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1 ¹ Pós-graduando em Ergonomia: Produto e Processo. ²Orientadora; Especialista em Metodologia da Pesquisa Científica; Graduada em Fisioterapia; Docente no Centro Universitário do Norte e na Universidade Paulista. Abordagem Ergonômica do Antigo Ponto de Carvão da Cachoeirinha Paula Andrea Violeta Stäger Naranjo¹ [email protected] Dayana Priscila Maia Mejia² Pós-graduação em Ergonomia – Faculdade Ávila Resumo Ao revelar em quadros sociais do Amazonas uma população historicamente excluída, onde relações sociais, espaço-tempo e exposição aos riscos não tem tratativa de segurança e saúde do trabalhador, principalmente com foco em ergonomia, estes indicam falta de conhecimento das políticas publicas e de sensibilização das pessoas em qualidade de vida em ambientes laborais, sejam formal ou informal. Este trabalho tem o objetivo, analisar a abordagem ergonômica dos trabalhadores do antigo ponto de carvão, um trabalho informal, visando resgatar a historia e os impactos causados pelo uso indiscriminado do espaço e suas atividades laborais, verificando “in loco” as condições em que atuavam; apontando fatores de riscos ergonômicos para a saúde do trabalhador, assim como ausência de dispositivos e mecanismos básicos de segurança e proteção. A metodologia consistiu em observações, conversas e coleta de imagens dos trabalhadores “in loco”, informações que não constava em bibliografias, e as descrições de atividades realizadas no ponto de carvão. Estas informações foram acompanhadas com pesquisas bibliográfica e documental, utilizando-se de livros e artigo científico de ergonomia. Palavras-chave: Ponto do carvão; Ergonomia; Segurança e Saúde do Trabalho. 1. Introdução Estudos apontam que as leis trabalhistas e previdenciárias surgiram em todo mundo fundamentalmente para o trabalho industrial, onde exerce em regime de subordinação, com prazo indeterminado e de forma concentrada nas grandes empresas. E são atrelados ao modo de inserção do individuo ao mercado de trabalho, proteções, direitos, benefícios sociais e trabalhistas como a proteção à saúde, o amparo na doença e no desemprego, reconhecimento para periculosidade, insalubridade, acidentes de trabalho e qualificação do ambiente. A questão do mundo do trabalho na contemporaneidade traz à tona uma breve discussão sobre o que está ocorrendo em vários países, onde está ocorrendo a diminuição dos empregos fixos e aumentando outras modalidades de trabalho, que estão provocando o desemprego estrutural e fazendo com que os trabalhadores encontrem no trabalho informal sua subsistência, o trabalho sem contrato, sem proteção social e sem os cuidados devidos em segurança e higiene do trabalho. Qualidade de vida pode ser encarada sob 4 prismas diferentes: (a) condições mínimas de vida digna, (b) condições do meio urbano em que se vive, (c) qualidade de vida no trabalho e (d) aspectos pessoais. Visando dar uma abordagem mais holística e sistematizada a esse termo, a Organização Mundial de Saúde propôs, em 1995, que “qualidade de vida é a percepção do individuo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ela vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Do ponto de vista subjetivo, qualidade de vida traduz o grau em que as pessoas se sentem competentes para atuar física, emocional e socialmente, julgando suas vidas dignas de serem vividas.

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¹ Pós-graduando em Ergonomia: Produto e Processo. ²Orientadora; Especialista em Metodologia da Pesquisa Científica; Graduada em Fisioterapia; Docente no Centro Universitário do Norte e na Universidade Paulista.

Abordagem Ergonômica do Antigo Ponto de Carvão da Cachoeirinha

Paula Andrea Violeta Stäger Naranjo¹ [email protected]

Dayana Priscila Maia Mejia²

Pós-graduação em Ergonomia – Faculdade Ávila

Resumo

Ao revelar em quadros sociais do Amazonas uma população historicamente excluída, onde

relações sociais, espaço-tempo e exposição aos riscos não tem tratativa de segurança e saúde

do trabalhador, principalmente com foco em ergonomia, estes indicam falta de conhecimento

das políticas publicas e de sensibilização das pessoas em qualidade de vida em ambientes

laborais, sejam formal ou informal.

Este trabalho tem o objetivo, analisar a abordagem ergonômica dos trabalhadores do antigo

ponto de carvão, um trabalho informal, visando resgatar a historia e os impactos causados

pelo uso indiscriminado do espaço e suas atividades laborais, verificando “in loco” as

condições em que atuavam; apontando fatores de riscos ergonômicos para a saúde do

trabalhador, assim como ausência de dispositivos e mecanismos básicos de segurança e

proteção.

A metodologia consistiu em observações, conversas e coleta de imagens dos trabalhadores

“in loco”, informações que não constava em bibliografias, e as descrições de atividades

realizadas no ponto de carvão. Estas informações foram acompanhadas com pesquisas

bibliográfica e documental, utilizando-se de livros e artigo científico de ergonomia.

