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Agenda45 novembro de 2005 1

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Entrevista

2 Respeito pelo Brasil Agenda45

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Um dos 100 mais influentes intelectuais do mundo, segundo pesquisa realizada

pela revista Foreign Policy, o presidente Fernando Henrique Cardoso é um

observador meticuloso da cena política brasileira. Nesta entrevista exclusiva

para Agenda 45, ele analisa a crise em que o governo Lula submergiu a

República, a partir da constatação de que “o Brasil ainda paga o preço pela

demagogia do PT na oposição”.

Para ele, a turbulência que paralisa o país desde a eclosão das denúncias de

compra de parlamentares da base aliada para apoiar o governo tem raízes

históricas. “Lula sempre manifestou um solene desprezo pelo Congresso. Basta

lembrar a infeliz frase dos 300 picaretas.”

Convicto de que a única defesa que restou ao governo Lula e a seu partido é a

de tentar convencer a opinião pública de que “são todos iguais”, o presidente de

honra do PSDB alerta para o risco de a sociedade dizer “que se vayan todos”.

Fernando Henrique Cardoso tem dedicado parte de seu tempo à tarefa de

pensar uma proposta que permita ao PSDB reforçar seus laços de confiança

com a sociedade. Uma solução para desarmar a armadilha montada sobre a

relação entre taxa de câmbio, dívida interna elevada e taxas de juros altas, um

tripé que condena o país a taxas de crescimento medíocres e ao desemprego

estabilizado em nível elevado.

“Chegou o momento, como foi feito no Plano Real, de juntar competência com

técnica para solucionar os estrangulamentos que impedem o Brasil de crescer

como o Chile e a Argentina. Sem isso, diz ele, será impossível “afrouxar o

garrote dos juros da dívida interna e patrocinar uma reforma tributária que

resulte em menos impostos e maior efeito distributivo”.

FERNANDOHENRIQUECARDOSO

O governoLula fazmuito barulhopor nada

Agenda45 novembro de 2005 3

por Wilson Teixeira Soares

Page 6: Agenda 45 1

Entrevista

Na campanha de 2002, o candidato do PT vendeu

a ilusão de que o seu governo seria marcado pela

implantação de programas e projetos capazes de

solucionar todos os problemas brasileiros. Em seu

entendimento, em que medida a frustração gerada

na população brasileira fragiliza o Poder Executivo

como instituição e provoca o desencanto com o

regime democrático?

Por maior que seja o dano à imagem do governo,do Congresso e dos políticos, não sinto que hajadescrença generalizada no regime democrático.As pessoas sabem que a democracia lhes ofereceas melhores ferramentas para mudar o que lhesparece importante e necessário. Não querem e nãovão abrir mão disso de jeito nenhum. O eleitor,este sim, será mais exigente. E terá melhores condi-ções para fazer sua escolha. Todos os principaispossíveis candidatos à presidência já passarampelo teste do governo. Eles serão julgados pelacapacidade que tenham demonstrado de governar

e pela credibilidade que essa experiência anteriorempreste às suas propostas de governo. Haverámenos espaço para vender ilusões. Em resumo,vejo nas próximas eleições uma oportunidade defortalecimento da democracia e de restabele-cimento de uma agenda de desenvolvimento.

O legado da política macroeconômica construída

pelo governo do PSDB foi preservado. No entanto,

o Brasil está deixando de aproveitar a excepcional

conjuntura econômica internacional para crescer

com mais intensidade. A partir de que momento o

governo do PT se perdeu? O que ainda pode, ou

deveria, ser feito para o país aproveitar essa con-

juntura econômica mundial?

O Brasil ainda paga o preço pela demagogia doPT na oposição. As bravatas de então levaram oPT no governo a ser ultra-ortodoxo na conduçãoda política econômica. A política fiscal foi apertadaa ponto de praticamente eliminar o investimentopúblico federal e comprometer serviços fundamen-tais, a exemplo da vigilância sanitária, como agorase vê com o ressurgimento de focos de aftosa noMato Grosso do Sul. A dose de juros tem sidocavalar. Dessa maneira, ao mesmo tempo em quereduz investimentos (e eleva a carga tributária), ogoverno aumenta o gasto financeiro. Essa é umacombinação ruim para o crescimento. Apesardisso, o país está crescendo. Isso porque estávamospreparados para o crescimento (que herançamaldita, que nada) e porque tivemos a sorte deencontrar uma situação muito boa na economiainternacional (juros baixos, preços de commoditiesem alta etc). Mas a verdade é que estamos cres-cendo à metade do que cresce a maioria dospaíses emergentes. Não vou nem falar da China,mas veja o Chile e a Argentina, crescendo entre6% e 8%, enquanto nós crescemos entre 3% e4%. Essa diferença de três a quatro pontos é o

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“custo PT”. Custo da ultra-ortodoxia na políticaeconômica, custo da incapacidade de estabelecerregras do jogo claras para o investidor privado ecusto da incompetência e, não raro, improbidadena gestão da coisa pública.

A administração Lula promoveu o aparelhamento

da máquina administrativa do estado pelo PT. Essa

opção, consentida pelo presidente Lula, objetivava

criar as bases para o controle do Estado com vistas

à implantação de um projeto de poder autoritário

e de longo curso? Ou os petistas estavam apenas

ávidos de poder?

Há um pouco desses dois ingredientes no projetode poder do PT: de um lado, ganas de ascendersocialmente não pelo mérito, mas pelas oportu-nidades grandes ou pequenas que o poder ofe-rece; de outro, uma concepção autoritária da po-lítica, que a vê como conquista e concentraçãodos instrumentos de poder do estado e fortaleci-mento de estruturas verticais de mando sobre in-divíduos e organizações. É um projeto que podeconviver com uma fachada de democracia formal,mas que corrói a alma do sistema democrático.Isso, por várias razões: porque não se funda napersuasão, mas principalmente no temor, em leal-dades pessoais e no interesse; porque enxerga nopluralismo da sociedade e no equilíbrio de poderesantes um defeito que uma virtude; porque, enfim,confunde o estado com o partido, em benefíciodeste e em prejuízo da sociedade.

Salvo melhor juízo, o governo do PT deu teste-

munhos inequívocos de puerilidade no relacio-

namento com o Congresso Nacional. Para o

senhor, em que medida o despreparo do presi-

dente e de seu círculo mais íntimo de conselheiros

paralisou o Poder Legislativo, sujou-lhe a imagem

e gerou, na sociedade, o sentimento de que a

classe política, como um todo, não é confiável?

Lula sempre manifestou um solene desprezo peloCongresso. Basta lembrar a infeliz frase dos 300picaretas. Como deputado, foi um parlamentarapagado, de um só mandato. O Congresso e ospartidos são instituições fundamentais da demo-cracia. O presidente tem a responsabilidade deorganizar a maioria para governar, mas tambémtem o dever, como democrata e chefe de estado,de contribuir para fortalecer a legitimidade dospartidos e do Congresso. Não pode tratar parla-mentar como mercadoria e fazer do parlamentoum balcão. Para não enveredar por esse caminhosem volta, é preciso fazer alianças com os maiorespartidos, de preferência antes das eleições e emtorno de um programa comum. Foi o que eu fiz.Por inexperiência ou circunstância, não me cabejulgar, Lula infelizmente fez o inverso. O pior é queo fez sem necessidade: meu governo tinha umaagenda de reformas para aprovar. Qual é de fatoa agenda de reformas do governo Lula?

Até que ponto a crise criada pelo governo do PT

atingiu, deleteriamente, o Congresso? E qual o

prazo necessário para o Poder Legislativo purificar-

se dos pecados veniais e mortais que cometeu e

que contra ele foram perpetrados?

O pior da crise é que a única defesa que restou aogoverno e seu partido é tentar convencer a opiniãopública de que “são todos iguais”, governo, aliadose oposição. O risco é a sociedade dizer “que sevayan todos”. A oposição e, creio eu, a maioria doCongresso estão fazendo o que precisa ser feito

O projeto de poder do PT

pode conviver com uma

fachada de democracia,

mas corrói a alma do

sistema democrático

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Entrevista

para não cair nessa armadilha. E o que precisaser feito não é só cassar alguns mandatos. O Brasilquer saber o que de fato aconteceu. Já se sabeque foram movimentados dezenas ou centenas demilhões de dinheiro sujo. Sabe-se, pelo menos emparte, quem recebeu. Falta descobrir de onde veiotodo esse dinheiro. Ou antes, por onde passou,porque não cabe dúvida de que ele saiu, em últimaanálise, dos cofres públicos.

Ao discursar sobre o aumento das exportações,

Lula busca levar as pessoas a acreditar que esse

dado beneficia a todos, indistintamente. Na sua

opinião, em que momento a classe média enten-

derá que o aumento das exportações, respeitado

o perfil atual do setor, não impacta a sua renda,

beneficiando, na verdade, segmentos restritos?

O aumento das exportações é bom para toda asociedade brasileira. A renda que gera se espalhapela economia, e os dólares reforçam as contasexternas do país. Com o tempo, o sucesso dasexportações atrairá um número cada vez maiorde empresas para o setor. Isso é muito positivo. Aquestão é que o crescimento das exportações,cantado em verso e prosa pelo presidente, poucoou nada tem a ver com os méritos do seu governo.As exportações aumentaram porque, de um lado,a economia mundial está crescendo e os preçosdas nossas commodities de exportação estão em

alta; de outro, porque o câmbio flutuante, os acor-dos comerciais e as reformas estruturais introdu-zidas em meu governo fortaleceram a economiabrasileira. Se alguma coisa esse governo tem feitoé tirar o fôlego de longo prazo das exportações,com uma política de juros indevidamente altos queleva a uma valorização excessiva do real frente aodólar. Isso, mais à frente, pode nos custar caro.

Mesmo que as exportações brasileiras tenham

continuado a se expandir em 2005, este ano foi

jogado fora pelo governo Lula. Encurralado,

tornou-se um ente imóvel. Por sua experiência

frente à administração do estado brasileiro, quais

os prejuízos decorrentes dessa paralisia?

É muito difícil estabelecer uma agenda de governono último ano de mandato, sobretudo quando essaagenda jamais foi definida com clareza nos anosanteriores. O debate eleitoral e as eleições dopróximo ano representam, no entanto, uma opor-tunidade para restabelecer uma agenda de desen-volvimento para o país, pelas razões que já aponteiacima. O povo brasileiro não tem medo de serfeliz. Ele não quer é ser ludibriado. O PSDB entranessa disputa com todas as credenciais. Somoscomprovadamente bons de governo, não temosde desdizer nada do que dissemos, nem escamo-tear nada do que fizemos. Vamos apresentar umaagenda clara, sem a pretensão ridícula de rein-ventar a roda, mas que aponte um caminho seguroe ambicioso de desenvolvimento para o país.

O governo Lula engatou a marcha a ré quanto à

implantação de uma política educacional adequada

e ao fortalecimento das agências reguladoras.

Nessas questões, qual deve ser o compromisso do

PSDB, posto que somente quem governou por oito

anos tem a capacidade e o discernimento de

formular propostas capazes de atender os reclamos

da sociedade?

Para lidar com o problema

da desigualdade, é preciso

fortalecer outras instituições

do estado e da sociedade

civil que contrabalancem a

lógica da acumulação

de riqueza dos mercados

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Na área educacional, devemos restabelecer a prio-ridade para o ensino fundamental e avançar namelhoria da qualidade do ensino. Em 1999, atingi-mos praticamente 100% de matrículas entre ascrianças de 7 a 14 anos. Isso foi possível, entreoutras coisas, por causa do Fundef, aprovado adespeito do voto contrário do PT. O Fundef tambémtrouxe melhoria para o salário dos professores,sobretudo nos estados mais pobres. O que estegoverno fez para dar continuidade ao avanço doensino fundamental? Cabe ao próximo governoretomá-lo. Ainda hoje, de cada 100 crianças quecomeçam, apenas 63 completam o ensinofundamental, por repetência e/ou evasão. Isso tema ver com a qualidade do ensino. Precisamosaumentar o tempo de permanência na escola evoltar a valorizar o magistério. É preciso retomarde onde paramos porque, nestes últimos três anos,pouco ou nada foi feito. Na área econômica, épreciso desatar o nó que vem sufocando o inves-timento em infra-estrutura e comprometendo opotencial de crescimento do país. Falam mal dasprivatizações, mas os grandes investimentos eminfra-estrutura nos últimos dez anos se deram nossetores que foram privatizados em meu governo,sobretudo telecomunicações e portos. Neste gover-no, não se faz privatização e não há investimentopúblico. Vá comparar os investimentos do orça-mento federal entre 1995 e 2002 e entre 2003 e2005 para ver a diferença. O pior é que não háhorizonte. Onde estão os projetos concretos deparcerias público-privadas, iniciativa que o governoapresentou como o maná dos deuses e o PSDBtratou de aperfeiçoar no Senado para livrá-la dospiores vícios de origem? Como tudo neste governo,se fez muito barulho por nada.

Na campanha eleitoral de 2006, qual o discurso

que o PSDB deve, necessariamente, privilegiar para

se credenciar junto aos nichos eleitorais que vota-

ram em Lula sem nunca terem cultivado relações

próximas ou distantes com o ideário petista?

Antes de mais nada, o PSDB deve reforçar seuslaços de confiança com a sociedade. Nós nuncamentimos sobre como vemos o mundo e o quefaríamos no governo. Nossa visão do mundo ésocial-democrática e é contemporânea. Reco-nhecemos a importância do mercado como institui-ção que a história decantou para fazer da compe-tição entre pessoas e grupos o motor da geraçãode riqueza e da inovação. Mas sabemos que omercado não resolve todos os problemas coletivos.Para lidar com esses problemas, sobretudo com oproblema da desigualdade, é preciso fortaleceroutras instituições do estado e da sociedade civilque contrabalancem a lógica de acumulação deriqueza dos mercados. Na sociedade contempo-rânea, não é a burocracia estatal, em sua auto-suficiência, quem pode cumprir esse papel. Aconstrução de um mundo melhor depende cadavez mais de parcerias entre governo e sociedadecivil. É preciso criar instituições que ampliem asoportunidades de participação da sociedade nasdecisões. A partir da reafirmação dessa visão,vamos dizer com franqueza o que o PSDB fará sevoltar ao poder. Sem renegar o que ajudou a cons-truir com o Plano Real, fortalecendo a economia

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de mercado, é preciso dizer como escapar da atualarmadilha econômica: a relação entre taxa decâmbio, dívida interna elevada, taxas de juros altase controle da inflação, que nos condena a taxasde crescimento medíocres e desemprego esta-bilizado em nível elevado. Se fosse fácil escapardela, tanto meu governo como o atual já teriamescapado. Será preciso juntar outra vez compe-tência técnica e habilidade política para desarmá-la, como foi feito com o Plano Real. Com a mesmafranqueza, devemos alertar a sociedade para a crisefiscal que está sendo semeada pelo atual governoquando, por baixo dos superávits primários paraimpressionar o mercado financeiro, deixa o déficitda Previdência explodir e infla os gastos com pes-soal. O próximo governo, por um lado, terá que

desarmar essa bomba-relógio. Por outro lado, teráque afrouxar o garrote dos juros da dívida internapara que, com um crescimento econômico maisrobusto, seja possível pensar numa reforma tribu-tária que não resulte em mais impostos e menorefeito distributivo. Como investir mais em infra-es-trutura? Como aperfeiçoar a rede pública da saúdee da educação? Como fortalecer a agriculturafamiliar? Como extirpar os bolsões de miséria?Esses são os compromissos social-democráticoscontemporâneos. Por fim, o PSDB deve apresentarsuas propostas para reforçar a confiança nasinstituições democráticas. Isso inclui a reforma dosistema eleitoral e partidário, mas também aquestão crítica da segurança pública e o acessorápido às decisões judiciais.

Na medida em que inexistem políticas sociais

efetivas no governo Lula, e apenas uma atuação

paternalista, quais as propostas que o PSDB ne-

cessita consolidar para aperfeiçoar a rede pública

de saúde e educação, fortalecer a economia familiar

e extirpar os bolsões de miséria?

Primeiro, é preciso persistência para não jogar foraos avanços que conseguimos na universalizaçãodo ensino fundamental e da atenção básica àsaúde. Manter um fluxo crescente de recursos paraessas prioridades durante os próximos anos edécadas, como outros países em desenvolvimentofizeram, e dar tempo de os resultados aparecerem.Extirpar os bolsões de miséria, tanto nas grandescidades como no interior do Brasil, exige outro tipode medidas complementando as políticas universa-lizantes nos campos da educação e da saúde. Aspolíticas de transferência de renda do tipo BolsaEscola, agora rebatizada de Bolsa Família, dão umalívio imediato, mas também não são suficientes.Acredito que é possível avançar mais na luta contraa miséria disseminando as iniciativas de desen-volvimento local já experimentadas com êxito em

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Entrevista

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centenas de municípios, distritos e bairros peloBrasil. Essas iniciativas combinam investimentossociais e em infra-estrutura econômica com proje-tos de geração de emprego e renda, sempre emparcerias do governo com as comunidades locais.Se o Brasil inteiro estiver crescendo mais, essa éuma boa forma de fazer a dinâmica do crescimentochegar aos bolsões de miséria.

Um das questões mais agudas no Brasil contem-

porâneo é a da segurança pública. A população

das cidades que estão assoladas pela violência,

pela criminalidade, exigem medidas urgentes para

a criação de um ambiente de relativa paz, de rela-

tiva tranqüilidade, de salvaguarda pessoal. Em suas

preocupações, como o senhor concebe uma política

capaz de ser, de fato transformada, em ações

cotidianas contra a falta de segurança pública?

A violência hoje no Brasil tem duas vertentes, queàs vezes confluem. Uma é a do crime organizadoem torno do tráfico de drogas e de armas, docontrabando, da fraude fiscal, da corrupção nosetor público. Esse, para ser enfrentado, requermais entrosamento das áreas especializadas dapolícia federal, polícias civis, receita, fiscalizaçãobancária, além de mais vigilância nos portos, aero-portos e nas fronteiras. A outra vertente é a docrime mais ou menos desorganizado que assolaprincipalmente bairros pobres das grandes cida-des. Exemplos como o do município de Diadema,na região metropolitana de São Paulo, e do JardimÂngela, na cidade de São Paulo, mostram que épossível diminuir muito a violência a partir de umentrosamento maior, nesse caso entre a polícia, aadministração municipal e a sociedade civil. É claroque, para isso, precisa haver confiança da popu-lação na administração e na polícia, o que requeruma atitude muito firme dos governantes contra acorrupção, inclusive a corrupção policial. Osgovernadores e prefeitos do PSDB têm boas

credenciais nessa matéria e, por isso, têm au-toridade para liderar a administração, a polícia ea sociedade na luta contra a violência.

A crise política em que o país foi submergido

evidencia a necessidade de se reformar o sistema

eleitoral e partidário. Qual seria a maneira ideal

de promover essa reforma? Seria oportuno aten-

tar para os benefícios que o parlamentarismo pode

gerar para a vida pública brasileira?

Receio que, se houvesse um novo plebiscito hoje,nessa crise política que o governo e seu partidocriaram, mas jogaram no colo do Congresso, oparlamentarismo perderia ainda mais feio do queem 1993. Para que, no futuro, se dê uma novachance ao parlamentarismo, precisamos antes demais nada curar as feridas do presidencialismo.O PSDB sempre levantou o tema da reforma elei-toral. Muitos tucanos defenderam a adoção de umsistema misto, proporcional e distrital, semelhanteao alemão. Mais recentemente, o PSDB estimuloua proposta de um sistema proporcional de listafechada. A verdade é que quase que qualqueralternativa parece preferível ao nosso sistemaproporcional com lista aberta, que faz da eleiçãode deputados e vereadores uma guerra de todoscontra todos dentro do mesmo partido. O pro-blema é que tem sido difícil conseguir consensopara qualquer dessas alternativas no Congresso.Para romper a inércia, seria preciso uma mobi-lização forte da sociedade. O próximo Presidentepoderia estimular essa mobilização a partir de umaproposta de reforma eleitoral defendida durante acampanha de 2006, para valer em 2010. Outrocaminho possível seria começar a reforma pelonível municipal, por exemplo, introduzindo o votodistrital para vereador. Devemos intensificar adiscussão dessas alternativas dentro do PSDB nospróximos meses para entrar no processo eleitoraldo ano que vem com uma posição tomada.

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10 Respeito pelo Brasil Agenda45

Sumário

CONVERSA COM

Aécio Neves

O choque do sucesso ............................... 42

Geraldo Alckmin

O caminho do crescimento ....................... 50

Marconi Perillo

Uma agenda obrigatória........................... 64

Eduardo Azeredo

A razão vai vencer a emoção .................... 80

Beto Richa

O governo Lula é apenas umaoperação de marketing ............................. 83

Maria Abadia

O fiel da balança ..................................... 90

SEÇÕES

Entrevista exclusiva:

Fernando Henrique Cardoso ..................................2

CARTA AO LEITORBismarck Maia .................................... 13

CORRESPONDÊNCIA NACIONAL ........... 14

PERFIL POLÍTICOTasso Jereissati .................................. 16

FARSA E TRAGÉDIA ................................. 28

BICO FINO ............................................. 48

CAUSOSOs causos do Teotônio ............................. 88

OLHAR 45 ............................................. 104

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ENSAIO

José Serra

Dez toques sobre a ética e o PSDB ............. 31

José Roberto Afonso

Economia imergente ................................. 40

Luiz Paulo Velloso Lucas

Ética democrática..................................... 92

Eduardo Graeff

Reforma eleitoral .................................... 102

PONTO DE VISTA

Tasso Jereissati

Os novos desafios .................................... 21

Marisa Serrano

O pêndulo feminino ................................. 27

Aécio Neves

Gestão pública para o cidadão ................. 46

Geraldo Alckmin

Educação e desenvolvimento..................... 54

AÇÃO GOVERNAMENTAL

Ceará

Crescimento com inclusão social ............... 70

Pará

Um novo Pará surge com o PSDB .............. 78

Paraíba

O pacto federativo é um faz-de-conta ....... 86

Roraima

Raposa-Serra do Sol ............................... 100ESPECIAL

PSDB Mulher ............................................ 24

PSDB no Congresso ................................. 34

Nova sede ................................................ 58

Juventude do PSDB................................... 67

Agenda 45............................................... 72

Trabalho................................................... 82

Políticas sociais ......................................... 95

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12 Respeito pelo Brasil Agenda45

Expediente

AGENDA 45É uma publicaçãodo PSDB - Partido da SocialDemocracia Brasileira

EDITOR

Wilson Teixeira Soares

SUBEDITOR

Maria Tereza Lopes Teixeira

EDITORA DE ARTE

Clarissa Santos

ILUSTRAÇÕES

Renato Palet

CONSELHO EDITORIAL

André Campos, Bismarck Maia,

Geraldo Moura, Sérgio Silva,

Wilson Teixeira Soares

IMPRESSÃO

Alpha Gráfica

TIRAGEM

5.000 exemplares

INSTITUTO TEOTÔNIO VILELA

(2003/2005)

DIRETORIA EXECUTIVA

PRESIDENTE

Deputado Sebastião Madeira

DIRETOR FINANCEIRO

Deputado Átila Lira

DIRETOR DE ESTUDOS E PESQUISAS

Deputado Bonifácio de Andrada

DIRETOR DE MARKETING POLÍTICO E ELEITORAL

Deputado Nilson Pinto

DIRETORA DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO

Deputada Professora Raquel Teixeira

SECRETÁRIO-EXECUTIVO

Xico Graziano

CONSELHO DELIBERATIVO

Affonso Camargo, Aluísio Pimenta,

Antero Paes de Barros, Átila Lira, Bonifácio de Andrada,

Carlos Américo Pacheco, Eduardo Graeff, João Gilberto

Lucas Coelho, José Aníbal P. de Pontes,

Jutahy Junior, Léo Alcântara, Lúcio Alcântara, Lula

Almeida, Manoel Salviano, Odaísa Fernandes Ferreira,

Professora Raquel Teixeira, Renata Covas Lopes,

Ronaldo César Coelho, Rosa Maria Lima de Freitas,

Ruth Cardoso, Sebastião Madeira,

Sérgio Besserman Vianna, Sérgio Fausto,

Teotônio Vilela Filho, Xico Graziano, Yeda Crusius

CONSELHO FISCAL

Gustavo Ribeiro, Lídia Quinan, Lobbe Neto,

Ronaldo Dimas, Thelma de Oliviera, Zenaldo Coutinho

PRESIDENTE DE HONRA

Fernando Henrique CardosoPRESIDENTE

José Serra1º VICE-PRESIDENTE

Eduardo AzeredoVICE-PRESIDENTES

Aloysio Nunes Ferreira FilhoÁlvaro DiasCarlos Alberto LeréiaDante de OliveiraLeonel PavanSECRETÁRIO GERAL

Bismarck Maia1º SECRETÁRIO

Eduardo Paes2º SECRETÁRIO

Geraldo MeloTESOUREIRO

João AlmeidaTESOUREIRO ADJUNTO

Luiz Paulo Vellozo LucasVOGAIS

Arnaldo Madeira, Eduardo Gomes, Jutahy Junior,Luiz Carlos Hauly, Nilson Pinto, Rafael Guerra,Sérgio Guerra, Vicente Arruda, Yeda CrusiusSUPLENTES:

Anivaldo Vale, Bosco Costa, Fátima Pelaes, FirminoFilho, Helenildo Ribeiro, Maria de Lourdes AbadiaLÍDERES:

Senado FederalArthur VirgílioCâmara dos DeputadosAlberto GoldmanPresidente do ITVSebastião MadeiraSECRETARIADO

Secretário Nacional de Relações Trabalhistas e SindicaisWalter BarelliSecretária Nacional da MulherMarisa SerranoSecretário Nacional da JuventudeBruno GalanSecretário de Relações InternacionaisMárcio FortesSecretário Nacional de PrefeitosCícero LucenaEX-PRESIDENTES

Franco Montoro (in memorian), Mário Covas(in memorian), Fernando Henrique Cardoso,José Richa (in memorian), Tasso Jereissati, Pimenta daVeiga, Artur da Távola, Teotônio Vilela, José AnibalSECRETÁRIO EXECUTIVO

Sérgio Moreira da Silva

VII COMISSÃO EXECUTIVA NACIONALELEITA EM 21/11/03

(2003/2005)

CAPA: arte sobre foto

da OBRITONEWS

(todas as fotos da

OBRITONEWS foram

cedidas para a AGENDA 45)

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Agenda45 novembro de 2005 13

Carta ao leitor

Respeito pelo BrasilDeputado Bismarck MaiaSecretário-geral da Comissão Executiva Nacional do PSDB

Desde que o consenso da sociedade brasileira responsabilizou o PSDB pela

tarefa de fiscalizar o governo Lula, exercendo uma oposição responsável,

transparente e construtiva, o partido dedicou-se a construir uma nova

estratégia para o Brasil. Infensos às tentações, pautamos o nosso trabalho

pela busca da justiça e da ética, conscientes de que governar um país como

o nosso exige mais do que palavras, emoções e intenções que não se transformam em gestos, em

obras tangíveis.

Desde janeiro de 2003, entregamo-nos à tarefa de ratificar os nossos compromissos com o

país, por intermédio de intervenções legislativas em âmbito federal e da aplicação de políticas

públicas competentes nos estados e municípios sob responsabilidade tucana.

Entre aquele momento e o dia de hoje, quando celebramos, nesta Convenção Nacional, a

decisão de nos empenharmos, juntos, em torno da inabalável decisão de governar o Brasil, crescemos

e nos afirmamos ante os olhos da opinião pública.

Essa nova realidade está retratada na Convenção Nacional de nosso partido, que ao longo de

sua existência administrou, com seriedade e honestidade, o Estado brasileiro durante oito anos de

realizações que transformaram, para melhor, a face do país.

Implantamos o Plano Real, garroteamos a inflação, introduzimos novos hábitos. E o paradigma

da preocupação tucana com o futuro foi testemunhado com a criação e a aprovação da Lei de

Responsabilidade Fiscal.

Vivemos, hoje, em um novo e diferente país. Que construímos sem nos entregar a sonhos

grandiloqüentes, megalomaníacos, irrealizáveis. Sabemos o que queremos e temos consciência das

dificuldades que o caminho nos reserva.

Mas, em meio da maior crise política jamais vivida pela República, filha legítima da cupidez e

da corrupção, cultivamos a plena consciência de que a opinião pública espera de nós, tucanos, que

jamais deixemos de trabalhar a favor do Brasil.

Sabemos o que queremos e sabemos como atingir os nossos objetivos. Apesar das dificuldades,

apesar das dúvidas, apesar das incertezas desses tempos que vivemos, o PSDB acalenta um sonho.

O sonho de sedimentar um ambiente que garanta aos mais carentes acesso efetivo aos bens da

cidadania plena e, portanto, à justiça social.

Hoje, quando o PSDB dá um novo e grandioso passo em direção a um novo tempo, o partido

firma, confirma e reafirma a inabalável decisão de criar e oferecer ao livre arbítrio da vontade

pública uma nova Agenda para o País.

Uma Agenda caracterizada, antes e acima de tudo, pela irrevogável decisão de dedicar, sob

todos os aspectos, Respeito pelo Brasil.

