adib jatene & alexandre padilha - primeiro capítulo

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ADIB JATENE & ALEXANDRE PADILHA

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40 anos de medicina: o que mudou?. Este diálogo tem em comum a vontade de ambos em garantir uma saúde pública de qualidade para o cidadão brasileiro, além de mostrar grandes mudanças occoridas nestes 40 anos de medicina.

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ADIB JATENE &ALEXANDRE PADILHA

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELO Sistemas de Bibliotecas da UNICAMP / Diretoria de Tratamento da Informação

Bibliotecário: Helena Joana Flipsen - CRB-8ª / 5283

J318a Jatene, Adib D. Adib Jatene & Alexandre Padilha : 40 anos de medicina : o que mudou? / Adib Jatene e Alexandre Padilha. -- Campinas, SP : Saberes Editora, 2011.

ISBN 978-85-62844-12-6

1.Jatene, Adib D. 2. Padilha, Alexandre. 3. Sistema Único de Saúde Pública (Brasil). 4. Saúde pública - Brasil. 5. Medicina - Brasil. 6. Política de saúde - Brasil. 7. Médicos - Brasil - Biografia. I. Padilha, Alexandre. II. Título.

CDD - 614.0981 - 610.981 - 362.10981 - 926.10981

Índices para Catálogo Sistemático:

1. Sistema Único de Saúde (Brasil) 614.09812. Saúde pública - Brasil 614.09813. Medicina - Brasil 610.9814. Política de saúde - Brasil 362.109815. Médicos - Brasil - Biografia 926.10981

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40 anos de medicinaO que mudou?

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Copyright by © Adib Jatene e Alexandre Padilha, 2011Direito desta edição Saberes Editora, 2011

EditoraLenir Santos

CapaBruna Mello

Projeto gráfico e editoração

Valéria Ashkar Ferreira

RevisãoAnna Carolina Garcia de Souza

Olivia Yumi Duarte

FotografiaErasmo Carlos Rodrigues Salomão

Flavio BekeredjianRoberto Loffel

ÁudioFlavio Bekeredjian

Raphael Lupo

Av. Santa Isabel, 260 - sala 5B.Geraldo - Campinas, SP - BrasilCEP 13084-012Fone +55 19 [email protected]

Nenhuma parte desta publicação pode ser gravada, armazenada em sistema eletrônico, fotocopiada, reproduzida por meios mecânicos ou outros meios quaisquer.

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“Se vale a pena fazer alguma coisa,

que ela seja benfeita.”Adib Jatene

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ÍNDICE

APRESENTAÇÃO .............................................. 17

VIDA1971: O ANO DO LAMARCA .......................... 231929: O ANO DA PAGÚ .................................. 31AUSÊNCIA DO PAI ........................................... 35MARCAS DA INFÂNCIA ................................... 41MULHERES-MÃES ............................................ 55

MEDICINAMEDICINA: UMA ESCOLHAINFLUENCIADA PELO PASSADO ..................... 63ESCOLHAS, ENCONTROS, DEFINIÇÕES ......... 77O MOVIMENTO ESTUDANTIL ......................... 91SER MÉDICO NA VIDA .................................... 99AS CIRURGIAS CARDÍACASE A TÉCNICA JATENE...................................... 109A ESCOLHA PELA INFECTOLOGIAE O PARÁ ....................................................... 113

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POLÍTICADA MEDICINA PARAA VIDA POLÍTICA ........................................... 125A VIDA PÚBLICA: ALEGRIASE DISSABORES ............................................... 137DESAFIOS DA SAÚDE PÚBLICA ..................... 151

PASSANDO A LIMPO...O MÉDICO E A MORTE ................................. 163O PODER MÉDICO ........................................ 167O MÉDICO E A SOCIEDADE .......................... 171A HUMILDADE NA MEDICINA ...................... 173CONSELHOS ENTRE DOIS MINISTROS ......... 177

AGRADECIMENTOS ...................................... 181

SIGLAS ........................................................... 183

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Mediadores:

Lenir Santos, advogada, especialista em direito daadvogada, especialista em direito da saúde, coordenadora do curso de especialização em direito sanitário da Unicamp-Idisa. Ex-procu-radora da Unicamp. Doutoranda em saúde públi-ca dessa mesma universidade..

Luiz Odorico Monteiro de Andrade, m�dico, profes-m�dico, profes-sor adjunto da faculdade de medicina da Uni-versidade Federal do Ceará. É doutor em saúde pública pela Unicamp e pós-doutor pela Univer-sidade de Montreal, no Canadá.

