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AÇÃO DOCENTE: relação teoria e prática na perspectiva da mediação dialética

Autora: Karin Lúcia França Reck BrumOrientadora: Aparecida Favoreto

Resumo

O objetivo deste trabalho é socializar as reflexões produzidas ao longo do processo de formação no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), principalmente no que se refere ao desenvolvimento de uma Unidade Didática, constituída de um roteiro de estudo, composto de: textos que abordam os fundamentos teóricos do Materialismo Histórico Dialético; análise de textos de músicas, de vídeos; oficinas pedagógicas e aplicação de uma aula na perspectiva da mediação dialética. Para tanto, o aporte teórico utilizado foi: as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (DCE), o texto de Pereira (1988), “O que é teoria”, e o texto de Almeida, Oliveira e Arnoni (2007), “Mediação dialética na educação escolar”. A partir desse referencial, o trabalho desenvolvido revelou algumas dificuldades na operacionalização de uma concepção de mediação dialética no processo de ensino e de aprendizagem. Todavia, é possível vislumbrar a importância que as oficinas tiveram na formação dos professores e o anseio destes em transformar a sua prática. Porém, essa ação envolve outras oportunidades de análise da prática em sala de aula, para que o professor possa repensar suas ações pedagógicas e alcançar um novo olhar.

Palavras-chave: Ação docente; Mediação Dialética; Ensino; Formação Continuada.

1 Introdução

O artigo aqui apresentado tem como objetivo socializar as reflexões

produzidas ao longo do processo de formação no Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE), principalmente no que se refere ao trabalho realizado na escola,

momento em que foi desenvolvida a Unidade Didática. Vale dizer que esta Unidade

Didática constituiu-se em um roteiro de estudo, composto de: textos que abordam os

fundamentos teóricos do Materialismo Histórico Dialético; análise de textos de

músicas, de vídeos; oficinas pedagógicas e aplicação de uma aula na perspectiva da

mediação dialética.

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Sendo o método da mediação dialética uma perspectiva pedagógica do

Materialismo Histórico Dialético, o qual se encontra presente nas Diretrizes

Curriculares Estaduais do Estado do Paraná (DCE), o interesse é focado na

compreensão de como o professor pode desenvolver esta metodologia em sala de

aula. Sobre esta questão, interessou estudar, junto com os professores envolvidos

no projeto, os fundamentos e as estratégias de aplicação em aula, do referido

método.

Sabe-se que o Materialismo Histórico Dialético é, há muito tempo, tema de

pesquisa dos educadores, os quais explicitam os princípios teóricos do método e os

seus objetivos políticos. Neste trabalho, tem-se como pretensão desenvolver

estudos sobre a relação da teoria com a prática na perspectiva da mediação

dialética. Noutros termos, o que se busca é, em conjunto com estudos teóricos,

desenvolver atividades práticas em sala de aula e refletir sobre esta experiência.

Quanto a Unidade Didática, esta se constituiu de momentos que priorizaram

a leitura e discussão de textos teóricos e momentos que priorizaram o fazer. No

estudo dos textos teóricos o foco foi a leitura das Diretrizes Curriculares do Estado

do Paraná (DCE), o texto de Pereira (1988), “O que é teoria”, e o texto de Almeida,

Oliveira e Arnoni (2007), “Mediação dialética na educação escolar”. No estudo e

discussão sobre estes textos, a reflexão se fazia no sentido de pensar sobre os

limites e as possibilidades de aplicar o método do Materialismo Histórico Dialético

em sala de aula.

Para enriquecer a discussão, foram exibidos filmes de curta duração,

apresentadas músicas, material que contribuiu para exemplificar formas de ensino e

o significado do professor tomar um método orientador em suas aulas.

Ainda com a preocupação em operacionalizar uma aula seguindo os

fundamentos das DCE do Estado do Paraná, buscou-se desenvolver planos de

aulas. A elaboração destes planos de aulas deveriam seguir os passos da mediação

dialética, propostos por Almeida, Oliveira e Arnoni (2007).

Por fim, escolheu-se uma aula, a qual deveria ser aplicada em sala de aula.

O objetivo dessa aplicação em sala era observar como seria a aplicação desta

Unidade Didática na prática.

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2 Apresentação e fundamentação do projeto

O objetivo do trabalho realizado no processo de formação do PDE, e que é

aqui descrito, foi compreender e ampliar a relação entre teoria e prática na

perspectiva da mediação dialética. Para tanto, tivemos que refletir sobre a

fundamentação teórica das Diretrizes Curriculares Estaduais do Estado do Paraná

(DCE), estudar a concepção e a relação entre teoria e prática na lógica formal. A

partir desses estudos, aprofundamos o conhecimento sobre a lógica dialética, suas

principais características e distinção da lógica formal. Para dar consistência aos

estudos, foram realizadas oficinas com professores da rede pública de ensino, as

quais visaram à experiência da ação docente na perspectiva da mediação dialética e

a reflexão sobre essa experiência.