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Correspondência nacional

E o Vavá, hein?Até quando os senadores e deputados do PSDB vão deixar oLula falar tanta besteira e ficar por isso mesmo? Só vejo oLula falar, falar, falar e respostas que é bom, nada. Agorasurgiu a história vergonhosa do Vavá, irmão do Lula, que nãoresultou em coisa alguma. O Collor caiu por muito menos. Aessa altura da partida, estou cada vez mais preocupado com essequadro, mas ainda continuo confiando no PSDB._________________________ [email protected], São Paulo, SP

MecanismoJá que entrou na moda falar em reforma política em decorrênciado mar de lama criado pelo governo Lula, penso que a classepolítica deveria meditar sobre algumas salvaguardas para oexercício de cargos públicos. Afinal, a ignorância nunca foi útila ninguém. É preciso, também, estabelecer um mecanismopara impedir que parlamentares que renunciam para escaparda cassação possam se candidatar como se nada tivessem feitocontra o país.______________________ Augusto B. Vianna, Rio de Janeiro, RJ

Cachorro mortoInfelizmente, o PSDB está poupando Lula. Aparentemente,os representantes do partido no Congresso Nacional crêem queele está morto e se portam eticamente, respeitando o ditado deque não se chuta cachorro morto. Esse é um erro estratégico.Lula voltou a respirar e já saiu da UTI. Abram o olho,tucanos._____________________ George Boos, Brusque, Santa Catarina

TraidoresEm frente, pessoal! Agora vamos ver de camarote a cambadado PT cair que nem marreco alvejado. Essa turma não sereeleje nem para síndico de prédio. Bando de traidores._______________________ Dante M. Mousquer, Rio Grande, RS

Álvaro DiasQuero parabenizá-lo por sua luta em favor do povo brasileiro.Nunca desista disso. Depois que o PT chegou ao governo, estamosdesamparados. Por favor, não pare de prostestar. Estamos sendosaqueados pelo governo Lula e dependemos da atuação deparlamentares como o senhor para transmitir os nossos senti-mentos, os nossos protestos.____________________________ Lucídio Pagnussat, Osasco, SP

Transtorno bipolarO governo do PT age na calada da noite. De dia fala umacoisa. Quando o sol se põe, aumenta a gasolina. Eu tenhoconsciência de que isso representa muito pouco para a inflação.Mas, para os assalariados que dependem de transporte para selocomover, para trabalhar, o repasse do aumento dos combustíveispesa no orçamento mensal.__________________________ Cátia A. de Souza, Araruama, RJ

CorrupçãoPrimeiro, foi o Severino. Depois, veio o Maluf. Senhoresparlamentares do PSDB, é óbvio que o governo Lula trabalhaincessantemente para desviar o foco de atenção e, assim, esvaziaras CPIs que estão revelando para a sociedade brasileira umesquema de corrupção inédito no Brasil.__________________ Rogério D. F. Simões, Belo Horizonte, MG

PesadeloNós, tucanos, vamos acordar de um sonho e encarar um pesadelo.O sonho seria a máscara do PT cair, definitivamente. O pesadeloque corremos o risco de viver é a reeleição de Lula. Temos quepartir para cima do PT e exigir a saída desses corruptos. Lulatem a mídia, o povão aplaudindo, a caneta na mão, os cofrescheios e uma tremenda cara de pau.__________________________ Patrícia C. Nogueira, Barretos, SP

PodridãoO ex-presidente Fernando Henrique exortou o PT a defendera história do partido. Mas, infelizmente, isso não será possível.O partido criado por Lula se desviou do caminho, abandonouos seus princípios. Agora, não tem mais volta. Infelizmente, emvirtude desse mar de lama, os brasileiros não sabem mais emquem acreditar. Na minha opinião, a justiça não poderia vedar

"A mentira, o cinismo

e a falta de ética são bens democráticos

lastimavelmente ao alcance de todos.

Não é mesmo, presidente Lula ?"

________________________________ Izabel Marina, Brasília, DF

14 Respeito pelo Brasil Agenda45

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os olhos para tanta podridão. Mas, tenham certeza, nas próximaseleições vocês verão o resultado das urnas, porque o povo, aindaque decepcionado, aos poucos está despertando. E, se Deus quiser,saberá separar o joio do trigo.________________________ Messias J. Payão, Rio das Pedras, SP

QuadrilhaLula pede paciência para todos nós e diz que não pode punirninguém. Juntos, porém, nós podemos puni-lo e à sua quadrilha._________________________ Saul D. Martins, Rio de Janeiro, RJ

Lula, o dissimuladoAté quando a oposição vai deixar Lula, esse dissimulado, jogara culpa de tudo no presidente Fernando Henrique Cardoso eno governo do PSDB? O PT montou uma rede de corrupçãojamais vista e promove comícios encomendados, com direito atorcida do PC do B. Basta!______________________________ Priscilla Almeida, Brasília, DF

Vergonha na caraSe o Lula tivesse o mínimo de vergonha na cara, pegaria ochapéu, renunciaria ao mandato e ficaria exilado em SãoBernardo do Campo. O PT faliu, acabou. O Collor, por muitomenos, foi impedido de continuar o mandato e morreu para avida pública. O Lula ainda não entendeu que o povo não acreditamais nele.______________________________ Hélio M. Vale, São Paulo, SP

FantasiaTenho acompanhado as notícias sobre a crise e, no meu entender,não há nenhuma vontade do presidente Lula e de seus auxiliaresem esclarecer os fatos. A fantasia que armaram destina-se aencobrir fatos gravíssimos. Na minha análise, os empréstimosforam feitos para servirem de fachada, a fim de esquentardinheiro sujo.________________________________ Dario Martins, Suzano, SP

Dedo na feridaEu quero parabenizar o senador Tasso Jereissati pela suacoragem de enfiar no dedo na ferida do governo do PT. Lula é,sim, o "Rei do Trambique"._____________________________ Sílvio Soares, Porto Alegre, RS

Socorro, PSDB!Prezados e futuros mandatários deste enorme Brasil. Em nomede 495 ex-cabos da FAB legalmente anistiados pedimos,formalmente, socorro ao PSDB. Até o momento, os nossos direitosnão foram respeitados. Estamos sem identificação, e os atrasadosnão foram inseridos nas portarias ministeriais referentes à concessãoda anistia. O ex-presidente do PT, José Genoíno, que foiderrubado pelo "mensalão", não foi anistiado, mas foi beneficiadocom a concessão de aposentadoria pela Câmara._________________________ Eliezer Figueira, Rio de Janeiro, RJ

Balela!Causa indignação diária ver Lula afirmar que as denúncias,acusações e evidências da corrupção implantada por seu governo,por intermédio de José Dirceu e companhia, estão sendoinvestigadas. Balela! Lula pensa que pode enganar todo mundoo tempo inteiro. A podridão que estava escondida em baixo dotapete só emergiu em função da traição que o PT e o ex-ministroJosé Dirceu cometeram contra o ex-deputado Roberto Jeffersone o PTB._______________________ Luiz Carlos Espíndola, São Paulo, SP

PrivilégiosNa minha opinião, Lula é o grande culpado pela corrupçãoimplantada em seu governo. Todas as evidências apontamnesse sentido. É imprescindível que a oposição, o PSDB, trabalhepara provar essa realidade a todos nós. Lula, depois de se instalarno Palácio do Planalto, lançou mão de todos os privilégios, aponto de um de seus filhos ter se tornado, da noite para o dia,um empresário bem sucedido no ramo dos jogos eletrônicos, mesmosem nunca antes ter trabalhado. Collor caiu por muito menos.Lula enganou muito mais, roubou muito mais e mentiu muitomais, envergonhando o brio do povo brasileiro.___________________________ Signei Sebastiani, Carazinho RS

Cartas devem ser encaminhadas para

Agenda 45, Correspondência Nacional,

e-mail: [email protected]. As cartas

devem ser assinadas e conter endereço e

telefone do remetente. A Agenda 45

reserva-se o direito de selecioná-las e

resumi-las para publicação.

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Perfil político

Mobilização pelareconstrução do país

Tasso Jereissati

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Ao assumir a presidência nacional do PSDB, pela segunda vez, o senador TassoJereissati tem em mente mobilizar os dirigentes e a militância tucana em torno de umprojeto de retomada das esperanças dos brasileiros na reconstrução do país. Na visãode Jereissati, que há quase 20 anos lidera o projeto político do PSDB no Ceará, com aeleição de Lula para a Presidência da República o falso messianismo do Partido dosTrabalhadores afogou-se na incompetência administrativa, marcada por uma série deescândalos que vêm frustrando todas as expectativas.

No seu primeiro discurso no Senado, em março de 2003, Tasso Jereissati já chamavaa atenção para a falta de criatividade e ousadia do novo governo. Criticava a política dosjuros altos, a ausência de investimentos públicos na infra-estrutura e o fiasco dos programassociais que haviam sido as peças fundamentais da eleição de Lula. Ponderava, todavia,que o PSDB faria uma oposição propositiva para assegurar a governabilidade, mas nãoabriria mão de fiscalizar e cobrar as políticas públicas que atendessem as necessidadesbásicas da população nas áreas de saúde, educação, segurança, emprego e renda.

Tasso Jereissati começou sua vida pública no Ceará, emergindo da nova geração deempresários cearenses. Sua eleição para governador do estado, em 1986, aos 37 anos,caracterizou a ruptura com o sistema coronelista predominante. Tasso implantou umasérie de experiências administrativas que depois foram transplantadas para o âmbitofederal. Entre elas, destacaram-se os Agentes de Saúde, Desenvolvimento Sustentável,Reforma Fiscal, programas como Bolsa-Escola, Gestão dos Recursos Hídricos, Luzem Casa e Plano Plurianual. Os Agentes de Saúde, por exemplo, reconhecidosinternacionalmente como programa de baixo custo e grande influência na melhoria do

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Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), tiveram início no Ceará, em 1987, no seuprimeiro governo.

Foi uma idéia do médico sanitarista Carllile Lavor, então secretário de Saúde, paradeflagrar o projeto de mudanças com que o jovem governador propunha modificaruma das faces mais cruéis da pobreza cearense esculpida ao longo dos séculos pelasdesigualdades regionais - a mortalidade infantil. E conseguiu: um relatório do BancoMundial apontou o programa como modelo a ser seguido pelos países pobres, porquecom ele o Ceará conseguiu reduzir a mortalidade infantil de 100 mortes por cada grupode 1.000 nascidos vivos, na década de 80, para 23 por cada grupo de 1.000, em 2002.Esse dado tornou-se um dos marcos na ruptura do novo modelo político com oclientelismo, que consistia na manutenção do poder pela distribuição de favores e aprática do assistencialismo.

Com o êxito das inovações administrativas e do esforço de mudança no primeirogoverno de Tasso, o Ceará resgatou sua credibilidade, atraindo novos investimentos

públicos e privados. Apoiado pela população eestimulado pela confiança nacional e internacional noprojeto de mudanças, o estado aparece, em relatórioda ONU, como o que registrou o maior crescimentodo IDH do país, no período de 1995 a 2002, para oqual a educação contribuiu com 60,78%. É que, aoconcluir o seu terceiro mandato, Tasso havia garantidoa presença de 97% das crianças dos sete aos 14 anosna escola.

Tasso não só confirmava a vocação herdada dopai, o senador Carlos Jereissati, falecido em 1963,como também colocava em prática as idéiasdefendidas pelos jovens empresários do CentroIndustrial do Ceará (CIC) - embrião do projetopolítico de mudanças - do qual ele saiu para governaro Ceará de 1987 a 1991, de 1995 a 1998 e de 1999 a

2002. Com os resultados e repercussões da reforma do estado, Tasso tornou-se presidentenacional do partido de 1º de setembro de 1991 a 14 de maio de 1994. Na presidênciado PSDB, ele foi peça fundamental na articulação da candidatura vitoriosa à Presidênciada República do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso. Era a chegadado PSDB, um partido novo, ao comando de poder do país.

Nas suas primeiras ações políticas, Tasso já se sintonizava com o plano federal. Eletransformou o CIC em fórum de debate nacional do qual participaram as principaislideranças políticas e econômicas do país. E foi o organizador do primeiro comitêcearense da campanha pelas eleições diretas. Em 1986, depois de uma cirurgia docoração em Cleveland, nos Estados Unidos, Tasso elegeu-se governador com 52,3%dos votos. No governo, saneou as finanças do estado altamente endividado e semcrédito, em atraso inclusive de cinco meses com os salários do funcionalismo, moralizou

Ao concluir o seu

terceiro mandato,

Tasso havia

garantido a presença

de 97% das crianças

dos sete aos 14 anos

na escola

Perfil político

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Agenda45 novembro de 2005 19

a administração, colocou a máquina a serviço da população e devolveu a auto-estima aocearense.

Em 1994, foi eleito com 56% dos votos, no primeiro turno, para o segundo governo.Priorizou os programas de infra-estrutura e inclusão social, em parceria com o governofederal e instituições como o Banco Mundial (Bird) e o Banco Interamericano deDesenvolvimento (BID). Isso colocou o Ceará entre as economias emergentes, bene-ficiado por ações inovadoras como a reforma fiscal, a municipalização da educação eda saúde, a atração de indústrias, a co-gestão e as parcerias com as comunidades, apolítica das águas, a interligação de bacias, a unificação da segurança pública, a construçãode liceus de artes e ofícios, de estradas, de redes de eletrificação e os investimentos nopotencial turístico para a geração de emprego e renda.

Reeleito para o terceiro mandato, também no primeiro turno, com 62,7% dosvotos, Tasso tornou-se o segundo governante a conseguir essa façanha nos 110 anos dahistória republicana do estado. De 1999 a 2002, foram implementados grandes projetosde infra-estrutura, com o objetivo de assegurar o desenvolvimento do estado. A barragemdo Castanhão, com capacidade para 6 bilhões de metros cúbicos, preparou o Cearápara receber, sem problemas, a transposição do São Francisco. Outro grande marcoforam as obras do Porto do Pecém, que o deixaram em condições de receber a siderúrgicajá anunciada para o Ceará, bem como as do aeroporto internacional de Fortaleza, queajudaram no crescimento do turismo e fortaleceram o sistema de transporte do estado.Outros grandes projetos como a interligação de bacias, de estradas e redes elétricascontribuíram para a melhoria de vida da população. O Metrofor, projeto iniciado noseu governo, sofreu paralisações por falta dos repasses do governo federal.

Ao terminar seu terceiro mandato de governador do Ceará, Tasso Jereissati optoupor uma nova experiência política. Disputou uma vaga no Senado e foi eleito, emoutubro de 2002, com 31,52% do total da votação. Transmitiu o governo ao vice-governador Beni Veras, seu ex-companheiro de CIC, e sentou-se na mesma cadeira do

Reeleito para o terceiro

mandato, também no

primeiro turno, com 62,7%

dos votos, Tasso tornou-se

o segundo governante a

conseguir essa façanha nos

110 anos da história

republicana do estado

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20 Respeito pelo Brasil Agenda45

pai, prometendo "uma oposição propositiva". Defendeu a governabilidade e logocomeçou a criticar as práticas clientelistas do governo Lula, o fiasco dos programassociais, os juros altos, a falta de investimentos públicos. Tasso, senador, cobrava dogoverno mais ousadia e criatividade. Foi o primeiro a acenar, no Senado, com adesconfiança pública sobre o todo-poderoso tesoureiro do PT, Delúbio Soares, agoraexpulso do partido. Na época, Tasso foi ameaçado pelo PT com um processo noSupremo Tribunal Federal.

O senador Tasso Jereissati foi responsável pela criação da Subcomissão de SegurançaPública, que contribuiu com debates técnicos para o aperfeiçoamento das leis de combateà violência e para a elaboração do Estatuto do Desarmamento. Além da subcomissão,Tasso também preside a Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo, que discuteo novo modelo de agências de desenvolvimento regional, como a Sudene e Sudam, e adefinição de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social(BNDES), além de projetos de redução das desigualdades regionais. É ainda membrodas Comissões de Assuntos Econômicos e de Infra-Estrutura e considerado um dospolíticos de maior influência no Congresso. Teve participação ativa no debate, votaçãoe aprovação dos chamados grandes projetos, como da Reforma Tributária, leis dasParcerias Público-Privadas e Células-Tronco, entre outras.

Os fatores que traçaram a carreira política de Tasso Jereissati não estão apenas nosolhos azuis que o popularizaram nas campanhas eleitorais do Ceará como o "galeguimdos zói azul" - plágio de uma música do compositor e cantor Genival Lacerda. Estãotambém nos eleitores fiéis, na sua história de empresário bem-sucedido, no bom sensoe na maneira de administrar com transparência. Essa é a bagagem que Tasso Jereissatitraz para o seu novo projeto no comando nacional do PSDB.

Os fatores que traçaram

a carreira política de

Tasso Jereissati estão nos

eleitores fiéis,

na sua história de

empresário bem-sucedido,

no bom senso e na

maneira de administrar

com transparência

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Ponto de vista

Os novos desafios

Tasso Jereissati*

(*) Ex-governador do Ceará, senador pelo PSDB

Em 1994, quando o PSDB chegou à Presidência da República com Fernando Henrique Cardoso,os grandes desafios eram o combate à inflação descontrolada, a recuperação da economia, ocombate ao desemprego e o resgate de uma secular dívida social, revelada notadamente nosaltos níveis de mortalidade infantil e no enorme contingente de crianças fora da escola. Enfrentamosesses males com obstinação, e os resultados vieram.

A estabilidade econômica, cujo marco inicial foi o Plano Real, foi conquistada a duras penas,exigindo muito sacrifício de todos os brasileiros. O controle da inflação demandou enorme esforçofiscal, que envolveu difíceis decisões e importantes instrumentos como a renegociação das dívidasdos estados, o sistema de metas, o câmbio flutuante e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Tudoisso foi alcançado, em boa medida, pela enorme credibilidade do presidente Fernando Henrique,que conduziu todo esse processo com responsabilidade e critério.

A mortalidade infantil, a realidade mais cruel de nosso passado recente, foi enfrentada comdedicação apaixonada. Os programas de saúde familiar, baseados na experiência vitoriosa dosagentes de saúde do Ceará, bem como o investimento maciço em saneamento e saúde públicaforam fundamentais na melhoria das condições de vida das famílias pobres e na conseqüenteredução da mortalidade.

Da mesma forma, de 1994 a 2002, o governo federal trouxe para a escola 97 % das criançascom idade entre sete e 14 anos, num feito histórico para a educação neste país. Outro avançoimportantíssimo foi o combate ao trabalho infantil e as políticas de proteção à criança. Mais de600 mil crianças com idades entre sete e 14 anos foram retiradas do trabalho penoso e insalubreem carvoarias, olarias e no canavial. Tudo isso foi obtido em meio a graves crises internacionais,que atingiram especialmente a Rússia, o México e a Argentina, estancaram a economia japonesae abalaram os chamados “Tigres Asiáticos”.

Hoje os desafios são outros, mas não menos problemáticos. Na economia, vencida a inflação, oproblema agora são os juros altos, que deixam a economia estagnada, impedindo odesenvolvimento. A opção por altas taxas de juros com receio da volta do processo inflacionáriojá esgotou sua eficiência, a um custo muito alto, criando uma armadilha aparentemente insuperávelpara a atividade econômica. A cega busca de superávits, construída essencialmente com corte noinvestimento público e uma insuportável carga tributária, já produz efeito contrário, afastando oinvestidor privado do setor produtivo - o que, por sua vez, acabará gerando desemprego. Épreciso enfrentar o problema dos juros elevados no nascedouro: um setor público hipertrofiado

Page 24: Agenda 45 1

22 Respeito pelo Brasil Agenda45

Na área

social, um dos

desafios mais

urgentes é

não deixar

que o

retrocesso

que se

avizinha se

transforme

em realidade.

Ponto de vista

que, excluindo a conta dos juros reais pagos, retira do setor privado aproximadamente 32% do PIB,com baixíssimo retorno em serviços e infra-estrutura. Conseqüentemente, é chegado o momento deenfrentar o desafio de melhorar a qualidade dos gastos públicos, investigando quais são e estimulandoos projetos com melhor retorno, combatendo os desperdícios e o clientelismo e, principalmente, oproblema da baixa eficiência gerencial do setor público, seguindo, por exemplo, o caminho trilhadopelos governos de Minas Gerais e São Paulo.

Na área social, um dos desafios mais urgentes é não deixar que o retrocesso que se avizinha setransforme em realidade. Depois do fiasco de um programa de combate à fome equivocado nodiagnóstico e nas prescrições e incompetente na execução, o carro-chefe da propaganda oficial é aconsolidação, sob novo nome, dos programas de transferência de renda criados na gestão do presidente

Fernando Henrique Cardoso.

A descontinuidade administrativa em áreas como educação, saúde e saneamento,o descumprimento dos mínimos constitucionais de gastos em saúde, a falta de controledas condições a serem cumpridas pelos beneficiários dos programas de transferênciade renda, as idas e vindas de propostas voltadas ao financiamento do ensino médioe superior são a causa do recrudescimento de problemas que poderiam estar supe-rados, mas que voltaram ao centro das atenções devido ao total descaso de queforam vítimas nos últimos três anos.

É preciso implementar políticas de transferência de renda, seja por meio de umaprática tributária mais justa, que privilegie o trabalho e a produção, seja por meiode programas compensadores do desequilíbrio, que favoreçam as camadas maispobres da população, vinculando-as a ações dirigidas à educação de crianças, àalfabetização de jovens e adultos, à prevenção de doenças materno-infantis.

Na saúde, não podemos perder o foco da prevenção de doenças, por meio daimplantação e ampliação dos sistemas de esgotamento sanitário e de abastecimento

de água tratada, segurança alimentar e até mesmo de planejamento urbano, nos aspectos que serefletem na saúde pública. É necessário reverter o quadro observado durante o ano de 2005. Em novemeses, o governo federal empenhou menos de 2% dos recursos destinados ao investimento emsaneamento a cargo do Ministério das Cidades. Desse total, nada foi executado. Na mesma ação, oMinistério da Saúde executou apenas 0,7%.

No quesito educação, temos que ir muito além de trazer as crianças para a escola. Isso nós já fizemoscom bastante êxito graças ao Fundef e à exigência de programas como o Bolsa Escola e de Erradicaçãodo Trabalho Infantil (PETI). O desafio agora é melhorar a qualidade do ensino. Apenas para citaralgumas propostas, essa melhora implica, evidentemente, incentivo e aprimoramento na formaçãodos professores, tempo de permanência das crianças na escola, investimento na infra-estrutura escolar,especialmente na instalação de bibliotecas, e informatização. Fortalecer os níveis de ensino básico emédio é fundamental, com repercussão a médio prazo no sistema como um todo, sem perder de vista

Page 25: Agenda 45 1

Agenda45 novembro de 2005 23

a necessidade urgente de reduzir drasticamente astaxas de analfabetismo de jovens e adultos. É precisoestimular o ensino profissionalizante e estudar umareforma universitária com prioridade na qualidade,combatendo o exagerado mercantilismo da edu-cação superior.

Em todas essas questões, deve ser considerada agritante desigualdade entre as diversas regiões dopaís. Não se pode mais postergar a discussão sobrea necessidade de adotar mecanismos e critérios derepartição diferenciada de recursos. É preciso levar em conta não apenas o tamanho da população,mas os diferentes graus de desenvolvimento de cada região.

Outro grande desafio é a questão da segurança pública. É inquestionável que esse problema temprofundas raízes em nossas outras mazelas sociais, mas o combate a questões como desemprego emá distribuição de renda só trarão resultados a longo prazo. É preciso enfrentar o problema comsoluções mais urgentes para a redução dos altos níveis de criminalidade. Aparelhar e reformular aspolícias são medidas de impacto quase imediato. Enfrentar a corrupção policial e impedir a impunidadesão medidas que demandam muito mais vontade política do que propriamente recursos financeiros.

Os grandes conflitos agrários surgidos no governo atual tornam o problema do campo um dos grandesdesafios a ser enfrentado. Os programas voltados à agricultura familiar, à organização agrária e àpaz no campo, praticamente esquecidos durante o governo atual, devem ser fortalecidos e ampliados,como formas que são de melhoria da qualidade de vida das populações rurais de baixa renda.

A esses desafios somam-se novas demandas geradas pelas transformações em curso no país. Oscrescentes níveis de exportações observados desde 2002 criam oportunidades de aceleração docrescimento da economia, mas evidenciam, também, as deficiências de nossa infra-estrutura detransportes e defesa sanitária. Propostas tímidas e mal concebidas no campo tributário ficaram longede reverter - ou pelo menos conter - o aumento da carga de impostos sobre a sociedade. A regula-mentação de parcerias público-privadas em obras de infra-estrutura não rendeu até agora um projetosequer no plano federal. Enquanto isso, tentativas reiteradas de limitar a independência das agênciasreguladoras afastam investimentos privados, e o viés estatista-centralizador planta obstáculos à expansão,especialmente do setor elétrico.

Sem pretender esgotar todos os problemas do Brasil que são a fonte ou os reflexos de fortes desigual-dades sociais, estes são os novos desafios. Mais uma missão que se impõe ao PSDB, partido que,forjado no exemplo de gigantes como Covas, Montoro e Richa, não se recusará a enfrentá-la. OPSDB colocou o Brasil no rumo do crescimento sustentado e do progresso social. É nesse sentido queexorto os tucanos de hoje a unir esforços no enfrentamento dessa tarefa. Até a vitória nas urnas e,além, na continuidade da construção do Brasil dos nossos sonhos.

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24 Respeito pelo Brasil Agenda45

Uma históriade lutas,reivindicaçõese vitórias

PSDB Mulher

Mulheres tucanas

As eleições municipais de 2004 revelaram, para quem ainda insistia

em acreditar que o PSDB se encontrava em fase minguante, que a

sociedade brasileira, valendo-se de um adequado sistema de pesos e

contrapesos, continua a dedicar plena confiança ao partido. Os resul-

tados oficiais garantiram aos tucanos a vitória no pleito em que os

candidatos da legenda alcançaram a maior taxa de sucesso eleitoral

entre todos os partidos que concorreram aos cargos majoritários e

proporcionais.

A taxa de sucesso do PSDB não contemplou apenas as candida-

turas masculinas. Também as mulheres tucanas obtiveram um resul-

tado mais do que expressivo, atestando o sucesso de todo um

planejamento, implantado a partir de 2001, para aumentar a presença

feminina no poder Legislativo. No pleito do ano passado, o partido

comemorou o êxito, nas urnas, de 769 de suas candidatas.

A eleição de 55 prefeitas, 86 vice-prefeitas e 628 vereadoras

retrata, de maneira sintética, uma história de sucesso, cujo primeiro

capítulo foi escrito há apenas sete anos. Em 1998, decididas a trabalhar

pela reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, as mulheres

tucanas deram à luz o PSDB Mulher. E desde então, com rigor, método

e persistência, transformaram esse nicho partidário em uma célula

que se expande com vigor absoluto.

Em uma sociedade que ainda cultiva dogmas contra a figura

feminina, os primeiros passos do PSDB Mulher foram marcados pela

necessidade de cunhar uma plataforma política capaz de espelhar o

sentimento, a percepção e a natural emoção do sexo que, por muito

tempo, foi equivocadamente rotulado de frágil. Esses pressupostos

Page 27: Agenda 45 1

Agenda45 novembro de 2005 25

de ação política tomaram corpo durante o Seminário

para a Discussão e Redefinição do Papel de Militante

do PSDB Mulher.

Nesse encontro, 50 mulheres tucanas, represen-

tando 17 estados, refletiram durante três dias sobre

objetivos, foco e missão do núcleo feminino do parti-

do. E o resultado dessa iniciativa foi corporificado

no documento Carta de Brasília, que se transformou

na orientação de vôo das tucanas para expandir a

presença das mulheres nos três poderes da República.

Deflagrado o movimento que garantiu organi-

cidade às mulheres tucanas, no pleito de 2000 elas se

submeteram ao primeiro teste das urnas. Com sucesso

indiscutível. Naquele ano, o PSDB Mulher elegeu três

vice-governadoras, 57 prefeitas, 67 vice-prefeitas e 865

vereadoras, totalizando a vitória de 992 candidatas

do partido.

Conscientes de que as eleições de 2002 marcariam

um divisor de águas na existência do PSDB Mulher,

as tucanas realizaram, em fevereiro daquele ano, um

encontro com as pré-candidatas. Com a participação

de 301 mulheres, que representaram todos os estados

brasileiros, o braço feminino tucano formalizou a

decisão de contribuir formalmente para a campanha

de José Serra à presidência da República.

Liderado pela deputada Marisa Serrano, atual vice-

prefeita de Campo Grande (MS), o PSDB Mulher

formatou propostas para o programa de governo

de Serra. O “olhar feminino” tucano ganhou vida em

forma de documento, entregue ao candidato do

partido em junho de 2002. Uma conquista. Pela

primeira vez, as questões que afetam as mulheres eram

por elas mesmas definidas.

No ano em que a sociedade brasileira foi vítima

do maior golpe eleitoral de sua história, elegendo Lula

convencida de que o PT era, de fato, um partido ético

e capaz de governar o país, a taxa de sucesso das

mulheres tucanas ratificou a excelência do trabalho

do PSDB Mulher. Do total de 52 deputadas federais

eleitas em 2002 por todos os partidos, as tucanas

ficaram com 9,6% da bancada feminina na Câmara

Federal. E das 133 deputadas estaduais vitoriosas,

18,7% foram eleitas pelo PSDB. Já no Senado, das 10

mulheres eleitas, uma é do PSDB.

Apesar de naturalmente orgulhosas dos resultados

alcançados em tão curto espaço de tempo, as mulheres

não permitiram que o sucesso lhes subisse à cabeça.

Conscientes de que são sempre mais exigidas do que

os homens, sendo obrigadas a matar um leão por dia

para atestar a própria competência, as tucanas

decidiram patrocinar a interação das deputadas

estaduais com o Secretariado Nacional do PSDB

Mulher. O objetivo, singelo e imprescindível, era

unificar as bases da militância feminina do partido.

O primeiro passo desse trabalho foi dado em

janeiro de 2003, quando entrou em funcionamento a

Rede Nacional de Militantes Tucanas. Esse instrumento

PSDB MULHER

SENADORAS: 1

DEPUTADAS FEDERAIS: 5

DEPUTADAS ESTADUAIS: 25

PREFEITAS: 55

VICE-PREFEITAS: 86

VEREADORAS: 628

REDE NACIONAL DE MILITANTESTUCANAS: 21.000

PSDB MULHER

Ferramentas

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃOPOLÍTICA PARA MULHERESTUCANAS

OFICINAS DE FORMAÇÃOPOLÍTICA

CADERNOS DE FORMAÇÃOPOLÍTICA

REDE NACIONAL DE MILITANTESTUCANAS

TUCANAS ON-LINE

Page 28: Agenda 45 1

26 Respeito pelo Brasil Agenda45

foi criado para disseminar informações e abordar as-

suntos de interesse das mulheres no âmbito da política

e possibilitar a realização de ações concretas junto às

comunidades.

