adolfo kolping livro · com uma linguagem de sabedoria, ... ficamos sabendo de fatos sobre a sua...

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Franz Lüttgen Adolfo Kolping Uma vida exemplar A importância social de Adolfo Kolping

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Franz Lüttgen

Adolfo Kolping

Uma vida exemplar

A importância social de

Adolfo Kolping

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Apresentação

Nesta Cartilha “História que Escrevemos” registramos a Vida

Exemplar de Adolfo Kolping, bem como toda a sua Importância Social,

compreendidas em sua época e ao longo do tempo da caminhada da Obra

Kolping deixada por Adolfo Kolping, em todo seu legado de homem de

verdadeira fé cristã, totalmente preocupado com os problemas sociais, e

com os jovens, como construtores e transformadores desta sociedade, em

um lugar mais digno e fraterno para vivência comunitária.

Para que “não esqueçamos que onde o esforço humano não alcança,

ai se faz presente a ajuda de Deus”, pois “o cristianismo não se reduz a

belas palavras e expressões vazias, pelo contrário deve ser praticado com

generosidade e sacrifício, transformando o meio social”.

Com uma linguagem de sabedoria, clara e objetiva Franz Lüttgen,

nos leva a uma reflexão do quanto a proposta de Adolfo Kolping

transformou e ainda realiza quebras de paradigmas nesta nossa

sociedade contemporânea.

Pois “ tantos pobres poderiam ser aliviados ou até sustentados com

aquilo que entre muitos é simplesmente desperdiçado sem nenhuma

finalidade razoável.”.

Esperamos que em nossas Comunidades Kolping espalhadas por

todo mundo “ Que o amor ativo possa sarar as feridas das injustiças

sociais, pois meras palavras apenas intensificam a dor”, nas linhas

contidas nesta “ História que Escrevemos”, encontremos os

ensinamentos de caminhada do amigo e mestre Beato Adolfo Kolping

que nos diz: “ O Futuro pertence a Deus e aos corajosos”.

Gerson Soares Xavier

Coordenador Estadual

Belo Horizonte / 17 / Julho / 2008.

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Prefácio

O nome Obra Kolping foi extraído de uma organização histórica, criada no século XIX, mais exatamente entre 1813 e 1865, e que se chamava “Associação Católica de Jovens Aprendizes de Artesãos”. Desde que Kolping ficou conhecido no início de 1850 na Alemanha católica, as palavras “Jovens Aprendizes” e “Kolping” passaram a ser sempre associadas uma à outra. Atualmente, uma “Associação de Jovens Aprendizes de Artesãos” não teria tantos membros quanto a Obra Kolping, pois os sócios mudaram enormemente no decorrer das últimas décadas: primeiramente, em 1933, deixaram de ser os membros de uma Organização de Jovens Artesãos, passando a ser a “Família Kolping”, incluindo todas as profissões que incluem trabalho braçal até os anos 50. Então passaram a ser os membros jovens, sob a denominação de”Juventude Kolping”e, desde os final dos anos 60, a sociedade estendeu-se a mulheres e moças e, finalmente, a todos os grupos profissionais. Dessa maneira, pode-se querer saber o quê diferencia a Obra Kolping de outras organizações do gênero. A resposta a esta pergunta encontra-se na pessoa de Adolph Kolping, que continua mantendo a associação unida como exemplo histórico. Por isso, sempre foi importante para a associação dirigir o olhar para Kolping sempre que surgem questões concretas dentro da própria Família Kolping ou dentro da associação, pois quando se procuram novas inspirações ou motivações para o trabalho, a ligação com esta figura histórica reaparece.

Muito já foi escrito sobre Kolping. A primeira e breve biografia sobre ele surgiu enquanto ele ainda era vivo. Em 1880, seu sucessor no cargo da Presidência Geral, Sebastian Georg Schäffer, publicou um livro sobre toda a sua vida. Desde que se cogitou no processo da sua beatificação, começou-se a coletar intensivamente informações orais e escritas sobre ele. E assim, muitos detalhes sobre sua vida, de que não se tinha notícia no século XIX, tornaram-se conhecidos. Foram também realizadas pesquisas científicas sobre ele, que trouxeram novas abordagens, por exemplo, através da biografia de Schäffer, Kolping era conhecido de uma maneira geral como o “Pai dos Aprendizes” e com o surgimento da tese de doutorado de Michael Schmolke em 1965, o foco passou a ser “Adolph Kolping como Publicitário”. E também o longo trabalho – incluindo o meu - para a edição dos “Escritos de Adolph Kolping” trouxe novos conheci-

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mentos sobre ele, que esclarecem mais ainda alguns detalhes da sua vida. Com isso, a imagem de Kolping ganha novos traços, sendo muitos deles dignos de nota, podendo servir até hoje como exemplo atual e futuro para os membros da Obra Kolping.

Nota da tradutora: A palavra “Geselle” designava o jovem que se encontrava em uma fase específica dos seus estudos, aquela em que ele deveria fazer um estágio em uma firma qualquer, por exemplo, olaria, carpintaria, etc, para adquirir o certificado de conclusão de estudos. Hoje, em termos de tempo e idade, esta fase seria a do Ensino Médio. Só com este estágio é que ele poderia conseguir o título de Mestre e assim poder trabalhar. Muitas vezes, estes jovens tinham que viajar para outra cidade, à procura de uma empresa onde pudessem estagiar e, com isso, tinham que procurar um lugar onde morar. Às vezes, moravam na própria empresa ou na casa do respectivo mestre. Diante desta situação é que Kolping, que também foi um aprendiz de sapateiro, teve a idéia de fundar a Associação dos Aprendizes de Artesãos, preocupado principalmente com o alojamento dos mesmos, que ficavam expostos a muitas tentações por estarem sozinhos em uma cidade estranha e por serem ainda muito jovens.

A título de simplificação, escolhi a denominação de “Associação de Jovens Aprendizes”.

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Adolfo Kolping

Uma vida exemplar

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A Vida de Adolph Kolping até o final da época dos aprendizes, de 1813 a 1837

InfânciaAdolph Kolpíng nasceu aos 08 de dezembro de 1813, em uma cidadezinha

chamada Kerpen, na Baixa Renânia, em um ambiente pequeno-burguês e simples. Seu pai era agricultor, e conseguia se manter cuidando de um rebanho de ovelhas. Sua mãe, Maria, que quando solteira tinha o sobrenome Zurheiden, era uma mulher pobre, mas profundamente religiosa, de acordo com a descrição do próprio Kolping. O primeiro filho deste casamento era o Wilhelm, que mais tarde deveria assumir a direção da casa paterna. Depois do Wilhelm, nasceram duas irmãs, Margarete e Anna Katharina. A primeira faleceu em Kerpen em 1838 e a segunda, nove anos mais tarde. Ambas foram governantas do seu irmão padre. Adolph era, portanto, o quarto filho do casal. Uma outra irmã faleceu quando tinha apenas três anos. O avô, Adolph Marianus, vivia na mesma casa e foi ele quem escolheu o nome do nosso Kolping.

A Certidão de Nascimento de Kolping foi redigida em Francês e isso porque Kerpen, sua cidade natal, e toda a região esquerda da Renânia, tinham passado a fazer parte do Estado Francês desde 1801. A esta altura, a Batalha dos Povos em Leipzig já havia acontecido e, no início do ano de 1814, as tropas francesas já tinham sido obrigadas a voltar a suas regiões originais.

Ficamos sabendo de fatos sobre a sua infância através das reminiscências do próprio Kolping. Certa vez, ele escreveu: “Meus pais eram pessoas tranqüilas e honestas, cujo único bem era a sua família numerosa, cujo sustento os ocupava bastante. O rebanho de ovelhas do meu pai, uma casinha com jardim e alguns pequenos lotes [!] permanecem até hoje a herança dos nossos antepassados, que conservamos fielmente. Mas o que era mais precioso para meus pais era a educação dos filhos, e nenhum deles devia faltar às aulas. Como caçula, tive uma grande vantagem, pois enquanto os irmãos mais velhos já podiam e deviam ajudar nas tarefas domésticas, eu podia me dar ao luxo de ficar só por conta da escola.“

Kolping gostava de descrever sua juventude de uma maneira um tanto sofrida. Certa vez, por exemplo, escreveu : “Nunca fui tão feliz, no que diz respeito ao ser humano terreno, como quando me sentava ao lado do meu avô, minha mãe ao lado dele fiando na roca, o pai, que tinha trabalhado o dia inteiro, sentado atrás do fogão fumando seu cachimbo, minhas irmãs brincando ao meu redor, e eu ouvia o meu avô contar pequenas peças ou contos de fadas. Naquela época eu fui tão feliz, que nunca mais encontrei tal felicidade terrena. Era uma vida familiar pobre, mas religiosa e satisfeita e, por isso, feliz.”

Kolping descreveu também como sua fantasia e imaginação foram incentivadas: “Sempre gostei de ouvir histórias. Quando menino, eram Contos de Fadas e histórias de heróis, extraídas dos bem conhecidos livros populares, que me aqueciam a imagina-ção. No inverno, havia o Franz, uma cabeça cheia de fantasia, que se sentava junto ao

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fogão em nossa casa ou na de um vizinho, contando sempre, entrava ano, saía ano, um mundo inteiro de Contos de Fadas, e todos o ouviam, jovens e até os velhos, ao “super-mentiroso”, como o chamavam.”

Nas lembranças mais tardias, o sofrimento costuma deixar de ser o centro das atenções, por exemplo, a penúria dos pais para alimentar os filhos. Assim, estas citações dão testemunho de uma juventude relativamente despreocupada. Narrativas orais e escritas incentivavam sua fantasia e temas religiosos desempenhavam um papel decisivo na Literatura Popular do século XIX e em Kerpen também era assim. Kolping recebeu as primeiras lições na Escola Popular, que freqüentou até completar 13 anos. Ele admirava muito o seu professor, Jakob Wilhelm Statz.

Aprendiz e estagiárioMesmo querendo continuar a estudar, Kolping tinha que fazer o estágio de

sapateiro, depois de ter completado a Escola Fundamental. Sobre esta época da sua vida, ele escreveu que: “As únicas orientações que recebi do meu Mestre se devem à minha grande vontade de ler, que eu procurava satisfazer durante cada minuto livre.”

“Depois do estágio eu podia ler e assim, ampliar os meus conhecimentos. [...] Através deste duplo objetivo, aprimoramento intelectual e físico, sendo que um deles uma hora iria ser mais importante do que o outro, lancei o fundamento de uma inquietação inexplicável, mas cujo motivo comecei a compreender. É que eu nunca estava satisfeito com meus conhecimentos, meu saber não me contentava, minhas habilidades, depois de aprendidas, não correspondiam às minhas expectativas; cansei-me da vida na pequena cidade. Resolvi então visitar as cidades mais próximas na vizinhança, para procurar maiores e melhores oficinas de estágio, para executar um trabalho mais perfeito e conhecer pessoas mais instruídas.”

Ele expressou sua ansiedade interior desta época com as seguintes palavras: “A formação profissional era o que eu tinha em mente, ao entrar em uma cidade vizinha;” – provavelmente Colônia – “mas ao invés de encontrar condições de aprendizado, encontrei grande ignorância e grande miséria intelectual. E eu também me sentia miserável, quando me juntava a tais pessoas e ambiente, tendo que conviver com eles, desperdiçando os dons do Criador; e infeliz, quando tentava me ver livre deles, para seguir meu próprio caminho, o que era quase impossível, porque este negócio, o estágio, implicava uma convivência com os demais. E quem se aproximaria de um sapateiro que almeja uma formação superior?”

Em 1849 e 1850 Kolping escreveu nos seus dois primeiros Calendários Populares a história do aprendiz “Stoffel”, que quase se deu muito mal em Colônia. Há toda uma série de elementos favoráveis à afirmação de que ele descrevia a própria vida em sua última oficina em 1835, ou seja, de que ele era o Stoffel; e muitos detalhes da sua narrativa reproduzem sua última atividade como estagiário em Colônia. A leitura destas histórias ajuda muito a conhecer o ambiente das firmas daquela época. Kolping caiu na devassidão, mas conseguiu se libertar, “sair daquele pântano”, à custa de muito esforço.

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Vamos ouvir o que diz o próprio Kolping: “Eu tinha quase 22 anos e havia construído a base para o meu progresso, meus pais já se alegravam com a possibilidade de me verem realizado na vida; mas eu mesmo estava perdido e desprotegido. Eu não podia continuar vivendo entre esta gente, não podia desperdiçar minha vida; mas sair daquelas circunstâncias, começar uma nova maneira de viver, era um empreendimento tão ousado quanto perigoso.”

Aos poucos, ele amadureceu a idéia de tornar-se padre. Para ele, não havia outra possibilidade de sair do seu dilema; contudo, o componente religioso foi mesmo o fator que mais pesou para a sua decisão. Quando ele informou seu pai sobre a sua decisão, o pai respondeu que “se eu não estivesse satisfeito com minha condição, também procuraria modificá-la; e teria seu consentimento, porque estaria convicto de que Deus me estaria guiando para o meu bem”. Mas o padre da sua paróquia disse-lhe: “Cada macaco no seu galho!” Dois outros padres passaram a dar-lhe aulas de Latim em sua casa, pois ele estava doente e de cama. Recuperando a saúde, continuou trabalhando e estudando em Colônia e seu quartinho ficava em frente à moradia de outro padre, a quem ele contou mais tarde, quando ele também já tinha se ordenado:”Quantas vezes eu olhei para a sua sala de estudos, lá da oficina da firma, te invejando porque você podia se debruçar sobre os livros sem ser perturbado, enquanto eu tinha que lidar com martelo e correias, tendo que adiar meus estudos de Gramática, ou estudar como se fosse um contrabandista!”

