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  • 8/13/2019 Adorno - O que significa elaborar o passado 1960 [doc].doc

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    O QUE SIGNIFICA ELABORAR O PASSADO

    Theodor Adorno

    Traduo: Wolfgang Leo MaarTexto retirado e conforme o da pgina Debates

    http://planetaclixpt/adorno/

    A pergunta !" #ue significa elaborar o passado! re#uer esclarecimentos $la foi formulada a partir de umcha%o #ue ultimamente se tornou bastante suspeito &esta formulao a elaborao do passado nosignifica elabor'lo a s(rio) rompendo seu encanto por meio de uma consci*ncia clara Mas o #ue sepretende) ao contrrio) ( encerrar a #uesto do passado) se poss+%el inclusi%e riscando'o da mem,ria "gesto de tudo es#uecer e perdoar) pri%ati%o de #uem sofreu a in-ustia) acaba ad%indo dos partidriosda#ueles #ue praticaram a in-ustia .erta feita) num debate cient+fico) escre%i #ue em casa de carrasco nose de%e lembrar a forca para no pro%ocar ressentimento or(m a tend*ncia de relacionar a recusa daculpa) se-a ela inconsciente ou nem to inconsciente assim) de maneira to absurda com a id(ia daelaborao do passado) ( moti%o suficiente para pro%ocar considera0es relati%as a um plano #ue aindaho-e pro%oca tanto horror #ue %acilamos at( em nome'lo

    " dese-o de libertar'se do passado -ustifica'se: no ( poss+%el %i%er 1 sua sombra e o terror no tem fim#uando culpa e %iol*ncia precisam ser pagas com culpa e %iol*ncia2 e no se -ustifica por#ue o passado de#ue se #uer escapar ainda permanece muito %i%o) " na3ismo sobre%i%e) e continuamos sem saber se o fazapenas como fantasma da#uilo #ue foi to monstruoso a ponto de no sucumbir 1 pr,pria morte) ou se adisposio pelo indi3+%el continua presente nos homens bem como nas condi0es #ue os cercam

    &o #uero entrar na discusso a respeito das organi3a0es neona3istas .onsidero a sobre%i%*ncia donacional'socialismo na democracia como potencialmente mais ameaadora do #ue a sobre%i%*ncia detend*ncias fascistas contra a democracia A corroso por dentro representa algo ob-eti%o2 e as figurasamb+guas #ue efeti%am o seu retorno s, o fa3em por#ue as condi0es lhes so fa%or%eis

    4ue na Alemanha a falta de dom+nio do passado) - #ue esta ( a #uesto) no se restringe ao 5mbito doschamados irrecuper%eis) isto ( in#uestion%el 6empre se remete ao chamado complexo de culpa) muitas%e3es alegando #ue o mesmo na %erdade apenas foi gerado pela construo de uma culpa coleti%a dosalemes 7ndiscuti%elmente h muito de neur,tico no #ue se refere ao passado: gestos de defesa onde nohou%e agresso2 sentimentos profundos em situa0es #ue no os -ustificam2 aus*ncia de sentimentos emface de situa0es da maior gra%idade2 e no raro tamb(m a represso do conhecido ou do semiconhecido&o experimento de grupo do 7nstituto de es#uisa 6ocial fre#8entemente %erificamos #ue a lembrana dadeportao e do genoc+dio se associa%a 1 escolha de express0es atenuantes ou de descri0es eufemistas)ou configura%a um espao %a3io do discurso2 o uso consagrado e #uase bene%olente da %erso da !noite decristal! para designar opogrom de no%embro de 9;< confirma esta tend*ncia = muito grande o n>meroda#ueles #ue pretendem) na ocasio) no ter tido conhecimento dos acontecimentos #ue sucediam) emborapor toda parte os -udeus tenham desaparecido) e embora se-a pouco pro%%el #ue a#ueles #ue %iram o #ueacontecia no Leste tenham silenciado acerca do #ue de%e ter sido um fardo insuport%el = ra3o%el supor

    #ue existe uma proporo entre o gesto de no'ter'sabido'de'nada e uma indiferena ao menosembrutecida e amedrontada) " certo ( #ue os decididos ad%ersrio do na3ismo cedo souberam combastante preciso o #ue acontecia

    Todos conhecemos a disposio atual em negar ou minimi3ar o ocorrido ? por mais dif+cil #ue se-acompreender #ue existem pessoas #ue no se en%ergonham de usar um argumento como o de #ue teriamsido assassinados apenas cinco milh0es de -udeus) e no seis Al(m disto) tamb(m ( irracional acontabilidade da culpa) como se as mortes de Dresden compensassem as de Ausch@it3 &a contabili3aode tais clculos) na pressa de ser dispensado de uma conscienti3ao recorrendo a contra'argumentos)reside de antemo algo de desumano) e a0es b(licas de combate) cu-o modelo al(m disto chama%am'sede .o%entr e Botterdam) so muito pouco compar%eis ao assassinato administrati%o de milh0es depessoas inocentes Mas tamb(m essa inoc*ncia) a mais simples e plaus+%el) ( negada A desmesura do malpraticado acaba sendo uma -ustificati%a para o mesmo: a consci*ncia irresoluta consola'se argumentando#ue fatos dessa gra%idade s poderiam ter ocorrido por#ue as %itimas deram moti%os #uais#uer para tanto)e este %ago !moti%os #uais#uer! pode assumir #ual#uer dimenso poss+%el " deslumbramento se imp0epor sobre o e#u+%oco gritante existente na relao entre uma culpa altamente fict+cia e um castigo altamente

    http://orbita.starmedia.com/~novosdebates/Debates.htmhttp://planeta.clix.pt/adorno/http://planeta.clix.pt/adorno/http://orbita.starmedia.com/~novosdebates/Debates.htmhttp://planeta.clix.pt/adorno/
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    real C %e3es os %encedores so con%ertidos em respons%eis por a#uilo #ue os %encidos praticaram#uando eles pr,prios ainda se encontra%am por cima) e os crimes de Eitler seriam de responsabilidadeda#ueles #ue teriam tolerado seu assalto ao poder) e no da#ueles #ue o apoiaram A idiotice de tudo istoconstitui efeti%amente sinal de algo #ue no foi trabalhado psi#uicamente) de uma ferida) embora a id(ia deferida coubesse muito mais em relao 1s %+timas

