actividade económica nacional20econ%f3micos/be2008_08.pdf · actividade económica no 2º semestre...
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Boletim Económico
Banco de Cabo Verde / Agosto 2008
1. Introdução 2
2. Enquadramento Internacional 4
3. Políticas Macroeconómicas 9
Política Monetária do Banco de Cabo Verde 9
Política Orçamental 13
4. Actividade Económica Nacional 15
Consumo Privado, Rendimento Disponível e Poupança 16
Formação Bruta de Capital Fixo 17
Exportações e Importações 18
Balança Corrente e de Capital 19
Balança Financeira 22
Inflação 23
Actividade Económica Nacional
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1. Introdução
A conjuntura económica internacional, nos primeiros seis meses do ano, tem sido marcada por uma pressão inflacionista ligada, essencialmente, ao aumento expo-nencial dos preços dos commodities (petróleo e bens ali-mentares); associada a uma maior restritividade do mercado creditício (no rescaldo da crise do subprime), com reflexos no arrefecimento da actividade global. A evolução dos indicadores da actividade global ao lon-go do primeiro semestre sustentou a revisão das projec-ções do Fundo Monetário Internacional (FMI), que sugere um abrandamento do produto mundial, em ter-mos reais, dos 5% registados em 2007 para 4,1% em 2008 e 3,9% em 2009. A nível interno, as informações mais recentes sugerem, igualmente, uma desaceleração do ritmo de crescimen-to da actividade económica em 2008, devendo a projec-ção do BCV ser revista em Setembro. O provável abrandamento da economia deverá resultar de uma moderação da procura interna, devido principalmente ao enfraquecimento do consumo e do investimento pri-vado. Igualmente, as projecções apontam para alguma desaceleração das exportações de serviços, em função do abrandamento da actividade económica da Zona Euro, principalmente. Reflectindo a desaceleração da procura interna, as importações de bens de serviços deverão registar uma evolução real negativa, de acordo com o BCV. Os desenvolvimentos internos deverão resultar num abrandamento do défice externo do país. Com efeito, já no primeiro semestre, regista-se uma redução das necessidades de financiamento do país dos 5,1% do PIB observados no período homólogo, para 3,7% do PIB. De salientar que, a redução do défice do país, no período, foi determinado, tanto pelo comportamento do sector privado (não obstante o crescimento da taxa de realiza-ção
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ção do IDE em 10,3%), como pelo comportamento do sector público, cuja capacidade de financiamento atin-giu os 1,5% do PIB. Efectivamente, registou-se no período um excedente de 1,5% do PIB (0,1% do PIB, no 1º semestre de 2007), em resultado de um aumento significativo das receitas (24,5%), acompanhado de um aumento mais moderado das despesas (13,2%). Na esfera monetária, a política prosseguida pelo BCV manteve-se consistente com o objectivo de estabilidade cambial. Assim, a postura da Autoridade Monetária, não descurando o objectivo da estabilidade de preços, continuou a privilegiar a acumulação de reservas exter-nas. De realçar, contudo, a evolução do crédito à econo-mia que registou um aumento de 24,3%, em termos homólogos no primeiro semestre. A inflação, medida pela taxa de variação média anual do Índice de Preços no Consumidor (IPC), atingiu em Junho os 5,6%, seguindo a tendência internacional de evolução dos preços. A inflação homóloga, por seu tur-no, atingiu os 7%, 3 pontos percentuais acima do valor observado em Dezembro, reflectindo os efeitos dos aumentos dos preços de petróleo e seus derivados no mercado internacional, bem como a aceleração dos pre-ços dos bens alimentares importados.
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2. Enquadramento Internacional
De acordo com as estimativas actualizadas do Fundo Monetário Internacional (World Economic Outlook de Julho), a economia mundial desacelerou para os 4,5% no 1º trimestre, em termos reais, depois de ter apresen-tado um crescimento de 5% em 2007. A evolução da eco-nomia global reflecte o abrandamento da actividade económica, tanto nas economias avançadas, como nas economias emergentes e em desenvolvimento. Refira-se que indicadores divulgados recentemente sugerem uma desaceleração mais acentuada no 2º trimestre e na segunda metade do ano, em função da deterioração da confiança dos consumidores e produtores. Assim, o FMI prevê que o crescimento global modere para 4,1% em 2008 e 3,9% em 2009. A economia norte-americana, em particular, deverá crescer 1,3%, em termos reais, não obstante o desempe-nho surpreendente do 2º trimestre (crescimento anuali-zado de 1,9%, que compara ao crescimento de 0,9% do 1º trimestre), de acordo com as estimativas prelimina-res divulgadas. Contudo, de acordo com o FMI a econo-mia americana deverá contrair-se na segunda metade do ano, com a prevista queda do consumo privado, em reacção à escalada dos preços de petróleo e bens ali-mentares, à crescente restrição do mercado creditício e ao aumento da taxa de desemprego, que atingiu em Maio 5,5%, valor mais elevado desde 2º trimestre de 2004. As projecções do Fundo para a Área do Euro e para Japão também apontam para uma desaceleração da actividade económica no 2º semestre de 2008, e estima-se que a expansão das economias emergentes e em desenvolvimento perca alguma força, estabilizando em torno de 7% (o crescimento real das economias emer-gentes e em desenvolvimento foi de 8% em 2007). Não obstante, de acordo com dados disponíveis, a Zona Euro observou um crescimento de 2,2%, no 1º trimes-
