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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL NORMA SOELY PINTO FERREIRA ADOÇÃO TARDIA: UMA ANÁLISE DA VISÃO DA EQUIPE PSICOSSOCIAL DO ABRIGO TIA JÚLIA FORTALEZA- CEARÁ 2014

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Page 1: ADOÇÃO TARDIA: UMA ANÁLISE DA VISÃO DA EQUIPE … TARDIA UMA... · Ao meu amor e companheiro Celio Ferreira, minha enorme gratidão ... compreenderem minhas saídas mais cedo

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

NORMA SOELY PINTO FERREIRA

ADOÇÃO TARDIA: UMA ANÁLISE DA VISÃO DA EQUIPE PSICOSSOCIAL DO ABRIGO TIA JÚLIA

FORTALEZA- CEARÁ

2014

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NORMA SOELY PINTO FERREIRA

ADOÇÃO TARDIA: UMA ANÁLISE DA VISÃO DA EQUIPE PSICOSSOCIAL DO ABRIGO TIA JÚLIA

Monografia apresentada ao curso de graduação em Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará, outorgado pela Faculdade Cearense - FAC como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Prof.ª Ms. Priscila Notthinghan Lima.

FORTALEZA- CEARÁ

2014

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Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274

F383a Ferreira, Norma Soely Pinto

Adoção tardia: uma análise da visão da equipe psicossocial

do Abrigo Tia Júlia / Norma Soely Pinto Ferreira. Fortaleza –

2014.

69f. Orientador: Profª. Ms. Priscila Nottingham de Lima.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade

Cearense, Curso de Serviço Social, 2014.

1. Adoção tardia. 2. Processo de adoção. 3. Abrigo Tia Júlia.

I. Lima, Priscila Nottingham de. II. Título

CDU 364

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NORMA SOELY PINTO FERREIRA

ADOÇÃO TARDIA: UMA ANÁLISE DA VISÃO DA EQUIPE

PSICOSSOCIAL DO ABRIGO TIA JÚLIA

Monografia apresentada ao curso de graduação em Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará, outorgado pela Faculdade Cearense - FAC como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Serviço Social.

Data da aprovação:____/____/____

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________

Profª. Ms. Priscila Nottinghan Lima (Orientadora)

_______________________________________________ Profª. Ms. Mayra Rachel Silva

_______________________________________________ Profª. Ms. Rúbia Cristina Martins Gonçalves

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“Minha infância está presente. É como se fora alguém.

Tudo o que dói nesta noite, Eu sei, É dela que vem.” (Emílio Moura)

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela sabedoria oportunizada para esta

construção e por permitir tantas vivências que me fortaleceram e me fizeram

um ser humano melhor.

Aos meus filhos João neto e João Vitor que ficaram muito tempo sem a

minha presença em casa e que compreenderam mesmo sentindo falta. À

minha filha Alana Kely e seu esposo Thiago Reis e o seu filho Emanoel Felipe,

que mesmo de longe, estavam torcendo por mim.

Ao meu amor e companheiro Celio Ferreira, minha enorme gratidão

pelo apoio que me deu por levar os meninos ao médico e para me verem no

hospital quando não dava tempo ir em casa e por aguentar meu choro, alegria,

cansaço, mágoa.

Ao meu pai adotivo Zacarias Firmino (in memoria) pelos valores,

educação que sem estes, tudo seria diferente, obrigada paizinho. À minha mãe

adotiva Francisca Fernandes (in memoria) por ter me criado com tanto amor,

sei que ficaria muito feliz se estivesse aqui nesse momento, obrigada vozinha

era assim que eu a chamava. E aos meus pais biológicos, Francisco Farias (in

memoria) e Maria Ducarmo, que me colocaram no mundo, pois se não fossem

vocês tudo isso não estaria acontecendo.

Às minhas irmãs Norma Lucia e Norma Ticiana pelo apoio mesmo de

longe, pois todas trabalham. Ao meu irmão Elder Farias e em especial meu

outro irmão, Francisco Eudo, pois este acompanhou de perto essa trajetória, e

sei que deixou de fazer algo dele só para ficar com os sobrinhos quando eu

estava no trabalho, faculdade e estagiando, meu muito obrigada. Não posso

esquecer-me da cunhada Nelma Domingos que fazia tudo por nós. Agradeço

em geral à família com muito carinho e em especial minha tia Almira Pinto.

À minha amiga e irmã Catia Alves, Marilene Noronha, Marisa Calixto,

Sumara Frota, Viviane Andre, Lusiana Andrea pelo companheirismo. À

supervisora de estágio Valdelice Brito e Ana Paula Miranda pelo apoio e

dedicação.

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A Sra. Luiza Helena, diretora do Abrigo Tia Júlia, na qual me recebeu

muito bem, desde o primeiro dia em que lá cheguei, perguntando se eles

estavam precisando de estagiárias e a todos funcionários.

Agradeço às minhas colegas de trabalho a quem sou muito grata, por

compreenderem minhas saídas mais cedo do plantão em época de prova, e

entenderem meu cansaço: Fabiola Araripe, Gliciane Passos, Evilene Felipe,

Fabiola Alencar, Eliel Pinheiro e Clarissa Coelho pela força.

Às amigas do CAC - Centro de Assistência à Criança, Fátima Sá,

Marilene Gomes, Fátima Feitosa, Lúcia Rodrigues, Sandra de Paula, Denise

Freitas e Cátia Alves, às Assistentes Sociais pelo apoio e incentivo que foi com

o exemplo delas que me motivei mais ainda pela temática escolhida.

Agradeço também às pessoas que me davam carona, quando vinha do

plantão muito cansada, a Dra. Elizabethe Rocha, Fatima Braga, Fatima Castelo

Enfermeira Gabriele, Enfermeira Margarida Braga e Assistente Social Sandra

Alves e a moça do Raio X , Karol. Aqui ficam meus agradecimentos a todas as

Assistentes Sociais do CAC, pois foi nelas que me inspirei, Dirce , Hildete

Pimentel, Araci Braga Guaraciara,Patricia.

Às professoras Mônica Duarte, Leticia Peixoto, Rubia Gonçalves, Joelma

Freitas, Priscila, Mayra Raquel, Mariana Aderaldo e ao professor Valney Rocha

que marcaram e contribuíram para minha formação.

À minha orientadora, Priscila pela dedicação, pelos ensinamentos e

reflexões próprias de uma mestra por excelência, pelo compromisso com este

trabalho, muito obrigada. Agradeço também à banca examinadora composta

pelas ilustríssimas professoras; Priscila, Mayra Rachel e Rubia Gonçalves.

Em fim, agradeço a todos que não foram citados, mas que de alguma

forma contribuíram para esta etapa da minha vida.

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RESUMO

Este estudo trata especificamente da relação de adoção tardia e a visão dos profissionais do Abrigo Tia Júlia em relação à mesma, considerando que muito além da questão social, a adoção tardia merece ser analisada do ponto de vista legislativo e social em relação a sua aplicabilidade na vida das crianças. Levaram-se em conta nesse trabalho monográfico vários aspectos que norteiam os objetivos da pesquisa, desde o surgimento da adoção no mundo e no Brasil até os marcos legais que norteiam o processo da adoção. O objetivo principal do estudo é compreender a visão da equipe psicossocial do Abrigo Tia Júlia sobre o processo de adoção, o trabalho tem como eixo principal uma aproximação com os autores que falam da temática escolhida. A pesquisa realizada é de natureza qualitativa, tendo como partes a pesquisa bibliográfica, documental e também dados coletados através de um questionário de perguntas semiestruturados Os resultados desta pesquisa proporcionaram a conhecer a visão e a importância da relação do profissional de abrigo com a criança em processo de adoção tardia.

Palavras – Chaves: Adoção Tardia, Abrigo Tia Júlia.

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ABSTRACT

This study specifically addresses the relationship of late adoption and professionals' view Shelter Aunt Julia for the same, considering that beyond social issues to be explored late adoption of legislative and social point of view regarding their applicability in the life of Children. Were taken into account in this monograph several aspects that guide the research objectives, since the emergence of adoption worldwide and in Brazil until the legal frameworks that guide the process of adoption. The main objective of the study is to understand the vision of the psychosocial team Shelter Aunt Julia about the adoption process, the work's main axis to approach the authors speak of the chosen theme. The research is qualitative in nature, with the parties bibliographical, documentary and also research data collected through a semi-structured questionnaire questions These results provided the vision and know the importance of the relationship under the professional with the child in late adoption process. Key - Words: Adoção Tardia, Abrigo Tia Julia.

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LISTA DE SIGLAS

AMB – Associação dos Magistrados Brasileiros

CONANDA – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

DPF – Destituição do Poder Familiar

ECA – Estatuto da criança e do adolescente

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

ONU – Organização das Nações Unidas

STDS – Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social

CAC - Centro de Assistência Lúcia de Fátima Sá

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LISTA DE FIGURA

FIGURA 1: REFEITÓRIO DO ABRIGO TIA JÚLIA ----------------------------------- 25

FIGURA 2: SALA DAS CRIANÇAS ------------------------------------------------------ 25

FIGURA 3: SALA DA EQUIPE TÉCNICA ----------------------------------------------- 26

FIGURA 4: RODA DOS ENJEITADOS -------------------------------------------------- 35

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LISTA DE QUADRO

QUADRO 1: SITUAÇÃO GERAL DAS CRIANÇAS NO ABRIGO -------------- 28

QUADRO 2: QUADRO TÉCNICO DO ABRIGO TIA JÚLIA EM 2014 --------- 29

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Sumário

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 13

1. PERCURSO METODOLÓGICO .................................................................. 15

1.1 Aproximação com o Tema.·. ....................................................................... 15

1.2 Metodologia. ............................................................................................... 17

1.3 Lócus da Pesquisa: O Abrigo Tia Júlia ....................................................... 24

2. ADOÇÃO E ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL ........................................... 31

2.1. Percurso Histórico da Adoção. .................................................................. 31

2.2. Adoção no Brasil ....................................................................................... 37

2.3 Os Marcos Legais da Atualidade. ............................................................... 46

3. PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO ABRIGO TIA JULIA SOBRE

ADOÇÃO TARDIA ............................................................................................ 51

3.1 Caracterização dos Profissionais Entrevistados ......................................... 52

3.2. Análise das Entrevistas ............................................................................. 54

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 61

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 63

APÊNDICES ..................................................................................................... 65

ANEXO ............................................................................................................. 68

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INTRODUÇÃO

A temática sobre a adoção tardia tem levado diversas discussões no

meio jurídico, incorrendo em frequentes debates por estudantes, profissionais

do judiciário, áreas afins. Cada dia se torna maior e mais adequado o número

de pessoas na fila de adoção que desejam adotar crianças menores, e ao

mesmo tempo o número de crianças para a adoção tardia aumenta, não só em

Fortaleza, mas em todo o Brasil. Diante disso, será apresentado o panorama

em que autores falam sobre a realidade da adoção.

Essa pesquisa tem como objetivo geral identificar a visão da equipe

psicossocial do Abrigo Tia Júlia em relação ao processo de adoção tardia. O

surgimento do interesse pela temática surgiu a partir do estágio realizado no

referido abrigo. A adoção é constituída através de um vínculo jurídico capaz de

promover e beneficiar filho a quem não pode conceber fisicamente, é diante

disso que fala-se sobre a adoção tardia. Em geral, o processo de adoção

necessita da destituição do pátrio poder familiar, isso demora devido aos

procedimentos exigidos pela legislação brasileira para sua efetivação. Tal

situação ocasiona no envelhecimento da criança que está em situação de

abrigamento, o que ocasiona menores possibilidades para que sua adoção

ocorra.

Vale ressaltar a importância dessa temática para o Serviço Social, pois

esse profissional está diretamente ligado às expressões da questão social,

enquanto mediador entre a sociedade e o Estado através das políticas públicas

e intervindo diretamente no processo de resgatar o vínculo familiar ou, quando

este não é mais possível, mediar o processo de adoção, além da necessidade

de levar cada vez mais essas discussões para o espaço acadêmico. Os

elementos que contribuem para o processo de adoção em que se estabelecem

os seus vínculos podem ser pontuados como o abandono de crianças, a

orfandade, desajustes físicos, pessoais e outros tantos.

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O presente trabalho está dividido em três capítulos. No capítulo primeiro

que tem como título Percurso Metodológico, trata-se da exposição do percurso

metodológico que traz o processo de aproximação com a temática escolhida, o

percurso da pesquisa e um breve contexto da Instituição selecionada para o

desenvolvimento da pesquisa de campo.

No segundo capítulo que tem como título A Adoção e o Acolhimento

Institucional, que ressalta o percurso histórico da adoção no mundo,

discorrendo acerca das características de como era o processo de exclusão

das crianças rejeitadas e ainda sobre o processo de adoção no Brasil, os

percalços e todos os processos que envolvem o sistema de adoção no nosso

país. Relata-se ainda os marcos legais existentes na atualidade que abordam a

temática e garantem todo esse processo de adoção das crianças brasileiras.

Por fim, no terceiro capítulo que tem como título A Percepção dos

Profissionais do Abrigo Tia Júlia, elaborou-se uma caracterização do perfil dos

profissionais entrevistados, a análise de dados sobre as categorias

pesquisadas e a visão dos profissionais sobre os aspectos que envolvem o

contexto da adoção no espaço institucional do abrigo Tia Júlia.

