ação de concessão de benefício de prestação continuada

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EXMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE – SEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO PAULO XXXXXXXXXXXXXXX, brasileiro, solteiro, portador da cédula de identidade RG nº -4 SSP/SP e inscrito no CPF sob o nº -90, residente e domiciliado na Rua Vitório Garbelotto, nº 233, /SP, neste ato representado por seu curador provisório Nunes, brasileiro, casado, portador da cédula de identidade RG nº,407-7 e inscirto no CPF sob o nº, residente na Rua José Ignácio Ribeiro, nº 141, Centro, na cidade de /SP, vem, mui respeitosamente, por intermédio de seu advogado que esta subscreve, com fulcro no artigo 203, inciso V, da Constituição da república Federativa do Brasil e no artigo 20 da Lei nº 8.742/93, propor a presente AÇÃO PARA CONCESSÃO DE BENEFÍCIO ASSISTENCIAL com pedido de antecipação da tutela em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, autarquia federal, com sede na Rua Tiradentes, nº 458, em Santa Cruz do Rio Pardo/SP, pelos motivos que passa a expor: 1

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LOAS, direito previdenciário

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Page 1: Ação de Concessão de Benefício de Prestação Continuada

EXMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE – SEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO PAULO

XXXXXXXXXXXXXXX, brasileiro, solteiro, portador da cédula de identidade RG nº -4 SSP/SP e inscrito no CPF sob o nº -90, residente e domiciliado na Rua Vitório Garbelotto, nº 233, /SP, neste ato representado por seu curador provisório Nunes, brasileiro, casado, portador da cédula de identidade RG nº,407-7 e inscirto no CPF sob o nº, residente na Rua José Ignácio Ribeiro, nº 141, Centro, na cidade de /SP, vem, mui respeitosamente, por intermédio de seu advogado que esta subscreve, com fulcro no artigo 203, inciso V, da Constituição da república Federativa do Brasil e no artigo 20 da Lei nº 8.742/93, propor a presente

AÇÃO PARA CONCESSÃO DE BENEFÍCIO ASSISTENCIAL

com pedido de antecipação da tutelaem face do

INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, autarquia federal, com sede na Rua Tiradentes, nº 458, em Santa Cruz do Rio Pardo/SP, pelos motivos que passa a expor:

01 Do interesse processual

Como se sabe, o interesse processual, uma das condições da ação, divide-se em interesse-adequação e

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interesse-necessidade, sendo que poder-se-ia levantar celeuma a cerca deste último.

A Lei nº 8.742/93 é expressa ao delegar a concessão do benefício ao Instituto Nacional do Seguro Social. Porém, deve aquele diploma legal ser analisado conjuntamente com o inciso XXXV, do artigo 5º da Constituição Federal, qual seja: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, levando-nos a concluir que, não obstante não tenha sido realizado pleito administrativo, a Carta Magna garante o acesso ao Judiciário. Neste sentido:

PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. ART. 203, V, DACF/88. MATÉRIA PRELIMINAR. CONDIÇÃO DE POBREZA NÃO DEMONSTRADA.AUSÊNCIA DE UM DOS REQUISITOS ENSEJADORES DA CONCESSÃO DO AMPARO.[...]- Dispensabilidade do prévio requerimento administrativo, em virtude do princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional consagrado no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal.1

Presente, portanto, o interesse-necessidade.

02 Dos fatos

O autor é pessoa simples de baixa escolaridade, tão somente cursou até a quarta série do ensino fundamental. Reside com seus genitores e deles depende economicamente.

Ambos os genitores contam com mais de 65 (sessenta e cinco) anos e percebem benefícios no valor de uma salário mínimo: ele, aposentadoria por idade; ela, benefício assistencial, ou seja, o mesmo aqui pleiteado.

Ocorre que, face à enfermidades apresentadas pelo autor [as quais acarretaram inclusive sua interdição e serão

1 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Nona Turma. Apelação Cível n. 712159. Relatora Juiza Federal Márcia Hoffmann. DJU 20.05.2004.

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discorridas em tópico próprio], não pode ele prover o próprio sustento e tão pouco tê-lo provido por sua família.

03 Do direito

O benefício assistencial não é apenas uma benesse, mas um objetivo da assistência social pátria, de acordo com o artigo 203 da Carta Magna.

Por sua vez, foi tal artigo regulamentado pela Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, a qual dispõe que três são os requisitos para a sua concessão, sendo dois deles alternativos entre si (idade e deficiência) e cumulativos com o terceiro (hipossuficiência econômica).

In casu, toca-nos discorrer acerca da deficiência e hipossuficiência econômica.

