abandono de idosos - 1

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM FAMÍLIA DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: PERSPECTIVAS DE TRABALHADORES DE UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Naiana Oliveira dos Santos Santa Maria, RS, Brasil. 2013

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Artigo sobre o Abandono de idosos

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM

    FAMLIA DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: PERSPECTIVAS DE TRABALHADORES DE UMA

    INSTITUIO DE LONGA PERMANNCIA

    DISSERTAO DE MESTRADO

    Naiana Oliveira dos Santos

    Santa Maria, RS, Brasil.

    2013

  • FAMLIA DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: PERSPECTIVAS DE TRABALHADORES DE UMA

    INSTITUIO DE LONGA PERMANNCIA

    Naiana Oliveira dos Santos

    Dissertao de mestrado apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem. rea de Concentrao: Cuidado, educao e trabalho em enfermagem e sade, Linha de Pesquisa: Cuidado e Educao em Enfermagem e Sade da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS),

    para obteno do ttulo de Mestre em Enfermagem.

    Orientadora: Prof Dr Margrid Beuter Coorientadora: Prof Dr Nara Marilene Oliveira Girardon-Perlini

    Santa Maria, RS, Brasil.

    2013

  • Dedico este trabalho aos amores de minha vida: Silvana Silvana Silvana Silvana e GustavoGustavoGustavoGustavo,

    pelo apoio, compreenso e ajuda em todos os momentos.

    Aos meus pais, tesouros preciosos: NeivaNeivaNeivaNeiva e e e e Joo AntonioJoo AntonioJoo AntonioJoo Antonio

    apesar da distncia sinto a proteo e o amor incondicional.

  • AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOS

    A DeusA DeusA DeusA Deus, que com seu poder supremo, me deu fora, sabedoria, serenidade

    e principalmente amor para guiar minhas aes e atitudes durante esta

    caminhada.

    A eles que no somente me motivaram, mas inspiraram-me a seguir em

    diante nas dificuldades, que comemoraram comigo minhas vitrias

    tornando-as significativas, Joo Antonio e Neiva, a vocs pai e meJoo Antonio e Neiva, a vocs pai e meJoo Antonio e Neiva, a vocs pai e meJoo Antonio e Neiva, a vocs pai e me,

    agradeo por tudo que sou, pelas doses de ternura e cobrana ao longo do

    meu desenvolvimento, os amo incondicionalmente.

    Aos meus irmos Silvana e GustavoAos meus irmos Silvana e GustavoAos meus irmos Silvana e GustavoAos meus irmos Silvana e Gustavo que me apoiaram e cuidaram de

    mim, oferecendo sempre seu carinho, me emprestando sua alegria,

    companheirismo e fora.

    Ao PetersonAo PetersonAo PetersonAo Peterson, mais que um namorado, um amigo. Obrigada por

    compreender e incentivar os meus sonhos e ideais.

    Ao restante da minha grande famminha grande famminha grande famminha grande famlialialialia, por me oferecem exatamente

    quando eu estava distante de casa, o calor de um lar. vocs meu

    carinho inestimvel.

    As minhas orientadoras, Margrid Beuter e Nara PerliniAs minhas orientadoras, Margrid Beuter e Nara PerliniAs minhas orientadoras, Margrid Beuter e Nara PerliniAs minhas orientadoras, Margrid Beuter e Nara Perlini, pelos

    ensinamentos, apoio e estmulo a superao dos meus limites, durante

    todo o processo de criao e elaborao deste trabalho. Pela pacincia e

    dedicao ao ensinar, compartilhar as suas experincias e conhecimentos,

    os quais contriburam, para o meu crescimento profissional e pessoal.

    Muito obrigada pela acolhida, carinho e amizade.

    Aos Aos Aos Aos colegas e professores do Curso de Mestrado em Enfermagem da colegas e professores do Curso de Mestrado em Enfermagem da colegas e professores do Curso de Mestrado em Enfermagem da colegas e professores do Curso de Mestrado em Enfermagem da

    UFSMUFSMUFSMUFSM, foram momentos mpares t-los ao meu lado no percurso destas

    vivncias de mestranda. Em especial s grandes amizades desveladasEm especial s grandes amizades desveladasEm especial s grandes amizades desveladasEm especial s grandes amizades desveladas,

    Tia, Raquel, Carol, Andressa, Greice, Silvana e Fernanda. Vocs sero

    inesquecveis, cada qual com sua personalidade, o meu carinho e respeito.

  • AAAAs s s s colegas e amigas colegas e amigas colegas e amigas colegas e amigas Arlete e Macilene,Arlete e Macilene,Arlete e Macilene,Arlete e Macilene, por me mostrarem, cada uma a

    seu jeito, que a construo do conhecimento apenas vlida quando

    existem pessoas com as quais possamos compartilh-lo. Muito obrigada

    pela escuta e pelo carinho. A amizade de vocs foi um presente que o

    tempo do mestrado construiu.

    Aos membros do Grupo de Pesquisa Cuidado, Sade e Enfermagem Grupo de Pesquisa Cuidado, Sade e Enfermagem Grupo de Pesquisa Cuidado, Sade e Enfermagem Grupo de Pesquisa Cuidado, Sade e Enfermagem pelos

    momentos de aprendizado, em especial as auxiliares de pesquisa Larissa e

    Marcella.

    professora Lisianeprofessora Lisianeprofessora Lisianeprofessora Lisiane pela confiana de ter me acolhido como aluna

    especial no Programa de Ps Graduao de Enfermagem da UFRGS, por

    ajudar-me nas minhas reflexes e pela certeza de que teremos um bom

    convvio nos prximos anos.

    Professora Marins, Maria de Lourdes, Professora Marins, Maria de Lourdes, Professora Marins, Maria de Lourdes, Professora Marins, Maria de Lourdes, ElianeElianeElianeEliane eeee LisianeLisianeLisianeLisiane pelas

    imprescindveis contribuies por ocasio da banca de qualificao e

    defesa.

    A Instituio de Longa PermannciaA Instituio de Longa PermannciaA Instituio de Longa PermannciaA Instituio de Longa Permanncia para Idosos para Idosos para Idosos para Idosos ---- Lar das VovozinhasLar das VovozinhasLar das VovozinhasLar das Vovozinhas,

    por acolherem a minha proposta de pesquisa e me mostrarem que

    parcerias, nesse mbito, so efetivamente possveis.

    Aos trabalhadores da ILPI,Aos trabalhadores da ILPI,Aos trabalhadores da ILPI,Aos trabalhadores da ILPI, pela sua participao e cooperao neste

    estudo. Agradeo imensamente a acolhida e a gentileza que permeou

    nossos encontros.

    Cordenao de AperfeioamentoCordenao de AperfeioamentoCordenao de AperfeioamentoCordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior do de Pessoal de Nvel Superior do de Pessoal de Nvel Superior do de Pessoal de Nvel Superior do

    Ministrio da Educao Ministrio da Educao Ministrio da Educao Ministrio da Educao (CAPES) pela concesso da bolsa de mestrado.

    A realizao desta dissertao de mestrado s foi possvel pela

    colaborao direta e indireta, de muitas pessoas nos vrios momentos de

    sua realizao.

    MMMMuito uito uito uito oooobrigada a todos!brigada a todos!brigada a todos!brigada a todos!

  • Tu te tornas eternamente responsvel Tu te tornas eternamente responsvel Tu te tornas eternamente responsvel Tu te tornas eternamente responsvel por aquilo que cativaspor aquilo que cativaspor aquilo que cativaspor aquilo que cativas....""""

    (Antoine de Saint-Exupry- O Pequeno Prncipe)

  • RESUMO

    Dissertao de Mestrado Programa de Ps-Graduao em Enfermagem

    Universidade Federal de Santa Maria

    FAMLIA DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: PERSPECTIVAS DE TRABALHADORES DE UMA INSTITUIO DE LONGA

    PERMANNCIA AUTORA: NAIANA OLIVEIRA DOS SANTOS

    ORIENTADORA: Prof Dra MARGRID BEUTER COORIENTADORA: Prof Dra NARA MARILENE OLIVEIRA GIRARDON-PERLINI

    Data e Local da Defesa: Santa Maria, 17 de janeiro de 2013.

    As Instituies de Longa Permanncia para Idosos (ILPIs) so locais de carter residencial, destinadas a domiclio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, que buscam proteo e amparo que, frequentemente, no encontram no seu ambiente familiar e social. Deste modo, quando os idosos passam a viver nestas instituies, h uma tendncia de afastamento da famlia de origem, de mudana de hbitos e consequentemente, risco de isolamento e insatisfao com a vida. Constituiu-se como objetivo geral deste estudo: analisar as perspectivas dos trabalhadores de uma ILPI sobre a famlia de idosos institucionalizados; e como objetivos especficos: conhecer a percepo dos trabalhadores de uma ILPI sobre a famlia de idosos institucionalizados; compreender como trabalhadores de uma ILPI percebem a participao e o papel da famlia no contexto de vida do idoso institucionalizado; e, descrever como trabalhadores de uma ILPI percebem o papel da instituio na relao com idosos institucionalizados. Pesquisa qualitativa, exploratria em que foram entrevistados 16 trabalhadores de uma equipe multidisciplinar de uma ILPI. A coleta dos dados ocorreu de fevereiro a junho de 2012. Os dados foram submetidos anlise temtica que convergiu na elaborao de trs artigos: Conviver preciso: a famlia como referncia de idosos institucionalizados, este artigo, apresenta o modo como os trabalhadores percebem a famlia do idoso na ILPI. Os trabalhadores visualizam que a famlia vai pouco na instituio, e consideram as datas comemorativas como sendo as principais ocasies em que a famlia participa. Compreendem que h abandono da famlia consangnea e que ningum supre seu papel. O segundo artigo Participao e papel da famlia no contexto de vida do idoso institucionalizado: perspectiva de trabalhadores, apresenta as diferentes formas de participao da famlia do idoso. Os trabalhadores consideram que o principal papel da famlia sua responsabilidade permanente para com o idoso, mesmo aps sua institucionalizao. O terceiro artigo A instituio de longa permanncia para idosos como espao de construo de uma nova famlia, aponta que o papel da instituio na relao com os idosos institucionalizados cria a possibilidade de constituio de uma nova famlia na ILPI. Nesta relao tambm ocorre a sobrecarga de ser famlia, pois as demandas de cuidado na instituio aumentam entre os trabalhadores e os idosos institucionalizados. Os resultados do estudo contribuem para a reflexo acerca das perspectivas dos trabalhadores de uma ILPI sobre a famlia dos idosos institucionalizados. Quando a famlia est presente, as idosas ficam melhores, em termos de sade, adaptao e participao nas atividades propostas pelos trabalhadores. Assim os trabalhadores ao visualizarem a famlia enquanto sistema de cuidado para os idosos, consideram que a convivncia pode ser uma forma de desenvolver e manter o equilbrio afetivo entre idosos institucionalizados e sua famlia. Nesse sentido, as diferentes formas de participao da famlia e o no abandono do idoso na ILPI, contribuem para que o idoso apresente melhores condies de sade e qualidade de vida. Alm disso, considera-se que os achados no presente estudo podem ajudar para subsidiar aes de cuidado as pessoas idosas institucionalizadas e suas famlias.