Fonte: Federal Reserve Bank of Philadelphia, Bureau of Economics Analysis, Comis são Europeia
Índice de Preços no Consumidortaxa de variação homóloga
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tre, com o crescimento do consumo privado de 0,2% (após uma contracção de 0,1%, no 4º trimestre) e acele-ração do investimento para 1,6%. O desempenho da área do euro, no período, foi determi-nado em grande medida pela economia Alemã, que observou uma variação trimestral do PIB de 1,5% (6%, em termos anualizados), maior desempenho dos últi-mos 12 anos. Contudo, dados mais recentes revelam uma degradação da actividade económica no 2º trimestre, sustentando as projecções do FMI. Com efeito, os indicadores de con-fiança apurados pela Comissão Europeia mantiveram a tendência de descida dos últimos meses e o índice de sentimento económico caiu, em Junho, para valor mais baixo desde Maio de 2005. A degradação do sentimento é evidente em todas as componentes, sendo particular-mente acentuada a descida da confiança dos consumi-dores ao longo dos últimos messes. E, as condições menos favoráveis de financiamento, quer em termos de quantidade, quer em termos de preços (subida de juros), deverão exacerbar a queda da confiança dos agentes económicos. A inflação global é uma crescente preocupação, consti-tuindo o principal factor de risco às actuais projecções do FMI, impulsionada, sobretudo, pela aceleração dos preços dos combustíveis e dos bens alimentares. Refira-se que o preço do petróleo e seus derivados aumentou substancialmente, desde início do ano, ultra-passando sucessivamente os seus máximos históricos. A instabilidade do mercado petrolífero foi propiciado por questões relacionadas com a oferta, num contexto de limitação da capacidade excedentária e procura ine-lástica. O preço dos produtos alimentares, por seu tur-no, resultou de condições climatéricas pouco favoráveis, particularmente para a cultura do trigo, combinada com uma procura robusta, incluindo para a produção de biocombustível.
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Em termos regionais, as informações mais recentes mostram que nos EUA a taxa média anual da inflação registou um aumento de 1,5 p.p. entre Maio e Junho, fixando-se no final do semestre em 5,5% (a taxa homó-loga em 4,9%). Na Zona Euro, desde Maio a taxa homóloga da inflação é superior em 2 p.p. ao target implícito de conforto do Banco Central Europeu. Mas a tendência de evolução geral dos preços marca mais a actividade económica dos mercados emergentes e em desenvolvimento, onde a inflação atingiu 8,6% (inflação core 4,2%), valores mais elevados desde início da corrente década, segundo o FMI. A espiral inflacio-nista nestes mercados é determinada pela escalada dos preços dos bens primários, que detém um peso conside-rável na cesta básica de consumo, pelos efeitos a nível da procura do robusto crescimento da actividade econó-mica dos últimos anos, suportadas por políticas macroeconómicas acomodatícias. As preocupações com a espiral inflacionista tem limita-do a política das autoridades monetárias para reverter a situação do abrandamento do ritmo da actividade eco-nómica. É neste contexto que a Reserva Federal inter-rompeu o seu ciclo de descida das taxas de juro, man-tendo a fed funds rate inalterada (2%), na sua reunião de 25 de Junho último, enquanto que o BCE aumentou para 4,25% a sua taxa directora, a 3 de Julho. Nas economias emergentes e em desenvolvimento, igualmente, se assiste a um aperto nas condições mone-tárias. Não obstante, em países em que a gestão das taxas de câmbio limita a flexibilidade da política mone-tária, as taxas reais de juro têm permanecido negati-vas. O primeiro semestre do ano foi, também, marcado por um acentuar da tendência de depreciação do dólar ame-ricano no mercado cambial, principalmente, face ao euro. Refira-se que de Janeiro a Junho de 2008, o USD
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depreciou-se em média 13,2% face ao EUR. Na origem da depreciação mais recente do dólar podem ser apontados factores como diferenças no ritmo de crescimento económico e na orientação da política monetária dos dois maiores blocos económicos do mun-do. A depreciação do dólar deverá permitir o ajustamento dos desequilíbrios correntes mundiais, resultando, necessariamente, em perdas para os detentores dos activos norte-americanos. Contudo, o risco para a acti-vidade global relacionado com os actuais desenvolvi-mentos cambiais permanece elevado. Com efeito, as actuais perdas poderão incentivar ainda mais a venda dos activos dos EUA, intensificando a depreciação do dólar e dificultando a actuação do FED, que tenta sua-vizar a desaceleração da actividade económica dos EUA.
