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Paróquia de São Pedro Tamandaré - PE - Brasil “ACORDA, POVO DE DEUS!” Construção da Nova Matriz de São Pedro Edson Silva Com Pe. Arlindo Júnior

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Paróquia de São Pedro Tamandaré - PE - Brasil

“ACORDA,

POVO DE DEUS!” Construção da Nova Matriz de São Pedro

Edson Silva

Com Pe. Arlindo Júnior

Diocese de Palmares – PE

Paróquia de São Pedro – Tamandaré – PE

Pe. Arlindo Júnior – Administrador Paroquial

Secretaria Paroquial: 81 36761183

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Mensagem do Bispo Diocesano

Nova Matriz de São Pedro, em Tamandaré

Independentemente de ser grande ou pequena, simples ou majestosa, antiga ou nova, uma Igreja tem sempre uma significação especial na vida dos católicos, em razão da relação de fé que se estabelece, além do vínculo afetivo. É bom que esse traço de união entre os fiéis e sua Igreja seja conservado, com carinho e zelo. Davi já testemunha esse zelo quando escreveu: “o zelo da tua casa me consome” (Sl 69, 10); Jesus tinha isso bem presente quando se deparou com os vendilhões do Templo que o haviam transformado num “antro de ladrões”, a ponto de expulsá-los, energicamente. (cf. Mt 21,12-13).

Os paroquianos de São Pedro, em Tamandaré, jamais esquecerão sua Matriz antiga, às margens do Atlântico, e devem fazer o que estiver ao seu alcance para preservá-la, diante do impacto das ondas que a ameaçam, constantemente. A nova Matriz, estrategicamente localizada, ampla, construída com amor e zelo, é um edificante exemplo de participação coletiva; o residente permanente, o veranista temporário e o visitante ocasional que participaram dessa causa, como doador/doadora, podem se ver nessa Casa de Oração, graças a uma aplicação honesta e transparente dos recursos financeiros, por parte do Administrador Paroquial, Pe. Arlindo Laurindo, e de sua equipe de trabalho. Além de um destacado marco visível na paisagem de Tamandaré, a nova Matriz de São Pedro se torna um centro de evangelização, favorecendo a vida de comunhão fraterna e alimentando os fiéis com a Palavra de Deus e a Eucaristia que são as fontes principais que nutrem a espiritualidade cristã.

São Pedro é sempre um exemplo a ser imitado; uns, ante a expressão da sua fraqueza humana, se veem nele, ao negar que conhecia Jesus Cristo, a ponto de chorar amargamente (cf. Mt 26,69-75); todos encontram nele o testemunho extremo do amor de fidelidade e humildade porque, conforme a Tradição, no seu martírio “foi crucificado de cabeça para baixo, pois sentiu que não era digno de ser executado da mesma maneira que Cristo.”

São Pedro, rogai por nós!

Palmares, 30 de dezembro de 2011

Dom Genival Saraiva de França

Bispo de Palmares

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Apresentação

“Acorda, Povo de Deus!”

Eu sempre me preocupei em realizar uma experiência paroquial diferente.

Assim que fui ordenado padre, trabalhei com Pe. André Vital na formação dos seminaristas da ordem dos dehonianos. Depois, fui acolhido por D. Genival na diocese de Palmares e fiquei responsável pela administração paroquial de Catende durante três anos e meio, até ser enviado para Tamandaré.

Assim que cheguei e passei pela avenida principal, imaginei que seria possível fazer nesta comunidade cheia de desafios e bem menor que Catende um trabalho de animação que ajudasse a crescer o povo de Deus a mim confiado.

Então, passei a pensar a partir das necessidades das pessoas e enquanto os movimentos cresciam, especialmente depois da realização dos primeiros EJC – Encontro de Jovens com Cristo e ECC – Encontro de Casais com Cristo. A animação das crianças, dos jovens e dos adultos me fez querer materializar esta Igreja viva em um projeto que a todos reunisse e que acolhesse bem as pessoas que vinham de fora e triplicam o número de participantes da comunidade durante o período de verão e nos feriados.

E o sonho ganhou forma.

Acredito que, na verdade, o sonho de construir a nova Matriz de São Pedro junto com o povo tenha surgido através do amor dos meus pais que me geraram e ofereceram à Igreja, a fim de que eu servisse ao seu povo com todas as minhas forças.

É a graça de Deus que age no meio de nós.

Eu tenho a convicção que estou fazendo apenas o meu dever, nada mais, entretanto, não deixo de reconhecer o quanto o nosso trabalho tem sido importante para vida de tantas pessoas que passaram a fazer parte da comunidade, que trabalharam na construção ou que de alguma forma estão unidas a nós neste projeto.

Por este motivo é que eu sempre digo: Acorda, povo de Deus!

Fiquei muito feliz em poder ajudar a contar esta história, afim de que muita gente conheça e possa, estando em Tamandaré ou em outros lugares, folhear este livro e saber que tem participação concreta em cada tijolo, cada saco de cimento utilizado para construir a Matriz.

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Tudo isso porque eu acredito que a nossa fé pode fazer com que sejamos capazes de grandes realizações.

Basta começar. Isto é o mais importante. Aquilo que por acaso não der certo, é apenas um detalhe.

Pe. Arlindo Júnior,

Janeiro de 2012. Ano do Jubileu de Ouro da Diocese de Palmares - PE.

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I

A Construção de um Sonho

Pouca gente viu, mas às três horas da madrugada do dia 07 de dezembro de 2008, o então administrador paroquial, caminhou mais ou menos quinhentos metros com ferramentas nas mãos e um grande sonho na cabeça.

Na verdade, naquela noite não houve sono que vencesse tão grande desejo de construir algo tão significativo para uma comunidade abraçada há pouco tempo, porém, já muito amada pelo padre.

O que ele fazia? Estava demarcando o terreno e iniciando os alicerces da construção da nova Matriz de São Pedro, em Tamandaré – PE, uma ideia que já parecia abraçada totalmente pela comunidade, mas que já estava enraizada no coração do seu orientador espiritual.

