fáceis de utilizar para quem as personalizou, mas não tanto para outra pessoa. Se um trabalhador tiver de utilizar um dispositivo personalizado por outro e, por qualquer razão, não o personalizar novamente, isso poderá conduzir a stresse, a danos relacionados com ergonomia ou a erros humanos. A cultura de personalização poderá também levar à utilização de equipamento de trabalho para um fim para o qual não foi concebido. A rápida reconfiguração dos processos de trabalho em resposta à procura e à expetativa de personalização por parte dos consumidores poderá implicar uma alteração frequente do perfil de risco de uma fábrica. Tal poderá dificultar a normalização dos procedimentos, das avaliações de risco e de outros aspetos da gestão da SST.

Ritmo da evolução tecnológica: a pressão para lançar rapidamente um novo modelo no mercado poderá aumentar o risco de não serem detetadas falhas de conceção antes da entrada em funcionamento do equipamento de trabalho, pelo que este poderá falhar de formas imprevisíveis e perigosas. Um ritmo acelerado de evolução tecnológica poderá causar problemas de saúde mental ou a exclusão de um trabalho de boa qualidade relativamente àqueles que não sejam capazes de lidar com mudanças constantes ou «novidades» (por vezes designado por «stresse tecnológico»). Se as competências dos trabalhadores não conseguirem acompanhar as mudanças, poderão existir consequências em termos de SST devido a erro humano. Se a tecnologia evoluir a um ritmo acelerado, a investigação e a regulamentação em matéria de SST poderão também ter dificuldades em acompanhar essa evolução.

Mistura do antigo e do novo: é possível que existam riscos para a SST durante a transição da tecnologia antiga para a tecnologia nova quando ambas estiverem em serviço. A infraestrutura concebida para a tecnologia antiga poderá não ser adequada para a tecnologia nova e poderá, por conseguinte, criar riscos imprevistos para a SST. Se os trabalhadores precisarem de interagir de forma diferente com a tecnologia antiga e a nova, poderão partir de pressupostos incorretos e inseguros sobre o comportamento da tecnologia. Se as versões antigas e novas estiverem ambas em vigor, existe também a possibilidade de confusão e de utilização acidental dos procedimentos errados. Uma comunicação clara será, portanto, essencial.

Grandes volumes de dados para melhorar a SST: recursos informáticos mais potentes permitem que a aprendizagem automática («machine learning») e a IA organizem e analisem, a grande velocidade, a vasta quantidade de dados recolhidos através da monitorização de sistemas cada vez mais complexos. Tal poderá ajudar a compreender melhor os problemas de SST, apoiar melhores decisões de SST, prever problemas de SST antes da sua ocorrência e permitir intervenções mais oportunas e eficazes. Poderá inclusive ajudar as empresas a demonstrar mais facilmente o cumprimento das normas e da regulamentação em matéria de SST, e as inspeções do trabalho a investigar mais facilmente as infrações.

Equipamento de proteção individual inteligente (EPI): a incorporação de dispositivos móveis de monitorização miniaturizados em EPI poderá permitir a monitorização em tempo real de substâncias perigosas, ruído, vibrações, temperatura, posturas incorretas, níveis de atividade ou uma série de sinais vitais biológicos. Novos tipos de análise de dados que permitem a análise em tempo real com base em fluxos de grandes volumes de dados podem tomar decisões autónomas. Isto poderá ser utilizado para fornecer alertas precoces sobre exposições nocivas, problemas de saúde, fadiga e stresse. Poderá então ser prestado aconselhamento personalizado em tempo real para influenciar o comportamento dos trabalhadores, a fim de melhorar a segurança e a saúde. As organizações poderão igualmente utilizar as informações recolhidas para detetar situações em que são necessárias intervenções de SST a nível organizacional. No entanto, serão necessárias estratégias e sistemas eficazes, bem como decisões éticas, para permitir o tratamento da grande quantidade de dados pessoais sensíveis que poderão ser gerados.

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As anomalias de funcionamento ou a geração de conselhos ou dados incorretos poderão causar lesões ou problemas de saúde.

Integração e interconectividade: poderá ter consequências indesejáveis e mal compreendidas em termos de SST. Poderão ocorrer falhas em cascata devido aos elevados níveis de interconexão e interdependência das tecnologias baseadas nas TIC. Todos estes fatores dificultam a avaliação da fiabilidade e da segurança da IA e da aprendizagem automática. O impacto a curto prazo da IA depende de quem a controla. A mais longo prazo, o impacto depende da medida em que pode ser controlada.

Peças de contrafação: poderão estar mais disponíveis devido à crescente facilidade de utilização e disponibilidade de impressoras 3D. Esta situação poderá causar anomalias perigosas no equipamento de trabalho após operações de manutenção ou reparação.

Campos eletromagnéticos (CEM): a exposição poderá aumentar em termos de duração e intensidade se as redes WiFi 5G e o carregamento sem fios de tecnologias móveis baseadas nas TIC se generalizarem. As interfaces cerebrais diretas poderão também expor os trabalhadores a fortes CEM. Até 2020, o número de dispositivos ligados à IoT deverá aumentar para mais de 20 mil milhões (Gartner, 2017), e poderão estar sujeitos a interferências eletromagnéticas, acidentais ou maliciosas.

3.2 Organização e gestão do trabalho Flexibilidade, disponibilidade e esbatimento das fronteiras entre o trabalho e a vida privada: As tecnologias baseadas nas TIC podem permitir que as pessoas trabalhem em qualquer momento e em qualquer lugar, o que poderá levar ao esbatimento das fronteiras entre o trabalho e a vida privada, tanto em termos das suas atividades como da sua segurança e saúde, incluindo um impacto negativo na saúde mental e no bem-estar. A capacidade das tecnologias baseadas nas TIC para viabilizarem a execução do trabalho em qualquer momento poderá levar a uma necessidade real ou subjetiva de estar disponível todo o dia, todos os dias (24/7). Por exemplo, as pessoas poderão ter de trabalhar com colegas num fuso horário diferente. Existe também o receio de que as pessoas possam sofrer de dependência da utilização de dispositivos móveis e vestíveis, de tal modo que o utilizador sofre de ansiedade grave se estiver separado do dispositivo ou se este deixar de funcionar — problema também conhecido como dependência digital, ansiedade da separação, síndrome FOMO (medo de ficar de fora) e nomofobia. Este problema poderá agravar-se à medida que tais dispositivos se tornam mais generalizados, sofisticados e necessários para o trabalho ou a vida em geral. A disponibilidade 24/7 poderá ter impactos na SST semelhantes ao trabalho por turnos, como o cancro, especialmente quando as pessoas trabalham à noite (CIIC, 2007), diabetes e doenças cardiovasculares (Research EU Results Magazine, 2017). Alguns trabalhadores poderão considerar que a sua imagem de disponibilidade 24/7 é um sinal de sucesso, mas, não obstante, sofrer de problemas de saúde, stresse e/ou esgotamento por esse mesmo motivo.

Métodos de gestão digitalizados, incluindo a gestão algorítmica: o trabalho é cada vez mais coordenado e supervisionado por algoritmos informáticos e, no futuro, a gestão dos trabalhadores poderá depender fortemente da IA. Os métodos de gestão digitalizados caracterizam-se, nomeadamente, pela utilização de grandes volumes de dados e pela distribuição algorítmica do trabalho; pela utilização de dados analíticos pessoais, como a definição de perfis digitalizados no contexto da gestão dos recursos humanos; pelo acompanhamento do bem-estar e da produtividade, bem como pela análise da atitude e dos sentimentos; e pela utilização de dados acumulados para tomar decisões sobre, por exemplo, a distribuição do trabalho e do local de trabalho, avaliações de desempenho ou mesmo contratação e despedimentos. Consequentemente, os trabalhadores podem perder o controlo sobre o conteúdo, o ritmo e a programação do trabalho, bem como sobre o modo como o executam (Moore, 2018). Estas consequências estão associadas a stresse relacionado com o trabalho, a problemas de saúde, à diminuição do bem-estar, à redução da produtividade e ao aumento do absentismo por doença (HSE, 2017). Tal poderá levar os trabalhadores a adotarem comportamentos de risco em termos de SST nos casos em que a SST entre em conflito com a produtividade. Se os trabalhadores forem informados dos resultados da comparação entre o seu desempenho e o de outros colegas (ou, possivelmente, o das máquinas), tal poderá pode causar pressão sobre o desempenho, ansiedade e baixa autoestima. No entanto, novos tipos de análise de dados/algoritmos inteligentes, conjugados com o acesso a grandes

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conjuntos de dados, poderão também permitir uma supervisão mais eficaz em tempo real da SST e uma melhor compreensão dos riscos para a SST em geral.

Pressão sobre o desempenho: a utilização de tecnologias baseadas nas TIC poderá causar um desfasamento entre as capacidades físicas e/ou cognitivas dos trabalhadores e as exigências do trabalho. Esta situação poderá ocorrer quando se trabalha ao lado de robôs colaborativos, IA ou sistemas automatizados que foram concebidos para maximizar os benefícios da produtividade sem considerar adequadamente o impacto sobre os trabalhadores humanos. Quando o trabalho é supervisionado por IA, pode conter algoritmos de melhoria contínua incorporados, que são designados por alguns como o «chicote digital». Os trabalhadores podem ser pressionados no sentido de trabalhar com a mesma rapidez e eficiência do que a máquina. A pressão sobre o desempenho também pode ocorrer quando as plataformas de trabalho em linha recompensam a rapidez, quando o trabalhador não sabe quando a próxima tarefa estará disponível ou quando a recusa de trabalho é penalizada, pelo que os trabalhadores aceitam novas tarefas apesar de estarem já ocupados com outras.

Supervisão constante: os dispositivos digitais de monitorização móveis, vestíveis ou incorporados (na roupa ou no corpo), utilizados pela IA ou por gestores humanos para monitorizarem constantemente os trabalhadores, podem ter um impacto negativo na saúde e no bem-estar se os trabalhadores sentirem que têm de cumprir objetivos de desempenho muito ambiciosos; têm de adotar o comportamento que deles se espera, ainda que não se coadune com a sua natureza; não têm a possibilidade de interagir socialmente ou de fazer pausas quando querem; ou a sua privacidade é invadida. Esta supervisão poderá abranger a monitorização da localização exata, do que estão a fazer, dos sinais vitais e de indicadores de bem-estar mental. Os empregadores poderão ainda encorajar ou exigir o uso dos dispositivos também durante o tempo de lazer, a fim de medir os padrões de sono e a quantidade de exercício, com base numa possível ligação à produtividade e a comportamentos seguros em termos de SST. As interfaces diretas cérebro-máquina poderão recolher muitas informações adicionais sobre pensamentos pessoais, bem como sinais de controlo (Abdlkader et al., 2015). A supervisão constante pode causar stresse e ansiedade, em especial se combinada com falta de controlo (real ou subjetiva) do ritmo e da programação do trabalho ou com insegurança no emprego e também quando os trabalhadores não sabem ou não compreendem que dados são recolhidos, como são utilizados e para que fim. Poderão igualmente existir questões relacionadas com a proteção de dados/privacidade; interpretação incorreta dos dados, quando estes são comparados sem ter em conta o contexto ou dados qualitativos; e a utilização abusiva dos dados para discriminar alguns trabalhadores.

Ética do processo de decisão da IA: quanto mais as pessoas trabalharem com máquinas de IA capazes de tomar decisões mais autónomas, mais importante será a questão da ética. As principais questões são se esses sistemas tomam sempre melhores decisões do que os seres humanos, se são capazes de tomar decisões éticas (e, em caso afirmativo, quem e que critérios devem determinar a base para essas decisões) e se um trabalhador deve ou irá efetivamente aceitar decisões e instruções de uma máquina de IA mesmo quando delas discordem. A transparência e a ética das decisões dos algoritmos e máquinas de IA afetarão a confiança e a aceitação desses sistemas pelos trabalhadores, bem como os seus níveis de stresse e outros aspetos da sua saúde mental.

Cibersegurança: a tendência no sentido de os processos e dispositivos de trabalho serem controlados e comunicarem entre si através da Internet (ou por tecnologia GPS, redes sem fio, etc.) significa que há a possibilidade de o seu controlo ser usurpado por piratas informáticos. Os trabalhadores que utilizam os seus próprios dispositivos de TIC para trabalhar poderão dificultar a cibersegurança devido à diversidade de dispositivos, que poderão não ser seguros, ligados a redes de trabalho. A utilização crescente das redes sociais para fins de trabalho poderá também causar um risco de cibersegurança, uma vez que as redes sociais são frequentemente atacadas por piratas informáticos. A computação quântica, que poderá estar genericamente disponível até 2025, poderá, em teoria, quebrar qualquer um dos atuais sistemas de encriptação instalados para fins de segurança informática. Tal poderá comprometer a SST, uma vez que os piratas informáticos poderão atacar infraestruturas críticas; assumir o controlo dos dispositivos para que estes se comportem de forma inesperada e perigosa; impedir o acesso a dados essenciais; ou roubar ou corromper dados pessoais ou dados sensíveis/críticos em termos de SST.

