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7ª Promotoria de Justiça de GoiâniaMeio Ambiente, Patrimônio Cultural e Urbanismo
EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___ VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE GOIÂNIA – GO.
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por sua
Promotora de Justiça que ao final assina, titular da 7ª Promotoria de Justiça de
Goiânia, com atuação em matéria ambiental e urbanística, no uso de suas
atribuições legais e institucionais e com fundamento nos Arts. 1.º inciso IV, 5.º e 21
da lei 7.347/85 (Lei de Ação Civil Pública), Art. 25, IV, "a, da Lei n.º 8.625/93 (Lei
Orgânica Nacional do Ministério Público), Arts. 127 e 129, incisos II e III, da
Constituição Federal , vem propor na forma da legislação civil e processual em vigor,
a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA com pedido liminar
em face de :
Município de Goiânia, pessoa jurídica de direito público interno,
representado por seu Prefeito, instalado no Paço Municipal de Goiânia, sito na Av.
do Cerrado, nº 999, Quadra APM9, Park Lozandes, nesta Capital;
Agência Municipal de Meio Ambiente de Goiânia - AMMA,
pessoa jurídica de direito publico interno, representada por seu Presidente, sediada
na Rua 75, esq c/rua 66, n.º 137, Centro, nesta Capital.
Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25,, sala 147, Jardim Goiás.CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás . Telefone (62) 3243-8460. Fax (62) 3243-8585.
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FATOS
Em 23 de fevereiro de 2012, a Associação Ecológica Vale do Meia
Ponte formalizou reclamação ao Ministério Público, noticiando tentativa de afronta
ao Plano Diretor de Goiânia, para, direta ou indiretamente, favorecer empresas em
situação irregular localizadas na região Norte de Goiânia, por meio da alteração da
nomenclatura das vias e da alteração dos usos permitidos para a citada região.
Referidas empresas, irregulares, continuam a funcionar apesar de
restrições administrativas impostas pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Econômico – SEDEM1, conforme atestam as certidões anexas (doc. 01).
A manobra intentada pelo Poder Publico, em especial o Conselho
Municipal de Política Urbana – COMPUR, escora-se no Decreto Municipal nº 198, de
17 de fevereiro de 2010 (doc. 02), que, sob a prerrogativa de regulamentar o Plano
Diretor Municipal e legislação que rege a classificação do Uso do Solo, inova e
afronta o texto legal, criando espécie de via não prevista na legislação que
pretendeu regulamentar.
Não obstante o favorecimento de empresas irregulares, há questão
de maior relevância que não fora observada pelo Poder Público, ao tentar alterar o
regime de Uso do Solo das vias da Região Norte, a saber, os nefastos danos
ambientais2 decorrentes dessa malfadada alteração.
Dessa feita, objetiva a presente ação afastar as alterações
pretendidas pelo Poder Público Municipal, bem como corrigir o mecanismo “legal”
criado que, se mantido, possibilitará novas investidas ilegais e inconstitucionais
como a manobra em comento, causando deletérios danos de ordem urbanística e
ambiental na região norte, com consequências para toda a cidade do Goiânia.
1Atualmente a Secretaria passou a chamar-se Secretaria Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico - SETURDE2Sobre a questão ambiental na região norte de Goiânia, há procedimento em trâmite no Ministério Público do Estado de Goiás, objetivando recuperar a degradação ambiental ocorrida ao longo dos anos.
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DIREITO
Disciplinando o ordenamento urbanístico pátrio, nossa Constituição
Federal reza em seu art. 182 que:
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.
§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
§ 3º - As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.
§ 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. Original sem grifos ou destaques
As diretrizes gerais fixadas em lei, conforme preceituado no artigo
182 supra, estão dispostas na Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001 – Estatuto das
Cidades.
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O Estatuto das Cidades assim determina:
Art. 1º Na execução da política urbana, de que tratam os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, será aplicado o previsto nesta Lei.
Parágrafo único. Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.
…..
Art. 4º Para os fins desta Lei, serão utilizados, entre outros instrumentos:
I – planos nacionais, regionais e estaduais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social;
II – planejamento das regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões;
III – planejamento municipal, em especial:
a) plano diretor;
b) disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo;
(…) Grifo-se
Sobre o plano diretor, ensina José Afonso da Silva3 que “o plano
diretor, como instrumento de atuação da função urbanística dos Municípios, constitui
um plano geral e global que tem, portanto, por função sistematizar o
desenvolvimento físico, econômico e social do território municipal, visando ao bem-
estar da comunidade local.”
