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ABIM 005 JV Ano XII - Nº 101 - Set/18 Independência?

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ABIM 005 JV Ano XII - Nº 101 - Set/18

Independência?

A Revista Arte Real é um periódico maçônico virtual, fundado em 24 de fevereiro de 2007, de periodicidade mensal, distribuído, gratuitamente, pela Internet, atualmente, para 27.874 e-mails de leitores cadastrados, no Brasil e no exterior, com registro na ABIM - Associação Brasileira de Imprensa Maçônica, sob o nº 005 JV, tendo como Editor Responsável o Irmão Francisco Feitosa da Fonseca, 33º - Jornalista MTb 19038/MG.

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EditorialDia 7 de setembro, feriado da Proclamação

da Independência do Brasil. Há 196 anos proclamava-se nossa independência da Coroa Portuguesa! Comemorações, desfiles, atos cívicos, explodem por todo o país, à guisa de se manter acesa a chama da liberdade! De fato, libertamo-nos dos colonizadores lusitanos, para, a partir de então, sermos colonizados por nós próprios. Os usurpadores da “Terra Brasilis” não mais cruzam oceanos, eles brotam como erva daninha no solo da Pátria-Mãe, sedentos por sugar, à exaustão, suas riquezas, através das tetas do poder, perpetuando-se nele.

Esquecemos de nos despir das velhas roupas de um povo colonizado e, ainda, nem se quer conseguimos nos revestir do imprescindível manto da consciência de cidadão, observando direitos e deveres de um povo livre, merecedor de contemplar com imponência o Sol da Liberdade.

Ser livre, ser independente e ter consciência de suas obrigações como cidadão e saber exigir direitos em benefício de seu país, da coletividade. Os políticos, “representantes do povo”, são os reflexos da consciência de seus eleitores. Mais do que mudar políticos, o que se faz necessário é mudar a maneira irresponsável de como escolhê-los. Ninguém chega ao poder sem o voto do eleitor!

Mais um pleito eleitoral se aproxima, mais uma oportunidade de se reverter a caótica situação política e econômica que se arrasta há décadas, apresenta-se. Quando o brasileiro, de fato, proclamará sua independência?

Um povo que exerce um pseudo-patriotismo, que se resume em torcer pela seleção brasileira, a cada Copa do Mundo de futebol, não é digna de reclamar de seus políticos. Um povo que, pelo menos, no Dia em que se comemora a Proclamação da Independência do seu país, não dedica um minuto para uma breve reflexão sobre os destinos da nação, não pode se sentir livre. Tal povo, precisa antes de tudo se libertar de si próprio.

O Brasil somos todos nós e se não formos parte da solução, sempre, seremos parte do problema. Precisamos de ação. Precisamos entender que a reconstrução do país passa, necessariamente, pela reformatação de como pensamos o Brasil. A matéria do Irmão Franklin dos Santos Moura, intitulada “Independência - Independentes, Porém Acorrentados”, apresenta seguinte citação: “O Brasil que eu quero”. Mas, e o Brasil que eu faço? A distância entre um e outro parece simbólica, mas ao trocar o querer por fazer, surge a possibilidade de se dirigir ao próximo. Surge a chance de construir algo que não se limite ao proveito de um só.

A população brasileira está gravemente doente! Nunca se registrou tantos suicídios como nos dias atuais, ao ponto de se criar, neste ano de 2018, o “Setembro Amarelo”, uma importante Campanha de Prevenção ao Suicídio. Sem esperanças, nossos jovens e adolescentes são as maiores vítimas, abrindo mão do seu bem maior, a própria vida. Um povo sem esperanças se lança ao desespero, estando fadado a autodestruição!

Comemoremos sim, o ocorrido no dia 07 de setembro de 1822, mas quanto a estar independente... deixo para a reflexão de nossos leitores!

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Esta proclamação – feita por Dom Pedro, às margens do Ipiranga, às 16h30, de 7 de setembro de 1822, em meio às espadas erguidas dos

militares que o acompanhavam – parece lembrar claramente um juramento maçônico. Na verdade, o que comemoramos a cada 7 de setembro não é exatamente a independência do País, mas o compromisso solene do príncipe Pedro com nosso povo. A independência política – destituída da ideia de completa separação de Portugal – havia sido anunciada, oficialmente, um mês antes, em agosto.