Nosso estudo e reflexões acerca das bases teóricas da lógica dialética nos

possibilitaram compreender que a escola é motivo de luta entre os interesses de

classes. Nesse embate, a classe operária, na luta pelos seus interesses, deveria

buscar o conhecimento mais amplo, ou seja, a relação entre o conhecimento

científico acumulado pela humanidade e a produção da vida humana em todas as

suas perspectivas, não se restringindo aos interesses produtivos.

A escola gratuita, laica e universal, surge com o objetivo de resolver

problemas econômicos e sociais. Em específico, surge para sanar as necessidades

da indústria, que em seu início, precisava de mão de obra adequada ao regime

capitalista, ou seja, disciplinada e detentora de alguns conhecimentos gerais. Como

interesse social, ela se faz por iniciativa tanto do Estado, que deseja formar o

cidadão, como também abrange o interesse da classe trabalhadora, que vê na

escola a possibilidade de ascensão social. Como nos afirma Favoreto:

A escola pública passava a ser desejada como instrumento capaz de apaziguar as contradições sociais e de preparar o trabalhador para as exigências do mercado, da vida urbana e do trabalho industrial. A escola pública surgia, assim, tanto como problema relativo ao sistema produtivo, quanto como expressão das contradições contidas nas relações capitalistas. (FAVORETO, 2008, p. 30).

Observa-se, assim, que sua forma de organização curricular e em seus

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objetivos finais, a escola está permeada de intenções políticas, as quais não são

facilmente detectadas. Por isso, é preciso compreender as finalidades educacionais

em relação à complexidade social apresentada.

Saviani (1999), em “Escola e Democracia”, ao analisar a existência da

escola pública e a permanência da miséria social, afirma que, até a década de 1980,

na relação entre escola e sociedade, podem ser destacados dois grupos teóricos.

No primeiro grupo estão as teorias não críticas, que compreendem a educação

como instrumento de equalização social. Para estes, a escola tem como objetivo a

superação da marginalidade. Este grupo teórico delega à educação escolar um

amplo papel, que é garantir a construção de uma sociedade mais igualitária, pois

cabe a ela, fazer a correção dos desvios sociais. Destaca ainda que tal grupo

compreende que os desvios são um problema relativo à ignorância. Esta tendência,

busca corrigir os problemas sociais pela socialização científica. Pensa que a escola

pode corrigir indivíduos e pode garantir que todos possam concorrer em igualdade

na sociedade. Acredita que a escola pode garantir a igualdade de condições.

Defendem que todos devem possuir conhecimentos científicos, adquirindo assim, as

aptidões individuais necessárias para se integrarem ao corpo social. Em última

instância, esta corrente teórica acredita que a educação pode corrigir os desvios

sociais, construir uma sociedade harmoniosa.

No segundo grupo estão as teorias crítico-reprodutivistas, que entendem a

educação como um instrumento de discriminação social. Desta forma, acredita que

ela própria é motivo de marginalização. Este grupo entende que a sociedade é

dividida em dois grupos, com condições distintas de produção da vida material e

cultural, que pré-determina a forma de educação. Assim, entendo que quem detém

maior capital econômico também detém a reprodução cultural. Para estes teóricos, a

sociedade não é harmoniosa e sim desigual e por este motivo a marginalidade é

inerente a ela. Estes teóricos reconhecem a escola como uma reprodutora da

sociedade de classes e mais ainda, destacam-na como um elemento que contribui

para o fortalecimento do sistema capitalista.

Em oposição às pedagogias não criticas e em superação das teorias crítico

reprodutivistas, Saviani no início da década de 1980, propõe uma nova possibilidade

de educação escolar, a qual ele chama de uma “pedagogia revolucionária”. Para ele,

esta se empenharia na transformação das relações de produção. Para Saviani:

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Do ponto de vista prático, trata-se de retomar vigorosamente a luta contra a seletividade, a discriminação e o rebaixamento do ensino das camadas populares. Lutar contra a marginalidade por meio da escola significa engajar-se no esforço para garantir aos trabalhadores um ensino da melhor qualidade possível nas condições históricas atuais. (SAVIANI, 1999, p.31).

Ao recuperar o exposto por Saviani (1999) sobre as pedagogias,

percebemos a necessidade de se intensificar os debates e reflexões sobre questões

que permeiam nossas práticas escolares, principalmente, porque, a Secretaria de

Educação do Estado do Paraná apresenta uma proposta desenvolvida na

Perspectiva do Materialismo Histórico Dialético. Esta proposta tem como objetivo a

compreensão das contradições existentes para uma consequente transformação

social.

A proposta pedagógica da Secretaria da Educação do Paraná, por meio de

suas Diretrizes Curriculares, busca manter o vínculo com as teorias críticas da

educação, reconhecendo sua dimensão científica, filosófica e artística do

conhecimento, considerando suas diferentes áreas. Estas não são concebidas

somente a partir de seus limites disciplinares, mas na sua relação com as demais

áreas, compreendendo-a na sua totalidade.

Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais do Estado do Paraná:

Esse é o princípio implícito nestas diretrizes quando se defende um currículo baseado nas dimensões científica, artística e filosófico do conhecimento. A produção científica, as manifestações artísticas e o legado filosófico da humanidade, como dimensões para as diversas disciplinas do currículo, possibilitam um trabalho pedagógico que aponte na direção da totalidade do conhecimento e sua relação com o cotidiano. Com isso, entende-se a escola como espaço do confronto e o diálogo entre os conhecimentos sistematizados e os conhecimentos do cotidiano escolar. (PARANÁ, 2008, p. 21)

Diante do exposto, perguntamos: como, nós educadores podemos superar

as pedagogias conservadoras de estados sociais? Como podemos superar práticas

pedagógicas, que estão há muito tempo cristalizadas na sociedade? Como contribuir

para que haja mudanças significativas na forma de compreender o conhecimento e o

processo de ensino e de aprendizagem? Neste sentido, firmamos nosso interesse

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em compreender a relação teoria e prática no processo de ensino escolar e,

principalmente, na mediação dialética.

No processo educativo, a mediação, compreendida na lógica dialética, não

significa atuação do professor enquanto facilitador, mas como mediador. Para

Almeida, Oliveira e Arnoni (2007), mediação representa unificação, compreendida

como resultado da relação entre dois elementos opostos, porém não antagônicos.

Na concepção da lógica dialética, todo processo educativo é constituído de

mediações, que pressupõem movimento e oposição. De um lado o aluno, que está

no plano do saber imediato, e do outro lado o professor, que está no plano do saber

mediato. A mediação, nesta perspectiva, estabelece-se no processo de superação

do saber imediato, ao plano do saber mediato do aluno, sendo que na superação do

saber imediato ao saber mediato, um não é suprimido pelo outro e sim se integra ao

outro. Para tanto, toda mediação deve ser precedida da ação do professor enquanto

profissional que tem a função de desempenhar a ação pedagógica.

Para Almeida, Oliveira e Arnoni (2007), a lógica dialética trata-se de uma

forma de compreendermos o mundo, o qual se apresenta contraditório e está em

constante transformação. Esta é a totalidade. Para os autores, o pensamento

racional reflete o movimento do mundo físico e social, que não se traduz apenas

pelas ideias, mas pelas relações que o homem estabelece em sociedade e com a

natureza. De acordo com os autores, esta pode ser a lógica do aprofundamento da

investigação da realidade, visto que ela vai além dos limites da lógica formal, que ao

elaborar o conhecimento, fecha-o em teoria geral dos sistemas, impossibilitando-o

de qualquer superação.

Pereira (1988) nos diz, a lógica formal não estabelece relação homem-

mundo, não atribuindo assim o sentido antropológico, daí que perde a capacidade

de movimento do processo de produção do conhecimento. Nesta perspectiva, a

busca pela verdade torna-se uma forma mecânica da produção do pensamento

correto, por este motivo não consegue nos fornecer a dinâmica do discurso. Para

ele, esta lógica, preza por demasia a conceituação perfeita, restringindo-se apenas

ao mundo das ideias.

Para Pereira (1988), a lógica dialética se define por assumir a contradição

como vetor do processo de produção do conhecimento. Para ele é a contradição que

gera a unidade. Destaca ainda que, se há tese e não há antítese, não acontece a

síntese. Para o autor, a lógica dialética não é apenas a superação da lógica formal,

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mas se faz por incorporação. A lógica dialética necessita das leis do pensamento

correto da lógica formal, mas incorpora o movimento e a contradição como sendo

constituinte da realidade, ou seja, totalidade. Sendo assim, Pereira (1988) diz que, a

lógica dialética não descarta a lógica formal, mas se une a ela. Também observa

que a solução está justamente na junção entre pensamento e realidade, ou seja,

entre a teoria e a prática. Para ele, a lógica formal e dialética se completam como

uma orquestra, onde a letra não existe sem a música e a música não existe fora da

letra.

Pereira salienta que é:

Engano pensar que no “concerto dialético” alguém “toca por ouvido”. E o pensamento é como a pauta da música. As regras da pauta musical exercem uma função de inegável importância na música, embora elas até possam diluir-se na execução. Por outro lado, acentuar por demais a letra e não a música também significa “desconcertar” essa unidade perfeita (PEREIRA, 1988, p. 25)

Pereira (1988) descreve que teoria, prática e práxis são conceitos

diferenciados de um mesmo processo, e para que possamos compreendê-los na

sua relação, necessitamos identificar quais são suas diferenças e suas igualdades,

ou seja, onde eles se encontram e se distanciam.

Teoria, para Pereira (1988), não é somente um ato de abstração e

contemplação, um ato intelectual em si, mas este articulado com a ação do homem

como um todo, que permanentemente busca um sentido para si e para o mundo.

Para ele, o homem não teoriza só porque pensa, mas porque pensa e porque age.

Pereira considera que:

Ao fazer de sua ação uma ação de cultura o homem abre duplo movimento de assumir e negar. Assume sua prática (realizando-a) ao mesmo tempo em que a nega como prática pura ou como ação mecânica ou instintiva. É nesta autonomia, embora relativa, da teoria, que reside a capacidade de negar a prática pura e dar a ela, de volta, um significado - O que é teoria. (PEREIRA, 1988, p.78)

O autor nos diz que, somente o homem age conscientemente sobre a

natureza, diferentemente dos animais que agem por instinto, que ficam apenas ao

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nível da inteligência intuitiva. Para Pereira (1988), somente o homem tem a

capacidade de se distanciar da natureza para refletir sua ação. Salienta que nesta

relação “é o homem que deve estar no centro, o homem com sua ação” (PEREIRA,

1988, p. 69), enquanto construtor de si mesmo, na relação que estabelece com o

mundo histórico. Portanto, para o autor, a prática se caracteriza pela ação

consciente, ação com significado, não é somente a ação mecânica, mas a ação

pensada, que modifica o natural, o social e o próprio homem.