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1. PERCURSO METODOLÓGICO

1.1 Aproximação com o Tema.1·.

O interesse pela temática surgiu ao longo do meu estágio

obrigatório e supervisionado em Serviço Social I, II e III da Faculdade Cearense

no Abrigo Tia Júlia, e também por uma motivação pessoal que se uniu ao meu

conhecimento no campo de estágio sobre adoção. Por ser adotada pela minha

avó materna conheço de perto o sentido da adoção, mas não tinha uma

relação mais próxima com outras pessoas adotadas e nem conhecia o sentido

de uma adoção tardia. Segundo Robert (1989) a adoção “[...] é a criação

jurídica de um laço entre duas pessoas”. (1989, p.25) e na adoção tardia,

como ressalta Ângelo (2010):

É onde se encontram a maior concentração de crianças que necessitam de uma nova família por já terem esgotado as chances de retorno da família de origem é onde compreendem crianças maiores de três anos, incluindo adolescentes iniciais e finais. (2010, p. 24).

Becker (1999) denomina uma relação entre a escolha do objeto que o

pesquisador desejar pesquisar:

No inicio, o pesquisador pode não ter tanta certeza de que o problema que ele escolheu é o que mais merece estudo na comunidade ou organização na qual ele está trabalhando/pesquisando; ele dedica seus primeiros esforços analíticos à descoberta de problemas dignos de atenção e de hipóteses que se mostrarão mais úteis para abordá-la. (BECKER, 1999, pp 123,124).

No decorrer de um ano e meio de estágio, pude aprofundar

conhecimentos em relação ao assunto da pesquisa e sobre a de atuação dos

profissionais do Serviço Social e outras áreas afins no sentido da adoção e a

importância que esses profissionais têm na vida das famílias e das crianças.

O Abrigo Tia Júlia foi o lugar que me abriu as portas para uma

aproximação direta com as crianças em adoção tardia. O abrigo acolhe

1 Neste tópico utilizarei a fala na primeira pessoa por se tratar de uma justificativa pessoal.

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crianças de 0 a 7 anos de idade. Nessa primeira experiência de estágio, ao

conhecer essas crianças, fiquei me questionando sobre aquelas que possuíam

idade considerada avançada para adoção, muitas saem do Abrigo Tia Júlia e

possuem outros destinos, diante disso comecei a me questionar: Para onde

elas iriam? Quais os motivos que ocorrem para elas não retornarem ao seio da

família? Como afirma Minayo (2010), “[...] toda investigação se inicia por uma

questão, por um problema, por uma pergunta, por uma dúvida.” (p.16).

Na supracitada vivência de estágio pude presenciar uma situação

específica que me chamou bastante a atenção: um casal candidato à adoção

interessou-se por uma criança que possuía uma irmã com deficiência,

conforme o Estatuto da Criança e Adolescente (1990), grupos de irmãos não

podem ser separados durante o processo de adoção, fato esse que muitas

vezes dificulta a efetivação dessa iniciativa, então o referido casal dispôs-se em

adotar ambas. Meu posicionamento em relação a esta normativa é de que ela é

valida como forma de apoiar a continuação da família, pois não se deve

quebrar vínculos fraternos remanescentes, já que a criança muitas vezes não

pode retornar ao seio familiar de origem. Nesse sentido, de acordo com a ONU

(1990):

Todos os esforços devem ser feitos para evitar que a criança seja separada de sua família. Quando esse afastamento ocorrer por motivo de força maior ou em função de interesse superior da criança, é necessário que se tomem providência, de modo que ela receba proteção familiar, alternativa apropriada. (ONU, 1990, p. 30).

Com o Serviço Social do abrigo Tia Júlia pude perceber a importância

que existe em não se quebrar os vínculos familiares Jesus et al (2004) já afirma

isso:

Historicamente, a família sempre esteve inserida na área de atuação do Serviço Social, porém, na maioria dos serviços, ela vem sendo contemplada de maneira fragmentada, ou seja, cada integrante da unidade familiar é visto de forma individualizada, descontextualizada e portador de um problema. Em vista disso, um dos desafios da profissão é a busca de metodologias para trabalhar a família como um grupo com necessidades próprias e únicas. (JESUS et al, 2004, p.02).

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Em meio a tantos problemas, indagações que ali me foram surgindo

durante um ano e meio de estágio, esse foi o caso supracitado que mais me

chamou atenção e motivou a pesquisar mais sobre o tema. Dentre outros fatos

que ali ocorreram, o segundo que mais me influenciou a ir pelo caminho de

pesquisa da adoção tardia e como os profissionais se envolvem nessa adoção

foi o caso de um menino de apenas 7 anos que estava prestes a ser transferido

para outra Instituição de acolhimento, quando uma estrangeira interessou-se

em adotá-lo, situação em que acompanhei como estagiária.

Uma terceira situação que posso ainda aqui relatar refere-se a três

irmãos em estado de abrigamento, dos quais a primogênita teria que se apartar

dos dois caçulas por conta da idade máxima permitida para a permanência no

abrigo Tia Júlia. A experiência suscitou questionamentos maiores em relação à

adoção tardia e ao ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente (1993).

Diante de tudo isso, surgiu o interesse pela temática, e assim

desenvolveu-se um processo de compreensão e análise em torno das

perspectivas de adoção tardia e os impactos na vida dessas crianças, além da

tentativa de compreender a visão de Assistentes Sociais e Psicólogos do

Abrigo Tia Júlia em relação aos direitos das crianças ali institucionalizados.

1.2 Metodologia.

Levando em conta os aspectos referidos no tópico anterior, a pesquisa

proposta é de natureza qualitativa. De acordo com Goldenberg (2004) na “[...]

pesquisa qualitativa, a preocupação do pesquisador não é com a

representatividade numérica do grupo pesquisado, mas o aprofundamento da

compreensão de um grupo social.” (p. 13).

A autora Martinelli (2000) fala que cada pesquisa é única e se

quisermos conhecer modos de vida, temos que conhecer as pessoas: “Esse é

o motivo pelo qual as pesquisas qualitativas privilegiam o uso de uma

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abordagem em que o contato do pesquisador com o sujeito é muito

importante”. (p.22).

Nesse sentido, a autora Martinelli (2000) ainda complementa sobre as

abordagens de pesquisa qualitativa:

Nessas pesquisas, ao invés de trabalharmos com grandes temas, com grandes cronologias, o fazemos de forma mais localizada. Trabalhamos com o fato de forma a poder aprofundar tanto quanto possível a análise, e não para conhecê-lo apenas de uma forma sumária, a partir de uma primeira apresentação. Nesse sentido, priorizamos não os fatos épicos, os fatos de grande dimensão, mas aqueles que estão mais próximos do sujeito e que repercutem diretamente na sua vida. (MARTINELLI, 2000, p.22).

Haguette (2010) faz uma diferenciação entre o método de pesquisa

qualitativa e quantitativa para termos uma noção de porque a natureza desse

estudo é qualitativa:

Os métodos quantitativos supõem uma população de objetos de observação comparável entre si e os métodos qualitativos enfatizam as especificidades de um fenômeno em termos de suas origens e de sua razão de ser. (HAGUETTE, 2010, p. 59).

Precisamos compreender ainda o que vem a ser pesquisa. Minayo

(2010) afirma:

Entendemos por pesquisa a atividade básica da ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. portanto, a pesquisa vincula pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser intelectualmente um problema se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática. (MINAYO, 2010, p.16).

Gil (1999) afirma que pesquisa é:

A pesquisa tem um caráter pragmático, é um processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos. (GIL, 1999, p. 42).

Pesquisa vem a ser, como afirma Moresi (2003), um conjunto de ações,

propostas para encontrar a solução para um problema, que tem por base

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procedimentos racionais e sistemáticos. A pesquisa é realizada quando se tem

um problema e não se têm informações para solucioná-lo.

Para tanto, a metodologia utilizada nesta investigação contará com a

pesquisa bibliográfica como primeira etapa do processo investigativo, onde me

aproximei dos autores que discutem as seguintes categorias: adoção, ECA e

as práticas profissionais que envolvem o processo de adoção no Brasil.

Siqueira (2005) fala que “[...] a pesquisa bibliográfica é o conjunto dos livros e

textos científicos produzidos referentes a certo tema, sendo a pesquisa

bibliográfica o exame daqueles para levantamento e análise do que já foi

produzido.” (p. 85).

Gil (2002) também caracteriza a pesquisa bibliográfica quando diz:

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Boa parte dos estudos exploratórios pode ser definido como pesquisa bibliográfica. (GIL, 2002, p.17).

Inicialmente, o delineamento da pesquisa se realizou mediante um

levantamento bibliográfico para organizar os materiais e fontes necessárias, e

assim dar cientificidade ao tema escolhido e demonstrar a relevância do estudo

para o conjunto societário. Assim, por meio da pesquisa bibliográfica, foram

analisadas diversas concepções relacionadas ao tema a partir da abordagem

de outros pesquisadores. Reportando-se a livros, artigos, documentos

eletrônicos e demais documentos científicos.

A pesquisa documental também foi realizada nos relatórios da Instituição

para entender quais as especificidades dos sujeitos pesquisados. Em relação a

esse tipo de técnica, apresenta-se a concepção adotada por Gil (2010):

A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A única diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda

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um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaboradas de acordo com os objetivos da pesquisa. (GIL, 2010, p. 73).

Já Cervo (2007) tem outra afirmação em relação à pesquisa documental:

Pesquisa documental é onde são investigados documentos com o propósito de descrever e comparar usos e costumes, tendências, diferenças e outras características. As bases documentais permitem estudar tanto a realidade presente como o passado, com a pesquisa histórica. (CERVO, 2007, p.62).

Desse modo, a referida pesquisa se justificou em ter acesso a alguns

registros da instituição a partir de relatórios, documentos de registros e

atendimentos escritos nos prontuários, e as legislações que orientam a atuação

do equipamento. Nesse sentido, cabe ressaltar que os documentos do Abrigo

Tia Julia foram importantes como instrumentos de análise desta pesquisa.

Em seguida foi realizada a pesquisa de campo, que trouxe como

propósito a realização de uma aproximação maior com o objeto de pesquisa.

Minayo (2010) afirma sobre ir a campo que:

O trabalho de campo permite a aproximação do pesquisador da realidade sobre a qual formulou uma pergunta, mas também estabelecer uma interação com os “atores” que conformam a realidade e, assim, constrói um conhecimento empírico importantíssimo para quem faz pesquisa social. [...] no campo, o pesquisador precisa não ficar preso às surpresas que encontrar e nem tenso por não obter resposta imediata as suas indagações. [...] o processo de trabalho de campo nos leva, frequentemente, à reformulação de hipóteses ou, mesmo, do caminho da pesquisa. Enquanto construímos dados colhidos e os articulamos a nossos pressupostos exercitamos nossa capacidade de análise que nos acompanha em todas as fases. (MINAYO, 2010, pp 61, 62).

O campo possibilita a compreensão da estrutura do objeto abordado e a

interação de seus componentes, “[...] o trabalho de campo é, portanto, uma

porta de entrada para o novo, sem contudo, apresentar essa novidade

claramente. São as perguntas que são feitas para a realidade.” (MINAYO,

2010, p.76). Por isso, a aproximação com o campo é de extrema importância

para o pesquisador ter outro olhar em relação à realidade. A autora Minayo

(2010) afirma que embora haja muitas formas e técnicas de realizar o trabalho

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de campo, dois são os instrumentos principais desse tipo de trabalho: a

observação e a entrevista.

No campo, o pesquisador fará um papel de observador, nesta

perspectiva “deve estar particularmente alerta para incidentes de qualquer tipo

que sejam definidos como conflitos ou problema pela comunidade pesquisada

ou organização estudada.” (BECKER, 1999, p. 121).

Para isso, durante essa pesquisa foi utilizada a técnica de observação

participante, que segundo Gil (2010) consiste na “[...] observação real do

observador na vida da comunidade, do grupo ou de uma situação determinada.

Nesse caso o observador assume pelo menos o papel de um membro do

grupo. A que chega ao conhecimento da vida de um grupo no interior do

mesmo.” (pp. 107, 108).

“[...] o observador não se limita à observação apenas” (1999, p.122)

afirma Becker ele examina as origens do grupo e entrevista. Becker afirma

também que o observador verificará documentos que são úteis para coletar as

estatísticas da comunidade estudada.

Na pesquisa de campo é utilizada como técnica para colher os dados

dos objetivos a entrevista. Para definir entrevista, Haguette (2010) fala que a

“[...] entrevista pode ser definida como um processo de interação social entre

duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção

de informações por parte do outro, o entrevistado.” (p.81).

A referida autora ainda ressalta que:

Enquanto instrumento de coleta de dados, a entrevista, como qualquer outro instrumento, está submetida aos cânones do método científico, um dos quais é a busca de objetividade, ou seja, a tentativa de captação do real, sem contaminações indesejáveis nem da parte do pesquisador nem dos fatores externos que possam modificar aquele real original. (HAGUETTE, 2010, p.81).

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Afirma Haguette (2010) que informações são obtidas através de um

roteiro de entrevistas constando de uma lista de pontos ou tópicos previamente

estabelecidos de acordo com uma problemática central que deve ser seguida.

(p.81).

A entrevista é uma das técnicas mais importantes quando se faz

pesquisa, é uma aproximação maior com seu objeto de estudo, diante disso

Minayo (2010) afirma que:

Entrevista é acima de tudo uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores, realizada por iniciativa do entrevistador. Ela tem o objetivo de construir informações pertinentes para objeto da pesquisa, e abordagem pelo entrevistador, de temas igualmente pertinentes com vistas a esse objetivo. (MINAYO, 2010, p. 64).

Ainda sobre as entrevistas sem profundidade, Goldenberg (2004) fala

que é preciso apontar algumas das suas inúmeras limitações e dificuldades,

“[...] como, por exemplo, o constrangimento que pode causar ao pesquisado o

fato de ter suas informações gravadas ou anotadas pelo pesquisador.” (p.56).

Se um pesquisador, como afirma Howard (1999), temendo a rejeição, escolhe

pessoas “legais”, e se este ser “legal” estiver correlacionado a atitudes que

abordem o assunto pesquisado, por exemplo, o procedimento de amostragem

não especificado pode produzir resultados distorcidos, o que não ocorreria

quando se utiliza a amostragem probabilística.

