acessibilidade nas aÇÕes educacionais a distÂncia: um caminho para inclusÃo da pessoa com...

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    F

    Pró-Reitoria de Pós-Graduação e PesquisaPrograma de Pós-Graduação Str icto Sensu  em Gestão do

    Conhecimento e Tecnologia da Informação

    ACESSIBILIDADE NAS AÇÕES EDUCACIONAIS ADISTÂNCIA: UM CAMINHO PARA INCLUSÃO DA PESSOA

    COM DEFICIÊNCIA VISUAL NO CONTEXTOORGANIZACIONAL

    Brasília - DF2014

    Autora: Simone Uler LavoratoOrientadora: Profª Drª Luiza Beth Nunes Alonso

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    SIMONE ULER LAVORATO

    ACESSIBILIDADE NAS AÇÕES EDUCACIONAIS A DISTÂNCIA: UM CAMINHOPARA INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL NO CONTEXTO

    ORGANIZACIONAL

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu  em Gestão doConhecimento e Tecnologia da Informação daUniversidade Católica de Brasília comorequisito parcial para obtenção de Título deMestre em Gestão do Conhecimento eTecnologia da Informação.

    Orientadora: Profª Drª Luiza Beth Nunes

    Alonso

    Brasília2014

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    Monografia de autoria de Simone Uler Lavorato, intitulada “Acessibilidade nas açõeseducacionais a distância: um caminho para inclusão da pessoa com deficiência visual nocontexto organizacional”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestreem Gestão do Conhecimento e Tecnologia da Informação da Universidade Católica deBrasília, em (data de aprovação), defendida e aprovada pela banca examinadora abaixoassinada:

     _____________________________________

    Profª Drª Luiza Beth Nunes AlonsoOrientadora

     _____________________________________Prof. (titulação). (nome do membro da banca)

    (curso/programa) –  (sigla da instituição)

     _____________________________________Prof. (titulação). (nome do membro da banca)

    (curso/programa) –  (sigla da instituição)

     _____________________________________Prof. (titulação). (nome do membro da banca)

    (curso/programa) –  (sigla da instituição)

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    Dedico este trabalho aos meus filhos, Viníciuse Camila, que acreditaram no meu potencialaté quando eu mesma duvidei, e a todos queacreditam no poder transformador da

    educação.

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeço a Deus, pela vida e por ter me propiciado a convivência com pessoas

    abençoadas que sempre iluminaram meu caminho.

    Aos meus pais, Belmiro e Benedita, que me ensinaram a não desistir jamais e a

    acreditar mesmo quando tudo parecer perdido, quando parecer não ter saída. Acreditar e

    escutar o coração sempre que a cabeça não encontrar respostas.

    Ao meu amado esposo, Valdir, constante fonte de inspiração e grande exemplo em

    todas as caminhadas enfrentadas nesses longos anos de convivência.

    Aos meus filhos, Vinícius e Camila, que sempre me encorajaram e incentivaram a não

    desistir de um ideal. Não apenas com palavras de estímulo, mas também com orientações e

    suporte tecnológico para realização deste trabalho.

    À minha querida orientadora, Professora Doutora Luiza Beth Nunes Alonso, que

    sempre me norteou com carinho, respeito e paciência, instigando-me a ampliar o meu pensar,

    o que me permitiu perceber que o conhecimento liberta.

    Aos meus Professores Doutores, Fábio Ferreira Batista, Ivan Rocha Neto, Rodrigo

    Pires de Campos, Rosalvo Ermes Streit, Eduardo Amadeu Dutra Moresi, Cláudio Chauke Nehme, Luís Kalb Roses, Ricardo Spindola Mariz e a Professora Doutora Helga Cristina

    Hedler, que promoveram uma verdadeira revolução na minha percepção acerca do

    conhecimento.

    Aos meus colegas de mestrado, pelo companheirismo e generosidade no

    compartilhamento de experiências e vivências.

    À minha amiga Anna Izabel Machado Bonfim, grande apaixonada e pesquisadora de

    assuntos relacionados às pessoas com deficiência e que contribuiu muito com odesenvolvimento deste trabalho por meio de longas e acaloradas discussões acerca dessa

    temática.

    À minha gestora, Renata Silvia Melo, por despertar em mim o interesse pela causa das

     pessoas com deficiência e promover situações de aprendizagem para que eu pudesse me

    aprofundar no conhecimento teórico ao mesmo tempo em que transformava esses

    conhecimentos em ações concretas. Obrigada pela confiança em meu trabalho.

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    Aos meus colegas do Centro de Formação e Aperfeiçoamento do Instituto Nacional do

    Seguro Social, que dedicam seu trabalho na promoção da educação e na inclusão da pessoa

    com deficiência no contexto educacional.

    Aos meus colegas do Instituto Nacional do Seguro Social que participaram deste

    trabalho, dedicando tempo e atenção para responderem as entrevistas. Sem o apoio e

    confiança de vocês, não seria possível executar este trabalho.

    A gratidão a essas pessoas é o que me move no sentido de concluir este trabalho.

    Muito obrigada!

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    RESUMO

    Um dos grandes desafios contemporâneos no contexto organizacional é tornar inclusivas as

    ações educacionais corporativas a distância, pois as organizações devem ser protagonistas na promoção da inclusão educacional da pessoa com deficiência. A educação a distância

    representa um importante veículo na promoção da inclusão educacional da pessoa com

    deficiência. O uso da Internet pode ser uma ferramenta na concretização de ações

    educacionais inclusivas, desde que adequadas as necessidades específicas. Nessa perspectiva,

    faz-se essencial a utilização do desenho universal, adaptações razoáveis e a tecnologia

    assistiva. Diante dessa nova realidade, o Instituto Nacional do Seguro Social  –   INSS, por

    meio do Centro de Formação e aperfeiçoamento do INSS  –  CFAI, adota estrategicamentemétodos e ferramentas pedagógicas e tecnológicas no processo de aprendizagem. Esta

     pesquisa pretende analisar os aspectos teóricos que embasam as atividades práticas

    desenvolvidas pelo CFAI promovendo iniciativas de inclusão da pessoa com deficiência

    considerando a educação um processo transformador por meio da acessibilidade nas ação

    educacionais a distância.

    .

    PALAVRAS-CHAVE: Educação inclusiva, educação a distância, acessibilidade

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    ABSTRACT

    One of the biggest challenges in today’s organizational context is to make corporate distance

    education actions accessible, because organizations should be the protagonists in promotingeducational inclusion for disabled people. Distance learning represents an important vehicle in

    the promotion of educational inclusion of disabled people. The use of the internet may be a

    valuable tool in the implementation of inclusive educational practices, as long as specific

    needs are met. In this perspective, the use of Universal Drawing, Reasonable Adaptations and

    Assistive Technology are essential. In face of this new reality, Brazil’s National Institute of

    Social Security  –   INSS, throughout its Training and Development Center  –   CFAI,

    strategically adopts pedagogical methods and resources in the learning process. This researchintends to analyse the theoretical aspects that may support the practical activities developed

     by CFAI aiming to promote the inclusion of disabled people in distance-education initiatives,

    considering education as a transforming process and the necessity to make distance-learning

    accessible.

    KEYWORDS : Inclusive education, distance learning, accessibility

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 –  Levantamento bibliográfico ............................................................................................... 20

    Quadro 3 –  Proporção da população com pelo menos uma das deficiências investigadas ................... 26Quadro 4 –  Mesma proporção de pessoas com pelo menos uma deficiência vivendo nas zonas urbana erural em 2010 ........................................................................................................................................ 27

    Quadro 5 –  Siglas e perfis dos entrevistados ......................................................................................... 86

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    LISTA DE SIGLAS

    ABRAPP –  Associação Brasileira de Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais

    ACSM –   American College of Sports Medicine 

    AD –  Audiodescrição

    APAE –  Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

    APNEN –  Associação dos Portadores de Necessidades Especiais

    ATAG  –  Authoring Tool   Accessibility Guidelines

    AVAs  –  Ambientes Virtuais de Aprendizagem

    Capes –  Coordenação e Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior

    CAT –  Comitê de Ajudas Técnicas

    CFAI –  Centro de Formação e Aperfeiçoamento do INSS

    CIF –  Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

    E1 –  Entrevistado 1

    E2 –  Entrevistado 2

    E3 –  Entrevistado 3

    E4 –  Entrevistado 4

    E5 –  Entrevistado 5

    E6 –  Entrevistado 6

    E7 –  Entrevistado 7

    E8 –  Entrevistado 8E9 –  Entrevistado 9

    E10 –  Entrevistado 10

    EMAG –  Modelo de Acessibilidade de Governo Eletrônico

    EPT –  Educação para Todos

    GEAA –  Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa

    IBC –  Instituto Benjamin Constant

    IBGE –  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

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    INES –  Instituto Nacional de Educação de Surdos

