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CADERNO DE RESUMOS – XI ENCONTROINTERNACIONAL DE ESTUDOS MEDIEVAIS – 13/15 DE
JULHO, 2015, PIRENÓPOLIS, GO
A HISTÓRIA E A MEMÓRIA NAS OBRAS DO CONDE PEDRO AFONSO DE
BARCELOS (1285-1354)
Adriana Mocelim, PUCPR/NEMED
O presente texto tem como finalidade trazer para a discussão uma questão que apareceu
de forma transversal ao estudo desenvolvido ao longo das pesquisas realizadas para a
elaboração da Dissertação de Mestrado e para a Tese de Doutorado envolvendo as obras
do Conde Pedro Afonso de Barcelos, a saber: o Livro de Linhagens (1340) e a Crônica
Geral de Espanha de 1344. Ao realizar as pesquisas, a partir das obras escritas pelo
filho bastardo do rei Dinis de Portugal (1279-1325), apareceram muitas referências
acerca da visão de História e do papel da escrita como forma de preservação da
Memória de grandes feitos, além é claro de levar-nos a refletir acerca do uso “seletivo”
da memória na redação das obras referidas. Nesse sentido é objetivo do presente texto
trazer os resultados, ainda que iniciais, do trabalho de pesquisa e análise, agora de forma
mais aprofundada, desse tema que perpassa todo o trabalho desenvolvido até o
momento. Para tanto é importante salientar a necessidade de inicialmente pensar e
discutir acerca da visão de História e Memória para o contexto da Baixa Idade Média
portuguesa, contexto esse no qual as obras foram redigidas. Após essa primeira análise
será possível levantar os dados acerca de como tais referências aparecem ao longo das
obras, destacando aqui a necessidade de levar em conta as especificadas das mesmas e
seu processo de fundições e refundições.
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A MULHER E OS PADRES DA IGREJA: GRACIANO E A INCORPORAÇÃODO
LEGADO DA MISOGINIA NO COMPÊNDIO DO CÂNONE ECLESIÁSTICO
Adriana Sul Santana, Universidade Federal de Goiás
A regulação jurídica no Decretum de Graciano é o tema deste estudo que objetivarefletir sobre o fenômeno cultural de regulação da convivência social, em peculiar
combinação de inovação e conservação numa criação e (re)elaboração da tradição, em
sentido organizativo e sistematizador, e investigar, neste contexto, o Decreto de
Graciano como ponto culminante de um esforço de estabilização do Direito Canônico,
nos séculos XI e XII, em sua ligação intrínseca com os seus fenômenos particulares, em
especial com a afirmação do poder da Igreja, bem como avaliar a inegável herança da
misoginia, seus resultados e sua influência pelos séculos e séculos até os dias atuais.
Dessa forma, a partir do levantamento das raízes clássicas da misoginia, situadas no pensamento da antiguidade clássica, tendo como fontes literárias o pensamento no
platonismo e o aristotelismo, os escritos dos Padres da Igreja, como São Basílio, São
Gregório, Santo Agostinho etc. Através de uma abordagem comparativista da
disseminação do seu legado no pensamento dos Padres da Igreja medieval, hipóteses e
resultados críticos são aventados, no decorrer deste trabalho, a respeito da formação
cultural do fenômeno misógino, das suas fundações ideológicas, historicamente
condicionadas e correspondentes a determinações de ordem política presentes na
formação e na sistematização do Decretum, que se manifesta nas formas de sociedade.
Se a premissa inicial da investigação pode ser aceita – de que o legado da visão
misógina dos Padres da Igreja, na obra de Graciano e sua incorporação no compêndio
do cânone eclesiástico –, parece lícito encerrar este trabalho considerando que a época e
a obra examinadas constituem um exemplo marcante disto e, considerando ainda a
inegável herança dessa misoginia, seus resultados e sua influência pelos séculos e
séculos até os dias atuais. Merece ser destacado que o trabalho apresenta-se como
produto parcial do projeto de pesquisa intitulado Mulher Difamada e Mulher Defendida
no Pensamento Medieval: Textos Fundadores, que integrando a Rede Goiana de
Pesquisa sobre a Mulher na Cultura e na Literatura Ocidental, coordenado pelo Prof. Dr.
Pedro Carlos Louzada Fonseca, com apoio financeiro da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG) para o período de 2014-2015.
Palavras-chave: Idade Média; Misoginia Patrística; Legado de Graciano.
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A FORMA DA PERSUASÃO: A TRADIÇÃO DOS DIÁLOGOS FILOSÓFICOSE O MITO DA PAPISA JOANA NO SÉCULO XVII
Allan Regis da Silva, Universidade Federal de Mato Grosso
Na Inglaterra de meados do século XVII, poucos anos depois da morte da rainha
Elisabeth e da Conspiração da Pólvora, um pároco da Igreja Anglicana, Alexander
Cooke, publicou o diálogo “Pope Joan: a dialogue between a protestant and a papist...”.
Na obra, que ganhou várias edições e foi traduzida também para o francês e o latim,
Cooke tentou provar a existência histórica da Papisa Joana, uma mulher que, na Idade
Média, travestida de homem, foi eleita papa. O mito da Papisa Joana foi muito popular
desde seu aparecimento no século XIII, mas foi na era das Reformas religiosas, que uma
verdadeira guerra das letras eclode em torno dele, na medida em que discuti-lo
significava tocar na questão da legitimidade da autoridade papal. A pergunta que
colocamos neste estudo é: porque Alexander Cooke escolheu, entre tantos gêneros
literários, o diálogo, para lançar-se nesse debate. Para tanto, foi realizada uma análise
discursiva do diálogo, que passou tanto por um balanço do avanço do debate sobre a
papisa, entre protestantes e católicos, quanto pela situação da identidade protestante na
Inglaterra. A hipótese a que chegamos é que, formuladas em diálogo, a construção da
tese central de Cooke, de que a papisa Joana existiu, fica reforçada, pois o autor faz do
personagem católico que contesta o protestante do início ao fim do diálogo, um
religioso ingênuo e alheio ao conhecimento da religião católica e, mais importante, o faz
através de um gênero tão importante nessa tradição, como era o diálogo para os
apologistas católicos do Renascimento.
Palavras-Chave: Papisa Joana; Diálogos; Reforma Inglesa.
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REFLEXÕES PARA OS ESTUDOS DO PENSAMENTO POLÍTICOMEDIEVAL:
O CASO DE AFONSO X DE CASTELA E LEÃO (1252-1284)
Almir Marques de Souza Junior, Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro
Atualmente, os estudos medievais que se dedicam a investigar temas ligados ao pensamento político possuem como principais referências teóricas obras que tiveram
grande impacto em nosso campo na década de 1970. Neste grupo, destacam-se grandes
nomes oriundos da Escola de Cambridge como Quentin Skinner e John Pocock. No
âmbito da Idade Média, temos como expoente deste grupo o trabalho de Walter
Ullmann, cujas pesquisas tentaram traçar um verdadeiro panorama geral do discurso
político durante todo o período medieval. Todavia, é preciso aplicar as considerações
deste autor com muita cautela para que as análises do discurso não se coloquem em um
perigoso caminho. O perigo aqui está em conceber a teoria política medieval comorealidade empírica. Muito pelo contrário, nossa proposta é chamar a atenção para o
caráter propositivo e idealizado do discurso político, funcionando muitas vezes como
contraponto à dinâmica social do momento histórico no qual ele foi concebido. Com
esta finalidade, utilizaremos o exemplo do rei Castelhano-Leonês Afonso X, cujo
governo se estendeu dos anos 1252 a 1284. Uma das principais características deste
governo foi o desenvolvimento, por parte do poder central, de numerosas obras que
abordavam, direta ou indiretamente, temas ligados à esfera da política. Como opção
metodológica deste momento, iremos nos concentrar sobre as obras de cunho jurídico,
mantendo-nos, assim, na mesma esfera de atuação priorizada por Ullmann em suas
obras. Procuraremos observar que, muito mais do que veicular uma ideologia ligada à
hegemonia e à força do poder régio, o discurso político com estes enunciados também
nos mostra – ainda que ao avesso – uma realidade de conflitos e disputas entre o
monarca e os poderes senhoriais.
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A IMAGEM DA DAMA: O ELOGIO À SENHOR NAS CANTIGAS DE AMOR
DE DOM DINIS
Ana Luiza Mendes, UFPR
Dom Dinis (1279-1325), sexto rei de Portugal, foi responsável por inúmeras ações quecontribuíram para o desenvolvimento do reino português, tanto no âmbito político
quanto no cultural. Neste, podemos identificar a instituição da universidade portuguesa
que contribuiu para a laicização da cultura. Porém, Dinis não foi somente um rei.
Também foi trovador, inclusive o trovador português do qual preservaram-se o maior
número de composições, 137, que se dividem entre as denominadas cantigas de amor,
amigo e escárnio e maldizer. No que diz respeito ao primeiro gênero podemos destacar
algumas temáticas abordadas pelo rei-trovador, dentre as quais encontra-se o elogio à
senhor . Senhor é a dama a quem se destinam as composições que cantam sobre o amordo trovador, nem sempre correspondido. O termo senhor é utilizado, pois no período da
produção do trovadorismo galego-português, entre os séculos XIII e XIV, não existia o
correspondente feminino de tal palavra. Porém, a reverência à mulher amada existia. Ao
menos no âmbito literário. O elogio à senhor presente nas obras de Dom Dinis pode ser
relacionado com o enaltecer da dama presente na literatura medieval através do ideal do
amor cortês, por meio do qual o homem se transforma no vassalo amoroso da dama. Tal
concepção amorosa foi transmitida pelos trovadores provençais considerados mestres na
arte de trovar que contribuíram para a disseminação de um ideal amoroso do qual
utiliza-se Dom Dinis que mostra, assim, ter conhecimento de uma tradição poética além
da ibérica. Nesse sentido, para a compreensão da imagem da dama nas cantigas de amor
de Dom Dinis se faz necessária a análise do próprio contexto peninsular que permitiu a
existência de trocas culturais que influenciaram a própria formação do rei, a sua obra e a
sua personificação como trovador e vassalo amoroso das damas portuguesas. Neste
contexto, também será pertinente a análise das composições do rei trovador no que diz
respeito à sua autenticidade, isto é, à sua afirmação como poeta propriamente português
que, conhece e sabe trovar à maneira provençal, ou seja, tradicionalmente, mas que
também sabe utilizar-se de outros elementos que contribuem para que suas obras
tenham uma identidade própria. Pode-se dizer que um desses elementos que promove a
originalidade nas composições de Dom Dinis é sua sinceridade sentimental e poética.
Ele afirma em uma de suas cantigas que seu trovar é mais sincero que o dos provençais,
pois escreve baseado em sentimentos reais, diferentemente dos provençais, cujas
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composições não exprimem um sentimento verdadeiro. Identifica-se aqui uma retórica
poética, através da qual Dom Dinis busca afirmar sua originalidade e identidade poética.
Dessa forma, a análise do elogio à senhor nas cantigas de amor de Dom Dinis não
objetivam apenas apontar os adjetivos literariamente perpetrados às damas, mas também
delineiam um certo sentido de diferenciação em relação aos demais, neste caso, os provençais. O elogio à senhor não é, pois, somente elogio. Ele também é um discurso
fundamentado numa retórica poética que contribuiu para a formação de uma identidade.
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HAGIOGRAFIAS SOBRE MULHERES NO REINO FRANCO E SUASPRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS (séc. VI e VII)
Bárbara Vieira dos Santos, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Entre os séculos VI e VII o reino dos francos passou por diversas transformações. Nesse
período os merovíngios protagonizaram mudanças políticas na região a partir de
alianças e ocupação territorial. Tais transformações estiveram associadas, dentre outros
aspectos, a guerras e conspirações envolvendo membros da nobreza. Nessa conjuntura
estão inseridas diversas mulheres que foram consideradas santas e que de alguma
maneira estavam ligadas à monarquia ou à nobreza. O caminho percorrido por elas até a
vida religiosa vinculava-se a diversas possibilidades como herança, viuvez, atração pela
vida monástica ou se relacionava às estratégias políticas do período, visto que boa parte
delas tinha lugar importante nesse cenário devido à sua posição social. Alguns relatos
sobre a vida dessas mulheres estão contidos em textos hagiográficos. Nesse trabalho
temos como objetivo, à luz da historiografia sobre o tema, discutir as principais
características de tais materiais hagiográficos tendo como referência a Vida de Gertrude
de Nivelles que viveu durante o século VII.
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DISCRETIO E RELAÇÃO CORPO-ALMA: REFLEXÕES SOBRE A OBRAMONÁSTICA DE JOÃO CASSIANO
Bruno Uchoa Borgongino, (PPGHC – UFRJ), (PEM – UFRJ), Universidade Estácio deSá (UNESA)
Produzida na primeira metade do século VI, a obra do monge marselhês João Cassiano
caracteriza-se pelo frequente uso de referências orientais, dentre as quais destaco o
conceito de discretio. Norteado pelas reflexões de Evágrio Pôntico, João Cassino
empregava o termo em relação tanto à capacidade de identificar pensamentos
perniciosos presentes na alma, quanto à necessária atenção aos limites do corpo na
prática ascética. Nos escritos destinados ao público monástico, ou seja, as Instituições
Cenobíticas e as Conferências, a discretio cumpria um papel destacado.
Na presente comunicação, tenho como objetivo estabelecer reflexões sobre os vínculosentre o conceito de discretio e as relações entre corpo e alma no âmbito da obra
monástica de João Cassiano. Ressalto que as ponderações deste trabalho advêm da
pesquisa doutoral que desenvolvo no Programa de Estudos Medievais da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (PEM – UFRJ) sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Leila
Rodrigues da Silva.
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QUANDO O CRESCENTE ABRIU-SE AO MUNDO: AL-FARABI (872-950), AL-GHAZALI (1058-1111) E O SABER ÉTICO DO ISLÃ MEDIEVAL
Carlile Lanzieri Júnior, Universidade Federal de Mato Grosso
A atual e mais visível face do islã destaca-se pela violência e integrismo.
Desinformados e ressentidos, seus adeptos desconhecem a riqueza cultural que deu à
religião que professam a condição de fomentadora das artes e ciências ao longo de
séculos. Para desconstruir essas certezas absolutamente presentistas, nada melhor que
mergulhar no passado e compreender o islã em sua alteridade e apreço por outras
formas de saber religioso, filosófico e científico. Faremos isso através do estudo dos
escritos de dois de seus personagens mais importantes: Al-Farabi (872-950) e Al-
Ghazali (1058-1111). Homens que se entregaram ao saber durante décadas de estudos,
Al-Farabi e Al-Ghazali foram grandes escritores no tempo em que viveram, assim como
notórios conhecedores da filosofia grega. À luz desse saber e da própria religião
islâmica, nosso intento é compreender a maneira como ambos estabeleceram a relação
entre a ética e a sabedoria no que escreveram.
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A DEFINIÇÃO DE UM BOM CAVALEIRO ENUNCIADA PELO PRIORFRANCÊS, HONORÉ BONET,
EM SUA OBRA L’ARBRE DES BATAILLES (1389)
Carmem Lúcia Druciak – UFPR/NEMED
L’Arbre des batailles é um tratado de direito de guerra, dividido em quatro partes,
dedicado ao rei francês Charles VI (1380-1422), em que seu autor, o prior Honoré
Bonet, nascido na Provença, licenciado em Direito pela universidade de Paris e
especializado em decretos, discorre sobre a guerra, durante os conflitos da Guerra dos
Cem Anos, como fenômeno salutar à sociedade, desde que obedeça ao conceito de
“guerra justa”reformulado por Tomás de Aquino no século XIII. Ao usar a figura da
árvore, Bonet estabelece certa hierarquia dos movimentos de guerra e conceitua, ao
longo do livro, a natureza da batalha, quem são os agentes legítimos a atuar nela e deque forma devem fazê-lo. Ele ainda caracteriza, em diversos trechos da obra, a atividade
dos cavaleiros e, por extensão, acaba informando sobre toda a cavalaria enquanto grupo
legitimado pelo rei e a serviço dele. L’Arbre des batailles, configura-se, para a
historiografia contemporânea, não apenas como elemento formador do que chamamos
hoje “direito internacional”, mas também como fonte para que possamos recuperar o
pensamento de homens de letras que atentavam para os acontecimentos desenvolvidos a
seu redor.
Estão na terceira e quarta partes do livro as informações que nos interessam, em
especial, para compreender qual a descrição de um bom cavaleiro tecida pelo religioso:
mesclando princípios da tradição cristã e de pensadores da Antiguidade Clássica, Bonet
elenca várias situações em que um bom cavaleiro poderia provar sua bravura, lealdade e
força, e com frequência dá sua própria opinião sobre alguns comportamentos, tanto da
parte dos senhores quanto da parte dos vassalos, que implicariam diretamente no bom
andamento das batalhas. Concentrar-nos-emos nos capítulos em que Bonet enumera
características louváveis dos cavaleiros, procurando identificar elementos que mostrem
diferenças e continuidades no que se refere à atividade militar exercida por esses
homens de guerra na França da Baixa Idade Média.
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O CÓDICE DE FERNANDO I E D. SANCHA (1047) NO CONTEXTO DAPENÍNSULA IBÉRICA NO SÉCULO XI
Carolina Akie Ochiai Seixas Lima, Universidade Federal de Mato Grosso
Pretendo apresentar nesta comunicação um estudo a respeito do códice de Fernando I e
D. Sancha, escrito em 1047 pelo Beato de Liébana, intitulado Commentarium in
Apocalypsin, no que se refere ao contexto da Península Ibérica no século XI e às
influências advindas dos povos muçulmanos nessa região. Este trabalho faz parte de
uma pesquisa maior de doutorado que objetiva a crítica ao estudo das mentalidades.
Faremos, aqui, uma breve apresentação do que cercou o reinado deste rei e sua rainha,
durante o período de 1037 a 1065, fazendo o seguinte questionamento: a que demandas
históricas respondia a elaboração da cópia do códice em questão, encomendado por
Fernando I e D. Sancha? Códice este que havia sido escrito no século VIII e que então
voltava à tona a pedido desse rei. Tentaremos responder tal pergunta fazendo uma breve
análise do período em que reinaram os reis acima citados, localizando a Península
Ibérica e o reinado de Fernando I em meio às questões que cercaram os conflitos entre
cristãos e muçulmanos, as lutas pelo poderio econômico e político centralizado nas
mãos da realeza e da cristandade e ainda nos deteremos em alguns aspectos do códice
que o transformaram em um documento tão valioso para os estudos do medievo. No
tocante a isto, outra questão nos instiga: teria também o códice iluminado se
transformado, ao longo do tempo em um agente histórico?
Palavras-chave: Península Ibérica, século XI, muçulmanos, Fernando I e D. Sancha,
códice iluminado.
