aborto, sexualidade e inclusão social

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    INTRODUO

    No Estado brasileiro o positivismo praticamente um apostolado, acredita-se que tudo

    pode ser resolvido atravs da edio de leis. Sempre que exsurge um problema social busca-se

    soluo atravs da elaborao e publicao de leis e se espera que, de per si, resolvam o

    problema.

    precisamente isso que tem ocorrido quando se trata de aborto e sexualidade. O

    programa de planejamento familiar brasileiro um dos melhores do mundo, massimplesmente no funciona para quem precisa dele, as classes menos abastadas. A

    desinformao leva a gravidez indesejada, que leva a dois caminhos ou a maternidade precoce

    ou ao aborto. Ambos no oferecem vantagens nem para a mulher nem para a sociedade.

    Se compararmos dados da dcada de 70 com atuais veremos que a taxa de fecundidade

    caiu mais de 50% (cinqenta) por cento, sendo esta uma prova inequvoca que a mulher dos

    dias atuais deseja ter menos filhos, garantindo a prole uma melhor qualidade de vida. Segundo

    dados da FGV (Fundao Getulio Vargas) o IDH (ndice de Desenvolvimento Humano)

    inversamente proporcional ao nmero de filhos por mulher. Equivale dizer que, as regies que

    tem famlias maiores mais tm IDH menor que as regies com famlias menores. Destarte,

    inferir-se que quanto maior a pobreza, maior a densidade demogrfica, maior a taxa de

    fecundidade.

    Cumpre destacar que no se deve confundir nmero de filhos por mulher com taxa de

    maternidade que se refere a um maior nmero de mes com menos filhos. Esta

    extremamente benfica. Dados da FGV demonstram que os municpios com maior taxa de

    maternidade tendem apresentar maiores indicadores de bem estar sociais globais como

    maiores ndices de Desenvolvimento Humano (IDH), menores taxa de pobreza, assim como,

    maiores indicadores de aproveitamento educacionais.

    O fato de boa parte das mulheres de uma localidade serem mes geram altos

    benefcios sociais como alta freqncia e aproveitamento escolares e baixa mortalidade

    infantil, o problema das regies pobres o grande nmero de filhos por me, o que acarreta

    prejuzo na qualidade da criao dos filhos.

    H dados que demonstram de forma inequvoca que o planejamento familiar

    extremamente benfico mulher e a sociedade e, mesmo assim no se consegue levar a termo

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    Mtodos anticoncepcionais

    83%

    11% 3% 3%

    plula combinada

    miniplula

    plula de emergncia

    injetvel mensal

    um programa eficaz. As mulheres no tm acesso s garantias legais que j possuem oriundas

    da Lei 9.263/96 que em seu art. 1 assegura que o planejamento familiar DIREITO de todo

    cidado. Segundo dados do Ministrio da Sade a distribuio de mtodos contraceptivos

    teve incio no ms de fevereiro de 2007, para 1.388 municpios com mais de 100 mil

    habitantes e/ou que contam com pelo menos cinco equipes de Sade da Famlia, de todos os

    estados brasileiros. A distribuio est sendo feita nos quantitativos abaixo:

    - plula combinada: 10.986.589 cartelas;

    - miniplula: 1.500.805 cartelas;

    - plula de emergncia: 352.361 cartelas;

    - injetvel mensal: 439.040 ampolas.

    Grfico A

    Embora disponibilizados, tais recursos no chegam a atingir os resultados esperados,

    ou seja, no chegam s mulheres que deles poderiam se beneficiar. Assim, emboraimplemente polticas que, em tese, levariam a um efetivo planejamento familiar pode-se

    facilmente observar que tais medidas no atingem seu mister.

    Exemplo da ineficcia das aes governamentais pode ser observado em pesquisa da

    FGV no municpio do Rio de Janeiro demonstrando que a fecundidade de mulheres nas

    favelas cariocas duas vezes maior do que nos bairros de renda mais alta, mas no caso dos

    adolescentes a taxa cinco vezes maior. Assim, uma adolescente moradora da favela tem

    cinco vezes mais chances de engravidar do que uma adolescente de classe mdia-alta.

    O direito reprodutivo o direito bsico de toda pessoa de decidir quantos filhos quer e

    quando os quer ter sem discriminao, coero ou violncia de qualquer espcie.

    FONTE: , acesso em 04/12/2005.

    http://www.saude.se.gov.br/HomePages/hppadraosaude.nsf/0/7a3bffe6218%20ehttp://www.saude.se.gov.br/HomePages/hppadraosaude.nsf/0/7a3bffe6218%20ehttp://www.saude.se.gov.br/HomePages/hppadraosaude.nsf/0/7a3bffe6218%20ehttp://www.saude.se.gov.br/HomePages/hppadraosaude.nsf/0/7a3bffe6218%20e
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    A gravidade do problema pode ser observada a partir dos seguintes dados: das crianas

    de 0 a 2,5 anos 4% pertencem a classe A e 7% classe B. As classes A e B respondem por

    23% da populao, mas contribuem com 11% das crianas. Da classe mdia (que no Brasil j

    pobre) para baixo nascem 89% das crianas. S na classe E nascem 42%. Assim, condena-

    se quem pobre a ser cada vez mais miservel e aumentar ainda mais o abismo entre classes

    sociais.