    INSS –  Instituto Nacional do Seguro Social

    LDB –  Lei de Diretrizes e Bases da Educação NacionalLibras –  Língua Brasileira de Sinais

    LMS –   Learning Management System 

    MEC –  Ministério da Educação

     Moodle  –   Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment  

    OIT –  Organização Internacional do Trabalho

    ONU –  Assembleia Geral da Organizações das Nações Unidas

    PDE –  Plano de Desenvolvimento da Educação

    SCIELO  –  Scientific Eletronic Library Online 

    SDH/PR –  Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República

    T&D –  Treinamento e Desenvolvimento

    TAV –  Tradução Audiovisual

    TICs –  Tecnologias de Informação e Comunicação

    UAAG  –  Guia de Acessibilidade para Agentes do Usuário User Agent Accessibility

    Guidelines

    UNESCO –  Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência

    W3C  –  World Wide Web Consortium 

    WCAG  –  Web Content Accessibility Guidelines

    WWW –  World Wide Web

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    SUMÁRIO

    1  INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15 

    1.1  Relevância da pesquisa .................................................................................... 17 

    1.2  Problema .......................................................................................................... 18 

    1.3  Objetivos .......................................................................................................... 19 

    1.3.1  Objetivo geral ........................................................................................... 19 

    1.3.2  Objetivos específicos ................................................................................ 19 

    1.4  Levantamento Bibliográfico ............................................................................ 20 

    1.5  Estrutura da dissertação ................................................................................... 21 

    2  REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 23 

    2.1  Evidências do Censo 2010 ............................................................................... 23 

    2.2  Evolução do quadro da Deficiência no Brasil ................................................. 26 

    2.2.1  Contexto Educacional ............................................................................... 27 

    2.3  Entendendo a deficiência visual ...................................................................... 30 

    2.4  Evolução da exclusão para a inclusão .............................................................. 33 

    2.5  Marcos históricos na educação inclusiva ......................................................... 36 

    2.6  Aprendizagem da pessoa com deficiência visual ............................................ 39 2.7  Mundo do trabalho e inclusão .......................................................................... 41 

    2.8  Planejamento estratégico e Educação corporativa ........................................... 43 

    2.9  Educação a distância e novos espaços de aprendizagem ................................. 46 

    2.10  Ações educacionais a distância ........................................................................ 47 

    2.11  Conceitos fundamentais na efetivação da inclusão .......................................... 51 

    2.11.1  Ações afirmativas ..................................................................................... 52 

    2.11.2  Acessibilidade ........................................................................................... 53 2.11.3  Adaptação Razoável ................................................................................. 54 

    2.11.4  Tecnologia Assistiva ................................................................................ 55 

    2.11.5  Desenho Universal e Desenho para Todos ............................................... 57 

    2.12  Acessibilidade nas ações educacionais a distância .......................................... 58 

    2.12.1  Acessibilidade web ................................................................................... 58 

    2.12.2  Validação de acessibilidade web .............................................................. 60 

    2.13  Adequação de AVAs para pessoas com deficiência visual ............................. 62 

    2.14  Estratégias de apresentação de material didático acessível ............................. 69 

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    2.14.1  Estratégias Tecnológicas .......................................................................... 69 

    2.14.2  Estratégias Pedagógicas ............................................................................ 76 

    3  METODOLOGIA ................................................................................................... 78 

    3.1  Delineamento da Pesquisa ............................................................................... 78 

    3.2  Pressuposto ...................................................................................................... 79 

    3.3  Público participante ......................................................................................... 79 

    3.3.1  Critérios de seleção dos participantes ....................................................... 80 

    3.4  Estudo de Caso ................................................................................................. 80 

    3.5  Coleta de dados ................................................................................................ 80 

    3.6  Instrumentos de pesquisa ................................................................................. 81 

    3.6.1  Entrevista .................................................................................................. 81 

    4  ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................ 83 

    4.1  Dados da Instituição pesquisada ...................................................................... 83 

    4.2  Dados dos entrevistados ................................................................................... 85 

    4.3  Dados coletados nas entrevistas ....................................................................... 86 

    4.3.1  Percepção acerca do movimento mundial de inclusão educacional da pessoacom deficiência ....................................................................................................... 87 

    4.3.2  Avaliação do movimento de inclusão educacional da pessoa com deficiência promovido pelo CFAI ............................................................................................. 89 

    4.3.3  Identificação de práticas inclusivas nas ações a distância promovidas peloCFAI.................... .................................................................................................... 92 

    4.3.4  Influência das práticas inclusivas nas atividades laborais ........................ 94 

    4.3.5  Reconhecimento e valorização das práticas inclusivas ............................ 96 

    4.3.6  Pontos positivos no processo de inclusão ................................................. 98 

    4.3.7  Pontos restritivos no processo de inclusão ............................................... 99 

    4.3.8  Pontos a serem melhorados no processo de inclusão ............................. 101 

    5  CONCLUSÕES ..................................................................................................... 103 

    6  TRABALHOS FUTUROS .................................................................................... 104 

    7  BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 105 

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    1  INTRODUÇÃO

    O significado do termo inclusão assume nova postura frente às transformações axio-

    lógicas que a sociedade contemporânea vivencia. Essas mudanças de valores éticos e morais

     promovem novas reflexões no cenário social.

     Nesta perspectiva, a inclusão educacional da pessoa com deficiência representa um

    avanço, pois trilhou um longo caminho da completa exclusão à tão sonhada inclusão. Esse

    avanço é fruto de árduas lutas sociais ao longo da história da humanidade. Sendo assim, este

    trabalho abordará a temática a partir do contexto histórico. No processo de inclusão, o

    respeito à diversidade é requisito essencial para transformação de uma sociedade

    tradicionalmente pautada pela exclusão.

    O movimento de inclusão das pessoas com deficiência ganhou destaque no Brasil, nas

    últimas décadas representando avanços sociais para todos. As pessoas com deficiência se

     posicionaram na linha de frente das reivindicações políticas, o que representou um marco

    decisivo para as conquistas desse movimento.

    Segundo a Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência,

    com o lema: “nada sobre nós sem nós”, a defesa dos interesses políticos dos grupos  querepresentam as pessoas com deficiência conseguiu, ao longo dos últimos anos, ampliar o seu

    espaço também no cenário político nacional. Essa participação ativa de pessoas com

    deficiência na definição de políticas públicas representa um grande avanço.

    Cabe ressaltar que a inclusão é um direito constitucional e propicia à pessoa com

    deficiência o direito à cidadania, ao desenvolvimento social, profissional e pessoal. Neste

    contexto, as empresas e instituições tem desenvolvido ações que propiciem a inclusão.

    O Instituto Nacional do Seguro Social  –   INSS, assumindo seu papel de agentetransformador da sociedade, fomenta a prospecção e implementa ações efetivas na promoção

    da inclusão educacional da pessoa com deficiência. Para essa concretização a educação a

    distância é uma das ferramentas adotadas.

    A preocupação com o acesso e a participação na educação fomenta iniciativas globais.

    Corroborando com essa realidade a Organização das Nações Unidas para a Educação, a

    Ciência e a Cultura  –  UNESCO tem coordenado o movimento Educação para Todos  –  EPT,

    criado em 1990.

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     Na contemporaneidade, a inclusão educacional assume papel fundamental na produção

    e disseminação do conhecimento, seja na educação formal ou na informal, mas para que seja

    efetivo, requer que o processo ensino-aprendizagem ocorra de maneira democrática.

    Segundo Ainscow (1999), a inclusão educacional pode ser vista como um processo de

    transformação de valores em ação, resultando em práticas e serviços educacionais. E faz-se

    relevante considerar a afirmação de Alonso (2010), destacando que o acesso à informação é

    uma importante oportunidade de aprendizado, poder e interação, mas pode ser também fonte

    de desintegração, exclusão social e pobreza, quando esse acesso não se dá de forma uniforme.

     Na sociedade atual, na perspectiva de uma educação continuada a educação

    corporativa tem papel de destaque. Considerando que o trabalho e a aprendizagem caminham

     juntos, as empresas surgem como instituições promotoras da aprendizagem e dodesenvolvimento humano.

     Na busca por novos caminhos para a construção de uma educação inclusiva de

    qualidade para todos, as organizações vêm evoluindo para um processo educativo efetivo.

    Gadotti (1997, p. 16) afirma que a “evolução da educação está ligada à evolução da própria

    sociedade”. Pode-se dizer que essa evolução se caracteriza por um pensar educacional

    diferenciado, tanto para o desenvolvimento pessoal como profissional, propiciando, dentre

    outras, a educação corporativa inclusiva e a formação do sujeito como autor da sua própriahistória.

