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     AVM FACULDADE INTEGRADA 

    LEONARDO MICHEL ROCHA STOPPA

    AGENDA SETTING NO SETOR ENERGÉTICO BRASILEIRO:

    A OPINIÃO PÚBLICA GUIADA CONTRA SEUS PRÓPRIOS INTERESSES

    Brasília

    Junho de 2015 

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     AVM FACULDADE INTEGRADA

    TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 

    LEONARDO MICHEL ROCHA STOPPA

    AGENDA SETTING NO SETOR ENERGÉTICO BRASILEIRO:

    A OPINIÃO PÚBLICA GUIADA CONTRA SEUS PRÓPRIOS INTERESSES

    Leonardo Michel Rocha Stoppa

    Trabalho apresentado à Faculdade AVM

    Faculdade Integrada, como requisito

    parcial para a obtenção do Grau de

    Especialista em Jornalismo Político. 

    Orientador: Prof. Cássia Maria de Jesus Silva

    Brasília

    Junho de 2015 

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    TERMO DE COMPROMISSO

    O aluno Leonardo Michel Rocha Stoppa, abaixo assinado, do curso de Jornalismo

    Político da Faculdade AVM, declara que o conteúdo do Trabalho de Conclusão de

    Curso intitulado AGENDA SETTING NO SETOR ENERGÉTICO BRASILEIRO:

     A OPINIÃO PÚBLICA GUIADA CONTRA SEUS PRÓPRIOS INTERESSES, é

    autêntico, original e de sua autoria exclusiva.

    Brasília, 9 de Junho de 2015

    Leonardo Michel Rocha Stoppa

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    Dedicatória

     A Jenniffer Lamounier, pelo seu apoio e incentivo e socorro nas tempestades.

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    AGRADECIMENTOS

     Ao casal Suby e Sinnen pelo grande apoio.

     Aos amigos Ricardo e Andressa,

    sem os quais este sonho jamais teria se tornado realidade.

     A minha tia Socorro, por ter elogiado meu texto quando eu era criança.

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    RESUMO

     A geração de eletricidade tem sido durante anos tema de polêmicas e discordânciaspor grande parte da população, e a mídia tem cumprido um papel decisivo namobilização de massas em protestos públicos que na maioria das vezes acabam portrabalhar contra o interesse econômico social dos próprios participantes.Empenhados em manter o Brasil distante da industrialização, os EUA desde operíodo do Governo Militar tem adotado medidas de boicote da planta energéticabrasileira, agindo desde a tentativa de desapropriação da Amazônia, restrição aouso da tecnologia nuclear, e por fim, incentivando, por meio do patrocínio de ONGse veículos de imprensa, a não utilização do potencial hídrico disponível no Brasil. Apesar de atos soberanos terem sido tomados a favor do social durante o governomilitar, a queda desse governo e a eventual constituição de 1988 vitimou apopulação com leis que acabam por inverter os valores entre pessoal e coletivo, e,com uma imprensa dotada de poderes inesgotáveis, uma sequencia de irrealidadessão aos poucos publicadas fazendo com que a população coloque seu ponto devista numa direção contrária aos próprios interesses. Com a abertura do mercado deenergia elétrica durante o governo do PSDB, a planta de geração passa a crescerem número de geradoras movidas a derivados de petróleo e carvão, mais poluentese de produção mais cara. Foi criada a ANEEL, com intuito de regular o sistemaelétrico brasileiro, e, com a finalidade de efetuar o despacho da energia, foi criado oONS – operador nacional do sistema. Embora dotados de regulamento interno que

    visa atender o consumidor com o melhor preço o possível, os órgãos do governotêm seus regimentos mantidos como conhecimentos distantes da população, o queacaba por gerar um mito popular que converge na ideia que é do executivo adecisão direta sobre o aumento da conta de eletricidade, ignorando com isso ascaracterísticas mercadológicas do produto energia elétrica. Seria a mídia/imprensaos responsáveis pelo esclarecimento da população, tanto das diferentesmodalidades de geração, quanto dos mecanismos que alteram o preço daeletricidade, porém, seja pela proteção dos interesses de uma minoria, seja pelamaior aceitação pública do sensacionalismo, os comunicadores preferem repetirmitos preestabelecidos, confundindo ainda mais a realidade e eventualmenteinstaurando o caos popular.

    Palavras Chave: Mídia, imprensa, neoliberalismo, crise energética

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    ABSTRACT

    Electricity generation has for years been the subject of controversies anddisagreements by much of the population, and the media has played a decisive rolein mobilizing masses in public protests that most often end up working against thesocial and economic interest of the participants themselves. Committed to keepBrazil away from industrialization, the US, since the period of Brazilian’s militarygovernment has adopted measures to boycott Brazilian’s energy plant, acting from

    the attempt to expropriation of the Amazon region, restrictions on the use of nucleartechnology, and finally, encouraging people, for through the sponsorship of NGOsand media outlets, in not using the hydraulic potential available in Brazil. Althoughacts have been taken in favour of the social interest during the military government,the fall of that government and the constitution of 1988 disfavours the people withlaws that end up reversing the values of personal and collective, giving the pressunspeakable powers, resulting in a creation of myths that where gradually publishedcausing the population put their point of view in a direction against its own interests.With the opening of the electricity market during the government of PSDB, a Brazilianliberal party, the generation plant started to grow in number generators fuelled by oiland coal produces, which leads to a dirtier and more expensive production. The

    agency ANEEL was created as the main regulatory body, and in order to make thedispatch of energy, the ONS – the national operator system was created. Althoughendowed with internal regulation to meet the consumer at the best price possible,government agencies have their regiments kept as distant knowledge for population,which ultimately generates a popular myth that converges on the idea that theexecutive has the direct decision on increasing the electricity bill, ignoring thereby thecharacteristics of the electricity as market product. The media/press should be thoseresponsible for clarification of this issue, explaining the public about the differenttypes of generation, as well, the mechanisms that alter the price of electricity,however, for the protection of the interests of a minority or even because the largestpublic acceptance of sensationalism, journalists, actors and neo-communicators 

    prefer to repeat the pre-established myths, even more, confusing reality andeventually driving the society into a popular chaos.

    Key words: Media, press, neoliberalism, and energy crisis.

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    SUMÁRIO

    1.INTRODUÇÃO ..................................................................................................... .10

    2. REVISÃO BILBIOGRÁFICA

    2.1. CAPÍTULO 1: UM BREVE HISTÓRICO2.1.1. A eletricidade como energia elétrica.......................................................13

    2.1.2.o petróleo e sua influência nos mercados de energia............................13

    2.1.3. A guerra do YomKipur e a primeira crise econômica do petróleo.......14

    2.1.4 - Crises de 1979 e 1991..............................................................................14

    2.2. CAPÍTULO 2: TRAJETORIA NO BRASIL

    2.2.1. Matriz energética brasileira .....................................................................15

    2.2.2. EUA e as primeiras tentativas de imporrestrição ao uso da energia nuclear..................................................................15

    2.2.3. Os boicotes do potencial hídrico.............................................................16

    2.2.4. A crise do apagão e a abertura do mercado elétrico.............................17

    2.2.5. 2013 A nova ameaça de racionamento.................................................. .19

    2.2.6. A tentativa de anulação do pacto Brasil-Alemanha...............................20

    2.3. CAPÍTULO 3: ATUALIDADE

    2.3.1. O preço da eletricidade............................................................................22

    2.3.2. A geração elétrica.................................................................................... .24

    2.3.3. A manipulação dos mercados................................................................ .27

    2.4. CAPÍTULO 4: MÍDIA E ENERGIA

    2.4.1. Mídia, imprensa e energia elétrica...........................................................31

    2.4.2. Introduzindo ‘Nudge Theory’.................................................................. .31

    2.4.3. Mídia e usinas hidrelétricas – Sensacionalismo e incoerências......... .32

    2.4.4. A usina hidrelétrica de belo monte..........................................................32

    2.4.5. Movimento Gota D’água.......................................................................... .342.4.6. A usina nuclear angra 3............................................................................35

    2.4.7. O aumento da ‘conta de luz’.....................................................................37

    2.4.8.O posicionamento do Jornalismo oficial................................................ .37

    2.4.9.A comunicação espetaculosa.................................................................. .39

    3. CONCLUSÃO........................................................................................................41

    4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................43

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    LISTA DE ILUSTRAÇÕES

    FIGURAS

    1 Dificuldade de acesso aos dados no site do ONS..........................................  .....23 2 Exemplos de divulgações do assunto

