abp notícias 26 – junho 2005

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O Rio de Janeiro será a sede do primeiro congresso da IPA a realizar-se no Brasil Órgão da Associação Brasileira de Psicanálise Órgão da Associação Brasileira de Psicanálise Órgão da Associação Brasileira de Psicanálise Órgão da Associação Brasileira de Psicanálise Órgão da Associação Brasileira de Psicanálise Ano IX Nº26 Rio de Janeiro Junho/2005 carta do editor Adal al al al alber er er er erto to to to to A. G G G G Goul oul oul oul oular ar ar ar art Apoio: Casa do Psicólogo® Livraria e Editora Ltda. Rua Mourato Coelho, 1059 — Vila Madalena — CEP 05417-011 — São Paulo/SP — Brasil — Fone: (11) 3034.3600 — Site: www.casadopsicologo.com.br Às vezes nos surpreendemos com mudanças. Estamos em constante transformação e conseqüentemente o mundo em que vivemos. Sempre foi assim, sempre será. Será? Evidentemente isso depende dos nossos referenciais. Existem aqueles que acreditam que não há transformação alguma, tudo se repete indefinidamente. Ou- tros não pensam assim, ao menos de forma absoluta. Al- gumas coisas se repetem compulsivamente, outras se transformam, se modificam, evoluem. A natureza nos en- sina. Existem os que aprendem e os que não. E assim a cada dia, a cada momento, vivido ou revivido. Algumas dessas transformações apontam para o fu- turo com generosidade. O estudo do genoma humano, com a possibilidade de tornar evitável sofrimentos antes inevi- táveis; as pesquisas com células-tronco e a expectativa, concreta, de reparação de tecidos e órgãos danificados, devolvendo a capacidade e a dignidade para os que so- frem com limitações físicas; as magníficas drogas, cada vez mais modernas e específicas, a auxiliar para uma me- lhor qualidade de vida; técnicas de diagnóstico mais pre- coces e precisas, favorecendo a recuperação mais breve; a extraordinária evolução da tecnologia de comunicação, hoje praticamente instantânea, a aproximar povos, países, culturas. Já outras dessas transformações nos fazem sentir como se estivéssemos na idade das trevas. Guerras injustificáveis (se é que alguma se justifica); chacinas de inocentes por pura atuação psicopática; poderosos a nos pilhar a esperança e nos devolver o medo; intolerância religiosa (habemus); discriminação racial, social, sexu- al; o anti-semitismo a nos envergonhar com seus fantas- mas e a nos alertar para o pesadelo sempre presente. Recentemente em uma mesa-redonda tive a oportu- nidade de dizer para uma platéia de interessados, que parece que nós, psicanalistas, estamos na contramão da história. Propomo-nos a ajudar pessoas a sentirem e so- frerem suas dores, viverem seus lutos. Significar, ressignificar, construir, reconstruir. Resgatar a alma. É no que acreditamos. Somos assim. Paciência... No momento em que nos preparamos para o grande encontro internacional que será o 44º. Congresso da As- sociação Psicanalítica Internacional, o primeiro a se reali- zar no Brasil (Rio de Janeiro, 28 a 31 de julho), sofremos a nossa dor, lamentamos profundamente sua ausência, vivenciamos mais um luto. A comunidade psicanalítica perdeu recentemente Maria de San Tiago Dantas Quental. A Rio III perdeu uma de suas fundadoras. A ABP perdeu sua Superintendente. O Congresso perdeu uma de suas organizadoras. Perdemos uma companheira, justamente homenageada por Eliana Helsinger (SPRJ) nas páginas que se seguem. Momento ímpar de produção científica, intercâmbio de experiências, encontros profissionais e afetivos com analistas de todo o mundo, nosso congres- so, então, será também uma homenagem à presença de nossa colega ausente. Sobre o 44º. IPAC, escreve tam- bém, nas próximas páginas, com a maior propriedade, o Presidente Eleito da IPA, Cláudio Eizirik (SPPA). No Perfil desta edição, Leila Tannous (GESP-MS) nos conta sobre a sua experiência em Campo Grande. Duas entrevistas: Cláudio Rossi (SBPSP), Diretor do Conselho Científico da ABP, nos apresenta o XX Congresso Brasi- leiro de Psicanálise (Brasília, 11 a 14 de novembro) e Valton Leitão (NPF) nos conta sobre a Coleção Memória do Sa- ber, uma iniciativa do CNPq. Alírio Dantas Jr. (SPR), com sensibilidade e saudade escreve sobre Doação de Órgãos. Lúcia Grigoletti (SPPel) traz o olhar de Mahler sobre O Processo de Aculturação. Cátia Olivier Mello (SPPA) e Ruggero Levy (SPPA) estão presentes com o tema Vio- lência e Trauma, dos mais atuais. Marisilda Nascimento (NPA), com criatividade, resenha o livro A Arte de Viajar, de Alain de Botton. Completam a edição a Agenda Cientí- fica e as Notícias & Programação das federadas. Tenha uma ótima leitura e até julho, no Rio! Rio de Janeiro sedia 44º congresso da IPA Com o tema “Trauma: Novos Desenvolvimentos em Psicanálise”, a Associação Psicanalítica Internacional (IPA) realizará pela primeira vez no Brasil o seu 44º Congresso. A escolha da cidade do Rio reflete, na verdade, o crescimento qualitativo e quantitativo da comunidade psicanalítica no país. Já são quase dois mil inscritos para participar das atividades promovidas no encontro que acontecerá em Copacabana. O presidente eleito da IPA e membro efetivo da SPPA, Cláudio Laks Eizirik, fala sobre os desafios da psicanálise e os preparativos para o evento. (Pág. 15) Entrevista: Valton de Miranda Leitão e o resgate do saber brasileiro Um dos responsáveis pelo projeto que pretende valorizar o conhecimento científico de pensadores brasileiros – “Memória do Saber” -, Valton de Miranda Leitão é um ardoroso defensor da construção da memória daquilo “que efetivamente existe sepultado nos estratos arqueo- lógicos do saber brasileiro”. Mais de 500 intelectuais e cientistas do mais alto nível enviaram projetos e sugestões. Em entrevista ao ABP Notícias, Leitão, que é candidato em formação pelo Núcleo Psicanalítico de Fortaleza ressalta a importância do projeto que conta com o apoio dos ministérios da Ciência e Tecnologia e da Cultura. (Pág. 7) Violência e trauma em debate Se a histeria foi a doença da época nos tempos de Freud, o trauma causado pela violência dos dias atuais é o mal que atinge a humanidade. No Simpósio Violência e Trauma, realizado nos dias 18 e 19 de março último na sede da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA), um dos convidados, o filósofo e cientista político Sergio Paulo Rouanet, destacou o chamado “retorno ao fundamentalismo”, provocado entre outros fatores pela modernização que “arrancou” milhões de seres humanos de suas culturas tradicionais. (Pág. 9) A psicanálise e o poder no XX Congresso Brasileiro As relações com o poder são o objeto da entrevista com o psicanalista Claudio Rossi, da SBPSP. A diferença entre poder e autoridade, entre homens e mulheres no exercício do poder e outros conflitos nos planos afetivos e profissionais serão também objeto de debate no XX Congresso Brasileiro de Psicanálise, que será realizado em Brasília, de 11 a 14 de novembro. Rossi explica como a psicanálise pode ajudar no autoconhecimento, evitando corrupções, autoritarismo e arrogância. (Pág. 5) Perfil: Leila Tannous Leila Tannous é presidente reeleita do Grupo de Estudos Psicanalíticos de Mato Grosso do Sul (GESP-MS). Fez parte da primeira turma que se formou no estado e à frente do GESP obteve conquistas e avanços, que, para ela, significam uma formação de identidade e a difusão do pensamento psicanalítico “vencendo barreiras e compromissos”. (Pág. 3)

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Page 1: ABP Notícias 26 – Junho 2005

O Rio de Janeiro será a sede do primeiro congresso da IPA a realizar-se no Brasil

Ó r g ã o d a A s s o c i a ç ã o B r a s i l e i r a d e P s i c a n á l i s eÓ r g ã o d a A s s o c i a ç ã o B r a s i l e i r a d e P s i c a n á l i s eÓ r g ã o d a A s s o c i a ç ã o B r a s i l e i r a d e P s i c a n á l i s eÓ r g ã o d a A s s o c i a ç ã o B r a s i l e i r a d e P s i c a n á l i s eÓ r g ã o d a A s s o c i a ç ã o B r a s i l e i r a d e P s i c a n á l i s e

Ano IX Nº26 Rio de Janeiro Junho/2005

carta do editorAAAAAdddddalalalalalbbbbberererererto to to to to AAAAA ..... G G G G Goulouloulouloularararararttttt

Apoio:

Casa do Psicólogo® Livraria e Editora Ltda.Rua Mourato Coelho, 1059 — Vila Madalena — CEP 05417-011 — São Paulo/SP — Brasil — Fone: (11) 3034.3600 — Site: www.casadopsicologo.com.br

Às vezes nos surpreendemos com mudanças.Estamos em constante transformação e conseqüentementeo mundo em que vivemos. Sempre foi assim, sempre será.Será? Evidentemente isso depende dos nossosreferenciais. Existem aqueles que acreditam que não hátransformação alguma, tudo se repete indefinidamente. Ou-tros não pensam assim, ao menos de forma absoluta. Al-gumas coisas se repetem compulsivamente, outras setransformam, se modificam, evoluem. A natureza nos en-sina. Existem os que aprendem e os que não.

E assim a cada dia, a cada momento, vivido ourevivido.

Algumas dessas transformações apontam para o fu-turo com generosidade. O estudo do genoma humano, coma possibilidade de tornar evitável sofrimentos antes inevi-táveis; as pesquisas com células-tronco e a expectativa,concreta, de reparação de tecidos e órgãos danificados,devolvendo a capacidade e a dignidade para os que so-frem com limitações físicas; as magníficas drogas, cadavez mais modernas e específicas, a auxiliar para uma me-lhor qualidade de vida; técnicas de diagnóstico mais pre-coces e precisas, favorecendo a recuperação mais breve;a extraordinária evolução da tecnologia de comunicação,hoje praticamente instantânea, a aproximar povos, países,culturas.

Já outras dessas transformações nos fazem sentircomo se estivéssemos na idade das trevas. Guerrasinjustificáveis (se é que alguma se justifica); chacinas deinocentes por pura atuação psicopática; poderosos a nospilhar a esperança e nos devolver o medo; intolerânciareligiosa (habemus); discriminação racial, social, sexu-al; o anti-semitismo a nos envergonhar com seus fantas-mas e a nos alertar para o pesadelo sempre presente.

Recentemente em uma mesa-redonda tive a oportu-nidade de dizer para uma platéia de interessados, queparece que nós, psicanalistas, estamos na contramão dahistória. Propomo-nos a ajudar pessoas a sentirem e so-frerem suas dores, viverem seus lutos. Significar,ressignificar, construir, reconstruir. Resgatar a alma. É noque acreditamos. Somos assim. Paciência...

No momento em que nos preparamos para o grandeencontro internacional que será o 44º. Congresso da As-sociação Psicanalítica Internacional, o primeiro a se reali-zar no Brasil (Rio de Janeiro, 28 a 31 de julho), sofremosa nossa dor, lamentamos profundamente sua ausência,vivenciamos mais um luto. A comunidade psicanalíticaperdeu recentemente Maria de San Tiago Dantas Quental.A Rio III perdeu uma de suas fundadoras. A ABP perdeusua Superintendente. O Congresso perdeu uma de suasorganizadoras. Perdemos uma companheira, justamentehomenageada por Eliana Helsinger (SPRJ) nas páginasque se seguem. Momento ímpar de produção científica,intercâmbio de experiências, encontros profissionais eafetivos com analistas de todo o mundo, nosso congres-so, então, será também uma homenagem à presença denossa colega ausente. Sobre o 44º. IPAC, escreve tam-bém, nas próximas páginas, com a maior propriedade, oPresidente Eleito da IPA, Cláudio Eizirik (SPPA).

No Perfil desta edição, Leila Tannous (GESP-MS) nosconta sobre a sua experiência em Campo Grande. Duasentrevistas: Cláudio Rossi (SBPSP), Diretor do ConselhoCientífico da ABP, nos apresenta o XX Congresso Brasi-leiro de Psicanálise (Brasília, 11 a 14 de novembro) e ValtonLeitão (NPF) nos conta sobre a Coleção Memória do Sa-ber, uma iniciativa do CNPq. Alírio Dantas Jr. (SPR), comsensibilidade e saudade escreve sobre Doação de Órgãos.Lúcia Grigoletti (SPPel) traz o olhar de Mahler sobre OProcesso de Aculturação. Cátia Olivier Mello (SPPA) eRuggero Levy (SPPA) estão presentes com o tema Vio-lência e Trauma, dos mais atuais. Marisilda Nascimento(NPA), com criatividade, resenha o livro A Arte de Viajar,de Alain de Botton. Completam a edição a Agenda Cientí-fica e as Notícias & Programação das federadas.

Tenha uma ótima leitura e até julho, no Rio!

Rio de Janeiro sedia 44º congresso da IPACom o tema “Trauma: Novos Desenvolvimentos em Psicanálise”, a Associação Psicanalítica Internacional (IPA) realizará pela primeira vez no

Brasil o seu 44º Congresso. A escolha da cidade do Rio reflete, na verdade, o crescimento qualitativo e quantitativo da comunidade psicanalítica nopaís. Já são quase dois mil inscritos para participar das atividades promovidas no encontro que acontecerá em Copacabana. O presidente eleito daIPA e membro efetivo da SPPA, Cláudio Laks Eizirik, fala sobre os desafios da psicanálise e os preparativos para o evento. (Pág. 15)

Entrevista: Valton de Miranda Leitão e o resgate do saber brasileiroUm dos responsáveis pelo projeto que pretende valorizar o conhecimento científico de pensadores brasileiros – “Memória do Saber” -,

Valton de Miranda Leitão é um ardoroso defensor da construção da memória daquilo “que efetivamente existe sepultado nos estratos arqueo-lógicos do saber brasileiro”. Mais de 500 intelectuais e cientistas do mais alto nível enviaram projetos e sugestões. Em entrevista ao ABPNotícias, Leitão, que é candidato em formação pelo Núcleo Psicanalítico de Fortaleza ressalta a importância do projeto que conta com o apoiodos ministérios da Ciência e Tecnologia e da Cultura. (Pág. 7)

Violência e trauma em debateSe a histeria foi a doença da época nos tempos de Freud, o trauma causado pela violência dos dias atuais é o mal que atinge a humanidade.