Para a coleta de dados, a técnica de entrevista que mais parecera

coerente foi a entrevista semiestruturada. Sobre este tipo de entrevista, Cervo

(2007) diz que “[...] ela facilita a obtenção de dados que não podem ser

encontrados em registros e fontes documentais.” (p.51). A entrevista semi-

estruturada é similar a uma conversa, é um diálogo entre o entrevistado e o

entrevistador, focando sempre no assunto que pretende abordar, não muito

rígida como uma entrevista normal, não segue um modelo, exige a flexibilidade

quando se usa essa técnica. De acordo com Manzini (2004): “[...] a entrevista

semiestruturada é direcionada por um roteiro previamente elaborado, composto

geralmente por questões abertas.” (MAZINI, 2004, p.11).

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A organização do roteiro da entrevista pressupõe uma série de

procedimentos tais como o conhecimento profundo do tema em questão, obtido

através de todas as fontes disponíveis (livros, jornais, documentos, anuários),

para qualquer tipo de entrevista. (HAGUETTE, 2010, p. 91). Antes de ir adiante

com a entrevista, é necessária também uma revisão de tudo que se quer

abordar, conforme salienta Goldenberg (2004), “O pesquisador deve

estabelecer um difícil equilíbrio para não ir além do que pode perguntar, mas

também, não ficar aquém do possível.” (GOLDENBERG, 2004, p. 56).

No roteiro de entrevistas o pesquisador tem que ser específico nas

perguntas que ele deseja elaborar, que abordem o objeto pesquisado. “O

pesquisador deve elaborar um roteiro de questões claras, simples e diretas,

para não se perder em temas que não interessam ao seu objetivo.”

(GONDENBERG, 2004, p.56).

Em relação à escolha dos entrevistados, Haguette (2010) salienta que

não pode ser aleatória, ou seja, não pode obedecer aos parâmetros da

abordagem probalística. Embora a montagem do universo-listagem dos atores

que poderão fornecer contribuições úteis ao desvelamento de certo tema seja

fundamental, sempre existem alguns personagens cuja contribuição é

imprescindível. (HAGUETTE, 2010, p.91).

As entrevistas com os profissionais da instituição selecionada para essa

pesquisa foram imprescindíveis para concretizar as análises realizadas. Para

chegar até eles, foram feitos contatos primeiramente com a Secretaria de

Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), órgão que é regulador do abrigo,

Isso possibilitou o primeiro contato com o corpo técnico do Abrigo Tia Júlia, e

posteriormente foi feito o contato com a instituição abrigo. A partir de então, o

corpo técnico colocou-se à disposição para as informações requisitadas.

No próximo tópico tratarei do Abrigo Tia Júlia, onde foi realizada a

pesquisa de campo, abordando um pouco de sua história, traçando um perfil da

Instituição e das pessoas que atuam na mesma.

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1.3 Lócus da Pesquisa: o Abrigo Tia Júlia

O Abrigo Tia Júlia, conhecido como “A Creche Tia Júlia”, foi inaugurada

em 06 de fevereiro de 1975 pela primeira dama do país, Lucy Geisel, e pela

primeira dama do Estado, Marieta Cals, com capacidade para 100 crianças.

Está sob a responsabilidade do Estado do Ceará, sendo sua gestão da

competência da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado,

inserida nas ações da Coordenadoria de Proteção Social e Especial. (GUIA DE

ANÁLISE INSTITUCIONAL2, 2012).

O nome do Abrigo Tia Júlia é uma homenagem do movimento de

Promoção Social a uma de suas fundadoras, Júlia Giffone. O fundador da

Instituição foi o Governador Cesar Cals, dando a Instituição o nome de “Casa

da Tia Júlia”, por reconhecimento ao trabalho realizado junto à Assistência

Social. Funcionou nessa mesma época o regime de semi-internato, que

oportunizou as mães ingressarem no mercado de trabalho. Júlia Giffone

nasceu em Acaraú, assistente social, morreu vítima de um acidente

automobilístico em 1972 e cuja vida foi inteiramente dedicada à assistência

social, principalmente durante a seca de 1958. Na época dirigia, em Fortaleza,

a extinta Hospedaria Getúlio Vargas. (GUIA DE ANÁLISE INSTITUCIONAL,

2012).

Em outubro de 1994 foi reinaugurada na categoria de abrigo, como

medida de proteção, atendendo às exigências do Estatuto da Criança e do

Adolescente – ECA (1993) em uma nova gestão, no governo de Francisco

Paula Rocha Aguiar, passando a ser chamada de Abrigo Tia Júlia, adotando o

regime de internato com 1.500 metros de área construída. Através de pesquisa

documental, finalmente em 02 de setembro de 2002 a entidade foi beneficiada

pelo projeto Casa da Criança.3 (DOCUMENTOS DA INSTITUIÇÃO).

2 Guia de Análise Institucional: Guia elaborado na disciplina de Estágio I obrigatório sobre a instituição

que realiza o estágio. 3 Uma ação de âmbito nacional do Instituto Ayrton Senna, criado com a proposta de beneficiar

crianças e adolescentes desfavorecidos socialmente, através da mobilização voluntária de arquitetos, decoradores, construtores, fabricantes e fornecedores de material de construção.

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A reforma proporcionou ao Abrigo um aspecto lúdico, com belas

decorações, ambiente espaçoso e agradável, diferentemente do aspecto dos

antigos orfanatos. A instituição passou a ter 200 metros a mais, com 52

ambientes, como cozinha industrial, lavanderia, berçário, consultórios médico-

odontológicos, área de lazer, refeitório, entre outros. É importante ressaltar que

toda essa estrutura física, bem elaborada em seus mínimos detalhes, não se

assemelha nem substitui a estrutura familiar, que dispõe, além do ambiente

físico, relações afetivas, sendo isso o mais importante para a criança. O Abrigo

Tia Júlia encontra-se localizado na Rua Guilherme Perdigão, 305 – Parangaba.

(GUIA DE ANÁLISE INSTITUCIONAL, 2012).

FIGURA 1 – REFEITÓRIO NO ABRIGO TIA JÚLIA

FONTE: Arquivos da Instituição (2014).

FIGURA 2 – CANTINHO DA CRIANÇA

FONTE: Arquivos da Instituição (2014).

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FIGURA 3: SALA DAS CRIANÇAS

FONTE: Arquivos da Instituição (2014)

Outro aspecto importante é o fato da Instituição, mesmo sendo unidade

do Estado, não ser reformada pelo mesmo, mas sim o responsável pela sua

melhoria estrutural ser outra instituição de âmbito nacional. Essa situação

estimula as instituições privadas a fazer o papel do Estado, incentivando a

sociedade civil a manter espaços públicos que deveriam ser de obrigação do

Estado. “[...] com o fim político de consolidar a falsa ideia de que isso é ação

consciente da Sociedade Civil e com o fim econômico de retirar do Estado,

ainda que simbolicamente, toda a responsabilidade pela manutenção destes

espaços públicos de prestação de serviço à sociedade”. (MONTAÑO, 2002,

p.51). Um claro exemplo da desregulamentação e evasão do Estado, de suas

responsabilidades decorrentes do projeto neoliberal.4

O Abrigo atua na manutenção do vínculo familiar, é uma unidade que

tem por objetivo atender integralmente crianças de ambos os sexos, que se

encontram em situação de risco pessoal e social, na condição de abandono ou

temporariamente impossibilitadas de permanecer com a família, enquanto são

tomadas medidas de retorno ao lar ou de possível adoção. Seu público alvo

tem faixa etária de 0 a 7 anos. De acordo com o levantamento realizado nas

4 As políticas neoliberais comportam algumas orientações/ condições que se combinam, tendo

em vista a inserção de um país na dinâmica do capitalismo contemporâneo, marcada pela busca da rentabilidade do capital por meio da reestruturação produtiva e da mundialização: atratividade, adaptação, flexibilidade e competitividade. (BEHRING, 2008, p.59).

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fichas de crianças acolhidas pelo Abrigo Tia Júlia, a maioria delas se

encontram em situação de manutenção de vínculo, vítimas de abandono,

violência doméstica, incluídos os casos de violência física e psicológica,

negligência ou que os pais são dependentes químicos ou estão presos e outra

para adoção.

O Abrigo Tia Júlia tem acolhido atualmente em torno de 90 crianças que

estão lá por diversos motivos. Das 90 institucionalizadas, a maior parte, ou

seja, 39 delas, foram acolhidas após serem abandonadas por seus genitores,

seguidas por 31 que foram negligenciadas, 14 que se encontram em situação

de risco, 04 que sofreram violência doméstica e 02 que sofreram de abuso

sexual. Todas essas crianças são oriundas da capital Fortaleza e interior do

Estado do Ceará, na condição de abandono ou temporariamente

impossibilitadas de permanecer com suas famílias. A maioria das crianças são

encaminhadas para o Abrigo através do Conselho Tutelar ou Juizado da

Infância e da Juventude. A instituição acolhedora tem como política geral

realizar um trabalho de promoção humana, mediante a mobilização de recursos

do governo do Estado, com vistas à ampliação da assistência à criança e ao

adolescente em situação de vulnerabilidade social e pessoal, viabilizando o

retorno desses para uma família.

Existiam na Instituição dois projetos que beneficiavam as famílias

atendidas, mas por ordem do juiz foram substituídos por outras demandas na

Instituição: Projeto Lar Substituto e Projeto Caso Especial. Em relação ao

Projeto Lar Substituto, as famílias da comunidade, previamente inscritas, são

treinadas para receber crianças abrigadas, em caráter provisório ou

permanente, até que sejam dados os devidos encaminhamentos de retorno ao

lar ou possível adoção. A mãe substituta recebe, por ocasião da transferência

da criança para seu lar, vestuário, utensílios, material de limpeza e higiene

infantil, material escolar e alimentação para a criança, além de um auxílio

financeiro R$ 80,00 (oitenta reais) mensal.

A desinstitucionalização tem como objetivo favorecer o desenvolvimento

biopsicossocial da criança, proporcionando a ela a oportunidade de

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desenvolver-se no contexto comunitário e familiar, atendendo ao art. 19 do

Estatuto da Criança e do Adolescente, que enfatiza: “Toda criança ou

adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e,

excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e

comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de

substâncias entorpecentes.”

Em relação ao segundo projeto mencionado, intitulado de Projeto Caso

Especial, é destinado ao atendimento de crianças carentes e excepcionais

(paralisia cerebral, hidrocefalia, microcefalia, Síndrome de Down) com o

objetivo de assegurar sua permanência no espaço familiar. O abrigo repassa

uma ajuda financeira de R$ 40,00 (quarenta reais) mensal à criança que não

recebe o auxílio do INSS e uma cesta básica. Das 90 institucionalizadas, a

maior parte, ou seja, 39 delas.

QUADRO 01 – SITUAÇÃO GERAL DAS CRIANÇAS NO ABRIGO

Descrição MASCULINO FEMININO

Crianças e Adolescentes disponíveis para adoção.

22 02

Crianças no processo de adoção em curso.

02 01

Crianças em manutenção de vínculos 47 21

Crianças em processo de DPF 02 03

Jovens maiores de 18 anos 12 12

Fonte: Dados atualizados disponíveis nos documentos da Instituição/ano de 2014.

O tempo máximo de uma criança numa Instituição de acolhimento

Institucional, de acordo com o ECA, Art. 19, § 2º é de 02 anos:

Art. 19 § 2º - a permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional, não se prolongará por mais de 02 (dois anos), salvo comprovada a necessidade que atenda ao seu superior interesse. Devidamente fundamentada pela autoridade judiciária. (ECA, 1990, Art. 19 § 2º).

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A institucionalização prolongada traz algumas consequências sérias,

podemos afirmar isso com o autor Cuneo (2008), que ressalta a

institucionalização prolongada como impedimento para ocorrência de

condições favoráveis ao bom desenvolvimento da criança. Porém, muitas

crianças do abrigo Tia Júlia passam ali mais de dois anos e vão crescendo na

Instituição.

A entidade mantém uma equipe técnica capacitada não somente para

encaminhar os casos e atender as famílias, mas também para dar suporte às

propostas de atendimento do abrigo. Além do corpo administrativo e serviço de

apoio, mantém em seu quadro funcional no mínimo dez profissionais de nível

superior nas áreas de ciências humanas e saúde. Apresentaremos o quadro da

equipe psicossocial que faz parte do Abrigo Tia Júlia:

QUADRO 02 – QUADRO TÉCNICO DO ABRIGO TIA JULIA EM 2014.

Fonte: Dados atualizados disponíveis nos documentos da Instituição/ano de 2014.

Um dos profissionais que tem suas atividades direcionadas ao

processo legal de adoção que pode ser aqui caracterizado é o Assistente

Social. Quando a criança chega ao Abrigo, o Serviço Social tem o prazo de 24

horas para abrir junto ao Juizado da Infância e da Juventude, um processo

CARGO

QUANTIDADE DE PROFISSIONAIS

ASSISTENTE SOCIAL 04

ECONOMIA DOMÉSTICA 02

ENFERMEIRA 06

FONOUDIOLOGA 01

DENTISTA 01

MÉDICO 01

NUTRICIONISTA 01

PEDAGOGO 01

PSICOLOGO 01

FISIOTERAPEUTA 01

TERAPEUTA OCUPACIONAL 01

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administrativo. O Serviço Social é uma das categorias profissionais que está

presente desde a fundação do abrigo, em 1972. É responsável pelo

atendimento às necessidades das crianças acolhidas, zelando pelo

cumprimento dos seus direitos em consonância com o ECA; atende e

aconselha aos pais e responsáveis das crianças abrigadas, acompanhando o

seu desenvolvimento social, incentivando a reintegração familiar dos filhos e

mantém relações com órgãos responsáveis pelo cumprimento das leis

referentes às crianças.

