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1 Acompanhamento da Rodada Doha: 2005 e 2006 Filipe Mendonça e Thiago Lima.

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Acompanhamento da Rodada Doha:

2005 e 2006

Filipe Mendonça e Thiago Lima.

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Acompanhamento da Rodada Doha1

Resenha quinzenal nº 1 (07/03 a 21/03/2005)

João Dale Neto

Este artigo se propõe a analisar os principais acontecimentos do desenvolvimento da

Rodada de Doha (RD), com foco no movimento dos principais atores do comércio

internacional, desde o dia 07 até o dia 21 de março. O objetivo é apontar datas e fontes, de

modo a facilitar a navegação no banco de dados da Rodada Doha, visto que nem todas

notícias estão consolidadas nesse texto.

---==---

No dia 07/03, dois acontecimentos se destacaram no mundo do comércio. O

primeiro deles foi o ganho de causa definitivo que o Brasil obteve com respeito ao

contencioso do algodão, tendo como réu os EUA. O segundo foi a reunião de 35 ministros

da OMC.

Com relação ao primeiro, a Corte de Apelação da OMC indeferiu o pedido norte-

norte-americano de submeter a última decisão tomada no caso do algodão a um novo painel

para tentar reverter a situação. Essa decisão possui um caráter duplo, pois ao mesmo tempo

em que se abre um precedente importante para o Brasil e outros países questionarem o

programa de subsídios norte-americanos com uma grande chance de sucesso, os EUA

poderão ser mais agressivos em buscar compensações via contenciosos comerciais.

Pelo menos é o que se pode entender pelas palavras de Richard Mills, porta-voz do

representante norte-norte-americano na OMC, Peter Allgeier: “Those who live in glass

houses shouldnt throw stones.”2 Isso pode vir a ser um complicador a mais na já delicada

relação entre países desenvolvidos e em desenvolvimento nas negociações da RD.

1 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz. 2 BUENOS AIRES HERALD, 2005, p. 1.

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O governo brasileiro se mostrou satisfeito com a decisão da Corte de Apelação da

OMC e já coloca a possibilidade de entrar com um novo contencioso contra os EUA, sendo

que o produto alvo dessa vez seria a soja3.

O governo brasileiro realizou reunião com produtores de soja, representantes do

setor e os Ministérios da Agricultura e Desenvolvimento para juntos angariarem fatos e

dados concretos que pudessem possibilitar a abertura de um novo painel no Órgão de

Solução de Controvérsias (OSC) da OMC.

A princípio, o argumento seria o mesmo utilizado no caso do algodão, quando se

comprovou que os subsídios agrícolas norte-norte-norte-americanos, além de servirem

como apoio para os agricultores locais, deprimem o preço da commodity no mercado

internacional4. Nessa reunião foram discutidos dados técnicos como: produção, preço,

renda, participação no mercado e composição de custos de soja no Brasil e nos Estados

Unidos. Porém, não foi abordado quando seria a melhor data para abrir esse contencioso na

OMC. É o que diz Elisabete Seródio, secretária de Relações Internacionais do Ministério da

Agricultura: “nada está descartado neste momento. É possível abrir o processo sim. Mas,

antes, estamos reunindo todos os elementos. (...) a decisão será tomada em outro

momento”5.

O segundo assunto de destaque em 07/03 foi o resultado que se obteve na reunião de

35 ministros e altos funcionários de países membros da OMC, realizado na semana

passada. Seguindo uma tendência pessimista, essa foi outra reunião em que não houve

resultado positivo para as negociações de Doha. Apenas se mostraram boas intenções que

poderão ser ou não cumpridas. Países desenvolvidos se comprometeram a apresentarem

listas de ofertas para a liberalização das taxas de importação de produtos agrícolas em abril,

enquanto os países em desenvolvimento entregariam lista de liberalização do setor de

serviços em maio6.

3 O ESTADO DE SÃO PAULO, 08 mar. 2005. 4 O ESTADO DE SÃO PAULO, 08 mar. 2005. 5 ZANATTA, 16 mar. 2005. 6 GAZETA MERCANTIL, 07 mar. 2005.

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Nos dias 09 e 10/03 foram lançados dois relatórios interessantes, um deles pela

OMC e outro pelo Banco Mundial7.

A OMC disponibilizou em sua página na Internet o relatório: “The Future of WTO:

Adressing Institutional Challenges in New Millenium” em vista das comemorações do 10°

aniversário da organização8. O relatório gira em torno de três temas centrais, que foram

discutidos em 25 de janeiro desse ano, em Genebra, juntos com outros temas

complementares, por oito especialistas em comércio internacional, incluindo o ex-ministro

das Relações Exteriores Celso Lafer. Foram elaboradas recomendações a partir de um

consenso entre os especialistas.

O primeiro tema discutido foi o problema gerado pelos inúmeros acordos de

preferenciais de comércio, que causam um desvirtuamento nas regras estabelecidas pelo

GATT\OMC, em especial à cláusula de não-descriminação. Uma possível solução seria a

completa eliminação de tarifas de importação pelos países desenvolvidos já na RD.

O segundo tema abordado pelo relatório é como deixar a tomada de decisão, que se

dá hoje por consenso entre os 148 membros, mais efetiva. Uma proposta seria diminuir a

chance de algum membro usar o chamado “veto diplomático” para atravancar as

negociações. Esse veto só seria possível se o membro mostrasse uma justificativa de como

a decisão nessa questão afetaria o seu interesse nacional. Sendo assim, a tomada de decisão

deixaria de ser por consenso e ficaria a cargo de aprovação pela maioria.

O terceiro tema é mais uma recomendação: mudar a periodicidade das conferências

ministeriais, de dois para um ano apenas, a fim de dinamizar o processo de negociação da

atual e das futuras agendas de negociação.

Os capítulos que foram disponibilizados pelo Banco Mundial no dia 10/03 fazem

parte do livro: “Agricultural Trade Reform and the Doha Development Agenda”. O tema

principal é a tese de que, para os países em desenvolvimento, a melhor estratégia nas

negociações comerciais seria uma baseada única e exclusivamente na tentativa de acessar

7 O relatório do Banco Mundial se trata, na verdade, de dois capítulos que no prazo de 2 a 3 meses se juntarão a outros capítulos, formando um livro a ser publicado. Esses capítulos não foram disponibilizados na página do Banco. 8TACHINARDI e JANK, 8 mar. 2005. Relatório disponível em www.wto.org/english/thewto_e/10anniv_e/future_wto_e.pdf

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os mercados dos países desenvolvidos, mais do que tentar apenas a completa liberalização

das tarifas de importação de seus produtos agrícolas9.

Esse estudo teve uma alta rejeição entre os diplomatas dos países em

desenvolvimento, que contestaram os métodos econométricos utilizados para se chegar a

essa conclusão. Outra constatação do estudo é o perigo de alguns produtos considerados

sensíveis pelos países desenvolvidos, poderem participar de uma suposta “lista de

exceção”, o que causaria mais perdas para os países em desenvolvimento.

No dia 14/03, começaram as negociações do grupo de NAMA (sigla em inglês de

acesso a mercados para produtos não agrícolas). Os países começaram a colocar as

propostas e deram início às barganhas. O que chama a atenção nessa reunião é a ampliação

do G-3, que era formado por África do Sul, Brasil e Índia, e que agora passará a ser

conhecido como G-5, com a adesão de Argentina e China. Esse grupo, agora ampliado,

pode ser considerado como o porta-voz do G-2010, que tem como objetivo principal unificar

as propostas dentro do bloco para se ter uma posição negociadora mais firme e sólida.

Se esse novo G-5 perdurará, só o tempo dirá, pois como ocorre com o próprio G-20,

a disparidade entre os interesses comercias de seus membros pode impedir uma melhor

conclusão obtida por consenso. A proposta do G-5 passa por um: “(...) corte profundo nos

picos tarifários e nas escaladas tarifarias – as alíquotas com até três dígitos aplicados ao

comércio total ou parcial de produtos industriais, principalmente pelos países mais ricos do

mundo” afirmou o embaixador Piragibe Tarragô, diretor do Departamento Econômico do

Itamaraty11.

No dia 16/03, os primeiros questionamentos dos subsídios dados aos agricultores

norte-americanos começaram a ser sentidos no congresso dos EUA. No entanto, algumas

mudanças no repasse dessas verbas para programas de auxílio, poderão vir apenas no

orçamento de 2006. O programa de subsídio que deverá receber o maior ajuste é o “Loan

Deficiency Payment”, que poderá ter a sua verba reduzida em até 35%. Por enquanto, o que

impede o governo norte-americano de implementar a mudança nesse e em outros

9 BAUTZER, 10 mar. 2005. 10 Grupo que engloba importantes países em desenvolvimento e que foi criado na última reunião ministerial da OMC em Cancún. 11 MARIN, 14 mar. 2005.

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programas é a pressão oriunda de lobbies de grandes fazendeiros do Sul, maiores

beneficiários desse programa12.

No dia 18/03, o presidente George W. Bush nomeou para o cargo de representante

comercial, o deputado republicano Robert Portman, que ainda depende de aprovação do

senado. Se aprovado Portman terá uma difícil missão: fazer com que a política comercial

norte-americana sofra os menores entraves possíveis na sua implementação, sendo que a

principal queda de braço entre a Casa Branca e o congresso, neste momento, é a aprovação

do Acordo de Livre Comércio da América Central (CAFTA). Além dessa questão existem

outras como a ALCA e as negociações da RD.

Portman, republicano, é considerado um free-trader, que sabe aglutinar apoio tanto

de democratas como de republicanos. No biênio 1989-1991, foi lobista no congresso,

portanto, sabe como poucos o funcionamento do legislativo norte-americano. Sua maior

experiência foi no contencioso das bananas, aberto contra a União Européia, pelos próprios

EUA, além de Equador, Guatemala, Honduras e México. O contencioso ainda não foi

resolvido. Atualmente, Portman tem cargo sênior no comitê que analisa a política comercial

dos EUA na Câmara13.

No dia 21/03, a reunião do G-20, iniciada há 2 dias em Nova Delhi, chegou a um

consenso final sobre a proposta que será lançada nos dias 13-15 e 18-19 de abril em

Genebra, onde se darão as reuniões do grupo de negociação de agricultura. A demanda

principal dessa proposta é a eliminação dos subsídios à exportação dos países

desenvolvidos, que atrapalham o andamento das negociações de liberalização agrícola.

Além disso, outro objetivo principal foi alcançado nesse encontro: o fortalecimento do

bloco. Não houve desintegração por interesses divergentes dos países membros e o Uruguai

teve a sua adesão confirmada no bloco14.

Considerações Finais

O que se pode concluir nestas duas semanas é o prognóstico pessimista com relação

aos possíveis avanços que poderiam se realizar nas negociações da RD. O que se vê é um

12 BAUTZER, 16 mar. 2005. 13 VALOR ECONÔMICO, 18 mar. 2005. 14 SIFY, 21 mar. 2005.

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contínuo enfrentamento entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, o que não gera

bons frutos para nenhuma da partes envolvidas nesses enfrentamentos. Pode-se esperar a

continuação desse conflito, nas próximas semanas, devido ao reforço que o G-20 angariou

na reunião de Nova Delhi e à expectativa do Brasil entrar com um novo contencioso na

OMC sobre a soja.

Bibliografia:

BAUTZER, Tatiana. Acesso livre é melhor que fim de subsidio. Valor Econômico, 10 mar. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=115425>. Acesso em 10 mar. 2005. BAUTZER, Tatiana. Corte de subsídios racha o Congresso norte-americano. Valor Econômico, 16 mar. 2005, Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=116916>. Acesso em 16 mar. 2005. BUENOS AIRES HERALD, 07 mar. 2005. Brazil wins the cotton case. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=114877>. Acesso em 08 mar. 2005. GAZETA MERCANTIL, 07 mar. 2005. Reunião no Quênia acaba sem grandes avanços. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=114691>. Acesso em 08 mar. 2005. MARIN, Denise Chrispim. Brasil tem nova briga na OMC. O Estado de São Paulo, 14 mar. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=116542>. Acesso em 15 mar. 2005. O ESTADO DE SÃO PAULO, 08 mar. 2005. Soja pode ser o próximo alvo brasileiro. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=114934>. Acesso em 08 mar. 2005. SIFY, 21 mar. 2005. G-20 implements New Delhi declaration. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=118497>. Acesso em 21 mar. 2005. TACHINARDI Maria Helena e JANK, Marcos Sawaya. O Futuro da OMC e seus desafios de governança. O Estado de São Paulo, 09 mar. 2005, Disponível em

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<http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=115395>. Acesso em 10 mar. 2005 VALOR ECONÔMICO, 18 mar. 2005. De Olho no Congresso, Bush indica negociador comercial. Disponível em <http://www.valoronline.com.br/veconomico/?show=index&mat=2913917&edicao=1057&caderno=83&news=1&cod=4b1cb548&s=1>. Acesso em 18 mar. 2005. ZANATTA, Mauro. Disputa de soja na OMC segue em discussão. Valor Econômico, 16 mar. 2005, Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=116917>. Acesso em 16 mar. 2005.

Acompanhamento da Rodada Doha15

Resenha quinzenal nº 2 (22/03 a 04/04/2005)

João Dale Nogare Neto

Este artigo se propõe a resumir as principais notícias veiculadas entre os dias 22/03

a 04/04 relacionadas com a Rodada Doha. Trataremos dos contenciosos do algodão e do

frango, da ação do Canadá referente ao litígio contra a Emenda Byrd criada pelos EUA, da

questão da renovação do Brasil como participante do Sistema Geral de Preferências (SGP)

norte-americano e da tentativa de criação de um acordo sobre os subsídios para a fabricação

de aviões entre UE e EUA. Esses temas afetam, ainda que indiretamente, o

desenvolvimento da rodada.

Após esse resumo, citaremos algumas notícias que foram destaque nesta quinzena.

São notícias menos destacadas que os temas acima, mas que ajudam a mapear os

movimentos dos principais atores no cenário da Rodada Doha. Existem ainda outras

15 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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notícias que constam no banco de dados, em anexo, mas que não foram citadas nesta

resenha.

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Nessa quinzena, os contenciosos do algodão e do frango voltaram à baila no âmbito

da OMC. Trataremos primeiro do caso do algodão e em seguida o do frango.

Depois de reclamações por parte do governo brasileiro pela demora na solução

desse conflito, o Órgão de Solução de Controvérsias da OMC (OSC), adotou o relatório no

qual condena os EUA nessa questão, no dia 21/03. Foi estipulado um prazo de 30 dias para

o governo norte-americano informar ao OSC como pretende adequar os programas de

subsídios aos agricultores à decisão do Órgão.

Os EUA lamentaram a decisão, pois queriam uma solução negociada para o

contencioso. Alegaram que os subsídios estão institucionalizados em sua legislação e que

não será fácil retirá-los, a curto prazo, na medida em que o congresso se mostra bastante

resistente a esse respeito.

Esse prazo inicial pode ser prorrogado caso os dois países estejam dispostos a tal,

mas o Brasil já sinalizou que tem pressa na decisão e não aceita fazer mais concessões, já

que esse contencioso foi baseado totalmente nas regras do Acordo Agrícola vigente no

regime da OMC16.

Outro relatório foi emitido no dia 24/03 referente ao contencioso aberto pelo

governo brasileiro, sendo o alvo dessa vez a EU, com relação a exportação brasileira de

frango. Esse caso foi aberto no ano de 2002 e a queixa foi o descumprimento por parte da

UE do 2º artigo do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT).

A infração cometida foi a mudança na nomenclatura do frango brasileiro de salgado

para congelado, aumentando a tarifa de exportação ad valorem, de 15,7% para 75%. Com

essa ação, a UE deu tratamento menos favorável do que o previsto na lista de

compromissos comunitários assumidos na OMC, provocando uma perda de US$ 300

milhões, segundo a Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frango (ABEF).

16 O ESTADO DE SÃO PAULO, 22 mar. 2005 e MOREIRA, 22 mar. 2005.

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Para que o relatório tenha efeito, como no caso do algodão, ele precisa passar por

um processo adotado pelo OSC que demorará aproximadamente 140 dias17. Nem o

Itamaraty e nem o escritório Vieira Advogados, responsável pela defesa brasileira nesse

contencioso, manifestaram-se a respeito do conteúdo do relatório por ele ainda ser sigiloso.

Apenas declararam-se satisfeitos com a decisão preliminar dada pelo OSC18.

Outro assunto pertinente foi a decisão do Canadá de estudar uma possível retaliação

contra os EUA, devido a Emenda Byrd. Essa retaliação foi concedida pela OMC, em

novembro de 2004, para o próprio Canadá, Brasil, Índia, Japão, México e União Européia

no valor de US$ 150 milhões para os seis litigantes.

A lista de produtos que o Canadá está preparando para uma futura retaliação

contém: cigarros da Carolina do Norte, porcos vivos do Kentucky, peixes frescos da

Pensilvânia e ostras de Washington. Esses produtos poderão receber aumento de 15% em

suas tarifas de importação, as quais acarretarão receita de US$ 14 milhões, valor limite da

retaliação concedida ao Canadá.

Para o consultor de comércio de Ottawa, Peter Clark: “What’s the use of getting the

right to retaliate if you never use it?”19. Já para o embaixador norte-americano no Canadá,

Paul Collucci: “I suspect that it will take the imposition of sanctions by Canada and other

countries to get the Congress to act – and I think eventually they will act.”20, ou seja, para o

congresso revogar a Emenda Byrd, como o presidente George W. Bush almeja, seria

necessário uma retaliação por parte do Canadá para forçar o congresso a tomar a descisão21.

No dia 30/03 foi veiculado que o Brasil não deixará o SGP, pelo menos não por

enquanto, devido a um adiamento na decisão. A notícia foi dada pelo presidente do

subcomitê para o hemisfério ocidental da Comissão de Relações Exteriores do senado

norte-americano, Norm Coleman. Participar do SGP dá ao Brasil o direito de exportar para

os EUA 300 produtos com tarifa zero. Entre os setores beneficiados estão alimentos,

17 “A circulação do relatório final do painel para os demais países-membros da OMC e para o público ocorrerá dentro de dois meses. Depois de 20 dias após sua “circulação” (...) o relatório final do painel ser[á levado a consideração do OSC (...) para sua adoção em prazo não superior a 60 dias contando a partir da data de “circulação”. As partes envolvidas no painel podem recorrer a qualquer momento.” (CARDOSO, 25 mar. 2005). 18 CARDOSO, 25 mar. 2005. 19 CHASE, 29 mar. 2005. 20 Idem. 21 Idem.

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produtos químicos, máquinas e equipamentos que juntos somaram US$ 3 bilhões, ou 14,8%

da pauta exportadora brasileira para os EUA no ano passado. A soma de todas as

exportações para os EUA no mesmo período foi de US$ 20,3 bilhões.

O argumento para a retirada do Brasil do SGP é que o país não está promovendo

uma política pública de combate à pirataria eficiente, quebrando o acordo de TRIPS

atualmente vigente. Em 2003 houve uma perda de US$ 758 milhões das empresas norte-

americanas devido à pirataria em território brasileiro. Um contra argumento veio do

ministro Luiz Fernando Furlan, mencionando que os subsídios norte-americanos às suas

indústrias são tão ou mais prejudiciais ao comércio do que a própria pirataria.

Norm Coleman não quis entrar no mérito da questão, apenas se limitando a

responder que os subsídios são uma questão que deveriam ser discutidas em um foro

multilateral de comércio, como a OMC, devido a sua importância, não só para EUA e

Brasil, mas para o resto do mundo22.

A última notícia de relevo das negociações comerciais foi a cogitação da UE em

voltar a negociar acordo sobre o financiamento para a construção de aviões, junto com os

EUA, no âmbito da Rodada Doha. Para tanto, a UE exige explicações convincentes dos

EUA sobre a causa do abandono unilateral das consultas. A Embraer e a Bombardier estão

ansiosas pela conclusão deste acordo. Uma vez fechado, a UE admitiria negociações com

as duas empresas.23

Outros destaques

Foi divulgado, em 30/03, um guia pelo United States Trade Representative (USTR)

para que seus negociadores norte-americanos possam focar seus esforços nos principais

problemas relacionadas com as exportações de manufaturados e produtos agrícolas. Os

principais alvos de críticas foram China, Japão e União Européia. Esse relatório é uma

proposta para movimentos da diplomacia norte-americana a partir de 200624.

22 VALOR ECONÔMICO, 30 mar. 2005. 23 CHADE, 22 mar. 2005. 24 THE NEW YORK TIMES, 31 mar. 2005.

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Em 30/03 o presidente Bush solicitou ao congresso a prorrogação do Trade

Promotion Authority (TPA). O pedido prolongaria a autorização comercial, que expira

atualmente em julho de 2005, para junho de 2007. O crescente déficit comercial e a

“invasão chinesa” no mercado local podem atrapalhar uma decisão favorável à

administração Bush25.

Foi iniciado em Cartagena, na Colômbia, em 30/03, encontro realizado pelos

principais atores do Grupo de Cairns, como Argentina, Austrália, Brasil e Canadá. A

proposta da reunião é criar em uma estratégia para negociar, na Rodada de Doha, uma “(...)

metodologia para converter tarifas especificas (expressa em dólares por tonelada) em

equivalente “ad valorem” (alíquota expressa em porcentagem) (...)”26, visto que a reunião

de duas semanas atrás referente ao grupo de negociação em Acesso a Mercados (18/03) não

obteve avanço. Os resultados negativos dessa reunião ocorreram devido ao conflito Brasil-

EUA e G-10, grupo de países protecionistas. A expectativa é que o Grupo de Cairns adote

uma estratégia semelhante ao G-20, com exceção na estipulação de prazo para a eliminação

completa dos subsídios a exportação27.

Bibliografia:

CARDOSO, Cíntia. Brasil vence "guerra do frango" na OMC. Folha de São Paulo, 25 mar. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=119742>. Acesso em 30 mar. 2005.

CHADE, Jamil. Brasil e Canadá na discussão dos subsídios. O Estado de São Paulo, 22 mar. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=118665>. Acesso em 30 mar. 2005. CHASE, Steven. Trade sanctions against U.S. in works. The Globe and Mail, 29 mar. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=120662>. Acesso em 30 mar. 2005. 25 GAZETA MERCANTIL, 31 mar. 2005. 26 MOREIRA, 28 mar. 2005. 27 idem

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O ESTADO DE SÃO PAULO, 22 mar. 2005. OMC aprova relatório contra subsídios e dá 30 dias a EUA. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=118663>. Acesso em 30 mar. 2005. THE NEW YORK TIMES, 31 mar. 2005. White House Cites Unfair Trade Barriers. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=121506>. Acesso em 31 mar. 2005. VALOR ECONÔMICO, 30 mar. 2005. Bush pede prolongamento da TPA Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=121532>. Acesso em 31 mar. 2005. VALOR ECONÔMICO, 22 mar. 2005. EUA resistem à condenação da OMC. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=118636>. Acesso em 30 mar. 2005. VALOR ECONÔMICO, 22 mar. 2005. Grupo de Cairns tenta desbloquear agricultura. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=120172>. Acesso em 30 mar. 2005. VALOR ECONÔMICO, 30 mar. 2005. País deve continuar a fazer parte do SGP, diz senador norte-americano. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=120816>. Acesso em 30 mar. 2005.

Acompanhamento da Rodada Doha28

Resenha quinzenal nº 3 (05/04 a 18/04/2005)

João Dale Nogare Neto

28 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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Este artigo se propõe a resumir as principais notícias veiculadas entre os dias 05/04

a 18/04. Dois temas predominaram na discussão da Rodada Doha (RD). O primeiro

relacionado com o próprio andamento da rodada, suas conquistas, seus principais desafios e

conflitos em seu processo negociador. Já o segundo tema diz respeito aos movimentos e

negociações dos principais players com relação à China. Depois do resumo das noticias

relacionadas a esses dois temas, seguirá um resumo de assuntos de menor relevância no

cenário da RD, mas que servem como suporte para a compreensão do movimento dos

principais países nas negociações da rodada.

--- // ---

O primeiro tema tem como foco principal a evolução da RD e seus principais

atritos. Segundo Marcos Jank29, as atuais negociações da OMC refletem não apenas mais

uma rodada multilateral para a liberalização do comércio, mas também a “nova geografia

econômica do mundo”. Afirma isso em função da emergência de novas coalizões entre os

países participantes da rodada, formadas ao longo do processo negociador, como o G-20.

O G-20 dá mostras de que os países em desenvolvimento têm conseguido angariar

apoios recíprocos para essa que é chamada de Rodada do Desenvolvimento. Mas a

capacidade de agrupar diversos países com diferentes graus de desenvolvimento interno e

de projeção internacional é, ao mesmo tempo, positiva e negativa.

Pelo lado positivo assegura legitimidade entre seus membros, devido a sua busca de

uma negociação que favoreça a concretização das demandas desses países frente aos países

desenvolvidos. Pelo lado negativo, a diversidade já mencionada dos membros se mostra

também nas suas diferentes demandas em suas agendas de negociação, o que provoca

conflito na hora de se criar consenso interno sobre uma agenda que contemple os mais

diferentes interesses dentro do bloco. Isso se comprova pelas demandas das três principais

forças do G-20: Brasil, China e Índia. O Brasil é um demandante de liberalização no setor

de agricultura, o que não corresponde aos interesses chineses. Esses preferem liberalização

no setor industrial. Já a Índia não aceita liberalização mais profunda em nenhum dos dois

setores e sim no setor de serviços.

29 Professor da FEA-USP e presidente do Instituto de Estudos do Comércio e negociações Internacionais (ICONE).

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O autor também identifica três pilares que devem ser tratados com o máximo de

cuidado para que a RD não seja menos liberalizante do que os seus membros negociadores

desejam. Esses pilares são, dentro de uma visão negociadora brasileira: o fim dos subsídios

agrícolas dos países desenvolvidos, tendo como ícone principal os EUA; a questão de

acesso aos mercados, tanto dos países desenvolvidos como dos parceiros do G-20; e

avançar no debate sobre bens industriais e serviços30.

Esses pilares provocam debates entre vários especialistas em comércio

internacional, envolvidos na RD. É o caso de André Nassar31, que concorda com o primeiro

pilar proposto por Jank, mas acredita que um acordo agrícola na OMC poderá não ter o

avanço necessário e requerido pelos países em desenvolvimento. De qualquer forma, para

Nassar, um acordo mal feito é melhor do que nenhum acordo.

Já Sandra Rios32 argumenta que um debate entre agricultura e o setor industrial

poderão levar a um resultado intermediário na OMC. Ela salienta também que é preciso,

com urgência, melhorar a organização e consolidação da agenda negociadora brasileira

pelos principais órgãos formuladores: Itamaraty, Ministério do Desenvolvimento, Indústria

e Comércio Exterior (MDIC) e o Ministério da Fazenda. A falta dessa coordenação pode

ser um complicador a mais para o Brasil nas negociações da RD33.

Outro gargalo que poderá prejudicar as negociações da rodada, não citado por Jank,

é a questão referente ao método que será utilizado para o cálculo do corte das tarifas

consolidadas dos países membros da OMC. Em primeiro lugar, não há consenso interno

entre os empresários brasileiros sobre o método que será utilizado, Suíça ou Girard34, e seus

respectivos coeficientes. Esses métodos definem realmente qual será o corte nas tarifas

consolidadas pelo Brasil.

A falta de consenso interno ocorre por que o corte de tarifas terá impactos diferentes

nos diversos setores da economia envolvidos na negociação. Além da falta de consenso

30 JANK, O ESTADO DE SÃO PAULO, 05 abr. 2005. 31 Diretor-executivo do ÍCONE. 32 Consultora da Confederação Nacional da Indústria (CNI). 33 GÓES, VALOR ECONÔMICO, 06 abr. 2005. 34 “Há duas fórmulas na mesa de negociação: Suíça e Girard. Apresentada pelos suíços durante a Rodada Tóquio (1973-79) a Suíça cora proporcionalmente mais as tarifas mais altas. A fórmula Girard (...) pondera os resultados pela tarifa média de cada país. Ou seja, o país que em média, possui tarifas mais altas, corta menos.” (LANDIM,VALOR ECONÔMICO, 07 abr. 2005).

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interno, o Brasil sofre também pressão para a liberalização mais agressiva do setor de bens

industriais.

Se um acordo global não for possível, a probabilidade de serem feitos acordos

setoriais para se avançar na rodada é muito grande. O setor agrícola é o mais entusiasmado

com essa possibilidade e o setor industrial o mais avesso35.

China

O segundo tema mais destacado no período em resenha trata dos principais

movimentos dos EUA e do Brasil com relação à China, os quais referem-se à “invasão” de

produtos chineses nos mercados desses países. Trata também de como a China está se

organizando para se proteger das ações brasileiras e norte-americanas.

O primeiro país a se movimentar foi os EUA, que está preparando estudos para

averiguar os impactos que os produtos chineses estão causando no mercado interno. Se

comprovada a distorção nos preços, o governo poderá abrir um processo na OMC pedindo

autorização para impor salvaguardas, visando proteger a indústria nacional. Os mercados

que estão sendo pesquisados são os de camiseta de malha, de calças e de roupa de baixo.

Estimativas apontam para imposição de salvaguardas, já que os produtos chineses tiveram,

respectivamente, incremento de 1.250%, 1.500% e 300% nas importações nos setores

mencionados36.

Já no Brasil, a queda de braço continua entre o governo brasileiro e a Federação das

Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), juntamente com o Centro das Indústrias do

Estado de São Paulo (CIESP). Todo esse conflito se deve ao ato do governo, em novembro

de 2004, de reconhecer a China como economia de mercado, o que prejudica os processos

de anti-dumping por parte do Brasil.

O governo brasileiro, via MDIC, rebateu as criticas. Argumentou que esse ato foi

tomado de forma extra-oficial e que esse mesmo ato, espera o governo, renda frutos para o

Brasil vis-à-vis a China. Caso isso não aconteça, o governo deve voltar atrás em seu

reconhecimento da China como economia de mercado.

35 LANDIM,VALOR ECONÔMICO, 07 abr. 2005 e VALOR ECONÔMICO, 08 abr. 2005. 36 VALOR ECONÔMICO, 05 abr. 2005.

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Os setores mais afetados por um suposto reconhecimento seriam os setores de

eletroeletrônicos, brinquedos e têxteis, sendo que esses dois últimos já utilizam medidas

compensatórias para equilibrar o dumping chinês, alegado por esses setores37.

Devido à possibilidade dos EUA imporem salvaguardas e das pressões constantes

do empresariado brasileiro a favor da imposição de salvaguardas aos produtos chineses, a

China admitiu pela primeira vez que pode retaliar parceiros comerciais, se esses processos

de salvaguardas não forem feitos com uma “legitima investigação” e de modo “correto e

não discriminatório”.O artigo 32 da regulamentação comercial chinesa não especifica o que

é uma medida discriminatória, mas o governo chinês avisa que se esse artigo tiver que ser

aplicado, esse o será de acordo com as normas da OMC38.

Outros destaques

A primeira notícia diz respeito ao desapontamento do governo brasileiro pelo

adiamento da decisão dos EUA sobre a eliminação do Brasil do Sistema Geral de

Preferências (SGP) para setembro. Em nota o Itamaraty reiterou que o país deveria ser

mantido na lista pelo sucesso do governo em respeitar os direitos intelectuais no território,

comprovado pelos dados enviados ao governo norte-americano39.

Outra notícia veiculada trata da Emenda Byrd40. Segunda a fonte, o congresso norte-

americano está adiando por demais a revogação dessa emenda, o que pode causar

retaliações por parte da UE e do Canadá, haja visto que esses atores ganharam direito à

retaliação da OMC num contencioso iniciado em 2002 contra essa mesma emenda. A data

limite para a revogação se expira em 1° de maio41.

37 DIANNI E LEITE, FOLHA DE SÃO PAULO, 09 abr. de 2005. 38 MOREIRA, O ESTADO DE SÃO PAULO, 07 abr. de 2005. 39 MARIN, O ESTADO DE SÃO PAULO, 06 abr. de 2005. 40 A Emenda Byrd promete: “(...) The Commerce Department places a tariff on imported goods that have been determined to be “dumped”, or sold before market prices, in the United States, when these sales are found to be injurious to U.S. companies. The tariff is intended to bring the prices off the dumped goof up to market prices, and thereby eliminate the injury to the U.S. company.” (THE WASHINGTON TIMES, 07 abr. de 2005). 41 THE WASHINGTON TIMES, 07 abr. de 2005.

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Outra notícia é o relatório publicado pela organização não governamental Oxfam:

“Derrubando a porta a pontapés”. Nesse relatório a organização procura mostrar a realidade

do cenário da produção e consumo de arroz, destacando o quão distorcido estão os preços

dessa comoditty devido aos subsídios dados pelos países desenvolvidos aos seus produtores

locais. Atenção especial é dada aos subsídios norte-americanos.

A Oxfam recomenda que um novo acordo agrícola na OMC deve permitir que

países em desenvolvimento regulamentem com mais liberdade importações que ameacem

suas industrias nacionais. Além disso, recomenda o abandono da tática de negociações

bilaterais pelos países desenvolvidos que visam abrir mercados de outros países, para assim

poderem ter mais chances de negociar favoravelmente com países que não possuem um

poder de barganha igual ou superior a desses países42.

Bibliografia:

DIANNI, Claudia e LEITE, Janaina. Empresas reclamam de riscos em acordo com a China; Furlan rebate. Folha de São Paulo, 09 abr. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=123572>. Acesso em 13 abr. 2005.

GÓES, Francisco. Acordo agrícola da OMC deve ficar no "meio do caminho", avalia especialista. Valor Econômico, 06 abr. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=122720>. Acesso em 06 abr. 2005.

JANK, Marcos Sawaya. A OMC e as novas geometrias do mundo. O Estado de São Paulo, 05 abr. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=122409>. Acesso em 05 abr. 2005.

LANDIM, Raquel. Corte de taxa pode ser menor que o previsto. Valor Econômico, 07 abr. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=123081>. Acesso em 08 abr. 2005. MOREIRA, Assis. Pequim ameaça retaliar parceiro que adotar barreiras. O Estado de São Paulo, 07 abr. 2005. Disponível em

42 VALOR ECONÔMICO, 11 abr. de 2005.

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<http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=123091>. Acesso em 08 abr. 2005. O ESTADO DE SÃO PAULO, 06 abr. 2005. Pirataria: Itamaraty rejeita decisão dos EUA Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=122712>. Acesso em 06 abr. 2005. THE WASHINGTON TIMES, 07 abr. 2005. Repeal the Byrd Amendment. Disponivel em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=123164>. Acesso em 08 abr. 2005. VALOR ECONÔMICO, 05 abr. 2005. EUA abrem processo contra têxteis da China. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=122399>. Acesso em 05 abr. 2005. VALOR ECONÔMICO, 08 abr. 2005. País é pressionado nas negociações de produtos industriais da OMC. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=123501>. Acesso em 08 abr. 2005. VALOR ECONÔMICO, 11 abr. 2005. Subsídio compromete produtores de arroz. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=124116>. Acesso em 14 abr. 2005.

Acompanhamento da Rodada Doha43

Resenha quinzenal nº 4 (19/04 a 03/05/2005)

43 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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João Dale Nogare Neto

Este artigo se propõe a resumir as principais notícias veiculadas entre os dias 19/04

a 03/05. Quatro temas predominaram na discussão da Rodada Doha (RD). O primeiro

relaciona-se à condenação da União Européia (UE) no caso dos subsídios do açúcar. O

segundo tema é a decisão do governo brasileiro de modificar a pauta negociadora para a

RD. O terceiro é o constante conflito entre o setor industrial e o governo brasileiro sobre as

importações chinesas. O último tema é o movimento preparatório da UE para impor

salvaguardas as importações da China que ameaçam a indústria local.

Logo após a exposição desses temas, outros destaques serão apresentados, como

forma de complementação, para verificar a movimentação dos principais atores na rodada e

nos contenciosos instalados no Orgão de Solução de Controvérsias da OMC (OSC).

O primeiro tema, como colocado inicialmente, foi a condenação dos subsídios dados

a produção de açúcar fornecidos pela UE, no dia 28/04. O Itamaraty comemorou a vitória

contra a UE na OMC, mas criticou a não estipulação de prazos a serem cumpridos pela

mesma para uma mudança efetiva, pois o argumento brasileiro pressupõe que os subsídios

europeus dados ao açúcar ferem tanto o acordo agrícola como o acordo sobre subsídios da

OMC. Mas os árbitros do Orgão de Apelação da OMC apenas basearam suas conclusões

sobre os subsídios europeus no atual acordo agrícola, a qual permite que a UE não retire os

seus subsídios condenados “imediatamente”, como seria se a sentença fosse baseada

também no acordo de subsídios.

Portanto, o prazo para decidir quando a UE terá que reduzir os seus subsídios pode

levar até cinco meses para ser concluído. Mas o prazo que realmente será colocado para os

europeus como meta para a retirada de seus subsídios pode ser de no máximo de 15 meses.

Segundo a União das Indústrias de Cana de Açúcar (UNICA), os produtores de açúcar

brasileiros perdem anualmente US$ 400 milhões devido aos subsídios europeus44.

As decisões a favor do Brasil nos casos dos subsídios ao algodão norte-americano e

ao açúcar europeu, fortalecem o posicionamento do G-20 no cenário das negociações da

44 DIANNI e CARDOSO, 29 abr. 2005.

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RD, pois o grupo pode negociar maior abertura aos mercados dos países desenvolvidos

com maior poder de barganha, agora que a OMC criou uma jurisprudência contra subsídios

que distorcem o comércio internacional entre os países desenvolvidos e os em

desenvolvimento, em prol dos primeiros45.

O segundo tema é a mudança na pauta negociadora brasileira na OMC. As novas

inserções foram o setor de serviços, o de telecomunicações e o setor de transportes. Essa

reviravolta aparentemente tem dois motivos principais. O primeiro é a pressão exercida

recentemente pelo Comitê Europeu de Seguradoras (CEA), American Council of Life

Insures e American Insurance Association para a abertura do mercado brasileiro, tanto na

ALCA como na RD46. O segundo motivo é o não andamento da própria rodada, devido à

intransigência de EUA e UE na questão da agricultura, por isso a estratégia brasileira é

aumentar o máximo possível a pauta liberalizante no setor de serviços, para poder ter um

maior poder de barganha no que se refere a questão da agricultura47.

O terceiro tema da quinzena se relaciona às pressões exercidas pelo setor industrial

brasileiro no governo e as pressões dos industriais europeus. O IPEA, em um estudo

divulgado no dia 19/04 e baseado em dados de novembro de 2004, afirmou que o

reconhecimento da China como economia de mercado teve impacto em setores que não

afetam em demasia a balança comercial brasileira.

A pesquisadora Fernanda de Negri48 aventou que as medidas antidumping para

produtos como alho, magnésio metálico e cadeados e a sensibilidade dos setores têxtil, de

brinquedos e calçados podem provocar uma retaliação por parte dos chineses, já que esses

produtos representam 5 a 6% da pauta exportadora daquele país49. Por outro lado, o setor

têxtil aumentou a pressão já existente no governo brasileiro para a regulamentação do

mecanismo temporário que permitira o país a impor salvaguardas aos produtos chineses até

o ano de 2008.

O setor alega um aumento de 69% nas importações de têxteis chineses em 2004, há

uma ameaça de prejuízo para o setor brasileiro no futuro. A FIESP e a Associação

Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT) ressaltaram esse aspecto e pediram providências

45 O ESTADO DE SÃO PAULO, 29 abr. 2005. 46 MOREIRA, 22 abr. 2005. 47 MOREIRA, 28 abr. 2005. 48 Pesquisadora do IPEA e autora do estudo. 49 LANDIM, 20 abr. 2005.

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imediatas ao governo, tanto na questão da regulamentação do mecanismo provisório como

na questão do reconhecimento da China como economia de mercado50.

Por fim, a UE também está se mobilizando devido ao salto das importações

oriundas da China para aquela região, em grande parte devido ao lobby da Euratex,

Confederação das Indústrias Têxteis Européias. O argumento da Euratex é que as

importações chinesas são competitivas devido à mão-de-obra barata, pelos subsídios

governamentais e a pirataria crescente. Se não for tomada providência a respeito, poderá se

ter um corte de 1 milhão de empregos no setor, segundo a associação. O comissário de

comércio exterior do bloco, Peter Mandelson, irá pedir uma investigação sobre os números

referentes às importações chinesas.

Se comprovado que houve uma alta de 10% a 100% nas importações, a UE fará

uma consulta informal à China para que a mesma possa tomar alguma providência a

respeito da questão. Caso a China não mostrar uma solução satisfatória, a UE poderá então

aplicar salvaguardas a esses setores que estão sendo afetados por essas importações51.

Outros destaques

O primeiro destaque relaciona-se com a abertura de um painel na OMC contra os

subsídios norte-americanos a produção de soja. Segundo Gilman Viana52, o processo está

parado devido a recuperação dos preços internacionais da soja, argumento rechaçado pelo

governo.

Elisabete Serodio53 contesta o argumento de Viana e diz que algumas negociações

bilaterais e multilaterais atrapalharam, mas não destacaram, o processo. Há uma apreensão

generalizada sobre o real poder de convencimento do argumento brasileiro nessa questão, já

que esse argumento coloca os subsídios norte-americanos para a soja como uma real

ameaça para o setor brasileiro. Esse argumento é plenamente aceito pela OMC, mas pouco

utilizado, daí a apreensão tanto do governo como do setor da soja54.

50 MELLO, 25 abr. 2005. 51 O GLOBO, 23 abr. 2005. 52 Vice-presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). 53 Secretária de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura. 54 SCARAMUZZO e ZANATTA, 20 abr. 2005.

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Os contenciosos das bananas, abertos de maneira individual por Brasil, Colômbia,

Costa Rica, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras e Panamá, vem questionar o

sistema de tarifas da UE para o produto, a qual entrará em vigor em 2006. Se a decisão for

positiva, a OMC pedirá que a UE revise suas tarifas e se, mesmo assim, a mudança se

mostrar ineficaz para a solução do problema, a UE terá que retirar por completo essas

tarifas55.

O Brasil voltou a pressionar os EUA para a retirada de seus subsídios ao setor

algodoeiro até 1º julho. O governo brasileiro rejeitou o pedido do governo norte-americano

de ter mais consultas e negociações sobre o tema. O Brasil pede a retirada dos subsídios,

que segundo Daniel Summer56, contratado pelo governo brasileiro, distorcem os preços do

algodão em 15% e aumenta a produção norte-americana em 30%. O problema para o

governo norte-americano no cumprimento da decisão da OMC é um congresso cada vez

mais refratário à essas questões, o que pode impedir os EUA de cumprirem com sua

punição57.

Bibliografia:

BOUÇAS, Cibelle. Contencioso sobre banana será debatido na sexta-feira. Valor Econômico, 20 abr. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=126648>. Acesso em 22 abr. 2005.

CARDOSO, Cíntia. EUA sinalizam adotar determinação da OMC. Folha de São Paulo, 26 abr. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=128280>. Acesso em 29 abr. 2005. DIANNI, Claudia e CARDOSO, Cíntia. Brasil irá engavetar painel da soja. Valor Econômico, 20 abr. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=126645>. Acesso em 22 abr. 2005.

55 BOUÇAS, 20 abr. 2005. 56 Economista da Universidade da Califórnia. 57 GAZETA MERCANTIL, 22 abr. 2005 e CARDOSO, 26 abr. 2005.

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DIANNI, Claudia e CARDOSO, Cíntia. Brasil irá engavetar painel da soja. Valor Econômico, 29 abr. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=129043 >. Acesso em 29 abr. 2005. LANDIM, Raquel. Status chinês teria impacto mínimo. Valor Econômico, 20 abr. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=126569>. Acesso em 22 abr. 2005. MELLO, Patrícia Campos, Empresários pedem salvaguardas contra China. O Estado de São Paulo. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=127634 > Acesso em 25 abr. 2005. MOREIRA, Assis. Aumenta a pressão pela abertura. Valor Econômico, 22 abr. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=127108 >. Acesso em 22 abr. 2005. MOREIRA, Assis. Brasil admite ampliar proposta de abertura em serviços na OMC. Valor Econômico, 28 abr. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=128888 >. Acesso em 29 abr. 2005. GAZETA MERCANTIL, 22 abr. 2005. Brasil pede o fim dos subsídios dos EUA até julho. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=127208> Acesso em 22 abr. 2005. O GLOBO, 23 abr. 2005. Têxteis chineses na mira da Europa. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=127396> Acesso em 24 abr. 2005. O ESTADO DE SÃO PAULO, 29 abr. 2005. Decisão fortalece o G-20 na Rodada Doha. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=129412 >. Acesso em 29 abr. 2005.

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Acompanhamento da Rodada Doha58

Resenha quinzenal nº 5 (04/05 a 19/05/2005)

João Dale Nogare Neto

Este artigo se propõe a resumir as principais notícias veiculadas entre os dias 04/05

a 19/05. Três temas predominaram na discussão da Rodada Doha (RD). O primeiro

relaciona-se à eleição do novo secretário-geral da Organização Mundial do Comércio

(OMC). O segundo tema é uma análise da diplomacia comercial aplicada pelo governo

Lula até esse momento. O terceiro é o resultado obtido na reunião de 30 países em Paris,

uma tentativa de dar prosseguimento à RD tendo em vista a Conferência Ministerial que

ocorrerá em dezembro, em Hong-Kong..

Logo após a exposição desses temas, outros destaques serão apresentados, tendo um

maior focos nos principais contenciosos em que o Brasil obteve vitória no Orgão de

Solução de Controvérsias da OMC (OSC), a saber, no contencioso do algodão contra os

EUA e no contencioso do açúcar contra a União Européia (UE).

O primeiro tema, mais importante para essa quinzena, foi sem dúvida a escolha do

candidato Pascal Lamy ao cargo de diretor geral da OMC no dia 13/05.

A principal tarefa de Pascal Lamy, a partir de 1º de setembro, é trabalhar duro para

que a RD consiga ter avanço significativo na Conferência Ministerial de Hong-Kong,

programada para dezembro, no que tange na retirada de US$ 500 bilhões em subsídios

dados pelos países ricos na área agrícola. Lamy é bem visto pelo governo brasileiro, apesar

de ter algumas opiniões contrárias ao governo, como a posição em defesa da

internacionalização da Amazônia, devido a uma suposta incompetência do Brasil em

prevenir o seu desmatamento59.

Enquanto comissário do comércio da UE, cargo que presidiu durante 5 anos, Lamy

defendeu com veemência as práticas protecionistas utilizadas pelo bloco europeu, posição

sempre conflituosa com os países em desenvolvimento, mas ao mesmo tempo recebia

58 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz. 59 MING, 14 mai. 2005.

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críticas da própria UE devido as suas concessões em demasia nas negociações multilaterais

de comércio, tanto na OMC como em acordos bilaterais.

Com relação aos EUA, o ex-comissário trabalhou para harmonizar as relações entre

dois gigantes comerciais. Ao mesmo tempo, promoveu contenciosos na OMC contra o

governo norte-americano, questionando principalmente os subsídios à indústria de aviões, o

regime fiscal dos EUA e o protecionismo no setor da siderurgia60.

Quando questionado por um repórter quais seriam as suas prioridades respondeu:

“Só há energia no sistema o bastante para concluir as negociações.”61, mas sabe-se que

Pascal Lamy tem planos para mudar a organização administrativa da OMC bem como o

volume de trabalhos e estudos produzidos pela entidade, como por exemplo, estudos

econômicos próprios62.

Em suma: “Emerging victorious, Lamy, expected to suceed Supachai Panitchpakdi

of Thailand, on Sept. 1, said that would respect the “diversity” of all members’ views on

sensitive topics and added he would strive to seek a “consensus” on issues such as

agriculture, one area that has bitterly divided nations of the trade talks”63

O impacto direto para o Brasil e outros importantes emergentes, como China e

Índia, não foi só a vitória do europeu Lamy, mas a derrota do uruguaio Castilho. O

uruguaio ficou conhecido como uma pessoa condescendente com as fracas propostas de

liberalização comercial no setor agrícola pela UE e EUA, mas o fato que mais pesou contra

Castilho foi a depreciação do G-20, comandado pelo Brasil. Esperava-se maior apoio já que

o candidato vinha de um país em desenvolvimento e o seu país de origem faz parte dessa

coalizão64.

O segundo tema refere-se a uma análise da diplomacia comercial do governo Lula.

Nessa análise, a autora cria uma hierarquia das prioridades da atual diplomacia comercial

brasileira: OMC, América do Sul, UE, ALCA e Cooperação Sul-Sul.

É consenso geral que a OMC é prioridade para o Brasil, pois o país teme um novo

fracasso nas negociações da RD, como afirma Renato Flôres65: “A primeira na hierarquia

60 O ESTADO DE SÃO PAULO, 19 mai. 2005. 61 MILLER, 16 MAI. 2005. 62 Idem. 63 VALOR ECONÔMICO, 16. mai. 2005. 64 Idem. 65 Professor da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas (EPGE/FGV)

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está clara: este é o ano da OMC. (...) Todos os países estão fazendo um esforço para obter

resultados favoráveis na Rodada Doha”66, pois: “Um acordo na OMC neste momento talvez

seja o mais importante. Se avançar, ainda que de forma parcial, poderá melhorar muito a

condição do Brasil perante seus parceiros comerciais”67 corrobora Oswaldo Douat68.

O segundo foco na hierarquia da diplomacia comercial é a América do Sul, tido

como ponto chave para a consolidação da posição brasileira em outros foros e negociações

multilaterais. O que emperra uma liderança definitiva do Brasil nessa região é a resistência

de vários países, mas principalmente da Argentina, que de tempos em tempos colocam

entraves diplomáticos e atuam de forma antagônica ao Brasil na OMC, no MERCOSUL e

no processo de negociação para a formação da ALCA.

Os dois compromissos seguintes da agenda brasileira são as negociações para uma área de livre comércio EU-MERCOSUL e ALCA.

O acordo com a UE só tem supremacia em relação à ALCA pelo fato das

negociações para a última estarem paralisadas até esse momento, devido a conflitos entre os

dois principais atores nessas negociações, Brasil e EUA. Se junto a isso, a conferência

ministerial de Hong-Kong, marcada para dezembro desse ano, conseguir avançar na

questão de subsídios agrícolas da UE, cria-se um cenário para um fechamento de acordo

entre UE e MERCOSUL. Já a ALCA, para Douat, está perdendo importância dentro da

pauta negociadora brasileira, devido a contradições dentro do próprio governo onde: “ (...)

Ora alguém ligado a Presidência diz que não é o momento de desenvolver a ALCA, e em

seguida se recebe a informação de que é importante negociar com os EUA.”69.

Por fim, a Cooperação Sul-Sul, tem o mesmo objetivo da liderança na América do

Sul, já citado anteriormente, além de diversificar os mercados para os produtos exportados

pelo Brasil70.

O último tema de relevo nesta quinzena é o resultado da reunião da OMC em Paris,

entre os dias 02 e 04, que teve como objetivo dar prosseguimento a rodada de negociações

de Doha. Essa reunião obteve um resultado positivo para a principal questão que travava o

66 SFREDO, 08 mai. 2005. 67 Idem. 68 Presidente da Coalizão Empresarial Brasileira (CEB). 69 Idem. 70 Idem.

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avanço em temas relevantes para a rodada, a questão da conversibilidade de tarifas

específicas em ad valorem. Como solução, foi criada uma metodologia específica71.

Para Celso Amorim, o avanço nessa matéria foi importante, pois sem um consenso:

“ (...) nós não poderíamos avançar no restante da negociação (...) Agora, trataremos das

grandes questões da negociação. (...)”72. Corroborou com Celso Amorim, Robert Portman:

“Se não resolvêssemos essa questão, ela não apenas passaria a barrar o avanço na questão

agrícola. Teria também um efeito danoso sobre toda a rodada de conversações na OMC.”73.

Mas parece que os países não cansam de enfrentamentos no âmbito da OMC. Mal

foi resolvida a questão da conversibilidade das tarifas, surgem outros dois problemas que

podem agravar a já combalida RD: a negociação Sul-Sul e as preferências tarifárias dadas

aos países da África, Caribe e Pacífico (ACPs).

Em relação a primeira questão, os países desenvolvidos cobraram que países como

Brasil e Índia deveriam abrir seus mercados para os países africanos, caribenhos e outros

países em desenvolvimento mais empobrecidos. Se efetivamente Brasil e Índia acatarem

essa sugestão, os países desenvolvidos se beneficiarão diretamente dessa decisão por causa

da cláusula da nação mais favorecida, que obriga os países expandirem os benefícios para

todos os membros de uma abertura em algum setor para um único país.

E enquanto os países da ACPs, a questão é o medo desses países terem suas

preferências tarifárias cortadas pelo avanço das negociações da RD. Por a resistência nesse

ponto pode se agravar a medida que a rodada avance no sentido de liberalizar os mercados

dos países desenvolvidos74.

Outros destaques

Na reunião que teve fim em 04/05 em Paris, a conversão das tarifas específicas em

equivalentes ad valorem não obtiveram consenso com relação a questão do açúcar. Serão

71 Essa metodologia: “ (...) Prevê que todos os países da OMC calculem as taxas sobre a importação de produtos agrícolas com base numa porcentagem do valor do produto.” (GAZETA MERCANTIL, 05 mai. 2005). 72 Idem. 73 Idem. 74 MOREIRA, 06 mai. 2005.