De acordo com Pereira,

[...] ligado a prática, o ato teórico estabelece-se a partir do que o homem é, concretamente, como um todo, um nó de relações com o mundo. Vale dizer um encontro de ação, pensamento, desejo, prazer, paixão, sonho. (PEREIRA, 1988, p.85)

Segundo Pereira (1988), toda ação transformadora do homem, toda ação de

sentido, toda ação refletida, estabelece relação entre teoria e prática. Assim, em

maior ou menor medida é a práxis.

Pereira nos diz que:

Não sendo prática pura e a prática objetivada (individual e socialmente) pela teoria. É a prática aprofundada por esta “meditação” ou reflexão que não deve ser solta, mesmo na consciência da relativa autonomia da teoria, na capacidade do ato teórico em antecipar idealmente a prática como objeto da mesma. A práxis, enfim, é a ação com sentido humano. É a ação projetada, refletida, consciente, transformadora do natural, do humano e do social. (PEREIRA, 1988, p. 76)

Neste sentido, práxis é compreendida como unidade entre teoria e prática.

Na tentativa de avançar a reflexão sobre mediação dialética, acreditamos que mais

que repetir abstrações, necessitamos levantar as dúvidas, as evidências, as

contradições e verificar as transformações que passaram o conhecimento científico

e a sociedade.

Para Gasparim (2002), podemos dizer que a ação pedagógica deve ter

como princípio básico a contextualização dos conteúdos em sua totalidade e não na

fragmentação. Estes deverão ser apresentados na forma de produção da

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humanidade e por isso, devem sempre representar a realidade de onde provém.

Esta prática, por sua vez, sempre carrega a contradição.

Nesta visão filosófica, o fazer escolar não está isento de conteúdo histórico,

social e político que envolve a escola. Deste modo, a ação docente do professor não

se apresenta como um fim em si mesma. Este fazer pedagógico deve ser um fazer

pensado e recriado. O que, segundo Almeida, Oliveira e Arnoni (2007, p. 127),

implica “em primeiro lugar, ‘pensar a aula’ implica abandonar a improvisação”. Para

os autores, pensar a aula fundamentada na lógica dialética demanda concebê-la

como práxis educativa, a qual exige do professor pensar numa prática articulada

conscientemente com a teoria.

Com base nesses fundamentos teóricos, planejamos e efetivamos uma

oficina com professores da rede pública de ensino, visando levar esse público a

compreender a relação entre teoria e prática na perspectiva da mediação dialética.

Para tanto, buscamos seguir os passos metodológicos adotados por Almeida,

Oliveira e Arnoni (2007), que apresenta a aula subdividida em quatro momentos

pedagógicos, que são: resgatar (ponto de partida), problematizar (contradição),

sistematizar (superação do mediato ao imediato) e produzir (ponto de chegada).

Para os autores citados, cada momento apresenta suas particularidades, mas fazem

relação com o momento anterior, o que identifica o processo como um movimento

em espiral, sendo o ponto de chegada sempre um novo ponto de saída. Desta

forma, todos os momentos pedagógicos apresentam suas características e

especificidades, mas no desenvolvimento das aulas estes momentos se interpõem,

não podendo ser separados em momentos sequenciais e estanques. A seguir

apresentamos o trabalho desenvolvido.

3 Desenvolvimento do projeto

Esta produção pedagógica se constituiu em uma Unidade Didática, sendo

elaborada a partir de quatro etapas, que foram: apresentação do projeto em reunião

pedagógica, grupo de estudos, oficinas pedagógicas e a prática de sala de aula.

Nosso público foram professores de cursos técnico-profissionalizantes de uma

escola pública de Cascavel/Pr.

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O projeto foi apresentado na Semana Pedagógica à administração e

professores da escola. Primeiramente, cada professor fez uma breve apresentação

individual, dizendo seu nome, tempo de trabalho e experiência profissional. Em

seguida, fizeram muitas perguntas com relação ao tema proposto e o

desenvolvimento das atividades, tais como: local e horário de realização, uso e

acesso do material de apoio etc.

No que se refere ao tema escolhido: “Compreendendo a Relação entre

Teoria e Prática na Perspectiva da Mediação Dialética”, destacou-se que este tema

foi pensado visando a atender a necessidade de compreender melhor a proposta

filosófica adotada pela SEED, pois, em muitas vezes, nós professores não

compreendemos a concepção pedagógica das Diretrizes Curriculares. Entretanto,

para entender a proposta exigiu-se um conhecimento mais aprofundado da teoria e

de sua relação com a prática de ensino e de aprendizagem. Muitos colegas se

identificaram com a questão e mostraram-se interessados na temática.