Logo após o lançamento da rede, o PSDB Mu-

lher realizou, em fevereiro, o primeiro encontro com

as deputadas estaduais tucanas. Iniciativa comple-

mentada, em junho daquele ano, pela organização do

primeiro encontro com as prefeitas e vice-prefeitas

do partido. Nesse evento, foi estabelecida a meta

prioritária de implantar, no maior número possível

de municípios, secretariados femininos destinados a

capilarizar o PSDB Mulher e, assim, definir estratégias

ajustadas às realidades locais.

Em novembro de 2003, com a eleição do ex-

ministro José Serra para a presidência e do deputado

Bismarck Maia para a secretaria-geral do partido, a

nova Comissão Executiva Nacional tomou a decisão

de estimular a descentralização das iniciativas dos

núcleos do PSDB. O que propiciou às mulheres

tucanas aprimorar o trabalho de organização, criando

instrumentos de comunicação e de orientação eleitoral.

Nasceram, assim, o informe Candidatas Tuca-

nas 2004 e a publicação Caderno da Candidata.

Enquanto o primeiro sugeria ações e atividades a serem

realizadas, lastreadas nas experiências das mulheres do

PSDB, o segundo fornecia subsídios para a admi-

nistração das campanhas eleitorais, abrangendo desde

o trabalho da candidata até o dos voluntários, passando

por coordenadores e auxiliares.

Estimuladas pelo fato de, no pleito de 2004, o

PSDB ter eleito 13,5% das 407 prefeitas brasileiras e

9,5% das 6.555 vereadoras, o núcleo feminino do

partido implantou as Oficinas de Formação Política

para capacitar e fortalecer a militância das tucanas -

trabalho facilitado pelo lançamento dos Cadernos

de Formação Política.

Material acima de tudo didático, os cadernos fo-

ram apresentados ao ninho das tucanas em abril,

quando o PSDB Mulher realizou, em Brasília, o

evento Capacitação para Multiplicadores das Oficinas

de Formação Política, que contou com a participação

de 22 multiplicadoras de 13 estados. Essa iniciativa

precedeu a realização das Oficinas Estaduais de

Formação Política, que contaram com a participação

de 3.000 tucanas.

De acordo com a Secretária Executiva do PSDB

Mulher, Sílvia Rita Souza, “a criação das Oficinas de

Formação Política e o lançamento dos Cadernos de

Formação Política representaram, na verdade, o

ingresso da célula feminina tucana em sua maioridade

político-partidária. Naquele momento, foram estabele-

cidos os pressupostos da atuação das mulheres tucanas

em sua luta pela igualdade e pelo direito às mesmas

oportunidades que, historicamente, sempre foram uma

reserva de mercado masculina”.

Para complementar as ações de integração das

mulheres tucanas, o Secretariado Nacional do PSDB

Mulher lançou, também naquele ano, a publicação

Informe às Prefeitas, Vice-prefeitas e Verea-

doras Tucanas. “O que o partido quer”, afirmou o

secretário geral do PSDB, deputado Bismarck Maia

, “é não apenas instrumentalizar as mulheres tucanas

para a vida político-partidária, dando-lhes armas para

a promoção da cidadania e para a otimização dos

recursos públicos. Antes e acima de tudo, identificar

lideranças femininas aptas a concorrer e equipadas

para vencer as eleições de 2006”.

PSDB Mulher

Page 29: Agenda 45 1

Agenda45 novembro de 2005 27

Como donas

de casa e

responsáveis

diretas pela

criação e

educação dos

nossos filhos,

a nossa voz,

firme e

coerente,

avessa ao

autoritarismo,

é fundamental

para garantir a

paz e o sucesso

das ações

cotidianas

Ponto de vista

O pêndulo feminino

Marisa Serrano*

As mulheres tucanas, como toda a sociedade, estão acompanhando os problemas políticos que

originaram as CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos, estarrecidas ao saber que o Brasil

é, hoje, considerado um dos países mais corruptos do mundo. Não merecemos esse destino.

Queremos ter orgulho de ser brasileiras e de saber que o nosso país é respeitado em todos os

lugares. Principalmente, orgulho de estarmos priorizando políticas sociais efetivas para que todos

tenham uma vida melhor. Quando falamos em política sociais nos referimos a uma saúde de

qualidade e a uma educação que seja prioritária. Tratamento a ser dispensado, também, à

assistência social. Constrange-nos saber que o governo Lula vai atingir a

triste meta de 11 milhões de lares recebendo o Bolsa-Família, quando o

ideal seria criar 10 milhões de empregos, construindo, assim, uma sociedade

autônoma e profissionalmente capaz.

Neste momento complexo, tenho ouvido de muitas mulheres referências

elogiosas às parlamentares que participam das CPIs, entre elas a deputada

Zulaiê Cobra (SP), por seu espírito de luta, coragem e perseverança. Apesar

do aspecto nefasto da crise, esses exemplos motivarão as mulheres a perceber

que sua partipação ativa e efetiva nos partidos políticos faz a diferença.

Como donas de casa e responsáveis mais diretas pela criação e educação

dos nossos filhos, a nossa voz, firme e coerente, avessa ao autoritarismo, é

fundamental para garantir a paz e o sucesso das ações cotidianas. Não

podemos aceitar que o presidente da República, responsável pelos rumos e

soluções dos problemas brasileiros, transmita a idéia de incoerência no

discurso e nas ações.

Sabemos que, para chegar à presidência da República, é fundamental que

o postulante mostre à população competência administrativa, honestidade

no trato com a coisa pública e ética nos relacionamentos pessoais e políticos.

Nós, mulheres, a maioria da população brasileira e quase metade da população

economicamente ativa, temos poder de decisão para fazer o pêndulo da história se voltar para

o lado da coerência, da sensatez e da responsabilidade com a nossa Pátria. O PSDB Mulher,

orgulhoso da contribuição política que o partido já deu ao país na esfera federal, está

arregimentando companheiras de todos os estados na luta por um governo comprometido com

a seriedade e a ética e que tenha Respeito pelo Brasil.

(*) Presidenta do PSDB Mulher, deputada federal e,

atualmente, vice-prefeita de Campo Grande (MS).

Page 30: Agenda 45 1

28 Respeito pelo Brasil Agenda45

Farsa e tragédia

Para chegar ao poder, o PT criou um personagem de ficção. De defensor da ética, da

moral, dos bons costumes, da transparência na condução dos negócios públicos. Com

disciplina absoluta, a legenda que prometia levar a classe operária ao paraíso cresceu,

expandiu-se e engordou seu caixa.

Dois anos, 10 meses e 18 dias depois de a peça engendrada por Lula e pelas

eminências pardas do PT ter entrado em cena, a sociedade brasileira tem, hoje, consciência

de que foi enganada. E condenada a assistir a uma tragédia cujo quarto ato está reservado

para o próximo ano .

Comida Zero para o Fome Zero

“Nenhum centavo ou grama de alimento doado até agora ao projetoFome Zero serviu para alimentar um único brasileiro carente. Passados2 meses e 11 dias da posse do novo governo e da criação do MinistérioExtraordinário de Segurança Alimentar, batizado de Mesa, chequescomo o de R$ 50 mil da modelo Gisele Bündchen continuam na gavetaà espera do número de um conta em que possa ser depositado”.

O Estado de São Paulo, 11 de março de 2003

Desgaste zero no Primeiro Emprego

"Na agenda do Planalto, o lançamento do Programa Primeiro Emprego,a mais importante iniciativa de combate ao desemprego desse início degoverno, está previsto par a semana que vem. Mas o anúncio, inicialmentemarcado para 1º de Maio, pode ser adiado novamente. É que o governoagora virou gato escaldado, aquele que tem medo até de água fria.Não quer sofrer o desgaste do Fome Zero, lançado com grande festano Planalto quando ainda não havia sequer saído do papel".

O Globo, 10 de maio de 2003 (Helena Chagas)

Verba externa existe, mas Fome Zero não pede

Em recente visita ao Brasil, um ministro europeu ouviu dura queixa de José Graziano, o ministro extraordináriopara Segurança alimentar. De acordo com uma fonte oficial européia, Graziano reclamou da demora dosorganismos financeiros internacionais em liberar verbas prometidas para o programa Fome Zero. A reclamaçãofoi transmitida ao Bird e ao BID, com uma cobrança de providências. Em poucos dias, veio a resposta: o Bird eo BID estão prontos para apoiar o Fome Zero. Se não o fizeram até agora é porque não receberam pedido deBrasília sob forma de um projeto ou de modificação de projetos da área social que foram apresentados pelogoverno anterior e que poderiam ter parte de seus recursos reorientados para o programa de combate à fome".

O Estado de São Paulo, 1º de setembro de 2003

I Ato“Não sejam tão

desaforadas”

“Elogiado como um parceiro naluta pela igualdade e autonomiada mulher, o presidente Luiz InácioLula da Silva cometeu um deslizemachista no seu discurso à mulheresbrasileiras em Apodi, no seminá-rido nordestino. ´Vocês já são agrande maioria da populaçãobrasileira, já são 52%, vocês já têmcargos de vereadoras, de prefei-tas, de governadoras. Eu esperoque vocês não sejam tão desafo-radas e não comecem a pensarlogo na Presidência da República.Vai devagar com essa pressa depoder´”.

O Estado de São Paulo,

9 de março de 2005.

Page 31: Agenda 45 1

Agenda45 novembro de 2005 29

Ministro chama colega de vagabundo

"Agora, amansado por Zé Dirceu, ele nega. Mas sãono mínimo 30 testemunhas, todos parlamentares, queainda estão estarrecidos com o desabafo do ministroRoberto Rodrigues contra a paralisia do governo. ´Eumandei o vagabundo do Guido Mantega para a

PQP´, disse Rodrigues´".

O Globo, 20 de março de 2004

Boletim registra divergências com Dirceu

"A divergência entre o presidente Lula e o chefe daCasa Civil, José Dirceu, sobre a presença do PMDBno governo virtou notícia no Palácio do Planalto. Oboletim "Carta Crítica", editado pela Secretaria deComunicação do Governo e Gestão Estratégica, tratoudo tema. ´Está pegando muito mal na mídia a visíveldivergência entre o presidente Lula e o ministro JoséDirceu´, diz um trecho, que aborda a contradição entreos movimentos do presidente, para manter o PMDBno governo, e as declarações do ministro, fazendopouco caso da crise.

O Globo, 18 de novembro de 2004

Almas gêmeas

"Novo choque entre o ministro Luiz Furlan e o presidentedo BNDES, Carlos Lessa. O ministro enviou cartacriticando Lessa por este não ter submetido à aprovaçãodo Conselho o Planejamento Estratégico para 2004/2007. Lessa, por sua vez, escreve carta-resposta aFurlan e, entre outras coisas, disse que o BNDES estávinculado ao Ministério, mas não está subordinado aele. Com esta missiva desafiadora, criou-se nova crise

entre os dois".

O Estado de São Paulo, 24 de junho de 2004 (Sonia Racy)

II Ato

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30 Respeito pelo Brasil Agenda45

Lula erra ao mencionar números

"Em seu discurso no Fórum Social Mundial, o presidenteLuiz Inácio Lula da Silva foi além do clássico hábito dosgovernantes de exibir números favoráveis e omitir osdesfavoráveis: boa parte dos dados citados estavasimples e grosseiramente errada. Lula disse ter assumidoo país com um déficit nas transações com o exterior deUS$32 bilhões, hoje transformado em superávit de US$10 bilhões. Isso só seria verdade se o petista tivessevencido as eleições presidenciais de 1998, quando odéficit brasileiro foi de US$ 33,4 bilhões. No segundomandato de Fernando Henrique, esse déficit foi caindoa cada ano, até chegar a apenas - na comparação como número citado por Lula - US$ 7,6 bilhões em 2002.

Folha de São Paulo, 28 de janeiro de 2005

Já estamos preparando

as malas para 2008

"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em umescorregão característico de seus discursos deimproviso, convidou todos os presentes àreunião de cúpula a comparecer ao próximoencontro, em Marrocos, daqui a três anos,sugerindo que ainda estará no cargo em 2008,em um segundo mandato. ´Já estamospreparando as malas para ir ao Marrocosem 2008´, disse Lula, ao ser informado peloministro das Relações Exteriores, Celso Amorim,que o Marrocos se ofereceu para sediar apróxima cúpula.

O Estado de São Paulo, 11 de maio de 2005

Dirceu critica a expulsão

de Delúbio do PT

O deputado José Dirceu avalia como "muito rigorosa" apunição de Delúbio Soares. Disse que votou contra aexpulsão do ex-tesoureiro porque considera que elecometeu "irregularidades em benefício próprio".

Agência Folha, 23 de outubro de 2005

Delúbio ironiza denúncia de compra de

deputados

"“Mensalão? Nunca existiu. E com o tempo isso vai ficarprovado. Nós seremos vitoriosos, não só na justiça masno processo político. É só ter calma. Em três ou quatroanos, tudo será esquecido e acabará virando piada desalão”.

O Estado de São Paulo, 17 de outubro de 2005

III Ato

Liderança petista não aceita que se

fale em corrupção

O caso dos deputados que receberam dinheirodo esquema [Marcos Valério] deve serencerrado, se depender da cúpula do partido."Sou solidário ao Delúbio Soares e aosdeputados [ameaçados de cassação] porquenenhum deles cometeu corrupção. Podem tercometido falhas em relação à Justiça Eleitoral.Se isso é crime fiscal, vão pagar. Só não aceitoque Delúbio, José Genoíno e os parlamentaressejam taxados de corruptos", afirmou FranciscoRocha, coordenador do Campo Majoritáriodo PT.

Folha de São Paulo, 21 de outubro de 2005

Farsa e tragédia

Page 33: Agenda 45 1

Agenda45 novembro de 2005 31

Ensaio

Dez toquessobre a ética e o PSDB

José Serra

A etimologia de “ética”, queremete à palavra grega ethos, designamais do que um conjunto de prá-ticas ou de hábitos. Ela guarda rela-ção com o domicílio: é o lugar paraonde poderemos sempre regressarporque é o lugar que nos acolhe. Mário Covas deixou um exemplode ética na política: fosse a casa dosseus familiares, fosse a casa o parti-do, fosse a sua casa o Palácio dosBandeirantes, fosse o Brasil. Por issoele é um referencial que deve serpermanentemente atualizado. Fareiagora dez comentários sobre a ética,com minha visão e aquela que con-sidero do PSDB.

Primeiro - A ética na política,hoje no Brasil, segue caminhos es-tranhos. Há um princípio de Kantque diz o seguinte: ninguém temlicença para ser aético. Mas os diasandam turvos: na vida pública háaqueles que pretendem ter licençaespecial para não serem éticos, nasuposição de que outros tambémnão foram no passado. Não que-rem generalizar o bem. Preferempedir licença para generalizar o mal.

Segundo - Não pode existirética na política para aqueles cujasações não têm como fundamentoa garantia da liberdade, da igualdadee da justiça. Quem torna o povo

cativo da falsa caridade, transfor-mando recursos públicos em dema-gogia eleitoreira, não é ético. Quemcria uma sociedade em que algunssão mais iguais do que os outrosnão é ético. Quem solapa as basesdo Estado de Direito e, assim, pra-tica injustiça não é ético. Vale a penalembrar daquele livrinho do Geor-ge Orwell, A Revolução dos Bichos, emque os animais tomam o poder deuma fazenda, liderados pelos por-quinhos, e escrevem no alto do está-bulo: “Todos os animais são iguais”.Mas os porquinhos vão aos poucosse aprimorando no exercício de umpoder despótico, utilizando cachor-ros ferozes para oprimir os outrosanimais. E no decorrer do tempocompletam a frase: “Todos os ani-

mais são iguais, mas os porquinhossão mais iguais do que os outros”.No final, por metamorfose, se igua-lam até fisicamente ao antigo fazen-deiro... Qualquer semelhança coma realidade brasileira não é meracoincidência.

Terceiro - Em Aristóteles en-contramos a ética intimamenteligada a duas palavras que eram mui-to caras a Mário Covas, são muitocaras ao PSDB, e são também paramim muito caras: perícia e sensatez.Vamos olhar à nossa volta, vamospensar nos dias que correm: quantossão os males que nós temos vividopor falta de sensatez na políticabrasileira? Quantas são as agruraspelas quais temos passado porquefalta perícia?

Excertos de palestra

proferida na Fundação

Mario Covas, em 24 de

outubro de 2005

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Ensaio

Quarto - A ética tem sidotransformada, com freqüência, numdiscurso meramente retórico, quasenum diversionismo. Vamos citarexemplos. Um conjunto de fatoresclimáticos deixou seca a maltratadaAmazônia. Mas foi a imperícia quelevou fome às populações ribeiri-nhas. E foi a insensatez que fez comque os recursos não chegassem atempo. Os jornais todos noticiaramque a eleição do presidente da Câ-mara teria custado R$ 1,5 bilhão emrecursos do Orçamento. Para a secado Amazonas, foram enviados R$30 milhões. Ora, só pode haver éticaonde há sensatez, perícia, e isso nãotem sido freqüente no Brasil. Outemos claro que estamos falando deética, ou não entenderemos que aética diz respeito ao homem co-mum. E no caso da febre aftosa?O vírus está na natureza, mas ele sófaz adoecer o rebanho se, de novo,a insensatez e a imperícia se juntamcontra a ética na administraçãopública. É trivial a idéia de quevacinação de pessoas ou animais éde responsabilidade do poder pú-blico. Este pode não ser o executor,mas é quem deve zelar pelo cum-primento da ação. Sempre que te-nha, é claro, um mínimo de sensateze de perícia.

Quinto - A ética na política nãoé uma prática ou um discurso quesó interesse a políticos. Ao contrário:sua destinação e objetivos primeirostêm que ser o conjunto da popula-ção, aqueles que delegam ao Estadoparte dos seus recursos, por meiode impostos; parte de sua liberdade,por meio das leis; parte de suas es-peranças, por meio da militânciapolítica e da organização social, paraque possamos promover o bemcomum. Para que possamos então,com sensatez e com perícia, promo-ver mais liberdade, mais igualdadee mais justiça.

Sexto – Infelizmente, o que te-mos visto é uma justiça que, muitasvezes, parece não ter receio de serinjusta; são os homens públicos que,antes de se regozijar com a liber-dade, querem tolhê-la; são gover-nantes que, sob o pretexto de pro-mover a igualdade, aprofundam adesigualdade e chamam a indústriada miséria de “distribuição derenda”. O PSDB tem um papelfundamental nessa história: provarque é possível fazer uma outrapolítica.

Sétimo - Até pouco tempoatrás, os supostos monopolistas daética batiam no peito depois deapontar o dedo contra o adversário:

“Nós somos éticos e vocês nãosão”. Falavam isso, embora lhes fal-tasse perícia, lhes faltasse sensatez.Agora que caiu a máscara, preten-dem dividir conosco o fardo paradeclarar: “Somos todos iguais”.Ora, nós não somos todos iguais.Isso é falso. Nós do PSDB não so-mos iguais a eles coisa alguma. Re-jeito o parentesco e rejeito a seme-lhança: o PSDB não aparelhou oEstado; o PSDB não promoveuuma rede de corrupção nas estatais;o PSDB não confundiu estado, par-tido e governo; o PSDB não con-verteu a prática de caixa 2 num sis-tema, nem recorreu ao dinheiro pú-blico para criar uma malha de cor-rupção no Congresso. Não recor-reu e nem recorre a esses métodos.

Oitavo - Sempre tivemoscapacidade de admitir nossos de-feitos, sempre procuramos melho-rar, mas jamais nos consideramosdonos da verdade e temos tido –como disse nos dias em que perdia eleição no Brasil ou em que venciem São Paulo– altivez nas derrotase humildade nas vitórias. Nós nãosomos iguais ao PT, somos bemdiferentes. O PSDB, acima de tudo,não procura fazer baixa exploraçãoda crise política, como tentaramfazer conosco, e às vezes somos

32 Respeito pelo Brasil Agenda45

Os dias andam turvos: na vida pública háaqueles que pretendem ter licança especial paranão serem éticos, na suposição de que outrostambém não foram no passado.Preferem pedir licença para generalizar o mal.

O economista José Serra foi

ministro da Saúde, candidato à

Presidência da República pelo

PSDB e, atualmente,

é prefeito de São Paulo

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até criticados por essa atitude.Como no Brasil o vale-tudo pas-sou a ser a norma geral, o compor-tamento avesso à baixa exploraçãonão raramente é entendido comouma conciliação indevida. Às vezes,receber alguém porque este alguémestá em desgraça política e é adver-sário passa a ser interpretado comoum ato de cumplicidade, quandona verdade é um ato de humani-dade. Nós não nos recusamos aouvir ninguém, em nenhum mo-mento. Não desejamos a desgraçapessoal de ninguém, mas queremosa punição daqueles que, na vidapública, pecaram contra a ética.

Nono - É conveniente que nãoconfundam a nossa disposição paraevitar uma crise que pode ser ruimpara o Brasil com fraqueza, comtolerância com os que pretendemredigir o seu próprio manual deética segundo o “duplipensar”orwelliano, em que liberdade éescravidão e ética é bandalheira.Porque não conseguirão nos arrastarpara tal confusão. George Orwell,além do livro A Revolução dos Bichos,pouco antes do final da SegundaGuerra Mundial, em 1944, escreveuoutro livro, intitulado 1984, ondedescreveu um mundo totalitáriolevando ao limite a experiência das

sociedades stalinista e fascista. E aíaparece a figura do “duplipensar”.Quem diria que o “duplipensar” iachegar a 2004 revitalizado no Brasildo PT... Mas nós não vamos serarrastados para essa confusão. OBrasil saberá que outra é a nossavisão do mundo, outra é a nossapolítica, outra é a nossa época.

Décimo - Todos sabem que euvotei “sim” no referendo, porqueacredito que seria melhor para oBrasil. Mas temos obrigação decompreender a reação da grandemaioria dos brasileiros. Na ver-dade, essa maioria está indignadacom certas políticas oficiais, que sósão sensatas na retórica, que só exi-bem perícia no discurso, na práticasão só incompetência. E a popu-lação mandou um importante reca-do nas urnas: cobra um Estadomais eficiente e que cumpra commais determinação o que está, emsuma, contratado, combinado. Nes-se referendo estive com a minoria.Mas sei reconhecer quando a maio-ria emite um claro sinal. No finaldas contas, ela está cobrando maissensatez, mais perícia, mais ética. Queo PSDB de todos nós saiba en-tender esse recado.

Queria, por último, mencionarum aspecto prático que envolve a

questão da ética. No Brasil, a orga-nização do sistema político eeleitoral é relegada ao segundo pla-no. Pelo lado da esquerda, natradição marxista, o que vale é ainfra-estrutura, o desenvolvimentodas forças produtivas e as relaçõessociais de produção que as acom-panham. O sistema político seriaapenas uma derivação, uma decor-rência, uma superestrutura. Pelolado da direita, o que basta é umsistema, supostamente, de livremercado. Com isso, pensam, secriaria uma sociedade politica-mente aberta, democrática. A gentesabe que não é assim, nem umacoisa, nem outra. A “superestru-tura” política no Brasil tolhe nossodesenvolvimento. Nosso sistemapolítico favorece o comportamen-to não ético. A forma como seelege parlamentares em todo oBrasil, essa forma proporcional,encarece as eleições, enfraquece ospartidos, favorece o troca-troca eo comportamento não ético comonorma na vida pública.

Para fortalecer a ética, temosque fazer a reforma política, que, ameu ver, deve ocupar o item nú-mero 1 da agenda do próximogoverno no Brasil. Que se Deusquiser será do PSDB.

Agenda45 novembro de 2005 33

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34 Respeito pelo Brasil Agenda45

Page 37: Agenda 45 1

PSDB no Congresso

PATO MANCOFUTEBOL CLUBE

Em meio aos sucessivos escândalos que abalaram o Congresso em

2005, a atuação responsável das bancadas do PSDB, na Câmara e

no Senado, vem demonstrando respeito pelo Brasil. Ao contrário da

atuação do PT e de seus aliados. Com a objetividade de quem está

acostumado a exercer a poder, as lideranças do PSDB fazem uma

análise do cenário político e concluem que Lula hoje é um pato manco.

Agenda45 novembro de 2005 35

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36 Respeito pelo Brasil Agenda45

PSDB no Congresso

CRISE LEVA O GOVERNO LULA PARA ASEGUNDA DIVISÃO

A partida democrática só termina mesmo em2006, com o apito final das eleições presidenciais e acristalização da vontade popular por meio do voto.Mas é inegável que, neste ano, o PT e seu líder históricoperderam de goleada para a oposição no jogo político.“Usando metáforas futebolísticas de que o presidenteLula tanto gosta, podemos dizer que o governo deleestá se aproximando da segunda divisão. Mas, para atorcida, ele continua dizendo que tudo vai muito bem”,resume o líder do PSDB na Câmara, AlbertoGoldman (SP).

Enquanto Lula insiste em ignorar a crise interna,o PSDB trabalha duro para defender o interessepúblico. O partido está à frente das investigações doscasos de corrupção identificados no DNA do gover-no Lula. “Os tucanos estão ajudando a passar o paísa limpo. Sem estardalhaço e com responsabilidade,estamos fiscalizando o governo Lula e, com isso, im-pedindo que recursos públicos sejam desviados”, dizo deputado Jutahy Junior (BA).

A crônica do débâcle de Lula em 2005 começouem 14 de maio passado. Nessa data, a revista Veja

apresentou ao país o então chefe do Departamentode Contratação e Administração dos Correios, Maurí-cio Marinho. Funcionário de segundo escalão daestatal, Marinho foi filmado quando aceitava paga-

mento de R$ 3 mil de empresários interessados emvencer uma licitação.

No entanto, o que poderia parecer mais um casoisolado de propina revelou-se a ponta do iceberg domaior esquema de corrupção da história do país nosúltimos 20 anos.

PROFUSÃO DE DENÚNCIASA partir daí, uma série de sucessivos escândalos

acendeu um rastilho de pólvora rumo ao Palácio doPlanalto. No curso das revelações explosivas, algumasdezenas de falcões do PT e do governo Lula foramabatidos, deixando uma cicatriz indelével de desvioético na própria imagem do presidente da República.

Após a revelação do caso da rapina nos Correios,o governo pôs na rua a sua tropa de choque paraimpedir qualquer tentativa de apuração dos fatos.Contudo, quando já contava com o êxito da manobraque abortaria a criação de uma CPI, o então deputadoRoberto Jefferson (PTB-RJ) denunciou à Folha de S.

Paulo, em 6 de junho, a existência do mensalão –esquema de pagamento de mesadas a deputados departidos aliados em troca de apoio ao governo. Bingo!

Daí para diante, o lulismo mergulhou na sua maisprofunda crise desde que surgiu como movimentode massas no final dos anos 1970. As CPIs dosCorreios e do Mensalão foram criadas e, com o de-

Deputado Alberto Goldman

Deputado Jutahy Junior

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sempenho fundamental das bancadas do PSDB naCâmara e no Senado, já reuniram várias evidências deque parte da base de apoio a Lula foi alimentada porpropina paga pela cúpula do PT, que se utilizava, paratanto, de recursos públicos desviados sobretudo deestatais e fundos de pensão.

Acuado pela profusão de denúncias, o Planaltoteve que engolir uma nova comissão de inquérito, destavez restrita ao Senado, onde a falta de articulação dosgovernistas permitiu à oposição uma confortávelmaioria. Não sem resistência oficial, a CPI dos Bingosfoi instalada no fim de junho para investigar o casoWaldomiro Diniz, ex-assessor da Casa Civil flagradoem vídeo negociando propina com um empresáriodo ramo de jogos.

Quando a comissão foi criada, em 2004, os líderesda base e o então presidente do Senado, José Sarney(PMDB-AP), não indicaram os integrantes. A oposi-ção recorreu ao Supremo Tribunal Federal, que deter-minou a instalação da CPI. O escândalo abalou o entãotodo-poderoso ministro José Dirceu.

DÓLARES NA CUECANa avaliação do líder do PSDB no Senado,

Arthur Virgílio (AM), ao impedir que o episódio fosseapurado, o Planalto emitiu aos aliados o sinal de quecompactuava com a corrupção. O líder tucano acreditaque, naquele momento, “o tumor que existia dentrodo governo Lula explodiu”. Em nova entrevista, Jef-ferson aponta o publicitário mineiro Marcos Valériocomo executor do esquema do mensalão. Acuado,Valério coloca o então tesoureiro do PT, DelúbioSoares, no epicentro da crise.

Completamente desmoralizado, José Dirceu deixaa Casa Civil pela porta dos fundos no dia 16 de junhopassado e, deste então, trava batalha para manter omandato de deputado diante de uma cassação ine-vitável. A volúpia da corrupção petista transformouo principal arquiteto da vitória do presidente Lula emum cadáver político. “Eu não tenho dúvida de queJosé Dirceu foi um dos principais artífices dessas coisaspelas quais responde hoje”, afirma Virgílio.

Mais uma vez, o escândalo se voltou para o espaçoreservado ao Executivo na Praça dos Três Poderes,quando a CPI dos Correios descobriu que contratosda estatal sofreram a ingerência de Sílvio Pereira, ex-secretário-geral do PT, e do então ministro deComunicação Estratégica, Luiz Gushiken.

O esquema petista de pilhagem do Estadorendeu, inclusive, alguns episódios que poderiam serclassificados como cômicos, não fosse a gravidadedos fatos. No dia 8 de julho, José Adalberto Vieira,assessor especial do deputado estadual cearense JoséNobre Guimarães, foi preso com R$ 200 mil emuma mala e US$ 100 mil na cueca, ao tentar embarcarde São Paulo para Fortaleza. Guimarães é irmão doentão presidente do PT, José Genoíno, que, atocontínuo, deixou o cargo. “Esse é um dinheiroduplamente sujo”, comenta Virgílio.