    Grfico B

    Grfico crianas - classe social

    4% 7%

    89%

    Classe A

    Classe B

    Abaixo classe C

    FONTE: Jornal O Globo , acesso em 05/12/2005.

    http://www.fgv.br/ibre/cps/pesquisas/maes_idade/apresentacao/%20reportagens_maesidade.htmhttp://www.fgv.br/ibre/cps/pesquisas/maes_idade/apresentacao/%20reportagens_maesidade.htmhttp://www.fgv.br/ibre/cps/pesquisas/maes_idade/apresentacao/%20reportagens_maesidade.htmhttp://www.fgv.br/ibre/cps/pesquisas/maes_idade/apresentacao/%20reportagens_maesidade.htm
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    2,73

    16,37

    0 5 10 15 20

    antes 1970

    entre 1970 e

    2000

    Mulheres solteiras que so mes

    Seqncia1 2,73 16,37

    antes 1970 entre 1970 e 2000

    5,8

    2,3

    0 2 4 6

    antes 1970

    entre 1970 e 2000

    Mdia de filhos por mulher

    Seqncia1 5,8 2,3

    antes 1970 entre 1970 e 2000

    1. DIREITO REPRODUTIVOO direito reprodutivo parte dos Direitos Humanos reconhecidos por leis e acordos

    internacionais. o direito bsico que toda tem pessoa de decidir quantos filhos quer e a poca

    apropriada de t-los.

    Mas para fazer valer esse direito mister que as pessoas tenham acesso a informaes

    que lhes possibilitem a efetivao do direito. Quando, atendendo aos requisitos legais (ser

    maior de 25 anos com 2 filhos vivos), a mulher tenta uma laqueadura ou o companheiro uma

    vasectomia pelo Sistema nico de Sade (SUS) e no consegue ou quando a mulher busca

    anticoncepcional no posto de sade e no encontra a quem devem recorrer?

    enorme dificuldade para se conseguir realizar laqueadura pelo Sistema nico de

    Sade (SUS). Quando a mulher no consegue realizar o procedimento no tem a quem

    recorrer, no encontra orientao de como proceder.

    Assim, embora no sculo 21, ter filhos j no seja a principal funo da mulher. O

    acesso aos mtodos anticoncepcionais est cada vez mais distante das mulheres pobres,

    acabando por gerar uma realidade diversa da pretendida. o que se pode constatar com a

    pesquisa realizada pelo IBGE no Censo 2000, segundo a qual o nmero de mulheres acima de

    dez anos que tiveram filhos no Brasil aumentou de 49,32% para 60,8% entre 1970 e 2000 e,

    dados mais recentes da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostras a Domiclio) de 2003 mostram

    que o nmero de mes subiu para 62,18%.

    Entre 1970 e 2000, a mdia de filhos caiu de 5,8 para 2,9 no pas e, atualmente,

    encontra-se em 2,3. A pesquisa mostra ainda nmero de mulheres solteiras que so mes

    aumentou de 2,73% para 16,37% entre 1970 e 2000.

    Grfico C Grfico D

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    Resta evidenciado que a mulher no deseja uma prole numerosa e sem planejamento.

    Quando a mulher tem um nmero menor de filhos pode lhes dar mais ateno melhorando

    substancialmente a qualidade de vida da famlia.

    Entretanto, o que vem ocorrendo justamente o inverso deste anseio, ou seja, o

    nmero de mes solteiras teve forte aumento, tambm houve acrscimo no numero de mes

    em geral. Cumpre destacar que esses dados s so expressivos entre a mulheres das classes C,

    D e E, pois, entre mulheres das classes A e B ocorreu decrscimo .

    A parcela mais pobre da sociedade brasileira vive margem do planejamento familiar,

    prova disso so os dados da FGV que demonstram que apesar de o nmero de filhos por mester diminudo em todo o pas, a nica faixa etria em que o ndice cresceu a dos adolescentes

    (entre 15 e 19 anos). Em 1980, havia oito filhos em cada grupo de cem adolescentes. Em

    2000, o nmero subiu para nove. Nas favelas do Rio a proporo ainda maior. Para cada

    grupo de cem adolescentes, h 26 filhos, enquanto nos bairros ricos da cidade h apenas 5. No

    total do municpio, h 15 crianas nascidas em cada grupo de cem adolescentes. Ser essa

    uma realidade escolhida pelas prprias adolescentes ou fruto do total descaso da sociedade e

    dos governantes para com o problema.Esse aumento leva-nos a um outro dado alarmante: o aumento do nmero de abortos

    realizados margem da lei, ocasionados pela falta de planejamento familiar, sendo esse

    aumento mais expressivo nas camadas mais pobres da sociedade.

    Grfico E

    Mdia filhos por adolescente (idade entre 15 e 19 anos)

    19%

    21%60%

    filhos por adolescente em 1980

    filhos por adolescente em 2000

    filhos por adolescente favelas

    FONTE: Pnad (Pes uisa Nacional de Amostras a Domiclio), 2003.

    FONTE: Fundao Getlio Vargas (FGV), 2005.

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    2. ABORTO: PROPOSTAS LEGISLATIVAS PARA SOLUO DOPROBLEMA

    Assunto extremamente polmico desde o seu mago, pois, a prpria definio do que

    venha a ser aborto j tarefa difcil. Para uma corrente, encabeada principalmente por

    mdicos, aborto todo produto da concepo eliminado com peso inferior a 500g ou idade da

    gestao inferior a 20 semanas. Para uma segunda corrente, encabeada principalmente por

    religiosos, o aborto a morte de uma criana no ventre de sua me produzida durante

    qualquer momento da etapa de vida que vai desde a fecundao (unio do vulo com o

    espermatozide) at o momento prvio ao nascimento.

    A argumentao da primeira corrente a seguinte:

    Se o aborto a morte deliberada de algum, vale dizer: de uma pessoa quando, no

    embrio, se identifica uma pessoa? Para isto devemos procurar uma definio do termo

    pessoa. Maurizio Mori, debatendo este ponto, assinala que todos concordariam se

    afirmssemos que uma pessoa , primeiramente, um indivduo que se distingue dos demais

    seres naturais por uma possibilidade indita, a racionalidade. Pessoa , ento, o indivduo

    racional. Indivduo uma palavra cuja origem latina denota aquele que indivisvel onde

    se pode identificar uma relao de subordinao das partes ao todo. Tendo presente esta

    definio, se tomarmos um embrio com oito clulas e o dividirmos, teremos gmeos

    monozigticos que percorrero um desenvolvimento autnomo e diferenciado. Se, entretanto,

    logo em seguida, voltarmos a unir estes dois grupos de clulas teremos, de novo, um nico

    embrio. No se est, nesta hiptese, diante de um indivduo, mas de um agrupamento de

    clulas ainda largamente indiferenciadas cujo desenvolvimento no est pr-determinado.

