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Notícias nauguramos uma nova diretriz. Criamos um espaço de debate acerca da formação psicanalítica nos Institutos do Brasil. Observamos que nossos Institutos se organizaram, há mais de meio século, com muitas semelhanças. Contudo, cada um mantém uma particularidade que os diferencia, singularizando-os. O ABP Notícias continua alimentando este tema com trabalhos do Instituto de Psicanálise de Campo Grande, Aloysio D’Abreu e Maria Inês Escosteguy Carneiro. Além disso, a ABP organizará em agosto, pela primeira vez, uma reunião de Institutos, em Porto Alegre, incrementando, com esta iniciativa, o debate entre os Institutos. Esta será uma das pautas do Congresso de Berlim em 2007, visando avaliar os chamados três modelos da IPA. O ABP Notícias, através dessa iniciativa, procura investir na troca de idéias que sustentam a formação dos futuros analistas, visando as novas gerações de pensadores da psicanálise, bem como, de Instituições Psicanalíticas voltadas para o futuro. Acrescentamos artigos sobre Investigação em Psicanálise, com o trabalho de José Carlos Calich e o de Jair Escobar, que abre uma janela para ampla troca de opiniões sobre a Profissionalização do psicanalista. O ABP Notícias já abordou estes instigantes temas, entretanto, pretendemos continuar estimulando o debate pela importância do tema. Boa Leitura, uma abraço. Leonardo A. Francischelli Carta do editor A violência e o ser humano I Ano X Nº 30 Rio de Janeiro Agosto 2006 Associação Brasileira de Psicanálise ABP promoverá censo (Pág. 17) ABP estimula debate sobre formação psicanalítica Os institutos de formação psicanalítica no Brasil , que trabalham há mais de meio século, têm pontos de con- vergência e, também, suas especificidades, o que os diferencia. Algumas dessas posições estão apresentadas neste número com colaborações do Instituto de Mato Grosso do Sul e do Rio de Janeiro. O assunto será deba- tido em agosto em Porto Alegre e é pauta do Congresso de Berlim, em 2007, que avaliará os três modelos da IPA. (Págs. 7 a 13) À procura do inconsciente Tudo aquilo que o ser humano não consegue ver, tende a ser colocado em questão, em dúvida. Entramos no terreno delicado de que tudo é relativo. É o caso do objeto do interesse da psicanálise, o inconsciente. Por isso, a pergunta que surge de tempos em tempos: Por quê a psicanálise? José Carlos Calich dá uma respos- ta, explica o processo, contextualiza o tema e mostra a sua evolução nesta primeira parte de seu trabalho. (Págs. 5 e 6) As grandes cidades brasileiras têm mostrado uma rotina de violências pessoais e coletivas, que levam os psicanalistas a se preocuparem com as consequências deste quadro crítico sobre o processo de formação e desenvolvimento do ser humano. Para o psicanalista Pedro Gomes, presidente da ABP, há nos dias de hoje um mundo de seres, cujo empobrecimento da estrutura mental impede o desenvolvimento da capacidade de lidar com os próprios afetos e com as realidades interna e externa. O resultado seria a barbárie. (Pág.19 ) Rio sedia I Encontro de Psicanálise de Crianças e Adolescentes As quatro Sociedades do Rio de Janeiro filiadas à IPA se reuniram e organizaram o I Encontro de Psicanálise de Crianças e Adolescentes, com o apoio da ABP e da Fepal. O evento, que terá convidados de outros Estados e do exterior, será realizado de 7 a 9 de setembro no Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro. (Pág. 14) A diretoria da ABP, junto com Conselho Científico e a Comissão Organizadora, já está entrando na fase final da preparação do XXI Congresso Brasileiro, que será realizado entre 9 e 12 maio de 2007, em Porto Alegre, e que terá como tema central “Prática Psicanalítica-Especificidade, Confrontações e Desafios”. Colabore e participe. (Pág. 17) ...................... ............ ............... XXI Congresso Brasileiro em preparação Qual é o status do psicanalista ? A resposta é pensada no artigo de Jair Escobar, que vem estudando esse ques- tionamento e discute os quatro eixos em que se apresenta o problema, pas- sando pela formação do psicanalista e pela forma de atendimento. (Pág. 20) Comitê da IPA aprova projeto da ABP (Pág. 17)

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Notíciasnauguramos uma nova diretriz. Criamos um espaço de debate acerca da formação psicanalítica nos Institutos do Brasil. Observamos que nossos Institutos se organizaram, há mais de meio século, com muitas semelhanças. Contudo,

cada um mantém uma particularidade que os diferencia, singularizando-os. O ABP Notícias continua alimentando este tema com trabalhos do Instituto de Psicanálise de Campo Grande, Aloysio D’Abreu e Maria Inês Escosteguy Carneiro. Além disso, a ABP organizará em agosto, pela primeira vez, uma reunião de Institutos, em Porto Alegre, incrementando, com esta iniciativa, o debate entre os Institutos. Esta será uma das pautas do Congresso de Berlim em 2007, visando avaliar os chamados três modelos da IPA. O ABP Notícias, através dessa iniciativa, procura investir na troca de idéias que sustentam a formação dos futuros analistas, visando as novas gerações de pensadores da psicanálise, bem como, de Instituições Psicanalíticas voltadas para o futuro.Acrescentamos artigos sobre Investigação em Psicanálise, com o trabalho de José Carlos Calich e o de Jair Escobar, que abre uma janela para ampla troca de opiniões sobre a Profissionalização do psicanalista. O ABP Notícias já abordou estes instigantes temas, entretanto, pretendemos continuar estimulando o debate pela importância do tema.

Boa Leitura, uma abraço.Leonardo A. Francischelli

Carta do editor

A violência e o ser humano

Azul - Pantone 273

I

Ano X • Nº 30 • Rio de Janeiro • Agosto 2006

Associação Brasileira de Psicanálise

ABP promoverá censo (Pág. 17)

ABP estimula debate sobre formação psicanalítica

Os institutos de formação psicanalítica no Brasil , que

trabalham há mais de meio século, têm pontos de con-

vergência e, também, suas especificidades, o que os

diferencia. Algumas dessas posições estão apresentadas

neste número com colaborações do Instituto de Mato

Grosso do Sul e do Rio de Janeiro. O assunto será deba-

tido em agosto em Porto Alegre e é pauta do Congresso

de Berlim, em 2007, que avaliará os três modelos da

IPA. (Págs. 7 a 13)

À procura do inconscienteTudo aquilo que o ser humano não consegue ver, tende a ser colocado em questão, em dúvida. Entramos no terreno delicado de que tudo é relativo. É o caso do objeto do interesse da psicanálise, o inconsciente. Por isso, a pergunta que surge de tempos em tempos: Por quê a psicanálise? José Carlos Calich dá uma respos-ta, explica o processo, contextualiza o tema e mostra a sua evolução nesta primeira parte de seu trabalho. (Págs. 5 e 6)

As grandes cidades brasileiras têm mostrado uma rotina de violências pessoais e coletivas, que levam os psicanalistas a se preocuparem com as consequências deste quadro crítico sobre o processo de formação e desenvolvimento do ser humano. Para o psicanalista Pedro Gomes, presidente da ABP, há nos dias de hoje um mundo de seres, cujo empobrecimento da estrutura mental impede o desenvolvimento da capacidade de lidar com os próprios afetos e com as realidades interna e externa. O resultado seria a barbárie. (Pág.19 )

Rio sedia I Encontro de Psicanálise de Crianças e AdolescentesAs quatro Sociedades do Rio de Janeiro filiadas

à IPA se reuniram e organizaram o I Encontro de

Psicanálise de Crianças e Adolescentes, com o apoio

da ABP e da Fepal. O evento, que terá convidados de

outros Estados e do exterior, será realizado de 7 a 9 de

setembro no Instituto de Psiquiatria da Universidade

Federal do Rio de Janeiro. (Pág. 14)

A diretoria da ABP, junto com Conselho Científico e a Comissão Organizadora, já está entrando

na fase final da preparação do XXI Congresso Brasileiro, que será realizado entre 9 e 12 maio

de 2007, em Porto Alegre, e que terá como tema central “Prática Psicanalítica-Especificidade,

Confrontações e Desafios”. Colabore e participe. (Pág. 17)

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

. . . . . . . . . . . . . . .. . .

. . .. . .

. . .

XXI Congresso Brasileiro em preparação

Qual é o status do psicanalista ?

A resposta é pensada no artigo de Jair Escobar, que vem estudando esse ques-tionamento e discute os quatro eixos em que se apresenta o problema, pas-sando pela formação do psicanalista e pela forma de atendimento. (Pág. 20)

Comitê da IPA aprova projeto da ABP (Pág. 17)

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Associação Brasileira de Psicanálise

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Associação Brasileira de PsicanáliseCarta do Presidente

Expediente

Conselho DiretorPresidente Pedro GomesSecretário Cláudio RossiTesoureiro Rosa Maria Carvalho Reis

Conselho de Coordenação Científica Diretora Telma Gomes de Barros CavalcantiSecretária Rosangela de Oliveira Faria

Conselho Profissional Diretor Jair Rodrigues EscobarSecretário Sylvain Nahum Levy

Depto de Publicações e Divulgação Diretor Leonardo A. FrancischelliSecretário Sergio NickSecretária auxiliar - PoA Augusta G. Heller

Diretora da Comissão de Relações Exteriores Leila Tannous GuimarãesDiretor Superintendente Sergio Antonio Cyrino da CostaSecretárias Administrativas Lúcia Lustosa Boggiss e Renata Lang Marcel

Editor da Revista Brasileira de Psicanálise Leopold NosekEditora Associada Maria Aparecida Quesado Nicoletti

DelegadosLuis Carlos MenezesMaria Olympia FrançaAlexandre Kahtalian

Carlos Roberto SabaJane KezenFernanda de Medeiros Arruda MarinhoRuggero LevyJair Rodrigues EscobarAlirio Torres Dantas JúniorMaria Eunice Campos MarinhoRosaura Rotta PereiraBruno Salésio da Silva FranciscoAna Rosa Chait TrachtenbergLeonardo A. FrancischelliJosé Cesário Francisco JúniorPedro Paulo de Azevedo OrtolanCíntia Xavier de AlbuquerqueJosé Vieira Nepomuceno FilhoLeila Tannous GuimarãesEdnéia Albino Nunes CerchiariJosé Alberto ZusmanCláudio Tavares Cals de OliveiraCláudio José de Campos FilhoSergio Antonio Cyrino da Costa

Conselho CientíficoAlan Victor MeyerAna Cláudia ZuanellaEdnéia Albino Nunes CerchiariFlávio RoithmannJosé Carlos ZaninLuciano Wagner Guimarães LírioLuiz Marcírio Kern Machado

Maria Aparecida Duarte BarbosaMaria Helena Rego JunqueiraMiguel MarquesSérgio Cyrino da CostaSergio Lewkowicz

Conselho ProfissionalHumberto Vicente de AraújoJair Rodrigues EscobarJosé Alberto FlorenzanoJosé Luiz MeurerLeila Tannous GuimarãesLores Pedro MellerMarina MassiMiriam Fichman FainguelerntNeilton Dias da SilvaPaulo Cesar LessaSergio Antonio Cyrino da CostaSylvain Nahum Levy

EdiçãoJLS Comunicação & AssociadosEditor José Luiz SombraRedatora Carolina HilalRepórter Anabelly Pontes

Projeto Gráfico e DiagramaçãoInterface Designers - Sérgio Liuzzi Amanda Mattos

ste é o nosso segundo número do ABP Notícias em nossa gestão. Inicialmente agradeço todas

as manifestações e elogios dos colegas pelas mudanças tanto estética, como de conteúdo em

nosso jornal, iniciado no número anterior.