Bem, início dos alicerces é modo de falar, pois na verdade o padre estava primeiramente garantindo que naquele terreno seria erguida uma igreja, segundo suas palavras, “como nunca se viu na região”. Assim, após os primeiros vinte metros cavados e uma semana de trabalho, viriam as estacas e depois destas, os arames; uma cruz de doze metros em frente ao terreno começaria a proclamar que aquele chão seria, custasse o que custasse, lugar de anúncio do catolicismo, da crença em Jesus de Nazaré, do encontro das comunidades, de que tudo é possível a quem em Deus confia.

Dias antes, o padre já havia falado com o Bispo diocesano, ligado para engenheiros, feito telefonemas aos amigos. Dizem até que já tinha em mente como seria a arquitetura da igreja a ser erguida.

Todos lhe diziam que sim, esta era uma ótima possibilidade, mas que precisaria cautela, pois determinadas obras requeriam ajudas não só internas, mas até da Igreja dispersa pelos países europeus. E, no mais, não menos que cinco anos seriam necessários para se pensar em ver algum resultado, talvez não todo o resultado da nova empreitada.

Mas ele ouvia a todos pensando no último verão e na quantidade de pessoas que tinha que participar da missa sem lugar para sentar, do lado de fora da Capela de Nossa Senhora de Fátima ou ainda da Matriz de São Pedro, uma igreja pequenina localizada à beira mar de Tamandaré. E pensava igualmente na quantidade cada vez maior de jovens participando dos movimentos e levando multidões às ruas para anunciar Jesus ou dispersos no mar de ilusões e violências que uma cidade litorânea oferece.

Sim, ele precisaria começar a trabalhar rapidamente. E, naquela madrugada deu-se o início de uma história que muitas outras fez nascer,

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incontáveis como os buracos que foram cavados sob o céu ainda escuro; fortes como os calos nas mãos que lhe apareceram logo nos primeiros momentos de esforço; simples e intensamente, como tudo que é feito com vocação.

De modo que esta não é apenas a história da construção de uma nova Matriz. É a história de um sonho em que se vivencia a edificação de um novo ser humano e de uma comunidade inteira.

E quem é este padre, este animador comunitário que um dia sonhou com uma igreja maior e fez o seu sonho atravessar fronteiras?

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II

Sou feliz por Ser Católico

O responsável pela construção da nova Matriz de São Pedro costuma se apresentar dizendo seu nome e as suas origens: Arlindo Laurindo de Matos Júnior, vindo lá de Rio Doce, Olinda, filho de seu Arlindo e dona Ziza, nascido e criado na Rua das Margaridas, número 179.

Qualquer um que queira saber sua origens é só chegar até esse endereço e perguntar onde fica a casa daquele menino que desde muito jovem disse que queria ser padre e abraçou a vocação independente de todas as alegrias e tristezas pelas quais já passou na vida.

Sua infância pobre e cheia de dificuldades ele sempre relembra durante a homilia ou nas palestras que tem feito ultimamente. Com um detalhe: ele ri e faz as pessoas rirem também da comida catada no lixão, dos problemas familiares que enfrentou, da dor que sentiu com a perda do pai e de tantas outras passagens que só quem já ouviu é capaz de entender e guardar tudo isso como uma mensagem de esperança, de fé e de força que a todos convida a assumir uma postura que aproxima de Deus.

Ordenado, depois de trabalhar um ano e meio na formação dos seminaristas dos dehonianos, tinha uma grande estrada a percorrer.

A vinda para Tamandaré se deu após três anos e meio de trabalho na Paróquia de Catende, onde, dentre outras coisas, realizou um grande trabalho com a juventude. Foi lá que Pe. Arlindo realizou o primeiro Anunciart, um evento dedicado a anunciar Jesus com arte, como o próprio nome sugere, mas uma arte diferente, de uma juventude que abraça a catequese de massa e o trabalho de dizer em público que é feliz por se católica.

Aliás, a frase: “Sou feliz por ser católico” é uma das marcas que o Pe. Arlindo trouxe consigo para Tamandaré.

Naturalmente, nem sempre é fácil iniciar um trabalho pastoral depois da passagem de outros padres queridos pela comunidade e conseguir incutir em tão pouco tempo no coração do povo que abraçasse o seu desejo de construir uma nova igreja.

A experiência da Paróquia de São Pedro com os seus primeiros párocos foi muito significativa. Os sinais de dedicação à pastoral social iniciados pelo Pe. Enzo Rizzo, bem como o estilo de trabalho do Pe. Marcos Gomes deixaram na comunidade grandes saudades e a preocupação de continuar a caminhada junto ao seu novo líder espiritual com nova força e alegria.

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Pe. Arlindo não veio só. Durante os primeiros dois anos, o Pe. André Vital dividiu com ele as responsabilidades da administração paroquial, muito embora fosse logo perceptível que se formava no semblante do Pe. Arlindo um sonho grandioso a levar adiante com o povo.

Este sonho se concretiza com a nova Matriz. Mas tem igualmente a contribuição dos padres que serviram em Tamandaré antes, orientando e caminhando junto com o povo até o momento em que foi convidado a dar o seu sim a este grande projeto que mudaria a vida de muita gente.

“Acorda, povo de Deus!” é a frase que a cidade inteira começou a escutar nas madrugadas da semana santa ou das Santas Missões Populares, quando o primeiro a acordar sempre foi o próprio Pe. Arlindo, saindo às ruas com microfone em punho, chamando a todos para participarem das celebrações.

De modo que não havia quem não se incomodasse ou se contagiasse com o convite que passou a ser feito todos os domingos, em todas as missas para construir a Matriz.

Mas, logo no início do projeto, duas grandes preocupações surgiram para mostrar as dificuldades que deveriam ser enfrentadas com tão grande obra.

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III

Para Deus, Nada é Impossível

Havia um projeto municipal para utilizar o terreno onde foi construída a nova Matriz de São Pedro como área de lazer e isto foi motivo para que alguns nomes da sociedade se colocassem contra a construção; algumas pessoas, ligadas à administração pública inclusive, se pronunciaram contrárias ao trabalho, chegando a afirmar ao padre que iriam se empenhar para impedir a sua “loucura”.

