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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO ACIDENTE DO TRABALHO OU DOENÇA OCUPACIONAL E O CONTRATO DE TRABALHO TIAGO SAMPAIO ANVERSI Itajaí , outubro de 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALICENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPSCURSO DE DIREITO

ACIDENTE DO TRABALHO OU DOENÇA OCUPACIONAL E O CONTRATO DE TRABALHO

TIAGO SAMPAIO ANVERSI

Itajaí , outubro de 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALICENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPSCURSO DE DIREITO

ACIDENTE DO TRABALHO OU DOENÇA OCUPACIONAL E O CONTRATO DE TRABALHO

TIAGO SAMPAIO ANVERSI

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor MSc. Silvio Noel de Oliveira Jr.

Itajaí , outubro de 2007.

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AGRADECIMENTO

Aos meus pais Jorge Rebello Anversi e Jussara Sampaio Anversi, pelo apoio durante minha vida.

Ao meu amor Nayara Voigt, pela compreensão, incentivo, carinho e amor constantes.

À minha tia Iara Sampaio Russi e minhas primas Adriana Sampaio Russi e Tatiana Sampaio Russi,

pela disposição e apoio prestado.

Aos meus amigos e colegas da faculdade, por todas as barreiras vencidas e momentos bons no

decorrer deste tempo de estudo.

Ao meu orientador Silvio Noel de Oliveira Jr, pela ajuda e paciência prestadas para a realização do

presente trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais Jorge e Jussara, à Nayara, meu amor, à minha irmã Silvia

e ao meu sobrinho Bernardo.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, outubro de 2007.

Tiago Sampaio AnversiGraduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Tiago Sampaio Anversi, sob o

título Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional e o Contrato de Trabalho, foi

submetida em [ / / ] à banca examinadora composta pelos seguintes

professores: Silvio Noel de Oliveira Jr. (Orientador e Presidente da Banda), e

aprovada com a nota [ ] ( ).

Itajaí, outubro de 2007.

Profº. MSc. Silvio Noel de Oliveira Jr.Orientador e Presidente da Banca

Profº. MSc. Antônio Augusto LapaCoordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SIMBOLOS

ART. Artigo

CC Código Civil Brasileiro de 2002

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CPC Código Processo Civil

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

DEC. Decreto

DEC. LEI Decreto Lei

DEC. Decreto

EC Emenda Constitucional

OIT Organização Internacional do Trabalho

TST Tribunal Superior do Trabalho

§ Parágrafo

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Acidente do Trabalho

“Acidente de Trabalho é aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da

Campanha, provocando lesão corporal ou perturbação funcional, que cause a

morte ou perda, ou ainda a redução permanente ou temporária, da capacidade

para o trabalho”.1

Culpa

“Omissão da diligência necessária de alguém, ou falta de cumprimento do dever

jurídico, sem o ânimo de lesar, de que resulta violação do direito de outrem,

quando os efeitos da sua inação podiam ser calculados e previstos. Todo artifício

ou ardil reprovável, embora lícito, que o agente emprega, sem fraude, para

aumentar a sua vantagem. A culpa se diferencia do dolo, por não revelar a

intenção de prejudicar, que caracteriza este”.2

Dano

“O dano ou interesse deve ser atual e certo; não sendo indenizáveis, a princípio,

danos hipotéticos. Sem dano ou interesse violado, patrimonial ou moral, não se

corporifica a indenização. A materialização do dano ocorre com a definição do

efetivo prejuízo suportado pela vítima”.3

1 SILVA, Tarcísio Bruno de Jesus. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/10408/> Acesso: 15/10/07 às 11h16min.2 BENASSE, Paulo Roberto. Dicionário Jurídico De Bolso. 2ª ed. Campinas: Bookseller, 2002. p. 128.3 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 28.

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Doença Ocupacional

“É a lesão entendida como sendo produzida ou desencadeada pelo exercício do

trabalho peculiar a determinada atividade”.4

Indenização

“É a ação que o prejudicado propõe, em virtude de violação do seu direito, para

exigir o ressarcimento pelo dano causado”.5

Nexo Causal

“O nexo causal é o vínculo que se estabelece entre a execução do serviço

(causa) e o acidente do trabalho ou doença ocupacional (efeito). Pode-se afirmar

que esse pressuposto é o primeiro que deve ser investigado, porquanto se o

acidente não estiver relacionado ao trabalho é desnecessário, por óbvio, analisar

a extensão dos danos e a culpa patronal”.6

Relação de Emprego

“A relação de emprego, entretanto, é do ponto de vista técnico-jurídico, apenas

uma das modalidades específicas de relação de trabalho juridicamente

configuradas. Corresponde a um tipo legal próprio e específico. Inconfundível com

as demais modalidades de relação de trabalho ora vigorantes”.7

4 SILVA, Tarcísio Bruno de Jesus. Disponível em:<http://www.administradores.com.br/artigos/10408/> Acesso: 15/10/07 às 11h41min.5 BENASSE, Paulo Roberto. Dicionário Jurídico De Bolso. 2ª ed. Campinas: Bookseller, 2002. p. 198.6 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2 ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 123.7 DELGADO, Maurício Godinho. Curso De Direito do Trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2004. p. 285.

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Relação de Trabalho

“Refere-se a todas as relações jurídicas caracterizadas por terem sua prestação

essencial centrada em uma obrigação de fazer consubstanciada em trabalho

humano. Refere-se, pois, a toda modalidade de contração de trabalho humano

modernamente admissível. A expressão relação de trabalho engloba, desse

modo, a relação de emprego, a relação de trabalho autônomo, a relação de

trabalho temporário, e relação de trabalho eventual, de trabalho avulso e outras

modalidades de pactuação de prestação de trabalho”.8

Responsabilidade Civil

“Responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a

reparar um dano moral ou patrimonial causado a terceiro em razão de ato por ela

mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela

pertencente ou por simples imposição legal”.9

8 DELGADO, Maurício Godinho. Introdução ao Direito do Trabalho. 2 ed. São Paulo: LTr, 1999. p. 230-231.9 DINIZ, Maria Helena. Curso De Direito Civil Brasileiro. v. 7. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 40.

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SUMÁRIO

SUMÁRIO..................................................................................... ........X

RESUMO.............................................................................. ...............XI

INTRODUÇÃO.............................................................................. ........1

O DIREITO DO TRABALHO................................................................31.1 ANÁLISE SOBRE O DIREITO DO TRABALHO...............................................31.1.1CONCEITO........................................................................................................... 31.1.2NATUREZA JURÍDICA.............................................................................................. 41.1.4 PRINCÍPIOS......................................................................................................... 81.1.5 FONTES........................................................................................................... 131.2 CONTRATO DE TRABALHO..........................................................................161.2.1 TEORIA ANTICONTRATUALISTA............................................................................... 181.2.2 TEORIA CONTRATUALISTA.................................................................................... 201.3 RELAÇÃO DE EMPREGO E RELAÇÃO DE TRABALHO.............................211.3.1 EMENDA CONSTITUCIONAL 45.................................................................23

SAÚDE OCUPACIONAL....................................................................262.1 ACIDENTE DO TRABALHO............................................................................262.1.1 DEFINIÇÃO DE ACIDENTE DO TRABALHO.................................................................... 272.1.2 - DOENÇAS OCUPACIONAIS................................................................................... 342.1.3 - NEXO DE CAUSALIDADE..................................................................................... 38

3. DIREITO DO TRABALHADOR A REPARAÇÃO POR EVENTUAL ACIDENTE DO TRABALHO OU DOENÇA OCUPACIONAL............453.1 RESPONSABILIDADE CIVIL...........................................................................453.1.1 RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR............................................................. 473.1.2 TIPOS DE RESPONSABILIDADE CIVIL E O ACIDENTE DO TRABALHO OU DOENÇA OCUPACIONAL

............................................................................................................................... 503.2 CULPA..............................................................................................................543.2.1 A CULPA COMO PRESSUPOSTO DE INDENIZAÇÃO......................................................... 543.3 INDENIZAÇÃO.................................................................................................593.3.1 INDENIZAÇÃO NOS CASOS DE ACIDENTE DO TRABALHO OU DOENÇA OCUPACIONAL............... 60

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................. ...66

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS............................................69

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RESUMO

A presente monografia teve com objetivo a análise do acidente do trabalho ou

doença ocupacional e a sua influência no contrato de trabalho como fato gerador

de responsabilidade civil ao empregador. No decorrer desta, foram abordados

aspectos históricos constituintes do Direito do Trabalho, como também o vínculo

existente entre o trabalhador e o empregador, sendo este fundamental para

imposição de uma obrigação indenizatória nos casos propostos. Fora tratado

ainda dos direitos do trabalhador à reparação dos danos pelo mesmo sofrido em

conseqüência do infortúito em questão. Outro tópico mencionado refere-se às

mudanças ocorridas na Justiça do Trabalho em decorrência da Emenda

Constitucional nº 45, como por exemplo, a sua competência para processar e

julgar os pedidos de indenização oriundos dos acidentes de trabalho ou doença

ocupacional. Tal investigação encontra justificativa na constatação do crescente

número de acidentes ocorridos com trabalhadores no exercício de seu ofício,

segundo levantamento efetuado pela OIT – Organização Internacional do

Trabalho.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto “O Acidente do

Trabalho ou Doença Ocupacional e o Contrato de Trabalho”.

Seu objetivo é analisar o Acidente do Trabalho ou Doença

Ocupacional e sua influência no vínculo entre empregado e empregador no

quesito indenizatório, utilizando-se, para tanto, fundamento doutrinário e

jurisprudencial.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando de forma

geral o Direito do Trabalho, a sua natureza jurídica e seus elementos primordiais,

abordando também a conceituação básica referente à relação entre as partes

(empregado e empregador).

O Capítulo 2 trata do acidente do trabalho e da doença

ocupacional, conceituando sua diferenciação diante da doutrina presente,

passando também a expor o entendimento do nexo de causalidade, elemento

este importantíssimo para a indagação da responsabilidade civil do empregador.

O Capítulo 3 expõe a responsabilidade civil do empregador

para com o seu empregado nos referentes casos de lesão, onde se imputa a

obrigação de reparar o dano ocasionado pelo infortúito e do elemento culpa como

sendo um pressuposto da indenização.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre O Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional de o Contrato de Trabalho.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

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Tem a Justiça do Trabalho competência para processar e julgar os pedidos de indenização por danos materiais e morais decorrente de acidentes do trabalho e doença ocupacional?

A obrigação de indenizar imposta ao empregador nos casos de acidente do trabalho independente de culpa?

Quando da ocorrência do acidente do trabalho, incide na contagem do valor indenizatório os danos morais, materiais e o pagamento de alimentos de forma proporcional ao patamar da vida levada aos dependentes da vítima, em caso de falecimento ou invalidez permanente e diminuição da renda familiar?

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados

o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica.

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CAPÍTULO 1

O DIREITO DO TRABALHO

1.1 ANÁLISE SOBRE O DIREITO DO TRABALHO

A realização de uma análise feita sobre a natureza jurídica

de um determinado ramo da ciência, sendo ainda específico, no tema em pauta, a

ciência jurídica do Direito Trabalhista, deve abranger um compreensivo significado

da mesma juntamente com a sua categorização.

Segundo Maurício Godinho Delgado10:

Encontrar a natureza jurídica de um instituto do direito (ou de um próprio ramo jurídico, como o Direito do Trabalho) consiste em se apreenderem os elementos fundamentais que integram sua composição específica, contrapondo-os, em seguida, ao conjunto mais próximo de figuras jurídicas (ou segmentos jurídicos, no caso do ramo justrabalhista), de modo a classificar o instituto no universo de figuras existentes no direito.

1.1.1 Conceito

Primeiramente, deve-se estabelecer o conceito pertinente ao

tema proposto para que então possa ser efetivado estudo pretendido. Neste caso,

faz-se necessário citar o posicionamento de Francisco Meton Marques de Lima11:

De maneira sintética, Direito do Trabalho é o ramo do Direito que trata das relações individuais e coletivas oriundas do vínculo empregatício e de outras relações especiais de trabalho

10 DELGADO, Maurício Godinho. Introdução ao Direito do Trabalho. 2 ed. São Paulo: LTr, 1999. p. 92.11 LIMA, Francisco Meton de. Elementos de Direito do Trabalho e Processo Trabalhista. 11 ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 25-26.

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subordinado, impondo normas de conduta e oferecendo soluções aos conflitos daí advindos.

Também neste sentido, corrobora Amauri Mascaro

Nascimento12 discorrendo sua denominação sobre o Direito do trabalho a seguir:

É possível definir o direito do trabalho como o ramo da ciência do direito que tem por objeto as normas, as instituições jurídicas e os princípios que disciplinam as relações de trabalho subordinado determinam os seus sujeitos e as organizações destinadas à proteção desse trabalho em sua estrutura e atividade.

Conclui-se, portanto, a conceituação do Direito do Trabalho

como sendo a parte da ciência jurídica específica para versar sobre as relações

trabalhistas existentes, ressaltando-se a existência do quesito subordinação.

1.1.2 Natureza Jurídica

Tendo como objetivo definir a essência, assim como a

composição do Direito do Trabalho, de modo a qualificá-lo em um ramo jurídico

específico dentro do universo do Direito, nos encontramos diante de uma

aceitável discussão entre os doutrinadores, tendo em vista que o entendimento do

mesmo está subdividido entre o Direito Público e o Direito Privado.

De fato, a maioria dos pertinentes doutrinadores em todo o

mundo posiciona o seu entendimento de modo que o Direito do Trabalho

configura-se no campo do Direito Privado, já que a sua natureza esta

basicamente estruturada em uma relação jurídica entre particulares, sendo eles o

trabalhador e o empregador.

Desta forma, cabe citar o referente posicionamento de

Amauri Mascaro Nascimento13 que afirma:

12 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 27 ed. São Paulo: LTr, 2001. p. 56-57.13 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 27 ed. São Paulo: LTr, 2001. p. 69.

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Há fundadas razões que sustentam a teoria do direito do trabalho como ramo do direito privado. Seus argumentos referem-se às origens e aos sujeitos do vínculo entre trabalhador e empregador. Esse vínculo encontra suas origens no direito privado, uma vez que é o desenvolvimento da locação de serviços do direito civil.

Corrobora com o entendimento supra citado Maurício

Godinho Delgado14 que ainda afirma:

Enfocada a substância nuclear do Direito do Trabalho (relação de emprego) e seu cotejo comparativo com a substância dos demais ramos jurídicos existentes, não há como se escapar da conclusão de que o ramo justrabalhista se situa no quadro componente do Direito Privado.