Para compreender melhor o sentido da adoção, no capítulo a

seguir será mencionado o histórico da adoção no Brasil, perpassando até

chegar ao Ceará e ao Abrigo, fazendo um contexto histórico de todo processo

dos atores envolvidos do avanço das leis e das conquistas adquiridas na nossa

sociedade em favor das crianças em processo de adoção, não se esquecendo

de falar do foco em relação a esta pesquisa que se trata da adoção tardia.

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2. ADOÇÃO E ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL

2.1. Percurso Histórico da Adoção.

A expressão adoção se origina do latim, “adoptio”, sendo que na língua

portuguesa significa “tomar alguém como filho”. Assim, é na adoção que o

adotado terá o status de filho, através do parentesco civil (diferente do

parentesco consanguíneo), sendo que para que este estado ocorra, adotante e

adotado buscarão firmar vínculos afetivos semelhantes ao da filiação biológica.

(NABINGER, 2010).

A palavra adoção traz consigo uma série de conotações, as quais são

diferentes para pais e filhos adotivos. Weber (2011) afirma que “[...] imagina-se

que, para os filhos, a palavra adoção traga consigo a questão de rejeição [...]

para os pais, imagina-se que a palavra adoção venha sempre imbuída de culpa

pela infertilidade.” (p.102).

A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) em sua cartilha (2010)

sobre adoção no Brasil faz uma definição da adoção nos seguintes termos:

A palavra adotar vem do latim adoptare, que significa escolher, perfilhar, dar o seu nome a, optar, ajuntar, desejar. Do ponto de vista jurídico, a adoção é um procedimento legal que consiste em transferir todos os direitos e deveres de pais biológicos para uma família substituta, conferindo para crianças/adolescentes todos os direitos e deveres de filho, quando e somente quando forem esgotados todos os recursos para que a convivência com a família original seja mantida. É regulamentada pelo Código Civil e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que determina claramente que a adoção deve priorizar as reais necessidades, interesses e direitos da criança/adolescente. (AMB, 2010, p. 09).

A adoção, como forma constitutiva de vínculo de filiação, teve evolução

histórica bastante peculiar. Para Venosa (2007) o instituto da adoção era

utilizado na antiguidade como forma de perpetuar o culto doméstico. Essa ideia

é ressaltada pelo autor Ribeiro (2010) em seu texto:

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A Bíblia por sua vez, traz passagens indubitáveis da existência da adoção entre os hebreus, seu objetivo e procedimento. Tem- se conhecimento que no Egito, jovens eram escolhidos para serem adotados pelo faraó e, ulteriormente, um deles teria o direito de sucedê-lo no trono. Tendo a finalidade de garantir a permanência do culto doméstico e impedir a extinção da família, em Atenas a adoção era usada como em quase todas as civilizações antigas, de caráter religioso. (RIBEIRO, 2010, p.18).

Na antiguidade, a adoção tinha sentido diverso do atual, atendia aos

desejos de ordem religiosa, pois as civilizações dos primeiros tempos julgavam

que os mortos protegiam os vivos, conforme evidencia Granato (2010):

Havia também a crença de que os mortos dependiam dos ritos fúnebres que seus descendentes deveriam praticar, para terem tranquilidade na vida após a morte. Existia a convicção de que o vivo não podia transpor sem o morto, ou vice versa. A religião só podia propagar-se pela geração. O pai transmitia a vida ao filho e, ao mesmo tempo, a sua crença, o seu culto, o direito de manter o lar, de oferecer o repasto fúnebre, de pronunciar as fórmulas da oração. (GRANATO, 2010, p.33).

De acordo com Abreu (2002), a adoção na antiguidade apareceu como

alternativa àqueles que não podiam gerar filhos biológicos.

A adoção em seus primórdios aparece como possibilidade para que a família de um homem sem descendência masculina possa perpetuar sua linhagem e, mormente para que o culto dos ancestrais siga seu curso normal. (ABREU, 2002, p. 19).

A adoção somente era permitida para aqueles que não possuíam filhos,

pois os que já os tivessem, traziam consigo a garantia de prosseguir o culto

familiar e a continuidade da própria família. Ribeiro (2010) diz que era

indispensável o filho varão, pois a filha ao se casar passava a venerar os

deuses do marido, renunciando ao culto do pai. De acordo ainda com o referido

autor, neste contexto, a adoção não tinha por finalidade o bem estar do

adotando, mas visava servir aos interesses do adotante. Também não havia

preocupação com laços afetivos entre adotante e adotado.

Desde os primórdios dos tempos antes de Cristo, como comprovam os

primeiros textos legais de que se tem conhecimento, surgiu o instituto da

adoção. Descoberto em 1901, o Código de Hammurabi já ditava regras

relativas à adoção na Babilônia. Possuía duzentos e oitenta e dois dispositivos,

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nove deles relativos ao instituto da adoção, já demonstravam a preocupação

dos legisladores da época, que estabeleceram quais eram os casos que seriam

possíveis ao adotado voltar a integrar o seio familiar dos pais biológicos.

(RIBEIRO, 2010).

Conforme expõe o autor dos artigos 185 ao 193 do referido código

transcritos abaixo:

art. 185. Se alguém dá seu nome a uma criança e a cria como filho, este adotado não poderá mais ser reclamado. art. 186. Se alguém adota como filho um menino e depois que o adotou ele se volta contra seu pai adotivo e sua mãe, este adotado deverá voltar à casa paterna. art. 187. O filho (adotado) de um camareiro a serviço da corte ou de sacerdotista-meretriz não pode mais ser reclamado. art. 188. Se o membro de uma corporação operária (operário) toma para criar um menino e lhe ensina o seu oficio, este não poderá mais ser reclamado. art. 189. Se não ensinou a ele o seu oficio, o adotado poderá voltar à casa paterna. art. 190. Se alguém não considera entre seus filhos um menino que tomou e criou como filho, o adotado pode voltar à casa paterna. art. 191. Se alguém tomou e criou um menino como seu filho, põe em sua casa e depois quer renegar o adotado, o filho adotivo não deve retirar-se de mãos vazias. O pai adotivo deverá dar-lhe de seus bens, 1/3 da quota do filho e então deverá afastar-se. Do campo, do pomar e da casa ele não deverá dar-lhe nada. art. 192. Se o filho de um camareiro ou de uma sacerdotisa-meretriz disser ao seu pai adotivo ou à sua mãe adotiva: “tu não és meu pai ou minha mãe”, dever-se-á cortar-lhe a língua. art. 193. Se o filho (adotivo) de um camareiro ou de uma sacerdotisa-meretriz aspira a voltar à casa paterna e se afasta do pai adotivo e de sua mãe adotiva e volta à sua casa paterna, se deverão arrancar-lhe os olhos. (RIBEIRO, 2010, p.25).

Weber (2011) afirma que desde a antiguidade aproximadamente século

XVI, em praticamente todas as cidades Roma, Grécia entre outras, o abandono

ou exposição de crianças, ou até mesmo o infanticídio eram práticas comuns.

Para os romanos, o direito à vida era outorgado em um ritual, o infanticídio e o

abandono eram práticas comuns até o final da Idade Média.

O direito Romano trouxe uma nova visão, onde adotar era pedir a

religião e a lei aquilo que a natureza não pôde suprir, a adoção para o direito

Romano deveria imitar a natureza, o adotado recebia o nome e a posição do

adotando e herdando seus bens como consequência, sendo o direito

sucessório exclusivo da linha masculina. (JUNIOR PRADO, 2007).

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De acordo ainda com o referido autor, O sistema Romano apresentava

duas formas de adoção: o adoptio e a drogatio

A adoptio significava a adoção de um sui iuris, uma pessoa que era capaz por vezes ser emancipada e ate mesmo um pater família. E a drogatio, a forma mais antiga que pertencia ao direito público, exigia formas solenes formalizadas pelos pontífices e não era permitido aos estrangeiros. (JUNIOR, 2007, p. 07).

Na Grécia, o instituto da adoção tinha como finalidade dar continuidade

ao culto doméstico, conforme salienta Ribeiro:

Já estava presente na civilização grega a ideia fundamental de adoção: como forma de culto aos deuses-lares, por exemplo, quando, alguém não possuía herdeiro adotava para dar seguimento à missão do pater famílias. Onde o principio básico era o de que a adoção deveria imitar a natureza: adoptio naturam imitatur, ou seja, o adotado assumia o nome e a posição do adotante e herdava seus bens como consequência da assunção do culto. O direito sucessório, permitido exclusivamente pela linha masculina, também era a consequência necessária para a continuidade do culto familiar. Somente os cidadãos poderiam adotar, e em casos de ingratidão a adoção era revogada. (RIBEIRO, 2010, p.18).

Com o cristianismo, houve uma verdadeira mudança nos estratos sociais

mais deficitários, conforme expõe Weber:

No entanto, essa mudança na vida prática demorou para acontecer. Ainda na Idade Média as crianças eram reconhecidas como um grupo de segunda categoria, uma espécie de adulto em miniatura, um ser imperfeito que precisava sair deste estado infantil para merecer algum respeito (WEBER, 2011, p. 29).

No século XIX, o nascimento de um filho ilegítimo era ostensivamente

reprovado, Weber (2011) diz que isso ocasionava inúmeros abortos, ou

nascimentos clandestinos e o posterior abandono das crianças. Porém, para os

inúmeros abandonos tentou-se criar um mecanismo social que solucionasse

isso: a Roda dos Expostos.

A Roda dos Expostos ou Roda dos Enjeitados, de acordo com Marcílo

(1997), foi um mecanismo que teve origem na Idade Média mais

especificamente na Itália do século V. O nome para o mecanismo provinha do

dispositivo onde se colocavam os bebês indesejados. O expositor depositava

nele a criança que enjeitava. A seguir, ele girava a roda e a criança já estava

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do outro lado do muro, logo após ele puxava uma cordinha com uma sineta

para avisar que um bebê acabara de ser abandonado e se retirava do local

sem ser identificado.

FIGURA 04: MODELO DA RODA DOS ENJEITADOS

FONTE:http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Museu_do_Canga%C3%A7o__Roda_dos_enjei

tados.jpg.

Na Idade Média, devido às influências religiosas do catolicismo, a

adoção cai em desuso. Na Idade Moderna a adoção retorna com a Legislação

da Revolução Francesa e foi prevista no Código de Napoleão. (JUNIOR

PRADO, 2007, p.40). De acordo com o autor exposto, tais conceitos em

relação à adoção foram se modificando, aprimorando-se com o passar dos

séculos, definido por culturas e nações distintas, porém a essência sempre

será a mesma: a de garantir a filiação legítima do adotado.

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O assunto de abandono ou adoção ainda é muito controverso e gera

grandes polêmicas. Embora se analise que historicamente através de análises

teóricas a adoção sofreu inovações e progressos substanciais e justificáveis

para uma sociedade que se diz mais humana e se sensibiliza com os

problemas da infância abandonada, mostrando que o preconceito ao lado de

mitos são fatores muito presentes na mente humana.

Diante da miséria da contemporaneidade do século XXI, ocorre um

aumento no número de crianças órfãs e vítimas de abandono; e uma das

formas de restabelecer a dignidade dessas crianças é promovendo à inserção

em uma nova família, afirma Freire (1994), que também considera que isso

ocorre através da filiação adotiva, prevalecendo sempre a alternativa de

reestruturar da realidade social, psicológica e econômica da família biológica e

em último caso a entrega em adoção, regido pela Lei de Adoção Nacional

Brasileira de Agosto de 2009.

Entretanto, de acordo com Motta (2001):

[...] não se deve explicar o abandono de milhares de crianças com uma única causa, pois outras foram enjeitadas em razão da pobreza dos pais. Outros sim, mesmo a este motivo o autor faz ressalvas e afirma que esta interpretação, embora correta, deve ser relativizada, pois há estatísticas revelando que muitas vezes aumentava o preço de artigos básicos de subsistência sem um correspondente aumento no registro de novos enjeitados. (MOTTA, 2001, p. 57).

Weber afirma (2011) que a sociedade luta para proteger a criança e

assegurar-lhe seus direitos, entre eles o de conviver em família e em

comunidade. Na perspectiva da autora, a adoção ainda embarca muitos

preconceitos por parte da sociedade em geral. Os estereótipos e preconceitos

sociais são sempre prejudiciais para as relações humanas. Para se livrar deles,

é preciso esclarecer os fatos corretamente, divulgar e debater com a

sociedade, mostrando também que a adoção é irrevogável.

Weber (2011) debate ainda que apesar de pais e filhos adotivos

existirem desde o inicio dos tempos, o tema adoção foi sempre um pouco

obscuro, tratado geralmente na intimidade das famílias. Há algum tempo,

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poucos estudos sistemáticos sobre esse assunto tinham sido realizados e

trouxe como consequência a generalização de casos dramáticos e a formação

de preconceitos e estereótipos. (WEBER, 2011).

Os estereótipos e preconceitos sociais são sempre prejudiciais para

as relações humanas e para livrar-se deles é preciso debater e esclarecer os

fatos corretamente sobre adoção. Adiante será ressaltado sobre a adoção no

Brasil e o debate em torno dessa questão.

2.2. Adoção no Brasil

Em 22 de setembro do ano de 1828, no Brasil, conforme Ribeiro (2010)

foi criada a primeira lei referente à adoção, na qual transferia para juízes

poderes de competência para a expedição da carta de perfiliação.