O atual Plano Diretor de Goiânia está disciplinado na Lei
Complementar Municipal nº 171, de 29 de maio de 2007 (doc. 03), e atende aos
postulados delimitados na Constituição Federal e Estatuto das Cidades4 .3In, Direito Urbanístico Brasileiro, 6ª edição revista e atualizada. Ed. Malheiros.. São Paulo. p. 1384 Afora um ou outro artigo do Plano Diretor não aplicáveis ao presente caso e cujo teor é incidentemente questionado em outros autos.
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Atendendo também aos preceitos constitucionais e legais, o
Município de Goiânia promulgou a Lei nº 8.617, de 09 de janeiro de 2008 (doc. 04),
que dispõe sobre a regulamentação das atividades não residenciais e dos
parâmetros urbanísticos estabelecidos para a Macrozona Construída, conforme
previsto no art. 72 do Plano Diretor Municipal.
A Lei nº 8.617/2008 fixa critérios para classificação do Uso do Solo
em Goiânia, segundo a Hierarquização da Rede Viária Municipal, ou seja, de acordo
com a classificação da via5, delimita-se quais os tipos de atividades empresarias
poderão ser desenvolvidas na região.
A Hierarquização da Rede Viária Municipal regulamentada na Lei
8.617/2008 é parte constante do Plano Diretor de Goiânia, mais especificamente dos
anexos I, II, III e IV, e, em breve síntese são:
a) Vias Expressas de 1ª, 2ª e 3ª categorias (anexo I do Plano Diretor);
b) Vias Arteriais com largura mínima de 30 metros (Anexo II do Plano Diretor);
c) Vias Arteriais de Primeira Categoria (Anexo III do Plano Diretor); e,
d) Vias Arteriais de Segunda Categoria (Anexo IV do Plano Diretor).
Contudo, não é somente o tipo da via que estabelece a classificação
das atividades nela suportadas. Há que se considerar ainda o tipo da atividade
econômica que se pretende instalar e, para tanto, graduar-se essa atividade
conforme o Grau de Incomodidade que ela (atividade econômica) produza.
Assim, a Lei 8.617/2008 esmiúça os tipos de estabelecimentos e
atividades econômicas a serem instalados em cada via da nossa capital, segundo critérios da hierarquização das ruas e grau de incomodidade do empreendimento, tudo em consonância com a Constituição Federal, Estatuto das
Cidades e Plano Diretor de Goiânia.
5 Entenda-se por via: rua, avenida, alameda, travessa, etc.Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25,, sala 147, Jardim Goiás.
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A essa autorização do Poder Público dá-se o nome de Uso do Solo,
sendo esse documento essencial para instalação de quaisquer atividades
econômicas, notadamente as que causem impacto urbanístico e ambiental.
Sobre o Uso do Solo, José Afonso da Silva6 leciona que “constitui
um dos principais instrumentos do planejamento urbanístico municipal. Configura-se
como um plano urbanístico especial (plano de zoneamento) destinado a realizar na
prática as diretrizes de uso estabelecidas no plano urbanístico geral (plano diretor)”.
Pois bem, essa rápida análise da legislação urbanística serve para
demonstrar o absurdo cometido pelo Poder Público Municipal, quando editou o
Decreto nº 198, de 17 de fevereiro de 2010.
Ao regularizar situações não previstas no Plano Diretor Muncipal, o
indigitado Decreto Municipal, cria a sub-categoria “Vias Especiais”, assim dispondo:
Art. 1º. Para efeito de aplicação do disposto na Lei nº 8.617, de 09
de janeiro de 2008, Grau de Incomodidade e Parâmetros
Urbanísticos, fica instituída a sub-categoria de Vias Especiais.
§ 1º Aplica-se a classificação das Vias Especiais somente para
instalação das atividades não residenciais, não sendo as mesmas
incorporadas à Rede Viária Básica do Município de Goiânia.
(…)
Art. 6º Nas Vias Especiais admitem-se as atividades econômicas
constantes do Anexo II da Lei nº 8.617/2008, obedecendo ao Grau
de Incomodidade e Porte máximos admitidos na vias de influência.
Na ocorrência de omissões e/ou adequações, será considerado o
Anexo II deste Decreto.
6Obra citada, p. 237.Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25,, sala 147, Jardim Goiás.
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Sob o argumento de regulamentar a Lei 8.617/2008, o Decreto
198/2010 criou nova espécie de via não prevista na citada lei e no Plano Diretor
Municipal, em clara afronta ao princípio da hierarquia das normas, insculpido no art.
59 da Constituição Federal, e por tal razão não pode ser aplicado.