Entretanto, deve-se ressaltar, por questão meramente

didática, que inúmeros doutrinadores atribuem ao Direito do Trabalho o caráter de

Direito Público, diante da existência de normas imperativas, normas de caráter

administrativo como as de fiscalização trabalhista e de caráter estatutário

semelhante as relações do Estado para com os seus agentes públicos.

Com o intuito de uma melhor formação teórica sobre o tema

aqui proposto, cita-se brevemente o ensinamento de Eugênio Perez Botija15 que,

em meio ao confronto teórico estabelecido, ressalva a existência de uma terceira

natureza:

A natureza jurídica do Direito do Trabalho já foi considerada por alguns autores como mista, como se tratasse esse ramo de um ‘conúbio indissociável e inseparável de instituições de Direito Público e Direito Privado.

Por fim, entendido o perfeito enquadramento do Direito do

Trabalho, tanto com o caráter público como caráter privado, cabe destacar o

plausível posicionamento de Tarso Genro16 em referência a tal discussão:

14 DELGADO, Maurício Godinho. Introdução ao Direito do Trabalho. 2 ed. São Paulo: LTr, 1999. p. 95-96.15 apud DELGADO, Maurício Godinho. Introdução ao Direito do Trabalho. 2 ed. São Paulo: LTr, 1999. p. 96.16 GENRO, Tarso. Disponível em: <http://www.tarsogenro.com.br/artigos/fullnews.php?id=25> Acesso: 20/09/2007.às 13h57min.

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As normas de direito privado referem ao contrato individual de trabalho e a todos os ajustes que se dão fora do âmbito protetivo e tutelar do Direito do Trabalho, o que indica a sua dupla natureza. Mas o momento predominante de cada norma ou instituto, para que ele seja referido como de direito público ou privado, depende da situação histórico-social em que o Direito do Trabalho está inserido num dado momento da história, embora seja lícito afirmar que é recorrente a afirmação do caráter público de algumas instituições fundamentais deste ramo do direito.

É perceptível, portanto, a infinda controvérsia quando se

trata da natureza jurídica do Direito do Trabalho, já que, segundo os

doutrinadores, o mesmo pode ser corretamente enquadrado tanto no âmbito do

Direito Privado como também no do Direito Público, dependendo somente do

entendimento referente à situação na qual deva reger.

1.1.3 Autonomia

Seguindo com a finalidade de obter um melhor entendimento

sobre a ampla natureza do Direito do Trabalho, faz-se também necessária a

análise referente à autonomia desta divisão específica do Direito, a sua existência

e como de fato este se enfatiza.

Primeiramente, deve-se levar em consideração que o termo

autonomia, como naturalmente se sabe, traduz o sentido comum de auto, de

coisa própria ou de um regramento.

Seguindo tal acepção, Alfredo Rocco17 esclarece que para

caracterizar a autonomia de uma ciência é necessário que:

(a) seja ela vasta a ponto de merecer um estudo de conjunto, adequado e particular; (b) ela contenha doutrinas homogêneas dominadas por conceitos gerais que informam outras disciplinas; (c) possua método próprio, empregando processos especiais para o conhecimento das verdades que constituem objeto de suas investigações.

17 apud MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 22 ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 20.

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Corrobora Maurício Godinho Delgado18 abrangendo tal

entendimento à ciência jurídica:

Um determinado conjunto de normas, princípios e institutos jurídicos assume caráter de ramo jurídico específico e próprio quando alcança autonomia perante os demais ramos do direito que lhe sejam próximos ou contrapostos.

Pode-se entender, portanto, que para um ramo específico do

direito, a aquisição de sua autonomia representa o seu próprio desenvolvimento,

tornando-se deste modo independente dos outros ramos jurídicos e enfatizando a

sua própria formação com os seus componentes e elementos específicos.

Partindo dessa premissa, para conferir uma autonomia ao

Direito Trabalhista, deve-se analisar certos quesitos sob a dimensão legal,

doutrinária, jurisdicional e científica.

Assim sendo, a primeira evidência a ser ressaltada é a

autonomia legislativa do Direito do Trabalho que, sem a menor dúvida, é bastante

ampla já que possui um complexo particular de normas reguladoras. Isso permite

ainda que grandes conflitos do Direito do Trabalho sejam solucionados pela

própria legislação trabalhista.

Cabe citar que a legislação trabalhista é conferida pelo art.

7º da CRFB/88 que, em meio aos seus inúmeros incisos dispõe sobre os direitos

do trabalhador. Há também a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, onde se

encontram as normas trabalhistas em sua grande maioria, sem mencionar as

diversas leis esparsas que tratam também do Direito do Trabalho.

Sérgio Pinto Martins19 discorre:

Não temos um Código de Trabalho, como se verifica na França, que iria justificar uma plena autonomia legal do Direito do Trabalho, mas a CLT já cumpre esse papel. Com a CLT e a legislação esparsa, já existe autonomia legislativa do Direito do

18 DELGADO, Maurício Godinho. Introdução ao Direito do Trabalho. 2 ed. São Paulo: LTr, 1999. p. 97.19 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 22 ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 21.

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Trabalho, principalmente diante do volume de regras sobre o tema.

Outro fator que sustenta uma clara percepção de autonomia

do Direito Trabalhista é o seu desenvolvimento doutrinário. Quanto a este quesito,

basta visarmos as inúmeras obras encontradas que tratam deste ramo jurídico,

assim como a diversidade de autores.

Em relação ao seu desenvolvimento didático, o Direito do

Trabalho também se apresenta autônomo, como também demonstra Sergio Pinto

Martins20 ao discorrer:

No que diz respeito ao desenvolvimento didático, todas as faculdades de Direito têm pelo menos em um ano ou em dois semestres a matéria Direito do Trabalho. Nas faculdades de Ciências Econômicas, Administrativas, Contábeis e Sociais e até nas de Engenharia há uma cadeia denominada Legislação Social, em que a matéria efetivamente lecionada é o Direito do Trabalho, mas não fizeram a devida modificação na nomenclatura da disciplina.

Já no tocante à autonomia jurisdicional e científica do Direito

do Trabalho, verifica-se pela edição da CLT e pelos conceitos, sistema, princípios

próprios, institutos diversos dos demais ramos do Direito, etc. Desta forma, não

há como colocar em questão, tendo em vista a existência da Justiça do Trabalho,

ramo do Poder Judiciário que aplica o Direito do Trabalho.

Portanto, conclui-se que, a autonomia do Direito do Trabalho

torna-se evidente, destacando-o das demais matérias visadas pela ciência

jurídica.

1.1.4 Princípios

O significado da palavra princípio, embasado em um sentido

comum da palavra, nos traz a idéia de início, origem, começo ou causa de

determinada coisa. No entanto, quando nos referimos aos princípios de um

determinado ramo do Direito, necessariamente devemos ampliar tal conceito.

20 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 21.

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Miguel Reale21 entende de forma mais abrangente ao

enquadrar tal elemento no estudo da ciência jurídica:

Princípios são verdades fundantes de um sistema de conhecimento de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por motivos de ordem prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da práxis.

Objetivando formar uma coerente conceituação e melhor

entendimento do termo em estudo, cita-se também José Cretella Jr22 que afirma:

Princípios de uma ciência são as proposições básicas fundamentais, típicas, que condicionam todas as estruturações subseqüentes. Princípios neste sentido são os alicerces da ciência.

Corrobora ainda Francisco Meton Marques de Lima23 que,

finalizando a análise conceitual do elemento em pauta e formando uma idéia

sobre a importância do mesmo, discorre sobre os princípios gerais do direito:

Os princípios gerais do direito são normas fundadas nem sempre na autoridade estatal, mas que possuem intenso vigor normativo, constituindo o fundamento mais firme da eficácia das leis e dos costumes. São preceitos de caráter transcendental, que ocorrem ao mesmo tempo atrás, à frente, ao lado, à sombra, acima, abaixo, por dentro e por fora do sistema positivo escrito e das práticas sociais.

Portanto, pode-se perceber que, quando se trata de uma

ciência específica, como é o caso do Direito, interpretam-se os princípios como

sendo os fundamentos básicos, diretrizes gerais e essenciais que irão informar e

inspirar de forma eficaz a pertinente regulação.

Deve-se destacar ainda que, no Direito do Trabalho, os

princípios têm diferentes funções, sendo elas informadora, normativa e 21 apud MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 22 ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 60.22 apud MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 60.23 LIMA, Francisco Meton de. Elementos de Direito do Trabalho e Processo Trabalhista. 11 ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 67.

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interpretativa. Sergio Pinto Martins24 faz um sucinto esclarecimento destas

funções:

A função informadora serve de inspiração ao legislador e de fundamento para as normas jurídicas. A função normativa atua como uma fonte supletiva, nas lacunas ou omissões da lei. A função interpretativa serve de critério orientador para os intérpretes e aplicadores da lei.

O art. 8ª da CLT menciona sobre a função normativa dos

princípios, e evidencia ainda mais a importância e grande intensidade com que os

princípios atuam e influenciam na norma positiva.

Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por analogia, por eqüidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público.

Tratando-se da questão doutrinária, confrontam-se inúmeros

autores que muitas vezes nem sequer destacam o tema ou, quando o fazem,

abordam de modo divergente entre eles. Assim sendo, cabe destacar, como

sendo fruto de um dos melhores estudos referentes ao assunto, o entendimento

de Américo Plá Rodrigues25, que elenca os seguintes princípios:

(a) Princípio da proteção; (b) Princípio da irrenunciabilidade de direitos; (c) Princípio da continuidade da relação de emprego; (d) Princípio da primazia da realidade; (e) Princípio da razoabilidade e; (f) Princípio da boa fé.

a) O princípio da proteção tem o propósito de atribuir

determinada segurança a parte mais frágil da relação jurídica e é observada

segundo Alejandro Gallart Folch26 que discorre:

24 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 22 ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 60.25 apud MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 22 ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 60.26 apud MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. p. 63.

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Temos como regra que se deve proporcionar uma forma de compensar a superioridade econômica do empregador em relação ao empregado, dando a este último uma superioridade jurídica. Esta é conferida ao empregado no momento em que se dá ao trabalhador a proteção que lhe é dispensada por meio da lei.

Ressalta ainda Francisco Meton Marques de Lima27,

destacando a segurança proposta, que este princípio:

Consiste na proteção do trabalhador, primeiro sob o aspecto físico, traduzido nos descansos anual, semanal, inter e entre jornadas, antes e depois do parto etc.; depois, sob o ponto de vista social e econômico, traduzido na garantia de previdência social, seguro-desemprego, proteção à maternidade, melhores condições de trabalho e habitação, educação, melhores salários e proteção destes.

Em resumo, tal princípio da proteção traduz a aplicação da

norma de forma mais favorável, mais benéfica ao empregado.

b) O princípio da irrenunciabilidade de direitos, como o

próprio nome permite claramente interpretar, refere-se ao fato de que o

empregado não poderá de forma alguma renunciar qualquer um de seus direitos

e, se assim o fizer, tal ato não será considerado válido.

Seguindo o entendimento pertinente a este princípio, Sergio

Pinto Martins28 discorre:

Temos como regra que os direitos trabalhistas são irrenunciáveis pelo trabalhador. Não se admite, por exemplo, que o trabalhador renuncie as suas férias. Se tal fato ocorrer, não terá qualquer validade o ato do operário, podendo o obreiro reclamá-las na Justiça do Trabalho.

27 LIMA, Francisco Meton de. Elementos de Direito do Trabalho e Processo Trabalhista. 11 ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 72.28 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 22 ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 64.

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c) Tratando-se do princípio da continuidade da relação de

emprego, destaca-se o posicionamento de Francisco Meton Marques de Lima29

que diz:

Consiste em estabelecer a presunção júris tantum da continuidade do emprego. Presume-se que o empregado não pediu demissão nem abandonou o emprego, por exemplo. Fundamenta-se no fato de que a atividade empresarial é contínua e o trabalhador necessita de emprego para sua subsistência e de sua família.

No intuito de uma melhor formação do entendimento do

princípio em pauta, cita-se também o posicionamento de Sergio Pinto Martins30

que menciona:

Presume-se que o contrato de trabalho terá validade por tempo indeterminado, ou seja, haverá a continuidade da relação de emprego. A exceção à regra são os contratos por tempo determinado, inclusive o contrato de trabalho temporário.

Transparece ainda tal idéia a Súmula 12 do TST:

O ônus de provar o término do contrato de trabalho, quando negados a prestação de serviço e o despedimento, é do empregador, pois o princípio da continuidade da relação de emprego constitui presunção favorável ao empregado.

d) Já o princípio da primazia da realidade refere-se ao fato

de que no Direito do Trabalho, os fatos têm maior importância do que os

documentos. Neste sentido, Francisco Meton Marques de Lima pondera que tal

princípio “consiste em que, no caso de discrepância entre o que ocorre na prática

e o que emerge dos documentos, deve dar-se preferência ao primeiro, isto é, ao

que sucede no terreno dos fatos”.31

Sergio Pinto Martins 32 também se faz presente:

29 LIMA, Francisco Meton de. Elementos de Direito do Trabalho e Processo Trabalhista. 11 ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 75.30 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. p. 65.31 LIMA, Francisco Meton de. Elementos de Direito do Trabalho e Processo Trabalhista. 11 ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 76.32 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 22 ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 65.

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Muitas vezes, o empregado assina documentos sem saber o que está assinando. Em sua admissão, pode assinar todos os papéis possíveis, desde o contrato de trabalho até seu pedido de demissão, daí a possibilidade de serem feitas provas para contrariar os documentos apresentados, que irão evidenciar os fatos ocorridos na relação entre as partes.

e) O princípio da boa-fé nos contratos não se aplica apenas

no Direito do Trabalho, mas também em qualquer outro contrato. É um princípio

de caráter moral que tem por objetivo garantir a execução dos atos em

conformidade com os preceitos legais.

Francisco Meton Marques de Lima33 articula:

O sentido da boa-fé interessante ao trabalho é o que a define como o respeito mútuo e a ausência de malícia entre as partes, para o fiel cumprimento das obrigações legais pactuadas, ou que se vão pactuando, expressa ou tacitamente, no curso da execução do contrato de trabalho.

f) O princípio da razoabilidade, em suma, esclarece que o

ser humano deve proceder conforme a razão, configurando-se esta, como um

preceito padrão e comum que o homem teria em qualquer situação em que se

encontrasse.