    Este trabalho aborda a inclusão educacional da pessoa com deficiência visual, uma vez

    que, segundo dados coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística  –  IBGE, no

    censo demográfico de 2010, da população residente no país, 23,9% possuem pelo menos uma

    das deficiências investigadas: visual, auditiva, motora e mental ou intelectual, e a deficiência

    visual que responde pelo maior percentual de deficiência no Brasil: 18,6% da população.

    Dentro desta temática, é dado enfoque à educação corporativa realizada por umaautarquia pública federal, o INSS, que, frente a um dos grandes desafios contemporâneos,

    implantou ações estratégicas para tornar inclusivas as ações educacionais a distância.

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    1.1  Relevância da pesquisa

    Considerando a dimensão social, econômica e política das organizações do trabalho,

    faz-se necessário a visão sistêmica para entender como seus componentes internos, áreas e

    ambiente externo são interdependentes.

    Essa interdependência justifica a necessidade de se adotar medidas que promovam a

    inclusão da pessoa com deficiência no contexto organizacional.

     No entanto, promover a inclusão não é tarefa fácil. Esse processo requer uma ação

    transformadora. Segundo Freire (1987, p. 92), são “como seres transformadores e criadores

    que os homens, em suas permanentes relações com a realidade, produzem, não somente os

     bens materiais, as coisas sensíveis, os objetos, mas também as instituições sociais, suas ideias,

    suas concepções.” 

     Nessa perspectiva, o processo de inclusão, muito além de requisito legalmente

    instituído, constitui direito à cidadania. O Brasil tem avançado na implementação de medidas

    efetivas para que a pessoa com deficiência possa exercer a cidadania com equiparação de

    oportunidades. Um dos grandes marcos nesse sentido foi a publicação do Decreto 6.949, de

    25 de agosto de 2009 (BRASIL, 2009), que promulga a Convenção Internacional sobre osDireitos das Pessoas com Deficiência (SDH/PR, 2010) e seu Protocolo Facultativo assinados

    em Nova York, em 30 de março de 2007. Por meio deste decreto, a referida convenção

    adquiriu status de emenda constitucional.

     No que diz respeito à educação, destaca-se o Decreto 7.611, de 17 de novembro de

    2011 (BRASIL, 2011), que dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional

    especializado e dá outras providências. O referido decreto estabelece a garantia de um sistema

    educacional inclusivo em todos os níveis, sem discriminação e com base na igualdade deoportunidades. Destaca-se ainda que a União prestará apoio técnico e financeiro a produção e

    a distribuição de recursos educacionais para a acessibilidade e aprendizagem que incluem

    materiais didáticos e paradidáticos em Braille, áudio e Língua Brasileira de Sinais  –  

    Libras, laptops com sintetizador de voz, softwares para comunicação alternativa e outras

    ajudas técnicas que possibilitam o acesso ao currículo.

    Além da questão legal, as organizações do trabalho têm função social no processo de

    inclusão, no que diz respeito ao atendimento das demandas dos cidadãos, e lentamente vêmassimilando seu papel de protagonista na promoção da inclusão.

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    A aprendizagem de modo geral constitui elemento fundamental para a garantia de

    sobrevivência em uma sociedade competitiva. A necessidade de qualificar os trabalhadores

    impulsiona as iniciativas de promover a aprendizagem. Segundo Castells (2005), as mudanças

    sociais são tão drásticas quanto os processos de transformação tecnológica e econômica, ou

    seja: não basta mudar as ferramentas e metodologias, faz-se necessário o desenvolvimento de

    uma nova maneira de entender o mundo e suas relações.

    A inclusão da pessoa com deficiência requer equidade nas oportunidades e a educação

    corporativa pode estabelecer processos de aprendizagem que visem a propiciar a

    (re)construção do conhecimento, assim como o desenvolvimento de novas competências.

    De acordo com Fleury e Fleury(2001, p. 190), “competência é um saber agir

    responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos,recursos, habilidades que agreguem valor econômico às organizações e valor social ao

    indivíduo”. Portanto, são competências individuais e organizacionais estabelecidas em

    harmonia com os objetivos e resultados a serem alcançados.

    Diante dessa necessidade, as organizações adotam, estrategicamente, métodos e

    ferramentas para promover a inclusão. Nesse sentido, este trabalho faz-se relevante pois,

     pretende analisar os aspectos teóricos que embasam as atividades práticas desenvolvidas no

    INSS, para inclusão da pessoa com deficiência visual nas ações educacionais a distância.Destaca-se que o recorte aplicado a esta pesquisa tem como foco a pessoa com

    deficiência visual, em razão do quantitativo expressivo de pessoas nessa condição identificado

    no Censo 2010 e por ter sido a primeira iniciativa no INSS para inclusão da pessoa com

    deficiência nas ações educacionais.

    1.2  Problema

    Segundo Dellors (1999), os quatro pilares da educação para o século XXI são

    aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Nesse sentido,

    esta pesquisa busca caminhos para aprender a fazer, uma vez que a necessidade de ações de

    inclusão para a pessoa com deficiência no contexto organizacional fomenta a criação de novos

    espaços de aprendizagem propiciados pelos avanços tecnológicos.

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    Considerando que a educação a distância representa um novo espaço de aprendizagem,

    surge um grande desafio para as organizações contemporâneas que consiste em adotar medida

    inclusivas nas suas ações educacionais.

    R esgatando o conceito de Dellors, qual o caminho para “aprender fazer” ações

    educacionais a distância que promovam a inclusão da pessoa com deficiência visual?

    1.3  Objetivos

    1.3.1  Objetivo geral

    Esta pesquisa objetiva analisar as adequações necessárias aos métodos e ferramentas

     pedagógicas promotoras da inclusão da pessoa com deficiência visual nas ações educacionais

    a distância.

    1.3.2  Objetivos específicos

    Para alcançar o objetivo geral, faz-se necessário os seguintes objetivos específicos:

    a) caracterizar as especificidades da deficiência visual;

     b) identificar obstáculos no mercado de trabalho para pessoa com deficiência visual;

    c) descrever recursos de acessibilidade nos ambientes virtuais de aprendizagem;

    d) analisar ações adotadas pelo INSS para inclusão educacional da pessoa com deficiência

    visual.

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    1.4  Levantamento Bibliográfico

    Com a finalidade de compor o referencial teórico relevante para esta pesquisa foi

    realizado um levantamento bibliográfico, por meio de revisão de literatura. Esse trabalho foi

    realizado no portal da Coordenação e Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior –  Capes,

    que contém uma grande variedade de periódicos com dados nacionais e internacionais.

    Complementarmente a esse trabalho, foi realizado um estudo em bibliotecas, Google Scholar  

    e Scientific Eletronic Library Online –  Scielo.

    Destaca-se que uma grande fonte de consulta e inspiração para este trabalho foi o site

    www.bengalalegal.com. O Bengala Legal funciona como um repositório de artigos,

    documentos e informações acerca da deficiência visual, da acessibilidade e da inclusão social.

    Do portal Capes foram extraídos os principais documentos que subsidiaram esta

     pesquisa. Inicialmente foi realizada uma busca pelas palavras-chave, acessibilidade,

    ambientes virtuais de aprendizagem e deficiência visual. Para a palavra acessibilidade, foram

    encontrados 1032 documentos, sendo que 505 foram revisados por pares. Já para a expressão

    ambientes virtuais de aprendizagem, foram encontrados 329 documentos, sendo 163 revisados

     por pares. Com o termo deficiência visual foram levantados 315 documentos, sendo 141revisados pelos pares. Em uma análise prévia nos resumos destes 1.676 documentos, foram

    filtrados e selecionados 150 documentos relevantes para essa pesquisa, sendo 70 referentes ao

    termo acessibilidade, 44 referentes a ambientes virtuais de aprendizagem e 36 sobre

    deficiência visual. O quadro a seguir representa os dados encontrados nesse levantamento

     bibliográfico:

    Quadro 1 –  Levantamento bibliográfico

    Palavra-chave  Documentosselecionados

    Documentosrevisados por pares

    Documentosrelevantes para esta

    pesquisa

    Acessibilidade 1.032 505 70

    Ambientes Virtuais

    de Aprendizagem

    329 163 44

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    Deficiência Visual 315 141 36

    Total 1676 809 150

    Fonte: Portal Capes (2014)

    Após a leitura integral e análise desses 150 documentos foram identificados aspectos

    importantes e categorizados 83 documentos. Após a leitura desse material foram identificados

    os principais autores para subsidiarem este trabalho.

    1.5  Estrutura da dissertação

    A organização desta pesquisa foi realizada em seis capítulos. No primeiro capítulo,

    constituído pela introdução deste trabalho, foram apresentados a relevância da pesquisa, o

     problema, os objetivos e a revisão de literatura.O segundo capítulo apresenta um referencial teórico abordando o retrato da deficiência

    no Brasil, com dados do censo 2010, e o desenvolvimento do quadro da deficiência no Brasil.