Quanto ao I Congresso Luso Brasileiro de Psicanálise realizado em Lisboa nos dias 29 e 30 de maio, foi um

absoluto sucesso. Os trabalhos apresentados foram de nível muito elevado. A participação dos brasileiros foi

muito destacada, inclusive recebemos cartas de colegas portugueses, elogiando-nos e querendo conhecer e

participar mais da ABP. Ficou decidido o II Congresso em novembro de 2007 no Brasil.

Quanto à questão da profissionalização, o conselho Profissional, está tomando providências para o

encaminhamento da questão. Vamos realizar uma pesquisa sobre o Perfil do Psicanalista Brasileiro.

O resultado será muito útil para ver que caminho seguiremos. Ainda, neste ponto, com a aprovação

da Assembléia de Delegados de 20 de maio passado, contrataremos um advogado que nos auxiliará

juridicamente.

Tivemos no dia 17 de julho o Conselho de Presidentes, que contou com a presença do dr. Juan Pablo

Jimenez, candidato a Presidente da FEPAL. Na conversa, muito boa, ele nos falou de sua plataforma de

trabalho e ouviu muitas sugestões para compor o seu programa de trabalho.

Por fim, a organização do XXI Congresso Brasileiro de Psicanálise, em Porto Alegre, de 9 a 12 de maio.

Encontra-se bem adiantada e a programação científica já está quase toda pronta. Em breve os colegas

tomarão conhecimento do programa.

Pedro Gomes

EPedro GomesPresidente da ABP

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Associação Brasileira de Psicanálise

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Associação Brasileira de Psicanálise

No último dia 16 de junho, o Departamento de Publicações da

Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto (SBPRP) realizou

entrevista com o dr. José Américo Junqueira de Mattos. Estiveram

presentes na conversa: Guiomar Papa de Morais, dr. Alexandre Martins

de Mello e dr. Pedro Paulo Ortolan, além de uma convidada, Cecília

SBPRP entrevista

Perfil

José Américo

Barretto Dias. O dr. Junqueira foi o primeiro analista a praticar a

psicanálise nesta cidade. Teve em sua história a experiência de análise

com o dr. Wilfred Bion. O tema da conversa foi a formação da SBPRP

e a trajetória pessoal e profissional do psicanalista.

O senhor veio, em 1972, para Ribeirão Preto, e possibilitou que

essa cidade tivesse a psicanálise como praticamos, ou seja, quatro

sessões semanais. O que ocorreu em seguida?

Em seguida, juntamente com outros profissionais da área, os quais

estavam fazendo formação na Sociedade de São Paulo, entre eles dr.

David Azoubel, dra. Lenise Azoubel, dra. Maria da Conceição Costa, e um

pouco mais tarde, Suad de Andrade, constituímos um grupo de estudo

de psicanálise. Esse grupo foi a pedra fundamental para a implantação

de nossa sociedade como componente da IPA. Neste grupo, tínhamos

reuniões semanais, alternadamente, na casa de cada um de nós; onde

estudávamos psicanálise tanto em seus aspectos teóricos quanto na

discussão de seminários clínicos.

Em 1983 fui designado analista didata da SBPSP e, em 1985, foi o dr. David

Azoubel. Isso possibilitou que Ribeirão Preto tivesse analistas didata, ou seja,

os candidatos se analisavam em Ribeirão Preto e tinham o curso teórico em

São Paulo. Após todas estas vicissitudes, pedimos a IPA nossa constituição

como Grupos de Estudos. Fomos atendidos e, para isso, vieram o Sponsoring

Committee, com o objetivo de analisar as condições de cada um de nós

e, secundariamente, as de Ribeirão Preto. Assim, estávamos, nós e ela,

compatíveis com a criação de um Grupo de Estudos. Fomos aprovados!

Um outro aspecto fundamental para formação de analistas no interior foi à

institucionalização da Análise Concentrada, em 1968, para atender a minha

necessidade de morando em Marília, fazer minha formação em São Paulo.

Junqueira

Assim, estava instituída a Análise Concentrada, e eu seu pioneiro. Porém,

não bastou que ela fosse institucionalizada em São Paulo. Anteriormente

ao Congresso de Barcelona, o dr. Joseph Sandler, então presidente da IPA,

em sua visita ao Brasil, ao saber da difusão da Análise Concentrada pelo

interior, disse que isso não era psicanálise. Um impasse foi criado desde

que, nesta ocasião, mais de uma centena de candidatos já faziam Análise

Concentrada. Portanto, estávamos correndo o risco de todas essas análises

não serem consideradas.

Em seguida, tivemos o Congresso Internacional de Barcelona no qual este

assunto esteve na pauta a ser revolvido. Nessa ocasião, já escrevera meu

trabalho sobre Análise Concentrada, o qual foi publicado na Revista Brasileira

de Psicanálise. Depois de traduzido, foi publicado em livro lançado durante

o Congresso: The Perverse Transference & Other Matters. Esse trabalho teve

uma repercussão muito grande e foi o fator, talvez o mais importante, para

a aprovação da Análise Concentrada.

Estávamos assim, com o maior instrumento para que a psicanálise não

ficasse limitada somente às capitais, mas, também, em cidades do interior.

Usando a metáfora do maior cajueiro do mundo, que se encontra em Natal.

Ali, por uma peculiaridade singular, seus galhos enterram-se, surgem outros,

do qual brotam outros, e outros mais... É assim, por exemplo, que temos

aqui uma didata que mora em São José do Rio Preto-SP; breve teremos em

Uberaba-MG e Franca. Outro fator que assinalaria foi a construção de nossa

bela e confortável sede – a qual nos dá, também, uma identidade social.

José Américo JunqueiraMembro Efetivo da SPBRJ

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Associação Brasileira de Psicanálise

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Associação Brasileira de PsicanálisePerfil

Passados tantos anos, como é que o senhor vê ou avalia esse

processo?

Foi um processo coeso de muito trabalho, de muita persistência, e de

muito amor à psicanálise. Digo mesmo que se não houvesse essa união,

respeitando as diferenças entre cada um de nós, esse grupo inicial não se

teria formado. Fica aí nossa experiência para os grupos que desejam se

criar no interior.

O senhor vê alguma peculiaridade regional em nossa Sociedade?

O que nos marcou foi, inicialmente, pertencermos a São Paulo - até que

se criasse o Grupo de Estudos aqui. Apenas um exemplo: nossos estatutos

foram inspirados nos estatutos da Sociedade de São Paulo. Ainda mais,

como os mais antigos membros daqui são, igualmente, didatas ou membros

da SBPSP, há um intercâmbio muito proveitoso para ambas as Sociedades.

Qual a sua visão da psicanálise hoje em Ribeirão Preto, a psicanálise

se apresenta diferente do que foi no passado? A respeito das

perspectivas futuras, o Sr. poderia tecer algumas conjecturas?

Bom, é uma pergunta que abrange muitos pontos. No passado, havia um

interesse muito grande por psicanálise – o que não existe mais. Como tudo,

estamos, também, em um processo de transformação; este é tão rápido que

às vezes não nos damos conta dele. Houve um declínio acentuado de pessoas

interessadas em analisar-se. O que existe hoje, em sua maioria, são formas

alternativas de terapia; ou, na melhor das hipóteses, uma psicoterapia que

não passa, a meu ver, de um inteligente aconselhamento.

Muitas pessoas o admiram pela defesa da re-análise? Quais

parâmetros o Sr. usa para reconhecer essa necessidade?

Bem, o parâmetro mais é o de constatar pontos seus cegos, angústias,

depressões, fundamentalmente a dor psíquica – a que cada um de nós

está sujeito. Freud, ele mesmo, já nos aconselhava a fazer re-análise a cada

cinco anos - acho que isso seria um pouco de exagero; no entanto, temos

que conservar nossa mente - nosso instrumento de trabalho - em boas

condições de funcionamento, para fazer face a este turbilhão de mudanças

que a vida nos revela.

E em relação ao futuro?

Como eu vejo no futuro? É uma situação muito abrangente dada a

complexa natureza de nossas mentes. E mais, como desde os primórdios

de nossa existência, e até mesmo antes de nascermos, estabelecemos um

relacionamento afetivo com a mãe; modelo esse que perdurará pelos anos a

fora. Essa relação afetiva é fundamental para o estabelecimento de relações

emocionais entre as pessoas, e a análise se fundamenta nesta relação

emocional entre analista e analisando. Assim, sejam quais forem os métodos

de tratamento divisados no futuro para o tratamento das, assim chamadas,

psicoses ou neuroses, sejam eles farmacológicos ou quaisquer outros, eles

jamais substituirão o vínculo entre analista e analisando. É por isto, penso

eu, que a análise sempre existirá. Mais importante ainda, a análise é à busca

da verdade. Em outras formas de terapia nem sempre a busca da verdade

é o objetivo primordial. Portanto, acho que a perspectiva para a psicanálise

seja aqui em Ribeirão Preto, no Brasil ou no mundo inteiro é de que ela está

em busca da verdade. E, se nós nos ativermos a ela, penso eu, a psicanálise

sobreviverá. Dessa forma, o maior inimigo que temos contra a psicanálise

reside nos próprios analistas.

O Sr. é conhecido como um analista cujo referencial teórico central

é a obra de Bion. Como foi no início da Psicanálise em Ribeirão

Preto a inserção das idéias de Bion?

Bion teve uma influência na formação da Psicanálise de Ribeirão Preto

dada à imensa influência que ele teve, e tem, na Sociedade de São Paulo. O

legado de Bion em São Paulo, através de conferências e supervisões que ele

ministrou; sem contar seus livros que tiveram, e têm, uma grande circulação

entre nós. Assim a força de suas idéias foi trazida, por nós, para Ribeirão

Preto onde são estudadas e discutidas – curso sobre a Obra de Bion é aqui

tão importante quanto o estudo da Obras de Melanie Klein.

Para terminar, o quê o Sr. achou da experiência de fazer análise

com Bion?

Novamente, é muito difícil de transmiti-la. Bem, conheci nele uma pessoa

bondosa, séria e profundamente atenta a tudo o que dizia. Apesar de fazer

interpretações às vezes de uma simplicidade desconcertante, elas só eram

possíveis pela sua capacidade extraordinária em observar e interrogar.

Isso nos levava a novos horizontes nunca terminados. Apesar de ser uma

pessoa muito culta - tinha conhecimento de latim, grego, etc. Ele passeava

pela literatura, pelos clássicos. Por exemplo: fazia, dentro do contexto da

sessão, citações de Shakespeare, o que me dava a impressão de conhecer

sua obra profundamente - sentia que tinha com ele um vínculo muito

forte e profundo. Agora, o que acho também interresante é que durante a

análise esquecia-me de que era um gênio. Penso mesmo que ele nunca se

considerou como tal.

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Associação Brasileira de Psicanálise

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Associação Brasileira de Psicanálise

Investigandoo invisível

Artigo

Toda vez que a humanidade se depara com algo que lhe é invisível,

as certezas se relativizam. E este é o caso do objeto de interesse da

psicanálise, o inconsciente, o que contribui à constante pergunta:

“Por quê a psicanálise?”

Uma resposta simplificada poderia ser: porque precisamos de um

esquema criterioso, abrangente, com possibilidades de ser expandido

e com utilidade clínica (dentre outras inúmeras aplicações do

modelo psicanalítico) para pensar algo que percebemos como nosso,

mas nos é invisível: nosso mundo inconsciente com sua complexa

constituição.

Um resumo sobre a hipótese central contemporânea a respeito do

inconsciente poderia ser formulado nos seguintes termos: para nos

tornarmos humanos, utilizamos elementos biológicos, culturais, nossa

apreensão da realidade e nossa história pessoal para criarmos uma

rede invisível de elementos que fazem nossas experiências emocionais

terem significado para nós. Isto instrumenta nossa função de sujeitos

reflexivos e permite que tenhamos intimidade e individualidade, com

nossas vivências particulares contrastando e interagindo com as

experiências externas, gerais e universais. Estes significados motivam

e dão vitalidade a nossas percepções e sentimentos, a uma parte

importante de nosso comportamento e a nossas relações conosco

mesmo e com os demais. As tramas e nós desta imensa rede, quando

não convenientemente entrelaçados, causam-nos e, aos outros,

sofrimentos, podendo nos conduzir a sintomas e algumas doenças.