Estava criado o debate e cada um dizia a sua opinião enquanto o Pe. Arlindo rezava e trabalhava. Além disto, a seriedade com que foi conduzido o projeto mostra que a religião vivida sem interesses e seguindo o desejo da comunidade é um sinal de cidadania que precisa ser respeitado.

Por isso, tendo o povo abraçado o sonho junto com o seu administrador paroquial e o mutirão que logo se formou no final da semana em que Pe. Arlindo iniciou a demarcação do terreno, não deixou nenhuma dúvida de que as autoridades municipais deveriam dizer sim ao projeto e foi dessa forma que aconteceu, não adiantando que ninguém fosse contrário ao apoio de toda a comunidade.

Agora, chegava o momento de começar a angariar fundos para levar adiante os trabalhos.

Sempre foi comum na Igreja Católica a partilha dos bens entre aqueles que têm mais com os que possuem menos, inclusive quando se trata da ajuda realizada por instituições existentes nos países mais ricos organizadas para prestar auxílio financeiro na realização de grandes obras. E foi confiante nisto que o Pe. Arlindo enviou a três dessas instituições o projeto de construção da nova Matriz solicitando ajuda dos irmãos que estão na Europa para iniciar a obra.

As respostas de todas estas instituições tinham em comum a preocupação com a crise econômica mundial que se iniciou no ano de dois mil e oito e que trazia grandes desafios para todo o velho continente. De modo que o conteúdo das cartas recebidas dizia:

“Infelizmente, apesar de reconhecermos a necessidade e importância do pedido apresentado, não foi possível dar um desfecho favorável à sua solicitação”.

Ou, ainda:

“Lamentamos profundamente informá-lo que após uma deliberação cuidadosa por parte de nossa Comissão de Projetos, o seu pedido não foi aprovado.”

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E, para finalizar:

“Mais uma vez a comissão (...) foi obrigada a indeferir um grande número de pedidos (...). Entre esses se encontra infelizmente o seu...

(...)

As medidas econômicas são indispensáveis e terão que ser adotadas por todas as dioceses alemãs também no próximo ano. Em consequência disso, os nossos recursos destinados aos projetos da Igreja Mundial se reduzirão ainda mais no futuro.”

Para ficar mais evidente o problema, o mais complicado não era pensar que os pedidos não haviam tido sucesso e isto por um motivo totalmente compreensível; a dificuldade maior estava em informar esta resposta à comunidade e descobrir um meio pelo qual um projeto avaliado em um milhão e meio de reais pudesse seguir em frente, tendo a Paróquia de São Pedro naquele momento um saldo em caixa de apenas cinquenta reais.

Muita gente teria desistido do sonho pelo menos por algum tempo.

Mas, não foi o que aconteceu em Tamandaré. O Pe. Arlindo deu ao povo uma notícia difícil sorrindo, falando de fé, da verdadeira fé, e apresentou uma grande ideia que sustentou o trabalho do início ao fim da construção da nova Matriz e se tornou um símbolo da realização deste sonho maravilhoso.

O padre se sentia ansioso, angustiado, com medo, mas manteve a fé.

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IV

A Sacolinha e a Primeira Doação

“- Eu tenho duas notícias para vocês: uma boa e outra melhor ainda. Qual vocês querem ouvir primeiro?...

- Está bem, eu vou começar pela notícia boa: recebemos as respostas dos pedidos de ajuda para construção e, por incrível que pareça, todas as instituições nos disseram que não podem ajudar...”

Toda a igreja olhava espantada o Pe. Arlindo dar a notícia e se perguntava como ele poderia dizer que era boa. No entanto, ele continuou:

“- Eu sei que vocês estão querendo saber por que a gente ter levado três nãos é um notícia boa... É boa [e altera a voz, contagiando a todos] porque é o povo de Tamandaré, com ajuda dos irmãos que vêm passar o verão aqui e partilham conosco a vida em comunidade que a gente vai conseguir erguer essa igreja!!! Pois, se cada um der um pouco do que tem eu garanto a vocês que não vai faltar nada para a gente conseguir... E digo mais, não vou descansar um dia até que a gente possa passar por aquela avenida, olhar para a igreja e ter orgulho de dizer que foi o povo daqui que construiu a maior igreja da diocese de Palmares e quem sabe de toda essa região!!!...”

E aí, foi aplauso que não acabava mais, enquanto os olhos marejados do padre denunciavam a sua emoção e a vitória de conseguir mais apoio para as dificuldades seguintes.

“- E sabe como é que a gente vai conseguir o dinheiro para a primeira parte do projeto?... Estão vendo aquelas senhoras ali na porta da igreja? Elas têm uma sacolinha na qual vocês vão ofertar o que puderem para a gente começar a construção e vai ser assim até que a gente tenha terminado. Agora, me digam uma coisa: vocês vão ajudar?”

“- Eu ajudo, padre!”

Quem respondeu primeiro foi um homem conhecido na comunidade por viver há muitos anos sofrendo com o alcoolismo e que, tão logo o Pe. Arlindo chegou à cidade fez amizade com ele que em quase todas as missas se encontra em frente ao altar para ouvir o que o amigo tem a dizer.

Esse homem costuma pedir ajuda às pessoas, recebe comida, roupas e calçados nas visitas que faz à casa paroquial, mas foi o primeiro a dizer sim e a se encaminhar até o altar com a sua doação: vinte e cinto centavos de real e uma frase:

“- Pode começar a sua igreja”.

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O padre Arlindo logo fez do gesto de quem pouco tem uma lição para os que poderiam mais ajudar:

“- Pronto. Já tenho a primeira doação. Será que vocês, assim como este amigo que me ajudou agora, não poderiam ajudar também?”

E assim a sacolinha passou a fazer parte das celebrações nos dias mais tranquilos e naqueles mais difíceis, tendo sido esta ajuda direta da comunidade que fez com que o dinheiro de pagar os pedreiros e outras tantas despesas jamais ficasse atrasado uma semana sequer, como se a primeira doação dos vinte e cinco centavos lembrasse a todos do óbulo da viúva e de que não havia mais ou menos na participação comunitária; o que importava era a comunhão vivida na missa e praticada depois dela com a consolidação do projeto da nova Matriz, que encantou o povo com tanta beleza e significado.