    (At o 14 dia aps a fecundao, por exemplo, o aglomerado de clulas pr-embrionriasainda no diferenciou aquelas que iro formar o feto e aquelas que iro formar a placenta).

    Quanto caracterstica potencial de racionalidade, sabe-se que ela simplesmente

    inconcebvel sem a presena do crtex cerebral, processo que s se anuncia ao trmino do

    terceiro ms de gestao. Antes disto, ento, para esta corrente, definitivamente, no temos

    uma pessoa. Reconhecer a presena de vida humana no embrio um problema

    essencialmente filosfico-religioso. O filsofo catlico Jacques Maritain, considerava um

    verdadeiro absurdo atribuir a existncia da alma ao embrio.

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    Para a segunda corrente a vida ocorre no momento da fecundao, desta forma,

    qualquer ato que atente contra essa nova formao , conseqentemente, um ato contra a vida,

    pouco importando o tempo decorrido, por isso, consideram como aborto inclusive a

    utilizao, p.ex., da plula do dia seguinte. Saliente-se que existe atualmente em tramite no

    Congresso Nacional Projeto de Lei n 5379/2005 de autoria do Deputado Carlos Nader

    visando efetivar a proibio da chamada plula do dia seguinte.

    Foi sem dvida o Cristianismo que trouxe a concepo, vlida at hoje, de que o feto,

    mesmo no ventre materno, embora no se possa reputar como pessoa no sentido jurdico,

    representa um ser a quem a sociedade deve proteger e garantir seu direito fundamental vida.

    Uma linha mais radical de cristos defende a punibilidade do aborto, inclusive, nos

    casos que a vida me esteja em risco ou quando h um caso de anencefalia, para eles impossvel dizer que a vida da me vale mais que a do filho, que tambm sujeito de direitos

    (jurdicos e divinos). Exemplo desta linha mais radical o Projeto de Lei n 7.235/2002 de

    autoria do Deputado Severino Cavalcanti que prope a revogao do artigo 128 do Cdigo

    Penal, passando a considerar crime o aborto praticado no caso de oferecer risco a vida da

    gestante e quando a gravidez for oriunda de estupro.

    Mas, a efetivao ou proibio definitiva do aborto no representar grandes

    mudanas no quadro atual, aborto atualmente proibido, e mesmo assim estima-se que sopraticados mais de um milho de abortos ilegais por ano.

    Pode-se observar com esse panorama a forte crena de que problemas sociais se

    resolvem com a edio de leis, embora, se vislumbre que a soluo do problema de

    planejamento familiar e aborto no estejam atingindo, apesar dos vrios esforos, um

    resultado satisfatrio.

    A sociedade brasileira fortemente influenciada pela igreja, que no aceita a utilizao

    de mtodos contraceptivos, segundo as igrejas (tanto catlica, quanto a maioria dasevanglicas) s se poderiam aceitar mtodos contraceptivos naturais como o caso da

    tabelinha. Uma explicao sobre o porqu da ineficincia deste mtodo perfeitamente

    escusvel. No se obtm bons resultados nem mesmo entre as classes mais abastadas, nas

    faixas mais pobres da sociedade que no funciona mesmo. Experiente-se dizer a um homem

    sem instruo, rude, endurecido pelas vicissitudes do dia-a-dia que ele no pode fazer sexo

    com a mulher em determinado dia porque ela esta em seu perodo frtil, incua seria tal

    solicitao. Podemos ento deduzir que a igreja termina por coibir todo mtodo contraceptivo,

    pois o nico que ela permite completamente ineficaz.

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    A influncia da igreja na no utilizao de mtodos contraceptivos direta e indireta.

    Na primeira hiptese temos a proibio explcita do uso de anticoncepcionais. Na segunda

    temos a seguinte situao: para que os anticoncepcionais chegassem s mos da mulher ter-se-

    ia que perquirir quais delas tm vida sexual ativa e instru-las, conscientiz-las e at mesmo

    convenc-las a fazer uso dos mtodos anticoncepcionais. Para isso as mulheres teriam que

    admitir que tm vida sexual ativa, se ela for membro de uma igreja, no assumir tal postura,

    pois, o fato de ser sexualmente ativa poderia ocasionar inclusive a extruso da comunidade

    religiosa da qual faa parte.

    Mas a igreja no a maior responsvel pela falta de planejamento familiar, na verdade

    a grande maioria das mulheres no utiliza mtodos contraceptivos por desconhecimento ou

    por no ter parceiro fixo, conforme pode se verificar no grfico abaixo:Grfico F

    Fonte: Fundao Getlio Vargas (FGV)

    Porque no utiliza mtodo anticoncepcional?

    15,53

    2,64 3,13 2,06 1,84

    30,48

    2,19 1,88 2,8 1,75

    15,8618,84

    0

    5

    1015

    20

    25

    30

    35

    Foie

    stereliz

    ada

    Tirou

    otero

    ,trompa

    sou

    ovrio

    Que

    rengravid

    ar

    Estamam

    enta

    ndoou

    ps

    -parto

    Est

    namenop

    ausa

    Notem

    com

    panheiro

    Noconseg

    ueengravid

    ar

    Questes

    religiosas

    Razes

    desade

    Compa

    nheiro

    vasecto

    misa

    do

    Abstinn

    cia

    Outros

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    3. IMPROPRIEDADE DA BUSCA DE SOLUES ATRAVS DONORMATIVISMO JURDICO

    Hodiernamente, tramitam no Congresso Nacional projetos de Lei de todos os tipos

    alguns, se aprovados, seriam altamente prejudiciais s mulheres, existem atualmente

    aproximadamente 100 proposies sobre aborto em tramitao na Cmara.