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marcadas reuniões para averiguar e decidir sobre as definições das tarifas das importações

do açúcar e sobre a escolha do preço mundial que servirá de base para o cálculo da

conversão75.

O Brasil poderá pedir autorização para a OMC para retaliar os EUA na questão do algodão.

A queixa do Brasil e a falta de empenho do governo norte-americano em eliminar os

subsídios aos cunicultores locais e nem de negociar com o Brasil na OMC um prazo maior

para a implementação de sanções autorizadas pela OMC, haja visto que o prazo inicial está

se esgotando e não se vislumbra uma solução final para a questão76.

Bibliografia:

LEO, Sergio. Bye Bye Supachai. Valor Econômico, 16 mai. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=134411>. Acesso em 17 mai. 2005.

MILLER, Scott. Novo diretor da OMC, Pascal Lamy, prioriza conclusão da Rodada Doha. O Estado de São Paulo, 16 mai. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=134507>. Acesso em 17 mai. 2005. MING, Celso. Novo xerife. O Estado de São Paulo, 14 mai. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=133959>. Acesso em 14 mai. 2005. MOREIRA, Assis. Emergentes e ricos terão novos pontos de atrito. Valor Econômico, 06 mai. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=131350>. Acesso em 06 abr. 2005. SFREDO, Marta. Para que lado pende a balança brasileira. Zero Hora, 08 mai. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=131940>. Acesso em 06 abr. 2005. GAZETA MERCANTIL, 05 mai. 2005. Acordo entre ministros simplifica tarifas e desbloqueia negociação. Disponível em

75 O ESTADO DE SÃO PAULO, 11 mai. 2005. 76 MOREIRA, 11 mai. 2005.

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<http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=131010> Acesso em 05 abr. 2005. O ESTADO DE SÃO PAULO, 11 abr. 2005. Países questionam tarifas do açúcar. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=132977>. Acesso em 11 mai. 2005. O ESTADO DE SÃO PAULO, 14 abr. 2005. Francês rejeita ser chamado de protecionista. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=133957>. Acesso em 14 abr. 2005. THE WASHINGTON TIMES, 17 mai. 2005. Pascal Lamy: The Politics of Consensus. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=134780>. Acesso em 17 mai. 2005. VALOR ECONÔMICO, 05 mai. 2005. UE vai alterar proposta do regime do açúcar. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=131180>. Acesso em 05 mai. 2005.

Acompanhamento da Rodada Doha77

Resenha quinzenal nº 6 (20/05 a 04/06/2005)

João Dale Nogare Neto

Este artigo se propõe a resumir as principais notícias veiculadas entre os dias 20/05

a 04/06. Dois temas predominaram na discussão da Rodada Doha (RD). O primeiro

relaciona-se aos movimentos dos principais players com relação a China e a resposta dada

pela última. O segundo tema corresponde à oferta brasileira encaminhada para a OMC com

relação as negociações do setor de serviços..

Como costume dessa resenha, logo após a exposição dos temas principais,

seguiriam outros destaques, não tão relevantes a RD, mas que funcionam como auxilio para

77 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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a construção dos passos dos principais players nesta rodada. Nesta quinzena

excepcionalmente, não haverá a inclusão de destaques nesta resenha, devido ao fato das

noticias vinculadas não terem um impacto importante para os movimentos dos players, por

seu conteúdo não ser novo ou por ter sido citado em resenhas anteriores.

Com relação ao primeiro tema, no dia 19/05, a China ameaçou recorrer a OMC,

devido ao anúncio dos EUA de limitar as importações chinesas em seu território no dia

18/05. Os EUA limitaram as importações em 7,5%, para tentar controlar o ingresso de

produtos chineses no mercado norte-americano.

Segundo Bo Xilai78, a China não colocará limites para suas exportações e

complementou dizendo, que a decisão norte-americana fere a integração do mercado

mundial de têxteis, direito reconhecido pela OMC79.

Outro ator que aumentou a pressão para que a China limite de alguma maneira as

suas exportações foi a UE. De janeiro a abril, as exportações chinesas para a UE

aumentaram 15,6%, totalizando US$ 5,28 bilhões. Mas o cenário China-UE pode se

agravar, caso a UE seguir em frente em seu intento de solicitar a OMC uma investigação

sobre as crescentes exportações chinesas.

Caso esse fato se consume, a China terá 15 dias, a partir da notificação oficial da

OMC, para expor as suas medidas tomadas para solucionar o caso80.

Outro movimento importante nesta quinzena é a decisão do governo de

regulamentar o mecanismo provisório para a imposição de salvaguardas, se necessário, para

os produtos chineses, no dia 02/06 pelo GECEX81.

Duas das medidas que poderão ser aplicadas a alguns desses setores prejudicados

pelas importações de produtos chineses são o estabelecimento de cotas e novas alíquotas

para serem agregadas aos impostos da Tarifa Externa Comum do MERCOSUL (TEC).

Entre alguns setores que deverão ser afetados pelas medidas estão os da área têxtil,

calçados e alguns segmentos do setor de eletroeletrônicos.

No processo para a solicitação de salvaguardas: “(...) os empresários brasileiros

terão de provar que houve súbito, forte e significativo aumento nas compras de mercadorias

78 Ministro chinês do comércio. 79 GAZETA MERCANTIL, 20. mai. 2005, p. 1. 80 O ESTADO DE SÃO PAULO, 26 mai. 2005, p.1. 81 Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Externo (CAMEX).

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chinesas, e que essa importação causou ou ameaça causar grave dano a empresa

nacional”82. O governo analisará os pedidos de salvaguardas, caso a caso, no prazo máximo

de 3 meses para cada pedido83.

Essas salvaguardas eram mais que esperadas, já que no primeiro quadrimestre deste

ano as importações chinesas somaram US$ 1,437 bilhão ou 58,3% a mais do que o mesmo

período de 2004 e as exportações brasileiras para aquele mercado foram de US$ 1,628

bilhão ou 3,9% a mais do que o 1º quadrimestre de 200484.

Mas o que mais é preocupante para o Brasil especificamente para o setor têxtil, uns

dos mais prejudicados por essa “modalidade paralela” de competição é o considerável

volume de contrabando oriundo daquele país: “ Em 2004, o governo chinês registrou a

exportação de US$ 461 milhões de produtos têxteis para o Brasil, Nas estatísticas da

Secretária de Comércio Exterior do Brasil porém, constam importações de apenas US$ 251

milhões. Ou seja, US$ 210 milhões de fios e roupas (...) não chegaram as alfândegas

brasileiras.”85, e o que é pior, a balança do comércio bilateral Brasil-China, que está

começando a ficar desfavorável para o Brasil, não contabiliza o prejuízo total oriundo do

contrabando.

O contrabando pode ainda prejudicar a adoção de salvaguardas aos produtos

chineses, já que alguns setores prejudicados por essa prática desleal não tem condições de

fazer estudos levando em consideração o impacto desse contrabando como é o caso do setor

de bicicletas, brinquedos e alto-falantes. Portanto, não basta apenas regulamentar as

salvaguardas contra a China, mas sim combater o contrabando86.

Em contrapartida, a China já antevendo essas medidas de Brasil, EUA e UE

anunciou, no dia 20/05, novas tarifas para a exportação de diversos produtos entre eles

camisetas, roupas íntimas entre outros produtos, a fim de tentar frear um pouco as suas

exportações. As tarifas que entraram em vigor em 01/06 vão desde 1 yuan (US$ 0,12) a 4

yuan (US$ 0,48). Apesar dessa manobra para abrandar a forte pressão internacional de seus

principais parceiros comerciais, especialistas afirmam que uma limitação quantitativa às

82 LÉO, Sérgio, 24 mai. 2005, p. 1. 83 Idem. 84 SOUZA, Leonardo e TOLEDO, Marcelo, 21 mai. 2005, p.1 85 CANTANHEIRA, Joaquim, 30 mai. 2005, p. 1 86 CANTANHEIRA, Joaquim, 30 mai. 2005, p.1

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exportações chinesas seria uma medida mais eficaz neste momento, o que foi sumariamente

rejeitado pelo ministro Bo Xilai87.

O segundo tema diz respeito a oferta brasileira, em fase de acabamento, para o setor

de serviços na OMC conforme as duas tabelas abaixo.

A lista positiva para a liberalização não traz nenhuma novidade, já que muitos

desses setores já possuem presença estrangeira no país. A finalidade detectada por

especialistas é a de aumentar o poder de barganha da diplomacia comercial brasileira para

ter mais possibilidades de angariar mais acesso a mercados na área de agricultura dos países

mais protecionistas nesta área. Já a lista negativa para a liberalização leva em conta setores

que são estratégicos para o governo brasileiro promover políticas publicas quando for

necessário88.

Tabela 1.1

Oferta brasileira para o setor de serviços na OMC.

Setores Que Serão Liberalizados

Negócios (Contabilidade, Arquitetura, Engenharia, Marketing e Consultorias em Geral).

Serviços de Comunicações (Serviços Postais, Telecomunicações, Courier, Correio

Eletrônico, Informação On-Line e Processamento de Dados).

Construção e Engenharia.

Distribuição

Serviços Financeiros (Bancos, Seguradoras e Leasing)

Turismo (Hotéis, Restaurantes e Agências de Viagens).

Transporte (Aéreo, Marítimo, Ferroviário e Manutenção).

Setores Que Não Serão Liberalizados

Educação (Primário, Secundário, Superior e Outros Cursos).

87 FOLHA DE SÃO PAULO, 21 mai. 2005., pp. 1-2 88 DIANNI, Claúdia, 24 mai. 2005, pp. 2-3

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Saúde e Serviços Sociais (Hospitais e Previdência).

Serviços Ambientais (Coleta e Transporte de Lixo).

Áudio-Visual (Projeção de Filmes, Serviços e Transmissão de Rádio e Televisão).

Fonte: DIANNI, Claúdia, 24 mai. 2005, p. 2-3.

Bibliografia:

CASTANHEIRA, Joaquim. Como Deter os Chineses?. Isto é Dinheiro, 30 mai. 2005. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=137811> Acesso em 30 mai. 2005. DIANNI, Claúdia. Brasil mantém na OMC limites a serviços. Folha de São Paulo, 24 mai. 2005. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=136358> Acesso em 26 mai. 2005. LEO, Sergio. Só dano grave dará direito à salvaguarda. Valor Econômico, 24 mai. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=136354>. Acesso em 26 mai. 2005. SOUZA, Leonardo e TOLEDO, Marcelo. País adotará barreiras contra produto chinês. Folha de São Paulo, 21 mai. 2005. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=135678>. Acesso em 23 mai. 2005.

FOLHA DE SÃO PAULO, 21 mai. 2005. China aumenta tarifas de têxteis. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=135683>. Acesso em 23 mai. 2005. GAZETA MERCANTIL, 20 mai. 2005. China ameaça recorrer à OMC contra os EUA. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=135380> Acesso em 20 abr. 2005.

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Acompanhamento da Rodada Doha89

Resenha quinzenal nº 7 (05/06 a 20/06/2005)

João Dale Nogare Neto

Este artigo se propõe a resumir as principais notícias veiculadas entre os dias 05/06

a 20/06. Três temas predominaram nesta quinzena. O primeiro se refere a uma análise do

comércio exterior feita por Marcos Jank. O segundo trata dos atuais rumos do contencioso

entre as empresas Boeing (EUA) e Airbus (UE) e suas repercussões para o choque entre

Embraer (Brasil) e Bombardier (Canadá). E o terceiro tema, como já vem acontecendo a

varias quinzenas, a questão das exportações chinesas e as reações dos principais players do

comércio internacional. Logo a seguir, colocarei alguns temas de menor relevância, mas

que servirão de apoio para se entender o cenário do desenvolvimento da Rodada Doha

(RD).

O primeiro tema corresponde ao artigo de Marcos Jank: “O vôo de galinha do

comércio exterior”, onde o autor faz um panorama do comércio exterior brasileiro,

identificando as principais causas para o desempenho exportador brasileiro e elencando

alguns objetivos a serem traçados para manter o ritmo atual de crescimento das exportações

brasileiras. O autor começa citando os números do comércio exterior brasileiro no ano de

2004, com as exportações chegando às cifras de US$ 96,5 bilhões e as importações

chegando a US$ 63 bilhões, totalizando US$ 33,5 bilhões no saldo da balança comercial

brasileira.

Como principais razões para esse resultado estão a correção cambial realizada em

1999, o baixo crescimento do mercado interno e o vigor do comércio mundial, tendo como

principal reflexo neste ponto, a diversificação dos destinos de nossa pauta exportadora

como Chile, México, Argentina entre outros países.

Jank também coloca alguns objetivos importantes que devem ser perseguidos no

curto, médio e longo prazos. Em curto prazo, o objetivo é evitar a queda do ritmo de

crescimento das exportações, mesmo com o câmbio e outras variáveis macroeconômicas

agindo para o contrário. No médio prazo, o autor coloca como objetivo investimentos

89 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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pesados em infra-estrutura e logística, a fim de diminuir o chamado “Custo Brasil” que

prejudica em parte as exportações brasileiras. E em longo prazo, o Brasil deve concentrar

suas energias para aproveitar as oportunidades dadas pelos acordos comerciais que estão

sendo feitos no mundo inteiro, dando prioridade para o fechamento de um acordo

satisfatório na conclusão da RD, prevista para terminar em dezembro de 2005 na

conferência ministerial de Hong Kong90.

O segundo tema diz respeito à queda de braço entre Boeing e Airbus na OMC. Na

última reunião, no dia 13/06, houve pedidos de europeus e norte-americanos para a

investigação recíproca no uso de subsídios governamentais para a construção de aviões que

competem entre si no mercado internacional. Esses pedidos foram recusados pela OMC,

mas pelo estatuto da organização, serão automaticamente aceitos caso as queixas sejam

reapresentadas no próximo dia 23/06 em Genebra91.

Especialistas em comércio afirmam que esse contencioso será o maior da historia da

OMC, em todos os sentidos, mas advertem que pode não haver vencedores nessa disputa,

pois como ocorreu com o caso da Embraer com a Bombardier, o Órgão de Solução de

Controvérsias decidiu pela condenação dos subsídios de ambas empresas. Há também o

temor de que esse contencioso possa atrapalhar ainda mais o já complicado fechamento da

RD, programado para dezembro desse ano em Hong Kong92.

Essa disputa já causa repercussão na antiga disputa entre Embraer e Bombardier. A

Embraer acusa a Bombardier de ter recebido subsídios do governo canadense na ordem de

US$ 400 milhões para a construção de aviões de 110 a 135 lugares que competem com

aviões brasileiros do mesmo tipo. Como argumento, a Embraer cita que teve que angariar

fundos na ordem de US$ 1 bilhão sem nenhum tipo de ajuda governamental para a

construção de seus aviões93.

O terceiro tema se refere à China e, nessa quinzena, prevaleceram as articulações

contra esse país em detrimento das opiniões chinesas sobre esses novos ataques dos players

do comércio internacional. No Brasil cresce a pressão de setores da indústria para que o

governo cumpra a promessa feita de regulamentar o mecanismo de salvaguardas contra as

90 JANK, 07 jun. 2005, pp. 1-3. 91 CHADE, 14 jun. 2005, p.1. 92 FINANCIAL TIMES, 07 jun. 2005, pp. 1-2. 93 O ESTADO DE SÃO PAULO, 13 jun. 2005, p. 1.

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importações de produtos chineses na próxima reunião da CAMEX, a ser realizada no dia

22/06. Uma vez aprovado, o mecanismo será encaminhado para a sanção do Presidente da

República.

Dentre as entidades de classe que exerceram uma pressão mais forte no governo

nesta quinzena estão a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos

(ABIMAQ) e a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE), além do

setor têxtil, principal articulador dessas pressões. A justificativa das pressões não mudou.

Sem essa regulamentação, esses e outros setores continuarão a ter sérias dificuldades na

competição com os seus homólogos chineses, devido à vantagem competitiva conseguida

de maneira desleal, aproveitando-se principalmente do dumping social praticado na

China94.

No dia 10/06, a UE firmou um acordo com a China com fins de limitar as

exportações desse país para a UE. O acordo tem validade imediatamente e vai até o término

do ano. O acordo atende principalmente reivindicações da Organização Européia do Setor

Têxtil (EURATEX) que via com maus olhos o crescimento acelerado das importações

chinesas. A China aproveitou a celebração do acordo para provocar outros parceiros

comerciais que ao invés do dialogo preferem uma decisão mais conflituosa, como adotar

medidas de salvaguardas, caso dos EUA95.

Esse recado dado pelos chineses aos norte-americanos é devido à imposição de

cotas a sete categorias de têxteis chineses. Esse procedimento tem irritado profundamente

empresários chineses que investiram pesado em suas indústrias para fins exportadores e

agora vêem seus investimentos perdidos com o erguimento de barreiras protecionistas nos

EUA.

Segundo James C. Leonard III96, a China não tem razões para iniciar uma guerra

comercial já que não haverá grandes perdas de postos de trabalho e as modalidades de

produtos têxteis que foram alvos de cotas norte-americanas não representam mais do que

6% da pauta exportadora chinesa97.

94 TREVISAN, 05 jun. 2005, pp. 1-2 e CHADE, 07 jun. 2005, pp. 1-2. 95 O ESTADO DE SÃO PAULO, 11 jun. 2005, pp. 1-2. 96 Subsecretário assistente de Comércio para Bens de Consumo, Produtos Têxteis e de Vestimenta. 97 BRADSHER, 08 jun. 2005, p. 1.

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Outros Destaques:

No dia 05/06 no jornal Correio Braziliense foi publicado uma entrevista com o

diretor geral da OMC, Supachai Panichpakdi. Nessa entrevista ele faz um balanço de sua

gestão de 3 anos a frente da organização. Para ele, muitas foram as conquistas de seu

mandato, como o corte de subsídios à exportação de produtos agrícolas e a disponibilidade

de remédios gratuitos para as pessoas que sofrem de AIDS no mundo, entre outras questões

no âmbito do comércio mundial. A principal tarefa que ele deixa para o seu sucessor,

Pascal Lamy, é o fechamento de um acordo satisfatório que finalize a RD no prazo

estabelecido98.

A Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) optou pela fórmula suíça para

calcularem a porcentagem para os futuros cortes que deverão ocorrer nas tarifas industriais.

A APEC reúne países como Austrália China, Chile, Estados Unidos, Tailândia entre outros

países99.

Em um estudo recentemente lançado pela Organização para Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil aparece como um competidor no comércio

internacional limpo de subsídios ilegais. Segundo o estudo, os países desenvolvidos tem

dado subsídios na proporção de 30% do PIB em média, enquanto no Brasil o percentual não

passa de 3%. Mas o estudo mostra não só boas constatações. Há problemas que se não

forem resolvidos rapidamente podem prejudicar a inserção do Brasil no comércio mundial,

como a destruição florestal, gargalos na infra-estrutura e os bolsões de pobreza100.

98 JR, 05 jun. 2005, pp. 1-2. 99 FOLHA DE SÃO PAULO, 06 jun. 2005, p. 1. 100 O ESTADO DE SÃO PAULO, 06 jun. 2005, pp. 1-2.

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Bibliografia:

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Acompanhamento da Rodada Doha101

Resenha quinzenal nº 8 (20/06 a 05/07/2005)

João Dale Nogare Neto

Este artigo se propõe a resumir as principais notícias veiculadas entre os dias 20/06

a 05/07. Três temas predominaram nesta quinzena. O primeiro se refere à questão das

exportações chinesas e as reações dos principais players do comércio internacional. O

segundo trata da quebra das patentes de remédios anti-AIDS, mostrando argumentos

positivos e negativos da decisão do governo brasileiro. E o terceiro tema diz respeito as

decisões tomadas pela UE no caso do contencioso do açúcar, movido e ganho pelo Brasil

na OMC. Logo a seguir, colocarei alguns temas de menor relevância, mas que servirão de

apoio para se entender o cenário do desenvolvimento da Rodada Doha (RD).

O primeiro tema dessa resenha será dividido em duas partes, sendo a primeira parte

destinada a ação brasileira com relação à China, no que diz respeito à entrada de produtos

chineses no mercado brasileiro, e a segunda parte destinada a ação norte-americana com

relação ao mesmo problema.

Mas antes de ressaltar a ação desses dois países, vale citar mais um fator que

contribui para a expansão sem precedentes da economia chinesa nos últimos tempos,

101 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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analisado por José Pastore102, em um artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo,

onde se evidencia a importância de uma vantagem competitiva pouco levada em

consideração, a sua abundante e barata mão-de-obra.

O autor começa descrevendo os “flancos abertos” chineses por onde os países

poderiam aproveitar a aplicação de sanções, dentre eles, o desrespeito aos direitos

humanos, à propriedade intelectual e o dumping. Mas todos esses fatores, se usados como o

são pela maioria dos players do comércio mundial, podem ter seus impactos minimizados

na economia chinesa pela existência de vantagens competitivas desse país, como é o caso

da imensa população que serve como mão-de-obra barata para as indústrias chinesas.

Enquanto o salário médio japonês é de US$ 18/hora, nos Estados Unidos de US$ 21/hora e

na UE de US$ 25/hora, na China o salário médio é de US$ 0,64/hora, sem contar as 60

horas semanais da jornada de trabalho e a quase inexistência de encargos sociais para as

empresas.

Esses números seriam um cenário caótico para a maioria dos trabalhadores chineses,

mas o autor lembra que em um país onde a renda anual das famílias gira em torno de US$

40, um trabalhador que possui uma poupança de US$ 120 a US$ 150 não se queixa, pelo

contrário, sente-se feliz por estar empregado e agradece pela possibilidade de seu dinheiro

poder ajudar tanto a sua família como a si mesmo.

Portanto, não são apenas as vantagens competitivas conseguidas de maneira

artificial que os demais players devem se preocupar, mas também com as vantagens

competitivas naturais chinesas são de igual importância ou até piores para se combater103.

Feita essa apresentação sobre uma vantagem que faz a China promover cada vez

mais as suas exportações, partirei para a ação brasileira para tentar conter parte do volume

das importações chinesas em seu território. Uma medida importante para atingir tal objetivo

foi a aprovação de dois decretos pela CAMEX, regulamentando o mecanismo para a

imposição de salvaguardas contra a China no dia 22/06.

Mas segundo ressalta Mauro Mugnaine, as salvaguardas só serão impostas, caso os

entendimentos preliminares para a restrição voluntária das exportações dos setores chineses

não surtirem os efeitos desejados por parte dos setores brasileiros. No decorrer dessas

102 Professor da FEA-USP e membro da Academia Paulista de Letras. 103 PASTORE, José, 28 jun. 2005, pp. 1-2.

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negociações, que podem durar 30 dias, os setores demandantes podem pedir salvaguardas

provisórias a fim de impedir mais danos a seus respectivos nichos industriais. Depois dessa

negociação preliminar, a CAMEX iniciará uma investigação que durará até 90 dias para

averiguar se a queixa do setor brasileiro demandante possui fundamentos, sendo que a

salvaguarda provisória conseguida anteriormente pode perdurar até a fase final da

investigação, quando se pode tanto revogar a salvaguarda como torná-la permanente104.

As salvaguardas para o setor têxtil, alvo do primeiro decreto da CAMEX, têm

duração de 2 anos com possibilidade de prorrogação de mais um ano. Já os outros setores

enquadrados no segundo decreto têm suas salvaguardas com validade de um ano e

prorrogáveis por mais um ano105.

Se o Brasil está tentando combater a “invasão chinesa” de produtos mais baratos e

competitivos em seu território, via restrição, os EUA combatem em outra frente: o câmbio

favorável às exportações chinesas, mantido artificialmente pelo governo. Segundo Phil

English, líder de um grupo de republicanos na Câmara dos Representantes, a China

desvalorizou o yuan de 15% a 40%, provocando uma competição predatória das indústrias

norte-americanas pelo mercado consumidor dos EUA.

O projeto de lei apresentado por esse grupo prevê uma retaliação caso o yuan seja

mantido nos patamares atuais. Essa retaliação seria imposta pelo Departamento do Tesouro

e teria um prazo de 60 dias para a averiguação de uma possível manipulação cambial pelo

governo de Pequim. Caso isso fosse constatado, o Departamento do Tesouro teria mais 30

dias para impor sobretaxas às importações oriundas da China. Para Tom DeLay106, essa

medida só mostra a impaciência que o Congresso tem demonstrado com a atual atuação do

governo Bush na questão chinesa, prevendo uma deterioração desse quadro, caso esse

comportamento perdure107.

O segundo tema também não é novo, tratando novamente da questão das quebras

das patentes para a fabricação de remédios anti-AIDS pelo Brasil. O assunto voltou a ser

discutido nessa quinzena, pela aprovação de um projeto de lei que isenta as empresas

104 DIANNI, Claudia, 23 jun. 2005, pp. 1-2. 105 OLIVEIRA, Eliane, 23 jun. 2005, p. 1 106 Líder da maioria na Câmara dos Representantes. 107 GAZETA MERCANTIL, 22 jun. 2005, pp 1-2.

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farmacêuticas brasileiras a pagar royalties para a fabricação de remédios anti-retrovirais

que combatam a AIDS.

Segundo o jornal O Estado de São Paulo, esse projeto de lei, se aprovado pelo

Senado, já que foi aprovado pela Câmara dos Deputados, além de acarretar sanções

econômicas devido a quebra de acordos comerciais sobre o tema firmados pelo Brasil no

âmbito da OMC, pode prejudicar as exportações brasileiras para os EUA, na medida que

uma das formas cogitadas pelos senadores norte-americanos para a retaliação contra o

Brasil nesse caso seria retirar o nome do país da lista do SGP. Caso isso ocorra, 10% da

nossa pauta exportadora, que entra com tarifa zero no território dos EUA, começará a ser

taxado, prejudicando assim o rendimento de nossa balança comercial108.

Por outro lado, o jornal The New York Times saiu em defesa do governo brasileiro.

Segundo o jornal, a quebra de patentes por parte do Brasil é legal e necessária, uma vez que

os remédios têm preços exorbitantes que impedem a camada mais pobre da população ter

acesso prejudicando assim o seu tratamento, sendo assim, o governo brasileiro presta um

serviço humanitário ao disponibilizar esses anti-retrovirais de graça e isso só é possível

com a quebra da patente. O jornal também prega que os EUA, ao invés de procurar

maneiras de retaliar o Brasil, deveriam dar total apoio, já que a quebra de patentes não é

simplesmente por uma questão comercial, mas sim por uma questão de direitos humanos109.

O terceiro e ultimo tema dessa quinzena relaciona-se com contencioso do açúcar

ganho pelo Brasil contra a UE no âmbito da OMC. Nesta quinzena, a UE anunciou, no dia

22/06, o seu projeto de reforma dos subsídios dados aos produtores de açúcar. O plano da

reforma tem por objetivos reduzir em 39% o apoio ao açúcar no prazo de 3 anos, de 2006 a

2008, sendo que o preço mínimo, segundo objetivo prioritário da reforma, também deverá

ser reduzido em 42% no mesmo período.

Quem sofrerá o maior dano não serão os produtores europeus, já que essa redução já

vem sendo feita pelo menos há uma década, mas sim os países da África e Caribe que

perderão suas preferências tarifárias para a venda de seu açúcar dentro da UE. Segundo a

Oxfam, seria necessário US$ 600 milhões em ajuda a esses países na fase de adaptação a

nova legislação, mas a UE apenas acenou com uma ajuda, prevista no plano da reforma, de

108 O ESTADO DE SÃO PAULO, 24 jun. 2005, p. 1 109 O GLOBO, 24 jun. 2005, p.1

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US$ 48 milhões. A UE, com essa proposta, visa dois objetivos no curto prazo. Evitar uma

retaliação comercial por parte do Brasil e dar andamento à RD, que tem sua finalização

programada para acontecer em dezembro, na Reunião Ministerial de HongKong110

Segundo a Comissão de Agricultura da UE, o bloco sozinho é responsável por 14%

da produção mundial e por 12% das exportações mundiais da commodity, ficando atrás

apenas de Brasil e Índia.

De acordo também com a CEFS111, essa industria emprega 1 milhão de

trabalhadores em toda a Europa. Os maiores países produtores de açúcar dentro da UE

estão na França, Alemanha e Polônia, que sozinhos são responsáveis por metade da

produção européia, seguidas por Itália e Inglaterra112.

Outros Destaques:

Brasil e Rússia discutem o acesso ao mercado russo para as carnes brasileiras por

via de uma ampliação das cotas. A Rússia fez uma contra proposta, sugerindo ao Brasil que

ocupe as cotas remanescentes de países que não conseguiram preencher as suas respectivas

totalmente. Além das carnes, o Brasil tanta um acesso maior a diversos produtos no

mercado desse país. Em troca de abrir o seu mercado, a Rússia espera um apoio do Brasil

para a entrada dela Rússia na OMC no fim do ano113.

Austrália, Brasil e EUA são os países que mais aplicam normas técnicas para

viabilizar as suas importações. No Brasil, a exigência atinge metade dos produtos

importados e no caso dos EUA essa porcentagem chega a um terço das importações.

Em 2004, 40% dos casos da OMC foram sobre os impedimentos considerados

abusivos das normas técnicas que visavam proteger a saúde e a segurança das pessoas. Os

setores que mais utilizaram desse expediente foram telecomunicações, audiovisual, material

de construção e máquinas elétricas114.

110 CHADE, Jamil, 22 jun. 2005, pp. 1-2. 111 Sigla em inglês de Grupo Europeu de Produtores de Açúcar. 112 INTERNATIONAL HERALD TRIBUNE, 23 jun. 2005, pp. 1-2. 113 MOREIRA, Assis e GÓES, Francisco, 28 jun. 2005. 114 MOREIRA, Assis, 01 jul. 2005, p. 1.

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INTERNATIONAL HERALD TRIBUNE, 23 jun. 2005. Europe's sugar industry taking a hit. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=142845> Acesso em 23 jun. 2005.

Acompanhamento da Rodada Doha115

Resenha quinzenal nº 9 (05/07 a 21/07/2005)

João Dale Nogare Neto

Este artigo se propõe a resumir as principais notícias veiculadas entre os dias 06/07

a 21/07. Dois temas predominaram nesta quinzena. O primeiro se refere à mini-reunião

ministerial que aconteceu na cidade chinesa de Dalian, na tentativa de dar prosseguimento a

Rodada Doha (RD). O segundo trata do contencioso do algodão entre Brasil e EUA. Logo a

seguir, colocarei um tema de menor relevância, mas que apóia o entendimento do cenário

da RD.

O primeiro tema, como foi citado anteriormente, refere-se à mini-reunião ministerial

que aconteceu em Dalian, entre os dias 12 e 13/07. Como está sendo de costume na RD, as

principais questões discutidas estão sendo a liberalização agrícola e a criação de uma

fórmula que permita desgravar as tarifas, tanto no âmbito agrícola como no âmbito

industrial.

Tanto a liberalização agrícola como a criação desta fórmula são temas que acabam

se intercruzando, sendo a sua discussão feita de uma só vez. Nessa reunião o problema

ocorrido para a paralisação das discussões foi o posicionamento do G-10, grupo de países

protecionistas, e a UE que não abriram mão de suas altas tarifas.

Já o G-20 apresentou uma proposta que foi colocada como ponto de partida para um

futuro acordo nessa área. Segundo essa proposta haverá a criação de 5 faixas tarifárias para

os produtos dos países membros que serão liberalizados, sendo que o corte nessas faixas

115 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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seria por igual para todos os membros. Com a implementação das faixas tarifárias contidas

na proposta, EUA e UE podem chegar a um acordo, já que essa proposta é intermediária

entre as pretensões norte-americanas e da UE. Os primeiros preferiam cortes nas tarifas

mais altas dos países membros e a segunda preferia cortes pela média tarifária.

Como não houve um entendimento mínimo na área, os negociadores concordaram

em concentrar esforços para refinar a proposta do G-20 no setor agrícola, pois assim

acreditam dar um impulso maior na rodada para que a Conferência Ministerial de Hong

Kong, prevista para dezembro, não termine em fracasso116.

A mini-conferência de Dalian poderia ter tido um desfecho diferente, se não fosse a

intransigência da UE em reformar de forma mais ousada a Política Agrícola Comum

(PAC). Se essa reforma saísse com mais rapidez e eficiência, a UE poderia conseguir: “(...)

great strides toward establishing free global trade, reducing Third-World poverty and

cutting government budget deficits.”117

. Segundo o jornal The Wall Street Journal, a UE

subsidia seus agricultores em 34%, enquanto os EUA pretendem cortar US$ 3 bilhões da

nova Farm Bill118.

Mas esse cenário não dá mostras de mudar no curto prazo, segundo Dominique

Bussereau119 em um artigo da Financial Times intitulado: “CAP is an Inexpressive Way to

Safeguard our Future”.

Segundo o ministro, a PAC é a mais importante política pública da UE por 3

motivos: primeiro por ser uma política pública realmente européia, onde todos os membros

da União podem usufruir de seus benefícios; segundo, graças a PAC a UE conseguiu atingir

a auto suficiência na área agrícola, ou seja, a comunidade está imune de choques e crises

externas que poderiam desestabilizar o bloco; e terceiro, a PAC não é uma política pública

de resultados a serem vistos a curto prazo, mas sim em longo prazo, assegurando o futuro

das próximas gerações do bloco120.

São por esses motivos que um acordo na área agrícola está cada vez mais difícil,

pois para a França, um dos principais países beneficiários da PAC e contrários a sua

remodelação: “(...) Dominique de Villepin’s government is convinced that agriculture and

116 GAZETA MERCANTIL, 13 jul. 2005, pp. 1-2. 117 THE WALL STREET JOURNAL, 14 jul. 2005, pp. 1-2. 118 Idem. 119 Ministro francês da agricultura. 120 FINANCIAL TIMES, 15 jun. 2005, pp. 1-2.

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the CAP121

remain a tremendous asset for today’s Europe and an essential investiment for

the future.”122.

O segundo tema se refere aos desdobramentos do contencioso do algodão na OMC

entre Brasil e EUA. No dia 14/07, o governo brasileiro e o norte-americano firmaram um

acordo no qual fica acertado que o Brasil não seguirá os passos finais para aplicar a

retaliação aos EUA, devido a condenação dos subsídios deste a seus agricultores de

algodão. O Brasil vai esperar até o final do ano, prazo esse dado ao Departamento de

Agricultura norte-americano para a implementação das mudanças em sua legislação

agrícola para adaptar essa ao regime de comércio da OMC.

Apesar do acordo, o Brasil se reservou o direito de protocolar o seu pedido de

retaliação junto a OMC, para possuir uma segurança caso as adaptações da legislação norte-

americana não sejam efetivadas, mas a autorização da retaliação pela OMC só sairá quando

o Brasil solicitar pela finalização do procedimento. Essa solicitação inclui imposições de

tarifas nas importações norte-americanas para o Brasil, suspensão de concessões parta

serviços, patentes, direitos autorais e uso de marcas. O valor total da retaliação solicitada

pelo Brasil é de US$ 2,9 bilhões, sendo que US$ 305 milhões são oriundos dos prejuízos

auferidos pelos pagamentos de reembolsos como garantias de credito dados aos

cunicultores norte-americanos pelo seu governo e o restante da retaliação, US$ 2,6 bilhões,

seriam resultantes dos prejuízos criados pelo programa “Step 2” que paga a diferença entre

os preços internos da produção e as cotações internacionais123.

O grande problema para a implementação das mudanças na legislação agrícola

norte-americana é a crescente pressão dos lobbies agrícolas no congresso americano contra

essas mudanças124. Para Marcos Jank: “Os EUA são o maior exportador agrícola mundial e

durante muitos anos tiveram também o maior superávit comercial agrícola do mundo. A

agricultura sempre foi um setor livre-cambista da sociedade americana. Inclusive,

movimentou a engrenagem para sair o Acordo Agrícola da Rodada Uruguai, junto com o

Grupo de Cairns (grupo de países exportadores de produtos agrícolas).”125.

121 Common Agriculture Policy, sigla em inglês homóloga da PAC. 122 FINANCIAL TIMES, 15 jun. 2005, p. 1. 123 DIANNI, Claúdia, 06 jul. 2005, p.1 e MARIN, Denise Chrispim, 06 jul. 2005, p.1. 124 TAMER, Alberto, 07 jul. 2005, pp. 1-2. 125 Idem.

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Outro Destaque:

O Brasil pode ser o primeiro país a quebrar a patente do medicamento anti-AIDS

Kaletra, produzido pela companhia Abott Laboratories Inc. para possibilitar o andamento

de seu programa mundialmente reconhecido contra essa doença. O Brasil gasta por ano

com esse medicamento US$ 107 milhões e a expectativa é de passar a ter o gasto de US$

54 milhões, caso a patente do produto seja quebrada.

Esse procedimento também faz parte da pressão exercida pelo Brasil no staff

governamental norte-americano para que a implementação das exigências da OMC em sua

legislação comercial seja feita o mais rápido possível126.

Bibliografia:

DIANNI, Claúdia. Brasil pede na OMC retaliação aos EUA. Folha de São Paulo, 06 jul. 2005. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=146510> Acesso em 06 jul. 2005. GAZETA MERCANTIL , 13 jul. 2005. A rota de sensatez que vem de Dalian. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=148213> Acesso em 13 jul. 2005. MARIN, Denise Chrispim. Retaliação contra EUA é adiada. O Estado de São Paulo, 06 jul. 2005. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=146607> Acesso em 06 jul. 2005. TAMER, Alberto. Subsídios dos EUA são escandalosos. O Estado de São Paulo, 07 jul. 2005. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=146840> Acesso em 07 jul. 2005.

126 AGÊNCIA TAIWAN NEWS, 06 jul. 2005, pp. 1-2.

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TAIWAN NEWS , 06 jul. 2005. Brazil could become first country to break AIDS drug patent. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=146564> Acesso em 06 jul. 2005. THE WALL STREET JOURNAL , 14 jul. 2005. Dallying in Dalian. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=148620> Acesso em 14 jul. 2005.

Acompanhamento da Rodada Doha127

Resenha quinzenal nº 10 (22/07 a 05/08/2005)

João Dale Nogare Neto

Este artigo se propõe a resumir as principais notícias veiculadas entre os dias

05/06 a 20/06. Dois temas predominaram nesta quinzena. O primeiro se refere aos

desdobramentos recentes das negociações da mini conferência ministerial realizada

em Dalian na China e na continuação das discussões em Genebra na sede da OMC

que servem como preparativos para a Conferência Ministerial em Hong Kong no

começo de dezembro. O segundo trata dos efeitos da aprovação do CAFTA128 no

comportamento dos EUA frente a negociação da RD.

Como já dito na resenha anterior, o mês de julho foi um mês marcado pelo

começo das definições para o desfecho positivo ou negativo da Rodada do

Desenvolvimento da OMC. Segundo Supachai Panichpakdi, que chega aos

estertores de seu mandato em agosto, a RD está oficialmente na zona de crise sendo,

127 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz. 128 Central American Free Trade Agreement.

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portanto, todo o esforço realizado para se chegar a um upgrade na relações

comerciais entre os membros da organização correndo o risco de não ser aplicado na

prática.

Não é apenas a questão da agricultura que preocupa o diretor geral da

OMC, mas a sua potencial força de travar não só o comitê da agricultura, mas

também outros assuntos importantes como produtos industriais, serviços,

investimentos e propriedade intelectual.

Isso acontece devido ao fato das negociações da OMC funcionarem com

base no principio do single undertaking129

e como o tema da agricultura é

importante para todos os países membros, os comitês não avançam até que se tenha

uma definição mais clara nessa negociação.

A proposta feita pelo G-20, que parecia ser um meio termo entre as

exigências de UE e EUA, não recebera apoio dos mesmos. Segundo Peter

Mandelson, a proposta do G-20 afetaria mais negativamente a UE e avisa que a

mesma não pode ser a “única banqueira” do processo, sendo que as

responsabilidades teriam de ser divididas com o próprio G-20, no que tange a

reciprocidade da abertura dos mercados de bens industriais e de serviços em troca

de seu mercado agrícola, e com os EUA que deveriam apressar a reforma de seu

sistema de subsídios, tanto para a produção interna como a produção destinada a

exportação130.

E para provar que aceitará fazer concessões na área agrícola em troca de

outras concessões em outras áreas, a UE pretende votar até novembro o seu plano de

reforma na sua estrutura de subsídios que pretende cortar 39% no preço de venda de

seus produtos oriundos de produtores locais e uma redução de 30% na produção do

bloco.

Para o USDA131

, o prazo proposto pela UE parece ser ligeiramente

ambicioso, sendo que essa conclusão pertence a um relatório solto pelo próprio

129 Principio este que coloca como pré-requisito para a conclusão da RD o consenso de todos os temas negociados propostos pelos comitês. 130 CHADE, Jamil, 22 jul. 2005, p.1 e MOREIRA, Assis, 22 jul. 2005, p.1. 131 U.S. Department of Agriculture.

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departamento nesta quinzena132. O motivo dos EUA não se empenharem em

apresentar uma contraproposta ou de melhorar a proposta do G-20 será colocado no

segundo tema dessa resenha.

A opinião do diretor geral da OMC é que a RD deveria produzir um

resultado que obtivesse uma liberalização 100% maior do a conseguida na Rodada

Uruguai. Para ele, a redução das tarifas industriais deveria ser da ordem de 66%, de

72% nas alíquotas agrícolas dos mercados ricos e de dois terços nas mesmas

alíquotas nos países em desenvolvimento, sendo também para ele muito cedo para

mudar a ambição liberalizante da Rodada para evitar um fracasso deste.

O diretor geral declarou-se insatisfeito pelo progresso obtido em sua gestão a

frente da organização, mas prometendo o máximo de empenho possível até o ultimo

dia de sua gestão133.

O segundo tema diz respeito a aprovação do CAFTA pelos EUA. Esse

acordo foi aprovado pela Câmara dos Representantes dos EUA no dia 28/07. Esse

acordo cria uma área de livre comércio entre os Estados Unidos e a América Central

e apesar de ser um assunto de nível mais regional, o acordo sendo aprovado poderá

trazer benefícios e mostrar tendências.

Um benefício a curto prazo poderá ser um maior empenho por parte dos

EUA nas negociações da RD, haja visto que o objetivo doméstico foi alcançado e a

tendência que poderia se mostrar na congresso americano seria uma maior

flexibilidade por parte deste para adotar medidas que visam o livre comércio, dando

mais espaço para futuras liberalizações que poderiam destravar a RD.

É o que pensa Bill Crane134: “The WTO Doha agenda is a once-in-a-

geeration chance to promote economic development around the world. Now is the

time . . . damm the protectionist torpedoes, full speed ahead”135.

Outros analistas acham que a aprovação do CAFTA pode não surtir o efeito

desejado e que o congresso pode sim voltar a ser protecionista e não aprovar

mudanças significativas em sua legislação agrícola, atravancando ainda mais

132 GAZETA MERCATIL, 25 jul. 2005, p.1. 133 MOREIRA, Assis, 02 ago. 2005, pp. 1-2. 134 Diretor de relações governamentais da Cuterpillar Inc. 135 JR., Neil King, MILLER, Scott, LYONS, John, 29 jul. 2005, pp. 1-2.

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assuntos como o processo da ALCA, no âmbito regional, e a conclusão da RD, no

âmbito mundial136.

Outros Destaques:

Para Geraldo Barbosa137, a propriedade intelectual pode e deve ser levada a

sério pelo governo brasileiro, por ele ser uma alça de acesso para o Brasil conquistar

o tão almejado lugar no grupo dos países desenvolvidos. Segundo ele, países como

a Coréia já estão fazendo uma auto-análise para verificar e aplicar o seu potencial na

área de propriedade intelectual e se o Brasil não se apressar, pode mais uma vez

perder o bonde da inovação tecnológica e aumentar o seu gap em relação aos países

desenvolvidos138.

Em entrevista a Folha, Marcos Jank faz uma análise das condições que se

encontra a capacidade negociadora brasileira. Para ele, os diplomatas são até bons

negociadores, mas lhes faltam subsídios que poderiam ser dados pelo setor privado

se houvesse abertura para isso. Também há muita falta de organização, tanto do

setor privado como do Itamaraty, que não conseguem ter um canal permanente para

criar uma verdadeira política comercial que leve em conta os anseios da sociedade

civil139.

O Brasil e mais 8 países comemoram a condenação das sobretaxas que serão

impostas pela UE em janeiro de 2006 para a exportação de bananas. Apesar disso,

países da África, Caribe e Pacifico podem criar sérios problemas em suas relações

tanto no âmbito bilateral como na RD devido a perda de suas preferências para a

venda de bananas para a UE140.

136 idem 137 Presidente da Força-Tarefa de Propriedade Intelectual da AMCHAM e presidente da BD (Becton, Dickson) na América Latina Sul. 138 BARBOSA, Geraldo, 25 jul. 2005, pp. 1-2 139 FARNESI, Luciana, 26 jul. 2005, pp. 1-3 140 CHADE, Jamil, 02 ago. 2005, p. 1.

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Bibliografia:

BARBOSA, Geraldo. Propriedade intelectual. Gazeta Mercantil, 25 jul. 2005. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=151370> Acesso em 25 jul. 2005. CHADE, Jamil. Sem oferta da UE, OMC admite crise na Rodada Doha. O Estado de São Paulo, 22 jul. 2005. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=150515> Acesso em 22 jul. 2005. FARNESI, Luciana. Para analista, falta coordenação à diplomacia. Folha de São Paulo, 26 jul. 2005. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=151669> Acesso em 26 jul. 2005. JR, Neil King, MILLER, Scott, LYONS, John. Cafta Vote Clouds Prospects For Other Trade Deals. The Wall Street Journal, 29 jul. 2005. Disponivel em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=152634> Acesso em 29 jul. 2005. MOREIRA, Assis. G-20 rejeita proposta da UE para viabilizar corte das tarifas agrícolas. Valor Econômico, 22 jul. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=150532> Acesso em 22 jul. 2005. MOREIRA, Assis. Supachai quer corte de tarifa 100% maior do que na Rodada Uruguai. Valor Econômico, 02 ago. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=153649> Acesso em 02 ago. 2005. GAZETA MERCANTIL, 25 jul. 2005. Usda afirma que redução proposta pela UE é radical. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=151372> Acesso em 25 jul. 2005.

Acompanhamento da Rodada Doha141

Resenha quinzenal nº 11 (06/08 a 22/08/2005) 141 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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João Dale Nogare Neto

Este artigo se propõe a resumir as principais notícias veiculadas entre os dias

06/08 a 22/08. Dois temas predominaram nesta quinzena. O primeiro se refere aos

movimentos que a diplomacia comercial está adotando para a 6º Conferência

Ministerial que ocorrerá em Hong Kong no mês de dezembro. O segundo tema trata

dos atuais movimentos de EUA e Brasil com relação a expansão das exportações

chinesas.

Com relação ao primeiro tema, Clodoaldo Hugueney em entrevista para

Mylena Fiori, se diz preocupado com a atual situação da rodada de negociações na

OMC. Para o embaixador, há falta de empenho dos países negociadores,

principalmente de EUA e UE, para um efetivo fechamento da Rodada Doha (RD).

Mas o Brasil, afirma Hugueney, possui uma agenda mínima para a Reunião

Ministerial que acontecerá em Hong Kong no mês de dezembro, sendo que essa

agenda está mostrada nas tabelas inseridas na página 2.

Para Hugueney, essa agenda atinge o objetivo de completar a rodada em

2006, já que em 2007 o prognóstico é muito pessimista, devido à incerteza na

aprovação da prorrogação da Trade Promotion Autorithy (TPA) pelo congresso

norte-americano, a qual dá possibilidades para o governo negociar com mais

facilidade nos acordos de comércio142.

Tabela 1.1 – Agenda Mínima Brasileira para o Setor de Agricultura:

Definição dos cortes aos subsídios agrícolas destinados a produção interna.

Definição dos cortes nas tarifas de acesso a mercados.

142 FIORI, 10 ago. 2005, pp. 1-2.

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Discussão de novas regras para a utilização dos subsídios classificados na Caixa Azul* e Caixa Verde**. Fixação de uma data para a eliminação total dos subsídios destinados a exportação.

Agricultura:

Discussão de um acordo para estabelecer um tratamento diferenciado a produtos sensíveis.

* Formas de apoio interno que distorcem o comércio, mas tem limitações quanto a produção e área plantada e, por isso, são permitidos pela OMC. ** Apoio doméstico permitido, que não distorce o comércio como pesquisa, infra- estrutura, reforma agrária, cestas básicas, sendo que esses subsídios têm suas reduções sendo obrigatórias pela OMC. Fonte: FIORI, 10 ago. 2005, p. 2.

Tabela 1.2 - Agenda Mínima Brasileira para os Setores de Acesso a Mercados para Produtos não Agrícolas, Serviços e Temas de Desenvolvimento:

Definição de critérios para a definição de tarifas.

Acesso a Mercados Para

Produtos Não Agrícolas: Tratamento diferenciado para setores sensíveis a concorrência externa. Defesa da tese onde cada país tem o direito de escolha de seus setores que serão alvos de liberalização.

Serviços:

Criação de um marco regulador para a atuação das empresas estrangeiras nos setores já liberalizados. Definição de um pacote de medidas para tratamento especial e diferenciado. Definição de um pacote de medidas para o tratamento para países de menos desenvolvimento relativo

Temas de Desenvolvimento:

Medidas na área de algodão. Fonte: FIORI, 10 ago. 2005, p. 2.

Com relação ao segundo tema, abordaremos primeiro a atual posição brasileira com

relação à China e posteriormente a posição norte-americana com relação ao mesmo tema.

No Brasil, os empresários têm reclamado de maneira sistemática devido à demora

do governo brasileiro em regulamentar o mecanismo para a imposição de salvaguardas

contra produtos chineses. Segundo a revista The Economist, as salvaguardas só não foram

regularizadas por causa da “esperança” por parte do governo brasileiro em receber alguns

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benefícios em troca, como investimentos chineses da ordem de US$ 10 bilhões e o apoio do

governo chinês para a aquisição de uma vaga permanente no Conselho de Segurança da

ONU. Até o momento, nem o investimento e nem o apoio ainda foram concedidos pela

China143.

Com essas contrapartidas ficando cada vez mais vazias, cresce a pressão para a

imposição das salvaguardas. Segundo o embaixador Rubens Barbosa144: “A China será um

grande parceiro do Brasil, mas um parceiro comprador. Não é o Brasil que vai vender, eles

que vão comprar.”145. Para ele, o Brasil deve priorizar as exportações de etanol, biodiesel,

soja, açúcar, cobre, aço e manganês para a China que demanda cada vez mais esses

produtos. Isso poderia contrabalançar o já grande déficit comercial que existe entre o setor

industrial brasileiro e chinês, sendo que o embaixador acredita que o governo deveria

adotar critérios econômicos e não políticos para a regulamentação das salvaguardas entre o

país asiático146.

Nos EUA, o jornal The Wall Street Journal salienta que o governo norte-americano

está agindo de forma errônea na adoção de medidas protecionistas a fim de frear o ímpeto

exportador chinês em seu mercado interno. Ao invés disso, o governo poderia adotar um

planejamento estratégico que levasse em consideração as vantagens competitivas do país.

Para o jornal, esse planejamento deveria contemplar 5 pontos fundamentais:

1. Aproveitar as chances de incremento comercial no continente americano através

de acordos de livre comércio, como se deu com a constituição do CAFTA e que

poderia vir a ser com a constituição da ALCA;

2. Aumentar os laços cooperativos coma UE, a fim de estabelecer no futuro uma

zona de livre comércio com essa região;

3. Incrementar os laços de interdependência comercial com a região asiática,

principalmente com a Índia, Vietnã, Coréia do Sul e Japão;

4. Trabalhar duro para finalizar a RD com um resultado satisfatório para os EUA e

143 JORNAL DO BRASIL, 06 ago. 2005, p. 1. 144 Ex-representante do Brasil em Washington e presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior (COSCEX). 145 JR., 08 ago. 2005, p. 1. 146 Idem, pp. 1-2.

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5. “Colocar a casa em ordem”, ou seja, cuidar dos problemas de política interna

dentro de seu território.

Com esse planejamento estratégico os EUA não precisariam se preocupar com a

“invasão” chinesa em seu mercado doméstico, já que o país criaria novas oportunidades

para sua economia, pulverizando assim essa ameaça147

Outros Destaques:

No dia 21 e 22 de julho, iniciaram-se as primeiras consultas que visavam dar uma

solução para o problema criado pelo Brasil na proibição da importação de pneu usado

exportado pela UE. A UE deseja explicações do comportamento brasileiro, a fim de evitar

que o contencioso seja levado para o Órgão de Solução de Controvérsias (OSC). Caso esse

contencioso não seja encerrado em 90 dias, contando a partir da primeira consulta, o caso

será levado para o OSC148.

--==--

O Brasil volta a pressionar o laboratório Abbott para a negociação de uma segunda

redução ainda mais profunda do que a acordada em 08 de julho. O governo brasileiro diz

que se os atuais US$ 0,99 por pílula não sofrerem uma redução de 59%, o Brasil quebrará a

patente e passará a fabricar o medicamento com um custo de US$ 0,41 por unidade.