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3.3 Estruturas, hierarquias e relações empresariais Plataformas em linha: as plataformas em linha criam novos modelos empresariais, estabelecendo a correspondência entre a procura e a oferta de emprego e facilitando o acesso de grupos vulneráveis ao mercado de trabalho. O trabalho nas plataformas em linha compreende diversas modalidades de trabalho — geralmente «atípicas» de uma ou de outra forma — diferentes tipos de tarefas e muitas formas de emprego não convencionais, desde o trabalho altamente qualificado realizado em linha a serviços realizados em casa ou outras instalações e geridos através de plataformas. Consequentemente, as condições de trabalho também variam significativamente. Todos os riscos de atividades de trabalho específicas estão presentes no trabalho em plataformas em linha, mas são suscetíveis de serem agravados pelas características específicas do trabalho/trabalhadores de plataformas em linha: idade média mais baixa; níveis de formação mais baixos; execução do trabalho em diversos ambientes privados; virtualização das relações e perda do apoio dos pares; perda do efeito protetor de um local de trabalho comum; pedidos de tarefas emitidos com pouca antecedência, com sanções em termos de oportunidades de trabalho futuras por falta de disponibilidade; pressões em termos de prazos e ritmo de trabalho acelerado; fragmentação da atividade em tarefas com conteúdo funcional reduzido; perda de controlo do emprego; avaliação e classificação do desempenho contínuas em tempo real; aumento da concorrência, dado que o mercado de trabalho em linha assume natureza global e está ao alcance de mais trabalhadores; horários irregulares; rendimento incerto; pagamento pelas tarefas realizadas sem ter em conta o tempo gasto à procura de trabalho, que pode prolongar o dia de trabalho; esbatimento das fronteiras entre o trabalho e a vida privada; falta de apoio adequado em termos de recursos humanos; estatuto profissional pouco claro; inexistência do direito a prestações sociais, como os subsídios por doença e os subsídios de férias; representação deficiente dos trabalhadores; e responsabilidades pouco claras em termos de SST. Em alguns casos, o trabalho em plataformas em linha oferece os benefícios da flexibilidade desejada em termos de tempo de trabalho e local de trabalho mas, em muitos casos, está associado a uma flexibilidade forçada. Os trabalhadores em formas de trabalho não convencionais e de fraca qualidade têm uma saúde física e mental mais débil. A economia das plataformas em linha cria novos desafios para a proteção dos trabalhadores e para a gestão da SST, e suscita questões-chave em matéria de responsabilidade e regulamentação da SST (EU-OSHA, 2017b). Trata-se de uma área em rápida expansão, e os efeitos sobre o mercado de trabalho e a proteção dos trabalhadores são desproporcionadamente perturbadores.

Trabalhadores autónomos: a utilização de tecnologias baseadas nas TIC poderá viabilizar estruturas organizacionais mais horizontais com menos cargos de gestão intermédia. Tal poderá significar que os trabalhadores têm mais autonomia e controlo sobre o seu trabalho (a menos que os gestores intermédios sejam substituídos por algoritmos para otimizar a produtividade, resultando em menos autonomia e mais pressão em termos de desempenho). No entanto, a perda de supervisão e de apoio por parte dos gestores intermédios poderá também ter um impacto negativo na SST, uma vez que estes são geralmente responsáveis pelo volume de trabalho, horários, SST e bem-estar dos trabalhadores. A sua experiência e o seu conhecimento tácito em matéria de SST poderão perder-se. Os trabalhadores autónomos poderão não ter as competências necessárias para gerirem o seu volume de trabalho de forma segura e saudável. Além disso, a perda de apoio dos pares e da interação social geral no trabalho poderão ter um impacto negativo na saúde mental dos trabalhadores. Há também questões psicossociais associadas à perda de estatuto e das expetativas financeiras daqueles que eram, ou aspiravam a ser, gestores intermédios.

Trabalho isolado: o trabalho isolado poderá aumentar à medida que os colegas humanos são substituídos por tecnologias baseadas nas TIC. A desumanização do trabalho e das relações tornará os empregos menos gratificantes, uma vez que os aspetos humanos/sociais se perdem e as tarefas se tornam menos variadas. Com a introdução dos robôs de assistência, robôs de diagnóstico e robôs cirúrgicos, médicos e enfermeiros perderão contacto com os pacientes. Mesmo nos setores público e dos serviços, espera-se que os robôs de atendimento assumam tarefas que envolvem contacto com os clientes. Uma vez que as tecnologias baseadas nas TIC permitem a execução de muitas tarefas à distância, as pessoas poderão cada vez mais trabalhar sozinhas, sem que ninguém saiba ou possa ajudar quando sofrem um acidente ou têm sintomas súbitos de um problema de saúde grave. Os trabalhadores que trabalham sozinhos em locais públicos e os motoristas de serviços de entregas poderão também ser vulneráveis a violência física ou verbal de terceiros. No entanto, as tecnologias baseadas nas TIC podem ser utilizadas

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para reduzir os riscos: por exemplo, os dispositivos vestíveis podem monitorizar sinais vitais e a localização GPS e ser utilizados para comunicar com os serviços de emergência, se necessário.

Perda de competências sociais e ciberintimidação: a crescente dependência das redes sociais e da Internet para fins de trabalho poderá aumentar a ciberintimidação por parte de concorrentes, pares, partes interessadas ou «trolls». A comunicação virtual não possui a riqueza da comunicação presencial, e a falta de contacto social poderá resultar em competências sociais menos desenvolvidas (por exemplo, competências de trabalho em equipa e tolerância), conduzindo à adoção de um tom de comunicação cada vez mais negativo, que poderá incluir uma linguagem hostil, e a um sentimento crescente de despersonalização que poderá parecer intimidação. Interfaces inovadoras, mais imersivas, poderão contrariar, pelo menos até certo ponto, esse efeito.

O termo emprego colaborativo abrange freelancers, trabalhadores por conta própria ou microempresas que trabalham em conjunto para superar as limitações de dimensão e o isolamento profissional, por exemplo, através da contratação conjunta de trabalhadores. As tecnologias baseadas nas TIC podem ser utilizadas para facilitar este processo. Este tipo de emprego pode melhorar o bem-estar de trabalhadores individuais, proporcionando emprego a tempo inteiro em casos em que uma organização, por si só, apenas poderia oferecer trabalho a tempo parcial ou ocasional. Pode também facilitar a diversificação, melhorar a interação social e fornecer redes de apoio.

Novos modelos de negociação coletiva: as negociações sobre salários e condições de trabalho, a organização da representação dos trabalhadores e a participação na conceção dos locais de trabalho, das atividades e do equipamento têm sido tradicionalmente realizadas através dos sindicatos. Em geral, os sindicatos tendem a concentrar-se apenas num setor ou num pequeno número de setores estreitamente relacionados e a ter representantes nos locais de trabalho. Novos modelos e estruturas empresariais, viabilizados pelas tecnologias baseadas nas TIC, significam que os trabalhadores podem trabalhar em vários setores, trabalhar para vários empregadores, não estar afetos a locais específicos e/ou ser (pseudo) trabalhadores por conta própria. Tal poderá conduzir a uma perda da filiação sindical e, consequentemente, a uma redução dos poderes de negociação coletiva, com um impacto potencialmente prejudicial na SST. No entanto, as tecnologias baseadas nas TIC poderão também facilitar novas estruturas e modelos de negociação coletiva que reflitam melhor os novos modelos e estruturas empresariais e funcionem em paralelo com estes.

3.4 Características da mão de obra Mão de obra dispersa: as tecnologias baseadas nas TIC permitem que um leque crescente de tarefas sejam executadas em qualquer lugar e a qualquer momento, pelo que os processos de trabalho podem ser descentralizados, dispersando geograficamente a mão de obra. Tal pode levar à perda do ambiente de escritório ou de fábrica em que a gestão, a supervisão e a regulamentação da SST têm tradicionalmente lugar. Existe também a possibilidade de uma mão de obra dispersa se sentir isolada a nível profissional e social, bem como de estar exposta aos riscos associados ao trabalho isolado. A solidão está associada a um maior risco de doença cardiovascular, depressão e ansiedade, prejudicando também o raciocínio e a tomada de decisões, o que poderá ter implicações para a SST (Murthy, 2017).

Mão de obra diversificada: as tecnologias baseadas nas TIC permitem o acesso ao trabalho independentemente da localização geográfica, do perfil cultural, de deficiência física e da faixa etária. Podem igualmente facilitar o acesso das organizações a trabalhadores de diferentes disciplinas. Tal poderá conduzir a uma mão de obra muito diversificada, com um leque muito heterogéneo de necessidades de SST, competências sociais, necessidades de formação e preferências em termos da sua abordagem às tarefas, incluindo as tecnologias baseadas nas TIC que utilizam. Esta situação poderá dificultar a gestão da SST e a transferência de informações sobre SST. No entanto, as tecnologias baseadas nas TIC poderão proporcionar tradução instantânea para interfaces ativadas por voz com máquinas ou outros trabalhadores e utilizar a IA para incorporar o contexto cultural. Tal poderá facilitar a uniformização dos princípios fundamentais das práticas de SST nas organizações multinacionais, o que poderá ter vantagens em termos de SST. Uma abordagem multidisciplinar que inclua a resolução

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distributiva de problemas, facilitada pelas tecnologias baseadas nas TIC, poderá igualmente ser benéfica para a resolução de problemas de SST e para a melhoria da gestão da SST.

Prolongamento da vida profissional: as tecnologias baseadas nas TIC poderão permitir que os trabalhadores se reformem numa idade muito mais avançada, uma vez que a utilização de veículos autónomos, da biónica e dos exoesqueletos, ou de plataformas de trabalho em linha, permitem que uma população em envelhecimento continue a trabalhar. Assim, os trabalhadores poderão estar expostos a riscos relacionados com o trabalho durante muito mais tempo, o que poderá aumentar a probabilidade de desenvolverem o tipo de problemas de saúde causados pela exposição cumulativa a estes tipos de perigos. Além disso, embora os trabalhadores mais idosos tenham geralmente menos acidentes, as suas lesões são frequentemente mais graves.

Novos trabalhadores: as plataformas em linha podem permitir que os trabalhadores mudem frequentemente de emprego e o tipo de trabalho que realizam, uma vez que essas plataformas oferecem acesso a uma grande variedade de tipos de trabalho – e poderão não ter mecanismos para verificar se os trabalhadores têm as competências adequadas para cada trabalho. Por conseguinte, poderão existir, em dado momento, muitos mais trabalhadores sem experiência numa determinada atividade profissional e que, estatisticamente, são mais suscetíveis de sofrer acidentes.

Desigualdade: as tecnologias baseadas nas TIC podem agravar as desigualdades entre trabalhadores em termos de remuneração e condições de trabalho. Os empresários digitais podem usar as tecnologias baseadas nas TIC para criar e expandir rapidamente empresas em linha sem grandes despesas de capital. Ao mesmo tempo, as tecnologias baseadas nas TIC podem proporcionar aos trabalhadores pouco qualificados um acesso mais fácil ao trabalho, mas criar concorrência para um trabalho que, se não for regulamentada, poderá levar a uma redução da remuneração. Esta situação poderá também levar ao surgimento de uma economia «cinzenta» em linha, constituída por trabalhadores não registados que não estão abrangidos pela regulamentação. Tudo isto poderá conduzir a uma polarização social.

3.5 Responsabilidades pela SST Economia das plataformas em linha: por um lado, as plataformas em linha proporcionam uma oportunidade para regulamentar o trabalho não declarado, mas, por outro, apresentam também desafios regulamentares, uma vez que constituem um «alvo em movimento» e é difícil enquadrar as atividades nas categorias regulamentares preexistentes. As características específicas das plataformas em linha, tais como a triangularidade das partes envolvidas, o caráter temporário, a informalidade, a autonomia e a mobilidade, tornam mais difícil estabelecer uma relação de emprego. Geralmente, os proprietários das plataformas não se consideram empregadores (o mesmo acontecendo com os utilizadores do lado da procura), tratando os trabalhadores como trabalhadores por conta própria e, por conseguinte, responsáveis pela sua própria SST. Porém, a qualificação dos trabalhadores dependentes de plataformas de trabalho em linha como verdadeiros trabalhadores por conta própria não é pacífica (EU-OSHA, 2017b). Uma vez que a aplicação da atual regulamentação em matéria de SST exige uma relação de emprego, a questão que se coloca é a de saber até que ponto a legislação laboral, incluindo a legislação em matéria de SST, se aplica/deve aplicar ao trabalho em plataformas. A inspeção do trabalho depara-se também com o problema da indefinição da função e das responsabilidades do empregador em relação aos trabalhadores, da falta de clareza quanto ao responsável pela gestão dos riscos e o facto de o trabalho ser executado em qualquer momento e em qualquer lugar.