    Pode-se perceber claramente o embate de posies antagnicas sobre aborto,observando-se os Projetos de Lei em andamento na Cmara. Temos todos os tipos de projetos,

    desde aqueles que passam a considerar aborto crime hediondo (Projeto de Lei n. 5058/2005

    de autoria do Deputado Osmnio Pereira - PTB /MG no momento presente em tramitao na

    Mesa Diretora da Cmara dos Deputados), queles que o descriminalizam totalmente (Projeto

    de Lei n. 4304/2004 de autoria do Deputado Eduardo Valverde, tramitando apensado ao

    Projeto de Lei n. 1135/1991), passando pelos moderados que consideram o aborto permitido

    em casos que oferea risco sade da mulher e quando inexista a possibilidade de vida extra-

    uterina (Projeto de Lei n. 4403/2004 de autoria da Deputada Jandira Feghali e Outros em

    tramite atualmente na Comisso de Constituio e Justia e de Cidadania).

    No vamos adentrar no custo que toda essa movimentao ocasiona para a nao.

    Mas, cumpre salientar que no h um nico Projeto de Lei em tramitao no Congresso ou

    ao governamental realmente eficaz, que conjeture sobre a obrigatoriedade da informao

    sobre sexualidade, planejamento familiar, mtodos preventivos e contraceptivos.

    Importante observar em todos os Projetos de Lei no qual se probe o aborto h

    inobservncia das necessidades das mulheres, o que se visa no a defesa da sade feminina,

    mas, pontos de vista dos parlamentares.

    Nestas proposies no se consideraram dados estatsticos que demonstram que no

    Brasil uma das principais causas de mortalidade da mulher o aborto realizado margem da

    lei. Procuram estes parlamentares transformarem um conceito tico, o de ser contra o aborto,

    num conceito jurdico que a todos obriga.

    Um dossi obtido na Rede Feminista de Sade sobre as complicaes decorrentes do

    aborto inseguro informa-nos que o Brasil gasta, a cada ano, cerca de US$10.000.000,00 (dez

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    milhes de dlares) no atendimento das complicaes causadas por aborto, o qual ocupa o

    quarto lugar nas causas de mortalidade materna no pas1.

    Os dados resultam do acompanhamento de casos de mulheres que praticaram aborto

    (ou sofreram abortos espontneos) e que passaram por curetagens em hospitais pblicos, entre

    1999 e 2002. Nesse perodo foram registradas no Brasil 6.301 mortes maternas, 538 delas

    relacionadas a abortos. Quatorze por cento destas mortes (56/538) ocorreram entre meninas de

    at 15 anos.

    As maiores taxas de curetagens esto no Nordeste (5,5 a cada mil mulheres), no Norte

    (4,48) e no Sudeste (4,13). A menor taxa est no Sul (2,65). O dossi no engloba os

    atendimentos realizados na rede privada. Estima-se que, em caso de abortamento, apenas uma

    em cada cinco mulheres procure o hospital, o que pode significar, no Brasil, a ocorrnciaanual de aproximadamente um milho de abortos clandestinos.

    Segundo dados da Organizao Pan-Americana de Sade2 as mortes por aborto

    correspondem a 12% dos bitos maternos.

    Estes dados so aproximados, pois a grande maioria das pessoas que pratica aborto

    no recorre rede pblica de sade, h tambm as clnicas clandestinas que praticam abortos

    e ficam fora das estatsticas.

    O que se tem uma realidade cruenta, que independe de convencimentos religiosos oufilosficos deste ou daquele parlamentar ou religioso, qual seja, milhares de mulheres

    praticam anualmente abortos clandestinos, expem-se a mtodos abortivos de alta

    periculosidade, feitos em ambientes insalubres, alm dos chs, beberagens e medicaes

    como citotec. Todos oferecem grave risco a sade e a vida da mulher. E este o ponto chave.

    No so os convencimentos pessoais de cada indivduo que devem nortear a poltica sobre o

    aborto, mas os interesses das mulheres e da sociedade.

    No se pretende com o presente trabalho um discurso pro-aborto, o que se busca mostrar que o alvo, o centro das atenes deve ser a mulher. Devem-se buscar polticas que

    beneficiem realmente o pblico feminino, sem preconceitos, sem disfarces, sem fanatismos,

    sem envolvimentos religiosos.

    Destarte, devemos ter como alvo desta busca uma soluo para uma situao j

    instaurada, no demais lembrar novamente que, quer nos apraza ou no, quer aprovemos ou

    no, estamos diante de um fato concreto, que a realizao de milhares de abortos

    clandestinos por ano, esse fato no se subordina a nossas convices a favor ou contra o

    1 Fonte: www.redesaude.org.br2 Fonte:

    http://www.redesaude.org.br/http://www.opas.org.br/sistema/arquivos/SAUDEBR.PDFhttp://www.opas.org.br/sistema/arquivos/SAUDEBR.PDFhttp://www.redesaude.org.br/
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    aborto deve-se, pois, perquirir uma soluo que seja vivel para esta situao concreta e j

    consolidada.

    Tivemos grandes avanos nos ltimos tempos como a norma tcnica editada pelo

    Ministrio da Sade informando aos mdicos e profissionais da rede pblica que no crime

    atender mulheres internadas por complicaes decorrentes de aborto ou tentativa de aborto

    ilegal. A nota tcnica ainda garante ao mdico o direito de manter o sigilo e no comunicar s

    autoridades policiais que a paciente fez um aborto ilegal. O objetivo evitar que mdicos

    deixem de prestar atendimento a esse tipo de paciente, por receio de serem considerados

    cmplices.