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APRESENTAÇÃO

Este livro nasceu de uma conversa informal que os media-dores tiveram com o ministro da saúde, Alexandre Padilha, que terminou em um convite para um diálogo sobre sua vida e a saú-de no Brasil com o ex-ministro da saúde, Adib Jatene. Há tempos vínhamos propondo ao professor Jatene a tarefa de escrever sua biografia, visto a riqueza de sua vida como médico do coração, bem como sua atuação na saúde pública do estado de São Paulo e do país, como ministro da saúde de dois governos – homem ín-tegro, cientista dotado de grande coerência política e honestida-de intelectual. Com o aceite de Alexandre Padilha e Adib Jatene, o sonho virou realidade.

O diálogo entre os dois m�dicos ocorreu em São Paulo, durante um dia todo, e foi um acontecimento ímpar por trazer detalhes da vida pessoal de cada um – um com 82 anos e o outro com 40 anos de idade –, revelando duas vidas repletas de coinci-

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dências, desde a infância sem a figura do pai, a mudança de um estado para outro e um passado atuante na medicina.

Adib Jatene pretendia cursar medicina para retornar ao Acre, onde seu pai morrera prematuramente, e assim poder ser-vir àquela comunidade. Alexandre Padilha, por sua vez, foi mar-cado pela medicina por meio da mãe, uma m�dica que militava em favor da democracia, vivendo um período na clandestinida-de. Compartilhando destinos semelhantes – a ausência do pai em tenra idade, a figura da mãe na luta pela sobrevivência – ambos chegaram ao cargo de ministro da saúde após a promulgação da Constituição de 1988.

A vocação científica de Jatene surgiu logo cedo na medici-na, quando ele criou uma pequena oficina no fundo de sua casa em Uberaba, Minas Gerais, para se tornar engenheiro do cora-ção. Sua excelência na matemática – que o levou a pensar em ser engenheiro – lhe foi de grande valia na engenharia cardíaca, tão bem desempenhada por ele, sem minimizar sua capacidade de enxergar o ser humano em sua completude e fragilidade diante da doença.

Adib Jatene viveu o desafio de criar uma fonte de recursos específica para a saúde – a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) –, que teve sua finalidade alterada após sua aprovação no Congresso Nacional, o que o levou a dei-xar o cargo de ministro. Com a sua sabedoria, ele nos demonstra o quão valiosas são suas análises e ponderações a respeito da saúde pública. Sua lucidez e maturidade na compreensão dos problemas lhe conferem um olhar global sem se perder nas late-ralidades.

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Alexandre Padilha vive o desafio de consolidar um sistema público de saúde capaz de garantir efetivamente o direito à saú-de. Sua convicção e determinação são inabaláveis, tanto que, com o olhar no futuro, não tira o pé da realidade, a fim de transformá-la, sabendo temperar sua pressa e seu sentimento de urgência na resolução de problemas de saúde pública com o momento certo de atuação. Sua capacidade de viver a utopia sem perder a cons-ciência da realidade certamente o levará a consolidar o Sistema Único de Saúde (SUS) no país. Sua alma humanista, sua capaci-dade de diálogo e conciliação responsável são qualidades impor-tantes para a medicina e a vida pública.

Deste diálogo, mediado por mim e por Odorico Monteiro, contou ainda com a participação especial de Mozart Sales, m�di-co que escolheu a cardiologia para cuidar do coração das pessoas como se fosse um meio de cuidar de suas próprias emoções e generosidade.

A escritora dinamarquesa Karen Blixen dizia que uma vida apenas se justifica se puder contar uma história sobre ela. Adib Jatene e Alexandre Padilha certamente tem uma vida que rende uma história.

Lenir Santos Editora

APRESENTAÇÃO

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VIDA

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Quando nasci, em São Paulo, meu pai já

havia saído do país. Ele se exilou por motivos

políticos. Quando ele se foi, minha mãe estava

no quarto ou quinto mês de gestação.

Alexandre Padilha

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1971: O ANO DO LAMARCA1

Odorico Monteiro — Revisitando Darcy Ribeiro na obra Aos trancos e barrancos, verifiquei que, quanto à época em que o professor Jatene nasceu, em 4 de junho de 1929, Darcy Ribeiro definiu aquele como o Ano da Pagú. Foi o ano do crack da bolsa de Nova York e o Brasil saía da República Velha do Café com Leite para adentrar na Era Industrial. Já o ministro Alexandre Padilha nasceu em 14 de setembro de 1971, ano que Darcy denominou de Ano do Lamarca. Professor Jatene, o que acontecia na sua vida em 1971?