No Simpósio Violência e Trauma, realizado nos dias 18 e 19 de março último na sede da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA), umdos convidados, o filósofo e cientista político Sergio Paulo Rouanet, destacou o chamado “retorno ao fundamentalismo”, provocado entreoutros fatores pela modernização que “arrancou” milhões de seres humanos de suas culturas tradicionais. (Pág. 9)

A psicanálise e o poder no XX Congresso BrasileiroAs relações com o poder são o objeto da entrevista com o psicanalista Claudio Rossi, da SBPSP. A diferença entre poder e autoridade,

entre homens e mulheres no exercício do poder e outros conflitos nos planos afetivos e profissionais serão também objeto de debate no XXCongresso Brasileiro de Psicanálise, que será realizado em Brasília, de 11 a 14 de novembro. Rossi explica como a psicanálise pode ajudar noautoconhecimento, evitando corrupções, autoritarismo e arrogância. (Pág. 5)

Perfil: Leila TannousLeila Tannous é presidente reeleita do Grupo de Estudos Psicanalíticos de Mato Grosso do Sul (GESP-MS). Fez parte da primeira turma

que se formou no estado e à frente do GESP obteve conquistas e avanços, que, para ela, significam uma formação de identidade e a difusãodo pensamento psicanalítico “vencendo barreiras e compromissos”. (Pág. 3)

Page 2: ABP Notícias 26 – Junho 2005

Carlos Gari Faria

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����������Conselho Diretor

Presidente – Carlos Gari FariaSecretário – Pedro GomesTesoureiro – Regina Lúcia Braga MotaDiretor do Conselho Científico –Cláudio RossiDiretor do Conselho Profissional –Mário Lúcio Alves BaptistaDiretor do Deptº.de Publicações e Di-vulgação – Adalberto Antônio GoulartDiretor da Comissão de Relações Ex-teriores – Maria Eliana Mello HelsingerDiretor Superintendente – Maria de SanTiago Dantas QuentalSecretária Administrativa – LúciaLustosa Boggiss

Deptº. de Publicações e DivulgaçãoEditor da Revista Brasileira de PsicanáliseLeopold NosekEditora AssociadaMaria Aparecida Quesado Nicoletti

DelegadosMárcio de Freitas GiovannettiAna Maria Andrade de AzevedoVera Márcia RamosCarlos Roberto SabaWilson AmendoeiraAltamirando Matos de Andrade Jr.Raul HartkeJair Rodrigues EscobarTelma Gomes de Barros CavalcantiHumberto Vicente de AraújoBruno Salésio da Silva FranciscoJosé Francisco Rotta PereiraNewton M. AronisLeonardo A. FrancischelliJosé Cesário Francisco JúniorPedro Paulo de Azevedo OrtolanRegina Lúcia Braga MotaSylvain Nahum LevyLeila Tannous GuimarãesMiriam Cátia CodornizNeilton Dias da SilvaCláudio Tavares Cals de OliveiraSheiva Campos Nunes RochaSergio Antonio Cyrino da Costa

Conselho CientíficoAna Rita Nuti PontesÁurea Maria LowenkronFernando Linei KunzlerHemerson Ari MendesJosé Otávio FagundesMagda Sousa PassosMárcia CâmaraMaria Aparecida Duarte BarbosaMirian Elisabeth Bender Ritter de GregórioRuggero LevySérgio Cyrino da CostaWaldemar Zusman

Conselho ProfissionalAlfredo Menotti ColucciLetícia Tavares NevesJair Rodrigues Escobar

2Órgão da Associação Brasileira de Psicanálise

Expediente

Eduardo Afonso JúniorJosé Luiz MeurerSylvain Nahum LevyJosé Alberto FlorenzanoJacques ZimmermannLeila Tannous GuimarãesVera Lúcia Costa de Paula Antunes

Comissão de Psicanálise e CulturaLeopold Nosek (Coordenador)

Comissão de Psicanálise da Criança edo AdolescenteRute Stein Maltz (Coordenadora)

Comissão de Psicanálise e PesquisaTheodor Lowenkron (Coordenador)

Comissão de Psicanálise e a UniversidadeSérgio de Freitas Cunha (Coordenador)

Comissão de Documentação, Comunica-ção e InternetRosa Maria Carvalho Reis (Coordenadora)

Comissão de Ligação com EntidadesMédicasJair Rodrigues Escobar (Coordenador)

Comissão de Ligação com a PsicologiaInúbia Duarte (Coordenadora)

Comissão de Difusão da PsicanáliseMaria Olympia França (Coordenadora)

Comissão de Estudos sobre FormaçãoPsicanalíticaSuad Haddad de Andrade (Coordenadora)

Comissão de Núcleos filiados à ABPRegiões: Norte, Nordeste e Sudeste até Riode JaneiroJosé Fernando de Santana Barros (Coor-denador)Regiões: Sudeste a partir de São Paulo, Sule Centro OesteRomualdo Romanowski (Coordenador)

EdiçãoJLS Comunicação & AssociadosEditores:José Luiz SombraPaula FioritoRedatora:Adriana VallimRepórter:Raphael ZarkoEditoração:Renata Vieira NunesFotolito e Impressão:Casa do Psicólogo (11) 3034 3600

Endereço: Av. N.Sª. de Copacabana, 540/704Cep: 22020-000 Rio de JaneiroTel/Fax: (21) 2235 5922e-mail: [email protected] page: www.abp.org.br

Palavras do Presidente

Estamos a dois meses da realiza-ção do 44º Congresso Internacionalde Psicanálise, o Congresso do Rio,primeiro a ser realizado no Brasil e aseis meses do XX Congresso Brasi-leiro de Psicanálise, o Congresso deBrasília, primeiro Brasileiro a se rea-lizar na capital Federal. Este ano, noBrasil, é portanto, o ano de dois Con-gressos de Psicanálise.

O número significativo de inscri-ções para o Congresso Internacionalpermite antecipar o sucesso de suarealização com uma participaçãomais numerosa do que a dos três úl-timos congressos realizados pelaIPA: o de Santiago, o de Nice e o deNew Orleans.

Para o Congresso de Brasília, es-tima-se também uma participaçãosignificativa em qualidade e quanti-dade de presenças o que se podeantever pelo número de confirmaçõesjá recebidas, que já chega a 90%,para a composição de mesas redon-das, reflexões psicanalíticas, cursose temas livres.

A configuração do congresso deBrasília repetirá o modelo de Recifedesenvolvendo-se em atividades si-multâneas: seis mesas redondas pelamanhã, seis à tarde, seis reflexõespsicanalíticas no final da manhã, seissessões de temas livres no início datarde, e o mesmo número de cursosà tardinha, ao longo de três dias -sexta-feira, sábado e domingo.

O Pré-Congresso Didático dedica-rá seu dia, quinta-feira, 11 de novem-

bro, à apresentação e troca de idéi-as entre didatas, professores e can-didatos em formação, sobre formase métodos de avaliação dentro dosinstitutos; numa abrangência quepermite incluir avaliação de candida-to, de professores e das chamadas“clínicas de atendimento”.

Para a realização da sessão deabertura deste congresso que serána noite da quinta-feira, recebemos,de representantes do PoderLegislativo, o desejo de colocar anossa disposição uma sala reserva-da para cerimônias solenes, - a salaPetrônio Portella na sede do Con-gresso Nacional. Este gesto expres-sa a consideração dispensada à pre-sença da Psicanálise no Brasil e emBrasília.

Ao longo deste ano marcado pelaconstrução de idéias, muitas apre-sentadas em eventos locais e regio-nais e pelo trabalho animado na or-ganização dos Congressos maioresque se aproximam, tivemos tambémuma perda que este jornal cumpre opesar de registrar. Perdemos Mariade San Tiago Dantas Quental, psica-nalista da Associação PsicanalíticaRio 3 e da Sociedade Brasileira dePsicanálise do Rio de Janeiro e tam-bém, membro do Conselho Diretor daABP como sua Superintendente.Maria na consistência de suas idéiase de sua identidade psicanalítica, emsua discrição e elegância foi e conti-nuará sendo na nossa lembrança,uma presença bonita.

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3Perfil

Avanços e conquistas são a marcade Leila Tannous

Leila Tannous Guimarães é presidente reeleita do Grupo de Estudos Psicanalíticos de MatoGrosso do Sul (GESP-MS), de onde também é analista didata e membro efetivo. À frente do grupo

de estudos Leila é responsável por conquistas e avanços para a difusão do pensamentopsicanalítico, “vencendo barreiras e preconceitos” através da construção de uma identidade.

Leila acredita que, apesar de enfrentar dificuldades na formação da primeira turma, da qual elafez parte, o processo foi importante para o amadurecimento pessoal e institucional do GESP-MS.

ABP Notícias: Considerando o fato deter sido eleita Presidente do GESP-MS, porduas vezes consecutivas, em sua opiniãocomo foi que se deu a consolidação do de-senvolvimento enquanto grupo?

Leila Tannous) Antes de tudo acho im-portante frisar que a determinação e per-sistência da dra. Marila, desde o momentoem que retornou para Campo Grande, nadécada de 70, deixaram marcas profundasno nosso Grupo. Chegou aqui sem que hou-vesse um terreno propício para a difusãodo pensamento psicanalítico, e venceu to-das as barreiras e preconceitos existentesna época. Eram poucas as pessoas que ti-nham algum conhecimento sobre a clínicapsicanalítica e com certeza viam a Psica-nálise de modo muito desconfiado. Hoje, en-tretanto, depois de aproximadamente 35anos, encontramos em nossa região um in-teresse muito grande pelo pensamento psi-canalítico e sua prática clínica e, em todasas universidades e outras instituições com

as quais trabalhamos até o momento, to-das elas, sem exceção, têm nos recebidomuito bem.

Pois bem, você me perguntou como foique se deu tudo isto. Em primeiro lugar,devo salientar que somos um grupo peque-no, com 25 membros apenas. E como gru-po pequeno vocês sabem que praticamen-te todos fazem um pouco de tudo, e poressa e outras razões, em alguns momen-tos, como membro do Conselho Diretor doGESP-MS ao longo desses anos, observoque trabalhávamos tensos demais, corren-do o risco de nos engessar em blocos, comouma espécie de proteção espontânea dosconteúdos valorosos. Havia uma necessi-dade de ordenar e organizar o mais depres-sa possível todas as instâncias de funcio-namento do grupo desde que nos tornamosum Grupo de Estudos, e por conta disso,penso que nos arranjávamos em subgrupospara tentar controlar as diferenças que eramlatentes e que se tornariam manifestas en-tre nós, inevitavelmente mais tarde.

Em minha opinião, com o passar do tem-po, o nosso crescimento e maturidade sederam em dois sentidos, praticamente, aomesmo tempo. De um lado começamos aconstruir internamente uma identidade psi-canalítica, à medida que nos organizáva-mos melhor para desempenhar as funçõesnecessárias para a estruturação do grupo,realizando grupos de estudos e discussõessobre temas de interesse, apresentaçõesde casos clínicos, debates sobre filmes eobras literárias e, entre as várias ativida-des científicas já realizadas posso citar oGrupo de Estudos de Supervisão no Insti-tuto Psicanalítico, assim como as ativida-des científicas do Departamento Científicoe do Departamento de Assistência Psicoló-gica. Por outro lado, ganhávamos cada dia

mais confiança do meio externo, instituiçõesafinadas com a Psicanálise e a ABP ace-navam em nossa direção com uma freqüên-cia cada vez maior, e como uma espéciede encontro entre aquilo que era desejadoe o objeto real, surgiam demandas internase externas, ao mesmo tempo em que nosvíamos dispostos para oferecermos algocoincidente com o que estava sendo solici-tado. Assim como, recebíamos tambémalgo muito próximo daquilo que procuráva-mos, quando acolhíamos colegas de outrasSociedades que nos contavam gentilmenteas suas experiências institucionais, e melembro muito bem, como bebíamos todasas informações que recebíamos, e fazemosisso até hoje, mas, com uma capacidadecrítica muito mais aguçada. Tivemos tam-bém, neste meio tempo, uma orientaçãomais aberta do Sponsoring Committee,o que nos permitiu experimentar com maisliberdade algumas proposições oriundas dopróprio grupo.

Penso que o que disparou o movimentopara a consolidação do grupo, enquantogrupo mais independente, foi a decisão derealizarmos eleição de Conselho Diretor, econsequentemente assumirmos as nossasescolhas de forma mais democrática, arcan-do com os resultados das mesmas. Achoque aí nós conseguimos nos unir para as-sumir os riscos de crescimento do grupo.Antes, fazíamos algumas tentativas de al-çar vôos isolados, mas não prosseguíamos,pois ainda sentíamos certo receio de cres-cermos por conta e riscos.

Nesta época, voltados para a eleição deConselho Diretor, elaboramos uma platafor-ma de trabalho envolvendo a organizaçãoadministrativa com todas as funções bemdelimitadas e apresentamos ao grupo pro-postas científicas que abrangiam Educação,

Difusão e Assistência Psicanalítica. Essaseram e são as nossas metas distribuídasnas diversas comissões de trabalho. E paramanter as informações atualizadas sobre onosso trabalho interno e o movimento psi-canalítico externo tornamos, a nossa comu-nicação mais transparente e ágil para osMembros do nosso grupo, SponsoringCommittee e Sociedades de Psicanálise,com a criação e freqüência regular do Bo-letim Informativo e, nos voltamos para oobjetivo central de reintegrar os membrosdo grupo com uma proposta de reconstru-ção dos espaços vitais da instituição onde,trabalho e discussão seriam as molas mes-tras do desenvolvimento em grupo, poden-do assim, nos diferenciar em vários aspec-tos, sem que a tensão limitasse a nossacriatividade, confiança e espontaneidade.

Portanto, avaliando o nosso funciona-mento no início da constituição do grupo deestudos, em que os nossos ideais psicana-líticos ficavam protegidos pela formação desubgrupos, hoje em dia, vejo o grupo demodo diferente, muito mais integrado e fle-xível, cujas idéias voltadas para a psicaná-lise circulam mais livremente por todos osâmbitos da instituição. Do ponto de vistainterno considero que o que prevaleceu noprocesso de estruturação do nosso gruposocietário foi o princípio da esperança e adeterminação e, como conseqüência, aPsicanálise venceu a toda prova.

Neste sentido pudemos organizar gru-pos de estudos que acompanham as su-gestões oferecidas pela IPA, FEPAL e ABP,mantendo os nossos colegas maisatualizados sobre o movimento psicanalíti-co a nossa volta. O Instituto Psicanalítico,por exemplo, criou o Grupo de Estudos deTemas Didáticos e Pesquisa, aberto paraos Membros Associados e Efetivos do

Leila Tannous Guimarães

Page 4: ABP Notícias 26 – Junho 2005

4 Perfilcontinuação

GESP-MS. Esta idéia surgiu baseada naexperiência que tínhamos com o Grupo deEstudos sobre Supervisão e, então a es-tendemos para todos os temas referentesà formação psicanalítica, com o objetivo dedelimitar para o nosso grupo um perfil polí-tico e educacional com uma qualidade dealto nível na transmissão da psicanálise quegostaríamos de adotar para com os nossoscandidatos.

ABP Notícias: A senhora fez parte da1ª turma de psicanalistas formada pelo Nú-cleo de Campo Grande, na época, vincula-do à SPRJ, e que depois veio a se transfor-mar em Grupo de Estudos Psicanalíticos deMato Grosso do Sul. Neste ano existe opedido para a passagem a Sociedade Pro-visória. Em sua opinião, o que mudou emtermos da formação psicanalítica?