Dando continuidade a apresentação do projeto, fizemos uma breve

explanação do cronograma e planejamento, destacando como cada encontro teria

uma questão teórica e prática para desenvolver. Nesse momento, deparamo-nos

com o primeiro conflito, pois os professores demonstraram muito interesse em

participar, mas, muitos não tinham disponibilidade para se reunirem aos sábados:

alguns estavam participando de outros cursos; outros disseram que aos sábados

não faziam cursos, pois se não dedicassem à vida familiar neste dia, não

conseguiriam dar conta dos trabalhos da semana. Porém, apesar das dificuldades,

alguns se dispuseram a participar e solicitaram que recebessem certificados, haja

vista que precisavam de horas para sua elevação de nível.

Selecionado o grupo, iniciamos nosso primeiro encontro, o qual é relatado a

seguir.

3.1 Primeiro encontro

Iniciamos o encontro com a apresentação do clipe da música “Estudo

Errado”, de Gabriel “O Pensador”, que para nós é uma representação da

insatisfação dos alunos em relação à forma com que os conteúdos escolares são

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ensinados por alguns professores. Após a apresentação deste clipe, fizemos uma

nova explanação sobre o porquê da seleção do tema proposto. Em seguida,

pedimos que os participantes fizessem seus comentários. Diante dos comentários,

observamos que os professores ficaram na defensiva, em suas falas. Alguns

argumentaram acerca dos vários fatores que reduzem a qualidade do ensino e da

aprendizagem. Nesta situação, argumentaram que os alunos não se esforçam para

aprender. Apesar dos professores terem levantado questões importantes sobre os

problemas presentes na sala de aula, neste momento não conseguiram dialogar

sobre a relação teoria e prática na perspectiva teórica do Materialismo Histórico

Dialético.

Na sequência solicitamos que registrassem seu entendimento sobre a

fundamentação filosófica do Materialismo Histórico Dialético e das Diretrizes

Curriculares, bem como, o que entendiam por lógica dialética e lógica formal e como

estas são operacionalizadas em sala de aula.

Sem uma leitura e discussão prévia das Diretrizes e da bibliografia

complementar, as respostas foram vagas e soltas, como por exemplo: a lógica

dialética é buscar maneiras diferentes de dar aula. Destacaram que a lógica formal

baseia-se em aulas expositivas e na realização de provas e que na lógica dialética

deveria ter um diálogo entre professor e aluno.

Realizamos então uma leitura das Diretrizes Curriculares do Estado do

Paraná, a qual gerou mais comentários, nos quais alguns professores relataram que

realmente têm dificuldades em compreender a fundamentação teórica e

operacionalizar o método contido nas Diretrizes Curriculares.

Na sequência fizemos a apresentação dos vídeos musicais: “Problema

social” e “Burguesinha”. Estes vídeos trouxeram importantes contribuições sobre

questões sócio-econômicas e culturais, visto que, retratam uma realidade

encontrada no cotidiano escolar atual. Pois se estamos defendendo a aplicação de

um método de ensino, a realidade escolar tem que ser considerada no ponto de

partida.

Após a leitura das Diretrizes Curriculares e reflexão sobre os vídeos, os

professores sentiram-se mais a vontade para falar das contradições sociais e da

necessidade de se pensar o ensino na escola pública. Em suas falas, eles colocam

a necessidade de pensar uma escola pública que favoreça a diminuição das

desigualdades, bem como, pensar uma escola pública que contribua coma formação

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de trabalhadores e de cidadãos com capacidade reflexiva. A escola deve possibilitar

que seus alunos reflita sobre seus projetos de vida, suas ações. Deste modo, o

currículo deve lhe servir de base e sustentação da sua reflexão e ação. A escola

deve refletir sobre sua prática em relação a cultura local, nacional e global. Hoje,

mais que nunca, necessita-se de uma escola que leve o aluno a se auto-avaliar no

contexto sócio-econômico e que conheça suas necessidades e possibilidades de

atuação, social, econômica e política.

No contexto escolar atual é necessário verificar que o discurso da livre

iniciativa tem predominado, enquanto se coloca em suspeita a forma tradicional de

ensinar. Neste aspecto, afirma-se que deve se verificar a subjetividade de cada

aluno, que cada aluno aprende em tempos diferentes. O que parece plausível com a

ação do professor em sala, porém, muito problemática, quando este torna-se regra e

gera na escola, o descompromisso com o ensino. Nosso interesse, ao trazer para a

reflexão as DCE do Estado do Paraná era pontuar que o ensino escolar, seu

conteúdo e método revelam uma perspectiva teórica. Esta perspectiva se baseia no

interesse de provocar a reflexão por intermédio do conhecimento. Nesta perspectiva

a socialização do conhecimento científico e compromisso do professor e da escola.

3.2 Segundo encontro

Iniciamos o segundo encontro questionando sobre a compreensão da teoria.

Novamente observamos que os conceitos apresentados eram vagos e confusos.

Muitas respostas se pautavam nos conceitos apresentados em dicionários, da

mesma forma que Otaviano Pereira relata em sua obra “O que é teoria”.

De acordo com Pereira (1988), nos dicionários o conceito de teoria está

atrelado à abstração e ação contemplativa do ser, ou seja, uma antítese da prática.