     No contexto educacional, apresenta visões acerca da aprendizagem da pessoa com deficiência

    visual, do mundo do trabalho, do planejamento estratégico, educação corporativa, da

    educação a distância e seus novos espaços de aprendizagem.

    Ainda no contexto da educação a distância, abordam-se conceitos fundamentais na

    efetivação da inclusão, como ações afirmativas, acessibilidade, adaptações razoáveis,

    tecnologia assistiva e desenho universal, também denominado desenho para todos.

     Nessa perspectiva, insere-se a temática da acessibilidade nas ações educacionais a

    distância, da acessibilidade web, da  validação da acessibilidade web as adequações dos

    Ambientes Virtuais de Aprendizagem  –  AVAs para pessoas com deficiência visual. Assim

    como a estratégia de apresentação de material didático acessível nas perspectivas das

    estratégias tecnológicas e pedagógicas.

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    O terceiro capítulo apresenta a metodologia adota neste trabalho, detalhando o

    delineamento da pesquisa, seus pressupostos, o público participante, a coleta de dados e os

    instrumentos de pesquisa.

    O quarto capítulo aborda a análise dos dados seus achados e implicações na

    abordagem adotada por esta pesquisa.

    O quinto capítulo apresenta as conclusões diante da aplicação da pesquisa. O sexto

    capítulo apresenta a bibliografia utilizada para embasar este trabalho.

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    2  REFERENCIAL TEÓRICO

    Esta pesquisa partiu do preceito de que entender o contexto histórico é a forma mais

    didática para a análise das ações de inclusão e do entendimento acerca da acessibilidade nas

    ações educacionais a distância, propiciando assim, um caminho para a inclusão da pessoa com

    deficiência visual no contexto organizacional.

    O retrato da deficiência no Brasil justifica a preocupação em se traçar diretrizes e

    norteadores para assegurar os direitos das pessoas com deficiência. Nesse sentido, a Secretaria

    de Direitos Humanos da Presidência da República  –  SDH/PR publicou, em 2012, a Cartilha

    do Censo 2010(SDH/PR, 2012), na qual afirma que os avanços nessa área requerem o

    aprendizado por meio de experiências passadas e a análise de dados para se preverem os

    impactos das políticas públicas.

    Destaca-se que a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com

    Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007

    (SDH/PR, 2010), define, no artigo 1, que as pessoas com deficiência são aquelas que têm

    impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em

    interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva nasociedade, em igualdades de condições com as demais. Reconhece ainda em seu preâmbulo,

    item “e”, que a deficiência é um conceito em constante transformação e que resulta da

    interação entre pessoas com deficiência e as barreiras relacionadas às atitudes e ao ambiente

    que impedem a plena e efetiva participação dessas pessoas na sociedade em igualdade de

    oportunidades.

    Posteriormente, o Decreto 6.949, de 25 de agosto de 2009 (BRASIL, 2009),

     promulgou a referida Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiênciaatribuindo status de emenda constitucional.

    2.1  Evidências do Censo 2010

    Segundo dados coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística  –  IBGE, publicados na Cartilha do Censo 2010 (BRASIL, 2012) considerando a população residente

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    no país, 23,9% possuíam pelo menos uma das deficiências investigadas: visual, auditiva,

    motora e mental ou intelectual.

    Ainda de acordo com a referida cartilha, a deficiência visual apresentou a maior

    ocorrência entre os entrevistados, afetando 18,6% da população brasileira. Em segundo lugar

    está a deficiência motora, ocorrendo em 7% da população, seguida da deficiência auditiva, em

    5,10%, e da deficiência mental ou intelectual, em 1,40%.

    Figura 1 –  São vários os tipos de deficiência

    Fonte: Cartilha do censo 2010 –  Pessoas com Deficiência

    Sendo assim, 45.606.048 brasileiros têm algum tipo de deficiência: visual, auditiva,

    física ou intelectual. Outro aspecto relevante é que 25.800.681 são mulheres e 19.805.367 são

    homens.

     No que se refere à localização da moradia, afirma-se que 38.473.702 pessoas com

    deficiência vivem em áreas urbanas e 7.132.347 em áreas rurais.

    Em relação às faixas etárias de pessoas com pelo menos uma das deficiências

    investigadas, verifica-se que no grupo de 0 a 14 anos, a deficiência atinge 7,53%. No grupo de15 a 64 anos, a relação é de 24,9%, e no grupo de 65 anos ou mais, 67,73%.

    Figura 2 –  Percentual de pessoas com pelo menos uma das deficiências investigadas na população residente, por grupo de idade

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    Fonte: Cartilha do censo 2010 –  Pessoas com Deficiência

    Esses dados evidenciam que os maiores índices de pessoas com deficiência estão

    concentrados nas faixas etárias mais elevadas, ou seja, com o envelhecimento da população

    surgem mais deficiências, pois em todos os tipos de deficiência houve maior incidência na

     população de 65 ou mais anos. O processo de envelhecimento está relacionado à perda de

    funcionalidades. Ressalta-se que a deficiência pode ser congênita ou adquirida ao longo da

    vida podendo atingir pessoas de todas as idades.

    O censo 2010 também apresenta um retrato das pessoas com deficiência por regiãodemográfica. A região Nordeste apresenta o maior índice, com 26,63% da população com

    deficiência, enquanto que a região Sul apresenta o menor índice com 22,50% conforme

    gráfico a seguir:

    Figura 3 –  Proporção da população com pelo menos uma das deficiências investigadas porgrandes regiões do Brasil - 2010

    Fonte: Cartilha do censo 2010 –  Pessoas com Deficiência

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    2.2  Evolução do quadro da Deficiência no Brasil

    Ao realizar uma análise acerca da evolução do quadro da deficiência no Brasil,

    evidencia-se que, em 2000, o segmento das pessoas com pelo menos uma das deficiências

    representava 14,5% da população brasileira. Comparando com 2010, esse percentual subiu

     para 23,9% da população total.

    Figura 4 –  Percentual de pessoas com pelo menos uma das deficiências por grupos de idade:censos 2000 e 2010 (%)

    Fonte: Cartilha do censo 2010 –  Pessoas com Deficiência

    Quando essa comparação considera a distribuição das pessoas por regiões brasileiras,

    foi observado, desde 2000, a maior prevalência da deficiência já estava localizada na Região

     Nordeste e situada bem acima da média nacional. Já o censo 2010 apresenta uma distribuição

    mais uniforme, evidenciado no quadro 2:

    Quadro 2 –  Proporção da população com pelo menos uma das deficiências investigadas

    Fonte: Cartilha do censo 2010 –  Pessoas com Deficiência

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    Comparando a situação de domicílio pode-se afirmar que houve uma variação entre

    2000 e 2010, pois a urbanização que ocorreu na população total brasileira também ocorreu no

    segmento de pessoas com pelo menos uma deficiência. Porém essa variação foi pequena. O

    censo de 2000 registrou uma diferença na proporção dessas pessoas que viviam no campo e

    nas cidades: 15,2% na população rural e 14,3% na urbana. O censo em 2010, constatou-se que

    essas pessoas estavam distribuídas na mesma proporção nas zonas rurais e urbanas do Brasil.

    Quadro 3 –  Mesma proporção de pessoas com pelo menos uma deficiência vivendo nas zonasurbana e rural em 2010

    Fonte: Cartilha do censo 2010 –  Pessoas com Deficiência

    2.2.1  Contexto Educacional

     No contexto educacional, o censo 2010 apresenta aspectos essenciais a serem

    considerados nas ações educacionais.

    O Decreto 6.949, de 25 de agosto de 2009 (BRASIL, 2009), estabelece em seu artigo

    24 que:

    Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência à educação.Para realizar este direito sem discriminação e com base na igualdade deoportunidades, os Estados Partes deverão assegurar um sistema educacionalinclusivo em todos os níveis, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida, comos seguintes objetivos:O pleno desenvolvimento do potencial humano e do senso de dignidade eautoestima, além do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos, pelasliberdades fundamentais e pela diversidade humana;O desenvolvimento máximo possível personalidade e dos talentos e criatividade das

     pessoas com deficiência, assim de suas habilidades físicas e intelectuais;A participação efetiva das pessoas com deficiência em uma sociedade livre.

    A Cartilha do Censo 2010 (BRASIL, 2012), afirma que todo homem, mulher, jovem e

    criança têm direito à educação, treinamento e informação durante todas as fases de suas vidas,

    não havendo limite de idade para suas reivindicações.

    A referida publicação salienta ainda que o direito à educação é inalienável e universal,

    sendo também considerado um direito que viabiliza a realização de outros direitos.

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     No tocante à educação, o censo 2010 apontou que a taxa de alfabetização para a

     população total é de 90,6%, enquanto que a do segmento de pessoas com pelo menos uma das

    deficiências é de 81,7%.

