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Ações de promoção à saúde e prevenção de doenças: o papel da ANS. Dina Czeresnia Texto elaborado para o Fórum de Saúde Suplementar. Julho de 2003

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Ações de promoção à saúde e prevenção de doenças: o papel

da ANS.

Dina Czeresnia

Texto elaborado para o Fórum de Saúde Suplementar. Julho de 2003

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Sumário

I- Antecedentes históricos

II- O regime regulatório e o incentivo a projetos em promoção da saúde e prevenção

de doenças

II a - Promoção da saúde

II b - Prevenção de doenças

III - Conclusão

IV - Bibliografia

V – Anexo

3

I - Antecedentes Históricos

A relação entre saúde e condições gerais de vida das populações, foi constatada

e explicitada na própria origem da medicina moderna. Especialmente no final do

século XVIII e na primeira metade do século XIX, o processo de urbanização e

industrialização na Europa provocou grandes transformações sociais: as condições de

vida e de trabalho nas cidades estavam deterioradas e se fizeram acompanhar de um

aumento da ocorrência de epidemias. Os médicos, envolvidos com o intenso

movimento social que emergiu nesse período, ao relacionarem a doença com o

ambiente, articulavam-no também às relações sociais que o produziam. A medicina

fundia-se à política e expandia-se em direção ao espaço social, como literalmente

expressou Virchow na célebre frase citada por Rosen (1979:80): "A medicina é uma

ciência social e a política nada mais é do que a medicina em grande escala". As

ocorrências das doenças foram então associadas às condições de existência e às

formas de vida dos indivíduos, transformando-se historicamente de acordo com estas

condições.

Esse pensamento identificava-se na época com a perspectiva anticontagionista,

que atribuía a doença a um desequilíbrio do conjunto de circunstâncias que interferem

na vida de um indivíduo ou de uma população, constituindo uma predisposição

favorável ao surgimento de doenças. O movimento contagionista, que ao contrário,

enfatizava a necessidade de precisar uma causa específica como origem da doença,

era na época considerado conservador e ultrapassado (Ackerknecht, 1948). Porém,

tornou-se de certa forma vitorioso quando ganhou uma qualidade distinta com o

surgimento da teoria dos germes (Czeresnia, 1997).

As doenças passaram então a ser compreendidas como a relação entre agente

etiológico, alterações fisiopatológicas e um conjunto de sinais e sintomas. A explicação

microbiológica para a causa das enfermidades forneceu à medicina a condição de

interferir no curso das doenças transmissíveis, que eram o principal problema de

saúde pública (Nunes, 1998). O doente e o seu ambiente passaram para um plano

secundário e estabeleceu-se uma relação de causa e efeito entre germe e doença. A

preocupação principal do médico tornou-se a doença, e não o paciente (Rosen 1979:

115).

4

O conflito entre aqueles que propunham prioritariamente causas e intervenções

gerais – por exemplo, sobre a fome e a miséria – e os que buscavam prioritariamente

causas e intervenções específicas, continuou existindo. Mckeown (1979), por

exemplo, demonstrou que a redução da mortalidade na Inglaterra depois de 1840 foi,

em escala muito maior, devida ao desenvolvimento econômico, a uma melhor nutrição

e outras mudanças favoráveis ao nível de vida do que às intervenções específicas da

medicina.

Porém, a poderosa influência bacteriologia no desenvolvimento da medicina

interferiu para o privilegiamento de intervenções específicas, individualizadas, de

cunho predominantemente biológico, centradas no hospital e com progressiva

especialização e incorporação indiscriminada de tecnologia. Consolidou-se a posição

privilegiada da medicina e dos médicos na definição dos problemas de saúde e na

escolha das ações necessárias ao controle, tratamento e prevenção das doenças

(Torres & Czeresnia, 2003).

O movimento da medicina preventiva surgiu, entre o período de 1920 e 1950

na Inglaterra, EUA e Canadá, em um contexto de crítica à medicina curativa. Este

movimento propôs uma mudança da prática médica através de reforma no ensino

médico, buscando a formação de profissionais médicos com uma nova atitude nas

relações com os órgãos de atenção à saúde; ressaltou a responsabilidade dos médicos

com a promoção da saúde e a prevenção de doenças; introduziu a epidemiologia dos

fatores de risco, privilegiando a estatística como critério científico de causalidade

(Arouca, 1975, Torres, 2002).

Segundo Arouca (1975), o discurso da medicina preventiva emergiu em um

campo formado por três vertentes: a Higiene, que surgiu no século XIX; a discussão

dos custos da assistência médica; a redefinição das responsabilidades médicas que

aparece no interior da educação médica. O autor destaca vários níveis de crítica,

feitas por esse discurso, ao modelo vigente de formação e prática médicas:

“1º - Da ineficiência da prática, desde que centralizou-se na intervenção terapêutica,

descuidando-se da prevenção da ocorrência, o que levou inevitavelmente ao

5

encarecimento da atenção médica e à redução do seu rendimento. A medicina

curativa, portanto, caracteriza-se pela ausência de racionalidade.

2º - Da especialização crescente da medicina, fazendo com que o homem fosse cada

vez mais reduzido a órgãos e estruturas, perdendo-se completamente a noção de sua

totalidade. Este fato levou a desenvolvimento de uma prática instrumental e ao

desaparecimento do humanismo médico.

3º - Do conhecimento médico desenvolvido com um enfoque predominantemente

biológico. Esta conceituação, saúde como um estado de completo bem estar físico,

mental e social, abriu um novo espaço de crítica à prática médica, quando se

percebeu a dominação biológica em uma área do conhecimento que se afirmava tri

dimensional e, portanto, exigia uma abordagem multidisciplinar (biologia, ciências

sociais e psicologia).

4º - Das relações da medicina com a comunidade, pois a medicina curativa, realizada

dentro de um contexto de interesses puramente individualista, desvinculou-se dos

reais problemas de saúde da população.

5º - Da educação médica que dominada pela ideologia curativa, estava formando

profissionais que não atendiam às necessidades de atenção médica das comunidades.

Esse problema agravava-se para os países subdesenvolvidos, que estavam formando

médicos segundo os padrões dos países desenvolvidos e que, portanto, eram

estranhos ao seu próprio meio social. (Arouca, 1975, p 9)

O termo promoção da saúde foi utilizado pela primeira vez por Sigerist,

historiador da medicina quando, em 1945, ele definiu quatro funções da medicina:

promoção da saúde, prevenção da doença, restauração do doente, reabilitação

(Terris, 1996).

A base conceitual do movimento da medicina preventiva foi sistematizada no

livro de Leavell & Clark “Medicina Preventiva” (1976), cuja primeira edição surge em

1958:

- A “tríade ecológica” que define o modelo de causalidade das doenças a

partir das relações entre agente, hospedeiro e meio-ambiente.

6

- O conceito de história natural das doenças definido como “todas as inter-

relações do agente, do hospedeiro e do meio ambiente que afetam o processo

global e seu desenvolvimento, desde as primeiras forças que criam o estímulo

patológico no meio ambiente ou em qualquer outro lugar (pré-patogênese),

passando pela resposta do homem ao estímulo, até às alterações que levam a

um defeito, invalidez, recuperação ou morte (patogênese)” (Leavell & Clarck,

1976:15).