Como reação a decisão brasileira, o laboratório quer que o governo norte-americano

ameace retaliar o governo brasileiro em US$ 2 bilhões em suas exportações para o país,

caso se confirme a quebra de patente do medicamento149.

--==--

Os EUA impuseram sobretaxas provisórias à exportação de suco de laranja

brasileiro, devido a suspeita de dumping. As sobretaxas recaíram sobre as três principais

147 STERNBERG, 09 ago. 2005, pp. 1-2. 148 JORNAL DO BRASIL, 11 ago. 2005, p. 1. 149 BLOOMBERG, 18 ago. 2005, pp. 1-2.

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empresas brasileiras do setor: 60% para a empresa Montecitrus Indústria e Comércio Ltda.,

31% para o grupo Fischer e 25% para a Sucocitricos Cutrale150.

Bibliografia:

FIORI, Mylena. Brasil tem agenda mínima para Cúpula da Organização Mundial do Comércio. Agência Brasil, 10 ago. 2005. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=155949> Acesso em 10 ago. 2005. NUNES, Dimalice. EUA impõem sobretaxa de até 60% para suco de laranja. Gazeta Mercantil, 18 ago. 2005. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=157641> Acesso em 18 ago. 2005.

STERNBERG, Sy. We Can Learn a Lesson From China. The Wall Street Journal, 09 ago. 2005. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=155646> Acesso em 09 ago. 2005.

BLOOMBERG, 18 ago. 2005. Brazil Presses Abbott to Cut AIDS Drug Prices for Second Time. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=157751> Acesso em 18 ago. 2005. JORNAL DO BRASIL, 06 ago. 2005. Namoro de verão. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=154879> Acesso em 06 ago. 2005. JORNAL DO BRASIL, 11 ago. 2005. Contencioso à vista. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=156183> Acesso em 11 ago. 2005.

Acompanhamento da Rodada Doha151

Resenha quinzenal nº 11 (29/08 a 08/09/2005)

150 NUNES, 18 ago. 2005, pp. 1-2. 151 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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Gabriel Cepaluni

Esta resenha resumirá as principais notícias veiculadas entre os dias 29/08 a 08/09.

A notícia que chamou mais atenção da mídia no período foi a posse de Pascal Lamy como

novo secretário geral da OMC no dia 1º de setembro.

Laurence Caramel, do Le Monde,152 pergunta se Pascal Lamy conseguirá salvar a

OMC de fiascos semelhantes aos de Cancun? Segundo Caramel, o antigo comissário

europeu precisa desbloquear a agenda de negociações até a Conferência de Hong Kong,

marcada para os dias 13 a 18 de dezembro.

No dia seguinte ao fracasso da Conferência de Cancun, em 2003, Lamy fez duras

críticas à organização. Mas eleito secretário-geral, declarou que apenas iniciará as reformas

da instituição após o encontro de Hong Kong. Para a reforma, Lamy tentará forjar um

acordo entre os 148 países membros a respeito de quatro grandes matérias que estão

pendentes: agricultura, tarifas aduaneiras sobre produtos industriais, liberalização de

serviços e tratamento “especial e diferenciado” para os países em desenvolvimento.

O intercâmbio de produtos agrícolas representa cerca de 10% do comércio

internacional. O comércio agrícola apresenta distorções por causa dos enfrentamentos entre

os Estados Unidos e a União Européia, que subsidiam agricultores para proteger seus

mercados domésticos e escoar os excedentes de suas produções para terceiros países. Por

outro lado, os países em desenvolvimento, que sofrem uma concorrência desleal, são

partidários do livre comércio e se reúnem em torno do Grupo de Cairns.

Na Conferência de Cancun, em 2003, países emergentes — como o Brasil, a Índia e

a China — formaram uma frente comum ao criarem o G-20. Essas nações desejam obter

benefícios em três aspectos das negociações agrícolas: ampliação do acesso a mercados por

meio da diminuição de tarifas aduaneiras, a redução dos subsídios e a diminuição das

subvenções às exportações européias e norte-americanas.

Os países em desenvolvimento também querem negociar dois outros temas em

Hong Kong: tarifas industriais e serviços. A respeito do primeiro tema, as discussões vão

desde a abertura dos mercados do Sul até uma maneira de permitir que os países em fase de

152 CARAMEL, Laurence, 31 de ago. 2005.

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industrialização tenham a possibilidade de proteger certos setores de suas economias por

meio do aumento de tarifas aduaneiras. No que diz respeito ao segundo tema, menos de

uma centena de países propuseram ofertas de liberalização. Os países mais pobres, que não

têm nada para barganhar, já estão enfrentando dificuldades na obediência aos acordos

comerciais existentes. Outras nações — como Índia, Paquistão e Bangladeche — têm

apenas um objetivo: obter dos países ricos um acordo sobre as migrações temporárias de

mão-de-obra — batizado de “modo 4”.

O New York Times153 divulgou que as negociações preparatórias para a Conferência

de Hong Kong correm o risco de entrarem em “colapso”, segundo informações de líderes

empresariais.

“Estamos profundamente preocupados que a Agenda de Desenvolvimento de Doha

fracasse”, conforme declaração conjunta de líderes empresariais dos Estados Unidos, União

Européia, Austrália, Canadá, Japão e México. “O tempo está terminando para que os

membros concordem sobre temas chaves das negociações antes de dezembro deste ano. A

Conferência Ministerial de Hong Kong corre o risco de se transformar na próxima Cancun

ou Seattle.”

Segundo o jornal, os “perigos” do comércio internacional possivelmente seriam o

principal tema de um encontro em Washington entre Peter Mandelson, Comissário de

Comércio da União Européia, e Robert Portman, Representante de Comércio dos Estados

Unidos.154

A questão da agricultura não tem visto muito progresso na OMC. A incapacidade

dos membros da OMC em acordarem em julho uma primeira versão de uma declaração

ministerial para Hong Kong “aprofundou a crise”.

A agricultura está no centro das discussões de comércio internacional. Os

fazendeiros dos Estados Unidos não aceitam cortes profundos nos subsídios domésticos a

menos que os europeus reduzam ainda mais suas subvenções, e que países em

desenvolvimento, como o Brasil, diminuam tarifas agrícolas (farm tariffs).

153 THE NEW YORK TIMES, 07 de set. 2005. 154 O jornal não fornece a data do encontro.

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Os grupos empresariais exigem que todos os membros da OMC, “especialmente os

maiores players”, demonstrem vontade política para levar as negociações agrícolas adiante,

mesmo que sejam necessárias “decisões políticas dolorosas”.

Conforme a Folha de São Paulo,155 Pascal Lamy, novo diretor-geral da OMC

(Organização Mundial do Comércio), tem o desafio de fazer com que os países cheguem a

um acordo na reunião ministerial de Hong Kong. “Há muito trabalho pela frente em relação

ao que já aconteceu e ao que não aconteceu ainda”, disse Lamy, na sede da OMC, em

Genebra. “Hong Kong, obviamente, é e continua sendo a prioridade número um.”

Segundo Lamy, “o diretor-geral da OMC não tem uma varinha mágica, ele não é

um tipo de ‘deus ex machina’, como em um teatro barroco do século 18, descendo do céu

com asas e uma bela música para um final feliz”. Os Estados participantes da OMC “têm o

poder de decisão. Nós podemos catalisar, intermediar e, às vezes, interferir, mas, no final,

eles tomam as decisões”.

“Temos que abaixar as expectativas porque as negociações estão atrasadas”, disse

Robert Portman, chefe do USTR. “Nós não fizemos, no último ano, o progresso que todos

esperavam. Nós temos um projeto ambicioso, e esses são assuntos complicados.” Portman

disse ainda que o final de 2006 é um bom prazo para terminar a Rodada Doha e que estava

otimista quanto à habilidade de Lamy de avançar as negociações.

Outros Destaques:

Tony Blair quer acabar, em um prazo de cinco anos, com os subsídios às

exportações agrícolas que tanto prejudicam os países pobres. Blair, que preside neste

semestre a União Européia (UE), adverte que a falta de progressos nos entendimentos na

reunião ministerial da OMC causam sérios prejuízos aos países participantes. Para ele, a

posição intransigente adotada por muitos países poderá ser fatal para as negociações de

dezembro na Rodada de Doha, em Hong Kong. “O êxito das negociações traria enormes

benefícios à economia mundial e ajudaria a tirar milhões de pessoas do estado de pobreza.”

155 FOLHA DE SÃO PAULO, 07 de set. 2005.

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Blair critica a OMC por não ter “respondido às necessidades dos países em

desenvolvimento”. Para ele, "o segredo é a agricultura".156

Depois de quase dois anos de atuação discreta, o Ministério da Fazenda voltou a

interferir nos rumos das negociações comerciais e defendeu uma atitude mais ativa do país

em fóruns internacionais. Sugeriu que o Brasil proponha nas negociações da Rodada Doha

da OMC um corte abrupto das tarifas de importação de produtos industriais. A sugestão foi

bombardeada “na surdina” pelo Itamaraty, e por um de seus principais aliados, o Ministério

do Desenvolvimento. Na proposta, o Ministério da Fazenda recomendou cortes que

significariam, para o Brasil, a redução da tarifa máxima que pode ser aplicada pelo país

sobre a importação de qualquer produto industrializado de 35% para 10,5%. Atualmente,

esse teto é adotado, entre outros produtos, para os automóveis.157

O Relatório do Desenvolvimento Humano de 2005 que, neste ano, analisa a

cooperação internacional, sugere o fim dos subsídios agrícolas e a melhoria das condições

de comércio internacional como forma de estimular a redução da pobreza no mundo. O

relatório aponta a necessidade de revitalizar os acordos acertados na rodada de negociação

de Doha no sentido da liberalização do comércio internacional. “As barreiras comerciais

mais difíceis de salvar são as levantadas pelos países mais pobres. Na média, as barreiras

comerciais que os países em desenvolvimento enfrentam quando exportam para os ricos são

três vezes superiores no caminho contrário”, diz o documento. Nesse sentido, o relatório da

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento fala em “tributação perversa”.158

O ministro Roberto Azevedo será o novo chefe do Departamento Econômico do

Itamaraty, órgão chave na preparação do país para a Rodada Doha da OMC. A nomeação

de Azevedo completará a mudança no quadro de negociadores comerciais do Itamaraty. Ele

156 GAZETA MERCANTIL, 06 de set. 2005. 157 MARIN, Denise Chrispim, 07 de set. 2005. 158 FOLHA DE SÃO PAULO, 07 de set. 2005.

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substituirá Piragibe Tarrago, que vai para Nova York como embaixador brasileiro na ONU.

Por sua vez, Clodoaldo Hugueney, novo embaixador em Genebra, será substituído na

subsecretaria de assuntos econômicos por Pedro Luiz Carneiro Mendonça, que até então era

o chefe da assessoria parlamentar do Itamaraty. Azevedo será um dos principais

negociadores comerciais do país. Ele chefiava a divisão de contenciosos do Itamaraty e

esteve na condução das grandes disputas comerciais abertas pelo país recentemente, com

vitórias contra o Canadá no conflito Embraer-Bombardier, contra os EUA no caso do

algodão, contra a União Européia na briga do açúcar, entre outras.159

Bibliografia:

CARAMEL, Laurence. OMC: Pascal Lamy a cent jours pour sauver les négociations

lancées à Doha. Le Monde, 31 de ago. 2005. Disponível:

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_

RESENHA=161114, Acesso 07 set. 2005.

FOLHA DE SÃO PAULO, 07 de set. 2005. Documento pede fim da política de subsídios

para reduzir pobreza. Disponível:

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESE

NHA=162454, Acesso 07 set. 2005.

GAZETA MERCANTIL, 06 de set. 2005. Blair defende fim do subsídio à agricultura.

Disponível:

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESE

NHA=162295, Acesso 07 set. 2005.

MARIN, Denise Chrispim. Fazenda quer mais importações. O Estado de São Paulo, 07

de set. 2005, Disponível:

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESE

NHA=162496, Acesso 07 set. 2005.

MOREIRA, Assis. Itamaraty põe Azevedo em função negociadora, Valor Econômico,

159 MOREIRA, Assis, 08 de set. 2005.

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08 de set. 2005, Disponível:

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESE

NHA=162750, Acesso 08 set. 2005.

THE NEW YORK TIMES, 07 de set. 2005. World Trade Talks Said to Be Teetering on

Collapse. Disponível:

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_

RESENHA=162495, Acesso 07 set. 2005.

Acompanhamento da Rodada Doha

Resenha quinzenal nº 13 (28/09 a 13/10/2005)

Gabriel Cepaluni

Esta resenha resumirá as principais notícias veiculadas entre os dias 28/09 a 13/10/2005. As notícias que mais chamaram atenção foram: (1º) a ameaça do governo brasileiro de retaliar os Estados Unidos por causa do contencioso do algodão e (2º) a contra-ameaça norte-americana de retirar o Brasil do Sistema Geral de Preferências (SGP) daquele país.

Conforme Denise Chrispim Marin, de O Estado de São Paulo, a vitória do Brasil contra os Estados Unidos na disputa sobre os subsídios americanos ao algodão acendeu um holofote sobre uma fragilidade do sistema de solução de controvérsias da organização.

Em recente disputa com os Estados Unidos, o Brasil obteve a condenação da OMC aos mecanismos de subsídio à produção e à exportação de algodão do governo americano. Foram concedidos seis meses para Washington alterar esses programas. O prazo venceu dia 21 de setembro. O governo brasileiro informou, então, que pediria à OMC a autorização para retaliar produtos, serviços, patentes e direitos autorais americanos.

"O Brasil não deve se furtar a examinar essa possibilidade, de acordo com os seus interesses. Se não o fizer, perderá credibilidade", afirmou o coordenador geral do Núcleo de Contenciosos do Itamaraty, Roberto Azevêdo.

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Como lembra Azevêdo, o caso do algodão tornou-se mais sensível porque a condenação da OMC estendeu-se também aos mesmos subsídios concedidos a outros bens, como o milho, a soja, o trigo. Ou seja, ao mudar sua legislação sobre os subsídios, o governo americano não atingiria apenas os seus eleitores algodoeiros. Ambos concordam que o caso terá influência nas negociações do capítulo agrícola da atual Rodada Doha de liberalização do comércio mundial e tenderá a evitar um novo inchaço dos subsídios no orçamento americano para o setor. Ou seja, se os EUA se vêem obrigados a tratar da questão, o Brasil se vê igualmente pressionado a adotar as sanções — mesmo consciente de que a medida reduzirá o comércio bilateral.

Conforme o artigo de Pedro de Camargo Neto, ex-secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no Valor

Econômico, a vitória obtida na disputa entre Brasil e EUA na questão dos subsídios à produção de algodão, no âmbito da OMC, encontra-se em fase de implementação.

A arbitragem do sistema de solução de controvérsias da OMC decidiu a favor do Brasil em quase a totalidade dos pleitos apresentados. A decisão da OMC dividiu em duas etapas a obrigação dos EUA de alterar sua política de subsídio ao algodão.

Na primeira etapa, com data fixada em 1º de julho de 2005, foi determinado que a política de subsídios ao programa de exportação, Step 2, fosse eliminada. O painel de arbitragem, já em sua primeira decisão, em 2004, fixou esta data considerando a gravidade da ilegalidade apresentada. Na apelação, os árbitros definiram a rápida eliminação deste programa, bem como a do componente de subsídio existente nos créditos à exportação.

Na segunda etapa, que dentro das normas da OMC deveria ocorrer seis meses após sua determinação — o que aconteceu no dia 21 de setembro de 2005 —, determinou que quase toda a política de apoio à produção de algodão fosse alterada, de maneira a cessarem os danos que vêm sendo causados ao Brasil.

Esta etapa, mais complexa que a primeira, implica que os EUA reduzam os subsídios em diversas políticas de apoio à produção de algodão. A arbitragem, porém, não fixou valores ou percentuais de redução, ficando a ser acordada entre as partes a interpretação do que representaria cessarem os danos ao Brasil. Em outras palavras, ganhamos, porém é preciso que as mudanças realmente ocorram, para que a vitória seja mais do que só política, contribuindo para o desenvolvimento nacional.

Primeiro de julho chegou sem que o Brasil pressionasse com determinação para que as mudanças determinadas pela OMC ocorressem na data definida há mais de um ano antes. O Brasil se reuniu com os EUA e acabou aceitando um acordo, onde o Poder Executivo americano enviaria ao Congresso proposta de emenda à legislação agrícola retirando o programa Step 2, com a promessa de obter sua aprovação até o final do ano. A aprovação da emenda continua tramitando em Washington e é objeto de pressão dos grupos de interesses do setor algodoeiro local.

O governo brasileiro se posicionou corretamente na OMC, garantindo o direito de vir a utilizar o instrumento da retaliação comercial caso os EUA não cumpram o determinado

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pela arbitragem. Invocou inclusive o direito de retaliar em questões protegidas pelo acordo de propriedade intelectual e de serviços de maneira corajosa e pioneira.

Agora, a data de 21 de setembro chegou sem que a primeira etapa do determinado tenha sido cumprida pelos EUA. Embora tramite no Congresso, a legislação que elimina o Step 2 ainda não foi aprovada.

Se os Estados Unidos tivessem honrado a primeira etapa definida pela OMC, os preços no mercado internacional teriam subido em até 15%.

Cumprir a segunda etapa é algo mais complexo. A arbitragem não explicitou o que seria eliminar os danos causados ao Brasil. Sabe-se, contudo, que qualquer acordo realizado agora pelo Brasil tem implicações diretas nas negociações agrícolas da Rodada Doha.

O correto seria vermos os Estados Unidos cumprir seu veredicto, avaliado pela OMC dentro das regras do acordo da Rodada Uruguai, para na seqüência negociarmos os novos avanços da Rodada Doha. Cumpre ao governo brasileiro manter a determinação que levou os produtores a iniciarem a ação.

Segundo o jornal Folha de São Paulo, o Brasil vai pedir autorização à OMC para retaliar os Estados Unidos por não terem eliminado subsídios ilegais a fazendeiros de algodão. "O pedido à OMC será feito na quinta-feira [6 de outubro]", disse Roberto Azevedo, chefe do Departamento de Contenciosos do Itamaraty, à Associated Press, no dia 05 de outubro, em Genebra.

O Brasil havia garantido em julho na OMC o direito de aplicar retaliações no valor de 3 bilhões de dólares anuais aos EUA, aumentando tarifas de importação de alguns produtos americanos. Nessa ocasião, o Brasil declarou que tentaria negociar uma solução com os Estados Unidos e deu ao país mais tempo para mudar a legislação. Havia a possibilidade também de o Brasil buscar concessões comerciais dos norte-americanos em vez de aplicar as sanções.

O chefe do USTR, Robert Portman, disse no mês passado que seu país estava trabalhando para se adequar à decisão da OMC e que a nova legislação a respeito dos subsídios havia sido enviada ao Congresso, mas que não havia sido aprovada em parte devido aos problemas causados pelo furacão Katrina.

Conforme o jornal The New York Times, talvez os Estados Unidos retaliem o Brasil em 2 bilhões de dólares se o governo brasileiro insistir em pedir à OMC o direito de impor sanções de 1 bilhão de dólares por causa do resultado do contencioso do algodão, disse um membro do governo norte-americano.

"Sempre há o perigo de as coisas saírem do controle nas relações comerciais... Se um decide retaliar, talvez outros farão o mesmo", comentou o secretário-adjunto do Departamento de Estado, Robert Zoellick, em uma viagem a Brasília.

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Zoellick, em uma conferência à imprensa com o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, disse que o Estados Unidos estão trabalhando para aprovar uma nova legislação no Congresso norte-americano e estão participando das negociações de Doha para resolver os problemas concernentes ao algodão.

Há muito tempo os Estados Unidos estão preocupados com as violações brasileiras dos direitos de propriedade intelectuais norte-americanos, mas convencidos de que o governo brasileiro está tentando solucionar o problema, tem esperado apesar de ter um prejuízo anual estimado em torno de 2,.5 bilhões de dólares, comentou Zoellick.

Segundo Kelly Oliveira, da Gazeta Mercantil, o secretário-adjunto de Estado dos Estados Unidos, Robert Zoellick, disse que o país pode ser retirado do Sistema Geral de Preferências (SGP), que prevê isenção ou redução de taxas sobre produtos exportados para o mercado americano. O motivo foi a decisão do Brasil de pedir à OMC autorização para aplicar sanções comerciais contra os Estados Unidos de até 1,037 bilhão de dólares por ano, devido à manutenção dos subsídios ao algodão.

Zoellick lembrou que o Brasil exporta 2,5 bilhões de dólares aos Estados Unidos por ano, por meio do SGP. Os Estados Unidos têm pressionado os países incluídos no SGP a combater a pirataria, caso contrário, podem perder o benefício. Há mais de seis meses o governo americano prorrogou o prazo para analisar as ações do Brasil no combate à pirataria para definir se o País seria ou não retirado da lista. O prazo para que os EUA concluíssem o relatório terminou no último dia 30, mas o governo americano ainda não apresentou o resultado ao Brasil.

Denise Chrispim Marin e Fabio Graner, do O Estado de São Paulo, noticiaram que os Estados Unidos ameaçaram adotar medidas contra o Brasil, caso o país resolva aplicar retaliações comerciais contra produtos, serviços e patentes americanos.

Em visita oficial a Brasília, o secretário-adjunto de Estado, Robert Zoellick, insistiu que a adoção de retaliações é "contraproducente, somente pioraria o problema e deveria ser adotado só em último caso". Assinalou ainda que Washington poderá rever o acesso preferencial de produtos brasileiros ao mercado americano, com tarifas de importação reduzidas, e também a cooperação na área de propriedade intelectual.

Zoellick demonstrou que já não interessa mais aos Estados Unidos a negociação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e tampouco um acordo com o Mercosul - proposta que o Itamaraty insiste em apresentar ao governo americano. O foco de Washington, afirmou Zoellick, está na Rodada Doha da OMC.

"O Brasil vende US$ 2,5 bilhões aos Estados Unidos por meio do Sistema Geral de Preferências (SGP) e trabalhamos em cooperação no combate à pirataria. É perigoso entrar nesse caminho", afirmou Zoellick. "Se o Brasil quiser retaliar, nós podemos rever essas iniciativas."

"No meu ponto de vista, chegar à retaliação será o pior. Apenas tornará mais difícil a solução do problema", disse o secretário-adjunto. "No caso de subsídios, o melhor caminho

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é a negociação na Rodada Doha da OMC, na qual deveria haver parceria entre o Brasil e os EUA na eliminação dos subsídios agrícolas e na redução de tarifas".

Outros Destaques:

As negociações para redução voluntária de exportações chinesas vão continuar, disse o ministro do Desenvolvimento, Luiz Furlan, de regresso de uma fracassada incursão a Pequim. Nos próximos dias, segundo o ministro, o governo deverá publicar dois decretos de regulamentação do mecanismo de salvaguardas contra importações da China. Os decretos estão há quatro meses na Casa Civil da Presidência.

A regulamentação não saiu até agora porque o governo tem hesitado em tomar uma atitude dura em relação aos parceiros chineses. Estes não hesitaram, no ano passado, em criar entraves ao desembarque de soja brasileira, numa evidente manobra para derrubar preços.

***

Foi lamentável o vazamento para a imprensa de um documento do Ministério da Fazenda que propõe uma abertura comercial da economia brasileira no âmbito das negociações da Rodada de Doha da OMC. O documento era uma proposta que deveria ser mantidas em sigilo absoluto. O texto discute os limites das concessões que deverão ser feitas em bens manufaturados, pelo Brasil, em troca de concessões recíprocas por parte de nossos parceiros em áreas como agricultura, antidumping e outras.

A Teoria Econômica mostra que a abertura comercial traz ganhos líquidos para a sociedade, ainda que o exercício pleno das vantagens comparativas possa prejudicar empresas e trabalhadores dos setores menos eficientes. A redução da proteção aumenta a concorrência, beneficiando o conjunto dos consumidores, que, infelizmente, tendem a ser esquecidos pelos negociadores de plantão.

Não só os consumidores ganham com a abertura. Ela também beneficia as indústrias que dependem de insumos e bens de capital importados para se modernizar. Importar mais é fundamental para quem quer exportar mais e melhor.

Todos os países mais eficientes do mundo são economias abertas, que se posicionam ao mesmo tempo na liderança das exportações e das importações mundiais. Porém, no Brasil, ainda predomina uma mentalidade autárquica anacrônica oriunda de 40 anos de "substituição de importações", baseada na idéia de que é preciso produzir de tudo, que as exportações são boas e as importações, ruins ou, pior, que indústrias fartamente protegidas por tarifas e subsídios, durante meio século, hoje ainda seriam "nascentes".

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Não vejo por que evitar uma abertura recíproca que reduziria as tarifas de importação dos membros da OMC durante longos dez anos, com inúmeras exceções e flexibilidades para os países como o Brasil.

***

Celso Amorim disse, no dia 06 de outubro, que o Brasil continuará a negociar as restrições voluntárias às exportações da China, mesmo com a regulamentação das salvaguardas, publicada no dia 07 de outubro no Diário Oficial da União.

Amorim não acredita que os chineses retaliarão o Brasil por causa da adoção do mecanismo protecionista. Porém, representantes do governo chinês no Brasil afirmaram várias vezes que a China reagirá às salvaguardas. Mas o governo brasileiro argumenta que Estados Unidos, União Européia e Argentina adotaram salvaguardas contra a China e nem por isso foram punidos por Pequim. Esses países continuam a negociar restrições voluntárias contra os chineses.

Sobre o acordo bilateral no qual o País reconhece a China como economia de mercado, Amorim afirmou que a regulamentação dependerá do andamento das medidas do memorando de entendimento, que nada têm a ver com as salvaguardas. "O Brasil não vai voltar atrás no reconhecimento da China como economia de mercado, mas o grau e a rapidez da regulamentação do acordo vão depender do todo do acordo, que tem 12 parágrafos e inclui várias medidas, inclusive fitossanitárias."

***

Estados Unidos e União Européia mostraram disposição em eliminar os subsídios às exportações agrícolas e aos produtores agrícolas. Os anúncios foram feitos no dia 10 de outubro durante encontro em Zurique, promovido com o objetivo de favorecer a retomada das negociações frente à reunião ministerial da OMC em Hong Kong, em dezembro.

Para alguns observadores, as propostas deverão contribuir para desbloquear as negociações da OMC. A dois meses da reunião dos 148 ministros da OMC em Hong Kong (de 13 a 18 de dezembro), o representante de Comércio Exterior dos EUA, Robert Portman, propôs eliminar em cinco anos os subsídios que seu país concede à exportação agrícola e reduzir a mais da metade os subsídios internos aos agricultores.

A União Européia propôs a redução em 70% das ajudas agrícolas internas que distorcem o comércio, em seu novo projeto para desbloquear as negociações da OMC, informaram em Bruxelas fontes da Comissão Européia (CE, braço Executivo do bloco).Celso Amorim considerou positivas as propostas feitas pelos Estados Unidos para desbloquear as negociações agrícolas na OMC, "mas insuficientes".

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Bibliografia:

CAMARGO NETO, Pedro de. O algodão e a implementação da vitória do Brasil na OMC. Valor Econômico, 06/10/2005, Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=170701, Acesso 13 de out. 2005.

FOLHA DE SÃO PAULO, 06 de out. 2005. Brasil vai pedir à OMC autorização para retaliar os EUA sobre algodão. Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=170563, Acesso 13 out. 2005.

GAZETA MERCANTIL, 11 de out. 2005. EUA e UE anunciam eliminação de subsídios para ajudar negociações. Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=171653, Acesso 13 de out. 2005.

JANK, Marcos Sawaya, 04 de out. 2005. Uma nova abertura da economia brasileira? O Estado de São Paulo, 04/10/2005, Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=170061, Acesso 13 de out. 2005.

OLIVEIRA, Kelly. Zoellick reage a sanções e ameaça tirar o Brasil do SGP. Gazeta Mercantil, 07 de out. 2005. Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=170946, Acesso 13 de out. 2005.

O ESTADO DE SÃO PAULO, 04 de out. 2005. Fracasso em Pequim/Editorial. Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=170056, Acesso 13 de out. 2005.

MARIN, Denise Chrispim. Na OMC, o Brasil 'ganha, mas não leva'. O Estado de São Paulo, 03 de out. 2005, Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=169955, Acesso 13 de out. 2005.

MARIN, Denise Chrispim e GRANER, Fabio do. Secretário de Bush ameaça reagir a retaliações. O Estado de São Paulo, 07 de out. 2005, Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=170888, Acesso 13 de out. 2005.

PULITI, Paula. Amorim: diálogo com China continua. O Estado de São Paulo, 07 de out. 2005, Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=170886, Acesso 13 de out. 2005.

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THE NEW YORK TIMES, 07 de out. 2005. US Says May Retaliate Against Brazil Over Trade. Diponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=170897, Acesso 13 de out. 2005.

Acompanhamento da Rodada Doha [1]

Resenha quinzenal nº 14 (14/10 a 30/10/2005 )

Gabriel Cepaluni

Esta resenha resumirá as principais notícias veiculadas entre os dias 14/10 a 30/10/2005 .

Conforme o Editorial do jornal Valor Econômico [2] , o Brasil anunciou seu apoio à entrada da Rússia na OMC em troca do compromisso daquele país de não reduzir o acesso das carnes brasileiras ao seu mercado, em qualquer condição, por cinco anos.

No fim do ano passado, a China ganhou o reconhecimento, pelo Brasil, de que aquele país é uma economia de mercado — uma façanha diplomática que nem mesmo o maior parceiro comercial do país asiático, os Estados Unidos, aceitou fazer. Na teoria, a China abriu seus mercados a produtos brasileiros. Na prática, em um ano as exportações do Brasil para a China cresceram apenas 4%, enquanto as importações chegaram a 58%. Em troca, os chineses não apoiaram a reivindicação do Brasil de um lugar no Conselho de Segurança da ONU, nem se tornaram parceiros nas negociações não-agrícolas da Rodada Doha.

A precipitação da diplomacia de Lula em direção aos dois países emergentes reproduz um padrão de comércio exterior pouco favorável ao incremento do comércio de bens elaborados. Em 2004, os países em desenvolvimento absorveram 51% das exportações brasileiras de commodities agrícolas. A demanda por produtos não-industrializados ocorre respondendo à industrialização e ao aumento da renda daqueles países. A China e a Rússia são fundamentais para essa contabilidade.

Ao recusar as negociações com os Estados Unidos em torno da Alca, a diplomacia petista tentou interromper um histórico de comércio exterior baseado na exportação de matérias-primas e produtos agrícolas para os desenvolvidos e na importação de produtos de maior valor agregado. Mas acabou reproduzindo a mesma relação que manteve com países hegemônicos, em todos momentos de sua história, com nações que estão no mesmo patamar de desenvolvimento.

A diplomacia brasileira tornou-se fundamentalmente política. Parte do pressuposto de que a formação de um bloco de países em desenvolvimento terá coesão e força para se contrapor às nações hegemônicas no cenário internacional. Esse pressuposto tem se mostrado falho. A China não esteve ao lado do Brasil quando não considerou isso conveniente, nas decisões

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em fóruns internacionais. Nada indica que a Rússia será um grande aliado político internacional.

A Rússia é o maior comprador da carne brasileira. Entre janeiro e agosto, o Brasil exportou 364 milhões de dólares em carne para os russos. Nas negociações feitas durante a viagem do presidente Lula a Moscou, o governo russo apenas admitiu fazer exigências menos rigorosas à importação de carnes brasileiras. Mas o Brasil aceitou que a Rússia mantenha cota por país para as carnes de gado, porco e frango até o último dia de 2009, com tarifas de 15% para gado e porco e 25% para frango. Em contrapartida, o governo russo aceita reduzir em 25% as tarifas de carnes brasileiras importadas pelo Sistema Nacional de Preferências. E “promete” reabrir as negociações em 2010. O Brasil também teve que engolir, e institucionalizar, a prática russa de aplicar uma “banda de preços” sobre o açúcar até dezembro de 2010. Isto é, até lá a Rússia pode aumentar a alíquota para importação do produto brasileiro dentro de um patamar.

O The New York Times [3] noticiou que países africanos produtores de algodão ameaçaram bloquear um possível acordo global que ocorrerá no encontro da OMC de dezembro, em Hong Kong, a menos que as nações ricas façam promessas concretas para eliminar seus subsídios domésticos.

O algodão é uma fonte chave para os para os países da África central e do oeste africano, que, segundo estimativas, perdem cerca de 1 bilhão de dólares todos os anos por causa dos grandes subsídios pagos pelos Estados Unidos, assim como pela China e União Européia, para as suas indústrias domésticas de algodão.

“Desejamos ir para Hong Kong, mas queremos estar certos de que voltaremos com propostas concretas e não com palavras que não interessem para o nosso povo”, disse o ministro do comércio do Chade, Ngarmbatina Odjimbeye Soukate. “Este é o preço que desejamos para permanecermos na OMC.”

Os 148 membros da OMC supostamente deveriam concordar com o encontro de dezembro em Hong Kong sobre um esboço para fechar o acordo comercial global para impulsionar a economia mundial abaixando as barreiras comerciais em todos os setores, com ênfase nos subsídios agrícolas que são particularmente altos.

Um acordo ambicioso em Hong Kong é vital para Rodada Doha , que está prevista para acabar no próximo ano .

Washington e um punhado de países africanos — Burquina Faso, Benin, Chade e Mali — concordaram, no ano passado, em criar um sub-comitê na OMC para lidar com a questão do algodão no âmbito mais amplo das negociações agrícolas.

Segundo o Le Monde [4] , o G-20 está promovendo uma campanha para reduzir o protecionismo. “Exortamos todos as partes interessadas a dar o impulso necessário para promover a liberalização do comércio e combater o protecionismo”, disse o comunicado final do G-20, de 16 de outubro de 2005 , depois de dois dias de trabalho em Xangai. O

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documento também exige o “progresso real na Conferência Ministerial da OMC em Hong Kong”.

Os 148 países membros da OMC têm dois meses até a Conferência Ministerial de Hong Kong (13-18 de dezembro), que deve abordar dois terços da agenda da Rodada de Doha.

Um debate sempre presente é a discussão a respeito dos subsídios agrícolas, que os países em desenvolvimento julgam discriminatórios.

O presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz, advertiu que um fracasso nas discussões sobre a liberalização do comércio mundial impactará fortemente os países mais pobres. “Sem qualquer concessão mais ampla — da parte dos países em desenvolvimento ou dos desenvolvidos —, é possível que as discussões da Rodada Doha fracassem e os povos que mais sofrerão serão os mais pobres”, declarou Wolfowitz a respeito do comunicado do G-20.

Outros Destaques:

Os países não chegarão a um acordo sobre os produtos agrícolas na OMC se os países emergentes não fizerem concessões com relação à abertura de mercado para produtos industriais e serviços, disse ontem Peter Mandelson, comissário de Comércio da União Européia. “Se a abertura não se der para produtos industriais e serviços, me permitam ser perfeitamente claro, não haverá acordo sobre a agricultura. Simplesmente não é possível”, disse Mandelson em discurso em Londres. Os comentários de Mandelson vêm em resposta à proposta dos países do G-20 para o corte de subsídios à agricultura. Representantes de países do G-20, entre eles o chanceler brasileiro, Celso Amorim, disseram que a proposta dos Estados Unidos, feita na segunda-feira (10 de outubro), não é suficiente e não levaria a cortes reais nas ajudas aos agricultores. [5]

***

A União Européia propôs reduzir, em 26 de outubro, suas tarifas sobre produtos agrícolas em 47%, em média, numa tentativa de pôr fim ao impasse nas negociações da Rodada de Doha. Mas a proposta foi criticada por Brasil e Estados Unidos. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que, pelos cálculos do governo brasileiro, o corte, na verdade, seria de 39%. Amorim não quis admitir que o sucesso da reunião da OMC, marcada para dezembro, em Hong Kong, está comprometido, inviabilizando a Rodada de Doha. Mas reconheceu que o tempo está “cada vez mais curto”. [6]

***

Os ministros das Relações Exteriores da União Européia aceitaram ontem ( 18 de outubro de 2005 ) a proposta de corte de subsídios feita pelo comissário de Comércio, Peter Mandelson, a países-membros da OMC. Mandelson havia proposto cortar os subsídios agrícolas pagos pela União Européia em até 70% se outros países também fizessem concessões no âmbito da Rodada Doha. O plano teve oposição da França, que chamou uma

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reunião de emergência. Os países da UE, no entanto, aceitaram os termos propostos pelo comissário. Autoridades francesas disseram ontem que o país pode atrapalhar as negociações se Mandelson fizer mais concessões. [7]

***

O “clube das cinco” potências da OMC, Austrália, Brasil, Estados Unidos, Índia e União Européia, volta a se reunir hoje em Genebra para uma nova rodada de intensas negociações sobre agricultura, dois meses antes da conferência de Hong Kong. Uma reunião ampliada para alguns países (China, Japão, Canadá) está prevista para amanhã à tarde. Ao mesmo tempo, as negociações da OMC encontram novas dificuldades, tanto por causa das numerosas críticas de ONGs, assim como pelas divisões no interior da União Européia. “Vamos fazer todo o possível para que não haja um acordo na conferência de Hong Kong”, afirmou ontem em Genebra o francês José Bové, líder antiglobalização. Diversas ONGs, sindicatos e movimentos sociais internacionais se preparam para promover manifestações hoje frente à sede da OMC. O líder agrícola francês criticou o comissário de Comércio, Peter Mandelson, por considerar que a agricultura européia deveria sacrificar-se em prol da indústria. [8]

Bibliografia

FOLHA DE SÃO PAULO, 14 de out. 2005 . Sem abertura de mercado na AL não haverá acordo em agrícolas, diz EU. Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=172370 . Acesso em 29 de out. 2005 .

FOLHA DE SÃO PAULO, 19 de out. 2005 . Países da UE aprovam plano para subsídios. Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=173753 . Acesso em 29 de out. 2005 .

GAZETA MERCANTIL, 19 de out. 2005 . G-5 reúne-se em Genebra e ONGs preparam protesto . Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=173624 . Acesso em 29 de out. 2005 .

LE MONDE, 16 de out. 2005 . Le G20 appelle à lutter contre le protectionnisme et à conclure le cycle de Doha. Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=172903 . Acesso em 29 de out. 2005

TAVARES, Mônica. Brasil e EUA criticam proposta agrícola da UE . O Globo, 29 de out. 2005 . Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=176253 . Acesso em 29 de out. 2005 .

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THE NEW YORK TIMES, 20 de out. 2005 , African Countries Threaten to Block Deal. Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=174003 . Acesso em 29 de out. 2005 .

VALOR ECONÔMICO, 19 de out. 2005 . Apoio à entrada da Rússia na OMC em troca de nada . Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=173800 . Acesso em 29 de out. 2005

[1] Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

[2] VALOR ECONÔMICO, 19 de out. 2005 .

[3] THE NEW YORK TIMES, 20 de out. 2005 .

[4] LE MONDE, 16 de out. 2005 .

[5] FOLHA DE SÃO PAULO, 14 de out. 2005 .

[6] TAVARES, Mônica, 29 de out. 2005 .

[7] FOLHA DE SÃO PAULO, 19 de out. 2005 .

[8] GAZETA MERCANTIL, 19 de out. 2005 .

Acompanhamento da Rodada Doha [1]

Resenha quinzenal nº 15 (31/10 a 15/11/2005)

Gabriel Cepaluni

Esta resenha resumirá as principais notícias veiculadas entre os dias 31/10 a 15/11/2005 .

Segundo Annie Gasnier [2] , o Brasil provavelmente se deparará com o fracasso da Conferência da OMC em Hong Kong, mas o país considera que compensa lutar pelas suas ambições expostas em Doha, no Catar, em 2001.

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O poder agrícola sul-americano não reside apenas no braço de ferro com a União Europeía e com os Estados Unidos. A linha de frente do G-20, grupo de vinte países em desenvolvimento reunidos pelo Brasil e pela Índia na reunião ministerial de Cancun de 2003 para defender seus interesses agrícolas também é fundamental.

“Há um consenso de que a agricultura deve mover as negociações”, relatou recentemente o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, no Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, afirmando que “o G-20 é coeso”.

As exportações agrícolas, em forte expansão, pela primeira vez, ultrapassou a capacidade de 100 milhões de dólares em 2004, proveniente em grande parte de produtos agrícolas. As exportações sofrem “entraves injustificados”, disse o presidente Lula: subsídios, mas também taxas, sobretaxas, quotas e medidas sanitárias.

Para tentar salvar sua colheita e sua moeda, o Brasil multiplicou os recursos no órgão de solução de controvérsias da OMC. Cerca de 20 queixas foram feitas e na maior parte foi dado ganho de causa. Vitórias importantes dizem respeito ao acesso ao mercado norte-americano para o algodão, ao europeu para o açúcar e o frango. Com outros países latino-americanos, ganhou na questão das bananas em disputa com a União Européia.

Essa estratégia também tem limites. Se os países condenados se recusarem a aplicar as diretrizes da OMC, ou demorarem a reduzir suas barreiras, as represálias serão algumas vezes difíceis de serem aplicadas. O Brasil obteve o direito de impor 3 milhões de dólares de sanções aos Estados Unidos para compensar o prejuízo de seus produtores de algodão. De passagem pelo Brasil em outubro, o sub-secretário de Estado norte-americano, Robert Zoellick, declarou: “Francamente, as represálias podem ser contra-produtivas”.

Para a indústria, aquilo que está em jogo nas negociações é menos sensível. As exportações aeronáuticas, siderúrgicas e automobilísticas sofrem poucas barreiras aduaneiras. Salvo os aviões, às vezes vítimas dos subsídios às exportações.

A OMC não pode ser bem-sucedida em resolver as diferenças entre o Brasil e o Canadá, por meio, respectivamente, da Embraer e da Bombardier. Os dois obtiveram ganhos de causa, sem resolver sua rivalidade comercial.

Os serviços é um outro setor onde a abertura não causa problemas aos brasileiros. As telecomunicações, por exemplo, privatizadas em 1998, são filiais de companhias espanholas, italianas, portuguesas e mexicanas.

Conforme The Economist [3] , o economista liberal francês Frederic Bastiat escreveu em 1846 para o próprio The Economist expressando uma nobre e romântica esperança: “Talvez todas as nações logo derrubem as barreiras que as separam”. Estas palavras foram ecoadas 125 anos depois por John Lennon, que não era um economista, mas, sim, um bem-sucedido capitalista global, quando dizia: “imagine que não existem países”.

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Apesar do espetacular aumento nos padrões de vida que têm ocorrido na medida em que as barreiras são derrubadas, e despeito da redução da pobreza naqueles países que se juntaram à economia global, é difícil convencer ao público e aos políticos sobre os méritos da abertura. Uma vez mais, uma nova onda está se formando para denunciar a abertura comercial — isto é, a globalização.

Em Washington, DC, uma nota do Congresso feita por um senador de Nova Iorque, Charles Schumer, ameaça aplicar tarifas de 27,5% sobre importados da China se este país não revalorizar sua moeda. Em 4 de novembro, George W. Bush escapará da febril atmosfera da Avenida Pensilvânia ao visitar a Argentina para assistir à 34º Encontro das Américas. Lá ele ouvirá protestos contra o “imperialismo”, a guerra do Iraque e a Área de Livre Comércio das Américas, a qual ele defende. Entre os esperados 50.000 protestantes estarão Diego Maradona, que como viciado em cocaína era dependente de barreiras que bloqueavam o comércio internacional; e naturalmente seu amigo venezuelano, Hugo Chávez, que está usando o alto preço do petróleo para financiar seu “socialismo do século 21” .

Na última semana, o Latinobarómetro publicou uma pesquisa revelando que a maioria da população em todos os países da região são favoráveis a uma economia de mercado ao invés de uma dirigida pelo Estado — inclusive na Venezuela. Este é um momento difícil para a economia de mercado e para as relações entre países ricos e pobres, pois a Rodada Doha de liberalização comercial está passando por problemas sérios. Nas últimas semanas, uma proposta corajosa dos Estados Unidos para reduzir suas proteções agrícolas obteve uma resposta insatisfatória da União Européia e nenhuma do Japão. Ministros do país de Bastiat, a França, competem entre si para denunciar reformas na política agrícola comum da União Européia. A Europa, eles dizem, permanece uma “potência agrícola” até às expensas dos contribuintes e dos pobres, e, conforme o presidente Jacques Chirac, deve lutar contra o “liberalismo”. O que ocorreu com a Liberdade, Igualdade e Fraternidade?

O editorial do The New York Times [4] afirma que o ministro de Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, foi direto depois da frustrada rodada de negociações comerciais em Londres e em Genebra. A menos que a União Européia pare de hesitar e corte os seus subsídios agrícolas para ajudar os fazendeiros dos países pobres, as negociações para a abertura do mercado de produtos manufaturados e serviços — que ajudam as grandes empresas da Europa e América — não levará “um mês, dois meses, um ano ou dois anos”.

Para Amorim, como para os outros negociadores dos países em desenvolvimento, que têm sido dominados pelo mundo rico nas negociações comerciais, esse momento se resume a duas palavras: fiquem firmes . Não façam nem mesmo uma concessão adicional até que a União Européia corte os subsídios agrícolas. É melhor deixar as negociações fracassarem e mandar os poderosos para casa sem nada nas mãos do que se deixar enganar novamente pelas promessas européias sobre o livre mercado, quando seus países, liderados pela França, acreditam em livre mercado apenas quando serve a seus interesses.

Nos últimos 50 anos, a OMC e seu predecessor, o GATT, desmantelaram as barreiras contra o comércio de bens industriais e serviços, áreas que os países ricos da Europa, juntamente com os Estados Unidos e Japão, têm ampla vantagem. Mas quando se trata de

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áreas nas quais os países pobres poderiam florescer, como têxteis e agricultura, a história é diferente.

O mundo desenvolvido destina aproximadamente 1 bilhão de dólares em subsídios a fazendeiros, o que encoraja a superprodução e abaixa os preços. Os fazendeiros dos países pobres não podem competir com produtos subsidiados.

Há quatro anos, em Doha, no Catar, os países pobres receberam da Europa, Japão e Estados Unidos a promessa de acabar com esses subsídios, além de liberar o comércio mundial de serviços e produtos manufaturados.

Os Estados Unidos fizeram uma oferta substancial em outubro, por meio de seu representante, Robert Portman: o país diminuirá em 60% os subsídios agrícolas se a Europa e o Japão cortarem os seus em 83%. Há uma diferença nos números porque os países europeus e o Japão têm subsídios maiores.

A Europa se recusou, com os franceses na liderança, jurando bloquear qualquer acordo final que ultrapasse a anêmica oferta européia de cortes insignificantes. O comissário da União Européia no Comércio, Peter Mandelson, teve a coragem de pedir aos países pobres que cortem ainda mais os subsídios industriais e de serviços.

Conforme o jornal Folha de São Paulo [5] , a reunião entre representantes do Brasil, da Índia, da União Européia, dos Estados Unidos e do Japão para tentar avançar as negociações da Rodada Doha terminou em tom pessimista com relação ao resultado da reunião da OMC em Hong Kong.

Celso Amorim admitiu a hipótese, já levantada por alguns representantes de países-membros da OMC, de que a reunião de Hong Kong, na qual deveria ser aprovado um acordo abrangente de liberalização do comércio, não tenha sucesso. “Não vamos reduzir nosso nível de ambição para a rodada. Se necessário, reduziremos o nível de expectativa para Hong Kong.”

O ministro do Comércio da Índia, Kamal Nath, fez declarações na mesma linha de Amorim. O Brasil e a Índia fazem parte do G-20, grupo de 20 países em desenvolvimento que pedem redução de tarifas e subsídios agrícolas de nações desenvolvidas. “Com os poucos dias restantes, com a vastidão do que está na mesa, nós poderemos não ter” o plano completo que deveria estar pronto antes de Hong Kong, disse o ministro indiano. “Não quer dizer que Hong Kong vá ser um fracasso. Nós estamos ajustando as expectativas baseados no tempo e na complexidade”, disse Nath, que chefiou uma reunião que serviu de preparação para a reunião da OMC que começa hoje na Suíça.

Amorim se encontrou ontem, antes da reunião com os quatro países, com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, para pedir que os países desenvolvidos reduzam os subsídios agrícolas. Depois do encontro com o primeiro-ministro, Amorim concedeu entrevista coletiva. Alguns trechos da fala dele foram divulgados pelo Ministério das Relações Exteriores, em Brasília.

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“Nós não ignoramos que será necessário também progresso nessas áreas [concessões do G-20 sobre protecionismo na indústria] e estamos dispostos a considerar essa hipótese, desde que haja progressos reais em agricultura”, disse Amorim, segundo o relato do ministério.

O assunto também foi tratado no encontro com Blair. O Reino Unido ocupa atualmente a presidência da União Européia. “Expliquei a ele [Blair] que nós estamos prontos a fazer esses movimentos, mas não podemos colocar o carro diante dos bois. A questão central é a agricultura”, afirmou.

Outros Destaques:

O fracasso das negociações da OMC pode ser prejudicial para os países emergentes e poderia significar até mesmo um aumento dos subsídios agrícolas pelos países ricos, alertou o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy. Ele admitiu que, sem novas regras, o valor dos subsídios poderia subir US$ 57 bilhões nos Estados Unidos, Japão, Canadá e União Européia sem que uma lei sequer da OMC fosse violada. Em um discurso na OMC, Lamy deu indicações de que países como Brasil, Estados Unidos e Índia devem considerar a proposta feita pelos europeus há uma semana no que se refere aos cortes de tarifas agrícolas. Ele diz que “propostas sérias” estão sobre a mesa e pede flexibilidade de todos. Bruxelas sugeriu um corte médio de 46% nas tarifas, o que foi considerado insuficiente para economias emergentes e para os EUA. [6]

***

Os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, as duas maiores democracias do Hemisfério Ocidental, concordaram em colocar as diferenças de lado e se esforçarem para levar as discussões globais comerciais adiante. O presidente Lula da Silva disse que os dois líderes consideram que um acordo bem-sucedido na Rodada Doha é uma prioridade para o próximo ano. [7]

***

Celso Amorim embarca no próximo domingo para Londres para começar a ofensiva contra a proposta da União Européia de corte de subsídios agrícolas. Nos dias 7 e 8 de novembro, o chanceler se encontra com representantes da Índia, dos Estados Unidos e da União Européia. Logo depois, Amorim segue para Genebra, onde as negociações vão prosseguir. Na pauta, além da redução dos subsídios agrícolas dos países desenvolvidos, estará o acesso aos mercados dos países do G-20. O tema também será discutido pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush, no encontro de domingo, em Brasília. [8]

***

“Está equivocado esse confronto com a União Européia. A prioridade da OMC deveria ser a redução de subsídios.” A frase é de Pedro de Camargo Neto, especialista em comércio exterior e negociações internacionais. Na sua avaliação, o Brasil deve focar esforços na queda dos subsídios. Já a batalha para facilitar o acesso aos mercados europeu e americano

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pode ser travada nos acordos bilaterais, pois o país não terá que dividir as vantagens obtidas com os concorrentes. Camargo Neto diz que a OMC é o único fórum no qual será possível reduzir os subsídios agrícolas, ressaltando que a redução dos subsídios tem o apoio das organizações não-governamentais. “O confronto por causa da queda de subsídios é com os Estados Unidos”, diz. Segundo ele, a União Européia também subsidia produtos agrícolas, mas exporta pouco porque é ineficiente. Já os Estados Unidos exportam produtos subsidiados e tomam participação do Brasil em mercados como China e Rússia. [9]

Bibliografia

GASNIER, Annie, 13/11/2005. Une arms efficace pour le Brésil et son agriculture. Le

Monde . Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=179959>. Último acesso em 16/11/2005.

FOLHA DE SÃO PAULO, 08/11/2005 . G20 já admite Hong Kong sem acordo. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=178549>. Última visita em 14/11/2005.

O ESTADO DE SÃO PAULO, 03/11/2005 . Fracasso na OMC vai prejudicar países emergentes, alerta Lamy. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=177376>. Última visita em 14/11/2005.

THE ECONOMIST, 04/11/2005 . Tired of globalisation. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=177835> . Último acesso em 16/11/2005.

THE NEW YORK TIMES, 11/11/2005 . Editorial - Memo to Poor Countries: Stand Fast. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=179411>. Última visita em 16/11/2005.

THE NEW YORK TIMES, 07/11/2005 . Brazil, US Look Ahead to World Trade Talks. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=178396>. Última visita em 16/11/2005.

TAVARES, Mônica, 03/11/2005 . Amorim vai a Londres lutar por uma nova proposta agrícola da Europa. O Globo. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=177419>. Última visita em 14/11/2005.

LANDIN, Raquel, 14/11/2005. Camargo Neto critica tática na OMC. Valor Econômico . Disponível em:

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<http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=179979>. Última visita em 14/11/2005.

[1] Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

[2] GASNIER, Annie. 13/11/2005.

[3] THE ECONOMIST. 04/11/2005.

[4] THE NEW YORK TIMES. 11/11/2005 .

[5] FOLHA DE SÃO PAULO. 08/11/2005 .

[6] O ESTADO DE SÃO PAULO. 03/11/2005 .

[7] THE NEW YORK TIMES. 07/11/2005 .

[8] TAVARES, Mônica. 03/11/2005 .