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ESPAÇOS DE AUTORIDADE E JURISDIÇÃO
Carolina Gual da Silva, UNICAMP/EHESS
O uso de fontes de natureza jurídica em História Medieval tem sido bastante debatido e
explorado ao longo das últimas décadas. Essas fontes são frequentemente descartadas
por alguns historiadores que as enxergam como desconectadas das realidades sociais. É
nossa intenção propor uma maneira de trabalhar com essas fontes de forma a
complementar o conhecimento que temos do conjunto da sociedade medieval. Numa
perspectiva que entrelaça história política, social e econômica, partimos do princípio
que fontes medievais de direito canônico são fundamentais para a compreensão do
processo de definição e constituição de jurisdições ao construírem uma narrativa de
“espaços de autoridade”. A presente comunicação pretende discutir as possibilidades de
aplicação desse conceito, que engloba elementos geográficos, políticos, religiosos e
sociais, na análise da constituição e significado da jurisdição sobre o dízimo no século
XIII a partir da narrativa dos comentadores do direito canônico medieval.
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CAMINHOS DE ARMAS E FÉ: UMA ABORDAGEM DOS PRECEITOSLULIANOS DE CONDUTA EM TIRINHAS DIGITAIS PARA O ENSINO
BÁSICO
Carolina Minardi de Carvalho, Universidade Federal de Alfenas
A notável discrepância existente entre os conhecimentos produzidos em meio
universitário e aqueles abordados no ensino básico é fator comprometedor da qualidade
dos processos de ensino-aprendizagem, tornando os conteúdos engessados e muitas
vezes desatualizados, limitados em relação ao potencial de abrangência e
desinteressantes por se desconectarem, comumente, das realidades compreendidas pelos
alunos.
Especialmente quando nos referimos ao ensino de História, enfrentamos dificuldadesestabelecidas pela valorização de formas de abordagem excludentes de perspectivas
mais complexas, fundamentando as concepções em aspectos generalizantes e pouco
precisos. Acerca da Idade Média, os conteúdos abordados em salas de aula do ensino
básico se tornam ainda mais notavelmente desprovidos da atenção necessária à
compreensão dos vínculos com aspectos desse longo período histórico que persistem em
nossa cultura de formas variadas. A redução da abordagem dos livros didáticos à
concepção do feudalismo, às cruzadas e a uns poucos elementos vinculados à política e
economia consolidam imagens distorcidas da riqueza de elementos presentes em
contexto medieval, potencialmente favorecedores de discussões de elevado caráter
crítico.
Considerando necessário evidenciar algumas peculiaridades referentes à nossa forte
herança cultural ibérica, proponho a utilização de tirinhas veiculadas em meio digital,
compostas a partir de elementos presentes na pesquisa histórica que fundamenta meu
projeto de pesquisa do Mestrado Profissional em História Ibérica pela UNIFAL-MG.
Por meio de análises das obras O Livro da Ordem de Cavalaria e o Livro de Evast e
Blanquerna, de Raimundo Lúlio, a produção desse material pretende possibilitar o
desenvolvimento do senso crítico e a compreensão de elementos formadores do
imaginário contemporâneo acerca de figuras medievais populares entre os jovens
estudantes de escolas básicas, amenizando a discrepância existente entre os ambientes
de produção do saber.
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OS SEPULCROS DA CARTUXA DE MIRAFLORES: ICONOGRAFIA,SOTERIOLOGIA E POLÍTICA
Cinthia M. M. Rocha, PPGH-UFF
Miraflores é um mosteiro da Ordem dos Cartuxos localizado em Burgos, na Espanha.
Foi construído no século XV pelo rei Juan II, que o elegeu para seu local de
sepultamento. No entanto, após sua morte, em 1454, a obra pouco avançou, o que se
atribuiu aos conflitos e guerras que marcaram o reinado de seu herdeiro, Enrique IV,
situação que somente se alterou após a ascensão dos Reis Católicos. A construção e
ornamentação de todo o espaço estiveram sob o encargo de Isabel I, tanto no que diz
respeito aos monumentos funerários, quanto ao restante das estruturas que compõem a
capela do local, como o retábulo e os vitrais, todos construídos entre as décadas de 1480
e 1490, formando um conjunto coeso, em estilo Tardogótico. Estão enterrados na igreja
do mosteiro o rei Juan II, sua segunda esposa, Isabel de Portugal, e o Infante Dom
Alfonso, filho do casal e, portanto, irmão uterino de Isabel, a Católica. Os sepulcros
foram construídos pelo mestre Gil de Siloé, artista de raízes estrangeiras que atuava na
região de Burgos. Todo o conjunto é formado por uma complexa iconografia, na qual é
possível identificar diversas origens, como Alemanha, Flandres e França. Existem
poucos exemplos semelhantes em Castela e em toda a Europa para o que se logrou
alcançar na Cartuxa em termos de magnificência e singularidade das peças. Os
monumentos funerários de Miraflores se apresentam como um intricado discurso
teológico, de forte sentido soteriológico, influenciado pela religiosidade e pelos rituais
cartuxos. Além desse aspecto, a análise das estruturas demonstra a construção de uma
iconografia de acordo com o discurso político do reinado de Isabel, baseado no ideal
moralizante de “rei cristianíssimo” e de “rei virtuosíssimo”.
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REFLEXÕES SOBRE A ASSIMILAÇÃO DO MATRIMÔNIO ENQUANTOSACRAMENTO NO OCIDENTE MEDIEVAL
Cláudia Costa Brochado, Universidade de Brasília
Esta comunicação apresenta algumas reflexões sobre o processo de assimilação domatrimônio, enquanto sacramento cristão, à cultura do Ocidente medieval. A necessidade
de definir uma doutrina matrimonial e uma legislação com ela coerente não deixou de
gerar polêmica ao longo do período. Desde a patrística, passando pelos textos legislativos e
teológicos que se seguiram, chegando ao discurso moralizante de finais da Idade Média,
todos esses textos indicam que as opiniões sobre essa matéria estão longe de apresentar
consenso. Na voz de três ibéricos de finais da Idade Média, que sobre o tema discorreram,
o franciscano Francesc Eiximenis, o notário Bernat Metge e o médico Jaume Roig,
observaremos as divergências e as dificuldades em dar outra dimensão a uma antiga prática - amparada na tradição e/ou na legislação – que se converte, então, em sacramento.
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A AÇÃO PARA ALÉM DA POLÍTICA SOCIAL DE D. MANUEL I: ODECRETO DO ÉDITO DE EXPULSÃO DOS JUDEUS DE PORTUGAL (1496)
Cleusa Teixeira de Sousa, Universidade Federal de Goiás
O objetivo principal dessa comunicação centra-se na análise da relação entre a promulgação do Édito de expulsão dos judeus e as transformações econômicas
ocorridas em Portugal. Pretende-se dar atenção especial, a primazia de sua empreitada
marítima na ampliação econômica portuguesa, dado o privilégio do desenvolvimento
comercial com outros reinos, nos séculos XV e XVI. Apesar da relevância dessa
temática, as discussões historiográficas ainda não dispensaram novos olhares sobre uma
possível relação entre a expulsão judaica de Portugal e o desenvolvimento econômico
português. Assim, objetiva-se investigar a posição dos conselheiros régios quanto à essa
expulsão e vincular o banimento dos judeus à questão deles não mais representarem a
maior fonte de arrecadação do reino como nos períodos anteriores.Visamos apontar que
esse, pode ter sido o principal motivo para D. Manuel I (1495-1521), ter cedido à
pressão dos reis católicos e ter expulso os judeus das terras lusitanas.
Palavras-chave: Expulsão, Judeus, Portugal, D. Manuel I.
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A QUESTÃO JUDAICA NA HISPANIA VISIGODA, SÉCULOS VI-VII
Cynthia Valente, NEMED/UFPR.
O Reino Visigodo de Toledo não apresentou muita tolerância com relação à
comunidade judaica. A repressão régia e eclesiástica ocorreu de formas diversas, sendo
um pouco mais branda em algumas épocas devido ao olhar um pouco mais tolerante das
autoridades.
Essa tolerância foi maior no período dos reis arianos. Alarico, por exemplo, aboliu a
maior parte das leis romanas com relação aos judeus, mantendo apenas a proibição de
casamentos mistos, também proibidos pela comunidade judaica; mas seus ritos
permaneceram tolerados. Mesmo durante o bispado de Masona de Mérida, já durante o
reinado de Leovigildo, o bispo, árduo defensor niceísta, mostrou tolerância com judeus
e pagãos.Parece-nos que a questão judaica tomou contornos mais sérios e violentos após o III
Concilio de Toledo e a conversão católica do reino visigodo. Durante a cristianização da
Hispania visigoda, algumas crenças não ortodoxas se mantiveram como uma ameaça à
unidade eclesiástica e régia. Após a conversão católica do reino pelo monarca Recaredo
em 589, a presença de judeus ocupou lugar nos debates dos Concílios Toledanos,
mostrando que a presença de uma religiosidade oposta ao rito niceísta merecia atenção e
atuação que as coibisse.
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ENTRE O IMAGINÁRIO E O VIVIDO – AS REPRESENTAÇÕES DOSPADEIROS NA CATEDRAL DE CHARTRES (FRANÇA – SÉCULO XIII)
Debora Santos Martins, Universidade Federal Fluminense – UFF
A imagem medieval constitui-se como um objeto privilegiado de aproximação da
vivência social, permitindo-nos questionar sobre a imposição ou um tipo de
proeminência por parte da Igreja sobre a norma social (ou dos detentores do poder) num
período (séculos XII e XIII) em que se atestam profundas mudanças na concepção da
categoria trabalho1. Possibilita a investigação sobre a participação dos outros segmentos
sociais urbanos na construção e nas mudanças mentais, nas práticas sociais, a fim de
promover uma aproximação mais efetiva das tensões sociais no amplo quadro de
profundas mudanças que tem lugar nesse período. A ideia central é a de que existe uma
cultura visual presente nestas representações, elas mesmas estruturantes deste universo.
Neste sentido, multiplicam-se as funções da imagem que presentifica os grandes ideais
da cristandade. A singularidade da linguagem visual da Idade Média2 refere-se ao
próprio fundamento da Antropologia cristã, segundo o qual o homem é feito à imagem e
semelhança de Deus3.
Nesta pesquisa partimos, portanto, do princípio de que os dados figurativos medievais
estruturam-se nos quadros imaginários da cristandade e das grandes narrativas bíblicas.
Portanto, não consideramos a relação imagem/texto como um espelho da realidade ou
diretamente estruturada num contexto.
Neste estudo pretendo analisar em profundidade os vitrais da catedral de Chartres,
elaborados no século XIII, que representam os ofícios e suas organizações em corps de
métiers4 no âmbito da cidade, focalizando o ofício dos padeiros, separado para uma
análise mais verticalizada pela sua importância na Idade Média, período em que o pão
era tanto a base da alimentação do corpo, quanto da alma. Do ponto de vista espacial,
além da própria catedral, tomamos como referência a cidade que a abriga e com quem
espacialmente se relaciona.
1 Sobre esse assunto consultar: LE GOFF, J. Para uma outra Idade Média: tempo, trabalho e cultura no
Ocidente. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 20132 Idem. Ibidem. p: 90.3 Idem. Ibidem. p: 90. Sobre a questão dos fundamentos da Antropologia cristã, consultar tambémSCHMITT, 2007. pp:12-13. A referência dessa passagem bíblica é a narrativa do Gênesis 1:26.4Communautés des arts et métiers é o termo utilizado nos estatutos, leis e ordenâncias reais referentes aosofícios urbanos. Cf :
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REDES DE PODER: ALFONSO VIII DE CASTELA E OS PREPARATIVOSPARA LAS NAVAS DE TOLOSA (1212)
Éderson José de Vasconcelos, PPGHI, Universidade Federal de Alfenas- UNIFAL-MG
Buscamos, nesta apresentação, entender as redes de poder estabelecidas por AlfonsoVIII de Castela quando da organização dos preparativos do combate que ficaria
conhecido como Las Navas de Tolosa, batalha ocorrida em 1212. Para tanto utilizamos
como fonte a Primera Crónica General de España, obra elaborada no século XIII sob a
orientação de Alfonso X, o sábio. Partindo desse estudo estamos elaborando um objeto
educacional visando propiciar aos professores do Ensino Médio possibilidades de
trabalharem em sala de aula com temas ibéricos, de maneira específica com assuntos
que estão relacionados com a temática de nossa pesquisa, por exemplo: monarquia
medieval ibérica; batalhas e conflitos e relações de poder.
Palavras-Chave: Idade Média; Alfonso VIII; Castela.
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O PENSAMENTO MISÓGINO MEDIEVAL EM CONFISSÕES, DE SANTO
AGOSTINHO
Edilson Alves de Souza, Universidade Estadual de Goiás
Sabe-se que, desde a antiguidade clássica, a mulher é alvo de inferiorizações, muitas,
sem dúvida, justificadas pelo contexto de formação das civilizações, às quais ela
pertencia. A mulher, objeto da misoginia, foi constantemente qualificada como
perversa, pecadora, cobiçosa, degradante, desviante e um conjunto de adjetivos que
difamaram sua imagem. Platão, Aristóteles e seus continuadores, Agostinho e Tomás de
Aquino, em seus escritos, desvelam essa consciência derrogatória sobre a figura
feminina. Agostinho, dentre esses, obedecendo a ordem interpretativa falocêntrica cristã
derivada da exegese bíblica paulina, deixa claro que a existência da mulher contribuiu para a metafísica cristã sobre o pecado, destacando que é por causa dela que o homem
cedeu ao pecado e deixou uma herança maculada e maculatória para a humanidade.
Esse é um dos transbordamentos das obras agostinianas que guiaram o pensamento
medieval e pós-medieval. Por causa disso, Agostinho se torna uma das fontes patrísticas
que ajudaram a manter o ideário negativo sobre o feminino e que auxiliam a
compreender a manifestação da misoginia e as suas motivações. Em Confissões, por
exemplo, peculiarmente no livro XIII, Agostinho afirma que, em meio a harmonia
genesíaca, a mulher é destacada como o primeiro ser humano pecador e, por isso, deve
ser submissa ao homem que ela levou à desgraça do pecado. Com um olhar mais
acurado, perceber-se-á as motivação bíblicas que fundamentam essa teologia misógina.
Nessa direção, pretendemos com esse trabalho investigar as motivações bíblicas da
misoginia latentes no livro XIII das Confissões.
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A ABREM E O CAMPO DA HISTÓRIA MEDIEVAL
Eduardo Cardoso Daflon, Instituição: PPGH-UFF/ NIEP-Marx-PréK/ TranslatioStudii
A Associação Brasileira de Estudos Medievais (ABREM) está às vésperas de completarduas décadas de existência desde sua fundação, em 1996. Desta forma, me parece
bastante razoável e útil, aproximando-se a data, que se promova uma avaliação da
medievalística brasileira reunida na principal associação nacional de especialistas de
nosso campo de estudos. Assim, me proponho a mapear e analisar a produção
historiográfica brasileira dedicada à História Medieval divulgada no principal evento
nacional da área, os bienais Encontros Internacionais de Estudos Medievais (EIEMs).
Ao tomar esta iniciativa, tenho a consciência de que há significativas limitações e
ressalvas que devem ser levadas em conta, contudo, decido enfrentá-las pelo fato de parecer cada vez mais necessário reforçar em nosso meio a importância da reflexão
sobre o ofício da História. Pretendo, portanto, nesta comunicação, estabelecer os rumos
que a produção brasileira dedicada à História Medieval vem tomando nos últimos anos,
as influências que sobre ela incidem e as suas consequências para o conhecimento das
sociedades humanas do passado.
Palavras-chave: Historiografia, Teoria, ABREM
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UMA ANÁLISE A PARTIR DO PAPEL DOS PAIS DA IGREJA NA OBRA DEGREGÓRIO DE TOURS.
Eduardo Soares de Oliveira, Universidade Estadual de Goiás – UEG
O presente trabalho visa apresentar e analisar uma importante perspectiva da obra deGregório de Tours, este escritor e bispo cristão, considerado um dos principais
testemunhos da História da Igreja de matriz latina, em que tanto do registro memorial
do cristianismo e muito especialmente do povo franco, sendo este autor a principal fonte
para o estudo dos francos. O autor registra a presença cristã histórica e politicamente
delimitada para a região da Espanha, especialmente no século VI, de forma detalhada e
marcando indelevelmente a memória do cristianismo franco. Para tanto, o bispo de
Tours utiliza-se de várias perspectivas e metodologias para este registro. Utilizaremos
neste estudo o aparato teórico de Raymond Van Dam e de James Edwards. Buscaremos
identificar a utilização que Gregório de Tours faz da patrística e da imagem e discurso
dos Pais da Igreja nas suas obras, para conformação de sua visão cristã da História e da
sua ortodoxia teológica cristã. Sendo assim, buscaremos compreender como se constrói
o discurso de Gregório de Tours a partir da utilização dos registros, escritos e discursos
dos pais da igreja e como este ressignifica tais registros para atender ao seu objetivo.
Palavras- chave: Gregório de Tours; Patrística; Ortodoxia; Memória; Cristianismo.
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A PROPOSTA EDUCACIONAL DE RAMON LLULL (1232-1316) EM O LIVRO DOS MIL PROVÉRBIOS (1302)
Flávia Santos Gomes, UEMA/PPGHEN/FAPEMA
Distante da visão dos provérbios como ditos populares “antiquados, contraditórios e
impossíveis de serem levados a sério” como, segundo Obelkevich, as classes
escolarizadas os definiram por algum tempo, em O Livro dos Mil Provérbios (1302) do
filósofo medieval Ramon Llull (1232-1316) percebemos este gênero como “instrumento
que certifica de maneira breve a verdade de muitas coisas”, ou seja, como pequenas
centelhas de sabedoria, que seriam facilmente memorizadas entre os homens para que
estes cumprissem em vida os propósitos para os quais foram criados: “conhecer, amar,
lembrar, honrar e servir a Deus”. Os provérbios formulados e/ou reunidos por Llull
nesta obra trazem o resumo de sua Arte, desenvolvida em mais de trezentas obras, que
tinha como principais finalidades elaborar livros que ajudassem a converter os “infiéis”
(principalmente os muçulmanos) por meio da razão e fortalecer os dogmas cristãos entre
os fiéis. Faz-se necessário destacar que o interesse de Llull pelos seguidores de Maomé
deve-se ao fato de sua família ter participado da Reconquista da Península Ibérica em
Maiorcaedo próprio Ramon fazer parte da corte de Jaime II,em cujo reino havia muitos
muçulmanos. Esta proximidade com a cultura islâmica marcou toda a produção e a vida
do filósofo.Carregados dos padrões éticos e morais pretendidos pelo pensador, e que
estavam em consonância com os preceitos cristãos, os provérbios contidos na obra
reúnem ditos sobre os mais variados temas e dirigidos a diversos personagens, como,
por exemplo, príncipes, mulheres, cavaleiros e prelados. Em uma sociedade ainda
fortemente marcada pela oralidade, como a catalã do século XIII, os provérbios seriam
de fácil memorização e transmissão, fornecendo aos homens os valores pretendidos ou
negados no momento, e que norteavam a formação ética e religiosa no medievo. Assim,
esta obra serviria à finalidade de conduzir os homens a uma vivência harmônica,
pautada no exercício das práticas cristãs, orientando-os sobre a forma de agir a fim dealcançar a Salvação.