- O conceito de prevenção definido como “ação antecipada, baseada no

conhecimento da história natural a fim de tornar improvável o progresso

posterior da doença” (Leavell & Clarck, 1976:17). A prevenção apresenta-se

em três fases: primária secundária e terciária (ver quadro I). A prevenção

primária é a realizada no período de pré-patogênese. O conceito de promoção

da saúde aparece como um dos níveis da prevenção primária, definido como

“medidas destinadas a desenvolver uma saúde ótima” (17). Um segundo nível

da prevenção primária seria a proteção específica “contra agentes patológicos

ou pelo estabelecimento de barreiras contra os agentes do meio ambiente”

(17). A fase da prevenção secundária também apresenta-se em dois níveis: o

primeiro, diagnóstico e tratamento precoce e o segundo, limitação da

invalidez. Por fim, a prevenção terciária que diz respeito a ações de

reabilitação (Leavell & Clarck, 1976).

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Quadro I - Níveis de aplicação da medicina preventiva segundo Leavell &

Clarck (1976)

Prevenção Primária Prevenção Secundária Prevenção

Terciária

Promoção da Saúde

educação sanitária;

bom padrão denutrição, ajustado àsvárias fases dedesenvolvimento davida;

atenção aodesenvolvimento dapersonalidade;

moradia adequada,recreação econdições agradáveisde trabalho;

aconselhamentomatrimonial eeducação sexual;genética;

exames seletivosperiódicos”

Proteção

específica

uso deimunizaçõesespecíficas;

atenção à higienepessoal;

hábito desaneamento doambiente;

proteção contrariscosocupacionais;

proteção contraacidentes;

uso de alimentosespecíficos;

proteção contrasubstânciascarcinogênicas;

evitação contraalergenos

Diagnóstico e tratamentoprecoce

medidas individuais e coletivaspara descoberta de casos;

pesquisas de triagem examesseletivos;

objetivos:

curar e evitar o processo dadoença;

evitar a propagação dedoenças contagiosas;

evitar complicações eseqüelas;

encurtar o período de invalidez

Limitação da invalidez

tratamento adequadopara interromper oprocesso mórbido eevitar futurascomplicações eseqüelas;

provisão de meios paralimitar a invalidez eevitar a morte;

Reabilitação

prestação deserviçoshospitalares ecomunitários parareeducação etreinamento, a fimde possibilitar autilização máximadas capacidadesrestantes;

educação dopúblico eindústria, nosentido de queempreguem oreabilitado;

emprego tãocompleto quantopossível;

colocaçãoseletiva;

terapiaocupacional emhospitais;

utilização de asilos

In: Leavell & Clark (!976)

As propostas de promoção da saúde em Leavell & Clark privilegiavam ações

educativas normativas voltadas para indivíduos, famílias e grupos (Buss, 2003). O

ideário da medicina preventiva acabou por produzir uma redução dos aspectos sociais

do processo saúde e doença, naturalizando-os ao construir modelos explicativos

ahistóricos do adoecer humano (Arouca, 1975). Sem dúvida, as ações de promoção

da saúde, apresentadas como componente da prevenção primária, estão bem aquém

da contundente compreensão da relação entre saúde e sociedade expressa nos

estudos de medicina social no século XIX.

A concepção de níveis de prevenção foi incorporada ao discurso da Medicina

Comunitária no Brasil na década de 1960 e orientou o estabelecimento de níveis de

atenção nos sistemas e serviços de saúde que vigora até hoje. Foi amplamente

difundida durante os anos 70 e 80 juntamente com as propostas de Atenção Primária

em Saúde e a idéia de “saúde para todos no ano 2000”, contida na declaração de

Alma-Ata (Teixeira, 2001). Contudo, o desenvolvimento da medicina no Brasil

manteve a predominância de uma prática individual, com enfoque curativo dos

problemas de saúde e a as dicotomias teoria-prática; psíquico-orgânico; indivíduo

sociedade (Torres, 2002).

Nos países do primeiro mundo, o desenvolvimento da perspectiva de prevenção

de doenças direcionou-se aos estudos clínicos e epidemiológicos voltados para

doenças não transmissíveis ou crônico degenerativas. Isto ocorreu em função da

chamada transição epidemiológica, a partir da década de 1950. Técnicas de exames

complementares com sofisticação crescente aperfeiçoaram as ações preventivas com

base no diagnóstico precoce. Foram construídos recursos poderosos para prevenção

de doença, incapacidade e morte por problemas como cardiopatia isquêmica, algumas

formas de câncer, doenças pulmonares obstrutivas crônicas, etc. Este processo foi

decorrente das pesquisas biológicas e epidemiológicas sobre agentes causais e fatores

de risco. Relacionou-se as doenças degenerativas à fatores causais do ambiente como

radiações, substâncias químicas tóxicas e a estilos de vida como hábito de fumar,

consumo de alimentos gordurosos, de álcool e falta de exercício (Terris, 1996).

Este processo foi coexistente com a ampliação da tendência de capitalização

intensiva e aumento da despesa da produção de serviços médicos em todos os

sistemas. A lógica da medicina curativa manteve-se hegemônica. Mudanças no padrão

9

demográfico, a crescente sofisticação da tecnologia médica, a conseqüente demanda,

também crescente, para tratamentos capazes de salvar e prolongar a vida,

mobilizaram a necessidade de examinar mais de perto a natureza dos recursos dos

serviços de saúde e a maneira com que são liberados (Parmenter, 1996).

No Quadro II, Parmenter (1996) apresenta alguns cenários que evidenciam a

magnitude dos custos da atenção à saúde:

Quadro II - Exemplos de custos de intervenções médicas

Paciente idade condição médica prognósticocusto do

tratamento

Michael RN Prematuro (27semanas) Peso aonascer 900 g;

Chances deproblemas de longoprazo < 10%

US$ 48.000

Margaret 68 anos Artrose na articulaçãodo fêmur – dorextrema

Dor irá cessar apóscirurgia na articulação

US$ 7000

Geoff 35 anos Descolamento deretina – perda davisão

Recuperação da visãoapós cirurgia

US$ 3000

Janet 46 anos Câncer de laringe(possivelmenterelacionado à históriade fumo)

Após cirurgia delaringe seguida deradioterapia, terá75% de chance deviver até a velhice

US$ 14000

Fred 42 anos Estágio final deinsuficiência renaldevida àglomerulonefrite

Requer tratamento dehemodiálise três vezespor semana

US$ 45000

Fonte: adaptado de Counting the Cost of the Good Life (1991)

In: Parmenter (1996)

A incorporação de alta tecnologia elevou progressivamente os custos dos

procedimentos, conduzindo os sistemas de saúde dos países ocidentais à uma crise

estrutural. Esta crise gerou a necessidade de reformas nos sistemas de saúde. Daí, o

resgate de propostas que, na origem, tenderam a ficar subalternas. É nesse contexto

10

que, especialmente no Canadá, ampliou-se a idéia de promoção da saúde (Teixeira,

2001).