Palavras-chave: Ponto do carvão; Ergonomia; Segurança e Saúde do Trabalho.

1. Introdução

Estudos apontam que as leis trabalhistas e previdenciárias surgiram em todo mundo fundamentalmente para o trabalho industrial, onde exerce em regime de subordinação, com prazo indeterminado e de forma concentrada nas grandes empresas. E são atrelados ao modo de inserção do individuo ao mercado de trabalho, proteções, direitos, benefícios sociais e trabalhistas como a proteção à saúde, o amparo na doença e no desemprego, reconhecimento para periculosidade, insalubridade, acidentes de trabalho e qualificação do ambiente. A questão do mundo do trabalho na contemporaneidade traz à tona uma breve discussão sobre o que está ocorrendo em vários países, onde está ocorrendo a diminuição dos empregos fixos e aumentando outras modalidades de trabalho, que estão provocando o desemprego estrutural e fazendo com que os trabalhadores encontrem no trabalho informal sua subsistência, o trabalho sem contrato, sem proteção social e sem os cuidados devidos em segurança e higiene do trabalho. Qualidade de vida pode ser encarada sob 4 prismas diferentes: (a) condições mínimas de vida digna, (b) condições do meio urbano em que se vive, (c) qualidade de vida no trabalho e (d) aspectos pessoais. Visando dar uma abordagem mais holística e sistematizada a esse termo, a Organização Mundial de Saúde propôs, em 1995, que “qualidade de vida é a percepção do individuo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ela vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Do ponto de vista subjetivo, qualidade de vida traduz o grau em que as pessoas se sentem competentes para atuar física, emocional e socialmente, julgando suas vidas dignas de serem vividas.

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Mas, é com a Revolução Industrial que a discussão sobre o trabalho informal inicia-se, e são grandes pensadores como Marx (1965), que discute que o trabalho é, antes de mais, um ato que se processa entre o homem e a natureza. O próprio homem desempenha, perante a natureza, o papel de uma potência natural, ao mesmo tempo em que age, por intermédio desse movimento sobre a natureza que nela se encontra em potência. Não nos ataremos ao nível desse estado primordial em que o trabalho ainda não se libertou de um modo puramente instintivo. O ponto de partida é o trabalho sob uma forma que pertence exclusivamente ao homem. O resultado a que chega o trabalho existe previamente na imaginação do trabalhador. Para compreender melhor a definição de Trabalho Informal, se classifica como aqueles indivíduos que vivem de sua força de trabalho e, em alguns casos, incorporam a força de trabalho de familiares, não contratam trabalhadores assalariados, podendo ser trabalhadores informais “estáveis”, “instáveis” ou “ocasionais / temporários”. Uma característica da informalidade é a existência de longas jornadas de trabalho com uma remuneração mínima, onde a maioria exerce atividades precárias, quase todas sujeitas à repressão policial, que torna o ganho extremamente instáveis e incerto. No sistema artesanal da produção de carvão do antigo ponto em questão, a informalidade é ressaltada e caracterizada pelas relações de trabalho, onde se observa que os acertos e as combinações são verbais e sem qualquer registro formal. O ritmo de trabalho e a pressão temporal acabam sendo definidas pelo próprio carvoeiro, devido às condições do ambiente de trabalho, normalmente ao ar livre, sem banheiro ou qualquer possibilidade de higiene, sendo expostos a chuva e sol. Seus ambientes são caracterizados por ausência de limites físicos ou territoriais, grande amplitude, desorganização ou mobilidade dos espaços de trabalho. E, na questão de horários de almoço, lanches e descansos, não existe hora certa em razão de ter de atender o cliente a qualquer momento, sem deixar o ponto “vazio”. Este trabalho informal também atua no escoamento do carvão, realizado por vendedores ambulantes e de ponto fixo em pequenos pontos comerciais na cidade. Foi evidenciado qualitativamente que os carvoeiros da Cachoeirinha apresentam atividades perigosas e insalubres e de alto risco ergonômico, com presença de elementos que aumenta a probabilidade de ocorrência de uma doença ou agravo à saúde, assim como ausência de mecanismos básicos de proteção, descumprimento de normas básicas de segurança, falta de fiscalização e carência de cobertura do seguro social e acidentes do trabalho. Segundo Mendes (2004), a participação da indústria brasileira na melhoria das condições de trabalho do setor informal pode-se dar de diferentes formas, desde a exigência de qualificações mínimas para a contratação de serviços terceirizados, a promoção de ações informativas e de esclarecimento dos trabalhadores em relação ao risco de sua atividade e formas de prevenção e controle, até o incentivo a organização dos trabalhadores, como na formação de cooperativas e definição de espaços especificados de trabalho, entre outras medidas. Fica evidente a partir desta breve discussão do trabalho informal, a situação destes carvoeiros que através de sua abordagem ergonômica, desenvolvem o trabalho para a sustentabilidade de suas famílias. 2. A Ergonomia através da historia

A principal aplicação da Ergonomia é procurar o ajuste mútuo entre o ser humano e seu ambiente de trabalho de forma confortável e produtiva, adaptando o trabalho às pessoas. Seus primeiros estudos sobre as relações entre homem e o trabalho se perdem na origem dos tempos. Na época do homem da caverna, o ganho de eficiência na caça e coleta, foi demonstrado com o uso de utensílios de pedra lascada que se miniaturizaram, num processo de melhoria continua de manuseabilidade.