PIB realEconomia Mundial 5,0 4,1 3,9EUA 2,2 1,3 0,8Zona Euro 2,6 1,7 1,2China 11,9 9,7 9,8África 6,5 6,4 6,4África Subshariana 7,2 6,6 6,8
Preços no ConsumidorEconomias Avançadas 2,2 3,4 2,3Mercados Emergentes e Economias em Desenvolvimento 6,4 9,1 7,4
Fonte: Fundo Monetário Internacional E EstimativasP Projecções
2008P 2009P
Projecções de Crescimento da Actividade Económica Mundialtaxas de variação real
2007E
Quadro 1
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Caixa 1: Novo Choque Petrolífero O início do mês de Julho foi marcado por um novo impulso do preço de petróleo, que chegou a ultrapassar 145 USD/barril (tendo o brent atingido os 147 USD/barril a 3 de Julho). Refira-se que de Janeiro a Junho a cotação do brent denominado em CVE aumentou cerca de 46%, em termos homólogos (69%, em dólares americanos). A evolução do preço do barril de petróleo nes-ses primeiros seis meses do ano já é comparável, em termos de magnitude e intensidade, ao observado aquando dos choques de 70 e 80 do século passado. O aumento sustentado da procura por parte das economias emergentes, particularmente as asiáticas, onde os sectores industriais apresentam elevadas necessidades energéticas e onde a tendência de urbanização e de crescimento do rendimento per capita tem gerado um aumento da procura de combustíveis; e não acompanhado em termos proporcionais pelo crescimento da ofer-ta, tem determinado, em boa medida, o crescimento do preço de petróleo. Note-se o caso da Chi-na, cujo o consumo do petróleo aumentou 50% (ou 2,5 milhões de barris/dia) nos últimos cinco anos. Este aumento da procura, que se pode considerar de estrutural não tem sido acompanhado pela oferta, na medida em que os actuais esforços da expansão da oferta têm sido limitados por custos de exploração proibitivos. O desequilíbrio entre a oferta e a procura resultou numa redu-ção da capacidade produtiva excedente, tornando o mercado extremamente vulnerável a todos os factores de risco para oferta. Além de factores estruturais, estima-se que o aumento significativo da procura especulativa relacionada com uma maior atractividade dos commodities como activo de investimento, num cenário de depreciação do dólar e de uma conjuntura financeira ainda pouco favorável, explica, significativamente, o comportamento mais recente do mercado petrolífero. De acordo com o FMI, dificilmente o preço do petróleo retornará aos valores médios dos últimos quatro anos, devendo apenas registar uma moderação face aos actuais máximos, à medida que a capacidade excedentária seja reposta, com os preços elevados a estimularem o investimento e a exploração. De facto, desde a primeira quinzena de Julho o mercado petrolífero tem observado uma trajectória de correcção dos recentes máximos, com o brent a baixar sustentadamente para perto de 115 USD, a 11 de Agosto.
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3. Políticas Macroeconómicas
Política Monetária do Banco de Cabo Verde
A política monetária seguida pelo Banco de Cabo Verde no primeiro semestre de 2008 manteve-se orientada para a prossecução do objectivo estabilidade cambial, enquanto suporte da confiança na moeda nacional. O objectivo intermédio de acumulação de reservas externas, essencial para a salvaguarda do regime de peg unilateral ao euro, enquanto principal suporte da estabilidade financeira do país, foi cumprido até o final do 1º trimestre do ano. A partir desta altura assiste-se a uma queda gradual das disponibilidades externas líquidas do BCV. O abrandamento do ritmo de consti-tuição das reservas externas deveu-se, principalmente, à diminuição dos desembolsos líquidos de dívida exter-na pública e privada, à continua diminuição das remes-sas e investimento e a um menor ritmo de constituição dos seus depósitos, num contexto de redução do diferen-cial de juros com a Zona Euro. De salientar que, a ges-tão do diferencial das taxas de juro com o mercado monetário da Zona Euro constitui a meta operacional de política monetária do BCV. A envolvente externa e a pressão altista dos preços domésticos fundamentaram a decisão última (de 19 de Junho) da Autoridade Monetária em aumentar a sua taxa directora em 25 pontos base, para 4,25%, com con-sequentes alterações nas taxas de facilidades perma-nentes. A prevalência de excedente de liquidez no sistema financeiro, combinada com a tendência altista dos pre-ços no consumidor, justificou a continuidade das inter-venções do Banco Central no mercado monetário, que recorreu a operações de tipo mercado aberto, emitindo títulos próprios a 14 dias e a 6 meses (Títulos de Regu-lação Monetária e Títulos de Intervenção Monetária)1. As intervenções do Banco Central consistiram, parale-lamente, na concessão de facilidades permanentes de
Fonte: Banco de Cabo Verde
1 Em Junho de 2008, o stock de títulos do Banco Central na posse dos bancos comer-ciais ascendia a 7.942,5 milhões de CVE, que compara aos 6.482,6 milhões do final de 2007.
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Bilhetes de Tesouro a 182 dias
Depósitos de Emigrantes Depósitos 181 dias a 1 ano
Empréstimos
Títulos de Intervenção do BCV (CVE)
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absorção de liquidez, através de operações overnight, colmatando dessa forma a insipiência do mercado monetário interbancário. Com efeito, as intervenções do BCV resultaram numa inversão da tendência de aumento da liquidez, que registaram uma queda de 40% em termos homólogos, em Junho. A postura do Banco de Cabo Verde na condução da polí-tica monetária, privilegiando a prossecução dos objecti-vos de estabilidade de preços e acumulação de reservas externas, foi determinante para uma avaliação franca-mente positiva do cumprimento das metas traçadas no quadro do programa Policy Support Instrument (PSI), acordado com o Fundo Monetário Internacional. Base Monetária A análise do balanço do BCV, em Junho de 2008, per-mite constatar uma evolução positiva da base monetá-ria, que apresentou uma taxa de crescimento de 7,5%, em termos homólogos. O comportamento desta variá-vel, componente do passivo do Banco Central, reflecte essencialmente o aumento de 7,6% dos depósitos de outras sociedades de depósitos (reservas obrigatórias e reservas livres), bem como o crescimento de 7,5% da emissão monetária (notas e moedas na posse do público e de outras sociedades de depósito). Ao longo do semestre, a gestão da liquidez conduzida pela autoridade monetária contribuiu para uma signifi-cativa diminuição dos seus activos internos líquidos (AIL), evolução consistente com as metas quantitativas fixadas no quadro do programa PSI. De salientar que, para a evolução daquele agregado, também contribuiu o aumento observado nos depósitos do Governo Central (em cerca 18%, relativamente ao período homólogo). Assim, à data da primeira intervenção, Março de 2006, os AIL do Banco Central totalizavam 6.091 milhões de escudos, tendo apresentado no final de Junho de 2008 um valor negativo de 5.485,6 milhões de escudos.
