acordos setoriais na politica nacional de resÍduos sÓlidos

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  • 7/30/2019 ACORDOS SETORIAIS NA POLITICA NACIONAL DE RESDUOS SLIDOS

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    UNIVERSIDADE DE SOPAULONCLEO DEESTUDO EPESQUISA EMRESDUOS SLIDOSIISIMPSIO SOBRE RESDUOS SLIDOSIISIRS(2011)

    ACORDOS SETORIAIS NA POLITICA NACIONAL DE RESDUOS SLIDOS

    Renato Binoto(1)Mestre em Engenharia Urbana (UFSCAR), professor, palestrante e consultor em Logstica Direta eReversa 1

    Patricia Guarnieri 2Doutoranda em Engenharia de Produo (UFPE), Mestre em Engenharia de Produo (UTFPR),professora, palestrante e consultora em Logstica Direta e Reversa 2

    Endereo(1) ( Rua Jlio Prestes de Albuquerque,340 So Carlos-SP 13567-232 Telefone-16-9211-2796E-mail [email protected])

    INTRODUO

    A extrao desenfreada dos recursos naturais, o pensamento errneo de que os

    mesmos so infinitamente renovveis e inacabveis, alm de outros fatores como:

    aumento da escala de produo, constantes inovaes e reduo do ciclo de vida dos

    produtos elevaram a quantidade gerada de resduos e seu descarte no meio ambiente.

    Tendo em vista este problema ambiental, a sociedade cobra do Poder Pblico

    solues para a relao, muitas vezes conflitante, entre desenvolvimento tecnolgico e

    meio ambiente. Sendo assim, surgiram diversas legislaes com o intuito de regular o

    desenvolvimento econmico e tecnolgico e garantir a preservao do meio ambiente.

    Este o caso da Lei Federal 12.305/2010 da Poltica Nacional dos Resduos

    Slidos (PNRS), sancionada em agosto de 2010 e regulamentada pelo Decreto Federal

    7.404/2010, os quais dispem sobre os princpios, objetivos e instrumentos, bem como

    sobre as diretrizes relativas gesto integrada e ao gerenciamento de resduos slidos,

    incluindo os perigosos; as responsabilidades dos geradores e do poder pblico e aos

    instrumentos econmicos aplicveis, que este ms completa um ano de existncia.

    O artigo 30 da PNRS inova quando estabelece a responsabilidade compartilhada

    entre os atores envolvidos no processo de gerao dos resduos slidos, os quais so os

    fabricantes, atacadistas, varejistas, importadores, Poder Pblico e consumidores finais.

    Alm disso, estabelece a necessidade de criao de canais reversos para equacionar a

    necessidade de gerenciamento dos resduos e para isso h a necessidade premente da

    constituio de acordos setoriais, visando tornar a gesto dos resduos slidos e a

    implementao da logstica reversa de forma vivel economicamente e tambm

    sustentvel.

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    OBJETIVO

    O principal objetivo deste artigo demonstrar a importncia da constituio de

    acordos setoriais para que os envolvidos no processo de gesto de resduos slidos

    possam atender o disposto na Lei 12.305/2010.

    MATERIAL E MTODOS

    O presente artigo foi elaborado atravs do mtodo indutivo que fornece bases

    lgicas investigao. E, segundo Gil (1999) e Lakatos e Marconi (2001), no

    raciocnio indutivo a generalizao deriva de observaes de casos da realidade

    concreta. Do ponto de vista de sua natureza foi realizada uma pesquisa aplicada que

    segundo Silva & Menezes (2001), objetiva gerar conhecimentos para aplicao prtica

    dirigidos soluo de problemas especficos do cotidiano. Envolve verdades e

    interesses locais. tambm exploratria, pois trava um maior conhecimento do

    problema, atravs de pesquisas bibliogrficas. Sob o ponto de vista dos procedimentos

    tcnicos, foi realizada a reviso de literatura em fontes primrias e secundrias,

    principalmente, com base na Lei 12.305/2010, tendo em vista a carncia de materiais

    publicados sobre o assunto e tambm ao fato de que as empresas esto iniciando sua

    adequao mesma.