Porém, foi baseado nos princípios do direito romano que o nosso Código

Civil Brasileiro consagrou o instituto da adoção, conforme ressalta o autor

Ribeiro (2010):

Nos termos dos artigos 368 a 378 do estatuto legal, somente poderiam adotar os maiores de cinquenta anos, e ao menos dezoito anos mais velhos que o adotando, que não possuíssem prole legítima ou legitimada, o que tornava o processo da adoção extremamente desestimulante. Quanto a esse aspecto, destacar a necessidade de o adotante não possuir filhos. Podemos concluir que a função primordial da adoção, na época, ainda era proporcionar um recurso àquele que não pôde ou não quis ter um filho, e não necessariamente o bem estar do adotando. A escritura pública era essencial para a eficácia do ato, por força do artigo 375, mas não transmitia a mesma segurança jurídica, pois a adoção era passível de revogação por vontade do adotando, ao adquirir plena capacidade civil. Da mesma forma se admitia a revogação pelo adotante na forma da deserção. (RIBEIRO, 2010, p. 20).

Por ser o Brasil um país de dimensões continentais, com culturas

diferentes, a “[...] adoção se desenvolveu, também de forma diferente de

acordo com os costumes, tradições e desenvolvimento locais”. (NABINGER,

2010, p. 16). A autora complementa afirmando que a prática da adoção sempre

foi organizada pela sociedade civil religiosa, a lei era a mesma em todo o país,

porém sua aplicação estava ligada a interesse das pessoas que tinham

destaque social local.

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A adoção existiu no Brasil, para Nabinger (2010), em todas as épocas

para dar respostas ao drama infantil e aos casais que por diversos motivos não

podiam procriar. Porém, o encontro dessas duas histórias ocorreu de forma

desordenada e no segredo, até pouco tempo atrás atendendo a necessidade

dos adultos mais do que a da criança, para a qual não havia organização

governamental.

Nesse contexto:

As crianças maiores eram as mais cobiçadas para adoção, e deviam dar prova de que eram normais, ou seja, capazes de ouvir, ver, caminhar, falar. As legislações sempre foram lentas em relação às situações que já tinham sido consolidadas, sem nenhuma intervenção preventiva. Os candidatos à adoção eram considerados santos ou loucos. Assim as crianças eram distribuídas indiscriminadamente, ou seja, “dadas como milho para galinhas”. (NABINGER, 2010, p. 15).

A literatura histórica, para Nabinger (2010) desde o Brasil Colonial,

revela que o contingente de crianças abandonadas e em situação de risco

sempre foi numeroso. Elas andavam nas ruas, eram deixadas em logradouros

públicos ou na roda dos expostos, em casa de terceiro(s) ou juntamente às

amas de leite. Posteriormente, foram fundadas as grandes instituições, sendo

as primeiras iniciativas ligadas a organizações religiosas. Estivessem elas onde

fossem eram praticamente instituições invisíveis socialmente.

Para alguns doutrinadores, como alega Ribeiro (2010), a adoção não era

uma forma natural de se constituir a família, mas um meio para suprir a

ausência de filhos. A autora afirma que o que tornou a adoção pouco utilizada

na época foram os vários requisitos de caráter restritivos interpostos pelo

Código Civil de 1916, bem como a forma de tratamento distinta entre filhos

naturais e adotivos quando no momento da partilha de bens.

A adoção passou a ser um ato revogável nos anos 1980 por vontade do

adotando, quando este atingisse a maioridade. Para Ribeiro (2010):

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A finalidade primordial da adoção era de munir de direitos àqueles que por questões de infertilidade não pudessem gerar seus primogênitos, e não um ato de solidariedade de proteger a criança e garantir seu direito de ser criada em uma família. Foi então no dia 12 de outubro de 1927, com o Decreto de 17.943-A, a consolidação das leis de assistência e proteção a menores. Entretanto, não trouxe nenhuma alteração a respeito da adoção. Tão logo, com o surgimento da Lei nº. 3.133, de 08 de março de 1957, atualizou-se as condições indispensáveis para que a adoção fosse possível. (RIBEIRO, 2010, p.22).

Para Abreu (2002), a grande maioria das adoções no Brasil antes das

exigências das leis, era tida como um negócio natural, pois o casal que queria

adotar somente ia ao cartório e registrava a criança:

[...] se fazia sem que o casal que adotasse fizesse uso (se submetesse) dos trâmites legais. Em geral, estas adoções ocorrem como se tudo se passasse de maneira natural: o casal vai ao cartório e registra a criança como filho biológico. Entre os juristas de muitos países, esta prática é conhecida como “adoção à brasileira”. (ABREU, 2002, p. 38).

No final da década de 1970 e inicio dos anos 1980, no Brasil, Abreu

(2002) afirma que não era raro que senhoras das classes dominantes

(profissionais liberais ou dona - de - casa casadas com homens ricos da

cidade), ou mesmo freiras e padres ligados a congregações religiosas,

mantivessem um tipo de estrutura que passaram a ser denominadas creches,

onde os brasileiros pegavam as crianças para adoção e levavam para o

cartório no ato de uma “adoção à brasileira”.

Como afirma Nabinger (2010) sobre o caso das adoções à brasileira,

onde a pessoa que queria adotar não encontrava nenhuma barreira, podendo

somente ir ao cartório mais próximo e realizar o procedimento:

Como a maioria das adoções não passava pela intervenção do Estado, era comum os pais procurarem o Juizado da Infância somente quando havia conflito, como por exemplo, frente ao arrependimento de uma mãe biológica na entrega de seu bebê ou quando um adolescente “adotado” começava a “dar problemas”. Então, buscavam um juiz para que se encarregasse, já que não era “filho”. (NABINGER, 2010, p.15).

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Pode-se dizer que historicamente houve uma longa jornada legislativa

no Brasil em se tratando de adoção e direitos dos filhos adotivos, até a

Constituição de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). Venosa

(2007) afirma isso:

[...] O duplo sistema de adoção vigorou no país, conforme o Código Civil de 1916 e segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, dispõe de princípios tão dispares que se torna difícil sua definição inicial sob o mesmo paradigma. O atual Código Civil traz disposições sobre a adoção e não revoga nem expressa nem tacitamente o ECA, o que trará alguns problemas interpretativos. (VENOSA, 2007, p.254).

No Brasil o processo de adoção, como afirma Ribeiro (2010), já foi muito

mais complexo, vagaroso e burocrático. Com a criação do Estatuto da Criança

e do Adolescente (1990) e com o exercício das atividades do Juizado da

Infância e da Juventude, a parte burocrática dos procedimentos teve uma

considerável redução, tornando os processos de adoção mais ágeis e seguros

para todas as partes envolvidas.

Abreu (2002) diz que falar de adoção do ponto de vista legal implica um

mergulho de mais de dois mil anos na história jurídica da humanidade. De

acordo com o referido autor, no início, diversos legisladores do mundo antigo

deram sempre muita ênfase ao interesse do adotante e quase nenhuma ao

interesse do adotado. O adotado, na visão dos legisladores, era contemplado

apenas secundariamente, haja vista que o alvo de todo processo era antes de

tudo o adotante. (p.27).

Hoje, no século XXI se sabe que inserir uma criança num contexto

familiar disfuncional é incorrer em grave risco. Nabinger (2010) alega que isso

ocorre porque esta criança teria a possibilidade de sofrer rechaço, maus tratos,

negligência e novo abandono:

Cada adoção é única e terá características e exigências próprias. De forma a compreender estas exigências, a preparação dos candidatos se faz essencial no sentido de diferenciar as necessidades, os obstáculos e as ferramentas necessárias. Em cada um dos tipos de adoção, aos quais estas pessoas se candidatam, verifica-se o potencial e os riscos de cada categoria. (NABINGER, 2010, p. 33).

É preciso relembrar que a destituição do pátrio poder não deve ser vista

como decorrente exclusivamente da miséria. Conforme o art. 23 do ECA (1990)

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“[...] a falta de carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente

para a perda ou a suspensão do pátrio poder”. Nesse sentido, o parágrafo

único desse artigo indica que uma família carente deve ser “[...]

obrigatoriamente incluída em programas oficiais de auxílio” para que se

possam esgotar todas as possibilidades possíveis do restabelecimento dos

vínculos entre a criança e sua família de origem.

O processo de adoção compreende duas etapas: a habilitação dos

candidatos e o pedido de adoção propriamente dito, conforme indica Nabinger

(2010):

A etapa da habilitação é prévia a concretização do projeto adotivo. Trata-se de um procedimento legal onde os pretendentes declaram sua disponibilidade de acolher uma criança. Ela tem por objetivo analisar a coerência e a fidelidade do projeto de adoção, sua inscrição na história dos candidatos, como também a possibilidade destes de se identificar com a criança que esta por vir. (NABINGER, 2010, p.18).

Podemos fazer uma relação na visão da autora sobre as etapas que

compreende o processo de adoção, como vimos na mídia retratados de

diversas formas sobre o processo de adoção.

Nabinger (2010) afirma ainda que:

No Brasil existe um grande contingente de crianças e adolescentes que se encontram privados do direito à convivência familiar. Aqui se encontram as crianças que vivem em situação de rua sem os mínimos de cuidados e sem, muitas vezes, um olhar especializado para as suas necessidades e situação familiar. Ainda existe outra parcela que, apesar de não vivenciar os cuidados familiares, encontram-se protegidas nos abrigos sob olhares de esquipes especializadas e do Judiciário. Desta parcela poucos são os que estão prontos para serem adotados. (NABINGER, 2010, p. 21).

Conforme Nabinger (2010) a infertilidade continua sendo o motivo mais

frequente dos candidatos que buscam a adoção.

Poucas pessoas imaginam que poderão ter problemas relacionados à procriação. Quando isso ocorre, a maioria recorre a soluções médicas, mas apenas 50% destes serão, eventualmente, capazes de ter uma criança biológica. Sendo assim, a adoção é, na maioria das vezes, a última opção de escolha para a realização do projeto de parentalidade. (NABINGER, 2010, p.18).

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Com relação às necessidades da criança, podemos discriminar

diferentes tipos de adoção: Adoção precoce: adoção de bebês até três anos,

sendo esta faixa etária mais procurada entre as pessoas que buscam adoção.

Adoção internacional: adoção de crianças de etnia ou raça diferentes do

adotando. Adoção de grupo de irmãos: adoção de duas ou mais crianças

irmãs pelos mesmos adotantes. Adoção de crianças com necessidades

especiais: aceitação por parte dos adotantes de crianças com fragilidades de

saúde, deficiências física ou mental. Adoção tardia: compreendem crianças

maiores de três anos, incluindo adolescentes iniciais e finais.

Devido aos objetivos estabelecidos para essa pesquisa, faz-se

necessária uma discussão mais aprofundada sobre a adoção tardia. A adoção

tardia, de acordo com Weber (2011), é aquela que ocorre quando o adotando

possui a partir dos três anos de idade. À medida que a criança cresce, a

dificuldade para encontrar uma família também aumenta. Entretanto, o

processo de adoção tardia não acontece mais rápido por causa disso.

Pesquisas sobre os preconceitos relacionados à adoção tardia, segundo

anuncia Bethoud (1997), apontam principalmente para o medo do chamado

“sangue ruim”, compreendido como aquele receio que os adotantes têm de que

a criança traga consigo “[...] traços negativos de caráter e temperamento”

(p.53), proveniente de uma herança genética desconhecida.

Segundo Camargo (2006), os postulantes à adoção optam por crianças

com idade menor possível, buscando a possibilidade de uma adaptação

tranquila na relação entre pais e filho, almejando imitar o vínculo biológico-

sanguíneo. No século XXI pouco se fala sobre a adoção e menos ainda sobre a

adoção tardia. E esta falta de informações somadas aos poucos estudiosos a

respeito desse assunto resultam na construção de estigmas, solidificando e

fortalecendo os já existentes e criando outros. (ANGELO, 2010, p.20).

Não é que o processo para adotar uma criança mais velha no caso da

adoção tardia seja demorado, pois se a pessoa estiver inscrita no cadastro,

talvez seja mais fácil, mas nestes casos o que pesa é o estágio de convivência

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da criança com a família adotante, essencial para o processo de adaptação,

demandando tempo. (ACESSA, 2007, p.40).

Existe um longo estudo sobre adoção tardia descrito por Vargas (1998),

que indica alguns pontos de similaridade em todos os processos de adaptação

criança e família que iremos ressaltar: Comportamento regressivo: ou seja, a

criança apresenta comportamento típico de estágios anteriores do

desenvolvimento e que não fariam, normalmente, parte do repertório de uma

criança maior. Agressividade: aparecia algum momento do processo,

geralmente logo depois da primeira fase de encantamento mútuo. Ritmo de

desenvolvimento global da criança: é bastante acelerado comparado aos

padrões considerados normais. Enfrentamento do preconceito social: a

maioria dos pais relatou situações em que se depararam com preconceito em

relação à prática da adoção, especificamente pelo fato da criança adotada já

ser tão grande.

Abreu (2002) faz uma definição dos casais brasileiros que fazem uso da

justiça para adotar uma criança: tem que ser: branca, do sexo feminino,

saudável e contando menos de 1 ano de vida. (p.36). Afirma ainda que em

Fortaleza, no Abrigo Tia Júlia, não é diferente a escolha de crianças com esse

perfil, diminuindo as chances de crianças maiores de 7 até 12 anos de idade

em serem adotadas.

Em relação às crianças e adolescentes abrigados, o Conselho Nacional

dos Direitos da Criança e do Adolescente – (CONANDA) em parceria com o

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2004) realizou uma pesquisa

nacional com o perfil dessas crianças em situação de institucionalização: faixa

etária de até 7 anos de idade, de cor preta, a maioria do sexo masculino. A

pesquisa mostrou ainda que existe a necessidade de maior investimento nas

chamadas “adoções tardias”, pois, nesse contexto é onde se encontra a maior

concentração de crianças que necessitam de uma nova família por já terem

esgotados as chances de retorno à família de origem. (NABINGER, 2010).