Fonte: Banco de Cabo Verde
Facilidade Permanente de Depósitos
Overnight (milhões de escudos)
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Depósitos Reembolso
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M2/Base Monetária
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Os activos externos líquidos do Banco de Cabo Verde, por sua vez, constituíram os elementos mais relevan-tes para a evolução da base monetária, com um contri-buto positivo de 11%. Particularmente, a acumulação das reservas internacionais líquidas (RIL) ascendeu a 31.062 milhões de escudos. A evolução das RIL resultou do afluxo de moedas estrangeiras associadas às recei-tas do turismo, aos influxos de capitais do investimento externo, bem como das ajudas orçamentais e outras transferências oficiais, além das transferências de emi-grantes. Crédito A análise das principais contrapartidas do crescimento monetário permite constatar que o crédito interno líquido observou um crescimento de 10,6%, em termos homólogos, no primeiro semestre do ano, resultado do desempenho positivo do crédito à economia. Em termos homólogos o crédito à economia cresceu 24,3% (13,2% relativamente a Dezembro), sugerindo a continuidade de condições monetárias favoráveis à expansão da acti-vidade económica. Por sectores, de destacar um aumen-to de 20% do crédito à habitação (que representa 43,5% do total do crédito concedido) e o crescimento de 31,7% do crédito ao sector do comércio, restaurantes e hotéis, sectores mais dinâmicos da economia cabo-verdiana. O crédito líquido ao sector público administrativo, pelo contrário, regista uma diminuição de 28,5% em termos homólogos, resultado da redução das necessidades de financiamento do Governo, aliado ao aumento significa-tivo dos seus depósitos. Agregados Monetários A dinâmica do crédito e os influxos de capitais externos determinaram o crescimento da massa monetária, na ordem dos 10,8% em termos homólogos. A análise do comportamento dos passivos quase mone-tários, componente menos líquido da massa monetária,
Fonte: Banco de Cabo Verde
Crédito por Sectores de Actividades
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Indústrias TransformadorasComércio, Restaurantes e HotéisHabitação
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Banco de Cabo Verde / Agosto 2008 12
Quadro 2
revela um abrandamento no seu ritmo de crescimento (4,5%, em termos homólogos que compara ao cresci-mento homólogo de 7,8% de Dezembro), que reflecte, particularmente, o aumento dos depósitos de emigran-tes (3,7%), que embora em franca desaceleração conti-nua sendo a variável com maior significado no total deste agregado. Refira-se, igualmente, ao aumento do depósito à prazo em moeda nacional, em torno de 14%.
M2 (massa monetária) 86.215,8 94.609,8 96.689,0 100.352,3
M1 (passivos monetários) 35.853,9 40.341,4 42.255,7 43.023,7 Moeda em circulação 7.731,2 8.399,2 7.803,4 7.610,6 Depósitos à ordem em M/N 28.122,7 31.942,2 34.452,3 35.413,1
Quase - Moeda 50.361,9 54.268,4 54.433,3 57.328,7 Depósitos de poupança 2.956,0 2.784,8 2.801,0 2.857,7 Depósitos a prazo em M/N 14.230,2 15.812,8 17.179,9 18.017,0 Depósitos em divisas de residentes 3.753,3 4.730,1 3.533,9 5.403,9 Depósitos de emigrantes 27.250,4 28.424,2 28.539,1 28.715,9 Cheques e ordens a pagar 5/ 60,4 106,0 12,6 58,5 Depósitos para caução de operações 42,5 51,5 43,1 51,5 Acordos de recompra de títulos 1.787,5 2.078,6 1.994,3 1.892,5 Outros quase depósitos 281,6 280,3 329,3 331,6
Fonte: Banco de Cabo Verde
Mar-08 Jun-08
Agregados Monetários milhões de escudos
Dez-06 Dez-07
Os passivos monetários, agregado monetário em senti-do estrito, por seu turno, cresceram cerca de 20,3% em termos homólogos. A circulação monetária, componente mais líquida do M2, registou, em Junho, um aumento sazonal de 3,6%. E, por seu turno, os depósitos à ordem em moeda nacional cresceram cerca de 24,6%.
Boletim Económico
Banco de Cabo Verde / Agosto 2008 13
Política Orçamental
A política orçamental no período mais recente tem-se pautado por um esforço de consolidação da posição orçamental. Com efeito, dados ainda provisórios apon-tam para uma situação que confere maior estabilidade às contas públicas no 1º semestre de 2008, resultando num excedente orçamental de 1,5% do PIB. O compor-tamento das contas públicas, no período, resulta de um aumento das receitas públicas na ordem dos 24,8% em termos homólogos, enquanto que as despesas aumen-tam a um ritmo menos acelerado (13,2%). Excluindo os encargos com os juros da dívida, o saldo das contas públicas (saldo primário) regista um excedente de 2,2% do PIB.
