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Agindo como Trouxa

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Sobre Symon Hill

Especialista em Comunicação e Neurolinguística pela

Universidade de Viçosa, MG e Graduando em Psicologia pela

PUC MG. É o nº 1 do Brasil em Inteligência Social Aplicada.

Symon é uma dessas raras pessoas que pode se dizer

palestrante e autor, e sustentar isso. Suas palestras atraíram

empresas como ALCOA Alumínio S/A, FURNAS Eletrobrás, M&G

Fibras Brasil S/A, SEBRAE, SENAC SP, Editora GLOBO, Souza

Cruz S/A e mais de 100 outras empresas do setor público e

privado. É palestrante credenciado do SEBRAE Minas. Como

autor, tem 19 livros publicados nos gêneros de negócios e

carreira, passando por temas como comunicação humana,

relacionamentos, vendas, gestão de equipes e inteligência social

aplicada – seu campo de estudo há 8 anos.

Contato com o autor:

+55 35 3713-7499 | 8886-2679

www.apalestra.com

www.symonhill.com.br

E-mail: [email protected]

Blog: www.palestrantesymonhill.wordpress.com

Youtube: www.youtube.com/MrSymonHill

Este e-book é para comercialização exclusiva em

www.clubedeautores.com.br

©2014. Symon Hill

Symon Hill

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PREFÁCIO

Era uma vez um indivíduo chamado Você.

Você muitas vezes sentiu que poderia ser mais feliz, conquistar

os clientes que os colegas conquistaram ou ainda, liderar a equipe de

uma forma bem melhor que seu chefe. No entanto, Você não consegue

entender como ou porque as coisas aparentemente não dão certo quando

se envolve. É como se na hora em que está para arrebentar a ‘boca do

balão’, algo errado acontece e Você acaba voltando à estaca zero.

Assim, Você acaba por acreditar que a vida que têm levado é tudo o que

há para ser vivido. Você aceita viver abaixo de seu potencial, se

iludindo e justificando-se por esta escolha. Todos os dias, Você acorda

com a sensação de que pode fazer as coisas de um modo diferente, de

que colocará um ‘ponto final’ na relação com aquela pessoa chata que

implica com seu jeito de falar, vestir e pensar ou então naquele

supervisor arrogante e mentiroso. Talvez consiga colocar um fim na

situação tóxica de abuso moral – uma espécie de bullying profissional,

incentivado pela coragem maquiavélica daqueles que acreditam ter o

direito de enganar a Você e seus pares.

Você está cansado de ver como as pessoas a seu redor mentem

descaradamente. Roubam as ideias que Você compartilhou nas últimas

reuniões da equipe e falam de ‘suas’ conquistas para os outros. E quanto

ao trabalho? (Ah, o trabalho!). Sempre promovem os outros para os

melhores cargos. Na sua vez, sobram as tarefas mais penosas ou o setor

mais problemático. Enganam Você até na hora de promovê-lo: dizem

que apenas Você é capaz de desarmar aquelas ‘bombas’. Ora, por isso

mesmo é que Você foi escolhido. Sem falar naquele emprego do qual

foi demitido e até hoje não sabe exatamente por que (pois ninguém lhe

fala a verdade há muito tempo). Esta situação contínua tem levado Você

a perder a motivação para trabalhar, conviver com os demais e produzir

resultados satisfatórios. Como consequência natural, Você vai se

fechando cada vez mais em seu mundo, conversando apenas consigo

mesmo, se expondo muito pouco, seja por medo ou raiva, frustração ou

vergonha.

Agindo como Trouxa

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No íntimo, Você sabe que não foi feito para viver no

anonimato, mas não sabe como reverter a situação para ver seus talentos

e ideias valorizados. Com o tempo, Você percebe que as pessoas a sua

volta também estão sofrendo com sua maneira de agir e, mesmo assim,

parece não conseguir mudar. Você não se comunica bem quando

necessário, visto que seus poros exalam a vergonha que sentem dos

outros e medo de não agradar a todos. Não se sente autoconfiante e

seguro para expor suas emoções e opiniões, além de viver estressado e

com pressa. Nas reuniões de família, prefere ficar num canto, isolado.

Ou então vai brincar com as crianças para fugir das perguntas dos

cunhados... Com o tempo, Você se isola cada vez mais e desaprende a

arte da convivência. Perde o ‘jeito’ para se relacionar com os outros.

Neste estágio descobre que não sabe como lidar com os próprios

pensamentos e a consequência é não se posicionar corretamente nas

situações sociais. Fica à mercê de pensamentos desanimadores e toda

vez que precisa falar, prefere calar.

Provavelmente, assim como este indivíduo, você talvez já

tenha se sentido inseguro, envergonhado, com medo e até mesmo se

enganou sabotando seus próprios planos. Pode ser que nos últimos anos

esta tenha sido sua realidade. Às vezes, até sentiu que seus

relacionamentos não são tão satisfatórios como poderiam ser, mas não

sabe o que está faltando – nem mesmo consegue responder à altura

quando os outros o provocam. Se pararmos para pensar, todas estas

situações já aconteceram com cada um de nós, já que a qualidade dos

nossos relacionamentos depende do modo como nos posicionamos em

cada um deles. Se isso já aconteceu com você, saiba que sei como se

sente, porque eu mesmo já fui feito de trouxa e agi como trouxa no

passado. Aos poucos fui me distanciando cada vez mais de meus ideais

de vida, de trabalho, e na família. Por que? Porque cedi à tendência de

me isolar. Vou lhe contar como descobri que este era o meu desafio

pessoal.

Há alguns anos participei de uma palestra durante uma feira de

literatura, essas chamadas feiras do livro. O palestrante de renome

internacional estava lançando um livro sobre como usufruir o melhor da

vida e, vi em sua palestra, algo realmente autêntico. Ele parecia ser

Symon Hill

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diferente de todos os palestrantes que havia assistido, mesmo antes de

me interessar por este segmento. Naquela época, eu mal tinha dinheiro

para comprar um livro dele na feira (R$ 29,90), pois estava deprimido e

frustrado com minha forma de agir e trabalhar. Assim, depois que ele

terminou sua palestra, arrumei um jeito de falar com ele.

Muito simpático e solícito, ele se sentou comigo do lado de

fora do auditório e ouviu pacientemente minha história por mais de uma

hora e meia. Entre outras coisas, lhe disse que estava descontente com

meu trabalho de instrutor de cursos livres e que havia pensado em

seguir a carreira de palestrante profissional, mas não sabia sobre que

assunto devia falar. Queria um assunto que fizesse com que as pessoas

se lembrassem de mim todas as vezes que ouvissem aquela palavra.

Pensei em muitos temas: vendas, marketing, liderança, equipes,

motivação. Mas nenhum destes temas tinha nada a ver comigo. Não

conseguia falar sobre isso com propriedade. Como sua palestra havia

dito para nos esforçarmos a fazer o melhor com nossas vidas a partir de

nossa autenticidade, perguntei a ele como poderia ser autêntico e ainda

assim, tornar-me um palestrante que envolve e inspira as pessoas.

Olhando nos meus olhos, ele disse assim: “Symon, qual é seu pior

problema? Qual é o maior desafio que você tem enfrentado na sua vida

neste exato momento, ou que tem permanecido por algum tempo?

Quando você encontrar a resposta para estas perguntas e solucionar este

problema, você estará habilitado a falar sobre este assunto para outras

pessoas e ajuda-las a resolver estes mesmos problemas. Com certeza, há

muitas pessoas que devem estar passando pelos mesmos problemas que

você está passando agora. Este será seu público”.

Aquelas palavras ficaram gravadas em minha mente. Comecei

a analisar minha vida, aquilo que queria e gostava de fazer. Mas ainda

assim, não era esse o caso. Por mais que procurasse, não encontrava

algo errado em minha maneira de agir que poderia ser corrigido e servir

de exemplo para os outros. Assim, continuei procurando, até que um

dia, conversando com minha esposa, disse a ela que escreveria algo

sobre como se relacionar melhor com as pessoas. Lembro que na época,

falava-se muito sobre marketing pessoal, networking. Acreditava que

este poderia ser o meu assunto, embora no fundo pensasse que ainda

assim era preciso algo mais visceral para que eu construísse uma

Agindo como Trouxa

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carreira acima disso. Sempre tive um bom marketing pessoal, mas

depois de algumas decisões erradas que tomei, percebi que o que havia

sobrado de minha imagem pessoal foi uma postura do tipo “gente fina”.

Chamamos de gente fina aquela pessoa que é boa praça, bem

relacionado, simpático, de que todos gostam. Isso sempre foi um

aspecto de minha personalidade. Sou socialmente inteligente. Com esta

ideia em mente, pensei em escrever um livro para ajudar as pessoas a se

comportarem melhor e tratarem melhor umas às outras. A priori, a obra

se chamaria “Trabalhando com a Inteligência Social”. Assim, comecei a

escrever o tal livro (este livro).

Como somos seres sociais e na mesma medida que

modificamos os outros, também somos modificados, quando o livro

estava quase pronto, decidi testar o conteúdo em mim mesmo. Assim,

compartilhei alguns destes pensamentos com um cliente que estava

atendendo. Quando ouviu o tema, disse abertamente que o havia

“achado sem expressão, fraco”. Publicitário experiente, meu cliente

sugeriu que o melhor não seria incentivar as pessoas com base num

ideal estereotipado, e sim, chamar a atenção delas para o que realmente

é o problema que a inteligência social ajuda a resolver. Meu queixo

caiu. Confesso que fiquei decepcionado comigo mesmo, visto que não

consegui defender meu ponto de vista diante dele em defesa à minha

ideia. E o pior: meu ‘projeto’ de livro tratava justamente de sair

‘vitorioso’ deste tipo de situações sociais.

Aí me lembrei da conversa que tive com aquele palestrante.

Era isso que ele queria me dizer. Não se tratava de estudar um tema,

mas de viver um tema. Algo que realmente tivesse aprendido por ter

vivenciado a solução a ponto de ter resolvido um problema pessoal. Em

meu conceito, a inteligência social era o nome ‘chique’ para quem era

gente fina. No entanto, eu havia sido gente fina (pelo menos achava

isso) nos últimos anos, mas na realidade, isso não havia me ajudado em

nada. Tanto em sentido pessoal como profissional. Cansei de perder

vendas por ser gente fina com os clientes mais cruéis. Perdi a conta de

quantas vezes desperdicei a oportunidade de me aproximar de

familiares e de fazer novas amizades por não estar 100% presente diante

deles. Acredite: houve um tempo em que eu não desfrutava dos

benefícios de um relacionamento interpessoal. Com ninguém.

Symon Hill

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Em meio a estas reflexões, entendi que o modo como havia me

comportado nos últimos anos em diversos ambientes (contextos de

comunicação), havia gerado os resultados que estava obtendo naquela

época. Nem sempre as pessoas precisam de alguém gente fina, mas que

seja enrolado, sem foco. Na ilusão de que era ‘gente fina’, eu agia como

trouxa. Foi aí que entendi que o modo como você se posiciona define a

qualidade de seus relacionamentos. Com isso em mente recomecei

minha pesquisa. Descobri o que atrapalha as pessoas de usufruir os

benefícios de um relacionamento interpessoal satisfatório. Parar de agir

como trouxa é posicionar-se de uma forma mais adequada diante da

vida, tanto de si mesmo (aceitando-se e desenvolvendo sua autoestima,

melhorando seu autoconceito) e diante dos outros (por conviver com

eles aceitando-os como eles são). Você verá que ser autentico com você

mesmo só é possível se soubermos como nos relacionar corretamente

com os outros, visto que, como seres sociais, precisamos interagir,

moldando e sendo moldados uns pelos outros. Quem não entende isso

será presa fácil para o isolamento, pois quando não temos um conceito

equilibrado para moldar nosso caráter ele será moldado pelos padrões

dos outros, alheios à nossa vontade.

Quando entendi que meu problema era ceder ao desejo de me

isolar – afastar-me dos outros por não saber comportar-me diante deles

com autoconfiança – compreendi que muitas pessoas estavam na

mesma situação e as consequências eram devastadoras. Por isso

estruturei este assunto de uma forma bastante didática, a partir do

problema de se agir como trouxa. Você verá que às vezes é preciso agir

como trouxa para ajudar aqueles que agem assim (inclusive àqueles que

já perderam a autenticidade), mas sempre preservando sua identidade,

seus valores. A meta para todos aqueles que agem como trouxas, e que

deveria ser a meta de todos nós, é buscar viver com autenticidade. É

impossível desenvolver relacionamentos salutares sem ser autêntico. A

estrutura do livro, o ajudará a descobrir como ser mais autêntico em

seus relacionamentos interpessoais.

Você pode começar a ler este livro como quiser. Como

sugestão, concentre-se no capítulo 1 e o leia com carinho, pois nele, está

a definição do problema de se agir como trouxa. Logo em seguida, vem

a causa, a deficiência de comunicação interpessoal. Na sequencia você

Agindo como Trouxa

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aprenderá mais sobre a inteligência social e como ela se manifesta. Por

último, falaremos sobre como desenvolver sua autenticidade.

Alguém questionou porque o uso o termo ‘Trouxa’, que na

língua portuguesa tem uma conotação pejorativa. A ressalva se devia à

possibilidade de ser mal interpretado pelas pessoas visto que muitos não

admitiriam estar agindo de forma tola ou inconsequente. Além de a

primeira impressão causada pela capa afastar alguns compradores.

A aparente falta de polidez no tema desta obra é legítima

quando nos relacionamos com pessoas que perderam a percepção

prática daquilo que até conseguem definir verbalmente. É comum (e

cada vez mais comum) observarmos no dia-a-dia, pessoas que sabem o

que é correto por definição, mas não sabem reconhecer quando se deve

fazer o que é correto. Polidez burguesa não funciona quando é preciso

chamar à atenção para ignomínia comportamental. Há tantos absurdos

sociais, que referir-me à eles com termos como “tolo”, “bobo”,

“ingênuo”, “narciso” – e muitos outros termos amenos, politicamente

corretos – seria o mesmo que dar um tapa de luva de pelica em quem

está precisando ser nocauteado. O termo trouxa (e os derivados que criei

ao longo do livro) deve ser encarado como uma espécie de gárgula,

aqueles monstros esculpidos nas fachadas das catedrais medievais. O

objetivo destas esculturas era causar uma primeira impressão chocante

para os mal-intencionados que passassem pela porta da catedral. No

entanto, dentro da catedral a decoração era bonita e encantadora, mas

era acessível apenas para aqueles que vencessem a barreira da ‘fachada’

e se despissem da própria vergonha em admitir sua necessidade de

orientação.

De maneira similar, o ponto em questão aqui está distante da

ideia de vender livros em aeroportos. Acredito que agir como trouxa

pode acabar com a natureza humana. O tipo de leitor que lê meus livros

é aquele que realmente se despiu das ilusões sociais e está buscando

conhecimento prático para viver melhor. A capa deste livro,

desenvolvida por mim, visa afastar aqueles insinceros que não possuem

a humildade mental necessária para aprender sobre qualquer assunto, de

quem quer que seja. O uso da palavra trouxa aqui é uma técnica. Quem

vencer a barreira da capa (implícita na palavra ‘trouxa’) e ler este livro

Symon Hill

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até o final crescerá muito como ser social além de aprender a extrair o

melhor das relações humanas.

Conteúdo e

Localização

Do que trata?

O que o texto explica?

Plano Geral do livro e

sua relação com os

tempos atuais

As pessoas estão cada vez mais conectadas, porém, distantes do

ponto de vista relacional. Há uma forte tendência para se isolar.

Elas sabem conversar pelo toque na tela e na tecla, mas não

pessoalmente. Nos dias de hoje, quando o assunto é

comunicação, a boca perdeu lugar para os dedos.

O Problema de se agir

como trouxa

As pessoas desaprenderam a arte da comunicação. A cada dia

que passa, é mais raro o talento de saber como se comportar e se

relacionar diante de outro ser humano. Assim, se tornam

tóxicas, ou como chamamos popularmente, trouxas. Com o

tempo, podem perder a autenticidade.

O que você tem a ver

com isso? Sua relação

com o problema

Provavelmente você conhece alguém que, de tão ingênuo, é

facilmente enganado, ou alguém que engana os outros crendo

estar correto ou ainda, aquele que se autoengana. Estes são os

três tipos de trouxa com quem nos relacionamos diariamente.

Causa: o que leva as

pessoas a agir

trouxamente

A causa da trouxice está na falta de habilidade relacional - a

dificuldade de se comunicar bem consigo mesmo e com os

outros - levando à pessoa a não saber se posicionar nos

ambientes em que se encontra (entenda-se, contextos

comunicativos).

Solução Apresentada

Melhorar a comunicação interpessoal para ser socialmente

inteligente. Isso o ajudará a se posicionar corretamente em cada

ambiente e interação social.

Porque e como parar de

agir como trouxa na

empresa

Veja qual a relação entre a educação profissional e o

comportamento de que agem como trouxa, bem como os

problemas que líderes, colaboradores, equipes inteiras e

vendedores enfrentam por agir como trouxas. Com este livro

você terá o poder de se posicionar melhor nestas situações e

ambientes.

Conclusão

Parar de agir como trouxa é a base para ser autêntico consigo

mesmo e com os outros. É assim que os relacionamentos se

fortalecem.

Tabela 1. Meu plano para deixar de agir como trouxa.

Uma confissão: queria ter escrito este livro há dez anos. Como

não foi possível, pretendo viver os próximos dez com base no que está

documentado aqui. A clareza mental que este livro me trouxe ao

Agindo como Trouxa

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escrevê-lo proporcionou um prazer enorme, além do autoconhecimento

e o desejo de compartilhar este conteúdo. Aproveite o que está aqui,

aplique o método e veja a diferença no seu dia a dia, tanto com os

colegas de trabalho, como com a família e com seus clientes. Lembre-

se: Você merece ter relacionamentos salutares. Merece viver e trabalhar

livre dos problemas de comunicação.

Symon Hill

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1.

O Paradoxo Symoniano

Qual o problema em agir como trouxa?

Talvez o leitor esteja se perguntando desde o momento em que

viu o tema central deste livro, quais são os comportamentos

característicos de quem age como trouxa e qual o problema em se agir

assim. Os comportamentos que o senso comum classifica como ‘coisa

de trouxa’, aquela atitude de gente ignorante, babaca, idiota ou o

popular ‘bobo’, referem-se a seis diferentes transtornos de

personalidade, combinados por mim em três tipos clássicos de trouxa,

que didaticamente classifiquei como ingênuo (T1), idiota (T2) e

autoenganador (T3). Isso significa que, quando menciono a palavra

‘trouxa’ me refiro ao comportamento do indivíduo e não à sua

identidade. Embora pareça desnecessário, este esclarecimento é

oportuno, visto que muitos confundem aquilo que são, o seu senso de

identidade, com aquilo fazem, seus comportamentos (Senge, 1996).

Deste modo, mesmo que o uso do termo trouxa possa parecer

agressivo, que o leitor saiba que ao usar esta terminologia refiro-me às

ações do sujeito que o colocam na condição socialmente penalizante

para si mesmo e ao mesmo tempo penosa para os demais. De um lado o

indivíduo vê suas relações minarem e perderem cada vez mais a força

(quando não são superficiais desde o início), e por dentro, sente uma

insatisfação profunda em relação a própria companhia sem saber que

em si mesmo reside a causa de seu infortúnio. É como se o sujeito

vivesse preso às armadilhas de sua mente simplesmente repetindo os

comportamentos danosos como se estivesse no piloto automático. Com

o tempo, de tanto agir como trouxa acaba preso a esta camisa de força

social na qual ele mesmo se colocou. Conhecemos estas pessoas por sua

atitude tóxica e altamente repulsiva, evidente na forma como ela se

posiciona diante dos demais, ou seja, o comportamento trouxa, só se

torna manifesto no trato com os outros, daí a ligação inversa entre agir

como trouxa e ser socialmente inteligente. Na busca por uma

Agindo como Trouxa

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abordagem prática do que é ser socialmente inteligente me tornei um

expert em seu oposto: agir como trouxa.

Em um ambiente empresarial, pode se encontrar pelo menos

três tipos de trouxa: a) aquele que de tão ingênuo é facilmente enganado

pelos outros e levado a agir contra os próprios interesses, sem que ao

menos perceba, o que em muitos casos, é uma estratégia viável para

sobreviver no manicômio social em que nos encontramos; b) aquele que

tenta enganar os outros pensando não ser trouxa, sobrepujando os outros

em benefício próprio e, c) aquele que se auto engana, agindo contra seus

próprios interesses num ciclo de auto sabotagem que leva o indivíduo a

ser exatamente o que ele despreza. Estes três tipos de trouxa alimentam

a questão paradoxal na qual nos encontramos, mas para que possamos

abordá-la, precisamos primeiramente identificar como se manifesta em

ações as três categorias de trouxa supracitadas e suas causas, bem como

a relação existente com o paradoxo social presente neste século.

Aquele que é facilmente enganado. Este tipo de trouxa é o

mais facilmente identificável por gostar de aparecer. Como tudo que é

em excesso passa a ser prejudicial com a auto exposição não é diferente.

A necessidade de ser o centro das atenções é o principal motivo pelo

qual este tipo de trouxa acaba sendo enganado. Por agir e se expressar

de modo exagerado, exibicionista e dramático – mal orientado pela

necessidade de ser considerado o dono da situação – este trouxa é

adepto do flerte e do uso de indiretas, agindo de forma sedutoramente

irresponsável em suas interações sociais, bem como em sua aparência

física e modo de vestir. É o tipo de pessoa exibida que age para chamar

a atenção. É o sujeito que fala muito de si e expõe-se em demasia diante

de pessoas estranhas. Teatral, conquista a atenção das pessoas à sua

volta. Esta característica última é seu tendão de Aquiles, pois na ânsia

de ser o centro das atenções, acaba sendo usado por pessoas

inescrupulosas, sendo facilmente enganado por revelar-se demais.

