aÇÃo civil pÚblica - defensoria pública da união · seguindo esse preceito, o próprio...
TRANSCRIPT
SBN, quadra 1, lotes 20/21/22/23, Asa Norte - Brasília/DF, CEP 70.040-010 - Telefone (61) 3329-7900
EXCELENTÍSSIMO JUIZ FEDERAL DA ª VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL
PAJ n° 2014/001-04225
A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, por meio do titular
do Ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletiva no Distrito Federal, e nos
termos dos artigos 5º, inciso LXXIV e 134 da Constituição Federal, do artigo 4º,
inciso VII, da Lei Complementar n° 80/94 e do artigo 5º, inciso II, da Lei n°
7.347/85, vem perante Vossa Excelência propor
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
com pedido de antecipação dos efeitos da tutela
em face da EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS – ECT,
pessoa jurídica de Direito Privado, com sede no SBN, Quadra 1, Bloco A, Asa
Norte – Brasília/DF, CEP 70.002-900, pelos fatos e fundamentos a seguir
expostos, com o objetivo de assegurar aos moradores do Setor DVO, em
Planaltina/DF, o regular funcionamento da Caixa Postal Comunitária (CPC)
instalada no local.
I – DOS FATOS
Em setembro de 2014, foi instaurado Processo de
Assistência Jurídica (PAJ) neste Ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletiva
em razão de reclamação apresentada à Defensoria Pública da União pelo sr.
ADALBERTO ALBINO DE QUEIROZ JUNIOR, na qual solicitava providências do
Órgão junto à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT para
normalização do serviço de Caixa Postal Comunitária (CPC) instalada na
localidade em que reside, qual seja, o Setor DVO, situado na cidade-satélite de
Planaltina/DF.
Em entrevista realizada com o assistido (doc. 1), o mesmo
informou que o Setor DVO constitui área rural habitada por mais de 400
pessoas, mas ainda pendente de regularização junto ao Governo do Distrito
Federal. Por se encontrar nessa situação, ainda não dispõe de serviço de
entrega de correspondências domiciliar pelos Correios.
Como solução para a pendência, e nos termos da Portaria
n° 141, de 27/04/1998, do Ministério das Comunicações (doc. 2), a ECT instalou
na localidade uma Caixa Postal Comunitária, cadastrada no Código de
Endereçamento Postal (CEP) sob o n° 73.307-993 (doc. 3).
Contudo, há anos a comunidade local vem sofrendo com o
mau funcionamento do serviço de CPC, sem qualquer perspectiva de resolução
pela parte ré.
Em síntese, o problema se centra na irregular entrega das
correspondências na CPC, sendo que muitas acabam permanecendo no Centro
de Distribuição Domiciliária de Planaltina (CDD-Planaltina) ou em agências dos
Correios daquela cidade-satélite aguardando comparecimento pessoal do
destinatário, sem qualquer tipo de aviso.
O resultado dessa falha de serviço é a indevida devolução
ao remetente de diversos objetos postais, inclusive aqueles dotados de Aviso de
Recebimento (ARs), como notificações oficiais e até intimações judiciais, o que
vem gerando diversos incômodos e prejuízos aos moradores do Setor DVO.
O atual presidente da Associação Comunitária dos
Moradores do DVO (ACMD), sr. JOSÉ ANTÔNIO MARCELINO, ouvido em
março de 2015 pela DPU (doc. 4), confirmou as reclamações apresentadas pelo
sr. ADALBERTO.
Afirmou que, desde que assumiu tal incumbência no ano de
2011, vem lidando com reiteradas reclamações sobre as deficiências da CPC.
Todavia, apesar das diversas reuniões realizadas ao longo dos anos com os
gerentes que se sucederam na administração do CDD-Planaltina, o quadro não
se alterou, o que vem obrigando os moradores a se utilizarem de endereços
diversos (de parentes, trabalho etc.) como forma de assegurarem o recebimento
de suas correspondências pessoais.