Quadro 3
Receitas Totais 32.673 34.926 14.838 18.516 24,8Receitas orçamentais 26.274 29.353 16.854 16.345 -3,0
Receitas correntes 25.725 29.056 13.723 15.648 14,0Receitas tributárias 22.806 26.214 12.717 14.388 13,1Receitas não tributárias 2.919 2.843 1.006 1.260 25,2
Reembolsos de capital por EP 549 297 0 697 100,0Donativos 6.291 5.572 1.066 1.957 83,6Transf. de OFN 109 0 49 213 337,4
Despesas Totais 36.479 36.254 14.725 16.666 -4,8Despesas de funcionamento 22.776 22.753 10.967 11.604 1,3
das quais: Juros da dívida 1.920 1.880 855 928 -2,1Despesas de investimento 13.703 13.501 3.758 5.062 -1,5
Saldo Total -3.805 -1.328 112 1.850 -81,8Por memória: var ( p.p.)Saldo Total incl. Donativos -3,7 -1,2 0,1 1,5 1,4Saldo Total excl. Donativos -9,7 -6,0 -0,8 -0,1 0,7Saldo Corrente 2,8 5,5 2,4 3,2 0,8Saldo Primário incl. Donativos -1,8 0,5 3,6 2,2 -1,4Saldo Primário excl. Donativos -7,9 -4,4 2,6 0,6 -2,0Saldo Orçamental 3,4 5,7 5,1 3,7 -1,4
Fonte: Ministério das Finanças e Banco de Cabo VerdeP ProvisórioO OrçamentadoNota: Foram deduzidos das receitas totais o valor referente à venda da participação do Estado em empresas públicase venda de terrenos.
1º sem 08
percentagem do PIB
Contas do Sector Público Administrativo (SPA)milhões de escudos
var (%)1º sem 072007 P2006 P
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Banco de Cabo Verde / Agosto 2008 14
As despesas públicas atingiram 13,2% do PIB (12,8% do PIB no período homólogo), reflectindo o crescimento, ainda que moderado das despesas correntes (5,8%), em função dos aumentos das transferências correntes (6,7%) e principalmente de subsídios (em 370 milhões de CVE). O aumento observado nos subsídios relaciona-se, em grande medida, com a política implementada de minimização dos efeitos da escalada de preços dos bens primários nas camadas mais desfavorecidas. As despe-sas com o pessoal e com a aquisição de bens e serviços, ao contrário, decresceram, respectivamente, 8,5%2 e 33,2%, no período, de acordo com o Ministério das Finanças. As despesas de investimento, por seu turno, cresceram significativamente (34,7%, em termos homólogos), cor-respondendo, principalmente, a gastos com os projectos de infraestruturação em curso, e com os projectos rela-cionados à protecção social e promoção da boa governa-ção. Contudo, convém realçar que a execução situa-se muito aquém do orçamentado (29%). A boa performance das receitas correntes, no primeiro semestre de 2008, deve-se, sobretudo, ao desempenho das receitas fiscais, com especial incidência para a cobrança do IUR, que cresceu 11,1%, e para a arrecada-ção do IVA não deduzido dos reembolsos, que cresceu 20,2%, este último em resultado da liquidação atempa-da de algumas grandes empresas. A melhoria na arre-cadação traduziu a contínua melhoria da fiscalização. No que concerne aos donativos, dados ainda provisórios apontam para um crescimento homólogo de 83,6%, relacionado, sobretudo, com os desembolsos da ajuda orçamental (dos governos da Espanha, Holanda, Áus-tria e União Europeia) e para os projectos do Mille-nium Challenge Account.
Fonte: Ministério das Finanças
Estrutura das Despesas do SPA (informações relativas aos 1º semestres)
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
2005 2006 2007 2008
em %
do
PIB
Despesas com pessoal Juros da dívidaTransferências correntes Despesas de investimento
Estrutura das Receitas do SPA (informações relativas aos 1º semestres)
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
2005 2006 2007 2008
em %
do
PIB
Imp. s/ as Transacções InternacionaisImp. s/ o valor acrescentadoImp. s/ o Rendimento
2 Dado muito provisório, na medida em que exis-tem valores por regularizar, nomeadamente, salários de órgãos de soberania.
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Banco de Cabo Verde / Agosto 2008 15
4. Actividade Económica Nacional
Fonte: Banco de Cabo Verde, Instituto Nacional de Estatísticas
Os indicadores quantitativos e qualitativos da conjun-tura, recentemente divulgados sugerem um abranda-mento da actividade económica nacional, relativamente ao ano de 2007. De realçar, contudo, que factores de risco e de incerteza associados, no essencial, à conjuntura económica e financeira internacional (aceleração dos preços dos commodities e crescente restritividade do mercado de crédito), poderão condicionar, no sentido da baixa a evolução da actividade económica, aquando da próxima revisão das projecções, prevista para Setembro. O abrandamento da actividade económica deverá resul-tar de uma desaceleração da procura interna, devido ao enfraquecimento do consumo e investimento privado, não obstante o seu contributo ainda positivo. Espera-se, igualmente, um contributo, positivo da procura externa líquida, em função da prevista redução real das impor-tações, não obstante, alguma desaceleração das expor-tações de serviços.