    Palavras-chave: Instituio de Longa Permanncia para Idosos. Famlia. Trabalhadores. Enfermagem.

  • ABSTRACT

    Masters Dissertation Post-Graduation Program in Nursing

    Federal University of Santa Maria

    INSTITUTIONALIZED ELDERLY FAMILY: WORKERS PERSPECTIVE IN AN INSTITUTION FOR LONG RESIDENCE

    AUTHOR: NAIANA OLIVEIRA DOS SANTOS ADVISER: Prof Dra MARGRID BEUTER

    SECOND ADVISER: Prof Dra NARA MARILENE OLIVEIRA GIRARDON-PERLINI Date and place of defense: Santa Maria, January 17th, 2013.

    Institutions of Long Term for Elderly are places of residencial features, aiming the collective household of people equal or over 60 years, who seek protection and support that, frequently, are not available in their family and social environment. Thus, when the elderly come to live in these institutions there is a trend that they move away from their original families, changing habits and, consequently, the risk of isolation and dissatisfaction with life. The aim of this study is: to analyze the perspectives of workers at a nursing home on the families of institutionalized elderly; and the specific objectives are: to know the workers persception of a nursing home on the family of institutionalized elderly; understand how the workers notice the participation and the role of family life in the context of institutionalized elderly; and describe how workers perceive the role of the institution in relation to the institutionalized elderly. The research was qualitative, exploratory, where 16 workers of a multidisciplinary team working in a nursing home for elderly were interviewed. The data collection happened from February to June, 2012. The data was subjected to thematic analysis which converged in the preparing of three articles: Coexist is necessary: the Family as reference of institutionalized elderly, which presentes how workers perceive the families of seniors in nursing home. The workers notice that the family does not visit the institution, and it considers the celebration dates as the main occasions in which the family takes part in. They understand that the consanguineal family abandons their elderly and nobody takes its place. The second article is Participation and role of the family in the context of institutionalized elderly: the perspective of workers, presenting the different ways in which the elderly families get involved. The workers consider that the main role of family is the permanent responsability with its elderly, even after the institutionalization. The third article os The institution for seniors as a space to build a new family, pointing out that the role of nursing homes in relation to their elderly creates the possibility of constituting a new family within the institution. This relation also leads to a overload of being a family, because of the demands for care in the institution raise among the workers and the elderly. The study results help to pond about the workers in an elderly nursing home perspective on the elderlys families. When the family is presente the elderly are better in terms of health, adaptation and participation in the activities proposed by the workers. So the workers visualize the Family as a care system for the seniors, considering that coexisting may be a form of developing and maintaining an affective balance between elderly and their families. Regarding this, the different forms of participation for the family and the coexistence with the elderly in the nursing home contribute for the snior, where they presente better health conditions and better life quality. Besides that, it is considered that the findings in this study may help to support actions of caring with old institutionalized people and their families.

    Key words: Homes for the Aged. Workers. Family. Nursing.

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................................................... 11 2 RESULTADOS .................................................................................................................... 17 ARTIGO 1 - CONVIVER PRECISO: A FAMLIA COMO REFERNCIA DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS .................................................................................. 19 Resumo ................................................................................................................................... 19 Abstract .................................................................................................................................. 19 Resumen .................................................................................................................................. 21 Introduo .............................................................................................................................. 21 Mtodo .................................................................................................................................... 23 Resultados ............................................................................................................................... 24 Discusso ................................................................................................................................ 29 Consideraes finais .............................................................................................................. 32 Referncias ............................................................................................................................. 33 ARTIGO 2 - PARTICIPAO E PAPEL DA FAMLIA NO CONTEXTO DE VIDA DO IDOSO INSTITUCIONALIZADO: PERSPECTIVA DE TRABALHADORES ..... 37 Resumo ................................................................................................................................... 38 Abstract .................................................................................................................................. 38 Resumen .................................................................................................................................. 39 Introduo .............................................................................................................................. 39 Mtodo .................................................................................................................................... 40 Resultados e discusso ........................................................................................................... 42 Consideraes finais .............................................................................................................. 48 Referncias ............................................................................................................................. 49 ARTIGO 3 - A INSTITUIO DE LONGA PERMANNCIA PARA IDOSOS COMO ESPAO DE CONSTRUO DE UMA NOVA FAMLIA ............................................. 52 Resumo ................................................................................................................................... 53 Abstract .................................................................................................................................. 54 Resumen .................................................................................................................................. 54 Introduo .............................................................................................................................. 55 Mtodo .................................................................................................................................... 56 Resultados ............................................................................................................................... 58 Discusso ................................................................................................................................ 64 Consideraes finais .............................................................................................................. 69 Referncias ............................................................................................................................. 70 3 DISCUSSO ........................................................................................................................ 72 4 CONSIDERAES FINAIS .............................................................................................. 75 REFERNCIAS ..................................................................................................................... 77 APNDICES .......................................................................................................................... 80 APNCIDE A Roteiro da entrevista ................................................................................. 81 APNDICE B Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................................ 82 APNDICE C Termo de Confidencialidade ..................................................................... 84 ANEXOS ................................................................................................................................. 85 ANEXO A - Carta de aprovao da Instituio para o desenvolvimento da pesquisa .... 86 ANEXO B - Carta aprovao Comit de tica em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria ............................................................................................................................. 87

  • 1 INTRODUO

    Desde quando ingressei no Curso de Enfermagem, tinha bem claro os motivos desta escolha profissional, que tem como essncia o cuidado humano. Considera-se a enfermagem, capaz de compreender as necessidades do outro e de responder a elas de forma satisfatria. Na vivncia da disciplina de Enfermagem no Cuidado Sade do Idoso, durante a graduao em Enfermagem, me sensibilizei pela temtica, a qual me despertou para questes relacionadas com o cuidado ao idoso. Esta disciplina proporcionou-me uma compreenso maior sobre o processo de envelhecimento.

    A partir disso, senti-me motivada a ampliar meus conhecimentos acerca do tema sade do idoso, sendo que este interesse se fortaleceu ainda mais com a realizao de meu trabalho de concluso do curso, quando tive oportunidade de desenvolv-lo em um Centro de Convivncia para Idosos. Por meio deste estudo, buscou-se desenvolver um processo de cuidar envolvendo a participao e deciso ativa do idoso com diabetes, com propsito de empoder-lo para promover o entendimento de sua doena e, consequentemente, estimul-lo para a preveno secundria do diabetes mellitus (SANTOS, 2010).

    Ao ingressar no Mestrado em Enfermagem na Universidade Federal de Santa Maria, meu interesse pela temtica do idoso permaneceu. Para me aproximar da temtica realizei visitas a Instituies de Longa Permanncia para Idosos (ILPIs), as quais foram importantes para determinar o tema dessa dissertao.

    Durante as visitas fui percebendo a ausncia das famlias, alm de verificar outras questes que se mostravam relevantes, como por exemplo, muitos idosos com problemas cognitivos, transtornos mentais e dependentes de cuidados. Nesse sentido, o que mais me sensibilizou, foi que os idosos no recebiam o acompanhamento de seus familiares e apresentavam carncias afetivas, expressadas ao solicitar um abrao, uma conversa informal ou at mesmo um sorriso. Tambm percebi que o relacionamento entre os idosos institucionalizados, o carinho e o respeito que constroem uns com os outros e com os trabalhadores da instituio leva alguns a considerar estes como sendo a sua prpria famlia.

    Refletir acerca do processo de envelhecimento e suas consequencias torna-se importante, pois nas ltimas dcadas vem sendo possvel observar um considervel aumento da populao idosa mundial. O reflexo destas transformaes se faz sentir na estrutura etria, cujo cume da pirmide se amplia e a base se estreita, indicando proporcionalmente mais idosos e menos crianas e jovens. Esse movimento se denomina envelhecimento populacional

  • 12

    pela base, ocasionado pela reduo da fecundidade, e pelo topo, ocasionado pela reduo da mortalidade nas idades avanadas (CAMARANO et al., 2004).

    A medida que o ser humano envelhece muitas tarefas do cotidiano, consideradas de fcil execuo, podero tornar-se mais difceis de serem realizadas, at que o indivduo perceba, em alguns casos, que j depende de outra pessoa, muitas vezes da famlia. Ao refletir sobre envelhecimento e o contexto familiar, ficamos imersos em reflexes que nos remetem a paradoxos e contradies, seja pela diversidade de conceitos e definies que cercam o tema, quer seja pela nfase no aspecto humano, fsico, psicolgico, existencial ou social (AGUIAR, 2007).