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OS CONFLITOS POLÍTICOS-BÉLICOS DO REI D. DINIS COM SEUSFAMILIARES
Flávio Ferreira Paes Filho, Universidade Federal de Mato Grosso
Temos como objetivo nesta comunicação demonstrar como ocorreram os conflitos entre
D. Dinis e o seu Irmão, o infante Dom Afonso e, ainda, o enfrentamento, nos
primórdios da década de 20 do século XIV, com o herdeiro da coroa, o príncipe Dom
Afonso, seu filho. Neste caso, em particular graças à intervenção da rainha Santa, o
problema terminou bem. Ambos o problemas bélicos ocorridos no reinado de D. Dinis,
nos leva a interpretar que este monarca se preocupou, desde sempre, em realizar a
centralização política em sua administração.
Assim, cremos que com a análise desses conflitos teremos uma compreensão maiordesse processo.
Palavras-chave: D. Dinis, Infante Dom Afonso, Príncipe Dom Afonso, conflito
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NAS ENTRELINHAS DA INTENÇÃO: O SEGREDO COMO VIRTUDEOCULTA DAS PALAVRAS
Francisco de Paula Souza de Mendonça Júnior, Centro de Estudios sobre el EsoterismoOccidental de la UNASUR
A presente comunicação discutirá as relações de segredo e sigilo construídas a partir do
uso de escritas secretas de natureza esotérica, tendo como recorte temporal os séculos
XV e XVI. Nesse momento, o Egito foi redescoberto na Europa, um Egito idealizado é
verdade, e também foram redescobertos os hieróglifos egípcios, sendo então associados
à sabedoria que se acreditava emanar do Egito Antigo. Os hieróglifos foram encarados
como uma língua de natureza mágica criada e empregada com o único intuito de
preservar e transmitir, em seu bojo, os segredos revelados pelas deidades aos egípcios.
Os humanistas entenderam que a cifra seria herdeira direta do hieróglifo, possuindo a
mesma capacidade de proteger em seu seio certos conhecimentos de olhos que não
haviam sido autorizados a deslindar tais mistérios. Dessa forma, a cifra herdava também
a capacidade do hieróglifo de construir relações hierarquizantes de poder, uma vez que
separava os homens entre "aqueles que podem saber" e "aqueles que não podem saber".
Esse olhar acerca das relações entre os hieróglifos e as cifras dialoga diretamente com a
concepção medieval de que todos os atributos da língua, como sua estrutura gramatical
ou sua musicalidade, se originavam diretamente de Deus, compartilhando com Ele sua
essência divina. Sendo assim, discutiremos como as cifras carregam correspondências
secretas pelas quais se interligam e adquirem sentido, numa relação análoga àquela
relação simpática entre os elementos da criação que regeriam a dinâmica entre o mundo
supralunar e o mundo sublunar. A cifra, assim como o mundo natural, seria um binário
do qual se deveria extrair corretamente a mônada.
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UMA ANDORINHA FAZ VERÃO: A SOCIOLOGIA MÍSTICA DE GUIGO IO
Gabriel de C G Castanho, Universidade Federal do Rio de Janeiro
COMUNICAÇÃO 2 – SESSÃO DE TRABALHO HISTÓRIA SOCIAL DAIGREJA MEDIEVAL: EXPERIÊNCIAS DE PESQUISA E TENDÊNCIAS
HISTORIOGRÁFICAS
No primeiro terço do século XII, Guigo, prior da Grande Cartuxa e um dos religiososmais importantes de seu tempo, praticou aquilo que após Foucault se habitou chamar
por "escrita de si". No caso de Guigo, essa espécie de diário entre autobiografia ereflexões pessoais recebeu o nome de Meditações. Esses pensamentos foram escritosdurante momentos de isolamento pessoal quando o prior se encontrava separado de suacomunidade, ela mesma composta por um número reduzido de indivíduos e localizadaem um ermo no fundo de um vale de difícil acesso. No entanto, diferentemente do queos pesquisadores têm afirmado, nossa leitura do texto revelou a forte preocupação socialdo monge-eremita. De fato, propomos na presente comunicação que, a partir de suasolidão física e espiritual, Guigo busca sempre a melhor maneira de se viver em
comunidade. Para tanto demonstraremos como, a partir de duas noções basilares - amore utilitas - o prior de uma das mais importantes ordens eremíticas de seu tempo se
preocupava com o bom funcionamento da ecclesia, a comunidade de fiéis. Tal preocupação revela, a nosso ver, uma forma específica de pensamento social ligada aomundo anacorético em latino e que chamamos de "sociologia mística".
Palavras-chave: Grande Cartuxa; Escrita de si; Eclesiologia
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JOANA DE PORTUGAL: ENTRE A CORTE DE AVIS E O MOSTEIRO DEJESUS DE AVEIRO – UM ESTUDO BIOGRÁFICO
Gabrieu de Queiros Souza, UFPR
A beata Princesa Dona Joana de Portugal, conhecida popularmente como Santa Joanade Portugal, nasceu em Lisboa no dia 06 de fevereiro de 1452. Filha do Rei D. Afonso
V (1432-1481, rei desde 1438) com a Rainha D. Isabel, faleceu em Aveiro no dia 12 de
maio de 1490. Joana de Portugal foi jurada herdeira da corte portuguesa, título que
ostentaria até a sua morte. Por volta dos 20 anos de idade Joana optou pela vida
religiosa no Mosteiro de Jesus de Aveiro, pertencente à ordem dominicana. No claustro,
assim como na corte, a princesa desempenhou as funções que lhe cabiam no momento,
sendo um exemplo de religiosidade a ser seguido. Entretanto, devemos atentar que seja
na corte ou no claustro Joana não deixou de desempenhar sua dupla função: princesaherdeira e cristã fervorosa. Para que possamos entender esses papéis desempenhados
por Joana, utilizaremos como fontes duas obras de caráter hagiográfico, além das
crônicas régias do período em que a Princesa viveu. Desta forma, por meio da análise
das fontes primárias, poderemos ampliar nossa visão e abordar biograficamente a
Princesa Joana de Portugal e os papéis que a mesma desempenhou nos meios sociais do
Reino de Portugal no “outono da Idade Média”.
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A ARTE POÉTICA NO CANCIONEIRO GERAL DE GARCIA DE RESENDE,1516
Geraldo Augusto Fernandes, Universidade Federal do Ceará
Seria possível que tivesse existido uma “arte poética” em Portugal, escrita entre os
séculos XIV e XVI, a exemplo das poéticas de Juan Alfonso de Baena, Juan del Encina
ou do Marquês de Santillana, contemporâneos do compilador do Cancioneiro Geral,
Garcia de Resende? Segundo afirma Alan Deyermond em Poesía de Cancionero del
siglo XV , “sería imprudente no contemplar la posibilidad de que la pérdida de uno o más
cancioneiros pudiera habernos privado de la obra de una floreciente generación de
poetas galaico-portugueses posterior a Dinis.” Adverte também sobre algumas alusões atais cancioneiros, valendo-se de estudos e do registro feito por Dom Pedro, o
Condestável, em seu Proêmio ao Marquês de Santillana, em 1449, no qual descreve um
cancioneiro que havia visto quando jovem. A existência de outros cancioneiros é
revelada inclusive em uma das esparsas do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende
(núm. 871). Nela, Resende pede a Diego de Melo, que partia para Alcobaça, que lhe
trouxesse “ũ cancioneiro d'ũ abade que chamam Frei Martinho”, dizendo: “Decorai polo
caminho, / té chegardes ò moesteiro, / qu'ha-de vir o cancioneiro / do abade Frei
Martinho.” Nestes supostos cancioneiros perdidos, poderia existir algum texto em que se
discorresse sobre a arte de trovar? Nesta comunicação, proponho entrever uma possível
arte poética implícita no Cancioneiro Geral, tendo em conta os estudos de Francisco
López Estrada. Parece-me que o cancioneiro resendiano, além de apresentar gêneros e
poemas de “alto grado de perfección”, pode revelar um sistema poemático, uma “arte
poética”, enfim, que reúne a forma, de modo inovador e elegante, em todos os sentidos
do termo.
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A SANTIDADE DO PUER SENEX NA LITERATURA MEDIEVAL:O PERSONAGEM ERACLE DE GAUTIER D’ARRAS
Guilherme Queiroz de Souza, UEG/Goianésia
Esta investigação aborda o conceito de santidade presente no romance Eracle (6570
versos octossilábicos), escrito pelo clérigo francês Gautier d’Arras entre 1159 e 1184.
Na primeira parte da obra, Eracle – o herói protagonista – revela ser um puer senex
(topos literário medieval) associado ao exemplo cristológico ( Agnus Dei).
Acompanhamos inicialmente o nascimento miraculoso, a precoce e admirável erudição
e os primeiros traços evangélicos do personagem, com destaque para sua imitatio
Christi que combinava pureza espiritual e pobreza – resultado da escravidão que lhe foi
imposta. Em seguida, revisitamos uma teoria segundo a qual a Vida de Santo Aleixo
teria sido a única fonte utilizada por Gautier nessa parte do romance. Aqui, defendemos
a hipótese de que o clérigo arrasiano poderia ter empregado diferentes textos, incluindo
os apócrifos bíblicos. De fato, a santidade foi um dos principais atributos que o autor
francês encontrou para delinear a imagem de Eracle. Essa construção idealizada incidiu
de maneira especial sobre a infância do herói, isto é, na primeira parte do romance,
seção que se assemelha às hagiografias.
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IMPÉRIO ÁRABE: CARACTERÍSTICAS, DISPUTAS INTERNAS E AFORMAÇÃO DE AL-ANDALUS
Hamilton José Fountoura da Costa, PPGHI, Universidade Federal de Alfenas-
UNIFAL-MG
A abordagem da Reconquista pelos livros didáticos privilegia a visão alinhada do
discurso de construção de uma identidade da Espanha orientado para uma ideia de
conflito e etnocêntrica, utilizada como instrumento político para a manutenção da
unidade territorial espanhola ao longo do século XX. A produção historiográfica dos
últimos 40 anos sobre o tema permite outro tipo de interpretação das relações
estabelecidas entre as três grandes populações (judeus, cristãos e muçulmanos) que
ocuparam o espaço ibérico após o século VIII. Através de revisão bibliográfica dessa
produção, é possível compreender o tipo de ocupação e a origem da liderança árabe
estabelecida em al-Andalus, de importância para o entendimento não só dos
intercâmbios culturais estabelecidos entre esses povos, mas do tipo de tolerância que
caracterizou essa relação, bem como a relativa autonomia da região em relação ao
restante do império árabee os conflitos e contradições internas que levam a quebra de
sua unidade.
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A RECONQUISTA CRISTÃ E SUA ATUALIDADE NO DISCURSOMUÇULMANO.
Heloisa Guaracy Machado e Marília Carneiro Ferreira, Pontifícia Universidade Católicade Minas Gerais
A questão do islamismo goza de grande atualidade no cenário contemporâneo, em meio
à intensificação do chamado terrorismo internacional, tendo como pano de fundo as
relações historicamente conturbadas entre Ocidente e Oriente Médio. A despeito das
disputas internas entre as várias correntes muçulmanas, ou assim autodenominadas,
levando à radicalização da violência nas nações e regiões em que estão situadas,
percebe-se a convergência para um tipo de discurso que procura desqualificar o mundo
ocidental e seus valores, ou a ausência deles, tendo como alvo principal os Estados
Unidos, por eles denominados o “grande satã”. As implicações desse processo sãodesconsideradas pelos analistas ocidentais, sob a perspectiva unilateral e simplificadora
da sua própria visão de mundo. Nesse sentido, esta comunicação tem como objetivo
promover a problematização desse cenário beligerante, chamando a atenção para a sua
complexidade, e procurando dar voz a uma facção islâmica, a Al Qaeda, a partir de um
estudo de fonte jornalística, cujo discurso recupera o episódio da Reconquista cristã,
entre os séculos XI-XIII na Península Ibérica, por ocasião dos atentados às Torres
Gêmeas em 2011. Esse procedimento visa, ainda, destacar a relevância dos estudos
medievais e ibéricos para o entendimento dos fenômenos socialmente constituídos no
processo de longa duração histórica.
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PEREGRINAÇÕES E MILAGRES NO OCIDENTE PENINSULAR: O CASODO CULTO À SANTA SENHORINHA DE BASTO EM PORTUGAL (SÉCULO
XII)
Heverton Rodrigues de Oliveira, Universidade Federal de Goiás-UFG
A busca por milagres, a tentativa de alívio das dificuldades das mais variadas espécies,
faz o homem medieval percorrer caminhos, peregrinar longas distâncias para rogar o
auxílio do sobrenatural. O culto dos santos possui grande influência na religiosidade
medieval, será nosso objetivo nesta comunicação analisar o culto à figura de Santa
Senhorinha de Basto, que teve seu culto eclesiástico iniciado em 1130, por
determinação do arcebispo de Braga Dom Paio Mendes. Santa Senhorinha de Basto,
uma abadessa que vivera durante a segunda metade do século X, segundo sua
hagiografia pertencera a uma família distinta e de numerosas posses, renunciara ao
casamento com um nobre para dedicar-se a uma vida de jejuns e orações. Com uma
prática de mortificações, jejuns e penitencias, a abadessa Senhorinha inicia um percurso
rumo à santidade, realizando milagres junto ao povo da região de Basto e também junto
aos membros da realeza.
Palavras-chave: Milagres, peregrinações, Sanha Senhorinha de Basto, hagiografia
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PERPETUAR A MEMÓRIA: O MOSTEIRO DA BATALHA NOTESTAMENTO DE D. JOÃO I (1426)
Hugo Rincon Azevedo, Universidade Federal de Goiás
O Testamento de D. João I, para além de outras fontes, é uma ferramenta necessária para os estudos acerca da Dinastia de Avis, e, também, para a compreensão do projeto
político Joanino para o reino português no início do século XV. Em seu testamento,
datado de 1426, publicado na Crônica do Rei Dom João I , de Fernão Lopes, o rei
deixou ordens relativas aos procedimentos de seu sepultamento, no Mosteiro de Santa
Maria da Vitória, lugar escolhido como seu panteão fúnebre. D. João ordenou ser
sepultado junto a sua esposa, a rainha D. Filipa de Lencastre (+1415), que por mandado
do rei teve seus restos mortais trasladados do Mosteiro de Odivelas para o Mosteiro da
Batalha em 1416. Partimos da premissa de que o fato de D. João I ter escolhido o panteão batalhino como sua necrópole fez daquele mosteiro um local de construção e
propagação de memória da dinastia avisina. Santa Maria da Vitória deveria
salvaguardar, além dos restos mortais do rei e da sua linhagem, a memória de um
reinado e de uma dinastia. Este foi um fator primordial para que se construísse um
aparato simbólico em torno a Casa de Avis, pois os seus sucessores mantiveram o
Mosteiro como seu panteão, estando sepultados naquele local D. João I (+1433), D.
Duarte (+1438), D. Afonso V (+1481) e D. João II (+1495). O conteúdo do Testamento
permite-nos problematizar sobre as construções simbólicas dessa dinastia, cujo Panteão
Régio, para muitos historiadores, é o maior símbolo político de poder e de memória
física da Casa de Avis e do reino português no século XV.
Palavras-chave: Mosteiro da Batalha; Testamento; de D. João I; Memória; Simbologia
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SOBRE TRÊS EDIÇÕES DA LEGENDA ÁUREA NA BIBLIOTECA NACIONALDO RIO DE JANEIRO
Igor Salomão Teixeira, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Nesta comunicação apresentamos as características de três edições da Legenda áurea
que se encontram na sessão de obras raras da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), no
Rio de Janeiro. Trata-se de uma edição de 1482, uma edição de 1521 e uma edição de
1554. Essas três obras, além de atestar as já consolidadas teses da ampla difusão do
texto de Jacopo de Varazze, apresentam-se como instrumentos para pesquisas em um
campo em expansão no Brasil: os estudos sobre hagiografia medieval. O problema de
pesquisa apresentado está relacionado às implicações de se considerar os capítulos sobre
o papa Pelágio e sobre a consagração do templo como os mais importantes para a
compreensão do sentido supostamente atribuído pelo autor ao conjunto de textos que
compõem a obra. Esses capítulos, por exemplo, não constam na tradução brasileira da
Legenda áurea, publicada em 2003. Porém, são os que encerram as edições e traduções
publicadas por Giovanni Paolo Maggioni (1998 e 2007) e Alain Boureau (2004). Nas
edições dos séculos XV e XVI, no entanto, há uma expansão do número de capítulos da
obra e os referidos textos não são mais os textos finais. Portanto, ao final desta
apresentação esperamos contribuir para o debate relacionado às modificações nos textos
hagiográficos do final da Idade Média, bem como apresentar as linhas gerais que
norteiam o trabalho que realizamos com as edições na FBN.
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CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS ACERCADA FIGURA DO DIABO NAVITA COLUMBANI
Izabela Morgado da Silva, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Nessa comunicação pretendemos analisar a Vita Columbani, hagiografia produzida no
reino franco entre os anos 639 e 642 por Jonas de Bobbio. Este trabalho está vinculado à
pesquisa de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em História
Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e confronta as distintas
referências dadas ao demônio na Vita Columbani e na Vita Sancti Aemiliani, hagiografia
escrita no ano de 636 no reino visigodo.
O Diabo se apresenta como figura frequente no gênero hagiográfico, aparecendo em
diferentes passagens naVita Columbani
. Na presente comunicação interessa-nos
discutir, à luz da historiografia, as alusões ao demônio nessa hagiografia, associando a
sua presença à conjuntura em que o documento foi produzido.
