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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO” A PSICOMOTRICIDADE COMO PROMOTORA DA QUALIDADE DE VIDA NA TERCEIRA IDADE POR: Luciane Guimarães Martins Bastos Orientador: Profº Ms. Nilson Guedes de Freitas Rio de Janeiro Julho/2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO”

A PSICOMOTRICIDADE COMO PROMOTORA DA QUALIDADE

DE VIDA NA TERCEIRA IDADE

POR: Luciane Guimarães Martins Bastos

Orientador: Profº Ms. Nilson Guedes de Freitas

Rio de Janeiro

Julho/2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO”

A PSICOMOTRICIDADE COMO PROMOTORA DA QUALIDADE

DE VIDA

NA TERCEIRA IDADE

POR: Luciane Guimarães Martins Bastos

Trabalho apresentado em cumprimento às exigências para a obtenção do grau de especialista no curso de Pós-graduação em Psicomotricidade da Universidade Cândido Mendes – Projeto A Vez do Mestre

Rio de Janeiro

Julho/2004

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho á minha avó

Margarida, a grande responsável pelo

meu amor a Terceira Idade, aos meus

queridos pacientes, que me fazem

crescer em experiência a cada dia.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos professores da

UCAM, em especial ao meu

orientador Nilson, pela paciência e

dedicação.

Á minha filha, Carolina que mesmo

inconscientemente entendeu os meus

momentos de ausência.

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EPÍGRAFE

“A maior felicidade do ser humano,

é acreditar que pode superar todas

as fases de sua vida, não encarando

como obstáculo e sim como um

desafio”

Autor desconhecido

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................... 08

1. GERIATRIA E GERONTOLOGIA.................................................... 10

2. FENÔMENO DO ENVELHECIMENTO............................................ 16

3. PSICOMOTRICIDADE..................................................................... 23

4. QUALIDADE DE VIDA NA VELHICE.............................................. 32

5. O REFLEXO DA RETROGENESE PSICOMOTORA..................... 45

NO GERONTE

6.O PAPEL DA ATIVIDADE PSICOMOTORA EM GRUPO................51

CONCLUSÃO.......................................................................................57

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................... 59

ANEXOS.............................................................................................. 60

ÍNDICE..................................................................................................61

FOLHA DE AVALIAÇÃO ....................................................................62

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RESUMO

O presente trabalho se propõe a fazer uma abordagem atualizada, com base na revisão bibliográfica de diversos autores como Lukesi, Freitas,Fonseca, entre outros, sobre o aumento significativo da perspectiva de vida , da realidade e das necessidades de idosos acima de 60 anos, para que seja então analisada o aumento da qualidade de vida propiciada a camada senil da população através de uma proposta psicomotora. Durante o trabalho de pesquisa , foi abordado fatores que possibilitam promover o retardo dos declínios decorrentes do envelhecimento, prevenindo doenças e buscando saúde, contribuindo assim para melhora na qualidade de vida. Enfatizamos a integração dos próprios sentimentos e sua ação, da alma e a motricidade, objetivando seja , a educação e reeducação dos movimentos de forma globalizada e eficaz,por fim sob uma visão sistêmica, enfocamos a terceira idade tanto no aspecto natural como ciclo biológico da vida, como também no aspecto psicossocial, e com isso , concluímos ao longo da pesquisa a importância na relação da psicomotricidade como promotora da qualidade de vida na terceira idade.

Palavras-chave: Psicomotricidade. Terceira idade. Qualidade de vida.

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INTRODUÇÃO

O século XX marcou definitivamente a importância do estudo da velhice, fruto,

de um lado, da natural tendência de crescimento do interesse em pesquisar e estudar o

processo de envelhecimento que já se anunciava nos séculos anteriores. Por outro lado,

o aumento do numero de idosos em todo o mundo exerceu pressão passiva sobre os

desenvolvimentos desse campo.

Sendo assim, terceira idade requer cuidados especiais, principalmente quando

vivemos numa sociedade que privilegia os bens em detrimento do Ser. A "velhice" traz

consigo muitos preconceitos com relação à capacidade produtiva do ser humano nesta

faixa etária, mas é nesta fase que a sabedoria adquirida com as experiências de vida

pode trazer nova luz para os que se sentem à margem do sistema social.

O principal objetivo deste trabalho consiste em abordar a terceira idade, tanto

no aspecto natural como ciclo biológico da vida, como também no aspecto

psicossocial,fazendo considerações entre a fisioterapia e psicomotricidade como

promotora da qualidade de vida em idosos acima de 60 anos.

Considerando tal importância , esta pesquisa visa, através de revisão

bibliográfica de diversos autores, analisar as situações vividas no decorrer da vida , que

vão deixando marcas no corpo, refletindo-se em gestos, posturas e movimentos, atuando

sobre a forma de ser, sobre a forma de atuação no dia-a-dia. Não só o corpo é afetado

pelas alterações psicológicas, pelas emoções, como também suas condições interferem

no processo intelectual, emocional e nos reflexos.

No primeiro segmento deste trabalho será possível ao leitor entender as

limitações físicas com que se depara a terceira idade e analisar que tais limitações

decorrem muito mais do abandono de si mesmo, isto é, do abandono de nossas

necessidades mais íntimas do que propriamente um processo natural de perda de

aptidões. Assim, a consciência corporal pode se tornar o maior aliado na nossa busca de

auto-conhecimento, recuperação da auto-estima, criatividade e descoberta de novos

potenciais.

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No decorrer deste trabalho, a partir do segundo segmento, abordamos no

primeiro capítulo, definições sobre Geriatria e Gerontologia, fazendo considerações

sobre a ciência do envelhecimento e suas ramificações, que em conjunto atuam sobre

os múltiplos aspectos do fenômeno do envelhecimento e suas conseqüências.

Focalizamos em seguida no segundo capitulo, o fenômeno do envelhecimento,

onde esclarecemos as diferenças entre envelhecimento, velhice, senescência, senilidade,

autonomia e independência , para que possamos analisar, o quão importante é entender

e classificar tais conceitos.

Em seguida, no terceiro capitulo nos detivemos em analisar a psicomoticidade e

sua relação com a fisioterapia e sua aplicabilidade, evidenciando a relação existente

entre os processos cerebrais e afetivos/emocionais com o ato motor.

No quarto capítulo, objetivamos definir a qualidade de vida na velhice, onde o

principal desafio que se propõe a indivíduos e às sociedades é conseguir uma sobrevida

cada vez maior, com uma qualidade de vida cada vez melhor.

No capítulo seguinte, o quinto, esclarecemos o reflexo da retrogênese

psicomotora no geronte e enfatizamos que ativar pela psicomotricidade os neurônios

corticais pode ser essencial para previnir o envelhecimento,e dessa forma ampliarmos a

qualidade de vida .

Chegamos então, ao sexto capítulo onde determinamos a atuação do trabalho

psicomotor em grupo e foi possível entender que quando o idoso se integra a um grupo ,

começa a entender melhor a realidade do seu dia-a-dia , com perdas e ganhos,

conscientizando-se dos desafios a enfrentar e, principalmente , de como lidar com tudo

isso.

Assim concluímos que sendo a psicomotricidade uma ciência preocupada com o

bem estar do indivíduo humano; tendo a gerontologia desmistificado a concepção de

inutilidade á terceira idade, é importante que a camada senil, redescubra antigos

potenciais. E este caminho começa pelo próprio corpo, o templo da nossa existência

terrena.

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1- GERIATRIA E GERONTOLOGIA

O processo do envelhecimento e sua conseqüência natural, a velhice, são uma

das preocupações da humanidade desde o inicio da civilização. A História demonstra

que as idéias sobre a velhice são tão antigas quanto a origem da humanidade.

Leme(1996) lembra que poucos problemas tem merecido tanta atenção e preocupação

do homem como o envelhecimento e a incapacidade funcional associada a este

processo. Como a gerontologia e a geriatria são campos científicos e profissionais

relativamente novos, parece a muitos que a preocupação com a velhice teve origem nos

nossos dias, mas essa é uma falsa crença.

Feitas essas ressalvas,é preciso deixar claro que,realmente, o século XX marcou

grandes avanços na ciência do envelhecimento, graças aos conhecimentos adquiridos

por meio dos estudos que se desenvolveram desde que os pioneiros Metchnikoff e

Nascher, em 1903 e 1909, respectivamente, estabeleceram os fundamentos da geriatria e

da gerontologia. Acreditavam ambos que estas ciências correlatas iriam se transformar,

em um futuro próximo,em campos profícuos de realizações cientificas.

Embora ainda reste um longo caminho a ser percorrido para elucidar os pontos

obscuros do fenômeno do envelhecimento, a verdade é que principalmente nas últimas

décadas do século XX, pode ser observado um aumento no somatório de conhecimentos

neste campo de estudo.

1.1- Considerações Iniciais

Os múltiplos aspectos que caracterizam o processo do envelhecimento clamam

para a necessidade de propiciar a pessoa idosa atenção abrangente á saúde, colocando

em pratica o preconizado pela Organização Mundial da Saúde.Busca-se com isso não

somente o controle das doenças, mas principalmente o bem estar físico, psíquico e

social, ou seja, em ultima analise,a melhora da qualidade de vida. A atenção passa a ser

prioritariamente multidimensional e, portanto, para atender a essa diretriz é importante a

participação de outros profissionais da saúde alem do medico que em conjunto,

respeitando-se a especificidade de cada área e de cada caso, definirão a melhor conduta

a ser seguida.

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O mesmo argumento utilizado para justificar a avaliação multidimensional para

atendimento a saúde da pessoa idosa, também se aplica para a pesquisa e para o ensino

no campo da ciência do envelhecimento, onde a preocupação com os problemas

médicos-sociais da população idosa, resulta da pressão passiva exercida pelo

crescimento exponencial do número de idosos, particularmente na última metade do

século XX.

O atraso na construção do conhecimento em gerontologia ou, mais

particularmente nas areas de pesquisa de ensino, embora hoje já possam ser

consideradas como altamente promissoras, tem algumas justificativas:

• A importância que a medicina, ou mais especificamente, a geriatria teve durante

muito tempo sobre os demais campos da gerontologia

• A dificuldade da gerontologia se firmar como disciplina ou mesmo ciência e,

com isto, poder definir um campo de atuação e de construção de conhecimentos.

• A resistência á realização de investigação com caráter interdisciplinar.

Durante décadas, a geriatria teve um peso maior cronológica e quantitativamente

que as demais áreas que compõe a gerontologia, graças aos avanços no estudo dos

aspectos diagnósticos e terapêuticos das pessoas que envelhecem. Para ter este lugar de

relevância, a geriatria, como ciência, os geriatras, como profissionais interessados na

saúde do idoso, utilizaram como base de apoio conhecimentos e tecnologia de outros

campos da medicina. Como era esperado, este fato deu um destaque especial á geriatria,

criando-se a impressão de que seriam áreas totalmente independentes.

A caracterização da gerontologia e a definição de sua área de abrangência, são,

portanto, fundamentais. Sabendo-se que o fenômeno do envelhecimento é multifacetado

e admitindo-se que ele também é multifatorial, é fácil compreender que a gerontologia

tem como objetivo tratar dos aspectos biológicos, sociais, psíquicos e legais, entre

outros, e promover pesquisas que possam esclarescer os fatores envolvidos na sua

gênese .

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Assim como na medicina surgiu a geriatria para fazer frente as necessidades do

velho enfermo, nas ciências sociais surgiu a gerontologia social, que percebe a velhice

como um problema social. Cresceu ao lado dos médicos e de outros profissionais

responsáveis pelo estudo dos processos orgânicos do fenômeno do envelhecimento, o

numero de profissionais ligados a área dos estudos sociais. De fato, sendo o

envelhecimento não necessariamente acompanhado de manifestações patológicas ,

embora seja freqüente as doenças nesta faixa etária, assumem particular importância os

problemas de discriminação social a que esta submetida a maioria dos idosos, aspectos

cuja abordagem é atribuição da gerontologia social.

Percebe-se do exposto que, para dar atenção holística a população idosa, a

atuação deixa de ser centralizada em uns poucos profissionais e passa a ser exercida

com maior competência por aqueles que são responsáveis por determinadas áreas de

conhecimento. Esta visão abrangente da atenção a saúde é apanágio da gerontologia e é

atribuição dos gerontólogos, dentro de suas respectivas áreas, implementar medidas

tendentes a tornar efetiva esta forma de assistência ao idoso, além de estimular e realizar

pesquisas e transmitir conhecimento sobre o fenômeno do envelhecimento.

1.2- Ciência do envelhecimento

A ciência do envelhecimento tem a responsabilidade de ser o centro do qual

emanam suas ramificações __GERONTOLOGIA SOCIAL, GERONTOLOGIA

BIOMÉDICA E GERIATRIA __ que em conjunto, atuam sobre os múltiplos aspectos

do fenômeno do envelhecimento e suas conseqüências.