O Informe Lalonde, documento oficial do Governo do Canadá publicado em

1974, é um dos marcos desta tendência. Este documento define o conceito de campo

da saúde como constituído de quatro componentes: biologia humana, meio ambiente,

estilos de vida e organização da atenção à saúde. Esta definição está mais ajustada ao

conhecimento construído no âmbito da epidemiologia de doenças não transmissíveis,

apresenta uma orientação claramente preventiva (Terris, 1996) e uma referência

explícita à necessidade de racionalização dos gastos com assistência à saúde:

“Até agora, quase todos os esforços feitos pela sociedade para melhorar a

saúde e a maioria dos gastos diretos em saúde centraram-se na organização dos

serviços de atenção sanitária. Sem dúvida, quando identificamos as principais causas

atuais de doença e morte no Canadá, vemos que estão arraigadas nos outros três

elementos do conceito: biologia humana, meio ambiente e estilos de vida. Portanto, é

evidente que gasta-se grandes somas no tratamento de doenças que poderiam ser

evitadas” (Lalonde, 1974, apud Terris, 1996; 39,40).

Dentro desta perspectiva, mudanças de estilo de vida ou comportamentos

relativos à alimentação, exercícios físicos, fumo, drogas, álcool, conduta sexual são

reafirmadas nas estratégias de promoção da saúde propostas. Além disso, resgata-se

a compreensão do papel fundamental das condições gerais de vida sobre a saúde.

A Carta de Ottawa, resultado da I Conferência Internacional sobre Promoção de

Saúde, realizada em 1986, afirma oficialmente a constatação de que os principais

determinantes da saúde são exteriores ao sistema de tratamento. Este documento

postula a idéia da saúde como qualidade de vida resultante de complexo processo

condicionado por diversos fatores, tais como, entre outros, alimentação, justiça social,

ecossistema, renda e educação. No Brasil, a conceituação ampla de saúde assume

destaque nesse mesmo ano, tendo sido incorporada ao Relatório Final da VIII CNS

(1986): “Direito à saúde significa a garantia, pelo Estado, de condições dignas de vida

e de acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção e

recuperação da saúde, em todos os seus níveis, a todos os habitantes do território

nacional, levando ao desenvolvimento pleno do ser humano em sua individualidade”

(CNS, 1986:).

11

É conquista inegável o reconhecimento oficial dos limites do modelo sanitário

restrito à medicina, estimando-se que ele deve estar integrado às dimensões

ambiental, social, política, econômica, comportamental, além da biológica e médica

(Carvalho, 1996). As ações próprias dos sistemas de saúde precisam estar

articuladas, sem dúvida, a outros setores disciplinares e de políticas governamentais

responsáveis pelos espaços físico, social e simbólico. Essa relação entre

intersetorialidade e especificidade é, não obstante, um campo problemático, pois

sustenta uma tensão entre a demarcação dos limites da competência específica das

ações do campo da saúde e a abertura exigida à integração com outras múltiplas

dimensões.

Apesar de configurar avanço inquestionável tanto no plano teórico quanto no

campo das práticas, a conceituação positiva de saúde traz novo problema. Ao

considerar-se saúde em seu significado pleno, está-se lidando com algo tão amplo

como a própria noção de vida. Promover a vida em suas múltiplas dimensões

envolve, por um lado, ações do âmbito global de um Estado e, por outro, a

singularidade e autonomia dos sujeitos (Czeresnia, 1999).

A Carta de Ottawa aponta questões muito amplas como condições e recursos

fundamentais para a saúde: paz, recursos sustentáveis, justiça social, equidade. Ao

mesmo tempo, define promoção da saúde como “o processo de capacitação da

comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma

maior participação no controle deste processo”. Esta ampla gama de pré-requisitos se

expressa nos cinco campos de ação preconizados para a promoção da saúde:

1- Elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis.

2- Criação de ambientes favoráveis à saúde.

3- Reforço da ação comunitária.

4- Desenvolvimento de habilidades pessoais

5- Reorientação do sistema de saúde.

Inúmeros eventos internacionais, publicações conceituais e resultados de

pesquisas práticas foram elaborados no decorrer dos últimos 15 anos (Buss, 2003),

evidenciando a grande diversidade de perspectivas contempladas no campo da

promoção da saúde.

12

Por um lado, observa-se uma tendência que privilegia, nos projetos em

promoção da saúde, a dimensão comportamental e do autocuidado. Alguns autores

ressaltam que esse discurso está apropriado à perspectiva de regulação social no

contexto de crise do welfare state e de reformas no estado de cunho neoliberal,

objetivando a diminuição das responsabilidades do estado e delegando aos sujeitos a

tarefa de tomarem conta de si mesmos (Petersen, 1997, Lupton, 1995). Por outro

lado, afirmam-se perspectivas que enfatizam, ao contrário, o compromisso do estado

na elaboração de políticas públicas intersetoriais, voltadas à melhoria da qualidade de

vida das populações.

Os conceitos de prevenção de doenças e de promoção da saúde não se

distinguem claramente na prática do setor saúde. As práticas em promoção da saúde,

da mesma forma que as de prevenção de doenças, fazem uso do conhecimento

técnico e científico específico do campo da saúde.

No espaço clínico, as atividades de promoção da saúde não se diferenciam de

intervenções de prevenção de doenças. Estas intervenções podem ser

tradicionalmente médicas, como imunização, screening, ou tratamento com

quimioterápicos, ou envolver intervenções educativas sobre mudanças de estilos de

vida individuais. Os profissionais de saúde podem estar envolvidos em ações de

promoção de saúde mais amplas, como desenvolvimento comunitário, ou

influenciando a formulação de políticas de saúde (Florin & Basham, 2000).

II – O regime regulatório e o incentivo a projetos em promoção da saúde e

prevenção de doenças.

A finalidade institucional da ANS, segundo o Art. 3º da lei nº 9.961, é

“promover a defesa do interesse público na assistência suplementar à saúde,

regulando as operadoras setoriais, inclusive quanto às suas relações com prestadores

e consumidores, contribuindo para o desenvolvimento das ações de saúde no País”.

O incentivo a ações de promoção da saúde e prevenção de doenças no âmbito

da saúde suplementar corresponderia à competência da ANS prevista no artigo 29-A

da lei 9656. Este artigo define que “a ANS poderá celebrar com as operadoras termo

de compromisso, quando houver interesse na implementação de práticas que

consistam em vantagens para os consumidores, com vistas a assegurar a manutenção

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da qualidade dos serviços de assistência à saúde”. Complementar a este artigo, estão

os seguintes parágrafos:

§ 1o O termo de compromisso referido no caput não poderá implicar restrição de

direitos do usuário.

§ 2o Na definição do termo de que trata este artigo serão considerados os critérios de

aferição e controle da qualidade dos serviços a serem oferecidos pelas operadoras.

§ 3o O descumprimento injustificado do termo de compromisso poderá importar na

aplicação da penalidade de multa a que se refere o inciso II, § 2o, do art. 29 desta Lei.

Duas perspectivas fundamentais, apresentadas no discurso da promoção da

saúde e prevenção de doenças não são, em princípio, contraditórias: a melhoria das

condições de saúde e da qualidade de vida; a conseqüente redução dos gastos com

assistência médica de alto custo. O estímulo ao desenvolvimento de programas com

este enfoque poderia convergir objetivos do interesse público e do mercado.