O difícil caminho de Adolph Kolping até à Ciência, de 1837 a 1845

GinásioNo outono de 1837, ele entrou para a 3ª série do colegial no Marzellengymnasium.

Era muito mais velho e mais maduro do que seus colegas e estava começando uma vida inteiramente nova para ele. Passou então a escrever um diário, onde se espelham tanto o novo sentido da vida de um estudante quanto a luta pela sua profissão.

Para ele, a vida de estudante não era nada fácil, o que Sebastian Georg Schäffer descreveu assim: “Quando se é rico, não se faz a menor idéia das preocupações e necessidades por que passa um estudante pobre e estas preocupações pressionavam nosso Kolping, justamente naqueles anos em que o espírito mais precisa ser livre [...] Mal tinha progredido em seus estudos, teve que dar aulas particulares de reforço para estudantes de classes menos adiantadas, procurando ganhar uns trocados por um trabalho tão árduo. Enquanto seus colegas podiam descansar ao ar livre, recuperando-se do esforço feito durante as aulas, ele tinha que trabalhar na parte da tarde, para ganhar o dinheiro para suprir suas necessidades básicas, tendo que executar as tarefas dos seus estudos à noite. No dia seguinte, tinha que se levantar cedo e acordar os alunos retardatários. Reclamou certa vez junto aos membros da Associação dos Aprendizes, alegando que fazia estes serviços por um salário muito baixo.”

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Esta época escolar coincide com a fase poética de Kolping. Em junho de 1840, iniciou um volume de poemas depois de, semanas antes, ter publicado um deles em Colônia, contendo traços autobiográficos. O título do livro era “Walter e seu Filho”, cujo tema é a total submissão à vontade de Deus para pai e filho, após o falecimento da mãe. Coincidentemente, a mãe de Kolping havia falecido em 1833, de modo que o estudante procurava se firmar no círculo literário de Colônia e superar a perda da mãe através da escrita.

Esta fase poética deve-se também ao fato de Kolping ter-se apaixonado pela filha do professor de Kerpen, Anna Kläre Margaretha Statz, mas o pai não o via com bons olhos. As estrofes que transcrevemos abaixo elucidam bem como Kolping teve que batalhar pela sua profissão e também por este amor:

”E ele encontrou a estrela,Pois a sorte já lhe tinha escapado,Restando-lhe somente uma dor constante.Mas que dó, jamais ele poderá se aproximar da estrela,Nunca buscar a felicidade,Mesmo que lhe seja tão cara.

E a florescência alegre da vidaSe foi, todo o seu estado de espíritoVirou as costas para o planeta Terra.Pois aqui na Terra não lhe será dada a felicidade,Mas sim lá, em uma vida melhor,Onde serão unidos pelos laços do amor.”

O Estudante de TeologiaNo início de 1841, Kolping passou nos exames que correspondem ao nosso

Vestibular. Pouco antes de iniciar seus estudos, fez a seguinte observação a respeito do seu futuro: “Agora começa o terceiro capítulo da minha vida, no qual posso atuar com mais atividade e liberdade para minha futura profissão. Há 14 anos que as preocupações não se afastam de mim, na mais bela época da minha vida. Mas espero que elas se afastem de mim em breve, pelo menos seu lado mais grave. Meus estudos universitários estão garantidos, começará então uma vida mais leve e mais ativa.” O fato de Kolping não se preocupar com o financiamento dos seus estudos universitários deve-se ao fato de a filha de um rico proprietário de Kemper tê-los financiado. Ele próprio teria comentado que “Deus ajudou maravilhosamente.”

Quando então ingressou na Universidade de Munique, o mundo da Ciência Teológica se abriu para ele. Durante três semestres, até o outono de 1842, Koping estudou na Faculdade de Teologia, onde lecionavam grandes cabeças daquela época. Se já tinha sido iniciado na corrente Ultramontana, quando ainda cursava o Ginásio e por outros padres de quem era amigo, aqui na Universidade ele tinha um contato intenso com esta corrente moderna do Catolicismo, nas aulas e em conversas particulares. Esta

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corrente lutava pela liberdade da instituição Igreja contra a tutela estatal, aceitando os impulsos vindos do outro lado da montanha, da Cúria Papal. Em conseqüência disso, uma corrente teológica mais antiga, que apostava em um trabalho conjunto com entidades estatais, foi difamada e excomungada. Sendo assim, pode-se compreender melhor a luta de Kolping contra os hermesianos, que tiveram um papel importante na Faculdade de Teologia de Bonn.

Sem poder detalhar mais aqui o conteúdo teológico dos estudos e os nomes dos professores, gostaríamos de registrar que Kolping estudou com afinco e muita atenção durante os três semestres em Munique, o que foi comprovado por Josef von Görres. Aproveitou-se também de todas as outras vantagens culturais oferecidas por Munique, tendo freqüentado museus e teatros e, naturalmente, fez amizade com outros estudantes que, como ele, eram da Prússia.

Nas primeiras férias semestrais, fez uma longa caminhada com mais três estudantes, saindo de Munique, passando pelo Tirol e indo até Veneza e dali regressando a Munique, tudo isto a pé. Dispomos de muitas informações sobre esta caminhada, porque ele escreveu um diário durante ela. Impressionante é o que eles conseguiram, em termos de esforço físico, durante muitos dias de caminhada, andando a pé de 6 e ½ da manhã até ao cair da noite. Durante a caminhada, visitaram todos os monumentos históricos que se encontravam nas cidades por onde passaram. Em parte, a caminhada tomou um aspecto de romaria, quando nas cidades de Kaltern e Capriana duas místicas se juntaram aos peregrinos. Tais romarias eram recomendadas em Munique.

Ao final da época de Munique, Kolping escreveu em uma carta: “Quase me tornei bibliotecário com o Professor Döllinger, trabalhando diariamente em sua biblioteca.”

No outono de 1842, Kolping mudou-se para a Universidade de Bonn. Paralelamente aos intensos preparativos para os exames finais, tornou-se politicamente ativo. Referimo-nos aqui à batalha que Kolping travou anonimamente em panfletos públicos contra os últimos hermesianos que ainda lecionavam na Faculdade de Teologia e pelo apoio de dois novos docentes “ultramonteses”. Comparando-se com Munique, estes três semestres em Bonn foram mais sérios, pois a ordenação como padre se aproximava, mas o estudo também o atraía. Mais tarde, ele descreveu a época assim: “Além de tudo, estudar oferece algo de especial. [...] É como se alguém bebesse algo e, ao invés de mitigar a sede, ficasse com mais sede ainda, como se estivéssemos viajando e o caminho se alongasse mais diante dos nossos olhos, e o objetivo se afastasse cada vez mais, ao invés de se aproximar. Contudo, não se consegue parar de beber desses estudos e nem descansar os pés da longa caminhada.” Suas notas foram tão boas quanto as de Munique.

Preparação para a ordenaçãoO ano que Kolping passou no seminário, 1844 – 1845, foi marcado pela atmosfera

intelectual e espiritual e pelos preparativos práticos para o trabalho como padre. Nesta fase tranqüila, redigiu uma pequena dissertação sobre o sacramento da ordena-

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ção, que não pôde ser conservado e também uma poesia, “À amiga”:

“Reze, amiga, nas horas sombrias da dor,Quando as lágrimas mantêm o seu olhar turvo.Reze, amiga, quando você encontrar alegriaNeste jogo alternado do mundo.Até aos mais pobres restou um consolo:Ele pode rezar e esperar em fé, suportar, amar. [...]

Algum amor foi destruído pela aparência,Contudo floresce magnificamente na paz abençoada.”

O pai de Kolping faleceu um dia antes da sua ordenação, aos 13 de abril de 1845 na Igreja Minoriten de Colônia.

O caminho de Adolph Kolping rumo ao seucompromisso de vida, de 1845 a 1849.

Dificuldades de Orientação em ElberfeldOs anos que Kolping passou como capelão na cidade de Elberfeld, de 1845 a

1849, até a sua ordenação como padre, podem ser caracterizados como os anos de sua juventude, a fase entre juventude e idade adulta, ou seja, ele era um “jovem adulto”. Foi aqui que aprendeu o trabalho pastoral, cujo aprendizado não foi fácil para ele, pois com sua maneira de ser, tratava alguns membros da comunidade de tal modo, que eles se queixavam da sua “arrogância”.

Uma carta de janeiro de 1848, escrita por um seu amigo padre, mostra que ele ainda não havia atingido o equilíbrio emocional: “Vejo que ainda há muita inquietação e calor do antigo Kolping em você, logo vão aumentar e depois declinar, ora querendo comandar o mundo, ora achando que não serve para nada, ora querendo se comunicar com mil pessoas, logo em seguida não conseguindo se entender nem com uma pessoa, ora se entusiasmando com a “Associação de Jovens”, e ora querendo sair de Wuppertal.” Em Munique, os estudos tinham despertado a sua admiração pela Teologia enquanto ciência, especialmente nos campos da História da Igreja e da Dogmática. Ele esperava poder se dedicar a essas inclinações como capelão, mas passado um mês ele escreveu: “Meus bons propósitos de retomar os meus estudos preferidos e de me especializar nas Ciências continuam vivos, mas nem posso pensar nisto aqui.” No futuro, ele também teria que renunciar a seus propósitos, porque as atividades de capelão e de professor de religião no ginásio lhe tomavam todo o tempo. Deve-se levar em consideração que a continuação dos estudos científicos não teria sido muito simples para ele, porque nos dez anos dedicados à aprendizagem da profissão, ele não pôde dar prosseguimento ao seu desenvolvimento intelectual. Esta necessidade de recuperar conhecimentos acompanhou-o até a sua morte.

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A Associação de Jovens de ElberfelderKolping conheceu a Associação de Jovens em dezembro de 1846, uma das muitas

fundações do professor Johann Gregor Breuer. Kolping nada teve a ver com as origens desta associação e ficou sabendo da sua existência ao ler os Escritos de Breuer de 1º de novembro de 1846, que deveriam tornar-se o programa de vida pedagógico para os jovens, tanto mais novos quanto mais velhos, tanto homens quanto mulheres, e o primeiro motivo para sua concepção foi o propósito de realizar o sonho de alguns aprendizes, o de cantar durante a procissão do pároco. O professor dedicou-se a eles e verificou que aqueles jovens tinham muito que recuperar, tanto em escolaridade quanto em contato humano. E dessa forma surgiu a Associação de Aprendizes ou Associação de Jovens, com o capelão Josef Xaver Steenaerts como presidente. “Quando Breuer visitou o capelão Kolping, no início de novembro, ele foi ao seu encontro com os escritos na mão”. Irradiando alegria, bateu-lhe no ombro, dizendo que havia pensado naquilo toda a sua vida.

Quando Kolping foi levado à Associação por Steenaerts, ele notou que se sentia como que em casa, quanto à linguagem e ao modo de pensar dos jovens, devido ao seu passado de aprendiz. Breuer conta sobre a primeira visita de Kolping aos jovens, em uma segunda-feira à noite, que “ele se apresentou aos jovens como se fosse um deles também, quer dizer, como filho do seu Mestre Sapateiro, discorrendo com palavras entusiasmadas e entusiasmantes sobre a alegria e o sofrimento dos aprendizes.” A maneira original com que se dirigiu aos jovens e, mais ainda, sua compreensão para com os sofrimentos dos aprendizes quando estão fora das suas cidades natais, e ainda o seu tom cordial fez com que conquistasse imediatamente todos os corações. A partir de então, Kolping passou a freqüentar a associação todas as segundas-feiras à noite, mesmo não sendo membro da presidência. Os jovens gostavam tanto das suas palestras, que muitos a aguardavam toda a semana.” A abordagem pedagógica de Breuer convencia-o cada vez mais de ser este o seu compromisso de vida: o engajamento com o ensino para os jovens, principalmente os do sexo masculino. Em junho de 1847 foi eleito o sucessor de Steenaerts na vice-presidência da Associação.

Pouco tempo depois, subiu ao púlpito e apresentou à Paróquia da comunidade católica os objetivos daquela Associação de Jovens ou de Aprendizes e o fez com imagens que Breuer descreveu nos seus escritos como: “Meus queridos, quando é que o campo necessita de mais dedicação, o jardim de maiores cuidados, a árvore de maior atenção? Quando os frutos devem ser colhidos, ou quando a semente foi lançada, ou quando se dá a florescência na primavera? Não preciso responder, todos o sabem. Assim também o ser humano precisa de maiores cuidados quando a semente do bem lhe é implantada, ou seja, na sua juventude.”