LT) Mudaram muitas coisas, mas, o prin-cípio que rege a formação permanece omesmo: uma formação psicanalítica deacordo com os critérios mínimos da IPA, emque a análise didática, seminários e super-visão se constituem no tripé de apoio parao desenvolvimento e amadurecimento docandidato durante a sua formação. No en-tanto, no que se refere à experiência da 1ªturma no NPMS, tivemos uma formaçãopsicanalítica em que todos os esforços fi-caram voltados para a qualidade da trans-missão e para a organização do Núcleo e,entendimento dos limites funcionais, passoa passo, ou seja, nada estava pronto e qua-se tudo estava por se formar. Acho impor-tante ressaltar que a nossa turma viveu aformação de maneira solitária, isto é, nãohavia nenhuma turma anterior a nossa, enem uma outra que se avistasse no hori-zonte. Contávamos com apenas três ana-listas em função didática e analistas quevinham a cada quinze dias para coordenarseminários. Contudo, os esforços realiza-dos pelas Comissões Coordenadoras daSPRJ e a boa vontade de todos superaramas dificuldades que se interpunham à for-mação. Mesmo assim, nos formamos dis-tantes de uma Sociedade já estabelecida,não sendo possível conhecer seu funcio-namento como um todo, e não tendo umaturma em quem nos espelhar.

Hoje em dia contamos com o nosso pró-prio amadurecimento pessoal, institucionale com a ajuda do Sponsoring Committee,conseqüentemente, desenvolvemos umacapacidade muito maior para lidar com asdificuldades e conflitos que se apresentamna condução da formação psicanalítica.Penso que o processo de aperfeiçoamentoindepende de um sentido de ordenamento,havendo, em minha opinião, uma tensãopermanente que se origina das inquieta-ções, subjetivas e objetivas dos candidatos

e de nós mesmos, enquanto analistas, emcontato com os estímulos que a formação,por si só, oferece, o que é muito saudávelpor um lado, desde que possamos preser-var a nossa criatividade e a liberdade depensamento.

Atualmente a Comissão que coordenao Instituto de Psicanálise (IP) está muitomais afinada em suas diversas funções, tra-balhando exaustivamente em prol da quali-dade da formação, além de estarmos coma casa pronta, ou seja, a instituição está,como um todo, funcionando bem e abertapara receber os candidatos. Realizações deJornadas internas no IP, e outras participa-ções das nossas candidatas no Departa-mento Científico e de Assistência Psicoló-gica acontecem com muita freqüência. Ointercâmbio entre analistas e candidatos

tem sido enriquecedor para o grupo, alémde haver duas turmas em formação nestemomento, no IP do GESP-MS.

Mas, voltando para o IP, além dos gru-pos de estudos de temas didáticos e pes-quisa que acontecem até hoje, voltadospara os analistas, elaboramos também ocurrículo com um programa extenso e mui-to bom de seminários teóricos, clínicos etécnicos, em que prevalecem trabalhos deautores clássicos em articulação com osmais atuais; e um sistema de avaliação con-tínua dos seminários realizada pelos docen-tes e candidatas. Paralelamente, a pesqui-sa também ganhou corpo dentro do GESP-MS, e atualmente estamos desenvolvendoduas pesquisas no Instituto de Psicanálise:uma que está voltada para o corpo docen-

te, e a outra para o Grupo de SupervisãoColetiva de Casos Continuados, um grupoque está composto por 16 candidatas e trêsanalistas.

ABP Notícias: Qual é a relação que asenhora estabelece entre a criação do Ban-co de Dados e a iniciativa a pesquisas, ecomo entende a demanda de novos proje-tos dentro do movimento institucional?

LT) Além das pesquisas no IP, algunsanos atrás o Departamento de AssistênciaPsicológica (DAP) desenvolveu, por inter-médio da Comissão de Estudos e Pesquisaum banco de dados que recolhe todos osdados fornecidos desde o momento da soli-citação de tratamento, triagem, diagnóstico,encaminhamentos para tratamento, super-visão de 1ª Entrevista, acompanhamento de

caso e relatórios. Este banco de dados seconstitui num software criado para reunirinformações provenientes da Clínica deAtendimentos Psicanalíticos com o intuitode favorecer a pesquisa no GESP-MS. Paratanto a mesma comissão iniciou um grupode estudos sobre epistemologia e pesquisaqualitativa. A finalidade deste grupo de es-tudos é oferecer aos colegas condiçõesmínimas para realizarem pesquisas de seusinteresses. Esta foi mais uma semente plan-tada há quatro anos atrás e que represen-tava, de maneira isolada, um desejo do gru-po. Hoje o trabalho voltado para pesquisaestá despontando em todos os setores doGESP-MS, e recebe incentivo permanentedo conselho diretor. O Departamento deAssistência Psicológica, como um todo, en-volvendo a clínica de atendimentos (CAP)

ganhou mais maturidade e trabalha com assuas comissões de maneira mais livre eousada, exercendo uma crítica mais cons-trutiva sobre os diversos procedimentosadotados na clínica. As pesquisas futuraspoderão representar, quem sabe, num fu-turo próximo, a força destas demandas, queem minha opinião, têm sido expressas, ain-da que de forma retraída, desde há muitotempo no GESP-MS.

ABP Notícias: E o trabalho de difusãoda Psicanálise realizado pelo epartamentoCientífico, como está hoje?

LT) Contamos com um extenso traba-lho realizado pelas várias direções do De-partamento Científico, trabalho este, volta-do tanto para atividades internas do grupo,quanto externas. Temos hoje, muito bemestabelecidas, as parcerias com as univer-sidades de todo o estado de Mato Grossodo Sul, coordenando várias propostas detrabalho nos cursos de graduação e pós-graduação ao mesmo tempo e ao longo decada ano. O departamento conta com umacomissão de cursos que apresentam pro-postas voltadas para o conhecimento psi-canalítico e que estão dirigidos para o pú-blico interessado, voltando-se para acadê-micos e profissionais de diversos setoresda comunidade científica. Estamos, tam-bém, formando um grupo de estudos sobrecrianças e adolescentes, aberto para todosos analistas interessados em aprofundar oconhecimento psicanalítico nesta área, in-dependente de estarem ou não trabalhan-do com crianças e adolescentes; e desen-volvemos estudos voltados para a Educa-ção Continuada, que também atende aosinteresses teóricos do grupo de analistas.No mês de maio, por exemplo, promove-mos um evento que discutiu questões rela-cionadas ao trauma, temática do Congres-so Internacional de Psicanálise, a realizar-se em julho, no Rio de Janeiro. Estamostambém preparando mais um número danossa revista. Penso que o DepartamentoCientífico do GESP-MS têm desenvolvidoum trabalho estimulante entre analistas,candidatos e o público externo, e quemganha com isso é a Psicanálise.

Um outro aspecto importante na conso-lidação do grupo está relacionado com aparticipação do GESP-MS nos eventos ci-entíficos promovidos pela ABP, FEPAL eIPA. Hoje em dia, nos apresentamos em di-versas reuniões administrativas e científi-cas. Acredito que isto acabou nos fortale-cendo enquanto um grupo representativodentro do contexto societário da psicanáli-se brasileira, devolvendo aos membros oreconhecimento de suas competências noexercício psicanalítico.

“Ganhávamos a cada diamais confiança do meio

externo, instituições afinadascom a psicanálise e a ABP

acenavam em nossa direçãocom freqüência cada vez

maior.”

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5Entrevista

ABP Notícias - Como a psicanáli-se pode ajudar no exercício do po-der?

Cláudio Rossi - O exercício do po-der exige discernimento, de capacida-de de se avaliar uma situação por mui-tos pontos de vista, de não se deixarlevar por pressões ou manipulaçõesmais sutis das emoções. Depende ain-

da da capacidade de se ouvir e aceitaros outros sem preconceitos e com luci-dez. Uma pessoa que se analisa temmelhores condições de enfrentar essasdificuldades. Ao se conhecer melhoraprende a aceitar as diferentes dimen-sões de si mesma e ter mais sensibili-dade às características alheias poden-do se relacionar com elas com mais li-berdade e criatividade.

ABP Notícias - Como o poder podeprejudicar as relações afetivas? Eprofissionais?

CR - Quando alguém chega a umcargo, a uma posição de poder, todasas suas relações se modificam. Apare-cem muitas e contínuas solicitações,aparecem rivalidades e adulações.Idealizações de todo o tipo criam um cli-ma grandioso em torno da pessoa e seela não sabe lidar com isso perde o pé.A glória sobe à cabeça, a pessoa ficadeslumbrada e tende a se sentir maispoderosa do que realmente é. Ou, pelocontrário, desiludida com as limitaçõesconcretas do poder e emulada pelas ati-tudes dos que tudo esperam dela, pas-sa a sentir-se indevidamente limitadapelos outros, irritada e agressiva comos interesses de grupos de oposição eo lado autoritário e ditatorial pode se fa-zer presente com conseqüências desas-trosas. Tudo isso pode ter impacto im-portante sobre suas relações íntimas eprofissionais. O poder, também, se nãoexercido com extrema disciplina e orga-nização pessoal, pode envolver a pes-soa de tal maneira que ela passa a sededicar a ele todo o tempo disponívelque tiver deixando de lado família, ami-gos e afazeres profissionais. Não é difí-cil imaginar o que acontecerá quando omandato acabar e a pessoa tiver quevoltar para sua vida normal.

ABP Notícias - Qual a diferençaentre poder e autoridade, segundo apsicanálise?

CR - Todo poder é delegado. É im-possível exercer poder sem um grupode apoio. Um grupo que considera útil,que depende, de que alguém coman-de. Uma pessoa tem autoridade quan-do compreende isso e é capaz de exer-cer o poder de uma maneira tal, que ogrupo que delegou o poder a ela temseus interesses e necessidades atendi-dos. Nessas circunstâncias suas ordens,orientações, decretos, ensinamentos,pedidos, são atendidos sem contesta-ções ou conflitos importantes. Quandouma pessoa em cargo de mando, pelocontrário, exerce o poder sem levar emconta os interesses da coletividade queestá a ela submetida, torna-se autoritá-ria, arrogante e agressiva. Tudo isso,numa tentativa que com o tempo vai setornando infrutífera de evitar a perda docontrole da situação.

ABP Notícias - Em que circunstân-cias o poder pode ser prejudicial? Ebenéfico?

CR - O poder pode ser muito preju-dicial para alguém que não esteja pre-parado para exercê-lo. Pode ser terrí-vel quando submete coletividades intei-

Cláudio Rossi

Diretor Científico da ABP fala das relaçõesde poder nas sociedades modernas

Cláudio Rossi, psicanalista, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo(SBPSP) e da International Psychoanalytical Association (IPA), é um dos organizadores do XX

Congresso Brasileiro de Psicanálise. Com o tema “Poder, sofrimento psíquico econtemporaneidade”, o evento, que acontecerá de 11 a 14 de novembro, em Brasília, debaterá asformas como o poder se apresenta na sociedade atual e como a psicanálise pode se posicionardiante desse fato. Em entrevista ao ABP Notícias, Rossi explica como a psicanálise pode ajudar

no exercício do poder, como é a relação de poder nas relações afetivas e profissionais, adiferença entre homens e mulheres no exercício do poder e as transformações que ocorreram

nestas relações ao longo dos anos, sob a ótica da psicanálise.

Page 6: ABP Notícias 26 – Junho 2005

6 Entrevistaras aos interesses, muitas vezesdesarrazoados de grupos que o detém.Benéfico será quando for exercido comsabedoria e equilíbrio, levando em con-ta os melhores interesses da humani-dade como um todo. Quanto mais pes-soas forem beneficiadas pelo exercíciode um determinado poder, mais ele serájusto e benéfico.

ABP Notícias - Qual a melhor for-ma de exercer o poder?

CR - Com equilíbrio visando o bemcoletivo, jamais bus-cando a resolução deproblemas pessoaisou de pequenos gru-pos em detrimento dobem maior, que é o detodos.

ABP Notícias -Qual a explicaçãopara o fascínio queo poder exerce so-bre as pessoas aolongo dos anos?

CR - Não existeuma resposta genéri-ca para esta pergun-ta. Pessoas diferentesse fascinam por ra-zões diferentes e amesma pessoa, mu-dadas as circunstân-cias, pode ser atraída por motivos diver-sos. Exatamente por isso que a psica-nálise pessoal pode ajudar. Numa psi-canálise o sujeito pode avaliar suas cir-cunstâncias, seus impulsos e motiva-ções assim como suas intenções e pro-jetos. Isso o torna menos susceptível aficar fascinado. É necessária uma con-siderável lucidez e força para fazer fren-te às pressões grupais contínuas queassolam ou emulam quem está no exer-cício de uma função em posição de des-taque. As reverências, os rituais, a quan-tidade de pessoas que ficam a serviço,a presteza em que os desejos e coman-dos são atendidos, tudo isso funcionacomo uma espécie de mágica. Quemnão percebe os perigos e enganos detudo isso pode ficar “viciado” em todaessa pompa.

ABP Notícias - Homens e mulhe-res tem a mesma visão sobre o po-der?

CR - Até muito pouco tempo atrásera comum as pessoas acreditaremque o exercício do poder público eracoisa para homem. As mulheres eramas rainhas do lar. Ou seja, no mundoprivado elas tinham suas esferas depoder específicas. O aforisma que di-zia que “um grande homem tinha sem-pre por trás de si uma grande mulher”expressava essa maneira de ver as

coisas. No mundo contemporâneo,cada vez mais, as mulheres estão as-sumindo cargos públicos e sua visãosobre o poder está cada vez mais pró-xima da dos homens. No que se refereà psicologia profunda existem impor-tantes diferenças entre o masculino eo feminino na sua forma de conceber ese relacionar com o poder. Masculinoe feminino, porém, são constelaçõesemocionais que ocorrem em pessoasde ambos os sexos. Existem, então,maneiras mais femininas e mais mas-culinas de exercer e de se relacionarcom o poder, tanto em homens comoem mulheres.

ABP Notícias - Sob a ótica da psi-canálise, o poder é um fim ou meiode alcançar metas?

continuação

CR - Quanto mais madura e integra-da for uma pessoa, mais capaz será elade exercer o poder tendo por meta obem comum. Nesse caso o poder seráusado como meio. Pessoas imaturas oucom sérios problemas emocionais, tam-bém, poderão exercer o poder comomeio para atingir metas, só que as me-tas poderão ser bastante perniciosaspara a coletividade. O poder é um fimpara aqueles que precisam dele para sesentirem valiosos, queridos, importan-tes. Isso ocorre quando as questõesnarcísicas da pessoa estão mal resolvi-

das e ela poderia se beneficiar sub-mentendo-se a uma psicanálise.

ABP Notícias - O poder é uma bus-ca que se popularizou no mundo mo-derno?

CR - Se por moderno você se refereao mundo atual, contemporâneo, pode-se dizer que existe uma febre de poder.As pessoas estão desejosas de exercero poder, têm dificuldade de aceitar ashierarquias e de delegar, querem man-dar e agir diretamente. Acredito queestamos vivendo uma importante modi-ficação nas estruturas sociais e no pró-prio conceito de poder. Estudosaprofundados sobre essa questão es-tão sendo feitos por vários ramos dasciências e o próximo Congresso Brasi-

leiro de Psicanálise que ocorrerá emnovembro em Brasília vai se dedicar,entre outras coisas, a avaliar como es-tão as pesquisas sobre isso na psica-nálise.