    ‘aumento da energia’ na rede social Facebook..........................................  .....30 3 Exemplo de notícia sensacionalista................................................................  .....32 4 Criança nativa como capa da página do Movimento Gota D’água.................  .....35 5 Exemplo de notícia sobre o tema energia nuclear..........................................  .....37 6 Exemplos de notícias tendenciosas

    sobre o tema ‘aumento da conta de luz’.....................................................  .....38 7 Exemplo de notícia informativa

    sobre o tema ‘aumento da conta de luz’.........................................................38 8 Personagem ‘Dilma Ducheff’...........................................................................  .....39 9 Extrato do jornal Jogo do Poder......................................................................  .....40 10 Exemplo de notícias tendenciosas em blogs de jornalistas............................  .....40 

    GRÁFICOS

    1 Crescimento do consumo de eletricidadefrente ao crescimento do PIB...................................................................... .....28

    2 Expectativa de demanda para o Japão............................................................ .....28

    TABELAS

    1 Diversidade de gerações da planta eletro energética brasileira.....................  .....25 2 Custos ambientais das geradoras num horizonte de 30 anos........................  .....27 3 Brasil. Estimativa de consumo na rede (GWh)...............................................  .....29 4 Divergências de informações

    dadas por artistas sobre a usina de Belo Monte.........................................  .....33 

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    1. INTRODUÇÃO

    Este trabalho demonstra como a grande mídia, incluindo jornalistas artistas e demais

    formadores de opinião, têm influenciado a opinião pública no sentido de se

    posicionar de forma oposta aos próprios interesses no que tange ao apoio ou

    manifestos contrários aos meios utilizados na geração de energia elétrica.

    Primeiramente, será explicado o mecanismo de preço da energia elétrica. Será

    apresentado na sequência, um breve histórico do sistema energético brasileiro,

    demonstrando como várias medidas internacionais têm sido tomadas no sentido de

    evitar de diversas formas, tanto o crescimento da planta nuclear, como o uso do

    abundante potencial hídrico presente na região amazônica. Sobre o período relativoao Governo Militar, serão mencionadas as intervenções e medidas que, conforme

    Eduardo Cruz (2009),se não tivessem sido repudiadas e rejeitadas pelo Itamaraty,

    teriam colocado o Brasil em desvantajosas condições tecnológicas. Em

    continuidade, será apresentado como a queda daquele governo e a eventual

    promulgação da constituição em 1988, pouco a pouco modificou o posicionamento

    da imprensa e dos governantes, levando o Brasil a episódios de atos políticos

    altamente contrários aos interesses públicos, como em 2004, com a tentativa porparte de Marina Silva, do cancelamento do acordo nuclear entre Brasil e Alemanha.

    Na sequência, com intuito de orientação teórica e também da desmitificação sobre a

    decisão do Presidente sobre os aumentos do preço da eletricidade, será

    apresentado, de forma compatível com o conhecimento técnico dos profissionais de

    comunicação, o funcionamento do despacho econômico com mérito de custo, que

    em cumprimento aos regulamentos do Órgão Regulador do Sistema - ONS, buscadespachar a energia de forma mais economicamente viável para a população. Serão

    apresentadas as mais expressivas opções de produção de eletricidade, a começar

    pelas hidrelétricas e termonucleares, que apesar de oferecer energia a menor custo

    e menor impacto ambiental, tem sido as mais atacadas pela mídia e pelos protestos

    populares, e, na sequência, as gerações que fazem uso de combustíveis não

    renováveis como petróleo e carvão, assim como seus respectivos graus de impacto

    ambiental, índices de emissão de gases estufa e comparativos dos seus preços de

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    produção de energia. Na parte final deste segundo capítulo, a eletricidade será

    tratada como produto de mercado e será feito um contraste dos valores de geração,

    assim como as expectativas do crescimento da demanda por energia. Serão

    demonstrados por fim, os dados econômicos que, como indicadores de mercado,

    explicam a motivação financeira para a manipulação pública no que tange ao

    posicionamento desfavorável à produção de eletricidade com uso de fontes de baixo

    custo.

    No terceiro capítulo, será feita uma análise qualitativa do posicionamento atual de

     jornalistas, artistas e formadores de opinião, assim como espaço e atenção dados

    ao tema pelos principais veículos de imprensa, desde TV aberta a canais de mídiaeletrônica. Será avaliado através da análise do recente episódio vivido pelo projeto

    Usina Belo Monte, qual o grau de esclarecimento que tem sido dado à população no

    que tange às reais possibilidades disponíveis para a geração de eletricidade.

    Procurar-se-á demonstrar que parte das notícias são redigidas dando grande

    atenção ao conteúdo ideológico, ignorando todo o caráter técnico e omitindo

    principalmente o esclarecimento quanto aos discrepantes resultados no preço final

    da conta de energia, que, se mencionados, certamente resultariam em reaçãototalmente diferente da população. Por fim, será feita uma análise de como a mídia

    tem esclarecido a população quanto aos motivos desta última elevação nos preços

    da eletricidade. Será contrastado o teor de notícias que divulgaram as reais

    informações técnicas, com o teor de notícias que, abordando o mesmo assunto, se

    limitam a divulgar a autorização das novas tarifas por parte do executivo.

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    RENÚNCIA DO AUTOR

    Este trabalho não pretende tomar partido a favor desta ou daquela modalidade de

    geração, exaurindo-se principalmente da formação de juízo quanto a assuntos

    polêmicos como a exploração da energia nuclear. O argumento central visa expor

    vício e falta de transparência nas divulgações das notícias e os pormenores técnicos

    ligados ao tema que objetivam com isso manipular a opinião pública. Como

    exemplos, temos a geração nuclear que é divulgada como um risco de acidentes,

    omitindo-se sempre a sua característica econômica por ser uma fonte de energia

    barata. A geração hidrelétrica que, apesar de ser uma fonte de energia renovável e

    de baixíssimo custo, figura nos noticiários apenas como elemento causador de

    impactos ambientais e sociais. O contraponto deste argumento são as fontes de

    energia elétrica movidas a derivados de petróleo, que, embora de alto custo

    econômico e forte impacto ambiental, sequer fazem parte da pauta dos noticiários.

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    2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

    2.1 – CAPÍTULO 1: UM BREVE HISTÓRICO

    2.1.1 A eletricidade como energia elétrica

    O assunto eletricidade tem sido amplamente explorado nas mídias e nos

    argumentos políticos, que as vezes, por desmembrar a palavra energia do termo

    energia elétrica, tendem ignorar sua principal característica, que é a capacidade de

    realizar trabalho. Quando avaliada sob esta ótica: mais uma fonte de energia, a

    eletricidade passa a ser um produto que têm como bens concorrentes todas as

    demais formas de energia disponíveis, ficando claro que as modificações de

    demanda e oferta em todos os bens complementares e substitutos alterarão seu

    preço(PAIVA; CUNHA, 2008). Historicamente, têm se vivido uma sucessivamudança nas ofertas e nas políticas que governam as disponibilidades das fontes de

    energia, assim como fortes mudanças e tendências sociais que acabam por

    influenciar em sua demanda. Torna-se então, indispensável a todo comunicador,

    uma compreensão histórica da situação energética, tanto brasileira quanto mundial,

    possibilitando o início do entendimento da energia elétrica como um produto de

    mercado, evitando abordar os assuntos eletricidade ou preço da eletricidade como

    problemas políticos sociais desconexos da auto-regulação mercadológica.

    2.1.2 – O petróleo e sua influencia nos mercados de energia.

     A principal fonte de energia em exploração na atualidade é o petróleo, e é atribuído

    principalmente a ele as mais importantes flutuações nos preços de todas as demais

    fontes de energia (PEREIRA, 2008). Uma baixa na oferta de petróleo incentiva os

    mercados buscarem suprir suas necessidades nas outras fontes, como por exemplo,

    a eletricidade termelétrica a carvão, ocasionando uma elevação em cadeia dospreços. O petróleo é também fonte de energia na produção de eletricidade em

    muitas termelétricas, ocasião onde a influência é direta. Embora já amplamente

    utilizado, existe há anos uma forte pressão por parte dos controladores do petróleo

    no sentido de construir cada vez mais indústrias térmicas, para isso, trabalhando no

    sentido de evitar a construção das usinas hidrelétricas e termonucleares. Na

    sequência é apresentado um resumo dos principais eventos históricos mundiais

    envolvendo o petróleo como produto, gerando eventual aumento do seu preço.

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    2.1.3 - A guerra do YomKipur e a primeira crise econômica do petróleo.

    Em retaliação ao apoio dos países do eixo econômico ocidental, em especial os

    EUA, durante a guerra contra Israel, os países árabes decretam embargo de

    fornecimento do petróleo, ocasionando um aumento imediato de 70% no preço do

    barril. (PEREIRA, 2008). Além do aumento do preço, a sociedade sofreu

    concomitante racionamento de energia, como pontuam Droz e Rowlwey, citados em

    Pereira (2008, p.58)

    “os europeus estupefatos vêm as autoestradas holandesas

    pejadas de bicicleta durante o fim-de-semana. Por toda a parte

    se tomam medidas de interdição de circulação, de limitação de

    velocidade e de racionamento de combustível. As autoridades

    britânicas chegam a obrigar as suas empresas a trabalhar

    apenas quatro dias por semana para economizar eletricidade.”