O presidente Lula também se viu envolvidodiretamente na crise ética de seu governo quando opresidente do Sebrae, Paulo Okamotto, afima ter pagodívidas dele contraídas junto ao PT. No entanto, oápice do inferno astral do petista chegou em 11 deagosto. Ironicamente, o homem responsável pelaconstrução da imagem de Lula durante a campanhaeleitoral foi o mesmo a jogar na lona a credibilidadedo primeiro mandatário da República.

Senador Arthur Virgílio

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38 Respeito pelo Brasil Agenda45

Em depoimento espontâneo àCPI dos Correios, o publicitário DudaMendonça disse que o PT pagou porserviços da campanha petista de 2002em uma conta de empresa offshorenas Bahamas, criada por indicação deMarcos Valério. De acordo com Duda,foram pelo menos R$ 10,5 milhõesdesviados em esquema de caixa dois.O ex-tesoureiro petista admite querecursos do valerioduto pagaram parteda campanha de Lula.

LULA, O PATO MANCOOs escândalos também envolveram a família do

presidente. Em janeiro de 2005, a produtoraGamecorp, que tem como um dos sócios Fábio Luis,filho de Lula, recebeu um investimento de R$ 5milhões da Telemar, empresa concessionária deserviços públicos de telefonia. O capital da empresade Fábio era de apenas R$ 10 mil. O negócio foiintermediado pela DBO Trevisan, de AntoninhoMarmo Trevisan, amigo do presidente. Lula consi-derou a operação normal.

Outro caso da família Lula da Silva envolveuGenival Inácio da Silva, o Vavá, irmão do presidente.Ele é acusado de usar seu parentesco para promovertráfico de influência. Segundo a revista Veja, Vaváabriu um escritório em um prédio comercial de SãoBernardo do Campo para intermediar demandas deempresários junto a prefeituras, estatais e órgãos dogoverno.

O inferno político de Lula parece não ter fim.Denúncia mais recente de Veja aponta que a o comitêeleitoral de Lula, em 2002, teria recebido R$ 3 milhõesdo governo cubano. A legislação eleitoral proíbedoações do exterior para campanhas políticas. O PTcorre o risco de ter seu registro no Tribunal SuperiorEleitoral cassado. Isso impossibilitaria uma candidaturade Lula nas eleições do ano que vem. “Diante de todaessa sucessão de escândalos, o governo Lula acabou

sociologicamente. Ele não tem capacidade de ousarmais nada. O presidente Lula já é um ‘lame duck’(pato manco), expressão comum nos Estados Unidospara designar políticos no período de transição demandatos”, avalia Virgílio. O tucano acredita que acrise que o PT colocou na ordem do dia do país teráefeitos positivos. “Vai nascer uma sociedade maisexigente. Vai ficar mais complicado o sujeito se tornarladrão de dinheiro público no Brasil”, finaliza.

Na perspectiva do líder Alberto Goldman, a criseainda está longe do fim. “O PT está tentando passara idéia de que os escândalos estão superados, o quenão é verdade. Também insistem que a questão seresume a financiamento ilegal de campanha. Mas averdade é outra: o que houve no Brasil foi um assaltoaos cofres públicos, e isso está comprovado”, avaliouo tucano.

Num contraponto à tese petista de que houvesomente crime eleitoral, Goldman lembra que oesquema de corrupção montado pela cúpula do PTenvolvia o pagamento de deputados fora do períodoeleitoral. “Os saques nas contas de Marcos Valérionão se restringem ao período de campanhas”, explica.“Está muito claro para nós, do PSDB, que opresidente Lula tem responsabilidade direta pela crise.Ele é partícipe do esquema e tem de responder pelodesvio ilegal de recursos.”

PSDB no Congresso

Deputado Eduardo Paes

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Agenda45 novembro de 2005 39

SEGUNDA DIVISÃOApesar das seguidas manobras para encerrar a

crise política, Goldman avalia que a população já sabeque não pode confiar no governo. “Não adianta jogarfumaça, pois os fatos acabam aparecendo. Não vaihaver discurso eleitoreiro nem explicações inconsis-tentes que sejam capazes de enganar novamente apopulação.”

Ele também desmonta a tese arquitetada pelopresidente Lula de que não há “concretude” nas de-núncias. “Ao contrário, temos visto graves conseqüên-cias como renúncias de líderes de partidos, dirigentesde estatais sendo afastados e ministros caindo.”

Além disso, Goldman lembra que as investigaçõesem curso no Congresso ainda não chegaram ao fim.“Passada a fase de depoimentos, as comissões vão sededicar à análise dos documentos levantados nos últi-mos meses. O governo terá surpresas desagradáveis.”

Para o 1º vice-líder do PSDB na Câmara,Eduardo Paes (RJ), a crise é tão grave que, mesmo seas comissões de inquérito no Congresso parassem defuncionar agora, “a quantidade de corrupção e delitoscometidos pelos petistas contra a União já seria su-ficiente para enquadrar metade do governo no CódigoPenal. E o que é pior: esse governo tenta criar umacultura de que a corrupção não é problema, é umprocedimento aceitável no país. Mas isso é grave, éum mau exemplo para a população”.

Paes lembra de uma das declarações do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, que resume bem opensamento da cúpula do PT. “O Delúbio vive repe-tindo que a crise vai virar piada de salão. Eles nãolevam o país a sério. Este governo é o primeiro dahistória do país que tenta, de forma institucional, passara idéia de que tudo isso é normal.”

Paes acredita que o impacto da crise política pode-ria ser ainda pior, mas, graças ao governo anterior, ademocracia, a economia e as instituições estão conso-lidadas. “Apesar do assalto aos cofres públicos, o Brasilnão sofre abalos institucionais. Isso mostra como éque os oito anos do governo de Fernando Henriquefizeram bem ao país. As instituições estão fortalecidas

e prontas para enfrentar situações como essas, deirresponsáveis ocuparem o poder.”

O deputado avalia que o PSDB está dando oexemplo de como fazer uma oposição a favor dopaís. “Não fazemos o que o PT fez no passado, apos-tando contra o desenvolvimento do país, com acusa-ções levianas. Esperamos que o PT exerça, a partir de2007, uma oposição parecida com a que o PSDBestá fazendo. “O que pautou a ação da nossa bancadana Câmara este ano foi a defesa dos interesses dasociedade, das garantias e das liberdades individuais”,completa o Eduardo Paes.

CPI ENTERRA VERSÃO DOS GOVERNISTASNo último dia 3 de novembro, a CPI dos Correios

enterrou de vez a versão de Lula e de seus aliados de

que o escândalo do mensalão não passava de uma

questão menor sobre “recursos não contabilizados”

para campanhas eleitorais. O crime de caixa 2 chegou

a ser considerado, pelo presidente, de importância

secundária, uma vez que se encontraria, segundo ele,

generalizado no Brasil.

Com apoio estratégico do tucano paranaense Gustavo

Fruet (PR), o nocaute na empulhação governista foi

deferido pelo relator da CPI dos Correios, deputado

Osmar Serraglio (PMDB-PR), ao revelar que recursos

do Banco do Brasil foram usados para abastecer as

estripulias do PT na Era Lula. Segundo ele, a estatal

desviou R$ 10 milhões para os cofres do PT por meio

de verbas de publicidade da Visanet, empresa que

tem participação acionária do BB. O dinheiro foi

repassado à empresa DNA do publicitário Marcos

Valério, em março de 2004, junto com outros R$ 25

milhões para custear campanhas de publicidade do

Visanet. Os R$ 10 milhões, porém, desapareceram e,

até agora, o BB deve uma explicação convincente para

o sumiço. Operações envolvendo o banco BMG e duas

empresas ligadas a Marcos Valério, a DNA e a Rogério

Lanza Tolentino&Associados Ltda., fizeram chegar ao

caixa do PT esses R$ 10 milhões avalizados pelo

operador do mensalão por meio de empréstimo.

Não restam mais dúvidas de que a cúpula palaciana

do PT montou uma grande operação de assalto aos

cofres públicos para se perpetuar no poder.

Page 42: Agenda 45 1

40 Respeito pelo Brasil Agenda45

Ensaio

Remédio certo, dose errada,economia imergente

José Roberto Afonso*

A política econômica do gover-no Lula é um fracasso. Porque oBrasil está ficando para trás, cres-cendo menos do que o mundo.Porque os brasileiros estão ficandopara trás, sem transformações rele-vantes na sociedade.

O tão badalado espetáculo docrescimento não passa de mais umgolpe de publicidade de quem,agora se sabe, vivia literalmente dedar golpe à custa da publicidade.Lula canta vantagem de que a eco-nomia cresce mais no seu governodo que no anterior - de fato, proje-ções indicam que pode crescer, emmédia, 3,1% em sua gestão, acimados 2,4% médios da gestão FHC.Mas Lula não conta que tirou oBrasil do rol de países emergentes,apesar de não ter enfrentado qual-quer crise externa e gozar de condi-ções excepcionais nessa frente –nunca os preços de nossos bensexportados foram tão altos e nuncaa economia mundial cresceu e com-prou tanto no pós-guerra.

Mesmo com os ventos a favorvindos do exterior, Lula desperdiçaoportunidades ao manter em níveisdemasiado altos a carga tributáriae as taxas reais de juros. São irmãos

siameses que, abraçados, afogamnossa economia. Para conter a dí-vida alta, é elevada a meta de su-perávit. Como PT não combinacom corte de gastos, aumentam ostributos. Repassados aos preços,pressionam a inflação, combatidavia aumento dos juros. O que au-menta a dívida, e recomeça o cír-culo vicioso. A política econômicaestá presa numa armadilha comoo cachorro que morde seu própriorabo.

Ora, nunca se negou que ogoverno FHC recorreu a aumentode carga tributária e juros. O quefez em contexto completamente di-verso. Primeiro, para enfrentargraves e sucessivas crises externas.Segundo, para implantar políticassociais ativas, como a universali-zação do ensino fundamental e aatenção primária à saúde. O que édiferente do engodo do FomeZero ou da expansão de bolsas des-coladas de programas que comba-tam a causa da pobreza e dispen-sem, no futuro, tal auxílio.

O Brasil ficou para trás comLula. Para evitar suspeitas, recorra-se a economista historicamenteligado ao PT, Reinaldo Gonçalves,

que há poucos dias divulgou umíndice que mede a diferença entre ocrescimento do PIB brasileiro e omundial: concluiu que perderemosposição no mundo com Lula, noterceiro pior resultado da históriarepublicana (só melhor do que ode Collor e João Goulart).

Nem é preciso ir tão longe. OBrasil de Lula perde até mesmo doresto da América Latina. Nos trêsprimeiros anos de governo, o nossocrescimento médio deve ser de 3%ao ano. Já os demais países latinoscrescerão 4,5% ao ano. Argentina eVenezuela cresceram, em 2004,tanto quanto o faremos em quatroanos de Lula, que pode se orgulharde ganhar apenas do Haiti, Repú-blica Dominicana, El Salvador eGuatemala. E o que dizer da China,Índia, Rússia, que registram taxasanuais superiores a 8% há muitotempo?

Esses números revelam o quea propaganda oficial omite: Lulaobrou a façanha de transformar oBrasil em economia imergente.

É conveniente traçar bem afronteira entre a política econômicade Lula e a de FHC - usa o mesmoinstrumental, mas erra na dosagem

40 Respeito pelo Brasil Agenda45

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Agenda45 novembro de 2005 41

dos remédios. A sabedoria popularensina: a dose faz seu próprio vene-no. Lula manteve, sim, a mesmabula econômica adotada desde1999: o tripé formado por metasde inflação, câmbio flutuante eausteridade fiscal. Porém, como opassado do PT não lhe dá a menorcredibilidade e como, para o futuro,não sabe como melhorar o jogo, ogoverno Lula precisou comprar oapoio do mercado - radicalizandona aplicação dos remédios.

Traça meta para uma inflaçãoque inclui preços administrados,imunes a juros altos, o que exigetaxas ainda mais altas. Outros paísesadotam o mesmo regime comperíodo móvel (sem se prender aoano civil), mirando no núcleo (e nãoem toda inflação). No caso docâmbio flutuante, raros são os paí-ses que deixaram suas moedas sevalorizarem tanto ou, fazendo-o,que não adotaram medidas adicio-nais para fomentar exportações, oupara monitorar capitais voláteis. Jáa austeridade fiscal dos países ricoscombinou preservação de investi-mentos, sobretudo em infra-estru-tura, com redução de gastos comjuros e subsídios – ou seja, o mes-

mo caminho trilhado pelo governoLula, mas no sentido radicalmenteinverso, a começar pelo aumentoincessante da carga tributária.

Se Lula ao menos se preocupacom o mal da instabilidade econô-mica e se usa os remédios maisindicados, erra na dosagem. Dirãoque foi preservada a seriedade nacondução da economia. Mas issodeixou de ser uma dádiva para seruma obrigação das autoridadeseconômicas, imposta pelo avançoda globalização, que limita o raiode manobra. Isso exige mais inte-ligência para fomentar investimen-tos, incentivar exportações, enfren-tar as grandes questões sociais eregionais. Por que os outros paísesconseguem se desenvolver comjuros baixos e menor carga tributá-ria? Que política pública o governoLula idealizou para tais fins? Quemedidas efetivamente implantou?Nada fez. Mas Lula agora se orgu-lha de que sua política econômicanão desfez.

É hilário que o mesmo Lulaque bradava contra o neolibera-

lismo adote a política econômicamais conservadora de que se temnotícia nos trópicos. Como entrarápara a história? Qual a sua grandecriação? O mensalão? Alguém conse-gue imaginar, hoje, o governo Luladesenhando uma mudança tributá-ria radical como foi o Simples? Ouinovando ao desenhar uma Lei deResponsabilidade Fiscal considera-da das mais avançadas do mundo?

A política econômica de Lulaé excelente para padrões nórdicos,com renda per capita elevada, ser-viço público eficiente, sem pobrezae com mínima desigualdade. Nãomuda nada.

O Brasil precisa crescer muitomais, parar de perder oportuni-dades e voltar a ser, ao menos, amaior economia emergente. Nãoprecisa mais de Lula nem de aven-turas. Precisa de um novo governo,com coragem e competência paramudar, inclusive a economia.

O Brasil cresceu 0,7% no terceiro trimestre de 2005.

Estagnação que comprometeu a necessidade de a economia

brasileira expandir-se a mais de 3% do PIB ao ano. Apesar

da verborragia triunfalista de Lula, isso mostra que sua política

econômica é um fracasso, em virtude da superdosagem de

remédio ministrada por seu governo para controlar a inflação.

Como prova, neste artigo, o economista José Roberto R. Afonso.

Agenda45 novembro de 2005 41

(*) Economista. Assessor técnico da

Liderança do PSDB. Coordenou a equipe

técnica que elaborou o projeto de Lei da

Responsabilidade Fiscal

Page 44: Agenda 45 1

42 Respeito pelo Brasil Agenda45

Quando Aécio Neves assumiu o governo de Minas Gerais, herdou

uma complexa herança, cuja característica principal consistia em

um desequilíbrio histórico das contas do estado. Ao longo de dez

anos, esse desequilíbrio gerou um déficit público de R$ 2,4 bilhões.

Decidido a reverter essa situação para atender as necessidades dos

segmentos mais carentes da população mineira, Aécio implantou

um programa radical. Batizado de Choque de Gestão. Em novembro

de 2004, com menos de dois anos da nova administração, Minas

estava financeiramente saneada. E o déficit, igual a zero. Esse sucesso

garantiu ao governo Aécio recuperar a necessária credibilidade para

captar investimentos no exterior e, assim, registrar o maior aumento

na criação de empregos na indústria em todo o Brasil, segundo

constatou pesquisa do IBGE.

Conversa com Aécio Neves

O choque do sucesso

Aécio Neves

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Agenda45 novembro de 2005 43

À falta de realizações na área social, Lula apega-se, como um náufrago, à tábua de salvação ao alcancede suas mãos: os números positivos da economia bra-sileira. Lula tenta convencer a sociedade de que o seugoverno evitou uma catástrofe. Trata-se de umainverdade, que o passado recente desmistifica. Osresultados alcançados pelo governo lastrearam-se nolegado do Plano Real, que mudou a face da economiado país, e na Lei de Responsabilidade Fiscal. Que, àépoca de sua votação, foi ferozmente combatida peloPT, incluindo o então deputado Antônio Palocci.

Os fundamentos que permitiram ao governo Lulaalcançar números positivos na economia - depois derenegar as paleolíticas crenças do PT que sustentaram,por duas décadas, a catilinária utilizada para chegarao poder - constituem um acervo do PSDB, comdireito à marca registrada. A prova cabal foi dada aoBrasil pelo tucano Aécio Neves. Sem alarde, semdemonstrações de messianismo, mas com férreadeterminação, o governador de Minas Gerais, emmenos de dois anos de administração, zerou o déficitnas contas públicas do estado. E encerrou, definitiva-mente, um ciclo de desequilíbrio fiscal que se alongarapor mais de dez anos.

Ao assumir as Geraes, o governo Aécio Nevesdeparou-se com um quadro caracterizado pelo caos.A capacidade financeira de Minas estava esgotada. Aspossibilidades de a administração pública realizarinvestimentos nas áreas essenciais para atender asdemandas da população, em especial dos segmentosmais carentes, eram praticamente inexistentes.

Para espanto dos que apostaram contra a decisãode Aécio Neves de sanear, por completo, as contasmineiras, o governador, no dia 23 de novembro de2004, anunciou que o desafio fora enfrentado evencido: “Depois de vários anos de um ciclo perversode desequilíbrio financeiro e fiscal, que atingiu váriosestados, Minas Gerais conseguiu sanear suas finanças,equilibrar suas contas e domar um déficit público daordem de R$ 2,4 bilhões”.

Para inaugurar um novo ciclo de desenvolvimen-to com efetivas perspectivas de crescimento com gera-

ção de renda - bandeira do PSDB que jamais foijogada na lata de lixo por oportunismo eleitoral -, ogoverno de Minas Gerais aplicou um inovador mode-lo de gestão administrativa. O Choque de Gestão.Cujos preceitos privilegiavam, acima de tudo, um rigo-roso controle nas compras e nas despesas pagas peloTesouro do estado.

A estratégia destinada a propiciar o crescimentoda receita estadual implicaram um esforço de arreca-dação e, ao mesmo tempo, a modernização e o con-trole dos gastos realizados por toda a estrutura gover-namental. Essas tarefas foram cumpridas pelassecretarias da Fazenda e de Planejamento e Gestão,garantindo a Minas Gerais, entre 2003 e 2004, umcrescimento superior a R$ 1,7 bilhão no volume dereceita. Nada mais nada menos do que uma expansãode 17% em relação ao período anterior.

Atingir esse índice, superior à média nacional de8,2% naquele biênio, exigiu do governador AécioNeves disposição para o sacrifício. Logo depois deassumir, em fevereiro de 2003 ele anunciou o cortede R$ 1 bilhão nas despesas do estado. Com isso, aofinal do primeiro ano de administração, conseguiureduzir o déficit de R$ 2,4 bilhões para R$ 1,4 bilhão.

A receita do sucesso foi implantada, pontual-mente, com a realização de cortes na estrutura da ad-

“Depois de vários anos de umciclo perverso de desequilíbriofinanceiro e fiscal, que atingiuvários estados, Minas Geraisconseguiu sanear suasfinanças, equilibrar suascontas e domarum déficit público da ordemde R$ 2,4 bilhões”

Page 46: Agenda 45 1

44 Respeito pelo Brasil Agenda45

ministração; redução de salários do primeiro escalão;pagamento de débitos com fornecedores; novapolítica de valorização de pessoal; e gerenciamentocontrolado de compras. As medidas de redução compessoal, compras, consumo e processos totalizaramR$ 304 milhões.

A arquitetura do Choque de Gestão implantadopor Aécio Neves possibilitou ao estado enquadrar-se, finalmente, na Lei de Responsabilidade Fiscal, pas-sando a destinar 59% da receita líquida para o paga-mento de pessoal, em vez dos 72% de 2003.

A cirurgia reduziu as secretarias estaduais de 21para 15, extinguiu 43 superintendências e 16 diretorias,num total de 3 mil cargos de confiança. O corte foitão radical que Aécio diminuiu o seu próprio saláriode R$ 19.5000,00 para R$ 10.500,00, bem como, odo vice-governador e dos secretários de estado, quepassaram a ganhar R$ 10 mil e R$ 8.500,00.

A centralização da folha de pagamento na Secreta-ria de Planejamento e Gestão, com a implantação deuma auditoria permanente no sistema de dados, aca-bou com fraudes, pagamentos indevidos e possibi-litou o corte de abono em caso de acúmulo de doiscargos. Do ponto de vista aritmético, uma economiade R$ 40,13 milhões.

O governador mineiro operou com radicalismopara reduzir a máquina estadual. Em contrapartida,

A ECONOMIADE MINASDEPOIS DOCHOQUE DEGESTÃO*

• No mesmo período, o

número de horas pagas em

Minas foi 5,88% maior,

enquanto o país registrou um

crescimento de 2,55%.

• Segundo a pesquisa do

IBGE, a indústria de Minas

obteve um crescimento de

7,5% nos primeiros seis meses,

índice superior ao registrado

no país (4,3%).

• A média nacional de aumento

do emprego na indústria, no

mês de julho, foi de 1,12%. Em

Minas, o crescimento chegou a

3,57%. No acumulado do ano,

os números relativos a Minas

(4,38%) são superiores aos

registrados no total Brasil

(2,14%).

• Entre agosto de 2004 e

julho de 2005, enquanto no

Brasil a variação real da folha

de pagamento foi de 6,37%,

em Minas chegou a 11,99%.

concebeu uma nova política de valorização do servi-dor público. Esse modelo propiciou uma economiade R$ 2 milhões com o programa de AfastamentoVoluntário Incentivado; a redução de R$ 146 milhõescom designados em 2003 e 2004; a substituição dosbenefícios por tempo de serviço para adicionais dedesempenho; e a extinção do “apostilamento”.

As medidas saneadoras, transformadas em rotinaadministrativa em todos os órgãos do governo esta-dual, resultaram em uma arrecadação de R$ 12 bilhõesem 2003 e de R$ 14,1 bilhões em 2004. Para 2005,está previsto o ingresso de R$ 16,1 bilhões nos cofresmineiros. Esse modelo de gerenciamento viabilizou amelhoria da arrecadação sem que houvesse neces-sidade de o governo impingir ao contribuinte oaumento da carga tributária.

“A implantação do Choque de Gestão foi de-cisiva. Minas convivia, em razão de seu desequilíbriofinanceiro e fiscal, com entraves quase intransponíveispara captar investimentos, inclusive junto a organis-mos internacionais. Na medida em que revertemosessa complexa realidade, o estado conseguiu avais eos recursos voltaram a entrar em Minas”, orgulha-seAécio Neves.

O sucesso do Choque de Gestão permitiu ao go-verno estadual priorizar, em 2005, a realização deinvestimentos nas áreas sociais, especialmente na saúde,

* Pesquisa do IBGE de 16/09/2005

Conversa com Aécio Neves

Page 47: Agenda 45 1

Agenda45 novembro de 2005 45

na educação e na segurança pública. E também nas

áreas de energia, saneamento básico e de transportes,

para recuperar as degradadas rodovias mineiras.

“Atingir o déficit zero era uma etapa fundamental, que

Minas Gerais venceu. Agora, com a casa saneada e

devidamente arrumada, o governo poderá executar

todos os programas prioritários de maneira ágil”,

ressalta o governador, convicto de que Minas Gerais

está, finalmente, ajustado para ser, entre todos os estados

brasileiros, o que mais crescerá nos próximos dez anos.

O sucesso do Choque de Gestãopermitiu ao governo estadualpriorizar, em 2005, a realizaçãode investimentos nas áreas sociais,especialmente na saúde, naeducação e na segurança pública

• No mês de julho, enquanto

houve um crescimento médio

na indústria nacional de 0,5%,

a de Minas cresceu 6%.

• Os números sobre pessoal

ocupado no estado

aumentaram 4,5% no primeiro

semestre deste ano, enquanto

o crescimento no Brasil foi de

2,2%.

• As exportações mineiras

cresceram 40,4%; no resto do

país, o crescimento foi de 23%.

• O levantamento do IBGE

registrou, no mês de julho,

crescimento de 6% na

produção industrial mineira

comparado com julho de

2004, totalizando 24 meses

consecutivos de crescimento.

• O avanço no indicador

mensal teve como principal

contribuição a performance

da indústria extrativa (15,8%),

impulsionada pela produção

de minério de ferro.

• Nos últimos 12 meses, o

crescimento foi de 7,2%.

• O crescimento geral também

foi influenciado pela indústria

de transformação (4,4%),

onde oito das 12 atividades

tiveram resultados positivos,

com destaque para o metal

(56,4%), devido ao expressivo

aumento do produto estrutura

de ferro e aço, e para os

veículos automotores.

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46 Respeito pelo Brasil Agenda45

Ponto de vista

Gestão pública para o cidadão

Aécio Neves*

(*) Ex-presidente da Câmara dos Deputados,

é atualmente governador de Minas Gerais

A idéia de se investir menos no estado e mais no cidadão, como fundamento de gestão pública, não é

apenas um modo de priorizar as ações de um governo em favor da sociedade. Este conceito traz em seu

bojo inúmeros outros atributos. Entre eles, a prática de um novo modelo administrativo, cuja essência

poderia ser resumida na reorganização dos procedimentos governamentais e no bom

uso dos recursos públicos, na atração de investimentos, na leveza da estrutura de governo

ou na agilidade para atendimento às demandas mais urgentes da população.

Essa nova postura no trato da coisa pública recebeu em Minas Gerais o nome de

Choque de Gestão, responsável pelo ambiente positivo e de otimismo presente hoje na

vida dos mineiros. É, de fato, um outro cenário surgido em decorrência das medidas

adotadas para o saneamento das finanças estaduais, cujo déficit de R$ 2,4 bilhões,

em 2003, seria zerado já em 2004, abrindo o horizonte para a recuperação histórica

de Minas como um Estado bom para se viver e bom para se investir. Sobretudo, um

Estado com força e presença nas grandes decisões nacionais.

Mas no âmago deste bem-sucedido modelo de gestão que privilegia o planejamento

diante das soluções improvisadas está o cidadão. É o cidadão o maior beneficiário

daquilo que o governo de Minas pôs em ação desde o seu início, como drástica

redução das despesas, corte de secretarias e de cargos de confiança ou combate à

sonegação, com imediato aumento da receita. Os recursos do Estado foram geridos

com transparência e zelo . As dívidas com os fornecedores e com o funcionalismo

público foram quitadas. Os servidores passaram a receber os seus proventos até o

quinto dia útil do mês e a ter o 13º salário depositado em dezembro.

Minas Gerais readquiriu, então, uma imagem cara a todos os administradores, sejam

eles públicos ou privados: a imagem da confiança e da credibilidade. É crescente a

chegada de investimentos nacionais e internacionais no Estado, que vão gerar milhares

de empregos diretos. De 2003 a outubro de 2004, já somaram R$ 78, 3 bilhões. E o governo pôde

dar curso a um vasto conjunto de projetos e investimentos em áreas prioritárias, como saneamento,

educação, saúde, transportes e segurança pública, ou até mesmo reduzir a carga de ICMS sobre um

elenco de 150 produtos, de alimentos à construção civil.

Acredito que a experiência de Minas sinaliza a chegada de um novo tempo e de um novo paradigma

para os modelos de gestão pública.

É o cidadãoo maiorbeneficiáriodaquilo queo governo deMinas pôs emação desde oseu início,como drásticaredução dasdespesas, cortede secretariase de cargos deconfiança oucombate àsonegação,com imediatoaumento dareceita.

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Agenda45 novembro de 2005 47

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48 Respeito pelo Brasil Agenda45

Bico fino

Exercer a oposição é falar, cutucar com vara curta, denunciar irregularidades e prová-las

Deputado Eduardo Paes (RJ), primeiro vice-líder doPSDB na Câmara

“O presidente Lula e o PT se utilizam da

mesma estratégia de Paulo Maluf para se

defender das denúncias de corrupção. Por

um lado, negam todas as acusações, di-

zendo ser vítimas de perseguição política.

E, de outro, intensificam os ataques aos

seus adversários, tentando nivelar todos os

partidos por baixo.”

“O alvo da nossa co-missão é o poder pú-blico, que é o grandecorruptor. Alguns em-presários apenas seaproveitam quando asportas do Estado seabrem para irregula-ridades.”

Senador Álvaro Dias (PR), membrotitular da CPMI, alegando que as

empresas envolvidas na corrupção dosCorreios não são a principal

preocupação da comissão

Deputada Yeda Crusius (RS), ex-ministra doPlanejamento, vice-líder do PSDB na Câmara

“Mais uma vez, o presidente se engana em todas as afirmações. Dizer queganhará as eleições com um ano de antecedência é desrespeitar a população.Afinal, será o povo quem decidirá. E ele não tem dado motivos para que opovo lhe confie outro mandato.”

Deputado Sebastião Madeira (MA)

“A equipe do ministro Paloccifaz parecer que o país crescea taxas expressivas, mas issoé mentira, pois a economianão deslancha. É outra impo-sição do marketing do gover-no. Eles receberam do PSDBum céu de brigadeiro e otransformaram num céu deestagiário.”

Deputada Zulaiê Cobra (SP), vice-líder do PSDB na Câmara, sobre o jantar oferecido

por Lula a Hugo Chávez na Granja do Torto

“Esse jantar é umaação entre amigos.Em um momentoem que Lula sesente fragilizado eperdido, ele decidiurecorrer ao apoio doseu melhor amigo,Hugo Chavéz.”

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Agenda45 novembro de 2005 49

“O foco de febre aftosa em Mato

Grosso do Sul é apenas o prenún-

cio de um apagão na agricultura

brasileira. O episódio é apenas

mais um exemplo da desordem e

da irresponsabilidade pública

deste governo.”

Senador Sérgio Guerra (PE), presidente da Comissão deAgricultura e Reforma Agrária

“Não há criatividade alguma no projeto dereforma universitária encaminhado pelo Minis-tério da Educação para discussão no CongressoNacional. O governo sugere apenas mudançascosméticas, o que chega a ser um desaforo. Demodo geral, não traz alterações significativas,mas apenas disfarça os erros do governo Lulano setor educacional.”