Como consequência, torna-se dependente de quem lhe dá atenção,

cedendo a seus desejos e solicitações por colocar no outro a figura de

liderança de que precisa para se esquivar da responsabilidade. Por ter

dificuldade em fazer um julgamento abalizado dos outros, acaba tendo

opiniões distorcidas sobre os demais, revelando sua inclinação para ver

Symon Hill

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os outros como gostaria que fossem e não como eles realmente são. Não

se define como capaz de funcionar de forma independente, estando

sempre em relações de apoio para administrar sua vida, tamanha sua

necessidade de proteção e cuidados vinda de seu sentimento de

incompetência, fragilidade e inadequação.

Estes indivíduos mantêm ideias simples e pontos de vista

infantis em relação às pessoas a quem permanecem num total estado de

submissão. Em geral, agem de uma forma idealizada e crédula, crentes

de que vai dar tudo certo, desde que a figura forte da qual dependem,

esteja acessível. É o típico comportamento de uma pessoa espalhafatosa

que tenta a todo custo aparecer em busca de aprovação, mas que não

possui segurança em si mesma e quase nenhuma independência para

tomar decisões. Por colocar muito valor na opinião dos outros, acaba

sendo feita de trouxa, por aqueles que lhe dão a atenção de que tanto

precisam. Isso não tem nada a ver com QI. Um gênio pode muito bem

ser tão ingênuo quanto qualquer outro. Por simplificar demais sua

percepção dos outros acaba por não ver fatores críticos que poderiam

influenciar os resultados no final.

Aquele que engana os outros. “Usar o outro” é o lema deste

tipo de trouxa, que também poderia ser representado por seu sinônimo

na Língua Portuguesa, o idiota, do grego idios, que significa “o mesmo”

e idiotes que se refere a “aquele que não vê nada além de si mesmo”

sobrepujando os outros em benefício próprio. Em suas ações cotidianas

nota-se um padrão de violação e desrespeito pelos direitos alheios e

uma acentuada falta de empatia. São pessoas insensíveis e superficiais

que tendem a explorar os outros, não se importando se para isso terão

que recorrer ao engano por mentir repetidamente, usar nomes falsos e

ludibriar os outros para levar vantagens pessoais ou obter prazer, agindo

muitas vezes por impulso, o que demonstra uma irresponsabilidade

consistente, muitas vezes indicada por um fracasso em manter um

comportamento consistente, como por exemplo, a dificuldade em honrar

com suas obrigações.

Este tipo de trouxa, precisa sentir-se invejado por acreditar ser

muito importante e digno de admiração excessiva, o que alimenta sua

dificuldade em sentir remorso, o que fica evidente na atitude de

indiferença ou racionalização por ter ferido, maltratado ou prejudicado

Agindo como Trouxa

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alguém. Popularmente, referimo-nos a este tipo de trouxa como

Narciso, em referência à personagem da mitologia grega que ao ver-se

no espelho, apaixonou-se por si mesmo e desconsiderou a importância

dos outros em sua vida. Este sentimento grandioso acerca de si mesmo

leva a pessoa a exagerar suas realizações e talentos e esperar ser

reconhecido como um indivíduo ‘superior’, sem que suas realizações

estejam à altura de seu discurso. Procura as altas rodas da sociedade ou

a companhia de pessoas de condição elevada por julgar estar no mesmo

nível social que elas, fantasiando ser o que não é. Presunçoso, tem uma

expectativa irracional de obediência automática e imediata a seus

pedidos, devido à ilusão de que merece ser tratado de modo especial, o

que o leva a explorar os outros. Avessos ou ignorantes à exortação

paulina, não consideram os outros como superiores à si mesmos, e sim,

como seres invejosos de menor importância a serem usados como

“isso”, ou seja, meros objetos sociais para chegar a um fim, assim como

explicou Buber (1974). Para o senso comum, esta arrogância e

insolência, é o que dão ao dono deste tipo de comportamento o status de

trouxa.

O pior de todos: aquele que se autoengana. Quem se

autoengana, agindo contra seus próprios interesses num ciclo de auto

sabotagem, que o leva a ser exatamente o que despreza, representa o

terceiro tipo de trouxa de que este livro trata. Marcado pela

instabilidade nos relacionamentos interpessoais e pelas incertezas em

sua autoimagem, este trouxa oscila entre sentimentos de idealização e

desvalorização, ora se elogiando e agindo com uma impulsividade

potencialmente prejudicial, ora se menosprezando e manifestando o

medo imaginário de ser abandonado. Para associar este tipo de atitude a

um exemplo conhecido, pense em um indivíduo extremamente

competente e capaz de realizar coisas grandiosas (as quais ele mesmo se

preparou durante anos através de estudos e atividades correlatas), mas

que no momento em que irá colher os frutos de seus esforços, desiste.

Sempre que está perto de realizar uma meta, regride. Parece que sua

vida é um eterno recomeço, questionando-se e culpando-se por ter

“feito algo que desagradou aos demais” e atribuindo a esta ilusão a

causa da perda de mais uma oportunidade.

Symon Hill

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Apesar de desejar participar de atividades sociais, teme se abrir

com os outros, orientado por dúvidas quanto a sua competência social e

atrativos pessoais. Por não se sentir seguro de suas opiniões, mesmo que

elas estejam certas, evita falar, justificando o silêncio com a desculpa de

que os outros poderiam considera-lo uma pessoa excêntrica ou até

mesmo, trouxa. Considera-se inferior e inadequado, relutando a assumir

riscos ou se envolver em atividades diferentes de sua rotina, porque

estas poderiam ser embaraçosas. Veem perigo onde não há, chegando a

desmarcar compromissos em cima da hora pelo medo de ficar

envergonhado diante das pessoas que lá estarão, muitas vezes, por não

estar adequadamente vestido para a ocasião. Associando isso à sensação

de insegurança e inibição social, acompanhadas da hipersensibilidade à

avaliação negativa, temos o perfil clássico de quem age como o pior

tipo de trouxa. A dificuldade de falar de si mesmo e não expressar

sentimentos para não se expor perante os demais, por receio de ser

envergonhado ou ridicularizado, leva este trouxa a ficar extremamente

magoado com qualquer crítica ou desaprovação que receba, por mais

leve que seja. Assim, prefere não ser alertado quanto ao que precisa

melhorar a receber um feedback efetivo.

O indivíduo que se auto engana tem um padrão de boicote a si

mesmo, como por exemplo, abandonar a escola justo antes da

formatura, retrocesso após uma discussão com o terapeuta, rompimento

de um relacionamento quando este dá sinais de que pode ser duradouro

e muitas outras maneiras. Quem nunca teve um colega de escola que

tirava as melhores notas, mas que na idade adulta o sujeito patina?

Cercada por dilemas existenciais e incertezas, a pessoa toma decisões

que, frequentemente lhe causam ansiedade e conflitos, seja na vida

amorosa ou profissional. Muitos encontram mais satisfação em objetos

inanimados do que em relacionamentos interpessoais. Preferem manter-

se isolados e distantes das situações sociais que os coloquem em

atividades que exija o contato com os demais, para não serem

criticados. É o popular ‘batalhador’, que nunca tem tempo para nada,

mas que na realidade rejeita o contato social para ficar atoa em casa ao

invés de ir trabalhar. Ou o ‘sonhador’ que vive de expectativas em meio

a dificuldades financeiras causadas pelos rompantes impulsivos.

Agindo como Trouxa

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Talvez você tenha se perguntado o que os três tipos de trouxa

têm em comum. Algo perceptível em todos estes perfis, o que

aparentemente estabelece um padrão entre eles, é uma deficiência de

habilidades sociais que os levaria a compreender melhor o seu papel em

determinados contextos, bem como respeitar o papel dos outros, ou seja,

daqueles com quem se relacionam. A principal destas deficiências está a

incompetência comunicativa: uma total ausência de entendimento

sobre o que é a comunicação humana e de sua importância para a vida

em sociedade. Este problema, que coloca todos os seres humanos em pé

de igualdade, têm se agravado cada vez mais visto que a comunicação

eficaz é um desafio para a maioria das pessoas no planeta. Compreender

seus aspectos transacionais, ouvir os outros com perspicácia para

perceber além do óbvio, expressar-se com clareza e tato, certificar-se de

que entendeu corretamente o que o foi dito e que o outro o entendeu

realmente, aprender a pedir o que quer de forma objetiva, dar e receber

feedback com maturidade, procurar compreender e harmonizar-se com

o outro para conviver melhor – são habilidades comunicativas que os

três tipos de trouxa desconhecem ou desvalorizam. Por isso é tão

comum encontrarmos pessoas de diversas classes e grupos que se

comportam como trouxas: médicos, advogados, engenheiros, terapeutas,

líderes empresariais, políticos, professores, bancários, pastores, padres,

pais, cônjuges, filhos, adolescentes e idosos, milionários e pedintes,

graduados e analfabetos, ricos e pobres (de espírito). Agir como trouxa

é um comportamento que nada tem a ver com condições culturais,

educacionais ou com o tamanho da conta bancária. Existem trouxas em

todos os níveis da sociedade. Tem a ver com saber relacionar-se com os

demais, respeitando sua dignidade e inteligência. Agir como trouxa é

uma atitude vinculada ao caráter. É da natureza humana se comunicar e

relacionar-se por meio da linguagem. Por isso uma árvore ou um gato

não agem como trouxas. Só o homem consegue agir assim, aceitando

viver e conviver abaixo do que poderia ser.

Desta maneira, não seria equivocado crer que todos os tipos de

trouxa são, em algum ponto, autoenganadores, embora no caso deste

terceiro tipo de trouxa, haja certa ignorância inconsciente em relação ao

seu hábito de se iludir. É esta ingenuidade autoenganadora que difere o

trouxa do hipócrita, levando-o a pensar somente em si, pois quando uma

Symon Hill

17

pessoa age com hipocrisia, ela não é ingênua, tampouco não percebe o

quanto é idiota e muito menos, vítima do autoengano. Uma pessoa

hipócrita decide deliberadamente ser trouxa, ou melhor dizendo,

fingida. Assim, se fossemos substituir a terminologia dos três tipos de

trouxa para tipos sociais de hipócritas, o trouxa número um, o ingênuo,

encontraria seu equivalente hipócrita no fingido, o número dois de

idiota passaria a ser sarcástico e o terceiro tipo de trouxa, deixaria de ser

autoenganador para ser canalha. A diferença entre o comportamento do

trouxa e o do hipócrita está no fato de que para o último, suas ações não

são desconhecidas, mas pensadas. Propositais.

Agora que o leitor já notou algumas das características de

personalidade expressas em comportamentos observáveis destes três

tipos de trouxa (e provavelmente, se lembrou de alguém enquanto lia),

podemos concentrar nossa atenção em responder à questão levantada

ainda no tema deste capítulo: “Qual é o problema de se agir como

trouxa?”. O que há de errado nisso? A começar, nada, desde que a

pessoa viva no meio do mato ou em isolamento total como um

náufrago, o que tornaria a vida do indivíduo insuportável. Como o caso

não é este, agir como trouxa é, de imediato, um problema social.

Lembrando que uma das definições de trouxa é tolo, falto de

inteligência, o indivíduo que age como trouxa deixa de agir com

inteligência justamente nas relações sociais, campo que pelo uso da

linguagem para se socializar, o caracteriza como humano. Ora, uma vez

que a conduta do indivíduo se torna um padrão persistente de

comportamento, que se desvia das expectativas da cultura a que ele

pertence, de forma generalizada e inflexível e, ao longo do tempo

provoca sofrimento ou prejuízo, isto se torna um problema. Agir como

trouxa é prejudicial porque fomenta os problemas de relacionamento e

afasta as pessoas da natureza humana, que é ser sociável. Salvo engano,

ninguém gosta de conviver com alguém que age como trouxa. Não raro,

pessoas que agem como trouxas demonstram um comportamento tóxico

no trabalho, causando sofrimento aos demais, seja por adotar uma

postura passivo-agressiva e desconfiada (T1); por humilhar ou

desqualificar os demais, inclusive os colegas para obter resultados

individuais (T2); ou por sabotar a equipe, sonegar informação e outras

irresponsabilidades que, em longo prazo, sabota a si mesmo (T3). Estes

Agindo como Trouxa

18

comportamentos tóxicos prejudicam a convivência (Kusy, 2010). Estes

são os efeitos nos outros. No próprio indivíduo, agir como trouxa lhe

custa o alto preço de perder a autenticidade, arriscando-se a ‘ser’

trouxa indefinidamente incorporando em sua identidade sua deficiência

social. A falta de autenticidade individual levará à descaracterização da

natureza social do homem. Privar-se da satisfação desta necessidade

natural, seja de modo conscientemente ou não, ocasionará isolamento,

segregação, divisões. Longe de ser uma convenção social, ser

socialmente inteligente (o oposto de agir como trouxa) é a melhor forma

de usar sua inteligência consciente para viver de acordo com a natureza

humana. Mas, afinal, se isso é tão elementar, porque as pessoas agem

como trouxas? Qual ou quais são as causas deste tipo de

comportamento?

Porque as pessoas agem como trouxas

Vejamos por exemplo, o primeiro tipo de trouxa, aquele que é

ingênuo. Alguns especialistas apontam o argumento da autoridade

como uma justificativa para o convencimento quase involuntário a que

este tipo de trouxa se submete por acreditar piamente nas credenciais ou

status dos objetos de sua admiração, crença que influencia diretamente

o julgamento que fazem em relação aos seres admirados. Na sua busca

por atenção, é como se olhassem para os outros como tendo um poder

inalcançável a eles ou sendo possuidores de algo especial que eles em si

mesmos não possuem. Daí a necessidade constante de aprovação. É

como se vissem nestas pessoas aquilo que gostariam de ver em si

mesmas. Sentem-se impotentes diante das pessoas que lhes oferecem a

atenção de que precisam, em geral, por conhecerem pouco daquilo que

julgam que o outro conhece. Por serem ignorantes em assuntos que

pensam que os outros dominam, acabam aceitando o que os outros

dizem como sendo verdade, não se importando em checar as fontes por

si mesmo, talvez temendo o desafeto ou a perda de seu vínculo social

com o outro. Isso acaba sendo reforçado por outro engano: justificar a

autoridade do outro com sua própria ignorância. Quando a pessoa

ignora um fato que não lhe foi apresentado por alguém em quem confia

Symon Hill

19

(normalmente quem lhe dedica atenção) e que, por sua impotência

emocional não descobriu por si mesma, a tendência deste tipo de trouxa

é negar a existência do fato. Assim, se a pessoa é ignorante em relação

ao que o outro domina, automaticamente reforça sua autoridade e se dá

por satisfeita, sem questionar. O oposto também acontece. Com

frequência, percebe-se que as pessoas com pensamento relativista e

cético, tendem a levar todo novo entendimento para o terreno da dúvida,

valendo-se do que a retórica chamava de argumentum ad ignorantiam,

ou seja, o argumento da ignorância: como não sei e aquele em quem

confio também não sabe, é falso ou não existe (Abreu, 2009).

Esta atitude mental de crer cegamente no outro e valer-se do

argumento da ignorância para justificar-se, quando somada à ilusão de

que o alvo de sua reverência lhe é totalmente transparente, faz com que

a pessoa acredite ser capaz de observar a experiência subjetiva da mente

alheia, acertando absolutamente em quem pode confiar, dissociando as

intenções e ações presentes, da reputação do sujeito, o que explica o

ponto de vista imaturo em relação às pessoas. Quem nunca presenciou a

paixão de um amigo por uma pessoa que, notada e publicamente não

‘valia nada’? Mesmo crendo que as pessoas mudam o tempo todo, o

mínimo de estabilidade é necessário para alimentar a confiança, e este

tipo de trouxa se torna dependente daqueles que lhe dão a atenção de

que tanto necessita para que ele se sinta vivo. Deste modo, a fé cega na

suposta autoridade e a ilusão da transparência, somadas ao argumento

da ignorância são as bases mentais usadas pelo primeiro tipo de trouxa

para racionalizar e justificar para si mesmo suas ações. Suas

expectativas são constantemente alteradas por estratégias

comunicativas manipuladoras, presentes em um bom marketing pessoal,

nas conversas durante os minutos de café, no bate-papo online.

Qualquer um que seja carente de atenção e inseguro em relação a suas

capacidades cederá ao peso de uma autoridade ainda que fictícia,

racionalizará a favor dele com base no argumento da ignorância e ainda

assim, será capaz de afirmar que pode confiar naquela pessoa porque

‘sente’ isso, sem perceber que as falas do sujeito foram elaboradas com

cuidado para manter a pessoa ingenuamente trouxa, cada vez mais

dependente.

Agindo como Trouxa

20

Considere, por exemplo, o caso de um indivíduo que

socialmente usa da capacidade dos outros para obter vantagens pessoais,

nosso segundo tipo de trouxa. O que faz esta pessoa pensar que pode

enganar os outros ou que os demais lhe devem explicações sobre porque

vivem como vivem? O que o leva a acreditar que é capaz de usar os

outros? Em alguns casos, o próprio contato com pessoas ingênuas.

Quando um trouxa número dois encontra um trouxa tipo 1 é um prato

cheio. Infelizmente, nem sempre cada panela encontra sua tampa. É

mais comum um trouxa que engana os outros conviver com pessoas que

não são ingênuas, mas com aquelas que percebem claramente o quanto

ele ‘se acha’. Porque? Porque a mente de um trouxa tipo 2 lhe prega

peças que até mesmo o mais ingênuo dos humanos é capaz de perceber

e se afastar.

Por exemplo, a mente de uma pessoa que se julga no direito de

enganar os outros, cede à armadilha da confabulação, ou seja, a prática

de criar narrativas fictícias sem que ela perceba, para explicar suas

decisões, emoções e feitos. Quem já não foi surpreendido ao contar uma

história para um grupo de amigos e de repente, alguém o interrompe e

diz: “Não, não, não. Não foi assim que aconteceu...”? Nestas situações,

a mente mantém um quadro geral e descarta os detalhes. Mas mesmo o

quadro geral é uma mentira, uma fábula criada pela mente para passar

uma imagem idealizada de quem você é, porque é e como é. Já

percebeu como um pescador sempre aumenta um pouquinho o tamanho

do peixe que ele fisgou na última pescaria? O homem é um ser

confabulador por natureza e usa a imaginação para criar histórias que

expliquem a si mesmo suas motivações e causas para ser como é. Com

o tempo, estas fábulas se tornam sua versão da realidade e a pessoa

acaba acreditando que transou com 500 pessoas diferentes na mesma

noite ou que pescou um filhote de baleia com vara de bambu. Este tipo

de trouxa, não faz por mal. Apenas quer ser bem visto pelos demais

para receber um elogio ou uma massagem no ego. Isso também revela

outra razão para que o trouxa tipo 2 aja deste modo: a tendência de

prestar atenção apenas àquilo que confirme o que ele acredita, enquanto

ignora o que desafia suas ideias preconcebidas. Esta confirmação se

abriga no fato de que todos querem estar certos de que sua maneira de

ver o mundo é a correta, então, a mente procura informações que

Symon Hill

21

confirmam estas crenças e evita provas contraditórias (Adler & Towne,

1999). Consequentemente, a pessoa se mantem fechada em sua visão de

mundo, não vendo nada além do próprio umbigo, limitando ainda mais

suas oportunidades de conviver com os demais, pois, sem a

aproximação social e a aceitação de pontos de vista contrários, a pessoa

aprende pouco. Aproximamo-nos mais da verdade quando procuramos

evidências contrárias as que já temos. Esta classe de trouxa, também

alimenta a ideia de que pode enganar os outros por julgar controla-los, o

que em alguns casos, realmente acontece, não por méritos seus, mas por

fragilidade dos outros. Pense por exemplo, na relação patrão e

empregado. Quem tem o controle é aquele que define as regras que

regem a relação trabalhista naquele caso. Logo, o patrão. Mas, ao sair

daquele ambiente, o controle do patrão sobre o empregado é reduzido.

No entanto, ainda há muitos empregadores que agem como trouxas por

não ‘aceitar’ atividades extras dos colaboradores depois do horário de

trabalho. Essa ilusão de controle sobre a vida dos demais é o que dá a

pessoa a sensação de que suas ações interferem tanto na vida dos outros

que tudo o que as pessoas fazem é ou foi em função de algo que eles

lhes fizeram anteriormente. Sua capacidade de superestimar suas

habilidades e talentos o leva a usar sua visualização criativa para

imaginar coisas que nunca ocorreram, inventando histórias e

envolvendo as pessoas nelas. Isso acontece porque a mente não

consegue discernir se uma coisa realmente aconteceu ou se foi apenas

fruto de imaginação. Assim, quando a pessoa cria na mente uma

imagem vívida de uma determinada situação (confabulação) e confirma

aquilo para si mesma (pelo viés da confirmação) ela passa a acreditar na

mentira que conta, pois assim ela faz sua própria história e crê estar no

controle, seja nos relacionamentos afetivos, trabalhistas ou sociais.

Quem nunca viu um colega de trabalho se gabar perante os de seu

círculo, de ter ficado com duas colegas de trabalho no fim de semana,

mas quando está na presença das referidas moças, desconversa, desvia o

olhar ou as trata mal? É bem evidente que este tipo de trouxa acha que

engana os outros, por isso, é idiota.