    Assim, o envelhecimento, e consequentemente o crescimento da populao idosa, traz novas demandas para as famlias. Com os patriarcas e matriarcas envelhecendo, e, alm disso, vivendo mais do que em geraes anteriores, as famlias precisam se adaptar para conviver com o idoso. O perfil das famlias brasileiras tem mudado, a famlia nuclear est em declnio, atualmente elas possuem formaes heterogneas (QUEIROZ, 2010). Verifica-se uma nova configurao familiar, em que a mulher est inserida no mercado de trabalho, no permanecendo mais to disponvel para a prestao de cuidados aos idosos de sua famlia. A falta de um familiar cuidador, somada s dificuldades de ordem financeira da maioria das famlias brasileiras, tem gerado obstculos para a manuteno do idoso em seu lar (HERDIA et al., 2004; CAMARANO, 2007). Nesse sentindo, essas mudanas reduzem a perspectiva de uma pessoa idosa residir em um ambiente familiar, fazendo com que, em algumas situaes, ela more sozinha ou em ILPIs.

    A correlao multicausal entre a estrutura etria da populao e a demanda por ILPI determinada pelo seu perfil social e de sade. Os principais fatores considerados predisponentes institucionalizao dos idosos so: doenas crnico-degenerativas e suas sequelas, hospitalizao recente e dependncia para realizar as atividades da vida diria (CHAIMOWICKZ; GRECO, 1999).

    Na sociedade brasileira, tanto do ponto de vista da organizao social, como do legal, recai sobre a famlia a responsabilidade pelo cuidado para com as pessoas idosas, sem ser dado a ela preparo e apoio para tal funo. Se os familiares tivessem um maior conhecimento sobre as principais alteraes que ocorre no processo de envelhecimento, seria mais fcil compreender as necessidades apresentadas pelos idosos (SOUZA; SKUBS; BRTAS, 2007).

    Sabe-se que difcil cuidar de um idoso com incapacidades funcionais (fsicas e cognitivas), e quando esse um membro da famlia, torna-se mais complicado, pois envolve sentimentos entre os idosos e seus familiares. Mas nas condies necessrias de cuidado, o

  • 13

    afeto, a ajuda mtua e a compreenso so aspectos essenciais que devem existir no relacionamento idoso/famlia (SOUZA; SKUBS; BRTAS, 2007; LEITE et al., 2008).

    Por outro lado, nem todos os idosos podem dispor do cuidado de um familiar, pois existem alguns que no tm familiares com laos de parentesco em primeiro ou segundo grau. Assim, o fato de morar s, para o idoso, tem sido associado a um decrscimo na qualidade de vida, agravamento de morbidades e, at mesmo, indicador de risco de mortalidade (CALDAS, 2003). Acontece que em alguns casos o idoso possui familiares, mas identifica-se que a convivncia pode apresentar turbulncias, podendo levar a desentendimentos e desgastes no relacionamento familiar. Isso pode acontecer por diversos motivos, seja por divergncia de ideias entre os familiares com o idoso ou devido dependncia do idoso em relao a seus familiares (MARTINS et al., 2007).

    Nesse sentido, quando a famlia no possui condies para prestar cuidados ao idoso, opta pela institucionalizao. Essa deciso, muitas vezes, objetiva proporcionar condies mais qualificadas do que a famlia pode oferecer no momento. A busca pelo asilamento ocorre tambm, pela manifestao de que nas situaes de dependncia relativa, o asilamento proporcionaria a garantia de que o cuidado se dar de forma efetiva e que possveis alteraes sejam precocemente identificadas e solucionadas (PERLINI; LEITE; FURINI, 2007).

    Nesse contexto, a institucionalizao do idoso polmica e complexa, por envolver questes polticas, sociais, econmicas, psicoemocionais, de sade, de cunho preconceituoso e moral. Atualmente prev-se um considervel aumento na demanda por ILPIs, porm, a institucionalizao dos idosos, pode levar a diminuio na autonomia, perda de identidade, bem como fragilizao de vnculos com familiares e amigos (TOMASINI; ALVES, 2007).

    No Brasil, as instituies destinadas a abrigarem pessoas idosas, necessitadas de lugar para morar, alimento e cuidado por perodo integral, so conhecidas por asilos ou albergues. Define-se asilo (do grego sylos, pelo latim asylu) como casa de assistncia social onde so recolhidas, para sustento ou tambm para educao, pessoas pobres e desamparadas, como mendigos, crianas abandonadas, rfos e velhos. Devido ao carter genrico dessa definio outros termos surgiram para denominar locais de assistncia a idosos. Procurando-se padronizar a nomenclatura, tem sido proposta a denominao de Instituies de Longa Permanncia para Idosos (ILPIs), definindo-as como estabelecimentos para atendimento integral a idosos, dependentes ou no, sem condies familiares ou domiciliares para a sua permanncia na comunidade de origem (BRASIL, 2005). Essa instituio necessita ser semelhante a uma residncia, seja nos seus aspectos fsicos ou na sua programao,

  • 14

    apresentando detalhes que lembrem uma casa, um lar, um contexto familiar (BORN; BOECHAT, 2006).

    O Brasil organiza-se para responder s crescentes demandas de sua populao que envelhece. Nesse sentido, a Poltica Nacional do Idoso (PNI) assegura direitos sociais pessoa idosa, constitui a priorizao do cuidado ao idoso pela famlia, em detrimento do atendimento institucional, exceto quando os idosos no apresentam condies de cuidado que garantam sua prpria sobrevivncia (BRASIL, 1994).

    Com o surgimento do Estatuto do Idoso, Lei n 10.741, aprovado em 2003, ampliou-se a resposta do Estado e da sociedade s necessidades dessa populao. Em relao ILPI, o Estatuto faz referncia habitao, afirmando que a assistncia integral na modalidade de entidade de longa permanncia prestada quando se identifica a inexistncia de grupo familiar ou carncia de recursos financeiros prprios ou da famlia (BRASIL, 2003).

    Embora as Polticas Pblicas de ateno a pessoa idosa preconizem que o melhor lugar para idosos o seio de sua famlia, estas no disponibilizam suporte para os familiares, no sentido de viabilizar a manuteno da pessoa idosa na famlia (PERLINI; LEITE; FURINI, 2007). Dessa forma, algumas famlias escolhem a ILPI, por considerarem que o idoso ser melhor cuidado nesse local. Outras fazem da institucionalizao uma transferncia de cuidados, procurando isentar-se das responsabilidades (SILVA, 2008). E por vezes, a opo por residir em uma instituio de longa permanncia parte do prprio idoso, ou seja, do desejo da pessoa em procurar um local no qual encontre ateno, conforto e, especialmente, atendimento s suas necessidades bsicas (PERLINI; LEITE; FURINI, 2007).

    Muitos idosos que vivem em instituies asilares apresentam problemas de sade, necessitando de cuidados especiais, s vezes permanentes, por terem perdido sua autonomia e/ou independncia ou por serem portadores de doenas crnicas. Ainda h os que l se encontram por no possurem famlia ou terem sido abandonados por elas, por no terem quem os cuide ou um local onde morar e, tambm, por falta de condies econmicas. O abandono um motivo expressivo e principal do asilamento (CASARA, 2009). O abandono pode provocar um estado emocional de desamparo, solido, excluso. Esse estado emocional advm pelo fato de a pessoa estar afastada fisicamente da famlia ou das pessoas de convvio prximo, privando-a de suas relaes de afeto, o que o leva a experincias de solido pelo isolamento social e emocional (CASARA, 2009).

    No o abandono e a negligncia dos filhos que o asilo poder substituir, mas se os trabalhadores das instituies asilares tiverem abertura para dialogar com os familiares, em um ambiente no punitivo, possvel esperar, em mdio prazo, alguma melhora no

  • 15

    relacionamento dos idosos com seus familiares, em benefcio de ambos os lados (TRENNEPOHL; LEITE, 2004). Cabe destacar, que o afastamento da famlia nem sempre se contitui num comportamento imediato a institucionalizao do idoso. Muitas vezes, decorrente de um processo de distanciamento que ocorre gradativamente ao longo do tempo, at tornar-se definitivo. Nessa perspectiva, muitos questionamentos podem ser feitos em relao a essa situao, entre os quais, o modo como a interao estabelecida entre a ILPI e a famlia dos idosos pode contribuir para a aproximao ou o afastamento das mesmas.

    Por meio de uma pesquisa realizada em bases de dados acerca da temtica de instituies de longa permanncia para idosos revelou que grande parcela dos estudos restringe-se aos aspectos biolgicos do envelhecimento, apontando para situaes como o isolamento e abandono, alm da perda da identidade e autonomia dos idosos institucionalizados. No encontrou-se estudos com trabalhadores de ILPIs sobre como percebem a famlia dos idosos em uma instituio de longa permanncia. Esse levantamento bibliogrfico foi realizado junto Biblioteca Virtual de Sade (BVS), por meio das bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade (LILACS) e Medical Line (MEDLINE). Na busca do material, utilizaram-se como descritores instituio de longa permanncia para idosos and famlia.

    Entende-se que a incluso da famlia fundamental para a qualidade do cuidado na ILPI. Cuidar uma ao, direcionada s necessidades do outro. Para cuidar, necessrio estar aberto, receptivo, sendo capaz de sensibilizar-se com os problemas e situaes do outro, sejam elas passveis de resoluo ou no. Mas que, certamente, sempre podero ser escutadas. De alguma forma, todas as pessoas so capazes de cuidar, independente de formao, de conhecimento ou de habilidades (TORRALBA, 2009), o que confere a famlia um lugar importante e ativo na ateno prestada ao idoso institucionalizado.

    Considerando as peculiaridades e demandas dos idosos, o cuidado na instituio asilar deve assegurar a participao do idoso, buscar estratgias voltadas para a melhoria dos cuidados de enfermagem oferecidos nas instituies, respeitando a histria de vida, os valores e os hbitos culturais das pessoas envolvidas e, portanto, melhorar a prpria qualidade de vida dos seus clientes (REIS; CEOLIM, 2007).