Continuidade da vigilância da SST e dos registos associados: as tecnologias baseadas nas TIC poderão alterar a natureza do trabalho, de modo que os trabalhadores mudam frequentemente de emprego e/ou têm mais do que um emprego. Quando combinada com uma falta de clareza sobre as responsabilidades em matéria de SST, essa situação poderá causar uma perda de continuidade da vigilância da SST ou dos respetivos registos. No entanto, as tecnologias baseadas nas TIC poderão também facilitar novas formas de organizar a vigilância da SST e de manter registos que reflitam melhor os novos modelos e estruturas empresariais. A IoT, os sensores dos dispositivos e robôs existentes no local, bem como os dispositivos de monitorização vestíveis, poderão permitir o registo (automático ou manual) de observações ou incidentes em tempo real, incluindo exposições relacionadas com SST,

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diretamente num sistema de gestão de SST e nos registos de SST em linha e proporcionar o acesso a informações que sejam indispensáveis num determinado momento. A IA poderá ser utilizada para analisar estas informações juntamente com dados históricos e prestar aconselhamento diretamente ao trabalhador e/ou empregador. Seriam necessárias estratégias e sistemas eficazes para assegurar o tratamento ético da grande quantidade de dados gerados, garantindo a privacidade e a boa utilização dos dados, em especial dos registos médicos.

Demonstração da conformidade: a monitorização constante com tecnologias baseadas nas TIC móveis poderá ser utilizada para demonstrar a conformidade com a regulamentação em matéria de SST ou invocada pelo arguido, pelo investigador ou pela autoridade reguladora como prova durante a investigação de incidentes ou de alegadas violações. A RV e a RA poderão também ser utilizadas como prova num processo judicial para permitir que os jurados e/ou o juiz explorem o local do incidente e vejam uma demonstração daquilo que o investigador/autoridade reguladora da SST (ou o arguido) acreditam ter acontecido. Os algoritmos de IA, que utilizam grandes volumes de dados, poderão ser utilizados pelas empresas para realizar uma avaliação muito precisa dos riscos e definir medidas de prevenção eficazes.

3.6 Competências, conhecimentos e informação Necessidades em termos de novas competências e formação: a utilização crescente e a evolução das tecnologias baseadas nas TIC poderão determinar a necessidade de os trabalhadores adquirirem novas competências para terem acesso a empregos de qualidade. Os trabalhadores, além de precisarem de saber como utilizar a tecnologia, terão de possuir as competências necessárias para as novas formas de trabalho que as tecnologias baseadas nas TIC proporcionam. É provável que os trabalhadores precisem de ser autossuficientes, flexíveis, adaptáveis, resistentes a mudanças frequentes de emprego, sensíveis em termos culturais e competentes para trabalhar em várias disciplinas. Além disso, é provável que tenham de possuir competências interpessoais adequadas para colaborar em termos virtuais, bem como as competências necessárias para gerir o seu volume de trabalho de uma forma saudável e segura. A abordagem à educação e à formação poderá, portanto, ter de ser diferente, menos académica e factual e mais orientada para o desenvolvimento de competências pessoais e para formas de aprender, trocar conhecimentos e lidar com a mudança.

A aprendizagem ao longo da vida será essencial, uma vez que é provável que algumas competências sejam efémeras e de elevado valor, dependendo do ritmo da evolução tecnológica e da frequência com que os trabalhadores mudam de emprego. Por conseguinte, os trabalhadores terão de ter capacidade para poder aprender rapidamente e constantemente.

Aprendizagem em linha autodirecionada: em virtude das alterações dos modelos empresariais e da natureza do trabalho impostas pelas tecnologias baseadas nas TIC, os trabalhadores terão de assumir maior responsabilidade pelas suas próprias necessidades de aprendizagem e formação. Algumas plataformas de trabalho em linha, por exemplo, afirmaram que têm hesitado em oferecer oportunidades de formação e desenvolvimento com receio de que tal oferta seja interpretada como uma ação da plataforma na qualidade de empregador. As tecnologias baseadas nas TIC facilitam o acesso à aprendizagem e à formação e permitem reduzir a sua duração e aumentar a sua frequência. Os recursos de aprendizagem em linha podem ser mais facilmente concebidos para permitir que os trabalhadores os adaptem às suas necessidades, escolhendo como os utilizam e quando os utilizam, conforme for conveniente e ao seu próprio ritmo. A IA poderá também ser utilizada para avaliar as necessidades dos aprendentes (estilo de aprendizagem e nível atual de conhecimentos) e adaptar automaticamente os recursos para as satisfazer. No entanto, os trabalhadores poderão ter dificuldade em identificar formação relevante e de boa qualidade quando confrontados com um leque avassalador de escolhas. Tal poderá levar a que o comportamento dos trabalhadores se baseie em formação inadequada em SST. É provável que sejam necessárias estratégias e sistemas eficazes para ajudar os trabalhadores a processarem a quantidade de informações disponíveis sem se sentirem perdidos.

Transferência de conhecimentos: a dependência das tecnologias baseadas nas TIC para efeitos de comunicação poderá levar à perda de competências sociais ou ao desenvolvimento de competências diferentes. De qualquer modo, tal poderá ter um impacto negativo na interação social e na transferência

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de conhecimentos (sobre SST) entre os trabalhadores, especialmente de diferentes gerações. Se os trabalhadores se sentirem incapazes de interagir, por exemplo, por estarem a ser monitorizados ou devido à intensificação do trabalho, isso poderá impedir uma transferência informal de conhecimentos valiosa. No entanto, poderá igualmente evitar que os trabalhadores reproduzam os «maus» hábitos de SST uns dos outros. Além disso, as tecnologias baseadas nas TIC podem também facilitar novos meios de transferência rápida de conhecimentos (por exemplo, através das redes sociais e das associações de trabalho em linha), embora possa ser difícil garantir a qualidade do conteúdo. Juntamente com as mudanças na forma como os trabalhadores procuram e utilizam a informação, tal poderá proporcionar uma oportunidade para envolver e informar os trabalhadores por conta própria e independentes, bem como as micro e pequenas empresas.

Despossessão de tarefas e desqualificação: a crescente automatização do trabalho e dos processos levará a que alguns trabalhadores passem a ser apenas responsáveis pela supervisão, monitorizando processos que raramente correm mal; e a generalização da gestão por algoritmos e pela IA significa que os trabalhadores receberão uma instrução para cada etapa do trabalho ou limitar-se-ão a responder a sinais. As tarefas deixadas aos trabalhadores exigirão níveis de especialização e experiência mais baixos. Consequentemente, os trabalhadores terão cada vez menos capacidade para resolver problemas quando estes surgem e a probabilidade de ocorrência de erros humanos aumentará. Se os trabalhadores passarem a depender, de uma forma geral, da IA para tomarem decisões, poderão ficar dependentes dela e deixar de ser capazes de tomar decisões por eles próprios. O trabalho poderá perder conteúdo e variedade, raramente requerer a iniciativa dos trabalhadores e tornar-se menos gratificante, o que poderá causar tédio e perda de concentração (subcarga cognitiva) e gerar stresse, bem como conduzir a uma desqualificação da mão de obra. Memória corporativa: as tecnologias baseadas nas TIC são responsáveis por mudanças frequentes de emprego, pelo trabalho à distância e pelo crescimento de uma mão de obra dispersa. Esta evolução poderá implicar uma perda da memória e cultura corporativas de SST, deixando os trabalhadores de saber ou entender as razões de SST para fazer as coisas de determinada forma. A IoT poderá permitir que os trabalhadores tenham acesso, no momento em que delas necessitam, a formação e a informações que, se forem utilizadas de forma eficaz, poderão ser utilizadas como meio de capturar a «memória corporativa» sobre SST. No entanto, tal poderá também criar uma dependência excessiva da informação eletrónica, em que saber onde encontrar a informação poderá tornar-se mais importante do que recordar a informação. Esta situação poderá revelar-se problemática se, por alguma razão, não for possível aceder à informação, se esta tiver sido corrompida ou se não estiver atualizada.

4 Conclusões A emergência de novas tecnologias, como a IoT, a IA, grandes volumes de dados, a computação em nuvem, a robótica colaborativa, a RA, o fabrico por processos aditivos e as plataformas em linha, tem um profundo impacto no mundo do trabalho. Embora atualmente a difusão e a prevalência da aplicação das tecnologias baseadas nas TIC não seja homogénea na Europa e nos diferentes setores e grupos socioeconómicos, as TIC estão a tornar-se parte integrante de quase todos os setores, em vez de formarem um setor específico. Há indícios de que, na próxima década, as tecnologias baseadas nas TIC sofrerão provavelmente mudanças significativas a um ritmo acelerado, que irão alterar consideravelmente a natureza e a organização do trabalho em toda a Europa, bem como viabilizar novas formas de trabalho e novos estatutos profissionais. Estas mudanças poderão criar oportunidades de negócio, nomeadamente estimulando o aumento da produtividade e o crescimento na Europa, sendo igualmente possível que se assista a um agravamento da desigualdade nas vantagens e desvantagens daí decorrentes para os trabalhadores. Poderão registar-se perdas significativas em empregos que exigem qualificações médias e grandes ganhos em empregos que exigem maiores qualificações, existindo o receio de nivelamento por baixo das normas de emprego. Verificar-se-ão também grandes mudanças na natureza do trabalho e na distribuição de empregos entre setores. A mão de obra será mais diversificada e dispersa, e os trabalhadores mudarão frequentemente de emprego e trabalharão cada vez mais em linha, em vez de estarem presentes pessoalmente. Tudo isto dará origem a desafios e oportunidades, nomeadamente em termos de SST.

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É difícil prever estas mudanças, pelo que os cenários do futuro são um instrumento valioso. Os quatro cenários elaborados neste projeto prospetivo permitiram identificar desafios novos e emergentes em matéria de SST relacionados com a forma como as tecnologias baseadas nas TIC poderão mudar os sistemas automatizados, o equipamento e as ferramentas de trabalho utilizados; a organização e gestão do trabalho; os modelos, hierarquias e relações empresariais; as características da mão de obra; as responsabilidades pela gestão da SST; e as competências, os conhecimentos e as informações necessários para trabalhar.

Cada cenário (no documento anexo) apresenta diferentes desafios e oportunidades em termos de SST, em parte influenciados pelo ritmo da mudança, pelos níveis de investimento na investigação sobre SST, pelos estilos de governação e pelos costumes sociais. Os desafios que provavelmente estarão presentes nos quatro cenários, embora a sua dimensão e impacto possam variar, são:

a possibilidade de a automatização afastar os seres humanos de ambientes perigosos, mas também de criar novos riscos, especialmente influenciada pela transparência dos algoritmos subjacentes e pelas interfaces homem-máquina;

fatores psicossociais e organizacionais, que se tornarão cada vez mais importantes porque as tecnologias baseadas nas TIC podem conduzir a mudanças nos tipos de trabalho disponível, no ritmo de trabalho, no modo, local e momento em que é executado e no modo como é gerido e supervisionado;

o aumento do stresse relacionado com o trabalho, especialmente devido ao impacto do reforço da monitorização dos trabalhadores, possibilitado pelos progressos e pela crescente ubiquidade das tecnologias baseadas nas TIC vestíveis, pela disponibilidade 24/7, pelo esbatimento das fronteiras entre o trabalho e a vida privada, e pela economia das plataformas em linha;

riscos ergonómicos acrescidos devido ao aumento do trabalho em linha e da utilização de dispositivos móveis fora do ambiente de escritório;

riscos associados às novas interfaces homem-máquina, em especial relacionados com a ergonomia e a carga cognitiva;

o aumento do trabalho sedentário, um risco associado à obesidade e a doenças não transmissíveis, como as doenças cardiovasculares e a diabetes;

riscos de cibersegurança devido a um aumento da interconexão entre coisas e pessoas; número crescente de trabalhadores que são tratados (justificadamente ou não) como

trabalhadores por conta própria, e que poderão ser excluídos da regulamentação existente em matéria de SST;

alteração dos modelos empresariais e das hierarquias profissionais devido ao aumento do trabalho flexível e em linha e à introdução da gestão algorítmica e da IA, que poderão comprometer os atuais mecanismos de gestão de SST;

a gestão algorítmica do trabalho e dos trabalhadores, a IA, as tecnologias de monitorização, como dispositivos vestíveis, juntamente com a Internet das Coisas e os grandes volumes de dados, poderão levar a uma perda de controlo dos trabalhadores sobre os seus dados, a questões de proteção de dados, a questões éticas, a desigualdades na informação sobre SST e a pressões sobre o desempenho dos trabalhadores;

trabalhadores sem as competências necessárias para utilizarem tecnologias baseadas nas TIC, para lidarem com a mudança e para gerirem o equilíbrio entre o trabalho e a vida privada;

mudanças mais frequentes de emprego e vidas profissionais mais longas.