A gerontologia social, que aborda os aspectos não-organicos, e a geriatria e a

gerontologia biomédica, que se atem aos aspectos orgânicos, são divididas de acordo

com as especialidades que a compõe . Assim a primeira compreende os aspectos

antropológicos, psicológicos, legais, sociais, ambientais , economicos, éticos e politicos

de saúde.

A geriatria tem sob os seus domínios os aspectos curativos e preventivos de

atenção a saúde e, para realizar este mister, tem uma relação estreita com disciplinas da

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área medica, como a neurologia, cardiologia, psiquiatria,pneumologia, entre outras, que

deram origem a criação de subespecialidades , como a neurogeriatria, psicogeriatria, a

cardiogeriatria e neuropsicogeriatria, entre outras.

A gerontologia biomédica tem como eixo principal o estudo do fenômeno do

envelhecimento , do ponto de vista molecular e celular, enveredando pelos caminhos de

estudos populacionais e de prevenção de doenças associadas.

Busca-se, segundo Jeckel-Neto (2000), a geração de conhecimentos para que se

possam entender as alterações progressivas observadas no envelhecimento e como elas

influenciam o status funcional do individuo. O objetivo fundamental deste

conhecimento, deve ser o envelhecimento com sucesso e com qualidade de vida ,que

será obtido através de estudos interdisciplinares; da integração de áreas, que vai desde o

estudo de fatores puramente biológicos até os sociais; e da formação de recursos

humanos com profissionais de várias disciplinas, interessados no estudo do processo de

envelhecimento.

1.3- Biologia do envelhecimento

Durante séculos, o estudo da longevidade e do envelhecimento em seres vivos,

foi relegado a um papel meramente acessório nas diferentes disciplinas da Biologia.

Estudos de genética, bioquímica, fisiologia e ecologia abordavam superficialmente

temas ligados ao envelhecimento , sem, contudo, se preocuparem da elaboração de

convenções instrumentais ou de terminologia que pudessem ser usados para facilitar a

exploração dos mesmos.Até então , estudos sobre mudanças nas propriedades

morfofuncionais de indivíduos ou de populações com o passar do tempo, constituíam

pouco mais do que uma curiosidade, explorada mais por diletantismo do que por

qualquer outra razão.

O século XX viria a mudar este cenário radicalmente por dois motivos: primeiro,

nunca em toda a historia da humanidade, populações apresentaram expectativas de vida

tão altas, fruto, principalmente, da implantação de políticas de saúde publica e de

medicina preventiva, tais como vacinação contra diversas moléstias infecto-contagiosas

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e planejamento e controle sanitário; segundo coincidentemente, nunca em toda a

historia, da Biologia, o instrumental disponível para pesquisa foi tão avançado,

permitindo aos investigadores níveis de abordagem impossíveis ate então.

Inicialmente, a abordagem biológica do processo de envelhecimento deu-se do

ponto de vista fisiológico e, mais tarde, bioquímico. Com o avanço do conhecimento

genético, cresceu também a busca por padrões de hereditariedade da longevidade. A

partir da década de 40, abordagens a partir dos conhecimentos sobre a evolução dos

seres vivos foram incorporando uma serie de novos conceitos, permitindo uma

avaliação mais profunda do tema do envelhecimento.

Dada a variedade de abordagem aos temas envelhecimento e longevidade, é

importante estabelecer alguns conceitos básicos. Porém, devido a sua breve existência, a

pesquisa biogerontológica enfrenta a dificuldade de estabelecer convenções a respeito

da terminologia empregada por diferentes autores.

Apesar de não estar estabelecido oficialmente, o termo envelhecimento, é

freqüentemente empregado para descrever as mudanças morfofuncionais ao longo da

vida, que ocorrem após a maturação sexual, e que progressivamente, comprometem a

capacidade de resposta dos indivíduos ao estresse ambiental e á manutenção da

homeostasia. Porém, vários pesquisadores definem envelhecimento como “ o que

acontece com o organismo com o passar do tempo”. Se por um lado,existem funções

que não são significativamente alterada pela idade, como a troca de células do epitélio

intestinal, é necessário lembrar que o envelhecimento apresenta como única

característica universal a ocorrência de mudanças ao longo do tempo,

independentemente de terem ou não efeito deletério sobre a vitalidade e a longevidade.

O envelhecimento não é somente a soma de patologias agregadas e de danos

induzidos por doenças. Inversamente, nem todas as mudanças em estrutura e função

dependentes da idade podem ser consideradas como alterações fundamentalmente

ligadas a idade por si só. Num esforço para incorporar este rigor dentro de um definição

operacional, foi proposto que as mudanças fundamentais relacionadas com a idade

devem obedecer a quatro condições:

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1. Devem ser deletérias, ou seja, devem reduzir a funcionalidade.

2. Devem ser progressivas, isto é, devem se estabelecer gradualmente.

3. Devem ser intrínsecas, isto é, não devem ser um resultado de um componente

ambiental modificável. Cabe ressaltar,aqui, que o ambiente tem forte influencia

sobre o aparecimento e velocidade dessas mudanças, apesar de não ser a sua

causa.

4. Devem ser universais : todos os membros de uma espécie deveriam mostrar tais

mudanças graduais com o avanço da idade

Por esses motivos, surge o termo senescencia para descrever as mudanças que

ocorrem num organismo, relacionados com a idade, afetando adversamente sua

vitalidade e funções, porem, mais significativamente, aumentando a taxa de

mortalidade em função do tempo. Senilidade seria o estágio final da senescência,

quando o risco de mortalidade beira os 100%.

É preciso ressaltar, porém, que o tempo é uma variável independente. Em vez de

usar o calendário para medir o envelhecimento, é preciso encontrar maneiras de usar

as mudanças em variáveis fisiológicas importantes para medir o envelhecimento

(ARKING, 1998).

Quanto ao termo longevidade, apresenta como dificuldade principal a existência

de diversidade de padrões de desenvolvimento e o tempo de maturação em

diferentes organismos. Embora a literatura em biogerontologia freqüentemente tome

como longevidade o tempo transcorrido entre o nascimento e a morte, muitas

espécies possuem desenvolvimento especialmente prolongado, ou longa existência

em estágios juvenis e breves períodos de vida adulta seguidos de rápida senescência.

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2- O FENOMENO DO ENVELHECIMENTO

A percepção do fato de que os organismos vivos envelhecem não gera

controvérsias. A partir da simples observação da realidade, é possível perceber esse

fenômeno. Pode-se, também, planejar e executar estratégias de investigação para

identificar e analisar vários aspectos do envelhecimento. Porém, vários pontos de

controvérsia surgem no momento de estabelecer indicadores para as variáveis

envolvidas no processo. Ao surgir discordância sobre quais seriam os indicadores

capazes de identificar ou mensurar as variáveis envolvidas no fenômeno, estabelece-se a

dificuldade de construir conceitos fundamentais que possam ser articulados em

construções lógicas explicativas do envelhecimento.

Essa variedades de conceitos, muitas vezes conflitantes, que procuram

representar as variáveis envolvidas no processo de envelhecimento por meio de suas

características gerais, provoca a formulação de uma grande variedade de definições para

um mesmo aspecto do fenômeno. Assim, a inclusão de determinado fato, característica

ou função em classes que permitam organiza-los num sistema torna-se extremamente

difícil dentro da área de conhecimento denominada de Gerontologia ou Ciências do

Envelhecimento. Como resultante disso, surge um grande numero de teorias que se

propõe a explicar o fenômeno, porem cada um com o próprio conjunto de conceitos,

fatos e indicadores.

Outro aspecto que tem forte influencia na determinação desta variedade de

teorias é o fenômeno do envelhecimento em si. Os organismos vivos são sistemas

interativos de subsistemase, portanto, complexos, hierárquicos e não lineares. Formam,

figurativamente, um grande mosaico de processos ou um grande fractal dinâmico.

Assim, algumas teorias tem dificuldade de se sustentar, pois apóiam-se numa concepção

ingênua segundo a qual uma dada alteração biológica que ocorre com o passar do

tempo poderia ser provocada por uma causa particular, o que contraria a noção de

sistemas hierárquicos interativos. É por isso que não há possibilidade de intervir em

algum ponto do sistema de modo a afeta-lo de maneira global e alterar o curso das

mudanças ao longo do tempo. Em outras palavras, é por esse motivo que, dificilmente,

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existirá o elixir da juventude, o gene que controla o envelhecimento ou o tratamento

rejuvenescedor.

Frente a complexibilidade inerente a um sistema hierárquico interativo, aparece

a dificuldade de investigar o fenômeno do envelhecimento como um todo e, em

conseqüência, de demonstrar a validade das hipóteses formuladas através de

metodologia cientifica rigorosa. Essa dificuldade pode ser resumida nos pontos que

seguem:

1. A ausência de uma definição clara e de aceitação geral do próprio

processo do envelhecimento

2. O estudo do processo de envelhecimento dos seres humanos é

fortemente influenciado pelo contexto cultural das populações

investigadas e dos próprios pesquisadores

3. Apesar do processo do envelhecimento evocar curiosidade e

expectativas individuais altas, muitos investigadores e agencias de

fomento da pesquisa não demonstram muito interesse pelo tema, pois as

investigações são complexas, caras e demoradas, com baixo retorno em

termo de números de publicação e de aplicabilidade imediata.

4. Por ser complexo e envolver todos os aspectos do ser vivo, o estudo do

envelhecimento exige que ele ocorra, no mínimo de forma

multidisciplinar, tornando-se necessário a constituição de equipes de

pesquisadores de diversar áreas atuando de maneira integrada, o que, na

maioria das vezes, é muito difícil organizar.

A conjunção de fatores expostos, em especial o ultimo, conduz a formulações

teóricas sintéticas, limitadas a visões próprias de uma pessoa ou grupo, que, por esse

motivo, se tornam parciais, dentro de uma abordagem restrita. Tudo isso leva a

proposições com algum víeis de origem, geralmente unidimensionais, contrariando a

multidimensionalidade do envelhecimento e gerando sistemas teóricos não preditivos.

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2.1-Envelhecimento, velhice e velho

O envelhecimento (processo), a velhice (fase da vida) e o velho ou idoso

(resultado final), constituem um conjunto cujos componentes estão intimamente

relacionados.

2.1.1. Envelhecimento

Apesar de ser o envelhecimento um fenômeno comum a todos os animais ,

surpreenda que ainda hoje persistam tantos pontos obscuros quanto a dinâmica e a

natureza desse processo. Pode-se considerar o envelhecimento, como admite a maioria

dos biogerontologistas, como a fase de um continuum que é a vida, começando esta com

a concepção e terminando com a morte. Ao longo desse continuum, é possível observar

fases de desenvolvimento, puberdade e maturidade, entre as quais pode ser identificados

marcadores biofisiológicos, que representam limites de transição entre as mesmas.Ao

contrario do que acontece com as outras fases, o envelhecimento não possui um

marcador biofisiologico de seu inicio . De qualquer forma, a demarcação entre a

maturidade e o envelhecimento é arbitrariamente fixada mais por fatores

socioeconômicos e legais do que biológicos.

A incapacidade de mensurar o fenômeno do envelhecimento, que esta

intimamente vinculada a dificuldade de definir a idade biológica, justifica a falta de

segurança para adotar quaisquer tais teorias existentes sobre o fenômeno . Os mesmos

motivos justificam a inexistência de uma definição de envelhecimento que atenda aos

múltiplos aspectos que o compõem. Respeitando-se as limitações assinaladas e dentro

de uma visão prioritariamente biogerontológica, o envelhecimento é conceituado como

um processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, funcionais,

bioquímicas e psicológicas, que determinam perda da capacidade de adaptação do

individuo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de

processos patológicos que terminam por leva-lo á morte (PAPALÉO NETTO, 1996).

Esta definição pode ser completada com um outro conceito, este predominantemente

funcional, elaborado por Comfort (1979), segundo o qual o envelhecimento se

caracteriza por redução da capacidade de adaptação homeostática, perante situações de

sobrecarga funcional do organismo.

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2.1.2. Velhice e velho

As manifestações somáticas da velhice, que é a ultima fase do ciclo da vida, as

quais são caracterizadas por redução da capacidade funcional, calvície e redução da

capacidade de trabalho e da resistência, entre outras, associam-se perdas dos papeis

sociais, solidão e perdas psicológicas, motoras e afetivas. Na maioria das pessoas, tais

manifestações somáticas e psicossociais começam a se tornar mais evidentes já a partir

do fim da terceira década de vida, ou seja, muito antes da idade cronológica que

demarca socialmente o inicio da velhice. É preciso esclarescer, que estas manifestações

são facilmente observáveis quando o processo que as determina, encontra-se em toda

sua plenitude. Deve ser assinalado, que não há uma consciência clara de que, através de

características físicas, psicológicas, sociais, culturais e espirituais, possa ser anunciado o

inicio da velhice.