A coexistência ideal desses objetivos, contudo, não é simples de ser alcançada

no contexto do mercado. Escolhas divergentes tendem a ser concretizadas com o

objetivo predominante do lucro. O mercado não é o canal mais apropriado para prover

atenção à saúde, pois não consegue fazer a provisão adequada de bens públicos,

apresenta uma inerente distribuição injusta de serviços, não gerando, por si só,

alocação otimizada de recursos com resultados eficientes (Costa et alli, 2001).

A aproximação destes objetivos de melhoria das condições de saúde e da

qualidade de vida dos segurados e de redução dos gastos com assistência médica de

alto custo seria, portanto, um desafio para a ação regulatória do estado com a

intenção de gerar eficiência, responsabilidade e qualidade da atenção à saúde. O

desenvolvimento de programas de promoção da saúde e prevenção de doenças no

mercado poderia ser um campo propício ao estabelecimento de estratégias

cooperativas com os agentes privados do setor saúde, harmonizando as metas de

regulação com orientações de eficiência (Costa et alli, 2001). Ressaltam-se pontos

problemáticos relativos a essa orientação:

- “algumas empresas só cumprem a lei se isso for economicamente racional

para elas;

14

- as empresas são constrangidas por compromissos contraditórios – valores

da racionalidade econômica; constrangimentos legais; responsabilidade

econômica;

- estratégias baseadas totalmente na persuasão e auto-regulação serão

exploradas quando os atores estiverem motivados pela racionalidade

econômica;

- as estratégias baseadas principalmente na punição enfraquecerão a boa

vontade dos agentes quando eles estiverem motivados pelo senso de

responsabilidade;

- a punição é cara, a persuasão é barata;

- uma estratégia baseada puramente na punição dissipa recursos em

disputas litigiosas; que poderiam ser mais bem gastos no monitoramento e

dissuasão;

- uma estratégia baseada principalmente na punição favorece a organização

de uma subcultura de resistência à regulação no mundo dos negócios, pela

socialização de métodos de resistência legal e contra-ataque;

- a imposição da punição gera um jogo regulatório de gato e rato, por meio

do qual as empresas desafiam o espírito das leis, explorando as brechas da

legislação, e o regulador escreve mais e mais regras específicas para cobrir

essas brechas;

- cooperação, dureza e complacência em relação às rotinas regulatórias

devem ser utilizadas considerando as várias audiências para prestação de

contas” (Costa et alli, 2001, 201).

Há uma coexistência de movimentos que buscam estratégias racionalizadoras

para criar alternativas a um modelo médico-assistencial com custos crescentes e

efetividade limitada. O potencial das ações de promoção da saúde e de prevenção de

doenças nesse sentido deve ser analisado de acordo com as diferenças que

constituem modalidades de contratos coletivos e individuais.

O contrato coletivo diz respeito a um conjunto de pessoas que apresentam uma

característica comum, de natureza profissional, associativa, empregatícia, etc. No

caso dos planos ou seguros de saúde empresariais, as empresas participam do seu

custeio. Os contratos coletivos têm reajustes livremente negociados entre as partes

15

contratuais, ao contrário dos planos individuais que necessitam de autorização da

ANS. O contrato individual é fundado em uma relação entre indivíduos e seguradoras.

A definição do valor do prêmio nesse caso é baseada em cálculo atuarial de risco. O

papel regulatório da ANS é mais direcionado, portanto, aos planos individuais e

familiares, pois estes não tem mediação de organizações, associações ou empresas

(Gama, 2003).

II a - Promoção da Saúde

Programas de promoção à saúde têm sido especialmente dirigidos a

trabalhadores de empresas e são considerados altamente eficientes do ponto de vista

do mercado. Os programas de promoção da saúde constituem um dos elementos

estratégicos centrais no sentido de equilibrar a crescente espiral de gastos com

assistência médico-hospitalar nas empresas. É um setor de atividade em expansão

nos EUA, cujo modelo vem sendo crescentemente implantado no Brasil, inclusive por

filiais de empresas americanas. Um exemplo de experiência está descrito no box 1.

BOX 1

A “Corporate & Personal Health” desenvolve programas de promoção à saúde

em filiais brasileiras de empresas americanas como Ford Motor Company, Gessy

Lever, IBM e empresas brasileiras como Petrobras e Metrô - Cia. do Metropolitano de

SP.

O discurso divulgado no site da site da “Corporate & Personal Health”

evidencia como a lógica econômica da racionalização de custos é central na

estratégia de venda de projetos de promoção da saúde para as empresas:

“O CPH dedica-se permanentemente a criar e aperfeiçoar produtos e serviços

que promovam a saúde e bem estar, agregando valor à sua organização.

Estudos na área de Promoção de Saúde têm revelado que:

• a identificação de indivíduos de alto risco e programas de modificação de

comportamento; podem reduzir o risco de doença e custos relacionados;

• programas de promoção de saúde no local de trabalho geram um significativo

retorno do investimento”.

16

Os projetos da CPH funcionam desde 1983. Desenvolvem programas

preventivos e educacionais que buscam transformações de estilo de vida dos

empregados, enfatizando a responsabilidade individual nas mudanças.

“Nós trabalhamos em colaboração com cada empresa na busca de soluções

específicas que influam positivamente nos custos de saúde relacionados a estilo de

vida, na diminuição do absenteísmo e na melhoria da saúde dos indivíduos”.

O artigo de Ricardo de Marchi, um dos sócios da CPH

(http://vocesa.abril.uol.com.br/aberto/online/saude/saudavel.shl- 05/06/2003) tem o

sugestivo título de “saudável lucro”. Neste artigo, o autor propõe um exemplo que

quantifica o resultado potencial de programas de promoção da saúde na produtividade

de uma empresa:

“se uma companhia tiver 1 000 empregados e cada um deles tiver 2 000

horas de trabalho por ano (40 horas por semana x 50 semanas), a capacidade

máxima de trabalho sem horas extras que essa força de trabalho pode fornecer é de 2

milhões de horas. Se a média de afastamento for de 10 dias por ano (8 horas por

dia), as horas de trabalhos reais, aplicadas a produtividade deverão ser ajustadas

para 1,92 milhões de horas, uma queda de 4% da capacidade total. Vamos assumir

que a capacidade de trabalho de cada empregado é de quatro vezes seu salário total.

Se o salário for de 20 mil reais por ano, então a produtividade esperada será de 80

mil reais ou 40 reais por hora. Para calcular a quantidade de reais perdida por dias

ausentes pelos 1 000 empregados, simplesmente multiplique os 40 reais por hora x

80 000 horas ausentes no ano, chegando a um valor de 3,2 milhões de reais como

perda em produtividade. Se um programa de promoção de saúde tiver sucesso na

redução do número médio de dias de afastamento de 10 para 7,5 dias, o ganho

líquido em produtividade seria de 800 000 reais”.