    Frente ao exposto, justifica-se o propsito desta pesquisa uma vez que crescente o aumento da populao idosa no Brasil e a necessidade de investir em trabalhos cientficos nessa rea. Ao mesmo tempo, salienta-se a relevncia do estudo em virtude do aumento e da busca pelas ILPIs, em que a famlia pouco inserida nas atividades da instituio, e por compreender ser ela importante para a qualificao do cuidado ao idoso institucionalizado.

  • 16

    Destaca-se a relevncia deste estudo para a Enfermagem, pois muitas vezes o enfermeiro tem oportunidade de construir e consolidar vnculos com o idoso, a famlia e a instituio. Assim, a famlia, junto com o idoso, deveria ser o foco da instituio. O papel da famlia precisa ser definido a partir da concepo de que ela integra a equipe interdisciplinar e, por isso, pode ser envolvida no planejamento e execuo do cuidado (CREUTZBERG et al., 2007). Dessa forma, vrias abordagens, tanto nas polticas pblicas sociais, como de sade tm sido priorizadas e incentivadas, visando fortalecer os vnculos familiares, como forma de buscar o desenvolvimento humano e proporcionar proteo integral de seus membros, desde crianas e adolescentes at aos mais idosos (GIRARDON-PERLINI, 2009).

    Conhecer a forma como trabalhadores percebem a famlia nas ILPIs importante, pois se pode ampliar a viso sobre o modo como a famlia participa na instituio, para alm da presena fsica, uma vez que pode contribuir para aes de cuidado. Tendo em vista a problemtica apresentada, constituiu-se como objeto deste estudo: as perspectivas de trabalhadores de uma Instituio de Longa Permanncia para Idosos (ILPI) acerca da famlia de idosos institucionalizados.

    Frente a essas colocaes, as questes norteadoras do estudo foram: Como trabalhadores de uma ILPI percebem a famlia dos idosos institucionalizados? Como trabalhadores de uma ILPI percebem a participao e o papel da famlia na vida dos idosos institucionalizados? Como trabalhadores de uma ILPI percebem o papel da instituio na relao com idosos institucionalizados?

    Nesta perspectiva, o presente estudo teve como objetivo geral: - Analisar as perspectivas dos trabalhadores de uma Instituio de Longa Permanncia

    para Idosos (ILPI) sobre a famlia de idosos institucionalizados. E como objetivos especficos: - Conhecer a percepo dos trabalhadores de uma ILPI sobre a famlia de idosos

    institucionalizados; - Compreender como trabalhadores de uma ILPI percebem a participao e o papel da

    famlia no contexto de vida do idoso institucionalizado; - Descrever como trabalhadores de uma ILPI percebem o papel da instituio na

    relao com idosos institucionalizados.

  • 2 RESULTADOS

    Para a apresentao dos resultados da Dissertao de Mestrado, optou-se pelo formato de artigos cientficos, o que permitido institucionalmente, conforme o Manual de Estrutura de Apresentao de Monografias, Dissertaes e Teses (MDT) (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, 2012). Ao adotar essa opo destaca-se que o Relatrio de Avaliao de rea Trienal 2010 da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), coloca que:

    [...] a produo bibliogrfica dos Programas de Ps-Graduao no Brasil vem sendo tratada, na avaliao, como um dos principais indicadores de qualidade e produtividade dos grupos que atuam no sistema. Essa concepo acompanha os objetivos da ps-graduao, formulada com uma nfase na formao de pesquisadores e produo de conhecimento (CAPES, 2010, p.4).

    Assim, considerando as normas institucionais e o expresso na referida Avaliao, entende-se que ao apresentar a presente Dissertao na forma de artigos, potencializa a possibilidade de publicar os resultados do estudo em menor espao de tempo, o que, em certa medida, pode representar uma estratgia para atender aos objetivos da Ps-Graduao em mbito nacional, citados anteriormente, e fortalecer a produo cientfica do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem (PPGENF) da UFSM.

    Considerando tais aspectos, sero apresentados trs artigos cientficos que foram elaborados a partir dos resultados da pesquisa de campo realizada como requisito para concluso do Curso de Mestrado em Enfermagem.

    O primeiro artigo, intitulado Conviver preciso: a famlia como referncia de idosos institucionalizados, apresenta o modo como os trabalhadores de uma ILPI percebem a famlia dos idosos institucionalizados. Este foi elaborado de acordo com as normas editoriais para publicao da Revista Texto e Contexto Enfermagem.

    O segundo artigo, intitulado Participao e papel da famlia no contexto de vida do idoso institucionalizado: perspectiva de trabalhadores, foi elaborado de acordo com as normas editoriais para publicao da Revista Brasileira de Enfermagem. Nele aborda-se as diferentes formas de participao da famlia na ILPI e o seu papel nesse cenrio de cuidado a idosos.

    O terceiro artigo intitulado A instituio de longa permanncia para idosos como espao de construo de uma nova famlia, apresenta como trabalhadores de uma ILPI

  • 18

    percebem o papel da instituio na relao com idosos institucionalizados. Foi elaborado observando-se as normas da Revista Gacha de Enfermagem.

    Para explicitar sobre o modo como os artigos foram estruturados, apresenta-se um quadro sinptico da organizao dos artigos de acordo com o ttulo, objetivo do estudo e resultados encontrados.

    Quadro 1: Organizao dos resultados da pesquisa em artigos.

    ARTIGO TTULO OBJETIVO RESULTADOS

    1

    Conviver preciso: a famlia como

    referncia de idosos institucionalizados

    - Conhecer a percepo dos trabalhadores de uma ILPI sobre a famlia de idosos institucionalizados.

    - A famlia vem pouco na ILPI;

    - Ocasies em que a famlia vem;

    - Abandono familiar;

    - A famlia consangunea referncia.

    2

    Participao e papel da famlia no contexto de

    vida do idoso institucionalizado:

    perspectiva de trabalhadores

    - Compreender como trabalhadores de uma ILPI percebem a participao e o papel da famlia no contexto de vida do idoso institucionalizado.

    - As diferentes formas de participao da famlia;

    - O papel da famlia dos idosos institucionalizados na ILPI.

    3 A instituio de

    longa permanncia para idosos como

    espao de construo de uma nova famlia

    - Descrever como trabalhadores de uma ILPI percebem o papel da instituio na relao com idosos institucionalizados.

    - A ILPI como possibilidade de constituir uma nova famlia;

    - A sobrecarga de ser famlia.

  • ARTIGO 1 CONVIVER PRECISO: A FAMLIA COMO REFERNCIA DE IDOSOS

    INSTITUCIONALIZADOS

  • 20

    CONVIVER PRECISO: A FAMLIA COMO REFERNCIA DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS1

    COEXIST IS NECESSARY: THE FAMILY AS REFERENCE OF INSTITUTIONALIZED ELDERLY

    CONVIVIR ES PRECISO: LA FAMILIA COMO REFERENCIA PARA ANCIANOS INSTITUCIONALIZADOS

    RESUMO: Este estudo objetivou conhecer a percepo dos trabalhadores de uma Instituio de Longa Permanncia para Idosos (ILPI) sobre a famlia dos idosos institucionalizados. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com 16 trabalhadores de uma equipe multidisciplinar, em que se utilizou a entrevista semiestruturada. A coleta dos dados ocorreu de fevereiro a junho de 2012. A anlise temtica foi a tcnica utilizada para tratamento dos dados. Os trabalhadores percebem que os familiares vo pouco na ILPI, e as datas comemorativas so as principais ocasies em que os mesmos comparecem. Compreendem que h abandono da famlia consangnea e que ningum supre seu papel, pois ela referncia para os idosos. Os trabalhadores ao visualizarem a famlia enquanto sistema de cuidado para os idosos, consideram que a convivncia pode ser uma forma de desenvolver e manter o vnculo familiar que os une.

    DESCRITORES: Instituio de longa permanncia para idosos. Trabalhadores. Famlia. Enfermagem.

    ABSTRACT: This study has aimed to know the perception of workers in an Institution of Long Term Elderly Care about the seniors families. It is a qualitative research, including 16 workers of a multidisciplinary team, using semistructured interviews. The data collection occurred from February to June, 2012. The thematic analysis was the technique used to process the data. The workers realize that the Family does not appear much in the nursing home, and the celebration dates are the main occasions to the family take part in. They understand that the consanguineal family has abandoned the elderly and nobody fills its role, because it is a reference to the seniors. The workers see the family as s caring system for the

    1 Artigo formatado segundo as normas da Revista Texto & Contexto Enfermagem.

  • 21

    elderly, considering that the coexistence may be a way to develop and maintain the family ties.

    DESCRIPTORS: Homes for the Aged.Workers. Family. Nursing.

    RESUMEN: Este estudio investig las percepciones de los empleados de una Instituciones de Estancia Prolongada para Ancianos (IEPA) en la familia de los ancianos institucionalizados. Se trata de una investigacin cualitativa con 16 trabajadores de un equipo multidisciplinario, que utiliz una entrevista semiestructurada. Los datos fueron recolectados de febrero a junio de 2012. Un anlisis temtico fue la tcnica utilizada para el procesamiento de datos. Los trabajadores se dan cuenta de que la familia vai poco en IEPA y ver las fechas especiales y conmemorativas como las principales ocasiones en que la familia participe. Ellos entienden que hay abandono de la familia, sin embargo, se dan cuenta de que nadie cumple el papel de la endogamia familiar, ya que es una referencia a las personas mayores. Trabajadores de visualizar a la familia como un sistema de atencin a las personas mayores, tenga en cuenta que la vida puede ser una forma de desarrollar y mantener el vnculo familiar que los une. DESCRIPTORES: Hogares para Ancianos. Trabajadores. Familia. Enfermera.