    $m tudo isto) entretanto) o discurso do complexo de culpa cont(m algo de irreal &a psi#uiatria) de onde se

    originou) de significa #ue o sentimento de culpa ( doentio) inapropriado 1 realidade) ou) como di3em osanalistas) psicog*nico Fraas ao termo complexo cria'se a impresso de #ue a .ulpa ? cu-o sentimentotantas pessoas recusam) procuram absor%er ou deformar mediante as racionali3a0es mais imbecis ?? na%erdade no seria uma culpa) mas estaria somente na constituio an+mica das pessoas: o terr+%el passadoreal ( con%ertido em algo inocente #ue existe meramente na imaginao da#ueles #ue se sentem afetadosdesta forma "u ento a pr,pria culpa seria ela mesma apenas um complexo) e seria doentio ocupar'se dopassado) en#uanto o homem realista e sadio se ocupa do presente e de suas metas prticasG $sta seria amoral da#uele !( tal como se no ti%esse ocorrido!) uma frase de Foethe mas #ue) pronunciada numapassagem decisi%a do Fausto por Mefisto) re%ela o principio interno mais profundo deste) a destruio damem,ria Ea%eria #ue subtrair aos assassinados a >nica coisa #ue nossa impot*ncia pode lhes oferecer) alembrana Mas esta mentalidade obstinada dos #ue nada #uerem ou%ir a respeito deste assunto encontra'se em conformidade com uma %igorosa tend*ncia hist,rica Eermann Eeimpel repetidamente falou de umdesaparecimento da consci*ncia da continuidade hist,rica na Alemanha) um sintoma da#uela fra#ue3a

    social do eu #ue EorHheimer e eu - procuramos deri%ar na Dialtica do esclarecimento. .onstata0esemp+ricas) como) por exemplo) a de #ue a gerao -o%em muitas %e3es desconhece #uem foram IismarcHou o imperador Fuilherme 9) da Alemanha) confirmam essa perda da hist,ria

    .ontudo) esse processo) #ue se tornou flagrante na Alemanha somente ap,s a 6egunda Fuerra Mundial)coincide com a estranhe3a da consci*ncia americana em relao 1 hist,ria) #ue se tornou conhecida desdeo !Eistor is bunH! JA hist,ria ( urna charlataniceK de Eenr ord) a imagem terr+%el de uma humanidadesem mem,ria &o se trata meramente de um produto da decad*ncia) da forma de reagir de umahumanidade sobrecarregada de est+mulos e #ue no consegue mais dar conta dos mesmos) como secostuma di3er) mas refere'se a algo %inculado necessariamente 1 progressi%idade dos princ+pios burguesesA sociedade burguesa encontra'se subordinada de um modo uni%ersal 1 lei da troca) do !igual por igual! declculos #ue) por darem certo) no deixam resto algum .onforme sua pr,pria ess*ncia) a troca (atemporal) tal como a pr,pria ra3o) assim como) de acordo com sua forma pura) as opera0es da

    matemtica excluem o momento temporal &esses termos) o tempo concreto tamb(m desapareceria daproduo industrial $sta procede sempre em ciclos id*nticos e pulsati%os) potencialmente de mesmadurao) e praticamente no necessita mais da experi*ncia acumulada $conomistas e soci,logas comoWerner 6ombart e Max Weber atribu+ram o principio do tradicionalismo 1s formas sociais feudais) e oprincipio da racionalidade s formas burguesas " #ue ( o mesmo #ue di3er #ue a mem,ria) o tempo e alembrana so li#uidados pela pr,pria sociedade burguesa em seu desen%ol%imento) como se fossem umaesp(cie de resto irracional) do mesmo modo como a racionali3ao progressi%a dos procedimentos daproduo industrial elimina -unto aos outros restos da ati%idade artesanal tamb(m categorias como a daaprendi3agem) ou se-a) do tempo de a#uisio da experi*ncia no oficio 4uando a humanidade se aliena damem,ria) esgotando'se sem flego na adaptao ao existente) nisto reflete'se uma lei ob-eti%a dedesen%ol%imento9

    &essa medida) o es#uecimento do na3ismo pode ser explicado muito mais a partir da situao social geraldo #ue a partir da psicopatologia At( mesmo os mecanismos psicol,gicos #ue operam na recusa delembranas desagrad%eis e inescrupulosas ser%em a ob-eti%os extremamente realistas "s pr,priosagentes da recusa acabam re%elando os mesmos) #uando) munidos de sentido prtico afirmam #ue alembrana demasiadamente concreta e incisi%a do passado poderia pre-udicar a imagem da Alemanha noexterior Nm tal +mpeto dificilmente rima com as asserti%as de Bichard Wagner) afinal suficientementenacionalista) para #uem ser alemo significa%a fa3er alguma coisa por moti%os imanentes 1 pr,pria coisa Odesde #ue a coisa no este-a a priori determinada como sendo um neg,cio Apagar a mem,ria seria muitomais um resultado da consci*ncia %igilante do #ue resultado da fra#ue3a da consci*ncia frente 1superioridade de processos inconscientes Punto ao es#uecimento do #ue mal acabou de acontecer ressoaa rai%a pelo fato de #ue) como todos sabem) antes de con%encer os outros ( preciso con%encer a si pr,prio

    or certo as moti%a0es e os comportamentos assumidos no so diretamente racionais) na medida em #ue

    deturpam os fatos a #ue se referem or(m eles so racionais no sentido em #ue se ap,iam em tend*nciassociais) e #ue #uem reage deste modo se sabe identificado ao esp+rito da (poca " progresso indi%idual de#uem reage nesses termos ( fa%orecido de imediato 4uem no se ocupa com pensamentos in>teis no-oga areia na engrenagem Becomenda'se falar nos termos #ue ran3 I,hm caracteri3ou com muita