Como investigarComo investigamos algo que é invisível? A humanidade sempre

esteve às voltas com aquilo que lhe é invisível e continuamente

ocupada com sua investigação, é parte de nossa natureza.

Olhamos o mundo e a nós mesmos, com a curiosidade necessária

para imaginarmos para que serve, o que tem dentro, como é feito

ou o que podemos fazer com isso. Para exercer essa capacidade

temos que suportar saber que não conhecemos. Se não suportamos,

diremos de várias formas ‘não me interessa’, ‘para que saber isso?’ ou

“isso é igual ao que já conhecemos”, jogando fora à curiosidade.

Quando suportamos a incerteza, podemos imaginar, intuir e por

aí começa nosso contato com o invisível, com o desconhecido.

Construímos um esquema mental de como concebemos

imaginariamente o que pode ser aquilo e vamos avaliando a utilidade

de nossa conjectura.

Para exemplificar, tomemos alguns modelos construídos sobre

o sistema solar: Em tempos milenares, os egípcios imaginavam

que a terra fosse plana, apoiada sobre enormes pilares. Os hindus

acreditavam também num plano, porém, apoiado em enormes

elefantes, que por sua vez se apoiavam sobre o casco de uma

tartaruga gigantesca que estaria sobre uma serpente descomunal.

Qualquer movimento destes animais provocaria terremotos e quem

chegasse ao final do plano, cairia. Enquanto os barcos não iam longe

e não havia como perceber as inúmeras implicações destas teorias,

imaginava-se o “invisível” utilizando “o visível”, “o conhecido”, e

esses esquemas tiveram sua utilidade.

A evoluçãoNo momento em que os barcos foram mais longe, desaparecendo

progressivamente e voltando do horizonte, ao mesmo tempo em

que foram feitas novas observações sobre vulcões e terremotos,

da relação da terra com o sol e outros planetas, os esquemas não

tiveram mais a mesma serventia. Alguém percebeu, que deveriam

José Carlos CalichMembro Associado da SPPA

(Parte I)

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Associação Brasileira de Psicanálise

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Associação Brasileira de PsicanáliseArtigo

existir curvaturas e imaginou-se que o sol e os planetas giravam

em torno da terra. Conhecimento após conhecimento, esquema após

esquema, com idas, vindas e saltos, chegamos a uma esfera, achatada

nos pólos, parte de um sistema solar, que por sua vez é parte de uma

galáxia. Mas surgiram inúmeras novas indagações.

Ainda que, como esquema, a noção de “plano” pudesse ser “útil” para

distâncias muito pequenas, como explicação do campo gravitacional, dos

abalos sísmicos ou dos sistemas solares, os pilares, elefantes, tartarugas e

serpentes tiveram seu poder preditivo e explicativo muitíssimo reduzido.

A persistência das questões de

como a terra se sustenta no ar,

como mantém a relação fixa com o

sol, com outros planetas e estrelas,

levou a novas investigações, novas

imaginações, novos esquemas,

conhecimentos que foram se

somando. No momento em que a

humanidade estava culturalmente

preparada, consolidaram-se as

hipóteses que teorizavam sobre a

força da gravidade e sobre a órbita

da terra em torno do sol, que

puderam ser extremamente úteis para nossos avanços tecnológicos.

Porém, a primeira, tomando-a como exemplo, teve de ser considerada

incompleta, quando novas especulações e novas variáveis, levaram

à concepção da teoria da relatividade, que também começa a ser

considerada incompleta, e assim seguimos.

A conclusão é que, temporariamente úteis, nossos esquemas, em

todas as áreas do conhecimento, estão sempre em avaliação e sendo

completados ou substituídos. E, para os investigadores, aqueles

que se ocupam com a validação dos modelos, é fundamental poder

entender qual a abrangência de determinado esquema, qual a sua

utilidade e quais os limites de sua proposição.

E a psicanálise?E a psicanálise? A psicanálise surgiu no momento em que o espírito

cultural da humanidade estava de certa forma preparado para pensar

nas transformações que ocorriam em nosso psiquismo e que nos

colocavam como sujeitos individuais, com subjetividade, paradoxos

e incertezas. Os primeiros modelos foram sendo sucessivamente

completados ou substituídos por outros e destes movimentos

surgiram as chamadas escolas da psicanálise.

Por que uma escola não substitui, então, a anterior? Por motivos diversos.

Além de lidar com o invisível, a psicanálise lida com o imaterial em

interações que envolvem inúmeras

variáveis, a maioria delas também

invisíveis e imateriais. Ainda que

seu objeto seja baseado em parte

no corporal, que é material, e

também no cultural-ambiental,

estes são transformados em um

outro tipo de elemento, imaterial,

nossos elementos psíquicos. Por

terem essas características, até

mesmo suas dimensões são difíceis

de serem imaginadas e vários

esquemas têm sido pensados,

desde a primeira grande investigação, realizada por Freud.

Os vários esquemas têm utilidades clínicas distintas, poderes explicativos

e preditivos diferentes, portanto níveis de abrangência diferentes, mas

muito difíceis de serem dimensionados e mensurados. Além disso,

envolvem questões de políticas institucionais, vaidades pessoais,

mercado de trabalho, como em todas as outras áreas do conhecimento.

Os modelos psicanalíticos não poderiam ser mais simples? E a

aceitação do modelo psicanalítico em nosso momento cultural

atual? Como ter certeza do que é invisível e imaterial?

A parte II segue no próximo número do ABP Notícias.

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Associação Brasileira de Psicanálise

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Associação Brasileira de Psicanálise

O Instituto de Psicanálise

da SPMS vem debatendo

os aspectos da formação

psicanalítica em reuniões

regulares, para as quais todos

os membros da sociedade são

convidados a participar.

Estas reuniões, além de serem

um espaço para refletirmos

sobre a formação e a

identidade do psicanalista, nos

têm oferecido subsídios para

melhorarmos efetivamente

nosso programa integral de

formação, incluindo, não só,

os três vértices clássicos da

formação como também o

vértice institucional, ou seja,

das relações entre membros

e candidatos e a instituição,

que consideramos como parte

integrante do programa de

formação em nosso instituto.

O trabalho de pesquisa, como

instrumento de formação,

tem recebido especial atenção

dentro do instituto.

Formação Psicanalítica

Optamos por apresentar aos

colegas algumas sínteses

dos nossos encontros como

forma de reflexão. Por ser

um trabalho muito extenso

(originalmente 26 páginas, que

foram resumidas em 5), vamos

apresentá-lo em duas partes

no ABP Notícias.

A seleção

Nos encontros sobre seleção,

os debates foram intensos.

Como incentivo, escolhemos

apresentar aos participantes

do encontro as seguintes

leituras: 1) as normas que

regem a seleção de candidatos

para a formação que constam

do Regulamento Interno do IP;

2) um documento que orientou

nossa primeira seleção; e 3)

a leitura da carta resposta

enviada ao dr. Javier Garcia

(Co-Chair para a América

Latina do Comitê de Educação

da IPA) sobre os Dilemas na

Formação Psicanalítica.

A formação psicanalítica

Destas reuniões saíram alguns

pontos que consideramos

norteadores para ampliarmos

futuras discussões: 1. o

pretendente deve ter um

evidente interesse pela

psicanálise (demonstrado em

seu currículo, nas entrevistas

e na carta de intenções); 2.

o pretendente deve ter um

interesse no seu próprio

mundo interno (demonstrado

por psicoterapias ou análises

anteriores ao pedido para a

formação); 3. o pretendente

deve ter experiência clínica

comprovada; �. o pretendente

deve ter informações

realísticas sobre os custos de

uma formação psicanalítica

(custos pessoais, financeiros,

disponibilidade de tempo,

etc.); 5. considerando que a

seleção inicial é um ponto

de partida importante, deve-

se procurar no candidato

sua disponibilidade interna

e externa para esse custoso

Instituto de Psicanálise da SPMS

(Parte I)

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Associação Brasileira de PsicanáliseFormação Psicanalítica

processo de formação de identidade. Esta seleção será seguida

ao longo da formação pelas avaliações continuadas.

Nos encontros sobre o currículo de formação algumas questões

foram destacadas e discutidas: 1. Até que ponto é conveniente

uma ênfase na formação teórica sobre outros aspectos, ou seja,

qual é o valor da teoria na formação de um analista? A questão nº

1 foi considerada como provocativa. Lembrando o tripé clássico

da formação, os participantes invocaram o preconceito anti-

intelectual que considerara a teoria como a perna mais curta,

e demonstraram preocupação quanto à idéia tão difundida que

um analista não deve contaminar sua escuta ou empatia com

aspectos racionais teóricos levando, por extensão, à “conclusão”

que então não seria preciso integrar a prática com a teoria

psicanalítica.

Considerou-se que essa distorção poderia dar suporte à crença

que não é preciso estudar para ser um analista, bastando ser

“bem” analisado para ser um bom analista e/ou fazer uma “boa”

supervisão, tendo-se garantida a transmissão privilegiadamente

por identificação de um modelo, supostamente ideal.

Outras concepções

2. Na formação analítica é benéfico que os candidatos tenham

contato com varias concepções teóricas? Ou é melhor que se

relacionem em maior profundidade com uma delas? 3. A liberdade

de formar consiste em criar e oferecer diversas formações para

a prévia escolha do candidato? �. É possível haver um ensino

orientado ou não orientado no Instituto, ou seja, não promover

doutrinação?

As questões 2, 3 e � foram consideradas como aparentadas,

tendo o grupo enfatizado que a liberdade de formar deveria

passar também por uma não formatação de idéias teóricas e

assim, um modelo de currículo que privilegiasse o estudo do

pensamento de diversos autores psicanalíticos teria mais chance

de permitir ao candidato desenvolver uma visão crítica das

diversas abordagens contemporâneas, promover um pensamento

próprio que embase sua práxis, privilegiar o hábito de questionar

e discutir as diferenças conceituais, buscando assim minimizar

o efeito doutrinário de autores ou de professores carismáticos,

para que ele possa vir a escolher bem e viver segundo regras

éticas em sua instituição.

Conceitos básicos

5. Será que se poderia conceber a partir de uma posição

sistemática, não doutrinária, que há conceitos fundamentais

que são balizadores da clínica e que poderiam até ter

equivalências em outras linguagens teóricas? A questão nº 5 foi

rapidamente discutida, tendo resposta consensual afirmativa

sem aprofundamento, lembrando-se que os conceitos básicos

psicanalíticos podem ser observados em todas as correntes

psicanalíticas apesar de suas diferentes nominações.

6. Deve o Instituto confiar que a síntese própria que venha a

emergir do candidato será reconhecida em sua prática como

psicanálise standard ao final de sua formação? 7. Como avaliar o

grau de adesão ou compromisso do corpo docente para a plena

realização de um currículo adotado? Como e quando avaliar sua

eficácia no candidato? As questões 6 e 7 foram muito discutidas

sem, é claro, apresentar soluções mágicas. O grupo considera

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Associação Brasileira de Psicanálise Formação Psicanalítica

da psicanálise desde o seu início com Freud é a fidelidade às

idéias psicanalíticas, ou a um grupo de idéias. Embora a análise

didática seja vista por alguns como não sendo uma análise

real, pois o desejo seria uma submissão à Instituição, outros

a consideram como a única verdadeira, na crença de que os

didatas dariam a melhor análise pela esperada capacidade de

transmissão do método.

Postura ética

Disto concluímos que um dos aspectos fundamentais é a

manutenção do desejo de se conhecer (o amor pela verdade que

Zimerman aponta), ou seja manter o desejo de se analisar, mesmo

dentro de uma regulamentação. Uma forma também de avaliar

as capacidades descritas por Zimermman seria pela observação

do comportamento do analista dentro da instituição: postura

ética, sua participação institucional, capacidade de suportar

diferenças e também lidar com as lutas de poder de maneira

mais construtiva.