Deve-se aqui destacar que os princípios da boa-fé e

razoabilidade, geralmente são excluídos do entendimento específico, por

versarem sobre o Direito em sua generalidade e não na área específica

justrabalhista como os princípios anteriormente citados.

1.1.5 Fontes

Primeiramente cabe analisar o posicionamento de Claude du

Pasquier34 afirmando que a fonte da regra jurídica: “é o ponto em que ela saiu das

profundezas da vida social para aparecer na superfície do direito”.

33 LIMA, Francisco Meton de. Elementos de Direito do Trabalho e Processo Trabalhista. p. 77.34 apud MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 22 ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 37.

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De Plácido e Silva35 também expõe sua denominação

referente ao elemento em pauta alegando que “segundo seu próprio sentido

etimológico, origem, procedência, é empregada para indicar tudo de onde

procede alguma coisa, onde ela se funda e tira a razão de ser, ou todo fato que

dá nascimento a outro”.

Levando em consideração o acima exposto, antes de tratar

sobre as fontes do Direito do Trabalho, faz-se necessário um breve comentário

sobre o processo histórico constitutivo do mesmo. Deste modo, pode-se afirmar

que o seu surgimento ocorreu como conseqüência de inúmeros conflitos, sendo

estes originados por questões sociais, lutas de cunho econômico e/ou político,

discussões ideológicas e/ou filosóficas, que ocasionaram a criação, tanto de

instituições e normas.

Ensina Bismarck Duarte Diniz36:

Ressalte-se, na essência, o caráter tuitivo deste ramo do Direito, bem como seu diferenciado papel histórico e social. Emerge ele da ação hegemônica de grupos sociais que representam interesses dos menos favorecidos, num dado momento histórico.

Passando da análise histórica para a fundamentação do

direito, pode-se entender as fontes através algumas divisões. Desta forma, tem-se

a divisão das fontes em formais e materiais.

Sergio Pinto Martins37 define:

Fontes materiais são o complexo de fatores que ocasionam o surgimento de normas, envolvendo fatos e valores. São analisados fatores sociais, psicológicos, econômicos, históricos, etc., ou seja, os fatores reais que irão influenciar na criação da norma jurídica, matéria que é objeto da Sociologia do Direito.

35 apud LIMA, Francisco Meton de. Elementos de Direito do Trabalho e Processo Trabalhista. 11 ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 55.36 DINIZ, Bismarck Duarte. Direito Do Trabalho: Para Aprender e Consultar. Cuiabá: UNIVAG/UNICEN, 2000. p.21.37 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 22 ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 37.

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Já com relação as fontes formais, Francisco Meton Marques

de Lima38 versa que “são a lei no sentido amplo (CRFB/88, Lei Complementar, Lei

ordinária, Dec. lei, Dec., Resolução, Portaria, etc), o costume e o contrato”.

Em continuidade ao entendimento doutrinário, expõe-se que

as fontes formais do direto podem ser ainda classificadas como heterônomas ou

autônomas.

Bismarck Duarte Diniz39 conceitua que, “as fontes

heterônomas são impostas por agente externo, alheio à vontade dos

contratantes”.

Tem-se como exemplo de fontes heterônomas a

Constituição, as leis complementares, os decretos, as sentenças normativas, os

regulamentos de empresa, etc;

As fontes autônomas são também conceituadas por

Bismarck Duarte Diniz40 que considera “aquelas elaboradas pelos interessados de

uma relação trabalhista, que promovem a autodisciplina da atividade profissional”.

Cita-se como exemplo de fontes autônomas os costumes, as

convenções e os acordos coletivos de trabalho.

As fontes do Direito do trabalho são também classificadas de

acordo com a sua origem. Neste caso, destaca Sergio Pinto Martins41:

Quanto à origem, as fontes podem ser: (a) estatais, quando provenientes do Estado. Exemplos: Constituição, leis, decretos sentença normativa; (b) extra-estatais: quando emanadas dos grupos e não do Estado. Exemplo: regulamento de empresa, costume, convenção e acordo coletivo, contrato de trabalho; (c) profissionais: são estabelecidas pelos trabalhadores e empregadores interessados; convenção e acordo coletivo de trabalho.

38 LIMA, Francisco Meton de. Elementos de Direito do Trabalho e Processo Trabalhista. 11 ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 55.39 DINIZ, Bismarck Duarte. Direito Do Trabalho: Para Aprender e Consultar. p.22.40 DINIZ, Bismarck Duarte. Direito Do Trabalho: Para Aprender e Consultar. Cuiabá: UNIVAG/UNICEN, 2000. p.22.41 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Do Trabalho. 22 ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 38.

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Por fim, cabe ainda observar que as fontes do trabalho

possuem uma outra classificação, sendo esta quanto à vontade das pessoas,

também doutrinada por Sergio Pinto Martins42.

Quanto à vontade das pessoas, as fontes podem ser: (a) voluntárias, quando dependem da vontade das partes para a sua elaboração. Exemplo: contrato de trabalho, convenção e acordo coletivo, regulamento de empresa, quando bilateral; (b) imperativas, quando são alheias à vontade das partes. Exemplo: Constituição, leis, sentença normativa.

1.2 CONTRATO DE TRABALHO

Antes de qualquer menção ao tema, deve-se ressaltar o que

a CLT estabelece em seu art. 442.

“Art. 442. Contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou

expresso, correspondente à relação de emprego”.

Francisco Meton Marques de Lima43 afirma que “a definição

legal é perfeita ao atribuir força contratual aos fatos, prevenindo contra as fraudes

e as discrepâncias entre o contrato pactuado e o executado”.

Faz-se aqui, porém, uma breve ressalva afirmando que,

segundo Sergio Pinto Matins44, ”critica-se falar em contrato individual do trabalho,

pois poderia existir o contrato plurilateral ou plúrimo, com vários empregados,

como ocorre com o contrato de equipe”.

Voltando ao intuito de caracterizar a natureza do contrato de

trabalho, cita-se Octavio Bueno Magano45 que, facilitando o entendimento deste

elemento, o define como sendo:

42 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Do Trabalho. p. 38.43 LIMA, Francisco Meton de. Elementos de Direito do Trabalho e Processo Trabalhista. 11 ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 128.44 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Do Trabalho. 22 ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 81.45 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Do Trabalho. p. 81-82.

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“O negócio jurídico pelo qual uma pessoa física se obriga,

mediante remuneração, a prestar serviços, não eventuais, a outra pessoa ou

entidade, sob a direção de qualquer das últimas”. 46

Não menos importante é salientar a definição pelo

entendimento de Gomes e Gottschalk47:

“Contrato de trabalho é a convenção pela qual um ou vários

empregados, mediante certa remuneração e em caráter não eventual, prestam

trabalho pessoal em proveito e sob a direção do empregador”.

Deste modo, pode-se nitidamente entender que o contrato

de trabalho cria uma relação jurídica entre o trabalhador e o empregador,

havendo obrigações assim como direitos.

Antônio de Lemos Monteiro Fernandes48 finaliza nosso

entendimento afirmando que “o contrato de trabalho, é o fato gerador da relação

de trabalho. O contrato faz nascer a relação entre as partes. È a dinâmica dessa

relação”.

Cabe aqui salientar com a finalidade de uma melhor

formação conceitual, o ensinamento de Sergio Pinto Martins49 que menciona:

Outros entendem que o contrato não é fonte que produz a relação de emprego. O contrato e a relação de emprego podem dar origem ao vínculo entre as parte. Quando o vínculo decorre de um fato, que é a prestação dos serviços, há relação de emprego, mesmo que não tenha havido o ajuste de vontades.

Surgem, entretanto, duas teorias básicas que pretendem

explicar a real natureza jurídica do contrato de trabalho. São elas a teoria

contratualista e a teoria anticontratualista.

46 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Do Trabalho. p. 81-82.47 apud LIMA, Francisco Meton de. Elementos de Direito do Trabalho e Processo Trabalhista. p. 128.48 apud MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 22 ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 85.49 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. p. 85.

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1.2.1 Teoria Anticontratualista

Segundo expõe a teoria anticontratualista, também

denominada acontratualista, não existe uma relação contratual entre as partes

(empregado e empregador).

Francisco Meton Marques de Lima50 ressalta que a teoria

anticontratualista “suporta-se na ausência de liberdade dos contratantes, posto

que o conteúdo contratual encontra-se nas leis, nada restando à livre deliberação

do empregado e do empregador”.

Dando prosseguimento, Maurício Godinho Delgado51 se faz

presente ao doutrinar ainda que:

Esse ramal teórico não somente enxergava um leito próprio e distintivo de caracterização de natureza jurídica da relação de emprego, como tinha a preocupação principal de negar qualquer relevância ao papel da liberdade e da vontade – e assim do contrato – na formação e desenvolvimento dessa relação jurídica especializada.

A teoria anticontratualista pode ainda ser dividida em duas

vertentes de entendimento, sendo elas a teoria da instituição, esta defendida por

autores franceses e a teoria da relação de trabalho ou da incorporação, sendo

esta visada pelos autores alemães.

A teoria da instituição é bem conceituada por Bismarck

Duarte Diniz52 ao discorrer sobre a sua natureza:

A teoria do institucionalismo sustenta que a empresa é uma intituição na qual há uma situação estatutária e não contratual. O estudo prevê as condições de trabalho que são prestadas sob a autoridade do empregador, que é detentor do poder disciplinar. O vínculo inicia-se pelo engajamento do trabalhador na empresa e não por uma livre discussão de cláusulas contratuais.

50 LIMA, Francisco Meton de. Elementos de Direito do Trabalho e Processo Trabalhista. 11 ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 89.51 DELGADO, Maurício Godinho. Introdução ao Direito do Trabalho. 2 ed. São Paulo: LTr, 1999. p. 241.52 DINIZ, Bismarck Duarte. Direito do Trabalho: Para Aprender e Consultar. Cuiabá: UNIVAG/UNICEN, 2000. p.27.

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Maurício Godinho Delgado53 expõe ainda que:

A partir do conceito de instituição - uma realidade estrutural e dinâmica que teria prevalência e autonomia em face de seus próprios integrantes (conceito buscado dos autores civilistas Maurice Hauriou e Georges Renard) – os insituicionalistas do Direito do Trabalho constroem sua teorização. Nessa linha compreendem a empresa como uma instituição, um corpo social que se impõe objetivamente a certo conjunto de pessoas e cuja permanência e desenvolvimento não se submetem à vontade particular de suas membro componentes.

A outra subdivisão teórica advinda do anticontratualismo é a

teoria da relação de trabalho, bem definida por Amauri mascaro Nascimento54 que

versa:

A teoria da relação de trabalho sustenta que a empresa é uma comunidade de trabalho na qual o trabalhador incorpora-se para cumprir os fins objetivados pela produção nacional. Nessa comunidade não existe uma soma de particulares relações contratuais entre o interessados, mas somente uma relação de trabalho em essência unitária, sem margem para a autonomia da vontade e constituída pela simples ocupação do trabalho humano pelo empregador.

Originando um melhor entendimento sobre a teoria em

pauta, Maurício Godinho Delgado55 menciona claramente que:

A teoria da relação de trabalho parte do princípio de que a vontade e, desse modo, a liberdade não cumprem papel significativo e necessário na constituição e desenvolvimento do vínculo de trabalho subordinado. A prestação material dos serviços, a prática de atos de emprego no mundo físico e social, é que seria a fonte das relações jurídicas de trabalho – e não a vontade das partes, em especial do obreiro. Em face dessa suposição – tida como comprovada pela experiência concreta das relações empregatícias -, semelhante teoria afasta a referência ao

53 DELGADO, Maurício Godinho. Introdução ao Direito do Trabalho. 2 ed. São Paulo: LTr, 1999. p. 24354 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 27 ed. São Paulo: LTr, 2001. p. 148-149.55 MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 22 ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 86.

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contrato (ajuste de vontades) como veio explicativo central da relação de emprego.

Em uma análise geral, percebe-se que a principal

característica das duas teorias supra mencionadas e integrantes do entendimento

anticontratualista é o desprezo a liberdade e a vontade do trabalhador no que se

refere ao estabelecimento da relação trabalhista.

1.2.2 Teoria Contratualista

Já a teoria contratualista, como o próprio nome permite

entender, aprecia a relação entre as partes (empregado e empregador) como

sendo um contrato, com forte intervenção do Estado, visto que as leis trabalhistas

se aplicam automaticamente aos contratos de trabalho, vindo a delimitar a

autonomia da vontade das partes.

Amauri Mascaro Nascimento56 ressalta ainda que tal teoria é

fundamentada na tese de que “a vontade das partes é a causa insubstituível e

única que pode constituir o vínculo jurídico”.

Francisco Meton Marques de Lima57 expressa seu

entendimento alegando que no entendimento da teoria contratualista “o liame

empregatício nasce de um ato de vontade e persiste segundo essa vontade”.

Hueck e Nipperdey58 afirmam que:

A relação jurídica de trabalho é constituída e modelada pelo contrato. A celebração do pacto investe empregado e empregador em direitos e deveres. A relação de trabalho corresponde a uma situação de fato, resultante da efetiva prestação do serviço, e é chamada de relação de trabalho fática.

56 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. 27 ed. São Paulo: LTr, 2001. p. 148.57 LIMA, Francisco Meton de. Elementos de Direito do Trabalho e Processo Trabalhista. 11 ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 89.58 apud MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 22 ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 88.

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Em suma, a referente teoria preceitua que a relação de

trabalho trata-se de um contrato, visto que depende única e exclusivamente da

vontade das partes, o que no entendimento da doutrina trabalhista, torna a

relação mais coerente harmonizando as idéias de liberdade em assentir e ajustar

o contato de trabalho.

Ressaltando a grande divergência desta teoria em relação

ao anticontratualismo, Bismarck Duarte Diniz59 expressa:

Contratualismo é a teoria que considera a relação entre empregado e empregador um contrato. O seu fundamento reside numa tesa: a vontade das partes é a causa insubstituível e única que pode constituir a vínculo jurídico.

1.3 RELAÇÃO DE EMPREGO E RELAÇÃO DE TRABALHO

Primeiramente, faz-se necessário uma breve discussão

sobre os conceitos de relação de emprego e ralação de trabalho, tendo em vista

que a ciência jurídica já expõe uma clara distinção entre as mesmas.