A questão também chamou a atenção da imprensa no ano
passado (doc. 5), que detalhou os problemas e incômodos sofridos pelos
habitantes do local com a falha do serviço prestado pela ré.
Buscando promover a solução extrajudicial da questão, nos
termos do art. 4°, II, da Lei Complementar n° 80/94, este Órgão realizou reunião
com a Diretoria Regional dos Correios de Brasília em outubro de 2014 (doc. 6).
Na ocasião, os representantes da ré informaram que o
CDD-Planaltina já estava realizando levantamento das correspondências não
entregues na localidade, para apurar as razões. Todavia, externaram a firme
convicção de que o problema nas entregas se dava por endereçamento incorreto
dos objetos postais, e se comprometeram a encaminhar aos usuários da CPC do
Setor DVO cartilhas informativas sobre o assunto.
Posteriormente à reunião, a referida Diretoria Regional
encaminhou à DPU o resultado do levantamento realizado pelo CDD-Planaltina
(doc. 7), que indica que, no período de um mês, 26/09/2014 a 26/10/2014, 73
(setenta e três) objetos postais não foram entregues na CPC do Setor DVO,
sendo encaminhadas à agência dos Correios mais próxima. A justificativa para
todas essas falhas, segundo informado no documento, seria “a insuficiência de
endereço”.
No mesmo ofício, a ECT apresentou o modelo de cartilha
que seria entregue aos moradores do Setor DVO (doc. 8), onde há indicação do
correto endereçamento das correspondências, o que, no entender dos
representantes da ré, resolveria a questão.
Encaminhamos tal modelo em dezembro de 2014 ao sr.
ADALBERTO, para rápida divulgação aos demais usuários da CPC, e este
Órgão permaneceu aguardando o resultado da solução apresentada pelos
Correios.
Infelizmente, já em janeiro de 2015, o assistido trouxe à
DPU correspondências em que, apesar do endereçamento realizado nos termos
da cartilha, não foram entregues na Caixa Postal Comunitária (doc. 9).
Da mesma forma, o presidente da ACMD informou que a
orientação de endereçamento contida na cartilha já vinha sendo adotada desde
a formalização do último termo de cessão da Caixa Postal Comunitária em 2011
(doc. 3, item 5), sem qualquer melhoria no serviço.
Diante do informado, esta Defensoria Pública tentou
articular audiência pública no próprio Setor DVO, com presença dos
representantes dos Correios, de forma a melhor apurar as causas e possíveis
soluções consensuais para funcionamento adequado da CPC local. Contudo,
apesar dos contatos realizados com a gerência responsável, não obtivemos mais
retornos da empresa pública, restando frustrada a diligência (doc. 10).
Assim, por entender esgotadas as tentativas de resolução
extrajudicial da demanda, recorre a Defensoria Pública da União ao Judiciário
para ver assegurado o direito dos moradores do Setor DVO, em Planaltina/DF,
ao adequado funcionamento da Caixa Postal Comunitária instalada no local pela
parte ré.
II – DA LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
A ampla legitimidade ativa da Defensoria Pública para
ações de cunho coletivo em prol dos necessitados é questão remansosa na
legislação, reconhecida primeiramente no art. 5°, II, da Lei da Ação Civil Pública,
e depois incluída dentre suas funções institucionais, no art. 4°, VII, da Lei
Complementar n° 80/94.
Finalmente, a Emenda Constitucional n° 80/2014 espancou
qualquer dúvida acerca da atribuição deste Órgão na seara coletiva, ao lhe
incumbir “a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos
individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados” (art. 134,
caput, da CF/88, grifo nosso).
Frise-se, por fim, que a presente ação civil pública guarda
íntima relação com as funções institucionais mais típicas da Defensoria Pública,
porquanto se destina a garantir aos moradores de área rural do DF, de notória
hipossuficiência jurídica, direito absolutamente comezinho a qualquer cidadão,
que é o acesso regular ao serviço postal, garantido pelo art. 4° da Lei n°
6.538/78.