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Na Antiguidade, autores como Hipócrates, Platão e Aristóteles, contribuíam para as descrições objetivas de afeccções patológicas de cunho profissional, estudos toxicológicos e cognição, buscando primeiramente entender os fatores humanos pertinentes ao projeto de instrumentos de trabalho, ferramentas e outros apetrechos típicos da atividade humana em ambiente profissional. No Renascimento, Leonardo da Vinci explorava o mundo das ciências, através do desenho e sua formação em engenharia, estudou anatomia humana e analisou forças musculares, qualificando a mecânica como a mais nobre e útil ciência pelo fato de que todos os corpos vivos que possuem capacidade de movimentar-se. No período clássico (século XVII), a energia física do ser humano ou da tração animal era estudada por fisiologistas, engenheiros e médicos, onde contribuições de transporte de carga, sistema de ventilação industrial e as doenças dos artesões eram evidenciados por autores, entre eles, Bernardino Ramazzini. O século XVIII com a Revolução Industrial impactou na historia com um conjunto de mudanças tecnológicas com profundo impacto no processo produtivo em nível econômico e social, onde maquinas foram criadas e a utilização racional das mesmas deu origem às fábricas. Uma nova relação entre homem e máquina surge e esta foi superando o trabalho do homem onde acidentes do trabalho eram frequentes. Buscou-se neste período, entender, tabelar, organizar dados sobre os fatores humanos que deveriam ser considerados não apenas para os instrumentos, mas para os projetos de sistemas de trabalho, como as linhas de montagem, as salas de controle e assim por diante. Durante a segunda revolução industrial, conhecida como Revolução Tecnológica (1860-1945), Fayol estabeleceu as regras da hierarquia, e, Taylor e Ford estabeleceram as regras de funcionamento do chão de fábrica e da organização do trabalho em indústrias de produção em massa. Assim como na Reestruturação Produtiva, houve mudança na relação de trabalho, mudança na organização do trabalho, novas formas de gerenciamento. E no seu sentido mais contemporâneo, a Revolução Digital (1970-), busca entender os determinantes de uma atividade de trabalho através de contribuições num sentido ainda mais amplo, que incluem a organização do trabalho e os softwares, procedimentos e estratégias operatórias.

Disciplinas formadoras Autores Filosofia Platão, Aristoteles Medicina Ramazzini, Villermé, Tissot Físico-química Lavoisier, Coulomb Fisiologia Amar, Chaveau, Marey Engenharia Da Vinci, Vauban, Jacquart Organização Taylor

Fonte: Adaptado de Mario Cesar Vidal, 1992.

Tabela 1 – Principais disciplinas formadoras do pensamento ergonômico Nos conceitos da moderna Ergonomia, na origem de ocorrências epidêmicas de lesões e distúrbios, deve – se procurar identificar: a violação das leis do trabalho da biomecânica, da fisiologia, método; eventuais problemas na organização do trabalho resultam em sobrecarga para o trabalhador; fatores psicossociais que tencionam o trabalhador excessivamente e o tornam mais vulnerável a lesões e distúrbios; a anulação de mecanismos de regulação; a existência de indivíduos predispostos e o reforço social dos distúrbios; a anulação de mecanismos de regulação; a existência de indivíduos predispostos e o reforço social dos distúrbios.

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A ergonomia pode contribuir para solucionar um grande número de problemas sociais relacionados com a saúde, segurança, conforto e eficiência e atualmente difere de outras áreas do conhecimento pelo seu caráter interdisciplinar e pela sua natureza aplicada. Aplica-se ao projeto de máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas, com o objetivo de melhorar a segurança, saúde, conforto e eficiência no trabalho. Estuda vários aspectos: a postura e os movimentos corporais (sentado, em pé, empurrando, puxando e levantando pesos), fatores ambientais (ruídos, vibrações, iluminação, calor, entre outros), informações captadas pela visão, audição e outros sentidos, relações entre mostradores e controles, bem como cargos e tarefas (tarefas adequadas, cargos interessantes). Muitas situações de trabalho e de vida cotidiana são prejudiciais à saúde. As doenças do sistema musculoesquelético (principalmente dores nas costas) e aquelas psicológicas (estresse, por exemplo) constituem a mais importante causa de absenteísmo e ao de incapacitação ao trabalho. Essas situações podem ser atribuídas ao mau projeto e ao uso inadequado de equipamentos, sistemas e tarefas. A conjugação adequada de todos estes fatores permite projetar ambientes seguros, saudáveis, confortáveis e eficientes, tanto no trabalho quanto na vida cotidiana. Assim a ergonomia pode contribuir para a prevenção de erros, melhorando o desemprego. 2.1 Campo de atuação da ergonomia