A melhoria do clima organizacional também é um objetivo no sentido do

aumento da produtividade:

“O clima organizacional eventualmente sai prejudicado devido à baixa moral,

desânimo, aumento do absenteísmo, rotatividade, etc. Além disso, os custos

operacionais aumentam. Existem inúmeros desafios para o praticamente novo

conceito de Gestão de Saúde e Produtividade (GSP). Produtividade é difícil de se

medir de modo objetivo no ambiente administrativo. Muitas companhias tentam fazê-

lo baseadas nas receitas ou lucros por empregado. Os itens relacionados incluem

17

absenteísmo, taxa de acidentes, etc. Estudos têm demonstrado que a produtividade

do empregado é afetada por condições muito freqüentes no ambiente de trabalho, tais

como depressão, enxaqueca, alergias, stress, ansiedade e dores costais. É essencial

que as unidades envolvidas com a promoção da saúde (saúde ocupacional, serviços

médicos, benefícios, programas de assistência ao empregado, etc) trabalhem em

conjunto tendo suas ações integradas em função de um objetivo comum. A saúde do

empregado deve não só ser gerenciada de maneira integrada, mas também ser ligada

ao objetivo global do negócio”.

No que diz respeito à ANS, o aspecto central destes programas é a perspectiva

que eles trazem de efetiva diminuição dos gastos das empresas com assistência

médica. Cabe avaliar de que forma o incentivo a programas de promoção da saúde

nas empresas pode articular-se com os planos de saúde a elas vinculados.

Os planos de saúde em empresas são uma parcela significativa do segmento da

assistência médica suplementar, correspondendo a cerca de 60% dos titulares de

planos de saúde. A assistência médica suplementar oferecida mediante planos de

empresas implicam uma relação complexa entre empresas, operadoras, hospitais e

provedores de serviços. A lógica dos contratos desses planos é distinta da que orienta

os planos individuais. Contudo, as empresas, como grandes compradores de planos e

serviços privados de saúde, têm uma grande influência na determinação das

tendências do mercado (Teixeira, A.; Bahia, L.; Vianna, M. L. W., 2002).

Caberia à ANS explorar as possibilidades de relação com as empresas (Teixeira,

A. ; Bahia, L. ; Vianna, M. L. W., 2002), no que diz respeito aos programas de

promoção da saúde a elas vinculados. Este trabalho estaria integrado ao esforço de

regular, avaliar a viabilidade assistencial e econômico-financeira dos planos de saúde

em empresas e de estimular contratos para trabalhadores de empresas de menor

porte. (Teixeira, A.; Bahia, L.; Vianna, M. L. W., 2002).

As empresas de maior porte, pertencentes a setores mais dinâmicos da

economia, tendem a ser mais pródigas nos benefícios (Teixeira, A.; Bahia, L.; Vianna,

M. L. W., 2002) e também são as que implantaram programas de promoção da saúde

para seus trabalhadores. Os programas tendem a ser desenvolvidos justamente nos

grupos que apresentam menor risco. Os grupos mais desfavorecidos e de maior risco

são os que não dispõem de recursos para entrar no mercado.

18

O estimulo à integração de programas de promoção da saúde precisa estar

articulado ao esforço de avaliação e regulação, pois o objetivo central de diminuição

dos custos de atenção médica nas empresas, como já vimos, não é isento de conflitos

com o de garantir melhor qualidade de vida aos trabalhadores. Milio (1996),

analisando projetos de promoção da saúde realizados nos EUA, defende o ponto de

vista de que o mercado não é um campo eficaz para o desenvolvimento da saúde,

gerando padrões de decisão que não consideram perspectivas e orientações que

permitiriam promover efetivamente a saúde das populações (Milio, 1996, 47).

Um aspecto crítico destes programas é que sua adoção é uma decisão dos

gestores de alto nível das empresas e os objetivos são centrados no interesse de

recrutamento e conservação de empregados mais estratégicos, aumentando a sua

produtividade, reduzindo gastos com assistência médica. O interesse pela saúde dos

empregados não se volta para as características intrínsecas aos postos e processos de

trabalho. Estes seriam elementos mais importantes para a saúde do que apenas a

busca de modificar hábitos específicos relacionados a riscos de doenças. Ou seja, o

enfoque dos programas tenderia a se dirigir muito mais à modificação dos hábitos do

trabalhador do que às condições de trabalho (Milio, 1996).

Outra contradição importante é o de grandes empresas assumirem um discurso

de promoção da saúde, a favor da qualidade de vida e do bem-estar sem um

investimento consistente e coerente no controle dos riscos que elas mesmas

produzem ao meio ambiente (Milio, 1996).

No mercado em geral, a predominância de uma mentalidade comercial converte

a promoção da saúde em um bem de consumo, vendida através de técnicas de

publicidade. A proliferação e a distribuição de programas de promoção da saúde

sinaliza que esta perspectiva vive um processo de aceleração, tornando-se um setor

de ponta do mercado em saúde. Estes produtos dirigem-se aos setores de maior

poder aquisitivo. O progressivo interesse empresarial por atividades portadoras da

etiqueta “promoção da saúde” e a crescente colaboração entre os interesses da

indústria de desenvolvimento de produtos e o sistema de atenção à saúde induz a

inquirir os valores e resultados das formas comercializáveis da promoção da saúde.

Estas tendem a adquirir mais um sentido de ‘promoção’ no sentido comercial do que

de saúde propriamente dito, o que produz efeitos adversos (Milio, 1996). A intensa

comercialização de produtos nessa área é um importante campo de fiscalização e

19

regulação também para outras agências do Ministério da Saúde como a Agência

Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

II b - Prevenção de Doenças

As ações de prevenção de doenças adaptam-se mais diretamente à discussão

das estratégias de regulação da ANS em relação a contratos individuais e familiares.

Um tema importante no contexto deste estudo é situar as possibilidades de uma

lógica preventiva fundamentar ações no mercado da saúde suplementar.

Ao longo das duas ou três ultimas décadas conseguiu-se demonstrar que a

grande maioria dos problemas de saúde pública que afetam a população – relativos

não somente à doenças transmissíveis como às não transmissíveis – são na maioria

preveníveis. Evidências desta afirmação são a significativa diminuição de mortalidade

por doenças coronárias e cerebrovasculares, redução de incidência e mortalidade por

câncer cervical, diminuição da prevalência de consumo de fumo, e da incidência de

câncer do pulmão em homens. Dessa forma, uma grande carga produzida por

doenças pode ser evitada, tanto em termos sociais como econômicos (Nicholls, 1998).

Analisando-se a questão delimitada à relação entre o mercado privado de

operadoras de saúde e seus segurados, esbarra-se na ausência de dados empíricos e

estudos que demonstrem, mais precisamente, uma relação de custo - benefício

favorável das ações de promoção da saúde e prevenção de doenças no âmbito das

diferentes modalidades de planos de saúde existentes. Nesses diferentes contextos,

como tornar possível uma regulação que viabilize, por um lado, o ponto de vista de

garantia de saúde para os segurados e, por outro, o da racionalização dos custos das

operadoras?

A lógica da prevenção clínica é a de estabelecer o diagnóstico de uma doença o

mais precoce possível, estando dirigida à pessoas que não apresentam sinais e

sintomas de doença. Dependendo da característica específica do seguro de saúde, o

desenvolvimento da ação preventiva pode ser considerado uma sobrecarga de

procedimentos e custos adicionais e não uma inversão de lógica que teria como

conseqüência a médio e longo prazo a diminuição de internações e outros

procedimentos de muito maior custo.