Todavia, observa o autor que na lógica dialética, a teoria e a prática dialogam, ou

seja, há uma sincronia entre o agir humano e o ato de pensar sobre este agir.

Para tanto, na lógica dialética,

[...] a ação do homem é ação teórica, ação refletida, ação de sentido, por mais estúpida que seja. [...] A ação do homem é duplamente transformadora. Transforma a natureza e, ao transformá-la, transforma a si

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mesmo. Em maior ou menor medida é a práxis. Ainda, em nível superior esta ação transformadora (práxis) é que chega ao estágio de ação revolucionária. (PEREIRA, 1988, p. 72).

Esta reflexão inicial nos deu maior segurança para a sequência de trabalho

que era a reflexão sobre a relação teoria e prática na lógica formal e na lógica

dialética. Este conteúdo se fez com base na obra “O que é teoria” de Octaviano

Pereira e a reflexão teve muita relevância, pois foi dialogada e exemplificada com

situações reais do cotidiano escolar.

Na sequência passamos ao recorte do filme o Sorriso de Monalisa. Fizemos

a apresentação das duas lógicas em situação real de sala de aula. A apresentação

contribuiu para que pudéssemos nos visualizar em sala. Nesse momento

percebemos o papel do professor, que munido de um método de ensino, pode

ofertar uma maior capacidade reflexiva aos seus alunos. Sabemos que os fatores

que impossibilitam na oferta da escola pública de qualidade são inúmeros. Mas, este

também foi um momento de reconhecimento da capacidade que os professores têm

em sua forma de atuação em sala. A capacidade de reflexão dos alunos pode ser

ampliada se o professor conduzir sua explanação por meio da lógica dialética.

Então, questionou-se sobre como a forma tradicional de ensino que está

presente nas práticas dos professores e como esta se manifesta em sala de aula.

Apesar dos professores reconhecerem a existência da forma tradicional na sala de

aula, tiveram dificuldades em reconhecer como esta perdurava em suas práticas.

Isso nos fez compreender que os professores têm dificuldade ainda em

compreender a lógica formal, bem como, a dialética no processo de ensino. Porém,

alguns professores aproveitaram o momento para externar os conflitos vivenciados

em sala de aula. Segundo um professor: Para que uma escola atenda aos anseios

dos alunos, necessita-se diminuir consideravelmente o número de alunos por turma.

Necessita-se também de materiais adequados, incluindo laboratório. Os professores

necessitam ter tempo disponível de estudos e de preparação das aulas, bem como

melhores salários pra ter acesso à cultura e tecnologia mais avançadas. Também

levantou-se a problemática do currículo que é muito extenso para pouco tempo em

sala. Por fim, os professores colocaram que necessita haver interesse por parte dos

alunos.

Acerca do exposto consideramos que o segundo encontro foi produtivo na

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medida que as participantes reconheceram os fatores que interferem na oferta do

ensino de qualidade e reconhecem que necessitam aprofundar os estudos sobre os

fundamentos da proposta pedagógica. Apesar de terem dificuldades em pensarem o

processo de ensino na perspectiva lógica, houve um avanço considerável na medida

que se explicita a necessidade de observar este campo do processo, bem como, a

necessidade de aprofundar os estudos.

3.3 Terceiro encontro

No terceiro encontro iniciamos com a exposição dos slides sobre os

fundamentos da dialética, as leis da dialética marxista e suas categorias.

Retomamos brevemente o conteúdo do 2º encontro: lógica formal e lógica

dialética, ,principalmente a discussão sobre as contradições e superação por

incorporação existentes entre ambas.

Após a apresentação dos slides e discussão das categorias da Dialética

marxista desenvolvemos uma dinâmica de grupo, com a letra da música do cantor

Lulu Santos, “Como uma onda”. Iniciamos a reflexão sobre como pensar a dialética

em nossas vidas. Para essa dinâmica solicitou-se que os participantes tentassem

emitir o som do mar com o barulho de uma folha sulfilte e ao término da música

deveriam amassar o sulfite e tentar novamente fazer o mesmo som da onda do mar.

Todos participaram. Essa dinâmica, serviu de introdução para percepção de que a

folha de sulfite já não fazia o mesmo barulho após amassado. A ação humana muda

a natureza e ao transformá-la muda a si mesmo. Aquele exercício que muda a

característica da folha, muda o olhar do homem sobre a folha.

A reflexão extraída deste trabalho era apontar que estamos mudando

constantemente a cada situação vivenciada. A exemplo da música: tudo muda o

tempo todo. Posterior a esta dinâmica, retornou-se o conceito de dialética no

marxismo, novamente foram apontados quais são suas leis e categorias presentes.

O grupo passou a compreender que o método de ensino está estruturado

em leis lógicas. Este encontro foi interessante, pois o grupo percebeu que a ação

pedagógica a partir da lógica dialética exige um tratamento diferenciado do conteúdo

escolar, o qual, não se limita a definições, mas tal definição estão relacionadas à

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forma do homem ver o mundo, desta forma, está sempre em transformação. Tal

percepção pode ser comprovada nas atividades desenvolvidas posteriormente, em

que os professores tiveram como foco apontar quais eram os elementos distintos na

lógica formal e na lógica dialética, e como se compreende suas leis no plano de

aula. O desafio foi pensar a aplicação do método na sala. Como executar um plano

de aula seguindo a lógica dialética.