A definição hoje aceita (ABERGO, 2000) chama a atenção para três aspectos: o tipo de conhecimento e suas inter-relações, o foco nas mudanças e os critérios da ação Ergonômica. A consideração destes aspectos configura contemporaneamente a Ergonomia como uma disciplina de síntese entre vários aspectos do conhecimento sobre as pessoas, a tecnologia e a organização. Contribuir com a adequação da tecnologia e da organização do trabalho aos trabalhadores reais, com estudos da antropometria física (as dimensões estáticas e dinâmicas do corpo), a fisiologia do trabalho (o funcionamento de nossos sistemas fisiológicos em diversos regimes), a psicologia experimental (a percepção de sinais, a discriminação de indícios, a leiturabilidade de instrumentação), a higiene e a toxicologia (os riscos envolvidos nas atividades), a ergonomia tem o intuito de adaptar o trabalho às pessoas. Ergonomia não é só ação administrativa da empresa melhorando suas condições de trabalho. Ela também pressupõe conscientização dos trabalhadores. É necessário que cada colaborador tenha valor e comprometimento do comportamento ergonomicamente correto. Nesse aspecto, a consciência da ergonomia costuma ser um pouco mais difícil do que a consciência da atitude segura. Isso porque a consequência da atitude insegura costuma ser mais imediata do que a consequência do comportamento ergonomicamente inadequado. 3 História do Antigo Ponto do Carvão da Cachoeirinha

Os homens não são piores do que eram em outros séculos; descontemos o que há neles de ruim, e ficará muita coisa boa. Crê isto e hás de sorrir lendo o meu caso (MACHADO DE ASSIS, 1896).

Existem informações que revela que no quadro social do Amazonas, existe uma população historicamente excluída, que ao tratar da espacialidade da cidade e suas políticas publicas urbanas ocorrem processos dialéticos que nos ajuda a compreender como são insertos e sua sobrevivência nas cidades. O que foi comentado vem de geração em geração, há mais de 40 anos, quando rios e igarapés de Manaus eram transitáveis por embarcações e existiam as fabricas de borrachas, que se localizava nas proximidades do atual bairro de Educandos e que hoje só resta na memória das pessoas da época do auge da borracha na cidade de Manaus.

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Eram estas embarcações, as responsáveis de abastecer a cidade com matéria prima: palha, madeira e carvão vindo de outros lugares do rio Amazonas de três em três dias. Estas embarcações entravam pelo igarapé do Educandos e chegavam no encontro dos igarapés Mestre Chico e do Quarentena. Neste lugar eram descarregados seus produtos dos conhecidos batelões às catraias, que eram as responsáveis de transportar o material até terra firme. Em documentos publicados na internet, no sítio eletrônico da Universidade de São Paulo encontram-se teses e dissertações que define Batelão como embarcações robustas, construídas em madeira ou em aço com fundo chato, empregadas para desembarque ou transbordo de carga nos portos. E Pontes Filho (2000), define as Catraias como pequenas embarcações cobertas com toldo de lona, tocadas manualmente por um homem que manejava habilmente duas faias, que passaram a serem chamadas de remo. As pequenas embarcações conduziam passageiros sentados e/ou transporte de cargas.

Figura 1 e 2 - O Batelão e Catraieiros O carvão era vendido pelos próprios donos das catraias, que era passado aos seus compradores através de sacos ou latas. A venda sempre era por maior, no que implicava que o comprador chegava com seu meio de transporte, com seus sacos ou suas latas, e levava o produto para ser armazenado em suas residências, onde lá era feito o processo do trabalho para a obtenção do pacote final do carvão que era vendido ali por atacado ou varejo, ou simplesmente repassado para seus revendedores. O sitio urbano modifica-se e a posição de Manaus não é a partir da transformação de hábitos e costumes, conforme diz Oliveira (2003). “A cidade é produto das relações sociais que se espacializaram como resultado do modo de ser de uma sociedade em espaços-tempos específicos” comenta este autor. Mas precisaram-se aproximadamente 10 anos para que aos poucos se começasse a “colocar o carvão em terra”, e onde os catraieiros se viram prejudicados pelo sistema, porque em época de seca dos igarapés, estes não conseguiam chegar até o “ponto do carvão” por água e tinham que utilizar o meio de transporte terrestre para ir buscar a mercadoria no porto que atualmente conhecemos como Manaus Moderna. Outro problema que modificou a estrutura destes catraieiros foram os surgimentos das estradas ligando o interior com a cidade de Manaus, fazendo referencia a estrada AM-010 (Manaus – Itacoatiara) e a BR-174 (Manaus – Boa Vista), onde o fornecimento do carvão se desloca do rio para o interior da cidade, provocando assim a transferência de alguns carvoeiros para a beira da estrada. Depois de 20 anos, nascia o maior posto de venda de carvão vegetal da capital que ficava no final da Avenida Castelo Branco, no bairro da Cachoeirinha, zona sul, localizado atrás do edifício Manaus Energia, que foi denominado como a “feira do carvão” ou simplesmente como o “paredão do carvão” do bairro.