O absurdo é tamanho que na segunda parte do art. 6ª do aludido
Decreto, há a possibilidade de desconsideração do disciplinado no Plano Diretor em
favorecimento ao disciplinado no referido Decreto.
Contudo, o Decreto nº 198/2010, apesar de publicado em fevereiro
de 2010, não havia surtido efeitos no mundo dos fatos até o dia 02 de fevereiro de
2012, quando o Conselho Municipal de Políticas Urbanas – COMPUR, alterou as
vias situadas na Região Norte de Goiânia (doc. 05), transformando-as em Vias
Especiais e aptas a receber quaisquer tipos de empreendimentos econômicos, de
qualquer porte e grau de incomodidade.
Não bastasse a clara ilegalidade do ato do COMPUR e Poder
Público Municipal, há ainda a indicação de que essa ilegalidade serviria para fins
espúrios, quais sejam, regularizar a situação de empresas de grande porte
estabelecidas naquela região.
Nesse sentido, é oportuna a análise dos documentos juntados a este
petitório, notadamente o documento 1, que demonstra a omissão do Poder Público
Municipal no desempenho de sua atividade ordenadora e fiscalizadora do Uso do
Solo.
O documento em referência estampa o funcionamento de empresa
de forma irregular, interditada desde 29 de maio de 2009 e ainda em funcionamento
em 11 de maio de 2011, em clara afronta à determinação do Poder Público e sem a
aplicação de quaisquer sansões ou medidas dos agentes do município para fazer
valer a interdição aplicada e cessar a irregularidade então detectada.
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Essa leniência do Poder Público favoreceu a instalação clandestina
de outras empresas naquela região e vem trazendo imensuráveis de ordem
urbanística e ambiental, sendo a mais recente o desmatamento de área de
preservação permanente na Alameda dos Flamboyants, detectada pela Agência
Municipal de Meio Ambiente, e sem qualquer aplicação de sanção ou
responsabilização dos infratores (doc. 06).
Nesse caso, chegou-se ao ponto de, detectada de forma
contundente e inquestionável a infração, determinar-se ao fiscal que emitisse termo
de vistoria e notificação ao responsável, sob pena de autuação. Ora, não era o caso
de simples notificação, conforme atestam as fotos e relatórios constantes do
documento 06.
Noutra vertente, há acelerada implantação de loteamentos
irregulares e clandestinos na região, conforme informação da Secretaria Municipal
de Planejamento - SEPLAM, às fls. 111 do procedimento administrativo nº 200/2010,
instaurado no âmbito da 7ª Promotoria de Justiça de Goiânia para averiguar a
possibilidade de recuperar danos ambientais no Córrego Samambaia (doc. 07).
No citado documento, o órgão municipal relata a existência de 12
(doze) loteamentos irregulares, e ainda outros clandestinos.7
Outrossim, foram intentadas no último ano diversas investidas no
sentido de autorizar o parcelamento e loteamento da região e, dada a repercussão
negativa destas, foram adiadas para outra oportunidade. É a chamada expansão urbana, que a pretexto de expandir os limites urbanos da capital, pretende extinguir nossa zona rural em prol da “ocupação ordenada”, que noutras palavras significa a degradação ambiental da região norte para dar lugar a diversos empreendimentos imobiliários.
7A diferença entre o loteamento irregular e o clandestino é que este sequer procurou os órgãos do município para instalar o empreendimento, enquanto aquele não preencheu os requisitos necessários para sua aprovação.
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Nesse contexto, ante à letargia do Poder Público Municipal em
aplicar a legislação urbanística e ambiental na região Norte de Goiânia, somada à
tentativa de convalidação ou regularização de atividades em total descompasso com
os Usos permitidos naquela região, exsurge a necessidade URGENTE de adoção
de medidas protetivas ao meio ambiente e à ordem urbanística na região norte da
capital, bem como a determinação judicial para que o Município de Goiânia, por
meio de seu órgãos fiscalizadores aplique a legislação municipal, fiscalizando e
fazendo cumprir suas determinações.
Ademais, a região norte de Goiânia, verdadeiro cinturão verde da capital, é uma das responsáveis pelo abastecimento de água de nossa cidade e é grande responsável pelo ciclo das chuvas e regulação térmica da capital e vem sofrendo sérios danos, conforme já relatado.
Se pouco for feito, ou pior, se nada for feito, o resultado será o
mesmo: a região norte será ocupada, descaracterizada e os prejuízos desse fato far-
se-ão sentir na presente e futuras gerações.