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A RELAÇÃO CORTESANIA E RUSTICIDADE NA DRAMATURGIA IBÉRICAQUINHENTISTA
Jamyle Rocha Ferreira Souza, PPGLITCULT/UFBA/IFBAIANO
Cortesania e rusticidade são dois conceitos com convenções literárias distintas, com
temas e formas em oposição, que raramente convergem entre si. Curiosamente, a opção
estética dos nossos dramaturgos ibéricos se renova justamente quando, em salões
palacianos, fazem representar rústicos num contexto sociológico como o da corte. A
rusticidade, na qualidade de «indelicadeza», «incivilidade» e «grosseria», expressa em
tensão linguística e em um pretendido realismo na arte dramática de Juan del Encina
(1468-1529), Lucas Fernández (1474-1541) e Gil Vicente (1502?-1536?), pode ser
compreendida, segundo o crítico espanhol José María Díez Borque (1987), como um
«salto mortal», uma vez que confronta a privilegiada estimativa literária da poesia
cortesanesca e cumpre um fim imediato de divertir a nobreza ociosa. É bastante
provável que o dramaturgo castelhano Juan del Encina seja o iniciador, na cena ibérica,
deste processo de reconhecimento do «estilo rústico» enquanto estética válida, indo de
encontro à poética culta cortesã. Desse modo, rompe os limites sociais da cortesia e
acaba por fazer conviver, no mesmo espaço dramático, estilos distintos, multiplicando
as possibilidades literárias. Nessa perspectiva, o presente trabalho pretende abordar o
processo de “dignificação” do estilo rústico no espaço cortesão ibérico, através das
obras de Juan del Encina, Lucas Fernández e Gil Vicente.
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DESENHANDO O RECATO DO OLHAR: FERDINANDGREGOROVIUS, LUCRÉCIA BÓRGIA E AS TENSÕES ESTÉTICAS DA
ESCRITA HISTORIOGRÁFICA.
Jéssika Hingridi Rodriguês Vieira, Universidade Federal de Mato Grosso
Pelas mãos do historiador e medievalista Ferdinand Gregorovius, Lucrécia Bórgia, filha
do papa Alexandre VI (1431-1503), foi consagrada como uma personagem símbolo de
uma época. Emoldurada por ele como arquétipo da “dama renascentista”, Lucrécia é
reiteradamente lembrada como o rosto de uma história definida pela tragédia
sentimental, pelo fracasso moral, pela inocência maculada. Manejando a pena com rigor
historiográfico e talento literário, Gregorovius converteu a filha de Sua Santidade em
epônimo das elites de fins da Idade Média, vislumbradas como criadores e criaturas de
uma sociabilidade cortesã implacável, que tiranizava os indivíduos. Estamos diante deuma biografia entronizada na escrita da história como retrato de uma época usualmente
definida com uma “era de crise”, um “tempo de declínio”. Diante desta assertiva geral,
buscaremos discutir, neste trabalho, quais referenciais culturais foram empregados por
Gregorovius para compor a caracterização histórica de Lucrécia Bórgia. Isto será feito
através da análise de um elemento estilístico recorrente na escrita do historiador alemão:
o modo como ele definia a identidade dos agentes sociais através da tensão entre
ocultação e exposição das formas de auto-conhecimento. O argumento central de nossa
hipótese consiste na proposição de que Ferdinand Gregorovius operou a junção de
elementos literários e historiográficos, unindo-os através de uma composição estética
característica do gênero “romance”. O romance desempenhou um importante papel na
formação de uma consciência ocidental acerca da temporalidade e no dimensionamento
das relações passado-presente. Com isso, escrita romanesca e historiografia apresentam
convergências epistemológicas que – assim postulamos – constroem a compreensão da
existência de Lucrécia Bórgia. A biografia dedicada a Lucrécia Bórgia em 1874 seria
um caso em que a própria escrita historiográfica selou a compreensão do passado com
limitações estéticas?
Palavras-chave: Romance, Lucrecia Bórgia, Gregorovius.
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IDENTIDADE CRISTÃ EM CONSTRUÇÃO: VIRTUDE E PECADO NODISCURSO ANTI-MANIQUEU DE AGOSTINHO DE HIPONA
Joana Paula Pereira Correia, UFES
Aurelius Augustinus nasceu em 354. Filho de uma cristã fervorosa, dedicou-se ao estudo
da retórica. Em sua juventude, leu Cícero e se encantou com a filosofia, buscando-a na
Bíblia. Ainda jovem aderiu ao maniqueísmo, no qual acreditou ter encontrado a
verdade, compreendida como conhecimento para a existência do homem e do universo.
Permaneceu nove anos como maniqueu; desiludiu-se. Segundo o próprio Agostinho
narra em suas Confissões, os sermões de Ambrósio e a filosofia neoplatônica, o
auxiliaram a conversão ao cristianismo. Como cristão, passou a refutar sua antiga fé,
utilizando-se da Bíblia, do neoplatonismo e da tradição católica.
Os dualistas maniqueístas são divididos em dois grupos, os eleitos e os ouvintes. Os
primeiros, espécie de clérigos, devem cumprir um rígido código moral ascético, que os
impede de dizer mentira, blasfêmia, perjúrio, comer carne, beber bebidas alcoólicas, se
casar, fazer sexo, trabalhar, matar animais vegetais e seres humanos; devem viver da
caridade do ouvinte. Já estes, espécie de catecúmenos, seguiam a uma moral menos
rígida, podiam se casar, mas não deviam ter filhos, deviam fazer jejuns periodicamente
e evitar alimentos como carne e bebidas alcoólicas.
Dois anos após sua conversão, Agostinho escreve sua primeira obra anti-maniqueísta:
De moribus eclesiae catholicae et de moribus manichaeorum. Um tratado contra o
maniqueísmo, no qual Agostinho compara cristãos e maniqueístas em relação a virtude,
e ao pecado, expondo e criticando os maniqueus por seus costumes e crenças.
Descrevendo o maniqueísmo como um erro, uma mentira, uma falácia, por quanto o
cristianismo é fonte da virtude e da verdade. Analisaremos nesta comunicação como
Agostinho constrói e fundamenta esta oposição, dando identidade ao cristianismo de sua
época.
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MUSEU DAS CAVALHADAS: ACERVO DE IMAGENS E NARRATIVASSOBRE UMA REPRESENTAÇÃO MEDIEVAL NO CERRADO
João Guilherme Curado, Universidade Estadual de Goiás – Câmpus Pirenópolis/Grupode Pesquisa Saberes e Sabores Goianos
Célia Fátima de Pina, Universidade Estadual de Goiás – Câmpus Pirenópolis/Museu dasCavalhadas
Na cidade de Pirenópolis/GO, são encenadas, pelo menos, desde 1826, as Cavalhadas,
uma representação das históricas lutas entre Mouros e Cristãos que tiveram por campo
de batalhas a Europa Medieval. Em Goiás, a encenação das Cavalhadas acontece em
várias cidades, mas talvez tenha sido em Pirenópolis que o enredo tenha melhor se
adaptado ao Cerrado, uma vez que a trama se inicia com a descoberta e morte do espião
mouro em território cristão, sendo a espia representada por uma onça. As Cavalhadas
são bastante frequentadas pelos pirenopolinos, e os Cavaleiros Mouros e Cristãos se
tornaram ícones da cultura local, o que faz com que este espetáculo reconduza a
momentos históricos outros, trajetória esta que será o foco da investigação proposta,
considerando ainda parte das narrativas encenadas durante três dias, a partir do
Domingo de Pentecostes.
Com quase dois séculos, as Cavalhadas de Pirenópolis vêm passando por significativas
alterações nas últimas cinco décadas, desde a questão da recorrência, das vestimentas e
dos adereços até a espacialidade utilizada para encenação, além das interferências
políticas e institucionais, o que não tem descaracterizado o enredo que remete ao “Ciclo
de Carlos Magno”.
São imagens e narrativas a propósito destas mudanças que se propõe investigar , a partir
de referenciais bibliográficos sobre as Cavalhadas em Pirenópolis e, principalmente,
pela análise do acervo documental e visual dispostos no Museu das Cavalhadas, o
primeiro a abordar esta temática no Brasil e que foi se constituindo na casa de dois ex-
cavaleiros.
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CAMADAS DE TEMPO: O DISCURSO ENGENDRADO NA DESTITUIÇÃODE D. SANCHO II (1223-1248) E SEU ALCANCE
Johnny Taliateli do Couto, PPGH/UFG
Em relação às teorias acerca do poder que estavam em voga no decurso do século XIII,a bula Grandi non immerito que depõe Sancho II de Portugal foi, no mínimo, rebuscada.
O Papa Inocêncio IV encarnava, através do texto, o seu papel de juiz supremo nos
assuntos espirituais e seculares. O Sumo Pontífice promovia o discurso de estar
preocupado com a paz e a tranquilidade, e, nestes termos, retomava a noção de bem
comum para justificar o seu ato ao destituir o governante português. Sancho II foi,
assim, considerado um rei incapaz, insuficiente para exercer o encargo régio. Não
podemos olvidar, entretanto, que o processo de deposição deve-se também a uma
articulação que envolvia não somente os altos dignitários eclesiásticos portugueses, mastambém o irmão Afonso, o Conde de Bolonha, nomeado pelo Papa na bula Grandi
como o curador do reino. Contudo, não foi o texto papal que fez Sancho II ser afastado
de vez do governo, mas sim o resultado da guerra civil travada em Portugal entre os
partidários régios e os do Conde de Bolonha. Apenas após a morte do irmão, Afonso
pôde ser feito rei de fato. Com este trabalho, queremos demonstrar as camadas de tempo
que encontramos em um discurso político, como aquele articulado por Inocêncio IV na
Grandi. Queremos ressaltar, também, a distância que existe entre o plano do discurso e
o seu real alcance no mundo social. Trata-se de fazer uma análise de como através do
texto a destituição foi articulada e como ela foi recebida.
Palavras-chave: Inocêncio IV; poder; Sancho II; Portugal.
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O CULTO A SANTIAGO E AS PEREGRINAÇÕES AO SANTUÁRIO
JACOBEU NOS SÉCULOS XI E XII
Jordano Viçose, UNIFAL-MG
O presente trabalho insere-se no Grupo de Pesquisa - Península Ibérica: da Antiguidade
Tardia à Reconquista e também no Mestrado Profissional em História Ibérica da
Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL/MG. A orientação da dissertação de
mestrado está sendo feita pelo Prof. Dr. Adailson José Rui.
As peregrinações constituem-se elemento importante para a análise das sociedades
medievais, sobretudo aquelas regiões nas quais mais influíram os fiéis em busca dos
grandes centros de peregrinação. Nossa proposta, nesta comunicação, centrar-se-á em
verificar a ascensão eclesiástica da Igreja de Santiago de Compostela - um dos principais centros - tendo como referência o crescimento das peregrinações a esse
santuário a partir do século XI. Como fontes para tal estudo lançaremos mão da Historia
Compostelana, obra elaborada na primeira metade do século XII na cidade de
Compostela e também do Liber Santi Iacobi, livro construído, entre os anos de 1130 e
1140, com finalidades propagandísticas do caminho jacobeo, servindo, igualmente de
guia para os peregrinos.
Palavras-chave: Santiago de Compostela, Peregrinações, Idade Média
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O MONACATO NAS HAGIOGRAFIAS DE VENÂNCIO FORTUNATO: OSCASOS DE RADEGUNDA E ALBINO
Juliana Prata da Costa, UFRJ – PPGHC – PEM
Este trabalho tem com temática principal traçar as considerações iniciais acerca do
estudo da manifestação monástica no reino franco, durante o século VI. Mais
especificamente trataremos das referências a este fenômeno a partir de duas
hagiografias escritas pelo poeta e bispo italiano Venâncio Fortunato: a Vita
Sancti Radegundis e Vita Sancti Albini dedicadas, respectivamente, a Radegunda de
Poitiers e Albino de Angers. Ao analisar o discurso hagiográfico, como primeira etapa
de nossa pesquisa de Mestrado, buscamos nestas vidas de santos as referências quanto
ao monacato e a relação estabelecida entre este objeto e o contexto de produção dos
documentos. Por fim, destacamos que uma de nossas preocupações será o diálogo com ahistoriografia quanto a este tema específico.
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CRIANDO A CONSCIÊNCIA DO PECADOR: A VIAGEM DE SÃO BRANDÃO E AS REPRESENTAÇÕES LITERÁRIAS DA CULPA E DA DANAÇÃO.
Kathelline Souza Santos, UFMT- Universidade Federal de Mato Grosso
Durante a Idade Média, uma das narrativas mais populares e difundidas foi a Viagem de
São Brandão, no qual um monge irlandês do século V sai em busca de uma terra
prometida, cheia de maravilhas e entidades fantásticas. A história de São Brandão é uma
fonte documental rica, que contém passagens mesclando o mundo pagão e cristão. A
narrativa apresenta momentos marcantes, tal como o encontro do monge com Judas, e
inúmeros arquétipos que se perpetuavam na sociedade cristã. A primeira versão
manuscrita em latim da Viagem de São Brandão tem provável origem no século IX, e há
também uma versão ilustrada com iluminuras oriundas de uma obra elaborada por um
frade franciscano da cidade tcheca Cesky Krumlov, que copiou e reuniu diversas
narrativas medievais em um livro feito em 1360, conhecido como Liber Depictus.
Existem fortes indícios que as imagens e o texto pertencem a uma mesma versão
manuscrita. Os trabalhos sobre a temática encontrados durante a pesquisa bibliográfica
focam-se exclusivamente na versão escrita; portanto, o propósito da presente pesquisa
recorrendo às teorias de Erich Auerbach, especialmente, à sua tipologia da narrativa
veterotestamentária como modelo de significação cultural, buscaremos apresentar as
possibilidades de análise da “Viagem”, levando em consideração a complexa relação
mantida entre imagens e texto, como registro de uma experiência da individualização
dos valores cristãos de salvação e danação – dramatizados através do encontro literário
entre o santo e o apóstolo Judas.
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O ACERVO DE INCUNÁBULOS DA FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL:UMA FACETA DA HISTÓRIA DOS LIVROS IMPRESSOS ANTES DE 1500
Kátia Brasilino Michelan, Fundação Biblioteca Nacional
São chamados incunábulos os livros impressos até 1500. Ou seja, são assim
denominadas as primeiras impressões de tipos móveis que ocorreram a partir do início
da utilização da tipografia, com a impressão, por volta de 1455, na cidade de Mogúncia,
da Bíblia de 42 Linhas por Gutenberg. A grande particularidade dos incunábulos é que
eles buscaram dar continuidade às produções dos escribas, assim, imitavam o formato e
o conteúdo dos manuscritos.
O setor de obras raras da Fundação Biblioteca Nacional, localizada na cidade do Rio de
Janeiro, possui 216 incunábulos. Trata-se de obras de autores clássicos, como Sêneca,
Cícero, Aristóteles, dentre outros; obras religiosas, como bíblias e missais; e literatura
vernácula, como obras de astronomia e textos pedagógicos de monarcas.
Levando em conta a relevância do acervo de incunábulos da Biblioteca Nacional,
devido a sua especificidade e raridade, a proposta da presente comunicação é analisar a
história da escrita, a partir do advento da impressa, considerando a importância dos
incunábulos para o acervo da Biblioteca Nacional. Ou melhor, pretende-se colocar em
diálogo os diferentes contextos de produção: o da elaboração dos textos e o das
reproduções impressas com aquele da disseminação (comercialização, trocas,
empréstimos e doações) das obras.
Tal proposta de comunicação está vinculada ao trabalho desenvolvido na Biblioteca
Nacional como pesquisadora residente no âmbito do Programa Nacional de
Pesquisadores Residentes (PNAP-R). O objetivo primordial da pesquisa que está sendo
desenvolvida é fornecer aos usuários da Biblioteca Nacional, comuns ou especializados,
um panorama histórico acerca dos incunábulos pertencentes ao seu acervo bibliográfico,
no que diz respeito ao conteúdo, à forma, à autoria (quando houver), à importância, à
raridade, aos contextos de produção e à aquisição de cada incunábulo por parte da
Biblioteca Nacional. Para isso, serão produzidas notas históricas de cada obra e umtexto introdutório geral. A presente pesquisa, ainda, poderá facilitar o trabalho de
estudiosos, no que diz respeito aos levantamentos e ao acesso às ditas “fontes
primárias”, uma vez que se tentará disponibilizar tais incunábulos de forma digitalizada.
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CARTOGRAFIA E VIAGENS NA BAIXA IDADE MÉDIA
Katiuscia Quirino Barbosa, Universidade Federal Fluminense
Entende-se que a expansão marítima portuguesa do século XV foi essencial para a
alteração das maneiras de conceber a geografia e o espaço, sobretudo o espaço
Atlântico, que passa a ser apreendido em uma dimensão humana, como um espaço
vivido. Essa dimensão cultural do espaço oceânico dá-se não somente pelas relações
que os navegadores estabeleciam entre si, mas principalmente, pelas interações com os
povos que habitavam a costa atlântica africana.
Note-se que o movimento expansionista trouxe notáveis contribuições técnicas no que
concerne às práticas de navegação, envolvendo conhecimentos dos mais variados. Nessesentido, destacamos as inovações na produção cartográfica que, embora ainda se
encontre muito vinculada às grandes “escolas” da cartografia mediterrânica, começa a
apresentar especificidades concernentes à realidade Atlântica e à navegação de longa
distância. Diante disso, esta comunicação tem como objetivo a análise de duas cartas
náuticas portuguesas da segunda metade do século XV, quais sejam, a Carta de Módena
e a Carta de Pedro Reinel, com o intuito de compreender os impactos das constatações
reais acerca do Oceano Atlântico e da África Ocidental na cartografia coeva.
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AS RELAÇÕES ENTRE O PODER MONÁRQUICO E O PODERECLESIÁSTICO EM PORTUGAL DURANTE O REINADO DE D. DINIS (1279-
1325)
Láisson Menezes Luiz, Universidade Federal de Goiás
Ao subir ao trono em 1279, uma das primeiras atitudes tomadas pelo monarca portuguêsD. Dinis (1279-1325) foi resolver os conflitos existentes entre a coroa, a nobreza e o
clero que vinham se arrastando praticamente desde o reinado de D. Afonso II (1211-
1223), e que foram agravados posteriormente no reinado de D. Afonso III (1245-1279).
Quando assumiu o poder, D. Dinis encontrou um reino sob interdito papal, o que
causava grandes transtornos à sociedade medieval portuguesa, pois as igrejas
encontravam-se fechadas e os cultos suspensos, a criminalidade havia aumentado.
Somente depois de um prolongado período as negociações tiveram um fim, resultando
na promulgação das concordatas, o alvo principal dessa proposta de pesquisa. Ao todoforam promulgadas três concordatas, duas no ano de 1289, uma com 40 e outra com 11
artigos, e uma terceira, em 1309, contendo 22 artigos. Por meio destes documentos
podemos perceber a complexa e conflituosa relação entre a coroa, a nobreza e o clero na
sociedade medieval portuguesa. Entendemos que, além da pacificação, as concordatas
também contribuíram, juntamente com outros mecanismos implantados por D. Dinis,
para diminuir a influência e o poder da nobreza e do clero e, consequentemente,
fortalecer e centralizar o poder nas mãos do monarca. Finalmente, percebemos que as
concordatas não puseram fim às intrigas que havia entre as diversas ordens do reino,
mas amenizaram essa relação, e já não era mais preciso recorrer à Santa Sé para pôr fim
às querelas entre a coroa, a nobreza e o clero no reino lusitano.