    INTRODUO

    Mudanas expressivas vm sendo constatadas na vida das pessoas, como a expanso da expectativa de vida, observando-se um considervel aumento da populao idosa mundial.1 Frente s condies scio demogrficas contemporneas, alterao na estrutura etria e a maior participao das mulheres no mercado de trabalho, torna-se cada vez mais difcil a continuidade dos cuidados aos idosos por suas famlias. A reduo do nmero de descendentes e de mulheres como tradicionais cuidadoras tem influenciado no cuidado domiciliar do idoso.2-3

    Nesse sentindo, a ausncia na disponibilidade de recursos familiares para o cuidado dos idosos, em diversas situaes, leva o idoso a morar sozinho ou em uma instituio de longa permanncia para idosos (ILPI). O envelhecimento da populao e o aumento da sobrevivncia de pessoas, com reduo da capacidade fsica e cognitiva esto exigindo que as ILPIs ofeream, alm de apoio social, servios de assistncia sade. Frente a essa realidade, a procura por ILPIs est transformando os velhos asilos, que no passado eram destino apenas dos mais desfavorecidos e abandonados, em uma opo para idosos tambm com melhores condies econmicas.4

  • 22

    Um sinal dessas transformaes a legislao vigente Resoluo da Diretoria Colegiada da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria n 283, de 26 de setembro de 2005, que estabelece os critrios mnimos para o funcionamento de instituies para idosos, que receberam a denominao de Instituio de Longa Permanncia para Idosos (ILPI).5

    Residir em uma ILPI passou a ser alternativa de quem ficou sem condies de prosseguir a vida autonomamente, mas culturalmente a instituio rejeitada pelo simbolismo que carrega. Os estudos a respeito da temtica das ILPIs, ainda apontam para situaes como abandono e isolamento, alm da perda da autonomia e identidade dos residentes.6- 7 Porm, a institucionalizao ocorre como uma possibilidade de acesso a cuidados de sade, apoio social e segurana, assegurando qualidade de vida aos idosos.8- 9

    Muitos idosos que vivem em ILPI apresentam problemas de sade, necessitando de cuidados especiais, pela perda de sua autonomia, independncia e por serem portadores de doenas crnicas. Ainda h os que l se encontram por no possurem famlia, ou terem sido abandonados por elas, e por falta de condies econmicas. O abandono um motivo expressivo e principal do asilamento.2

    Embora as ILPIs atendam os idosos quanto s necessidades de moradia, higiene, alimentao e acompanhamento mdico, h o inconveniente que o idoso afasta-se de seu convvio familiar, favorecendo o isolamento e a inatividade fsica e mental, com consequncias negativas sua qualidade de vida.2 Assim, a equipe multidisciplinar, dentro da ILPI, precisa proporcionar aos idosos residentes um cuidado ampliado. Em virtude disso, importante que todos trabalhadores que compem a esfera multidisciplinar dentro da ILPI, possam incluir e visualizar a famlia como ferramenta importante na qualificao do cuidado ao idoso institucionalizado.

    O enfermeiro precisa estar inserido na realidade do cotidiano da ILPI, desempenhando funo administrativa, cuidativa, educativa, de ensino e de pesquisa, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida do idoso institucionalizado.10 Entende-se que a famlia e o idoso, devem ser o foco de ateno da equipe multidisciplinar de trabalhadores de uma ILPI. Nesse cenrio, a famlia poderia ser envolvida no planejamento e execuo dos cuidados ao idoso institucionalizado.11

    Diante do exposto, apresenta-se este estudo, que teve como objetivo conhecer a percepo dos trabalhadores de uma ILPI sobre a famlia de idosas institucionalizadas.

  • 23

    MTODO

    A pesquisa do tipo exploratrio-descritiva, com abordagem qualitativa. Esse mtodo foi escolhido por permitir um aprofundamento do objeto pesquisado com maior flexibilidade na conduo da pesquisa, a fim de obter familiaridade com o problema, por meio da fala dos entrevistados.12

    A pesquisa de campo foi realizada em uma Instituio de Longa Permanncia para Idosos (ILPI), com capacidade para atender 210 idosas, localizada na regio central do Estado do Rio Grande do Sul. A escolha do cenrio justifica-se por ser uma ILPI pblica e filantrpica, contando com uma equipe multidisciplinar de 77 trabalhadores. Cabe esclarecer que as questes relacionadas a gnero no so consideradas no estudo. Contudo, para manter coerncia com as pessoas residentes na ILPI e com a fala dos participantes do estudo, utilizou-se o substantivo feminino idosa.

    A incluso dos participantes da pesquisa obedeceu os seguintes critrios: ser trabalhador da ILPI com vnculo empregatcio h pelo menos trs meses; possuir carga horria mnima de 20 horas semanais e que de alguma forma teve ou tem contato com os familiares das idosas institucionalizadas. O tipo da amostra foi intencional, contemplando um representante de cada categoria profissional, constituda por 16 trabalhadores que atuavam na ILPI.

    Os sujeitos da pesquisa so: enfermeiro, fisioterapeuta, educador fsico, assistente social, nutricionista, farmacutico, psiclogo, pedagoga, tcnica de enfermagem, secretria executiva, chefe de cozinha, auxiliar de limpeza, auxiliar de lavanderia, porteiro, encarregado da manuteno e motorista.

    O perodo de coleta de dados ocorreu entre os meses de fevereiro a junho de 2012. O nmero de entrevistas obedeceu ao critrio de saturao das informaes.13 Assim, as entrevistas foram finalizadas quando a anlise dos depoimentos respondeu as indagaes e o objetivo foi alcanado.

    Os sujeitos foram convidados a participar da pesquisa, sendo orientados sobre os objetivos, o carter voluntrio da participao e a garantia do anonimato. A pesquisa foi pautada nas orientaes das normas legais que respaldam as pesquisas que envolvem seres humanos,14 como o estabelecido na Resoluo n 196/96, e o projeto foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa, sob nmero do Certificado de Apresentao para Apreciao tica 0345.0.243.000-11 e nmero do Processo 23081.016935/2011-11, em dezembro de

  • 24

    2011. Foi obtida a aprovao pela direo da ILPI para a realizao da pesquisa, e todos os sujeitos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    A tcnica de coleta de dados foi a entrevista semiestruturada, contendo a caracterizao sociodemogrfica dos trabalhadores e a seguinte questo norteadora: Como o Sr (a) percebe a famlia do idoso aqui nessa instituio? A partir das respostas dos participantes novas perguntas eram feitas com a finalidade de aprofundar e elucidar o exposto, permitindo flexibilidade na conversa e a absoro de novos temas e questes trazidas pelos sujeitos da pesquisa. As entrevistas foram gravadas em udio e transcritas na ntegra, sendo identificadas pela letra T de trabalhador e numeradas conforme a sequncia de sua realizao.

    A anlise dos dados seguiu os passos da anlise temtica,12 cuja operacionalizao segue as etapas de pr-anlise, que consistiu na seleo dos documentos a serem analisados; na explorao do material, objetivando a compreenso do texto; e no tratamento dos resultados obtidos e interpretao, a partir da identificao dos ncleos de sentido cuja presena ou frequncia contriburam para o objetivo analtico visado.

    A leitura do material permitiu classificao e agregao dos dados, considerando-se o eixo temtico: o trabalhador da ILPI percebendo a famlia dos idosos institucionalizados. Neste eixo temtico agrupou-se os fragmentos que possuam semelhana semntica nos diferentes depoimentos em quatro categorias: a famlia vem pouco na ILPI, ocasies em que a famlia vem na ILPI, abandono familiar e a famlia consangunea referncia.

    RESULTADOS

    Os participantes do estudo tinham idade entre 27 e 62 anos, nove eram do sexo feminino e sete do sexo masculino, nove solteiros, cinco casados e dois separados. Quanto escolaridade, quatro tinham ensino fundamental incompleto, um ensino fundamental completo, dois ensino mdio completo, um ensino superior incompleto e oito ensino superior completo. Em relao religio, 14 eram catlicos e dois espritas. A renda mensal variou entre um salrio mnimo (seis participantes) e dois salrios mnimos (dez participantes). Quanto ao tempo de atuao na ILPI, oito participantes trabalhavam entre um a dois anos, cinco trabalhavam de quatro a nove anos, dois de 13 a 14 anos e um h 32 anos.

  • 25

    O trabalhador da ILPI percebendo a famlia dos idosos institucionalizados

    Para os trabalhadores a famlia vem pouco na ILPI, tanto que no sabem quem a famlia da maioria das idosas. Eles vivenciam frequentemente, a situao: [...] a maioria faz anos que no vem e, a gente, s vezes, nem sabe quem a famlia deles (T1). Pois , em relao famlia, empiricamente, sem um dado muito cientfico, eu acho que em torno de sei l, mais de 70% a famlia no vem (T4). uma pequena minoria da famlia que vem aqui, a maioria das assistidas elas no tm familiares presentes aqui, isso muito ruim, nos deixa triste [...] (T11). Poucas so as famlias que vem, aquilo que a gente tem como representaes, eu vejo pouco aqui dentro acompanhando e estando junto com as idosas [...] (T14).

    Para os participantes do estudo, a justificativa para a ausncia ou afastamento da maioria das famlias no convvio com as idosas na instituio relaciona-se a falta de tempo, a rotina do trabalho e o desinteresse da famlia. Porm, afirmam que muitas das idosas institucionalizadas esperam pela famlia para suprir as demandas relacionadas afetividade e a falta que faz a presena de um familiar na ILPI. A famlia totalmente distante. Conta nos dedos os que so presentes. Tanto que nas datas te d um aperto, sabe? Porque elas [idosas] esperam, esperam uma coisa que no vm, sabe? (T7). A maioria assim, a famlia no presente, s vezes colocam as idosas aqui e dizem: Porque eu no tenho tempo para cuidar, eu trabalho o dia todo, eu tenho meus filhos, chego em casa tarde [...] Tem umas [famlias] que no tem aquele contato, tem outras famlias que deixaram aqui e no tm mais tempo (T8). [...] as idosas que ainda tm relao com a famlia, no sei, se talvez por uma imposio do modo de vida atual, mas assim, o familiar no tem o tempo que o idoso deveria ter de convvio, o familiar simplesmente tem a sua rotina, sua vida e ele no consegue se fazer presente. Ento, eu percebo que a carncia impera nesse aspecto, o familiar no consegue se fazer presente quando a assistida mais necessita (T10).