Patente, portanto, a pertinência temática entre a
pretensão dos assistidos pela DPU nesta ação civil pública e o exercício das
funções típicas da Instituição, qual seja a defesa de hipossuficientes (art. 5º,
LXXIV, CF).
III – DOS FUNDAMENTOS
Excelência, como já ressaltado no item anterior, o art. 4° da
Lei n° 6.538/78 afirma que “é reconhecido a todos o direito de haver a prestação
do serviço postal e do serviço de telegrama, observadas as disposições legais e
regulamentares”.
Seguindo esse preceito, o próprio estatuto social da
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT, aprovado por meio do
Decreto n° 8.016/13, coloca como objetivo social da ré a obrigação de
“assegurar a continuidade dos serviços postais e telegráficos, observados os
índices de confiabilidade, qualidade, eficiência e outros requisitos fixados pelo
Ministério das Comunicações” (art. 4°, § 3°) (grifos nossos).
A reforçar tais previsões normativas, a Lei n° 8.078/90
estabelece como direito do consumidor “a adequada e eficaz prestação dos
serviços públicos em geral” (art. 6°, X), no qual se inclui o serviço postal, cuja
manutenção é competência constitucional da União (art. 21, X, da CF/88).
O mesmo código consumerista traz, ainda, que “os órgãos
públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob
qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços
adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos” (art. 22)
(grifos nossos).
No caso, o serviço postal em questão foi criado pela
Portaria n° 141, de 27/04/1998, do Ministério das Comunicações, assim
caracterizado no art. 2° do aludido diploma:
Art. 2º O Serviço de Caixa Postal Comunitária - CPC caracteriza-se como uma modalidade de distribuição de mensagens telemáticas e objetos de correspondência, realizada pelo depósito em Caixas Postais Comunitárias instaladas pela ECT em comunidades previamente definidas, a partir de critérios técnicos regulados nesta Portaria e nas normas técnicas próprias.
Trata-se de modalidade criada para contornar problemas
encontrados na realização de serviços postais em domicílios situados em áreas
rurais ou de difícil acesso (doc. 11), situação em que foi enquadrado o Setor
DVO, tendo em vista sua localização eminentemente rural e sem devida
regularização de endereços pela autoridade distrital.
Na implementação do serviço de CPC, a Associação
Comunitária dos Moradores do DVO – ACMD, atendendo aos termos do art. 6°
da Portaria n°141/1998, providenciou o espaço físico necessário à instalação do
módulo, com proteção contra as intempéries, como evidenciado nas fotos
anexadas à notícia jornalística (doc. 5). Ao cabo dessas providências,
formalizou-se o termo de cessão da Caixa Postal Comunitária (doc. 3).
Portanto, seja sob o enfoque consumerista, seja sob as
obrigações assumidas pelo Estado brasileiro em sua legislação, a comunidade
do Setor DVO possui direito líquido e certo à adequada prestação do serviço de
CPC, não havendo qualquer dúvida nesse tocante.
Contudo, e como visto no item I desta petição, o serviço
não está sendo prestado de forma minimamente satisfatória, sendo recorrente a
não entrega das correspondências na CPC.
Ressalta-se que o problema não atinge apenas a entrega
de correspondências comuns. Os objetos postais registrados, como SEDEX e
com ARs, por questões de segurança não são diretamente entregues na CPC,
mas encaminhados à agência mais próxima para retirada. Contudo, os titulares
de CPC devem ser informados da chegada do objeto por aviso específico (doc.
12), estes sim depositados nas Caixas Postais Comunitárias.
Infelizmente, o serviço de “aviso de chegada” também
segue a falha generalizada observada na CPC, e nesse caso o dano aos
moradores é ainda maior, pois é sabido que a Justiça se utiliza de cartas
registradas para intimações de atos judiciais, que acabam não alcançando os
usuários do Setor DVO (doc. 13)
A gravidade desse problema pode ser facilmente
constatada no levantamento realizado pelos Correios entre os dias 26/09/2015 e
26/10/2014 (doc. 7), realizado a reboque da notícia divulgada no jornal Correio
Braziliense (doc. 5).