Claro, a sacolinha é um símbolo concreto de tudo o que passou a ser feito: dos bingos, das rifas, das quermesses, das doações particulares e dos grupos reunidos na comunidade católica ou fora dela, enquanto a base era construída, depois, no momento de se colocarem as ferragens para o teto e ainda da necessidade de comprar o granito para todo o interior e também dos bancos e tudo que se precisa para se construir uma grande casa.

Entretanto, como a casa não era de um só dono, muitas coisas bonitas aconteceram para que tudo pudesse ser feito com um amor que se materializa nos exemplos de algumas histórias que passarão a ser contadas.

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V

Duas Maratonas

Naturalmente, a primeira fase da construção não foi logo percebida pelas pessoas. E isto tem uma explicação óbvia dada inclusive por Jesus nos evangelhos: era preciso fazer uma base sólida para receber todas as paredes e o telhado grandioso que viriam em seguida.

De modo que o trabalho não foi interrompido uma semana sequer desde o seu início. E quando era necessário bater uma laje lá estava o Pe. Arlindo nas missas dominicais a convidar homens e mulheres para ajudarem no trabalho que começaria no dia seguinte bem cedo, contrariando inclusive grupos de pessoas da própria comunidade que ainda não acreditavam no projeto, que não entendiam o processo inicial da construção ou gostariam que pessoas diferentes trabalhassem e não aquelas que o padre acolhera, como o primeiro pedreiro, um senhor evangélico hoje muito amigo do Pe. Arlindo e de todos os católicos.

E todas às vezes era aquela festa de quem ia e tinha a certeza de que estava colocando a mão na massa representando a família, os amigos e a sociedade em geral.

Numa dessas empreitadas, Pe. Arlindo realizou todo o trabalho com botas, mas sem meias, o que lhe fez passar três semanas com os pés feridos por causa das ações do cimento, que cortara toda a pele e causava incômodos que todos imaginavam muito fortes, mas dos quais ele em nenhum momento se queixou.

Assim, quando as paredes estavam no ponto certo, as vigas e as lajes de sustentação estavam prontas, chegou a hora de contratar o serviço do telhado.

Quem entende de engenharia sabe que uma área de mil metros quadrados é um desafio para ser coberta sem colocar vigas no meio do espaço.

Para se ter uma ideia, somente na base foram utilizados mais de novecentos sacos de cimento.

Entretanto, a ideia era justamente não haver nenhum obstáculo que atrapalhasse a visão das mil pessoas sentadas que participarão das missas na nova Matriz, o que com os avanços da engenharia moderna é possível de ser feito, mas que encareceria muito a colocação do telhado da igreja.

O preço: trezentos mil reais. A época: entre abril e agosto, meses em que a cidade inteira vivencia a baixa estação, isto é, a época em que o comércio está mais fraco, os trabalhos são poucos e a comunidade de uma maneira geral dispõe de poucos meios para ajudar.

E, sempre ao final da missa de domingo, o Pe. Arlindo deu a notícia:

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“- Já confirmei a compra das ferragens e do telhado para a Matriz. Só tem um probleminha: falta dinheiro para pagar [risos generalizados, enquanto o padre estava com a pressão altíssima, preocupado com a situação]... E quem vai me ajudar são os jovens e todo o povo de Tamandaré. Vamos realizar uma maratona e iremos de casa em casa pedindo um real a cada família e será com essa ajuda que a gente vai conseguir...”

E foi o que aconteceu. Os jovens se empenharam, as pessoas mais experientes da comunidade fizeram parte do grupo dos que visitaram todas as ruas e todas as casas pedindo a colaboração das famílias para a continuidade da construção.

Vieram até os jovens de Catende para se juntarem aos de Tamandaré e realizarem o trabalho. Enquanto isso, o padre rezava, desde a madrugada, para que tudo desse certo: mil ave-marias pedindo a intercessão de Nossa Senhora de Fátima e seu olhar materno sobre tão grande acontecimento.

Quem não foi pedir, ficou na capela rezando; que ficou em casa, ajudou.

No final da tarde, foi lindo ouvir os depoimentos dos colaboradores, sobretudo quando se tratava da ajuda dos irmãos de outras igrejas que parabenizavam os católicos e o seu padre pelo belíssimo trabalho e à noite, na missa em ação de graças, no meio da praça, a alegria em saber que, tendo a cidade aproximadamente vinte mil habilitantes, as ajudas todas superaram este número quase quatro vezes e, portanto, era possível dizer que o telhado da nova Matriz estava garantido e mais ainda: que cada habitante de Tamandaré colaborou com a construção.

E, inocente de quem duvidou que não haveria fôlego para mais de uma maratona, porque a primeira foi para dar andamento ao início da construção; a segunda, para o telhado, havendo ainda uma terceira demonstração da superação da marca de solidariedade.

O padre pensava: “Eu acredito que é importante, por isso as pessoas se sentem motivadas a ajudar e passam a confiar mais em si mesmas”.

O próximo desafio seria o granito.

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VI

O Granito

O Pe. Arlindo é uma das pessoas mais despreocupadas com a tecnologia que se pode conhecer nos dias de hoje. Para se ter uma ideia, ele não tem celular, raramente abre o email que a secretária paroquial fez para ele e usa a internet de tempos em tempos.

Pois foi em um desses momentos raros de acesso à rede mundial de computadores que se iniciou uma dos acontecimentos mais festejados da construção da nova Matriz: a compra do granito para a igreja.

Recobrir todo o piso e paredes da igreja daria uma bela soma em dinheiro, seja ele de que material fosse. Entretanto, Dom Genival, bispo diocesano, já havia aconselhado que devido às conquistas já realizadas, o revestimento do piso e das paredes internas deveria ser de um material de qualidade, tendo sido escolhido o granito para compor harmoniosamente com os vitrais e com toda a arquitetura da nova Matriz.

Pe. Arlindo obedeceu, mas sabia que não iria ser fácil, aliás, não iria sair por um preço baixo. E ficou dias e mais dias pensando em uma solução. Tendo sido numa das suas noites em claro que ligou o computador e acessou a internet para ver se o sono chegava. Na página de buscas, digitou a palavra que não lhe saia do pensamento: granito...