É importante também que o analista demonstre interesse e desejo

em transmitir o conhecimento psicanalítico, é impensável que

alguém venha exercer a função didática sem ter compromisso

com a transmissão da psicanálise dentro e fora da instituição

psicanalítica. Portanto, é fundamental um tempo de maturação

pessoal e institucional para a aquisição da função didática, no

aspecto da análise de candidatos, além de alguns requisitos

teóricos e clínicos que poderão ser observados pela apresentação

de trabalhos que possam ser discutidos entre os pares, e também

na lida institucional. Para exercer a função didática, o analista

deve ter um compromisso interno com a instituição, ser capaz

de fazer reparações, lidando bem com as diversidades teóricas.

da maior relevância a permanente discussão dos parâmetros

de avaliação continuada dos candidatos em formação, assim

como de todo o corpo docente. O IP apresentou no último Pré-

Congresso Didático Brasileiro um trabalho sobre os desafios

enfrentados pelo IP sobre o que se deve avaliar, como e quando,

numa formação como a nossa.

Análises didáticas

Na discussão sobre a análise didática, mais do que pensar sobre

a questão do poder do analista didata, decidimos privilegiar os

seguintes aspectos: quais são os critérios para que um analista

possa ser considerado como alguém capacitado para exercer a

função didática? Em que a análise didática se diferencia de uma

“outra” análise? Partindo destas duas perguntas discutiram-

se as condições necessárias para ser um bom analista que

são destacadas por David E.Zimerman (1999), embasadas nos

postulados teóricos de Bion.

Então, nos perguntamos: 1. Como podemos reconhecer estas

capacidades? 2. De que maneira alguém que deseja exercer a

função didática pode demonstrar estas capacidades? 3. De que

maneira estas capacidades podem ser transmitidas e aprendidas,

sobretudo se considerarmos que o inconsciente é um saber

que trabalha sem mestre? �. De que maneira os Institutos de

psicanálise poderão reconhecer que um analista pode conduzir

a análise dos candidatos em formação? Independentes do nome

que se dê ao analista que analisa candidatos, ou se a análise de

candidatos tenha ou não um nome diferente.

Estes pontos são extremamente complexos, mas observamos

em nossas discussões o seguinte: um dos aspectos fundantes

A parte II segue no próximo número do ABP Notícias.

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Associação Brasileira de PsicanáliseFormação Psicanalítica

Freud, desde os princípios do movimento psicanalítico, preocupava-

se com a formação de psicanalista. Em 1925, no Congresso de

Bad-Homburg, Max Eitingon apresentou um modelo para uma

uniformização da formação de psicanalistas. Modelo este aceito e

seguido, até os nossos dias, pelas sociedades pertencentes à IPA.

O modelo de Eitingon tem como base que a formação psicanalítica

não deve ser realizada por iniciativa particular e, sim, por sociedades

que ficariam responsáveis pela aceitação de candidatos e de todo

processo de formação, dentro do modelo tripartido: análise pessoal,

supervisões e formação teórica. 1

Devemos acrescentar que desde a apresentação de Eitingon em 1925,

apesar de sua aceitação, o modelo vem sofrendo críticas, mudanças

e adaptações. Em 1975, após as dissensões da Sociedade de Paris que

levaram à criação da Sociedade Francesa, a IPA estabeleceu em seu

Código de Procedimentos os “Padrões e Critérios Para a Qualificação

e Admissão Como Membro da IPA”, numa tentativa de padronizar a

formação psicanalítica em todas as sociedades membros. Para permitir

que as sociedades francesas, bem como a uruguaia, permanecessem

na IPA, foi a aprovado que estas sociedades estariam excluídas destas

exigências. Deve-se realçar que, antes de 1975, as exigências de

aceitação e formação estavam a critério das sociedades. 2

Esta padronização, através do modelo apresentado em 1975, mostra-

se com diferentes interpretações entre as sociedades membros,

podendo-se afirmar que, no seio da IPA, não existem duas sociedades

que tenham idênticos modelos de formação, podendo variar nos

critérios de admissão, no estabelecimento de currículos, nas formas de

supervisões e até mesmo nos critérios sobre a análise pessoal.

A busca do consensoSucessivos grupos de estudos e reuniões têm sido organizados, em

várias ocasiões, com o intuito de discutir esta questão, mas fracassam,

sempre, ao tentarem chegar a uma conclusão comum. Ao consultarmos

os “reports” das reuniões realizadas pela Federação Européia de

Psicanálise, em 1992, sobre “Setting”, fica evidente a dificuldade de

chegar a um acordo sobre certos pontos. Apenas para exemplificar: um

Modelos de Formação Psicanalítica, idas e vindas.

grupo argumentava que um número menor de sessões seria a melhor

indicação para pacientes muito dependentes, enquanto outro argumenta

que, nestes casos, um maior número de sessões seria a indicação mais

adequada. Alguns defendiam a importância da regressão no processo

analítico, enquanto outros a contra-indicavam, vendo-a como elemento

de infantilização e criador de dificuldades para o paciente.

Em 1999, na Reunião de Presidentes Latino-Americanos, em

Montevidéu, foi aprovada a moção de que se enviasse à direção da

IPA uma petição para ser considerada a necessidade das Sociedades

componentes terem a autonomia de introduzir flexibilidade em seus

“standard” de formação, como já havia sido feito, anteriormente, com

algumas sociedades.

Grupos de discussãoNão podemos deixar de mencionar a 10ª Conferência de Analistas

Didatas realizada em Nice, em julho de 2001, onde, além de terem sido

apresentados importantes trabalhos sobre a formação de psicanalistas,

formaram-se grupos para discussão deste tema. Como em ocasiões

anteriores não houve acordo, fazendo aumentar a sensação de que

apesar da lógica e coerência das argumentações apresentadas pelas

diferentes correntes, esta é uma questão que envolve muito mais

posições emocionais do que científicas.

A IPA formou sucessivos comitês com o intuito de estudar este

assunto. Foram criados: COMPSED, cujo chair foi Jacqueline Amati-

Mehler, TRAMPE, tendo como chair Ekkehardt Gatting, e o Comitê

de Educação coordenado por Sara Zac de Fils. As conclusões destes

comitês mostraram-se conflituosas em muitos pontos. 3

No Congresso de New Orleans (200�) o Education Stander Document foi

alvo de fortes discussões e controvérsias no Board, com forte oposição

por parte de alguns europeus e norte americanos, que se opunham à

possibilidade da análise de candidatos poder ser realizada três a cinco

vezes por semana.

Após longas e duras discussões, foi aprovado com pequena margem de

votos, “in principle”, a existência de diferentes modelos, e que a freqüência

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de sessões não deveria ser

considerada independentemente

do modelo de formação, e que se

deveria criar um Grupo de Trabalho

para estudar os modelos existentes.

Foi criado, então, o Working Group

on Education Procedures (EPWG),

tendo como coordenador Robert

Pyles, cujo objetivo foi apresentar,

no Congresso do Rio de Janeiro

(2005), um levantamento sobre os

diferentes modelos de educação

psicanalítica adotados pelas 66

organizações constituintes.

Três modelosNo Congresso do Rio, este comitê

apresentou, como conclusão, que

os vários modelos de educação

adotados poderiam ser resumidos

a três: Eitingon, Francês e

Uruguaio. Naquela ocasião,

foi discutida a necessidade de

que se aclarasse as principais

características de cada um deles.

Criou-se um novo Comitê de

Educação para que os estudasse,

objetivando elucidar e salientar

as principais características de

cada um deles, sem com isto fazer

um detalhamento minucioso,

não se atendo aos aspectos que

diferenciassem o mesmo modelo,

quando adotado por diferentes

sociedades.

Este comitê, tendo como chair

Shmuel Erlich, tomou, como

critério, nortear-se por quatro

parâmetros: 1-A coerência

intelectual subjacente em cada

modelo. 2- A filosofia da educação

psicanalítica (como a educação

psicanalítica, comprometida

com uma especialização, deve

ser conduzida, isto é: quais os

requisitos exigidos em termos

de admissão, imersão, avaliação,

qualificação, etc.) 3-Como o

processo psicanalítico se insere

dentro da educação psicanalítica

(o lugar do processo analítico

dos candidatos na educação,

com sua maior ou menor

independência). �-Preferências

de um aprofundamento sobre

uma única ou poucas escolas,

orientações teóricas, autores,

etc., ou uma visão mais ampla,

superficial ou não, de várias

orientações teóricas, escolas,

autores, etc.

Novas propostasA tarefa realizada por este comitê

já foi concluída e apreciada pelo

Comitê Executivo, o qual apresentou

propostas a serem discutidas na

próxima reunião do Board em fins

de julho de 2006. Este trabalho

realizado pelo Comitê de Educação,

bem como as discussões no Board,

deverão ser enviados às Sociedades

para a apreciação.

Como podemos ver, o tema é

complexo e de difícil solução.

Esta sendo proposto a criação

de um grupo que faça uma

pesquisa sobre a maior ou

menor eficiência de cada modelo,

o que haveria de dar um

maior suporte científico nas

decisões a serem tomadas. Esta

pesquisa é também geradora de

polêmicas, com posicionamentos

contrários, argumentando sobre

as dificuldades de sua realização,

ou até mesmo sobre sua

inviabilidade. Deverá, também,

ser tomado em consideração os

altos custos de tal empreitada.

Concluindo, podemos afirmar que

o ponto central de todo este longo

e sinuoso processo é a procura de

respostas para a pergunta: Qual é a

experiência ou experiências ótimas

e possíveis para a capacitação de

um psicanalista?

Aloysio Augusto d’AbreuMembro efetivo da SBPRJ

1 Para maiores esclarecimentos sugerimos a leitura de “Preliminary discussion of the question of analytical training”, Bulletin of IPA, sept. 3,1925. 2 Dados obtidos através de correspondências de Álvaro Rey de Castro.3 Dados obtidos através de correspondências de Álvaro Rey de Castro.

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Sobre as razões para uma psicanálise de sessões freqüentes

Formação Psicanalítica

O texto psicanalítico sempre despertou interesse e fascínio e a partir

de Freud desdobramentos importantíssimos acrescentaram-se a esse

belo saber, que como conhecimento é de fácil acesso. Entretanto, a

confusão entre saber e prática clínica e seus diferentes objetivos parece

ter aumentado, o que se justificaria tratando-se de equívocos leigos.

Com freqüência, brilhantes conferencistas, que conhecem o texto

psicanalítico, encantam multidões com verve e elegância. Não são

clínicos, mas com estes passam a ser confundidos. Receio que as

sociedades psicanalíticas, supostamente guardiãs da prática e suas

principais divulgadoras como teoria, por contingências atribuídas apenas

às circunstâncias da contemporaneidade, inclusive as econômicas,

corram o risco de se equivocar em relação à própria psicanálise.

A tradição mantém a psicanálise viva e renovável: a psicanálise não é

forte porque se renova, ela se renova porque sua tradição é forte. O

academicismo cada vez mais presente nas sociedades, a princípio,

não é bom, nem ruim, pois o saber é sempre bem vindo e necessário.

Parece mesmo haver uma tendência mundial nesse sentido, e vários

psicanalistas de renome pertencem às academias. Mas há conseqüências,

se o academicismo se transformar em cantos de sereia.

A primeira conseqüência seria a abolição de diferenças: necessidade se

iguala a desejo, pertencimento se equipara à hierarquia, flexibilização se

transforma em oficialização e saber reduz-se a conhecimento. Minimiza-

se a experiência emocional da análise como o motor que impulsiona

a busca do conhecimento numa formação, onde deveria ser diferente

daquele meramente acadêmico.

A análise pessoalA análise pessoal, num contexto assim, equiparar-se-ia a um ítem de

conhecimento psicanalítico, não mais uma experiência transformadora

que marcará toda a vida. As várias categorias que deverão existir numa

Sociedade, para crescimento dela mesma, diluem-se, borram-se, e todos

passam a ser colegas, não no sentido amistoso e respeitoso que deve

haver entre membros, mas alimentando um discurso perverso e sedutor

que obscurece a todos, onde tudo é transformado na questão disso ou

daquilo, gerando não esclarecimentos, mas discussões estéreis.