Finalmente, vejamos as causas do comportamento daqueles

que se autoenganam. Surpreendentemente, pensamos que o termo

procrastinação se refere apenas ao mau uso do tempo. No entanto,

Agindo como Trouxa

22

indica também uma falha de critério no que diz respeito à escolher o

que é melhor em longo prazo em detrimento da vantagem imediata. A

mente deste tipo de trouxa o faz adiar escolhas importantes sob a

desculpa de que, o “EU” do presente, aquele que toma a decisão, é

diferente do “EU” do futuro, aquele que arcará com as consequências.

Um experimento conduzido na Universidade de Stanford, por Walter

Mischel no começo da década de 70 do século passado, conhecido

como o Teste do Marshmallow. Basicamente, ofereciam-se as crianças

a oportunidade de comer o doce imediatamente ou esperar alguns

minutos e ganhar dois doces. Ao sair da sala, o pesquisador

acompanhava a criança por um vídeo. Dos participantes do estudo, um

terço não resistiu e comeu imediatamente o doce. Mischel acompanhou

a vida destes sujeitos durante a vida escolar, faculdade, formação de

família e criação de filhos, hipotecas e empregos. Ele descobriu que,

aquelas pessoas que ainda na infância conseguiram se controlar diante

da necessidade imediata de comer o doce, usaram este mesmo

autodomínio para extrair o melhor de suas vidas. Quem não controla

seus pensamentos acaba agindo como trouxa, por trocar o benefício em

longo prazo por vantagens imediatas, adotando uma postura do tipo

‘deixa a vida me levar...’ ou ‘deixando acontecer naturalmente...’.

Desconhecem que seus esforços são melhor aproveitados superando-se

do que fazendo promessas vazias. Outra estratégia autoenganadora é o

instinto de sobrevivência expresso no conformismo. O desejo de

agradar a todos, a vontade de parecer coerente com as normas sociais

vigentes e o sentimento de culpa por estar vivo, em muitos casos faz a

pessoa conformar-se ao padrão. Acomodar-se. Com o tempo a pessoa

passa a agir contra seus próprios interesses, fazendo uma coisa quando

queria fazer outra, mesmo quando isso obviamente a levará a

prejudicar-se. Quando uma pessoa se conforma com o que os outros

propõem, cede à pressão social e abdica do direito de escolher ser como

é, entra num ciclo de autossabotagem, trabalhando contra si mesma.

Assim, passa a questionar sua capacidade de ser bem sucedida e tende a

colocar a culpa de seus fracassos em forças externas. O psicólogo Philip

Zimbardo, escreveu certa vez no The New York Times que “algumas

pessoas baseiam toda a sua identidade em seus atos. Elas assumem a

atitude de que, ‘se você critica algo que eu faço, está me criticando’. O

Symon Hill

23

egocentrismo delas significa que não podem arriscar um fracasso

porque isso seria um golpe devastador para o ego”. (McRaney, 2012).

Por não saber que podem ser vítimas da possibilidade real do fracasso, o

pior tipo de trouxa, aquele que se autoengana, acaba se conformando

com a opinião social, sabotando a si mesmo por procrastinar – deixando

de escolher o melhor, porém incerto, para aceitar o pior, que pode ser

visto. Assim como Sísifo da mitologia grega, agem como se estivessem

condenadas a tudo começar e nada terminar.

Os engodos psicológicos do argumento da autoridade e da

ignorância, a ilusão da transparência e do controle, o viés da

confirmação e da confabulação, a procrastinação, a autossabotagem e o

conformismo parecem ser as causas que levam as pessoas a agir como

trouxas, explicando os motivos por trás das ações. Mas há uma causa

comum a todos os tipos. Trata-se da dificuldade de se relacionar bem

com os outros. As pessoas nos últimos vinte anos desaprenderam a arte

da convivência, o que nos mostra qual é o paradigma vigente. As

pessoas acreditam que estar conectado é importante. Até mais

importante do que o ser humano com quem supostamente estamos

conectados. Note por exemplo, a importância que as máquinas têm em

nosso dia a dia. Passamos mais tempo vinculados e interagindo com

elas do que outras pessoas. Dá-se mais atenção ao aparelho celular do

que à pessoa com quem se está falando através dele. Pela primeira vez

na História, estamos mais conectados do que nunca, porém isolados do

ponto de vista relacional. Este é o paradigma em que vivemos: sabemos

nos comunicar através do toque nas teclas e telas, mas não através do

toque epitelial, do olhar, do gesto. A convivência é uma arte perdida. As

pessoas passam tanto tempo na frente de máquinas que quando estão

perto de outro ser humano, agem como trouxas. No ano 2000, entramos

na era da conectividade com pessoas que não sabem se relacionar.

Entender como este paradigma se consolidou pode nos mostrar como

resolver este paradoxo.

Como agir feito trouxa virou a regra

Na década de 80 do século passado, pesquisadores do Centro

de Pesquisas da Universidade Michigan, descobriram que os pais que

Agindo como Trouxa

24

trabalhavam fora, gastavam em média 3h03min por semana de tempo

de qualidade com os filhos. Entenda-se por tempo de qualidade as horas

gastas para brincar e conversar com os filhos. Isso sem levar em conta o

hábito de fazer da TV a babá dos filhos. Miriam Bar-on, professora da

Escola de Medicina Stritch, da Universidade Loyola, em Maywood,

Illinois, falando sobre os perigos disso, explicou que “crianças e

adolescentes são especialmente vulneráveis às mensagens comunicadas

através da televisão, o que influencia suas percepções e seus

comportamentos... Muitas crianças menores não conseguem discernir

entre o que elas veem e o que é real”.

Em outubro de 2003, foi publicada pelo Jornal Folha de São

Paulo, uma pesquisa realizada pelo Ibope/NetRatings, mostrando que

naquela época o jovem brasileiro, em idade entre 12 e 24 anos, gastava

em média 14h25 minutos por mês na internet. Este público, em grande

parte adolescente, é justamente o público que tem menores condições de

avaliar objetivamente a informação, ora por não ter sido alfabetizado

corretamente, lendo e não sabendo interpretar o que lê, ou gastando

tempo distraindo a mente com ideologias e pessoas que reafirmarão o

que eles mesmos pensam tornando-se assim cada vez mais céticos e

debatedores bobos. Levantam questões sobre tudo, mas nunca chegam a

conclusão nenhuma. Outra pesquisa, publicada em outubro de 2010, no

Oxford Journal of Social Cognitive and Affective Neuroscience,

especialistas estadunidenses comprovaram que os jovens que assistem

frequentemente a vídeos violentos se tornam insensíveis aos

sentimentos alheios, e alertaram aos pais em relação à necessidade de

supervisão quanto ao conteúdo do que os filhos assistem ou jogam. A

autoexposição a muita informação, sem ter os filtros intelectuais

necessários para escolher o que absorver, apenas confunde o

aprendizado prejudicando as mentes ainda em formação.

O avanço tecnológico proporcionou acesso à muita

informação, até mais do que o cidadão comum é capaz de suportar. Se

toda a informação gerada no planeta entre os anos de 1986 e 2007 fosse

armazenada em DVDs e estes fossem empilhados, seria possível formar

uma torre que chegaria à Lua. Neste período, a informação disponível

no mundo dobrava a cada dois anos. Estima-se que em 2020, o volume

de informação disponível no mundo dobrará a cada 83 dias. Quando o

Symon Hill

25

rádio foi inventado, passaram 30 anos até que ele atingisse 50 milhões

de pessoas. A televisão levou 13 anos para alcançar o mesmo número

de telespectadores. Mas, apenas em 2010, o Facebook cadastrou mais

de 200 milhões de usuários, chegando à marca de mais de 1 bilhão de

usuários em janeiro de 2013. Neste mesmo ano, uma pesquisa de

mercado feita pela empresa norte americana International Data

Corporation (IDC), a pedido do Facebook, descobriu que usuários de

smartphones – entre 18 e 44 anos de idade – acessam as redes sociais

logo ao acordar. Do total de entrevistados, 62% afirma que a primeira

coisa que faz ao acordar é pegar o smartphone, enquanto 79% usa o

aparelho celular 15 minutos após acordar. 63% dos entrevistados

disseram que realizavam o login e o logoff várias vezes ao dia no

Facebook, e 25% afirmaram que passam parte do dia online, jogando. O

tempo de uso diário do aparelho geralmente se divide em: 16 minutos

(em média), para ver o feed de notícias, 10 minutos para verificar as

mensagens na caixa de entrada e pouco mais de 5 minutos para atualizar

o status ou postar uma foto. Concluindo, o tempo médio de 1 acesso ao

Facebook, via celular, chega a mais de meia hora. Esta meia hora

poderia ser utilizada para manter uma conversa ao vivo, pessoalmente,

com alguém que está ao lado.

Ora, passando tão pouco tempo com os pais desde a infância e

ficando tanto tempo expostos a conteúdos de fontes questionáveis, jogos

e filmes violentos, não é de admirar que atualmente, o indivíduo

apresente dificuldade de se relacionar com outros seres humanos. Se

metade destas 14 horas mensais gastas diante do computador tivesse

sido investida na conquista de habilidades relacionais e no melhor uso

da língua, talvez as pessoas hoje não fossem tão isoladas dos demais e

soubessem usar melhor seu potencial comunicativo. Estamos cada vez

mais conectados, porém isolados do ponto de vista relacional. Sem a

habilidade de se relacionar bem com pessoas alheias as do contato

corriqueiro, compromete-se a base da estrutura social humana, partindo

do princípio que viver em sociedade é uma estratégia de sobrevivência.

Assim, o tempo máximo que o sujeito tolera as diferenças de idade e

ideologia é de três meses. Logo ele troca de emprego por mais três

meses e assim vai indo de empresa em empresa, até achar uma em que

possa formar uma panelinha com os colegas do Face. Isso não deveria

Agindo como Trouxa

26

causar espanto, já que desde o começo deste século as crianças e

adolescentes gastavam mais tempo na presença de máquinas do que na

presença de outros humanos, fossem eles pais ou colegas. Só resta

concluir que ao se isolar atrás de um monitor, gradativamente a pessoa

se distancia do que ela é em sua essência: um ser social. O desejo

constante da aprovação alheia faz com que o sujeito deseje a todo custo

(neste caso, o preço de sua autenticidade) ser como os demais, estar

onde os outros estão e fazer o que eles fazem.

Os relacionamentos das pessoas são cada vez mais superficiais.

Não se namora mais, fica-se. Não se vende mais para o mesmo cliente,

busca-se um novo todos os dias. Não se mantém mais o compromisso

com a vida, deixa-se o filho na caçamba. Isolar-se e isolar os outros é

desrespeitar a natureza da espécie humana, pois somos seres sociais que

precisam conviver. Provavelmente, você já notou como as pessoas estão

cada vez mais egocêntricas ao passo que a necessidade das empresas e

dos demais grupos sociais exige das pessoas a habilidade em fazer e

conquistar juntos. Espera-se sinergia, não competição. Coletividade,

não egoísmo. Tentar relacionar-se com outras pessoas através de um

aparelho eletrônico, como no caso, pelas redes sociais através de

smartphones, é uma forma de se autoenganar ou enganar o outro,

principalmente, pela oportunidade que temos de comunicar apenas o

que há de bom. Escolhemos a foto em que estamos bem e esta é a que

publicamos. Em uma mensagem, escolhemos melhor as palavras ou as

abreviamos. Se errarmos no conteúdo ou no tom, corrigimos a

mensagem antes de envia-la. Basta dar um “Ctrl+Z”. As redes sociais

favorecem a publicação apenas daquilo que podemos (ou falsamente

acreditamos poder) controlar. Diferentemente da conversa ao vivo, que

acontece em tempo real e expõe muito mais nossas fraquezas.

Estes fatores reforçam o paradigma de que estar conectado é a

coisa mais importante. Estes exemplos mostram como as pessoas vão se

fechando em seus mundos sem perceber que estão trocando o contato

real com outros seres humanos pelo contato virtual com seres que talvez

nem existam realmente. O fato de se isolarem traz como consequência,

agir como trouxa, pois sem uma noção clara do que é amizade,

tendemos a perder o real valor do outro. Criamos expectativas

infundadas em relação aos outros e a nós mesmos. Veja por exemplo,

Symon Hill

27

uma pesquisa feita pelo laboratório de Estudos da Emoção e

Autocontrole da Escola de Psciologia da Universidade de Michigan,

comandado pelo professor Ethan Kross em parceria com Phillipe

Verduyn, da Universidade de Leuven, na Bélgica. Segundo os

pesquisadores, quanto mais tempo os jovens abaixo de 30 anos passam

no Facebook, mais infelizes e solitários se tornam. Um em cada três

usuários que participaram da pesquisa manifestaram inveja, tristeza e

solidão por ver que os ‘amigos’ estavam felizes com seus

relacionamentos e curtindo férias com a família. Amigos verdadeiros se

sentiriam felizes de ver os amigos felizes. No entanto, usar o Facebook

tem se tornado uma forma de comparação social – elemento essencial

para a formação do autoconceito. A amizade é uma necessidade humana

que vai além da comunicação chegando ao terreno da cumplicidade com

o outro, não da inveja de suas conquistas. As redes sociais deturparam o

conceito de amizade. Aceitamos como amigos pessoas que nunca

chamaríamos para tomar um lanche pessoalmente em nossa casa. Sem

companheiros sérios e variados, uma pessoa torna-se presa fácil do

autoengano. Com o passar do tempo, de tanto se isolar, o sujeito não

sabe se comportar na frente de outros humanos, pois passou pouco

tempo na companhia dos pais, conversa mais com os dedos do que com

a boca, e se acostumou com a violência ficando insensível ao

sentimento alheio, desprovido de empatia. Daí o sucesso dos cursos de

etiqueta empresarial, posturas profissionais, ética e valores humanos

que se vê por aí.

O paradigma esconde o paradoxo

Talvez o leitor conheça a analogia feita por Platão, em que ele

compara o homem a uma carruagem. A carruagem, composta por

cavalos, rédeas e um cocheiro é assim comparável ao homem que é

composto de emoções, pensamentos e percepção. Desta forma, assim

como o cocheiro controla as rédeas para comandar os cavalos, a

percepção do homem dita seus pensamentos e controla suas emoções.

Por não perceber corretamente as coisas que acontecem a sua volta,

muitos não pensam direito e acabam cedendo a emoções negativas

Agindo como Trouxa

28

traduzidas em sentimentos como vergonha, inadequação, insegurança,

medo, inveja, ego inflado, orgulho e sentimento de culpa. Assim,

fingem estar contentes, quando não estão. Fantasiam sucessos, quando

não lidam bem os fracassos. Preferem confiar incondicionalmente nos

outros, ao invés de em si mesmas. Não controlar as emoções é o que faz

com que as pessoas queiram uma coisa e façam outra. Todos desejam

ser e parecer inteligentes e coerentes, mas acabam agindo como trouxas

que, no íntimo, desejam se livrar do manicômio social em que foram

lançados. É neste paradigma em que vivemos, onde a única regra é

professar crer em alguma coisa e fazer outra que está a 180°.

Em muitos casos, o indivíduo é levado a agir paradoxalmente

por não pensar coerentemente ou por não compreender seu papel dentro

do sistema no qual está inserido. Assim, a falta de coerência (no

domínio do pensamento) o leva a não entender como ele deve

comportar-se (domínio da ação) para atingir seus próprios objetivos.

Num impulso de autoengano, buscando ainda manter-se em uma

posição confortável, a pessoa apega-se a ideologias e outras pessoas que

confirmem a noção que ela tem de si mesma, reafirmando o que já

acredita racionalizado sobre as coisas e abdicando do direito de pensar,

avaliar e escolher por si mesma, sobre o que considera ser melhor em

longo prazo. Prefere abarrotar a cabeça com os pensamentos dos outros,

do que avaliar a própria vida e voltar atrás quando necessário.

Expectativas exageradas em relação a si mesmo e ao que se espera da

sociedade atual, geram a dissonância entre pensamento e ação. Todos

estes aspectos revelam uma autoimagem distorcida e uma pessoa que

não se aceita como é, que não se vê como merecedora de suas

conquistas ou sente inveja das conquistas dos outros, inevitavelmente,

terá dificuldades relacionais. A consequência? Isolar-se. Daí a relação

entre agir como trouxa e o Paradoxo Symoniano, que se refere à

tendência isolacionista escondida pelo paradigma social da atualidade,

causado por engodos psicológicos e uma autoimagem distorcida,

evidente na constante desvalorização de si mesmo e do outro. Ao se

isolar o individuo age como trouxa indo contra sua necessidade humana

básica de conviver, prejudicando suas relações sociais, se comportando

como (a) ingênuo (maximizando o valor do outro), (b) como idiota

(menosprezando o outro) ou (c) como autoenganador (minimizando ou

Symon Hill

29

maximizando a si mesmo). Como que num processo de

retroalimentação, ao agir como trouxa, a pessoa reforça o paradigma de

diminuição da autenticidade que, em ultima instância, mascara ainda

mais o paradoxo, visto que, a própria pessoa se isola ou é isolada pelos

demais.

Sendo assim, como viver e conviver razoavelmente bem num

mundo de contradições amplamente apoiadas pela convenção social?

Como agir de um modo mais autêntico, mais cauteloso e menos

pretencioso? Como ser socialmente inteligente e parar de agir como

trouxa?

Reposicionar-se para vencer o paradoxo

Imagine, por exemplo, que você está ouvindo um barulho que

lhe incomoda, mas que você não sabe identificar o que é. Parece que ele

vem de trás do muro de sua casa. Com o tempo, o barulho se torna

insuportável. Mas, sem saber o que é, fica difícil resolve-lo. No entanto,

se você olhasse por cima do muro poderia descobrir a origem do

barulho e encontrar uma solução. Uma mudança no seu ponto de vista é

fundamental para resolver esta situação incômoda. Da mesma forma, o

desconforto social de agir ou conviver com quem age como trouxa é um

barulho incômodo que até então, você não sabia de onde vinha. O

paradigma social atual de que estar conectado é o mais importante é

como um muro que impede sua visão real do problema, que é a

tendência isolacionista, um paradoxo para nós que vivemos na era da

conectividade. Assim como é preciso ‘olhar por cima do muro’ para

descobrirmos uma solução a partir de um novo ponto de vista, para se

vencer um paradoxo é preciso mudar de paradigma. Mudar sua posição

para obter um novo ponto de vista.

Heráclito, filósofo grego que viveu quatrocentos anos antes de

Cristo, dizia que tudo o que é oposto quando em união causa perfeita

harmonia. Equilibrar forças contrárias não significa eliminá-las, mas

combiná-las. Percebo que a saída para combinar ao máximo possível a

práxis e o logos é aprender a viver e conviver neste cenário social de

contradições. E a inteligência social, é de longe, a melhor das

Agindo como Trouxa

30

alternativas para conseguir isso. Poucos assuntos são tão eficazes em

combinar pensamento e ação. Ela pode manter as expectativas pessoais

dentro de limites razoáveis e determinar ações específicas e alcançáveis

para quem, por vezes, talvez tenha se sentido ‘miserável’ por dentro,

por viver como se estivesse sem nenhum domínio sobre o que realmente

vivencia. A meta é ser autêntico. O método é aprender a ser socialmente

inteligente.

A Inteligência Social Aplicada o ajudará a sair do ‘modo

automático’ em que fomos socialmente colocados agindo como trouxa

sem perceber. Ser socialmente inteligente é, portanto, um estilo de vida

capaz de melhorar sua existência enquanto humano e como

consequência, melhorar seus resultados. Quem deseja combater esta

tendência deve começar por mudar a si mesmo harmonizando

pensamento e ação e, num segundo momento, por aprender a lidar de

forma eficaz com aqueles que agem como trouxas. Se o leitor estiver

desejoso de repensar seus modelos para melhorar seu estilo de vida este

livro é um bom começo.

Crendo na plasticidade da mente humana e em sua capacidade

de se adaptar, uma defesa que ficará evidente ao longo desta obra, é a de

que a melhor maneira de resolver e reduzir os problemas de

relacionamentos interpessoais, visando ser socialmente inteligente, é

por melhorar a si mesmo através de um fortalecimento de sua

personalidade associado a uma mudança de ponto de vista sobre o modo

como você se comporta diante dos outros. Apenas através de um novo

olhar (nova percepção) sobre si mesmo e sobre sua interação com o

mundo que o cerca, modificando o seu paradigma sobre seu próprio

valor e o valor dos outros, é que se poderá reduzir o efeito do paradoxo

que permeia o mundo atual. O modo como você se posiciona em um

determinado ambiente, determina a qualidade de seus

relacionamentos naquele ambiente.

Conta-se uma fábula em que duas pulgas estavam conversando

sobre as dificuldades de seu mercado, que envolvia sugar um cachorro

muito rápido. Assim, uma comentou com a outra: “Sabe qual é o nosso

problema? Nós não estudamos o suficiente por isso não aprendemos a

voar, só sabemos saltar; daí nossa chance de sobreviver quando somos

Symon Hill

31

percebidas pelo cachorro é zero! É por isso que as moscas vivem por

mais tempo que as pulgas. Elas voam”. E elas se matricularam num

curso profissionalizante ministrado pela mosca, que lhes mostrou como

aprender a voar e, depois de um tempo saíram voando.