Do ponto de vista da regulamentação da SST, existe, por conseguinte, uma potencial confluência de fatores em que a utilização de tecnologias baseadas nas TIC conduz a rápidas mudanças não só nas tecnologias utilizadas no trabalho, mas também na natureza do trabalho, nas estruturas empresariais, no estatuto, hierarquias e relações profissionais; o impacto combinado destas alterações poderá pôr em causa os atuais mecanismos de gestão e regulamentação da SST.

Assim, a digitalização abre as portas a novos desafios em matéria de SST, sobretudo de natureza ergonómica, organizacional e psicossocial, que é necessário compreender e gerir melhor. No entanto,

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também oferece novas oportunidades para reduzir alguns riscos para a SST ou para os gerir melhor. A tecnologia em si não é boa nem má; a manutenção de um equilíbrio entre os desafios e as oportunidades apresentados pelas tecnologias baseadas nas TIC e a digitalização dependerá da correta aplicação da tecnologia e da forma como esta é gerida.

Entre os exemplos de estratégias de SST que surgiram das discussões que tiveram lugar nos vários workshops realizados no âmbito deste projeto e que poderão ajudar a minimizar os desafios em termos de SST relacionados com a digitalização figuram:

o desenvolvimento de um quadro ético para a digitalização e códigos de conduta; uma abordagem de «prevenção através da conceção» firme, que integre uma abordagem de

conceção centrada no utilizador/trabalhador; a colaboração entre o meio académico, a indústria, os parceiros sociais e os governos em matéria

de investigação e inovação no domínio da evolução das tecnologias baseadas nas TIC/tecnologias digitais, a fim de ter devidamente em conta os aspetos humanos;

a participação dos trabalhadores na implementação de todas as estratégias de digitalização; avaliações avançadas dos riscos no local de trabalho, tirando partido das oportunidades sem

precedentes oferecidas pelas tecnologias baseadas nas TIC, tendo em conta, ao mesmo tempo, o conjunto completo dos seus possíveis impactos em termos dos desafios para a SST identificados no presente projeto prospetivo;

um quadro regulamentar para clarificar as responsabilidades em matéria de SST em relação aos novos sistemas e às novas formas de trabalho;

um sistema educativo e formação adaptados para os trabalhadores; a prestação de serviços de SST eficazes aos trabalhadores digitais.

Os cenários criados no presente projeto (no documento anexo) foram testados em workshops utilizando uma técnica de futuros conhecida como «wind-tunnelling» (teste em túnel de vento) de políticas. Este teste demonstrou que podem ser utilizados para:

ajudar a informar os decisores políticos para que estes possam ter em devida conta as alterações relacionadas com a digitalização, a utilização das tecnologias digitais e o impacto sobre o trabalho e a SST quando tomam decisões para moldar o futuro, com vista a criar locais de trabalho mais seguros e saudáveis;

estimular debates que incorporem perspetivas multidisciplinares sobre as ações que podem ser tomadas hoje para influenciar o que acontece no futuro;

testar as políticas para as tornar mais resistentes ao impacto de futuras alterações do trabalho em resultado de inovações na digitalização e nas tecnologias baseadas nas TIC e da sua aplicação.

Os quatro cenários (no documento anexo) revelaram-se um instrumento valioso para analisar os desafios e oportunidades futuros em matéria de SST. Porém, não são previsões e o futuro da SST nos diferentes setores e regiões conterá elementos de cada um dos cenários, sendo a sua combinação impossível de prever. A utilização dos cenários para formular e testar futuras estratégias e políticas deverá reduzir os riscos e ajudar a maximizar as potenciais oportunidades.

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challenges», Egyptian Informative Journal, vol. 16, n.º 2, p. 213-230.

CORDIS, 2017, «First in-man studies demonstrate high prevalence of diabetes and cardiovascular disease in shift workers». Disponível em: https://cordis.europa.eu/result/rcn/92655_en.html

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CE (Comissão Europeia), 2015, Estratégia para o Mercado Único Digital na Europa. Disponível em: http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:52015DC0192&from=PT

CE (Comissão Europeia), 2014, Um quadro estratégico da UE para a saúde e segurança no trabalho 2014-2020. Disponível em http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:52014DC0332

EU-OSHA (Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho), 2018, Análise prospetiva sobre riscos novos e emergentes em matéria de segurança e saúde no trabalho associados à digitalização até 2025: Relatório final. Disponível em https://osha.europa.eu/pt/tools-and-publications/publications/summary-foresight-new-and-emerging-occupational-safety-and-1

EU-OSHA (Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho), 2017a, Tendências e motores de mudança principais nas tecnologias da informação e da comunicação e na localização do trabalho: Relatório final. Disponível em https://osha.europa.eu/pt/tools-and-publications/publications/key-trends-and-drivers-change-information-and-communication/view

EU-OSHA (Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho), 2017b, Proteger os trabalhadores na economia das plataformas em linha: Uma descrição geral dos desenvolvimentos em termos de regulamentação e políticas na UE. Disponível em: https://osha.europa.eu/pt/tools-and-publications/publications/regulating-occupational-safety-and-health-impact-online-platform/view

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HSE, (Health and Safety Executive), 2017, Tackling work-related stress using the Management Standards approach, A step-by-step workbook. Disponível em http://www.hse.gov.uk/pubns/wbk01.htm

IARC (Centro Internacional de Investigação do Cancro), 2017, «IARC monographs programme finds cancer hazards associated with shift-work, painting and firefighting», Comunicado de imprensa n.º 180. Extraído em 6 de outubro de 2017 de: https://www.iarc.fr/en/media-centre/pr/2007/pr180.html

Moore, P. V., 2018, The threat of physical and psychosocial violence and harassment in digitalized work, OIT. Disponível em http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_dialogue/---actrav/documents/publication/wcms_617062.pdf

Murthy, V. H., 2017, «Work and the loneliness epidemic», Harvard Business Review. Extraído em 5 de outubro de 2017 de: https://hbr.org/cover-story/2017/09/work-and-the-loneliness-epidemic

Ringland, G., 2006, Scenario Planning: Managing for the Future, Wiley. ISBN: 047001881X, 9780470018811

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Anexo: Descrições de cenários Cenário 1 — Evolução (Níveis reduzidos de crescimento económico e aplicação tecnológica / Níveis elevados de governação e apoio dos cidadãos/trabalhadores)

A Europa em 2025

Ao longo de uma década de baixo crescimento económico, os governos da Europa procuraram recuperar a confiança dos eleitores e manter a coesão social, concentrando-se nos direitos dos trabalhadores, na segurança social, na saúde e na assistência social e na educação. Os trabalhadores, os representantes dos trabalhadores, os líderes empresariais e os governos trabalharam em conjunto através do diálogo social, com vista à obtenção de um consenso sobre os benefícios da exploração das TIC no trabalho. Existe participação e gestão da confiança, por um lado, e comando e controlo, por outro lado. Esta abordagem tem sido bem-sucedida, na medida em que contribuiu para manter a confiança das pessoas no governo e nas novas tecnologias.

O ritmo lento do crescimento económico significa que os fundos destinados ao investimento público e empresarial foram limitados no que respeita à construção das infraestruturas físicas e de investigação necessárias para apoiar as novas tecnologias. A exploração destas tecnologias foi, por conseguinte, limitada, apesar de reconhecidas as potenciais vantagens.

Foram registados níveis de desemprego relativamente elevados e uma perda de confiança nas vantagens do comércio internacional. Em resposta às preocupações dos cidadãos, a Europa procura proteger as suas economias através de políticas comerciais e migratórias rigorosas. No entanto, a concorrência global entre pessoas altamente qualificadas capazes de trabalhar num mundo em rápida mutação impulsionada pela evolução tecnológica resultou numa «fuga de cérebros» para economias que apresentavam um nível de desenvolvimento mais acelerado.

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No local de trabalho, verifica-se, hoje em dia, um misto de inovação e tradicionalismo ao nível da organização do trabalho, da gestão dos recursos humanos e das relações laborais. Em certos locais, grupos de pessoas ou governos locais formaram as suas próprias comunidades microeconómicas de interesse e empresas locais. Apesar de não se tratar de um cenário frequente, nos casos em que tal se verificou, obteve-se uma resposta positiva aos problemas que afetam a Europa no seu todo, podendo ainda servir de exemplo para outros.

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Em 2025, os mais ricos terão aumentado a sua parte da riqueza total. A maioria das outras pessoas será relativamente mais pobre, com os jovens e os trabalhadores de rendimento médio particularmente afetados pelo baixo crescimento económico. Embora os postos de trabalho do setor público tenham sido mantidos, os salários são geralmente baixos, exceto nas áreas em que as pessoas tomaram medidas conjuntas para se protegerem e promoverem microeconomias locais.

O crescimento do PIB permanece baixo ao longo do período em análise, situando-se numa média de cerca de 1 % por ano. As empresas têm procurado sobreviver e construir um futuro mais seguro, sendo o investimento em TIC centrado em áreas onde os custos são mais baixos ou onde os lucros são mais elevados. Algumas partes da Europa continuam a obter melhores resultados do que outras, porque começaram com uma posição mais forte em termos de infraestruturas, investimento, competências e utilização de TIC. À escala europeia, não foram promovidas as estratégias e os investimentos necessários para colmatar as lacunas existentes, razão pela qual se tem vindo a assistir a um agravamento das mesmas.

A Europa não é vista como líder em novas tecnologias. A velocidade de adoção das novas tecnologias, muito inferior à dos EUA e de certas regiões da Ásia, revela um ritmo de mudança no mercado de trabalho relativamente baixo. Apenas cerca de 10 % dos postos de trabalho desapareceram, mas cerca de 40 % foram moderadamente alterados pelo apoio das novas tecnologias. Os salários reais sofreram uma queda.

Este ritmo relativamente lento de mudança do trabalho ajuda a manter um sentido de solidariedade social, o que significa que há muito trabalho para enfermeiros e prestadores de cuidados de saúde, assim como nos setores público/estatal.

Devido ao êxodo de jovens potencialmente beneficiários de rendimentos elevados e aos novos esforços para limitar a imigração, as projeções demográficas apontam agora para uma redução da população ativa total da Europa, com novas implicações negativas no crescimento do PIB.

Mutações tecnológicas

A aplicação de novas tecnologias e competências tem sido lenta e confinada principalmente a grandes empresas internacionais, indivíduos com forte motivação ou iniciativas locais. Os baixos níveis de crescimento do PIB e a concentração dos governos na proteção dos empregos «antigos» e na manutenção da coesão social levaram a que fosse dada pouca prioridade à investigação e ao desenvolvimento de novas tecnologias. As empresas internacionais continuam a investir, mas fazem-no no contexto das suas próprias estratégias empresariais. A tecnologia existente, que é vista como um investimento mais fiável e mais seguro, é mais amplamente difundida entre setores, enquanto o ritmo de introdução das novas tecnologias é bastante lento.

Houve um desenvolvimento relativamente lento em tecnologias de ponta, como a IA, que constituem a força motriz da Internet das Coisas (IoT). «A utilização de interfaces básicas de IA e de controlo de voz aumentou moderadamente, mas as interfaces mais avançadas de IA e de homem-máquina (por exemplo, rastreio ocular, gesto e transmissão direta de sinais cerebrais para interfaces de computador) são utilizadas apenas quando reduzem significativamente os custos. Entre os exemplos, incluem-se a gestão de sistemas de processamento e distribuição mais complexos. A maioria dos robôs encontra-se ainda a realizar tarefas repetitivas. Os robôs que trabalham em colaboração com seres humanos ou que realizam tarefas mais complexas e com maior nível de destreza são em número limitado.

Os processos de fabrico aditivo estão a começar a perturbar as indústrias de produção tradicionais e a criar novos modelos empresariais, incluindo pequenas novas empresas.

Os ciberataques aumentaram e constituem agora uma séria ameaça, uma vez que não foi possível financiar os níveis cada vez mais elevados de investimento necessários para os combater.