    Segundo Pereira (2008), a crise se estende até janeiro de 1974, quando o petróleo

     já galgava valor mercadológico de 4 vezes o anterior.

    2.1.4 - Crises de 1979 e 1991

     Até 1979, o estado iraniano era regido indiretamente pelos EUA, através do governo

    do Xâ Reza Pahlevi, estabelecido de forma não democrática por influência da CIA.

    Em 1979, protestos populares derrubam o governo do Xâ e levam o Irã a um

    colapso administrativo, tirando do mercado aquele que era naquela época o

    segundo maior produtor de petróleo.(PEREIRA, 2008) Na sequência, eclodem as

    guerras Iraque-Irã (1980-1988) e a guerra do golfo pérsico (1991). Fica decididopelas nações unidas que seria decretado o embargo econômico ao Iraque: “todos os

    Estados devem adoptar medidas necessárias à interrupção das suas relações

    económicas e financeiras com o Iraque”(EURLEX, 1996). Como resultado da saída

    desses importantes produtores, o preço do petróleo sofre mais uma vez uma

    sucessão de aumentos. 

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    2.2 CAPÍTULO 2: TRAJETÓRIA NO BRASIL

    2.2.1 – Matriz energética brasileira

    Em dissertação de Mestrado intitulada ‘A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NO

    PERÍODO 1964-1979: O PAPEL DO ITAMARATY, DAS FORÇAS ARMADAS E DO

    MINISTÉRIO DA FAZENDA’, Eduardo Lucas de Vasconcelos Cruz demonstra como

    medidas foram tomadas no intuito de dificultar o crescimento da planta energética

    brasileira. Eventos como incentivo ao povoamento indígena em locais estratégicos,

    tentativa de proibição do desenvolvimento nuclear e tentativas de invasão da

     Amazônia foram frequentes, principalmente devido ao alto potencial hídrico da

    região. Conforme denuncia Cruz (2009), a queda do governo militar e a promulgação

    da constituição de 1988 criaram vastas áreas de preservação, sendo a maioria delasinibidoras do uso hídrico, o que aponta para a primeira efetiva manipulação sobre os

    interesses energéticos do país. Apesar do seu valor científico, a tese de Cruz

    apresenta-se como documento de densa leitura por possuir 530 páginas e tratar

    deste tema como um de seus muitos assuntos, sendo dificilmente utilizada como

    fonte de informações no momento de julgamento de mérito por parte de jornalistas e

    demais comunicadores. O que segue na sequência é um resumo dos principais

    eventos histórico-energéticos brasileiros relacionados pelo citado trabalho.

    2.2.2 - EUA e as primeiras tentativas de impor restrição ao uso da energianuclear.

     A tecnologia nuclear conciliada com a alta disponibilidade de urânio no solo

    brasileiro desperta a primeira preocupação dos EUA no que tange ao desequilíbrio

    da estabelecida divisão internacional do trabalho, conforme observa Vizentini, citado

    em Cruz (2009, p. 174)

    “E esse projeto tocava em área conflitiva. Assim, a oposição dos EUA ao

    acordo nuclear situava-se muita além da luta para não perder o monopólio

    da energia nuclear (...). Foi, na verdade, uma rejeição a uma tentativa de

    alterar a Divisão Internacional do Trabalho (...)” 

    Empenhados em impor ao Brasil a restrição ao uso das novas tecnologias, os países

    então denominados “potências nucleares” tentam de diversas formas coagir a

    diplomacia brasileira a assinar os tratados de não proliferação nuclear. Em repúdio,

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    o Itamaraty, através do embaixador José Sette Câmara assina em 1967 o Tratado

    de Tlatelolco, que, contrariando os interesses dos EUA, facultava ao Brasil a

    utilização da tecnologia:

    “o artigo 18 faculta aos Estados signatários realizar por seus próprios meios,

    ou em associação com terceiros, explosões nucleares para fins pacíficos,

    inclusive as que pressuponham artefatos similares aos empregados em

    armamentos militares” (Revista Brasileira de Política Internacional, n° 37-38,

    citado em CRUZ, p. 253)

    Sobre o posicionamento do Brasil frente as pressões, o Marechal Mário Poppe de

    Figueiredo Ressalta a importância do ato político na defesa da soberania, se fosse

    aceita a imposição internacional, o Brasil seria impedido do desenvolvimento e

    exploração dessa importante fonte de energia:

    “A nova mentalidade que se instalara no Brasil com a Revolução de 1964 –

    assim nos pareceu – repugnava essa renúncia formal à nuclearização, que

    assumia o aspecto de uma renúncia ao futuro, pois nem bem sabemos o

    que poderá significar para os povos da Terra a energia nuclear.”

    O ato posterior foi o hoje polêmico acordo de cooperação tecnológica entre Brasil e Alemanha, desenvolvido entre abril e junho de 1969. Naquele momento, os EUA

    tentaram de todas as formas revogar o pacto, que acabou sustentado pela reação

    enérgica do governo brasileiro:

    “O acordo também gerou a mais séria crise diplomática entre Washington e

    Berlim desde 1945. As maiores pressões abateram-se sobre a Alemanha e,

    quando esta mostrou-se propensa a reter os conhecimentos sensíveis,

    Geisel reagiu afirmando que qualquer modificação nas cláusulas do acordo

    levaria ao cancelamento completo do negócio” (CRUZ, 2009 p.173)

    2.2.3 – Os boicotes do potencial hídrico.

     A forma como o potencial hídrico brasileiro foi boicotado ao longo dos anos passou

    por despercebido aos olhos do povo e até mesmo de muitos governantes. Com o

    pretexto de apoio a comunidades nativas e preservação ambiental, várias áreas

    propícias à produção de energia elétrica foram povoadas por comunidades

    indígenas e declaradas como reservas naturais de preservação. Mais uma vez, o

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    interesse norte-americano se manifestava no sentido de evitar a industrialização

    brasileira, já que se tem na disponibilidade energética um dos mais importantes

    insumos para o crescimento industrial. 

    É de conhecimento público as várias tentativas norte-americanas de desanexar a

     Amazônia do território Brasileiro, obscuros porém são os reais motivos que justificam

    tal argumento. Para ganho de apoio popular neste tipo de causa, os EUA justificam a

    biodiversidade como sendo importante no desenvolvimento de medicamentos, assim

    como a importância da preservação ambiental daquela área, mas, quando

    analisados os documentos históricos do governo, as intenções convergem sempre

    no potencial energético disponível na região (CRUZ, 2009). Várias atividades de

    espionagem foram detectadas pela inteligência das forças armadas, protagonizadas

    muitas vezes por agentes disfarçados como ambientalistas, religiosos entre outros.

    “No mesmo mês, o general José Luiz Guedes, que havia sido Diretor do Serviço de

    Proteção ao Índio em 1957-1961, denunciou, ao depor numa CPI, que as missões

    religiosas norte-americanas presentes na Amazônia eram formadas por geólogos,

    físicos e químicos.” (CRUZ, 2009 p. 79). Vale ressaltar que os mesmos EUA que

    hoje financiam protestos populares pedindo a preservação da Amazônia, assim

    como respeito e preservação dos povos indígenas, propôs ao Brasil intervenção

    completamente contrária em 1967. A proposta americana daquela época consistia

    em alagar, para produção de energia elétrica, grande parte daquilo que hoje eles

    defendem ser área intocável de preservação ambiental:

    “(...) as suspeitas mais intensas surgiram por conta do Projeto Grandes

    Lagos, concebido pelo Hudson Institute  de Nova York e rejeitado pelo

    Brasil. A ideia consistia em inundar e represar seis imensas áreas para fins

    de aproveitamento hidrelétrico e interligação aquaviária. A maior delas

    ficaria no coração da Amazônia brasileira” (CRUZ, 2009 p. 79)

    2.2.4 - A crise do apagão e a abertura do mercado elétrico.