ABP Notícias - O exercício dopoder público é um meio de exer-cer a cidadania ou uma conquistapessoal?

CR - Podem ser ambas as coisas.Elas não são excludentes. O ideal é queuma pessoa sinta como uma conquista

pessoal exercer a cida-dania.

ABP Notícias - Ecomo explicar a ma-neira pela qual os di-tadores exercem opoder?

CR - Depende doditador, das circunstân-cias e do momento his-tórico no qual ele atuou,do seu substrato sociale cultural, das questõespolíticas em jogo, etc.Não é possível dar umareposta genérica paraessa pergunta. Pode-se, porém, dizer que aditadura é uma estrutu-ra onde um grupo quedetém o poder subme-

te outros grupos sem dar a eles condi-ções de participar ativamente do proces-so político, sem ouvir suas demandas esem dar a eles a possibilidade de opi-nar ou, até mesmo, de expressar suasopiniões. Pode-se dizer, metaforicamen-te, que o psicanalista trabalha todos osdias com as ditaduras. Ao dar palavraàquelas partes das personalidades daspessoas, que estão reprimidas, subme-tidas, desconsideradas, pode-se dizerque a psicanálise promove umaredistribuição de poder dentro dos indi-víduos e que nesse sentido promoveuma espécie de democracia interna.Acredito que uma pessoa que conte comum estado democrático dentro de simesma tenha menos vocação para, noexercício do poder, adotar atitudes des-póticas e ditatoriais.

“O Poder pode ser muito prejudicial paraalguém que não esteja preparado para

exerce-lo. Benéfico será quando forexercido com sabedoria e equilíbrio,

levando em conta os melhores interessesda humanidade como um todo”.

Page 7: ABP Notícias 26 – Junho 2005

7Entrevista

A memória do saberValton de Miranda Leitão é candidato em formação pelo Núcleo Psicanalítico de Fortaleza econselheiro da Coleção Memória do Saber, coordenada pelo CNPq. Em entrevista ao ABP

Notícias, Valton conta como foi o surgimento e a evolução da Coleção, assim como aimportância do resgate e construção da memória de grandes pensadores.

ABP Notícias - Como surgiu a idéiada Coleção Memória do Saber?

Valton Leitão – O vice-presidente doCNPq, órgão do Ministério da Ciência eTecnologia, numa conversa com o historia-dor pernambucano Antonio Montenegro la-mentava que a produção científica brasilei-ra não tivesse reconhecimento mundial. Oexemplo disso era Santos Dumont, cujo tra-balho científico e descoberta eram ignora-dos mundialmente, colocando-se em seulugar uma certa bizarria do inventor, ocul-tando sua estatura de saber criativo. Des-sa conversa nasceu a idéia da criação daColeção que foi comunicada ao então mi-nistro daquela pasta, Roberto Amaral, queimediatamente a encampou. A minha ínti-ma amizade com Amaral e Domingos Netofez com que logo eu tomasse conhecimen-to do assunto, ficando, evidentemente,empolgado.

ABP Notícias - A Coleção, então,abrange todas as áreas do conheci-mento?

VL – A idéia da Coleção Memória doSaber tomou forma e seu conteúdo foi cla-ramente definido em vários documentosdistribuídos pelo CNPq. Não se trata, sim-plesmente, de resgatar a memória dos sa-beres nas ciências físico-matemáticas e nasciências histórico-humanas, mas de cons-truir a memória daquilo que efetivamenteexiste sepultado nos estratos arqueológicosdo saber brasileiro.

ABP Notícias - Não é tarefa demasia-do grande para o CNPq?

VL – O Ministério da Ciência eTecnologia para executar esse projeto es-tabeleceu um convênio com o Ministério daCultura através do ministro Gilberto Gil ecom a Biblioteca Nacional através do seudirigente maior Pedro Lago. Posteriormen-te, o presidente do BNDES, Carlos Lessa,ao tomar conhecimento desse projeto mos-trou-se entusiasmado e disposto a apoiá-lo. O ministro Eduardo Campos que suce-deu ao ministro Roberto Amaral apoiou oprojeto e assinou o convênio acima menci-onado. Dessa forma, tanto o presidente doCNPq, Erney Camargo, quanto o seu vice-presidente, Manuel Domingos Neto, não so-mente formalizaram oficialmente a ColeçãoMemória do Saber, cujo projeto foi publica-do no Diário Oficial da União, como igual-mente estabeleceram as regras para a par-ticipação na Coleção.

ABP Notícias - Quais são as regrasbásicas?

VL – A idéia básica é que se utilize umnome de referência, por exemplo, SantosDumont, para construir sistemática e me-todicamente a memória do conhecimentoda ciência aeronáutica ou um de uma co-munidade, por exemplo, “Grupo Tama-rineira” com o mesmo objetivo de sistema-tização do desenvolvimento da Psiquiatriano Nordeste. Não se trata de fazer umabiografia apologética, mas de utilizar onome de referência como núcleogravitacional de cada saber ou conheci-mento científico, cuja memória se preten-de edificar, retirando-a, como na metáforafreudiana, dos escombros de uma traves-sia desmemoriada.

ABP Notícias - Como isso vai seroperacionalizado na prática?

VL – O CNPq já definiu os primeiros 20volumes da Coleção, cujos projetos foramjulgados pelos conselheiros e consultoresdo CNPq, conforme critérios estabelecidospreviamente. A área de Psiquiatria e Psica-nálise teve aprovados para essa primeirafase os projetos de Paulo Marchon e

Ronaldo Jacobina, tendo respectivamentecomo referenciais Alcyon B. Bahia e JulianoMoreira.

ABP Notícias - Mas outros projetosforam apresentados, pois consta que emtodas as áreas do conhecimento foramao todo 134 projetos, não é?

VL – É verdade, mas o CNPq quis ga-rantir, através de criteriosa seleção e avalia-ção de condições financeiras, a base paraa continuidade da Coleção em etapas pos-teriores.

ABP Notícias - Qual é o impacto daColeção no mundo intelectual e científi-co brasileiro?

VL – A resposta foi impressionante, poismais de 500 intelectuais e cientistas do maisalto nível, desde as ciências ditas exataspassando pelas ciências sociais, a literatu-ra, a psiquiatria e a psicanálise enviaramprojetos, comunicações e sugestões inte-ressantes.

ABP Notícias - A que você atribuiessa adesão entusiasmada?

VL – A primeira coisa a ressaltar é aseriedade com a qual o CNPq encara essaColeção, pensando no conhecimento comoconstrução totalizadora. O conhecimentoque permanece oculto nos escombros dahistória não consegue ser articulado,concatenado e mostrado como produto to-tal. O exemplo de Santos Dumont mais umavez mostra essa dificuldade, pois não é re-conhecido no exterior como o grandepatrono da ciência aeronáutica mundial,embora o saber aeronáutico brasileiro sejaum dos mais importantes do mundo.

ABP Notícias - Isso não tem a ver compoder político, a capacidade financia-dora das nações ricas e o subdesenvol-vimento científico e tecnológico?

VL – É verdade, mas é igualmente verda-deiro que a cultura mundializada estabelecezonas de consagração como EUA e Europa.Isso ocorre também no Brasil, onde um traba-lho nordestino precisa vencer a barreira dazona de consagração situada no Rio ou SãoPaulo. A transposição dessa barreira exige a

construção da memória do saber brasileiro.

ABP Notícias - A psicanálise e a psiqui-atria só apresentaram os dois projetos queserão divulgados nesta primeira etapa?

VL – Não. Além destes foram apresen-tados vários outros projetos do Rio, SãoPaulo, Porto Alegre e Recife. O projeto quetem como referência Ulysses Pernam-bucano coordenado pelo dr. TácitoMedeiros e do qual faço parte foi excluídodesta primeira fase, por exemplo. Claro quevoltará para julgamento na etapa posteriore espero que seja aprovado.

ABP Notícias - Qual é, na sua opinião,a importância desta Coleção para a psi-quiatria e a psicanálise?

VL – Creio que o livro coordenado porPaulo Marchon dá uma idéia do trânsito en-tre a psiquiatria e a psicanálise, utilizando ahistória para sistematizar o desenvolvimen-to do saber psicanalítico brasileiro desde amais ingênua compreensão de Freud até omais refinado conhecimento atual, incluindotodas as leituras do paradoxo da dinâmicainconsciente sem qualquer tipo de discrimi-nação. Além disso, penso que essa é a pri-meira grande oportunidade para que a ciên-cia psicanalítica desencabule e ingresse or-gulhosamente ao lado de outros saberes pormeio deste reconhecimento institucional. Osvolumes que podem conter até 600 páginasserão impressos pela gráfica do Senado como aval da Biblioteca Nacional em três línguas:português, inglês e espanhol e, naturalmen-te, disponibilizado para as principais biblio-tecas do mundo.

Valton Leitão

Paulo Marchon (ME da SPR e do NPF)

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O processo de aculturação: um convite anavegar sob o timão de Mahler

Lúcia Grigoletti*

A era da globalização tem trazido muitasalterações no dia-dia do ser humano. As no-vas tecnologias ligadas à informática e à imen-sa rede de comunicação, que foi possível seestabelecer entre as mais distantes partes domundo, têm exercido grande influência nopsiquismo e no modo de viver das pessoas.Os extremos do ser humano (evolução e re-gressão) unem-se num mesmo movimento,isto é, tanto o intercâmbio virtual via satélite ea especialização em determinado conheci-mento científico como a imensa falta de con-dições humanas a que o cidadão tem direitoem seu país levam a uma proximidade entreas diferentes nações e a um processo migra-tório cada vez mais presente.

Qual o brasileiro que não viveu essaexperiência no próprio país? Diante da ex-tensão geográfica do “Verde-Amarelo”, asdiferenças culturais fazem-se presentes,pois não precisamos ir muito distante parasentir-nos imigrantes ou estrangeiros. Sen-timento este tão conhecido na prática doanalista quando possibilita a seu pacientee a si próprio o acesso às suas partes es-trangeiras. (Koltai, 2000 e Kristeva, 1994)

Inicialmente, alguns conceitos são necessá-rios para que possamos falar a mesma língua –cada leitor com seu background cultural.

Imigrar significa entrar num país estra-nho para nele viver sem tempo previsto desaída, enquanto que, segundo Koltai (2000),o senso comum denomina estrangeiroaquele que vem de outro lugar, não estáem seu país e, ainda que em certas ocasi-ões possa ser bem-vindo, na maioria dasvezes é passível de volta ao país de ori-gem, repatriado.

pratos novos e buscar nostalgicamente osalimentos de sua terra, aplacando sua an-gústia, seja pelo sentimento de des-proteção, seja pelo sentimento de culpa peloque deixou para trás.

Ressaltar os resultados de Sebben (1996),o idioma e o alimento como dois pontos quemais expressam a experiência de aculturação,visa focalizar o inevitável retorno da experiên-cia vincular do imigrante com sua própria mãe,desestabilizando seus referenciais mais pri-mários, sua base identificatória.

Além da primeira fase de separação-individuação que atinge a faixa dos 3 anosde idade (Mahler; Pine & Bergman, 2000),fala-se, hoje, na segunda fase do processoque é vivida na adolescência e, até, na ter-ceira fase, etapa adulto jovem.

Por que não embarcar na nau do imi-grante, sob o timão de Mahler? Um proces-so em que o indivíduo tanto possa “des-li-gar-se” de sua “pátria-mãe” – cultura nãodominante – por um processo deinternalização, subfase da constânciaobjetal exitosa – quanto “des-ligar-se” dosobjetos internalizados para amar – assimi-lar - objetos exteriores e extrafamiliares dacultura dominante – identidade única?

A aculturação

Alguns autores escolhem Erik Erikson pararealizar a leitura do processo de aculturação,outros se reportam a Freud, mais especifica-mente, em Mal-Estar na Civilização e Toteme Tabu. Outros optam por Lacan, a própriaautora do presente artigo já abordou essetema segundo Klein. Mas é Mahler quem seaproxima do cerne da vivência de aculturação,o separar-se e o individualizar-se. Ela mesmaescreveu sobre imigração, trabalho baseadoem sua própria experiência.

Antes de navegarmos com Mahler, é in-teressante ressaltar dados apresentados emSarriera (2000): ao investigar o processo deaculturação, ele expõe várias modalidadesde adaptação. Entre elas, salienta o modelointerativo de aculturação –IAM – de Bourhiset alii, que considera o efeito do impacto cul-tural, segundo o grau de vitalidade dos gru-pos de imigrantes – não dominante - e o deacolhida - dominante. Os primeiros distribu-em-se em integração (não deixam de consi-derar seus valores étnicos originais, ao mes-mo tempo em que absorvem os valores do

No presente trabalho, não será dadaênfase a essas diferenças vivenciais, mas,sim, será focalizado o que lhes é comum -o processo de aculturação.

A mudança de fronteiras gera uma signifi-cativa demanda psíquica, pois, por pior que oantigo seja, ele é conhecido e o novo é sem-pre gerador de muitas inseguranças, vivênciade caos e de angústias primitivas. Principal-mente quando o novo coloca em xequeparâmetros e referenciais tão intrínsecos comocostumes, valores e credos; enfim, pontos quesustentam o desenvolvimento e a formaçãode um indivíduo. Sabe-se que a experiênciade desterrar se contrapõe ao sonho da conti-nuidade, à estabilidade e ao amparo que aherança cultural nos insere e que transcendea experiência individual. Esse sentimento, de-nominado pertenencia, é abordado porTeichner (2001, p.3) quando diz que:

Imigração

Segundo Suárez (2001), a experiênciade imigração exige um trabalho intra-psíquico intenso para poder processar osobjetos valiosos perdidos e os novos ad-quiridos. É um luto que marca quem o pa-dece, enfrentando a dor da separação paraincorporar uma nova forma de vida, umantes e um depois da imigração.

O referido autor e Berry (in De Biaggio& Paiva, 2004) falam-nos do processo deaculturação, isto é, das mudanças decor-rentes das relações entre pessoas e gru-pos, seja por um longo contato ou por pe-ríodos curtos de tempo, seja em nível inter-nacional (entre nações-estado) ou intra-nacionalmente (entre grupos culturais étni-cos morando conjuntamente em socieda-des pluriculturais). Portanto, o processo en-volve dois ou mais grupos com conseqüên-cias para ambos - o dominante e o não-do-minante se aculturam.

A aculturação psicológica concebe as mu-danças psíquicas ocorridas no indivíduo emcontato com o grupo. A identificação com ogrupo de origem, cuja herança ancestral nãopode ser mudada, embora possa ser nega-da ou ignorada, tem sido denominada deidentificação étnica e, de identificação cívicaou nacional, o sentimento de pertencer a, serparte de um país ou grupo dominante, po-dendo ser essa mutável. Essas identificaçõesnão estão negativamente correlacionadas,

elas são independentes, podendo ser aninha-das – a identidade étnica de um indivíduopode ser contida na identidade cívica ou na-cional (in De Biaggi & Paiva, 2004). Emboraindependentes, o indivíduo vive um proces-so de transformação psíquica extremamen-te complexo para que a resultante dessasidentidades seja harmoniosa.

Sebben (1996) ressalta o idioma e o ali-mento como dois pontos agravantes na ex-periência migratória, pois ambos corrobo-ram para a identidade do sujeito.