A relação de trabalho tem um caráter mais abrangente,

como Mauricio Godinho Delgado60 prossegue em definir:

Refere-se a todas as relações jurídicas caracterizadas por terem sua prestação essencial centrada em uma obrigação de fazer consubstanciada em trabalho humano. Refere-se, pois, a toda modalidade de contração de trabalho humano modernamente admissível. A expressão relação de trabalho engloba, desse modo, a relação de emprego, a relação de trabalho autônomo, a relação de trabalho temporário, e relação de trabalho eventual, de trabalho avulso e outras modalidades de pactuação de prestação de trabalho.

59 DINIZ, Bismarck Duarte. Direito do Trabalho: Para Aprender e Consultar. Cuiabá: UNIVAG/UNICEN, 2000. p.27.60 DELGADO, Maurício Godinho. Introdução ao Direito do Trabalho. 2 ed. São Paulo: LTr, 1999. p. 230-231.

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Corrobora com o entendimento supra citado Aluysio

Sampaio61 ao afirmar que a relação de trabalho “designa toda relação jurídica que

tenho por objetivo a prestação de serviços de trabalhador autônomo ou eventual,

como do trabalhador subordinado”.

Vê-se, portanto, que o termo relação de trabalho têm um

entendimento bastante extenso.

Já o termo relação de emprego possui um caráter mais

restrito, específico, como Mauricio Godinho Delgado62 define ao configurar “do

ponto de vista técnico-jurídico, apenas uma das modalidades específicas de

relação de trabalho juridicamente configuradas”.

Exemplificando para que se possa obter um melhor

entendimento, analisa-se que, quando uma determinada pessoa física contrata

um jardineiro para que este efetue a limpeza do jardim de sua casa,

automaticamente se estabelece entre ambos uma relação de trabalho, sem que

tenha sido efetuado um contrato de trabalho.

Em contrapartida, logo se pode entender que a relação de

emprego, para o âmbito jurídico, trata-se de uma relação de natureza contratual,

que estabelece uma subordinação, segundo a qual o empregado esta sujeito às

obrigações previstas nos limites do contrato.

Verifica-se, portanto que o fator fundamental na

diferenciação entre as relações de emprego e trabalho, é a dependência do

trabalhador diante do empregador, ou seja, o vínculo de dependência ou

subordinação existente entre as partes (empregado e empregador).

61 LIMA, Francisco Meton de. Elementos de Direito do Trabalho e Processo Trabalhista. 11 ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 88.62 DELGADO, Maurício Godinho. Introdução ao Direito do Trabalho. 2 ed. São Paulo: LTr, 1999. p. 231.

22

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1.3.1 Emenda Constitucional 45

Dentre as inúmeras propostas incidentes na reforma do

judiciário do Brasil, algumas delas provocaram uma significativa e profunda

mudança na distribuição de competências, como é o caso da EC nº 45 de

dezembro de 2004.

É necessário dizer, mediante uma breve análise histórica

acerca da competência da Justiça do Trabalho, que desde a Constituição de

1934, a mesma não possuía um caráter jurisdicional. Competia-lhe apenas, salvo

raras exceções na forma da lei, os conflitos de caráter empregatício, envolvendo

empregados e empregadores, como se pode constatar abaixo em referência.

Constituição de 1934:

Art. 122 Para dirimir questões entre empregadores e empregados, regidas pela legislação social, fica instituída a Justiça do Trabalho, à qual não se aplica o disposto no Capítulo IV do Título l.

Constituição de 1937:

Art. 139 — Para dirimir conflitos oriundos das relações entre empregadores e empregados, reguladas na legislação social, é instituída a Justiça do Trabalho, que será regulada em lei e à qual não se aplicam as disposições desta Constituição relativas à competência, ao recrutamento e às prerrogativas da Justiça Comum.

Constituição de 1946:

Art. 123 — Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre empregados e empregadores, e as demais controvérsias oriundas de relações do trabalho regidas por legislação especial.

§ 1 — Os dissídios relativos a acidentes do trabalho são da competência da Justiça ordinária.

§ 2- A lei especificará os casos em que as decisões, nos dissídios coletivos, poderão estabelecer normas e condições de trabalho”.

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Constituição de 1967:

Art 134 - Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre empregados e empregadores e as demais controvérsias oriundas de relações de trabalho regidas por lei especial.

Evidencia-se, portanto, a constância em apresentar a Justiça

do Trabalho com um caráter não jurisdicional, sendo especializada apenas em

conflitos de natureza predominantemente empregatícia. Ressalta-se este

entendimento, destacando o uso dos termos “empregado” e “empregador”.

Não muito diferente foi a Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988, pois apesar de ter trocado o termo “empregado” por

“trabalhador”, permanecia o uso do termo “empregador” e com isto, o

conseqüente entendimento de uma relação de cunho empregatício, o que

continuava ligando a Justiça do Trabalho com os conflitos empregatícios.

Diz a CRFB/88:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive coletivas.

Diante este impasse, a necessidade de originar-se a

Emenda Constitucional 45/2004, também conhecida como a Lei da Reforma do

Judiciário, que inovou a redação do art. 114 da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988.

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e

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indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

II - as ações que envolvam exercício do direito de greve;

III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;

IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;

V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o;

VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho;

VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho;

VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;

IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei.

Tem-se que a EC 45, trata basicamente das alterações na

base jurídica que, desta forma, atingiu a conciliação dos tribunais, as regras

direcionadas aos magistrados, a formação de um novo órgão dentro do Poder

Judiciário, entre outras.

Com o texto aprimorado da Reforma, dentre inúmeras outras

modificações acarretadas pela implementação da EC 45, realizou-se uma

mudança estrutural da Justiça do Trabalho que, conseqüentemente, teve seu

campo de atuação incontestavelmente ampliado, passando a assumir

competência para julgar todas as causas que envolvam relações de trabalho e

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não apenas as de emprego, como ocorria até então, configurando-se pelo texto

original do art. 114 da CRFB de 1988.

Assim, parcela dos processos que vinham sendo

processados e julgados perante outras justiças passaram agora para a

competência da Justiça do Trabalho.

CAPÍTULO 2

SAÚDE OCUPACIONAL

2.1 ACIDENTE DO TRABALHO

Dentro do Direito Trabalhista, mais precisamente na relação

de trabalho, é importante ressaltar a saúde do trabalhador, onde acaba-se por

relacionar tal pensamento com o acidente do trabalho, já que este fere

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diretamente a sua integridade física, podendo ocasionar conseqüências

traumáticas que por muitas vezes levam a incapacidade ou até mesmo a morte.

De acordo com um levantamento feito e divulgado no ano de

1985 pela OIT63:

A cada três minutos um trabalhador perdia a vida no mundo por conseqüência de acidente do trabalho ou de doença profissional, e a cada segundo, pelo menos, quatro trabalhadores sofriam algum tipo de lesão.

2.1.1 Definição de acidente do trabalho

Buscando primeiramente o conceito geral sobre a

terminologia “acidente do trabalho” em seu sentido estrito, também chamado de

acidente típico, encontra-se na norma vigente, mais precisamente no art. 19 da

Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991a seguinte consideração:

Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

Portanto, tendo sido feita a pertinente análise sobre o texto

legal acima destacado, entende-se perfeitamente que o acidente do trabalho é a

caracterização de qualquer acometimento que venha causar danos ao

trabalhador, seja estes por lesão à sua saúde e/ou integridade física, de forma

grave ou não, parcial ou total, permanente ou temporária.

Cabe aqui fazer uma breve observação em referência ao art.

20 da mesma lei que, expressamente considera as doenças ocupacionais como

sendo também um acidente do trabalho. Este tema, porém será melhor abordado

em tópico subseqüente.63 apud OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2 ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 28.

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Aprofundando a análise sobre o tópico em questão, destaca-

se ainda a existência de dois conceitos distintos para o acidente do trabalho,

sendo eles o legal e o prevencionista.

O conceito legal de acidente do trabalho, como o próprio

termo nos permite claramente interpretar, define o sentido estrito do mesmo, que

está expresso no art. 19 da Lei 8.213/91 já citado anteriormente, não havendo,

portanto, qualquer entendimento difuso ao texto legal.

Pode-se ainda mencionar o conceito que Hertz Costa64

dispõe ao termo acidente típico:

“É acontecimento brusco, repentino, inesperado, externo e

traumático, ocorrido durante o trabalho ou em razão dele, que agride a integridade

física ou psíquica do trabalhador”.

O conceito prevencionista de acidente do trabalho, no

entanto, considera um outro enfoque em referência ao termo, como Edwar Abreu

Gonçalves65 nos permite entender ao definir:

Acidente do trabalho, sob a ótica prevencionista, pode ser definido como a ocorrência não programada, inesperada ou não, que interrompe ou interfere no processo normal de uma atividade, ocasionando perda de tempo útil e/ou lesões nos trabalhadores, e/ou danos materiais.

Pode-se perceber que as duas classificações aqui

destacadas têm função meramente didática ou doutrinária, para uma melhor

possibilidade de estudar o tópico.

Cabe, entretanto, ressaltar ainda a diferenciação que Edwar

Abreu Gonçalves66 também faz entre o conceito prevencionista e o conceito legal

de acidente do trabalho:

64 apud OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2 ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 42.65 GONÇALVES, Edwar Abreu. Segurança e Medicina do Trabalho em 1.200 Perguntas e Respostas. 3 ed. São Paulo: LTr, 2001. p. 28.66 GONÇALVES, Edwar Abreu. Segurança e Medicina do Trabalho em 1.200 Perguntas e Respostas. p. 29.

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O conceito prevencionista de acidente do trabalho é mais abrangente do que o conceito legal, posto que este se restringe às hipóteses de ocorrência de lesões e/ou perturbações de ordem funcional ou mental nos trabalhadores acidentados, ao passo que aquele contempla não só a hipótese legal como também as situações em que ocorreram, de forma isolada ou simultânea, perda de tempo útil e/ou danos materiais.

Outro ponto a ser estudado é o que dispõe sobre as

situações diversas das que já foram aqui citadas, mas que também são

legalmente consideradas como acidentes de trabalho. Tais situações estão

legalmente elencadas, conforme o texto expresso no art. 21 da Lei 8.213/91.

Dentre as hipóteses mencionadas no dispositivo, destacam-

se as concausas que, embora não tenham uma ligação direta com o resultado,

contribuem para o mesmo.

Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei:

I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação;

Cabe aqui salientar o posicionamento de Cavalieri Filho67

que desta forma conceitua:

A concausa é outra causa que, juntando-se à principal, concorre para o resultado. Ela não inicia e nem interrompe o processo causal, apenas o reforça, tal qual um rio menor que deságua em outro maior, aumentando-lhe o caudal.

Outra hipótese mencionada no texto legal é o chamado

acidente de trajeto ou in itinere, também preceituado pela Lei 8.213/91.

67 apud OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2 ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 50.

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Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei: (...)

IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho: (...)

d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.

Dando continuidade ao entendimento expresso no

dispositivo acima citado, Edwar Abreu Gonçalves68 define o termo acidente de

trajeto como sendo:

Infortúito possível de ocorrer com o trabalhador no percurso de sua residência para o local de trabalho ou deste para aquela, antes ou após o término de sua jornada de trabalho, qualquer que seja o meio de locomoção por ele utilizado, inclusive veículo próprio.

O acidente de trajeto que fora acima conceituado, também

enquadra os casos ocorridos no mesmo percurso, quando o trabalhador faz as

suas refeições em sua residência. Apenas deixa de caracterizar-se o acidente de

trabalho, quando o trabalhador, por vontade própria, interrompa ou muda o

percurso habitual.

Para fins didáticos, torna-se importante ainda mencionar o

artigo 21 em seu § 1º da Lei 8.213/91 que dispõe claramente:

Art. 21 (...)

§ 1º Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do trabalho.

Restam ainda citar as outras hipóteses que a Lei 8.213/91

equipara ao acidente do trabalho:68 GONÇALVES, Edwar Abreu. Segurança e Medicina do Trabalho em 1.200 Perguntas e Respostas . 3 ed. São Paulo: LTr, 2001. p. 32.

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Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei: (...)

II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em conseqüência de:

a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho;

b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho;

c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho;

d) ato de pessoa privada do uso da razão;

e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior;

III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade;

IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho:

a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;

b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito;

c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado; (...).

Vê-se então que o artigo mencionado traduz em seu

conteúdo os casos divergentes e variado que são equiparados ao acidente de

trabalho e as suas peculiaridades.

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Importante ainda se faz aludir a ampliação do entendimento

sobre o acidente do trabalho, o que permite melhor caracterizá-lo frente à

ocorrência do infortúnio. Diante disto, destaca-se o posicionamento de Bernadette

Cunha Waldvogel69 que discorre de tal modo:

Hoje, os acidentes do trabalho não estão mais associados apenas às atividades realizadas dentro do ambiente de trabalho restrito às empresas, assim como os tipos de acidentes predominantes não correspondem mais àqueles relacionados diretamente com os processos intrínsecos ao trabalho.

Outro ponto a ser mencionado, refere-se as causas dos

acidentes do trabalho. Nesta questão, preceitua-se que, os acidentes do trabalho,

já definidos e legalmente considerados, devem-se a duas causas básicas, sendo

elas as condições inseguras e os atos inseguros, sendo estes também

denominados como fator pessoal de insegurança.

Prosseguindo a esta acepção, Edwar Abreu Gonçalves70 se

faz presente ao conceituar as condições inseguras como:

“Deficiências, defeitos ou irregularidades técnicas nas

instalações físicas. Máquinas ou equipamentos, os quais, presentes nos

ambientes de trabalho, podem ocasionar acidentes de trabalho”.

Entende-se, portanto, que as condições inseguras referem-

se à qualidade do ambiente de trabalho, ou seja, que este não oferece boas

condições para a atuação profissional, estando o trabalhador em constante risco

de acidentes.

Com o significado de condições inseguras já estabelecido,

Edwar Abreu Gonçalves71 utiliza situações hipotéticas de ocorrência no meio

69 WALDVOGEL, Bernadette Cunha. Acidente do Trabalho: Vida Ativa Interrompida. In.: CARVALHO NETO, Antônio; SALIM, Celso Amorim. Novos Desafios em Saúde e Segurança do Trabalho. Belo horizonte: PPUC Minas, 2001. p. 37.70 GONÇALVES, Edwar Abreu. Segurança e Medicina do Trabalho em 1.200 Perguntas e Respostas. 3 ed. São Paulo: LTr, 2001. p. 33.71 GONÇALVES, Edwar Abreu. Segurança e Medicina do Trabalho em 1.200 Perguntas e Respostas. p. 33.