A utilização de plataformas de teletrabalho tem vindo a aumentar de forma constante ao longo da década, em particular nos casos em que existem comunidades microeconómicas. A banda larga de 5G foi implantada nas zonas urbanas da UE, mas o acesso na maioria das regiões remotas ainda é limitado. Consequentemente, algumas pessoas oriundas de zonas mais remotas foram excluídas do crescimento do trabalho móvel e realizado a partir de casa e ainda do mercado de trabalho eletrónico.

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Ambiente SST

O setor privado tem como prioridade permanecer no mercado, enquanto o setor público centra a sua atenção na redução e no tratamento das questões associadas ao desemprego. Os governos apoiam os direitos dos trabalhadores e colaboram com os parceiros sociais de modo a garantir a importância da SST, trabalhando com uma abordagem consultiva e sujeitos à restrição da limitação de fundos e recursos disponíveis para regulamentação, investigação e formação em matéria de SST. O aumento do número de trabalhadores por conta própria e que exercem teletrabalho removeu uma proporção significativa de trabalhadores da supervisão regulamentar.

Apesar de existirem nichos de boas práticas de SST, a perda de empregos de gestão mudou profundamente as hierarquias e as relações entre trabalhadores, o que pode ser prejudicial à boa gestão da SST. A tendência para uma difusão generalizada das tecnologias existentes, em vez de para uma rápida adoção das novas tecnologias, resulta num bom conhecimento geral dos riscos de SST e da prevenção dos mesmos. Ao controlar-se o ritmo de mudança, permite-se, de uma forma geral, manter atualizada a regulamentação em matéria de SST e aproveitar as oportunidades de identificação dos riscos de SST e de partilha de boas práticas antes de as tecnologias a que se aplicam serem amplamente utilizadas. Os meios de comunicação social são também utilizados para divulgar informação sobre questões relacionadas com a SST.

O aumento gradual mas desigual dos níveis de automatização, utilização de robótica e utilização de realidade aumentada (RA) e realidade virtual (RV) afasta algumas pessoas dos ambientes de trabalho perigosos. No entanto, algumas destas tecnologias poderão ser objeto de uma manutenção deficiente devido a restrições financeiras das empresas e/ou à não perceção dos riscos envolvidos. Os robôs/máquinas conectados também podem ser vulneráveis a ataques cibernéticos passíveis de resultar num funcionamento perigoso.

Existe um risco de stresse laboral decorrente, por exemplo, da monitorização no trabalho, do trabalho ao lado de robôs ou, em alguns setores, do sentimento de insegurança no emprego. No entanto, a tecnologia vestível também serve para ajudar indivíduos a monitorizar e gerir os seus níveis de stresse.

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Cenário 2 — Transformação (Níveis elevados de crescimento económico e aplicação tecnológica / Níveis elevados de governação e apoio dos cidadãos/dos trabalhadores)

Europa em 2025

O panorama político e social da Europa sofreu uma transformação, tornando-se mais colaborativo, consensual e ético. A formulação de políticas é baseada em provas, responsiva e resiliente. Ao abrigo deste novo «contrato social», o comportamento aceitável é reforçado através de normas e valores sociais.

As novas tecnologias estão a ser adotadas por cidadãos cada vez mais conectados e com maior consciência ambiental e social. Os trabalhadores (e as pessoas em geral) utilizam as TIC de forma muito eficaz para criarem formas radicais e inovadoras de organização do trabalho, de modo que, em geral, nenhum grupo sai particularmente desfavorecido. Estão disponíveis mecanismos de responsabilização dos governos relativamente a uma grande variedade de questões, incluindo a regulamentação das novas tecnologias, a privacidade eletrónica, práticas de trabalho saudáveis e sustentáveis e cuidados com o ambiente. Um tal cenário contribui, na maior parte das situações, para um elevado nível de confiança nos decisores políticos e, em geral, para a aceitação das novas tecnologias. A sociedade é também menos discriminatória e mais igualitária, uma vez que as TIC apoiam os trabalhadores independentemente do seu peso demográfico (por exemplo, idade ou classe social).

As alianças políticas, estabelecidas durante a implementação bem-sucedida do Mercado Único Digital Europeu, resultaram numa boa cooperação entre os governos de toda a Europa. Os governos abraçaram a eficiência oferecida pelas tecnologias baseadas nas TIC e encontraram formas inovadoras de regulamentar novas tecnologias e padrões de trabalho. Os mesmos dispõem dos fundos e dos conhecimentos necessários para apoiarem investimentos sólidos em infraestruturas, cibersegurança, educação e formação. Essa capacidade permite manter os atuais ritmos de evolução tecnológica e de crescimento económico de 3 %.

O mercado de trabalho caracteriza-se por alterações frequentes no tipo e na natureza dos postos de trabalho disponíveis. Nos últimos 10 anos, 50 % dos empregos mudaram ou desapareceram radicalmente, com a criação de muitos novos empregos. É comum que os trabalhadores tenham vários empregos que se enquadram nas suas vidas pessoais. As fronteiras entre a vida profissional e a vida pessoal não são evidentes, existindo atualmente uma mobilidade quase despercebida entre esses dois cenários. A maioria dos trabalhadores é capaz de proteger o equilíbrio entre a sua vida profissional e a sua vida familiar, uma conclusão apoiada por algoritmos de supervisão de Inteligência Artificial (AI) incorporados em interfaces

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de trabalho. As pessoas também mudam de emprego com frequência e facilidade, e muitas vezes continuam a trabalhar de forma saudável aos seus 80 anos. A esperança média de vida é de 100 anos.

De uma forma geral, os níveis de desemprego continuam reduzidos, devido à existência de competências de boa qualidade generalizadas entre os trabalhadores, de instrumentos inovadores de procura de emprego e da criação de novos empregos que substituem os empregos perdidos. O rendimento disponível dos trabalhadores é geralmente bom, com menos disparidade entre a maioria das pessoas. Este cenário resultou num aumento significativo dos níveis de migração para a Europa.

Assistiu-se a uma alteração fundamental nos princípios, na estrutura e no controlo subjacentes à Internet, incluindo a criação de uma versão digital da Convenção de Genebra. Apesar disso, a cibersegurança é uma tarefa cada vez mais importante e complexa.

A abordagem à educação e à formação também sofreu uma transformação. O ensino ministrado por formadores humanos é combinado com cursos em linha gratuitos (MOOC) de alta qualidade, abertos a todos. A qualidade é assegurada através da acreditação em linha de cooperativas de trabalhadores, associações empregadoras e sindicatos. Os trabalhadores, os empregadores e os governos reconhecem a importância da aprendizagem ao longo da vida. Por conseguinte, as competências em matéria de TIC de boa qualidade, bem como as competências interpessoais, são mantidas atualizadas em todos os níveis laborais.

Existe uma expectativa de que as pessoas cumpram as normas sociais, (em parte) motivadas por implicações em matéria de seguros e emprego. A maioria dos trabalhadores sente-se confortável com essa situação. Aqueles que se sentem desconfortáveis sentem que perderam o seu sentido de identidade, pois raramente estão completamente livres de serem auxiliados e monitorizados por algoritmos de IA, que registam a sua presença, desempenho e produtividade. Esta situação criou uma subclasse de pessoas que vivem à margem da sociedade, que não querem ser permanentemente monitorizadas pelas TIC-ET, que estão «desligadas» e perderam acesso a muitas oportunidades de trabalho e serviços que dependem das TIC.

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O ritmo da mudança (mudança tecnológica e mudanças de modo de trabalho) é moderado pela necessidade de se chegar a um consenso entre os parceiros sociais, o que por vezes pode abrandar a tomada de decisões.

Mutações tecnológicas

A banda larga 5G foi implantada em toda a Europa há algum tempo, incluindo nas zonas rurais. A Internet das coisas (IoT) está generalizada, de modo que a maioria dos dispositivos no trabalho e em casa são inteligentes e conectados.

Muitos aspetos da vida pessoal e profissional das pessoas integram inteligência artificial básica e limitada, e a maioria das pessoas trabalha em equipas apoiadas e aconselhadas por sistemas de IA. Ao eliminarem as rotinas dos postos de trabalho, os trabalhadores tornam-se mais produtivos. Por exemplo, os profissionais de saúde recebem informação do doente e um prognóstico provável através de um sistema de IA. Os trabalhadores são geralmente acompanhados e dirigidos por sistemas de aprendizagem de IA, que ajudam a gerir o stresse, a promover o bem-estar e a incentivar práticas de trabalho mais seguras e produtivas. Esses sistemas de IA avaliam uma série de dados do trabalhador, incluindo dados fisiológicos recolhidos por dispositivos de vestir.

A inteligência artificial geral (IAG) está a começar a substituir postos de trabalho mais qualificados em diversos setores. Em algumas áreas de trabalho, reconhece-se que a IAG é melhor em termos de análise de dados e de funcionamento de processos e sistemas do que os humanos. Estas máquinas IAG tomam agora decisões e implementam-nas sem supervisão ou intervenção humana. Existem, no entanto, algumas preocupações quanto ao grau de controlo das máquinas IAG e à forma como tomam decisões.

Os algoritmos de empatia são utilizados para adaptar a natureza e o formato do aconselhamento de acordo com as diversas necessidades dos diferentes utilizadores.

A interface com as TIC (e com outras pessoas remotamente) é mais natural e imersiva. Existe um uso generalizado das tecnologias de reconhecimento de voz, seguimento ocular e controlo dos gestos. A utilização de interfaces diretas cérebro-computador, embora não generalizada, já não é vista como uma raridade.

A tecnologia de fabrico aditivo criou novos modelos de negócios, tais como a produção personalizada local.

Os automóveis autónomos e outros meios de transporte (incluindo drones) são comuns e a propriedade dos veículos é reduzida.

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Existe um número significativo de robôs totalmente autónomos capazes de desempenhar tarefas complexas, incluindo aquelas que exigem elevada destreza.

A produção de «luzes apagadas» é bastante comum em vários setores industriais; muitas fábricas são totalmente automatizadas, com pouca ou nenhuma supervisão ou intervenção humana remota.

Ambiente SST

Todos os parceiros sociais têm como prioridade um bom sistema de SST, orientado por preocupações éticas e considerado benéfico para a sustentabilidade da sociedade e das empresas. Assim se criou uma cultura de melhoria contínua, harmonização de normas e autorregulação eficaz. As normas sociais promovem uma boa gestão da SST, bem como um comportamento seguro e saudável por parte dos trabalhadores.

O novo contrato social significa que existe confiança, transparência, valores partilhados e abertura entre governos e parceiros sociais, o que incentiva a colaboração em matéria de SST. Existe também uma preferência por um processo de tomada de decisões consensual e factual, sendo os governos responsabilizados através de uma ação direta e bem coordenada dos parceiros sociais. A organização do trabalho é um espelho desta realidade, normalmente percetível após um processo de gestão da participação e da confiança. Tal permitiu o aparecimento de parcerias inovadoras, inovação no local de trabalho e abordagens de regulamentação baseadas nas TIC.

Existe financiamento para uma investigação de qualidade em matéria de SST, com acesso a grandes quantidades de dados relevantes resultantes da utilização generalizada das tecnologias vestíveis e da IoT. Por conseguinte, a SST tende a ser incorporada em tecnologias e processos de trabalho compatíveis com as TIC. Verifica-se, em termos gerais, alguma resiliência relativamente ao ritmo moderadamente rápido de mudança (alterações tecnológicas e formas de trabalho). No entanto, uma abordagem consensual pode ocasionalmente levar a uma falta de eficiência e a uma abordagem excessivamente cautelosa. Ocasionalmente, a regulamentação pode também não conseguir acompanhar a introdução de novas tecnologias.

As normas sociais podem causar stresse/ansiedade devido à pressão e/ou à necessidade de conformidade. Alguns indivíduos receiam que as suas ações ou comportamentos não sejam suficientemente bons para responder às expectativas da sociedade. Por vezes, a pressão no sentido da

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conformidade pode também conduzir a um «pensamento de grupo», o que pode levar a que os riscos emergentes passem despercebidos.

As organizações e os reguladores, em geral, possuem os conhecimentos e as competências necessários para gerir eficazmente a SST. O ambiente de trabalho na Europa consegue atrair e reter trabalhadores motivados, experientes e altamente qualificados. Este facto, juntamente com o movimento de propriedade intelectual aberta e abordagens inovadoras e de boa qualidade em matéria de formação e transferência de conhecimentos, atenua o impacto causado pela acumulação de vários postos de trabalho por parte dos trabalhadores e das suas mudanças regulares de emprego.