Linguagem

A aprendizagem de uma nova linguagem,uma língua diferente da materna, fará parteda experiência do processo de aculturaçãodo imigrante, evidenciando a importante li-gação entre a linguagem e o afeto.

Segundo Revuz (2000), o exercício re-querido pela aprendizagem de uma línguaestrangeira revela-se delicado, pois ao so-licitar, a um tempo, nossa relação com osaber, nossa relação com o corpo e nossarelação com nós mesmos, na condição desujeito-que-se-autoriza-a-falar-em-primeira-pessoa, solicitam-se as bases mesmas denossa estruturação psíquica e, com elas,aquilo que é, ao mesmo tempo, o instru-mento e a matéria dessa estruturação: a lin-guagem, a língua chamada materna.

Portanto, no processo de aculturação,se está diante da transgeracionalidade vin-cular da língua materna que vai provocarum deslocamento de marcas anteriores. Deacordo com a referida autora, esseestranhamento do dito na língua estrangei-ra que é sempre vivido como, um pouco,tornar-se um outro, pode levar a uma per-da, até a perda de identidade; uma opera-ção salutar de renovação e de relativismoda língua materna; ou, ainda, a descobertaembriagadora de um espaço de liberdade.

Ao mesmo tempo em que, com facilida-de, alguns imigrantes possam aprender bema língua do outro e se fazer presente um te-mor de romper com as amarras que o ligam àlíngua materna, também sabem e sentem quenunca serão um deles, um nativo daquele país.

O alimento, por sua vez, é o outro agra-vante nessa experiência, pois suscita osvínculos primitivos com o seio materno, po-dendo haver, como resultado na vivênciado imigrante, uma rejeição absoluta aos

Lúcia Grigoletti*

8 Artigo

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grupo dominante); assimilação (transvestem-se com a roupagem do grupo dominante);separação (mantêm seus valores étnicos,mas sem relação favorável com o grupo do-minante); anomia (não mantêm a identidadeétnica original, nem boas relações com onovo grupo); individualismo (mantêm seusvalores originais como realidade essencial,não considerando o grupo dominante). Porsua vez, as comunidades de acolhida – gru-po dominante - podem ser de integração,assimilação, segregação, exclusão e indivi-dualismo. A interação entre cada modalida-de de grupo – dominante e não-dominante -

pode resultar em consensual, problemáticaou conflituosa.

A resultante consensual: integração xintegração,é aquela que se caracteriza pelapossibilidade de o imigrante e o grupo deacolhida reconhecerem a parte estrangeiraque existe dentro de si, podendo realizar asíntese integradora entre o externo e o in-terno. Essa tão conhecida dicotomia huma-na nas demais resultantes permanece in-consciente, sendo identificado proje-tivamente à parte estrangeira: na culturamajoritária no caso do imigrante e, nesteúltimo, no caso do grupo de acolhida.

9Artigocontinuação

Portanto, pode-se dizer que o imigrante,cuja resultante é consensual em seu proces-so de aculturação, pôde formar uma repre-sentação da “pátria-mãe”, distinta da repre-sentação de si – integração entre as duas cul-turas – identidade cívica que contém a identi-dade étnica. Esse indivíduo, cuja identidade ébicultural, pôde exitosamente “re-viver”, juntoao grupo de acolhida – cultura dominante –as subfases do processo de separação-individuação: diferenciação, treinamento,reaproximação e constância objetal (Mahler,Pine & Bergman, 2002), constituindo assim,uma identidade única, cuja flexíbilidade do self

lhe permite navegar nos sete mares.O decisivo não é conhecer, e sim, tor-

nar a desconhecer. (Kovadloff, 2003)A experiência clínica da autora e suas

pesquisas junto aos imigrantes (Grigoletti &Nascimeto, 2004) reforçaram o desafio deaprofundar-se nesse mar estranho. Inevita-velmente, também a colocaram no lugar deestrangeira, na medida em que se propôs aultrapassar a linha divisória do conhecido, dojá vivido, a dar continuidade à familiarizaçãocom o estrangeiro de si própria.

Membro Candidato da Sociedade Psicanalíticade Pelotas

Violência e TraumaCátia Olivier Mello1

Ruggero Levy2

Apesar de todos os avanços da civiliza-ção no campo da ciência, da tecnologia, daarte, da filosofia, das ciências humanas edo direito, a violência segue assolando ahumanidade em que pese – e até poder-se-ia dizer, utilizando – os progressos dacivilização, por exemplo, através do uso datecnologia. Talvez por isso, Rouanet (2004)afirma que, se a histeria foi a doença daépoca nos tempos de Freud, o trauma é adoença dos nossos tempos. A violência esua mídia têm atingido proporções plane-tárias assumindo feições próprias em cadaregião do planeta. Visando participar destedebate para entender este fenômeno e pre-

parar-se para o congressoda IPA em julho próximo, re-alizou-se na SPPA oSimpósio Violência e Trau-ma, nos dias 18 e 19 demarço de 2005.

Tivemos como convida-dos o prof. Sergio PauloRouanet (filósofo, cientistapolítico), o dr. LeopoldoNosek (SBPSP) e o dr.Carlos Gari Faria (SPPA). Oevento foi planejado parahaver uma discussão pro-funda do tema com a parti-cipação de todos. Nestesentido, na abertura houveum painel que ospainelistas apresentaramsuas idéias, no sábado pelamanhã houve discussão depequenos grupos que for-mularam novas questões

para um painel final com os mesmos convi-dados.

Os painelistas abordaram a problemáti-ca da violência e do trauma, cada um des-de um vértice próprio: o prof. Rouanet par-tiu de uma análise político-social mais am-pla; o dr. Nosek abordou como a violênciatraumática é elaborada pela cultura atravésde um processo de representabilidade; e odr. Gari focou-se no âmbito individual pró-prio do trabalho analítico.

Uma das características abordadas peloprof. Rouanet no sentido de caracterizar osnossos dias foi o que chamou de um “retor-no ao fundamentalismo”. Analisando as se-melhanças e diferenças entre os fun-damentalismos monoteístas, o católico, o

judaico e o islâmico, levantou a reflexãosobre esta necessidade de nosso tempo degrandes setores da humanidade estarem sevoltando para uma forma messiânica de li-derança, ao invés de buscar a autonomiade pensamento. A tese principal do prof.Rouanet é que “a modernidade infligiua milhões de seres humanos um trau-ma profundo ao arrancá-los de suasculturas tradicionais, impondo-lhesuma secularização forçada”, causandoum sentimento de desamparo de efeitostraumáticos. O retorno ao fundamentalismoviolento implicaria numa fixação positiva eoutra negativa do trauma. A positiva seria arepetição de atos violentos em que o“deicídio” seria rememorado. A negativaseria a regressão a um mundo em que “areligião reinava sem partilhas e a au-toridade das Escrituras não era con-testada”. Evidentemente que o fenômenoé complexo, mas esta seria uma das razõesde um retorno ao fundamentalismo.

Procurando delimitar o campo de açãodos psicanalistas e alertando para a ampli-tude do problema, o dr. Nosek procurou de-finir o mot just para definir o problema emdebate. Conclui que o sentimento de ter-ror seria o mais apropriado, por evitar umaexpansão demasiada do tema, centrandoa reflexão sobre um estado de alma.Temas como o terror, o uncanny, o sinis-tro, estão no âmbito da reflexão psicanalíti-ca. Neste território, o da vivência de umestado de alma bruto como é o sentimentode terror, o psicanalista pode contribuir paraentender como ocorre a passagem à repre-sentação, ou dito de outro modo do ato aopensamento, ou da barbárie ao civilizado.Ilustrou suas idéias, em sua exposição,

como a exibição de imagens de tapetesafegãos em que a brutalidade da guerra foisendo inscrita espontânea e gradualmen-te, através de figuras na tessitura dos mes-mos. Foi notável verificar o processo defigurabilidade ocorrendo nos artesãos deum povo, revelando a tentativa de elaborara vivência coletiva do terror da guerra.

Procurando refletir mais especificamen-te sobre nossa tarefa com o paciente emanálise, o trabalho com pacientes cuja difi-culdade se centrava justamente na forma-ção de lacunas da formação da subjetivi-dade, da capacidade de pensar e represen-tar e, portanto, de se comunicar com o ana-lista foram abordadas pelo dr. Gari tanto doponto de vista técnico quanto teórico. Anecessidade de o analista estar atento aestas mudanças próprias à cultura atual –de modo cada vez mais freqüente – foiapontada pelo dr. Gari como sendoprioritária para um trabalho de construçãoda subjetividade.

Muitas questões puderam ser discuti-das e aprofundadas. O grande número departicipantes no Simpósio, bem como ascontribuições desde pontos de vista com-plementares dos convidados deram umadimensão a todos do quanto este temaestá presente na nossa vida diária, comoafeta nossa mente no que diz respeito aotrabalho analítico, além da responsabili-dade dos analistas quanto a algo que é,infelizmente, uma das marcas de nossotempo: a violência.

1 Membro Aspirante da Sociedade Psicanalíticade Porto Alegre.

2 Membro Efetivo e Analista Didata da SociedadePsicanalítica de Porto Alegre.

Head, de Francis Bacon.

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Doação de Órgãos: uma luta pela vidaPor George

Para Batia, Alon e Beny

Alirio Dantas Jr.

Na cir-cunstância dador sofrida pelamorte de seupai, o poetaDylan Thomasescreveu umlindo poemaonde incita seupai, e provocao leitor, a lutar

pela vida frente à morte: “Não mergulhe tranqüilonesta noite suave. Lute, lute contra o morrerda luz”1. Toda pessoa nasce com o direito à vida e àbusca da felicidade... e com a certeza da morte. Nempor isto estamos obrigados a nos conformar com ela.A cada um de nós assiste o direito de lutar pela vidacom todas as forças e por todos os meios disponí-veis. Lutamos por nossa própria e pela vida dos queamamos, que nos são queridos. Esta luta pode sertenaz, obstinada e mesmo furiosa. Nada nos com-pele a aceitar a morte da luz. No entanto, tão certoquanto é triste, estamos condenados a perder estaluta em algum ponto, no final da vida.

Enquanto pudermos, negaremos a sua presençae nos apegaremos a toda esperança. Tentaremos afir-mar que a morte não chegou... não ainda. E enxerga-

remos vida mesmo quando médicos disserem quenão há mais vida, que não haverá mais reversão, queo que vemos é uma sobrevida artificial mantida porsofisticados sistemas de suporte, cuja aplicação não étemporária e não busca uma recuperação. Estes sis-temas apenas adiam um final que recusamos aceitar.Quando a morte vier, vem o desespero. A angústia donunca mais e a revolta contra o destino cruel. Os ritosfúnebres são o primeiro marco de nossa humanidade.Eles nascem da dolorosa consciência da morte, nas-cem para elaborar nossa incapacidade natural de acei-tar este destino indesejável.

A revolta, a negação e o desespero são formasnaturais de enfrentar esta tragédia. Até que um dia,de repente, descobrimos pela saudade que a vidapersiste, em sua infinita teimosia, contrariando arealidade indesejada. Através da saudade recupe-ramos pedaços da vida de quem partiu. E experi-mentamos, com nostalgia, a sua presença viva.Quando aceitamos a saudade descobrimos, comencanto, a magia da vida humana. Quem morreuvive em cada um de nós, onde quer que seja lem-brado, onde quer que provoque saudade. E um novoparto tem efeito, uma nova luz é dada e ressurgedepois de apagar-se por um tempo.

Não haveria muito sentido em termos consciên-cia da morte sem que esta consciência pudesse en-

contrar na morte outro sentido para a vida. Damossentido a vida, mesmo em face da morte quando per-mitimos que a pessoa querida que parte continue aviver, a causar em nós sentimentos, a trazer lembran-ças que alegram e confortam. Damos este sentido avida quando permitimos que quem morra continue aviver. E possa dar à luz, uma outra forma de existir.

Doar órgãos não é, nem de longe, aceitar amorte. Nem tão pouco beneficiar outro com a mortede quem queremos bem vivo. Muito menos acei-tar abreviar esta morte indesejada e sofrida paraservir a outra pessoa. Nada mais longe da verda-de... Doar órgãos é permitir que a humanidadenão se entregue tranqüila a esta noite suave; é,ao contrário, dar uma chance para que a luz nãomorra, e que a vida ressurja num “sonho impossí-vel” e brote do “impossível chão”. Doar órgãos épermitir que a luz de quem morre renasça e conti-nue a brilhar, ainda que em outra pessoa, mesmodistante de nós. No íntimo, saberemos sempre quese aquela vida valeu a pena, ela também soubeencontrar, mesmo em sua morte, um outro senti-do para continuar vivendo. É um ato de supremagenerosidade e de grande humildade.

Com certeza, para a família que sofre, a idéia dadoação de órgãos é revoltante. Como se o mundonão ligasse para aquela luta contra o morrer da luz,

como se não se importasse com a dor e o desesperovividos. No momento em que mais perdemos, surgealguém que parece querer ganhar com isto. É um sen-timento natural, embora profundamente injustificado.Porque é menos triste quando quem falece pode con-tinuar vivo nos filhos, nos amigos, nas saudades quedespertará. É sinal que a morte, cruel que seja, nãoextinguirá a luz... Teimosa, a vida gera uma nova luz,um novo parto, uma nova vida. Este é o único sentidoda doação: dar uma nova luz, a uma vida cuja luz estápor apagar-se. Pouco importa que seja outra pessoa,outra vida. Como disse o poeta John Donne, nenhumhomem é uma ilha, mas parte de um continente. “Amorte de cada homem me diminui, porque euestou envolvido com a humanidade. Portanto,não perguntes por quem os sinos dobram, elesdobram por você”2.

Alirio Dantas Jr.(ME e Analista Didata da SPR)

1 “Do not go gentle into that good night.Rage, rage against the dying of the light.”

2 “No man is an island,Entire of itself….

Each man’s death diminishes me,For I am involved in mankind.

Therefore, send not to knowFor whom the bell tolls,

It tolls for thee.”

Artigo/Homenagem

Maria deS a n t i a g oD a n t a sQuental, ac o n h e c icomo “Tote”,fora do âmbi-to psicanalíti-co. Foi emum final desemana, nacasa decampo de

um primo meu, que na época era seu namorado.Gostei dela à primeira vista. Mulher bonita, fina,delicada como um “Biscuit” (minha mãe se referea ela desta forma). Soube, então, que era psica-nalista da SBPRJ. Rapidamente se estabeleceuuma conversa entre nós duas e passamos o finalde semana falando das nossas instituições e donosso ofício.

Sempre que nos encontrávamos em reuni-ões sociais, tinha a sensação de estar revendouma grande amiga. Os anos de passaram, onamoro com o meu primo chegou ao fim e elamudou de instituição.

De longe, ia tendo noticias sobre a Tote.Participou da fundação da Rio III; um dia umaanalisanda chega na sessão e fala: “Eliana,entrou na minha aula de pintura com o profes-sor Lena, uma psicanalista. O nome dela é Tote.Ela é tão delicada tão sensível!”. Enquanto a

ouvia lembrava do meu primeiro encontro coma Tote e do mesmo sentimento que ela me des-pertou e agora escutava, através das palavrasda minha analisanda. Ficamos muitos anos semnos encontrarmos, mas de uma maneira ou deoutra, eu ia tendo notícias dela.