Fonte: Definição de Batelão, 2008 Fonte: Pontes Filho, 2000

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Relatado pelos trabalhadores, a divisão interna dos pontos foi realizada por um fiscal do mercado do carvão que realizou o cadastro de todos eles no órgão municipal. No começo foram registrados 12 (doze) pontos que se expandiram a 15 (quinze), e que ao final se reduziram a 11 (onze) pontos de carvoeiros. Entretanto, para a Secretaria de Feiras e Mercados (SEMAGA) os trabalhadores não tinham autorização para atuar na região, mas, por falta de estrutura adequada, sua presença foi tolerada durante anos.

Figura 3 e 4 – Antigo Ponto do Carvão

Os trabalhadores que se encontravam nestes pontos eram pessoas do interior, da roça, do trabalho da agricultura, que chegou à cidade em busca de melhor qualidade de vida, à procura de trabalho. Nos pontos de carvão, o trabalho era realizado na ilegalidade ou no voluntariado, não existia uma regulamentação sobre esta atividade e somente se sabia que tudo estava entre famílias, e que “ninguém era dono de ninguém e ninguém mandava em ninguém”. Constante eram os problemas com a vizinhança, os vizinhos eram identificados por uma população que havia invadido as terras e que neste lugar se assentaram e construíram suas moradias, sendo a principal razão o pó que o trabalho dos carvoeiros liberava. Para compreender a situação geográfica destes carvoeiros, se utilizou ferramenta na internet para visualizar o mapa da cidade de Manaus.

Fonte: Google Maps, 2013

Figura 5 – Destinação dos moradores próximos ao Antigo Ponto do Carvão na Cachoeirinha.

Fonte: Naranjo, 2009 Fonte: Naranjo, 2009

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Devido à existência de projetos sociais do governo PROSAMIM (Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus), estas pessoas foram transferidas para casas populares construídas no bairro de Nova Cidade, zona norte da cidade de Manaus. Devido a distancia e adaptações diversas, algumas delas recusaram o projeto e optaram por comprar casas no bairro de Educandos que se encontra próximo ao “antigo ponto de carvão” no bairro Cachoeirinha. Nos últimos anos, foram realizados estudos para as melhorias do lugar, como se menciona no periódico Em Tempo (2006): “... A secretaria, no entanto, estuda um projeto de instalá-los em um local mais adequado. O departamento de engenharia do órgão informa que, em breve, todos já estarão instalados em uma estrutura adequada para esse tipo de comercio, prevista para ser construída no mercado Walter Rayol, no mesmo bairro”. 3.1 Carvoeiro do Verão

Na chegada do “carvoeiro do verão”, ocorrida entre setembro a janeiro de todos os anos a concorrência surgia. Alguns estudos apontam que durante a época de vazante dos rios, de agosto a novembro, era realizado o corte das madeiras, e sua retirada acontecia com a subida dos rios, no período de fevereiro a junho, explicando a rapidez da produção do carvão vegetal e a rapidez deste produto chegar à cidade sem fazer uso dos rios. Os “carvoeiros do verão”, trabalhadores independentes do interior do estado do Amazonas, se dedicavam fazer carvão em suas terras. A produção era colocada em sacas, transportada em caminhão até capital para as vendas. Estes produtos comercializados na cidade pelos carvoeiros do verão, todos os anos apresentavam o mesmo preço, afrontando aos carvoeiros da cidade a tomar medidas compensatórias para as perdas devido à concorrência presente. Entre as varias medidas tomadas, os carvoeiros da cidade eram obrigados a igualar seus preços ao concorrente, e para conseguir este objetivo, diminuíam a quantidade de carvão nos pacotes para obter um pacote a mais na produção final. Quando o inverno se inicia a situação se normalizava e os “carvoeiros do verão” se retiravam, a concorrência acabava e o tamanho e preço do pacote do carvão voltava a sua normalidade. O preço na “feira do carvão” era padronizado em todos os pontos, e ao realizar compras por maior, havia possibilidade de negociar diretamente com o vendedor um valor por atacado. Foi mencionado que existem na cidade de Manaus 3 (três) pontos de vendas de carvão: um na feira do produtor no bairro do Aleixo, um no bairro da Compensa e a feira do carvão ou “ponto do carvão” da Cachoeirinha. 3.2 O trabalho no Antigo Ponto do Carvão

Todo processo ocorre a partir das praticas individuais e coletivas que compreendem a estrutura produtiva e técnica, pela cultura, pela ideologia, pelo sentido da vida, o que pressupõe o entendimento da produção no sentido mais amplo, a produção do homem (OLIVEIRA, 2003).

