ação declaratoria incidental

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AÇÃO DECLARATÓRIA INCIDENTAL Claudia Seixas Silvany

SUMÁRIO: 1.Questões prévias:preliminares e prejudiciais-2.Conceito de ADI-3.Objeto -4.Finalidade-5. Requisitos-6.ADI proposta pelo réu e reconvenção-7. procedimento.-7.1.Suspensão do processo

1. QUESTÕES PRÉVIAS: PRELIMINARES E PREJUDICIAIS

O magistrado, muitas vezes, antes de proferir decisão acerca do pedido formulado pelo autor na peça vestibular, tem que examinar algumas questões prévias, preliminares ou prejudiciais, surgidas no decorrer do processo.

Não se confundem, todavia, preliminares e prejudiciais. Com efeito, as primeiras

dizem respeito aos pressupostos processuais e condições da ação, ou seja, temas de direito adjetivo que interferem na admissibilidade do decisum. Demais disso, as preliminares não vinculam o posterior julgamento nem gozam de autonomia. Assim, é inconcebível, por exemplo, a propositura de determinada ação com o fim de obter declaração de ilegitimidade de parte.

Feito este esclarecimento inicial, interessa-nos analisar as questões prejudiciais, por

constituírem objeto da declaratória incidental. Prejudicial é o fato ou relação jurídica, regulada pelo direito substantivo, que se

apresenta como antecedente lógico da relação principal motivadora da lide, vem assim, como fator condicionante do julgamento da causa.

A relação jurídica prejudicial subordina a principal (prejudicada) e, por albergar um

bem autônomo da vida, pode ser objeto de uma ação apartada. Para melhor esclarecimento, convém citar, como exemplo, a ação de alimentos (condicionada) fundamentada na relação de parentesco (condicionante). Nesta hipótese, a relação condicionante poderia dar ensejo a uma ação declaratória independente (investigação de paternidade).

Ensina Athos Gusmão Carneiro (ob.cit., p.132) que, se a respeito dessa relação

subordinante não ocorre controvérsia, teremos, na lição de Menestrina (Prejudicial no Processo Civil, Viena, 1904), um simples ponto prejudicial. Se este ponto foi controvertido, surge uma questão prejudicial.

A esta altura, é possível afirmar, em conclusão, que questão prejudicial é a relação

jurídica litigiosa, de cuja existência ou inexistência depende a decisão da lide.

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2-CONCEITO DE AÇÃO DECLARATÓRIA INCIDENTAL Na dicção de Humberto Theodoro Júnior, a ação declaratória é �aquela que se

destina apenas a declarar a certeza da existência ou inexistência de relação jurídica, ou de autenticidade ou falsidade de documento (art.4º). Podem essas ações ser manejadas em caráter principal (art.4º)ou incidental (5º).� (ob.cit., p.60)

Temos, pois, que ação declaratória incidental é �uma outra ação, proponível, no

mesmo processo, por qualquer das partes de uma ação já em andamento� (Athos Gusmão Carneiro,ob.cit.,p,129), tendo por objeto a certeza jurídica de uma relação prejudicial tornada controvertida no decorrer do processo. Representa ela, portanto, uma cumulação superveniente de pedidos.

Assim, no exemplo supra mencionado dos alimentos e da relação de parentesco,

poderia o autor cumular os pedidos, desde logo, na inicial. Poderia, outrossim, promover as duas ações em apartado (primeiro, a declaratória- investigação de paternidade-, em caráter principal, depois, a de alimentos). Por fim, pode propor ação de alimentos e, desde que o réu conteste a condição de pai, intentar a declaratória incidental com o fim de obter certeza jurídica quanto à paternidade (cumulação superveniente de pedidos).