Segundo Baldessin (1996), alguns parecem velhos aos 45 anos de idade e

outros jovens aos 70 anos de idade. Se o inicio exato da velhice é rigorosamente

indefinido e, portanto, torna-se difícil tentar fixa-lo, maior dificuldade talvez resida nas

diferentes formas como a sociedade vê o fenômeno e o idoso: preconceituosa com

aqueles que tem origem em classes sociais mais baixas, benevolente para os que

ocupam classes sociais mais elevadas (NERI, 2001). Essas considerações deixam claro

que, ao lado dos problemas médicos, psicológicos e legais, muito mais acentuados e

frequentes na velhice, assumem particular importância os problemas sociais nas classes

mais desfavorecidas.

2.2- Envelhecimento comum e envelhecimento bem sucedido

A grande heterogeniedade existente entre os idosos, nos aspectos morfológicos,

funcionais, psicológicos e sociais, decorrentes, entre outros fatores, da grande amplitude

desta faixa etária, que começa cronologicamente aos 60 anos e atinge 100 anos de idade

ou mais, tem originado questionamentos sobre o conceito de normalidade, quando se faz

referencia a pessoa idosa. Por outro lado, é conhecido o fato de que o ritmo de declinio

das funções orgânicas varia de um órgão a outro, mesmo entre idosos que tem a mesma

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idade. Esta observação justifica a impressão de que os fatores determinantes do

envelhecimento, produzem efeitos deletérios de uma pessoa a outra.

Segundo Rowe e khan (1987),este fato impele para o desenvolvimento de uma

distinção conceitual dentro da categoria de envelhecimento normal em que pesem a

todos os questionamentos que possam ser feitos ao conceito de normalidade. Admitem-

se hoje, duas formas distintas de envelhecimento: o usual ou comum e o bem sucedido e

o saudável.

Admite-se que na forma de envelhecimento comum os fatores extrínsecos, tais

como tipo de dieta, sedentarismo e causas psicossociais , intensificariam os efeitos

adversos que ocorrem com o passar dos anos, enquanto na forma de envelhecimento

saudável estes não estariam presentes ou, quando existentes, seriam de pequena

importância. A crença sobre a importância destes fatores, se acha expressa na ênfase

que atualmente tem sido dada para o potencial benéfico dos exercícios, para a

moderação na ingestão de bebidas alcoólicas, para a cessação do habito de fumar, para a

observância da dieta adequada, entre outras medidas (PAPALÉO NETTO E BRITTO,

2001).

As principais condições associadas a velhice bem-sucedida, segundo os dois

autores citados, seriam: baixo risco de doenças e de incapacidades funcionais

relacionadas ás doenças; funcionamento mental e fisico excelentes; e envolvimento

ativo com a vida.

2.3- Envelhecimento normativo

A grande heterogeneidade entre os idosos, decorrente, de um lado, da maior ou

menor influencia dos fatores extrínsecos referidos, e, de outro, da grande extensão do

período abrangido pela velhice, torna difícil definir numa população de pessoas idosas

aquelas que podem ser consideradas normais, tanto para fins de pesquisa quanto para a

pratica diária. Esta dificuldade de definir o que é normal em geriatria conduziu ao

conceito de envelhecimento normativo. Já que o normal não pode ser adequadamente

definido, é impossível selecionar “pessoas idosas normais”como controle ou como

material para estudo dos efeitos da idade. Assim, a expressão envelhecimento normativo

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representaria o processo natural de desenvolvimento em fases avançadas da vida

(FRIES E CRAPO, 1981)

O envelhecimento normativo pode ser de dois tipos: primário e secundário. O

primeiro é universal, presente em todas as pessoas, geneticamente determinado ou pré

programado. O segundo é resultante da interação entre influencias externas e é variável

entre indivíduos em diferentes meios. Seria decorrente de fatores cronológicos,

geográficos e culturais. Se tais fatores não forem considerados , as diferenças

encontradas entre grupos de pacientes podem ser erroneamente atribuídas ao

envelhecimento intrínseco ou primário, quando na verdade são conseqüentes as

influencias externas citadas.

2.4—Senescência ou senectude e senilidade

A distinção entre senescência ou senectude, que resulta do somatório de

alterações orgânicas, funcionais e psicológicas próprias do envelhecimento normal, e a

senilidade, que é caracterizada por modificações determinadas por afecções que

freqüentemente acometem a pessoa idosa, é por vezes,extremamente difícil. O exato

limite entre os dois estados não é preciso e caracteristicamente apresenta zonas de

transição freqüentes, o que dificulta discriminar cada um deles.

Essa dificuldade que os profissionais enfrentam no seu dia a dia e que esta

presente em todas as áreas que compõe a ciência gerontológica é conseqüência da

indefinição da idade biológica, da grande variabilidade de comportamento do idoso,

perante fatores estressantes e do fator genético, cuja importância já foi referida. Não

somente na pratica diária, no entanto, e importante a distinção entre essas duas

condições , mas também é relevante na área da pesquisa em gerontologia. Assim,

acreditamos que varias investigações relativas ao fenômeno de envelhecimento

deveriam ser reavaliadas, principalmente as realizadas em seres humanos, desde que os

resultados obtidos são muitas vezes decorrentes da presença de doenças associadas e

não reconhecidas, e não somente do envelhecimento propriamente dito.

Outro fato que merece ser destacado é que, diferentemente das pessoas mais

jovens, nos idosos portadores de doenças, que freqüentemente são múltiplas, somam-se

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os efeitos das alterações fisiológicas próprias do envelhecimento normal e os

decorrentes de modificações funcionais produzidas pela presença de doenças

concomitantes. Não se pode desconhecer que os efeitos da primeira, podem atuar sobre

o da ultima, induzindo graus variáveis de interação, a ponte de produzir ação deletéria

muito acentuada. (PAPALEO NETTO E BRITO, 2001).

2.5- Autonomia e independência

Segundo Evans (1984) chama de autonomia o estado de ser capaz de

estabelecer e seguir as próprias regras e diz que, para um idoso, a autonomia é mais útil

que a independência como um objetivo global, pois pode ser restaurada por completo,

mesmo quando o individuo continua dependente.

Independência e dependência são conceito ou estados que so podem existir em

relação a alguma outra coisa. Na mesma pessoa é possível identificar, por exemplo,

independência financeira e dependência afetiva.

Segundo Wilkin (1990), dependência é um estado no qual um individuo confia

em outro, para ajuda-lo a alcançar necessidades previamente reconhecidas. Estas

definições e também outras transmitem a impressão de que a dependência sempre se

refere a uma relação social. Ela, portanto, não é um atributo individual, mas sim de um

individuo em relação a outros.

O que se procura obter é a manutenção da autonomia e o máximo de

independência possível e, em ultima analise, a melhora da qualidade de vida. Isto só

poderá ser obtido através de uma avaliação gerontológica abrangente, que tem a

finalidade de atuar sobre o desempenho físico, psíquico (cognitivo e afetivo)e social.

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3. PSICOMOTRICIDADE

De acordo com Vitor da Fonseca (1983), a psicomotricidade é uma ciência que

busca perspectivar as relações incessantes e permanentes dos fatores neurofisiológicos,

psicológicos e sociais, que intervem na integração, elaboração e realização do

movimento humano,ou seja, a psicomotricidade lança mão de metodologias e técnicas

com a finalidade de fazer aflorar as possibilidades do indivíduo e aponta-las de maneira

que se acredite cada vez mais capaz de progredir e dominar o seu corpo, através do

movimento.

Ao falar de psicomotricidade, fala-se da integração dos próprios sentimentos e

sua ação, da alma e a motricidade, objetivando seja, a educação ou reeducação dos

movimentos de forma agradável, globalizada e eficaz.

A psicomotricidade é portanto, uma atividade que propõe, partindo do corpo e

da motricidade corporal, agir sobre o psiquismo, tanto no plano mental quanto afetivo,

esses dois planos estando, estreitamente ligados ao nível do inconsciente. Em outro

enfoque, temos a partir da vivencia psicomotora, na medida onde ela é realmente

“vivida”, a estruturação do psiquismo e dessa forma uma melhor posturação e uma

adequação motora.

Temos na psicomotricidade, o desenvolvimento em conjunto da motricidade e

do psiquismo e não apenas a preocupação do paciente em apresentar melhor rendimento

em determinadas habilidades, portanto a função motora, o desenvolvimento intelectual e

o desenvolvimento afetivo estão intimamente ligados e a psicomotricidade, visa

justamente destacar a relação existente entre a motricidade, a mente e a afetividade e

facilitar a abordagem global do paciente por meio de um técnica.

3.1. Psicomotricidade e Fisioterapia: compreendendo a relação

A motricidade não esta limitada as superfícies corporais, ela é a projeção de um

mundo (próprio homem), noutro mundo (envolvimento).

Segundo Le Boulch (1990), se a motricidade insiste sobre o componente Tonico

motor na melodia gestual, a psicomotricidade se acha naturalmente associada,ou prepara

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terreno para outras reeducações especializadas. Com base nessa afirmativa é que

integramos a Psicomotricidade e a Fisioterapia em uma relação essencial.

O movimento é sempre a expressão de uma existência, a manifestação vital da

pessoa humana, envolvendo o ser no mundo, o que se faz concordar que não há

possibilidade de se ter uma visão mecanicista da motricidade, arma principal de trabalho

do fisioterapeuta e sendo assim, a utilização de protocolos na reabilitação dos pacientes

que procuram assistência fisioterapêutica torna-se agressivo, dificultando o processo de

reabilitação.

Observa-se a relação entre a psicomotricidade e a fisioterapia no momento que ,

de forma grotesca, entendemos a necessidade de nosso paciente,ter definido a sua

lateralização e esquema corporal, para a recuperação funcional de uma lesão no joelho,

quando solicitamos que levante uma de suas pernas.Encontra-se relação quando

propiciamos uma relaxação e adequamos o ritmo em uma paciente em atendimento

fisioterapeutico respiratório com quadro de taquipneia com conseqüente equilibração de

suas emoções.Ao treinar a marcha de um paciente sequelado de AVC, em conjunto

trabalha-se o seu equilíbrio dinâmico, coordenação motora ampla, planejamento motor

entre outros, bem como atua-se no seu psiquismo, restaurando sua confiança, auto

estima e amor próprio.

Pode-se entender a relação acontecendo em três aspectos ao mesmo tempo

distintos e únicos. A necessidade de um amadurecimento psicomotor para o

entendimento dos exercícios fisioterapeuticos e para a posssibilidade de execução; a

atuação direta da psicomotricidade como técnica fisioterapeutica e a pratica

fisioterapeutica com respostas psicomotoras no cliente.

Encontra-se ainda, a psicomotricidade atuando no próprio prazer do movimento

como terapia, com a proposta de que sejam quebradas as “receitas de bolo”, a rotina dos

atendimentos fisioterapeuticos, através de jogos psicomotores, atividades lúdicas,

musicais, de expressão corporal, de respiração e relaxamento; interferindo na

socialização, emoções, expressividade, aceitação pessoal e de suas limitações, o que irá

favorecer a própria reeducação.

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E importante ressaltar que nesta integração, a atividade não deve parecer uma

exigência, sendo vivido em uma situação de julgamento, acompanhada pela ansiedade

do fracasso ou do sucesso, mas como elemento para se explorar as descobertas feitas

espontaneamente pelo cliente com relação as suas capacidades, respeitando suas

motivações.

Espera-se que o termo, tão incessantemente argumentado pelos fisioterapeutas,

“tratar o paciente como um todo”, seja visto não como um “todo-corpo”, mas sim possa

ser levado em consideração, desde já,o dialogo interior, tendências e capacidades do

cliente. E ainda que os próprios terapeutas envolvidos possam depender da possibilidade

pessoal, de experiências/vivencias, uma vez que a psicomotricidade e a sua integração

com a fisioterapia não se deixa compreender, em sua realidade profunda, num mero

jogo de palavras. Devemos lembrar que o corpo não é uma maquina posta em

movimento por um psiquismo que habita o cérebro, nem o ser humano pode ser

explicado através de seus ossos, articulações e músculos.

3.2. A Psicomotricidade e sua aplicabilidade

A psicomotricidade evidencia a relação existente entre os processos cerebrais e

afetivos/emocionais com o ato motor. Significa a inter-relação desses processos que são

externados, representados, decifrados e que se manifestam através dos atos motores.

3.2.1. Desenvolvimento motor

Segundo Costallat (1998), o desenvolvimento motor é o resultado da maturação

de certos tecidos nervosos, aumentando em tamanho e complexibilidade do sistema

nervoso central, crescimento de ossos e músculos. São portanto comportamentos não

aprendidos que surgem espontaneamente desde que a criança tenha condições

adequadas para exercitar-se. Esses comportamentos não se desenvolverão , caso haja

algum tipo de distúrbio ou doença.