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    propriedade como a !opinio no'p>blica! "s adeptos de um clima mantido nos limites dos tabus oficiais e)por isto mesmo) um clima mais %irulento) classificam a si pr,prios como simultaneamente independentes epartidrios Afinal) o mo%imento alemo de resist*ncia ao na3ismo permaneceu sem uma base de massas)base #ue dificilmente seria gerada com a derrota como se fosse por um to#ue de mgica $ ra3o%el supor#ue a democracia tenha ra+3es mais profundas do #ue ap,s a rimeira Fuerra Mundial: pela politi3ao dasmassas e contrariamente 1 sua pr,pria inteno) o nacional'socialismo anti'feudal e estritamente burgu*snum certo sentido at( mesmo se adiantou 1 democracia Tanto a casta dos !PunHers! como o mo%imento

    operrio radical desapareceram2 pela primeira %e3 produ3iu'se algo pr,ximo a uma situao burguesahomog*nea or(m o atraso na introduo da democracia na Alemanha) #ue no coincidiu com oliberalismo econmico pleno) al(m do fato de ser pelas mos dos %encedores #ue se acabaria introdu3indoa democracia) dificilmente deixaria de afetar as rela0es desta para com a po%o Baramente isto (confessado) se-a por#ue entrementes a situao sob a democracia ( muito boa) se-a por#ue pre-udicaria acomunidade de interesses institucionali3ados com os aliados pol+ticos ocidentais) sobretudo os $stadosNnidos .ontudo) o ressentimento contra a reeducao ( bastante %is+%el &esta medida ( poss+%el afirmar#ue o sistema da democracia pol+tica ( aceito na Alemanha nos termos do #ue nos $stados Nnidos (denominado a working proposition Juma proposta #ue funcionaK) e #ue at( agora possibilitou ou at( mesmopromo%eu a prosperidade Mas a democracia no se estabeleceu a ponto de constar da experi*ncia daspessoas como se fosse um assunto pr,prio delas) de modo #ue elas compreendessem a si mesmas comosendo su-eitos dos processos pol+ticos $la ( apreendida como sendo um sistema entre outros) como senum cardpio escolh*ssemos entre comunismo) democracia) fascismo ou monar#uia2 ela no ( apreendida

    como identificando'se ao pr,prio po%o) como expresso de sua emancipao $la ( a%aliada conforme osucesso ou o insucesso) de #ue participam tamb(m os interesses indi%iduais) mas no como sendo aunidade entre os interesses indi%iduais e o interesse geral2 e) de fato) a delegao parlamentar da %ontadepopular torna esta muitas %e3es uma #uesto dif+cil nos modernos $stados de massa &a Alemanha)ou%iremos com fre#8*ncia dos pr,prios alemes a estranha afirmati%a de #ue eles ainda no esto madurospara a democracia A pr,pria falta de emancipao ( con%ertida em ideologia) tal como o fa3 a -u%entude#ue) surpreendida em #ual#uer ato de %iol*ncia) procura se li%rar apelando 1 sua condio de teenageradolescente " grotesco numa tal argumentao re%ela uma flagrante contradio na consci*ncia Aspessoas #ue nestes termos procuram demonstrar com fran#ue3a a sua pr,pria ingenuidade e imaturidadepol+tica sentem'se) por um lado) como sendo su-eitos pol+ticos) aos #uais caberia determinar seu pr,priodestino bem como organi3ar a sociedade Mas deparam'se) por outro lado) com as s,lidas barreirasimpostas pelas condi0es %igentes .omo no podem romper essas barreiras mediante o pensamento)acabam atribuindo a si mesmos) ou aos adultos) ou aos outros) esta impossibilidade real #ue lhes (

    imposta $les mesmos terminam por se di%idir mais uma %e3 em su-eito e ob-eto De #ual#uer modo) aideologia dominante ho-e em dia define #ue) #uanto mais as pessoas esti%erem submetidas a contextosob-eti%os em relao aos #uais so impotentes) ou acreditam ser impotentes) tanto mais elas tornarosub-eti%a esta impot*ncia .onforme o ditado de #ue tudo depende unicamente das pessoas) atribuem 1spessoas tudo o #ue depende das condi0es ob-eti%as) de tal modo #ue as condi0es existentespermanecem intocadas &a linguagem da filosofia poder+amos di3er #ue na estranhe3a do po%o em relao1 democracia se reflete a alienao da sociedade em relao a si mesma

    &o referido 5mbito das rela0es ob-eti%as) a mais aparente tal%e3 se-a o desen%ol%imento da pol+ticainternacional $la parece -ustificar retrospecti%amente a in%aso da Nnio 6o%i(tica por Eitler &a medidaem #ue o mundo ocidental se configura como unidade essencialmente por meio da defesa contra a ameaarussa) os %itoriosos de 1945 teriam destru+do a barreira contra o bolche%ismo apenas por tolice)reconstruindo'a poucos anos depois $ s, uns poucos passos separam o !Eitler bem #ue a%isou! da