3- OBJETO No conceito da ação declaratória, afirmou-se que tem ela como objeto uma relação

jurídica controvertida. A tal conclusão foi possível chegar pela leitura do art.5º do Livro dos Ritos, que estabelece:

�Art.5º. Se, no curso do processo, se tornar litigiosa relação jurídica de cuja existência ou inexistência depender o julgamento da lide, qualquer das partes poderá requerer que o juiz a declare por sentença�. (grifou-se)

O versículo 4º do Diploma retro mencionado, por seu turno, ao disciplinar a declaratória autônoma, esclarece: �Art.4º. O interesse do autor pode limitar-se à declaração; I- da existência ou inexistência de relação jurídica; II- da autenticidade ou falsidade de documento�

Permite, o dispositivo supra, deste modo, que a ação regulada tenha como objeto,

além da relação jurídica, um fato, qual seja a autenticidade ou falsidade de documento. Surge, então, a incerteza quanto à possibilidade de a declaratória incidental também

poder versar sobre este fato. Nelson Nery Júnior (ob.cit., p.386), dispondo sobre o assunto, leciona:

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�Somente é admissível ADI para declaração de relação jurídica (existência ou

inexistência), mas não para declaração de um fato que é a autenticidade ou falsidade de documento (RT 587; Barbi, Coment., 73,57). Para esta finalidade há o incidente de falsidade, que é uma ação (Lopes, Ação declaratória, 95; Barbosa Moreira; Est., 151), cujas regras procedimentais, estão previstas no CPC 390ss�.

Que o mero fato não pode ser suscitado pela declaração incidente e a falsidade ou

autenticidade do documento deverá ser objeto do �incidente de falsidade� regulado pelo Digesto Instrumental, não restam dúvidas. Ocorre, porém, que o mencionado incidente é, por natureza, uma verdadeira ação declaratória incidental. D�onde se conclui que o fato consistente na autenticidade ou falsidade de documento pode ser objeto de declaração incidente. Neste caso, todavia, esta ação será submetida a disciplina peculiar.

Em favor da tese ora esposada, pontifica Humberto Theodoro Júnior (ob.cit.,p.p.

455): �Consiste o incidente de falsidade numa verdadeira ação declaratória incidental,

com que se amplia o thema decidendum: o juiz, além de solucionar a lide pendente, terá de declarar a falsidade ou não do documento produzidos nos autos�.

4- FINALIDADE Consoante o magistério de Nélson Nery Júnior (ob.cit., p;383), a declaratória

incidental tem o objetivo de �fazer com que a questão prejudicial de mérito, que seria apreciada incidenter tantum, necessariamente pelo juiz, possa ser abrangida pela coisa julgada. Objetiva-se a decisão principaliter sobre a relação jurídica prejudicial, que influirá na decisão sobre o mérito, aumentando-se assim os limites objetivos da coisa julgada;�

Explicitando: Se, no curso do processo, surgir uma questão prejudicial, o magistrado,

necessariamente, deverá conhecê-la, ainda que incidentemente, desenvolvendo simples juízo cognitivo. Tal apreciação será levada a cabo na motivação da sentença, que não é abrangida pela eficácia da coisa julgada, conforme dispõe o art. 469, I do CPC, reforçado pelo inciso III deste mesmo dispositivo, in verbis:

�Art.469. Não fazem coisa julgada: I- os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte

dispositiva da sentença II- (...) III- a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no processo.�

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Isto ocorre porque, neste caso, as questões prejudiciais �constituindo em antecedente lógico imperioso- deverão ser examinadas, mas apenas para permitir que o magistrado chegue a uma conclusão final sobre o pedido formulado pelo autor, julgando pela sua procedência ou improcedência.

Neste sentido, magistral é o ensinamento de Celso Agrícola Barbi (ob.cit., p.64): �Como regra geral, o juiz, nesse caso, deve apenas conhecer da questão prejudicial,

mas não pode decidir sobre ela. Sendo a atividade do juiz acerca dessa questão apenas de conhecimento e não de

decisão, a conclusão a que ele chegar, não terá eficácia de coisa julgada. (...) A imutabilidade que caracteriza a coisa julgada atinge apenas a decisão e não as

questões prejudiciais que permitem ao juiz chegar ao julgamento final, porque elas são examinadas apenas para possibilitar o julgamento da procedência ou improcedência do pedido do autor.�

Para que a análise acerca da questão prejudicial tenha a eficácia de coisa julgada

material, é preciso que quaisquer das partes destaque-a como objeto de uma ação declaratória incidental. Neste caso, o magistrado deverá proferir uma decisão sobre o pedido, e não apenas dele conhecer, e o fará na parte dispositiva da sentença, que, a teor do art. 470 do CPC, é imutável.