    RESULTADOS OBTIDOS OU ESPERADOS

    De acordo com o art. 33 da PNRS, so obrigados a estruturar e implementar

    sistemas de logstica reversa, mediante retorno dos produtos aps o uso pelo

    consumidor todos os atores envolvidos no processo de gerao dos resduos de: 1)

    pilhas e baterias; 2) pneus; 3) leos lubrificantes, seus resduos e embalagens; 4)

    lmpadas fluorescentes, de vapor de sdio e mercrio de luz mista e; 5) produtos

    eletroeletrnicos e seus componentes.Cabe ressaltar que alguns destes resduos j possuem iniciativas bem

    estruturadas da criao de canais reversos, como o caso de pneus, embalagens de

    agrotxicos e leos lubrificantes, este fato deve-se ao surgimento anterior Lei de

    resolues do CONAMA que regulamentam estes setores. Um aspecto importante e

    essencial para o sucesso da estruturao destes canais reversos j criados e bem

    estabelecidos no Brasil, exatamente o foco deste artigo a constituio de acordos

    setoriais, que abranjam as iniciativas necessrias para a viabilizao destes retornos aos

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    ciclos produtivos e de negcios e prevem o compartilhamento de recursos e custos

    envolvidos nestas atividades.

    O artigo 33 da PNRS, em seu O 1o ainda acrescenta que em regulamento ou

    em acordos setoriais e termos de compromisso firmados entre o poder pblico e o setor

    empresarial, os sistemas de logstica reversa sero estendidos a produtos

    comercializados em embalagens plsticas, metlicas ou de vidro, e aos demais produtos

    e embalagens.

    Os acordos setoriais so estabelecidos como instrumentos contratuais entre os

    poderes pblicos, fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes para a

    implantao da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos atravs

    da logstica reversa dos resduos e embalagens ps-consumo. Os acordos setoriais

    podem ser propostos atravs de editais pblicos ou pelas empresas interessadas atravsde propostas ao Ministrio do Meio Ambiente. Podem participar da elaborao destes

    acordos os poderes pblicos, empresas, cooperativas ou associaes de trabalhadores

    em resduos, indstrias e associaes dedicadas reutilizao, tratamento e reciclagem,

    organizaes de consumidores e outros setores relacionados. (Lei 12.305/10 e Decreto

    7.404/10).

    Neste caso, de acordo com o Decreto 7.404/2010, os acordos setoriais devem

    conter: a indicao dos produtos e embalagens, descrio das etapas do ciclo de vida,forma de operacionalizao da logstica reversa, possibilidades de participao de

    cooperativas e/ou associaes, responsabilidades dos rgos pblicos, participao dos

    consumidores, mecanismos de divulgao, cronogramas e metas quantitativas,

    qualitativas ou regionais e avaliao dos impactos sociais e econmicos. Alm disso,

    descrio das atribuies individualizadas e encadeadas dos participantes da logstica

    reversa nos processos de recolhimento, armazenamento e transporte dos resduos e

    embalagens para reutilizao, reciclagem ou destinao ambiental adequada deve ser

    includa. Assim, sero identificados os resduos perigosos e informados os

    procedimentos para minimizar os riscos e impactos sade humana e ao meio ambiente.

    Tambm devem ser estabelecidas clusulas prevendo as penalidades quando no forem

    cumpridas as obrigaes estabelecidas.

    Hendges (2011) afirma com base no Decreto 7.404/10 que as avaliaes tcnicas

    e econmicas e as diretrizes metodolgicas sero estabelecidas pelo Comit Orientador

    para a Implantao de Sistemas de Logstica Reversa, formado por cinco Ministrios

    (Meio Ambiente, Sade, Desenvolvimento, Agricultura e Fazenda). As propostas de

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    acordos setoriais devem estar adequadas legislao e normas aplicveis (SISNAMA,

    SNVS, SUASA, SINMETRO e outras). Alm disso, as propostas devem ser

    apresentadas em consultas pblicas em que o Ministrio do Meio Ambiente analisar e

    sistematizar as contribuies, garantindo ampla publicidade destas.