As principais funções psicomotoras é um bom desenvolvimento da estruturação

do esquema corporal que mostre a evolução da apresentação da imagem do corpo e o

reconhecimento do próprio corpo, evolução de preensão e da coordenação óculo-manual

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que nos proporciona a fixação ocular e prensão e olhar e desenvolvimento da função

tonico e da postura em pe e reflexos arcaicos da estruturação espaço-temporal.

De acordo com Costallat (1998),um perfeito desenvolvimento de nosso corpo

ocorre não somente mecanicamente, mas sim que são aprendidos e vivenciados junto a

família, onde a criança aprende a formar a base da noção de seu “eu corporal”.

3.2.2 Imagem corporal

Conforme Gonçalves (2000) a imagem corporal é ao mesmo tempo,

constante e mutável. A imagem do corpo é, pois, uma reconstrução constante

do que o indivíduo percebe de si e das determinações inconscientes que ele traz

de seu diálogo com o mundo.

Todo conhecimento - inclusive o de si mesmo - passa pelo corpo. É o

corpo que está envolvido no processo de compreender, de recordar e de

sociabilizar-se com outros corpos.

Assim, um novo entendimento sobre o corpo do homem que vive, se

tornou imprescindível para tentarmos compreender o ser humano e sua

existência como sujeito individual e social. Todas as experiências vivenciadas

estão marcadas no corpo/história do homem, e elas se mostram nas relações, ou

melhor nas inter-relações estabelecidas com os outros e com o meio, revelando

a totalidade do homem que integra os sentimentos, os pensamentos e as ações.

Para Gonçalves (2000), “não existe assim, pensamento separado da ação e dos

sentimentos, nem ação sem pensamento e sentimento”.

A imagem corporal é definida como a uma imagem visual e mental do

corpo do indivíduo, e que inclui sentimentos acerca do seu corpo,

especialmente em relação à saúde e doença; e esquema corporal, referendo-se a

um modelo postural do corpo, inclusive a relação das partes corporais, umas

com as outras, e a relação do corpo com o ambiente, a consciência do corpo

devido à integração das sensações táteis, proprioceptivas e exteroceptivas, além

dos sentimentos subjetivos do indivíduo acerca de seu corpo (O’Sullivan,

1998). Capsiano (s.a.) ainda diz que a imagem corporal não é mera sensação ou

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imaginação. É a figuração do corpo em nossa mente, é a imagem do corpo

estruturalizada em nossa mente, no contato direto do indivíduo consigo mesmo

e com o mundo que o rodeia.

3.2.3 Corpo

O corpo é a expressão de uma existência. É a forma de colocação no mundo e de

integração com ele. Através de possibilidades corporais, em seus movimentos e gestos,

o homem torna-se capaz de revelar a dor, a saudade e a ansiedade; de sentir o outro

através do abraço ou do beijo, do toque.

Desde o principio existe o envolvimento neste universo, que é o corpo: a

gestação, o toque, o primeiro olhar, o banho, a amamentação, a memória afetiva. É a

partir deste corpo e da relação que se constrói com ele que depende o amanhã de todos e

o equilíbrio de diversos papeis que desempenhamos no dia a dia.

Este ser humano apresenta o corpo físico, o corpo vida, o corpo sentido e o “eu” e

a integração harmoniosa deste conjunto proporciona a saúde nos seus diversos

aspectos, inclusive a saúde social e emocional.

O movimento, o gesto e a expressão dependem da integração do ser humano

com o seu corpo, e são por vezes mais significativos do que palavras. Novas vivencias

propiciam condições favoráveis ou não na linguagem corporal e postura. O corpo não

sabe mentir, ele sempre revela a verdade.

O corpo sofre influencias constantes durante seu processo de crescimento e

desenvolvimento. A hereditariedade da cultura, a rigidez da educação e as diferentes

formas de estimulação conseqüentes as experiências por ele vividas. Essa possibilidade

de individualização na formação e estruturação do corpo físico, vida,sentido e do

próprio “eu” que proporciona a diferença biopsicosocial dos seres humanos no seu

pensar e querer.

De acordo com Gislene de Oliveira (1997), o corpo é a maneira de ser. É através

dele que estabelece contato com as entidades do mundo, que se engaja no mundo, que

compreende os outros, ou seja a corporeidade descreve a historia de cada um, a condição

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de presença, participação e significação do individuo no mundo. Esse corpo não pode

deixar de ser visto através de uma dialética completa entre o interpessoal e o

intrapessoal, manifestando um dinamismo integrador e totalizador , mas também,

mantem a sua porção mecânica, que possibilita na utilização de ossos e músculos a

realização motora da experiência corporal, experiência de elementos corporais, uns em

relação aos outros.

A experiência corporal a qual todos são submetidos durante todo o processo de

maturação sensório motora que proporcionará a construção do esquema e imagem

corporal- o reconhecimento das partes do corpo, a nomeação e a capacidade de

funcionalizar, bem como o reconhecimento dos limites corporais e das possibilidades de

expressão.

Segundo Houareau (1979), cuidando do corpo, anima-se o espírito. Enquanto o

nosso corpo for um estranho, todo o nosso espírito permanecerá estranho a vida. Quanto

mais zonas mortas tiver o nosso corpo, pior nos sentiremos na nossa pele e assim pode

se afirmar que a estruturação corporal é a base na formação do individuo, capacitando-o

para a integração e desenvolvimento neuropsicomotor (lateralidade, equilíbrio,

coordenação, orientação espaço temporal e ritmo) e socioafetivo .

Assim, sempre que se fizer referencia ao corpo, estabelece-se a ligação entre a

motricidade, sensação, cognição e sentimento, uma vez que toda relação corporal

implica uma relação psicológica, pois o movimento não é um processo isolado e esta em

estreita relação com a conduta e a personalidade.

3.3- Fatores e subfatores psicomotores

Compreendem os elementos que concorrem para a produção ou não de

resultados motores. São eles:

A- FATORES PSICOMOTORES

1A. Estruturação espaço- temporal

2A. Praxia global

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B- SUBFATORES PSICOMOTORES

1B. Organização

2B. Representação topográfica

3B. Coordenação óculo-manual

4B. Coordenação óculo-pedal

5B. Dissociação

A- FATORES PSICOMOTORES

1A. Estruturação espaço- temporal

Resulta da integração de uma estrutura temporal e de outra espacial e que

estão relacionados as percepções auditivas, visuais e proprioceptivas. A

estruturação espaço temporal surge durante os movimentos e quando da relação

com os objetos e pessoas distribuídos(as) pelo espaço, onde ocorrem as

experiências com a lateralidade, com a equilibração e da percepção que o ser

tem do seu corpo.

Segundo Costallat (1992), o corpo é provido de um sofisticado sistema

neurofisiológico, que permite interpretar as informações do espaço em que esta

“mergulhado” o individuo. Este localiza-se a si próprio para depois se localizar

no espaço e localizar os objetos e pessoas.

2A. Praxia global

A praxia global tem como principal função a organização da atividade

consciente e a sua regulação , programação e verificação. Compreende tarefas motoras

seguidas e simultâneas que se desenrolam num determinado período de tempo e que

exigem a atividade conjunta de vários grupos musculares.

A praxia evoca quatro condições básicas: um projeto, vários engramas,

ligações projeto-engramas e instrumentos neuromusculares de expressão e

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comandos em função do projeto. Observa-se uma intenção por trás do

movimento que sera mantida ou modificada por uma programação (que faz uma

consulta a linguagem interior), uma analise dos efeitos (receptores das ações) e

uma auto-regulação (estabelecida por um controle da atenção voluntária).

(COSTALLAT, 1992).

B- SUBFATORES PSICOMOTORES

1B. Organização

Compreende a habilidade em calcular distancias e promover os ajustes

necessários dos planos motores para percorrer um determinado espaço, baseando-

se nas capacidades de analise espacial, processamento e julgamento das

distancias e das direções, planificação motora e verbalização simbólica da

experiência. A tarefa requer a fusão de dados direcionais e espaciais ao mesmo

tempo que intervem uma programação do comprimento dos passos. A estrutura

espacial é guiada pela área de integração visual que contribui no fornecimento de

informações para os centros motores a fim de ajustamento das passadas.

2B. Representação topográfica

Refrata a noção espacial e a capacidade de interiorização de uma

trajetória espacial, apresentada num levantamento topográfico e das coordenações

espaciais.

3B. Coordenação óculo-manual

Compreende a capacidade de coordenar movimentos com os membros

superiores de acordo com as referencias perceptivo-visuais presentes no espaço.

Envolve a percepção de distancias, alturas e características dos alvos ou objetos

tais como forma, altura, comprimento, largura, textura, etc;e a consciência

cinestesica do segmento corporal que ira executar o movimento.

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Durante o ato motor, entram em ação a capacidade de reprogramação de

seqüências motoras em face de uma analise de todos os efeitos decorrentes desde

o ato motor até a seleção dos engramas (experiência motora memorizada)

4B. Coordenação óculo-pedal

Compreende a capacidade de coordenar movimentos com os membros

inferiores de acordo com as referencias perceptivo-visuais presentes no espaço.

5B. Dissociação

Compreende a capacidade de individualizar a utilização dos segmentos

corporais durante a execução de um ou mais atos motores intencionais.

A dissociação precede a um planejamento motor e um certo grau de

automatismo da seqüência de padrões espaciais e temporais relacionados, onde

entram em atividades inúmeras e rápidas interações entre os dados aferentes e

eferentes e entre dados perceptivos e motores.

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4. QUALIDADE DE VIDA NA VELHICE

A longevidade cada vez maior do ser humano acarreta uma situação ambígua,

vivenciada por muitas pessoas, mesmo pelas ainda não-idosas: o desejo de viver cada

vez mais e, ao mesmo tempo, o temor de viver em meio a incapacidades e à

dependência. De fato, o avanço da idade aumenta a chance de ocorrência de doenças e

de prejuízos à funcionalidade física, psíquica e social. Mais anos vividos podem ser

anos de sofrimento para o indivíduo e suas famílias; anos marcados por doenças, com

seqüelas, declínio funcional, aumento da dependência, perda da autonomia, isolamento

social e depressão. No entanto, se os indivíduos envelhecerem com autonomia e

independência, com a boa saúde física, desempenhando papéis sociais, permanecendo

ativos e desfrutando de senso de significado pessoal, a qualidade de sua vida pode ser

muito boa.

O desafio que se propõe aos indivíduos e às sociedades é conseguir uma

sobrevida cada vez maior, com uma qualidade de vida cada vez melhor, para que os

anos vividos em idade avançada sejam plenos de significado e dignidade. Semelhante

resultado, assim como seu oposto, uma velhice patológica, dependem da historia de

desenvolvimento e de envelhecimento, que é marcada por influências genético-

biológicas, psicológicas e sócio-culturais, algumas das quais podem ser controladas.

Tradicionalmente, o atendimento médico era focalizado no diagnóstico e no

tratamento, e o resultado medido por meio de dois indicadores objetivos: morbidade e

mortalidade. Nas últimas décadas ocorreu uma mudança de enfoque, e o resultado das

condutas médicas tem sido avaliado, também, através de variáveis subjetivas, que

incorporam as percepções dos pacientes em relação ao seu bem-estar e à sua qualidade

de vida. Na verdade, as ciências da saúde hoje abrangem conceitos que há tempos

vinham sendo discutidos por economistas, cientistas sociais e políticos. Ãs medidas

clínicas e às de caráter objetivo, isto é, realizadas por equipamentos ou por um

observador treinado, somaram-se outras, de caráter subjetivo, em que o indivíduo é

chamado a opinar sobre a qualidade global de sua vida, ou sobre aspectos particulares,

tais como saúde, sexualidade, memória, capacidades funcionais e relações sociais,

dentre outras.

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O fenômeno qualidade de vida tem múltiplas dimensões, como, por exemplo, a

física, a psicológica e social, cada uma comportando vários aspectos. Entre eles, a saúde

percebida e a capacidade funcional são variáveis importando vários aspectos. Entre eles,

a saúde percebida e a capacidade funcional são variáveis importantes que devem ser

avaliadas, assim como o bem-estar subjetivo, indicado por satisfação.

4.1. Evolução do Conceito de Qualidade de Vida

Segundo Wood-Dauphinee (1999), relata que o termo qualidade de vida foi

mencionado pela primeira vez em1920, por Pigou, em livro sobre economia e bem-estar

material, The Economics of Welfare, onde discutia o suporte governamental para

indivíduos das classes sociais menos favorecidas e o impacto sobre suas vidas e sobre o

orçamento do Estado. Não foi notado, nem valorizado, e o termo caiu no esquecimento.