Pensou nas lições do evangelho, no perdão sete vezes sete, nos sete sacramentos e escolheu o sétimo resultado dos que surgiram na tela e clicou no nome da empresa. Imediatamente, acessou o item de contato, digitou o nome, o email – do qual se lembrou milagrosamente –, o assunto e escreveu a seguinte frase:

“Sou Pe. Arlindo, moro em Tamandaré e estou construindo uma igreja que terá piso e paredes revestidos de granito. Vocês gostariam de conhecer o projeto? Telefone: 81 36761601.”

E foi dormir. Mais tarde, alguém da empresa liga perguntando onde fica Tamandaré. O padre, meio desanimado em dar a resposta, por causa da distância entre Minas Gerais e a cidade, mesmo assim respondeu, ainda em deixar de dizer:

“- É longe.”

Qual foi sua surpresa ao ouvir o homem falar que pegaria um avião e viria conhecer o projeto.

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Quando aqui chegou, o responsável pela empresa mineira logo fez amizade com o padre e se prontificou a vender o granito para a igreja por menos da metade do preço de mercado, ou seja, uma verdadeira graça alcançada, pela distância e pelos caminhões que deveriam fazer todo o trajeto trazendo as pedras, pelos especialistas que viriam acompanhar a colocação e pela alegria de vivenciar o fato de que para Deus nada é impossível.

No dia marcado para a dedicação da nova Matriz, os sotaques pernambucanos e mineiros estarão todos misturados, pois um avião inteiro de pessoas ligadas à empresa que forneceu o granito, bem como os familiares e outros amigos conquistados pelo padre, estarão em Tamandaré para louvar e agradecer junto com a comunidade local.

Mas, as belas histórias não terminam aqui. Mencionando a comunidade local, há muito que se falar sobre a participação dos educadores, dos estudantes e familiares nesta história.

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Mutirão de Trabalho

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Pe. Arlindo Trabalhando no Contra Piso

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Pe. Arlindo Divulgando Bingo com a Vaca

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Construção em Andamento

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Interior da Matriz

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Matérias Jornalísticas

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VII

Educação e Solidariedade

O mês de maio, dedicado a Nossa Senhora, é muito festejado nas dioceses interioranas e em muitos lugares do mundo. Em Tamandaré, durante os trinta e um dias reza-se o terço e em cada uma dessas noites de oração, as famílias ou as instituições da cidade se responsabilizam pela liturgia, sendo por isso chamados de noiteiros da grandiosa festa que se faz na última noite mariana.

Entre os noiteiros, estão as escolas da cidade. Todas elas, públicas e particulares, dedicam um momento para professar de modo ecumênico e respeitoso o amor à Mãe de Jesus. De forma que, em tempos de construção da nova Matriz, a participação poderia ser abrilhantada com um gesto concreto por parte de todos os estudantes e educadores.

Assim, surgiu entre a coordenação pastoral paroquial a ideia de convidar os gestores educacionais e lançar a seguinte proposta: que fizessem o pedido aos estudantes para que cada um doasse cinquenta centavos para ajudar a igreja e, na última noite, todas as escolas com suas bandas formadas participariam da celebração e fariam sua oferta diante de toda a comunidade.

A secretaria de educação aceitou; os gestores ficaram empolgados com a proposta, e os estudantes muito mais.

E todos sabem como são as crianças e os jovens: cada escola queria dar a maior contribuição possível, de forma que todos colaboraram, alguns com muito mais do que lhes fora solicitado.

O pouco se multiplicou.

Na noite do dia trinta e um de maio de dois mil e dez, antes da bênção final, o Pe. Arlindo deu a notícia: nenhuma das escolas doou menos de mil reais para a construção da nova Matriz. E pensar que há quase uma dezena delas na cidade, sendo que todas se tornaram um bloco só de alegria e de satisfação.

As bandas tocaram e fizeram a cidade inteira ouvir; o povo aplaudiu e o padre animou aqueles jovens de modo especial.

E esta participação não parou mais. Nos meses que se seguiram e no decorrer do ano seguinte as escolas continuaram a ajudar, cada uma com projetos e atividades que realizavam para educar para a cidadania e a ação na comunidade, tais como gincanas, feiras e campanhas específicas à realidade de cada uma.

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Numa destas atividades escolares, lá estava o Pe. Arlindo para receber dos estudantes o resultado da prova social de uma maratona de conhecimentos realiza pelos estudantes do ensino médio.

Dessa vez, a arrecadação foi para ajudar na compra de um dos bancos da igreja, no valor de setecentos reais. São cem bancos que acomodam confortavelmente dez pessoas, doados um a um por famílias que se uniam para colaborar, pelos comerciantes da cidade, pelos veranistas.

Os estudantes fizeram a arrecadação com muito gosto, pois estavam preocupados com a vitória na maratona. Mas, não foi somente por este motivo.

Havia entre os alunos do primeiro ano uma turma inteira formada por meninas e meninos evangélicos e estes foram os mais rápidos a conseguirem o valor que lhes cabia e que, depois de ouvirem o padre falando sobre a capacidade que cada pessoa tem de sonhar e provando para todos eles que não importa o tamanho do que se sonhou, é possível ver a realização do que se desejou com amor e fé, não tiveram receio em se juntar aos amigos e sambarem no meio do salão junto com aquele padre gente boa que, não bastasse tudo o que tem feito, sabe falar a língua dos jovens como ninguém.

A cena era linda: o padre, os jovens evangélicos e católicos se abraçando e dançando juntos, celebrando a vida e os professores vendo tudo aquilo e chorando de emoção e de alegria por fazerem parte daquele momento.

Emoção que toma conta de quem vivenciou ou soube desta e de outra história tão linda quanto, protagonizada por duas meninas da comunidade.

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VIII

Catadoras de Latinhas

Crianças fazem muitas coisas comuns. Brincam, se divertem, estudam, assistem televisão, participam de diversas atividades quando são solicitadas, vão à missa quando educadas em uma família que presa pelos valores cristãos e pelas promessas que fizeram por elas no dia do batizado.

Entretanto, existem algumas crianças que realizam atividades muito incomuns para a idade e o nível de entendimento que naturalmente têm das coisas.