Passado algumas semanas, a primeira pulga disse para outra:

“Quer saber? Voar não é o suficiente, porque ficamos grudadas no

corpo do cachorro e nosso tempo de reação é bem menor do que a

velocidade da coçada da pata dele. Temos de aprender a fazer como as

abelhas que sugam o néctar e levantam voo rapidamente”. Desta vez,

elas contrataram o treinamento da abelha, que lhes ensinou a técnica do

‘chega-suga-voa’. Funcionou, mas não resolveu. A primeira pulga

chegou e explicou o porquê: “Nossa bolsa para armazenar sangue é

pequena, por isso temos que ficar muito tempo sugando. Escapar, a

gente até escapa, mas não estamos nos alimentando direito. Temos de

aprender com os pernilongos o que eles fazem para se alimentar com

aquela rapidez”.

E um pernilongo lhe prestou assessoria para expandir o

tamanho do abdômen. Resolvido, mas por poucos minutos. Como

tinham ficado maiores, a aproximação delas era facilmente percebida

pelo cachorro, e elas eram espantadas antes mesmo de pousar nele. Foi

aí que encontraram uma pulguinha feliz, que surpresa ao revê-las, disse:

“Uai, vocês estão enormes! Fizeram plástica?”. A que as outras duas

responderam: “Não, fizemos uma reestruturação. Agora somos pulgas

preparadas para os desafios do século XXI. Voamos, picamos e

podemos armazenar mais alimento”. Curiosa, a pulguinha perguntou:

“E porque vocês estão com cara de famintas?”. Num rompante de

autoengano, as pulgonas argumentaram: “Isso é temporário. Já estamos

pensando em fazer um trabalho de mentoria com um morcego que nos

ensinará a técnica do radar. E você?”.

“Ah! Eu vou bem obrigada. Forte e sadia!”. E era verdade. A

pulguinha estava viçosa e bem alimentada, mas as pulgonas não

quiseram dar a pata a torcer e perguntaram: “Mas você não está

preocupada com o futuro? Não pensou em uma reestruturação, uma

remodelagem?”.

“Quem disse que não? Contratei uma lesma como consultora”,

disse a pulguinha. “Hã? O que as lesmas têm a ver com pulgas?”.

Agindo como Trouxa

32

“Tudo. Eu tinha o mesmo problema que vocês duas, mas em vez de

dizer para lesma o que queria, deixei que ela avaliasse a situação e me

sugerisse a melhor solução. E ela passou três dias lá no canto dela,

parada observando o cachorro e, então me deu o diagnóstico”. “E o que

ela sugeriu?”, perguntaram as pulgas. “Que eu não mudasse nada em

minha natureza. Apenas me sentasse no cocuruto do cachorro. É o único

lugar que a pata dele não alcança...”.

A grande mudança que muitas pessoas buscam para lidar com

pessoas tóxicas (aquelas que agem como trouxas no ambiente

profissional) não vem de educação formal, cultural ou de uma mudança

radical na personalidade. Vem de se aprender a agir de uma forma que

os outros não conseguem. No caso de quem age como trouxa, agir com

inteligência social é quase impossível. Reposicionar a si mesmo tem o

poder de reposicionar os outros. Este é um segredo que o marketing

conhece há muito tempo. O modo como você se posiciona em um

determinado ambiente determina a qualidade de seus

relacionamentos naquele ambiente, independente de os outros agirem

como trouxas ou não. O ponto é que, não é o outro que está no comando

do seu comportamento. É você. Não reconhecer isso, você já sabe que é

agir como...

Este livro o ajudará nesta tarefa de reposicionamento social.

Ao final da leitura e da aplicação destes conceitos, você estará blindado

para resistir a pessoas que se comportam como trouxas. Esta obra o

ensinará a identificar nos seus relacionamentos pelo menos três pontos-

chave: (1) o comportamento nocivo de quem age como trouxa; (2) o

comportamento ‘ideal’ para a manutenção da cultura empresarial e do

clima socialmente inteligente e; (3) aprender a se posicionar melhor

(entenda-se também, relacionar) com aqueles que agem como trouxa,

neutralizando-os.

Como apenas a leitura sobre inteligência social não basta, é

preciso aplica-la, este assunto não se limita aos ditames do pensamento,

ou seja, para desenvolver suas competências sociais é preciso ampliar

seu círculo de relações. Assim, não há como o leitor perceber o real

valor deste tema se, em suas conclusões, decidir isolar-se ou manter-se

distante da convivência. Se assim o fizer agirá como trouxa. Há duas

Symon Hill

33

passagens no livro dos Provérbios que explicam claramente a

necessidade que temos de conviver para crescer. Uma, adverte contra a

tendência isolacionista, destacando o perigo de se manter apartado dos

demais e acabar “estourando contra a sabedoria prática”. A outra

destaca a importância da convivência como fator de crescimento

pessoal quando afirma que “assim como o ferro afia o próprio ferro” o

homem também “afia”, ou seja, aprimora o outro. Desta forma, somente

através da aplicação dos princípios sugeridos em sua realidade – em

cada uma de suas interações sociais – o leitor conseguirá vivenciar os

benefícios da inteligência social em sua vida. É durante as situações de

contradição entre pensamento e ação que esta proposta encontrará seu

lugar de aplicação.

Ao ler este livro, preocupe-se em entender as ideias e descobrir

o que realmente significam. A pergunta que deve permanecer em sua

mente o tempo todo é “E daí, o que faço com isso?”. Com esta

perspectiva, haverá um melhor aproveitamento das ideias contidas em

cada um dos textos e nas aplicações da inteligência social no cotidiano

do trabalho. Por exemplo, saber que vivemos em uma constante

dissonância entre o que dizemos e fazemos e que isso pode e tem nos

afastado de nossos objetivos mais íntimos (e até da causa de nossa

existência), deve servir para despertá-lo quanto a necessidade de prestar

mais atenção aos anseios que manifesta e, também, se aquilo que está

fazendo realmente o aproxima mais e mais destes anseios. Desta

maneira, para iniciar este processo de expansão da inteligência social,

será preciso dominar primeiramente aquilo que se pensa e depois

esforçar-se em viver de acordo com estes pensamentos.

Imagine os benefícios de viver em harmonia com colegas de

trabalho, familiares e, principalmente com você mesmo. Pense em como

seria proveitoso participar de uma reunião onde você tem maior poder

de influência. Tente descrever a sensação agradável de estar em um

determinado ambiente livre de anseios ou dúvidas quanto a sua postura

em relação aos demais. Quem não gostaria de saber como responder

adequadamente a cada pessoa com que se relaciona? Estas

possibilidades se tornarão reais a você por utilizar mais plenamente sua

inteligência social.

Agindo como Trouxa

34

2.

Comunicação deficiente:

O ponto em comum em quem age como trouxa

A boa comunicação é a base das boas relações interpessoais.

Ficar sem contato com os outros é um castigo cruel desde a infância. As

crianças tem o costume de brincar com os coleguinhas mais

interessantes e não se importam em “dar um gelo” em quem é chato ou

“metidinho”. Faz parte do Código de Ética Infantil: quem é ‘bacana’

recebe o direito de brincar com a turma. Quem é mala ganha o

passaporte para a ilha deserta. Talvez você mesmo já tenha passado por

isso. Intuitivamente, as crianças sabem que a falta de companheirismo –

a falta de comunicação – é uma maneira dolorosa de punir alguém. Na

realidade, a falta de comunicação é um caso de vida ou morte. O

primeiro a pensar nisso, provavelmente foi Frederico II, imperador

alemão de 1196 a 1250. De acordo com um historiador medieval, ele

promoveu um teste onde mães adotivas e amas de leite de recém-

nascidos podiam cuidar apenas das necessidades físicas dos bebês,

como amamentar, dar banho e trocar – mas, eram proibidas de

conversar com eles. Como resultado, após quatro meses de rejeição, as

crianças morreram. Não conseguiram viver sem o carinho, as palavras

afetuosas e as expressões faciais das mães. Em nossos dias,

pesquisadores estudaram a importância da comunicação, num estudo de

isolamento, onde convidaram cinco homens a ficarem trancados em um

quarto escuro. O primeiro aguentou oito dias. Outros três suportaram

dois dias, sendo que um deles ao sair do quarto exclamou: “Nunca

mais!” O quinto homem suportou o teste por apenas duas horas. Mesmo

no caso de quem gosta de ficar sozinho, a solidão pode ser excruciante.

Veja o caso do navegador Carl Jackson que passou 51 dias velejando

pela costa do Oceano Pacífico. Ao voltar à terra firme, ele disse que

“sempre se julgara autossuficiente”, mas, descobriu em alto mar que, “a

Symon Hill

35

vida sem as pessoas não faz sentido” e concluiu: “A solidão no segundo

mês foi martirizante...”.

A comunicação está associada à satisfação de quatro

necessidades humanas principais. Em sentido físico, a falta de

comunicação e relacionamentos satisfatórios tem o mesmo impacto

negativo sobre a saúde que a pressão alta, o fumo, a obesidade e a falta

de atividade física. Pessoas que ficam sozinhas têm quatro vezes mais

chances de pegarem um resfriado do que aquelas socialmente ativas.

Homens divorciados (antes dos 70) morrem de doenças cardíacas,

câncer e derrame, duas vezes mais que homens casados. Morrem de

hipertensão três vezes mais e cometem suicídios cinco vezes mais.

Morrem de cirrose sete vezes mais e de tuberculose dez vezes mais.

(Adler, 1999).

A comunicação nos supre ainda de outra necessidade

emocional: a necessidade de identidade. Quem define se somos

inteligentes ou idiotas, espertos ou lerdos, bonitos ou feios não é a

imagem no espelho, e sim, o modo como outras pessoas reagem a nossa

interação com elas. Decidimos quem somos baseados no modo como as

pessoas reagem a nós. Como no caso do Menino Selvagem de Aveyron,

encontrado sozinho cavando uma horta em busca de alimento numa

aldeia francesa no início do século XIX. Ele havia passado os primeiros

anos da infância sem contato com outros humanos, e não havia nele

nenhum traço que se podia esperar de um ser social. Apenas com a

influência de uma mãe amorosa é que o menino começou a agir e a

pensar em si mesmo como sendo um humano. Isso por que nascemos

sem nenhum senso de identidade e vamos criando nossa identidade a

partir do modo como os outros nos definem. As mensagens que

recebemos até os 7 anos de idade são as mais fortes, mas, a influência

dos outros permanecem presentes em nós pelo resto da vida. Pense em

si mesmo e no modo como se veste ou como fala. Quando você

começou a agir deste modo e por quê? Ao meditar nisso, você perceberá

que sofreu algum tipo de influência de alguém em algum momento da

sua vida, como um estilo de música que marca uma geração. Essa

influência foi moldando sua maneira de ser. Ao longo da vida somos

atraídos a pessoas que confirmam nossa identidade. Esta confirmação

depende, é claro, de sua autoimagem. Por exemplo, se você tem uma

Agindo como Trouxa

36

autoestima elevada, a tendência é se aproximar de pessoas que lhe

tratem bem e evitar a todo custo pessoas que lhe tratem mal. No

entanto, se você se considera uma pessoa sem valor, tende a se

relacionar com pessoas que lhe desprezem para confirmar a si mesmo o

que já pensa sobre si. Esta é uma explicação do porque muitos

permanecem em um relacionamento desamoroso, pernicioso e

frustrante. Se você se considera um perdedor, se associará com pessoas

que confirmem sua auto-percepção negativa. É claro que estes

relacionamentos de apoio, podem tanto confirmar quanto transformar

sentimentos de inadequação em auto-respeito, da mesma forma que os

relacionamentos prejudiciais reduzem a autoestima.

Pense ainda em como a comunicação satisfaz sua necessidade

de convívio social. Alguns cientistas afirmam que a comunicação é o

principal meio pelo qual os relacionamentos se iniciam. Através da

comunicação, muitas necessidades humanas são satisfeitas. Sentimos

prazer quando conversamos com alguém que é divertido e nos alegra

com sua conversa. Demonstramos afeto quando visitamos uma pessoa

querida após um período de luto (nem que seja apenas para mostrar a

ela que nos importamos). Sentimo-nos incluídos quando entramos em

uma roda de amigos para não ficarmos sozinhos. Quando queremos

evitar uma tarefa desagradável, experimentamos a sensação de fuga, por

conversar com o colega da mesa ao lado ou matar o tempo até o relógio

de ponto marcar o fim do período. Relaxamos quando simplesmente

jogamos conversa fora em um bate-papo descontraído. Sentimos o

controle da situação quando fazemos solicitações a outras pessoas, ou

reivindicamos algum direito. Pense em como a sua vida seria vazia sem

que estas necessidades fossem satisfeitas.

Sem contar a importância da comunicação para a realização

dos objetivos práticos de nossa existência. Você se comunica para dizer

ao cabeleireiro para cortar seu cabelo um pouco mais dos lados do que

em cima. Fala ao arquiteto como quer o acabamento do seu banheiro.

Negocia as tarefas domésticas e argumenta com seu filho na hora de

escovar os dentes ou ir dormir. Sem poder se comunicar, como seria o

exercício de viver em sociedade? Além de um trunfo social, a

comunicação é a chave que abre a porta do sucesso ou do fracasso

profissional.

Symon Hill

37

Segundo a professora Rosabeth Moss Kanter, da Escola de

Administração de Harvard, após concluir sua graduação, as principais

habilidades são as sociais, ou seja, saber se comunicar, ouvir e

compreender, trabalhar em equipe e liderar. Até mesmo a Pirâmide das

Necessidades Humanas, de Abraham Maslow, reafirma a importância

de se comunicar para viver e atingir a auto realização. Pense em como

seria difícil conseguir água potável, comida, roupa e abrigo sem ir até o

departamento de água de sua cidade e solicitar ao atendente água tratada

em sua casa. Ou sem ir ao supermercado fazer suas compras do mês e

passar pelo caixa. Sem escolher suas roupas na loja em que você

compra há anos por causa do atendimento daquela ‘mocinha’. Como

satisfazer suas necessidades de segurança e bem estar sem contar com o

apoio da segurança pública, ou sem falar com o guarda que lhe parou

em uma blitz? Vamos pular dois níveis na pirâmide e nos concentrar

direto no topo: como se auto realizar na vida e desenvolver o seu

potencial ao máximo sem se comunicar, uma vez que nosso senso de

identidade depende da reação dos outros ao modo como agimos? A

certeza de que estamos sendo as melhores pessoas que podemos ser

depende do convívio harmonioso consigo mesmo e com os outros.

Enfim, à medida que subimos na vida, o que mais precisamos é

da habilidade de se comunicar bem. Pesquisas comprovam que

desconhecer as diferenças de ambiente entre os interlocutores torna a

comunicação mais difícil. Gerentes que não compreendem a perspectiva

de seus colaboradores serão péssimos líderes. Funcionários que não

entendem as ordens do patrão terão dificuldades em cooperar e se

afastam da chance de uma promoção. Pais que não se lembram da

própria juventude terão dificuldades de entender os filhos adolescentes.

A dificuldade de viver em ambientes diferentes torna o ato de

compreender os outros um desafio (Adler & Towne, 2002).

Ora, se a comunicação é tão importante para a vida humana,

porque ainda não foi adotada nas escolas como disciplina curricular?

Porque as pessoas ainda enfrentam tantos problemas de comunicação na

empresa, na família, na sociedade? Há pelo menos três causas: a) a falta

de estímulo e educação específica sobre comunicação interpessoal; b) o

apego à modelos de comunicação obsoletos e; c) o prejuízo causado por

ruídos mentais. Vejamos como cada uma destas causas contribui para

Agindo como Trouxa

38

manter a pessoa alienada socialmente, agindo como trouxa por privá-la

da boa comunicação.

As Causas dos Problemas de Comunicação

A primeira causa para os problemas de comunicação é a

deficiência de aprendizagem sobre comunicação interpessoal. Desde

bem cedo, na tenra infância, podemos ser estimulados pelos nossos pais

a nos comunicar. Muitas vezes, os pais não dominam corretamente a

língua materna e se comunicam mal, o que interfere na habilidade de

comunicação dos filhos. Por exemplo, imagine que você encontrou um

casal de amigos no shopping. Eles estão passeando com os filhos. Você

os vê, se aproxima e pergunta à criança como ela está. Curiosamente, ao

passo que se fazem perguntas para as crianças do sexo feminino e as

incentivam a dar a resposta, no caso das crianças do sexo masculino,

quando se faz uma pergunta, quem responde é a mãe ou o adulto

responsável. Quando chega à escola, o menino não sabe a hora de falar

nem de ficar quieto. Corre sem parar e não respeita a autoridade do

professor. Logo, o garoto é diagnosticado ‘pelos professores’ como

tendo transtorno de déficit de atenção hiperatividade , o que além de

rotular o indivíduo pelo resto da vida, irá impedi-lo de aprender, ainda

nos primeiros anos de vida, a usar a linguagem como ferramenta para

perceber o mundo a sua volta e se expressar corretamente. Isso

compromete o desempenho, dificulta as relações interpessoais e

provoca baixa autoestima.

Frequentemente, as crianças tidas pelos pais e professores

como desatentas, na realidade prestam atenção em tudo o que acontece

em sua volta. O que não possuem é a capacidade para planejar com

antecedência, focalizar a atenção seletivamente e organizar respostas

rápidas. Nem todo menino agitado tem TDAH. Isso é importante

destacar, principalmente depois de Leon Eisenberg, o pai científico do

TDAH, admitiu ter inventado a doença. Ou seja, a tal síndrome não

existe. Isto significa que os garotos mais agitados na escola de seu filho,

não possuem TDAH porque ela não existe. Às vezes, eles só precisam

aprender a se comunicar melhor. As meninas por outro lado, sabem se

Symon Hill

39

portar melhor em ambientes sociais e não é de hoje que se saem melhor

nos estudos em comparação com os meninos (Eliot, 2010).

Os pais precisam estar atentos a isso e não deixar essa

responsabilidade por conta da escola. Para os pais observarem o

comportamento de um ou dois filhos pequenos é muito mais fácil que

para o professor observar cem ou duzentos alunos ao mesmo tempo. Se

a criança não aprende a se comunicar bem na família, é uma ilusão

acreditar que aprenderão na escola, porque os professores não sabem o

suficiente sobre comunicação nem mesmo para eles. Há muito tempo,

sabe-se que comunicar bem e falar muito pertencem a domínios

diferentes. Não se pode esperar de um professor que ele ensine algo que

não sabe. Não se trata apenas de ensinar a comunicação na escola e

ensiná-la do modo errado, pois isso é o que tem sido feito e ocasionado

conclusões enganosas sobre a comunicação.

Por exemplo: recentemente, ao chegar em casa, encontrei meu

filho assistindo a um episódio do seriado humorístico Chaves. Confesso

que não resisti e me sentei para assistir com ele. O assunto na aula do

Professor Girafales, interpretado pelo ator mexicano Rubén Aguirre, era

a Comunicação. Como esperado, ele apresentou à turma o modelo de

comunicação linear, aquele formado por:

emissor > codificação > mensagem > canal > receptor.

Este ‘passo-a-passo’ tem ensinado como processo de

comunicação desde 1950 e, levando em conta que o seriado Chaves foi

gravado até o começo da década de 1990, o que fora dito naquele

episódio estava dentro do padrão. O que realmente me intriga é que este

processo de comunicação ainda é ensinado erroneamente em alguns

cursos de formação continuada como ‘sendo o que há de melhor’ em

matéria de comunicação interpessoal. Este absurdo, ensinado nas

escolas e cursos profissionais, leva as pessoas a acreditarem que apenas

pelo fato de estarem na posição de emissores, automaticamente se

tornam comunicadores. Um amigo relatou-me recentemente que,

enquanto estava no aeroporto em Florianópolis aguardando seu voo,

notou uma senhora aparentemente irritada com o atraso e as filas no

aeroporto. Ao se aproximar do guichê, esta senhora disse algo para o

Agindo como Trouxa

40

atendente, sem obter a resposta desejada. Aos berros, ela lhe retrucou:

“Eu sou formada em comunicação social e você está me ignorando!

Você não está se comunicando comigo e exijo uma explicação! Se você

soubesse com quem está falando já teria me atendido!” Perceba que o

problema de não ser compreendido não se trata de uma questão de ser

ou não ‘formado em comunicação’. Esta senhora realmente acreditava

que comunicação é um processo ‘engessado’, com um passo-a-passo em

uma direção única. Não a censuro, pois ela foi ensinada assim. Critico o

fato de ela ter ficado satisfeita só com isso e achar que o restante do

mundo é que não sabe se comunicar. Tentar se comunicar de forma

linear é como aplicar uma injeção. A enfermeira, de posse de uma

receita feita por outra pessoa prepara a combinação dos medicamentos,

pega a seringa e escolhe a agulha, passa a gaze com álcool na pele do

paciente e ‘pan’! Doa a quem doer. Ou seja, comunicar-se de forma

linear é um ato invasivo como uma injeção e pouco eficaz em termos

relacionais. Comunicação é uma atividade que se faz com a outra

pessoa e não para ela.

A demora no atendimento deixou esta mulher tão transtornada

que não conseguia compreender o que estava acontecendo com o

atendente. E o que ela fez? Culpou o ambiente. Dentro da terminologia

da comunicação, a palavra ambiente não tem a ver com espaço físico,

mas com experiências pessoais e antecedentes culturais, educacionais e

socioeconômicos de quem participa na interação. Neste caso específico,

ela era rica e o atendente pobre. A escolaridade dela era superior à dele.

E ainda poderia haver mais diferenças como a cor da pele, sexo, idade,

interesses etc. Por pensar e agir de acordo com o que ela sabia sobre

comunicação, esta senhora lidava com os problemas de forma linear,

seguindo uma via única.

Este desafio é ainda mais duro quando se tem a ilusão de que

se comunica bem porque aprendeu o processo de comunicação linear.