    O produto dos boicotes realizados contra o sistema elétrico brasileiro explicitou

    resultados entre 2001-2002 com a popularmente conhecida “crise do apagão”. A

    inibição do crescimento do números de usinas hidrelétricas, principalmente pelos

    motivos já mencionados, impossibilitou a capacidade do sistema acompanhar o

    crescimento da demanda, levando a rede à eminência de um possível colapso

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    quando o país viveu um prolongado período de secas. Governado por um partido

    neoliberal, o Brasil aproveitou o momento de crises não para alertar a população

    sobre a necessidade de novas hidrelétricas, mas para justificar o já iniciado

    processo de aberturado mercado de energia para a participação da iniciativa

    privada. O decreto 2003 de 10 de Setembro de 1996 continha os regulamentos que

    possibilitava investidores, tanto nacionais como internacionais, construírem usinas

    geradoras em solo brasileiro e ofertarem energia ao sistema elétrico nacional,

    conforme introduz o seu artigo primeiro: “A produção de energia elétrica, por

    produtor independente e por autoprodutor, depende de concessão ou autorização,

    que serão outorgadas na forma da legislação em vigor e deste Decreto.”

    (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA CASA CIVIL, 2015).O próximo passo

    aconteceu durante o período de crise, quando efetivamente iniciou a ampliação da

    planta de geração térmica:

    “Como forma de prevenção de novos problemas de geração de energia

    elétrica, o governo federal, em 21 de julho de 2001, iniciou um imenso

    programa de investimentos em uma rede de usinas termoelétricas, movidas

    a gás, carvão e óleo combustível que não dependem do ciclo das águas.

    Essa rede de usinas, segundo o governo, daria flexibilidade para o sistema

    e serviria de back-up  em épocas de secas, complementando o

    sistema.”(WIKIPÉDIA1, 2013)

    O posicionamento da mídia durante a crise do apagão foi muito mais esclarecedor

    que o dos dias de hoje, e a transparência percebida naquele evento dever-se-ia

    principalmente à inexistência dos interesses particulares em manipular a opinião

    pública contra o governo naquele momento. A falta de água nos reservatórios

    ameaçava o suprimento da demanda, porém, não haviam usinas térmicas

    suficientes para manter a segurança do sistema, restando como única alternativa,uma forte mobilização da mídia no sentido de incentivar a diminuição no consumo.

    Em termos sistêmicos, a crise não apenas justificava a abertura dos mercados,

    como fez as novas medidas passarem por incontestavelmente aprovadas pela

    imprensa e pela população.

     Após racionamento vivido no governo Fernando Henrique, o sistema elétrico

    brasileiro se reestruturou no sentido de evitar a necessidade dos desligamentos de

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    carga. Hoje, o sistema conta com várias geradoras alternativas, não confiando

    apenas nos reservatórios de água. Ao mesmo tempo que essa nova característica

    dá confiabilidade ao sistema evitando as ameaças dos “apagões”, ela coloca os

    preços sob governo dos mecanismos de mercado, o que leva a grandes aumentos

    em períodos de alta demanda ou de baixa disponibilidade hidro-energética.

    2.2.5 – 2013 A nova ameaça de racionamento.

    Em 2013, mais uma vez o assunto apagão retorna às pautas dos noticiários, mas

    desta vez, como um alerta chamando atenção a uma possível ocorrência de

    racionamento, dando novamente como motivo, os baixos níveis dos reservatórios

    das usinas. Obscuros porém são os fatos que levaram às relatadas baixas. Tancredie Abbud (2013) denunciam que o que sucedeu em 2013, quando o Brasil despachou

    ao máximo sua capacidade de geradoras térmicas, ainda permanece sem resposta.

    Em consultoria solicitada pelos órgãos governamentais, a empresa PSR aponta uma

    incongruência entre o estoque inicial e o consumo de energia naquele momento:

    “os reservatórios das hidrelétricas brasileiras iniciaram 2012 com um dos

    mais altos níveis de armazenamento dos últimos doze anos. Em janeiro do

    ano passado, o subsistema Sudeste/Centro-Oeste começou o ano com 76%

    de capacidade e subiu para 80% no mês seguinte. Ao longo do ano, as

    chuvas que caíram pelo país não foram tão parcas como se imagina.

    Considerando todo o Sistema Interligado Nacional, a energia natural

    afluente foi de 87% da média histórica. Por sua vez, a carga de energia

    (demanda) não cresceu a taxas elevadas devido ao fraco crescimento

    econômico nacional. Por que, então, os reservatórios esvaziaram tão

    rapidamente ao longo do ano, atingindo 28% no início de 2013?” (PSR,

    citado em TANCREDI E ABBUD, 2013, p. 7).

    No mesmo texto em que contestam os motivos, os autores chamam para reflexão

    sobre os resultados daquele elevado despacho de geradoras térmicas:

    “Essa operação, embora garanta o abastecimento, tem duas consequências

    indesejáveis: aumenta de forma considerável o preço da energia elétrica e

    faz crescer significativamente a taxa sistêmica de emissão de CO2”

    (TANCREDI E ABBUD, 2013, p. 7)

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    2.2.6–A tentativa de anulação do pacto Brasil-Alemanha.

    O acidente nuclear de Fukushima acontecido no Japão em 2011, trouxe para pauta

    a confiabilidade das plantas nucleares. Neste contexto, vários políticos ao redor do

    mundo intensificaram medidas no intuito de barrar a construção de novas usinas,

    chegando a pedir desativações de geradoras em alguns países. Contestável porém,

    são os argumentos utilizados, assim como as e circunstâncias do acidente em

    debate, quando trazidas à realidade brasileira. Amplamente dominada por muitos

    países, a tecnologia de fissão nuclear tem se demonstrado segura na atualidade

    servindo como a principal fonte de eletricidade do continente europeu. (OMORI,

    2014) Sobre o uso do acidente como argumento inibidor de novas plantas no Brasil,

    contesta-se as circunstâncias e a compatibilidade com a realidade sul-americana. OJapão encontra-se em uma região de forte risco tectônico, o que o coloca como um

    dos países mais suscetíveis a tremores de terra, (motivo causador do acidente de

    2011). O Brasil em extremo oposto, localiza-se sobre uma única placa tectônica, o

    que quase exclui a possibilidade de ocorrência de episódio semelhante ao vivido no

    Oriente. (MINAS GERAIS, 2005)

    Num momento posterior ao acidente, os movimentos políticos contra a exploraçãonuclear contaram com o apoio de representantes de vários países, entre aqueles, a

    então ministra do meio ambiente pelo Brasil e ex. candidata a presidente Marina

    Silva. A não ser pela intervenção da então ministra de minas e energias e hoje

    presidente Dilma Rousseff, o Brasil teria rompido naquele momento o acordo de

    cooperação nuclear firmado durante o governo militar. “Cooperação iniciada na

    ditadura quase foi encerrada em 2004, por iniciativa dos então ministros Jürgen

    Trittin e Marina Silva. Dilma, na época chefe de Minas e Energia, teria barradoanulação.”( (SANTOS, CLEIDIANE, 2014). Reflete-se porém a vantagem por parte

    do Brasil no cancelamento de um acordo de cooperação tecnológica em que esse

    figura-se como receptor da tecnologia. Na qualidade de ‘aprendiz’, nada justificaria

    ser o Brasil a tomar incongruente decisão. Um acordo de cooperação não significa

    de imediato a obrigação do uso da tecnologia ou mesmo da construção de novas

    geradoras, mas, o fim do acordo porem, poderia significar um abrir mão quase que

    definitivo desta modalidade de energia, assim como da cooperação internacional

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    deste gênero, já que torna-se cada vez mais difícil as novas realizações deste tipo

    de pacto.

    Dentre as análises qualitativas de noticiários e divulgações, objeto de estudo do

    capítulo 3 deste trabalho, figurará pesquisa da forma como o tema é explorado pelos

    veículos de comunicação no Brasil, objetivando principalmente avaliar a clareza e a

    amplitude das informações, aferindo se são divulgados todos os detalhes e

    pormenores necessários à formação de opinião livre de vícios e manipulações.

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    2.3 CAPÍTULO 3: ATUALIDADE

    2.3.1 - O preço da eletricidade

     A formação do preço da energia elétrica é um fator desconhecido por grande parte

    do público e muito confuso, mesmo para jornalistas e demais formadores de opinião.