A independência brasileira foi resultado direto da ação do movimento maçônico. As organizações autônomas baseadas na tradição da maçonaria são fraternidades secretas ou semissecretas, que realizam reuniões ritualísticas. Elas buscam o aperfeiçoamento do ser humano através da vivência da fraternidade universal, da liberdade de consciência e da ruptura dos dogmas religiosos. Mas, como todo movimento baseado na liberdade de pensamento, as organizações maçônicas divergiam, bastante, umas das outras e deixavam à mostra as incoerências humanas, vaidades pessoais e lutas de poder dos seus integrantes, entre os quais estavam alguns dos principais líderes das campanhas pela independência dos países latino-americanos e dos Estados Unidos, e dirigentes de revoluções liberais da Europa desde o século XVIII.

Para que se compreenda o processo da independência política do Brasil, é preciso ter claro – como destaca o historiador Caio Prado Júnior – que as

monarquias de Portugal e Espanha estavam decadentes desde o século XVII.

No século XVIII, a Espanha foi buscar apoio na França, enquanto Portugal se amparava na Inglaterra. A disputa entre Portugal e Espanha – grandes potências coloniais com economias pré-industriais e atrasadas – era, na verdade, um reflexo da briga entre Inglaterra e França, as grandes potências mundiais da época.

A maçonaria, com sua diversidade natural, também, expressava essas contradições políticas, econômicas e estratégicas. Na Inglaterra, os maçons defendiam a monarquia constitucional e serviam como uma ponta de lança da influência britânica sobre o mundo. Essa ideia de monarquia acabou dominando os primeiros tempos da independência brasileira. Mas na França, como nos Estados Unidos (que fizeram sua independência a partir de 1776), os maçons defendiam o regime republicano, e divulgaram essa ideia por todo o mundo desde a revolução começada em 1789, com a tomada da Bastilha. O ideário republicano dessas correntes maçônicas teve consequências decisivas para os países da América espanhola.

Um dos motivos pelos quais a ação dos maçons da Inglaterra era mais moderada no começo do século XIX, surgia do fato de que lá não havia sido necessária, no século XVIII, a violência da Revolução Francesa. Desde os tempos de Francis Bacon, a influência rosacruz e maçônica era bem maior e mais forte na Inglaterra, tornando a aceitação das ideias liberais algo natural. Já na França, as elites se haviam negado a aceitar qualquer

A História Secreta da Independência

“Laços fora, soldados! Pelo meu sangue, pela minha honra, juro fazer a liberdade do Brasil. Independência ou morte!”

Carlos Cardoso Aveline

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modernização, apesar dos esforços de grandes maçons, e de sábios notáveis como Alessandro Cagliostro e o conde de Saint-Germain na segunda metade do século XVIII. A influência dogmática do Vaticano, muito forte na França, era pequena na Inglaterra. A irresponsabilidade cega das elites levou ao banho de sangue da Revolução Francesa.

Essa diferença entre as maçonarias francesa e inglesa explica, em grande parte, as lutas entre José Bonifácio, maçom moderado e monarquista constitucional, e a maior parte do movimento maçônico brasileiro, que era mais radical, principalmente no plano verbal, e tinha forte tendência republicana.

Até alguns anos atrás, Bonifácio era considerado traidor da causa da independência brasileira em meios maçônicos. A partir dos anos 1980, historiadores como José Castellani passam a fazer justiça ao “Patriarca da Independência”. Por outro lado, a história oficial tem ignorado o papel fundamental do líder maçônico Joaquim Gonçalves Ledo em nossa independência – porque Ledo, republicano e mais exaltado, era adversário de Bonifácio. Hoje, as informações disponíveis já permitem uma posição equilibrada, capaz de reconhecer tanto o valor de Gonçalves Ledo como o de José Bonifácio.

Não há dúvida de que os maçons republicanos foram influentes desde o começo do Brasil. Na Inconfidência Mineira, de inspiração claramente maçônica, Tiradentes e seus companheiros sonhavam com a República. A bandeira do movimento era um triângulo, símbolo maçônico, com a inscrição “Liberdade Ainda que Tardia”. Os iniciadores do movimento haviam sido admitidos pela maçonaria francesa e estavam entusiasmados pela independência dos Estados Unidos. O movimento foi descoberto e seus integrantes passaram a ser presos a partir de maio de 1789. Antes de morrer na forca e ter seu corpo esquartejado em 21 de abril de 1792, Tiradentes declarou: “Se eu tivesse dez vidas, eu daria todas elas para que os meus companheiros não sofressem nada.”

Na verdade, a Inconfidência Mineira não estava ligada diretamente à maçonaria, embora tenha sido inspirada pelo ideal maçônico. A primeira associação maçônica no Brasil – que, ainda, não era uma loja regular – foi fundada em Pernambuco pelo botânico Manoel de Arruda Câmara, em 1796, e ficou conhecida como o “Aerópago de Itambé”.