Em outubro de 2003 fui convidada pelo pre-sidente da ABP, Carlos Gari Faria, para fazerparte da sua Diretoria. Em janeiro de 2004, ti-vemos a nossa primeira reunião na sede daABP. E qual foi a minha alegria quando me dis-seram que Maria Quental era a nova Superin-tendente. Quando ela chegou, manifestei o meuentusiasmo e percebi que o sentimento era re-cíproco. Como duas amigas que não se viamhá muito tempo, começamos a colocar a con-versa em dia (meu primo, seus pais, Rio III, etc.)

Nossa primeira viagem a trabalho foi paraSão Paulo. Eu gostava de ouvi-la, de olhá-la.Que mulher bonita, interessante! Conversamosmuito sobre a sua atividade como artista plásti-ca, paralelamente à diminuição de seu traba-lho clínico. Estava muito feliz neste novo traje-to. Mas sua participação na Rio III continuavacada vez mais intensa. Sentia muito orgulho deestar lá. Engajada na ABP, vinha se dedicandoà sua função com muita responsabilidade, em-penho e claro, delicadeza!

A reunião seguinte foi em Campo Grande (MS).Chegando lá nos deparamos com um frio inespe-rado. Tanto ela quanto eu tínhamos levado roupaspara um calor de 40º e assim, colocando uma rou-

pa em cima da outra fomos nos agasalhando e éclaro que a receptividade dos colegas de lá ajudoua nos aquecer.

Durante a nossa reunião matinal, no inter-valo, ela me disse: “Eliana, quando terminaro nosso encontro quero te mostrar os ban-cos de onça que decoram o hotel. Eles sãolindos !!!” E assim fizemos.

Perguntamos ao gerente do hotel onde po-deríamos adquiri-los. Ele nos deu o endereço e,animadíssimas, fomos em busca do nosso obje-to de desejo (confesso que o meu surgiu a partirdela). E qual a nossa frustração quando lá che-gamos: a loja havia acabado de fechar. Tote nãoconseguiu esconder sua decepção. Ela queriamuito aquele banco! Olhei para dentro da loja evi que havia dois vendedores lá. Falei com ela:“Tote, vamos para a porta dos fundos da loja equando alguém sair, vamos pedir para entrar”.Imediatamente ela achou a idéia ótima e lá fica-mos aguardando. Logo saiu uma moça e eu lhedisse: “Moça, somos cariocas, não voltaremosaqui tão cedo e minha amiga quer muito com-prar um banco de onça”. A vendedora hesitou,mas frente à nossa insistência, finalmente nosdeixou entrar e como duas crianças exploramosaquela loja de artesanato, encantadas com tudoo que víamos. Tote comprou o seu banco de onçae eu comprei o meu. O dela seria colocado navaranda de sua casa e o meu no consultório.

No Encontro Preparatório para o CongressoInternacional, no Colégio Brasileiro de Cirurgi-

ões, nos encontramos, falamos da ABP, claro quetambém falamos dos nossos bancos e ela medisse que infelizmente não poderia ir à nossapróxima reunião porque coincidia com um casa-mento de um parente seu, mas ficou ali a certe-za que na próxima reunião estaríamos juntas.

Na próxima reunião do Conselho Diretor,nosso presidente Gari nos comunica que Toteestava com Câncer, havia se submetido a umacirurgia e estava indo para os Estados Unidos.De lá até o dia de sua morte ia acompanhandosua luta contra essa doença demoníaca.

É importante também dizer que toda a Di-retoria decidiu por não substituí-la durante suadoença, aquele lugar era da Tote.

Até que no dia 3 de abril, domingo à noite,recebo um telefonema do Gari muito triste di-zendo: “Tote morreu”.

No dia seguinte, chego ao meu consultório,olho para o meu banco de onça e penso: “Sóeu e Tote sabíamos o que este banco re-presentava para a gente”.

Na nossa ultima Assembléia de Delegadosrealizada em Recife no dia 16 de abril, Dr. CarlosGari assim falou sobre ela: “Discreta, capaz, fi-cou pouco tempo conosco, Mas realmenteera uma presença...por isso vocês podem en-tender como é difícil falar dessa ausência...”

Esse é e será a forma como sempre vou melembrar dela: Discreta, capaz, delicada e linda!

* ME da SPRJ

Maria de Santiago Dantas Quental, a “Tote”Eliana Mello Helsinger*

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11Notícias & Programação

No dia 26 de fevereiro, na sede VilaOlímpia da Sociedade Brasileira de Psi-canálise de São Paulo, realizou-se a IReunião da Câmara de Representantesdas Regionais da SBPSP. O assunto empauta foi o funcionamento e planejamen-to das atividades da Sociedade. A possi-bilidade de comunicação interativa entreas Regionais via internet foi um dos des-taques. A Comissão de Tecnologia eInformática deu suporte para transmis-

são, recepção de informações científicasem qualquer ponto do país.

A SBPSP também discutiu o desenhoapresentado na pesquisa sobre o perfil daClínica Psicanalítica na Sociedade. A pes-quisa também abrange os estados doParaná e Minas Gerais, além de outros pro-fissionais de variados estados da federa-ção. O senso foi inspirado na pesquisa rea-lizada pela ABP em 1998, com o título: “Per-fil da Clínica Psicanalítica Brasileira”.

Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto

A comissão organizadora da comemo-ração do aniversário de 50 anos da SPRJpromete realizar programação especial paraa data. A intenção é elaborar atividades quepermitam a participação de todos os mem-bros da Sociedade relembrando a históriae trajetória dos profissionais e estudiososque formaram a SPRJ.

Entre os programas científicos e so-ciais planejados, mesas-redondas sobre

os temas “A técnica psicanalítica onteme hoje” com coquetel na sede da SPRJ e“Jornada Científica” com jantar dançanteno Restaurante Sol e Mar, acontecerão,respectivamente, nos dias 30 de setem-bro e 1º de outubro. Ainda como parte dashomenagens, a revista Psicanalítica des-te ano terá artigos e entrevistas dedica-dos à comemoração do jubileu de ouro daSociedade.

Núcleo Psicanalítico de Goiânia

A primeira reunião administrativa do anodo Núcleo Psicanalítico de Goiânia, ocorri-da no dia 12 de fevereiro, abordou temasgerais com alerta à comissão científica paraa programação do ano. A Jornada do Nú-cleo Psicanalítico de Goiânia, que ocorrerána última semana de agosto, recebeu ên-fase especial além das atividades científi-cas e culturais que acontecerão no decor-rer do ano.

A reunião encerrou-se com a apresen-tação da palestra “Disfunção da IntegraçãoSensorial” pela psicóloga Fernanda Barros.Os membros presentes demonstraramgrande interesse no tema e um novo en-contro foi solicitado à apresentadora.

Em 19 de fevereiro, o NPG iniciou umasérie de encontros programados com a ana-lista didata da SPRPSP Suad Haddad de

Andrade. A psicanalista falou sobre o tema“Natureza em Função da Fantasia” após aapresentação feita por duas colegas de ca-sos clínicos ilustrativos sobre o assunto. Nosegundo encontro, em 12 de março, Suadcomandou discussão sobre o livro de HannaSegal: “Sonho, Fantasia e Arte”.

A Segunda reunião administrativa(19/03), concluiu a programação cientí-fica e cultural do ano. Coordenada porÁlvaro Veloso, na ocasião ficou decidi-da que a jornada terá como tema centralo “Poder e Violência”. A participação dacomunidade será na noite da sexta feirana conferência de abertura. ÁlvaroVeloso substituiu na coordenação doNPG, Zina Saad, que comunicou seuafastamento durante o primeiro semes-tre deste ano.

por eles mesmos, proferida pelo dr. PauloCésar Sandler, membro efetivo da SBPSPe o sucesso da II Jornada Psicanálise noDivã: pensando e sentindo o psicanalistaem sua função, que contou com uma vídeo-conferência diretamente da Itália com o dr.Antonino Ferro. Foram convidados os cole-gas Luiz Carlos Uchôa Junqueira Filho(SBPSP), Clarisvaldo Rapeli (SBPRJ/SBPSP). Silvana Maria Bonini Vassimon deFigueiredo (SBPRP/SBPSP) e MérciaMaranhão Fagundes (SBPRP e SBPSP)para levantarem questões para o debatejunto ao dr. Ferro. A colega Marta Petricciani(SBPSP) fez a tradução simultânea e de-bateu com o público presente os temas tra-zidos pelo psicanalista italiano. Também

participaram da mesa debatedora os cole-gas José Cesário Francisco Jr. (SBPRP/SBPSP), Paulo de Moraes Mendonça Ri-beiro (SBPRP/SBPSP) e o candidato Má-rio Luiz Prudente Corrêa (SBPSP).

O Instituto de Psicanálise iniciou a sele-ção para a V Turma de Candidatos com 17pretendentes. A diretoria considera o núme-ro reflexo da confiança que a Sociedade eo Instituto estão conquistando na cidade deRibeirão Preto e região.

Os preparativos para a organização daIII Jornada Psicanálise no Divã, no iníciodo segundo semestre, estão a todo vapor.O tema do encontro será Donald Meltzer,que completará um ano de falecimento emagosto.

Inicia-se, em 2005, mais uma gestão noNúcleo de Psicanálise de Marília e Região.O presidente anterior José Antonio Pavanpassou o cargo para Cibele M. M. BaptistaBrandão que compôs o novo conselho di-retor com: 1º secretária: Maria AuxiliadoraT. G. Ribeiro; 2º secretária: Carla Maria BrásBittencourt; 1ª tesoureira: Celina Araújo

Melo; 2º tesoureira: Guilherme AlencarLacombe.

O objetivo da diretoria é incentivar oNúcleo na sua vocação de propiciar aosseus componentes um local de convivên-cia frutífera para a aquisição e transmissãodos conhecimentos da Psicanálise. Conti-nuando a ser um pólo estimulante do de-senvolvimento de habilidades da práticapsicanalítica, as atividades propostas vãode ensino a psicoterapeutas, até o contatocom a comunidade de tal forma que possa

Alunos e professores da primeira turma do Curso de Especialização em Psicoterapia Psicanalítica

Dentre as atividades organizadas nosmeses de janeiro e fevereiro tiveram des-

taque a aula inaugural do Instituto de Psi-canálise da SBPRP com o título: Klein e Bion

levar conhecimento e melhorias na quali-dade de vida.

O NPMR, através de sua Comissão Cien-tífica, iniciou suas atividades no dia 26 de fe-vereiro. Com a presença de 42 pessoas, oencontro “As peculiaridades e dificuldades daclínica psicanalítica hoje” no Seminário Clíni-co I e II teve exibição do filme: “Simplesmente

Martha” e ao fim os comentários de SuadHaddad de Andrade (SBPRP e SBPSP).

O Serviço de Orientação e Encaminha-mento (S.O.E) faz parte da prestação deserviços à comunidade promovida peloNPMR. A população tem acesso apsicoterapia psicanalítica com baixos pre-ços e também oferece oportunidade aospsicólogos um treinamento profissional comsupervisão dos membros do Núcleo. “A pro-cura tem sido satisfatória. Um instrumentoútil aos alunos do Curso de Especialização

Page 12: ABP Notícias 26 – Junho 2005

12 Notícias & Programaçãoem Psicoterapia Psicanalítica promovidopelo Núcleo de Psicanálise de Marília, emparceria com a UNIVEM”.

A Comissão Regional de Integração temcomo principal meta viabilizar o fortaleci-mento do trabalho científico, cultural e psi-canalítico de nossa região (a cidade deMarília e mais 11 no interior), através de umintercâmbio entre seus membros e de umarepresentatividade bilateral com a Associa-ção Brasileira de Psicanálise.

Reiniciou-se em março, em parceriacom a Casa de Cultura Mário Quintana (daSecretaria de Cultura do RGS), o “Cinema,Literatura e Psicanálise”. Trata-se de ativi-dade que ocorre no terceiro sábado de cadamês, às 9h30 da manhã, na sala de cinemada Casa de Cultura. O interesse do públi-co é crescente e o evento tornou-se exce-lente oportunidade de contato com a comu-nidade e divulgação da Psicanálise.

Em colaboração com a Câmara do Li-vro de Porto Alegre, está sendo planejadoevento comemorativo ao centenário do nas-cimento de Érico Verissimo. Literatos epsicanalistas discutirão a obra desse escri-tor gaúcho.

Vários grupos de estudos coordenadospor membros efetivos e associados daSPPA promovem a educação continuada

dos associados e também oferecem opor-tunidade a estudantes universitários interes-sados em travar conhecimento com a teo-ria psicanalítica.

O Núcleo de Psicanálise da Infância eAdolescência realizou, de 19 a 21 de maio,a 7º edição do tradicional Simpósio de Psi-canálise da Infância e Adolescência daSPPA. Esta edição do evento contou coma parceria da Associação Psicanalítica deBuenos Aires (AP de BA) e teve como tema“Focos de Ansiedade no Desenvolvimentoda Criança e do Adolescente”.

O dr. José Carlos Calich substituiu o dr.Luiz Carlos Mabilde como coordenador repre-sentante da Sociedade Psicanalítica de PortoAlegre, junto às atividades do Núcleo Psica-nalítico de Santa Catarina e do Centro de Es-tudos Psicodinâmicos de Santa Catarina.

O congresso da IPSO, que acontecerápela primeira vez no Brasil, terá sede noRio de Janeiro.

Além das atividades científicas, comosupervisões entre regiões, pares, apresen-tação de trabalhos, o pré-congresso, distri-buição do jornal e outros durante a IPSOoferece um almoço gratuito no dia do pré-congresso e um jantar com típicas comi-das brasileiras seguido de grande festa.

O va lor hab i tua lmente cobradopara todas as festas em congressosinternacionais é de US$50 dólares.

Para os part icipantes brasileiros, ovalor será de R$ 90,00 antecipado. Onúmero de convites neste preço é li-mitado. Os interessados devem entrarem conta to com Gabr ie la Pszczo l([email protected]). No congresso,o valor será mesmo de US$50 dólares.Os organizadores pedem aos participan-tes a confirmação dos nomes para o pré-congresso no dia 27/07 no e-mai l :[email protected]. Outras informa-ções sobre acomodações no Rio de Ja-neiro: http://www.ipso-candidates.org/

Em Tupã, as colegas Maria Aparecidae Ângela Maria J. de Castro Rochacandidatas do Instituto da SBPSP estãodesde o segundo semestre de 2004 ofere-cendo grupos de estudos para profissionaisda cidade. Em Assis, os candidatos JoséAntonio Sanches de Castro e Cacilda G. P.Vilas Boas junto com os psicanalistas JoséAntonio Pavan e Alceu Roberto Casseb fa-zem o mesmo na região com o uso do cur-so temático “A Função Analítica”.