Uma Associação é o meio ideal de ajudar aos jovens: “Uma união de jovens homens, aos quais é de suma importância usar a sua juventude de maneira racional, manter-se longe das atividades de muitos outros, como embebedar-se, para manter a boa semente e desenvolver-se como bons cristãos, servidores de Deus e cidadãos capazes.” Apresentou então a Associação de Jovens, onde já atuava há um ano, dizendo

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que “O objetivo da nossa associação é preservar os jovens do mal e incentivá-los ao bem. [...] E é disso que precisamos no mundo, de pais de família capazes e sérios, [...] que cuidarão bem dos seus filhos de acordo com a lei e o Direito. E a felicidade doméstica talvez seja o fruto da nossa associação.”

Como nos escritos de Breuer, impera aqui também uma perspectiva pastoral, a preocupação com os jovens homens. Breuer havia colocado o conceito de “formação” no centro das suas considerações. E correspondendo a esta preocupação, Kolping expressou-se em detalhes em seu discurso sobre “aprender”, junto com “rezar e trabalhar”, demonstrando o quanto ele tinha assimilado as idéias de Breuer sobre as aulas dentro da Associação.

A Associação de Jovens como Programa de Vida Há uma descrição de Kolping, no início da sua gestão como Presidente que,

apesar de só anotada mais tarde, combina perfeitamente com a história do seu desenvolvimento: “Kolping tornou-se então Presidente da Associação de Aprendizes. Decorridos seis meses, a associação se dissipou. O jovem Kolping procurou então o Sr. Breuer e pediu-lhe ajuda ao que Breuer respondeu: “O Sr. está fazendo tudo ao contrário, Sr. Capelão, é preciso ter mais leveza, empreender curtas viagens e dar aulas aos jovens, como eu fiz.” Kolping seguiu estas instruções e mais tarde pode-se ler: “A partir daí, tudo se modificou e a Associação foi ficando cada vez mais forte.” Só podemos dar os parabéns a Kolping por este sucesso.

Durante dois anos ele adquiriu experiência com a Associação de Aprendizes e deve ter refletido muito a respeito. No outono de 1848 ele escreveu a obra: “A Associação de Aprendizes. Para todos aqueles que almejam o bem-estar do povo.” Depois desta obra, a Associação de Aprendizes dá resposta às seguintes falhas na vida dos aprendizes da época: primeiro, “um apoio moral mais forte”; segundo, “a oportunidade de morar fora das oficinas da firma e da casa dos donos de estalagens”, terceiro, “a oportunidade de adquirir instrução para sua profissão e para o seu futuro”, quarto, “um lazer adequado e edificante”, quinto, “a oportunidade de renovar a religião em seus corações, para ser cordial com e para os outros.”

Em uma carta quanto a esta obra, ele expressa sua opinião dizendo que o “assunto tomou quase todo o meu tempo neste outono, e até neste momento me dá trabalho. [...] Eu fiquei em oficinas de empresas por dez anos e Deus me conduziu maravilhosamente para fora do Egito.” [...]

Nossa Associação tem caráter civil e atua como uma irmandade, ajudando no lado prático da vida e nas necessidades religiosas. Penetrando no meio do povo através da associação, comprovamos pela ação que todos os seus problemas merecem a nossa atenção e, com isso, atraímos de volta aqueles que haviam se afastado de nós. Gostaria muitíssimo de ver esta associação introduzida em toda a Alemanha católica. Aliás, precisaríamos educar os padres para isso, contudo as condições são favoráveis. [...]

Devo confessar que, desde que o planejamento relativo à associação amadureceu em mim, me entendi melhor e os caminhos de Deus ficaram mais claros para mim.

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Durante minha estada em Munique e durante mais algum tempo ainda, eu vivia pensando em me dedicar a estudos científicos, algumas disciplinas me eram especialmente agradáveis, contudo, jamais consegui realizar este desejo e a prática aqui não permitiu mais nenhuma esperança. Encontrava-me sempre entre pessoas, das quais a mão de Deus me havia salvo. Mas desde que voltei a ter contato com o povo dentro da associação, apagou-se a vontade de estudar as ciências e até acho que não sou a pessoa adequada para isto; ao contrário, sinto-me em meu elemento, quando dou aulas para o povo. [...] E em nossa época, quando a questão social se insinua para o primeiro plano, juntamente com a questão religiosa, quando as condições nos lançam violentamente para o povo, a associação é um excelente meio para se trabalhar nas soluções das questões acima mencionadas.”

Portanto, Kolping encontrou seu programa de vida nos dois anos a partir de dezembro de 1846, o qual ele parafraseia aqui como “Docência para o Povo”, mas trata-se no fundo da formação católica dos jovens no seu ofício de artesãos, tarefa bem conceituada na época, porque havia poucos jovens que estudavam e os jovens trabalhadores de fábrica ainda não desempenhavam um papel relevante; apenas a juventude que vivia no campo ou no interior pode ser comparada, em termos numéricos, com a juventude dos jovens artesãos da época.

Em uma conclamação aos jovens aprendizes, de outubro de 1848, ele descreve este seu programa de vida pedagógico, depois de ter descrito a capacitação na formação profissional, na própria profissão e na cristandade, da seguinte maneira: “Cooperar com a felicidade de vocês, servir a vocês, que me são tão caros, permanecerá para mim, com a graça de Deus, um posto caro e importante durante toda a minha vida.”

Adolph Kolping como Presidente dos Aprendizes, 1849 – 1865Se Johann Gregor Breuer foi o fundador da primeira Associação de Aprendizes,

Kolping foi o primeiro organizador. Ele teria dito certa vez a Sebastian Georg Schäffer que a idéia da Associação de Aprendizes o perseguia noite e dia, de tal modo que ele teria se tornado uma vítima do seu próprio entusiasmo interior, se a transferência para Colônia não lhe tivesse proporcionado a desejada oportunidade de poder atuar para a divulgação da sua [!] idéia em círculos maiores. Naqueles dois anos, de 1847 a 1849, Kolping primeiramente estudou a idéia de Breuer para melhor assimilação. Por outro lado, ele deve ter refletido bastante sobre como ele poderia formar uma organização de Associações de Aprendizes. Posteriormente, de 1849 a 1865, ele construiu esta organização de maneira exemplar e este feito extraordinário, para o qual ele não teve nenhum modelo a seguir, tornou-o mundialmente conhecido.

O sucesso deste empreendimento deve-se a fatores tais como o fato de ele colocar sua própria pessoa, seu passado e seus planos para o futuro em função de um objetivo que correspondia, ao mesmo tempo, a uma necessidade da época, conseguindo assim a cooperação e o sacrifício de muitos. E só porque o seu engajamento pessoal convencia as pessoas é que ele teve tamanho sucesso. A seguir, passamos a apresentar passo a passo as atividades empreendidas por ele para realizar a organização:

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A fundação das associações de Colônia e de outras associações nos anos de 1849 a 1851

Para a fundação de uma Associação de Aprendizes em Colônia, Kolping dirigiu-se a um amigo padre em Colônia, que reuniu vários aprendizes. No final de março de 1849, Kolping mudou-se para Colônia como Vigário da Catedral. A primeira reunião, contando com sete aprendizes, foi realizada aos 09 de abril, sendo que a fundação oficial foi concluída aos 06 de maio de 1849. Tornou-se membro da presidência da Associação Pius de Colônia e da Associação Vinzens, e partindo destas posições, pôde fazer mais contatos.

Várias personalidades contribuíram nos primeiros meses para a construção da Associação de Aprendizes. No outono de 1849 já havia uma presidência provisória. A lista da primeira Presidência oficial, em março de 1850, incluía ao lado de Kolping como Presidente e um outro padre como Vice-Presidente, um professor do Ginásio, um professor de canto e um de desenho, um pároco e um livreiro, dois comerciantes, um secretário da Associação e como representante dos aprendizes, o membro mais antigo da Associação e quatro organizadores.

A composição desta presidência de acordo com as respectivas funções foi uma grande façanha de Kolping, logo no primeiro ano de suas atividades em Colônia, o que ele conseguiu porque sabia conquistar o interesse de personalidades líderes da sociedade de Colônia, não só para as Associações de Aprendizes, mas também por angariar seu trabalho não-remunerado, como o de professores ou fiadores. Os membros da presidência representavam tanto a hierarquia da Igreja quanto a burguesia católica da cidade. Os esforços de Kolping nos anos seguintes concentravam-se em, por um lado, firmar as ligações com a hierarquia da Igreja e, por outro lado, colocar representantes políticos de Colônia na presidência.

Os esforços pela hierarquia concentravam-se na pessoa do Arcebispo de Colônia, Johannes von Geissel. Em novembro de 1850, a Associação de Aprendizes fez uma serenata para o novo Cardinal, que acabava de regressar de Roma; um ano mais tarde, em dezembro de 1851, Kolping encenou a visita do cardeal na Associação de Aprendizes. Nos relatórios, o cardeal é chamado de “reverendíssimo” e “muito amado.”

O que se tinha ainda que conseguir era uma representação política na Presidência. Em abril de 1850 foi eleito um Conselho Municipal como membro da Associação. O Prefeito, Hermann Joseph Stupp, tinha ficado conhecido nos anos 1840 por sua posição de “defensor ferrenho do Hermesianismo” e seus escritos sobre “os últimos hermesianos” estavam no Index. Quando estudante, Kolping havia participado de passeatas exatamente do lado oposto. Pode-se considerar um grande pragmatismo o fato de Kolping ter conseguido cumprimentar “nosso honrado Prefeito”, conforme ele escreveu no início de janeiro de 1852, por ocasião de uma festa de Natal da Associação de Aprendizes. A conseqüência foi que “nosso Sr. Prefeito Stupp aceitou nosso convite para fazer parte da Presidência da Associação”. Stupp deveria se engajar e usar de sua influência para apoiar a Associação de Aprendizes de Colônia e o hospital ligado a ela e, mesmo depois de se desligar do posto de Prefeito, continuou na presidência da Asso-

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ciação.O resultado dos esforços de Kolping podem ser lidos como se segue e foram

escritos por ele mesmo: “O Prefeito cercado na direção e administração por cidadãos da cidade, se possível, cidadãos em postos superiores, para que, paralelamente à representação clerical, o mundano também esteja representado, para que se possa cuidar não só dos aspectos religiosos, mas também da vida prática.”

Depois de ter fundado com sucesso uma segunda Associação Católica de Aprendizes, Kolping foi a outras cidades vizinhas com o objetivo de fundar outras associações, ou melhor, para delegar a outros padres a incumbência de fundarem outras associações. Nem todas as tentativas de fundação de associações tiveram sucesso. No verão de 1850, os esforços apresentavam os seguintes resultados: “Há associações em Düsseldorf, Bonn, Hückeswagen, Viersen, Kleve e em diferentes locais da Westfália, mas ainda estão em fase de construção.” No ano de 1851, havia Associações de Aprendizes nas seguintes cidades: Elberfeld, Colônia, Düsseldorf, Hildesheim, Bonn, Aachen e Koblenz.

A expansão das Associações de Aprendizes até o verão de 1852Não é possível fazer coincidir as fronteiras de alguns países da Europa por volta

dos meados do século XIX com as de hoje. A Áustria daquela época, por exemplo, não deve ser confundida com o Estado da Áustria depois da Primeira Guerra Mundial. Grandes partes do Império pertenciam à União Alemã.

Um meio importante de divulgação da idéia das Associações de Aprendizes no solo da União Alemã era a imprensa, que Kolping bem soube usar. Foi bastante decisivo ele assumir a redação da “Folha da Igreja da Renânia” em 1850, cujo título ele aumentou colocando-lhe um subtítulo: “publicada para fazer o melhor pela Associação de Aprendizes”. Kolping escrevia sobre o programa no Diário de Colônia: “Esta Folha será publicada todo o sábado, com um encarte que apresentará um breve relatório dos acontecimentos diários da Igreja, paralelamente a palestras edificantes. [...] O encarte é dedicado à classe trabalhadora. Se o lucro intelectual do nosso trabalho e esforço for útil ao leitor, o ganho de tempo em relação a um empreendimento, à ‘ Associação dos Aprendizes de Colônia’ será ainda maior“. Este encarte, intitulado “Órgão da Associação” e, a partir de 1851, “Hora Comemorativa”, carregava informações sobre a “União dos Aprendizes da Renânia” para dentro das casas dos leitores que moravam na Arquidiocese de Colônia. Mas a Folha era lida também em outras partes da Alemanha, especialmente por editores de outras folhas.

Algumas semanas depois deste passo decisivo em direção à vida pública, escreve-se que: “Kolping queixa-se amargamente do abandono em que se encontra, com todos os seus belos empreendimentos.” Em 1850, apesar de todos os esforços empreendidos, haviam sido fundadas apenas duas Associações de Aprendizes. Contudo, Kolping logo superou esta situação.

No sul da Alemanha, principalmente na Baviera, Silésia e na Áustria, havia regiões católicas além da Renânia e da Westfália e era para estas regiões que Kolping

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dirigia o seu olhar, quando se tratava de levar a Associação Católica de Aprendizes para além das fronteiras da Renânia. A organização da Associação de acordo com os estados existentes era resultado da legislação dos próprios estatutos.