    Na percepo dos trabalhadores algumas ocasies em que a famlia vem na ILPI, so principalmente as datas comemorativas: natal, ano novo, pscoa, aniversrio e na festa da instituio. Os trabalhadores tambm percebem que durante os finais de semana tem famlias que vem na ILPI e, esporadicamente, algumas idosas vo passear na casa de familiares. As visitas das famlias na ILPI, ocorre de acordo com a disponibilidade de tempo e do local onde moram: A famlia vem geralmente na visita, em datas comemorativas: no natal, na pscoa, ou seno vem, levam elas, ficam um tempinho depois trazem de novo, mas geralmente nessas datas [...] (T1). Elas [idosas] ficam esperando o natal para o filho vir, porque tem filhos que

  • 26

    s vem no natal, pois moram longe. Porque eu no sei se assim, oh! No natal aquela coisa famlia, no sei se os familiares se tocam mais, ou se quando podem vir aqui [...] (T2). [...] nessas datas mais especiais: natal, aniversrio, na festa do lar tambm vem os familiares, mais nessas datas comemorativas assim (T9). bem relativo assim, porque tem umas famlias que vem mais no final de semana, ou buscam elas [idosas] no domingo para almoar, tem famlias que buscam na sexta e trazem no domingo (T3).

    A presena da famlia foi relatada tambm, em ocasies em que a idosa se encontra com a sade debilitada, est doente ou quando vai a bito. Na observao da fala dos entrevistados foi possvel perceber que essas situaes os levam a culpabilizar a famlia, pois alguns relatam que os familiares s lembram-se de se fazer presente nessas situaes: [...] quando o idoso est quase morrendo e precisa ir para o hospital, a a gente chama a familia para cuidar, e no momento do velrio que aparece toda famlia chorando desesperadamente pelo idoso, mas no teve a capacidade de visitar quando estava vivo (T4). A famlia se faz presente em situaes onde a assistida apresenta uma piora na sade, a eles realmente se preocupam, buscam informaes, vo no hospital quando ela est internada (T10). Infelizmente quando notada essa maior presena do familiar no bito, quando a v morreu, da vm os familiares (T11). Assim, eu j vi familiares, at estranho falar, mas eles vem mesmo quando a idosa acaba falecendo, quando ela estava aqui [ILPI] viva ningum vinha (T14). A relao entre os trabalhadores e as idosas que ocorre diariamente no ambiente da ILPI, fazem com estes identifiquem situaes que trazem desconforto para as idosas institucionalizadas. O abandono uma queixa muito frequente entre as idosas, pois a famlia a deixou na instituio e passa anos sem visit-la. Nesse sentido, os trabalhadores se reportam ao abandono familiar: Tem famlias que nunca mais apareceram, que simplesmente largaram aqui a idosa e nunca mais apareceram, abandono total (T2). [...] a gente presencia que as idosas que moram aqui, no tm esse vnculo familiar, porque simplesmente a famlia, se sentiu no direito de se desligar desse membro (T5). Ao meu ver, a famlia no comprometida com o idoso. Muitos familiares acabaram abandonando o idoso aqui, ento abandono familiar mesmo (T9). As idosas, elas trazem como queixa para ns desses parentes que abandonaram, porque elas utilizam essa palavra, que elas foram abandonadas, que eles no voltam [...] (T14).

    O adoecimento do idoso associado muitas vezes, ao surgimento de dependncia gera a necessidade de cuidados especiais, e em situaes como essa, ele passa a ser um problema para algumas famlias. Nessas circunstncias, existem famlias que preferem se afastar do

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    cuidado ao idoso e o colocam em uma ILPI. Os trabalhadores percebem que a famlia pensa no asilamento como um depsito, pois esta deixou o idoso na instituio, no apareceu mais e a responsabilidade com este ficou somente da ILPI: Muitas famlias chegam aqui [ILPI] e dizem: Eu no vou ficar cuidando de velho a vida toda [...] (T2). O idoso dependente de cuidados, ele acaba se tornando, um estorvo para a famlia, algum que vai necessitar de vrios cuidados. Ento ele [familiar] acha a instituio de longa permanncia como realmente um depsito, como algo que eu largo l e que ento, acaba jogando para o colo da instituio o papel que seria deles [...] (T4). Aqui um depsito, aqui o familiar, quando, muitas vezes, no tem condies, no tem condies porque assim: oh! alimentao, o medicamento, a medicao cara, so as fraldas[...] o que eu te digo as pessoas, no tem mais condies em casa, trazem para o Lar (T7).

    Os trabalhadores identificam o abandono familiar e buscam situaes concretas para tentar explicar essa condio, descrevendo quando se manifesta. Nesse sentido, ser deixado de lado e ser ignorado, so situaes referidas pelos trabalhadores que denota o afastamento da famlia para com os idosos. Os trabalhadores supem que a famlia tem conscincia dessa situao, que pode ter sido provocada pela prvia fragilidade das relaes e dos vnculos, negligncia e perdas afetivas: A maioria dos familiares larga as idosas aqui na instituio e no volta mais para manter o contato, porque para mim, assim diferente, eu encaro diferente a questo de tu deixar o familiar numa instituio de longa permanncia e a questo de abandonar o familiar, para mim so duas coisas diferentes. Tem muitas situaes que tu realmente trabalha, tem teus filhos, tem vrios compromissos e no consegue arcar com os custos de um idoso com vrias dependncias, ento tu necessita colocar numa instituio de longa permanncia, mas diferente de abandonar o familiar (T4). Eu suponho que no seio familiar deva existir um certo sentimento assim de responsabilidade com relao ao abandono, porque a medida que o familiar abandona a gente entende que ele est ciente do que fez [...] por vezes elas [idosas] chegam aqui e nem tm a relao, abandono mesmo, n! (T10).

    Os trabalhadores relataram que as idosas ficam esperando diariamente algum contato da famlia, passam o tempo todo falando e esperando por alguma notcia. Nessas situaes, os trabalhadores percebem que para as idosas institucionalizadas a famlia consangunea referncia: A famlia delas [idosas] mesmo de sangue, eu acho que uma referncia para elas [idosas], pois ficam esperando, tem muito amor, guardam fotografias [...] a famlia delas [idosas] mesmo importante, porque passam o tempo todo falando na famlia, esperando alguma carta ou ligao (T1). [...] aqui na verdade elas no esto abandonadas, elas tm ns

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    [...] mas no a mesma coisa, um abandono familiar, porque famlia famlia (T2). [...] Eu acho que a instituio ela tenta fazer o que possvel, mas ela no consegue dar conta, e acho que jamais ela vai conseguir dar conta do papel da famlia. Eu acho que nada supera, nada supre o papel da famlia, pois ela referncia para os idosos (T4). Os trabalhadores referem que ningum supre o papel da famlia, e nada substitu os laos familiares naturais. Chama a ateno nas falas dos trabalhadores, que, para as idosas, a famlia pode no ser a ideal, mas famlia. Eles percebem que, apesar da famlia em alguns momentos se afastar da ILPI e consequentemente da idosa, os momentos em que ela se faz presente, ajuda a reduzir a sensao de abandono das idosas que aguardam por semanas, meses ou at anos a visita de sua famlia. Ou seja, o idoso pode ter vrios sentimentos negativos em relao famlia, mas a considera importante: Tem uma v que a famlia liga e quando toca o telefone, ela d um pulo no telefone, e depois que desliga diz: Meu rico filho me ligou. Eu acho que elas do mais importncia para a famlia do que a famlia d para elas [idosas], infelizmente essa a impresso que eu tenho (T1). As idosas sentem falta da famlia, por mais que, s vezes, aquelas condies que elas estavam antes de vir para a instituio eram condies sub-humanas. Mas enfim, aquilo l a famlia delas, era o cantinho delas e elas se identificavam com aquilo, por mais que aqui tenha como digo, o paraso, mas elas saram daquele local, e sentem falta, porque so aquelas pessoas que pertenceram ao grupo familiar delas (T8). Uma coisa que as idosas falam, que a famlia pode ser a pior que for, mas a famlia. Ento para elas, seja a famlia capenga do jeito que for, seja a famlia que vem uma vez no ano, mas ela vem e quando ela vem uma vez no ano ela d conta de todo o ano que ela ficou fora ou que ela se afastou (T14).

    Embora os trabalhadores se dediquem para desenvolverem atividades ldicas e de lazer com as idosas, para que elas fiquem mais alegres, denota-se que indiferente do que eles se propem a fazer, as idosas continuam tristes. Essa tristeza, na viso dos trabalhadores est relacionada com a impossibilidade da famlia se fazer mais presente na ILPI.

    Os trabalhadores percebem que a participao da famlia das idosas na ILPI tem efeitos positivos na sade das idosas institucionalizadas, especialmente porque quando a famlia est presente, os aspectos emocionais delas torna-se melhor. Elas ficam mais alegres e colaborativas. Mencionam que, muitas vezes, o que falta na ILPI para atender as necessidades integrais das idosas a presena e a referncia que a famlia representa. A competncia da famlia para prover proteo, afeto e apoio emocional, bem como para continuar mantendo os laos familiares so apontadas pelos trabalhadores: Tu tenta sabe, fazer com que as vs fiquem mais alegres. Tu tenta fazer passeios, tem muitas [idosas] que no gostam de ir, se

  • 29

    deprimem e se fecham. [...] as idosas querem mesmo a famlia. No momento que a famlia est aqui, elas [idosas] esto melhores, sabe? O emocional das idosas est melhor e a conseguimos trabalhar mais com elas [idosas] [...] (T2). [...] Eu sempre disse para os familiares assim: olha, ns prestamos os cuidados da sade da pessoa idosa, mas ningum substitui os laos familiares [...] (T5). [...] A gente no substitui a famlia, no substitui [...]aqui eu percebo isso, a instituio fica uma (co)colaboradora da famlia. A gente presta esse servio, agora, a parte da afetividade, os laos familiares, s depende deles manter tambm (T8). O contato das idosas com a famlia muito importante, o que falta na verdade para elas [idosas]. Porque aqui as idosas esto bem assistidas, tem todos os cuidados possveis, mas essa questo da famlia, que o mais importante para todo mundo, isso falta muito para elas (T9).