O NPA iniciou as atividades da primei-ra turma de Formação Psicanalítica emAracaju, sob a responsabilidade do Insti-tuto de Psicanálise da Sociedade Psica-nalítica do Recife. A Aula inaugural, ocor-rida no dia 08 de abril, foi proferida peloDr. Alírio Dantas Jr. (SPR) com o tema “APsicanálise Face ao Homem Contempo-râneo”. Estiveram ainda presentes os drs.Adalberto Goulart (SPR/Presidente doNPA), Fernando Santana (SPR/NPA),Carlos Vieira (SPB/NPA) e Stela Santana(SPR/NPA). Foi uma conferência aberta,onde outros interessados puderam parti-cipar, além dos doze novos candidatos:Aldo Christ iano, Angélica HermíniaSerôa, Bráulio Costa Neto, José Lara,Maria Lúcia Cavalcanti Filha, Márcia Bar-ros de Oliveira, Marisilda Nascimento,

Marta Hagenbeck, Petruska Passos,Sheila Bastos, Valéria Coelho e Vanda Pi-menta. No dia seguinte tiveram início osseminários teóricos sob a coordenaçãodos drs. Fernando Santana e CarlosVieira.

Os alunos do II Curso de PsicoterapiaPsicanalítica estão encerrando seus semi-nários teóricos com textos de André Green.Deverão concluir ainda uma série de su-pervisões individuais e seminários clínicos,além da apresentação de monografias. OCurso de Introdução ao Pensamento Psi-canalítico, voltado para iniciantes, encer-rou as atividades da sua primeira turmade alunos. Inscrições para novos cursosjá estão abertas.

Os Seminários Clínicos de Bion é o cur-so oferecido pelo dr. Carlos Vieira para

Sentados: Carlos Vieira, Fernando Santana, Adalberto Goulart, Stela Santana e Alírio Dantas Jr..Em pé: Sheila Bastos, Marta Hagenbeck, Márcia Barros, Aldo Christiano, Petruska Passos, VandaPimenta, Lúcia Cavalcanti, Valéria Coelho, Angélica Serôa e Bráulio Neto.

médicos e psicólogos, com encontros men-sais na sede do NPA.

Além disso, o Projeto Psicanálise & Ci-nema, reiniciou as atividades do ano com ofilme “Jornada da Alma” (França, 2003), dodiretor Roberto Faenza. O filme trata da his-tória de Sabina Spielrein, histérica, que quan-do adolescente foi tratada pelo dr. CarlGustav Jung (que pela primeira vez aplica

as teorias de Freud) e por ele se apaixonou.O NPA, cumprindo com sua responsa-

bilidade social, mantém a CPSI – ClínicaPsicossocial, que oferece atendimentos empsicoterapia e psicanálise à população debaixo poder aquisitivo, e está atualmentefirmando convênios com escolas, universi-dades e ONGs.

www.npsaju.org.br

Os membros e candidatos da SPR esti-veram bastante envolvidos com a realiza-ção do Evento Preparatório do 44º Congres-so Internacional da IPA que aconteceu emRecife de 14 a 16 de abril, cujo tema foi

“Trauma – Diferentes Sentidos e Aborda-gens em Psicanálise”. A capital dePernambuco foi uma das quatro cidadesescolhidas na América Latina a sediar oevento. Muitos analistas da SPR e núcleos

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afiliados apresentaram trabalhos nas me-sas redondas, dedicando-se ao estudo e aodebate do tema, demonstrando o interessede uma participação efetiva no CongressoInternacional que ocorrerá em julho no Riode Janeiro.

A SPR patricina quatro núcleos de for-mação em cidades importantes da região,com isso cumpre a função primordial de di-fundir o pensamento psicanalítico, expan-di-la de forma democrática através de umapolítica descentralizadora própria da histó-ria da sociedade. Os núcleos patrocinadostêm autonomia para administrar os progra-mas de formação previamente aprovadospelo Instituto, convidando os professores,inclusive fora dos quadros da SPR, estimu-lando a realização de Jornadas psicanalíti-cas como vem ocorrendo continuamenteem Aracaju, Maceió, Fortaleza e Natal.Aracaju começou sua primeira turma deformação, Maceió encontra-se em proces-so de seleção de candidatos, Fortaleza estáconcluindo a formação da primeira turmade analistas e inicia preparativos para umanova turma. Natal está em plena realiza-ção dos seminários. A formação da quartaturma de candidatos da SPR já está no fime uma quinta já foi iniciada, demonstrando

o empenho e maturidade da instituição emcontribuir para a formação de novos analis-tas e colaborar com a difusão e o desenvol-vimento da psicanálise.

Recentemente a sociedade passou porum momento delicado do ponto de vistainstitucional porque o processo eleitoraldemocrático que permite a alternância dediretorias não pode se cumprir plenamentepela falta de chapas concorrentes. A Socie-dade e seus membros demonstraram ma-turidade e responsabilidade Instituicionais,aplicando os seus estatutos, convocandouma assembléia geral permanente que seocupou de dar continuidade às atividadesda SPR que não sofreram qualquer inter-rupção ou prejuízo. Foram nomeados co-missões, comitês e grupos de trabalho quese encarregaram das diferentes tarefas quese apresentavam. Simultaneamente, a as-sembléia, sob a liderança do seu presiden-te Antônio Carlos Escobar, estimulou, idea-lizou e conduziu diversas reuniões até serencontrada uma solução satisfatória e defi-nitiva com a indicação de uma chapa re-presentativa da pluralidade dos membrosdessa Sociedade e das tendências existen-tes, conseguindo alcançar a quase unani-midade de apoio de seus membros.

Durante os dias 2, 3 e 4 de junho, acon-teceu a VII Jornada do Núcleo Psicanalíti-co de Maceió que foi realizado no HotelPonta Verde. Com o tema “Violência e Po-der: Ressonâncias na Sociedade Contem-porânea”, o primeiro dia teve abertura como presidente da ABP, dr. Carlos Gari Faria(RS) e com a presidente do NPM, dra. Ma-ria Rocha de Mendonça.

No dia 3, os psicanalistas CláudioRossi (SP) e Mário Alves Baptista fize-ram conferência sobre “Violência e o im-pacto na construção da mente” sob a co-ordenação de Conceição Aciole (AL). Otema “O efêmero e o banal como defesana vida psíquica” será abordado pelo dr.Pedro Gomes (RJ), sob coordenação dadra. Crisales Rezende (AL). “A funçãomaterna e paterna em nossos dias” é otema da palestra dos drs. Adalberto An-

tônio Goulart (SE) e Conceição Aciole(AL) sob a coordenação de EduardoAfonso Júnior (RN). Para fechar o se-gundo d ia, o publ ic i tár io AlmirGuilhermino (AL) proferiu palestra comtema “Ressonâncias do Virtual e daMídia na Construção dos Vínculos soba coordenação de Carlos Alberto Fon-seca (AL).

No último dia, aconteceu o seminá-rio clínico e a apresentação dos temaslivres. Antes do encerramento, que foirealizado pela coordenadora Vera Lú-cia Barbosa (AL), os psicanalistas pu-deram participar da “Sessão Papo, Pi-poca e Refrigerante: Filme Cazuza” co-mandada pela psicopedagoga Vera Lú-cia Tenório Ribeiro Fernandes (AL) ecoordenada por Rosinete Maria de Men-donça Melo (AL).

Notícias & Programação 13

Agenda Científica 2005

JUNHO

VII Jornada do Núcleo Psi-canalítico de Maceió2 a 4 de junhoMaceió/ALwww.npm.com.br

Wilfred Bion TodayFriday 10 to Sunday 12 JuneLondon, Englandhttp://www.psychol.ucl.ac.uk/psychoanalysis/bion.htm

JULHO

IX Congreso Peruano dePsicoanálisis

Psicoanálisis: Proceso yTransformación15, 16 y 17 de JulioLima – PeruSociedad Peruana dePsicoaná[email protected]

6th International Neuro-Psychoanalysis CongressDreams and psychosis24 a 27/07Rio de Janeiro - RJ

XVIII Congresso - IPSO“Trauma: Novos Desenvol-vimentos em Psicanálise”27 a 31/07Rio de Janeiro – RJ

www.ipso-candidates.org

44Th InternationalPsychoanalyticalAssociation Congress“Trauma: Novos Desenvol-vimentos em Psicanálise”28 a 31 de julhoRio de Janeiro – RJwww.ipa.org.uk

SETEMBRO

VI Jornada de Psicanálisede AracajuV Encontro de Psicanálise daCriança e do AdolescenteSofrimento psíquico e con-

temporâneo22 a 24 de setembroAracaju/SENúcleo Psicanalítico [email protected]

NOVEMBRO

XX Congresso Brasileirode Psicanálise11 a 14 de novembro“Poder, sofrimento psíquicoe contemporaneidade”.Brasília, DFAssociação Brasileira dePsicanálisewww.abp.org.br

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14 Notícias & Programação

Núcleo Psicanalítico de Florianópolis

Da nova diretoria do NPF fazem par-te do Conselho Diretor: Gley S.P. Costa,Lores P. Meller e Adonay Genovese Fi-lho. A Diretoria Administrativa é compos-ta por Márcio J. Dal-Bó (presidente);Mayra D. Lorenzoni (secretária executi-va);: José Facundo P. de Oliveira (se-cretário científico) e José Ricardo P. deAbreu (tesoureiro).

As atividades científicas do Núcleoiniciaram em maio e irão até novembro. Em cada mês acontecerão dois semi-nários, um de teoria psicanalítica e umsobre temas que envolverão atendimen-to a adolescentes num total de 14 se-minários que acontecerão no hotelPartenon.

Ainda durante este ano o Núcleo terámais uma jornada em parceria com os

cursos de medicina e psicologia daUNISUL de Tubarão, sobre o tema Trans-tornos Alimentares. A jornada acontece-rá em 17 de junho no campus da UNISULem Tubarão/SC.

Também, através de parceria com ocurso de medicina da Unisul-TB, aSBPdePA e a Fundação UniversitáriaMário Martins de Porto Alegre (FUMM),o NPF estará participando da criação deum ambulatório especializado em Doen-ças Afetivas e Transtornos Alimentaresque funcionará na cidade de Tubarão/SC. Este é o primeiro passo no sentidodo desenvolvimento de um núcleo depesquisa que funcionará juntamente coma cadeira de psiquiatria do curso de me-dicina da UNISUL-TB, com a SBPdePAe a FUMM.

Núcleo Psicanalítico de Belo Horizonte

O NPBH está com dois eventos pre-vistos além da conferencia “A ação tera-pêutica da psicanálise” realizada no dia7 de maio que teve o dr. Victor Manoel deAndrade como conferencista. No dia 4 dejunho, o dr. João Coutinho de Moura feza conferência “Uma Reflexão sobre a

Psicanálise Hoje”. Já nos dias 21 e 22de outubro, o auditório da fundação JoãoPinheiro será palco para o evento “Psi-canálise em Transformação com otema “Adolescência”. Promovido peloNPBH, o dr. José Ottoni Outeiral proferi-rá a conferência de abertura.

Núcleo Psicanalítico do Espírito Santo

O NUPES es tá dando con -tinuidade ao trabalho de Difusão daPs icaná l ise , e in ic iando o curso“FREUD: As bases da psicanálise e aEstruturação do Psiquismo Humano - Oprojeto e a interpretação dos sonhos”,com a coordenação do dr. OscarPaixão, da SBPRJ.

Seguem o grupo de estudos de Freud,com dra. Iara Borges e o grupo de estu-dos de Winnicott com dra. Nadia Franco.Também teve início o ciclo Psicanálise eCinema, que debateu os f i lmes:“Macbeth” e “Otelo”, nas versões deOrson Welles, além de “Freud Além daAlma”.

Dr. Romualdo Romanowski é eleito membro honoráriona Colômbia

A Associação Psicanalítica Colombia-na elegeu, em Assembléia Geral Ordiná-ria de 12 de fevereiro desse ano, o dr.Romualdo Romanowski como membrohonorário daquela associação. Aura

Victoria Carrascal Marquez em carta envi-ada a Romualdo, agradeceu “a valiosacontribuição e apoio” dedicados. O psica-nalista é membro efetivo da SociedadePsicanalítica de Porto Alegre (SPPA).

Homenagem ao professor Walderedo Ismael de Oliveira

A Associação Brasileira de Psicanálise,através de seu presidente Carlos Gari Fa-ria e a Universidade Federal do Rio de Ja-neiro (UFRJ), através do diretor do Institu-

to de Psiquiatria, Márcio Versiani, realiza-ram uma homenagem póstuma ao profes-sor Walderedo Ismael de Oliveira, no Insti-tuto de Psiquiatria da UFRJ em sessão do

Esclarecimento

O material referente a Notícias & Pro-gramação é enviado diretamente por cadafederada (sociedades, grupos de estudose núcleos), os quais mantém, todos, um re-presentante local, responsável pela comu-nicação com a Diretoria de Publicações eDivulgação da ABP.

Lamentavelmente, nesta edição, nãorecebemos as notícias da Sociedade Bra-sileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, da

Sociedade Brasileira de Psicanálise de Por-to Alegre, da Sociedade Psicanalítica dePelotas, da Sociedade de Psicanálise deBrasília, da Associação Psicanalítica Rio 3,da Associação Psicanalítica do Estado doRio de Janeiro, do Grupo de Estudos Psi-canalíticos do Mato Grosso do Sul, dosNúcleos Psicanalíticos de Curitiba, de San-ta Catarina, de Campinas, de Fortaleza ede Natal.

Centro de Estudos, Anfiteatro Prof. LemeLopes, no dia 18 de março, às 10h30. Osrelatores da mesa de homenagem foram

Eustachio Portella Nunes, José CândidoBastos, Roberto Martins, TheodorLowenkron e Ícaro Pacheco de Oliveira.

ERRATA no Roster da ABP - 2005

ROSTER DOS CANDIDATOS APERJ - RIO 4

Denise Peixoto Diniz JunqueiraRua Aníbal de Mendonça nº 123, apto202, Ipanema,22410-050 Rio de Janeiro, RJTel Res.: 21 2259-4902Email: [email protected]

Flávia Feital de FigueiredoAv. N.S. de Copacabana, 435/610 ,Copacabana,22020-002 Rio de Janeiro, RJTel Res.: 21 2275-7408 / 2542-0854 Email: [email protected]

Flavio Gustavo Thamsten FilhoAv. Ernani do Amaral Peixoto, 96/604,Centro, Niterói24020-074 Rio de Janeiro, RJTel/Fax Cons.: 2622-0497Tel Res.: 2612 - 0337E-mail: [email protected]

Ilana RubinRua Santa Clara, 50/820, Copacabana,22041-010 Rio de Janeiro, RJTel Cons.: 21 2549-1622Tel Res.: 21 2235-4637Email: [email protected]

Liane Maria Marques KriegerAv. N.S. de Copacabana, 195 / 1312,Copacabana

22020-000 Rio de Janeiro, RJ Tel Res.: 21 2541-5292E-mails: [email protected]@weavers.com.br

Marilena de Menezes Cordeiro AfradiqueAv. Nelson Cardoso, 1149/811, Taquara,Jacarepaguá22730-900 Rio de Janeiro, RJTel Cons.: 21 2423-1100Tel Res.: 21 2438-4131E-mail: [email protected]

Paulo Jorge DicksteinAv. Princesa Isabel, 150 / 1204,Copacabana22011-010 Rio de Janeiro, RJTel Cons.: 21 2275-2647Tel Res.: 21 2512-4611E-mail: [email protected]

Tatiana Monteiro de Castro Av. Prefeito Dulcídio Cardoso, 2848/1711, Bloco 2, Barra da Tijuca22631-900 Rio de Janeiro, RJTel Res.: 21 2431-2591Email: [email protected]

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Psicanalistas do mundo inteiro se encontramno Rio para o 44º Congresso da IPA

Cláudio Laks Eizirik*

Desde 1908, quando foi realizado umencontro informal em Salzburg, a Asso-ciação Psicanalítica Internacional tem re-alizado seus congressos internacionaisaproximadamente a cada dois anos,exceto durante as duas guerras mundi-ais. Nestes quase cem anos, 35 cidadessediaram os congressos, sendo 28 empaíses europeus, quatro na América doNorte, uma no Oriente Médio e duas naAmérica Latina. Em julho deste ano, fi-nalmente, teremos o primeiro congres-so da IPA realizado no Brasil, fazendo-se assim justiça a uma das comunida-des psicanalíticas internacionais que temevidenciado maior crescimento qualita-tivo e quantitativo.