Por essa razão, além da adoção das medidas emergenciais que o
caso requer, há ainda que se adotar medida eficaz que afaste em definitivo as
constantes investidas do Poder Público e de determinados grupos econômicos no
sentido de descaracterizar a região norte de Goiânia.
Nesse sentido, a única medida que solucionaria de vez a questão
seria a criação de Área de Proteção Ambiental, abrangendo os setores da região
norte incluídos no cinturão verde, localizado entre as Áreas de Proteção Ambiental
do João Leite e o Rio Meia Ponte, incluindo também os bairros que abrigam as
nascentes do Córrego Samambaia.
A empresa Saneamento de Goiás SA – SANEAGO, vem há muito
informando a necessidade de proteção dos mananciais de abastecimento da Cidade
e, em estudo técnico de destacada qualidade, aponta para a necessidade de
proteção mais efetiva e eficaz da região norte de Goiânia. Referidos documentos
estão anexados a este petitório.
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No relatório “Consequências da Expansão Urbana no Entorno das
Nascente e a Montante das Captações de Água de Mananciais de Abastecimento
Público (doc. 08), o estudo informa diversos acidentes ecológicos ocorridos na
região e conclui que:
Urge que seja dada atenção especial pelos administradores e legisladores públicos, no sentido de contemplar as captações de água em seus planos diretores e em ações que visem sua recuperação, conservação e preservação.
As fontes de água para abastecimento público são objetos de estratégias de segurança máxima; objetos de políticas públicas onde o interesse coletivo deverá sempre sobrepor ao interesse particular.
As cidades que tem suas captações próximas e/ou dentro de áreas urbanas, já tem sérios problemas e transtornos em seus sistemas de tratamento de águas, o que tem gerado para a SANEAGO sérios prejuízos, além da ameaça de desabastecimento, parcial ou total, e até mesmo de perda do manancial para abastecimento público (casos mais iminentes Novo Gama, Cristalina, Trindade, etc.).
Goiânia apresenta-se já nessas circunstâncias e poderá ter seu abastecimento seriamente comprometido devido ao avanço da malha urbana a montante de suas captações. A expansão urbana a montante de suas captações apresenta forte tendencias de crescimento e assim, a probabilidade de aumento dos problemas detectados.8
Já o relatório “Projeção de novos loteamentos a montante das
Captações de Água de Goiânia e Região Metropolitana” (doc. 09) vem confirmar a
expansão urbana na região norte, ao informar uma série de loteamentos cujo
processo de regularização/implantação estão em tramitação na Prefeitura de
Goiânia.
No mesmo sentido, o “Relatório Quantitativo Sobre a Expansão
Urbana nas Bacias dos Mananciais de Superfície – Classificação de Risco” (doc. 10)
informa o quão próximos estão os novos loteamentos das bacias hidrográficas da
Região Norte de Goiânia e destaca que:8Página 66 do Doc. 08. e 104 do Doc. 07.
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O crescimento físico das cidades em direção aos mananciais e às captações d'água, tem causado sérios transtornos aos cursos hídricos, tais como: lançamentos de esgotos clandestinos, excesso de turbidez, erosões e assoreamento, lançamento de lixo e animais mortos nas águas, depredação das matas ciliares e degradação das margens e leitos dos córregos etc. Isto gera mais poluição, aumento dos custos e pode até inviabilizar o tratamento da água.9
Acerca dos Loteamentos irregulares ou clandestinos, o Ministério
Público expediu a Recomendação 01/2012 (doc. 14), que, apoiada à legislação
pertinente, reforça e estabelece requisitos mínimos para a aprovação de novos
loteamentos na Região Norte.
Sobre a Bacia do Córrego Samambaia, o relatório “Levantamento
Ambiental na Bacia de Abastecimento Público do Córrego Samambaia” (doc. 11)
informa uma série de irregularidades e infrações ambientais naquela região e
estampa com clareza a necessidade de maior cuidado e proteção do nosso
patrimônio ambiental.
Acerca dos problemas encontrados na Bacia do Córrego
Samambaia, foi elaborado a “Proposta de Plano de Recuperação e Conservação da
Bacia Hidrográfica Córrego Samambaia – Manancial de Abastecimento de Goiânia –
GO” (doc. 12). A proposta alerta que:
Urge, pois, que se concilie as atividades produtivas e a expansão urbana com a proteção da bacia hidrográfica e de seus cursos hídricos, com base nos princípios da sustentabilidade: a produção limpa e a expansão urbana controlada, para que todos os usuários da bacia tenham disponibilidade desse insumo imprescindível, em qualidade e quantidade.