Haverá, destarte, uma ampliação dos limites objetivos da coisa julgada para se

alcançar não só a relação jurídica aventada na inicial, mas também aquela constante da declaratória incidental que, por força da propositura da ação, será apreciada de modo principal, obstando, pois, que sobre ela (a relação prejudicial) existam futuras lides, bem como indesejáveis decisões contraditórias.

Desta forma, é possível afirmar que a ação declaratória encontra sua razão de ser no

princípio da economia processual. De fato, �com ela se evita, pela formação da coisa julgada sobre a questão prejudicial, que esta venha a ser objeto de nova discussão, provas e decisão, em demandas futuras entre as mesmas partes e que tenham como objeto, ou como prejudicial, a mesma questão. Com seu uso evita-se também o risco de decisões contraditórias sobre a mesma questão nas sucessivas demandas.�(Nelson Nery, ob.cit., p. 67)

5-REQUISITOS O pedido de declaração incidente, como petição inicial que é, obedecerá aos

requisitos enumerados no art. 282 do Estatuto Instrumental, com exceção daqueles que já se encontram nos autos. Ademais, serão aplicadas as regras gerais relativas aos pressupostos processuais e às condições da ação. Há, todavia, alguns atributos que lhe são característicos.

Assim, enquanto ação incidental, ela pressupõe um processo em curso para ser

ajuizada. Quer isso significar que deverá ter ocorrido a citação do réu da ação principal

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�sendo, portanto, insuficiente a simples distribuição ou despacho do juiz, conforme o caso- pois é através desse ato (citação) que se considera �constituído o processo, formada a relação processual, qualquer que seja o tipo de procedimento� (Moacyr Amaral Santos, ob.cit, p. 319).

Também no tangente à competência para conhecer a declaratória incidental é

possível vislumbrar uma peculiaridade. De fato, dispõe o art. 109 do CPC que o juiz da causa principal será o competente

para a declaração incidente. Tal norma, porém, só terá incidência se o juízo não for absolutamente incompetente, consoante os critérios material e funcional, pois nessas hipóteses não poderá haver prorrogação de seus poderes jurisdicionais. O pedido de declaração realizado nessas circunstâncias seria, então, rejeitado.

Ao revés, se qualquer das partes solicita a declaração e o juízo da causa principal é,

em razão do território ou do valor, relativamente incompetente, considerar-se-á prorrogada sua jurisdição para conhecer e decidir aquele pedido.

Em favor da linha de convicção apontada, Celso Agrícola Barbi (0b.cit., p. 75): �Requerida por qualquer das partes a declaração, o juiz da causa principal será

competente para a incidental, ainda que, por motivo do valor da causa ou do território, não o fosse para a questão prejudicial se proposta a ação separada.�

Cumpre salientar, outrossim, que também são requisitos da demanda incidental:

objeto consistente em um bem jurídico diverso da ação principal (autonomia), mas que, em certa medida, condiciona o seu teor (relação de prejudicialidade), temas já abordados no presente ensaio.

Por fim, resta analisar o interesse de agir específico desta ação. Para que qualquer das partes possa requerer a declaração incidente, não é suficiente

a superveniência de uma questão prejudicial. Além disso, é preciso existir um interesse de agir diverso daquele motivador da causa principal, consistente na utilidade da decisão desta questão não apenas para o processo em que foi proferida, mas também em relação a qualquer controvérsia atual ou futura entre as partes. Assim, se a solução incidental da questão prejudicial for bastante para compor o conflito de interesses, satisfazendo plenamente às partes, faltará a necessidade de tutela jurisdicional, ou seja, o interesse de agir.

É necessário, demais disso, que haja controvérsia em derredor da relação jurídica

prejudicial. Neste sentido, o art. 5º, estabelecendo que �se, no curso do processo, se tornar litigiosa a relação jurídica...�. Deste modo, surge o interesse de agir da declaratória incidental com a impugnação de um ponto prejudicial, formalizada na contestação da peça vestibular.

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Seguindo essa esteira de raciocínio, impossível cogitar-se desta ação quando há revelia, posto inexistir, in casu, litigiosidade.