No entanto, as mudanças nos padrões de emprego e nas hierarquias podem resultar numa falta de clareza sobre quem é responsável pela SST, especialmente quando o trabalho é feito através de plataformas em linha ou quando os trabalhadores dependem hierarquicamente da IA. Alguns trabalhadores podem também não se enquadrar na regulamentação formal devido ao seu estatuto profissional ou pelo facto de a sua localização se encontrar oculta por trás de uma plataforma em linha. A maioria das pessoas trabalha com contratos de curto prazo para diferentes empresas em todo o mundo, ou executa pequenos trabalhos ou tarefas através de plataformas em linha.

Geralmente, trabalham ao lado de sistemas de IA ou de «cobots», e muitas são supervisionadas, avaliadas, treinadas e controladas por esses sistemas. Este facto pode colocar uma carga cognitiva excessiva em alguns indivíduos. Outros sofrem de stresse/ansiedade devido à perda de controlo ou de responsabilização e da perda de apoio dos seus pares no trabalho ou preocupam-se com o grau de monitorização a que são sujeitos.

Não existem muitos locais de trabalho fixos, e a natureza realista da RV e da RA faz com que a maioria das pessoas trabalhe em casa, em espaços comuns partilhados ou em locais públicos. A maioria das reuniões de trabalho são realizadas em ambiente de realidade virtual e, embora isso aumente a eficiência e reduza os custos de deslocação, algumas pessoas sentem falta de apoio e interação social real. Em geral, do ponto de vista ergonómico, as casas, os espaços públicos e os meios de transporte evoluíram de forma mais favorável aos trabalhadores. As interfaces homem-máquina são geralmente mais ergonómicas, mas o surgimento de novas formas de interface pode resultar também em novos riscos cognitivos, de voz, visuais e de lesões músculo-esqueléticas (LME).

O aumento dos níveis de automatização e utilização da robótica retira muitos trabalhadores de ambientes de trabalho físicos, químicos e biológicos perigosos. A RA e a RV são utilizadas para formação imersiva e para apoiar tarefas de manutenção, as quais podem frequentemente ser realizadas à distância; isto também contribui para a remoção de trabalhadores de ambientes perigosos, mas pode causar problemas cognitivos e desorientação entre os mundos real e virtual e, ocasionalmente, resultar em acidentes. Quando as pessoas precisam de trabalhar em ambientes perigosos, estão protegidas por EPI inteligentes que as alertam para a exposição a substâncias perigosas e as aconselham especificamente sobre as suas necessidades. Além disso, a definição de perfis de ADN pode ser utilizada para detetar trabalhadores suscetíveis a determinados produtos químicos ou alergénios.

A utilização de veículos autónomos, dispositivos biónicos e exoesqueletos permite que uma população em envelhecimento continue a trabalhar. Contudo, a sua utilização pode causar perda de densidade óssea ou muscular e/ou flexibilidade das articulações.

Uma boa cibersegurança e fiabilidade das TIC são essenciais devido ao número de dispositivos inteligentes em linha e à dependência que muitas atividades profissionais têm dos sistemas TIC em rede. Se forem pirateados, estes sistemas podem causar anomalias perigosas.

Apesar disso, a tecnologia é, em geral, muito fiável e os processos de trabalho são geralmente mais seguros. No entanto, quando algo corre mal, pode levar tempo a compreender que existe um problema e é possível que os trabalhadores tenham pouca ou nenhuma experiência para tomarem decisões de gestão da situação (porque a tecnologia raramente funciona mal). Esta situação pode ainda ser exacerbada pelo facto de muitos processos de trabalho serem controlados remotamente por um grupo reduzido de trabalhadores, os quais podem ter pouco a fazer na maior parte do tempo.

Em geral, as pessoas conseguem equilibrar mais facilmente as suas necessidades pessoais e profissionais devido à natureza altamente flexível da maior parte do trabalho. Além disso, os algoritmos de

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supervisão de IA são integrados em interfaces de trabalho para evitar práticas de trabalho pouco saudáveis. No entanto, o stresse pode continuar a ser um problema para algumas pessoas, devido à tentação do trabalho intensivo, à diluição das fronteiras entre vida profissional e vida privada, à maior complexidade das tarefas, à monitorização permanente, à expectativa de conformidade e à perda de interação humana no trabalho. A automatização, a robotização e a IA podem também levar alguns trabalhadores a sofrer de stresse devido à privação de tarefas, a qual pode provir, por exemplo, de uma ocupação insuficiente do seu tempo ou de um trabalho monótono ou que não lhes permita utilizar as suas competências cognitivas.

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Cenário 3 — Exploração (Níveis elevados de crescimento económico e aplicação tecnológica / Níveis reduzidos de governação e resistência por parte dos cidadãos/trabalhadores)

Europa em 2025

Nos últimos cinco anos, assistiu-se a um crescimento económico anual de cerca de 3 % do PIB, com um aumento do investimento empresarial em investigação e desenvolvimento, infraestruturas e bens patrimoniais. As forças do mercado e a rápida evolução tecnológica conduzem a uma adaptação forçada da mão de obra. Durante a última década, os parceiros sociais e os governos não conseguiram, em geral, trabalhar em conjunto e não dispuseram dos recursos necessários para garantir que os quadros regulamentares acompanhassem o ritmo acelerado das mudanças nas TIC-ET e as mudanças que estas provocaram no emprego (flexível), nas disposições laborais, na natureza do trabalho e na localização do trabalho. Isto incluiu a incapacidade de modernizar a cobrança de impostos, privando os governos do financiamento necessário para a educação, o desenvolvimento de competências, as infraestruturas e a investigação e desenvolvimento.

As competências no domínio das TIC são financiadas em caso de necessidade imediata ou nos casos em que não é possível introduzir competências através de plataformas em linha ou de plataformas off-shore. As empresas estão, na sua maioria, a ter um bom desempenho e procuram manter as suas posições investindo na investigação e no desenvolvimento para maximizar a exploração tecnológica, principalmente nas áreas que proporcionam lucros mais elevados e mais rápidos. No entanto, as TIC-ET mais disruptivas podem acabar de um momento para o outro com certos negócios, apesar das intervenções dos governos nacionais para tentar proteger o emprego dos seus trabalhadores.

O ritmo acelerado de desenvolvimento das TIC teve um impacto generalizado e profundo no mundo do trabalho. O mercado de trabalho europeu tem vindo a sofrer mutações a um ritmo cada vez mais rápido. A economia é dominada pelo aumento do trabalho em regime freelance, por contratos de horário zero e contratos de curto prazo (a chamada economia gig, ou colaborativa). Muitas pessoas trabalham para, pelo menos, cinco empregadores em simultâneo, estão registadas em várias plataformas em linha e mudam frequentemente de emprego. Cerca de 60 % dos postos de trabalho sofreram alterações ou desapareceram. Destes, cerca de 40 % dos postos de trabalho foram perdidos devido à automatização das atividades de trabalho rotineiras e repetitivas. Os benefícios sociais do trabalho não são avaliados e apenas cerca de 10 % dos postos de trabalho são criados de raiz. O trabalho disponível é essencialmente não qualificado, com apenas uma pequena proporção de trabalho parcialmente normalizado e altamente qualificado.

Verificam-se níveis de desemprego muito elevados e a desigualdade entre os salários elevados e os salários baixos é muito mais acentuada. Aos interesses dos trabalhadores e à sua formação é dada uma prioridade mais baixa, pois é fácil adquirir as competências necessárias. Os postos de trabalho existentes são, em geral, instáveis e inseguros, e o trabalho é frequentemente difícil e intensivo.

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Existe uma «fratura digital» entre os «aqueles que têm» (indivíduos altamente qualificados que competem pelos melhores empregos) e os «aqueles que não têm» (desempregados ou em situação precária). Verificou-se um declínio da confiança pública e dos direitos dos trabalhadores, bem como uma falta de liderança governamental. As pessoas que ainda trabalham sentem-se ameaçadas pelo ritmo acelerado de evolução das TIC. Tem-se assistido a um declínio contínuo da filiação sindical, que está a levar a uma falta de poder de negociação coletiva. Em 2025, o descontentamento dos trabalhadores é elevado e existe uma agitação contínua. São comuns os protestos, incluindo a ação direta, coordenados e mobilizados através das redes sociais.

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Devido às importantes lacunas em termos de competências no domínio das TIC verificadas no início da década, as empresas tentaram melhorar as competências dos trabalhadores necessários para utilizar tecnologias TIC-ET. Isto significa que os países menos ricos da UE podem beneficiar da revolução das TIC. Cada vez mais pessoas recorrem aos cursos em linha gratuitos (MOOC) para melhorarem as suas qualificações. Para algumas, esta situação resulta num aumento da mobilidade social. No entanto, a procura de competências TIC de alto nível continua a ser superior à oferta, o que significa que existem salários elevados disponíveis para aqueles que possuem as melhores qualificações. As oportunidades de emprego dependem cada vez mais da existência de boas competências em matéria de TIC. As competências criativas/artísticas e interpessoais são também muito valorizadas. No entanto, a formação em linha pode resultar também em competências reduzidas quando falamos daquelas mais abrangentes, por exemplo, as competências sociais. A educação e a formação são de grande valor para quem pode pagar por elas, com capital próprio ou emprestado. A formação presencial só é acessível aos trabalhadores mais abastados.

Mutações tecnológicas

Neste cenário, a escolha dos trabalhadores é limitada. A tecnologia é algo que acontece ao indivíduo, e não algo que serve para ajudá-lo.

Os avanços na IA e na robótica estão omnipresentes no local de trabalho. As empresas compreenderam as melhorias que a IA pode trazer à produtividade e eficiência, e os sistemas já foram amplamente adotados para direcionar, monitorizar e avaliar o desempenho e a produtividade dos trabalhadores. Geralmente, a gestão consiste em ações de comando e controlo, orientada pelos supervisores da IA.

Hoje em dia, são os robôs e os algoritmos de computador que executam a maioria das tarefas rotineiras e repetitivas. Os empregos profissionais qualificados também foram muito afetados. Regra geral, os robôs trabalham em colaboração com humanos e podem realizar tarefas cada vez mais complexas e poderosas. Os dispositivos biomecânicos, tais como os exoesqueletos, são comummente usados em locais de trabalho, por exemplo em trabalhos de assistência, manutenção e logística. Contudo, existem problemas em torno da segurança e do controlo dos dispositivos biomecânicos, principalmente dos dispositivos inteligentes conectados à Internet das Coisas (IoT).

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As interfaces que utilizam o reconhecimento de voz, o seguimento ocular e o controlo de gestos são comuns em alguns setores, e tem-se verificado uma adoção precoce de interfaces diretas cérebro-computador. A indústria de fabrico tradicional foi significativamente abalada pelo fabrico aditivo; as pequenas e médias empresas e as empresas em fase de arranque fornecem cada vez mais produtos a nível local.

Atualmente, a IoT está presente na maior parte das atividades do dia a dia, e a maioria dos trabalhadores é constantemente monitorizada em linha e através de dispositivos eletrónicos de trabalho ligados à IoT. No entanto, existe uma cobertura desigual em toda a Europa, com muitas zonas rurais sem acesso. A criação de um perfil da Internet dos trabalhadores potenciais e atuais das empresas, incluindo durante o seu tempo de lazer, é um procedimento de rotina (para monitorizar se levam um estilo de vida saudável, valorizado devido à sua ligação ao aumento da produtividade).

Ao longo da década, os ciberataques têm sido cada vez mais comuns, devido à ausência de uma resposta robusta e coordenada à ameaça, tanto por parte dos governos, como das empresas. Esta situação resultou numa perda de confiança significativa por parte dos cidadãos. Infraestruturas, energia e serviços - todos foram alvo de ataques cibernéticos, e isso agora faz parte da vida quotidiana.

Ambiente SST

A falta de liderança governamental, de confiança e de diálogo social ou de apoio das empresas leva a que os quadros regulamentares sejam geralmente inadequados e incapazes de acompanhar o ritmo acelerado da mudança nos padrões de trabalho e nas TIC. Esta situação é agravada pela falta de uma negociação coletiva eficaz para garantir boas condições de trabalho, devido à diminuição da filiação sindical e ao acesso limitado a abordagens de negociação alternativas.

Existe um investimento desigual na investigação e formação em matéria de SST e um acesso deficiente a informação de qualidade sobre SST. Os trabalhadores mudam frequentemente de emprego, não têm tempo nem dinheiro para uma formação de qualidade e passam por longos períodos de desemprego. Os empregadores transferem geralmente a responsabilidade da gestão de SST para os seus trabalhadores, através de pseudo contratos de trabalho por conta própria. A precariedade laboral pode também resultar na disponibilidade de aceitar riscos de SST, apenas para poder trabalhar.