Como se vê no documento encaminhado à DPU, no espaço
de um só mês, 73 (setenta e três) objetos foram reencaminhados à agência
mais próxima e apenas 13 (treze) foram entregues no Módulo de Caixa Postal
Comunitária – MCPC.
Ou seja, o percentual de sucesso na entrega na CPC é
pouco maior que 15% (quinze por cento), muito inferior à meta de qualidade
estipulada na Portaria n° 566, de 29/12/2011, do Ministério das Comunicações
(doc. 14), que estabelece o percentual de 90% a 95% de entregas para o
quadriênio 2012-2015.
Não bastante, ainda no mesmo documento produzido pela
parte ré (doc. 7), consta que apenas 1 (um) aviso de chegada foi entregue no
Setor DVO, ao longo de todo o mês apurado. Talvez isso explique porque
apenas “uma a duas pessoas” compareceram à agência mais próxima para
retirada de correspondências no período.
Em sua defesa, a ECT buscou transferir a responsabilidade
aos próprios usuários, aduzindo falhas no endereçamento ou no CEP informado.
No entanto, levantamento feito informalmente pelo sr.
ADALBERTO ALBINO DE QUEIROZ JUNIOR (doc. 15) mostra que, apesar de
existir erros no endereçamento, isso não impede os Correios de efetuar entregas
nos escaninhos dos moradores do local. Por outro lado, mesmo objetos
corretamente endereçados sofrem desvios (doc. 9).
Enfim, é evidente a absoluta desorganização do serviço
prestado pela ré aos moradores do Setor DVO, o que leva a Defensoria
Pública da União a pleitear ao Judiciário a condenação da Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos às seguintes obrigações:
III.I – DA OBRIGAÇÃO DE FAZER
Como pedido primordial, por óbvio, pretende a DPU que a
ECT seja condenada à obrigação de regularizar o serviço postal prestado na
Caixa Postal Comunitária instalada no Setor DVO em Planaltina/DF, no
prazo máximo de 90 (noventa) dias, atendendo às determinações contidas na
Lei dos Serviços Postais (art. 3°, Lei n° 6.538/78), em seu próprio Estatuto Social
(art. 4°, § 3°, anexo do Decreto n° 8.016/13) e, principalmente, no Código de
Defesa do Consumidor (art. 22, Lei n° 8.078/90).
Nos termos do referido dispositivo estatutário, a
regularização deve se pautar por critérios de qualidade estabelecidos pelo
Ministério das Comunicações, que em sua Portaria n° 566/2011 (doc. 14), fixou
as metas de eficiência entre 90 e 95% de entregas.
Portanto, a obrigação aqui visada somente será
adequadamente cumprida quando o serviço de CPC lograr efetuar a entrega de
pelo menos 90% das correspondências destinadas a moradores do Setor DVO,
aí incluído o encaminhamento de avisos de chegada para objetos registrados
(SEDEX, ARs etc.), o que deverá ser comprovado mediante relatório mensal
elaborado pelo setor competente da ECT durante o prazo de cumprimento da
obrigação, a ser juntado aos autos do processo para análise e eventual
contraditório pela autora.
Por fim, e com o objetivo de assegurar o cumprimento da
obrigação de fazer, requer seja também fixada multa cominatória, após o
referido prazo de 90 (noventa) dias, para o caso de prosseguir a falha no serviço
postal em referência, que deverá ser estipulada em valor não inferior a R$
10.000,00 (dez mil reais) por mês em que não se alcance a meta de eficiência
estipulada na Portaria n° 566/2011 do Ministério das Comunicações.
III.II – DA OBRIGAÇÃO INDENIZATÓRIA
Independentemente do adequado cumprimento da
obrigação de fazer descrita no item anterior, entendemos que a falha imputada à
ECT já gerou expressivos danos à coletividade e, por isso, é imperiosa a
recomposição financeira pelos prejuízos causados.