20

Um recurso crescentemente legitimado para validar procedimentos em saúde é

a construção de normas e padrões clínicos baseados em evidências científicas, a

chamada medicina baseada em evidências. Este tema específico não é objeto deste

texto, mas a construção de normas de procedimentos baseados em evidências aplica-

se também à prevenção de doenças.

O Canadá nos últimos vinte anos constituiu um grupo de trabalho vinculado ao

Ministério Nacional de Saúde para desenvolvimento de normas para realização de

‘exames periódicos de saúde’, com o objetivo de validar, estimular e orientar a prática

da medicina preventiva não somente no Canadá, como no restante dos países,

constituindo-se como um centro colaborador da OPS/OMS. Este grupo de trabalho

produziu um conjunto de intervenções preventivas para doenças não transmissíveis a

serem aplicadas ao longo de todo o ciclo vital de um indivíduo, chamando atenção

para o valor destas ações na prática clínica. A avaliação da qualidade dos dados

científicos sobre prevenção e da eficácia efetividade e eficiência dos procedimentos

preventivos buscou conquistar credibilidade para a medicina preventiva. Elas estão

publicadas em “Prevenção Clínica: guia para médicos” da Organização Pan-americana

de Saúde (OPS), dirigindo-se aos países da América Latina (ver anexo – Quadro IV).

O livro apresenta uma discussão em torno do esforço de elaboração e

implantação das normas e propostas para prevenção de problemas específicos e de

alta prevalência como: doenças causadas por fumo; detecção de câncer do colo

uterino; detecção da infecção pelo HPV; detecção do câncer de mama; detecção do

câncer de próstata; prevenção da obesidade em adultos; orientação sobre atividade

física; detecção sistemática da obesidade em crianças; orientação nutricional para

adultos; detecção sistemática da diabetes em adultos; detecção sistemática da

hipertensão; diminuição da concentração de colesterol no sangue para prevenir

doença coronária; acido acetilsalicílico para prevenção primária da doença

cardiovascular; prevenção de lesões por acidentes de trânsito; Prevenção para

crianças, adultos e idosos de lesões durante atividades recreativas.

Um dos eixos do trabalho é o de identificar no encontro entre o médico e o

usuário do serviço o ponto privilegiado para a realização de ações preventivas. São os

profissionais de saúde, especialmente os médicos no momento da consulta, a fonte

legítima de informações, não somente sobre as doenças como sobre os fatores de

risco do adoecimento. Este é, portanto, um espaço privilegiado de prática de

21

promoção da saúde para a população (Stachenko, 1998). Além disso, por definição, o

espaço clínico atrai indivíduos que não estão bem de saúde e nestes momentos os

indivíduos tendem a estar particularmente suscetíveis às intervenções de promoção

da saúde, especialmente aquelas relacionadas com estilo de vida. Por exemplo, um

paciente procurando um profissional de saúde por causa de uma infecção pulmonar

pode estar mais propenso a responder positivamente ao conselho de deixar de fumar

(Florin & Basham, 2000).

Este tipo de intervenção requer um esforço personalizado, capaz de persuadir

cada paciente de acordo com sua singularidade, o que é bem mais do que

proporcionar apenas informação. É necessário, portanto, que os médicos aprimorem

sua capacidade de comunicação e que o paciente seja ativamente envolvido na

garantia da sua saúde. A prevenção clínica inclui procedimentos como orientação,

detecção sistemática, vacinação e até quimioprofilaxia de assintomáticos,

incorporando medidas de prevenção primária e secundária, buscando detectar

processos latentes e reduzir ou deter sua progressão. A melhoria da prestação de

serviços preventivos exige estratégias múltiplas centradas nos médicos e outras nos

pacientes. Realização de inquéritos para conhecer melhor de que maneira as pessoas

se relacionam com sua saúde são importantes neste sentido. Mudanças de

comportamento dependem do conhecimento dos fatores de risco, dos modos culturais

de comportamento, do apoio de familiares e amigos e da orientação de profissionais

de saúde (Stachenko, 1998).

Limitações de tempo, aspectos organizativos das consultas, dificuldade na

capacidade de orientação, desconhecimento das ações que se deveria executar, são

problemas que atrapalham a qualidade do trabalho preventivo. A introdução de

atividades preventivas na prática clínica é ainda um desafio. Estas questões são

analisadas por Stachenko (1998), ressaltando que no Canadá houve um investimento

governamental importante para melhorar as práticas de prevenção. Ele reconhece que

é uma relação mútua entre distintos enfoques e a colaboração entre múltiplos

participantes dos setores público e privado que vai mudar o comportamento

individual.

Nesse sentido, as normas para as práticas orientam médicos e pacientes na

decisão sobre a atenção à saúde em circunstâncias específicas. As normas cada vez

mais fazem parte do processo de decisão clínica. Stachenko (1998) afirma que as

22

normas publicadas pelo grupo de trabalho canadense sobre o Exame Periódico de

Saúde são as mais completas existentes sobre atenção preventiva. O problema é que

a existência de normas não significa que elas serão aplicadas. Métodos inovadores de

difusão e de esforço conjunto das organizações envolvidas são fundamentais.

Eric Nichols (1998), aprofunda a discussão sobre elaboração e implantação de

normas de prevenção clínica. Destaca, mais uma vez, o caráter racionalizador da

implantação de normas clínicas. “Se sabe que os custos crescentes da atenção de

saúde causam preocupação, e nesta época de restrição econômica obrigam a um uso

mais eficiente dos recursos e a adotar um processo de decisão baseado em provas

científicas sólidas. Os usuários requerem maior participação no processo de decisão e

vigiam mais estritamente a qualidade da atenção de saúde prestada, enquanto os

sistemas de saúde suportam a progressiva pressão de reduzir a proporção de

assistência ‘inadequada’ ” (Nichols, 1998, 38).

O estabelecimento de normas clínicas é considerado uma das estratégias mais

produtivas para combater a inadequação nos sistemas de saúde, incentivando-se

aquelas comprovadamente mais efetivas e ao contrário em relação às inefetivas.

Apesar disso, a aplicação plena das normas de prevenção clínica ainda encontram

numerosos obstáculos:

- ausência de consenso sobre a efetividade das intervenções preventivas.

- pouca capacitação dos profissionais para executar essas normas na prática.

- Ausência de avaliações mais precisas do custo-benefício destas práticas nas

diferentes modalidades de planos de saúde.

- Necessidade de inversão de lógica e mudanças administrativas que

viabilizem a inclusão destas normas no rol de serviços cobertos pelos planos

de saúde.

- Necessidade de estudos para adaptar normas já elaboradas à situações

particulares.

- A utilização de normas clínicas preventivas requer mudanças de

comportamento, valores e padrões de prática profissional e das percepções e

expectativas dos usuários dos serviços.

- Implica mudanças de política e gestão operativa do sistema de saúde.

23

- A intenção de elaborar e aplicar normas clínicas preventivas estabelecidas

com base em requisitos metodológicos adequados deve ser considerada como

um processo amplo que envolve investimentos de pesquisa.