Entende-se que nosso cotidiano está ligado por um denominador comum: o espaço, que apresenta questões interdependentes. E que este espaço se transforma em lugar com as dimensões do vivido, onde padrões impostos pela modernização urbana determinam o desaparecimento de algumas profissões e que outras se mantêm com duras realidades. O processo do trabalho destes carvoeiros se iniciava com a compra da matéria prima diretamente do produtor, o qual se encontra situado no interior do estado, próximo do município do Rio Preto da Eva, na AM-010 (estrada que liga Manaus a Itacoatiara). Não se sabe a legalidade deste fornecedor, mas o que se tinha entendido é que este conseguia entrar na cidade passando por todas as barreiras de fiscalização.

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O material era descarregado na via publica, no antigo ponto do carvão, onde ocorria o processo de produção dos sacos de carvão. O produto era “quebrado”, embalado e guardado para a venda direta ao consumidor, que se estende entre um consumidor particular a donos de churrascarias ou comercio de alimentação, que passam a qualquer hora do dia para comprar. A compra e produção de carvão tinham como meta final vinte pacotes de carvão para ser vendido ao consumidor tanto no atacado como no varejo. “Recebemos por produção. Como o lucro é pequeno – cerca de R$ 2 por saco de carvão –, temos de trabalhar o máximo que podemos, durante os setes dias da semana”, explica José dos Santos para o Jornal Em Tempo (2006). E a cada quatro dias cada dono de ponto entrava em contato com o produtor para reabastecer seu estoque e novamente começar o processo do trabalho. 3.3 Fluxograma e Descrição das Atividades

O carvão era descarregado no ponto de cada carvoeiro entre as seis até dez horas da manhã, horário permitido pela prefeitura. O motorista, o ajudante do caminhão e os três trabalhadores do ponto realizavam as mesmas atividades de movimentação manual de carga dos sacos de carvão, entre o caminhão e o local onde eram empilhados em sua área de depósito, identificando posturas extremas e exigência de esforço físico. Fonte: Naranjo, 2009 Fonte: Naranjo, 2009 Fonte: Naranjo, 2009

Figuras 5, 6 e 7: imagens da descrição das atividades

O processo de produção continuava com a abertura dos sacos e a divisão do carvão em latas de tintas de 18 litros recicladas para este trabalho. Estas latas eram usadas como gabaritos de referência da quantidade de carvão que era necessário para cada embalagem menor. Esta etapa do trabalho tinha o objetivo de retirar o pó e melhorar a qualidade das peças menores de carvão. Passavam o carvão da lata para o saco de papel, este era embalado em sacos plásticos, amarrado e estocado para a venda.

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4. Metodologia

Este artigo teve como método principal observações “in loco”, onde se coletou imagens e conversas sobre o trabalho e suas descrições de atividades sobre o antigo ponto de carvão, realizadas na zona sul, no bairro da Cachoeirinha na cidade de Manaus. Com estas visitas de avaliações qualitativas, delimitou-se o universo de estudo aos trabalhadores e sua exposição aos riscos ocupacionais e se realizou uma pesquisa bibliográfica, utilizando-se de livros e artigos científicos, assim como revisões de dissertações, documentos publicados na internet e artigos de periódicos. Pesquisas realizadas em livros, produção científica e revisões de dissertações com publicações entre 1975 à 2011 em língua portuguesa e língua espanhola, documentos publicados e disponíveis gratuitamente na internet, assim como os artigos de periódicos entre os anos 2003 a 2013. Na inexistência de referência científica de dados coletados, utilizou-se o senso de evidenciar a informação e validar pelo critério da intersubjetividade (conhecimento técnico científico sobre Ergonomia e doenças relacionadas adquiridas durante o curso da pós-graduação de julho 2011 a dezembro 2012). Deixam-se recomendações ou sugestões para dar continuidade a outras pesquisas. 5. Resultados e Discussão