    A Norma Tcnica de Ateno Humanizada ao Abortamento diz tambm que os

    mdicos no podem informar polcia, autoridade judicial nem ao Ministrio Pblico que apaciente fez aborto. O sigilo na prtica profissional da assistncia sade um dever legal e

    tico, salvo para proteo da usuria e com o seu consentimento. O no cumprimento da

    norma legal pode ensejar procedimento criminal, civil e tico-profissional contra quem

    revelou a informao, respondendo por todos os danos causados mulher.

    H tambm uma norma aprovada pelo Ministrio da Sade (MS) que desobriga as

    mulheres vtimas de estupro a apresentarem Boletim de Ocorrncia nos hospitais da rede

    pblica quando decidirem interromper a gravidez. Se para alguns a iniciativa representa umavano na polmica discusso sobre o aborto, para outros, quase uma legalizao da prtica,

    to combatida por vrios setores da sociedade e principalmente por entidades religiosas, no

    entanto, o que se pretende conferir maior proteo s mulheres, visto que, apesar de estarem

    isentas de oferecer queixa na polcia, as mulheres nesta situao tm que se submeter a

    exames.

    Embora o aborto seja permitido em caso de estupro, o Cdigo Penal no obrigam as

    vtimas a denunciar a agresso numa delegacia, pois, muitas vezes devido ao constrangimentoque a denncia causaria a vtima, prefere esta se abster de seus direitos, mas, os agentes de

    sade costumam exigir o boletim de ocorrncia para respaldar o procedimento mdico. Com a

    norma, o Ministrio apenas ratifica o que est na lei e desburocratiza o atendimento. A

    interrupo da gravidez deve ser uma deciso da mulher. A proibio cria um mercado negro

    e aumenta o abismo social.

    Ao analisarem-se os dados sobre aumento de gravidez na adolescncia o primeiro juzo

    que vem mente so elas mesmas que buscam para si esse caminho, estas so vises

    preconceituosas da situao, o fato da jovem desejar ter uma vida sexual ativa, no significa

    dizer que ela deseje ser me. E essa sexualidade vem desabrochando cada vez mais

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    precocemente, dados do IBGE demonstram que de 1991 a 2000 o numero de jovens entre 10 a

    14 anos que foram mes pela primeira vez cresceu 93,7%. Essa exploso da gravidez

    adolescente no pas est relacionada principalmente pobreza e baixa escolaridade.

    Forma-se ento um crculo vicioso, onde, a me tem muitos filhos porque tem baixa

    renda e baixa escolaridade, estes filhos que tambm tero baixa renda e baixa escolaridade

    geraro outros filhos, e no podero cri-los ou educ-los apropriadamente, e geraro mais

    filhos, todos, sempre, sem esperanas. Tornando cada vez mais intransponvel o precipcio

    que se interpem entre as classes sociais.

    Mesmo aqueles que so radicalmente contra o aborto coadunam-se com os mais

    liberais em um ponto, qual seja, aquele que nos diz a prtica de aborto pela maioria das

    mulheres resulta em sofrimento e dor, no estamos desconsiderando uma pequena parcela deirresponsveis, mas em sua grande maioria so mulheres pressionadas pela sociedade prtica

    do aborto. Muitas vezes vtimas de violncia, dentro ou fora da famlia, ou de total

    despreparo, e isto pode ser traduzido facilmente atravs de nmeros de uma pesquisa

    realizada pela UNESCO/2004 (Organizao das Naes Unidas para a educao, a cincia e a

    cultura) nos mostra que a ocorrncia de gravidez na adolescncia variou inversamente com a

    escolaridade e a renda. A primeira gravidez foi levada a termo por 72,2% das mulheres e

    34,5% dos homens, estes com maior percentual de relato de aborto provocado (41,3% contra15,3% das moas). Com o nascimento de um filho antes dos 20 anos, parte das moas parou

    os estudos temporria (25,0%) ou definitivamente (17,3%), mas 42,1% j se encontravam fora

    da escola.

    Em pesquisa realizada pela UNICEF/2002, constatou-se que 16,6% de adolescentes com

    vida sexual ativa j tinham engravidado ou engravidado a companheira. A gravidez mais

    incidente entre adolescentes de 15 a 17 anos (78,7%); e mais freqente na classe D (20,1%).

    A gravidez foi um dos motivos apontado pelas meninas para o abandono escolar.Pesquisa realizada pela FGV (Fundao Getulio Vargas) mostra que a educao dos

    pais desempenha um papel importante na determinao do grau de escolaridade dos filhos. A

    probabilidade de um filho continuar sem escolaridade de 33,85% quando seu pai tambm

    no completou um ano de estudo. J para filhos de pais com ensino superior, este percentual

    cai para menos de 1%, tendo a maior probabilidade (60,02%) de repetirem o desempenho da

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    Utiliza mtodo para evitar filhos (%)

    29,3%

    3,3%

    67,4%

    Sim

    No, porque est grvida

    No, por outros motivos

    gerao anterior ( vide tabela 2). Cabe lembrar que desigualdade educacional explica, por sua

    vez, entre 35% e 45% da nossa desigualdade de renda3.

    Com o grande nmero de mes adolescentes fora da escola, em sua maioria mes

    solteiras, e com baixa escolaridade, que destino esperar para a maior parte dessas crianas?

    Pode-se observar na tabela abaixo que h excluso dessas crianas a uma existncia digna

    com acesso s garantias bsicas asseguradas constitucionalmente uma realidade iminente.