03.01 Da deficiência

O autor, está sendo tratado, consoante documento anexo, por quadro clínico compatível com CID F07.0; CID F10 e CID G40-9 e, conforme o psiquiatra e psicoterapeuta Paulo Aparecido Dalcim, não está apto a praticar os atos da vida civil, estando absolutamente incapaz para tais atos, razão pela qual lhe foi nomeado curador provisório [documentos anexos].

Em rápida consulta ao endereço eletrônico da Organização Mundial de Saúde2 traduz-se, respectivamente, citados códigos: transtorno de personalidade e do comportamento devidos a doença, lesão e disfunção cerebral; transtorno mentais e comportamentais devido ao álcool; e epilepsia.

Quanto a primeira, até para a melhor compreensão da gravidade da patologia, salienta-se ser:

Transtorno caracterizado por uma alteração significativa dos modos de comportamento que eram habituais ao sujeito antes do advento da doença; as

2 <http://apps.who.int/classifications/apps/icd/icd10online/>, acesso em 13.10.2010.

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perturbações concernem em particular à expressão das emoções, das necessidades e dos impulsos. O quadro clínico pode, além disto, comportar uma alteração das funções cognitivas, do pensamento e da sexualidade. Estado pós-leucotomia orgânica. Personalidade pseudopsicopática orgânica. Pseudodebilidade. Psicossíndrome da epilepsia do sistema límbico. Síndrome dos frontais lobotomizados. Pós-leucotomia. Alterações duradouras da personalidade após doenças psiquiátricas, experiência catastrófica. Síndrome pós-encefalítica, pós-traumática. Transtorno específico da personalidade. 3

O autor comporta-se de maneira impulsiva e não detém capacidade para analisar os riscos à sua saúde em relação a diversos atos. Como exemplo, devemos frisar que por vezes pessoas o desafiaram a realizar tarefas perigosas ou degradantes, tais como saltar da ponte que liga os municípios de Fartura/SP a Carlópolis/PR e escalar poste de armação que fixa o telhado da rodoviária de Fartura/SP.

No que tange à interação com pessoas do sexo oposto, o autor apresenta quadro compulsivo, perseguindo e vigiando, fato que impede o sadio relacionamento em qualquer ambiente laboral.

Por diversas vezes foi ele internado em decorrência de ataques epilépticos, enfermidade agravada pela ingestão de bebidas alcoólicas, vício já reconhecido como enfermidade, o que já deixa sequelas.

Não se olvida que a legislação faz alusão à incapacidade para os atos da vida independente, o que, sob uma interpretação literal, somente tornaria possível a concessão a pessoas que tem sua habilidade locomotora praticamente nula. Tal não é o objetivo da lei e, neste sentido, já decidiu o Egrégio STJ:

pelo simples fato da pessoa não necessitar da ajuda de outros para se alimentar, fazer sua higiene ou se vestir, não pode obstar a percepção do benefício, pois, se esta fosse a conceituação de vida independente, o benefício de prestação continuada só seria devido aos portadores de deficiência tal, que suprimisse a capacidade de locomoção do indivíduo –

3 < http://www.fau.com.br/cid/webhelp/f07.htm >, acesso em 13.10.2010.

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o que não parece ser o intuito do legislador. (Resp. 360202/AL – Rel. Min. Gilson Dipp – DJ 01/07/2002)

Desta forma, tendo em vista as enfermidades apresentadas, o autor encontra-se totalmente incapacitado.

03.01.01 Da incapacidade de fato

Não obstante o acima exposto, cumpre discorrer sobre a incapacidade fática, sendo esta observada nos casos em que, não obstante a pessoa não tenha sua capacidade laboral totalmente aniquilada, as condições de inserção no mercado de trabalho sejam nulas ou praticamente nulas.

Neste contexto, reveste-se de grande importância não apenas a análise médica do requerente para se concluir pela incapacidade laboral, mas, também, de seu grau de instrução, idade, profissionalização e quaisquer outros fatores que se figurem importantes no caso concreto, sempre com vistas a não abandonar, o Estado, o cidadão e sua família à própria sorte e prover-lhe o mínimo necessário à sua subsistência.

In casu, temos que o autor estudou tão somente até a quarta série, as poucas atividades laborais que exerceu foram por pouco tempo [em razão de suas enfermidades] e sua idade, 48 anos, praticamente o coloca fora do mercado de trabalho.

Assim, mesmo que porventura não conclua o perito pela incapacidade, há que se conjugar fatores diversos para se evitar eventual decisão injusta, a qual privará o autor do mínimo de decência que lhe assegura a Constituição Federal, em especial, o princípio da dignidade da pessoa humana que a inspira.