A principal vítima é a prática clínica e a maneira como é transmitida

aos candidatos. Refiro-me, especificamente, a pouca importância atual

da prática psicanalítica de sessões freqüentes. Reconheço que existe o

que se convencionou chamar de tendência mundial de flexibilização,

embora discorde das motivações que parecem patrociná-la, e que não

desejo aqui discutir.

Podemos, é verdade, compreender do lugar do psicanalista (essa frase é

bastante comum hoje em dia) qualquer fato, situação ou mesmo associação

de um paciente. Os psicanalistas deveriam estar mais convictos de que o

inconsciente, com suas regras funcionais que implicam em mecanismos

defensivos poderosíssimos, todos eles patrocinados pela angústia, (e

isso não varia, qualquer que seja a teoria do psicanalista), dentro de um

processo de análise, deverão ser aos poucos desvendado em busca de uma

mudança psíquica, que será o objetivo principal a ser atingido.

A interpretação Através da interpretação, que é o instrumento da transferência, uma

nova compreensão poderá surgir para os enganos no entendimento e na

experimentação da própria vida mental. Considerando fundamentalmente

a resistência, essas mudanças passarão por questionamentos, medos e

dúvidas, e a cada aproximação de algo novo as defesas surgem como

proteção, mesmo que enganosa.

Portanto, o psicanalista deveria saber quanto de esforço e investimento

são solicitados da dupla para uma pequena mudança psíquica, e

como a pouca freqüência contribui para o aumento da resistência

e recrudescimento das defesas; sendo o analista integrante desse

processo, sua angústia é reeditada a cada sessão, é parte dela, condutora

e esclarecedora da contratransferência.

É possível que seja esta a principal razão, que o discurso perverso

esconde, para que tanta polêmica seja erguida em relação às múltiplas

sessões. Comprometemo-nos com nossos pacientes em tratá-los,

Maria Inês Neuenschwander Escosteguy CarneiroPsicanalista Didata da SBPRJ

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Associação Brasileira de Psicanálise Formação Psicanalítica

deveríamos ter clareza sobre o que ofereceremos como tratamento.

Não somos seres “moralistas”, e sim éticos. Não temos soluções

mágicas, sugestões condutoras, promessas vãs a oferecer. Temos o

nosso compromisso de suportar o contato com o que nos trazem de

mais precioso: o mundo interno.

Esse contato é mobilizador, instigante, ansiogênico. Um psicanalista que tem

a experiência de análise viva, atuando dentro de si, dificilmente discordaria

da importância das sessões múltiplas. Caso suas experiências com pacientes

não lhes tenham trazido alívio e compreensão (o que é bastante possível),

além de contenção de suas angústias, e tenham sido mesmo transformadas

em idealizações de uma situação analítica, da qual não possuem a experiência

emocional, poderá ocorrer que tal idealização o leve a desejar uma análise

mágica, salvadora, de uma ou duas vezes por semana.

A análise mágica Uma análise fictícia , enfim, onde não haveria necessidade de algo além

de uma reestruturação egóica ou readaptação menos tensa ao mundo,

sem angústia e sem mudanças internas, o que pode ser terapêutico, mas

não psicanalítico. As alegações e justificativas, todavia, passam a ser

num outro patamar, o das necessidades factuais do mundo rápido em

que vivemos, onde as pessoas não desejam mais se conhecer para viver

melhor, e sim, aproveitar com o máximo prazer o bônus sem o ônus,

sem falar da realidade econômica adversa, que compromete, é verdade,

a renda nos consultórios, mas não justificam essas explicações.

Todos os analistas que se mantêm funcionando como tal, precisam

fazer concessões de honorários. Se não tiverem bem claras razões e

motivações, poderão cair nas falsas argumentações acima, ou ainda

noutras, tais como “nada prova que muitas vezes por semana é a única

forma de se entrar num processo analítico”, “as novas metapsicologias

estão mudando o objetivo da análise”, etc.

Penso que esse argumento desmancha-se em si mesmo: se, em

alguns casos, a dupla paciente/analista não funciona nem com cinco

vezes por semana, muito menos funcionará com uma ou duas. Quem

verdadeiramente passou por um processo analítico, que dele se

beneficiou e conhece suas vicissitudes, simplesmente sabe, através da

experiência emocional, que faz diferença, sim, o número de sessões.

Entretanto, não é vetado o direito de atender pacientes que procuram

apenas um auxílio psicoterápico. O que não deveria, a meu ver, jamais ser

feito, é apresentar tais atendimentos como se análise fossem, falseando

a realidade do que seja um processo analítico detalhado, intenso.

Periodicidade idealOu, ainda, criando uma otimização oficial para uma análise de três vezes

por semana, quando sabemos perfeitamente que três vezes é o mínimo

aceitável quando, por exemplo, os analistas de crianças se deparam com

o séquito de atividades que acompanham os pequenos pacientes.

Ou com adultos que têm as viagens semanais como parte indispensável

no trabalho: todos esses casos, exceções. Um fato, um filme, um

acontecimento, ou mesmo uma sessão de psicoterapia podem ter

compreensão psicanalítica, mas psicoterapia, compreensão psicanalítica

e processo psicanalítico são coisas distintas. O parece, mas não é,

caracterizaria não apenas uma prática ruim, mas principalmente falsa.

Tratar de alguém quatro ou cinco vezes por semana não é apenas uma

exigência residual de uma época romântica, ou autoritária, quando às

vezes seriam imposições, e não uma questão técnica importante. Com

pesar, constato que hoje em dia damos pouca importância às nossas

tradições; sendo as diferenças abolidas paulatinamente, as múltiplas

sessões seriam aspecto totalmente irrelevante, e com os dias contados

para deixar de existir.

É, realmente, difícil encontrar quem se disponha a deixar-se penetrar por

um processo longo e intenso, mas reparador. Três vezes por semana já

parece demais! Lamentavelmente, esse enfoque vem tomando vulto nas

Sociedades. Devemos discuti-lo à exaustão e com sinceridade, antes de

“oficializá-lo”. De minha parte, mantenho a convicção de que as sessões

múltiplas são o que de mais verdadeiro podemos oferecer àqueles que

nos concedem o privilégio de tratá-los em psicanálise.

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Associação Brasileira de PsicanáliseNotícias e Programação

I Encontro de Psicanálise de Crianças e AdolescentesAs quatro sociedades do Rio organizam evento, com patrocínio da ABP e FEPAL

Nos próximos dias 7, 8 e 9 de setembro acontecerá importante

evento psicanalítico no Rio de Janeiro, o primeiro do seu porte no

meio: o “I Encontro de Psicanálise de Crianças e Adolescentes do

Rio de Janeiro”. O encontro conta com o apoio da ABP e da FEPAL,

e seu tema central é “A Intervenção Psicanalítica na Infância,

Adolescência e Família Hoje”.

O evento terá a participação de experientes profissionais da área,

não apenas do estado do Rio, mas também convidados de São

Paulo, Uruguai e Venezuela e acontecerá no Instituto de Psiquiatria

da UFRJ. É uma realização conjunta das quatro sociedades locais

filiadas à IPA, cada uma com seus representantes na Comissão

Organizadora, coordenada pelo dr. Paulo Bianchini.

Pela SPRJ participam Rosa Sender Lang, Vanja Rodrigues de

Mattos e Verônica Portella Nunes; pela SBPRJ, Carlos Tamm Lessa

de Sá, Eliane Pessoa de Farias, Geny Talberg e Maria da Conceição

Moraes Davidovich; pela AP Rio3, Dagmar Wunderlich D’Ângelo

e Neilton Dias da Silva; e pela APERJ, Maria de Fátima de Salles

Freire e Rosane Friedman Sigres.

O principal objetivo deste evento é reunir psicanalistas e profissionais

de áreas afins para aprofundar a investigação e a compreensão da

intervenção psicanalítica na infância e adolescência e nos grupos

familiares, tendo como princípio que o ato psicanalítico é uma

intermediação que visa promover o acesso ao mundo simbólico,

condição indispensável para o desenvolvimento de sujeitos autônomos,

capazes de uma interação criativa e crítica com o meio social.

Os instrumentos da psicanálise podem nos ajudar a fazer face aos

desafios de um mundo que ameaça a constituição do psiquismo

com a desvalorização da subjetividade e da singularidade que

aparece por exemplo na resposta unicamente medicalizante aos

conflitos da infância.

Não podemos correr o risco de uma acomodação situada entre

a perplexidade e a impotência ante a deterioração dos vínculos

pessoais, familiares e sociais, com o aumento e a banalização

concomitantes da violência, da delinqüência e de patologias como

a adição a drogas, os distúrbios alimentares, o autismo infantil e

as psicoses.

Neste ano de 2006 comemoram-se os 150 anos do nascimento

de Freud, que chamou a atenção, já no início do século passado

para o mal-estar na civilização moderna. Acreditamos ser este um

momento mais do que propício para a criação de um espaço de

debate e a troca de experiências sobre as diversas modalidades de

intervenção psicanalítica no âmbito privado e institucional.

Entrevista com a Comissão Organizadora*

1. O que levou o Rio de Janeiro a realizar um evento científico sobre infância e adolescência?

O Rio de Janeiro vem sendo um dos palcos de graves problemas sociais que vimos enfrentando no nosso país e na América Latina de um modo geral. A compreensão psicanalítica de que é nos primórdios da vida que se define a identidade do sujeito e suas possibilidades de interação social nos alerta para as graves conseqüências da incidência desses problemas nas nossas crianças. Cada vez mais torna-se evidente a impossibilidade de se pensar o homem, os grupos, as nações, isoladamente do seu contexto. Tudo o que nos cerca, de um modo ou outro também nos forma. Há várias décadas, Karl Abraham já tinha previsto que o futuro da psicanálise estaria na análise de crianças. Embora esta tenha se desenvolvido consideravelmente no nosso meio, há muito pouca troca de experiência e reflexão sistematizada sobre a área. Esperamos que esse evento possa contribuir para

uma evolução nesse sentido.

2. Qual a importância de termos as quatro sociedades cariocas reunidas em um só evento científico?

Por razões históricas, ao contrário por exemplo de São Paulo, que congrega os analistas ligados à IPA em uma grande sociedade, no Rio de Janeiro, como em outras cidades, os analistas se dividiram, inicialmente em duas, e hoje em quatro sociedades. Assim como muitas vezes a separação favorece famílias em conflito, acreditamos que hoje essas sociedades, cada uma com seu perfil, possam se relacionar cientificamente. Este evento pretende ser uma prova disso, favorecendo que os membros de cada sociedade conheçam o trabalho de analistas das outras, e congregando todos os analistas de crianças e/ou adolescentes das quatro sociedades para trocarem experiências, inclusive com a participação dos analistas que venham de outros estados, além dos convidados da América Latina e de São Paulo que virão sob os auspícios

da FEPAL, bem como o colega de São Paulo cuja vinda receberá o auxílio da ABP.

3. O que os levou a escolher a intervenção psicanalítica como tema do Encontro, que abrange uma série de itens de relevância para este campo?