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ambiente de trabalho para exemplificar o conceito dado e assim beneficiar o

entendimento:

Iluminação inadequada, desconforto térmico, piso escorregadio, ruído e trepidações excessivas, falta de ordem e limpeza, falta de proteção em partes móveis das máquinas, não submeter as máquinas, equipamentos e ferramentas, a manutenções periódicas de acordo com as recomendações técnicas dos fabricantes e o não fornecimento de equipamentos de proteção individual aos trabalhadores.

Como se faz necessário, a outra causa básica dos acidentes

do trabalho, mais precisamente, o ato inseguro ou fator pessoal de insegurança, é

também denominado por Edwar Abreu Gonçalves72 que abaixo discorre como

sendo:

Atitudes, atos, ações ou comportamentos do trabalhador, contrários às normas de segurança e que colocam em risco a sua saúde e/ou integridade física, ou de outros colegas de trabalho. Os atos inseguros são geralmente definidos como causas de acidentes que residem, predominantemente, no fator humano.

Então, pode-se perfeitamente entender que, os atos

inseguros, são causas de acidente do trabalho com uma característica em

especial. São elas provindas do fator humano, ou seja, da atuação do homem

que, em geral, está consciente de que esta fazendo alguma coisa fora dos

padrões de segurança a ele estabelecido.

Edwar Abreu Gonçalves73 se faz novamente presente para

exemplificar os atos inseguros, cogitando algumas condutas impróprias que levam

o trabalhador a sofrer o acidente:

Improvisar caixotes em formas de escadas de mão; indiferença às normas de segurança e medicina do trabalho; atos de exibicionismo; ingestão de bebidas alcoólicas antes ou durante o horário de trabalho; não realização de prévia inspeção de rotina

72 GONÇALVES, Edwar Abreu. Segurança e Medicina do Trabalho em 1.200 Perguntas e Respostas. p. 33-34.73 GONÇALVES, Edwar Abreu. Segurança e Medicina do Trabalho em 1.200 Perguntas e Respostas. 3 ed. São Paulo: LTr, 2001. p. 34.

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nas máquinas, equipamentos ou ferramentas em que vai trabalhar e a não utilização dos equipamentos de proteção individual fornecidos pela empresa.

Evidentes são as infelizes conseqüências do acidente do

trabalho para o empregado, podendo ser destacado o sofrimento físico por

lesões, incapacidades diversas, ou até mesmo a morte, sem mencionar os

reflexos psicológicos negativos provindos de eventuais seqüelas acidentárias.

Deste modo, conclui-se que a eliminação destas causas e

conseqüentemente da incidência de acidentes do trabalho favorecerão ao

trabalhador que assegura a sua qualidade de vida, evita perda de rendimentos e

mantém sua auto-estima trabalhando com prazer, alegria e motivação para vida.

Serão ainda favoráveis para o empregador que obterá maiores ganhos de

produtividade, preservará a imagem da empresa perante a comunidade, haverá a

diminuição de litígios trabalhistas, a menor rotatividade da mão-de-obra, etc.

Interessante comentar que este é o objetivo da segurança

do trabalho, que nada mais é do que o conjunto de medidas técnicas, médicas e

educacionais, empregadas para prevenir acidentes, eliminando condições

inseguras do ambiente de trabalho, instruindo e/ou convencionando pessoas na

implantação de práticas preventivas.

2.1.2 - Doenças ocupacionais

Doença Ocupacional é também uma alteração na saúde do

trabalhador, provocada por fatores ambientais associados ao trabalho. Ela pode

ser provocada pelo contato ou exposição de curto, médio ou longo prazo, do

trabalhador a agentes químicos, físicos, biológicos ou radioativos em situações

acima do permitido em lei, sem a utilização de equipamentos pertinentes voltados

para a proteção.

Adverte Russomano74 que:

74 apud OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2 ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 44.

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O acidente e a enfermidade têm conceitos próprios. A equiparação entre eles se faz apenas no plano jurídico, com efeitos nas reparações e nos direitos que resultam para o trabalhador nos dois casos. Enquanto o acidente é um fato que provoca lesão, a enfermidade profissional é um estado patológico ou mórbido, ou seja, perturbação da saúde do trabalhador.

Cabe aqui também citar o posicionamento de Sebastião

Geraldo de Oliveira75 que sobre o tópico proposto ensina:

O acidente caracteriza-se pela ocorrência de um fato súbito e externo ao trabalhador, ao passo que a doença ocupacional normalmente vai se instalando insidiosamente e se manifesta internamente, com tendência de agravamento.

Como característica diversa, as doenças ocupacionais levam

um certo tempo para que venham a se manifestar, e quando isto ocorre, elas

aparecem sob a forma de tumores, lesões, dentre outras formas.

São elencadas no art. 20 da lei 8.213/91 as doenças

ocupacionais, onde claramente são também consideradas um tipo de acidente do

trabalho. A referente norma dispõe:

Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas:

I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;

II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I.

Pode-se constatar com a análise do artigo acima citado, é

que o próprio texto legal destaca uma outra classificação sobre a doença

75 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2 ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 44

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ocupacional, diferenciando a mesma entre a doença profissional e a doença do

trabalho.

Mediante tais denominações, para fins de aprimoramento

didático, faz-se necessário conceituar cada uma delas. Então, frisando o conteúdo

da referente norma, Edwar Abreu Gonçalves76 expõe:

Na doença profissional, os empregados que desenvolvem uma mesma atividade comumente estão sujeitos a contraí-la, eis que os riscos ambientais são inerentes à atividade em si. (...) Já a doença do trabalho se caracteriza por uma condição especial de trabalho.

Sendo assim, podemos perceber o quanto é realmente

tênue a diferenciação entre as duas classificações das doenças ocupacionais.

Sebastião Geraldo de Oliveira77 conceitua:

As doenças profissionais são aquelas peculiares a determinada atividade ou profissão, também chamadas de doenças profissionais típicas, tecnopatias ou ergopatias. O exercício de determinada profissão pode produzir ou desencadear certas patologias, sendo que, nessa hipótese, o nexo causal da doença com a atividade é presumido.

Intuindo um entendimento mais eficiente, cabe expor como

exemplo de uma doença profissional os trabalhadores que contraem o Saturnismo

(intoxicação provocada pelo chumbo) ou Silicose (intoxicação provocada pela

sílica). Nos casos propostos, o trabalhador possui atividade onde é comum e

freqüente a exposição e contato com o material ou a substância lesiva, sendo a

doença, portanto, presumida em relação ao trabalho exercido.

Já em referência as doenças do trabalho, Sebastião Geraldo

de Oliveira78 ainda conceitua:

76 GONÇALVES, Edwar Abreu. Segurança e Medicina do Trabalho em 1.200 Perguntas e Respostas. 3 ed. São Paulo: LTr, 2001. p. 29-30.77 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2 ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 44.78 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. p. 45.

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Doença do trabalho, também chamada mesopatia ou doença profissional atípica, apesar de igualmente ter origem na atividade do trabalhador, não está vinculada necessariamente a esta ou aquela profissão. Seu aparecimento decorre da forma em que o trabalho é prestado ou das condições específicas do ambiente de trabalho.

Cabe ressaltar um na doença do trabalho, diferentemente da

doença profissional, não é presumido o nexo de causalidade, exigindo-se,

portanto, a comprovação de que a patologia fora adquirida em razão das

condições especiais do meio ambiente do trabalho.

Para exemplificar a doença do trabalho, podemos citar o

caso hipotético de uma secretária que trabalha em um ambiente onde o nível de

pressão sonora está acima do limite de tolerância. Esta poderá contrair a surdez,

porém neste caso a doença será caracterizada como doença do trabalho, visto

que a exposição ao ambiente ruidoso não é comum à sua atividade realizada.

Vê-se então, nos exemplos acima mencionados, que o sutil

fator diferenciador entre as duas classificações esta ligado a natureza do meio

ambiente onde é exercido o respectivo trabalho.

Um considerável debate se forma quando são abordadas as

eliminações expressas no texto do Art. 20 da Lei 8.213/91, que em seu § 1º

destaca algumas doenças que não são consideradas doenças do trabalho. Assim

dispõe:

Art.20. (...)

§ 1º Não são consideradas como doença do trabalho:

a) a doença degenerativa;

b) a inerente a grupo etário;

c) a que não produza incapacidade laborativa;

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d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho.

Tendo em vista os casos hipotéticos sugeridos pelo artigo

supra citado, pode-se entender que a doença não possui um nexo de causalidade

que associa ao trabalho, ou seja, apesar de ter aparecido no trabalho, não é

decorrente do mesmo.

Cabe ressaltar o posicionamento de Sebastião Geraldo de

Oliveira79 que diz:

“Normalmente as doenças degenerativas ou inerentes ao

grupo etário independem do fator laboral e poderiam aparecer mesmo que o

trabalhador estivesse desempregado ou aposentado”.

Pertinente se faz aqui ressaltar, apenas por questão de

entendimento, que não se pode considerar de modo literal o texto do dispositivo

acima mencionado, tendo em vista que muitas doenças ocupacionais possuem

uma natureza degenerativa. Então, torna-se de extrema importância configurar a

relação direta da mesma com a atividade laboral, o que, deste modo, caracteriza

a doença do trabalho.

Enfim, tratando de doença ocupacional ou acidente do

trabalho, mais abrangente a saúde ocupacional, cabe ao empregador a obrigação

de zelar pela saúde do trabalhador no seu ambiente de trabalho. Portanto, deverá

a empresa ter uma equipe técnica responsável por implantar um sistema de

engenharia, equipamentos e treinamento voltado à segurança.

2.1.3 - Nexo de causalidade

Analisados os tipos de acidente do trabalho, surge aqui a

necessidade de tratar o nexo de causal, também denominado liame de 79 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2 ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 48.

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causalidade, antes de entrar no tópico da responsabilidade civil do empregador.

Isto porque o nexo de causalidade tem um caráter indispensável, sendo este um

pressuposto da responsabilidade civil, que mais a frente será também salientada.

Tal elemento está subentendido entre o ato culposo do agente e o prejuízo da

vítima, gerando assim, uma obrigação indenizatória.

Tendo como finalidade uma melhor construção doutrinária

sobre o tema, José Jairo Gomes80 utiliza um antigo entendimento que até hoje se

configura pertinente:

“É clássico o ensinamento mecanicista de Aristóteles, que

divisava na causalidade uma relação lógica, de acordo com a qual o efeito

poderia ser deduzido da causa, já que é a produtora daquele”.

Em referência ao mesmo embasamento teórico, o nexo de

causalidade é também conceituado por Silvio de Salvo Venosa81 que discorre de

tal modo:

O conceito de nexo causal, nexo etiológico ou relação de causalidade deriva das leis naturais. É o liame que une a conduta do agente do dano. É por meio do exame da relação causal que concluímos quem foi o causador do dano.

Expressivo ainda é o posicionamento de José Jairo

Gomes82quando aborda o nexo de causalidade e a sua natureza relacionada não

apenas com as ciências jurídicas, mas sim com ela em sua generalidade. Desta

forma diz que:

“A problemática da causalidade não se restringe ao Direito,

mas todos os ramos da ciência”.

80 GOMES, Jose Jairo. Direito Civil: Introdução e Parte Geral. Belo Horizonte. Del Rey, 2006. p. 520.81 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003. p 39.82 GOMES, Jose Jairo. Direito Civil: Introdução e Parte Geral. Belo Horizonte. Del Rey, 2006. p. 520.

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Procurando melhor ensinar sobre o nexo de causalidade,

cita-se ainda o desembargador Sérgio Cavalieri Filho83 que corrobora ao discorrer:

“O conceito de nexo causal não é jurídico; decorre das leis

naturais. É o vínculo, a ligação ou relação de causa e efeito entre a conduta e o

resultado”.

O significado do termo “causa” em sua forma comumente

utilizada, traz o sentido de motivo ou razão de ser, o que traduz a existência de

uma determinada coisa, ou ainda que aconteça ou torne-se o que é. Neste

conceito comum, “causar” é o mesmo que originar, determinar, produzir.

No entanto, introduzido no entendimento jurídico, o termo

nexo de causalidade, revela a conexão existente entre a conduta do agente e o

conseqüente dano.

Discorre Sebastião Geraldo de Oliveira84 em referência ao

Direito do Trabalho no quesito acidente do trabalho:

O nexo causal é o vínculo que se estabelece entre a execução do serviço (causa) e o acidente do trabalho ou doença ocupacional (efeito). Pode-se afirmar que esse pressuposto é o primeiro que deve ser investigado, porquanto se o acidente não estiver relacionado ao trabalho é desnecessário, por óbvio, analisar a extensão dos danos e a culpa patronal.

Assim sendo, confere-se a aquisição de uma relação

imputacional, onde o dano é atribuído a uma pessoa que responderá pelo mesmo,

e estará encarregada do respectivo ressarcimento. Neste sentido, expõem o seu

entendimento alguns doutrinadores, abaixo relacionados, com os seus

respectivos posicionamentos.

Gisela Sampaio da Cruz85:

83 apud OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção Jurídica à Saúde do Trabalhador. 3 ed. São Paulo: LTr, 2001. p. 232.84 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2 ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 123.85 apud OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. p. 123.

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Para que se configure a obrigação de indenizar, não basta que o agente haja procedido contra o Direito, nem que tenha criado um risco, tampouco que a vítima sofre um dano; é preciso que se verifique a existência de uma relação de causalidade a ligar a conduta do agente, ou sua atividade, ao dano injustamente sofrido pela vítima.

João Antônio Lima Castro86:

O direito à indenização pelo empregado não se caracteriza somente pela culpa do empregador, gerando a responsabilidade civil. É necessário a existência do ‘nexo de causalidade’, sendo esse o elemento caracterizador da responsabilidade em relação ao dano causado ao empregado.

Rui Stoco87:

Não basta que o agente haja procedido contra jus, isto é, não se define a responsabilidade pelo fato de cometer um erro de conduta. Não basta que a vitima sofra um dano, que é elemento objetivo do dever de indenizar, pois se não houver um prejuízo a conduta antijurídica, não gera obrigação de indenizar.

Caio Mario88:

Este e o mais delicado dos elementos da responsabilidade civil e o mais difícil de ser determinado. Alias, sempre que um problema jurídico vai ter na indagação ou na pesquisa da causa, desponta a sua complexidade maior. Mesmo que haja culpa e dano, não existe obrigação de reparar, se entre ambos não se estabelecer a relação causal.

O que os doutrinadores expressam acima, é que se deve

estabelecer uma relação entre a ação antijurídica e o dano ocasionado. Este é o

vínculo denominado nexo causal.