     Apesar de ser objeto de flutuações mercadológicas, o preço da energia é fortemente

    atribuído a medidas governamentais, deixando no público o entendimento de que o

    executivo autoriza sem fator justificável um aumento de energia em resposta a uma

    solicitação dos distribuidores e produtores. Criado para gerenciar a produção de

    energia do Brasil, o Operador Nacional do Sistema – ONS, possui regulamentos que

    regem desde a confiabilidade e segurança da rede ao modo como a energia será

    contratada, sendo que, para o referido contrato, o regulamento visa, com raríssimasexceções, o melhor preço para a população, assemelhando-se ao conhecido

    processo de licitação.(ALBUQUERQUE, 2014)

     A falta de transparência e a inacessibilidade de informações que permeiam o

    referido tema começam pelo próprio site do ONS, quando tentamos acessar os

    regulamentos de despacho. Enquanto outros documentos públicos apresentam-se

    de forma acessível, normalmente disponibilizados para download em formato PDF,os procedimentos de rede, nos quais se encontram os regulamentos relativos ao

    despacho por mérito de custo, são armazenados em plataforma JAVA, exigindo não

    apenas a instalação de software adicional para realização do acesso, como

    conhecimentos de informática para desbloqueio de níveis injustificáveis de

    segurança. As dificuldades impostas não apenas restringem o acesso dos dados por

    parte de pessoas interessadas do público comum, como desmotivam a averiguação

    por parte de jornalistas e demais comunicadores, que, vencidos pelo cansaço,acabam por desprezar o conteúdo dos referidos documentos no momento da

    redação de uma notícia do gênero. A captura de tela abaixo demonstra o erro de

    acesso exibido na pesquisa aos procedimentos de rede, mesmo depois de instalado

    o software JAVA.

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    Figura 1: Dificuldade de acesso aos dados no site do ONS

    Fonte: Site do ONS, acessado em 10-06-2015.

    Durante a produção deste trabalho, foram realizadas várias tentativas, fazendo uso de diversos

    navegadores, nos sistemas operacionais OSX e Windows. Todas resultaram no mesmo erro de

    segurança do JAVA. A solução necessitou de intervenção de profissional técnico em informática.

    O SIM – Sistema Interligado Nacional, trabalha no sentido de suprir constantemente

    a demanda por energia elétrica, fazendo para isso, uso de toda planta de geração

    ora disponível (ONS, 2009). Da mesma forma como acontece nos demais mercados

    de bens e serviços, as usinas ofertam o produto em variados patamares de preços,

    porém, em se tratando do sistema elétrico, não existe a opção por parte do operador

    quanto à compra ou não daquele patamar de energia consumido. A estabilidade e

    continuidade no fornecimento depende do equilíbrio de carga, que significa que toda

    demanda precisa ser instantaneamente suprida por geração(ALBUQUERQUE,

    2014), e para garantir a estabilidade do sistema, assim como a credibilidade no

    fornecimento constante de energia, os procedimentos de rede do ONS estabelecem

    em seu sub-modulo 8.1 que, é imprescindível a manutenção do equilíbrio de

    geração como fator de estabilidade do sistema:

    “6.2 A programação diária da operação eletro energética deve

    levar em consideração tanto os aspectos sistêmicos que são deresponsabilidade do ONS, sobretudo em função da forte interdependência

    entre a geração e a transmissão(...)” (ONS, 2009. p. 13)

    O ONS opera o despacho das usinas baseado no mérito de custo, que significa que,

    para beneficiar o consumidor, estarão em ordem os produtores de energia que

    ofertarem o produto pelo menor preço, e, pelo método conhecido por

    ‘empilhamento’, serão contratados mais e mais produtores até que o despacho seja

    suficiente para suprir toda a energia em consumo. Sobre a metodologia matemática

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    utilizada no processo de despacho econômico, Albuquerque (2014) pontua: “Como

    função objetivo, normalmente utiliza-se a minimização dos custos de operação, para

    que o consumidor seja atendido com o menor custo possível.” Em se tratando de

    preços de produção, as geradoras hidráulicas e nucleares são as mais baratas, uma

    vez que, tanto o estoque d’água quanto o mineral nuclear são entendidos como

    patrimônio público, não possibilitando ao produtor um exorbitante aumento do preço

    geração mesmo em períodos de seca (ALBUQUERQUE, 2014). De outra forma,

    usinas termoelétricas movidas a gás, carvão e óleo são livres para ofertar no

    mercado seus preços de energia elétrica. Em momentos de uso intenso ou mesmo

    momentos de secas, algumas geradoras já chegaram a vender energia por preços

    800 vezes mais caros que a mesma energia produzida por uma geradora nuclear ouhidrelétrica. (ALBUQUERQUE, 2014).

    2.3.2 - A geração elétrica

    Diversos são os meios usados para a produção de eletricidade, apesar de poucos

    serem os conhecidos pela grande população. Segundo a Agência Nacional de

    Energia Elétrica - ANEEL, a produção de eletricidade predominante hoje no Brasil é

    a hídrica, responsável por 62% do fornecimento, seguida pela produção fóssil,

    responsável por 18% (ANEEL, 2015). Embora muito defendidas pelo argumento da

    sustentabilidade, as produções solar e eólica são ainda tecnologias de alto

    investimento e baixo grau de ‘firmeza elétrica’, o que não somente desmotiva o seu

    uso como as coloca como formas alternativas de energia (ECONOMIA E ENERGIA,

    2011).  Apesar do grande apelo popular pela construção de fontes ecologicamente

    corretas, têm se notado um maior crescimento nas plantas industriais movidas a

    combustíveis fósseis (ANEEL, 2015), que, apesar do crescimento de

    aproximadamente49% nos últimos 10 anos, não despertou no grande público

    nenhum tipo de temor quanto a impactos ambientais ou mesmo, problemas de

    sustentabilidade. A tabela a seguir demonstra o crescimento da planta industrial

    brasileira nos últimos 8 anos.

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    Tabela 1: Diversidade de gerações da planta eletro energética brasileira

    Fonte: ANEEL

    Outro aspecto importante a ser observado no repertório de geradoras de um sistema

    é a disponibilidade de sua produção, o que a caracteriza como geradoras de energia

    firme ou não firme. Quando uma geradora tem a capacidade de produzir eletricidade

    de forma ininterrupta, essa é considerada como energia firme, já as geradoras que

    utilizam a disponibilidade do sol assim como a existência de ventos não podem ser a

    única fonte de eletricidade de uma rede, uma vez que sua produção não é constante

    e certamente levaria o sistema a um colapso (ALBUQUERQUE, 2014). A não

    consciência deste aspecto talvez seja a maior justificativa dos protestos populares

    contra a construção de hidrelétricas e usinas nucleares. Conforme será demonstrado

    posteriormente, os protestos contra as usinas firmes tendem sempre a clamar por

    formas alternativas de energia, como se essas fossem capazes de suprir de forma

    eficiente a demanda.

    Tem-se na percepção de impacto socioambiental o principal fator justificador de

    tantos abraçarem causas na luta contra a implantação de usinas hidrelétricas.

    Desprovidos do conhecimento técnico a cerca do assunto, jornalistas e formadores

    de opinião limitam suas análises aos resultados imediatos e empiricamente

    observáveis. O oportunismo também acaba por atrair comunicadores, uma vez que

    usinas hidrelétricas possuem local de implementação restrito a regiões de alto

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    potencial hídrico e sua construção tende inundar regiões e realocar famílias, muitas

    vezes modificando o natural fluxo d’agua dos rios envolvidos, geram grande apelo

    popular e consequente oportunidade de ganho de mídia. Em contra partida, usinas

    térmicas são construídas rapidamente em locais isolados do grande público, seu

    funcionamento está atrelado apenas ao acesso de combustíveis e linhas de

    transmissão, porém, seus impactos podem ser sentidos: Localmente, com a emissão

    de particulados, regionalmente, desencadeando chuvas ácidas e globalmente, uma

    vez que produz gases responsáveis pelo efeito estufa.

    “Os impactos socioambientais da construção de uma usina hidroelétrica

    são essencialmente locais e de grande relevância para as populações

    próximas ao projeto. Em contraste, o principal impacto de uma usina

    termoelétrica são os gases do efeito estufa que têm uma dimensão global,

    não impactando diretamente as pessoas residentes no entorno da

    usina.”(CASTRO et al, 2011)

    Em continuidade, Castro et al (2011) observam que os estudos e análises de

    impacto ambiental realizados no Brasil restringem-se à avaliação imediata e local, o

    que acaba por aprovar rapidamente uma infinidade de usinas térmicas, dificultando

    porém, a construção das geradoras hidrelétricas. Em seu artigo, é proposto o

    modelo de Estudo Estratégico Ambiental , segundo o qual o impacto deve ser

    contrastado num horizonte temporal de longo alcance, cruzando o inevitável

    resultado sócio ambiental imediato de uma usina hidrelétrica com o impacto

    ambiental advindo da queima de combustíveis fósseis ao longo de toda vida útil de

    uma usina térmica. Numericamente avaliados, os resultados analisados desta forma

    colocariam a geração hidrelétrica como a opção de menor impacto socioambiental

    disponível na atualidade, numa escala de comparação de aproximadamente 5 para

    1. (CASTRO et al, 2011)

     A tabela a seguir demonstra os preços ambientais das principais usinas térmicas

    avaliadas num horizonte de 30 anos. Para a demonstração, o autor utilizou o preço

    atual do carbono, a aproximadamente 10 Euros. Os valores abaixo apresentam-se

    em bilhões.