[9] LANDIM, Raquel. 14/11/2005.

Acompanhamento da Rodada Doha

Resenha quinzenal nº 16 ( 16/11/2005 a 01/12/2005 )

Gabriel Cepaluni

Esta resenha resumirá as principais notícias veiculadas entre os dias 16/11 a 01/12/2005 . Nesta quinzena, focaremos a postura dos países em desenvolvimento e a assimetria de poder nas negociações da Rodada Doha.

Conforme O Estado de São Paulo , a China, cujo mercado é o que mais cresce para os produtos agrícolas brasileiros, não quer se abrir para a importação de bens agrícolas como os demais países da OMC. Pequim quer manter uma proteção extra para cerca de 20% dos produtos agrícolas.

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O Brasil não aceita a proposta e não consegue fechar uma posição conjunta com os chineses sobre o tema nas negociações da Rodada Doha. Brasil e China fazem parte do G-20, bloco criado em 2003 para pressionar os países ricos a abrir o mercado agrícola.

Os chineses insistem que precisam manter certas proteções extras. O argumento é que, como acabam de entrar para a OMC, não podem ter uma abertura maior. O processo de ingresso de Pequim na entidade levou 18 anos para ser concluído e foi fechado em 2001. Para ser aceita, a China teve de abrir seu mercado. Mas, como uma nova rodada em negociação, Pequim teria de promover mais uma queda de tarifas.

O Brasil aceita que prazos mais extensos sejam dados aos chineses e aos demais países que acabam de ser admitidos na OMC para que cumpram as determinações de liberalização que terão de ser estabelecidas na atual rodada. Mas o Itamaraty não aceita que a rodada não signifique novas aberturas do mercado chinês.

No dia 21 de novembro, uma contra-proposta foi apresentada pelo G-20 aos chineses. Mas Pequim não aceitou. Para os outros países, o Brasil quer que a proporção de produtos considerados sensíveis seja apenas de 1%.

O jornal The Times of India publicou que, na Rodada de Hong Kong da OMC, a Índia discutirá a redução nos subsídios agrícolas isoladamente e não aceitará qualquer barganha cruzada com outras questões como, por exemplo, acesso a mercados e redução em taxas aduaneiras.

Em Doha, foi decidido que as negociações seriam conduzidas separadamente no que diz respeito aos subsídios agrícolas, a eliminação de apoio à exportação e acesso a mercados. Conforme a visão indiana, o mandato de Doha não permitirá que estas questões sejam discutidas em conjunto.

Mas os países desenvolvidos desejam negociar acesso a mercados para reduzir subsídios, enquanto a Índia argumenta que no mandato de Doha os subsídios do setor agrícola deveriam ser reduzidos substancialmente.

Os Estados Unidos e a União Européia dão altas somas de subsídios para os seus agricultores permanecerem competitivos no mercado mundial. Se os subsídios forem cortados, os produtores farmacêuticos dos países em desenvolvimento tornar-se-ão competitivos com relação aos produtores agrícolas do mundo desenvolvido.

Menon afirmou que as nações desenvolvidas não estão oferecendo um corte real dos subsídios. “Haverá acordo em outras negociações, como o acesso ao mercado não-agrícola, apenas se existir convergência na agricultura.”

Segundo Jamil Chade , de O Estado de São Paulo , um grupo de países emergentes, entre eles o Brasil, reivindica a volta dos aspectos de desenvolvimento para o centro do debate no encontro de Hong Kong. “As demandas que estão sendo feitas pelos países ricos são fora de proporção”, afirmou o embaixador do Brasil na OMC, Clodoaldo Hugueney. “As

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negociações foram lançadas em 2001 com a promessa de trazer desenvolvimento aos países pobres. Hoje, só temos frustração e o debate foi seqüestrado por países ricos que afirmam estar falando pelas economias mais pobre”, alertou um diplomata da Índia.

O manifesto assinado ontem por Indonésia, Paquistão, Filipinas, África do Sul, Argentina, Venezuela, Namíbia, além de Brasil e Índia pede que o processo lançado em Doha há quatro anos volte a sua origem: transformar o comércio em uma alavanca par o desenvolvimento. A divulgação do documento ocorre em um momento em que os países ricos, principalmente os europeus, indicam que não tem mais nada a oferecer aos países em desenvolvimento em termos agrícolas e ainda pedem concessões dessas economias emergentes em setores como produtos industriais e serviços.

Conforme o Clarín , os países industrializados tentam estabelecer condições assimétricas que os países do Mercosul e outros países em desenvolvimento não querem aceitar: os desenvolvidos exigem a liberalização do comércio e dos serviços da periferia ao mesmo tempo que se negam a reduzir os subsídios agrícolas.

Na Rodada Uruguai, terminada em 1995, os países industrializados se comprometeram em reduzir os subsídios, porém, os anos passaram e os subsídios apresentaram pouca redução. Ao mesmo tempo, e a partir da reunião da OMC de Singapura, em 1996, as nações industrializadas incluíram na agenda de negociações “novos temas”, como a liberalização do comércio de serviços, de investimentos e de propriedade intelectual, entre outros.

A persistência do protecionismo agrícola, no contexto das incorporações de novas pressões de liberalização, gerou um crescente rechaço entre os países periféricos, que tomou forma na reunião ministerial de Cancun, da OMC, em setembro de 2003. Ali, um grupo de mais de vinte países decidiu não continuar as negociações se não se reduzissem os subsídios.

O tema agrícola provocou também a paralisação das negociações entre o Mercosul e a União Européia e também as negociações da ALCA.

Neste clima, se aproxima a reunião da OMC, que ocorrerá em Hong Kong, como parte da rodada lançada em Doha, em 2001. Até o momento, parece que se os países industrializados não fizerem uma oferta convincente para o cumprimento de suas velhas promessas as negociações continuarão paralisadas, para prejuízo de todos. Os países industrializados fazem exigências assimétricas que os países do Mercosul não querem aceitar: exigem liberalização do comércio e dos serviços ao mesmo tempo que se negam a reduzir os subsídios agrícolas.

Outros Destaques:

Os países em desenvolvimento não serão pressionados a fazer um acordo com as nações ricas por causa da importância da reunião da OMC em Hong Kong, disse ontem Kamal Nath, ministro do Comércio da Índia. A Índia e o Brasil lideram o G-20, grupo de 20 países

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em desenvolvimento que tem tido participação importante na chamada Rodada Doha de liberalização do comércio. “Todo o hype de Hong Kong não deve levar a uma menor importância dos aspectos de desenvolvimento. Senão, as negociações tomarão o rumo errado”, disse Nath. “Hong Kong é só um passo. Podemos ter outra [reunião] ministerial em três meses.”

***

Conforme Celso Lafer , o impasse que se está configurando para a OMC em Hong Kong é produto dos obstáculos políticos que no plano interno existem no âmbito da União Européia, em especial por parte da França, para alterar a política agrícola comum. Daí as modestas ofertas européias nos pilares de acesso a mercados, subsídios internos e créditos à exportação que não atendem, no campo da agricultura, às ambições do mandato de Doha.

***

A estratégia do Brasil para as negociações agrícolas da Rodada Doha da OMC está equivocada, avaliou Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). Ele sustenta que o Brasil deveria voltar-se contra a “inaceitável” proposta de Washington a respeito dos subsídios. Um maior acesso à Europa poderia ser resolvido em outra negociação: a do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia. “Não me conformo com a linha adotada pelo governo. O Brasil abandonou completamente o combate aos subsídios e até elogia a fraca proposta dos Estados Unidos como se fosse um avanço para as negociações”, afirmou Camargo. “A OMC é a única instância na qual podemos conseguir a redução das subvenções agrícolas dos países mais ricos. Não podemos nos desviar desse objetivo, sobre o qual foi montado o G- 20” , completou. Da proposta dos Estados Unidos consta a promessa de redução de 60% nos subsídios concedidos aos produtores rurais. A rigor, os Estados Unidos poderiam conceder até US$ 38 bilhões em subsídios. Porém, unilateralmente, fixaram o limite anual em US$ 23,2 bilhões, o valor que vem sendo pago. Com o corte de 60% sobre o limite de US$ 38 bilhões, o teto iria para US$ 21,9 bilhões — uma redução de apenas US$ 1,3 bilhão.

***

O ministro do Comércio da Austrália, Mark Vaile, disse ontem que a reunião de Hong Kong pode ter sucesso apesar da paralisia nas negociações de subsídios agrícolas entre os principais países-membros da OMC. “A reunião não está fadada ao fracasso, mas

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precisamos focar agora no fato de que temos seis meses para terminar a Rodada Doha”, disse Vaile, referindo-se à rodada de liberalização do comércio lançada na capital do Catar em 2001. Vaile afirmou ainda que a falta de um resultado na reunião de Hong Kong pode atrasar a liberalização do comércio em mais de cinco anos.

Bibliografia

CLARÍN. 22/11/2005. Asimetrías en el comercio mundial. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=182076>. Última visita em 30/11/2005.

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Paulo . Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=183647>. Última visita em 29/11/2005.

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FOLHA DE SÃO PAULO, 21/11/2005. Australiano diz que Hong Kong pode ter sucesso. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=181741>. Última visita em 29/11/2005.

LAFER, Celso. 20/11/2005. Política interna e política externa. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=181482>. Última visita em 29/11/2005.

O ESTADO DE SÃO PAULO, 17/11/2005. Estratégia do Brasil na OMC é equivocada. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=180880>. Última visita em 17/11/2005.

O ESTADO DE SÃO PAULO, 22/11/2005. China nega-se a abrir mercado. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=182005>. Última visita em 29/11/2005.

THE TIMES OF INDIA , 27/11/2005 . India won't link subsidy, market access. Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=183217>. Última visita em 30/11/2005.

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Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

O ESTADO DE SÃO PAULO. 22/11/2005

THE TIMES OF INDIA, 27/11/2005.

CHADE, Jamil. 29/11/2005.

CLARÍN, 22/11/2005.

FOLHA DE SÃO PAULO. 17/11/2005.

LAFER, Celso. 20/11/2005.

O ESTADO DE SÃO PAULO. 17/11/2005.

FOLHA DE SÃO PAULO. 21/11/2005.

Acompanhamento da Rodada Doha160

Resenha quinzenal nº 17 (02/12/2005 a 13/12/2005)

Thiago Lima

Esta resenha resumirá as principais notícias veiculadas entre os dias 02/12 a

13/12/2005. Os principais temas desses treze dias foram relacionaram-se as Conferências

do G-7 e a Ministerial de Hong Kong, a qual faz parte da Rodada Doha. Como a

Conferência de Hong Kong ocorre de 13 a 18 de dezembro, terminamos a seleção de

notícias no dia 13 e não no dia 15, de modo a poder tratar a Conferência como um todo na

próxima resenha.

Em 02 de dezembro Gordon Brown, ministro das finanças da Grã-Bretanha, país

que é atualmente presidente da União Européia (UE) e coordenador do G-7, exortou os

países europeus a eliminarem gradual e completamente os subsídios e apoios agrícolas a

160 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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seus fazendeiros como maneira de destravar a Rodada Doha161. A mensagem foi bem

recebida pelos Estados Unidos e pelos países em desenvolvimento. Esses países se opõem a

negociar outros temas sem que haja maiores concessões agrícolas dos países desenvolvidos.

O comissário da UE para agricultura, no entanto, afirmou que esse não é o momento para

reformar a Política Agrícola Comum (PAC). A Grã-Bretanha critica há muito a PAC e

aponta a França como principal culpada pela manutenção do seu sistema de subsídios. A

exortação dos britânicos foi acirrada após Brasil e Índia terem sinalizado com maiores

concessões na área industrial em troca de ofertas mais agressivas em agricultura da UE e

dos Estados Unidos162.

Sobre a demanda por nova oferta agrícola, o embaixador da UE no Brasil, João

Pacheco, afirmou em entrevista ao O Estado de São Paulo: “Para nós, a Rodada não

avançou porque não houve negociação de indústria e de serviços (...) É claro que a União

Européia não vai fazer uma nova oferta. Não esperem por isso. Nossa oferta já é suficiente

para fazermos uma grande negociação”163. Na mesma perspectiva, Peter Mandelson,

comissário da UE para o comércio, argumentou em artigo ao The Economic Times da Índia

que é equivocada a idéia de que é a posição da União que paralisa a Rodada Doha164.

Mandelson apontou as dificuldades de se reformar a PAC, e afirmou, baseado nessas

dificuldades, que houve abertura significativa desde o início da Rodada Doha. Cobrou

também maior abertura brasileira e indiana no campo industrial, assim como maior

disciplinamento de aplicação de subsídios e processos anti-dumping nos EUA.

Os europeus classificaram a oferta brasileira de insuficiente, embora Pascal Lamy,

diretor da OMC, tenha afirmado que a proposta de corte de 50% de tarifas industriais feita

pelo Brasil é uma das maiores já feitas. Na Rodada Uruguai (1984-1994), o corte tarifário

dos países desenvolvidos foi de 33%165. Lamy afirmou também que as esperanças de que a

Conferência Ministerial de Hong Kong pudesse produzir um acordo sobre tarifas e

subsídios eram praticamente nulas. “Se em julho de 2004 tínhamos percorrido 50% da

rodada, agora estamos em 55%. Eu queria que Hong Kong fosse 66% do caminho, mas essa

é nossa realidade”.

161 Wright, 03 de dez. 2005. 162

Price e Gauthier-Villars, 04 de dez. 2005. 163 O Estado de São Paulo, 05 de dez. 2005. 164 Mandelson, 07 de dez. 2005. 165 Chade, 06 de dez. 2005.

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Em 06 de dezembro de 2005 o governo brasileiro rejeitou proposta da UE pela qual

fariam cortes tarifários duas vezes maiores que o Brasil em produtos industriais e de

consumo. Amorim argumentou que na prática a fórmula européia faria com que o Brasil

cortasse 75% de suas tarifas industriais, enquanto a UE cortaria apenas 25%166.

Argumentando que o impasse da Rodada deveria ser diluído no mais alto nível

político, o presidente Lula telefonou ao presidente Bush para pedir apoio novamente à

proposta de uma reunião de grandes líderes mundiais para romper o impasse da Rodada

Doha. A reunião ocorreria em janeiro. Confirmando o clima pessimista, os presidentes

concordaram que Hong Kong deve ser superada e que é preciso pressionar a UE167. Lula,

que também telefonou a Tony Blair e disse que entraria em contato com Jacques Chirac e

Angela Merkel, exortou os países do Mercosul a fazerem o mesmo168.

John Brutton, embaixador da UE nos EUA, afirmou que “Our limits - as far as how

much we can go on market access - are set by the CAP reform programme”, isto é, a

liberalização da PAC não irá além do que permite o plano de reforma doméstico. Além

disso, há disputa política doméstica sobre a liberalização, o que cria impasses dentro da

própria União169. Insatisfeitos com essa posição, o USTR, agência dos EUA responsável

pela negociação na Rodada, ameaçou ceder à pressão do Congresso e retirar a proposta de

redução agrícola170.

Bagwhati analisou os entraves da Rodada Doha e apontou algumas saídas em artigo

para o Valor Econômico171. Dentre as soluções estão maior abertura industrial dos grandes

países em desenvolvimento, como Brasil e Índia. Essa é uma concessão importante porque

a UE não teria interesse na abertura agrícola, por não ter vantagem comparativa. Os EUA,

por sua vez, necessitam pressionar também o grupo de Cairns para abertura mais agressiva

na área agrícola. O sucesso da Rodada dependeria ainda de avanços na liberalização de

serviços, principalmente bancários e securitários, e na disponibilização de fundos para

países pobres, possivelmente providos pelo BIRD, para amenizar os impactos da abertura

comercial. Bagwhati destaca ainda a proliferação dos Acordos de Livre-Comércio e a

166 Moreira, 06 de dez. 2005. 167 Nossa, 08 de dez 2005. 168 Jungblut, 10 de dez. 2005. 169 Alden, 08 de dez. 2005. 170 Bautzer, 08 de dez. 2005. 171 Bagwhati, 09 de dez. 2005.

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posição do G-20, especialmente do Brasil, na Rodada Doha. Para ele, a atuação brasileira

foi fundamental para diminuir o domínio do Quad (EUA, UE, Canadá e Japão) sobre a

agenda comercial, dando voz ativa aos países em desenvolvimento. O autor oferece uma

perspectiva positiva sobre a Rodada, subordinada à vontade política dos países principais.

Somando o coro dos pessimistas está Joseph Stiglitz. Sua visão está ancorada na

indagação sobre “se o acordo final vai promover o desenvolvimento dos países mais

pobres”. Para ele, “Tanto na sua concepção quanto na forma que tomou, a atual Rodada de

Desenvolvimento não merece o nome. Muitos dos temas que abordou nunca deveriam estar

na agenda de uma genuína rodada de desenvolvimento, e muito que deveria estar não está”.

Stiglitz denuncia a “má fé” dos países desenvolvidos e conclui que para muitos países em

desenvolvimento, não fazer acordo é melhor que um mau acordo172.

Há poucos dias do início da Conferência Ministerial, parte das atenções foi dirigida

ao tema do desenvolvimento. Especificamente, discutiu-se a proposta de abertura total

(com algumas exceções) às exportações dos países menos desenvolvidos. Nesse mesmo

sentido, o Japão ofereceu acesso duty-free e quota-free ao seu mercado, além de ajuda

técnica e financeira no valor de US$ 10 bilhões. Os japoneses ainda estudam ressalvas para

produtos sensíveis, como açúcar e arroz173. A União Européia e os Estados Unidos

defendem um acordo nesse sentido, mas ambos enfrentam dificuldades domésticas para

tornar segmentos do mercado quota e duty-free.

Um dia antes do início da Conferência de Hong Kong, Mandelson informou Celso

Amorim e Kamal Nath, ministro do comércio da Índia, sobre a possibilidade de a União

Européia melhorar sua oferta174. Para tanto, exigia também melhores ofertas desses países

no campo industrial. O aceno foi recebido com ceticismo pelo chanceler brasileiro. Ainda

informalmente, Amorim entregou lista com três pontos que podem ser trabalhados na

Conferência: fórmula para corte tarifário; regulamentação do que pode ser considerado

produto sensível; definição do prazo para eliminação dos subsídios.

De fato, o ambiente não parecia positivo na véspera da Conferência. O Financial

Times reportava que seria necessário um sentimento de urgência para dar vida à reunião175.

172 Stiglitz, 11 de dez. 2005. 173 Sanchanta, 10 de dez. 2005. 174 Chade e Kuntz, 12 de dez. 2005. 175 Financial Times, 13 de dez. 2005.

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Supachai Panitchpakdi, ex-diretor da OMC, afirmou que a Rodada Doha passava por uma

crise de imobilidade.

Outros destaques

Ministros e presidentes dos bancos centrais do G-7 afirmaram que a China deveria

permitir que o yuan flutuasse mais de acordo com as forças do mercado em comparação

com outras moedas.

Segundo o Secretário do Departamento de Tesouro dos EUA, John Snow, “China's new

exchange-rate system has operated with too much rigidity (…) This rigidity constrains

exchange-rate flexibility in the region and thus poses risks to China's economy and the

global economy”176.

--===--

EUA pediram que Argentina apoiasse sua proposta agrícola e não a do G-20. A proposta

norte-americana seria mais agressiva em tarifas e menos em subsídios domésticos, o que

seria inaceitável ao G-20.

A Argentina mostra-se crítica as ofertas maiores ofertas da Índia e do Brasil na área

industrial como maneira de romper o impasse da Rodada Doha, especificamente à oferta

brasileira, que afetaria a Tarifa Externa Comum177.

--===--

Após mais de dois anos de disputas, a os membros da OMC aprovaram modificação nas

regras de propriedade intelectual da organização. Com essas mudanças, fica mais fácil para

países pobres importarem medicamentos genéricos, mais baratos. É a primeira vez que a

OMC emenda suas regras desde a sua criação178.

176 Walker e Price, 04 de dez. 2005. 177 La Nación, 06 de dez. 2005. 178 The New York Times, 07 de dez. 2005.

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--===--

“A relutância da China em assumir uma posição de liderança parece ser resultado de sua

situação delicada. O enorme volume de comércio internacional

da China dá grande influência ao país tanto sobre países em desenvolvimento

quanto sobre os desenvolvidos. Mas Pequim tenta ao mesmo tempo evitar alienar grandes

parceiros comerciais, aliados do mundo desenvolvido e entidades

internas que ficaram para trás na corrida do país para se modernizar, dizem analistas de

comércio. A China também teme que um papel mais proeminente nas negociações sirva de

lembrete da ameaça econômica que ela traz”179.

Bibliografia

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179 Hiebert, 07 de dez. 2005.

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Acompanhamento da Rodada Doha180

Resenha quinzenal nº 18 (14/12/2005 a 31/12/2005)

Thiago Lima

Esta resenha resumirá as principais notícias veiculadas entre os dias 14/12 a

31/12/2005. O principal tema dessa resenha é a Conferência Ministerial de Hong Kong, a

qual faz parte da Rodada Doha (RD), realizada de 13 a 18 de dezembro de 2005. As

atividades relacionadas à Rodada parecem ter diminuído após a conferência, daí as poucas

notícias e temas, como pode ser observado no banco de dados nº 18. Dada a importância do

180 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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evento para a Rodada, essa resenha é maior do que o habitual. Sua base são os informativos

diários produzidos pelo International Center for Trade and Sustainable Development,

complentadas por notícias. Ao final, serão apresentados outros temas de destaque no

período.

A Conferência de Hong Kong

A Conferência de Hong Kong tem por objetivo reunir os membros da OMC em

nível ministerial para discutir um rascunho e eventualmente adotar uma Declaração. A

Declaração deve incluir temas previamente negociados, acordados fechados durante a

reunião, prazos para conclusão de negociações, questões que devem ser retomadas, dentre

outros. Junto ao rascunho da Declaração estão textos negociados em 6 temas da Rodada:

agricultura, acesso a mercados não agrícolas (non agriculture market access - NAMA),

facilitação de comércio, normas, serviços, tratamento especial e diferenciado para países

em desenvolvimento. Desses temas, discutidos em negociações específicas, apenas o de

facilitação de comércio possuia forte consenso dos membros.

No dia que antecedeu o início da Conferência Ministerial de Hong Kong, eram baixas expectativas para 3 áreas fundamentais da RD : agricultura, bens industrializados e serviços. O impasse nessas áreas, porém, abriu maior espaço para discussões de um “Pacote de Desenvolvimento”, composto de medidas que visam estimular o comércio internacional dos Least Developed Countries (LDCs). 32 países da OMC recebem esse status por terem renda per capita abaixo de US$ 750. O clima pessimista para a Conferência é resultado de uma rede complexa de impasses, que evidenciam as barganhas cruzadas e os constrangimentos domésticos enfrentados pelos atores.

Basicamente, o impasse na área agrícola bloqueou as negociações em NAMA e serviços. A União Européia (UE) afirmava ser impossível oferecer maior liberalização sob o risco de grandes impactos negativos para os produtores agrícolas e pela provável eliminação de acesso preferencial ao seu mercado concedido a países em desenvolvimento. Por outro lado, Brasil e Índia condicionavam maior liberalização para serviços e bens industriais a maiores concessões agrícolas européias e norte-americanas. Os Estados Unidos, por sua vez, ameaçavam retirar sua proposta de redução de subsídios caso a União Européia não oferecesse maiores cortes tarifários em agricultura. Se os Estados Unidos efetivamente retirarem sua oferta de redução de subsídios, provavelmente os países em desenvolvimento interessados no comércio agrícola se negariam a negociar qualquer outro tema.

No que toca ao Pacote de Desenvolvimento, grandes dificuldades estavam relacionadas ao futuro do tratamento especial e diferenciado concedido a países em

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desenvolvimento. Os LDCs reivindicavam acesso ao mercado dos países desenvolvidos isentos de tarifas e quotas. Para os EUA, dificuldades particulares estavam relacionadas à abertura do seu mercado têxtil. Uma área que oferecia maior margem para avanço era a da “assistência ao comércio”, pela qual os países desenvolvidos forneceriam recursos financeiros e técnicos para melhorar a capacitação dos LDC em comércio exterior, da construção de infra-estrutura ao treinamento de pessoal. Outros pontos já consensuais eram a prorrogação por sete anos e meio do prazo desses países para se adequarem ao TRIPS e a emenda às regras da OMC para permitir que esses países importem medicamentos genéricos, mais baratos.

A eliminação dos subsídios ao algodão foi tema controverso. A União Européia ofereceu eliminar tarifas, subsídios a exportação e reduzir subsídios internos de maneira acelerada, antecipando o cronograma de outros setores, mas os EUA se opuseram a essa opção.

A Conferência de Hong Kong distingue-se de outras reuniões do mesmo tipo pela atuação ativa dos países em desenvolvimento, principalmente concentrados no G-20, sob liderança ativa do Brasil e da Índia. Diferentemente das últimas Rodadas do GATT, onde o Quad (EUA, Comunidade Européia, Canadá e Japão) dominava a agenda, um grupo misto de países desenvolvidos e em desenvolvimento, chamado de “cinco partes interessadas” (FIPs – Austrália, Brasil, EUA, Índia e UE) são os membros com maior peso na determinação da agenda.

O primeiro dia da Conferência foi marcado pela reafirmação das posições dos principais atores da RD. Conseqüentemente, os impasses e o clima pessimista persistiram. Como forma de buscar avanços, o grupo de trabalho sobre NAMA decidiu conduzir reuniões bilaterais ou em pequenos grupos para compreender melhor as questões e posições das delegações. O mesmo poderia ocorrer no grupo sobre desenvolvimento. As reuniões seriam posteriormente relatadas a todos os membros da OMC em sessões plenárias. Essas medidas e as reuniões informais geraram críticas sobre o modo como as negociações estavam ocorrendo. Reclamou-se que estavam concentradas em poucos países, resultando, para muitas delegações, em falta de transparência e inclusão.

Os principais temas discutidos foram agricultura, NAMA e o Pacote de Desenvolvimento. A questão da assistência alimentar, que envolve agricultura e desenvolvimento, contrapôs EUA e UE. Muitos argumentam que a doação de alimentos a países pobres, especialmente quando os produtos são subsidiados, causa distorções ao mercado agrícola internacional. Como solução, sugeriu-se que a assistência alimentar seja fornecida em dinheiro, o que poderia aumentar a procura por produtos agrícolas locais. A UE afirmou que seria mais receptiva à proposta dos EUA de eliminar os subsídios à exportação até 2010 se os EUA convertessem suas doações de alimentos em dinheiro. Os EUA, apoiados por ONGs advogando a não-restrição na doação de alimentos, afirmaram que tal medida pode não ser eficiente e contribuir para o aumento a fome.

Nas negociações de NAMA, um grupo de nove países em desenvolvimento – África do Sul, Argentina, Brasil, Egito, Filipinas, Índia, Indonésia, Namíbia e Venezuela – remeteram carta a John Tsang, Presidente da Conferência Ministerial, denunciando que países desenvolvidos os pressionavam para oferecer maiores cortes tarifários e abrirem mão

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de certas flexibilidades contidas no parágrafo 8 do mandato em NAMA. EUA e UE teriam proposto fórmula mais benéfica a esses países em troca da não utilização de algumas flexibilidades. Liderados por África do Sul e Índia, os nove países denunciaram essas atitudes como contrárias ao objetivo de desenvolvimento da RD e ainda demandaram isenção de tarifas e quotas para importação de produtos provenientes de LDCs ao mercado de países ricos181.

Essa última demanda, considerada como parte do Pacote de Desenvolvimento, parecia mais propensa a produzir um acordo. Liderados pelo Brasil, os países do Mercosul ofereceram isenção de tarifas e quotas às importações de LDCs182. Ainda no que toca ao Pacote de Desenvolvimento, Japão e União Européia afirmaram sua disposição em contribuir para a assistência ao comércio, contribuindo com US$ 10 bilhões e $2 bilhões de euros, respectivamente. Já os Estados Unidos alertaram que a eventual falha da RD pode comprometer sua assistência, a qual seria de US$ 2,7 bilhões. O Pacote de Desenvolvimento também estaria sendo usado como barganha dos países ricos para influenciar os pobres183.

No segundo dia da conferência, os trabalhos e reuniões foram intensos no Pacote de

Desenvolvimento. A UE se comprometeu a oferecer isenção de tarifas e quotas para todos

produtos provenientes de LDCs. EUA e Japão estudam exceções a alguns produtos e ainda

um limite de importações caso essas atinjam um determinado percentual do mercado

doméstico. Índia e Brasil sugerem que essas medidas sejam implantadas antes mesmo da

conclusão da RD. Para consolidar a aliança com países em desenvolvimento contra UE e

EUA em agricultura, o G-20, cujo Brasil é um dos líderes, fechou acordo com o G-33 para

manter em 20% o percentual de produtos agrícolas com cronograma de liberalização mais

lento. O G-20 defendia tratamento diferencial para 15% desses produtos184.

As negociações foram endurecidas nos outros temas. Os EUA exigiam ofertas

maiores, particularmente da UE e da China. Os europeus continuavam a afirmar a

impossibilidade de melhorar sua oferta agrícola, enquanto os países em desenvolvimento os

criticavam. O Brasil (Mercosul) retirou sua oferta de corte tarifário de 50% em NAMA. A

Argentina, mesmo com reservas, havia se juntado ao Brasil e à Índia na proposta de cortar

em 50% as tarifas para bens industriais em troca que ofertas melhores da UE em

agricultura185. No entanto, a oferta foi retirada pelo Brasil no dia 14, sob pressão dos

membros do Mercosul, principalmente da Argentina, diante da imobilidade da EU. Porém,

181 La Nación, 14 de dez. 2005. 182 The Wall Street Journal, 14 de dez. 2005. 183 Associated Press, 14 de dez. 2005. 184 Oliveira, 14 de dez. 2005. 185 La Nación, 14 de dez. 2005.

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Peter Mandelson, negociador-chefe da UE, afirmou que o Brasil não havia feito a oferta

formalmente186.

A colisão entre EUA e UE avolumou-se sobre a doação de alimentos. Mandelson

passou a demandar “A reforma radical do programa de doações de alimentos dos EUA

[como] parte essencial de qualquer acordo que possamos alcançar nessa rodada sobre a

eliminação de subsídios à exportação”187. Robert Portman, chefe do United States Trade

Representative (USTR), afirmou que a demanda da UE era obsessão sem justificativa.

Respondendo ao norte-americano, Mandelson afirmou que “surpreende que um

compromisso no acordo-quadro, do qual os EUA tomaram parte, em 2004, para reformar o

programa de doação de alimentos como parte do pilar da competição de exportação deva

agora ser descrito como ‘obsessão’”188.

Duas disputas sobre produtos agrícolas se tornaram peças-chave na Conferência:

algodão e bananas189. Na primeira, os EUA se recusaram a implantar os eventuais

resultados das negociações para eliminação dos subsídios a esse produto antecipadamente,

antes da conclusão e implementação da RD. A delegação norte-americana afirmou que os

subsídios não são a maior causa da baixa do preço do produto e sim as tarifas, mesmo

depois da a OMC ter condenado os subsídios. Além disso, os EUA não aceitam acordo

sobre o algodão isolado do acordo geral da RD. Países africanos produtores de algodão,

como Benin Burkina-Faso, Chade e Mali se opuseram a essa argumentação e disseram que

era inconcebível que a Conferência de Hong Kong não aprovasse a eliminação dos

subsídios ao algodão em ritmo acelerado. Na disputa sobre bananas, a UE se recusa a

modificar seu sistema de importação mesmo depois de ter sido considerado ilegal pela

OMC. Países latino-americanos, que denunciaram o sistema, ameaçam bloquear a

Conferência se não houver adequação ao parecer da OMC.

Um dos tópicos fundamentais em agricultura é a data limite para eliminação dos

subsídios agrícolas. Todas as delegações aceitaram o ano de 2010 como prazo para eliminar

os subsídios à exportação de bens agrícolas, menos a UE e a Suíça, impedindo a

confirmação dessa data. As decisões na OMC ocorrem por consenso.

186 Leo e Moreira, 14 de dez. 2005. 187 Gazeta Mercantil, 14 de dez. 2005. 188 Idem. 189 Gazeta Mercantil, 15 de dez. 2005.

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Não houve avanços em NAMA. Em serviços houve pouco avanço, mas as posições

pareciam mais claras. EUA e UE querem texto mais ambicioso; Índia e Brasil aceitam o

texto rascunho como está; e um grupo de países majoritariamente africanos produziu um

novo texto, mas não sabe se vai introduzi-lo ainda.

A Índia solicitou o início de negociações sobre as relações entre o TRIPS e a

Convenção sobre Diversidade Biológica. A solicitação é congruente com a preocupação de

países em desenvolvimento contra a bio-pirataria. A Índia demandava que quando uma

patente fosse solicitada, a “fonte e o país de origem dos recursos genéticos e conhecimentos

tradicionais utilizados para o desenvolvimento da inovação” deveriam ser revelados

(Bridges, 2005c: 2).

Houve reuniões informais sobre meio ambiente a respeito de duas propostas. A

primeira, preferida pelos países em desenvolvimento, referia-se à negociação de um acordo

sobre os procedimentos para negociação do tema. A segunda, pretendida pelos países

desenvolvidos, relacionava-se à negociação do comércio de bens ambientais para

liberalização.

No dia 16 de dezembro, os países desenvolvidos e líderes dos em desenvolvimento,

como Índia e Brasil, acordaram em fornecer isenção de tarifas e quotas para importação de

produtos de LDCs190. Haveria um pequeno percentual de exceção para produtos sensíveis,

mas que seria eliminado gradualmente.

Nos outros temas os impasses e avanços medíocres permaneciam. Trabalhos

significativos não ocorreram em anti-dumping e countervailing duty. Pascal Lamy, Diretor

da OMC, solicitou que as delegações apresentassem emendas para o rascunho do eventual

Declaração. Para agricultura, Lamy sugeriu 13 pontos nos quais os membros poderiam

apresentar emendas: prazo e agenda para eliminação dos subsídios a exportação; acordo

sobre o auxílio alimentar, tipos de crédito; empresas estatais que exportam; bandas para

corte tarifário; produtos sensíveis; produtos especiais para países em desenvolvimento;

erosão de preferências; mecanismo de salvaguarda especial; bandas para redução de

subsídio doméstico; percentual de reduções; e redução total dos subsídios distorcivos. As

delegações identificaram 9 áreas para emendas em NAMA: fórmula; coeficientes; valores

relativos dos coeficientes; isenções para cortes tarifários; flexibilidade para países em

190 MAHAPATRA, 16 de dez. 2005.

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desenvolvimento; abordagem à tarifas não fixadas (bound); liberalização setorial; nível de

ambição relativo em agricultura e NAMA.

Foram apresentados textos sobre agricultura, NAMA e Pacote de Desenvolvimento.

O G-90, grupo formado por países da África, Caribe e Pacífico, apresentou texto sobre

serviços alternativo ao anexado no rascunho da Declaração. O texto flexibilizava a

linguagem do anexo, além de pedir maior liberalização no modo quatro. A UE e os EUA

classificaram o novo texto como pouco ambicioso e inadequado. De fato, Mandelson

afirmou que a UE não aprovaria uma Declaração que retrocedesse no nível de ambição

original, e que a concentração em agricultura prejudicava avanço em outros temas191. Um

grupo de 15 delegações, dentre eles Chile, EUA, UE, Malawi, Hong Kong e Ruanda,

passou a redigir um texto mais consensual.

O G-20 continuou pressionando a UE e a Suíça para a adoção de 2010 como data

para a eliminação dos subsídios à exportação agrícola. Diante do impasse, o G-20 sugeriu

colocar a data em colchetes na Declaração, deixando a decisão efetiva do prazo para

quando outras questões relacionadas a subsídios forem definidas. A agricultura criou uma

ampla geometria de coalizões. Buscando pressionar a UE, o G-20 costurou alianças com o

G-33, o grupo Ásia, Pacífico e Caribe (APC), LDCs, o grupo africano e o de Economias

Pequenas. Esses grupos aliados também pressionavam os EUA pela eliminação de

subsídios ao algodão, posição compartilhada pela UE. Outro objetivo dos grupos aliados

mencionados era a compensação pela erosão de preferências para países em

desenvolvimento. O grupo também afirmava a importância do tratamento especial e

diferenciado para os países em desenvolvimento, assim como a impossibilidade de realizar

maiores concessões em NAMA do que os países desenvolvidos concedem em agricultura.

Paralelamente, G-20 e os EUA se juntavam aos ataques à oferta da UE, embora o último se

concentrasse particularmente em acesso a mercados (tarifas). A UE classificou de

oportunista a aliança entre Brasil e EUA e disse que não faria mais nenhuma concessão se

não houvesse avanços em serviços e NAMA192.

Não houve avanços em NAMA e permaneceu o impasse sobre o prazo para

eliminação dos subsídios agrícolas no dia 16. No tema do algodão, pareceu haver espaço

191 ROSSI, 17 de dez. 2005. 192 REBOSSIO, 17 de dez. 2005.

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para acordo, embora não da maneira desejada pelos países da África Ocidental, que

queriam a eliminação dos subsídios à exportação ainda em 2005 e os subsídios à produção

até 2008. Os trabalhos sobre o Pacote de Desenvolvimento também pareceram evoluir. Os

produtos não isentados de quotas e tarifas seriam liberalizados até 2010, mas ainda era algo

não consensual no antepenúltimo dia de reunião. Além disso, parecia haver entendimento

crescente para o aumento de 32 para 51 o número de países a se beneficiarem do Integrated

Framework for Trade-Related Technical Assistance da OMC.

Três propostas sobre as relações entre o TRIPS e a Convenção sobre Diversidade

Biológica foram apresentadas por Índia, Quênia e Peru. As três propostas, que buscavam

estreitar laços entre patenteadores e o país dos quais recursos naturais e técnicas

tradicionais utilizadas para criar a inovação, foram amplamente rejeitadas por Austrália,

Canadá, EUA e Nova Zelândia. A falta de consenso poderia deixar propostas sobre o tema

fora da Declaração de Hong Kong.

No dia 17 de dezembro foi apresentada uma primeira revisão do texto da Declaração

de Hong Kong. Sobre agricultura, a revisão determinava, entre colchetes, 2010 ou 5 anos

após o início da implementação da Rodada Doha para a eliminação dos subsídios agrícolas

a exportação e similares. 2013 parece ser a data mais provável por coincidir com a revisão

do orçamento da UE, assim como com o início da implementação da Rodada Doha em

2008. O rascunho pedia também que fossem disciplinados a assistência alimentícia,

programas de crédito a exportação, e operação de tradings estatais, que podem ter efeitos

equivalentes aos dos subsídios à exportação. Os subsídios domésticos dos países

desenvolvidos seriam alocados em três bandas. Acordou-se também que as reduções devem

ser superiores à soma das reduções das caixas azul, amarela e de minimis. Assim, se um

país optar por reduzir menos em uma caixa, terá de compensar com reduções maiores em

outras.

Sobre acesso a mercados, as tarifas seriam reestruturadas para futuro corte, devendo

atingir níveis satisfatórios para países desenvolvidos e em desenvolvimento. Seria

permitido amenizar a abertura de mercados para produtos sensíveis, mas o valor da

amenização teria de ser acrescido à fórmula de corte, como uma compensação. Países em

desenvolvimento poderiam designar Produtos Especiais de acordo com critérios de

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segurança alimentar, dentre outros. Poderiam também recorrer ao Mecanismo de

Salvaguarda Especial quando houvesse grande fluxo de importações.

Sobre o algodão, a revisão estabelece 2006 como data para eliminação de subsídios

a exportação de algodão. Os EUA são o único país que fornecem tais subsídios. Já o prazo

para reduções de subsídios à produção ficaria para depois do início da implementação da

Rodada Doha, ao contrário do que queriam os países da África ocidental.

Em NAMA, o rascunho dizia que cortes tarifários ocorreriam por meio da Fórmula

Suíça, sem um número de coeficientes definidos. Destacava-se a frase, sem colchetes,

indicando que ambições em NAMA e agricultura devem ser equilibradas, embora

respeitando o tratamento especial e diferenciado.

Os países desenvolvidos e em desenvolvimento que tiverem condição deverão

fornecer acesso a seus mercados a exportações de LDCs isento de tarifas e quotas. Reservas

poderiam ser estabelecidas de acordo com um percentual tarifário, ainda não decidido, mas

possivelmente entre 4% e 0,1%. Porém, não há prazos definidos.

Em serviços, diversas delegações mostraram-se insatisfeitas com a retirada do

trecho que tornava mandatárias negociações plurilaterais para acesso a mercados. Em meio

ambiente, ficou decidido que os membros trabalhariam de acordo com o Parágrafo 31 (iii)

da Declaração de Doha.

Os entraves à Conferência levaram muitos analistas, no dia 18 de dezembro, a

ponderarem sobre um fracasso total da Conferência. Marcos Jank, do ICONE, o

embaixador Rubens Ricupero e o especialista em comércio internacional, Jagdish

Bhagwati, afirmavam que não produzir um acordo era melhor que um acordo ruim193. O

clima era pessimista quanto à aprovação de uma Declaração que pudesse ser considerada

um avanço rumo à conclusão e aos objetivos da RD, também chamada de Rodada do

Desenvolvimento.

Os negociadores trabalharam durante a noite do dia 17 e a madrugada do dia 18 no

rascunho para tentar romper impasses e produzir uma declaração. No início do dia 18,

último dia da Conferência, os chefes de delegações importantes diziam ter atingido

resultados razoáveis e se mostravam confiantes na aprovação da Declaração, embora os

193 DIANNI, 18 de dez. 2005.

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resultados tenham ficado aquém do esperado. Dentre eles, Celso Amorim, Kamal Nath,

ministro do comércio da Índia, e Robert Portman chefe do USTR194.

A Declaração de Hong Kong foi aprovada, como esperado, com poucos avanços

para a Rodada Doha. Em agricultura, foi decidido que 2013 será o prazo para a eliminação

dos subsídios agrícolas à exportação e medidas equivalentes, sendo que parte substancial da

redução deve ocorrer no primeiro período de implementação. Assistência alimentar,

programas de crédito e operações de trading estatais devem ser reguladas até 30 de abril de

2006 para que não tenham efeito de subsídio à exportação.

Subsídios domésticos à exportação serão classificados em três bandas. A UE, que

concede a maior quantidade de subsídios permitidos, sofrerá o maior corte, seguida de

Japão e EUA, e num terceiro plano todos os outros países.

Sobre acesso a mercados, foi mantido que as tarifas seriam reestruturadas para

futuro corte, devendo atingir níveis satisfatórios para países desenvolvidos e em

desenvolvimento. No entanto, a Declaração afirma que ainda é preciso definir o que é

produto sensível e como flexibilizar a abertura de mercado para esses produtos, o que foi

considerado um passo para trás em relação ao texto da revisão. Foi permitido aos países em

desenvolvimento indicar Produtos Especiais de acordo com critérios de segurança

alimentar, desenvolvimento rural e importância para consumo interno. Além disso, esses

países poderão acionar o Mecanismo Especial de Salvaguardas para o caso de alto fluxo de

importações.

Sobre o algodão, ficou decidido que os países desenvolvidos devem eliminar todas

as formas de subsídios à exportação de algodão até 2006. Os EUA são o único país

desenvolvido que subsidia o produto nessa condição. No que toca aos subsídios domésticos

ao algodão, adotou-se que as reduções devem ser mais ambiciosas e implantadas mais

rápidas que para outros produtos agrícolas, o que, na prática, significa que uma decisão

final sobre a data ocorrerá somente depois que o tema de subsídios domésticos à agricultura

tiver sido negociado completamente na Rodada Doha.

Em NAMA, ficou decidido que a Fórmula Suíça será a base para o corte de tarifas,

mas sem um número de coeficientes definidos. O texto prevê que os países em

desenvolvimento não sejam obrigados a fornecer reciprocidade completa, além de outras

194 The New York Times, 18 de dez. 2005.

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flexibilidades. Além disso, ficou estabelecido que NAMA e agricultura devem ter níveis de

ambição equilibrados, mas respeitando o tratamento especial e diferenciado para países em

desenvolvimento.

Houve um importante avanço para os LDCs. Ficou decidido que 2008 é a data para

que importações de produtos desses países pelos desenvolvidos sejam recebidas isentas de

tarifas e quotas. No entanto, os países desenvolvidos têm a possibilidade de manter até 3%

da pauta com tarifas, o que pode representar um problema para os LDC, visto que suas

exportações não são diversificadas. O texto também não traz data para isenção em 100% da

pauta.

No tema de serviços, ficou estabelecido que as negociações para liberalização

deveriam ter como base o nível de desenvolvimento dos interesses, de acordo com o

Parágrafo 2, do artigo XIX do GATS, dando mais flexibilidade aos países em

desenvolvimento no processo de oferta e demanda de concessões. Os membros também

estabeleceram um cronograma para as negociações. Demandas plurilaterais devem ser

encaminhadas por volta de 26 de fevereiro de 2006. Em 31 de julho devem ser apresentadas

as ofertas revisadas e em 31 de Outubro de 2006 um rascunho final deve ser apresentado.

Muitos membros ficaram insatisfeitos com a flexibilização do texto em relação ao rascunho

inicial.

Meio ambiente foi tema que produziu avanços. Os membros, que em geral, se

dividiam em duas posições sobre serviços e mercadorias relacionados ao meio ambiente.

Uma, defendida por países desenvolvidos e recém industrializados, favorecia a criação

listas de mercadorias e serviços a serem liberalizados. A outra, cuja a maior expoente era a

Índia, defendia liberalização temporária atrelada a projetos ambientais designados por

autoridades nacionais. Esses grupos chegaram a um texto comum no qual pediam o

esclarecimento das relações entre mercadorias e serviços ambientais, levando em

consideração as limitações dos países em desenvolvimento e o papel fundamental do meio

ambiente nas negociações. Houve, contudo, países insatisfeitos por entenderem que o texto

se aproximava mais da primeira posição.

O tema de propriedade intelectual não produziu avanços consideráveis, apenas a

menção de que foram realizados trabalhos sobre as relações entre a Convenção sobre a

Diversidade Biológica e o TRIPS, e desse acordo com o tema de Indicação Geográfica.

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Após a Conferência de Hong Kong, foram publicadas avaliações. Em geral,

admitiu-se que, embora tímida, a Declaração manteve viva a RD. Pascal Lamy entendeu

que os avanços da Conferência tornaram possível a conclusão da RD em 2006: “Agora eu

acho isso possível. Não achava há um mês”195. Para Marcos Jank, do ICONE, não houve

progresso em acesso a mercados, algo negativo. Os países em desenvolvimento

conseguiram vitória ao estabelecer que os cortes tarifários em bens industriais sejam

menores que os agrícolas, mas os países desenvolvidos saíram beneficiados ao ficar

decidido que os picos tarifários teriam cortes maiores. O estabelecimento de uma data para

eliminação de subsídios à exportação é ponto positivo. Mas os subsídios à produção não

foram significativamente abordados196. Foi mencionada apenas a necessidade de corte

efetivo e substancial, mas a falta de números e percentuais reduz expectativas de corte. A

ONG Oxfam atribuiu, em relatório de 20 páginas, à atuação egoísta dos EUA e da UE os

resultados pouco satisfatórios da Conferência: “The WTO Hong Kong ministerial meeting

was a lost opportunity to make trade fairer for poor people around the world”197.

Algo bastante criticado foi o mecanismo de salvaguarda para produtos agrícolas

especiais. Tais produtos seriam classificados como “especiais” por critérios de segurança

alimentar, importância para o consumo interno e relevância para o desenvolvimento rural.

Esses critérios podem criar arbitrariedades e elevar tarifas a um nível superior aos

estabelecidos na OMC. A China, por exemplo, mercado em expansão para produtos

agrícolas, afirmou que pretende classificar 20% dos produtos de sua pauta agrícola como

especiais198.

Para avaliação oficial da posição e benefícios atingidos pelo Brasil, ver o artigo de

Celso Amorim, “Os avanços de Hong Kong”, publicado no dia 26 de dezembro de 2005 na

Folha de São Paulo.

195 KUNTZ, 19 de dez. 2005. 196 REBOSSIO, 19 de dez. 2005. 197 The New York Times, 22 de dez. 2005. 198 Valor Econômico, 20 de dez. 2005.

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Outros destaques

Os impasses da RD renovaram o interesse dos países em desenvolvimento pelas

negociações de liberalização Sul-Sul. Essas negociações ocorrem na UNCTAD, sob o

mecanismo do Sistema Global de Preferências Comerciais, e visa estabelecer concessões

somente entre os países em desenvolvimento, excluindo os desenvolvidos. As negociações

começaram em fevereiro com um nível alto de ambição. Defendia-se redução tarifária de

50%. Porém, o entusiasmo baixou com a saída da China e da África do Sul das

negociações. Inicialmente planejava-se cortar 50% das tarifas entre os países em

desenvolvimento. O Mercosul estuda propor corte de 25%, mas Índia e Malásia já se

mostram contrárias. A última rodada Sul-Sul produziu corte de 20%199.

---==---

Ministério das Relações Exteriores troca negociador-chefe para Alca. Adhemar

Bahadian foi substituído por José Eduardo Felício, então subsecretário-geral do Itamaraty

para América do Sul. Felício enviou convite à Susan Schwab, embaixadora do USTR

responsável pela negociação, para um encontro no início de 2006, mas até 30 de dezembro

nenhuma resposta havia sido dada200.

Bibliografia

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REBOSSIO, Alejandro. Brasil lidera la disputa con Europa. Argentina. La Nación, 17 de dez. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=189333>. Acesso em 23/12/2005. ___________________. Eliminarán en 2013 subsidios a las exportaciones agrícolas. Argentina. La Nación, 19 de dez. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=189898>. Acesso em 23/12/2005. ROSSI, Clovis. Comissário da UE ameaça não aprovar nada. Folha de São Paulo, 17 de dez. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=189350>. Acesso em 23/12/2005. THE NEW YORK TIMES. WTO negotiators reach last-minute deal. EUA. 18 de dez. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=189598>. Acesso em 23/12/2005. ______________________. US, EU Pursued Own Interests at WTO Meet: Oxfam. EUA, 22 de dez. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=190582>. Acesso em 23/12/2005. THE WALL STREET JOURNAL. Brazil makes offer on duty-free imports from poor nations. EUA. 14 de dez. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=188438>. Acesso em 23/12/2005. VALOR ECONÔMICO. “Gatilho” para bens especiais vira polêmica. 20 de dez. 2005. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=189977>. Acesso em 23/12/2005.

Acompanhamento da Rodada Doha201

Resenha quinzenal nº 19 (01/01 a 15/01/2006)

Filipe Mendonça

201 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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Esta resenha resumirá as principais notícias veiculadas entre os dias 01/01 a

15/01/2006.

A impressão que se teve da atuação brasileira nas negociações da Rodada Doha em

2005 foi positiva, principalmente nas questões relacionadas com as discussões agrícolas e

as alianças em prol do fim dos subsídios. Em compensação, as investidas do governo em

outras áreas não tiveram o mesmo sucesso, segundo o jornal O Estado de São Paulo. Em

suma, o presidente “batalhou em vão pelo Conselho de Segurança e depois pelo Mercosul;

só teve sucesso na OMC”. Segundo o jornal, o fracasso da campanha brasileira no

Conselho de Segurança possibilitou maior concentração do Ministro das Relações

Exteriores brasileiro, Celso Amorim, nas negociações em Doha.

Talvez o fato que mereça maior destaque neste período seja a atuação do Ministro

das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, defendendo novas reuniões ministeriais

para impulsionar as negociações (que encerrarão em três meses) rumo a uma resolução

final. Para Amorim, a última reunião ministerial não havia atingindo completamente às

expectativas brasileiras. A este respeito, o ministro afirmou que “se esse impulso político

puder ocorrer sem a necessidade de uma reunião, melhor. Mas se for necessário, não

devemos hesitar. Não podemos permitir que as limitações, que são naturais para ministros e

negociadores, impeçam que se avance em algo que é tão crucial para todo o mundo, em

especial para os países pobres”. Segundo o ministro, o principal argumento utilizado pela

CEE para manter suas políticas de proteção agrícola, relacionados com o acesso

preferencial de produtos africanos, já havia sido superado. Assim, faz-se necessário algum

tipo de impulso político para avançar nas negociações.

No dia 04 de Janeiro, em uma reunião de trabalho com o Ministro dos Negócios

Estrangeiros da Austrália, Alexander Downer, Celso Amorim analisou positivamente a

atuação do Brasil e da Austrália na 6º reunião ministerial. Para eles, a aliança entre estes

dois países foi de extrema importância para o sucesso nesta reunião. Contudo, ambos

reconheceram que os resultados alcançados nas questões de subsídios agrícolas ainda estão

longe de ser ideal, embora representem um avanço significativo. Nesta última reunião, os

149 países integrantes da OMC estabeleceram a data de 2013 como limite para a

eliminação dos subsídios agrícolas que alteram os preços no mercado internacional.

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Assim como Celso Amorim, Alexander Downer também se empenhou na tentativa

de destravar as negociações. No dia 05 de Janeiro, em Brasília, Downer afirmou que "the

European Union, in the name of a fairer international trading system, must be prepared to

give further ground on market access for agriculture products", e concluiu dizendo que

“We will continue to fight for that over the next few months”. Nesta mesma visita oficial,

Downer afirmou que a Austrália apóia a proposta brasileira de elaborar uma nova reunião

ministerial para discutir temas sensíveis da rodada. É importante lembrar que a Austrália é

uma liderança importante no G-20.