    extrapolao de #ue ele tamb(m tinha ra3o em outros assuntos 6omente aos edificantes pregadoresdominicais passaria despercebida a fatalidade hist,rica pela #ual a concepo #ue outrora le%ou.hamberlain e seus seguidores a tolerar Eitler como um algo3 do Leste) sobre%i%eu num certo sentido aopr,prio desaparecimento de Eitler Trata'se efeti%amente de uma fatalidade ois ( %is+%el a ameaa doLeste de engolfar o anteplano dos macios orientais da $uropa 4uem no lhe imp0e resist*ncia torna'seliteralmente culpado de uma repetio do appeasement JconciliaoK de .harnberlain $s#uecem apenas '? apenasQ '?' #ue esta ameaa foi desencadeada -ustamente a partir da ao de Eitler) #ue imps 1$uropa exatamente a#uilo #ue conforme a inteno dos conciliadores) ele de%eria e%itar com a sua guerraexpansionista Mais ainda do #ue o destino indi%idual) o destino dos %+nculos pol+ticos constitui uma relaode culpa A resist*ncia frente ao Leste cont(m em si mesma uma din5mica #ue re%igora o #ue se passou naAlemanha $ no s, ideologicamente) por#ue o discurso da luta contra o bolche%ismo desde sempre ser%iude fachada para a#ueles #ue no so melhores adeptos da liberdade do #ue o pr,prio bolche%ismo Mastamb(m no plano real De acordo com uma obser%ao #ue remonta ao per+odo de Eitler) o potencial

    organi3at,rio dos sistemas totalitrios imp0e aos seus ad%ersrios uma parte de seu pr,prio ser $n#uantoperdurar o desn+%el econmico entre o Leste e o "cidente) o modo de atuao fascista tem mais chancescom as massas do #ue a propaganda do Leste) ao mesmo tempo em #ue) al(m disto) no nos encontramosimpelidos 1 ultimaa ratio do fascismo Mas so os mesmos tipos de pessoas #ue so sens+%eis a ambas as

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    formas de totalitarismo A construo de uma interpretao a partir de uma determinada ideologia pol+tico'econmica le%ou a um -u+3o e#ui%ocado das personalidades autoritrias2 nem mesmo em termos s,cio'psicol,gicos foram casuais as conhecidas oscila0es de milh0es de eleitores entre os partidos na3ista ecomunista anteriormente a 9;; es#uisas feitas nos $stados Nnidos re%elaram #ue esta estrutura dapersonalidade no se relaciona tanto assim com crit(rios econmico'pol+ticos $la seria definida muito maispor traos como pensar conforme as dimens0es de poder '''' impot*ncia) paralisia e incapacidade de reagir)comportamento con%encional) conformismo) aus*ncia de auto'reflexo) enfim) aus*ncia de aptido 1

    experi*ncia ersonalidades com tend*ncias autoritrias identificam'se ao poder en#uanto tal) independentede seu .onte>do &o fundo disp0em s, de um eu fraco) necessitando) para se compensarem) daidentificao com grandes coleti%os e da cobertura proporcionada pelos mesmos " fato de por toda partereencontrarmos figuras caricatas como as representadas nos filmes sobre meninos prod+gios) isto nodepende nem da per%ersidade do mundo como tal) nem de peculiaridades do carter nacional alemo) massim da identidade da#ueles conformistas) #ue possuem de antemo um %+nculo com os instrumentos de#ual#uer estrutura de exerc+cio do poder) com os seguidores potenciais do totalitarismo Al(m do mais) (ilus,rio imaginar #ue o regime na3ista nada tenha significado al(m de pa%or e sofrimento) embora tenhatamb(m este significado inclusi%e para muitos de seus pr,prios adeptos Muitos %i%eram muito bem sob ofascismo) " terror s, se abateu sobre um pe#ueno n>mero de grupos relati%amente bem definidos Ap,s asexperi*ncias da guerra antes da era hitlerista) a impresso dominante era a de #ue !ha%ia pro%id*ncias!) eno apenas em termos ideol,gicos como no caso de %iagens de f(rias e %asos de flores nos galp0esindustriais $m comparao ao laissez-faire, o mundo hitlerista efeti%amente protegia seus adeptos frente 1s

    catstrofes naturais da sociedade #ue se abatiam sobre as pessoas De um modo autoritrio estabeleceu'se a prioridade do controle das crises) um experimento brbaro de direo estatal da sociedade industrial Ato lembrada integrao) o adensamento organi3at,rio da rede social #ue tudo abrangia) propicia%ainclusi%e proteo em face do medo geral de ficar de fora e submergir ara um n>mero incont%el depessoas) a frie3a do seu estado de alienao parecia eliminada pelo calor do estar em comunidade) pormais manipulada e imposta #ue fosse esta situao2 a comunidade popular dos no'iguais e dos no'li%res)como mentira #ue era) tamb(m era simultaneamente a reali3ao de um sonho burgu*s antigo) emboradesde sempre per%erso = claro #ue o sistema #ue oferecia tais gratifica0es continha em si o potencial dapr,pria destruio " florescimento econmico do Terceiro Beich repousa%a em grande parte sobre oarmamentismo militarista para a guerra #ue traria a catstrofe or(m a#uela mem,ria debilitada a #ue mereferia recusa'se em grande medida a aceitar uma tal argumentao $la deturpa obstinadamente a (pocana3ista) em #ue se reali3am as fantasias coleti%as de poder da#ueles #ue) como indi%+duos) eramimpotentes e s, se imagina%am sendo alguma coisa en#uanto constitu+am um tal poder coleti%o &enhuma

    anlise) por mais e%idente #ue se-a) pode posteriormente eliminar a realidade dessa satisfao) bem como aenergia dos impulsos instinti%os #ue foi in%estida nela At( mesmo o -ogo de tudo ou nada de Eitler no erato irracional como parecia na (poca 1 ra3o liberal mediana ou parece ho-e nos termos da retrospecti%ahist,rica da derrota " clculo de Eitler) de apro%eitar ao mximo frente aos outros $stados a %antagemtemporal de uma impressionante preparao militar) no era tolo nos termos do #ue ele pretendia 4uandoexaminamos a hist,ria do Terceiro Beich e sobretudo a da guerra) os momentos isolados em #ue Eitler eraderrotado sempre parecero acidentais) e somente o curso da guerra como um todo parecer corno sendonecessrio) curso em #ue finalmente se imporia o potencial t(cnico'econmico superior do restante domundo) #ue no #ueria ser engolido ?? num certo sentido uma necessidade estat+stica e de modo algumuma l,gica gradual pass+%el de ser conhecida A simpatia #ue sobre%i%e em relao ao nacional'socialismonem precisa recorrer a muitos sofismas para con%encer a si mesma e aos outros de #ue tudo poderia terocorrido tamb(m de modo diferente) por#ue afinal o #ue aconteceu seria de%ido aos erros cometidos) sendoa #ueda de Eitler um acidente da hist,ria mundial #ue possi%elmente o esp+rito do mundo ainda iria corrigir