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    Tabela 2: Custos ambientais das geradoras num horizonte de 30 anos.

    Fontes Térmicas Euros R$

    Gás Natural – Ciclo Combinado 2.34 8.21

    Gás Natural – Ciclo Aberto 2.57 9.03

    Óleo 3.24 11.34

    Carvão 4.68 16.43 Adaptado CASTRO et al, 2011.

    Embora detentor de elevado potencial hídrico, o Brasil aproveita hoje cerca de 30%

    de sua capacidade (CASTRO et al, 2011), com geração instalada de 76.9GW,

    podendo chegar a 260GW. O não aproveitamento desse potencial acaba porprejudicar tanto a rede, quanto aumenta os impactos locais. O Sistema Interligado

    Nacional permite que uma região livre de secas possa abastecer uma outra região

    distante, por onde a disponibilidade de reservatórios tenha se tornado baixa. A

    observância dessa peculiaridade deixa ainda mais claro que, quanto maior o número

    de usinas hidráulicas instaladas, menor o impacto ambiental sofrido em uma

    determinada região pois, estando suficientes os reservatórios do sistema elétrico

    como um todo, tornar-se-ia desnecessário o acúmulo de água em geradoras comníveis críticos, levando os rios a jusante à recuperação do fluxo mais próximo do

    normal. (CASTRO et al, 2011)

    2.3.3 - A manipulação dos mercados.

     A teoria dos mercados, primeiramente proposta por Adam Smith e posteriormente

    defendida por muitos economistas se aplica inteiramente ao mercado da energia

    elétrica. Embora fortemente influenciada por intervenções governamentais,descaracterizando o total liberalismo defendido por Frederick Hayek (CLARKE;

    WOODWARD, 2014) operam no mercado de energia os mecanismos de demanda e

    produção, conhecidos também como oferta e procura. Em momentos de seca em

    regiões geradoras, torna-se necessária uma maior contratação de energia gerada

    por fontes térmicas, o que acaba por colocar o sistema refém dos elevados preços

    de produção destas geradoras. Também tem sido determinante o papel da demanda

    na flutuação dos preços da energia: Com o crescimento do PIB – Produto Interno

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    Bruto, houve em concomitante um crescimento no consumo de energia elétrica,

    conforme observa (OMORI, 2015) “O consumo da energia elétrica cresce de forma

    exponencial com coeficiente positivo frente a uma base de PIB (Produto Interno

    Bruto) denotando desta forma a dependência da sociedade cada vez maior do

    Sistema Elétrico Interligado Nacional.” O gráfico abaixo demonstra tal harmonia:

    Gráfico 1: Crescimento do consumo de eletricidade frente ao crescimento do PIB

    Fonte: Instituto Superior Tupy, 2015

    Vale ressaltar que o crescimento da demanda reflete o crescimento econômico,

    tendendo no futuro a um grau de estabilidade, conforme observa-se atualmente em

    países de primeiro mundo que, embora possuírem um alto consumo de energia, nãoprecisam investir fortemente na ampliação de sua geração visto que essa atende

    uma demanda estável. A tabela abaixo demonstra a projeção de crescimento da

    demanda prevista para o Japão.

    Gráfico 2: Expectativa de demanda para o Japão

    Fonte: NautilusInstitutehttp://nautilus.org/wp-content/uploads/2014/04/Untitled43.jpg

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    Para o Brasil, a Empresa de Pesquisas Energéticas – EPE prevê um crescimento de

    4.1% ao ano (EPE, 2012), conforme a tabela abaixo.

    Tabela 3: Brasil. Estimativa de consumo na rede (GWh)

    Fonte: EPE – Empresa de Pesquisas Energéticas

     A falta de disponibilidade de geração é percebida não apenas na conta de luz, como

    reflete em toda sociedade. Sendo a energia um dos principais insumos comerciais e

    industriais cumprindo um importante papel nas industrias de alimentos, vestuário e

    transporte, a sociedade vive uma inflação generalizada. Em entrevista à RedeGlobo, o economista José Mendonça esclarece:

    “Nós vamos ter reajustes fortes de energia elétrica esse ano, maiores do

    que o ano passado, 2014 foi 18% e 2015 vai ser de no mínimo 30%, nós

    também devemos ter aumento de gasolina, que já está contratada, aumento

    de diesel e isso é que vai puxar a inflação ao longo do ano”, (G1, 2015).

    Tais aumentos, embora ligados à indisponibilidade mercadológica do produto, são

    percebidos e divulgados como problema econômico, podendo ser erroneamente

    atribuídos à flutuação cambial e políticas governamentais, servindo como argumento

    para a manipulação social nas tentativas de instauração do caos. Conforme tem se

    visto nos últimos meses, quando o assunto chamou a atenção de muitos neo-

    comunicadores em redes sociais, que restringem o teor da notícia a ‘A presidente

    aumentou a conta de luz’.

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    Os Print-screen  abaixo demonstram o conteúdo das notícias mais divulgadas na

    internet logo após a autorização no aumento da tarifa de energia.

    Figura 2: Exemplos de divulgações do assunto ‘aumento da energia’ na rede social Facebook

    Fonte: Facebook Fonte: Facebook Fonte: Facebook

     As divulgações chegam a milhões de visualizações, os comunicadores em geral pedem a sociedadeque se levantem contra a decisão de aumento, por eles, atribuída ao presidente.

    Embora teoricamente detentores do direito de influenciar no mercado diminuindo o

    próprio consumo de energia, os consumidores acabam impossibilitados de agir

    dessa forma, seja por condicionamento cultural, seja por restrição técnica. Como

    resultado do aumento do PIB, muitos refrigeradores foram substituídos por

    aparelhos duplex dotados de freezer, assim como muitas edificações já nascem comcerta dependência de condicionamento de ar (OMORI, 2014). Embora capazes de

    atuar pro ativamente na mitigação do consumo elétrico com a redução do uso de

    lâmpadas ou tempo de banho, o resultado sistêmico, fortemente dependente do

    consumo industrial, acaba não gerando uma imediata baixa nos preços da energia,

    tirando do consumidor residencial o poder de escolha, descaracterizando sua

    decisão sobre a demanda e fazendo dele o mais frágil elemento do mercado.

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    2.4.3 – Mídia e usinas hidrelétricas – Sensacionalismo e incoerências.

    Figura 3: Exemplo de notícia sensacionalista.

    Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/hidreletricas-energia-pra-que-e-pra-quem-4303.html

    O sensacionalismo e a incoerência informativa é presente em muitas matérias que tratam do assuntoHidrelétricas. Essa matéria do carta-capital  não somente induz o leitor à conclusão que hidrelétricassão “coisas da ditadura”, como aborda a parte técnica de forma completamente incongruente com oconhecimento científico auferível.

    2.4.4 - A usina hidrelétrica de Belo Monte

    Uma vez iniciado um projeto de hidrelétrica, apresenta-se como de extrema

    viabilidade a expansão do leito do rio para efeito de aumento de seu reservatório,

    tornando-se esse o mais explorado tema dentre os diversos impactos sociais. No

    caso específico da usina de Belo Monte, o que mais se noticia é uma possível

    expulsão de povos nativos de suas áreas. Com efeito de renúncia imediata ao

    argumento maior dos noticiários tendenciosos, vale pontuar a constituição de 1988,

    no seu artigo 231, parágrafo 5o  Conferindo inviolabilidade territorial aos povos

    nativos ribeirinhos em suas respectivas áreas de preservação:

    " É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, ad

    referendum do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que

    ponha em risco sua população, ou o interesse da Soberania no País, após

    deliberação do Congresso Nacional, garantindo em qualquer hipótese, o

    retorno imediato logo que cesse o risco". (BRASILIA, 1988) 

    Percebe-se que, se fosse auferível o mencionado caso de desapropriação, a própria

    constituição federal seria suficiente para que o projeto Belo Monte sequer tivesse

    saído do papel. 

    O projeto começa a fazer parte dos noticiários em 2010, quando o consórcio Norte

    Energia vence a licitação pública para a exploração do potencial hídrico na região

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    conhecida como Xingú, no Pará. Dentre as peças de maior visibilidade, encontra-se

    a protagonizada por atores globais, dotada de forte clamor por ação pública no

    sentido de barrar a construção da usina, enquanto seria tempo. Para efeito de

    reflexão, o vídeo, elaborado fazendo uso de avançadas técnicas de publicidade e

    teorias das comunicações, se passou por peça neutra, sem caráter político até 2014,

    durante campanha presidencial quando o material bruto que originou o vídeo foi

    usado em um dos ataques contra a candidata Dilma Rousseff. Naquele momento,

    um dos atores inclusive acusou Aécio Neves por uso indevido de imagem,

    levantando uma possível conotação política no antigo vídeo contra a Usina de Belo

    Monte. Não obstante omitir o resultado financeiro do empreendimento no que tange

    ao barateamento das contas de luz, o vídeo ainda expõe incongruência de fatos,conforme denunciado por peça em vídeo produzida por um grupo de universitários e

    endossado posteriormente pela revista Veja, edição 2246 - de 7 de dezembro de

    2011. Sobre as peças de ‘ataque e contra-ataque’, segue abaixo tabela contrastando

    os principais elementos informativos.