Foi devido à influência do Aerópago que eclodiu, em 1817, a Revolução Pernambucana, liderada por diversos maçons e cujo ideal era, também, republicano. O movimento depôs o governador e proclamou a República, em 6 de março de 1817, resistindo pouco menos de três meses até ser derrotado pelas tropas imperiais. Seus principais líderes foram enforcados, com a exceção de Frei Caneca, também maçom, que sobreviveu e iria mais tarde liderar com bravura a Confederação do Equador, em 1824.

A revolução de 1817 inicia a contagem regressiva para a independência política. Em 30 de março de 1818, o rei português Dom João VI – que viera para o Brasil em 1808, com sua corte de dez mil pessoas, fugindo das tropas de Napoleão – assinava documento proibindo o funcionamento de sociedades secretas: “Eu El-Rei faço saber (...) que se tendo verificado pelos acontecimentos que são bem notórios o excesso de abuso a que têm chegado as sociedades secretas (...) sou servido declarar por criminosas e proibidas todas e quaisquer sociedades secretas de qualquer denominação que sejam...”

Mas o avanço das ideias liberais, estimulado no mundo inteiro pelas maçonarias inglesa e francesa, já era inevitável. Os velhos regimes coloniais e as monarquias absolutistas estavam com os dias contados. Em Portugal, a revolução liberal de 1820 alterou radicalmente a situação e as Cortes (parlamento) portuguesas passaram a pressionar Dom João VI. Quando finalmente o rei deixou o Brasil e voltou para Lisboa, em abril de 1821, as Cortes pretendiam fazer a sociedade brasileira voltar à

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situação de simples colônia, depois de haver sido sede do Império, e isso acelerou a ruptura.

O príncipe regente Dom Pedro fora aconselhado por seu pai a chefiar a independência caso esta fosse inevitável. Em 9 de janeiro de 1822, ele cedeu a um movimento organizado por José Joaquim da Rocha e outros maçons e desobedeceu aos decretos 124 e 125 das Cortes portuguesas, que alteravam a estrutura administrativa do Brasil e mandavam que o príncipe regente voltasse imediatamente a Portugal.

“Diga ao povo que fico”, anunciou Dom Pedro, firmando uma aliança com os maçons.

Em 13 de maio, a loja maçônica “Comércio e Artes” deu a Dom Pedro o título de “Defensor Perpétuo do Brasil”. Crescia a influência de Joaquim Gonçalves Ledo. Poucos dias depois, José Bonifácio assumiu o cargo de ministro do Interior e do Exterior.

Em 2 de junho de 1822, meses depois do Dia do Fico, Bonifácio criou o Apostolado, organização semelhante à maçonaria, e nomeou Dom Pedro como seu chefe, com o título de “arconte-rei”. Meses antes do dia sete de setembro, um dos lemas do “Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros da Santa Cruz” era, significativamente, “Independência ou Morte”. Como parte do juramento prestado ao ingressar na ordem, cada novo membro do apostolado dizia: “Juro promover, com todas as minhas forças e a custo da minha vida e riqueza materiais, a integridade, a independência e a felicidade do Brasil, como império constitucional, opondo-me tanto ao

despotismo que o altera como à anarquia que o dissolve. Assim Deus me ajude.”

As palavras do grito do Ipiranga, em 7 de setembro, seriam, mais tarde, praticamente uma renovação desse compromisso por parte do futuro imperador. Gonçalves Ledo e os principais líderes do movimento emancipador eram membros do “Apostolado”.

A data da iniciação de Dom Pedro na maçonaria não parece estar bem estabelecida. Alguns autores falam de maio de 1822. Outros indicam o dia 13 de julho. Segundo aquele que é talvez o principal pesquisador maçônico da independência, José Castellani, Dom Pedro foi iniciado na maçonaria apenas no dia 2 de agosto. De qualquer modo, em 17 de julho Ledo organizou as lojas maçônicas no Grande Oriente do Brasil e ofereceu o cargo de grão-mestre a José Bonifácio, ficando com a posição imediatamente inferior, de primeiro vigilante. Dois dias depois, uma carta de Dom Pedro a seu pai deixava claro que a ruptura entre Brasil e Lisboa já era total: “O Brasil, senhor, ama a vossa majestade, reconhecendo-o e sempre reconheceu como seu rei; (mas quanto às Cortes)... hoje não só as abomina e detesta, mas não lhes obedece, nem lhes obedecerá mais, nem eu consentiria em tal...”