    DISCUSSO

    A percepo dos trabalhadores de uma ILPI sobre a famlia das idosas institucionalizadas neste estudo, perpassa pela pouca presena da famlia e a total ausncia dela na instituio. A literatura demonstra essa ambivalncia a respeito da relao entre o idoso institucionalizado e a famlia. Identificou-se em um estudo com idosos institucionalizados no municpio de Natal/RN, que 67% dos idosos afirmam receber visitas de seus familiares, e que o relacionamento com as famlias considerado bom pela maioria dos idosos.15 Outro estudo16 aponta que a maioria dos idosos institucionalizados tem raros contatos com seus familiares, alguns no possuem famlia e outros se queixam de que as visitas so realizadas sem interesse. Os resultados do presente estudo, realizado com trabalhadores, de certo modo, referendam os resultados do estudo realizado com idosos, uma vez que a perspectiva de ambos sobre a presena da famlia na instituio convergente.

    As relaes entre famlia e idosos vm-se deteriorando ao longo do tempo, e no se considera que a famlia, em si, seja a nica responsvel por tal fenmeno, uma vez que o acelerado ritmo da vida atual associado s dificuldades financeiras, tm contribudo de forma significativa, para que os familiares reduzam seus contatos ou deixem de prestar uma assistncia mais adequada aos idosos.17 Um elevado nmero de famlias, aps a institucionalizao do idoso no retorna mais para visit-los, delegando os cuidados do idoso aos profissionais.18 Isso denota que, muitas vezes, a institucionalizao dos idosos implica na diminuio dos papis da famlia, que j eram reduzidos ou quase inexistentes.

  • 30

    Os trabalhadores do presente estudo percebem a institucionalizao do idoso como sendo uma deciso da famlia por considerar que est sobrecarregada, em virtude da impossibilidade de conciliar trabalho, cuidar dos filhos e cuidar dos pais que so idosos. Essas situaes, na perspectiva dos trabalhadores tambm contribuem para que a famlia no visite o idoso na ILPI. Nesse sentido, um estudo realizado com idosos asilados identificou que medida que o tempo de asilamento aumenta, os laos familiares se fragilizam levando gradativamente ao esquecimento dos idosos.19

    Diante da institucionalizao do idoso, os trabalhadores percebem que tem algumas situaes em que a famlia se faz mais presente na instituio, sendo geralmente em datas especiais e comemorativas. Iniciativas dessa natureza parece ser uma estratgia ldica utilizada pela instituio que favorece a presena da famlia, gerando um ambiente festivo e de descontrao que favorece o encontro entre os familiares e a idosa. Nessa perspectiva, cabe destacar que algumas instituies asilares consideram importante comemorar as datas festivas e, para que isso se efetive, possuem programao de atividades e preocupam-se em promover a aproximao entre os idosos e seus familiares.11

    No entanto, as combinaes estabelecidas entre as famlias e a instituio pode ser muito particular e circunscrita singularidade de cada idoso, de cada famlia e de cada instituio. De acordo com uma pesquisa realizada com famlias que institucionalizaram o familiar idoso, o estabelecimento da frequncia das visitas na ILPI pode ser combinada, considerando, inclusive a distncia geogrfica entre a instituio e a residncia de cada integrante da famlia e a disponibilidade de tempo dos mesmos.20 A manuteno dos laos afetivos da famlia com o idoso institucionalizado, mesmo que ocorra esporadicamente, permite a conservao e a continuidade dos vnculos formados, pois parece estar mais relacionado qualidade dos encontros do que a frequncia em si. Nas situaes que a idosa fica doente, os trabalhadores deste estudo, relatam que procuram entrar em contato com a famlia, para que se faa presente na instituio. A ILPI

    procura se comunicar com a famlia do idoso,11 procurando incluir a famlia em alguns momentos, no entanto, no pode obrig-la a faz-lo.

    Diante de situaes em que a famlia no atende as solicitaes da instituio, os trabalhadores desenvolvem sentimentos negativos em relao famlia, principalmente quando percebem que a idosa, lembrada ou que o chamado atendido no momento do seu bito. Vivenciar situaes dessa natureza influencia o modo como os trabalhadores concebem e definem a famlia das idosas institucionalizadas. Assim, partindo de um pressuposto que as famlias pouco se interessam pelas idosas, os trabalhadores podem, de alguma maneira,

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    considerar que esse ser o comportamento predominante nas famlias. Diante dessa ideia introjetada podem agir de modo a emitir juzo sobre as famlias, dificultando o relacionamento com as mesmas e, consequentemente, contribuindo para afast-las. Contudo, no se pode negar que nas ILPIs, um dos desafios que os profissionais enfrentam o abandono das pessoas idosas. Assim, uma constante preocupao dos profissionais da ILPI procurar motivar os familiares a serem mais ativos no cuidado do idoso, estabelecendo vnculo entre a pessoa idosa, famlia e profissional.21

    Os trabalhadores percebem que em situaes em que a idosa demanda maior ateno e cuidados, para algumas famlias ela torna-se um problema e fonte de despesas adicionais. Na viso dos trabalhadores a famlia se omite da responsabilidade que deveria ter com a idosa e a transfere para a instituio. De acordo com estudo que aponta a urgncia de mudanas e inovao nos paradigmas de ateno sade da populao idosa com uma abordagem preventiva, a soma de fatores financeiros, a rotina de trabalho, o idoso em processo de adoecimento ou dependncia, torna a institucionalizao uma alternativa quase que inevitvel para famlias menos favorecidas economicamente, que no tm condies de oferecer um cuidado adequado.22 No entanto, no presente estudo os trabalhadores percebem que a famlia em alguns momentos acha que a ILPI um depsito, onde deixa a idosa l e se isenta de qualquer responsabilidade. Este resultado vai ao encontro do estudo realizado com idosas institucionalizadas em que identificou que para elas a instituio um depsito de velhos, sendo acompanhada pelo sentimento de humilhao, pois vivem, na maioria das vezes, com possibilidades limitadas de vida afetiva, social e sexual.23

    No entendimento dos participantes desta pesquisa, o abandono familiar diferente da famlia no ter condies de assumir o cuidado com o idoso. Abandono familiar provocado por circunstncias relativas fragilidade, ao rompimento ou ausncia das relaes afetivas e sociais da famlia com o idoso institucionalizado, caracterizada por sentimentos de sofrimento das idosas. Estes resultados vo ao encontro de uma pesquisa que buscou conhecer acerca da percepo que idosos tm sobre abandono, quando eles referiram que o abandono familiar ter famlia e no ser protegido por ela, no receber ateno e sentir-se desamparado e no valorizado.24

    Os trabalhadores relatam que para as idosas, a relao com sua famlia de origem muito importante, pois so as pessoas com as quais elas gostariam de manter vnculos significativos. Estudo identificou que depois que o idoso passa a residir na ILPI, o que ele considera mais importante a visita da sua famlia na instituio.11

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    O grau de satisfao com a vida de idosas institucionalizadas determinado pelas expectativas individuais, existncia ou no de recursos, qualidade dos relacionamentos, continuidade das visitas dos familiares e condies de sade.25 A experincia de idosa em residir em uma instituio asilar, demonstrou que dificilmente, ela pune seu filho pela negligncia sofrida, ao contrrio, tenta dar possveis explicaes, justificando a impossibilidade de morar com seus familiares.26 O papel da famlia extremamente importante para o idoso na instituio, j que a sua necessidade de amor, autoestima, compreenso e segurana aumentam com a idade.16

    Os dados apresentados mostraram que os trabalhadores percebem a importncia da famlia na ILPI, proporcionando efeitos benficos sobre a sade e bem-estar das idosas. Um estudo realizado identificou que a famlia poderia ser pea-chave para a qualificao do cuidado na ILPI, especialmente no que tange aos cuidados diretos com o idoso.11 Verifica-se na literatura que os idosos socialmente integrados e satisfeitos com as relaes familiares relatam menor nmero de sintomas depressivos, menor utilizao de medicamentos e diminuio de isolamento social.6-27

    A famlia de fundamental importncia para a socializao do idoso na ILPI e as atividades realizadas pelos trabalhadores com as idosas, visam diminuir o isolamento, favorecer a manuteno de vnculos, diminuindo a distncia entre a famlia e o idoso, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos mesmos.

    CONSIDERAES FINAIS

    Este estudo possibilitou conhecer a percepo dos trabalhadores de uma ILPI sobre a famlia de idosos institucionalizados. Os trabalhadores percebem que o contato das idosas com a famlia reduzido em virtude da famlia ir pouco ILPI. As datas comemorativas so as principais ocasies em que a famlia participa. Relatam que h situaes de abandono familiar e constatam que ningum supre o papel da famlia consangunea, pois ela referncia para as idosas.

    Os trabalhadores diferenciaram o abandono familiar, da falta de condies da famlia em assumir o cuidado do idoso. Na viso deles, nem sempre a famlia encontra-se preparada para cuidar do idoso e a ILPI assume a responsabilidade pelos cuidados aos idosos. Entendem que as idosas no so totalmente abandonadas, pois recebem suporte dos trabalhadores e a instituio supre parte de suas necessidades, ao proporcionar um lugar para morar e atendimento as necessidades bsicas da vida, como afeto, carinho e ateno. Para os

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    trabalhadores o que falta na ILPI a manuteno dos vnculos, da responsabilidade e do apoio emocional da famlia com as idosas.

    Os trabalhadores visualizam a ILPI como colaboradora no cuidado das idosas, ou seja, por mais eficaz que seja a instituio, por mais competentes e afetivos que sejam os trabalhadores, a famlia das idosas jamais ser substituda. Observam que quando a famlia est presente, as idosas ficam melhores, em termos de sade, adaptao e participao nas atividades propostas pelos trabalhadores. Portanto a famlia pode influenciar de forma significativa na qualidade de vida das idosas.