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BARREGANIA E/OU CONCUBINATO NA PENÍLSULA IBÉRICA: UMAANÁLISE DOS CONCEITOS NAS SIETE PARTIDAS E ORDENAÇÕES
AFONSINAS
Lara Fernanda Portilho Misquilin, Universidade Federal de Goiás
Para este trabalho visamos uma breve análise dos conceitos de barreganIa e concubinato
nas legislações castelhana e portuguesa dos séc. XIII e XV. Frente a nossa perspectiva,
tais conceitos detêm contornos e configurações distintas em cada reino, mas que
constantemente ao falar de concubinato, este vem associado à noção de barregania e
vice-versa. Assim encontramos nas Siete Partidas de Alfonso él sábio, e nas
Ordenações Afonsinas, indícios que nos permitam perscrutar tal temática, na tentativa
de compreender o significado de tais conceitos, bem como delimitar suas intersecções
e/ou equivalências. A adoção de tais fontes se dá, primeiro por serem documentos que privilegiam uma ampla abordagem da temática no contexto medieval; segundo por
considerar as antigas e estreitas relações entre os reinos de Castela e Portugal, que, de
alguma forma mutuamente se influenciam. E para esta comunicação nos questionamos
sobre o que é a barregania? O que é o concubinato?
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“OS FILHOS DE BELIAL ASSOLAM O MUNDO EM SANGUE E PECADO,COMO SIMONÍACOS E CISMÁTICOS”: A LINGUAGEM ECLESIÁSTICA E A
CONSTRUÇÃO SOCIAL DAS INFRAÇÕES NOS SÉCULOS XI E XII
Leandro Duarte Rust, Universidade Federal de Mato Grosso
COMUNICAÇÃO 1 – SESSÃO DE TRABALHO HISTÓRIA SOCIAL DAIGREJA MEDIEVAL: EXPERIÊNCIAS DE PESQUISA E TENDÊNCIASHISTORIOGRÁFICAS
O século XI figura como um ponto de referência fundamental para os historiadores daIdade Média. Considerado o cenário de esplendor de uma “Mutação feudal”, daculminância da “Reforma Papal” e de uma consolidação da “Primeira RevoluçãoEuropeia”, este punhado de décadas figura como um ponto de inflexão da históriaocidental. A caracterização abarca, sobretudo, o período compreendido entre 1050 e1120, quando a realidade das relações de poder teria sido drasticamente alterada,transformando os modos de exercer a autoridade e de perceber a legitimidade,
modificando, com isso, a produção social das categorias de infração e condutasdesviantes. Através da expansão da cultura escrita, as elites eclesiásticas capitaneadas
pela autoridade papal teriam urdido uma nova tessitura de classificação doscomportamentos coletivos. Tracejando palavras sobre manuscritos, os prelados teriamredesenhado as noções de norma – especialmente a canônica -, deslocando as linhas queentão separavam as condutas aceitáveis das desviantes. Florescendo a cada nova coleçãodos sagrados cânones, povoando a narrativa de mundo por meio das crônicas universais,essa linguagem reformadora teria capturado uma série de práticas senhoriais e invertidosua significação social: o que até aquela época figurava como parte de condignastradições nobiliárquicas passava a ser visto como odiosas infrações cometidas contra aautoridade espiritual. Neste trabalho, buscamos analisar os meandros deste processo deconstrução social da categoria de infrações canônicas. Neste caso, voltaremos nossasatenções para as maneiras como duas noções foram dimensionadas e definidas pelaselites clericais atreladas ao establishment pontifício: as ideias de simoníacos ecismáticos. O recorte investigativo compreende o contexto que se estende entre duasdisputas pelo controle da Igreja romana ou dois “cismas”: um protagonizado pelo bispoCádalo de Parma (1009-1072), outro pelo cardeal Pedro Pierleoni (?-1138). A hipótesede trabalho consiste em cogitar a possibilidade de que ambas as noções foram marcadas
por variações de significação, realidade linguística que imprimiu ao emprego destestermos uma diversidade de acepções. Capaz de atingir significados contraditórios, essadiversificação decorreria, fundamentalmente, dos limites impostos à linguagem por algo
pouco explorado pelos historiadores: as intercessões entre os ideais reformadores e oethos nobiliárquico da época.
Palavras-chave: História Social da Linguagem; Século XI; Papado.
7/23/2019 Abrem Xieiem Caderno de Resumos
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TRANSMISSÃO E TRADIÇÃO HAGIOGRÁFICA: A VITA SANCTI FRUCTUOSI E O FLOS SANCTORUM EM PERSPECTIVA COMPARADA
Leila Rodrigues da Silva e Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva, UniversidadeFederal do Rio de Janeiro
Nossa comunicação apresenta um exercício de comparação diacrônica, em diálogo com
os estudos sobre as transferências culturais. Neste sentido, selecionamos dois textos
medievais, a Vita Sancti Fructuosi, redigida em latim no século VII, e o Flos Sanctorum
da Biblioteca da UNB, composto em português e transmitido por um único manuscrito
datado de fins do século XIV. Ambos os textos narram a trajetória de Frutuoso, que foi
monge e bispo e destacado promotor da vida religiosa na Galiza no período visigodo.
Nossa análise se concentra nos capítulos de ambos os textos que relatam episódios
relacionados à figura de Benedita, uma jovem que renunciou ao casamento para abraçar
a vida religiosa sob a direção espiritual de Frutuoso. Nosso objetivo é comparar esses
textos, redigidos com um intervalo de cerca de sete séculos, identificando semelhanças e
diferenças e propondo interpretações sobre a transmissão de tradições hagiográficas nas
regiões ocidentais da Península Ibérica.
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A IMAGEM DO REI: AFONSO X E A TRADIÇÃO POLÍTICO-CULTURALISLÂMICA
Leonardo Augusto Silva Fontes, Universidade Federal Fluminense (UFF)/Arquivo Nacional (AN)
A imagem de um rei medieval não se construía apenas por meio da iconografia ou dascerimônias régias. No caso de Afonso X, monarca de Castela e Leão de 1252 a 1284,
sua imagem ancorou-se também em sua escrita do poder. Este rei governou numa época
de grandes transformações sociais, marcadas pelos movimentos de reconquista e
repovoamento – que, neste momento, consolidavam uma identidade fronteiriça, mas
acima de tudo cristã. Por meio de um extenso projeto político-cultural, como definido
por Márquez Villanueva, esse rei consolidou uma cultura escrita – que incluía uma vasta
produção narrativa, historiográfica, poética, jurídica e científica, entendidas como
ordenadoras do vivido.Alguns estudiosos, como Maribel Fierro, defendem que esta imagem tinha influência
direta dos califas almoadas que ocuparam anteriormente a Península Ibérica, ou
Andaluzia. Neste corpo social, cuja centralidade era cristã e o topo era o rei, os
muçulmanos que permaneceram em terras hispânicas não eram de todo excluídos, mas
marginalizados. Ainda assim, suas contribuições culturais e científicas são até hoje
visíveis na sociedade espanhola.
O objetivo deste trabalho é, portanto, discutir de que forma o reinado afonsino foi
influenciado pelo Califado Almoada e quais foram os pontos de interseção possíveis
desta tradição islâmica diante de um monarca cristão, principalmente em sua escrita
político-cultural, que ajudaram na consolidação da imagem do rei.
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RESÍDUOS DO AMOR MEDIEVAL EM PEQUENO ROMANCEIRO
Leonildo Cerqueira Miranda, Universidade Federal do Ceará
A vassalagem amorosa durante a Idade Média, flagrante nos textos artísticos,caracterizou-se por uma entrega completa do homem à figura de sua amada, elevando-a
a um patamar de plena adoração. Michel Pastoureau (1989) chama a atenção para o fato
de esse amor não ter passado de uma virtualidade, e, por isso, ter seu correspondente
apenas na literatura. O “amor cortês” não se restringiu apenas ao medievo, mas
perpetuou-se na literatura e continuou servindo de matéria a poemas e a prosas. Nossa
pesquisa fará uma análise, com base na Teoria da Residualidade (PONTES, 1999), de
dois textos do Pequeno romanceiro, de Guilherme de Almeida, a saber, “Lenda” e
“Dona Tareja”, em que observamos a recorrência da matéria amorosa ao estilomedieval, em textos produzidos em 1957, reiterando o caráter residual do amor
medieval na literatura brasileira.
Palavras-chave: Amor cortês. Pequeno romanceiro. Teoria da residualidade.
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A CONSTRUÇÃO DO EU AUTORAL FEMININO NAS MEMORIAS DELEONOR LÓPEZ DE CÓRDOBA ( SÉCULO XV)
Luciana Eleonora de Freitas Calado Deplagne, Universidade Federal da Paraíba
A presente comunicação pretende analisar a primeira autobiografia escrita em
castelhano, no início do século XV, período de transição da Idade Média ao
Renascimento. Trata-se das Memórias de Leonor López de Córdoba y Carrillo, nascida
provavelmente entre 1362/1363 e falecida pouco depois de 1412. Em sua obra
autobiográfica, López de Córdoba narra fatos de sua vida familiar inseridos em um
período de grande conturbação da história de Castilla, focalizando a sua história pessoal
de luta pela sobrevivência até a conquista conseguir se tornar uma das figuras de maior
influência na corte da rainha Catalina de Lancaster. A obra será analisada a partir da perspectiva da História das Mulheres, (Perrot, Duby, 1990, Scott, 1992), articulando
abordagens acerca do papel da memória e do esquecimento (Ricoeur, 2000; Le Goff,
1988) no “Espaço biográfico” (Arfuch, 2010), na busca de identificar as estratégias
narrativas utilizadas pela autora na construção do eu enquanto sujeito autoral feminino.
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CASAMENTO, FAMÍLIA E SOCIEDADE NA IV PARTIDA DE AFONSO X DECASTELA E LEÃO (1252-1284)
Luísa Tollendal Prudente, Universidade Federal Fluminense – UFF
A comunicação a ser apresentada analisará as normas matrimoniais das Siete Partidas
do rei Afonso X de Castela e Leão (1252-1284). A maior parte daquelas normas
encontra-se reunida no quarto volume do referido código, cujas leis constroem um
quadro destinado a dar significado e legitimidade específicos ao casamento e aos
diferentes tipos de relações pessoais que dele resultariam. A principal contribuição para
o desvendamento do tema decorrente de minha abordagem consiste em demonstrar a
construção, na fonte em questão, de um modelo de sociedade fundamentada em relações
hierarquizadas e movidas por uma lógica retributiva de serviço e de benefício, que
corresponderia à ordem natural dos homens. O casamento seria capaz de manter essa
ordem por causa da filiação legítima que derivaria dele. Os resultados desenvolvidos na
comunicação correspondem àqueles que foram obtidos na dissertação de mestrado
aprovada em março de 2015.
Palavras-chave: Casamento, Siete Partidas, Parentesco, Filiação, Hierarquização,
Afonso X.
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O FRACASSO IDEALIZADO: ESTRATÉGIAS NARRATIVAS NO LIBER IDAS GESTA HAMMABURGENSIS DE ADAM DE BREMEN.
Lukas Gabriel Grzybowski, Universidade de São Paulo
A presente comunicação pretende abordar o problema do fracasso da cristianização da
Escandinávia nos séculos iniciais da missão evangelizadora, especialmente entre a
segunda metade do século IX e início do século X, a partir da narrativa apresentada por
Adam de Bremen († depois de 1080). O trabalho parte de uma abordagem ligada à
Vorstellungsgeschichte, uma proposta originada no contexto historiográfico alemão no
intuito de incorporar as contribuições da reflexão antropológica nas análises históricas
referentes ao troisième niveau, o nível das ideias, como proposto pela historiografia
francesa dos Annales, e que se coloca ao lado das perspectivas factual e estrutural,
enquanto terceira via de aproximação ao estudo da história. Entre os Annales a proposta
deu origem ao estudo das mentalidades, proposta já consolidada no contexto
historiográfico brasileiro, ligado, porém, sobretudo às estruturas mentais subjacentes a
uma determinada época. A Vorstellungsgeschichte se dedica, ao contrário, à
investigação das ideias, percepções, pensamento, concepções e visões de mundo dos
sujeitos na história, buscando recuperar o papel do indivíduo na história das ideias, sem
contudo retornar ao paradigma metódico, do estudo dos “grandes pensadores”. Ela se
volta ao “pensador médio” e se interessa pela forma como esse sujeito transpõe o
resultado de suas interações com o mundo em seu texto.
Nesse sentido, a narrativa de Adam é analisada primeiramente enquanto testemunho da
visão de mundo de seu autor, sendo o conteúdo narrado entendido como plataforma para
a expressão das ideias do cânone bremense. Destacam-se as estratégias utilizadas pelo
historiógrafo medieval para lidar com acontecimentos delicados na história da diocese e
seus catedráticos enaltecidos na obra de Adam. A forma como ele trabalha os fracassos
e retrocessos, assim como opõe a esses os sucessos da empresa missionária refletem
principalmente os problemas enfrentados por Hamburg-Bremen no século XI. A visão
retrospectiva apresenta-se como potencial-legitimadora das ações contemporâneas àcomposição da obra.
Através da análise do primeiro livro da obra de Adam, buscar-se-á nessa comunicação
apresentar alguns aspectos do pensamento do cânone bremense transpostos para a sua
narrativa. (O presente projeto é financiado pela FAPESP/CAPES n. 2014/18018-6).
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O “FIEL, HONROSO E... MÁRTIR” SIMÃO DE MONTFORT (1209-1218): A
IMAGEM DO LÍDER CRUZADO ESTAMPADA NA HISTORIA ALBIGENSIS
Magda Rita Ribeiro de Almeida Duarte, Universidade de Brasília / IFTM
A Historia Albigensis corresponde a uma das mais importantes fontes que narram
eventos da Cruzada Albigense. O cronista, Pierre des Vaux-de-Cernay, não dispensou o
uso de vários documentos a que teve acesso, além de seu próprio testemunho, para
elaborar uma narrativa detalhada dos primeiros anos do movimento que resultou em
significativas mudanças no âmbito das disputas senhoriais no sul da Gália e na região da
Provença. Confessadamente partidário das ações cruzadas naquela região
posteriormente denominada Occitânia, o monge cisterciense e sua narrativa ainda são
passíveis de críticas não somente pela parcialidade monacal, defendo a fé católica, mastambém por ser uma fonte que serve bem à versão nacionalista da construção histórica
de uma França unificada. Entre as personagens colocadas em relevância no texto de
Pierre figura Simão de Montfort, Conde de Leicester por herança materna, que, junto a
outros cruzados, em 1209, atendeu ao chamado pontifício para a empresa de paz e de fé.
De Monfort, o cronista desenha a imagem de um cavaleiro de moral e fé inabaláveis.
Desde a sua chegada ao sul até sua morte, em 1218, o nome de Montfort aparece na
crônica, na maioria das vezes, ornado pelos melhores adjetivos que se pode atribuir a
um homem cristão naquela época. Quando não menciona copiosas boas qualidades,
Pierre des Vaux-de-Cernay chama Montfort ao texto usando a expressão “nosso
Conde”. Assim, considerando toda essa deferência do cronista pelo líder cruzado, este
trabalho propõe compreender a elaboração desse desenho de Simão de Montfort na
crônica Historia Albigensis que, em vez de galgar um lugar naquela fonte como um
cruento guerreiro cumpridor da ordem “matem todos” do legado papal, Arnaud
Amalric, ganhou espaço como alguém que doou sua vida pela defesa da fé, tal qual um
verdadeiro mártir.
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O TEMPO NA POESIA DE CHARLES D’ORLÉANS (1394-1465)
Marcella Lopes Guimarães, UFPR, NEMED (Núcleo de Estudos Mediterrânicos)
Charles d’Orléans era filho de Luís d’Orléans e Valentina Visconti, neto do rei Carlos
VI de França. Cedo se viu compelido ao proscênio do cenário político da época, na
vingança contra o assassinato de seu pai (em 1407). Mal foram apaziguados os ânimos
na paz de Arras (1415) quando, na Batalha de Azincourt (1415), por sua vez, Charles
d’Orléans é feito prisioneiro. O poeta viveria 25 anos no cativeiro (foi solto apenas em
1440). A condição de cativo para um nobre na Idade Média era bastante variada. Há
momentos em que era tratado como um hóspede e, em outros, as condições eram menos
simpáticas. Sabemos, porém, que o Duque de Orléans pôde se dedicar à leitura e à
escrita no período. Essa comunicação tem por objetivo analisar as concepções de tempo
de dois longos poemas seus: La Retenue d’Amour , de antes da experiência da prisão, em
1414, e Songeencomplainte, de 1437, bem como propor uma tradução das obras. O
tempo é uma grande preocupação do historiador e compreender a forma como os
indivíduos conceberam-no revela como compreendiam a sua própria sociedade.
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CHRISTINE DE PIZAN E A DEFESA DA MULHER NA LITERATURAMEDIEVAL: IMAGENS E NARRATIVAS
Márcia Maria de Melo Araújo, Universidade Estadual de Goiás
Esta comunicação apresenta como proposta um estudo sobre Le Livre de la Cité des
Dames (ca. 1405), de Christine de Pizan (1365-ca. 1430), uma das mais significativas
vozes de defesa da mulher no tradicional pensamento masculino de base misógina
antiga e medieval. O objetivo deste trabalho é o de apresentar imagens e narrativas que
tenham por fundamento a apologia da mulher, a exemplo do que faz Pizan em resposta a
um número relativamente amplo de textos misóginos, entre os quais o famoso poema
autobiográfico em latim intitulado Liber lamentationum Matheoli (c. 1295) de Mathieu
de Bologne. Ao construir seus argumentos, Christine de Pizan tenta desconstruir a ideia
de que todo o comportamento feminino é cheio de vícios, dirigindo-se a filósofos, poetas e oradores, depreciadores das mulheres e incentivadores do topo da imperfeição
feminina.
Esse campo de investigação, focado na abordagem da história intelectual da mulher, tem
como principal interesse a documentação textual de natureza científica e literária,
embora não desconsiderando registros textuais de outras áreas do saber. Sua orientação
consiste em abordagens teóricas e críticas acerca não só dos recursos técnico-formais,
expressivos e temáticos, como também dos fatores condicionantes culturais e
ideológicos que influenciaram os juízos de valor sobre a realidade feminina na Idade
Média e sua produção intelectual. O tema da imperfeição da mulher, anteriormente
aludido, foi fortemente influenciado pela formula mentis da tradição medieval e reflete
fundamentos sancionados pela autoridade de Aristóteles em De generatione animalium,
ao qual seguiu de perto Galeno em De usu partium corporis humani. Para figurar o
simbólico sentido destruidor do corpo feminino, uma concepção básica é aproveitada: o
antigo medo da vagina dentata, significando o portão do Inferno do imaginário religioso
medieval, imagem associada ao arcano medo psicossexual da castração. Em termos do
registro de fonte de conhecimento aberto na Idade Média, nenhuma mulher, antes de
Christine de Pizan, tratou textualmente de apontar muitos pensamentos derrogatórios da
natureza feminina, diacronizados em formações essencializantes sobre a índole da
mulher e sua função social.