Decomposição do Crescimento do PIB
-5,0
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
2004 2005 2006 2007 2008P
em p
erce
ntag
em
Procura Interna ExportaçõesImportações PIB
Procura Agregadataxa de variação real
-10,0
0,0
10,0
20,0
30,0
ConsumoFamílias
Investimento Importaçõesem
per
cent
agem
2006 2007 2008P
Indicador de Clima Economico
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
1,1
2ºT.07 3ºT.07 4ºT.07 1ºT.08 2ºT.08
em p
erce
ntag
em
Índices de Vendas no Comércio a Retalho
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
2ºT.07 3ºT.07 4ºT.07 1ºT.08 2ºT.08
em p
erce
ntag
em
Boletim Económico
Banco de Cabo Verde / Agosto 2008 16
Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas
Consumo Privado, Rendimento Disponível e Poupança De acordo com as estimativas do BCV, o consumo pri-vado deverá registar uma taxa de crescimento real de 3,1% (7,9% em 2007). A evolução menos pronunciado do consumo privado deverá resultar do impacto dos eleva-dos preços de bens energéticos e alimentares no poder de compra das famílias, bem como da redução das transferências líquidas do exterior, designadamente as transferências dos emigrantes. O aumento esperado nos rendimentos de empresas e de propriedades, aliado ao acréscimo das transferências internas, uma das medidas já em curso para minorar os efeitos da escala-da dos preços de bens primários, deverão resultar num aumento de 1,3% do rendimento real disponível das famílias (corrigido da inflação). Este crescimento, con-tudo, é inferior ao previsto aumento real do consumo, resultando numa diminuição da taxa de poupança em torno dos 5,1%. De realçar que, os indicadores conjunturais do INE apontam para uma tendência de aumento das vendas no subsector do comércio a retalho até ao 1º semestre, contudo, estima-se que o aumento deste tipo consumo é, em grande parte, suportado pelo endividamento. Com efeito, o peso do endividamento das famílias no rendimento disponível tem aumentado progressiva-mente, tendo duplicado nos últimos 5 anos (passando de uma taxa de 14,5% em 2002, para 32% em 2007 e 1º semestre de 2008). O endividamento das famílias junto à banca residente excede em 2,6% as remunerações anuais. Por seu turno, estima-se um contributo praticamente nulo do consumo público para o crescimento da activi-dade económica em 2008, reflexo da política de conten-ção orçamental em curso.
Índices de Actividade no Sector da Construção e Obras Públicas
0,00,20,40,60,81,01,21,41,61,82,0
2ºT.07 3ºT.07 4ºT.07 1ºT.08 2ºT.08
em p
erce
ntag
em
Boletim Económico
Banco de Cabo Verde / Agosto 2008 17
Formação Bruta de Capital Fixo
Após forte dinamismo dos últimos dois anos, as estima-tivas apontam para uma ligeira queda do investimento em 2008 (0,4%), que deverá resultar da desaceleração do investimento privado e da redução do investimento público. No que concerne ao investimento privado, estima-se uma desaceleração no seu ritmo de crescimento para 1,3% em termos reais, em resultado da evolução menos favorável da formação bruta de capital fixo de todas as categorias de produtos. A desaceleração das importa-ções de materiais de construção (11,6%, contra 19,4% de 2007), a redução das importações de bens de equipa-mentos (9,9%) e de materiais de transporte (13,8%), enquanto indicadores quantitativos, indiciam esta evo-lução menos favorável do investimento do sector priva-do.
Quadro 5
Por outro lado, os indicadores conjunturais do INE, não obstante sugerirem uma tendência de aumento na car-teira de encomendas no sector da construção, apontam para uma desaceleração da actividade em geral do mes-mo sector, sobretudo, nos subsectores da habitação e construção de edifícios não residenciais, tendo o índice de actividade registado uma taxa de variação de 0,5% contra 1,5% no período homólogo de 2007.
ConstruçãoImportações de materiais de construção 34,1 19,4 22,0 24,4 11,6
Bens de equipamentoImportação de bens de equipamento (máquinas) 54,4 31,2 36,1 -22,2 -9,9Material de transporteImportação de materiais de transporte 9,5 93,1 92,1 -31,6 -13,8Fonte: Direcção Geral das Alfândegas; Banco de Cabo Verde
1º sem 07 1º sem 08 2008P
Indicadores de Investimento taxas de variação anual, em percentagem
2006 2007
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Banco de Cabo Verde / Agosto 2008 18
Exportações e Importações
O investimento público, por sua vez, deverá apresentar um decréscimo real na ordem dos 8,6%, a avaliar pelos dados do Ministério das Finanças, que apontam para uma execução aquém do orçamentado. Para o final do ano, tendo em conta os projectos executados e em exe-cução até ao momento, o montante dos investimentos deverá atingir os 12.834,1 milhões de escudos (contra os 13.501,2 milhões registados no ano anterior), o que corresponde a uma execução orçamental de cerca de 73%.
A nível externo, as exportações cabo-verdianas deverão registar uma desaceleração em 2008, crescendo em ter-mos reais 7,7%, que compara à taxa de 12,2% de 2007. O comportamento das exportações deverá reflectir, essencialmente, a evolução das exportações de serviços, em função dos desenvolvimentos da conjuntura inter-nacional. Não obstante, as exportações de serviços continuam sendo a componente mais dinâmica das contas exter-nas, registando no 1º semestre um crescimento de 11%, em termos homólogos, para o qual contribuiu, em gran-de medida, as exportações de serviços ligados ao turis-mo (22%). No que diz respeito às importações, prevê-se uma redu-ção real de 0,7% em 2008 (12,1% positivos em 2007), tendência confirmada pelas informações do 1º semestre. Com efeito as importações de bens e serviços regista-ram um aumento nominal de apenas 1,7%, no período, que compara ao crescimento 17,9% observado em igual período de 2007. O comportamento das importações acompanha a evolução mais moderada da procura interna e reflecte a conjuntura internacional de acele-ração dos preços dos bens primários.