O art.321, porém, dispõe: �Ainda que ocorra a revelia, o autor não

poderá....demandar declaração incidente, salvo promovendo nova citação do réu, a quem será assegurado o direito de responder no prazo de quinze dias.�

Na doutrina, não faltam críticas ao mencionado cânone. É que para a configuração

do direito à declaração incidente pelo autor, é necessário que o interesse em propor essa ação surja após o ajuizamento da demanda principal, insto é, com a contestação do réu. Se desde o princípio o autor tinha interesse em uma decisão com força de coisa julgada sobre o ponto prejudicial, deveria ter cumulado as ações inicialmente. Não o tendo feito, apenas contestando o réu a relação prejudicial e não intentando a declaratória, poderá o demandante ajuizar referida actio.

Athos Gusmão Carneiro (ob.cit., p.139) explica que o dispositivo supra citado deve

ser interpretado em consonância com o art. 264, que impede o autor de modificar o pedido ou a causa de pedir sem o consentimento de réu. A expressão �ainda que ocorra revelia�, portanto, diria respeito �à hipótese de alteração da demanda inicial, não à declaração incidente: se o réu tornou-se revel, o ponto prejudicial não foi impugnado, e não se transformou, pois, em questão prejudicial; não se transformando litigiosa a relação jurídica condicionante�.

E, mais adiante, citando Adroaldo Furtado Fabrício (ob.cit, p.139), lembra casos em

que a revelia não obstaria a interposição da declaratória incidental. Tal ocorreria nas hipóteses do �revel, cujo curador especial houvesse, ao contestar, suscitado a questão prejudicial; também no litisconsórcio passivo, em que na contestação de um dos réus seja controvertida relação jurídica condicionante, que também diga respeito ao outro réu, este revel.�

Outra situação, citada por Arruda Alvim (ob.cit., p. 469), que pode ser abrangida

por este dispositivo, é a condizente àquelas matérias enumeradas no art. 303 do CC, que podem ser invocadas mesmo após a contestação, ou seja, poderão ser alegadas pelo réu que compareceu no processo empós o transcurso, in albis, do prazo par impugnar, ou pelo autor.

6-ADI PROPOSTA PELO RÉU E RECONVENÇÃO Defendem alguns autores a tese de que a ação ora discutida seria uma demanda

reconvencional, quando proposta pelo réu, com uma única diferença: o nome reconvenção seria reservado ao caso em que o réu promove ação condenatória ou constitutiva; enquanto, na hipótese em apreço, o demandado se limitaria a requerer uma declaração (por todos, Athos Gusmão Carneiro, ob.cit, pp.129;130).

Importa frisar, todavia, que é possível vislumbrar outras significativas diferenças

entre estes institutos, inconfundíveis entre si.

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Com efeito, para intentar a declaratória incidental, conforme visto, é necessário contestar a ação principal; tal requisito não é exigido para a reconvenção. Demais disso, a reconvenção, ao contrário da declaração incidental, amplia a carga cognitiva do juiz.

A principal distinção, todavia, consiste no fato de que a ação incidente não goza de

autonomia procedimental. Assim, se o réu desejar obter uma declaração de existência ou inexistência em torno de determinada relação jurídica, poderá requerer a declaração incidente ou fazer, substancialmente, o mesmo pedido, sob a forma de reconvenção. Se, por qualquer motivo, a ação principal for extinta, sem julgamento de mérito, a incidental sucumbirá, contrariamente, a reconvenção persistirá.

7- PROCEDIMENTO Estabelece o Estatuto Instrumental, no ar. 325, que, contestando o réu o direito que

constitui fundamento do pedido, o autor pode requerer declaração incidente no prazo de dez dias. Convém, neste particular, fazer um breve esclarecimento: o decênio será computado a partir do momento em que o autor tiver ciência da contestação.

Na doutrina de Barbosa Moreira (ob.cit., p. 106/107), se empós interstício temporal

concedido para a defesa, o réu invocar algumas das matérias elencadas no art.303 �hipóteses que podem ser suscitadas depois da contestação �deverá reconhecer- se ao litigante a possibilidade de promover a declaratória incidente.

No referente ao réu, entretanto, o Código foi omisso quanto ao instante em que é

possível requerer a declaração incidente. Como somente com a contestação a relação jurídica torna-se controvertida, tem-se entendido que o prazo para o demandado ajuizar a ação é o da resposta. Cumpre realçar que aqui também são válidas as exceções apontadas quanto às hipóteses enumeradas no art. 303.