Nicholls propôs um conjunto de etapas necessárias para implementar normas

clínicas preventivas (Quadro III):

Quadro III - Fases e passos para a implementação de normas clínicas

Fase I Elaborar as normas próprias (organizar-se)

Passo 1: alcançar apoio institucional e criar um grupo diretivo Passo 2: definir objetivos e prioridades Passo 3: definir os aspectos metodológicos da obtenção e avaliação dasprovas científicas Passo 4: constituir equipe que revise e avalie as provas científicas eformule recomendações Passo 5: alcançar o consenso e avaliar a viabilidade da implantação

Fase II Iniciar a implementação (começar)

Passo 6: avaliar as condições para implementação Passo 7: propor o desenho do estudo e o exame das condições Passo 8: identificar obstáculos,vantagens potenciais e compreender oprocesso de tomada de decisões para a implementação

Fase III Demonstrar que funciona (projeto de demonstração)

Passo 9: desenhar o projeto de demonstração Passo 10: recrutar um painel de demonstração Passo 11: proporcionar a capacitação por em marcha a formação profissional aplicar instrumentos práticos para prevenção explorar as intervenções complementares Passo 12: identificar os incentivos e mecanismos de reforço

Fase IV Vigiar e avaliar (avaliar o impacto)

Passo 13: constituir equipe de avaliação Passo 14: definir objetivo, indicadores e sistema de informação Passo 15: realizar o processo de avaliação Passo 16: chegar a conclusões sobre o impacto e explorar os aspectospolíticos da programação

Fase V Extensão (estender o programa)

Passo 17: preparar o plano para generalizar a aplicação do programa

24

Passo 18: realizar as mudanças de política e programação Passo 19: aplicar incentivos ou desincentivos e medidas administrativas Passo 20: Iniciar a extensão

In: Nichols, 1998.

25

Como vimos, a lógica preventiva encontra inúmeras dificuldades para ser

implantada. A atual forma de contratação e credenciamento de serviços e profissionais

de saúde é um grande entrave para padronização de procedimentos preventivos e

capacitação de profissionais para efetuá-los. Contudo, já há alguns projetos focais

implantados que apontam para esta lógica (box 2).

BOX 2

Descrevemos, a partir de dados colhidos em entrevistas com profissionais

responsáveis, o caso dos programas Amil Qualidade de Vida: saúde cardiovascular e

Total Care, também da Amil.

Estes programas são direcionados para redução do risco dos segurados em

doenças específicas, com maior potencial de retorno do investimento e também de

acompanhamento e avaliação de resultados. São executados por serviço próprio do

plano de saúde, que assim contrata profissionais especializados, especificamente

capacitados para executar os procedimentos, sob supervisão.

O programa Amil Qualidade de Vida: saúde cardiovascular dirige-se a

trabalhadores de empresas que contratam planos de saúde da Amil. O objetivo é

captar e tratar os indivíduos com risco cardiovascular alto e moderado. Foi implantado

em abril de 2001 e, até hoje, foram atendidos 22000 titulares de empresas.

O programa está estruturado em três etapas:

Na primeira etapa é aplicado um questionário específico que tem o objetivo de

identificar os indivíduos com risco cardiovascular alto e moderado. Este questionário é

padronizado e aplicado por agentes de saúde treinados. De acordo com a indicação

são realizados exames complementares. O questionário é preenchido em ambiente

web e imediatamente acessível para análise.

O objetivo da segunda etapa do processo é garantir que 80% dos indivíduos

identificados como risco alto ou moderado tenham sido efetivamente encaminhados e

realizado uma consulta médica em menos de trinta dias.

Em um terceiro momento, o programa pretende alcançar que 60% dos

indivíduos em risco estejam sendo tratados adequadamente com base em critérios

definidos em protocolos clínicos para doenças cardíacas.

Segundo o profissional entrevistado, na população pesquisada encontrou-se

14% de indivíduos com hipertensão, 3,8% dislipidemia e 1,7% diabetes com 65% de

26

casos confirmados posteriormente. Todos estes casos não tinham conhecimento

anterior da sua condição de risco.

Este programa está sendo analisado sistematicamente e o objetivo é avaliar

com precisão resultados, não apenas em termos da capacidade de diagnóstico e

encaminhamentos posteriores, como principalmente da relação custo-benefício. A

intenção da empresa é estender o programa também para clientes individuais.

O programa Total Care foi implantado a partir de 1999. Trabalha com doenças

cardiovasculares e diabetes, patologias de alta prevalência e que apresentam

demanda importante no conjunto da assistência aos clientes dos planos de saúde. É

baseado no disease manage, já implantado em centros médicos dos EUA e Canadá.

A idéia do gerenciamento da doença, segundo o entrevistado, é garantir que os

pacientes tenham um maior controle das suas doenças, tornando-os mais saudáveis e

consequentemente reduzindo custos de assistência médica, internações e outros

procedimentos de maior complexidade e custo. Não se trata, portanto, de prevenção

primária, mas secundária e terciária, pois o público alvo é composto de indivíduos já

com doença instalada. O serviço busca racionalizar a atenção aos portadores destas

patologias, buscando diminuir a demanda destes por assistência terciária de alto

custo, hospitais e internações.

O Total Care trabalha com profissionais especializados em cardiologia e

endocrinologia, exigindo titulo de residência médica, especialista e mestrado na

respectiva especialidade. Além disso, o serviço dispõe de nutricionistas, enfermeiros,

educador físico e psicólogo. Os profissionais são contratados, recebendo salário da

própria empresa. Esta equipe que tem como objetivo garantir uma assistência

integrada que estimule a criação de vínculo mais persistente com os pacientes.

Segundo o profissional responsável entrevistado, num primeiro momento a

implantação do serviço ocasionou um aumento de custos, mas que se tratou de um

investimento com objetivo de reduzir as internações e procedimentos de alto custo no

futuro. O programa está sendo avaliado e os resultados – não disponíveis para

divulgação – indicam excelentes resultados.

O uso deste serviço é de livre opção dos clientes e busca-se com isso uma

fidelização espontânea dos pacientes ao plano de saúde da empresa.

27

A perspectiva é ampliar serviços com esta lógica. Foi citado como exemplos: o

projeto de implantação de um programa de prevenção de diabetes, cuja perspectiva

seria identificar indivíduos pré-diabéticos; a construção de um centro de reabilitação

cardíaca, um espaço para realização de exercícios próprios para indivíduos portadores

de doença cardíaca.

III - Conclusão:

Todas as evidências indicam que os sistemas de saúde pautados

fundamentalmente na biomedicina terão progressivamente problemas de

sustentabilidade. No âmbito da saúde suplementar cabe à ANS incentivar que a

necessidade de racionalização dos custos da assistência à saúde por parte das

operadoras seja complementar à política do MS de buscar promover a saúde da

população brasileira.

A perspectiva de implantar programas de promoção da saúde e uma lógica

preventiva na prática clínica dirige o esforço de racionalização de custos do sistema

para ações capazes de intervir ativamente na redução de riscos, fomentando

melhorias na qualidade de vida dos segurados. Como foi analisado, este objetivo não

é simples de ser alcançado, constituindo-se um desafio para a atividade regulatória da

ANS.