Senador Leonel Pavan (SC)

“O governo federal não tem política

para o homem do campo, nem políti-

cas de preços para a pecuária e para

a agricultura. Dentro de poucos dias

vai acontecer a ‘aftosa’ do arroz, do

feijão, do milho e da soja”.

Senador João Batista Motta (ES)

“Na condição de cidadão, percebocomo este governo coloca os inte-resses do presidente, de meia dúziade pessoas que estão ao seu lado edo seu partido acima dos da coletivi-dade. Como cearense, minha indig-nação reside em ver o meu estadocada vez mais esquecido e tratadocom indiferença por este governo.”

Deputado Bismarck Maia (CE), em discursona Câmara dos Deputados

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50 Respeito pelo Brasil Agenda45

Conversa com Alckmim

O caminho do crescimento

Geraldo Alckmin

"Não tem mágica, é trabalho, trabalho, trabalho". Essa é a

convicção do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin,

que apesar da crise política em que o governo Lula afundou o

país vê o futuro com otimismo. Para o homem que herdou a

responsabilidade de suceder Mário Covas, o Brasil está

anestesiado. O que é comprovado pelo fato de a economia

brasileira caminhar a ritmo excessivamente lento, quando

comparada com a dos países em desenvolvimento. Panorama

resultante da incapacidade do governo de empenhar-se para

patrocinar as reformas estruturais e ampliar os investimentos

em infra-estrutura. Com destaque para a reforma tributária,

o maior de todos os gargalos brasileiros. "Temos carga tributária

equivalente à de países desenvolvidos, mas não temos

capacidade de investimento", afirma o governador. Consciente

de que o peso dos impostos federais impede o país de atingir

níveis de crescimento elevados e sustentados, Alckmin entregou-

se à tarefa de reduzir os impostos estaduais. O que propiciou

o crescimento de 100% do nível de investimentos em São Paulo.

Radical defensor da necessidade de o governo implementar,

de fato, um grande programa de concessões e parcerias

público-privadas, para o governador é indispensável melhorar

a qualidade do gasto público, cortar despesas e modernizar a

gestão pública. Somente assim, de acordo com sua receita,

poderá ser criado um ambiente de confiança que favoreça,

afinal, a competitividade.

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Agenda45 novembro de 2005 51

A economia mundial vive um momento excep-cional, mas o Brasil não está aproveitando todas asoportunidades. Segundo previsões do FMI, o mundodeve crescer em média 4,3% este ano, e manter esteritmo em 2006. Para os países em desenvolvimento,as previsões são ainda mais otimistas: crescimento mé-dio de 6,4% este ano. Já o Brasil deve crescer 3,3%.“O Brasil é país vocacionado para o crescimento. Masenquanto nossa economia anda a 80 por hora, omundo está a 120”, afirma o governador do estadode São Paulo, Geraldo Alckmin.

Os grandes nós estão na necessidade de fazerreformas estruturais e ampliar os investimentos eminfra-estrutura, acredita Alckmin. “A velocidade domundo moderno é estonteante, e é preciso fazerreformas que permitam acompanhar estas mudanças.Uma delas é a reforma tributária, que considero amaior prioridade. Esse é o grande gargalo”, afirma ogovernador paulista. Ele aponta o peso dos impostosfederais como um dos entraves para o país atingir

níveis de crescimento elevados e sustentados. “Temoscarga tributária equivalente à de países desenvolvidos,mas não temos capacidade de investimento. É evidenteque temos que fazer um esforço para reverter isso.São Paulo tem reduzido os impostos, e mesmo assimdobramos, nos últimos cinco anos, o nível de investi-mentos do estado.”

Estes investimentos vão permitir a realização deobras e programas que são essenciais para reduzir oscustos de produção e garantir a produtividade dasempresas paulistas. Alckmin assinala, no entanto, queo governo vai precisar contar com a participação dainiciativa privada. “Temos de fazer um grandeprograma de concessões e parcerias público-privadas.E nesse caso, a palavra chave é confiança. Respeitoaos contratos. Criar um ambiente favorável à compe-titividade”, diz o governador de São Paulo.

Também é preciso melhorar a qualidade do gastopúblico, cortando despesas, e modernizar a gestãopública. “O país precisa crescer com responsabilidade

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e eficiência”, analisa o tucano. À frente da adminis-tração do estado de São Paulo, um gigante de 40milhões de habitantes que respondem por um terçodas riquezas produzidas no país, Geraldo Alckmindiz contar com as lições de um grande mestre: ogovernador Mário Covas, de quem teve o privilégiode ser copiloto no Palácio dos Bandeirantes.

Quando Covas assumiu o governo de São Paulo,em 1995, o Estado vinha de quase uma década dedéficits no Orçamento. Ele reduziu para 3%, e há 10anos o estado só gasta aquilo que arrecada. Assimcomeçou a história do PSDB à frente do estado deSão Paulo, que hoje, após este rigoroso ajuste fiscal,acumula avanços sociais notáveis e exibe um cres-cimento vigoroso.

A eficiência começa pelos gastos públicos, e ogovernador Geraldo Alckmin tem verdadeiraobsessão pelo corte de desperdícios. Instituiu a obri-gatoriedade do uso de meios eletrônicos para comprade bens e serviços. Só com o sistema de pregão, oestado já economizou quase R$ 3 bilhões. No cha-mado leilão reverso, fornecedores trocam lances, e omenor preço leva o contrato. Na última compra demotos para a Polícia Militar, por exemplo, o estadoeconomizou R$ 1,8 milhão, ou seja, a concorrênciaentre os participantes levou a uma redução de 17%no preço que o governo pagou em relação ao preçode mercado. “É fazer mais, com menos dinheiro.Estamos colocando a economia de mercado a serviçoda sociedade. É transparência absoluta”, afirma ogovernador.

O estado também cortou gastos com pessoal.Antes, representavam 49% das despesas do governo,agora são 44%. Este ajuste deu ao estado fôlego paracrescer com responsabilidade. Em 2006, o Estadovai investir R$ 6,254 bilhões em recursos do tesouroestadual. Somando-se aos R$ 2,836 bilhões eminvestimentos das estatais, são mais de R$ 9 bilhões,praticamente o dobro do total investido em 2000.

Estes investimentos são destinados, principal-mente, à ampliação e à modernização da infra-estruturado estado. É parte da expressiva contribuição que o

governo paulista oferece, ano após ano, para o cres-cimento da economia e da competitividade das em-presas. O investimento no Rodoanel, uma obra parao Brasil, vai melhorar significativamente o trânsito decargas no país todo. O projeto Corredor de Ex-portação envolve investimentos em estradas, dupli-cação de rodovias, modernização de portos, e amplia-ção de aeroportos. “Esta é a responsabilidade doestado, criar um ambiente favorável para os negócios.Resolver os gargalos da logística e dos impostos, queatrapalham o crescimento do país”, afirma Alckmin.

E na questão tributária, o estado mostra um pro-grama extenso de redução da carga. A experiênciapaulista mostrou que é possível diminuir carga tribu-tária com aumento da receita. Isso porque a altatributação empurra as empresas para a informalidadee estimula a sonegação. O programa Simples paulista,por exemplo, acaba de ser ampliado. Pelo sistema,micro e pequenas empresas que faturam até R$ 240mil não pagam impostos, e aquelas que faturam atéR$ 2,4 milhões têm alíquota reduzida e simplificada.Serão ao todo 616,8 mil empresas beneficiadas.

A iniciativa mais robusta do estado para diminui-ção da carga tributária é o programa São Paulo Com-petitivo, que reduz a carga tributária, desonera asempresas e dá maior poder de competição à economiapaulista, com reflexos na geração de emprego e renda.Em setembro de 2005, o governador Geraldo Alck-min anunciou, como parte deste programa, um con-junto de medidas, entre elas a inclusão de novos pro-dutos à lista da cesta básica e a ampliação do Simplespaulista, sistema de tributação que isenta ou reduz acarga tributária de micro e pequenas empresas. “Esta-mos fazendo um grande esforço para reduzir aindamais os impostos do estado e, ao mesmo tempo,ajudar todos os consumidores. São ações que fazemparte do esforço do estado para o desenvolvimento”,afirmou o governador.

Mas o empenho do governo paulista para reduçãode carga tributária no estado não é novidade. SãoPaulo já diminuiu a carga tributária sobre os mais varia-dos setores, entre eles têxtil, calçados, autopeças,

Conversa com Alckmim

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cosméticos, medicamentos, alimentos, vinho, brinque-dos, laticínios e açúcar. Em toda cadeia do trigo, in-cluindo o pãozinho, o imposto foi a zero, o que játem impacto nos preços e até nos índices de inflação.

Todos estes esforços vêm permitindo que oestado aumente, ano a ano, os investimentos sociais.O reflexo está nos excelentes indicadores que ogovernador Geraldo Alckmin exibe nas apresentaçõesque têm feito. A mortalidade infantil caiu 42% entre1995 e 2005. Hoje, São Paulo tem uma taxa de 14,25mortos por mil nascidos, enquanto no Brasil a taxa éde 20 mortos por mil nascidos.

Outra área, essencial para o desenvolvimento,também apresenta avanços evidentes: educação. Ainclusão das crianças e adolescentes na rede de ensinoteve um crescimento sem precedentes no estado: oensino médio cresceu 82% nos últimos dez anos emSão Paulo. Hoje, 89,9% dos jovens entre 15 e 17 anosestão na escola, enquanto no Brasil a média é de apenas54%. No ensino fundamental os números são aindamais positivos: nos últimos dez anos, o número deinclusão das crianças ao ensino fundamental cresceu26,5%. Com isso, São Paulo praticamente universalizou

o acesso, já que, em 2005, 99,1% cursaram o ensinomédio no estado. No Brasil, a média é de 85,2%.

A preocupação do estado, no entanto, não é sócom quantidade, mas principalmente com a qualidadedo ensino que nossos alunos recebem. Por meio daRede do Saber, um sistema digital para capacitação àdistância, o estado já treinou 236 mil professores. Como Bônus da Educação, que pagou R$ 761,3 milhõesaos professores em 2004, São Paulo conseguiu reduzirsignificativamente as faltas dos professores. E o estado,que já tem todo o seu corpo de professores comensino superior completo, oferece bolsas de mestrado,inclusive para cursos no exterior. Com apoio financeirodo governo, professores fizeram, em 2005, cursos naEspanha e a Inglaterra.

Alckmin reconhece que o estado de São Paulo,apesar de estar hoje em um dos melhores momentosde sua história, tem ainda muitos desafios a superar,assim como o Brasil. E o governador vê com otimis-mo o futuro do país. “Nossa democracia está conso-lidada, as instituições são fortes. O governo precisa,agora, fazer a sua parte para o Brasil alçar vôo”, afirma.“Não tem mágica. É trabalho, trabalho, trabalho.”

“Nossa democracia está

consolidada, as instituições são

fortes. O governo precisa agora

fazer a sua parte para o Brasil

alçar vôo. Não tem mágica.

É trabalho, trabalho, trabalho.”

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Ponto de vista

Educação e desenvolvimento

Geraldo Alckmin*

O mundo inteiro corre, e o Brasil patina. Nosso país está sendo atrapalhado pela paralisia da

administração federal, pela alta carga tributária, por um governo que gasta muito e muito mal, além de

sofrer uma crise alimentada por escândalos sucessivos.

Os 5,4% de crescimento acumulado do PIB brasileiro, em 2003 e 2004, são ínfimos, se comparados

com os 13,5% obtidos pela América do Sul, no mesmo período. Na América Latina, 15 países cresceram

mais do que o Brasil, inclusive Cuba, que cresceu 6%, embora isolada do resto do mundo, econômica

e ideologicamente. Em 2005, a situação não será melhor. A Cepal estima que o desempenho da

economia brasileira será o terceiro pior da América Latina, só ficando à frente de El Salvador e Paraguai,

e no mesmo nível da Costa Rica, Equador, Guatemala e Haiti. Essa situação lamentável contraria nossa

principal vocação, que é a do crescimento, da geração de trabalho e renda, que é o melhor caminho

para a justiça social.

Do início do século 20 até os anos 80, o PIB brasileiro cresceu de 7% a 8% ao ano. Agora, não

podemos mais marcar passo, pois vivemos ambiente econômico favorável, tanto no âmbito internacional,

quanto no nacional, que desfruta de uma economia mais sólida, graças à tão-sonhada estabilidade da

moeda, obtida pelo presidente Fernando Henrique.

A retomada do desenvolvimento passa obrigatoriamente pela ética, pela eficiência em gerar mais recursos

para investimentos e por atenções especiais à educação, que é básica para dar

à nossa juventude condições de acompanhar a acelerada evolução tecnológica

e garantir melhores oportunidades no mercado de trabalho. Temos que melhor

aproveitar o potencial de nosso povo, investindo na formação profissional. Isso

só é possível com um grande trabalho de organização e ampliação da educação

básica, aumento de oferta de ensino técnico e tecnológico e fornecimento de

uma rede eficiente de ensino universitário de qualidade.

É isso que temos feito no estado de São Paulo, desde a posse do saudoso

governador Mário Covas. Nos últimos dois anos, além da USP Zona Leste, que

começou a funcionar em 2005 com cursos modernos e inéditos no país, am-

pliamos vagas nas três universidades estaduais, criamos faculdades de Tecnologia

e escolas técnicas, todas voltadas à necessidades de mão-de-obra especializada

nas regiões onde elas estão instaladas.

A retomada do

desenvolvimento

passa

obrigatoriamente

pela ética, pela

eficiência em

gerar mais

recursos para

investimentos e

por atenções

especiais à

educação

(*) Deputado federal por dois mandatos,

atualmente é governador de São Paulo

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Agenda45 novembro de 2005 55

O ensino médio e o ensino fundamental tiveram crescimento sem precedentes no estado. E nossa

preocupação não é só com quantidade, mas principalmente com a qualidade do ensino. São Paulo

já tem todo o seu corpo de professores com ensino superior completo, graças a um programa que

oferece inclusive bolsas de mestrado no exterior, notadamente na Espanha e na Inglaterra.

A boa educação é fundamental para o desenvolvimento. Mas é preciso mais. Precisamos reduzir a

carga tributária e as taxas de juros. Além de eficiência nos gastos públicos, precisamos fazer uma

reforma tributária que simplifique e diminua os impostos. Também precisamos de uma reforma política,

que dê maior representatividade aos partidos, sem o que não haverá condições sólidas para a

governabilidade.

Em síntese, o caminho para o desenvolvimento é investir em educação, saúde, saneamento e habitação.

É recuperar e ampliar a infra-estrutura, com destinação de recursos para as rodovias, portos e aeroportos.

Esta é a bandeira do PSDB, que tem experiência e eficiência comprovadas, portanto tem condições

de enfrentar o desafio de recuperar a confiança que os brasileiros sempre tiveram nesse nosso país

continental, que tem tudo para ser um grande pais, mais próspero e socialmente mais justo.

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A CONSTRUÇÃODO FUTUROEm 2002, a sociedade decidiu que o PSDB seria o partido responsável por fiscalizar e

vigiar o governo Lula. A partir daquele momento, o partido defrontou-se com a

necessidade de trilhar um novo e diferente caminho. Entre 2003 e 2004, com a eleição

da nova Comissão Executiva Nacional, o partido mudou-se, descentralizou a sua

administração e implantou uma estratégia muito objetiva para ganhar as eleições

municipais de 2004. O resultado foi a vitória da legenda tucana, que obteve a maior

taxa de sucesso eleitoral entre todas as que lançaram candidatos a prefeito. Nada

mais nada menos do que 45%. Para espanto do PT, que teve de se contentar com o

modesto índice de 21%, apesar de suas práticas heterodoxas de arrecadar recursos

financeiros milionários para campanhas.

58 Respeito pelo Brasil Agenda45

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Agenda45 novembro de 2005 59

Nova sede do PSDB

Inauguração da nova sede nacional

do PSDB , agosto de 2003

Em Brasília, festa de comemoração

da vitória nas eleições de 2004

De nada adiantou ao PT, a mais fiel expressão domodo de agir e pensar de Lula, montar uma máquinaeleitoral azeitada por malas de dinheiro de origemdesconhecida, muito provavelmente ilícita. De nadaserviu ao PT celebrar parcerias esdrúxulas, compartidos que, até passado recente, eram execradospor Lula, Dirceu, Genoíno, Gushiken & Cia. Quandoo Superior Tribunal Eleitoral proclamou os resultadosdas eleições municipais de 2004, o grande vencedorfoi o PSDB.

O sucesso do PSDB, que surpreendeu analistaspolíticos e atordoou os petistas, resultou de um pro-fundo trabalho de reorganização partidária, que ga-nhou peso e potência a partir de novembro de 2003,com a eleição de José Serra para a Presidência dalegenda, do deputado Bismarck Maia (CE) para aSecretaria-Geral e a condução de Sebastião Madeiraà Presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV).

“O PSDB, como um todo, entregou-se à tarefade provar para a sociedade brasileira a sua compe-tência, a sua capacidade administrativa, o seu com-promiso com os reais interesses da sociedade”,explica o deputado Bismarck Maia, que à frente daSecretaria-Geral do partido tomou a iniciativa demudar a sede do PSDB, em agosto de 2003, paraum contemporâneo conjunto de salas que abriga, emseus 500 m2, toda a estrutura partidária.

A partir dessa estrutura, que permitiu aos tucanosdispor de uma central de informática de última ge-ração, que hospeda o proveder de internet do partido,assegurando efetiva comunicação com filiados esimpatizantes, o PSDB implementou um plane-jamento estratégico caracterizado por ações descentra-lizadoras, que resultou no sucesso eleitoral de 2004.

Realizada pela Secretaria-Geral do PSDB, essaação estratégica contemplou a dinamização do setorde comunicação social. Na nova sede, uma equipede jornalistas passou a se dedicar ao relacionamentodireto com jornais, rádios e televisões. Enquanto, noCongresso, um time de profissionais deu contornosmais amplos ao site e à rádio do partido, que cobrem

FOTOS PAULA SHOLL

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60 Respeito pelo Brasil Agenda45

as atividades parlamentares em tempo integral, real evirtualmente.

A cavaleiro desse minucioso planejamento,chegou-se à vitória que fora previamente anunciadana revista de campanha do partido, Boca de Urna,editada pelo Instituto Tetônio Vilela. Em artigointitulado “A eleição da virada”, o presidente nacionaldo PSDB, José Serra, alertava que o partido não estavaentrando na briga só para competir: “Estamos entran-do para ganhar. Tucano é bom de bico e bom debriga. Vamos arregaçar as mangas, gastar sola desapato e conversar muito, de peito aberto, para mos-trar a força do nosso partido nos 5.567 municípiosdo Brasil. Até a vitória”.

A previsão concretizou-se. O presidente do ITV,deputado Sebatião Madeira, fizera a mesma apostano artigo “A vitória da verdade”, em que afirmouque o PSDB entrava para ganhar a eleição: “Temosa responsabilidade de continuar a vencer. Queremosvencer, sim, desde que seja a vitória da verdade, avitória da honestidade, a vitória da qual possamosnos orgulhar. Mais do que nunca o Brasil espera denós propostas sinceras, exeqüíveis, aquelas propostasque fazemos olhos nos olhos dos eleitores. E estouconvicto de que o Brasil não perde por esperar”.

OS TUCANOS DE OURO

PREFEITOS

PREFEITO CIRILO ANTÔNIO PIMENTA LIMA:QUIXERAMOBIM (CE)PROJETO: UNICENTRO - UNIVERSIDADECOMUNITÁRIA

PREFEITO HELDER LOPES CAMPOS:BOA VISTA DO TUPIM (BA)PROJETO: MUNICIPALIZAÇÃO DA REFORMAAGRÁRIA

PREFEITO IRINEU PASOLD: JARAGUÁ DO SUL (SC)PROJETO: CASA FÁCIL/MÃO-DE-OBRA DOAPENADO

PREFEITO SYLVIO LOPES TEIXEIRA: MACAÉ (RJ)PROJETO: PROGRAMA DE ATENÇÃO INTEGRALÀ SAÚDE DO IDOSO

PREFEITO CARLOS JOSÉ STÜPP: TUBARÃO (SC)PROJETO: PROGRAMA SANTO DE CASA AQUIFAZ MILAGRE

PREFEITO JAYME GIMENEZ: MATÃO (SP)PROJETO: CASA DO PEQUENO CIDADÃO

PREFEITO MARCOS ANTÔNIO RONCHETTI:CANOAS (RS)PROJETO: SEMEAR

PREFEITO MIGUEL HADDAD: JUNDIAÍ (SP)PROJETO: CARAVANA DA SAÚDE

PREFEITO RENATO AMARY: SOROCABA (SP)PROJETO: DESPOLUIÇÃO DO RIO SOROCABA

PREFEITO CELSO ANTÔNIO GIGLIO:OSASCO (SP)PROJETO: PROGRAMA GERAÇÃO DE RENDA EVALORIZAÇÃO DA VIDA

PREFEITO CÍCERO LUCENA FILHO:JOÃO PESSOA (PB)PROJETO: RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DO LIXÃODO ROGER

VEREADORES

DIVINO LOURENO DA SILVA: BETIM (MG)PROJETO: REDUÇÃO DE GASTOS

SILVANA RESENDE: RIBEIRÃO PRETO (SP)PROJETO: TRANSFORMA LIXO EM RENDA

FOTOS PAULA SHOLL

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A convicção de Madeira de que o PSDB voltariaa ganhar aquela que foi a maior eleição de toda ahistória republicana, disputada por aproximadamente400 mil candidatos a prefeito e vereador, foi corro-borada, também, por Bismarck Maia. No artigo “Odestino do PSDB”, ele desnudou as razões queredundariam na derrota do PT, destacando o fatode o governo Lula, pela incapacidade de cumprir asmirabolantes promessas de campanha, ter-se trans-formado em um avião cujo piloto padece de labirin-tite, para risco dos passageiros.

Contados os votos, divulgados os resultados daseleições do ano passado, ficou claro para o PSDB epara o seu braço de geração de inteligência, o InstitutoTeotônio Vilela, que a sociedade brasileira deu umtestemunho de que exige o aprofundamento dosdebates em busca de novas soluções para os proble-

mas do país. Atestando, assim, que chegou ao fim otempo irreal, mas muito presente no dia-a-dia dapolítica nacional, da pseudo-hegemonia de umpensamento que tudo podia.

Segundo o secretário-geral Bismarck Maia, “osresultados eleitorais que deram a vitória ao PSDBembasaram-se em iniciativas concretas, entre as quaisa realização de vários encontros com os diretóriosestaduais, que possibilitaram a construção de umamensagem capaz de expressar os compromissos dopartido com o exercício de uma oposição respon-sável, firme e coerente ao governo Lula”.

Objetivo maior da Executiva Nacional, porintermédio das ações realizadas por seu secretáriogeral, foi o de construir a união de todas as forçasdo partido, buscando a sinergia entre suas liderançasmaiores e as mulheres, homens e jovens que, nasbases, nos municípios, constróem o partido e suasgrandes causas. Lembra Bismarck que “para tentarestigmatizar o partido como uma legenda elitista,propalaram a lenda de que o PSDB era um partidode São Paulo, paulista mas com viés predominan-temente paulistano”. Para desmontar essa versãoirreal, o secretário-geral da Executiva Nacionalaprofundou o diálogo e a convivência entre as lide-ranças municipais, estaduais e regionais e os gestoresnacionais do PSDB.

Nova sede do PSDB

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FOTOS PAULA SHOLL

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62 Respeito pelo Brasil Agenda45

“O partido estabeleceu a meta de fortalecer ascandidaturas para as eleições do ano passado. Paraisso, criou um programa de trabalho que mobilizassea militância. Tarefa que garantiu a presença das maisexpressivas lideranças tucanas na campanha doscandidatos da legenda em todo o país”, contaBismarck.

A estratégia, coroada de êxito, fez com quelideranças da região Sul, como o senador Álvaro Dias,comparecessem a comícios e passeatas na regiãoNorte. E que o senador Tasso Jereissati se fizessepresente em eventos eleitorais em pontos muitodistantes do Ceará. Assim como o então candidato àprefeitura de São Paulo, José Serra, se afastasse daprópria campanha para apoiar, pessoalmente, diver-sos nomes do partido em inúmeros municípios.

“Realizamos, em etapas específicas, para maximi-zar as chances de vitória de nossos candidatos, umagrande caravana por todo o país. Cobrimos do Riode Janeiro ao Acre, do Oiapoque ao Chuí. Essa ini-ciativa consagrou, mais uma vez, as bandeiras, ascrenças, a capacidade de trabalho do PSDB”, salientao secretário-geral.

O trabalho realizado pela Executiva Nacionalpara ganhar as eleições não se limitou à mobilizaçãopartidária. A tarefa incluiu, também, a promoção deencontros destinados à transmissão a todos os dire-tórios tucanos de lastro técnico sobre os mais diversostemas, como, por exemplo, política de desenvol-vimento econômico, reforma tributária, educação,saúde, desenvolvimento social , comunicação emarketing político.

“Preparar o partido foi decisivo. E não apenassob os aspectos administrativo, político e de comu-

nicação e marketing. Mas, também, na esfera das açõesde fiscalização junto ao poder Judiciário, onde oPSDB, por intermédio de sua assessoria jurídica,ingressou com um vasto acervo de Ações Diretasde Inconstitucionalidade (Adins) e mandados desegurança contra os desmandos e absurdos dogoverno Lula”, ressalta Bismarck.

Outra iniciativa inédita do PSDB, realizada emjunho do ano passado, foi a criação do prêmioTucano de Ouro pela Comissão Executiva Nacionaldo partido e pelo ITV, que consagrou as ações deprefeituras e vereadores tucanos. Ao prêmio, concor-reram 400 municípios, que apresentaram mais de 800programas para saúde, educação, empreendedorismoe emprego, desenvolvimento urbano, desenvolvi-mento rural e inclusão social. Já os vereadores concor-reram nas categorias trabalho legislativo e açãocomunitária.

“A Executiva do partido e o Instituto TeotônioVilela criaram o Tucano de Ouro com o objetivo deevidenciar, para a sociedade brasileira, as iniciativasdo PSDB na busca de soluções ágeis, concretas ecapazes de serem efetivadas”, observa Bismarck,para quem “o eleitorado entendeu o recado e a capa-cidade tucana de governar. Com isso, o PSDB elegeu871 prefeitos, 415 vice-prefeitos e 6.566 vereadoresem todo o país”.

“O PSDB apresentou 1.907 candidaturas e elegeu871 prefeitos. Trata-se de uma taxa de sucesso de45%, a melhor média entre todos os partidos que selançaram à disputa pelas 5.562 prefeituras brasileiras.Enquanto isso, o PT, que realizou uma campanhamilionária, lançou 1.941 candidatos a prefeito e somente411 saíram vitoriosos, o que representou um índice de

Galeria de ex-presidentes - nova sede do PSDB

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Agenda45 novembro de 2005 63

sucesso de apenas 21%”, recorda Bismarck. Esseresultado foi comemorado a caráter, em festarealizada em Brasília que contou com a presença dopresidente Fernando Henrique Cardoso, do prefeitoeleito de São Paulo, José Serra, e de todas as liderançasnacionais.

Com muita alegria, os tucanos brindaram aescalada do partido e o sucesso dos seus candidatos.Que, às vésperas de assumirem suas responsabilidadesà frente dos executivos municipais, reafirmaram adecisão de implantar em suas administrações os 10mandamentos básicos que conformam os compro-missos políticos dos prefeitos tucanos.

Não bastassem essas ações, a Comissão ExecutivaNacional, no âmbito das iniciativas internas, decidiureestruturar a Juventude do PSDB, criando uma

Comissão Provisória encarregada de abrir espaçopara a legenda no movimento estudantil, e apoiar as iniciativas do PSDB Mulher, que implantou asoficinas de capacitação política e a Rede Nacional deMilitantes Tucanas, de que hoje participam 21 milmulheres.

“O PSDB”, afirma Bismarck Maia, “depois deter recebido da sociedade brasileira a tarefa de opor-se ao governo Lula, fez seu obrigatório dever decasa. Agora, sob a presidência do senador TassoJereissati, vai ampliar decisivamente esse trabalho.Com um único objetivo: vencer as eleições presi-denciais, retornar ao poder central e oferecer àsociedade aquilo que ela deseja, quer e merece. Sem,no entanto, incorrer no erro de prometer o queninguém pode cumprir”.

OS 10 MANDAMENTOS BÁSICOS

1. ABOMINARÁS O NEPOTISMO E O COMPADRIO

2. PERGUNTARÁS COMO AMPLIAR A PARTICIPAÇÃOPOPULAR NA GESTÃO E NAS DECISÕES PÚBLICAS

3. SERÁS OBCECADO NO ZELO PELAHONESTIDADE E TRANSPARÊNCIA

4. OBEDECERÁS ÀS PRIORIDADES ESSENCIAISDA POPULAÇÃO

5. CUIDARÁS, ACIMA DE TUDO, DA VIDA DOSMORADORES DO TEU MUNICÍPIO

6. USARÁS SEMPRE DA FRANQUEZA E DA SINCERIDADE

7. NÃO DESCUIDARÁS DA COMUNICAÇÃO, POIS NÃO BASTARÁ FAZER AS COISAS CORRETAMENTE

8. FARÁS, LOGO NO COMEÇA DA GESTÃO, UM ESBOÇO DO PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO

9. ABOMINARÁS A ATITUDE DE PEDIR COM O PIRES NA MÃO AOS GOVERNOS FEDERAL E ESTADUAL

10. REPUDIARÁS O DÉFICIT FISCAL E NÃO ENDIVIDARÁS IRRESPONSAVELMENTE O TEU MUNICÍPIO

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64 Respeito pelo Brasil Agenda45

Conversa com Marconi Perillo

O governador Marconi Perillo tem uma certeza da qual não abre mão. Para ele, opopulismo e a demagogia foram os males políticos do Brasil no século passado. E emtempos de incerteza, como os atuais, ele desfralda a bandeira de que compete ao PSDB sediferenciar dos outros partidos pela postura ética. O que implica, em casos evidentes decorrupção, que o suspeito seja afastado até o término das investigações.