De Melanie Klein e Anna Freud para cá, a área da análise de crianças e adolescentes foi uma das que mais se desenvolveu no nosso campo, deixando no entanto a instituição psicanalítica algo perplexa com esses avanços. Os critérios da própria formação dos analistas de crianças e/ou adolescentes são muito variáveis, nem sempre bem sustentados teoricamente, e com freqüência não correspondem à realidade dos consultórios. Os desenvolvimentos técnicos que apontam para a necessidade de repensar a técnica, com uma maior flexibilização do setting, têm gerado um enriquecimento da área, com reflexos no aumento da compreensão do desenvolvimento emocional e dos quadros psicopatológicos, da eficácia no atendimento a casos graves, inclusive em instituições. É importante que a IPA e as sociedades filiadas não fechem os olhos para essa evolução. Com freqüência colegas vem trabalhando de modo extremamente perspicaz e criativo com crianças e adolescentes, no silêncio dos seus consultórios, do que só sabemos por eventuais conversas ou encontros. Este evento pretende ser um estímulo para que todos elaborem as reflexões a partir da sua clínica e dividam com os colegas suas percepções. É a partir do conhecimento assim adquirido, em sintonia com nossa observação do mundo que nos cerca, que podemos contribuir, pelo nosso vértice, para a sensibilização das famílias e dos grupamentos

sociais quanto aos cuidados e à atenção necessários à infância e adolescência.

4. Qual a expectativa dos organizadores quanto à mesa organizada com o apoio da FEPAL?

Embora este evento seja organizado pelas quatro sociedades cariocas filiadas à ABP/FEPAL/IPA, nossa intenção é que ele seja o menos paroquial possível. Estamos, nós do Rio de Janeiro, tomando uma iniciativa que esperamos que frutifique, gerando outros encontros desse tipo. Esperamos, portanto, que a mesa com colegas de São Paulo, da Venezuela e do Uruguai contribua para ampliar o intercâmbio

entre os analistas de criança brasileiros e os nossos colegas latino-americanos.

5. Quem são os convidados para o Encontro?

Entre os psicanalistas convidados para o Encontro contamos com Johanna Trip, membro efetivo da Associação Venezuelana de Psicanálise além de psicóloga escolar, que apresentará um trabalho onde explora o interessante tema de uma “função analítica” que estaria presente em diferentes níveis nos indivíduos, antes mesmo de um processo analítico. Exemplificará com a sessão de um menino de sete anos. Stella Yardino, analista didata da Associação Psicanalítica do Uruguai, nos falará sobre os efeitos da violência familiar e social no processo de subjetivação da adolescência.A FEPAL ainda apoiará a vinda da experiente analista de crianças de São Paulo Teresa Haundenschild. A ABP nos ajudará a trazermos o Professor Roosevelt Cassorla, de Campinas, figura já conhecida entre nós por seus trabalhos em psicose e psicossomática, e que nos falará sobre o processo do “enactment” na adolescência. Teremos ainda, como convidados, David Léo Levisky, de São Paulo, e Nara Caron e José Ottoni Outeiral, do Rio Grande do Sul. Alguns desses analistas, paralelamente aos trabalhos que irão apresentar, coordenarão supervisões clínicas coletivas, estas restritas aos participantes do evento que sejam psicanalistas membros da FEPAL, para preservação do sigilo clínico.O evento contará também com convidados de destaque em outras áreas relacionadas à infância e adolescência, que lhe darão um caráter multidisciplinar , como o pediatra Lauro Monteiro, presidente

da ABRAPIA, e o sociólogo Luis Eduardo Soares, para nos falar sobre a questão da violência .

* Entrevistador: Sergio Nick, secretario do departamento de Publicações e Divulgação da ABP

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Associação Brasileira de Psicanálise Notícias e Programação

SPR homenageia Escobar

Em agosto, haverá a visita da dra. Marilia Eisenstein (França) e uma Jornada sob o tema “Retornar e recordar: entre veredas do mito e da ciência”, com Marilza Saviolli, filósofa, e Sonia Curvo Azambuja, psicanalista. Ainda no eixo teórico, no dia 30, outra palestra: “Recordar, Repetir e Elaborar no pensamento kleiniano” com Elias Rocha Barros. Na área clínica, haverá discussão de material oriundo do Grupo de Estudos sobre Distúrbios Alimentares.

Em setembro, ocorrerá o III Simpósio de Educação Médica, Psicanálise e Psicologia da Saúde, em parceria com IPEMPSI e Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês. O tema será “Medicina contemporânea: Humanidade e Tecnologia” Eixos: Vínculo Resiliência e Tecnologia”, nos dias 7, 8 e 9.

Nos dias 11,12 e 13, visita de César Botella ( Paris ). Já o eixo teórico será no dia 27 com “Recordar, Repetir e Elaborar” na obra de Winnicott, com Orestes

Forlenza Neto. O eixo clínico terá como base material proveniente do Grupo de Estudos sobre Freud.

Em outubro, o eixo teórico ocorrerá no dia 18 em cima de “Recordar, Repetir e Elaborar” no pensamento de W. R. Bion, com Antônio Sapienza. Já o eixo clínico gira em torno da discussão de caso, com material oriundo do Grupo Conversas Psicanalíticas. Além disso, no dia 21, haverá a Jornada sobre A vida científica da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

Em novembro, haverá no dia 11 jornada sobre Objetividade e Subjetividade na prática psicanalítica. O eixo teórico será “Recordar, Repetir e Elaborar e as Neurociências”, com Yusaku Soussumi. Já o eixo clínico ocorrerá em torno da discussão de material clínico oriundo do Grupo de Estudos sobre Relação Mente Corpo. Além disso, haverá uma videoconferência, com James Grotstein.

SBPSP traça programação científicaA programação da Diretoria Científica da Sociedade Brasileira de Psicanálise de S.Paulo ( SBPSP ) foi elaborada a partir de dois eixos: teórico - conceitual, composto de Conferências e Jornadas e clínico, com discussão de casos do Centro de Atendimento Psicanalítico ou dos diversos Grupos de Estudo.

Agenda do NP de MaceióO Núcleo Psicanalítico de Maceió promoveu em junho o I Simpósio de Psicanálise: de Freud e Bion – A expansão da Psicanálise. O palestrante foi o psicanalista e médico David Zimerman. No ciclo Psicanálise e Cinema, foi exibido o filme Simplesmente Amor, com comentários da psicóloga e candidata da SPR, Silvana Barros.Em julho, no dia �, houve a apresentação de um trabalho teórico-clínico sobre o tema “Os lugares comuns: da sexualidade na educação infantil. A palestrante foi a psicanalista e psicóloga Maria da Conceição Aciole Paixão. No ciclo Psicanálise e Cinema foi apresentado o filme Quero ser John Malkovich, com comentários da psicóloga Ludmylla da Rocha França de Almeida

A Sociedade Psicanalítica de Recife, junto com a sociedade civil, homenageou o psicanalista Antônio Carlos Escobar, vítima da violência em dezembro de 2005, com a criação de um Instituto – IACE, que tem o seu nome. O Instituto não tem fins lucrativos. Entre suas finalidades, tem o papel de exigir dos nossos governantes que reformulem e implantem de forma efetiva políticas públicas de segurança que causem impacto no problema da criminalidade, da violência e da insegurança em Pernambuco.O IACE está formado por diversas comissões, promove encontros semanais para estudar, pesquisar, conhecer os problemas da violência, suas causas, fatores e condicionantes, assim como sobre soluções viáveis no enfrentamento ao problema da violência urbana. Desta forma, tenta-se desenvolver algumas idéias de Escobar que se encontram em seu último trabalho, publicado na revista da SPR: Psicanálise em Revista, vol. �, nº 1, 2006. Em um outro evento realizado, houve o lançamento do Prêmio Antonio Carlos Escobar, que vai contemplar com R$ 5.000,00 o melhor projeto sobre alternativas para segurança pública. Mais informações: www.iace-pe.com.br

Estão sendo organizados a XI Jornada de Psicanálise e o VII Encontro de Psicanálise da Criança e do Adolescente, que serão realizados entre 31 de agosto a 2 de setembro. O tema central da Jornada será “A Conflitiva dos Vínculos”. Inscrições e Informações na SPR; fones: 81-3228.1756 e 3226.0�62 - [email protected]

NPA promove eventos O Núcleo Psicanalítico de Aracaju (NPA) recebeu no dia 1� de julho a visita de Ivanise Fontes, doutora em psicanálise pela Universidade Paris VII, pós-doutorada pela PUC-SP e autora do livro “Memória Corporal e Transferência”, para uma conferência aberta, seguida de debates com os membros do NPA e do público presente. O evento foi realizado no auditório principal da Sociedade Médica de Sergipe.Além disso, o NPA está preparando um grande evento que se estenderá durante todo o mês de setembro, em homenagem aos 150 anos de Sigmund Freud e aos 10 anos do Núcleo de Aracaju. Serão realizadas duas exposições: “Psicanálise & Modernismo” e “Museu Imagens do Inconsciente”, com painéis, documentos, fotografias e obras de arte. Durante todo o mês de setembro também será realizada a VII Jornada de Psicanálise de Aracaju e o VI Encontro de Psicanálise da Criança e do Adolescente, com conferências e mesas redondas em que participarão diversos convidados de outras sociedades. Apresentações artísticas contribuirão para o enriquecimento cultural do evento. Maiores informações através do telefax (79) 32�6-5729 ou do e-mail: [email protected]

NPG promove VI JornadaDando prosseguimento à sua programação, o Núcleo de Psicanálise de Goiânia está organizando sua VI Jornada a realizar-se no dias 22 e 23 de setembro próximo. Contará com a participação de grandes mestres nacionais: Suad Haddad de Andrade (SBPSP), David E. Zimerman (SPPA), José O. Outeiral (SBPRJ), José V. Nepomuceno Filho (SPB) e os convidados Tânia Rivera, professora da UnB, e o advogado e filósofo Sérgio Paulo Rouanet.

SPPA promove exemplo multidisciplinar- A SPPA e o Memorial do Rio Grande do Sul comemoraram os 150 anos do nascimento

de Freud, com uma exposição e debates sobre a interação entre psicanálise e o cinema,

artes plásticas e literatura. Foram realizadas em maio as conferências “Psicanálise e

Filosofia: uma relação ambivalente”, pelo prof° Sérgio Paulo Rouanet, e “O valor de ter

medo”, ministrada pelo psicanalista italiano, dr. Stéfano Bolognini.

- Como preparação do VIII Simpósio de Psicanálise da Infância e Adolescência,

em 30 e 31 de maio e 6 e 7 de junho, ocorreu a II Oficina para Pais, Educadores e

Profissionais da Saúde, com o tema “E ainda se brinca?”. Entre 8 e 10 de junho, em

sintonia com o próximo Congresso da IPA, o Simpósio abordou “Brincar, Repetir

e Elaborar”. O evento teve como convidado especial o psicanalista da Associação

Psicanalítica do Uruguai, Álvaro Nin.

- A Sociedade prepara uma série de atividades para debater “O Método Psicanalítico”

sob o ponto de vista das teorias de Freud, Klein, Winnicott e Bion. No primeiro evento,

nos dias � e 5 de agosto, participará o dr. Abel Fainstein, Analista da Associação

Psicanalítica da Argentina, para debater o método analítico sob a ótica de Freud.

- Nos dias 13, 1� e 15 de setembro, a SPPA recebe o dr. César Botella, psicanalista da

Sociedade Psicanalítica de Paris. Botella fará conferências “Sobre a figurabilidade”

e “Sobre a análise de pacientes borderline”, além de supervisão de casos clínicos.

Winnicott em Buenos AiresO XV Encontro Latino-Americano sobre Winnicott será realizado em Buenos Aires,

nos dias 2� a 26 de novembro, organizado pela APA. Haverá video-conferência com

André Green. Informações no site www.joseouteiral.com (home).

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Associação Brasileira de PsicanáliseNotícias e Programação

A SBPRJ sempre incentivou a realização de atividades envolvendo diferentes

segmentos da sociedade , principalmente através de parcerias estabelecidas

com ONGs. Neste contexto, em 2005, a instituição promoveu a transformação

do Projeto Comunidade, instituído há 10 anos, em Programa de Psicanálise

e Interface Social -PROPIS- que, alem de incluir as parcerias de cunho social,

pretende organizar e promover a reflexão em torno do tema.