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A mão de obra está dispersa e raramente envolvida numa relação tradicional empregador-empregado. Por exemplo, a maioria dos trabalhadores é independente, possui contratos de trabalho precários (contratos de trabalho de zero horas, trabalhos pontuais, trabalhos em linha), frequentemente com trabalhos múltiplos e/ou de curta duração. Este facto tem um impacto negativo nos resultados da SST. Um exemplo disso é a falta de aplicação e de execução de qualquer legislação em matéria de SST ou vigilância médica.

As redes sociais são usadas para formar grupos que tentam utilizar o seu poder combinado para melhorar as condições de trabalho, com sucesso ocasional mas frequentemente limitado. A melhoria das plataformas de trabalho em linha também resulta na disponibilização de «assistentes» de IA, a fim de fornecer informações sobre a SST aos trabalhadores. Por conseguinte, existe um contraste considerável entre bons e maus empregos, em termos de SST.

O aumento dos níveis de robótica e a utilização da automatização retiram muitas pessoas de ambientes de trabalho perigosos do ponto de vista físico, químico e biológico. No entanto, os trabalhadores precisam geralmente de ajustar a sua velocidade ou posição para trabalhar eficazmente com robôs colaborativos. A pressão sentida pelo trabalhador no sentido de garantir o mesmo nível de desempenho que um robô pode causar stresse e lesões musculoesqueléticas, resultantes de uma má ergonomia ou de uma execução de tarefas excessivamente rápida.

A combinação de novas tecnologias com tecnologias mais antigas pode também originar riscos de SST, por exemplo, se um indivíduo se deparar com um robô mais antigo e esperar que ele se comporte da mesma maneira que um robô colaborativo inteligente e sensorial.

Alguns problemas de SST são externalizados juntamente com o trabalho. No entanto, existe ainda a necessidade de garantir a execução de certos trabalhos em áreas que são atualmente demasiado difíceis de automatizar totalmente ou onde os trabalhadores humanos ainda são mais baratos. Aqueles que trabalham nesses ambientes estão potencialmente expostos a um leque de materiais mais alargado e mais complexo quimicamente, por exemplo durante os processos de fabrico ou reciclagem. Estão também a ser utilizados novos materiais para impressões 3D e 4D e bioimpressão em pequenas lojas e novas empresas por parte dos seus proprietários e trabalhadores, os quais podem ter pouca formação sobre os riscos decorrentes da exposição a partículas tóxicas/fumos ou a riscos de explosão/incêndio.

A tecnologia é cada vez mais complexa e mais rápida a ser lançada no mercado, o que pode levar a falhas de design potencialmente perigosas, difíceis de detetar. A falta de investimento na cibersegurança e na infraestrutura da Internet significa também que o equipamento de trabalho é suscetível de funcionar mal devido a atos de pirataria passíveis de provocar situações perigosas no local de trabalho, por exemplo, o desligar de sistemas de refrigeração utilizados em processos químicos exotérmicos.

As interfaces homem-máquina são omnipresentes e algumas são personalizadas para o utilizador. No entanto, muitas não estão adaptadas ao nível cognitivo ou a outras necessidades dos trabalhadores. O surgimento de novas formas de interface pode também resultar em novos riscos cognitivos, de voz, visuais e de LME.

De um modo geral, o stresse, a ansiedade e a depressão relacionados com o trabalho são situações comuns devido à natureza precária da maioria dos postos de trabalho, à insegurança laboral, à intensificação do trabalho, ao trabalho para múltiplos empregadores, à monitorização contínua, ao trabalho em paralelo com robôs e à pressão dos sistemas de IA para aumentar a produtividade (conhecidos por alguns como o «chicote digital»). O ciberassédio também é comum em muitos locais de trabalho e é transversal a vários setores.

Muitas pessoas, apesar de trabalharem por conta própria, sentem-se «sob o jugo» dos seus «empregadores», pois é suposto estarem disponíveis para trabalhar com prazos muito apertados e são-lhes feitas imposições excessivas por parte dos empregadores. Muitos indivíduos sofrem com uma sobrecarga de trabalho e os esgotamentos são comuns.

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Cenário 4 — Fragmentação (Níveis reduzidos de crescimento económico e aplicação tecnológica / Níveis reduzidos de governação e resistência por parte dos cidadãos/trabalhadores)

Europa em 2025

A maior parte dos setores económicos da Europa passou por uma década de baixo crescimento e baixo desenvolvimento tecnológico. Os níveis de coesão social são baixos e a maioria das pessoas é motivada por interesses próprios. A economia caracteriza-se por resultados de curto prazo, salários baixos, receitas fiscais reduzidas e uma elevada desigualdade. Apenas as empresas e os trabalhadores «mais aptos» sobrevivem. O trabalho informal está bem presente na economia cinzenta, frequentemente baseado em relações locais ou pessoais, frequentemente facilitadas pelas redes sociais.

A ética tem estado sob pressão, uma vez que a evasão fiscal se tornou a norma e a capacidade dos governos para regulamentar novos padrões de trabalho diminuiu. Tanto as empresas como os indivíduos que trabalham na economia cinzenta consideram que evitar impostos é «inteligente» ou, pelo menos, sensato. O conceito de lealdade a uma empresa ou a uma mão de obra praticamente desapareceu. Os modelos tradicionais de gestão hierárquica de comando e controlo e de gestão de recursos humanos foram praticamente destruídos. A falta de receitas fiscais implica uma limitação da despesa pública no domínio da segurança social e da saúde. As pressões de desregulamentação contribuíram para a criação de um ethos de «pequeno Estado». O desemprego é elevado, pelo menos na economia formal, e muitos dos que trabalham acumulam, pelo menos, dois empregos para garantir a sua subsistência. A insegurança no emprego é generalizada, com a generalização dos contratos de horário zero. Apesar de envelhecida, a população não tem outra alternativa senão trabalhar durante mais tempo, e os trabalhadores mais velhos tendem a ter de aceitar empregos de menor valor à medida que os seus empregos anteriores desaparecem.

Os governos pouco fizeram para apoiar a inovação. As empresas têm explorado a evolução da tecnologia focando sobretudo o lucro a curto prazo e a «produtividade» sob a forma de substituição do trabalho, ou utilizando os supervisores da IA para aumentar os níveis de eficiência. Em determinados casos, os litígios industriais contra a automatização resultaram, na verdade, numa aceleração da sua implementação com vista a restaurar a prestação de serviços fiáveis aos clientes. Subsistem ainda alguns cargos bem remunerados e de elevado estatuto, pelo que existe ainda um segmento da sociedade com capacidade para receber serviços personalizados de elevada qualidade.

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O crescimento do PIB ao longo do período permanece baixo, situando-se, no máximo, em cerca de 1 % ao ano. Os investimentos das empresas e dos governos em investigação, infraestruturas e desenvolvimento de competências são, em geral, muito reduzidos, e as melhorias incrementais são vistas como a forma mais eficaz de reduzir os custos com a mão de obra. No entanto, temos assistido a alguns exemplos significativos de uma aplicação bem-sucedida das TIC, em particular pelos proprietários de plataformas de trabalho em linha que servem de suporte à economia colaborativa.

Ao longo da década analisada, perderam-se cerca de 20 % dos postos de trabalho, principalmente para a automatização do trabalho repetitivo e pouco qualificado. Foram criados poucos empregos novos (formais). A maioria das pessoas muda de emprego frequentemente, à medida que vão sendo empurradas para fora. As novas oportunidades de emprego tendem a ser menos remuneradas e a curto prazo.

A falta de confiança de que os benefícios das novas tecnologias chegarão aos trabalhadores ou serão distribuídos uniformemente por toda a população resultou numa grande resistência à mudança. Embora a evolução tecnológica tenha continuado, o ritmo é, na maioria dos casos, mais constante do que acelerado. Continuam a existir indústrias de caráter mais tradicional (por exemplo, engenharia, comércio a retalho), mas estas apresentam uma diminuição da rentabilidade. Os recursos limitados de inovação centram-se numa maior exploração dos recursos humanos e ambientais.

A fé na capacidade dos governos de moldar o futuro desapareceu, e cada vez menos pessoas votam ou participam na sociedade civil. Existe uma atitude de «cada um por si», em particular na economia formal. No entanto, continua a haver lugar para contactos e relações pessoais que proporcionam apoio mútuo em alguns setores da economia cinzenta. Alguns consideram positivo o facto de existir mais liberdade pessoal e menos intervenção estatal.

O investimento na manutenção de equipamentos e software é reduzido, o que conduz a falhas mais frequentes, a um maior número de ciberataques e, consequentemente, a uma maior perda de confiança da sociedade.

Os baixos investimentos na educação e na formação criaram igualmente uma mão de obra em que apenas alguns dispõem das competências necessárias para explorar plenamente as tecnologias avançadas. Apesar da existência de cursos em linha gratuitos (MOOC — Massive Open Online Courses), os mesmos

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são de qualidade variável, o que significa que apenas contribuem moderadamente para a melhoria das competências. A formação em linha pode resultar também em competências reduzidas quando falamos daquelas mais abrangentes, por exemplo, as competências sociais. A combinação de todos estes fatores contribuiu para travar a inovação em muitas empresas. A polarização da sociedade, portanto, continua a aumentar, com indivíduos ricos e algumas empresas de sucesso a sequestrar porções cada vez maiores da riqueza nacional, e uma crescente subclasse a voltar-se para formas de subsistência cada vez mais ilícitas.

Mutações tecnológicas

A onda de desenvolvimentos tecnológicos que estava em curso no início da década foi direcionada para o lucro a curto prazo, mas a inovação foi limitada. A automatização substituiu um número significativo de rotinas repetitivas, em especial as tarefas manuais nos setores do fabrico e da construção. Os drones e os veículos autónomos estão a tornar-se bastante comuns.

O investimento nas redes móveis foi limitado e a banda 5G centra-se em áreas rentáveis, em geral zonas industriais e cidades. A Internet das coisas (IoT) faz agora parte de muitos aspetos da nossa vida quotidiana, incluindo do trabalho, pelo que quase nunca estamos livres de «supervisão». No entanto, a limitação do investimento em redes e na cibersegurança conduziu ao aumento da cibercriminalidade e à restrição da partilha de dados.

As tecnologias de monitorização, incluindo através de dispositivos móveis, são cada vez mais utilizadas para garantir que os trabalhadores estão a trabalhar o mais possível, assim como para remover aqueles que se considera não terem um desempenho suficiente.

Os processos de fabrico aditivo estão a começar a perturbar as indústrias de produção tradicionais e a criar novos modelos empresariais, incluindo pequenas novas empresas.

O desenvolvimento de robôs que desempenham tarefas mais complexas e que requerem maior destreza tem continuado, mas não é generalizado. Os robôs que trabalham em colaboração com seres humanos estão mais disseminados e o uso de biónica tem aumentado nos setores onde existe a possibilidade de aumentar a produtividade. O uso eficaz de grandes volumes de dados permitiu o uso bastante generalizado da IA básica e limitada, que mudou significativamente alguns trabalhos e substituiu os de rotina.

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Verificou-se um grande aumento das plataformas de trabalho em linha que proporcionam uma grande variedade de trabalho, desde o trabalho profissional altamente qualificado até às pequenas tarefas rotineiras. O trabalho pode ou não ser realizado em linha (mas é gerido em linha), em vários locais de trabalho, e a maioria dos trabalhadores é (pseudo) independente. Muitos trabalhadores têm contratos de trabalho de zero horas e a insegurança do trabalho (por exemplo, quando os trabalhadores são chamados a trabalhar na hora) significa que muitos sofrem de stresse e ansiedade. O trabalho é frequentemente intenso, o que contribui para o desenvolvimento de doenças psicossociais e físicas. Uma grande parte do trabalho disponível destina-se a ser realizada através de computador, o que levou a um aumento de distúrbios físicos como as LME. Alguns dos trabalhos de plataforma em linha estão disponíveis em setores profissionais normalmente perigosos, como a silvicultura. Uma vez que a maioria dos indivíduos é (pseudo) independente, a responsabilidade pela segurança e saúde é transferida do empregador para o trabalhador. Muitos carecem de benefícios laborais, como, por exemplo, subsídios de doença.

Além disso, assistiu-se ao surgimento de uma grande variedade de novos empregos em linha, entre os quais especialistas em financiamento coletivo («crowdfunding») e curadores digitais personalizados.

Ambiente SST

Apesar dos ocasionais protestos públicos que se fazem ouvir contra a ocorrência de desastres, os governos têm dificuldades em impor ou fazer cumprir regulamentos, em parte devido à limitação das receitas fiscais disponíveis para financiar a aplicação. Com efeito, em nome da «redução da burocracia», alguns regulamentos foram flexibilizados e a SST é encarada com reservas em termos gerais. As medidas têm frequentemente um impacto retardado, o que significa que os efeitos não são observados durante alguns anos.