O fato de Komping ter feito contato pessoal com outros colegas editores de outras folhas católicas foi muito decisivo para a divulgação das Associações Católicas de Aprendizes, pois eles reagiram positivamente aos seus escritos e falavam sobre as Associações em suas Folhas, o que fez com que as Associações ficassem conhecidas além das fronteiras da Renânia. Os leitores das folhas católicas formavam a parte ativa, a ‘Igreja Jovem’, dos padres e leigos interessados, que se engajavam nas Associações Pius de 1848 ou caritativamente em outras associações. Entre os leigos, havia muitos artesãos e aprendizes. Portanto, o público que Kolping queria atingir para a expansão das Associações estava bem representado entre os leitores das folhas católicas e nas associações católicas e como ele falava sobre seus problemas e oferecia possíveis soluções, jovens padres, artesãos, aprendizes e professores faziam uso das Associações Católicas de Artesãos.

Um primeiro exemplo são as “Folhas Católicas do Tirol”, de Innsbruck. Kolping havia enviado ao redator deste jornal, no início de janeiro de 1851, “os números “do “Órgão da Associação” publicados até aquela data, pedindo que o redator dissesse algumas palavras sobre o grande significado prático das Associações de Aprendizes para a vida dos próprios aprendizes, para a classe dos artesãos e para a família cristã, para incentivar a obra. A redação se apressou em atender a este pedido, porque tinha adquirido a convicção, através dos exemplares enviados, de que o objetivo almejado era realmente algo de nobre e de bom, cuja implantação seria de se desejar naquelas cidades e mercados, considerando-se a importância da classe dos artesãos na sociedade, como pilar da burguesia.” Mas este incentivo não levou à imediata fundação de uma associação em Innsbruck, que só ocorreu quando Kolping visitou pessoalment a cidade.

Em decorrência de outros contatos de Kolping, surgiram outras publicações sobre as associações nas seguintes revistas: “O Católico”, em Mogúncia, divulgado em toda a Alemanha, o “Mensageiro Popular dos Cidadãos e Conterrâneos” na Baviera, a “Revista Católica de Teologia” em Viena, as “Folhas Histórico-Políticas”, também lida em toda a Alemanha, “Sion” de Augsburg, a “Folha Católica de Mähren”, onde hoje fica a República Tscheca, “Folha da Igreja de Salzburg”, a “Folha da Igreja da Silésia” de Breslau e ainda as “Folhas Católicas” de Linz junto ao Danúbio. Mas estas publicações não foram o fator mais decisivo, mas sim os contatos que Kolping conseguia estabelecer com os editores e redatores. Em 1851, em Munique, Ernst Zander foi um dos fundadores da Associação Católica de Aprendizes. Anton Gruscha, que havia escrito um artigo sobre a questão social no contexto da Associação de Aprendizes, tendo lido ‘Ad. Kolping’ como ‘Adam Kolping’, ao invés de ‘Adolph Kolping’, foi o primeiro presidente da Associação de Viena e Presidente da Áustria, antes de se elevar ainda mais na hierarquia. O professor Ludwig Lang, editor da “Sion”, foi o fundador da Associação em Augsburg e, de maneira semelhante, as associações de Salzburg e Linz

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foram fundadas por editores e redatores das suas revistas católicas e a Associação em Breslau não teria sido efetuada sem a ajuda da “Folha Católica da Silésia”.

Em outubro de 1851, Kolping fez três conferências por ocasião da quinta assembléia da Associação Católica Alemã em Mogúncia. Como conseqüência, ele e a Associação de Aprendizes tornaram-se conhecidos rapidamente em toda a “Alemanha católica”.

No início de 1852 ele se preparou para uma viagem de vários meses com o objetivo de divulgar as associações. Na maioria dos lugares que visitou já estavam sendo fundadas associações, em outros, ele forneceu a iniciativa decisiva. Quase sempre fez discursos nas Associações Pius ou em outras associações católicas. A primeira parada foi em Mogúncia, onde posteriormente foi publicado em uma revista católica um comentário a respeito do seu discurso: “A profunda dor sobre a situação dos aprendizes, e que faz sangrar constantemente o coração deste homem, marcou toda a sua conferência. E embora a firme fé em Deus e a coragem humana não lhe permitam curvar-se, o tom do discurso foi de uma profunda seriedade.”

As próximas paradas foram Augsburg e Munique, onde já existiam associações de aprendizes. Em Innsbruck e Salzburg, próximas paradas de Kolping, fundaram-se associações devido à sua visita; fez dois discursos em Linz e em Steyr também foi fundada uma associação. Permaneceu quatro semanas em Viena, quando foram estabelecidas as bases para a fundação de uma grande Associação de Aprendizes e onde fez um discurso “perante milhões de pessoas”. A viagem continuou, passando por Praga e Olmütz para chegar a Breslau e, por último, para Berlim, onde foi fundada também uma associação, algumas semanas depois da visita de Kolping.

Imediatamente depois de sua chegada em Colônia, ele escreveu que já existiam Associações Católicas de Aprendizes em 24 cidades alemãs, sendo que uma delas, Sereth, ficava bem afastada, ao leste da monarquia austríaca, onde hoje é a Romênia. “Outras estão planejadas.” No final de 1850, quando Kolping assumiu a “Folha da Igreja da Renânia”, havia apenas cinco associações. Cinco foram fundadas em 1851 e 14 nos primeiros semestres de 1852. Graças ao incansável empenho de Kolping, o número de associações quintuplicou, do inicio de 1851 até o verão de 1852.

Acomodações para Aprendizes : Complementação da idéia de associações.

Sobre Kolping em Colônia, pode-se ler que “mal ele havia fundado a Associação de Aprendizes de Colônia, na Escola Santa Kolumba, e já se dedicava inteiramente aos rapazes que não conheciam a cidade, ou seja, daqueles que iam de outras cidades até Colônia, para o estágio com um Mestre. E como não dispunha de casa própria, transformou um cômodo da modesta moradia que lhe cabia como Vigário da Catedral em um quarto para os aprendizes que chegassem à cidade. Dividia com eles suas frugais refeições e, logo que eles encontravam trabalho, preocupava-se extremamente com a escolha da casa onde iriam ficar.”

Dois anos mais tarde, Kolping começou a idealizar uma “hospedagem para apren-

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dizes que estivessem de passagem pela cidade e fossem membros da associação”, conforme anotado na ata da reunião da diretoria da Associação de Colônia em novembro de 1851.

A edificação de uma hospedagem para aprendizes em trânsito era uma conseqüência do que Kolping havia escrito em 1848 no “A Associação de Aprendizes”: “Em suas horas de folga, o jovem fica praticamente na rua ou nos bares, pois em casa, junto ao Mestre, ele não está propriamente em sua casa, no seu lar. Ele é livre, mas sua liberdade pode lhe ser nociva.” Havia intenções semelhantes por parte dos evangélicos e, em Bonn, havia sido construído “O Abrigo da Pátria”.

Este tema foi tratado na Assembléia Geral da “União dos Aprendizes da Renânia”, em novembro de 1851, como se segue: A hospedaria dos aprendizes encontra-se em uma “terrível desordem. [...] Os membros das Associações Católicas de Aprendizes devem dar toda a importância ao objetivo de proporcionar aos aprendizes em trânsito, ou em caso perderem subitamente o emprego, uma casa onde possam colocar suas coisinhas e se hospedarem sem brigas ou contendas, de maneira organizada e honesta. Esta necessidade urgente poderia ser cumprida de uma maneira melhor e mais incisiva, se as associações recebessem a incumbência de, através de sócios adequados, encontrarem em sua cidade um local adequado, onde os estagiários pudessem se hospedar, sem grandes custos e sob a guarda da presidência.”

Desde o início de 1852, Kolping dedicou-se inteiramente à fundação desse abrigo para os estagiários de Colônia, procurando uma casa que, além de servir de hospedaria para os estagiários em trânsito, servisse também como local para a realização das assembléias da Associação de Aprendizes de Colônia, pois até então eles se reuniam em salas alugadas.

Para isto, precisavam ter uma soma vultosa em dinheiro, pois os próprios aprendizes não tinham condições de contribuir. Por isso, em sua publicação “Por um Abrigo para os Aprendizes”, ele pediu doações, apresentando a seguinte justificativa: “Abrigos são uma necessidade gritante para os nossos honestos aprendizes, não só para eles, como também para Mestres e cidadãos honestos, para toda a vida pública cristã honesta. As condições existentes são péssimas e devem ser melhoradas.”

Depois de descrever a condição social dos aprendizes, Kolping prossegue em sua publicação da seguinte maneira: “Temos a intenção de unir a Associação dos Aprendizes a um hospital e a um abrigo católicos para aprendizes que possa oferecer a eles um alojamento de acordo com os princípios cristãos. [...] Cem, posso dizer até, mil aprendizes honestos anseiam por esta instituição. Ao mesmo tempo, este hospital em Colônia deve oferecer aos diretores de outras Associações a oportunidade de ficar conhecendo na prática a natureza da Associação de Aprendizes e do Hospital. Se Deus nos conceder a graça de abençoar a nova obra, outros hospitais surgirão em outros lugares, com o passar do tempo. O aprendiz correto terá então um alojamento dirigido por pessoas honestas e corretas, encontrando assim uma boa escola de vida. É tudo tão simples, tão necessário e promete tantas bênçãos, que estamos dispostos a fazer tudo o que está em nossas mãos, com a maior alegria.”

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O resultado foi a compra da casa da rua Breitestraße 108, em agosto de 1852 e, em maio de 1853, foi feita a mudança para a casa já toda equipada e, em julho do mesmo ano, ela foi aberta a aprendizes de passagem pela cidade.

Kolping descreveu os objetivos desta instituição: “O Abrigo em Colônia tem uma dupla finalidade. Primeiro, a de oferecer acomodações para os aprendizes da associação. [...] Jamais será permitido servir bebida alcoólica nas acomodações dos aprendizes da associação e se isso acontecer, a associação se perderá [...] Segundo, oferecer ajuda a aprendizes em trânsito, desde que consigam comprovar sua honestidade [...] Os que aqui chegam, devem sentir-se em casa, como se estivessem no seio de suas famílias. Foi assim que idealizamos, e assim queremos torná-lo real, com a ajuda de Deus. Como não se trata de uma estalagem e sim de uma família, o estagiário em trânsito deve saber que ele não está em uma estalagem, mas no seio de uma casa de família da associação. E assim terá horário para tudo, para as refeições, havendo de preferência uma só mesa para todos, horário para se recolher, para se levantar e realizar algo útil nas horas vagas, ao invés de desperdiçar o dinheiro com bebidas e comida supérfluos. Resumindo, a Casa da Associação deve ser uma continuação da Associação.”

A instituição de Colônia logo foi imitada. De 1853 até ao fim de 1865 foram fundadas no mínimo 45 destas instituições para aprendizes-estagiários. Quando Kolping faleceu, ao final de 1865, existiam mais de 400 associações de estagiários-aprendizes, das quais 10% dispunham de sede própria e alojamentos para estagiários em trânsito, número bastante significativo, considerando-se os 13 anos decorridos desde a inauguração da primeira casa para estagiários da Associação em Colônia. Considerando-se ainda que estas casas existiam em muitas cidades maiores, a idéia de oferecer aos estagiários associados em trânsito a oportunidade de se sentirem em seus lares, “onde se cuida do corpo e da alma”, já estava parcialmente realizada. A vida da associação, antes e durante a aprendizagem, era para muitos deles uma escola de vida.

Dificuldades encontradas por Kolping para a expansão do Abrigo de Estagiários de Colônia

Pessoas que se engajam socialmente com as melhores intenções podem brigar entre si, porque seus objetivos não podem ser conciliados. Isto aconteceu na vida de Kolping e ele teve que aceitar tais perdas, o que pôde ser pesquisado recentemente, devido à descoberta de novos documentos. Depois da mudança para a casa da Rua Breite 118, em maio de 1853, a Associação continuou a crescer rapidamente, o que levou Kolping a pensar na expansão da casa. Devido a circunstâncias específicas, a possibilidade de expandir se limitava ao Convento Kreuz, na Breitestraße 120-122, que remontava a uma fundação do ano 1287 ou 1288, cuja finalidade era proporcionar a mulheres pobres um direito a moradia durante toda a vida.

Em 1855, quando se falou pela primeira vez no projeto de expansão, já se podia constatar que Kolping estava empenhado em manter a finalidade original daquela fundação, ou seja, garantir às mulheres pobres o direito à moradia.

Só aos 06 de maio de 1861 este projeto pôde tornar-se realidade, quando a presi-

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dência do Alojamento de Aprendizes comprou em leilão, pela importância de 17000 Talern, o terreno com a casa e jardim. Depois deste leilão, foi publicado em um Diário de Colônia que “nessas circunstâncias, não se tinha que arrepender do fato de o terreno ter saído das mãos de uma instituição beneficente de outra época, pois passava agora às mãos de uma fundação que havia surgido das necessidades do presente, sendo de se esperar que o Convento “Kreuz” não deixaria de existir ou se arruinaria devido a esta compra.”

Contudo, esta harmonia era apenas aparente: O jurista Johann Baptist Haass, que há muito tempo se dedicava ao estudo de fundações beneficentes medievais e que havia publicado um livro sobre o assunto, fazia parte do Grêmio da Previdência Social Municipal. Ele era visto como o “centro social do Catolicismo de Colônia” e tinha chegado à conclusão de que esta fundação não tinha sofrido alterações jurídicas na época do domínio dos franceses e que a Previdência Social só tinha o direito de vendê-la em caso de extrema necessidade.