Duas meninas de sete e oito anos tiveram uma atitude nada convencional para ajudarem na construção da nova Matriz de São Pedro: doaram todo o dinheiro arrecadado com venda de latinhas entregues para a reciclagem para que o Pe. Arlindo empregasse nos trabalhos da construção.

É difícil descrever com palavras a singeleza de uma criança ofertando o pequeno pacote com algumas notas e muitas moedas, alegres por estarem colaborando diretamente com a igreja.

Não há como mensurar ou comparar tal acontecimento. “O valor material é o mínimo”, diz o padre, referindo-se á grandeza do gesto.

É possível dizer que é tão bonito quanto o que fez uma senhora da comunidade ao passar meses arrecadando de um em um real para poder doar o valor de um banco para a nova Matriz. E que não desanimava. No primeiro domingo, sorria para o padre e dizia só faltarem seiscentos e noventa reais; e depois quinhentos; quatrocentos e cinquenta; cento e vinte, até conseguir.

Mas, trata-se de uma linda atitude de uma pessoa madura, capaz de planejar e ter a paciência necessária para alcançar o objetivo. Com uma criança, é diferente, pois tais habilidades ainda não são tão claras para ela quanto para quem já tem mais experiência de vida.

Catar latinhas exige trabalho; requer procura; sair à rua para encontrar e diferenciar o material certo; pedir às pessoas que colaborem. E foi isto que estas lindas meninas fizeram ao doarem seu tempo e organizarem suas atividades catando latinhas para fazer doação à igreja.

Com um detalhe importante: estas meninas não eram catadoras de latinhas; elas decidiram realizar este trabalho porque aprenderam nas escolas onde estudam sobre a importância da reciclagem e que este é um meio de se conseguir dinheiro e preservar o meio ambiente.

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Poderiam ter pedido aos pais e aos familiares que lhes dessem algumas moedas, mas tiveram a inspiração de fazer diferente, sem que ninguém lhes pedisse. As famílias, bem estruturadas e muito capazes de compreender o gesto das crianças, apoiaram e acompanharam a sua dedicação.

E não foi apenas uma vez que tomaram esta atitude. No dia da primeira comunhão, uma delas, abraçada ao padre Arlindo sorria enquanto a mãe dizia que ela continuava juntando suas latas para ajudar a igreja. A outra, recentemente passava em frente à nova Matriz com uma coleguinha que elogiava, dizendo:

“- Como está bonita a igreja do padre!”

“- Do padre, nada. A igreja é minha, que estou trabalhando tanto, juntando latinhas para ajudar...”

São acontecimentos de uma inocência e de uma pureza fantásticas, mas que revelam o sentimento de que a construção é realmente de todos.

Contribuição mais improvável ainda iria acontecer.

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IX

A Improvável Contribuição

Pe. Arlindo costuma dizer, nas suas conversas sempre bem humoradas, que parece que existe um imã entre ele e os “papudinhos”, os homens que têm problemas com o alcoolismo, os bêbados da cidade.

Pois, esta é uma questão que também está presente em Tamandaré e que passou a ser vista pela comunidade católica devido ao acolhimento feito pelo padre a estes homens e mulheres que não conseguem se curar do vício. Alguns inclusive procuram ouvir os conselhos que recebem, mas nem sempre conseguem ir muito longe.

O mais importante é que não se sentem excluídos.

Se passam em frente à casa paroquial, procuram saber se “Acorda, Povo de Deus” está, pois é assim que costumam chamar o padre, que se diverte com essas coisas, enquanto procura ajudá-los.

O Pe. Arlindo conta que certa vez um desses homens chegou à casa paroquial e o divertiu muito, perguntando o que havia para comer e, depois da resposta, dizendo que não queria aquele cardápio, pois já estava enjoado.

Pois é, três desses homens cujas vidas foram destruídas pela bebida, conseguiram se juntar e abdicar do vício para ajudar na construção da igreja.

O que eles fizeram: deram a improvável contribuição de dois mil e cem reais ao padre. Arrumaram um trabalho temporário e deram ao amigo padre o que ganharam para que fossem comprados três novos bancos da nova Matriz. Não consumiram uma gota de bebida alcoólica com este dinheiro; fizeram sua oferta mais generosa.

Muita gente duvidaria que fosse verdadeiro este acontecimento, não fossem as outras pessoas que presenciaram a doação e a consciência do quanto o padre é querido e respeitado por todos os habitantes, não importa a sua religião, sua posição social, os problemas que enfrenta.

Dois mil e cem reais doados por pessoas que na maior parte dos dias nada têm para comer e que quando pegam em algum trocado logo se dirigem a um lugar onde possam se embriagar novamente, significam muito mais do que o valor em si, pois ultrapassam os limites da bondade e do sentido de pertencimento a um projeto tão abençoado como a construção da nova Matriz de São Pedro.

Na missa de Natal, Pe. Arlindo ainda dizia:

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“- E tem outra surpresa. Recentemente os papudinhos me deram mais oitocentos reais! Não é fantástica uma coisa dessas?”

Fatos que merecem uma festa. E foi numa festa que algo muito especial aconteceu.

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X

O Aniversário

Por ser uma cidade turística e ter uma das praias mais bonitas e agradáveis do litoral sul de Pernambuco, Tamandaré é um lugar que recebe muitas pessoas novas todos os anos no período de férias ou de veraneio, como se costuma dizer. Acolhe igualmente pessoas que há muitos anos passam as férias aqui e que são mais que veranistas, são moradores que precisam passar a maior parte do ano trabalhando em outras cidades, mas estão sempre de volta em todos os momentos possíveis.

Uma senhora, matriarca de uma família recifense que há muitos anos passa o período de férias e participa da comunidade resolveu festejar o seu aniversário de uma maneira que inusitada:

“- Eu mandei colocar no convite que não queria presente. Quem quisesse trazer alguma coisa, que trouxesse uma ajuda em dinheiro para ser doada em prol da construção da nova Matriz de São Pedro, em Tamandaré... Foi uma festa muito bem preparada, não foi padre?”