A formulação do PROPIS surgiu da constatação de que o sujeito de sofrimento

contemporâneo difere do sujeito de sofrimento dos séculos XIX e XX, impondo

a criação de instrumentos de intervenção para atender pessoas de diferentes

segmentos sociais que nos endereçam diferentes demandas dentro e fora dos

nossos espaços clínicos. Os fundamentos teóricos psicanalíticos, apreendidos em

seu rigor e riqueza, constituem a base da pesquisa, por modalidades de atuação,

dos psicanalistas nesses novos cenários.

O PROPIS nasce em circunstâncias favoráveis de alinhamento com propostas da

atual direção da IPA, com o tema central do XXVI Congresso da FEPAL e com as

comemorações de 150 anos do nascimento de Freud, cujo legado inclui a tradição

de pesquisa e o encorajamento para que os psicanalistas exerçam parcerias com

outros saberes e em diferentes esferas sociais.

APRio 3 destaca comunhão societáriaAs quatro sociedades psicanalíticas do Rio de Janeiro deram início a um programa de coordenação científica de seus eventos. O projeto conta com a participação da ABP. O primeiro destes eventos ocorreu na RIO 3, onde o dr. Waldemar Zusman, presidente de honra da entidade, apresentou o esboço inicial de um trabalho intitulado “As vertentes psicanalíticas da comunhão”. O evento teve o caráter de “oficina de trabalho” e esteve aberto à participação livre para discutir e improvisar sobre o tema.

As demais sociedades já começaram a enviar seus convites e suas programações mensais e o intercambio poderá se expandir a outros estados, contando com o apoio da ABP e até da FEPAL. Programação

Em abril, houve sessão clínica: Caso de uma criança tratada dos 16 meses aos 5 anos na “Unité de Soins Spécialisés pour Jeunes Enfants” - Centro Alfred Binet - Paris. Psicoterapia Psicanalítica Precoce. A convidada foi Marthe Barraco. Em maio, houve a apresentação de trabalho de Maria Christina Monteiro Cardoso, Membro Titular da APRIO 3, sobre As resistências no processo psicanalítico, com ilustrações clínicas para comentários e discussões. Ainda em maio, ocorreu a apresentação de trabalho de José Carlos Zanin, Membro Titular da APRIO 3, sobre Crises de interrupção no processo psicanalítico. Em junho foi agendada reunião aberta ao público em geral, com palestrantes de outras disciplinas, além da psicanálise, sobre o tema Envelhecimento. Houve também evento especial em comemoração aos “150 anos do nascimento de Sigmund Freud”, com uma programação organizada pelos departamentos científicos das quatro sociedades do Rio de Janeiro.

Em julho dia 6, retomou-se as reuniões internas. O primeiro encontro foi a apresentação da palestra “O paciente regressivo: possibilidades de comunicação”, com Vera Antunes.

SBPRP recebe visitas internacionaisA Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto (SBPRP) recebeu a visita internacional do dr. Theodore Jacobs, que é analista didata da Sociedade de Psicanálise de Nova York e membro da Associação Psicanalítica Americana. O dr. Jacobs promoveu atividades científicas com os membros e candidatos da instituição. No dia 1º de junho foi realizado reunião científica fechada aos membros, candidatos e pré-candidatos, na qual o dr. Jacobs apresentou seu trabalho “Reflections on the Goals of Analysis and the Process of Change”, tendo como comentaristas as psicanalistas Maria Auxiliadora Campos, Rachel Barbosa Lomônaco Beltrame e Rosângela de Oliveira Faria. Já no dia dois de junho, foi realizada a V Jornada Psicanálise no Divã, na qual o o membro da APA apresentou seu trabalho “On Unconscious Communication and Covert Enactments: Some Reflections on Their Role in the Analytic Situation”, tendo como comentaristass as psicanalistas Ana Rita Nuti Pontes e Beatriz Troncon Busato Bestetti. Nos dias 11 e 12 de agosto SBPRP receberá outra visita internacional, a dra. Marilia Aisenstein, da França.

IPA visita SPMSA Sociedade Psicanalítica de Mato Grosso do Sul (SPMS) participou do I Congresso Luso-Brasileiro realizado em Lisboa pela Associação Brasileira de Psicanálise (ABP) e Sociedade Psicanalítica de Portugal (SPP). A dra. Leila Tannous Guimarães e a dra. Ednéia Cerchiari representaram a sociedade no evento.Nos dias 22, 23 e 2� de setembro vai acontecer o V Simpósio de Psicanálise do Mato Grosso do Sul, organizado pela ABP em parceria com a sociedade. O tema será “Psicanálise: 150 anos da herança de Freud”. Já nos dias 3, � e 5 de novembro, a Comissão de Liasion da IPA visitará a Sociedade.O Departamento de Assistência Psicológica realizou o seu primeiro encontro no dia 20 de maio. O tema base foi “Resistência”. Foi apresentado um caso clínico e a psicóloga Gleda Brandão Araújo coordenou a discussão.

SBPdePA debate infância e adolescência Depois das homenagens aos 150 anos de Freud e de participar do I Congresso Luso-

Brasileiro de Psicanálise, em Portugal, SPBdePA, dirigida por Ana Rosa Trachtenberg,

através de seu Núcleo de Infância e Adolescência (NIA) programou para o segundo

semestre a continuidade do Ciclo NIA - 2006: “Quem são os novos ídolos das crianças

e adolescentes” em forma de mesas-redondas temáticas para as datas de: 5 de agosto:

“Futebol, uma Paixão Adolescente?” ; 2 de setembro: “Música, o que toca o mundo

adolescente?”; e 7 de outubro: “Mídia, o adolescente consumidor ou consumido?”

. O NIA segue dando seqüência ao Seminário Teórico-Clínico com o dr. Asbed

Aryan ( da ApdeBA e coordenador de Crianças e Adolescentes da FEPAL) sobre:

“Patologias da Adolescência e a Psicanálise Atual - Teoria e Técnica”. Os próximos

serão dia 15 de setembro e 17 de novembro.

Em outubro ocorrerá a IV Jornada do NIA com o tema “Limites e Desafios da

Técnica Analítica com Adolescentes: na clínica atual como isso funciona ?. Para

os dias 20 e 21 de outubro. Estão convidados o dr. Carlos Moguillansky - Analista

Didata e presidente da APdeBA, para dar conferências e supervisionar material

clínico de um paciente adolescente.

- A Comissão Científica promove em agosto a “Noite Fepal” onde serão apresentados

três trabalhos aceitos para o Congresso Fepal 2006. Em setembro será apresentada

tese de mestrado da dra. Patrícia Goldfeld e haverá Diálogos Psicanalíticos com o

psicanalista Heitor de Paola, da SPRJ. Em outubro haverá apresentação do trabalho

denominado Psicanálise e Poder, de autoria do dr. José Luiz Petrucci, e no dia 11

de novembro será realizada a Jornada da Sociedade. Tendo como convidado o

psicanalista Luiz Carlos Menezes, l presidente da SBPSP.

SBPRJ estimula reflexão e integração social

SPPel comemora 150 anos de Freud

No dia 9 de junho, a instituição promoveu conversas com psicanalistas, que contou a

presença dr. Bruno Salésio da Silva Francisco, membro Didata da SPPel, que apresentou

“A Cultura Brasileira e o Desenvolvimento da Psicanálise”; o dr. José Luiz Meurer,

membro Didata da SPPel, que falou sobre “Aspectos da Vida e da Obra de Sigmund

Freud”. A coordenação ficou a cargo da dra.Rosaura Rotta Pereira. Já no dia 30, houve

conferência do dr. Oscar Paixão Carrera Junior, membro Didata da SBPRJ, sobre “O

Legado de Freud – Conceitos fundamentais”. E, no último dia 1 de julho, o dr. Oscar

Paixão Carrera Junior falou sobre “O Complexo de Édipo na obra de Freud”.

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Associação Brasileira de Psicanálise Diretoria, Conselhos e Comissões

Congresso Luso – Brasileiro é sucesso. 2007 é no Brasil.

Nos dias 29 e 30 de maio deste ano, membros da diretoria da ABP e

representantes de suas federadas participaram de I Congresso Luso-Brasileiro

de Psicanálise, em Lisboa. O tema do Congresso “Contribuições Clínicas

e Construtos Teóricos na Prática”- Navegar é preciso, Viver não é Preciso”,

contribuiu para dar ao evento um foco centrado nas questões atuais sobre

a importância e especificidade da psicanálise em nossos dias. Ao mesmo

tempo este tema imprimiu uma roupagem poética, inspirada nos versos de

Fernando Pessoa, que tão bem traduzem a subjetividade do ser humano e a

experiência analítica.

O evento, considerado histórico pelos partiicpantes, reuniu analistas brasileiros

e portugueses em torno da psicanálise e serviu para resgatar, ressignificar e

fortalecer vínculos pré-existentes desde os primórdios da nossa história. Em

mesas redondas e discussões clínicas, teve lugar um intenso e rico intercâmbio

de idéias acerca de temas relevantes da teoria e prática analítica. Os temas

cultura luso-brasileira e desenvolvimento da psicanálise no Brasil e em

Portugal foram compartilhados e possibilitaram o conhecimento da história,

características e contexto atual do cenário psicanalítico de cada país.

Os laços estabelecidos durante a organização do evento, reforçados na

convivência durante o encontro, bem como o êxito alcançado, contribuíram

para a proposta conjunta de realização do próximo encontro em 2007, no

Brasil. Este fato possibilitará dar continuidade ao projeto iniciado na gestão

anterior, sob a presidência do dr. Carlos Gari, que tornou possível a realização

deste I Congresso.

Profissionais e estudantes lusitanos que estiveram presentes ao evento

têm, através de correspondências, manifestado interesse em nossas

publicações psicanalíticas e querem informações sobre o movimento

psicanalítico brasileiro.

Eventos CompartilhadosA Direção Científica da ABP, no comprimento de suas funções e dando

continuidade à proposta de Eventos Compartilhados, já deu início aos

trabalhos de organização do próximo Congresso Luso-Brasileiro, numa ação

conjunta com a Diretoria de Relações Exteriores e a Diretoria da Sociedade

Portuguesa de Psicanálise.

Em 2007 teremos ainda a realização do Evento Brasil-Argentina, cuja proposta

já foi aceita, pelos presidentes das Sociedades Argentinas. Esta iniciativa,

que pretende expandir-se a outros países, contará com a participação de

representantes das federadas da ABP.

Como foi anteriormente informado, a idéia da realização desses eventos

é possibilitar que a produção brasileira possa ocupar espaços ainda não

conquistados e se fazer presente no cenário psicanalítico, para além das

nossas fronteiras. Com esse objetivo os Eventos Compartilhados serão

realizados a cada ano em um país com a participação de trabalhos de

colegas dos distintos países, contribuindo assim para o acesso à produção

científica e experiência clínica de colegas de outros países. Este intercâmbio

certamente irá contribuir para o enriquecimento da psicanálise em nosso

país e fortalecimento de nossas entidades psicanalíticas.

Capsa aprova projeto da ABP

O Comitê da IPA, The Analytic Practice and Scientific Activities Committee

(Capsa), aprovou projeto desenvolvido pela ABP para a realização da

Conferência Internacional de Clínica Psicanalítica, que terá a participação

dos seguintes convidados estrangeiros: Owen Renik (EUA), Vincenzo

Bonaminio (Itália) e César Botella (França). O evento, que terá como tema

central Prática Analítica – Singularidade & Diversidade, irá ocorrer no

Rio de Janeiro, nos dias 23 a 25 de novembro de 2006, contando em sua

organização com o apoio das Sociedades do Rio e a participação efetiva de

representante das federadas.

A Direção Científica fará contato com todas as Sociedades, visando o

planejamento, a participação e difusão deste evento. Em breve, estará disponível

para as Sociedades referências profissionais e dados sobre a produção

científica dos convidados e outras informações acerca do evento.

RBP terá humor como tema

A Revista Brasileira de Psicanálise (RBP) terá como tema o

humor em seu volume �0, número �. A publicação está com

lançamento previsto para dezembro. O editor da publicação,

Leopold Nosek, pede colaborações, lembrando aos autores que

os trabalhos devem seguir as normas que se encontram no final

da Revista. Data de entrega: 30 de setembro de 2006.