    Comparando-se tais dados por região geográfica, observa-se que as regiões Norte e

     Nordeste apresentaram as menores taxas de alfabetização.

    Percebe-se que a maior diferença entre as taxas da população total e da população de

     pessoas com deficiência ocorreu na Região Nordeste, com 11,7%. Essa diferença foi alta,

    também, na Região Norte, de 8,8%. A menor diferença foi observada na Região Sul, de 6,9%.

     Nota-se ainda que a Região Centro-Oeste, apesar de apresentar taxas altas de

    alfabetização para os dois contingentes populacionais, registrou uma diferença significativa de

    8,3%. Neste contexto, destaca-se que as pessoas com deficiência apresentaram taxas de

    alfabetização menores do que a população total em todas as regiões brasileiras.

    Ainda na perspectiva desta análise, verifica-se que o nível de instrução mede a

     proporção de pessoas de 15 anos ou mais de idade que atingiram determinado tempo estudo.

    Em 2010, na população com deficiência, 14,2% possuíam o ensino fundamental completo,

    17,7%, o ensino médio completo e 6,7% possuíam o ensino superior completo. A proporção

    denominada “não determinada” foi igual a 0,4%. Em 2010 havia, ainda, grande   parte da população sem instrução e fundamental completo, um total de 61,1% das pessoas com

    deficiência.

    Dados acerca do analfabetismo apresentados na cartilha comparam registros do Censo

    de 2000 e de 2010 e evidencia que a taxa de analfabetismo para a população com deficiência

    caiu de 13,6% para 9,5% na década.

    Percebe-se ainda que a queda foi mais acentuada na população feminina, que caiu de

    13,5% para 9,3%, enquanto que para a população masculina a taxa caiu de 13,8% para 9,9%,conforme gráfico a seguir:

    Figura 5 –  Taxa de analfabetismo de pessoas com pelo menos uma das deficiências (%)

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    Fonte: Cartilha do censo 2010 –  Pessoas com Deficiência

    O quadro abaixo evidencia a distribuição percentual da população com 15 anos ou mais

    de idade por pelo menos uma deficiência investigada e nível de instrução.

    Figura 6 –  Distribuição percentual da população de 15 anos ou mais de idade por pelo menosuma deficiência investigada e nível de instrução (%)

    Fonte: Cartilha do censo 2010 –  Pessoas com Deficiência

    Conclui-se que no contexto educacional, assim como em outras áreas no quesito

    acessibilidade e inclusão, os dados analisados ratificam a percepção de que a equiparação de

    oportunidades para todos ainda não foi totalmente implementada e ainda resta um longo

    caminho a percorrer.

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    2.3  Entendendo a deficiência visual

    Este trabalho adotou como foco de pesquisa a pessoa com deficiência visual. Pois, é

    essencial um aprofundamento acerca dessa categoria de deficiência para explicitar as reais

    necessidades educacionais.

    Ao longo dos anos, os termos que definem a deficiência foram sofrendo

    transformações e acompanhando o desenvolvimento da sociedade. O cuidado com a

    linguagem também expressa o respeito em relação às pessoas com deficiência e à não

    discriminação. Atualmente, o termo mais adequado a ser utilizado é: Pessoa com Deficiência.

    Este termo consta no texto aprovado pela Convenção Internacional sobre os Direitos

    das Pessoas com Deficiência, aprovado pela Assembleia Geral da Organizações das Nações

    Unidas  –   ONU, em 2006, assinada por diversos países, inclusive pelo Brasil e 2007 e

    ratificada em 2008, com status de Emenda Constitucional.

    A carga semântica da palavra acumulada ao longo do tempo é suficiente para

    expressar preconceito, e portanto, alguns desses termos, que inclusive um dia já foram

    oficiais, como "deficientes", “pessoas deficientes", "portadoras de deficiência" ou "portadoras

    de necessidades especiais" persistem ainda hoje. Ainda constam termos como estes sendoutilizados na legislação e até como títulos de entidades civis e governamentais. Acredita-se

    que em função da burocracia ainda não foram atualizados. Como exemplo identifica-se a

    Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais  –   Apae, Associação dos Portadores de

     Necessidades Especiais  –   APNEN, e a Associação Brasileira de Pessoas Portadoras de

     Necessidades Especiais – ABRAPP, dentre outras.

     No tocante a definição de deficiência, são encontradas diversas conceituações. No

    Decreto 3.298, de 20 de dezembro de 1999 (BRASIL, 1999), que regulamenta a Lei nº 7.853,de 24 de outubro de 1989(BRASIL, 1989), dispõe sobre a Política Nacional para a Integração

    da Pessoa Portadora de Deficiência, estabelece que:

    I  –   deficiência  –   toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para odesempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o serhumano;II  –  deficiência permanente  –  aquela que ocorreu ou se estabilizou duranteum período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos; e

    III  –   incapacidade  –   uma redução efetiva e acentuada da capacidade deintegração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ourecursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber

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    ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e aodesempenho de função ou atividade a ser exercida.

    A deficiência pode ser congênita ou adquirida. Quanto às classificações sobre

    deficiência visual, existem diversos conceitos, de acordo com os padrões médico, funcionais,

    esportivos e educacionais.

    Segundo a classificação médica, e em consonância com o Decreto 5.296, de 2 de

    dezembro de 2004 (BRASIL, 2004), duas escalas oftalmológicas ajudam a estabelecer a

    existência de agrupamentos de deficiências visuais: a acuidade visual, ou seja, aquilo que se

    enxerga a determinada distância, e o campo visual, a amplitude da área alcançada pela visão.

    a) Cegueira: quando a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor

    olho, com a melhor correção óptica.

     b) Baixa visão: possui acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a

    melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos

    os olhos for igual ou menor que 60 graus; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das

    condições anteriores.

    A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde –  CIF, leva em

    consideração os aspectos sociais da deficiência e propõe um mecanismo para estabelecer o

    impacto do ambiente social e físico sobre a funcionalidade da pessoa.

    Quando uma pessoa com deficiência visual enfrenta dificuldade em trabalhar num

    determinado local porque não existe acessibilidade ( software  leitores de tela, elevador com

    sistema sonoro e com identificação em Braille, mapa e piso tátil, dentre outros), a

    classificação da condição funcional desse indivíduo poderá ser quantificada como limitada, no

    que diz respeito a atividade laboral. Assim, utilizando o modelo da CIF, pode-se também

    estudar a mudança após um evento-chave, tal como a adaptação, adequação e o ajustamento,

    uma vez que a CIF permite a codificação e medidas de capacidade, fatores ambientais e

    fatores pessoais.Segundo Fugita (2002, p. 81), a American College of Sports Medicine  –  ACSM  define

    cegueira como:

    a) Cegueira por acuidade: significa possuir visão de 20/200 pés ou inferior,com a melhor correção (uso de óculos). É a habilidade de ver em 20 pés ou6,096 metros, o que o olho normal vê em 200 pés ou 60,96 metros (ou seja,1/10 ou menos que a visão normal), onde 1pé = 30,48 cm. b) Cegueira por campo visual: significa ter um campo visual menor do que10° de visão central –  ter uma visão de túnel.c) Cegueira total ou "não percepção de luz": é a ausência de percepção visual

    ou a inabilidade de reconhecer uma luz intensa exposta diretamente no olho.

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     No contexto esportivo e educacional, a International Blind Sport Association (2005),

    estabelece a seguinte classificação:

    Classificação esportiva:

    B1- Cegueira: ausência total da percepção da luz em ambos os olhos, oualguma percepção da luz, mas com incapacidade para reconhecer a forma deuma das mãos em qualquer distância ou sentido.B2  –  Baixa visão: habilidade de reconhecer a forma de uma mão até umaacuidade visual de 2/60 metros e/ou um campo visual inferior a 5º deamplitude.

    Classificação Educacional:

    a) Cegueira: quando há perda total ou resíduo mínimo de visão, necessitandodo método Braille como meio de leitura e escrita e/ou outros métodos,recursos didáticos e equipamentos especiais para o processo ensino-aprendizagem.

     b) Baixa visão: quando há resíduos visuais em grau que permitam ler textosimpressos à tinta, desde que se empreguem recursos didáticos (ex.: fonteampliada) e equipamentos especiais, excluindo as deficiências facilmentecorrigidas pelo uso adequado de lentes.

     No entanto, para Kirk e Gallagher (1991), essa classificação é bastante limitada, pois é

     baseada em um padrão de eficiência visual, que é de certo modo abstrato. Isso reforça a

     prática que cada vez mais estabelece uma definição funcional valorizando os efeitos da

    limitação visual sobre a habilidade crítica da leitura.

    Segundo Teixeira (2014), o instrumento padrão usual é a Escala de Snellen. Essa

    escala também conhecida como óptico de Snellen ou escala optométrica de Snellen, é um

    diagrama utilizado para avaliar a acuidade visual.  Esse nome é uma homenagem

    ao oftalmologista holandês Herman Snellen, que a desenvolveu em 1862. 