Adib Jatene — Nessa �poca, primavera de 1971, eu operava em média cinco doentes por dia no hospital Beneficência Portuguesa, porque o Instituto de Cardiologia de São Paulo, onde eu traba-

1 Darcy Ribeiro, Brasil aos trancos e barrancos: como o Brasil deu no que deu. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1986.

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lhava, mantinha um convênio com esse hospital. Nessa �poca, nós contávamos com quarenta leitos na Beneficência Portuguesa, e eu operava muito. Já estava completando cerca de mil cirur-gias de ponte safena, e ali nós operávamos congênitos tamb�m, operávamos de tudo. E naquele ano, o nosso hospital, a primei-ra unidade do Dante Pazzanese, com cem leitos, havia acabado de ser construída. Começamos, assim, a mudança dos leitos da Beneficência para o Dante Pazzanese. Naquele ano, nós já está-vamos operando com circulação extracorpórea, que começou em São Paulo, em 1956, com o dr. Hugo Filipose. No Hospital das Clínicas (HC), iniciamos a circulação extracorpórea em 1958. Em agosto de 55, fui para Uberaba, onde permaneci por dois anos e meio, e ali fiz meu primeiro modelo de coração/pulmão artifi-cial, bem como algumas experiências em cães etc., quando o dr. Zerbini me chamou para voltar para o HC, onde eu tinha traba-lhado com ele por mais de cinco anos, desde estudante. Quan-do voltei, consegui com o dr. Odair Pedroso uma pequena sala no 11º andar, ao lado do comando dos elevadores. Arrumei um torno de sessenta centímetros entre pontas, uma furadeira, um esmeril, e ali, construí o primeiro modelo de coração/pulmão ar-tificial do HC, com oxigenador de disco e não descartáveis. Cada vez que eu operava, tinha que desmontar, limpar, siliconizar, esterilizar e preparar tudo para outra operação. Aquele oxige-nador de disco era constituído de discos de doze centímetros de diâmetro montados num eixo com cinco milímetros de intervalo, prensados em duas laterais em um cilindro de vidro em posição horizontal; mergulhávamos dois terços do raio do disco em san-gue, e quando giravam-se os discos, cada um carregava em cada

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face uma película que oxigenava o sangue. De um lado entrava o venoso e, do outro, saía o arterial. Trabalhamos muito com esse modelo, e logo a experiência cresceu e o HC assumiu a liderança nesse processo no Brasil.

Odorico Monteiro — Ministro Padilha, o senhor poderia falar um pouco das condições de seu nascimento, em 1971, quan-do o professor Jatene já estava realizando a cirurgia cardíaca extracorpórea? Poderia situar seu nascimento em relação ao que estava acontecendo na sociedade da �poca?

Alexandre Padilha — 1971 foi um ano importante, um marco po-lítico para o Brasil. Era o início de um processo de recrudesci-mento da ditadura militar, de contenção das liberdades demo-cráticas, e meus pais tinham uma atuação militante muito forte em defesa da luta democrática – eram de organizações de movi-mentos de esquerda. Meu pai era um militante democrático da juventude cristã; tinha formação metodista, e minha mãe, em-bora tivesse tido uma história na Igreja Católica, já era do Par-tido Comunista do Brasil. Os dois militavam na chamada Ação Popular, e o contexto do meu nascimento tem a ver com aquele momento da história política brasileira. Meu pai havia sido preso no começo dos anos 70 por onze meses. Ele passou um período grande no DOI-CODI, na Operação Bandeirantes, e depois um período ainda maior, de seis ou sete meses, no presídio Tiraden-tes, que ele dizia nunca ter imaginado que pudesse ser um am-biente tranquilo, ou melhor, mais tranquilo que o DOI-CODI. Ele ficou feliz quando foi para um presídio comum. Meu pai deixou

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a cadeia em outubro. Ele e minha mãe já se conheciam, namora-vam, viviam juntos. Acho que ele saiu da prisão com tanta sau-dade que fui gerado logo em seguida. Nesse período – eu nasci em setembro, então fui gerado no final de 1970, começo de 1971 –, eles se reencontraram, depois de terem ficado quase dez, onze meses afastados um do outro. Quando nasci, em São Paulo, meu pai já havia saído do país. Ele se exilou por motivos políticos. Quando ele se foi, minha mãe estava no quarto ou quinto mês de gestação. Ela conta uma história que nunca me esqueço, sobre a discussão que teve com militantes e dirigentes do movimento político que ela integrava à época, a respeito de ter ou não o filho naquele momento, com o meu pai fora do país.