XXI Congresso Brasileiro em fase final de preparação Nos dias 9 a 12 de maio de 2007, psicanalistas brasileiros, membros da

ABP e candidatos dos Institutos das Sociedades componentes têm um

encontro marcado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Trata-se do XXI

Congresso Brasileiro de Psicanálise, que terá como tema central “ Prática

Psicanalítica – Especificidade, Confrontações e Desafios”. O evento

está em fase final de preparação, dela participando a diretoria da ABP,

juntamente com o Conselho Científico e as Comissões Organizadoras.

O local escolhido segue o movimento de sediar o Congresso nas

diferentes regiões onde a psicanálise tem prosperado e gerado

Sociedades Componentes da ABP, FEPAL e IPA. O Rio Grande do Sul,

de onde saiu o primeiro analista brasileiro a assumir a presidência da

IPA, tem se mostrado solo fértil para a produção e desenvolvimento do

pensamento e prática da psiquiatria e psicanálise, desde os primeiros

tempos da Psicanálise no Brasil. A qualidade das contribuições teórico-

técnicas de psicanalistas gaúchos revela a seriedade e o compromisso

com a psicanálise e sua expansão.

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Associação Brasileira de PsicanáliseDiretoria, Conselhos e Comissões

Um encontro em Lisboa 66º Congresso de Psicanalistas de Língua Francesa

A participação no 66º Congresso de Psicanalistas de Língua Francesa

foi realmente um encontro em Lisboa com pessoas agradabilíssimas,

extremamente calorosas e gentis, além é claro de altamente preparadas

cientificamente.

Este congresso é realizado anualmente, um ano em Paris e outro em

alguma capital européia de língua latina. É um evento de alto nível

científico que este ano teve como tema central “As relações de objeto

e modelos da pulsão”. Havia nitidamente uma proposta de articular a

teoria das relações de objeto, especialmente a partir das contribuições

de Bion e Winnicott, com a metapsicologia freudiana.

A dinâmica destes encontros contribui para que eles atinjam a

profundidade antes mencionada. Existem habitualmente dois relatórios

oficiais que são distribuídos em diversas sociedades européias, mas

também de outras latitudes, sendo, portanto, estudados previamente

pelos participantes. Assim, durante os quatro dias do encontro o tema

é exaustivamente debatido.

Há que destacar que, como seria de se esperar, entre os participantes

– em geral pessoas altamente preparadas – encontram-se expoentes

da psicanálise mundial. Este ano, apenas para citar alguns, estavam

além do Presidente da IPA, Cláudio Eizirik, André Green, César Botella,

Antonino Ferro, Marília Aisenstein, Raymond Cahn e outros.

Mas o que merece ser destacado foi a participação dos brasileiros neste

evento, fato sublinhado diversas vezes pelos organizadores. Estavam

presentes 29 colegas do Brasil, com participações no evento de diversas

formas. Os presidentes da SBPSP, Luiz Carlos Menezes, da SBPRJ, Jane

Kezen, e da SPPA, Ruggero Levy, foram oficialmente recepcionados e

convidados a sentarem na mesa de abertura. Esteve também presente

o Presidente SBPRP, José Cesário Francisco Júnior.

A manhã de sexta-feira foi aberta com a participação científica de

Cláudio Eizirik, Presidente da IPA, expondo o tema “Relações de objeto

e a psicanálise hoje”. A seguir, o colega Luiz Carlos Menezes (SBPSP) foi

debatedor da apresentação de Teresa Flores, juntamente com Antonino

Ferro (SPI). A colega Luciane Falcão (SPPA) foi uma das tradutoras ao

português dos relatórios oficiais. A simpatia e o esforço para fazer os

psicanalistas brasileiros sentirem-se em casa foi realmente admirável

e digno de gratidão.

O desejo de todos que participaram neste congresso foi, imagino, o de

estar novamente presente nas suas próximas edições. Por isso, colegas

franceses, até breve ou tout à l’heure.

ABP promove censoNa medida em que a psicanálise se expande no Brasil, a

Associação Brasileira de Psicanálise tem diversificado as

suas funções, passando a atuar também na solução de

problemas que afetam o interesse das Sociedades.

Conhecer o profissional atuante no Brasil para que este

possa ser devidamente representado e atendido pelas

atividades propostas pela ABP é tarefa importante no

desenvolvimento e crescimento de nossa Associação.

Assim, a Associação Brasileira de Psicanálise, no intuito de

melhor conhecer seu quadro de associados está buscando

informações sobre a realidade de cada um dos associados às

suas filiadas, conhecendo melhor sua formação, titulação,

eventuais funções acadêmicas e opinião.

A busca destas informações constitui-se em um processo

de pesquisa, usualmente chamado de censo, que visa o

levantamento de dados de toda a população específica,

neste caso, os associados das filiadas a ABP.

Gostaríamos, portanto, de convidá-lo a participar desta

iniciativa respondendo (e reenviando) o questionário

disponibilizado. Ressaltamos que as informações fornecidas

são anônimas e sigilosas na sua individualidade. Após a coleta

e análise de dados, os resultados gerais serão disponibilizados

para que todos possam discutir e compartilhar opiniões.

Ruggero Levy Presidente da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre

É possível psicanálise de tempo limitado?A resposta está no livro “Psicoterapia Psicanalítica Breve”, do dr.

Theodor S. Lowenkron, coordenador da Comissão de Pesquisa

e Universidade da ABP, que está sendo relançado em segunda

edição, revisada, pela editora Artmed. A primeira edição foi

publicada em 1993.

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Associação Brasileira de Psicanálise

A violência nossa de cada dia

Pedro Gomes Presidente da ABP

Diretoria, Conselhos e Comisssões

Recentemente a cidade de S. Paulo parou. O crime organizado

demonstrou sua força e as vidas, o ir e vir dos cidadãos ficaram em

questão. No Rio de Janeiro o cenário não é muito diferente. Todo dia

há tiroteios e confrontos e a população tem medo de sair de casa,

refugiando-se atrás de altas grades e muros eletrificados. A violência

de nossas cidades torna todos nós vítimas em potencial e reféns de um

estado de ameaça e medo. Conscientes de nosso dever ético enquanto

psicanalistas e comprometidos com a dignidade da condição humana,

registramos a nossa grande preocupação com as conseqüências

nefastas do contexto social atual, que incidem sobre o processo de

formação e desenvolvimento do homem.

Sabemos da importância de um ambiente empático e sustentador que

vá apresentando o mundo à criança de maneira gradual, de acordo

com seu estágio de desenvolvimento e respeitando as características

que traz dentro de si. O contato precoce com uma realidade que lhe é

indiferente, a falta de respostas sintonizadas com as necessidades e os

estados afetivos de um ser ainda frágil, dificultam o estabelecimento

daquilo que é mais próprio da condição humana: a sua capacidade

de simbolizar (de pensar), fundamental para a subjetivação do eu.

Assim, ao invés de agir criativamente sobre o mundo, a partir de uma

consciência de si mesma e dos outros enquanto distintos e ao mesmo

tempo semelhantes, a criança que foi desassistida emocionalmente

apenas reagirá impensadamente à realidade que a cerca, com toda

a força, descontrole e instabilidade dos afetos primitivos, não

transformados ou sublimados.

Exemplos trágicos dessa situação são observáveis diariamente nas ruas

das principais cidades do país. Um exemplo destacável foi o episódio

em que jovens de uma favela do Rio de Janeiro ajudaram a atear fogo

num ônibus, matando e ferindo seus passageiros. O desabafo da policial

que investigava o crime, ao afirmar, em entrevista aos noticiários de

televisão, a impossibilidade total de comunicação entre dois mundos

inteiramente diferentes – o dela e o da jovem – ilustra a consternação

de todos frente à gravidade do assunto.

Entendemos que a pobreza por si só não implica em desamparo

emocional, visto que é freqüente a manifestação de solidariedade

humana entre as camadas pobres da população. A questão preocupante

é a propagação de uma ideologia que privilegia os interesses do

mercado, em detrimento das necessidades básicas do ser humano,

tanto concretas como emocionais.

O homem, atualmente, vem sendo utilizado para servir aos interesses

econômicos não ocupando, como deveria ser, a posição de alvo de

seus investimentos. Dentro dessa lógica, os indivíduos, privados de

participar da cadeia produtiva e de consumo, tendem a se sentirem

excluídos. Vemos assim surgirem gerações que se multiplicam formando

uma espécie de “mundo a parte”, como foi citado pela policial. Um

mundo de seres cujo empobrecimento da estrutura mental impede

o desenvolvimento da capacidade de lidar com os próprios afetos e

com a realidade interna e externa, levando-os a praticar atos cuja

denominação mais adequada seria barbárie.

Independentemente de orientações político-partidárias, nós

psicanalistas apoiamos todos aqueles que lutam para que o ser

humano seja colocado no lugar que lhe é devido: como centro principal

de nossa atenção e do nosso trabalho. Queremos um mundo onde a

solidariedade seja possível, um mundo onde o ato de ajudar o próximo

não tenha que ser evitado pelo medo de ser assassinado. A nossa

responsabilidade como psicanalistas é trabalhar no sentido do resgate

da subjetividade e da saúde emocional do indivíduo. E como cidadãos

não podemos nos furtar a investir na luta pelo respeito à dignidade e

a preservação da vida humana.

Page 20: Notícias - febrapsi.org.brfebrapsi.org.br/publicacoes/ABP Notícias 30 - Agosto 2006.pdf · Usando a metáfora do maior cajueiro do mundo, que se encontra em Natal. Ali, por uma

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Associação Brasileira de Psicanálise

N

A questão do exercício profissional da Psicanálise

Cultura

Jair EscobarDiretor de Exercício Profissional da ABP

os últimos anos tem havido um questionamento importante a respeito do exercício da psicanálise

como atividade profissional. Há quatro eixos de interesse, a grosso modo, onde se registram as

maiores discussões em relação a esta temática. Alguns são favoráveis a regulamentação, outros a

regulação ou auto-regulação, e alguns a uma equivalência a titulações universitárias de pós-graduação, como

mestrado ou doutorado.

Com estas quatro alternativas pode se constatar que a questão é complexa e, além destas, devem existir

outras possibilidades. A preocupação com este tema surge na medida em que há uma demanda da população

em relação a ABP, solicitando informações a respeito de formação psicanalítica e de orientações a respeito

de atendimentos que são ditos psicanalíticos, mas com evidente falta de ética e má prática.

Recebemos de oito a dez e-mails por semana com esse tipo de solicitação o que evidencia nossa

representatividade e responsabilidade junto à população. Outro fato também preocupante é o do

constante assédio de entidades, ditas psicanalíticas, junto aos órgãos públicos, buscando a criação de

Conselhos regionais ou federais de psicanálise. Em relação a este último tópico é importante destacar

que só após intensa mobilização da ABP é que foi possível a retirada, junto ao Congresso Federal, de

projeto de lei que criava o Conselho Federal de Psicanálise.

A possibilidade de criação de tal conselho, que era iniciativa de entidade religiosa sem nenhuma vinculação

com a psicanálise, mobilizou algumas entidades psicanalíticas nacionais e, desta movimentação, surgiu o

movimento “Articulação de Entidades”, com o qual a ABP se mantém vinculada, estabelecendo planos de

atuação. Sabemos que a questão do exercício profissional da psicanálise é bastante complexa e delicada

e mesmo no âmbito da ABP há diferentes posicionamentos.

Sabendo-se dessa complexidade é que as diretorias anteriores e a atual vêm estabelecendo algumas

medidas.Através de discussões nos conselhos de presidentes e profissional da ABP decidiu-se pela

contratação de escritório de advocacia com o objetivo de realizar estudo técnico e jurídico-legal a respeito

do tema. Após a realização desse trabalho planejamos um amplo debate nas diferentes instâncias da ABP,

para que tenhamos as melhores condições no estabelecimento do possível ordenamento da questão.