Este trabalho é produto parcial da pesquisa intitulada “Mulher difamada e mulher
defendida no pensamento medieval: textos fundadores”, que integra a Rede Goiana de
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Pesquisa sobre a Mulher na Cultura e na Literatura Ocidental, apoiada pela Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás, sob coordenação do Prof. Dr. Pedro Carlos
Louzada Fonseca, para o período 2013/2015. É também produto de plano de trabalho
relacionado ao tema e intitulado “Fontes e influências disseminadoras da representação
da mulher na literatura medieval: em defesa da mulher”, desenvolvido como estágio noPrograma de Pós-Doutorado da Universidade Federal de Goiás, sob a supervisão do
supramencionado professor.
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AS BEM-AVENTURANÇAS FREQUENTAM A CORTE: A EDUCAÇÃOCRISTÃ DA PRINCESA N' O LIVRO DAS TRÊS VIRTUDES, DE CHRISTINE
DE PISAN
Maria Ascenção Ferreira Apolonia e Maria Elisabeth Santo Matar, Instituto Histórico eGeográfico de São Paulo
Como desdobramento do casamento monogâmico e indissolúvel, fez-se relevante a
participação da mulher no espaço político e cultural da Corte, o que exigiu da princesa
um “saber de experiências feito” sobre as regras protocolares, as gestões diplomáticas, o
relacionamento social e os conflitos de poder; ao lado de uma particular prudência para
conviver e sobreviver num universo permeado de acordos e intrigas, ódios e simpatias,
ao ritmo das tensões políticas e da tomada de decisões que caracterizaram a Corte do
século XV. Em resposta à demanda de uma educação cristã da princesa, adequada ao
momento histórico e ao mundo laical, a primeira parte d’O livro das três virtudes, cercade vinte e cinco capítulos, é dedicada à formação da princesa, mais complexa e
abrangente do que a de outras damas e profissionais, a que igualmente Christine de
Pisan se dirige nas duas outras partes da obra. É nosso intuito analisar a inserção da
educação da princesa no patrimônio cultural da Baixa Idade Média: a original
adaptação, efetuada por Christine, das bem-aventuranças e das virtudes cristãs à vida
palaciana. O livro das três virtudes constitui um exercício de releitura dos preceitos do
Evangelho e da vida contemplativa à altura das circunstâncias da vida ativa, deles
extraindo as diretrizes para nortear o dia a dia da princesa, desde a organização dotempo e dos gastos, o relacionamento com o marido, filhos e cortesãos até o cultivo das
virtudes, em particular, da sabedoria para discernir os riscos a que está exposta no
ambiente mundano e no jogo de interesses da Corte.
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MEDICINA E CULINÁRIA RÉGIA: A ALIMENTAÇÃO NO REGIMENSANITATIS AD REGEM ARAGONUM (1308) DE ARNALDO DE VILANOVA
Maria Dailza da Conceição Fagundes, Universidade Estadual de Goiás - UEG
Na literatura médica medieval, os regimentos de saúde, compostos a partir do século
XIII, no contexto da Medicina universitária, destinavam-se a um determinado indivíduo,
geralmente reis, papas e imperadores, propondo a conservação da saúde e a prevenção
de enfermidades. Nesses escritos, identifica-se uma estreita relação entre alimentação,
dietética e terapêutica.Ao compor o Regimensanitatis ad regem Aragonum(1308)para o
monarca Jaime II de Aragão, Arnaldo de Vilanova (1240-1311) preocupou-se em
prescrever os pratos mais indicados de acordo com a compleição do rei e também a
enfermidade que o afligia (as hemorroidas), pois considerava os cuidados com a
alimentação essenciais tanto para a manutenção da saúde quanto nos momentos em
que o paciente sofria de uma doença crônica ou estava em fase de convalescência.Do
mesmo modo, no Regimen analisado, nota-se que o físico catalão, além do saber
médico, conhecia os ingredientes e o modo de preparar os alimentos que, além de
saudáveis do ponto de vista da medicina, deveriam ser também saborosos para
satisfazerem ao seu monarca. Assim, esta comunicação tem como objetivo identificar
em que medida o físico interferia no âmbito do ofício do cozinheiro real ao prescrever
não somente os alimentos mais indicados, mas também os temperos que deveriam
utilizar e modo de prepará-los. Por esta perspectiva, propõe-se estudar a aproximação
entre Medicina e a arte culinária, comparando os preceitos dietéticos relacionados à
alimentação com algumas receitas de dois tratados culinários catalães: o Libro de Senti
Soví (século XIV) e o Libre del Coch (século XV).
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A LEI DA FLORESTA: USOS E RESSENTIMENTOS NA INGLATERRAMEDIEVAL
Maria de Nazareth Corrêa Accioli Lobato, Universidade Federal do Rio de Janeiro -UFRJ
Em meados do século XI, a anglo-saxônica Englalande foi conquistada pelo exércitoliderado pelo duque da Normandia, o qual, coroado como Guilherme I da Inglaterra,
inaugurou o domínio normando sobre o território insular. Entre as mudanças por ele
efetuadas, destacamos as restrições impostas quanto ao uso das florestas reais, extensões
de terra fora do alcance da lei comum e sujeitas a uma lei especial, a lei da floresta, que
objetivava a preservação da flora e da fauna para uso exclusivo do rei. A comunicação
pretende identificar aspectos relativos ao uso das florestas pelo soberano em questão,
evidenciando o impacto causado pela lei da floresta no conjunto da população, e cujo
ressentimento se expressou através de relatos tanto cronísticos quanto lendários.
Palavras-chave: Florestas reais. Legislação. Inglaterra medieval.
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IMAGENS EM DESFILE NA ESCULTURA E NO TEATRO MEDIEVAL: O
ORDO PROPHETARUM E O ORDO VIRTUTUM
Maria do Amparo Tavares Maleval, UERJ
Há poucos anos, em Santiago de Compostela, publicaram-se estudos e umareconstituição do Ordo Prophetarum, ressaltando-se a relação da iconografia do
magnífico Pórtico da Glória, da basílica jacobeia, com o drama litúrgico medieval: seria
uma representação em pedra do mesmo desfile, fato recorrente em outras igrejas do
medievo.
O Ordo Prophetarum, cujos documentos escritos mais tardios remontam aos séculos
XI-XII (Limoges), XIII (Laon) e XIV (Rouen), parte da célebre homilia Contra
Iudaeos, atribuída a Santo Agostinho durante toda a Idade Média, mas que seria na
verdade de outro bispo cartaginês, Quoduuldeus, do século V. Descreve as profeciassobre a vinda do Messias feitas pelos profetas do Antigo Testamento, bem como por
pagãos. Representado nas matinas da festa do Natal, tinha por objetivo não só
embelezar e tornar agradável a liturgia, mas ensinar de forma concreta e explícita os
mistérios da Encarnação. Essa dupla função, estética e devocional, acarretaria o seu
aproveitamento nas esculturas das igrejas, cujas imagens não só servem de adorno, mas
também ensinam ao público, de forma didática, os dogmas da fé.
Pretendemos estudá-lo comparativamente a outra obra, o Ordo Virtutum, também de
análoga estrutura. Trata-se de peça singular no contexto do chamado “Renascimento”
do século XII. Primeiramente, por não se subordinar a um episódio bíblico ou à liturgia
das festas cíclicas religiosas, como o Natal e a Páscoa, ou de algum santo. E,
principalmente, por possuir autoria, feminina: a mística Hildegarde de Bingen a
escreveu e compôs-lhe a música para possivelmente inaugurar o mosteiro de
Rupertsberg em 1152.
Trata-se de peça independente e única, não existindo dela nenhuma outra versão, como
era comum acontecer no medievo. Desenvolve a temática moralizadora do combate
entre as virtudes e os vícios, bastante corrente no medievo, colocando a Humildade
como rainha das demais virtudes.
Consideramos que estudar tais peças comparativamente pode levar-nos a descobrir ou
reafirmar importantes conclusões sobre o docere cum delectare praticado pela Igreja e
pelos religiosos no medievo, tornando-as verdadeiros sermões em cena, direcionados ao
movere que se intenta alcançar no auditório.
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A IMAGEM DA RAINHA URRACA DE CASTELA NA HISTORIACOMPOSTELANA
Maria do Carmo Parente Santos, NEA/ CEHAM/ UERJ
O reinado de Urraca, rainha de Castela, narrado nas obras dos cronistas medievais
ibéricos foi um período marcado por uma grande instabilidade e muita violência social.
O fato de uma mulher deter o poder numa sociedade, onde os valores masculinos eram
predominantes, certamente pode explicar, em parte, a insubordinação de alguns
segmentos da nobreza e também da Igreja. Seu mais acirrado opositor foi Diego
Gelmírez, bispo de Santiago de Compostela.
O embate entre a rainha e o bispo polarizou a política do reino, levando a ferozes
enfrentamentos que marcaram severamente a memória coletiva ibérica. A narrativa
destes episódios pode ser encontrada nas obras de diversos cronistas medievais. O tema
de nosso trabalho é uma análise do discurso dos autores da Historia Compostelana,
objetivando entender sob que perspectiva eles narraram os fatos e até que ponto suas
narrativas influenciaram na definição do lugar que Urraca ocupa na memória coletiva
ibérica.
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OS RESÍDUOS DA NOVELA DE CAVALARIA NO ROMANCE D’A PEDRA DO REINO, DE ARIANO SUASSUNA
Maria Milene Peixoto de Oliveira, Universidade Federal do Ceará
As marcas da influência ibérica são bastante evidentes na produção literária de diversos
escritores brasileiros, principalmente, nordestinos. Este trabalho trata de uma
investigação acerca dos resíduos cavaleirescos no Romance d’A Pedra do Reino e o
príncipe do sangue do vai-e-volta, de Ariano Suassuna. A escolha se deve não apenas à
clara ascendência da literatura ibérica na obra do escritor, mas também à importância
deste no âmbito da literatura nacional. Os Romances ou novelas de cavalaria são de
origem medieval, e constituem uma das manifestações literárias de ficção em prosa
mais ricas da literatura peninsular. Neste trabalho, serão investigados os elementos que
evidenciam a mentalidade cavaleiresca na obra do escritor paraibano. Corroborando amatriz europeia que aqui se fixou, tais elementos aparecem cristalizados pelo
imaginário nordestino, uma vez que estão ligados a uma cultura popular sertaneja. O
nosso estudo apoiar-se-á na Teoria da Residualidade e seus conceitos básicos,
sistematizados pelo pesquisador Roberto Pontes.
PALAVRAS-CHAVES: Novela de cavalaria. Ariano Suasuna. Teoria da Residualidade
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O PARAÍSO EM RAVENNA: A INFLUÊNCIA DOS MOSAICOS EM
DANTE
Mariana Amorim Romero, Instituto Federal de Goiás – Câmpus Valparaíso
Último refúgio do poeta, Ravenna é uma cidade da Itália, às margens do mar Adriático
que mantém viva até hoje traços da cultura bizantina. Os famosos mosaicos da cidade
demonstram não só a influência oriental mas também um momento de convivência e
tolerância religiosa entre arianos, cristãos e pagãos. A grandiosidade e a espiritualidade
presente nestes locais de culto cristão foram as principais fontes deste trabalho que
pretendeu delinear a influência destes mosaicos no último reduto de exílio do poeta
florentino Dante Alighieri. Utilizando os mosaicos e o ultimo livro da Divina Comédia,
Paraíso, fizemos uma análise comparativa e nos colocamos no lugar do poeta, quefrequentava os lugares sagrados que o inspiraram. O Paraíso de Dante não só traz
representações destes mosaicos, como também os amplia, e transcende a experiência
com as obras de arte. Assim como as basílicas de Ravenna, Dante nos traz imagens
belíssimas e resplandecentes através de um exterior simples, que no poema é
representado pelo uso da linguagem vulgar.
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REVELANDO UM SUJEITO OCULTO: O CAMPESINATO NA ALTA IDADEMÉDIA OCIDENTAL
Mário Jorge da Motta Bastos, Universidade Federal Fluminense (UFF)
Realidade social intrínseca e fundamental às sociedades pré-capitalistas até que o
advento da sociedade burguesa fez com que “tudo que era sólido se desmanchasse no
ar!”, os campesinatos constituem hoje uma força social dinâmica em especial em
diversos países periféricos do mundo, alvos principais da concentração fundiária e da
disseminação do agronegócio e um dos principais opositores do processo insidioso de
subsunção da agricultura ao capital. Tal agenciamento constitui mais uma prova do
equívoco preconceito que pretende negar aos camponeses qualquer capacidade de ação
política consciente, organizada e transformadora, deformação que precisa ser superada –
eo será de forma mais efetiva e plena de potencialidades – pelo resgate histórico do
protagonismo camponês nas diversas sociedades que antecederam o advento da
sociedade burguesa contemporânea. Trata-se, pois, de promover uma perspectivação
histórica das formas de organização e sociabilidades camponesas, estabelecendo, na
longa duração, as diversas, ricas e complexas experiências históricas de estruturação das
sociedades de base agrária, das formas de dominação sofridas e de resistência
desenvolvidas pelos campesinatos ao longo da História. A tarefa é enorme, e muito
dificultada pelos diversos níveis de ocultação a que foram submetidas as classes
subalternas na documentação histórica. Objetivamos, pois, nesta apresentação, esboçar
um primeiro esforço de levantamento e análise sistemática das referências ao(s)
campesinato(s) em fontes históricas diversas relativas à Alta Idade Média,
considerando, em seus respectivos contextos documentais, a nomenclatura que o refere,
as diversas relações sociais em que se insere, os níveis e as formas de dominação que o
submetiam e as manifestações de resistência que aqueles lhes opuseram.
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RENASCIMENTO CULTURAL DO SÉCULO XII-XIII NA TÓPICASATÍRICA DOS CARMINA BURANA
Maycon da Silva Tannis, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Neste trabalho, pretendo analisar aspectos das transformações socioculturais verificadas
no “Renascimento Cultural do século XII” a partir da interpretação dos textos satíricos
dos poemas que compõem o códice Carmina Burana.
Essa proposta se insere na longa tradição de estudos sobre o “Riso”, o Risível e o
Satírico, que se estende desde Aristóteles aos tempos atuais, por conta da capacidade
destrutiva e construtiva que as diferentes formas de Riso e Humor possuem em todas as
épocas, até mesmo naquelas em que eles foram perseguidos ou condenados.
Erwin Panofsky, em sua conceituação de Renascimento e Renascimentos, a qual
constitui parte fundante desta proposta, pois que se fundamenta na ideia de que o
Renascimento do século XVI é composto de vários outros processos. Minha intenção é
determinar como esse processo de renascimento medieval se apresenta nos versos
satíricos do Carmina Burana; Assim, a interpretação e a valorização de elementos
ético/estéticos presentes nos versos satíricos para ter no Renascimento Cultural do
Século XII, uma fenomenologia própria que insira termos e conceitos como liberdade,
Humanismo e Crítica e ao mesmo tempo esteja aliado à analise de um processo que
culmina no Renascimento do século XVI e assim desconstruir a ideia de que fenômenos
como esses são apenas surtos isolados de sentido Histórico.
Trabalharei o conceito Renascimento Cultural do Século XII , proposta por Charles
Homer Haskins. Tal compreensão define que o conceito de Renascimento Cultural do
Século XII nasce como uma necessidade de explicar as profundas transformações que
ocorreram no período citado e de compreender como essas transformações se mostram
no relato cotidiano e da cultura, para a compreensão do contexto em que os poemas dos
Carmina Burana foram produzidos de modo a recompor os interesses e estratégias
presentes nos textos satíricos e que movem a relação entre ação crítica e objeto
criticado.
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A INVENÇÃO DA ESCOLA DE SAGRES E O MITO HENRIQUINO -DISCURSOS E REPRESENTAÇÕES
Milton da Aparecida e Silva, UNIFAL-MG
Esta proposta insere-se na linha de pesquisa do programa de mestrado profissional da
UNIFAL-MG: “poder, cultura e religião”. A pesquisa procura analisar a figura do
Infante D. Henrique, denominado o “Navegador”, e a idealização das conquistas do
ultramar. Considerado pelo povo português como uma das maiores personalidades da
história do país, uma das diretrizes da pesquisa é discutir a perspectiva historiográfica
referente à temática da mítica “Escola de Sagres”, analisando as abordagens do lendário
centro de sistematização da arte náutica, supostamente criado pelo infante na região.
Sobre o Mito de Sagres, o sucesso dos descobrimentos henriquinos foi construído ao
longo do tempo, sendo reforçado pela historiografia oficial Esta enfatizava a existência
de um centro dinamizador de conhecimento sobre navegação. Em outra análise,
corroborada por autores portugueses como João Paulo de Oliveira e Costa, um cento de
convívio e de trocas de experiências de “homens do mar”, poderia ter existido em
Lagos, centro nevrálgico das navegações henriquinas no período. O estudo tem também
a preocupação de discutir a memória construída sobre os "feitos" dos navegantes
portugueses, que, independentes da legitimidade da existência da Escola em Sagres,
garantiram os efeitos práticos das conquistas náuticas do império marítimo português,
gerando mudanças significativas na fase inicial da modernidade.
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OS RETÁBULOS DE SÃO FRANCISCO E O FRANCISCANISMO NOSÉCULO XIII
Miriam Lourdes Impellizieri Luna Ferreira da Silva, NEA/ CEHAM/ UERJ
Dos santos medievais, São Francisco de Assis é, sem dúvida, o melhor documentado.
Além do grande número de legendas e dos escritos sobre sua vida, chegou até nós um
sem número de imagens pintadas das mais diversas procedências (afrescos, retábulos
historiados ou não, estandartes, miniaturas). Tal produção, entre outros objetivos, visava
construir uma imagem do santo a fim de torná-lo conhecido entre os fiéis, assim como
de apresentar suas virtudes taumatúrgicas, de maneira a difundir seu culto, dentro da
ortodoxia. É sob esta perspectiva que se inscrevem os retábulos franciscanos italianos
do século XIII. Contudo, mais do que fontes para a pesquisa acerca da religiosidade
popular medieval, os retábulos refletem a evolução do pensamento da Ordem dos
Frades Menores em relação ao seu fundador, e também as divergências internas que a
dividiam, tornando-se fontes de particular importância para o estudo do Franciscanismo,
em seu primeiro século.