Após a II Guerra Mundial, a Organização Mundial de Saúde redefiniu saúde,

incorporando a noção de bem-estar físico, emocional e social e desencadeando uma

discussão considerável a respeito da possibilidade e possibilidade de medir o bem-estar.

Mais tarde, o termo qualidade de vida ressurgiu, sendo usado para criticar

políticas cujo objetivo era o crescimento econômico sem limites. Musschenga (1997),

relata que dois economistas, Ordway (1953) e Osborn (1957), apontaram que, em longo

prazo, haveria exaustão de recursos e poluição cada vez maior do meio ambiente. Os

efeitos devastadores do crescimento econômico poriam em risco as condições futuras

para uma boa vida. Estavam, assim, preocupados com a qualidade das condições

externas de se viver. Os autores citados anteriormente insistiram na necessidade de

rever as idéias dominantes sobre o que seria uma boa vida e o que seriam valores, já que

considerar o crescimento material como o valor mais importante para uma boa vida, a

seu ver, era empobrecer o conceito. Para eles, o crescimento econômico desmesurado

colocaria em risco a qualidade das condições externas de se viver.

Graças a essa ideologia, pouco a pouco o conceito de qualidade de vida foi

sendo incorporado a políticas sociais, como indicador de resultados, em adição ou

substituição a outros de significado parecido, tais como boa vida, felicidade e bem-

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estar. Na década de 1960, nos Estados Unidos, surgiram movimentos sociais e

iniciativas políticas, cuja finalidade era melhorar a vida de todos os cidadãos,

minimizando a desigualdade social. Surgiu uma nova área de atuação – a da pesquisa

sobre qualidade de vida -, com o objetivo de munir os políticos de dados que os

ajudassem a formular políticas sociais efetivas.

Em seguida, o conceito se ampliou, para significar, além do crescimento

econômico, desenvolvimento social expresso em boas condições de saúde, educação,

moradia, transporte, laser, trabalho e crescimento individual. Os indicadores também se

ampliaram, tendo sido incluídos: mortalidade infantil, esperança de vida, taxa de evasão

escolar, nível de escolaridade, taxa de violência (suicídios, homicídios, acidentes),

saneamento básico, nível de poluição, condições de moradia e trabalho, qualidade do

transporte e lazer, dentre outros. Muitos países estabeleceram políticas de bem-estar

social, o assim chamado Welfare State (Farquhar, 1995b; Bowling, 1995 a).

Logo ficou claro que, embora todos fossem importantes para avaliar e comparar

qualidade de vida entre países, regiões e cidades (qualidade de vida objetiva), esses

indicadores não eram suficientes para medir a qualidade de vida de indivíduos que se

inseriam diferentemente naquela sociedade e que podiam distanciar-se, de forma

importante, do índice médio da população como um todo. Parecia necessário avaliar a

qualidade de vida percebida pelas pessoas e o quanto estavam satisfeitas ou insatisfeitas

com a qualidade de suas vidas (qualidade de vida subjetiva). Passou-se a valorizar,

então, a opinião dos indivíduos, ou seja, o dono da vida é quem deveria avaliar a

qualidade de sua vida. O pesquisador/planejador não poderia construir a priori um

modelo do que julgasse ser boa qualidade de vida e tentar enquadrar os indivíduos em

seu modelo. Denominou-se esse novo conceito de qualidade de vida subjetiva, em

contraposição às condições objetivas, que qualificariam, também, a vida das pessoas.

4.2.Dificuldades para definir Qualidade de Vida

A natureza abstrata do termo qualidade explica por que boa qualidade tem

significados diferentes, para diferentes pessoas, em lugares e ocasiões diferentes. É por

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isso que há inúmeras conceituações de qualidades de vida; talvez cada individuo tenha

o seu próprio conceito. Assim, qualidade de vida é um conceito que está submetido a

múltiplos pontos de vista e que tem variado de época para época, de país para país, de

cultura para cultura, de classe social para classe social e, até mesmo de indivíduo para

indivíduo. Mais que isso, varia para um mesmo indivíduo, conforme o decorrer do

tempo e como função de estados emocionais e da ocorrência de eventos cotidianos,

sócio-históricos e ecológicos. Essa multiplicidade de conceitos, colocados de forma

tão heterogênea, dificulta comparações.

A falta de consenso reflete-se nos diferentes significados assumudos pelos

pesquisadores. Revendo os conceitos empregados na literatura, Bowling conclui que

qualidade de vida é um conceito vago, multidimensional e amorfo, incorporando,

teoricamente, todos os aspectos da vida humana, e que por isso é utilizado por tantas

disciplinas. Para Grimley-Evans (1987), qualidade de vida tem a desvantagem de ser um

conceito em moda, em que cada um se sente obrigado a fazer uma profissão de fé.

Minayo (1997), explica melhor o porquê de tamanha variabilidade de conceitos.

Para ele, o termo é uma construção social, relativizada por valores culturais e por

aspectos subjetivos. Os conhecimentos, valores e experiências de indivíduos e

coletividades, de variadas épocas, espaços e histórias diferentes, juntam-se para compor

o significado do construto. Para cada fase de seu desenvolvimento, em cada etapa

histórica, uma sociedade constrói um parâmetro de qualidade de vida. Cada nação,

guiada pelas tradições, hierarquiza valores e necessidades. Assim, determinantes

históricos e culturais determinam a relatividade da noção de qualidade de vida. Além

disso, os padrões e concepções de bem-estar são estratificados, pois, em sociedades

onde as desigualdades são muito importantes, a qualidade de vida está relacionada ao

bem-estar dos estratos superiores e à passagem de um estrato a outro.

4.3. Definindo Qualidade de Vida

O grupo de especialistas em Qualidade de Vida da Organização Mundial de

Saúde que elaborou um instrumento genérico de avaliação de qualidade de vida, usando

um enfoque transcultural (The WHOQOL Group, 1995), considera que, embora não

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haja definição consensual de qualidade de vida, há concordância considerável entre os

pesquisadores acerca de algumas características do construto (The WHOQOL Group,

1995). Segundo esse documento, há três características principais do construto,

compartilhadas por diversas correntes de opinião: subjetividade, multidimensionalidade

e bipolaridade.

Cada vez se reconhece mais que o construto é subjetivo. Não é subjetividade

total, pois há condições externas às pessoas, presentes no meio e nas condições de vida

e trabalho, que influenciam a avaliação que fazem de sua qualidade de vida. O

WHOQOL Group (1995) propõe que as questões do instrumento se preocupem com as

percepções das pessoas, em níveis diferentes de questionamento, fazendo uma distinção

entre percepções de condições objetivas (recursos materiais, por exemplo) e aspectos

subjetivos. Por exemplo: a) Quantas horas você dormiu na última noite? (informação a

cerca do desempenho); b) Você dormiu bem? (avaliação subjetiva global do

desempenho); e c) Você está satisfeito com seu sonho? (avaliação altamente subjetiva e

personalizada do desempenho). Ou seja, a primeira pergunta é uma avaliação objetiva,

seguida por avaliações subjetivas.

Segundo o WHOQOL Group (1995), devem-se fazer questões que

envolvam avaliação global de comportamentos, estados emocionais e capacidades das

pessoas e de sua satisfação/insatisfação com tais comportamentos, estados e

capacidades, pois esse tipo de questionamento sobre as percepções das pessoas traz

informações sobre a qualidade de vida, enquanto o relato do funcionamento traz a

informações sobre o estado de saúde.

Quanto à multidimensionalidade, /e consenso entre os pesquisadores de

que a qualidade de vida inclui pelo menos três dimensões: a física, a psicológica e a

social. Ao avaliar qualidade de vida, outras dimensões podem ser acrescentadas, por

razões conceituais, pragmáticas, empíricas. O próprio WHOQOL inclui uma dimensão

espiritual (a percepção da pessoa sobre o significado de sua vida, ou sobre as crenças

pessoais que estruturam e qualificam a sua experiência existencial).

Em relação à bipolaridade, considera-se que o construto possui dimensões

positivas e negativas, que podem ser aplicadas a condições tão diversas como o

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desempenho de papéis sociais, a mobilidade, a autonomia, a dor, a fadiga e a

dependência.

Duas outras características podem ser acrescentadas: complexidade e

mutabilidade. Por ser multidimensional, bipolar e subjetivo, o conceito torna-se

complexo e difícil de avaliar. Por outro lado, a avaliação de qualidade de vida muda

com o tempo, pessoa, lugar e contexto cultural; para uma mesma pessoa, muda

conforme seu estado de humor. Essa característica também aumenta a dificuldade de

avaliação.

A definição de qualidade de vida apresentada pelo grupo de especialistas da

Organização Mundial de Saúde (The WHOQOL Group, 1995), que é compatível com o

teor da discussão que estamos apresentando, é a seguinte: qualidade de vida é a

percepção do indivíduo a cerca de sua posição na vida, de acordo com o contexto

cultural e sistema de valor com os quais convive e em relação a seus objetivos,

expectativas, padrões e preocupações.

4.4. O que é Qualidade de Vida na Velhice

Segundo Lawton (1983), construiu um modelo de qualidade de vida na velhice

em que a multiplicidade de aspectos e influencias inerente ao fenômeno é representada

em quatro dimensões inter-relacionadas. A primeira, condições ambientais, diz respeito

ao contexto físico,ecológico e ao construído pelo homem, que influi na e dá as bases

para a competência adaptativa (emocional, cognitiva e comportamental). Ou seja, o

ambiente deve oferecer condições adequadas à vida das pessoas. A segunda,

competência comportamental, traduz o desempenho dos indivíduos frente às diferentes

situações de sua vida e portanto, depende do potencial de cada um, de suas experiências

e condições de vida, dos valores agregados durante o curso da vida e do

desenvolvimento pessoal, que, por sua vez, é influenciado pelo contexto histórico-

cultural. A terceira, qualidade de vida percebida, reflete a avaliação da própria vida,

influenciada pelos valores que o indivíduo foi agregado e pelas expectativas pessoais e

sociais. Igualmente, a pessoa avalia as condições de seu ambiente, físico e social, e a

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eficácia de suas ações nesse ambiente. A quarta, bem-estar subjetivo, significa

satisfação com a própria vida, satisfação global e satisfação especifica em relação a

determinados aspectos da vida,; reflete as relações entre condições objetivas

(ambientais), competência adaptativa e percepção da própria qualidade de vida, as três

dimensões precedentes. É mediada pelos antecedentes pessoais (históricos, genéticos e

sócio-econômico-culturais), pela estrutura de traços de personalidade e pelos seus

mecanismos de auto-regulação (senso de significado pessoal, sentido da vida,

religiosidade/transcendência, senso de controle, senso de eficácia pessoal e

adaptabilidade).

Estudos empíricos indicam que existem fortes associações entre a qualidade de

vida percebida, o bem estar subjetivo e mecanismos da personalidade, como, por

exemplo, o senso de controle, o senso de eficácia pessoal, o senso de significado e as

estratégias de enfrentamento. Elas têm fortes relações com a competência adaptativa,

que se expressa em competência emocional (capacidade de lidar com fatores

estressores), em competência cognitiva (capacidade de resolução de problemas) e em

competência comportamental (desempenho e competência social). Em conjunto, essas

competências se refletem no exercício de papeis sociais, na manutenção de atividades

sociais, nas relações sociais e no ajustamento pessoal, e têm importante relação com a

saúde física e mental (Néri, 2001 b).

Para o mesmo autor, a qualidade de vida na velhice pode ser definida como a

avaliação multidimensional referenciada a critérios sócio-normativos e intrapessoais, a

respeito das relações atuais, passadas e prospectivas entre o indivíduo maduro ou idoso

e o seu ambiente (Lawton, 1983).

4.4.1. Questões Associadas à Avaliação da Qualidade de Vida dos Idosos

Se o estudo e a avaliação da qualidade de vida têm mostrado sua importância

em vários segmentos e disciplinas, eles se revelam também importantes para a

população idosa. Como o envelhecimento é uma experiência heterogênea, cada

indivíduo pautara sua vida de acordo com padrões, normas, expectativas, desejos,

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valores e princípios diferentes. Há, assim, necessidade de instrumentos

multidimensionais, sensíveis à grande variabilidade dessa população.

Algumas características da velhice tornam os idosos particularmente suscetíveis

ao uso acrítico de medidas de qualidade de vida. Entrem elas Grimley-Evans (1992)

menciona a diminuição da adaptabilidade biológica associada ao envelhecimento, com

redução das reservas fisiológicas dos órgãos e sistemas do organismo e a

conseqüentemente redução da capacidade de manter a homeostase. Há, também,

redução da adaptabilidade social, ocasionada pela aposentadoria e pela perda de poder

aquisitivo, além do isolamento social devido à perda de familiares e amigos e da

redução do suporte social.