Baseado nessas convicções, ao assumir o seu primeiro mandato, em 1999, Perilloestabeleceu a meta de sanear a máquina pública estadual, com o objetivo de preparar Goiáspara dar um salto qualitativo e diversificar a economia. Para viabilizar a expansão doagronegócio, setor tradicional da economia goiana, da indústria de medicamentos, da mineração,dos serviços e do turismo, investiu fortemente em educação e na distribuição de renda.

Seis anos depois, mais precisamente no dia 28 de abril de 2005, Marconi Perillo apresentouem Washington, no Fórum Mundial de Novos Líderes, as concepções do governo de Goiássobre desenvolvimento econômico, no painel Governança e Serviços de Transformação.Depois de relatar a realidade com a qual se deparou ao assumir o governo, caracterizada porum modelo simplório de crescimento, ele destacou o trabalho efetuado para implantar ummodelo duradouro de desenvolvimento econômico. Fundado muito mais no conhecimentodo que em capital e trabalho.

1998. O deputado federal Marconi Perillo lança-se ao governo de Goiás. A

decisão causa espanto. À exceção de um pequeno círculo íntimo de fiéis

amigos e colaboradores, ninguém se dispõe a apostar na possibilidade de o

candidato do PSDB alcançar a vitória. O senador Íris Rezende, ex-governador

do estado, era considerado imbatível. Perillo iniciou a campanha efetivamente

do marco zero. Aos poucos, as pesquisas eleitorais constataram o seu

crescimento. Ainda assim, a descrença em suas possibilidades de sucesso era

disseminada. Quando o resultado do primeiro turno foi divulgado, decretando

a realização do segundo turno entre os candidatos tucano e do PMDB, a

certeza de que a máquina eleitoral de Íris Rezende esmagaria Perillo continuava

de pé. Mas a realidade, ao fim e ao cabo, contrariou todas as crenças e

expectativas. Marconi Perillo derrotou Íris Rezende, assumiu o governo goiano,

realizou uma administração exemplar. E, por isso, foi consagrado em 2002.

Quando bateu o senador Maguito Vilella, com folga, no primeiro turno,

tornando-se o primeiro governador reeleito de Goiás.

Uma agenda obrigatória

Marconi Perillo

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Agenda45 novembro de 2005 65

Com essa premissa, priorizou o in-vestimento tecnológico, abrindo oportu-nidades efetivas nas regiões produtoras.Na verdade, como explicou o próprioPerillo, com o estabelecimento de umnovo curso de navegação, três elementospassaram a responder pela sustentaçãodo avanço da economia goiana: a profis-sionalização do aparelho do estado, aconstrução de parcerias com o setorprivado e a chegada da tecnologia aosgrupos sociais que serão os responsáveispela manutenção desse ambiente.

A aposta na contemporaneidadegarantiu a acelerada expansão da eco-nomia goiana. Em 2004, o Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística (IBGE)constatou que, em apenas cinco anos deadministração tucana, Goiás cresceunada mais nada menos do que 25%, tor-nando-se o maior produtor de sorgo etomate do país e o segundo maior noranking brasileiro da produção de leite.

Não foi apenas no setor agropecu-ário que Goiás se transformou. Tam-bém no setor industrial ocorreram trans-formações radicais, o que foi registradopelo fato de ter ingressado no clube dosdez maiores estados exportadores, nagestão do PSDB. De acordo com oIBGE, as vendas para o exterior haviamatingido o patamar de US$ 1,1 bilhão.Cinco anos antes, as exportações goianasbeiravam a insignificante marca de U$60 milhões.

A adequação do estado para tercondições de captar grandes investi-mentos no mercado externo, que redun-dou na instalação da montadora coreanaHyundai na cidade de Anápolis, ondeem março de 2004 teve início a constru-ção da Plataforma Logística Multi-

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66 Respeito pelo Brasil Agenda45

Conversa com Marconi Perillo

modal, não condicionou Marconi Perillo a descuidar das obrassubterrâneas, que, segundo a mitologia política, por não seremvistas não rendem votos.

Em seis anos de administração, o governador investiu R$24 milhões em saneamento, em estações de tratamento de águae esgoto e em infra-estrutura básica. O que aumentou em 40%o contingente de pessoas com água tratada. Com relação aesgoto, o crescimento foi ainda mais significativo: 60%.

Sobre essa realidade nova, Marconi Perillo afirmou:“Quando começamos a governar, pouco mais de 3,3 milhõesde pessoas eram atendidas com água tratada e 1,34 milhãocom esgoto. Atualmente, chega a mais de 4.700.000 o númerode beneficiados com água e 2.150.000 com esgoto”.

As iniciativas para oferecer aos segmentos mais carentes dapopulação de Goiás condições de acesso aos bens da cidadaniacombateram, também, a grave questão da marginalidade. Epor intermédio de uma ação extremamente objetiva, centradana reeducação, a administração Perillo logrou alcançar o menoríndice de reincidência de crimes no país em 2004: apenas 16%. Extremamente baixo, secomparado ao índice nacional, que segundo o Departamento Penitenciário Nacionalsituou-se entre 70% e 75%.

Esse resultado ratifica um discurso de campanha que foi, de fato, colocado emprática. “O investimento em educação e inovação é o alicerce para o desenvolvimentosocial e deve ser prioridade dos governos”, acredita Marconi Perillo, para quem não sedeve, apenas, pensar em projetos megalômanos. “É preciso investir em pequenasiniciativas que possam beneficiar o cidadão comum.”

Essa receita de desenvolvimento e crescimento privilegia o que ele define comoum estilo moderno de administrar, caracterizando-se pela prática democrática, a aberturaao diálogo e as características de empreender, em contraposição à velha teoria queenfatiza a personalidade carismática do governante emocionalmente envolvente masque se comporta como o típico pai-patrão autoritário e demagógico.

Neste momento de crise política, Marconi Perillo afirma que a abordagem ortodoxasobre o desenvolvimento do país privilegia, infelizmente, uma ótica estrábica: “O setorpúblico deixou para a iniciativa privada tarefas que não lhe pertenciam. No entanto,não houve um amadurecimento do papel regulamentador e fomentador do estado.”

Exatamente em razão desse fato, Perillo entende que o governo Lula, no seu projetode governo, não definiu prioridades para enfrentar as altas cargas tributárias, as taxas dejuros proibitivas e o câmbio valorizado: “Essa é uma agenda obrigatória, que terá deser encaminhada, a partir de 2007, pelo seu sucessor, para flexibilizar as taxas de juros,assegurar investimento em infra-estrutura, propiciar a inclusão econômica, garantircondições sociopolíticas por meio das reformas política e tributária, além de patrocinara regulamentação das Parcerias Público-Privadas.”

Em seis anos deadministração, o governadorinvestiu R$ 24 milhões emsaneamento, em estações detratamento de água e esgotoe em infra-estrutura básica.O que aumentou em40% o contingente depessoas com água

Page 69: Agenda 45 1

“Apesar de você, amanhã há de

ser outro dia...”, cantou Chico Buar-

que nos tempos em que os anos

eram de chumbo. A estrofe, que

não perdeu a atualidade, foi apro-

priada pela juventude do PSDB e

virou o mote da tese apresentada

ao 49o Congresso da União Nacio-

nal dos Estudantes, realizado em

Goiânia, em junho de 2005.

Ao lançar mão da poesia de

um artista que usou sua criatividade

para combater o arbítrio, a juventu-

de tucana decidia combater a trans-

formação da UNE em uma enti-

dade chapa branca. Mais um braço

do governo Lula sob o comando

do nanico PCdoB.

A decisão dos jovens tucanos

de enfrentar a direção da UNE

partiu da consciência de que a enti-

dade amesquinhara sua missão, ao

assumir, de livre e espontânea von-

tade, o papel de advogar a favor

do governo, fazendo-se cega e sur-

da às evidências de corrupção sis-

têmica implantada pelos mais ínti-

mos amigos de Lula. “A decisão

da juventude do PSDB foi medita-

da, amadurecida e transformada

em bandeira de luta”, afirma o

vereador Edimar Neto, represen-

tante da Comissão Provisória da

Juventude do PSDB na Executiva

Nacional do partido. “Concluímos

que, se não combatêssemos a

transformação da UNE em massa

de manobra de um governo que

se caracteriza pela inépcia e que

cultiva o autoritarismo, seríamos

cúmplices de um erro trágico, pois

a história da UNE é marcada pela

defesa da democracia e da ética.”

Outro fator que levou a juven-

tude do PSDB a arregaçar as man-

gas foi o resultado de uma pes-

quisa feita em universidades brasi-

Mangasarregaçadas,bateriaafinada

Juventude do PSDB

Juventude tucanaPOR UMA NOVA UNE

1. PELAS ELEIÇÕES DIRETAS

2. PELAS ELEIÇÕES MAJORITÁRIAS

3. PELA DEFINIÇÃO DE UM CALENDÁRIO

RÍGIDO PARA OS CONEG´S E CONEB´S

4. PELA LEGITIMAÇÃO DAS CARTEIRAS DE

ENTIDADES ESTUDANTIS DE BASE

Agenda45 novembro de 2005 67

Page 70: Agenda 45 1

leiras. Ao serem perguntados sobre

o que era a UNE , 100% dos estu-

dantes responderam que é o órgão

que fabrica carteiras de estudante e

garante o direito à meia entrada em

cinemas e espetáculos.

“Enquanto durou o governo

Fernando Henrique Cardoso, a

UNE e demais entidades domina-

das por esquerdistas viveram de

agredir o governo. Depois que Lula

venceu as eleições, rasgando seu

passado, encontram-se totalmente

perdidos, sem saber o que fazer”,

diz Edimar Neto.

Por trás da iniciativa de lutar

pela restauração dos princípios que

historicamente tornaram a UNE

tão combativa, sobressai um acer-

vo de propostas da Juventude do

PSDB.

“Conforme a entidade se afas-

tou deliberadamente de suas bases,

concentrando-se em questões

estritamente políticas e na defesa

irracional de um governo que em-

punhou a bandeira da absoluta falta

de ética, a Juventude do PSDB foi

estimulada pela Secretaria Geral do

partido a fundamentar uma pro-

posta de mudanças factíveis para

os jovens brasileiros, com vistas à

sucessão de 2006”, observa o

vereador Edimar Neto. Tal desa-

fio, lançado pelo deputado Bis-

marck Maia, levou à formulação

dos 12 mandamentos da juventude

tucana.

Para tanto, a Juventude do

PSDB amparou-se no mar de

contradições em que o governo Lu-

la se afoga - por livre e espontânea

vontade, mas, acima de tudo, por

incompetência.

“O PT tinha, apenas, discurso.

E fazia promessas. Em seu pro-

grama, o partido de Lula prometia

a ampliação da oferta de ensino

público universitário, para projetar,

a médio prazo, uma proporção de

no mínimo 40% do total de vagas.

Para isso, acenava com uma parce-

Encontro da Juventude do PSDB

Juventude do PSDB

PROPOSTAS DEPOLÍTICAS PÚBLICAS DE

JUVENTUDE

1. MUDANÇAS NO PRÓ-JOVEM,

COM AMPLIAÇÃO DA

PERMANÊNCIA DE CADA

JOVEM NO PROGRAMA.

2. UM SECRETÁRIO

REALMENTE JOVEM.

3. AMPLIAÇÃO DO

CONSELHO NACIONAL DA

DA JUVENTUDE COM A

REDUÇÃO DE MILITANTES

PETISTAS.

4. CRIAÇÃO DO FUNDO

NACIONAL DA JUVENTUDE,

GERIDO POR UM

CONSELHO REALMENTE

INDEPENDENTE.

5. PARTICIPAÇÃO DOS

GOVERNOS ESTADUAIS NO

PRÓ-JOVEM.

6. REALIZAÇÃO DE POLÍTICAS

INTEGRADAS DE JUVENTUDE,

COM UMA SECRETARIA COM

PODERES DE ARTICULAÇÃO.

7. CRIAÇÃO DO ESTATUTO

DA JUVENTUDE.

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68 Respeito pelo Brasil Agenda45

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Agenda45 novembro de 2005 69

PSDB JOVEM:OS 12 MANDAMENTOS

1. MUDANÇA DO NOME DE RE-

FORMA UNIVERSITÁRIA PARA RE-

FORMA DO ENSINO SUPERIOR

2. LIBERAÇÃO DE INVESTIMENTOS

ESTRANGEIROS NAS FACULDADES E

UNIVERSIDADES PRIVADAS

3. CRIAÇÃO URGENTE DE UMA PO-

LÍTICA QUE INTEGRE OS ENSINOS

BÁSICOS E SUPERIOR

4. NÃO APRISIONAMENTO DAS UNI-

VERSIDADES PARTICULARES POR

PARTE DO GOVERNO FEDERAL

5. MANUTENÇÃO DOS INSTITUTOS

TECNOLÓGICOS E DOS CENTROS

DE PESQUISA, VISANDO A EXCELÊN-

CIA INTELECTUAL

6. AMPLA DISCUSSÃO ENTRE UNE E

MEC PARA REFORMULAÇÃO DA

PROPOSTA DE REFORMA, RESPEI-

TANDO TODAS AS FORÇAS DA UNE,

GARANTINDO ASSIM A PLURALIDADE

DO MOVIMENTO

7. REALIZAÇÃO DE INVESTIMENTOS

MACIÇOS NO ENSINO FUNDA-

MENTAL COMO CONDIÇÃO PARA

QUE OS JOVENS, ESPECIALMENTE

OS MAIS CARENTES, CONSIGAM TER

ACESSO À UNIVERSIDADE

8. INCENTIVOS MACIÇOS NOS CAM-

POS DA PESQUISA E EXTENSÃO

9. INCLUSÃO DO CRITÉRIO DA RES-

PONSABILIDADE SOCIAL DA UNI-

VERSIDADE

10. RECONSTRUÇÃO DE UM NOVO

SISTEMA DE AVALIAÇÃO

11. PELA UNIVERSALIZAÇÃO DO

ENSINO MÉDIO

12. EXISTÊNCIA DE UM AMPLO E

DIVERSIFICADO SISTEMA DE EDUCA-

ÇÃO PROFISSIONAL PÓS-MÉDIO

ria entre a União e os estados na criação de

novos estabelecimentos de educação superior.

No entanto, a única idéia que o Ministério da

Educação apresentou, com a ambiciosa fantasia

de “Universidade para Todos”, foi a compra de um percentual de vagas

nas universidades particulares, a serem pagas com isenções de impostos”,

recorda o representante da Juventude Nacional do PSDB.

Lula e o PT também haviam prometido aos jovens a autonomia

universitária, vinculando-a à democracia interna, com base na tomada de

decisões por órgãos colegiados representativos e no controle social

mediante mecanismos abertos de prestação de contas. Esse compro-

misso também se tornou letra morta para Lula depois que assumiu o

poder central.

“A juventude tucana não podia ser passiva. Não tinha o direito de

concordar com a inação do governo Lula e, ao mesmo tempo, com a

manipulação dos jovens por intermédio da UNE”, diz Edimar Neto.

Decididos a evidenciar as profundas diferenças que separam o PSDB

do PT, os jovens tucanos esquentaram suas gargantas e se entregaram

ao corpo-a-corpo.

“Quando Chico Buarque cantou “apesar de você,

amanhã há de ser outro dia”, não poderia imaginar

que o Brasil enfrentaria um desastre chamado Lula.

Mas que amanhã passará”, como outros passaram,

prevê Edimar Neto.

Rodrigo Delmasso, Bruno Covas, Carla Silvana, Senador Arthur Virgílio, Leonardo

Filipe, Alessandro Coehn, Kamyla Castro e Leandro Monteiro

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Agenda45 novembro de 2005 69

Page 72: Agenda 45 1

70 Respeito pelo Brasil Agenda45

Pela primeira vez, a distribuição de renda no Ceará superou a média

do Brasil e do Nordeste, conforme pesquisa realizada pelo IBGE. Uma

vitória para um estado marcado por desigualdades históricas, não

apenas entre classes, mas também entre municípios.

Para minimizar esses desequilíbrios, o governo investiu firme num

conjunto de ações intersetoriais no interior. Números alvissareiros

mostram que as ações institucionais, formuladas a partir de diagnósticos

corretos, garantem resultados que geram desenvolvimento com inclusão

social.

No tocante à educação,o Ceará fez o maior investimento dos

últimos anos, 31,6% do orçamento, o que representa um aumento de

15% em relação a 2003, mais uma vez ultrapassando as determinações

da Constituição Federal. Em 2004 também foi realizado o maior

concurso público da história cearense, resultando na contratação de

mais de 2.000 novos professores de ensino médio. No que se refere à

estrutura física, 36% das escolas da rede estadual foram ampliadas e

reformadas.

A saúde melhorou, com o enfrentamento das enormes carências e

dificuldades do setor. O programa Saúde da Família passou a contar

com 80 novas equipes, com capacidade para atender a 53% da

população do estado. Ainda nessa área, o programa Saúde Mais Perto

de Você melhorou o atendimento das unidades hospitalares em 18

microrregiões de saúde, que cobrem uma população de 3,8 milhões

de habitantes em 166 dos 184 municípios cearenses.

O governador Lúcio Alcântara recebeu a casa arrumada das mãos de seu antecessor,

Tasso Jereissati. A economia do estado continua crescendo de maneira sustentada, a

taxa de mortalidade infantil, cada vez mais reduzida, e no setor educacional prossegue

a ampliação e reforma das escolas, bem como a contratação de professores. Esse

cenário é o exemplo irretocável da competência do PSDB, que administra o Ceará

desde 1987.

Ação governamental: Ceará

Crescimentocom inclusão social

Page 73: Agenda 45 1

Agenda45 novembro de 2005 71

A melhoria das condições de saneamento, as campanhas de

vacinação, as medidas preventivas de reidratação oral e o atendimento

ambulatorial diminuíram as mortes de crianças por diarréia e infecções

respiratórias agudas. E o Ceará continua com o maior número de

hospitais que participam do prêmio Hospital Amigo da Criança,

concedido às unidades hospitalares que cumprem os critérios

estabelecidos pelo Ministério da Saúde: são 32 hospitais com esse

honroso título.

O PIB cearense cresceu 4,4% em relação a 2003, o maior dos

últimos 10 anos, graças aos bons resultados da indústria (7%),

especialmente a de transformação (11,2%), seguidos pelos dos serviços

(3,9%). As vendas do varejo acumularam uma taxa de 8,5% em 2004.

As exportações cresceram 13%, movimentando US$ 859 milhões.

Quase 1,8 milhão de pessoas visitou o estado, perfazendo um

contingente 15% maior do que o de 2003.

O ritmo de crescimento determinou a

expansão do mercado de trabalho, especialmente

no setor industrial. Entre empregos gerados e

perdidos, o saldo foi de 31 mil postos de trabalho.

Vale lembrar que o Sistema Público de Emprego

no Ceará, nos últimos cinco anos, tem sido o

principal responsável pela colocação de 25% de

todos os trabalhadores admitidos no mercado de

trabalho. Temos o melhor índice do Brasil em

aproveitamento de vagas.

O Ceará é um estado em busca de um

crescimento mais equilibrado, menos excludente e

melhor equacionado A exposição da realidade

numérica se faz imprescindível para a leitura das

mudanças sociais de uma região. No caso do

Ceará, as contas trazem resultados que, se ainda

não são o ideal, representam certamente um

avanço em setores importantes da vida pública.

O desafio agora é aperfeiçoar processos

capazes de acelerar o crescimento do estado,

melhorando, cada vez mais, a vida dos cidadãos.

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72 Respeito pelo Brasil Agenda45

Agenda 45

A agenda que o PSDB vai oferecer ao país, nas eleições gerais de

2006, na forma de programa de governo, vem sendo garimpada

pelo Instituto Teotônio Vilela. Com método e persistência. Sob a

direção do deputado Sebastião Madeira, o núcleo de inteligência

do partido realizou, ao longo dos dois últimos anos, uma série de

encontros estaduais para pensar uma proposta de governo que

pavimente novos caminhos para o Brasil. O clímax dessas iniciativas

foi a primeira edição do seminário “Renovar idéias”, em que foram

traçadas estratégias para enfrentar os principais estrangulamentos

que angustiam a sociedade. Entre eles, o da criminalidade.

Page 75: Agenda 45 1

Agenda45 novembro de 2005 73

Pensar, formular, propor. Essa é a tarefa do Insti-

tuto Teotônio Vilela. Centro de criatividade e de

geração de inteligência do PSDB, o ITV, fundado

nos primórdios da era Fernando Henrique Cardoso,

em setembro de 1995, transformou-se, nove anos

depois do seu nascimento, em instrumento estratégico

para enfrentar e vencer a máquina eleitoral do PT

em 2004. E, por extensão, impingir a derrota ao

governo Lula.

Desde que o deputado Sebastião Madeira assu-

miu a presidência do ITV, em novembro de 2003, o

instituto dedicou-se a construir uma nova agenda

social-democrata visando unir o partido e instrumen-

talizá-lo para vencer a disputa à presidência da

República em 2006.

A preparação do terreno contemplou a realização

de eventos em todo o país. Quando foram reafir-

mados os compromissos partidários com os valores

democráticos, o respeito ao interesse público, a

competência gerencial, e disseminadas informações

sobre técnicas de implementação e gestão de políticas

públicas.

Os encontros estaduais, verdadeira caravana

tucana que estreitou a convivência entre lideranças

nacionais e os militantes do partido em 23 estados,

foram marcados pela tônica de que o PSDB tem a

obrigação de oferecer novos caminhos para a socie-

dade brasileira. Senha dada pelo prefeito de São

Paulo, José Serra, no IV Encontro Regional de Gestão

Pública e Políticas Sociais, realizado em agosto, em

Florianópolis.

Serra afirmou que “a economia não pode ser

um altar de sacrifícios permanentes; é preciso uma

política de crescimento. A longa estagnação por que

passamos prejudica a qualidade da democracia”. E,

com base nessa convicção, montou a moldura em

que devem ser encaixadas as propostas do PSDB

para as eleições de 2006: um estado ativo, capaz de

corrigir as imperfeições do mercado e gerar melhores

oportunidades para a população.

Também presente ao encontro, o governador de

São Paulo, Geraldo Alckmin, ressaltou que qualquer

estratégia de desenvolvimento deve começar pelos

municípios. Para Alckmin, o governo Lula cultiva

uma visão centralizadora e autoritária. Por isso, não

soube aproveitar as políticas públicas implementadas

pelo governo Fernando Henrique para gerar mais

emprego e renda.

Deputado Sebastião Madeira no seminário Renovar Idéias, São Paulo

Para construir o sucesso

eleitoral do partido,

transcorridos menos de

três anos da eleição de

Lula, o ITV dedicou-se,

desde de novembro de

2003, quando o

deputado Sebastião

Madeira assumiu a

presidência, a

construir uma

nova agenda

social-democrata.

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Page 76: Agenda 45 1

74 Respeito pelo Brasil Agenda45

O resultado prático das rodadas de reflexão

promovidas pelo ITV consubstanciou-se no semi-

nário “Renovar idéias: desenvolvimento, qualidade

de vida e democracia no Brasil moderno”. Realizado

nos dias 1o e 2 de setembro, em São Paulo, o evento

marcou o ponto de partida da gestação de uma nova

agenda tucana para o país.

Além da palestra proferida por dona Ruth Car-

doso, sobre o tema “A nova agenda do desenvol-

vimento e a democracia”, em que ela sugeriu aos

formuladores de políticas levarem em consideração

as novas realidades verificadas no país antes de defini-

rem as ações públicas de combate à desigualdade,

foram realizados quatro painéis.

Um dos mais concorridos foi o que abordou o

tema “Democracia: comunicação, transparência e

representação política”. Que concluiu pela urgente

necessidade de se reformular alguns institutos legais

do país para potencializar a democracia e, assim,

direcionar o sistema para o atendimento dos reais

interesses dos cidadãos.

Com base na abordagem de dona Ruth, de que

entre as novas realidades destaca-se a disseminação

da tecnologia e a atuação dos indivíduos em torno

de redes virtuais, chegou-se ao consenso de que é

imprescindível a edição de uma lei que garanta amplo

acesso às informações no país, em virtude da consta-

tação de que o brasileiro ainda não tem assegurado

esse direito.

Para o presidente do ITV, deputado Sebastião

Madeira, que abriu a primeira edição do “Renovar

idéias”, esse direito da cidadania já está consolidado

na maior parte dos países desenvolvidos, e seria

fundamental para a sociedade brasileira organizar-se

para exercer, de fato, a fiscalização dos atos do

governo.

Uma Agenda

para o Brasil

Síntese do discurso

proferido por José

Serra na cerimônia de

posse na Presidência

do PSDB, em 21 de

novembro de 2001

Agenda 45

Page 77: Agenda 45 1

Agenda45 novembro de 2005 75

O evento, conduzido pelo deputado Xico Grazzi-

ano e pautado pelas idéias e propostas de um grupo

multidisciplinar formado por 36 pessoas – intelectuais,

formuladores de políticas, parlamentares, professores

e jornalistas -, debruçou-se, igualmente, sobre a

questão da disseminação do desenvolvimento pelo

interior do país.

No painel “Interiorização do desenvolvimento:

novo mundo rural”, constatou-se que o atual arranjo

federativo inviabiliza soluções para problemas de

saneamento comuns a vários municípios de uma

mesma região. O que é atestado pelo fato de a evolu-

ção ocorrida nos indicadores de educação e saúde,

na década de 90, não ter sido companhada pelo

crescimento do nível renda.

A solução para esses problemas passa pela

formação de consórcios microrregionais, por estar

em disputa a definição de uma nova estratégia de

desenvolvimento para o país, a ser amparada por

um estado forte, que ancore a economia em três

pilares: impulso à exportação, redução de juros e

manutenção do rigor fiscal.

Sincronizar esses temas garantiria a expansão da

integração comercial, que vem impulsionando a eco-

nomia brasileira desde a criação e o sucesso do Plano

Real, com a conseqüente redução das desigualdades

sociais e a expansão do desenvolvimento.

Migrando do interior para as grandes cidades, o

seminário tucano debateu a realidade das mega-

lópoles, no painel “Metrópoles: qualidade de vida e

segurança do cidadão”. Convergindo para a neces-

sidade de antecipar uma visão de futuro em pelo

menos 15 anos e, ao mesmo tempo, desenvolver

ações imediatas e concentradas para combater a

violência.

Diretas - 20 anos

Publicação em

comemoração aos 20

anos do movimento

Diretas JáO Governo Lula está fazendo o relógio

andar para trás. Entrevista de José Serra ao

jornal O Globo em fevereiro de 2004

Page 78: Agenda 45 1

76 Respeito pelo Brasil Agenda45

Tais ações devem ser baseadas em políticas

preventivas direcionadas para os jovens e, também,

destinadas a aperfeiçoar, por intermédio do policia-

mento comunitário, o combate à criminalidade. Fenô-

meno que gera tantas preocupações quanto a escalada

da informalidade no mercado de trabalho. Estran-

gulamentos como esses só poderão ser desfeitos, a

curto, médio e longo prazos, pela articulação das

forças da sociedade com o poder público.

A síntese do “Renovar idéias” aponta, na verdade,

para a definição de estratégias conjuntas de atuação,

depois de mobilizadas as comunidades. Esse

programa inclui a disseminação para a gestão, focali-

zando, acima de tudo, o desenvolvimento local, pois

o motor da expansão econômica deve ter como eixo

as pequenas e médias empresas.

“Essas são algumas das reflexões que brotaram

durante o seminário. Sugestões que o ITV utilizará

para elaborar uma nova agenda de desenvolvimento.

Propostas que orientarão o programa de governo

que o PSDB apresentará à sociedade na eleição

presidencial do ano que vem. Não para concorrer.

Não para disputar. Mas para ganhar e reconquistar a

responsabilidade de, com ética, transparência e

respeito pelo Brasil, administrar o país”, promete

Sebastião Madeira.

Guia 45. Os Compromissos Políticos dos Prefeitos Tucanos

Eleições Municipais de 2004.

Relatório Final – dezembro/2004

Competência.

O jeito tucano

de governar.

10 objetivos

centrais da gestão

municipal tucana.

Agenda 45

Page 79: Agenda 45 1

Agenda45 novembro de 2005 77

Entre

nessa

Cartilha

preparada

para a

juventude

tucana

ENCONTROS

O JOVEM E A SOCIAL

DEMOCRACIA

Brasília – junho de 2004

I ENCONTRO REGIONAL

SOBRE GESTÃO PÚBLICA E

POLÍTICAS SOCIAIS

Gravatá/PE – abril de 2005

II ENCONTRO REGIONAL

SOBRE GESTÃO PÚBLICA E

POLÍTICAS SOCIAIS

São Luis/MA – maio de 2005

III ENCONTRO REGIONAL

SOBRE GESTÃO PÚBLICA E

POLÍTICAS SOCIAIS

Porto Alegre/RS - julho de 2005

IV ENCONTRO REGIONAL

SOBRE GESTÃO PÚBLICA E

POLÍTICAS SOCIAIS -

Florianópolis/SC – agosto de 2005

V ENCONTRO REGIONAL

SOBRE GESTÃO PÚBLICA E

POLÍTICAS SOCIAIS

Rio de Janeiro/RJ – agosto de 2005

VI ENCONTRO REGIONAL

SOBRE GESTÃO PÚBLICA E

POLÍTICAS SOCIAIS

Salvador/BA – setembro de 2005

VII ENCONTRO REGIONAL

SOBRE GESTÃO PÚBLICA E

POLÍTICAS SOCIAIS

Teresina/PI – novembro de 2005

SEMINÁRIOS

EDUCAÇÃOSão Paulo – abril de 2004

CRESCIMENTO ECONÔMICO E EMPREGORio de Janeiro – maio de 2004

RENOVAR IDÉIAS DESENVOLVIMENTO, QUALIDADE DEVIDA E DEMOCRACIA NO BRASIL MODERNOSão Paulo – setembro de 2005

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Page 80: Agenda 45 1

78 Respeito pelo Brasil Agenda45

Almir Gabriel e Simão Jatene tiram o estado do abandono administrativo e põem em marcha

um projeto estratégico aprovado por 80% dos paraenses

Um novo Pará surgecom o PSDB

Em 2003, o governador Simão Jatene (PSDB), herdeiro dos avanços da

revolucionária gestão do também tucano Almir Gabriel (1995-2002), inseriu

no que batizou de Agenda Mínima as principais queixas dos paraenses ouvidos

nos quatro cantos do estado. Como resgate prioritário de compromissos de

campanha, pôs na agenda a construção de cinco hospitais regionais de alta

complexidade, em cidades-pólo dos 143 municípios paraenses. A idéia

vingou e é hoje um dos vetores da radical mudança que virou a página da

inércia do Pará.