3.4 Quarto encontro

No quarto encontro apresentamos os slides da metodologia da lógica

dialética proposta por Almeida, Oliveira e Amoni (2007). Na sequência passamos o

vídeo: tecnologia ou metodologia; que serviu de suporte ao conteúdo apresentado.

Os professores fizeram várias observações, apesar de ainda apontar

dificuldade em aplicar a mediação dialética em sala, reconheceram a importância da

metodologia pretendida. Reconheceram também que um bom planejamento da aula

ajuda bastante na organização e reflexão de um conteúdo.

Relataram que alguns passos da lógica são desenvolvidos por eles, mesmo

sem ter a consciência da mesma. Em seus relatos, observamos que o estudo da

metodologia da lógica dialética contribui e muito para compreenderem seus métodos

de ensino, seus limites e possibilidades de avançar na aplicabilidade do

Materialismo Histórico Dialético em sala de aula. A discussão do texto e a exibição

do filme contribuiu para expressar como o ensino escolar não depende só da

tecnologia, mas esta deve estar associada ao método de ensino.

3.5 Quinto encontro

O quinto encontro foi o momento em que os professores separaram o

conteúdo para a elaboração de suas aulas. Retomando o texto de Almeida, Oliveira

e Arnoni (2007), reunimo-nos em grupo e conforme os professores tinham dúvidas,

algumas orientações foram repassadas afim de auxiliá-los e direcioná-los. Os textos

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de apoio, estavam sempre presentes para consultas. Ao término do planejamento,

os professores apresentaram suas propostas de aulas e na sequência os colegas

fizeram perguntas e sugestões.

No final do quinto encontro, pudemos refletir sobre a perspectiva teórica

contida nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná em relação à sala de aula,

ou seja, o plano de aula executado pelo professor. Neste espaço, pode-se destacar

o papel do professor, mesmo que cheio de limites, se importando no

desenvolvimento de uma escola compromissada com a socialização do

conhecimento científico.

A seguir escolhemos um dos planejamentos de aula para aplicar em sala. A

aula escolhida saiu de uma professora que atua numa escola pública no município

de Cascavel/PR, em uma turma de curso técnico subsequente, ministrando aulas na

disciplina de Internet e Programação Web. A partir deste trabalho, realizamos um

relato do planejamento apresentado na seção anterior. Para tanto, observamos uma

aula (4horas/aula) numa turma de Curso Técnico Subsequente, do período noturno,

composta por 29 alunos. Vale observar que a disciplina foi de Internet e

Programação Web.

Conteúdos:- Programação web, conceitos.- Tag- comandos básicos.- Práticas de construir paginas.- Exemplos de paginas.

Objetivo geral:Compreender o objetivo da Programação Web

Objetivo específico:Compreender o uso social da Web, seus aspectos positivos e negativos.

Recursos didáticos:- Aula expositiva dialogada, com questionamentos. - Busca de informações sobre experiências na área, apontando os pontos positivos e negativos;- Explicação do que é e quais os conceitos de programação web;- Ver páginas de web e criar uma página.

Avaliação: Questões referentes ao uso da web, a partir de exercícios práticos, onde o aluno criará uma página.

Referência: TONSON Laura, WELLING Luke. Php e Mysql: Desenvolvimento da Web. Campus.Apostila de Html para inciantes.

Figura 1 - Plano de aula elaborado pela professora que participou do projetoFONTE: Dados da oficina

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4 Após os encontros a observação em sala de aula

Conforme já havíamos comentado, a quarta parte do trabalho consistiu na

observação da prática de sala de aula. Na execução das aulas pode-se observar o

esforço da professora em aplicar o que foi estudado no grupo, bem como, a reação

dos alunos perante as aulas.

A professora inicia a aula perguntando aos alunos se já ouviram falar, ou se

já trabalharam, com HTML, ou seja, uma linguagem de programação para se criar

páginas na internet. Apenas um aluno responde que trabalhou com essa linguagem

de programação, mas observou que ainda tem pouco conhecimento à respeito.

Na sequência, a professora explicou o conteúdo, salientando que a

linguagem HTML é a base para criação de páginas da internet. Para tanto, ela

contextualiza brevemente o surgimento da Web, como ela é utilizada no contexto

atual, pontos positivos e negativos de seu uso. Posteriormente, passa a expor no

quadro os códigos utilizados para construção de páginas da internet. Observamos

que durante a exposição da professora, os alunos se mostraram bastante atentos.

Ao final, da exposição a professora questiona os alunos se eles possuem alguma

dúvida acerca do conteúdo explicado. Nesse momento, um dos alunos comentou

que teoricamente é difícil compreender, mas acredita que quando foram aplicar esse

conhecimento na construção de páginas da internet, pode ficar mais fácil a

compreensão.

A professora concorda com o argumento do aluno e dá continuidade a

explicação dos comandos, chamando a atenção para alguns, que, segundo ela, são

mais importantes. Conforme a professora expunha os comandos no quadro, os

alunos copiaram o conteúdo no caderno.

