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ACTUALIDADE 20 Inspecções: chumbos ilegais Decreto que determina reprovação nas IPO é letra morta. Chumbos aumentam... sem lei!

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ACTUALIDADE20 Inspecções: chumbos ilegaisDecreto que determina reprovação nas IPO életra morta. Chumbos aumentam... sem lei!

Inspecção Periódica Obrigatória

Reprovaçõessem leiA Lei que determina a reprovação de um veículo na Inspecção Periódica

Obrigatória não existe. Numa época em que o parque circulante se degrada

por falta de dinheiro para as reparações, os centros que fiscalizam as

condições de segurança dos veículos não têm uma lista de deficiências

pela qual se rejam... Texto Jorge Flores Fotografia Miguel Angelo Silva

Bomo agravar da crise

económica, o núme-

ro de veículos a cir-

cular, em Portugal,

sem o dístico de aprovação da

Inspecção Periódica Obrigatória

(IPO) tem crescido considera-

velmente. Um problema que se

justificará com a falta de dinheiro

disponível por parte dos condu-

tores para pagarem os trabalhos

de reparação e manutenção dos

veículos, e para, consequente-

mente, obterem o carimbo posi-tivo num dos 1 7 1 centros do país.

Contudo, segundo apurou a

AutoMotor, a legislação que clas-

sifica os tipos de deficiência dos

veículos (níveis 1 , 2 e 3), conforme

afecte ou não gravemente o seu

funcionamento e/ou as suas con-

dições de segurança, é hoje uma

letra totalmente morta. Significatambém que, por omissão, não há

nenhuma forma legalmente pre-vista, hoje em dia, para reprovar

um veículo no IPO, dado que não

existe uma tabela de ''infracções' '.

Para uma melhor compreensão da

balbúrdia que rege este importante

sector para a segurança rodoviária

nacional, teremos de recuar um

pouco na história.

Herança da DGVO Regulamento das Inspecções

Periódicas Obrigatórias, aprovado

pela Portaria n. D 11 7- A/96,

consignava que a lista classifica-

tiva de deficiências a considerar,

pelos Centros de Inspecção, para

aprovar ou chumbar o automóvel,

era da competência do Director-

-geral de Viação. Lista essa publi-

cada no Diário da República,com a assinatura deste respon-sável, em 16 de Março de 1999.

"Lista esta que, pasme-se,vigora até aos nossos dias e é

a cartilha pela qual se regemtodos os centros de Inspecção

para dizerem se o nosso veículo

pode ou não circular, se passaou chumba na inspecção", afir-

ma a advogada Teresa Lume.

Mais grave, segundo a jurista, é

que, com a extinção da Direcção-

-geral de Viação (DGV), e com

as subsequentes mudanças de

leis, os responsáveis "esquece-ram-se de as regulamentar".

Neste momento, o despacho

n.° 5392/96, através do qual um

veículo reprova ou não num cen-

tro de IPO, "é letra morta, não

existe", esclarece a especialista

em legislação rodoviária. E isto,

não porque a DGV foi extinta,

entretanto, e substituída, neste

capítulo em particular, peloInstituto da Mobilidade e dos

Transportes Terrestres (IMTT),mas antes porque o despacho"foi morto à nascença quando,meses depois, em 16 de Dezem-

bro, foi expressamente revoga-do pelo artigo 16." do Decreto--Lein." 554/99", sublinha.

E o que revoga esse artigo?

Nada menos do que a tabela de

deficiências pela qual teriam de

se basear os centros de IPO, vin-

cando, consequentemente, a obri-

gatoriedade do ministro da

Administração Interna fixar, em

portaria, os novos quadros de

classificação dos problemas dos

veículos. O que não aconteceu.

Na ausência de nova portaria

(que substitua a revogada), nin-

guém poderá saber se o seu veí-

culo reprova por ter um problemado tipo 1 (mau funcionamento

do indicador luminoso do ABS,

por exemplo); do tipo 2 (umabomba central dos travões solta,

quem sabe?); ou do tipo 3 (por-ventura a ausência de pastilhas

nos travões). Quem saberá? Nin-

guém! Porque não existe umatabela legal em vigor! ! ! !

Para Teresa Lume, não há dúvi-

das de que "existe uma lacuna

na lei, e grave, muito grave, por-

que, em bom rigor, a classifi-

cação das deficiências previstasno último diploma legal sobre

inspecções (o Decreto-Lei n.°

554/99, que até foi alterado em

2008 no seu artigo 9.°), encon-

tra-se vazia de conteúdo, poisnão houve nenhum ministro da

Administração Interna, através

A lista de deficiências que determinao chumbo ou a aprovação de um

veículo na inspecção não existe

dos seus secretários, assessores,

secretárias, técnicos e afins, ao

longo destes anos (entre 1999 e

2012!), que se lembrasse de lero n.° 2 do referido artigo, quereza assim: 'Por portaria doministro da AdministraçãoInterna são fixados os quadrosrelativos à classificação das defi-ciências previstas no númeroanterior'". Esquecimento?

A AutoMotor contactou o

IMTT e a Associação Nacionalde Centros de Inspecção Auto-móvel (ANCIÃ), a fim de tentar

perceber por qual portaria se

regem, afinal, as inspecções pe-riódicas actualmente. Por umeventual despacho misterioso ou

por um outro, defunto à nascen-

ça, e, como tal, sem qualquer for-

ça jurídica? Mas, enquanto a

ANCIÃ remete estas explicações

para o IMTT, este organismo,

por seu turno, até ao fecho desta

edição, ainda não respondera às

nossas perguntas.

70 mil sem inspecçãoA revelação desta omissão legal

significa que, mesmo que umveículo represente um sério perigo

para a segurança rodoviária, não

há lei conhecida que o possa re-

provar. O que é grave e obriga aforte sentido de responsabilidadeindividual dos proprietários.

Porém, nunca tantos negligencia-ram tanto as necessárias repara-

ções e manutenções do seu veí-

culo, devido ao elevado preço das

reparações e à crise actual. Emmédia, são 150 os veículos apa-nhados diariamente pelas forças

policiais a circular sem o dístico

da aprovação da IPO - infracção

cuja coima vai de €250 a € 1250

- num universo de cerca de 70mil veículos que estarão em idên-

tica situação faltosa. ¦