    Grfico G

    Probabilidade da escolaridade do filho contra os pais (%)

    Filho Sem Ensino Ensino Ensino Ensino

    Pai Escolaridade Primrio Fundamental Mdio SuperiorSem escolaridade

    Ensino Primrio

    Ensino fundamental

    Ensino mdio

    Ensino superior

    33,85

    2,78

    1,38

    0,37

    0,75

    18,49

    15,67

    4,07

    1,76

    0,90

    5,65

    15,15

    13,71

    6,48

    3,77

    4,20

    22,00

    28,78

    32,56

    16,19

    1,08

    11,59

    24,44

    35,80

    60,02

    FONTE: Velloso e Ferreira (2003) a partir do PNAD 96/IBGE

    Ainda, segundo a UNICEF, dez milhes de brasileiras, aproximadamente, vivem

    expostas gravidez indesejada, seja por uso inadequado de mtodos anticoncepcionais ou

    mesmo por falta de conhecimento e/ou acesso aos mesmos. Esses dados so corroborados

    pela FGV , segundo a qual 67,4% das mulheres no se utilizam mtodos contraceptivos.

    Grfico H

    3 Fonte:

    http://www.fgv.br/cps/artigos/Conjuntura/2004/In%C3%A9rcia,%20mobilidade%20e%20mobiliza%20%C3%A7%C3%A3o%20social_abril2004.pdfhttp://www.fgv.br/cps/artigos/Conjuntura/2004/In%C3%A9rcia,%20mobilidade%20e%20mobiliza%20%C3%A7%C3%A3o%20social_abril2004.pdfhttp://www.fgv.br/cps/artigos/Conjuntura/2004/In%C3%A9rcia,%20mobilidade%20e%20mobiliza%20%C3%A7%C3%A3o%20social_abril2004.pdfhttp://www.fgv.br/cps/artigos/Conjuntura/2004/In%C3%A9rcia,%20mobilidade%20e%20mobiliza%20%C3%A7%C3%A3o%20social_abril2004.pdf
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    A faixa etria que apresentou maior incidncia de internao por aborto incompleto foi a

    de 20 a 24 anos (71.439 internaes4). No possvel saber, com certeza, se foram legais ou

    provocados.

    Analisando estes dados v-se que a maior causa de gravidez indesejada a

    desinformao e a no aplicao da legislao j existente. O jovem brasileiro pouco

    esclarecido sobre os mtodos para prevenir uma gravidez indesejada, conseqentemente

    torna-se um adulto desinformado. Observa-se, tambm, que o problema no adstritosomente ao fato de se ter ou no um filho, ele gera muitas outras conseqncias como evaso

    escolar, distribuio de renda cada vez mais desigual, aumento de criminalidade (pois pessoas

    sem perspectivas esto mais sujeitas a ingressarem no mundo do crime), dentre inmeras

    outras.

    Desta forma, imprescindvel uma educao que vise formar a conscincia do jovem

    em relao a sexualidade e aos mtodos contraceptivos adequados que previnem no somente

    gravidez indesejada como tambm as DST, AIDS, hepatite B e C dentre outras doenassexualmente transmissveis.

    Informao mais que um dever do Estado um direito do cidado, que sem direo

    passa a ente autmato, sem direito a escolha, sendo levado a ermo. A mulher sem informao

    no pode ser qualificada de cidad, pois, foi tolhido o pleno gozo de seus direitos ao lhe ser

    negado o acesso a dados que poderiam influir na sua deciso sobre assuntos relacionados a

    sexualidade. Como poder a mulher decidir qual o melhor rumo para si se desconhece quais

    os caminhos a seguir?A existncia da ordem jurdica, enquanto conjunto de normas determinantes do

    comportamento individual pressupe uma fonte de poder capaz de estabelecer e fazer cumprir

    os preceitos jurdicos, preceitos estes que devem ser o reflexo dos anseios e das necessidades

    da sociedade. A necessidade desse centro de poder d origem a formao do Estado, e Este

    surge, ento, como ente responsvel pela possibilidade da vida em sociedade. A fonte da

    norma de conduta o prprio Estado. Sendo Ele essa fonte sua obrigao disponibilizar aos

    4 Fonte: Programa Sade do Adolescente/Ministrio da Sade, 1996.

    FONTE: CPS/FGV a partir dos microdados da PPV/IBGE, disponvel em: , acessoem 05/10/2005.

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    cidados as informaes de que precisa, consistindo esta numa decorrncia natural da

    organizao das instituies polticas do Estado.

    Ora, se o Estado chama para si responsabilidade de conduzir as condutas das mulheres

    no tocante as permissividades relacionadas gestao (interrupo, mtodos contraceptivos e

    preventivos) e sexualidade, mas no as mostra quais os caminhos a seguir, como espera

    Aquele que estas sigam o caminho correto? No basta a existncia do preceito, preciso

    eficcia que se obtm atravs da vontade poltica para sua efetivao.

    Se o governo no chamar para si a responsabilidade e a sociedade no se envolver

    ativamente, buscando a soluo para essa questo, teremos um abismo social entre as classes,

    que ser cada vez mais intransponvel, prova disso o dado que demonstra que somente 11%

    das crianas esto nas classes A e B.Se continuarmos a trilhar esse caminho no lugar de uma distribuio de renda mais

    igualitria t-la-emos centradas nas mos de poucos, gerando revolta, violncia, insegurana,

    tornando inexeqvel a vida em sociedade.

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    4. SEXUALIDADE E CONTRACEPO: acesso ao planejamentofamiliar

    Os dados censitrios permitem acompanhar a evoluo da taxa de fecundidade ao

    longo das ltimas seis dcadas. Esta taxa ficou mais ou menos estabilizada entre 6,3 e 5,8

    filhos por mulher caindo fortemente nas dcadas de 70 (de 5,8 filhos por mulher em 1970 para

    4,4 em 1980) e 80 (para 2,9 filhos por mulher em 1991) e relativamente menos na dcada de

    90 (2,3 filhos por mulher em 2000) 5.