Este entendimento é falho para os relacionamentos por três motivos

básicos: a) O processo de comunicação linear sugere que a comunicação

flui numa única direção, o que limita ou elimina a importância da outra

pessoa. A maioria dos tipos de comunicação flui nos dois sentidos

através do feedback; b) O modelo linear supõe que toda interação

necessita de uma codificação. É claro que escolhemos símbolos para

Symon Hill

41

nos expressar. Mas isto não é padrão. Veja o caso das expressões

corporais e de mensagens não verbais. Hoje, sabe-se que o termo

codificação é fora de contexto. O comportamento dos comunicadores

durante uma conversa revela muito mais do que mensagens codificadas

verbalmente; c) O modelo tradicional pressupõe que toda comunicação

deve criar uma compreensão partilhada entre os comunicadores, quando

na verdade, nem sempre é preciso haver compreensão mútua para que a

comunicação efetiva se estabeleça. É o caso de um comercial de TV,

por exemplo. O anunciante não está preocupado com a compreensão do

telespectador, mas sim em influenciá-lo a seguir a sugestão de compra.

Em um cumprimento corriqueiro, onde se diz “Como vai?” e o outro

responde “Muito bem, obrigado!” não há nenhum tipo de compreensão

envolvido – apenas um reconhecimento mútuo. A comunicação

interpessoal requer que os envolvidos entendam que durante uma

conversa estamos codificando, enviando, recebendo e decodificando

mensagens simultaneamente e não em apenas um sentido. De acordo

com Ronald Adler e Neil Towne a comunicação é um processo

transacional contínuo que envolve pessoas de ambientes diferentes, que

contribui para um intercambio de mensagens que muitas vezes são

afetadas por ruídos externos, fisiológicos e psicológicos.

A falha da educação em relação à comunicação parece estar no

fato de que ela não ensina a pensar a comunicação corretamente, nem

mesmo a usar a linguagem de forma adequada. Se não sabe pensar para

se expressar, não adianta se expressar bem. O modelo de comunicação

forma. É falho, a meu ver, porque desconsidera o funcionamento do

cérebro conforme os estudos do Dr. Roger Sperry, prêmio Nobel de

Medicina, de 1981. Ele foi um dos responsáveis por provar que a mente

humana, dividida em dois hemisférios diferentes possui funções

diferentes. O lado esquerdo armazena nossas funções lógicas, racionais

e o lado direito, é fonte de nossa mente inconsciente e de nossa

capacidade emocional. A ligação entre estes dois hemisférios cerebrais,

acontece através de um feixe de conexões nervosas chamado corpo

caloso, responsável pela troca de informações entre os hemisférios. O

desenvolvimento do hemisfério esquerdo do cérebro desenvolveu a

habilidade linguística do ser humano, mas quando se trata de

inteligência social é preciso usar as emoções. A chave para se

Agindo como Trouxa

42

comunicar melhor está em usar mais o lado direito do cérebro,

equilibrando o uso destes dois hemisférios. Isso é o que deveria ser

ensinado nas escolas sobre comunicação. Imagine como as crianças

seriam mais expansivas e expressivas se aprendessem desde cedo a se

comunicar bem e expor suas ideais. Como seria diferente se elas

aprendessem a usar o lado direito do cérebro para controlar suas

emoções e fazer amizades duradouras? Isso é possível se elas

aprenderem a combinar razão e emoção.

Heráclito, filósofo grego nascido por volta de 540 a.C,

afirmava que “tudo aquilo que se opõe, combina; e tudo aquilo que

difere, quando em união, resulta na mais bela harmonia”. Da mesma

maneira, harmonizar em si mesmo a razão e a emoção é a chave para

comunicar-se com maestria. Qual foi a última vez que você conversou

por cinco horas com uma pessoa de quem não gosta? Provavelmente,

você nunca fez isso. No entanto, quando gostamos da outra pessoa

passamos uma tarde inteira conversando com ela e nem vemos o tempo

passar. Para se comunicar eficazmente é preciso entrar em sintonia com

o outro por estabelecer bases para a confiança e a credibilidade. Na

comunicação, isso se chama estabelecer rapport, mas sobre esta

habilidade, falaremos mais à frente. O que gostaria de isolar aqui e creio

tê-lo conseguido, é que as pessoas enfrentam problemas de

comunicação por não terem sido ensinadas a usar os hemisférios

cerebrais para se comunicar melhor em interações sociais gratificantes,

onde há uma relação de troca.

A segunda causa da má comunicação é o fato de apegar-se a

modelos obsoletos. Por exemplo, muitas pessoas entenderam

erroneamente um estudo feito pelo psicólogo Albert Mehrabian,

professor emérito de Psicologia da Universidade da Califórnia em Los

Angeles e estudioso que ficou famoso no século XX, por publicar uma

pesquisa sobre os componentes da comunicação e suas relações na

proximidade entre as pessoas. De acordo com uma pesquisa publicada

por ele à página 252 do Journal of Consulting Psychology, 1967, vol.

31, Nº 3, para que a comunicação favoreça o emissor da mensagem,

impactando positivamente o receptor, deve-se dar mais atenção à

linguagem corporal do que ao tom de voz e às palavras. A proporção

dos componentes, de acordo com ele seria de 7% para as palavras, 38%

Symon Hill

43

para o tom de voz e 55% para a linguagem corporal como fatores

relevantes para a boa comunicação. O problema manifesta-se quando se

analisa a metodologia da pesquisa. Note o seguinte, sobre como ele

montou esta teoria que ficou conhecida como a Regra 7-38-55.

Vozes de três mulheres foram gravadas dizendo a palavra “talvez”

(maybe) com entonação que procurasse significar (a) que a pessoa

talvez goste (aprovação); (b) que a pessoa não demonstra apreço nem

aversão (neutralidade) e; (c) que a pessoa talvez não goste (rejeição). As

palavras foram gravadas pelas três mulheres, de acordo com as

entonações acima descritas. Essas gravações foram apresentadas a 17

ouvintes (também mulheres) que deveriam julgar ao escutar cada

palavra, se a comunicação era positiva, neutra ou negativa, dentro de

uma escala de valor apresentada no estudo. Fotografias de três modelos

foram também tiradas com expressões faciais que pudessem significar:

(a) que ela gostou de algo; (b) que está neutra em relação a algo e; (c)

que não gostou de algo. As vozes e fotografias foram apresentadas de

determinada forma que as avaliadoras podiam ver uma foto com

expressão facial positiva e escutar um “talvez” negativo, ou neutro etc.

Assim, ao cruzar as avaliações das 17 mulheres avaliadoras, Mehrabian

chegou à conclusão que deu origem a Regra 7-38- 55.

Esta pesquisa, feita em 1960 é um modelo obsoleto, além de

mal aplicado. Para se comunicar eficazmente não se pode desconsiderar

o poder das palavras ou potencializar a linguagem não verbal ao

interagir com alguém. Nem o próprio Mehrabian fez isso. De acordo

com ele, quando duas pessoas estão se comunicando, os três

ingredientes são levados em conta e avaliados. Ele não pensava que um

era mais importante que o outro, mas, que durante uma conversa, o

nível de interesse do interlocutor era diferente, dependendo da situação

e do teor da conversa. Não é coerente, por exemplo, passar uma bronca

sorrindo e cantarolando sem que isso o faça parecer sarcástico. A

linguagem corporal tem que combinar com as palavras que estão sendo

ditas e com o tom de voz em que são proferidas. Entretanto, a falha de

Mehrabian está no fato de não corrigir a má interpretação de sua

pesquisa, deixando as pessoas acreditar em uma mentira. Deixando, não

causando. É como um adolescente que, em busca de popularidade, se

Agindo como Trouxa

44

aproveita de um mal entendido para ficar famoso entre os colegas, sem

levar em consideração que muitas pessoas acabarão sendo prejudicadas

pela mentira que ele não desmentiu, apenas para obter destaque em seu

grupo social.

Esta má interpretação da pesquisa de Albert Mehrabian, tem

levado as pessoas a cometer enganos por aplica-la de maneira

equivocada. Por exemplo, há escolas de coaching que utilizam a Regra

7-38-55 para supostamente ajudar as pessoas a melhorar a comunicação,

dizendo que é preciso utilizar mais a linguagem corporal, ou seja, os

elementos não verbais (tom de voz e expressão corporal). É como se

eles defendessem o uso de um Fusca 1962 em pleno o século XXI,

apresentando-o como um modelo do ano atual. No entanto, a pesquisa

de Mehrabian leva em consideração apenas as expressões faciais em

uma fotografia e um tom de voz gravado que nem era da mesma pessoa

observada na foto. Logo, a resposta da avaliadora, se baseava

simplesmente, na primeira impressão que ela tinha sobre a imagem do

rosto e o som gravado. E o restante do corpo, que também faz parte da

linguagem ‘não verbal’? A pesquisa ainda contou com uma amostragem

muito pequena. ‘Entrevistar’ 17 pessoas e daí tirar uma conclusão e

aplica-la à outras 7 bilhões de pessoas no planeta, é no mínimo

questionável. Além destes aspectos, a pesquisa contou apenas com a

avaliação das mulheres. Talvez, se os entrevistados fossem homens, o

resultado poderia ter sido outro, pois homens e mulheres se comunicam

de maneiras diferentes. Ou seja, aplicar a Regra 7-38-55 como

ferramenta para melhorar a comunicação de homens e mulheres é

equivocado. Porque?

Pesquisas recentes mostram que a mulher se comunica melhor

que o homem. E qual é seu principal canal de comunicação? A

psiquiatra Louann Brizendinne, professora da Universidade da

Califórnia em São Francisco, afirma em seu livro “O cérebro feminino”,

que as mulheres falam em média, 20 mil palavras por dia, enquanto os

homens apenas 13 mil. Se fossemos comparar com a natureza, o homem

seria como o grilo, que produz sons curtos e intermitentes, enquanto a

mulher seria como a cigarra que produz um som estridente e

ininterrupto até estourar! Mesmo assim, a mulher fala, fala, fala e o

marido não a escuta. Entretanto, quando ela se cala, a primeira coisa

Symon Hill

45

que ele diz é: “Benzinho, aconteceu alguma coisa?...”. Curiosamente, a

mulher fala 7 mil palavras a mais que o homem todos os dias, mas, só

recebe atenção, quando fica em silêncio. E mesmo assim, elas são muito

mais comunicativas que os homens, não porque falam mais palavras por

dia, mas por possuírem maior conexão entre os hemisférios cerebrais. O

corpo caloso, estrutura que liga um lado do cérebro ao outro, é 30%

mais denso nas mulheres que nos homens, o que facilita a troca de

informação no cérebro feminino, gerando mais intuição, percepção e

comunicação.

O Dr. Edward Hall, antropólogo especialista em proxêmica

(disciplina que estuda como as pessoas usam o espaço e o efeito disso

nas relações interpessoais), afirmam que uma conversa considerada

íntima tem como distância entre os interlocutores, aproximadamente 50

centímetros. Neste caso, há maior probabilidade de que os

interlocutores tenham mais contato físico. Por exemplo, quando duas

mulheres se encontram, elas entram em sintonia uma com a outra

rapidamente, tanto pelas palavras, como pelo tom de voz e linguagem

corporal. Os pesquisadores britânicos Allan e Barbara Pease, afirmam

que durante uma conversa, as mulheres ficam ligeiramente mais

próximas umas das outras e se tocam até 6 vezes a mais que os homens,

o que comprova os princípios da proxêmica (Pease, 2005).

Ora, se a Regra 7-38-55 fosse correta, as mulheres não

poderiam se comunicar melhor que os homens sendo que seu canal de

comunicação principal é a palavra. E automaticamente, o homem, por

se comunicar menos através das palavras, teria que ser um comunicador

melhor, o que não é o caso. Em nossa cultura, é muito raro

encontrarmos dois homens que se cumprimentam com três beijinhos no

rosto e pegam nos cabelos uns dos outros como fazem as mulheres.

Sendo assim, não podemos definir um componente da comunicação

como sendo mais importante que o outro. Em situações diferentes com

pessoas diferentes, cada um dos ingredientes da comunicação tem

importância diferente. Os atores de teatro tem uma definição muito

interessante sobre o trabalho deles no palco. Eles dizem que atuar é usar

o seu aparelho de linguagem (o corpo inteiro) para representar uma

personagem. O mesmo se aplica à comunicação. Sem usar todo o seu

‘aparelho de linguagem’, a comunicação ficará prejudicada. Em alguns

Agindo como Trouxa

46

casos, a linguagem corporal será a melhor forma de expressão. Em

outros será o tom de voz. Às vezes só teremos a palavra para nos

expressar, o que não significa que não vamos nos comunicar bem.

A má interpretação e o apego das pessoas à pesquisa de

Mehrabian, fez com que elas esquecessem a importância, o peso e o

significado que as palavras têm em si mesmas. As palavras são o meio

pelo qual nosso cérebro codifica as informações que recebe sobre o

mundo. A linguagem é o que nos diferencia dos outros seres vivos e nos

torna humanos. E a linguagem é aprendida por nós através das palavras.

Quando as desconsideramos nos distanciamos cada vez mais do que nos

caracteriza como espécie, visto que a linguagem codificada em nós

através das palavras vai enfraquecendo aos poucos pela falta de

entendimento que se tem delas.

A terceira e última causa dos problemas de comunicação se

deve aos prejuízos causados por ruídos mentais. Ruído é a expressão

usada pelos cientistas sociais para definir qualquer força que interfira na

comunicação. Esta força pode ser de ordem externa, que incluem fatores

fora dos interlocutores que os impeçam de falar e ouvir claramente,

como também distrações. Pode ser de ordem fisiológica, quando um dos

comunicadores possui uma deficiência física, como um problema de

dicção ou de audição, ou o ruído pode ser psicológico, quando um dos

comunicadores tem sua capacidade de se expressar ou compreender

prejudicada por fatores inconscientes, como o caso da senhora no

aeroporto citado anteriormente.

No entanto, desde que passamos a trabalhar mais com a mente

do que com o corpo, estamos expostos constantemente a distrações que

dão brecha para problemas de comunicação muito mais sutis do que

simplesmente não prestar atenção ao que o outro está falando. É cada

vez mais comum estarmos fisicamente em um lugar e mentalmente em

outro. Um ruído mental refere-se aos problemas de comunicação sobre

os quais o emissor da mensagem não tem poder nem conhecimento

algum. São ruídos totalmente desconhecidos pelos interlocutores. Estes

ruídos vão desde uma atitude do receptor, que ouve apenas o que lhe

interessa e se apega mais a sua opinião do que ao conteúdo da

mensagem, até reações mais adversas como agressões e abusos verbais

(Weil, 1978).

Symon Hill

47

Em minha análise dos problemas de comunicação, identifiquei

alguns ruídos mentais bem específicos e facilmente observáveis na

comunicação diária. O primeiro deles é a distorção. Já percebeu como

as pessoas distorcem as mensagens que recebem? Quanto mais pessoas

estiverem envolvidas no processo de comunicação, maior o risco de

distorção da mensagem. Cada um de nós tem um jeito diferente de

processar a informação e interpretar o que acontece. Por isso, quando

tiver que passar uma mensagem ou fazer um pedido, lembre-se de que

as chances de sua mensagem ser distorcida equivalem ao número de

pessoas envolvidas elevado ao quadrado. Por melhor comunicador que

seja, se você passar uma ordem para alguém e, para que seu pedido seja

atendido outras cinco pessoas estejam envolvidas, a chance de dar

errado neste caso é de vinte e cinco por cento. Além de se comunicar

com clareza você terá que acompanhar o processo de execução da

ordem para evitar que as distorções aconteçam pelo caminho. Assim,

sempre que possível, identifique o responsável e fale diretamente com

ele tratando-o pelo nome. Isso o fará sentir-se responsável e

pessoalmente envolvido com a informação.

O egocentrismo é outro ruído mental, por que impede a pessoa

de enxergar as coisas do ponto de vista de quem fala e a faz rebater o

que está sendo dito sem antes ouvir e avaliar o assunto por completo.

Isso tira o brilho da comunicação interpessoal, por que é como rir de

uma piada, antes que a pessoa que a está contando termine. Perde a

graça e interrompe a outra pessoa, além de ser uma falta de respeito.

Outro ruído terrível que beira ao pecado é a discriminação ou deixar-

nos guiar por estereótipos. Certos termos, como branco, negro, pobre,

rico, operário, patrão, português, caipira, gaúcho, entre outros, tem uma

conotação negativa que predispõe a pessoa a não dar a devida atenção

ao que está sendo dito por minar a credibilidade de quem está

transmitindo a mensagem. As diferenças que existem entre os seres

humanos é que moldam os ambientes em que a comunicação acontece.

Saber respeitar o outro e aceita-lo é a base para comunicar-se com

maestria. Outro ruído mental muito comum, principalmente entre os

homens, é a competição inconsciente. Já percebeu que em uma roda de

amigos, quando um deles conta uma piada e todos riem, logo em

seguida – como se fosse uma questão de honra – alguém tem que contar

Agindo como Trouxa

48

outra piada melhor do que a primeira? Sem contar que, em uma relação

de hierarquia, o indivíduo que está sujeito ao cargo do outro, muitas

vezes se sente frustrado e proíbe-se de ouvir o que o outro está dizendo.

Quando é preciso estabelecer um diálogo, ambos querem se fazer

entender cortando a palavra um do outro uma concorrência mental.

Os dois últimos ruídos mentais muito comuns nas relações

humanas são a transferência e a projeção inconscientes. A primeira

caracteriza-se quando o receptor tem um sentimento em relação a uma

pessoa parecida com o interlocutor e transfere estes sentimentos para

ele, indispondo-se ao que está sendo comunicado. Resultado? Não há

comunicação. Imagine por exemplo, que você tenha estudado em um

colégio dirigido por um padre muito rígido. Anos depois, você conhece

um padre com personalidade parecida com a do diretor do colégio e

começa a transferir para ele, todas as suas impressões sobre o exemplo

do passado, o que o levará a evitar a pessoa que acabou de conhecer.

Por outro lado, a projeção inconsciente, nos faz acreditar que o

interlocutor tem intenções que nós teríamos no lugar dele. Isso é

perigoso, por que faz com que fiquemos com o pé atrás em relação ao

que o outro está falando e assim não prestamos atenção ao que ele

realmente está transmitindo. É o famoso ditado, “um malandro

reconhece o outro”. Nem sempre. Pode ser apenas uma projeção.

Um Poderoso Método de Comunicação

Estes ruídos mentais, bem como as outras duas causas para os

problemas de comunicação – a aprendizagem deficiente ou o apego a

modelos obsoletos – são desconhecidos pela maioria das pessoas. Pense

por exemplo em seu próprio caso: quantas vezes você já parou para

pensar em como isso prejudica as relações interpessoais? Mas, saber

disso por si só, não melhora sua comunicação. Por isso elaborei um

método prático que o ajudará a expandir sua inteligência social através

de uma comunicação eficaz. Através dele, tenho oferecido coaching de

excelente qualidade para empresários, gestores, chefes de família,

estudantes universitários, vendedores e uma série de outros

profissionais que descobriram que aqueles que miram na comunicação

acertam mais além, melhorando os relacionamentos, a saúde física, a

Symon Hill

49

autoestima e vivem de forma mais prática suas carreiras por extrair o

melhor das relações humanas. São as Cinco Regras de Ouro da

Comunicação.

Para se beneficiar deste método de comunicação interpessoal, o

leitor precisa primeiramente, entender que existem cinco tipos de

linguagem que podem ser utilizadas cotidianamente para gerar

resultados positivos nos relacionamentos. São elas: a escuta perspicaz, a

asserção, a solicitação, a certificação e a oferta. Como se aplicam no

cotidiano? Por exemplo, a escuta perspicaz possibilita que o

entendimento das mensagens de conteúdo e relacionais que estão

presentes em cada interação. A assertividade, ou a falta dela, causa a

maioria dos conflitos interpessoais na empresa. A solicitação é o tipo de

linguagem presente nas ações de marketing pessoal, no fechamento de

vendas e até em entrevistas de emprego. A certificação, é um tipo de

linguagem desconhecido para a maioria das pessoas, manifesta-se

quando repetimos o que acabamos de ouvir com o objetivo de gerar

comprometimento no outro e também evitar mal entendidos. A oferta,

está presente em cada feedback que damos ou recebemos.

Entender como utilizar estes cinco tipos de linguagem pode

fazer a diferença entre comunicar-se com eficácia e garantir resultados,

ou ficar olhando as oportunidades passarem diante dos seus olhos.

Aplicar este método também é eficaz para o estabelecimento do

rapport, elemento essencial para a criação de confiança e credibilidade

entre os interlocutores. Esta é a condição básica para que se construa

um relacionamento duradouro e gratificante. E uma vez estabelecida

esta relação de confiança mútua, pode-se conduzir os relacionamento

com ética e naturalidade. Vejamos então, qual a relação deste modelo

com a Inteligência Social Aplicada, o meio de reposicionamento social

apresentado neste trabalho.

Agindo como Trouxa

50

3.