Nesse intuito, lembramos que um dos escopos principais
da ação civil pública é justamente a responsabilização por danos morais e
patrimoniais causados ao consumidor e a outros interesses coletivos (art. 1°, II e
IV, da Lei n° 7.347/85), dos quais, por certo se inclui o adequado funcionamento
do serviço postal aos cidadãos.
Quanto à possibilidade de pedidos múltiplos nesta via, a
jurisprudência já decidiu “pela possibilidade da cumulação das obrigações de
fazer, não fazer e pagar em sede de ação civil pública” (STJ – AGEDAG
1156486. 1ª Turma. Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima. DJe 27/04/2011)
Não o bastante, o Código de Defesa do Consumidor
estatui, no parágrafo único de seu art. 22, que as pessoas jurídicas de direito
público, no caso de descumprimento de sua obrigação de oferecer serviços
eficientes e contínuos, deverão ser compelidas a reparar os danos causados.
Ora, como visto ao longo dessa exordial, o mau
funcionamento da Caixa Postal Comunitária instalada no Setor DVO gerou
diversos prejuízos os moradores da localidade, que se viram privados do acesso
regular a um dos mais elementares serviços públicos.
Por força da intermitência do serviço postal, usuários
tiveram correspondências indevidamente devolvidas ao remetente, inclusive de
cunho judicial, o que os obrigou a recorrerem a endereços postais de terceiros
para se assegurarem do recebimento de seus objetos postais.
Também restou evidenciado que tal falha não passou ao
largo do conhecimento da ré, muito pelo contrário: pelo menos há quatro anos, a
Associação Comunitária dos Moradores do DVO vem continuamente trazendo a
questão à gerência do Centro de Distribuição Domiciliária (CDD) de Planaltina,
sem qualquer alteração no quadro de violação aos seus direitos.
Da mesma forma, as tentativas de composição extrajudicial
conduzidas por esta Defensoria Pública da União, além de envolver uma
tentativa pífia de responsabilizar os próprios usuários pelos problemas
noticiados, não redundou em qualquer proposta ou conduta séria para resolução
do problema.
Portanto, Excelência, entende a DPU que a parte ré deve
não só ser condenada a normalizar o serviço da CPC do Setor DVO, mas
também a indenizar a coletividade pelos danos causados nesses longos anos de
ineficiência e descaso com seu mister societário (art. 4°, § 3°, de seu Estatuto
Social) e legal (art. 4° da Lei n° 6.538/78).
Nesse intuito, tendo em vista, de um lado, a longa duração
e a profundidade dos danos causados à coletividade pela conduta omissiva
imputada e, de outro, a capacidade econômica da ré e o caráter didático da
recomposição financeira, requer seja fixada contra a Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos a condenação por danos materiais e morais coletivos em
montante não inferior a R$ 100.000,00 (cem mil reais), a ser revertido ao fundo
mencionado no art. 13 da Lei n° 7.347/85, sem prejuízo à eventual e posterior
fixação de indenizações individuais àqueles que demonstrarem concretamente
os danos diretamente sofridos.
IV – DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA
O art. 12 da Lei n° 7.347/85 prevê a possibilidade de
concessão de medida liminar em ação civil pública, condicionada, conforme art.
273 do Código de Processo Civil, ao atendimento dos requisitos de
verossimilhança das alegações e fundado receio de dano irreparável ou de difícil
reparação.
No caso, entendemos presentes os dois requisitos, a
justificar a imediata intervenção do Judiciário no caso para tutelar parcialmente
os objetos da demanda.
Afinal, restou demonstrado no item “III – DOS
FUNDAMENTOS” a mau funcionamento da Caixa Posta Comunitária instalada
no Setor DVO de Planaltina/DF, que encontra prova cristalina no relatório
produzido pela própria ECT (doc. 7), onde consta índice de eficiência na entrega
de correspondências inferior a 16%, muito abaixo do padrão imposto pelo
Ministério das Comunicações (doc. 14)
Também ficou evidente, até mesmo pela matéria jornalística
produzida sobre a questão (doc. 5), os efeitos deletérios dessa falha na vida civil
dos moradores da localidade, que se veem privados do acesso a importantes
correspondências, inclusive de natureza judicial.