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Weber (2011) nos faz uma menção da adoção em relação à criança na

era atual, mostrando que toda criança é adotável:

Nessa nossa era atual, conhecida como pós moderna, a criança adotável deve deixar de significar um bebê recém – nascido, de pele clara e saudável. Criança adotável deve ser toda criança que não tem possibilidades de ser criada pela sua família de origem e passa, portanto, a estar potencialmente pronta para integrar-se à uma família substituta. Nessa nova compreensão de filiação, o termo criança inadotável precisa, urgentemente, ser abolido do contexto onde se trabalha e estuda essa questão. (WEBER, 2011, p.71).

Apenas 8% dos habilitados à adoção, segundo os dados do Juizado

da Infância e da Juventude de Fortaleza (2007), aceitam criança com mais de

quatro anos, a chamada “adoção tardia”. Essa expressão, além de reforçar “o

preconceito de que ser adotado é prerrogativa de recém – nascidos e bebês”,

como destaca a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB, 2010), Quando

falamos em adoção Motta (2001) menciona que:

A entrega de uma criança em adoção nem sempre é um ato de abandono, mas pode ser uma atitude consciente de extremo amor, que pode ser visto de uma forma mais justa como “entrega”; quando uma mãe, que não se acha “suficientemente capaz” para criar um filho, delega responsabilidade a uma instituição, almejando que posteriormente seja a criança entregue a outra família mais adequada ou com melhores possibilidades de prover um futuro digno a esta, portanto a entrega em adoção é uma atitude que deve ser considerada e examinada. (MOTTA, 2001, p. 264).

Esse é o verdadeiro sentido da adoção, a constituição de um lar para a

criança que precisa de amor e uma família que assegure atenção e educação

para suprir as suas necessidades reais acentuadas pela vivência do abandono.

Atualmente, no século XXI não existem mais Rodas dos Expostos5 no

Brasil, mas existem as “rodas dos expostos oficiosas”, isto é, abandono de

milhares de crianças nas ruas do nosso país. Conforme salienta Weber (2011)

No Brasil, nós temos uma grande parte da população que pode ser

considerada “abandonada” pela sociedade e que, se sobreviver, tem grandes

chances de repetir a sua própria história de abandono. As crianças

5 Um mecanismo oficial para transformar as crianças abandonadas em filhos do Estado.

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abandonadas são protagonistas de direitos e esses direitos são tratados por

Leis que garantem o melhor para elas. (p.100).

De acordo com Abreu (2002), entre os anos De 1916 até 1957,

podia-se adotar quem tivesse mais de 50 anos e não tivesse filhos. Era uma

maneira de garantir a sucessão para pessoas idosas e sem herdeiros. Em

1957, o Código Civil (Lei 3.133) é alterado e já é possível adotar uma criança a

partir de 30 anos de idade. Oito anos depois, a Legislação ganha um primeiro

aparato de proteção efetiva da menoridade através da Lei 4. 655 (de 1965),

que permite a adoção de crianças até 7 anos em situação irregular , ou seja,

crianças abandonadas fruto da exposição. Tal situação perdura até 1970 e dá

ideia do que estava consagrado pela legislação da época: a relação de força

simbólica entre direitos do casal e os direitos da criança tendem claramente

para o casal.

Abreu (2002) diz por volta do inicio dos anos 1970, começam as

primeiras adoções internacionais no Brasil. Ora, de 1973 até 1979 não havia no

país outra lei, até 1979 a única Legislação vigente no Brasil sobre adoções era

o Código Civil (arts. 368 a 378). O Brasil situava, pois, o assunto dentro da

esfera das relações privadas e familiares.

Em 1979, entra em vigor no Brasil o Código de Menores. O novo Código

é da alçada do direito público (contrariamente ao Código Civil, que legifera

sobre o direito privado) e, Abreu (2002) afirma que apesar de não anular o

código civil, começa a destacar a importância do interesse do menor para a

justiça. E como o código de menores não aboliu o código civil e sim passou a

vigorar simultaneamente a este, permanecendo brechas para as adoções

internacionais.

O Brasil, apesar de ter sido o último país a acabar com a escravidão e

com a Roda dos Enjeitados, foi o primeiro país a criar uma lei específica para

crianças e adolescentes. Weber (2011) ressalta que isso ocorreu após a

Convenção Internacional sobre os direitos da criança em 1989. Em 1990 foi

promulgado no Brasil o Estatuto da Criança e do Adolescente, um dos

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mecanismos mais avançados do mundo de proteção à infância, fruto de uma

grande mobilização da sociedade civil em substituição ao antigo Código de

Menores de 1979.

2.3 Os marcos legais da atualidade.

Abreu (2002) expõe que no Brasil e no mundo nem sempre as crianças

disponíveis para adoção foram tão respeitadas como na atualidade, porém a

criança adquiriu seu status de sujeito de direitos somente neste século XXI. O

estudo do direito brasileiro impõe-se, pois, como lugar incontornável. O

conhecimento das legislações brasileiras, desde seus primórdios, pode

esclarecer como as adoções são vistas entre nós: qual sua função, seu papel

social e o lugar ocupado nas relações de parentesco.

A Constituição Federal de 1988, a promulgação do Estatuto da Criança e

do Adolescente em 1990 e a nova Lei da Adoção de 2009 foram um marco no

desenvolvimento dos direitos referentes aos avanços no processo de adoção.

(Dessa maneira, Tiveram como iniciativas, voltadas às crianças e adolescentes

de nosso país, estabelecer uma proteção mais ampla.

Abreu (2002) em 1990 entra em vigor o ECA. São revogados as leis

anteriores, inclusive o Código de Menores de 1979. A única forma de adoção

prevista é agora irrevogável e transfere o pátrio poder dos pais biológicos para

a família adotante, o adotado entra em linha de filiação direta com sua nova

família (até a quarta geração).

Ainda que o Estatuto da Criança e do Adolescente dispusesse do direito

material, relativo à adoção, no tocante aos procedimentos ficou a desejar em

alguns pontos relativos ao procedimento da adoção. Em 2003, surgiu o Projeto

Lei 1.756, onde tratava da adoção em lei própria, denominada Lei Nacional da

Adoção, contendo 75 artigos, afastando por completo a adoção do ECA.

Ribeiro (2010) afirma que a divergência entre os legisladores sobre tal projeto,

criou impasses, mudando expressamente as perspectivas de uma nova lei,

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decidindo a conservação dos dispositivos legais que regem o instituto da

adoção no ECA. Abreviando a nova lei da adoção, em sucintas alterações no

Estatuto da Criança e do Adolescente.

Promulgou-se a Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, importando

significativas alterações no instituto da adoção. O propósito do Estatuto da

Criança e do Adolescente é o amparo total da criança e do adolescente,

prenunciado em seu artigo primeiro, sendo uma novidade marcante a

colocação sob proteção dessa lei, de todo menor de dezoito anos e não

apenas aqueles que estivessem em situação irregular, como ocorria na lei

anterior, o Código de Menores. (GRANATO, 2010, p.70).

Ribeiro(2010) a essência do legislador estatutário é desenvolver a

integração do menor na família do adotante, fazer-se igual os direitos do filho

adotivo ao filho natural. Os termos adoção simples e adoção plena não mais

são utilizados, passando a empregar a adoção única que visa estabelecer

laços de paternidade e filiação entre adotante e adotado, extinguindo

completamente qualquer vínculo com sua família biológica.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, (Lei nº 8069 de 13 de julho de

1990) consubstanciado no princípio da proteção integral à criança e ao

adolescente, considera seus destinatários como sujeitos de direitos,

contrariamente ao código de menores de 1979 que era uma Lei anteriormente

vigente no país que os considerava como objetos de direitos. Os diversos

direitos elencados na Lei nº 8.069/90, dispõe que a criança ou adolescente tem

o direito fundamental de ser criado no seio de uma família.

Nabinger (2010) O debate internacional em torno dos direitos da criança,

estimulado pela Convenção das Nações Unidas pelo Direito das Crianças

(1989) e seguido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) prioriza

diretrizes de atendimento que visem à institucionalização. No caso em que este

tipo de proteção se faz necessária, o ECA prevê em seu artigo 101 a

excepcionalidade e provisoriedade da medida.

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A nova lei impõe que a adoção é medida excepcional e irrevogável, tal

qual deve ocorrer somente quando acabar todos os meios para manter a

criança ou adolescente em sua família natural ou extensa. Ribeiro (2010)

expõe que para o legislador, por esta redação contradiz o sentimento comum à

quase totalidade de grupos de apoio, programas ou congressos de incentivo à

adoção, que até então enxergavam na adoção a solução para a criança

abandonada pela família, a garantia de ser criada e educada em lar tranquilo e

saudável.

Recentemente, em 2009, o ECA após 19 anos passou por

reformulações, Nabinger (2010) diz que isso ocorreu através da Lei 12.010 de

29 de julho de 2009, que deram maior ênfase aos investimentos na família de

origem, ao acolhimento familiar preferencialmente ao institucional e também,

aos encaminhamentos para adoção nos casos em que se faz necessário.

A reforma ocorreu6 por intermédio da Lei nº 12.010, de 03 de agosto de

2009, a chamada "Lei Nacional de Adoção", que promoveu alterações em nada

menos que 54 (cinquenta e quatro) artigos da Lei nº 8.069/90 e estabeleceu

inúmeras outras inovações legislativas, inclusive em outros Diplomas Legais,

algumas de cunho meramente terminológico, outras muito mais profundas e

significativas.

Em que pese sua denominação, a nova lei dispõe não apenas sobre a

adoção, mas sim, como evidenciado já em seu art. 1º, procura aperfeiçoar a

sistemática prevista na Lei nº 8.069/90 para garantia do direito à convivência

familiar, em suas mais variadas formas, a todas as crianças e adolescentes,

sem perder de vista as normas e princípios por esta consagrados. Com efeito,

a opção do legislador não foi revogar ou substituir as disposições da Lei nº

8.069/90, mas sim a elas incorporar mecanismos capazes de assegurar sua

efetiva implementação, estabelecendo regras destinadas, antes e acima de

tudo, a fortalecer e preservar a integridade da família de origem, além de evitar

6 Disponível em:

http://www.crianca.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=334. Acesso em: 21/04/2014

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ou abreviar ao máximo o abrigamento (que passa a chamar de acolhimento

institucional) de crianças e adolescentes.

A implementação de tais políticas, notadamente em nível municipal e

estadual (inclusive no que diz respeito à atuação do Poder Judiciário), tem por

objetivo, de um lado, evitar abrigamentos injustificados (e injustificáveis, como

são os casos daqueles efetuados pelas próprias famílias e/ou motivados pela

falta de condições materiais) e, de outro, assegurar que as crianças e

adolescentes que se encontrem em regime de acolhimento institucional tenham

sua situação permanentemente monitorada pela autoridade judiciária e pelos

responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à

convivência familiar, na perspectiva de promover, da forma mais célere

possível, a reintegração familiar (medida preferencial, que deve ser precedida

e/ou acompanhada do encaminhamento de toda a família aos referidos

programas e serviços de orientação/apoio/promoção social) ou, quando isto

não for possível, por qualquer razão plenamente justificada, sua colocação em

família substituta, nas diversas modalidades previstas (dentre as quais se

incluem os programas de acolhimento familiar, também referidos pela nova lei).

O art. 227 da Constituição Federal Brasileira de 1988 garante a toda

criança e a todo adolescente o direito à convivência familiar, ou seja, ser criado

e educado no seio de sua família, assim como afirma o art. 19 do ECA.

A partir da vigência do novo Código Civil, em 11 de janeiro de 2003,

definiu-se que a menoridade cessaria aos 18 (dezoito) anos completos, ficando

derrogado o art. 40 do ECA. Parte do art. 40 sobreviveu, todavia com a

seguinte redação: o adotando deve contar com menos de dezoito anos à data

da adoção. (RIBEIRO, 2010).

A adoção do maior de dezoito anos, em tempos atuais, está presente em

um vazio, criado pela Lei12. 010/09. A Lei 12.010/09 revogou expressamente

aos art. 1.620 a 1.629 do Código Civil, que faziam menção à adoção, dando

nova redação para os artigos 1.618 e 1.619, adiante transcritos:

art. 1.618. A adoção de crianças e adolescentes será deferida na forma prevista pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.

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art. 1.619. A adoção de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá da assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva, aplicando-se, no que couber, as regras gerais da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.

Nabinger (2010) O Cadastro Nacional de Adoção (CNA) é uma

ferramenta criada para auxiliar os juízes das varas da infância e da juventude

na condução dos procedimentos de adoção. Lançado em 29 de Abril de 2008,

o CNA tem por objetivo agilizar os processos de adoção por meio do

mapeamento de informações unificadas. O Cadastro possibilita também a

implantação de políticas públicas na área.

Este cadastro proporciona ainda uma ponte, que tende a interligar os

interessados à adoção a possíveis adotandos. Espera-se, pois, que ao menos

em um futuro próximo o Cadastro Nacional possa atender plenamente a este

objetivo. O Cadastro Nacional não permite que interessados em adotar

cadastrem-se em mais de uma comarca, como era feito anteriormente em

vários casos. (RIBEIRO, 2010). Percebe-se, pois, que apesar de belamente

transcrito, a aplicabilidade do Cadastro Nacional, ainda é ponto de

controvérsias, tornando, pois, árduo o caminho a sua efetividade.

De acordo com Ribeiro (2010) embora a cautela aconselhe uma atuação

da autoridade judiciária no sentido de, primeiramente, destituir os pais

biológicos do pátrio poder para depois dar andamento nas providências

relativas à adoção, no entanto, a prática tem demonstrado que os juízes são

propensos em uma única decisão, decretar a privação do pátrio poder e

conceder a adoção, tornando assim, extremamente fácil, aos pais naturais

virem a conhecer os nomes e endereços dos adotantes.