Existe um desnível cultural entre jovens e velhos nas sociedades

contemporâneas em constante transformação, em que os juízos e valores dos jovens

podem ser estranhos aos idosos, nascidos e criados em outro contexto cultural e

tecnológico. \assim, os mais velhos podem não se familiarizar com conceitos e situações

que os jovens enfrentam sem dificuldade.

Além disso, as sociedades ocidentais incorporaram vários preconceitos que

dificultam a vida dos idosos, como por exemplo: a) os valores dos idosos são,

necessariamente, antiquados e, dessa forma, são inferiores; b) os idosos são menos

habilidosos para fazer julgamentos e críticas; c) têm menos valor que os jovens e, por

isso, precisam de menor atenção; d) a capacidade de desfrutar dos prazeres da vida

diminui inevitavelmente à medida que se envelhece. O pior é que os próprios idosos

adotam esses preconceitos e podem, muito facilmente, sub-valorizar-se, ou então tentar

corresponder àquilo que acreditam que se espera deles.

Para população mais velha, haverá maiores prejuízos, injustiças e manuseio

inapropriado, se a escolha dos cuidados se basear na média, já que existe grande

heterogeneidade no envelhecimento. Por fim, em razão das características citadas, os

idosos são mais suscetíveis a influências ambientais imediatas, tais como guerras,

violência urbana, catástrofes, epidemias e migração.

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Há outras questões que afetam a confiabilidade dos instrumentos de avaliação de

qualidade de vida, quando aplicados à velhice. Geralmente, os idosos têm mais

dificuldade que os jovens quanto a trabalhar conceitos de probabilidade e tomar decisão.

Isto pode afetar seu desempenho em testes, assim como a opinião que tem sobre a

situação, o medo de errar e a expectativa sobre qual a reposta esperada em questão que

pedem valoração de estados de saúde ou de satisfação.

Por outro lado, avaliar qualidade de vida em idosos implica lhe dar com questões

éticas associadas aos limites da intervenção profissional: qual o direito do pesquisador

ou do profissional de saúde em intervir para melhorar uma situação, se os idosos

relatam estar satisfeitos? Qual é o limite da intervenção considerando-se a relação custo-

benefício para o idoso?

Segundo Grimlly(1992), alguns fatores são críticos à manutenção da integridade,

da independência e da autonomia de uma pessoa. Primeiro existe grandes diferenças

individuais entre os idosos mas que em qualquer outro grupo etário; são diferenças em

quase todos os tipos de características, as físicas, mentais, psicológicas, condições de

saúde e sócio-econômicas, o que torna as conclusões a respeito de qualidade de vida e

do cuidado necessário altamente individualizados. Esse envelhecimento heterogêneo

leva a duas situações-limites. Muitos idosos podem permanecer bastante saudáveis e

com boa habilidade funcional até anos tardia, mantendo estáveis suas características

físicas, mentais, de personalidade e sociais. Se há hábitos e estilos de vida saudáveis, e

na ausência de uma doença importante, haverá adaptabilidade e reserva funcional

suficiente da maioria das atividades.

Os idosos podem adquirir incapacidades em qualquer dos domínios citados, e

elas podem não ser passiveis de recuperação. As condições crônico-degenerativas,

progressivamente mais prevalentes, vão levando à incapacidade, minando as reservas

funcionais e levando à deterioração funcional. É verdade que adaptações e modificações

ambientais podem ser feitas, além de reabilitação as perdas funcionais, manter atividade

e, assim, contribuir para o bem-estar do idoso, de sua família e da sociedade. Quando o

idoso se torna independente o grande desafio é saber respeitar sua individualidade e a

sua autonomia.

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Estereótipos em relação à velhice comprometem a possibilidade de uma

qualidade de vida melhor. Em nosso meio, a velhice é comumente associada a perdas,

incapacidade, dependência, impotência, decrepitude, doença, desajuste social, baixos

rendimentos, solidão, viuvez, cidadania de segunda classe, e assim por diante. O idoso é

chato, rabugento, implicante, triste, demente, oneroso. Generalizam-se características de

alguns idosos para todo o universo. Tal visão estereotipada, aliada à dificuldade de

distinguir entre envelhecimento normal e patológico, senescência e senelidade, vontades

e desejos. Em parte por esses motivos as pessoas idosas tendem a ignorar sintomas (por

exemplo, de tristeza, dor ou cansaço), ou então os sintomas são ignorados pelos

profissionais de saúde. Muitos profissionais tentam explicar os sintomas ou as queixas

trazidas pelos idosos como fazendo parte do processo natural do envelhecimento o que

se traduz em omissão e negligência impedindo o tratamento, reabilitação e adaptação

(Ory & Cox, 1994), com conseqüências negativas para a vida e sua qualidade. Assim

muitas idosas não se queixam de incontinência urinária por vergonha ou por acharem

normal, e acostumam-se com ela apesar de ser causa de isolamento social e,

secundariamente, de depressão. A própria depressão, que é causa de grande sofrimento

humano, não é tratada nem diagnosticada, por que existe o preconceito de que “os

idosos são um pouco tristes mesmo”.

4.4.2. Qualidade de Vida na Velhice: A Importância da Dimensão Psicossocial

De acordo com Bowling (1995), trabalhando com idosos, enfatiza-se a dimensão

bem-estar psicológico, também designado como ajustamento, estado de espírito

(morale), felicidade, contentamento, satisfação de vida e outros. Uma parte da literatura

gerontológica tem trabalhado os conceitos de envelhecimento bem-sucedido,

envelhecimento positivo e qualidade da velhice sob enfoque de satisfação de vida, como

também é uma dimensão-chave nas avaliações de estado de saúde na velhice.

Psicólogos, sociólogos e gerontólogos têm tentado medir o bem-estar e entender o

que as pessoas querem dizer com a expressão boa vida (Bowling, 1995 b). De acordo

com Larson (1978) pesquizou fatores associados à satisfação de vida entre idosos e

encontrou saúde ótima, nível sócio-econômico mais alto, ser casado e maior atividade

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social. Em contra partida, idade, raça, sexo e emprego não mostraram relação

significativa. Os fatores predisponentes mais importante foram saúde, atividade social e

prazer sexual.

Uma revisão de literatura feita por Diener e Suh (1998, apud Néri, 2001a, 2001b)

aponta os seguintes dados sobre a relação entre eventos objetivos e subjetivos e a

avaliação da qualidade de vida na velhice:

a) Os eventos subjetivos mostram maior associação com qualidade de vida na

velhice do que os objetivos, tais como renda, arranjo de moradia e saúde física.

b) Há forte relação entre ter medo de ficar velho, solidão e isolamento, senso de

desamparo e de incompetência comportamental, com depressão, baixa saúde percebida

e insatisfação com a vida.

c) A despeito do declínio da saúde, da viuvez e da diminuição de renda que ocorre

na velhice, existe estabilidade no senso de bem-estar dos idosos, que geralmente

pontuam alto em escalas de satisfação.

d) Os jovens são mais pessimistas e exigentes quanto à qualidade de vida do que

os idosos.

e) Os idosos mais ajustados são os que têm metas de vida e que são mais capazes

de adapta-las às condições impostas pela velhice.

f) Doenças e incapacidades que determinam restrições nas oportunidades de

acesso à estimulação prazerosa e ao envolvimento social relacionam-se com depressão e

com afetos negativos.

g) Os idosos têm vida emocional menos intensa do que os adultos, possivelmente

como resposta adaptativa aos limites da velhice, ou, então, como reflexo de um processo

de seleção de interesses.

Conceituar e avaliar qualidade de vida não é tarefa das mais fáceis, dada a

quantidade e a complexidade das variáveis envolvidas. Numerosas disciplinas e

profissões têm se ocupado dessa tarefa, desde que, há cerca de 50 anos, o assunto

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começou a chamar, primeiro de cientistas sociais e de políticos, depois de pessoal do

campo da saúde e, final e literalmente, de todas as áreas da atividade humana. Devido à

importância do tema, tanto para avaliação de resultados, condutas, tratamentos e

políticas, quanto para avaliação de atendimento e serviços, há vários conceitos e

instrumentos, alguns gerais e outros específicos, para sua avaliação. Poucos porém,

foram desenvolvidos tendo como alvo a população idosa.

Um dos modelos mais conhecidos sobre qualidade de vida na velhice foi

desenvolvido por Lawton (1983), que a define como resultado da avaliação

multidimensional referenciada a critérios socio-normativos e intrapessoais, a respeito

das relações atuais, passadas e prospectivas entre um indivíduo maduro ou idoso e o seu

ambiente. O modelo descreve quatro dimensões conceituais: a) Competência

comportamental: avaliação do funcionamento do individuo no tocante à saúde, à

funcionalidade física, à cognição, ao comportamento social e à utilização do tempo,

referenciada a parâmetros clínicos, bioquímicos e comportamentais; b) Condições

ambientais, que são relativas ao contexto físico e ao construído pelo homem e têm

relação direta com a competência comportamental. Devem oferecer adequadas

condições de acesso, manejo, conforto, segurança, variabilidade, interesse e estética, o

que inclui instrumentos, equipamentos e adaptações construtivas; c) Qualidade de vida

percebida, que é subjetiva e relativa à variação da própria saúde e do próprio

funcionamento em qualquer domínio; e d) Bem-estar subjetivo: diz respeito à avaliação

pessoal que o idoso faz do conjunto e da dinâmica das relações entre as 3 áreas

precedentes. É indicado principalmente por satisfação, felicidade e estado de espírito.

A qualidade de vida em idosos e sua avaliação sofrem os efeitos de numerosos

fatores, entre eles os preconceitos dos profissionais e dos próprios idosos em relação à

velhice. O dono da vida no caso do idoso deve ter participação ativa na avaliação do que

é melhor e mais significativo para ele, pois o padrão de qualidade de cada vida é um

fenômeno altamente pessoal. Esta é uma questão não apenas metodológica, mais

também ética.

Outros imperativos éticos devem ser atendidos pelo profissional que cuida do

idoso, entre eles o do direito à autonomia e à dignidade, o da legitimidade do uso do

arsenal tecnológico e farmacêutico para a manutenção da vida de pacientes terminais e

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do direito a cuidados, suporte e informação e em todos os casos de doenças e

incapacidade.

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5- O REFLEXO DA RETROGENESE PSICOMOTORA NO

GERONTE

Partindo da noção que a evolução do cérebro , no seu todo filogenético e

ontogênico, envolve uma transição: do mais organizado (medula), ao menos organizado

(córtex); dos centros inferiores mais organizados, aos centros superiores que se vão

organizando pela vida fora; do mais simples ao mais complexo, do mais reflexo ao mais

voluntário; da protomotricidade à arquemotricidade; a paleomotricidade à

neomotricidade; da sensoriomotricidade à psicomotricidade, pressupondo uma

organização vertical ascendente.

A organização funcional do cérebro, de acordo com A. R. Lúria (1997),

resulta da interação conjunta e hierarquizada de três blocos funcionais, dos quais

dependem as funções que presidem ao trabalho do cérebro, implicado em todas as

formas complexas de comportamento, nomeadamente na organização psicomotora.

Dos três blocos funcionais Lúria (1997), faz a seguinte caracterização:

1o. – O primeiro bloco regula o nível de energia e o tônus do córtex, garantindo

uma base estável para a organização dos seus vários processos, incluindo o da memória.

Encontra-se localizado no tronco cerebral e, particularmente, na formação reticulada.

Pertencem-lhe fundamentalmente funções de seleção, discriminação e de vigília.

2 º - O segundo bloco compreende a análise, a codificação e o armazenamento

da informação. Encontra-se localizado nas zonas posteriores do córtex, ou seja, nos

lóbulos occipital, temporal e parietal. Pertencem-lhe funções específicas e

hierarquizadas em zonas primárias, secundárias e terciárias que compreendem a

organização intranuerossensorial, interneurossensorial e integrada dos analisadores

visuais, auditivos e tátil-cinestésico.

3 º- No terceiro bloco envolve a formação, a programação, a regulação e a

verificação das condutas. Encontram-se localizada na zona anterior do córtex, isto é, nos

lóbulos frontais. Pertencem-lhe funções de planificação, de utilização e de execução de

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práxias, intimamente relacionada com as funções do tronco cerebral, nomeadamente,

atenção e concentração.

Na tentativa de encontrar um modelo psicomotor que confirmasse a

organização funcional do cérebro em três blocos é que se estabeleceu uma bateria

psicomotora subdividida em sete fatores: tonicidade, equilíbrio, lateralização, noção do

corpo, estruturação espaço temporal, práxia global e fina.

Segundo Vitor da Fonseca (1983),.ao contrário do estudo feito na criança , a

retrogênese psicomotora parece refletir uma organização funcional dos fatores

psicomotores inversa no geronte. Enquanto na criança se observou uma evolução da

tonicidade à práxia fina, no geronte a involução verificada ocorre no sentido inverso, da

práxia fina à tonicidade.