    Grfico I

    Para atingir essa expressiva reduo a mulher valeu-se de vrios mtodos

    contraceptivos, mas dois foram os principais: a plula anticoncepcional e a esterilizao

    feminina. A tabela, que o mtodo aceito pela igreja, foi utilizado por 4,18% dos casais, que

    em quase sua totalidade pertencem s classes A e B. A esterilizao masculina foi utilizada

    somente em 0,9% dos casos. Esse outro ponto que precisa ser trabalhado, pois, a

    esterilizao masculina rpida, simples e barata aos cofres pblicos e, mesmo assim, tem

    5 Fonte: Pesquisa Perfil das Mes Brasileiras realizada pela Fundao Getulio Vargas, disponvel emwww.fgv.org.br

    FONTE: IBGE, Censo demogrfico 1940 / 2000

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    participao inexpressiva entre os mtodos anticoncepcionais, isso ocorre devido ao grande

    mito de que o homem ficar impotente se fizer vasectomia.

    Grfico J

    Com base nos dados verifica-se que as cidades com melhor IDH (ndice de

    Desenvolvimento Humano) so aquelas em que as mes tm menos filhos. O ndice de

    gravidez em uma favela 5 vezes maior que em um bairro de classe mdia-alta. Adolescente

    que engravida muito cedo deixa a escola ou est fora dela em mais de 50% dos casos. Se aadolescente no estuda no adquire qualificao mnima para entrar no mercado de trabalho e

    acabar ou em um subemprego ou na prostituio.

    A Constituio de 1988 garantiu o direito ao planejamento familiar, assegurando este

    direito de forma igualitria, mas esse direito no tem sido eqitativo. Cumpre salientar que

    igualdade e equidade so dois conceitos diferentes. Enquanto aquele ampara, de certo modo,

    premissas de justia distributiva, este defende tratamento igual para os iguais, e desigual para

    os desiguais, reconhecendo que os indivduos so diferentes entre si merecendo, portanto,

    tratamento diferenciado. o que poderamos chamar de discriminao positiva, pois, visa

    garantir mais direitos a quem tem mais necessidades. precisamente isso que tem faltado s

    Mtodo anticoncepcional mais frequente (%)

    30,87

    50,67

    3,22 3,04 0,096,41 4,18 0,56 0,08 0,9

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    Ester

    ilizao

    femina

    Plula

    DIU

    Injees

    antico

    ncepcio

    nais

    Diafr

    agma

    Preservativ

    o

    Tabela

    Coito

    inte

    rrompido

    Outro

    smtodos

    Ester

    ilizao

    masculin

    a

    FONTE: Pesquisa Perfil das Mes Brasileiras realizada pela Fundao Getulio Vargas,disponvel em , acesso em 22/01/2008

    http://www.fgv.br/cps/CD_Maes/Apresentacao/MAE_texto_FIM_versao%20curtaFINAL_%20link.pdfhttp://www.fgv.br/cps/CD_Maes/Apresentacao/MAE_texto_FIM_versao%20curtaFINAL_%20link.pdfhttp://www.fgv.br/cps/CD_Maes/Apresentacao/MAE_texto_FIM_versao%20curtaFINAL_%20link.pdfhttp://www.fgv.br/cps/CD_Maes/Apresentacao/MAE_texto_FIM_versao%20curtaFINAL_%20link.pdf
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    polticas de educao sexual, equidade, para que possamos levar educao sexual queles que

    mais precisam delas que so os estratos C, D e E da populao brasileira.

    A simples positivao do direito no garante o seu cumprimento, planejamento

    familiar garantido constitucionalmente no 7 do art. 226 que regulado pela Lei n

    9263/1996 e mais uma infinidade de portarias do Ministrio da Sade que tratam do tema,

    mas isso, de per si, no garante a efetividade do direito.

    A educao sexual deveria ter incio no seio familiar, mas a educao familiar

    permeada por emoes e costumes especficos do grupo. Depende de valores, morais, ticos e

    religiosos que, consideram em sua grande maioria, o tema sexualidade um verdadeiro tabu

    que transmitido de gerao em gerao. Na maioria das vezes isto um ato inconsciente,

    sendo apenas uma repetio do que nos foi ensinado com certo ou errado, o que se chamaalteridade social.

    Atentos a essa dificuldade em 1996 foram includos nos parmetros do Ministrio da

    Educao temas abrangentes dentre os quais a sexualidade, que foi inicialmente definido

    como tema transversal que deveria se abordado e includo no processo educacional.

    Entretanto, no h ainda uma formao acadmica especial para os docentes que lhes

    permitam abordar tais temas no ambiente escolar. Com exceo de projetos isolados

    desenvolvidos por determinadas Secretarias ou Municpios, no h qualquer programa quevise orientar o lente. Esse despreparo do educador s faz aumentar o tabu em torno do tema

    sexualidade.

    A postura da sociedade frente a mulher, quando o assunto sexualidade, dificulta

    ainda mais a educao. Apesar de todos os avanos sociais, o fato de assumir, publicamente,

    que tem uma vida sexual ativa, na grande maioria das vezes, faz da mulher alvo de crticas,

    censuras e recriminaes.

    Destarte, embora a educao sexual seja matria obrigatria no currculo escolar darede pblica, resta efetiv-la; no somente no mbito escolar, mas, no mago de toda a

    sociedade, pois, somente no dia em que a sociedade respeitar os direitos sexuais conquistados

    pelas mulheres e houver conscientizao destas de seus deveres e responsabilidades em

    relao prpria sexualidade, teremos condies de construir uma sociedade mais justa,

    humana e igualitria.

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    CONCLUSO

    Procurou-se demonstrar, a partir de dados estatsticos, a realidade brasileira atual, no

    tocante ao planejamento familiar. Consignou-se que a positivao da norma sem

    conscientizao social no nada, melhor seria conscientizar sem normatizar, ter-se-iam

    resultados mais efetivos.