Devido a esta concepção, Haass protestou oficialmente junto à Previdência Social contra um possível leilão, em janeiro de 1850, mas não obteve votos suficientes e foi derrotado. Pouco antes do leilão, ele publicou um artigo sobre sua posição no ”Jornal da Renânia”. O leilão deveria ter a concessão feita por instâncias superiores, isto depois de já ter sido efetuado. Enquanto a cidade não oferecia nenhuma objeção, Haass apresentou ao governo um protesto oficial com um parecer jurídico bastante extenso, o que teve como conseqüência a dúvida sobre a venda daquele imóvel. Seguiu-se então uma longa correspondência entre o governo e a Previdência Social, que levou então à negação da permissão de venda em fevereiro de 1862. Pode ser que a figura de Kolping, que não suscitava simpatias junto ao Governo Real, tenha influenciado a decisão. Contudo, apesar de o próprio Ministro do Interior prussiano ter enviado ao governo de Colônia uma notificação contrária, em março de 1863, a não-concessão para venda continuou prevalecendo, porque o governo simplesmente se esqueceu de notificar oficialmente a Previdência Social.

No final de abril de 1863, Kolpíng apresentou ao público uma indiscrição muito bem dirigida, no seu relatório de prestação de contas do Abrigo dos Aprendizes de Colônia,: “No relatório do ano passado, dissemos que contávamos com a concessão para a venda. [...] Contudo, já se gastou quase um ano com novas negociações, informações e protestos. Por fim, o Governo daqui, através do Ministério, está pensando em emitir a concessão, portanto, não houve hesitações baseadas na justiça que impedissem a venda. Muito tempo e esforços perdidos. Esperamos diariamente que a Previdência nos entregue legalmente a casa que compramos, quando iniciaremos imediatamente a construção do salão de assembléias e dos aposentos necessários ao alojamento dos sócios que cheguem de viagem, para que se torne possível abrigar os sócios e os seus benfeitores sob o mesmo teto, em caso de necessidade,.”

Mas o governo também não ficou de braços cruzados e taxou o terreno novamente com um valor de mais de 19000 Taler. E a conseqüência foi que, em julho de 1863, o plenário da Previdência Social decidiu por unanimidade “não continuar a reter a

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concessão para a venda do ano de 1861, porque o preço havia subido muito, no decorrer desses dois anos.”

Kolping tirou suas conclusões: “ O caso do convento está concluído. Depois que a Previdência retirou seu protesto, o Ministro também não pode fazer mais nada. Deus seja louvado, o aborrecimento terminou, podemos passar imediatamente à construção do salão. Fiz tudo o que estava ao meu alcance, não posso me censurar.”

Poucos dias depois do lançamento da pedra fundamental para o novo salão de assembléias, que foi inaugurado em junho de 1864, Kolping publicou sua visão sobre a “história da construção do novo abrigo”. Finalizando, ele escreve “Apresentamos este relatório com a consciência tranqüila e pedimos que nos informem se erramos e quando e onde erramos. Mas temos que permitir ao leitor tirar suas próprias conclusões sobre toda esta história.”

Com um artigo intitulado “A venda do Convento Kreuz em Colônia”, Haass criticou a visão de Kolping redigindo um artigo para as “Folhas de Colônia”. Kolping, por sua vez, reagiu ao artigo de Haass, redigindo para as “Folhas Populares da Renânia” uma série de artigos, empregando uma frase-síntese, “ao invés de uma réplica”. “[...] Não sabemos de alguma incorreção que devêssemos corrigir. Também temos a sincera opinião de que não houve perda com a venda da fundação, mas um ganho. Consideramos o assunto encerrado e não temos nem tempo e nem vontade de continuar com esta briga inútil.”

Devem ter decorrido várias décadas, até que o terreno do Convento Kreuz, em 1911, pudesse ser comprado para a construção da Grande Casa Kolping da Associação de Aprendizes da cidade de Colônia.

Gostaríamos de discorrer um pouco sobre o que ocorreu a Haass: Em 1971 foi eleito Presidente da Associação Central da Construção da Catedral. Em março de 1875 escreveu sobre o “Direito de Propriedade” na “Folha da Catedral de Colônia”, posicionando-se claramente a favor do Arcebispo, que era o dono da Igreja Minoriten, a qual os antigos católicos queriam arrebatar. Para não colocar em perigo o financiamento da construção da catedral, em sua maior parte vindo do governo prussiano, a presidência da associação distanciou-se deste artigo e não reelegeu seu autor como Presidente. Um ano mais tarde, Haass faleceu com 86 anos de idade. Pode-se observar aqui, como suposição apenas, que seu engajamento pela Igreja da Associação Católica de Aprendizes, onde Kolping está enterrado, poderia ser visto como tentativa de reparação do fato de ele ter contribuído para impedir ou dificultar a expansão planejada do Abrigo dos Aprendizes.

A Expansão da Estrutura da Associação de 1850 a 1864Em 1850, as primeiras três Associações de Aprendizes se uniram e formaram a

Liga dos Aprendizes da Renânia, e a associação de Colônia tornou-se a “Associação Central”, tendo Kolping como seu presidente. A tarefa formal do presidente era testar os estatutos das associações que se desejava implantar na Liga e confirmar a aceitação dos mesmos. Com isso, os membros das associações se tornavam também membros da

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Liga e podiam encontrar apoio em qualquer outra associação, quando estivessem em trânsito na condição de estagiários-aprendizes. As primeiras associações ficavam na Prússia, onde imperava uma severa lei quanto às associações; formalmente, Kolping só podia aceitar associações prussianas na Liga dos Aprendizes da Renânia.

Em 1851, a Liga dos Aprendizes da Renânia mudou seu nome para Liga Católica dos Aprendizes, devido ao seu crescimento para além das fronteiras da Renânia. As associações de Viena e Munique eram importantes por ficarem em relevantes estados da Alemanha, tornando-se centros para as associações da Baviera e da Áustria, além de células embrionárias para associações juridicamente independentes nestes estados. A autoridade moral de Kolping e seu relacionamento pessoal com os presidentes das diferentes associações em Munique e na Baviera, assim como em outros lugares, mantiveram unida a crescente organização da Liga Católica dos Aprendizes nos primeiros anos.

A expansão das associações continuou fazendo grandes progressos nos anos seguintes e, ao final de 1853, a lista de associações já abrangia 70 lugares. No início de 1856 havia 45 na Prússia, 34 na Baviera, 31 na Áustria e ainda mais onze associações, sendo algumas na Suíça.

Com o passar do tempo, tornou-se difícil controlar todas as associações, até para o próprio organizador Kolping; basta pensar na quantidade de associações já existentes para se entender isto. Assim, em 1858, ele introduziu uma estrutura inteiramente nova na Liga: todas as associações de uma Diocese formavam uma Liga de Diocese com um Presidente da Diocese como ponto central, todas as associações de Diocese de um estado formavam a Liga do Estado com um Presidente de Estado ou Central, e todas as ligas estaduais se uniam sob um mesmo Presidente Geral, cargo que só podia ser exercido sem remuneração, de acordo com as leis das associações estaduais. Embora Kolping pudesse delegar bastante trabalho para os Presidentes de Diocese e Estaduais, ele se tornou simultaneamente Presidente da Diocese de Colônia e Presidente Geral.

Foram necessários alguns anos até que esta estrutura fosse assimilada em toda a Liga. No ano de 1864, foi realizada a 16ª Assembléia Geral das Associações Católicas da Alemanha. Kolping pronunciou-se durante uma reunião pública: “Há doze anos atrás, tornamos pública em Mogúncia a idéia da Associação de Aprendizes. Hoje, gostaria de dizer em algumas palavras o que aconteceu durante todo este tempo. A nossa pátria Alemã está coberta por uma rede de associações, que vão até além-mar. Para este trabalho nas centenas de associações, encontramos jovens e jovens padres. Fizemos nosso o esforço e o trabalho das associações, que realizamos com os padres. É uma sorte que haja tais padres em uma nação.”

Por ocasião deste “Colóquio Católico”, Kolping havia convocado uma “Assem-bléia Geral dos Presidentes de Dioceses da Liga de Associações da Alemanha”. Esta foi a primeira Assembléia Geral propriamente dita que ultrapassava estados da Associação Católica e sua importância para ele está expressa em suas próprias palavras: “O Presidente Geral colocou primeiramente os motivos especiais que determinaram a con-

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vocação desta Assembléia. Diante da crescente importância e da expansão da Associação Católica de Aprendizes, é necessário considerar sua organização interna, para não quebrar sua unidade, a firmeza necessária e a sua continuidade.” Kolping relatou que a estrutura da Liga, formada por Presidente Geral, Presidente Central, Presidente da Diocese e Presidente Local e usada em 1858 para a Prússia e outros estados, se havia firmado. Como conseqüência, ela foi aprovada em Würzburg através de “artigos provisórios como parâmetros” para toda a Alemanha, tendo sido comunicada aos bispos em forma de um memorando. Nesta assembléia, Kolping deixou a impressão de querer colocar a tempo um ponto final em “sua” obra. O Presidente de Munique escreveu a este respeito as seguintes palavras: “A pressa e temor com que o padre Kolping levou concluiu este trabalho fez surgir este pensamento no escritor, o de que Kolping parecia estar pressentindo a própria morte, o que foi também expresso por um de seus amigos.”

Pode-se considerar essa primeira assembléia interestadual de Presidentes de Dioceses como o coroamento organizacional da obra de Kolping. Ele faleceu aos 4 de dezembro de 1865 em Colônia. A estrutura por ele concebida tornou-se um modelo para muitos organizadores de associações, mantendo-se intacta até hoje.

Adolph Kolping como escritor popular, de 1849 a 1865

Kolping como o “homem do calendário”Em 1849, a Associação dos Aprendizes precisava de dinheiro e por isso Kolping

passou a escrever para conseguir a verba necessária a sua sobrevivência e para suas viagens. Assumiu, assim, o “Calendário Popular Católico” da editora Schwann. O primeiro calendário estava impregnado dos acontecimentos revolucionários dos meses anteriores. Com um calendário desses, Kolping ganhava aproximadamente 200 Taler. Passou a publicar regularmente em 1854 para a Editora DuMontSchauberg com o título de “Calendário para os Católicos”. Os trabalhos com a redação tomavam-lhe o ano inteiro e ele encontrava os seus temas nos arredores da sua terra natal. Todos os calendários de Kolping foram impressos posteriormente nos Escritos de Adolph Kolping, volume 12 a 15.

As histórias de calendário escritas por Kolping eram facilmente vendidas e por isso a Livraria Nassesche passou a editar os volumes a partir de 1861, com o título de “Contos” e outras editoras também ganharam um bom dinheiro com eles.

Kolping como redator da “Folha da Igreja na Renânia”A partir de 1849, Kolping passa a publicar uma série de escritos na “Folha da

Igreja da Renânia” e no “Mensageiro Cristão Urbano e do Campo”, a maioria deles com conteúdo edificante e, em dezembro do mesmo ano, ele passou a co-redator da Folha da Igreja.

Um ano mais tarde, em outubro de 1850, ele assumiu sozinho os trabalhos de redação desta Folha, colocando o seguinte anúncio no Jornal de Colônia: “Folha da Igreja da Renânia”, editada em prol da melhoria da Associação de Aprendizes de Colô-

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nia. Esta Associação é formada por cerca de 400 sócios das mais diferentes profissões e foi fundada para ensinar e apoiar o aprendiz solteiro, o que se fez necessário em nosso tempo. Ela tem comprovado ser muito prática. Os custos para este empreendimento devem ser criados através da edição da “Folha da Igreja da Renânia”, único órgão da Igreja na Arquidiocese, supondo-se que a participação por meio da assinatura seja tão vultosa quanto o exigem as circunstâncias. Conseguimos cooperadores capazes, que consentiram em trabalhar apenas pelo bem da causa. O “encarte” traz a discussão de questões sociais e servirá, em seu início e suas tarefas, provisoriamente para aproximar a Associação do grande público,.”

Este “encarte”, chamado primeiramente de “Órgão da Associação” e posteriormente de “Hora Comemorativa”, publicado do final de outubro de 1850 até o fim de março de 1854, é o que Kolping publicou de mais valor, porque nesta época ele ainda tinha tempo para se dedicar aos trabalhos de redação dos textos, tendo escrito várias contribuições, especialmente sobre os efeitos da Associação de Aprendizes.

A “Folha da Igreja da Renânia”, cujos preparos para publicação Kolping começou cheio de entusiasmo, não se desenvolveu como se desejava e ele fazia empréstimos. Os motivos para ele ter perdido o gosto original por este trabalho podem ser deduzidos de uma comparação com as “Folhas Populares da Renânia”, que ele queria fundar em abril de 1854 como sua própria revista. Elas eram menos religiosas e mais políticas e sociais. Por outro lado, a Folha não rendia o suficiente, ainda mais que a editora Schwann também queria ter lucros com ela.

Kolping como redator das “Folhas Populares da Renânia”No início de 1854, Kolping fundou as “Folhas Populares da Renânia para o Lar, a

Família e a Profissão”, e com editora própria. Como este órgão desempenhou um papel muito importante nos últimos doze anos da vida de Kolping, entraremos em detalhes sobre esta época.