Lenir Santos — Fale um pouco mais da gravidez de sua mãe no contexto da clandestinidade e com seu pai fora do país, em exílio político.

Alexandre Padilha — Minha mãe teve de rever sua vida e afir-mar seu desejo de querer ter esse filho. Ela era estudante de me-dicina, não estava formada ainda – interrompera o curso para fazer atuação política. Houve, então, uma solidariedade entre pessoas comuns e militantes de uma luta democrática e tamb�m entre profissionais da saúde, que lhe garantiram um parto com segurança. Na �poca, ela era procurada: havia fotos dela espa-lhadas por aí e ela estava vivendo na clandestinidade. Ela conta duas coisas muito interessantes do momento do meu nascimen-to: havia uma esp�cie de central de regulação dos direitos das organizações clandestinas, ou seja, havia o direito de buscar um

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hospital seguro para uma pessoa que estava na clandestinida-de e ela não seria presa durante o parto (já que frequentemente acontecia de os filhos serem presos juntos com a mãe). Ela conta que eu nasci em um hospital na zona leste de São Paulo. Ela chegou no hospital sem os documentos, porque não podia levá-los. Por muito tempo, as pessoas acharam que ela havia sido presa, por não saberem que estava no hospital por causa do par-to, durante três, quatro dias. Ela foi para um hospital diferente daqueles que os militantes clandestinos sempre iam. Ela conta isso de maneira muito intensa. A outra diz respeito à sua briga para ter parto normal; al�m da convicção a respeito de ter um parto normal do ponto de vista fisiológico pelo conhecimento que possuía como profissional médica, ela tinha muito medo de fazer uma cesárea e isso permitir que fosse descoberta, reforçan-do, assim, sua insegurança na hora do parto.

Lenir Santos — Mesmo sendo muito pequeno sabemos o quanto são indel�veis em nossas memórias certos fatos pessoais ou fami-liares. Como foi viver com sua mãe na clandestinidade? Quais as lembranças que o marcaram?

Alexandre Padilha — Nós ficamos até o fim do ano em São Paulo. No começo de 1972, minha mãe teve que fugir para o interior de Minas Gerais. Uma corrente de solidariedade se formou, por meio de filhos de amigos da área da saúde, que a ajudaram a superar a dificuldade de fugir com um bebê que chorava no ôni-bus. Ela conta a história da pessoa que acabou virando a minha madrinha, que surgiu em uma das casas onde ela morava, com

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a qual ainda hoje me encontro. Essa pessoa cuidava de mim em situações de mudança de uma casa para outra, pois algu�m tinha que ajudar a arrumar bolsas, sacolas, roupas e cuidar de mim. Nós não tínhamos residência muito fixa. Por isso o pessoal brin-ca que eu sempre gosto de viajar de um canto para o outro. Penso que esse gosto vem daí: viver eternamente de mochila, de mala, sem domicílio fixo. Ela brinca: “É, não tem jeito, você se acostu-mou desde muito pequeno a ir de um canto para o outro”. E, a partir daí, logo no início de 72, depois de ter ido para o interior de Minas Gerais e voltado para São Paulo, minha mãe decidiu voltar para Maceió, onde nasceu. Decidiu ainda, fazer um esfor-ço para concluir o curso de medicina, interrompido no quinto ano. Ela só conseguiu se formar, diz ela, por causa do meu nas-cimento. Nessa fase, ela saiu da clandestinidade, do movimento das organizações e voltou para Alagoas, onde o pai dela morava, onde tinha o abrigo da família naquele momento, para se formar, concluir o curso. Assim, eu nasci em São Paulo, mas logo em se-guida, em 1972, fui para Alagoas, onde morei at� minha mãe se formar, at� os meus 3 anos de idade. Íamos a São Paulo para ter contato com a mãe do meu pai, minha avó, uma vez que eu não tinha contato com meu pai, que estava fora do país. Contato com ele eu tive depois, mais tarde, ainda na infância.

Adib Jatene — Há uma particularidade que � interessante. O mi-nistro Padilha quase foi vítima de aborto, e isso tamb�m aconte-ceu comigo. Minha mãe perdera um filho, e quando engravidou de mim, teve hipertensão. Naquela �poca havia dois m�dicos: um que queria fazer o aborto, e outro, que era cearense, que não

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queria. Esse último disse: “Eu vou levar esse parto a termo, vai ser um menino e vai ser meu afilhado”. Então eu também escapei de um aborto.

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Alexandre Padilha com a mãe e avós paternos,

em 1973

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