    Tabela 4: Divergências de informações dadas por artistas sobre a usina de Belo MonteMovimento Gota D'água UniversitáriosDenuncia desapropriação de terras indígenas Nenhuma área indígenas será alagada.

    Os índios não são ouvidos. Realizadas mais de 30 reuniões nas aldeias,documentadas em áudio e vídeo.

    Não adianta construir uma usina se ela só vaiproduzir de fato, 1/3 da sua capacidade.

    1/3 é a produção da baixa estação, toda suacapacidade estará disponível em cheias.

    Durante 8 meses do ano a região da usinapraticamente seca.

    Mostram imagens do rio cheio de águadurante o período citado.

    Reduzem a importância da eletricidade aassistir novelas, celular, Ipad , Iphone, ai-tudo...

    Segundo empresas de pesquisa energética, oconsumo da energia no Brasil vaipraticamente dobrar nos próximos 10 anos.

     A obra vai custar 30 bilhões. 30 bilhões é apenas uma estimativa. O custoreal é 25.8 bilhões. E desse valor 13.7 sãodestinados a ações sócio ambiental.

    Denunciam a inundação do parque nacionaldo Xingú. O Parque nacional do Xingú esta 1300 km deBelo Monte. Afirma que a usina Belo Monte vai alagar edestruir 640m2 de floresta amazônica.

    O projeto prevê um reservatório de 502.8m2,dos quais 228m2 já são o leito do próprio rio.

    Propõe suprir a demanda com fontesalternativas de energia, como eólica e solar.

    Demonstram a discrepância de preços eimpossibilidade de se substituir uma geraçãode energia elétrica firme.

    Contestam que a hidrelétrica seja energialimpa.

    Citam o texto do Patrick Moore, fundador doGreenpeace: "O Brasil esta na posição ideal,pois tem a capacidade de aumentar a suacapacidade hidrelétrica, é um absurdo aexistência de ambientalistas que são contrahidrelétricas".

     Afirmam que espalhar desinformaçãoatrapalha.

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    2.4.5 - Movimento Gota D’água

     A estrutura maior da campanha contra a usina de Belo Monte é atualmente o

    Movimento Gota D’água, que conta com blog, website, página no Facebook, vídeos

    e outras peças publicitárias. O conteúdo do site limita-se ao impacto social imediato

    das usinas, apela ao sensacionalismo e hora nenhuma adverte o leitor quanto aos

    efeitos financeiros de se negligenciar o potencial hídrico. O programa aparece

    endossado por vários artistas, o que acaba por lograr êxito em comoção popular.

    Nos vídeos do programa a energia elétrica é tratada como um produto de uso

    supérfluo, como nas frases em que um ator questiona a importância da eletricidade:

    “Olha só, se não fizer a hidrelétrica de Belo Monte não tem energia. Se não temenergia, como que eu vou ver televisão pra assistir minha novela? Sem luz, sem

    celular, sem Ipad , sem Iphone, sem ai-tudo“(MGD, 2015).

    Embora claramente tendencioso, esse tipo de programa não somente transmite

    informações incoerentes com a realidade, como consegue implantar informações

    imprecisas, criando um conhecimento popular que diverge do conhecimento

    científico, culminando em protestos e outras medidas públicas que tendem aprejudicar não só o empreendimento em estudo, mas a estatística de risco-

    viabilidade de novos investimentos. Apesar de financeiramente viáveis e menos

    impactantes, as usinas hidrelétricas começam a ser ignoradas como possiblidade de

    investimento de capital visto as grandes incertezas no que tange a reação popular.

    (SOCIESC, 2015)

    O Movimento Gota D’agua se apresenta como defensor da causa indígena. Oextrato abaixo é capa de sua página no Youtube. De acordo com a já apresentada

    ‘Nudge Theory’, o resultado desse tipo de associação seria o despertar da

    sociedade à exploração exercida pelo capitalista sobre o ‘bom selvagem’,

    personagem do romantismo brasileiro. A parte oculta da informação deve-se

    principalmente ao fato de ser, no final das contas, a própria sociedade o

    personagem antagonista desta campanha.

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    Figura 4: Criança nativa como capa da página do Movimento Gota D’água.

    Fonte: https://www.youtube.com/user/movimentogotadagua 

    2.4.6 - A usina nuclear Angra 3

    O acidente nuclear de Fukushima, ocorrido em 1 de março de 2011, se visto

    conforme o conhecimento técnico-científico caracteriza-se como um incidente, já que

    a responsabilidade de sua ocorrência deve-se a fatos geológicos, totalmente

    externos e fora de controle da planta. Conforme pontua o artigo sobre o caso

    presente no Wikipédia2 (2015) “A falha ocorreu quando a usina foi atingida por um

    tsunami provocado por um terremoto de magnitude 9,0”. Visto dessa forma, o

    ensinamento dever-se-ia ser passado a diante, mas observadas as circunstâncias

    semelhantes, e não, extrapolando um evento geológico característico do Japão, para

    uma das zonas mais estáveis do planeta. 

    Em termos de registros históricos, o Brasil teve em 1955 seu terremoto de maior

    magnitude (WIKEPEDIA3, 2015), que chegou a 6.6 na escala Richter. Importante

    lembrar que a escala Richter segue a função matemática logaritmo, o que as vezes

    induz ao erro quando analisada de imediato. A tabela abaixo traduz em intensidade

    os valores 6.6 Richter e 9.0 Richter.

    Tabela 5: Comparação entre eventos geológicos Brasil e Japão.

    Local de ocorrência Escala Richter Pressão em móduloBrasil em 1955 6.6 1 x 10  

    Japão em 2011 9.0 4000 x 1019

    Dados e fórmulas para cálculo retirados do Wikipédia: https://en.wikipedia.org/wiki/Richter_magnitude_scale

    O resultado demonstra que, embora apresentando valores próximos ao público não

    familiarizado com a escala, o terremoto acontecido em Fukushima, de intensidade 9

    Richter, comparado com o maior terremoto acontecido no Brasil, de intensidade 6.6

    Richter, é aproximadamente 4 mil vezes mais intenso. Pergunta-se então, porquê

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    essa diferença, em valores popularmente compreensíveis, nunca é divulgada nos

    noticiários que abordam de forma cruzada os tema acidente nuclear e novas usinas

    nucleares no Brasil? Importante ressaltar porém que, todas as vezes em que se

    noticia o tema ou protestos ligados ao mesmo, vem atrelada de alguma forma o

    referido desastre:

    “Angra tem protesto contra usina nuclear, em ato por um ano de Fukushima”

    Último Segundo de 10-03-2012

    “Greenpeace afirma que Angra 3 pode ser 'nova Fukushima'”

    Exame.com de 06-03-2012

    “Lições de Fukushima –

    TEMA EM DISCUSSÃO: O futuro da energia nuclear no Brasil”

    O Globo de 05-04-2015

    “Após Fukushima, governo alemão reavalia aval a Angra 3”

    Folha de São Paulo de 16-04-2011

    Quando divulgada sob um aspecto técnico, mesmo as notícias que aparentam ser

    imparciais escondem o componente preço da energia elétrica, atentando porém para

    os pontos negativos do empreendimento. Numa abordagem mais ampla, as notícias

    que contemplam a energia nuclear sem mencionar diretamente esse ou aquele

    empreendimento também ignoram o fator preço final ao consumidor, limitando as

    notícias aos riscos, polêmicas e incertezas envolvidas. Como exemplo de misturade imparcialidade técnica com posicionamento político, o extrato abaixo demonstra

    como a peça é criada com intuito de projetar sobre a presidente e pré-candidata à

    reeleição a culpa por estar desenvolvendo no Brasil uma tecnologia permeada de

    incertezas, apontando a pré-candidata a vice da oposição como defensora do

    posicionamento adotado pela matéria.

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    Figura 5: Exemplo de notícia sobre o tema energia nuclear.

    Fonte: http://www.cartacapital.com.br/politica/ex-ministro-alemao-diz-que-dilma-bloqueou-fim-do-acordo-nuclear-brasil-alemanha-7572.html

    Dentre vários elementos que demonstram a intensão discursiva, podemos citar o

    termo ‘ditadura militar’, que no Brasil é popularmente recebido como um afronto à

    democracia.