Em fevereiro de 1854, ele escreveu: “acho que posso contribuir melhor para com nossos ideais através de uma “Folha Popular”, do que através da “Folha da Igreja”. O anúncio no Jornal de Colônia dizia: Em primeiro lugar, as “Folhas Populares da Renânia” contêm um breve resumo dos acontecimentos do dia, no âmbito político e clerical. [...] Em segundo lugar, deve trazer algo de útil para o lar e a família, e de forma leve, deve sempre entreter e ensinar, pregar menos e nunca ralhar. [...] Não devem ser escritas por professores doutores, mas por pessoas que andam sempre entre o povo e sabem por experiência própria do que necessitam. [...] Em terceiro lugar, devem conter algo de útil à profissão [...] Em quanto lugar, devem transmitir as notícias da Associação Católica de Aprendizes, que se estende sobre quase toda a pátria alemã. [...] O lucro das “Folhas Populares da Renânia” vai todo para o Hospital dos Aprendizes em Colônia e suas outras finalidades e, por isso, gostaríamos que fossem feitos inúmeros pedidos.”

Toda a semana Kolping enchia 16 páginas destas “Folhas”, excetuando-se os períodos em que estava doente ou de férias, tendo escrito ele mesmo a metade. Certa vez, um colega jornalista comentou: “As “Folhas Populares” de Kolping são um mode-

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lo, nenhuma outra consegue um tom tão popular.” A maior parte desses escritos pertence ao “Diário Político”, que ainda não foi publicado nos Escritos de Adolph Kolping e é mais abrangente do que todos os 17 calendários juntos. Uma pesquisa detalhada sobre os pontos de vista políticos de Kolping faz-se extremamente necessária, porque este lado da sua personalidade mal foi tratado até os dias de hoje. Suas demais contribuições na revista estão quase todas publicadas nesta série.

A “Hora Comemorativa” e mais ainda as “Folhas Populares” traziam sempre resenhas de Kolping sobre livros que tratavam do seu tema, quer dizer, Associação dos Aprendizes, questões sociais, e “lar, família e profissão”. Uma prova de que Kolping em sua vida particular mantinha os olhos abertos para novas publicações é sua leitura e recomendação do “Nachsommer” de Adalbert Stifter.

Kolping trabalhava muitíssimo para a redação das “Folhas Populares”, mas em compensação o sucesso financeiro foi enorme. Ele ganhou muito com esta revista, especialmente depois da expansão do relatório político em 1859, que fez a venda de exemplares subir a 6000, o que fez muito bem ao “Abrigo dos Aprendizes de Colônia” e à “Associação Católica de Aprendizes”, mas não ao próprio Kolping. Em 1864 e 1865 ele mandou reformar a Igreja Minoriten e uma grande construção do Abrigo dos Aprendizes.

Schäffer escreveu: “Um famoso médico de Colônia, com quem Kolping se consultou, teria dito a ele com a expressão muito séria: ‘Caro Kolping! Se você não se poupar, em breve ficará mal.’ Kolping perguntou-lhe então quanto tempo de vida o médico lhe dava, e ele teria recebido a seguinte resposta: ‘ Poupando-se, você pode viver muito ainda; mas se continuar trabalhando desta maneira, dou-lhe somente mais 03 anos.’ Segundo Schäffer, a resposta de Kolping teria sido: “Se é a vontade de Deus, tudo bem!’ “ Com certeza, nem Schäffer e nem Kolping entenderam as palavras do médico como alternativa e encorajamento para mudar o estilo de vida. No início de 1865 a mão direita de Kolping, com a qual ele tanto escrevia, ficou paralisada e ele veio a falecer no final do mesmo ano.

O Testamento Social de Adolph Kolping, de 1864 a 1865A questão social foi discutida e analisada muitas vezes no século XIX, também

por católicos. Como resposta à miséria social, surgiram congregações de irmãs de caridade, organizações caritativas leigas, que davam coragem à população mais pobre através da distribuição de doações, alimentação através de cozinhas que ofereciam sopas e cuidados em hospitais. Acreditava-se que somente através do amor, quer dizer, da caridade, é que se podia dominar a miséria social. Esta foi também a opinião de Kolping durante muito tempo. Assim, ele escreveu certa vez: “Quanto mais cristãos houver, menos miséria haverá; pois a miséria só existe porque os homens não são tão bons cristãos.” A propósito, na Associação a caridade não estava em primeiro plano, mas a auto-ajuda em forma de associação. Desse modo, através da sua pastoral e dos trabalhos na Associação, Kolping já tinha ultrapassado o pensamento e a ação puramente caridosos.

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No início de 1860, a questão social recebeu uma nova dimensão através de Ferdinand Lassalle. Os trabalhadores das fábricas tornaram-se repentinamente um grande perigo, tendo sido descobertos como potencial de revolução social. Um amigo de Kolping, Christian Hermann Vosen, foi um dos primeiros a discutir intensamente esta questão em solo católico. Em 1864, ele redigiu seus pensamentos nas “Folhas Populares” e Kolping respondeu-lhe com o escrito “A Associação de Aprendizes e a Questão Social”. Um ano mais tarde, Kolping retomou o tema novamente em seu último escrito com o título “Sobre a Questão do Trabalhador”. Comparando-se ambos os escritos de Kolping, pode-se perceber claramente seus progressos em conhecimento. Em sua última publicação, Kolping fala do trabalhador dependente, reclamando detalhadamente da sua condição de pessoa sem direitos, de sua dependência do “patrão”, tirando conseqüências desta situação: “Tais questões não são resolvidas através da graça ou piedade, mas da justiça. A vida social repousa, em todas as suas ramificações, sobre a justiça, que deve ser defendida e protegida através de leis adequadas.”

Esta citação significa que Kolping, em oposição às suas convicções anteriores, havia reconhecido e se convencido de que certas questões sociais só podem ser resolvidas através de uma legislação do próprio Estado. A exigência de Ferdinand Lassalle por intervenção do Estado havia encontrado eco e esta declaração de Kolping representa, em 1860 e em solo católico, a primeira exigência por uma legislação e política sociais. O Bispo de Mogúncia, Wilhelm Emmanuel von Ketteler, tomou esta declaração central de Kolping, pouco antes da sua morte, em um discurso perante a Associação de Aprendizes de Mogúncia, apropriando-se dela a tal ponto, que é sempre citada junto com o seu nome. Através dele, esta declaração tornou-se a base social do partido de centro. Contudo, esta declaração de Kolping, conhecida como “testamento social de Kolping”, permaneceu desconhecida dentro da Associação Católica de Aprendizes por muito tempo.

De acordo com o que foi escrito, pode-se entender a exigência de estudar as novas questões sociais e ser ativo, no sentido cristão, na legislação e na política sociais como o testamento de Kolping.

PerspectivasA vida de Kolping foi analisada aqui mais ou menos cronologicamente, até à

época em que ele começou a divulgar por toda a Alemanha a idéia da Associação de Aprendizes, a partir de Colônia, onde era Vigário. Ao mesmo tempo, deu início a uma abrangente atividade jornalística. Ambas as atividades, a de organizar de uma associação e a de escrever, foram realizadas por ele com tal energia, que conseguiu muito sucesso em ambos os campos dentro da “Alemanha Católica”. Mas seu compromisso trouxe a desvantagem de ele se desgastar muito e ter vivido só 52 anos. Seus novos conhecimentos na questão social têm que animar seus “herdeiros” dentro da Obra Kolping a também estudarem as novas questões sociais com um comprometimento semelhante, para procurar soluções praticáveis.

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A importância social de

Adolfo KolpingPor FRANZ LÜTTGEN

Passamos a apresentar a importância social de Adolph Kolping (1813-1865) sob duas perspectivas. A primeira trata de como as reflexões sociais de Kolping foram compreendidas à sua época, e a segunda de como a importância social de Kolping foi compreendida ao longo da história da Associação Católica de Aprendizes / Família Kolping?

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SUMÁRIO: AS IDÉIAS SOCIAIS DE KOLPING

A questão social como uma questão do amor cristão.

No século XIX, a questão social foi freqüentemente discutida, inclusive pelos católicos. Em resposta ao problema da miséria social, surgiram congregações de freiras e organizações caritativas formadas por leigos que, através da distribuição de doações e atendimento em hospitais, deram novo alento e coragem à população mais pobre. Acreditava-se que era possível dominar a miséria social através do amor cristão, ou seja, da caridade.

Adolph Kolping também foi da mesma opinião durante muito tempo, tendo escrito certa vez: “Quanto mais cristandade houver, menos miséria haverá; pois a miséria só se instala, porque os homens não são melhores cristãos. Disse ainda em 1863: “A vida se baseia na fé; a vida social é a expressão viva da fé, seja de que tipo for.” Mas, frente a esta postura, a Escolástica já havia cunhado a seguinte frase: Gratia supponit naturam, = a graça pressupõe a natureza, o que também quer dizer que situações de miséria social ocorrem independentemente da fé das pessoas atingidas pela miséria. Ao mesmo tempo, isto também significa que apenas a modificação do estado de espírito não seria de grande ajuda em muitos casos, se não se procurar pelas origens da miséria social e, através de reformas estruturais, criar condições para melhorias. Portanto, Kolping trabalhou inicialmente de acordo com a divisa: “Ajude a construir um futuro melhor, ajudando a educar.”

No início do ano de 1856, Kolping resumiu seus pensamentos sobre a relação entre a questão social e a caridade da seguinte maneira; “A Questão Social é o problema mais difícil e perigoso de todo este século, mais perigoso até do que a questão oriental. Mas a Questão Social é ainda a questão em torno da miséria que se tornou imensa e dizemos coerentemente quanto a isto que é também a questão em torno do pecado, que se tornou imenso também. Esta miséria e este pecado [!] adquiriram esta dimensão sob o domínio do Iluminismo. [...], que prega e ensina o egoísmo, um egoísmo refinado, que é a mãe dos pecados e de toda a miséria. Justamente quando esta miséria começou a levantar sua cabeça e a assustar os homens com seu olhar bestial, e logo os magros pulsos se cerraram ameaçadores para apelar para a violência para conseguir ajuda, o amor cristão entrou em ação com uma fé mais desperta para agir na sociedade; e é a sua atividade que se deve agradecer o fato de a miséria, se não se tornou menor, pelo menos tenha perdido muito do seu rigor. Aquele ódio diabólico dos pobres contra os ricos se dissolveu na mesma medida em que o amor cristão se preocupou mais com os pobres.”

O fato de a Associação de Aprendizes sempre ter tido um lado caritativo já se evidencia no conceito de “”Abrigo para Aprendizes”, porque este conceito era empregado na Idade Média para designar o amor ao próximo dirigido a peregrinos e outros menos favorecidos.

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A Questão Social como Apoio à Auto-Ajuda

A Associação Católica de Aprendizes nunca foi em primeira linha uma organização caritativa, mas era destinada desde seu início à auto-ajuda na forma de uma associação. No sentido figurado, podem se entender como caritativas as ações dos padres e professores dentro da Associação. Seu objetivo não era diminuir as conseqüências de uma situação de emergência, mas o direcionamento dos aprendizes à auto-ajuda nas questões religiosas e profissionais. Desta maneira é que se entende que Kolping já havia ultrapassado o pensamento e ações puramente caritativas, através da sua atividade pastoral e da organização da Associação.

No decorrer dos anos, Kolping refletiu intensamente sobre a questão social dentro do contexto da Associação de Aprendizes e uma primeira prova disto é uma afirmação sua feita em carta escrita ao seu professor, Ignaz Döllinger, o qual lhe havia despertado sensibilidade para esta questão durante seus estudos: “Em nossa época, na qual a questão social, juntamente com a religiosa, se insinua para o primeiro plano na nossa sociedade, na qual as circunstâncias nos lançam violentamente de encontro ao povo, a Associação é um excelente meio para se trabalharem as questões postas acima, para nos mostrarmos como amigos do povo.” As noites de conferências na Associação de Aprendizes eram organizadas de acordo com esta idéia, “nas noites das segundas-feiras são tratadas questões religiosas e sociais, principalmente em forma de diálogos, sendo que todos têm o direito de expressar sua opinião e fazer perguntas oralmente.”

Em 1855, Kolping escreveu que a Associação de Aprendizes “continuava sendo uma tentativa de solucionar uma questão complexa e difícil, a questão social”.

Em sua publicação do ano de 1863, “Aos co-irmãos”, Kolping acentua a tarefa da Associação na solução da questão social, dizendo que “ não que tivéssemos tido o pen-samento gigantesco/ megalomaníaco de resolver a questão social através da Associação Católica de Aprendizes. Mas o tempo nos ensinou que se pode fazer muita coisa boa pela questão social através da Associação, que se pode melhorar muito a sociedade e tra-balhar para o futuro [...] A Igreja não pode e nem deve se desligar da questão social, ela tem que adentrar a vida e a luta contra seus inimigos.”

No ano de 1864, Kolping publica então um resumo da sua opinião em “A Associação de Aprendizes e a Questão Social”: “A questão social trata principalmente da situação das classes trabalhadoras e de como melhorar suas condições de vida. Visto ainda mais estreitamente, ela se torna uma questão industrial, tratando da situação dos artesãos e trabalhadores de fábricas, dois tipos de vida completamente diferentes, devendo ser tratados diferentemente dentro da questão social. Contudo, estão tão entro-sados, por um ter feito surgir o outro, que é difícil determinar a sua separação [...] Este surgimento de novas condições sociais, das quais nos queixamos sem poder impedi-las, relaxou antigas hierarquias a ponto de permitir que elas se dissolvessem. [...]De nossa parte, como fomos colocados por Deus diante desta questão social, a dos artesãos e tra-balhadores de fábrica, muito mais para observar do que para intervir, fizemos a nossa parte, tanto quanto o tempo e as forças nos permitiram. Não perdemos de vista as

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movimentações ocorridas neste âmbito, mesmo não nos sentindo competentes ou chamados a nos misturarmos com esta briga de opiniões e partidos. [...]