Poderá o magistrado indeferir liminarmente o pedido declaratório incidental nas

hipóteses previstas em lei (art.295), bem como nas hipóteses de intempestividade da postulação, formulação em sede de processo cautelar ou de execução, o juízo absolutamente incompetente, ausência do interesse específico de agir e mesmo quando não houver relação de prejudicialidade.

Importa frisar que referida rejeição constitui decisão interlocutória, pois não encerra

a função jurisdicional em primeira instância. Com efeito, o processo continuará quanto à ação principal perante o órgão de primeiro grau. Assim sendo, o decisum poderá ser atacado via agravo de instrumento.

Proposta a ação por qualquer das partes, inclusive litisconsortes, será aberto o prazo

de defesa. A demanda, então, desde que não seja indeferida liminarmente, prosseguirá com a observância das regras atinentes ao procedimento ordinário.

Insta observar que a ação declaratória incidental deverá ser processada nos autos

principais (simultaneus processus). Deste modo, a instrução será comum e em uma só sentença serão julgados os pedidos incidental e principal. Isso ocorre porque o

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julgamento da ação de declaração (a questão prejudicial) vinculará a decisão acerca do pedido formulado na inicial. Assim, se a questão prejudicial for o único fundamento da ação principal, sendo improcedente o pedido declaratório, o teor da ação principal restará, necessariamente, prejudicado.

Demais disso, a decisão de ambas as causas em momentos distintos �como na

hipótese de a ação declaratória dispensar a produção de prova em audiência (art.330,I) � originaria indesejável tumulto processual. Consoante as lições de Celso Agrícola Barbi (ob.cit., pp.74/75), a primeira dificuldade surgiria em derredor do recurso cabível contra a decisão sobre o pedido prejudicial. Se apelação, os autos teriam de ir para o Tribunal, sem ter sido completada a instrução quanto à questão principal. Se agravo, a decisão seria revista na instância superior em julgamento simplificado, com a restrição de não comportar posterior embargos, em caso de decisão por maioria dos votos, tudo a limitar a defesa do vencido.

7.1- SUSPENSÃO DO PROCESSO Assunto de grande controvérsia na doutrina, devido à redação criticável do art. 265,

IV, é o condizente à suspensão do processo prejudicado, ante determinada demanda condiconante.

Antes, porém, de adentrarmos o âmago do assunto, cumpre trazer à tona algumas

considerações sobre a classificação das questões prejudiciais. Diz-se que a prejudicial é homogênea, quando o seu exame, juntamente com a

apreciação da questão principal, estão confinados ao processo civil. Será heterogênea, se ambas as questões pertencerem a diferentes ramos do direito.

Outra divisão possível é efetuada entre a prejudicial interna �submetida à

apreciação do mesmo juiz da causa condicionada- e externa, posta sob o exame de outro magistrado- implicando, pois, em outro processo- pouco importando se sua jurisdição é civil.

Isto posto, convém transcrever as alíneas �a�, �c�, do inciso IV do art. 265, in fine: �Art. 265. Suspende-se o processo: IV � quando a sentença de mérito: a) depender do julgamento de outra causa, ou da declaração da existência ou

inexistência da relação jurídica, que constitua o objeto principal de outro processo pendente;�

As expressões �objeto principal� e �outro processo� constantes no versículo levam a crer, e nisso os autores são acordes, que a alínea supra tem aplicação nas hipóteses de questão prejudicial externa decidida principaliter tantum. Ou seja, situações em que o julgamento de determinado processo (condicionado) depende da solução de um outro (condicionante) pendente. A demanda prejudicada, então, será suspensa, por período

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nunca superior a um ano (parágrafo 5º do art. 265), a fim de que seja decidido primeiramente o processo prejudicado. Se no prazo assinado pelo magistrado não houver qualquer julgamento a respeito, a causa subordinada deverá retomar o seu curso. Nessa hipótese, o julgador conhecerá, de forma incidental, a questão prejudicial, posto tal conhecimento ser imprescindível para chegar-se a uma conclusão final sobre a demanda prejudicada.