E conclui o seguinte:
Com a implementação dos programas e ds medidas propostas neste plano, esperamos que o Córrego Samambaia seja revitalizado, através da educação ambiental, recuperação das nascentes, das APP´s, afastamento das fontes poluidoras e o impedimento de novos loteamentos dentro da bacia; a implantação de projetos de drenagem urbana.
9Página 09 do doc. 10.Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25,, sala 147, Jardim Goiás.
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Os benefícios terão influência direta e indireta sobre a população residente na bacia, e dos demais usuários de suas águas, principalmente por se tratar de uma afluente do Rio Meia Ponte, um dos principais mananciais de abastecimento de Goiás.
Trata-se de um legado que será deixado para as futuras gerações e que irá garantir a qualidade de vida da população, trazendo ganhos ambientais, sociais e econômicos, promovendo a conscientização ambiental, a saúde das comunidades locais, valorização das propriedades rurais, aumento da produtividade e preservação das espécies florísticas e faunísticas.10 Grifou-se
Todos os cenários verificados pela SANEAGO apontam de forma
inconteste para a necessidade de criação de Área de Proteção Ambiental que
abarque a região norte de Goiânia.
Em especial, há o documento 13, que sugere, conforme o cenário
proposto, a possível delimitação da Área de Proteção Ambiental a ser criada pelo
Poder Público, mediante a determinação judicial que ora se postula.
Os cenários sugeridos no documento 13 poderão servir de parâmetro
para início de estudos técnicos e posterior decisão acerca dos exatos limites
territoriais da APA em questão.
As Áreas de Proteção Ambiental são espécies de Unidades de
Conservação previstas na Lei nº 9.985, em 18 de julho de 2000 que em seu art. 15,
a Lei 9.985/2000 estabelece que:
Art. 15. A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa,
com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos
abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes
para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e
tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica,
disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade
do uso dos recursos naturais
10Página 14 do doc. 12.Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25,, sala 147, Jardim Goiás.
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O teor do art. 15 retro descreve exatamente o que é e o que representa a Região Norte para a cidade de Goiânia e até para o Estado de Goiás, conforme comprovam os relatórios que instruem esta inicial.
Os relatórios em análise são de conhecimento do Poder Público
Municipal, entretanto, nada foi feito no sentido de preservar a região. Pelo contrário,
o que foi feito até então caminha no sentido contrário da preservação e
recomposição dos danos ambientais causados, conforme repetidamente narrado no
bojo deste.
LEGITIMIDADE DO PODER JUDICIÁRIO PARA DETERMINAR A CRIAÇÃO DE ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL
Diante da omissão Poder Executivo, exsurge a atribuição do
Ministério Público em propor a criação da APA e a do Poder Judiciário em
determinar que isso seja feito. Nesse sentido, oportuna é a transcrição de trecho de
voto do Excelentíssimo Ministro do Supremo Tribunal Federal Ayres Brito, no HC
97.969:
O Poder Judiciário tem por característica central a estática ou o não-agir por impulso próprio (ne procedat iudex ex officio). Age por provocação das partes, do que decorre ser próprio do Direito Positivo este ponto de fragilidade: quem diz o que seja ‘de Direito’ não o diz senão a partir de impulso externo. Não é isso o que se dá com o Ministério Público. Este age de ofício e assim confere ao Direito um elemento de dinamismo compensador daquele primeiro ponto jurisdicional de fragilidade. Daí os antiqüíssimos nomes de ‘promotor de justiça’ para designar o agente que pugna pela realização da justiça, ao lado da ‘procuradoria de justiça’, órgão congregador de promotores e procuradores de justiça. Promotoria de justiça, promotor de justiça, ambos a pôr em evidência o caráter comissivo ou a atuação de ofício dos órgãos ministeriais públicos. Duas das competências constitucionais do Ministério Público são particularmente expressivas dessa índole ativa que se está a realçar. A primeira reside no inciso II do art. 129 (...). É dizer: o Ministério Público está autorizado pela Constituição a promover
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todas as medidas necessárias à efetivação de todos os direitos assegurados pela Constituição. A segunda competência está no inciso VII do mesmo art. 129 e traduz-se no ‘controle externo da atividade policial’. Noutros termos: ambas as funções ditas ‘institucionais’ são as que melhor tipificam o Ministério Público enquanto instituição que bem pode tomar a dianteira das coisas, se assim preferir. (HC 97.969, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 1º-2-2011, Segunda Turma, DJE de 23-5-2011). Grifou-se
A tutela constitucional do meio ambiente está positivada no art. 225,
da CF/88:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
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VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. grifou-se
O texto constitucional não deixa dúvidas quanto à incumbência do
Poder Público cuidar, preservar e proteger as áreas de especial interesse ambiental,
com é o caso da região norte de Goiânia.