    Essa escala é composta por dois tipos de versões principais: a tradicional, com letras, e

    a utilizada para pessoas analfabetas, que se constitui da letra "E" com variação de rotação

    como "ш", em que se pede à pessoa que indique para que lado a letra está. Pode ser feita

    também com figuras, usada principalmente para crianças, pois elas talvez não consigam

    diferenciar as letras caso não tenham sido alfabetizadas. As fileiras de letras de tamanhos

    decrescentes que devem ser lidas a uma distância de 20 pés, ou seja 6,6 metros. Os escores

    são baseados na exatidão com que a pessoa com deficiência visual foi capaz de identificar as

    fileiras de letras utilizando um olho de cada vez.

    Segundo o Ministério da Educação e do Desporto, (BRASIL,1993), pessoa cega é

    aquela que possui perda total ou resíduo mínimo de visão, necessitando do método Braille

    como meio de leitura e escrita e/ou outros métodos, recursos didáticos e equipamentos

    especiais para o processo ensino-aprendizagem. Pessoa com baixa visão é aquela que possuiresíduos visuais em grau que permitam ler textos impressos à tinta, desde que se empreguem

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Acuidade_visualhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Oftalmologistahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Herman_Snellenhttp://pt.wikipedia.org/wiki/1862http://pt.wikipedia.org/wiki/1862http://pt.wikipedia.org/wiki/Herman_Snellenhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Oftalmologistahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Acuidade_visual

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    recursos didáticos e equipamentos especiais, excluindo as deficiências facilmente corrigidas

     pelo uso adequado de lentes.

    O Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004 (BRASIL, 2004), afirma que a

    deficiência visual é a perda (cegueira) ou redução (baixa visão) da capacidade visual em

    ambos os olhos, em caráter definitivo, não havendo a possibilidade de ser melhorada ou

    corrigida com o uso de lentes.

    Quanto aos tipos de baixa visão pode-se citar a: redução da visão central; diminuição

    da visão periférica (visão tubular); perda da visão das cores; incapacidade ou perda da aptidão

    do olho para se ajustar à luz, contraste, ou brilho, dentre outros.

    De acordo com Registros de Domínios (2014), destacam-se algumas das principais

    consequências da baixa visão:a) Percepção Turva: os contrastes são poucos perceptíveis; as distâncias são de difícil

    mensuração; existe uma má percepção do relevo; as cores são atenuadas.

     b) Visão Periférica: maior dificuldade para distinguir objetos, símbolos ou caracteres

     pequenos, distantes e em baixo contraste com o ambiente.

    c) Visão Tubular ou central: pode ter acuidade visual normal na região central da

    retina; a visão noturna é reduzida; apresenta limitação na orientação espacial e nas atividades

    de autonomia.Conclui-se que o conhecimento da deficiência visual faz-se necessário para melhor

     planejamento e elaboração da ação educacional. Os conceitos abordados consideram o

    funcionamento orgânico e não a interação da pessoa na sociedade. No entanto, a

    individualidade deve ser respeitada, assim como as particularidades e peculiaridades

    apresentadas pela deficiência e suas interações sociais, considerando seus impactos no dia a

    dia.

    2.4  Evolução da exclusão para a inclusão

    Para abordar o tema inclusão necessariamente é preciso abordar a exclusão. No

     processo histórico, identificam-se alguns períodos nos quais a pessoa com deficiência era

    vista e analisada por diferentes ângulos.

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    grande relevância, pois fez emergir discussões acerca das necessidades das pessoas com

    deficiência.

    A terceira fase é a da integração, que, de acordo com Sassaki(1997), é marcada pela

     proliferação das classes especiais nas escolas de ensino regular. Estudos apontam que. na

    verdade, essas classes especiais surgem da ideia de que as pessoas com deficiência

     permanecendo em salas à parte, separados das pessoas sem deficiência, não atrapalhavam o

    ensino das demais e, na medida que eram preparadas e instruídas poderiam ser integradas para

    viver em sociedade.

    Encontram-se diversas conceituações acerca da integração. Segundo Glat (2007, p.

    12), podemos inferir que:

    Denominamos integração o modelo que começou a ser implantado no Brasildesde o final da década de 70, os alunos com necessidades educacionaisespeciais, geralmente oriundos do ensino especial, são inseridos na salaregular na medida em que demonstrem condições para acompanhar a turma,recebendo atendimento especializado paralelo, em horário alternativo,individualmente ou em salas de recursos.

    Hoje a sociedade contemporânea vivencia a quarta fase, a da inclusão. Na prática,

    observa-se que existe uma força social por parte dos cidadãos, cobrando uma mudança de

     postura em relação aos valores morais e éticos, visto que ainda não foi internalizada por todos.

    Surge, assim, a necessidade de fazer valer os direitos legais e as políticas públicas como

    forma de reforçar o entendimento social de que a inclusão não é um favor social, mas sim um

    direito do cidadão.

    Algumas pessoas utilizam as palavras integração e inclusão, já emconformidade com a moderna terminologia da inclusão social, ou seja, comsentidos distintos –  a integração significando ‘inserção da pessoa deficiente preparada para conviver em sociedade’ e a inclusão significando‘modificação da sociedade como pré-requisito para a pessoa comnecessidades especiais buscar seu desenvolvimento e exercer   a cidadania.(SASSAKI, 1997, p. 43)

    Sassaki (1997) afirma ainda que o paradigma da integração social consiste em

    adaptarmos as pessoas com deficiência aos sistemas sociais comuns e, em caso de

    incapacidade por parte de algumas dessas pessoas, criarmos sistemas especiais separados para

    elas.

    Percebe-se ainda que a inclusão social é um conceito que se encontra relacionado com

    diversas temáticas. Entre elas, o de ampliar a definição de desvantagem social, política,

    econômica e cultural, com a finalidade de quebrar barreiras e criar bens e serviços que supram

    às necessidades individuais baseadas nos problemas que enfrentam.

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    2.5  Marcos históricos na educação inclusiva

    A inclusão significa a transformação do sistema educacional, de forma a organizar os

    recursos necessários para alcançar os objetivos e as metas para uma educação de qualidade

     para todos.

    Uma educação inclusiva deve identificar e eliminar as barreiras que impeçam o acesso

    ao conhecimento.

    O princípio da inclusão educacional é constitucional, uma vez que a Constituição

    Federal de 1988(BRASIL, 1988), traz como um dos seus objetivos fundamentais “promover o

     bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de

    discriminação”. A Constituição afirma ainda que a pessoa com deficiência deveria estar na

    escola, e, se possível, sua educação deveria acontecer em classe regular de ensino, junto às

    demais crianças sem deficiência. No art. 205, afirma que deve haver educação para todos,

    como direito subjetivo para que as pessoas possam conviver e interagir normalmente,

    atendendo a diversidade humana.

    A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional  –   LDB, Lei 9.394, de 20 de

    dezembro de 1996(BRASIL, 1996), estabelece que esse atendimento será disponibilizado “emclasses, escolas ou serviços especializados”, sendo dever do Estado garantir a oferta da

    educação especial.

    Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, amodalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regularde ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.§1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escolaregular, para atender as peculiaridades da clientela de educação especial.Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidadesespeciais:

    III  –  professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regularcapacitados para a integração desses educandos nas classes comuns;IV –  educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração navida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelaremcapacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação comos órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam umahabilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora. (BRASIL,1996) 

    Outro marco importante foi a Declaração de Salamanca(UNESCO, 1994), que afirmou

    a importância da valorização da individualidade dos educandos, pensando numa escola que

    consiga atender a todos em suas diferenças ou dificuldades individuais.

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    O Decreto 3.298, de 20 de dezembro de 1999 que regulamenta a Lei 7.853 de 24 de

    outubro de 1989 (BRASIL, 1999), que dispõe sobre a política nacional para a integração da

     pessoa portadora de deficiência, afirma que a  educação  especial está integrada ao ensino

    regular, como modalidade que perpassa todos os níveis de ensino –  modalidade transversal –  

    enfatizando a atuação complementar da educação especial ao ensino regular. Ressalta-se que

    foi citado o termo pessoa portadora de deficiência, pois no referido Decreto ainda consta este

    termo que era utilizado à época.

    Destaca-se ainda que, em 1999, a Convenção da Guatemala, promulgada no Brasil

     pelo Decreto 3.956, de 8 de outubro de 2001 (BRASIL, 2001), ratifica os mesmos direitos

    humanos e liberdades fundamentais para todas as pessoas, definindo discriminação contra a

     pessoa com deficiência como toda atitude de diferenciação.As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, de 2001,

    destacam a necessidade de que todos possam aprender juntos em uma escola de qualidade.