E o padre, feliz da vida, responde:

“- A festa era dela, mas quando eu cheguei à casa parecia que o aniversário era meu. Tinha cartaz com minha foto e com foto da igreja sendo construída pendurados na parede; os convidados fizeram aquela animação quando me viram; eu fiz discurso, foi um pipoco. E ainda voltei com mais de vinte mil reais para casa... No outro dia, ela ainda me ligou dizendo que tinha outro tanto para doar...”

Essa senhora e sua família se responsabilizaram ainda por mandar fazer as roupas litúrgicas novas que o Pe Arlindo usará no dia da dedicação da nova Matriz, tendo escolhido um modelo igual ao usado pelo papa Bento XVI na sua primeira visita ao Brasil.

Também se preocuparam com a compra da imagem do crucificado que dias antes da dedicação chegará a Tamandaré e será afixada no altar.

São pessoas que se juntam a tantas outras, se alegram por cada conquista que escutam e que não querem sequer um agradecimento. Se sentem em casa, estão cuidando da sua igreja, abraçam o sonho de padre amigo, sonho este que sentem que sempre foi delas também.

Histórias como esta não são importantes apenas porque geraram renda para que a construção continuasse ou para que as etapas fossem seguidas sem nenhuma parada sequer; elas são sinal de amor.

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O padre Arlindo se refere a esses acontecimentos com carinho e com o desejo de que sejam conhecidos por muita gente, pois simbolizam muito no serviço sacerdotal que ele assumiu, mas conferem à comunidade uma vivacidade que pode ser vista em todos os grupos e movimentos que não pararam com as atividades durante o período da construção e que estiveram sempre comemorando cada etapa concluída e fazendo parte de cada uma delas.

Olhando o sorriso desta senhora gentil que fez da sua festa um presente para a paróquia de Tamandaré, para toda a comunidade, é possível se ter ideia de quantas outras ajudas aconteceram e que não podem ser esquecidas.

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XI

Ajudas de Todos os Cantos

Muitas contribuições desconhecidas também aconteceram.

Certo dia, o padre Arlindo estava na casa paroquial muito preocupado, pois o dinheiro arrecadado com a sacolinha não tinha sido suficiente para pagar os pedreiros e ele pensava em como dar esta notícia para os trabalhadores, ao mesmo tempo em que se preocupava com a família de cada um.

Até que ele pensou que não deveria se preocupar e que a confiança, a fé, deveria partir primeiramente dele para poder chegar aos que estavam sob a sua responsabilidade.

Foi neste mesmo dia em que alguém ligou para informar que fora feito um depósito no banco de cinco mil reais, por uma pessoa que não quis se identificar.

Estava salvo o pagamento semanal dos pedreiros e ainda sobrava dinheiro para outros compromissos.

E foi assim que um grupo de italianos foi convidado a trabalhar no terreno chegando às cinco da madrugada junto com padre e realizando diversas tarefas até ao meio dia. Depois fizeram suas doações em um jantar oferecido para parabenizar o padre pelo trabalho.

Aconteceu também que um juiz amigo doou duas motos; os comerciantes, vários prêmios para serem sorteados numa noite memorável de participação comunitária num bingo beneficente às obras da nova Matriz. Sem esquecer o evento e a divulgação feita pelo Pe. Arlindo, caracterizado, desfilando pela cidade com a uma vaca ao seu lado.

Todos os veranistas que participam das celebrações nas comunidades fizeram sua colaboração. Desembargadores, promotores, donas de casa. Pessoas vindas de muitas cidades de Pernambuco, especialmente de Recife, Caruaru, Ribeirão, Palmares e muitos, muitos outros lugares.

Com toda certeza, sem estas ajudas externas o tempo para se concluir a construção teria sido muito mais que o dobro desses três anos em que tudo aconteceu.

Muitos dos que colaboraram jamais estiveram em Tamandaré, como no caso daqueles que ouviram as palestras do padre Arlindo em Garanhuns, São José do Egito ou no interior de Minas Gerais, mas que fizeram questão de participar deste acontecimento ao qual ninguém ficou indiferente.

É Deus agindo no meio do seu povo.

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Uma imagem que ficou muito marcada dessa participação foi a vinda das imagens de Nossa Senhora e de São Pedro, esculpidas em tamanho de dois metros cada uma e que foram trazidas de caminhão guindaste, em procissão, lá do Bairro da Várzea, em Recife, até Tamandaré.

Os oficiais do corpo de bombeiros se comoviam com a participação; os outros carros saudavam o padre em cima do caminhão; emissora de televisão e jornais acompanharam por duas vezes este fato; os paroquianos foram junto desde as duas horas da madrugada para chegar a Tamandaré anunciando com sirenes e buzinas que a imagem do Mãe de Deus e do Padroeiro já estavam na cidade, como sinais que são para lembrar a ação de divina na vida de cada um.

A emoção e a pureza de uma menininha de cinco anos, que no dia do batizado teve Nossa Senhora de Fátima como sua madrinha resume toda esta trajetória que continua na vida da comunidade e de todos que entrarão na nova Matriz, sentindo que estão verdadeiramente em sua casa; esta menina olhou para o avô que chegara de viagem e não ainda vira as imagens e disse:

“-Foi tão lindo, vovô... São Pedro e minha madrinha... Foi tão lindo que eu chorei...”

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XII

A Colaboração Mais Importante

Mas, qual terá sido a colaboração mais importante?

Com certeza, foi de quem mais que doações em dinheiro, doou seu tempo e partilhou a sua fé no projeto de construção da nova Matriz de São Pedro.

A doação de quem chorou ou sorriu com cada etapa concluída.

Dos irmãos e irmãs da nossa e de outras religiões que, ao passarem em frente, sentiam o seu coração se alegrar por ver a igreja sendo erguida.

Foi igualmente de quem esteve em Tamandaré por alguns dias, por algumas horas até, mas se encantou e partiu com o coração ligado a este projeto. E mesmo de longe, fez questão de divulgar, de querer saber como estava o andamento das atividades.

Foi a sua doação.

Por fim, foi o tempo oferecido em oração e as bênção concedidas por Deus para que esta maravilha acontecesse.

*****

Este livro foi escrito com o objetivo registrar a história da construção da nova Matriz de São Pedro, em Tamandaré-PE, mas igualmente como uma forma de

agradecimento a cada pessoa que participou desta grande realização e igualmente para servir de sinal da nossa alegria e da nossa fé. Muito obrigado.