    &o referente ao lado sub-eti%o) ao lado ps+#uico das pessoas) o na3ismo insuflou desmesuradamente onarcisismo coleti%o) ou para falar simplesmente: o orgulho nacional "s impulsos narcisistas dos indi%+duos)aos #uais o mundo endurecido prometia cada %e3 menos satisfao e #ue mesmo assim continua%amexistindo ao mesmo tempo em #ue a ci%ili3ao lhes oferecia to pouco) encontraram uma satisfaosusbtituti%a na identificao com o todo $sse narcisismo coleti%o foi gra%emente danificado pela derrocadado regime na3ista $sses danos ocorreram no 5mbito do meramente factual) sem #ue os indi%+duos tenhamse dado conta deles para poderem assim elabor'los $ste ( o sentido s,cio'psicol,gico correspondente aodiscurso acerca do passado no dominado altou inclusi%e a#uele p5nico #ue) de acordo com a teoriafreudiana em Psicologia das massas e anlise do eu, se instala #uando as identifica0es coleti%as seesfacelam 6e atentar'mas 1s indica0es do grande psic,logo) isso permite apenas uma concluso: #ue) nofundo) a%olumando'se inconscientemente e por isto particularmente poderosas) a#uelas identifica0es e onarcisismo coleti%o no chegaram a ser destru+dos) mas permanecem existindo A derrota foi to pouco

    ratificada internamente pelas pessoas como - ha%ia ocorrido ap,s 99

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    espreita esperando ser sanado) primeiro procurando agarrar tudo o #ue se encontra na consci*ncia e #uefaa o passado coincidir com os dese-os narcisistas) e a seguir procurando modificar a realidade de modo#ue os danos se-am ocultos At( um certo ponto) a prosperidade econmica) a consci*ncia da pr,priaefici*ncia) preencheu esta meta $ntretanto du%ido #ue o chamado milagre econmico) de #ue todasparticipam mas em relao ao #ual todos t*m cr+ticas) possa ter a profundidade s,cio'psicol,gica #ue seimagina em tempos de relati%a estabilidade recisamente por#ue a fome perdura em continentes inteiros)embora pudesse ser abolida no #ue dependesse das condi0es t(cnicas para tanto) -ustamente por isto

    ningu(m consegue ser realmente feli3 com a prosperidade &os mesmos termos em #ue indi%idualmenterimos in%e-osos #uando assistimos) por exemplo) algum filme em #ue algu(m se deleita 1 mesa com oguardanapo preso 1 camisa) assim tamb(m a humanidade no se permite uma satisfao %isi%elmentepaga s custas da mis(ria da maioria2 o ressentimento afeta #ual#uer bom *xito) at( mesmo a felicidadepr,pria de cada um $star saciado tornou'se a prior um pala%ro) embora o mal #ue h em relao 1saciedade ( #ue existe #uem no tem o #ue comer2 o suposto idealismo #ue critica de modo to farisaico osuposto materialismo na Alemanha atual de%e muito do #ue considera ser a sua profundidade apenas ainstintos oprimidos " ,dio ao bem'estar re%ela na Alemanha o mal'estar com a prosperidade e para essemal'estar o passado ( deturpado como trag(dia Mas esse mal'estar) por sua %e3) no se origina de fontesobscuras) e sim de fontes muito racionais A ri#ue3a ( con-untural ningu(m confia em sua perpetuaoindefinida 4uando recorremos ao consolo de #ue acontecimentos como o da sexta'feira negra de 9R e acrise econmica com ela relacionada teriam poucas chances de se repetir) nisto h impl+cita a confiana emum poder estatal forte) de #ue se aguarda proteo inclusi%e #uando a liberdade econmica e pol+tica no

    funciona $m meio 1 prosperidade at( mesmo em per+odo de pleno emprego e crise de oferta de fora detrabalho) no fundo pro%a%elmente a maioria das pessoas se sente como um desempregado potencial) umdestinatria futuro da caridade) e desta forma como sendo um ob-eto) e no um su-eito da sociedade: este (o moti%o muito legitimo e racional de seu mal'estar = e%idente #ue) no momento oportuno) isto pode serrepresado regressi%amente e deturpado para reno%ar a desgraa

    &o h nenhuma d>%ida #ue o ideal fascista atual funde'se com o nacionalismo dos chamados pa+sessubdesen%ol%idos) agora denominados pa+ses em desen%ol%imento P durante a 6egunda Fuerra existianas pala%ras de ardem das plutocracias ocidentais e das na0es proletrias uma concord5ncia com a#ueles#ue se sentiam pre-udicados na concorr*ncia imperialista e procura%am a sua %e3 de sentar 1 mesa = dif+cilsaber se e em #ue medida essa tend*ncia - desembocou no fluxo anti'ci%ili3at,rio e antiocidental datradio alem2 se tamb(m na Alemanha se configura uma con%erg*ncia entre o nacionalismo fascista e onacionalismo comunista Eo-e em dia o nacionalismo ( ao mesmo tempo ultrapassado e atual Nltrapassado