O editor destas folhas tem a ver tão somente com a Associação dos Aprendizes, [...] que tem um significado muito peculiar para a vida social, podendo resolver uma parte importante da questão social, que não pode ser prejudicial dizer o necessário publicamente: a questão social não será resolvida unilateralmente através de esforços isolados. [...] a questão social é também uma questão sobre a reformulação da sociedade, como deve levar o melhor para os diferentes tipos de profissão e de indústria.

A Associação de Aprendizes assiste/ ajuda este desejo de melhor reformulação das condições industriais apenas de modo preparatório, quer ajudar a possibilitar um futuro melhor, tomando a seus cuidados uma parte importante da sociedade. Qualquer que seja a forma desta reconstrução do nosso mundo social, primeiramente nas condições industriais – esta forma não será inventada, ela surgirá da ação dos homens - o mais importante deve ser de qual material se faça esta construção, para se ter certeza de que ela seja duradoura. Temos que educar nosso futuro melhor, temos que nos esforçar por ele ou desistir dele. Por isto é que a Associação dos Aprendizes cuida do aspecto moral-religioso dos aprendizes de artesãos solteiros, para prepará-los para a vida social maior. [...]

Repetimos: os maiores defeitos nesta questão social são predominantemente de natureza moral; por isto a Associação luta contra estes defeitos, enquanto suas forças lhe permitem. Não só admitimos de bom grado que ainda se pode e se tem que fazer muito pela situação material dos aprendizes, como estamos também certos disso. De nossa parte, dizemos apenas a título de encerramento: a questão social deve ser resolvida em todos os seus aspectos, todos têm a ver com ela e têm por isto que atuar em torno dela, senão todas as tentativas e os melhores empreendimentos isolados estarão fadados ao fracasso.”

Kolping esclarece a importância de uma resposta cristã à questão social no mesmo ano, em um memorial (Promemoria) aos bispos; “A questão social está em primeiro plano na vida prática e torna-se cada vez maior e mais violenta no segundo plano de todas as outras questões. Os cristãos têm aí um rico campo de múltiplas ações para solucioná-las. Os opositores reúnem todas as suas forças para se apossaram de tais campos para aí plantarem disseminarem as sementes do seu domínio puramente material, distantes de Deus. [...] Considerando-se esta situação e o fato de termos a ver aqui com inimigos/ opositores decididos, achamos que devemos dobrar nossas preocupações e esforços na educação e orientação dos nossos jovens aprendizes, para que, pelo menos, possamos salvar o que se pode salvar e manter viva a cristandade nos jovens, nestas almas expostas a tantos perigos. A Associação Católica de Aprendizes, como se pode ver, tem a tarefa que lhe foi passada por Deus, de assegurar aos jovens aprendizes cristãos a proteção necessária e propiciar-lhes uma formação melhor do que aquela que o opositor poderia ou conseguiria oferecer.”

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A Questão Social enquanto Tarefa de uma Política Social Dirigida.

Entre os católicos, a questão da Política Social era praticamente desconhecida no início dos anos de 1850 e 1860. Havia dois precursores: Franz Joseph von Buss, que proferiu um discurso na Câmara dos Deputados de Bade em 1837, durante o qual ele exigiu do governo medidas político-sociais concretas: “Devem ser proibidas vendas e moradias nas fábricas. A proteção legal da saúde deve limitar o trabalho infantil a seis, no máximo oito horas por dia, estabelecer o máximo de 14 horas de trabalho para os adultos, colocar as fábricas sob a supervisão das repartições de saúde, exigir proteção contra acidentes para o trabalho com máquinas.” Dez anos mais tarde, Peter Reichensperger, o segundo precursos, escreveu o livro “A Questão Agrária”, no qual se pode ler que “enquanto Reichensperger exigir do Estado para a agricultura que impeça a exploração por meio de caixas econômicas e de crédito e ajude os assalariados a subirem socialmente, ele expõe um grande e detalhado programa político-social para a indústria e fábricas. [...] Intervenções legislativas na liberdade da economia são permitidas, quando sua finalidade é debelar situações de miséria social.”

No início de 1860, a questão social, do modo como era discutida publicamente na Alemanha, adquiriu uma nova dimensão através de Ferdinand Lassalle. Os trabalhadores das fábricas foram repentinamente vistos como grande perigo ou , ao contrário, descobertos como potencial de revolta social. O amigo de Kolping, Christian Hermann Vosen, foi um dos primeiros a discutir detalhadamente esta questão entre os católicos. Em 1864, ele escreveu seus pensamentos nas “Folhas Populares da Renânia” e Kolping respondeu com a publicação “A Associação de Aprendizes e a Questão Social”. Um ano depois, ele retomou o tema em sua última publicação com o título “Sobre a Questão dos Trabalhadores”. Uma comparação entre ambas as publicações de Kolping mostra claramente os progressos de conhecimento feitos por ele.

Nesta última publicação, Kolping fala sobre os trabalhadores não-autônomos e queixa-se detalhadamente do seu estado sem direito algum, devido à sua dependência de “quem lhe dá o emprego”, tirando a conseqüência de que, “tais questões não são solucionadas com graça e piedade, mas com justiça; a vida social, em todas as suas ramificações, baseia-se no direito correto e, por isso cristão, e deve ser protegida e garantida por lei.”

Esta frase significa que Kolping foi o primeiro na Alemanha a adquirir o conhecimento de que determinadas questões sociais só podem ser solucionadas com a ajuda de uma legislação feita pelo Estado, o que é bem diferente de suas convicções anteriores. Trata-se da primeira exigência por uma Política Social orientada pelo Cristianismo.

O bispo de Mogúncia, Wilhelm Emmanuel von Ketteler, citou esta declaração central de Kolping, pouco antes do seu falecimento, em um discurso proferido na Associação de Aprendizes de Mogúncia, aos 19 de novembro de 1865. Este discurso “é relevante, por que nele Ketteler acentua/salienta/frisa pela primeira vez nitidamente a necessidade da ajuda do Estado para os trabalhadores e, com isso, necessidade de uma

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Política Social.” Chamam a atenção o destinatário, a Associação de Aprendizes de Mogúncia, e a data do discurso, poucas semanas após as declarações de Kolping nas “Folhas Populares da Renânia”. Ketteler disse: “Auto-ajuda e ajuda estatal, ambas se justificam e são necessárias, quando se deve ajudar o trabalhador. O sistema que separa estas duas ajudas padece de unilateralidade. Mas quem pensa que a união destes dois elementos seria suficiente para a solução da questão dos trabalhadores, está no caminho errado. Auto-ajuda e ajuda estatal, ainda que unidas, não fazem parte nem do único e nem do mais importante meio para se deter a miséria dos trabalhadores. Moral e religião são a maior necessidade para a elevação da classe dos trabalhadores. [...] Mas moral e religião sozinhas não são suficientes para resolver a questão dos trabalhadores. Com certeza o Estado tem que ajudar, a comunidade também e todos têm que estender a mão para assegurar que a situação não piore. Para o Estado, para toda a sociedade, não deve haver nesses tempos um interesse maior do que proteger a situação dos trabalhadores de uma piora. Se o Estado se mantiver obrigado a apoiar e incentivar empresas grandes e importantes através de ajuda estatal, então ele também não pode se esquivar da proteção ao trabalhador.”

Se Ketteler, como Kolping no passado, via principalmente o lado caritativo da questão social, começou a pensar diferentemente a partir do final de 1865, depois de passar por uma verdadeira mudança de pensamento, que teve como conseqüência uma grande influência sobre o programa político-social que exerceu sobre o partido de centro – basta lembrar o “Antrag an Galen” [= “Requerimento a Galen”] de 1877 no Parlamento do Império Alemão - influências e efeitos que perduram até hoje e, assim esperamos, também no futuro. Contudo, dentro da Associação Católica de Aprendizes, não se tomou conhecimento desta reivindicação durante muito tempo.

Em relação ao nosso tempo, a exigência de Kolping do ano de 1865 deve ser entendida como uma exortação ao estudo profundo das questões sociais e à atividade político-social no sentido cristão.

De acordo com o que foi apresentado, Kolping aprendeu a diferenciar a questão social em suas mais diferentes dimensões: como questão do amor cristão, como ajuda ou apoio à auto-ajuda e como tarefa de uma Política Social dirigida. Ele praticamente formou os dois primeiros âmbitos através da sua atuação como organizador da Associação Católica de Aprendizes e também como escritor e, o terceiro âmbito, o da Política Social, ele só pôde lançar ao mundo como reivindicação. Visto como um todo, Kolping nos forneceu um exemplo brilhante e iluminador de engajamento social, tanto dentro das Associações Católicas como fora delas no seio da sociedade, através das suas respostas concretas à penúria dos aprendizes e através da sua reivindicação por uma Política Social orientada pelo Cristianismo ou pelo amor cristão. O que se pode então designar como Testamento Social de Kolping é seu compromisso ou engajamento dentro das Associações Católicas e na Política Social.

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A IMPORTÂNCIA SOCIAL DE KOLPING REFLETIDA NA HISTÓRIA DAS ASSOCIAÇÕES

Reconhecimento crescente da importância social de Kolping

Christian Hermann Vosen: A importância social de Kolping está no seu cristianismo

Um ano depois do falecimento de Kolping, seu amigo Christian Hermann Vosen publicou uma brochura com o título: “Associações de Aprendizes em seu significado/importância social”. Este autor foi um dos primeiros a estudar as novas idéias de Ferdinand Lassalle e Hermann Schulze-Delitzsch no início dos anos 1860 e dentro do Catolicismo da Alemanha. Nesta brochura ele compara a “importância social” de Kolping com as palavras destes dois autores líderes em relação à “questão social”:

“Se compararmos as atividades de Kolping com as duas grandes diretrizes, que pretendem levar melhoras à situação dos trabalhadores do nosso tempo, a questão surge como se segue:

Schulze-Delitzsch quer que a situação dos trabalhadores ajude a si mesma ou que os trabalhadores se ajudem a si mesmos, oferecendo para isto não só o seu conselho, mas também sua ajuda concreta, o que é muito louvável. Lassalle despreza este caminho e afirma que só o Estado pode ajudar, devendo ser obrigado a isto. Este aconselhador/ consultor ainda não fez nada para o povo, só se escreveu, se falou, se criticou e se irritou, quando a morte o levou. Kolping deixou que ambos seguissem seu caminho, sem criticá-los, pareciam-lhe inúteis novas idéias paralelas à do Cristianismo, também na procura pela possível cura do mal social. [...] Ele achava que a real sabedoria cristã lhe explicaria corretamente os motivos das péssimas condições existentes, apontando-lhe ao mesmo tempo os recursos para ajudar, enquanto ainda fosse possível ajudar naquelas condições. Mas então, pensou que o zelo do amor cristão era o mais importante; e onde este zelo e este amor cristão não estivessem administrando, considerava todo o conselho inútil, pois não eram os trabalhadores decaídos que podiam ajudar, nem o Estado, só o Cristianismo encerra o segredo desta ajuda. [...] As principais e essenciais causas desta má situação ficam no âmbito da moralidade, tomando-se esta palavra no seu sentido mais completo, de maneira que não só a luxúria e falta de moderação, ambição e dureza de coração têm que ser considerados, mas também todas as loucuras e vícios que os novos tempos estão deixando desenfreados. A tentativa de cura tem que começar com a correção moral, quer dizer, com a orientação e ajuda à mudança cristã. [...]

Por isso, Kolping usava o ritmo certo e, impulsionado pelo amor cristão, afirmava, em relação à questão da salvação e elevação da classe dos aprendizes, que o mais importante era a preservação moral e elevação dos jovens artesãos, unida à reivindicação de continuação da educação.”

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Com o que foi citado acima, fica claro que Vosen localiza a importância social de Kolping no nível da caridade cristã, da moral e da pastoral. Será que teria feito justiça a Kolping em todos os pontos?

Nas décadas seguintes, o Presidente Geral Georg Schäffer quase não contribuiu para o tema da importância social de Kolping. Em seus últimos anos de vida, ele foi convencido por seu amigo e cooperador Philipp Schlick de que sem atividades político-sociais, no sentido dos aprendizes, os objetivos da Associação de Aprendizes não poderiam ser realizados. Schlick conseguiu que a Legislação no Império Alemão fosse modificada em 1895 em relação ao descanso dominical dos aprendizes.

Albert Franz: O Testamento Social de Kolping

O conceito “Testamento Social de Kolping” foi cunhado por Albert Franz em uma publicação sobre Kolping do ano de 1913, onde ele cita em detalhes sua publicação “Aos Co-Irmãos” do ano de 1863, designando-o como Testamento. Franz denomina Kolping um “Político-Social e Organizador”, que se encontra no caminho para a reforma social-cristã, comparando-o enquanto “prático” com os “estudos teóricos” do Bispo Ketteler e Franz Josef Buss. Os conceitos de “Reformador Social” e “Político Social” são atribuídos aqui a Kolping ainda sem uma diferenciação exata entre eles. Mas Franz não observou que Kolping não era apenas um “Prático”, mas que também se dedicou a estudos teóricos sobre a questão social.