No dia 06 de Janeiro, Thomas Shannon, subsecretário de Hemisfério Ocidental do

Departamento de Estado dos Estados Unidos, reconheceu que os Estados Unidos adotou a

estratégia de acordos bilaterais para cercar o Mercosul no que diz respeito à Alca. Este país

já mantém acordos de comércio com o México, Canadá, Chile, República Dominicana e

América Central. Além desses, os Estados Unidos estão negociando com a Comunidade

Andina, Panamá e Colômbia. Com relação à proposta brasileira para destravar as

negociações em Doha, Shannon afirmou que “tudo o que vejo saindo de Hong Kong é que

o Brasil tem sido um parceiro útil para os EUA procurando maneiras de avançar a Rodada

Doha. O Brasil entende a importância de Doha e de abrir mercados agrícolas, como nós.

Estamos preparados para colocar na mesa uma proposta bem ambiciosa para reduzir

subsídios no setor agrícola se obtivermos uma resposta correspondente [de outros países]”

Outros Destaques:

A intenção de Lula de participar da próxima reunião em Davos foi mencionada

como algo importante para destravar as negociações. “Em carta ao fórum confirmando sua

presença, Lula deixa claro que uma de suas prioridades será aproveitar a presença de outros

chefes de Estado e de governo para ver como desbloquear politicamente a negociação

global para liberalizar o comércio, conhecida como Rodada Doha”. O Fórum Mundial de

Economia reúne as principais lideranças do capitalismo mundial. A próxima reunião

acontecerá de 25 à 29 de janeiro.

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Em um encontro no Palácio do Planalto, onde 70 embaixadores brasileiros estavam

presentes, Lula afirmou que intensificará as diretrizes terceiro-mundistas da política externa

de seu governo. O presidente afirmou que “O presidente ainda assinalou para os

embaixadores que a criação do G-20 - a frente de economias em desenvolvimento que

exige resultados mais amplos sobre a liberalização agrícola e o fim de subsídios ao setor na

Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) - foi "fator fundamental' para

que essa negociação não acabasse em um acerto comum entre os países mais ricos, EUA e

União Européia”

Embora restringido pela França e pela Irlanda, Peter Mandelson, Representante do

Comércio da União Européia, afirmou que a questão de acesso a mercados deve receber

atenção especial em Davos. Mandelson afirmou que "We will get a clear sense of what

people think needs to be done. People are going to have to start getting serious on what

they think can be achieved in terms of market access"

Representantes da Sociedade Civil, como Steve Tibbett, diretor da Action Aid, se

mostraram preocupados com uma possível reunião de lideranças em Davos. Tibbett

acredita que lobbistas teriam fácil acesso a esta reunião, diferentemente dos países mais

pobres. Tibbett afirmou que “The danger is that this will be seen as secretive negotiations,

with great access for corporate lobbyists but very little participation for poor countries and

almost no scrutiny by civil society''

Bibliografia

ESTADO DE SÃO PAULO, 01 de jan. 2006A. Vaivém diplomático. Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=192075. Acesso em 15 de jan. 2006.

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ESTADO DE SÃO PAULO, 01 de jan. 2006B. Viagens de Lula em 2005 somam 5 voltas ao planeta e raros resultados. Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=192074. Acesso em 15 de jan. 2006.

AGÊNCIA BRASIL, 04 de jan. 2006. Amorim pede ''impulso político'' para OMC

avançar. Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=192906. Acesso em 15 de jan. 2006

AGÊNCIA BRASIL, 04 de jan. 2006. Aproximação de Brasil e Austrália foi importante

nas conclusões da 6ª reunião da OMC, diz Amorim. . Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=192912. Acesso em 15 de jan. 2006.

VALOR ECONÕMICO, 04 de jan. 2006. Lula confirma que vai a Davos pela terceira

vez. Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=192524. Acesso em 15 de jan. 2006.

ESTADO DE SÃO PAULO, 05 de jan. 2006. Lula avisa a embaixadores que vai

reforçar agenda terceiro-mundista . Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=192843. Acesso em 15 de jan. 2006.

SYDNEY MORNING HERALD, 05 de jan. 2006. Australia urges EU to open farm

market. Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=192778. Acesso em 15 de jan. 2006.

FOLHA DE SÃO PAULO, 08 de jan. 2006. Para cercar Mercosul, EUA querem

acordos bilaterais. Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=193382. Acesso em 15 de jan. 2006.

THE GUARDIAN, 09 de Jan. 2006. Ministers pin hopes on Davos gathering to kick-

start reform. Disponível: http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=193565. Acesso em 15 de jan. 2006.

THE HINDU, 10 de Jan. 2006. Trade liberalisation talks set to begin. Disponível:

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=193775. Acesso em 15 de jan. 2006.

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Acompanhamento da Rodada Doha202

Resenha quinzenal nº 20 (16/01 a 31/01/2006)

Filipe Mendonça

Esta resenha resumirá as principais notícias veiculadas entre os dias 16/01 a

31/01/2006.

O principal acontecimento desta quinzena foi a reunião do Fórum Econômico

Mundial que ocorreu em Davos, realizada entre 25 a 29 de janeiro. O evento contou com

2.340 participantes de 89 países, entre eles 15 chefes de governo, 60 autoridades de nível

ministerial, 23 líderes religiosos, 13 líderes sindicais e mais de 30 chefes de organizações

não-governamentais (ONGs). O tema principal do Fórum foi “imperativo da criatividade”

203.

Como foi visto na última resenha, o governo brasileiro tinha grandes expectativas

para essa reunião uma vez que poderia contribuir com avanços significativos no

destravamento da pauta de negociações da Rodada Doha. Celso Amorim, ministro das

Relações Exteriores do Brasil, compareceu a reunião (juntamente com Luiz Fernando

Furlan e Gilberto Gil e “Pelé”) sem a companhia do presidente Lula, com o objetivo de

destravar as negociações agrícolas. Celso Amorim conversou com representantes da União

Européia, Estados unidos, Índia, Austrália e África do Sul.

Segundo o embaixador brasileiro junto a OMC, Clodoaldo Hugueney, “a chamada

Rodada Doha só avançará se a UE melhorar sua oferta de cortes tarifários nos produtos

agrícolas. Do contrário, não vejo muito outra forma de fazer progresso e cumprir o

calendário da negociação"204. O embaixador continua afirmando que “o cenário é claro: se

a UE não se mover na negociação agrícola nas próximas semanas, a OMC se verá

confrontada novamente com a impossibilidade de manter o nível de ambição da Rodada

202 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz. 203 O ESTADO DE SÃO PAULO, China e Índia, as estrelas de Davos, 23/01/2006 204 VALOR ECONÔMICO, OMC retoma negociação agrícola e Brasil volta a pressionar, 16/01/2006

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Doha nos prazos estabelecidos - o que significa pavimentar o terreno para um forte atraso

na negociação global ou para o fiasco final”205.

Embora note-se o empenho do governo brasileiro nas conversas acima citadas,

grande parte da imprensa nacional divulgara o papel opaco da atuação brasileira em Davos.

Os grandes destaques foram a emergência da China e da Índia como novas potências

econômicas. Um dos motivos levantados para a queda de “popularidade” brasileira no

Fórum foi o impacto de alegações de corrupção no governante Partido dos Trabalhadores.

Segundo a revista “Global Agenda”, "o incidente, o primeiro escândalo de suborno a atingir

o PT, prejudicou a imagem do setor público, minou a confiança dos homens de negócio nos

funcionários públicos e desviou a atenção dos responsáveis pelas políticas da tarefa de

preparar o Brasil para enfrentar o desafio da crescente competição internacional"206.

Os representantes da China, assim como os representantes brasileiros, tinham como

principal objetivo destravar as negociações da Rodada Doha. "China has been very much

involved in the negotiations since they were launched in 2001. It may not always be evident

to journalists how much the Chinese are working to advance the talks, but it's very clear to

me,"207 afirmou Pascal Lamy, diretor geral da OMC.

O Brasil estava preparado para propor um novo encontro entre chefes de governo

aos principais países para decisões políticas sobre a Rodada Doha caso a reunião em Davos

não surtisse nenhum tipo de efeito. Devido as incertezas preliminares, principalmente nas

trocas de acusações entre Amorim e Mandelson, Amorim admitiu que não espera “grandes

resultados dos encontros que serão realizados esta semana em Davos para tentar destravar

as negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC)”. Para

Amorim, a Europa envia ''sinais inquietantes''. Amorim finalizou afirmando: “Não irei a

Davos com expectativas notáveis”208.

O principal impasse é que a União Européia, pressionada a fazer concessões em

agricultura pelo governo brasileiro e indiano, contra-ataca veementemente. O comissário de

Comércio, Peter Mandelson, voltou a acusar o Brasil e Índia de não estarem preparados

para fazer as concessões necessárias para a abertura do mercado agrícola europeu,

205 IDEM 206 FOLHA DE SÃO PAULO, País perde destaque em Davos para Índia e China, 24/01/2006 207 AGÊNCIA XINHUA, WTO chief praises China's effort in promoting Doha Round, 20/01/2006 208 JORNAL DO BRASIL, Pouca esperança em Davos, 25/01/2006

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principalmente nos setor de serviços. "O Brasil está pronto e disposto a negociação séria em

todas as áreas"209, rebateu Roberto Azevedo, o diretor do Departamento Econômico do

Itamaraty. Já Celso Amorim afirmou que "queira a União Européia ou não, o motor desta

rodada é a agricultura. [A união Européia adotou] uma postura de dizer que já fizeram tudo

o que podiam na área, mas ainda nem sinalizaram como os cortes das tarifas agrícolas

poderão ser feitos"210.

No dia 25 de janeiro, o jornal Gazeta Mercantil publicou que “Bruxelas teria o

objetivo tático de dividir e desmantelar o G-20, o grupo de economias em desenvolvimento,

liderado pelo Brasil e a Índia, que insiste na liberalização no comércio agrícola, na

eliminação de subsídios às exportações e na redução das subvenções a agropecuaristas”. Já

o Jornal O Globo afirmou que “os europeus propuseram que o corte de subsídios em

avaliação seja feito produto a produto. Para Amorim, é um aceno de retrocesso e uma

‘tentativa pouco velada de dividir países em desenvolvimento’”211.

Este clima de suspeita impediu que ocorressem grandes avanços em Davos.

Contudo, os países avançaram nas discussões relacionadas a agenda da Rodada Doha. O

Ministro de Comércio da Índia, Kamal Nath, por exemplo, afirmou que “nossa

determinação é maior do que o risco no momento"212. Seguindo a mesma linha, Pascal

Lamy afirmou que “they all realize they have to stop digging their tactical, defensive

holes," e concluiu dizendo que "It's a change in mind-set"213.

Os resultados da reunião em Davos fizeram com que Robert Portman, representante

de Comércio Exterior dos Estados Unidos, e Gordon Brown, ministro do Tesouro da Grã-

Bretanha, acatassem a idéia do presidente Lula de elaborar uma reunião de chefes de

governo para apressar as negociações comerciais214.

209 VALOR ECONÔMICO, Brasil pode retomar ofensiva por cúpula presidencial, 23/01/2006 210 GAZETA MERCANTIL, Amorim: sem esperar muito de Davos, Data: 25/01/2006 211 O GLOBO, Amorim acusa europeus de tentar dividir o G-20, Data: 25/01/2006 212 JORNAL DE BRASÍLIA, Acordo pode estar próximo, Data: 29/01/2006 213 THE NEW YORK TIMES, Trade Ministers See Improved Atmosphere, Data: 29/01/2006 214 O ESTADO DE SÃO PAULO, Idéia de Lula sobre cúpula já é bem vista, Data: 29/01/2006

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Outros Destaques:

Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner se comprometeram a

trabalhar com mais afinco com relação a inserção dos membros menores do Mercosul.

Além disso, os presidentes afirmaram ser de extrema importância focalizar o mais

rapidamente possível nos mecanismos necessários para reduzir as assimetrias comerciais.

“O gesto político foi uma medida contingencial ante as recentes críticas de Paraguai e

Uruguai sobre a falta de benefícios dentro do bloco regional e será acompanhado de

análises técnicas de suas demandas”215.

A ONG inglesa ActionAid acusou empresas multinacionais de terem acesso

privilegiado nas negociações da Rodada Doha por meio de lobby em Washington e

Bruxelas. A ONG reconheceu “que o lobismo é uma prática normal, mas chegou a um

ponto exagerado por parte de grandes empresas na Rodada Doha. Desse jeito, diz que ‘só

os gatos gordos vão obter os benefícios’ de um acordo comercial”216.

O canadense Donald Johnston, secretário-geral da OCDE (Organização para a

Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) afirmou que a entrada do Brasil na

organização é uma questão de tempo. "O Brasil é um país muito próximo da OCDE. Mas a

organização nunca enviou um convite a Brasília. (A adesão) É uma questão de tempo e

também de saber se o Brasil realmente quer", afirmou Johnston. "Eu promovi a

aproximação (do grupo) com o BRIC. Um dia, do meu ponto de vista, todos eles deverão

ser membros da organização"217, concluiu.

Bibliografia

O ESTADO DE SÃO PAULO, China e Índia, as estrelas de Davos, 23/01/2006,

Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/procura.asp. Acesso no dia 01/02/2006

215 CORREIO BRAZILIENSE, Ajuda aos “menores”, Data: 19/01/2006 216 VALOR ECONÔMICO, ONG critica ação de lobby nas negociações da OMC, Data: 25/01/2006 217 O ESTADO DE SÃO PAULO, Ingresso no grupo é questão de tempo, Data: 27/01/2006

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VALOR ECONÔMICO, OMC retoma negociação agrícola e Brasil volta a

pressionar, 16/01/2006,Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/procura.asp Acesso no dia 01/02/2006

FOLHA DE SÃO PAULO, País perde destaque em Davos para Índia e China,

24/01/2006, Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/procura.asp, Acesso no dia 01/02/2006

AGÊNCIA XINHUA, WTO chief praises China's effort in promoting Doha Round,

20/01/2006, Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/procura.asp, Acesso no dia 01/02/2006

JORNAL DO BRASIL, Pouca esperança em Davos, 25/01/2006, Disponível em

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/procura.asp,Acesso no dia 01/02/2006

VALOR ECONÔMICO, Brasil pode retomar ofensiva por cúpula presidencial,

23/01/2006, Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/procura.asp, Acesso no dia 01/02/2006

GAZETA MERCANTIL, Amorim: sem esperar muito de Davos, 25/01/2006,

Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/procura.asp, Acesso no dia 01/02/2006

O GLOBO, Amorim acusa europeus de tentar dividir o G-20, 25/01/2006, Disponível

em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/procura.asp, Acesso no dia 01/02/2006

JORNAL DE BRASÍLIA, Acordo pode estar próximo, 29/01/2006, Disponível em

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/procura.asp, Acesso no dia 01/02/2006

THE NEW YORK TIMES, Trade Ministers See Improved Atmosphere, 29/01/2006,

Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/procura.asp, Acesso no dia 01/02/2006

O ESTADO DE SÃO PAULO, Idéia de Lula sobre cúpula já é bem vista, 29/01/2006,

Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/procura.asp, Acesso no dia 01/02/2006

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CORREIO BRAZILIENSE, Ajuda aos “menores”, 19/01/2006, Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/procura.asp, Acesso no dia 01/02/2006

VALOR ECONÔMICO, ONG critica ação de lobby nas negociações da OMC,

25/01/2006, Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/procura.asp, Acesso no dia 01/02/2006

O ESTADO DE SÃO PAULO, Ingresso no grupo é questão de tempo, 27/01/2006,

Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/procura.asp, Acesso no dia 01/02/2006

Acompanhamento da Rodada Doha218

Resenha quinzenal nº 21 (01/02 a 17/02/2006)

Thiago Lima

Esta resenha resumirá as principais notícias veiculadas entre os dias 01/02 a

17/02/2006. Neste período, em que permaneceu o impasse da Rodada Doha, houve

declarações otimistas quanto à superação de entraves e reafirmação de posições que

denotam pouco progresso. A atuação do presidente Lula na Cúpula da Governança

Progressistas, na África do Sul, também ganhou destaque e polêmica.

No início da quinzena o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, visitou a Argentina,

após ter visitado o Peru e o Chile, e demonstrou esperanças de que a Rodada Doha seja

concluída em aproximadamente seis meses. "Se va a definir en los próximos seis meses

porque en la segunda mitad va a haber procesos electorales en los principales jugadores

de la negociación"219, dentre os quais estão Brasil, México, Itália e Estados Unidos.

No dia 09 de fevereiro, Robert Portman, chefe do USTR, agência norte-americana que

comanda as negociações da OMC, também afirmou estar otimista quanto a um desfecho

218 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz. 219 LA NACIÓN. Buscan un acuerdo mundial en cinco meses. 03 de fev. 2006.

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positivo nos próximos meses. Portman informou que uma reunião do G-6 (EUA, UE,

Japão, Brasil, Austrália e Índia), grupo de países que lidera as negociações de Doha, está

marcada para 10 e 11 de março em Londres. No mesmo dia o senador norte-americano

Saxby Chambliss declarou que “We're very hopeful ... that between now and April 30 we

can come up with something that ... will allow our farmers to have access to other markets

while giving them the same safety net that was provided in the 2002 Farm Bill”220.

Durante a Cúpula da Governança Progressista, realizada nos dias 11 e 12 de fevereiro,

o presidente Lula tentou obter apoio da Grã-Bretanha para realizar reunião de chefes de

Estado do G-8 (países mais ricos do mundo e Rússia) e do G-20 para dissolver o impasse

da Rodada Doha. No início do mês, o presidente havia telefonado para o primeiro ministro

britânico, Tony Blair, para reiterar a proposta de reunião e sugeriu discutir o tema na

Cúpula221. Os esforços do presidente parecem não ter tido sucesso, pois Blair não se

comprometeu com o empreendimento. Segundo Marin222, Blair argumentou que era preciso

maior certeza sobre a viabilidade do encontro para confirmar sua presença. Além disso,

afirmou que “Eu faço parte de um bloco, e a União Européia trata esse assunto em bloco.

Temos de debater com os outros”. O ministro das relações exteriores do Brasil, Celso

Amorim, mais otimista, declarou que Blair estaria engajado e disposto a participar da

reunião se a possibilidade de êxito for grande223.

A Rodada Doha foi tema de destaque na Cúpula. Os participantes reafirmaram a

importância da Rodada para o sistema multilateral de comércio e manifestaram esperança

de um desfecho positivo, apesar dos atuais entraves. Para superar os entraves, o presidente

Lula sugeriu que as decisões da organização ocorressem por voto e não pelo consenso. Nas

palavras do presidente

“A política de consenso é maravilhosa. Mas um, no meio de cem, pode

atrapalhar qualquer negociação”. “Por isso, eu defendo organismos multilaterais

fortes e com poder de decisão. Porque aí, tanto a China quanto São Tomé e

Príncipe, os Estados Unidos e a

220 THE NEW YORK TIMES. G6 countries to hold WTO march talks in London. 10/02/2006. 221 FOLHA DE SÃO PAULO. Lula convida Blair para retomar Rodada Doha. 01 de fev. 2006. 222 MARIN, Lula pede mudanças nas decisões da OMC. 13 de fev. 2006. 223 WELLBAUM. Amorim: Blair aceitaria reunião que lula propôs. 13 de fev. 2006.

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Nicarágua terão de acatar as decisões da maioria. Se formos capazes de

produzir esse milagre, quero fazer parte dele”224

Apesar de decisão por votação estar prevista no acordo constitutivo da OMC, a

declaração gerou polêmica. Para o porta-voz da OMC, Keith Rockwell, “‘a prioridade

número um, dois e três’ do diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, é concluir as negociações,

e não reformar a organização”225. A União Européia, declarou que não aceitaria mudanças

nas regras (isto é, da praxe) no meio da Rodada. Sobre uma eventual votação, o embaixador

da Índia na OMC, Ujal Singh Bhatia, afirmou: “Acho que não ajudaria e criaria grupos de

países que se oporiam uns aos outros”. O embaixador lembrou que os países em

desenvolvimento não estariam unidos, pois têm interesses específicos diferentes. Clodoaldo

Huguenei, diplomata brasileiro envolvido nas negociações, afirmou que o Brasil sempre

defendeu o consenso226.

Ainda na Cúpula, os presidentes brasileiro e sul africano afirmaram que eram

favoráveis aos países em desenvolvimento realizarem concessões para os países pobres nos

setores industriais e de serviços, desde que proporcionais ao tamanho e riqueza do país227.

Seguindo a linha da polêmica sobre decisão por votação ou consenso na OMC,

Serapião Jr. e Magnoli publicaram artigo propondo reforma da organização. Segundo eles,

a decisão por consenso entre os países não é a mais adequada num sistema internacional

onde a disparidade de poder é a característica. Para eles, recorrendo à analogia com o

Conselho de Segurança da ONU, o Brasil deveria apoiar a criação de um Conselho capaz

de estabelecer agenda e determinar métodos. Para eles, o embrião desse Conselho existe e é

formado por Estados Unidos, União Européia, Japão, China e Brasil. Para os autores, o

Brasil é uma potência agrícola e é “um desperdício não usar esse poder para reinventar a

OMC em bases realistas”228.

Em 16 de fevereiro, Moreira reportou que os Estados Unidos apresentaram duas

propostas sobre subsídios, uma de ampliação da lista de subsídios industriais proibidos,

outra sobre exceções aos subsídios agrícolas. As propostas desagradaram os países em

224 Idem. 225 CHADE. Regra não muda, garante OMC. 14 de fev. 2006. 226 Idem. 227 LIMA, Maria. Lula não consegue apoio de Blair sobre Rodada Doha. 13 de fev. 2006. 228 SERAPIÃO JR. e MAGNOLI. OMC precisa de um Conselho de Segurança / Opinião. 15 de fev. 2006.

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desenvolvimento. Dentre outras coisas, “Washington defende que os governos sejam

proibidos de dar ajuda mais de uma vez para cobrir perdas de indústrias ou para

reestruturações, conceder perdão de dívidas diretas, e subsidiar mais de 5% do custo total

de produção de uma mercadoria”. Na área agrícola, defendem a inclusão de uma nova

“Cláusula da Paz”229. Em audiência na Câmara dos Deputados, o chefe do USTR, Robert

Portman, afirmou os Estados Unidos haviam feito suas melhores ofertas em agricultura,

serviços e manufaturas e que, se os outros parceiros não fizessem ofertas melhores, o país

"needs to be in a position to walk away"230.

No Brasil, Clodoaldo Huguenei, embaixador do país na OMC, declarou estar

“moderadamente otimista” sobre um acordo parcial. Segundo ele, "O ambiente mudou

nitidamente (entre os países), ninguém mais está fazendo discursos e sim trabalhando na

prática. "Todos estão comprometidos em alcançar um acordo até 30 de abril"231. Porém,

Peter Mandelson, comissário de comércio da União Européia, publicou artigo defendendo a

posição do bloco “Em nossa opinião, só poderemos sair do estágio atual de estagnação da

negociação comercial multilateral se for reconhecido o valor da oferta européia em

agricultura e se formos mais ambiciosos em todos os temas da rodada”.

Outros Destaques:

No primeiro dia de fevereiro o Congresso dos Estados Unidos aprovou a eliminação

do programa Step 2, a partir de agosto. O programa, considerado subsídio à exportação, foi

condenado pela OMC no contencioso do algodão com o Brasil. Os norte-americanos

afirmam que isso mostra comprometimento com a organização, mas os brasileiros lembram

que o Congresso precisa eliminar os subsídios domésticos e mantém aberta a possibilidade

de retaliação232.

---===---

229 MOREIRA. EUA alvejam subsídios à indústria na OMC. 16 de fev. 2006. 230 PALMER. U.S. says it could walk away from world trade talks. 16 de fev. 2006. 231 MOREIRA. OMC pode ter acordo parcial até abril, admite Huguenei 232 MOREIRA. Na briga do algodão, país espera passo americano. 17 de fev. 2006.

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Brasil e Argentina fecharam acordo para o estabelecimento do MAC – Mecanismo

de Adaptação competitiva – no âmbito do Mercosul. Esse mecanismo prevê que, mediante

surtos de importação provenientes de Brasil ou Argentina, sejam estabelecidas cotas por 3

anos, prorrogáveis por mais 1 ano. Quando a cota for excedida, as importações poderão

sofrer tarifa de 90% da TEC. O mecanismo não se estende aos outros sócios do Mercosul,

mas pode ser feito desde que esses solicitem. O governo brasileiro defendeu o MAC

argumentando que o Mercosul não é apenas um projeto comercial, mas também político, e

que é interessante ajudar a recuperação da indústria argentina233.

---===---

“Norte-americanos perderam recurso na OMC e não cumpriram decisão de acabar

com subsídios à exportação. A União Européia pode impor sanções comerciais aos Estados

Unidos no valor de até US$ 4 bilhões como retaliação (...)

A Comissão Européia (braço executivo da UE) anunciou que começará a aplicar taxas

extras a produtos dos EUA se o país não seguir a determinação da OMC em 90 dias”234.

---===---

Reunião entre Mercosul e União Européia sobre acordo de livre-comércio será

retomada. O Bloco sul-americano estaria disposto a melhorar sua oferta para bens

industriais e serviços em troca de concessões maiores no setor agrícola. O Brasil,

particularmente, pode oferecer concessões maiores no setor automotivo e em serviços.

Arslanian, diplomata brasileiro envolvido nas negociações, afirmou que “as negociações

chegaram em uma fase conclusiva” e que um acordo deve ser fechado em breve235.

Bibliografia

CHADE, Jamil. Regra não muda, garante OMC. O Estado de São Paulo. 14 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=202409>. Acesso em 15/02/2006.

233 DIANNI. Mercosul pode ampliar mecanismo. 03 de fev. 2006. 234 FOLHA DE SÃO PAULO. UE pode impor sanções de US$ 4 bi aos EUA. 14 de fev. 2006. 235 LANDIM, Raquel. Mercosul quer retomar negociação com UE. 02 de fev. 2006.

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DIANNI, Cláudia. Mercosul pode ampliar mecanismo. Folha de São Paulo, 03 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=199605>. Acesso em 10/02/2006. FOLHA DE SÃO PAULO. Lula convida Blair a retomar Rodada Doha. 01 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=199067>. Acesso em 10/02/2006. ________________. UE pode impor sanções de US$ 4 bi aos EUA. 14 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=202471> Acesso em 15/02.2006. LANDIM, Raquel. Mercosul quer retomar negociação com UE. Valor Econômico. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=199248>. Acesso em 10/02/2006. LA NACIÓN. Buscan un acuerdo mundial en cinco meses. Argentina. 03 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=199658>. Acesso em 10/02/2006. LIMA, Maria. Lula não consegue apoio de Blair sobre Rodada de Doha. 13 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=202178>. Acesso em 15/02/2006. MARIN, Denise Chrispim. Lula pede mudanças nas decisões da OMC. O Estado de São Paulo. 13 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=202134>. Acesso em 15/02/2006. MOREIRA, Assis. EUA alvejam subsídios à indústria na OMC. Valor Econômico. 16 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=202940>. Acesso em 18/02/2006. _______________. Na briga do algodão, país espera passo americano. Valor Econômico. Disponível em <http://www.valor.com.br/veconomico/agronegocios/?show=index&mat=3544423&edicao=1291&caderno=305>. Acesso em 18/02/2006.

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PALMER, Doug. U.S. says it could walk away from world trade talks. Reuni Unido. Agência Reuters. 16 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=203050>. Acesso em 18/02/2006. SERAPIÃO JR., Carlos e MAGNOLI, Demétrio. A OMC precisa de um Conselho de Segurança / Opinião. Valor Econômico. 15 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=202666>. Acesso em 16/02/2006. THE NEW YORK TIMES. G6 countries to hold WTO March talks in London. Estados Unidos, 10 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=201486>. Acesso em 15/02/2006. WELLBAUM, Andrea. Amorim: Blair aceitaria reunião que Lula propôs. Reino Unido. Agência BBC. 13 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=202180>. Acesso em 25/02/2006.

Acompanhamento da Rodada Doha236

Resenha quinzenal nº 22 (18/02 a 05/03/2006)

Thiago Lima

Esta resenha resumirá as principais notícias veiculadas entre os dias 18/02 a

05/03/2006. Nesse período parece ter havido progresso, resultando em perspectivas mais

otimistas, embora não unânimes, sobre a conclusão de um acordo até o final do ano. O

impasse da Rodada Doha nas áreas agrícola, industrial e de serviços permaneceram. Novas

ofertas, mais ambiciosas, foram feitas em serviços por países ricos e alguns em

desenvolvimento, demandando abertura de grandes países em desenvolvimento. Pascal

Lamy, diretor-geral da OMC, mais uma vez descartou a idéia do presidente Lula de realizar

reunião de chefes de Estado para romper impasse.

236 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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Um dos principais motivos para o impasse da Rodada Doha é a falta de acordo

sobre liberalização agrícola. A União Européia sugere cortes de 40% nas tarifas de bens

agrícolas, mas países liderados pelo Brasil querem no mínimo 54% de cortes, enquanto os

EUA pedem 70%. Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento

Econômico (OCDE), a UE forneceu cerca de US$ 100 bilhões aos seus produtores

agrícolas entre subsídios e tarifas no ano de 2004, enquanto os EUA concederam US$ 47

bilhões. Os EUA oferecem corte de 60% nos seus subsídios, mas UE e Brasil consideram

insuficiente237.

Em 18 de fevereiro Crawford Falconer, embaixador da Nova Zelândia que preside

as negociações em agricultura, revelou que trabalhos em pequenos grupos possibilitaram

alguma convergência em agricultura, “But the discussion has not entered the zone of a

deal”, mas não apontou claramente progressos obtidos.238 David Wood, um dos diretores da

OMC, demonstrou pouco otimismo diante desse cenário. “We've already lost much of the

ambition of the Doha round. It's not an ambitious round (…) There is a generalized

inability to make deals, to take political pain back home”239.

Para tentar fazer avançar as negociações em agricultura, Robert Portman, chefe do

USTR, agência norte-americana que lidera as negociações na Rodada Doha, e Peter

Mandelson, comissário da União Européia para assuntos econômicos internacionais,

realizaram reunião no dia 22 de fevereiro. A reunião produziu poucos resultados concretos.

Os dois oficiais afirmaram ter havido convergência em produtos sensíveis e reafirmaram

que é preciso que países em desenvolvimento aceitem maior abertura em serviços,

manufaturas e investimento para que possam modificar suas posições agrícolas.240

No dia 24 de fevereiro, após a reunião de Portman e Mandelson, o diretor geral da

OMC, Pascal Lamy, demonstrou bastante otimismo. As negociações no âmbito da Rodada

Doha parecem ter tido progresso, melhorando a perspectiva de acordo até o final do ano.

Para ele, houve conscientização de que é preciso concluir a Rodada até o final desse ano em 237 Idem. 238 THE NEW YORK TIMES. WTO talks make some progress. 18 de fev. 2006. 239 CAGE. Time running out for WTO trade talks. 21 de fev. 2006. 240 Para transcrição da entrevista coletiva após a reunião: INTERNATIONAL HERALD TRIBUNE. Transcripts of Remarks by Mandelson and Portman. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=205294> Acesso em 05/03/2006.

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virtude das eleições em países importantes, como Brasil, México, Estados Unidos, e

também por causa da expiração do procedimento fast-track em julho de 2007, o qual

minimiza a interferência do Congresso norte-americano nas negociações do Executivo. Nas

palavras de Lamy, "It has to be the first part of this year (…) The notion that this might be

the endgame has created focus and a bit of heat (…)

They know what they have to do''241.

Em discussão virtual (chat) realizada pelo site da OMC com 500 internatuas, Lamy

descartou a idéia do presidente Lula em realizar reunião de cúpula para superar os

impasses da Rodada. Para ele, “O que precisa ser feito é uma negociação precisa de

números e textos, o que chefes de Estado e de governo não farão”. Descartou também a

decisão por votação, ao invés do consenso, como também foi sugerido por Lula. “Isso não

deve ocorrer agora e o foco é, e precisar continuar sendo, na negociação de uma conclusão

bem sucedida da rodada”.242

Os Estados Unidos fizeram novas propostas de liberalização comercial. Propuseram

eliminar tarifas para todos os medicamentos e serviços médicos. O comércio de

medicamentos é de cerca de US$ 33 bilhões e de serviços médicos de US$ 23 bilhões.

Segundo Peter Allgeier, embaixador dos EUA na OMC, as principais barreiras estão nos

países emergentes e “É irônico que muitos países que estão com necessidade urgente de

remédios baratos também contem com taxas significantes sobre os remédios e

equipamentos médicos que importam”. Os países emergentes argumentam que sem essas

barreiras não haveria espaço para a produção nacional. Em países como o Brasil, a

importação de medicamentos aumentou mais de 1000% desde a abertura dos anos 1990243.

Ainda no dia 28 de fevereiro, países desenvolvidos liderados pela UE e pelos EUA,

dentre eles Canadá, Noruega, Japão e Nova Zelândia, pediram que o Brasil forneça maior

abertura de diversos setores de sua economia ao investimento e serviços estrangeiros. Os

setores são “energia, serviços de meio ambiente, serviços financeiros, telecomunicações,

construção, informática, arquitetura e engenharia, transporte marítimo, serviços de

distribuição e de correios, educação, serviços audiovisuais e serviços legais (...) eles

também querem maior liberdade para estabelecer suas empresas no mercado brasileiro,

241 BENNHOLD e BOWLEY. New hope seen for global trade agreement. 24 de fev. 2006. 242 MANCINI, Lamy é contra reuniã de chefes de Estado. 22 de fev. 2006. 243 CHADE. EUA pedem fim das tarifas de importação de remédios. 28 de fev. 2006.

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autorização para prestar serviços pela internet e flexibilidade nas leis sobre concorrência”.

Dois países em desenvolvimento também fizeram pedidos. São “o Chile e o México, que

querem a abertura do mercado nacional para informática, construção e transporte

marítimos”.244

Não houve manifestação do governo brasileiro sobre serviços, mas o ministro das

Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que o Brasil pode realizar ajustes pontuais em

tarifas de importação. Amorim descartou abertura generalizada. Afirmou ainda que tarifas

industriais são fichas de barganha, que precisam ser trocadas com cautela por outros

benefícios, mas que não podem comprometer a capacidade produtiva brasileira.245

Por fim, cabe destacar a repercussão que a reunião entre os seis membros mais

importantes da Rodada Doha – EUA, UE, Japão, Austrália, Índia e Brasil – para tentar

superar impasses, entre 10 e 12 de marcos, em Londres. Na opinião de Liz Stuart, analista

da ONG Oxfam, “We are worried that this deal is being done in smoke-filled rooms - it's

not representative, it's not fair”. Para Alex Wijeratna da ONG Action Aid “It's an exclusive

club. What about the other 144 countries that are dependent on what comes out of this

cabal?”. Além disso, Wijeratna lembrou que nenhum representante dos países menos

desenvolvidos estaria presente. Já Mandelson defendeu a reunião afirmando ser “the only

way to do it”. Joseph Stiglitz, porém, continua sendo pessimista: “Probably none of the

governments involved is eager to put a lot of political capital to work fighting for a trade

agreement that is not going to score them many points”246

Outros Destaques:

O Brasil e a Tailândia venceram disputa contra a União Européia sobre frangos na

OMC. “A OMC estipulou que Bruxelas tem até o dia 27 de Junho para anular as leis que

aumentam as tarifas sobre a importação de frango salgado e congelado do Brasil. As tarifas

à carne de ave do Brasil subiram de 15,4 para 75 por cento, devido a uma nova

244 CHADE. Ricos pedem ao Brasil que abra setor de serviços a estrangeiros. 02 de mar. 2006. 245 MANCINI e LAVORATTI. Itamaraty admite ajustes pontuais. 23 de fev. 2006. 246 THE OBSERVER. Secret talks to save trade deal. 05 de mar. 2006

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classificação aduaneira do produto adoptada pela UE em Julho de 2002”, reduzindo em

80% as exportações brasileiras para o bloco europeu, segundo a ABEF.247

---===---

“O Ministério da Fazenda estuda novo corte nas alíquotas do Imposto de

Importação (II) de alguns setores, como bens de capital e tecnologia da informação, para

estimular investimentos na renovação do parque produtivo e, com isso, promover um novo

choque de competitividade na indústria brasileira. Outra repercussão esperada pelo

aumento das importações é a maior saída de dólares e, conseqüentemente, um freio na

valorização do real, segundo fonte da área econômica”. O Itamaraty, o Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio, a CIESP, a FIESP e a Abimaq são favoráveis à

baixa nos impostos desde que realizadas no âmbito de negociações internacionais.248

---===---

EUA e Colômbia concluíram acordo de livre-comércio depois de 2 anos de

negociações. O acordo torna permanentes o acesso preferencial de produtos colombianos ao

mercado norte-americano e zera 82% das tarifas de importação de manufaturas

provenientes dos EUA. Em dezembro do ano passado acordo semelhante foi concluído com

o Peru, e outros podem ser negociados com o Equador e a Bolívia.249

Bibliografia

AGÊNCIA LUSA. Governo brasileiro satisfeito com decisão da OMC sobre fim barreiras da UE ao frango. Portugal, 22 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=204786>. Acesso em 05/03/2006.

247 AGÊNCIA LUSA. Governo brasileiro satisfeito com decisão da OMC sobre fim barreiras da UE ao frango. 22 de fev. 2006. 248 LAVORATTI. Fazenda estuda choque de competitividade. 23 de fev. 2006. 249 SOTERO. EUA e Colômbia assinam acordo de livre-comércio. 28 de fev. 2006.

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BENNHOLD, Katrin e BOWLEY, Graham. New hope seen for global trade agreement. The New York Times. 24 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=205108 >. Acesso em 05/03/2006. CAGE, Sam. Time running out for WTO trade talks. EUA. The Washington Post, 21 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=204274> Acesso em 05/03/2006. CHADE, Jamil. EUA pedem fim das tarifas de importação de remédios. O Estado de São Paulo, 28 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=205954>. Acesso em 05/02/2006. _____________. Ricos pedem ao Brasil que abra setor de serviços a estrangeiros. O Estado de São Paulo, 02 de mar. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=206435>. Acesso em 05/03/2006. LAVORATTI, Lilian. Fazenda estuda choque de competitividade. Gazeta Mercantil, 23 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=204964>. Acesso em 05/03/2006. MANCINI, Cláudia. Lamy é contra reunião de chefes de Estado. Gazeta Mercantil. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=204638>. Acesso em 05/03/2006. MANCINI, Cláudia e LAVORATTI, Liliam. Itamaraty admite ajustes pontuais. Gazeta Mercantil, 23 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=204957>. Acesso em 05/03/2006. SOTERO, Paulo. EUA e Colômbia assinam acordo de livre-comércio. O Estado de São Paulo. 28 de fev. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=205951>. Acesso em 05/02/2006. THE OBSERVER. Secret talks to save trade deal. Reino Unido. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=207424>. Acesso em 05/03/2006. THE NEW YORK TIMES. WTO talks make some progress. EUA, 18 de fev. 2006. Disponível em

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130

<http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=203594>. Acesso em 05/03/2006.

Acompanhamento da Rodada Doha250

Resenha quinzenal nº 23 (06/03 a 20/03/2006)

Thiago Lima

Os principais acontecimentos referentes à Rodada Doha, nesta quinzena, estiveram

relacionados à reunião do chamado G-6 (grupo composto por Austrália, Brasil, Estados

Unidos, Índia, Japão e União Européia) ocorrida em 10 e 11 de março. Não houve quebra

de impasses e a perspectiva otimista de alguns atores quanto a um progresso substancial até

abril parece ter sido diminuída pela improdutividade do encontro. A proposta do presidente

Lula de realizar reunião de cúpula para romper o impasse ganhou a adesão de Tony Blair,

primeiro-ministro britânico.

Em linhas gerais, o impasse da Rodada Doha é o seguinte: Países em

desenvolvimento competitivos em agricultura querem que os países desenvolvidos

ofereçam maior acesso ao mercado agrícola (corte de tarifas), redução de subsídios à

produção e eliminação de subsídios à exportação. Os países desenvolvidos, porém,

argumentam que não podem oferecer tal liberalização se os países em desenvolvimento não

aceitarem liberalizar seus mercados industriais e de serviços em maior grau, o que esses

países se recusam a fazer, argumentando que isso prejudicaria o objetivo de

desenvolvimento da Rodada. Além disso, particularmente, os Estados Unidos demandam

maior acesso ao mercado agrícola da União Européia (UE), mas os europeus resistem ao

passo que exigem eliminação de programas de ajuda alimentícia internacional norte-

americanos, os quais causam distorções comerciais.

No dia 06 de março, a UE continuou sinalizando que poderia cortar mais subsídios

se as ofertas de outros parceiros comerciais melhorassem. O bloco europeu oferece cortar 250 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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75% dos seus subsídios classificados na caixa amarela se os EUA cortarem 65% dos seus.

Na prática, a proposta da UE apenas consolidaria na OMC o que já havia sido decidido pela

reforma da Política Agrícola Comum do bloco. A UE inovou ao sinalizar que pode eliminar

apoio mínimo a produtos especiais e ser favorável à redução do teto permitido para

subsídios agrícolas de 5% para 2,5% do total da produção, como sugeriam os EUA. Cabe

destacar que as propostas da UE são apenas sinalizações, e não ofertas oficiais251.

A UE, internamente enfrenta dificuldades para formular ofertas consensuais. A

maior polarização se dá entre a Grã-Bretanha e a França, a primeira a favor da

liberalização agrícola, a segunda contrária. Dois eventos parecem confirmar essa tendência.

Em visita de Estado o governo brasileiro conseguiu obter o compromisso do

governo britânico em realizar reunião de cúpula para destravar a Rodada Doha, algo que

parecia improvável na quinzena anterior. Espera-se que o primeiro-ministro britânico, Tony

Blair, apóie a abertura do mercado agrícola dos países desenvolvidos, especialmente da UE.

Blair afirmou que o Brasil é o principal parceiro comercial da Grã-Bretanha na América

Latina e que “A forte liderança do presidente Lula no estímulo aos esforços para combater

a pobreza e a desigualdade o transformam num parceiro óbvio para o Reino Unido e outros

membros do G-8 (grupo dos oito países mais ricos do mundo) nas nossas discussões sobre a

África e nos esforços conjuntos para reduzir a pobreza”252.

Liderados pela França, países membros da UE planejam enviar carta ao comissário

do bloco para a negociação de Doha, Peter Mandelson, solicitando que não sejam feitas

mais concessões em agricultura. Peter Power, porta-voz de Mandelson, afirmou que “Seria

lamentável se tal carta fosse enviada (...) Isso seria impróprio uma vez que a UE está

comprometida com um resultado ambicioso e equilibrado na Rodada de Doha”253.

A posição da França e de outros países é em grande parte resultado da pressão de

setores agrícolas pela manutenção das barreiras comerciais do bloco europeu, o que se

reflete no mandato negociador limitado para o comissário europeu, Peter Mandelson. Para

modificar essa posição, a UNICE, uma associação de indústrias da Europa, vai pressionar a

UE para aumentar a liberalização agrícola oferecida como forma de abrir o mercado

251 MOREIRA, Assis. UE acena com concessões em subsídios domésticos. 06 de mar. 2006. 252 CAMINOTO, João. Brasil é protagonista, define Tony Blair. 08 de mar. 2006; GAZETA MERCANTIL. Lula e Blair unem forças para uma reforma na OMC. 10 de mar. 2006. 253 GAZETA MERCANTIL. França convoca um novo alerta conjunto na UE. 10 de mar. 2006.

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industrial de grandes países em desenvolvimento, como Brasil e Índia. Segundo o

presidente da associação, o francês Ernest Antoine Selliere, “Não aceitamos uma

abordagem desequilibrada que favoreça a agricultura em detrimento dos setores industrial e

de serviços, que sustentam a grande maioria dos empregos e são responsáveis por quase

toda atividade econômica e crescimento na UE”254.

O governo brasileiro buscou o apoio da Alemanha para realizar reunião de cúpula

para dissolver os impasses da Rodada. Num evento que foi entendido como positivo pelo

Itamaray, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, conversou

pessoalmente com a chanceler alemã, Angela Merkel. Amorim, que foi enviado a pedido de

Lula e Blair, afirmou que só o fato de ela o receber “é extraordinário”, pois premiês

costumam tratar apenas com seus pares. Merkel não se comprometeu com a cúpula, mas

Amorim avaliou que “Receber-me revela um interesse real pela questão”255.

Nos EUA produtores agrícolas pediram a Robert Portman, chefe do USTR, agência

responsável pela negociação de Doha, que não fossem feitas mais concessões em subsídios.

Os produtores demandaram ainda que outros países, inclusive os em desenvolvimento,

abram seus mercados agrícolas. Portman, no entanto, disse que pode melhorar a oferta

agrícola se outros países também melhorarem256. Ainda nos EUA, parece crescer a

mobilização doméstica a favor do corte aos subsídios. Grupos como Oxfam, Environment

Defense, National Taxpayers Union, Cato Institute, além de algumas igrejas, fazendeiros e

empresários estão discutindo alternativas aos subsídios. Segundo o deputado Jerry Moran,

membro do comitê de agricultura da Câmara dos Deputados, “There are a growing number

of people who want to weigh in on farm policy (…) They care about Africa. They care

about the environment. They care about nutrition”257.

O presidente brasileiro afirmou que o Brasil está pronto para fazer concessões em

bens industriais e serviços em troca de liberalização agrícola do fim dos impasses da

Rodada Doha. Segundo Lula, “O Brasil, da mesma forma que exige que o mundo

desenvolvido abra mão dos subsídios, sobretudo na área agrícola, está disposto a fazer as

254 MOREIRA, Assis. Indústria européia quer nova oferta agrícola. 17 de mar. 2006. 255 ROSSI, Clóvis. Amorim vê líder alemã para discutir cúpula. 14 de mar. 2006. 256 GAZETA MERCANTIL. Agricultores dos EUA não querem mais fazer concessões a pobres. 08 de mar. 2006. 257 KILLMAN, Scott, e THUROW, Roger. In Fight Against Farm Subsidies, Even Farmers Are Joining Foes. 14 de mar. 2006.

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concessões necessárias de acordo com nossas possibilidades e proporcionais ao nosso

desenvolvimento e ao nosso poderio econômico”258.

Como podemos perceber, a posição de alguns dos principais atores não trazem

modificações substanciais capazes de fazer avançar as negociações. Isso ficou evidente na

reunião do G-6 em 10 e 11 de março, em Londres. Portman e Mandelson afirmaram que a

reunião foi positiva por terem trazido progressos em áreas técnicas, mas Celso Amorim e

Kamal Nath, ministro da Índia para o comércio internacional, discordaram. Amorim disse

que há clima de falta de urgência. Nath, mais duro, afirmou que “We need more

understanding of the opportunities for the developing countries”259 e que se não houver

entendimento que o objetivo último da Rodada é o desenvolvimento dos países pobres,

“We might as well wind up the talks and go home”260. A reunião foi criticada por não

incluir nenhum representante africano ou dos países de menor desenvolvimento relativo.

Amorim se manifestou a favor de um representante desses países na próxima reunião.

Outros destaques:

Mercosul e União Européia retomarão, na prática, negociação para acordo de livre

comércio. Roberto Azevedo, chefe do Departamento de Economia do MRE, afirmou que

países do Mercosul estudam concessões para a União Européia em serviços e bens

industriais de acordo com a agressividade da proposta agrícola do bloco europeu. No setor

de serviços, o MRE conta com o apoio de dois segmentos privados, telecomunicações e

finanças, nos quais operam diversas multinacionais européias. Basicamente, a UE demanda

mais transparência e clareza na regulação do setor. Os dois blocos esperam avançar

substancialmente nas negociações para apresentar resultados positivos até maio de 2006,

quando haverá reunião da UE com países da América Latina e Caribe.261

--===--

258 ROSSI, Clóvis. Lula diz que país fará concessões em serviços e bens industriais. 10 de mar. 2006. 259 KLAPPER, Bradley S. Deal Elusive After Special Trade Talks. 12 de mar. 2006. 260 THE FINANCIAL EXPRESS. Address our concerns or call off talks, Nath to WTO. 12 de mar. 2006. 261 ROSSI, Clóvis. Brasil proporá abrir serviços a europeus. 07 de mar. 2006.

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Bancos Centrais afirmam preocupação com eventual falha na Rodada Doha e

criticam o protecionismo dos países ricos. Os bancos favorecem a maior liberalização

possível para, dentre outras coisas, conter a inflação.262

--===--

Abertura tarifária unilateral, proposta pelo Ministério da Fazenda como maneira de

conter inflação e valorizar o dólar frente ao real continua a causar polêmica. O

empresariado critica a proposta da Fazenda e afirma que reduções tarifárias devem ocorrer

na Rodada Doha, de maneira a extrair concessões de outros países. No entanto, a Fazenda

argumenta que os impactos da abertura da Rodada Doha seriam muito pequenos na

economia, uma vez que o acordo pode demorar 10 anos para ser implementado263.

Opiniões:

"Quem paga a conta do câmbio? O setor financeiro com a queda dos juros? Ou o setor

produtivo com o corte das tarifas?", questiona Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de

comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

"Explicamos ao presidente que os exportadores já estão em dificuldade e a redução de

tarifas vai prejudicar ainda mais o setor industrial", afirmou Rodrigo de Rocha Loures,

presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep).

"A proposta é inoportuna, já que queremos avançar na Rodada Doha. Não deveríamos nos

antecipar ao mundo mais uma vez", diz Osvaldo Douat, presidente da Coalizão Empresarial

Brasileira (CEB), coordenada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ele se refere

à abertura comercial do início dos anos 90.

"Não faz sentido que, em um momento como esse, o governo opte por um movimento unilateral. Perdemos margem de manobra nas negociações", concorda Cláudio Vaz, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).

262 VICTOR, Fábio. BCs criticam protecionismo de países ricos. 14 de mar. 2006. 263 LANDIM, Raquel. Empresários temem ''vitória'' da proposta da Fazenda. 16 de mar. 2006.

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O presidente do Institutos de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone),

“Marcos Jank, explica que as negociações da OMC ocorrem com base nas tarifas

consolidadas pelos países junto ao órgão e não nas tarifas efetivamente aplicadas. Portanto,

um corte nas tarifas aplicadas do Brasil não mudaria o parâmetro da negociação. "Mas é um

claro sinal de que existe espaço para cortar as tarifas consolidadas. Por isso, acredito que o

Brasil deve negociar queda de tarifas na Rodada", afirma.

Bibliografia

CAMINOTO, João. Brasil é protagonista, define Tony Blair. O Estado de São Paulo, 08 de mar. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=208092>. Acesso em 17/03/2006. GAZETA MERCANTIL. Lula e Blair unem forças para uma reforma na OMC. 10 de mar. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=208644>. Acesso em 17/03/2006. ______________________. França convoca um novo alerta conjunto na UE. 10 de mar. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=208800>. Acesso em 17/03/2006. ______________________. Agricultores dos EUA não querem mais fazer concessões a pobres. 08 de mar. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=208056>. Acesso em 17/03/2006. KILLMAN, Scott, e THUROW, Roger. In Fight Against Farm Subsidies, Even Farmers Are Joining Foes. EUA, The Wall Street Journal, 14 de mar. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=209697>. Acesso em 17/03/2006. KLAPPER, Bradley S. Deal Elusive After Special Trade Talks. EUA. The Washington Post, 12 de mar. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=209199>. Acesso em 17/03/2006.

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LANDIM, Raquel. Empresários temem ''vitória'' da proposta da Fazenda. Valor Econômico, 16 de mar. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=210064>. Acesso em 17/03/2006. MOREIRA, Assis. UE acena com concessões em subsídios domésticos. Valor Econômico, 06 de mar. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=207433>. Acesso em 17/03/2006. _______________. Indústria européia quer nova oferta agrícola. Valor Econômico, 17 de mar. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=210326>. Acesso em 17/03/2006. ROSSI, Clóvis. Brasil proporá abrir serviços a europeus. Folha de São Paulo, 07 de mar. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=207831>. Acesso em 17/03/2006. _____________. Amorim vê líder alemã para discutir cúpula. Folha de São Paulo, 14 de mar. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=207831>. Acesso em 17/03/2006. ____________. Lula diz que país fará concessões em serviços e bens industriais. Folha de São Paulo, 10 de mar. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=208768>. Acesso em 17/03/2006. THE FINANCIAL EXPRESS. Address our concerns or call off talks, Nath to WTO. Índia. 12 de mar. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=209226>. Acesso em 17/03/2006. VICTOR, Fábio. BCs criticam protecionismo de países ricos. Folha de São Paulo, 14 de mar. 2006. Disponível em <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=209541>. Acesso em 17/03/2006.