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Banco de Cabo Verde / Agosto 2008 19
Balança Corrente e de Capital
Fonte: Banco de Cabo Verde
A necessidade de financiamento do país, medida pelo saldo conjunto das balanças corrente e de capital, redu-ziu dos 5,1% do PIB observado no primeiro semestre de 2007 para 3,7% do PIB, no final do 1º semestre, reflec-tindo alguma moderação da procura interna. A dimi-nuição do défice externo para 4,2% do PIB (5,8% do PIB no período homólogo) foi determinado tanto pelo com-portamento do sector privado, como pelo comportamen-to do sector público, cuja capacidade de financiamento atingiu os 1,5% do PIB. A redução do défice do país é explicado, significativa-mente, pela evolução da balança de bens, que registou um saldo negativo correspondente a 18,4% do PIB(21,8% do PIB no período homólogo) e pelo forte cresci-mento homólogo das exportações líquidas de serviços (15,3%). A balança comercial de bens, no período, reflecte a queda de 0,8% nas importações, combinada com um aumento expressivo das exportações (61,9%, em termos homólogos). Por categoria de bens, verifica-se uma redução em valor das importações de bens de capital e de combustíveis, de 33,3% e 12,5% respectiva-mente, aliada a uma desaceleração das importações de bens de consumo dos 16% observados no 4º trimestre para 2,6%. De registar que o acréscimo das importações de bens de consumo é explicado pelo aumento dos pre-ços dos bens importados, pois em termos de volume regista-se uma diminuição de 10,7%.
Quadro 6
Bens de Consumo 18.898,1 20.497,7 9.923,2 10.184,6Bens Intermédios 12.063,2 14.066,0 6.590,4 8.011,0Capitais 8.302,1 14.235,4 6.183,7 4.127,0Combustíveis 4.110,1 6.387,8 3.608,9 2.685,5Outros 4.205,4 4.964,0 2.224,1 2.820,9Total 47.578,9 60.150,9 28.530,4 27.829,0Fonte: Direcção Geral das Alfândegas
2006 2007
Importações de Mercadorias CIFmilhões de CVE
1º sem 07 1º sem 08
-14,0
-12,0-10,0
-8,0
-6,0-4,0
-2,0
0,02,0
4,0
1º sem 04 1º sem 05 1º sem 06 1º sem 07 1º sem 08
em p
erce
ntag
em d
o PI
B
Balança Corrente
Balança de Capital
Saldo Conjunto das Balanças Corrente e de
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
1º sem 04 1º sem 05 1º sem 06 1º sem 07 1º sem 08
milh
ões
de e
scud
os
-3500
-3000
-2500
-2000
-1500
-1000
-500
0
milh
ões
de e
scud
os
Exportação de Serviços de TurismoImportação de Serviços de Turismo
Boletim Económico
Banco de Cabo Verde / Agosto 2008 20
Fonte: Banco de Cabo Verde
Por seu turno, o comportamento das exportações de bens reflecte o aumento expressivo (83,7%) das reex-portações de combustível e víveres nos portos e aero-portos internacionais do país, que passou a representar 75,6% das exportações totais de bens. O dinamismo do sector turístico, bem como o actual ambiente de negó-cios do país, têm favorecido, nomeadamente pela via do aumento do número de voos das companhias aéreas estrangeiras, a evolução mais recente desta rubrica da balança de bens. Para as exportações de bens contribuíram, ainda, o for-te crescimento das exportações de mercadorias tradicio-nais, pescado, (62%, em termos homólogos), que tem como destino principal Chipre, Marrocos e Espanha. As exportações das empresas francas, vestuário e calça-do, também registaram um desempenho positivo (23,1%), destinando-se sobretudo para Portugal. O excedente da balança de serviços cresceu cerca de 15%, determinado, essencialmente, pelas viagens de turismo. Efectivamente, as receitas nominais de turis-mo registaram um crescimento de 22,3%, em termos homólogos, abrandando contudo 14 p.p. relativamente ao igual período de 2007. A conjuntura internacional menos favorável poderá explicar, em parte, o abranda-mento registado. Contudo, estima-se que o efeito base e a alteração do ciclo do turismo nos tempos mais recen-tes poderão estar também na base da referida evolução. As exportações de serviços de transporte aéreo, por seu turno, registaram uma evolução menos favorável no período, agravando a tendência de queda para 15,9%, em grande medida relacionada com a performance da companhia aérea nacional, porquanto as receitas com os serviços oferecidos às transportadoras aéreas estran-geiras cresceram 31%.