A pouco mais de um ano do final do mandato, Simão Jatene, um

economista de 56 anos, inspeciona com rigor espartano a construção de seis

hospitais regionais, depois de ampliar a meta inicial. Os outros cinco hospitais

regionais serão entregues até o final de 2006. No total, investimentos de R$

250 milhões.

É um feito e tanto, se considerado que, em 1995, Almir Gabriel recebeu

do ex-governador Jader Barbalho (PMDB) um estado em que 92% da receita

estavam comprometidos com o pagamento do funcionalismo, sobrando quase

nada para o custeio dos serviços essenciais. Um notório descalabro

administrativo condenava o Pará ao descrédito das instituições financeiras e

ao investimento zero.

Drásticas medidas de austeridade na gestão do estado, como o

enxugamento da máquina pública e o estabelecimento de limites para gastos

com pessoal, antes mesmo da criação da Lei de Responsabilidade Fiscal em

1996, permitiram ao Pará um rigoroso controle das contas públicas e, melhor

ainda, a recuperação da capacidade de investimento. De 2003 para cá, esse

equilíbrio financeiro, consolidado por respostas positivas da economia local

com repercussões alvissareiras na receita própria, foi duramente testado pela

União. Sob o governo Lula, o Pará passou a amargar sucessivas quedas de

Ação governamental: Pará

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Agenda45 novembro de 2005 79

repasses constitucionais, estimadas no período em mais de R$ 1 bilhão, num

nítido desapreço ao pacto federativo.

Pressionado pelo modelo tributário federal, que concentra tributos não

compartilhados sem repassar corretamente as verbas constitucionais a estados

e municípios, o Pará teve que redobrar o esforço arrecadador interno. Só assim

pôde manter em dia a folha, assegurar a presença do estado num território

cuja extensão corresponde a quatro Alemanhas e investir em obras que

incentivam a verticalização das indústrias do turismo, do agronegócio e da

mineração.

Em dez anos, Belém ganhou nova cara com equipamentos turísticos e de

lazer de Primeiro Mundo, como o complexo Estação das Docas, na orla da

cidade, e o Estádio Olímpico do Pará, o mais moderno do país. A mudança

de fisionomia deve-se também à restauração do centro histórico da capital e,

na periferia, ao já inaugurado projeto de macrodrenagem da Bacia do Una,

que retirou do alagado 600 mil pessoas e ganhou status de maior intervenção

urbana da América Latina.

Desafios imensos persistem, como na área de segurança pública, onde o

governo estadual já investiu mais de R$ 100 milhões. Mas

a certeza de que o Pará está no rumo certo vem de

programas bem-sucedidos como o Cheque Moradia, criado

em setembro de 2003 para melhorar a auto-estima e a

produtividade do servidor público por meio de transferência

de renda para a construção ou reforma da casa própria.

Linha de financiamento a fundo perdido, o Cheque Moradia

já beneficiou a 13 mil famílias de servidores com renda de

até três salários mínimos, na capital e no interior do estado,

e deve fechar 2005 com 20 mil famílias atendidas. A meta,

até o final de 2006, é garantir habitação digna a 26 mil

famílias de baixa renda.

Com 80% de aprovação popular (Ibope de junho de

2005), o governador Simão Jatene vê o atual momento de

equilíbrio e desenvolvimento paraenses como um estágio

irreversível. “A população vem dizendo há três eleições

majoritárias sucessivas que aprova o governo da União pelo

Pará, liderada pelo PSDB e com sólidas parcerias

partidárias”, afirma Jatene, elogiando os dois mandatos

de Almir Gabriel. “O Pará construiu em dez anos uma rota

segura e confiável que só o equívoco político, que não faz

parte do nosso dicionário, será capaz de alterar.”

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80 Respeito pelo Brasil Agenda45

Ele administrou a cidade de Belo Horizonte e, depois, governou o estratégico estado de Minas. Fundador

do PSDB, o senador Eduardo Azeredo é um homem típico das Geraes. Mede as palavras, calcula seus

efeitos e pondera as suas declarações. Engenheiro por profissão, político por vocação e tucano por

confissão de fé. Azeredo cultiva uma inabalável confiança, apesar de sua natureza reservada. A de que

o PSDB está predestinado a responder, a partir de janeiro de 2007, pela administração do Estado brasileiro.

A razãovai vencer a

emoção

Eduardo Azeredo

Conversa com Eduardo Azeredo

O governo Lula é incapaz. Essa é a convicção dosenador Eduardo Azeredo, para quem “o Partido dosTrabalhadores, ao finalmente conquistar o podercentral, incidiu no erro de partidarizar o governo.Como os petistas, em sua esmagadora maioria, nãoestavam preparados para assumir postos de decisãoe de comando, a administração do Estado estacionoue, como era previsível, estagnou.”

Uma das provas mais evidentes de que o governoLula não dispõe de um norte definido é a absolutafalta de rumos na implantação e gerenciamento depolíticas públicas para solucionar as carências sociaisdos segmentos mais necessitados da população bra-sileira. Sem alterar o tom de voz, o senador observaque, enquanto o governo do PSDB, entre 1995 e 2002,teve um único ministro da Educação, o governo Lula,em menos de dois anos, 10 meses e 18 dias deatribulada existência, já está no terceiro responsávelpela pasta.

“Esse fato é revelador. Ao contrário do ministroPaulo Renato, que teve, sempre, a visão clara daresponsabilidade do governo Fernando Henrique em

relação a todos os segmentos do complexo universoda educação, o governo Lula, lastimavelmente, relegoua plano secundário as suas responsabilidades emrelação ao ensino básico. O que configura um pecado,no mínimo, venial.”

O senador afirma que o governo Lula se carac-teriza pela má fé. “De livre e espontânea vontade,Lula entregou-se à tarefa de negar os avanços dogoverno do PSDB, acreditando que, pelo exercícioda retórica inconseqüente, sepultaria as conquistastucanas”, acusa Azeredo.

“Ao contrário do PSDB, cuja existência se amparana inteligência e na experiência, na competência e naseriedade, o governo Lula esbarrou na falta de preparodos quadros petistas que inflacionaram os cargos deconfiança da administração pública federal em pro-veito partidário.”

Não por outro motivo, o PSDB registrou, naseleições municipais de 2004, a maior taxa de sucessoentre todos os partidos que lançaram candidatos. Osenador explica que essa “virada”, em curtíssimoespaço de tempo, decorreu da sensibilidade tucana

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para exercer a oposição ao governo. “O PSDB seopõe de maneira responsável, coerente, absolutamentediversa da oposição destrutiva praticada por Lula epelo PT, que, na ânsia de chegar ao poder, não seimportavam em prejudicar o país”, ressalta ele.

“Não fosse a sinergia virtuosa das medidas ado-tadas pelo governo Fernando Henrique sob ferrenhaoposição do PT, e o crescimento econômico do Brasilnão existiria. O senador tem consciência de que aherança que Lula recebeu do PSDB garantiu o cresci-mento da economia em 2005, “apesar da grande,expressiva e demorada crise política”.

O ex-governador de Minas Gerais crê que nãohá bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe.E recorda quando o PT, em uníssono, bradava contraa privatização de bancos estaduais, contra a renego-ciação das dívidas dos estados, contra o Proer: “Elesse faziam de ignorantes. Posavam de radicais. E, comisso, geraram o descrédito internacional em relaçãoao Brasil. Mas como desejavam apenas o poder pelopoder, recuaram. E, agora, se beneficiam do bomsenso do governo Fernando Henrique. Por paradoxalque possa parecer, ao sanear a macroeconomia brasi-leira, Fernando Henrique blindou Lula, que só resisteà crise porque a economia produtiva ainda funciona,independentemente do sistema de corrupção que foicriado a partir do Palácio do Planalto”.

“Lula faz mesuras com o chapéu alheio”, garanteAzeredo. “Fomos nós quem criamos os fundamentosdo crescimento econômico, que possibilitou ao Brasilsobreviver às crises internacionais e à oposição desa-tinada do PT. Lula apenas deu prosseguimento aoque foi arquitetado”.

Azeredo não abre mão da convicção de que, apesarde os postulados legados pelo governo tucano teremsido metabolizados por Lula, Palocci e companhia, anecessidade de o governo do PT provar ao mundoque o radicalismo esquerdista do passado dissipara-seante a iminência de acesso às benesses e vantagens dopoder resultou em uma política monetária extre-mamente conservadora. Exponenciais taxas de jurosimpuseram um sofrível desempenho do governo emvários setores. Principalmente no de infra-estrutura.

Avesso a injustiças, Azeredo elogia o Bolsa Família.“Ainda que configure uma ação assistencialista, estádando certo, na medida em que foram fundidosprojetos com idênticos objetivos aos implantados nogoverno do PSDB. O Bolsa Família foi gestado pelopresidente Fernando Henrique. E apesar de ter sidoconsolidado e expandido no governo do PT, o pro-grama terá continuidade no próximo governo tu-cano”, assegura.

Quanto ao nome do PSDB que concorrerá àsucessão de Lula, entende o senador que ainda é muitocedo para fulanizar. “O PSDB mostrou excelentesresultados nos estados sob sua responsabilidade. Ainovadora experiência no controle de gastos do go-verno de Minas Gerais e os resultados na área desegurança pública obtidos pelo governo de São Paulosão exemplares. Esses dois temas convergem, pois apopulação tem consciência de que o governo federal,apesar de arrecadar cada vez mais, não investe emsegurança pública.

Azeredo afirma que, em virtude do desencantocom o governo Lula, “a eleição presidencial de 2006vai se caracterizar mais pela razão do que pela emoção.A experiência e a eficiência serão mais decisivas doque os discursos enganosos. E o PSDB é um partidoracional, que já provou que sabe administrar”.

(...) “o governo Lula,lastimavelmente, relegou a planosecundário as suasresponsabilidades em relação aoensino básico. O que configura umpecado, no mínimo, venial”

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82 Respeito pelo Brasil Agenda45

PRIMEIRO ERRO

Os avanços obtidos pelo governo FHC no setordo emprego tornaram-se alvo de uma campanhaoportunista de Lula. A estratégia eleitoral do PTconsistia em levar Lula a prometer tudo e qualquercoisa. Lula prometeu criar 10 milhões de empregos.Um número apelativo para uma campanha eleitoral,mas com pouco ou nenhum significado prático. Ocrescimento da população economicamente ativa(PEA) tornou esse número pequeno, pois o impactoda criação de 10 milhões de empregos no mercadode trabalho se reduz à medida que a PEA cresce.

SEGUNDO ERRO

A utilização do Cadastro Geral de Empregados eDesempregados (Caged) é um grande equívoco paramedir o desempenho do emprego no país. O cadastroé apenas um registro administrativo, alimentado pelasinformações mensais enviadas pelos empregadores. Eestá sujeito a uma série de falhas, que levam a inter-pretações errôneas ou propositalmente distorcidas. Naprática, muitos informam apenas a contratação doempregado, não a dispensa, devido às altas taxas demortalidade das micro e pequenas empresas. O abre efecha desses empreendimentos desestimula os em-preendedores a informar as baixas no empregodecorrentes da saída de suas empresas do mercado.

TERCEIRO ERRO

O programa Primeiro Emprego sofre de umadeformação genética. Em sua concepção, foi comple-tamente desconsiderada uma regra natural do mer-cado. As empresas só contratam na medida de sua

necessidades. Assim, de nada adianta ao governo gastaro dinheiro do contribuinte em subvenções. Se asempresas não carecem de mão-de-obra, elas nãocontratam.

QUARTO ERRO

A questão da qualificação profissional foi aban-donada. No governo do PSDB, foram qualificados,entre 1995 e 2001, uma média anual de 2,2 milhões detrabalhadores, ao custo de R$ 328 milhões. No governoLula, foram repassados aos estados, até agosto, míserosR$ 22,6 milhões para o aprimoramento da mão-de-obra. É muito pouco.

QUINTO ERRO

Lula se equivoca, também, na organização das re-lações do trabalho. Para impedir a multiplicação desindicatos, o governo deu à luz um projeto de ReformaSindical que é um retrocesso. O projeto da repúblicapetista-sindicalista restabelece o poder do Ministériodo Trabalho para reconhecer os sindicatos, recupe-rando a figura da Carta Sindical, desaparecida quandoa Constituição de 88 reconheceu a autonomia dossindicatos.

SEXTO ERRO

O não-cumprimento da promessa de dobrar ovalor real do salário mínimo em quatro anos é umpecado sem perdão. A correção de pouco mais de7% que consta do projeto orçamentário para 2006deverá elevar o ganho real do período 2003/2006 paraalgo em torno de 12,5%. No segundo período dogoverno FHC, o ganho real atingiu 20,4%, resultadoquase 63% maior do que o atingido pelo atual governo.

Trabalho

O JOGO DOS

6 ERROSLula fala muito, diz pouco e não realiza o que prometeu. Essa é a certeza do ex-ministro do Trabalho, Walter Barelli.

Que aponta, aqui, os seis maiores pecados do governo do PT no estratégico setor do trabalho e emprego.

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O genótipo político de Beto Richa, prefeito de Curitiba, é de linhagem superior. O tucano,

que no segundo turno bateu o candidato do PT, herdou todas as qualidades de um político de

fina extração: José Richa, fundador do PSDB, ao lado de Franco Montoro, Mário Covas e de

Fernando Henrique Cardoso. Responsável pela administração da mais moderna cidade do

país, Beto Richa enxerga o governo Lula como uma grande operação de marketing, incapaz

de resistir a uma avaliação crítica. E que, por isso, legará ao sucessor a responsabilidade de

retomar o crescimento econômico para oferecer à população carente programas de inclusão

social que privilegiem a promoção da sáude e da educação.

Conversa com Beto Richa

O governo Lula é, apenas,uma operação de marketing

Beto Richa

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84 Respeito pelo Brasil Agenda45

“Teremos queinvestir fortementeem educação,a partir dejaneiro de 2007,se quisermosrecuperar otempo perdido”

Em 2007, quando tiver início o governo do sucessor de Luiz Inácio

Lula da Silva, o maior compromisso do presidente da República será

viabilizar a retomada do crescimento econômico, estimulando os inves-

timentos produtivos e a geração de empregos para implementar programas

destinados a assegurar a inclusão social e a promoção da saúde e da

educação. De acordo com o prefeito Beto Richa, essas serão as prioridades

do próximo governo - se, de fato, quiser transformar o país. Coisa que o

atual governo não teve competência para fazer, segundo ele.

Richa argumenta que é a taxa de investimento no setor educacional

que diferencia os países que deram certo ou não. Em sua avaliação, por

enquanto, a administração do PT, discursos à parte, relegou a plano subal-

terno a necessidade de investir em educação. “Teremos que investir

fortemente em educação, a partir de janeiro de 2007, se quisermos recuperar

o tempo perdido”, recomenda o prefeito, que credita a estagnação em

que o setor se encontra à falta de visão do governo Lula.

“Com exceção do Bolsa Família, que agrupou programas sociais im-

plantados durante o governo do PSDB”, observa Beto Richa, “a admi-

nistração petista caracteriza-se por promessas e compromissos verbalizados

durante a campanha eleitoral, mas que não foram cumpridos”. Exatamente

por isso, avalia, a decepção dos paranaenses com Lula é, em tudo, seme-

lhante ao sentimento compartilhado pela esmagadora maioria dos brasi-

leiros de todos os estados.

A paixão de Lula e do PT pelos golpes de propaganda,

pelas táticas arriscadas de comunicação social, pela retórica

inconseqüente e pela obstinação em permanecer no palanque

eleitoral transformou a esperança em decepção. Depois,

quando o governo foi desmascarado, ao ser atingido pelas

denúncias de corrupção formalizadas pelo ex-deputado

Roberto Jefferson, seu envelhecimento e fim precoces

foram decretados.

“Lula, como o peixe, está morrendo pela boca”, afirma

Richa. E exemplifica: “Ele prometeu criar 10 milhões de

empregos. Ficou na promessa. Assim como firmou o

compromisso solene de garantir que, até o final dezembro

de 2006, todos os brasileiros fariam, pelo menos, três

refeições por dia. Infelizmente, não farão. Não bastassem

esses fatos, Lula apregoava, em propaganda do PT, que o

pessoal do seu partido ti- nha a idéia fixa de acabar com a

corrupção. E nunca, na história da República, foram tantos

e tamanhos os desvios éticos dos integrantes do governo”.

Essa conjunção de fatores negativos, como não poderia

deixar de ser, redundou no completo descontrole da

Conversa com Beto Richa

FOTO DIVULGAÇÃO/IMPRENSA

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administração pública federal. Falta de rumos que, em relação ao Paraná,

implicou iniciativas ralas, comprometendo não apenas a área social. Mas,

igualmente, o setor de infra-estrutura: a ponte sobre a represa Capivari-

Cachoeira, na BR-116, que liga Curitiba a São Paulo, caiu em janeiro deste

ano e até hoje não foi reconstruída.

“O governo Lula prometeu que a ponte estaria recuperada em seis

meses. A intenção não virou gesto. Já se passaram mais de dez meses e, até

agora, os trabalhos de engenharia estão apenas na fase inicial”, lamenta o

prefeito de Curitiba, ressaltando que, apesar de a obra ser vital para garantir

a ligação entre as regiões Sul e Sudeste, “ninguém diz nada, ninguém explica

nada, e fica tudo por isso mesmo”.

Como nada, na vida, acontece por acaso, Beto Richa diagnostica, com

extrema singeleza, as razões da incompetência do governo Lula. De acordo

com ele, o presidente da República só dispunha de equipe para fazer figu-

ração nos programas de televisão da campanha. Essa peça iludiu a maioria

do eleitorado. Mas quando a realidade tornou-se incontornável, no dia

subseqüente ao da posse, Lula deixou claro que não dispunha de uma

equipe comprometida com um projeto para o Brasil.

“Lula tem carisma pessoal. Mas para que serve carisma pessoal, se o

chefe do estado e do governo não sabe para onde ir? Como dizem os

velejadores, não há vento bom para quem não sabe navegar”, observa

Richa. Esse cenário, reconhece ele, criou para o PSDB o desafio de fun-

damentar um projeto consistente de alternativa de poder, baseado no tripé

crescimento econômico-social, transparência administrativa e respeito ao

cidadão.

Segundo Beto Richa, essa receita o PSDB tem competência e experi-

ência para administrar. “O governo do presidente Fernando Henrique

enfrentou uma oposição selvagem. Passados, no entanto, menos de três

anos da eleição de Lula, o partido obteve o reconhecimento do eleitorado

no pleito de 2004, vencendo as disputas nas mais importantes cidades do

país e alcançando, inclusive, a maior taxa de sucesso eleitoral”, sublinha.

Esse resultado, para Beto Richa, cria, para o partido, uma perspectiva

concreta de voltar a governar o país. “O Brasil precisa, urgentemente, de

um governo responsável, que tenha capacidade para conduzir o país rumo

ao crescimento sustentável, com credibilidade suficiente para deflagrar uma

revolução na educação e na saúde”, prescreve.

Trata-se de uma tarefa sob medida para o PSDB realizar, acredita Richa,

que garante:. “O PSDB sempre foi um partido responsável. Quando foi

governo e, agora, na oposição. Por isso, não tenho receio de afirmar que

está preparado para assumir compromissos capazes de serem cumpridos.

Compromissos que não se assemelhem aos fogos de artíficio que são

lançados dos palanques eleitorais para dvertir, encantar e iludir o eleitorado”.

“O Brasilprecisa,urgentemente, deum governoresponsável, quetenha capacidadepara conduzir opaís rumo aocrescimentosustentável, comcredibilidadesuficiente paradeflagrar umarevolução naeducação e nasaúde”

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86 Respeito pelo Brasil Agenda45

O atual modelo federativo penaliza os governos estaduais e os municípios, que estão sem recursos

para realizar investimentos capazes de combater os problemas das populações mais necessitadas.

Enquanto isso, a União fica com 70% da arrecadação, patrocinando um desequilíbrio que

impede a inclusão social no país. Essa é a convicção do tucano Cássio Cunha Lima, que conquistou

o governo da Paraíba, em 2002, ao derrotar o candidato apoiado pelo PT na mais disputada

eleição realizada no estado desde 1965.

O pacto federativo éum faz-de-conta

Ação governamental: Paraíba

Advogado de defesa auto-constituído da urgente necessidade de o governo

colocar sobre a mesa de discussões uma nova concepção de pacto federativo,

para acabar com a esmagadora concentração de recursos públicos no governo

federal, o governador Cássio Cunha Lima preocupa-se com a inexistência de

sinais do Palácio do Planalto a respeito da matéria. Sem rodeios, afirma que existe,

hoje, um faz-de-conta a respeito dessa questão crucial para o futuro do Brasil. “A

inclusão social só acontecerá quando existir, afinal, autonomia entre os poderes

constituídos, sem a concentração de recursos que ocorre atualmente”, protesta o

governador tucano. Para observar, em seguida, que “não se pode prever até quando

será possível aguardar uma solução”. Cássio Cunha Lima alerta para o fato de que,

a permanecer inalterado esse modelo de gestão, será cada vez mais penoso para

governadores e prefeitos criarem oportunidades de emprego e de trabalho.

Para tentar driblar as dificuldades, o governador paraibano instalou, no primeiro

semestre de 2005, o Conselho Estadual de Combate à Pobreza, que terá a incum-

bência de implantar políticas sociais capazes de oferecer melhores condições de

vida – e de sobrevivência – aos absolutamente necessitados da Paraíba.Consciente

de que, em face da realidade, os programas assistencialistas ainda se fazem

necessários, Cássio Cunha Lima não discute o fato de essas medidas resolverem

apenas e tão-somente os problemas emergenciais. “Os programas de bolsas não

resolverão as dificuldades às quais os segmentos mais carentes estão submetidos.

Esses problemas só deixarão de existir na medida em que for implantado, pelo

governo federal, um projeto consistente, de longo prazo”, adverte.

Apesar de o governo Lula não se comover com a realidade que o cerca, nada

fazendo para equilibrar a relação da União com os estados e municípios, Cássio

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Cunha Lima, ainda assim, tem motivos para festejar.

Desde que tomou posse, ele comandou a reação da

economia paraibana. A ponto de, em dois anos e

dez meses de governo, o estado ter recebido inves-

timentos da ordem de R$ 168 milhões, provenientes

de 57 empreendimentos industriais. A aplicação desses

recursos gerou cerca de 1,9 mil empregos.

Para alcançar o objetivo de revitalizar a Paraíba,

Cássio Cunha Lima tomou a firme decisão de

arquitetar um programa de incentivos fiscais que

garantiu o enraizamento de plantas industriais em

inúmeros setores: calçados, alumínio, têxtil, plásticos

vestuários, alimentação, perfumaria, couro e seus

artefatos.

Os novos parques industriais, que desembarcaram

no estado no rastro dos incentivos oferecidos na

forma de parcelas do ICMS, oferta de infra-estrutura,

doação de galpões, vias de acesso, eletrificação e

pavimentação, beneficiaram diretamente as

populações das principais cidades da Paraíba como,

também, do Sertão e da região do Brejo paraibano.

A cadeia produtiva montada pelo governador

tucano abrangeu ainda a indústria do turismo, cuja taxa de crescimento, em 2004, foi

de 80% em relação ao ano anterior. Essa expansão resultou de iniciativas singelas

destinadas a revitalizar a cultura local. Como, por exemplo, a construção de uma

praça temática na cidade de Picuí, que, ao resgatar a tradição dos restaurantes de carne

de sol, deu novos e maiores contornos a um evento tradicional do estado, a Festa da

Carne de Sol.

No momento, a fixação maior de Cássio Cunha Lima é a construção do gasoduto

João Pessoa-Campina Grande, na qual o estado investiu 80% do valor da obra. O

governador do PSDB fez questão de ressaltar esse fato quando anunciou, em outubro,

que instalaria o governo em Campina Grande durante três dias: “Os que hoje estão na

oposição tiveram mais tempo e mais dinheiro, e não construíram o gasoduto”, criticou.

Há menos de dois meses de entrar no último ano de seu primeiro mandato como

governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima aguarda, com alguma ansiedade, a chegada

de 2006. E, com o ano novo, o início das pesquisas para localizar petróleo no litoral

do estado, a exemplo do que foi realizado, com êxito, na região de Souza. A iminência

de a Paraíba ingressar, enfim, na idade do petróleo é comemorada sem reservas por

Cássio Cunha Lima. Que não tem receio de afirmar que “são excelentes as perspectivas,

decorrentes das firmes iniciativas do governo estadual, de se ampliar ainda mais as

oportunidades de geração de emprego e de renda no estado”.

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Os causos de Teotônio

Apaixonado pela vida, apreciador do que ela tem de melhor, o senador Teotônio Vilela Filho é

um emérito contador de causos. Todos eles acontecidos no dia-a-dia da política, que exercita com

paixão, humor e fina ironia.

Ao lado de Jesus

Entrando no plenário do Senado, Teotônio Vilela Filho sentiu o coração. E como bom vivedor,percebeu logo que coração, quando não está apaixonado, enfermo está. Do posto médico,ao lado do plenário, vem a decisão:

- Olha, senador, o senhor vai sair daqui para a UTI, em cima de uma maca.

Testa franzida, replicou Teotônio:

- Não posso sair assim; as pessoas vão achar que eu estou morrendo.

Terminou submetendo-se ao procedimento, só não aceitando sair com o rosto coberto.

Diante da cena, logo se espalhou em Alagoas o boato de que ele estava à beira da morte,quando se tratava apenas de uma arritmia.

Preocupado com a notícia, um prefeito que estava reunido com os vereadores ligou para ocelular do senador. Já no quarto, repousando, atendeu o motorista que o acompanhava e sechamava Jesus.

- Quem está falando? Onde está o senador? Perguntou o prefeito, aperreado.

- É Jesus. Ele está ao meu lado.

Tomado de choque, pálido, voltou-se para os vereadores:

- Tenho uma péssima e uma boa notícia: a péssima é que Téo morreu. A boa é que já estácom Jesus.

88 Respeito pelo Brasil Agenda45

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O senador TeotônioVilela foi a ummunicípio do sertãoalagoano, participardo lançamento doprogramaBolsa-Alimentação.Platéia só de mulheres,apinhadas para receberos cartões doprograma, chega ahora do prefeitodiscursar:

- Tá aqui o senadorTeotônio Vilela Filho.Temos muito o queagradecer a estehomem. Tudo aqui temo dedo dele. A água donosso maior povoado,lá tá o dedo dosenador Teotônio.O calçamento das ruasonde vocês andam,lá tá o dedo dosenador Teotônio.A escola municipal quehoje atende os seusfilhos, lá tá o dedodo senador Teotônio.

Empolgado, o prefeitoarrematou, lembrandodos módulos sanitáriosda Fundação Nacionalde Saúde:

- E até nos vasossanitários que vocêssentam, lá tá o dedodo senador Teotônio.

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Quais são os defeitos?

Campanha de prefeito em 2000, Teotônio Vilela Filho foi a umcomício no interior do estado. Meio atrasado, vindo de visitas aoutros municípios e com muitos compromissos a cumprir, precisavaser um dos primeiros a falar. Objetivo, foi logo perguntando:

- Quais são os defeitos do nosso adversário?

Precisava municiar-se para a fala que teria em seguida.

De cima do palanque, logo surge o veredicto: o homem écachaceiro, mulherengo e boêmio.

Voltando-se para o lado, disparou Teotônio:

- É para falar dos defeitos, não das qualidades!

O dedo de Teotônio

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90 Respeito pelo Brasil Agenda45

Maria de Lourdes Abadia. Esse é o nome da mulher

que se transformou em peça decisiva nas eleições

para o governo do Distrito Federal. Fiel da balança

por artes de sua identificação com as camadas mais

carentes do DF, em 2002 Maria Abadia, candidata

a vice-governadora na chapa encabeçada pelo

governador Joaquim Roriz, garantiu a virada da

vitória para a coligação PMDB-PSDB. Ex-professora,

assistente social por profissão, líder comunitária por

natureza, ela considera que ser vice é, antes e acima

de tudo, um teste de lealdade.

A fiel da balança

Maria de Lourdes Abadia

Conversa com Abadia

“Quem decide disputar um cargo pú-blico tem a obrigação de ter sabedoria paraencontrar o seu substituto”, afirma a vice-governadora do Distrito Federal, para quema empatia é um componente fundamental,não comportando princípios e ideais contras-tantes entre o cabeça de chapa e o candidatoa vice.

Viciada em trabalho, apaixonada pelacidade da Ceilândia, que fez nascer, MariaAbadia compara a parceria que tem que existirentre o governador e seu vice com o enten-dimento necessário que deve caracterizar asrelações de vôo entre comandante e copiloto.

Convicta de que a cumplicidade é in-dispensável para que o governo possa traba-lhar em harmonia, Abadia entende que “ovice tem que ser alguém em que se possadepositar toda a confiança, com quem sejapossível dividir momentos de alegria, superarcrises e arregaçar as mangas para trabalharem perfeita sintonia”.

De acordo com sua receita, “o vice idealtem espírito de equipe, deixa de lado estre-lismos e vaidades, não pode aparecer demaisnem fazer planos pessoais que atropelem umprojeto coletivo. E precisa ter sempre emmente que a grande estrela, a que está nocentro das decisões, é o titular”.