Acompanhamento da Rodada Doha264

264 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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Resenha quinzenal nº 24 (21/03 a 04/04/2006)

Thiago Lima

Filipe Mendonça

A Rodada Doha não contou com avanços significativos para a dissolução do

impasse que a paralisa. Os atores relevantes mantêm suas posições enquanto exigem

maiores concessões dos parceiros. A reunião de cúpula sugerida pelo presidente Lula para

romper o impasse não conta com a adesão de Mandelson, comissário da União Européia

para o comércio internacional. O principal destaque desta quinzena foi realização de uma

reunião entre Celso Amorim, Robert Portman e Peter Mandelson, oficiais com status de

ministro de Brasil, Estados Unidos e União Européia. Ao final da resenha, serão

apresentados outros destaques.

No dia 22 de março o comissário da União Européia para o comércio internacional,

Peter Mandelson, demonstrou desaprovação à proposta do presidente Lula de realizar

reunião de chefes-de-Estado para destravar a Rodada Doha. Como informamos na resenha

anterior, o governo brasileiro obteve o apoio para a reunião do premier britânico, Tony

Blair, e a simpatia da premier alemã, Ângela Merkel. Segundo o comissário Mandelson,

“Há mais trabalho a fazer, antes de convocar uma reunião como a que o presidente Lula e

Blair propuseram”265. Pascal Lamy, diretor-geral da OMC e ex-comissário da UE para o

comércio tem posição semelhante à de Mandelson. Lamy diz não imaginar chefes-de-

Estado discutindo “sobre os artigos, as fórmulas para cortar as faixas tarifárias ou

diferenciando entre a ´fórmula suíça´ e os coeficientes. Não é isso o que recomendo (...)

Neste momento, não falta impulso ministerial266”.

Não houve outras manifestações sobre a concretização da reunião de cúpula. Assim,

as reuniões entre ministros continuaram a ser o principal instrumento para fazer as

negociações avançarem. Analisando a reunião do G-6 ocorrida na quinzena passada,

Harshvardhan Singh, deputy (espécie de vice) diretor-geral da OMC concluiu que o

265 MARIN, Denise Chrispim. Mandelson joga água fria na proposta de Lula. 23 de mar. 2006. 266 AGÊNCIA EFE. OMC alerta para ´erro coletivo´ na Rodada de Doha. 28 de mar. 2006.

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resultado foi positivo por ter sido a primeira vez que os ministros trabalharam com

números. Segundo Singh, a reunião possibilitou visualização das concessões que são e não

são aceitáveis, assim como o debate sobre o Tratamento Especial e Diferenciado para

países em desenvolvimento, mas esse ponto foi menos produtivo. O deputy diretor-geral

ainda afirmou estar otimista quanto a conclusão da Rodada até o final do ano e enfatizou o

papel importante da Índia nas negociações. 267

No dia 31 de março e 01 de abril foi realizada reunião entre ministros do Brasil,

Estados Unidos e União Européia no Rio de Janeiro. Segundo Amorim, a reunião não era

uma negociação, pois “Uma negociação envolve muito mais países do que nós (...) Nós

podemos explorar idéias e ver se há uma flexibilidade que depois possa ser testada em

maior detalhe”268. A preocupação do ministro brasileiro em destacar a natureza da reunião

pode ter relação com as críticas de falta de transparência e democracia sobre a reunião do

G-6 em Londres. Mesmo assim a reunião gerou protestos do principal parceiro brasileiro na

América do Sul, a Argentina. O embaixador argentino na OMC, Alberto Dumont, criticou a

reunião e ressaltou que “ninguém fala em nome da Argentina”. Dumont ficou irritado ao

saber do encontro pelos jornais. A Argentina teme que o Brasil ceda às pressões por maior

abertura no setor industrial, o que contrariaria a política de proteção à indústria de

Kirchner269.

Na reunião, Amorim se mostrou pouco otimista quanto ao cumprimento do prazo de

30 de abril para determinar as modalidades de redução de barreiras. O ministro brasileiro

argumentou que os países ricos não podem exigir igualdade dos países em desenvolvimento

na liberalização dos respectivos mercados. “A grande questão é saber se os países mais

ricos estão dispostos a levar em conta que essa é uma rodada de desenvolvimento e que,

embora cada um tenha que fazer a sua parte, tem que haver uma proporcionalidade”270.

Robert Portman, chefe do USTR, agência norte-americana para o comércio

internacional, afirmou que a reunião possibilitou pequenino avanço rumo a um acordo,

parecendo mais otimista que Amorim sobre o prazo de 30 de abril. Portman destacou que

Brasil, EUA e UE solicitarão simulações a funcionários seniores do GATT em 9 ou 10

267 THE FINANCIAL EXPRESS. Opinion - ‘Deadline for completing the Doha Round likely to be met’. 28 de mar. 2006. 268 AGÊNCIA BBC. Amorim considera improvável acordo até abril. 01 de abr. 2006. 269 CHADE, Jamil. Reunião secreta da OMC no Rio irrita argentinos. 01 de abr. 2006. 270 AGÊNCIA BBC. Amorim considera improvável acordo até abril. 01 de abr. 2006.

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áreas sobre os efeitos que a redução de tarifas e subsídios, de acordo com o demandado

pelos países não-desenvolvidos, podem ter para o desenvolvimento. O norte-americano

afirmou também a necessidade de concluir a Rodada Doha até o final desse ano em virtude

da expiração do fast-track, autorização que o Congresso norte-americano fornece ao

Executivo para negociar acordos comerciais com maior credibilidade271. Outro resultado

positivo da reunião foi a aceitação de Mandelson de um calendário informal para

apresentação de propostas definitivas até 30 de abril. O comissário europeu se recusava a

aceitar o calendário, mas a pressão de Pascal Lamy, diretor-geral da OMC, parece tê-lo

convencido272.

Antes da reunião do Rio de Janeiro, Mandelson visitou a Argentina e o Chile. As

reuniões trataram da Rodada Doha, da negociação entre Mercosul e UE e do acordo

preferencial do bloco europeu com o Chile. O comissário afirmou na Argentina que um

acordo com o Mercosul é uma importante prioridade, mas depois da Rodada Doha.

Segundo ele, “Las negociaciones UE-Mercosur están vinculadas a la ronda de la OMC.

Esto no quiere decir que es necesario concluir la ronda de Doha primero. Quiero decir que

tenemos que esperar mayores avances y claridad en la ronda. Una vez alcanzado este

punto será posible alcanzar nuestro objetivo de completar un acuerdo UE-Mercosur

equilibrado y ambicioso”273.

Já Portman, indagado sobre a necessidade de concluir primeiro a Rodada Doha para

depois retomar a ALCA, respondeu que a política comercial dos EUA não faz tal

hierarquização. Em entrevista ao Valor Econômico no dia 03 de abril, o norte-americano

afirmou que “Se conseguirmos completar a Rodada Doha neste ano, ela provavelmente

vem primeiro. Só por uma questão prática, porque leva algum tempo para os negociadores

chegarem a um acordo, pelo menos um ano”. Afirmou também que os EUA não planejam

isolar o Mercosul com acordos paralelos e que na verdade os EUA gostariam de abraçar o

Mercosul.

No geral, a Rodada Doha continua com seu impasse, caracterizado assim por Lamy:

“Brazil and the United States consider that the EU proposal is unsatisfactory regarding

access to the agricultural market. Brazilians and Europeans consider the North American

271 ASTOR, Michael. Brazil, U.S. and EU Discuss WTO Impasse. 04 de abr. 2006. 272 MARIN, Denise Chrispim. Doha: todos ficam na defensiva. 03 de abr. 2006. 273 CLARÍN. Opinión: La UE y la Argentina buscan nuevos mercados. 27 de mar. 2006.

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proposal to reduce farm subsidies insufficient. The United States and EU think Brazil's

offer to cut industrial tariffs is insufficient”274. Os principais atores dizem estarem dispostos

a fazer as concessões necessárias, mas estão esperando que outros parceiros façam suas

concessões primeiro. Shoichi Nakagawa, ministro da agricultura do Japão, afirmou que o

país está pronto para oferecer maior abertura de seu mercado agrícola, mas somente depois

que países como Brasil e Índia tornarem ofertas sobre bens industriais e serviços mais

claras275. O Ministro do Comércio da Austrália, Mark Vaile, trabalha para conseguir a

liberalização agrícola, pois a Austrália é grande exportadora de produtos desse tipo. Vaile

pede que países desenvolvidos melhorem suas ofertas agrícolas e que grandes países em

desenvolvimento tornem suas ofertas em serviços e manufaturas mais atraentes276. Tony

Blair continua criticando o protecionismo agrícola da Política Agrícola Comum dizendo

que essa é uma “policy born of another age and it's time to end it”.Outros países também

devem fazer concessões: “America must open up, Japan too and ... we look to leadership

from Brazil and India”277.

Ponto comum nas declarações dos ministros é que a Rodada Doha é a Rodada do

Desenvolvimento. Porém, analistas afirmam que não são apenas menores barreiras que

impulsionarão o desenvolvimento dos países pobres. Nessa quinzena, Joseph Stiglitz e

Andrew Charlton publicaram relatório de 30 páginas defendendo a idéia de aid for trade278.

De acordo com os autores, para que os países pobres possam aproveitar a liberalização e

aumentar exportações é preciso que haja investimento em portos, estradas e infra-estrutura.

“The aid-for-trade agenda reflects the realisation that, for developing countries, the

necessary investments are particularly large and the capacity to meet them is particularly

small”279. Países ricos prometem, como parte do acordo de Doha, fornecer recursos de US$

2,7 bilhões (US$ 1,6 em 2003) anualmente para esse fim. Na Conferência de Hong Kong

foi criado o WTO Aid for Trade Task Force, com o intuito de discutir como e onde serão

aplicados os recursos. O grupo deverá apresentar relatório em julho.

274 MACSWAN, Angus e EWING, Reese. WTO chief: Brazil must drop industry protections. 01 de abr. 2006. 275 PILLING, David. Japan 'ready to concede ground over trade. 22 de mar. 2006. 276 THE WALL STREET JOURNAL. Australian Trade Min: Doha Talks Parlous; Some Must Yield. 29 de mar. 2006. 277 AGÊNCIA AFP. Blair appeals for renewed push in world trade talks. 27 de mar. 2006. 278 Disponível em http://www2.gsb.columbia.edu/faculty/jstiglitz/papers.cfm 279 MACINNIS, Laura. Development aid emerges as trade talks sweetener. 01 de abr. 2006.

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--===--

União Européia estuda negociar acordos de livre-comércio com países da Ásia após

o término da Rodada Doha. Segundo Mandelson, “Securing effective market access for

European goods and services in emerging economies such as those in Asia is high on our

list of priorities.We are also exploring the willingness of possible future FTA partners to

make serious commitment”. China, Índia, Coréia do Sul, Malásia e Tailândia estariam entre

os países visados280.

--===--

Estados Unidos e Uruguai discutem acordo de livre-comércio. A negociação criou

problemas entre Uruguai, Argentina e Brasil, membros do Mercosul281.

--===--

União Européia demonstra pouco entusiasmo com nova oferta do Mercosul para

tentar apressar a conclusão de um acordo de livre-comércio entre os dois blocos. A reação

da União Européia contraria o otimismo brasileiro da quinzena passada. Na avaliação dos

europeus, a proposta sul-americana tem poucas novidades. Dentro do Mercosul, Argentina

e Brasil continuam se desentendendo. Oficiais argentinos afirmaram que o Brasil “falou por

si só” quando sinalizou eliminar tarifas para automóveis em 18 anos282.

Acompanhamento da Rodada Doha283

Resenha quinzenal nº 25 (05/04 a 20/04/2006)

280 AGÊNCIA REUTERS. EU eyeing free trade deals in Asia – EU chief Mandelson. 22 de mar. 2006. 281 GAZETA MERCANTIL. EUA e Uruguai negociam acordo bilateral. 04 de abr. 2006. 282 MOREIRA, Assis. UE não vê novidades em proposta do Mercosul. 23 de mar. 2006. 283 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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Filipe Mendonça

Thiago Lima

Assim como na última resenha, a Rodada Doha não contou com avanços

significativos para a dissolução dos impasses que impedem avanços nas negociações. Os

atores relevantes mantêm suas posições enquanto exigem maiores concessões dos

parceiros. Contudo, a proximidade com o deadline tornou os países um pouco mais

flexíveis, muito embora essa tendência não tenha sido materializada em resultados práticos.

A quinzena terminou com uma impressão generalizada que as negociações fracassariam. O

principal destaque desta quinzena foi o afastamento de Robert Portnam, chefe do USTR,

em razão de uma espécie de reforma ministerial elaborada pelo presidente Bush.

Na quinzena anterior aconteceram importantes reuniões entre Peter Mandelson,

Comissário da União Européia, Celso Amorim, Ministro de Relações Exteriores Brasileiro,

o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, e o chefe da agência United States Trade

Representative (USTR), Robert Portman. Essas reuniões terminaram sem avanços

significativos e apenas ficou decidido que é preciso realizar estudos mais sérios sobre os

impactos negativos das reduções de subsídios aos agricultores dos países ricos bem como

meios para suavizar esse processo. Com impactos domésticos menores, concessões

agrícolas seriam facilitadas. Contudo, nenhuma proposta imediata entrou na mesa de

negociações.

Com o fracasso da reunião, Portnam afirmou que os Estados Unidos estariam

dispostos a fazer algumas concessões para acelerar as negociações. Segundo ele, os Estados

Unidos se esforçarão para concluir as negociações ainda esse ano. Tal postura tem relação

direta com o Trade Promotional Authority (TPA), dispositivo que se encerra no meio de

2007. Além da questão do TPA norte-americano, a proximidade com o prazo final das

negociações fez com que os principais negociadores clamassem por maior velocidade nas

concessões e fizessem propostas concretas. A União Européia, por exemplo, propôs

aumentar em 31% as cotas de alguns produtos agrícolas, como carne de porco e de

carneiro, lácteos, tomates e ovos, que enfrentam fortes barreiras tarifárias. Segundo o jornal

Valor Econômico, esse foi “o primeiro sinal de flexibilidade européia nas negociações da

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Organização Mundial do Comércio (OMC) depois de vários meses”284. Contudo, tal

proposta ainda esta longe de saciar os interesses do G-20 que exigem um aumento de 150%

das cotas. "Temos todo interesse em avançar na Rodada, mas queremos reciprocidade,

porque não somos casa de caridade"285, afirmou o presidente da Comissão de Comércio

Exterior da União Européia, deputado Enrique Baron Crespo.

Ainda assim, Mandelson continuou conclamando maiores avanços para chegar a um

acordo significativo ainda em abril, cumprindo o deadline previsto. A este respeito,

Mandelson afirmou que acreditava ser possível atingir o que ele chamou de “the E.U.'s

ambition for a successful Doha Round and firm commitment to meeting an end-of-April

deadline for basic agreement in Geneva on key elements of a deal”286. Portman, não

diferente, afirmou que “This [Rodada Doha] is a once-in-a-generation opportunity, once

every 10 or 15 years, to reduce barriers to trade globally… If it doesn't happen, then you

not only lose that opportunity, and the gains to the world economy ... but also you lose the

development gains that the Doha Round was initiated for."287

Contudo, não demorou muito para as esperanças de Portman se esvaziarem. Após

teleconferência realizada entre o Ministro do Comércio, Economia e Industria japonês,

Toshihiro Nikai, e Portman, no dia 08 de abril, Nikai afirmou que "I feel Portman believes

steep slopes and mountains still lie ahead before reaching a deal by the end of April”288.

Mandelson não demorou para criticar essa pessimismo com relação ao cumprimento do

deadline. Se referindo aos Estados Unidos, por exemplo, Mandelson criticou o que ele

chamou de "voices elsewhere, notably in the U.S. Congress [que questionam] the level of

confidence and ambition that should be placed in the Doha Round”289.

As acusações não cessaram por aqui. Christine Lagarde, Ministra do Comércio

Francês, também não demorou para disparar duras acusações contra o Brasil. “Movement

on the part of countries such as Brazil would be highly welcome … [a pressão] should be on

countries such as Brazil to demonstrate some level of openness, which we haven't seen …

284 MOREIRA, Assis. UE aceita cota maior para bens sensíveis. Data: 05/04/2006. Valor Econômico 285 MOREIRA, Assis. UE aceita cota maior para bens sensíveis 05/04/2006 Valor Econômico 286 ECHIKSON, William. EU's Mandelson Slams US, Calls For WTO Deal By April 30 EUA - The Wall Street Journal 287 ASTOR, Michael. Brazil, U.S. and EU Discuss WTO Impasse EUA - The Washington Post 02/04/2006 288 Japão - The Japan Times April WTO deal difficult: Japan, U.S. Data: 08/04/2006 289 EUA - The Wall Street Journal EU's Mandelson Slams US, Calls For WTO Deal By April 30 Data: 10/04/2006

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When that time comes it will be up to us, 25 European nations, to discuss and see what

position we take."290. Já os países em desenvolvimento, liderados pelo Brasil, esperam

maiores concessões dos países desenvolvidos. Amorim, por exemplo, afirmou que “Já

fizemos muitos movimentos e não há razões para fazer mais, sem ter certeza de que outros

vão se mover em agricultura”291. Assim, o impasse parece estar longe de ser solucionado.

Para Amorim, a solução seria um encontro de cúpula de líderes políticos para fazer

concessões mais ambiciosas, possibilidade que até agora não entrou na agenda.

Embora a impressão geral seja pessimista, Hamid Mamdouh, diretor da divisão de

serviços da OMC, afirmou que acredita em mais avanços nas negociações de serviços. Tal

movimentação foi fruto de discussões a portas fechadas na OMC. “As negociações sobre

serviços ganharam impulso com a decisão de vários países de limitar o número de

envolvidos. Os países desenvolvidos, principalmente EUA, Japão e os da União Européia,

pressionam as nações em desenvolvimento como Brasil, Índia e as do Sudeste Asiático para

que abram os mercados de serviços em troca de redução nos subsídios agrícolas”292. Além

disso, no dia 12 de abril, a OMC divulgou nota afirmando acreditar que o comércio

mundial deva crescer 7% em 2006293.

Outro evento importante desta quinzena foi o inicio de uma série discussões na

OMC, somando forças à tentativa de concluir as negociações ainda no final deste ano, uma

vez que a possibilidade de se chegar a um acordo em abril parece já ter sido descartada. A

primeira semana (até dia 22 de abril) de discussões será dedicada às questões agrícolas e na

semana seguinte os temas de acesso aos mercados, de serviços e de bens de consumo nos

países em desenvolvimento e emergentes serão o foco das discussões294.

A quinzena foi encerrada com uma mudança na liderança do USTR. Portman foi

transferido para a comissão de orçamento da Casa Branca e Susan Schwab, ex-assessora de

Portnam no USTR, assumiu a liderança da agência. Ainda não se sabe ao certo qual o

impacto desta mudança nas negociações, mas Mandelson já demonstrou preocupação ao

290 EUA - The Wall Street Journal French Trade Min Urges Nations Like Brazil To Open Trade Data: 08/04/2006 291 MOREIRA, Assis. Amorim admite fracasso e diz que só cúpula de líderes pode salvar Doha Data: 13/04/2006 292 Gazeta Mercantil. OMC vê progresso em negociação sobre serviços - Data: 11/04/2006 293 The New York Times WTO Sees Growth in World Trade in 2006 Data: 12/04/2006 294 DW-WORLD . OMC começa nova tentativa de destravar Rodada Doha EUROPA 17.04.2006 17:00 UTC

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afirmar que “we will of course manage without [Portman], but at this stage in the round, it

would have been easier to manage with him”295. Schwab já deu a entender que manterá o

caminho trilhado por Portman ao afirmar que as negociações da Rodada Doha são “once-

in-a-generation opportunity to generate global growth and lift millions out of poverty and it

will continue to be a top priority for this administration”296.

Schwab é doutora pela George Washington University, e trabalha no governo desde

1977, com negociações agrícolas. Além disso, trabalhou na embaixada norte-americana em

Tóquio, além de assessorar (1981-1989) John Danforth (R-Mo.) ajudando na elaboração da

lei de 1988, que instituiu a super 301 e resultou no chamado unilateralismo agressivo da

política comercial norte-americana. Além disso, Schwab trabalhou para a Motorola Inc.

entre 1993 e 1995. Entre 1995 e 2003, Schwab foi reitora da University of Maryland School

of Public Policy, quando foi nomeada para trabalhar no Secretaria do Tesouro. Schwab foi

nomeada novamente para trabalhar no USTR em novembro deste ano.

Nos Estados Unidos as opiniões quanto a substituição de Portman por Schwab

também aparentam estar divididas. Alguns acreditam que a nomeação de Schwab será

extremamente positiva, como John Murphy, vice presidente de international affairs da

Câmara de Comércio Norte-Americana. Este afirmou que “Sue Schwab is a negotiator's

negotiator … Her experience is exactly what is needed for the global trading system at this

point in time”. Outros já não são tão otimistas, como Gary Hufbauer, um expert em

comércio internacional e membro do Institute for International Economics, think tank

norte-americano. Este afirmou que “The problem is that she does not have the profile that

Portman does, and I am afraid that will be read abroad as a downgrading of the trade

portfolio”297

Em suma, não houve avanços nesta quinzena, apenas pequenas concessões

incapazes de solucionar o impasse. Além disso, já é praticamente descartada a idéia que os

países conseguirão concluir um acordo em abril, conforme prazo pré-estipulado. Pascal

Lamy, responsabilizou os Estados Unidos, União Européia, Brasil, Índia e Japão pelos

constantes fracassos nas negociações “Ainda se precisa de um movimento dos grandes

negociadores, não é que não haja nada sobre a mesa, mas o que há é insuficiente para um

295 EUA - The New York Times Veteran Trade Expert to Be Top Negotiator Data: 19/04/2006. 296 Idem 297 Idem

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acordo”298. Além disso, o afastamento de Portnam e a nomeção de Schwab no USTR, bem

como a proximidade do encerramento do TPA e as eleições que se aproximam no Brasil,

França e Índia, são fatores que contribuem ainda mais para a manutenção da neblina que

impede o avanço das negociações.

Outros Destaques:

No dia 13 de abril os Estados Unidos assinaram uma acordo com o Peru, embora

não se saiba ainda se os congressos dos respectivos países ratificarão o acordo. Tal

movimentação é vista pelo governo brasileiro como tentativa de isolar o país na América do

Sul. “Esse acordo confirma os fortes laços entre os povos do Peru e dos Estados Unidos e é

instrumental na nossa estratégia para avançar a prosperidade em nosso hemisfério”299,

afirmou Portman.

--===--

Bill Thomas (R-California), chefe da Comissão de Finanças da Câmara dos

Deputados dos Estados Unidos, afirmou que “o governo Bush deve parar de perder tempo

com a Rodada Doha de negociações de comércio e concentrar recursos em fechar o maior

número de acordos de comércio bilateral possíveis”, e continou afirmando que “Os EUA e

a UE têm ‘diferenças irreconciliáveis’ no comércio agrícola, e devem... seguir rumos

diferentes ... Para quê ocultar as diferenças só para deixar os países desenvolvidos

prosseguirem com suas políticas mercantilistas de comércio?”300

--===--

Shri Kamal Nath, Ministro do Comércio de da Indpustria Indiano, inaugurou no dia

06 de abril uma conferencia internacional organizado pelo Indian Council for Research on

298 O Estado de São Paulo. Atraso em Doha é culpa do Brasil, UE e EUA, diz Lamy Data: 15/04/2006 299 SOTERO, Paulo O Estado de São Paulo Peru e EUA assinam acordo de livre comércio Data: 13/04/2006 Gazeta Mercantil Deputado recomenda a Bush que abandone Doha Data: 05/04/2006

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International Economic Relations (ICRIER) intitulada “WTO and the Doha Round: The

way Forward” com o objetivo de destravar a pauta negociadora por meio da interação entre

especialistas, acadêmicos e negociadores301.

--===--

Robert Zoellick, vice-secretário de Estado, e ex-líder do USTR (2001-2005)

afirmou que “minha própria visão da dinâmica das negociações... é de que os ministros

terão dificuldades para fazerem isso por si mesmos e, em algum ponto, o diretor-geral (da

OMC) terá de apresentar uma proposta”302.

Bibliografia

AGÊNCIA REUTERS. Para Zoellick, OMC precisa salvar comércio Data: 18/04/2006 Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=214767 . Acesso no dia 20/04/2006

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DW-WORLD . OMC começa nova tentativa de destravar Rodada Doha EUROPA 17.04.2006 17:00 UTC. Disponível em http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,1972440,00.html. Acesso no dia 20/04/2006

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Índia - Fibre2Fashion.com. India : ‘WTO & Doha Round: The way Forward’ – Kamal Nath to open conference Data: 04/04/2006 A Tarde. Para Zoellick, OMC precisa salvar comércio Data: 18/04/2006 Crédito: Da Reuters

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FIBRE2FASHION.COM ‘WTO & Doha Round: The way Forward’ – Kamal Nath to open conference Data: 04/04/2006 India Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=214767 . Acesso no dia 20/04/2006

GAZETA MERCANTIL Deputado recomenda a Bush que abandone Doha Data: 05/04/2006 Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=214912. Acesso no dia 20/04/2006

_____________________. OMC vê progresso em negociação sobre serviços - Data: 11/04/2006 Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=216438. Acesso no dia 20/04/2006

MOREIRA, Assis. UE aceita cota maior para bens sensíveis. Data: 05/04/2006. Valor Econômico. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=214813 . Acesso no dia 20/04/2006

______________. Amorim admite fracasso e diz que só cúpula de líderes pode salvar Doha Data: 13/04/2006 Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=216995. Acesso no dia 20/04/2006

O ESTADO DE SÃO PAULO. Atraso em Doha é culpa do Brasil, UE e EUA, diz Lamy Data: 15/04/2006 Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=217500 . Acesso no dia 20/04/2006

PEOPLE’S DAILY ONLINE. Roundup: African ministers resolve to push for fair trade at global talks Data: 16/04/2006 China Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=217781 . Acesso no dia 20/04/2006

SOTERO, Paulo O Estado de São Paulo Peru e EUA assinam acordo de livre comércio Data: 13/04/2006 Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=217061. Acesso no dia 20/04/2006

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THE NEW YORK TIMES. WTO Sees Growth in World Trade in 2006 Data: 12/04/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=216910 . Acesso no dia 20/04/2006

________________________. African Union Nations Must Speak Up at WTO: US Data: 13/04/2006 Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=217199. Acesso no dia 20/04/2006

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THE NEW YORK TIMES. Veteran Trade Expert to Be Top Negotiator Data: 19/04/2006.. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=218555. Acesso no dia 20/04/2006

Acompanhamento da Rodada Doha303

Resenha quinzenal nº 26 (21/04 a 04/05/2006)

303 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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Thiago Lima

Filipe Mendonça

Esta resenha busca sintetizar os principais acontecimentos da Rodada Doha entre os

dias 21 de abril e 04 de maio. Nesse sentido, concentrar-nos-emos na perda do prazo de 30

de abril para a definição de modalidades, na proposta do presidente Lula para reunião de

cúpula e na substituição de Robert Portman por Susan Schwab. Ao final da quinzena houve

sinais de otimismo, mas pouco de concreto foi realizado.

Confirmando indícios apontados na resenha anterior, o prazo de 30 de abril para a

conclusão de acordo sobre modalidades de cortes e tarifas não foi cumprido. Pascal Lamy,

diretor-geral da OMC, notificou o cancelamento da reunião do fim de abril afirmando que

“The progress made is insufficient (...) More time is needed, even if the time available is

now very limited”304. A reunião definiria fórmulas precisas para cortes de tarifas em

manufaturas, agricultura e subsídios agrícolas305. No caso específico de agricultura, são

definições sobre fórmula de redução tarifária, tratamento para os produtos sensíveis,

funcionamento das salvaguardas e produtos especiais para os países em desenvolvimento,

definições sobre o corte global no teto dos subsídios domésticos distorcivos, práticas

distorcivas usadas por empresas estatais de comércio e o abuso dos programas de ajuda

alimentar. No caso de bens industriais, trata-se de estabelecer a fórmula de corte das tarifas

de importação. Brasil, EUA e Japão reclamaram do cancelamento da reunião. Espera-se

que uma reunião em julho possa superar impasses e definir as modalidades.

Para a solução desses impasses, o presidente Lula defendeu, no início dessa

quinzena, a realização de reunião de cúpula entre os principais atores da Rodada Doha.

304 REPPERT-BISMARCK, Juliane Von. Calls Off Meeting, Jeopardizing Doha Talks. EUA, Wall Street Journal, 25 de abr. 2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=220161 Acesso em 02/05/2006 . 305 ROSSI, Clóvis. OMC rejeita cúpula defendida por Lula. Folha de São Paulo, 27 de abr. 2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=220654 Acesso em 02/05/2006.

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Anunciou duas viagens, à reunião do G-8 e a São Petersburgo em julho, nas quais a busca

pela realização da reunião de cúpula seria um grande objetivo. Para o presidente, “Eles têm

de saber que a decisão agora é política, não é mais técnica. Então eu vou fazer essas duas

viagens para ver se a gente consegue mudar isso”.306 Lamy, no entanto, continua

discordando desse caminho. Segundo ele, “os líderes falam para o mundo, quando agora o

que se necessita é que falem para seu público doméstico”, para convencê-lo a aceitar cortes

no protecionismo comercial que são realmente dolorosos307.

Na União Européia, a substituição de Robert Portman por Susan Schwab como

chefe do USTR, agência norte-americana responsável pela política comercial, é vista como

mais uma dificuldade para a conclusão da Rodada, como apontado na resenha anterior. Os

europeus argumentam que ela teria perfil político mais baixo do que Portman, e que

também carecia do bom relacionamento inter-pessoal defendido ao longo da negociação.

Essa percepção, porém, não é consensual e outros diplomatas ressaltaram as qualidades de

Schwab308.

Relativizada a substituição no USTR, as dificuldades da Rodada parecem estar

fundamentalmente vinculadas às demandas e ofertas dos principais países. No dia 21 de

abril, Peter Mandelson, comissário da União Européia para o comércio internacional,

afirmou que a demanda dos EUA em agricultura é muito alta: “What the U.S. is currently

demanding is not acceptable to most WTO members -- representing half of humanity in fact

-- and not implementable in Europe”. O comissário criticou também resistência de Brasil e

Índia em abrirem mais seus mercados de manufaturas309. Como vem ocorrendo EUA,

306 PARAGUASSÚ, Lisandra. Lula vai a Viena cobrar acordos comerciais. O Estado de São Paulo, 21 de abr. 2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=219008. Acesso em 02/05/2006. 307 ROSSI, 27 de abr. 2006. 308 KANTER, James. Bush sows doubt on commitment to trade talks. França, International Herald Tribune, 20 de abr. 2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=218820 Acesso em 02/05/2006. 309 THE NEW YORK TIMES. EU Trade Chief Blames US for WTO Impasse. EUA, 21 de abr. 2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=219154 Acesso em 02/05/2006.

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Brasil e Índia reiteraram críticas à falta de ambição dos europeus, e esses dois últimos

também trocaram farpas com os norte-americanos.

Nos EUA, o senador Charles Grassley, presidente do Comitê de Finanças do

Senado, o mais importante para o comércio internacional, pressionou os países em

desenvolvimento a ceder em suas posições ao afirmar que “Países em desenvolvimento

devem saber que um fracasso em alcançar um acordo na Rodada de Doha irá diminuir o

entusiasmo no Congresso em prolongar os programas preferenciais (de Comércio) dos

EUA”, dentre os quais está o Sistema Geral de Preferências (SGP)310. A Índia, porém,

representada pelo seu ministro de comércio, Kamal Nath, reiterou que “No deal is better

than a bad deal. You can't have a deal that is against the mandate of this round”. A Rodada

Doha foi concebida como a Rodada do Desenvolvimento e Nath é um dos defensores mais

agressivos dessa concepção: "If the round means destabilisation or deindustrialisation in

industrial developing countries, if that's it, forget it (…) If 650 million farmers are sought

to be put on a suicide track, then forget it. If 300 million people living with one dollar a day

are to be pushed to 50 cents a day, forget it. Issues of subsistence and development are not

up for negotiation”311.

A ONG Oxfam segue a mesma linha de Nath, declarando que é melhor não fechar

acordo nos termos atuais. De acordo com a ONG, os gastos nos EUA e na UE com

subsídios aumentariam com um acordo ruim, com reflexos na distorção comercial. Além

disso, em contra-partida os países em desenvolvimento abririam seus mercados de

manufaturas e não obteriam oportunidades em serviços, por meio da abertura do mercado

de trabalho dos países ricos. A Oxfam publicou relatório, chamado “Receita para um

desastre” (43 páginas), no qual fundamenta sua argumentação e faz sugestões para que a

rodada resulte em condições favoráveis ao desenvolvimento dos países pobres312.

310 REUTERS. Incerteza quanto ao GSP. Gazeta Mercantil, 25 de abr. 2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=220165 Acesso em 02/05/2006. 311 Agência AFP. Stop sidelining developing world in WTO talks: India. Índia, Outlook, 25 de abr. 2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=220212 Acesso em 02/05/2006. 312 THE FINANCIAL EXPRESS. Better miss WTO deadline, says Oxfam. Índia, 28 de abr. 2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=221217. Acesso em 02/05/2006.

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Os dirigentes do FMI e do Banco Mundial, Rodrigo de Rato e Paul Wolfowitz,

comentaram que os pobres seriam os que mais deixariam de ganhar com o fracasso da

Rodada Doha. Wolfowitz classificou de injusta a relação entre os agricultores ricos e os

pobres e disse que a reversão desse quadro contribuiria para a estabilidade internacional. De

Rato destacou o papel da abertura no crescimento econômico dos países ricos e emergentes.

Koffi Annan, secretário-geral da ONU, pediu empenho para a conclusão das negociações

até o final do ano313. Annan afirmou que a Rodada tem potencial para tirar milhões da

pobreza. Valentine Rugwabiza, vice (deputy) diretora-geral da OMC declarou que a

Rodada já obteve avanços importantes, mas até então insuficientes: “In the last 12 months,

the international community has taken major steps toward debt relief and increasing aid

(…) but there is a missing piece of the development puzzle - an essential third pillar - and

that is trade opening”314. Segundo ela, se a rodada não for concluída até o final do ano, fica

impossível prever uma conclusão num futuro próximo, principalmente por causa da

expiração da autorização de negociação comercial nos Estados Unidos, em julho de 2007.

Representantes importantes do setor privado demonstraram de forma unida que

desejam uma conclusão ambiciosa da Rodada Doha. Segundo, Botelho (presidente da

Embraer), Fourtou (presidente de honra da Câmara Internacional de Comércio e presidente

do comitê de supervisão da Vivendi), Immelt (presidente da General Electric), Sasaki

(presidente da Mitsubishi), Tata (presidente da Tata Group) e Wallenberg (presidente da

Câmara Internacional de Comércio e da SEB), afirmaram que na ausência de um acordo

exitôso “The alternative would be a complicated web of bilateral agreements which are not

a substitute for nondiscriminatory, global rules” 315. Os líderes empresariais afirmaram

também que a falha em concluir a Rodada poderia levar à perda de compromissos

importantes, como a eliminação dos subsídios à exportação de bens agrícolas até 2013,

313 BACOCCINA, Denize. FMI e Bird alertam para riscos à Rodada de Doha. Reino Unido, Agência BBC, 21 de abr. 2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=219127 Acesso em 02/05/2006. 314 THE WALL STREET JOURNAL. UN's Annan Calls For Bold Action On Global Trade This Yr. EUA, 25 de abr. 2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=220144. Acesso em 02/05/2006. 315 BOTELHO, FOURTOU, WALLENBERG, IMMELT, SASAKI e TATA. Doha Can Still Be Won. EUA, The Wall Street Journal, Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=220828. Acesso em 02/05/2006.

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154

isenção de quotas e tarifas de importação dos 32 países mais pobres até 2008, além do

significativo progresso feito até o momento em regras e facilitação de comércio. No setor

privado brasileiro, Roberto Giannetti da Fonseca, diretor da FIESP, afirma que a indústria

nacional está coesa e acompanha as negociações de perto. A indústria também aceita a

proposta de corte de 50% em tarifas de importação e deseja abertura agrícola316.

Não obstante a preocupação do setor privado, declarações pessimistas foram feitas.

Christine Lagarde, ministra francesa do Comércio, mostrou ceticismo quanto à conclusão

ambiciosa das negociações. Para ela, os incentivos atuais são muito diferentes daqueles de

2001 e por isso a ambição dos grandes atores diminuiu. “Five years later the factors have

changed massively on the European and on the global scene. It's a good reason to slow

down317”. Os acordos multilaterais são preferidos aos bilaterais, mas a falta de sucesso na

Rodada levaria à multiplicação de acordos bilaterais. Nos EUA, Portman e Schwab

afirmaram, já no fim dessa quinzena, que “the U.S. cannot keep its current offer on

agriculture on the table” caso a UE, Brasil, Índia e outros grandes países em

desenvolvimento não melhorassem suas ofertas318.

Contudo, Portman, Amorim e outros ministros foram à Genebra, mesmo com o

cancelamento da reunião de 30 de abril, para demonstrar comprometimento e solução de

impasses. Após conversas entre os dois e do ministro brasileiro com Peter Mandelson,

Amorim e Portman demonstraram otimismo. Para o norte-americano, o acordo está “within

reach. We believe that there is a way for us to get to 'yes' and to come up with a successful

conclusion of the round”. Amorim afirmou haver indícios de maior flexibilidade dos EUA e

da UE no que toca a subsídios e tarifas319.

316 TAMER, Alberto. Doha acabou. Vamos começar de novo? O Estado de São Paulo, 23 de abr. 2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=219503 Acesso em 02/05/2006. 317 BENHOLD, Katrin. France cautious and skeptical on trade deal. França, International Herald Tribune, 26 de abr. 2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=220420 Acesso em 02/05/2006. 318 PORTMAN, Robert e SCHWAB, Susan. Free Trade Vision. EUA, The Wall Street Journal, 01 de mai. 2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=221867. Acesso em 02/05/2006. 319 REUTERS. US Trade Chief Says WTO Deal ``Within Reach´´. EUA, The ew York Times, 03 de mai. 2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=222558

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Outros destaques

Antonio Donizeti Beraldo, chefe do Departamento de Comércio Exterior da

Confederação Nacional da Agricultura: "O ciclo virtuoso da agricultura brasileira está

chegando ao fim". A expansão agrícola entraria em retração por pelo menos 3 motivos:

valorização do real, estiagem dos últimos dois anos, queda do preço de commodities320.

--===-- Tabaré Vázquez, presidente do Uruguai: “O Uruguai está interessado em trabalhar

com os Estados Unidos para aprofundar a relação bilateral e melhorar o acesso a mercados,

bens e serviços”. A declaração foi feita na conferência anual do Conselho das Américas, em

Washington321.

Bibliografia

AGÊNCIA AFP. Stop sidelining developing world in WTO talks: India. Índia, Outlook,

25 de abr. 2006. Disponível em

Acesso em 06/05/2006. 320 CHADE, Jamil. OMC empurra de novo decisão sobre Doha. O Estado de São Paulo, 22 de abr. 2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=219251 Acesso em 02/05/2006. 321 BAUTZER, Tatiana. Uruguai detalha proposta de acordo com EUA. Valor Econômico, 04 de mai. 2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=222743. Acesso em 06/05/2006.

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RESENHA=220144. Acesso em 02/05/2006.

Acompanhamento da Rodada Doha322

Resenha quinzenal nº 27 (05/05 a 20/05/2006)

Filipe Mendonça

Thiago Lima

Esta resenha busca sintetizar os principais acontecimentos da Rodada Doha entre os

dias 05 e 20 de maio. Na quinzena anterior vimos que a prorrogação do prazo de 30 de abril

para apresentar propostas definitivas contribuiu para o acirramento de uma percepção

pessimista quanto à consecução de um acordo, muito embora alguns ministros ainda

acreditem que a elaboração de um acordo satisfatório para todos seja possível.

No dia 05 de maio, Pascal Lamy, chefe da Organização Mundial de Comércio

(OMC), afirmou que “We obviously are in the red zone”323, e conclui dizendo que apenas

30% do trabalho que deveria ter sido feito para o cumprimento do prazo de 30 de abril fora

efetivamente executado. Baseado nisso, Lamy não convidou os ministros de comércio para

Genebra na segunda semana de maio para trabalhar em acordos agrícolas. Segundo ele,

“Having an acrimonious and unsuccessful ministers' meeting would pose an even bigger

risk to the negotiations”324. Um novo prazo informal foi estipulado para Julho, contudo

atores como Peter Mandelson, comissário da União Européia para o comércio

internacional, não tem demonstrado otimismo. Quando perguntado se esse prazo é razoável,

322 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz. 323 LANDLER, Mark. A Gloomy W.T.O. Chief Says Time Is Brief for Saving Talks. The New York Times, 05/05/2006 324 Idem

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Mandelson respondeu que “I can't say at this stage. It is by no means certain but by no

means impossible”325.

O argumento europeu é que os Estados Unidos pedem concessões muito severas a

ponto de se tornarem impossíveis de serem praticadas. Os Estados Unidos demandam da

Europa um corte de 70% de suas tarifas agrícolas para assim “salvar” a Rodada Doha.

Contudo, em documento oficial publicado no dia 11 deste mês, Mandelson afirma que “I

believe that continuing trade negotiations are an opportunity to improve not only the free

but also fair trading environment for both agricultural and industrial products”326,

demonstrando assim seu comprometimento com um possível acordo significativo. Contudo,

para os países subdesenvolvidos este comprometimento parece ser teórico uma vez que não

foram apresentadas propostas concretas satisfatórias, principalmente em questões agrícolas.

O argumento norte-americano é que sem essas concessões européias seria

impossível chegar a um acordo. “Washington says that a better EU offer on farm tariffs is

crucial to unlocking the talks, where both the Europeans and the Americans are under

pressure to give more on agriculture and the bigger developing countries, such as Brazil

and India, more on industrial tariffs”327.

O argumento brasileiro é que é preciso combinar realismo com ambição, e que o

G20 “call for average farm cuts in rich nations of 54 percent offered the best chance of a

deal”328

. O Brasil insiste na tese de que somente uma reunião de cúpula pode solucionar os

atuais entraves presentes nas negociações da Rodada. Tony Blair, primeiro ministro

britânico, Ângela Merkel, primeira ministra Alemã, e José Manuel Durão Barroso,

presidente da Comissão Européia, apóiam essa proposta brasileira segundo o chanceler

Celso Amorim329.

Este cenário não parece ter solução fácil. Além dessas posições nitidamente

distintas entre os principais negociadores, é importante enfatizar que no segundo semestre

desse ano muitos países importantes para as negociações entrarão em processo eleitoral. Os

325 Idem 326 MANDELSON, Peter. Europe Is Committed to Doha's Success. The Wall Street Jounal, 11/05/2006. 327 LANDLER, Mark. Mandelson Says US Largely Alone on WTO Farm Demands. Reuters. 05/05/2006. 328 Idem 329 ROSSI, Clovis. Lula insiste em cúpula para desbloquear Doha. Folha de São Paulo - 13/05/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=225860. Acesso no dia 20/05/2006

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Estados Unidos é um exemplo, o que torna as negociações ainda mais tensas. Para utilizar o

TPA, o governo norte-americano precisaria enviar o acordo ao congresso o quanto antes,

tendo em vista que o prazo para a utilização desse dispositivo encerrará em 2007. Além

disso, parece que a prorrogação deste dispositivo será difícil, uma vez que “The US is

running a 7% trade deficit, there are mid-term elections coming up in November and

protectionist sentiment is running strong on Capitol Hill. Nobody thinks for one

nanosecond that Congress will agree to extend Bush's powers under the Trade Promotion

Authority”330. O Brasil é outro importante negociador, principalmente dentro do G-20, onde

não se sabe o impacto que as eleições terão para as negociações.

A essa altura, e devido a complexidade do cenário em questão, dois cenários

resultantes parecem ser possíveis: o primeiro seria uma “Doha-lite” Assim, “a Doha-lite

deal ... offers developing countries just enough to prevent them from walking away from the

talks”331; a segunda opção seria nenhum acordo. A segunda opção parece ser preferível aos

países subdesenvolvidos uma vez que “developing nations now believe that they stand to

gain so little from the former option that they might just as well tough it out”332.

Um acontecimento importante nesta quinzena foi a realização da quarta reunião de

cúpula entre América Latina (AL) e União Européia (UE) em Viena, Áustria, de 11 a 13 de

maio. Contudo, tal reunião não teve nenhuma significância efetiva para as negociações.

Pelo que parece, os países América Latina não parecem priorizar as negociações da Rodada

Doha como antes. Essa região atravessa uma crise severa proporcionada pela

nacionalização do gás boliviano e o enfraquecimento dos arranjos regionais, como a

Comunidade Andina das Nações e o Mercosul. Segundo Ingo Plöger, empresário e

conselheiro do Mercosul-European Business Forum, essa crise “poderá ser um empecilho

para o avanço nas negociações para a liberação do comércio global na OMC. Como os

membros estarão muito dispersos, eles poderão priorizar os interesses individuais em

relação aos coletivos e, nesse caso, haverá um risco para a perda de Doha, o que

enfraqueceria a entidade”333. Além disso, como afirmou Fraser Cameron, conselheiro

sênior do European Policy Centre (EPC), um dos principais centros de estudos sobre a

330 ELLIOT, Larry. Shadow of guillotine looms over trade deal. The Guardian, Reino Unido - 08/05/2006. 331 Idem 332 Idem 333 HESSEL, Rosana. Cúpula de Viena não ficará alheia à crise na AL. Gazeta Mercantil - 08/05/2006.

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Europa integrada, “A UE tem uma ação aqui e ali, mas não uma política para a América

Latina. Nunca houve um foco sustentável”334, relativizando assim a importância do

encontro. Até mesmo a embaixadora brasileira Maria Celina de Azevedo Rodrigues se

mostrou pessimista ao afirmar que “esta, como todas as cúpulas deste tipo, não será uma

reunião para resultados, mas para relacionamentos e debate político”335.

A agenda oficial da cúpula contém doze questões que envolvem interesses políticos,

econômicos e sociais. A promoção da democracia, o combate à pobreza e ao narcotráfico,

além de discussões sobre imigração e energia, etc. Embora o governo brasileiro não

esperasse muito desta cúpula, o presidente Lula foi a Viena com o objetivo de avançar nas

questões da Rodada Doha. Contudo, Evo Morales fez declarações contra a Petrobrás que

acabaram desviando “a atenção do que Lula realmente quer fazer em Viena: falar de

negociações da Rodada Doha, na Organização Mundial do Comércio (OMC)”336. Mesmo

assim, em discurso para 59 outros governantes, Lula insistiu na tese que faz-se necessário

um encontro de cúpula para dar um impulso político nas negociações da Rodada Doha.

Embora muitas coisas tenham contribuído para um possível fracasso da Rodada,

Schwab, líder do USTR, afirmou ao senado norte-americano que “It is premature to talk

about Plan B. I would say we have not given up on Plan A, which is an ambitious and

robust outcome”. Contudo, Schwab acredita que a situação é delicada, e afirma que “we

are in a very sensitive period in the next weeks and months through the end of July, where

we really need to have closure on the key elements of the Doha round of negotiations”337

.

Contudo Schwab recebeu pressão nítida do congresso norte-americano para assumir linha

mais dura nas negociações com países como China, Brasil e Índia, tendo em vista o déficit

comercial cada vez mais alto dos Estados Unidos338. Charles Grassley, Chefe da Comissão

de Finanças dos Estados Unidos, é um exemplo dessa pressão contra Brasil, Índia e China.

O senador afirmou que “I hope that with GSP termination looming, Brazil, India and other

334 MANCINI, Claudia. "América Latina não é prioridade para a UE". Gazeta Mercantil - 10/05/2006. 335 BIZZOTTO, Márcia. Lula quer discutir comércio na Cúpula de Viena. Agência BBC, Reino Unido - 11/05/2006. 336 MAGALHÃES, Heloísa; MOREIRA, Assis. Lula fica muito irritado e Amorim diz que clima é de ''indignação''. Valor Econômico - 12/05/2006. 337 REUTERS. US not ready to scale back WTO hopes: USTR nominee. 16/05/2006. 338 FOLHA DE SÃO PAULO. Bush é pressionado a endurecer com o Brasil. 17/05/2006.

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beneficiary countries will work harder to see that the Doha negotiations are concluded

successfully”339. Ainda não se sabe que impacto tal percepção terá nas negociações.

Já a Europa não esta disposta a oferecer maiores concessões. Segundo o jornal

Folha de São Paulo, França, Espanha e Alemanha concordaram que a União Européia (UE)

“chegou ao máximo de suas concessões no capítulo agrícola da Rodada Doha da

Organização Mundial do Comércio (OMC) e que caberá agora ao Brasil e aos Estados

Unidos os próximos gestos”340. A este respeito o presidente francês, Jacques Chirac,

afirmou que “Eu considero que a Europa foi ao topo das concessões ... Agora, nós

esperamos que os americanos e os países em desenvolvimento façam qualquer coisa”341.

Além disso, a França não parece estar disposta a permitir que a União Européia faça mais

concessões na área agrícola. Ms. Lagarde, a Ministra de Comércio Francesa, afirmou que “

there is no way that France would allow any cuts to EU farm subsidies beyond what is

already on the table … further concessions would endanger the future of European farming

… We are not going to accept that, it's as simple as that”342

Em suma, não houve nenhum avanço significativo nas negociações realizadas nessa

quinzena. Os principais países envolvidos nas negociações, entre eles Estados Unidos,

Brasil e União Européia, aparentam não estar dispostos a fazer novas concessões sem que

haja uma movimentação semelhante dos demais negociadores. Assim, o futuro da

negociação ainda é nebuloso e esta se aproximando de processos eleitorais que podem

embaralhar novamente as cartas do jogo, tornando mais difícil um consenso. Para que isso

não aconteça, é necessário que haja uma proposta forma e consensual antes de julho,

fornecendo assim tempo necessário para ratificação do congresso norte-americano antes do

fim da TPA.

Outros destaques

Peter Mandelson anunciou que revisará os acordos comerciais que a União Européia

possui com a China. Segundo o ministro, “Europe needs a new strategy to handle the EU's

339 THE WALL STREET JOUNAL. Breaking the Doha Deadlock - 17/05/2006. 340 O ESTADO DE SÃO PAULO. Para europeus, concessões já chegaram ao limite. 12/05/2006. 341 Idem 342 MILLER, Scott. French Resistance To Trade Accord Has Cultural Roots. The Wall Street Jounal - 16/05/2006.

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163

''biggest'' trade policy challenge in the years ahead. Europe must get China right -- as a

threat, an opportunity and prospective partner”343

--===-- Regis Arslanian, diretor-geral do Departamento de Negociações Internacionais do

Ministério das Relações Exteriores, afirmou que o Brasil e o Mercosul podem fechar o

acordo de livre-comércio com a União Européia (UE) assim que sejam definidas as

condições da Rodada de Doha344.

Bibliografia

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_RESENHA=227361. Acesso no dia 20/05/2006

O ESTADO DE SÃO PAULO. Para europeus, concessões já chegaram ao limite.

12/05/2006. Disponível em

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RE

SENHA=225545. Acesso no dia 20/05/2006

Page 165: Acompanhamento da Rodada Doha: 2005 e 2006principal é a tese de que, para os países em desenvolvimento, a melhor estratégia nas negociações comerciais seria uma baseada única

165

O GLOBO. Falta pouco para acordo Mercosul-EU - 18/05/2006. Disponível em

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RE

SENHA=227516. Acesso no dia 20/05/2006.

REUTERS. US not ready to scale back WTO hopes: USTR nominee. 16/05/2006.

Disponível em http://www.abcnews.go.com/Politics/wireStory?id=1967784.

Acesso no dia 20/05/2006

ROSSI, Clovis. Lula insiste em cúpula para desbloquear Doha. Folha de São Paulo -

13/05/2006. Disponível em

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RE

SENHA=225860. Acesso no dia 20/05/2006

THE NEW YORK TIMES. EU to Review Trade Ties With China - 05/05/2006.

Disponível em

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID

_RESENHA=223431. Acesso no dia 20/05/2006.

THE WALL STREET JOUNAL. Breaking the Doha Deadlock - 17/05/2006. Disponível

em

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID

_RESENHA=227361. Acesso no dia 20/05/2006

Acompanhamento da Rodada Doha345

Resenha quinzenal nº 28 (21/05 a 05/06/2006)

Thiago Lima

Filipe Mendonça

Os principais acontecimentos referentes à Rodada Doha da OMC nessa quinzena

gravitaram em torno de uma reunião informal, paralela à da OCDE, para discutir a Rodada.

345 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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Foi definido um novo cronograma para definir modalidades para agricultura e manufaturas

e a União Européia (UE) emitiu sinais confusos sobre a possibilidade de maiores

concessões. O acordo de livre comércio entre o bloco europeu e o Mercosul e a idéia de que

o “triângulo”, formado por EUA-UE-Brasil/Índia possa desbloquear a rodada também

foram temas importantes.

Em 23 de maio, o Financial Express da Índia afirmou que Brasil e Índia optaram por

não participar da reunião informal sobre a Rodada Doha, realizada paralelamente ao

encontro da OCDE, em Paris. Segundo esse jornal, participaram da reunião, no dia 23 de

maio em Paris, EUA, UE, Japão, Austrália, Nova Zelândia, Quênia, dentre outros. A recusa

dos dois países em desenvolvimento teria ocorrido devido à falta de convergência entre as

propostas346.