Nesse contexto, ante a omissão e até ação em sentido contrário do
Executivo na proteção da região, incumbe ao Poder Judiciário a necessária correção
dessa omissão ou ação depredatória.
Conforme leciona Luíza Cristina Fonseca11, não se trata de atribuir “
ao Judiciário o poder de criar políticas ambientais, mas tão-só de impor a execução
daquelas já estabelecidas na Constituição, nas leis, ou adotadas pelo próprio
Governo [o que apenas pela via reflexa resulta na influência do Judiciário] nas
diretrizes políticas do Estado, isto se dá porque, antes, houve indevida omissão
administrativa a legitimar a sua intervenção, provocada pela sociedade que dele
espera o cumprimento do papel que lhe foi atribuído pela ordem constitucional.”
Assim, a intervenção do Poder Judiciário na questão ambiental aqui
tratada justifica-se no sentido de que o Poder Executivo jamais poderá, escorado na
discricionariedade que lhe é inerente, agir em sentido contrário ao preceituado na
Constituição Federal e demais legislação ambiental, muito menos, agir em claro
prejuízo do interesse público.
Todos os fatos narrados apontam no sentido da inoperância do
Poder Público Municipal no tocante à preservação da região norte e essa conduta
deve ser corrigida, se não pelo bom senso do chefe do Executivo, pela
determinação do Poder Judiciário, aplicando o Direito e fazendo valer o interesse
público ante o privado.
11 FRISCHEISEN, Luíza Cristina Fonseca. Atuação do ministério público na implantação de políticas públicas estabelecidas na Constituição Federal. Jornal da Ajufesp, set. 1998, p. 11.
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CONCLUSÃO
A região norte de Goiânia é de importância vital para nossa cidade,
por diversos motivos, sendo o mais destacado o fato de abrigar nossos mananciais
de água para abastecimento.
O Poder Público Municipal não tem agido com a presteza, cautela,
diligência, cuidado, eficiência, precaução e preservação que a região requer. Muito
pelo contrário, vem cedendo às investidas do poderio econômico e sinaliza no
sentido de descaracterizar toda a região, mais especificamente a Bacia do Córrego
Samambaia.
Essas investidas podem sinteticamente assim ser elencadas:
a) forte pressão imobiliária na região;
a) ausência e/ou ineficiência da fiscalização dos empreendimentos
comerciais e imobiliários;
b) ineficiência da fiscalização quanto à implantação de loteamentos
na região, haja vista a quantidade de loteamentos irregulares e clandestinos até
então detectada;
b) sistemática tentativa de transformar a região em polo industrial,
por meio da alteração ilegal da classificação do Uso do Solo e da permissiva,
leniente e omissa fiscalização dos estabelecimentos irregulares já instalados.
Diante desse quadro, cotejando (sob o prisma da Lei nº 9985/2000)
a atuação do Poder Público Municipal e a importância da região norte de Goiânia,
conclui-se que a única solução para conservação da região e preservação do
patrimônio ambiental e manutenção dos mananciais para abastecimento de água é
a criação de Área de Proteção Ambiental na região norte de Goiânia, que abranja
todas as nascentes e cursos hídricos contidos na Bacia do Córrego Samambaia, a
exemplo do que vem sendo discutido para o Rio Meia Ponte e já existe para o
Ribeirão João Leite.
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Conclui-se também que a única medida imediata que pode afastar as
agressões atuais e na iminência de acontecerem é a determinação do Poder
Judiciário, corrigindo a atuação do Poder Executivo Municipal conforme os princípios
da legalidade e eficiência, notadamente no âmbito da atividade fiscalizatória e
exercício do seu poder de polícia.
DA LIMINAR
Por todo o exposto, exsurge a necessidade urgente de cessar os
desmandos e ilegalidades ocorridas na Capital, notadamente na Região Norte, sob
pena de convalidarem-se, novamente pela inércia, situações fáticas contrárias ao
direto, tais como a manutenção de empresas irregulares, crescimento urbano em
área não adensável e destruição ambiental.
O fumus boni iuri apresenta-se no cotejamento dos fatos narrados
ante o arcabouço legal desrespeitado. Os preceitos constitucionais e legais são
claros sobre o zoneamento urbano e sanções aplicáveis aos seus infratores. Essa
clareza também estende-se à proteção das Áreas de Preservação Permanente que
foram criminosamente desrespeitadas na região (doc. 06), sem qualquer
interferência do Poder Público.