Estes trabalhadores estão todos os dias da semana das seis horas da manhã até às dezoito horas da tarde, dependendo de cada ponto e da meteorologia, em um trabalho informal e insalubre podendo causar graves prejuízos à saúde, “Cegueira, dificuldades respiratórias, bronquite e doenças de pele são alguns problemas de saúde que o carvão pode causar para o organismo. Além disso, ossos e articulações podem ser prejudicados por causa do peso que carregam” (ALMEIDA, 2003). Foi observado que no local de trabalho as instalações existentes eram precárias. Cada ponto utilizava paus de madeira, latas de tintas velhas, sacos e lona para proteger o carvão das chuvas e do sol, o que não implicava que todo trabalho era realizado debaixo da lona. Alguns pontos eram privilegiados pela sombra de poucas arvores que resistem às ações e durezas do pó de carvão e da contaminação da cidade no setor. As dimensões destes pontos eram do tamanho do calçadão existente e muitas vezes havia invasão da rua para realizar o trabalho. Estes locais não tinham abastecimento de energia elétrica e água potável o que implicava que o responsável pelo ponto se preocupava de trazer garrafas com água gelada dentro de uma caixa de isopor de sua casa, e os trabalhadores pagavam para usar o banheiro nos restaurantes mais próximos do local de trabalho onde aproveitavam de almoçar. Depois do almoço faziam uso do canteiro central da avenida onde as arvores davam a sombra para o bem estar e repouso. Os trabalhadores comentavam que o descanso era realizado “onde o corpo cair”. No fim do expediente solicitavam a prefeitura uma autorização para usar os banheiros do mercado mais próximo do setor para realizar higiene pessoal, em casos de negação (relatos de que acontecia), pagavam no mesmo restaurante por uma ducha para limpar a fuligem de carvão impregnado em seus corpos. No caso da energia elétrica, ao serem questionados sobre o assunto, olhavam para cima e apontavam com seus dedos os postes da via publica... Pode-se dizer que a região e os pontos são bem ventilados, porque quando passa um carro a fuligem de carvão se distribui por todos os lados. Em conversa com os trabalhadores, os mesmos reconhecem e identificam os perigos e os danos pertinentes a estas atividades. Em seus conhecimentos “populares”, sabem a que estão expostos e suas consequências, mas não abandonam esta atividade porque é o trabalho que sustenta a família. Conseguem avaliar os riscos físicos, químicos, biológicos ao qual estão expostos, assim como os riscos de acidentes e ergonômicos.

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Apesar de identificar os diversos riscos na atividade, é inexistente os Equipamentos de Proteção Individuais (EPI) nos trabalhadores, e não existe por parte deles, nem por parte de órgãos competentes, fiscalização para verificar, cuidar e melhorar a qualidade de vida ou até mesmo fazer deste trabalho uma recompensa digna para as pessoas. A falta de conhecimento e de interesse pela Segurança e Saúde do Trabalhado, realizam as atividades de chinelos ou descalços, de bermudas e camisetas, alguns usam bonés outros não, trabalhando dia a dia sem proteção correta aos seus riscos. Entre as partículas de poeiras suspensas no ar do ambiente de trabalho, pretos de carvão, encontram-se estes trabalhadores. Este é um trabalho que traz inúmeros malefícios ao Professional. O mais grave é uma patologia conhecida por antracose, uma lesão pulmonar caracterizada por pigmentação por partículas de carvão, que inalada por muito tempo esta poeira concentrada nas sacas, o pulmão do trabalhador acaba ficando atrofiado. E por não haver uma política de acompanhamento desta exposição, não existem registros oficiais do numero de mortes na capital por conta deste problema. Comentam os trabalhadores que o pó do carvão não faz mal à saúde e que nunca houve acidentes entre eles e nem doenças. As pessoas que chegaram a falecer nesse lugar são os velhos que deixam seu posto para o filho ou algum herdeiro da família. Ergonomicamente podemos identificar os riscos de arranjo físico, leiaute inadequado, mobiliário inexistente, desconforto acústico, desconforto térmico, exigência de esforço físico (força), iluminação inadequada, movimentação manual de carga, posturas extremas / forçadas. 5.1 Impactos

O impacto destes carvoeiros se distingue em categorias que serão brevemente descritas: 5.1.1 Impacto ambiental

Ao estudar as poeiras, entende-se que em quantidade excessiva, elas sobrecarregam os sistemas de proteção e limpeza do organismo, favorecendo a instalação de doenças respiratórias. O grau de risco para a saúde depende do tipo de exposição e de fatores individuais. 5.1.2 Impacto econômico e social

Hipóteses explicavam a permanência do trabalho informal no “Antigo Ponto do Carvão da Cachoeirinha”. Verificou-se “in loco” a dificuldade do processo de trabalho; o não cumprimento de Normas Regulamentadoras; sintomas de stress; tensões diárias; desgastes físicos; dificuldade de Higiene Pessoal e de supressão das necessidades fisiológicas; e exposição às intempéries. E é a partir destas observações, que surgem possibilidades para pensar em parâmetros para políticas publicas que superem a intolerância e permissividade em relação a esta atividade. 5.1.3 Impacto econômico e social

Segundo Hikawa (2006), sobre as relações de poder público há duas leituras antagônicas: uma que privilegia a natureza confiante produzida por vetores de podes e dominação sobre o espaço público e outra, que mostra a natureza relacional e orgânica entre indivíduos que não se opõem, mas que estabelecem acordos mútuos. Duas interpretações que, apesar de divergentes, convivem simultaneamente no mesmo território: “dispersão da dominação”, simbolizando oposição; e “relações pessoais na esfera impessoal”, como símbolo de associação.