Após a reunião informal, o Ministro de Comércio da Austrália, Mark Vaile, anunciou

que havia sido reconhecida a necessidade de um rascunho de acordo sobre modalidades

para tarifas e subsídios até o final de junho, de modo a viabilizar a conclusão da Rodada até

o final do ano347. Modalidades são fórmulas empregadas para as reduções tarifárias e de

subsídios. No dia 30 de maio, o Diretor-Geral da OMC, Pascal Lamy, o qual também

participou da reunião informal, afirmou a necessidade de concluir um rascunho até o final

de junho: “If we let modalities drift into July, there will not be time”. Espera-se que os

diretores dos comitês negociadores de agricultura e bens industriais apresentem um

rascunho até 19 de junho e que os ministros sejam convidados a aprimorá-los no dia 26 de

junho348. Em serviços, 31 de julho é a data para apresentação de ofertas revisadas e 30 de

outubro para o fechamento de um acordo. Argumenta-se que essas ofertas estão atreladas a

avanços em agricultura e manufaturas349.

Na reunião, a UE apontou que pode aumentar sua oferta de corte médio de tarifas

agrícolas, aproximando do demandado pelos países em desenvolvimento. Atualmente, o 346 FINANCIAL EXPRESS. India, Brazil opt out of WTO meet. Ìndia, 23/05/2006. MANICHI DAILY NEWS. WTO. ministers confirm need to reach accord by end-July. Japão, 25/05/2006. Porém, no dia 24 de maio, o jornal peruano El Comércio noticiou a participação brasileira no encontro, mas não a indiana. EL COMERCIO. Anuncian nueva oferta agrícola en la OMC. Peru, 24/05/2006. 347 THE WALL STREET JOURNAL. Australian Trade Min: WTO Aims For Draft Pact By June. EUA, 24/05/2006. 348 THE NEW YORK TIMES. Lamy Sets End - June Deadline for Key WTO Trade Deal. EUA, 30/05/2006. 349 GAZETA MERCANTIL. UE apresenta esboço para corte de tarifas para os EUA. 24/05/2006.

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bloco europeu oferece cortar 39% em média, e os países em desenvolvimento demandam

54%. Peter Allgeier, deputy do USTR, afirmou que modificações pequenas da UE não

seriam suficientes para destravar a Rodada. Os EUA pedem que os europeus cortem 66%

de suas tarifas, mas uma média de 60% seria aceitável350. De todo modo, qualquer maior

oferta da UE está condicionada a maior abertura de grandes países em desenvolvimento,

como Índia e Brasil, nas tarifas aduaneiras, e a maiores reduções dos EUA em seus

subsídios agrícolas. Na prática, a reunião parece não ter produzido nada de novo como

solução para o impasse que paralisa a Rodada mas, ao menos no discurso, alguns

demonstraram otimismo, como o ministro australiano.

Na verdade, a sinalização da UE na reunião informal criou confusão e parece ter

exposto desavenças. Em visita ao Brasil no dia 25 de maio, o presidente francês, Jacques

Chirac, afirmou que a culpa pela paralisação da Rodada é dos EUA, que se negam a reduzir

seus subsídios. Chirac afirmou que a Europa atingiu o limite de suas concessões e criticou

os EUA e os países em desenvolvimento: “Os Estados Unidos, na realidade, têm a chave do

problema. A Europa fez tudo o que podia e devia fazer. Honestamente, não tem novos

passos a dar (...) O fato é que os países em desenvolvimento não deram nenhum passo

significativo em direção à Europa, nos planos da indústria e serviços. É preciso esperar um

pouco de progresso nesses planos”351. Porém, dias antes o próprio presidente francês disse

que a França estava disposta a ‘fazer sua parte’ para salvar a Rodada, sinalizando

possibilidade de aumentar concessões. Nos EUA, as declarações de Chirac foram recebidas

com desconfiança. Jason Hafemeister, diretor norte-americano para negociações agrícolas

na OMC, declarou que "It's really not clear what these guys are going to do. We're not

trying to ... negotiate in the press. We negotiate at the table (and) Europe can do more”352.

O cenário europeu fica mais confuso com as declarações do Ministro da Agricultura da

Áustria, Josef Proell, cujo país ocupa a presidência rotativa da UE, de que o bloco já fez sua

oferta definitiva. Segundo Proell, “I know what Peter Mandelson thinks and I think it is

necessary that Europe speaks with one voice. But I think it would be wrong to make new

offers”. O ministro austríaco reiterou que cabem aos EUA realizar movimento para romper

350 SCHOMBERG, William. EU outlines farm moves to U.S. to unblock WTO talks. Reino Unido, Reuters, 24/05/2006. 351 MARIN, Denise Chrispim e MONTEIRO, Tânia. O Estado de São Paulo, 26/05/2006. 352 WALKER, Sophie e PINEAU, Elizabeth. France, US lock horns over WTO round. EUA, The Washington Post, 26/05/2004.

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o impasse353. Como vimos na quinzena passada, membros da UE já haviam dito que as

ofertas feitas eram as finais.

Nos EUA, a administração consultou grupos de interesse agrícolas sobre a demanda

internacional para corte de 70% nos subsídios da caixa amarela, considerados distorcivos.

A oferta atual é de 60%. Segundo um oficial sênior norte-americano para o comércio

internacional, “In the last couple of weeks we've been talking to the various groups about ...

what other countries are asking us to do, and that does include some who are asking for

deeper cuts in the amber box, 70 percent or more. We have explained to them the requests

... and we didn't have any sympathetic hearing on the deeper cuts.”354

Lamy continua a urgir os principais atores a fazerem concessões. Declarou que o

sucesso de Doha é possível, “But because it's difficult, it will need a bit more political

traction on the three sides of the triangle”355. A idéia de “triângulo”, porém, formada pelos

vértices EUA, UE e Brasil/Índia não aceita uniformemente. O presidente brasileiro é um

dos que qualifica a idéia de triângulo: “This three-way bargain cannot be seen as an

equilateral triangle. The level of wealth in developed and developing countries is

profoundly unequal. It is more than fair that the richest countries make deeper cuts. And

the poorer among the poor should bear no cost; they must only gain from a trade

negotiating process that is rightly called a development round”356. Já o Ministro do

Comércio do Egito, Rachid Mohamed Rachid, rejeita a idéia de que acordos do triângulo

EUA-UE-Brasil possam desobstruir a Rodada. Rachid afirmou que o Brasil lidera “só no

G-20, que é só agricultura” e que “O Brasil não tem os mesmos interesses dos países

africanos. Muitos africanos já têm acesso ao mercado [europeu] e vão sofrer erosão de suas

preferências. Não ganharam nada de acesso agrícola adicional. Na realidade, os países

africanos acham que Brasil, China e Índia vão competir para tomar fatias de seus

mercados”. O egípcio ameaçou que um eventual acordo sobre agricultura e manufaturas

353 SMITH, Jeremy. Austria warns EU over farm tariffs in WTO round. Reino Unido, Reuters, 29/05/2006. 354 THE NEW YORK TIMES. Farm Groups Nix US Bid for Deeper WTO Cuts: Sources. EUA, 31/05/2006. 355 THE WALL STREET JOURNAL. WTO Chief Urges Concessions From All To Save Trade Talks.. EUA, 24/05/2006 356 INTERNATIONAL HERALD TRIBUNE. Time to get serious about agricultural subsidies. França, 02/06/2006.

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pelo chamado triângulo pode ser rejeitado pelos 43 membros africanos da OMC: “Pode se

repetir o que aconteceu em Cancun”357.

O Ministro brasileiro de Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que o fracasso

da Rodada Doha levaria à proliferação de acordos regionais e bilaterais, o que não é de

interesse brasileiro. Segundo Amorim, “Para nós, o multilateralismo é indispensável. Por

isso, preferimos apostar nessa brecha de otimismo que ainda vislumbramos”358. Nessa

direção, o presidente brasileiro insistiu em sua estratégia de tentar uma saída política para o

impasse de Doha, na qual os chefes de Estado e não os ministros decidiriam sobre

concessões necessárias. Assim, Lula solicitou ao presidente da Comissão Européia, José

Manuel Durão Barroso, para que a Rodada fosse incluída na agenda de sua visita ao Brasil,

entre os dias 31 de maio e 2 de junho359. Em seu encontro, Lula disse a Barroso que a

reunião do G-8, em julho na Rússia, é “‘possivelmente a última oportunidade’ de chegar a

um acordo sobre as linhas gerais de ‘um pacote ambicioso e equilibrado’”360. O presidente

da Comissão Européia concordou com o brasileiro de que os países desenvolvidos devem

oferecer relativamente mais do que os em desenvolvimento, mas ressaltou a necessidade de

maior esforço desses países, especificamente em serviços.

Sobre o acordo de livre-comércio entre União Européia e Mercosul, Lula disse que a

parceria é importante econômica e estrategicamente para os dois blocos. O vice-presidente

da comissão de Comércio Exterior do Parlamento Europeu, Varela Suanzes, contrariando a

posição da Comissão Européia, (órgão executivo) a qual mencionamos na resenha passada,

afirmou que é interessante intensificar as negociações com o Mercosul, independente de

Doha. Suanzes ressaltou a importância do mercado consumidor do cone sul e disse ainda

que “é preciso insistir no acordo com o Mercosul, porque se trata de uma associação de

importância estratégica para as empresas européias, em um momento chave para a evolução

política nesse continente”. Suanzes também criticou a atuação do Brasil nas negociações

internacionais, segundo a qual adianta suas posições e condições como sendo as do

357 MOREIRA, Assis. África pode rejeitar acordo entre Brasil, EUA e UE. Valor Econômico, 25/05/2006. 358 MARIN, Denise Chrispim. Amorim: fim da Rodada Doha depende de coragem política. O Estado de São Paulo, 31/05/2006. 359 BIZZOTO, Márcia. Brasil quer que líderes decidam sobre Doha. Reino Unido, Agência BBC, 31/05/2006. 360 AGÊNCIA BBC. G8 é ultima chance de impulsionar Doha, diz Lula a Barroso. Reino Unido, 01/06/2006.

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Mercosul e do G-20, mas sem certeza de que essa posição corresponde aos outros

membros361.

A Rodada Doha foi tema da reunião da APEC no Vietnã em 1 e 2 de junho. Os

membros da organização, que congrega países do Pacífico, reconheceram a importância de

suas economias para o comércio global, assim como a sua relevância para um acordo de

êxito na Rodada. Aparentemente, porém, a reunião não produziu nada que pudesse

solucionar o impasse das negociações. Destaca-se a atuação da China, que exortou os EUA

e a UE a cortarem subsídios e tarifas agrícolas como maneira de destravar Rodada.

ONGs também participaram do debate sobre a Rodada nessa quinzena. A Friends of

the Earth e o Greenpeace, dentre outras ONGs, assinaram carta publicada no Financial

Times da Inglaterra, afirmando que a posição da UE é anti-desenvolvimento, que pode criar

“increased poverty, job losses and environmental destruction around the world” e que por

isso a UE não os representa. A OXFAM, que não assinou a carta, afirmou que “The real

issue here is the failure of Peter Mandelson and other EU leaders to keep their promises to

deliver a trade deal that lifts poor people out of poverty”362. Em carta ao mesmo jornal em

05 de junho, Mandelson respondeu que a UE tem feito esforços significativos de

liberalização. Realçou que a liberalização agrícola não é caminho automático para o

desenvolvimento e que essa abertura beneficiaria mais os grandes exportadores como Brasil

e Austrália, e que poderia prejudicar o acesso preferencial que países mais pobres possuem

ao mercado europeu. Além disso, defendeu a abertura em manufaturas interessa boa parte

dos países em desenvolvimento, pois esses possuem bom comércio de bens

industrializados, e que o avanço em serviços estimularia investimentos em

telecomunicações, infra-estrutura, distribuição e serviços bancários, que são maneiras de

ajudar a sair de uma condição de pobreza363.

Outros destaques

361 BIZZOTO, Márcia. Parlamento Europeu quer acordo direto com Mercosul. Reino Unido, Agência BBC, 01/06/2006. 362 AGÊNCIA BBC. Mandelson rejects trade criticisms. Reino Unido, 02/06/2006. 363 MANDELSON, Peter. Letter: NGOs misrepresent what EU asks of poorer nations. Reino Unido, Financial Times, 05/06/2006.

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Mercosul espera concluir acordo de livre comércio com Israel em 21 de julho, na cúpula

dos presidentes do Mercosul. Espera-se que as maiores dificuldades estejam na abertura do

mercado agrícola de Israel que, apesar de possuir acordos desse tipo com diversos

parceiros, abriu apenas cerca de 20 dos 1.200 produtos catalogados, somente no acordo

com a UE. Espera-se que as maiores demandas de Israel venham em tecnologia agrícola e

informática. Nessa mesma conferência, espera-se assinar um acordo que lançará as bases

para um acordo preferencial com o Paquistão364.

--===--

A aprovação de Susan Schwab como chefe do USTR está paralisada no Senado norte-

americano por demanda do senador Charles Shumer, que espera resposta da administração

Bush sobre como melhorar o acesso ao mercado chinês365. Bloomberg

Acompanhamento da Rodada Doha366

Resenha quinzenal nº 29 (06/06 a 21/06/2006)

Filipe Mendonça

Thiago Lima

Esta resenha busca sintetizar os principais acontecimentos da Rodada Doha entre os

dias 06 e 21 de junho. Nesta quinzena pouco fora feito para avançar significativamente nas

negociações, mantendo a tendência que perdura cerca de dois meses, desde o não

cumprimento do prazo de 30 de abril para apresentação de propostas concretas para o setor

agrícola e o industrial. Caso nenhum dos principais negociadores, ou seja, Estados Unidos,

União Européia, e G-20, façam concessões mais ambiciosas com o objetivo de destravar a

pauta negociadora, o alvo estipulado por Pascal Lamy de 29 de junho para apresentação de

364 INFOBAE. La región firmará un tratado con Israel. Argentina, 23/05/2006. 365 BLOOMBERG. Revival of Stalled WTO Talks Tops APEC Meeting Agenda. 31/05/2006. 366 Resenha elaborada no âmbito do projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

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propostas nestes setores não será alcançado novamente, repetindo os acontecimentos de

abril, além de tornar ainda mais distantes as margens para otimismo quanto às metas a

serem alcançadas no final da rodada.

Esta quinzena foi repleta de retórica e frases de efeito, porém pouco concretismo.

No dia 06 Roberto Abdnur, embaixador brasileiro nos Estados Unidos, informou ao

governo brasileiro que congressistas norte-americanos pretendem retirar o Brasil, China e

Índia do SGP (Sistema Geral de Preferências) tendo em vista que este sistema necessita de

renovação no Congresso. Por meio deste sistema, o Brasil exporta produtos tais como

frutos, grãos, carnes, madeira, etc. para o mercado norte-americano sem taxas. “Isso é

absolutamente falacioso”367, afirmou o embaixador brasileiro. Pelo que tudo indica, a

ameaça de retirar esses países do SGP esta sendo utilizado como instrumento de pressão

pelos Estados Unidos para flexibilizar o rígido posicionamento do Brasil, China e Índia nas

negociações hora em curso. Esse episódio começou a desenhar a tendência de “troca de

acusações” que se manteve até o final da quinzena, para insatisfação de Lamy que afirmou

que as propostas que foram feitas até então “will have to be improved .. this has to happen

within weeks, not months, if we are to conclude this round by the end of 2006”368.

A visita de Carlos Gutierrez, secretário de Comércio dos Estados Unidos, ao Brasil

também não saiu do campo retórico. Gutierrez afirmou que “é preciso haver uma maior

integração entre os países das Américas para fazer frente ao vigor econômico da Ásia”369 e

que “nós devíamos fazer mais negócios juntos nas Américas porque ao não fazê-lo estamos

desperdiçando oportunidades de criar empregos e renda”370. Embora seu discurso tenha

sido abstrato, Gutierrez concluiu dizendo que “não se trata de uma questão ideológica, é

367 Folha de São Paulo. Americanos ameaçam excluir Brasil de sistema preferencial. 06/06/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=232899 Acesso no dia 21/06/2006 368 Bloomberg.com. WTO's Pascal Lamy Says Time Running out for Trade Negotiators. Estados Unidos. 06/06/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=233133. Acesso no dia 21/06/2006 369 RODRIGUES, Luciana. EUA querem unir América para enfrentar Ásia - 06/06/2006. O Globo. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=232903 Acesso no dia 21/06/2006 370 GÓES, Francisco. Gutierrez pede mais comércio com EUA - 06/06/2006. Valor Econômico. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=232836 Acesso no dia 21/06/2006

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uma questão de negócios, de realidade”371. Luiz Fernando Furlan, ministro brasileiro do

Desenvolvimento, retrucou afirmando que “cedo ou tarde, o Brasil vai ganhar a guerra na

agricultura, com ou sem a OMC”372. Gutierrez respondeu dizendo que a proposta norte-

americana de abertura agrícola já é bastante ambiciosa e “só poderá ser concretizada se

países como o Brasil cederem mais nos setores industriais e de serviços... não estão pedindo

muito, e é hora de o Brasil e outros países pensarem na oportunidade que lhes está sendo

dada com essa abertura agrícola”373. Além disso, Furlan e Gutierrez aproveitaram a

oportunidade para estudar a criação de um mecanismo de consultas informais Brasil-

Estados Unidos visando intermediar as relações comerciais entre os dois países.

No dia 08 de junho a África do Sul colocou suas cartas sob a mesa. Apresentou

oficialmente suas propostas de redução ligeira de barreiras no setor de serviços, com

destaque para serviços financeiros e comunicação, abordando assim alguns dos principais

pontos de conflito na pauta atual da Rodada Doha. Contudo, setores tais como o elétrico, o

de educação e o de saúde não foram abordados, pois são considerados sensíveis para este

país. Xavier Carim, representande da África do Sul na OMC, afirmou que a proposta sul-

africana “does not open up these sectors more, but will give a sense of security to

foreigners that the current situation won’t be reversed”374

. É importante lembrar que a

economia Sul-Africana é baseada no setor de serviços (cerca de 75%375). Embora pequenas,

as propostas sul-africanas foram alvo de críticas, como por exemplo as proferidas por

Michelle Pressend, pesquisadora do “Institute of Global Dialogue” (ONG sul-africana), que

afirmou que “We may think we are competitive, but we may be killing our services sector

with an irresponsible offer”376.

Outro destaque da quinzena foi a proposta do Brasil, Peru e Índia sobre bio-

pirataria. Estes países exigem a identificação da origem de produtos genéticos para evitar

371 RODRIGUES, Luciana. EUA querem unir América para enfrentar Ásia. op. cit. 372 Idem 373 SALGADO, Raquel. Oferta dos EUA já é agressiva e depende de concessões brasileiras, diz Gutierrez. Valor Econômico - 09/06/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=234042. Acesso no dia 21/06/2006 374 BUSINESS DAY. SA tables services sector offer at WTO. África do Sul - 08/06/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=233846. Acesso no dia 21/06/2006 375 Idem 376 Idem

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que empresas estrangeiras patenteiem descobertas realizadas em outros países. “Taking

care of biodiversity has a cost, so the idea is that whoever benefits from the use of such

resources should compensate countries,” afirmou David Vivas, advogado especializado em

propriedade intelectual em Geneva e ex-negociador venezuelano. Além do Brasil, Peru e

Índia, a China, Cuba, Venezuela, Tailândia e Tanzânia apóiam a proposta, enquanto a

União Européia, Estados Unidos, Austrália e Japão não apóiam, tornando ainda mais

complicada a situação da rodada.

Em meio a um impasse generalizado, Susan Schwab, chefe do USTR (United States

Trade Representative) tirou dos Estados Unidos a responsabilidade da vagarosidade das

negociações afirmando que a redução de 60% dos subsídios agrícolas norte-americanos não

é apenas retórico, mas algo concreto e, por isso, deveria ser analisado com mais cuidado. A

este respeito, Schwab afirmou que “The issue is one of ... convincing our trading partners

that the October offer was conditional and real ... it cannot be pocketed”377

. Schwab

continua afirmando que “I do not think the United States is isolated in terms of wanting an

ambitious outcome … There may be some countries that are willing to settle. We're

certainly not”378. Contudo, Schwab cobra reciprocidade dos demais negociadores por meio

de acesso a mercado, afirmando que “The U.S. has shown it is absolutely committed to

addressing the domestic support side of the equation in exchange for real market

access”379. Este endurecimento de Schwab veio logo após a divulgação do aumento de

déficit comercial norte-americano no mês de abril, atingindo a cifra de $63,43 bilhões,

$1,57 bilhão a mais que março de 2006380.

Além disso, Schwab afirmou que “the fact that the president chose to announce my

nomination the same day as Ambassador Portman's was announced was evidence that the

president wanted to send a message -- that he wanted a seamless transition and continued

377 WALKER, Sophie. US not isolated at WTO talks: USTR Schwab. EUA - The Washington Post - 10/06/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=234387. Acesso no dia 21/06/2006 378 Idem 379 Idem 380 KING, Neil Jr. U.S. Trade Chief Plays Down the Rising Deficit. 10/06/2006 - EUA - The Wall Street Journal. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=234390. Acesso no dia 21/06/2006

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high priority on trade”381 confirmando um endurecimento na posição norte-americana. Isso

acontece devido o aumento de demandas protecionistas no Congresso norte-americano

potencializados pelo aumento do desemprego, algo que é atribuído ao crescimento chinês, e

pelo acirramento do déficit comercial, diminuindo assim o número de eleitores que apoiam

o livre-comércio. O presidente Bush parece atentar para este fato e afirmou que “the

tendencies are to say, let's just wall ourselves off from competition … But if we become a

protectionist nation, if we lose our confidence and our capacity to compete in the global

economy, it will make it much harder to achieve the common goal of reducing global

poverty”382. Para evitar fracasso, Bush pediu maior agilidade e flexibilidade para os países

negociadores, emitindo um recado claro para a União Européia. “In my view, countries in

Europe have to make a tough decision on farming, and the G-20 countries on

manufacturing, and the United States is prepared to make a tough decision along with

them” afirmou Bush. “That's my message to the world”383. Mandelson respondeu dizendo

que Bush “remarks … [suggests] that he senses the need for the U.S. to match the EU in

additional flexibility”384. Contudo, foi mais contundente quando afirmou que “I welcome

the president's statement, but now is the time for tough decisions … It is offering to pay too

little for what it is demanding in return …We're prepared to show more flexibility, but not if

we're going to get nothing in return”385 , caracterizando o impasse que aparenta estar longe

de possuir uma solução simples.

381 THE WASHINGTON POST. Dealt a Difficult Hand, Trade Official Presses On. 13/06/2006 - Estados Unidos. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=235082. Acesso no dia 21/06/2006 382 THE NEW YORK TIMES. Bush Says World Trade Talks ´´Tough Sledding´´. 16/06/2006 - EUA - The New York Times, Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=235855. Acesso no dia 21/06/2006 383 INTERNATIONAL HERALD TRIBUNE. Bush presses Europe for deep farm subsidy cuts. 16/06/2006 França - International Herald Tribune. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=235809. Acesso no dia 21/06/2006 384 THE NEW YORK TIMES. EU Trade Chief Welcomes Bush Signal on WTO Round. 16/06/2006 - EUA - The New York Times. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=235859. Acesso no dia 21/06/2006 385 BLOOMBERG.COM. U.S. Offers Too Little for WTO Accord, Mandelson Says. 17/06/2006 - EUA - Bloomberg.com. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=236083. Acesso no dia 21/06/2006

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A reunião do G-8 foi outro evento importante da quinzena. A cúpula, em declaração

oficial, afirmou que “We agreed on the importance for global growth of an ambitious

outcome from the Doha Development Round and recognize that urgent progress is needed

for its achievement”386. Guido Mantega, Ministro da Fazenda brasileiro e um dos

convidados da reunião do G-8, em resposta principalmente às declarações de Schwab e

alinhado com o discurso chinês e indiano, afirmou que a Rodada Doha só será bem

sucedida com avanços nas negociações agrícolas. “Our three countries have agreed that, if

there are no strong indicators of these advances with regard to agriculture, the Doha

round will fail … both Brazil and China have shown willingness to be more flexible; Brazil

with industrial products, China on services. But this will not take place unless the

developed countries have a stronger commitment to liberalise their economies on trade”387.

Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), alinhou

seu discurso com Mantega ao afirmar que “a agricultura deve ser liberalizada a ponto de

compensar o esforço de abertura já realizado pela indústria desde 1947, ano da assinatura

do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), do qual o Brasil foi sócio-

fundador”388. Shri Palaniappan Chidambaram, Ministro das Finanças indiano, manteve o

discurso e afirmou que estava “disappointed in the tardy progress the developed countries

have made in agricultural trade negotiations that would be ‘reasonable’ to countries such

as India, whose growth depends on easy access to the world market”389

.

Em suma, o impasse continua e dois cenários parecem ser mais prováveis para este

mês: ou o não cumprimento da data limite estipulado por Lamy (29 de junho) prorrogando

ainda mais o prazo para apresentação de propostas de redução de barreiras nos setores

agrícola e industrial; ou a elaboração de propostas pouco ambiciosas para evitar o

386 BBC. Cautious optimism at G8 meeting. 11/06/2006 - Reino Unido - Agência BBC. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=234540. Acesso no dia 21/06/2006 387 REUTERS. Without farm deal Doha trade round will fail - Brazil. 10/06/2006 - Reino Unido - Agência Reuters. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=234407. Acesso no dia 21/06/2006 388 SKAF, Paulo. Por um acordo na OMC. 10/06/2006 - Estado de São Paulo. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=234268. Acesso no dia 21/06/2006 389 THE WALL STREET JOURNAL. India Min: Doha Trade Talks Depend On Ag Concessions. 13/06/2006 Estados Unidos. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=235107. Acesso no dia 21/06/2006

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descumprimento do prazo de Lamy, tendo em vista o final do dispositivo negociador “fast

track” fornecido pelo congresso norte-americano ao presidente Bush, como já vimos em

resenhas anteriores. Parece que até o presidente Bush já percebeu esta tendência, fato que o

fez voltar a trás e reconsiderar a proposta do presidente Lula de elaboração de uma reunião

de lideres e chefes de Estado caso o prazo de 29 de junho seja realmente prorrogado390.

Outros destaques --===-- Embora o cenário negociador ainda esteja nublado, O G-8, em nota oficial, após reunião

realizada na Rússia, afirmou que “We agreed on the importance for global growth of an

ambitious outcome from the Doha Development Round and recognize that urgent progress

is needed for its achievement. Many developing countries also need substantial aid for

trade to help them take advantage of general trade liberalization”391.

--===--

Os Estados Unidos estudam um plano alternativo à Alca. Segundo Sotero e Marin, “a

entrada da Venezuela no Mercosul e a falta de iniciativa brasileira para impedir a grave

confrontação entre a Argentina e o Uruguai, ambos sócios do acordo regional, em torno da

construção de fábricas de celulose em território uruguaio, convenceram os governos dos

Estados Unidos e de outros países da região a estudar um plano alternativo de integração

regional que produza alguns dos efeitos imaginados para a congelada Área de Livre

Comércio das América, a Alca, sem o Mercosul”392. Segundo o jornal Estado de São Paulo,

“a solução será criar vínculos entre os vários acordos bilaterais e regionais concluídos por

390 CORREIO BRAZILIENSE. Lula obtém apoio de Bush. 20/06/2006 - Correio Braziliense. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=236882. Acesso no dia 21/06/2006 391 The Wall Street Journal. G-8 Finance Ministers' Statement. Estados Unidos. 10/06/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=234613. Acesso no dia 21/06/2006 392 SOTERO, Paulo e MARIN, Denise C. EUA pensam em alternativa à Alca. 12/06/2006 - O Estado de São Paulo. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=234677. Acesso no dia 21/06/2006

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países das Américas. Seria formada, assim, uma teia de integração de pactos comerciais

celebrados, até agora, de forma separada”393.

--===--

O governo Chinês apresentou na OMC documento oficial afirmando que suas reduções

tarifárias devem ser menores do que de países como o Brasil. “Os chineses pedem para

países que recentemente entraram na OMC um coeficiente para cortar as tarifas industriais

que seja uma vez e meia maior do que o coeficiente de outros países em desenvolvimento

(quanto maior o coeficiente, menor a redução tarifária). Essa proposta significa que, se o

Brasil reduzir suas alíquotas em 70% (na média), os chineses diminuem as suas em apenas

50%”394. Até agora não se sabe ao certo o impacto que tal declaração terá no G-20.

--===--

A reunião de extraordinária do Mercosul, realizada em Buenos Aires no dia 16, foi

outro evento importante nesta quinzena. Em meio a uma das mais graves crises do bloco, os

ministros de Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia discutiram o encontro presidencial

marcado para 20 e 21 de julho e a incorporação da Venezuela no bloco395.

Resenha 30 – JULHO de 2006 Rodada Doha suspensa: inflexibilidade e inação.

393 O ESTADO DE SÃO PAULO. Editorial - A alternativa americana. 13/06/2006, Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=234928. Acesso no dia 21/06/2006 394 MOREIRA, Assis. China pede na OMC para cortar menos tarifas que o Brasil. 14/06/2006 Valor Econômico. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=235170. Acesso no dia 21/06/2006 395 CLARIN. Venezuela también es miembro del bloque. 17/06/2006 - Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=236005. Acesso no dia 21/06/2006

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Filipe Mendonça

Thiago Lima

Neste mês a Rodada Doha foi declarada oficialmente suspensa por tempo

indeterminado, frustrando os ministros de comércio que buscavam um acordo significativo

ainda em 2006. O insucesso das reuniões do G-8 e do G-6 (EUA, UE, Japão, Brasil, Índia e

Austrália) contribuiu em grande medida para a decisão de Pascal Lamy, diretor geral da

OMC, de suspender as negociações bem como para as malogradas tentativas de consenso

entre os principais pólos negociadores: G-20, Estados Unidos e União Européia.

O primeiro fim de semana do mês de julho foi desastroso para aqueles que

acreditavam no avanço das negociações ainda naquele mês. A reunião ministerial realizada

em Genebra, com 149 ministros presentes, não presenciou nenhum avanço. Isso fez com

que Pascal Lamy se reunisse com o G-6 numa tentativa de salvar a Rodada Doha. Após o

encontro, o Ministro brasileiro Celso Amorim afirmou que “Não existe saída de honra. Só

existe saída real. Ninguém quer salvar a face. Ou a gente consegue ou não consegue” e

concluiu que “Há consciência que a Rodada é algo tão importante e que vai requerer um

esforço adicional para fechar em julho. O que noto, em relação a outras experiências, é que

desta vez há disposição de continuar negociando”396. Em declarações posteriores, Celso

Amorim já não estava mais tão confiante, e chegou a afirmar que “Eu tenho dificuldades de

ver qualquer avanço nessa etapa das negociações. Mas isso não vai me desencorajar”397.

Desde o último mês a prorrogação do prazo de julho já era esperada devido a

inflexibilidade existente nas propostas apresentadas. O jornal The New York Times

confirmou esta tendência ao afirmar que “…most countries here have rigidly stuck to the

same positions they have maintained for months”398. As propostas se mantiveram e,

396 MARIN, Denise C. Ricos não abandonam trincheiras e discussão na OMC não avança. O Estado de São Paulo. Data: 01/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=240115. Acesso no dia 31/07/2006 397 MARIN, Denise C. Ricos não abandonam trincheiras e discussão na OMC não avança. O Estado de São Paulo. Data: 01/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=240115. Acesso no dia 31/07/2006 398 THE NEW YORK TIMES. Little Progress Likely at WTO Talks. 01/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=240115. Acesso no dia 31/07/2006

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consequentemente, o impasse não se alterou. Segundo o jornal Folha de São Paulo, “em

Genebra, o único consenso após os encontros da última semana foi que não adiantava mais

nada manter os debates em grupo porque o impasse estava estabelecido”399.

O grande acusado, na opinião do G-20 e da União Européia, do fracasso da reunião

ministerial foram os Estados Unidos uma vez que não alterou em nada a sua proposta

inicial de corte de 60% dos subsídios concedidos aos agricultores norte-americanos. Já a

União Européia deu sinais de flexibilidade, embora confusos, às demandas dos países em

desenvolvimento que buscavam um corte de 54% das tarifas agrícolas nos países

desenvolvidos. O G-20, não diferente, manteve sua proposta e exige reduções maiores no

setor agrícola. A inflexibilidade gerou a inação e, consequentemente, o fracasso da reunião.

Segundo Kamal Nath, Ministro da Indústria e Comércio indiano, “There is no need

to pretend that this has not been a failure”400. Já susan Schwab, líder do USTR (United

States Trade Representative) afirmou que “We remain fully committed to an ambitious,

robust round and have no intention of giving up hope”401. A opinião de Pascal Lamy não

era muito diferente. Segundo ele, “The result of these discussions is pretty clear: There has

been no progress. And therefore we are in a crisis”402. Mandelson, comissário da União

Européia para o comércio internacional, afirmara que “If we do not turn things around in

the next two weeks, we will not make a breakthrough this summer, and then we will be

facing defeat”403. Celine Charveriat, especialista em comércio da Oxfam, afirmara que “I

haven't seen anybody who has the faintest idea how you can reach a deal”404.

O fracasso dos esforços em Genebra foi determinante para acirrar troca de

acusações entre os países negociadores, tendência que se agravou nos últimos meses, como

observamos em artigos anteriores. Mandelson, por exemplo, afirmou que “The U.S. was the

only major player to refuse to consider moving on this basis [aproximação com o G-20]

399 D'AMORIM, Sheila. Genebra vê fracasso em negociação comercial. Folha de São Paulo. Data: 02/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=240187115. Acesso no dia 31/07/2006 400 BLUSTEIN, Paul. Trade Ministers Give Up on Compromise. EUA - The Washington Post. Data: 02/07/2006. http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=2403235. Acesso no dia 31/07/2006 401 Idem 402 Idem 403 Idem 404 Idem

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and declined to signal any room for further movement”405. Mandelson continua afirmando

que "We pushed hard to establish a clear correspondence between the effort that we would

make in agricultural market access and the effort that the U.S. in turn would have to make

in the reduction on domestic subsidies close to the G20 levels of average cut by us to be

matched by close to G20 reductions of trade-distorting subsidies by the U.S.”406. Já os

Estados Unidos acusaram países como o Brasil e Índia de serem incapazes de abandonar o

campo retórico. Segundo Schwab, “there are some developing countries, advanced

developing countries, arguably emerging or existing powerhouses, that would like to hide

behind the least developed and poorest among us that clearly should be given a pass in

these negotiations” 407

. Assim, Schwab tentou desestabilizar o já sensível G-20 que até

então tem tomado forte posicionamento. Para isso, Schwab também afirmou que “...if you

really want to meet the promise of the Doha round, we need to be generating not just more

North/South trade, as we clearly want to do; not just more North/North trade which we

want to do; but also more South/South trade”408.

Já os países membros do G-20 acusaram os países ricos de travarem a pauta

negociadora. O Chanceler argentino Jorge Taiana, por exemplo, afirmou que “Para tener

éxito en esta Ronda, los países desarrollados de la OCDE deberían abrir sus mercados,

reducir sustancialmente sus subsidios internos y eliminar totalmente los subsidios a las

exportaciones en el sector agrícola”409. Já o Ministro Indiano Kamal Nath afirmou que

“The burden of leadership in this particular case has to be on those who have more to give,

405 Idem 406 THE WALL STREET JOURNAL. EU Trade Chief: US Prevented Trade Deal Breakthrough. Data: 07/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=242026. Acesso no dia 31/07/2006 407 KUMAR, Arun. A US asks emerging powerhouses to open markets to save trade talks. India Daily - Data: 08/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=242348. Acesso no dia 31/07/2006 408 KUMAR, Arun. A US asks emerging powerhouses to open markets to save trade talks. India Daily - Data: 08/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=242348. Acesso no dia 31/07/2006 409 LA NACION. Advertencia del Gobierno por la Ronda de Doha. Data: 07/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=241830. Acesso no dia 31/07/2006

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and those are of course the richer countries”410. O Ministro do Desenvolvimento, Indústria

e Comércio Exterior brasileiro, Luiz Fernando Furlan, não deixou de disparar acusações

contra os países ricos, afirmando que “O Brasil responde por 1,2% do comércio mundial, o

país esta fazendo um esforço, mas o grande esforço tem que vir dos Estados Unidos e

Europa, grandes protagonistas do mercado mundial”411.

Após o acirramento do impasse em Genebra, Pascal Lamy concentrou seus esforços

para a reunião do G-8 entre os dias 15 e 17 de julho. Os membros do G-6 foram convidados

para a reunião do G-8, o que significa dizer que os principais países nas negociações da

Rodada Doha estariam presentes da reunião. Assim, esta parecia ser a última tentativa de

cumprir o já defasado prazo de julho para bens industriais e agrícolas. A missão de Lamy,

basicamente, se resumia a convencer os Estados Unidos a reduzir de forma mais aguda os

subsídios concedidos aos seus agricultores, convencer a União Européia a reduzir suas

tarifas agrícolas e convencer o Brasil e a Índia a reduzir suas tarifas para bens industriais.

Paul Wolfowitz, presidente do Banco Mundial, parecia otimista e enviou uma carta, cinco

dias antes do encontro, para todos os membros do G-8 afirmando que “With time running

out, our collective efforts can make the difference … We can work to lift millions from

poverty, boost developing country income, improve global market access and reduce

taxpayer and consumer costs for all, or allow the whole effort to collapse, with harm to

everyone”412. Wolfowitz chegou a dar a solução para o impasse ao afirmar que “Next week,

a collective pledge by the U.S. to reduce agriculture subsidies, by the (European Union) to

improve market access and the + 5 Members to limit tariffs on manufactures ... could help

seal a deal” 413.

410 MEHTA, Pradeep S. How to salvage the Doha Round or not? Data: 10/07/2006. Bangladesh - Financial Express. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=242827. Acesso no dia 31/07/2006 411 BAETA, Zinia. País depende menos de Doha, diz Furlan. Data: 11/07/2006. Valor Econômico. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=242924. Acesso no dia 31/07/2006 412 THE NEW YORK TIMES. World Bank Urges Global Trade Breakthrough at G8. Data: 10/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=242641. Acesso no dia 31/07/2006 413 THE NEW YORK TIMES. World Bank Urges Global Trade Breakthrough at G8. Data: 10/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=242641. Acesso no dia 31/07/2006

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A reunião, realizada na Rússia (é interessante notar que, mesmo não sendo parte da

OMC, a Rússia aceitou colocar na pauta os principais temas da Rodada Doha), começou

com uma proposta de Tony Blair de incluir China, Índia, Brasil, África do Sul e México no

G-8, formando assim o G-13. Embora tal proposta ainda não tenha sido discutida

suficientemente, mesmo que não se concretize, a proposta já retrata uma ascensão de

importância de países subdesenvolvidos no Sistema Internacional. Tal cenário favorável

aos países em desenvolvimento não foi suficiente para amenizar as críticas dos membros do

G-20. Se referindo aos principais pólos negociadores, Celso Amorim, por exemplo,

afirmou que “O triângulo não é eqüilátero, os países têm de fazer esforços proporcionais a

seus tamanhos, do contrário não é uma rodada de desenvolvimento. É socialmente injusto e

economicamente irrealista esperar que cada nação faça um esforço igual”414. Este era o tom

antes da reunião, já tornando previsível um novo fracasso e, consequentemente, o não

cumprimento do prazo de julho.

Na reunião, o presidente Lula afirmou aos membros do G-8 que “Estou disposto a

instruir meu ministro responsável pelas negociações (o chanceler Celso Amorim) para que

mostre a necessária flexibilidade, com o objetivo de conseguir um resultado ambicioso e

equilibrado na Rodada de Doha... Não espero menos dos meus colegas reunidos aqui”415.

Além disso, Lula cobrou do presidente francês, afirmando que “Continuo otimista de que o

presidente Chirac vai ceder um pouco” e conclui dizendo que “Não é uma crise técnica. É

uma crise política. É uma crise de falta de liderança”416. Esta foi apenas uma das várias

trocas de acusações que Chirac e Lula fizeram. Chirac chegou a afirmar que “O presidente

Lula pensa da seguinte forma: o que é meu é meu; e o que é dos demais é negociável”417.

414 CANÕNICO, Marco A. EUA devem fazer esforço por Doha, diz Amorim. Data: 15/07/2006. Folha de São Paulo. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=244134. Acesso no dia 31/07/2006 415 GAZETA MERCANTIL. Lula propõe flexibilidade para Doha. Data: 18/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=244883. Acesso no dia 31/07/2006 416 JUNGBLUT, Cristiane. Lula critica resistência francesa a fim de subsídio. O Globo. Data: 18/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=244766 n Acesso no dia 31/07/2006 417 CHADE, Jamil; MARIN, Denise C. Chirac critica Lula por falta de flexibilidade. Data: 18/07/2006. O Estado de São Paulo. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=244851 Acesso no dia 31/07/2006

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Esta era apenas uma das várias contentas que Lamy tinha que solucionar para destravar as

negociações.

A reunião do G-8 e seus convidados estipulou um novo prazo para a elaboração de

um consenso, algo próximo de um mês. Assim, Lamy teria até dia 17 de Agosto para

solucionar todos os impasses da Rodada, trabalho extremamente complexo. Além disso, o

dia 31 de julho fora estimulado como alvo para apresentação de um pré-acordo. Tal

iniciativa demonstra a intenção dos atores de conseguir avançar nas negociações. Contudo,

tal proposta carecia de certo grau de realismo uma vez que ninguém aparenta estar disposto

a fazer novas concessões. Representantes brasileiros chegaram a dizer que a decisão foi um

“passo importante” para as negociações, mas segundo o jornal O Globo, “A delegação

brasileira, contudo, foi surpreendida com a inclusão do prazo no documento do G-8”418. A

respeito desta proposta, José Manuel Barroso, presidente da Comissão Européia, afirmou

que “This is not the forum for negotiating the Doha round … But if the G8 leaders cannot

take the lead, who will do it?”419

. Segundo representantes do G-8, tal prazo deverá ser

obedecido para ser possível a conclusão da Rodada ainda este ano420.

O presidente Lula também se encontrou a sós com o presidente Bush na Rússia.

Bush afirmou que “Estamos comprometidos com o sucesso da Rodada Doha. Para ela ter

sucesso, EUA e Brasil devem continuar sendo estratégicos”. Lula respondeu afirmando que

“ ..estou convencido de que é o momento de tomarmos decisões políticas, quaisquer que

sejam. Não podemos mais deixar apenas nas mãos de nossos negociadores. Eles já fizeram

um trabalho enorme, mas agora parece que não têm mais nenhuma carta escondida no

bolso. Agora, nós é que devemos tirar as cartas de nossos bolsos”421

418 JUNGBLUT, Cristiane. G-8 fixa prazo de um mês para avanços na OMC. Data: 17/07/2006. O Globo. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=244515 Acesso no dia 31/07/2006 419 DOMBEY, Daniel. One-month deadline set for trade talks. Data: 17/07/2006. Reino Unido - Financial Times. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=244628 Acesso no dia 31/07/2006 420 THE WALL STREET JOURNAL. G8 Urges Completion Of Doha Trade Talks By End-2006. Data: 17/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=244598 Acesso no dia 31/07/2006 421 FOLHA DE SÃO PAULO. Chegou a hora de tirarmos as cartas dos nossos bolsos, afirma presidente a Bush. Data: 18/07/2006 Disponível em

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A proposta do presidente Lula de elaborar uma reunião de chefe de Estados nem ao

menos fora discutida na reunião do G-8. O grupo também chegou a uma resolução

superficial sobre os recentes acontecimentos no Líbano (o que permitiu maiores esforços na

área comercial), afirmando apenas que Israel deveria moderar suas ações e cobrou a

libertação dos soldados israelenses ao Hezbollah. Também ficou acordado informalmente

que o G-6 se reuniria mais duas vezes este mês, sendo o primeiro encontro nos dias 23 e 24

e o segundo nos dias 28 e 29.

Em suma, o encontro do G-8 na Rússia não teve nenhum avanço significativo na

área de negociações comerciais. A única decisão consensual foi a nova meta para agosto.

Tal cenário não contribuiu para a redução de troca de acusações. A estratégia era acusar uns

aos outros. A estratégia norte-americana, por exemplo, foi disparar frases de efeito para se

redimir de qualquer culpa caso as negociações fracassem. Jason Hafemeister, um dos

principais negociadores dos Estados Unidos para temas agrícolas, afirmou que “Não há

limites para nossa ambição e estamos prontos para reduzir a zero (nossos subsídios) ... Mas

isso só será possível se outros países derem sua contribuição”422. Já Brasil e União

Européia decidiram depositar toda a culpa nos Estados Unidos. Celso Amorim, por

exemplo, afirmou que “Não vou cair na tentação de buscar culpados, mas devo reconhecer

que a área em que estávamos mais atrasados era claramente o respaldo doméstico”423,

claramente se referindo aos subsídios agrícolas norte-americanos. A utilização da retórica

parece ser instrumento corriqueiro, principalmente para os países que estão prestes a

enfrentar novo processo eleitoral.

Este cenário conturbado marcou a reunião do G-6 nos dias 23 e 24 de julho. Antes

da reunião Susan Schwab, por exemplo, foi aconselhada pelo Senado a “não oferecer corte

maior nas subvenções enquanto a União Européia não melhorar substancialmente sua oferta

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=244761 Acesso no dia 31/07/2006 422 BALTHAZAR, Ricardo. Ambição americana não tem limites, diz negociador agrícola. Valor Econômico. Data: 19/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=245069 Acesso no dia 31/07/2006 423 OLIVEIRA, Eliane. fracasso na OMC é culpa dos EUA. O Globo. Data: 25/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=246849 Acesso no dia 31/07/2006

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de redução nas tarifas agrícolas”424. Mariann Fischer Boel, representante agrícola da União

Européia respondeu que “It is difficult to imagine that we can continue coming here without

anything happening”425. O resultado foi negativo, como já era de se esperar, reflexo do

posicionamento inflexível dos principais atores. Já no primeiro dia de negociação ficou

evidente que um consenso estava longe de ser alcançado. “Estamos em dificuldades”426,

afirmou Lamy. “A rodada está entre a UTI e o crematório”427, completou Kamal Nath. No

segundo dia Nath foi um dos que deram a notícia: “The WTO negotiations are suspended”,

e quando por quanto tempo, respondeu que “Anywhere from months to years”428.

Todos os principais jornais publicaram o fracasso da Rodada Doha. O jornal

argentino Clarín publicou que “Nuevo fracaso de una reunión de la OMC golpea al

comercio argentino”, o norte-americano The New York Times que “World Trade Talks

Collapse”, o brasileiro Valor Econômico que “Fiasco de Doha frustra o Brasil”. O The

Washington Post afirmara que “Global Trade Talks Collapse Over Farm Aid”, o The Wall

Street Journal chamou os acontecimentos de “Trade Nightmare”, o jornal francês Les

Echos afirmou que “L'échec de l'OMC reporte sine die la libéralisation du commerce”, o

britânico Financial Times afirmou que “A deal doomed from the beginning”, e o indiano

The Financial Express que “US rigidity cost WTO talks”, entre outros.

Após declarada a suspensão das negociações, o jornal The Wall Street Journal

publicou que o Brasil espera “an increasing number of developing nations to open up

dispute settlement panels in the World Trade Organization following Monday's temporary

shut down of the Doha trade talks”429. O Brasil é visto como exemplo bem sucedido na

424 MOREIRA, Assis. Especulações marcam reunião da OMC. Valor Econômico. Data: 21/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=245899 Acesso no dia 31/07/2006 425 AGÊNCIA BBC. New bid to salvage WTO trade deal. Reino Unido. Data: 23/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=246428. Acesso no dia 31/07/2006 426 JORNAL DE BRASILIA. Fracasso na Rodada de Doha. Data: 25/07/2006. Crédito: Folhapress. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=247001. Acesso no dia 31/07/2006 427 Idem 428 THE NEW YORK TIMES. Trade Power Talks Collapse. Data: 24/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=246680. Acesso no dia 31/07/2006 429 THE WALL STREET JOURNAL. Brazil Sees Trade Disputes Replace Doha Round -Report. Data: 26/07/2006. Disponível em

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utilização do mecanismo de solução de controvérsia da OMC. A este respeito, Pascal Lamy

afirmou que a OMC corre o risco de se tornar um corpo jurídico que determina conduto

baseada em certas normas de comércio em detrimento de negociações entre membros tais

como a Rodada Doha430. O motivo para isso é a tendência generalizada de sempre esperar

concessões do outro sem estar disposto a conceder. Contudo, Lamy não desistiu e continua

articulando a retomada das negociações. “You can count on me to do everything I can to

keep up the pressure for the political movement which would permit a resumption of the

negotiations”431, disse ele. Schwab também está empenhada na retomada das negociações,

se aproximando do Brasil e Inglaterra para conseguir apoio. “The Doha round obviously is

in serious trouble, but it isn't dead yet. The U.S. has no intention of killing the Doha round

or burying it before its time … The point is to go beyond finger-pointing and

blamesmanship”432, disse ela.

A Rodada Doha foi suspensa por tempo indeterminado. O prazo de Agosto

recomendado pelo G-8 provavelmente será ignorado. Contudo, pelo que tudo indica, as

negociações não acabaram. A prorrogação dos prazos de negociação parece ser

absolutamente comum num processo de negociação tão complexo e com tantos interesses

em jogo. A Rodada do Uruguai, por exemplo, demorou cerca de 10 anos para ser concluída.

Além disso, as eleições que se aproximam tornam as demandas dos grupos de interesse

mais próximas da ação dos negociadores, tornando os posicionamentos mais inflexíveis.

A preocupação com o “fast track” é importante, mas não é apocalíptica como vimos

em artigos anteriores. Se o acordo for enviado até o primeiro trimestre de 2007 haverá

tempo suficiente para enviá-lo para o Congresso ainda sobre os benefícios do “fast-track”.

Resta saber qual impacto as eleições terão nesta dinâmica.

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=247410. Acesso no dia 31/07/2006 430 Idem 431 THE WASHINGTON POST. Lamy promises to press for WTO talks re-start. Data: 28/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=248232. Acesso no dia 31/07/2006 432 THE WALL STREET JOURNAL. USTR Schwab Says US Won't Give Up On Doha Trade Round. Data: 27/07/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=247829. Acesso no dia 31/07/2006

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Em suma, o mês de julho foi repleto de trocas de acusações e fracassos. Esta

dinâmica tem sido constantes nestes últimos meses. Isso porque as negociações não

avançaram em nenhum sentido e, para prestar contas aos grupos de interesse domésticos,

parece ser preciso achar um culpado. Assim, o Brasil acusa os Estados Unidos, e este acusa

a União Européia que responde acusando os Estados Unidos. A lógica do jogo de soma

zero parece ter prevalecido sobre a lógica do jogo de soma positiva, tornando o alvo da

Rodada Doha cada vez mais difícil de ser alcançado, como vimos este mês. Em um cenário

onde todas as concessões são consideradas insignificantes e onde a expectativa de todos é

conseguir altos benefícios, torna-se evidente a construção de um impasse. A estrutura das

negociações parece contribuir para isso, a não ser que algum dos principais negociadores

resolva romper com esta lógica. Até agora ninguém pretende assumir este papel. Os

Estados Unidos que, teoricamente, teriam condições de assumir este papel, até agora, não

parece estar disposto. O editorial do jornal Washington Post do dia 07 de julho deixa isso

claro ao afirmar que “The Bush administration faces a dilemma in the wake of last

weekend's breakdown of world trade talks. It can allow the hope of freer trade to die,

comforting itself that this failure is due mainly to the intransigence of the European farm

lobby and to grandstanding by developing countries, foremost among them India.

Alternatively, the administration can make one last effort to resuscitate the talks by making

a more generous offer to cut U.S. farm subsidies”433.

Resenha 31 – AGOSTO de 2006

Rodada Doha: lamentação e avaliação do impasse

Filipe Mendonça Thiago Lima

Como mostramos no último artigo, a Rodada Doha foi paralisada por tempo

indeterminado pelo direto geral da OMC, Pascal Lamy, devido à impossibilidade de

avanços registrada nas reuniões do G-8 e seus convidados, na Rússia, e do G-6 em

433 WASHINGTON POST. Resuscitating Trade: U.S. leadership is required.Friday, July 7, 2006; Page A16 Disponível em http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2006/07/06/AR2006070601482.html. Acesso no dia 31/07/2006

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Genebra. As posições dos principais atores – Estados Unidos, União Européia, Japão,

Brasil, Índia (G-20) e Austrália – eram inflexíveis, o que acabou por bloquear as

negociações. Nesse mês, as atividades concentraram-se na lamentação e na avaliação do

impasse. Ao final do mês, as notícias da grande imprensa sobre a Rodada Doha foram

bastante reduzidas, enquanto as notícias sobre acordos regionais e bilaterais aumentaram.

Esse pode ser um indício temido pelos defensores do sistema multilateral, isto é, a

destruição do arranjo multilateral pela proliferação de acordos de nível mais baixo.