86 CASTRO, João Antônio Lima. Título do capítulo. In.: CARVALHO NETO, Antônio; SALIM, Celso Amorim. Novos Desafios em Saúde e Segurança do Trabalho. Belo horizonte: PPUC Minas, 2001. p. 190.87 STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial: Doutrina e Jurisprudência. 4 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999. p.7588 apud STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial: Doutrina e Jurisprudência. p.75.

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Não se pode deixar de abrir aqui uma observação e citar as

chamadas concausas, elencadas pelo art. 21, inciso I da Lei 8.213/01 já vista em

tópico anterior.

Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei:

I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação.

Em referência ao nexo de causalidade tem-se na ocorrência

destes casos o nexo concausal.

Há, porém que se destacar a precaução relatada por

Sebastião Geraldo de Oliveira89 quanto a caracterização do acidente do trabalho e

a conseqüente obrigação gerada:

Uma vez constatado que o empregado foi vítima de algum acidente ou doença cabe verificar em seguida o pressuposto do nexo causal, isto é, se há uma relação de causa e efeito ou liame de causalidade entre tal evento e a execução do contrato de trabalho. Se o vínculo causal for identificado, então estaremos diante de um acidente do trabalho conforme previsto na legislação; no entanto, se não for constatado, torna-se inviável discutir qualquer indenização.

Cabe aqui fazer uma breve ressalva, dando continuidade ao

ensinamento, mediante o esclarecimento dado por Silvio de Salvo Venosa90 que

abaixo relata:

O caso fortuito e a força maior são excludentes do nexo causal, porque o cerceiam, ou o interrompem. Na verdade, no caso fortuito e na força maior inexiste relação de causa e efeito entre a conduta do agente e o resultado danoso.

89 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2 ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 124.90 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 39.

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José Jairo Gomes91 observa a importantíssima

caracterização do referente nexo de causa, tendo em vista que sua ausência

anula a responsabilidade, ainda que evidente seja a ocorrência de um dano.

Prossegue o doutrinador:

“A caracterização do nexo causal é muito importante, já que sua ausência tem o condão de afastar a responsabilidade, mesmo que, no contexto considerado, apresente-se um dano. Com efeito, é necessário que este ligue-se de algum modo à pessoa chamada a responder por ele.”

Sebastião Geraldo de Oliveira92 também se faz pertinente ao

por em pauta o que, diante dos ensinamentos já expostos, torna-se evidente:

“A exigência de estabelecer o nexo causal funda-se no fato

de que ninguém pode responder por dano a que não tenha dado causa”.

Observa-se, portanto, que o nexo de causalidade é

conceituado de igual modo quando o levamos para o ramo do direito do trabalho,

sendo imprescindível também no campo da saúde ocupacional onde, nos casos

de acidente do trabalho ou doença ocupacional, deve-se estabelecer a culpa e

conseqüente responsabilidade sobre o dano sofrido.

Assim, Edwar Abreu Gonçalves93 diz:

Não é desejável que os acidentes do trabalho aconteçam; todavia, quando de sua ocorrência, mesmo nos casos de menor gravidade, é extremamente importante que o mesmo seja devidamente investigado com o intuito de se identificar as causas que o motivaram e, assim, se possa adotar as medidas para prevenir sua repetição.

91 GOMES, Jose Jairo. Direito Civil: Introdução e Parte Geral. Belo Horizonte. Del Rey, 2006. p. 522.92 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção Jurídica à Saúde do Trabalhador. 3 ed. São Paulo: LTr, 2001. p. 232.93 GONÇALVES, Edwar Abreu. Segurança e Medicina do Trabalho em 1.200 Perguntas e Respostas. 3 ed. São Paulo: LTr, 2001. p. 49.

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Neste entendimento supra citado, pode-se analisar que uma

outra finalidade da investigação das causas do acidente do trabalho tem caráter

preventivo, já que visa a não repetição do mesmo.

Sabe-se porém que nem sempre é possível estabelecer o

nexo com facilidade, principalmente quando se trata um caso de doença

ocupacional. Sebastião Geraldo de Oliveira94 também se faz novamente presente

ao doutrinar que:

No acidente do trabalho típico a presença do nexo causal fica bem evidente. No entanto, a constatação do liame de causalidade, no caso das doenças do trabalho, exige cuidado maior pois nem sempre é possível estabelecer com segurança se a doença ocorreu por causa do trabalho, o que requer exames complementares para diagnósticos diferenciais mais apurados de modo a estabelecer a distinção. A própria lei acidentária exclui do conceito de doenças do trabalho a doença degenerativa e aquelas inerentes ao grupo etário, porque, em tese, os trabalhadores com propensão seriam acometidos destas patologias trabalhando ou não.

Fica, portanto, claro a importância do nexo causal ou liame

de causalidade, mencionando também o nexo concausal, para que se possa

definir a equivalência entre o ato antijurídico e o conseqüente dano ocasionado

pelo mesmo, chegando desta forma, a um patamar indenizatório apropriado a ser

imputado ao agente causador do infortúnio.

94 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção Jurídica à Saúde do Trabalhador. 3 ed. São Paulo: LTr, 2001. p. 234.

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CAPÍTULO 3

3. DIREITO DO TRABALHADOR A REPARAÇÃO POR EVENTUAL ACIDENTE DO TRABALHO OU DOENÇA OCUPACIONAL

3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL

Inicialmente, fazendo um retrocesso histórico em referência

ao assunto em pauta, é interessante relatar, de forma breve, sobre a origem

ideológica da responsabilidade civil.

Deste modo, cabe citar que nos tempos remotos, podendo

considerar uma natureza selvagem onde predominavam as sociedades tribais,

sendo elas primitivamente organizadas, se buscava a satisfação da ofensa

pessoal utilizando a justiça feita pelas próprias mãos.

Faz menção a esta longínqua fase da história José Jairo

Gomes95:

Nas idades primevas, a consciência humana ainda não havia atingido um grau de abstração tal que lhe permitisse conceber a idéia de reparação do dano causado pela conduta alheia, imperando a rude concepção de retribuição do mal pelo mal.

Assim, como facilmente pode-se perceber em decorrência

deste entendimento sobre a consciência brutal existente nos primórdios da

humanidade, prevalecia sempre a resposta de um ato ilícito por outro em mesmo

grau ou, como muitas vezes ocorria, desproporcional ao dano sofrido, o que, em

ambos os casos, não ocasionava exatamente uma apropriada reparação, mas

sim, um novo dano.

95 GOMES, Jose Jairo. Direito Civil: Introdução e Parte Geral. Belo Horizonte. Del Rey, 2006. p. 486.

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Simone Buskei Marino96 discorre ao tema no quesito

evolutivo:

Contudo, com o passar do tempo, a evolução da responsabilidade civil derrogou o adágio ‘olho por olho’, dente por dente’, assumindo a impostergável e complexa função de solucionar a celeuma advinda dos danos pessoais causados por outrem, de modo essencialmente equânime.

Evidente era a necessidade do aprimoramento das leis pela

humanidade aplicadas, impedindo deste modo que a justiça praticada pelas

próprias mãos fosse livremente exercida.

João Antônio Lima Castro97 discorre também que:

A diferenciação de pena e da reparação somente começou a ser demonstrada no direito romano. Houve a distinção entre os delitos públicos – ofensas mais graves, de caráter perturbador da ordem – e os delitos privados – que ocorriam entre particulares. Nos delitos públicos, a pena econômica imposta ao réu deveria ser recolhida aos cofres públicos, e nos delitos privados, a pena em dinheiro era entregue a vítima.

José Jairo Gomes98 aprofunda ainda mais tal recapitulação

da história evolutiva da responsabilidade civil, caracterizando de forma mais

precisa os fatos supra citados:

Sob a ótica do Direito Romano, o dano tirava da vítima algo que lhe pertencia, devendo tal situação ser corrigida, o que era alcançado sob a inspiração de idéia do suum cuide tribuere (dar a cada um o que é seu). O dano era considerado uma injustiça, e esta devia ser corrigida.

96 MARINO, Simone Buskei. A Responsabilidade Civil do Empregador Decorrente do Acidente do Trabalho. In.: DALLEGRAVE NETO, José Affonso. Direito do Trabalho Contemporâneo: Flexibilização e Efetividade. São Paulo: LTr, 2003. p. 154.97 CASTRO, João Antônio Lima. Acidente do Trabalho Frente à Responsabilidade Civil. In.: CARVALHO NETO, Antônio; SALIM, Celso Amorim. Novos Desafios em Saúde e Segurança do Trabalho. Belo horizonte: PPUC Minas, 2001. p. 188.98 GOMES, Jose Jairo. Direito Civil: Introdução e Parte Geral. Belo Horizonte. Del Rey, 2006. p. 487.

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Com base nesta breve e sucinta análise histórica da

consciência humana, já se pode contemplar o dano causado por alguém como um

elemento ao qual sempre se buscou imputar uma forma adequada de punição,

sendo que esta foi variando ao decorrer do tempo.

3.1.1 Responsabilidade Civil do Empregador

Inicialmente, destaca-se uma sucinta conceituação que o

doutrinador Rui Stoco99 faz em referência ao termo responsabilidade:

A noção de responsabilidade pode ser haurida da própria origem da palavra, que vem do latim respondere, responder a alguma coisa, ou seja, a necessidade que existe de responsabilizar alguém por seus atos danosos.

Sabe-se que, nos tempos atuais, qualquer ato que ocasione

determinado prejuízo a alguém, traz a tona uma discussão relativa a

responsabilidade civil, não sendo mais esta um elemento exclusivo do âmbito

jurídico, mas sim da convivência social.

Corrobora com este entendimento Sebastião Geraldo de

Oliveira100 ao afirmar:

Onde houver dano ou prejuízo, a responsabilidade civil é chamada para fundamentar a pretensão de ressarcimento por parte daquele que sofreu as conseqüências do infortúnio. É, por isso, instrumento de manutenção da harmonia social, na medida em que socorre o que foi lesado, utilizando o patrimônio do causador do dano para restauração do equilíbrio rompido. Com isso, além de corrigir o desvio de conduta, amparando a vítima do prejuízo, serve para desestimular o violador potencial, o qual pode antever e até mensurar o peso que seu ato ou omissão poderá acarretar.

99 STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e Sua Interpretação Jurisprudencial: Doutrina e Jurisprudência. 4 ed. São Paulo: Editora Revista do Tribunais, 1999. p. 59.100 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção Jurídica à Saúde do Trabalhador. 3 ed. São Paulo: LTr, 2001. p. 226.

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Em referência ao termo propriamente dito, é de extrema

importância analisarmos o seu conceito contemporâneo, conforme Maria Helena

Diniz101 faz:

Responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar um dano moral ou patrimonial causado a terceiro em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou por simples imposição legal.

Assim pode-se perceber que a finalidade essencial da

responsabilidade civil é de imputar ao agente a obrigação de reparar o dano

conseqüente ao ato por ele cometido, na busca de proporcionar a vítima uma

situação mais próxima possível da qual não houvesse ocorrido a lesão.

Ao levar tal entendimento para ramo específico do Direito

Trabalhista, ressalta-se também, em relevância ao vínculo de subordinação

existente, a responsabilidade civil do empregador sobre os seus trabalhadores,

como dispõe o Art. 932, inciso III do CC:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

(...)

III – o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele.

Percebe-se, portanto, que cabe ao empregador ressarcir o

prejuízo ocorrido com a vítima, conferindo a responsabilidade um caráter

indenizatório. Como Maria Helena Diniz102 versa, “indenizar é ressarcir o dano

causado, cobrindo todo o prejuízo experimentado pelo lesado. Todavia, recebe

um caráter punitivo”.

101 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. v. 7. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 40.102 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. p. 133.

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Indispensável faz-se salientar que o direito do trabalhador a

indenização por acidente do trabalho é também previsto no texto da CRFB/88 que

preceitua em seu art. 7º, inciso XXVIII:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.

Vê-se, portanto que, o direito do empregado, está bem

fundamentado em Lei não deixando qualquer dúvida no quesito obrigação por

parte do empregador.

Desta maneira, destaca-se ainda o entendimento de João

Antônio Lima Castro103 que corrobora com os dispositivos legais supra citados:

A existência do acidente do trabalho e as situações equiparáveis acarretarão sérias conseqüências jurídicas para o empregador. Dessas, a de maior repercussão econômica é a indenização ao acidentado ou a seus dependentes, em razão do dano sofrido, com fundamento na responsabilidade civil.

Para tanto, deve-se identificar o vínculo entre as partes,

empregador e empregado, não necessariamente o contrato anteriormente

mencionado, mas a existência de uma subordinação. Importante é saber se o ato

causador fora praticado no exercício do trabalho, sob as ordens do empregador.

Menciona ainda Rogério Marrone de Castro Sampaio104

dando continuidade ao mesmo entendimento:

A contrario sensu, não incide tal responsabilidade quando o ato é praticado pelo empregado ou preposto fora de suas funções, como acontece, por exemplo, com os atos ilícitos praticados por

103 CASTRO, João Antônio Lima. Acidente do Trabalho Frente à Responsabilidade Civil. In.: CARVALHO NETO, Antônio; SALIM, Celso Amorim. Novos Desafios em Saúde e Segurança do Trabalho. Belo horizonte: PPUC Minas, 2001. p. 192-193.104 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 57.

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trabalhadores em greve (apedrejamento de veículos, agressões físicas etc).

3.1.2 Tipos de Responsabilidade Civil e o Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional

Uma característica importante da responsabilidade civil a ser

ressaltada no âmbito doutrinário, é que esta possui outras subdivisões, sendo (A)

quanto ao seu fator gerador, (B) ao seu fundamento e (C) relativamente ao

agente.

A) Quanto ao seu fato gerador, a responsabilidade pode ser

subdividida em contratual e extracontratual ou aquiliana.

A responsabilidade contratual é decorrente do não

cumprimento ou mora do cumprimento de qualquer obrigação existente no

contrato, proporcionando deste modo a obrigação de indenizar os prejuízos

decorrentes do ato, como estabelece o Art. 389 do CC:

”Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor

por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais

regularmente estabelecidos, e honorários de advogado”.

Ressalta Rogério Marrone de Castro Sampaio105:

O não cumprimento, de forma culposa, da obrigação por um dos contratantes dá ensejo, se assim desejar o outro, à resolução do contrato por inexecução voluntária da obrigação, ou a exigir do faltoso a realização, ainda que tardia ou de forma correta, da prestação avençada. Surge, como um dos efeitos principais desses fatos, a obrigação do contratante inadimplente de reparar os prejuízos diretamente causados no outro.