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Identifica-se como uma zona de penumbra a informalidade no espaço público devido ao preconceito e repressão versus a compreensão e tolerância. Verifica-se que muitas respostas podem ou não ser absolutamente verídicas, já que no seu conteúdo de dados relatados por estudos, contradizem com as condições existentes nas ruas. Observa-se que entre estes trabalhadores do carvão da Cachoeirinha, não existe uma Organização de Autodefesa, onde se percebe que entre eles existe um perfil fragmentado, onde existe pouca Coesão Interna e uma Baixa Representatividade, que se identificam como fatores que constantemente estão presente quando existe a possibilidades de melhorias para os postos de trabalho, o entorno e o meio ambiente, ou seja, os trabalhadores não enxergam um retorno ou um beneficio imediatos para tal organização. Surge a Informalidade dentro da Informalidade, aparece o trabalho “assalariado” no espaço público, no caso especifico que entre todos os donos dos postos de trabalho, contratam um guarda de segurança para vigiar durante as noites seus produtos e pagam um salário além de outros benefícios como despesas de transporte e até mesmo alimentação. Redes de serviços de trabalhadores Informais, como alimentação (caso do comercio próximo, que oferece aos carvoeiros, almoço e o uso dos banheiros para a higiene) ou até mesmo os fornecedores de carvão informais, que se organizam entorno destes para atendê-los nos espaços públicos. 5.1.4 Impacto visual

O impacto visual poderá ser atenuado, conforme alguns estudos com técnicas, dentro as quais podemos destacar: o uso de cortina arbórea, onde a vegetação plantada adequadamente e a melhoria das arvores existente, no caso uma proteção mais adequada, podem auxiliar positivamente na minimização da mobilização e do transporte do material particulado como também constituir-se como um anteparo sonoro. O perfil topográfico da região pode ter uma nova conformação de acordo ao uso e a ocupação da área, cabe destacar que durante a abordagem deste estudo, identificou-se que a Prefeitura de Manaus atualmente realiza obras no local, como a canalização dos igarapés próximos, objetivando melhorar o transporte público com grandes avenidas que cruzariam a cidade, modificando a paisagem local para dar um novo perfil de “progresso” a cidade. 5.2 Aplicações coletivas e individuais

Um princípio importante na aplicação da ergonomia é que os equipamentos, sistemas e tarefas devem ser projetados para o uso coletivo. Sabendo-se que há diferenças individuais em uma população, os projetos, em geral, devem atender a 95% dessa população. Isso significa que há 5% dos extremos dessa população (indivíduos muito gordos, muito altos, muito baixos, mulheres grávidas, idosos ou deficientes físicos), para os quais os projetos de uso coletivo não de adaptam bem. Nesses casos, é necessário realizar projetos específicos para essas pessoas. As variáveis classificadas neste estudo foram escolhidas utilizando critérios definidos pela vontade do autor e amparados com estudos de outros autores na área da ergonomia e/ou nas respectivas subáreas esplanadas. 6. Conclusão

Entende-se que a produção de carvão, de um modo geral, ainda se considera como o processo mais utilizado para satisfazer as necessidades domestica de energia. E o processo de trabalho do carvão tem sido associado com condições desumanas de trabalho, sem preocupações na Segurança e Higiene do Trabalho.

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Este artigo buscou retratar a abordagem da ergonomia nas atividades destes carvoeiros. Não resta dúvida que se trata de um desafio que requer uma alta competência da parte do ergonomista. É exatamente um dos fatores explicativos da demanda por ergonomia. Isso faz parte de uma filosofia gerencial e de valores compatíveis com o trabalhador, também a preocupação recente com qualidade de vida no trabalho, nesses tipos de atividades, tem sido um dos fatores a alavancar as ações ergonômicas. A informalidade não pode ser vista isoladamente. E considera-se que para mudar esta situação, será necessária a participação de todas as pessoas e principalmente dos órgãos competentes. Deve existir uma isonomia salarial entre os trabalhadores, e deve-se cuidar para que não existam problemas de qualidade. Numa terceira linha de aplicações, estudos e propostas de ergonomia têm sido mobilizados para sensibilização das esferas dirigentes, conscientização e envolvimento dos funcionários e mesmo orientações específicas sobre o agenciamento do posto pelos próprios operadores, tal como um operário mais qualificado regula seu equipamento e instrumentos de trabalho. Num último, porém crescente campo de aplicações, análises ergonômicos têm subsidiado a elaboração de programas de atividades compensatórias como escalonamento de pausas para repouso, exercícios e alternâncias de várias ordens - lazer, yoga, etc. Esta realidade deve ter um estudo continuado e procurar sua modificação com o emprego de novas tecnologias em Segurança e Higiene do Trabalho, sugerindo analises ergonômicas, estudos de casos, exame periódicos dos trabalhadores, implantação de programas, para surgir assim, uma empresa limpa, sustentável e renovável, geradora de empregos dignos, com a possibilidade de regulação para que se estabeleça uma força de trabalho e que seja identificado o direito garantido na Constituição Brasileira. Referências

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Artigo de periódico:

ALMEIDA, Patrícia. Trabalho Infantil: os pequenos carvoeiros. Amazonas em Tempo, Manaus, Domingo

26/10/2003. Caderno Cidade, p. B1.

CARVÃO VEGETAL: trabalhador busca regularização. Amazonas em Tempo, Manaus, Quinta feira

20/07/2006. Caderno Cidade, p. B1.