Em obediência à estratégia traçada por José Bonifácio, principal conselheiro do príncipe, em 1º de agosto, Dom Pedro assinou um “Manifesto aos Brasileiros”, redigido por Gonçalves Ledo, e um decreto tomando providências para a defesa militar e a vigilância dos portos brasileiros. Como proclamação da independência, o “Manifesto” é muito mais claro e poderoso que o Grito do Ipiranga, de 7 de setembro, e tem valor legal e oficial, que o evento do riacho não possui. O nome do autor do Manifesto está claramente estabelecido. O Barão do Rio Branco escreveu: “Foi Ledo quem inspirou todas as grandes manifestações daqueles dois anos da nossa capital, quem instigou o governo a convocar uma constituinte e quem redigiu alguns dos principais documentos políticos, como o manifesto de 1º de agosto de 1822, dirigido por Dom Pedro aos brasileiros.”

No “Manifesto de Sua Alteza Real aos Povos deste Reino”, o príncipe regente proclama: “Está acabado o tempo de enganar os homens. Os governos que ainda querem fundar o seu poder sobre a pretendida ignorância dos povos, ou sobre antigos erros e abusos, têm de ver o colosso da sua grandeza tombar da frágil base sobre que se erguera outrora... eu agora já vejo reunido todo o Brasil em torno de mim, pedindo-me a defesa dos seus direitos e a manutenção da sua Liberdade e Independência.”

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^Caio R. Reis

A maior parte do povo brasileiro imagina que a proclamação da independência do Brasil resumiu-se, somente, no Grito do Ipiranga e que,

pacificamente, todos aceitaram que os laços entre Portugal e Brasil estavam, definitivamente, rompidos. A história não foi bem assim, e a Proclamação da Independência, por D. Pedro I, foi, apenas, o início de um banho de sangue entre brasileiros separatistas, portugueses e brasileiros fiéis à Coroa de Portugal. As lutas eclodiram, desde logo, em grande parte do território brasileiro, pois, principalmente, o Norte e Nordeste mantiveram-se fiéis a Portugal.

A Maçonaria da época encontrava-se, extremamente, dividida. As Lojas do Rio de Janeiro e de São Paulo eram subordinadas ao Grande Oriente da Inglaterra; as Lojas do Norte e do Nordeste, ao Grande Oriente de Portugal. Note-se que não existia, ainda, o Grande Oriente do Brasil. Isso, por si só, já era motivo suficiente para que duas vertentes distintas se formassem dentro da Ordem: uma defendendo a separação e outra não.

Além disso, no Rio de Janeiro, houve uma divergência enorme de objetivos entre os dois grandes líderes da época, José Bonifácio e Gonçalves Ledo: Aquele defendia a Independência, com a continuação dos plenos poderes do Imperador; Este, defendia a independência, mas de forma liberal e republicana, isto é,

com a criação de uma Constituinte, limitando os amplos poderes do Imperador.

Foi dentro desse quadro que, efetivamente, deu-se a Independência, tendo sido D. Pedro I, inteligentemente, usado pela Maçonaria para satisfazer os seus propósitos. Seria inadmissível para alguém, que conheça um mínimo da história do Brasil, julgar que o Imperador reunia qualidades para ser Maçom.

A sua vida devassa, como relatam os historiadores, alguns admitindo que ele teve mais de cem filhos, entre os do casamento e outros havidos com escravas, prostitutas e algumas oportunistas, que queriam graças do Imperador. Dessa forma, os Maçons não teriam como admiti-lo na Ordem pelos seus méritos e pela sua conduta. Fizeram-no, e, rapidamente, o Ir∴ Guatimozim, nome maçônico por ele adotado, foi guindado a assumir alto posto, unicamente, com o intuito de usá-lo como peça importante na Proclamação da Independência. José Bonifácio e Gonçalves Ledo se desentenderam, tendo José Bonifácio deixado a Loja para criar uma vertente dissidente, o Apostolado, mas venceram as ideias de Gonçalves Ledo.

Os Maçons da época eram constituídos, na sua grande maioria, por aristocratas, senhores de engenho e fazendeiros, que dependiam, totalmente, da mão-de-obra

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escrava. Por isso, eram todos escravagistas abominando a ideia de libertação ou a proibição do tráfico de negros vindos da África.

Houve uma pressão enorme desses Maçons junto ao Imperador, propondo um pacto de apoio à causa separatista, desde que o Imperador mantivesse os escravos e a escravidão sem alterar nada. Tal pacto vingou e perdurou por mais de sessenta anos após a Independência do Brasil. É lamentável, durante todo esse tempo, nada ter sido feitopara acabar com tal aberração. O Brasil não podia preterir a mão-de-obra escrava e, para tanto, estava disposto a fazer qualquer acerto que fosse necessário.