Nas convicções de Maria de LourdesAbadia, o segundo na linha de sucessão vivena iminência de assumir a função mais impor-tante. E, a respeito, lança mão de uma imagemfutebolística: “É quase como um jogador queestá no banco de reserva, aquecido, que sabeque pode entrar em campo a qualquer mo-mento”.

Apesar de sua intrínseca capacidade parajogar em equipe, a vice-governadora doDistrito Federal sabe que ser vice é umamissão difícil, da qual jamais se arrependeu.“‘Como representante do PSDB, orgulho-

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me de participar de um governo que ostenta os maioresíndices de aprovação popular no país”, afirma. Tantosucesso pode e deve ser creditado ao seu trabalho.

Avessa à hipótese de viver à sombra, Maria Abadiaassumiu no governo do Distrito Federal a tarefa deadministrar e coordenar as ações da área social, setorem que é uma reconhecida especialista tucana. Esseconhecimento vem lhe assegurando condições paracoordenar 75 programas, executados por 13 secre-tarias. Encarregada pelo governador Joaquim Roriz dedesenvolver um amplo trabalho de inclusão social,Abadia aferrou-se à determinação de colocar em práticaas diretrizes do PSDB para o setor. “Implantamos umtrabalho abrangente, que dá o peixe para quem estáabsolutamente necessitado, mas que, ao mesmo tempo,ensina a pescar e exige contrapartidas”, garante.

“Além de darmos pão, leite e cestas básicas paraas famílias mais carentes, condicionamos a manuten-ção do benefício às contrapartidas, para impedir que oprograma incida no pecado do assistencialismo barato”,explica, observando que os contemplados têm aobrigação de se matricular em um dos diversos cursosque integram o programa.

Segundo Abadia, a filosofia do PSDB para a áreasocial, implantada durante os governos do presidenteFernando Henrique Cardoso e desvirtuada pelo go-verno Lula, investe no sentido de utilizar os benefícioscomo meio de crescimento, não como um fim em si,para evitar o vício da dependência permanente.

“É tarefa do governo ensinar as pessoas a cami-nharem com suas próprias pernas”, ressalta a vice-governadora. Exatamente por isso, ela enfrentou osdesafios de criar o cadastro único para os beneficiáriosdos programas sociais e de aumentar a fiscalização paraque as pessoas que não se adequassem aos critérios doprograma não recebessem ajuda indevida.

A concretização dessas iniciativas levou à desco-berta de inúmeras irregularidades e assegurou o controleefetivo dos benefícios. “Evitamos desperdícios, injustiçase malversação de recursos públicos, o que permitiuampliar as ações sociais do governo, para privilegiar asmães”, orgulha-se.

Em decorrência do que rotula de “luta para com-bater a fome, a miséria e a pobreza, por intermédio deações para fazer com que as pessoas se transformemem agentes do seu próprio desenvolvimento”, Abadiaalimenta o sonho de ser, em 2006, a candidata tucanaao governo do Distrito Federal.

“O PSDB”, prevê ela, “terá, naturalmente, umcandidato fortíssimo à sucessão presidencial, com capa-cidade para alavancar as candidaturas aos governosestaduais”. Mas por força de seu espírito de equipe, acandidata dos sonhos tucanos ao governo do DistritoFederal vincula seus anseios, e os do partido, a umacomposição estratégica.

“Eu jamais colocaria o time em campo, jamaissairia por aí buscando apoio, pedindo votos, em umaatitude voluntarista”, avisa Abadia, convicta de que éindispensável articular uma aliança capaz de resistir àfogueira das vaidades, única maneira de manter a uniãoentre os pré-candidatos dos partidos aliados.

Somente assim, para a mulher que fez do cargode vice-governadora um exemplo de abnegação à causada cumplicidade político-partidária, será possível realizaruma campanha que crie condições para motivar asociedade a confiar novamente seus anseios, expectativase necessidades a quem, ao contrário do governo Lula,exercita sem alarde e sem truques a ética na vida pública.

“ O vice tem que ser alguémem que se possa depositar

toda a confiança, com quemseja possível dividir

momentos de alegria,superar crises e arregaçaras mangas para trabalhar

em perfeita sintonia”

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92 Respeito pelo Brasil Agenda45

Ensaio

Ética democráticaSão três as dimensões institu-

cionais das sociedades democráticasmodernas: o sistema político e elei-toral, a justiça e o estado de direito,e a economia de mercado. Todaspossuem regras para a competiçãoe mecanismos para arbitragem deconflitos e solução de controvérsias.

A divergência de opiniões, ocontraditório e a livre concorrênciasão reconhecidos e aceitos comosendo legítimos e necessários parao aperfeiçoamento das instituições.Não se idealiza o consenso, a una-nimidade, a aceitação de valoresiguais e a comunhão de interessesidênticos. Na democracia, o interessecoletivo é sempre uma construção,resultante de um processo em queos atores sociais operam a favor desuas idéias, interesses e projetos.Nunca uma premissa, um pressu-posto.

Na democracia, a cooperação,a solidariedade e a adesão a valoreshumanitários são opções de com-portamento. As pessoas podem servirtuosas ou não, podem possuirelevado padrão moral ou não, po-dem se importar com seu aperfei-çoamento espiritual ou não dar mui-ta bola para isso. Podem ser boasou más. A ética na democracia nãoé nada disso.

Ter um comportamento antié-tico não quer dizer, necessariamente,cometer crimes ou infringir a lei,muito embora as pessoas que nãose guiam por um código de ética eagem sem limites quase sempreacabam cometendo ilícitos e crimes.

A ética na democracia tem a vercom o comportamento das pessoasno jogo competitivo da política, dajustiça e do mercado. Como em to-do jogo, os jogadores querem ga-nhar. No jogo da vida, os partici-pantes querem ganhar negócios, di-nheiro, causas jurídicas, eleições epoder. Os que querem vencer “aqualquer custo”, que fazem qualquercoisa para ganhar uma “parada” sãojogadores sem ética.

Na democracia, a ética é umatributo do cidadão como compe-tidor, concorrente no jogo da vida.Uns a têm, outros não. A vida só éum vale-tudo para os competidoressem ética. Curiosamente, os que di-zem (mesmo que sinceramente ) nãoestar competindo, mas dedicando-se altruísta e desinteressadamente aobem comum, por vezes revelam-se competidores selvagens.

Nas democracias jovens, emimplantação, com histórico de ar-bítrio e regimes autoritários, é muitocomum que os agentes políticos e

econômicos mais agressivos e anti-éticos sejam mais fortes e vençammuitas vezes. Fica a impressão quepara ser competitivo e vencer épreciso ser selvagem, usar todas asarmas, sem limites ou restrições denatureza ética. Como na piada dabriga de galo: “Chegou um novatona rinha e perguntou ao matuto qualo galo bom pra ele apostar. Disse omatuto: ‘O bão é o galo branco’. Ovisitante apostou tudo e ficou de-sesperado ao ver o galo brancomorrer numa esporada certeira dooutro. Foi reclamar e ouviu: ‘O bãoera o branco mas o marvado é ogalo vermeio’, explicou o matuto.

Aperfeiçoar a democracia é fa-er funcionar regras e mecanismosde arbitragem capazes de asseguraro resultado justo nas muitas dispu-tas naturais do jogo democrático.Assim, a turma do jogo bruto edesleal perderá cada vez mais dis-putas e espaços e, por conseguinte,os métodos e comportamentos an-tiéticos vão tornando-se ineficazes.

Na semifinal de um torneiode tênis da ATP, Andy Rodick, umtenista americano, estava perdendoe contestou o juiz que tinha marcadouma bola fora a seu favor. Ele foino local e mostrou com a raquete amarca da bola no saibro, nitidamente

Luiz Paulo Vellozo Lucas

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Agenda45 novembro de 2005 93

dentro da quadra. O juiz reconheceuo erro e reverteu o ponto para seuadversário. Os comentaristas da TVenalteceram o gesto apenas aparen-temente ingênuo e a ética de Rodick.

Não perceberam, contudo, quea atitude lhe conferiu força interiore concentração, evidenciando, naverdade, que Andy queria jogarprincipalmente contra si mesmo,para superar seus próprios limites,que respeitava profundamente ooponente e que queria o placar jus-to. Ele ganhou o jogo. Seu compor-tamento ético o ajudou a vencer.

O tênis é um esporte onde omelhor quase sempre ganha . Emuma seqüência de muitas partidas,o melhor sempre vence. O tênis éum jogo muito, mas muito maissimples do que o da disputa depoder e riqueza nas democraciasreais, em que resultados injustosparecem ser bem mais freqüentesdo que seria razoável.

É indispensável banir o jogosujo, construir um ambiente decompetição saudável, com regrasclaras e estáveis, com arbitragemconfiável, exaltando sempre que ainteligência vence a esperteza, acompetência vence a malandragem,o trabalho sério e contínuo ganhados atalhos, mentiras e macetes.

Será como no antigo sambacheio de sabedoria popular que dizia:“ ...se o malandro soubesse como ébom ser honesto, seria honesto sópor malandragem”. É por aí que aética democrática vai sendo cons-truída na política, no Judiciário e naeconomia.

Em seu caminho até o podere, principalmente, no exercício dopoder, o PT demonstrou ser umator político, um competidor semcompromisso com a construção daética democrática. Como compro-vou a realidade. Os sobreviventesda aventura armada contra a dita-dura militar foram a base ideológicado PT desde a sua fundação. Eles

nunca aceitaram a tese da frentedemocrática com os social- demo-cratas, liberais e conservadores. Suaspalavras de ordem nunca incluíamliberdades democráticas nem aConstituinte. Eles pegaram em ar-mas não pela Democracia, mas paraimplantar um “Governo Popular”,um “Governo dos Trabalhadores”.Eles não votaram a Lei da Anistia,não apoiaram Tancredo Neves nemassinaram a Constituição de 1988.

O PT liderou uma oposiçãoselvagem e destrutiva ao Plano Reale aos governos do PSDB. Jogoupesado e sujo. Não porque discor-dasse de verdade, mas porque o su-cesso não lhe pertenceria e dificul-

É indispensável banir o jogo sujo,exaltando sempre que a inteligência

vence a esperteza, a competência vence amalandragem, o trabalho sério e contínuo

ganha dos atalhos, mentiras e macetes

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taria sua marcha para o poder. OPT elegeu como inimigo principalum imaginário neo-liberalismo,escondendo seu despreparo paragerir uma economia de mercadocontemporânea. É claro que elesnunca pensaram em estatizar osmeios de produção. O socialismode vitrine do discurso petista serviaapenas para atrapalhar a implanta-ção do projeto reformista lideradopelo PSDB.

A bandeira da mudança, empu-nhada pelo PT nas eleições de 2002,de fato pertencia ao PSDB, que ge-ria um processo de profundas mu-danças estruturais na economia dopaís e nas instituições, interrompidopela vitória de Lula. A aliança como PL, comprada por R$ 10 milhões,

e o enredo da mudança desenvol-vido pelo carnavalesco malufistaDuda Mendonça enganaram a mai-oria do eleitorado. Mesmo assim,43% dos brasileiros que votaram nosegundo turno compreenderam eapoiaram a continuidade das mu-danças em curso votando em Serra.

No poder, os petistas se supe-raram batendo seu próprio recordede descompromisso com a éticademocrática. A mentira evolui detempero para prato principal nodiscurso do governo. A sustentaçãopolítica comprada com dinheirosurrupiado de contratos públicos édesvendada por um dos principaisoperadores da máfia do governo elança o país na maior crise políticada história. Abafando as apurações

e ganhando tempo, usando semqualquer arremedo de escrúpulotodas as armas do poder, o PT vaise preparando para conseguir chegarao final do mandato e ainda tentarnas urnas a reeleição.

Durante todos esses anos emque o PT se auto-atribuía o mono-pólio da ética na política, o Brasildeveria ter percebido a inspiraçãototalitária de seu projeto, seu des-prezo pela democracia, sua des-crença no funcionamento das insti-tuições e na possibilidade de aper-feiçoá-las com reformas. Desde aluta armada, eles nunca acreditaramem jogo limpo.

O Brasil andou para trás como PT. Só uma coisa melhorou nesseslongos três anos e meio de governopetista: a qualidade da oposição.Construtiva e ética.

Em 2006, o PSDB novamentese apresentará ao eleitor brasileirocom sua mensagem verdadeira, ra-cional , competente e profunda-mente comprometida com a cons-trução de um Brasil onde a éticademocrática seja a marca patro-cinadora de todos os vencedores.

O PT liderou uma oposição selvagem edestrutiva ao Plano Real e aos governos

do PSDB. Não que discordasse deverdade, mas porque o sucesso

dificultaria sua marcha para o poder

* Engenheiro, ex-prefeito de Vitória-ES

e presidente do PSDB-ES

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Políticas sociais

O presidente Lula vai entregar ao sucessor um inconcebível

acervo de erros na área social. Com destaque absoluto

para o desmantelamento do Programa de Erradicação

do Trabalho Infantil (PETI). Essa é a convicção da senadora

Lúcia Vânia, que pode ser acusada de muitas coisas, me-

nos de radical. O que não a impede de ser uma crítica

aguçada do governo do PT. Primeira secretária de Assis-

tência Social no governo Fernando Henrique, ela tem clara

consciência de que o Bolsa Família, resultado da fusão

dos 12 programas da Rede de Proteção Social, é uma

iniciativa assistencialista de caráter meramente eleitoreiro.

Quando os importadores de carne bovina brasileira souberam que um novo surtode febre aftosa fora descoberto no Mato Grosso do Sul, o presidente Lula, com aprecipitação que o caracteriza, teve duas preocupações. A primeira, jurar que o governonão havia contingenciado as verbas para a fiscalização dos rebanhos. Excessivo comosempre, em seguida culpou os pecuaristas pelo reaparecimento da zoonose no país.Para depois anunciar a indenização dos fazendeiros obrigados a eliminar os seus rebanhos.

“Esse é o comportamento que tipifica o presidente Lula”, lastima a senadora LúciaVânia. “Da mesma forma que Lula só acordou para a dura realidade da febre aftosa àmedida que os países importadores cancelaram encomendas e fecharam suas portas àcarne brasileira, o governo só liberou R$ 100 milhões do Fundo Nacional de SegurançaPública, até então contingenciados pela área econômica, quando o ‘sim’ foi derrotadono referendo sobre a proibição da venda de armas.”

A senadora evidencia a relação de causa e efeito existente entre febre aftosa, desar-mamento e ações na área social, três fatos aparentemente bem distintos. “A criminalidadeé fruto dos profundos desequilíbrios sociais. Como o governo é omisso na área social,demorou a perceber que a crise que se abateu sobre a pecuária geraria, em curto espaço

“Lula estádesmantelando

o PETI”

Lúcia Vânia

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de tempo, desemprego e redução de renda.Os problemas sociais, portanto, tendiam aser agravar. Mas, como sempre, o governoLula só agiu quando a calamidade já estavainstalada”, afirma Lúcia Vânia.

Esse padrão de procedimento está com-prometendo o Programa de Erradicação doTrabalho Infantil, um sucesso internacional-mente reconhecido e premiado pela Organi-zação das Nações Unidas (ONU). “Lula temconsciência de que o PETI tem o carimbo, amarca registrada do presidente FernandoHenrique Cardoso. Por isso, o governo, compropósitos eleitorais, decidiu centralizar todosos 12 programas da Rede de Proteção Socialno Bolsa Família, vendendo a ilusão de quedispunha de um programa original”, observaela. “Ao optar pela centralização dos progra-

mas, o governo cometeu um grave equívoco. Tão grande quanto apostar em projetosde natureza compensatória, uma estratégia destinada a tentar desconstruir a obra herdadado governo do PSDB para a área social.”

Em virtude dessa imprudência, os resultados apresentados pelo governo do PTsão, no mínimo, duvidosos. Exemplo dessa realidade é o programa Primeiro Emprego,que já consumiu mais de R$ 123 milhões para atender apenas quatro mil pessoas. O queLula ainda não compreendeu é que o governo Fernando Henrique criou um mecanismocomplexo, que funcionava de maneira sincrônica. “O objetivo não era distribuir dinheiropara as famílias absolutamente carentes. Dona Ruth Cardoso, com propriedade absoluta,estabeleceu que a preocupação da Rede de Proteção Social era assegurar os direitosindividuais”, explica Lúcia Vânia.

A engenharia que garantiu a redução da mortalidade infantil teve como um de seusprincipais fundamentos a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento doEnsino Médio e de Valorização do Ministério. “O Fundef teve um papel decisivo”,ressalta a senadora, “pois os prefeitos foram estimulados a manter as crianças na escola,na medida em que a legislação estabeleceu para estados e prefeituras a obrigação deaplicar, no mínimo, 15% de suas receitas e transferências na manutenção e no desen-volvimento do ensino fundamental”.

Lastimavelmente, Lula não comprou esse desafio, diz a senadora. “De certo poruma questão tática, de curto prazo, o governo relegou a um plano secundário o ensinofundamental e priorizou a reforma do ensino universitário. Como se ignorasse que éimpossível existir uma universidade de excelência sem uma base de qualidade.”

Os resultados dos desencontros patrocinados pelo governo do PT na área socialforam constatados, recentemente, por duas pesquisas. A primeira, realizada pelo Instituto

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de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), detectou que 12 milhões de jovens vivem,hoje, na pobreza. A segunda, do Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), revelou que três milhões de brasileiros entre 18 e 24 anos estãodesempregados. Para Lúcia Vânia, a prova mais evidente desse fracasso é a decisão dogoverno petista de jogar o PETI no esquecimento. Conforme denúncia feita pelasenadora, “por inexperiência ou aparelhamento da administração pública, o governosistematicamente atrasou o repasse de recursos do programa às prefeituras. Para, depois,submetê-lo ao contigenciamento”. De fato, o programa sofreria cortes orçamentáriosde 82% no Plano Plurianual de 2004/2007.

O comportamento do governo em relação ao PETIjoga por terra um trabalho iniciado em 1996, nas carvoariasdo Mato Grosso do Sul, que atendeu, então, 1.500 criançasem 14 municípios. E que, em seis anos, rapidamenteexpandiu-se, a ponto de assistir mais de 810 mil crianças emtodo o país, até agosto de 2002.

“O governo do PSDB construiu esse sucesso não porter distribuído dinheiro do contribuinte de maneira aleatória,como quem faz caridade. Os avanços decorreram de acom-panhamento, fiscalização, orientação e disseminação de infor-mações voltadas para reduzir a mortalidade. Para tanto, asmães tinham que manter as crianças na escola o dia inteiro. Afilosofia do programa é estimular a auto-estima da criança,garantindo o seu sucesso escolar. O que só é possível pelapermanência no colégio”, reafirma Lúcia Vânia.

Por ter a certeza inabalável de que o Estado brasileirotem que estar submetido a um diploma de responsabilidadena gestão social em tudo semelhante ao que existe para agestão fiscal, a senadora Lúcia Vânia elaborou a Lei daResponsabilidade Social, no momento em tramitação noSenado. Destinada a criar condições para que as políticassociais no Brasil possam ser desenvolvidas com recursossuficientes e de maneira contínua, o projeto investe na fixaçãode fontes de financiamento adequadas e permanentes para aaplicação e acompanhamento dessas políticas.

Afinal, para ela, enquanto não houver uma lei queobrigue o presidente da República a cumprir requisitos rígidos,à semelhança dos estabelecidos na LRF, as políticas sociais no Brasil estarão ao sabordos ventos e dos interesses conjunturais do governante.

“Para alcançar objetivos obviamente eleitorais, Lula abraçou uma prática que nãopoderia ser mais neoliberal. Depois de transformar o específico em genérico, aferrou-se ao pressuposto de que cada um cumpriria seus objetivos. O que, na prática, teve oseguinte significado: eu dou o dinheiro e vocês se viram.”

“Lula tem consciência deque o PETI tem ocarimbo, a marca

registradado presidente Fernando

Henrique Cardoso.Por isso, o governo,

com propósitos eleitorais,decidiu centralizar todos

os 12 programas daRede de Proteção Social

no Bolsa Família,vendendo a ilusão

de que dispunha de umprograma original”

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100 Respeito pelo Brasil Agenda45

Roraima é a “fronteira do sucesso”. É o que afirma o governador Ottomar de Souza

Pinto, que assumiu pela terceira vez em sua carreira política o desafio de administrar

um estado em que 93% do total de suas terras, 22 milhões de hectares, pertencem aos

povos indígenas, ao Exército, ao Incra e ao Ibama. E que recebeu do governador

cassado, Flamarion Portela, uma verdadeira herança maldita.

Ação governamental: Roraima

Quando assumiu o governo de Roraima, em novembro de 2004,pela terceira vez em sua vida, Ottomar de Souza Pinto tinha pela frenteum combate colossal: o de trabalhar para reverter a decisão do governoLula de homologar a demarcação contínua da terra indígena Raposa-Serra do Sol. Chamado carinhosamente de brigadeiro, Ottomar declara,sem meias palavras: “Essa era uma briga inadiável. O presidente Lula foienganado e não soube de tudo o que ocorreu no processo de demarcação,quando a Funai valeu-se de métodos ilegais e cometeu estelionatoideológico”.

E a contenda tem razão de ser, por um motivo singular. Justamentenas terras indígenas de Raposa-Serra do Sol é plantado e colhido, porfazendeiros que ali se instalaram há décadas, um dos melhores tipos dearroz produzidos no Brasil, que rendem colheitas de 6,5 toneladas porhectares. “O arroz é excelente. Mas, infelizmente, com a homologação osfazendeiros estão condenados a deixar suas terras e a produção cairá”,reconhece Ottomar. Afinal, dos 25 mil hectares de fazendas de arrozexistentes no estado, 17 mil localizam-se em Raposa-Serra do Sol e,também, na reserva São Marcos.

Nesse conflito com o governo federal, o governador tem apoio daopinião pública do estado. Pesquisa realizada pelo instituto Databrainconstatou que 70,1% da população de Roraima apóiam a luta dobrigadeiro. A firme disposição de Ottomar de trabalhar no limite de suasforças para alterar o decreto de homologação assinado por Lula emabril de 2005 faz parte de uma estratégia destinada a liberar todas as áreasprodutivas que se encontram, ainda, sob a tutela do estado brasileiro.

Esse também é o caso de 4,2 milhões de hectares, equivalentes à áreade três estados de Sergipe, que estão sob a tutela do Incra. Para que a

Raposa-Serra do Sol:um estelionato ideológico

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Constituição seja cumprida, o tucano entrou naJustiça. “Enquanto a transferência não acontecer,será impossível desenvolver um modelo agro-industrial planejado para Roraima”, adverteOttomar.

A cruzada do governador de Roraima temmotivação extremamente pragmática. “As terrasde Roraima oferecem condições para se obtersafras maiores e melhores do que as registradasem Mato Grosso do Sul e no Sul do país. Noentanto, para que elas possam se tornar pere-nemente produtivas, é necessário contar comrecursos.” Para que isso aconteça, é indispensávelsolucionar, de uma vez por todas, a questão fun-diária. Enquanto isso não ocorrer, Roraima não poderá usufruir dos R$120 milhões do FNO, fundo de fomento ligado ao Banco da Amazônia.“Garantir a titularidade da terra é a única maneira de dispor de umagarantia efetiva capaz de viabilizar a obtenção de empréstimo. E semgarantia ninguém abrirá os cofres para o estado, que continuará impedidode se desenvolver”, explica o governador.

Consciente de que a luta será muito longa e complexa, Ottomar deSouza Pinto, que herdou do antecessor, Flamarion Portella - cassado porabuso de poder econômico - uma dívida de R$ 400 milhões, dedica-se,de corpo e alma, a recuperar a área de Saúde do estado. “Não deixarampedra sobre pedra”, ataca o governador, que reformou o Hospital Geral,a Unidade de Tratamento Intensivo e o Centro Cirúrgico. Além de adquirirequipamentos automatizados para o Laboratório de Análises Clínicas ede reativar a UTI neonatal e o berçário da Maternidade Nossa Senhorade Nazaré, onde criou um banco de leite.

O resultado da disposição do governador Ottomar de Souza Pintode reconstruir Roraima, investindo no social e em infra-estrutura, já foipublicamente reconhecido. Para 48,4% da população, o estado evoluiuem um ano de administração tucana. Para 46,6%, as promessas estãosendo cumpridas. O desempenho do governador é considerado excelentepor 7,8% da população e bom para 38,6%. Para quem encontrou umarealidade caracterizada pela degradação, a avaliação dos habitantes deRoraima sobre a administração de Ottomar é motivo de satisfação. Mas,acima de tudo, de responsabilidades, que só terão sido plenamentecumpridas quando as terras do estado estiverem livres para se tornarem,definitivamente, a “fronteira do sucesso” no Norte do Brasil.

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Ensaio

Reforma eleitoralO PSDB é parlamentarista de

nascimento, mas não tem posiçãofirmada sobre a reforma eleitoral.Talvez tenha chegado a hora deaprofundarmos essa discussãodentro do partido e estimulá-la nasociedade. Por mais que saibamosque a crise política do governoLula é obra do próprio Lula e doPT, ela expôs fragilidades do nossosistema representativo que nãopodemos ignorar, sob pena dedeixar que comprometam a de-mocracia que lutamos tanto paraconquistar e consolidar.

Quase todo mundo concordaque o sistema proporcional comlista aberta adotado no Brasildesde a Constituição de 1934 não

Eduardo Graeff*

poderia ser pior. Ele leva a umaguerra de todos contra todos oscandidatos do mesmo partido, jáque é a votação individual quedetermina quem ocupará as vagasobtidas pelo partido num estado.

Isso é ruim para os candidatosporque empurra os gastos decampanha sempre mais para cima.É ruim para os partidos porquemina a fidelidade partidária doseleitos. É ruim para o governoporque, com baixa fidelidadepartidária, o apoio de um partidonão se traduz necessariamente novoto de seus representantes noCongresso. E é ruim para o eleitorporque, com uma quantidadeenorme de candidatos, fica difícil

para ele saber quem efetivamenteelegeu e até se lembrar de emquem votou.

Qualquer alternativa – sistemaproporcional com lista fechada,distrital puro, distrital misto – pa-rece melhor do que isso. No en-tanto, convém perguntar: melhorpara quem?

Os candidatos em geral re-conhecem os defeitos do atual sis-tema, mas têm restrições às alter-nativas. A maioria dos deputadosreceia que uma mudança do sis-tema desorganize suas bases ediminua suas chances de reeleição,embora a taxa de reeleição de de-putados no Brasil seja das maisbaixas do mundo (cerca de 50%,comparada a mais de 90% nosEstados Unidos, por exemplo).

E também receiam ficar nasmãos dos dirigentes regionais deseu partido, ou de qualquer parti-do, seja para conseguir uma boaposição na chapa, no caso do sis-tema proporcional com lista fe-chada, seja para sair candidato noseu distrito, no caso do sistemadistrital. Como qualquer mudançaprecisa ser aprovada pelos depu-tados federais, na dúvida eles vãoficando com o atual sistema.

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Uma coisa é certa: se a reforma eleitoral

continuar exclusivamente por conta

dos partidos e do Congresso, sem pressão

da sociedade, dificilmente teremos

qualquer reforma mais importante

Os partidos, em princípio,teriam maior controle sobre seusdeputados no sistema propor-cional com lista fechada. Comonesse sistema o voto é dado aopartido, e não ao candidato indi-vidual, não tem cabimento umdeputado mudar de partido semperder o mandato.

No sistema distrital, o depu-tado pode até mudar de partidono meio do mandato, mas nor-malmente terá mais dificuldadepara concorrer e se eleger no mes-mo distrito por outro partido.Mas os pequenos partidos tememser varridos do mapa pelo sistemadistrital, que não garante represen-tação às minorias. Do ponto devista do interesse partidário, seriamais fácil, então, haver consensoem torno do sistema proporcionalcom lista fechada. Para o governo,pode ser mais fácil compor maio-ria no Congresso quando o acordocom um partido garante o apoiode todos os seus representantes.Mas o que acontece se o governonão conseguir os acordos neces-sários com os partidos? No parla-mentarismo, a solução é automá-tica: ou cai o governo, ou há novaseleições para o Legislativo.

No presidencialismo não exis-tem essas opções, e um governosem opções para compor maioriano Congresso é sinônimo de crise.Nesse caso, partidos disciplinadosdemais podem ser uma fórmulapara organizar o impasse, em vezde facilitar a tomada de decisões.O sistema proporcional com listafechada parece uma opção arris-cada do ponto de vista da gover-nabilidade. O sistema distrital, comfidelidade partidária, mas nãotanta, seria mais compatível como presidencialismo, como aliás severifica no berço dessa forma degoverno, os Estados Unidos.

Está visto por que a reformaeleitoral não anda: é difícil acharuma alternativa que concilie osinteresses dos candidatos, dos par-tidos e do governo.

E o eleitor, como fica nessahistória? Sua insatisfação com oatual sistema é evidente pelos altosíndices de rejeição ao Congressoe aos políticos em geral e de votosbrancos e nulos para deputado.Mas a grande maioria possivel-mente não sabe que essa insatis-fação tem a ver com o sistemaeleitoral, nem muito menos conhe-ce as alternativas.

Meu palpite é que, se conhe-cesse, preferiria o sistema distrital.Primeiro, porque é fácil de en-tender. Segundo, porque não fogeao costume do eleitor brasileirode votar em pessoas, mais do queem partidos. Terceiro, porque ga-rante que o eleitor vai sempre saberquem é o “seu” deputado – o deseu distrito.

É claro que meu palpite é sómais um palpite. Seria bom per-guntarmos ao eleitor – por meiode pesquisas, de grupos de discus-são – o que ele prefere. Isso, natu-ralmente, depois de explicar a eleas alternativas.

Uma coisa é certa: se a refor-ma eleitoral continuar exclusiva-mente por conta dos partidos edo Congresso, sem pressão da so-ciedade, dificilmente teremos qual-quer reforma mais importante.

Proponho que o PSDB assu-ma como tarefa partidária levaressa discussão, se não a toda a so-ciedade, ao menos à sua parcelamais politizada. Começando pelospróprios filiados do partido.

* Sociólogo e assessor da liderança do

PSDB na Câmara dos Deputados

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104 Respeito pelo Brasil Agenda45

Olhar 45

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