O ritmo geralmente lento da mudança significa que, em quase todas as áreas, a regulamentação da SST é adequada e sofreu poucas alterações, mas pode ter dificuldades em acompanhar os nichos de grande inovação. Esta variação entre e dentro dos setores dificulta a transferência de conhecimentos de SST de um local de trabalho para outro.

A economia cinzenta não regulamentada está repleta de potenciais riscos de SST e é muito difícil de monitorizar e controlar. Não é possível assegurar a segurança dos processos de trabalho e a qualidade dos produtos ou dos serviços de consultoria, uma vez que são tomados atalhos numa tentativa de obter lucros ou manter os preços suficientemente baixos para serem viáveis. O recurso extensivo à subcontratação também torna menos clara a questão da responsabilização pela conformidade com a regulamentação em matéria de SST, verificando-se alguns setores em que a responsabilidade pela SST é transferida para o trabalhador. O subinvestimento estatal e empresarial na cibersegurança conduziu ao aumento da cibercriminalidade, podendo resultar na desativação ou no comprometimento dos sistemas de segurança.

As empresas que se concentram nos lucros a curto prazo têm sistematicamente subinvestido nos sistemas de SST, pelo que o número de falhas de equipamento e a incidência de lesões e de problemas de saúde relacionados com o trabalho continuam a ser elevados. As organizações investem pouco na formação em SST e muitos trabalhadores têm pouco acesso a informação de boa qualidade sobre SST. Além disso, os trabalhadores passam frequentemente por períodos de desemprego prolongados. Em termos globais, isto significa que muitos indivíduos não possuem conhecimentos adequados em matéria de SST e experiência profissional, pelo que estão em maior risco de sofrer lesões no trabalho.

Uma cultura de improviso, aliada à combinação de antigos e novos produtos, origina riscos de SST decorrentes da integração do novo com o antigo e do estabelecimento de interfaces entre os dois. A tendência para utilizar sistemas antigos até que avariem aumenta também os riscos de SST.

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A RA e a RV são utilizadas com maior frequência no setor da formação e para melhorar a produtividade. No entanto, existe pouca inovação na tecnologia subjacente. Tais tecnologias têm sido principalmente utilizadas para melhorar a produtividade dos trabalhadores que usam plataformas em linha, de modo que a tradução instantânea e as interfaces humanas por meio de gestos e seguimento ocular encontram-se bastante disseminadas.

A utilização em pequena escala da produção aditiva, muitas vezes não regulamentada, na economia cinzenta, aumenta o número de produtos introduzidos com defeito no mercado. Os operadores sem formação estão expostos a partículas e produtos químicos perigosos, por exemplo quando executam trabalhos clandestinos de impressão 3D.

A robótica e a automatização, que ocorrem geralmente na indústria da produção mas também no setor dos cuidados de saúde, melhoraram a SST através da redução da exposição dos trabalhadores a ambientes perigosos e riscos ergonómicos. Os riscos no trabalho podem, no entanto, afetar também os trabalhadores que interagem com equipamentos automatizados, sobretudo com robôs colaborativos, decorrentes de colisões, do aumento do ritmo de trabalho e do aumento da carga cognitiva. Uma melhor monitorização eletrónica permite alertar os trabalhadores para a presença de substâncias perigosas.

O stresse relacionado com o trabalho é um problema generalizado, resultante da elevada precariedade profissional e financeira, de um fraco equilíbrio entre a vida profissional e a vida familiar, da falta de previsibilidade na economia cinzenta, da intensificação do trabalho em alguns empregos e da privação de tarefas noutros. A monitorização eletrónica intrusiva no local de trabalho conduz ao stresse e à sobrecarga de trabalho. Alguns trabalhadores podem também sofrer de stresse devido à falta de autonomia e de variação de tarefas.

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Glossário 24/7 — 24 horas por dia, 7 dias por semana, ou seja, continuamente.

Impressão 3D — um processo de fabrico de um objeto físico a partir de um modelo digital tridimensional, geralmente por meio da sobreposição de muitas camadas finas sucessivas de um material; também conhecido como fabrico por processos aditivos.

Impressão 4D — impressão 3D com o tempo como quarta dimensão, pelo que o objeto produzido pode assumir formas diferentes ao longo do tempo em resposta a uma alteração no ambiente.

5G — redes móveis de quinta geração, que proporcionam uma ligação à Internet mais rápida do que as atuais redes 4G.

Fabrico por processos aditivos: um processo de fabrico de um objeto físico a partir de um modelo digital tridimensional, geralmente por meio da sobreposição de muitas camadas finas sucessivas de um material; também conhecido como impressão 3D.

IAG — inteligência artificial geral, ou IA forte, é IA capaz de aplicar de forma autónoma inteligência a qualquer problema, executando tarefas intelectuais de forma flexível, de modo semelhante aos seres humanos.

IA — inteligência artificial: máquinas inteligentes que atuam como um agente racional, captando e respondendo de forma flexível a estímulos ambientais para alcançar um ou mais objetivos definidos.

IA restrita/básica — IA com um enfoque restrito, que só é capaz de realizar uma tarefa.

RA — realidade aumentada: tecnologia em que informações contextuais são sobrepostas a imagens do mundo real, geralmente por meio de um ecrã, sendo o dispositivo por vezes usado sobre os olhos.

VA — um veículo autónomo.

Grandes volumes de dados — refere-se ao potencial das novas tecnologias para produzir conjuntos de dados tão grandes e complexos que são necessárias aplicações de tratamento de dados inteiramente novas para os captar e analisar.

Exoesqueleto biónico — um esqueleto exterior mecânico vestível, que produz ou aumenta o movimento humano, muitas vezes detetando e amplificando diretamente os movimentos do utilizador, aumentado a sua força e as suas capacidades.

Biónica — aplicação dos conhecimentos sobre processos biológicos naturais ao desenvolvimento de sistemas e tecnologias mecânicas, frequentemente para substituir as mãos ou os membros em falta.

Bioimpressão — impressão 3D de células e materiais biocompatíveis em tecidos orgânicos funcionais, incluindo osso, tecido cardíaco e pele com várias camadas que podem ser transplantados.

Fuga de cérebros — uma perda líquida contínua, através da emigração, de pessoas altamente qualificadas e instruídas de um determinado país.

Esgotamento — o esgotamento profissional, um tipo de stresse psicológico, caracteriza-se por exaustão, falta de entusiasmo e motivação e sentimentos de ineficácia (pode também implicar uma certa frustração ou cinismo) e, consequentemente, redução da eficácia no local de trabalho.

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Nuvem (a) — um paradigma informático que fornece dados e recursos de processamento partilhados a pedido através da Internet.

Ciberataque — uma tentativa maliciosa de um indivíduo ou organização de comprometer e danificar redes e sistemas informáticos.

Ciberintimidação — situação em que as pessoas são intimidadas através das redes sociais.

Algoritmos de aprendizagem profunda — designa uma técnica que envolve o tratamento de informações em redes «neurais» profundas por uma família de algoritmos, em que os dados de saída de uma camada são utilizados como dados de entrada da camada seguinte.

Chicote digital — novas formas de disciplina e controlo estabelecidas pela utilização das tecnologias de comunicação da informação, em que o plano de trabalho dos trabalhadores é estabelecido e monitorizado por um computador, frequentemente com um algoritmo de melhoria contínua incorporado baseado no tempo médio de execução de tarefas específicas por parte dos trabalhadores.

CEM — campo eletromagnético: um campo físico produzido por objetos com carga elétrica, que afeta o comportamento de objetos carregados nas suas imediações.

Facebook — uma rede social em linha.

PIB — produto interno bruto: o valor total de tudo o que é produzido por todas as pessoas e empresas de um país, que é utilizado como medida de crescimento económico.

«Gig economy» — economia baseada no trabalho sob a forma de tarefas pontuais (e não numa base continuada), em que as posições temporárias são comuns e os trabalhadores (independentes) são contratados através de plataformas em linha para contratos de curta duração.

Economia cinzenta — a parte da atividade económica de um país que não está incluída nas estatísticas oficiais.

RH — recursos humanos.

TIC — tecnologias da informação e da comunicação: tecnologia e programas informáticos que permitem aos utilizadores aceder, armazenar, transmitir e manipular informações.

Tecnologias baseadas nas TIC — Tecnologias baseadas nas tecnologias da informação e da comunicação.

IoT — Internet das Coisas (Internet of Things): a rede de objetos físicos — dispositivos, veículos, edifícios e outros elementos — que têm integrados dispositivos eletrónicos, programas informáticos, sensores, e conectividade a redes que permite a esses objetos recolher e trocar dados.

TI — tecnologia da informação: a utilização de computadores para armazenar, recuperar, transmitir e manipular dados.

«Lights out manufacturing» — um método de produção totalmente automatizado, que pode funcionar sem qualquer intervenção humana no local e, portanto, «com as luzes apagadas» («lights out»).

Microempresa — uma empresa com menos de 10 trabalhadores e um volume de negócios ou um balanço anual total não superior a 2 milhões de euros.

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Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho — EU-OSHA 44

MOOC — um curso em linha aberto a todos: um curso em linha que visa uma participação ilimitada e acesso livre através da Internet.

LME — lesão musculosquelética: lesões ou dor nas articulações, ligamentos, músculos, nervos ou tendões que suportam os membros, o pescoço e as costas.

Nanotecnologia — envolve a manipulação de matéria a um nível de magnitude entre 1 e 100 nanómetros (1 nanómetro = 1 bilionésimo de metro).

Movimento para a abertura da propriedade intelectual — uma viragem no sentido de equilibrar os direitos de propriedade intelectual (PI) com a abertura, de modo a permitir a partilha de conhecimentos e inovação entre as diferentes empresas e organizações, mantendo simultaneamente a proteção dos rendimentos da PI.

Pseudotrabalho por conta própria — uma situação em que os empregadores, para evitarem custos como subsídios por doença ou subsídios de férias, tratam como trabalhadores por conta própria pessoas que são, na realidade, trabalhadores por conta de outrem.

Trabalho à distância — casos em que uma pessoa realiza o seu trabalho fora dos escritórios do empregador.

Máquinas inteligentes — máquinas que detetam e se adaptam autonomamente a mudanças no seu ambiente ou no seu próprio estado, e que podem comunicar com outras máquinas e sistemas de uma rede ou através da Internet.

Redes sociais — uma grande variedade de ferramentas informáticas que permitem às pessoas ou empresas criar, partilhar ou trocar informações, interesses profissionais, ideias e imagens/vídeos em comunidades e redes virtuais; são exemplos bem conhecidos o Facebook e o LinkedIn.

STEEP — societal, tecnológica, económica, ambiental e política: taxonomia utilizada para classificar as tendências ou motores de mudança em estudos prospetivos.

Stresse tecnológico — ligação psicológica negativa entre as pessoas e a introdução de novas tecnologias.

RV — realidade virtual: uma experiência imersiva simulada por computador ou gerada por multimédia, que pode ser multissensorial e permite ao participante interagir com o ambiente virtual.

Tecnologia/dispositivos vestíveis — dispositivos eletrónicos em rede que podem ser vestidos, frequentemente monitorizando e oferecendo diversas funções ao seu utilizador, e que podem trocar dados pela Internet com prestadores de serviços e outros dispositivos.

WiFi — uma rede local sem fios (WLAN) que utiliza radiofrequências para permitir a ligação de dispositivos como computadores pessoais, smartphones e periféricos abrangidos pelo sinal à rede e à Internet.

Contrato zero horas — um tipo de contrato de trabalho em que o empregador não está obrigado a assegurar um número mínimo de horas de trabalho e o trabalhador não está obrigado a aceitar o trabalho que lhe é proposto.

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Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho — EU-OSHA 45

A Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA) contribui para

tornar os locais de trabalho na Europa mais

seguros, mais saudáveis e mais produtivos. A

Agência investiga, desenvolve e distribui

informação fidedigna, equilibrada e imparcial em

matéria de segurança e saúde e organiza

campanhas de sensibilização em toda a Europa.

Criada pela União Europeia em 1994 e sediada

na cidade espanhola de Bilbau, a Agência reúne

representantes da Comissão Europeia, dos

governos dos Estados‑Membros e de organizações de empregadores e de

trabalhadores, bem como destacados peritos de

cada um dos Estados‑Membros da UE e de outros países.

Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho

Santiago de Compostela 12, 5.º andar 48003 Bilbau, Espanha Tel.: +34 944358400 Fax: +34 944358401 Endereço eletrónico: [email protected]

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