Excelência, como se vê, o quadro de danos àquela
coletividade está por demais demonstrada, e o pedido de normalização do
serviço de entrega de correspondências é de natureza tão elementar que
dispensaria qualquer outra argumentação jurídica, recaindo mesmo na
novíssima tutela de evidência estabelecida no novo CPC (art. 311), ainda em
período de vacatio legis.
Logo, cumpre antecipar parcialmente a tutela, de forma a
assegurar que os moradores do Setor DVO possam desde já contar com o
adequado funcionamento da Caixa Postal Comunitária da localidade durante o
desenrolar do processo, tendo em vista o direito assegurado na Lei dos Serviços
Postais (art. 3°, Lei n° 6.538/78) e no Código de Defesa do Consumidor (art. 22,
Lei n° 8.078/90).
Sendo assim, presentes o fumus boni iuris e o periculum in
mora, requer o deferimento de tutela liminar para obrigar desde já a Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT a normalizar, no prazo de 90
(noventa) dias, o funcionamento da Caixa Postal Comunitária instalada no
Setor DVO, em Planaltina/DF, CEP n° 73.307-993, de maneira que todos seus
usuários tenham garantida a entrega de, pelo menos, 90% de suas
correspondências e avisos de chegada, conforme critérios de eficiência
estabelecidos na Portaria n° 566/2011, do Ministério das Comunicações, sob
pena de multa mensal não inferior a R$ 10.000,00 após o término prazo em
questão.
O cumprimento da obrigação o que deverá ser comprovado
mediante relatório mensal elaborado pelo setor competente da ECT durante o
prazo de cumprimento da obrigação, a ser juntado aos autos do processo para
análise e eventual contraditório pela autora.
V – DOS PEDIDOS
Ante o todo exposto, requer a autora:
a) a concessão inaudita altera pars do pedido de
antecipação da tutela, para obrigar a Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos a normalizar, no prazo de 90 (noventa) dias, o funcionamento da
Caixa Postal Comunitária instalada no Setor DVO, em Planaltina/DF, CEP n°
73.307-993, de maneira que todos seus usuários tenham garantida a entrega de,
pelo menos, 90% de suas correspondências e avisos de chegada, conforme
critérios de eficiência estabelecidos na Portaria n° 566/2011, do Ministério das
Comunicações, comprovado por relatório mensal a ser elaborado pelo setor
competente da ré e anexado aos autos para análise da parte autora, sob pena
de multa mensal não inferior a R$ 10.000,00 após o término prazo em questão;
b) a citação da ré para que, querendo, ofereça resposta no
prazo legal;
c) a oitiva do Ministério Público Federal, nos termos do art.
5°, §1°, da Lei n° 7.347/85;
d) seja, ao final, a presente ação civil pública julgada
procedente, nos seguintes termos:
d.1) para condenar a ECT à obrigação de fazer
deduzida na alínea “a” deste item, confirmando-se a
tutela liminar pleiteada; e
d.2) para condenar a ré, ainda, à obrigação de
indenizar os danos materiais e morais coletivos
decorrentes da falha de serviço postal noticiada nesta
ação, em montante não inferior a R$ 100.000,00 (cem
mil reais), a ser revertido ao fundo mencionado no art.
13 da Lei n° 7.347/85, sem prejuízo à eventual e
posterior fixação de indenizações individuais àqueles
que demonstrarem concretamente os danos
diretamente sofridos.
Requer, ainda, a observância da intimação pessoal e da
contagem em dobro dos prazos processuais, conforme art. 44, I, da Lei
Complementar n° 80/94.
Por fim, protesta provar o alegado pelos documentos já
anexados a esta inicial e por todos os meios de prova em Direito admitidos.
Confere-se à causa o valor de R$ 100.000,00.
Nestes termos, pede deferimento.
Brasília/DF, 30 de março de 2015.
EDUARDO NUNES DE QUEIROZ
Defensor Público Federal