Diante disso, faz-se necessário repensar o processo da adoção no

Brasil, principalmente ligado ao processo de adoção tardia, vimos que a lei

avançou e estabeleceu muitos direitos às crianças em processo de adoção,

mas ainda é preciso repensar a evidência desses direitos.

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3. PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO ABRIGO TIA JÚLIA SOBRE

ADOÇÃO TARDIA

Entre idas e vindas ao Abrigo Tia Júlia com o objetivo de conseguir

autorização para entrevistar os profissionais, foram marcadas com a

coordenadora do Abrigo quatro encontros em que os profissionais a serem

entrevistados estariam disponíveis para responder o roteiro de entrevista pré-

estabelecido. Nesses encontros foram levados os termos de consentimento

livre e esclarecido par recolher a assinatura dos interlocutores em questão com

o objetivo de assegurar aspectos éticos da pesquisa e esclarecer o objetivo da

mesma. O termo em questão foi assinado em duas vias, ficando uma delas em

posse dos entrevistados e outra em minha posse.

O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um formulário semi-

estruturado, com perguntas fechadas e abertas, não foi feito entrevista oral

com os participantes pelo fato de não aceitarem esse tipo de entrevista, a

entrevista que foi aceita foi a somente através de um questionário. A primeira

parte está relacionada aos critérios de escolha dos postulantes em relação ao

perfil dos entrevistados tais como: idade, estado civil, grau de escolaridade,

ocupação, tempo de trabalho no abrigo, e por fim o cargo que exercem na

Instituição. Na segunda parte, apresento aspectos relacionados à adoção

tardia, ao ECA e às experiências vividas pelos profissionais em relação a esse

processo. Foram entregues o formulário de perguntas para que os profissionais

escolhidos da equipe psicossocial do Abrigo Tia Júlia respondessem. Apenas

um se recusou a responder o questionário e não esclareceu os motivos da

recusa. Dessa maneira, o material coletado totalizou 04 entrevistas.

No próximo tópico tratarei da caracterização dos sujeitos que

participaram da pesquisa, atribuindo os seguintes nomes fictícios para

assegurar o sigilo aos informantes: Sol, Lua, Estrela e Arco-íris.

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3.1 Caracterização dos Profissionais entrevistados

3.1.1.SOL

É psicóloga, parda, religião católica não possui filhos, tem

especialização em psicanálise, está há seis meses na Instituição. Para ela os

motivos que levam uma criança a estar no abrigo envolvem múltiplos aspectos

relacionados especialmente à situação de negligência, tais como: maus-tratos,

agressões física e psicológica, abuso sexual, abandono. Relata que

geralmente, as famílias dessas crianças que estão no abrigo são pessoas de

baixa renda, que têm envolvimento com drogas e devido à vulnerabilidade

social não podem dispor dos cuidados necessários com seus filhos. Afirma que

não existe um tempo mínimo nem máximo para uma criança permanecer no

abrigo, mas ressalta que as crianças ficam muito tempo institucionalizadas

devido à lentidão dos processos judiciais, principalmente as que aguardam a

destituição do poder familiar. Sol afirma que a manutenção dos vínculos

familiares deve ser realizada até o momento que a família demonstra interesse

em reaver a guarda da criança, tentando superar os erros que trouxeram a

criança para o abrigo e que as maiores dificuldades que encontra para o

desenvolvimento deste trabalho é a falta de apoio das equipes vinculadas às

políticas públicas.

3.1.2. LUA

É Assistente Social, tem apenas 02 meses de formação e 02 anos

e meio como estagiária na Instituição, agora efetivada como profissional. Para

ela, os motivos que levam uma criança a ser encaminhada para o abrigo

ocorrem após sofrerem violações de direitos. A maioria dos casos é

relacionada ao uso de substâncias entorpecentes por parte dos responsáveis

das crianças, o que resulta em uma série de situações, como: maus tratos,

negligência, expor a criança à situação de risco, entre outros. Outro motivo

muito recorrente é o acolhimento das crianças vítimas de abandono. Afirma

que não tem como precisar a média de permanência das crianças, porque

muda de acordo com cada caso. Há casos de crianças institucionalizadas há

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mais de 04 anos, aguardando a destituição do Poder Familiar para que seja

inserida em uma família substituta, como também há casos de crianças que

foram trabalhados o vínculo com a família biológica ou ampliada e retornam

logo para casa. Lua afirma que o trabalho de manutenção de vínculos com a

família de origem da criança deve ser prioridade, conforme o ECA, mas, se

observamos que essa família não é o melhor lugar para a criança, devemos ser

breves e solicitar a destituição para encaminhar a criança para uma família

substituta.

Para ela, a principal dificuldade para o desenvolvimento deste trabalho

está relacionada à escassez de material, pois por vezes não existe carro

disponível para realizar visita domiciliar e acompanhar de perto a situação da

família. Outra dificuldade é a ausência de informações sobre os familiares das

crianças, e a demora dos familiares em visitá-las. Diante disso, tem as

dificuldades em realizar a visita domiciliar, portanto, as visitas realizadas pelos

familiares às crianças são também o momento que temos para realizar os

atendimentos sociais e saber como está a família. A demora das visitas

prejudica também a reconstrução do vínculo entre a criança e a família, pois se

a criança passa muito tempo sem ver os familiares, não os têm mais como

referência.

3.1.3. ARCO-IRIS

É Assistente Social, casada, 02 filhos, parda, católica, 27 anos de

formação e 04 anos na Instituição. Para ela, as principais causas para o

acolhimento de crianças no abrigo são: negligência, abandono, maus tratos,

violência sexual e violência doméstica. As famílias destas crianças as quais

ela observa têm como perfil uma diversidade sociocultural, que tem muitas

demandas e apresentam potencialidades, tendo o profissional que perceber,

respeitar e valorizar cada família dessas crianças e adolescentes. Afirma que a

média de permanência das crianças no abrigo é acima de 02 anos. Para ela,

o trabalho de manutenção de vínculos familiar deve ter como princípio

norteador a preservação e o fortalecimento dos vínculos familiares para

garantir à criança e ao adolescente seu retorno à família de origem, porque

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toda criança merece viver em família. Ainda ressalta que as dificuldades para o

desenvolvimento desse trabalho relacionam-se à falta de políticas públicas

eficazes e eficientes para o atendimento às famílias das crianças e

adolescentes acolhidos institucionalmente, tais como: habitação, saúde,

trabalho, etc.

3.1.4. ESTRELA

É Assistente Social, casada, 01 filho, branca, católica, tem

especialização, 35 anos de formação e 02 anos na Instituição. Para ela, as

situações que motivam as crianças serem acolhidas no abrigo é a questão do

abandono, da negligência familiar, violência física, psíquica e social. O perfil

das famílias dessas crianças possuem pais com dependência química, que

precisam de outros encaminhamentos; assim como a vivência de rua. Estrela

expõe que a média de permanência das crianças no abrigo varia de acordo

com a situação de cada criança, depende muito também da situação da família

biológica, da inclusão da criança – após a destituição do pátrio poder no

cadastro de adoção e da espera pela família substituta. Para ela, o trabalho de

manutenção familiar deve ser realizado até o momento em que a família tenha

decidido pela criança e se empenhe em reconquistar e manter os vínculos

familiares na busca da guarda da mesma. Ressalta ainda que os maiores

desafios para o desenvolvimento deste trabalho são os trâmites dos processos

judiciários, que demoram para dar a decisão da família biológica em manter os

vínculos e o longo período de institucionalização das crianças.

3.2. Análise das Entrevistas

Milhares de crianças e adolescentes que vivem em abrigos espalhados

por todo o Brasil aguardam a chance ou até mesmo a sorte de serem

adotados. Conforme Ribeiro (2010) poucos foram os avanços com a nova lei

da adoção de 2009, e quase insignificantes as chances de se diminuir o

número de crianças e adolescentes que vivem nos abrigos institucionais,

tornando a adoção apenas mais um sonho.

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São amplamente reconhecidos os méritos introduzidos pelo Estatuto da

Criança e do Adolescente (1990), como ressalta Moura (2008) em sua

pesquisa sobre adoção tardia, que os méritos do Estatuto sondar indivíduos em

desenvolvimento pela primeira vez na história brasileira se tornam sujeitos de

direitos e deveres reconhecidos e assegurados pela sociedade, Estado e

família.

No que tange ao instituto da adoção, significativas inovações transformaram seu sentido. Outrora, tal instituto atendia aos anseios e vontades dos postulantes, graças à legislação vigente, passa-se a vê-la como a construção de um direito, o direito de crescer em uma família e não em uma instituição de abrigo. Essa proposta comporta um novo projeto de família, atribuindo novos sentidos em relação ao melhor interesse da criança e do adolescente. (MOURA, 2008, p.25).

Diante disso, o profissional que está diretamente ligado a esse processo

de adoção precisa estar preparado teoricamente em relação ao processo de

abandono e de adoção, que surgem no caminho da vida dessas crianças que

vivem em abrigos como o Abrigo Tia Júlia. E quando falamos em processo de

Adoção Tardia, buscamos relatar na fala dos entrevistados que lidam

diariamente sobre o assunto o que eles teriam a relatar.

Quando perguntamos como se coloca o profissional nos casos de

adoção tardia, obtivemos as seguintes respostas:

Temos que ter o compromisso de efetivar direitos das crianças, que estão à espera de uma família durante um longo período, em um ambiente não familiar e buscar esclarecer à comunidade as necessidades e prioridades das crianças, com o intuito de romper com o preconceito da adoção tardia. (ESTRELA, ASSISTENTE SOCIAL).

Concordando com a fala de Estrela, a autora Moura (2008) diz que,

todavia, quanto maior idade a criança ou o adolescente tiver mais eles

precisarão da presença constante da família, a fim de sentirem-se aceitos e

amados, para que assim, seja possível adaptar e reconstruir uma história

diferenciada de vida.

Deve-se levar em consideração o melhor interesse da criança e do adolescente, percebendo e reconhecendo que as crianças perdem a melhor fase da vida dentro de um abrigo, que é a primeira infância. (ARCO-ÍRIS, ASSISTENTE SOCIAL).

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Arco-íris traz em sua fala a concepção que está descrita no ECA (1990)

art. 43 – A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o

adotando e fundar-se em motivos legítimos. Abreu (2002) diz que a abordagem

da nova lei revela uma mudança de ponto de vista do dominante, que vai

estruturar o parentesco adotivo.

As demais entrevistadas, estabeleceram que:

O primeiro passo que nós profissionais fazemos é informar à criança que ela passará a receber visitas de uma pessoa desconhecida e que essa pessoa irá visitar apenas a essa criança. Em seguida, na entrevista de apresentação é falado para o(s) pretendente(s) toda a história de vida da criança, rotina, gostos e hábitos. É destacado a peculiaridade de cada criança e a importância da vinculação e a confiança que é estabelecida a cada dia. (SOL, PSICOLOGA).

Analisando a fala de Sol, é importante relacionar com o que a autora

Moura (2008) fala em relação a esse processo de adoção tardia e da forma de

tratamento da peculiaridade de cada criança como afirma Sol. Diante disso

Moura (2008) fala:

É importante mencionar que tanto na adoção tardia, quanto na adoção convencional, as chances de sucesso ou fracasso no meio familiar dependem da capacidade de suporte, amor, confiança, companheirismo, entrega, troca afetivas entre os protagonistas. Toda criança adotada tem um histórico de abandono ou orfandade e tal fato deve ser levado em consideração por todos, por isso, quanto maior idade a criança ou o adolescente tiver mais eles precisarão da presença constante da família, a fim de sentirem-se aceitos e amados, para que assim seja possível adaptar e reconstruir uma história diferenciada de vida. (MOURA, 2008, p.25).

O interesse será sempre o da criança, como vimos na fala de Lua,

Concomitantemente Weber (2011) afirma que “O interesse maior deve ser

sempre o da criança, procura-se dar um tom moderno a adoção [...] tenta-se

resgatar o verdadeiro sentido de proteção para a criança.” (p.71).

A adoção tardia é o que chamamos de adoção necessária, pois as crianças que estão disponíveis para adoção, geralmente se encaixam no perfil da adoção tardia. Ou seja, são maiores de 03 anos. Portanto, essa adoção é necessária, pois essas são as crianças que estão nas Unidades de Acolhimento esperando por uma família. Não temos que

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encontrar uma criança para uma família e sim, uma família para uma criança. (LUA, ASSISTENTE SOCIAL).

Podemos perceber que os profissionais entrevistados estão diretamente

preparados e envolvidos profissional e sentimentalmente com a questão da

adoção, na tentativa de garantir o direito dessas crianças, sempre pensando

que o melhor para elas é ter uma família, ter um lar. Percebemos o cuidado

com essa criança na fala de Sol em informar sobre o processo de adoção e

que ela receberá visitas no sentido de trabalhar com essa criança.

Um das questões norteadoras desse estudo ocorreu em relação ao

que as entrevistadas compreendiam sobre a nova lei da adoção (2009),

quando estabelece no mínimo 02 anos na tentativa de reinserir a criança no

seio familiar de origem (biológico). Nesse sentido, Estrela expressa a seguinte

fala: “É necessário ter agilidade na busca da garantia de convivência familiar,

para que a criança não seja prejudicada e seja prioridade.” (ESTRELA,

ASSISTENTE SOCIAL).