Inteligência Social Aplicada: a maneira ideal de

se reposicionar para não agir como trouxa

Entender o que realmente significa um assunto é fundamental

para sua utilização. Recentemente, dois grupos acadêmicos que

organizavam semanas de capacitação em suas universidades,

procuraram-me com o objetivo de que eu ministrasse uma palestra sobre

a Gestão 3.0 nas organizações. Como já há algum tempo tenho-me

interessado pela inteligência social e seus impactos na empresa, antes de

responder ao convite procurei me informar sobre o que era a Gestão 3.0,

que ambos os representantes universitários chamaram de uma ‘nova

tendência na Administração’. Após consultar autores consagrados

percebi que os princípios da tal novidade, como a gestão

descentralizada e restrições alinhadas, são os mesmos utilizados pelos

egípcios no ano 2600 antes de Cristo, Ciro, o Persa, no ano 400 a. C ou

por Dioclécio na Roma do segundo século. (Chiavenato, 1979). Logo,

não há novidade. O objetivo da Gestão 3.0, de ‘melhorar tudo’, sempre

foi o foco, ou pelo menos deveria ser o motivo principal de qualquer

gestor. Em mais de 1000 horas de palco, nunca presenciei um líder que

contratasse uma palestra com o objetivo de piorar sua organização.

Obviamente, todo gestor deseja “melhorar tudo” em sua empresa. O

“empoderamento” já foi utilizado por Moisés, em 1600 a. C, por

orientação de seu sogro, Jetro. “Energizar os colaboradores” é o que

Jesus fez no primeiro século. Na Southwest Airlines, as pessoas já

trabalham com o paradigma de restrições alinhadas há muito tempo. Lá,

todos sabem claramente o que fazer. O que também em nada difere do

princípio de estratégia com base em modelos replicáveis (Zook &

Allen, 2010). Estas premissas do Management 3.0, são as mesmas do

falido conceito de intra-empreendedorismo. No entanto, as confusões e

problemas que os programas de empreendedorismo interno trouxeram

foram maiores do que os benefícios, por isso a necessidade de dar novos

Symon Hill

51

nomes a problemas antigos. Afinal, nenhum empresário em sã

consciência aprovaria um programa sugerido pela recém-formada

psicóloga que ele contratou para cuidar dos Recursos Humanos em sua

empresa, sendo que este programa ensinaria princípios que fariam os

colaboradores ‘pensar como patrões’. Nem mesmo o nobre objetivo de

desenvolver na equipe o ownership sense, faria com que os

colaboradores desejassem se motivar pelos interesses alheios. Assim, a

Gestão 3.0 é mais uma tentativa de engajar os colaboradores.

Mas o comprometimento ainda é uma característica pessoal e

intransferível. Tenho dito isso em palestras há cinco anos e até que se

prove o contrário continuarei defendendo que ninguém se compromete

com empresa nenhuma. Todos se comprometem apenas com seus

próprios interesses e quando muito, fazem da empresa uma ponte para

alcançar seus próprios objetivos (Pantalon, 2012). Ao redor do mundo,

há empresas que já trabalham com os parâmetros da gestão 3.0, como a

Google e a Facebook, que ‘liberaram’ 20% do horário de trabalho para

que os colaboradores se dediquem a assuntos pessoais, como forma de

entusiasmar as pessoas e desenvolver competências. Mas isso daria

certo, por exemplo, com os colaboradores brasileiros da geração ‘Y’

que já ficam no Facebook durante o horário de trabalho, mesmo sem

permissão? O problema que leva as pessoas a se desviarem para

qualquer modismo de gestão é o fato de não se aprofundarem em suas

carreiras. Meu contato com a administração é técnico, visto que o foco

de meu trabalho é auxiliar os empreendedores e proprietários de

microempresas, onde o que realmente funciona é o básico bem feito. O

que as empresas pequenas precisam é de uma gestão de pessoas que

realmente acompanhe e desenvolva pessoas, de um financeiro que

funcione, um marketing que capte clientes e vendedores que fechem

negócios. Com gente valorizada e dinheiro no caixa a empresa pode

pensar no restante com tranquilidade. E estes aspectos básicos do

negócio, ficam fora do foco a cada novo modismo. De acordo com o

IBGE, as médias, micro e pequenas empresas representam 99% das

empresas brasileiras, movimentando mais de R$ 700 bilhões de reais

por ano e empregam mais de 56,4 milhões de pessoas. Isso significa

que, o universitário que está aprendendo modismos no banco da

academia, após se formar terá que trabalhar em uma empresa onde o

Agindo como Trouxa

52

importante é fazer o básico e a diretoria tem apenas o ensino médio.

Paradoxal, no mínimo. Como sugestão aos acadêmicos, (principalmente

àqueles que não pretendem trabalhar nas empresas dos pais),

concentrem-se na leitura dos clássicos de suas disciplinas, conheçam as

tendências, mas dominem o básico e trabalhem com afinco em criar

relacionamentos salutares. Lembre-se que são poucos os excelentes

professores universitários que também são excelentes empresários. Meu

sonho na graduação era assistir uma aula do Silvio Santos, mas ele

estava ocupado demais ganhando dinheiro, que não tinha tempo para

difundir modismos a uma meia dúzia de graduandos.

Mas, seria correto concluir que a inteligência social trata-se de

mais um modismo corporativo? Não. Diferentemente dos modismos,

que confundem as pessoas sem lhes dar condições de melhorar

efetivamente suas vidas, a Inteligência Social pode produzir uma

melhora significativa na qualidade de vida do sujeito. Mas esta

conclusão é óbvia. O problema surge quando tentamos aplicar as

definições apresentadas até então sobre o assunto. Por quê?

Uma antiga “nova” ciência

Tudo começou na década de 20 do século passado, quando o

psicólogo da Columbia Universty, Edward Thorndike propôs que a

‘eficiência interpessoal era de vital importância para o sucesso em

muitas áreas’, sobretudo para a liderança. Quando criou o teste de QI

mais utilizado no mundo, David Wechsler, na década de 1950,

desprezou o conceito de inteligência social de Thorndike como sendo

apenas uma inteligência geral aplicada a situações sociais. Um modismo

neutralizando o outro. Outra evidência está no fato de que Daniel

Goleman, o consagrado autor de Inteligência Emocional, reacendeu o

assunto criado por Thorndike na década de 1920, e com base na

neurociência, destacou os efeitos imediatos que uma interação social

pode ter nos envolvidos. Ele fez isso, não com o objetivo de criar uma

nova disciplina, mas para reafirmar sua teoria sobre Inteligência

Emocional, em oposição à ideia de Inteligência de Wechsler, uma vez

que Howard Gardner, na década de 1980, apresentou seu modelo de

Múltiplas Inteligências, onde a teoria de Goleman se embasa por

Symon Hill

53

combinar os efeitos das inteligências intra e interpessoais. Logo, se

Goleman se embasasse em Wechsler, teria que admitir a eficácia de seu

teste de QI nos tempos atuais, o que contraria a teoria de Howard

Gardner e desbancaria sua Inteligência Emocional.

Entretanto, a proposta de Thorndike e as abordagens de

Howard Gardner e Daniel Goleman, se baseiam no mesmo princípio-

ativo, a comunicação interpessoal, uma necessidade básica do ser

humano, que é por natureza, um ser social. Analisando por este prisma,

a inteligência social seria o novo nome para o problema antigo da

comunicação interpessoal. A deficiência na comunicação humana leva à

dificuldade relacional. Como o assunto comunicação é demasiado

amplo, têm levado muitos à confundir comunicação com oratória,

tecnologia da informação, marketing e outros campos, o que dificulta

ainda mais o entendimento sobre comunicação interpessoal e sua

aplicação para melhorar os relacionamentos nos negócios, pois

abordagens ortodoxas que fracionam o assunto em diversas fatias não

são suficientes para esclarecer o assunto, por excluir a fatia principal, a

humana.

Outro pensador que se empenhou em apresentar uma

metodologia para aplicar a inteligência social, foi Karl Albrecht, autor

do livro Inteligência Social A Nova Ciência do Sucesso, onde aplica a

teoria das múltiplas inteligências à interação humana. Diferentemente

de Goleman, que abordou o assunto do ponto de vista dos estímulos à

neurociência a partir das interações sociais, Albrecht dá um tom

corporativo ao assunto, mesmo admitindo que sua visão venha do senso

comum (Albrecht, 2006). Outro famoso autor que trata do tema é Tony

Buzan, que mostra a versão autoajuda da Inteligência Social.

A definição de Albrecht, de que a inteligência social é “a

habilidade de se relacionar com as outras pessoas e conseguir que elas

cooperem com você”, parece colocar os relacionamentos e interações

sociais como aquilo que se usa para conseguir algo dos outros, como se

o ser humano fosse apenas um meio para um fim. Em alguns casos, isso

também acontece o que não deveria ser o objetivo principal de cada

interação social. Não é preciso necessitar de algo para só então ocupar-

me de interagir bem com os outros. Isso é o oposto do comportamento

socialmente inteligente. É como age o interesseiro: procura quando

Agindo como Trouxa

54

precisa, rejeita quando sua condição anterior melhora. Convencer os

outros a apoia-lo em determinada situação, não é ser socialmente

inteligente, e sim, persuasivo. A indiscutível visão empresarial de

Albrecht – com tabelas, gráficos, siglas e acrônimos – tem obviamente

uma ampla aceitação, embora em alguns momentos o texto pareça

demasiado simples. Ele entregou o que vendeu.

Goleman, no entanto, parece apresentar o tema como uma

forma de expressão de sua teoria sobre a inteligência emocional, como

se fosse uma continuação de seu primeiro best seller. Deste modo,

pode-se entender que a inteligência social, na visão dele, é uma

ferramenta para a aplicação da inteligência emocional, visto que esta

visa o fortalecimento interior e, o leitor comum muitas vezes não

consegue reconhecer no texto exatamente o que precisa ser feito para

ser mais inteligente em sentido emocional. Assim, uma vez que o

sujeito se fortaleceu interiormente, precisaria aprender a expressar esta

força interna (se é que podemos chamar assim) nas interações sociais

(Goleman, 2006). Se compararmos as duas abordagens, nota-se que são

em muito similares, apresentando suas diferenças apenas no que tange

ao público a que cada obra se destina. Albrecht escreveu para negócios,

como que numa forma de atualizar o profissional atuante que até admite

a importância das relações humanas, mas prefere ler sobre finanças,

enquanto Goleman escreveu para profissionais da área comportamental.

Ora, se é assim, o que um especialista em comunicação e

neurolinguística, estudante de psicologia “à moda do Patropi”, tem a

dizer sobre inteligência social?

Uma disciplina aplicável

O ponto é que a inteligência social só pode ser aplicada por

comunicadores competentes. Os modelos de Albrecht e Goleman são

excelentes ao que se propõem, mas falta apresentar a seus públicos o

arquétipo do que é uma pessoa que não tem uma inteligência social

desenvolvida e aplicada. Esta é a lacuna que meu trabalho preenche.

Todas as manhãs, você se olha no espelho com o objetivo de ajustar

alguns pontos de sua aparência para que não se apresente perante os

Symon Hill

55

outros com uma aparência desajeitada, roupa amassada ou com cabelo

desarrumado. Estes ajustes são fundamentais para que o indivíduo ‘não

passe vergonha’ na frente de outros. De maneira similar, ao ler este

livro é como se o seu comportamento fosse colocado diante de um

espelho, em que o leitor poderá comparar suas atitudes com o descrito,

tendo a oportunidade de fazer os ajustes necessários em sua maneira de

se comportar para ‘não passar vergonha’ nas interações sociais. Nisso,

este livro difere dos demais, pois todo mundo conhece um trouxa.

Mas, nem todos sabem como são percebidos pelos outros, pode

ser que nos seu circulo íntimo, você seja visto como trouxa. E um

número ainda menor de pessoas sabe como reverter isso. No entanto,

parar de agir como trouxa não pode ser uma ação motivada apenas pelo

desejo de agradar os outros. Daí a importância da busca pela

autenticidade. Primeiro consigo mesmo, depois com os outros. Desta

forma, o item básico para que tudo isso seja alcançado, é uma

habilidade de comunicação ímpar. A inteligência social da maneira

como está apresentada, parece ser mais um tipo de inteligência. Por isso

não falo de “inteligência social”, mas de Inteligência Social Aplicada –

uma disciplina (não uma ciência) desenvolvida por mim nos últimos

cinco anos com base no desenvolvimento das habilidades práticas de

comunicação interpessoal. Portanto, como definição, a Inteligência

Social Aplicada é a disciplina que estuda o melhor modo de se

posicionar em diversos ambientes sociais visando construir e manter

relacionamentos interpessoais salutares.

Deste modo, que o leitor não pense que esta obra tratará o

assunto da Inteligência Social pelas lentes dos psicólogos e autores

outrora citados. Meu desafio neste livro é lhe mostrar como aplicar a

inteligência social a partir da melhora pessoal da habilidade de

comunicação – principal ferramenta da Inteligência Social Aplicada –

visto que a comunicação é a essência da vida em sociedade e a partir

dela deixamos claro o modo como nos posicionamos diante das

situações. Um comunicador competente, sempre tem à disposição uma

ampla gama de comportamentos para reagir em diversas situações

sociais. E mais importante ainda: conseguem escolher o comportamento

apropriado para cada situação por avaliar o contexto, levar em

Agindo como Trouxa

56

consideração seus objetivos e o que sabem sobre a outra pessoa. Estas

habilidades são fundamentais para não agir como trouxa.

E qual é o real valor da inteligência neste caso? Nesta

disciplina, não há uma supervalorização da inteligência em si, mas do

potencial social de cada indivíduo. Por exemplo, Gardner em sua teoria

das múltiplas inteligências ajuda o sujeito a identificar seu potencial

nesta ou naquela área. Goleman sugeriu que através da inteligência

podemos controlar as emoções e interferir nas emoções dos outros.

Neste ponto, vale dizer que a inteligência nos ajuda apenas a controlar a

vontade e priorizar o melhor modo de agir diante de cada situação, pois,

mesmo sendo potencialmente inteligente em sentido corporal, não

significa que sou um bom dançarino. É preciso desenvolver tal talento.

Treinar esta inteligência.

O que determina se vou me empenhar ou não nas aulas de

dança? A inteligência de estabelecer as prioridades certas para que o

talento potencial se desenvolva. Sem uma decisão, uma escolha – o

potencial ficará inerte. Da mesma forma, no caso da inteligência

emocional, a inteligência tem apenas o papel de me ajudar a identificar

e controlar as emoções, não significa que serei mais empático ou

emotivo. Apenas me dá a consciência de minhas emoções, o que é bom,

mas insuficiente, pois ser consciente é diferente de agir de acordo com

esta consciência. Isso significa que a inteligência em si é menos

importante.

Para a inteligência social, a ‘inteligência’ serve apenas para

ajuda-lo a escolher o melhor comportamento diante de uma determinada

situação. Ela é importante, mas não é tudo. A parte ‘aplicada’ da

inteligência social é o grande segredo. Assim sendo, a ‘inteligência’ é a

capacidade de fazer distinções e definir o comportamento mais

adequado. A parte ‘social’ refere-se ao ato de conviver, relacionar-se de

maneira efetiva, deixando o isolamento. O conceito de ‘aplicada’

envolve saber posicionar-se adequadamente em qualquer situação social

em que se estiver.

Assim, o tema universal de toda esta obra, é que o modo como

você se posiciona em cada ambiente define a qualidade de seus

relacionamentos naquele ambiente. Um líder que tem uma comunicação

deficiente se posiciona como um líder autoritário ou incompetente, pela

Symon Hill

57

pura falta de habilidade em se relacionar com seus liderados.

Integrantes de equipes em que a comunicação não é incentivada veem

seus esforços vetoriais se anularem dia após dia. Colaboradores que não

se posicionam corretamente diante da vida, serão desmotivados e

queixosos. E vendedores que se posicionam como coitados, terão que

arrumar um emprego novo a cada seis meses. O modo como você se

posiciona define a qualidade de seus relacionamentos. Portanto, como

melhorar sua comunicação interpessoal para se posicionar de maneira

adequada? Como desenvolver a autenticidade?

Agindo como Trouxa

58

4.

Autenticidade

Uma meta a ser alcançada

(principalmente, pelos que agem como trouxas)

Sempre existiu pirataria no mundo. Atualmente ela é mais

evidente porque a informação é muito mais acessível graças a própria

pirataria. Que ninguém seja ingênuo (trouxa) a ponto de pensar que

todos os internautas de hoje usam softwares originais em seus

equipamentos. Como a tecnologia fica concentrada nas mãos de alguns,

é obvio que o mundo não para por isso. As pessoas se ‘ajeitam’ como

estratégia de sobrevivência. Não defendo a pirataria, mas reconheço que

atualmente, digitalizou, vazou. No começo do século passado, por

exemplo, um autor com vinte livros publicados seria uma sumidade,

uma verdadeira celebridade do mundo editorial. Hoje, é algo comum.

Basta se ter uma boa linha de raciocínio, um projeto adequado e

disciplina para escrever. A publicação pode ser feita através de sites

com plataformas de envio e edição de arquivos que encaminham o

arquivo original para gráficas rápidas que produzem o livro sob

demanda. E por isso o livro deixou de ser autêntico? Não. Apenas mais

acessível aos escritores e leitores comuns. Diferentemente de whiskies

escoceses e charutos cubanos, os livros não são cercados de glamour

midiático, nem fiscalizados com rigor alfandegário. Talvez seja por isso

que cada vez menos brasileiros os procuram. O conhecimento é um

artigo tão desvalorizado que, mesmo inautêntico as pessoas não o

adquirem. Entretanto, este tipo de descaso com o saber e o total apego à

pirataria em nada se compara ao pior tipo de contrabando: a pirataria de

personalidade. O ser humano que é único e que por isso mesmo deveria

sentir-se valiosíssimo, simplesmente por existir como ímpar, insiste em

tornar-se uma cópia. Faz questão de piratear sua própria identidade. De

todas as formas de pirataria, a pirataria de personalidade tem se

mostrado a mais grave.

Symon Hill

59

O que aconteceria se você fizesse várias cópias de sua carteira

de identidade, a partir de outras cópias, ou seja, usasse uma cópia para

tirar uma nova Xerox e desta cópia tirasse outra e mais outra? Com

certeza, a cópia de número vinte seria de qualidade inferior à do

documento original. Seria natural uma perda de resolução das

informações de seu documento. Imagine agora, por exemplo, que por

um infortúnio você se perdesse em um lugar totalmente desconhecido,

onde, também, ninguém o conhecesse. Para piorar, você se vê em meio

a uma cena de crime e está sendo confundido com o criminoso. Sua

palavra, contatos e habilidades não contam. A única forma de

comprovar quem você é realmente seria através da apresentação de um

documento de identificação com foto para comprovar sua identidade

perante os órgãos legais que, exigiriam uma identificação original. No

entanto, ao levar a mão no bolso, percebe estar portando a cópia número

“20” de sua identidade. A única maneira de provar quem você é está

desbotada, mal definida e inferior ao que é. Você sabe que aquele não é

você, mas não consegue provar para os demais, dentro dos padrões

deles, quem você é.

Muitas pessoas estão vivendo perante os outros como se

fossem a cópia número 20 de um documento vinte vezes copiado. Estão

distantes do que pensam ser e se fossem questionados não conseguiriam

mostrar para as pessoas que são exatamente o contrário do que

aparentam. Muitos dos que agem como trouxa, não tem sequer noção de

que assim o fazem. Neste estágio já aceitam viver uma personalidade

desbotada, mal definida e muito inferior ao que tencionavam ser. Isso é

o que significa perder a autenticidade.

Façamos uma comparação entre duas personagens, o Homer

Simpson e o Marinheiro Popeye. Talvez nenhuma personagem dos

desenhos animados conseguiu traduzir tão bem o comportamento

inconveniente como Homer. Ele traduz bem o sentido de alguém que

age como os três tipos de trouxa de forma combinada. Por outro lado,

poucos são tão autênticos como o Popeye que, de tão autentico assumia

sua identidade, pouco importando se zelar pelos princípios morais,

salvar as mulheres e crianças e combater os trouxas seria visto e

classificado como excêntrico pelos padrões convencionais. “Sou como

sou e é isso o que sou” era o lema do marinheiro. O que isso nos

Agindo como Trouxa

60

mostra? Que só podemos ser autênticos com os outros em nossas

relações sociais se o formos, em primeiro plano, com nós mesmos. Não

pode existir autenticidade em um indivíduo que vive e convive de forma

enganosa, como Homer. O problema do mundo é que existem mais

Homers do que Popeyes no mundo de hoje.

Embora tenha abordado isso na introdução, talvez apenas

agora, depois de ter lido sobre os métodos e benefícios de se aplicar a

inteligência social para desenvolver suas habilidades de comunicação e

melhorar seus resultados como líder, colaborador, membro de equipe e

até em vendas, o leitor esteja preparado para entender um pouco mais

sobre como trazer o senso de autenticidade para sua vida, caso ainda

não tenha esta percepção apurada sobre sua personalidade. Ser

autêntico, tanto consigo mesmo quanto com os outros, significa buscar

pessoalmente a verdade presente nas coisas. Só a autenticidade pode

encurtar a distância entre o que se fala e o que se faz. Muitos pensam

ser autênticos apenas porque seguem sua intuição. No entanto, a

intuição é de pouca ou nenhuma valia se a usarmos para confirmar o

que queremos ver. Mesmo que para alguns, a autenticidade seja a cereja

do bolo, algo que possa ser interessante se existir, mas irrelevante, a

vejo como a meta a ser alcançada por qualquer um que se comporte

como trouxa com muita frequência, ou de vez em quando, isto é, todos

nós. Creio que acrescentar este capítulo que, em combinação com

outros especificamente , farão de qualquer um, um ser consciente de sua

capacidade de mudar a si mesmo para melhor. Noto que em muitos

casos, o que falta para as pessoas é saber o que buscar. No caso

daqueles que agem como trouxa, muitos engasgam quando solicitados a

responder o que é ‘autenticidade’. Faça o teste. Escolha uma pessoa de

seu convívio (sei que você está pensando nela desde que começou a ler

o livro!) e pergunte a ela: “Fulano, você sabe dizer o que significa

autenticidade?”. Se ele não engasgar para responder, mas continuar

agindo como trouxa há grande chance de ele ser hipócrita, além de

trouxa.