Existiram, naturalmente, dentro da Ordem, alguns poucos Maçons que defendiam a abolição da escravatura, a maioria, figuras afro-brasileiras: o engenheiro André Rebouças, o advogado Luiz Gama e o jornalista José do Patrocínio. Mais tarde, outro grande defensor da abolição foi Rui Barbosa, que desejava que ninguém pudesse ingressar na Maçonaria se tivesse escravos ou os traficasse.

Conforme falamos de início, após a Proclamação da Independência, D. Pedro enfrentou uma série enorme de revoltas, principalmente, no Norte e Nordeste do país. Como não havia meios de sufocar tais rebeliões, o jeito foi a contratação de mercenários para detê-las. Uma das figuras mais marcantes da Independência foi o Almirante

Cockrane, mercenário escocês, que, ávido por dinheiro, participou de várias batalhas sangrentas para consolidá-la. Não fosse a ajuda milagrosa desses mercenários, talvez, o Brasil tivesse perdido grande parte do seu território.

A Maçonaria contribuiu, sem dúvida, para a Independência do Brasil. Com enorme esforço, conseguiu que vingassem as ideias do seu grande líder Gonçalves Ledo, na nossa modesta interpretação, o grande responsável pelas mudanças. O esforço de Gonçalves Ledo e de seus seguidores permitiu que fosse feita a primeira Constituição Brasileira.

Em síntese, para que alguns mitos, que correm na Ordem, não sejam eternos e possam ser contraditos e desfeitos, resumimos o que segue: a Proclamação da Independência do Brasil teve, sim, a valiosa colaboração da Maçonaria, mas não foi esta sozinha a responsável por tudo, como muitas vezes se apregoa.

A Abolição da Escravatura no Brasil, que se deveria ter dado, concomitantemente, com a Independência, não aconteceu, e a participação maçônica, na época, foi nula. Pelo contrário, lutou-se para a perpetuação daquele estado de coisas como mencionamos anteriormente. Mais de sessenta anos depois e apoiada, apenas, por um pequeno grupo de Maçons, acontecia a libertação dos escravos, mais pressionada pela opinião pública mundial do que pela Maçonaria Brasileira.

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Os Bastidores da Independência

Os 94 homens que se reuniram no dia 24 de junho de 1822, num sítio no porto do Méier, na Praia Grande (atual Niterói-RJ), e fundaram o

Grande Oriente Brasílico, atual GOB, sonhavam alto, mas tinham os pés no chão. O dia inteiro de exaustivos trabalhos foi encerrado com um lauto banquete, e a comida, que sobrou, foi distribuída aos pobres das redondezas, reforçando, assim, a filantropia tão presente nas preocupações maçônicas. Congregados naquele momento, não poderiam imaginar que, meses depois, teriam seus destinos individuais tão separados, nem tinham certeza dos rumos políticos que ajudavam a transformar.

A formação, que originou o GOB, veio da Loja Comércio e Artes, a mesma que surgira em 1815, dissolvera-se com a repressão de 1818 e reaparecera sob as bênçãos do Grande Oriente Luso-Brasileiro e sob os novos ares do liberalismo em 1821. Agora, em 1822, a Comércio e Artes crescera demais, e nela não cabiam tantos integrantes que pretendiam entrar. Os maçons então, resolveram, numa solução salomônica, subdividir a Loja em três, mantendo a Comércio e Artes e criando mais duas: União e Tranquilidade e a Esperança de Niterói. A distribuição dos integrantes em cada uma foi feita por sorteio, tradicionalmente, visto como uma instância igualitária, ou seja, que evitava favoritismo e deixava, nas mãos da Providência Divina, o destino dos envolvidos. Além disso, os iniciados deveriam portar uma roseta ou laço em forma de flor no braço esquerdo: branco para a primeira Loja, azul para a segunda e vermelho para a terceira. Todos juntos criavam, assim, o azul, vermelho e branco, caracterizadores da Revolução Francesa,

paradigma da modernidade política, mas, ao mesmo tempo, repudiada em seus “excessos” pelos liberais do nascente século XIX.

O GOB adotou o Rito Francês Moderno, criado em 1783 e composto por sete graus: 1. Aprendiz; 2. Companheiro; 3. Mestre (Lojas Azuis);- 4. Mestre Eleito (Primeira Ordem de Rosa-Cruz); 5. Mestre Escocês (Segunda Ordem de Rosa-Cruz); 6. Cavalheiro Rosa-Cruz (Terceira Ordem de Rosa-Cruz); 7. Soberano Príncipe Rosa-Cruz (Quarta Ordem de Rosa-Cruz).