    Um levantamento do CLRB - Conselho de Logstica Reversa do Brasil apontou

    que a adequao da logstica reversa est estimada em R$ 18,5 bilhes, conforme este

    estudo, entre 40% e 50% do recurso dever ser desembolsado pelo setor de

    transporte. Dentre os servios que as empresas teriam que readequar para aprimorar a

    logstica reversa esto: coleta, transporte, armazenamento e destinao final do produto

    dispensado pelo consumidor final (CLRB, 2011). No entanto h de se ressaltar que a

    maioria das empresas no se prepararam para isso e, na verdade, nem planejaram a

    atividade, ou seja, se cada empresa tiver que realizar a adequao individualmente, aatividade ser invivel economicamente. Lacerda (2002) ressalta que preciso

    identificar, no incio do processo da logstica reversa, os materiais que retornam,

    apurando a qual canal reverso tal material ser destinado. Desta forma as empresas

    necessitam encontrar formas de coletar, triar e distribuir estes itens de uma maneira

    eficiente e economicamente vivel.

    De acordo com Gontijo, Dias e Werner (2010), a localizao das facilidades de

    logstica reversa deve estar associada s fontes e pontos de gerao de resduo, pelarazo de que o material de ps-consumo s tem valor em grandes quantidades. Portanto

    a sobrevivncia do negcio estar relacionada capacidade de gerao de resduos das

    empresas fornecedoras, ou da capacidade e abrangncia do canal de distribuio em

    coletar de diferentes focos de gerao de resduos.

    Desta forma, fica claro que mesmo j existindo alguns modelos logsticos

    reversos viveis economicamente e ambientalmente, como previsto em Lei, com a

    nova restruturao, enfrentaremos um dos maiores desafios propostos no Brasil. De

    acordo com Jacobi (2003), se considerarmos que a maioria da populao brasileira est

    na zona urbana, observa-se uma crescente degradao das condies de vida, refletindo

    uma crise ambiental. Isto nos remete a uma necessria reflexo sobre os desafios para

    mudar as formas de pensar e agir em torno da questo ambiental numa perspectiva

    contempornea.

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    CONCLUSES

    Sendo assim, construir um modelo de poltica nacional tarefa que demanda

    aes aglutinadoras de interesses. De acordo com a PNRS, todas as partes interessadas

    no tema, governo, iniciativa privada, ONGs, dentre outros, se uniram para criar um

    modelo de poltica que prioriza a revalorizao dos resduos. Desta forma, percebe- se

    que a proposta traz conceitos modernos que harmonizam as diversas legislaes

    estaduais e municipais existentes e, sem dvidas, seu maior diferencial est na criao

    do conceito de responsabilidade compartilhada, que se assemelha s polticas adotadas

    na Alemanha, na qual todos so responsveis pelo ciclo de vida dos produtos -

    fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, consumidores e poder pblico

    (CEMPRE, 2011). De forma clara, se faz viabilidade logstica de acordos setoriais a

    partir da responsabilidade compartilhada entre todos os integrantes da cadeia de fluxo

    reverso, tornando assim, a implementao da logstica reversa factvel.

    REFERNCIAS

    BRASIL. Lei 12.305/2010 Poltica Nacional de Resduos Slidos. Disponvel em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm, acesso em12/03/2011.

    BRASIL. Decreto Federal 7.404 de 23 de dezembro de 2010. Disponvel em:

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/D7404.htm. Acessoem 08/08/2011.

    GIL, A. C. Mtodos e tcnicas de pesquisa social. So Paulo: Atlas, 1999.

    CEMPRE Compromisso Empresarial para a Reciclagem. Resduos Slidos e PNRS.Disponvel no site: www.cempre.org.br. Acesso em 08/08/2011.

    CLRB Conselho de Logstica Reversa do Brasil. Logstica Reversa e a complexidade dosretornos. Disponvel em: www.crlb.com.br/publicaes. Acesso em 13/07/2011.

    GONTIJO, F. E. K. et al. Logstica Reversa de ciclo fechado para embalagens PET. In:Congresso Nacional de Excelncia em Gesto. Niteri, Agosto, 2010.

    HENDGES, A. S. Acordos Setoriais e a Poltica Nacional de Resduos Slidos.Disponvel em: http://www.ecodebate.com.br/. Acesso em 08/08/2011.

    JACOBI, P. Educao Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n.118, p. 189-205, maro/ 2003.

    LACERDA, L. Logstica Reversa: Uma viso sobre os conceitos bsicos e as prticasoperacionais. Revista Tecnologstica, no 74, pp. 46-50, So Paulo: jan 2002.

    LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A.. Fundamentos de metodologia cientfica. SoPaulo: Atlas, 2001.

    SILVA, E. L. da.; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaborao dedissertao. 3. ed. Florianpolis: UFSC/PPGEP/LED, 2001.