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Entrevista com Pe. Arlindo

Um mês antes da dedicação, o Pe. Arlindo respondeu às perguntas que se seguem, na nova casa paroquial, adquirida na rua ao lado da nova Matriz, como mais um sinal da providência divina.

Entre uma ida e outra para verificar a instalação dos equipamentos de som ou depois de responder ao telefonema vindo a secretaria paroquial, na casa ao lado, além de receber veranistas emocionados com a igreja, ele se sentou, reviu as ideias deste livro, falou o que sentia, chorou com uma mensagem enviada por um grande amigo e foi possível ver naquele olhar o verdadeiro sentido de um sonho...

- Pe. Arlindo, qual foi a oração que o senhor fez antes de sair de casa naquela madrugada?

Eu rezei: Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis com a vossa Luz, acendei neles o fogo do vosso amor; enviai, Senhor, o vosso Espírito e tudo será criado. E renovareis a face da terra...

Soltei fogos artifícios; estava com medo. Não sabia por que, ma sabia que era necessário iniciar a construção da igreja. E neste momento eu precisava estar sozinho, para começar.

Enquanto caminhava, dizia: “Meu Deus, tire qualquer sentimento de orgulho, de vaidade; tire do meu coração qualquer sentimento que atrapalhe essa construção; dai-me força.

O barro estava muito duro, já tinha cavado uns vinte centímetros; não podia fazer de conta, tinha que chegar à areia fofa. Cavei uns vinte metros. Quando terminei, entendei que iria ser assim toda a construção da igreja.

Chovia. Quando alcancei a terra fofa, pensei: consegui.

- Por que o senhor decidiu cavar o alicerce sozinho?

Eu não sei explicar, nem definir em palavras o desejo de cavar a base. Só sei que peguei a picareta e bati com força. Queria adiantar o serviço. Era a chuva, a pá e a picareta. Lembro que alguém passou e quis ajudar. Mas, naquele momento eu não quis ajuda. Precisava começar. Uma semana depois, já havia um pequeno grupo comigo.

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- O senhor é, então um construtor por natureza?

Eu não gosto de construção e na minha cabeça, a iniciativa não foi minha. O que eu fiz, foi porque entendi que era necessário. Eu tenho vergonha de pedir dinheiro, mas a necessidade era maior. Era importante unir as pessoas em torno de uma cruz de doze metros de altura, fixada em um local onde quem passasse pudesse ver o testemunho do Cristo e por causa disso pensar menos em violência e viver mais como irmãos.

- Houve um dia mais feliz que outro?

Não houve. A cada tijolo colocado, a cada cimento derramado, era uma sensação inexplicável, quando ganhava as coisas, quando recebia quarenta e cinco reais de uma criança, aquele dinheiro era com se Deus tivesse falando: vá em frente. Não há um dia, mas todos os momentos.

O mutirão com as mulheres; a doação que recebi de um veranista no valor de dez mil reais, quando faltava nove mil e oitocentos para terminar de pagar o telhado e não havia mais campanhas a fazer; o carro que parava, doava quinhentos reais e as pessoas iam embora sem que eu jamais voltasse a vê-las; o menino que, nos dias de hoje, vendeu o celular para dar o dinheiro ao padre... O primeiro pedreiro evangélico, para mim são sinais da graça de Deus e de felicidade na realização deste trabalho.

- E a tristezas?

Sempre aparecia um tijolo colocado a mais, um problema a mais, até que uma criança vinha e me estimulava.

Eu sentia sempre uma angústia muito grande. Quando o carpinteiro caiu do andaime, não foi grave, eu acompanhei tudo, mas me perguntava se valeria a pena. Tinha momentos que não queria vir até a igreja, mas logo pensava que cada dia seria uma nova etapa.

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- A paróquia continuou sua vida normal...

Na minha cabeça, a paróquia não poderia parar por causa de questões econômicas; o ECC teve que acontecer independente do caixa da igreja, o EJC acontecia e ao invés de pararem, as atividades multiplicaram. Todas as quermesses foram feitas. Ai a gente tava pedindo dinheiro, bolo para as quermesses, para o Anunciart. A igreja caminhava e a igreja viva se fortalecia.

- O senhor se sente um vitorioso?

Você pode fazer escolhas na vida e parar diante das decepções; a mesma energia gasta na derrota pode ser canalizada para a vitória. Mas, eu não sou vitorioso. Todo a obra, hoje avaliada em dois milhões de reais, vale tanto quanto a menor necessidade uma paroquiano que eu possa servir. O maior perigo do homem é a vaidade e o orgulho. Sou apenas um servo inútil. O projeto não é meu, é de Deus.

Pode ser que eu não termine, mas eu comecei. Pode ser que amanhã eu erre tudo, faça tudo errado, mas funcionou até hoje.

Eu pensei assim depois que terminei de cavar a base. Depois, saí andando e chorando muito. Celebrei a missa e chorei. Era chuva e lágrimas. Em casa, chorei. Agora, vou chorar de felicidade, pois, no final das contas todos que entrarem na nova Matriz se sentirão participantes desta maravilha.

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Edson Silva é professor da rede estadual de Pernambuco; professor formador e escritor.

Contatos: [email protected]

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"A igreja, enquanto templo, é símbolo do coração de um povo que ama e adora a Deus. Por isso, é bonito de ver como a nova Matriz de São Pedro revela os detalhes do coração de seus fiéis!"

Pe. Marcos Gomes

“Se alguém duvidar da realização de grandes sonhos, basta apenas conhecer Pe. Arlindo, que mudará de ideia.”

Pe. André Vital

"Pe. Arlindo, mantendo sua humildade, realizará ainda outras grandes coisas: a Nova Matriz de Tamandaré é uma prova disto!"

Margarida Félix

“Arlindo é a generosidade em pessoa; é o desapego ao que o mundo considera como valor. Ele acredita que todo mundo é capaz e é isso que reúne tantas pessoas ao seu redor.”

Anna Alves

“O sonho de um anjo.”

Vera Tolêdo

"Pe. Arlindo, alguém que compreendeu a Teoria do Campo."

Lamartine Hollanda Junior

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