O maçom que presidiu a instalação dos trabalhos do GOB, foi o capitão engenheiro João Mendes Viana, na condição de Venerável da Loja Comércio e Artes. Qual o destino de Mendes Viana? Eleito Segundo Grande Vigilante do GOB, foi enviado a Pernambuco como emissário na missão estratégica para articular a Independência.

Acabou aproximando-se dos chamados liberais exaltados, que assumiram o poder provincial e proclamariam a Confederação do Equador contra o centralismo imperial. Detido por ordem de D. Pedro I, Mendes Viana passaria sete anos do Primeiro Reinado como preso político nos cárceres do Rio de Janeiro, ao lado de Cipriano Barata. Ao ser solto, em 1830, Mendes Viana estava com a saúde irremediavelmente debilitada pelas precárias condições em que foi forçado a viver e faleceu logo depois. Mais uma trajetória de vida destruída devido ao engajamento maçônico. Mas, naquele momento de otimismo e entusiasmo da fundação do GOB e preparação da Independência, tal previsão trágica parecia impensável.

Marco Morel & Françoise Jean

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Estavam presentes, entre os 94 fundadores, uma verdadeira galeria de Pais da Pátria: alguns antigos maçons, como José Bonifácio, o Coronel Luiz Pereira da Nóbrega e o Padre Belchior de Oliveira, além de Domingos Alves Branco Muniz Barreto, Frei Francisco Sampaio, Cônego Januário da Cunha Barbosa, José Clemente Pereira e Joaquim Gonçalves Ledo. Outros, apesar de terem os nomes registrados, tornaram-se ilustres desconhecidos e se apagaram, ainda, na poeira do próprio tempo em que viviam. O Tenente-Coronel e Cirurgião Manuel Joaquim de Menezes, um destes fundadores, lançou, três décadas depois, um pequeno livro, que, até hoje, é uma das principais fontes de informação sobre tais episódios, embora, também, envolvido nos jogos de ocultações e revelações tão próprios da Ordem dos Pedreiros-Livres. Um dos mais destacados e convictos do grupo, o Major Albino dos Santos Pereira, teria um fim trágico, como se verá a seguir.

O sítio em Niterói fora decorado à maneira de um templo maçônico, sem faltar a Sala dos Passos Perdidos. A comissão de organização era composta pelos Irmãos Manoel dos Santos Portugal, João da Silva Lomba e Antônio José de Souza, que se encarregaram do banquete maçônico e das demais providências, como levar apetrechos e a decoração do local com os símbolos adequados.

Nas primeiras reuniões do GOB, a clandestinidade (ou segredo, como, então, se dizia) era fundamental não só por uma questão de fidelidade ritualística, mas, também, pela própria segurança de seus membros, por estarem tramando a Independência do Brasil. Entretanto, logo se percebeu que tudo, discutido no recinto, acabava vazando para Portugal e para os comandantes das tropas portuguesas sediadas no Brasil. Daí resultou, no encontro de 2 de agosto de 1822, a exclusão de seis irmãos do círculo maçônico, após investigações internas que levaram aos nomes dos que foram considerados delatores.

Uma das tarefas marcantes do GOB foi enviar emissários às mais importantes províncias brasileiras, para articularem, politicamente, a Independência na forma como estava sendo concebida: unidade territorial

brasileira, monarquia constitucional e governada pelo Príncipe da Dinastia de Bragança. Note-se que, desse modo, os maçons contribuíram mais efetivamente para a criação de laços de tipo nacional e de um modelo de Estado centralizado, mas poucos colaboraram para a consolidação da própria Maçonaria como Instituição de nível nacional, naquele momento.

É precipitado apontar esse GOB como embrião de um partido político, pois suas características se diferenciavam bastante da máquina partidária típica do século XX. Entretanto, não se deve desprezar a Maçonaria como uma forma de agrupamento e organização.

Quando se falava, já naquela época, de “partidos”, era mais do que tomar um partido ou formar facções descartáveis: havia modos de agrupamento em torno de um líder, através de palavras de ordem e da imprensa, em determinados espaços associativos e a partir de interesses ou motivações específicas, além de se delimitarem por lealdades ou afinidades (intelectuais, econômicas, culturais, etc.) entre seus participantes. Tais agrupamentos eram identificados por rótulos, símbolos ou nomeações, pejorativos ou não. A Maçonaria era uma dentre as várias formas existentes de sociabilidade.