Em julho, Brasil e União Européia colocaram a culpa nos Estados Unidos pela

paralisação da Rodada. Mas, logo no começo de agosto Celso Amorim, Ministro brasileiro

de Relações Exteriores, e Susan Schwab, chefe do United States Trade Representative

(USTR), se apresentavam como parceiros para a retomada da Rodada. Após reunião entre

os dois representantes no Rio de Janeiro, Schwab afirmou que “Brazil and the US are

leaders in this effort to help revive the Doha round, and we see our meeting today as the

beginning of a process that we hope our colleagues from other countries will also

support”434. Mariann Fischer Bohel, Comissária da União Européia para Agricultura, foi

cética ao comentar a posição conjunta de Brasil e Estados Unidos após a reunião: “Quero

ver onde está o conteúdo nisso antes de tomar novos passos. Para ser sincera, não espero

ver muitas oportunidades no futuro próximo”435.

Peter Sutherland, ex-diretor geral do GATT e da OMC, atualmente chairman da

Goldman Sachs International, questiona uma formulação amplamente defendida pelos

países em desenvolvimento e algumas ONGs de que ‘não fechar um acordo é melhor que

um acordo ruim’. Para Sutherland, a história das rodadas demonstra que é impossível

chegar a resultados perfeitos, mas que isso não impediu que avanços fossem obtidos e

Rodadas fossem concluídas. Para ele, os avanços obtidos até agora configuram algo que

caminha para um ‘bom’ resultado e que deveria ser aceito. Os pontos que compõem os

resultados positivos até o momento, assim como campos para avanço estão, grosso modo,

abaixo:

434 FINANCIAL TIMES. US and Brazil revive hope for Doha deal. Data: 01/08/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=7755&step=3. Acesso em 30/08/06. 435 O ESTADO DE S. PAULO. UE só corta subsídios após 2013. Data: 04/08/2006. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=7784&step=3. Acesso em 30/08/06.

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• Eliminação de subsídios à exportação e disciplinamento de subsídios

domésticos distorcivos até 2013.

• Disposição de Estados Unidos e União Européia de consolidar reformas nos

programas de subsídios agrícolas na OMC, o que daria permanência a essas

reformas.

• Maior acesso a mercados agrícolas pelo corte de tarifas. No caso de produtos

sensíveis, ampliação de cotas. Nesse item, a União Européia precisa tornar sua

oferta mais atrativa.

• Maior acesso a mercados de manufaturas pela aplicação da “fórmula suíça”,

que elimina os picos tarifários. O coeficiente de redução precisa ser acordado.

• Tratamento Especial e Diferenciado concedido aos países em

desenvolvimento deve ser mantido, a despeito da resistência dos países

desenvolvidos.

• Embora Brasil, Índia e outros países emergentes devessem oferecer reduções

maiores, eles estão dispostos a reduzir e, mais importante, consolidar (bound),

o nível atual de suas tarifas na OMC. Isso impediria aumento posterior nas

tarifas.

• Acordo de facilitação comercial, basicamente referente à harmonização de

procedimentos das operações comerciais. É um tema bastante avançado e onde

as divergências são superáveis.

Sutherland afirma ainda que não reconhecer o avanço que esses pontos representam

acabam por prejudicar avanços em serviços, tema de crescente importância. Um outro

ponto que fortaleceria o argumento do autor é a ajuda para trade capacity building,

prometida pelos países ricos aos pobres, para criar infra-estrutura e treinar pessoal para

realizar as operações do comércio internacional. Em conclusão, para ele, “Good should be

acceptable. Perfect is out of reach”436.

Joseph Stigltiz, prêmio nobel de economia em 2001 e ex-economista chefe do

Banco Mundial, demonstra opinião diferente de Sutherland. Stiglitz, em artigo de tom

436 SUTHERLAND, Peter. The Doha Débâcle. The Wall Street Journal. Data: 02/08/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=7767&step=3. Acesso em 30/08/06.

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pesado, afirma que Estados Unidos e União Européia choram ‘lágrimas de crocodilo’ pelo

fracasso recente. Seus compromissos eleitorais desencorajam as reformas agrícolas, mas,

mais grave que isso, é o desprezo pelo proclamado objetivo de desenvolvimento atribuído à

Rodada em seu lançamento. Stiglitz argumenta que as negociações de Doha seriam

oportunidade de redenção para os resultados injustos da Rodada Uruguai, que acabaram

diminuindo as oportunidades de desenvolvimento dos países pobres, mas que os governos

norte-americano e europeu procuram dissipar as promessas feitas. O principal alvo de

Stiglitz são os Estados Unidos. Nesse sentido, o autor é enfático ao afirmar que

“Developing countries cannot, and should not, open up their markets fully to the US'

agricultural goods unless US subsidies are fully eliminated”. Critica também a proliferação

de acordos bilaterais e regionais, o que qualifica como uma “divide-and-conquer strategy

[that] undermines the multilateral trade system, which is based on the principle of non-

discrimination”. E conclui dizendo que “the multilateral trade system is too precious to

allow it to be destroyed by a US president who has repeatedly shown his contempt for

global democracy and multi-lateralism”.437

Amorim é claro em demonstrar que o obtido até agora não é bom: “seríamos

obrigados a fazer concessões de qualquer maneira nas áreas industrial e de serviços. O que

os EUA ofereceram de cortes nos subsídios domésticos e o que a União Européia propôs

em abertura de mercado agrícola não são suficientes”438. O ministro destacou ainda que

“deve ser considerada a preocupação do setor industrial brasileiro de pagar o preço da

abertura agrícola”. Este setor é mais agressivo na demanda por acordos de livre-comércio

multilaterais, regionais ou bilaterais, enquanto aquele normalmente possui função maior de

moeda de troca. Sobre o TPA, mecanismo pelo qual o Congresso norte-americano autoriza

o Executivo a negociar a Rodada Doha, o chanceler brasileiro afirmou que o “Mesmo se

chegarmos a janeiro ou fevereiro de 2007 com o acordo final fechado, não haverá tempo

suficiente para aprovar a rodada no Congresso americano até que o atual TPA expire, em

437 STIGLITZ, Joseph. Reasons behind the demise of the Doha development roud. Taipei Times. Data: 15/08/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=7878&step=3. Acesso em 30/08/06. 438 O ESTADO DE S. PAULO. G-20 pode trazer de volta negociações da Rodada Doha. Data: 02/08/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=7763&step=3. Acesso em 303/08/06

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julho de 2007. Mas se houver um forte avanço na Rodada Doha até lá, Congresso tenderá a

prorrogar”439.

Amorim planeja realizar reunião do G-20, entre 9 e 10 de setembro no Rio de Janeiro,

para tentar reavivar a Rodada Doha. Kamal Nath e Jorge Taiana, seus contrapartes da Índia

e Argentina, respectivamente, apóiam a reunião. Pascal Lamy, diretor geral da OMC,

afirmou que a reunião do G-20 pode ser uma pressão extra para o retorno das negociações,

mas que pode estar sendo planejada muito cedo. Os representantes comerciais de Estados

Unidos e União Européia estarão presentes na reunião, inicialmente prevista para ser um

encontro do G-20. Na opinião da União Européia, a reunião não terá fôlego para criar

avanços, mas simplesmente para avaliar o estado atual da paralisação.440

A Austrália também procura liderar esforços para fazer os países voltarem à

negociação com perspectiva de êxito. Mark Vaile, Ministro do Comércio australiano,

promoverá reunião com cerca de 50 ministros na Austrália e aposta que “Se conseguirmos

uma posição americana mais flexível, conseguiremos que os europeus também se

movam”441. Para tanto, a Austrália apresentará uma proposta na qual demanda que os

Estados Unidos reduzam em US$ 5 bilhões seus subsídios e que a União Européia corte em

56% suas tarifas.

Para o Itamaraty, essa proposta não deve ter sucesso, pois a redução de US$ 5 bilhões

de subsídios norte-americanos é considerada muito aquém do desejado pelo Brasil e o corte

de 56% nas tarifas seria muito alto para a França442. Outro fato que reduz as expectativas do

encontro proposto pela Austrália é que Mariann Fischer Bohel e de Peter Mandelson,

Comissários da União Européia para Agricultura e Comércio, respectivamente, recusaram

participar dele. Segundo Bohel, “To be honest, I do not expect to see such an opportunity

(for a resumption of talks) in the near future”443. Os Comissários têm afirmado que

esperam o retorno das negociações em 5 ou 8 meses.

439 O ESTADO DE S. PAULO. G-20 pode trazer de volta negociações da Rodada Doha. Data: 02/08/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=7763&step=3. Acesso em 303/08/06. 440 THE WALL STREET JOURNAL. EU: Revival of Doha Trade talks at Min´s meeting unlike. Data: 28/08/2006. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=8128&step=3. Acesso em 30/08/06. 441 O ESTADO DE S. PAULO. Doha não é só problema do G-20, diz Lamy. Data: 03/08/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=7777&step=3. Acesso em 30/08/06. 442 Idem. 443 GOOGLE NEWS. Doha Revival not in near future. Data: 04/08/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=7786&step=3. Acesso em 30/08/06.

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Apesar da paralisação da Rodada Doha e do anúncio de iniciativas regionais,

Mandelson reitera que é o sucesso das negociações multilaterais e o fortalecimento da

OMC seguem sendo objetivos centrais da União Européia. Segundo o Comissário, “Europa

deberá estudiar la posibilidad de concluir acuerdos comerciales regionales. Pero esas

iniciativas no pueden reemplazar Doha o el sistema multilateral: son complementarias”444,

Amorim também destacou a centralidade da OMC. “Para um país como o Brasil, a

manutenção do sistema multilateral de comércio é muito importante. Não existe alternativa

à OMC. Se a OMC não der certo será gravíssimo (...) As alternativas regionais cobram

muito mais do que na OMC, mas oferecem muito menos”445. As palavras de Amorim

denotam, num plano mais abstrato, o entendimento de que as assimetrias de poder,

desfavoráveis ao Brasil, são maiores quando em negociação regional ou bilateral, seja com

os Estados Unidos ou com a União Européia, do que quando diluídas no âmbito global.

Num plano mais prático, o chanceler justificou que “Nas negociações bilaterais é preciso

ter algo a mais, caso contrário não vale a pena, porque mais tarde a mesma oferta é feita

para todos os países na OMC e o Brasil, além de não ter vantagem, perde sua moeda de

troca”446. Os Estados Unidos, da mesma maneira, afirmam a importância da OMC e da

Rodada Doha. Para o presidente Bush, “This is a once-in-a-lifetime opportunity to jump-

start global trade and create opportunities around the world”447

No dia 07 de agosto os Estados Unidos anunciaram a revisão do Sistema Geral de

Preferências (SGP), o qual concede, unilateralmente, isenção tarifária para produtos

provenientes de países em desenvolvimento. Segundo Stephen Norton, porta-voz do USTR,

“Esta revisión no debe interpretarse de ninguna manera como una medida punitiva, sino

como parte de una amplia revisión del Sistema Generalizado de Preferencias que

iniciamos hace diez meses”448. Nesta revisão, treze países perderiam benefícios –

Argentina, Brasil, Venezuela, Índia, Croácia, Indonésia, Casaquistão, Filipinas, Romênia,

Rússia, África do Sul, Tailândia e Turquia - que seriam alocados entre países mais pobres. 444 EFE. Un acuerdo de la Ronda de Doha sigue siendo la prioridade de la UE. Unionradio.net. Data: 04/08/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=7787&step=3. Acesso em 30/08/06. 445 FOLHA DE SÃO PAULO. Fracasso de Doha ameaça multilateralismo, diz Amorim. Data: 03/08/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=7776&step=3. Acesso em 30/08/06. 446 Idem 447 THE WALL STREET JOURNAL. US will do ‘everything we can’ to revive Doha talks. Data: 01/08/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=7756&step=3. Acesso em 30/08/06. 448 EL TIEMPO. Estados Unidos analiza suspender benefícios comerciales a 13 países. Data: 08/08/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=7808&step=3. Acesso em 30/08/06.

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Mas, segundo o The Wall Street Journal, essa ‘revisão’ é na verdade a estratégia dos

Estados Unidos, que consiste em “amenazar con cancelar los acuerdos especiales que tiene

con algunos grandes países en desarrollo”, para que cedam na Rodada Doha. Nessa

direção, o Senador Grassley afirmou que “Quiero asegurarme de que vean los beneficios

del GSP si no van a cooperar en los esfuerzos para Doha”449. Os países ameaçados de

perder os benéficos acompanham a evolução dessa revisão com tensão.

Estados Unidos procuraram apoio da China para revitalizar a Rodada Doha, mas após

reunião entre Susan Schwab e seu contra-parte, Bo Xilai, o chinês não firmou nenhum

compromisso450. Evitar entrar em contendas e negociações complexas, aliás, tem sido um

posicionamento padrão da China, apesar desse país ser a terceira maior economia

exportadora do mundo. Num argumento evasivo, Xilai disse estar disposto a ajudar, mas

“The developed members of the World Trade Organization should act first by making

substantial contributions”451

Enfim, o mês de agosto foi um período de lamentação e avaliação da paralisação da

Rodada Doha. Não se sabe quando, nem se, as negociações serão efetivamente tomadas.

Em nossa opinião, esse é um momento difícil, mas não parece significar o fim completo da

Rodada. Os compromissos domésticos de alguns atores importantes são causas de boa parte

da inflexibilidade. Assim, é provável que as negociações sejam retomadas no primeiro

semestre do ano que vem, após eleições e posses, como vêm prevendo os principais atores.

Fica a expectativa do que será produzido no mês de setembro.

Artigo produzido a partir do monitoramento da Rodada Doha, realizado no âmbito do

projeto temático “Reestruturação econômica mundial e reformas liberalizantes nos países

em desenvolvimento”, apoiado pela FAPESP, desenvolvido pela parceria CEDEC-

UNICAMP, e coordenado por Sebastião Velasco e Cruz.

Filipe Mendonça é graduando em Relações Internacionais pelo UNIBERO, bolsista de IC pela FAPESP e assistente de pesquisa do CEDEC. 449 THE WALL STREET JOURNAL. Estados Unidos endurece sus tácticas para revivir la Ronda de Doha. Data: 21/08/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=7955&step=3. Acesso em 30/08/06. 450 CBS NEWS. US trade envoy Susan Schwab presses China for help restarting WTO talks. Data: 28/08/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=8073&step=3. Acesso em 30/08/06. 451 YAHOO NEWS. China offers to help revive WTO talks wants rich countries to act 1st. Data: 29/08/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=8103&step=3. Acesso em 30/08/06.

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Thiago Lima é mestrando em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisador júnior do CEDEC

Resenha 32 – SETEMBRO de 2006

Rodada Doha: a agricultura no centro

Thiago Lima Filipe Mendonça

Em mais um mês de paralisação nas negociações da Rodada Doha, diversas

reuniões ocorreram para reafirmar a importância de concluir positivamente a Rodada. Os

principais eventos foram a reunião do G-20 e países desenvolvidos no Rio de Janeiro e o

encontro do Grupo de Cairns, na Austrália.

Em relatório da UNCTAD (Conferência da ONU para o Comércio e

Desenvolvimento), divulgado em 31 de agosto, argumenta-se que o protecionismo tarifário

e subsídios temporários são úteis para impulsionarem setores inovadores e indústrias

nascentes de países em desenvolvimento. O relatório faz críticas às regras da OMC e

reforça a idéia de que se a Rodada Doha busca ser a rodada do desenvolvimento, a abertura

dos países em desenvolvimento não pode ser tão abrangente quanto solicitam os países

desenvolvidos452.

Conforme mencionamos na resenha anterior, o G-20, grupo de países em

desenvolvimento com interesse na liberalização agrícola, liderado por Brasil e Índia,

agendou uma reunião no Rio de Janeiro, nos dias 9 e 10 de setembro, da qual também

participariam a União Européia (UE), os Estados Unidos e o Japão. Antes da reunião, Celso

Amorim, ministro brasileiro de relações exteriores, anunciou que objetivo da seria

demonstrar aos EUA, UE e Japão que a Rodada Doha é fundamental para o

452 O Estado de S. Paulo. Defesa de protecionismo e ataques à OMC. Data: 01/09/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=8181&step=3, acesso em 10/09/06.

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desenvolvimento das economias dos países pobres e que o G-20 está unido. Retomar as

negociações não seria intuito da reunião453.

De fato, alguns movimentos realizados na primeira semana de setembro nos EUA e

na UE diminuem expectativas sobre a liberalização agrícola, sem a qual um desfecho

positivo da Rodada Doha é impossível. A Corte Européia, após solicitação da Espanha,

suspendeu as já adotadas reduções dos subsídios ao algodão e senadores norte-americanos

solicitaram aumento de US$ 6 bilhões de subsídios para aliviar os prejuízos causados pela

seca que atinge o país. A administração Bush se posicionou contra a solicitação dos

senadores454.

Após a reunião do Rio de Janeiro, a primeira grande reunião realizada desde a

paralisação em julho, Pascal Lamy, diretor-geral da OMC, afirmou que março de 2007 é o

prazo máximo para a retomada das negociações455. Segundo ele, “Todos os membros

responderam que 'sim', querem a retomada da rodada e sua conclusão com êxito. Todos

estão cientes do que o fracasso pode provocar surtos protecionistas aqui e acolá”456. Lamy

destacou ainda que sem progressos na Rodada, dificilmente a administração Bush terá

argumentos para conseguir a prorrogação da TPA, autorização concedida pelo Congresso

ao Executivo para negociar comércio internacional. Apesar das respostas positivas ao apelo

de Lamy, as perspectivas não são animadoras. Amorim salientou a importância de sucesso

de Doha argumentando que “It's not just trade that's at stake, but the whole world order”.

Para o ministro, o colapso da Rodada contribuiria para o aumento de mazelas que

prejudicam a ordem internacional, como tráfico de drogas, terrorismo, contrabando nuclear

e crime organizado457.

Na reunião, o G-20 reafirmou que a agricultura é um tema central para os países em

desenvolvimento. Segundo o grupo, “Most of the world's poor make their living out of

agriculture. Their livelihood and standards of living are seriously jeopardized by subsidies

453 O Estado de S. Paulo. Reunião no Rio tenta reativar Doha. Data: 04/09/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=8201&step=3, acesso em 10/09/06. 454 O Estado de S. Paulo. Estados Unidos e Europa ameaçam frustrar negociações do G-20 no Rio. Data: 08/09/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=8254&step=3, acesso em 30/09/06. 455 O Estado de S. Paulo. OMC fixa março como data limite para países retomarem Doha. Data: 11/09/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=8269&step=3, acesso em 30/09/06. 456 Idem. 457 The Wall Street Journal. G20 trade mins look for breakthrough on stalled talks. Data 11/09/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=8270&step=3, acesso em 30/09/06.

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197

and market-access barriers prevailing in international agricultural trade”458. O grupo

afirmou também que os países em desenvolvimento não vão recuar de suas demandas por

liberalização agrícola.

Apesar da retórica sobre a ‘necessidade’ de sucesso em Doha, os representantes dos

EUA e da UE continuaram a trocar farpas sobre suas ofertas e demandas agrícolas. Peter

Mandelson, comissário da UE para comércio internacional, apontou a política doméstica

norte-americana como a principal barreira para avanços na agricultura: “Para ser honesto,

parece óbvio que os agricultores têm votos e assinam cheques para a campanha”. Disse

ainda, sobre as eleições legislativas de novembro nos EUA, que “Seria surpreendente que

qualquer partido, Democrata ou Republicano, se comportasse de maneira que não levasse

em consideração esse fator político. Quando se entra em período eleitoral, as pessoas ficam

mais avessas ao risco. Isso é óbvio nos Estados Unidos e em qualquer lugar democrático do

mundo”459. Evidentemente, a afirmação de Mandelson é também o reconhecimento de que

a política doméstica da UE é um grande entrave a concessões agrícolas pelo peso eleitoral

de populações rurais.

Em setembro, algumas reuniões realizadas na região da Ásia-Pacífico, região de

maior dinamismo econômico mundial, emitiram os tradicionais alertas sobre a Rodada

Doha. Ministros de finanças de membros da APEC (Asia-Pacific Economic Cooperation),

que congrega países do Pacífico como EUA, Japão, Canadá e China, se reuniram em Hanói

nos dias 07 e 08 de setembro para discutir diversos assuntos financeiros e reafirmaram a

importância de retomar a Rodada Doha460. Os presidentes do FMI e do Banco Mundial,

também líderes financeiros, reafirmaram a importância da Rodada Doha e solicitaram

esforços para que o desfecho seja positivo461. Os países membros da ASEAN (Association

of South-East Asian Nations) também se reuniram e afirmaram que “Asean believes that

WTO members must put the process back on track before the end of 2006, and recognise

458 Idem. 459 O Estado de S. Paulo. OMC fixa março como data limite para países retomarem Doha. Data: 11/09/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=8269&step=3, acesso em 30/09/06. 460 The Wall Street Journal. APEC trade ministers discuss reviving WTO negotiations. EUA. Data: 08/09/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=8256&step=3, acesso em 10/09/06. 461 The Wall Street Journal. World finance leaders urge revival of global trade talks. EUA. Data: 19/09/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=8352&step=3, acesso em 30/09/06.

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that necessary breakthroughs in critical negotiating areas of agriculture and non-

agriculture market access are needed”462.

A Austrália promoveu, no dia 20 de setembro, um encontro do Grupo de Cairns, que

congrega países interessados na liberalização agrícola, especialmente acesso a mercados.

Os EUA e a UE, que não são membros do grupo, participaram como observadores. A UE,

porém, não foi representada pelo primeiro escalão. A justificativa é que não seria possível

esperar avanços desse encontro, sendo o principal motivo o objetivo intrínseco do Grupo:

liberalizar o comércio agrícola463.

Pascal Lamy participou do encontro e afirmou que é preciso que os negociadores

deixem de se concentrar tanto em aspectos específicos de política doméstica para se

focarem nos resultados maiores da Rodada464. Susan Schwab, chefe do United States Trade

Representative e o representante da UE trocaram os argumentos conhecidos: Os EUA estão

preparados para ceder mais em subsídios se a UE se comprometer a baixar mais suas tarifas

agrícolas. E vice-versa465. A Indonésia e as Filipinas, membros do Grupo de Cairns,

defenderam a manutenção de barreiras a importação de produtos agrícolas considerados

vitais para a agricultura de subsistência praticadas nesses e em outros países. Esse é um

tema delicado para o G-20 e para o próprio Grupo de Cairns, pois a Índia e outros países

defendem uma lista maior de exceções à liberalização do que o Brasil e outros países466.

De todo modo, cresce a perspectiva de que o fracasso da Rodada Doha poderia

dificultar a reforma da política agrícola dos EUA. Isso porque a lei agrícola norte-

americana (Farm Bill) é reeditada de seis em seis anos, sendo que a próxima reedição deve

ocorrer em meados de 2007, quando expira também a TPA. Um dos argumentos da

administração Bush é que os avanços obtidos em agricultura na Rodada Doha poderiam ser

462 Financial Times. ASEAN urges resumption of WTO trade talks. Data: 25/09/06. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=266037, acesso em 30/09/06. 463 El País. La UE no espera avances sobre Doha. Uruguai. Data: 18/09/06. disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=8331&step=3, acesso em 30/09/06. 464 The Washington Post. WTO´s Lamy urges big-picture focus for Doha talks. Data: 20/09/06. Disponível em http://www.sela.org/sela/prensa.asp?id=8362&step=3, acesso em 30/09/06. 465 The New York Times. U.S. pressured to cut farm subsidies. Data: 22/09/06. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=265004, acesso em 30/09/06. 466 The Wall Street Journal. Indonésia, Philippines defend agricultural trade barriers. Data: 22/09/06. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=265209, acesso em 30/09/06.

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incorporados já em 2007, mas, caso a conclusão da Rodada seja retardada, talvez seja

preciso esperar mais seis anos até a próxima reedição para que o acordo seja incorporado à

legislação. Segundo o senador Charles Grassley, presidente do Comitê de Finanças do

Senado, o mais importante para o comércio internacional, se a Rodada Doha falhar, “we

will have a farm bill looking the same way it has looked for the past six years”467.

Como vimos, o mês de setembro colocou o tema agrícola no centro dos debates

sobre a Rodada Doha. Não houve espaço para novas propostas ou flexibilização das

posições, como já era esperado. Isso porque as negociações estão suspensas e os processos

eleitorais de fim de ano, sendo o mais destacado pela grande imprensa o legislativo norte-

americano, efetivamente constrangem os políticos. De todo modo, observamos que os

países realizaram esforços para que a Rodada não caia no esquecimento e surge um

movimento para retomá-la até março de 2007.

Filipe Mendonça é graduando em Relações Internacionais pelo UNIBERO, bolsista de IC pela FAPESP e assistente de pesquisa do CEDEC. Thiago Lima é mestrando em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisador júnior do CEDEC

Resenha 33 – OUTUBRO e NOVEMBRO de 2006

Cenário desfavorável: Rodada Doha cada vez mais distante.

Filipe Mendonça Thiago Lima

No artigo anterior, vimos que o impasse agrícola esteve no centro dos debates sobre

a Rodada Doha. Além disso, identificamos que os processos eleitorais em curso

constrangem os políticos, e ainda não se sabe ao certo o impacto que terão na condução das

467 Financial Times. Doha Collapse threatens U.S. farm reform. Inglaterra. Data: 29/09/06. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=267615, acesso em 30/09/06.

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negociações para a retomada da Rodada. O mês de outubro não apresentou grandes

diferenças, mantendo grande parte dessas tendências. O impasse prossegue principalmente

na agricultura, e os posicionamentos, cada vez mais rígidos, deixam o objetivo da Rodada

cada vez mais longe de ser alcançado. Além disso, houve um acirramento das estratégias

bilaterais e regionais como uma espécie de “plano b” para compensar a impossibilidade de

atingir um consenso em escala global.

A agricultura continuou sendo o principal ponto de impasse. A União Européia,

além do G-20 e outros, esperam maiores concessões norte-americanas no tema, eliminando

as tarifas, cotas, subsídios. Os subsídios da “farm bill” são um dos alvos de críticas

constantes, mas parecem longe de serem eliminados devido a pressão exercida pelo forte

lobby agrícola. “Many within the American farm lobby want the current subsidies extended,

strongly opposing "unilateral disarmament" - reducing or reforming farm subsidies in

anticipation of a future Doha deal”468. Além dos lobbies, outras figuras importantes da

formulação de política comercial norte-americana não parecem estar dispostas a apoiar

reduções maiores nas propostas dos Estados Unidos. Clayton Yeutter e Carla Hills, por

exemplo, dois ex-representantes de comércio (USTR), afirmam que maiores reduções

seriam consideradas medidas unilaterais, o que não seria bom para os Estados Unidos. Para

solucionar isso, esperam que outros atores importantes façam concessões para as

negociações avançarem469. Essa falta de apoio doméstico para reativar as negociações nos

Estados Unidos refletiu no discurso de Susan Schwab, atual representante comercial desse

país. "Calls for the U.S. to go first? Been there. Done that. Bought the T-shirt. Didn't

work”, afirmou Schwab.

Esse ponto parece estar longe de ter uma solução simples, ainda mais após a

divulgação de dados oficiais, tanto nos Estados Unidos quanto na União Européia, do

montante de subsídios agrícolas em 2005. A Comissão Européia, por exemplo, aumentou

em 11% subsídios em 2005. Os Norte-americanos apresentaram aumento ainda maior,

468 BEATTIE, Alan. Plude to protectionism? Washington free traders struggle to hold the line. Reino Unido - Financial Times. 02/10/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=269125. Acesso no dia 01/11/2006 469 Idem

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cerca de 100% entre 2003 e 2005470. Segundo o Ministério de Comércio do Canadá, os

subsídios norte-americanos subiram de US$ 10,2 bilhões em 2003, onde a produção

agrícola foi de US$ 215 bilhões, para US$ 19,6 bilhões em 2005, com produção próxima a

US$ 231 bilhões. Vale lembrar que a proposta dos Estados Unidos para subsídios agrícolas

é a de colocar um teto de US$ 22 bilhões, o que abriria margem para um aumento de US$ 3

bilhões nos subsídios471. “The United States is committed to reaching a new world trade

deal but won't try to revive the talks by being the first to make a new agricultural offer”472,

afirmou Schwab.

Essa proposta é duramente criticada pelos demais atores envolvidos nas

negociações, especialmente o G-20. O Brasil, por exemplo, recorreu à OMC para investigar

o atual estado dos subsídios norte-americanos473. O algodão ganha destaque uma vez que os

Estados Unidos não estão cumprindo suas obrigações como definido no ganho de causa

brasileiro contencioso, fazendo com que o Brasil pedisse a abertura de um novo painel474. O

embargo da União Européia ao frango brasileiro também deve entrar na OMC. Alega-se

que “antigos clientes, que desde o fim do ano passado embargam as compras, usam a

questão sanitária como desculpa para dificultar o ingresso do produto brasileiro e evitar a

concorrência”475, como afirmou Marcus Vinícius Pratini de Moraes, ministro da agricultura

brasileiro.

Essa insatisfação, como a brasileira, de todas as partes envolvidas nas negociações

tem contribuído para a definição de novas estratégias. No caso dos países

470 CHADE, Jamil. Em 2005, UE e EUA aumentaram subsídios. O Estado de São Paulo. 03/10/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=268492. Acesso no dia 01/11/2006 471 Idem 472 PALMER, Doug. U.S. won't move first to save WTO talks: USTR Schwab. EUA - The Washington Post. 04/10/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=268491. Acesso no dia 01/11/2006 473 O ESTADO DE SÃO PAULO. A lei do mais forte no comércio. 01/10/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=267933. Acesso no dia 01/11/2006 474 BALDI, Neila e AGUIAR, Isabel D. Semana decisiva para os contenciosos agrícolas. Gazeta Mercantil - 25/10/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=275231. Acesso no dia 01/11/2006 475 O GLOBO. Febre aftosa vira arma de protecionismo da UE. 01/10/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=275231. Acesso no dia 01/11/2006

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subdesenvolvidos, a insatisfação com a condução das questões comerciais em âmbito

global tem contribuído para uma maior aproximação destes países. Um exemplo disso tem

sido a tentativa de fortalecimento do Mercosul, que passará a atuar em bloco nas

negociações do Sistema Global de Preferências Comerciais, realizadas na UNCTAD

(Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento)476. Outro

exemplo é a aproximação do Mercosul e o Conselho de Cooperação do Golfo realizada em

Riade, capital da Arábia Saudita, nos dias 09 e 10 de outubro, onde se negociou a abertura

de bens, serviços e investimentos477. O desejo de Felipe Calderón, após a confirmação de

sua vitória nas eleições mexicanas, de se aproximar com o Brasil, é outro exemplo.

Calderón diria a Lula que “uma aliança do México com a América do Sul tornará os países

mais fortes para negociarem acordos comerciais com os EUA, inclusive na Rodada de

Doha, que acontece na Organização Mundial do Comércio (OMC)”478.

A estratégia da União Européia tem sido investir em acordos bilaterais. “The EU's

desire to conclude bilateral trade deals with emerging economies is not a knee-jerk Plan B

following the suspension of the Doha round”479 Acordos com o Brasil, como o Mercosul, e

com a Índia têm sido destacados. A definição de cota de 336 mil toneladas para as

exportações de carne e frango brasileira para a União Européia parece ser um exemplo

dessa tendência480. "Se houver vontade política, podemos concluí-la em menos de dois

meses", afirmou Regis Arslanian, do Departamento de Negociações Internacionais do

476 EXMAN, Fernando. Mais facilidades para negociação comercial entre países vizinhos. Jornal do Brasil - 25/10/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=275258. Acesso no dia 01/11/2006 477 AQUINO, Yara. Mercosul e Conselho de Cooperação do Golfo negociam acordo de livre-comércio. Agência Brasil - 15/10/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=271948. Acesso no dia 01/11/2006 478 O GLOBO. México: apoio de Lula para Mercosul. 03/10/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=268616. Acesso no dia 01/11/2006 479 THE GUARDIAN. Consequences of failure in Doha. 13/10/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=271589. Acesso no dia 01/11/2006 480 MOREIRA, Assis. Brasil e UE fecham acordo para carne de frango. Valor Econômico - 27/10/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=275795. Acesso no dia 01/11/2006

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Itamaraty. Com relação a Índia, Peter Mandelson afirmou que “India is a market the EU

has to get closer to before it goes off with another partner”481.

Os Estados Unidos, não diferente, também pensam em novas estratégias. “Doha

clearly is the biggest bang for the buck, and that is where we hope we can make a deal”482

afirmou John Veroneau, representante do USTR. Caso a Rodada Doha “continues to be

stuck, we'll just continue to move forward as aggressively as we can on the bilateral

front''483, concluiu o representante. As negociações de um acordo entre os Estados Unidos é

um exemplo dessa tendência484, além de ser interpretada pelos países do sul como uma

tentativa de enfraquecer o Mercosul.

Estas estratégias que enfatizam negociações no âmbito bilateral sofreram graves

críticas de Pascal Lamy. Segundo ele, “a maioria dos nossos integrantes não tem como

conduzir os dois cavalos. Há um problema de desvio de recursos, devido ao número

limitado de negociadores competentes na superfície deste planeta”485. Em suma, as

negociações comerciais regionais e bilaterais ocorrem em detrimento de esforços globais.

Lamy parece e entender a regionalização como força oposta à globalização.

Além das definições dessas novas estratégias, os processos eleitorais,

principalmente o norte-americano, têm sido esperados com grande expectativa. Serão 435

vagas da Câmara de Representantes dos EUA em disputa, e 33 cadeiras no Senado.

Segundo pesquisas, 54% dos americanos vão votar em Democratas486, o que pode

representar mudanças significativas na condução da política comercial norte-americana

481 MILLER, John W. India, EU Work Toward Trade Pact. EUA - The Wall Street Journal - 13/10/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=271588. Acesso no dia 01/11/2006 482 THE NEW YORK TIMES. U.S. Says Latam Trade Marches on Even if Doha Fails. EUA - The New York Times - 17/10/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=272520. Acesso no dia 01/11/2006 483 Idem 484 ROCHA, Janes. Mercosul aceita acordo Uruguai-EUA, desde que não inclua setores sensíveis. Valor Econômico - 06/10/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=269534520. Acesso no dia 01/11/2006 485 ROCHA, Janes. Para Lamy, acordos bilaterais atrapalham. Gazeta Mercantil- 10/10/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=272932. Acesso no dia 01/11/2006 486 TREVISAN, Leonardo. Tudo igual na política externa? Gazeta Mercantil- 11/10/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=271178 Acesso no dia 01/11/2006

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uma vez que os Democratas possuem uma tendência maior a adotar medidas protecionistas.

Além disso, existe outro fator complicador que vem sendo mencionado continuamente

nesses artigos: A renovação do “fast track”, e as eleições certamente terão um impacto

significativo nessa decisão.

Fred Bergsten, diretor do Institute for International Economics, afirmou que “If you

think of trade policy in cyclically-adjusted terms, the degree of protectionist sentiment we

are sensing while unemployment is below 5 per cent could translate into something really

quite serious if the economy slows down”487. Charles Grassley, líder do Finance

Committee, afirmou que "I think there is a feeling of insecurity, particularly in

manufacturing, when jobs are lost overseas … It is easy to demagogue it and let me assure

you, they are demagoguing it”488

. Susan Schwab, porém, afirmou que “In the same 12

months we haven't passed Schumer-Graham, the Congress has enacted pro-trade laws that

eliminated WTO-inconsistent practices … We don't see the mid-term election having a

fundamental impact . . . you always are worried about the potential for sliding into

economic isolationism, but we have had pretty strong bipartisan support in terms of the

Doha round negotiations”489.

As eleições no Brasil não trouxeram tantas expectativas. A impressão geral era que,

não importa quem ganhasse, a posição do Brasil seria a mesma, embora essa idéia seja

bastante questionável. Pascal Lamy, por exemplo, foi um dos que sustentou essa idéia. “Em

sua avaliação, a posição adotada pelo Brasil é a mesma há décadas e não será nem um

segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou a vitória de Geraldo Alckmin

que modificará o que o Brasil tem defendido nas negociações comerciais”490. Outros,

entretanto, acreditavam que se Geraldo Alckmin fosse eleito, “long-blocked trade

negotiations with the United States will be completed - Under President Luiz Inacio Lula

da Silva, Brazil has led developing countries in challenging U.S. and European negotiators

in trade talks”. 487 BEATTIE, Alan. Plude to protectionism? Washington free traders struggle to hold the line. Reino Unido - Financial Times. 02/10/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=269125. Acesso no dia 01/11/2006 488 Idem 489 Idem 490 O ESTADO DE SÃO PAULO. Para a OMC, tanto faz Lula ou Alckmin. 10/10/2006. Disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=270707 Acesso no dia 01/11/2006

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205

Em suma, fica cada vez mais distante a possibilidade de sucesso nas negociações no

futuro próximo, embora os principais atores costumem afirmar publicamente que estão

dispostos a trabalhar fortemente nesse sentido. Ainda há espaço para um final ambicioso

para a Rodada Doha? A nosso ver, o cenário internacional mudou e conjuntura atual em

nada favorece um final ambicioso. Resta saber qual a profundidade dessa mudança e por

quanto tempo persistira.

Filipe Mendonça é graduando em Relações Internacionais pelo UNIBERO, bolsista de IC pela FAPESP e assistente de pesquisa do CEDEC. Thiago Lima é mestrando em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisador júnior do CEDEC

Resenha 34 – DEZEMBRO de 2006 Parte II - Cenário desfavorável: Rodada Doha cada vez mais distante.

Filipe Mendonça

Thiago Lima

No artigo anterior, vimos que o cenário de comércio internacional se encontra num

período de incertezas, principalmente devido às eleições que ocorreriam nos Estado

Unidos. Concluímos naquela oportunidade que fica cada vez mais distante a possibilidade

de sucesso nas negociações em um futuro próximo, embora os principais atores costumem

afirmar publicamente que estão dispostos a trabalhar fortemente nesse sentido. O impasse

agrícola, a elaboração de propostas não conciliadoras dos principais pólos negociadores, a

ascensão da alternativa bilateral, entre outras coisas, tornam cada vez mais distante a

possibilidade de um final ambicioso para a Rodada. O mês de novembro não foi diferente,

com alguns destaques, como a definição das eleições para o Congresso norte-americano e o

encontro da APEC, completando assim cerca de 5 meses de paralisação das negociações.

Em novembro, as incertezas continuaram, os impasses não deram trégua e

concessões importantes não foram feitas, muito embora Pascal Lamy, diretor geral da

Organização Mundial de Comércio (OMC) não tenha medido esforços para mudar esta

tendência. O mês começou com uma vista de Lamy aos Estados Unidos. A idéia era

elaborar um plano para fazer a negociação voltar aos eixos, mas não teve o efeito esperado

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nos Estados Unidos. Segundo Mike Johanns, Secretário de Agricultura norte-americano,

“just in agriculture, there's a big difference. I just think it would be very, very difficult for

Lamy to put together a text to bridge that kind of gap”491. Além disso, os Estados Unidos

parecem ter voltado atrás, ao negar a cumprir o que já havia prometido, ou seja, redução de

5 bilhões em subsídios492. Estas declarações podem ter um impacto negativo muito grande

na já debilitada Rodada de negociações uma vez que a agricultura é um dos temas mais

sensíveis. O G-20, por exemplo, considera concessões mais ambiciosas dos Estados Unidos

em agricultura de essencial importância para o prosseguimento da Rodada, eliminando as

tarifas, cotas, subsídios.

Para reduzir estes 5 bilhões em subsídios, Washington exige concessões

significativas de outros pólos negociadores. Contudo, “as contrapartidas exigidas por

Washington seriam draconianas. Os europeus teriam de aceitar a redução de 59%, e não

mais de 54%, nas suas tarifas de importação de produtos agrícolas. A Índia e seus

companheiros do G-33 - outro agrupamento de países em desenvolvimento - teriam de

recuar nas exigências para produtos especiais e salvaguardas agrícolas”493. Estas são

políticas que, pelo o que tudo indica, estão longe de serem abandonadas, materializando

ainda mais o já debilitado futuro das negociações.

Assim, a agricultura permanece como um dos assuntos-chave das negociações,

muito embora seu peso no comércio internacional não seja tão significativo em termos

quantitativos, mas muito importante em termos políticos. Por este motivo “the stumbling

block of this negotiation for the moment is agriculture”, afirmou Pascal Lamy. “The three

big players, the US, EU and India, ... haven't found the sort of right balance between the

two elements of the negotiations, which is the removal of trade-distorting subsidies and

increased market access”494, concluiu.

491 DOERING, Christopher e PALMER, Doug. WTO outlook still cloudy after Lamy U.S. visit. The Washington Post, 04/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=278992 492 Idem 493 MARIN, Denise Chrispim. EUA abrem brecha para retomada de Doha. O Estado de São Paulo, 09/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=280357 494 THE HINDUSTAN TIMES. Compromise on agriculture to restart trade talks: WTO chief. 02/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=278292

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Enquanto os Estados Unidos exigem maiores concessões para ceder na agricultura,

os países em desenvolvimento afirmam que mecanismos tais como a “Farm Bill” são

prejudiciais ao comércio internacional. Como vimos no artigo anterior, os subsídios da

“Farm Bill” são um dos alvos de críticas constantes, mas parecem longe de serem

eliminados devido a pressão exercida pelo forte lobby agrícola. Segundo Lamy, “a new

farm bill that leads America's trading partners to conclude Washington is not serious about

agriculture reform would be seriously detrimental to the export interests of millions of U.S.

farmers, but also to the round. Failure to extend the president's ability to negotiate with

those partners would be fatal to it”495.

Além disso, a renovação ou não da TPA, que expira no em julho, é outro

mecanismo institucional de comércio norte-americano que pode ter um impacto

significativo para o futuro das negociações. A este respeito Lamy afirma que “We have only

a few months to rescue these negotiations. The U.S. Congress will consider two pieces of

legislation that will have profound consequences on the Doha talks -- a new farm bill and a

bill to extend or renew the trade negotiating authority that Congress extends to President

Bush”496. A este respeito, especialistas tais como Deborah Solomon e Michael Phillips

acreditam que a renovação da TPA esta mais distante do que nunca, principalmente após a

retomada da maioria democrata no congresso497. “Businesses face the growing threat of

protectionism. Several victorious Democrats campaigned as trade skeptics, arguing that

U.S. manufacturers are being battered unfairly by companies in China and other low-wage

countries with weaker environmental and labor protections”498, afirmam Solomon e

Phillips. Dentro deste cenário, acredita-se que o Executivo norte-americano terá

dificuldades para dar prosseguimento às suas políticas negociadoras (que já não são

consideradas boas pelo G-20 e União Européia) devido à possíveis coações exercidas pelos

democratas no Congresso. Em suma, “It would be going too far to say that the 2006

495 LAMY, Pascal. The Doha Marathon. EUA - The Wall Street Journal 03/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=278542 496 Idem 497 SOLOMON, Deborah e PHILLIPS, Michael. What Business Should Expect In Next Congress. EUA - The Wall Street Journal 09/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=280453 498 idem

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election ushers in a new protectionist consensus. But free trade has definitely left the

building”499.

Outro acontecimento importante deste mês foi a declaração de Gordon Brown,

ministro britânico de finanças, que se uniu a Pascal Lamy em seus esforços rumo a um

consenso. Segundo Brown, “although time is short, I believe that together we can make

progress. Europe should now go considerably beyond its initial offer of a 39 per cent cut in

agricultural tariffs. It even could go beyond the 51 per cent currently mooted. Similarly,

America could and should go beyond a 53 per cent cut in trade-distorting domestic support

for its farmers. Brazil could and should go beyond its pledge to reduce tariffs on industrial

goods, with India responding on services, and all of us contributing to an aid for trade”.

Brown conclui afirmando que “I believe that with support from the business as well as the

political community, Pascal Lamy, Peter Mandelson and Susan Schwab and other

negotiators have the will, commitment and energy to finalise a deal”500. Segundo Pascal

Lamy, “Time is short and the stakes are high […] there comes a time in every negotiation

where the prospect of failure looms. For the Doha round of global trade negotiations, that

time has nearly arrived”501. Em outro momento, Lamy afirma que “The World Trade

Organization and the global trading system which it oversees may not dissolve overnight if

the Doha round fails. But a failure to reach agreement is like an insurance policy not

taken, or an investment not made. Insurance and investments are not free, but saving a bit

in the short term often means paying much more down the line. Like a progressive malady,

a failure in the global trade talks will erode the multilateral trading system that has

underpinned the global economy for nearly 60 years”502

Além de Brown e Lamy, Peter Mandelson, comissário do Comércio da União

Européia, também afirmou que deseja um final de negociações bem sucedida. Contudo,

499 WEISBERG, Jacob. Free trade is the real election casualty. Reino Unido - Financial Times 09/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=280559 500 BROWN, Gordon. We did it before, we'll do it again: my call to the champions of world trade. Reino Unido - The Times 06/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=279497 501 AGÊNCIA REUTERS. Global free trade talks risk total collapse. Reino Unido 03/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=278650 502 LAMY, Pascal. The Doha Marathon. EUA - The Wall Street Journal 03/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=278542

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demonstrou preocupação ao afirmar que “[o contexto dessas negociações é preocupante]

porque a escala da globalização significa que o medo da mudança se tornou uma das

características da política moderna, na Europa e no mundo”503. Peter Costello, ministro

australiano de finanças, se uniu a estes esforços e afirmou que “The Doha round has been

discussed and (there was) very strong agreement that we will do whatever we can to get

that round up and running”504. Já Tony Blair afirmou que “There is a deal to be done […] I

think it's possible to do it”505. Países tais como Indonésia, Canadá, Nova Zelândia, Noruega,

Chile, entre outros, também manifestaram apoio a retomada das negociações506.

Não obstante, segundo Lamy, embora os objetivos iniciais da Rodada estejam longe

de serem alcançados, muita coisa já for a feita nesta Rodada, o suficiente para torná-la a

mais ambiciosa de todas as Rodadas anteriores. A este respeito Lamy afirma que “what had

already been agreed since the WTO talks were launched in Qatar in 2001, in agricultural

and industrial reform, services, cuts to environmentally harmful fishing subsidies and

slashing red tape and corruption was already more than achieved in any previous trade

round”507

As estratégias bilaterais, como enfatizado também no último artigo, continuam a

ganhar cada vez mais importância, ainda mais com os rumos da Rodada. A este respeito,

Lamy afirmou que “The ‘time out’ in the multilateral trade talks has already led many

governments to consider bilateral or regional accords. These deals offer much less than a

global pact. They do not address systemic issues like farm or fishery subsidies, antidumping

503 GAZETA MERCANTIL. UE pede retomada de Doha. 14/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=281996 504 Idem 505 THE WALL STREET JOURNAL. UK's Blair Says Stalled WTO Talks Can Be Revived. 28/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=286319 506 EL MERCURIO. Chile busca reiniciar la Ronda de Doha. 06/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=279541 507 AGÊNCIA REUTERS. Global free trade talks risk total collapse. 03/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=278650

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or trade facilitation procedures. They create a myriad of different rules and procedures

which mean higher administrative costs for entrepreneurs”508.

Talvez esta seja uma resposta a criação de uma espécie de plano ‘b’ para Doha pela

APEC (Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico), numa reunião de cúpula realizada

em Hanói, Vietnã, com membros como Estados Unidos, Chile, Peru, etc. O grupo afirmou

que buscará a “criação de uma área de livre comércio na região, caso fracassem as

negociações para retomar a Rodada Doha, no âmbito da Organização Mundial do Comércio

(OMC)”509. Entretanto, o grupo não ignorou as negociações de Doha, afirmando que “o

apoio ao desenvolvimento da agenda da Rodada de Doha continua sendo a prioridade”, e

que “As conseqüências de um fracasso serão muito graves para nossas economias”510.

Outro assunto de extrema importância neste mês de novembro, como já foi dito, foi

a definição das eleições norte-americanas, fato que gerou muita expectativa em vários

países, entre eles o Brasil. Afirma-se que a retomada democrata poderia tornar as relações

comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos ainda mais complicadas, além de prejudicar

os avanços da Rodada. Segundo Paulo Sotero, diretor do Brazil Institute do Woodrow

Wilson Center, “em termos de acordos comerciais, a situação poderá ficar um pouco mais

difícil. A tolerância para tratados de livre comércio é cada vez menor. E os democratas

sempre foram mais resistentes a esse tipo de acordo, mesmo quando havia um democrata

no poder, o presidente Bill Clinton”511. Já Riordan Roett, diretor do Programa de Estudos

Latino-Americanos da Universidade John Hopkins, “Os republicanos não concederam o

‘fast track’ a Clinton e duvido que os democratas o darão a Bush, que, até lá, faltando

pouco mais de dois anos para as eleições presidenciais, será um peso morto”512. Robert

Wilson, vice-reitor da Escola de Políticas Públicas da Universidade do Texas, afirmou que

“será difícil fazer o que quer seja no campo do comércio, devido ao fim do fast track. Não

508 LAMY, Pascal. The Doha Marathon. EUA - The Wall Street Journal 03/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=278542 509 O ESTADO DE SÃO PAULO. 'Plano B' dos EUA para Doha está na Ásia-Pacífico. 17/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=282894 510 CORREIO BRAZILIENSE. Pedido de negociação. 20/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=283693 511 GARCEZ, Bruno. Comércio com Brasil fica mais difícil sob democratas. 05/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=279135 512 Idem

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vejo nada acontecendo em termos de política comercial com a América Latina no futuro

próximo”513. Peter Hakim, presidente do Inter American Dialogue, também não acredita na

possibilidade de progresso da Rodada. “republicanos e democratas não parecem dispostos a

encontrar um denominador comum no que chama de ‘temas difíceis’ ligados a negociações

comerciais, como ‘alcançar regulamentações trabalhistas e compensações para

trabalhadores americanos que serão afetados por tratados de livre comércio’”514.

A confirmação da vitória democrata fez permanecer este cenário de incertezas.

Alberto Tamer, por exemplo, afirmara que “se as relações comerciais dos Estados Unidos

com o Brasil eram ruins, agora vão piorar mais com a vitória do Partido Democrata no

Congresso. Se nada foi feito antes pelo Partido Republicano para liberalizar o comércio

internacional, menos será agora com os democratas”515. Segundo Jamil Chade, “a vitória do

Partido Democrata nas eleições legislativas dos Estados Unidos foi recebida na

Organização Mundial do Comércio (OMC) como um 'sinal preocupante' para o futuro da

Rodada Doha”516. José Durão Barroso, presidente da Comissão Européia, também

demonstrou preocupação, conclamando o governo americano “a ajudar na retomada da

Rodada de Doha sobre aberturas no comércio mundial, em meio a preocupações de que a

vitória dos democratas possa levar a uma nova onda de protecionismo nos EUA”517. Já

Simon Tilford, chefe da unidade de negócios do Centro para a Reforma Européia,

afirmarou que “não há dúvidas que o Congresso controlado pelos democratas será mais

protecionista”518.

Embora a maioria das análises sejam pessimistas, Susan Schwab não acredita que a

retomada democrata terá impactos significativos na condução da política comercial norte-

americana. Segundo a líder do USTR, “I take the leadership at their word, that they are

interested in approaching trade on a bipartisan basis. The Bush administration is certainly

513 Idem 514 Idem 515 TAMER, Alberto. EUA- Brasil: se já era ruim vai piorar. 09/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=280360 516 CHADE, Jamil. OMC teme pelo futuro de Doha. 12/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=281409 517 VALOR ECONÔMICO. Torcendo contra 1 / Torcendo contra 2 / Torcendo contra 3. 09/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=280421 518 Idem

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interested in approaching trade on a bipartisan basis. Congressman Rangel and Senator

Baucus [the new Democrat chairmen of the House and Senate committees that cover trade]

have both expressed their commitment to more bipartisanship in trade, and I look forward

to working with both of them to see that we find a way of going forward”519.

Além da importância para o futuro da Rodada, este debate é de extrema importância

para o Brasil uma vez que poderá influenciar diretamente na decisão de inclusão ou não do

Brasil na renovação do Sistema Geral de Preferências (SGP). Segundo Paulo Sotero, um

Congresso controlado pelos democratas, aumentam as possibilidades de renovação do

Sistema Geral de Preferências”520. Luiz Fernando Furlan, ministro do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior, também está otimista, e afirmou que “há um esforço do

Executivo americano para que haja uma renovação”521.

Em suma, as possibilidades de sucesso nas negociações ficam cada vez mais

distantes, com exceção do campo retórico. Qual o impacto que o congresso democrata

norte-americano terá na condução da Rodada? Ainda é cedo para dizer, mas acreditamos

que não há muitos motivos para otimismo.

Filipe Mendonça é graduando em Relações Internacionais pelo UNIBERO, bolsista

de IC pela FAPESP e assistente de pesquisa do CEDEC

Thiago Lima é mestrando em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-

Graduação San Tiago Dantas (UNESP, UNICAMP, PUC-SP) e pesquisador júnior do

CEDEC

519 BEATTIE, Alan. Interview - Susan Schwab. 09/11/2006. Acesso no dia 18/11/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=283225 520 GARCEZ, Bruno. Comércio com Brasil fica mais difícil sob democratas. Reino Unido - Agência BBC, 05/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=279135 521 GARCEZ, Bruno.Furlan crê que EUA renovarão isenção a produtos brasileiros. Reino Unido - Agência BBC, 08/11/2006. Acesso no dia 15/12/2006, disponível em http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/internacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=280172