    por#ue) em face da reunio obrigat,ria das na0es em grandes blocos sob a hegemonia das maispoderosos) tal como imposto at( mesmo pelo desen%ol%imento t(cnico do armamento) o $stado nacionalsoberano perdeu sua subst5ncia hist,rica) ao menos na $uropa continental desen%ol%ida A pr,pria id(ia denao) em #ue "utrora se reuniu a unidade econmica dos interesses dos cidados li%res e independentesface 1s barreiras territoriais do feudalismo) con%erteu'se ela mesma em obstculo para o e%idente potencialda sociedade em con-unto Mas o nacionalismo ( atual na medida em #ue somente a id(ia transmitida epsicologicamente enri#uecida de nao) #ue permanece sendo a expresso de uma comunidade deinteresses na economia internacional) tem fora para mobili3ar centenas de milh0es de pessoas paraob-eti%os #ue no so imediatamente os seus " nacionalismo est descrente em relao a si mesmo e)apesar disto) ( necessrio como sendo o meio mais efica3 para le%ar os homens 1 insist*ncia em situa0esob-eti%amente ultrapassadas or isto ele assume ho-e estes traos caricatos como algo no inteiramenteapropriado) propositalmente obnubilado = bem certo #ue esses traos nunca esti%eram totalmenteausentes dessa herana das brbaras constitui0es tribais primiti%as) mas eles esti%eram sob controle

    en#uanto o liberalismo confirma%a o direito dos indi%+duos como condio real da prosperidade coleti%a "nacionalismo s, se tornou sdico e destruti%o numa (poca em #ue se exacerbou " ,dio do mundo hitleristacontra tudo #ue era diferente) o nacionalismo como sistema paran,ico foi algo deste tipo2 o poder deatrao de traos desta ordem dificilmente diminuiu A paran,ia) o del+rio persecut,rio #ue persegue osoutros sobre os #uais pro-eta as suas pr,prias inten0es) ( contagioso Del+rios coleti%os) como o anti'semitismo) confirmam a patologia da#uele indi%+duo #ue re%ela no encontrar'se psi#uicamente 1 altura domundo e se refugia num fantasioso reino interior $sses del+rios podem at( dispensar o indi%+duo semi'enlou#uecido da necessidade de enlou#uecer por completo) conforme a tese do psicanalista $rnst 6immelor mais claramente #ue o del+rio do nacionalismo se apresente no medo racional de no%as catstrofes) eleacaba promo%endo a sua pr,pria expanso " del+rio ( um substituto do sonho de uma humanidade #uetorna o mundo humano) sonho #ue o pr,prio mundo sufoca com obstinao na humanidade Mas ao pat!osnacionalista se -unta tudo o #ue ocorreu entre 9;; e 9S;

    A sobre%i%*ncia do fascismo e o insucesso da to falada elaborao do passada) ho-e des%irtuada em suacaricatura como es#uecimento %a3io e frio) de%em'se 1 persist*ncia dos pressupostos sociais ob-eti%os #uegeram o fascismo $ste no pode ser produ3ido meramente a partir de disposi0es sub-eti%as A ordem

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    econmica e) seguindo seu modelo) em grande parte tamb(m a organi3ao econmica) continuamobrigando a maioria das pessoas a depender de situa0es dadas em relao 1s #uais so impotentes) bemcomo a se manter numa situao de no'emancipao 6e as pessoas #uerem %i%er) nada lhes resta senose adaptar 1 situao existente) se conformar2 precisam abrir mo da#uela sub-eti%idade autnoma a #ueremete a id(ia de democracia2 conseguem sobre%i%er apenas na medida em #ue abdicam seu pr,prio euDes%endar as teias do deslumbramento implicaria um doloroso esforo de conhecimento #ue ( tra%ado pelapr,pria situao da %ida) com desta#ue para a ind>stria cultural intumescida .omo totalidade A

    necessidade de uma tal adaptao) da identificao com o existente) com o dado) com o poder en#uantotal) gera o potencial totalitrio $ste ( reforado pela insatisfao e pelo ,dio) produ3idos e reprodu3idospela pr,pria imposio 1 adaptao Pustamente por#ue a realidade no cumpre a promessa de autonomia)enfim) a promessa de felicidade #ue o conceito de democracia afinal assegurara) as pessoas tornam'seindiferentes frente 1 democracia) #uando no passam at( a odi'la A forma de organi3ao pol+tica (experimentada como sendo inade#uada 1 realidade social e econmica2 assim como existe a obrigaoindi%idual 1 adaptao) pretende'se #ue ha-a tamb(m) obrigatoriamente) uma adaptao das formas de %idacoleti%a) tanto mais #uando se aguarda de uma tal adaptao um bali3amento do $stado comomegaempresa na aguerrida competio de todos "s #ue permanecem impotentes no conseguem suportaruma situao melhor se#uer como mera iluso2 preferem li%rar'se do compromisso com uma autonomia emcu-os termos suspeitam no poder %i%er) atirando'se no cadinho do eu coleti%o

    $xagerei nos aspectos sombrios) conforme a#uela mxima segundo a #ual ho-e em dia somente o exagero

    consegue %eicular a %erdade eo #ue no compreendam mal minhas considera0es fragmentrias efre#8entemente raps,dicas) como se fossem um catastrofismo 1 maneira de 6pengler) o autor de " ocasodo "cidente# a anlise deste fa3ia ela pr,pria o -ogo da desgraa .ontudo) a minha inteno foi atentarpara uma tend*ncia oculta pela fachada limpa do cotidiano) antes #ue ela se imponha por sobre as barreirasinstitucionais #ue at( o momento a mant(m sob controle " perigo ( ob-eti%o2 e no se locali3a em primeirainst5ncia nas pessoas E muitas indica0es de #ue a democracia e tudo o #ue ela implica estabelecem%inculas mais profundos com as pessoas do #ue ocorreu na (poca da Bep>blica de Weimar &a medida em#ue ressaltei o #ue no aparecia) no dei a ateno de%ida ao #ue no pode passar despercebido 1reflexo: a constatao de #ue na democracia alem de 9S at( ho-e a %ida material se reprodu3iu de ummodo mais pr,spero do #ue -amais aconteceu antes) fato #ue ( rele%ante inclusi%e por um prismas,ciopsicol,gico &o seria excessi%amente otimista afirmar #ue a democracia alem no %ai mal) nem %aimal tamb(m a elaborao efeti%a do passado) desde #ue se lhe garanta tempo e muitas outras coisas 6,#ue existe no conceito de ter tempo algo de ing*nuo e contemplati%o no mau sentido &em n,s somos