A retrogênese psicomotora parece assim confirmar a involução geneticamente

programada, do córtex à medula, dos lobos frontais ao tronco cerebral, do mais

complexo ao mais simples, do mais programado ao mais reflexo, do mais fino ao mais

global, do mais seletivo ao mais difuso, pressupondo uma desintegração da hierarquia

estrutural e, conseqüentemente, uma desorganização vertical descendente.

A tonicidade, base do edifício psicomotor, embora não correlacionada com

outros fatores e não relacionada com a involução, é progressivamente afetada com o

avançar dos anos, donde evolui desmodulações tônicas, mioclônicas, crispações focais,

movimentos pseudocoreiformes proximais e distais, que parecem anunciar a

desagregação psicomotora.

A organização psicomotora engloba os três blocos funcionais, que são postos

em jogo pelos movimentos intencionais que evocam as correlações significativas entre a

equilibração e a lateralização, a noção do corpo e a práxia fina, parecendo reforçar a

importância funcional do cerebelo na integração postural bilateral e na organização do

movimento voluntário no geronte.

A desintegração postural, que obviamente tende a ocorrer no geronte, pode

comprometer toda organização psicomotora, nomeadamente na elaboração e

programação das práxias. Não é por acaso que o idoso apresenta dificuldade em iniciar

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a marcha, evocando lentidão e hipervigilância, donde emergem reflexos posturais e

desajustamentos e dis(inibição) que provavelmente implicam alterações nos gânglios da

base do cérebro e no cerebelo e, possivelmente, um declínio gradual dos fatores

psicomotores.

A correlação entre a equilibração, lateralização e a noção do corpo parecem

querer revelar que a integração bilateral e a intracorporal e a integração gnósica do

corpo interatuam funcionalmente com o sistema postural. Na terceira idade,

conseqüentemente, qualquer disfunção cerebelosa parece interferir com as aferências

proprioceptivas da lateralidade e da somatognosia, da qual poderão resultar também

problemas de programação de movimentos, uma vez que os somatogramas são

difusamente evocados. As assomatognosia são freqüentemente apontadas como

disfunção psíquicas superiores no geronte, talvez porque as suas alterações de

equilibração surgiram perturbações da convergência polisensorial, onde se combinam

múltiplos influxos vestibulares, proprioceptivos e cinestésicos. As perturbações

visuoespaciais e visuoperceptivas podem decorrer também da desintegração postural à

qual se podem associar, ainda, problemas na integração do EU, tão paradigmáticas no

geronte.

A auto imagem sensória interior parece resistir mais a influência da idade

embora se identifiquem progressivas perdas de localização tátil e na respectiva

identificação intermodal e lingüística, evocando um progressivo esvaziamento

semiótico da imagem do corpo.

O tônus cortical e o postural interligados durante a vida adulta, tendem a

desincronizar-se com a idade, daí, talvez, também resulte uma explicação sobre a

dispraxia fina característica de muitos casos de senilidade a que não serão estranhas as

disfunções visuoperceptivas concomitantes, bem como as possíveis alterações ao nível

de estruturas subtalâmicas e mesencefálicas. O triangulo postura-visão-mão é uma

recoordenação sistêmica que está na base da organização psicomotora daí a correlação

entre a equilibração e a práxia fina.

A correlação de equilibração e práxia fina parece revelar a imprescindível

comunicação entre os lobos frontais e o cerebelo para a realização da micromotricidade,

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demonstrando que o controle postural é vital a qualquer forma de coordenação. Os

idosos desaprendem tarefas micromotoras devido a alterações dos movimentos

seqüenciais e terminais finos que tendem cada vez a ser mais trêmulos, inseguros e

assinérgicos. O tônus cortical e o postural, interligados durante a vida adulta tendem a

dessincronizar-se com a idade.

A correlação verificada entre a lateralização e os fatores psicomotores, da

noção do corpo da práxia global e fina parece demonstrar que há algo de funcional

subjacente na retrogênese psicomotora e na integração bilateral do corpo, parecendo

indicar que a dinâmica do processo cortical na retrogênese psicomotora também

compreende uma cooperação interativa entre vários fatores psicomotores.

A integração bilateral e postural do corpo é peculiar no ser humano, pois dela

decorre a preferência manual, a orientação simbólica e a especialização hemisférica,

além de estar implicitamente relacionada com a utilização dos instrumentos, o que

comprova o grau de concordância da lateralização com os fatores somatognósicos e

práxicos, que participam na planificação motora e na melodia cinestésica.

As correlações da estruturação espaço-temporal com ambas as práxias,

retratam um papel da sinalização aferente do movimento intencional que mediatizam as

funções espaciais e seqüenciais, sem as quais as práxias redundam em movimentos

dismétricos e dissincronizados. Como o espaço e o tempo correspondem à gênese da

inteligência (Piaget,1986), é provável que em termos de retrogênese psicomotora, a

estruturação temporal seja deteriorada em primeiro lugar em relação à estruturação

espacial. Esta estruturação, que por sua vez é monitorizada pelas informações tátil-

cinestésicas, tem tendência a ser afetada pela equilibração, visto que segurança

gravitacional vai perdendo sua estabilidade postural. Sem uma noção espaço-temporal

estável, as dispraxias ideomotoras desencadeiam-se para além de tal disfunção

psiconeurológica e podem interferir com outras funções mentais complexas, como por

exemplo: problemas de retenção, estados confusionais, desorientação, indiferença

amnésica, lentidão, problemas topográficos, etc.

A capacidade para estruturar e organizar o espace é essencial para qualquer

programação e execução práxica, uma vez que o espaço constitui um imenso continente

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da motricidade. Por isso, algumas características predominantes nos idosos interferem

com a desintegração espaço-temporal, que por sua vez se reflete em perturbações

perceptivas cognitivas e psicomotoras, que talvez suportem modificações difusas do

cérebro, características da idade avançada, pelo menos visíveis e obvias nas demências

corticais (Alzheimer), sub-corticais (Huntington, Parkinson ...) e axiais (Wernicke-

Korsakoff).

Por último, a correlação entre a práxia global e a práxia fina, reflete a

organização funcional intrínseca do terceiro bloco. De acordo com Eccles e Roland

(1989), a área suplementar motora, localizada no terceiro bloco, assume um grande

papel na programação das práxias, e segundo Luria (1997), é o centro de atenção

voluntária que permite a formação, a antecipação, a regulação e verificação das

condutas, então, a involução ou retrogênese, tem algo haver com esta área, ou seja, é o

ponto de partida da delapidação psicomotora, que consubstância a (desorganização

vertical descendente dos fatores psicomotores, isto é, a involução que decorre da práxia

fina à tonicidade.

As tarefas motoras seqüenciais, a micromoticidade, a perícia manual, de onde

decorre a própria antropogênese, tende a desintegrar-se progressivamente no idoso, não

só quanto a diminuição das aquisições de preensibilidade, oponibilidade, convergência,

divergência assinérgica, como também quanto disfunção da coordenação dos

movimentos dos olhos durante a fixação da atenção na manipulação dos objetos. A

progressiva perda de mobilidade independente dos dedos e a perda de dissociação

metacarpofalângica, além da desintegração sensorial interferem naturalmente com uma

alenta e diminuída criação práxica no idoso, ponto de partida da retrogênese

psicomotora, ao qual se segue os restantes fatores psicomotores.

As mudanças regressivas no geronte estudadas por Birren e Schaie (1984),

Finch e Hayflick (1989), revelam mudanças estruturais e funcionais, que não podem ser

encaradas como doença, mas como processos adaptativos que no geronte interferem

como o comportamento e, naturalmente com a organização psicomotora.

Devem-se, portanto, criar programas e currículos psicomotores para o geronte

(GERONTOPSICOMOTRICIDADE) no sentido de contrariar a retrogênese

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psicomotora, a tardomotricidade, a vagarosidade motora, o embaçamento cognitivo e o

ensurdecimento psíquico que caracterizam a fase terminal da vida de uma pessoa.

Métodos de relaxação, formas dinâmicas de estimulação vestibular e proprioceptiva,

exploração de situações estáticas e dinâmicas de equilibração atividade lúdica de

ativação global, de atenção, de observação e de memória, atividades de integração

somatognósica e de simbolização e semiotização do corpo, explorações visuomotoras,

sequencializadas espacial e ritmicamente, exploração de atividades de verbalização e de

programação, situações de elaborações práxicas, etc., devem ser implementadas

quotidianamente na ocupação dos idosos.

Ativar pela PSICOMOTRICIDADE os neurônios corticais, preservando as

características de um cérebro funcional, pode ser essencial para prevenir o

envelhecimento, pois dessa forma podemos ampliar a qualidade de vida e perpetuar a

criatividade e a motivação vital de muitos idosos.

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6. O PAPEL DA ATIVIDADE PSICOMOTORA EM

GRUPO

O conhecimento das alterações fisiológicas consequentes do envelhecimento

permite uma prescrição mais segura, eficaz e eficiente por parte do fisioterapeuta , seja

seu objetivo a prevenção ou seja o tratamento de condições insalubres do idoso. Os

comentários aqui apresentados se referem de forma geral a atividade psicomotora como

um fator de prevenção de doenças e agravos da saúde do idoso e a conseqüente

promoção de saúde..

O exercício físico deve promover uma melhoria no funcionamento geral dos

sistemas viscerais (cardiovascular, respiratório, digestivo, nervoso, etc) e desta forma

permitir melhor irrigação dos tecidos , melhor performance do aparelho locomotor,

alem de regularizar o transito gastrointestinal, o sono, a função cognitiva como no caso

da memória. A atividade física regular favorece ainda o controle de doenças crônicas

comuns na terceira idade como a osteoporose, a hipertensão arterial e o diabetes

mellitus.

O programa de atividades psicomotoras deve levar em consideração o bem-

estar, regularidade, satisfação de quem o pratica.

Recomenda-se uma avaliação funcional completa dando-se maior destaque

aos aspectos funcionais do aparelho locomotor (força muscular, equilíbrio, postura,

condições articulares), aparelho cardio-respiratório(avaliação da capacidade aeróbica),

além de aspectos nutricionais e nível de hidratação.

Para o idoso os objetivos básicos do exercício regular serão a manuntenção

ou melhora da capacidade cardio-respiratória e da capacidade funcional músculo-

articular, compensando uma deficiência ou promovendo simplesmente momentos de

prazer. Esses objetivos permitem melhor aptidão para as tarefas da vida diária, mais

rápida recuperação de doenças e equilíbrio emocional.

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Toda a atividade realizada em grupo e mais prazerosa e permite um

exercício de socialização e convivência , também fundamentais para o bem-estar do

idoso.

6.1. Considerações na formação de um grupo

Do nascimento até a morte , nossa vida é um permanente exercício de

sociabilidade. Segundo Charles Fourier (1989), o homem, pela sua natureza psicológica,

é um ser social, mais exatamente um ser grupal.

Toda atividade que se desenvolve com um grupo deve-se ter em mente que e

necessário antes de mais nada , promover meios através de dinâmicas de grupo, jogos ,

musicas e outros , atividades para desinibir , integrar ,ou seja, “quebrar gelo”, para que

se tenha uma melhor inter-relação tanto paciente com paciente quanto paciente com o

terapeuta para obter resultados realmente satisfatórios de acordo com o objetivo

proposto para aquele determinado grupo.

Uma das principais vantagens do trabalho de grupo e oferecer ao paciente uma

quantidade crescente de independência. Gradualmente o paciente fica mais responsável

por seus próprios exercícios e também é supervisionado corretamente. A vontade de

querer ser participativo tanto quanto os seus outros colegas de grupo, o faz vencer os

seus supostos limites (os que ele pensa ter) e descobrir que pode fazer parte deste grupo

pois tem as mesmas capacidades.

Um paciente pode precisar de algumas técnicas específicas para uma

determinada parte do corpo, mas é essencial readquirir a atividade física geral , assim

como a função. O trabalho em grupo pode ser utilizado para esta finalidade. Assim

como é uma vantagem para o paciente, pode ganhar um tempo valioso para o

fisioterapeuta, porque ele trata vários pacientes juntos.

A atividade em grupo oferece ao paciente a oportunidade de discutir os

problemas de interesse comum com o terapeuta e entre os outros pacientes. Isso pode

ajudar a resolver problemas e, às vezes, um paciente acha que uma dificuldade que

assumiu proporções maiores em sua perspectiva fica pequena quando é discutida com

os outros e capaz de enfrentá-la.

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Um elemento de competição pode fornecer estímulos para alguns pacientes, que

trabalharão mais, podendo atingir resultado mais efetivo.