Mas, e você? Seria capaz de descrever como age uma pessoa

autêntica? Como se traduz a autenticidade nos comportamentos? Como

saber se você tem sido verdadeiro consigo mesmo? Há alguns traços de

personalidade comuns em indivíduos que são verdadeiros com eles

Symon Hill

61

mesmos. Encontrei cinco princípios das pessoas autênticas. Talvez você

encontre outros. Assim, falarei um pouco sobre eles a partir de agora.

Como meu objetivo aqui é provocar um pensamento autêntico e não

entregar a regra pronta, ‘passarei a bola’ para o leitor, caso este queira

se aprofundar em cada um destes atributos. Há outras obras e autores

clássicos que já se lançaram nestes temas e como disse certa vez Arthur

Schopenhauer, o pensar por si é muito melhor que ler o pensamento dos

outros. Espero que considerar estes princípios o ajudem a pensar a

autenticidade por si, desenvolvendo ainda mais uma personalidade

original.

O primeiro princípio é a integridade. Se pudesse apresentar

uma definição autêntica para ser íntegro nas relações sociais, seria

‘levar a sério o que diz’. Isso vai muito além de viver o que ensina. Está

no âmago do ser, pois, vincula o comportamento à palavra dita. Muitos

desconhecem o poder da linguagem em suas próprias vidas. Por

exemplo, toda vez que você diz que vai arrumar o guarda-roupa seu

cérebro cria um registro, como se fosse uma marcação no calendário.

No entanto, quando você não leva a serio que disse e esquece ou por

negligência mesmo, não faz, este registro não se apaga

involuntariamente. Depois de uma semana, você diz de novo. Mais uma

anotação. E não faz novamente. Depois fala de novo. Com o tempo, seu

cérebro vai acumulando tanta informação inútil que você não sabe por

que anda cansado. A resposta se deve ao fato de que você deixou de ser

autêntico com você mesmo. Disse a si mesmo que faria uma coisa e não

cumpriu. Aí dorme e não descansa, perde a paciência com os filhos, fica

sem tesão. Tudo porque não foi autêntico consigo mesmo.

Fazendo uma analogia com um computador, a cada novo

comando que você dá ao seu cérebro através da palavra falada, ele cria

uma unidade de atenção – um arquivo. Quem já fez curso de digitação

sabe que, a cada erro digitado e corrigido com a tecla “Delete” ou “Ctrl

+Z”, cria-se no Disco Rígido um arquivo de erro, também conhecido

como arquivo de lixo. Depois de muitos erros de comando corrigidos, o

HD do computador fica sobrecarregado, cheio. Como resultado, o

desempenho fica lento. Antigamente se dizia que “dava pau” na

máquina.

Agindo como Trouxa

62

O cérebro, composto por dois hemisférios (esquerdo e direito,

consciente e inconsciente, respectivamente) é com um HD. Só que um

HD mental. Quando a mente consciente diz uma coisa, o cérebro cria

um arquivo e, quando você não executa o que havia dito, este arquivo

vira um ‘arquivo de lixo’ no seu HD mental. O ser humano, assim como

o computador, também ‘dá pau’. Só que no computador, isso pode ser

resolvido com uma limpeza ou uma formatação. No cérebro humano, só

cumprindo o combinado (limpeza) ou fazendo terapia (formatação).

Com o tempo, é natural que acabemos falando uma coisa e fazendo

outra. Tanto é natural que pessoas íntegras são raridades. O sujeito que

cumpre o que fala, que está atento a prazos e compromissos

(financeiros, afetivos, familiares). O resultado da integridade, além de

uma vida recompensadora é a tranquilidade que minha avó dizia

encontrar no travesseiro.

Uma das formas de desenvolver a integridade é por apegar-se à

verdade, tendo noção clara de se apegar ao que é certo. Nisso o

pensamento relativista pode atrapalhar. Deixe-o um pouco de lado e

admita que exista uma verdade sim, mesmo que dentro de um contexto

em especial. Há certas coisas que não são questões de ponto de vista.

Mentir ou faltar com a palavra quebra o vínculo social que temos com

os demais. Mesmo que você tenha estabelecido rapport, ele não

permanecerá se faltar com a verdade. Se prometer, cumpra. Se disser

que irá voltar para academia, volte. Persista. Se marcar com um cliente

e surgir um contratempo, avise. O que mata as relações humanas é a

falta de integridade no trato com os outros. O que pirateia a

personalidade é mentir para si mesmo. Os benefícios de ser integro

consigo mesmo e com os outros são imediatos e duradouros.

Experimente.

O segundo princípio da autenticidade é o respeito próprio.

Significa ter a medida do próprio valor e considerar isso ao tomar

decisões. É um princípio que está muito acima de um marketing pessoal

sofisticado. Veja, por exemplo, como as pessoas não entendem a

exortação de “amar ao próximo como a ti mesmo”. Ela é condicional.

Se não me amo, não tenho referência, para amar o outro. O mesmo se

dá com o auto-respeito. Se não me respeito não tenho referência para

respeitar o outro. Desrespeitamo-nos quando abusamos de nossos

Symon Hill

63

talentos, de nosso corpo, de nossa mente, quando não nos controlamos

ou adotamos deliberadamente condutas que com certeza e consciência

próprias, nos prejudicarão.

Fruto de uma auto imagem distorcida, a falta de respeito

próprio acarreta na distorção do valor da humanidade em geral, fazendo

com que a pessoa se desvalorize e como consequência, desrespeite os

demais. A insegurança e desvalia de muitos, os faz ver os outros em

perspectiva inferior, o que é ilógico, visto que como sociedade,

desejamos prosperar. O objetivo comum da humanidade é melhorar de

condição. Ora, porque melhorar algo que não tem valo? Assim, cuidar

de si mesmo é a chave para cuidar dos outros. Infelizmente, a vida e o

modo das pessoas agirem não favorecem seus melhores interesses.

Muitos agem em prejuízo próprio por sentirem inconscientemente que

não tem valor. Por fim, esta incapacidade ou recusa em cuidar de si

mesmo, as faz magoar os demais. Como que em um ciclo, fazendo isso

magoam a si mesmos em resposta.

Diferentemente da auto-indlugência, ser respeitoso consigo

mesmo requer perseverança, fé no potencial humano de melhorar. Fazer

o que deseja pode ser em muitos casos, uma estratégia de autoengano

indulgente. Por exemplo, um fumante pode acreditar que, fumando, está

agindo de acordo com sua vontade, realizando um desejo por ser dono

de sua razão e emoção, mas na realidade está agindo contra seus

próprios interesses futuros, faltando com o respeito e enganando a si

próprio. Já o alcóolatra, diferentemente do fumante, admite que ‘bebe

para esquecer’. Neste caso há ingenuidade. Naquele, autoengano.

As doenças sociais, conflitos relacionais são na realidade falta

de auto respeito. Quando na intenção enganosa de buscar os próprios

interesses imediatos, a pessoa age contra seus interesses futuros, ela

procrastina, adia eternamente ações fundamentais. Desta forma, cuidar

dos interesses em longo prazo sem descuidar das necessidades

imediatas parece ser o melhor caminho para se desenvolver o respeito

próprio. O cuidado com a saúde física, mental e espiritual envolve

reconhecer que algo é prejudicial e esforçar-se em diminuir a prática de

tal atividade ou desejo o máximo possível, na mesma medida em que se

esforça em praticar coisas positivas. O importante é compreender que

Agindo como Trouxa

64

ser autêntico sem respeitar a si mesmo, é impossível e cuidar bem de si

é a chave para aprender a cuidar, zelar pelo outro.

O terceiro princípio da autenticidade é a ética. A capacidade de

conter seus interesses pessoais quando estes se chocam com o bem estar

coletivo. A noção de ética tem sido dissipada cada vez mais,

principalmente quando as pessoas misturam os sentidos do que é

público com o que é privado. Parece que o que é meu é só meu e o que

é dos outros é de todo mundo, logo, é meu também. Recentemente, abri

o portão de casa para tirar minha moto quando, minha vizinha, uma

senhora que cria três cachorrinhos, os levava para passear e fazer suas

necessidades. Até aí tudo bem. Mas neste dia, seu cachorrinho defecou

na minha calçada, bem onde eu passaria quando saísse. Quando falei

com ela e reivindiquei que aquilo era um abuso por parte dela, a

resposta foi clássica: “Do que você está reclamando? A rua é pública!”.

Sem perder a prudência, mas lembrando-me de Baltasar Gracián quando

vi a malícia nos olhos dela enquanto me respondia, contei até cinco e

disse: “Por isso mesmo. Se a rua fosse um espaço particular eu alugaria

meu espaço para que a senhora fizesse de latrina para o cachorro.

Justamente por ser um espaço público é que a senhora não pode fazer o

que está fazendo. A senhora está colocando o interesse pessoal (levar os

cachorros para defecar na rua, não dentro de seu próprio quintal) à

frente do bem estar coletivo”. Parece que ela entendeu, pois depois

deste ocorrido, não a vi mais na rua pela manhã a passear com seus

cachorros.

É obvio que a ética não se restringe a isso. Entretanto, a ética é

da arte da convivência. Logo, falar sobre ética é falar sobre a vida em

sociedade. É saber agir menos como Homer e mais como o Popeye.

Através da lente da ética é que vamos conseguir ler o contexto social

em que estamos inseridos para saber como agir, decidir e viver. Grandes

pensadores já trataram do tema e não pretendo me estender, porém, se

lembrarmos das definições de alguns deles sobre o que é ser ético

aprenderemos muito sobre este princípio. Confúcio acreditava que ser

ético envolvia trabalhar com responsabilidade, desenvolver suas

habilidades e ser cuidadoso e educado com os demais cultivando a

paciência e a perseverança. Aristóteles, filósofo grego que viveu em 300

a. C, dizia que a ética era ser possuidor de virtudes morais e agir com

Symon Hill

65

base na razão. Jesus de Nazaré deixou a mensagem de que o amor ao

próximo era superior a qualquer vantagem pessoal e as pessoas

deveriam se guiar por este valor. Kant, por outro lado acreditava que a

ética só existia quando uma pessoa não usa a outra como ferramenta ou

meio para alcançar seus próprios interesses. Resumindo de maneira bem

tosca, para Confúcio, ser ético era ser e fazer o seu melhor. Para

Aristóteles era viver virtuosamente pela razão. Para Jesus era amar o

próximo e colocar seus interesses à frente dos seus. Para Kant, respeitar

a individualidade do outro.

A questão ética se manifesta em ações quando fazemos o que

precisa ser feito, mesmo que para isso, seja preciso renunciar a si

mesmo, o que fazemos quando nos convém. É por isso que ceder na

opinião e preferências pessoais não é ser antiético consigo mesmo, mas

autêntico por saber que se está fazendo o que deve ser feito. Neste

sentido, pode-se dizer que a ética é irmã gêmea da integridade. Agir de

acordo com a ética, envolve reconhecer que há alguém superior a nós,

ou seja, não somos imunes a repreensão. Vivemos em meio a outras

pessoas e se quisermos fazer parte deste ou daquele grupo, teremos que

nos sujeitar ao código de ética dele. Assim, ser ético envolve também

ser humilde, o oposto de uma pessoa orgulhosa e arrogante. Quem tem

prepotência dificilmente entende o conceito de ética como arte da

convivência, pois tenderá a agir com base na sua ética, defendendo que

este tema é um conceito subjetivo, de ponto de vista, quando não o é.

Quem quer que deseje ser aceito por um determinado grupo, precisa

respeitar a ética vigente dentro de determinado contexto.

Com este pensamento em foco, veja, por exemplo, o que a raiz

grega da palavra ética quer dizer. Para os gregos, que, diga-se de

passagem, foram os inventores do termo e do conceito de ética, ethos,

se referia ao que era de costume, ao caráter, ao conjunto de padrões que

definiam a forma como a pessoa era vista e tratada pelos demais: se

com ou sem credibilidade. Se digno de confiança, ou não. Deste modo,

a ética, ou o que é de costume num namoro, é diferente do que é de

costume na relação com os pais. A ética das relações maritais é

diferente dos relacionamentos profissionais. É pelo código de ética

diferente em cada grupo, que a mesma conduta tida como normal no

namoro, é incestuosa na família. É graças à ética distinta entre o

Agindo como Trouxa

66

casamento e o trabalho, que o sexo no casamento é natural e esperado,

enquanto no trabalho é adultério, assédio moral, atentado ao pudor. Não

compreender os diferentes códigos éticos de cada ambiente, faz com

que a pessoa os misture. É por isso que, quando uma pessoa age como

trouxa no trabalho e é repreendida por seu supervisor ela pensa, ou

então, se vira e diz: “Nem minha mãe (pai) fala comigo desse jeito!”

Mas ela esquece que o supervisor não é seu pai, não é sua mãe. As

responsabilidades impostas aos pais pela ética do relacionamento entre

pai e filho, não se aplicam ao relacionamento patrão-empregado. O

mesmo acontece com a relação professor-aluno, na relação conjugal, na

vizinhança e em todos os locais onde pessoas distintas em sua cultura e

costumes convivem. Entender a ‘ética’ de cada ambiente é essencial

para saber se comportar nele. Lembre-se o modo como você se

posiciona em um determinado ambiente, determina a qualidade de seus

relacionamentos naquele ambiente.

Portanto, quando a ética é vista como um princípio a ser

seguido, ela é obedecida, enquanto que na perspectiva de regra, ela é

respeitada por submissão, não por vontade própria. Quem consegue

perceber as questões éticas como princípios e, além disso, consegue

harmonizar o que deseja fazer com aquilo que precisa e deve ser feito,

este indivíduo consegue atingir o patamar ético da autenticidade.

O quarto princípio da personalidade autêntica é a prudência, a

capacidade de reconhecer o momento de parar, para definir com clareza

a hora de avançar. Uma pessoa socialmente inteligente age com

perspicácia por analisar uma situação além do que é óbvio, com o

objetivo de definir uma ação, tomar uma decisão. Considerar as coisas

com cuidado e ponderar sobre elas é a arte de ser prudente. Assim, uma

pessoa prudente não é precipitada em suas avaliações e julgamentos,

tanto em relações à pessoas quanto a informações. Raramente uma

pessoa prudente assume compromissos que tem dúvidas de que poderá

cumprir ou fala coisas das quais não tem certeza. Uma pessoa prudente

não baseia sua linguagem em inferências, ou seja, não fala com base e

suposições feitas a partir de meras opiniões pessoais ou comentários

feitos por outra pessoa. Como se diz popularmente, “não engravida pelo

ouvido”. Sabe que sua linguagem e suas formas de expressão revelam o

Symon Hill

67

seu interior e, portanto, certificam-se de que estão corretas e que suas

proposições e argumentos são baseados em fatos, eventos concretos e

não em boatos. Há, na prudência, uma predisposição para a verificação

prévia antes da tomada de decisões, o que inclui até as mínimas

decisões, como por exemplo, tecer um comentário sobre um parente no

almoço de domingo. Por isso a prudência, tanto na presença quanto na

falta, precede o conflito.

Pense por exemplo, na personagem de Ian Flemming, o agente

britânico James Bond. Como espião, ele precisa mais do que qualquer

outro, estar atento ao que acontece, seja em um cassino, restaurante, iate

ou trem. Seus sentidos devem ser aguçados constantemente para

melhorar sua habilidade de perceber o que acontece. Somente quando

tem informações suficientes para concluir algo a respeito do criminoso

da vez e de quem são os envolvidos com ele, é que o agente decide

explodir tudo. Seu treinamento antecipado, o fez desenvolver uma

astúcia capaz de tornar justificável destruir metade da cidade para pegar

um bandido. A prudência do agente para avaliar a situação e decidir

como agir, justifica suas ações, sejam elas conflitantes ou pacíficas. Em

todos os filmes da série, ele não aparece como um arrependido

melancólico. Por quê? Porque suas ações raramente foram precipitadas,

mas fruto de séria reflexão de acordo com o treinamento outrora

recebido. A prudência para avaliar uma situação antes de entrar nela dá

autoconfiança para resolvê-la sem perda de tempo com aspectos

irrelevantes ou com retrabalho. Isso nos mostra que agir com prudência,

nos ajuda a identificar qual a melhor hora para resolver um conflito ou

quando o mais indicado é deixar para lá. Ser prudente tem a ver com

não se envolver em dissabores e complicações que poderiam ser

evitados com uma avaliação feita com critérios corretos. A postura de

James Bond nos mostra que até para ser ousado com segurança é

preciso ser prudente.

Ora, ao que se parece, a prudência não é uma qualidade que se

desenvolve da noite para dia, mas começa-se por controlar seus

impulsos de agir imediatamente, por questionar se está sendo guiado

por uma informação realmente confiável ou por uma opinião. Se for por

uma opinião, às vezes é preciso avaliar quem a está emitindo. Lembre-

se que muitos agem como trouxa por se impressionarem pela aparente

Agindo como Trouxa

68

autoridade, pelo viés da conveniência ou pelos outros significativos –

pessoas que levamos em grande consideração, mas que podem ter

opiniões equivocadas a respeito de muitos assuntos. Deixar-se guiar por

estas opiniões é arriscar o olho tentando enxergar o mundo pela

percepção do outro. Provavelmente você já percebeu que existem

pessoas que mudam de opinião de uma hora para outra, a cada contato

que fazem com determinadas pessoas. Não respeitam a própria opinião,

mas colocam muita fé na opinião do outro, que pode ser na realidade

uma inferência pura e simplesmente. Assim, a tão importante quanto

respeitar os outros é respeitar a si próprio, o que inclui as próprias

opiniões, seu critério, seus parâmetros de julgamento. A prudência o

ajudará a preservar sua integridade, manter o auto respeito, agir de

acordo com a ética e o melhor, evitar agir como trouxa.

Porém, seria imprudente de minha parte, não citar o pai da

matéria, o jesuíta espanhol Baltasar Gracián, autor do livro A Arte da

Prudência – Um Oráculo Manual, publicado originalmente em 1647.

Dos trezentos aforismos contidos na obra, escolhi um em particular para

descrever a autor e fazer um pequeno comentário. Espero que esta

transcrição sirva para convencê-lo da importância de aprender mais

sobre a prudência e de sua relação inversa com a trouxice. Trata-se do

aforismo de número 14, intitulado “Realidade e também modos”:

“Não basta a substância, é necessária também a

circunstância. O mau jeito estraga tudo, inclusive o que é justo

e razoável. Já a maneira correta repara tudo: abranda uma

negação, adoça a verdade e até faz a velhice parecer bonita. O

como das coisas é muito importante e um comportamento

correto conquista a afeição dos outros. O bel portarse é algo

precioso na vida. Fale e comporte-se bem e promoverá seu

sucesso”.

Ser prudente o ajudará a preservar sua autenticidade por ainda

outro modo: evitará que você escorregue em promessas que não poderá

cumprir. Napoleão Bonaparte disse certa vez que o melhor modo para

manter a sua palavra é não dá-la. Uma vez empenhada é sua obrigação

cumpri-la para não perder a integridade. Uma pessoa verdadeiramente

Symon Hill

69

autêntica, pensa, avalia e delibera antes de falar. Você já pensou nos

benefícios que a prudência pode trazer para sua imagem pessoal?

Assim, pergunte-se: tenho um modelo próprio de pensar e avaliar

objetivamente as informações que recebo? Sou analítico (não apenas

crítico ou cético) em relação às pessoas com quem me relaciono, aos

livros que leio, bem como outras formas que utilizo para adquirir

informações? Questiono a veracidade do que estou recebendo, ou

ingenuamente aceito tudo, de todos, como sendo verdadeiro? Aprender

a perceber objetivamente as coisas e ter referências internas adequadas

para avaliar as coisas percebidas de forma objetiva, é ponderar

prudentemente antes de agir. Quem não faz isso é tolo, sinônimo de

trouxa.

Por último, vale destacar que uma pessoa autêntica é guiada

pelo princípio da gratidão, a capacidade de reconhecer nossa pequenez e

necessidade da ajuda dos outros, que nos move a reconhecer

publicamente ou não, o gesto feito em nosso benefício. Se desejar uma

definição mais curta: ser capaz de reconhecer que precisa dos outros e

agradecer quando eles lhes prestam ajuda. Ser grato é reconhecer

abertamente sua relação com pessoas que lhe se generosas e caridosas o

que, ao mesmo tempo envolve sua relação com o transcendente. Há

certas coisas que acontecem em nossa vida que não sabemos explicar o

porquê. Mesmo aquilo que aparentemente é ruim, pode se mostrar

benéfico no futuro, assim como uma disciplina ou correção recebida. É

razoável concluir, então que ser grato envolve ter a humildade de

admitir que precisamos dos outros e que estas pessoas podem nos ajudar

ou não, o que não as torna menos dignas de nossa gratidão. Como

assim?

É comum encontrarmos pessoas que objetam contra a gratidão

por pensar que, pelo fato de terem ajudado outras pessoas e estas não

lhes terem sido gratas, estão desculpadas para agir de modo ingrato com

quem lhes ajuda. Desconsideram a lei do retorno. Quando somos

bondosos com alguém, não podemos exercer este ato de bondade

esperando que a pessoa retribua por este gesto. Isso é negociação, não

gratidão. A bondade exercida por alguém virá ou será retribuída de

outra forma, seja por ela ou por outra pessoa. Assim, quando ajudo o

João, pode ser que o João não me retribua, mas receberei auxílio do

Agindo como Trouxa

70

Pedro. Compreender o princípio da gratidão por estes termos fará com

que você seja gentil e bondoso com quem se relacionar independente da

reação deles. Isso significa que ser gentil com os outros é uma forma de

expressar sua gratidão pela vida.