Se, por um lado, o 44º Congresso daIPA tem esse significado histórico, e re-presenta mais uma etapa no lento pro-cesso de efetiva internacionalização denossa Associação – algo pelo qual ain-da há muito por fazer – por outro neces-sita ser reconhecido como o resultadoda mobilização de sucessivas liderançasda ABP e de vários colegas brasileiros e

Diretoria, Conselhos & Comissões

latino-americanosque tem participa-do, em várias posi-ções, na estruturaadministrativa daIPA.

A dois mesesdo Congresso, jácontamos com cer-ca de 2000 inscri-tos, o que nos per-mite supor que te-remos uma amplaoportunidade paratrocas e ativa par-ticipação. A prepa-ração de um Con-gresso dessa mag-nitude, com a res-ponsabilidade dedar seqüência auma tradição qua-se centenária e aomesmo tempoagrupar as princi-

pais tendências atuais e dar espaço paradesenvolvimentos teóricos, clínicos e deinterface com outros saberes é uma ta-refa complexa e desafiadora.

O amplo programa científico, queaborda as várias dimensões e alcancesdo tema oficial “Trauma: Novos Desen-volvimentos em Psicanálise “, e abre es-paços para inúmeros outras vertentes evértices de nossa reflexão contemporâ-nea, já pode ser visualizado no site daIPA (www.ipa.org.uk), onde também setem idéia do atraente programa social edas atividades culturais. Para a realiza-ção desta tarefa, vários comitês estão ematividade há alguns anos, como o Comi-tê de Programa, coordenado por RobertGalatzer-Levy, do qual participa nossocolega Elias Mallet da Rocha Barros, oComitê Local, coordenado por SérgioNick e o Comitê de Apoio Cultural, coor-denado por Cláudio Rossi.

Como em todos os congressos inter-nacionais de tal porte, cada participantetem a oportunidade de realizar o seu con-gresso, elegendo entre as várias ofertas

- painéis, cursos, trabalhos, encontroscom autores destacados, pesquisas, te-mas sobre a formação analítica (queocorrerão um dia antes e durante o Con-gresso), a atividade dos vários comitêsda IPA - aqueles que despertem seu in-teresse ou maior ressonância. Exami-nando o programa, desde já podemosconstatar que os mais expressivos per-sonagens da cena psicanalítica interna-cional estarão apresentando suas refle-xões ou desenvolvimentos sobre o tema,assim como sobre temas correlatos, evi-denciando a vitalidade e o caráter essen-cialmente questionador de nossa disci-plina.

Como ocorre com muita freqüência,uma das partes mais atraentes do Con-gresso se desenvolve nos corredores,nas conversas informais, nas trocas deexperiências, nas novas amizades quese formam fora dos recintos formais.Embora a Comissão de Programa tenhatido êxito em incluir o maior espaço pos-sível para essas trocas nas atividadesdo Congresso, certamente essas redesde convivência continuarão sendotecidas, reforçadas ou criadas, no cená-rio privilegiado do Hotel Sofitel, do Fortede Copacabana e adjacências, onde acomunidade psicanalítica internacionalreforçará laços e criará novas ligações.Como costumava dizer o primeiro presi-dente da ABP, Mario Martins, o conjuntode psicanalistas, pacientes e estudiososda psicanálise, constituem uma imensafundação internacional que se dedica aodesenvolvimento de nossa disciplina - epara a qual o Congresso do Rio certa-mente dará uma estimulante seqüência.

Ao mesmo tempo, teremos as reuni-ões administrativas regulares da IPA: aAssembléia Geral, as reuniões do Boardde Representantes, e reuniões de todosos comitês da IPA. A partir de julho, umanova administração - que terei a honrade presidir - assumirá suas funções, ha-vendo igualmente a renovação do Boardde Representantes, uma nova Secretá-ria, Monica Siedmann de Armesto, e umareestruturação dos diferentes comitês.

Tanto a psicanálise como a IPA en-frentam inúmeros desafios, que devemser enfrentados com objetividade e numesforço conjunto. A partir de consultascom inúmeros colegas e representantesdas principais instituições psicanalíticas,estão sendo estabelecidas as principaismetas da nova administração, que de-verão ser discutidas e aprovadas na pri-meira reunião do novo Board. Desde já,é possível destacar que atenção especi-al será dada ao estímulo de uma práticapsicanalítica consistente e sua possibili-dade de formulação conceitual, atravésde um programa científico contínuo e ar-ticulado com as sociedades e organis-mos regionais; à proteção de uma for-mação analítica qualificada, dentro dosdiferentes modelos reconhecidos; aomaior contato da IPA com seus membrose instituições constituintes, através deuma presença mais efetiva nas necessi-dades e problemas locais e regionais; aum maior diálogo com a cultura, a ciên-cia, a universidade e as necessidadesde saúde mental de diferentes comuni-dades; aos aspectos profissionais da prá-tica psicanalítica, dentro das espe-cificidades nacionais e regionais; às pu-blicações e às traduções que permi-tem reduzir desconhecimentos recípro-cos; às diferentes formas de pesquisapsicanalít ica; às relações com apsicoterapia e outras escolas psicanalí-ticas e ao desenvolvimento das diferen-tes áreas e sub-especialidades, bemcomo aos grupos de trabalho sobre te-mas relevantes de nossa inserção narealidade.

Com estas e as demais idéias que es-tão em germinação, esperamos fazer faceàs grandes questões do momento e con-tribuir para um cenário em que tanto a IPAquanto a psicanálise façam parte de umasólida realidade. Tanto para sua presen-ça ativa no Congresso do Rio, quanto paratomar parte nesta tarefa conjunta, deixoaqui meu cordial convite.

* ME da SPPA, Presidente Eleito da IPA.

Cláudio Laks Eizirik

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16 Cultura

A Arte de Viajar em resenhaMarisilda Nascimento*

A arte de viajar trata também do que oautor entende como o “sublime” nas via-gens, principalmente como a força da na-tureza desperta nossa fraqueza pela su-gestão de poder nas suas paisagens. “Osublime está associado a um podermaior que o dos homens e que lhes fos-se ameaçador”. Freud, como nos fala seubiógrafo Ernest Jones também era um via-jante incansável, que admirava o sublimena natureza e que poucos prazeres erampara ele tão satisfatórios quanto a apreci-ação de belas paisagens e a visão de no-vas partes do mundo. Penso que a psica-nálise compartilha também da idéia doautor quando ele nos diz que locais subli-mes repetem, em termos majestosos, umalição que a vida diária comum nos ensinacom crueldade: “que o universo é maispoderoso do que nós, que somos frá-geis e efêmeros”. Poderíamos então pen-sar que nos afastaríamos desses locaisarrasados e enfraquecidos, mas pelo con-trário, saímos mais inspirados, menos oni-potentes e mais conscientes das nossaslimitações. Viagens a lugares sublimessimbolicamente consistem em suportar-mos as dificuldades que não conseguimossuperar, os acontecimentos que não po-demos controlar e a realidade de que oseventos ocorrem como podem acontecer.Ora! Parece que o mundo é injusto e quefoge à nossa compreensão. Na idéia doautor, os lugares sublimes sugerem nãoser surpreendente que isso ocorra.

Outro tópico interessante do livro dizrespeito à correlação das viagens com aarte, e do quanto a arte pode ser escla-recedora. Quando vivenciamos junto coma observação, nossa compreensão é am-pliada. A arte nos permite perceber as-pectos do mundo com mais clareza, epenso que, na viagem psicanalítica, aarte e sua expressão nos conduz a umaproximidade com o intuitivo, o criativo eo sonho. A realidade que o artista realçanas suas obras nos permite reconheceras características valiosas de sua visãode mundo. Penso que, com a psicanáli-se, adquirimos qualidades de artistas,quando saímos da observação para acompreensão, extraindo “algum senti-do da dor e vislumbrando as pontesde beleza”, de que fala o autor.

Proponho, então, com essa resenhaque em vez de turistas sejamos viajantese a diferença está, juntamente em não nosapressarmos, em sermos receptivos aonovo, essa é a disposição mental do via-jante: querer conhecer!

* Candidata do Núcleo Psicanalítico de Aracaju

sa atenção para os momentos críticos, quan-do na realidade nos deparamos com a “con-fusão indistinta do diferente”, nem sem-pre coerente.

As expectativas para o analisando quesofre e busca ajuda são muitas, e aidealização de alívio, resolução e felicidade,são confrontadas com a realidade dosetting, onde esse tempo não pode ser com-primido, tem que ser vivido, pensado. Os in-cômodos e a turbulência da viagem psica-nalítica não podem ser omitidos. Não pode-mos nos esquecer de nós mesmos nessaviagem. Portanto como conclui o autor, omelhor aspecto das viagens: a expectativa.

Entretanto muitos viajantes para nãosofrerem a decepção com a realidade daexperiência concreta tentam, então, subs-tituir a vivência da experiência pela imagi-nação e podem retrucar que não há viagemmelhor do que as despertadas na imagina-ção. Num contraponto com a psicanálise,ler, saber e imaginar sobre esse tema, não

nos prepara para a experiência viva, ricaque é vivenciada no vínculo analítico. Deacordo com o pensamento de Bion, não nosajuda uma viagem intelectiva, mas sim, umaviagem de experiências emocionais, quenos permite mais do que saber, vir a ser.

O autor considera também o destinoescolhido, muitas vezes esse não é o pon-to principal, mas o desejo de ir embora, departir, decolar num avião e assim imaginarque podemos “nos erguer acima de gran-de parte do que se agiganta ameaçadorsobre nós”. Penso que o melhor da psica-nálise, não é o destino, mas sim as possibi-lidades de roteiro, de novos trajetos, deamplas perspectivas. Na arte de viajar oautor nos diz: “as viagens são parteirasdo pensamento”, no sentido de que viajar

possibilita o contato com emoções e idéiasde importância para nós, longe do cotidia-no, somos devolvidos a nós mesmos.

Pensando nos motivos da viagem e na va-lorização de elementos estrangeiros, o livro nosconta que não só por serem novos, mas esseselementos estrangeiros parecem que se har-monizam com nossa identidade. “O que con-sideramos exótico no estrangeiro pode seraquilo por que ansiamos em vão em nossopróprio país”, ou seja, muitas vezes, nossaidentidade demonstra pouca afinidade com avida que levamos, daí que viajar suscita a pos-sibilidade de mudar, de ir de encontro ao ver-dadeiro e esse desejo mobiliza a necessidadede compreender. Num paralelo com a psicaná-lise, quando o analisando embarca na viagemanálise espera encontrar no analista/guia qua-lidades que lhe faltam, valores inexistentes emsua própria vida/cultura.

Nos diz o autor ao filosofar sobre comoNietzsche viajava, que as nossas desco-bertas e o nosso aprendizado teriam que

ser justificados em nosso próprio in-teresse, “enriquecedores da vida”.Assim é a viagem psicanalítica, oseu objetivo é o autoconhecimento,a compreensão de nossa identida-de, o que possibilita uma vivênciade continuidade e de integração. Ci-tando Alain de Botton “somenteatravés de uma lenta evoluçãode curiosidade, é que o viajan-te pode acolher as vastas infor-mações sem entediar-se ou en-trar em desespero”.

O livro nos fala dos benefícios dasviagens que nos levam ao encontrocom a natureza. E pensei que retornare desfrutar do essencial, estar des-pojado dos adereços de defesa, oquanto pode ser libertador, e que, naanálise, com a experiência emocio-nal compartilhada, podemos estimu-

lar nossa generosidade e sensibilidade. Quan-do leio na “arte de viajar” que “a infelicida-de deriva de só se ter uma única pers-pectiva com a qual se trabalhar”, associocom os diversos vértices que a psicanálise nospossibilita ao desenvolver nossa capacidadede pensar. “Não só escutar as palavras e ossons, mas também a música”. (Bion)

Quando o autor fala de viajar sob aperspectiva do poeta Wordsworth, me cha-ma a atenção o que este poeta chama de“pontos no tempo” (cenas da natureza quepermanecem vivas e que quando consci-entes nos proporcionam alívio, força e estí-mulo). Pensei que a psicanálise ocasionaesses pontos no tempo, e podemos resgatá-los, dentro de nós, quando nos perceber-mos em dificuldade.

AA Arte de Viajar é um livro de Alain deBotton, que é pesquisador, filósofo e pro-fessor da Universidade de Londres. Fuiatraída, de início, pelo título sugestivo daobra, pois compartilho, com o autor, o gos-to pelas viagens, inclusive literárias. Noentanto, fiquei surpresa, ao lê-lo, pelamaneira inusitada como o autor trata tematão palpitante. O autor divide viajar em tó-picos interessantes, que contemplam des-de a partida, os motivos, as paisagens, aarte e o retorno; correlacionando com aidéia que diversos escritores e artistas ti-nham do que fosse viajar.

Ao lê-lo, percebo que o autor viaja tam-bém em considerações filosóficas e sinto-me estimulada a fazer reflexões psicana-líticas, empreendendo uma viagem tam-bém na compreensão do que nos motivaa fazer essa viagem tão turbulenta, miste-riosa e apaixonante, que é a psicanálise.

Pensando na expectativa, no tempo queantecede qualquer viagem, não podemosdeixar de considerar, o que nos motiva aescolher tal destino, e o autor nos ajuda quan-do diz que “eles expressam uma compre-ensão de como poderia ser a vida, foradas relações do trabalho e da luta pelasobrevivência”, ou seja: viajar para ir embusca do diferente, do que não temos ou doque não estamos vivendo. As expectativassão grandes, mas freqüentemente nos de-paramos com a realidade e podemos nosdecepcionar, mas como diz o autor: “seriamais verdadeiro e satisfatório sugerir queé essencialmente diferente”. A expectati-va de viajar reflete desejo e imaginação quesão confrontados com a realidade. Então porquê a realidade seria decepcionante? O au-tor explica que a imaginação artística e a ex-pectativa omitem e comprimem, elas elimi-nam os períodos de tédio e direcionam nos-

Marisilda Nascimento

“A Arte de Viajar” de Alain de Botton, Ed. Rocco, 272 pg.