03.02 Da hipossuficiência econômica

Primeiramente, cabe frisar que o conceito de família adotado para o cálculo da renda per capita é restrito, nos termos da Lei 8.742/93. Ao remeter o exegeta à esta lei,

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especificamente ao artigo 16, o qual elenca aqueles que, presume-se, sejam dependentes do segurado da Seguridade Social, traça-se de forma objetiva os integrantes do núcleo familiar, desde que vivam sob o mesmo teto, quais sejam: (i) o cônjuge, (ii) a companheira ou companheiro, (iii) o filho, não emancipado, menor de 21 anos ou inválido, (iv) os pais, e (v) o irmão não emancipado menor de 21 anos ou inválido.

Temos, então, que o núcleo familiar do autor é composto por ele e seus genitores.

Quanto a eles, idosos, vez que contam com idade superior a 60 (sessenta) anos, há que se ater ao artigo 34 do Estatuto do Idoso:

Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei Orgânica da Assistência Social – Loas.Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas.

Ou seja, o Estatuto busca preservar uma renda mínima percebida pela pessoa idosa com vistas a proporcionar-lhe o mínimo de dignidade. Com tal intuito, há que se estender tal desconsideração não apenas ao benefício de que trata a LOAS, mas a todo e qualquer benefício percebido pelo idoso no valor de um salário mínimo, sob pena de mitigar os efeitos de citado dispositivo. Neste sentido:

PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. RENDA FAMILIAR PER CAPITA. SÚMULA 61 DESTA CORTE. CANCELAMENTO. EXCLUSÃO DA UNIÃO FEDERAL DO PÓLO PASSIVO DA LIDE. TUTELA ANTECIPADA.[...]2. O legislador, ao estabelecer no parágrafo único do art. 34 da Lei n. 10.741/2003, que o benefício de prestação continuada já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a LOAS, teve como objetivo preservar a renda mínima auferida pelo idoso, ou seja, assegurar que o minguado benefício (de um

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salário mínimo), não seja considerado para efeito do cálculo da renda familiar per capita. Desse modo, é possível estender, por analogia, tal raciocínio aos demais benefícios de renda mínima (aposentadoria por idade rural, por exemplo), ainda que não seja aquele previsto na LOAS, na medida em que ambos se destinam à manutenção e à sobrevivência da pessoa idosa, porquanto seria ilógico fazer distinção apenas porque concedidos com base em suportes fáticos distintos.4

Portanto, a renda de ambos os genitores, benefícios no valor de um salário mínimo, devem ser desconsideradas para o cálculo da renda per capita.

Neste diapasão, têm-se que a renda per capita do núcleo familiar do autor é zero, ou seja, inferior ao requisito objetivo fixado na legislação infraconstitucional.

04 Da antecipação da tutela

Dispõe o artigo 273 do Código de Processo Civil:

Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e:I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ouII - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu.

Pois bem, o fumus boni juris, encontra amplo respaldo nos documentos acostados à inicial, quais sejam: decisão de interdição provisória do autor, atestados médicos e documentos que comprovam a idade dos genitores do demandante, bem como suas rendas.

Já o periculum in mora encontra-se consubstanciado no fato de que o direito fundamental à 4 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Apelação Civil n. 2001.71.05.003019-7/RS.

Quinta Turma, Relator Desembargador Federal Celso Kipper. D.J.U. de 19.08.2004. Disponível em: <http://www.trf4.gov.br/>. Acesso em 16 de setembro de 2008, grifo nosso.

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dignidade do autor, bem como de seus genitores que têm de prover seu sustento, encontra-se sendo constantemente maculado. Ademais, tendo em vista o agravamento das enfermidades do autor o que, inclusive, acarretou sua interdição, a própria sobrevivência do núcleo familiar encontra-se em risco.

05 Do Pedido

Em consonância ao exposto, requer:

a) a citação do Instituto Nacional do Seguro social – INSS para que, querendo, ofereça resposta;

b) a concessão, in limine litis, do benefício pleiteado;

c) a intimação do representante do Ministério Público para que intervenha no feito;

d) a designação de perícia médica para que seja atestada a incapacidade laboral;

e) a confecção de estudo socio-econômico no intuito de comprovar a hipossuficiência econômica;

f) a condenação do INSS a conceder à Saulo Serafim Nunes o benefício previsto no artigo 20 da Lei nº 8.742/93, bem como a pagar as parcelas vencidas e vincendas, monetariamente corrigidas desde o respectivo vencimento e acrescidas de juros legais moratórios, incidentes até a data do efetivo pagamento, respeitada a prescrição quinquenal;

g) a concessão das benesses da Lei nº 1.060/50, por ser o autor pessoa pobre na acepção legal do termo.

Protesta provar o alegado por todas as provas em direito admitidas, especialmente provas testemunhais, periciais, juntada de novos documentos, e todas outras que se fizerem necessárias ao cabal deslinde da causa.

Dá ao pleito o valor de R$ 6.480,00 (seis mil, quatrocentos e oitenta reais).

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Nestes termos, Pede deferimento.

CLARK KENT

OAB SP 553224

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