    Constatou-se que 67,4% das mulheres no utilizam mtodos anticoncepcionais, que

    aumento da taxa de fecundidade est relacionado ao aumento da taxa de misria; que o risco

    de uma adolescente de classe baixa ficar grvida cinco vezes maior que o da classe alta; que

    ocorrem mais de um milho de abortos ilegais anualmente no Brasil, que cerca de duzentas e

    cinqenta mil mulheres so internadas anualmente no SUS por complicaes de abortos

    clandestinos; que abortos desse tipo configuram a 4 causa de mortalidade materna; que o

    aborto clandestino acarreta a 2 ocorrncia de obstetrcia no SUS, sendo as mulheres mais

    afetadas pela falta de planejamento familiar so negras, jovens e pobres; que os que mais

    sofrem com essa situao so as crianas, sendo elas as maiores vtimas desse descaso (55%

    dos miserveis tm idade inferior a 25 anos).

    TABELA 1

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    No devemos nos olvidar que a falta de planejamento familiar incentiva o aborto

    clandestino, que da maneira como realizado ceifa a vida e a sade mental de milhares de

    mulheres do Brasil que, sem o aborto legal e independentemente das nossas convices

    morais e/ou religiosas, continuaro a recorrer s beberagens como chs de mamona e cupim,

    aos cristais de permanganato que causam leses crnicas na mucosa vaginal, s agulhas de

    tric enfiadas no tero, quando no a medicaes como o Citotec, cujos riscos mulher so

    hoje conhecidos. A legalizao tambm o caminho que, acompanhado por um verdadeiro

    esforo pblico em favor da educao sexual, poder, a exemplo do que se verificou em

    outras naes, assegurar as condies para uma diminuio nos ndices de abortos atualmente

    praticados.

    Estudos demonstram que 90% dos indivduos provenientes de famlias pobres no

    terminaram o 2 grau e 74% no completaram a 4 srie. 45% dos pobres possuem menos de

    16 anos de idade. Enquanto as taxas de matrcula so altas no Brasil, o nvel educacional

    atingido progride lentamente devido a freqncia escolar irregular e as altas taxas de

    repetncia (13%) e abandono escolar (8.9 %).

    A cada ano adicional de estudo a renda do trabalho aumenta, em mdia, 16%. Retorno

    auferido para toda a vida ativa. A taxa de ocupao tambm cresce com a escolaridade de 2%

    para analfabetos para 87% para indivduos que completaram a universidade. difcil imaginar

    um negcio mais lucrativo para a nao que investir em educao.

    PERFIL ETRIO DA INSUFICINCIA DE RENDA

    Populao % de Miserveis Contribuio % para aMisria Total

    Total 158.232.252 24,8 100,00 a 5 anos5 a 10 anos10 a 15 anos15 a 20 anos20 a 25 anos25 a 30 anos30 a 35 anos35 a 40 anos40 a 45 anos45 a 50 anos

    50 a 55 anos55 a 60 anos60 a 65 anos65 a 70 anos+ 70 anosIgnorada

    15.125.55515.896.87517.133.43116.445.29313.376.56412.170.94212.076.76311.080.9569.666.3708.015.962

    6.205.6445.179.3924.218.4073.473.9315.259.4462.909.721

    38,837,833,324,419,821,021,820,618,917,7

    17,216,011,89,58,140,1

    15,015,314,510,26,76,56,75,84,73,6

    2,72,11,30,81,13,0

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    22

    Mas, sem planejamento familiar simplesmente impossvel levar a termo um

    programa de educao que contemple, com equidade, todas as crianas.

    A mulher precisa ser bem informada, para que assuma de vez o controle sobre suas

    aes e, chame para si a responsabilidade na preveno de doenas e na precauo gravidez

    indesejada, tendo assim, condies de realizar um efetivo planejamento familiar.

    Essa conscientizao deve vir livre de dogmas religiosos ou posies radicais.

    Legalizar o aborto sem conscientizar as mulheres dos riscos que dele advm, no ser

    uma soluo benfica s prprias mulheres. imprescindvel conscientizao e

    desmistificao da posio da feminina frente prpria sexualidade. preciso que o jovem

    tenha acesso s informaes sobre riscos, preveno, planejamento o quanto antes, segundo

    dados do Sistema nico de Sade em 1999 houve 2.820 internamentos de adolescentes entre10 e 14 anos por aborto incompleto, isso, demonstra-nos que a vida sexual das crianas e

    adolescentes inicia-se, cada vez, mais precocemente.

    Mas no basta disponibilizar os mtodos contraceptivos, preciso conscientizar da

    importncia do seu uso. No h atualmente nenhum projeto efetivo no sentido de orientar a

    mulher em relao a sua sexualidade, suscitando nela a responsabilidade sobre seus atos,

    como o dever de exigir que o homem use preservativo nas relaes sexuais, sem com isso

    sentir-se uma vulgvaga. Tambm no h preocupao com a viso que a sociedade tem comrelao sexualidade da mulher, apesar de estarmos no sculo XXI e da principal funo da

    mulher j no ser mais a reproduo, a sociedade ainda considera mulher direita aquela que

    casta, que se abstm de vida sexual antes do casamento. Ante este cenrio, como pode

    algum imaginar que uma adolescente ter coragem de dirigir-se ao posto de sade e solicitar

    preservativo ou anticoncepcional, se para o homem constrangedor, para mulher ento tal

    situao um verdadeiro tabu. A adolescente no capaz de pensar no beneficio que o

    anticoncepcional trar a ela, s consegue vislumbrar a atendente do posto de sade falandofrases do tipo: to nova, e j na vida, sua me sabe que voc faz isso, voc no muito

    nova para esse tipo de coisa. Por isso, esperar que a adolescente busque proteo uma

    quimera. preciso que o Estado leve contracepo ao adolescente, que deve ir junto com a

    informao.

    Mas para que se possa trazer informao aos adolescentes primeiramente devem-se

    instruir os atendentes dos postos de sade, os professores, os mdicos, as famlias. Buscando

    com isso uma maneira da mulher ter acesso aos mtodos contraceptivos, sem que tenha que

    se expor a execrao pblica.

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