    O Conselho Nacional de Educação editou a Resolução CNE/CP nº 1/2002 (BRASIL,

    2002) com o objetivo de formar docentes para a atender à diversidade e que contemple

    conhecimentos sobre as especificidades dos educandos com necessidades educacionais

    especiais e determina as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores.

    A Portaria 2.678, de 24 de setembro de 2002 do MEC (BRASIL, 2002), aprovadiretrizes e normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do sistema Braille em todas as

    modalidades de ensino, compreendendo o projeto da grafia braille para a língua portuguesa e

    a recomendação para o seu uso em todo o território nacional.

    O Programa Educação Inclusiva, criado pelo Ministério da Educação em 2003, garante

    o direito à diversidade, com o objetivo de transformar os sistemas de ensino em sistemas

    educacionais inclusivos, proporcionando o direito de acesso de todos à escolarização com

    acessibilidade e atendimento educacional especializado.O Ministério Público Federal publicou em 2003 o documento intitulado ‘O acesso de

    Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular ’, com o objetivo de

    reafirmar o direito da escolarização de educandos com e sem deficiência em turmas comuns

    do ensino regular.

    Impulsionando a inclusão educacional e social, o Decreto 5.296, de 2 de dezembro de

    2004(BRASIL, 2004), regulamentou as Leis nº 10.048/00 e nº 10.098/00, estabelecendo

    normas e critérios para a promoção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou com

    mobilidade reduzida.

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    O Plano de Desenvolvimento da Educação  –   PDE de 2007, estabelece a

    implementação da sala de recursos, onde sejam disponibilizados instrumentos necessários à

    necessidade específica do educando com deficiência, com a disponibilização de tecnologia

    assistiva, como: softwares, livros em braille, recursos ópticos e não ópticos, mobiliário

    adequado, entre outros, para a promoção do desenvolvimento escolar.

    O Brasil é membro signatário da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com

    Deficiência, aprovada pela ONU em 2006. Após ratificada a convenção, por meio de rito que

    lhe confere status de emenda constitucional, passou a adotar suas diretrizes assegurando um

    sistema de educação inclusiva em todos os níveis de ensino.

    Em 17 de novembro de 2011, o Plano Viver sem Limite, estabelecido pelo Decreto nº

    7.612 de 17 de novembro de 2011 (BRASIL, 2011), tem a finalidade de promover, por meio daintegração e articulação de políticas, programas e ações, o exercício pleno e equitativo dos

    direitos das pessoas com deficiência. Este programa apresenta como um de seus eixos o

    acesso à educação, o que ressalta o compromisso do governo federal em promover a

    igualdade social.

    Pode-se entender por educação inclusiva um processo que envolve a transformação do

    sistema de ensino para chegar a todos educandos. Destaca-se que este processo requer

    necessariamente o engajamento dos educandos, profissionais da educação, projeto político-educacional, estrutura física e material das escolas, apoio familiar, social e cultural.

    Simultaneamente, foi publicado o Decreto 7.611, de 17 de novembro de 2011

    (BRASIL, 2011), que dispõe sobre a educação especial e o atendimento educacional

    especializado e dá outras providências.

     Na lógica da inclusão, as diferenças individuais são reconhecidas e aceitas na

    construção de uma nova práxis pedagógica. Rodrigues(2003) afirma que, nessa nova

    abordagem, não há mais lugar para exclusões ou segregações, e todos os educandos, com esem deficiências, participam efetivamente. Pois, a palavra de ordem no princípio da educação

    inclusão é equidade; a escola inclusiva é aquela em que todos têm o direito de frequentá-la em

    situação de equidade.

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    2.6  Aprendizagem da pessoa com deficiência visual

    A educação deve ser elemento transformador da sociedade e aspecto fundamental para

    garantir o exercício da cidadania, e isso não é diferente para pessoa com deficiência.

    Quanto ao processo de aprendizagem, é fundamental que a pessoa cega ou com baixa

    visão seja tratada como qualquer outro educando, no que se refere aos direitos, deveres,

    acordos, normas, regulamentos e disciplina existentes no cotidiano educacional.

    Ressalta-se ainda que as adaptações e adequações são instrumentos facilitadores e não

    devem assumir perfil discriminatório de atitudes.

    As pessoas aprendem de formas diferentes e isso deve ser respeitado no momento de

    se conceber uma ação educacional. Esse aspecto não difere pessoas com e sem deficiência; é

    amplo e não pode ser padronizado, sendo assim necessário considerar as especificidades e

    individualidades.

     Nenhum indivíduo é igual a outro e cada um aprende de uma forma diferente,

    conforme a maneira que lhe for melhor ou de sua preferência. O importante é que se possa

    motivar e facilitar a compreensão ou objeto de aprendizado.

    Segundo Vygotsky(2001), o potencial humano é desenvolvido mediante a interaçãocom o ambiente físico e social, o indivíduo constrói o conhecimento, de forma ativa, a partir

    dos conhecimentos que traz consigo. Nesse sentido, o processo de interação com o meio e

    com as outras pessoas é construído individualmente, de forma diferente. Quando o indivíduo

    é uma pessoa com deficiência, esse processo pode ser dificultado por barreiras comunicativas

    e atitudinais, criadas muitas vezes pela falta de conhecimento ou não disponibilização de

    recursos ou tecnologias assistivas, assunto tratado nos próximos capítulos deste trabalho.

    Sendo assim, é importante ofertar ações que contemplem variados métodos,ferramentas e recursos didáticos para contemplar as diferentes necessidades educacionais e

    nas quais a convivência deve ser pautada de forma espontânea.

    Ressalta-se que a falta da visão não interfere na capacidade intelectual e cognitiva. A

     pessoa com deficiência visual tem o mesmo potencial de aprendizagem que os demais.

    A aprendizagem da pessoa cega ou com baixa visão depende de vários fatores, entre

    eles a capacidade do cérebro de realizar as suas funções, de capturar, codificar, selecionar e

    organizar informações e principalmente da interação entre educador, educandos, conteúdos e

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    recursos utilizados no processo ensino-aprendizagem. Essas informações traduzem-se em

    conhecimento que são armazenadas na memória.

    Portanto, é essencial desenvolver estratégias que proporcionem situações de

    aprendizagem que estimulem os sentidos remanescentes, a iniciativa e a participação ativa.

    O processo de aprendizagem deve incentivar o comportamento exploratório e a

    experimentação para a construção de uma percepção global, que é essencial ao processo de

    análise e síntese. Pois, da mesma maneira que não pode ocorrer discriminação, atitudes como

    fragilização ou superproteção devem ser combatidas no ensino aprendizagem.

    Para todos os educandos, as atividades realizadas devem desenvolver a iniciativa e a

    autonomia, propiciando prazer e motivação na aprendizagem, uma vez que um ambiente

    favorável à construção do conhecimento deve encorajar a participação ativa. A autoconfiançacontribuirá para a efetividade no processo de aprendizagem.

    O uso de tecnologias assistivas, como leitores de tela, lentes, lupas, óculos, dentre

    outros recursos, significam um auxílio valioso para aprendizagem, no entanto não descartam a

    necessidade de adaptação de material, metodologias e estratégias de aprendizagem.

    O sistema Braille para escrita e leitura é utilizado por algumas pessoas com deficiência

    visual. Geralmente, quando a cegueira é congênita, a alfabetização já ocorre contemplando o

    método Braille. No entanto, algumas pessoas, principalmente as que adquiriram a deficiênciaapós a alfabetização, têm dificuldade com o método. A escrita Braille é realizada por meio de

    uma reglete e punção ou de uma máquina de escrever específica para Braille. Para impressão

    são utilizadas impressoras específicas e papel com gramatura especial.

    É fundamental ressaltar que, para facilitar o processo de aprendizagem da pessoa com

    deficiência, algumas adaptações constituem recursos valiosos. Dentre as formas de adaptações

    estão a descrição, a audiodescrição, a informação tátil, auditiva, olfativa e outra referência que

    favoreçam a configuração do cenário ou do ambiente. Nesse contexto é possível produzir ouadaptar recursos didáticos que facilitam o ensino-aprendizagem.

    Quando o processo de aprendizagem contemplar a apresentação de vídeo, requer a

    descrição oral de imagens e cenas mudas e a leitura de legenda simultânea, se não houver

    dublagem. É essencial ter cuidado de nomear, denominar, explicar e descrever, de forma

     precisa e objetiva, as cenas, imagens e situações que dependem de visualização. Para a

    localização espacial também deve se utilizada adotando parâmetros como direita, esquerda,

    canto superior e outros, sempre tendo como referência a posição do educando.

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    A descrição oral não é a única forma de apresentar imagens ou gráficos, a

    apresentação com elementos táteis ou em relevo constitui também elemento facilitador do

     processo de aprendizagem. Sendo assim, utilizar recursos didáticos é essencial para

    contextualizar a atividade ao educando.