    2.4.7 – O aumento da ‘conta de luz’

     A próxima análise refere-se as notícias que abordam o tema ‘preço da eletricidade’

    ou ‘aumento da eletricidade’. Conforme explicado no capítulo 2, o preço da

    eletricidade obedece uma flutuação dependente do mercado, variando de acordo

    com as regras de oferta e demanda, posto isso, a seguinte análise procura auferir a

    clareza dos fatos e amplitude da informação quando se tratando do assunto.

    2.4.8 –O posicionamento do Jornalismo oficial.

    O Jornalismo oficial se divide de acordo com seu posicionamento político. Embora

    nota-se uma intensão de indução conclusiva, esse não deixa de fornecer dadossuficientes para a completa compreensão do ocorrido, porém, algumas matérias se

    mostram discursivamente parciais desde a exposição dos títulos. Conforme

    apresentado nos extratos abaixo, o mesmo assunto quando tratado pela Record

    tende a uma abordagem esclarecedora. Já no jornal UOL, o título induz a

    completamente oposta interpretação e os fatos técnicos esclarecedores são

    normalmente deixados para os últimos parágrafos.

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    Figura 6: Exemplos de notícias tendenciosas sobre o tema ‘aumento da conta de luz’

    R7 – Record. UOL

    a

    Intensão discursiva em favor dogoverno prestando justificativa.

     A Intensão discursiva remete a culpados aumentos ao governo.

    O Jornalismo da Globo.com destaca-se como o mais imparcial entre os três,

    apresentando explicações e dados durante todo o desenvolvimento da matéria.

    Conforme pode ser visto no extrato abaixo, a primeira informação posterior às

    chamadas é a explicação do funcionamento do sistema tarifário, deixando clara a

    ligação entre os níveis dos reservatórios com o aumento nos preços.

    Figura 7: Exemplo de notícia informativa sobre o tema ‘aumento da conta de luz’

    Fonte: http://g1.globo.com/economia/seu-dinheiro/noticia/2014/12/aneel-fixa-bandeira-vermelha-em-janeiro-e-energia-eletrica-fica-mais-cara.html

     

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    2.4.9 – A comunicação espetaculosa.

     A análise da comunicação espetaculosa deve-se principalmente por ser ela

    responsável pela formação de juízo por grande parte da população. Embora não

    embasada em fontes confiáveis ou conhecimento científico, sua abrangência serve

    para desencadear os efeitos popularmente conhecidos como ‘disse-me-disse’ e

    ‘rádio-pião’. O resultado é a divulgação de fatos incongruentes com a realidade, que,

    principalmente devido às novas tecnologias de comunicação, acabam por amplificar

    mitos que levam à instauração de situações caóticas. Peças cômicas como o

    personagem ‘Dilma Ducheff’ chegam a mais de 3 milhões de visualizações em redes

    sociais. Outro nível de comunicação espetaculosa que merece especial atenção são

    os blogs de jornalistas respeitados, que, apesar de terem visível posicionamentopolítico, são mais efetivos em formação de opinião que os já citados comediantes.

     Abaixo, um extrato do Facebook, onde o personagem ‘Dilma Ducheff’ aparece com

    mais de 3.9 milhões de acesso. O vídeo não possui conteúdo algum, seu texto, em

    grande parte composto por palavras de baixo nível, pode ser resumido em: “a luz

    aumentou, caralho!”. Apesar de forte apelo, se observado sob a ótica das teorias das

    comunicações, este tipo de produto não influencia pessoas, mas sim, comunica comum grupo de indivíduos que já compartilham a mesma opinião. (NOGUEIRA

    JUNIOR, 2014)

    Figura 8: Personagem ‘Dilma Ducheff’

    Fonte: Facebook

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     Abaixo, um extrato do Jornal Jogo do Poder de 04-02-2015 que atribui ao presidente

    o ônus do preço da energia.

    Figura 9: Extrato do jornal Jogo do Poder

    Fonte: http://www.jogodopoder.com/blog/politica/aumento-extra-erros-do-governo-dilma-elevarao-conta-de-luz-em-26/

    Já os exemplos abaixo referem-se a comunicações que buscam transparecer certa

    imparcialidade.

    Figura 10: Exemplo de notícias tendenciosas em blogs de jornalistas.

    Fonte: http://www.fabiocampana.com.br/2015/02/dilma-aumenta-a-luz-em-todo-o-

    pais/ Fonte: http://popularnoticias.blogspot.com.br/2015/02/dilma-aumenta-conta-de-luz-em-234-ja.html

    Blog do jornalista Fabio Campana. Blog Popular Notícias, citando Veja.

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    3. CONCLUSÃO

    Este trabalho buscou demonstrar como os mecanismos de comunicação social

    podem ser usados com intuito de confundir a população no que tange aos benefícios

    e malefícios envolvidos na cadeia produtiva da energia elétrica assim como em suas

    etapas de consumo e tarifação.

    Primeiramente, para fins de contextualização, a energia elétrica foi comparada com

    outras fontes de energia, explicando com isso sua conexão mercadológica. O

    petróleo foi introduzido como a mais importante fonte de energia da atualidade,

    explicando com isso a conexão entre suas flutuações de preços e as concomitantes

    flutuações dos preços da eletricidade. Ainda sobre o petróleo, foi feito um brevehistórico sobre os seus mais importantes eventos mundiais. Voltando ao Brasil, foi

    apresentado um resumo dos mais importantes eventos vividos pelo sistema

    energético brasileiro, que são diretamente ligados à manipulação de interesses. Foi

    demonstrado como medidas têm sido tomadas no sentido de dificultar a expansão

    energética hídrica e nuclear. Citando Eduardo Cruz, foi feita abordagem de eventos

    políticos cruciais ao setor energético, ocorridos durante o governo militar. Foi

    abordada a abertura do mercado de energia para a iniciativa privada, assim como operíodo de racionamento energético conhecido como ‘crise do apagão’, e o posterior

    aumento da planta de geração movida a combustíveis fósseis. Dentre os eventos

    mais recentes, estão mencionados a crise energética de 2013 e a tentativa de

    cancelamento do acordo de cooperação tecnológica Brasil-Alemanha,

    O mecanismo de flutuação do custo da energia elétrica foi explicado, assim com o

    funcionamento do despacho econômico com mérito de custo. Foi feita observaçãosobre as dificuldades vividas quando se busca informações junto ao ONS. Dentre os

    Regulamentos de Rede, foi apresentado o que garante a segurança do sistema,

    assim como o que garante o melhor preço da eletricidade à população. Sobre as

    formas de geração, procurou-se deixar claros as diferenças, tanto no aspecto

    técnico-econômico, quanto no aspecto socioambiental das mais expressivas opções

    de produção de eletricidade, como hidrelétricas e termonucleares, que apesar de

    oferecer energia a menor custo e menor impacto ambiental, tem sido as mais

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    atacadas pela mídia e pelos protestos populares, e, na sequência, as gerações que

    fazem uso de combustíveis não renováveis como petróleo e carvão, assim como

    seus respectivos graus de impacto ambiental, índices de emissão de gases estufa e

    comparativos dos seus preços de produção de energia. Através de tabelas procurou-

    se demonstrar a atual situação de balanço de produção elétrica no Brasil, assim

    como demonstrou-se a capacidade potencial hídrica e sua importância como

    suprimento de uma crescente demanda prospectada pela Empresa de Pesquisas

    Energéticas.

    O terceiro capítulo tratou de análise qualitativa do posicionamento de jornalistas,

    artistas e formadores de opinião no que se refere ao esclarecimento do assunto. Foidemonstrado através da análise das principais notícias a respeito da construção da

    Usina Belo Monte, que artistas e formadores de opinião aproveitam do tema para

    atrair opinião pública através de noticias irreais e sensacionalistas. Embora

    cientificamente contestado, o posicionamento do Movimento Gota D’água mantém-

    se inalterado, caracterizando-se uma exploração ideológica e não uma

    desinformação por parte dos seus integrantes. Pela análise do que se noticia a

    respeito das usinas nucleares, percebeu-se que o tema serve de alicerce apolêmicas políticas, não sendo tratado de forma científica, mas sim, de forma

    espetaculosa. A insistência na relação entre o desastre de Fukushima e menção

    constante do termo ditadura militar   quando abordando o assunto evidencia muito

    mais intensão de confundir que de esclarecer. Sobre os dois modelos de geração de

    energia elétrica, notou-se que em nenhum momento foi mencionado o fator preço de

    energia final ao consumidor como diferencial de escolha de geração. O contraste

    maior veio no assunto  preço da eletricidade.  Apesar de abordado de formasensacionalista por alguns neo-comunicadores e blogueiros  políticos, o jornalismo

    oficial tende apresentar todos os fatos, respeitados seus diferentes níveis de

    imparcialidade.

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