    meros espectadores da hist,ria do mundo transitando mais ou menos imunes em seu 5mbito) e nem apr,pria hist,ria do mundo) cu-o ritmo fre#8entemente assemelha'se ao catastr,fico) parece possibilitar aosseus su-eitos o tempo necessrio para #ue tudo melhore por si mesmo 7sto remete diretamente 1pedagogia democrtica 6obretudo o esclarecimento acerca do #ue aconteceu precisa contrapor'se a umes#uecimento #ue facilmente con%erge em uma -ustificati%a do es#uecimento) se-a por parte de pais #ueenfrentam a desagrad%el pergunta acerca de Eitler por parte de seus filhos e #ue) inclusi%e para seinocentar) remetem ao lado bom e #ue propriamente no foi to terr+%el assim = moda na Alemanha falarmal da educao pol+tica) #ue certamente poderia ser melhorada) por(m existem dados da sociologia daeducao indicando #ue) onde a educao pol+tica ( le%ada a s(rio e no como simples obrigaoinoportuna) ela pro%oca um bem maior do #ue normalmente se sup0e 6e a%aliarmos o potencial ob-eti%o desobre%i%*ncia da na3ismo com a gra%idade #ue lhe atribuo) ento isto significar inclusi%e uma limitao dapedagogia do esclarecimento 4uer se-a ela psicol,gica ou sociol,gica) na prtica s, atingir os #ue sere%elarem abertos a ela) #ue so -ustamente a#ueles #ue se fecham ao fascismo $ntretanto nunca (

    demais utili3ar o esclarecimento para reforar ainda mais este grupo contra a opinio no'p>blicaoder+amos imaginar inclusi%e #ue deste grupo sur-am #uadros de liderana cu-a atuao nos diferentesplanos acabe atingindo o todo) e as chances para uma tal atuao so tanto mais fa%or%eis #uanto maisconscientes forem eles pr,prios "b%iamente o esclarecimento no se restringir a esses grupos ou meabster de considera0es acerca da #uesto dif+cil e de muita responsabilidade relati%a 1 dimenso em #ue (apropriado referir'se ao passado em experi*ncias de esclarecimento p>blico) se uma insist*ncia nestesentido no pro%ocaria uma resist*ncia obstinada) produ3indo -ustamente o contrrio do #ue se pretendia.ontudo) penso) ao contrrio) #ue o consciente -amais se relaciona 1 infelicidade nos mesmos termos em#ue isto ocorre com o semiconsciente e o pr('consciente &o fundo) tudo depender do modo pelo #ual opassado ser referido no presente2 se permanecemos no simples remorso ou se resistimos ao horror combase na fora de compreender at( mesmo o incompreens+%el &aturalmente) para isto ser necessria umaeducao dos educadores $sta sofre gra%emente pelo fato de o #ue se chama de $e!a%ioural sciencesJci*ncias do comportamentoK por ora no serem) ou serem muito pouco) representadas na Alemanha 6eria

    urgente fortalecer nas uni%ersidades uma sociologia %inculada 1 pes#uisa hist,rica de nossa pr,pria (poca$m %e3 de se resumir a pala%r,rio melanc,lico de segunda mo sobre o ser das homens) a pedagogiade%eria assumir a tarefa cu-o tratamento insuficiente se critica com tanta insist*ncia na reeducationJreeducaoK &a Alemanha a criminologia nem de longe atingiu o seu n+%el moderno Mas ( preciso pensar

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    principalmente na psicanlise) #ue permanece reprimida $la) ou se encontra completamente ausente) ou foisubstitu+da por orienta0es #ue) en#uanto se %angloriam de superar o malfadado s(culo U7U) na %erdaderegridem para a#u(m da teoria de reud) possi%elmente deturpando a mesma em seu contrrio

    " saber preciso e incisi%o da psicanlise ( mais atual do #ue nunca " ,dio em relao a ela se identificadiretamente ao anti'semitismo) e no simplesmente por#ue reud era -udeu) mas por#ue a psicanliseconsiste exatamente na#uela autoconsci*ncia cr+tica #ue enfurece os anti'semitas $m #ue pesem as

    dificuldades) nem #ue se-am apenas de tempo) em reali3ar uma esp(cie de anlise de massas) e supondo#ue a psicanlise rigorosa dispusesse de um lugar institucional) a influ*ncia da mesma sobre o climaespiritual na Alemanha seria muito salutar) mesmo #ue se resumisse a tornar natural a atitude de noexteriori3ar a %iol*ncia) mas refletir sobre si mesmo e sobre a relao com os outros #ue costumam ser osdestinatrios dessa %iol*ncia De #ual#uer modo) tentati%as de se opor sub-eti%amente ao potencial ob-eti%ofatal no so satisfeitas com considera0es #ue pouco afetariam a gra%idade do #ue precisa serconfrontado Assim) por exemplo) indica0es acerca das grandes reali3a0e6 dos -udeus no passado pormais %erdadeiras #ue se-am) so de pouca ser%entia por#ue lembram propaganda $ a propaganda amanipulao racional do irracional) constitui um pri%il(gio dos totalitrias "s #ue se op0em aos mesmosno de%eriam imit'los de um modo #ue apenas se %oltar contra eles pr,prios aneg+ricos aos -udeus #uecaracteri3am os mesmos como grupo terminam por ser%ir ao anti'semitismo = to dif+cil criticar o anti'semitismo -ustamente por#ue a economia ps+#uica de muitas pessoas precisou dele e possi%elmente aindaprecisa Tudo o #ue acontece pela %ia da propaganda permanece amb+guo .ontaram'me a hist,ria de uma