O periculum in mora está presente na possibilidade de dano
ambiental e urbanístico irreparáveis, caso seja permitida a
urbanização/industrialização da Região Norte nos termos do malfadado Decreto
Municipal nº 198/2010 e resolução do COMPUR.
Reforça a caracterização do periculum in mora, ainda, possíveis
danos advindos da omissão do Poder Público Municipal no exercício de sua
atividade fiscalizadora, danos esses que já se fazem notar na crescente instalação
de empresas irregulares na Região Norte de Goiânia, sem a adoção de quaisquer
medidas sancionatórias para conter e coibir tal fenômeno e na instalação de
inúmeros loteamentos residenciais irregulares ou clandestinos.
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Dessa feita, restam-se presentes os requisitos que amparam o
deferimento de liminar, sendo esta verdadeira medida de proteção ao interesse
social, declarando ilegal e inconstitucional a criação das Vias Especiais, por meio do
Decreto Municipal nº 198/2010 e todos os atos dela emanados, bem como
determinando ao Poder Público Municipal, por meio de seus órgãos fiscalizadores e
à Agência Municipal de Meio Ambiente – AMMA, que dentro do prazo de 15 dias
fiscalizem e interditem todos os estabelecimentos irregulares situados na Região
Norte de Goiânia de forma a impedir o funcionamento e coibir a instalação de novas
empresas nessa situação, bem como impedir a instalação de novos loteamentos
residenciais na região.
Já a denegação da liminar representaria a submissão do interesse
público ao interesse privado.
E tal afirmativa não é mera retórica. Ao alterar a classificação do Uso
do Solo na região Norte de Goiânia, o COMPUR e o Poder Público Municipal
pretenderam regularizar a situação de grupo econômico em detrimento de toda a
cidade de Goiânia.
Sobre essa tentativa de desvirtuar o instituto do Uso do Solo para
atender interesses particulares, vale a sempre abalizada lição de José Afonso da Silva12:
O zoneamento constitui, pois, um procedimento urbanístico que tem
por objetivo regular o uso da propriedade do solo e dos edifícios em
áreas homogêneas, no interesse do bem-estar da população. Ele
serve para encontrar lugar para todos os usos essenciais do solo e
dos edifícios na comunidade e colocar cada coisa em seu lugar
adequado, inclusive as atividades incômodas. (...) Não terá por
objetivo satisfazer interesses particulares, nem de
determinados grupos. Não será um sistema de realizar
discriminação de qualquer tipo. Para ser legítimo, há de ter
12Obra citada, p. 238.Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25,, sala 147, Jardim Goiás.
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objetivos públicos, voltados para a realização da qualidade de
vida das populações.
Ao que os fatos indicam, as agressões à legislação urbanística e
ambiental não pararão nessa investida. Como dito exaustivamente, há diversas
empresas irregulares instaladas na região Norte, sendo algumas delas de grande
porte e forte poder econômico, fatos que reforçam a necessidade de amparo judicial
para fazer cessar as ilegalidades perpetradas e afastar quaisquer eventuais
suspeitas sobre interesses outros de agentes do Poder Público Municipal naquela
região.
Importante ventilar a questão do fato ilegal consumado (instalação de
empresas irregulares, desmatamento de Áreas de Preservação Permanente – APP,
loteamentos clandestinos, dentre outros) e a eficácia da proteção judicial. No caso
em tela, as empresas irregulares poderão mudar-se para local condizente com as
suas atividades, o desmatamento das Áreas de Preservação Permanente poderá
ser reparado mediante reflorestamento e a instalação de loteamentos clandestinos
ser cessada, regularizada, ou desfeita, a depender do dano e reparação ambiental
possíveis.
Isso posto, conclui-se que a concessão da liminar ora reclamada encontra respaldo na legislação e no perigo de dano patente, que certamente ocorrerá caso não sejam adotadas medidas urgentes em defesa do patrimônio urbanístico e ambiental em tela.
Assim, o Ministério Público requer, nos termos do artigo 12 da Lei n º
7.347/85, a concessão de MEDIDA LIMINAR, inauditis alteris partibus, consistente
na ordem aos réus para imediatamente cessarem a aplicação do disposto no
Decreto nº 198/2010, extinguindo a criação das Vias Especiais, haja vista sua
evidente inconstitucionalidade e ilegalidade, bem como procederem à imediata
fiscalização e interdição dos estabelecimentos irregulares em funcionamento na
Região Norte de Goiânia, fixando-se responsabilização pessoal e astreintes, nos
termos do art. 287 do Código de Processo Civil, ao Prefeito de Goiânia, Secretário
Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25,, sala 147, Jardim Goiás.CEP 74.805-100, Goiânia - Goiás . Telefone (62) 3243-8460. Fax (62) 3243-8585.