Wilhelm Schwer: Entre Caridade e Auto-AjudaWilhelm Schwer publicou no ano de 1921 “O Pensamento Social dos Padres

Católicos” , caracterizando Kolping por meio de conceitos como “caloroso amor ao próximo, legítima piedade popular, ligação com o povo e educação do povo”. Ele via a importância social de Kolping predominantemente na nova estruturação da vida na associação, no seu desenvolvimento diferente do das congregações clericais. Escreveu ainda que “Kolping era mais um educador do povo do que um Político Social no sentido estreito da palavra; encontra-se no limite entre a assistência caritativa aos trabalhadores em sua antiga forma e a reforma social construída sobre a auto-ajuda organizada. É nesta publicação que a importância social de Kolping é “localizada” pela primeira vez: no caminho da caridade para a auto-ajuda; e Schwer escreveu mais tarde que “ele [Kolping] queria em primeira linha educar o povo, e não fazer Política Social no sentido mais restrito.”

Theodor Brauer: Primeira Tentativa de uma SistematizaçãoEm 1923, Theodor Brauer redigiu o trabalho mais detalhado sobre o aspecto

social em Kolping, como parte da série “Clássicos da Filosofia Social Católica”, tendo intitulado a parte mais importante desta obra de ‘ Kolping como pensador social e professor’. E como Kolping “não legou ‘sistema’ algum”, Brauer entendeu como sua a tarefa de “filtrar dos escritos redigidos por ele nas revistas [...] a sua concepção,

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construindo pedra por pedra, como um mosaico, o que seria o sistema de Kolping.” Devido à sua leitura dos escritos de Kolping, Brauer conseguiu realmente desenvolver uma espécie de sistema partindo das citações coletadas. O que interessa aqui é a seção sobre “a questão social”, na qual Brauer foi o primeiro a reconhecer a importância dos escritos de Kolping sobre este tema. Ele analisa pormenorizadamente o último escrito de Kolping, “Sobre a Questão do Trabalhador”, citando a frase “A vida social, em todas as suas ramificações, repousa sobre o Direito e deve ter proteção através de leis correspondentes.” Infelizmente, Brauer não analisa mais de perto o conteúdo desta frase e também não vê nenhuma contradição com as explicações do ano de 1850 sobre “fazeção de leis”. A vontade de reunir os pensamentos de Kolping em um sistema, acabou sobrepujando a questão sobre o desenvolvimento nas idéias sobre a questão social.

Brauer também participou da formulação do “Programa da Associação Católica de Aprendizes”, da maneira como foi aprovado pela primeira vez na história da associação, aos 26 de julho de 1921. Este programa fala de “uma reconstrução da vida econômica e social”, que se explica como sendo “o cuidado abrangente com a profissão, que a Associação Católica de Aprendizes conscientemente coloca a serviço de uma nova construção da vida social, tendo como base a profissão. Colocando em atividade ao mesmo tempo forças religiosas e sociais e de cidadania para este objetivo, o programa adquire um significado peculiar neste âmbito. A “reconstrução” continha uma representação política e o direito a co-determinação de todas as profissões, de acordo com o § 165 da Constituição de Weimar. “Com a formulação programática e política do ano de 1921, foi anunciado um novo capítulo na atuação da Associação.”

Perspectivas que abreviamO conceito de “perspectivas que abreviam” originou-se com Josef Anton Stüttler.

Trata-se da questão de como a importância político-social de Kolping foi compreendida, ou apenas parcialmente compreendida ou mal-compreendida ao longo da história?

Johannes Nattermann: Kolping como Pedagogo Social“Adolf Kolping como Pedagogo Social” é o título de uma pesquisa de Johannes

Nattermann, publicada dois anos após o livro de Brauer. Na introdução, o autor concen-tra a questão social em “uma questão da Pedagogia”. Mas esta perspectiva/ótica peda-gógica abafa a visão política, que sem dúvida nenhuma estava presente em Kolping: “justamente porque a sociedade representa uma construção orgânico-moral é que ela precisa da ajuda humana. Para Kolping, esta ajuda humana consiste em preparar mate-rial saudável para a construção da sociedade, cuja forma não se pode prever. Esta prepa-ração do material é a educação. E assim, a Política Social de Kolping se limita à Pedagogia Social, para criar os fundamentos intelectuais para a primeira. Mas “a limita-ção”, que Kolping irá atestar aqui, deve-se somente à “limitação” do autor. Ele tira a seguinte conclusão: “Política Social não é tarefa da Associação de Aprendizes.” Nattermann interpreta as palavras de Kolping, já citadas por Brauer, “a questão social

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só poder ser resolvida através do Direito”, como se este Direito fosse “ um Direito Corporativista/ de Companheirismo e, por isso, fundamentado dentro de uma concepção de comunidade, que só adquire vida força para atuar no amor desta comunidade”. Com uma tal espiritualização, o ponto de vista pedagógico de Kolping torna-se absoluto, e este é absorvido pela duvidosa terminologia “Pedagogia Social”, obscurecendo com isso a atenção dada à Política Social, também presente em Kolping.

Todavia, Nattermann escreveu no ano de 1929: “ O amor fraterno, tão pregado por Kolping, não deve ser igualado à caridade, assim sem mais nem menos. Amplos círculos dentro do contingente católico acreditam que com a caridade, o amor que distribui bens, que acolhe os pobres, pode-se fazer jus à questão social e, assim, conquistar os corações dos trabalhadores, o que é um grande erro.” Nesta mesma época, acontece a guinada política de Nattermann, e com ele da Associação Católica de Aprendizes, com conseqüências altamente problemáticas.

Karl Zimmermann: A Questão Social como questão moral / de mentalidade

Em 1927, Karl Zimmermann apresentou formulações parecidas com as de Nattermann: “A convicção de que só a modificação das instituições não poderia resolver os problemas sociais, de que seria necessário influenciar o homem internamente, portanto de que a Questão Social seja antes de mais nada uma questão humana, ou seja, uma questão da mentalidade e da postura interior do homem, surge em Kolping pela primeira vez. [...] Nele o pensamento de que os problemas sociais só podem ser resolvidos através de uma influência externa sobre a consciência e a mentalidade de cada pessoa isoladamente, quer dizer, através da educação ocupa tanto o primeiro plano das suas medidas reformistas e sociais, que, para ele, a educação se tornou o único meio de se fazer Política Social.” Como em Brauer, encontramos também em Zimmermann a tentativa de forçar Kolping a fazer parte de um sistema.

Michael Hanke: Mudança do homem/humanaNas décadas seguintes, quase não se tratou do tema da importância social em

Kolping e foi só em 1970 que Stüttler se posicionou sobre o tema. Por motivos do seu conteúdo, a apresentação do seu posicionamento deve ser adiada. Quatro anos mais tarde, Michael Hanke escreveu um estudo sobre Kolping com o título: “Mudança Social através da Mudança Humana”. Com o termo “mudança”, originário da esquerda, quer-se dizer aqui educação e o homem é visto como objeto da Educação. Handke escreve “que a mudança social na visão de Kolping, que leve a um mundo realmente melhor, não é possível só através da mudança de estruturas; para Kolping, um mundo melhor não é factível /possível no sentido de uma simples mudança de determinadas relações sociais através de medidas políticas bem planejadas, e muito menos através de bruscas viradas revolucionárias de todas as condições existentes. Kolping não refuta a possibilidade ou talvez até a necessidade de impor determinadas mudanças estruturais; mas o decisivo neste processo é a visão de que somente através de mudanças do ho-

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mem é que grandes mudanças no sentido positivo se tornam possíveis, através da mudança de mentalidade e, como conseqüência, mudança de comportamento. Assim, a influência do comportamento sobre o homem torna-se o objetivo central de Kolping, tornando-o um Pedagogo Social que, com sua concepção, se destaca dos demais teóricos da sociedade do seu tempo.”

Hanke escreve ainda: “ Partindo-se do objetivo da mudança social, pode-se caracterizar Kolping também como reformador social, sendo necessária a nítida diferenciação da massa dos reformadores e revolucionários sociais, que tentam conceber modelos concretos de uma sociedade futura e procuram coloca-la em prática, para os quais se trata primariamente ou exclusivamente de mudança estrutural, enquanto que em Kolping a mudança da mentalidade fica em primeiro plano. Se o designarmos como Político Social não lhe estaríamos fazendo justiça, mesmo porque, na sua época, nem havia Política Social, no sentido em que a entendemos hoje. [...] Em sua visão, o Estado nem foi chamado e nem tem capacidade para resolver, por si, os atuais problemas sociais.”

Só se pode entender a opinião de que na época de Kolping ainda não havia “Política Social no sentido atual” se se estiver pensando na legislação social de Bismarck. Na Prússia já havia a partir de 1839 uma legislação para a segurança de jovens no trabalho, sobre a qual Kolping falou claramente. Por outro lado, pode-se perguntar se não é Kolping que foi um precursor da “Política Social no sentido atual”.

Hans-Joachim Kracht manifestou-se a respeito da importância social de Kolping de maneira semelhante a Hanke.

Nova tomada de conhecimento: a exigência de Kolping por uma legislação social objetiva.

Após o Segundo Concílio do Vaticano, o Presidente Geral, Heinrich Fischer, encaminhou uma exposição sobre Política Social à central de Köln. A “imagem de fundo da Política Social” já havia sido aprovada em 1969. . Stüttler, o primeiro a falar sobre Política Social, escreveria posteriormente um artigo na “Folha Kolping” , de onde extraímos a seguinte passagem, sob o título de”A Virada de Kolping para a Política Social”:

“Partindo de considerações básicas, a Igreja homenageou durante muito tempo a opinião /concepção de que as misérias/ necessidades dos trabalhadores podiam ser diminuídas, ou até mesmo totalmente debeladas, através de ações voluntárias, caridade etc, de qualquer maneira, sem a intervenção do Estado (liberal). Iniciativas por parte do Estado, e com elas o caminho político-social, eram mal vistas e até recusadas.

Mas Adolph Kolping tinha absoluta clareza de que só ajuda social, amor ao próximo e coisas do gênero – por mais louváveis, importantes e cristãs que fossem – que só estes recursos não se podia resolver a questão dos trabalhadores. Portanto, ele escreve em 1865 nas Folhas Populares da Renânia, exigindo que: ‘ a vida social e todas as suas ramificações repousam sobre o Direito, devendo encontrar proteção e segurança em leis adequadas’. Graça e compaixão sozinhas nada conseguem, mas sim a justiça,

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que segundo Kolping, pode melhorar a miséria geral com suas leis sociais.Mas com esta tese que, naquela época, nem estava conforme à Igreja e nem ao

Estado liberal, Kolping se tornou um Político Social, quer dizer, um representante que exigia um equilíbrio eficaz entre as diferentes camadas da população, embasado em leis estaduais adequadas. Como este apelo por uma política social permaneceu longo tempo abafado, ou encoberto por dúvidas – o que continua sendo válido até hoje – seu trabalho político-social não recebeu o apreço merecido, apesar de continuar sendo de grande importância, se é que Política Social deva continuar sendo uma tarefa da obra de Kolping no mundo moderno.”

Sobre a classificação da reivindicação sócio-política de Kolping entre suas outras atividades sociais,Stüttler escreveu mais tarde: “O trio de reformas sociais de Kolping para diminuir a miséria social exige a renovação religiosa-moral como base, que possibilite a auto-ajuda dos atingidos e propicie ajuda estadual através de leis ‘corretas’, quer dizer ‘cristãs’.” Então, reforma social para Stüttler é um conceito maior que abrange medidas pedagógicas, auto-ajuda e Política Social. “A propósito, as idéias e ferramentas de Kolping e principalmente sua reivindicação por Política Social estavam muito à frente da sua época.”

Se quisermos fazer um resumo de como a importância social de Kolping foi interpretada no decorrer de mais de 150 anos de resenhas feitas, tem-se que constatar primeiro que sua visão sobre a questão social permaneceu por mais de um século, só parcialmente reconhecida na Associação Católica de Aprendizes / Obra Kolping. Pode-se ver, até o ano de 1923, até Brauer, um desenvolvimento contínuo: Vosen comparou Kolping aos Teóricos Sociais da sua época, Franz declarou um escrito de Kolping do ano de 1863 como seu testamento social, Schwer vislumbrou nele o caminho para a auto-ajuda e Brauer fez dos escritos de Kolping dos anos de 1864 e 1865 a base da sua sistematização. Schlick fez Política Social bem de acordo com a reivindicação de Kolping, já no ano de 1895. “Visões abreviadas” passaram então para o primeiro plano: Kolping como Pedagogo Social em Nattermann, a questão social como questão de mentalidade/moralidade em Zimmermann e a formulação das mudanças humanas em Hanke. Stüttler forneceu, com sua visão de Kolping como Político Social, a contribuição mais decisiva quanto a esta questão.

Depois deste esclarecimento, mais teórico, do que continha a questão social para Kolping, que exigiu mais de um século de trabalho intelectual para poder ser

questão social e a Política Social necessária hoje?paulatinamente compreendida, coloca-se hoje a questão: Como se encontra hoje a