105 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003. p.24.

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Já a responsabilidade extracontratual ou aquiliana, como o

próprio nome permite interpretar, é estabelecida quando não há qualquer vínculo

contratual e está estabelecida pelo art. 927 do CC:

“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar

dano a outrem, fica obrigado a repará-lo“.

Melhora a pertinente definição a doutrinadora Maria Helena

Diniz106 ao discorrer:

Resultante do inadimplemento normativo, ou melhor, da prática de um ato ilícito por pessoa capaz ou incapaz, visto que não há vínculo anterior entre as partes, por não estarem ligadas por uma relação obrigacional ou contratual. A fonte dessa responsabilidade é a inobservância da lei, ou melhor, é a lesão a um direito, sem que entre o ofensor e o ofendido preexista qualquer relação jurídica.

Entrando no âmbito da saúde do trabalhador, entende-se

que a indenização por acidente do trabalho ou doença ocupacional melhor se

adapta a o fundamento da responsabilidade extracontratual, como expressa

Sebastião Geraldo de Oliveira107:

A indenização por acidente do trabalho ou doença ocupacional, em princípio, enquadra-se como responsabilidade extracontratual porque decorre de algum ato ilícito do empregador, por violação dos deveres previstos nas normas gerais de proteção ao trabalhador e ao meio ambiente do trabalho. Essa responsabilidade não tem natureza contratual porque não há cláusula do contrato de trabalho prevendo a garantia de integridade psicobiofísica do empregado.

B) Quanto ao seu fundamento, a responsabilidade pode ser

subdividida em subjetiva e objetiva.

106 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. v. 7. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 131.107 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2 ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 88.

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A responsabilidade subjetiva é configurada quando o dano é

justificado por culpa ou dolo do agente causador, tanto no ato como na omissão.

Sebastião Geraldo de Oliveira108 ressalva que “a

responsabilidade será subjetiva quando o dever de indenizar surgir em razão do

comportamento do sujeito que causa danos a terceiros, por dolo ou culpa”.

Rogério Marrone de Castro Sampaio109 ressalva ainda que:

Funda-se, essencialmente, na teoria da culpa. Tem-se como elemento essencial a gerar o dever de indenizar o fator culpa entendido em sentido amplo (dolo ou culpa em sentido estrito). Ausente tal elemento, não há que se falar em responsabilidade civil.

Já a responsabilidade objetiva se caracteriza por não

interpretar a culpa como elemento gerador da obrigação de indenizar. O

deutrinador Sabstião Geraldo de Oliveira110 faz-se novamente presente explicando

que:

Basta que haja o dano e o nexo de causalidade para surgir o dever de indenizar, sendo irrelevante a conduta culposa ou não do agente causador. É por isso que a responsabilidade objetiva é também denominada teoria do risco, porquanto aquele que no exercício da sua atividade cria um risco de dano a outrem, responde pela reparação dos prejuízos, mesmo quando não tenha incidido em qualquer culpa.

Rogério Marrone de Castro Sampaio111 dispõe ainda que:

Prevalecendo a idéia de que todo dano, na medida do possível, deve ser indenizado, ganhou espaço no mundo jurídico a tese de que a obrigação de reparar o dano nem sempre está vinculada a um comportamento culposo do agente. E, como o fator justificador

108 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. p. 88.109 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003. p.26.110 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 88-89.111 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito Civil: Responsabilidade Civil. p.27.

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do surgimento da obrigação de indenizar, socorre-se, nesse caso, da denominada teoria do risco.

Tendo este entendimento, Rogério Marrone de Castro

Sampaio 112 prossegue ensinando que:

Em determinadas situações, aquele que, por meio de sua atividade, expõe a risco de dano terceiros, fica obrigado a repará-lo caso ele venha a ocorrer efetivamente, ainda que seu comportamento seja isento de culpa.

Novamente relevando-se o âmbito da saúde do trabalhador,

entende-se nesta subdivisão que, a indenização por acidente do trabalho é

baseada na responsabilidade subjetiva. Como explica Sebastião Geraldo de

Oliveira113, “exige-se a comprovação da culpa do empregador, de qualquer grau,

para nascer o direito da vítima”.

C) Cabe ressaltar que a responsabilidade civil pode ainda

ser classificada relativamente ao agende, enquadrando-se então como direta ou

indireta.

Será direta a responsabilidade se estiver vinculada ao

agente causador do ato danoso, ou seja, o agente responderá pela sua própria

ação. É também denominada, como a sua natureza permite interpretar,

responsabilidade por ato próprio.

Salienta Rogério Marrone de Castro Sampaio114 que:

Previu o legislador que qualquer comportamento (omissivo ou comissivo) culposo (em sentido amplo – dolo ou culpa) que violar direito e causar prejuízo a alguém faz surgir a seu autor a obrigação de reparar o dano.

112 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3 ed. São Paulo: Atlas: 2003. p.27.113 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2 ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 89.114 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito Civil: Responsabilidade Civil. p.33.

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Já a responsabilidade indireta é referente ao ato de terceiro

pelo qual o agente é responsável. É também denominada responsabilidade por

ato de terceiro.

Faz menção Rogério Marrone de Castro Sampaio115 sobre

tal classificação da responsabilidade civil com o intuito de melhor entendimento:

A responsabilidade civil por ato de terceiro ou indireta permite que se imponha a obrigação de indenizar a vítima a pessoa diversa daquela que praticou a conduta e causou o resultado danoso, desde que, em princípio, se faça presente uma relação jurídica que estabeleça um vínculo de subordinação entre elas.

3.2 CULPA

Primeiramente, deve-se frisar que, segundo Paulo Roberto

Benasse116, o elemento culpa, considerando-se o mesmo em um âmbito geral, é

conceituado como:

Omissão da diligência necessária de alguém, ou falta de cumprimento do dever jurídico, sem o ânimo de lesar, de que resulta violação do direito de outrem, quando os efeitos da sua inação podiam ser calculados e previstos. Todo artifício ou ardil reprovável, embora lícito, que o agente emprega, sem fraude, para aumentar a sua vantagem. A culpa se diferencia do dolo, por não revelar a intenção de prejudicar, que caracteriza este.

3.2.1 A culpa como pressuposto de indenização

Levando-se em consideração o caráter subjetivo da

responsabilidade civil do empregador nos casos de acidente do trabalho ou

doença ocupacional, tendo em vista a necessidade da constatação da culpa em

115 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003. p.49.116 BENASSE, Paulo Roberto. Dicionário Jurídico de Bolso. 2ª ed. Campinas: Bookseller, 2002. p. 128.

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sentido amplo para a imputação da medida punitiva, percebe-se que a mesma é

fundamental para que seja definida a obrigação indenizatória.

Ressalta-se o posicionamento Simone Buskei Marino117:

A culpa, como pressuposto da responsabilidade civil, é o elemento que mais demanda deferência por ser critério de imputação da responsabilidade subjetiva prevalente na indenização civil procedente do acidente do trabalho.

Sabe-se, como fora anteriormente mencionado que, a noção

de culpabilidade dada pelo Direito Civil engloba não somente a culpa

propriamente dita, mas também o dolo. Entretanto, há uma grande distinção entre

os dois elementos, haja vista que o primeiro ressalta a conduta involuntária do

agente, configurando a negligência, imprudência ou imperícia, e o segundo trata

de uma conduta voluntária, cujo resultado era pretendido. Porém, no quesito

indenizatório, tais elementos são tidos como idênticos.

Discorre o doutrinador Silvio de Salvo Venosa118:

A culpa civil em sentido amplo abrange não somente o ato ou conduta intencional, o dolo (delito, na origem semântica e histórica romana), mas também os atos ou condutas eivados de negligência, imprudência ou imperícia, qual seja, a culpa em sentido estrito (quase delito).

Todavia, mantendo-se a parte de tal discussão didática, tem-

se que, com o resultado danoso pelo ato do agente, surge a obrigação de

indenizar, conforme preceitua ainda Rogério Marrone de Castro Sampaio119:

A obrigação de indenizar, no fundo, surge do dever imposto a todo o homem que vive em sociedade de conduzir-se de modo a não lesar bens jurídicos alheios. Deve, portanto, não só agir com fins lícitos, mas também tomar as cautelas necessárias para evitar

117 MARINO, Simone Buskei. Responsabilidade Civil do Empregador Decorrente do Acidente do Trabalho. In.: DALLEGRAVE NETO, José Affonso. Direito do Trabalho Contemporâneo: Flexibilização e Efetividade. São Paulo: LTr, 2003. p. 180.118 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 24.119 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003. p.78.

55

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danos a terceiros. E, ao desviar desse comportamento cauteloso, conduzindo-se de maneira imprudente, negligente ou imperita, dá causa ao resultado danoso, revestindo seu comportamento de ilicitude e contraindo, por conseqüência, o dever de indenizar a vítima.

3.2.2 Modalidades de culpa

Formada a noção sobre o elemento culpa e o seu

entendimento em concordância com o Código Civil, cabe ressaltar as suas

subdivisões existentes.

Primeiramente, há de se abordar sobre a intensidade com

que ocorre o ato do agente, o que, neste sentido, diferencia a culpa entre as

classificações: grave, leve e levíssima.

A culpa grave configura-se quando o agente age de forma

grosseira a ponto de, mesmo sem haver intenção, equiparar a sua conduta ao

dolo. Leciona Rui Stoco120:

Há culpa grave quando é grosseira a negligência do agente,

inconsiderado seu procedimento e tão insensata sua conduta que chega a ser

equiparada à de quem age com animus injuriandi.

A culpa leve, também considerada como intermediária, faz

referência a conduta da qual poderia o dano conseqüente ser impedido.

Já a culpa levíssima consiste nos casos em que o resultado

danoso só poderia ser evitado se o agente tivesse um cuidado excepcional, ou

seja, exige uma destreza maior do infrator. Ressalta a imperícia.

Cabe aqui ressaltar o entendimento de Rui Stoco121 ao

mencionar que o “nosso Direito, segundo parte expressiva da doutrina, teria

120 STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e Sua Interpretação Jurisprudencial: Doutrina e Jurisprudência. 4 ed. São Paulo: Editora Revista do Tribunais, 1999. p. 72.121 STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e Sua Interpretação Jurisprudencial: Doutrina e Jurisprudência. p. 70.

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desprezado esta graduação da culpa, que não deve influir na determinação da

responsabilidade civil”.

Outras modalidades classificatórias são a culpa in eligendo,

a culpa in vigilando, a culpa in committendo, a culpa in omittendo e a culpa in

custodiando.

A culpa in eligendo é decorrente da má escolha na admissão

do trabalhador ou mantê-lo ilegalmente habilitado, ou ainda, sem a devida

competência para a execução do serviço.

A culpa in vigilando é caracterizada pela não fiscalização do

empregador perante seus funcionários ou instrumentos e meios de trabalho. O

doutrinador Rui Stoco ainda exemplifica. “É o caso da empresa de transportes,

que tolera a saída de veículos desprovidos de freios, dando causa a acidentes”.122

Rogério Marrone de Castro Sampaio123 ainda faz pertinente

menção:

Tanto a culpa in eligendo quanto a in vigilando foram objeto de análise quando do estudo da responsabilidade civil por ato de terceiro. Na primeira, a falta de cuidado vem expressa na má escolha de determinada pessoa, quando presente entre elas vínculo de subordinação (patrão que escolhe mal seu empregado, possibilitando a este a prática de determinado ato ilícito). Na segunda, o descuido caracteriza-se pela inobservância do dever de vigiar determinada pessoa sujeita à fiscalização.

A culpa in committendo é verificada quando o ato praticado

pelo agente caracteriza-se como uma imprudência. Já a culpa in omittendo é

decorrente de uma abstenção, o que caracteriza ato de negligência por parte do

agente causador.

122 STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e Sua Interpretação Jurisprudencial: Doutrina e Jurisprudência. 4 ed. São Paulo: Editora Revista do Tribunais, 1999. p. 67.123 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 81.

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Tais definições são ainda comentadas por Rui Stoco124 que

discorre o seguinte:

Na negligência há um desajuste psíquico trazido no procedimento antijurídico, ou uma omissão de certa atividade que teria evitado o resultado danoso; na imprudência o sujeito procede precipitadamente ou sem prever integralmente as conseqüências da ação. Em qualquer dos casos, encontra-se um defeito de previsibilidade.

A culpa in custodiando é definida como a falta de zelo para

com a sua responsabilidade. Mais precisamente define Rogério Marrone de

Castro Sampaio125 ao mencionar que “a culpa in custodiando vem retratada na

falta de atenção da pessoa com as coisas ou animais que estão sob sua guarda”.

Tal classificação pode ainda ser definida de outra maneira e,

deste modo, subdividida em culpa in concreto ou in abstracto. Neste caso, Rui

Stoco126 esclarece:

Na primeira, o agente falta à diligência que as pessoas são obrigadas a empregar nas próprias coisas (diligentiam quam suis rebus adhibere solet). Na segunda, o agente falta àquela atenção que um homem atento emprega na administração de seus negócios, fazendo uso da inteligência com que foi dotado pela natureza.

Cabe aqui ressaltar uma outra descrição do elemento em

estudo é a chamada culpa concorrente. Nesta situação, o ato culposo do agente

causador compete com a da própria vítima para a ocorrência do efeito danoso.

Na culpa concorrente, ocorre que o ato da vítima, assim

como o ato culposo do agente, ambos infringindo a obrigação de cuidado,

influencia no nexo de causalidade ocasionando interferência também no valor

indenizatório. Neste sentido, dispõe o art. 945 do CC:

124 STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e Sua Interpretação Jurisprudencial: Doutrina e Jurisprudência. 4 ed. São Paulo: Editora Revista do Tribunais, 1999. p. 67.125 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 81.126 STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e Sua Interpretação Jurisprudencial: Doutrina e Jurisprudência. p. 67.

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“Art.945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o

evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de

sua culpa em confronto com a do autor do dano”.

Por fim, fundamental é mencionar, ainda que brevemente,

em referência à responsabilidade civil já tratada anteriormente que, o elemento

culpa pode ser ainda dividido em culpa contratual e extracontratual, esta também

denominada aquiliana.

Assim como a diferenciação feita na responsabilidade civil, a

culpa contratual é decorrente de uma violação de um dever expresso no contrato.

Já a culpa extracontratual ou aquiliana configura-se pela violação de um dever

legalmente entendido, porém não expresso no contrato.