Remessas de Emigrantes (Divisas)
600
700
800
900
1000
1100
1200
Jan-
06
Mar
-06
Mai
-06
Jul-0
6
Set-0
6
Nov
-06
Jan-
07
Mar
-07
Mai
-07
Jul-0
7
Set-0
7
Nov
-07
Jan-
08
Mar
-08
Mai
-08
milh
ões
de C
VE
Boletim Económico
Banco de Cabo Verde / Agosto 2008 21
Em termos globais, as importações de serviços aumen-taram 8%, principalmente com os contributos de via-gens pessoais (30,5%) e fretes de transporte marítimo (22%). Relativamente ao período homólogo, o défice da balança de rendimentos registou um agravamento de mais de 100% relacionado, principalmente, com a distribuição de lucros e dividendos aos investidores externos (96%). Refira-se que os encargos com os juros da dívida públi-ca externa reduziram 6,7%, em termos homólogos, prin-cipalmente devido a depreciação do dólar americano3. No que concerne à dívida de outros sectores regista-se contudo um aumento muito significativo dos juros pagos no 1º semestre, relacionado com o vencimento das dívidas contratadas em anos anteriores, principal-mente pelas empresas públicas. No 1º semestre, as remessas de emigrantes mantive-ram a tendência decrescente que vêm registando desde 2006, acumulando em finais de Junho uma redução de 3,7%, em termos homólogos. A conjuntura económica menos favorável e a depreciação do dólar explicam, em grande medida, a evolução das transferências correntes dos emigrantes. Por seu turno, as transferências ofi-ciais relacionados principalmente com a ajuda orça-mental e desembolsos para projectos, registaram uma aceleração no período (registando entradas de mais 2495 milhões a mais que o observado no período homó-logo). Não obstante, o comportamento das transferên-cias oficiais não foi suficiente para compensar a evolu-ção das remessas. Assim, o excedente da balança de transferências correntes observou um decréscimo de 5%, no período. As transferências de capital, igualmente observaram uma redução (14%, em termos homólogos), que poderá estar relacionada com o ritmo de execução do orçamen-to de investimento do Governo.
3 Cerca de 56,4% da Dívida Pública Externa está denominada em dólares americanos.
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Banco de Cabo Verde / Agosto 2008 22
Balança Financeira
A balança financeira, que traduz os canais através dos quais se processa o financiamento externo da economia, registou, no 1º semestre de 2008, uma entrada líquida de fundos de cerca de 4,6% do PIB, relacionada, em grande medida, com o fluxo de investimentos externos realizados no país (6,3% do PIB). O investimento realizado no país continua principal-mente direccionado para o sector imobiliário (45%), registando-se, no período um contributo importante do sector financeiro (25%). De notar que os investimentos dos emigrantes apresentaram uma tendência seme-lhante aos outros fluxos de emigrantes, decrescendo no semestre 15,8%, em termos homólogos. No que concerne aos outros instrumentos de financia-mento da economia, de referir à acentuada redução dos desembolsos líquidos da dívida externa (que fixou-se em -1,7% do PIB, no 1º semestre), relacionada com o referido cumprimento da dívida contratada em períodos anteriores, principalmente pelas empresas públicas, e com a redução das necessidades de financiamento do Governo Central. A aceleração das exportações líquidas de serviços, o aumento da taxa de realização do investimento externo e o crescimento moderado das importações possibilitou ao país o reforço das suas reservas externas, na ordem de 2.638,3 milhões de escudos, relativamente a Dezem-bro de 2007. Assim, a 30 de Junho de 2008, o stock das reservas internacionais líquidas do Banco de Cabo Ver-de ascendia aos 281,7 milhões de euros, permitindo garantir cerca de 4 meses das importações previstas para 2008.
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Banco de Cabo Verde / Agosto 2008 23
Inflação
Fonte: Instituto Nacional de Estatísticas e Banco de Cabo Verde
Seguindo a tendência internacional, a inflação, medida pela taxa de variação média anual do Índice de Preços no Consumidor (IPC), atingiu os 5,6% em Junho de 2008, 1,2 p.p. acima do valor observado em Dezembro do ano anterior. Em termos homólogos, a inflação atin-giu os 7% em Junho, 3 p.p. acima da inflação homóloga de Dezembro. Além dos efeitos de primeira ordem dos aumentos dos preços de petróleo e seus derivados no mercado interna-cional, a inflação, no período em análise, reflectiu gran-demente a aceleração dos preços de bens alimentares importados. Assim, a análise das componentes do IPC sugere a persistência de um maior contributo dos bens para a variação da inflação, que registou uma variação homóloga de 9,2%, 6 p.p. mais elevada que a inflação homóloga da componente serviços. Numa análise por classes, constata-se que a evolução da inflação no 1º semestre de 2008 traduz, no essencial, o comportamento homólogo dos preços da classe “alimentares e bebidas não alcoólicas” (9,8%), subgrupo de maior peso na estrutura do IPC, bem como da classe “vestuário e calçado” e “transportes”, com variações positivas de 15,3% e 9,6%, respectivamente. Em termos regionais, as ilhas de Santo Antão e São Vicente apresentaram em Junho taxas de inflação superiores à média nacional, de 12,1% e 9,2%, em ter-mos homólogos, respectivamente, enquanto que a ilha de Santiago registou uma inflação homóloga inferior à média nacional, de 5,6%.
Índice de Preços no Consumidor
-3,0%-2,0%-1,0%
0,0%1,0%2,0%3,0%4,0%5,0%
6,0%7,0%8,0%
01-0
4-05
01-0
6-05
01-0
8-05
01-1
0-05
01-1
2-05
01-0
2-06
01-0
4-06
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6-06
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8-06
01-1
0-06
01-1
2-06
01-0
2-07
01-0
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01-0
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8-07
01-1
0-07
01-1
2-07
01-0
2-08
01-0
4-08
01-0
6-08
Tx var homóloga Tx var média 12 mesesTx var mensal
Contributos das Principais Componentes para a Inflação Homóloga medida pelo IPC - Junho 08
em percentagem
Bens e serviços diversos
Rendas de habitação, água,
electricidade, gás e outros combustíveis
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
Prod
utos
alim
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res
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bida
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