    Na percepo dos trabalhadores, apesar da famlia das idosas ficar um longo tempo sem visit-las, quando o encontro acontece, transforma-se em um momento nico revestido de sentimento de proteo, aconchego e segurana para as idosas.

    Os trabalhadores visualizaram a famlia como um sistema de cuidado para os idosos, ressaltando a importncia da sua convivncia para manter o equilbrio afetivo entre idosos que residem em uma ILPI e sua famlia.

    Destaca-se a importncia em desenvolverem-se outros estudos em ILPIs com realidades sociais e culturais distintas da apresentada, a fim de comparar os resultados e, assim, apontar divergncias e consonncias em diferentes realidades sobre a percepo de trabalhadores acerca da famlia de idosos institucionalizados.

    REFERNCIAS

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  • ARTIGO 2 PARTICIPAO E PAPEL DA FAMLIA NO CONTEXTO DE VIDA DO IDOSO

    INSTITUCIONALIZADO: PERSPECTIVA DE TRABALHADORES

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    PARTICIPAO E PAPEL DA FAMLIA NO CONTEXTO DE VIDA DO IDOSO INSTITUCIONALIZADO: PERSPECTIVA DE TRABALHADORES2

    PARTICIPATION AND ROLE OF THE FAMILY IN THE CONTEXT OF INSTITUTIONALIZED ELDERLY: THE PERSPECTIVE OF WORKERS

    PARTICIPACIN Y PAPEL DE LA FAMILIAEN EL CONTEXTO DE VIDA DEL ANCIANO INSTITUCIONALIZADO: PERSPECTIVA DE LOS TRABAJADORES

    RESUMO: O presente estudo tem por objetivo compreender como trabalhadores de uma Instituio de Longa Permanncia para Idosos (ILPI) percebem a participao e o papel da famlia no contexto de vida de idosos institucionalizados. Pesquisa de abordagem qualitativa, realizada com 16 trabalhadores de uma equipe multidisciplinar de uma instituio de longa permanncia para idosos. Os dados foram coletados de fevereiro a junho de 2012, por meio de entrevista semiestruturada, cuja anlise e interpretao dos dados, ocorreu pela anlise temtica. Os depoimentos dos trabalhadores evidenciaram as diferentes formas de participao da famlia e o papel dessa no cenrio de cuidado ao idoso. Conclui-se que as diferentes formas de participao da famlia do idoso, por meio da visita, contato telefnico, ajudando no cuidado do mesmo, e o papel de continuar mantendo vnculo e tendo responsabilidade, contribui para que ele apresente melhores condies de sade em uma instituio de longa permanncia para idosos. Descritores: Instituio de longa permanncia para idosos; Trabalhadores; Famlia; Enfermagem.

    ABSTRACT: This study has aimed to understand how the workers of an Institution of Long Term Elderly Care perceive the participation and role of families in the context of institutionalized seniors. The research has a qualitative approach, with 16 workers of a multidisciplinary team, through semistructured interviews. The data collection happened from February to June, 2012. The thematic analysis was the technique used to process the data. The workers testimonials showed the different forms of participation of the elderly family, through visitation, contact via telefone, helping in the seniors caring, and the continuous

    2 Artigo formatado segundo as normas da Revista Brasileira de Enfermagem.

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    bond and responsability that contribute to better health conditions of the elderly in a nursing home.

    Key words: Homes for the Aged; Workers; Family; Nursing.

    RESUMEN: El presente estudio tiene como objetivo entender cmo los trabajadores de una Instituciones de Estancia Prolongada para Ancianos (IEPA) perciben la participacin y el papel de la familia en el contexto de la vida en ancianos institucionalizados. Estudio cualitativo, realizado con 16 trabajadores de un equipo multidisciplinario en una institucin para el adulto mayor. Los datos fueron recogidos entre febrero y junio de 2012, a travs de entrevista semi-estructurada, cuyo anlisis e interpretacin de datos, el anlisis temtico ocurrido. Los testimonios de los trabajadores mostraron diferentes formas de participacin de la familia y su papel en este escenario de cuidado personas mayores. Llegamos a la conclusin de que las diferentes formas de participacin de la familia de las personas mayores, a travs de la vista, el telfono tctil, ayudando a cuidar ancianos, y el papel de vnculo seguir manteniendo y asumir la responsabilidad, ayuda a los ancianos presenta una mejor salud en una institucin cuidados de larga duracin para las personas mayores. Palabras clave: Hogares para Ancianos; Trabajadores; Familia; Enfermera.

    INTRODUO

    Em razo da expanso da expectativa de vida e do consequente aumento de idosos, mudanas expressivas na vida das pessoas vm sendo constatadas(1). No contexto social onde se insere a nova configurao da famlia, o ritmo de vida imposto pelo mundo capitalista e as dificuldades de ordem financeira da maioria das famlias brasileiras tem gerado obstculos para a manuteno do idoso em seu lar(2). Alm disso, o aumento do contingente da populao idosa e a escassez de cuidadores, sejam formais ou informais, resultam em uma crescente demanda para a institucionalizao de pessoas nessa faixa etria(3).

    O nmero de instituies destinadas ao asilamento de idosos no Brasil comeou a crescer a partir das ltimas dcadas do sculo XX. Esse crescimento ocorreu como resposta s demandas de uma sociedade em que aumenta a expectativa de vida e diminui a disponibilidade de recursos familiares para o cuidado dos idosos(4). A Instituio de Longa Permanncia para Idosos (ILPI) um lugar de cuidados, mas no somente isso. Deve ser um local, onde a pessoa idosa receba assistncia com vistas ao atendimento de suas necessidades

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    fsicas, mentais e sociais, como tambm um espao que lhe proporcione contato com a sociedade(3).

    Na perspectiva de apoiar o idoso e a famlia a lidar com a situao da institucionalizao, a enfermagem pode oferecer, alm de cuidados e de conforto fsico, suporte emocional por meio da comunicao. Assim, considerando que o cuidado qualificado resultante do entrelaamento entre o saber tcnico e a relao interpessoal do profissional de enfermagem com o paciente e seus familiares(5).

    A famlia entendida como rede social de apoio, constituda por um grupo hierarquizado de pessoas que mantm entre si laos e relaes de dar e receber. Apresenta-se como fonte primria de suporte social, em que almeja uma atmosfera afetiva comum, de aquisio, de competncia e de interao entre seus membros(6). Nesse sentido, a famlia a esperana do idoso como forma de manuteno das relaes familiares e pode ser uma soluo para evitar o sentimento de abandono, mas no garante necessariamente que esse sentimento no exista. Pelo contrrio, depende dos vnculos estabelecidos ao longo da vida e da fora dessas relaes(7).

    Dessa forma, o cuidado de enfermagem ao idoso institucionalizado deve englobar ambiente/idoso/famlia/trabalhador, visando melhor qualidade de vida ao idoso(8). Por mais que a ILPI procure proporcionar uma vida familiar ao idoso institucionalizado, ela diferente. A pretenso da ILPI no pode ser a de substituir a famlia, mas de ser uma ampliao desta, com laos e vnculos igualmente significativos para o cuidado(9). Tal considerao j indica, em parte, a importncia do trinmio idoso-famlia-profissionais na perspectiva de uma melhora do cuidado nas ILPIs.

    Frente ao exposto, elaborou-se a seguinte questo norteadora do estudo: como trabalhadores de uma ILPI percebem a participao e o papel da famlia na vida dos idosos institucionalizados? Para atender a questo teve-se como objetivo: compreender como trabalhadores de uma ILPI percebem a participao e o papel da famlia no contexto de vida do idoso institucionalizado.

    MTODO

    Trata-se de uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa. A pesquisa qualitativa visa compreender e explicar a dinmica das relaes sociais, que so depositrias de crenas, valores, atitudes e hbitos. Essa modalidade de pesquisa trabalha com a vivncia, com a

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    experincia, com a cotidianidade e tambm com a compreenso das estruturas e instituies, como resultantes das aes humanas objetivadas(10).

    A pesquisa foi realizada em uma ILPI, localizada em uma cidade situada na regio central do Estado do Rio Grande do Sul, entre os meses de fevereiro a junho de 2012. Os sujeitos deste estudo foram 16 trabalhadores que atuavam na ILPI. A amostra foi intencional contemplando um representante de cada categoria profissional: enfermeiro, fisioterapeuta, educador fsico, assistente social, nutricionista, farmacutico, psiclogo, pedagoga, tcnica de enfermagem, secretria executiva, chefe de cozinha, auxiliar de limpeza, auxiliar de lavanderia, porteiro, encarregado da manuteno e motorista.

    So clarificados os passos, os quais foram utilizados para selecionar os sujeitos, pois no se buscou quantific-los, visto que, na pesquisa qualitativa, busca-se os fundamentos das situaes vivenciadas, por meio da compreenso dos sentidos e significados. Assim, neste estudo o critrio de incluso foi: ser trabalhador da ILPI com vnculo empregatcio h pelo menos trs meses; possuir carga horria mnima de 20 horas semanais e que de alguma forma teve ou tem contato com os familiares dos idosos institucionalizados.

    Para a obteno dos depoimentos, utilizou-se a tcnica da entrevista semiestruturada, gravada, contendo a caracterizao sociodemogrfica dos trabalhadores e duas questes com os seguintes eixos temticos: Conte-me como a famlia do idoso participa na ILPI? E, na sua opinio, qual o papel da famlia em uma ILPI? As entrevistas foram finalizadas quando a anlise dos depoimentos respondeu as indagaes e o objetivo foi alcanado.

    As entrevistas gravadas foram transcritas integralmente e lidas de modo exaustivo e repetidamente, seguindo os passos da anlise temtica(10) a fim de estabelecer as questes importantes e construir as categorias empricas do estudo. Finalmente, foi realizada a anlise final que relacionou os dados aos referenciais tericos da pesquisa.

    Em relao aos aspectos ticos, o projeto de pesquisa foi analisado e aprovado pela direo da ILPI e pelo Comit de tica em Pesquisa da instituio na qual o projeto est vinculado, com o Certificado de Apresentao