Programas de promoção da saúde já vêm sendo implantados em empresas,

especialmente as de maior porte, e têm sido considerados altamente eficientes do

ponto de vista do mercado. Cabe à ANS avaliar de que forma esses programas de

promoção da saúde articulam-se com os planos de saúde vinculados às empresas e

estimular que sejam implantados em empresas de menor porte. O estímulo à

integração destes programas precisa estar acompanhado do esforço de regulação e

avaliação pois, o objetivo central de diminuição de custos nas empresas não é isento

de conflitos com o de garantir melhores condições de vida para os trabalhadores.

As ações de prevenção clínica de doenças adaptam-se mais diretamente à

normatização e regulação de contratos individuais e familiares. Seguros de saúde

atraem indivíduos doentes, com grande potencial de demanda de serviços de atenção

médica. Ao mesmo tempo, é justamente nos momentos em que não estão bem de

28

saúde, que as pessoas estão particularmente permeáveis à intervenções que as

orientem para mudanças de estilo de vida. São os profissionais de saúde,

especialmente médicos durante consultas clínicas, fontes legítimas de informações

dobre doenças e riscos ao adoecimento. Além disso, o espaço clínico é também ideal

para intervenções preventivas como screenings. Consultórios médicos são

potencialmente espaços privilegiados para ações de promoção da saúde e prevenção

de doenças.

A ampliação da capacidade do trabalho médico nesse sentido é ainda um desafio que

extrapola o âmbito da saúde suplementar envolvendo, entre outras dimensões, a

própria formação médica. A inversão da lógica assistencial do sistema exigiria

mudanças de organização complexas. Competiria à ANS, acompanhado do trabalho

constante de avaliação e regulação, buscar favorecer esse processo mediante

estímulos:

- à mudanças administrativas que viabilizem a lógica da prevenção na

prática clínica. Uma possibilidade a ser avaliada seria a criação de incentivos

de natureza econômica para implantação de programas preventivos por parte

das seguradoras;

- à realização de estudos de custo-efetividade de ações de promoção da

saúde e prevenção de doenças no contexto de diferentes modalidades de

planos de saúde existentes;

- à elaboração de normas clínicas preventivas, estabelecidas com base em

recursos metodológicos adequados;

29

IV - Bibliografia

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32

V – Anexo

Quadro IV - Recomendações para a prática da clínica preventiva

Intervenção Tipo de

recomendaç

ão

Destinatário

Doenças causadas por tabaco

Orientação para deixar defumar, oferecendo tratamentosubstitutivo da nicotina.

Orientação para deixar defumar.

Referenciar para programasconsolidados para deixar de fumar,depois da orientação.

Orientação para prevenir o iníciodo tabagismo.

Referenciar a um programaconsolidado para deixar de fumar.

Orientar para evitar a exposiçãoà fumaça do tabaco no ambiente

Câncer colo uterino

Citologia cervical.

Detecção do vírus do papilomahumano.

Câncer de mama

1-Mamografia e exame clínico dasmamas.

2-Ensino do auto-exame mamário

3-Mamografia

A

A

B

B

B

C

B

D

A

C

D

Adultos fumantes

Adolescentes fumantes

Adultos fumantes

Adolescentes

Adolescentes fumantes

Familiares de fumantes

Mulheres

Mulheres

Mulheres de 50 a 69 anos

Mulheres

Mulheres menores de 50anos

33

Câncer de cólon e reto

Colonoscopia.

Prova de sangue oculto ousigmoidoscopia ou colonoscopia.

Prova de sangue oculto ousigmoidoscopia..

Câncer de pulmão

Orientação nutricional sobreconsumo de verduras e folhasverdes e frutas.

Radiografia de tórax

Citologia de escarro

Câncer de pele

1- Orientação sobre exposição físicaao sol.

2-Exame físico da pele

3-Orientação sobre auto-exame dapele

Câncer de próstata

Exame retal digital

Antígeno prostático específico

Ecografia transretal

Diabetes Melitus

1- Exame de fundo de olho oufotografia da retina

Glicemia em jejum

Hipertensão arterial

Medição da pressão arterial

Tratamento farmacológico

B

C

D

B

D

E

B

B

C

C

D

D

B

D

B

C

Pessoas com síndrome de câncerfamiliar

Todas as pessoas

Pessoas com síndrome de câncerfamiliar

Fumantes

Todas as pessoas

Todas as pessoas

Todas as pessoas

Parentes de 1º de pessoas commelanoma

Todas as pessoas

Homens maiores de 50 anos

Homens maiores de 50 anos

Homens maiores de 50 anos

Pessoas com diabetes

Todas as pessoas

Todas as pessoas

Adultos com hipertensão sistólicaisolada

34

Doença isquêmica do coração

Orientação nutricional sobregorduras e colesterol.

Medição do colesterol total nosangue

3- Dieta e tratamento farmacológico

4- Profilaxia com dose baixa deacido acetilsalicílico.

Doença cérebro vascular

Terapia antiplaquetária.

Auscultação do coração ouendoarterectomia carotídea

Acidentes de tráfico

Orientação sobre uso do cinto desegurança.

Orientação sobre uso do cinto desegurança. e abstenção de álcool aodirigir

Orientação sobre consumo deálcool

Vigilância de deficiências clínicas

Lesões no brincar e duranteatividades recreativas

Orientação sobre fatores de riscoao brincar e intoxicações.

Vigilância de deficiênciasclínicas

B

C

C

C

C

D

B

B

C

C

B

C

Homens de 30 a 69 anos

Todas as pessoas, com busca de

casos de entre homens de 30 a

69 anos

Pessoas com colesterol oulipoproteínas de baixa densidade(exceto homens de 30 a 69 anos)

Todas as pessoas

Adultos com estenose ou soprocarotídeo assintomático

Todas as pessoas

Todas as pessoas

Adolescentes

Todas as pessoas

Todas as pessoas

Crianças e seus pais ou cuidadores

Adulto maior

35

Fraturas Osteoporóticas e seusefeitos secundários

Orientação, tratamentohormonal substitutivo.

Exame físico e história clínica

Detecção mediantedensitometria óssea

Quedas e lesões

Avaliação multidisciplinar depoisda queda

Mortalidade e morbidade portodas as causas

Exercício físico moderado

Orientação sobre prevenção daobesidade

Medição do índice de massacorporal e tratamento da obesidade

B

C

D

A

B

C

C

Mulheres perimenopáusicas

mulheres

mulheres

Todas as pessoas

Adulto maior

Todas as pessoas

Todas as pessoas

Todas as pessoas

Selecionado e organizado por Sylvia C. Robles a partir de The Canadian Guide toClinical Preventive Health Care.In: Organização Panamericana de la Salud (1998). Prevención Clínica: guia paramédicos.

Tipos de recomendação:A- provas sólidas que respaldam a recomendação. B- provas razoáveis que respaldam a recomendação.C- provas insuficientes para avaliar o valor da recomendação.D- provas razoáveis para excluir do exame periódico de saúde.E- provas sólidas para excluir do exame periódico de saúde.