A alínea �c� do art. 265, d�outra sorte, estabelece: �Art.265. Suspende-se o processo: IV � quando a sentença de mérito; b) tiver por pressuposto o julgamento de questão de estado, requerido como

declaração incidente;�

A primeira dúvida surge porque o legislador não esclareceu se o cânone supra transcrito incidirá nas hipóteses de prejudicialidade externa ou interna. É possível, então, formular-se as seguintes suposições:

A alínea �c� do art. 265, IV refere-se às situações em que a questão condicionante

de estado é objeto de ação declaratória incidental, prejudicalidade interna, portanto, pois a externa já foi suficientemente regulada no versículo �a� deste dispositivo.

Tal entendimento, entretanto, é inviável, colidindo com o sistema do Código, pois,

conforme apontado no subtítulo atinente ao procedimento, a declaratória incidental e a ação principal serão processadas conjuntamente, havendo uma só instrução e um único decisum. Não há falar-se, portanto, em suspensão de processo diante de um pedido declaratório incidental. Em obséquio desse posicionamento, Celso Agrícola Barbi, in verbis:

�Parece-nos que o texto da lei brasileira é inspirado no direito italiano, onde a

declaração incidente pode ser apresentada mesmo quando o juiz for incompetente para a questão prejudicial. Nesse caso, o processo é remetido ao juiz competente para julgar aquela questão, como se vê no art.34 do Código italiano; e a questão da ação principal fica, naturalmente, suspensa, à espera do julgamento no outro juízo. Mas no sistema brasileiro, em que a declaração só é admissível se competente o juiz para todas as questões �principal e prejudicial-, nos termos do art.470, não é imaginável caso em que ocorra a suspensão do processo, porque ele é um só para ação principal e para a ação incidente. A única conclusão possível é que a alínea c do item IV do art. 265 contém regra que colide com o sistema da declaratória incidental.�

Outros autores, a exemplo de Athos Gusmão Carneiro (ob.cit.p, 138), chegam a

afirmar que, na hipótese de a declaração incidente versar sobre questão de estado, e apenas nesse caso, ela tramitará em autos apartados, havendo não apenas uma ação incidental, mas �um processo incidental�, que provocará a suspensão da demanda principal.

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Outra suposição possível é a de que a alínea c seria aplicada às hipóteses de questão prejudicial de estado apreciada incidentalmente em outro processo pendente. Ocorre, porém, que nesse caso, a relação prejudicial não foi objeto de ação declaratória e o exame a seu respeito não possui eficácia de coisa julgada, não exercendo influência em outras lides, atuais ou futuras.

Creio que a posição mais acertada é a defendida por Arruda Alvim (ob.cit.,p. 491).

Sustenta o eminente mestre que esse texto �somente pode significar que na hipótese de no processo A existir lide principal e lide prejudicial, e, se, no processo B, a lide guardar relação de prejudicialidade com a lide prejudicial do processo A (...) a lide do processo B, então, por causa da prejudicialidade com a lide prejudicial do processo A, seria suspensa. Esta hipótese parece ser a possível para se poder aplicar esse texto do art. 265,IV, letra a, emprestando-lhe um rendimento funcional.�

Em outras palavras, pelo magistério de Arruda Alvim, este cânone aplica-se às

hipóteses em que determinada questão de estado é destacada como objeto de ação declaratória, incidental de certo processo, guardando, também, relação de prejudicialidade com outro processo em curso. Já a alínea �a� teria aplicabilidade nos casos em que a questão prejudicial é objeto de ação declaratória autônoma.

BIBLIOGRAFIA: Alvim, Arruda. Tratado de Direito Processual, 2ª ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 1990. vol.1 Gusmão Carneiro, Athos. Intervenção de Terceiros, 8 ed, São Paulo: Saraiva, 1996 Moreira Barbosa, José Carlos. O Novo Processo Civil Brasileiro, 18 ed., Rio de

Janeiro: Forense, 1996 Agrícola Barbi, Celso. Comentários ao Código de Processo Civil, 9 ed, Rio d e

Janeiro: Forense, 1999 Nery Júnior, Nélson, Rosa Maria Andrade Nery. Código Civil Comentado e

Legislação Processual Civil Extravagante em vigor, 4 ed, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999

Santos, Amaral, Moacyr. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, 18 ed, São Paulo: Saraiva, 1995, vol.1

Theodoro Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 18 ed, Rio de Janeiro: Forense, 1996, vol.1