    mulher #ue) ap,s assistir a uma dramati3ao do Dirio de &nne Frank,. declarou: !Iem) poderiam aomenos ter poupado esta menina! $ certamente at( mesmo esta foi uma declarao positi%a) en#uantoprimeiro passo em direo 1 tomada de consci*ncia or(m o caso indi%idual) cu-a funo era ser%ir deexemplo do todo) con%erteu'se por meio de sua pr,pria -ndi%iduao em um libi do todo) todo #ue acabousendo es#uecido por a#uela mulher " complicado em obser%a0es como esta ( #ue elas se#uer nosde%em indu3ir a no recomendar a exibio de peas como esta sobre Anne ranH) por#ue afinal elasacabam gerando uma influ*ncia positi%a) por mais #ue criti#uemos o dano #ue pro%ocariam a dignidade dosmortos Tamb(m no acredito #ue aproxima0es comunitrias se-am muito produti%as) encontros entre-o%ens alemes e -o%ens israelistas e outras manifesta0es de ami3ade) por mais lou%%eis #ue continuemsendo tais iniciati%as $las partem do pressuposto de #ue o anti'semitismos tenha em sua ess*ncia algo a%er com -udeus) podendo assim ser combatido por meio de experi*ncias concretas com -udeus) #uando) aocontrrio) o %erdadeiro anti'semita ( definido pela completa incapacidade de fa3er experi*ncias) por serinteiramente inacess+%el 6e o anti'semitismo existe primariamente em bases sociais e ob-eti%as) e a seguir

    nos anti'semitas) ento ha%eria sentido na piada na3ista de #ue) se os -udeus no existissem) os anti'semitas teriam #ue in%ent'los &a medida em #ue se #ueira combater o anti'semitismo nos su-eitos) no sede%eria esperar muito de atitudes en%ol%endo fatos #ue so re-eitados por eles ou ento neutrali3ados comosendo simples exce0es $m %e3 disto a argumentao de%eria se %oltar para os su-eitos #ue so osinterlocutores 6eria preciso tornar conscientes neles os mecanismos #ue pro%ocam neles pr,prios opreconceito racial A elaborao do passado como esclarecimento ( essencialmente uma tal inflexo emdireo ao su-eito) reforando a sua auto'consci*ncia e) por esta %ia) tamb(m o seu eu $la de%eria serconcomitante ao conhecimento da#ueles ine%it%eis tru#ues de propaganda #ue atingem de maneiracerteira a#uelas disposi0es psicol,gicas cu-a exist*ncia precisamos pressupor nas pessoas .omo se tratade tru#ues determinados e em n>mero limitado) no ( muito dif+cil mant*'los 1 disposio) utili3ando'osnuma esp(cie de %acinao pre%enti%a ro%a%elmente apenas uma atuao con-unta da#ueles pedagogose psic,logos #ue no se es#ui%am da mais prioritria das tarefas profissionais em nome da ob-eti%idadecientifica poderia solucionar o problema da reali3ao prtica de um tal esclarecimento sub-eti%o .ontudo)

    em face da %iol*ncia ob-eti%a existente por trs desse potencial sobre%i%ente) o esclarecimento sub-eti%ono ser suficiente mesmo #ue se-a enfrentado em termos diferenciados de energia e profundidade 6e#uisermos contrapor ob-eti%amente algo ao perigo ob-eti%o) no bastar lanar mo de uma simples id(ia)ainda #ue se-a a id(ia da liberdade ou da humanidade) cu-a conformao abstrata) como %imos) nosignifica grande coisa para as pessoas 6e o potencial fascista se ap,ia em seus interesses) por maislimitados #ue se-am) ento o ant+doto mais efica3) por#ue e%idente em sua %erdade) permanece sendo o deatentar aos interesses das pessoas) sobretudo os mais imediatos 6er+amos efeti%amente acusados depsicologismo delirante caso no considerssemos em tais oportunidades #ue) embora a guerra e osofrimento #ue trouxe ao po%o alemo no tenham sido suficientes para e%itar a#uele potencial fascista)certamente so importantes para se contrapor ao mesmo Lembremos 1s pessoas o mais simples: #ue ore%igoramento direto ou indireto do fascismo representa sofrimento e mis(ria num regime autoritrio) e) em>ltima anlise) pro%a%elmente a hegemonia russa sobre a $uropa2 resumindo) #ue desta forma se instalariauma pol+tica catastr,fica 7sto surtir mais efeito do #ue atentar a ideais ou ento remeter ao sofrimento dos

    outros) o #ue - La Bochefoucauld sabia ser facilmente superado $m face dessa perspecti%a) o mal'estardo presente representa pouco mais do #ue o luxo de um estado de 5nimo $ntretanto) apesar de todarepresso psicol,gica) $stalingrado e os bombardeios noturnos no foram es#uecidos a ponto deimpossibilitar a compreenso de todos acerca da relao #ue existe entre uma pol+tica igual 1 #ue le%ou

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    1#uela situao e a perspecti%a de uma terceira guerra p>nica Mas) mesmo acontecendo isto) o perigopermanece " passado s, estar plenamente elaborado no instante em #ue esti%erem eliminadas ascausas do #ue passou " encantamento do passado pde manter'se at( ho-e unicamente por#uecontinuam existindo as suas causas

    &ota

    9 $sta frase consta da confer*ncia original alta no texto impresso de 9V;