Pode-se perceber que o nó da questão, em que se envolveu a Maçonaria em 1822, foram as presenças de José Bonifácio e D. Pedro I em seus quadros como dirigentes máximos (Grão-Mestres). Daí resultou, num primeiro momento, a força e a vitória da entidade, com a Independência proclamada, como seus membros queriam. Daí resultou, logo depois, a destruição dos trabalhos maçônicos e até da vida pública de vários irmãos.

Se, do ponto de vista externo, o GOB serviu, no tempo e na hora certa, como espaço aglutinador, tal papel foi efêmero. As dissensões internas e as intervenções externas acabaram destruindo, naquele momento, esse núcleo de associação. A recriação do GOB e das Potências posteriores já pertenciam a outro contexto, com outros objetivos e horizontes.

(Compilado do Livro O PODER DA MAÇONARIA – A HISTÓRIA DE UMA SOCIEDADE SECRETA NO BRASIL – De Marco Morel e Françoise Jean de Oliveira Souza, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2008.)

Franklin dos Santos Moura

IndependênciaIndependentes, porém acorrentados

Se por um lado a independência da nação brasileira caminha para o seu bicentenário, por outro lado mais pesadas se tornam as

correntes que impedem construir um presente justo e consequentemente semeando um amanhã melhor.

Enquanto o passado reserva um traje empoeirado de batalhas e glórias, o presente é marcado pelo individualismo e um atordoado movimento de se desejar mudança, porém terceirizando sua realização. Na paisagem triste desse cenário está a Maçonaria, que atravessa suas próprias crises, e não demonstra ter as mesmas forças de outrora para romper os grilhões que sufocam a independência de um povo livre.

Diante disso, o presente trabalho tem por objetivo provocar reflexões sobre alguns dos motivos que acorrentam a sociedade e a Maçonaria, impedindo a próspera marcha de um povo independente.

Acorrentados ao individualismo - Existe um mito em torno do progresso. Muitos pensam que a evolução e o progresso trouxeram uma realidade pior que a vivida no passado. Na verdade, a evolução e o progresso trazem inúmeras melhorias, porém o problema é o que o homem, de fato, absorve e transforma em legado.

Está escrito em algum lugar que as redes sociais deveriam isolar as pessoas? Imagino que não,

porém o homem, a partir das evoluções tecnológicas, criou o lastimável labirinto de ‘solidão coletiva’.

Aliado a isso, ocorreu o retrocesso de saber viver em comunidade. Há 20 ou 30 anos era comum nascer e crescer em bairros horizontais, vivendo em comunidade e percebendo a importância das lideranças locais. Era o líder comunitário que ia até a prefeitura requerer asfalto, iluminação, posto de saúde, praça, escola e segurança. Com um pouco mais de esforço esse mesmo líder viria a se tornar um vereador e crescer na carreira política.

Atualmente, com a proliferação das moradias verticais, uma das maiores dificuldades da convivência num condomínio é conseguir alguém para ocupar a função de síndico. Cada morador do prédio já está transbordando de preocupações com trabalho, compromissos financeiros, educação dos filhos, angústia sobre aproveitar o tempo. Dessas forma, o sentimento de contribuir no prédio que mora dá lugar a um pensamento “O que eles decidirem está bom!”

Se o indivíduo tem as condições básicas perto do semi luxo, isso é o suficiente para deixar a política no piloto automático, até aquela mais próxima que é a gestão do condomínio.

Não participando da gestão do condomínio, mais distante fica a atuação comunitária, municipal, estadual e federal. Com o individualismo, o homem

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só se posiciona em dois lados: o lado que não se envolve, pois está na zona de conforto; o lado que se envolve, porque quer chegar a sua zona de conforto.

Como pensar em progresso, renovação da representação política, grandes feitos, visão de longo prazo, se a cada um, somente, interessa o seu bem-estar?

Acorrentados ao “Brasil que eu quero” e não ao “Brasil que eu faço” - A avalanche de vídeos sobre o “Brasil que eu quero” invadiu emissoras de televisão, rádio, e outros meios de comunicação, divulgando desejos de uma nação assolada por uma inquestionável rede de desigualdades. Até aqui tudo bem, mas o problema começa a aparecer quando alguém diz: - Quero um Brasil sem corrupção! Por outro lado, essa mesma pessoa fura fila no médico, não devolve troco quando vem a maior, não vê problema em subornar um guarda para não receber multa no trânsito, comemora o título esportivo do seu clube, mesmo que sob a moldura de uma decisão desastrosa de um juiz.

Outra situação é quando alguém diz: - Quero um Brasil com mais empregos! Em regra geral, essa pessoa está muito próxima do desemprego, porque se estivesse empregada, sua frase seria: - Quero um Brasil com mais benefícios ao trabalhador!