6.2. Objetivos do trabalho em grupo

O principal objetivo , de nós fisioterapeutas, e obter o máximo de proveito do

trabalho grupal. E existem diversas razões, dentre elas: Pessoas com necessidades

semelhantes podem apoiar-se mutuamente e sugerir soluções para problemas comuns,

ajudando uma as outras; os grupos podem ser catalisadores para o desenvolvimento de

recursos e habilidades latentes.

Para os objetivos pessoais gerais,temos:Criatividade e espontaneidade;

construção da autoconfiança , validação pessoal, percepção do seu próprio potencial;

aumento da autonomia e motivação pessoais, desenvolvimento individual; liberdade

para tomar decisões, fazer experiências e testar idéias; expressar sentimentos, emoções e

conflitos; organização visual e verbal de experiências; relaxamento.

Outrossim, temos para os objetivos sociais gerais (sem ordem de prioridade):

Consciência, reconhecimento e apreciação do outro; cooperação, envolvimento na

atividade do grupo; comunicação; compartilhar problemas e experiências; apoio e

confiança social; coesão de grupo; analise das questões do grupo.

6.3.Relações sociais entre membros de um grupo de idosos dentro de

uma atividade psicomotora

Segundo Argenton (1999), todo envelhecimento tem suas virtudes e seus

problemas, mas a velhice é uma época privilegiada da existência, pois ela traz

experiência e sabedoria.

De acordo com Lorda (1995, p.449) "a atividade físico-recreativa é identificada

constantemente como uma das intervenções de saúde mais significativas da vida das

pessoas de idade avançada". Dentro dos benefícios imediatos da participação regular em

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programas de exercícios e recreativos se identificam no aspecto físico: maiores níveis de

auto-eficácia, controle interno, melhoria nos padrões do sono, relaxamento muscular,

entre outros.

As pessoas idosas que se mantêm fisicamente ativas possuem atitudes mais

positivas para o trabalho, estão em melhor estado de saúde, apresentam maior

habilidade para lidar com as tensões. O baile, o canto, as atividades psicomotoras em

todas as suas manifestações, por exemplo, tem demonstrado ser de muita ajuda para as

pessoas de idade avançada ao experimentar sentido de união com outros, melhor auto-

estima e a comunicação e ajuda ao bem-estar físico, em geral.

Conquistar movimentos que proporcionem sentimentos de liberdade,

espontaneidade, criatividade, equilíbrio, é uma das propostas da psicomotricidade. O

movimento corporal é capaz de despertar desejos, prazeres e potencialidades que para o

idoso, pareciam muito longe de ser possíveis, e, com essa vivência, a sensação é de

rejuvenescimento, claramente exposta, num semblante alegre e em um corpo desperto e

ágil.

A atividade em grupo representa dentre outras coisas exercícios de cidadania

promoção da saúde, experiência estética, experiência pedagógica, competição e

superação de limites e experiência social. As relações sociais durante o período de vida

a partir aproximadamente dos 65 anos se empobrecem em relação ao período de vida

anterior, reduz-se o numero de contatos interpessoais em quantidade, e

fundamentalmente em intensidade, e a forma das relações sofrem uma mudança

qualitativa.

Um dos principais fatores desde acontecimento e a perda praticamente total com

pessoas de outros grupos de idade, excetuando-se os membros da família, isto se da pelo

que chamam de processo in crescendo de deteriorização física e ou mental.

A visão de envelhecimento bem sucedido tem possibilitado um novo

modelo de relações sociais promovendo o bem estar dos idosos. Essas mudanças

ocasionam transformações culturais que estão sendo geradas em clubes, universidades,

praças,clinicas,hospitais, asilos, assim, essas mudanças tem propósitos socializadores

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quando se procuram-se através delas ampliar, incentivar e perpetuar as relações

interpessoais. Como instrumento de analise usamos o sociograma o qual demonstra o

desenvolvimento social dos integrante do grupo. Consistindo em uma abordagem

denominada escolha funcional na qual a pessoa e o único juiz de seus sentimentos em

relação a outras pessoas. No que diz respeito a confiabilidade, sucessivos testes feitos

em um intervalo de uma semana indicam valores significativos.

6.4. Fatores que propiciam a participação do idoso em programas de

atividades em grupo

O avanços nos estudos relativos de pessoas idosas sendo importante analisar os

motivos que os levaram a participar destas atividades, buscando assim objetivos

compatíveis aos anseios dos idosos participantes do grupo.

Durante o processo de envelhecimento ocorre mudanças nos grandes sistemas do

corpo humano gerando limitações funcionais que diminuem a autonomia dos idosos

como as atividades de vida diária, acarretando problemas sociais e psicológicos.

O simples fato do idoso apresentar dificuldades de visão e audição poderá gerar

problemas de relacionamento com o meio, até mesmo com os familiares, sentindo-se

isolado, passando com a ter desconfiança de todos daqueles que se aproximam,

tornando passivo ou agressivo o que muitas vezes acarreta internações em clinicas

geriátricas.

A perda da flexibilidade, força e coordenação fazem com que o idoso comece a

ter problemas no seu deslocamento (marcha), que compromete o seu relacionamento

interpessoal, a execução de tarefas do seu cotidiano. Essa congruência de fatores

originam no idoso problemas de ordem psicológica como: Diminuição da auto-estima,

aumento da ansiedade, percepções negativas do corpo sentimentos de inutilidade e

diminuição da motivação. Essas alterações são percebidas pelos próprios familiares e

em decorrência das mudanças naturais do corpo, porem devemos considerar o contexto

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capitalista de nossa sociedade que louva aqueles que tem maior poder de produção,

excluindo os mais fracos e aqueles que são esteriotipados como sendo incapazes.

O idoso se vê obrigado a recolher-se da sociedade de oportunidades e pelas

condições financeiras que o impossibilita de manter suas relações sociais. Um dos

meios para ampliação dessas relações e implantação de atividades físicas que propicia

uma maior interação social.

Para a realização de um programa de atividades físicas faz-se necessario existir

um processo integrado por fases distintas: a adesão, manutenção do programa, evasão e

reinserção.

A adesão dentro desse processo e o período mais critico onde se deve utilizar o

maior numero de incentivos, apresentar claramente os objetivos, mostrar as

necessidades e os benefícios que as atividades podem proporcionar. A motivação e um

dos principais fatores que favorece a adesão dos idosos a programas de atividades

psicomotoras.

Podemos concluir segundo Berguer (1993), a atividade psicomotora causa

mudanças corporais, o que altera também a imagem que o idoso tem de si mesmo,

melhorando , em função disso, o autoconceito e a afetividade.

A percepção do idoso sobre , seu corpo, seu bem estar geral, traz um importante

fator para a melhoria psicológica.

A atividade psicomotora em grupo permitem uma maior sociabilização,o que

modifica a idéia de que o envelhecimento traz como conseqüência o afastamento social

e a solidão.

Segundo Debert (1999), promover a velhice bem sucedida é uma questão de

justiça social, e seguindo esse raciocínio, para os idosos o ingresso num grupo de

participantes de programas para a Terceira Idade é um marco em suas vidas, uma

espécie de divisor de águas que substitui o periodo de solidão e abandono, por um outro

de novas amizades e descobertas.

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CONCLUSÃO:

A proposta inicial do estudo , foi entender através de pesquisa bibliográfica o

processo de envelhecimento e sua conseqüência natural, a velhice.

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o mundo comemorou o Ano

Internacional do Idoso com 580 milhões de pessoas com 60 anos de idade ou mais, o

que representa 6% da população mundial, portanto o envelhecimento populacional é um

fato, que implica em limitações físicas, perda de aptidões, diminuição de auto-

estima,diminuição da capacidade funcional, entre outros.

A longevidade em evidencia no ser humano , acarreta uma situação

ambigua,onde nos deparamos com o desejo de se viver cada vez mais e, ao mesmo

tempo, o temor de viver em meio a incapacidades e á dependência. È fato que com o

avanço da idade aumenta a chance de ocorrência de doenças e de prejuízos à

funcionalidade física, psíquica e social.

Com esses dados, lançamos uma pergunta que foi a base desta pesquisa. È

possível,os indivíduos envelhecerem com autonomia e independência, com a boa saúde

física, desempenhando papéis sociais, permanecendo ativos e desfrutando de senso de

significado pessoal, tendo como promotora de qualidade de vida a psicomotricidade?

Conforme foi visto no capitulo 4, a prevenção gerontológica é essencial , para

que possamos prolongar a vida do idoso com saúde, isto é, com qualidade de vida, onde

devemos ter como objetivo oferecer fatores que possibilitem promover o retardo dos

declínios decorrentes do envelhecimento, evitar fatores que estimulem o

envelhecimento prematuro ou patológico e reduzir ao máximo as situações que gerem

perda da capacidade de independência e de autonomia do idoso.

De acordo com o capitulo 6,são inúmeros os efeitos benéficos da atividade

psicomotora na terceira idade, tanto os efeitos antropométricos e neuromusculares, os

efeitos metabólicos e também os efeitos psicológicos onde principalmente neste último,

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se observa melhores resultados quando feito um trabalho em grupo, melhorando sua

auto-estima, sua imagem corporal, seu auto-conceito e sem dúvida a socialização.

Como propostas para novas pesquisas, este estudo permitiu entender que as

práticas de promoção a saúde integral do idoso devem estar voltadas ao entendimento

de que saúde é um processo, envolvendo todas as condições que permitam ao ser

humano uma vida digna e um conseqüente envelhecimento saudável e portanto

deixamos como sugestão outras técnicas alem da psicomotricidade, como a

musicoterapia, a arteterapia e a terapia corporal,as quais possibilitam trabalhar o

potencial criador e o conhecimento acumulado do ser idoso, respeitando-o como

cidadão e inserindo-o no planejamento destas atividades para a promoção de saúde.

Sendo assim, podemos afirmar, validando nossa pesquisa que um dos grandes

passos a ser realizado pela sociedade é aquele que deve unir o orgânico ao psíquico, o

corpo á alma, o individuo ao seu grupo social. Portanto é necessário que se entenda a

importância da atitude corporal para a reprodução da ordem social.Os resultados

sugerem mudanças no modo de sentir e viver a vida, no modo de enfrentar as limitações

da idade e a descoberta no apreender novas estratégias e instrumentos da

psicomotricidade para a busca de uma vida com mais qualidade.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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KOTTKE, STILLWELL, LEHMANN. Krusen: Tratado de Medicina Física e

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PAVÃO, Robson de Jesus. Fisioterapia em Psicogeriatria. Jornal Brasileiro de

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ANEXOS

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 1. GERIATRIA E GERONTOLOGIA

1.1. Considerações Iniciais 1.2. Ciência do Envelhecimento 1.3. Biologia do Envelhecimento

2. O FENÔMENO DO ENVELHECIMENTO 2.1. Envelhecimento,Velhice e Velho 2.1.1 Envelhecimento 2.1.2 Velhice e Velho 2.2. Envelhecimento Comum e Bem Sucedido 2.3. Envelhecimento Normativo 2.4. Senescência e Senilidade 2.5. Autonomia e Independência

3. PSICOMOTRICIDADE 3.1. Psicomotricidade e Fisioterapia 3.2. Psicomotricidade e sua Aplicabilidade 3.2.1 Desenvolvimento Motor 3.2.2 Imagem Corporal 3.2.3 Corpo 3.3. Fatores e subfatores Psicomotores

4. QUALIDADE DE VIDA NA VELHICE 4.1. Evolução do Conceito de Qualidade de Vida 4.2. Dificuldades para definir Qualidade de Vida 4.3. Definindo Qualidade de Vida 4.4. Qualidade de Vida na Velhice

4.4.1 Questoes associadas a avaliação da qualidade de vida dos idosos

4.4.2 Qualidade de vida na velhice: A importância da dimensão psicossocial

5. O REFLEXO DA RETROGENESE PSICOMOTORA NO GERONTE

6. O PAPEL DA ATIVIDADE PSICOMOTORA EM GRUPO 6.1. Considerações na formação de um Grupo 6.2. Objetivos do trabalho em grupo 6.3. Relações sociais entre membros de um grupo de idosos dentro

de uma atividade psicomotora 6.4. Fatores que propiciam a participação do idoso em programas

de atividade em grupo

CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS ÍNDICE FOLHA DE AVALIAÇÃO

08 10 10 12 13

16 18 18 19 19 20 21 22 23 23 25 25 26 27 28 32 33 34 35 37 38

41

45

51 52 53 53

55

57 59 60 61 62

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PSICOMOTRICIDADE

Título: A Psicomotricidade como Promotora da Qualidade de vida na Terceira Idade

Nome: Luciane Guimarães Martins Bastos

Orientador: Profº Ms. Nilson Guedes de Freitas

Data da entrega: 30/07/2004

Avaliação:

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

Avaliado por:___________________________________________Grau______

Rio de Janeiro, ___de____________________de 2004

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