Terminado a explicação dos comandos, a professora entrega aos alunos

uma folha com algumas questões:

1 – Conhece alguma coisa sobre programação?

2 – Teve alguma experiência na prática, se sim, comente.

3 - Quais são os principais comandos para se montar uma página?

4 – Qual o principal aplicativo que pode ser usado para programar o HTML?

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A professora deu aproximadamente 15 minutos para os alunos responderem

as questões, com apoio das informações anotadas no caderno. Passado o tempo, a

professora selecionou alguns alunos para exporem as respostas. Com essa prática

foi possível verificarmos que apenas dois alunos tinham algum conhecimento sobre

programação (questão 1).

Posteriormente, os alunos se dirigiram para o laboratório de informática.

Nesse espaço, dois alunos ficaram sem computador e tiveram que sentar com

colegas. O objetivo desta atividade era treinar os comandos ensinados

anteriormente, os quais são utilizados na criação de uma página na internet.

No Laboratório de Informática, a professora passou alguns exercícios, que

precisavam ser elaborados pelos alunos no computador. Durante a execução do

exercício, a professora era frequentemente solicitada pelos alunos para sanar

dúvidas que surgiam ao longo da prática. Entre os 29 alunos, um apresentou maior

dificuldade e a professora solicitou que praticasse mais em sua residência.

No desenvolvimento da aula, percebemos que a professora possui um

significativo conhecimento técnico e científico a cerca do conteúdo explorado na

disciplina. Também se mostrou o tempo todo preocupada com o desenvolvimento

técnico dos alunos. Mas ao analisarmos o conjunto de toda a aula, apesar da

professora buscar seguir os passos propostos por Almeida, Oliveira e Arnoni (2007),

ou seja, resgatar, problematizar, sistematizar e produzir, verificamos que a

professora apresentou limites ao buscar refletir sobre o conteúdo na lógica dialética,

vissto que sua análise histórica da Web página não conseguiu ir muito além de

apontar alguns dados históricos. Não fez com que o aluno refletisse sobre o

significado da Web em sua forma de trabalho e vida social.

A professora mostrou-se consciente de não ter conseguido atingir todos os

objetivos da aula e ao fazer a análise da própria aula disse que o conteúdo referente

a essa disciplina é muito técnico, e ela tem dificuldade em relacioná-lo com o

contexto sócio-histórico.

5 CONCLUSÃO

No desenvolvimento de Unidade Didática as dificuldades foram maiores do

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que as imaginadas. De todas as dificuldades encontradas nos remetemos apenas ao

fato de que os professores apesar de reconhecerem as Diretrizes Curriculares do

Estado do Paraná, apresentam muitas em operacionalizar tal concepção em sala de

aula. Também existe a dificuldade em compreender o significado da lógica do

raciocínio expresso no conteúdo escolar e relacionar esta lógica a lógica expositiva

de sua aula. Apesar destas dificuldades, podemos dizer que o desenvolvimento da

Unidade Didática conseguiu atingir seus objetivos, isto é, de compreender e aplicar

em sala de aula a perspectiva da mediação dialética.

No início das primeiras atividades, os professores envolvidos com o projeto

sentiram dificuldades em compreender a aplicação do Materialismo Histórico

Dialético em sala. Porém, a exposição de filmes e letras das músicas, refletidas com

base no referencial teórico, possibilitou avançarmos, visto que estes recursos

permitiram localizar as diferenças entre a escola sem significado par ao aluno e a

escola que busca apontar sentido ao conteúdo.

Ao longo dos encontros, observamos que o grupo sentia necessidade de

relatar situações de sala de aula que eles já desenvolveram e que, segundo eles,

está fundamentada na lógica dialética. Mas, ao analisar os relatos, avaliamos que

são ações soltas, que não seguiam uma relação com a totalidade escolar e social.

Destacamos também que, no desenvolvimento das atividades, todos os

professores mostraram interesse em modificarem suas práticas. Entretanto, com

justa razão, apontaram que tal metodologia de ensino exige tempo para preparar a

aula, laboratórios bem mais equipados e alunos mais comprometidos com o

aprender.

Sobre esta observação, destacamos também que, atualmente, é comum

presenciarmos uma relação de desrespeito do aluno para com o professor, o

conteúdo escolar e à escola. Para haver ensino é necessário ter professor, mas

também o aluno que tenha compromisso com o aprender.

Frente a todo o trabalho realizado, observamos que no momento do

planejamento das aulas houve um avanço no entendimento das Diretrizes

Curriculares e das categorias do método Materialista Histórico Dialético. Entretanto,

prática de sala de aula observada, constatamos a necessidade de mais cursos de

formação para os professores. Também há necessidade de que mais professores

tenham oportunidade de fazer uma análise da prática em sala de aula. É necessário

o professor repensar sobre sua prática, para isto ele necessita se distanciar para

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aproximar com um novo olhar. Acreditamos que esse exercício de auto-análise

possa contribuir para compreenderem o quando a prática de sala de aula ainda está

distante do que preconiza as Diretrizes Curriculares. Neste sentido, o PDE mostra

um aspecto importante que deve ser perseguido e ampliado.

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