A gratidão pode ser desenvolvida a partir de uma postura de

reconhecimento do que os outros fazem por nós, seguida de um

agradecimento sincero. Pense em uma criança que está sendo ensinada

pelos pais a pedir as coisas começando a frase com “por favor” e

agradecer sempre com um “obrigado”. De tanto que os pais insistirem,

chega um momento em que a criança esbraveja e diz, por favor, em tom

autoritário, e obrigado e com descaso. Estas cenas são a demonstração

mais clássica de uma falsa gratidão. Mas, no caso das crianças, elas não

sabem o porquê devem ser gratas. É como se não entendessem os

motivos para serem educadas, respeitosas e agradecidas pelo que os

outros fazem. Nisso, o termo utilizado na legislação brasileira para

referir-se a uma criança abandonada em padrões legais, diz muito sobre

a condição humana nesta fase. Chama-se a criança de ‘incapaz’, visto

que lhe falta habilidades, capacidade de manter-se viva sozinha, por

suas próprias forças. Um gato, após seu nascimento já tem tudo o que

precisa para viver como gato. Um peixe já nasce sabendo nadar. Com os

humanos isso não acontece. Precisamos aprender a ser humanos. Somos

incapazes de nos alimentar, nos lavar e cuidar de nós mesmos nos

primeiros anos de nossa vida. Da mesma forma, mesmo depois de

adultos continuamos sendo incapazes, em outras áreas. Embora muitos

se sintam autossuficientes, prova de que pensam e agem como trouxas,

na realidade dependem dos outros para conseguir viver uma vida

emocionalmente saudável. Muitas pessoas passam a vida toda sem se

dar conta desta incapacidade, que começa com o simples

reconhecimento de que precisamos dos outros. Que a gratidão é

importante como elemento de realimentação do processo parece ser

desnecessário frisar. Quem não agradece ao dador de um presente

quando este sai, fecha a porta pela qual o portador da dádiva entrou.

*****

Symon Hill

71

A autenticidade é uma meta a ser alcançada por todos aqueles que se

comportam como trouxas. Poder ser verdadeiro consigo e com os outros

é o desejo reprimido por muitos sob o autoengano das vantagens

convenientes de agir como aquilo que as pessoas esperam. Mais do que

agir com autenticidade com os outros é preciso ser autêntico consigo

mesmo, o que espero ter ficado claro e distinto da abordagem

autoindulgente de satisfazer todos os seus desejos. Isso não é ser

autêntico e sim, mimado. A veracidade de suas ações representará sua

busca pessoal e implacável pela verdade. “Quem é você?” será uma

pergunta respondida com muito mais segurança se você souber que a

distância entre o que você mostra para os outros e o que você realmente

é for curta. Ser autêntico é o mesmo que construir uma ponte sobre um

abismo criado pelo ego, que na maioria das vezes o orienta para ações

invejosas, vergonhosas, inseguras, arrogantes, mesquinhas, bobas –

fazendo-o agir como trouxa.

Quem descuida de sua busca pela autenticidade pessoal, pagará

o preço de deixar de agir como trouxa, para incorporar a trouxidão

como característica da personalidade. É assim que uma personalidade

pode ser pirateada. De tanto se acostumar a agir como trouxa, a pessoa

passa a ser ingênua ao extremo, além de presunçosa e iludida, vivendo

um eterno faz de conta. Quem nunca ouviu uma pessoa comentar sobre

outra: “Fulano é legal né? Mas, parece que não vê que está indo para o

buraco”. Ou então: “Cicrano tinha tudo para ir para frente. Como é que

pode cometer tanta cag*d@, uma atrás da outra?”. E a pior de todas:

“Beltrano podia estar aqui com a gente, mas insiste em viver como um

sonhador...”. Longe de ser apenas o ‘comentário do povo’, o que não

tem nenhum peso quando o sujeito-alvo tem consciência de suas

fraquezas, visto que o comportamento trouxa é muitas vezes guiado

pelo inconsciente. Quando uma pessoa age como trouxa de forma

consciente ela está agindo de forma hipócrita ao invés de trouxa, mas

ainda assim inautêntica para com o interlocutor, porém autêntica para

consigo mesma em sua hipocrisia.

O problema com os comentários depreciativos se dá, quando a

própria pessoa tem estes pensamentos sobre si mesmo, mas não sabe

como ou não quer voltar atrás, mais uma vez por sentimentos egoístas

Agindo como Trouxa

72

como inveja, arrogância, ódio, orgulho, medo. Nestes casos, o sujeito

está em plena fase de mutação, indo de replicador para gerador de

trouxice. Deixa de agir como para ser como. Vai incorporando por

osmose o comportamento dos outros, similar a uma mudança genética.

Marca sua estrutura de tal forma, que seus descendentes correm o risco

de nascerem com uma propensão a ser trouxas, como a família de Marty

McFly, em De volta para o Futuro. Como isso acontece?

Aos poucos o sujeito incorpora em sua personalidade o hábito

de simplificar as coisas minimizando seus efeitos, querendo acreditar

em tudo sem verificar o que ouve. Cada nova oportunidade de negócio é

vista como uma ‘chance de mudar de vida’. Também passa a ser

presunçoso, sempre crendo que é capaz de lidar com as consequências

de uma ação tomada por impulso sem sentir nenhum remorso. Esquece-

se de que tudo muda inclusive nós mesmos. Assim, confia nas pessoas

erradas porque elas simplesmente mostraram o que possuem de melhor,

assim como nós mesmos tendemos a esconder nossas falhas. Deixam-se

levar pelas aparências e pagam caro, em sentido emocional, físico e

financeiro. Como consequência natural de suas falhas, desenvolvem um

nível de preguiça extremo, fazendo o mínimo o possível apenas para

‘cumprir tabela’.

Quando na presença dos outros, estão sempre com pressa,

como se estivessem indo para um compromisso urgente que nunca tem

fim. Sempre que encontramos um trouxa ou cruzamos com um dos que

tiveram sua personalidade pirateada, ele está correndo. Nunca tem

tempo para ouvir. Nem aos especialistas. Consultas com terapeutas?

“Não tenho tempo. Isso é para loucos”, dizem. Em casos mais graves,

percebe-se até mesmo um tom de arrogância na fala, que reflete como a

pessoa está por dentro. Desconhece que a arrogância é a principal fonte

de energia da ingenuidade. Julgam-se ambiciosos, mas na realidade, são

movidos pela ganância ou pela conduta desmedida, o que os faz passar

por cima dos outros, seja no trabalho ou na família, praticando com

compulsão determinadas coisas.

A solução para vencer isso é a mesma para evitar sua

manifestação: prevenção. É mais difícil mudar um hábito do que evitar

seu surgimento. Você pode fazer isso por admitir ter agido como trouxa

algumas vezes. Tome escolhas mais acertadas por buscar orientação de

Symon Hill

73

pessoas mais experientes. Isso pode exigir humildade. No entanto, a

busca pela autenticidade, através da disposição de seguir os princípios

da integridade, do auto respeito, da ética, da prudência e da gratidão,

parece ser o primeiro dos passos. Sem ter a consciência da importância

de ser autêntico, porque uma pessoa quereria comunicar-se bem? Como

ser socialmente inteligente, se não é capaz de respeitar a si mesmo e aos

outros? Como ser um bom líder sem liderar a si mesmo? Como motivar-

se se não consegue ser honesto com você mesmo? De que modo

seremos bons companheiros de equipes se formos inautênticos? Como

venderemos nosso trabalho se não formos capazes de agir com

autenticidade em nossas relações comerciais, para buscar os melhores

resultados para os envolvidos? Sem admitir que é imprescindível ser

autêntico é impossível parar de agir como trouxa.

Entretanto, diferentemente de outros livros, que apresentam

lições prontas para solução de problemas inacabados, neste livro,

concentrei-me apenas em definir o problema e destacar como lidar com

ele, enquanto faz as mudanças necessárias para eliminá-lo. Estou certo

de que ao ler estas páginas você se identificou em alguns momentos e

vinculou outras passagens a pessoas que você conhece. Mas, como

palavra de cautela, evite olhar para este livro como sendo aplicável aos

outros. Veja se em sua vida, está conseguido ser autentico com você

mesmo e com os outros. Se não está, o que está faltando para sê-lo? O

que o impede de mudar? Deixar-se levar pelo mau caminho sob a

orientação do ego é se autoenganar e esta, como vimos é a pior forma

de agir como trouxa. Sabe porque? Porque leva às outras duas. Não seja

ingênuo, nem idiota. Não se engane, mude. Comece hoje mesmo a ser

autêntico. Isso desencadeará o desenvolvimento de todo o conteúdo

apreendido.

Desejo de coração que o sol ilumine o seu caminho e o vento

toque suavemente o seu rosto e até que nos encontremos de novo, que

Deus o proteja nas palmas de suas mãos.

Com respeito e fé em seu potencial,

Symon Hill.

Agindo como Trouxa

74

Bibliografia

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mudanca-de-sexo. Acesso em 18 de dezembro de 2013, 13h18.

Symon Hill

81

Cursos sobre Inteligência Social com Symon Hill (Você pode baixar o escopo com o conteúdo dos cursos em pdf

no site www.symonhill.com.br)

O CURSO SYMON HILL DE

RELAÇÕES INTERPESSOAIS NO TRABALHO - 30h.

Conheça o Poder da Inteligência Social Aplicada

PÚBLICO-ALVO: Homens e mulheres maiores de 16 anos que

enxergam a importância de manter a boa convivência para viver e

trabalhar melhor e desejam usar sua habilidade de relacionamento e

liderança para formar equipes fortes e vencedoras. Líderes e

supervisores que desejem aumentar seu poder de comunicação para

criar relacionamentos saudáveis, gerenciar conflitos e conquistar as

pessoas a pensarem do seu modo. Todos na indústria, comércio e

serviços.

PANORAMA: A falta de comprometimento e sinergia para a

construção de uma carreira consistente e duradoura tem levado muitos a

apresentar um trabalho de baixa qualidade e de durabilidade duvidosa.

Por outro lado, a falta de preparo e de motivação contribui para a perda

da boa convivência na realização pessoal e na produtividade

empresarial destacando a necessidade da resiliência, da assertividade e

do perdão nas relações humanas em diversos setores da empresa.

Este treinamento visa destacar a importância do trabalho em equipe nas

organizações e reforçar a necessidade da boa liderança, da estratégia, da

comunicação e do profissionalismo. Sensibiliza e desperta os

participantes para a necessidade do comprometimento e do foco nos

resultados da empresa e no trabalho colaborativo visando alcançar os

objetivos da organização.

EMENTA DO CURSO: Neste curso com o Palestrante Symon Hill, os

participantes serão exortados quanto a necessidade de evitar os

Agindo como Trouxa

82

problemas de relacionamento e os conflitos pessoais no ambiente de

trabalho. Ao longo de 30 horas serão ensinadas, explicadas e

comprovadas habilidades interpessoais que garantem resultados

significativos no trabalho. O curso apresenta cinco áreas em que as

relações interpessoais tem impacto direto:

1. RELACIONAMENTO INTERPESSOAL: Por que é tão difícil se

entender com os outros; Qual é o problema com seus colegas de

trabalho; Como desenvolver a assertividade; Aprenda a dar feedback

em vez de criticar e reclamar; Como a fofoca pode corromper seu

departamento; Cinco dicas para o sucesso nos relacionamentos;

Aprenda a perdoar (a si mesmo e aos outros); Melhore sua comunicação

para se relacionar melhor.

2. COMO LIDAR E REDUZIR OS CONFLITOS: Por que surgem os

conflitos; Quando devemos evitar os conflitos; A importância de seguir

a missão da empresa; Como lidar com o comportamento tóxico;

Minimizar os conflitos é um dever de todos; Por que mandar embora,

nem sempre é a solução; Definição do estilo próprio para lidar com

conflitos.

3. MOTIVAÇÃO NO TRABALHO: Por que algumas pessoas não

gostam de si mesmas; Bloqueios emocionais relacionados ao trabalho;

Como lidar com o estresse; Como evitar a falta de comprometimento no

trabalho; Quais as principais causas de desmotivação; O que todos

querem, mas não estão dispostos a buscar; Como encontrar satisfação

no trabalho.

4. COMUNICAÇÃO: A ARTE DA BOA CONVIVÊNCIA: Comunicar

com excelência é diferente de falar; Como o cérebro se comunica; Os

hemisférios cerebrais e a comunicação interpessoal; Linguagem

corporal: a chave para conquistar pessoas através da comunicação;

Tipos de Linguagem verbal e não verbal; Solicitação gera poder:

aprendendo a pedir; A ciência da Influência e a arte de criar

relacionamentos; Neurofisiologia e o movimento dos olhos: técnicas de

Symon Hill

83

comunicação; Estabelecendo mirror e rapport para entrar em sintonia

com seu interlocutor.

5. O TRABALHO EM EQUIPE: O que define a verdadeira grandeza de

uma equipe; Os cinco princípios das equipes de alta performance; A

importância da liderança produtiva no desempenho da equipe; Como

definir uma estratégia vencedora; Qual o papel da comunicação em uma

equipe; Como falar de forma assertiva; Como lidar com o assédio moral

dentro da equipe; Comprometimento e foco: uma questão de atitude

pessoal; O conceito de sinergia aplicado às equipes.

*****

O CURSO SYMON HILL DE

DESENVOLVIMENTO DE LIDERES - 30h.

Inteligência Social Aplicada à Liderança

PÚBLICO-ALVO: Empresários, gestores e potenciais empreendedores

que pretendem criar empresas, ampliar ou melhorar o desempenho de

seus negócios. Líderes religiosos e todos que assumem posições de

liderança em diversos círculos que precisam alcançar seus objetivos

com excelência através das pessoas. Estudantes de nível superior na

área de negócios, gestão e administração de empresas.

PANORAMA-JUSTIFICATIVA: Muitas pessoas, inclusive com

formação superior e com grande bagagem profissional não sabem como

se relacionar bem com seus pares e superiores. Muitos que ocupam

posições de liderança também desconhecem a importância das

habilidades de comunicação e relacionamento interpessoal para o bom

exercício de sua liderança e para a retenção de talentos.

Os avanços educacionais e culturais têm preparado pessoas desde cedo,

o que leva às empresas profissionais jovens, porém, capazes de exercer

funções de liderança. Este fenômeno tem causado conflitos de gerações

no local de trabalho e induzido excelentes profissionais à procurarem

Agindo como Trouxa

84

novas oportunidades no mercado, causando alto índice de turn over nas

empresas. Cabe ao líder harmonizar o ambiente profissional, reduzir

conflitos e liderar sua equipe com foco na excelência das ações

cotidianas.

OBJETIVO DO CURSO: Fortalecer os princípios fundamentais da

liderança para a gestão eficaz das pessoas alinhando as atitudes pessoais

com as metas e objetivos da empresa, reduzindo conflitos interpessoais,

retendo talentos e melhorando o clima organizacional mediante a ação

efetiva dos líderes no dia a dia da empresa.

EMENTA: Ao longo de 30 horas distribuídas em encontros semanais,

os participantes aprenderão como se comunicar melhor para influenciar

pessoas, como resolver problemas de relacionamento e melhorar a

excelência das ações através de uma visão holística da empresa. Os

quatro eixos temáticos ocorrem simultaneamente, o que possibilita uma

aplicação prática e imediata do conteúdo apresentado nas aulas. Os

eixos temáticos são:

1. COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL: Serão abordados de forma

prática competências como assertividade, empatia, auto apresentação e

feedback. Este eixo destaca as habilidades do líder para influenciar

pessoas e conquistar as pessoas a pensarem do seu modo com ética e

naturalidade.

2. RELAÇÕES INTERPESSOAIS: Neste módulo, os líderes

aprenderão a lidar com conflitos; coordenar equipes e melhorar o clima

organizacional. Aqui serão destacados os principais erros que muitos

líderes cometem que prejudicam sua liderança e comprometem o bom

funcionamento da empresa.

3. VISÃO SISTÊMICA: Entender e aplicar a pro-atividade; saber

reconhecer e diferenciar a aplicação de conceitos como eficácia,

eficiência e efetividade – e seu impacto na organização; compreender a

diferença entre as gerações que estão no mercado e entender o que é

gestão de pessoas no século 21.

Symon Hill

85

4. LÍDER COACH: O que é coaching; Como se tornar um líder coach;

a liderança com base em valores e princípio morais e éticos; conduzindo

pessoas para o sucesso individual e coletivo; estratégias linguísticas

para motivação de equipes.

*****

O CURSO SYMON HILL

DE INTELIGÊNCIA SOCIAL APLICADA - 30h.

Aprenda a Aplicar a Inteligência Social para gerar resultados

PÚBLICO-ALVO: Homens e mulheres maiores de 16 anos que estejam

interessados em desenvolver suas habilidades sociais para melhorar sua

capacidade de conviver e extrair mais de seus relacionamentos na

família, na empresa e demais círculos sociais.

PANORAMA-JUSTIFICATIVA: há uma tendência em nossos dias

para o isolamento social. Mesmo com tanto avanço tecnológico

disponível a nós, as pessoas estão cada vez mais isoladas do contato

físico, social. Aos poucos, estão perdendo a habilidade de se comunicar

ao vivo, de interagir na presença de outros seres humanos.

É notável que as pessoas estão enfrentando problemas relacionais por

desconhecer o papel dos outros na sua vida bem como o seu próprio

papel diante da vida. Como reaprender a arte da convivência para

desenvolver e usufruir relacionamentos interpessoais satisfatórios?

OBJETIVO DO CURSO: A inteligência social aplicada visa ajuda-lo a

ser mais ativo nos relacionamentos e não apenas um telespectador da

própria vida. A pessoa socialmente inteligente é aquela que consegue

ser autêntica enquanto se relaciona com os demais. Autenticidade tem

suas raízes na integridade no auto respeito, na ética, na prudência e na

gratidão. O objetivo deste curso é ajudar os participantes a serem e

agirem cada vez mais de forma autêntica nos tratos com os demais.

Agindo como Trouxa

86

EMENTA: Ao longo de 30 horas distribuídas em 10 aulas de 3 horas

cada, os participantes aprenderão como se comunicar melhor para

influenciar pessoas, como resolver problemas de relacionamento e

melhorar a excelência das ações através de uma visão holística das

situações sociais, ao passo que aprendem a observar situações em que a

inteligência social pode fazer a diferença.

1. INTRODUÇÃO À INTELIGENCIA SOCIAL APLICADA: a

inteligência social aplicada desde 1920 até o presente; principais nomes

do tema e estudos publicados; uma nova disciplina com base na

aplicação da inteligência social como ferramenta de reposicionamento

social.

2. COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL: Serão abordados de forma

prática competências como assertividade, empatia, auto apresentação,

persuasão, linguagem da certificação e feedback. Este eixo destaca as

habilidades comunicativas necessárias para conquistar as pessoas a

pensarem do seu modo com ética e naturalidade.

3. OUVIR COM PERSPICÁCIA: a importância da escuta ativa para

construção de relacionamentos salutares; como ouvir com os ouvidos;

ouvindo com o cérebro; ouvindo com o coração (empatia); ouvindo com

os olhos. A importância de fazer perguntas eficazes; o ato de ouvir com

perspicácia – discernimento e potencial perceptivo.

4. ASSERTIVIDADE: Como pensar e se comportar de forma assertiva;

A importância de entender os próprios sentimentos; como identificar

seus direitos; como falar com objetividade e clareza; Desenvolvendo

autoconfiança.

5. A LINGUAGEM DA PERSUASÃO: A importância de pedir o que

se quer; como se tornar um expert em pedir e conseguir – tornando-se

irresistivelmente persuasivo; como vencer a barreira da linguagem

vazia, ambígua ou o mau hábito de falar por meio de indiretas; A

Symon Hill

87

relação entre autoestima e solicitação; Como criar e transparecer

credibilidade.

6. CERTIFICAÇÃO DA MENSAGEM: A importância de verificar se a

mensagem foi bem entendida; como a mente trabalha a favor do

esquecimento de mensagens novas; Repetição e memorização;

memorizando nomes e fisionomias; A arte de evitar desentendimentos.

7. A ARTECIÊNCIA DO FEEDBACK: Dando e recebendo mais de

seus relacionamentos importantes; a comunicação franca e respeitosa;

ouvir para falar e falar para ouvir; a técnica para dar feedback; o que é

importante ter em mente ao dar feedback. Diferença entre feedback,

reclamação e crítica.

8. INTELIGÊNCIA SOCIAL APLICADA À EMPRESA: Liderança

Socialmente Inteligente: O papel da inteligência social na figura do líder

como coach da equipe, estrategista e defensor da cultura empresarial; A

Inteligência Social Aplicada na Equipe: Redução de Conflitos e

Geração de Sinergia; Inteligência Social em Vendas: Poder de Venda –

Fidelização.

IMPORTANTE: Nossas negociações ocorrem de empresa para

empresa. O valor do investimento dá direito a dois participantes por

empresa. Os cursos com Symon Hill acontecem com turmas de no

máximo vinte pessoas. As inscrições podem ser feitas pelo telefone (35)

3713-7499 ou enviando um e-mail para [email protected],

solicitando o Formulário de Inscrição para o curso desejado, formulário

este que também pode ser baixado em www.symonhill.com.br e depois

de preenchido encaminhado a nosso escritório.

Agindo como Trouxa

88