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DO CASAMENTO POR PROCURAÇÃO AO DIVÓRCIO: MATILDA DECANOSSA E OS FUNDAMENTOS DA ESFERA DOMÉSTICA NA
CONQUISTA DA AUTORIDADE
Natalia Dias Madureira, Universidade Federal de Mato Grosso
Aos sete anos de idade, Matilda de Canossa foi prometida em casamento ao filho
homônimo de seu padrasto, Godofredo duque da Alta Lorena. Quanto à datação precisa
da contração das núpcias não se é possível afirmar. Alguns relatos mantêm a data entre
os anos de 1069-1071, tendo a condessa, portanto, entre vinte e três e vinte e cinco anos.
Mais importante, porém, do que a data do enlace são todas as implicações advindas
dessa união. Por ser um matrimônio realizado com a finalidade de atender a interesses
estritamente pessoais, há muito mais questões envolvidas do que simplesmente
conveniência protetiva. Apesar de pertencer ao campo do doméstico, aqui, o casamentoconfigura em uma relação onde o político abrange uma série de níveis de poder. Nessa
estrutura, as demonstrações e/ou afirmações de poder criam uma projeção da esfera
doméstica como o viés normativo de questões de grande abrangência, que se estendiam
desde o controle das bases materiais da dominação ao desempenho em campo de
batalha. Neste sentido o desfecho do caso de Matilda, que culminou no divórcio, nos
leva a vários questionamentos: se o casamento era um fundamento do poder senhorial,
quais as implicações do divórcio para o exercício da autoridade por parte dos condes da
Toscana? Seria o divórcio prova de uma incapacidade de projeção “pública” deste poderdoméstico? Estaríamos diante de um fracasso político? O objetivo desse trabalho é
responder a estes questionamentos, superando o velho antagonismo entre público e
privado, através da proposta de uma hipótese: o divórcio teria sido um ato de tomada de
controle da esfera doméstica e, como tal, de projeção “pública” da autoridade de
Matilda de Canossa.
7/23/2019 Abrem Xieiem Caderno de Resumos
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ARISTOCRACIA MEDIEVAL PORTUGUESA: FAMÍLIA E PODER
Neila Matias de Souza, Universidade Federal Fluminense (UFF)
Propomos analisar a estrutura da família aristocrática portuguesa a partir do século XIII,quando então sua formação parece caminhar paralelamente a um modelo que privilegiaa primogenitura e garante a manutenção no poder de uma linha sucessória única emajoritariamente patrilinear. Os artifícios usados para criar uma genealogia poderosa eque justificasse a dominação e perpetuação da nobreza em cargos ou posições de podersão os mais variados e envolvem constantemente relações entre as diferentes camadasda aristocracia. Fazer conhecer um ancestral mitológico e muito mais importante
provar-se seu descendente constituía-se como uma das formas mais conhecidas de filhos bastardos suscitarem legitimação. Os Livros de Linhagens e as Cantigas apresentamelementos para que observemos essas relações.
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IMAGENS DA CULTURA MEDIEVAL REVELADAS EM RITUAISRELIGIOSOS DA BAHIA COLONIAL
Norma Suely da Silva Pereira, UFBA
Os documentos notariais constituem-se em fontes privilegiadas para um melhorconhecimento das práticas e representações culturais do passado, permitindo, entre
outras coisas, uma melhor compreensão da situação linguística de cada período e uma
maior percepção acerca das práticas culturais e do contexto sócio-histórico no qual os
documentos foram produzidos. O estudo das práticas culturais descritas em testamentos
da Bahia colonial, a exemplo dos rituais “da boa morte” revelam como a mentalidade
medieval está presente na conduta dos indivíduos naquela sociedade: a preocupação
com a perfeição espiritual para “escapar às tentações” e alcançar a salvação da alma
estimulou aos fiéis a prática de ritos privados e públicos para expressão da fé. Talcomportamento era ditado pela Igreja que, para manter o controle dos colonos no
contexto de dispersão da América portuguesa, determinava as práticas sociais e
religiosas adequadas ao bom cristão. Através de documentos oficiais como as
“Constituições primeiras do Arcebispado da Bahia” e ainda por intermédio das várias
cartilhas de inspiração medieval que circulavam na colônia, os cristãos eram orientados
a manter atitudes de devoção e demonstração pública de fé para garantir que a morte,
chegando de surpresa, não colhesse a alma desprevenida. As orações, a disciplina
quanto aos ofícios divinos, a observância dos sacramentos e a filiação às irmandades e
confrarias eram outros itens obrigatórios nessa preparação espiritual. Fundamentado na
Diplomática, ciência que fornece métodos para o estabelecimento das características e
autenticidade dos documentos, e na História Cultural ou História das mentalidades,
corrente da História que contempla em seu escopo novos objetos de estudo, a exemplo
das atitudes do homem perante a vida e a morte, suas crenças e comportamentos
religiosos e sociais, busca-se ampliar a compreensão acerca das relações estabelecidas
na sociedade baiana no período compreendido entre os séculos XVI e XVII em seu
aspecto religioso e seu contexto sócio-histórico, observando a correlação entre tais
práticas sociais e o pensamento medieval. Para tanto, parte-se do exame dos planos de
texto de quatro testamentos trasladados no Livro Velho do Tombo do Mosteiro de São
Bento da Bahia, documentos já previamente transcritos, alguns já editados por outros
pesquisadores sob a coordenação de C. M. Telles.
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Palavras-chave: Livro Velho do Tombo. Testamentos. Cultura medieval. Práticas
culturais. Rituais “da boa morte”.
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“É LÍCITO MATAR OS PECADORES?”: A DEFESA DO BEM COMUM EMTOMÁS DE AQUINO
Odir Mauro da Cunha Fontoura, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Este trabalho está inserido no projeto de dissertação de mestrado: “Em defesa da
cristandade: O conceito de ‘bem comum’ para Tomás de Aquino na Suma Teológica
(1250-1270)” Desenvolvido no PPG em História na UFRGS a partir do início de 2014.
Trata-se de uma análise que busca compreender de que forma as ideias de Tomás de
Aquino, inspiradas tanto em Aristóteles quanto nos Pais da Igreja, compõem a imagem
de uma cristandade que deve ser protegida e defendida de seus principais inimigos: os
pecadores, dentre os quais, figuram os hereges, como principais obstáculos à unidade
cristã. A licitude da morte, para Tomás, existe justamente em função da preservaçãodesse bem maior, que é o bem comum, ou seja, a unidade com Deus. Aqui será
analisada, em especial, a Quaestio 64 (Sobre o homicídio) da parte II-II da Suma
Teológica. A discussão teórico-metodológica insere-se nos pressupostos da
Antropologia Escolástica, cujo principal expoente é Alain Boureau. Segundo Sylvain
Piron trata-se de analisar a produção escolástica como ferramenta de acesso para estudar
como o homem medieval pensava a si mesmo a partir do que ele escrevia e pensava
sobre o homem. As hipóteses da pesquisa debruçam-se sobre a possibilidade das ideias
tomistas sobre o bem comum terem influenciado a Igreja em sua luta contra os hereges,cujo cerne é a instituição da Inquisição.
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A ATUAÇÃO DE ALFONSO X NA COLONIZAÇÃO CRISTÃ DA ANDALUZIA(1252-1284)
Paula de Souza Valle Justen, Universidade Federal Fluminense
A formação dos reinos cristãos ibéricos durante a Idade Média está intimamente ligada
à chamada Reconquista, a retomada pelos cristãos dos territórios sob domínio islâmico,
estabelecido desde o século VIII. Durante este processo de conquista territorial, dentre a
participação dos diversos reinos ibéricos, a hegemonia do reino de Castela na península
se pronunciou a partir do século XII, mas foi no século XIII que se tornou o maior em
extensão territorial, graças à atuação de Fernando III, que conseguiu unificar
definitivamente os reinos de Leão e Castela e realizou as maiores conquistas para o sul
da península. No entanto, conquistar e efetivamente dominar são processos distintos, e
coube a Alfonso X a tarefa de integrar os antigos territórios islâmicos ao reino cristão de
Castela. Não por menos, Alfonso X foi notadamente reconhecido como rei ordenador
pela historiografia, por ter empreendido um vasto projeto de reorganização territorial,
especialmente da recém-conquistada Andaluzia. O presente trabalho pretende analisar a
atuação deste monarca no processo de colonização e reordenação da Andaluzia através
das cartas de doação de propriedades, contidas no Diplomatario Andaluz de Alfonso X ,
tendo em perspectiva o caráter centralizador de seu reinado e de seu esforço em integraras distintas partes do reino, assim como os entraves impostos a esse projeto político.
Palavras-chave: Reconquista; Andaluzia; doações régias.
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PREGAÇÃO EPISCOPAL NA PRIMEIRA IDADE MÉDIA: CONSIDERAÇÕESHISTORIOGRÁFICAS SOBRE OS SERMÕES DE LEÃO DE ROMA (440-461)
E CESÁRIO DE ARLES (502-542)
Paulo Duarte Silva, UFRJ
O tema da pregação medieval tem recebido crescente atenção historiográfica nas
últimas décadas. Favorecido pela publicação de edições documentais críticas e de
revistas especializadas, pela articulação das pesquisas com outras áreas de estudo –
como as teorias literária e da perfomance – e pela ampliação da participação dos
estudiosos em congressos de referência, o estudo de sermões e documentos correlatos
ganhou decisivo impulso, consolidando-se como campo de investigação.
Contudo, a maior parte das pesquisas referentes ao assunto concentram-se nos períodos
conhecidos como Idade Média Central (séculos XI-XIII) e Baixa Idade Média (séculosXIV-XV). Deste modo, os primeiros séculos do Ocidente medieval são frequentemente
negligenciados.
Nesta comunicação visamos apresentar as discussões específicas associadas ao estudo
dos sermões de Leão e Cesário, respectivamente bispos de Roma (440-461) e de Arles
(502-542). O debate historiográfico aqui proposto toma como referência as recentes
contribuições gerais associadas ao campo de pesquisa, bem como atenta particularmente
aos sermões que tais bispos dedicaram às festas cristãs.
Palavras-chave: Sermões e Pregação medieval – Leão de Roma – Cesário de Arles
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MISOGINIA NO PENSAMENTO E NA LITERATURA DA IDADE MÉDIA:ASPECTOS TEMÁTICOS E DISCURSIVOS
Pedro Carlos Louzada Fonseca, Universidade Federal de Goiás
A representação da mulher no pensamento e na literatura da Idade Média, examinada àluz das formações históricas e ideológicas da cultura ocidental, apresenta-se
essencialmente constituída por uma forte disposição misógina a respeito da realidade
feminina. Tendo em vista os pressupostos dessa afirmação, o objetivo do presente
trabalho consiste no exame de significativos textos do pensamento e da literatura
medievais que podem ser considerados fundamentais para a formação do ideário
peculiar à misoginia cultivada na Idade Média, desde suas raízes fincadas na
antiguidade clássica, passando pela tradição judaico-cristã, literatura patrística e seu
legado medieval, até a formação de um tipo especial de literatura satírica do femininoescrita no latim medieval e de significativos escritos vernaculares do tardio período
medieval. No exame dessas fontes literárias e intelectuais misóginas, o seu ideário e
imaginário sobre a mulher é analisado numa perspectiva crítico-analítica e teórica, com
a finalidade de privilegiar aspectos temáticos vis-à-vis recursos formais e técnico-
expressivos do discurso da misoginia.
Dentre as vozes representativas, serão lembradas desde a de um Tertuliano até a de um
Chaucer, consideradas e citadas nesta comunicação como referências fundamentais para
a discussão do assunto proposto. Destaque-se que a comunicação se apresenta como
produto parcial do projeto de pesquisa intitulado “Mulher Difamada e Mulher
Defendida no Pensamento Medieval: Textos Fundadores”, que, integrando a Rede
Goiana de Pesquisa sobre a Mulher na Cultura e na Literatura Ocidental , é
coordenado pelo Prof. Dr. Pedro Carlos Louzada Fonseca, com apoio financeiro da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG) para o período de 2014-
2015.
Palavras-chave: Idade Média; Representação da mulher; Misoginia; Fontes literárias e
intelectuais.
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HISTÓRIA MEDIEVAL E NARRATIVA FÍLMICA: O MOVIMENTO DOTEMPO ATRAVÉS DAS IMAGENS EM MOVIMENTO
Pollyana Iris Lima de Sousa, Universidade Federal de Mato Grosso
A utilização dos recursos de mídia na produção do conhecimento a respeito da Idade
Média tem se tornado cada vez mais comum. No Brasil, nas últimas décadas, os
historiadores têm amadurecido o recurso às narrativas fílmicas, diversificando o uso de
películas para a produção de uma cultura histórica a respeito dos séculos chamados de
medievais. A inserção do cinema nos espaços científicos da reflexão histórica extrapola
o diálogo com as tramas hollywoodianas e as produzidas como grandes mercadorias da
indústria de entretenimento. Um amplo espectro de narrativas fílmicas ronda a formação
e atuação dos historiadores: documentários, produções televisivas, gravações escolares,
filmes amadores disponibilizados na web. Diante de tal cenário, ampliado pela contínua
expansão da cultura digital, torna-se importante investigar os fundamentos de
composição destas narrativas; especialmente, a maneira como as escolhas de critérios
fílmicos orientam ou até mesmo criam leituras específicas das relações passado-
presente. Esse é o objetivo desta comunicação: realizar uma análise crítica da narrativa
temporal fílmica acionada para formar uma percepção do significado histórico da Idade
Média. Para isso, tomamos como objeto de reflexão o documentário Going Medieval
(2012), escrito e apresentado pelo historiador Mike Loades. Nossa análise será pautada
pela teoria expandida do cinema proposta por Philippe-Alain Michaud, para quem a
sintaxe cinematográfica não pode ser concebida como mera narrativa de escapismo ou
digressão do real, mas, sim, como fenômeno cultural de criação de uma presença cênica.
Nossa hipótese consiste na proposição de que o documentário reforça a experiência de
“presença cênica da Idade Média”, veiculando os valores de uma continuidade empírica
e direta entre o presente do espectador e o passado tematizado; com isso, ela forma uma
narrativa que desloca e enfraquece a experiência de diferenciação temporal. Que
implicações este ordenamento das relações passado-presente possuí para a construção
do tempo histórico?
Palavras-chave: Idade Média, cinema, tempo histórico.
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APONTAMENTOS SOBRE SÃO JERÔNIMO: TRADUÇÃO E EXEGESE DOSTEXTOS BÍBLICOS HEBRAICOS PARA/NA ESCRITA LATINA.
Raquel de Fátima Parmegiani, Universidade Federal de Alagoas – UFAL
A tradução é uma prática que envolve fatores culturais que estão vinculados a atividade
da escrita e da leitura, assim como da relação que determinada sociedade tem para como
o livro/objeto. Por conseguinte, esse exercício carrega em si um repertório lexical,
estético, cultural peculiar a cada época. Para o período da antiguidade e do medievo,
Roland Barthes destaca que a prática da tradução deve ser pensada a partir da
perspectiva de que a cultura escrita era entendida com uma rede funcional de artes, quer
dizer, de linguagem submetida a regras.
Dentro destes pressupostos, nos propomos investigar as regras de produção que
entrelaçam,a atividade do tradutor e do exegeta entre os séculos IV e V -a partir de um
dos comentários aos textos do Antigo Testamento escrito por São Jerônimo, o
Comentário ao Eclesiástico -, visando refletir sobre o processo de transformação e
adaptação desta prática da escrita, que terminou por gestar um universo onde os textos
hebraicos puderam permanecer como parte constituinte e constitutiva da sociedade
cristã ocidental. Não há dúvidas de que a tradução e o trabalho de exegese que lhe foi
inerente neste período, permitiu uma determinada apropriação destas obras: foi preciso
fazê-los responder às necessidades de uma religião cristã que enfrentava uma sociedadeem mudança.
Sem dúvida alguma, a tarefa desse tradutor esteve aqui ligada as transformações do fim
do mundo antigo, que em termos culturais e cristãos significou, em larga medida, o
distanciamento entre os pensadores latinos e a língua grega, a relação cada vez mais
lascivas entre intelectuais cristãos - como Agostino - e a cultura clássica, os Patriarcados
à Oriente e Roma, assim como implicou mudanças em relação a própria visão sobre o
conhecimento, a ciência etc. É inegável, que a influência dos textos hebraicos sobre
Europa cristã, passou pela interpretação que as suas traduções nos propuseram e não podemos nos afastar da ideia de que o olhar contemporâneo sobre eles não escapa a este
feito que, tem como um dos seus principais agente, os trabalhos de tradução de São
Jerônimo.
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SI TE OLVIDAS DE QUIEN ERES/ NO ME OLVIDO DE QUIEN SOY: O ETHOSDO REI NA COMÉDIA DE DIU, DE SIMÃO MACHADO
Renata Brito dos Reis, Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Desde a Grécia antiga até os tempos modernos, diversos pensadores têm desprendido
esforços para descrever as características de um “bom governante”. Nesse sentido, o rei
aparece como uma figura emblemática por ser considerado um ser de exceção, capaz de
agenciar uma série de valores caros para a organização em sociedade. Ao escrever a
Comédia de Diu, Simão Machado, poeta e dramaturgo do século XVI, lança mão de um
argumento histórico/épico no qual a construção das características morais, ou seja, o
Ethos da personagem do rei Bandur nos possibilita pensar na tensão entre o “ser” e o
“parecer ser”, segundo, sobretudo, a ótica das ideias de Nicolau Maquiavel, no livro O
príncipe. Dessa maneira, o presente trabalho pretende analisar de que forma o Ethos do
rei se configura na Comédia de Diu, perpassando, para tanto, pelo exame da própria
ideia de virtude que, via de regra, está associada a um governante de um povo.
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RELÍQUIAS DA PAIXÃO DE CRISTO: A VERA CRUZ DE MARMELAR
Renata Cristina de Sousa Nascimento (UFG/UEG/PUC/NEMED)
As provas materiais da vida e do sofrimento de Cristo são, por excelência, testemunhos
visíveis de sua presença física sobre a terra. Acredita-se desde a antiguidade, que o
contato com as santas relíquias pode operar maravilhas. Estas materializam, para os
crentes, a presença do sagrado. Dentro o mosaico de representações simbólicas da
paixão de Cristo as de maior prestígio são as que lembram seu sacrifício pela
humanidade, sendo a cruz seu símbolo maior. Vários fragmentos do Santo Lenho teriam
se espalhado pelo ocidente, desde seu achamento na Palestina, no século IV. Em
Portugal a Relíquia do Santo Lenho do Marmelar tornou-se objeto de grande veneração,
desde a Idade Média, reforçando assim a credibilidade popular na presença do próprio
filho de Deus entre os mortais. Pretende-se, nesta comunicação, analisar um importante
símbolo da paixão existente em Vera Cruz do Marmelar, desde o século XIII,
considerado um fragmento do Santo Lenho. Em Portugal a Ordem Militar de São João
de Jerusalém ou do Hospital tornou-se a guardiã desta relíquia, que se preserva na Igreja
de Vera Cruz de Marmelar, freguesia do município de Portel, sendo o rei D. Afonso III
o promotor da formação do senhorio de Portel em 1257. A Comenda da Vera Cruz de
Marmelar, tornou-se neste cenário de proteção de fronteiras pós- reconquista e
fortalecimento do poder real, veículo importante da presença hospitalária na região.