E outro, ainda, diz: - Quero um Brasil com mais educação! Porém essa mesma pessoa sequer tentar ler um jornal aos finais de semana e quiçá um livro por ano.

E assim, os exemplos seguiriam páginas e páginas de se postular num tom individualista “O Brasil que eu quero”. Mas, e o Brasil que eu faço?

A distância entre um e outro parece simbólica, mas ao trocar o querer por fazer surge a possibilidade de se dirigir ao próximo. Surge a chance de construir algo que não se limite ao proveito de um só. Outro ponto importante dessa diferença é que ao falar do Brasil que eu quero, está se delegando a solução a um terceiro, enquanto ao falar do Brasil que eu faço, a solução está nas próprias mãos.

Daí, como imaginar uma realidade diferente da vivida hoje se a solução está delegada a um terceiro (político, etc.) e a ação das próprias mãos e atitudes não está sendo considerada?

Maçonaria: Porta larga ou estreita? - Não é demais lembrar que na Maçonaria as paixões são submetidas, evitando o domínio do homem pelas suas emoções. Também, aqui, busca-se a edificação das virtudes e a erradicação dos vícios. Vale, ainda, dizer que não há espaço para diferenças políticas e religiosas, ressaltando que o Maçom deve crer em um Ser Supremo que é Deus. Esse breve resumo

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Revista Arte Real nº 101 - Set/18 - Pg 11

representa a moldura de uma instituição milenar, filosófica e progressista, que se fez representar nas páginas da história pelos seus grandes feitos.

Ingressar na Maçonaria era (e, ainda, é para alguns) motivo de honra e distinção para uma família, pois era sinônimo de ser escolhido entre muitos.

Infelizmente, com o adoecimento da sociedade, seja diante do individualismo, seja pelo comodismo, seja pela deterioração da religiosidade em razão da transformação cultural, o homem, também, adoeceu e muitos desses homens estão entre as colunas da Ordem.

E por que tais homens, admitidos como livres e de bons costumes, porém atingidos de patologias sociais, estão em nossos templos? Ousaria dizer que se a porta fosse estreita como em outrora, a Maçonaria teria templos, ainda, mais vazios do que já se tem na atualidade.

Lamentavelmente, com a porta mais larga, o risco que se expõe é a qualidade dos candidatos admitidos, podendo resultar em jornadas curtas, limitadas a curiosidade e colocadas em segundo ou terceiro plano, quando há que se romper sua zona de conforto e/ou o individualismo para servir aos propósitos da sua oficina, do seu Oriente.

O ponto crítico desse cenário é que a Maçonaria, antes uma rompedora de grilhões, agora, está inerte em suas próprias correntes. Se um dia a história registrou José Bonifácio, Gonçalves Ledo, Dom Pedro I, Rui Barbosa, Monteiro Lobato, Padres, Pastores, Freis e muitos outros, quantos acontecimentos políticos, culturais marcaram época!

Com a porta larga de entrada, o objetivo da Ordem não consegue mais ser interferir no

desenvolvimento social e político, mas sim tentar manter-se de pé, evitando sucumbir aos efeitos de uma sociedade culturalmente ansiosa, individualista, imediatista e progressivamente distante de Deus.

Como romper esses grilhões e voltar a ocupar o lugar de destaque que repousa nas páginas amareladas da história?

O presente trabalho teve por objetivo apresentar algumas breves reflexões sobre “o grau de independência”, abordando na percepção do Irmão autor, que para viver a independência há que se libertar de correntes extremamente densas, quais sejam: individualismo do homem; delegação a terceiros da ação que depende de você; atual estado de crise da Maçonaria, impedindo maior participação na transformação social e política brasileira.

Caminhando para alcançar, em breve, o bicentenário da Independência do Brasil, não é demais lembrar e alertar que as instituições, historicamente, representativas tiveram domínio ora bélico, ora científico, ora político e até mesmo religioso.

As perguntas que repousam com o presente trabalho são: onde estarás Maçonaria quando a história de 200 anos do Brasil for escrita? Estará, ainda, acorrentada as dores de uma instituição milenar sujeita as patologias sociais ou estará criptografada na moldura de um Brasil diferente e melhor?

Diante de todo o exposto, na certeza de não ter esgotado o tema, mas ter sim alcançado o acolhimento e provocado reflexões entre os Irmãos, é o desejo que o GADU, mantenha a Luz da Sabedoria apontada em nossas vidas, prevalecendo a tolerância e a habilidade de “saber cuidar”, entre Irmãos.

Maçonaria Atual

Maçonaria no Passado

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