Rogério Marrone de Castro Sampaio127 finaliza a idéia

acrescentando ainda que, “conceitualmente, tanto a culpa contratual como a

extracontratual consiste na violação de um dever de cuidado, na qual se estrutura

a responsabilidade civil subjetiva”.

3.3 INDENIZAÇÃO

Destaca-se inicialmente o conceito, de âmbito geral, que

Paulo Roberto Benasse128 expõe sobre o elemento em pauta. Segundo o autor,

indenização “é a ação que o prejudicado propõe, em virtude de violação do seu

direito, para exigir o ressarcimento pelo dano causado”.

127 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 80-81128 BENASSE, Paulo Roberto. Dicionário Jurídico de Bolso. 2ª ed. Campinas: Bookseller, 2002. p. 198.

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3.3.1 Indenização nos casos de acidente do trabalho ou doença ocupacional

Diante dos conceitos mencionados, já demonstrado o

caráter extracontratual da responsabilidade civil do empregador nos casos de

acidente do trabalho ou doença ocupacional, visto que, em suma, este decorre da

violação de princípios e deveres relativos a proteção do trabalhador e do meio

ambiente do trabalho não expressos em cláusulas contratuais, e ainda o caráter

subjetivo, já que é necessária a constatação da culpa em sentido amplo para a

imputação da medida punitiva, resta discorrer sobre o tipo de ressarcimento

cabível, evidenciando nos referentes casos, sejam os danos à vida (art. 948 do

CC) e à integridade física (arts. 949 e 950 do CC).

Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:

I – no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;

II – na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.

Sebastião Geraldo de Oliveira129 faz uma breve ressalva em

referência ao dispositivo supra citado:

Cabe mencionar, todavia, que o dano indenizável não é a morte da vítima em si, mas os desembolsos ou prejuízos materiais ou morais dela decorrentes. Assim, um mesmo acidente que acarrete vários óbitos pode gerar indenizações de valores diferentes em razão das características peculiares dos dependentes de cada vítima. È por isso que, na maioria das vezes, o espólio não tem legitimidade para postular as indenizações por danos materiais ou morais, já que os titulares desse direito serão aqueles que foram diretamente afetados.

Vê-se, portanto, segundo o disposto na lei, nos casos de

acidente do trabalho com óbito, a qualquer prejuízo de origem comprovada do

129 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2 ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 204-205.

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próprio acidente, cabe o ressarcimento indenizatório proporcional, amplo e

completo.

Cabe ressaltar ainda que, nestes casos, há os chamados

danos emergentes, estes também incluídos no valor indenizatório, pois tratam das

despesas com o tratamento médico ou hospitalar da vítima; remoção do corpo;

gastos com funeral, etc. Para tanto, é importante a constatação das despesas

mediante apresentação dos recibos detalhados.

Destaca Sebastião Geraldo de Oliveira130:

Os danos emergentes devem ser ressarcidos de imediato, de uma só vez, para recompor logo o patrimônio dos prejudicados, devendo-se apurar todos os valores efetivamente despendidos, com o apoio no princípio básico da restitutio in integrum.

Há também que mencionar sobre os lucros cessantes

originados a partir da morte da vítima do acidente, que trata da prestação de

alimentos aos dependentes do morto, tendo em conformidade a probabilidade da

vida do mesmo.

Sebastião Geraldo de Oliveira131 novamente se faz

presente:

A morte do acidentado, por óbvio, interrompe os rendimentos gerados pelo contrato de trabalho; conseqüentemente, a indenização tem o propósito de assegurar ao grupo familiar que dependia da vítima o mesmo padrão de renda até então mantido. Daí mencionar o art. 402 do Código Civil que as perdas e danos abrangem o que o prejudicado perdeu mais o que razoavelmente deixou de lucrar, ou de receber no caso do acidente do trabalho.

Outra questão a ser mencionada, perante os casos de

acidente do trabalho que acarretam a morte do empregado, é a indenização por

130 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2 ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 206.131 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. p. 207.

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danos morais, levando-se em consideração o sofrimento e tristeza causada pela

perda do ente familiar.

Cabe então citar o art. 5º, X da CRFB/88:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei (...)

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

O dano moral é também previsto no art. 186 do CC:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,

negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que

exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Com relação aos acidentes do trabalho sem óbito, ou seja,

que acarretam danos à integridade física do empregado, considerando-se a

variante gravidade da lesão, também se destaca a responsabilidade civil e

conseqüente obrigação indenizatória do causador do infortúito.

Cita-se, portanto, em referência ao que fora supra

mencionado, os arts. 949 e 950 do CC:

Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até o fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminuía a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.

Sebastião Geraldo de Oliveira132 discorre:

132 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2 ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 259.

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Quando a vítima sobrevive ao acidente, poderemos constatar, conforme o caso, a ocorrência de danos materiais, morais e estéticos. Em determinados acidentes os prejuízos são tão diminutos ou inexpressivos que nem cabe reparação pecuniária, ao passo que noutras situações poderão ocorrer sérios danos indenizáveis, que produzem invalidez permanente e deformação estética, causando ao acidentado acentuada perda da qualidade de vida.

Percebe-se, portanto, que a doutrina entende os diferentes

níveis de gravidade do dano sofrido pelo empregador, desde os casos em que a

lesão é mínima e não acarreta ao empregado a necessidade de afastamento do

trabalho ou a ocasione apenas de forma temporária para que se permita a

recuperação do acidentado, até os casos mais sérios em que ocorre a perda

definitiva, seja ela total ou parcial, da capacidade para o labor. Cabe salientar que

em cada um dos casos citados, o efeito jurídico é diferente.

Assim como fora anteriormente abordado, que para a

caracterização da responsabilidade civil e obrigação indenizatória é necessário a

comprovação da culpa, para requerer a indenização diante o empregador é

necessário a comprovação da lesão sofrida, dos danos e prejuízos conseqüentes

e a interferência na capacidade laboral.

Faz-se necessário aqui ressaltar que, quanto ao meio de

prova nos casos em questão, evidencia-se a do tipo pericial, conforme Sebastião

Geraldo de Oliveira133 a seguir expõe:

Todos os meios legais são hábeis para demonstrar a verdade dos fatos, mas a prova de determinadas alegações exige conhecimento técnico ou científico de profissionais especializados que atuam em outros ramos do conhecimento. Não detém o julgador formação ou experiência na área médica para avaliar e mensurar todos os efeitos das lesões causadas pelo acidente ou doença ocupacional, razão pela qual deve valer-se do auxílio de um perito, conforme estabelece o art. 145 do CPC.

Diz o art. 145 do CPC:

133 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2 ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 260.

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“Art. 145. Quando a prova do fato depender de

conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por perito, segundo o

disposto no art. 421”.

Cabe aqui mencionar, para efeitos didáticos, que o §1º do

artigo supra citado estabelece que “os peritos serão escolhidos entre profissionais

de nível universitário, devidamente inscritos no órgão de classe competente (...)”.

Dando continuidade ao tema acidente do trabalho sem ter

por conseqüência o óbito do empregado, tem-se em análise duas hipóteses,

sejam elas as indenizações nos casos de invalidez permanente e nos casos de

redução de capacidade da vítima.

Nos casos de acidente do trabalho que acarretam a invalidez

da vítima, o Código Civil expressa no art. 950 a obrigação de indenizar o

acidentado caso este sofra a incapacidade permanente quando este não puder

mais exercer sua profissão.

Por questões meramente didáticas, destaca-se que, em tais

casos de invalidez permanente, levando-se em considerando a variante do grau

de incapacidade ocasionada, tem-se como solução para o trabalhador no quesito

funcional, a possibilidade de readaptação do mesmo em outro labor, tendo em

vista a sua incapacidade para o trabalho anteriormente exercido, isto quando não

ocorrer incapacidade mais abrangente, que o impeça de exercer qualquer outra

função ou ainda a chamada grande invalidez, onde além da incapacidade para

qualquer atividade, o acidentado necessitar de auxílio permanente para os atos

cotidianos da vida.

O doutrinador Sebastião Geraldo de Oliveira134, em

referência aos casos de invalidez permanente, discorre o seguinte:

No campo da reparação civil, em princípio, basta demonstrar a incapacidade para a profissão que o acidentado exercia no momento do infortúito, conforme dispõe o art. 950 mencionado. Certos acidentes deixam a incapacidade tão evidente que

134 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2 ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 267.

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dispensam maiores indagações, tais como, um motorista ou um cirurgião que perdeu a visão, um violinista que perdeu o braço, um jogador de futebol que teve amputada uma das pernas, o pedreiro que ficou paraplégico etc.

Não surpreende o fato de que a imputação da medida

reparatória em tais casos gera determinada polêmica, posto que há dúvida quanto

a natureza total ou parcial da incapacidade da vítima do acidente, principalmente

quando surge a possibilidade de readaptação para outra função.

Faz-se presente Sílvio Rodrigues135 ao dizer que:

O juiz deverá agir com ponderação ao fixar a indenização em casos tais, admitindo por vezes de haver apenas redução na capacidade laborativa, com o fito não só de impossibilitar um enriquecimento indevido quando a vítima possa voltar a trabalhar em outro mister, como também o de desencorajar um injustificado ócio.

Nos casos de acidente do trabalho em que se tem por

conseqüência a redução da capacidade do empregado, há também a imputação

da responsabilidade civil.

Porém, a natureza doutrinária dos casos de imputação

indenizatória por redução de capacidade é bastante semelhante aos de invalidez

permanente, o que gera uma tênue diferenciação.

Diante deste quadro comparativo, cita-se o ensinamento de

Sebastião Geraldo de Oliveira136 que discorre de modo a facilitar o pertinente

entendimento:

Ocorre a incapacidade parcial permanente quando, após a convalescença, consolidadas as lesões, chega-se à conclusão que a vítima sofreu perdas parciais definitivas da capacidade de trabalho, conforme apontado pelo laudo pericial. Sendo a redução parcial, a vítima poderá até ser reabilitada para a mesma função

135 apud OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. p. 267.136 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional. 2 ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 267. p. 275.

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ou readaptada para outra função compatível, naturalmente com menor rendimento e maior esforço.

Portanto, pode-se perceber que a configuração dos quadros

em pauta depende da natureza da incapacidade acarretada, no sentido de que se

a mesma vai ser relativamente sanada a ponto de permitir que o trabalhador volte

ou não a exercer a função laboral até então desempenhada.

Como desfecho geral, ante os conceitos destacados em

análise específica da saúde ocupacional do trabalhador e o seu respectivo direito

indenizatório frente a obrigação do empregador, cabe o deferimento, mediante a

comprovação dos pressupostos que caracterizam a responsabilidade civil, da

reparação dos danos sofridos de acordo com infortúito.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve com objetivo básico a análise

dividida em três capítulos, do acidente do trabalho ou doença ocupacional e a sua

influência no contrato de trabalho como fato gerador de responsabilidade civil ao

empregador.

No capítulo inicial, tratou-se de forma geral a história

evolutiva e constituinte do Direito do Trabalho juntamente dos seus elementos

primordiais, entendendo-se portanto que, as leis trabalhistas originaram-se da

constante busca dos trabalhadores ao seu direito à melhores condições de

trabalho, dignidade e segurança.

O contrato de trabalho, tópico este também abordado no

primeiro capítulo, permitiu a formação da idéia sobre o vínculo existente entre o

empregado e o empregador, as suas peculiaridades e o esclarecimento do

pertinente tema.

Com relação às mudanças ocasionadas pela Emenda

Constitucional nº 45, mais precisamente no âmbito da Justiça do Trabalho,

colocou-se um fim na discussão referente aos termos relação de emprego e

relação de trabalho. Entendeu-se, portanto, a ampliação da competência da

mesma para processar e julgar os pedidos de indenização nos casos de

acidentes do trabalho ou doença ocupacional.

O segundo capítulo voltou-se para a caracterização do

acidente do trabalho e a da doença ocupacional, desta forma evidenciando-se as

peculiaridades existentes que formalizam a diferenciação doutrinária dos dois

casos propostos, e ainda a conceituação do nexo de causalidade que permitiu

entender a necessidade de uma ligação entre a causa e o efeito do infortúito, para

que então seja possível a caracterização da responsabilidade civil do

empregador, e a sua conseqüente obrigação de indenizar.

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O terceiro e último capítulo tratou da responsabilidade civil

do empregador ante o acidente do trabalho, também do elemento culpa,

ressaltando-se ser este indispensável ao entendimento proposto, e ainda o direito

a indenização gerado pelo infortúito. Deste, portanto, entende-se que o

empregador, devido ao vínculo existe, é responsável pela empregado e à ele

cabe a imputação do valor indenizatório com intuito de reparar os danos

ocasionados.

Voltando as hipóteses destacadas no início do presente

trabalho, entende-se que, em conformidade com a primeira indagação, após a

Emenda Constitucional nº 45 que objetivou a reforma do Poder Judiciário, a

Justiça do Trabalho sofreu uma mudança estrutural que acarretou na ampliação

de sua competência, tendo em vista que não mais fora destinada apenas às

causas de natureza predominantemente empregatícia, mas sim a todos os

dissídios oriundos de uma relação trabalhista. Deste modo, permitiu-se também

que os pedidos de indenização por danos morais e materiais decorrentes de

acidente do trabalho ou doença ocupacional fossem processados e julgados pela

Justiça do Trabalho.

Já a segunda hipótese ressaltada trouxe a indagação sobre

a necessidade do elemento culpa para que seja possível a imputação da

obrigação indenizatória nos casos de acidente do trabalho.

Há de se entender que, anteriormente a vigência do Código

Civil de 2003, era considerada a Teoria da Culpa, onde o empregador apenas

responderia de forma indenizatória nos casos em que se configurasse a sua

culpa. A partir de então, acrescentou-se o entendimento da Teoria do Risco, onde

ao empregador é imputado a indenização independentemente de culpa, porém tal

entendimento é aplicável apenas em casos específicos, destacados pelo art. 927,

parágrafo único do CC.

Concluindo, em relação à terceira e última hipótese

destacada, evidencia-se que, no valor indenizatório, além dos danos moras e

matérias sofridos, deve-se acrescentar, nos casos de falecimento ou invalidez

permanente da vítima, a prestação de alimentos para os dependentes da mesma

68

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em conformidade com o patamar de vida levada até então, dando coerência

assim, ao objetivo principal da indenização, que é de reparar os danos sofridos,

buscando restabelecer ao máximo a realidade dos fatos anteriores à ocorrência

do infortúito.

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