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A CARNE E O MICROCOSMOS ALIMENTAR MEDIEVAL:VIRILIDADE, FORÇA E PODER.
Renato Toledo Silva Amatuzzi, NEMED-UFPR/SEED, UEPG, UFPR
A carne possui um papel central na dieta da nobreza medieval. O grande destaque que
os homens desse tempo conferem à carne deve-se a mítica de que esta foi por muito
tempo cercada. Assada, temperada, sangrenta, suculenta e farta, a carne é, desde muito
tempo, um símbolo de poder, força, riqueza, potência sexual, virilidade,energia vital e
uma das principais manifestações de alegria - a de comê-la fartamente ao redor da mesa.
Numa sociedade dirigida por guerreiros e cavalheiros, a carne ajuda a reforçar a lenda
que relaciona sua ingestão à força física e aos poderes duradouros.
Como fonte histórica, será analisado o regimento de saúde do médico catalão Arnaldo
de Vilanova (1238 – 1311), intitulado “ As Regras de Saúde a Jaime II ”, escrito em
1311, na Catalunha, para o rei Jaime II, o Justo (1267-1327). Os regimentos eram
pequenos textos que continham uma série de regras simples e de fácil compreensão,
abordando a hora correta de dormir e de se banhar até a dieta adequada a personalidade
daquele que buscou as ajudas do regimento. Como os princípios médicos da época
atribuíam a carne um importante aspecto nutricional e salutar, Arnaldo sugeriu um
cardápio amplo e variado, que incluía o consumo farto de peixes, aves, carne de gado,
porco até as peças mais nobres, como as carnes de cordeiro, corça e carneiro.
Escolhidas através de rigorosas seleções e sofisticadas técnicas de preparo, a carne,
antes de ser servida ao rei, era preparada seguindo uma série de procedimento e técnicas
sofisticadas. Temperadas com ervas finas, óleo, vinho, frutas, especiarias e legumes,
elas deveriam ser apreciadas de modo correto, na hora certa, respeitando sempre a
Teoria dos Humores, que prescrevia a busca constante do equilíbrio entre o corpo, alma,
astros e, sobretudo os alimentos.
As metáforas organicistas, que regeram a política real medieval, colocavam o rei como
a cabeça do corpo social, portanto, tudo o que acontecia com ele influenciaria
diretamente no seu reino. Um rei doente, fraco e impossibilitado de lutar, representavauma sociedade vulnerável.As regras tinham também como objetivo assegurar longa vida
àquele que rege e governa o seu povo, pois a saúde do rei era a esperança de saúde do
povo.
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“UM HOMEM DOCE, LARGO E BOM DE ARMAS”: VIRILIDADE, HONOR EMEMÓRIA NA GESTE DELSCOMTES DE BARCELONA I REIS D’ARAGÓ
(1268-1270)
Rodrigo Prates de Andrade, Universidade Federal de Santa Catarina
A virilidade concebida como a materialização de um ideal perfeito masculino possui
uma historicidade, isto é, não é inerte, varia no tempo e no espaço. Nosso objetivo aqui
é a compreensão destas virtudes masculinas na medievalidade ibérica e, em específico,
na Coroa de Aragão entre os séculos XII e XIII. Para tanto, optamos pelo estudo da
Geste dels comtes de Barcelona i reis d’Aragó encomendada por Jaime I de Aragão
(1208-1276) na década de 1260. A atualização e tradução ao catalão da Gesta Comitum
Barchinonensium, escrita em fins do século XII, constitui-se como uma genealogia dos
condes de Barcelona e dos reis Aragão com o intuito de legitimar a honra e a linhagem
de seus condes-reis. A análise da gesta nos permite apreender um modelo de virilidade
centrado em um universo tipicamente feudal que hierarquizava condes e condes-reis de
acordo com seus feitos de armas.
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OS INSTRUMENTOS SIMBÓLICOS DE CASTIGOS E TORTURAS NOIMAGINÁRIO DO INFERNO MEDIEVAL
Solange Pereira Oliveira, Universidade Federal Fluminense
Esta comunicação propõe-se a abordar o imaginário sobre os instrumentos simbólicos esuas respectivas aplicabilidades nos castigos das almas pecadoras no espaço do Inferno
do Além medieval na versão portuguesa do manuscrito (cód. 244) Visão de Túndalo.
Nessa obra, o cavaleiro Túndalo tem sua alma elevada, temporariamente, ao Além para
vivenciar e experimentar os tormentos espirituais no Inferno destinadas as almas que
não seguiram os ensinamentos dos clérigos recebendo, portanto, no mundo dos mortos
várias punições. Desse modo, são apresentados nessa narrativa os objetos de
penalidades utilizados pelos diabos nos castigos espirituais desferidos sobre as almas
que morreram em pecado de fundamental importância para a realidade das penasinfernais bem como para o processo de salvação intermediada pela Igreja medieval.
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AS COMPANHIAS DE SANTOS REIS E SUAS PEREGRINAÇÕES PELOMUNICÍPIO DE PIRENÓPOLIS, GOIÁS
Tereza Caroline Lôbo e Aline Santana Lôbo, Universidade Estadual de Goiás
Com ramificações por toda Europa durante a Idade Média, a folia de Reis é umaherança cultural portuguesa que ao transformar e desdobrar se fez presente em várias
regiões do Brasil, trata-se de uma prática do catolicismo popular que adquiriu
especificidades e singularidades em cada localidade. Em Pirenópolis, esta manifestação
cultural é representativa da vida social, não sendo possível precisar o início dos giros
pelo município surgido da mineração do ouro. Contudo, a persistência dessa tradição
sobre o tempo é resultante dos ensinamentos passados de geração para geração, da
influência das migrações e do entendimento daqueles que lideram a peregrinação -
mestre ou embaixador. São vários os grupos que atualmente perfazem uma trilharitualística e circular pelas ruas da cidade e caminhos das fazendas, tocando músicas
alegres em louvor aos “Santos Reis” e ao nascimento de Cristo, no período que vai das
comemorações do Natal ao dia de São Sebastião. Os foliões seguem com reverência a
bandeira, cumprindo rituais de forma didática, visual e festiva revivendo a cena bíblica
da visita dos três Reis do Oriente ao Menino Deus e, assim, como no período medieval,
transmitindo as informações e os conhecimentos religiosos através de ritos e crenças. A
Folia é composta por músicos que tocam instrumentos, às vezes artesanais, como
tambores, reco-reco, pandeiros, triângulo, chocalhos, além da tradicional viola caipira e
do acordeão, também conhecida em certas regiões como sanfona, gaita ou pé-de-bode.
Estes músicos além de rezadores são também cantadores entoando versos inspirados e
criados sob a emoção do momento. Junto com os alferes e uma rígida hierarquia de
foliões-guias são responsáveis pela condução dos rituais de saída, do giro que é quando
acontece a visita à casa dos devotos e a chegada ao local do pouso, além dos benditos de
mesa e de agradecimentos pela farta comida oferecida aos foliões e às esmolas doadas.
Outras personagens que compõem a encenação são os palhaços caracterizados segundo
as lendas e tradições locais. Apesar das folias observadas realizarem rituais semelhantes
cada uma tem sua peculiaridade reconhecida por aqueles que entendem a participação
numa folia como uma maneira de interpretação da própria vida. O presente trabalho
parte da fenomenologia percebendo as Folias como um fenômeno passível de descrição,
compreensão e interpretação, apesar de sua subjetividade e das dificuldades da
apreensão de uma manifestação que adquire sentidos e significados diversos para quem
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o vivencia. As percepções aqui apresentadas são resultantes das observações realizadas
nas folias de Reis do município de Pirenópolis para compor o projeto vinculado ao
Grupo de Pesquisa em Turismo e Gastronomia Canela d’Ema - Câmpus
Pirenópolis/UEG e à pesquisa “Artes e Saberes nas Manifestações Católicas Populares”
UEG, que conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás —FAPEG, conforme Chamada Pública nº 005/2012.
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MARCAS MISÓGINAS NO BESTIÁRIO MEDIEVAL: O EXEMPLO DAPERDIZ, DA SEREIA E DA TEREBOLEM
Vanessa Gomes Franca, Universidade Estadual de Goiás (UEG).
O antifeminismo na Idade Média foi, muitas vezes, respaldado na tradição javista da
criação da mulher. Assim, não obstante o episódio da Tentação e da Queda serem
retomados para justificar a sujeição da mulher ao homem, é a narrativa contida no
Gênesis, em que Eva é criada a partir da costela de Adão, que sustenta a visão sobre o
caráter ínfero da mulher difundido no medievismo. Essa visão da inferioridade genésica
da mulher influenciou os textos medrados no período mediévico, os quais retratam uma
natureza feminina secundária e submissa. Dentre os livros que trazem uma visão
misógina da feminilidade, destacamos os bestiários medievais. Neles, a Idade Média
cristã primou em compendiar informações sobre animais de todas as espécies
(quadrúpedes, peixes, répteis, pássaros), reais e imaginários, detalhando seus aspectos
físico e comportamental, bem como seu habitat . Ademais, ao final de cada descrição, o
bestiarista traduzia a realidade zoológica em uma lição moral. As descrições dos
espécimes serviam como modelo de conduta para os mediévicos, edificando-os por tese
e antítese. A respeito ainda da descrição do comportamento das animálias listadas nos
bestiários, notamos a presença de um discurso de gênero acentuado por atitudes
misóginas, devido à associação do feminino ao pernicioso e ao demonológico. Em tais
códices, a litania de defeitos femininos é sustentada, principalmente, pela conduta
nefasta da luxúria. À vista disso, nesse trabalho, intentamos verificar a animalização
misógina na tradição bestiária medieval, enfocando a descrição da perdiz, da sereia e da
terebolem, consideradas criaturas luxuriosas por suas pulsões sexuais desordenadas. O
estudo que ora apresentamos integra o projeto “Mulher difamada e mulher defendida no
pensamento medieval: textos fundadores”, coordenado pelo professor doutor Pedro
Carlos Louzada Fonseca, da Universidade Federal de Goiás, e financiado pela Fapeg –
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás.
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CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ELEMENTOS JURÍDICOS DA REGRA DECLARA DE ASSIS
Veronica Aparecida Silveira Aguiar, Universidade de São Paulo/Universidade Federalde Rondônia
O objetivo desta comunicação é avaliar os elementos jurídicos da normativa clariana de1253. Para tal empreendimento, faremos um exercício de análise das coordenadas que
contribuíram para o nascer e o crescer de uma determinada experiência histórica. Além
das delimitações dos momentos históricos e as fases de elaboração conceitual,
pretendemos buscar no seu bojo os diversos sentidos de cada elemento constitutivo do
documento. Também se faz necessário o debate historiográfico em torno destes
elementos, marcados por posicionamentos políticos e/ou acadêmicos que devem ser
considerados na análise do nosso objeto de pesquisa. Em suma, a dialética entre os
elementos constituintes da Regra de Clara alimenta uma contínua tensão em relação asua contribuição jurídica para o movimento Franciscano, embora um grupo de
historiadores à margem de Roma realize pesquisas cada vez mais consolidadas e
significativas para o tema.
Palavras-chave: norma; Igreja romana; movimento Franciscano; pobreza.
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MARIALIS CULTUS: A REPRESENTAÇÃO DE NOSSA SENHORA NADRAMATURGIA HAGIOGRÁFICA PORTUGUESA DO SÉCULO XVI.
Verônica Cruz Cerqueira, Universidade Federal da Bahia (UFBA)
A veneração dos santos teve início ainda na Igreja Antiga (fundada por Cristo e
difundida pelos apóstolos Pedro e Paulo), contudo, foi no período medieval, devido à
expansão do Cristianismo, que se intensificou o culto aos santos, quando surgiram
estratégias institucionais para a oficialização da santidade e com a ampliação da escrita
hagiográfica, que é de grande relevância na Idade Média. Conforme Andréa Cristina L.
F. da Silva (2008), os textos hagiográficos têm como temática a vida, os trabalhos
realizados, os milagres e o culto de uma pessoa considerada santa. Na diversidade de
santos explorados pela Dramaturgia Hagiográfica Portuguesa do Século XVI, Nossa
Senhora é aquela que mais se destaca nas narrativas, visto que a mesma desempenha um
dos papéis mais caros à Igreja Católica: Theotokos (Maria, Mãe de Deus). Buscar-se-á
neste trabalho apresentar como esta personagem se constrói em diálogo com as demais
personagens que constituem os autos medievais, como também o seu culto é expressão
de reafirmação dos dogmas católicos neste período.
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O LUGAR DOS MORTOS NA LONDRES MEDIEVAL – ENTRE NARRATIVAE TESTAMENTOS
Viviane Azevedo de Jesuz, PPGH-UFF/CAPES
O medo da morte esteve fortemente presente na mentalidade medieval. Em uma
sociedade direcionada à salvação, procuraram-se alternativas para garanti-la, afastando-
se dos riscos do Inferno e superando as punições do Purgatório. Os vivos eram os
responsáveis por aliviar os sofrimentos das almas que esperavam pela salvação no
Purgatório. Missas, cânticos e orações eram continuamente oferecidos pelos falecidos a
fim de garantir sua salvação. Ao mesmo tempo, esses ritos empreendidos pelos vivos
em favor dos mortos tinham papel fundamental na manutenção da memória coletiva e,
portanto, no fortalecimento dos laços de pertencimento a uma comunidade. Na direção
inversa, os mortos, além de favorecer entes mais próximos e outras instituições em seus
testamentos, deixavam indicações de como sua memória deveria ser mantida e suas
almas salvas.
Entre os discursos da morte presentes nas narrativas e nos testamentos do fim do
medievo, destacam-se os laços recíprocos de solidariedade estabelecidos entre vivos e
mortos.Este trabalho tem por objetivo analisar tais laços com base na conjuntura da
Londres do século XIV, partindo da narrativa The Canterbury Tales, escrita por
Geoffrey Chaucer, e dos testamentos arrolados na Court of Hustings na segunda metade
do século XIV.
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A CANÇÃO DOS NIBELUNGOS EM SUA DIMENSÃO HISTÓRICA
Wanderson Fernandes Fonseca, UEMSAna A. Arguelho de Souza, UEMS
Procuramos, neste trabalho, identificar e relacionar à Canção dos Nibelungos os
elementos históricos que possibilitaram a compilação das diferentes lendas perpetuadas
através da consciência poética dos povos germânicos nessa obra do século XIII.
Compilada por volta de 1200 a obra compõe-se de 39 cantos, ou 39 aventuras, sendo
que podem, ainda, ser percebidas duas partes claramente distintas: uma composta de 19
cantos com origem supostamente lendária, onde são narradas as origens e aventuras do
bravo herói Siegfried e de sua esposa, Kriemhild, bem como a morte de Siegfried; e
outra parte composta de 20 cantos com origem de base supostamente histórica, onde
narra-se o casamento de Kriemhild com Etzel, soberano dos hunos, e seu plano de
vingança contra os assassinos de seu primeiro esposo. No presente trabalho,
primeiramente posicionamos, historicamente, os povos germânicos que formaram a
nação alemã, bem como os movimentos históricos que os identificaram primeiramente
como povos bárbaros e, posteriormente, como povos vivendo no interior do Império
Romano, incorporando suas instituições, sua forma política e sua religião. Essa
incorporação ocorre através de conflitos que são refletidos na leitura de obras
produzidas no período, no nosso caso particular: na Canção dos Nibelungos.
Posteriormente posicionamos, igualmente, os hunos, que, embora nunca tivessem feito
parte do Império Romano, também tiveram grande influência nos movimentos políticos
da Europa a partir do momento em que surgiram no cenário histórico da mesma, e
exercem também de grande influência no desfecho da obra. Um episódio, em particular,
exerceu grande influência no imaginário dos povos europeus medievais, tanto bárbaros
quanto romanos: A Batalha dos campos Catalunicos, que é cuidadosamente trabalhada
na Canção dos Nibelungos, teve como protagonistas os Hunos e os Burgúndios. A
aniquilação dos dois exércitos é tema da tragédia da segunda parte da obra. Finalmente,
situamos o período histórico que produziu a obra, o século XIII. Bem como a maneiracomo os temas, e os povos, foram trabalhados e ressignificados à luz da obra que
Carpeaux considera como “a maior façanha de toda a literatura dos cavaleiros” (2013, p.
17). Vale ressaltar que, como literatura de documentação histórica, A Canção dos
Nibelungos foi Declarada “patrimônio documental da humanidade” pelo programa
Memory of the World (memória do mundo) da UNESCO em 2009.
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Palavras-chave: A Canção dos Nibelungos; literatura; história; germanos; nibelungos.
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A PERSISTÊNCIA DO IMAGINÁRIO CAVALEIRESCO NA EXPANSÃOIMPERIAL PORTUGUESA (SÉCULOS XV E XVI).
Wellington José Gomes Freire, Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)
O presente trabalho centraliza suas reflexões sobre a guerra e seus modos de condução
durante o período da expansão imperial portuguesa (séculos XV e XVI). Por condução
da guerra entende-se como sendo as concepções táticoestratégicas utilizadas pela arma
militar terrestre e naval lusa durante os dois séculos do processo de expansionismo que
se estendeu por três continentes, África, Ásia e América. Como lutaram as tropas
lusitanas durante as operações empreendidas em três continentes durante o período de
consolidação do império? Qual a concepção de guerra que eles possuíam e praticavam,
qual era a concepção de condução das ações táticoestratégicas das tropas lusas que
lutaram desde a tomada de Ceuta até a campanha global contra os holandeses no século
XVII? De um modo geral, nos textos dos cronistas, os combatentes portugueses
recorrem às concepções de condução da luta em solo do período medieval. Comportam-
se como cavaleiros, incorporando, no seu fazer, elementos do imaginário medieval. Há
em todos os relatos dos historiadores quatrocentistas e quinhentistas – da expansão
ultramarina portuguesa –, uma persistência do imaginário cavaleiresco medieval no que
se refere às descrições de combate, seja de uma perspectiva tática ou estratégica.
Estaríamos diante do que pode ser qualificado como uma cavalaria do mar . Terminada
a terra as ações dos cavaleiros medievais foram transportadas para o mar e a expansão
imperial. O corpus é constituído por cronistas quatrocentistas ( Zurara e Rui de Pina ) e
quinhentistas (João de Barros, Diogo do Couto, Lopes de Castanheda e Gaspar Correia).