    É fundamental garantir recursos que propiciem um ambiente favorável ao processo de

    inclusão educacional, tendo em vista que o espaço de aprendizagem deve apresentar

    condições adequadas ao desenvolvimento das ações educacionais.

     Nesta perspectiva, as estratégias de aprendizagem, os métodos e as ferramentas

     pedagógicas e tecnológicas constituem importantes aliados para a aprendizagem. No entanto

    um educador consciente e comprometido é o principal elemento na promoção e concretização

    de uma educação para todos na perspectiva de uma sociedade justa, igualitária e inclusiva.

    2.7  Mundo do trabalho e inclusão

    O processo de amadurecimento cultural pelo qual passa o mundo contemporâneo,

    diante da globalização e da consequente quebra de fronteiras geográficas, formando

    sociedades em redes como afirma Castells (2005), acentua os debates internacionais acerca

    das transformações no mundo do trabalho. Ainda segundo esse autor, a via que conecta a

    tecnologia da informação, as mudanças organizacionais e o crescimento da produtividade

     passa, em grande parte, pela concorrência global.

    Diante dessas transformações e frente às mudanças de cenário econômico-social, as

    organizações percebem a necessidade de redirecionar seu planejamento estratégico, pois o

    capital intelectual é fator de competitividade na era da informação.Segundo Moresi (2001), o conhecimento é fator imprescindível para que uma

    organização possa sobreviver e atingir seus objetivos estratégicos e táticos na nova realidade

    contemporânea.

    Como salienta Delors(1999), com essa nova configuração da sociedade do

    conhecimento, a aprendizagem passa a ser para toda a vida. Agregar valor à organização por

    meio da aprendizagem individual ou coletiva implica não só no crescimento das pessoas, mas

    também no das equipes e da própria organização.

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     Nesse contexto, a educação corporativa consiste em um processo contínuo e

     permanente, no qual se deve considerar a subjetividade dos indivíduos, que já trazem suas

    experiências, conhecimentos, expertises e expectativas. Sendo assim, a educação corporativa

    age como meio facilitador, promovendo interação, troca de informações, vivências, crenças e

    valores. Essa atitude gera contextos de ensino e aprendizagem e a sistematização de saberes.

    Helsper (2008) aponta em seus estudos que as pessoas com mais privações sociais são

    também aquelas com menos acesso a recursos digitais, tais como serviços online. No entanto,

    esse fato pode representar uma grande oportunidade para iniciar o processo de inclusão

    digital, promovendo o acesso adequado a tecnologia na educação corporativa.

    O Decreto 6.949, de 25 de agosto de 2009(BRASIL, 2009) e demais normas

    correlatas, combatem a manutenção de atitudes e comportamentos excludentes, apontando para a necessidade da participação plena de todas as pessoas na sociedade. Sendo assim,

    emergem-se debates sobre as questões da diversidade humana e da inclusão da pessoa com

    deficiência no contexto organizacional.

     Na atualidade, um grande obstáculo para a inclusão de pessoas com deficiência no

    mercado de trabalho ainda consiste nas atitudes dos empregadores, pois as barreiras

    atitudinais impactam o acesso dessas pessoas às organizações. No entanto, não são os únicos

    obstáculos. Pode-se citar problemas com transporte, dificuldade em obter equipamentoadequado e falta de adaptações razoáveis. Estes e outros obstáculos limitam as oportunidades

    da pessoa com deficiência.

    Portanto, a inclusão dessas pessoas no trabalho está associada à superação de barreiras

    de vários níveis e deve surgir nas organizações como aliada ao processo de garantia de

    equidade e oportunidade a todos. Como fruto dessa participação plena, essa inclusão constitui

    requisito essencial à garantia da cidadania e do desenvolvimento das organizações.

    Segundo Castells (2005), a necessidade cada vez mais urgente de qualificar oscolaboradores impulsiona as iniciativas de promover a aprendizagem. Sendo assim, é

    fundamental a modernização no processo de aprendizagem. O antigo treinamento e

    desenvolvimento  –   T&D, não atende mais à demanda organizacional, evidenciando a

    necessidade de uma educação contínua e permanente, apoiada em uma visão complexa,

    sistêmica e inclusiva, em harmonia com as novas tecnologias.

    Essa qualificação inclusiva deve propiciar o compartilhamento do conhecimento

    construído na organização, permitindo a perpetuação de seus valores, crenças, experiências, a

    disseminação das melhores práticas de gestão, com a finalidade de gerar novos

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    conhecimentos, garantindo a valorização de seu capital intangível e consequentemente sua

    sobrevivência em um mercado cada dia mais competitivo.

    A conexão entre o mundo do trabalho e a educação corporativa, uma vez que esta

    rompe com paradigmas ultrapassados e promove o desenvolvimento organizacional, deve

     promover uma aprendizagem inclusiva.

    2.8  Planejamento estratégico e educação corporativa

    A instituições do trabalho são organismos vivo, influenciando e sofrendo influência do

    meio, e encontra na educação corporativa um caminho para desenvolver seus trabalhadores.

    Faz-se necessário o entendimento de conceitos relativos a planejamento estratégico e à

    gestão estratégica para que se estabeleça uma conectividade entre planejamento estratégico e

    educação corporativa.

    Sendo a educação corporativa uma ferramenta estratégica para as organizações

    ressalta-se que Porter(2009) afirma que a estratégia é a compatibilização mútua das atividades

    da empresa e que seu sucesso depende do desempenho positivo de suas atividades e da

    integração entre elas. Se não houver compatibilidade entre as atividades, não existirá uma

    estratégia diferenciada e muito menos sustentabilidade.

    Segundo Oliveira(2002), o planejamento estratégico é um processo gerencial que

     possibilita à liderança da empresa estabelecer o rumo a ser seguido, com objetivo de obter um

    nível de otimização na relação da empresa com o seu ambiente. O referido autor destaca ainda

    que o planejamento estratégico é de responsabilidade dos níveis mais altos da empresa e diz

    respeito tanto à formulação de objetivos quanto à seleção dos rumos das ações, considerandoas condições externas e internas à empresa. 

    A gestão estratégica estabelece diretrizes para o planejamento estratégico. Oliveira

    (2001) destaca que para o planejamento estratégico se configurar como ferramenta para o

    alcance dos objetivos organizacionais é essencial que seja flexível, pois de acordo com a

    análise sugerida e o contexto social, político e econômico encontrado, deve permitir um

    ajuste, uma revisão e até um redirecionamento, se for o caso, visando atingir a vantagem

    competitiva, estabelecendo, assim, seu posicionamento estratégico. Porter(2009) aponta que

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    esse posicionamento estratégico significa desempenhar atividades diferentes ou desempenhar

    as mesmas atividades de forma diferente.

    Corroborando a concepção de que é fundamental uma análise ambiental, Valadares

    (2006) ressalta que, a partir da correta análise e do acompanhamento do diversificado

    ambiente de negócios, as organizações podem alcançar um desempenho superior ao obtido

     pela concorrência.

    Segundo Mintzberg et al  (2006, p. 41), a “Gestão Estratégica se refere à maneira como

    as organizações usam graus de liberdade para manobrar entre seus ambientes”. Sendo assim, a

    adoção de estratégias consiste então, em uma das atividades desenvolvidas por um plano

    maior e para que haja sucesso na implementação de qualquer estratégia faz-se necessário o

    envolvimento de todos no processo e o apoio da alta cúpula da organização.Para destacar a relevância do planejamento estratégico no processo decisório, Drucker

    (1998, p. 136) afirma que planejamento estratégico consiste em:

    [...] processo contínuo de, sistematicamente e com o maior conhecimento possível do futuro contido, tomar decisões atuais que envolvam riscos;organizar sistematicamente as atividades necessárias à execução dessasdecisões; e, através de uma retroalimentação organizada e sistemática,medir o resultado dessas decisões em confronto com as expectativasalmejadas.

    Pode-se ainda afirmar que o planejamento estratégico é uma ferramenta norteadora

     para a execução de uma gestão estratégica. Segundo Rocha(1999), a gestão estratégica

    consiste no processo de tomada de decisões e a implementação de ações que visam a

    conceber, desenvolver, implantar e sustentar estratégias que garantam vantagens competitivas

    a uma organização.

     Nessa perspectiva, um planejamento estratégico proporciona uma visão sistêmica.

    Essa visão possibilita a escolha de caminhos a seguir e a adoção de norteadores das ações.

    O conceito de planejamento estratégico, segundo Ansoff (1981, p. 15), preconiza que a

    análise racional das oportunidades oferecidas pelo meio. Essa análise deve contemplar os

     pontos fortes e fracos das empresas e a escolha de um modo de compatibilização entre os dois

    extremos, para atingir os objetivos da empresa.

    Porter(2009) afirma que a estratégia é a compatibilização mútua das atividades da

    empresa, e que seu sucesso de