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Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico – SETURDE, Presidente da
Agência Municipal de Meio Ambiente de Goiânia – AMMA, e Chefes de fiscalização
das respectivas secretaria e agência em caso de descumprimento da ordem judicial
Requer, ainda, nos mesmos termos do artigo 12 da Lei nº 7.347/85,
a concessão de MEDIDA LIMINAR, inaudita altera parte, consistente na ordem ao
Município de Goiânia para que informe ao Poder Judiciário a relação de empresas
irregulares situadas na região Norte e seus respectivos responsáveis (pessoa
natural e jurídica) para eventual apuração dos danos causados à cidade de Goiânia
a ao meio ambiente em procedimento autônomo.
PEDIDOS
Diante do exposto, o Ministério Público do Estado de Goiás requer
em sede liminar:
a) Seja concedida liminar inauditis auteris parte, em desfavor dos
réus Município de Goiânia, declarando a ilegalidade e inconstitucionalidade
incidental do Decreto nº 198, de 17 de fevereiro de 2010, por tratar-se de decreto
autônomo ao inovar no ordenamento jurídico criando espécie de Via não prevista na
Lei Complementar nº 171 de 29 de maio de 2007 - Plano Diretor de Goiânia e Lei nº
8.617 de 09 de janeiro de 2008 – Lei que trata dos critérios para concessão do Uso
do Solo, culminando na anulação de todos os atos com base nele praticados.
b) Seja concedida liminar inauditis auteris partibus, em desfavor do
Município de Goiânia, seus órgãos fiscalizadores e Agência Municipal de Meio Ambiente - AMMA, determinando a imediata fiscalização das empresas na Região Norte de Goiânia, adotando-se o disposto no art. 310 do Código de Posturas do Município (interdição) aos estabelecimentos irregulares, bem como a autuação e responsabilização por eventuais danos ao meio ambiente detectados, fixando-se responsabilização pessoal e astreintes, nos termos do art.
287 do Código de Processo Civil, ao Prefeito de Goiânia, Secretário Municipal de
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Turismo e Desenvolvimento Econômico – SETURDE, Presidente da Agência
Municipal de Meio Ambiente de Goiânia – AMMA, e Chefes de fiscalização das
respectivas secretaria e agência no caso de descumprimento da ordem judicial, no
âmbito de suas competências
c) Seja concedida liminar inauditis auteris partibus, em desfavor do
Município de Goiânia, seus órgãos fiscalizadores e Agência Municipal de Meio Ambiente - AMMA, determinando o envio de relação das empresas irregulares
encontradas na Região Norte de Goiânia, bem como dos seus responsáveis,
pessoas natural e jurídica, para apuração e reparação dos danos causados em ação
autônoma.
Quanto ao mérito, requer-se:
a) Sejam os réus citados para, querendo, contestar o pedido, sob os
efeitos da revelia;
b) Sejam confirmados os Pedidos Liminares;
c) Seja definitivamente afastado do ordenamento jurídico o Decreto
198/2010, ante a flagrante ilegalidade e inconstitucionalidade incidental dos seus
preceitos;
d) Seja determinado ao Município de Goiânia que crie na Região
Norte da Cidade, a Área de Proteção Ambiental do Samambaia, afastando
definitivamente as investidas do Poder Público e alguns grupos econômicos sobre a
região, garantindo a preservação daquela área para as presentes e futuras
gerações;
e) Seja intensificada a fiscalização e aplicação da legislação de
Posturas, Uso do Solo e Ambiental, culminando, se preciso for, no incremento do
quadro de servidores e investimento na qualificação profissional destes;
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f) Seja publicado edital, com prazo de 15 (quinze) dias, para dar
conhecimento a terceiros interessados e ao público em geral, considerando,
notadamente, o caráter erga omnes da ação civil pública;
g) sejam os réus condenados ao pagamento de emolumentos e
demais cominações de estilo.
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito
admitidos, com especial atenção às perícias, testemunhas e documentos, bem como
por possível emenda, retificação e complementação da presente inicial, se
porventura necessário.
Ressaltando que a causa em tela tem valor inestimável e observando
as determinações da legislação processual, dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00
(dez mil reais) para efeitos fiscais.
Goiânia, 2 de março de 2012.
Alice de Almeida Freire Promotora de Justiça
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