Em relação às demais entrevistadas, estabeleceram que:

O tempo vai de acordo com cada caso, mais acredito que dois anos são mais do que suficiente. Durante esse tempo, é possível fazer a manutenção de vínculos com a família, identificando se há possibilidades da criança ou adolescente retornar para o convívio familiar, pedir a destituição do poder familiar se for necessário e preparar a criança para uma possível adoção. (SOL, PSICOLOGA)

As crianças e os adolescentes que vivem sem famílias tornam-se

privados de sentimentos fraternos proporcionados pela família, tais como:

segurança, estabilidade, afeto, amor, continuidade, educação, pertencimento,

dentre outros. Essa situação, segundo Camargo (2006), ocasiona em adultos

sem personalidade, sem amor próprio e alheio, inseguros, imprevisíveis,

possuidores de sintomas psíquicos e doenças psicossomáticas, e outros. Na

fala de Estrela percebemos essa questão da ausência da família quando a

criança passa muito tempo institucionalizada. Por isso, há uma articulação

entre a equipe técnica para realizar com mais rapidez os procedimentos da

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adoção, mas sabemos que existe um grande processo por trás dessa relação,

conforme salienta Estrela:

O prazo é suficiente, mas não significa dizer que a criança tem que passar obrigatoriamente os 02 anos na instituição. Quanto mais rápido for resolvida sua situação melhor pra criança e menos danos o acolhimento institucional trará para a vida dela. Porém, o que podemos ver é que esse prazo não tem sido cumprido, devido à morosidade dos processos judiciários. É necessário que haja uma articulação entre a equipe técnica do Abrigo e a equipe do judiciário, para que a solução para a vida dessa criança seja rápida e para que o acolhimento institucional seja, de fato, provisório, conforme está no ECA. (ESTRELA, ASSISTENTE SOCIAL).

Profissionais que lidam diretamente com o processo da adoção

adquirem experiências em suas vidas, mesmo vendo aquele processo todos os

dias se sensibilizam muito. Em relação às profissionais entrevistadas, no

espaço do abrigo Tia Júlia, há esse envolvimento de garantia de vitória para as

mesmas alcançarem uma família para essas crianças. Como afirma Estrela:

Durante todo meu percurso na instituição passei por adoções tardias, e pra mim é uma satisfação profissional e pessoal em garantir os direitos das crianças que passam longo período nas instituições de acolhimento. (ESTRELA, ASSISTENTE SOCIAL).

Deve - se deixar bem claro, afirma Weber (2011), que a adoção não é

uma medida para solucionar o problema do abandono de crianças, uma vez

que entendemos que a adoção moderna é uma medida emergencial para dar

uma família às crianças que já estão abandonadas e vivendo nas ruas ou em

abrigos.

O prazo de dois anos é um tempo suficiente para um dos casos de acolhimento institucional, pois devemos entender e perceber que a criança e o adolescente precisa de dois bens fundamentais, que é o direito à família e o direito à liberdade. (ARCO - ÍRIS, ASSISTENTE SOCIAL)

Diante disso, pedimos aos profissionais que expusessem um relato de

uma experiência em relação à adoção tardia, citamos:

Tive uma experiência e o compromisso de oportunizar dois irmãos, com 09 e 06 anos, que já estavam em DPF, terem oportunidades de

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ser adotados por um casal, inclusive a pretendente da adoção era uma assistente social e já estava no cadastro nacional de adoção. (ARCO - IRIS, ASSISTENTE SOCIAL).

Para Simone Moura (2008) a adoção tardia é revestida de valores de

ordem cultural, que inviabilizam a concretização de adoções de crianças

maiores, bem como adolescentes. Tais valores influenciam o imaginário social

e, consequentemente, o instituto da adoção. Relacionamos a visão do autor

com a experiência de Arco-Íris em falar do processo de adoção tardia:

Uma criança de aproximadamente 05 anos de idade, começou a receber a visita de um casal. Passou aproximadamente, três semanas recebendo visitas diariamente, até que a equipe técnica serviço social e psicologia avaliaram que os pretendentes a adoção e a criança poderiam sair para o primeiro passeio, acompanhados de um funcionário da instituição. Deste modo, o passeio foi realizado com sucesso e os vínculos foram firmados ainda mais. Em seguida, a criança foi autorizada judicialmente a passar o final de semana na casa de seus pretendentes a adoção. Atualmente, a criança encontra-se sobre a companhia de seus pretendentes a adoção, esperando a guarda provisória e, por fim, a guarda definitiva. (SOL, PSICOLOGA).

Podemos perceber que para esses profissionais a adoção não é uma

resposta à necessidade ou crise, mas ela tem um significado de uma transação

generosa e repleta de amor por ambas as partes. Como observamos na fala

de Sol, e que a cada dia eles lutam para a efetivação da conquista de direitos

dessas crianças são profissionais capacitados e movidos pela causa da adoção

efetivando o que vem a ser importante para uma criança acolhida o direito de

ter uma família, somente.

Analisando as falas percebemos que a trajetória de transformações que

ocorreram na legislação da adoção não se deu de forma isolada do contexto,

mas foi condicionada. Diante disso, a adoção enquanto prática social é

permeada por valores e padrões de comportamentos historicamente

construídos e ainda vigentes que definem uma determinada cultura de adoção

no nosso país. Se por um lado temos significativas mudanças nas nossas

legislações e no estatuto ampliando os direitos dessas crianças, todavia temos

ainda que trabalhar a relação dos preconceitos existentes no caso de adoção

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tardia que influenciam muitas vezes o não processo de adoção pelo fato da

criança já estar na fase adulta, quando lemos autores como Weber (2011) e

Abreu (2002) durante o processo deste trabalho observamos que em suas

pesquisas o caso da adoção tardia precisam ser quebrados tabus em relação à

adoção de crianças pequenas de berço.

Como já contemplado no trabalho grandes incompreensões no tocante

ao verdadeiro papel da adoção no Brasil por parte da sociedade, ainda

persistem algumas posições favoráveis ou contrárias a adoção, além da

desinformação quanto às chances de êxito da integração de crianças maiores

em família substituta.

Como expõe a autora Moura (2008):

Contudo, saberá a sociedade brasileira realizar integralmente a transformação do padrão cultural ainda dominante, "prevalecer às vontades dos postulantes", para o padrão da defesa efetiva do direito de todas as crianças e adolescentes institucionalizados à convivência familiar e comunitária? Pois bem, apesar dos esforços recentes, o debate sobre as modalidades de adoções no Brasil, como a tardia, a inter-racial e especial, são pouco discutidas e consequentemente pouco trabalhadas fato que compromete e diminui as chances de colocação em família substituta. (MOURA, 2008, p.20).

Analisar a visão dos profissionais do Abrigo Tia Júlia em relação à

adoção tardia nos faz refletir da importância desses profissionais com

embasamento teórico, conhecimento técnico em favor da garantia de direitos

das crianças, mas a questão do abandono deve ser combatido por esses

profissionais, intervindo junto à sociedade em favor da diminuição desses

casos, como a conscientização e a socialização dos direitos e deveres. A

adoção tardia é um processo que deve ser trabalhado, pois estamos falando de

crianças que já perderam uma parte de sua infância em um abrigo, a equipe

técnica é uma das pessoas que estão mais próximas dessa realidade e que

devem fundamentar uma visão crítica e reflexiva desses entraves do processo

de adoção.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho buscou compreender a visão dos profissionais da

equipe psicossocial do Abrigo Tia Júlia em relação ao processo de adoção

tardia. Vemos em todo o processo de construção deste trabalho que muitos

avanços em relação à adoção foram alcançados e alguns dos preconceitos

relativos a essa concepção foram superados ao meu ver, diante da experiência

que tive no estágio.

A visão dos profissionais em relação ao processo de adoção é

extremamente importante, para que possamos entender como esses

profissionais interferem nesse processo, já que eles estão diretamente ligados

a essa criança, estando dia-a-dia com elas, e participando de todo processo

que envolve a adoção no sentido de tratar a criança como a maior

beneficiadora de receber uma família, ou então tentar reconciliar os laços

perdidos por essa criança, sempre ligados ao sistema de adoção e às leis que

afirmam o melhor para essas crianças. A nova lei determina que se deva haver

um preparo prévio dos pais adotivos para receber o adotando em sua nova

casa. Portanto, o lar que irá receber a criança ou adolescente deve ser

ulteriormente apreciada, buscando-se alcançar seu pleno estado de bem-estar

familiar.

Desde o primeiro contato com esses sujeitos envolvidos no processo de

adoção durante meu estágio na Instituição, sobrevieram-nos os primeiros

questionamentos à mente, no qual nos fez querer saber mais sobre a realidade

deles, principalmente o que mais me indagava sobre o processo de adoção

tardia. No decorrer da realização desse trabalho foi necessária uma maior

aproximação com autores que tratam dessa temática, além de sempre estar

atualizada com notícias nos jornais, revistas, televisão, internet, sempre

acompanhando os poucos dados estatísticos e noticiários divulgados pela

mídia e estar constantemente em contato com a Instituição pesquisada.

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Deste modo, diante de tudo que foi discutido, o que fazer frente a essa

problemática tão complexa? O que se pode fazer é abrir as portas através

deste trabalho para que outras pessoas conheçam a realidade que gira em

torno da adoção. A lição que fica é de que a coisa mais bonita é o sentimento

que norteia o processo de adoção uma criança no caminho do respeito a si

mesma, do respeito aos outros e ao mundo, na busca por um futuro mais

tranquilo para essas crianças. A adoção é um ato de amor e doação por ser

concedida a todos, e observar de perto essa realidade me fez crescer

profundamente em amor e ter uma visão mais ampliada como futura

profissional.

Espera-se que com os avanços trazidos pela nova lei da adoção, os

adotandos possam ter mais alguma esperança em alcançar uma infância e

adolescência digna esse fato tende a se tornar uma corrente do bem. Crianças

adotadas, tratadas como filhos, como de fato são, recebendo o carinho e

assistência de seus pais, sejam eles, casados, individuais, parentes próximos

ou não, os farão sem sombra de dúvidas, seres humanos melhores, que

conseguiram visualizar desde muito pequenos que o amor pode preencher

todos os espaços, bastando apenas que se permita que ele entre.

Portanto, após essas considerações, ressalto que esta pesquisa não

finaliza neste trabalho monográfico, esse assunto é muito amplo, podendo ser

apenas o início de muitas pesquisas que virão e esta também poderá subsidiar

futuras pesquisas relacionadas com a mesma temática, a fim de contribuir

através das informações alcançadas.

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MANZINI, Eduardo José. Entrevista semi-estruturada: análise de objetivos e roteiros. Programa de Pós-Gradução em Educação, Unesp – Marília, 2004. MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Maria Cecilia de Souza Minayo (Org). 29 ed – Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2010.

MORESI, Eduardo. Metodologia da Pesquisa. Universidade Católica de Brasília, Programa de Pós – Graduação, 2003. MOTTA, M. A. P. Mães abandonadas: a entrega de um filho em adoção. São Paulo: Cortez, 2001. NABINGER, Silva. Adoção: o encontro de duas histórias. Sylvia Nabinger (Org). FURI, 2010. 56p. RIBEIRO, Naiara Trindade. Adoção: uma nova Lei para uma velha omissão. CENTRO UNIVERSITÁRIO DO PLANALTO DE ARAXÁ - CURSO DE DIREITO, Araxá – MG, 2010. SIQUEIRA, L. Adoção no tempo e no espaço. Rio de Janeiro: Forense, 2005. WEBER, Lídia Natalia D. Laços de Ternura: pesquisas e historias de adoção. 3ª ed. – Curitiba: Juruá, 2011. VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil – Direito de Família. São Paulo: Atlas, 2007. v. VI.

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APÊNDICES

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ROTEIRO DE PERGUNTAS

IDENTIFICAÇÃO

Sexo: M ( ) F ( )

Estado Civil: Casado ( ) Solteiro ( )

Outros:_____________

Tem Filhos: Sim ( ) Não ( )

Quantos: ________

Formação: ________________________

Pós – Graduação: _____ Especialização:____________ Outro: __________-

Tempo de Formação: ____________-

Tempo na Instituição: _____________

ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL E A MANUTENÇÃO DE VÍNCULOS

Quais as principais situações que motivam o acolhimento da criança neste

abrigo?

Qual o perfil das famílias das crianças que estão acolhidas no abrigo?

Qual é a media de permanência das crianças nessa unidade de acolhimento?

De acordo com a nova Lei da Adoção existe um prazo de 2 anos para

reinserção familiar, o que você acha desse prazo?

Até que ponto você acha que o trabalho de manutenção do vínculo familiar

deve ser realizado?

Quais as principais dificuldades encontradas por você para o desenvolvimento

desse trabalho?

ADOÇÃO

Qual sua percepção sobre adoção tardia?

Como você percebe a adoção tardia para as crianças que permanecem na

Instituição?

Quais as principais dificuldades identificadas para que a adoção ocorra em

maior tempo hábil?

Como se coloca o profissional nos casos de adoção tardia? Quais as questões

a serem analisadas para conferir um parecer positivo ( e aqueles ao parecer

negativo) às adoções tardias?

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado (a) participante:

Sou estudante do curso de graduação na Faculdade Cearense, estou

realizando uma pesquisa sob supervisão da professora Priscila Nottinghan

Lima, cujo objetivo é analisar a percepção da equipe psicossocial do Abrigo Tia

Júlia em relação à adoção tardia.

Sua participação envolve responder um questionário de perguntas com

duração de até 30 minutos. A participação neste estudo é voluntária e se você

decidir não participar ou quiser desistir de continuar em qualquer momento, tem

absoluta liberdade de fazê-lo.

Na publicação dos resultados desta pesquisa, sua identidade será

mantida no mais rigoroso sigilo. Serão omitidas todas as informações que

permitem identificá-lo (a).

Mesmo não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente você

estará contribuindo para a compreensão do fenômeno estudado e para a

produção de conhecimento cientifico.

Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pelo

(a) pesquisador (a) fone: (85) 87089899 ou pela entidade responsável –

Faculdade Cearense, fone: 3201.7000.

Atenciosamente

Priscila Nottinghan de Lima

Norma Soely Pinto Ferreira

Consisto em participar deste estudo e declaro ter recebido uma cópia

deste termo de consentimento.

Assinatura do Participante

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ANEXO

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